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This study “Protection from deception” is a compilation based on a series of three tapes:

… Let Us Honor God’s Holy Spirit

… Earthly, Soulish, Demonic

… Four Safeguards

Este estudo “Proteção contra o Engano” é uma compilação baseada numa série de três
gravações:

… Honremos o Espírito Santo de Deus

… Terreno, Anímico, Demoníaco

… Quatro Salvaguardas

©1996, Derek Prince Ministries International, P.O. Box 19501, Charlotte, NC 28219

©1997 Editora Ceifa, em português, formato impresso

©2019 Derek Prince Portugal, em português, formato PDF

Autor: Derek Prince

Tradutor: Jorge Pinheiro

Redação: Christina van Hamersveld

Desenho da capa: Derek Prince Portugal

A versão bíblica usada neste livro é: Almeida Corrigida Revisada Fiel, sempre que não seja
mencionada informação contrária.
ÍNDICE

Capítulo 1: Honremos o Espírito Santo de Deus ...………….. 4


A Verdade não é determinada pelos Sinais e Maravilhas …………………………… 4

A Mistura Produz Confusão e Divisão ……………………………………………………… 8

Três marcas que identificam o Espírito Santo ………………………………………….. 13

Capítulo 2: Terreno, Anímico, Demoníaco ………………….. 22


Espiritual versus Anímico (da alma) ……………………………………………………… 22

Distinguir entre espírito e alma ……………………………………………………………. 27

Exemplos do Antigo Testamento ………………………………………………………….. 32

Haverá forma de nos proteger? …………………………………………………………… 36

Cinco movimentos que se desviaram ……………………………………………………. 38

Capítulo 3: Quatro Salvaguardas …………………………… 43

Salvaguarda nº 1 - Humilhar-nos ……………………………………………………….. 43

Salvaguarda nº 2 - Receber o amor à verdade …………………………………….. 44

Salvaguarda nº 3 - Cultivar o temor do Senhor ……………………………………. 46

Salvaguarda nº 4 - Tornar e manter a cruz central na nossa vida ………….. 50


(1)

- HONREMOS O ESPÍRITO SANTO DE DEUS -

Esta é a primeira de uma série de três mensagens. Neste capítulo, tento analisar
um problema que se tem manifestado em várias secções da Igreja em muitas
partes do mundo. No capítulo seguinte, procuro analisar como o problema surgiu.
E no capítulo 3, abordo algumas formas que nos protegem de uma nova
manifestação do problema. Esta primeira mensagem intitula-se “Honremos Deus,
o Espírito Santo”.

- A Verdade não é Determinada pelos Sinais e Maravilhas -

Em anos recentes, tem havido a nível mundial uma explosão de sinais e


maravilhas. Alguns têm sido bíblicos e muito úteis, outros bizarros e não-bíblicos.
Os sinais e maravilhas não são novidade. Encontramo-los registados em diversas
passagens da Bíblia e em diferentes períodos da história da Igreja. Contudo, a
atual explosão ultrapassa largamente as fronteiras de uma igreja ou
denominação particular e atraiu a atenção generalizada dos media, tanto
religiosos como seculares.

Quero deixar bem claro que não possuo preconceitos pessoais ou ansiedade
relativamente a manifestações invulgares. A verdade é que na minha vida tenho
experimentado grande número de sinais. Não me assustam. Não encaro os sinais
de forma negativa.

Como já declarei na minha brochura “Uproar in the Church” (Tumulto na Igreja)


o meu encontro pessoal com Jesus na 2ª Guerra Mundial começou de uma forma
nada convencional. A meio da noite, numa caserna do exército britânico, passei
mais de uma hora deitado de costas no chão, com o corpo agitado por soluços
convulsivos e depois inundado por um rio de riso que a cada momento se tornava
mais ruidoso.

Na manhã seguinte, eu era uma pessoa completamente diferente, transformado


não por um ato da minha vontade, mas por me render ao poder sobrenatural
que me inundara. Fui à procura na Bíblia de diversas passagens que falam do
riso. Para minha surpresa, descobri que para o povo de Deus o riso não é
fundamentalmente, como imaginamos, uma reação a algo de cómico, mas antes
uma expressão de triunfo sobre os nossos inimigos.

No Salmo 2:4 David retrata o próprio Deus como alguém que se ri:

“Aquele que habita nos céus se rirá; o Senhor zombará deles.”

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Aqui, o riso de Deus não é uma reação a alguma comédia apresentada na terra.
É antes a Sua resposta aos ridículos anões humanos que têm a ousadia de se
opor aos Seus propósitos. É a Sua expressão de triunfo sobre todas as forças do
mal.

Por vezes, Deus enche-nos com o Seu riso de tal maneira que passamos a poder
compartilhar o Seu triunfo sobre os que são Seus e nossos inimigos.

Mais tarde, pastoreei uma congregação em Londres que se reunia no último


andar de um edifício de cinco andares. Certa noite, um coxo foi miraculosamente
curado e largou as muletas. Todos irrompemos num louvor espontâneo. Naquele
momento, o edifício começou a tremer e a abanar com o poder de Deus. O louvor
e os abanões continuaram cerca de trinta minutos.

Percebi que algo de semelhante fora registado em Atos 4:31 em relação à igreja
primitiva:

“E, tendo orado, moveu-se o lugar em que estavam reunidos; e todos foram
cheios do Espírito Santo, e anunciavam com ousadia a palavra de Deus.”

Naquela altura específica, a nossa congregação estava envolvida numa série de


cultos evangelísticos semanais nas ruas de Londres e necessitávamos certamente
de mais do que uma ousadia natural.

Há duas perguntas a fazer

Mas em relação a qualquer tipo de manifestação, há duas perguntas que sempre


levanto. A primeira: é uma manifestação do Espírito Santo de Deus ou a fonte da
manifestação será outra? Segunda pergunta (relacionada com a primeira): a
manifestação está em harmonia com a Escritura?

Em Timóteo 3:16, Paulo diz: “Toda a Escritura é divinamente inspirada...”


(inspirada por Deus). Por outras palavras, o Espírito Santo é o autor de toda a
Escritura e Ele nunca diz ou faz seja o que for que O contradiga. Cada
manifestação genuína do Espírito Santo harmoniza-se de alguma forma com a
Escritura.

Jesus adverte contra o engano no fim dos tempos

Gostaria de começar com alguns alertas dados por Jesus, em particular


relacionados com o fim dos tempos em que acredito estarmos a viver. São alertas
contra o engano. Encontram-se em Mateus capítulo 24, versículos 4, 5, 11 e 24.
Por outras palavras, 4 vezes em 21 versículos. Jesus alerta-nos especificamente
contra o engano neste período do final dos tempos.

A primeira coisa que Jesus disse tem a ver com os acontecimentos conducentes
à Sua vinda, em Mateus 24:4:

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“... Acautelai-vos, que ninguém vos engane;”

Versículo 5:

“Porque muitos virão em meu nome, dizendo: Eu sou o Cristo; e enganarão a


muitos.”

Versículo 11:

“E surgirão muitos falsos profetas, e enganarão a muitos.”

E por fim no versículo 24:

“Porque surgirão falsos cristos e falsos profetas, e farão tão grandes sinais e
prodígios que, se possível fora, enganariam até os escolhidos.”

Assim, Jesus alerta-nos quatro vezes contra o engano. Todo aquele que despreza
esses avisos ou os trata de ânimo leve ponha em risco a sua própria alma.

O maior perigo neste final dos tempos não é a doença, a pobreza


ou a perseguição. É o engano!

Se alguém diz: “Isso nunca poderia acontecer-me”, isso já lhe aconteceu, porque
ela está a dizer que nunca poderia acontecer o que Jesus disse que iria ocorrer.
É indicação suficiente de que tal pessoa está enganada.

Depois, gostaria de dizer algo importante sobre sinais e maravilhas. Eles não
determinam a verdade e é essencial compreender isto.

Somente a Palavra de Deus determina a verdade

Os sinais e maravilhas não determinam a verdade! A verdade já está determinada


e estabelecida e encontra-se na Palavra de Deus. Em João 17:17, Jesus está a
orar ao Pai e diz:

“... a tua palavra é a verdade.”

E no Salmo 118:89, o salmista declara:

“Para sempre, ó Senhor, a tua palavra permanece no céu.”

Nada do que aconteça na Terra pode mudar uma única letra ou sinal da Palavra
de Deus. Ela está para sempre estabelecida no céu.

Satanás pode produzir sinais mentirosos para atestar as suas mentiras

Ora, a Bíblia fala de sinais e maravilhas. Revela algumas coisas sobre eles que

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são boas e outras que são assustadoras. Vejamos por exemplo o que está escrito
em 2 Tessalonicenses 2:9-12:

“A esse cuja vinda é segundo a eficácia de satanás, com todo o poder, e sinais e
prodígios de mentira, e com todo o engano da injustiça para os que perecem,
porque não receberam o amor da verdade para se salvarem. E por isso Deus lhes
enviará a operação do erro [... um poder sedutor, NVI], para que creiam a
mentira; para que sejam julgados todos os que não creram a verdade, antes
tiveram prazer na iniquidade.”

Assim, Paulo diz aqui que existem sinais e maravilhas de mentira. Há sinais
verdadeiros e sinais falsos. Os sinais verdadeiros testificam da verdade. Os sinais
falsos testificam da mentira. Satanás é plenamente capaz de produzir sinais e
maravilhas sobrenaturais. Infelizmente, muitos do movimento carismático
assumem a atitude de que se algo é sobrenatural, então provém de Deus. Não
há base bíblica para tal afirmação. Satanás é perfeitamente capaz de produzir
sinais e maravilhas que atestem as suas mentiras e a razão de tais pessoas serem
enganadas deve-se ao facto de não terem recebido o amor da verdade. A tais
pessoas, Deus enviará a operação do erro (envia-lhes um poder sedutor / forte
engano).

Essa é uma das declarações mais assustadoras da Bíblia. Se Deus te envia um


poder sedutor / forte engano, ficarás enganado. Penso ser um dos mais fortes
juízos de Deus registados na Escritura, enviar a tais pessoas um poder sedutor /
forte engano. Tais pessoas serão condenadas porque não creram na verdade,
mas tiveram prazer na iniquidade.

Nossa única segurança é conhecer a verdade da Palavra de Deus

Portanto sinais e maravilhas não são garantia que alguma coisa seja a verdade.
Só há uma forma segura de conhecer a verdade. Está na Palavra de Deus. Jesus
disse em João 8:32: “Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará ”. Não há
outra forma de ter a certeza de podermos escapar ao engano nestes dias, a não
ser conhecermos e aplicarmos a verdade da Palavra de Deus, a Escritura.

Devemos examinar todas as coisas

Em 1994, estive pela primeira vez em contacto direto com um dos grupos em
que essas manifestações ocorriam. Um grupo de líderes assistiu a alguns dos
seus cultos e regressaram todos entusiasmados, dizendo que haviam
experimentado algo maravilhoso e que todos nós precisávamos também de o
experimentar. Diziam: “Agora, não é preciso testar, examinar. Só é preciso abrir-
se às manifestações e experimentá-las”. Foi a primeira vez que comecei
realmente a desconfiar de algumas dessas coisas, porque uma tal afirmação está
em direta contradição com a Escritura.

Em 1 Tessalonicenses 5:21, Paulo diz aos cristãos:

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“Examinai tudo. Retende o bem.”

Assim, se não examinarmos as coisas, estaremos a desobedecer às Escrituras e


aquele que nos diz que não devemos examinar as coisas não está alinhado com
a Escritura.

O nosso coração pode enganar-nos

Não podemos confiar nos nossos corações para termos a certeza da verdade.
Provérbios 28:26 diz:

“O que confia no seu próprio coração é insensato, ...”.

Então, não sejas insensato, não confies no teu próprio coração. Não confies
naquilo que o teu coração te diz, porque não é de confiança. De novo em
Jeremias 17:9, o profeta diz:

“Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso; quem o


conhecerá? ”

A palavra enganoso em hebraico é muito interessante. Em 1946, frequentava a


Universidade Hebraica de Jerusalém, como aluno convidado, para estudar a
natureza – ou a lei – da língua hebraica. Estava a escutar um professor perito
neste campo que discorria sobre este versículo: Jeremias 17:9: “Enganoso é o
coração, mais do que todas as coisas, ...”. Ele apresentou razões que mostravam
que esta forma da palavra enganoso é ativa, não passiva. Não significa que o
nosso coração é enganado. Significa que o nosso coração nos engana, pelo que
não podemos confiar nele.

O professor mostrou um quadro muito vivo do que significa descobrir a verdade


sobre o nosso coração. Dizia que é como descascar uma cebola. Tiramos casca
após casca, sem nunca saber quando chegamos à última camada e durante todo
esse tempo os nossos olhos lacrimejam. Durante 50 anos, essa imagem
permaneceu nítida na minha mente – um alerta intenso e bíblico para eu não
confiar no meu próprio coração para me revelar a verdade. Só há uma única
fonte de verdade e essa é a Escritura!

- A Mistura Produz Confusão e Divisão -

Gostaria agora de resumir todo este fenómeno / movimento, ou o que lhe


quisermos chamar, baseado em parte na observação pessoal e em parte no que
acredito serem relatos fidedignos. O meu resumo é muito simples: é uma mistura
de espíritos, tanto do Espírito Santo como de espíritos impuros. Eles estão
misturados.

Em Levítico 19:19, Deus alerta-nos contra as misturas. Ele opõe-se às misturas.


Deus disse:

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“Guardarás os meus estatutos; não permitirás que se ajuntem misturadamente
os teus animais de diferentes espécies; no teu campo não semearás sementes
diversas, e não vestirás roupa de diversos estofos misturados.”

Assim, Deus alerta-nos contra três coisas: criar gado misto, semear sementes
mistas e vestir roupa mista.

Podemos dizer que semear semente mista representa a mensagem que


anunciamos, quando é em parte verdade e em parte erro. Trajar roupa mista
assemelha-se ao estilo de vida que é parcialmente bíblico e em parte deste
mundo. E cruzar gado com gado de um género incompatível será equivalente a
um ministério ou grupo cristão andar de mãos dadas com um grupo ou ministério
não-cristão.

Há uma coisa interessante sobre tal cruzamento: o seu produto é sempre estéril.
Por exemplo, podemos cruzar uma égua e um burro e produzir uma mula. Mas
esta é sempre estéril; não pode reproduzir-se. Penso ser essa uma razão de haver
tantas operações “estéreis” na cristandade – estão a cruzar-se com o parceiro
errado.

O rei Saul um exemplo trágico de uma mistura de espíritos

Ora, tenho observado cuidadosamente e tenho tido experiências dolorosas desta


situação de mistura de espíritos. Verifico ser algo para o qual a Escritura nos
alerta. Por exemplo, há uma personagem na Bíblia, o Rei Saul, que possuía uma
mistura de espíritos. Certa vez, ele profetizou no Espírito Santo; noutra ocasião,
profetizou sob a influência de um demónio. A sua carreira é um verdadeiro alerta.
Foi um rei que governou durante quarenta anos. Foi um comandante militar bem-
sucedido. Experimentou imensos sucessos. Mas a mistura foi o seu erro e a sua
vida terminou em tragédia. Na derradeira noite da sua vida, foi consultar uma
bruxa e no dia seguinte suicidou-se no campo de batalha. É um exemplo que
certamente nos leva a não querer cultivar qualquer tipo de mistura espiritual na
nossa vida.

Os resultados da mistura: confusão e divisão

Tenho observado que o resultado da mistura produz duas coisas: primeiro,


produz confusão; depois produz, divisão. Por exemplo, temos esta mensagem
mista, parte da qual é verdade e parte falsa. As pessoas podem reagir de duas
formas. Há os que veem o bem e se concentram nele e, contudo, aceitam o mal.
Outros concentram-se no mal e, logo, rejeitam o bem. Em qualquer dos casos,
não cumprem os propósitos de Deus.

Há já muito tempo, quando era pastor, recordo-me que as pessoas mais difíceis
de lidar eram as de mistura. Aqui segue um pequeno exemplo imaginário. Na
nossa congregação assiste a irmã Maria. Num domingo, ela profere uma
maravilhosa mensagem profética e todos ficam edificados, entusiasmados. Mas
dois domingos depois, ela levanta-se e dá uma revelação que recebeu num

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sonho. À medida que avança, mais confusa se torna esta revelação. Por fim,
como pastor, tenho de lhe dizer: “irmã Maria agradeço-lhe, mas creio
sinceramente que isso não vem do Senhor” e ela senta-se. Mas as coisas não
acabam aqui.

Depois do culto, a irmã Silva vem ter comigo e diz: “irmão Prince, como pôde
falar assim à irmã Maria? Não se recorda da linda profecia que ela deu há dois
domingos atrás?” E quando a irmã Silva se vai embora, o irmão Manuel aproxima-
se e diz: “se este é o tipo de revelações que ela tem, já não vou escutar nenhuma
das suas profecias”.

Está a ver o que sucede? Confusão e, como resultado, divisão. Creio que é
exatamente o que está a acontecer na igreja: confusão resultando em divisão.
Não há dúvida que há tremenda divisão! Acredito que a confusão produz sempre
divisão.

O amor não pode ser indiferente ao mal

A Bíblia não nos concede liberdade para tolerar a incursão do mal na igreja. Não
podemos ser passivos, não podemos ser indiferentes. Provérbios 8:13 diz:

“O temor do Senhor é odiar [aborrecer]o mal, ...”

É pecado ser-se indiferente em relação ao mal. Em João 10:10, Jesus falou do


ladrão, do diabo, que vem:

“... para roubar, matar e destruir ...”

Precisamos sempre de nos recordar, seja na vida individual seja numa


congregação, que o diabo surge sempre com três objetivos: roubar, matar e
destruir.

Recordo-me muitas vezes de ter falado com pessoas necessitadas de libertação


de um espírito maligno e de lhes ter dito: “Lembre-se que o diabo tem três razões
para se manifestar na sua vida: roubar, matar e destruir. Precisa de o enfrentar
e não permanecer neutro – tem de o expulsar”. O que é verdade em relação a
um indivíduo é-o também em relação a uma congregação. É verdade para o
corpo de Cristo em todo o mundo.

Algumas destas manifestações invulgares têm sido comparadas com


manifestações invulgares que acompanharam o ministério de John Wesley,
George Whitefield, Jonathan Edwards e Charles Finney. Houve sem dúvida
manifestações invulgares no ministério desses quatro homens e eu próprio
estudei algumas, mas penso que as diferenças são maiores que as semelhanças
com a presente situação. Vejamos três dessas diferenças:
Primeiro todos esses homens se baseavam numa forte pregação da Palavra de
Deus. Dificilmente faziam fosse o que fosse antes de pregarem a Palavra de Deus
ou divorciado da pregação da Palavra de Deus. Finney, por exemplo, comentou

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algures sobre o seu ministério, “Em geral, falo uma hora ou duas”. Não sei
quantos cristãos contemporâneos no ocidente escutariam um sermão de duas
horas, mas Finney apresentava a Palavra na sua pureza e poder.

Segunda diferença: Todos esses homens faziam um forte apelo ao


arrependimento. Essa era a exigência fundamental deles em relação às pessoas
a quem ministravam. Há quem chame “refrigério” àquilo que vemos hoje, mas
em atos 3:19, Pedro diz que o refrigério deve ser precedido pelo arrependimento.
Qualquer refrigério que deixe de lado o arrependimento não é bíblico.

A terceira diferença é que no ministério desses homens, não há, tanto quanto
saibamos, relato de alguém deles ter imposto as mãos sobre as pessoas. Não
estou a dizer que não seja bíblico impor as mãos sobre as pessoas, mas há uma
diferença. Há uma situação em que as pessoas recebem diretamente para si a
palavra pregada e outra situação em que se lhes impõem as mãos.

Deixe-me dar um exemplo. É como a chuva. Se estivermos ao ar livre e a chuva


cair sobre nós, recebemo-la diretamente vinda do céu. Mas por outro lado, se ela
for armazenada numa cisterna, então não estamos a recebê-la diretamente do
céu. Temos de levar em conta a cisterna e a canalização através da qual nos
chega a água da chuva.

Isto é algo muito vívido para mim, porque a minha primeira esposa, Lydia, e eu
vivemos no Quénia durante cinco anos numa casa em que a água potável
provinha da chuva captada no telhado da casa e canalizada para cisternas de
betão. Embora a água viesse do céu, aprendemos rapidamente por experiência
que se permanecesse durante muito tempo na cisterna, criava bichos e,
consequentemente, tínhamos de fervê-la para beber. Não havia nada de errado
com a chuva quando ela caía do céu, mas algo acontecia na canalização através
da qual nos chegava a chuva que, então, já não era pura. Penso que o mesmo é
verdade em relação à imposição das mãos. É um canal que nem sempre é puro.

Recentemente alguns ministros deixaram de apenas impor as mãos para fazer


outros gestos – como acenar ou apontar. Contudo, isso não altera o facto de que
algo está a ser transmitido através das mãos. Caso contrário, não há razão para
utilizar as mãos. A questão importante permanece de pé: essas mãos são canais
puros através dos quais apenas flui o Espírito Santo?

Por exemplo, há pouco tempo Ruth e eu assistíamos a um culto em que estavam


a falar pastores profundamente envolvidos no atual movimento. Estávamos
sentados, duas filas atrás de uma mulher que passava por uma terrível
experiência. Era como alguém continuamente a tentar de arrotar ou vomitar e
assim prosseguia sem parar. Por fim, eu disse à Ruth: “Acho que temos de tentar
ajudá-la”.

Assim, embora fosse um culto no qual não tivéssemos qualquer responsabilidade,


aproximámo-nos calmamente para falar com ela. Muito depressa descobrimos
que ela estava a falar numa língua, mas tornou-se-nos evidente que era uma

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língua falsa, não provinha do Espírito Santo. Desafiámo-la a confessar que Jesus
é Senhor e ela não mostrou vontade de o fazer. Por isso, concluí tratar-se de um
falso espírito.

Mais tarde as pessoas que a acompanhavam aproximaram-se de nós a perguntar


o que podiam fazer. Perguntei-lhes: ”Como é que isto aconteceu?” E
responderam: “Bem, ela foi a uma igreja que está envolvida neste movimento e
alguém lhe impôs as mãos e desde então tem estado assim. Mas ela está
convencida de que é de Deus. Não podemos ajudá-la”. Este é apenas um exemplo
da “chuva” que veio através de uma “cisterna” que não era pura.

Amor bíblico é evidenciado pela obediência

Também, no presente movimento, se dá muita ênfase ao amor. Concordo que


não há nada maior que o amor. Mas o problema é que as pessoas nem sempre
percebem a natureza do amor tal como é descrito no Novo Testamento. Primeiro,
o amor em nós expressa-se pela obediência ao Senhor. Qualquer tipo de amor
que não resulte em obediência é um amor não bíblico.

Qualquer tipo de amor que não resulte em obediência ao Senhor


é um amor não bíblico.

Em João 14:15, Jesus disse aos Seus discípulos: “Se me amais, guardai os meus
mandamentos.” Por outras palavras, qual é a evidência de que O amas? A
evidência é guardares os Seus mandamentos. Depois no versículo 21, Jesus diz:
”Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda esse é o que me ama…” E
em 1 João 5:3, diz: “Porque este é o amor de Deus: que guardemos os Seus
mandamentos; …” Portanto, qualquer tipo de amor que não resulta em
obediência à vontade de Deus revelada na Sua palavra não é um amor bíblico. É
uma falsificação, um substituto da realidade.

O amor de Deus pode castigar e exigir arrependimento

Depois, precisamos de considerar a forma como Deus expressa o Seu amor por
nós. É verdade que Deus é nosso pai e que Ele nos ama, mas como Pai, se
necessário, está preparado para nos disciplinar. Nas mensagens às sete igrejas
retratadas em Apocalipse, diria que Laodicéia é provavelmente a que mais de
perto corresponde à igreja contemporânea no Ocidente. A essa igreja, o Senhor
disse “Eu repreendo e castigo a todos quanto amo: sê, pois, zeloso e arrepende-
te” (Apocalipse 3:19).

Assim, o amor de Deus não é desregrado. Não é sentimental. É terra-a-terra. Se


nos afastarmos dos Seus caminhos e formos desobedientes, o Seu amor
manifesta-se em repreensão e castigo e ordena-nos que nos arrependamos. Uma
vez mais, temos o problema de tentar obter o que Deus promete, mas deixando
de lado a condição básica do arrependimento, e isso é engano.

Recentemente, li o seguinte comentário de um mestre britânico da Bíblia:

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‘Alguns cristãos tomam o texto “Deus é amor” e transformam-no, levando-o a
dizer: “o amor é Deus”. Por outras palavras, nada pode estar errado se estiver
enraizado no amor. Contudo qualquer amor que se interponha entre nós e Deus
é um amor ilegítimo…’

De modo semelhante, qualquer amor que nos desvie da obediência á Palavra de


Deus é ilegítimo.

- Três marcas que identificam o Espírito Santo -

Em tudo quanto temos estado a falar sobre este fenômeno mundial, creio haver
uma questão central subjacente, em geral obscurecida. De facto, muito
raramente se chega sequer a abordar esta questão que consiste em saber qual
a identidade do Espírito Santo. Como reconhecer o Espírito Santo? Como saber
quem é o Espírito Santo? E como distinguir o Espírito Santo de outros espíritos?

Recentemente li uma declaração de uma defensora da Nova Era que dizia o


seguinte a propósito deste movimento: “Quando o espírito santo vier, chegou a
Nova Era”. Claro que sei que muitos de vós compreendem que quando ela fala
do espírito santo, não está a falar do mesmo Espírito Santo de que a Bíblia fala.
Esta é uma das diversas indicações que mostra haver um espírito santo
falsificado.

Não é novidade o facto de satanás produzir uma falsificação religiosa. Desde o


tempo de Jesus, a História regista toda uma série de Messias falsos que surgiram
entre o povo judeu. Todos eles tiveram seguidores. Alguns como Sabbetai Zvi
exerceram uma larga e duradoura influência. O último deles morreu em 1994.

Uma outra falsificação religiosa tem a ver com a chamada “bem-aventurada


virgem Maria”. Com todas as reivindicações que têm sido feitas em seu favor e
com todos os títulos que lhe têm sido atribuídos, deixou de se assemelhar à
humilde donzela judia que se tornou mãe de Jesus e mais tarde dos seus irmãos
e irmãs. Contudo, ao longo dos séculos, esta falsificação reivindicou a devoção
de milhões de cristãos sinceros.

1ª O Espírito Santo é Deus e ninguém usa Deus

Precisamos, portanto, de estar em guarda para nos recebermos um “espírito


santo” falsificado. Gostaria de lhe sugerir três formas de identificar o Espírito
Santo, de reconhecer quem é o Espírito Santo.

A primeira forma menciono na minha brochura “Uproar in the Church”(Tumulto


na Igreja)o , que escrevi há dois anos (1994). Citarei apenas alguns parágrafos:

Um outro perigo que ameaça os que ministram no domínio do


sobrenatural é a tentação de utilizar os dons espirituais
para manipular, explorar ou dominar as pessoas. Numa época

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do meu ministério dei comigo a expulsar espíritos de bruxaria
de pessoas que frequentavam a igreja. Eventualmente, pedi ao
Senhor que me mostrasse a verdadeira natureza da feitiçaria.

Creio que o Senhor me deu a seguinte definição: Feitiçaria


é a tentativa de controlar as pessoas e levá-las a fazer o
que quiser, utilizando qualquer espírito que não seja o
Espírito Santo.

Depois de haver digerido isso, o Senhor acrescentou: E, se


alguém tem um espírito que possa usar, não é o Espírito
Santo. O Espírito Santo é Deus e ninguém usa Deus.

Isso é muito importante. O Espírito Santo é Deus e ninguém


manipula Deus.

Depois presigo na brochura:

Hoje tremo interiormente quando vejo ou ouço de alguém que


reivindica ter dons espirituais que usa livremente conforme
lhe agrada. Não é de certeza por acaso que alguns dos que
fizeram tais reivindicações tenham acabado em graves erros
doutrinários.

É importante ver que há uma diferença entre o Espírito Santo, como pessoa, e
os dons do Espírito Santo.

Em Romanos 11:29, Paulo diz-nos que os dons… de Deus são sem


arrependimento. Por outras palavras, assim que Deus nos concede um dom, não
no-lo tira. Somos livres para o usar ou não ou para lhe darmos mau uso. Mas
mesmo que o utilizemos mal, Deus não no-lo tira. Caso contrário, não seria uma
dádiva genuína; seria apenas um empréstimo condicional.

É um facto haver pessoas que usam os dons do Espírito Santo de uma forma
imprópria. Paulo fornece-nos um exemplo claro em 1 Coríntios 13:1:

“Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor,
seria como o metal que soa ou como o sino que tine.”
Obviamente, o Espírito Santo não se torna um sino que tine. Mas o dom de falar
línguas – quando mal utilizado – pode tornar-se um barulho oco, dissonante.
Infelizmente, isso sucede com frequência nos círculos pentecostais e
carismáticos.

Creio ser possível utilizar mal outros dons espirituais – como uma palavra de
conhecimento ou o dom da cura. Isso pode acontecer quando alguém utiliza um
dom espiritual para obter um resultado ou promover um movimento que não está
de acordo com a vontade de Deus. Um mau uso óbvio é o proveito pessoal.

Em tal situação, a nossa salvaguarda é sermos capazes de reconhecer o Espírito

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Santo como pessoa e distingui-Lo dos Seus dons.

Este é, então, o primeiro e mais importante facto sobre o Espírito Santo: ELE É
DEUS. E precisamos de nos relacionar com Ele e trata-Lo sempre como Deus.

2ª O Espírito Santo é servo de Deus Pai e de Deus Filho

O segundo facto sobre o Espírito Santo é que Ele é servo de Deus Pai e de Deus
Filho. Esta é uma revelação empolgante porque atribui um elevado valor à
servidão. Hoje, muitos desprezam a ideia de ser-se servo. Acham que é abaixante
e pouco digno de ser-se servo. Mas penso que é maravilhoso o facto de a servidão
não ter começado na Terra. Principiou na eternidade e teve início em Deus. Deus
Espírito Santo é o servo do Pai e do Filho. Isso não O diminui nem O torna menos
que Deus. Mas é um facto que temos de reconhecer sobre Ele, que dirige as Suas
atividades e as coisas que Ele realiza.

Ele se concentra em Jesus, não em si mesmo

Em João 16:13-14, Jesus dá-nos uma ideia do ministério e atividade do Espírito


Santo:

“Mas, quando vier aquele Espírito de verdade, ele vos guiará em toda a verdade;
porque não falará de si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido, e vos anunciará
o que há de vir. Ele me glorificará, porque há de receber do que é meu, e vo-lo
há de anunciar.”

Estamos então a ver: o Espírito Santo não fala de Si mesmo; Ele não tem uma
mensagem Sua. Não é espantoso? Apenas nos relata o que ouve do Pai e do
Filho. Em segundo lugar, o Seu alvo não é glorificar-Se nem atrair a atenção para
Si, mas glorificar e chamar a atenção para Jesus. Essa é a segunda importante
forma de identificar o Espírito Santo.

Gostaria que prestasse atenção ao seguinte, porque o que vou dizer é


revolucionário. Qualquer espírito que se concentre no Espírito Santo e O glorifica
não é o Espírito Santo. Isso é contrário a toda a Sua natureza e propósito. Assim
que tivermos percebido isso, os nossos olhos abrir-se-ão para muitas das coisas
que se passam na igreja e que, de outra forma, são difíceis de entender.

Qualquer espírito que se concentre no Espírito Santo e O glorifica


não é o Espírito Santo.

Por exemplo, temos um maravilhoso coro que cantamos sobre o Pai, o Filho e o
Espírito. O primeiro verso diz do Pai: “Glorifica o Teu nome em toda a terra”. O
segundo verso diz de Jesus, o Filho: “Glorifica o Teu nome em toda a terra”. O
terceiro verso diz do Espírito: “Glorifica o Teu nome em toda a terra”. Gosto de
cantar os dois primeiros versos, mas recuso-me a entoar o terceiro, porque para
mim não é bíblico. O Espírito Santo nunca glorifica o Seu próprio nome. O Seu
alvo é glorificar Aquele que O enviou.

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Nas Escrituras não há orações dirigidas ao Espírito Santo

Deixe-me acrescentar mais alguma coisa que talvez o surpreenda. Não encontro
em lado nenhum da Escritura um exemplo de uma oração dirigida ao Espírito
Santo. Tanto quanto entendo, ninguém na Escritura jamais orou ao Espírito
Santo. Seria bom verificar por si próprio, mas tenho procurado cuidadosamente
e ainda não encontrei um único exemplo.

Pode perguntar: “Porquê?” A minha resposta é: trata-se de uma questão de


“protocolo” celestial. Hoje em dia, há tão pouco respeito pelo protocolo na Terra
que por vezes não percebemos que há um protocolo no Céu. É um protocolo
respeitante a uma relação senhor-servo. Numa tal relação, quando lidamos com
um servo, não falamos com o servo, mas com o senhor. Pedimos ao senhor que
diga ao seu servo o que fazer. Está errado abordar diretamente o servo quando
o seu senhor está disponível para nos receber.

Acredito haver um protocolo no Céu. Quando reconhecemos a relação entre o


Espírito Santo, Deus Pai e Deus Filho, compreendemos que nunca damos ordens
ao Espírito Santo. Quando queremos que o Espírito Santo faça alguma coisa,
dirigimos o nosso pedido ao Pai ou ao Filho.

Quando estudava este assunto, descobri uma passagem em Ezequiel capítulo 37


que, a princípio, pensei ser uma exceção. Faz parte da bem conhecida visão de
Ezequiel do vale cheio de ossos secos sem vida alguma neles. Primeiro que tudo,
ele profetizou e os ossos juntaram-se, mas continuavam cadáveres sem vida.
Depois, nos versículos 9 e 10:

“E ele me disse: Profetiza ao espírito, profetiza, ó filho do homem, e dize ao


espírito: Assim diz o Senhor DEUS: Vem dos quatro ventos, ó espírito, e assopra
sobre estes mortos, para que vivam. E profetizei como ele me deu ordem; então
o espírito entrou neles, e viveram, e se puseram em pé, um exército grande em
extremo.”

Pensei então que o “sopro” é realmente uma imagem do vento - ou do Espírito


Santo - pelo que Ezequiel estaria a orar ao vento. Mas não. Ele estava a
profetizar. E não provinha de si. Simplesmente transmitiu ao vento a ordem que
recebera do próprio Deus. Assim, tanto quanto me foi dado a descobrir, não há
um único exemplo em parte alguma da Escritura de oração feita ao Espírito Santo.

Não estou a fazer disto um cavalo de batalha. Por outro lado, penso ser muito
importante, quando tentamos discernir a natureza e ministério do Espírito Santo.
Poderia querer dizer-me: “Então, Deus não ouve a nossa oração quando oramos
ao Espírito Santo?” Penso que ouve. Mas assim não estamos a orar em pleno
acordo com o protocolo do Céu. Se queremos realmente agradar ao Senhor e
mostrar-Lhe respeito, temos de mostrar respeito pelo Seu protocolo.

3ª O Espírito Santo é santo

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O terceiro facto importante sobre o Espírito Santo é aquilo que está indicado no
Seu nome: Ele é santo. Este é o Seu título fundamental: Espírito Santo. Em
hebraico, é o Espírito de Santidade. Ele tem muitos outros títulos, por exemplo:
Espírito de Graça, Espírito de Verdade, Espírito de Poder, etc. Mas são todos
subsidiários. O Seu nome e título principal é Espírito Santo. Tudo quanto seja
profano não procede do Espírito Santo.

A Escritura também fala da beleza da santidade. Há uma beleza na santidade


quando esta procede do Espírito Santo. Não é necessariamente externa. Pode
ser uma beleza interior. Por exemplo, em 1 Pedro 3:4, Pedro fala do homem
encoberto no coração; no incorruptível traje de um espírito manso e quieto, que
é precioso diante de Deus. Essa não é uma beleza externa. É uma beleza interior,
que provém do Espírito Santo.

Contudo, gostaria de dizer, com toda a ênfase possível: Tudo o que seja
profano ou feio não procede do Espírito Santo.

Vou apresentar uma lista de 12 adjetivos que julgo não poderem ser aplicados
ao Espírito Santo e que não tem nada a ver com aquilo que seja produto do
Espírito Santo. Ao ler a lista, sugiro-lhe que confirme mentalmente e veja se
concorda comigo. Eis, então, as palavras que nunca se aplicam ao Espírito Santo:

Arrogante, vulgar, simulado, insensível, indecente, degradado, autoafirmado,


rude, indecente, estúpido, irreverente, degradante.

Querendo Deus e se eu viver, pretendo escrever um livro para o qual já tenho


título: “A Santidade não é opcional”. Só Deus sabe quando irei escrevê-lo, mas
gostaria de dizer que o título declara a verdade exata.

Na vida cristã, a santidade não é opcional.

Sem santidade, ninguém verá o Senhor

Muitos cristãos parecem pensar que a santidade é como algo que se acrescenta
a um carro, como estofos de cabedal em vez dos originais de napa. Mas isso não
é verdade. A santidade é uma parte essencial da salvação. Em Hebreus 12:14, o
autor diz: “Segui a paz com todos, e a santificação, sem a qual ninguém verá o
Senhor;” Que salvação temos que não nos impulsiona a ver o Senhor? Mas sem
santidade, ninguém verá o Senhor.

No nosso cristianismo ocidental contemporâneo, temos um quadro muito


incompleto da salvação: “Se for salvo e nascer de novo e depois quiser prosseguir
e ser santo, posso fazê-lo – mas é uma opção”. Gostaria de dizer que a nossa
salvação depende de sermos santos. E a santidade provém apenas do Espírito
Santo.

O Espírito Santo não faz com que os cristãos se comportem como


animais

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Há muitas características de alegados movimentos do Espírito Santo que poderia
apontar e apresentar como exemplos de coisas que não são santas. Mas vou
indicar apenas uma, que é: o comportamento animal em seres humanos atribuído
ao Espírito Santo. Há muitos desses exemplos, alguns dos quais testemunhei
pessoalmente e outros que me foram relatados.

Primeiro, não conheço passagem alguma da Escritura em que o Espírito Santo


leve um ser humano a comportar-se como um animal. Temos o exemplo de
Balaão, mas esse é um forte contraste. Deus levou a burra de Balaão a falar
como um homem – mas nunca levou Balaão a zurrar como um burro!

Houve um homem a quem Deus levou a comportar-se como um animal:


Nabucodonosor.

“…e foi tirado dentre os homens, e comia erva como os bois, e o seu corpo foi
molhado do orvalho do céu, até que lhe cresceu pelo, como as penas da águia,
e as suas unhas como as das aves.” (Daniel 4:33)

Mas isso foi o juízo de Deus, não a Sua bênção!

Apocalipse 4:6-8 retrata quatro criaturas vivas que rodeavam o trono de Deus.
Três encontram-se ali como representantes do reino “animal”: um leão, um
bezerro, e uma águia. Mas nenhum deles faz ruídos que expressem a sua
natureza “animal”. Todos eles igualmente proclamam a santidade de Deus numa
fala pura e maravilhosa.

É importante compreender que há uma ordem na criação de Deus. O homem foi


criado à imagem e semelhança de Deus para exercer autoridade sobre o reino
animal (Génesis 1:26). De facto, o homem é a mais elevada ordem da criação
descrita nos versículos iniciais de Génesis.
Isto tem a ver com a forma como o Espírito Santo nos abençoa. Ele exalta aqueles
a quem abençoa. Por vezes, leva um animal a agir como um ser humano, mas
nunca degrada um ser humano, levando-o a atuar como um animal.

Tenho uma certa experiência nesta área porque em África encontrei muitas vezes
espíritos animais. Recordo um culto particular de libertação realizado na Zâmbia
com cerca de 7000 africanos presentes. Quando terminei de ensinar e comecei a
ordenar os espíritos malignos que se manifestassem e saíssem das pessoas,
revelou-se todo o género de espíritos animais. Por “espíritos animais” refiro-me
a espíritos malignos, demoníacos que entram nos seres humanos e os levam a
comportar-se como animais.

A primeira coisa que aconteceu foi que um homem com um “espírito de leão”
procurou atacar-me. Mas alguém o agarrou e ele não me atingiu.

É preciso compreender que a razão destes africanos nesta parte da África


possuírem tantos espíritos animais se deve ao facto de muitos deles serem
caçadores de animais. Têm esta superstição de que para serem bem-sucedidos

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na caça, devem ter em si o espírito do animal em causa. Assim, um homem tende
a adquirir o espírito do animal que procura caçar. Por exemplo, o homem que vai
caçar um leão, adquire um espírito de leão.

Há muitos outros. Lidamos com espíritos de javalis selvagens que levam as


pessoas a fossar na terra com o nariz como um javali selvagem à procura de
alimentos. Há também muitos espíritos de serpentes, manifestem-se em geral
em mulheres e quando isso sucede, as mulheres deitam-se de barriga e rastejam
como as serpentes. Tudo isso testemunhei pessoalmente.

Há um outro espírito cujo ação não testemunhei, mas de que um casal


missionário que organizava a reunião me falou. Mais tarde, conheci a senhora
em causa. Era uma cristã muito amorosa – uma professora – mas o marido era
caçador de elefantes. Quando se dirigiu ao casal de missionários para ser liberta,
eles ordenaram ao espírito de elefante que saísse. De imediato, ela pôs-se de
gatas e rastejou em direção à porta aberta, encostou a testa a uma pequena
árvore e começou a tentar derrubá-la. Não é extraordinário?

Talvez alguns dos nossos bem-intencionados cristãos ocidentais dissessem: “A


nossa irmã está a derrubar a árvore para Jesus”, mas a explicação não era essa.
O espírito de elefante nela é que a levava a fazer o que por norma fazem os
elefantes, que é derrubar as árvores com a testa.

No ocidente, temos por vezes a tendência de falar das pessoas de África de forma
um tanto desprezível e a considerar-nos mais avançados do que elas. Contudo,
penso que neste domínio de espíritos animais, somos nós, no Ocidente, os pouco
avançados e os africanos os avançados. Durante gerações viveram com tais
espíritos e enquanto o Evangelho não surgiu com o poder do nome de Jesus e a
Palavra de Deus, não tinham possibilidades de os enfrentar. Graças a Deus que
muitos deles sabem agora como lidar com eles!

Um outro exemplo, de que tenho inúmeras informações, são as pessoas a


comportar-se como cães. Sou um apaixonado por cães, mas penso que devem
ser colocados no seu devido lugar. Não acredito que o Espírito Santo leve jamais
alguém a ladrar ou saltar como um cão.

Sempre que ocorrem tais manifestações de espíritos animais, há certos passos


que precisamos de tomar. Não podemos tolerar ou encorajar tais manifestações,
nem podemos esconder a cabeça na areia e fingir que nada aconteceu.

Em Mateus 12:33, Jesus instrui-nos:

“Ou fazei a árvore boa, e o seu fruto bom, ou fazei a árvore má, e o seu fruto
mau; porque pelo fruto se conhece a árvore.”

Sempre que houver um fruto mau, provém de uma árvore má. Não basta livrar-
nos do fruto mau. Temos também de cortar a árvore má que o produziu. Se não
o fizermos, a árvore má continue a produzir mau fruto.

19
Não basta livrar-nos do fruto mau.
Temos de cortar a árvore má que o produziu.

Não há dúvida de que a árvore que produz um comportamento animal deste tipo
é alguma forma de prática oculta ou pagã. Por exemplo, há frequentes
manifestações de comportamento animal em algumas partes de áfrica e da Índia.

Para cortar a árvore é necessário que os líderes responsáveis identifiquem o


problema, o confessem como pecado e se arrependam dele. Em lado algum da
Bíblia há base para supor que Deus perdoe pecados que não estivermos dispostos
a confessar.

Alguém disse: “A confissão deve ser tão vasta quanto a transgressão”. Se os


líderes têm tolerado estas coisas na presença do seu rebanho, então na presença
do rebanho devem confessá-las como pecado e acabar com elas. Caso contrário,
se a árvore má não for cortada, continuará a produzir maus frutos.

Não fale de ânimo leve ou errado do Espírito Santo

Para terminar, gostaria de apresentar uma pequena “parábola” de minha autoria,


que fala da minha relação com a minha esposa. Nesta parábola, a minha mulher
representa o Espírito Santo e eu represento Deus. Por favor compreenda que
esta não passa de uma simples parábola e que tenho plena consciência de que
o Espírito Santo não é a esposa de Deus. Com essas precauções, vou contar a
parábola.

Um amigo vem ter comigo e diz: “Ontem à noite, vi-te a ti e a tua mulher no
púlpito e ela pareceu-me tão linda, tão rejuvenescida, tão cheia do Espírito
Santo”. E eu responde: “Obrigado. É precisamente isso que ela é”. Depois, um
pouco mais tarde, o mesmo homem aproxima-se e diz: “Sabes, ontem, vi a tua
esposa num bar a beber com um homem”. E eu respondo: “Essa não é a minha
mulher! A minha mulher é uma mulher pura e santa. Ela não entra em bares e
não se põe a beber com estranhos. Ontem a minha mulher esteve sempre aqui
comigo. Não digas essas coisas dela!”

Mais tarde, ele aproxima-se e diz: “Sabes, ontem vi a tua esposa na praia a tomar
banhos de sol em topless”. Aí, fico mesmo irritado e respondo-lhe: “Ontem, a
minha esposa não se aproximou sequer da praia e ela nunca andaria nesse
estado. Se queres continuar a ser o meu amigo, tens de reconhecer que essa
mulher leviana e imoral que viste não é minha mulher, porque isso é um insulto
tanto para ela como para mim. Se queres continuar a ser meu amigo, tens de
mudar a forma como falas da minha mulher”.

A aplicação é naturalmente, esta: se queremos continuar a ser amigos de Deus,


não podemos atrever-nos a identificar o Seu Espírito Santo como algo que seja
leviano e imoral, feio ou ímpio, porque isso irrita Deus intensamente.

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Em Mateus 12:31-32, Jesus diz:

“Portanto, eu vos digo: Todo o pecado e blasfêmia se perdoará aos homens; mas
a blasfêmia contra o Espírito não será perdoada aos homens.
E, se qualquer disser alguma palavra contra o Filho do homem, ser-lhe-á
perdoado; mas, se alguém falar contra o Espírito Santo, não lhe será perdoado,
nem neste século nem no futuro.”

Esse é um alerta muito solene e assustador. Fomos avisados pelo próprio Jesus
para sermos muitíssimo cautelosos quanto à forma como falamos do Espírito
Santo, quanto ao modo como O representamos.

Jesus utiliza a palavra blasfémia e resolvi procurar no léxico grego. O significado


fundamental de blasfémia é este: Falar levianamente ou sem bases de coisas
sagradas. Assim, quando falamos levianamente ou sem bases relativamente ao
Espírito Santo ou quando deturpamos o Seu carácter, por definição estamos
próximos de blasfémia.

Se já agiu ou tiver a tendência a agir assim, ou se tem estado associado a quem


atua dessa forma, gostaria de dar-lhe um conselho sincero: arrepende-se.
resolve, de uma vez por todas, essa questão com Deus e nunca mais torne-se
culpado de desvirtuar o Espírito Santo de Deus.

O Espírito Santo é santo e Ele é Deus.

21
(2)

- TERRENO, ANÍMICO, DEMONÍACO -

Neste capítulo começamos em 1 Tessalonicenses 5: 23-24:

“E o mesmo Deus de paz vos santifique em tudo; e todo o vosso espírito, e alma,
e corpo, sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso
Senhor Jesus Cristo. Fiel é o que vos chama, o qual também o fará.”

No capítulo anterior, tentei analisar o que considero ser um problema. Neste,


proponho-me abordar a forma como este problema surge em termos da
Escritura. Isto é muito importante porque o problema continua a manifestar-se.
Vou dar cinco exemplos do mesmo problema conforme têm surgido nos últimos
cinquenta anos dentro do movimento carismático. Julgo que se conseguirmos
analisar o problema, então o passo seguinte será evitá-lo. Assim, tudo quanto eu
tenho a dizer é totalmente prático.

- Espiritual versus Anímico (da alma) -

… A personalidade humana: espírito, alma, corpo …

Quero falar da personalidade humana no seu todo e, em particular, de dois dos


seus elementos. Se não nos compreendermos e ao modo como somos
constituídos, enfrentamos um grande problema. A personalidade humana vem
revelada no versículo com que começámos este capítulo: “E o mesmo Deus de
paz vos santifique em tudo; e todo o vosso espírito, e alma, e corpo, sejam
plenamente conservados irrepreensíveis …” Ora, plenamente significa todo o
nosso espírito, e alma, e corpo.

Génesis capítulo 1 diz que Deus decidiu criar o homem à Sua imagem e
semelhança (Génesis 1:26). A Sua imagem refere-se à Sua aparência externa.
Há algo na aparência externa do homem que reflete a aparência externe de Deus.
Digamos de outra forma: foi apropriado que o Filho de Deus Se manifestasse na
forma de um ser humano masculino. Não podia ter aparecido na forma de um
boi ou de um escaravelho, porque, em certo sentido o homem representa a
imagem ou a aparência externa de Deus. “O homem, pois, não deve cobrir a
cabeça, porque é a imagem e glória de Deus … “ (1 Coríntios 11:7).

Génesis 1:26 menciona além da palavra imagem a palavra semelhança. Penso


que semelhança representa a estrutura interna da Divindade. A estrutura da
Divindade é triúna: Pai, Filho e Espírito. Nessa semelhança, o homem foi criado
como um ser triúno: espírito, alma e corpo. Assim, de forma singular, o homem
representa Deus junto da criação sobre a qual Deus o colocou como governador:

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na sua aparência exterior e na composição interior. Não vamos falar da aparência
exterior, mas da estrutura interior da personalidade humana, que é tripla:
espírito, alma e corpo.

O espírito – veio do sopro de Deus

Voltando ao relato da criação, podemos detetar a origem da cada. O espírito veio


do sopro de Deus. Quando Deus soprou nas narinas de Adão, isso produziu
espírito em Adão. Incidentalmente, as palavras usadas para espírito e sopro são
a mesma tanto em hebraico como em grego.

A alma – veio da união entre o espírito e o corpo

A alma surgiu através da união entre espírito e corpo. A alma é a parte de difícil
compreensão. Projeta-se como o ego individual, singular, aquilo em cada um de
nós que pode dizer “Eu desejo” ou “Eu quero”. Em geral, é definida como
consistindo de vontade, emoções e intelecto. Assim, de modo muito simples,
estes estão representados nas três declarações verbais: “Quero”, “Penso”,
“Sinto”. Essa é a natureza da alma. Quem está separado de Deus pelo pecado é
dominado pela sua alma.

Quem está separado de Deus pelo pecado é dominado pela sua alma.

Se nos dermos ao trabalho de analisar, verificamos que a vida e as ações do


homem natural são controladas por essas três coisas: “Quero”, “Penso”, “Sinto”.

O corpo - foi barro a que se infundiu vida divina.

… A personalidade humana depois do pecado …

Consideremos agora o que aconteceu a Adão e Eva através do pecado.

O espírito – morreu

Primeiro, o espírito morreu. Em Génesis 2:17, Deus disse a Adão: “… no dia em


que dela [da árvore do conhecimento do bem e do mal] comeres, certamente
morrerás; …”. Durante mais de 900 anos, Adão não morreu fisicamente, mas
morreu espiritualmente no momento em que desobedeceu a Deus.

A alma – tornou-se rebelde

Ao mesmo tempo, a alma de Adão tornou-se rebelde. Temos de ter em mente


que cada descendente de Adão macho ou fêmea, apresenta em si a natureza de
um rebelde. Esse é o nosso maior problema. Por essa razão, não basta apenas

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que os nossos pecados nos sejam perdoados, embora isso seja maravilhoso. Mas
o rebelde tem de ser condenado à morte e isso faz parte da provisão do
Evangelho.

Analisemos duas passagens em Efésios que lidam com ambas estas condições: a
morte do espírito e a rebelião da alma. Em Efésios 2:1-3, falando aos crentes
vivificados em Cristo, Paulo diz:

“E vos vivificou, estando vós mortos em ofensas e pecados, Em que noutro tempo
andastes segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe das potestades do
ar, do espírito que agora opera nos filhos da desobediência; Entre os quais todos
nós também antes andávamos nos desejos da nossa carne, fazendo a vontade
da carne e dos pensamentos; e éramos por natureza filhos da ira, como os outros
também.”

Este é um quadro de toda a raça humana em rebelião contra Deus e, por causa
dela, está morta em transgressões e pecados. Esse é o resultado do pecado. O
espírito morre; a alma torna-se rebelde, em rebelião contra o seu Criador.

O corpo – torna-se corruptível

O que acontece ao corpo? Torna-se aquilo que a Bíblia chama corruptível. Isso
significa que fica sujeito à doença, envelhecimento e, por fim, morte. Mas, como
já salientei, a morte de Adão não ocorreu fisicamente durante mais de 900 anos.
A morte que Adão experimentou quando desobedeceu a Deus foi provavelmente
o que a Bíblia chamaria a primeira morte. Depois, o Novo Testamento fala da
segunda morte (Apocalipse 20:6,14), que julgo ser a separação final e eterna do
espírito e alma rebeldes em relação a Deus.

… A personalidade humana depois de se ser salvo …

O que acontece quando somos salvos?

O espírito – é vivificado

O nosso espírito é vivificado. Voltámos a ficar vivos no espírito, em Cristo. Em


Efésios 2:4-6, Paulo diz:

“Mas Deus, que é riquíssimo em misericórdia, pelo seu muito amor com que nos
amou, Estando nós ainda mortos em nossas ofensas, nos vivificou juntamente
com Cristo (pela graça sois salvos), E nos ressuscitou juntamente com ele e nos
fez assentar nos lugares celestiais, em Cristo Jesus;”

Assim, Deus vivificou-nos, porém isso não foi tudo. Ele também, ressuscitou-nos
e entronizou-nos. Tudo isso encontra-se no tempo verbal passado (pretérito
perfeito). Assim, se pudermos aceitar, espiritualmente estamos sentados com
Cristo no trono. Mas aquilo que pretendo enfatizar agora é: fomos vivificados!

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A alma – é reconciliada com Deus através do arrependimento

Através do arrependimento, a alma é reconciliada com Deus. É muito importante


enfatizar o arrependimento. Um rebelde não pode ser reconciliado com Deus
enquanto permanecer rebelde. Assim, uma das coisas implícitas na salvação é o
facto de deixarmos a nossa rebelião. Muitos que afirmam ter nascido de novo e
estarem salvos, de facto nunca renunciaram à sua rebelião. Possuem somente
uma forma exterior de cristianismo. Vejamos agora Romanos 5:1:

“Tendo sido, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor
Jesus Cristo;”

Estivemos em guerra contra Deus. Agora, fomos justificados pela fé, temos paz
com Deus. Depois no versículo 11, encontramos:

“E não somente isto, mas também nos gloriamos em Deus por nosso Senhor
Jesus Cristo, pelo qual agora alcançamos a reconciliação.”

Estivemos em guerra contra Deus; agora, fomos reconciliados.

O corpo – torna-se um templo do Espírito Santo e é eleito para a


primeira ressurreição

O que acontece ao corpo através da salvação? Torna-se um templo do Espírito


Santo. Julgo que isto é importantíssimo. Muitos crentes não percebem que os
nossos corpos são templos do Espírito Santo e que temos de os tratar com
reverência. Em 1 Coríntios 6:19-20, Paulo começa: “Não sabeis…? ”, uma frase
que utiliza pelo menos meia dúzia de vezes. A minha observação é que sempre
que ele diz “Não sabeis…? ”, muitos cristãos “não sabem”.

“Ou não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em
vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos? Porque fostes
comprados por bom preço; glorificai, pois, a Deus no vosso corpo, …”

Resumamos o que acontece na salvação:

. O nosso espírito é vivificado.


. A nossa alma é reconciliada com Deus.
. E o nosso corpo é transformado em templo do Espírito Santo e é também eleito
para a primeira ressurreição.

Em Filipenses 3:10-11, Paulo diz que o nosso corpo se tornou elegível para a
primeira ressurreição, que é o objetivo da vida cristã.
“Para conhecê-lo, e à virtude da sua ressurreição, e à comunicação de suas
aflições, sendo feito conforme à sua morte; para ver se de alguma maneira posso
chegar à ressurreição dentre os mortos.”

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A palavra usada aqui significa ressurreição-de, não a ressurreição final e
completa, mas a ressurreição que é apenas dos verdadeiros crentes. Fico sempre
impressionado com o facto de Paulo não a assumir como garantida. Ele diz: ‘O
meu propósito é viver de tal modo que me qualifique para a primeira
ressurreição’. Realmente, não acredito que a possamos ter como garantida.
Depende de forma como vivemos.

… A função de cada elemento da personalidade humana …

Quais são as funções destes três elementos?

O espírito – comunhão direta com Deus e adoração

O espírito é capaz de ter comunhão direta com Deus e de O adorar. É a parte do


homem, com origem em Deus e que pode regressar a Deus em comunhão e
adoração. É o que é declarado em 1 Coríntios 6:17, um versículo muito
importante:

“Mas o que se ajunta com o Senhor é um mesmo espírito.”

Na minha opinião, é totalmente incorreto dizer ‘é uma mesma alma’. É um mesmo


espírito. Lendo este texto no seu contexto, Paulo está a falar de um ser humano
a juntar-se a uma prostituta e ele diz: ‘isto é uma união física’, mas do que ele
está a falar é de uma união espiritual. Se imaginarmos esse quadro, torna-se
claro que é uma união muito real. Mas é apenas o espírito que pode unir-se a
Deus. A alma não pode, nem tão pouco o corpo. Por causa disso, o espírito, e
apenas ele, é capaz de verdadeira adoração. Em João 4:23-24, Jesus diz:

“Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai


em espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim o adorem.
Deus é Espírito, e importa que os que o adoram o adorem em espírito e em
verdade.”

O espírito é o elemento em nós capaz de adoração. A alma é capaz de louvor e


de ação de graças. Mas apenas o espírito pode oferecer a Deus a adoração
aceitável.

A alma – toma decisões, ativa o corpo

O que acontece à alma? A alma é o elemento de tomada de decisões e, através


da regeneração, ela é capaz de tomar as decisões corretas. David disse no Salmo
103: “Bendize, ó minha alma, o Senhor”. Ele estava a falar à sua alma. Que parte
dele estava a falar à sua alma? O seu espírito! O seu espírito sentia a necessidade
de bendizer o Senhor, mas o seu espírito só podia fazê-lo quando a sua alma
ativasse o corpo. Assim, nesta atual criação, o espírito move-se sobre o corpo
através da alma. Voltaremos a este assunto daqui a pouco, porque o Novo
Testamento fala de um corpo anímico e de um corpo espiritual.

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Usando um exemplo rude, penso que a alma é como a alavanca de velocidades
de um carro. Sentamo-nos ao volante, pomos o motor a funcionar, mas para o
carro andar, temos de usar a alavanca das velocidades. Essa alavanca é a alma.
O espírito está presente, mas sem a alma não pode fazer mover o carro, o corpo.

O corpo – funciona como templo do Espírito Santo (I Coríntios 6:19,20)

O meu propósito é chegar ao ponto em que possamos distinguir entre espírito e


alma, o que não é fácil.

- Distinguir entre espírito e alma -

Somente pela Palavra de Deus

Não é fácil distinguir entre espírito e alma. De facto, há apenas uma forma de o
conseguirmos com eficácia e encontramo-la em Hebreus 4:12

“Porque a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais penetrante do que espada


alguma de dois gumes, e penetra até à divisão da alma e do espírito, e das juntas
e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração.”

Nota-se a palavra até. A Palavra de Deus é o único instrumento suficientemente


sensível e agudo para penetrar, dividir alma e espírito. Não podemos de nenhuma
outra forma compreender as diferentes funções da alma e do espírito e a relação
entre eles, a não ser pela Palavra de Deus. Não podemos confiar na nossa
compreensão, nos nossos sentimentos. Eles não são de confiança.

Requisitos para o discernimento: mantimento sólido e a prática

O único diferenciador de confiança é a Palavra de Deus. Mas para a utilizar como


diferenciador, são necessárias duas condições. Encontram-se em Hebreus 5:13-
14, onde o escritor fala da diferença entre cristãos maduros e imaturos.

“Porque qualquer que ainda se alimenta de leite não está experimentado na


palavra da justiça, porque é menino. [Os que só se alimentam de leite são bebés.
Depois, prossegue:] Mas o mantimento sólido é para os perfeitos [ou os
maduros], os quais, em razão do costume [ou prática], têm os sentidos
exercitados para discernir tanto o bem como o mal.”

Por outras palavras, o discernimento não é algo que tenhamos como garantido.
Apenas vem pela prática e só surge quando recebemos o pleno conselho de Deus
através da Sua Palavra. Se queremos viver como bebés à base de leite, não temos
a capacidade de discernir. Se crescemos além disso, só podemos discernir se
praticarmos.

Gostaria de desafiá-lo e perguntar: está a praticar o discernimento? De mim


mesmo, posso dizer que, em certa medida, pratico o discernimento. Quando

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passo por uma situação, ponho em funcionamento as minhas ‘antenas espirituais’
e pergunto: “Quais são as forças espirituais em ação nesta situação?” Quando
escuto uma pregação, não ouço apenas as palavras; procuro discernir o espírito
que acompanha as palavras.

Mas isso só vem pela prática. Se vivermos de modo descuidado, não adquirimos
a capacidade de discernir. Creio que precisamos de praticar o discernimento em
cada situação. Creio que o discernimento deve ser uma parte tão regular da nossa
vida espiritual como a oração. Caso contrário, arranjamos problemas.

A diferença entre o espiritual e o anímico

Agora, gostaria de falar da diferença entre o espiritual e o anímico, que ilustrarei


com o quadro seguinte:

Língua Substantivo Adjetivo

Grego pneuma pneumatikos


Português espírito espiritual (do espírito)
Grego psuche psuchikos
Português alma anímico (da alma)

Para o compreender, temos de ir além da tradução. Vou tentar de explicar. Neste


quadro, temos o grego e depois o português. Temos o substantivo e depois o
adjetivo. Ao vê-los em conjunto, a relação é óbvia.

A palavra grega para espírito é pneuma, de onde obtemos o termo português


pneumático, ou seja, algo que funciona a ar. É por isso que pneuma significa
“respiração”, “vento” e “espírito”. Ora, o adjetivo de pneuma é pneumatikos.
Como traduzir para português? Sabemos que pneuma é espírito. Obviamente, o
adjetivo português de pneuma (espírito) é espiritual.

Agora, a palavra grega para alma, e aqui enfrentamos um problema: o termo


grego para alma é psuche, de onde obtemos um grande número de palavras
como psicológico, psiquiatra ou psicossomático. Um psiquiatra é um médico da
alma, porque iatros é o termo grego para médico.

Ora bem, temos psuche e o adjetivo psuchikos. Não há hesitação quanto à


tradução do substantivo, é alma. Mas quanto ao adjetivo? A melhor aproximação
em português é o termo anímico (em português, a palavra alma vem do latim
anima. Em todo o texto, o termo anímico pretende significar caraterístico da
alma.). Precisamos de o utilizar para traduzir a Bíblia corretamente.

Anímico ou espiritual

Agora, vou analisar todos os locais do Novo Testamento em que a palavra


psuchikos ou anímico é utilizada e tentarei salientar a diferença entre espiritual e
anímico.

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Primeiro, referiremos três casos em que a palavra anímico é aplicada ao corpo
físico, o que é talvez difícil de compreender. Analisei cinco traduções e descobri
diversas palavras diferentes utilizadas em diferentes versões para traduzir este
termo psuchikos. A versão original King James usa natural ou sensual. A New
King James também usa natural ou sensual, mas neste último caso, à margem,
aplica mundano. A New American Standard utiliza natural e na margem não-
espiritual e finalmente mente mundana. A New International version usa sem o
espírito, natural, não-espiritual e depois utiliza a expressão seguem o seu instinto
natural. Vemos, então, que se não formos além da tradução, não conseguimos
captar esta distinção vital entre o que é espiritual e o que é anímico.

Aplicado ao corpo

Veremos de seguida os três casos em que se aplica anímico ao corpo, em 1


Coríntios 15:44 (duas vezes) e 46. Nunca ouvi alguém discutir este assunto, mas
vou dizer o que penso e podem aceitar ou rejeitar. Mas é uma questão
empolgante, porque Paulo diz em 1 Coríntios 15:44, referindo-se à ressurreição:

“Semeia-se corpo natural [anímico], ressuscitará corpo espiritual. Se há corpo


natural [anímico], há também corpo espiritual.”

Note-se que há sempre o contraste entre o anímico e o espiritual. Há um corpo


anímico e há um corpo espiritual.

Depois no versículo 46, Paulo diz:

“Mas não é primeiro o espiritual, senão o natural [anímico]; depois o espiritual.”

Então o nosso atual corpo é anímico; o nosso corpo ressurecto será espiritual.
Compreendo que isso significa que já não precisaremos da ‘alavanca de
velocidades’. O nosso espírito decide onde ir, o que dizer, o que fazer e isso irá
acontecer! Será um corpo controlado pelo espírito.

Criaturas com corpos espirituais

Em Ezequiel 1, temos o quadro de algumas criaturas que podiam ser representa-


das como tendo corpos espirituais. Para mim, isso é empolgante, porque na
ressurreição teremos um corpo como Jesus. Iremos onde quisermos ir. Não
haverá problemas em lidar com a alma.

Em Ezequiel 1:12, falando dos querubins, diz:

“E cada qual andava para adiante de si; para onde o espírito havia de ir, iam;
não se viravam quando andavam.”

Eles tinham corpos espirituais: iam para onde o espírito queria ir. E na mesma
passagem, no versículo 20:

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“Para onde o espírito queria ir, eles iam; para onde o espírito tinha de ir …”

Eis a minha interpretação. Um corpo espiritual é um corpo diretamente motivado


e controlado pelo espírito. É como um carro em que ligamos o motor e ele vai
para onde queremos ir, a qualquer velocidade. Não temos de nos preocupar com
a alavanca das velocidades.

Esse são os três casos em que a palavra psuchikos é utilizada em relação a um


corpo. Nenhuma tradução portuguesa que conheço utiliza a palavra anímico,
consequentemente a distinção fica obscurecida.

O anímico não recebe/compreende as coisas do Espírito de Deus

Vejamos agora outros locais em que esta palavra psuchikos é utilizada. Aqui,
chegamos a um ponto em que há um claro conflito entre o anímico e o espiritual.
1 Coríntios 2: 14-15:

“Ora, o homem natural [anímico] não compreende as coisas do Espírito de Deus,


porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem
espiritualmente. Mas o que é espiritual discerne bem tudo, e ele de ninguém é
discernido.”

Assim, o homem anímico não está em harmonia com o espírito. Ele não pode
receber as coisas do espírito; não pode compreendê-las. Podemos falar aos
intelectos mais altamente educados e eles não terão a capacidade de
compreender as coisas do espírito, porque estão a atuar no domínio da alma.
Isso é importante porque revela que, em certo sentido, há uma oposição entre o
espiritual e o anímico.

Os anímicos, não tendo o Espírito Santo, causam divisão

Passemos agora à epístola de Judas, versículo 19, que é um texto que lança
muita luz. Falando das pessoas que provocam problemas na igreja, a New King
James diz:

“Estes são os que a si mesmos se separam, sensuais [anímicas], que não têm o
Espírito.” [‘E’ maiúsculo, o Espírito Santo]

Mas muito obviamente, fazem parte da igreja porque provocam divisão. Então,
temos na igreja tanto os que são espirituais como os que são anímicos.

Do terreno ao anímico e ao demoníaco

A passagem mais significativa de todas é Tiago 3:15, que analisarei com mais
pormenor. Falando de um certo tipo de sabedoria, Tiago diz:

“Essa não é a sabedoria que vem do alto, mas é terrena, animal [anímica]e
diabólica.”

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Até agora chegamos à conclusão de que animal é anímico. Então, há um tipo de
sabedoria que é anímica. E há uma gradação descendente em três fases:
primeiro, terreno, depois anímico; terceiro, demoníaco. Creio que esta é a
principal forma através da qual os demónios penetram na obra de Deus… o povo
de Deus… na igreja de Deus. É através deste declínio do terreno para o anímico
para o demoníaco.

A principal forma através da qual os demónios penetram na obra de Deus é


através do declínio na sabedoria do terreno para o anímico para o demoníaco.

Consideremos o que está aqui implicado. O que significa ser terreno? Para um
cristão, creio que significa que a sua visão está completamente limitada a esta
Terra. Não consegue ver além desta Terra. Tudo quanto espera de Deus através
da salvação são coisas que pertencem a esta vida: prosperidade, cura, sucesso,
poder etc.

Vou dar alguns exemplos de pessoas que não eram terrenas. Encontramos uma
lista completa delas em Hebreus 11. De facto, podemos resumir os santos de
Hebreus 11 como os que não eram anímicos, que não eram terrenos. Eis apenas
dois exemplos.

Em Hebreus 11:9-10, falando de Abraão, diz:

“Pela fé habitou na terra da promessa, como em terra alheia, morando em


cabanas com Isaque e Jacó, herdeiros com ele da mesma promessa.
Porque esperava a cidade que tem fundamentos, da qual o artífice e construtor
é Deus.”

Abraão estava na Terra prometida, sabia que lhe fora prometida, mas não a
possuiu nem nunca viveu nela como se lhe pertencesse. Nunca comprou uma
casa. Viveu sempre numa tenda, que é algo amovível. Nota-se o contraste com
Ló, que se separou de Abraão e virou o rosto para Sodoma – os homens de
Sodoma eram pecadores aos olhos do Senhor e agiam impiamente – e foi para
onde tinha o rosto virado. Quando voltamos a ouvir falar de Ló, já não está a
olhar para Sodoma. Já está em Sodoma e vive numa casa – deixou a tenda.
Penso que, em certo sentido, Ló é um tipo de homem de Deus terreno.

Abraão tinha uma visão que ultrapassava o tempo e penetrava na eternidade.


Ele aguardava uma cidade que nunca vira, mas que sabia que um dia seria o seu
lar. Penso que é assim que Deus espera que sejamos como cristãos. Neste
mundo, não estamos em casa. Quando nos sentimos em casa neste mundo,
tornamo-nos anímicos.
O meu segundo exemplo é Moisés, em Hebreus 11:27:

“Pela fé deixou o Egito, não temendo a ira do rei; porque ficou firme, como vendo
o invisível.”

Gostaria de sugerir que esta é a chave para a firmeza. É olhar para além do

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tempo, olhar para além do nível desta vida, em que em geral enfrentamos tempos
difíceis, muitas frustrações, muitos desapontamentos. O que nos leva a ficar
firmes? Uma visão que nos transporta para além do tempo.

O que nos leva a ficar firmes?


Uma visão que nos transporta para além do tempo.

Há muitos outros exemplos. Esses dois – Abraão e Moisés – são apenas exemplos
de pessoas que não foram terrenos. Temos depois a notável afirmação de Paulo
que faremos bem em ponderar, em 1 Coríntios 15:19:

“Se esperamos em Cristo só nesta vida, somos os mais miseráveis de todos os


homens.”

Essa é uma afirmação muito notável. Se tudo quanto a nossa fé cristã nos fornece
são coisas desta vida, somos dignos de pena, somos miseráveis. E tenho de dizer,
com toda a graciosidade, que há muito ensino na igreja que apenas se concentra
no que Deus fará por nós nesta vida. Tais pessoas em geral consideram-se
prósperas e bem-sucedidas; Deus considera-as dignas de pena.

Esta é uma verdade muito básica. Os cristãos de gerações anteriores – até à 1ª


Guerra Mundial – tinham consciência desse facto: o mundo não é o nosso lar.
Mas desde esta altura, muitos cristãos perderam esta perceção e vivem como se
realmente pertencessem aqui. Os seus pensamentos, ambições e planos estão
concentrados nas coisas do tempo. São terrenos.

Quando nos tornamos terrenos, qual o próximo degrau para baixo? Anímico. Qual
é a essência da alma? O ego. O que é ser anímico? É ser-se egocêntrico,
preocupar-se apenas em ser o número um. A pessoa anímica diz: “O que ganho
com isto?” A pessoa espiritual diz: “Como posso glorificar a Deus?” Julgo que
concordará – e espero não estar a ser cínico – que há muita abundância deste
espírito na igreja contemporânea.

Depois, o anímico abre-se ao diabólico. Quando entramos no domínio do anímico,


ficamos expostos ao diabólico. Creio que isso é, fundamentalmente o que permite
que os demónios se infiltrem no povo de Deus, na obra de Deus. Mais adiante,
apresentarei cinco exemplos do que aconteceu neste século.

- Exemplos do Antigo Testamento -

Arão e o bezerro de ouro

Consideremos por instantes dois padrões de pessoas do Antigo Testamento que


passaram do terreno para o anímico e daí para o diabólico. Eram pessoas muito
distintas. A primeira é Arão. Se lermos Êxodo 32, descobrimos algo que sempre
me espanta. Aqui estava o Sumo Sacerdote ungido e nomeado, construindo um

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bezerro de ouro. Gostaria de analisar o que diz Êxodo 32:1-10.

Nessa altura Moisés encontrava-se no monte. Há quarenta dias que não o viam:

“Mas vendo o povo que Moisés tardava em descer do monte, acercou-se de


Arão, e disse-lhe: Levanta-te, faze-nos deuses, que vão adiante de nós; porque
quanto a este Moisés, o homem que nos tirou da terra do Egito, não sabemos
o que lhe sucedeu.” (Êxodo 32:1)

A frase muito significativa é esta: “… o homem que nos tirou da terra do


Egito…”. Eles haviam perdido Deus da vista. Estavam a concentrar-se em
líderes humanos. E julgo que, quase inevitavelmente isso conduz à idolatria.
Quando perdemos a nossa visão de Deus e nos concentramos nos servos de
Deus, estamos em grande perigo. Por isso,

“E Arão lhes disse: Arrancai os pendentes de ouro, que estão nas orelhas de
vossas mulheres, e de vossos filhos, e de vossas filhas, e trazei-mos.
Então todo o povo arrancou os pendentes de ouro, que estavam nas suas
orelhas, e os trouxeram a Arão. E ele os tomou das suas mãos, e trabalhou o
ouro com um buril, e fez dele um bezerro de fundição. Então disseram: Este é
teu deus, ó Israel, que te tirou da terra do Egito.” (Êxodo 32:2-4)

“E Arão, vendo isto [esta é uma descrição espantosa – quando Arão viu o seu
próprio bezerro], edificou um altar diante dele; e apregoou Arão, e disse:
Amanhã será festa ao Senhor.” [Tenho dificuldade em compreender como Arão
pode fazer isso. Mas se Arão o fez, então tu e eu também o podemos fazer. Não
somos melhor que ele. Provavelmente nem somos do mesmo calibre]. (Êxodo
32:5)

“E no dia seguinte madrugaram, e ofereceram holocaustos, e trouxeram


ofertas pacíficas; e o povo assentou-se a comer e a beber; depois levantou-se
a folgar.” (Êxodo 32:6)

Essa é a essência da idolatria: folgar. Quando a nossa adoração se torna em


folguedo, passamos do espiritual para o anímico e, por fim, para o demoníaco.
Não quero parecer crítico, mas tenho de dizer que, quanto a mim, muito do que
chamamos adoração no movimento carismático não é, de modo nenhum,
adoração. Frequentemente, é egocêntrico: “Deus cura-me. Deus abençoa-me.
Deus faz-me sentir bem. Deus faz isto, Deus faz aquilo”. É egocêntrico, é anímico.
Apenas o espírito pode concentrar-se diretamente em Deus.

Muita da música que temos hoje na igreja apela à alma. É muito semelhante ao
mesmo tipo de música utilizada no mundo para estimular a alma.

Não sou nenhum perito em música. Canto desafinado. Mas tenho uma certa

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sensibilidade ao impacto da música. Tenho vivido cinco anos em África, tenho
consciência de que certos temas e ritmos repetitivos podem adormecer a nossa
sensibilidade. Se ficarmos o tempo suficiente sob a sua influência, em especial
quando é tocado muito alto, perdemos a capacidade de discernimento. E em
África, esses ritmos são utilizados para invocar os demónios.

O que é espantoso quanto à cena da idolatria de Israel aqui descrita é a completa


diferença entre a atitude do povo quando Deus falou do céu e a sua atitude talvez
dois meses depois. Houve a mais espantosa das alterações. Em Êxodo 20, quando
tiveram uma revelação singular de Deus como nenhuma outra nação recebeu, a
sua resposta foi o espanto, temor, reverência. Em Êxodo 20:18-21, depois de
Deus ter anunciado os dez mandamentos a partir da montanha:

“E todo o povo viu os trovões e os relâmpagos, e o sonido da buzina, e o monte


fumegando; e o povo, vendo isso retirou-se e pôs-se de longe. E disseram a
Moisés: Fala tu connosco, e ouviremos: e não fale Deus connosco, para que não
morramos. E disse Moisés ao povo: Não temais, Deus veio para vos provar, e
para que o seu temor esteja diante de vós, a fim de que não pequeis. E o povo
estava em pé de longe. Moisés, porém, se chegou à escuridão, onde Deus
estava.”

Ficaram tão impressionados com a santidade e majestade de Deus que disseram:


“Moisés, não aguentamos ouvir essa voz. Por favor, ouve por nós e escutaremos
através de ti o que ela te disser”. Contudo, em menos de dois meses,
abandonaram essa atitude e chegaram ao ponto de querer em bezerro de ouro
para adorar, onde não viam Deus, mas Moisés, como a pessoa que os trouxera
do Egipto.

Paulo fala disto no Novo Testamento em I Coríntios 10:5-7. Falando das


experiências de Israel quando saíram do Egipto, Paulo diz:

“Mas Deus não se agradou da maior parte deles, por isso foram prostrados no
deserto. E estas coisas foram-nos feitas em figura, para que não cobicemos as
coisas más, como eles cobiçaram. Não vos façais, pois, idólatras, como alguns
deles, conforme está escrito: O povo assentou-se a comer e a beber, e levantou-
se para folgar.”

O que aconteceu? As suas necessidades físicas haviam sido supridas. Tinham o


estômago cheio, os corpos vestidos, que mais lhes faltava? Um pouco de
divertimento. Vamos divertir-nos! Fico muito preocupado quando a adoração se
transforma num folguedo. E hoje, há muito disso. A adoração não tem nada a
ver com diversão. A diversão diz: “Excita-me. Entusiasma-me. Satisfaz-me!” Isso
é tudo para benefício da alma. O espírito está excluído disso.

Os filhos de Arão, Nadabe e Abiú

O meu segundo exemplo da transição do espiritual para o anímico e deste para


o diabólico é ainda mais assustador. Encontramo-lo em Levítico 9:23-10:2. Este

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é um momento glorioso. O povo fizera tudo quanto Deus exigira na forma de
sacrifícios e, quando a sua obediência era completa, Deus enviou a Sua glória e
queimou o sacrifício colocado no altar.

“Então entraram Moisés e Arão na tenda da congregação; depois saíram, e


abençoaram ao povo; e a glória do Senhor apareceu a todo o povo.
Porque o fogo saiu de diante do Senhor, e consumiu o holocausto e a gordura,
sobre o altar; o que vendo todo o povo, jubilaram e caíram sobre as suas faces.”

“E os filhos de Arão, Nadabe e Abiú, tomaram cada um o seu incensário e


puseram neles fogo, e colocaram incenso sobre ele, e ofereceram fogo estranho
perante o SENHOR, o que não lhes ordenara. Então, saiu fogo de diante do
Senhor e os consumiu; e morreram perante o Senhor.”

O mesmo fogo que consumiu o sacrifício queimou os adoradores! O que é o “fogo


estranho”? Compreendo que é fogo que não foi tirado do altar que Deus
ordenara. O que é o “fogo estranho” na nossa experiência? Diria que é a adoração
em qualquer outro espírito que não seja o Espírito Santo. O castigo é a morte.

Em Números 16: 1-35, lemos acerca de uma revolta contra Moisés no deserto,
quando alguns dos líderes pegaram em 250 incensários, encheram-nos de fogo
e disseram: “Somos tão bons como Aarão. Temos o mesmo direito que ele de
sermos sacerdotes”. E Moisés disse: “Muito bem. Vamos comprovar essa
pretensão”. E mandou-os reunir-se com os incensários e o fogo. Então, o fogo
do Senhor surgiu e consumiu 250 homens. Para mim, a lição é esta: És
responsável pelo que está no teu incensário. És responsável pelo espírito com
que te aproximas de Deus.

És responsável pelo que está no teu incensário.


És responsável pelo espírito com que te aproximas de Deus.

Não quer dizer que serás consumido pelo fogo, mas o julgamento de Deus é em
geral exemplar. Por outras palavras: Deus não julgou cada cidade em que havia
homossexualidade da mesma forma que Sodoma e Gomorra. Mas o Seu juízo
sobre Sodoma e Gomorra foi exemplar: mostrou para sempre em que estima tem
Deus a homossexualidade.
Também quando Ananias e Safira tentaram enganar o Senhor com a sua oferta,
ambos morreram por terem afirmado dar a Deus mais do que na realidade tinham
dado. Nem todos os que fazem isto morrem – penso que se acontecesse, haveria
muito menos pessoas na igreja. Contudo, a posição de Deus perante a situação
nunca se altera.

Aqui, temos esta demonstração do perigo de nos aproximarmos de Deus com o


que é chamado “fogo estranho”: qualquer espírito que não seja o Espírito Santo.
Isto tem se tornado muito real para mim.

Voltemos a Hebreus e vejamos a aplicação do Novo Testamento. (Um dos nossos

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problemas é que em geral lemos as Epistolas como se tivessem sido escritas para
incrédulos. Mas não: elas foram escritas para os cristãos.) Hebreus 12:28-29:

“Por isso, tendo recebido um reino que não pode ser abalado, retenhamos a
graça, pela qual sirvamos a Deus agradavelmente, com reverência e piedade;
Porque o nosso Deus é um fogo consumidor.”

A Bíblia NVI usa em lugar da piedade a palavra temor. Pergunto a mim próprio,
quanto temor encontramos hoje na igreja? Em quantos dos cultos que
frequentamos há um sentimento da presença temorosa de Deus?

No verão passado, quando visitámos a Grã-Bretanha, encontrei um pastor amigo


que fez este comentário: “Conheço pessoas que falam de Deus como se Ele fosse
alguém que tivessem encontrado no bar”. Chegámos a esta relação tu-cá-tu-lá
com Jesus. Ele convida-nos à comunhão, mas nunca, nunca devemos perder o
nosso sentido de temor. Penso ser esta a raiz dos problemas de que temos estado
a falar.

Voltemos um pouco atrás aos movimentos espirituais contemporâneos que estive


a descrever. É fácil acreditar que algures no princípio tenha havido um genuíno
e espontâneo movimento do Espírito Santo. Parte vem do Espírito Santo, mas
está tudo misturado. Há coisas que são de Deus, mas há outras que não são.

Porquê? Qual é o problema? A minha resposta é que há um impercetível deslizar


da focagem em Deus para uma focagem no ego, da verdade bíblica objetiva para
uma experiência pessoal subjetiva.

Com demasiada frequência, um sentimento de temor e reverência pela


santidade de Deus tem sido substituído por uma frivolidade e irreverência não-
bíblica. De facto, diria que a irreverência se tornou uma doença epidémica no
movimento carismático contemporâneo. Se somos culpados disto, temos de nos
arrepender.

Mais do que uma vez, Deus tem-me convencido da minha irreverência. Tenho-a
confessado como pecado e me arrependido. Devemos vigiar as nossas línguas.

Charles Finney comentou certa vez: “Deus nunca utiliza um bobo para tocar as
consciências”. Um ministério caraterístico do Espírito Santo é convencer do
pecado, da justiça e do juízo (João 16:8). Quando as pessoas permanecem sem
convicção de pecado, é de perguntar se o Espírito Santo está em operação nelas.

- Haverá forma de nos proteger? –

Deus terá fornecido alguma proteção contra este tipo de erro? Sim! Mas primeiro,
temos de compreender que o erro ataca fundamentalmente a área da alma –
embora o espírito possa ser mais tarde afetado. É, portanto, a alma que tem de
ser protegida.

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A proteção que Deus preparou para a alma tem uma base singular e suficiente:
o sacrifício de Jesus na cruz.

Em Mateus 16:24-25, Jesus diz:

“Se alguém quiser vir após mim, renuncie-se a si mesmo, tome sobre si a sua
cruz, e siga-me; porque aquele que quiser salvar a sua vida [alma], perdê-la-á,
e quem perder a sua vida [alma] por amor de mim, achá-la-á.”

Eis o paradoxo divino: para salvar [proteger] a nossa alma, temos de a perder.

Antes de podermos seguir Jesus, há dois passos preliminares. Primeiro, temos de


nos negar a nós próprios; temos de dizer um “Não” resoluto e final ao nosso ego
exigente e egoísta. Segundo, temos de tomar a nossa cruz. Temos de aceitar a
sentença de morte que a cruz nos impõe. Tomar a cruz é uma decisão voluntária
que cada um deve tomar. Deus não nos impõe obrigatoriamente a cruz.

Se não aplicarmos pessoalmente a cruz à nossa vida, deixamos uma porta aberta
à influência demoníaca. Há sempre o perigo de o nosso ego não crucificado
responder às lisonjas sedutoras de demónios enganadores. O orgulho é a
principal área do nosso caráter que satanás visa e lisonja, é a principal alavanca
que ele usa para poder entrar.

Temos de aplicar a cruz pessoalmente a nós próprios. Em Gálatas 2:20, Paulo


diz: “Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu …” Cada um de nós
precisa de perguntar: “Comigo, isso é verdade? Já fui mesmo crucificado com
Cristo? Ou ainda estou motivado pelo meu ego anímico?

Hoje, muitos cristãos acham que esta solução é, demasiado radical. Questionam
se é realmente a única forma de se defenderem do engano. Tendem a encarar
Paulo como um “super santo” a quem lhes é impossível imitar.

Contudo Paulo não se vê assim. O seu ministério como apóstolo foi único, mas a
sua relação pessoal com Cristo foi um padrão que todos devem seguir.
Em I Timóteo 1:16 ele diz:

“Mas por isso alcancei misericórdia, para que em mim, que sou o principal, Jesus
Cristo mostrasse toda a sua longanimidade, para exemplo dos que haviam de
crer nele para a vida eterna.”

De novo, em I Coríntios 11:1, diz: “Sede meus imitadores, como também eu de


Cristo.”

A única alternativa à cruz é colocar o ego no lugar de Cristo. Mas isso é idolatria
e abre caminho para as consequências malignas que invariavelmente se seguem
à idolatria.

A cruz é o coração e o centro da fé cristã. Sem a cruz proclamada e aplicada, o

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cristianismo fica sem alicerce e as suas reivindicações deixam de ter qualquer
valor. De facto, torna-se uma falsa religião. Como tal – como todas as falsas
religiões – está inevitavelmente exposta à infiltração demoníaca e ao engano.

Sem a cruz proclamada e aplicada, o cristianismo fica sem alicerce


e as suas reivindicações deixam de ter qualquer valor.

- Cinco movimentos que se desviaram -

Depois de tudo quanto disse, gostaria de dar cinco exemplos de movimentos


dentro do movimento carismático que seguiram todos o mesmo caminho. De
uma forma ou de outra, tive algum tipo de associação com cada um deles.

Voltando ao período logo após a 2ª Guerra Mundial; no Canadá, houve um


derramamento do Espírito Santo em Saskatchewan que foi chamado de “Chuvas
Serôdias” (“Later Rains”). Produziu um poderosíssimo impacto, e vinha muita
gente de diferentes zonas da América do Norte a Saskatchewan. Diria que a
essência deste movimento foi uma plena restauração de todos os dons do Espírito
Santo.

Mais tarde, conheci um homem que foi presidente do Movimento dos Homens de
Negócios do Evangelho Pleno, em Chicago, um ótimo cristão. Contou-me o que
lhe acontecera quando ali se deslocara. Disse que os cultos duravam nove horas
e que elas eram tão empolgantes que nem lhe apetecia levantar e ir a casa de
banho. Mas o que aconteceu? O líder tornou-se orgulhoso, arrogante e caiu em
imoralidade, desacreditando assim os dons do Espírito.

Mais tarde, entre 1957 e 1962, fui missionário junto das Assembleias Pentecostais
do Canadá – gente excelente, mas que praticamente não exercia os dons
espirituais. Assim, um dia disse-lhes: “Porque nunca exercitamos os dons
espirituais?”. A resposta foi: “as ‘Chuvas Serôdias’ os tinham.” Por outras
palavras, não usamos os dons porque receamos que o mesmo venha a suceder
connosco. Uma das táticas de satanás é desacreditar o que é bom através do seu
mau uso.

Depois, vieram os “Filhos Manifestos” (“Manifested Sons”). Era um grupo muito


poderoso de homens que se baseavam no versículo que diz que toda a criação
aguarda a manifestação dos filhos de Deus. Tiveram um ministério
verdadeiramente poderoso, em particular na expulsão de demónios. Mas ao
expulsarem os demónios, entravam num longe diálogo com eles e procuravam
obter revelação deles. Creio que está plenamente errado procurar obter
revelações de demónios.

Acabaram com uma teologia exagerada que defendia que alguns deles já haviam
recebido os seus corpos ressurretos. O que a seguir aconteceu foi que dois deles

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morreram num acidente de aviação. Deus estava a dizer: “Onde está o vosso
corpo ressurreto?”. Mas a princípio, eram homens excelentes.

Depois, surgiram os “Filhos de Deus” (“Children of God”). Mais tarde mudaram o


nome para “A Família” (“The Family”). Uma mulher chamada Linda Meisner
exerceu entre eles um poderoso ministério. Encontrei-me duas ou três vezes com
ela. Era uma mulher poderosa e muito dedicada e sentia um grande fardo pelos
jovens da América. Mas, quando foi dominada pelo orgulho, tornou-se
manipuladora e dominadora. Muitas dos jovens “Filhos de Deus” ficaram sob o
seu controlo. Fê-los cortar relações com os pais e a família e isso foi um autêntico
desastre. Mas penso que o início dela foi correto.

Então, apareceu William Branham. Tive uma ligeira associação com ele na parte
final do seu ministério. Estive com ele no púlpito duas ou três vezes com os
Homens de Negócios do Evangelho Pleno. William Branham teve um dos mais
notáveis ministérios que jamais conheci. Era um homem amável, humilde,
amoroso. O seu ministério de palavra de conhecimento era absolutamente
lendário. Ninguém o ouviu pronunciar uma palavra de conhecimento falsa.

Estive com ele num culto em Phoenix, Arizona. Ele estava na plataforma, apontou
para uma mulher na audiência e disse-lhe: “Você não veio aqui por causa de si,
mas por causa do seu neto”. Depois, revelou o nome e a morada da mulher em
Nova Iorque. Na altura encontravam-se a cerca de 3000 quilómetros de distância
da cidade de Nova Iorque.

Infelizmente, depois de exercitar o seu dom duas ou três vezes, desmaiou e os


assistentes levaram-no para fora. Explicou o sucedido recorrendo à declaração
de Jesus de que “de mim saiu virtude”. Mas Jesus não desmaiou. Não acredito
que isso fosse o Espírito Santo. Acho que era demoníaco.

Mais tarde, fiz amizade com Ern Baxter que, durante um período considerável de
tempo, ensinava a Bíblia nos cultos evangelísticos de Branham. Ern respeitava
muito Branham, mas o seu coração ficou despedaçado com o que acontecera.
Um dia, reuniu um pequeno grupo de nós e disse: “Quero contar-lhes uma coisa
sobre Branham, mas gostava que não fizessem conversa disto”.

Como todas as pessoas envolvidas passaram à história, sinto-me livre para


revelar o que Ern disse sobre Branham. Eis o que foi: “Branham tinha dois
espíritos; um era o Espírito de Deus, o outro não”. Numa altura em que estavam
juntos, Branham apontou para uma lâmpada do teto e disse: “O poder que tenho
consegue fazer mexer aquela lâmpada”.

Penso que Branham permaneceu em Cristo até ao fim, mas foi dominado por
pessoas que quiseram explorá-lo. Embora não se intitulasse “Elias”, permitia que
os seguidores o tratassem assim. Morreu num acidente de viação quando o seu
carro foi atingido por um condutor embriagado. Os seus seguidores
embalsamaram-lhe o corpo e conservaram-no até ao Domingo de Páscoa,
convencidos de que ressuscitaria, mas isso não aconteceu.

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Quando estava no Espírito, sob a unção, era quase imbatível. Certa vez, num
culto, um homem endemoninhado aproximou-se para o atacar. Branham
ordenou-lhe que se ajoelhasse e permanecesse nessa posição até terminar a
mensagem. O homem conservou-se ajoelhado na mesma posição durante todo
o sermão do Branham. Mas diria que o seu fim foi… dececionante.

Depois temos o “Movimento do Discipulado ou Pastoreio” (“Discipleship/


Shepherding Movement”). Ora, eu estive pessoal e intimamente envolvido e
posso dizer-lhe que começou com uma intervenção sobrenatural de Deus. Estive
presente quando tudo aconteceu. Três outros pregadores além de mim – Bob
Mumford, Charles Simpson e Don Basham – estávamos a falar numa conferência.
Às tantas, descobrimos que o homem que dirigia e organizava a conferência era
um homossexual praticante ativo. E pensámos: “O que podemos fazer?”
Concordámos de reunir-nos no quarto de um de nós no motel – não no meu
quarto. Nós os quatro ajoelhámo-nos e orámos e quando nos levantámos
sabíamos, sem qualquer processo racional, sem orarmos nesse sentido, sem
mesmo o termos desejado – que Deus nos juntara.

Contudo, apesar de tudo, ao fim de um ano as coisas começaram a correr mal.


Esta é a minha impressão pessoal; o problema foi fundamentalmente ambição
pessoal… em diferentes formas. Um queria ser o líder do movimento, outro queria
aparecer no púlpito, etc., e eu era um deles. Pela minha experiência, diria que
não há maior problema na igreja de hoje do que a ambição pessoal no ministério.

Um outro problema é que não estávamos renovados na nossa mente. Ainda


pensávamos nas categorias da “Igreja Antiga”. Quem não gostava de nós dizia:
“Vocês são realmente uma denominação”. O nosso líder respondia: “Não! Não
somos denominação nenhuma. Nunca o seremos”. Mas a lógica dos princípios
espirituais é implacável. Ele e o seu grupo tornaram-se uma denominação.

O nosso problema de raiz foi não termos renovados a nossa mente. Ainda
pensávamos em termos da forma como a igreja tradicionalmente faz as coisas.
E não creio que a igreja faça as coisas como deve ser. Acredito que tem de haver
uma revolução na nossa forma de pensar antes de podermos alinhar com os
propósitos de Deus.

Tem de haver uma revolução na nossa forma de pensar


antes de podermos alinhar com os propósitos de Deus.

Deixa-me listar estes cinco exemplos:

… A Chuva Serôdia
… Os Filhos Manifestos
… Os Filhos de Deus
… William Branham
… Movimento do Discipulado/Pastoreio

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Finalmente, gostaria de salientar dois elementos que penso serem comuns a
todos estes movimentos. Número um: Orgulho. Na minha opinião, o orgulho é
o mais perigoso de todos os pecados. Certa vez ouvi um colega pastor afirmar:
“O orgulho é o único pecado relativamente ao qual o Diabo nunca te faz sentir
culpado”. Provérbios 16:18, um versículo muito curto diz:

“A soberba precede a ruína, e a altivez do espírito precede a queda.”

Há de reparar que as pessoas em geral dizem: “O orgulho precede a queda”. Mas


não é isso que a Bíblia diz. O que ela declara é: “O orgulho precede a ruína”.
Então, dá meia volta. Não continues nesse caminho, porque o seu fim é a
destruição. E digo isto tanto para si como para mim.

O segundo elemento que julgo ter sido comum aos cinco movimentos foi aquilo
que já referi: uma mistura de espíritos. Havia verdade e erro. Havia o Espírito
Santo e outros espíritos também. E a forma como os outros espíritos entraram
foi através de um desvio descendente: do terreno para o anímico e deste para o
diabólico.

Recordemos que o anímico é essencialmente egocêntrico. Em II Timóteo 3:1-5,


Paulo descreve como será a condição da humanidade no final desta era e creio
que estamos a viver nesse tempo. Ele indica dezoito pecados ou máculas morais:

“Sabe, porém, isto [e é a única vez que me lembro de Paulo ter sido tão enfático.
Ele diz: pode ter a certeza absoluta…]: que nos últimos dias sobrevirão tempos
trabalhosos.”(II Timóteo 3:1)

A palavra grega traduzido por trabalhosos é apenas usada num outro local, em
Mateus 8:28, em que descreve dois endemoninhados que enfrentaram Jesus.
“…tão ferozes eram que ninguém podia passar por aquele caminho.”
Repare na palavra portuguesa neste último texto: ferozes. Então, virão tempos
ferozes, e já chegaram! Pode orar quanto quiser, mas não pode mudar a situação,
porque Deus diz: Sabe, porém, isto… haverá tempos ferozes. Não pode alterar a
situação. Mas pode pedir a Deus que o prepare para ela.

Depois Paulo dá uma lista destas dezoito máculas morais:

“Porque haverá homens amantes de si mesmos, avarentos, presunçosos,


soberbos, blasfemos, desobedientes a pais e mães, ingratos, profanos,
Sem afeto natural, irreconciliáveis, caluniadores, incontinentes, cruéis, sem amor
para com os bons, traidores, obstinados, orgulhosos, mais amigos dos deleites
do que amigos de Deus,” (II Timóteo 3:2-4)

Note-se que começa e acaba com as coisas de que as pessoas gostam. Amor de
si próprio, amor ao dinheiro e amor pelo prazer. Mas gostaria de salientar: a raiz
de tudo isto é o amor de si próprio. É isso que deixa o mal entrar. Egocentrismo.
Estar concentrado no eu. O que é que Deus vai fazer para mim? O que é que
eu ganho com isto?

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E depois, continua no versículo 5:

“Tendo aparência de piedade, mas negando a eficácia dela. Destes afasta-te.”

Assim, estas pessoas, com estas terríveis condições morais, têm uma
aparência de piedade. Não são incrédulos; não são ateus. Não creio que Paulo
jamais utilizasse a palavra piedade fora do contexto cristão. Estes são, pois,
cristãos professos. E qual é o problema? Egoísmo. O egoísmo é aquilo que abre
caminho a todos os outros problemas. Egocentrismo. Isso leva, por seu turno, à
mistura.

Só mais um ponto antes de concluirmos. Eis como a mistura atua: provoca


confusão e depois divisão. Porque parte do que apresentado é bom e parte é
mau. Parte é verdade e parte é erro.

A mistura provoca confusão e depois divisão.

Isso significa que há duas formas de as pessoas reagirem: há os que se


concentram no erro e rejeitam a verdade; outros concentram-se na verdade e
aceitam o erro. E, portanto, surge a confusão – a da confusão, a divisão. As
pessoas ficam agressivamente comprometidas a uma ou a outra das alternativas.
O que provoca isso? A mistura. Não podemos dar-nos ao luxo de tolerar a
mistura.

Não podemos dar-nos ao luxo de tolerar a mistura.

Qual é a resposta à mistura? A verdade! A pura e perfeita verdade da Palavra de


Deus!

Certa vez, nos EUA, fui a única testemunha de um acidente ocorrido na rua em
frente à nossa casa. Como resultado, fui solicitado a testificar em tribunal.

Antes de dar o meu testemunho, foi-me pedido que falasse a verdade, só a


verdade e nada mais que a verdade.

Esse foi o padrão estabelecido por um tribunal secular. Quanto mais não devemos
nós, como cristãos, defender a verdade, só a verdade e nada mais que a
verdade?

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(3)

- QUATRO SALVAGUARDAS -

Quero iniciar este capítulo com os três últimos versículos do Salmo 19:

“Quem pode entender os seus erros? Expurga-me tu dos que me são ocultos.
Também da soberba guarda o teu servo, para que se não assenhoreie de mim.
Então serei sincero, e ficarei limpo de grande transgressão.
Sejam agradáveis as palavras da minha boca e a meditação do meu coração
perante a tua face, Senhor, Rocha minha e Redentor meu! ”

No primeiro capítulo, descrevi o que considero ser um grave problema e no


segundo, procurei dar uma explicação bíblica que mostra como surge o problema.
Neste capítulo final, quero apresentar quatro salvaguardas bíblicas que nos
protegem de tais problemas.

A salvaguarda nº 1 – humilhar-nos

A primeira salvaguarda encontra-se em I Pedro 5:5-6:

“… revesti-vos de humildade, porque Deus resiste aos soberbos, mas dá graça


aos humildes. Humilhai-vos, pois, debaixo da potente mão de Deus, para que a
seu tempo vos exalte; ”

Creio que o primeiro requisito essencial é humilhar-nos. A Bíblia diz: “Deus


resiste aos soberbos ”. Assim, se tentarmos chegar à presença de Deus, mas
formos soberbos, podemos pressionar – mas Ele pressiona contra nos – e Ele
consegue pressionar com mais força do que nós. Em lado nenhum a Bíblia diz
que Deus nos fará humildes. Deus coloca sempre em nós a responsabilidade de
nos humilharmos. É uma decisão que temos de ser nós a tomar. Ninguém pode
fazê-lo por nós. Podem orar por nós e pregar-nos a Palavra, mas nós é que temos
de tomar a decisão de nos humilharmos debaixo da potente mão de Deus para
que ao seu tempo nos exalte.

Já disse que acredito que o orgulho é o maior problema singular, o problema


mais vulgar e o mais destruidor. Vimos anteriormente que o orgulho precede a
destruição. Se não nos desviarmos do caminho do orgulho, o nosso fim será a
destruição. Contudo, no Salmo 25:8-9, encontro uma passagem muito útil e
inspiradora:

“Bom e reto é o Senhor; por isso ensinará o caminho aos pecadores.


Guiará os mansos [humildes]em justiça e aos mansos ensinará o seu caminho.”

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É a graça do Senhor que O leva a estar disposto a ensinar os pecadores. Mas
Deus inscreve os Seus alunos, não pelas suas qualidades intelectuais, mas pelo
seu caráter. Muitos podem frequentar um instituto ou seminário bíblico, mas
nunca ficar inscritos na escola de Deus porque Deus só inscreve os humildes.
“Guiará os mansos [humildes] em justiça e aos mansos ensinará o seu caminho.”

Descobri que a palavra manso desapareceu das traduções modernas. Qual é a


diferença entre humilde e manso? Para mim, humilde descreve a nossa atitude
interior; manso descreve a forma de expressar. Talvez hoje em dia não usamos
muito a palavra manso porque há pouca gente a quem ela se aplica!

A salvaguarda nº 2 – receber o amor à verdade

A salvaguarda seguinte encontra-se em II Tessalonicenses 2:9-12:

“A esse cuja vinda é segundo a eficácia de Satanás, com todo o poder, e sinais
e prodígios de mentira,” (versículo 9)

Conservemos em mente que satanás é capaz de produzir poder, sinais e


prodígios. Tenho comentado com frequência que um lugar óbvio para o anticristo
surgir seria no movimento carismático, porque muitos carismáticos parecem
pensar que tudo quanto é sobrenatural tem de vir de Deus. Mas não é assim.
Satanás é capaz de grandes sinais e prodígios sobrenaturais. Então, como é que
nos protegemos? O texto prossegue:

“E com todo o engano da injustiça para os que perecem, porque não receberam
[mas rejeitaram] o amor da [à]verdade para se salvarem.” (versículo 10)

Então qual é a nossa proteção contra o engano? Receber o amor da [à]


verdade. De novo, é algo que temos de ser nós a fazer. Deus oferece-no-lo,
temos de o receber.

Ora, daqueles que não recebem (mas rejeitam) o amor da (à) verdade, Deus diz
o seguinte:

“E por isso Deus lhes enviará a operação do erro [engano], para que creiam a
mentira; Para que sejam julgados todos os que não creram a verdade, antes
tiveram prazer na iniquidade.” (versículos 11 e 12)

Este é um versículo assustador. Deus lhes enviará a operação do erro. Se Deus


lhe enviar a operação do erro, então será mesmo enganado.

Em 1994 – este é um comentário pessoal, subjetivo – em Jerusalém, levantei-


me certa noite para ir à casa de banho e quando regressava à cama, Deus falou
muito claramente à minha mente, dizendo que havia enviado um forte engano
ao governo israelita então em funções (eleito em 1992). Penso que tudo quanto

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tem acontecido desde então confirma isso. É uma declaração muito significativa
porque se Deus envia a operação do engano, é inútil orar para que tais pessoas
abandonem o erro. Da mesma forma acho que há muitas orações sentimentais
sobre o Médio Oriente que nunca serão respondidas.

Há duas palavras que são utilizadas de uma forma não-bíblica para manipular as
pessoas: uma é paz, a outra é amor. Assim, as pessoas do Médio Oriente, e
penso que provavelmente as de todo o mundo, estão a ser manipuladas pela
oferta de paz. Implicitamente, se somos contra ela, somos malvados.
Obviamente, quem for contra a paz é uma má pessoa. Assim, as pessoas sentem-
se culpados se não alinharem com tal oferta.

Mas há condições para a paz. Em Isaías 48:22, o profeta diz: “… os ímpios não
têm paz ”. E Romanos 14:17 diz: “… o reino de Deus … é justiça, e paz, e
alegria…” Não pode ter paz sem justiça. Conheço muitos cristãos que andam à
procura de alegria. Mas se não satisfazerem a condição da justiça (crer na Sua
justificação), não podem receber a alegria. Os políticos que utilizam a palavra paz
para manipular as pessoas estão a enganá-las, porque a paz não vem para os
ímpios.

A outra palavra manipuladora é amor, utilizada na igreja. Fala-se muito do amor


de Deus. Deus é tão amoroso, Ele é tão gentil! Tudo isso é verdade, mas Deus
também é um Deus muito severo. Cheguei pessoalmente a esta conclusão (na
base da minha experiência pessoal e através da observação de pessoas que me
são íntimas): Não pode esconder nada de Deus. Nada! Pode pensar que
conseguiu livrar-se e Deus até pode perdoá-lo, mas mesmo assim terá de
enfrentar as consequências. É que Deus perdoa-nos, mas não nos liberta
automaticamente de todas as consequências daquilo que fizemos.

Por isso, não crie nenhuma imagem sentimental de Deus. Ele não é o Pai Natal,
entregando bombons às criancinhas. Ele é muito justo, muito reto, muito
amoroso – mas, em certo sentido, muito severo. Não podemos levar a melhor
sobre Deus. Então, é melhor não tentar!

Acho que o amor está a ser usado para manipular as pessoas no tempo presente.
As pessoas falam do amor de Deus e Deus é tão amoroso – e tudo isso é verdade.
Mas o amor de Deus expressa-se de formas surpreendentes. Como já citei
anteriormente, Jesus disse à igreja de Laodicéia: “Repreendo e castigo a todos
quantos amo”. Isso é amor. Deus é o nosso Pai e Ele ama-nos, mas também,
disciplina-nos.

Há duas formas erradas de responder à disciplina de Deus. Por instantes,


analisemos Hebreus 12:5-8, que é dirigida aos cristãos:

“E já vos esquecestes da exortação que argumenta convosco como filhos: Filho


meu, não desprezes a correção do Senhor, E não desmaies quando por ele fores
repreendido; porque o Senhor corrige o que ama, e açoita a qualquer que recebe
por filho. Se suportais a correção, Deus vos trata como filhos; porque, que filho

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há a quem o pai não corrija? Mas, se estais sem disciplina, da qual todos são
feitos participantes, sois então bastardos, e não filhos.”

Há duas formas erradas de reagir à punição de Deus. Primeiro, somos


alertados: não desprezes a correção do Senhor. Não encolhas os ombros e
digas, “E depois?” A minha observação é que muitos cristãos maduros acreditam
que Deus já não os corrige. A verdade é que Ele nunca para de disciplinar.

Isto tornou-se uma verdade muito vívida para mim quando estava a ler o relato
de Moisés. Com oitenta anos, Deus escolheu-o comissionou-o a libertar Israel do
Egipto e enviou-o de volta ao Egipto. Mas no caminho, o Senhor teve um encontro
com ele e procurou matá-lo (Êxodo 4:24-26). Extraordinário!

Porquê? Porque ele não havia circuncidado o filho. Desobedecera ao sinal da


aliança que Deus estabelecera com Abraão e a sua descendência. Assim, Deus
queria antes ver Moisés morto do que acompanhá-lo no seu ministério em
desobediência. Por vezes, dizemos: “Satanás está a resistir-me”. Mas com
demasiada frequência, a verdade é que não é satanás, mas Deus. É que “…Deus
resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes “(I Pedro 5:5b).

E outra reação errada é ficar desanimado quando somos repreendidos por Ele.
Não diga: “Não aguento. Deus, porque deixas que isto me aconteça? Não
aguento mais! Não consigo continuar”. Essas são as duas reações erradas:
desprezar a punição e desanimar.

E quanto ao amor à verdade? A palavra grega para amor é-nos muito familiar:
ágape. É um termo muito forte. É a palavra mais forte usada para designar amor
no grego. Não significa ler apenas a Bíblia todas as manhãs ou ir à igreja e escutar
a pregação. É um compromisso apaixonado com a verdade de Deus. É isso que
devemos cultivar se queremos escapar ao engano. Deus enviará a operação do
engano aos que não receberam o amor [ágape] à verdade. Isso significa mais do
que ter apenas um “tempo devocional” ou ler a Bíblia aos fins de semana. É um
compromisso apaixonado com a verdade de Deus.

O amor [ágape] à verdade


é um compromisso apaixonado com a verdade de Deus.

Penso que posso dizer, sem estar a gloriar-me, que foi algo que Deus me
concedeu. Sempre que ouço alguma coisa que não sinto como verdade, há algo
em mim que se agita. Deus pode fazer isso consigo também, mas tem de permitir
que Ele atua em si. Essa é a segunda salvaguarda, receber o amor à verdade.

A salvaguarda nº 3 – cultivar o temor do Senhor

A terceira salvaguarda é cultivar o temor do Senhor. Muitos cristãos dizem


que já não há temor na vida cristã, mas isso não é verdade. Certos tipos de

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temores estão excluídos, mas nem todos. Vou dar-lhe agora uma lista de
Escrituras. Ruth e eu decorámos pelo menos duas dezenas de diferentes
passagens sobre o temor do Senhor. As promessas ligadas ao temor do Senhor
são tão empolgantes que não compreendo como há pessoas que não o querem.

Eis algumas delas. Salmo 34:11-14:

“Vinde, meninos, ouvi-me; eu vos ensinarei o temor do Senhor. Quem é o homem


que deseja a vida, que quer largos dias para ver o bem? Guarda a tua língua do
mal, e os teus lábios de falarem o engano. Aparta-te do mal, e faze o bem;
procura a paz, e segue-a.”

A implicação é que o temor do Senhor levará Deus a dar-lhe muitos dias de vida.
Qual é a primeira área com a qual Deus lida? A língua. Guarda a tua língua do
mal.

Salmo 19:9:

“O temor do Senhor é limpo, e permanece eternamente; …”

O temor do Senhor nunca cessa; dura para sempre.

Jó 28:28:

“o temor do Senhor é a sabedoria, e apartar-se do mal é a inteligência.”

Note-se que a primeira exigência para a sabedoria e inteligência não é intelectual,


mas moral. Consiste em apartar-se do mal. Há muitos loucos inteligentes à solta.

Provérbio 8:13:

“O temor do Senhor é odiar o mal; a soberba e a arrogância, o mau caminho e a


boca perversa, eu odeio.”

Note-se que não podemos ser neutros em relação ao mal se temos o temor do
Senhor; temos de o abominar. E qual a primeira coisa que abominamos? A
arrogância.

Provérbios 9:10 -11:

“O temor do Senhor é o princípio da sabedoria, e o conhecimento do Santo a


prudência. Porque por meu intermédio se multiplicam os teus dias, e anos de
vida se te aumentarão.”

Quer uma vida longa? Cultiva o temor do Senhor. Contudo, não basta viver
muitos anos; é possível viver longamente na miséria. Mas no temor do Senhor,
Deus oferece-nos uma vida longa e abençoada.

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Provérbios 14:26 -27:

“No temor do Senhor há firme confiança e ele será um refúgio para seus filhos.”

Então, o temor do Senhor não nos torna tímidos, mas dá-nos firme confiança. E
fornece um lugar de refúgio para os nossos filhos, o que, nestes dias acho ser
muito importante. E o versículo seguinte diz:

“O temor do Senhor é fonte de vida, para desviar dos laços da morte.”

Este é um quadro muito vívido. Satanás estabeleceu laços da morte. Como evitá-
los? Através do temor do Senhor.

Provérbio 19:23 é quase incrível. Custa a crer, mas está na Bíblia:

“O temor do Senhor encaminha para a vida; aquele que o tem ficará satisfeito, e
não o visitará mal nenhum.”

Como rejeitar uma promessa destas? Ficará satisfeito, e não o visitará mal
nenhum. Não significa necessariamente que teremos uma vida airada.

Provérbio 22:4:

“O galardão da humildade e o temor do Senhor são riquezas, honra e vida.”

Verificamos que pelo menos 50 por cento das vezes o temor do Senhor está
diretamente relacionado com a vida. É uma condição fundamental para uma vida
boa.

E depois, penso, o mais importante de tudo é o quadro profético do Messias em


Isaías 11:1-2:

“Porque brotará um rebento do tronco de Jessé, e das suas raízes um renovo


frutificará. [Todo o Novo Testamento confirma que se trata de Jesus. Agora,
veja:]

E repousará sobre ele o Espírito do Senhor,


o espírito de sabedoria e de entendimento,
o espírito de conselho e de fortaleza,
o espírito de conhecimento e de temor do Senhor.”

É interessante ver que o Espírito que repousa em Jesus é sétuplo – sete é sempre
o número do Espírito Santo. Apocalipse 4:5 diz que perante o trono de Deus há
sete lâmpadas de fogo que são os sete Espíritos de Deus.

Pessoalmente, entendo que esta passagem de Isaías nos revela os sete espíritos
de Deus. O primeiro é o Espírito do Senhor, ou seja, O Espírito que fala na
primeira pessoa como Deus. Depois, surgem todos em pares:

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… o espírito de sabedoria e de entendimento
… o espírito de conselho e de fortaleza
… o espírito de conhecimento e de temor do Senhor

É importante ver que o conhecimento deve estar equilibrado com o temor do


Senhor – porque o conhecimento incha, mas o temor do Senhor mantém-nos
humildes. Diz-me muito o facto de o Espírito de temor do Senhor repousar sobre
Jesus. Embora Ele fosse o Filho de Deus, possuía o temor do Senhor; repousava
sobre Ele. Nunca o abandonou.

Continuando com o temor do Senhor: o temor do Senhor é um contrapeso para


o gozo. É muito importante que quando nos entusiasmamos estejamos ancorados
pelo temor do Senhor. Uma vez mais, considero isto uma tremenda fraqueza no
movimento carismático. As pessoas ficam tão entusiasmadas e felizes, batem as
palmas, dançam – o que é maravilhoso – mas sem o temor do Senhor.

Salmo 2:11 diz:

“Servi ao Senhor com temor, e alegrai-vos com tremor.”

Isto pode parecer inconsistente, mas é o equilíbrio. Alegramo-nos, mas com


tremor. Permanecemos em temor enquanto nos alegramos. Vemos isto no Novo
Testamento ao descrever o crescimento da igreja em Atos 9:31:

“Assim, pois, as igrejas em toda a Judéia, e Galiléia e Samaria tinham paz, e eram
edificadas; e se multiplicavam, andando no temor do Senhor e consolação do
Espírito Santo.”

Note-se de novo o equilíbrio; o Espírito Santo consola-nos, mas temos de andar


no temor do Senhor. Podemos ser encorajados; podemos ser edificados, mas
isso tem de ser equilibrado pelo temor do Senhor.

Pode dizer: “Mas, irmão Prince, eu fui redimido; sou um filho de Deus.
Certamente já não preciso do temor de Deus”. Pelo contrário. Deve temê-Lo mais
por causa do preço que Deus pagou para redimi-lo. É o que vem declarado em I
Pedro 1:17-19:

“E, se invocais por Pai aquele que, sem aceção de pessoas, julga segundo a obra
de cada um, andai em temor, durante o tempo da vossa peregrinação,
Sabendo que não foi com coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes
resgatados da vossa vã maneira de viver que por tradição recebestes dos vossos
pais, mas com o precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro imaculado e
incontaminado,”

Então, o simples facto de termos sido redimidos é a razão de passar o tempo da


nossa peregrinação em temor – porque Deus investiu muito em nós. Ele pagou
por nós o sangue de Cristo. Isto não deixa lugar à leviandade, que é realmente
uma negação do temor do Senhor.

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A salvaguarda nº 4
tornar e manter a cruz central na nossa vida

A quarta e última salvaguarda é: tornar e manter a cruz central na nossa


vida. Vejamos o exemplo de Paulo em I Coríntios 2:1-5:

“E eu, irmãos, quando fui ter convosco, anunciando-vos o testemunho [ou o


mistério] de Deus, não fui com sublimidade de palavras ou de sabedoria.
[Devemos ter em mente que nessa cultura, a grande arte era a oratória. Para
seres alguém, tinhas de ser um excelente orador. Caso contrário, serias
provavelmente desprezado. Por isso, quando Paulo diz: “não fui com sublimidade
de palavras” está em certo sentido a dizer: “Não estou sujeito a esta cultura”]
Porque nada me propus saber entre vós, senão a Jesus Cristo, e este crucificado.
E eu estive convosco em fraqueza, e em temor, e em grande tremor.” (versículos
1-3)

Já salientei anteriormente que a força de Deus se aperfeiçoa na fraqueza. Quando


temos em nós toda a força de que necessitamos, já não precisamos da força de
Deus. Deus terá de levar-nos a uma situação em que não temos força. Tenho
visto isto continuamente na minha própria experiência no ministério. Se Deus vai
usar-me de uma forma significativa, Ele vai colocar-me numa situação em que
eu sei que por mim só não serei capaz: a situação em que sei que estou
totalmente dependente d’Ele, que sou fraco. Então, a Sua força aperfeiçoa-se na
minha fraqueza.

Gostaria de dizer algo mais a este respeito: descobri que as oportunidades para
servir a Deus raras vezes servem as nossas conveniências. De um modo geral,
se Deus lhe der uma oportunidade para O servir, será inconveniente para si de
alguma forma. Serve para testar a sinceridade dos seus motivos.

Mas se queremos que a força de Deus se manifeste na nossa vida, no nosso


ministério, na nossa congregação, temos de cultivar o temor do Senhor. Temos
de cultivar um sentimento de dependência, um reconhecimento da nossa total
dependência de Deus.

Isto é muito pessoal, mas antes de pregar, digo sempre a Deus: “Sei que não
possuo a capacidade. Estou totalmente dependente de Ti. Se não me ungires, se
não me inspirares, se não me fortaleceres, não consigo”. De vez em quando ao
pregar posso esquecer-me disso. Então, mentalmente, enquanto prego, digo;
“Senhor, por favor lembra-te que estou dependente de Ti. Nada posso fazer na
minha própria força!”.

Depois, Paulo prossegue:

“E a minha palavra, e a minha pregação, não consistiram em palavras persuasivas


de sabedoria humana, mas em demonstração de Espírito e de poder; para que a

50
vossa fé não se apoiasse em sabedoria dos homens, mas no poder de Deus. ”
(versículos 4 e 5)

A chave que liberta o poder do Espírito Santo é estar concentrado na cruz. Há


um hino que diz:

Quando contemplo a assombrosa cruz


Em que o Príncipe da Glória morreu
Considero meu maior mérito, perda
E desprezo todo o meu orgulho

Quando realmente vemos a cruz, não temos nada em que nos gloriar. É
interessante que a versão original desse hino, escrito por um inglês, dizia:

Quando contemplo a assombrosa cruz


Em que o jovem Príncipe da Glória morreu

O autor estava a salientar que Jesus morreu no fulgor da vida.

Creio que uma das nossas maiores necessidades é concentrarmo-nos na cruz.


Tenho visto pessoas tornarem-se muito ambiciosas, lutando por sucesso,
querendo construir uma grande igreja ou ministério. Por vezes, têm sucesso, mas
se a sua mensagem não estiver centrada na cruz, apenas têm madeira, feno e
palha.

Recorde-me de um bem conhecido pregador inglês de uma geração anterior,


Charles Spurgeon, um batista. Enfatizava continuamente aos seus alunos a
importância de focarem na cruz. Um dia, disse algo do género: “Pregar os
princípios duma vida cristã sem mencionar a cruz é como um sargento a dar
ordens a um pelotão de soldados sem pés. Podem ouvir as suas ordens e
compreendê-lo, mas falta-lhes a capacidade de as levar a cabo. Sabemos que é
apenas através da cruz que obtemos a capacidade de fazer o que Cristo nos
ordena”.

Voltemos de novo aos cinco primeiros versículos de I Coríntios, capítulo 2. Foram


sempre os meus versículos favoritos porque conheci o Senhor vindo de uma
formação em filosofia grega. Quando Paulo fala de sabedoria, está a falar da
filosofia grega, pelo que penso estar particularmente apto a apreciar o impacto
do que ele diz sobre sabedoria.

Ao ler estes versículos, precisamos de compreender que Paulo está a falar de


uma certa parte da sua viagem missionária. Em Atos 17, estava em Atenas, que
era o centro intelectual, a cidade universitária do mundo antigo. Ali pregou um
sermão diferente de tudo quanto dele está registado. Foi o que se chama uma
pregação intelectual. Adaptou-se à sua audiência e citou mesmo um poeta grego
(coisa que julgo não ter feito em qualquer outra ocasião). Não sei se Paulo foi
realmente guiado pelo Espírito Santo, seja como for, os resultados foram
dececionantes. Apenas algumas pessoas creram.

51
Daqui, Paulo prossegue para Corinto. Ora, Corinto era uma cidade portuária, algo
como as grandes cidades portuárias do nosso mundo atual – uma cidade muito
ímpia, onde florescia todo o género de pecado. Algures entre Atenas e Corinto,
Paulo tomou uma decisão, que encontramos registada nestes versículos:

“E eu, irmãos, quando fui ter convosco, anunciando-vos o testemunho de Deus,


não fui com sublimidade de palavras ou de sabedoria. Porque nada me propus
saber entre vós, senão a Jesus Cristo, e este crucificado. E eu estive convosco
em fraqueza, e em temor, e em grande tremor. E a minha palavra, e a minha
pregação, não consistiram em palavras persuasivas de sabedoria humana, mas
em demonstração de Espírito e de poder; Para que a vossa fé não se apoiasse
em sabedoria dos homens, mas no poder de Deus.”

Assim Paulo toma uma decisão revolucionária. Não pregaria em Corinto uma
mensagem como a que pregou em Atenas. Disse aqui algo que para um judeu é
notável: nada me propus saber. Basicamente, os Judeus são pessoas que sabem
imenso e em geral a sua confiança baseia-se no que sabem.

Que declaração espantosa! “Nada me propus saber. Vou esquecer tudo quanto
aprendi aos pés de Gamaliel em todos os meus estudos – esquecer tudo isso! Só
estou preocupado com uma coisa: Jesus Cristo – e não apenas com Jesus Cristo,
mas com Jesus Cristo crucificado – Ele é o centro e a ênfase da minha
mensagem”. E creio que deve ser o centro e a ênfase da nossa mensagem. Se
tirarmos a cruz do centro, estamos em perigo.

Repare, o Paulo esperava a demonstração do Espírito Santo e poder. Verifico hoje


na nossa igreja contemporânea que se pregamos sobre poder todos ficam
entusiasmados – e se fizermos um apelo às pessoas que querem receber poder,
muitos irão à frente. Pessoalmente, creio que este ênfase dado ao poder pode
ser extremamente perigoso. Ao longo de muitos anos, tenho observado que as
pessoas que se concentram no poder acabam cheias de problemas. Em geral, o
seu fim é o erro.

O poder é algo que faz apelo ao homem natural. Alguns psicólogos dizem que o
desejo de poder é o desejo número um da personalidade humana. Paulo disse:
“Quero poder, mas quero-o numa base diferente daquela que o mundo o
entende. Quero esquecer toda a minha sabedoria, todo o meu conhecimento,
todas as minhas habilitações teológicas e quero concentrar-me apenas numa
coisa: Jesus Cristo crucificado”. E depois acrescenta: “Quando o faço, posso ter
a certeza de que o Espírito Santo vem em poder”.

Termino com outro dos meus versículos favoritos, Gálatas 6:14:


“Mas longe esteja de mim gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus
Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo.”

Recapitulemos as quatro salvaguardas que sugeri:

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… Número 1: Humilhar-nos. Por exemplo, em I Pedro 5:8, Pedro diz que o
nosso adversário [o diabo], anda em derredor, bramando como leão, buscando
a quem possa tragar; O diabo é muito poderoso e muito ativo. Qualquer teologia
que diga o contrário é um engano.

No outro dia, estava a meditar neste versículo. Suponhamos que é anunciado


que um leão anda à solta no átrio do hotel e que é preciso fugir. Não creio que
alguém fosse passear no átrio, a cantarolar um coro alegre. Ficaríamos muito
cautelosos sobre como sair de lá e de certeza teríamos todo o cuidado em fechar
a porta.

Este é um quadro da forma como precisamos de nos comportar, porque o nosso


adversário, o diabo, anda à nossa volta como um leão a rugir. Não podemos
alterar esta verdade. Sabem qual é a razão que leva aos leões a rugir? É para
assustar a presa, para a paralisar. Por isso, não fique paralisado com o rugido do
leão. Seja cauteloso, seja prudente. Mas não ceda ao medo.

… Número 2: Receber o amor à verdade.

… Número 3: Cultivar o temor do Senhor.

… Número 4: Tornar e manter a cruz central.

Para finalizar, mais uma vez, Gálatas 6:14:

“Mas longe esteja de mim gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus
Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo.”

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