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Competência Comum e Competência Especial em Crimes Conexos Comuns e Crimes Eleitorais
Competência Comum e Competência Especial em Crimes Conexos Comuns e Crimes Eleitorais
Resumo
O presente texto tem como finalidade esclarecer a competência entre crimes conexos
entre a Justiça Comum e a Justiça Especial. Partindo de um estudo de caso entre
infrações penais de lesão corporal e de captação ilícita de sufrágio pretende-se
determinar a correta competência para a solução da lide desse modo de conexão.
Apoiado em doutrina e jurisprudência, apresentar-se-á como tal conflito de
competências pode ser resolvido.
Introdução
Mas o que são crimes eleitorais e como podemos destaca-los em relação aos crimes
comuns ou de outras naturezas? Nesse sentido, Renato Brasileiro de Lima afirma:
Como adverte a doutrina, somente são crimes eleitorais os previstos no Código
Eleitoral (v.g., crimes contra a honra, praticados durante a propaganda eleitoral) e os
que a lei, eventual e expressamente, defina como eleitorais. Todos eles referem-se a
atentados ao processo eleitoral, que vai do alistamento do eleitor (ex: falsificação de
título de eleitor para fins eleitorais - art. 348 do Código Eleitoral até a diplomação
dos eleitos. Crime que não esteja no Código Eleitoral ou que não tenha a expressão
definição legal como eleitoral, salvo o caso de conexão, jamais será de competência
da Justiça Eleitoral (LIMA, 2019, p.429).
Assim, por exemplo, no caso da jurisdição comum e especial, dos juízes superiores e
inferiores (competência originária e competência recursal) e segundo a natureza da
infração penal, a competência é fixada muito mais por imposição de ordem pública do
que no interesse de uma das partes. Trata-se, aí, de competência absoluta, que não pode
ser prorrogada nem modificada pelas partes, sob pena de implicar nulidade absoluta.
São exemplos de competências absolutas: 1) competência em razão da matéria (ex:
competência da Justiça Federal, Militar, Eleitoral, Estadual, etc.); 2) competência por
prerrogativa de função; 3) competência funcional.
Os crimes eleitorais estão previstos no Código Eleitoral (Lei 4.737/65) e em
leis especiais como a Lei Complementar n. 64/90 e a Lei 9.504/97. São delitos
relacionados ao processo eleitoral porque, de algum modo, influenciam no direito do
voto; na escolha do candidato por parte do eleitor; prejudicam a lisura ou o regular
andamento do processo eleitoral. O caso em tela é um típico ou tipificado crime
eleitoral, na medida em que se caracteriza pela compra de votos, ou mais precisamente,
na captação ilícita de sufrágio. Além disso, o caso traz a lesão corporal, tipificada como
crime comum e caracterizada no art. 129 (caput) do Código Penal.
A captação ilícita de sufrágio, tipificada no artigo 41-A da Lei n.º 9.504/97 é
uma ação delitiva do agente tendente a influenciar a vontade de um único eleitor,
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Supremo Tribunal Federal destaca no julgado presente, decisão recente proferida pela
Ministra e Relatora Carmen Lúcia, que no recurso anterior, a Relatora decidiu
particularmente adotar o critério de hierarquia das normas, de modo que a norma
constitucional se sobrepõe às normas infraconstitucionais, mas esclarece que já
entendimento pacificado e consolidado de que a competência para os casos de
conexão entre crimes comuns e crimes especiais a competência é da justiça especial.
Em outro julgado pela suprema Corte o entendimento é o mesmo, o
que revela a consolidação de tal entendimento e, quando tal procedimento não for
seguido, a medida a ser tomada é o encaminhamento dos autos para a Justiça Eleitoral.
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO AGRAVO REGIMENTAL NA
PETIÇÃO. COLABORAÇÃO PREMIADA NO BOJO DA OPERAÇÃO LAVA-
JATO. ODEBRECHT. ELEIÇÕES DE 2010. GOVERNO DE SP.
PAGAMENTOS POR MEIO DE CAIXA DOIS. CRIMES DE FALSIDADE
IDEOLÓGICA E CONEXOS. CRIME ELEITORAL. CONFLITO DE
COMPETÊNCIA ENTRE JUSTIÇA COMUM E JUSTIÇA ELEITORAL.
ENCAMINHAMENTO DOS AUTOS À JUSTIÇA ELEITORAL.
PRECEDENTES. I O Parquet Federal, ao elaborar REGISTRO DOS
PRINCIPAIS PONTOS DO DEPOIMENTO, referiu-se a pagamentos por meio de
Caixa Dois. II - Somente no momento de ofertar as contrarrazões ao agravo
regimental, inovando com relação ao seu entendimento anterior, passou a sustentar
que a narrativa fática aponta, em princípio, para eventual prática de crimes, tais
como corrupção passiva (art. 317 do Código Penal) e falsidade ideológica eleitoral
(art. 350 do Código Eleitoral). III - O Código Eleitoral, em seu título III, o qual
detalha o âmbito de atuação dos juízes eleitorais, estabelece, no art. 35, que:
Compete aos juízes: II - processar e julgar os crimes eleitorais e os comuns
que lhe forem conexos, ressalvada a competência originária do Tribunal Superior
e dos Tribunais Regionais. IV - O denominado Caixa 2 sempre foi tratado como
crime eleitoral, mesmo quando sequer existia essa tipificação legal. V -
Recentemente, a Lei 13.488/2017 incluiu o art. 354-A no Código Eleitoral para
punir com reclusão de dois a seis anos, mais multa, a seguinte conduta: Apropriar-
se o candidato, o administrador financeiro da campanha, ou quem de fato exerça
essa função, de bens, recursos ou valores destinados ao financiamento eleitoral,
em proveito próprio ou alheio. VI - Ainda que se cogite da hipótese aventada a
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posteriori pelo MPF, segundo a qual também teriam sido praticados delitos
comuns, dúvida não há de que se estaria, em tese, diante de um crime conexo, nos
exatos termos do art. 35, II, do referido Codex. VII - A orientação jurisprudencial
do Supremo Tribunal Federal, com o intuito de evitar possíveis nulidades, assenta
que, (...) em se verificando (...) que há processo penal, em andamento na Justiça
Federal, por crimes eleitorais e crimes comuns conexos, é de se conceder habeas
corpus, de ofício, para anulação, a partir da denúncia oferecida pelo Ministério
Público Federal, e encaminhamento dos autos respectivos a Justiça Eleitoral
de primeira instância (CC 7033/SP, Rel. Min. SYDNEY SANCHES, Tribunal
Pleno, de 2/10/1996). VIII - A mesma orientação se vê em julgados mais recentes,
a exemplo da Pet 5700/DF, rel. Min. Celso de Mello. IX - Remessa do feito à
Justiça Eleitoral de São Paulo.
(STF - AgR-ED Pet: 6820 DF - DISTRITO FEDERAL 0002618-
33.2017.1.00.0000, Relator: Min. EDSON FACHIN, Data de Julgamento:
06/02/2018, Segunda Turma)
O julgamento em primeira instância é feito pelos juízes eleitorais, função exercida pelos
próprios juízes estaduais designados para tal atividade pelo Tribunal Regional Eleitoral.
Em segunda instância, os recursos referentes aos crimes eleitorais são julgados pelos
Tribunais Regionais Eleitorais e, em última instância, pelo Tribunal Superior Eleitoral.
De acordo com o art. 22, inciso I, “d”, do Código Eleitoral Lei n° 4.737/65, compete ao
Tribunal Superior Eleitoral processar e julgar os crimes eleitorais e os comuns que lhe
forem conexos cometidos pelos seus próprios juízes e pelos juízes dos Tribunais
Regionais.
Aos Tribunais Regionais Eleitorais cabe o processo e julgamento dos crimes
eleitorais praticados por juízes e promotores eleitorais, assim como Prefeitos, Deputados
Estaduais e outras autoridades com foro por prerrogativa de função previsto nas
Constituições Estaduais. Também compete aos Tribunais Regionais Eleitorais o
processo e julgamento de habeas corpus, em matéria eleitoral, contra ato de autoridade
que responda perante os Tribunais de Justiça por crime de responsabilidade e, em grau
de recurso, os denegados ou concedidos pelos juízes eleitorais
Caso ocorram ofensas contra juiz ou promotor eleitoral, ou qualquer outro
servidor do cartório eleitoral ou convocado para servir nas eleições, por exemplo, os
mesários, a competência para julgamento não é da Justiça Eleitoral na medida em que o
crime de desacato não é previsto na legislação como delito eleitoral. Assim,
considerando que os serviços eleitorais, efetivos ou convocados, bem como os juízes e
promotores que acumulam as funções eleitorais, exercem atribuição federal, a
competência é da Justiça Federal.
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Considerações Finais
Referências
LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de processo penal: volume único / Renato
Brasileiro de Lima - 7. ed. rev., ampl. e atual. - Salvador: Ed. JusPodivm, 2019. 1.904 p.
REIS, Alexandre Cebrian Araújo. Direito processual penal esquematizado. Alexandre
Cebrian Araújo Reis, Vitor Eduardo Rios Gonçalves; coordenador Pedro Lenza. 3ª ed.
São Paulo: Saraiva, 2014 (Coleção esquematizado).