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TESTE DE AVALIAÇÃO DOS INTERESSES PROFISSIONAIS (AIP)

Durante muitos anos, sem testes de interesses validados para Orientação Vocacional,
Levenfus começou a trabalhar com o LIP (Carlos Del Nero, 1984; Levenfus, 2002). A opção
se deu, em 1986, pela busca de um instrumento de fácil aplicação individual e coletiva, de
rápido levantamento', que pudesse ser utilizado como mais um subsidio para o atendimento.
Depois de alguns anos e de mais de duas mil aplicações do LIP em Orientação Vocacional,
Levenfus pode perceber o quanto um teste de interesses profissionais, com características
mais objetivas, pode fornecer também um bom panorama psicodinâmico. Esse foi nosso
ponto de partida para a construção do AIP. Em conjunto com a Profa. Dra. Denise Bandeira,
do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da UFRGS, foi possível a sistematização do
AIRA partir de então se observou, dentre outros aspectos, interesses diferenciados por sexo,
nova distribuição dos interesses por campo, diferentes graus de interesse (interesse real e
interesse relativo), e surgiu a necessidade de criar um novo instrumento que atendesse a essas
observações. A construção do AIP surgiu também da necessidade de oferecer aos psicólogos
que trabalham com orientação vocacional um instrumento eficaz, confiável e atualizado na
avaliação dos interesses profissionais. Dessa forma, submetemos o instrumento à avaliação do
Conselho Federal de Psicologia e, desde maio de 2009, os psicólogos brasileiros passaram a
dispor de mais um instrumento validado.

CAMPOS DE INTERESSES
O AIP foi construído com base em 10 diferentes campos de interesses, cabendo ao orientador
observar, no conjunto de interesses, quais profissões atendem às maiores demandas:
 CFM -Campo Físico/Matemático
 CFQ - Campo Físico/Químico
 CCF -Campo Cálculos/Finanças
 COA - Campo Organizacional/Administrativo
 CJS - Campo Jurídico/Social
 CCP - Campo Comunicação/Persuasão • CSL -Campo Simbólico/Linguístico
 CMA - Campo Manual/Artístico
 CCE - Campo Comportamental/Educacional
 CBS - Campo Biológico/Saúde

CFM - Campo Físico/Matemático: tem relação com a investigação dos mundos físico e
matemático. Diz respeito à aplicação de leis e de propriedades dos corpos, bem como a um
tipo de pensamento lógico-dedutivo. Traduz também o interesse pelas ciências que revelam
fenômenos da natureza nos campos elétrico/ eletrônico e mecânico.
Todas as profissões que compreendem interesses puros por Física ou por Matemática
estarão cotadas, seja na forma de licenciatura ou de bacharelado, bem como a maior parte das
engenharias Dessa forma, por exemplo, se o sujeito também demonstrar interesse pelo Campo
Físico/Químico (CFQ), poderá nos levar a pensar em engenharias e em tecnologias velado-
nadas à Química. Se os interesses relativos ao CFM estiverem conjugados ao Campo
Biológico/Saúde (CBS), poderão nos levar a pensar em "engenharias relacionadas à biologia"
- Engenharia de Pesca, Sanitária, Meio Ambiente. Alguns orientandos, por sua vez,
apresentarão grandes interesses pelo grupo CFM + CSL + CMA - revelando um grupo de
interesses que coincide bem com as exigências reveladas, por exemplo, pelos cursos de
Arquitetura, Design ou Desenho Industrial
CFQ - Campo Físico/Químico: O Campo Físico/Químico também guarda relação com a
investigação do mundo físico, mas no que diz respeito ao estudo dos fenômenos naturais, da
reação química (orgânica e inorgânica) e das práticas experimentais em laboratório.
Se a preferência apresentada for predominantemente pelo CFQ, o orientando poderá se
interessar, por exemplo, por Engenharia Química ou por Bacharelado em Química. No
entanto se, junto com esse também for apontado interesse pelo CBS, poderá relacionar
profissões tais como Farmácia, Bioquímica ou Nutrição.

CCF - Campo Cálculos/Finanças: É importante distinguir o interesse pela matemática


financeira da matemática pura "aplicada às engenharias" do CFM. Derivamos para esse
campo os interesses pelos cálculos do tipo estatístico e financeiro. Como descreveu Del Nem
(1998), essa área relaciona-se à aplicação de regras para determinar quantidades,
circunstâncias por meio de cálculo, avaliação, investigação, previsão de riscos, bem como ao
interesse por previdência, pecúlios e pensões.
E comum ouvir jovens referirem "eu odeio matemática" e encontrar baixo interesse
pelo CFM e alto interesse pelo CCP. No seguimento da entrevista toma-se perceptível a
atração desse jovem por negócios, finanças e atividades afins. Todo sujeito que tenha "espírito
empreendedor" estará às voltas com pensamentos financeiros, calculando o custo-benefício de
seus empreendimentos. Inclusive o advogado pode ser muito interessado, por exemplo, no
campo tributário; o arquiteto também deve preocupar-se com o custo da obra. Cabe ao
orientador compreender o interesse por um campo conjugado aos demais. Porém, certamente,
o orientador encontrará, em níveis muito acima da média, o interesse nessa área quando o
orientando estiver identificado com profissões tais como Economia, Ciências Contábeis,
Atuariais e outras tipicamente financeiras.

COA - Campo Organizacional Administrativo: Embora o interesse por esse campo possa
evidenciar profissões de cunho empreendedor, comercial e empresarial, o orientador deverá
ter o cuidado de perceber a amplitude de profissões que podem estar relacionadas a esse
interesse. Administrar pode relacionar-se à Biblioteconomia, à Enfermagem, assim como ao
engenheiro (especialmente Engenharia de Produção) ou ao arquiteto que estiver gerenciando
uma obra. Um processo judicial, além de ser muito burocrático também requer controle
administrativo sobre prazos e procedimentos. Ao notar níveis de interesse muito inferiores à
média, o orientador poderá se indagar sobre qual o motivo de tal desinteresse. Frequentemente
encontramos esse interesse muito baixo em jovens que estão com dificuldades de "administrar
os próprios conflitos", inclusive os relacionados à escolha da profissão. Observamos que não
é comum encontrar índices de interesse muito superiores à média nesse campo. Quando isso
ocorrer, pode ser que coincidentemente estejamos frente a um sujeito com fortes traços de
personalidade obsessiva venfus, 2002). Todas essas observações hipotéticas só poderão ser
confirmadas mediante o uso de instrumentos de avaliação apropriados.

CJS — Campo Jurídico/Social: O CJS responde por um campo de interesse em "Humanas".


Diz respeito ao interesse pelo comportamento humano em nível grupal, religioso, cultural,
racial, amplamente social. Os interesses pelo campo jurídico certamente se formam em vista
das diferenças nos comportamentos humanos. Não por acaso, o curso de Direito chama--se
Ciências Jurídicas e Sociais e o campo da comunicação chama-se Comunicação Social.
Afinal, se todos os homens se comportassem de maneira idêntica, para que serviriam as leis?
Se a comunicação não for fenômeno dirigido ao ser humano, a quem será? Contudo, nesse
teste diferenciamos tal campo sociológico daquele que diz respeito ao interesse específico
pelo comportamento humano em nível da Educação e da Psicologia, que aparecerão no CCE
— Campo Comportamental /Educacional. É importante observar que, embora qualquer ser
humano inserido em normas sociais deva ser conhecedor das mesmas e todo profissional será
regido por normas éticas, em algumas profissões esses conhecimentos são objeto e
ferramentas de trabalho como, por exemplo, nas Ciências Contábeis em que o profissional
terá de lidar com diversas questões que envolvem tributos, leis trabalhistas, etc.

CCP — Campo Comunicação/Persuasão: Embora os inventários de interesses não se


ocupem da determinação de habilidades ou de capacidades para desempenho de tarefas,
notamos que o CCP atrai o interesse de pessoas habilidosas em seu potencial verbal de
argumentação. Persuadir está fortemente relacionado ao convencimento de pessoas acerca de
um pensamento que o sujeito deseja transmitir. Dessa forma, esse campo reúne interesses
voltados a induzir, comandar, liderar, influenciar, formar juízo, vender ou convencer pessoas
ou grupos. O conhecido dito popular "Quem tem boca vai a Roma" é sábio em apontar o
quanto essa capacidade verbal, quando devidamente polida, pode facilitar a conquista de
objetivos e, nos tempos modernos, a entrada no mercado de trabalho. Em estudos clínicos,
podemos perceber o quanto o CCP pode apresentar-se muito inferior à média em pessoas
inibidas (Levenfus, 2002, 2005). Em termos ocupacionais, pode-se dizer que professores,
políticos, vendedores, Relações Públicas e outros costumam apresentar fortes interesses nesse
campo da comunicação verbal. Contudo, sempre é necessária uma avaliação contextualizada.
Por exemplo, popularmente, a persuasão é tida por muitas pessoas como uma habilidade
fortemente ligada à advocacia. Porém, no Brasil, o Direito é exercido na maioria das vezes
por meio de comunicações escritas e não verbalizadas. Muitos jovens identificam-se com o
advogado do cinema americano e ignoram as diferenças no exercício dessa profissão nas
diferentes culturas. Por isso, sempre há de se ter o cuidado com as estereotipias criadas em
torno de muitas profissões. Sabiamente, Dei Nero (1998) já apontava que o Direito Criminal
poderia estar também relacionado a habilidades nesse campo, mas que a escolha pelo Direito
se baseia preponderantemente no Campo Simbólico/Linguístico CSL, como apresentaremos
adiante.

CSL - Campo Simbólico/Linguístico: O CSL é de uma riqueza impar em termos de


informações que podem prestar ao orientador em sua tarefa. Preferimos abordar esse tema
dividindo-o em dois campos: 1) enquanto estudo da linguagem e das línguas; 2) enquanto
referência ao mundo simbólico e potencial interpretativo da linguagem.

1) Estudo da linguagem e das línguas: Compreendido dessa forma, o campo da Linguística


traduz o potencial de comunicação de ideias e fatos por meio da escrita de livros, artigos e
outros textos. O potencial de comunicação verbal, como já descrevemos, encontra-se no CCP.
O sujeito interessado no CSL seguidamente apresentará gosto pela leitura geral e pela
literatura, ou pode ser que se sinta atraído pelo estudo da língua nacional e/ou línguas
estrangeiras. O interesse no manejo da linguagem escrita poderá se apresentar em uma série
de profissões que nela se apoiam, como, por exemplo: Letras, Jornalismo e Direito.

2) Mundo simbólico e potencial interpretativo: a linguagem enquanto manifestação


simbólica é o que atribui a esse campo a riqueza de informações que mencionamos
anteriormente. O campo da interpretação aqui se manifesta como necessário à compreensão
do conjunto de letras e palavras. É nesse campo que se atribui significado aos objetos. Em
sujeitos com fortes interesses nesse campo, poderemos encontrar desejosos em Cursar, por
exemplo, Psicologia, descrevendo uma facilidade em compreender os sentimentos dos outros;
em entender os desenhos das crianças. A experiência clínica mostra que sujeitos que se
descrevem como criativos costumam apresentar índices acima da média nesse campo, que
responde mais pela criatividade do que o Campo Manual Artístico – CMA, como
apresentaremos a seguir. Pessoas com facilidade para esculpir, pintar, escrever poesias e ler
partituras poderão demonstrar interesse no CSL.
O interesse manifesto por esse campo parece imprescindível aos profissionais das
áreas exatas que necessitam trabalhar com desenho, volumes, como no caso da Arquitetura,
do Design Industrial, da Engenharia Mecânica; ou linguagens como na produção de softwares
ou de composição musical. Dessa forma, torna-se compreensível o interesse conjugado por
CFM + CSL. A presença de índices baixos no CSL só deve preocupar o orientador em
situações nas quais um substrato emocional ou cognitivo possa responder pelo baixo índice de
produção simbólica como nos casos de alexitimia3, dislexia ou inibições na área do
pensamento e da linguagem (Levenfus, 2002, 2005).

CMA - Campo Manual/Artístico: Observamos que o interesse pelo campo artístico traduz
mais claramente o fazer artístico do que o pensar criativo. Por esse motivo, denominamos esse
campo como Manual/Artístico. Seguidamente o sujeito refere gosto por trabalhos manuais
diversos, pela observação da estética das artes ou pela expressão corporal. É comum
referirem, por exemplo, que gostam de copiar desenhos, mas que não conseguem — produzi-
los mentalmente. Normalmente, isso acontece quando o CSL, está baixo, evidenciando estar
nessa área o potencial criativo –relativo ao mundo simbólico. Sujeitos interessados em cursar
Artes Plásticas ou Artes Cênicas costumam apresentar esse interesse acima da média. No
entanto, - um razoável conjunto de profissões também contempla esse interesse em vista das
atividades manuais que lhe competem. É o caso da Odontologia, da Arquitetura, das
atividades laboratoriais, cirúrgicas, etc. Nos últimos tempos, com o advento da internet e com
a expansão tecnológica, muitas profissões que surgiram contemplam interesses pelo campo
artístico. Destacam-se nesse campo as profissões ligadas a Web Design, Design Visual,
Desenvolvimento de Games.

CCE – Campo Comportamental/Educacional: O CCE diz respeito ao interesse pelo


comportamento humano, no nível individual, grupai, familiar ou amplamente social. Os
interesses podem ser de ordem emocional, educacional, ajuste social e outros, evidenciando,
em seu maior grau, profissões tais como a Psicologia, Serviço Social, Pedagogia e Ciências
Sociais. Já em níveis de interesse pelo menos próximo à média, é possível encontrar toda uma
gama de profissões que dirigem seu objeto ao ser humano quando somados ao CJS tais como
a Comunicação Social, as Ciências Jurídicas e Sociais, e a Administração no campo de RH.
Esse campo pode despertar interesse mesmo em quem apresenta alto interesse em áreas exatas
como CFIVI e/ou CFQ. Por exemplo, seguidamente o encontraremos presente em candidatos
à Arquitetura, pois seu objeto está muito relacionado ao homem em seu habitat. Nessa
configuração, poderá ser encontrado também nas licenciaturas em Matemática, Química e
Física. É importante observar que esse campo também apresenta diferenças de interesses
relacionados ao sexo do sujeito, tendendo a interessar as mulheres em níveis mais evidentes
(Levenfus, 2002, 2005; Levenfus e Bandeira, 2007).

CBS — Ciências Biológicas e da Saúde: As Ciências Biológicas dizem respeito ao corpo


humano, ao reino animal, ao vegetal e aos microrganismos. O interesse por essa área diz
respeito à própria vida.
É novamente na observação sobre o conjunto dos campos que notaremos, por exemplo, se o
interesse pelo Campo Biológico e da Saúde (CBS) reside predominantemente sobre o ser
humano ou sobre plantas, animais ou micro--organismos. Caso no mesmo teste se apresente
também um interesse pelo CCE, o sujeito tenderá a optar por áreas da saúde, envolvendo
humanos ou animais em vez de plantas. Frequentemente, o sujeito com interesses muito
superiores à média nesse campo será aquele que manifestará interesse pela Medicina, pelas
Ciências Biológicas, pela Enfermagem, pela Medicina Veterinária ou pelas Ciências
Biomédicas. No entanto, esse interesse também é perceptível, com menor intensidade, mas
pelo menos na média, nos cursos como: Psicologia, Educação Física, Nutrição, Farmácia,
Fisioterapia, Fonoaudiologia, Terapia Ocupacional (Levenfus 2001, 2002, 2005).

MATERIAL E APLICAÇÃO

O AIP é constituído por um caderno de aplicação reutilizável, uma folha de respostas, um


protocolo de levantamento para cada sexo, um crivo de apuração e um manual. Este, além de
todas as instruções pertinentes, inclui um guia com 210 profissões de nível superior.

1) Caderno de aplicação: Trata-se de um caderno reutilizável contendo 200 atividades as


quais 20 atividades de cada campo de interesse e estão distribuídas de tal forma que cada
campo seja confrontado com todos os outros e com ele mesmo duas vezes.
2) Folha de respostas e rapport: Para cada atividade numerada, existe um espaço
correspondente na folha de respostas. Esse espaço é um quadrado dividido por um risco em
diagonal. É nesse espaço que o sujeito deverá responder acerca de seu interesse real ou
relativo pela atividade. Dessa forma, o rapport consiste em pedir ao orientando que escolha,
dentre cada par de atividades, aquela que lhe desperta maior interesse, assinalando essa
preferência no respectivo espaço na folha de respostas. É permitido ao sujeito marcar as duas
atividades do par desde que perceba gostar muito das duas, com a mesma intensidade. Em
contrapartida, é proibido deixar um par em branco, ou seja, caso não goste de nenhuma das
duas, mesmo assim, o sujeito deverá marcar aquela que, comparada à outra, desperte maior
interesse. Nesse caso, o sujeito deverá marcar somente metade do quadrado.
3) Crivo de apuração: É uma folha vazada a ser colocada sobre a folha de respostas a fim de
apurar o total de itens de interesse real e relativo em cada campo.
4) Protocolo de levantamento: composto de dados de identificação do sujeito, uma tabela de
registro dos interesses reais, relativos e totais por campo e gráficos para registro das respostas
para cada sexo. Nos gráficos, as médias estão demarcadas. Por fim, há um espaço para
registro de informações adicionais de interesse do psicólogo.

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