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MINISTÉRIO

Uma Revista Para Pastores e Obreiros

Quando a morte se
aproxima
DE CORAÇÃO
A
CORAÇÃO

Os perigos da liderança
Que coisas podem destruir uma liderança? Uma comissão de avaliação recentemente reu­
nida, pareceu ter acertado o alvo ao enumerar alguns pontos que podem colocar por terra
uma liderança que deveria ser eficaz. Esses pontos são seguidos de sugestões práticas:
Falta de credibilidade. Quando líderes agem diferentemente daquilo que falam, o povo per­
de a confiança neles. Se minha vida não se harmoniza com minha pregação, as pessoas final-
mente não vão acreditar em minhas palavras. Um bom remédio para isso, além da óbvia neces­
sidade de um relacionamento íntimo com Deus, que é a solução para tudo, é que o líder tenha
um código de ética e seja fiel a ele. Liderança situacional nunca deve significar ética situacional.
Incompetência. Por alguma razão, alguns pastores chegam a alcançar um nível de compe­
tência pelo qual jamais lutaram. Então, os ideais e alvos que uma vez foram elevados repousam
agora na segurança dos acumulados anos de serviço, e eles começam a abandonar a excelência
para entrar no caminho da mediocridade. É preciso desenvolver sempre uma atmosfera de cres-
cimento. Quebre a rotina, resista à monotonia. Crie algo novo e diferente em seu ministério.
Perda de visão. Aqueles que não podem ver além do imediato, raramente se preparam
para o amanhã. Alguns permanecem focalizando no presente, quando poderiam, e deveriam,
avançar para o futuro. Wayne Gretzky, astro do hóquei, descreve o sucesso como patinar
para onde o alvo estará, não onde ele está. Antecipe o futuro e persiga-o. Outros o seguirão.
Egoísmo. Certos líderes facilmente desenvolvem uma atitude interesseira. "Que vanta­
gem posso tirar disso?" toma-se seu lema principal, enquanto se esquecem da liderança que
serve. Esses lutam somente pela grandeza pessoal. Mas Jesus é o nosso modelo de líder. En-
quanto Seus discípulos lutavam pelo topo, Ele mostrou a grandeza de servir. Pregue Filipen­
ses 2, primeiro para si, e depois para os membros.
Sobrecarga. Você nunca fará tudo o que poderia e, raramente, tudo o que deveria. Sua li-
derança pode estar sendo destruída por querer concentrar nas mãos as infindáveis urgências,
em detrimento do importante. Equilibre as prioridades. Determine o que você pode realizar e
então persiga a excelência, sem ser tragado pelo urgente trivial.
Exclusivismo. Ninguém se ofende por sentir-se apenas "um na multidão" até que se sinta
excluído. Evite a armadilha de associar-se e dar ouvidos apenas àqueles do seu círculo ínti­
mo. Sua atenção ministerial deve ser estendida a todos. Seja imparcial. Busque a todos os
que podem ser recrutados, e treine-os para o serviço. Modele-os até que sejam efetivos e, en-
tão, encoraje-os a treinar outros.
"Panelinha.” Pastorear não é um trabalho feito com cartas marcadas. Comissões forma­
das apenas com os amigos, brevemente se tomarão cheias de delatores. Nada destrói mais a
criatividade do que a unanimidade absoluta. Ouça aqueles que têm sugestões diferentes.
Ouça os críticos. Não tema eleger aqueles que buscam desafios. Pastoreie-os também.
Falta de senso comum. Se você não quiser, não conseguirá. Nada supera a simples praticida­
de. Muitos líderes perseguem o impossível, deixando passar milhares de oportunidades para fazer
o possível. Esteja seguro de que quer mesmo levar avante um plano. Busque conselho confiável.
Provavelmente, um determinado plano não será executado com êxito porque isso já está enraiza­
do em sua mente. Examine cuidadosamente qualquer idéia. Não confunda estupidez com virtude.
Desintegração entre fé e vida. Se os crentes não recebem o impacto do desempenho de
minha vocação, talvez seja porque eu mesmo não creia nela. Experimente, e depois ensine, o
impacto do evangelho em sua vida diária e seu trabalho. - James Cress.

MINISTÉRIO/setembro/outubro 19962
MINISTÉRIO
Uma Revista Para Pastores e Obreiros

Ano 67 - Número 05 - Set./Out. 1996 - Periódico Bimestral


Uma Publicação da Igreja Adventista do Sétimo Dia

ARTIGOS SEÇÕES
9 PRODUZINDO IDÉIAS PARA
2 DE CORAÇÃO A CORAÇÃO
SERMÕES
Berndt D. Wolter OS PERIGOS DA LIDERANÇA
James Cress

12 QUANDO A MORTE SE 4 ENTREVISTA


TRABALHO PASTORAL E
APROXIMA PRIORIDADE MÁXIMA
Penny Shell Jesuíno Gomes da Silva Filho

16 ESTUDO DAS GENEALOGIAS


23 PASTOR
A ARTE DE REPREENDER
BÍBLICAS Miguel Angel Nuñez
Elias Brasil de Souza

26 AFAM
FILHOS DE PASTORES E
APOSTASIA
19 RETRATO DE UM MINISTRO
INCONVERSO
Carole Brousson Anderson

Almir A. Fonseca 32 BIBLIOTECA DO PASTOR

22 REFLEXÕES SOBRE O LIVRO


DE ESDRAS
Shichiro Takatohi

Diretor Geral: Wilson Sarli; Todo artigo ou correspondência para a


Redator-Chefe: Rubens S. Lessa; Revista MINISTÉRIO deve ser enviado para o seguinte
Editor: Zinaldo A. Santos; endereço: Caixa Postal 12-2600 - 70279-970
Editor de Arte: Wilson de Almeida; Brasília, DF.
Revisoras: lldete F. Silva e Mercedes Campos;
Diagramação: Josias Silva;
Colaboradores Especiais: Alejandro Bullón; CASA
José M. Viana; PUBLlCADORA
Colaboradores: Antônio Moreira; Mário Valente;
Jefté Carvalho; Izéas Cardoso. BRASILEIRA
Capa: William de Moraes Rodovia SP 127 - km 106 - 18270-000
Tatuí, SP. 3835

MINISTÉRIO/setembro/outubro 1996
ENTREVISTA

Trabalho pastoral é
prioridade máxima

Pernambucano de Es­
cada, o Pastor Jesuíno Unisa, em São Paulo; e
Gomes da Silva Filho Ana Queila, formada em
tem 49 anos e concluiu o Direito, pela Universida­
curso teológico no Edu- de Católica de Salvador,
candário Nordestino Ad- em 1994, e juíza da co­
ventista, ENA, em 1971. marca de João Dourado,
No ano seguinte iniciou BA. Ela assumiu a ma­
suas atividades ministe­ gistratura após obter
riais na Missão Costa- aprovação entre os 30
Norte, onde permaneceu primeiros classificados
até 1986, atuando como de um concurso do qual
obreiro bíblico, pastor participaram 2.300 can­
auxiliar da Igreja Cen­ didatos. "Sinto-me pro­
tral de Fortaleza, e pas- fundamente grato a Deus
tor distrital em Impera­ pela família que tenho",
triz, Santa Inês, Bacabal diz o Pastor Jesuíno.
e Igreja Central de São Luís, MA. Naquele De Salvador, ele falou à revista Ministério:
ano, aceitou um chamado para a igreja do
Marco, em Belém, PA, na Missão Baixo- MINISTÉRIO: Em que momento e cir­
Amazonas. Em 1988, foi para a então Mis- cunstâncias se sentiu chamado para o tra-
são Bahia, hoje Associação, onde pastoreia balho pastoral?
o distrito da Pituba, em Salvador, depois de PASTOR JESUÍNO: Durante minha
liderar a Igreja Central da capital baiana. adolescência, eu sonhava ser um padre, de-
Concluiu o Mestrado em Teologia, no Salt - vido à influência da herança religiosa fami­
IAE, em 1984. liar. No entanto, meus pais se tomaram ba­
É casado com a irmã Maria do Carmo da tistas, em 1962. Dois anos depois, conheci a
Silva, a quem descreve como "uma mulher Igreja Adventista, graças a uma série de
maravilhosa, comunicativa, compreensiva, conferências realizada na cidade de Prima­
equilibrada, paciente e muito espiritual". Ao vera, PE, pelo Pastor Sebastião Silva, e fui
apoio da esposa, o Pastor Jesuíno credita batizado. Abandonei então a idéia do sacer­
"grande parte do êxito ministerial", afirman­ dócio católico, substituindo-a pelo desejo de
do que "uma esposa de pastor não ajuda so­ ser um advogado. Na noite do dia 5 de de­
mente quando exerce muitas atividades na zembro de 1966, lembro-me bem, às 23h00,
igreja, mas, princípalmente, quando pode eu estava orando intensamente ao Senhor,
chorar com o esposo entre o alpendre e o al­ buscando Sua direção quanto à carreira pro-
tar, nas horas de angústia". O casal possui fissional que deveria seguir. Estava em Re­
duas filhas: Ana Quênia, estudante de Fisio­ cife, no bairro do Curado. Foi então que sen­
terapia na Universidade de Santo Amaro, ti a forte convicção de um chamado ao mi­

MINISTÉRIO/setembro/outubro 19964
nistério evangélico, apelando tão veemente­ nas ao ato de doutrinar um descrente e levá-lo
mente às minhas emoções, produzindo um ao batismo, quando na verdade é mais que
sentimento somente comparado ao que ex­ isso. Quando um pastor gasta horas tentando
perimentei no dia da minha conversão a resgatar um crente desanimado, magoado ou
Cristo. Quando saí dali, já não tinha mais mesmo já afastado; quando ele investe dias e
dúvidas de que seria um pastor. semanas tentando reconciliar um casal em cri­
se conjugal, ou solucionar um conflito entre
MINISTÉRIO: Como se sente hoje, sen­ pais e filhos; quando um pastor toma tempo
do sempre um pastor distrital? para dar atenção a um jovem que está sendo
PASTOR JESUÍNO: Plenamente reali­ arrastado pela fascinação do mundo; está sal­
zado e feliz. Naturalmente, nem tudo é um vando almas, da mesma forma que o faz pela
mar de rosas. Há muitas dificuldades por trás recepção de um novo crente que foi batizado.
das cortinas de um pastorado distrital. Mas es­ A diferença é que esse último caso figura
tou convencido de que em todos os ofícios es- como item de avaliação numérica, e os outros
tão misturados prazeres e desgostos, alegrias e não aparecem nos relatórios.
tristezas. De modo que aprendi a superar as
coisas desagradáveis do meu ministério. Fa- MINISTÉRIO: Qual o seu critério para
lando com sinceridade, gosto de preparar avaliação do sucesso pastoral?
meus sermões e pregá-los; gosto de dar estu- PASTOR JESUÍNO: Bem, eu não tenho
dos bíblicos e ver pessoas tomando decisões um critério pessoal, embora defenda a idéia de
ao lado de Jesus; gosto que se deveria avaliar o
de visitar os irmãos, sucesso de cada pastor
exercendo a função de Deus usa a todos, e de pelo que ele realmente
conselheiro, orienta­ e consegue realizar
dor, professor de Bí-
maneiras diferentes. Não édentro dos seus limites
blia, juiz de paz, etc. podemos imaginar que todos e habilidades, e sua de­
Fascina-me a oportuni- dicação em alcançar
dade de contribuir para cabem dentro de um mesmo seus objetivos pessoais
dar sentido e alegria à modelo e devem realizar a na conquista de almas
vida de crentes frustra­
dos e desanimados. No mesma coisa. Não é assim para o reino de Deus.
Note que quando lemos
início do meu ministé­
rio eu não gostava de
que o Senhor nos avalia. sobre Calvino, Lutero,
Spurgeon, Moody,
realizar funerais, espe- Wesley, Billy Graham,
cialmente no interior do Maranhão, onde era Paul Yonggi Cho, e outros ministros do pas-
costume o pastor ter de permanecer no velório sado e de hoje, ficamos maravilhados e os
a noite inteira. Hoje, mesmo num funeral, consideramos pastores de sucesso. Mas, es­
vejo uma oportunidade de servir aos irmãos e quecemo-nos de que cada um encontrou seu
a Deus. próprio caminho. E não foi diferente na era
apostólica. Pedro alcançou sucesso entre os da
MINISTÉRIO: O senhor acha justos os circuncisão, e Paulo entre os da incircuncisão.
critérios usados para avaliar o sucesso de Todos foram bem-sucedidos porque o mesmo
um pastor, tais como alvos de batismo, Espírito que operava eficazmente em Pedro,
construções, recolta, etc. ? também operava em Paulo. Penso que não de-
PASTOR JESUÍNO: Em parte, sim. Mas veria ser diferente no ministério adventista. O
quando esses critérios de avaliação do trabalho problema é que imaginamos que todos devem
de um pastor são usados em detrimento da im- caber dentro de um mesmo modelo e produzir
portância de outras atividades que também re­ a mesma coisa. Não creio que Deus nos avalie
sultam em salvação de almas, então vejo dese­ dessa maneira.
quilíbrio. Não nos critérios em si mesmos, mas
na forma como são usados muitas vezes. Ora, MINISTÉRIO: Qual o momento mais
nem todas as pessoas possuem os mesmos gratificante e o mais espinhoso do trabalho
dons. Nem todas cabem numa mesma moldu- pastoral?
ra. Todos nós cremos que a prioridade do tra- PASTOR JESUÍNO: O mais gratifican­
balho pastoral é a salvação de almas. Acontece te mesmo é ver pessoas sendo transformadas
que, geralmente, limitamos esse conceito ape- pela operação do Espírito Santo, tanto na ex-

MINISTÉRIO/setembro/outubro 19965
periência de conversão dos descrentes, como exceção dos sábados e das segundas-feiras,
na de regeneração dos crentes. Eu me sinto não consigo me sentir bem se, ao fim do dia,
muito feliz em acompanhar esse crescimen­ não tiver realizado pelo menos uma visita
to espiritual da igreja. Por outro lado, não há pastoral, a menos que haja uma razão fortíssi­
momento mais amargo, para mim, do que ma como viagem, ou participação em concí­
resolver contendas lios. Sei que a vida
entre os irmãos e moderna dificulta
disciplinar mem- muito esse trabalho,
bros faltosos, espe­ O pastor deve ser um mas não o exclui. Na
cialmente quando exemplo de sinceridade, verdade, nunca con­
isso implica exclu­ segui visitar a todos
são. honestidade, equilíbrio e os membros de um

MINISTÉRIO:
maturidade. Acima de distrito, mas jamais
deixei de visitar os
Que prioridades, a tudo, deve ser um homem membros da igreja.
Maranhão, che­
seu ver, o pastor
deve estabelecer
espiritual. Deve respeitar a No guei a ter um distrito
para sua vida e seu dignidade dos outros, com cinco igrejas or­
trabalho?
PASTOR agindo democraticamente, eganizadas, 33 grupos
famílias isoladas.
JESUÍNO: Penso com lisura, e sem A visitação aconte­
que cada pastor tem cia onde eu estivesse
sua própria ordem manipulações. A igreja de presente. Mesmo no
de prioridades. Par­ hoje não aceita mais líderes meu atual distrito,
ticularmente, tenho numa capital onde a
dois blocos de prio­ autoritários e centralizadores. vida é agitada, tenho
ridades: um geral e em meu fichário
outro específico. No mais de 700 pessoas
primeiro caso, coloco meu relacionamento cadastradas, às quais consegui visitar num
com Deus, o exercício do ministério e a fa- período de dois anos e meio.
mília. Tudo com equilíbrio e alguma flexibi­
lidade. Às vezes ocorre a necessidade de al­ MINISTÉRIO: Que tal a qualidade da
terar compromissos ministeriais para atendi- nossa pregação?
mento à família e vice-versa. Já no bloco das PASTOR JESUÍNO: Eu concordo quan­
prioridades específicas, que se referem ex­ do se diz que ela precisa ser melhorada. É
clusivamente ao trabalho, em primeiro lugar preciso pregar mais a Palavra e fazer menos
está aquilo que é de ordem extremamente es- promoção. Todo pastor deveria elaborar um
piritual na salvação de almas: visitas pasto­ calendário de sermões. Às vezes explora-se
rais, estudos bíblicos, reuniões administrati­ demasiadamente um assunto em detrimento
vas, estudo e preparo de sermões. Em segun­ de outros que nunca são mencionados. Isso
do lugar, vem o que é de ordem material, sempre me preocupou. Confesso que nos seis
como construções, atividades sociais e servi­ primeiros anos de ministério eu era desorga­
ços burocráticos. E, finalmente, atividades nizado nesse aspecto. Mas algumas igrejas,
seculares em geral, negócios pessoais, etc. como a Central de São Luís, Central de For­
taleza e Marco (em Belém do Pará) me ensi­
MINISTÉRIO: O senhor sempre foi re­ naram a organizar e aperfeiçoar o calendário
conhecido e apreciado como um pastor visi­ de sermões, primeiro semestral; depois,
tador de casa em casa. Como vê esse aspec­ anual. Em 1989, já em Salvador, tendo como
to do trabalho, hoje, num mundo de alta tec­ base a doutrina da salvação, consegui organi­
nologia e modernização? zar uma "Arvore Homilética do Santuário",
PASTOR JESUÍNO: Essa é uma tarefa com quatro principais "galhos": Trindade,
de suprema importância para o pastor. A igre­ Criação, Pecado e Salvação. Partindo desses
ja sente falta quando ela não é realizada de "galhos", foram esquematizados 200 ser-
forma periódica e constante. Abracei esta mões, abordando todos os principais pontos
bandeira desde o início, tomando-a uma das doutrinários, éticos e teológicos da fé adven-
principais atividades do meu ministério. Com tista, os quais foram apresentados equilibrada

MINISTÉRIO/setembro/outubro 19966
e racionalmente, num período de quatro anos. PASTOR JESUÍNO: Acredito que uma
Sem dúvida ainda é preciso melhorar mais. boa programação, recheada de músicas, ilus-
trações, recursos audiovisuais, e apresenta-
MINISTÉRIO: Tendo pastoreado mui- ção de temas cristocêntricos, proféticos ou
tas igrejas grandes, como o senhor conse­ doutrinários, em série, ajudará bastante a tra-
gue mobilizar o povo para o trabalho mis­ zer membros e visitas à igreja, nos domingos
sionário? à noite. Também é válida a apresentação de
PASTOR JESUÍNO: Certa vez, pasto­ um estudo exegético bem planejado de um
reando a Igreja Central de São Luís, recebi a livro da Bíblia, como Daniel, Romanos ou
visita do Pastor José Bessa, então evangelista Gálatas. Tendo o pastor ou outra pessoa bem
da Divisão Sul-Americana. Era um sábado e preparada como orador regular, com certeza
a igreja estava superlotada. No final do culto, os bancos vazios desaparecerão. Sei que em
ele me disse: "Esta igreja não tem mais para alguns lugares nem sempre é possível encon-
onde crescer, a menos que você tire daqui trar essa pessoa bem preparada, e nem o pró-
uns 60 irmãos e os coloque noutro lugar." prio distrital pode ser esse conferencista sis­
Foi o que procurei fazer. Seis meses depois, temático, sem sacrificar outras igrejas do seu
60 irmãos foram para um bairro formar uma distrito. É aí que entra a necessidade de se
igreja. Depois, outro grupo, mais outro e treinar líderes voluntários para o trabalho.
mais outro, e surgiram várias igrejas em bair­
ros diferentes. A mesma estratégia foi segui­ MINISTÉRIO: O senhor acha que é
da noutros lugares, e ainda no meu atual dis- possível um pastor realizar série de confe­
trito da Pituba, com resultados positivos. rências, construir igrejas e, ao mesmo tem-
Descobri, assim, que o melhor método é o de po atender às necessidades do rebanho, de
penetrar em novos bairros, organizar, treinar maneira satisfatória, durante um ano?
e motivar equipes de irmãos para fazê-lo. PASTOR JESUÍNO: Sim, desde que não
seja exigido dele resultados como de um espe­
MINISTÉRIO: Por que, a seu ver, a cialista. Costumo dizer que o pastor distrital é
maioria dos membros ainda permanece à um clínico geral, com especialidade em pasto­
margem das atividades missionárias? rado. Ele pode e deve fazer as outras ativida-
PASTOR JESUÍNO: Penso que, em par- des próprias do ministério, mas sem esquecer-
te, isso acontece pelo próprio contexto profé­ se de que sua principal função é a de ser pastor
tico laodiceano em que se encontra a Igreja. e cuidar do rebanho. Então, dentro dos seus li­
Apesar das constantes mobilizações, progra­ mites deve ir desenvolvendo todas as áreas.
mas de treinamento e apelos por parte dos lí-
deres, parece não haver a resposta esperada. MINISTÉRIO: Que tipo de líder o pas-
Temos liberdade religiosa e portas abertas tor deve ser, em relação aos seus oficiais e
por todos os lados, mas estamos bloqueados membros da igreja?
por outros obstáculos piores que a falta de li­ PASTOR JESUÍNO: O pastor deve ser
berdade. Parece-me, também, que não temos um exemplo de sinceridade, honestidade,
conseguido motivar a igreja com nossos mé- equilíbrio e maturidade. Acima de tudo,
todos tradicionais, em contraposição aos de- deve ser um homem espiritual e jamais per­
safios da vida moderna. Precisamos, como der o bom senso diante de seus liderados.
Igreja, descobrir novos caminhos. Atualmen- Deve saber respeitar a dignidade dos outros,
te, presenciamos o surgimento de um grande agindo sempre democraticamente, com mui­
esforço em tomo dos pequenos grupos mis- ta lisura, sem manipulações. Deve exercer
sionários. Acho que isso pode dar certo, por­ uma liderança partilhada, onde exista fusão
que parece ajustar-se bem à nossa situação. de pensamentos, harmonia de idéias e equi-
Contudo, minha grande esperança é que ve­ líbrio de forças, prevalecendo sempre a uni-
nha um reavivamento abrindo o caminho dade de decisões. A igreja de hoje não aceita
para a Chuva Serôdia, a qual reacenderá mais líderes autoritários e centralizadores.
completamente nosso zelo missionário.
MINISTÉRIO: Como pastor, e falando
MINISTÉRIO: E as igrejas praticamen- também por sua família, o que espera dos
te vazias nas noites de domingo? O que administradores, departamentais e do secre­
pode ser feito para melhorar a freqüência tário ministerial?
desta programação evangelística? PASTOR JESUÍNO: Muita compreensão,

MINISTÉRIO/setembro/outubro 19967
apoio, companheirismo e confiança mútua. Aci- de seu trabalho. O secularismo transforma o
ma de tudo, espero que sejam pastores, capazes sobrenatural em casualidade, e faz do homem
de sentir como pastores, e não meros adminis- o seu próprio centro. Dessa forma, podemos
tradores e promotores empresariais. Há mo- ser tentados a imaginar a Igreja como uma
mentos na vida de um pastor distrital em que empresa, e confiarmos mais em nossos méto­
ele precisa de apoio pastoral, vai em busca disso dos de trabalho do que na verdadeira depen­
e volta desapontado. E não há nada mais intra­ dência do Espírito Santo.
gável na vida de qualquer ser humano, do que
uma frustração causada por alguém de quem se MINISTÉRIO: Diante disso, qual, em sua
esperava apoio e compreensão. Felizmente, a opinião, a maior necessidade da Igreja, hoje?
bem da justiça, tenho tido o privilégio de traba- PASTOR JESUÍNO: Um verdadeiro
lhar com bons administradores e departamen­ reavivamento capaz de nos habilitar a rece-
tais, homens abertos ao diálogo, amigos, respei­ ber a plenitude do poder do Espírito Santo.
táveis, democráticos e compreensivos. Mas, há Quando vejo o crescimento da apostasia en-
pessoas que atrás da escrivaninha administrati­ tre jovens e adultos; quando vejo famílias e
va perdem a capa de pastor e se revelam líderes casais se esfacelando; quando vejo igrejas
imaturos e vulneráveis em sua função. definhando em seu zelo missionário, com
bancos vazios, incapazes para a ação evan­
MINISTÉRIO: Como o senhor vê a Igre- gelizadora, sinto-me como se estivesse sen­
ja Adventista no limiar de um novo século? do despojado de minhas funções pastorais
PASTOR JESUÍNO: Vejo-a como um por incapacidade pessoal. Então, me volto
movimento triunfante, apesar das dificulda- para o Senhor e pergunto: "Por que sou tão
des ao longo do caminho. Vejo-a entrando frágil diante desta situação? O que estou fa-
no mundo dos modernos meios de comuni- zendo como pastor que não consigo minorar
cação para levar avante a comissão evangéli- o problema? Por que está demorando tanto a
ca que recebeu, portanto, mais leal que nun­ plenitude do Espírito Santo?"
ca à missão. E nem poderia ser diferente,
pois tem sido e continuará sendo dirigida MINISTÉRIO: Qual o seu maior sonho,
pela mão divina. Não tenho percebido incoe­ como pastor?
rência no trato com princípios, nem creio que PASTOR JESUÍNO: Ver esta Igreja fe­
o Senhor vá permitir que sejamos desviados liz e vitoriosa jundo ao mar como que de vi­
da verdade. Finalmente, vejo a Igreja fechan­ dro, com as harpas de Deus, cantando o cân-
do o círculo ao redor do mundo através da tico de Moisés e do Cordeiro.
Missão Global, quase dizendo como os cris-
tãos no passado: "O evangelho foi pregado a MINISTÉRIO: Que mensagem gostaria
de transmitir aos leitores?
toda criatura debaixo do sol." (Col. 1:23).
PASTOR JESUÍNO: Que jamais te­
MINISTÉRIO: Que perigos o senhor mam, tampouco se assustem com as amea­
consegue ver rondando a Igreja nos dias ças do inimigo. Que não se assombrem nem
atuais? se desanimem diante dos obstáculos da tare-
PASTOR JESUÍNO: Eu citaria o munda­ fa de liderar, seja como pastores, anciãos,
nismo e o secularismo. Quando digo munda­ ou em quaisquer outras instâncias. Jamais
nismo, estou me re­ percam seu senso de
ferindo a tudo o que pertinência e de mis-
se relaciona com o Há momentos na vida de um são. Que sejam fir­
mundo material mes como a rocha,
presente com todas pastor distrital em que ele diante das tentações,
as suas tendências e precisa de apoio pastoral, vai e rijos como o grani­
■fascinações. E to, diante das adversi­
quando menciono em busca disso e volta dades. Jamais, por
secularismo, refiro- nada no mundo, sol­
me a tudo o que
desapontado. Nada existe tem os braços de
tende a nos separar mais frustrante do que Cristo. Que nunca
de Deus, centrali­ abram mão de sua
zando no homem os essa experiência. confiança na provi­
resultados e sucesso dência de Deus.

MINISTÉRIO/setembro/outubro 1996 8
ARTIGOS

Produzindo idéias para


sermões
BERNDT D. WOLTER
Estudante de Teologia do Salt-IAE.

ames Webb Young, em seu livro intitula­


cesso. Para conseguir maior eficiência no
J do A Tecnique for Producing Ideas, trata desenvolvimento desse fator, teremos que
de como produzir idéias em um escritório deaplicar alguns métodos que serão discutidos
propagandas. Alguns dos pensamentos apre­ mais adiante.
sentados podem muito bem ser aplicados ao O segundo princípio envolve a capacida-
trabalho do pastor, ao este defrontar-se com de de ver relações. E parece mais importante
a necessidade de produzir idéias que o auxi­ que o princípio anterior. Consiste na capaci-
liem no preparo de sermões. Analisaremos, dade de combinar velhos elementos com no-
neste artigo, algumas das sugestões de vos, adicionada à habilidade de estabelecer
Young. relações entre o antigo e o novo.
A argumentação do autor é desenvolvi- E nesse ponto que as mentes se diferen­
da com base na Teoria de Pareto, a qual ciam em maior grau quando se trata de pro­
discute a existência de dois tipos de pes- dução de idéias. Para alguns raciocínios,
soas: o rotineiro e o especulador. O tipo cada fato é um pedaço separado de conheci-
rotineiro é aquele que se preocupa princi­ mento. É o chamado raciocínio estanque.
palmente em manter as coisas como estão. Para outros, os fatos se entrelaçam numa ca­
Devem estar funcionando da mesma ma- deia de conhecimento, onde é possível enfa­
neira todos os dias. Não se preocupa com tizar-se relações, similaridades, contrastes,
inovações, criatividade, mudanças. Já o extrapolações. Quando relações são detecta­
tipo especulador está constantemente bus­ das, elas conduzem ao surgimento de um
cando novas possibilidades. Deseja experi- princípio geral. Esse, quando entendido, dá
mentar novas coisas. Sua natureza é refle­ a chave de uma nova aplicação, uma nova
xiva. Pareto inclui nesse tipo todos os indi­ combinação, e o resultado é uma idéia.
víduos que nunca estão satisfeitos e espe­ Conseqüentemente, o hábito mental que
culam sobre como mudar o status quo, em nos leva à busca das relações entre elemen­
qualquer ramo de atividade. tos, toma-se da maior importância na produ­
A teoria admite esses dois grupos, sem ção de idéias. Não há dúvida de que esse há-
esclarecer se há possibilidade de migração bito precisa e pode ser cultivado.
das pessoas, de um grupo para o outro. Na produção de idéias, a mente segue
uma técnica definida, consciente ou incons­
Dois princípios cientemente. Ela pode ser cultivada e au-
mentar, Conseqüentemente, a habilidade em
processo da produção de idéias ba-
produzir idéias. Essa técnica mental com­
O seia-se em dois princípios: primeiro, preende cinco fases, que, em algum momen­
uma nova combinação dos velhos elemen to­ da vida, já foram utilizadas por nós. A
tos. Combinar de uma nova maneira as ve­ mente segue estas cinco fases em ordem de­
lhas e seguras verdades bíblicas pode ser um finida, não havendo a possibilidade de que
dos trabalhos mais significativos desse pro- uma seja completada antes da outra.

MINISTÉRIO/setembro/outubro 19969
Primeira fase cluímos que elas não existem. Se cavarmos
fundo, porém, ou formos mais longe, estare­
a primeira fase, a mente precisa reco­
mos mais próximos de descobrir que entre
N lher material. Embora pareça óbvio e cada parte de nosso produto (o evangelho
simples, essa tarefa pode ser tão penosa que
alguns a evitam a maior parte do tempo.
eterno) e alguns consumidores (membros ou
interessados) há uma individualidade de re­
Preferem distrair-se com outras coisas. Es­ lação que pode levar a uma idéia.
peram que lhes chegue a maravilhosa e tão Outrossim deve haver um contínuo reco­
desejada iluminação. É claro que o Espírito lhimento de material geral. Todas as pessoas
Santo nos auxilia, mas é aqui que podemos que têm grandes idéias são marcadas por dois
cair na mesma tentação do aluno que ora, traços notáveis. O primeiro deles é o interesse
pedindo auxílio para o exame a que será por todo tipo de assunto. Cada faceta da vida
submetido, depois se lhes afigura fasci­
de haver passado a nante e atrativa. O
tarde ou o dia ante- Devemos conhecer a natureza segundo traço é o
rior envolvido com de que estão
brincadeira e diver­
humana, suas fases com as fato sempre folheando li-
são. respectivas tendências e vros, jornais e revis­
Esse é momento tas à procura de in-
de trabalho sistemá­ provações. Devemos conviver formações sobre no-
tico e presistente, no tão intimamente com o povo, vos campos de co­
sentido de recolher nhecimento.
matéria-prima. O que possamos sentir suas No trabalho pas-
material a ser reco­ necessidades, preocupações, toral, uma idéia re-
lhido pode ser clas­ sulta de uma nova
sificado como espe- lutas, tristezas, bem como suas combinação de co­
especí­
cífico e geral.
No trabalho pas-
realizações, alegrias e vitórias. nhecimento fico sobre o evange-
toral, os materiais lho e o rebanho,
específicos estão ligados a nossa denomina- com conhecimento geral sobre a vida e fatos
ção, às características de nossa congregação colhidos pela experiência. O Espírito de
ou departamento, ao nosso público alvo. E Deus sempre auxilia em tais combinações
aqui devemos ter em mente a relação produ-
to-consumidor. O produto refere-se ao con­ Segunda fase
teúdo a ser transmitido. Em nosso caso, é o
ssa é a etapa onde ocorre o que pode-
conhecimento da Bíblia, dos escritos de El-
len White, da história denominacional e
congregacional, Manual da Igreja e, sobretu­ E mos chamar de digestão mental. Se foi
feita uma boa coleta de material, agora é ne-
do, de algo que não será ressaltado em ne­ cessário mastigá-lo. Estejamos lembrados de
nhuma produção literária humana, que é que o ponto de partida é sempre a reunião de
uma relação pessoal com Cristo. provas bíblicas. E, em seguida, a busca de
O consumidor é o ouvinte. Devemos co­ relações, ou seja as lições nas quais tudo se
nhecer a natureza humana, suas fases com as ajuntará numa combinação perfeita. A ora-
respectivas tendências e provações. Devemos ção é fundamental aqui.
conhecer algo sobre personalidade e tempera­ Quando as pessoas criativas entram nessa
mento. Devemos conviver tão intimamente fase do processo, logo serão tidas como au­
com o povo, que possamos ler suas necessi- sentes, meio aéreas. Algumas idéias parciais
dades, preocupações, lutas, tristezas, bem poderão vir à tona. Não importa quão exóti­
como suas realizações, alegrias e vitórias. cas ou incompletas pareçam, devem ser ano­
Alguns pastores agem como se todas as tadas. Elas são contornos da idéia central
pessoas fossem iguais e não existissem gran- que está chegando, e sua expressão irá aju-
des diferenças entre os membros. Freqüente­ dar a avançar no processo. Pode acontecer
mente paramos muito cedo no processo para um sentimento de cansaço, durante a reali-
chegar ao conhecimento do produto e do zação dessa tarefa, mas a mente também dis­
consumidor. Se em alguma área as diferen­ põe de um segundo fôlego. Tentemos apro­
ças superficiais não são muito claras, con­ veitar essa segunda camanda de energia, não

MINISTÉRIO/setembro/outubro 1996 10
esquecendo de continuar anotando todas as Não cometamos o erro de sentar em
idéias parciais que aparecerem. cima da idéia surgida. Devemos submetê-
la à crítica de pessoas ponderadas e de
Terceira fase pensamento construtivo, como a esposa,
por exemplo. Submetamo-la ao crivo pers-
a terceira fase, a mente precisa des­
crutador da Bíblia e dos escritos de Ellen
N cansar do esforço. Dizem os humanis­ White. Testemo-la em condições de baixo
tas que essa é a fase em que o problema risco e busquemos a opinião de pessoas
deve ser entregue ao subconsciente. Nós o confiáveis, que entendam o que seja uma
entregamos ao bom Deus, que, pelo trabalho experiência de produção de idéias.
do Espírito santo, nos iluminará com pensa­ Nessa fase, algumas idéias vão se mostrar
mentos vindos do Céu. Aqui, devem ser meras fantasias. Não devemos desistir, por­
bem aproveitados os períodos de sono, pre­ que são muitas as que, depois de adaptadas à
ferivelmente as oito horas recomendadas. realidade, produzirão frutos maravilhosos.
Deixando um pouco o assunto de lado,
devemos nos dedicar a outras atividades es- ______________ Dar tempo______________
timuladoras da imaginação e das emoções.
Ouvir música, ler poesias e histórias, pode
ajudar muito.
A pesquisa para o sermão precisa ser
iniciada cedo, na semana, ou até com
algumas semanas de antecedência para que
_____________ Quarta fase_____________ os elementos possam ser reunidos. Todo
Cumpridas as três primeiras fases do esse processo leva tempo para que seja reali­
zado sem prejuízos. As ilustrações, as apli­
processo de produção de idéias, elas cações e até o conhecimento da realidade da
aparecerão de algum lugar. Às vezes, che­ congregação são obtidos durante o trabalho
gam quando menos esperamos - na hora do de visitação pastoral, e pela experiência do
banho, no momento de fazer a barba, ou de próprio ministro, ao longo dos dias que ante­
madrugada. Podem até surgir no meio da cedem o sermão.
noite, quando o sono se vai por alguma ra- Os ruídos na comunicação podem ser di­
zão. Vamos anotá-la sem perder tempo. minuídos com idéias bem digeridas e bem
Arquimedes descobriu que dois corpos aplicadas às particularidades do rebanho. A
não podem ocupar o mesmo espaço, ao mensagem assim preparada não chega dis­
mesmo tempo, quando ia banhar-se na ba­ torcida ao adorador, e a adoração a Deus
nheira e a água derramou-se quando ele não sofre danos.
entrou. Num ímpeto, saiu correndo despi­ Agindo com antecipação, o pregador evi­
do e griando: "Eureka! Eureka!" É justa- ta perder a credibilidade tão necessária para
mente esse o nome que deveria ser dado a alcançar os corações. Sua utilidade como
essa fase - "eureka". ministro de Deus e sua influência para o
bem se multiplicam em favor dos adorado­
Quinta fase res e interessados na mensagem.
s pregadores têm pouca oportunidade Na prática, podemos observar que exis-

O sua totalidade. Depois de ter passado pelo


tem sermões que jamais poderão ser elabo­
de colocar em prática essa fase, em rados antes de termos vivido o suficiente.
A experiência como pais, esposos, pastores
êxtase do nascimento da nova idéia, é neces­ bem como o ciclo natural dos anos, ajudam
sário pegá-la e trazê-la à realidade. Ao fa­ a encher o reservatório. Isso somente não
zermos isso, perceberemos muitas vezes que ocorrerá se nos recusarmos a viver racio­
não se trata de uma criança tão maravilhosa nal, emocional e plenamente. Dotados de
como parecia ao nascer. mais experiência, podemos adaptar as
É necessário agora um trabalho paciente idéias já concebidas.
para fazer com que as idéias sejam encaixadas O processo de produção de idéias pode
nas condições exatas, reais. E aqui muitas ocorrer nas mais variadas ocasiões, quando
idéias acabam se perdendo. Homens de idéias, se vive em plena criatividade. Por tal pro-
como os pregadores, nem sempre têm paciên­ cesso, têm sido encontradas soluções verda­
cia suficiente para atravessar esse período duro deiramente geniais para os problemas da
de adaptação. Mas essa fase deve ser cumprida. vida prática.

MINISTÉRIO/setembro/outubro 199611
Quando a morte se aproxima
PENNY SHELL
Capelão do Shadt Grove Adventist Hospital,
Rockville, Maryland.

astor Jon”, clamava a voz aflita de reando com poder, sensibilidade e carinho.

P Karin, no outro lado da linha telefô-


nica, "eu estou chamando do hospital.
diagnóstico de Devin acusou leucemia. Seu
Como, então, podemos estar preparados
O ministrar ao doente terminal?
para

médico quer iniciar logo o processo de qui­ Preparação pessoal


mioterapia, de modo que ele permanecerá
restar atenção ao nosso próprio viver

P
aqui algum tempo mais. Eu não disse a ele
que lhe telefonaria, mas pensei que o senhor pode parecer uma maneira estranha de
deveria ser informado. Não estou certa de começar, mas a qualidade de nosso ministé­
que o senhor deva visitá-lo. Não quero as­ rio está diretamente proporcional ao cuidado
sustá-lo. Eu..." responsável de nós mesmos. Podemos en-
Jon interrompeu Karin para dizer que logo contrar ajuda ao escrever nossa resposta pes-
estaria no hospital. Devin não era apenas um soal a cada uma das seis questões seguintes:
membro da igreja, mas seu amigo. Ambos * O que sei sobre como trabalhar com
eram quarentões e tinham filhos adolescentes. doentes terminais? Teoria e prática são fato­
Habitualmente um pastor calmo, Jon agora res altamente necessários para ajudar-nos a
estava surpreso com a revolução de seus sen­ aprender. Uma boa maneira de começar é to­
timentos. Ele realmente estava com a cabeça mar aulas sobre intervenção em crises, doença
prestes a explodir, enquanto lutava consigo e morte. Certamente, uma das formas mais
mesmo, tentando acalmar-se e concentrar-se. eficazes nesse sentido seria a realização de
Ali sentado, Jon deparou-se com um cres- cursos de Educação Contínua sobre o assunto.
cente sentimento de surpresa pelo fato de * Qual a minha visão a respeito de doen-
que ele, e não o pastor titular, tivesse sido ças graves? Se nós, ou qualquer pessoa em
chamado. Sim, era-lhe agradável que Karin nossa família, alguma vez fomos acometidos
e Devin pudessem contar com ele para cui­ de alguma enfermidade séria, estamos em
dar das coisas. Levantou-se, e foi até à por- condições de analisar como a doença afeta
ta. Deveria assegurar-lhes e a si mesmo de uma pessoa e nosso relacionamento com ela.
que, de certa forma, finalmente tudo estaria Se, por outro lado, ainda não tivemos a opor-
bem com Devin. Tomaria sua Bíblia e a usa­ tunidade de ser uma testemunha, de primeira
ria para recuperar a fé e a confiança do ca­ mão, da devastação causada por alguma
sal. ... Mas, será que tal aproximação real- doença, poderemos ficar surpresos diante das
mente ajudaria? O que diz você a alguém profundas mudanças que ela pode efetuar.
que acaba de saber que está com leucemia? Ao contrário dos bem asseados enfermos
O diagnóstico de uma doença incurável das histórias de televisão, as pessoas na vida
sempre nos causa impacto. Sentimo-nos real podem tomar-se esqueléticas, perder o
como se estivéssemos viajando num trem cabelo, sofrer mudança de personalidade, e
que subitamente se choca com algum obstá­ até exalar odores desagradáveis. O devoto
culo escondido pelo nevoeiro. O impacto é ancião de igreja pode passar a usar lingua-
devastador para as pessoas mais diretamente gem lasciva, conversação sem nexo, depois
envolvidas, mas também cria certa desorien­ que algum golpe o faz entrar num processo
tação e estresse nos pastores. de senilidade. A "mãe em Israel" pode per­
Em nosso contato inicial com a família, é der seu vigor, beleza e perspicácia. O ho-
natural que aconteça uma certa explosão de mem jovem, forte e fiel, pode tomar-se dú­
adrenalina, mas com o passar dos dias, se­ bio, queixoso e chorão. Em tais circunstân-
manas e meses, necessitamos apoio, habili- cias, somos chamados a ser visionários de
dade e força espiritual, para continuar pasto­ Deus, que podem ver em tais pessoas filhos

MINISTÉRIO/setembro/outubro 199612
preciosos Seus, que agora encontram-se ba­ permitindo que seja partilhada com outros.
fejados pelo sopro das intempéries da vida. Ou então falhamos em buscar ajuda porque,
Uma outra visão que podemos carregar como o servo de Elias, não podemos ver
inconscientemente é que muitas enfermida­ qualquer aprovação avaliável para nós. Toda­
des representam o desprazer de Deus. A pa­ via, a busca de sustentação pessoal fortalece
lavra "golpe", por exemplo, traz a implicação nosso ministério, da mesma forma que o ato
de que Deus tem abatido ou punido a pessoa de colocar a máscara de oxigênio primeiro
enferma. Até poucas décadas, o câncer era sobre nós, quando cai a pressão do ar num
uma doença quase indigna de qualquer men­ avião, nos habilita a prestar ajuda a outros.
ção, por causa de sua associação com a con­ Moisés teve êxito em abençoar Israel du-
denação de Deus. Mesmo hoje, assim como rante um momento de crise porque aceitou o
nos tempos bíblicos, certas doenças são con­ apoio de Arão e Hur (Êxo. 17:8 a 16). Todos
sideradas uma prova da retribuição divina. nós, algumas vezes, precisamos buscar al-
* Como reajo emocionalmente? A crise guém que possa sustentar as nossas mãos.
de saúde, vivida por outra pessoa, freqüente­ Onde o encontraremos? Entre os colegas?
mente leva-nos a pensar em nossa saúde e Entre os membros da família? Ou entre ami-
eventual morte. O fim de uma pessoa de gos ou conselheiros? Nosso pedido de ajuda
nosso nível social, econômico, etário e gené­ a eles pode ser simples como um convite
rico é a situação que maior impacto emocio- para comer juntos, em determinado dia da
nal nos causa. Especialmente se essa pessoa semana, ocasião em que a conversa gira em
nos faz lembrar alguma coisa com a qual tomo do assunto que nos preocupa. Ou uma
nos relacionamos intimamente, quer no sen- ligação telefônica na qual se comenta o de-
tido positivo ou negativo. A compreensão de sempenho no trato da crise.
nossos sentimentos e sua expressão apro­ Reuniões regulares com um pequeno
priada, nos deixam livres para apoiar os grupo são ocasiões propícias para desafogar
membros de nossas igrejas. nossos sentimentos, partilhar dificuldades,
* Quais são os meus limites? Embora o trocar idéias e aumentar as perspectivas.
ato de não "avaliar o custo" seja freqüente­ Há ainda o sempre presente apoio de
mente visto como parecendo uma coisa admi­ Deus. Podemos renovar essa presença santa
rável, isso pode levar-nos a negligenciar ou- em poucos momentos de oração silenciosa
tras partes da nossa vida. Jesus mesmo enco­ antes de entrarmos na casa ou no hospital.
rajou-nos a avaliar o custo de nossos compro­ Podemos descansar em Sua segurança e ex-
missos. Avaliar o custo não nos livra de agir, pressar nosso pedido por sabedoria.
mas reconhece nossos limites e ajuda-nos a * Como minha igreja pode exercer este
decidir que tipo de ação vamos realizar. ministério? Nossas congregações podem
Talvez estejamos no meio de uma grande tomar-se eficientes participantes em nosso
programação da igreja quando estoura a crise. ministério pastoral. Algumas dentre muitas
Talvez estejamos enfrentando uma crise pes- maneiras pelas quais isso é possível, são as
soal, íntima. Se esse for o caso, podemos so­ seguintes: 1) Os membros das igrejas que
licitar ajuda. Outras pessoas, com maior dis- revelem tato especial em relação a outras
ponibilidade de tempo e energia, podem ser pessoas, podem tomar-se ministros compe­
mais hábeis para ministrar em meio à crise. tentes junto ao enfermo e moribundo. Exis-
* Que tipo de apoio eu tenho? Cuidar de tem alguns programas de treinamento que
nós mesmos, de tal maneira que possamos têm se tomado uma bênção no engajamento
cuidar melhor de outros, é um fator inerente à de voluntários nesse trabalho.
injunção bíblica segundo a qual devemos 2) Uma pessoa bem informada, ou uma pe-
amar ao próximo como a nós mesmos. Sem- quena comissão, na congregação poderia tra-
pre estamos encontrando razões para negli- balhar na criação e manutenção de um banco
genciar nossas próprias necessidades. Pelo de informações que contenha os grupos locais
fato de que a pessoa enferma tem grandes ne- de apoio, nomes e endereços de conselheiros
cessidades, podemos ser tentados a pensar que possam ser chamados em ocasiões de cri­
que as nossas necessidades não são importan­ se, além dos nomes e endereços de irmãos que
tes. Alguns de nós, às vezes, podemos nos estejam gravemente enfermos. 3) Outra ma-
sentir até envaidecidos com o pensamento de neira seria a formação de equipes de oração,
que somos "os únicos que podemos ajudar preparo de alimentos, transporte, etc., que es­
realmente". Então, abarcamos a situação, não tejam sempre prontas quando necessário.

MINISTÉRIO/setembro/outubro 199613
Guias para ação gregação de um" diante de nosso irmão doen-
te, ouvindo atentamente, enquanto ele mesmo
preparo pessoal e o apoio podem pro-
encontra maneiras de se fortalecer.
O ver nossa presteza em ministrar àque­
les que se encontram em crise. Mas, como
Então, aproveite para transmitir-lhe pala-
vras de encorajamento em relação à continui­
podemos colocar isso em prática? Os seguin- dade de sua luta, indique-lhe passagens bíbli-
tes princípios têm contribuído para o sucesso cas como o Salmo 91, por exemplo. Peça-lhe
de meu trabalho com os doentes terminais: que diga como gostaria de ser melhor ajudado.
1. Seja alerta e sensível. Ao visitar uma 4. Contate a família. O doente terminal
pessoa cujo bem-estar depende de equipamen­ não sofre sozinho. Toda a sua família é afetada.
to médico, nós podemos evitar uma série de Enquanto nós empregamos tempo com a família
problemas, tomando-nos cientes do seu territó­ de alguém em estado moribundo, começamos a
rio. Sentar na cama da pessoa, por exemplo, ver como cada membro se relaciona com os ou-
pode ser uma boa idéia, mas primeiramente tros. Descobrimos quem na família aparece
deve ser checada a conveniência disso com ela. como porta-voz, ou o portador da última palavra
Um inesperado "acidente" poderia sujar parte quando uma decisão tem de ser tomada. Essas
da cama. Movimentos descuidados poderiam pessoas podem ser uma fonte valiosa de infor-
desconectar violentamente fios que conduzem mações e ligação com o restante da família.
soro ou tubos de oxigênio, ou outros equipa­ Alguns membros da família parecem desva-
mentos sob os lençóis. Uma colisão acidental lidos, lutando para expressar seus sentimentos,
poderia prejudicar alguma área frágil do corpo. ou colocando-se à margem. Podemos apoiá-
Existe ainda a questão sobre quanto tem- los, ouvindo o que têm a dizer e mostrando
po deveriamos permanecer no local. Ocasio­ compreensão para com a sua dor e reconhecen­
nalmente uma visita longa é extremamente do seus esforços. As crianças estão freqüente­
importante para a pessoa visitada, mas em mente no último lugar do grupo. Mas podemos
geral ela cansa o doente. Qualidade é a pala­ encorajar os adultos no sentido de confiar às
vra. Usualmente, visitas curtas são o melhor crianças a escolha do seu próprio grau de en­
método. Podemos criar uma visita de quali­ volvimento e não protegê-las automaticamente.
dade removendo nossos agasalhos e sentan­ Quando uma pessoa está em fase terminal
do-nos no nível dos olhos do enfermo. De- de uma doença, a família não raro começa a
pois de brevemente partilhar notícias da igre­ afligir-se muito tempo antes de a morte acon­
ja ou expressar nosso interesse em seu bem- tecer. Nosso dever é facilitar esse processo
estar, podemos condicionar-nos a ouvir o pela aceitação de sua mágoa. Se o marido nos
que a pessoa deseja partilhar, se for o caso. diz, por exemplo: "Não posso compreender
2. Reconheça a vida. Quando aceitamos como uma coisa dessa aconteceu com ela,
que somos todos moribundos, podemos estar pastor", não estaremos ajudando se retrucar­
mais conscientes daquilo que as pessoas ter­ mos: "Ora, irmão, você precisa ter fé." O con­
minais estão experimentando. Elas ainda se solo somente é sentido realmente, quando
interessam por esportes, política, família e mostramos a compreensão dos sentimentos do
religião. Então vamos tratar o enfermo e sua outro, dizendo-lhe algo como, "eu compreen­
doença da mesma maneira respeitosa com do como isso deve ser muito cruel para você".
que sempre o tratamos, e não como alguém Também ajudamos aos membros da família
cuja vida já tivesse terminado. em luta, perguntando-lhes que outras crises eles
3. Ouça o enfermo. Algumas vezes, nós enfrentaram e o que fizeram diante delas. Re­
somos chamados para visitar o doente porque lembrando a maneira como eles lutaram antes,
somos uma figura com autoridade, mas nossa reajustamos a engrenagem de ação e lutamos no
eficiência será sempre melhor se agirmos presente. Levando em conta que os membros da
como líderes servos. Em virtude de que mui- família literalmente se esquecem de cuidar de si
tos doentes terminais perdem muito do con- mesmos, às vezes, podemos encorajar suas pró-
trole sobre sua própria vida, elas facilmente prias idéias de ajuda pessoal, como planejar um
tendem a olhar-se com um sentimento de de­ dia a ser passado fora, por exemplo.
samparo e impotência. Como líderes servos, 5. Comunique honesta e diretamente.
nós crescemos em nossa própria autoridade Que deveriamos nós fazer se a família nos
pessoal ao ouvir suas idéias sobre como aten­ diz que "a vovó não sabe que tem um cân­
der às suas necessidades. De certa forma, nós cer, e nós não queremos dizer-lhe isso"?
trocamos de lugar. Tornamo-nos uma "con- Uma resposta possível é deixar a família sa­

MINISTÉRIO/setembro/outubro 199614
ber que enquanto não for anunciado à vovó sita é ler...". Melhor é perguntar? "Gostaria de
seu diagnóstico, também não lhe poderá ser que eu lesse a Escritura enquanto estou aqui?"
contada uma história falsa quando ela fizer Então, devemos respeitar qualquer resposta ne-
uma pergunta direta a respeito do assunto. gativa ou obscura. Na maioria dos casos ela
Deveria um pastor falar ao moribundo so- vem afirmativamente. Nesse caso, é positivo
bre seu estado? Isso pode ser extremamente oferecer-lhe a oportunidade de ouvir um texto
duro - e foi a razão pela qual Jon planejou predileto. Se não houver nenhuma manifesta­
assegurar a Devin de que tudo poderia final- ção nesse sentido, devemos estar preparados
mente dar certo. Na verdade, nem sempre é para partilhar uma porção escriturística que nos
necessário assumir essa parte. Mas se a pes- tem abençoado em tempos difíceis.
soa doente expressa sentimentos de agonia, A oração também pode ser mais efetiva
angústia e inquietação, nossa capacidade de quando oferecida e não imposta. Algumas ve-
ouvir pode produzir conforto e alívio. zes, a melhor oração é aquela que fazemos an-
Seria normal um pastor chorar por causa tes da visita. A oração efetiva, que traz reais
do estado sem esperança de um membro de benefícios, é aquela que brota naturalmente da
sua igreja? Estar feliz sempre traz uma con­ conversação, aquela que reflete as preocupa­
tribuição positiva, mas às vezes acontece um ções e mesmo as palavras do enfermo.
curto-circuito de tristeza que é natural e apro­ Tal como a leitura da Escritura, a oração
priado. Lágrimas também podem abençoar. é mais bem-vinda quando é fruto da permis­
Lágrimas excessivas, por outro lado, podem são clara do doente. A maioria dos enfer­
se tomar um embaraço. Especialmente quan­ mos, no entanto, aceita nossas orações. Aqui
do nos tomamos tão emotivos que outras pes- também é válido pedir-lhe que expresse al­
soas sentem que devem cuidar de nós. guma razão específica pela qual deseja que
Que dizer a respeito de pessoas cujo estado oremos. Geralmente, entre lágrimas, alguns
é tão crítico que se encontram inconscientes? solicitam orações pelo bem-estar dos filhos
Quando isso ocorre, e o doente já não respon­ após sua morte, ou em favor da recuperação
de de nenhuma forma, podemos falar a outros da saúde, mesmo que isso signifique a reali-
a respeito dele, em sua presença. É importante zação de um milagre, conversão de familia-
lembrar que um doente terminal pode nos ou- res, amigos ou colegas de trabalho.
vir, mesmo que não possa responder. Assim, Há outros recursos religiosos que podem ser
não podemos descartá-lo, mas continuar fa- oferecidos: unção, Santa Ceia, ou qualquer ou-
lando também a ele diretamente. tro símbolo de significado espiritual concreto.
6. Trate das emoções. Quando abrimos os 8. Exalte a Deus. Algumas vezes, o sim-
ouvidos para as expressões emotivas, nós ajuda­ ples gesto de sentar-se quietamente com o
mos o moribundo a jogar fora seus trapos inte­ doente e sua família é nosso melhor trabalho
riores, antes de morrer. Nosso ouvido imparcial ministerial. A implementação de métodos cor­
pode ajudá-lo a expressar emoções tais como retos de visitação não pode substituir uma
ira, dúvida, medo, tristeza ou culpa. Emoções presença genuinamente cuidadosa. Estar ali,
incompreendidas ou negadas perdem-se por si ou estar com, é simplesmente tudo o que é ne-
mesmas. Elas não voltam de novo. cessário, muitas vezes. Este é o pano de fundo
Sentimentos de culpa, no entanto, requerem de nosso ministério em favor dos doentes ter­
um tratamento especial. Se tivermos um rela- minais: Viver nas promessas de Deus.
cionamento de confiança com o doente, estare­
mos abertos para alguém com quem ele partilha ___________ Pagando o preço___________
tais sentimentos. Nem toda culpa é lógica, mas
Se estamos correndo para atender aos en-
toda culpa pode e deve ser respeitada. Através
de paciência e um ouvido imparcial, podemos fermos, a fim de sermos tratados poste­
oferecer a segurança do perdão e da graça de riormente como heróis, para recebermos
Deus. A culpa é um visitante persistente. Embo- apreciação e louvor, certamente falharemos.
ra banido num dia, pode reaparecer no outro. Mas quando temos feito os arranjos apro­
7. Ofereça os recursos religiosos gentil­ priados no sentido de cuidar, primeiramente,
mente. A maneira como nós usamos as Escri- de nós mesmos, e entrar com sensibilidade,
turas e a oração pode ajudar ou atropelar mais sabedoria, e compromisso na vida daqueles
ainda as necessidades de uma pessoa. Não é que receberam o diagnóstico acusando uma
necessário forçar um texto numa conversação, doença incurável, estaremos abertos a um
dizendo alguma coisa como "o que você neces­ ministério efetivo e de êxito.

MINISTÉRIO/setembro/outubro 1996 15
O estudo das genealogias
bíblicas
ELIAS BRASIL DE SOUZA
Professor de Antigo Testamento no Salt-Iaene.

ara muitas pessoas, as genealogias da Bí-


No entanto, quando o registro bíblico é
P blia representam as porções mais difíceis comparado com os alegados paralelos meso-
de serem lidas. Longas listas de nomes de pespotâmicos,
- muitas diferenças se tomam cla­
soas que viveram na antiguidade parecem des­ ras. As listas mesopotâmicas contêm nomes
necessárias e supérfluas no contexto da mensa- sumérios e se referem à duração do reinado
gem espiritual das Escrituras. Com freqüência, de uma sucessão de reis. Em Gênesis 5 e 11,
os pastores são interpelados por irmãos piedo­ por outro lado, as genealogias contêm nomes
sos que, ao fazerem o "ano bíblico", questio­ semíticos e referem-se à duração da vida de
nam se não seria melhor passar por cima de tais uma seqüência de patriarcas. Adicionalmen­
textos para aproveitar melhor as porções consi­ te, as genealogias mesopotâmicas se limitam
deradas mais edificantes da Palavra de Deus. a uma história local apresentada com o pro­
Neste artigo, pretendemos analisar a fun­ pósito ideológico de "provar que a realeza
ção e o propósito das genealogias da Bíblia pertence à Suméria e a nenhum outro lugar".
e, com isso, demonstrar que essas porções Em Gênesis 5 e 11, ao contrário, as ge­
escriturísticas não foram preservadas por nealogias estão situadas em uma perspecti­
acaso, mas têm um propósito no contexto da va universal. Tratam da multiplicação e
revelação. Para alçançar esse objetivo, ire­ propagação de toda a raça humana. Mos-
mos nos limitar às genealogias encontradas tram o começo da humanidade em Deus e a
na primeira parte do livro de Gênesis, uma seqüência de uma linhagem que leva de
vez que um estudo mais abarcante iria extra­ Adão a Noé, e deste a Abraão. As mencio­
polar os limites do espaço disponível. nadas diferenças destacam a singularidade
O tema será abordado a partir de duas das genealogias bíblicas e tomam muito di-
perspectivas diferentes, mas que se comple- fícil qualquer dependência de fontes meso­
mentam mutuamente. A perspectiva históri­ potâmicas. Pois a Bíblia está narrando a
ca nos mostra que o relato é factual, não foi existência de pessoas reais que viveram so-
inventado, ou copiado de mitos antigos. Os bre a Terra em um passado distante.
indivíduos mencionados nestas listas foram É interessante notar, contudo, que a histo­
pessoas reais que viveram na antiguidade ricidade dessas genealogias não permite o es­
sobre a face da Terra. Na perspectiva teoló­ tabelecimento de dados precisos para a idade
gica, veremos que a narrativa bíblica não do homem sobre a Terra. O arcebispo James
tem um propósito meramente estatístico, Usher, no século XVII, calculou, partindo das
mas está organizada em função de uma genealogias, que a Terra havia sido criada no
mensagem que transcende a época em que dia 22 de outubro de 4004 a.C. Alguns anos
foi composta. antes, John Lightfoot tinha sido mais preciso
afirmando que Adão fora criado às 9h00 da
Confiabilidade histórica manhã, numa sexta-feira do ano 3.928 a.C.
Esse tipo de especulação revela uma com-
s estudiosos liberais sustentam que as
preensão equivocada dos registros bíblicos.
O genealogias de Gênesis 5 e 11 foram in­

e que, portanto, a historicidade desse material


A historicidade ou factualidade das ge­
nealogias não implica precisão matemática
fluenciadas por antigas listas dos reis sumérios
segundo os critérios modernos. O autor bí­
não pode ser levada a sério. Se isso fosse ver- blico foi seletivo ao escolher os nomes de
dade, as Escrituras não mereceríam credibilida­ sua lista e poderia ter arredondado alguns
de, pois careceríam de fundamento histórico. números. O fato de haver dez gerações de

MINISTÉRIO/setembro/outubro 1996
Adão a Noé, e mais dez de Noé a Abraão, duos mencionados e a duração de sua vida li­
sugere que o relato é esquemático. teral e seriamente". Acrescentamos ainda que
Quando comparadas as três principais as considerações feitas pelo autor bíblico a
testemunhas do texto do Antigo Testamento, respeito de Enoque e Noé, retratando-os como
é notada a existência de diferenças marcan­ indivíduos, elimina qualquer possibilidade de
tes entre as mesmas. Para exemplificar isso, interpretação simbólica para esses e os demais
basta que consideremos o período da Cria- nomes e números da tábua genealógica.
ção até Abraão. O texto Massorético deixa
um lapso de tempo de 1946 anos; a Septua­ Propósito teológico
ginta, 3312; e o Pentateuco Samaritano,
m geral, os eruditos também concordam

E
2247 anos. Isso sugere a necessidade de
muito cuidado e ausência de dogmatismo no em que o livro de Gênesis se divide em
que tange ao uso desses dados com o propó- duas partes principais. Os capítulos 1 a 11 for­
sito de estabelecimento de uma cronologia mam a chamada "história primeva", que apre-
absoluta para a Criação. Há mais prudência senta seus temas de uma perspectiva univer­
em compreendê-los como aproximações, e sal. E nos capítulos 12 a 50, está a "história
não como dados matemáticos absolutos. patriarcal", onde o relacionamento especial de
Nesta altura, três pontos importantes de- Deus com o povo escolhido é destacado. A
vem ser observados: 1) É bem provável que primeira seção do livro narra três grandes
o autor bíblico fosse seletivo, escolhendo eventos: Criação e queda do homem (1 a 4), o
apenas dez nomes dos mais proeminentes Dilúvio (6 a 9), e a saída do povo de Deus de
em uma seqüência, não obrigatoriamente Ur (v. 11). O lapso de tempo entre esses even-
imediata de pai para filho, mas de um indi- tos é preenchido com genealogias que condu­
víduo para seu descendente mais remoto. zem de Adão a Noé, e de Noé a Abraão.
Essa possibilidade tem apoio lingüístico no Cada uma dessas genealogias é formada por
uso do verbo hebraico yalad (gerar), o qual dez gerações, excetuando a genealogia que vai
pode significar tanto "tornar-se pai de", de Caim a Lameque, pelas seguintes razões:
como "tomar-se ancestral de". Lameque é o sétimo depois de Adão pela
Há também o fato de que as palavras usa­ linhagem de Caim. Em Lameque a impiedade
das para pai e filho em hebraico têm, respec­ atinge a sua plenitude, ao fazer "da sua espa­
tivamente, um significado mais amplo de da o seu deus" e acrescentar ao crime de ho­
antepassado e descendente. micídio o pecado da poligamia (Gên. 4:19).
2) Ao compararmos Gênesis 11:13 a 15 Enoque é o sétimo depois de Adão pela li­
com Lucas 3:35 e 36, percebemos que na nhagem de Sete. Na vida de Enoque, a santi-
genealogia de Lucas 3, existe um Cainã que dade atinge o seu clímax. Um homem andou
não aparece na genealogia de Gênesis 11, com Deus e Deus o tomou para Si. Andar
porque Lucas está seguindo o texto da Sep­ com Deus "denota o relacionamento mais
tuaginta. Isso é uma evidência adicional de confidencial, a mais íntima comunhão".
que podem existir lacunas nas genealogias, Assim, vemos que o arranjo literário pro­
causadas por copistas ou por intenção do cura evidenciar o fato de que, desde o início
próprio autor bíblico. da humanidade, dois grupos se diferenciam.
3) É necessário ter em mente que em ne- Um toma o caminho dos ímpios e chega ao
nhum lugar da Bíblia é encontrada a mais leve ápice da maldade em Lameque, o sétimo de-
alusão às genealogias para estabelecimento de pois de Adão, pela linhagem de Caim. O ou-
padrões cronológicos, ou cálculos proféticos. tro toma o caminho dos justos e atinge a ple­
Isso significa forte evidência de que as genea­ nitude na vida piedosa de Enoque, o sétimo
logias não foram dadas com tal propósito. depois de Adão, pela linhagem de Sete. Des­
Apesar das lacunas que possam existir, as taca-se, assim, a progressão histórica do an­
evidências sugerem que "os períodos de dura­ tagonismo entre a descendência da serpente
ção da vida devem ser entendidos literalmen­ e a semente da mulher (Gên 3:15).
te" como se referindo aos indivíduos mencio­ A genealogia de Caim termina nos filhos de
nados. Nada há no texto que permita alegori- Lameque, e nenhuma referência é feita quanto
zação ou uma interpretação simbólica dos da­ à duração da vida dos descendentes de Caim,
dos. Pois, como bem afirmou Arthur Ferch, pois não há futuro para essa linhagem. Serão
"A Bíblia geralmente, e as genealogias em destruídos pelo Dilúvio, o qual, de certa forma,
Gênesis especificamente, tomam os indiví- era uma prefiguração da destruição total dos

MINISTÉRIO/setembro/outubro 1996
ímpios pelo fogo eterno (II Ped. 3:5 a 10). A 4 e 5, aparecem as duas facções do grande con-
genealogia de Sete passa por Enoque e conti­ flito. A linhagem de Sete e a linhagem de Caim
nua até Noé, atravessa o Dilúvio e, finalmente, - a Semente da mulher e a semente da serpente.
desemboca em Abraão. Essa seqüência marca Percebe-se ainda, nas genealogias, o resultado
"o progresso daquela descendência prometida a da bênção divina: "Multiplicai-vos, enchei a
Eva" (Gên. 3:15), e que na plenitude do tempo Terra". Isso se toma claro na "tábua das nações"
havia de esmagar a cabeça da serpente. (Gên. 10), onde é vista a expansão geográfica
da humanidade; e nas genealogias (Gên. 5 e
Monotonia 11), onde destaca-se a sucessão no tempo.
utra característica marcante das ge­ Pelas genealogias, é mostrado que o pecado

O resulta em diminuição da vida e, finalmente, em


nealogias é a repetição monótona de morte. Mas, ao mesmo tempo, verifica-se que o
expressões estereotipadas. Em Gênesis 5, pecado
no e a morte não têm a última palavra.
final da descrição da vida de cada indivíduo, Enoque andou com Deus e foi trasladado, dan­
o autor acrescenta a frase "e morreu". Toda do à humanidade um vislumbre do dia em que a
a narrativa se desenvolve como um movi- morte será tragada pela vitória (I Cor. 15:15).
mento em direção à morte. Apesar da vigo­ No transcurso da História, Deus sempre teve
rosa longevidade, o "certamente morrerás" o Seu remanescente e o preservou em meio às
se cumpre em todos eles. Este refrão só é in­ mais difíceis circunstâncias. Noé era um ho-
terrompido na história de Enoque, o que en- mem justo em sua geração. Abraão foi chama-
fatiza de forma especial a singularidade des­ do dentre os pagãos de Ur para ser portador da
se patriarca, cuja trasladação trouxe ânimo promessa às gerações futuras. Isso mostra que
àquela geração machucada pelo pecado. é possível obedecer e servir a Deus, mesmo em
É possível notar ainda uma drástica redu­ meio a uma cultura hostil. As listas de nomes
ção na idade dos patriarcas na genealogia de pessoas que viveram na antiguidade deno­
dos indivíduos pós-diluvianos. Embora Noé tam o interesse especial de Deus em cada indi-
tenha alcançado a idade de 950 anos, seu fi­ víduo. Ele nos conhece pelo nome e Se lembra
lho Sem chegou a 600; Naor, o avô de de cada um de nós. Não somos gotas de água
Abraão, chegou somente a 148 anos de ida­ no oceano, temos uma identidade que sempre
de. Essa redução de longevidade sugere uma será preservada pelo Senhor.
decadência na qualidade de vida causada, Finalmente, contra os críticos antigos e
possivelmente, por razões climáticas e dieté­ modernos, as genealogias mostram que o ho-
ticas. Ellen White afirma que, após o Dilú­ mem está sobre a Terra há poucos milhares
vio, Deus permitiu ao ser humano "comer a de anos, e não há milhões como afirmam os
carne dos animais limpos preservados na evolucionistas. Adicionalmente, essas genea­
arca", pois a vegetação havia sido destruída. logias não se constituem blocos de material
Essa alteração no regime alimentar, junta­ inserido no livro de Gênesis por um autor di­
mente com as alterações ambientais causa­ ferente, como afirmam os estudiosos liberais.
das pelo Dilúvio, contribuiu para diminuição Ao contrário, as evidências indicam que elas
do tempo de vida. têm um propósito relevante no contexto geral
do livro e apontam para uma autoria unifica­
Genealogia é importante da de Gênesis.
s considerações precedentes nos per­ De tudo o que foi visto anteriormente,

A podemos concluir que as genealogias são


mitem ver a riqueza de elementos his­ muito importantes no contexto da revelação
tóricos e conceitos teológicos contidos nas
bíblica. Não são textos dos quais se possa
genealogias. Em síntese podemos concluir prescindir; fazem parte da inspirada Palavra
que as genealogias mostram a origem co­ de Deus e, assim, têm muitas lições para nos
mum e a solidariedade da raça humana. De ensinar. Portanto, apesar de parecerem, às
um só, Deus fez todos os homens. Ninguém vezes, enfadonhas, merecem ser lidas, inves­
pode pretender superioridade com base em tigadas e ensinadas.
raça, origem ou cor. Todos temos uma ori-
gem comum em Deus, através de Adão.
NOTA: Em virtude da exigüidade de espa­
As genealogias deixam claro que, desde o ço, deixamos de publicar a extensa bibliogra­
princípio, a humanidade se divide entre os que fia desta matéria.
servem a Deus e os que O rejeitam. Em Gênesis

MINISTÉRIO/setembro/outubro 199618
Retrato de um ministro
inconverso
ALMIR A. FONSECA
Ex-editor de Ministério, jubilado, reside
em Tatuí, SP.

escolha de Matias para o lugar de Ju-


nos, faz-nos crer que Judas, à semelhança de
A das (Atos 1:15 a 26), foi cercada de
uma série de ponderações solenes. O apósto­
lo Pedro, um dos mais respeitados discípulos
seus colegas de apostolado, fora investido de
uma importante função. Judas não pertencia ao
grupo dos doze porque Jesus tivesse dificulda­
de Jesus, usou da palavra para dizer aos seus de para completar esse número, quando fez a
companheiros que a vaga deixada pelo trai­ escolha dos Seus discípulos. Tanto quanto nos
dor deveria ser preenchida com todos os cui­ demais apóstolos, Jesus viu nele qualidades
dados que o caso exigia. Considerou neces­ que poderiam ser úteis à causa do evangelho.
sário que, dos homens que haviam convivido Até certo ponto, é natural que olhemos
com eles todo o tempo em que o Senhor Je- para Judas com certa repugnância. O crime
sus entrou e saiu dentre o grupo, começando que praticou é inaceitável, se é que algum
desde o batismo de João até ao dia em que crime deve ser aceito. Todavia, se Judas não
dentre eles foi recebido em cima no Céu, um valia nada; se não possuía nenhuma qualida­
deles se fizesse testemunha da ressurreição. de boa, então Jesus não perdeu muita coisa.
Em sua argumentação, Pedro valeu-se das Entretanto, parece não ter sido isso o que
palavras de dois salmos. O primeiro (Salmo aconteceu. É o que iremos ver em seguida.
41:9), para relembrar o que o Espírito Santo
havia dito por intermédio de Davi, "acerca Pessoa influente
de Judas, que foi o guia daqueles que pren­
udo indica que Judas era um indivíduo
deram a Jesus". Falou a respeito do ministé­
rio que Judas havia alcançado entre o grupo
dos discípulos, e do campo que adquirira
com o galardão da iniqüidade. O Salmo
T influente nas altas camadas do povo ju­
deu dos dias de Jesus. Sugere isto, o fato de ter-
se apresentado por duas vezes aos principais
69:25, por sua vez, tratava, esclareceu Pedro, sacerdotes em tão pouco tempo. A primeira de­
da substituição de Judas. "Fique deserta a las, para propor a venda de Jesus; a segunda,
sua habitação, e não haja quem nela habite, e quando voltou para devolver o dinheiro. Essa
tome outro o seu bispado", lembrou Pedro. facilidade de entender-se com pessoas tão res­
A oração proferida, pedindo a Deus que peitadas, parece que não era tão comum entre
mostrasse qual dos dois homens que se apre­ os discípulos de Jesus. Ao que se sabe, apenas
sentaram para substituir Judas devia ser es­ o apóstolo João desfrutava de certa considera­
colhido, foi dirigida a um Senhor "conhece­ ção da parte daqueles líderes religiosos. Falan­
dor dos corações de todos". Por unanimida­ do sobre o comparecimento de Cristo perante o
de, Matias foi eleito. Sinédrio, João conta, no seu evangelho, que en­
Só podemos entender a importância de um trou com Jesus "na sala do sumo sacerdote"
objeto, quando começamos a contar o dinheiro (João 18:15). Fez isso, porque era conhecido
para adquiri-lo. É na hora de preencher o che­ daquela autoridade religiosa.
que, que verificamos se o terreno que acaba­ Deve-se notar que esse acesso de Judas a
mos de comprar é caro ou barato, ou se o carro personagens tão importantes era tanto mais
ou a casa tem preço elevado. Com relação ao significativo em virtude do momento em que
caso da substituição de Judas, a descoberta não ocorreu. Judas não era uma pessoa qualquer.
foi diferente. Uma eleição realizada com tantas Fosse possível eliminar a Cristo de forma apa-
precauções e com a evocação de oráculos divi- rentemente menos criminosa, certamente isso

MINISTÉRIO/setembro/outubro 1996 19
teria acontecido. Ninguém queria assumir a sa e efeito. No verso bíblico anteriormente ci­
responsabilidade pelo crime. Judas surgiu no tado, Judas foi chamado de ladrão. Porque ti-
momento certo! Embora não fosse tão querido nha a bolsa e dela tirava o que ali era lançado,
daqueles guias religiosos, como estes revela­ recebeu ele esse título nada elogioso.
ram por ocasião da devolução do dinheiro, o E, de ladrão para demônio, não demorou
traidor foi bem acolhido, ao oferecer-se para muito; em poucos e sinuosos passos, chegou
vender o seu Mestre. Não bastava ser discípu­ Judas a sua nova posição. O mesmo João
lo de Jesus, para fazer o negócio; Judas tinha evangelista que o chamara de ladrão, relata
que ser uma pessoa conhecida, a fim de mere- estas palavras de Jesus: "Não vos escolhi Eu
cer a confiança dos compradores. E, se era em número de doze? Contudo um de vós é o
bem relacionado, era pessoa influente. diabo." (João 6:70). Quando Satanás entrou
Essa habilidade de Judas para tratar com as em Judas, ao receber o bocado de pão que lhe
pessoas - sua capacidade para exercer rela­ dera o Senhor, não se sentiu em lugar estra­
ções humanas - não surgiu apenas no mo- nho; mas num ambiente familiar. Judas já se
mento em que Jesus estava para ser crucifica­ havia identificado com o príncipe das trevas.
do. Durante o ministério de Cristo, foi ela Entretanto, ao contrário do que se possa
posta em prática inúmeras vezes, enquanto o imaginar, o traidor teve os mesmos privilégios
Iscariotes se comunicava com os companhei­ e recebeu a mesma incumbência que foram
ros de ministério. Diz Ellen White: "Judas era confiados aos demais discípulos. Embora os
altamente considerado pelos discípulos, e três primeiros evangelhos coloquem o seu
exercia sobre eles grande influência. Tinha nome sempre em último lugar, por razões ób­
em elevada estima as próprias aptidões, e con­ vias, na lista em que figura o nome dos após­
siderava seus irmãos como muito inferiores." tolos, todos eles afirmam que Judas foi cha-
(O Desejado de Todas as Nações, pág. 534). mado por Jesus, da mesma forma que o foram
O alto conceito que possuía Judas de suas Pedro, Tiago, Mateus e os demais discípulos.
"habilidades administrativas", fazia-o julgar- O primeiro evangelista, Mateus, conta que
se superior aos seus condiscípulos. "Conquis­ "tendo chamado os Seus doze discípulos,
tara-lhes a confiança, e exercia sobre eles deu-lhes Jesus autoridade sobre espíritos
grande influência." (Idem, pág. 417). Soube imundos para os expelir, e para curar toda
explorar, principalmente, um aspecto social sorte de doenças e enfermidades" (Mat. 10:1).
com o qual muitos de nós simpatizamos - a A lista dos chamados, que vai dos versos dois
assistência social. Sob uma capa de solidarie­ ao quatro, começa pelo nome de Pedro e ter­
dade para com os menos favorecidos, seria mina com o de Judas. Aquilo que fazia parte
mais difícil de ser criticado. Até mesmo os da missão confiada aos outros onze discípu-
mais desconfiados companheiros tiveram di­ los, era também dever de Judas. Como afirma
ficuldade em acusá-lo de desonesto. Somente Ellen White, "o Salvador ... confiou-lhe a
quando as coisas começaram a tomar-se mais obra de evangelista. Dotou-o de poder para
claras, um dos discípulos resolveu fazer uma curar os doentes e expulsar os demônios" (O
afirmação mais contundente. Desejado de Todas as Nações, pág. 533).
Foi na ocasião em que Maria ungiu os pés de Já imaginou Judas exercendo autoridade
Jesus. Judas criticou o gesto de Maria, lamen­ sobre os espíritos imundos, "para os expelir, e
tando que o perfume não tivesse sido transfor­ para curar toda sorte de doenças e enfermida­
mado em dinheiro; e sugeriu até o valor: trezen­ des"? Pois é, Judas foi dotado dessa autoridade
tos denários. "Isso disse ele, não porque tivesse e desse poder. Como não ficou registro de que
cuidado dos pobres; mas porque era ladrão e, Bartolomeu, Natanael e outros discípulos te-
tendo a bolsa tirava o que nela se lançava." nham operado prodígios, mas certamente o fi-
(João 12:6). É provável, contudo, que até aquele zeram, o mesmo pode ter acontecido com Ju­
momento Judas se tenha feito passar, entre os das. Não sabemos quanto êxito logrou Judas,
discípulos, por uma espécie de líder. ao ser enviado "às ovelhas perdidas da casa de
Israel", mas podemos estar certos de que for­
___________ Poder para curar___________ mou dupla com outro discípulo, também in­

A carreira descendente de Judas seria um


enigma, não fosse sabermos que todo
vestido da ordem de Jesus: "Curai os enfer­
mos, limpai os leprosos, ressuscitai os mortos,
expulsai os demônios." Só que, depois, os de-
indivíduo tem o direito de escolher o caminho mônios começaram a entrar nele próprio.
que deseja trilhar, ficando sujeito à lei da cau- O evangelho de Marcos dá a entender que

MINISTÉRIO/setembro/outubro 1996 20
Judas Iscariotes era o décimo segundo nome carregando ainda defeitos inaceitáveis em
escolhido, de um grupo bem maior de pessoas qualquer pessoa, mas, sobretudo, naqueles
que Jesus chamou para perto de Si. Jesus que conviveram com Jesus. Todavia, em
"chamou para si os que Ele quis", mas só no­ presença da cruz, puseram em prática as
meou doze "para que estivessem com Ele e os teorias aprendidas ao longo de seu compa-
mandasse a pregar" (Marcos 3:13 e 14). Um nheirismo com Cristo.
daqueles que foram "nomeados" foi Judas. A violência ainda fazia parte da vida de
Lucas acrescenta uma particularidade a Pedro, pouco antes de Jesus ser crucificado.
essa escolha: diz que ela se deu após uma Sua espada ainda brandia contra aqueles aos
noite de oração. "Quando já era dia", depois quais considerava seus inimigos. Ao orar em
daquela vigília, "chamou a Si os Seus discí- favor de Pedro, momentos antes de Se entre-
pulos, e escolheu doze deles, a quem também gar àqueles que Lhe tiraram a vida, Jesus
deu o nome de apóstolos." (Luc. 6:12 a 16). exortou o Seu impetuoso discípulo: "Tu,
Talvez seja bom lembrar que o número quando te converteres confirma teus ir-
doze, nesses versos, não é simbólico, como mãos." (Luc. 22:32). A recomendação feita
se imagina que aconteça com os 144 mil; a Pedro, no sentido de que se convertesse,
trata-se de um número literal. Quando Judas mostra que lhe faltava um dos requisitos bá-
se separou do grupo, pelo fato de haver-se sicos da vida cristã de qualquer seguidor de
enforcado, esse grupo passou a ser chamado Jesus. Todavia, sua união com Cristo, tor-
de onze. "E lançando-lhes sortes, caiu a sor- nou-o o gigante da fé que conhecemos.
te sobre Matias. E por voto comum foi con­ Os incrédulos Tome e Filipe, cada um à
tado com os onze apóstolos." (Atos 1:26). sua maneira, foram até às vésperas da morte
de Jesus, sem a certeza plena de que esta­
Desvio do apostolado vam tratando com a pessoa certa. Tomé,
sem rumo, não sabia para onde ia Cristo, e
ntretanto, Judas se desviou do seu apos­
perguntava pelo caminho; e Filipe, ainda
E tolado. Orando Àquele que conhece os
sentimentos, os apóstolos pediram-Lhe
mostrasse qual dos candidatos devia ser esco­
queria ver o Pai, para sentir-se satisfeito.
Nada sabemos sobre Filipe, mas sabemos
que
que Tomé permitiu que sua falta de fé atra­
lhido "para que tome parte neste ministério e vessasse as fronteiras do Gólgota: "Se eu
apostolado, de que Judas se desviou" (v. 25). não vir o sinal dos cravos em Suas mãos e
Ao orarem a um Senhor que conhecia os co­ não meter o dedo no lugar dos cravos, e não
rações, por ocasião da investidura de Matias, meter a minha mão no Seu lado, de maneira
estariam os apóstolos sugerindo que, ao esco­ nenhuma crerei", disse ele quando a ressur-
lher Judas, o Senhor Jesus não conhecia o cora- reição já estava sendo anunciada. Felizmen­
ção daquele discípulo? Podemos afirmar com te, curvou-se ao peso da evidência e aceitou
toda a certeza que conhecia, da mesma forma plenamente ao seu Senhor.
que conhecia o coração dos outros. Então, por Como se pode ver, mesmo depois de
que chamar para ser Seu discípulo alguém que Sua ressurreição, continuou nosso Salva­
se tomaria mais tarde um ladrão e um demô­ dor a envidar esforços no sentido de aparar
nio? Pela razão não tão simples assim, de que as arestas ainda existentes no caráter de
"Deus toma os homens tais como são, com os Seus discípulos. Judas, da mesma forma
elementos humanos de seu caráter e os prepara que os apóstolos citados, poderia ter sido
para Seu serviço, caso queiram ser disciplina­ beneficiado por esses esforços. Bem que
dos e dEle aprender. Não são escolhidos por Jesus lhe oferecera oportunidade até pouco
serem perfeitos, mas apesar de suas imperfei­ antes de ele comprar a corda com a qual
ções, para que, pelo conhecimento e observân­ pôs termo à vida. Permitiu-lhe sentar-se à
cia da verdade, mediante a graça de Cristo, se mesa com os demais apóstolos, e ouvir as
possam transformar à Sua imagem" (O Deseja­ palavras que proferira enquanto distribuía
do de Todas as Nações, pág. 215). os elementos que simbolizavam Seu corpo
Embora tivesse chegado ao final de sua e sangue. "Isto é o Meu corpo, que por vós
história como ladrão e demônio, Judas po- é dado; fazei isto em memória de Mim."
deria ter revertido sua situação, não tivesse Pena que Satanás também ali estivesse, e
rejeitado todos os oferecimentos de graça entrasse em Judas, quando este recebeu o
que lhe foram estendidos. A maioria dos pão das mãos de Jesus. Era o fim do des-
apóstolos chegou ao limiar da crucifixão vio do seu apostolado.

MINISTÉRIO/setembro/outubro 1996 21
Reflexões sobre o livro de
Esdras
SHICHIRO TAKATOHI
Obreiro jubilado, reside em Tatuí, SP.

autor do livro de Esdras descreve, nos

O primeiro grupo de exilados em Babilônia


da carta do rei Artaxerxes perante Reum,
seus primeiros capítulos, a volta do Sinsai, o escrivão, e seus companheiros,
foram eles apressadamente a Jerusalém,
para Jerusalém. No capítulo quatro, relata as aos judeus, e, de mão armada os forçaram
oposições e dificuldades que surgiram na a parar com a obra. Cessou, pois, a obra
época da reconstrução do templo de Deus e da casa de Deus, a qual estava em Jerusa-
da cidade de Jerusalém. lém; e isso até ao ano segundo do reinado
Os primeiros cinco versos desse capítu­ de Dario, rei da Pérsia."
lo mencionam o problema enfrentado du- Esses dois versos parecem dar a im­
rante a reconstrução do templo: "Ouvindo pressão de que na ordem de sucessão dos
os adversários de Judá e Benjamin que os reis da Pérsia, Dario substituiu Artaxer­
que voltaram do cativeiro edificavam o xes. Ademais, fica também a impressão
templo ao Senhor Deus de Israel, chega­ de que as dificuldades enfrentadas na
ram-se a Zorobabel e aos cabeças de fa- construção do templo e na reedificação
mílias e lhes disseram: Deixai-
nos edificar convosco, porque,
como vós, buscaremos a vosso
Deus; como também já Lhe sacri­
ficamos desde os dias de Esar-
Hadom, rei da Assíria, que nos
fez subir para aqui. Porém, Zoro­
babel, Jesua e os outros cabeças
de famílias lhes responderam:
Nada tendes conosco na edifica­
ção da casa a nosso Deus; nós
mesmos, sozinhos, a edificare-
mos ao Senhor, Deus de Israel,
como nos ordenou Ciro, rei da
Pérsia. Então as gentes da terra
desanimaram o povo de Judá, in­
quietando-o no edificar; aluga­
ram contra eles conselheiros para
frustrarem o seu plano, todos os
dias de Ciro, rei da Pérsia, até ao
reinado de Dario, rei da Pérsia."
Sem dizer como foi soluciona­
do o problema, o autor, em se-
guida, descreve os fatos que con­
figuravam a oposição à recons­
trução da cidade de Jerusalém,
concluindo o capítulo com os
versos 23 e 24, os quais dizem o
seguinte: "Depois de lida a cópia

MINISTÉRIO/setembro/outubro 199622
da cidade foram simultâneas. E a parali- alterar a mensagem bíblica, inspirada por
zação da obra da casa de Deus é a conse- Deus. No entanto, não somos impedidos de
qüência direta da ameaça contra a recons­ pesquisar diligentemente. Além de tudo, a
trução da cidade. divisão de capítulos e versículos é obra de
Os capítulos cinco e seis descrevem estudiosos e eruditos. Há, na Bíblia, outros
como foram superadas as dificuldades du- casos semelhantes.
rante a reconstrução do templo. Em 6:15, lê- Assim, poderiamos sugerir uma ordem
se: "Acabou-se esta casa no dia do terceiro para a leitura das porções escriturísticas
mês de adar, no sexto ano do reinado do rei que estamos considerando. Por exemplo,
Dario." E, mais adiante, a partir do capítulo após a leitura de Esdras 4:1 a 5, adiciona­
sete, é relatada a solução do problema da mos o verso 24. Retornamos então aos
construção da cidade e restauração do go­ versos cinco e seis e continuamos até o
verno civil em Jerusalém, através do impor- verso 23.
tante decreto do rei Artaxerxes, no sétimo Lendo os capítulos cinco e seis, encontra­
ano de seu reinado. mos a solução para o primeiro problema; e,
a partir do capítulo sete, a solução do segun­
Sucessão e problemas do problema.
Uma outra sugestão seria determinar o
ara sairmos da aparente confusão, é ne-
fim de um capítulo e o início do seguinte.
P cessário que conheçamos a sucessão Vejamos: Lemos o capítulo quatro de Es­
dos reis da Pérsia - Ciro, Cambises, Dario dras,
I, até o verso cinco. Nessa altura, ve­
Xerxes (Assuero), Artaxerxes -, e façamos rificamos como surgiu a oposição aos tra­
uma análise dos acontecimentos relaciona­ balhos de reconstrução do templo, pros­
dos com a construção do templo e da cidade seguindo até o versículo 23, colocando
de Jerusalém. aqui um ponto final no capítulo. Como
Os problemas relacionados com a cons- vinos, anteriormente, nesse ponto está re­
trução do templo (Esd. 4:1 a 5; 4:24 a latado o surgimento das dificuldades re­
6:22) surgiram já nos dias do rei Ciro e lativas à reconstrução da cidade de Jeru­
agravaram-se com o passar do tempo, cul­ salém.
minando com a cessação da obra até o se- Nesta altura, podemos interrogar-nos:
gundo ano de Dario (Esd. 4:5 e 24). Ani- Como foram solucionados os graves proble-
mados pelos profetas Ageu e Zacarias, os mas dos exilados israelitas que voltaram do
judeus reiniciaram os trabalhos de cons- cativeiro? A resposta está na leitura subse­
trução (Esd. 5). Promulgado o decreto do qüente.
rei Dario, favorecendo a obra da casa de Façamos, então, que o versículo 24 do
Deus, esta foi completada no sexto ano capítulo quatro seja o primeiro verso do
desse rei (Esd. 6). capítulo cinco. O escritor do livro, ao re­
Por sua vez, as dificuldades atinentes à latar a solução do primeiro problema,
restauração da cidade (Esd. 4:6 a 23) apa­ como introdução, faz-nos lembrar de que
receram no princípio do reinado de As­ a construção do templo estava paralizada
suero (Xerxes) e continuaram até os pri- até o segundo ano do reinado de Dario,
meiros dias do reinado de Artaxerxes rei da Pérsia. Desse ponto até o fim do
(Esd. 4:6, 7 e 23). Mais tarde, no reinado capítulo seis, há um relato sobre como
do mesmo rei, elas foram resolvidas ofi­ esses trabalhos foram retomados e con­
cialmente (Esd. 7). cluídos.
E a partir do capítulo sete, encontra­
Caminhos para compreensão mos a solução do segundo problema. Es­
e o propósito do autor do livro foi dras recebe do rei Artaxerxes, no sétimo

S ano do seu reinado, um importante decre­


apresentar as duas questões juntas, e to, dando-lhe autoridade civil e religiosa
suas respectivas soluções posteriormente, (Esd.
o 7:25 e 26), e inicia a restauração da
que se diz no verso 24 do capítulo quatro cidade de Jerusalém. Porém, a solução
poderia estar escrito logo em seguida ao completa e triunfante está narrada no li-
verso cinco; então a aparente confusão esta­ vro de Neemias.
ria evitada. Desse modo, eliminamos qualquer supos­
Com isso, não é nosso objetivo criticar ou ta confusão existente sobre este assunto.

MINISTÉRIO/setembro/outubro 199623
Isto você
não pode perder
Prepare-se desde já
para os Concílios Ministeriais
que serão realizados com a presença dos
líderes da Associação Ministerial da
Associação Geral e da Divisão Sul-Americana,
em Julho de 1997.
CONFIRA OS LOCAIS E AS DATAS:
01 A 05 DE JULHO DE 1997
NANA — Uniões Boliviana e Peruana,
Missões Equatorianas do Norte e do Sul

08 A 12 DE JULHO DE 1997
PUIGARI - Uniões Austral e Chilena

15 A 19 DE JULHO DE 1997
IAENE - Uniões Norte e Nordeste

22 A 26 DE JULHO DE 1997
IAE — Uniões Central, Este e Sul

MINISTÉRIO/setembro/outubro 1996 24
PASTOR

A arte de repreender
MIGUEL ANGEL NUÑEZ
Professor de Teologia na Universidade
Adventista do Chile.

ão sei, com absoluta certeza, qual a

N
crua, um problema comum a todos os seres
maior causa de apostasia na Igreja. humanos: todos somos pecadores (Rom. 6:23).
No entanto, depois de milhares de visitasEstamos
e maculados pela nódoa indelével do
entrevistas pastorais, começo a vislumbrar mal (Rom. 3:9 a 12). Não existe esperança
claramente qual o maior motivo de amargu­ para ninguém, a menos que renuncie a si mes-
ra entre aqueles que se afastaram do redil. mo e se submeta ao poder onipotente do único
As pessoas que deixaram a Igreja, em ge- Ser que pode nos livrar - Cristo Jesus.
ral, conhecem muito bem a razão pela qual A Igreja é um hospital, e nele todos estão
deixaram os caminhos do Senhor. Inclusive, enfermos, inclusive os médicos. Em alguns
a maioria delas é capaz de reconhecer aberta­ a enfermidade está mais evidente do que em
mente e sem rodeios o "pecado aberto" que outros. A linha de separação entre saúde e
foi responsável pela separação. E muitas den­ doença é tão terrivelmente etérea, que basta
tre essas pessoas guardam más lembranças do tão somente um momento de descuido para
tratamento que receberam, no momento em que alguém apareça engrossando as fileiras
que foram descobertas em seu erro. dos enfermos, e, em muitas ocasiões, dos
Parece que é mais fácil constatar o pecado mortos. Como disse o Pastor Robert Folken­
do que remediá-lo; assim como é mais simples berg, "a igreja deveria ser um hospital para
denunciá-lo do que curar suas conseqüências. pecadores, não uma exibição de santos".
A Igreja precisa entender que não foi Isso nos obriga a admitir que o povo vem à
estabelecida no mundo para julgar o peca­ igreja para ser curado de seu mal, não para
dor (Mat. 7:1; Rom. 2:1), mas para conde­ ser criticado por sua maldade. O citado pas-
nar o pecado. Existe uma linha divisória tor ainda sustenta que as pessoas buscam a
tão sutil entre uma e outra atitude, que fa­ igreja pela mesma razão pela qual procuram
cilmente nos esquecemos de que precisa­ um hospital: "Foram feridas pelo pecado e
mos salvar o pecador e manifestarmo-nos desejam livrar-se da dor."
somente contra o pecado. "Odiar e re­
preender o pecado, e ao mesmo tempo de­ Juízo sem misericórdia
monstrar compaixão e ternura pelo peca­
e não entendermos isso corretamente,
dor é uma tarefa difícil",1 reconhece Ellen
White. Por outro lado, tal como afirma o
psiquiatra Viktor Frankl, "ninguém pode S corremos o risco de realizar entre nós
verdadeiros juízos inquisitoriais, onde abun­
julgar, ninguém, a menos que com toda dam ausências de provas, testemunhas anô­
honestidade possa garantir que em uma si- nimas, impossibilidade de defesa e lembran­
tuação semelhante não faria o mesmo".2 ças de erros passado. Tudo isso, fazendo
lembrar as práticas habituais da antiga In­
Hospital quisição, tão vilipendiada, porém tão poten­
odo aquele que comete pecado que traz cialmente similiar a algumas de nossas práti­

T opróbrio à Igreja simplesmente evidencia


em sua vida, de uma maneira terrivelmente
cas eclesiásticas.3
Embora não enviemos a ninguém literal­
mente para uma fogueira, colocamos em mui­

MINISTÉRIO/setembro/outubro 1996
tos a capa de "desviado" ou "apostatado", que Se o pecador não reage ao apelo ante-
lhes traz muitos prejuízos, tal como nos sécu- rior, é necessário que seja abordado nova-
los passados quando muitas pessoas que eram mente, de modo privado, desta vez com
julgadas pela Inquisição, apesar da inocência duas ou três testemunhas, com o mesmo
comprovada, eram propósito anterior:
obrigadas a levar uma salvar o irmão. Até
cruz desenhada nas O fato de pertencer a alguma aqui, ainda não esta-
costas e outra no peito. mos autorizados a
Essa marca significava comissão, em quaisquer relatar o pecado. Se,
sinal de desprezo, in­ níveis, não autoriza a apesar disso, o falto­
capacidade para en- so ainda não reage
contrar trabalho e, fi- ninguém lançar sombras positivamente, a Bí-
nalmente, alienação da sugere um ter-
comunidade.* 124
sobre a honorabilidade de blia ceiro passo que,
Conheço bem de uma pessoa. acredito honesta­
perto o caso de al- mente, dificilmente
guém que foi "julga­ será necessário
do" e disciplinado, sob acusação de adultério. quando os dois passos anteriores forem
Posterionnente, ficou provado, inclusive judi­ cumpridos conscientemente e com amor
cialmente, que a acusação era falsa. Mas os cristão. Cristo afirma que a situação deve
que protagonizaram o incidente negam-se a ser comunicada à igreja, não para que essa
fazer qualquer retratação bem como restituir julgue ou declare o tal como pecador, ou
à pessoa seus direitos na igreja, para que esta realize uma execração pública, mas, se­
não seja vista como uma comunidade passí­ guindo o que diz o evangelho, para salvar o
vel de engano. Nesse contexto, tem razão o irmão. Mesmo nessa última parte do pro-
escritor Harold Kushner quando afirma que cesso, não há elementos que autorize a di­
"nossas igrejas traem seu mandato de dar for- vulgação do pecado, por parte da igreja.
ma à comunidade e curar a sociedade, quan­ Finalmente, o evangelho nos recomenda
do criamos nela uma atmosfera de julgamen- que se o tal errante não atende ao irmão, nem
to de seus participantes".5 as testemunhas, nem a igreja, então deve ser
tido como "gentio e publicano". É nesse ponto
Passos bíblicos final onde muitos se sentem autorizados para
menosprezar o pecador e divulgar sua falta.
ão tenho a solução para todos os ca-
Porém, o evangelho não aprova tal conduta.
N sos, porém, depois de meditar, ler a Pelo contrário, Cristo nos convida a imitá-Lo,
Bíblia e os escritos de Ellen White, sugiro
que pelo menos deveriamos fazer o seguinte:
e a pergunta que vem à tona é: Que tratamen­
to dispensava Jesus aos gentios e publicanos,
1. Oferecer de maneira contínua e perma­ e àqueles que em Seu tempo eram considera­
nente, orientações a respeito de ética cristã dos os párias da sociedade? Indiscutivelmen­
aos membros da igreja. É necessário que se te, lhes dispensava bondade, misericórdia e
aprenda a tratar com o pecador. O fato de paciência infinitas.
pertencer a uma comissão, qualquer que
seja, inclusive as Mesas Administrativas de __________ Cristo e os errantes__________
Campos e instituições em quaisquer níveis,
Cristo realizava milagres na vida das pes-
não autoriza a ninguém lançar sombras so-
bre a honorabilidade de uma pessoa. soas que haviam caído, pela forma
2. Fazer um cuidadoso estudo, com ora- como as tratava. "Em cada ser humano perce­
ção, sobre o verdadeiro sentido das palavras bia possibilidades infinitas ... Ao olhá-los
de Jesus Cristo em relação com o trato com com esperança, inspirava esperança ... Em
o pecador. Os passos bíblicos expressos em Sua presença, as almas desprezadas e caídas
Mateus 18:15 a 22 não podem ser desconsi­ se apercebiam de que ainda eram seres huma­
derados. Primeiramente, o pecador deve ser nos e anelavam demonstrar que eram dignas
procurado em total anonimato, com o fim de de Sua consideração."6 Não admira que se
ser ganho para o Senhor. Nessa instância, aproximassem dEle, confiantemente, prostitu­
não estamos autorizados a relatar nada para tas, ladrões, fariseus, assassinos, e toda classe
nenhuma outra pessoa. de pessoas que eram rejeitadas pela sociedade

MINISTÉRIO/setembro/outubro 199626
na qual viviam. A todos esses indivíduos, Ele minhos do Senhor, e, na maioria dos casos,
tinha uma palavra de consolo e um caudal de há outra conjunção de fatores dramáticos:
esperança em Deus. impaciência, intolerância, rancor, incom­
Nada existe nos evangelhos, nem nas pala- preensão, covardia para enfrentar a restitui­
vras de Cristo, que nos autorize a convertermo- ção, e desconfiança.
nos em juizes das faltas alheias. Nada nos facul­ Como igreja, lembremo-nos de que "não
ta a divulgação dos pecados de outras pessoas. é a posição mundanal, nem o nascimento,
Às vezes, ouço o argumento de que é pre­ nem a nacionalidade, nem os privilégios re-
ciso agir com firmeza para dar exemplo. No­ ligiosos, o que prova que somos membros
vamente me pergunto: Como agiu Cristo em da família de Deus; é o amor, um amor que
relação a Judas? Quando o expôs? Em que abrange toda a humanidade. ... O ser bon­
parte da Bíblia está escrito que Jesus usou o doso com os ingratos e os maus, o fazer o
pecado de Pedro como exemplo? Em que bem sem esperar recompensa, é a insígnia
lugar das Escrituras está registrado que a da realeza do Céu, o sinal seguro mediante
mulher adúltera, mencionada em João 8, foi o qual os filhos do Altíssimo revelam sua
usada como protótipo do que não se deve fa- elevada vocação".7
zer? Em que momento o Mestre humilhou Ellen White ainda assegura que "o Salva­
alguma pessoa, ao divulgar seu pecado? dor deu Sua preciosa vida para estabelecer
uma igreja capaz de atender aos que sofrem,
Não condenar mas salvar aos tristes e aos tentados".8 Não é outra a ta­

É refa da congregação eclesiástica. Não somos


fundamental que levemos a sério o papel juizes. Não somos parte de um tribunal. A
que nos corresponde como Igreja. Acre­ igreja não é um reformatório no qual os re­
dito firmemente que devemos chamar o peca- sultados são conseguidos por meio do casti­
do pelo nome, porém, go e da humilhação.
não temos o direito de E uma comunidade
humilhar o pecador. Prostitutas, ladrões, de encontro com o
Devemos odiar o peca- Senhor, onde o po-
do e amar o pecador.
assassinos e demais der do Espírito Santo
Não devemos admitir rejeitados pela sociedade deve atuar para sus­
o pecado, sob nenhu­ citar mudanças ini­
ma de suas formas, po- aproximavam-se magináveis, se o per­
rém jamais devemos confiantemente de Cristo. E mitirmos.
dar a impressão de que É muito difícil
estamos desprezando o a todos esses indivíduos, aprender a repreen­
pecado junto com o Ele tinha uma palavra de der sem prejudicar
pecador. Tal atitude ou ferir. Todavia,
nos converte em juizes consolo e um caudal de nada é mais necessá­
que se esquecem da rio num mundo onde
Lei, que, de acordo
esperança em Deus. o erro cada dia ad­
com o que está expres- quire maior relevân-
so nas Sagradas Escrituras, tem o objetivo de cia. O poder do Espírito Santo é o mesmo
deixar em evidência o pecado a fim de que o ontem e hoje. Por que não nos atrevemos a
pecador, ao descobrir sua falta, possa recorrer crer que o Espírito pode restaurar o pecador?
a Cristo, o único que pode purificar.
Se a Lei aniquila o pecador, então ela Referências:
não serve. A Lei deve servir de guia para le­ 1. Ellen White, Obreiros Evangélicos, pág. 30.
2. Viktor Frankl, El Hombre en Busca de Sentido, Bar­
var o pecador a Cristo, que é a única solu­ celona, pág. 54.
ção para o mal, qualquer que seja a forma 3. Salim Japas, Herejia, Colón y la Inquisición, págs.
em que este se manifeste. A síntese máxima 38 a 50.
da Lei se expressa no amor, não no castigo. 4. Edward Burman, Los Secretos de la Inquisición, Bar­
Já vi muitos pecadores serem salvos das celona, págs. 67 e 149.
garras do pecado. Em todos os casos, sem- 5. Harold Kushner, Quién Necesita a Dios? Buenos Ai-
res, pág. 113.
pre há uma conjunção de fatores: paciência, 6. Ellen White, Educação, pág. 80.
amor, compreensão, firmeza e confiança. Do 7. __________, O Maior Discurso de Cristo, pág. 66.
mesmo modo, já vi muitos deixarem os ca- 8. __________, A Ciência do Bom Viver, pág. 73.

MINISTÉRIO/setembro/outubro 199627
AFAM

Filhos de pastores e apostasia


CAROLE BROUSSON ANDERSON
Ph.D., psicóloga e esposa de pastor em British
Columbia, Canadá.

em todos os filhos de pas­

N tores escolhem permane­


cer na igreja. Preocupada com o
fato, decidi tentar descobrir as
razões pelas quais ele ocorre, e
realizei uma pesquisa entre mais
de 900 adultos que foram filhos
de pastores. Seiscentas pessoas
responderam. As respostas fo-
ram divididas em dois grupos:
um, composto por aqueles que
não desejam ser identificados
como adventistas, embora al-
guns dentre esses se considerem
cristãos; e outro que ainda per­
manece ligado à Igreja Adven-
tista. Em seguida, analisei as
respostas para identificar possí­
veis questões que poderiam nos
ajudar a compreender porque al-
guns filhos de pastores deixam a igreja, e suficientemente importante para que ela tra­
outros nela permanecem. balhasse nosso relacionamento, mesmo quan­
Surpreendentemente, as questões tinham do eu ainda era muito rebelde e muito imatu­
mais a ver com a percepção dos filhos em ro. Finalmente, minha mãe venceu a batalha.
relação aos pais e sua maneira de agir, do Se minha mãe desistisse de ter esperança em
que com a Igreja como um todo. mim, nem Deus teria." Aqui está uma pessoa
que poderia transferir o amor e a paciência
Os que ficam maternais para sua compreensão de Deus.
omo aqueles filhos de pastores que O amor e apoio dos pais podem ser mate­

C rializados de muitas maneiras. Uma delas é


permanecem na igreja, vêem seus o tempo passado juntos. Um pai pode esta­
pais? O resultado da minha pesquisa revela
cinco modos de percepção.
belecer como prioridade ficar em casa du-
rante as manhãs, para brincar com seus fi­
1. Amor paternal e apoio. Quando inter­ lhos pré-escolares. Outro pode fazer do des­
rogados sobre o que pensavam ter sido o fa­ jejum uma ocasião especial para a família,
tor mais influente para sua permanência na durante a qual todos sempre estarão juntos.
igreja, os filhos, em sua maioria, identifica­ Isso sem falar no período de férias anuais.
ram o amor dos pais e o apoio recebido. Um 2. Liberdade de escolha. Um segundo
entrevistado mencionou: "Minha mãe e eu ra­ fator, citado como fundamental para a per­
ramente nos víamos olho a olho. Mas eu era manência na igreja, foi a liberdade de esco­

MINISTÉRIO/setembro/outubro 1996
lha que os pais davam a seus filhos. Sem cionamento com o Senhor. A abertura pater­
forçar nem manipular suas idéias e opiniões, na à mudança e ao crescimento representou
mas orientando-os gentilmente quando se uma experiência positiva e transformadora
fazia necessário, os pais os encorajaram a nos filhos adolescentes.
serem eles mesmos, fazendo escolhas, to­ Uma outra menina revelou-se agradeci­
mando decisões, e desenvolvendo seu rela- da pelas orações do pai e a consistência de
cionamento pessoal com Jesus. Um jovem sua mãe. "Meu pai", disse ela, "gastava
descreveu os pais horas e horas
como sendo "ma­ orando por mim.
ravilhosos e con­ O exemplo dos pais é o fator mais Quando eu era
sistentes em seu
papel de mode-
determinante na proteção dos tentada a fazer
alguma coisa er­
lo". "Eles incenti­ filhos de pastores contra a rada, não podia ir
varam-me a to­ adiante porque
mar decisões", apostasia. sabia que meu
disse ele, "en­ pai estava orando
quanto providenciavam forte direção. Sua por mim. Achava estranho isso. Minha
aproximação era firme e gentil. Nunca senti mãe era uma pessoa firme. Juntos, eles me
nescessidade de rebelar-me porque suas mostraram uma religião operosa, real e
crenças não eram impostas a mim. Hoje sou genuína."
capaz de desenvolver meu próprio relacio- 5. Comunicação aberta. Isso ajuda na
namento com Deus e reconhecer o valor da apreciação dos valores religiosos. "Nós
maneira como fui criado." conversamos muito", disse um filho que
3. Construção de auto-estima. Esse é continua amando a Igreja. "Como uma fa-
um outro significante item citado por fi­ mília, nós discutimos toda sorte de coisas.
lhos de pastores que ainda permanecem na Durante a hora da refeição, do lazer, do
igreja. "Meus pais não são perfeitos", disse culto, em qualquer tempo, há comunica­
um deles, "mas sei que posso contar com ção aberta em nosso lar. Isso contribuiu
eles. Eles sempre me fazem sentir querido muito para que apreciássemos os valores
e mais importante que qualquer outra coi- religiosos que meu pai pregava." Outro jo­
sa, incluindo os programas da igreja. Meu vem, descrevendo o que tornava seu lar
pai tira tempo para ficar comigo. Isso me tão positivo, disse: "O fato de que posso
fornece um bom quadro de Deus como falar com meu pai em qualquer hora, e ele
meu Pai celestial. Amo aos dois." nunca está ocupado demais para ouvir mi-
Esses pais foram hábeis para estabelecer nhas preocupações. Ele até interrompe al-
uma linha definida entre trabalho e família. guns telefonemas por nossa causa." Co­
Os requerimentos da igreja não eram a ma- municação quebra barreiras e constrói re-
neira de comunicar e ser com suas crianças. lacionamentos.
4. Modelo. Alguns filhos de pastores ex­
pressavam sentimentos positivos em rela- Os que saem
ção à Igreja, mencionando seus pais como
modelos de um relacionamento genuíno, Quais eram algumas das percepções ve-
vibrante e crescente com Deus. Eles senti­ rificadas entre os filhos que não per­
ram que a religião de seus pais não era uma maneceram na Igreja Adventista, na qual
afetação, e compreendiam que seus pais eles cresceram? Cinco fatores são destaca­
praticavam o que pregavam. Não havia hi­ dos como os mais comuns. E, novamente,
pocrisia em sua fé, e sua vida não era uma eles traduzem mais o que foi verificado nos
fachada. Era algo real. Mesmo quando as pais do que na Igreja.
coisas eram difíceis e nem tudo parecia 1. Expectativas. Os filhos de pastores
perfeito na igreja, seus pais admitiam a im­ que deixam a igreja mencionam, freqüente­
perfeição e encorajavam os filhos a focali­ mente, as expectativas sobrenaturais que re­
zarem em Jesus Cristo. caem sobre eles, tanto da parte dos pais
O filho chegou a relatar como o pai final- como da parte da congregação. Tais expec­
mente encontrou o evangelho. O garoto ti- tativas aparecem sempre juntas a um lar de­
nha 16 anos e testemunhou a mudança e o masiadamente estrito, no qual a religião é
crescimento de seu pai, na graça e no rela- forçada e onde existe muito pouca liberdade.

MINISTÉRIO/setembro/outubro 199629
A família foi ensinada a destacar o compor­ 4. Hipocrisia. Religião hipócrita, na
tamento exterior. vida dos pais, foi outro fator destacado por
"Meu pai era muito rígido", garantia um filhos de pastores que deixaram a Igreja.
filho ao descrever sua situação, "nós nem Um deles mencionou que quando seu pai
mesmo podíamos visitar uma outra igreja estava diante de membros da sua igreja,
adventista em nossa região, com nossos comportava-se como um cristão modelo -
amigos, se isso não fosse algum requerimen­ gentil e amável. No entanto, quando tratava
to escolar. Era também muito estrito. Em com a esposa e com os filhos, era impa­
sua visão nós éramos o exemplo. Fazia todas ciente, imperdoável e cruel.
as nossas escolhas, sufocando meu cresci­ 5. Abuso. Também abuso físico ou
mento independente e confiante." mental sofrido durante a infância, da par-
Outra jovem explicou sua própria experiên- te dos pais, foi citado como razões para
cia da seguinte forma: "Eu era uma estudante que os filhos de pastores tivessem deixa­
classe A. Nunca tive problemas. Mas sempre do a Igreja. Alguns citaram ainda expe­
que eu fazia alguma coisa que eles não aprova­ riências desapontadoras com membros e
vam, vinham quentes sobre mim. Não me foi líderes da igreja.
dada uma chance de descobrir Deus. A reli­
gião me foi imposta, e eu não poderia fazer a Uma lição
diferença entre crença e pretensão."
sses relatos, por mais amargos que pos­
2. Autoritarismo. As expectativas extras e
performance perfeccionista, requeridas des-
ses filhos, fizeram brotar neles o sentimento
de que Deus não os acei-
E sam parecer, refletem uma situação real
em nossos lares e igrejas. Eles podem repre-
sentar uma grande ajuda
ta, não os ama, tampouco para as famílias pasto­
os salva se o seu compor­ Muitos filhos apostatados rais, no relacionamento
tamento não estiver à al- se queixaram de que os com seus filhos, e para as
tura. "Não posso aceitar congregações, no trato
isso", diz um deles. "É pais colocavam o com suas crianças.Embo-
uma maneira dura, ditato­
rial, pela qual cada coisa
trabalho em primeiro ra os filhos de pastores
não possam estar absolu­
certa é imposta e cada lugar, em detrimento da tamente protegidos de to­
erro percebido é punido. das as pressões e expe­
Sei que Deus não é um própria família. riências negativas ineren­
ditador tentando sur- tes ao pastorado, essas
preender você no erro." Notemos outro teste­ podem ser minimizadas; e as experiências po­
munho: "Eu cresci sob o autoritarismo. Uma sitivas podem ser destacadas.
nuvem negra pairava sobre mim cada segun­ De acordo com muitos filhos, o com­
do. Cada momento era contado para a eterni­ promisso paternal no sentido de desenvol-
dade, e eu estava extremamente cônscio de ver um forte relacionamento com eles é
minha vida a cada instante. Minha visão de altamente significativo. Esse compromis­
Deus era que Ele me aceitaria, somente so significa que os pastores deveriam dei­
quando eu me comportasse adequadamente." xá-los saber que, a despeito de todos os
3. Perda de prioridade. Muitos dos fi­ negócios e imprevistos da vida pastoral,
lhos de pastores que deixaram a Igreja per­ eles tomarão tempo para os filhos, colo­
ceberam que seus pais colocavam em mais cando-os como item número um na lista
elevada prioridade seu trabalho, do que sua de prioridades.
família. Havia muito pouco tempo dedicado Os pais jamais devem relacionar o com­
à família. As crianças foram educadas para portamento de seus filhos ao papel pastoral,
sentir que a Igreja deveria vir primeiro. "Eu à sua reputação, nem mesmo à avaliação do
dificilmente via meu pai, e quando ele final- amor de Deus. Um lar aberto à comunicação
mente aparecia em casa, seu papel era punir- livre, discussão, e exploração de idéias e
me por algo que eu tinha feito horas antes. crenças, dando às crianças a liberdade para
Gostaria que ele tivesse colocado nossa fa- aprender por si mesmas e fazer escolhas
mília na mesma base que a Igreja. Não co­ apropriadas, aumentará a possibilidade dos
nheci meu pai, e ainda não conheço", foi o filhos fazerem decisões semelhantes à dos
testemunho de um filho de pastor. pais, na vida secular e religiosa.

MINISTÉRIO/setembro/outubro 199630
VEM AÍ O I CONGRESSO
BRASILEIRO
ADVENTISTA DE SAÚDE
LOCAL:
DATA:
Instituto
29 de janeiro a
Adventista de
2 de fevereiro
Ensino
de 1997
São Paulo
TEMA: "MARCOS DIFERENCIAIS PARA UM NOVO
ENFOQUE EM SAÚDE E QUALIDADE DE VIDA"

PÚBLICO ALVO: Médicos, enfermeiros,


psicólogos, nutricionistas, odontólogos,
fisioterapeutas, bioquímicos, estudantes e
demais interessados

INSCRIÇÕES E INFORMAÇÕES: Instituto Adventista de


Ensino - São Paulo, Departamento de Extensão
Cultural e Universitária
Estrada de Itapecerica, 5859 - CEP 05858-001, São Paulo, SP
Telefone: (011) 5511-4011 Ramais 3044, 3045, 3129
FAX (011) 5511-6169 e 5511-1668
Internet: instadve@eu.ansp.br
PROMOÇÃO: Departamentos de Saúde da Divisão
Sul-Americana e das Uniões Brasileiras da Igreja
Adventista do Sétimo Dia.

PARTICIPAÇÃO DE RENOMADOS CONFERENCISTAS DO


BRASIL E DO EXTERIOR
BIBLIOTECA
DO
PASTOR

GRUPOS FAMI­ MULHER SEM
LIARES E O CRES- NOME - Nancy
CIMENTO DA Gonçalves Dusi-
IGREJA - Paul lek, Editora
Yonggi Cho, Editora Vida, São Pau-
Vida, São Paulo; lo; 96 pági­
192 páginas. nas.
Neste livro, O que
o autor relata faz a mu-
como foi le­ lher sem nome?
vado ao di­ Que importância tem ela
nâmico princípio na sociedade? Essas e outras perguntas são
de crescimento da igreja respondidas neste livro. O propósito da au­
através dos grupos familiares. Ele fornece tora não é levantar uma bandeira ativista
detalhes de tudo o que é preciso conhecer a em favor da esposa do pastor, mas levá-la
fim de que grupos funcionem de fato. O Dr. a glorificar a Deus em sua vida, seu traba-
Paul Yonggi Cho é pastor da Igreja Central lho e seu lar. Nancy trata dos principais
do Evangelho Pleno, em Seul, Coréia. Sua assuntos relacionados com a mulher, espe­
congregação já passa dos 150 mil membros. cialmente a esposa do pastor, conscienti-
Ele a descreve como a menor e também a zando-a da missão recebida de Deus.
maior do mundo. *

ADORAÇÃO O DESPERTAR
COMO JESUS DA GRAÇA
ENSINOU - Jud­
son Cornwall,
Editora Betânia,
Venda Nova,
MG; 190 pági-
nas.
Os ensi­
namentos
de Cristo sobre o lou­
vor e a adoração se fizeram mais mais profundo até
por Seus atos do que por palavras. A maneira hoje, Charles Swindoll é suave. O Desper­
como Ele recebia ou rejeitava a adoração pres- tar da Graça é um livro ousado, percepti-
tada por alguém, e Sua própria atitude em rela- vo. E aponta bem no alvo. Mas, acima de
ção ao Pai, nos traz uma verdade preciosa: tudo, é um livro de esperança, que nos faz
Deus anseia ser adorado por Seus filhos. Em ir além da frustração e da culpa de tentar
Adoração Como Jesus Ensinou, encontramos agradar outros, chegando até a graça ma­
respostas para muitas perguntas relacionadas ravilhosa e libertadora de Deus. Para o nú-
com o louvor. Descobrimos também como ofe- mero crescente de pessoas que sente que a
recer aquilo que Deus deseja. É uma leitura im­ vida deve ser mais do que uma religião rí­
prescindível para todo cristão, princípalmente gida e pesada, O Despertar da Graça ofe-
pastores, líderes e pessoas envolvidas com o rece uma alternativa gloriosa: a verdade
louvor e a adoração na igreja. que liberta.

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