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CONSTRUÇÃO DE

INSTRUMENTOS MUSICAIS
AULA 1

Prof.ª Florinda Cerdeira Pimentel


INTRODUÇÃO

Este material tem por objetivo mostrar a importância de se criar projetos


de construção de instrumentos alternativos para serem desenvolvidos e
utilizados na educação musical. A partir da Lei 11.769, sancionada em 18 de
agosto de 2008, o ensino de música nas escolas passou a ser obrigatório.
Entretanto, nem sempre as instituições de ensino, sejam elas públicas ou da
rede privada, possuem condições de disponibilizar instrumentos musicais de
qualidade para os seus estudantes. Porém, é possível realizar um excelente
trabalho musicalizador explorando uma grande variedade de materiais e
proporcionando aos estudantes a possibilidade de elaborar instrumentos
musicais utilizando materiais alternativos. É importante ressaltar que esse
instrumento não substitui um instrumento musical convencional, mas a
manipulação e a exploração dos sons, texturas e variações sonoras devem fazer
parte do desenvolvimento musical, pois essa experiência sonora promovida pelo
contato com diferentes timbres, alturas e intensidades e possibilidades sonoras
mediante ao manuseio de materiais não convencionais, enriquecem
significativamente o aprendizado musical.

As crianças precisam ter experiências concretas com objetos que


emitem sons, instrumentos musicais ou outros e formar um vocabulário
específico para se referir a eventos sonoros. O manuseio de objetos
sonoros cria situações em que será possível agrupar ou separar os
sons, classificar e seriar. [...]. As crianças desenvolvem formas de
trabalhar com os sons que permitirão organizar suas ações e realizar
atividades expressivas com esses materiais. Agindo assim, as crianças
aprendem a fazer parcerias, criam e reproduzem pequenas
combinações, que são esboços das regras que regem os sons de sua
cultura. (Maffioletti, 2001, p. 130-131)

A educação musical com a construção de instrumentos alternativos


propõe ao estudante uma escuta sensível mediante a manipulação dos materiais
diversificados que irá escolher e utilizar. Quando um indivíduo tem a
oportunidade de idealizar o seu próprio instrumento musical, participando da sua
construção, do zero, depois o observa “ganhando vida”, e ao final, com ele
concluído, aplica sua construção dentro de uma proposta musical conjunta,
pode-se dizer que esta atividade musical foi realizada de forma plena.
Outro ponto que deve ser destacado é a conscientização para a prática
sustentável, estimulando os estudantes a reutilizar materiais que seriam
descartados, mas que podem ser reaproveitados na elaboração de instrumentos
musicais muito interessantes.
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TEMA 1– INSTRUMENTO MUSICAL DE QUALIDADE

Quando o educador se propõe a construir um instrumento musical


alternativo com ou para o seu estudante, é muito importante atentar-se para a
qualidade sonora daquilo que se está confeccionando. Este instrumento a ser
desenvolvido, tem o propósito de ser um instrumento musicalizador, portanto
deve ter as características necessárias para que seu som seja adequado e que
seja funcional dentro das atividades musicais propostas. É muito comum
observarmos instrumentos alternativos com ruídos demasiadamente estridentes
em uma turma numerosa do ensino fundamental. A não ser que tenha um
propósito exploratório específico, a utilização de muitos instrumentos
barulhentos em um coral escolar, por exemplo, irá provocar uma competição
sonora com as vozes dos estudantes, o que não é vocalmente saudável.

1.1 Propriedades do som

Para que o projeto de construção de instrumentos alternativos aconteça


com sucesso, é importante que o educador tenha um conhecimento básico sobre
as principais propriedades que abrangem o som e a acústica musical, como:

• Altura do som (graves, médios e agudos): quanto menor o


instrumento, mais agudo seu som, por exemplo, vejamos um
instrumento de lata. Se batucarmos em uma lata grande de
mingau, teremos um som mais grave do que se batucarmos em
uma lata pequena de milho ou leite condensado. Nos chocalhos
pode-se observar esta diferença de acordo com o recheio do
instrumento. Experimente colocar arroz em uma lata e feijão em
outra. Qual ficou com som mais agudo?
• Intensidade (fortes e fracos): com a mesma experiência das latas com
arroz ou feijão, perceba agora, qual som ficou mais forte e qual ficou mais
fraco?
• Timbres (fonte sonora): o timbre caracteriza a particularidade de cada voz,
cada som. Experimente ouvir o som de um chocalho, depois de um
tambor, depois de uma pessoa falando. São sons diferentes, timbres
diferentes. São infinitas as possibilidades timbrísticas para serem
utilizadas na construção de instrumentos musicais alternativos. Desde o

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próprio corpo até latas, papéis, molas, garrafas, caixas, sementes, folhas
de acetato (raio x) etc.
• Duração sonora: aqui trata-se de quanto tempo dura um som. Quando se
constrói um instrumento musical alternativo, deve-se pensar na
sonoridade desejada e na proposta musical a ser desenvolvida com
aquele instrumento. Se eu preciso de um som longo, ou eu utilizo um
chocalho com sons repetidos, ou eu construo algum instrumento que me
dê a possibilidade de emissão de um som longo, como um pau-de-chuva,
por exemplo.

TEMA 2– ORGANOLOGIA DOS INSTRUMENTOS MUSICAIS

Organologia é a ciência que estuda os instrumentos musicais. Aqui vamos


tratar dos instrumentos de maneira geral, sem classificação histórica, geográfica
ou cultural, mas de acordo com o seu funcionamento, ou seja, a produção sonora
de um violino é diferente da produção de um violão, que é diferente de uma flauta
ou um tímpano.
Para que se extraia o som dos instrumentos existem três sistemas básicos
de produção sonora:

• Sistema excitador: é um mecanismo físico que gera a vibração do


som, por exemplo uma corda de violão.

Figura 1 – Sistema excitador

Crédito: Wal_172619/Pixabay.

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• Sistema ressoador: é o que amplifica o estímulo originalmente
dado pelo sistema excitador. Quando utilizamos o violão como
exemplo, a corda funciona como excitador, mas o corpo do
instrumento funciona como sistema ressoador amplificando o som
produzido. Outro exemplo é o Cajon, onde o sistema excitador é a
batida das mãos sobre a caixa de ressonância.

Figura 2 – Sistema ressoador

Crédito: Jefferson Schnaider.

• Sistema radiante: é o responsável por expandir o som a uma


distância maior até chegar ao público. Alguns possuem o
mecanismo na própria caixa de ressonância, como no caso do
violino ou violoncelo, em suas fendas no tampo. Aqui, a qualidade
do verniz e da madeira influenciam tanto no sistema ressoador
quanto no radiante. Isso também acontece nos instrumentos de
metais como a flauta, em que a qualidade do metal interfere na
qualidade sonora produzida pelo instrumento.

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Figura 3 – Sistema radiante

Crédito: Sweetaholic/Pixabay.

Considerando os sistemas básicos de produção sonora, pode-se


classificar os instrumentos musicais da seguinte forma:

Quadro 1 – Classificação dos instrumentos musicais

IDIOFONES Sua produção sonora acontece mediante vibração dos


corpos sólidos, sem submissão de tensão. Exemplos:
sinos, triângulos, xilofones.
MEMBRANOFONES A produção sonora acontece por meio da vibração de
uma membrana ou pele. Exemplo: tambores, tímpanos,
alfaia.
CORDOFONES A produção sonora desses instrumentos acontece pela
vibração de uma corda sob tensão. Exemplos: violão,
piano, violino, rabeca.
AEROFONES Produzem som a partir da vibração de uma massa de ar
dentro de um tubo sonoro. Exemplos: instrumentos de
sopro como flautas, trompete, trombone, tuba.

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ELETROFONES São instrumentos que dependem de interferência da
corrente elétrica para produção de som. Exemplos:
contrabaixo elétrico, guitarra, teclado.

TEMA 3 – CONSTRUÇÃO DE INSTRUMENTOS MUSICAIS ALTERNATIVOS

A partir daqui, serão apresentadas algumas propostas de construção de


instrumentos musicais que podem ser realizadas em casa ou na sala de aula,
utilizando materiais alternativos. Esses instrumentos podem ser utilizados em
atividades musicais coletivas como bandas, coro, jogos musicais e contação de
histórias.

3.1 Projeto: Ocean drum (tambor oceânico)

O ocean drum é um instrumento musical idiofônico. Seu som é produzido


através do atrito dos grãos que deslizam dentro do caixa de papelão.

Referência auditiva e visual

• https://www.youtube.com/watch?v=ZYmfsgdzo3w

Figura 4 – Ocean drum

Crédito: Elysangela Freitas/Shutterstock.

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Construindo um ocean drum alternativo

• Materiais necessários:
 Uma caixa de papelão para pizza, de preferência branca;

 Fita adesiva;
 Grãos: arroz, feijão, sagu, milho de pipoca... (uma xícara
aproximadamente);
 Materiais diversos para decoração.

• Montagem:
 Colocar os grãos dentro da caixa de pizza;

Figura 5 – Grãos

 Tampar a caixa e vedar muito bem com fita adesiva para que os grãos
não escapem durante a execução;

Figura 6 – Vedação

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 Decorar o instrumento de acordo com a preferência. É muito
interessante o envolvimento das crianças nesse momento, permitindo
que cada uma deixe sua marca no instrumento.

Figura 7 – Decoração do instrumento

• Postura e execução:
O instrumento pode ser tocado com o executante em pé ou sentado,
segurando-o pelas laterais, mantendo a caixa em posição horizontal. Sua
execução se dá por meio de movimentos suaves e circulares para que os grãos
deslizem pela caixa proporcionando o som característico de ondas do mar.

• Resultado: Música: Martim – Estevão Marques


 https://www.youtube.com/watch?v=7ztcKZnTHkI&feature=youtu.b
e

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3.2 Projeto: trombofone

O trombofone é um instrumento aerofônico, pois seu som é produzido


graças a vibração do ar soprado dentro de um tubo. Seu efeito, semelhante ao
som de um berrante, pode ser utilizado em diversas propostas pedagógicas
como canções e contação de histórias. Dependendo da forma com que é
soprado, funciona também como uma tromba de elefante, excelente para
atividades sobre duração do som e classificação de timbres.

Referência auditiva e visual

• https://www.youtube.com/watch?v=S4bydlrIt74

Figura 8 – Trombofone

Crédito: Fernando Quevedo De Oliveira / Alamy / Fotoarena.

Construindo um trombofone

• Materiais necessários:
 Um pedaço de tubo corrugado com cotovelo;
 Um funil;
 Fita adesiva.

• Montagem:
 Cortar o tubo em aproximadamente 40cm;

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 Encaixar o cotovelo em uma das pontas. (Alguns tubos já vêm com
cotovelo fixado)

Figura 9 – Cotovelo

Crédito: Jefferson Schnaider.

 Fixar o funil na outra extremidade do tubo utilizando fita adesiva.

Figura 10 – Funil

• Postura e execução:
O instrumento pode ser tocado com o executante em pé ou sentado,
colocando a boca na parte onde está o cotovelo. Uma das mãos segura a base
do cotovelo e a outra aponta a campana (funil) para cima. O som pode ser
variado, dependendo do tipo de sobro que pode ser:
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• Sopro forte com vibração dos lábios relaxados (berrante);
• Cantando ou falando com a boca no tubo;
• Soprando e imitindo um som agudo com a voz (tromba de elefante).

3.3 Os chocalhos

Os chocalhos são instrumentos musicais muito versáteis, uma vez que,


podem ser utilizados desde o berçário, como objeto estimulador para bebês, ou
parte integrante de uma grande orquestra. Em alguns grupos musicais o
chocalho tem papel coadjuvante, como provedor de sons de efeito, mas em
alguns casos, como na cultura indígena, ele é protagonista ao ser utilizado nas
canções dos rituais.
A versatilidade do chocalho também é grande quando se trata de formas,
timbres, tamanhos e intensidade sonora, tornando-o um riquíssimo instrumento
musicalizador.
Alguns modelos de chocalhos recebem nomes diferentes, que o
identificam na forma de tocar, formato ou outros aspectos, podem todos são
considerados instrumentos idiofônicos, uma vez que, independentemente de sua
forma ou tamanho, a produção do som se dá pelo choque de pequenos objetos
contra as paredes do objeto em que foram inseridos.
Alguns exemplos de chocalhos mais comuns são o ganzá, o caxixi, as
maracas, os shakers. Os ganzás e shakers possuem inúmeras variações como
os ovos, ganzá de dedo, shaker pulseira ou tornozeleira, excelente para
atividades com movimento.
Para os bebês, o chocalho, além de ser um brinquedo muito divertido, é
capaz de contribuir para o desenvolvimento auditivo, rítmico e visual.

A criança é um ser “brincante” e, brincando, faz música, pois assim se


relaciona com o mundo que descobre a cada dia. Fazendo música, ela,
metaforicamente, “transforma-se em sons”, num permanente exercício:
receptiva e curiosa, a criança pesquisa materiais sonoros, “descobre
instrumentos”, inventa e imita motivos melódicos e rítmicos e ouve com
prazer a música de todos os povos. (Brito, 2003, p.35)

Promover atividade musicais em que as crianças tenham a oportunidade


de manipular os mais diferentes materiais sonoros, é fundamental para despertar
a curiosidade, a imaginação e o gosto pelo fazer musical.

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Figura 11 – Chocalho

Crédito: Proton-Stock /Shutterstock.

3.2.1 Escolha e cuidados sobre os materiais

Já foi falado sobre a versatilidade dos chocalhos. Agora será possível


observar essa versatilidade na construção de instrumentos alternativos, devido
à imensa gama de possibilidades e materiais que podem ser utilizados. A partir
de agora, serão apresentadas algumas das possibilidades para construção de
diversos modelos de chocalhos, utilizando materiais alternativos.
Um detalhe importante para a construção dos chocalhos diz respeito à
qualidade do instrumento, principalmente se for manuseado por crianças
pequenas. Latas e madeiras devem ser muito bem preparadas para que, durante
o manuseio, ninguém se machuque; os instrumentos ocos com objetos dentro
devem ser muito bem fechados, para não ocorrer de os pequenos colocarem
sementes ou pedras na boca. O ideal é procurar materiais resistentes, que
garantam a segurança e a durabilidade do instrumento. O mesmo diz respeito a

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vedação, exceto quando o objetivo da atividade é revelar o “recheio” do
chocalho; nesse caso o manuseio deve ter a supervisão de um adulto.
A escolha dos materiais é muito importante, o educador deve levar em
conta qual som pretende produzir, a quantidade de instrumentos que serão
tocados ao mesmo tempo, qual a proposta pedagógica para a utilização, como
acompanhamento de canções, jogos musicais ou como recurso de sonoplastia
para contações de história. No quadro abaixo, verifica-se algumas combinações,
seu possível resultado sonoro e algumas sugestões de utilização:

Quadro 2 – Combinações de chocalhos

LATA + ARROZ 1/ LATA + FEIJÃO / PLÁSTICO / PLÁSTICO /


AREIA PEDRAS PAPELÃO + PAPELÃO +
ARROZ / AREIA FEIJÃO / PEDRAS
Som forte, Som muito forte, Som mais suave, Som mais
agudo, não muito estridente e mais agudo e abafado que a
estridente. Ideal grave que a agradável, combinação com
para atividades combinação com excelente para arroz ou areia,
individuais, arroz. Funciona tocar em grandes porém mais forte
sonoplastia, bem em grupos. No caso e tende para o
jogos musicais. atividades do papelão, o grave. Também
individuais som é um pouco ideal para jogos
mais aveludado. musicais ou
acompanhamento
de canções.

3.3 Projeto: construindo chocalhos

Agora que já se sabe como escolher os materiais, pode-se dar início à


construção dos chocalhos, utilizando materiais alternativos.

Ganzás

O ganzá é um instrumento em forma de tubo que pode ser utilizado em


diversos gêneros musicais brasileiros, como o samba e o choro. Funciona

1É muito comum a utilização de alimentos como arroz, feijão, milho de pipoca na elaboração
desses instrumentos, porém deve-se evitar essa prática, substituindo por pedregulhos, miçangas
ou areia, contribuindo para evitar o desperdício de alimentos.
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também como instrumento de efeito em diversos outros gêneros musicais,
incluindo rock, jazz e até na música erudita, fazendo parte da família da
percussão. Existe também algumas variantes como o ganzá ovo e o ganzá de
dedo.

Referência visual

Figura 12 – Ganzá

Crédito: Jefferson Schnaider.

• Materiais necessários:
 Um tubo de papelão ou outro tubo oco;
 Pedras ou sementes variadas (de acordo com a proposta de utilização);
 Fita adesiva.

• Montagem:
 Fechar um dos lados do tubo com papel e fita adesiva;
 Colocar o recheio desejado, pensando que, quanto mais recheio, mais
grave ficará o som e quanto menos recheio, mais agudo, devido à
quantidade de espaço que sobra no interior do tubo, além de permitir
um som mais forte.

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Figura 13 – Diferenças do recheio

SOM GRAVE SOM MÉDIO SOM AGUDO

Fechar muito bem a outra extremidade do tubo, para que não escape nada
de dentro.

Maracas

As maracas ou maracás, são um tipo de instrumento idiofônicos que


também produz o seu som por agitação. Com origem indígena, é muito utilizado
em rituais religiosos pelas comunidades indígenas no Brasil e também é muito
popular nas danças latino-americanas.

Os povos indígenas do Nordeste brasileiro são conhecidos por praticar


um tipo de ritual conhecido como Toré, laço forte de união do grupo,
tornou-se um símbolo de identidade, religião, cultura e reivindicação. É
uma dança ritualística, circular marcada por fortes pisadas com o pé
direito, acompanhadas pelo som dos maracás. (Santos; Bezerra, 2018,
p. 4)

Para construir um par de maracas, o cuidado na escolha dos materiais


segue o mesmo critério para os demais instrumentos de agitação, a qualidade,
intensidade sonora e timbres variam de acordo com o material do corpo do
instrumento e seu recheio.

Referência visual

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Figura 14 – Maracas

Crédito: Anna Dr/Shutterstock.

• Materiais necessários:
 Fita adesiva colorida
 Tesoura
 Grãos, sementes, pedregulhos, areia, miçangas coloridas ou o que
mais tiver em casa
 2 garrafas plásticas pequenas
 2 pedaços de cabo de vassoura com 15cm

• Montagem:
 Retirar os rótulos das garrafas, lavar e secar bem;
 Colocar o recheio desejado;
 Lixar a ponta dos cabos de vassoura até encaixarem nas garrafas;
 Encaixar um pedaço de cabo de vassoura na boca de cada garrafa;
 Fixar muito bem com fita adesiva colorida.
 O acabamento do instrumento pode ser com tinta, adesivos coloridos
ou barbante.

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Figura 15 – Maracas

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Outra alternativa interessante para a construção de maracas é a utilização
de ovos de plástico (comuns em massinhas de modelar ou doces) e duas
colheres ou garfos de plástico como cabo.
São muitas as possibilidades de materiais para a construção de
chocalhos, seguindo a orientação em relação à proposta em que o objeto sonoro
será aplicado. A partir disso, o que vale é a criatividade, ressaltando que quanto
mais as crianças estiverem envolvidas em todo processo, melhor será o
resultado da experiência.

3.4 Pau-de-chuva

O pau-de-chuva também é um instrumento idiofônico, muito interessante


para vários tipos de atividades musicais, como duração, timbre,
acompanhamento de canções e contação de histórias.

Referência visual

Figura 16 – Pau-de-chuva

• Materiais necessários:
 Um tubo cilíndrico que pode ser de papelão, PVC ou bambu 2;

2 O bambu produz uma excelente sonoridade, porém deve ser bem lixado para que possíveis

farpas não machuquem as mãos do executante.


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 Espiral de caderno ou, se o instrumento for grande utilize arame
retorcido;
 Areia, pedregulho, grãos, sementes, miçangas coloridas ou o que mais
tiver em casa
 Retalhos de papel ou EVA para fechar as pontas;
 Fita adesiva.

Montagem:

• Fechar uma das pontas do tubo utilizando um pedaço de papel ou


EVA e fita adesiva;

Figura 17 – Fechamento do tubo

• Inserir uma espiral de arame no interior do tubo, de forma com que ocupe
todo o espaço;

Figura 18 – Inserção de mola no tubo

• Colocar o recheio desejado, aproximadamente uma xícara;

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Figura 19 – Inserção do recheio

• Fechar a outra extremidade do tubo;

Figura 20 – Fechamento da outra extremidade

• Decorar como desejar.

Figura 21 – Decoração

Postura e execução

Para alcançar a principal sonoridade desejada, o executante deve


permanecer em pé ou sentado com postura ereta e o instrumento deve ser virado
na vertical lentamente. O recheio, ao se chocar contra a parede do tubo,
encontrará a resistência no arame da espiral, fazendo com que desça aos
poucos, o que proporciona o som característico da chuva.

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3.5 Instrumentos com guizos

Os guizos são muito interessantes para criar efeitos sonoros em


atividades musicais. Encontrados facilmente em lojas de artesanato ou
aviamentos, podem ser utilizados de várias maneiras como recheio para
chocalhos, arcos e cabos com guizos, além de pulseiras e tornozeleira.

Pulseira e tornozeleira

Para confeccionar uma tornozeleira ou pulseira, basta cortar uma tira de


velcro com aproximadamente 30 cm de comprimento (ou o suficiente para o
tornozelo do usuário). A parte da canela de uma meia usada também pode ser
utilizada; alguns guizos, considerando que, quanto mais guizos, mais forte o som
produzido; linha e agulha.
Costurar cada guizo na tira de velcro ou na meia, prender ao tornozelo ou
pulso do executante e está pronto o instrumento!

Chocalhos com guizos

Além da pulseira e tornozeleira, outras ideias para utilização dos guizos


são a confecção de um chocalho, pregando alguns guizos em um pedaço de
madeira ou passando os guizos por um pedaço de arame fixo em um pedaço de
madeira (cabo) em forma de arco.

Figura 22 – Guizos

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3.6 Carrilhão

O carrilhão é um instrumento de percussão idiofônico muito utilizado em


orquestras e igrejas. É constituído por um conjunto de sinos ou tubos metálicos
de diversos tamanhos que oferecem uma sonoridade brilhante. A variação no
tamanho dos tubos ou sinos proporciona a diferenciação entre as alturas, sendo
que, quanto maiores os tubos, mais grave o som.
Existem pequenos carrilhões que são utilizados em diversos grupos
musicais para criar efeitos sonoros.

Referência visual

Figura 23 – Carrilhões

Créditos: Vladyslav Travel Photo/Shutterstock; Nik Sriwattanakul/Shutterstock.

Carrilhão de chaves

• Materiais necessários
 Chaves de tamanhos variados;
 Fio de nylon para pesca;
 Uma tampa de ralo;
 Um puxador de gaveta.

• Montagem
 Encaixar e parafusar o puxador de gaveta no centro da tampa de ralo;

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Figura 24 – Carrilhão de chaves

Crédito: Epicfantasymaps/Shutterstock.

• Cortar vários pedaços de fio de nylon, variando entre 10, 15 e 20


cm;
• Amarrar individualmente cada chave a um pedaço de fio;

Figura 25 – Chave

• Prender cada chave, sendo que os fios mais compridos devem


permanecer ao centro, ao passo que os menores devem ser
pendurados mais próximos a borda da tampa, criando um visual
“cacho de uva”.

Figura 26 – Carrilhão

Crédito: Epicfantasymaps/Shutterstock.

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Postura e execução

Figura 27 – Execução

O carrilhão de chaves deve ser posicionado de acordo com a imagem


acima, utilizando-se do puxador para segurá-lo. Pode ser tocado com uma haste
de metal, com os dedos ou simplesmente chacoalhando o instrumento.

3.7 Clavas e reco-reco

As clavas são instrumentos simples, mas que possuem uma sonoridade


muito interessante, característica marcante em ritmos latinos como bolero,
mambo e salsa. Para construir um par de clavas, são necessários somente dois
pedaços de cabo de vassoura de 15 cm. É muito importante que as madeiras
sejam muito bem lixadas.

Figura 28 – Par de clavas

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Reco-reco

Este instrumento é muito comum em escolas de samba, mas pode ser


encontrado em bandas e orquestras. São diversas possibilidades de materiais
que oferecem uma gama bem diversificada de timbres. Algumas opções são:

Figura 29 – Reco-reco de madeira e alumínio

Créditos: Stela Handa/Shutterstock; Jefferson Schnaider.

Para a construção de reco-recos alternativos, é possível utilizar os mais


variados materiais que possibilitam timbres diversificados:

• Cabo de vassoura enrolado com um espiral de caderno;


• Alguns tipos de garrafas plásticas;
• Tubos de PVC corrugados;
• Caixas de ovos.

Figura 30 – Materiais para reco-reco

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TEMA 4 – FAZENDO MÚSICA COM ÁGUA3

Atividades com água são muito interessantes, pois pode-se proporcionar


variados ritmos, alturas e timbres somente pelo seu manuseio. Antes de construir
qualquer instrumento, é fundamental que seja permitida a livre experimentação.
Com a utilização de materiais variados é possível explorar infinitas possibilidades
sonoras com a água.
Algumas propostas pedagógico-musicais, sugeridas por Lorenzoni (2015)
que podem ser desenvolvidas são:

• Repetir padrões, como “copo grande, copo médio, copo pequeno”;


• Introduzir conceitos como “rápido e lento”, “grave e agudo”, “forte e
fraco”;
• Usar um mesmo instrumento para produzir sons diferentes;
• Promover o debate e a reflexão sobre a música e os sons
explorados:
• Por que o som fica mais grave quando mergulhamos tampas ou tigelas
na água? Porque a água é bem mais densa que o ar – e, portanto, mais
difícil de mover. Assim, a água é mais resistente às vibrações que criam
o som. Quanto mais rápidas as vibrações, mais agudo é o som; quando
mais lentas as vibrações, mais grave é o som.
• Por que consigo sons diferentes soprando pelo gargalo de uma garrafa
com diferentes quantidades de água? Novamente, depende da
quantidade de ar disponível dentro da garrafa. Onde há mais ar (e menos
água), o som sairá mais grave.
• Por que minha voz muda quando eu canto através do canudo ou da
mangueira dentro da água? Primeiro, porque o som da voz é sobreposto
pelas bolhas. Outro motivo é que a água funciona como um filtro que
remove as frequências mais altas da voz, tornando o som abafado. Como
as bolhas não são uniformes, todas do mesmo tamanho, esse filtro muda
o tempo todo – fazendo com que o tom da canção também oscile.
• Por que eu produzo música quando bato um cano de PVC contra a água?
Isso ocorre quando um dos lados do cano é fechado pela água, enviando

3 Brincar com água é importante para descobrir novas possibilidades sonoras, porém, deve-se

ter cuidado para evitar o desperdício.


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uma onda de choque pelas paredes do cano. Essa onda faz o ar vibrar,
produzindo música.

4.1 Xilofone de copos

Nessa atividade pode-se dizer as crianças que teremos “águas musicais”.

• Materiais necessários
 Sete copos ou garrafas de vidro iguais;
 Água;
 Corante alimentício ou tinta guache;
 Colher de madeira.

• Montagem
 Coloque os copos alinhados, um ao lado do outro.
 Coloque água nos copos em diferentes níveis, pode ser usado um
afinador para conseguir o alcance de 7 notas musicais, formando,
assim, uma escala musical.
 Tinja a água de cada copo com uma cor diferente;
 Utilize uma colher de madeira para percutir no instrumento.

Figura 31 – Xilofone de copos

REAPROVEITANDO GARRAFAS PET

VASSOURINHA

Pode-se inserir um pedaço de cabo de madeira na boca da garrafa pet,


prender com fita adesiva colorida e cortar a parte maior em tiras finas de
aproximadamente meio centímetro por toda volta.

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Figura 32 – Vassourinha

COCOS

Corta-se a base de duas garrafas pet, e o acabamento é feito com fita


adesiva colorida. Será possível reproduzir efeitos sonoros muito interessantes
com esse instrumento.

Figura 33 – Coco

CHAJCHAS

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São instrumentos produzidos originalmente com unhas de lhama ou
cabra, muito popular na utilização como instrumento musical de efeito. Ao tocar
vigorosamente produz um forte som de chocalho, mas ao ser manuseado
suavemente produz efeitos sonoros semelhantes a água corrente.

• Materiais necessários
 Tampinhas plásticas de tamanhos variados;
 Barbante;
 Prego e alicate ou ferro de solda;

Figura 34 – Chajchas

• Montagem
 Fure o centro de todas as tampas com prego quente;
 Passe cada tampinha pelo barbante;
 Deixe uma folga de barbante para dar movimento ao instrumento;
 Amarre as pontas.

Figura 35 – Montagem

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ASALATO

Também conhecido como kashaka, cas ou aslatua, é um instrumento


idiofone de agitação constituído por um par de pequenas cabaças secas, ligadas
por um barbante, com alguns grãos dentro, tradicional do Gana, África.

• Materiais necessários
 Bico de duas garrafas pet;
 4 tampinhas de garrafas pet;
 Prego e alicate ou ferro de solda;
 Barbante;
 Miçangas ou areia.

Figura 36 – Montagem do asalato

• Montagem
 Corte os bicos de duas garrafas pet;
 Utilize um par das tampas para fechar a parte que foi cortada;
 Com o prego quente, fure o outro par de tampas;
 Passe um pedaço de barbante com aproximadamente 15cm de
comprimento;

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Figura 37 – Passagem da linha

 Coloque as miçangas ou areia no interior e feche o instrumento com as


tampinhas que foram perfuradas e passada o barbante.

Figura 38 – Junção das tampinhas

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Construir instrumentos musicais utilizando materiais alternativos,


especialmente sucata, é uma forma de apresentar as crianças uma vasta
possibilidade de sons, extraídos dos mais variados materiais que podem ser
encontrados em casa. Outra vantagem é a possibilidade de oferecer aos
educadores instrumentos artesanais como forma alternativa para desenvolver
suas atividades musicais em sala de aula, inclusive em casos em que a escola
não oferece recursos para a aquisição de instrumentos.
Os instrumentos feitos com material reciclável não substituem a
sonoridade e experiência dos instrumentos musicais autênticos, porém é uma
boa oportunidade para desenvolver nos estudantes um fazer musical criativo,
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lúdico e inspirador, além de conscientizar para a prática da reutilização de
objetos que, possivelmente iriam para o lixo.

INDICAÇÃO DE ARTIGOS

• SANTOS, M. A. O.; BEZERRA, R. J. L. O som do maracá e o


silêncio da história: o Toré como autoafirmação religiosa do povo
Xukuru-Kariri em palmeira dos índios-al. XII Encontro Estadual de
História da ANPUH – PE. Pernambuco. 2018. Disponível em:
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