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Sumário

ORIENTAÇÕES _________________________________________________________ 4

INTRODUÇÃO __________________________________________________________ 5

Como entender a história? ___________________________________________________________ 5

Contagem dos séculos _______________________________________________________________ 6

Divisões do mundo: Ocidente e Oriente; Norte e Sul ______________________________________ 6

Luís de Camões: as grandes navegações em Os Lusíadas___________________________________ 8

1. Breve História de Portugal ______________________________________________ 11

Formação de Portugal ______________________________________________________________ 11

Dinastia de Borgonha ______________________________________________________________ 16

Dinastia de Avis ___________________________________________________________________ 17

2. As grandes navegações _________________________________________________ 21

Expansão marítima de Portugal e as descobertas ________________________________________ 23

A descoberta da América e a volta ao mundo ___________________________________________ 29

O Tratado de Tordesilhas ___________________________________________________________ 30

Rumo à Índia _____________________________________________________________________ 32

Resumo __________________________________________________________________________ 36

3. Descobrimento do Brasil _______________________________________________ 39

A chegada ________________________________________________________________________ 40

A carta de Caminha ________________________________________________________________ 44

A intencionalidade do descobrimento _________________________________________________ 46

Período Manuelino ________________________________________________________________ 48

1
Resumo __________________________________________________________________________ 51

4. Primeiras expedições __________________________________________________ 53

Américo Vespúcio _________________________________________________________________ 53

Povoamento do Brasil: a expedição de Martim Afonso ___________________________________ 56

João Ramalho e Caramuru __________________________________________________________ 58

Resumo __________________________________________________________________________ 62

5. Capitanias Hereditárias ________________________________________________ 63

Visão geral das capitanias fundadas entre 1534 e 1536: ___________________________________ 65

Capitanias mais importantes no século XVI ____________________________________________ 66

Resumo __________________________________________________________________________ 71

6. Governo Geral ________________________________________________________ 73

Chegada e acomodação dos Jesuítas __________________________________________________ 76

Os Governadores __________________________________________________________________ 78

A primeira Sé e o primeiro bispo do Brasil _____________________________________________ 81

Resumo __________________________________________________________________________ 84

7. A formação do Brasil: o papel dos jesuítas _________________________________ 85

Padre Nóbrega na Capitania de São Vicente e a fundação de São Paulo ______________________ 86

Guerras em Piratininga _____________________________________________________________ 89

A França Antártica e a conquista do Rio de Janeiro ______________________________________ 92

Voltando a Piratininga______________________________________________________________ 99

O povo brasileiro: brancos, negros e índios ____________________________________________ 99

Resumo _________________________________________________________________________ 101

8. A conversão dos índios: catequese e aldeamentos __________________________ 103

Os índios: costumes, religião, língua e tradições. _______________________________________ 105

Início da catequese _______________________________________________________________ 107

As Aldeias: grande ajuda à catequese_________________________________________________ 110

2
A vida nas Aldeias ________________________________________________________________ 112

As entradas no século XVI__________________________________________________________ 113

Resumo _________________________________________________________________________ 117

9. Desenvolvimento cultural e econômico do Brasil no século XVI ______________ 119

Desenvolvimento cultural __________________________________________________________ 119

Desenvolvimento econômico: O pau-brasil e o açúcar___________________________________ 124

Resumo _________________________________________________________________________ 127

10. Portugal e Espanha têm um único rei ____________________________________ 129

A questão dinástica _______________________________________________________________ 130

A União Ibérica __________________________________________________________________ 131

Final do século ___________________________________________________________________ 133

Resumo _________________________________________________________________________ 133

ÍNDICE DE IMAGENS __________________________________________________ 135

BIBLIOGRAFIA _______________________________________________________ 139

REFERÊNCIAS ________________________________________________________ 141

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Orientações

Parabéns por adquirir um material de História do Brasil sem ideologia para seus
filhos! Pensei em algumas formas de uso para este material:
- Para crianças menores, o adulto pode ler antes a parte que pretende trabalhar e
depois fazer a exposição oral para a criança, através de desenhos simples ou mostrando as
imagens do PDF de imagens na TV. Ou mesmo
- Para crianças maiores pode-se fazer a leitura junto com a criança, lendo um trecho
e fazendo comentários, conversando mesmo com a criança e pode-se mostrar as imagens
do livro numa TV (espelhando a tela do celular, por exemplo), principalmente se forem
mapas, para a criança visualizar melhor.
- É possível também deixar que elas mesmas leiam e façam os exercícios, dependendo
do perfil da criança.
Independentemente de como for usado o material, é muito aconselhável que o
responsável leia o texto e as notas de rodapé antes. Assim poderá conversar melhor com a
criança sobre o assunto e principalmente se quiser comentar os trechos d’Os Lusíadas
presentes no material.
É bom que os responsáveis assistam antes a sugestão de vídeos. Eu assisti todos, mas
o critério para saber se um vídeo é próprio para criança deve ser definido pelos pais.
A notas de rodapé marcadas com algarismos arábicos (1,2,3...) podem e devem ser
lidos pela/para a criança. As notas que aparecem em algarismos romanos são referências
bibliográficas e foram colocadas ao final do livro para deixar a leitura mais fluída.

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Introdução

Como entender a história?

Para estudar história precisamos saber que não podemos tentar entender, muito menos
julgar, acontecimentos ocorridos há 100, 200, 1000 anos, com a nossa mentalidade, o nosso
jeito de pensar de hoje. Os costumes e a maneira de pensar podem mudar de um povo para
o outro, mesmo vivendo numa mesma época. Nós brasileiros, por exemplo, somos
diferentes dos europeus, até mesmo os brasileiros do sul e do norte do país podem ter
grandes diferenças. Imaginem o quanto pode mudar costumes e maneira de pensar
quando há anos, décadas, séculos de diferença!
Um exemplo muito simples pode ajudar a entender. Aqui no Brasil, por volta de 1940,
1950, era muito comum que as meninas se casassem cedo, ou ao menos, fossem prometidas
em casamento, com 15, 16 anos. Hoje em dia, um adolescente entre 16 e 18 anos precisaria
da autorização dos pais para se casar, o que dificilmente acontece e soaria muito estranho.
Por volta de 1980, uma mulher que se casasse com 25, 26 anos, era vista como uma mulher
que tinha demorado muito para se casar, algo que é bastante normal para os dias de hoje.
Assim, há costumes antigos (de 100, 200, 500 anos) que podem nos chocar hoje, por
estarmos em uma época muito diferente.
Quando pensamos na mentalidade de 200, 300, 500 anos atrás, um tema bastante
delicado é o da escravidão, que a Igreja católica nunca apoiou. Há uma bula papal que
autorizava a escravização de muçulmanos em tempo de guerra, por serem difíceis de ser
convertidos, mas a Igreja nunca defendeu a escravidão de negro ou qualquer outra raça.
Pelo contrário, muitas foram as condenações à escravidão. Se alguns padres tiveram
escravos, era por estarem numa época em que certos trabalhos eram feitos apenas por
escravos. Ter um escravo não tornava ninguém defensor da escravidão, tanto é que os

5
próprios abolicionistasI tinham escravos, os escravos que haviam sido libertos também
tinham escravos. Os verdadeiros católicos que tinham escravos os tratavam muito bem.II

Contagem dos séculos

Um século corresponde a um período de 100 anos. Sempre escrevemos os séculos


com algarismos romanos:

A contagem se século se inicia sempre com ...1 e termina com ...0, ou seja, o século
I começa no ano 1 e vai até o ano 100, o século II começa no ano 101 e vai até o ano 200
e assim por diante. Estudaremos, neste livro, o primeiro século da colonização do Brasil, o
século XVI, ou seja, do ano 1501 até 1600.

Divisões do mundo: Ocidente e Oriente; Norte e Sul

O mundo pode ser dividido e classificado de diversas formas. Em nosso estudo vamos
ler várias vezes as expressões Oriente/Ocidente e Norte/Sul.
O mundo ocidental corresponde basicamente à Europa e às regiões que ela
influenciou. O mundo Oriental, aqui em nosso estudo, corresponderá à Ásia, onde
encontramos a Índia (de quem muito falaremos) e a Península Arábica, além de outras
regiões.

I Pessoas que lutavam pelo fim da escravidão.


II
Curso Ensinando história: professor Edmilson Cruz

6
Figura 1 - Ásia

A divisão norte e sul diz respeito aos pontos cardeaisI, que nos ajudam na localização
em determinado lugar. Os pontos cardeais devem ser vistos sempre em relação a algum
lugar. Podemos falar do Norte e Sul de todo o globo terrestre ou de uma pequena região.
No globo terrestre, a linha (imaginária) do Equador divide fisicamente o mundo em
Hemisfério Norte e Hemisfério Sul.

Hemisfério
Norte

Hemisfério
Sul

Figura 2 – Hemisférios

Mas também podemos falar da região Norte ou Sul de um país, de um continente. Por
exemplo: o Cabo da Boa Esperança fica numa região ao extremo Sul do continente
africano, ou seja, na região mais ao Sul deste continente.

I
Encontrar bom vídeo curto sobre isso

7
Extremidade Sul
da África
Figura 3 - Extremo Sul da África

Luís de Camões: as grandes navegações em Os Lusíadas

Escritos em 10 cantos, 1102 estrofes e 8816 versos, os Lusíadas são um grande poema
cujo tema central é a viagem de Vasco da Gama às Índias e é pela boca de Vasco que o
autor, Luís de Camões narra ao leitor os fatos mais importantes da história de Portugal.
Mas sua poesia vai muito além dos versos. Trata-se de um clássico da literatura portuguesa,
repleto de virtudes, da grandeza da civilização lusitana, é uma fonte cheia da história, da
beleza e do espírito português.
Portugal levou a cruz e a espada, ou seja, a fé e o domínio português, aos confins do
mundo. Proclamou a fé católica entre as nações mais estranhas, descobriu novos
continentes. O brasileiro é participante e herdeiro da alma lusitana naquilo que ela tem de
mais elevado: fé, língua, princípios...

8
Por isso, neste livro traremos os Lusíadas ao leitor em pequenos trechos, mostrando
brevemente a história lusitana e sua relação com a obra de Luís de Camões.

O homem, para se conhecer, deve entender seu passado, por isso, antes de seguir para
a nossa História do Brasil, precisaremos nos debruçar um pouco sobre a história de
Portugal, terra de nossos descobridores. Entenderemos por que eles chegaram aqui e como
foi árduo o caminho que percorreram até descobrirem ao Brasil.

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1. Breve História de Portugal

Formação de Portugal

Para entender melhor a História do Brasil é necessário conhecer um pouco da história

dos nossos descobridores. Se alguém ainda tiver dúvidas desta real necessidade, basta

pensar em algumas poucas perguntas:

- Por que vieram os portugueses ao Brasil? Bem... Procuravam novo caminho para as

Índias...

- Mas por que procuravam eles outro caminho? Porque os muçulmanos dominavam

as rotas por terra...

- E por que as haviam dominado? Eles conquistaram muitos territórios...

As perguntas continuariam e veríamos que a história é como um carretel de linha com

seus acontecimentos sempre ligados uns aos outros. É uma sucessão de fatos que se

relacionam e cujo centro é Deus.

A história do Brasil começa com a de Portugal, e a história de Portugal começa com

a da Península Ibérica, que no século VIII é habitada principalmente pelos povos

chamados visigodosI, já convertidos ao catolicismo.

I Povos bárbaros.

11
No ano de 711, os árabes, impulsionados pelo islamismo expansionista1 (a religião

muçulmana) I, saem da Península Arábica e chegam à Península Ibérica, passando pelo

norte da África. Conquistam facilmente quase toda a região, uma vez que os visigodos

estavam em conflitos internos (brigando entre si).

Figura 4 - Saída dos muçulmanos da Península Arábica para a Península Ibérica

O avanço do povo islâmico (também chamado de muçulmanos) é barrado na França,

por Carlos Magno, e nas Astúrias (região ao norte da Península Ibérica), onde os

católicos sobreviventes à invasão muçulmana haviam se refugiado, formando em 718 o

Reino das Astúrias. Estes católicos, liderados por Dom Pelágio, freiamII a expansão

islâmica. Em 722, com importante vitória na Batalha de Covadonga, inicia-se a

Guerra da Reconquista, que durará 700 anos. Durante esse tempo, os cristãos irão

I Chamamos Islamismo expansionista porque a religião Islâmica sempre buscou a expansão de seus domínios,
conquistando mais e mais territórios.
II Impedem, fazem parar.

12
recuperar a Península Ibérica. A Guerra da Reconquista só terá fim em 1492 com a

retomada do último território das mãos dos muçulmanos: Granada.

Figura 5 - Reino das Astúrias.

Sugestão de vídeos:
A Guerra de Reconquista Para crianças maiores: A Guerra da
(mapa). Reconquista.

Durante a Guerra da Reconquista os católicos conseguem retomar vários territórios

dos muçulmanos e o Reino das Astúrias começa a crescer. Com o tempo ele acaba sendo

dividido em outros reinos, dentre eles, o Reino de Castela, do qual faz parte o CondadoI

Portucalense, comandado pelo conde Dom Afonso Henriques. O Reino de Castela dará

origem ao país que hoje conhecemos como Espanha e do Condado Portucalense surgirá

I Território concedido pelo rei a um conde

13
Portugal. Para facilitar a compreensão, usaremos em nosso texto o nome atual,

Espanha, sempre que estivermos falando do Reino de Castela.

No ano de 1139, Dom Afonso Henriques vence uma importante batalha contra os

mouros (muçulmanos) em Ourique e é aclamadoI Rei de Portugal pelos próprios soldados,

iniciando a dinastia de BorgonhaII. Dom Afonso Henriques, liderando um exército muito

menor que o muçulmano, vai à combate, pois confia nas palavras de Jesus, que lhe

aparecera horas antes da Batalha de Ourique. Dom Afonso pergunta a Jesus porque lhe

aparecia, se ele já tinha fé. Seria melhor se aparecesse aos muçulmanos para que cressem

no Deus verdadeiro e assim não precisassem guerrearIII. Jesus responde que não havia

aparecido a Afonso para aumentar sua fé, mas para lhe dar força e diz ainda:

“Confia, Afonso, porque não só vencerás esta batalha, mas todas as outras em que

pelejares contra os inimigos de minha Cruz. Acharás tua gente alegre e esforçada para a

peleja, e te pedirá que entres na batalha com título de rei. Não ponhas dúvida... Eu sou o

fundador e destruidor dos reinos e impérios, e quero, em ti e teus descendentes, fundar

para mim um império, por cujo meio seja meu nome publicado entre as nações mais

estranhas... e ser-me-á reino santificado, puro na Fé e amado por minha piedade" 2

I Ele não era rei, mas por seus méritos, seus soldados o consideraram como tal.
II Sequência de soberanos de uma mesma família.

III Camões, fala dessa aparição n’Os Lusíadas, canto III, estrofes 45 e 46:
A MATUTINA LUZ SERENA E FRIA COM TAL MILAGRE OS ÂNIMOS DA GENTE
As estrelas do polo já apartava, Portuguesa inflamados, levantavam
Quando na cruz o Filho de Maria Por seu rei natural este excelente
Amostrando-se a Afonso o animava. Príncipe que do peito tanto amavam.
Ele [Afonso], adorando quem lhe aparecia, E diante do exército potente
Na fé todo inflamado, assim gritava: Dos inimigos, gritando, o céu tocavam,
“Aos infiéis, Senhor, aos infiéis, Dizendo em alta voz: “Real! Real, [antiga aclamação a reis portugueses]
E não a mim, que creio o que podeis!” Por Afonso, alto rei de Portugal.”

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O reinado de Dom Afonso I, o Fundador, foi quase todo de guerras e disputando

territórios: primeiro com o rei de Castela (a Espanha), de quem havia se separado,

tornando-se independente, e que não aceitou tão facilmente a transformação de seu antigo

condado em um novo reino; depois contra os muçulmanos. Por fim, Portugal consegue

expandir o seu território.

Figura 6 – O milagre de Ourique (Domingos Sequeira, 1793)

A religião foi fundamental para processo de formação do Reino de Portugal,

desde a invasão islâmica na Península Ibérica, onde tivemos a união dos católicos nas

Astúrias, barrando o avanço islâmico, até a Batalha de Ourique, onde o 1º rei português

vence um exército muito maior que o seu, com a promessa da vitória contra os inimigos

da cruz.

É interessante ver que na fundação de Portugal, em 1139, temos já um vislumbreI da

evangelização das Américas nas palavras de Jesus a Dom Afonso Henriques: “Quero em

I Vestígio, sinal, quase se pode ver.

15
A França Antártica e a conquista do Rio de Janeiro

Dissemos que os Tamoios, com a ajuda dos franceses instalados na Bahia de

Guanabara, ameaçavam os Tupis em Piratininga. Pode-se perguntar: como outra nação

pôde se estabelecer em terras portuguesas? Bem, estamos ainda no primeiro século do

descobrimento do Brasil, o povoamento destas terras mal começou. Pela falta de

portugueses para a colonização, a região da Baía de Guanabara ainda não está povoada,

apesar de Tomé de Souza ter apreciado o local e reconhecido sua importância.

A falta de ocupação portuguesa na Baía de Guanabara (hoje localizada na cidade do

Rio de Janeiro) permite que franceses, liderados por Villegagnon, se estabeleçam aí desde

o ano 1555. Eles conseguem se aliar aos tamoios daquela região e construir um forte. Em

1557, protestantes calvinistas vêm aumentar a povoação, fazendo crescer a preocupação

dos portuguesesI, principalmente dos jesuítas, pelo perigo de se espalhar a heresia

protestante no Brasil (numa época em que diferenças religiosas eram causa de guerras). Os

jesuítas já haviam feito alguma catequese, mas sem se estabelecer na região.

Após os pedidos de reforços a Portugal (até mesmo o padre Nóbrega escreve ao ex-

governador Tomé de Souza pedindo auxílio), o socorro chega ao Brasil em 1559, com o

envio de uma armada. Mem de Sá faz a primeira investidaII contra a Baía de

Guanabara em 1560, com o auxílio de índios e do próprio padre Nóbrega, que convence

os portugueses, desacreditados da vitória, a realizar o ataque62. Saem vencedores, mas os

I Dos portugueses porque essa povoação dava apoio aos corsários franceses que, além de saquear, atrapalhavam a
navegação dos navios portugueses.
II Ataque.

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portugueses não têm gente suficiente para iniciar uma povoação. Mem de Sá teme a volta

dos inimigos e é exatamente o que acontece.

Os tamoios (não os pacificados de Iperoig), aliados aos franceses que restaram do

ataque de 1560, entrincheiram-seI novamente na região. Um novo auxílio chega em 1563,

comandado por Estácio de Sá, sobrinho de Mem de Sá. A esquadra recebe reforços em

Salvador e no Espírito Santo antes de ir à Baía de Guanabara. É nessa época que ocorre

a Paz de Iperoig e graças a essa paz, Padre Nóbrega consegue enviar reforços

indígenas importantes da Capitania de São Vicente, por onde também passa a

esquadra de Estácio de Sá.

Figura 55 – Estácio de Sá em São Vicente - Partida de Estácio de Sá (Benedito Calixto)

I Defender, proteger com alguma forma de barreira

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Mem de Sá aconselha o sobrinho a não fazer nada sem antes ouvir o Padre Nóbrega.

Estácio teme não lograrI vitória e pergunta ao jesuíta:

“- Padre Nóbrega! E que conta darei a Deus e a El-rei [o rei de Portugal],

se lançar a perder esta armada?

Respondeu ele com confiança mais que humana:

- Senhor, eu darei conta a Deus de tudo; e, se for necessário, irei à presença

do rei e responderei aí por vós.” 63

Em 1565 Estácio de Sá estabelece na Baía de Guanabara um povoado, com o nome

de São Sebastião em homenagem ao santo e ao rei de Portugal, Dom Sebastião I, o

desejado (1557-1578). Instala-se inicialmente uma

povoação militar bastante precária. Faltam

mantimentos, seus primeiros habitantes, portugueses e

índios (em sua maioria, moradores de Piratininga),

passam fome e pensam em desistir64. Dentre os jesuítas

que acompanham, está São José de Anchieta.

Ouçamos do próprio santo, que escreve da Bahia,

relatando o momento difícil desta primeira povoação

do Rio de Janeiro:

Figura 56 - Padrão assentado por


Estácio de Sá em 1565. Ainda hoje
pode ser visitado no Rio de Janeiro.

I Alcançar, conseguir

94
“Houve muito trabalho em os aquietar... os índios não tinham que comer; os

portugueses não tinham para lhos dar [dar aos índios]... todos andavam fracos, e muitos

doentes; finalmente determinaram os índios de não esperar mais que um dia, e, se

a capitânia [navio do comandante] não chegasse, ou se meteriam dentro do rio, ou se

iriam para suas terras... Acudiu a Divina Providência, pois logo naquele mesmo dia

vimos três navios, que iam de cá da Bahia com socorro de mantimento... E ao [dia]

seguinte chegou a capitânia... com grande alegria entramos pela boca do Rio de Janeiro,

começando já, os homens a ter maior fé e confiança em Deus, que em tal tempo socorrera

as suas necessidades.”65

O padre Simão Vasconcelos, que escreveu sobre a vida do santo alguns anos após sua

morte, relata que, na verdade, o que se deu foi um verdadeiro milagre, um “caso digno

de memória”: São José de Anchieta havia afirmado aos índios que estavam a ponto de

desistir que, antes que o sol chegasse a tal ponto do céu, os mantimentos chegariam, e

pouco depois, chegaria a nau capitânia. E foi o que de fato aconteceu66.

Vendo a necessidade de mais padres e de um grande reforço para a conquista final,

Anchieta é enviado a Salvador para ser ordenado sacerdote e falar ao governador Mem de

Sá da necessidade de ajuda para o ataque definitivo. Ela finalmente chega em janeiro de

1567, acompanhado do próprio governador, Mem de Sá, padre Manoel da Nóbrega, padre

Anchieta (recém-ordenado) e o bispo de Salvador67. Durante o ataque final, no Morro da

Glória, em 20 de janeiro de 1567, Estácio de Sá é ferido por uma flechada no rosto e falece

um mês depois.

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Figura 57 - Morte de Estácio de Sá. (Antônio Parreiras)

Sobre Estácio de Sá, São José de Anchieta escreve:

“Nesta conquista que durou alguns anos, andavam os homens como religiosos,

confiados em Deus e na presença do capitão-mor, Estácio de Sá, o qual, além do seu

grande esforço e prudência, era todo exemplo de virtude e religião cristã.”68

São estes os grandes homens que participam da formação do Brasil.

O governador Mem de Sá fica na povoação de São Sebastião do Rio de Janeiro ainda

um ano promovendo o desenvolvimento da cidade. Futuramente ela iria se tornar a capital

do Brasil.

Sugestão de vídeo:

Fundação do Rio de Janeiro

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