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Ministério

Uma Revista Para Pastores e Obreiros Adventista

A familia muito pode fazer


para tornar mais alegre a vida
do deficiente
Ano 62 — Número 15 - Maio/Jun. 1991

Periódico Bimestral

ARTIGOS

3 SACERDOTE, LEVITA OU SAMARITANO


Joyce Rigsby

5 ELE PEDIU ISTO!


Eldred Johnstonr

6 A IMPORTÂNCIA DO SONO
Dr. Galen C. Bosley

11 BOA PARA NADA


Bárbara V. Chelley

15 CONTENDAS NA IGREJA
Jan G. Johnson

20 COMO ATENDER A FAMÍLIAS QUE TÊM FILHOS


DEFICIENTES FÍSICOS
Karen Sue Holford

26 TEORIA DA GRANDE EXPLOSÃO: EM FASE TERMINAL

31 O USO DE NOTAS NA PREGAÇÃO


Floyd Bresee

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9105-4

2 O MINISTÊRIO/MAIO/JUNHO/1991
Sacerdote, Levita ou
Samaritano?

N uma sexta-feira à tarde, pou-


co depois do falecimento de
meu esposo Bob, encontra­
va-me no supermercado. Fa-
zer compras para uma só pessoa, pla-
nejar e preparar alimentos para um só
e comer sozinha, eram obstáculos di­
fíceis de superar. Precisava comer pa-
de sábado, ia às atividades públicas
dos santos. Você está com boa aparên-
cia, disse um ministro amigo meu. Se­
quer mencionou a Bob, embora fosse
a primeira vez que me via depois de
sua morte. Tinha medo de enfrentar a
morte? Não havia ninguém que estives­
se disposto a compartilhar do meu so-
ra viver, mas não me importava de vi- frimento?
ver ou não; assim, para que comer?
As caixas de cereais pareciam-me
grandes demais para mim só, quando
pensava que teria de terminá-las sem Ademais, não havia
ajuda. Ademais, não havia razão para razão para acrescentar
acrescentar os alimentos preferidos de
Bob ao carrinho de compras. Empur­ os alimentos preferidos
rava o carrinho mecanicamente pelos de Bob ao carrinho de
corredores. Parei para enxugar os
olhos, e percebi que não tinha lenços
compras. Empurrava o
Kleenex, de maneira que usei a man­ cesto mecanicamente
ga da blusa. pelos corredores.
Vi então um líder e ministro ordena­
do da igreja. Olhou-me, deu meia-volta
e saiu pelo outro lado do corredor. Lo­
go desapareceu atrás de umas pratelei­ Samaritano
ras com garrafas de catchup e pepinos
em conserva.
Minha solidão aumentava ao ver
quão difícil era alguém aproximar-se
de uma pessoa sofredora. Seu nome era Jim. Chegou à sa­
la do hospital para passar alguns mo-
Levita mentos de agonia após a cirurgia de

o
Bob. Não viera para falar. Veio para
compartilhar da dor e da angústia da-
queles terríveis momentos.
Viajou muitos quilômetros para es-
tempo passou. Já conseguia tar conosco depois da cirurgia. Andou
sorrir — às vezes. Vestida com roupa literalmente conosco pelo vale da som-

Joyce Rigsby
O MINISTÉRIO/MAIO/JUNHO/1991 3
bra da morte. Não lembro que tenha estava ali. Sentimos o seu amor e o seu
pronunciado uma só palavra. Apenas carinho.

Dez mandamentos para os


consoladores
1
Tratarás cada doente como um
único indivíduo.
2
Não dirás frases feitas aos
parentes.
3
Não dirás aos enlutados quão
bem se sentem, para evitar falar
do mal que sentem.
4
Lembra-te de que deves seguir a
orientação do doente.
5
Honra os doentes com a tua
presença mesmo que te sintas
incomodado e não saibas o que
dizer. O silêncio é compreensível.
6
Não evitarás o uso apropriado do
tato.
7
Não usarás o método de provas
com textos bíblicos, quando o
doente fizer a pergunta: Por quê?
8
Não temas derramar algumas
lágrimas com os doentes.
9
Não peças aos que acabam de
perder um ente querido que vá
ajudar o próximo antes do tempo
apropriado.
10
Não digas a uma mulher que
acaba de ficar viúva, que Cristo
virá logo; quando ela esteve
ouvindo isto a vida inteira. O
fato de que Ele venha, e de que
aguardamos chegue esse dia por
uma nova razão, é suficiente.
4 O MINISTÊRIO/MAIO/JUNHO/1991
Ele Pedia Isto!
m amigo meu costuma ajo­ — Orei para que o senhor não usas­
elhar-se em oração pouco se termos teológicos difíceis, mas uma

U antes de pregar e pedir à


igreja que se una a ele na-

às pessoas pelo que oraram naquela


linguagem que pudéssemos entender.
— Orei para que o senhor não fosse
muito
quele ato de devoção. Durante umadogmático; para que o senhor
não insistisse em que aceitemos o seu
reunião recente, ocorreu-lhe perguntar
ponto de vista, mas nos desse uma es-
ocasião especial. Afirmou-lhes que de­ colha de alternativas.
sejava que falassem francamente. Elas Orei para que o senhor não utili-
o fizeram! zasse algumas passagens bíblicas an-
— Eu orei para que o senhor não fa­ tigas, nem de leve relacionadas com o
lasse demais. Tenho artrite, e depois de mundo moderno.
quinze minutos meus ossos começam - Orei dando graças pelo senhor e
a doer. seu ministério.
— Orei para que Deus me ajudasse
— Orei para que eu pudesse ouvir a ouvir com mente e coração abertos.
cuidadosamente e responder quando Meu amigo concluiu: "Não preguei
achasse que Deus estava falando comigo. um sermão naquela semana — as pes-
— Orei para que o ser hor sentisse al­ soas o fizeram E eu necessitava dele!
guma coisa do fardo que estive carre- É muito tentador parar atrás do púl-
gando na semana passada e me propor­ pito imaginar-se Jeremias ou Paulo.
cionasse alguma esperança. As pessoas me lembraram de que não
— Orei para que Deus lhe desse co­ sou nada mais (nem menos) do que um
ragem para falar contra alguns dos ma- mensageiro de Deus com a importan-
les do nosso mundo terra, pobreza te missão de pregar a Sua palavra e
injustiça e pornografia? pregá-la bem.

Eidred Johnstonr
O MINISTÉRIO/MAIO/JUNHO/1991 5
A Importância do Sono
o dia 19 de fevereiro de 1985, As investigações citaram os turnos
o vôo 006 da China Airlines irregulares e as decisões dos membros
deixou Taipé, Formosa, pa- da tripulação de não dormir no seu pe­
ra uma viagem de 11 horas ríodo de folga, como fatores que con­
até Los Angeles, na Califórnia. Nove tribuíram para o desastre.
horas e meia depois, o motor número Um questionário preenchido por
quatro perdeu potência e a tripulação 1.000 maquinistas, revelou que 11 % de-
o avião começou a procurar restaurá- les admitiam cochilar na maior parte
la. Enquanto eles estavam concentra­ das viagens noturnas, enquanto os ou-
dos nessa tarefa, o capitão deixou de tros 59% admitiam ter cochilado pelo
monitorar de maneira apropriada os menos um período alguma vez, no tra-
seus instrumentos, e o avião mudou de balho. Durante o dia, os maquinistas
direção e começou a cair verticalmen­ admitiram ter cochilado na maioria
te em direção ao mar. O aparelho caiu das viagens, mas 23% havia feito isso
de mais de 12 mil metros, para pouco no mínimo em uma viagem.
mais de dois mil metros, antes que o
comandante reassumisse o controle. O Um pesquisador do problema de dor­
avião sofreu graves danos estruturais, mir guiando, declarou recentemente
e dois passageiros ficaram gravemen­ que ocorrem mais acidentes provoca­
te feridos durante o incidente, que ex­ dos por insônia, do que pelo consumo
pôs a aeronave a uma força cinco ve- de bebida alcoólica. Os acidentes com
zes maior do que à da gravidade nor­ veículo particular, transporte aéreo, e
mal. os acidentes militares têm grande pro­
Insônia, ou horas irregulares de so­ babilidade de ocorrer à noite. Estudos
no, podem ter sido um importante fa­ de simulação de vôo têm mostrado que
tor nesse incidente. O piloto perdeu o a habilidade dos pilotos para pilotarem
controle de seu avião durante horas, um simulador pode ser prejudicada à
por não ter dormido direito nos últi- noite, tanto quanto o seria por um ní­
mos seis dias. vel de 0,05% de álcool no sangue.
No dia 13 de abril de 1984, dois trens O sono é importante — ninguém ne­
de carga andavam a grande velocida­ ga isso. Mas em meio de um programa
de um contra o outro nos mesmos tri­ ético em que há mais o que fazer do
lhos. Na cabina do Burlington Extra que tempo para fazê-lo, é tentador co-
6714, o maquinista e outros membros meçar a pensar em hora de sono como
da tripulação haviam pegado no sono. tempo perdido. E auferir lucro com
Os dois trens colidiram de frente per­ menos horas na cama, ou ficando de pé
to de Wiggins, Colorado, destruindo se­ até tarde, levantando cedo e compen­
te vagões e matando os cinco membros sando o tempo perdido com cochilos de
da tripulação. gato apressado.

Dr. Galen C. Bosley


Pesquisador associado de ciências, Departamento
de Saúde e Temperança da Associação Geral
dos Adventistas
6 O MINISTÉRIO/MAIO/JUNHO/1991
Efeitos da perda de sono___________ recebam os benefícios necessários do

M
sono.
Que acontece quando você dorme

as os efeitos de diminuir
demais as horas de sono, logo se tor-
nam evidentes. Os efeitos são vistos
mais depressa em crianças pequenas. não é de maneira algu-
Todos já vimos a irritação e as brigas ma um consumo passivo de tempo. O
entre irmãos aumentarem quando as tempo de sono divide-se em duas fases
crianças não dormem o tempo sufi- principais: Movimento Rápido do Olho
ciente em um dia agitado. (MRO) e o sono sem (MRO). O sono sem
movimento é ainda subdividido nos es­
Os adultos disfarçam melhor sua ir­ tágios: 1, 2, 3 e 4, com números cres­
ritabilidade. Não obstante, os efeitos centes que representam sono mais pro-
psicológicos da privação do sono in­ fundo. Os estágios 3 e 4 são chamados
cluem aumento da irritabilidade, ira e sono de onda lenta (SOL) ou sono pro-
comportamento anti-social, e o colap­ fundo. Cada uma destas divisões do so­
so dos mecanismos normais de defesa no é um processo fisiológico ativo.
do ego. Não dormindo suficiente, as O sono de MRO e o sem MRO têm,
pessoas geralmente se tomam mais sé­ cada um, as suas próprias funções fi­
rias, desatentas e carrancudas. Os de­ siológicas. Uma noite típica de sono
saparecimentos espontâneos e as per- compõe-se de quatro a seis ciclos, apro­
das prolongadas de sono, podem levar ximadamente, de 90 minutos, os quais
à desorientação, à paranóia, a maior começam com o estágio 1, depois con­
depressão do que a normal e à incapa­ tinuam para sono cada vez mais pro-
cidade para manter-se concentrado em fundo, depois para sono menos profun-
uma atividade. A percepção também do, para MRO, depois retorna através
diminui, como o fazem as habilidades de séries como estas: Estágio 1, 2, 3, 4,
cognitivas de raciocinar, e a capacida- 3, 2, MRO, 2, 3, 4, 3, 2. À medida que
de psicomotora. a noite progride, a quantidade de SOL
A perda de sono também afeta capa­ diminui e a do MRO aumenta. Quan-
cidades físicas tais como a habilidade do a manhã se aproxima, o estágio 4,
de realizar movimentos delicados da e às vezes o estágio 3, são eliminados
mão e concentrar os olhos. Leva ao au­ do ciclo.
mento de sensibilidade à dor, à redu­ Aparentemente, o sono MRO está en-
ção do tono e esforço muscular, ao au­ volvido com o processamento mental
mento do tempo de reação e à maior de nova informação, a transferência do
dificuldade em manter a boa postura. material da memória de curto prazo
Se a privação do sono continuar por para a de longo prazo, e de alguma for-
muito tempo, o resultado é a morte. Es- ma com o controle do que se denomi­
tudos feitos em ratos mostraram que, na comportamento motor animal mo­
quando a temperatura do corpo come­ tivado. Em linguagem comum, isto sig-
ça a cair de maneira dramática por nifica que os animais destituídos de so­
causa da perda de sono, ocorre a mor- no MRO, revelam impulso sexual, de­
te em poucos dias, mesmo que seja per- sigualdade sexual, satisfação e procu-
mitido aos animais voltarem a dormir. ra de alimento, e menos necessidade de
Pesquisas recentes sobre o sono in­ cuidado. O sono MRO é também impor-
dicam que não é apenas a quantidade tante em muitas funções do corpo, por­
de horas que se dorme, mas a regula­ que afeta a secreção de várias quími­
ridade das horas de sono e a duração cas do organismo, entre as quais os es-
do período deste, que permitem que se teróides corticais.
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A quantidade de tempo que gasta­ apenas de cinco a seis horas por noi­
mos no sono MRO diminui à medida te. As pessoas idosas costumam acor­
que envelhecemos. A infância prema­ dar-se com mais freqüência, e por pe­
tura pode consumir cerca de 80% do ríodos mais longos, do que os adultos
seu tempo de sono com MRO, enquan- jovens.
to os infantes de tempo integral estão Estudos têm revelado que a média
em MRO apenas cerca de metade do norte-americana e européia de sono é
tempo que passam acordados. Duran­ de sete a oito horas por noite. Um es-
te a juventude adulta, o MRO supre tudo recente de doze países europeus
apenas 10 a 20 por cento do tempo de e os Estados Unidos, mostrou que
sono, e anos mais tarde isto diminui 25,3% dos homens e 29,1% das mulhe-
ainda mais. res dormiam menos de sete horas por
O Sono de Onda Lenta (estágios 3 e noite, enquanto 14,6% dos homens e
4) é importante para recuperar da fa­ 13,7% das mulheres dormiam mais de
diga, e aumenta depois da intensidade nove horas. A maioria das pessoas dor­
do trabalho físico. Caracteriza-se pela me mais nos fins-de-semana, o que in­
amplitude elevada, a lenta freqüência dica que elas se estão privando da ne-
da atividade EEG de menos de 4 ciclos cessidade de dormir durante o traba-
por segundo, pelo repouso do tono lho da semana.
muscular, e as lentas, regulares velo­ Talvez a melhor maneira de determi­
cidades cardíaca e respiratória, pelo nar quanto tempo de sono lhe é sufi-
aumento do fluxo sanguíneo para os ciente, é ir para a cama cedo, a fim de
músculos, e pela constrição das arté­ despertar naturalmente, sem o desper­
rias do cérebro. O SOL diminui tam- tador. Permitir que o seu próprio or­
bém com a idade. Enquanto ele varia ganismo determine de quantas horas
de 10 a 20% nos adultos jovens, pode de sono você necessita, pode ajudá-lo
estar de todo ausente na velhice. a evitar a privação crônica do sono que
prevalece nas nações industrializadas.
Quanto é suficiente? Como aumentar o sono

T odos nós já ouvimos falar de pes-


soas que se sentiam bem com apenas
quatro ou cinco horas de sono por noi-
te. Tais pessoas, contudo, constituem
Os fatos a respeito do sono po-

dem ser interessantes, mas o que mais


interessa à maioria de nós é saber co-
mo ter uma boa noite de repouso. Se
exceção e não regra. A maioria de nós você sofre de insônia, talvez necessite
necessita entre sete e nove horas de so­ de ir a um dos departamentos recen­
no cada noite, e um estudo recente re­ temente instalados em várias univer­
velou que mesmo aqueles que achavam sidades. Alguns problemas só podem
que haviam dormido o suficiente, eram ser diagnosticados mediante testes pre­
beneficiados com meia ou uma hora de cisos. Num artigo publicado recente-
sono extra. mente na Post Magazine de Washing­
Um recém-nascido saudável dorme ton, o autor fala de sua luta de 20 anos
cerca de 16 horas. Esse tempo diminui com vigílias noturnas. Ele tentou todas
para 11 horas dos 3 aos 5 anos de ida­ as espécies de remédios conhecidos e
de, para 10 horas aos dez anos e para curas milagrosas, mas continuou a des­
7,75 horas aos 19 anos. Este declínio pertar várias vezes todas as noites e a
parece continuar lentamente com a ser incapaz de voltar a dormir duran­
idade até que, ao chegarem aos sessen­ te horas a fio.
ta ou setenta anos, as pessoas durmam Só depois de ser preso por um apa­
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relho que lhe controlava as ondas ce­ do aumento do início do sono e dos des-
rebrais e tensão muscular durante to- pertamentos mais freqüentes, os fu­
da a noite, ele ficou sabendo que o que mantes parecem também ter menos so­
o despertava várias vezes durante a no do que os não fumantes, e ter três
noite eram as contrações das pernas. vezes mais pesadelos e sonhos.
Os médicos do centro de pesquisas Muitas pessoas contam que se sen­
prescreveram medicação que aliviava tiram cansadas e sonolentas por vários
as contrações, e ele conseguiu dormir dias, logo após deixarem de fumar. Fe­
mais daí em diante. lizmente, essa sonolência não as afeta
Para a maioria de nós, porém, con­ só durante o dia, mas continua em suas
seguir dormir melhor pode ser sim- horas regulares de sono. O abrupto
plesmente uma questão de eliminar abandono do cigarro, diminui em 45%
um hábito que perturba o nosso sono, o tempo de insônia nas três primeiras
ou desenvolver uma prática que pos- noites de abstinência. Este ganho vem
sa aumentar o sono. em parte pelo fato de dormir mais e,
Entre as coisas que podem dificultar em parte, pela diminuição dos episó­
o bom sono estão o álcool e outras dro­ dios de vigília durante a noite.
gas, falta de exercício e tipos de hábito.
A ligação do álcool com o sono é, de Hábitos que aumentam o sono______
modo particular, significativa. En-
quanto o álcool pode contribuir para
deixar a pessoa sem sono, ele diminui
a qualidade do sono. Interrompe os ci­
clos dos estágios do sono e dificulta o
A As duas coisas mais importan­
sono MRO. Mesmo níveis moderados tes que você pode fazer para melhorar
de exposição alcoólica pré-natal, po- o seu sono são formar o hábito de fa-
dem levar a distúrbios dos ciclos do so­ zer bastante exercício, e ter um horá­
no em recém-nascidos. E crianças nas­ rio regular para dormir, sempre que
cidas de pais alcoólatras, experimen­ possível.
tam inibição do sono MRO. A verdadei­ Estudos têm mostrado que o exercí­
ra tragédia em tudo isto é que este pro- cio diminui o tempo requerido para o
blema pode contribuir para que eles SOL, e que fisicamente habilita mais
próprios se tornem alcoólatras. os indivíduos a obterem SOL do que in­
Comprovou-se que a privação do sono capacita. Como na maioria das coisas,
MRO de filhotes de rato, aumenta-lhes a moderação é o segredo, nessa ques-
o consumo de álcool quando adultos. tão. Se você não está acostumado a fa-
Drogas como as anti-histaminas, os zer muito exercício, comece com exer­
anti-hipertensivos e quase todas as dro­ cícios leves e prossiga pouco a pouco
gas psicotrópicas, entre as quais a ma­ para exercícios mais cansativos até seu
conha, afetam o sono, aumentando a in­ nível de aptidão aumentar. Os exercí­
sônia e interrompendo os estágios do so­ cios extenuantes podem realmente levar
no. A maconha, em bebês expostos an- quem não está acostumado a ter pertur­
tes do nascimento, interfere no ciclo do bações do sono, e o exercício exaustivo
sono, reduz o SOL, aumenta os movi­ pode produzir o mesmo resultado, mes-
mentos do organismo e reduz os sinais mo para os que estão fisicamente pre-
característicos do sono MRO, sem levar parados. Qualquer exercício praticado
em conta o trimestre de exposição. antes de dormir deve ser de leve a mo­
O fumar é outro fator ligado com a derado, pois o exercício pesado tende a
dificuldade do sono. Os fumantes le­ excitar o sistema nervoso central e a
vam muito mais tempo para dormir, e causar distúrbios do sono.
ficam acordados por períodos muito Exercício tarde da noite pode tam-
mais longos depois de acordarem, do bém elevar seu coeficiente metabólico
que os não fumantes. Além da latência e mantê-lo acordado. Uma vez que o so­
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no faz baixar a temperatura do orga­ mais um minuto. Levante-se e leia al­
nismo, a demora na diminuição da guma coisa repousante. Continuar na
temperatura do seu corpo pode mantê- cama, lutando para conciliar o sono,
lo acordado por mais tempo. Natural- pode tornar-se um hábito, que dificul­
mente, o mesmo problema pode resul­ tará adormecer nas noites seguintes.
tar de se procurar dormir em um quar­ Não importa o que você fizer, é im-
to muito quente. portante que faça o melhor que puder
Um horário regular de ir para a ca- para resolver quaisquer problemas que
ma e para levantar-se, pode ajudá-lo possa ter, dormindo bastante. Um es-
também a ter uma maior e melhor qua­ tudo recente, feito pelos Institutos Na­
lidade de sono. Num estudo de um gru- cionais da Saúde Mental revelou que
po de adolescentes que sofriam de dis­ os problemas não resolvidos do sono
túrbios moderados ao sono, tudo quan- estão grandemente relacionados com
to foi preciso fazerem para superar o surgimento das depressões graves.
seus problemas foi estabelecerem um "Quando te deitares, não temerás;
horário rigoroso para deitar-se e levan­ deitar-te-ás e o teu sono será suave"
tar-se durante os dias da semana e no (Prov. 3:24), é uma das mais preciosas
fim desta. promessas da Bíblia. Uma boa noite de
E a regularidade do sono traz mais sono pode ajudar a fornecer-lhe a ener­
benefícios do que simplesmente dor­ gia de que você necessita para enfren-
mir melhor. Manter um cículo estável tar até mesmo os maiores desafios do
de vigília e sono é também necessário dia.
para alcançar níveis adequados de de-
sempenho da boa disposição e do com­
portamento subjetivo. Entre os alunos
de colégio, a regularidade nas horas de Soldata, C. R., J. D. Kales, M. B. Scharf, E. O. Bix-
deitar-se e levantar-se é, antes, a regra ler, e A. Kales, “Cigarrette Smoking Associated with
Sleep Difficulty". Science, 1 de fevereiro de 1980,
do que a exceção. Mas aqueles que se­ s. 551-553.
guem um horário regular de sono, mos- uri, I., N. Urponen, J. Hasan, and M. Partinen,
"Epidemiology of Exercise Effect on Sleep”. Acta
tram maior potencial de realização, de Physiol Scand., 1989, Suplemento 574, págs. 3-7.
eficiência intelectual, de domínio pró- Bale P., and M. White, "The Effects of Smoking on
the Health and Sleep of Sportswomen”, British Jour­
prio e de sociabilidade. Estudos com nal of Sports Medicine, setembro de 1982, págs.
marinheiros produziram resultados si­ 149-153.
milares. Os que dormiam bem, ultra­ Webb, W. B., "Age-Related Changes in Sleep Cli-
nics", Geriatric Medicine, maio de 1989, págs. 275-287.
passaram os que dormiam pouco, no Scher, M. S., G. A. Richardson, P. A. Coble, N. L.
cumprimento dos deveres; e tiveram Day, and D. S. Stoffer, "The Effects of Prenatal Al­
cohol and Marijuana Exposure: Disturbances in Neo-
probabilidade de ser promovidos mais natal Sleep Cycling and Arousal", Pediatric Research,
rapidamente. 24 de julho de 1988, págs. 101-105.
As três sugestões que seguem, para Palca, J., "Sleep Researchers Awake to Possibili-
ties", Science, 28 de julho de 1989, págs. 351 e 352.
melhorar o sono, envolvem o que se faz Webb, W. S., "Sleep in Industrial Settings In the
imediatamente antes e depois de ir Northern Hemisphere” Psychological Reports, outu­
bro de 1985, págs. 591-598.
deitar-se. Se você gosta de ler antes de Bixler, E. O. and N. Bela-Bueno, "Normal Sleep:
deitar-se, leia assuntos leves; de prefe­ Patterns and Mechanisms", Seminars and Neurology,
rência, algo que não se relacione com setembro de 1987, págs. 227-235.
Lauber, J. K. and P. J. Cayten, "Sleepiness, Circa-
o seu trabalho. Não assista a televisão dian Dysrhythmia, and Fatige in Transportation
perto da hora de dormir, pois a exci­ System Accidents”, Sleep, dezembro de 1988, págs.
503-512.
tação e a tensão geradas podem tomar Hauri, P. "What Can Insomniacs Teach Us About
difícil o sono. E se, depois de estar na The Functions of Sleep?” The Functions of Sleep, Re-
cama, você acha difícil conciliar o so­ nee Droker-Colin, M. Shkurovich, and M. B. Sternam
eds. (Nova Iorque: Academic Press, 1979), págs.
no, não continue aí, frustrado, nem

10 O MINISTÉRIO/MAIO/JUNHO/1991
Boa Para Nada
s vezes tenho sorrido sozi­ e equilibrada — algo que raramente
nha ao pensar na velha his- consigo ser.

A tória de uma esposa de pas- Se você me perguntasse o que eu es­


tor a quem se ouvia dizer: perava da obra ministerial quando nos
"Meu marido é pago para ser bom. Mas
esforçávamos
quanto a mim, não sou boa paralégio,
nada!"
durante os anos de co­
eu lhe fornecería todas as fáceis
Meu preparo para ser esposa de pas- e oportunas respostas que ouvia nas
tor começou cedo. Quando criança, vi­ reuniões de esposas de estudantes. Ou
sitei a casa da esposa do pastor com citaria pensamentos dos únicos três li-
minha família. A esposa do pastor deu vros que se achavam disponíveis sobre
uma maçã a mim e outra a minha irmã. o assunto, na ocasião.
Estávamos indo sentar-nos sobre o Minhas expectativas com relação ao
imaculado sofá, quando surgiu um pro- que se pretendia da esposa do pastor
blema. Ambas pegamos simultanea- não eram só ingênuas, mas realmente
mente nossa maçã. Para duas meninas arriscadas. Acontecimentos posterio­
migrantes tímidas como nós, aquilo res, porém, modificaram grandemen­
continha o potencial para uma catás­ te minha concepção. Aprendi a obser-
trofe maior. var e ouvir, e a viver do bom senso e
Sub-repticiamente, minha irmã de­ muita oração.
vorou a sua maçã voltada para o lado Que Deus suportasse esta humilde e
da almofada. Eu, porém, estava por de­ desajeitada mulher, sem levantar as
mais ocupada, olhando firmemente pa- mãos com horror, é um notável teste­
ra a pasta revoltante em que minha munho de Sua infinita paciência.
maçã se tornara, para notar seu enge­ Muitas vezes mereci ouvir de novo as
nhoso artifício. Eu supunha que ela a palavras: "Não, não, você entendeu er­
houvesse comido. rado outra vez, Bárbara." Ao invés dis­
Para evitar constrangimento, empur­ so, porém, Ele apenas sorria diante dos
rei estoicamente na boca a minha ma­ meus muitos erros. Quando, finalmen­
çã. Foi tão desagradável quanto uma te, resolvi ouvir primeiro e agir depois,
lixa, quando a forcei goela abaixo. Mal Deus me mostrou que há caminhos me-
imaginara que um dia viesse a ser es­ nos penosos para fazermos Sua vontade.
posa de pastor, e que haveria de dar Interessei-me por tudo e por todos,
maçãs para que outras meninazinhas durante os nossos primeiros anos. Se
as comessem em minha casa. Não me a organista não aparecia, eu a anima­
preocupo; sempre providencio méto­ va a fazer o seu trabalho. Se a sua fre­
dos apropriados de solução. qüência se tornava irregular e eu ou­
Depois de dezesseis anos no minis- via dizer que ela estava visitando ou-
tério, penso no respeito que eu tinha tras igrejas, não me sentia culpada.
pela esposa do pastor. Esse respeito ia Eu continuava orando, sendo útil,
aos limites da reverência. Ela sempre tomando o assunto "cristão"; sem pen-
se mostrava agradável, serena, calma sar em quanto ela realmente estava ne­

Bárbara V. Shelley
Conselheira familiar na Austrália
e esposa de pastor
O MINISTÊRIO/MAIO/JUNHO/1991 11
cessitada. Depois de alguns meses, fi­ Muitas vezes, quando até o telefone era
quei desconfiada e comecei a imaginar desligado sem uma palavra de agrade­
se ela não se estaria sentindo desneces­ cimento, eu ficava grandemente per­
sária. turbada e imaginando o que de fato es-
Uma observação casual, certo dia, tava acontecendo.
mostrou que ela realmente se sentia in­ Iludindo-me, eu imaginava que aqui­
feriorizada. Descobri que outros tam- lo fazia parte da minha espécie de ocu­
bém estavam com muito medo da mi- pação. Em tempo, contudo, descobri
nha capacidade de substituir alguém que aquelas pessoas estavam pratican­
em questão de minutos. Lembrei-me do uma antiga forma de "Pesquisa Tri­
imediatamente disto. De repente, senti- vial” da Bíblia.
me incapacitada para tocar. Não é pre­ Aquela foi a minha segunda lição
ciso dizer que jamais ficamos sem uma proveitosa. Se eu respondesse a cada
organista. pergunta, as pessoas seriam impedidas
Aprendi uma valiosa lição sobre as de sentar-se aos pés de Jesus e ouvi-Lo,
pessoas e sobre a importância de quando Ele lhes revelasse Sua palavra.
interessar-me por seus sentimentos. Deus me ensinou a incentivar as pes-
Aprendi também a conferir todas as soas a estudarem por si mesmas. A des­
opções — a descobrir os talentos dos cobrirem os tesouros escondidos,
outros e motivá-los a usarem estes ta­ quando o Espírito Santo lhes abrisse
lentos. Em lugar da Sra. Sabe-Tudo, o entendimento. Já não necessitava que
aprendi a ser a Sra. Motivadora. Nes- pensassem a meu respeito como sen­
se processo, descobri uma grande do a Sra. Sabe-Tudo. Agora eu sorria
quantidade de talentos sem uso. As quando me ouvia dizendo: "O que VO­
pessoas estão esperando ser descober­ CÊ acha?”
tas e convidadas da maneira certa.
Trabalhando demais
Entretenimentos

Sou uma pessoa ativa, de ma-


Meu aprendizado continuou. neira que a vida começou a ser muito
Por exemplo, tive de aprender a não to­ exaustiva para mim. Divertir os filhos,
mar parte em um entretenimento que uma ocupação de tempo integral e ser
alguns membros experientes da igre­ esposa de pastor eram às vezes demais.
ja praticavam com grande habilidade. Quando estivemos longe do nosso
O passatempo era chamado de "onde país durante seis anos, com freqüência
fica o texto”. recebíamos visitantes do estrangeiro.
Eu tinha muita facilidade para pra- Hospedávamos os amigos, a família e
ticar este tipo de brincadeira. Em mi- os visitantes da Divisão e da Associa-
nha adolescência, eu fora a campeã de ção em nossa casa; nunca me passou
verso áureo na igreja — principalmen- pela cabeça pedir-lhes que fossem pa-
te porque o único dinheiro que recebía­ ra um hotel. Como se vê, aquilo não se
mos em casa era pelos textos que reci- harmonizava com a imagem que eu ti-
távamos sem erro. Assim sendo, eu me nha da perfeita esposa de pastor.
achava realmente capacitada a parti­ Quando não tínhamos hóspedes, le-
cipar daquela brincadeira — por horas vávamos pessoas para casa aos sába­
a fio — com habilidosos manejadores dos, a fim de conhecê-las e mostrar
na outra extremidade da linha. hospitalidade. Vez por outra, eu fica­
A cada resposta dada, eu via aumen­ va intrigada com o fato de alguém não
tar a minha importância, até que des­ retribuir o convite.
pertei para o que estava acontecendo. Experimentei períodos de solidão e
12 O MINISTÉRIO/MAIO/JUNHO/1991
depressão. Meu senso de insuficiência nificou um progresso natural de nosso
aumentava quando eu procurava estar ministério perfeito. Mas não posso. Co-
em toda parte ao mesmo tempo. Inti- mo a maioria dos mortais, aprendemos
mamente eu sabia que era impossível que o caminho é penoso.
agradar a todos; mesmo assim, sentia- Comecei a ampliar a nossa já alenta­
me às vezes magoada quando ouvia co­ da biblioteca. Autores como Keith Mil­
mentários desfavoráveis. ler, Cecil Osborne, C. S. Lewis, Paul
Certo dia, porém, notei quão cansada Tournier, James Dobson, Tim LaHaye,
e desgastada me achava. Ao procurar Lawrence J. Crabb Júnior e John Powell
ser "tudo para todos", estava consumin­ começaram a encher ainda mais as pra­
do-me rapidamente. Percebi então que teleiras, ao lado da bem usada e estima­
chegara o momento de reavaliar as prio­ da Bíblia e do Espírito de Profecia.
ridades. Embora tivesse levado algum Que universo se abriu diante de
tempo para que eu deixasse de cuidar mim! Agarrei-me a livros e cursos so-
das necessidades de todos, aprendi final- bre comunicação, aconselhamento,
mente a dizer "Não”. análise de temperamento — tudo o que
Assim, muitos dos problemas que as pudesse ajudar-me a entender a psique
esposas de pastor enfrentam, fazem par- humana um pouco melhor e dessa for-
te da estratégia criada pelo pai da men­ ma, equipar-me melhor para lidar com
tira e do engano — Satanás. Ele usou minhas próprias necessidades e auxi­
meus talentos e meu ego a fim de que liar a outros. Meu marido juntou-se a
colocasse a mim mesma, bem como à mim, sempre que pôde.
minha família e os meus dons — tudo Tomei consciência de uma imediata
sobre o altar das "coisas que uma espo- diferença em minha vida. Incidentes
sa de pastor deve fazer para ser aceita". que envolviam sofrimento, orgulho, di­
Chega! Nunca mais; obrigada! Hoje em namismo, ou mesmo a necessidade de
dia, peço a orientação de Deus antes que acentuadas mudanças começaram a
eu abra meus apressados lábios. parecer apenas uma coisa para mim:
Egoísmo!
Promovendo a comunicação Comecei a cavar mais fundo e des­
cobri que a "unidade provém de uma
entrega inteligente e sem reservas, que
se torna um instrumento de Deus pa-
ra alcançar poderosamente as necessi-
Finalmente, comecei a buscar res­ dades pessoais dos cônjuges de manei-
postas que satisfizessem minhas impe­ ra profunda e significativa. Ou, mais
riosas necessidades, bem como me aju­ simplesmente, se o fundamento da Uni-
dassem a apoiar outros em suas lutas. dade do Espírito é a dependência mú­
Percebi que respostas conciliadoras co- tua do Senhor para as necessidades
mo "irmã, leve isto ao Senhor", não pessoais, então o fundamento da Uni-
eram senão uma forma polida de dizer: dade da Alma é a entrega mútua para
"Não sei o que dizer-lhe", ou "não me ministrar as necessidades pessoais uns
incomodo de tomar tempo para desco- dos outros".1 Bravo! Poderoso remé­
brir o que está por trás do seu ressenti- dio! Não admira que me tivesse senti-
mento". E que estas respostas são insa­ do fraca e exaurida.
tisfatórias. Eu estivera esperando que outros
Em todos estes anos de ministério, cuidassem das necessidades que eram
meu marido e eu nos envolvemos mais difíceis de ser satisfeitas por qualquer
e mais com o estudo da habilidade da ser humano e que me faziam avançar
comunicação e do relacionamento, e co- impetuosamente.
mo usá-lo melhor na satisfação das ne- As Escrituras confirmaram minha
cessidades reais das pessoas. descoberta. "Lançando sobre Ele toda
Gostaria de poder dizer que isto sig- a vossa ansiedade" (I Pedro 5:7). Eu es­
0 MINISTÉRIO/MAIO/JUNHO/1991 13
tivera lançando os meus cuidados so- tras pessoas como são e a deixar as mu-
bre outras pessoas, em lugar de fazê- danças para Ele.
lo sobre Deus, e esperando que elas Em lugar de questionar a Deus quan­
preenchessem necessidades que so­ do enfrento problemas, peço-Lhe ago­
mente Deus podia satisfazer. ra que me mostre o que deixei de ver
Minha conversa com Deus se tornou com relação a mim mesma na ocasião.
mais real. A franqueza e a honestida­ Reafirmo Sua aceitação da minha pes-
de eram os temas de minhas orações. soa, bem como dos meus sentimentos,
Palavras como "Senhor, corrige-me e Lhe peço que me mostre como lidar
agora que estou aflita mais do que acho com o problema. Ele o faz sempre! Na
que posso suportar. Sinto-me como se ocasião em que Deus me levou a esta
estivesse gritando, fugindo, batendo em experiência, as demais pessoas não pa­
alguém! Não quero sentir-me assim, reciam ser metade tão más ou cheias
mas me sinto. Considero-me sem valor, de motivos pecaminosos quanto eu
vazia, triste e raivosa. Agradeço-Te por imaginava! Esta é a liberdade experi-
me amares como sou".2 mentada por deixarmos o problema
Penosa mas, confiantemente, entre­ com Deus.
guei aos cuidados de Deus minhas ne- Para mim, isto é o que Paulo queria
cessidades ao delas tomar conhecimen- dizer, quando afirmou que morria dia­
to. Uma doce paz e alegria começou a riamente. Ele escolheu morrer diaria­
inundar-me a alma. As coisas negativas mente para o pecado e o eu, e confiar
começaram a transformar-se em posi­ diariamente ao Senhor as suas neces-
tivas. sidades.
Ao olhar para o passado, vejo que eu
Satanás não ficou muito impressio­
necessitava aprender que Deus pode
nado com isso, e colocou-me no cami- conduzir-me através de experiências
nho algumas difíceis responsabilida­ negativas. Elas me mostraram que Ele
des. Tão penosas eram, que às vezes me é capaz de dirigir-me a vida. Elas cons­
ouvia dizendo: "Senhor, há realmente tituem lembretes necessários no livro
vantagem em colocar em Tuas mãos os
de minha vida. Lembranças de minha
meus problemas?" Pois quanto mais humanidade falível e de Seu poder in­
eu deixava que os outros fossem eles falível.
próprios, tanto menos minhas necessi- Por causa das minhas experiências,
dades pareciam ser satisfeitas. outros se relacionam mais facilmente
Paciente e bondosamente, Deus me comigo agora. Melhor ainda, eu me re­
mantinha voltada para o alto. Fazia laciono melhor com eles. Prezo agora
lembrar-me de que minhas necessida- a qualidade de relacionamento que
des estavam sendo satisfeitas nEle. Era partilho com meus semelhantes e agra­
verdade. Tive que aprender a conser­ deço a Deus por mostrar-me que sou
var os olhos fitos nEle, em lugar de vol­ tão humana quanto eles.
tados para mim mesma. E como Deus me está suprindo todas
Meus períodos de desânimo se tor­ as necessidades, posso recomendá-Lo
naram muito mais breves, de maneira aos outros, e afirmar-lhes que Ele lhes
que atualmente desaparecem em pou­ suprirá também todas as necessidades.
cas horas ou minutos. Isto é um mila­ Como vejo as coisas agora, no come­
gre, quando me lembro de quão mal- ço do meu ministério meu ego e o de­
humorada eu costumava ser. sejo de agradar não me fizeram boa pa-
Satisfeitas as minhas necessidades ra nada a não ser os aplausos e o lou­
em Cristo, libertei-me também em ou- vor dos outros. Agora, porém, apren­
tras áreas. Tornei menores minhas ex­ di a não ser boa para nada e ninguém
pectativas quanto aos outros e apren­ — senão Deus. E nisto tenho encontra-
di a deixar que estes sejam eles mes- do a verdadeira satisfação e plenitude.
mos. Deus ajudou-me a aceitar as ou-
14 O MINISTÉRIO/MAIO/JUNHO/1991
Contendas na Igreja
Paulo apresenta quatro soluções para reduzir
o grau dos conflitos em sua igreja — e
manter o tiroteio dos membros voltado para
longe de você!

que se poderia chamar de questionam a liderança administrati­


uma guerra religiosa, ir­ va e defendem amplamente pontos de

O rompeu na igreja da qual vista teológicos. Membros que susten­


eu era pastor. Tratava-se de tam esta causa com ofertas e mesmo
dízimos,
uma controvérsia teológica, alimenta ­ tendem a retirar da igreja não
da por publicações bem-intencionadas, apoio financeiro, mas também
só o seu
mas incendiárias, da órbita do Adven­ sua lealdade.2 O resultado é que, en-
tismo. Formaram-se as fileiras, e os quanto esses membros podem ainda
membros da congregação tomaram po- estar adorando com as congregações
sição — cada qual vendo os que esta­ adventistas, eles se sentem de alguma
vam do outro lado como filhos de Sa­ forma indiferentes. São levados a ver
tanás. Quando a fumaça se dissipou, a igreja e seus membros como neces­
quinze membros não mais adoravam sitando da nova verdade que passaram
conosco. a defender.
O conflito afetou-me profundamen­ Paulo alertou a liderança da igreja
te e ao meu ministério. Comecei a pre- de Éfeso para dificuldades semelhan­
gar os temas da unidade e da reconci- tes. Disse-lhe que estivessem alerta,
liação, mas sem nenhum resultado po­ pois “entre vós penetrarão lobos vora­
sitivo. Realizar uma comissão de igre­ zes que não pouparão o rebanho. E
ja era como enfrentar um pelotão de que, dentre vós mesmos, se levantarão
fuzilamento. Aqueles que antes haviam homens falando coisas pervertidas pa-
proporcionado liderança espiritual à ra arrastar os discípulos atrás deles”
igreja, lutavam agora como demônios, (Atos 20:29 e 30).
procurando garantir sua posição de Paulo previu a espécie de ataques
mando. Os membros envolvidos, viam que a igreja experimentaria: forças ex­
cada item da agenda em termos do teriores que perseguiríam, e líderes re-
mais amplo conflito. Não demorou pa- ligiosos de dentro da igreja, que arras­
ra que eu começasse a questionar o tariam os discípulos para fora, median­
meu próprio chamado para o ministé­ te seus ensinos perversos. Em face des­
rio e, confesso, às vezes pensei em ven­ se quadro, Paulo aconselhou os líderes
der seguro, considerado muito bom.1 da igreja de Éfeso a atenderem por si
Minha experiência não é única entre mesmos “e por todo o rebanho sobre
os pastores adventistas. Há uma por­ o qual o Espírito Santo vos constituiu
ção de forças na igreja impondo mu- bispos, para pastoreardes a igreja de
danças, não menos do que o estão al- Deus ” (Atos 20:28).
gumas publicações independentes que Primeiro Coríntios apresenta um

Jan G. Johnson
Pastor de igreja em Granger, em Washington
O MINISTÉRIO/MAIO/JUNHO/1991 15
exemplo clássico do cuidado que Pau­ Como podemos fazer isto?
lo imaginou que os líderes cristãos de­ Cumpre-nos transmitir alguns ele-
viam dispensar aos seus rebanhos. Os mentos de nossa trajetória espiritual.
membros da igreja de Corinto eram em Tom, um jovem pastor da costa do Ore­
grande parte conversos de Paulo. gon, caminhava desanimado pela
Quando, depois de fundar a igreja ali, praia. A situação grave que surgira re­
ele saiu para novos campos missioná­ centemente em seu distrito ocupava-
rios, vários conflitos surgiram; entre lhe de tal maneira os pensamentos que
eles, facções leais a diferentes líderes ele mal percebia a tempestade de ven­
(1:10-17; 3:5-23), problemas decorren­ to que lhe rugia ao redor. Quando atin­
tes de imoralidade (5:1-5), discrepân­ giu o promontório rochoso que indica­
cias teológicas (15:1-58), e irregularida­ va o fim da praia, ele parou e observou
des quanto ao culto (11:2-34). as enormes ondas que contra ele se lan­
Naturalmente, essas controvérsias çavam. As ondas pareciam tão esmaga­
dividiram os membros. Mas também doras quanto os problemas que ele es-
separaram o líder da congregação — tava enfrentando.
em sua segunda epístola aos Coríntios Depois de algum tempo, Tom volta­
Paulo escreve tanto de seu sofrimento va, pretendendo fazer o caminho de
pessoal como de seu retraimento da volta até o seu carro. Num ímpeto, po-
igreja (II Cor. 2:1-4). rém, resolveu escalar a formação ro­
No esforço por debelar o conflito e chosa. Quando chegou ao cimo, obser­
reunir a congregação, Paulo usou vá- vou que a rebentação das ondas havia
rios argumentos teológicos e éticos. A diminuído. Na verdade, a própria re­
maioria dos pastores deveria fazer a bentação não parecia tão ameaçadora.
mesma coisa. Paulo, porém, usou ou- A altura a que ele havia subido, deu-
tras técnicas que também podem ser lhe uma nova perspectiva da rebenta­
usadas para proteger nossas congrega- ção e da tempestade. Deu-lhe também
ções das influências fragmentárias dos uma nova perspectiva do seu proble-
movimentos paralelos. ma. Ajoelhando-se sobre a terra en­
1. Podemos projetar uma imagem es- charcada da chuva, agradeceu ao Se-
piritual. nhor pela reconfortante idéia. A reno­
"Sede meus imitadores, como tam- vação que sentiu, fortaleceu-o ao reto­
bém eu sou de Cristo." "Porque decidi mar o seu trabalho.
nada saber entre vós, senão a Jesus Cris-
to, e este crucificado" (I Cor. 11:1; 2:2). No sábado seguinte, Tom começou
Uma acusação que guarnece o nível seu sermão relatando esta experiência.
das publicações na liderança da igre­ Ao fazer isso, ofereceu a sua congrega-
ja — pastores e administradores — é ção um vislumbre de como andar com
que eles não são espirituais. Minha ex- o Senhor.
periência indica que acima de tudo, Devemos projetar uma imagem espi-
nossos membros desejam liderança es- ritual em nossas orações. George era
piritual. Pastores que conheçam a Deus um dedicado pastor de uma grande
e sejam por Ele conhecidos, que orem igreja da cidade. Eu o conhecia como
com seu povo e em favor deste, que fa­ sendo um santo homem, interessado
lem com convicção a respeito do amor no bem-estar espiritual de sua congre-
de Deus, que sejam capazes de dizer: gação. Ele, porém, tinha o incômodo
"Sede meus imitadores, como também hábito de fazer orações ‘ xerocadas’’ —
eu sou de Cristo" — são os pastores que repetir frases como ‘‘abençoa os nos-
serão bem-sucedidos na oposição à in- sos corações”, "molda-nos", “sé com os
fluência dos movimentos periféricos. doentes" cada semana. Por mais lou­
Mas não devemos ser apenas espiri- váveis que sejam estes sentimentos,
tuais; devemos projetar uma imagem quão mais eficaz teria sido o seu tes­
espiritual sobre nossas congregações. temunho espiritual se ele tivesse pro­
16 O MINISTÉRIO/MAIO/JUNHO/1991
curado novas e significativas maneiras ja, podemos promover outros aconte­
de expressá-lo! cimentos espirituais. Poderiamos criar
Devemos pregar sermões espirituais. um serviço de comunhão para casais
A congregação tem melhor condição de jovens, promover uma semana de ora-
ver o caráter de seu pastor por meio ção especial para os idosos, dar início
de sua pregação. Nossas mensagens fa­ a grupos de oração, a grupos de estu­
lam muito sobre nosso nível espiritual. do da Bíblia, ou grupos de trabalho de
Os sermões extraídos da Palavra de várias espécies.
Deus, agraciados com a doçura do A lista não tem limites, mas o obje-
amor de Jesus, realçados com o poder tivo é incentivar e fortalecer os mem-
do Espírito, que revelam ao cansado bros. Membros espiritualmente satis­
viajor cristão a simplicidade da verda- feitos e em desenvolvimento, são me-
de, testificam com clareza da nossa es­ nos vulneráveis às mensagens negati­
piritualidade. vas que avultam.
2. Podemos elaborar eventos espiri- 3. Podemos projetar uma imagem de
tuais lealdade para a liderança da igreja.
Paulo mencionou inúmeras vezes Existem hoje muitos que estão pro­
reuniões de igreja em I Coríntios (5:4 pagando a deslealdade. Vários grupos
e5; 11:17-33; 14:23-28; 14:33 e 34), mas conseguem listas de membros da igre­
seu conselho com respeito à maneira ja e espalham a doença por meio de
de tratar de um caso de disciplina da suas publicações. E como o câncer,
igreja, talvez testifique melhor de sua quando a deslealdade invade a congre-
predisposição de tomar as reuniões em gação, desenvolve-se até destruir a vi­
eventos espirituais. Para o homem que talidade da igreja.
vivia com a esposa de seu pai, sugeriu Ralph, pastor distrital de uma comu-
Paulo uma reunião da igreja para nidade agrícola, nutria um ressenti-
entregá-lo a Satanás, “para a destrui­ mento. Durante os seus dias de expe-
ção da carne, a fim de que o espírito se- riência no ministério, seu presidente
ja salvo no dia do Senhor Jesus” (I Co­ de Associação o transferiu de um dis-
ríntios 5:5, grifo suprido). trito para outro contra a sua vontade.
Para Paulo, mesmo um caso de dis­ Embora o presidente se tenha muda­
ciplina de igreja possuía implicações do logo e se aposentasse, Ralph ainda
espirituais importantes. Era um acon­ está com raiva. De maneiras sutis, seus
tecimento coletivo redentor; a última ressentimentos vieram à tona na for-
tentativa de levar os cristãos a recupe­ ma de desconfiança na organização e
rarem uma alma transviada. sua liderança.
É demais procurar fazer de cada reu­ Infelizmente, alguns da congregação
nião da igreja um acontecimento espi- de Ralph estão recebendo seus sinais e
ritual? É fácil verificar como os cultos emitindo seus sentimentos. Embora
de louvor, as reuniões de oração, a Es- Ralph se sinta incomodado com a hos­
cola Sabatina e os funerais podem ser- tilidade que tem ouvido recentemente,
vir para fins espirituais, mas o que di- sua falta de confiança na liderança da
zer das reuniões da comissão, das reu­ igreja toma-o hesitante para defendê-la.
niões de negócios e da junta escolar? Ralph deveria saber que uma pala­
Certamente o Senhor está dirigindo vra de deslealdade do pastor pode neu­
ativamente a Sua obra. Assim sendo, tralizar milhares de palavras positivas.
podemos salientar esta questão. Mes- O dano causado a sua igreja não só le­
mo uma reunião de assuntos comer­ vará algum tempo para ser reparado,
ciais seculares, proporciona oportuni- mas também proverá fértil solo aos
dade para que o pastor atento fale do mensageiros da insatisfação.
cuidado de Deus em prol da igreja e Por outro lado, Paulo incentivou a
seus negócios. lealdade à liderança da igreja. Ele se
Além das reuniões regulares da igre­ recusou a diminuir o trabalho de Apo-
O MINISTÉRIO/MAIO/JUNHO/1991 17
lo ("Eu plantei, Apoio regou; mas o era uma igreja que se achava profun­
crescimento veio de Deus", I Cor. 3:6), damente dividida pelas suas divergên­
arrecadou dinheiro para sustentar a cias. Confesso que, em tais circunstân-
igreja (I Cor. 16:1-3) e aconselhou os Co­ cias, minha própria inclinação é pre-
ríntios a se sujeitarem "a todo aquele gar sobre unidade. Mas a concentração
que é cooperador e obreiro" (I Cor. sobre unidade pode produzir efeito
16:16). contrário; em suas tentativas de aten­
Como pastores, temos muitas opor- der o apelo à unidade, os membros po-
tunidades de comunicar a nossas con- dem evitar a pessoa desafeta. O mem-
gregações nossa lealdade à liderança bro assim indiferente na igreja, tomar-
da igreja. Entre outras maneiras, po­ se-á mais vogal a fim de ser ouvido, ou
demos fazer isso mencionando alvos de a abandonará completamente. Nenhu­
Associações — Colheita 90, programa ma das alternativas é aceitável.
de desenvolvimento de colégio e assim Jeff foi impedido, com risadas, de fa-
por diante — em geral do púlpito, elo­ lar na última vez que procurou expor
giando a obra de algum oficial de As­ seu assunto "engraçado” numa reu­
sociação e convidando o pessoal da As­ nião de negócios da igreja. Quando a
sociação para pregar e se hospedarem reunião terminou, ninguém atentou pa-
em nossa residência. ra os seus verdadeiros sentimentos.
4. Podemos desenvolver tolerância Derrotado e ferido, ele resolveu valer-
para com a diversidade. se de uma nova tática. Tantas vezes
A diversidade — seja cultural, racial, quantas permitiram suas finanças, es-
étnica ou teológica — é uma caracte­ creveu acusações mordazes e enviou
rística da vida. Na verdade, ela está cópias pelo correio a cada membro da
embutida na própria criação, expres­ igreja, entre os quais os recém-batiza­
sa por Deus na existência, e por Ele dos. Assim começou sua própria publi­
abençoada.3 Mas suportar discrimina­ cação independente.
ção pode ser doloroso. Deixar de olhar Pessoas como Jeff poderiam ser
as pessoas nos olhos pode afastá-las mantidas ativas na igreja se tão-somen­
umas das outras e destruir as ativida- te as congregações soubessem como
des de uma evangelização.4 reagir à suas singularidades. A manei-
Contudo, traumas dessa espécie não ra que, como pastores lideramos, po-
precisam ocorrer. E a diversidade tem, de determinar quão receptivas serão
também, seus aspectos positivos. Em nossas congregações às diferenças das
seu livro Managing Change in the pessoas.
Church (Mudança Administrativa na Para ajudarmos nossas congrega-
Igreja), Douglas Johnson diz que a di­ ções a aprenderem a ser mais recepti­
versidade tanto permite o surgimento vas, podemos:
de idéias que podem produzir novas Comemorar as diferenças. Podemos
maneiras de agir, como encorajar o de- ajudar nosso povo a ver o impacto po­
senvolvimento de líderes bondosos e sitivo que as divergências exercem so-
sensíveis.5 bre a vida da congregação, mostrando
Ao comparar a igreja com o corpo como alguém usou um único dom ou
humano, Paulo lhe realçou a natureza talento para ajudar algum membro ou
diversificada. Assim como as partes do para ganhar alguém para a igreja. A ce­
corpo são diferentes, também a igreja lebração desses eventos é importante
é composta de membros que possuem em qualquer atividade da igreja mas,
dons diferentes. O fato de ser o Espí- princípalmente, durante o serviço de
rito Santo quem utiliza esses dons, in­ adoração.
dica que o próprio Deus ordenou a di­ Divergências na pregação. As Escri-
versidade na igreja.6 turas estão cheias de material provei­
E lembremos, a igreja à qual Paulo toso para este tema. Por exemplo, I Co­
escreveu, falando sobre a diversidade, ríntios 12 (dons espirituais), Gênesis 1
18 O MINISTÉRIO/MAIO/JUNHO/1991
(criação), Apocalipse 4 (as quatro cria­ reunidas em um acontecimento de cul-
turas viventes e os 24 anciãos — dife­ to vivificado.
renças representadas no trono de Lidar com publicações negativas in­
Deus), Atos 15:36-41 (discrepância en- dependentes e as pessoas que elas in­
tre Paulo e Barnabé), Mateus 4:18-22 fluenciam, continuará certamente a
(consertar e lançar as redes — diferen­ desafiar-nos. Os pastores, contudo, po-
ças entre Pedro e João), etc. dem estabelecer a diferença, pela ma-
Dar o exemplo. Podemos demons­ neira como tratam o assunto. Ao invés
trar, pelo exemplo, a capacidade de in­ de permitirmos que a diversidade em
cluir pessoas que têm opiniões diferen- nossas igrejas nos imobilize ou nos tor­
tes. Por exemplo, durante reunião da ne inflexíveis, podemos aprender a
comissão da igreja, reuniões de negó- considerá-la como normal, saudável e
cios e outras reuniões, podemos pedir mesmo desejável. Ao estabelecermos
a opinião de todos os presentes — mes- em nossas igrejas a tolerância pelas di­
mo daqueles que normalmente não se vergências, podemos criar um clima
manifestam. Quando considerarmos que incentive o crescimento espiritual.
cada comentário, agradecermos cada Lembremos, mesmo a frívola igreja
participação, nossos membros logo sa­ de Corinto realizou uma obra admirá­
berão que suas idéias são importantes. vel para o Senhor.
Quando eles tiverem uma visão saudá­
vel de suas próprias opiniões, serão
mais receptivos às opiniões alheias. 1. Speed Leas enumerou vinte e sete sintomas que
resultam do conflito não solucionado. Entre eles
Competições visuais de armações. estão "pressão angustiosa sobre o pastor, eviden­
Talvez um exemplo ilustre melhor o ciada pelo uso crescente do tema da reconcilia-
ção em sermões, orações e hinos"; "desespera­
que estou pensando. Alguns anos atrás dos chamados ao pastor, tentando manter tudo
minha igreja comemorou o dia da ban­ unido”; e "procura de trabalho pelo pastor”. —
deira. Incentivamos cada família da Church Fights (Philadelphia: Westminster Press,
1973), págs. 16 e 17.
igreja a desenhar e fazer uma bandei­ 2. John Savage vê os votos e donativos como indi­
ra que ilustrasse o tema “A Preocupa- cações da dedicação de um pastor. Uma desistên­
cia, reinvestirá tanto o seu tempo como o seu di­
ção da Igreja É...” No sábado indica­ nheiro em um novo projeto, que representam sua
do, cada família trouxe sua bandeira nova dedicaçao. Ver Savage’s Skills for Calling
and Caring Ministries (Pittsford, N.Y.: L.E.A.D.
à frente da igreja, desenrolou-a e expli­ Consultants, 1979), pág. 6.
cou o seu significado. Quando o culto 3. Jan G. Johnson, "A Design for Learning and De-
terminou, toda a congregação estava veloping Skills for Handling Interpersonal and
Substantive Conflict in the Ardmore, Oklahoma,
cercada de bandeiras coloridas. Cada Seventh-day Adventist Church” (D. Min. disser­
bandeira mostrava criatividade, distin­ tação, Andrews University, Berrien Springs, Mi­
chigan, 1986), págs. 34-37.
ção e se encaixava ao tema. Nós as dei­ 4. Leas, pág. 16.
xamos hasteadas na igreja por vários 5. Douglas W. Johnson, Managing Change in The
Church (Nova Iorque: Friendship Press, 1974),
sábados como uma lembrança de que págs. 11-13.
algumas diferenças sabáticas foram 6. Ver I Coríntios 12.

O MINISTÉRIO/MAIO/JUNHO/1991 19
Como atender a
famílias que têm filhos
deficientes físicos
Mais do que reestruturar o edifício, é a atitude
da igreja que deve ser reestruturada,
quando falamos da necessidade de atender
aos deficientes físicos.

ate e Mark acabavam de Tão logo soube que Kate estava no


passar pela incrível expe- mesmo corredor que eu, apressei-me

K riência do nascimento do em visitá-la. Ambas havíamos assisti­


seu primeiro filho. Ela teve do juntas às sessões de preparação pa-
um parto demorado e incômodo.
pensava em ter o parto normal,
ra oKate
parto. Tanto uma como a outra
isento
amávamos a Deus e éramos boas ami­
de dor, mas, quando este chegou ao gas. A pequena Hanna produziu um re-
fim, ela estava no limite de suas forças lacionamento entre nós: o interesse em
físicas e emocionais. Sofrendo e exaus­ explorar o difícil e o aparentemente
ta, mas sorridente, voltou-se para o impossível de entender.
rosto da filha, naquele momento ma­ Passamos toda a semana seguinte
ravilhoso que toda mãe aguarda com juntas, no mesmo quarto. Falamos
impaciência. O que viu, porém, causou- muito sobre Deus, Hanna e da razão da
lhe um terrível impacto negativo. Han­ existência da dor, do sofrimento e da
na tinha lábio leporino e paladar fen­ deformação.
dido. Kate ficou desconsolada. Jamais
lhe passara pela mente que pudesse ter
um bebê que não fosse perfeito.
Nossa filhinha Bethany havia nasci­
do doze horas antes no mesmo hospi­ Deus não deseja que
tal. Uma vez que, como profissional, te-
nho encontrado todos os dias crianças
uma criança seja
com defeito físico, a idéia de que po- inválida. Ele fez tudo
deria ter uma deficiente ou imperfei­
ta me havia passado pela mente mui-
perfeito e gostaria
tas vezes, não só na forma de pensa­ que sua criação
mentos quanto à maneira como reagi­
ría, mas como me adaptaria a essa si-
permanecesse assim.
tuação.

Karen Sue Holford


Esposa de pastor e terapeuta profissional
20 O MINISTÉRIO/MAIO/JUNHO/1991
Nos meses seguintes, Kate e Mark mentos expressos. Na ocasião, é pos­
enfrentaram muitos altos e baixos. To­ sível que os pais já tenham ouvido a
da vez que alguém vinha visitar Han­ opinião dos especialistas. E talvez lhe
na pela primeira vez, Kate precisava façam perguntas que você não possa
prepará-la e explicar o problema do responder. Pode ser que não necessi­
seu lábio. Atualmente, depois de uma tem de nenhum conselho especial, a
operação corretiva, Hanna brinca co- menos que manifestem isso. E não gos­
mo qualquer outra criança de sua ida­ tariam que você dissesse que aquilo
de. Uma região ligeiramente averme­ que sentem não está certo. Não preci­
lhada é tudo o que lhe resta no lábio sam de que alguém lhes lembre que
superior. Conquanto talvez necessite não é certo questionar a justiça e o
de terapia da fala, e mesmo outra ci­ amor de Deus: eles descobrirão isso
rurgia antes de ir para a escola, é bas­ por si mesmos. Podem necessitar é de
tante normal e bonita. muito amor, aceitação, compreensão e
Kate e Mark estão felizes, porque o do apoio das orações de um pastor e
defeito físico de Hanna era passível de sua congregação cheios de amor e de
correção. Muitos outros defeitos de interesse em seu bem-estar.
nascimento também o são. Há, porém, Ler alguns textos da Bíblia, que su­
muitos problemas que não podem ser pram esse desejo, e a pressa em dizer
eliminados, e que exigem toda uma vi- algo, pode ser que não surta o efeito
da de cuidados e apoio. desejado. Não é o momento para uma
Suscetíveis ou não de correção, os dissertação teológica relacionada com
defeitos de nascença transformam um a origem do sofrimento e da dor. Mas
momento de alegria em um estado de se for oportuno, você poderá dizer al­
frustração e tristeza. A mãe, em parti- guma coisa, de forma prudente, sobre
cular, tem a tendência de sentir-se vul­ a vida que está cheia de provas. Quer
nerável, insegura e revoltada. É possí- maior prova do que a que foi experi-
vel que experimente um sentimento de mentada por Aquele que disse: "Deus
culpa e que atribua a si mesma o pro- meu, Deus meu! Por que Me desampa­
blema: seu estilo de vida, sua alimen­ raste?" Jesus fez essa pergunta no mo-
tação, ou talvez alguma atividade rea- mento da prova mais difícil de Sua vi-
lizada. E pode atravessar um período da. Ela não indica necessariamente fal-
de depressão. É muito comum, em tais ta de fé em Deus; antes expressa e in­
circunstâncias, questionar a justiça de dica uma forte dependência dEle, uma
Deus, seu próprio futuro e a si mesma. relação que possibilita nossa necessi­
É possível que, como pastor, você en­ dade de ajuda e a apresentação a Deus
frente situações semelhantes com mui­ de nossos problemas. Não somos con­
ta freqüência. Que deveria fazer? Co- vidados a suportar cegamente nossas
mo agir para infundir nessas pessoas provas, quando estamos conscientes do
o desejo de verdadeira confiança no fato de que nos encontramos envolvi­
amoroso cuidado de Deus? É papel da dos em um conflito cósmico. Deus é su­
igreja local cuidar dos deficientes físi­ ficientemente grande para responder
cos? a todas as nossas perguntas.
A função do pastor 2. Não atribua a Deus os defeitos fí­
Há pelo menos três coisas simples sicos. Deus não deseja que uma crian-
que o pastor pode fazer em seu propó- ça seja deficiente. Ele fez tudo perfei-
sito de ajudar as famílias que experi­ to e gostaria que Sua criação assim
mentam o golpe inesperado, como re- permanecesse. Ele sofre conosco por
sultado de um problema de parto: causa dos nossos problemas e aflições.
1. Ouça. Sua presença no lar da fa- Jesus dedicou grande parte do Seu mi-
mília triste é um sinal de solidarieda­ nistério ao alívio do sofrimento dos in­
de. Você deve manter-se calmo, não im­ válidos, fosse de nascimento ou por
porta quão veementes sejam os senti- traumas posteriores sofridos na vida.
O MINISTÉRIO/MAIO/JUNHO/1991 21
Dizer aos pais que uma criança é defi­ tempo e da atenção dos pais e é possí-
ciente porque é a vontade de Deus (e vel também que fiquem com ciúme
mesmo permitir que se chegue a essa porque o irmão ou a irmã deficiente re­
conclusão), é cruel; desonra a Deus. cebe mais atenção. Essas emoções po-
3. Crie uma atmosfera de apoio. Na dem levar tanto ao ressentimento co-
primeira oportunidade, assim que es- mo ao sentimento de culpa, e é possí-
teja certo de que pode contar com a vel que as crianças não o expressem
aprovação dos pais, você poderá infor­ por temerem parecer egoístas e au­
mar à igreja todos os fatos e a situa- mentarem a tensão e o sofrimento dos
ção, com cortesia e tato. Poderia ser pais. Se os recursos econômicos dimi­
usado algo como: "Todos sabemos que nuírem devido ao cuidado dispensado
Jaime e Sara estavam esperando o nas­ ao deficiente, as outras crianças não
cimento de seu novo bebê. Pois bem, poderão satisfazer suas próprias neces-
este chegou, e se trata de uma menina sidades, mas não expressarão isso por
muito querida de nome Esteia. Não temor.
obstante, nem tudo correu bem, pois
Esteia tem espinha bífida, o que signi-
fica que provavelmente nunca possa E possível que, como
andar; que seja submetida a uma deli­
cada intervenção cirúrgica e necessi­
pastor, você enfrente
te de muito cuidado e atenção especial. situações semelhantes
Jaime e Sara necessitam do apoio de com muita freqüência.
todos nós. Vocês podem dar ouvindo-
os, orando por eles e permitindo que Como agir para infundir
saibam que vocês pensam neles e com nessas pessoas um
eles se preocupam. Precisam de al- vislumbre de verdadeira
guém que cuide do cão e da família du-
rante algumas semanas, e apreciariam confiança no amoroso
muito que alguém cortasse a grama. cuidado de Deus?
Alguma irmã poderia fazer compota
das frutas de seu pomar para que não
se perdessem? Eles necessitam de nos- O papel da igreja
so amor, nosso apoio e de nossa pro­ Como igreja, devemos apresentar o
funda compreensão". melhor plano de ajuda para estas fa-
Pode ser que a família deseja apoio, mílias, de modo que possam enfrentar
dependendo das circunstâncias. O estas circunstâncias difíceis. Com mui­
apoio moral e prático é vital. Pode ser ta freqüência, a igreja está mais dispos­
que a família enfrente muitas crises ao ta a ajudar os que se incapacitam com
procurar adaptar-se às situações cria­ conhecimento de causa (os que se inu­
das pelo bebê deficiente. Estudos indi­ tilizam com o consumo de álcool, fu­
cam que quatro, de cada cinco casais mo e drogas) e esquecer os que nasce­
que têm uma criança deficiente, sepa­ ram com deformidades. Falamos de Je-
ram-se. Isto mostra quão tensa pode sus como nosso modelo no ministério,
ser a situação para o casal. Os recur- mas nosso ministério em favor dos de­
sos financeiros que requer um trata- ficientes, seja como indivíduos ou co-
mento contínuo, e a educação especial, mo igreja, está muito longe de ser co-
também são uma preocupação fami­ mo o Seu! Como instituição eclesiás­
liar. A atenção ao bebê pode envolver tica, lutamos por uma educação e
demais a família, a ponto de negligen­ iguais oportunidades para todas as
ciarem outras necessidades. crianças à margem de sua capacidade;
É possível que os demais filhos pre­ mas, na prática, é possível que as crian-
cisem aprender a adaptar-se às cir­ ças deficientes sejam discriminadas
cunstâncias. Eles também precisam do por nossas escolas.
22 O MINISTÉRIO/MAIO/JUNHO/1991
Há contudo, muitas e variadas for­ de apoio. Anime os membros do gru-
mas simples em que a igreja local po- po a se apoiarem uns aos outros de ma-
de ajudar as famílias que têm filhos de­ neira positiva, de modo que as sessões
ficientes. não sirvam apenas para atender a quei­
1. Dê conselho. Talvez você nem xas. Será necessário separar um tem-
sempre possa dar ajuda profissional, po para isso em circunstâncias difíceis,
mas seja capaz de oferecer dois ouvi- mas em geral, as sessões devem servir
dos atentos em ocasiões de tensão e ne- para confirmar o que for positivo, e
cessidade, que podem ser de grande planejar-se para o futuro.
ajuda. Será muito melhor se o conse-
lheiro tiver sido preparado para traba-
lhar com essas famílias ou tiver expe­
rimentado as tensões de tais situações Como instituição
e souber as perguntas que costumam eclesiástica lutamos por
surgir. Provavelmente seu centro de
aconselhamento não esteja preparado uma educação e iguais
para responder a todas as perguntas; oportunidades para
mas, se for possível começar por aí, todas as crianças à
sua igreja terá feito muito para suavi­
zar as cargas de tais famílias. margem de sua
2. Crie um centro de informação. capacidade; mas, na
Uma pequena biblioteca com publica­
ções informativas e especializadas, que prática, é possível que
constituam um guia prático no trata­ as crianças deficientes
mento dos deficientes, será de muito sejam discriminadas por
valor. Escolha obras preparadas espe­
cialmente para ajudar famílias que te- nossas escolas.
nham um membro deficiente, escritas
por inválidos ou por seus familiares.
Forme um arquivo com bastante infor­ 4. Organize grupos recreativos. A
mação sobre temas relacionados com igreja pode organizar atividades re­
o mundo dos deficientes. Demore-se es- creativas ou um jardim de infância pa-
pecialmente na informação relativa ao ra os que têm habilidades diversas, tan-
cuidado, ao treinamento vocacional, à to para deficientes como para os que
terapia de grupo, escola e acampamen­ não o são. Isso ajuda as crianças a se
to de verão, e assistência econômica, aceitarem mutuamente e a aprende­
etc. Incentive os membros de sua igreja rem a desenvolver suas habilidades.
a se familiarizarem com o centro infor­ Também proporciona um marco social
mativo, de modo que possam ajudar os às crianças deficientes físicas em ida­
que necessitam. de pré-escolar que, em geral, estão iso­
3. Organize grupos de apoio. Existe ladas. Para começar, os pais podem
um grupo de apoio para famílias que acompanhar os filhos até que os orga­
têm crianças inválidas na região onde nizadores os conheçam bem, assim co-
você mora? Se não houver, organize mo às suas necessidades e capacidades
um agora. Relacione-se com pessoas especiais.
experientes em trabalhar com esses O grupo não precisa reunir-se mais
grupos. Uma sessão regular por mês, de uma vez por semana, e a sessão de-
num tempo e local apropriados, com veria ser dirigida por alguém que te­
um programa e oradores cuidadosa­ nha preparo em medicina ou em edu­
mente selecionados, somados a um pe­ cação especial. Se conseguir obter a
ríodo adicional de práticas informais, ajuda de um terapeuta profissional que
no qual se contem experiências, podem o assessore na aquisição do equipa­
assentar as bases para um bom grupo mento, organização das brincadeiras e
O MINISTÊRIO/MAIO/JUNHO/1991 23
atividades, pode estar certo de que o
começo é bom. As escolas e igrejas lo­
cais poderiam oferecer-lhe a ajuda de O compromisso cristão
voluntários, equipamento e entreteni­ pede com urgência
mentos.
5. Envolva a escola no ministério
que eliminemos o
dos deficientes. De conformidade com preconceito...
sua filosofia e planos, sua igreja local
pensa nas crianças deficientes? Pode
você contribuir para financiar o acon- 7. Envolva toda a igreja. Está sua
dicionamento necessário do edifício e igreja preparada para lidar com uma
do equipamento especial requerido pa- pessoa deficiente? Existem barreiras
ra que essas crianças possam matri­ físicas no edifício, ou preconceitos, te-
cular-se e receber o cuidado e a aten- mor do desconhecido ou sentimentos
ção que merecem? Há pais não adven- de insuficiência entre os membros, que
tistas em sua área, que gostariam de possam induzir uma pessoa inválida a
enviar seus filhos deficientes a sua es­ sentir-se incomodada no meio dela?
cola, se possível? Pode fazer provisão Poderia você adaptar os banheiros de
de professores especialmente prepara- modo a oferecerem fácil acesso a uma
dos para suprir as necessidades dessas cadeira de rodas? Poderia colocar bar­
crianças, e também professores assis­ ras apropriadas e chaves especiais a
tentes para garantir o cuidado indivi- uma altura que a pessoa deficiente pos-
dual? sa usá-las sem sentir-se envergonhada?
Um terapeuta profissional poderia as­
sessorar nesses aspectos. E quanto a
sua Escola Sabatina, Desbravadores e
Um terapeuta outras atividades da igreja? Estão aber­
profissional poderia tas e acessíveis aos deficientes?
Mais que o aspecto físico, é a atitu­
assessorar tecnicamente de das pessoas que precisa ser “rees­
nestes aspectos. E o que truturada” a fim de que se possa exer­
dizer de sua escola cer um ministério eficaz em favor dos
deficientes físicos. Uma atividade útil
sabatina, desbravadores para ajudar os membros a entenderem
e outras atividades da um pouco como se sente um deficien­
te, é organizar uma sessão de esclare­
igreja? Estão abertas e cimento. Peça a cada pessoa que faça
são acessíveis aos um desenho de si mesma e o entregue
inválidos? a outra, que deverá indicar algum de­
feito da pessoa desenhada. Por exem-
plo, uma mancha nos olhos poderia in­
6. Faça um orçamento para ajudar dicar cegueira. Em seguida, devolvem-
as crianças deficientes. Sua igreja po- se os desenhos e todos fazem uma lis-
de financiar algum projeto para as ta das atividades que normalmente
crianças incapacitadas e suas famílias? gostam de desempenhar, mas que se-
Tem algum fundo que poderia utilizar ria impossível, ou muito difícil faze­
para comprar parte de algum equipa­ rem, se tivessem essa espécie de defei­
mento caro, ou para ajudar as crian- to. Poderiam também enumerar as pos­
ças a irem ao acampamento em algum sibilidades de realizá-las, e mencionar
fim-de-semana sem seus pais? Permi­ outras atividades nas quais se interes­
ta que o cuidado das crianças deficien­ sariam, caso tivessem tal defeito.
tes faça parte do orçamento de sua Peça aos participantes que reflitam
igreja. seriamente sobre a forma de reagirem
24 O MINISTÉRIO/MAIO/JUNHO/1991
se tivessem esse defeito no momento. 4
Poderia pedir-lhes também que desem­ Não matarás teus irmãos obreiros
penhem o papel de pais que têm filhos com tua língua nem tuas
deficientes, e enumerem seus senti­ murmurações. Não matarás os
mentos, reações, necessidades e expec­ membros com tua indiferença nem
tativas. O grupo pode considerar tam- com muitos "outros negócios",
bém a forma em que Jesus tratou os quando eles têm tantas necessidades
deficientes, e assim ensinar métodos desatendidas.
altamente positivos de fortalecer o mi-
nistério da igreja a seu favor. 5
O compromisso cristão exige urgen­ Honra a teu pai e a tua mãe e a
temente que eliminemos de nosso co­ qualquer que te haja assistido ao
ração o preconceito contra os deficien­ longo do caminho, porque teus dias
tes. Precisamos abrir nossa vida e nos- não serão alongados sobre a Terra
sas igrejas para aceitarem com maior se não te lembrares dos que te
disposição os deficientes, de maneira ajudaram em tua peregrinação na
que possamos com eles partilhar o Terra, e lhes agradeceres.
amor de Jesus e Sua louvável preo­
cupação com eles quando aqui esteve. 6
Não cometerás adultério.

7
Não furturás teus colegas de
ministério, pregando seus sermões
O Decálogo do Ministro palavra por palavra.

1 8
Não terás outras propriedades que Não roubarás o tempo de tua
não as de Deus em teu ministério. esposa nem de tua família. Não
furturás o valioso tempo de teu
2 ministério nem do campo que Deus
Não farás para ti imagem de falsos te deu.
motivos que te façam cair no
egocentrismo. 9
Não levantarás falso testemunho
3 contra a Associação em assunto de
Lembra-te do dia de repouso para batismos e alvos.
guardá-lo bem planejado e cheio de
espiritualidade. Seis dias trabalham 10
os santos e fazem toda a sua obra, Não cobiçarás nenhuma coisa nem
mas o sétimo dia é o dia de nenhuma pessoa.
apresentar sermões preparados com
muita oração e mensagens cheias do
Espírito Santo. O pregador não
deveria chegar ao sábado com
alimento espiritual insuficiente;
nem tu, nem o presidente da
Associação, nem um departamental,
nem qualquer outra pessoa que
utilize teu púlpito, porque durante
seis dias os santos foram
cirandados, mas no sétimo dia
devem ser alimentados.
O MINISTÉRIO/MAIO/JUNHO/1991 25
Teoria da Grande
Explosão: Em Fase
Terminal
uando o dia 18 de novem­
leva três instrumentos extremamente

Q bro de 1989 despontou na


costa oeste dos Estados Uni-
dos, o relógio de seqüência
de lançamento de um foguete
com uma carga destinada a ajudar a
responder questões teológicas, bem co-
sensíveis: O Radiômetro Diferencial de
Microondas, o Espectômetro de Infra-
vermelhas Puras, longas, e um apare­
lhoDelta
para experiência com ondas infra-
vermelhas difusas do ambiente. A sen­
sibilidade e precisão desses instrumen­
mo científicas, tiquetaqueou na dire- tos é cem vezes maior do que a obtida
ção do zero. "Todos os sistemas funcio­ com instrumentos baseados no solo.
nam”, anunciou o controle de lança­ Além da COBE, a NASA lançou ago­
mento. Os poderosos engenhos ronca­ ra o Telescópio Espacial Hubble, e lan­
ram com vida, e o foguete, deixando çará logo o Telescópio Raios Gama e
um rasto de fumaça e fogo, acelerou na os Telescópios Raios X e Ultravioleta.
direção do Pólo Sul. Exultantes, os Além da missão cosmológica ao espa­
cientistas deram um suspiro de alívio ço, está em andamento a construção de
quando a preciosa carga tomou posi­ um supercondutor (um acelerador). O
ção para começar a primeira fase do principal propósito desses projetos é
mais extenso estudo da origem do atacar questões teológicas relaciona-
Universo
* já conhecido. das com a origem do Universo no qual
A carga que o foguete colocou no es­ vivemos. Nos próximos dez anos, o go­
paço é chamada de Cosmic Back­ verno dos Estados Unidos gastará mais
ground Explorer (COBE) — Explorado­ de dez bilhões de dólares em apoio à
ra de Antecedentes Cósmicos. A COBE ciência, na tentativa de encontrar a res-
posta para o enigma da Criação.
*Do começo ao fim deste artigo, o Universo (escri­ Por que está o Governo dos Estados
to com letra maiúscula), refere-se ao conjunto das ga­ Unidos gastando uma tão grande soma
láxias, enquanto universo se refere ao espaço entre
as galáxias. Ao estudarem o universo, os cosmólogos de dinheiro numa investigação que pa-
inferem as propriedades do Universo. rece ter tanto que ver com a teologia

Daniel Lazich
Engenheiro aeroespacial, Daniel Lazich
tem estudado a relação entre a física
a teologia há muitos anos.
Ele é o principal engenheiro do projeto
de armamentos de energia cinética
o Comando de Defesa Estratégica dos
Estados Unidos.
26 O MINISTÉRIO/MAIO/JUNHO/1991
como com a ciência? Os recentes avan­ mais recentes contradizem frontalmen­
ços da cosmologia das quantum e das te essas suposições. Nosso universo
elevadas energias físicas, têm lançado não é homogêneo em grande escala, e
sérias dúvidas sobre a validade das teo- daí não poder ter-se originado de uma
rias científicas da origem do universo grande explosão que deu lugar a um
que não admite nenhuma necessidade universo uniforme e homogêneo. Con-
de um criador. Resumindo os objetivos fusos e desalentados, os cientistas es-
básicos da pesquisa em físicos, o Dr. tão sem saber o que fazer com o sur­
Robert K. Adair, diretor associado do gimento de montanhas de evidências
Laboratório Nacional de Brookhaven, em favor de um processo inteligente
declara: “Diriamos que devemos estu­ por trás da origem e existência do Uni-
dar o separado e o contínuo, e devemos verso.
considerar as variáveis e invariáveis, Os teóricos esperavam que a COBE
ou as mudanças e conservações. A con­ fornecesse a informação necessária ao
sideração desses grupos de antônimos, resgate da teoria da grande explosão.
leva-nos ao estudo do caráter das par­ O espectômetro de ondas infraverme­
tículas elementares e dos campos de lhas puras, longas, a bordo da COBE,
força fundamentais, e à análise do es­ destina-se a determinar o espectro da
paço e do tempo, da estrutura do nos- radiação ambiental — os restos hipo­
so universo, e da evolução e origem do téticos da grande explosão. Essa radia­
próprio universo; à compreensão do ção ambiental é o banho universal de
Grande Plano do Arquiteto-Mestre.”1 radiação por rádio que os teóricos con­
É nosso universo produto de plano sideram o tênue vislumbre da grande
inteligente ou de um acidente? Origi­ explosão, observável a cerca de três
nou-se de matéria preexistente, ou veio graus acima de zero absoluto. A fim de
à existência a partir do nada, absolu­ salvar a teoria da grande explosão, a
tamente? Como poderia o universo ob­ COBE terá que descobrir que esta ra­
servado originar-se do nada e ser da diação desprendida é grumosa e não li­
maneira como o vemos hoje? Essas sa. A grumosidade explicaria por que
perguntas têm tido a mais alta priori­ certas áreas do universo ficaram, com­
dade na pesquisa científica, e será o parativamente, densamente povoadas
principal objeto do estudo e debate pe- de matéria, enquanto outras áreas são
lo resto deste século, e por mais tem- vazias.
po ainda. Os cientistas estão convenci- Mas para aqueles que desejavam res­
dos de que os maiores avanços do nos- gatar a teoria da grande explosão, a CO­
so conhecimento com respeito ao Uni- BE trouxe dor de cabeça, não a cura.
verso no qual vivemos não podem ser Os dados iniciais da COBE revelam que
obtidos sem que uma séria considera­ o universo antigo era muito uniforme
ção das questões sugeridas até agora — a radiação ambiental é a mesma em
tenham sido entregue ao campo da teo- todos as direções e não apresenta ne-
logia. nhum sinal de turbulência no univer­
O que mais preocupa os cientistas é so antigo. Seria necessário turbulência
o fato de que os avanços recentes, fei­ para a formação das grandes estrutu­
tos na cosmologia das quantum, mos- ras no universo da grande explosão.
tram que as suposições sobre que se Não há agora nenhuma maneira de re­
baseia a mais acariciada teoria a res- conciliar as previsões de qualquer ver­
peito da origem do Universo — O big são da teoria da grande explosão com
bang — (teoria da grande explosão), es- a realidade do universo observado.
tá errada. A teoria da grande explosão Não há nenhuma maneira de se conse-
diz que o universo era máteria unifor­ guir isso a partir de uma grande explo­
me e homogênea no começo, e prediz são perfeitamente uniforme para o uni­
que ele seria ainda mais homogêneo verso grumoso que observamos hoje.
hoje. Mas os resultados de estudos Os dados atuais tornam mais lógico
O MINISTÊRIO/MAIO/JUNHO/1991 27
crer em um universo criado pelo decre­ explosão? Um pequeno cenário pode
to de um projetista inteligente, do que ser útil aqui. A descoberta de Edwin P.
em um universo que se criou e organi­ Hubble de que o universo está em ex­
zou a si mesmo. pansão, estimulou o desenvolvimento
Para tornar as coisas ainda mais da primeira teoria compreensível a res-
complicadas, os estudos mais recentes peito da origem do Universo. Os cien­
das grandes estruturas do universo, re­ tistas raciocinaram que se o universo
velam que a matéria é ainda menos está em expansão, então em algum
uniformemente distribuída por todo o ponto do passado devia ter sido muito
universo do que foi postulado original­ pequeno, e assim surgiu a teoria da
mente. São encontradas galáxias em grande explosão. Aplicando a constan­
grandes grupos, entre as quais há gran- te expansão em uma espécie de proces­
des vazios. O universo parece mais en- so de engenharia reversa, os cientistas
crespado do que se esperava anterior- concluíram que o universo se originou
mente. Os cientistas estão chocados ao de uma esfera de matéria extremamen­
perceberem que a mais amplamente te densa e quente. De acordo com essa
aceita teoria sobre a origem do Univer­ teoria, a explosão da matéria extrema­
so exigirá uma revisão maior, ou po- mente densa e quente encheu o espa­
derá necessitar ser completamente ço de uma sopa homogênea de partí­
abandonada. Os dados da COBE estão culas uniformemente distribuídas, das
provando que a grande explosão é um quais finalmente, por influência da
grande choramingas de uma história. gravidade, se formaram as galáxias, as
Quando a Sociedade Astronômica estrelas e os planetas.
Americana (SAA) anunciou que sua Para que seja aceita, uma teoria cien-
reunião anual, a ser realizada em janei­ tífica deve fazer um prognóstico veri­
ro de 1990 em Arlinton, Virgínia, seria ficável. A grande explosão fez duas pre­
dedicada à apresentação dos resulta- visões que podem ser verificadas pela
dos iniciais da observação da COBE, observação. Uma previsão é que a ex­
não tinha idéia de que aquela seria plosão de matéria original deixaria
uma reunião histórica. Tão intenso foi atrás um eco na forma de microonda
o interesse mundial nos resultados da e radiação infravermelha na atmosfe­
COBE que a reunião se tornou o maior ra, de cerca de três graus acima de ze­
ajuntamento de cientistas da história ro absoluto, e que essa radiação teria
da SAA. A maioria dos cosmólogos e a mesma intensidade em todas as di­
teoristas proeminentes compareceu, reções. A outra previsão é que as galá­
na esperança de que a COBE fornece­ xias que resultaram da sopa quente das
ría ao menos alguns dados que pudes­ partículas seriam uniformemente dis­
sem ajudá-los a encontrar uma solução tribuídas por todas as partes do uni­
para os problemas que atormentam a verso.
teoria da grande explosão. Quando, po- A radiação ambiental prevista foi
rém, ouviram relato após relato, a au­ descoberta em 1965 por dois cientistas
ra de grande expectativa se tornou na que trabalhavam nos Laboratórios
sombria constatação de que aquele Bell. Essa descoberta foi saudada em
ajuntamento histórico de cientistas po- todo o mundo como uma confirmação
deria ser lembrado como o serviço fu­ incontestável da teoria da grande ex­
neral da amada grande explosão. plosão. Os cosmólogos estavam con­
vencidos de que haviam encontrado a
Os problemas da grande explosão resposta definitiva para o enigma da
Criação. Mas os excitados e orgulhosos
cientistas não tinham nenhuma idéia
de que toda a evidência que eles con­
sideravam como confirmação da teo-
Qual o problema da grande ria da grande explosão, deveria provar
28 O MINISTÉRIO/MAIO/JUNHO/1991
mais tarde ser grandemente imprová­ láxias. A grumosidade, caso existisse,
vel que a teoria da grande explosão se- deveria ter deixado um sinal na forma
ja correta. de cúspides na radiação ambiental. Pa-
Os problemas da grande explosão co- ra resolver o dilema, os cientistas pro­
meçaram com o advento dos super­ cederam a um amplo estudo das estru­
computadores que forneceram aos turas da grande camada do universo.
cientistas meios pelos quais formular Além disso, foi lançado o satélite CO-
matematicamente a teoria. A fórmula BE para pesquisar as saliências na ra­
matemática da grande explosão, diação ambiental.
supunha-se, deveria mostrar por simu­ A primeira indicação convincente de
lação, quão grande camada as estrutu­ que algo está seriamente errado com
ras envolviam a partir de uma bola de a suposição sobre que se baseia a teo-
fogo inicial superdensa. Mas, para es­ ria da grande explosão, veio em 1989,
panto dos cientistas, a fórmula mos­ quando várias equipes de astrônomos
trou que se nosso universo começou relataram a descoberta de estruturas
como diz a teoria da grande explosão, surpreendentemente grandes, entre as
as grandes estruturas que observamos quais havia enormes vazios. A única
violariam as leis físicas que governam que permanece em contraste com o
o universo. "buraco no espaço” é a "gande pare­
Além disso, a fórmula matemática de”, descoberta por astronautas do
mostrou que o universo da grande ex­ Centro Howard-Smithsoniano para As­
plosão deveria ter aproximadamente trofísicos. Estima-se que a parede te­
7,6 bilhões de anos, e que este tempo nha 500 milhões de anos-luz de uma à
não é suficiente para que a gravidade outra extremidade de 15 milhões de
sozinha construa o universo que vemos anos-luz de espessura. Essas estrutu­
hoje. A fórmula mostrou também que, ras — as concentrações de galáxias —
se o universo antigo fosse plano, com são muito grandes para ter sido forma­
a matéria uniformemente distribuída, das por pedaços gravitacionais saídos
a gravidade não poderia ter formado de partículas que a grande explosão te­
as grandes estruturas de escamas do nha distribuído uniformemente por to­
universo. Parece que alguma outra for- do o universo.
ça, desconhecida para os cientistas, de-
ve ter sido responsável pelo assenta­ COBE — a última esperança para
mento das condições iniciais, para a a grande explosão________________

o
criação do Universo.
Para tornar piores as coisas para a
teoria da grande explosão, em 1981 os
astrônomos da Universidade de Har­
vard descobriram uma surpreendente último raio de esperança
bolha dupla em um "buraco no espa­ para a mortalmente ferida teoria da
ço” de 100 milhões de anos-luz de lar­ grande explosão estava nos dados ob­
gura. Essa descoberta, contrária à pre­ tidos pela COBE. Mas os cientistas que
visão da teoria da grande explosão, trabalham com os instrumentos da CO­
mostrou que na vasta camada a maté­ BE em vários comprimentos de onda,
ria não está uniformemente distribuí­ de microonda e radiação infraverme­
da no universo. lha, relataram que não há nenhum si­
Em desespero, os cosmólogos postu­ nal de grumosidade no universo anti­
laram que teria sido significativa a gru- go que possa ter dado início à forma­
mosidade presente no antigo universo. ção de grandes estruturas. Tão deso­
O encrespamento no universo inicial rientados e confusos ficaram os cien­
teria causado a concentração localiza­ tistas presentes à reunião de janeiro de
da de partículas, capacitando assim a 1990, que George F. Smoot, que lidera­
força da gravidade a construir as ga- va a equipe na Universidade da Califór-
O MINISTÉfílO/MAIO/JUNHO/1991 29
nia em Berkley, a qual está mapeando ciais. Alguns se têm disposto até a li­
a uniformidade das radiações, disse re­ gar o nome de Deus a essa força.
centemente que os cientistas poderiam Os resultados das últimas pesquisas
ter que recorrer aos dentes das fadas científicas trouxeram morte às teorias
para ajudá-los a explicar o que eles ob­ clássicas a respeito do universo que di-
servaram.1 23 zem não necessitar do Criador. Muitos
John C. Mather, do Centro de Vôo cosmólogos estão convencidos agora
Espacial Goddard da NASA em Green- de que vivemos num Universo tão bem
belt, Maryland, expressou o mistério organizado que veio à existência num
da seguinte maneira: “Estou comple- instante — no momento da Criação.
tamente aturdido com a forma pela Por causa desse fato, os cosmólogos es-
qual a estrutura do dia presente (do tão começando a compreender e mes-
universo) veio a existir sem ter deixa­ mo a admitir (embora com relutância),
do algum vestígio no nível de sensibi­ que a pesquisa cosmológica avançou a
lidade que sabemos que temos com tal ponto que é preciso considerar a
nossos aparelhos. Deveria ter havido Criação como vinda do nada, absolu­
alguma espécie de energia libertada tamente. Isto se tem tornado o princi­
(após a grande explosão). Mas não há pal problema para a nova cosmologia,
aqui coisa alguma.” uma possibilidade real a ser pondera­
Referindo-se à reunião de janeiro de da pelos cientistas nos anos vindouros.
1990, Jay Mallin conclui: “A diferença Os cientistas podem não estar ainda
entre os ecos uniformes e as estrutu­ totalmente prontos para admitir aber­
ras do dia presente é o que perturba tamente e ensinar a criação ex nihito,
os astrônomos. A existência do univer­ mas crescem as evidências em favor de
so não é longa o suficiente para que a um plano inteligente. Se pudéssemos
gravidade apenas seja responsável pe- ver nosso Universo de fora, certamen­
la matéria que se reuniu procedente de te veriamos impresso em sua superfí­
um universo uniformemente misto — cie: “FEITO POR DEUS”!
algum outro acontecimento ou proces­
so maior deve ser responsável.”4
Exatamente aquilo que constitui o 1. Robert K. Adair, The Great Design (Nova Iorque;
outro processo, escapa à investigação Oxford University Press), pág. 13.
2. Jay Mallin, "Satellite’s Smooth Discoveries Baf-
científica. Alguns cientistas estão su­ fle Big Bang Scientists”, The Washington Times,
gerindo relutantemente que uma for- 19 de janeiro de 1990, pág. Bl.
3. Science News, vol. 137, pág. 36, material incluído
ça externa ao nosso Universo é respon- no original.
sável pela seleção das condições ini- 4. Mallin, pág. Bl.

30 O MINISTÉRIO/MAIO/JUNHO/1991
O Uso de Notas
na Pregação
m que deve o pregador ba- sa adicional para o sermão ou no aten­
sear-se para pregar? Em ma- dimento de outros deveres pastorais.

E nuscrito? Notas? Em nada?


Apresentação

Ao prepararmos e apresen­
tarmos o sermão, normal­
mente pensamos em quatro opções: 1.
Improviso — nenhum preparo especí­
fico; 2. Extemporâneo — idéias prepa­
radas; 3. Manuscrito — pensamentos e
palavras preparados; 4. Memorização
N um sermão pregado com ba­
se em um manuscrito, ouvi um prega-
dor descrever a pitonisa de En-Dor co-
mo olhando “como um saco de aninha-
— pensamentos e palavras preparados gem molhado, pendido sobre um pos­
e decorados. Uma vez que os números te de cerca. Um dos dentes da frente sa­
um e quatro são extremos e raramen­ liente como um sentinela solitário, que
te usados, concentrar-nos-emos nos ou- guarda a entrada do inferno”. Só o fra­
tros dois métodos. Compararemos as seado preparado com antecedência po-
vantagens e as desvantagens da prega- de tornar isto descritivo e preciso.
ção improvisada versus a manuscrita, A pregação extemporânea, contudo,
Preparo
em três áreas: em geral é pregação mais relacionai do

N
que manuscrita. Henry Ward Beecher
dizia que um sermão escrito estende
u’a mão revestida de luva para as pes-
soas; um sermão não escrito estende
maioria dos casos, a prega- uma palma de mão incandescente.
ção manuscrita força o pregador a fa- Uma luva pode ser mais perfeita do
zer um preparo mais completo e pre­ que a mão cicatrizada e calosa, mas
ciso. Aqueles que escreveram seus ser- não é tão calorosa nem tão sensível.
mões antecipadamente, podem analisá- Ler os sermões limita o contato dos
los com mais exatidão antes de usá-los. olhos do pregador com o auditório. Co-
Uma vez que os pregadores extempo­ mo afirmava Phillips Brooks, a prega-
râneos não selecionam suas palavras ção é a verdade através da personali­
com antecedência — selecionando ape- dade. Ora, os olhos transmitem a per­
nas as idéias — eles poupam grande sonalidade. Assim, qualquer coisa que
quantidade de tempo na preparação do interfira com o contato dos olhos do
sermão. As duas ou três horas que eco­ pregador, impede que a personalidade
nomizam, deixando de escrever um ma­ seja bem-sucedida, e interfere com a
nuscrito, eles podem gastar em pesqui- pregação.

Floyd Bresee
O MINISTÉRIO/MAIO/JUNHO/1991 31
Os pregadores de manuscrito, que a elocução manuscrita e provavelmen­
são leitores recalcitrantes, podem com­ te devam ser pregados de improviso.
pensar alguns dos seus métodos de fra- Fiquei impressionado de modo espe­
quezas herdadas de alocução, conhe­ cial com o método de pregação de um
cendo o material tão bem que não pre­ pregador de Sacramento. Ele seguiu
cisem ler palavra por palavra. Conser­ fielmente o seu manuscrito até o mo-
var a voz e os gestos da conversação mento do apelo. Aí, pondo de lado o
também ajuda. manuscrito, entrelaçou as mãos, incli-
nou-se sobre o púlpito e falou a sua
congregação. O manuscrito havia es­
Preservação ______________________
tabelecido apenas a base para o que
aconteceu no apelo. Na verdade, a lei­
tura da maior parte do seu sermão
realçou a familiaridade do seu apelo.
Nenhum método isolado serve para
Na categoria da preservação, todos. E, obviamente, tanto a pregação
a pregação manuscrita leva vantagem. manuscrita como a improvisada pos­
Preparar manuscritos para pregação suem vantagens e desvantagens signi­
ensina a pessoa a escrever. E torna os ficativas. O problema é que os prega-
sermões da pessoa prontamente dispo­ dores têm a tendência de escolher o
níveis para publicação. Muito de nos- método errado. Ler bem um sermão re­
sa literatura cristã provém de eruditos quer que o pregador seja animado e
que escrevem para provar teorias de li- atraente. Mas é o ministro preciso e
vros. Muito pouco advém de pastores erudito que mais provavelmente esco­
que pregam. Necessitamos de mais as­ lherá este método.
suntos escritos por pastores, que aju­ A alocução improvisada, por outro
dem a aplicar a teoria à vida das pes- lado, requer boa memória e cuidado­
soas. sa organização que mantenha o sermão
em andamento e num rumo certo. Mas
Tentativa ou erro é o pregador de ação, com menos ten­
dência para erudição, que geralmente

A maioria dos homiléticos


escolhe este tipo de alocução.
Se o melhor gato é aquele que cap­
tura os maiores ratos, a melhor manei-
ra de um gato caçar é aquela que cap­
concorda em que a maneira ideal de tura os maiores ratos — não a manei-
pregar um sermão é fazer primeiro um ra que parece mais confortável para o
manuscrito, e depois preparar um es- gato. Descubra o que fica melhor pa-
boço — quer o pregador use esse es- ra você. Muitos de nós pregamos da
boço no púlpito ou o decore. As rea­ maneira como o fazemos porque fomos
lidades da lista de ocupações do pas- levados a essa técnica e nos sentimos
tor, contudo, impedem a maioria de de­ bem com ela; mais do que pelo fato de
dicar muito tempo à preparação do ser ela o que se comunica mais eficaz­
sermão. mente com os nossos ouvintes.
Muitos pregadores levam um manus­ Se você ainda não experimentou, se
crito ao púlpito, mas lêem apenas par- ficou satisfeito com aquilo que é con­
tes dele, pregando o restante dele de fortável ou familiar, você pode estar
improviso. Por exemplo, as ilustrações usando o método errado. É uma ques-
e os apelos não se prestam bem para tão de tentativa ou erro.

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