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O ANJO DOMADOR DE TREVAS

Abriu os olhos e boquiaberto se deslumbrou ante aquela paisagem linda.


Estava ele no lugar mais lindo de todo o universo. Ali a magia, o maravilhoso era a
regra. Arvores milenares de aroma intenso enchiam o ar com seus perfumes e a
eternidade banhava a tudo com sua névoa. Animais de todas as espécies e tamanhos
conviviam em harmonia e uma luz branca e amena entrava por entre a copa das arvores,
em constates raios de luz que pareciam cover, despencando da imensidão das árvores
que compunham o céu com suas copas imponentes.

Uma alegria intensa enchia lhe por inteiro, e tamanha era a força daquela
alegria, era tão intensa, que seus ossos doíam comprimidos por essa sensação de alegria.

Contemplou estupefato aquele ambiente e verificou sua pequenez ante a


imensidão e o vigor daquela paisagem. Sentiu-se um grão de areia nas dunas do imenso
deserto. Uma nota muda, solta na imensidão do silêncio sideral.

Luz e trevas, sombra e luz conviviam em harmonia plena naquela


localidade de perfeição inconteste, que lhe parecia uma cratera de perfeição, uma cratera
indefectível, na terra, em marte na lua, ou em todos os lugares simultaneamente. Era
aquele lugar uma intersecção de tudo, de todos os mundos, um ponto central onde o
universo inteiro se apoiava.

Do canto úmido de uma frondosa árvore milenar, coberta de orquídeas


selvagem com lindas e estonteantes flores rosas e amarelas, que pareciam embevecidas
de um jogo de luz, um pisca-pisca, que era causado pela incidência alternada de luz e
trevas que sobre as orquídeas caiam de acordo com o bailar da copa das árvores,
revezando luz e trevas sobre aquelas floridas orquídeas, que pareciam bailar num lindo e
perfeito movimento, enquanto exibiam se belas em sua estática eterna.

Deste canto onde as trevas estavam em paz plena, sem morbidez, sem
violência, sem riscos e sem conflitos, na ritmância de um brisa leve, surgiu indefectível
personagem. Seu corpo feminino de beleza rara e emocionante, sua pele de trevas e luz
exibia uma luminosidade argêntea que lembrava as cores da aurora ao desvanecer no
horizonte em dia nublado. Nem escura nem clara, mas a perfeita combinação de ambos
os tons que refletia um fulgor bestificante fazendo sua pele a coisa mais sedutora do
mundo. Seus olhos, eram luminosos em plenitude, olhos e sorriso. O corpo robusto e
vigoroso, não era magricela como tida a norma vigente de beleza feminina, não! Seu
corpo era corpo bem feito, em formas plenas e abundantes, sem excessos, sem falhas,
sem defeitos... Seus seios lindos irmãos gêmeos, que encantavam em suas formas e
tamanhos. Sorriso de sol do meio dia em pleno verão, olhos de luz branca como a luz do
luar em noite de lua cheia no sertão bravio, compondo a mais plena e bela figura que
seus olhos já conceberam.
Por um breve fragmento de centésimo de segundo, um fio de perfídia
roçou-lhe a face e ele duvidou, questionou-se estava sonhando. E assim já livre da
dúvida viu sair das trevas a bela figura que em silêncio olhando lhe nos olhos, o
iluminou por dentro e por fora.

Sem uma palavra ela aproximou-se e disse-lhe eu sou o “anjo domador


de trevas”. O corpo era feminino, mas a figura era total, macho e fêmea, o absoluto...
como soube não conseguia saber, mas sentiu, percebeu pela sua presença que naquela
figura não havia ambiguidade, dualidade, conflito... era um ser total, pleno, absoluto.

Ela aproximando-se colou seu corpo ao dele e olhando firme e


insistentemente em seus olhos, tocou seus lábios com sua boca de cálidos e fartos lábios
num beijo suave e quase estático. Uma energia quase avassaladora inundou-o e em
pleno equilíbrio ele sentiu e compreendeu aquele instante, sem no entanto o poder
reproduzir, narrar ou transferir a terceiros o que viu, o que sentiu, o que compreendeu...

Vestindo somente a pele, decorada de uma brilhante ramagem de belas


folhas e flores perfumosas, que serviam lhe de ornamento a cobri-lhe minimamente as
parte intimas e o bico dos seios. Uma flor ao cabelo no lado esquerdo empunhava um
objeto que arrebatou-lhe o olhar.

Vendo ela que ele olhava insistentemente para o que ela trazia a mão.
Estendeu-lhe os braços e ofereceu-lhe aquele buquê de flores, folhas e ramos. Olhando
o detalhadamente viu ele que era uma peça mágica, místicas, fantástica, combinando
símbolos que narravam uma história, a história do universo, daquele universo. Decorado
com rosas lindas, apresentava numa ponta um botão de rosa, na outra um coração que
pulsava voraz e era quente, febril como os lábios que o tacara a pouco.

Ao longo do corpo do buquê um falo, um rosto, e detalhadamente


narrada em figuras toda a história daquele encontro.

Na face oposta do buquê, uma adaga. Uma afiada adaga, uma espada
que representava sua dignidade de “anjo domador de trevas”. Armas e rosas, trevas e luz
em harmonia em plenitude...

Com a firme sensação de não precisar de mais nada, frente a frente


empunharam a quatro mãos, aquela espada do “anjo domador de trevas” e então ele
acordou em seu leito, com uma sensação de plenitude e uma saudade pungente a roer-
lhe os ossos, a pisar-lhe o coração, a esmagar lhe o peito, a aferir-lhe os olhos que
lagrimejavam o gozo deste encontro onírico, no qual viu e viveu a perfeição nos lábios
do “anjo domador de trevas”.

Acordou pesaroso por romper o vínculo estabelecido com o elã vital, criador,
que lhe possuiu intima e profundamente em sonho. Ou teria sido acordado? Já sem
saber se sonhou ou se viveu, se viveu em sonho ou acordado, sente apenas o imperativo
vital que lhe imprime vigor em seguir. E no silêncio absoluto do universo recebe os
impulsos do elã vital a sussurrar lhe... Ame, ame, ame... e um rosto fulgurante e
luminoso, misto de trevas e de luz rememorara-se em seus sentidos e em cada instância
de seu ser, sob a insígnia de um nome, Elãme, Elãme, Elãme... o rosto onírico do “Anjo
Domador de Trevas”.

Kiko di Faria em noite fria de, 12 de agosto de 2014.

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