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Conversão

Cena 1
Pedro está no consultório médico quando recebe a notícia do seu diagnóstico
de câncer terminal.
*O médico entra aperta mão de Pedro e se senta na cadeira*
Pedro: E então doutor, quais são as notícias?
Médica: Sinto muito Pedro, o resultado era o que temíamos, a doença já estar
em estágio avançado e não há nada que possamos fazer para reverte-la, mas
como conversamos da última vez quando levantamos essa possibilidade,
aquele lugar de que falei possui uma vaga que posso colocar o senhor. O
tratamento lá estar sendo inovador e pode lhe ajudar com o tempo que lhe
resta, talvez até prolongar esse tempo.
*Pedro recebe a notícia cético e sem se abalar*
Pedro: Eu já esperava por isso. Que seja então, tenho dinheiro de sobra pra
isso e se vou morrer que gaste ele todo como eu bem entender.
Médica: O lado negativo é que como o senhor sabe, essa clínica fica em outro
estado então se distanciaria da sua família.
*Pedro dá uma risada sarcástica, debochando do que ouviu”
Pedro: Só o senhor para me fazer rir numa hora dessas. Minha esposa,
faleceu há muito tempo. Meus filhos devem me querer ver morto mesmo e
meus netos nem devem se lembrar de mim.
*Pedro se levanta como se aquela tivesse sido uma consulta rotineira sem
nenhuma diferença das tantras outras que já teve e aperta a mão do médico*
Pedro: Obrigado por tudo doutor, mas acho que essa foi nossa última consulta.
*Quando estava saindo sala, o médico lhe dirigiu uma última palavra com muita
sinceridade e compaixão*
Médica: Sinto muito Pedro, por tudo.
Pedro: Não sinta doutor, guarde sua compaixão para criancinhas ou qualquer
outra pessoa eu mereça eu sou só um velho ranzinza sem muito mais tempo.

Cena 2
*Pedro, que já estava há uma semana internado na clínica bate na porta do
quarto ao lado para reclamar com o outo paciente*
Pedro: É o seguinte, já estou nessa droga de clínica há uma semana e há uma
semana que você me incomoda. Me chama pra aquele círculo de oração
ridículo, reza alto demais do seu quarto e sem falar naquela irritante constante
visita daquele padre. Quer agradecer esse seu Deus fajuto por vim parar nessa
porcaria de lugar tudo bem, mas não me envolva nisso.
*O outro homem escuta tudo sem esboçar reação*
João: Quer jogar xadrez comigo?
Pedro: O que?
João: Ouvi você dizer ontem que era muito bom e que ninguém aqui ganhou
de você. Bom faz tempo que procuro um adversário a altura se você ganhar eu
paro de lhe importunar, mas se eu ganhar vai ter que passar a semana comigo,
seguindo a minha rotina.
Pedro: E porque você ia querer minha companhia? Ainda mais agora que
deixei claro que não gosto de você.
João: Primeiro que sempre é bom ter uma companhia por aqui e segundo que
faz tempo que não jogo uma boa partida de xadrez. E então, vamos ou está
com medo de perder.
*Indignado com a provocação, Pedro segue João até a sala de convivência*

Cena 3
*Pedro volta para o seu quarto resmungando enquanto João volta
sorridente*
Pedro: Ainda vou descobrir como você roubou nessa partida.
João: Eu já lhe disse que não roubei, só se ser melhor seja roubar.
Pedro: Que seja, mas não espere que eu lhe acompanhe durante a semana
com um sorriso no rosto. Deixarei bem claro minha insatisfação, o tempo todo.
E afinal de contas qual é mesmo o seu nome?
João: Achei que nunca ia perguntar, pode me chamar de João. Agora se me
permite vou dormir, amanhã começamos cedo na minha rotina. Boa noite
Pedro, fique com Deus.
Pedro: Se Deus existisse não estaria num lugar desses pode ter certeza.

Cena 4
*Pedro encontra João na capela da clínica*
Pedro: Você vem mesmo aqui todo dia?
João: Sim, gosto de começar o dia na casa do senhor. Já percebi que você
não é muito religioso.
Pedro: Pode apostar que não, e se pensa eu pode mudar isso sugiro que
guarde suas energias pra outra pessoa, minha esposa já tentou fazer isso por
muitos anos e morreu antes de conseguir.
João: Sinto muito, rezarei pela alma dela.
Pedro: Não preciso das suas orações. Sinceramente, porque você perde eu
tempo comigo?
*Uma enfermeira entra na capela assim que Pedro termina de falar*
Enfermeira: Desculpe interromper senhores, mas temos visitas para você
Pedro, são seus filhos. Estão esperando no seu quarto.
Pedro: Meus filhos estão aqui?
*Sem acreditar, Pedro vai até o seu quarto dando de cara com seu filho e sua
filha*
Pedro: Que surpresa, vieram checar se eu estava morta já? Sinto muito
desapontar vocês.
Filha: Pai por favor não diga isso nós ficamos preocupados com você, só
queríamos ver como estavam indo as coisas.
Filho: Eu avisei que era perda de tempo, ele não muda nem mesmo perto da
morte, vir aqui foi um erro.
Pedro: Vejo como estava preocupado com a minha situação, nem sei se
mereço tanto carinho vindo do filho querido.
Filha: Parem vocês dois não viemos de tão longe para vocês brigarem.
Filho: Com você é sempre assim, só a mãe tinha paciência e depois que ela se
foi você só afastou todo mundo.
Pedro: Que bom que ela não estar maia aqui pra ver a decepção que você se
tornou.
Filho: Pra mim já chega, e quiser perder seu tempo com esse velho fique à
vontade, vou voltar pra minha verdadeira família, minha esposa e filhos é eles
que precisam de mim.
*O filho de Pedro saí a passo pesado do quarto e sua irmã o sege, mas antes
ela se vira pro seu pai*
Filha: Sabe pai, eu esperava te levar de volta pra casa, achar algum lugar mais
perto, visitar você aqui mais veze, eu não sei, tentar algo que desse certo. Mas
você não facilita, o natal tá chegando e pensei em te levar pra passar conosco.
Se continuar assim não vai sobrar ninguém. Tchau pai.

Cena 5
*Pedro estar se preparando pra dormir quando João chega no seu quarto*
João: Como foi com os seus filhos?
Pedro: O que você acha? Pior impossível.
João: O que ouve de tão ruim na relação cm seus filhos?
Pedro: Sempre tive problemas com meu filho homem, discutíamos muito, mina
filha sempre tentou acalmar os ânimos, com a ajuda da mãe é claro.
João: Você tinha dito que sua esposa tentou te converter não e isso?
Pedro: Sim, ela era consagrada à Nossa Senhora e sempre estava envolvida
em ações sociais da igreja, as vezes me convencia a ir e eu odiava. Discutimos
várias vezes quando discordávamos nesse ponto religioso, e ninguém pode me
culpar ela sabia como eu era quando se casou comigo.
João: Devia se uma mulher mito forte pra te convencer de algo.
*Pedro dá um leve sorriso ao lembrar do tempo com a esposa*
Pedro: Ela foi a melhor coisa que já me aconteceu, assim como sua morte foi a
pior coisa que aconteceu. Nada se compara a dor que sentir, nem descobri que
estar com uma doença mortal se compara com aquilo. Ela estava lá comigo e
depois de uma batida de caro não estava mais. Num momento existia e no
outro não. E eu me vi viúvo e com dois filhos jovens para criar.
João: Mais uma vez eu sinto muito, deve ter sido difícil pra você e seus filhos.
Pedro: Acho que isso me distanciou ainda mais deles, posso não admitir na
gente deles, mas sei que fui um pai terrível. Hoje mesmo falei pro meu menino
que é melhor a mãe morta do que aqui ao lado dele. Acha que esse seu Deus
entenderia isso? Que tipo de pessoa faz isso?
*Depois de um breve silêncio João começa a falar*
João: Sabe você pode não acreditar mais quando eu era jovem eu era viciado
em drogas, até tive uma overdose. Minha mãe passava dia e noite orando pra
eu melhorar e eu odiava aquilo, achava que era ridículo e que uma hora ia
passar esse costume pra minha irmã mais nova. Um dia ela achou meu
esconderijo das drogas e jogou tudo fora. Eu fiquei possesso de raiva e insisti
pra ela me dizer o que tinha feito, ela só admitiu que jogou fora quando eu
peguei uma faca e ameacei ela. Quando me dei conta minha mãe chorava
enquanto eu segurava uma faca na frente dela e minha irmãnzinha via tudo
pela porta do quarto. E eu pensei a mesma coisa que você que tipo de pessoa
faz isso?
*Pedro encara João em saber o que dizer*
João: Quando se pensa que fez o pior que podia fazer, você percebe
facilmente que sempre é capaz de algo pior, mas é difícil perceber que pode
fazer algo muito melhor. Boa noite Pedro, fique com Deus.

Cena 6
*Pedro e João estão sentados conversando no dia seguinte*
João: Acho que você ficou curioso depois do que eu falei ontem não é?
Pedro: Não consigo imaginar você fazendo o que disse, não parece você.
João: Aquilo foi a gota d’água, depois disso eu me internei uma clínica de
reabilitação e recebi ajuda, mas quando sai ainda não estava totalmente
recuperado e sentia vontade de me drogar de novo. Resolvi deixar minha mãe
me levar ao grupo de ajuda da igreja, senti que devia isso a ela, e foi lá que
conheci minha esposa. Ela ajudava todos que iam lá, era realmente uma boa
pessoa sempre estava ali pra quem precisasse e esteve lá por mim.
Pedro: Então foi por ela que você se converteu?
João: Você não entendeu, não me converti por causa dela, mas graça a ela.
Consegui me abrir para Deus e deixar ele fazer morada em mim, aprendi muita
coisa na minha caminhada e aprendi a dar valor as coisas certas. Mas se tem
duas lições essenciais que posso falar é que primeiro, Deus nos ama
incondicionalmente mesmo quando pensamos que ninguém é capaz de nos
amar, e segundo, nós sempre podemos nos redimir pelo que fizemos de mal
desde que estejamos abertos ao que Ele tem a dizer para nós.
Pedro: Acho que nunca pensei desse jeito.
*Nesse momento a enfermeira entra acompanhada de um homem*
Enfermeira: João, o padre chegou e estava te procurando para dá início ao
momento de partilha.
Padre: Todos já chegaram e estão reunidos com os outros pacientes na sala
maior.
*Pedro olha sem entender nada*
Pedro: O que é esse momento de partilha?
João: Uma vez por mês o padre reúne os fiéis da paróquia e os traz para cá,
eles fazem atividades com os internados, trazem doações e no final fazemos
um momento de oração
Padre: Infelizmente a capela daqui já está muito desgastada de modo que não
é possível realizar a missa, então fazemos o que podemos com o que temos.
Enfermeira: É melhor irmos, os outro já estão esperando muito tempo.
*Todos, menos Pedro, saem da sala até que ele fala*
Pedro: Eu poderia ir também? Gostaria de saber como é.
Padre: Mas é claro, sempre há espaço para aqueles que quiserem, pode vir.
*Todos saem juntos*

Cena 7
*João está sentado quando Pedro chega*
João: Pra quem disse que não aguentava minha companhia você continua
andando comigo mesmo depois do fim daquela nossa aposta. Até participou do
momento de partilha semana passada.
Pedro: Não vá criando expectativas, só acho melhor sua companhia do que
ficar trancado naquele quarto.
João: E então já ligou para os seus filhos?
Pedro: Não falo com eles desde aquele dia que viera aqui e brigamos.
João: Pedro por favor, é natal, você tem que fala com sua família.
Pedro: Não sei se eles vão querer falar comigo depois da briga.
João: Com certeza não querem falar com você, mas tem que ligar mesmo
assim. Precisa mostrar que está arrependido. Você está arrependido não é?
Pedro: Estou muito.
João: Sabe, eu sempre penso muito sobre o natal. Apesar da maioria usar
apenas como pretexto para troca de presentes, nós celebramos o nascimento
de Jesus Cristo, ele foi enviado como Salvador do mundo e devemos celebrar
isso em família em espirito de caridade e humildade, afinal Jesus nasceu na
manjedoura entre os animais nos lembrando da importância desses valores.
Não seja orgulhoso Pedro.
*João se levanta*
João: Agora se me permite vou me juntar aos outros, as pessoas aqui também
são uma família e devemos ceiar juntos agradecendo pelo que temos. E voc~e
sabe que pode se juntar a nós.
Pedro: Eu irei logo....... Feliz Natal João.
João: Feliz Natal, Pedro.
*João sai do local e Pedro pega seu celular*
Filho: Alô?
Pedro: Oi meu filho, eu sei que sou a última pessoa que você esperava que
ligasse. Mas liguei só pra desejar um feliz natal e.....
*Pedro faz uma pausa antes de continuar*
Pedro: E eu quero pedir desculpas pelo que eu disse antes, nunca deia ter
falado nada daquilo e nada era verdade. Eu amo muito você e as irmã e
esperava que vocês pudessem me perdoar, eu adoraria ver vocês de novo e
ver meu netos também.
Filho: Não acha que é meio tarde pra isso? Depois de todos esses anos você
acha que algumas palavras mudam algo?
Pedro: Por favor, é Natal.
Filho: Você nunca foi muito espirituoso nem no Natal.
Pedro: Eu só peço uma chance pra mostrar pra você que estou mudando, por
favor me deixe falar com as crianças.
*O filho fica pensativo e então fala*
Filho: Está bem, vou passar o celular para eles, era isso que a minha mãe
gostaria que eu fizesse.
Pedro: Obrigado.
*Quando as crianças pegam o telefone Pedro fala com elas a medida que vai
andando e saindo de cena*
Pedro: Olá crianças, é seu avô que está falando, como vocês estão? Faz tanto
tempo que não vejo vocês, eu queria desejar um feliz natal e avisar que o
presente de vocês está chegando, espero que gostem.

Cena 8
*Pedro e João estão sentados*
João: Como estão a coisa com seus filhos agora?
Pedro: Está melhorando, desde o natal nós estamos nos falando e semana
que vem eles vem me visitar. Vamos até conversar sobre a possibilidade de eu
passar uns tempos com eles, ou até me mudar de vez. Devo tudo isso a você,
foi um grande amigo.
João: Eu não fiz nada Pedro, mas estou feliz de ver como você está mudando.
Até soube que você anda falando com o Padre.
Pedro: Venho pedindo aconselhamento a ele, também ando me aprofundado
na palavra.
João: Você não faz ideia de como isso me deixa feliz.
*João começa a tossir muito*
Pedro: Você está bem?
João: Estou sim, só preciso me deitar um pouco, estou cansado.
*João se levanta para sair, mas antes fala com Pedro*
João: Naquele dia na capela, quando seus filhos vieram você me pergunto
porque eu perdia meu tempo com você. Bom se você quer saber, eu nunca vi
nosso tempo junto como tempo perdido, na verdade eu sempre tive fé que você
podia se tornar um bom homem como eu imaginava que era possível. Lembre-
se disso Pedro, é sempre importante estar lá quando seu irmão precisa de
ajuda pra se abrir para Deus, assim como minha esposa foi para mim. Ser sal
da terra e luz do mundo.
Pedro: Descanse que amanhã quero minha revanche no xadrez.
João: Até amanhã então.

Cena 9
*Pedro vê a enfermeira e vai falar com ela*
Pedro: Com licença enfermeira, mas você viu o João? Fui no quarto dele e não
tinha ninguém, era pra ele se encontrar comigo faz tempo, tínhamos marcado
de jogar xadrez lá fora.
Enfermeira: Me acompanhe por favor Pedro.
*Pedro a acompanha sem entender. Ela a leva até a médica*
Médica: Pedro eu sabia que você viria, e sinto muito em lhe dar essa notícia,
mas ontem a noite João teve uma complicação respiratória e não resistiu......
ele faleceu.
*Pedro olha para elas duas sem entender*
Pedro: Não é possível, eu vi ele ontem. Estava tossindo um pouco, mas estava
bem, não devia brincar com isso doutora não é engraçado. Eu sei que eles está
bem.
*A médica coloca a mão no ombro dele*
Médica: Pedro eu sei que é difícil, mas é a verdade. Ele morreu....
*Pedro começa a chorar abraçado a médica*
Pedro: Não é verdade, não pode ser.....
Cena 10
*Quando Pedro chega seus filhos e o Padre já estão esperando*
Filha: Fizemos tudo como o senhor pediu pai. Organizamos uma cerimônia
para ele.
*Pedro fala triste*
Pedro: Não sei porque pedi isso. Ele não tinha nenhum parente vivo mais.
Ninguém vem.
Padre: Não é verdade, veja o lugar está cheio, muitos funcionários e pacientes
viera, assim como alguns parentes destes pacientes. O João tocou a vida de
muitas pessoas e era mito querido por todos.
Filho: Estão esperando você falar algo pai.
*Pedro olha para o Padre e após ele confirmar com a cabeça Pedro vai falar na
frente de todos*
Pedro: Eu não esperava ver tantas pessoas, mas que seja. Eu escrevi
algumas palavras pra dizer hoje.
*Pedro puxa um papel do seu bolso*
Pedro: Quando eu cheguei aqui eu estava totalmente pedido, não tinha
amigos, não via sentido na vida e estava afastado das pessoas que mais amo,
meus filhos. João foi a primeira pessoa depois da minha esposa que viu algo
de bom em mim, ele era realmente um boa pessoa e passou sua vida inteira
tentando se redimir das coisas que havia feito. Foi graças a ele que pude me
abrir para Deus e começar a trilhar um novo caminho, sei que não é da noite
pro dia e que não será fácil, mas se tem uma coisa que ele me mostrou é que
não estou sozinho. Deus sempre estará comigo e eu não poderia ser mais
grato a Ele por permitir que eu pudesse conviver com João esses meses.
Agora eu entendo que a morte não é o fim, e neste mundo passageira que
estamos devemos fazer o nosso melhor para alcançar o céu. E é por isso que
conversei com o Padre e irei doar a quantia necessária para reformar a capela,
voltaremos ater missas aqui, e semanalmente teremos círculo de oração e
conversa entre os pacientes. Precisamos espalhar a palavra do Senhor nesta
clínica e onde pudermos. Nunca se sabe quando alguém como eu, ou como
João na juventude dele, pode precisar de ajuda para se converter.

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