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FINANÇAS PESSOAIS: A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO

FINANCEIRA E A RELAÇÃO COM OUTRAS ÁREAS DE FINANÇAS

Davi Lemos Reis1


Marise Scapulatempo Bertolaccini Fornari 2
Edson Martins 3

RESUMO

O estudo de finanças tem sido desenvolvido desde o século passado. Após um grande enfoque nas
finanças corporativas e públicas, as finanças pessoais acabaram recebendo influências significativas,
porém sem considerar, principalmente, a dimensão subjetiva que caracteriza as decisões dos indivíduos,
seus sonhos, desejos e aspirações. Neste trabalho, estuda-se como tem-se desenvolvido o estudo de
finanças pessoais e a relação com outros campos financeiros, as principais diferenças entre o trato com
as finanças corporativas e públicas, bem como algumas semelhanças que permitem que ferramentas
destas outras áreas de finanças podem auxiliar no planejamento financeiro pessoal, incluindo os
desenvolvimentos atuais que consideram os aspectos subjetivos, sem os quais o planejamento pode
tornar-se inócuo. Por fim, discute-se a importância da educação financeira e como esta influencia a
economia de forma positiva, e como as instituições de ensino superior podem auxiliar desempenhando
um papel decisivo neste processo.

Palavras-chave: Finanças pessoais, Finanças, Investimento, orçamento pessoal.

INTRODUÇÃO

Pode-se dizer, de maneira geral, que o campo de investigações sobre finanças, recobre
vasto material teórico. Inicialmente, os estudos sobre finanças desenvolveram-se dentro do
campo das ciências econômicas, logo tornando-se preocupação de outras áreas do
conhecimento, como marketing, desenvolvimento social, estudos sociais, microeconomia,
administração, etc.
Como uma das características principais de nossa sociedade é seu alicerce
mercantilista, compra e venda de mercadorias e serviços, todo indivíduo é um consumidor, em
algum ponto de sua vida.
Especialmente em tempos atuais, este aspecto de compras e vendas é impactado pelo
surgimento de múltiplas modalidades de compra à prazo. O que implica aos consumidores, que

1
Prof. Esp. do curso de Administração da Faculdade Calafiori (davilemosreis1@gmail.com)
2
Prof. Me. e coordenadora do curso de Administração da UEMG (marise.fornari@uemg.br).
3
Mestre em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente UEMG, Especialista em Gestão de Pessoas FGV,
Administração de Empresas UEMG e Professor universitário e Pós Graduação da Universidade do Estado de
Minas Gerais Federal - MG, edson.martins@uemg.br;
não apenas seus recursos presentes podem ser utilizados para o consumo, mas também
rendimentos futuros, os quais possuem como característica certo grau de incerteza.
Porém, se tanto a necessidade de consumir como as formas de pagamento por este
consumo se expandiram à um grande ritmo nos últimos anos, tal não ocorreu com a educação
financeira.
A necessidade do consumo e o amplo crédito levam muitas pessoas à uma situação de
endividamento, a qual não prejudica apenas um único indivíduo, mas causa reflexos nos grupos
familiares e consequentemente na sociedade.
A falta de uma educação financeira, apesar de reconhecida sua importância, causam
problemas além dos prejuízos econômicos mais imediatos, pois impede que o indivíduo tenha
acesso à uma melhor educação em outras esferas do conhecimento, o que limita suas
oportunidades profissionais, atividades recreativas, seu acesso à cultura, etc. (PIRES, 2006)
Além disto, quando há alguma educação financeira, esta tem a tendência de tratar as
finanças pessoais com forte analogia com as finanças corporativas ou públicas. Esta abordagem
mostra-se pouco eficiente para enfrentar aspectos subjetivos, os quais influenciam não apenas
o consumo, mas as estratégias de investimento e também as estratégias de ampliação dos ganhos
de cada indivíduo. (THALER, 1999)
Diante disto, este presente trabalho busca investigar como as finanças pessoais se
distinguem em relação à outras abordagens; Qual o papel da universidade relativo à educação
financeira; e quais as principais diferenças entre o planejamento financeiro geral e o
planejamento financeiro pessoal.
Por fim, este trabalho visa ainda abordar uma ferramenta que já é empregada nas
finanças corporativas, bem como reiteradamente utilizada, muitas vezes de forma empírica,
para o controle financeiro individual, fazendo ajustes para adequar-se as diferenças encontradas
entre as diferentes abordagens sobre finanças.

METODOLOGIA

Para este trabalho, buscou-se fazer um levantamento bibliográfico, levantando os


principais trabalhos e postulados que versam tanto sobre finanças como a importância de uma
educação financeira, com o objetivo de elucidar o problema explicitado anteriormente.
Através dos levantamentos bibliográficos, bem como do arcabouço teórico necessário
para conclusão da pesquisa, pode-se desenvolver ideias e apontamentos para futuras pesquisas
que por ventura este trabalho possa contribuir.
Para Selltiz et al. (1975) o uso desta metodologia tem como finalidade a investigação
mais exata ou a criação de hipóteses, bem como aumento do conhecimento do pesquisador
acerca dos fenômenos, esclarecimento de conceitos, prioridades para futuras pesquisas,
obtenção de mais informações que contribuam para futuras pesquisas sobre o tema ou aplicação
em situações práticas e apresentação de problemas considerados relevantes.
Selltiz et al. (2013) consideram ainda que uma das maiores relevâncias deste tipo de
pesquisa é a descoberta de novas ideias e hipóteses. É um método de pesquisa mais flexível, de
modo a permitir considerações de aspectos variados.
Considerando ainda que o conhecimento teórico sobre o tema específico não é tão vasto
como em outros aspectos das ciências sociais aplicadas de modo geral, tal método de pesquisa
mostra-se mais recomendado, podendo ser considerado um passo inicial em um processo de
pesquisa continuado posteriormente.
Além disto, houve levantamento de dados em fontes institucionais para verificação do
endividamento.

DESENVOLVIMENTO

Os estudos sobre finanças não são tão recentes, já tendo um campo teórico bem
desenvolvido. Diversos pesquisadores já se ocuparam de tentar responder algumas perguntas
sobre o comportamento das pessoas sobre suas próprias finanças.
Um dos primeiros autores a investigar o comportamento de poupar foi John Maynard
Keynes economista britânico do que viveu entre os séculos XIX e XX.
Keynes (1936) demonstra em seu trabalho a propensão do indivíduo poupar seus
recursos financeiros. Porém, a maneira como esta poupança é feita pode assumir diferentes
formas, algumas mais eficientes que outras, sendo que há até mesmo aquelas que mostram-se
prejudiciais no longo prazo.
O trato com as finanças pessoais apresenta muitos disafios e uma das grandes
dificuldades é a falta de conhecimento sobre o mercado financeiro pela população de maneira
geral.
Um estudo feito por Campbell (2006), voltado para decisões de investimentos nos
grupos familiares, descobriu que entre os vários elementos presentes nas decisões de
investimento das famílias, o principal era a ingenuidade. Nesta perspectiva, a falta de
conhecimento inibe não apenas os grupos familiares em sua análise sobre o melhor tipo de
investimento a ser feito, mas limita até mesmo o surgimento e ampliação de produtos
financeiros.
Porém, se a falta de conhecimento dos produtos financeiros é um dos pontos de
dificuldade, este não é o único. SILVA et all (2008) argumentam que por muito tempo as
decisões financeiras foram vistas como processos meramente analíticos e racionais, onde
pessoas ponderavam de forma sistemática sobre as decisões que deveriam tomar no momento
de investir ou gastar seu dinheiro.
Porém, a partir de estudos desenvolvidos por Amos Tversky e Daniel Karhneman,
psicólogos e docentes israelenses, começou-se a considerar que as decisões financeiras não
seriam tão racionais assim, inserindo certo subjetivismo no processo de tomada de decisões
sobre finanças (Silva et all, 2008).
Thaler (1999), à partir destas reflexões postuladas por Tversky e Kahneman aprofunda
as pesquisas e afirma que há investidores que agem de forma racional, e aqueles que agem de
maneira quase-racionais, os quais apesar de tentarem tomarem boas decisões de investimento,
acabam cometendo erros previsíveis, devidos em parte à interferência das motivações
intrínsecas dos seres humanos.
As decisões financeiras são, a partir deste entendimento, não pensadas apenas em
sentido estritamente racional, como construídas sob análises matemáticas dos melhores
resultados possíveis. As escolhas feitas pelos indivíduos também comportam elementos que
vão mesmo na contramão do que se esperaria em cenários onde a implicação matemática fosse
uma, mas a opção realizada é oposta, sendo neste aspecto considerada irracional.
Silva et all (2008) discutem que a forma como as questões relacionadas as finanças
pessoais tem sido tratadas até o momento, sem incorporar decisões consideradas dentro de uma
lógica matemática como irracionais, prejudica a compreensão do comportamento dos
investidores. Isto é ainda agravado quando se considera que o ingressante no complexo sistema
financeiro muitas vezes não sabe por onde começar, e, conforme Pires (2006) acaba tomando
decisões erradas por não dispor de recursos suficientes para contratar profissionais que lhes
apresentem as particularidades deste sistema.
Discutiremos agora alguns conceitos referentes às finanças pessoais, considerando esta
valoração subjetiva que tem recentemente sido considerada.

Planejamento financeiro

O planejamento financeiro pode ser compreendido como as diretrizes básicas que irão
orientar, coordenar e controlar as iniciativas de uma determinada pessoa, seja esta física ou
jurídica, indivídual ou coletiva, nas suas escolhas e decisões que envolvam o uso de finanças.
Este planejamento deve partir de estratégias visando o longo prazo, com os quais
lançam-se os fundamentos que orientarão a formulação de planos financeiros de curto prazo.
(GITMAN; MADURA, 2003).
Sobre a duratividade dos planejamentos financeiros, Gitman e Madura (2003)
postulam que os de longo prazo abarcam os períodos compreendidos entre dois à dez anos,
enquanto as estratégias que visam o curto prazo considera até dois anos no futuro.
Ross; Westerfield e Jaffe (1995) afirmam que o planejamento financeiro não é
estanque e imutável, deve considerar a necessidade de ser revisado e confrontado de tempos em
tempos, para que ajustes sejam feitos. Os autores ainda consideram que fatores como:
possibilidades de investimento, endividamento e montante de dinheiro disponível, influenciam
diretamente no planejamento inicial.
Pires (2006) argumenta que sem um planejamento financeiro, é impossível que se
alcance uma situação desejada, e mesmo que a realização de um planejamento apresenta-se
como condição essencial para a melhora das finanças pessoais.
Uma das ferramentas mais utilizadas para compor um planejamento financeiro eficaz
é o emprego do orçamento, um plano de processos operacionais para determinado período que
represente os recursos econômicos projetados e objetivos a serem alcançados, tanto de entrada
de recursos como de gastos. (LUNKES, 2007)
As principais contribuições de um orçamento são, conforme Lunkes (2007): Previsão
dos prováveis resultados do período; Vislumbre das necessidades e fontes financeiras futuras;
Comparabilidade e análise ao longo do tempo; Identificação de desvios no planejamento
financeiro inicial.
Ao possibilitar um confronto entre o orçamento planejado e o orçamento realizado,
pode-se investigar com maior foco as causas dos desvios ocorridos no período, propiciando que
haja maior preparação para tais eventos no futuro.
Lunkes (2007) ainda discute como a instauração de um orçamento, à nível
organizacional, possibilita que cada setor possa definir seus gastos para o período, permitindo
alocar recursos onde há um maior gasto planejado inicialmente.
Sustentando esta proposta, Sanvicente e Santos (2012) argumentam que não apenas
deve haver uma distribuição orçamentária de acordo com centros de responsabilidade, como
também é necessário o acompanhamento dos orçamentos levantados inicialmente, tentando
manter-se fiel à este, ou quando não possível, registrar as causas dos desvios.
O emprego do orçamento trás maior segurança financeira quando bem utilizado, e com
aompanhamento e as necessárias correções, é um instrumento muito útil para uma malhor
gestão dos recursos financeiros. (LUNKES, 2007) (SANVICENTE; SANTOS, 2012)
Porém, antes de avançar, discute-se algumas considerações sobre finanças pessoais.

Finanças pessoais

As finanças pessoais dizem respeito as condições de financiamento das aquisições de


bens e serviços necessários à satisfação das necessidades e desejos individuais. (PIRES, 2006)
Assim, diferentemente do que acontece com as finanças corporativas, a forma como
se organizam as finanças pessoais não tem como foco único e exclusivo o aumento do
patrimônio.
Isto porque nas finanças pessoais, como já discutido anteriormente, o componente
subjetivo acaba incluindo preocupações de ordem pessoal, e tal componente é menos influente,
por exemplo, quando se trata de finanças corporativas. Nas finanças corporativas, é comum o
uso de indicadores e índices como método de avaliação da viabilidade econômica para se optar
ou não por uma decisão financeira, como por exemplo o fluxo de caixa, TIR e VPL. (REIS,
2018).
O problema que se coloca em finanças pessoais não é o incremento do capital, mas
sim a maneira pela qual o indivíduo busca satisfazer suas necessidades e desejos, o que implica
não apenas as condições para sua subsistencia, como também aquilo que de alguma forma lhe
seja significativo.
Pires (2006) faz uma interessante distinção, quando afirma que em uma empresa pode-
se dizer que o crescimento do patrimônio, objetivo de uma empresa, é algo mensurável,
enquanto o objetivo individual é subjetivo, portanto escapa do alcance das explicações
puramente quantitativas ou relativas ao capital.
Os recursos empresariais servem para que as atividades possam continuar
indefinidamente, em situação desejável onde o patrimônio possa aumentar para que, assim,
consiga-se produzir ainda mais recursos de uma maneira sustentável.
Já em um contexto individual, ou mesmo familiar, não se pode dizer que o objetivo
seja meramente a continuidade da existência, o que implicaria tão somente a possibilidade de
subsistência.
As finanças pessoais também se apartam do trato com as finanças públicas, uma vez
que estas últimas buscam satisfazer as necessidades coletivas à partir da tomada de recursos
tanto de indivíduos como de empresas (PIRES, 2006)
Além disto, no trato das finanças pessoais a dificuldade da subjetividade, já vista na
perspectiva enquanto investidores de Silva et all (2008) e Thaler (1999), ganha uma nova
dimensão, já que lida também com o consumo, inevitável à todos os indivíduos enquanto
inseridos em uma sociedade mercantilista.
A situação é agravada em um contexto onde os recursos imediatamente disponíveis
não são os únicos meios de adquirir estes bens e serviços, sendo possível recorrer ao crédito,
que compromete em algum grau os recursos futuros que são, no momento presente, meramente
virtuais.
Para Consalter

o consumidor precisa enfrentar três diferentes batalhas contra o crédito, uma,

publicidade via televisão, internet, telefone, etc.; e, uma terceira, contra o


ataque físico, quando, caminha pelo centro da cidade, é incessantemente
abordado por homens e mulheres de panfletos em punho. (CONSALTER,
2005, p. 156)

Este cenário onde há muito esforço depreendido pelas empresas para estimular o
consumo, além de fatores psicológicos dos próprios consumidores, pode levar ao
endividamento.
Esta perspectiva do consumo em relação com o materialismo, ou seja o desejo de
exercer a possibilidade de consumir, e como isto influencia no sentido de levar a uma situação
de endividamento, é uma preocupação atual. Estudo feito por Moura (2005) descobriu que
alguns dos fatores que mais impactam o comportamento em relação ao consumo são: fatores
emotivos, de bem-estar decorrente da compra e o valor manifesto na aquisição de status social.
Além destes fatores mais subjetivos, portanto mais difíceis de serem estudados, Lunt
e Livingstone (1991) destacam que variáveis demográficas são pertinentes ao observar certos
fenômenos no comportamento do endividamento.
Portanto, a mera aplicação de ferramentas teórico e metodológicas usadas para tratar
das finanças corporativas ou governamentais, mostram-se ineficazes no trato das finanças
pessoais, as quais envolvem outras variáveis que não se aplicam aquelas outras.
Seria necessário, portanto, uma educação voltada às finanças de maneira específica.

Educação financeira

Enquanto o tema das finanças é amplamente discutido tanto voltada às finanças


corporativas, quanto voltada às finanças públicas, quando se volta para finanças pessoais não
se tem tamanha cobertura educacional como as outras.
Porém, esta lacuna educacional não é decorrente apenas do ensino superior, sendo que
como aborda questões básicas da vida de qualquer pessoa, enquanto adulto econômicamente
ativo, as finanças deveriam ser ensinadas nas escolas de educação básica. (BARROS, 2010).
Esta necessidade de uma educação financeira não visa apenas o trato com os recursos
visando necessidades mais imediatas, mas também para situações que são possíveis, mesmo
que não sejam evidentes no presente, as quais o indivíduo deve-se precaver por prudência.
Sobre isto, é interessante este trecho

A educação financeira surge como resposta para orientar na tomada de


decisões, informando sobre serviços financeiros ofertados, necessidades e
desejos de consumo, poupança, financiamento e juros, investimentos e
rendimentos. Pode ser entendida como o conjunto de informações que
auxiliam as pessoas a lidarem com a sua renda, com a gestão do dinheiro, com
gastos e empréstimos monetários, poupança e investimentos de curto e longo
prazo (GANS , GANS, OLIVEIRA, MOREIRA, FILHO, 2016, p.96)

Duarte (2012) argumenta que nas universidades há um espaço propício para que a
educação financeira seja abordada. Porém, segundo este autor, isto não é o que se observa, e
que os alunos saem das faculdades muitas vezes com o mesmo conhecimento financeiro com o
qual entraram.
Ainda tanto para Duarte (2012) e Barros (2010), é interessante que as universidades
passem a considerar a importância de ofertar uma formação financeira voltada aos seus alunos,
não apenas dos cursos de ciências sociais aplicadas, mas também em relação com outras áreas
do conhecimento.
Devido tanto à falta de conhecimento sobre finanças, bem quanto às particularidades
das finanças pessoais, deve-se pensar em como auxiliar os indivíduos a construírem um
planejamento de finanças pessoais.

Planejamento financeiro pessoal

O planejamento financeiro pessoal tem como preocupação levar o indivíduo a alcançar


determinados objetivos pessoais em prazos determinados, instalando um planejamento
estratégico que vise as metas específicas de cada pessoa ou grupo familiar. (CHEROBIM;
ESPEJO, 2010).
Porém, os prazos para serem adotados no planejamento financeiro pessoal não são os
mesmos que os utilizados no planejamento empresarial e/ou público. Rocha e Vergili (2007),
considerando as finanças pessoais, postulam que os objetivos de curto prazo são aqueles que se
queira alcançar em até um ano, e objetivos de longo prazo todo aquele que envolva mais de um
ano.
O curto prazo envolve gastos com bens e serviços que envolvam valores menos
elevados, como roupas, livros, presentes, viagens, celulares, etc. Já os gastos à longo prazo
envolvem não apenas valores mais elevados mas também um maior envolvimento afetivo e até
mesmo cognitivo. (ROCHA; VERGILI, 2007).
Porém, para que se possa definir estes objetivos, é importante que se considere quais
recursos o indivíduo de fato tem à sua disposição. Sem o claro entendimento dos valores
disponíveis o planejamento pessoal torna-se inviável.
Para Cherobim e Espejo

A compreensão da nossa realidade financeira, a identificação das necessidades


da nossa família, a priorização dessas necessidades por um lado, e a
quantificação dos recursos disponíveis para satisfazê-las, por outro lado
(salário, aluguéis, pensões e ajustas de custo, rendimentos financeiros),
facilitam a elaboração do nosso planejamento financeiro pessoal.
(CHEROBIM; ESPEJO, 2010, p. 30)

Portanto, antes de se pensar em um planejamento, deve-se considerar os objetivos


pessoais e recursos disponíveis, além de se estabelecer prazos para a aquisição de determinados
bens e/ou serviços.
Por fim, após o levantamento do referencial teórico, iremos discutir como estes
elementos se relacionam.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Após a pesquisa em fontes bibliográficas foram constatadas diferenças consideráveis em


relação ao trato de finanças pessoais confrontadas com as finanças corporativas e finanças
governamentais.
A principal diferença que foi encontrada foi a inserção do caráter subjetivo no trato das
finanças ditas pessoais, uma vez que esta não envolve apenas variáveis econômicas, sendo que
outros fatores exercem igual ou superior influência.
Desejos, sonhos e expecativas influenciam na forma como os indivíduos aportam seus
recursos financeiros, sendo que desconsiderar esta dimensão seria fundamentar um
planejamento fadado ao fracasso.
Além disto, outra forte diferença encontrada é que o objetivo final das finanças pessoais,
em contraponto com as finanças corporativas, não é nem a maximização do patrimônio e nem
a mera continuidade da existência. Em se tratando de indivíduos ou grupos familiares, a
subsistência é um fator necessário, mas uma vez cumprido tal exigência não se pode dizer que
o uso e aplicação dos recursos será tão somente para maximizar o patrimônio ou incrementar a
receita.
Se este fosse o caso, certamente haveria modelos mais estáveis para cuidar dos recursos
financeiros individuais, e o uso destes modelos seriam aplicáveis a certos grupos
economicamente aparentados, o que não parece ser o caso.
Em contraponto às finanças públicas, o emprego dos recursos indivíduais não visa o
benefício coletivo stricto sensu. Ainda que os recursos financeiros de indivíduos se apliquem a
grupos pequenos, como grupos familiares, seu alcance não é tão amplo como no trato das
finanças públicas.
Além destes fatores já expostos, outro importante ponto que aparta as finanças pessoais e
as demais finanças é que a fonte dos recursos possuem maior estabilidade que em outras
finanças.
Em finanças pessoais, a maior parte da renda vem de um ganho fixo, seja este salário
recebido, dividendos aportados de negócios ou ganhos em rendas. Estes valores, em cada caso,
apresentam uma regularidade a qual as finanças corporativas, auferida nas vendas, e os
incrementos em finanças públicas, advindos principalmente de tributos, não possuem pela
natureza de tais ganhos.
Assim, enquanto uma variação brusca da renda em uma empresa é explicada observando
suas vendas, e em finanças públicas pelo aumento na tributação por exemplo, nas finanças
pessoais uma variação deste nível está mais ligada à eventos profissionais como uma promoção
de cargo ou perda de emprego.
Até por esta característica de maior estabilidade nas entradas de recursos em finanças
pessoais, as opcões para incremento de renda não são implementadas com tanta maleabilidade,
normalmente sendo acompanhada de uma aquisição de novas de competências e habilidades,
além de oportunidades para aplicação destas em uma atividade que traga retorno econômico.
Por exemplo, caso um indivíduo queira incrementar sua renda no mercado financeiro,
deverá adquirir habilidades e competências necessárias, o que demanda maior tempo tanto para
aprimorar estas como para adquirir recursos que lhe possibilitem escolher opções com maior
rentabilidade. Ou então, o indivíduo que busca uma recolocação no mercado de trabalho se
submeterá a um novo curso, o que também envolve investimentos financeiros e temporais.
Neste caso, nota-se que a falta de uma educação financeira trás alguns prejuízos, pois
muitos indivíduos chegam à idade adulta sem estudos formais no trato com as finanças, e
acabam adquirindo experiências de forma empíricas, e estas por sua vez resultam em decisões
que levam a situações financeiras desfavoráveis.
Em um curso superior, como na graduação, seria um momento oportuno para que este
estudo fosse feito, mas de fato talvez fosse mais prudente que a educação financeira fosse
endereçada ainda no ensino médio.
A inclusão de conceitos básicos de finanças pessoais traria uma maior preparação para os
jovens enfrentarem os desafios da vida em sociedade, evitando situações de endividamento que
tem se tornado uma preocupação atual.
As instituições de ensino superior poderiam disponibilizar uma visão geral sobre finanças
e incluir alguns ensinamentos básicos sobre o trato com finanças pessoais, mostrando como
ferramentas desenvolvidas para o uso nas finanças corporativas e públicas, apesar de suas
diferenças, auxiliam à lidar com finanças pessoais.
Durante este ensino formal, sugere-se assegurar que o planejamento financeiro de
qualidade inclua também os gastos que sejam importantes aos indivíduos de forma subjetiva,
relativos aos seus sonhos, desejos e expectativas, para que tal indivíduo possa seguí-lo de forma
realista, até mesmo como meio para possibilitar que tais necessidades sejam acessíveis à ele no
presente ou futuro.
Através das informações colhidas na bibliografia de referência, foi possível inferir que
muitos autores vislumbram que uma educação financeira maior dos cidadãos resulta no
fortalecimento econômico de maneira geral.
Porém, não só diferenças foram encontradas entre a forma de lidar com finanças pessoais
em relação aos outros tipos de finançcas, sendo que algumas semelhançcas interessantes foram
observadas no estudo. Uma das ferramentas utilizadas tanto em finanças corporativas como em
finanças públicas parece útil também quando aplicada à finanças pessoais.
Esta ferramenta trata-se do orçamento, que essencialmente é uma maneira de prever a
obtenção de renda e aplicação dos recursos. Porém, tal ferramenta precisa ser adaptada à
realidade da finança pessoal.
Assim, propõe-se que os indivíduos façam uma projeção de gastos por macro-áreas,
permitindo mobilidade entre os elementos que as compoem. Dividindo os gastos entre
Necessários; Acessórios e Invesitmentos, e estabelecendo valores-limites à partir de vaores
históricos anteriores.
Desta forma, cada macro-área fica assim definida:

1. Necessários: São os gastos estritamente necessários à subsistência fisiológica e de


segurança do indivíduo, como moradia, alimentação, gastos com energia, água, saúde,
etc.
2. Acessórios: São gastos que não são estritamente necessários, mas facilitam a vivência do
indivíduo em sua rotina, como internet, transporte, vestuário, recreação, hobby, etc.
3. Investimentos: São gastos que permitem ao indivíduo auferir possíveis ganhos
econômicos futuros, tais como educação, aplicações, renda fixa, renda variável, etc.

Um possível exemplo, considerando um indivíduo que divida despesas necessárias com


outros indivíduos seria:
QUADRO 1 EXEMPLO DE ORÇAMENTO INDIVUDAL POR ÁREAS
Orçamento individual mês de janeiro
Total do orçamento R$ 2.250,00
Necessários 36,44 % Acessórios 40% Investimentos 23,56 %
Aluguel 300,00 Internet 100,00 Curso de idiomas 130,00
Alimentação 150,00 Combustível 90,00 Aplicações 150,00
Água 60,00 Parcela do veículo 370,00 Renda fixa 250,00
Energia 90,00 Roupas 180,00
Plano de saúde 220,00 Lazer 160,00
Total 820,00 Total 900,00 Total 530
Fonte: Elaborado pelo autor (2019)

Seria recomendável a elaboração de orçamentos mensais dos doze meses de um ano,


considerando apenas a renda atual. Assim, propõe-se que a porcentagem atribuída à macro-área
de Investimentos aumente ao longo do tempo. Caso haja incremento da renda, por promoções
ou rendas extras não previstas, recomenda-se também que seja aplicado o aumento na macro-
área de investimentos.
Desta forma, possibilita um planejamento financeiro individual que permite margem para
mudanças e a subjetividade. Ressalta-se que o objetivo não é engesar os gastos, mas sim
permitir que todas as atividades individuais tenham recursos para serem concretizadas.
A elaboração do orçamento com as divisões em macro-áreas permite que o indivíduo
tenha uma visão melhor de seus gastos antes que eles sejam incorridos, bem como permite
analisar quais fatores fizeram com que o orçado não pudesse ser realizado.
Nesta perspectiva, compreende-se que um dos grandes benefícios de utilizar-se do
orçamento financeiro individual é, além da previsbilidade, o histórico que poderá ser composto
ao longo do tempo, permitindo uma análise da evolução dos gastos por áreas, e através de seus
elementos, uma observação mais qualitativa sobre como ocorreram estes gastos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O campo de finanças pessoais tem desenvolvido pesquisas e perspectivas interessantes


nos últimos anos. Com atenção nos fatores subjetivos para compreender as decisões financeiras
dos indivíduos, permitiu-se sair de uma posição prescritiva que resultava na descontinuidade
do planejamento, principalmente por não considerar tais fatores, para modelos que tentassem
vislumbrar maneiras de melhor harmonizar as variáveis subjetivas com outras.
Apesar das muitas diferenças encontradas entre as finançcas pessoais e as públicas e
coporativas, é possível encontrar semelhanças que permitam a aplicação de algumas
ferramentas, como o orçamento, após necessárias adaptações.
Por fim, viu-se que há uma necessidade em melhorar a educação financeira,
desejavelmente desde a juventude, e que isto pode contribuir para um melhor panorama
econömico nacional, principalmente considerando a problemática do endividamento.
Neste sentido, as instituições de ensino superior podem auxiliar fornecendo ensino
formal sobre o trato com as finanças, buscando diminuir o impacto de situações de
endividamento não apenas na economia de maneira geral, mas na própria desponibilidade dos
recursos pelos indivíduos.

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