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Ministério
Adventista

Novembro - Dezembro de 1962


A INSTITUIÇÃO
do
BATISMO
e
ALGUNS PROBLEMAS

ENOCH DE OLIVEIRA

BATISMO de Jesus, imortalizado por tan­ 1. Deve um Insano Mental ser Batizado?

O tos e tão festejados mestres da pintura,


constitui o ato inaugural de uma admirável mis- Esta pergunta suscita uma série de considara-
ções. Todos sabemos existir diferentes tipos de
são redentora. É João Batista, o singular asceta
precursor, que nos descobre o extraordinário sig­ insanidade mental. Existem os idiotas profundos,
nificado dos acontecimentos ocorridos à beira do os idiotas simples, os imbecis, os débeis intelec-
Jordão. tuais e os indivíduos “pouco dotados”. Natural-
Certo dia, lobrigando o Homem de Nazaré, êle mente não estamos considerando aquêles qualifi­
O apresenta como “o Cordeiro de Deus que tira cados pela ciência como loucos. Os idiotas simples
os pecados do mundo” (S. João 1:29) e estriba es­ ou profundos são completamenta destituídos de
ta afirmação sôbre o que lhe foi revelado ao ense­ inteligência. Já os imbecis que se distinguem dos
jo do batismo de Jesus: “Eu vi o Espírito San- idiotas pela ausência de qualquer estigma físico,
to descer do Céu como uma pomba é repousar sô­ manifestam uma memória viva e certas aptidões,
bre Êle. E eu não O conhecia, mas o que me quase sempre impossível de utilizar. Os débeis
mandou a batizar com água, Êsse me disse: sô­ intelectuais e os indivíduos “pouco dotados”, po-
bre Aquêle que vires descer o Espírito, e sôbre deriamos cifrá-los com uma só palavra: retarda­
Êle repousar, Êsse é o que batiza com o Espírito dos.
Santo.” S. João 1:32 e 33. Deve um ministro batizar a um idiota, imbecil ou
Das águas plácidas e remansosas do Jordão saiu retardado? Se um candidato imbecil ou retardado
o Redentor, ungido pelo Espírito Santo, para rea­ revela evidências de arrependimento e conversão,
lizar a obra imortal que, com as luzes da inspi­ se êle é suficientemente capaz de assimilar os
ração, anunciaram os antigos profetas hebreus. princípios fundamentais do evangelho, e se a
Quão extraordinário foi o ministério de Jesus! sua conduta se harmoniza com os princípios da
Porém, a obra iniciada de maneira tão auspiciosa verdade, não devemos vacilar em levá-lo às águas
não poderia sofrer solução de continuidade. Quan lustrais do santo batismo. Os idiotas, reconheci­
do já no caso de Sua obra na Terra, disse o Se- damente estúpidos, jamais satisfarão as condições
nhor aos seus discípulos: “Portanto ide, ensinai tô­ acima enunciadas, e por isso mesmo não devem
ser batizados.
das as nações, batizando-as em nome do pai, do Fi­
lho e do Espírito Santo.”
2. Seria Recomendável o Batismo de um Ati­
Com efeito, nas palavras de Jesus encontramos vo Membro da Maçonaria?
um programa de extraordinária magnitude e ilimi­
tado alcance. Como Igreja estamos realizando Diz a Sra. White: “Não nos devemos associar
a obra que nos foi cometida, proclamando às mul- a sociedades secretas nem a uniões trabalhistas.
tidões, ’“ as riquezas insondáveis de Cristo”, e Devemos permanecer livres perante Deus, à es-
batizando todos quantos manifestam os inconfun­ pera constante de instruções de Cristo.” Test., Vol.
díveis frutos do arrependimento. VII, pág. 84.
Entretanto, como ministros, no tocante ao rito Inferimos dêste inspirado conselho que todos
batismal nos deparamos com alguns problemas quantos desejam pertencer ao povo remanesceu
que exigem equilíbrio, bom senso e inspiração te devem se apartar das organizações secretas e
divina. Eis alguns dêstes problemas: (Continua na pág. 16)
PÁGINA 2 O Ministério Adventista
Ilustrações
órgão publicado bimestralmente pela
Associação Ministerial da Igreja Adventista do
Sétimo Dia Lágrimas de Gratidão
Editado pela
Casa Publicadora Brasileira Falecera em Londres uma das maiores servas
Santo André, São Paulo de Deus. Seu corpo foi levado para um dos
Diretor — Enoch de Oliveira maiores auditórios da cidade para que o po-
Gerente — Bernardo E. Schuenemann
Redator responsável — Luiz Waldvogel
vo pudesse prestar-lhe homenagem. Veio uma
Redator — Arnaldo B. Christianini representante da rainha; nobres de ambos os se­
Colaborador especial: xos passavam pelo esquife. Finalmente cente­
J. J. Aitken nas de pessoas mais pobres avizinharam-se do
Brasil caixão mortuário. Com êstes últimos veio uma
Assinatura Anual .............................................. Cr$ 500,00 pobre mulher usando pequeno xale prêso à ca-
Número Avulso .................................................. Cr$ 85,00 beça. Levava uma criança nos braços e outra
Estrangeiro maior pela mão. Ao chegar junto do esquife,
Assinatura Anual .......................................... US$ 2,00 desceu a criança, que carregava, soltou a mão
Número Avulso .................................................. US$ 0,35 da mão da criança maior e curvou-se sôbre a
morta, chorando fortemente. Permaneceu ali
muito tempo a ponto de os servos tentarem
afastá-la. Contemplando a multidão atrás de si,
ela exclamou: “Andei a pé quarenta milhas e
trouxe meu filhinho para que eu pudesse ver o
rosto desta mulher. Ela conduziu meus filhos
Ano 27 Nº. 6
jovens a Jesus. Êles estavam destinados ao infer­
no. Tenho o direito de vê-la e chorar.” As pes-
soas presentes soluçavam de simpatia por ela. A
DE CORAÇÃO A CORAÇÃO mulher que se achava no esquife era Catarina
A Instituição do Batismo.......................................... Booth, mãe do Exército de Salvação. É bom que
................................................ Enoch de Oliveira 2 sempre demonstremos gratidão por aquêles que
ILUSTRAÇÕES trouxeram o Salvador ao nosso conhecimento e
Lágrimas de Gratidão ................................................ 3 de nossos queridos. Deveriamos cessar de louvá-
Cristo é Tudo para Nós.................................................3 Lo por ter-nos redimido pelo Seu precioso san­
ARTIGOS GERAIS gue? — Illustrations for Preachers and Speakers,
O Batismo ................................................ por Keith L. Brooks
............................................................ Wadie Farag 4
Como Ministrar o Batismo....................................
............................................................... A. Anderson 7
A significação do Batismo.......................................... Cristo é Tudo Para Nós
...................................................... A. R. Fraser 10
OBRA PASTORAL Queres curar tua ferida?
Êle é o médico.
A Vida Devocional do Obreiro Cristão ....
...................................................... João Tabuenca 12
Devora-te a sêde?
A Espôsa do Pastor .................................... -. . Êle é a fonte.
....................................................................... A. Nigri 14 Estás acabrunhado com o pêso da tua iniqüidade?
EVANGELISMO — ALMAS PARA DEUS Êle é que justifica.
Bênçãos de Deus Sôbre Valdívia.............................. Temes a morte?
• • .......................................... Valter Cameron 15 Êle é a vida.
PESQUISA, TEOLOGIA, HISTÓRIA, CIÊNCIA Aspiras as coisas de cima?
O Movimento Ecumênico .......................................... Êle é o caminho.
• • • .............................. Werner Vyhmeister 17
Queres fugir das trevas?
OS ASD RESPONDEM A PERGUNTAS SÔBRE DOU- Êle é a luz.
TRINA .................................................................. 20
MISCELÂNEA ......... 22
Tens fome?
Êle é o alimento.
Provai e vêde quão bom é o Senhor.
Ditoso o homem que põe sua esperança nÊle.
Santo Ambrósio
Novembro-Dezembro, 1962 PÁGINA 3
ARTIGOS GERAIS

WADIE FARAG
Evangelista na União do Nilo

BATISMO é quase univer- Desde o décimo século que a igreja de Roma


salmente praticado hoje en- tem seguido o costume de batizar os sinos.
tre os cristãos. A igreja papal Êles às vêzes substituem o têrmo “bênção” por
sustenta que o batismo é um “batismo”, mas o rito em si é pràticamente idên­
de seus sete sacramentos — ba­ tico ao do batismo, mesmo no enprêgo da consa-
tismo, confirmação, eucaristia, gr da fórmula: “em nome do Pai, do Filho e do
penitência, extrema unção e ca­ Espírito Santo”. Freqüentemente dão um nome
samento. Os protestantes em ao sino por ocasião do batismo e também uma
geral admitem duas ordenan- espécie de apadrinhamento, como por padrinhos
ças: o batismo e a ceia do Senhor (Alguns pra­ e madrinhas.
ticam a ordenança do lava-pés em ligação com Disto tudo podemos fàcilmente ver que a or­
a última). denança do batismo foi deturpada pelas diversas
O batismo como é praticado hoje por diferentes comunidades cristãs desde os tempos apostólicos.
congregações cristãs varia tanto no que se refere Cristo não teria ensinado tão variadas formas do
aos indivíduos como nas formas. Algumas igrejas rito do batismo. Para distinguir a verdade do
consideram os indivíduos aptos para o batismo êrro, uma busca da verdade limita-se em consul­
quando adultos, que professam fé em Cristo e tar a Bíblia — a Palavra escrita de Deus.
tenham uma experiência cristã individual. Ou-
tros praticam esta ordenança em crianças. O que a Bíblia Ensina Sôbre o Batismo
Há três espécies de batismos praticados pelas
Do estudo da Bíblia, conclui-se quatro fatos
diferentes igrejas hoje. São imersão, aspersão e
importantes:
afusão. A maioria das igrejas protestantes batiza
os candidatos com água (em que o oficiante pro­ 1. Que a ordenança do batismo é instituída
nuncia a fórmula que declara ser “em nome do por Cristo para ser um rito perpétuo e universal.
Pai, e do Filho e do Espírito Santo”) mas não Foi praticada pelos apóstolos depois da ascensão
acompanha o batismo com várias formas e ceri- de Cristo. Isto é ensinado nos seguintes textos:
mônias como as que são amplamente praticadas S. Mateus 28:19: “Portanto ide, ensinai tôdas
nas igrejas de Roma e do Oriente. as nações, batizando-as em nome do Pai, e do
Algumas igrejas batizam por imersão três vê­ Filho e do Espírito Santo.”
zes, outras por aspersão três vêzes. Algumas imer­ Atos 2:38-41: “E disse-lhes Pedro: Arrependei-
vos, e cada um de vós seja batizado em nome de
gem uma única vez, outras aspergem apenas uma
Jesus Cristo, para perdão dos pecados; e rece­
vez. Alguns batizam os candidatos pela frente, bereis o dom do Espírito Santo. . . . De sorte que
outros por trás. Algumas igrejas têm cerimônias foram batizados os que de bom grado receberam
complementares, como de assoprar sôbre o bati­ a sua palavra.”
zando, ungindo o candidato com óleo, dando- S. Marcos 16:16: “Quem crer e fôr batizado
lhe leite com mel, colocando um pouco de sal em será salvo; mas quem não crer será condenado”.
sua bôca e tocando em suas narinas e orelhas. 2. Que a imersão é a única maneira de batis-
Algumas dão ao candidato um nome no batismo mo ensinada na Bíblia e a única praticada na
e vestem-no de uma roupa branca após o mesmo. igreja primitiva. Isto evidencia-se de:
PÁGINA 4 O Ministério Adventista
a. (O sentido do verbo grego baptizo, “batizar”, é adultos: “homem e mulher” que já haviam se
“imergir”. arrependido:
b. A linguagem empregada nas Escrituras com Atos 2:37 e 38: “E, ouvindo êles isto, compun­
referência a batizar: Os relatos inspirados dizem giram-se em seu coração, e perguntaram a Pedro
que João batizou “no rio jordão” (S. Mat. 3:6); e aos demais apóstolos: Que faremos, varões ir-
que Jesus depois de Seu batismo “Saiu logo da mãos? E disse-lhes Pedro: arrependei-vos, e cada
água” (verso 16); e que o eunuco e Filipe “des­ um de vós seja batizado em nome de Jesus Cris-
ceram ambos à água” para o batismo (Atos 8: to, para perdão dos pecados.”
38). Atos 8:12: “Mas como cressem em Filipe,
c. O fato de que o batismo por imersão signi- que lhes pregava acêrca do reino de Deus, e do
fica a morte, sepultamento e ressureição de Cris- nome de Jesus Cristo, se batizavam, tanto homens
to. Os outros tipos de batismo: aspersão e afusão, como mulheres.”
anulam a ordenança de seu sentido e dão em tro­ Atos 18:8: “E Crespo, principal da sinagoga,
ca o significado de mero rito. Apenas a imersão, creu no Senhor com tôda a sua casa; e muitos dos
submersão e a emersão podem acertadamente sim­ coríntios, ouvindo-o, creram e foram batizados.”
bolizar a morte, sepultamento e ressureição de
4. Que o batismo é meramente um ato físico
Cristo:
simbolizando uma transformação espiritual que
Romanos 6:3 e 4: “Ou não sabeis que todos já se efetuou na vida do crente antes de seu ba­
quantos fomos batizados em Jesus Cristo fomos tismo. O batismo é uma ordenança visível dada
batizados na Sua morte? De sorte que fomos como uma demonstração de um estado interior
sepultados com Êle pelo batismo na morte; para de graça já experimentada. O batismo não efetua
que, como Cristo ressuscitou dos mortos, pela uma mudança mas é representado como uma pro­
glória do Pai, assim andemos nós também em va de mudança. Isto torna o batismo infantil con-
novidade de Vida”. trário à Escritura:
Colossenses 2:12: “Sepultados com Êle no Atos 10:47: “Pode alguém porventura recu­
batismo, nÊle também ressuscitastes pela fé no sar a água, para que não sejam batizados êstes,
poder de Deus, que O ressuscitou dos mortos”. que também receberam como nós o Espírito San-
d. O fato indiscutível de que a igreja primiti­ to?”
va praticava a imersão como tipo de batismo, evi­ 5. Marcos 16:16: “Quem crer e fôr batizado
dencia-se do testemunho da história eclesiástica, será salvo; mas quem não crer será condenado.”
da construção de batistérios na igreja cristã primi­ A Maneira, as Pessoas e Sentido do Batismo
tiva e da sucessiva prática das igrejas da Grécia e
Copta até o dia de hoje. (Ver Chambers’ En­ Dos pontos aqui considerados concluímos os
cyclopaedia, Vol. 1, pág. 676, edição de 1885.) seguintes fatos:
3. Que os indivíduos do batismo são adultos, 1. Que o batismo é uma ordenança instituída
não crianças, que já se tornaram discípulos e que por Cristo e praticada pelos apóstolos (S. Mateus
tiveram uma completa mudança de coração e 28:19; Atos 2:38).
manifestaram crer em Jesus como seu próprio 2. Que o modo bíblico de batismo é o de imer­
Salvador; não há força misteriosa nenhuma no são, a única maneira que pode simbolizar a
rito do batismo em si. O batismo não pode pro­ morte, sepultamento e ressureição de Cristo. As
duzir arrependimento no indivíduo; antes, o pas­ outras maneiras anulam a ordenança de seu sig­
so é dado por causa do arrependimento que já nificado e não são bíblicas (Rom. 6:3 e 4; S.
tomou lugar na vida do crente. Isto evidencia-se Mat. 3:6 e 16; Atos 8:38).
dos seguintes fatos: 3. Que as pessoas que receberam o Espírito
a. A ordem de Cristo é batizar aquêles que Santo foram mais tarde batizadas, provando, por
primeiro se tornaram discípulos: isso, que não há poder no rito em si mas é uma
demonstração exterior de uma crença interior na
S. Mateus 28:19: “Portanto ide, ensinai tô­ morte, sepultamento e ressurreição de Cristo para
das as nações, batizando-as em nome do Pai, e a salvação de todo aquêle que crê (Atos 10:47;
do Filho e do Espírito Santo.” S. Marcos 16:16; S. Mat. 28:19).
Atos 2:41: “De sorte que foram batizados os 4. Que adultos que foram ensinados e tiveram
que de bom grado receberam a sua palavra; e na- uma transformação do coração por aceitar a obra
quele dia agregaram quase três mil almas.” substituitiva de Cristo em seu benefício são as
b. As Escrituras não contém nenhuma ordem próprias pessoas do batismo (S. Mat. 28:19; 3:
positiva ou explícita para o batismo de crianças; 2, 3 e 6; Atos 2:37 e 38; 8:12; 18:8).
nem há aí algum exemplo de batismo que tenha Práticas Contrárias às Escrituras
sido realizado em crianças. Por outro lado, a Bí- Apesar do compreensível ensino da Bíblia no
blia ensina que os discípulos foram batizados já que se refere ao batismo encontramos dois erros
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principais praticados hoje pelas diferentes comu- circuncisão foi um rito nacional sob o govêrno
nidades cristãs. São êstes: batismos por aspersão, teocrático. Não se tratava de um cerimonial reli­
ou afusão e batismos infantis. Para estas duas gioso. Segundo, que João Batista, Pedro e os
práticas não as apoiam nem a autoridade de Cris- apóstolos batizaram cristãos judeus que havim
to nem de Seus apóstolos, mas introduziram-se sido circuncidados, demonstrando dessa maneira
na igreja depois da era apostólica. A igreja não afirmativamente que o batismo não substitui a
tem direito de mudar uma ordem expressa de circuncisão. E terceiro, que enquanto a circunci­
Cristo, porque ela é simplesmente um poder exe­ são fôra um rito nacional apenas para o sexo
cutivo e não legislativo. Igreja alguma pode mu­ masculino, o batismo o é para os do masculino e
dar os mandamentos ou ordenanças de Deus. feminino. As Escrituras dizem que Filipe batiza­
Isto não é prerrogativa da igreja, nem tampouco va “tanto homens como mulheres” (Atos 8:12).
o pode ser. A autoridade da igreja, contudo, en- Outros, em defesa do batismo infantil, preten­
contra-se na observância dos mandamentos de dem que o batismo é a lavagem do pecado origi-
Cristo, não em sua ab-rogação ou substituição. A nal! A respeito disso nos perguntamos como pode
obra da igreja é não de mudar os mandamentos alguém se arrepender do pecado original? Se a
de Deus para se adaptar às inclinações dos indiví- Bíblia requer arrependimento antes do batismo,
duos, mas antes de modificá-los no sentido de então pode êste arrependimento ser pelo pecado
se conformarem aos mandamentos de Deus. A original? Certamente, que ninguém pode se ar­
igreja realiza esta obra através do poder do Espí- repender do pecado original — um pecado do qual
rito Santo que lhe é dado. O Espírito, contudo, êle não é responsável.
não ensina novas doutrinas, pelo fato de que A Bíblia nada diz sôbre o batismo como lava­
Deus é imutável e que não alterará “o que saiu” gem do pecado original, mas antes que o batis-
de Seus lábios, e porque a Bíblia acentua que o mo é um símbolo da lavagem dos próprios peca-
Espírito “não falará de Si mesmo, mas dirá tudo dos de alguém (Atos 2:38; 22:16; Efés. 5:26;
o que tiver ouvido, e vos anunciará o que há de Tito 3:5).
vir” (Sal. 89:34; S. João 16:13; ver Mal. 3:6). Outros ainda defendem o batismo infantil com
Afusão ou aspersão não pode dar a expressão a mera conjetura de poder ter havido crianças
figurada da fé do crente na morte, sepultamento nos lares de Estéfanas Lídia e do carcereiro que
e ressureição de Cristo. Completa imersão na foram batizados por Paulo. Nisto, contudo, per­
água apenas, que foi a prática universal duran­ manece uma conjetura, e conjeturas são funda-
te os primeiros séculos do cristianismo, pode mentos nada sólidos para a crença. O caso é que
dar esta ilustração. Comunidade cristã alguma em I Coríntios 16:15 parece mostrar que tôda
tem o direito de mudar a maneira bíblica de ba­ a família de Estéfanas era composta de adultos
tismo por imersão para aspersão ou afusão. Ao e não de crianças.
assim fazer, tornam nula a ordenança de seu O que mais surpreende é que as igrejas que
significado, pervertem e deturpam a ordem do pretendem crer na justificação pela fé e não pelas
próprio Cristo. obras, vão de encontro com suas próprias crenças
Ao substituir o batismo infantil pelo batismo ao batizarem crianças. Uma vez que o batismo
de adultos a ordem de Cristo foi ab-rogada. Os é separado da fé do indivíduo, a ordenança é
membros vêm então na igreja por hereditariedade pervertida e o membro se torna dependente nas
e não pela conversão. Qualquer pessoa apesar de obras que exingem manejos exteriores, e aparta­
dos da fé. Certamente o batismo de crianças não
si mesma, poderá assim se tornar membro na
as tornaria mais crianças cristãs do que o colocá-
igreja. Isto faz com que a igreja se apegue ao las no trono, transformá-las-ia em reis ou rain-
mundo. Batizar um bebê, que chora e resiste an- nhas. Se o batismo de crianças em sua totalida­
tes que tenha oportunidade de pessoalmente acei- de nada faz, dá apenas aos pais uma segurança
tar a obra substitutiva de Cristo torna o rito ridícu­ supersticiosa num rito exterior como posse de
lo e sem significado. Isto também dá acesso aos um poder espiritual. Fá-los crer que ser membro
crentes supersticiosos de que haja um poder má­ de igreja é uma questão de hereditariedade. In­
gico na água. Ninguém se surpreende que a Igre- coerente como possa parecer, não há uma comu-
ja Católica batiza sinos e rosários, e ainda em nidade cristã que creia no sacerdócio hereditário
alguns países as pessoas trazem gatos, pássaros, como foi o caso do judaísmo, mas alguns pela
prática pareciam demonstrar sua crença na he-
coelhos, jumentos e porcos para serem batizados
riditariedade em ser membro da igreja. Presen­
pelo pastor!
temente, apenas uma mãe me disse: “Batizei
Por ter sido ab-rogada a ordem bíblica que re meu filho ainda bebê para que quando crescer
quer arrependimento antes do batismo, analogias não se desvie tornando-se ateu. Como está agora,
absurdas e razões são dadas para defender o ba­ estou segura de ser êle um cristão sem considerar
tismo infantil. Alguns pretendem que o batismo o que se verifica ser”. Se isto não é justificação
tenha tornado o lugar da circuncisão. Esque­ pelas obras, o que é então?
cem-se, porém, de três fatos. Primeiro, que a (Continua na pág. 13)
PÁGINA 6 O Ministério Adventista
Como Ministrar o Batismo
R. A. ANDERSON
(Secretário da Associação Ministerial da Assoc. Geral)

DENTRE todos os escritores muito concorrendo para firmar êsses líderes nas
do Nôvo Testamento, é Pau- afeições da igreja.
lo quem mais claramente desdo­
bra o belo significado espiritual A Técnica do Serviço Batismal
do batismo. Escrevendo aos Gá- A Bíblia apresenta o batismo como uma or­
latas, diz êle: “Todos quantos denança, mas também mais do que simples or­
fôstes batizados em Cristo, de denança. Deve proporcionar ao candidato uma
Cristo vos revestistes. É batismo uma santa orde- experiência real, e aos circunstantes uma impres­
nança, destinada por Deus a trazer ao candidato são profunda e duradoura. Mas para que a cena
a mais rica experiência espiritual. seja impressiva, tem de ser ministrada num espí­
Quando se planeja uma campanha evangelís­ rito devocional, isto é, como um culto a Deus.
tica e se toma talvez necessário chamar um evan­ Nada de rude ou grosseiro se deve intrometer.
gelista para dirigir as reuniões, muitas vêzes é É por natureza uma cerimônia muito solene,
embaraçoso resolver quem deverá batizar os no- pois simboliza a morte e sepultamento de nosso
vos conversos. É natural que os recém-vindos à Senhor. Mas é Outrossim uma confissão pública
fé esperem que o mesmo que os conduziu a Cris- por parte do batizando, de que também êle, em
to seja o que os batize. E em muitos casos isto é Cristo, morre para o pecado. O mesmo serviço
muito apropriado. Mas é mais desejável que o também deve, porém, exprimir a alegria da ressur-
evangelista e o pastor ou pastôres locais partici- reição, pois havendo sido batizado com seu Se-
pem juntos da cerimônia. Isto muito concorre nhor, o candidato agora se ergue para viver em
para ligar os novos crentes a seu pastor espiri- “novidade de vida”. Através de um período de
tual e firmá-los em suas igrejas. Pela própria na­ várias semanas, ou talvez meses, êle estêve su­
tureza das coisas, requer-se do evangelista itine­ jeito ao processo de morrer para si mesmo; estê­
rante que se mude de um lugar para outro, e seus ve a crucificar os desejos da carne. Agora êle
conversos têm de ficar aos cuidados de outros. exprime tudo isso num determinado ato. É êle
Esta transferência de lealdade e interêsse nem sepultado com o seu Senhor. Tendo morrido para
sempre é fácil. Pode efetivamente resultar daí o pecado, ergue-se para a fruição da plena alegria
a perda de almas. Todo esfôrço deve, pois, ser da ressurreição. Assim, deve o serviço ser ani­
feito para impedir semelhante situação. Se se moso e repleto da esperança da ressurreição.
forma entre os obreiros temporários e os pastô­ A fim de torná-lo impressivo, tudo que se re­
res residentes um espírito de companheirismo, laciona com o serviço batismal deve ser apropria-
isso muito fará para consolidar a obra. Então, ao do. Quando sepultamos um ser querido, nenhum
retirar-se o grupo evangelístico, os novos crentes esfôrço se poupa a fim de tornar a ocasião o mais
já se sentirão intimamente ligados a sua igreja. apropriada possível. Nenhuma sepultura é boni­
Pastôres Locais Preparam Candidatos ta, entretanto a presença de flôres e de relva,
embora artificialmente, por certo faz muito para
O evangelista que leva pessoas a se decidirem atenuar o choque da morte. Da mesma forma,
por Cristo é aquêle de quem realmente esperam com um pouco de previsão e planejamento, o
guia espiritual. Quanto antes possa êle trans­ serviço batismal pode tomar-se expressivo e im­
ferir as afeições de si mesmo para o pastor que pressionante. Quando efetuado com propriedade,
irá ser de futuro o seu conselheiro, tanto me- transmite uma mensagem com rara eloqüência.
lhor. E ninguém mais no mundo poderá comen­ Cuidadosamente examinados e planejados todos
tá-los tão fortemente em sua igreja futura, como os pormenores, e presidido todo o serviço por um
o evangelista que lhes proporcionou a luz da sentimento de profunda espiritualidade, temos
verdade. Se, pois, o evangelista manifestar o então um verdadeiro culto de adoração a Deus.
espírito de João Batista, e de bom grado se sujei­ Sempre é um privilégio unir preciosas almas
tar a diminuir, permitindo que o pastor cresça, ao seu Senhor nesse sepultamento público da
isso promoverá um sadio espírito de boa vontade, antiga natureza, e é essa uma cerimônia dema-
Novembro-Dezembro, 1962 PÁGINA 7
siado importante para ser empurrada a um canto Essa toalha deve ser pequena, mas bastante gran-
ou intercalada entre outras reuniões. Às vêzes de para cobrir o rosto do batizando, quando é
tem sido realizada ao final de um culto de prega- imergido. Pode-se, usar um lenço, mas como os
ção, que por falta de devido planejamento ne- lenços variam de tamanho, a experiência tem
nhuma relação tinha com a ocasião. O batismo mostrado a conveniência de, com o roupão, su­
deve não só ser parte do culto, mas sim a parte prir essa toalhinha especial.
vital e principal do todo. Tudo relacionado
à cerimônia — os hinos, as orações, o sermão — de- Como Segurar o Batizando
ve convergir para êsse ponto alto. As duas orde­ Òbviamente há mais de uma maneira de se­
nanças — o batismo e a Ceia do Senhor, quando gurar o candidato, mas poderão ser de proveito
dirigidas como convém, farão mais para aprimorar algumas sugestões. Há batismos a que faltam
a experiência espiritual dos crentes do que, tal­ graça e eficiência, deixando assim uma impressão
vez, tudo o mais. Da mensageira do Senhor nos desfavorável. A experiência me tem demonstra-
vem um muito definido conselho acêrca do batis- do que, para mim, o melhor procedimento é o
mo: seguinte: Primeiro, coloco na minha mão direi­
“A pessoa encarregada de ministrar o batismo deve es- ta a toalhinha especialmente preparada para o
forçar-se por celebrar o ato de modo a exercer êste uma in-
fluência solene e sagrada sôbre todos os expectadores. Cada ato, e o candidato se segura com ambas as mãos
rito da igreja deve ser executado dessa forma. Não deve re- ao meu pulso direito. Isto lhe dá uma sensação
ceber um feitio vulgar ou insignificante, ou ser redu­
zido ao nível das coisas triviais. Nossas igrejas neces­ de segurança. Então coloco firmemente a mão
sitam ser educadas para maior respeito e reverência pelo esquerda entre seus ombros, e com poucas e bem
culto divino.” 1
“Tudo que de algum modo se relaciona com êsse rito escolhidas palavras exprimo à congregação minha
sagrado deve revelar cuidadoso preparo.” 2 crença na sinceridade do batizando, sua confian-
Na mesma referência nos é dito que “devemos ça em Deus, sua entrega do próprio eu, e sua
evitar usar coisas desgraciosas e de mau gôsto, ressurreição para uma vida de vitória. Concluo
pois isto seria uma ofensa a Deus.” com a fórmula batismal, expressando-a em pala-
vras mais ou menos assim: “E agora, irmão (ou
Importância do Equipamento Devido irmã), sabendo que deu o coração ao Senhor
Se o batismo é efetuado num rio ou lago, pro­ Jesus, e que confia inteiramente em Seu perfei-
porciona-se maravilhosa oportunidade para teste­ to sacrifício por sua salvação, prazerosamente (le­
munho público. Mas essas reuniões ao ar livre vanto a mão esquerda) o batizo em nome do Pai,
requerem mesmo maior atenção ao cuidado dos e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.” Dando
candidatos do que quando a cerimônia se reali­ um passo para a esquerda, baixo o candidato de­
za em recinto onde tudo é provido. O batismo licadamente para trás, imergindo-o. Ao mesmo
na igreja dá menos trabalho, mas também são tempo ergo a mão direita, para cobrir seu rosto.
menores suas oportunidades evangelísticas. Êste ato evita qualquer tendência à sufocação,
e assegura perfeito controle no momento da imer­
Alguns dos serviços batismais mais impressivos são. Lembremo-nos de que movimentos lentos,
foram realizados em grandes auditórios ou tea­
deliberados, são essenciais ao êxito. Não haja ne-
tros citadinos, onde se efetuavam campanhas nhuma precipitação. O erguer o candidato é, na­
evangelísticas. Tal cerimônia pode causar tremen­ turalmente, símbolo da ressurreição, e convirá
da impressão para o bem. Mas onde quer que se
que o auditório cante uma estrofe de um hino
realize, tem de ser providenciado o devido equi­
apropriado, ou cântico de vitória. É também efi-
pamento. Poucas coisas são tão importantes com
ciente apenas o órgão tocar. Mas o serviço batis­
os roupões. Sua aquisição representa bom emprê-
mal é um culto, e os adoradores receberão maior
go de capital.
benefício pela participação, do que sendo mera­
“Cada igreja deve estar provida de roupas apropriadas mente expectadores.
para o batismo, nunca considerando isto como despesa
inútil. Faz isto parte da obediência devida ao preceito que Quando o candidato é erguido da água, convi­
diz: ‘Faça-se tudo decentemente e com ordem’.” I Cor. 14:
40. rá pegá-lo pela mão e dar-lhe a certeza da ben­
“Não convém que uma igreja se limite a tomar em­ ção de Deus para uma vida de vitória. Então
prestada essas roupas de alguma outra. Muitas vêzes,
quando tiver necessidade delas, não poderá obtê-las; por êle vai para o vestiário, onde animosos auxilia­
outro lado tem havido certa negligência na restituição res o ajudarão a remover as vestes molhadas. Um
dessas roupas. Cada igreja deve, pois, prover as suas
próprias necessidades no tocante a isso. Crie-se um fundo toque de suavidade pode ser acrescentado ao ser­
para êsse fim. Se tôda a igreja concorrer para o mesmo, viço se, ao sair o candidato da água, lhe fôr
não será um encargo pesado.” 3
oferecida uma flor branca; pode ser, por exem-
Se é prudente que cada igreja tenha um jôgo plo, uma rosa para as senhoras e um cravo para
de vestes batismais, é também prudente que cada os homens. Deve, em todo o caso, ser uma flor
time evangelístico possua êsse equipamento. que represente pureza. Talvez o evangelista-au-
As vestes tanto do ministro como dos candidatos xiliar ou chefe dos diáconos possa fazer isso para
devem ser simbólicas. E se possível deve prover- os homens, e a instrutora bíblica ou chefe das
se a cada candidato vestes e toalha individuais. diaconisas para as senhoras, proferindo na ocasi-
PÁGINA 8 O Ministério Adventista
ão uma frase singela, como por exemplo: “Seja para êste serviço de amor. Tal plano é especial-
essa pequena flor um sinal da pureza da vida de mente de auxílio, se os que usam seu carro po-
Jesus, que o irmão acaba de receber. Que ela o dem ser aconselhados com antecedência. Devem
inspire a guardar-se imaculado do mundo.” ser instruídos em como dirigir a conversa para
Êsses pormenores podem parecer insignifican- rumos de vitória espiritual. Isto reforçará a ex-
tes, mas podem muito significar para o êxito do periência que o candidato já alcançou.
serviço. É embora eu insista que não se perca
O batismo é, na verdade, uma ordenança, mas
tempo com pormenores desnecessários, é certo
se isto é tudo, está já derrotado seu próprio pro­
que um acontecimento importante como é o ba­ pósito. Tem de ser uma experiência vital. Não
tismo, merece nossa atenção. É êste o maior dia
basta ser nascido da água. Temos de nascer tam-
na vida do candidato, e os minutos extras passados
bém do Espírito, se queremos em nossa vida ex-
na execução dessas sugestões acrescentarão muito
perimentar verdadeira vitória. Quando Ananias
ao espírito de verdadeiro culto, e proporcionará
disse a Saulo de Tarso: “Levanta-te, recebe o
uma experiência mais rica aos que são batizados. batismo e lava os teus pecados, invocando o no-
Concluir o Serviço Batismal com um Apêlo me dÊle” (Atos 22:16), êle se referia a alguma
coisa mais do que mera ordenança.
Terminado o serviço batismal propriamente di­
to, é impressivo que a bênção seja pronunciada O Batismo de Nosso Senhor
no tanque. Mas antes de despedir os presentes,
tenho seguido o costume de fazer um convite a Lemos que, quando foi batizado nosso Senhor,
quaisquer outros que, tendo sido impressionados Êle saiu da água, e ajoelhando-Se à margem do
pelo Espírito de Deus, gostariam de indicar seu Jordão, rogou ao Pai o batismo de poder. Foi en-
desejo de participar de semelhante rito num fu­ tão que Êle recebeu a unção do Espírito. Estava
turo próximo. Isso podem fazer erguendo a mão, a penetrar numa nova era de Sua vida, e preci­
ou talvez pondo-se de pé. Acabando de testemu­ sava de uma outorga especial de poder. Impres­
nhar a vitória de outros, sentiram abrandar-se-
sionam-nos as seguintes palavras descritivas:
lhes o coração, e talvez se rendam nessa ocasião
alguns que não o fariam de outro modo. “O olhar do Salvador parece penetrar o Céu, ao der­
ramar a alma em oração. . . . Nunca dantes haviam os
Ao final de meu primeiro e grande serviço ba­ anjos ouvido tal oração. Anseiam trazer a Seu amado Capi­
tão uma mensagem de certeza e conforto. Mas não; o pró-
tismal público, num país muito conservador, prio Pai responderá à petição do Filho. Diretamente do
fiz meu apêlo costumeiro, e o Senhor na verdade trono são enviados os raios de Sua glória. Abrem-se os
céus, e sôbre a cabeça do Salvador desce a forma de uma
comoveu o coração de muitos. Mais de três mil pomba da mais pura luz — fiel emblema dÊle, o manso e
pessoas estavam presentes, e quando pedi que se humilde.
levantassem os que quisessem dar o mesmo pas­ “Dentre a massa à beira do Jordão, poucos, além do Ba­
tista, divisaram essa visão celeste. Entretanto, a solenida­
so num futuro próximo, pensei que talvez trinta de da presença divina repousou sôbre a assembléia, O po-
ou quarenta o fizessem. Imagine-se minha surprê- vo ficou silencioso, a contemplar a Cristo. Seu vulto acha-
va-se banhado pela luz que circunda sem cessar o trono de
sa quando vi levantarem-se cento e dezesseis! Deus. Seu rosto erguido estava glorificado como nunca
Bem treinados recepcionistas, sempre prontos pa- tinham visto dantes um rosto de homem. Dos céus abertos,
ouviu-se uma voz, dizendo: ‘Êste é o Meu Filho amado,
ra qualquer emergência, depressa tomaram-lhes em quem Me comprazo.’” (4)
os nomes, sendo êles mais tarde matriculados nas
E aquêle que segue a seu Senhor pode recla­
classes de preparo. Nem todos estavam prepara-
dos para o próximo batismo. Muitos precisavam mar o mesmo Espírito de poder. Assim, ao prepa­
de bem mais preparo. Mas ficaram impressiona­ rarmos nossos candidatos para essa cerimônia,
dos, e essa foi a ocasião oportuna para conseguir conservemos ante êles essa experiência maior, e
sua decisão. Êsse apêlo não precisa sempre ser pela graça de Deus levemo-los a reclamar o dom
feito pelo oficiante do batismo. Às vêzes fui con­ do Espírito. Demasiados cristãos são batizados
vidado para fazer o apêlo em lugar do evangelis- com o batismo de João, que era apenas batismo
ta. E êsse apêlo sempre seguiu imediatamente o de arrependimento. O batismo do Espírito, uni­
batismo do último candidato. Tenho-me sentido camente, pode preparar a igreja para a traslada­
satisfeito de ver, em algumas ocasiões, levantar- ção. Essas palavras de Isaías não se referem pri-
se grande número de pessoas. Isto tem sido ver- màriamente ao batismo, entretanto bem se podem
dade especialmente em alguns lugares na amé- apropriar como adequada promessa para essa oca-
rica do Sul, embora tivesse que fazer o apêlo por sião: “Quando passares pela água, estarei conti­
intermédio de intérprete. go.” Sua presença com êles fará de seu batismo
Concluído o serviço batismal, convirá providen­ um antegozo do Céu.
ciar condução para cada candidato voltar para
casa. Talvez nem sempre seja isso necessário, 1) Testemunhos Seletos, Vol. 2, pág. 395.
2) Idem, pág. 396.
pois alguns possuirão seu próprio carro. Mas se 3) Ibidem.
fôr preciso, poderão ser indicados ajudadores 4) O Desejado de Tôdas as Nações, págs. 77 e 78.
Setembro-Outubro, 1962 PÁGINA 9
A Significação do Batismo
A. R. FRASER
Professor de História, N. S. W., Austrália

UMA das crenças fundamen- pecados, invocando o nome do Senhor.” A lava­


tais dos Adventistas do Sé- gem dos pecados não é realizada meramente pelo
timo Dia, mantidas em comum ato do batismo, pois, em si mesmo, não possui
com outras fés cristãs conserva­ êle virtude alguma. Esta eficácia do ato batismal
doras, é a do batismo por imer­ advém quando há em acréscimo, um espírito de
são. Consideramos ser o batis- arrependimento e crença de que “o sangue de
mo uma das ordenanças da Jesus, Seu Filho, nos purifica de todo pecado”
igreja cristã e um memorial (I S. João 1:7). Esta limpeza, declara o apósto­
apropriado da morte, sepulta­ lo dois versículos adiante, é o resultante direto
mento e ressurreição de Jesus Cristo. Como ato de confissão, de nossa parte, aliada ao perdão,
cerimonial, o batismo antecede a era cristã. O da parte divina. É a função do poder purificador
fato de o batismo por imersão haver sido um dos do evangelho “O poder de Deus para salvação”
requisitos que os prosélitos eram obrigados a (Rom. 1:16) —para remover do pecador a im­
cumprir, evidencia que os judeus o praticavam. piedade, e o batismo é meramente o símbolo ex­
A oposição farisaica ao batismo joanino tinha terno da limpeza interna.
base não numa disputa quanto à validade do rito,
Batismo Significa Mudança de Proprietário
mas à autoridade para realizá-lo. Entretanto, com
o ser batizado por João, nosso Senhor mostrou Diz Paulo: “todos quantos fomos batizados
por meio de Sua própria observância que reconhe­ em Jesus Cristo fomos batizados na Sua morte”
cia neste rito uma cerimônia de fonte celestial. (Rom. 6:3.). O que o apóstolo tem em mente
A instituição do batismo como ordenança cristã, aqui é que esta experiência de ser “batizado em
conferiu-lhe maior significação do que havia an- Jesus Cristo” significa tornar-se propriedade de
tes possuído. Visa êste artigo a considerar alguns Jesus Cristo. Conseqüentemente tôdas as nossas
dos aspectos mais salientes do batismo como sím- velhas vassalagens são esquecidas, todos os lia­
bolo apropriado. mes com o anterior proprietário são desfeitos, e
o nôvo cristão batizado está “sob nova gerência.”
Batismo Significa Purificação
O batismo, assim, significa a renúncia de todos
Para o judeu familiarizado com o sistema mo­ os laços com a velha vida de pecado;” as coisas
saico as “várias abluções” (Heb. 9:10) indicados velhas já passaram; eis que tudo se fêz nôvo”
nas ordenanças tinham significação espiritual. (II Cor. 5:17), e somos agora propriedade do
Referiam-se não apenas à limpeza física mas tam- Redentor. A vida do crente está unida em uma
bém tinham definida aplicação ao conceito es- tão intima relação com Cristo que os dois se tor-
piritual de purificação. Em sua oração de pro- nam um nos laços de unidade espiritual.
funda confissão, Davi implorou a Deus: “Lava-
Batismo Significa Ligação Vital com Cristo
me, e ficarei mais alvo do que a neve” (Sal. 51:
7). Êle tinha em mente o desejo de ser espiri- Um exame das palavras usadas por Cristo na
tualmente limpo. A ordenança do batismo é um comissão evangélica, registada em S. Mateus
símbolo apropriado dessa limpeza e purificação do 28:19, revela as palavras “em nome do Pai, e do
pecado. Em O Desejado de Tôdas as Nações, Filho, e do Espírito Santo.” Pràticamente a mes-
lemos: “Como símbolo de purificação do peca- ma expressão foi empregada por Pedro em seu
do, êle, (João) batiza-os nas águas do Jordão. sermão no Dia de Pentecostes, quando disse ao
Assim, por uma significativa lição prática, decla­ povo: “arrependei-vos, e cada um de vós seja ba­
rava que os que pretendiam ser o povo esco­ tizado em nome de Jesus Cristo” (Atos 2:38). O
lhido de Deus estavam contaminados pelo peca- nôvo converso e crente batizado abandona a famí­
do, e sem purificação de coração e vida, não lia do pecado e é adotado na família de Deus
poderiam ter parte no reino do Messias.” — (3a. por meio de Jesus Cristo, e Conseqüentemente
ed.), pág. 73. A experiência do recém-conver­ recebe um nôvo nome que significa uma real e
so Saulo de Tarso revela que o batismo simbo­ permanente união com seu Senhor remidor. Pau-
liza a lavagem dos pecados. Em Atos 22:16 Pau- lo declara que os que são batizados em nome de
lo relembra sua experiência com Ananias, que Cristo se revestiram de Cristo (Gál. 3:27). Isto
disse: “Levanta-te, e batiza-te, e lava os teus é uma indicação da relação íntima que advém
PÁGINA 10 O Ministério Adventista
com a adoção do nome cristão. Bem disse Ellen O Batismo Significa Morte e Sepultamento
G. White: “Se somos fiéis ao nosso voto, abre-
se-nos uma porta de comunicação com o Céu — Um dos vários aspectos revelantes do batismo
porta que nenhuma mão humana nem instrumen­ cristão é ser um memorial da morte expiatória de
talidade satânica pode fechar”. — The SDA Bible Cristo no Calvário. Paulo esclarece mais o simbo­
Commentary, Comentários sôbre Rom. 6:3, pág. lismo em Romanos 6:3, ao dizer: “Não sabeis
1075. que todos quantos fomos batizados em Jesus Cris-
to, fomos batizados na Sua morte?” Para Paulo,
O Batismo Significa Fé em Cristo isso era a significação central do batismo — pri-
meiro, era um símbolo da morte de Cristo e, se-
Um dos pré-requisitos importantes para o ba­ gundo, era um símbolo apropriado da renúncia
tismo é uma permanente fé em Jesus Cristo e do crente à sua vida anterior, sua morte para o
Sua ampla aceitação como nosso Salvador pessoal. pecado. Reforça êle essa convicção, ao dizer:
O batismo é a manifestação externa da fé do “As coisas velhas já passaram” (II Cor. 5:17).
crente na morte propiciatória de Cristo. Note-se
que Jesus Se referiu à necessidade de a crença Assim como Cristo foi crucificado e experimen­
preceder ao batismo, ao dizer: “Quem crer e fôr tou a morte amplamente e completamente ao ja­
batizado, será salvo” (S. Mar. 16:16). Os que zer no sepulcro, também o rito do batismo signi-
aceitam o evangelho revelarão isto de duas ma­ fica a crucifixão da velha vida e sua morte com-
neiras: pela fé em Jesus e pelo rito do batismo. pleta. Não apenas é o batismo uma morte mas
A primeira é uma profunda, íntima e pessoal também um sepultamento. Diz Paulo que somos
aceitação do sacrifício vicário e propiciatório de “sepultados com Êle no batismo” (Col. 2:12).
Cristo pela salvação do homem. O segundo é Na esfera física, o sepultamento se segue à mor-
um sinal para o mundo, da transformação inter- te do homem; assim, no mundo espiritual, diz-
na que essa transformação produz. S. João 3:16; se do crente que vai para a sepultura de água,
Atos 2:38 e Atos 16:30 e 31 mostram, todos, a para sepultar ali a vida anterior, que passou
ligação entre o crente e a salvação. com a aceitação de Cristo. O simbolismo aqui
é bem escolhido pelo apóstolo, pois na morte
O Batismo Significa Arrependimento física o procedimento normal é ser descido ao
sepulcro, com a face para cima, e ser coberto
Pedro, em seu sermão pentecostal, comoveu o inteiramente com terra. Na morte espiritual,
coração de seus ouvintes, que perguntaram: como representa a figura do batismo, o crente
“Que faremos?” Sua resposta continha ações: é descido á água com a face para cima e imerso
“Arrependei-vos e cada um de vós seja batizado.” completamente.
Notai, na ordem apresentada aqui, que o arre­
pendimento precede o batismo. Êste era o lema O Batismo Significa a Entrada numa Vida
da pregação inicial evangélica: “Arrependei-vos, Nova
porque é chegado o reino dos Céus” (S. Mat. Aqui, o simbolismo que está ligado ao ponto
3:2). Depois do ministério de João, Cristo pre­ anterior completa a figura. Não apenas somos
gou a mesma doutrina do arrependimento. Em sepultados com Cristo no batismo, mas “como
verdade, durante todo o período da igreja primi­ Cristo ressuscitou dos mortos, pela glória do
tiva, o arrependimento era o âmago da pregação Pai, assim andemos nós, também, em novidade
dos apóstolos. O batismo, portanto, é um sinal de vida” (Rom. 6:4). Esta nova vida represen­
externo do verdadeiro arrependimento do pecado ta um mais elevado nível da experiência huma-
e a manifestação de um desejo íntimo de ser na em que novos valores e desejos substi­
purificado. Ellen G. White sugere que o arre­ tuem os anteriores desejos pecaminosos. Torna­
pendimento seja um indispensável precursor do mo-nos “participantes da natureza divina” (II
batismo. Diz ela: “A convicção se apodera do S. Ped. 1:4) Porque ao aceitar a Cristo nos
espírito e do coração. O pecador tem, então, uma foi concedido o poder de sermos feitos filhos de
intuição da justiça de Jeová e experimenta hor­ Deus (S. João 1:12). A fôrça ativante que es-
ror ante a idéia de aparecer, em sua própria culpa tá por trás desta nova vida é revelada por Pau-
e impureza, perante o Perscrutador dos corações. lo em Gálatas 2:20, onde diz: “E a vida que
Vê o amor de Deus, a beleza da santidade, o gô­ agora vivo na carne, vivo-a na fé do Filho de
zo da pureza; anseia por ser purificado na comu- Deus, o qual me amou, e Se entregou a Si mes-
nhão do Céu.” — Vereda de Cristo (ed. encader­ mo por mim.”
nada), pág. 32. Davi revelou os mesmos pensa­ Finalmente, o crente recém-batizado que
mentos, em sua oração: “Porque eu conheço as “ressuscita com Cristo” do sepulcro de água re­
velará isto por seu desejo de “buscar as coisas
minhas transgressões, e o meu pecado está sempre
que são de cima,” e mostrará a sua afeição pelas
diante de mim” (Sal. 51:3). “Purifica-me com “coisas que são de cima, e não nas que são da
hissope, e ficarei puro; lava-me, e ficarei mais Terra.” Atua agora um nôvo poder.
alvo do que a neve.” (v. 7). (Continua na pág. 13)
Novembro-Dezembro, 1962 PÁGINA 11
OBRA PASTORAL
A Vida Devocional do Obreiro Cristão
JOÃO TABUENCA
Professor de Bíblia no Colégio de Chilan, Chile

A RAINHA Isabel II da In- “A ignorância não escusará jovens nem ve­


glaterra, numa ocasião em lhos” (O Conflito dos Séculos, pág. 656).
que se celebrava o Domingo da “Os que querem permanecer firmes nes­
Juventude da Comunidade, dis- tes tempos de perigo devem compreender por
se: “Vocês que neste momento si mesmos o testemunho das Escrituras” (Idem,
ouvem minhas palavras, têm pág. 616). “Examinai . . . é o conselho de Cris-
em suas mãos o futuro dêste to (S. João 5:39). Examinai por vós mesmos as
mundo atribulado. Jamais hou- Escrituras a fim de compreender a tremenda so­
ve época em que tanto se ofe- lenidade da hora presente” (Testemunhos Sele­
recesse à juventude, nem que tanto dessa se exi­ tos, Vol. 1, pág. 189).
gisse. Ser jovem em 1961 é um desafio” (El Mer­ O ministro de Deus, antes de cuidar do próxi-
cúrio, Santiago, 15-5-1961). mo, deve cuidar de si mesmo, especialmente no
Esta declaração, juntamente com a de J. Neh- que se refere à sua devoção pessoal. “Tem cui­
ru, primeiro ministro da Índia, ao conversar em dado de ti mesmo e da doutrina; persiste nela,
Moscou com seu colega Nikita Kruschev, de- pois assim fazendo, salvarás a ti mesmo e aos que
pois das reuniões de Iugoslávia, afligido com a si- te ouvem” (I Tim. 4:16). “Far-nos-ia bem passar
tuação mundial, disse: “É estranho que quando diàriamente uma hora a refletir sôbre a vida de
o homem tem o poder de melhorar a sorte da hu­ Jesus. Deveremos tomá-la ponto por ponto, e dei-
manidade e de abrir as portas do progresso, desça xar que a imaginação se apodere de cada cena,
sôbre nós o fantasma da guerra. Não posso com- especialmente as finais. Ao meditar assim em
preender por que o homem tenha que agir desta Seu grande sacrifício por nós, nossa confiança
forma” (Idem, 8-9-1961). nÊle será mais constante, nosso amor vivificado,
Nós, ministros de Deus, embora não o com­ e seremos mais profundamente imbuídos de Seu
preendamos, sabemos contudo dar uma razão espírito.” (O Desejado de Tôdas as Nações, pág.
bíblica dêste estado de coisas. Se estas duas per­ 58). “Consagrai-vos a Deus pela manhã; fazei
sonalidades de fama e pêso mundiais se expressam disso vossa primeira tarefa. Seja vossa oração:
dessa maneira, ao perceberem as angustiosas con­ ‘Toma-me, Senhor, para ser Teu inteiramente.
dições atuais de nosso mundo, que diremos nós? Aos Teus pés deponho todos os meus projetos.
A resposta está à mão: “O tempo presente é de Usa-me hoje em Teu serviço. Permanece comigo,
interêsse preponderante para todos os viventes. e permite que tôda a minha obra se faça em Ti.”’
Os governantes e estadistas, homens que ocupam (Vereda de Cristo, edição de bôlso, pág. 67).
posição de confiança e autoridade, as pessoas Que poder extraordinário haveria no ministério,
pensantes de tôdas as classes, têm a atenção fixa se cada obreiro na causa de Deus cumprisse fiel-
nos acontecimentos que ocorrem em nosso derre- mente êstes conselhos!
dor. Estão vigiando as relações existentes entre Os hábitos de devoção pessoal deveriam estar
as nações. Observam a intensidade que se está relacionados com o estudo aprofundado da Bíblia
apossando de todo elemento terrestre, e reconhe­ e dos Testemunhos. A oração e a meditação, de-
cerem que alguma coisa grandiosa e decisiva está pois da inspiração recebida, deveriam ser a seiva
para ocorrer, que o mundo está às bordas de uma vivificadora de nosso ser e o meio direto de união
crise estupenda.” (Evangelismo, pág. 194). Não com o Céu, numa vida repleta de trabalho em
estamos em trevas para que sejamos surpreendi­ um tempo de urgência. Jesus, o supremo exem-
dos por estas coisas. Conhecemos o tempo. (I Tess. plo, levava uma vida de devoção e de trabalho.
5:4-6; Rom. 13:11). A ignorância não desculpa Muitas vêzes passava noites inteiras orando (S.
a ninguém e menos ainda aos ministros de Deus. Luc. 6:12). Lembremo-nos, caros companheiros,
PÁGINA 12 O Ministério Adventista
de que “orando o céu se abriu” (S. Luc. 3:21) Muitas vêzes tenho pensado nesta experiên-
e da mesma maneira, hoje se torna a abrir. cia. Estudei as circunstâncias nas quais o pro­
Que espécie de devoção necessitamos hoje, feta teve que agir. Procurei encontrar onde
quando constitui um desafio ser um ministro residia o segrêdo de seu triunfo e o descobri em
diante de tantas ameaças e de tanto pecado? Jer. 15:16: “Achando-se as Tuas palavras, logo
Necessitamos buscar a Deus de todo o coração. - as comi, e a Tua palavra foi para mim o gôzo e
“Buscar-me-eis, e Me achareis, quando me buscar­ alegria do meu coração; porque pelo Teu nome
des de todo o coração” (Jer. 29:13). “Necessita- me chamo, ó Senhor, Deus dos Exércitos.”
se de oração, de oração muito fervorosa e sincera, Aqui está o segrêdo do fogo santo em nosso
como em agonia (Testemunhos Seletos, Vol. 3, ministério, capaz de enfrentar as mais severas
págs. 386 e 387). “Quedai-vos diante de Deus exigências e darnos as maiores alegrias de nossa
até que se despertem vossos indizíveis anseios de vida no serviço de Deus. Êste é o segrêdo das
salvação, até que a doce evidência do perdão de conversões milagrosas e das vitórias do Evange-
vossos pecados vos seja concedida” (Estudos dos lho. Êste é o remédio para as tristezas e duras
Testemunhos, pág. 39). Jacó e Elias constituem provas que, muitas vêzes, temos que enfrentar.
modelos para os ministros de nossos dias. O pri- E então, sob o calor da presença de Deus e quan­
meiro negou-se a retirar-se da presença de Deus do a mente e o coração se tenham alargado, sur­
até ter a certeza de ser aceito por Êle (Gên. 32: ge Deus em nossa vida e em nosso ministério
26), e depois daquela memorável experiência como “um valente terrível”. Esta é a espécie de
Jacó se tornou um nôvo homem. E quão dife- comunhão que necessitamos possuir. Oro a Deus
rentes foram sua vida e seu ministério! Elias, o para que se possa dizer de cada um de nós, o
homem de fogo e poder (I Reis 18:24, 36-38) que se disse de Gideão: “O Senhor é contigo,
também soube por experiência pessoal o que era varão esforçado” (Jos. 6:12).
lutar com Deus e prevalecer. A serva de Deus,
ao comentar a experiência dêstes homens, disse:
“Fé semelhante é necessária no mundo hoje — fé
que descance nas promessas da Palavra de Deus, O BATISMO
e recuse desistir até que o Céu ouça. Fé seme-
(Continuação da pág. 6)
lhante a esta liga-nos intimamente com o Céu, e
traz-nos força para batalhar com os poderes das
Neander disse: “O batismo infantil não foi es­
trevas.” (Profetas e Reis, pág. 157). tabelecido nem por Cristo nem por Seus apósto­
Se a experiência pessoal pode ser de inspira­ los. Mesmo nos mais remotos tempos. Tertu­
ção para os companheiros, sinto-me animado a liano se opôs a isto, a igreja norte-africana sus­
declarar que também “sei em quem tenho crido” tentava a velha prática.” — Kitto, Cyclopaedia,
(II Tim. 1:12), e assim como Jacó passou uma 1:287.
noite inteira lutando a sós com Deus até obter A Bíblia reconhece o batismo de adultos e por
a vitória, em duas ocasiões em minha vida, eu imersão. Nenhuma outra espécie de batismo tem
também passei duas noites lutando a sós com a sanção dAquele que nos ordenou o batismo.
meu Deus, e delas me lembro como sendo duas Cristo mesmo foi batizado por imersão, deixando-
noites inesquecíveis em minha experiência cristã. nos o exemplo para que sigamos as suas pegadas.
Há triunfos que só se obtêm de joelhos, em ora-
ção, como em agonia diante de Deus. A devo-
ção pessoal diária do obreiro é o que dá poder
e nunca se deveria alterar êste costume, êste A SIGNIFICAÇÃO DO BATISMO
hábito de comunhão com Deus, especialmente (Continuação da pág. 11)
nestes tempos em que tanto Se exige do minis­
tro que deseja triunfar em seu sagrado encargo. “Mediante o poder de Cristo homens e mu-
A devoção pessoal e diária do obreiro dá asas lheres têm quebrado a cadeia do hábito peca-
ao ministério. O profeta Jeremias passou por minoso. Têm renunciado ao' egoísmo, o profa­
uma maravilhosa experiência: “Porque desde que no tem-se tornado reverente; o bêbado, sóbrio;
falo, grito; clamo: Violência e destruição; por­ o pervertido, puro. Almas que tinham estampa­
que se tornou a palavra do Senhor um opróbrio da em si a semelhança de Satanás, têm-se trans­
para mim, e um ludibrio todo o dia. Então dis- formado à imagem de Deus. Essa transformação
se eu: Não me lembrarei dêle, e não falarei é em si o milagre dos milagres. Uma mudança
mais no seu nome; mas isso foi no meu coração operada pela palavra, é um dos mais profundos
como fogo ardente, encerrado nos meus ossos; mistérios da mesma Palavra. Não podemos com-
e estou fatigado de sofrer, e não posso.” (Jer. preender isto; sòmente podemos crer, conforme
20:8 e 9). E mais adiante acrescenta: “Mas o declaram as Escrituras, que é ‘Cristo em vós,
Senhor está comigo como um valente terrível” esperança da glória!”’ — Atos dos Apóstolos,
(vers. 11). pág. 476.
Novembro-Dezembro, 1962 PÁGINA 13
A Espôsa do Pastor
M. A. NIGRI

EIS um assunto inesgotável, mor de Deus nos esforçar e estudar como nos tor­
que bem pode ser conside­ narmos uma benção, cada vez maior, para o nos-
rado sob vários aspectos. so marido, filhos e os demais que nos rodeiam.
A espôsa do pastor é respon- A espôsa do pastor deve reconhecer a grande
sável pelos dons que possui e influência que ela exerce sôbre todos, e, particu-
conforme a irmã White opina, larmente, sôbre o seu marido. Ê ela que reveste
somos inclinados a pensar: que seu espôso de certo poder e prestígio. Também
ser espôsa de pastor é um talen­ ela serve de molde para a igreja e ao mundo que
to em si, pois ela disse: “Repou­ a rodeia.
sa sôbre a mulher do ministro uma responsabilida­ Disse alguém: “É difícil ser espôsa de pastor”,
de a que ela não deve, nem pode levianamente exi­ entretanto sabemos que nada é difícil para quem
mir-se. Deus há de requerer dela o talento que se apoia em Deus.
lhe foi emprestado, com usura. Cumpre-lhe tra-
balhar fiel e zelosamente em conjunto com o ma­ Lemos em ‘'Obreiros Evangélicos”, na página
rido para salvar almas. (Obreiros Evangélicos, pág. 198 e 199: “As espôsas dos ministros devem vi-
198) ver uma vida devota e de oração. Se tão sòmente
se apoiassem confiantemente, em Deus e concen­
Uma espôsa de pastor deve, portanto, proce­ trassem em Jesus suas afeições, recebendo sua vi-
der com cautela para descobrir qual é o seu lu- da de Cristo, a videira viva, que soma de bem não
gar e quais as suas responsabilidades. poderiam elas realizar, que auxílio poderiam ser
Conta-se que mais de um pastor já foi rejei­ a outros, que apoio para seus maridos! E que re-
tado, para assumir maiores responsabilidades, por compensa não seria a sua afinal! Bem está serva
causa de sua espôsa. Se isto fôr verdade, então boa e fiel, — havia de lhes soar qual música dul-
cada espôsa deveria examinar-se a si mesma pa- císsima aos ouvidos. As palavras: ‘Entra no gô­
ra saber se representa uma parte ativa ou passi­ zo do teu Senhor’ — Pagá-las-iam mil vêzes de to-
va na vida de seu espôso. dos os sofrimentos e provações suportadas para
“A espôsa do ministro pode fazer muito, se salvar preciosas almas”.
quer. Se fôr dotada de espírito de sacrifício e ti­ “A espôsa de pastor pode-lhe ser um grande
ver amor pelas almas, poderá fazer com êle ou- auxílio em procurar tornar-lhe leves as responsa-
tro tanto de bem.” (Obreiros Evangélicos, pág. sabilidades” ao participar com êle nos trabalhos
197) da igreja. A espôsa do pastor deve saber fazer
Amparada pelo poder de Deus, ela serve de amizades. Ela não deve falar demais. Não ex-
refrigério ao marido, fornecendo-lhe, dia a dia, pressar os seus desejos com ênfase, pois entrará
o necessário estímulo para o trabalho. Se êle é em choque com outros. Não dar a impressão que
o sacerdote da família, ela é sua coadjutora. Ela domina seu espôso. Não dar opinião sem ser soli­
participa do labor pastoral, talvez encobertamen­ citada. Não contar o que lhe confiam quando
te. Ela é vista em tôda parte da igreja onde há vêm buscar seu conselho e sua ajuda. Não con­
alguma coisa a ser feita. tar o que se passa em seu lar.
Lemos no excelente livro da irmã White, que Deve animar o seu espôso quando êle se sente
está sendo traduzido,"The Adventist Home” — O desanimado; consolá-lo quando abatido e enco­
Lar Adventista, na página 231, o seguinte: “A rajá-lo a levantar os olhos e confiar plenamente
mulher devia preencher a posição que Deus ori­ em Deus quando sua fé vacilar.
ginalmente designou para ela — igual a do mari-
do .. . Podemos dizer, sem errar, que os deveres Deve ser tudo para todos e sentir-se bem, tan-
da mulher são mais sagrados, mais santos do que to em companhia de pessoas cultas, como de in­
os do homem”. E na página 139 de Testemunhos cultas; de ricos, como de pobres.
Vol. I, “Elma espôsa não santificada é a maior Deve lembrar-se de que não é a “grande da­
maldição que um ministro pode ter”. São palavras ma da igreja” mas que foi posta ali para “servir
deveras duras, mas sendo que depende de nós ser- e não para ser servida”.
mos uma bênção ou u’a maldição, vamos no te- (Continua na pág. 24)
PÁGINA 14 O Ministério Adventista
EVANGELISMO - Almas para Deus

BÊNÇÃOS de DEUS Sôbre VALDÍVIA


VALTER CAMERON

NO domingo 4 de março de 1962, teve lugar o radioemissoras locais — quatro ao todo — nos ob-
último dos quatro batismos, precisamente an- sequiaram com 35 horas completas de transmis­
tes que o pastor Salim Japas, que dirigiu esta cam- são das conferências, dos números do coral, etc.
panha, regressasse a Buenos Aires. Um total de 2. Pesquisa Bigral (Associação Chilena de
81 almas foram incorporadas à igreja de Valdívia Bem-estar Integral), que nos permitiu localizar
nestes últimos cinco meses. A campanha iniciou- apreciável quantidade de pessoas com inquieta-
se a 7 de outubro de 1961, aproveitando a inau­ ções religiosas.
guração do nôvo templo, construído à avenida C. — A pregação do púlpito teve o seguinte
mas importante da cidade. Neste primeiro ato roteiro:
estiveram presentes as principais autoridades mu­
nicipais e da província, como também um públi- 1. Seis conferências introdutórias, prepara-
co distinto e numeroso. A Rádio Baqueano trans­ das com o objetivo de ganhar o favor do público,
mitiu a inauguração e a primeira conferência quebrar preconceitos e prestigiar nossa organiza-
proferida pelo pastor Japas sôbre o tema: O Se- ção.
grêdo da Felicidade. 2. Três conferências antecedentes aos temas
bíblicos, cujos títulos foram:
Milhares de pessoas ouviram em seus lares a
irradiação e quem sabe, pela primeira vez em sua Introdução ao Livro de Apocalipse
vida, ouviram a palavra “adventista”. À guisa de Introdução ao Livro de Daniel
informação e para animar meus companheiros Introdução Geral das Escrituras
no ministério, apresentarei esquemàticamente, os 3. Finalmente proferiram-se as conferências
passos técnicos seguidos. Com a bênção de Deus, que constituíram autêntico curso bíblico de 16 li­
o método empregado permitiu alcançar muitas ções sôbre o tema geral “As Profecias Descerram
almas com a mensagem. Temos a conciencia de o Véu do Futuro”. Inscreveram-se 600 alunos,
que as 81 pessoas agregadas nas fileiras da verda- dos quais 132 assistiram a 80% das aulas e aos
de assinalam o comêço de uma colheita muito quais se conferiu certificado de freqüência.
mais abundante num futuro próximo. Nosso al­
D. —Curso de recapitulação, realizado na au-
vo pretende alcançar 200 almas até 31 de dezem­
bro dêste ano. Pois bem, foram dados os seguin-
tes passos:
A. — A equipe evangelística se constituiu do
pastor Salim Japas, evangelista, e dos irmãos A.
Gutiérrez, G. Velásquez, Brunilda Grimal e o
autor destas linhas, instrutores bíblicos. Ao publi­
car-se êstes informes, a equipe estará reduzida
a três obreiros.
B. — Os trabalhos anteriores ao ciclo das con­
ferências constituiram-se em:
1. Relações públicas com as autoridades
civis, religiosas e especialmente jornalísticas.
Isto nos facilitou sobremodo a tarefa, visto co-
mo único jornal diário local publicou gratuita­
Flagrante da conferência realizada no Teatro Cer-
mente 560 centímetros-coluna de crônicas, e as vantes, em Valdívia, Argentina.
Novembro Dezembro, 1962 PÁGINA 15
sência do pastor Japas. O irmão Gilberto Velas- A INSTITUIÇÃO DO BATISMO E ALGUNS
quez e o que esta subscreve continuaram com um PROBLEMAS
curso bíblico da recapitulação de 15 lições, três
vêzes por semana, como se fizera no transcurso (Continuação da pág. 2)
das reuniões anteriores. Para surprêsa nossa, a
proporção de freqüência do público foi pràtica­ se unir de maneira integral e sem reservas ao mo-
mente a mesma. A mensagem os havia conquis­ vimento de Deus.
tado. Conseguira-se transferir, com inteiro êxi­ 3. Que Atitude Devemos Tomar Quando um
to, o afeto pelo orador ao afeto pela mensagem. Candidato ao Batismo diz: “Se eu não Fôr
Batizado pelo Pastor................, Prefiro não me
E. — Foram proferidas mais quatro conferên-
Batizar? ”
rências introdutórias destinadas a captar o interês­
se dos elementos que vieram posteriormente. Es­ Tal afirmação naturalmente desperte algumas
tas estiveram a cargo do pastor Japas. Iniciou-se dúvidas a respeito da idoneidade e maturidade do
imediatamente o segundo curso bíblico comple- candidato que deseja o batismo. Com efeito, nes­
mentar de 12 lições. Anotaram-se 440 pessoas tas palavras encontramos em catecúmeno revela-
das quais 137 compareceram a um mínimo de lando maior aprêço a um determinado pastor que
ao próprio batismo.
9 aulas, e às quais se entregou o respectivo cer­
tificado. Não obstante, se o candidato ' revela estar ca­
F. — Miscelânea. Graças a Deus contamos balmente preparado para receber as bênçãos do
batismo, sua preferência deveria ser respeitada.
com a ajuda dos corais de Temuco e Concepción
e do quarteto desta última cidade. Igualmente 4. Qual a Idade Mínima que se Deveria Es­
tabelecer para o Batismo de Crianças?
contámos com visitas esporádicas de obreiros da
Divisão, da União e da Associação, que signifi­ Sem pretender responder de maneira conclusi­
va esta controversial indagação, reproduzimos do
caram grande contribuição para a edificação dos livro “Origin and Progress of Seventh Day Ad­
novos crentes. ventists” um parágrafo que descreve uma expe-
riência ocorrida no ministério do pastor James
São lisongeiras as atuais perspectivas. Fêz-se White, em 1844. Ei-la:
abundante semeadura, e esperamos que a colhei­ “Havia alguns na igreja que abrigavam sérias
ta também o seja. ,O alvo de 200 batismos até dúvidas quanto ao batismo de crianças e alguns
31 de dezembro não parece utópico. procuravam até intimidar a êstes cordeirinhos do
rebanho.” Que espécie de experiência crê o Sr.
Com esta campanha evangelística, a cidade de White têm êstes bebês?”, perguntou um austero
Valdívia que fôra sacudida pelos abalos sísmicos ministro batista. O amplo edifício escolar estava
repleto, e êstes ministros opositores estavam ali
de 1960, atualmente está madura para a sega, e para observar o procedimento. O pastor White ti-
nos apercebemos de que o Espírito de Deus es- nha alguns assentos vazios em frente ao púlpito,
e em resposta ao seu apêlo 12 crianças cuja idade
tá operando maravilhosamente nestes últimos oscilava entre os 7 e 15 anos vieram para ocupá-
tempos. Reconhecemos que devemos “trabalhar los. Êle escolheu como texto as palavras'. “Não
enquanto é dia; vem a noite quando ninguém temas, ó pequeno rebanho, porque a vosso Pai
agradou dar vos o reino.” As crianças foram ani­
pode trabalhar”. madas e consoladas com a pregação, e ao finalizar
se levantaram uma após outra, e contestando as
perguntas que lhes foram dirigidas, deram evidên-
cias de uma experiência cristã clara e inteligente.
Quando se perguntou se alguém dentre os presen­
tes se opunha ao batismo, ninguém se levantou.
As crianças foram conduzidas à tumba líquida e
depois apresentadas aos seus pais, enquanto um
sorriso de gôzo se desenhava em suas faces jovens.”
págs. 318 e 319.
*
• *
Êstes e outros problemas relacionados com a
instituição do batismo exigem sabedoria, prudência
e a iluminação do alto. Ao defrontá-los, em nosso
ministério, busquemos de joelhos a solução indica­
Grupo parcial de pessoas batizadas, como frutos
da para cada caso, considerando sempre o infini­
da campanha evangelística em Valdívia. to preço de uma suplicante alma.
PÁGINA 16 O Ministério Adventista
PESQUISA - Teologia, História, Ciência

O MOVIMENTO ECUMÊNICO,
Sua História e Seu Significado — I
WERNER VYHMEISTER
Professor de Bíblia no Colégio Adventista do Prata

APRESENTAMOS a seguir, terdenominacional, em 1799, e a Sociedade Bí-


bem sintetizados, alguns blica Britânica e Estrangeira, em 1804. Em 1816,
aspectos do mais significativo funda-se nos Estados Unidos a Sociedade Bíblica
movimento eclesiástico de nosso Americana. Em 1844, Jorge Williams cria em
século. Apesar das limitações Londres a Associação Cristã de Moços (YMCA).
de espaço, procuramos não omi­ Êstes são apenas alguns dos movimentos precur­
tir nenhum elemento funda- sores.
mental. O preparo dêstes artigos concluiu-se em
Movimentos de Unificação nos Estados Unidos
fins de fevereiro do ano em curso. Esperamos que
cada missionário adventista se sinta estimulado a Em 1908 organizou-se nos Estados Unidos o
prosseguir, por sua própria iniciativa, o desenvol­ Concilio Federal das Igrejas de Cristo na Améri­
vimento posterior dêste grande movimente.' ca, que em 1918 já contava com o apoio de 30
A partir da Reforma o protestantismo propen- denominações. Seu objetivo era de conselho, sem
deu a dividir-se e subdividir-se. Hoje, sòmente funções legislativas nem judiciais.
nos Estados Unidos, há mais de duzentas denomi­ Em 1950 o Concilio Federal se transformou
nações. Em fins do século XIX, era difícil ima­ em Concilio Nacional de Igrejas de Cristo ao fun­
ginar-se como o “falso profeta” de Apoc. 16:13, dir-se com a Conferência Missionária da Amé­
ou a “imagem da bêsta” de Apoc.l3:15, pudes­ rica do Norte e outros seis organismos interde­
sem representar um protestantismo tão subdivi­ nominacionais. O Concilio Nacional agrupa pre­
dido. Foi então que a Sra. White escreveu: sentemente 33 corporações religiosas, com uma
“Quando as principais igrejas dos Estados Uni- coletividade de 40 milhões de membros. Êste or­
dos, ligando-se em pontos de doutrinas que lhes ganismo integra entre outros: batistas, metodistas,
são comuns, influenciarem o Estado para que presbiterianos, quaquers, episcopais e ortodoxos
imponha seus decretos e lhes apoie as institui- gregos.
ções, a América protestante terá então formado Embora o Concilio Nacional das Igrejas seja
uma imagem da hierarquia romana, e a inflição o mais poderoso agrupamento não católico, não
de penas civis aos dissidentes será o resultado é, contudo, o único. Em 1942 organizou-se a
inevitável.” 1 Associação Nacional dos Evangélicos como protes­
to contra a teologia predominantemente liberal
Movimentos Precursores do Concilio Federal das Igrejas. Conta com 41
denominações que agrupam uns 10 milhões de
No decurso de mais de um século vinha o membros. Constitui hoje a parte protestante con­
mundo protestante preparando-se para o movim­ servadora do Concilio Nacional das Igrejas. Um
ento ecumênico do século XX. Já em 1794 or­ de seus membros mais destacados é o evangelis-
ganizava-se em Londres a primeira sociedade mis­ ta Billy Graham.
sionária interdenominacional (Sociedade Missio­ Uma organização menor, presentemente em
nária de Londres). Também em Londres se fun­ franca decadência, é o Concilio Americano das
daram a Sociedade de Tratados Religiosos, in- Igrejas Cristãs. Fundado por Carlos Mc Intire
Novembro Dezembro, 1962 PÁGINA 17
dedicou-se especialmente a combater os demais ano em Edimburgo, o concilio de Vida e Obra
protestantes. trouxe para as igrejas o pensamento de que a
Fora destas três organizações, há aproximada- solução dos problemas mundiais exigia uma uni-
mente 25 milhões de protestantes que mantêm dade maior a fim de tomar possível uma ação
sua independência denominacional. coordenada.
As comissões que prosseguiram trabalhando
O Concilio Missionário Internacional após a conferência de Edimburgo, em 1937, ela­
O século XIX foi o grande século das missões boraram um anteprojeto de estatutos para um
protestantes. Várias igrejas, ao trabalharem nos Concilio Mundial de Igrejas impediu a reunião
mesmos campos missionários, tinham os mesmos da assembléia constituinte dessa organização. Ape­
problemas (tradução e produção de publicações, sar disso constitui-se uma comissão provisória que
relações com os governos, etc.), e iniciaram es­ trabalhou em Genebra durante a guerra.
pontaneamente várias emprêsas de cooperação. Em 1948 institui-se formalmente em Amester-
Isto ocorreu, por exemplo, na Índia, no Japão e dão, Holanda, o Concilio Mundial das Igrejas
na China. Pouco depois, as juntas e sociedades (World Council of Churches — WCC). O Con­
missionárias seguiram êste exemplo tanto na Eu- cilio incorporou as duas organizações interdeno­
ropa como nos Estados Unidos. Isto determinou minacionais que conceberam sua criação: Movi­
a celebração da famosa Conferência de Edimbur­ mentos de Fé e Ordem, e Vida e Obra, e definiu-
go em 1910, que logrou unir várias denomi­ se a si mesmo no artigo 1o de seus estatutos des-
nações no esfôrço missionário. Depois desta con­ sa forma: “O Concilio Mundial das Igrejas é
ferência instituíram-se numerosos concílios mis- uma comunidade de igrejas que aceitam a Nosso
sionários nacionais ou regionais. Em 1921, o mo- Senhor Jesus Cristo como Deus e Salvador”.
vimento culminou com a criação do Concilio Em agôsto de 1954, realizou-se a Segunda
Missionário Internacional. Êste foi um dos três Assembléia do Concilio Mundial de Igrejas em
mais importantes movimentos que intervieram Evanston, Illinois, Estados Unidos. No término
na evolução do movimento ecumênico. das sessões, o secretário geral do Concilio, Willen
Adolf Visser’t Hooft, resumiu os resultados das
O Concilio Mundial das Igrejas
mesmas dizendo em essência: “Demos os passos
No mesmo ano de 1910, quando se realizou a preliminares para a unidade, fomos apresentados
Conferência de Edimburgo, a Convenção Geral uns aos outros. . . . Agora, se temos que avançar
da Igreja Protestante Episcopal dos Estados Uni- mais para o alvo da genuína unidade devemos
dos inaugurava um movimento tendente a uma ter certa medida de unidade doutrinária a fim
conferência mundial de Fé e Ordem (doutrina de propiciar verdadeiros progressos em direção
e organização eclesiástica). A maioria das igrejas da unidade da cristandade”. 2
protestantes norte-americanas apoiou a iniciativa. A sugestão do secretário geral foi aceita e re­
Também se abteve apoio da Grã Bretanha, con­ dundou em reuniões anuais de Fé e Ordem que
tudo a Primeira Guerra Mundial interrompeu se realizam desde 1955.
as negociações. Finalmente, em 1927 realizou-se A Terceira Assembléia do Concilio Mundial
em Lausane, Suiça, a primeira conferência mun­ realizou-se em Nova Delhi, Índia, de 18 de no­
dial de Fé e Ordem. Em 1937 celebrou-se o se- vembro a 6 de dezembro de 1961. O primeiro ato
gundo concilio em Edimburgo, Escócia. Os de­ histórico da Assembléia foi a fusão com o Conci-
bates e os documentos posteriormente publica­ lio Missionário Internacional. Desta maneira in­
dos deixaram claro que as principais igrejas do tegraram-se no Concilio Mundial os três orga­
mundo criam haver chegado o momento de se nismos que preparam o caminho para a sua for-
associarem numa grande organização internacio­ mação. (Os outros dois são, segundo dissemos
nal. acima, os movimentos Vida e Obra e Fé e Or-
Paralelamente à criação do Concilio Missioná­ dem.)
rio Internacional e às conferências sôbre Fé e
No dia seguinte, aceitaram-se 23 novas igrejas,
Ordem, surge um terceiro movimento de unifi-
cação mundial: Vida e Obra. Seu propósito era o que eleva o total de igrejas membros a 197.
conseguir unidade de ação crescente nas igrejas Destas, duas são igrejas pentecostais do Chile.
na aplicação de normas de vida cristã no mundo Contudo, a incorporação mais significativa foi a
político, social e econômico. Depois da Primeira de quatro igrejas ortodoxas da Europa Oriental:
Guerra Mundial, os múltiplos problemas sociais Rússia, Bulgária, Romênia e Polônia, que repre-
motivaram uma conferência mundial em Estocol­ sentam uns 70 milhões de membros. Assim,
mo, em 1925. Em 1937 celebrou-se em Oxford, quase tôdas as igrejas ortodoxas acham-se pre­
Inglaterra, a segunda conferência mundial de sentemente associadas ao Concilio Mundial.
Vida e Obra. Da mesma forma que a conferência Entre as considerações e acordos da Terceira
sôbre Fé e Ordem que se celebrou nesse mesmo Assembléia podemos destacar os seguintes:
PÁGINA 18 O Ministério Adventista
1. Nova ênfase sôbre a Bíblia e a Trindade. formas de vida da igreja” que temos conhecido.
Comparando-se o artigo 1o dos estatutos aprova­ “Cremos, diz-se, que nada que custe menos po-
dos em 1948 com a redação aceita em Nova De- derá finalmente bastar.” 5
lhi, enuncia-se: “O Concilio Mundial das Igre­
jas é uma comunidade de igrejas que confessam Crescente Tendência à Fusão de Diversas De-
ao Senhor Jesus Cristo como Deus e Salvador se- nominações
gundo as Escrituras e que, portanto, tratam de
Não tem havido apenas uma aproximação
cumprir juntas sua vocação comum, para glória
geral entre as várias denominações. Produziram-
do único Deus, Pai, Filho e Espírito Santo”.
se também uniões orgânicas (fusões completas)
2. Insistiu-se em que as igrejas deviam enca- entre igrejas da mesma família ou de origem di­
cabeçar a “luta contra os abusos sociais” e traba­ ferente. Desde 1910 até 1857, por exemplo, pro­
lharem “em prol da justiça social e da paz”. 3 duziram-se 26 uniões orgânicas entre igrejas de
3. Fêz-se vigoroso apêlo em favor da liberda­ origem similar. Sessenta e seis denominações re-
de religiosa. duziram-se a 26. Aproximadamente no mesmo pe­
4. Ressaltou-se que as igrejas deveriam contar ríodo realizaram-se 14 fusões entre denominações
cada vez mais com a ajuda dos leigos em seu completamente diferentes. Neste caso, 43 deno-
programa de difusão do cristianismo. minações reduziram-se a 14. Estas fusões realiza­
5. Talvez o que houve de mais significati­ ram-se, entre outros países, na Índia, na China,
vo foi o debate do problema da consecução da África Ocidental, Rodésia, Escócia, França, Gua­
verdadeira unidade entre as igrejas cristãs. Afir­ temala, México e Estados Unidos. A tendência
mou-se que o “evangelho não pode ser proclama­ à unidade é total.
do ao mundo, com autoridade, por uma igreja Em dezembro de 1960, o Dr. Eugênio Carson
dividida”. 4 Descreveu-se em seguida a unidade Balke, principal oficial executivo da Igreja Pres­
desejada como unidade visível para a qual todos biteriana Unida dos Estados Unidos, propôs que
os “que são batizados em Jesus Cristo e O confes­ se unissem 4 das principais igrejas protestantes
sam como Senhor e Salvador” devem ser “trazidos dos Estados Unidos: a Metodista (9,9 milhões
pelo Espírito Santo a uma comunhão plena, uni- de membros), Protestante Episcopal (3,4 mi­
dos em oração comum, e tendo uma vida corpora­ lhões), Presbiteriana Unida (3,3 milhões) e Uni-
tiva que se expresse num testemunho e serviço da de Cristo (2,3 milhões). Explicou que esta
em favor de todos, e que estejam, ao mesmo tem- união seria o primeiro passo para a união final
po, unidos com tôda a comunhão cristã em todos de todos os cristãos, incluindo os católicos. 6 É
os lugares e em todos os tempos, de maneira tal interessante notar que em meados de maio de
que tanto ministros como membros sejam aceitos 1961, a Assembléia Geral da Igreja Presbiteriana
por todos, e que todos possam atuar e falar jun­ Unida elegeu moderador a um leigo que apoia
tos quando a ocasião o requeira em relação com abertamente a posição do Dr. Blake. O plano se-
as tarefas para as quais Deus chama seu povo”. 4 rá discutido em todos os seus alcances por repre­
Porém ao mesmo tempo em que se apresenta­ sentantes das quatro igrejas, de 9 a 10 de abril
va o ideal admitiu-se francamente que há desa­ de 1962 em Washington, D. C. o ambiente pare­
cordo fundamental entre diferentes igrejas mem- ce ser altamente favorável.
bros sôbre vários pontos, princípalmente o batis-
mo, Bíblia e tradição, Santa Ceia e natureza do 1. Ellen G. White, O Conflito dos Séculos, pág. 480.
ministério (pastorado, episcopado, etc.). Êstes 2. F. D. Nichol, The Idea of Church Unity Grows, na
Review and Herald, de 24 de outubro de 1957, pág. 16.
pontos de divergência tornam-se mais sérios em 3. W. L. Emmerson, The Days Ahead, na Review and
vista da grande representação ortodoxa e também Herald, de 11 de março de 1962, pág. 4. (Ver “The
das igrejas anglicanas, que insistem na necessida­ Ecumenical Century” no Time, de 8 de dezembro de 1961,
pág. 60).
de de uma sucessão apostólica e de uma forma 4. Ibidem.
episcopal de govêrno eclesiástico. 5. Emmerson, op. cit. pág. 5. (Cf. “The Ecumenical
Century”, op. cit. pág. 61).
O concilio anterior firmou a conclusão de que 6. “On Religious Front”, Review and Herald, 19 de ja-
“o conseguimento da unidade pressupõe nada neiro de 1961, pág. 2.
7. “Merger Mapping”, Christianity Today, 2 de feve­
menos que a morte e o renascimento de muitas reiro de 1962, pág. 34.

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Os Adventistas do Sétimo Dia Respondem a

PERGUNTAS SÔBRE DOUTRINA

0 SÁBADO e a LEI MORAL


pergunta 16

O mundo cristão em geral sustenta (1) que a lei da redenção. Por causa do pecado do homem o
moral é eterna e não foi abolida; (2) que o princí­ Salvador precisou morrer uma morte expiatória
pio do sábado, baseado na semana da criação, es- e vicária no Calvário; para salvar o homem per­
pecialmente na distinção de seis e mais um dias, dido. Por conseguinte, a lei moral e o evangelho
separando-os por autoridade divina para propósi­
tos diferentes—é da mesma forma permanente e
acham-se inseparavelmente relacionados. Uma
eterno; (3) que o elemento tempo específico do revela o pecado; o outro, o Redentor que salva
sétimo dia é apenas cerimonial e típico e, conse- do pecado.
quentemente, temporário — sendo cumprido e ab- Estamos também de acôrdo com a maior parte
rogado por Cristo na cruz; e (4) que há uma cla­ do ponto 2 — de que o sábado nos vem da sema-
ra continuidade entre o sábado dos tempos do Ve­ na da criação, e é igualmente permanente e eter­
lho Testamento, baseado na criação, e o dia do
Senhor do Nôvo Testamento, baseado na redenção,
no. A expressão “seis e mais um dias”, da qual
sendo o repouso da redenção superior ao repouso da discordamos, será estudada posteriormente. Con­
criação. Qual é a posição dos adventistas do sétimo tudo, na base do princípio fundamental do protes­
dia a respeito dêstes quatro pontos? tantismo de que a Bíblia é a única regra de fé e
Os adventistas do sétimo dia estão de pleno prática do cristão, cremos que a controvérsia do
acôrdo com o ponto 1 — que a lei moral é eterna ponto 3 — de que, conquanto a natureza moral
pela sua própria natureza e não foi ab-rogada. do sábado, como instituição, é permanente, seu
Cremos que êstes princípios eternamente morais elemento de tempo específico foi apenas cerimo­
são imutáveis. Cremos ainda que êstes princípios nial e temporário, e desta forma caducou na cruz
— é inconsistente como argumento. Rejeitamos se­
básicos se encontram no Decálogo — os Dez Man-
melhantemente a implicação de que, embora o as-
damentos, ou a lei moral.
pecto moral do sábado esteja firmemente baseado
Cremos que a lei moral em sua forma origi- na criação, não o está seu elemento tempo.1
nal, embora as palavras não tenham sido regis­
Em parte alguma dos ensinos de Jesus encon-
tradas, encontra expressão inteligente nos princí-
tramos qualquer declaração que afirme que êste
pios apresentados por Jesus — amar a Deus su­
elemento tempo, ou “seis e mais um dias” (se nos
premamente e ao próximo como nós mesmos.
podemos expressar assim) do mandamento do
Êstes princípios originais são o fundamento do
sábado haja sido mudado. Não encontramos qual-
trono de Deus, e a lei eterna de Seu generoso
quer controvérsia quanto à validade dêste sétimo
govêrno moral.
dia por parte de Jesus ou qualquer afrouxamento
Cremos também que é a lei moral — o Decálo­ da obrigação do sétimo dia, ao contrário encon-
go — que revela o pecado: “Pela lei vem o co­ tramos implícito reconhecimento de sua conti­
nhecimento do pecado” (Rom. 3:20); “Onde nuidade.
não há lei, não há transgressão” (Rom. 4:15); I — Pontos de AcÔrdo e Diferênça. — Crêem
“Eu não teria conhecido o pecado se não houves­ os adventistas que o sábado do sétimo dia — que
se lei” (Rom. 7:7); e “Todo o que comete peca- “foi feito por causa do homem” (S. Mar. 2:27)
do também transgride a lei, porque o pecado é a — foi dado ao “homem” (i. é. à humanidade)
transgressão da lei” (I S. João 3:4). no Éden, muito tempo antes que o povo judeu
Foi a entrada do pecado no Éden, a transgres­ viesse a existir. E foi êle observado através de
são da lei divina, que tornou necessário o plano tôda a era patriarcal, muito tempo antes que fôsse
PÁGINA 20 O Ministério Adventista
entregue ao antigo Israel, em custódia especial, ve o seu início antes que o pecado entrasse no
em seguida ao seu êxodo do Egito. 2 mundo (Gênesis 2 e 3), e foi dado para comemo­
Cremos os princípios da lei moral, foram conhe­ rar uma criação terminada. Se o pecado não hou­
cidos do homem antes da Queda 3, e posterior- vesse entrado, todos teriam guardado o dia de
mente postos em forma escrito no Decálogo, em sábado original.
meio daquelas terríveis cenas do Sinai, proferido Deus não fêz o homem a fim de que êle guar­
e escrito por Deus (Êxo. 19 e 20; 32:15 e 16). E dasse o sábado (S. Mar. 2:27). Mas, havendo
cremos que quando Israel se tornou o povo do feito o homem, Êle deu-lhe o sábado como lem­
concêrto especial de Deus, prometendo honrá-Lo brete e memorial contínuo do maravilhoso poder
guardando Seus mandamentos, o Decálogo foi do Criador. E embora o princípio do sábado in­
dado como a base daquele concêrto. clua tanto o repouso físico como o espiritual, um
Discordamos, no entanto, do ponto 4, no que memorial não pode ter interpretação espirituali­
refere à “continuidade” — transferência da ob­ zada e não pode desaparecer com o transcorrer
servância do sábado do sétimo dia para o festi­ do tempo.
val da ressureição, no primeiro dia da semana. Pelo fato de ter sido o sábado instituído na
Cremos que a base de ambas as observâncias é Criação, antes da entrada do pecado, tornou-se
totalmente diferente: o primeiro era para come­ parte inseparável do plano original de Deus a
morar o repouso do Criador, o segundo para co­ Sua provisão para o homem. Não teve, pois,
memorar a ressurreição de nosso Senhor. nenhum significado cerimonial, prefigurando al­
Discordamos da sugestão de que o sábado do guma coisa por vir. Pelo contrário, sempre teve
sétimo dia do Velho Testamento tenha apenas significação comemorativa, pois remonta a algu-
significado cerimonial, ou fôsse de alguma forma ma coisa do passado já efetuada — a criação do
“cumprido e ab-rogado por Cristo,” ou que a mundo e da raça humana.
sabaticidade constitua aspecto “ab-rogado” ou
1. Alguns consideram o sábado uma institução que tem
“temporário” do permanente sábado do quarto que ver exclusivamente com os judeus. Os que insistem
mandamento. neste ponto pretendem que a versão que há no livro Deu­
teronômio do Decálogo realça o fato de que o sábado fô­
Discordamos da mudança das palavras origi­ ra dado unicamente aos hebreus, porque foram êles livra­
nais — os “seis dias” e o “sétimo dia” do quarto dos da escravatura.
2. O silêncio da parte final do Gênesis sôbre o sábado
mandamento de Êxodo 20 — para a expressão é compreensível quando se recorda que se deve levar
não-bíblica “seis e mais um dias”, ou mera pro­ em conta a familiaridade dos patriarcas com os manda­
mentos de Deus. O autor do relato histórico do Gênesis
porção de tempo, pois para nós essa mudança de não julgou necessário mencionar isto em sua descrição de
frase envolve uma mudança completa de inten­ longo alcance dos séculos. Abraão, porém, guardou os
mandamentos de Deus (Gên. 26:5) — a palavra hebrai­
to, e com isto não podemos concordar. ca aqui empregada para designar “mandamentos” é a
mesma empregada para o Decálogo em Deut. 5:10 e 29.
Discordamos da proposição de que o Senhor Kalisch menciona isto como sendo a lei escrita no coração
Jesus transferiu a observância do último dia da do homem, e o Pulpit Commentary declara que a pala­
vra significa “aquilo que é gravado em pedras.” Abrão
semana para o primeiro a fim de, além do origi- reconhecia a lei moral de Deus e a obedecia. Se assim
nal “repouso da criação” apontar para um maior é, porque não incluir o sábado? A Companion Bible, em
Gên. 26:5, dia que Abrão tinha instruções a serem ob­
“repouso da redenção.” Não encontramos nenhu­ servadas; mandamentos a serem obedecidos; estatutos (de­
ma prova escriturística para sustentar essa pre­ cretos) a serem reconhecidos; e leis (Torah) a serem cum­
pridas.
tensão. E durante a experiência no deserto, Deus provou Seu
2. Caráter Memorial e Não Cerimonial. — To- povo antigo quanto a andar ou não no caminho de Seus
mandamentos (Êxo. 16:4). A prova versou sôbre o assun­
dos os adventistas do sétimo dia, como criacionis­ to do sábado. Comparando-se Êxo. 16:1 com Êxo. 19:1
tas, crêem no relato do Gênesis sôbre a criação ver-se-á que isto ocorreu muitas semanas antes da pro­
mulgação do Decálogo. Êles, portanto, deviam ter conhe-
(Gên. 1:1 a 2:2), compreendendo o sétimo dia cido não apenas a lei de Deus, mas também os manda­
como dia de repouso registrado e atestado por mentos específicos nela contidos, como se evidencia por
esta referência ao sábado.
Deus, sendo o sábado dado como memorial per­
3. Ao ser criado, Adão não era contaminado pelo peca-
pétuo daquela criação, abençoado e santificado do. Deus “fêz ao homem reto” (Ecles. 7:29). O homem
foi criado “à imagem de Deus” (Gên. 1:27). Sendo assim,
(colocado à parte) para o homem. O sábado te­ a lei moral devia estar escrita em seu coração.

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AImortalidade Inerente
e a Igreja
DOUTRINA da imortalidade condicional da talidade natural da alma proveio princípalmente
alma é um dos ensinamentos básicos da da filosofia grega de platão. Por sua vez os filó­
Igreja Adventista desde seu início. Todavia, os sofos gregos tomam êste conceito do panteísmo da
escritores de nossa igreja se tem ocupado mais Índia, o dualismo da Pérsia e a imortalidade na­
com o sábado, a segunda vinda e outras doutri­ tural do Egito. Estas idéias foram introduzidas
nas. Nunca se fêz um estudo a fundo. Dado que na igreja cristã por Atenágoras em fins do sé-
um dos grandes enganos dos últimos tempos tem culo II D. C. e indiretamente por Filo, o filó­
que ver com o espiritismo e outros movimentos sofo judeu. Foi para mim uma surprêsa saber que
semelhantes, é muito importante que tenhamos durante quase um século depois da época dos
um conhecimento muito mais profundo da dou- apóstolos, os escritores cristãos ainda criam na
trina da imortalidade. imortalidade condicional. A primeira vez que
O Dr. Laroy Edwin Froom, autor do conhe- aparece a expressão “alma imortal” é no livro de
cido jôgo de livros sôbre a história da interpre­ Atenágoras, escrito cêrca do ano 177 D. C.
tação profética, (The Prophetic Faith of Our Orígenes é princípalmente responsável da in­
Fathers), está realizando um estudo da doutrina trodução de um terceiro conceito — a restauração
da imortalidade. O primeiro volume de uma obra universal, ou seja a salvação de tôda a humanida­
de dois volumes, intitulado The Conditionalist de. Êstes três conceitos — um trilema teológico
Faith of Our Fathers (A Fé de Nossos Pais na — e seu desenrolar, estão delineados através dos
Imortalidade Condicional da Alma) se espera que séculos de nossa era até o presente. Lutero e ou-
esteja pronto em fins dêste ano (1962). A se­ tros reformadores criam no sono dos mortos,
ção dedicada ao espiritismo, extraída da grande porém Calvino se opôs enérgicamente. O movi-
obra, está para sair em brochura no inglês. mento em favor da imortalidade condicional al­
Um ano atrás tive a oportunidade de estudar cançou seu apogeu no século XIX, correndo pa­
esta matéria com o Dr. Froom no Seminário de ralelamente com o movimento adventista, embo­
Berrien Springs, Michigão, EE. UU. Além dis­ ra sendo independente dêle. O Dr. Froom expli­
so êle me convidou a ler os originais desta obra ca como foi introduzida esta doutrina em nossa
monumental, que para mim foi fascinante. igreja.
Uma parte da obra é dedicada ao estudo de to- É de interêsse especial a seção dedicada ao
dos os textos bíblicos que se referem à doutrina século XX. Decorre algo surpreendente o grande
da natureza e destino do homem. A doutrina da número de escritores contemporâneos que estão
imortalidade natural — declara o autor — come- de acôrdo conosco nesta doutrina. A análise do
çou com a primeira mentira: não "morrais” (Gên.
espiritismo, mormonismo, ciência cristã e outras
3:4), no jardim do Éden. Ligado à esta há outra
doutrinas modernas, constituem uma valiosa aju-
no versículo seguinte: "Sereis como Deus”. Por
outra parte, a Escritura ensina a vida sòmente da para nossos evangelistas.
em Cristo, e a vida imortal está condicionada à O que mais chamou minha atenção no estudo
ressurreição dos justos. Daí o emprêgo da palavra desta obra, foi a ênfase sôbre a fase positiva da
condicional no título da obra. vida em Cristo, o autor da vida. — Roberto G.
A outra parte da obra é dedicada ao estudo da Wearner, Professor de Bíblia do Institudo Adven-
história da doutrina. A idéia moderna da imor- tista do Uruguai.
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Miscelânea
ARNALDO B. CHRISTIANINI
Redator de O MINISTÉRIO ADVENTISTA

A IDÉIA DA IMORTALIDADE EM TEMPOS REMOTOS


NO Oriente, nos quais a imortalidade da alma pela ênfase ao culto dos antepassados. Tanto no
ocupa lugar preeminente. A metempsicose, taoísmo como no confucionismo, os espíritos dos
em alguns dêles, assume o caráter de dogma. mortos vivem na atmosfera, nos lugares que ha­
Reportando-nos aos egípcios — que criam na bitaram.
existência de um “duplo” imaterial da mesma for- Saquiamuni, fundador do budismo, também
ma e aspecto do corpo — notamos que posterior- pregava a imortalidade inerente. “A alma, iden­
mente essa crença sofreu ligeiras modificações, tificada com a Lei, quando entra na beatitude
mas não na estrutura. Assim lemos no “Livro do do Nirvana, continua a velar pela felicidade do
Silêncio”: “A essência vital é Khiu. É uma fla­ universo”. Nos templos budistas se pintam as
ma escapada do Sol, uma fagulha do fogo divino. “câmaras de horrores”, ou seja, o itinerário infer­
À morte do corpo, Khiu toma a sua própria per­ nal das almas e seus incríveis padecimentos.
sonalidade e deixa todos os elementos que a per­ Na Pérsia, segundo a doutrina mazdeana, “a
sonalidade humana lhe superjuntou. Volta para alma depois de permanecer dias pelos arredores
o Sol de onde é emanado e, apesar disso, as suas de seu cadáver, deixava-o e ia para o lugar do
agitações de alma forçá-la-ão a descer de seu irra­ juízo final.” 2
diante e maravilhoso asilo para animar outro Segundo os gregos, as almas ficavam no Ére-
corpo.” 1 Temos aí um nítido perfil de “alma” bo, perto do abismo do Tártaro. No século V,
entre os egípcios, em tempos recuados. A. D., com os mistérios órficos e de Eleusis, veio
Outro ponto alto na apreciação da idéia imor- o concepção de recompensa e castigo das almas.
talista, é a famosa lenda hindustânica da metem- O paganismo romano — essencialmente animista
psicose. Iniciaimente é o verme rastejante que, — dava grande importância às almas dos mortos
atendido em seu desejo, se transforma em flor; — os manes que se encontravam em tôda a parte.
esta se transmuda em borboleta que, por sua vez, Sabido é que os escandinavos admitiam um infer­
toma a forma de águia. Esta, de acôrdo com o seu no de várias categorias e subdivisões, ao fundo do
anelo, se transforma em estrêla. Finalmente a es­ Helheim, mundo dos mortos.
trêla, anelando a imortalidade, foi mudada em As mitologias também ensinavam a imortali­
Alma Humana. E esta, para que fôssem frenadas dade. “As almas, antes de chegarem à côrte de
as suas expansões, foi encarcerada no corpo do Plutão e ao tribunal de Minos, tinham de passar
homem. Aí está o grande disparate, apesar do o Rio Aqueronte em uma barca governada por
colorido poético. Caronte, ao qual elas davam uma puequena moe­
A imortalidade natural era o leit-motiv das an­ da pela passagem.” 3
tigas concepções religiosas. No vedismo (antiga Bunsen, afamado historiador, também nos diz:
religião hindu, anterior ao braamanismo) havia “Os egípcios ensinaram a doutrina da imortalida­
yam, deus dos mortos amrita, bebida da morta­ de da alma, fato mencionado por todos os escri­
lidade. Havia o naraka (inferno), lugar abaixo da tores gregos, desde Heródoto a Aristóteles, e bri­
terra onde as almas dos condenados ficavam tem- lhantemente confirmado pelos monumentos.”4
poràriamente, antes de entrarem no ciclo normal Sabemos que a raça indo-européia, de que as
da metempsicose. Mutatis mutandis e com novas pop ilações gregas e italianas são os r mos, cria
roupagens, eis a idéia reencarnacionista tão apre­ cm algo que sobrevivia ao corpo. Originaram
goada pelos espiritualistas hodiernos. O taoísmo resses povos os chamados “ritos de sepultura”,
(500 A. C.), anterior ao confucionismo, é um demonstrando que quando metiam um corpo no
amálgama de adoração dos espíritos da natureza sepulcro, acreditavam que lá punham também
e almas dos mortos. Havia também o elixir da “alguma coisa que vivia.” Nota-se isto, de modo
imortalidade. O confucionismo caracterizava-se inequívoco, em Virgílio, ao descrever os fune-
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rais de Polidoro, cuja narração assim conclui: navam o renascimento e que os fiéis participavam,
“Encerramos a alma no túmulo.” Em Ovídio e da imortalidade de seus deuses . . . Não pode ha
Plínio, o Moço, encontram-se expressões idên­ ver dúvida alguma sôbre o efeito que estas dou
ticas, o que prova sobejamente ser essa idéia cor­ trinas exerceram sôbre o desenvolvimento dos sa
rente em seu tempo, idéia que provinha de cren- cramentos do cristianismo.”7
ças mui remotas. Deve-se notar que, no final da
cerimônia fúnebre, era costume o oficiante cha­ Sem receio de errar, podemos afirmar com tôda
mar três vêzes a alma do morto, pelo nome que a convicção: a imortalidade natural e a concep
tinha usado em vida, augurando-lhe vida feliz ção de alma como entidade distinta do corpo são
debaixo da terra. A fórmula era: “Passa bem, doutrinas pagãs, antibíblicas e vêm de encontro
F. . . ., e que a terra te seja leve”. 5 Considerava- à verdadeira escatologia ensinado nas Escrituras
se um sacrilégio a inumação de um corpo sem cs (1) H. Durville, "Ciência Secreta’’.
ritos tradicionais e as fórmulas consagradas. Plau- (2) Dic. e Encicl. Internacional, pág. 5876.
to menciona a história de uma alma do outro (3) Arquimina Brito, "Mitologia Dupla", pág. 135, ed
mundo, que andava errante, porque seu corpo 1926.
(4) Bunsen, “Egypt in Universal History", Vol. IV, pág
fôra enterrado sem o ritual fúnebre. Suetônio 639.
relata que, pelo fato de ter o corpo de Calígula (5) Fustel de Coulanges, "Apêgo à Sepultura",
sido enterrado sem estas prescrições ritualísticas (6) W. Walker, "História da Igreja Cristã", pág. 17.
a sua alma andou errante, aparecendo aos vivos, (7) Ibidem, pág. 21.
só cessando de o fazer quando se decidiu exumar
o corpo e cumprir o ritualismo. Esta crença ga­
nhou tal consistência, que atingiu as raias do
fanatismo. De uma feita, os atenienses chegaram A Espôsa do Pastor
ao cúmulo de fazerem morrer os generais que, de- (Continuação da pág. 14)
pois de uma grande vitória no mar, tinham descu-
rado o entêrro dos mortos. Por essa razão, a mul-
tidão acusou de impiedade êstes generais, e foram Ela procura cultivar a paciência, o tato, o es­
inapelávelmente mortos. Tinham salvo Atenas, pírito de adaptabibdade e a hospitalidade, e aci-
mas perdido milhares de almas. Afirma-se que os ma de tudo, deve amar os membros da igreja.
progenitores dos mortos, crendo na desgraça que
A espôsa do pastor deve saber sacrificar seus
estas almas iam sofrer pela ausência dos ritos,
desejos particulares, suas vontades, seus planos,
compareceram ao tribunal em trajes de luto, re­
clamaram vingança, e insistiram até que a mesma seu conforto, finalmente, o seu próprio Eu. Mas
se cumpriu. a recompensa é grande também.
Ovídio e Virgílio descrevem também o costume “Certo pastor, com sua família, estava por sair
que havia em seu tempo, de os parentes dos mor- de uma cidade, onde havia sido seu primeiro cam-
tos depositarem grinaldas de flôres, plantas, fru­ po de trabalho e foi despedir-se de uma irmã ido­
tas, sal, comestíveis, leite e vinho sôbre a sepul- sa.
tura. Outros escritores gregos também a êle se
— “Bem”, disse ela, “creio que logo vão arru­
referem. Diziam que a alma do morto se agrada­
va de tais coisas e delas se nutria. mar suas malas”.
Estas concepções francamente pagãs, por in- — “Oh! sim,” respondeu êle; “de fato, já em-
fluência do convívio começaram a infiltrar-se na pacotados quase tudo”.
Palestina. Já no tempo de Cristo, notamos a in- — “Há uma coisa que o senhor não poderá
fluência dessas idéias. “Os fariseus ensinavam empacotar, que há de deixar atrás quando fôr”,
a existência de espíritos, tanto bons como maus observou a anciã.
. . . (idéia que) recebeu talvez grande impulso — “Que será?”
das idéias pérsicas. Acreditavam no galardão e
— “O senhor não poderá empacotar a sua boa
suplício eternos, idéias que tiveram um grande
influência”, apressou-se ela a dizer.
desenvolvimento nos dois séculos antes de Cris-
to”. 6‘Em Atos 23:8 se afirma que os fariseus Verdadeiramente o pastor, sua espôsa e filhos
admitiam a existência de espíritos. exercem uma grande influência em suas relações
Mais uma citação que reforça êste fato, insus­ com os coobreiros, os membros da igreja e os vi­
peito Walker: “As religiões orientais (Cibele, zinhos do lugar onde moram. Quão cuidadosos
ou Grande mãe, e Atis, na Ásia Menor; Isis e devíamos ser para que a nossa influência sempre
Serápis, no Egito, e a de Mitra na Pérsia) ensi- fôsse o que deveria ser.
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