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O

Ministério
Adventista

Julho - Agôsto de 1963


SAUDAÇÕES

a um Companheiro!

R. A. A.

A ilustração da capa apresenta o pastor Walter Schubert, quando es-


tava expondo uma comovente mensagem, no último dia do Concilio Mi-
nisterial em São Francisco. Como evangelista destemido, êste fiel pre-
gador proclamou o evangelho eterno com poder. Deus lhe deu capacida-
de para apresentar a mensagem da graça em diversas línguas, especial-
mente em três — Inglês, Espanhol e Alemão. Em alguns países êle é co­
nhecido como “o pregador do amor”. Não se pode ouvir êste homem sem
perceber que êle ama a Deus e as pessoas às quais prega.
Durante anos foi secretário da Associação Ministerial, na grande Di­
visão Sul-Americana. Nos últimos oito anos foi um valioso membro da
Diretoria da Associação Ministerial, aqui em Washington. Neste cargo
trabalhou como professor, conselheiro e evangelista, em muitas partes do
mundo. A poucos pregadores é dado produzir a impressão que êle fêz
sôbre esta geração. Agradecemos a nosso Pai Celestial pelo êxito de seus
labores, pelos milhares que por êle foram levados a aceitar a salvação
e a se prepararem para o encontro com o Salvador que breve voltará.
Humildade, trabalho difícil e consagração marcaram a experiência dês-
te dedicado servo de Cristo. Trouxe inspiração para os obreiros de Deus
em qualquer parte em que labutou. Seu atual estado de saúde obrigou-o
a trabalhar num cargo um tanto mais tranqüilo. Encoraja-nos o pensa-
mento de que logo o evangelismo estará no passado e a obra do evange-
lho concluída. Quando o Senhor voltar em glória, trará o galardão con­
sigo “para retribuir a cada um segundo as suas obras”.
Ao buscar êste leal associado encargos mais descansados no Minis-
tério, sabemos que os obreiros adventistas de todo o mundo se unirão
em dizer: “O Senhor te abençoe e te guarde”.

PÁGINA 2 O Ministério Adventista


órgão publicado bimestralmente pela “Semelhante a um
Associação Ministerial da Igreja Adventista do
Sétimo Dia Grão de Mostarda”
Editado pela
Casa Publicadora Brasileira Os homens têm de reunir enormes exérci-
Santo André, São Paulo tos, remover montanhas de mercadorias e imo­
Diretor — Enoch de Oliveira bilizar nações para monopolizar tronos e for-
Gerente — Bernardo E. Schuenemann
mar um império. Deus estabelece o Seu com
apenas algumas sementes — uma partícula de
Redator responsável — Naor G. Conrado
amor, uma porçãozinha de fé. Êle alimentou
Colaborador especial: a multidão com alguns pães e dois peixes e
J. J. Aitken
construiu Sua cruz duma bolota. “O reino”,
Brasil disse Êle, “é semelhante a um grão de mos­
Assinatura Anual .............................................. Cr$ 500,00 tarda.”— David A. Redding, The Parables He
Número Avulso .................................................. Cr$ 85,00 Told.
Estrangeiro
Assinatura Anual .......................................... US$ 2,00 ORGULHO
Número Avulso .................................................. US$ 0,35
Os homens falam sôbre o pecado com um
sorriso afetado e ridículo, como se êle apenas
tivesse que ver com sexo e blasfêmia. O pe-
cado é rebelião contra Deus. Êle é conheci­
do por orgulho, e arruina os homens. Além
do orgulho todos os alarmantes males do pre-
sente são insignificantes. É o orgulho que en­
che o inferno. É o orgulho que exaspera os
Ano 29 Nº. 4 homens, enlouquecendo-os com a idéia de que
merecem mais; declara que os seus caminhos
SAUDAÇÕES A UM COMPANHEIRO............................... 2 são os melhores e os condena ao inativo sta­
ILUSTRAÇÕES tus quo. O orgulho amargura a amizade, su­
"Semelhante a um Grão de Mostarda ... 3 foca o amor, devora a fé, encobre aos homens
Orgulho.............................................................................. 3 sua necessidade de Deus e os segrega do pró­
DE CORAÇÃO A CORAÇÃO ximo, prendendo-os defronte do espelho e co­
"O Pastor Está do Nosso Lado"............................... 4 locando-os numa solitária reclusão. — Idem.
ARTIGOS GERAIS
Confiança Entre os Irmãos........................................... 5
Os Cultos Sincréticos e o Adventismo do Sétimo
Dia..................................................................................... 7 Nossa C
apa
Cantando "Com o Espírito e o Entendimento" 11
Nossa Afirmação e Obrigação . . ... 13 O diretor artístico, T. K. Martin, assistiu às
EVANGELISMO — ALMAS PARA DEUS reuniões do Concilio Ministerial em São Fran­
Um Batismo Para Glória de Deus............................. 16 cisco, e nos encontrou debatendo evangelismo.
OBRA PASTORAL O colega, Walter Schubert, estava no púlpito,
A Espôsa do Ministro Visitando e Evangelizando 17 entusiasmado com o assunto que apresentava.
EVANGELISMO DA SAÚDE A máquina fotográfica bateu, e resultou esta
Novas Fronteiras no Evangelismo Médico . . 19 fotografia.
PERGUNTAS SÔBRE DOUTRINA Não costumamos usar a capa para fotogra­
A Observância do Sábado — Um Critério Válido 22 fias de membros da Diretoria, mas esta esta­
NOSSA LÍNGUA
va tão repleta de entusiasmo e era uma repre-
» sentação tão vivida de alguém cuja vida foi
Pronúncia das Palavras...............................................24
dedicada à exaltação de Cristo na pregação, que
concordámos ser esta a maneira que desejáva-
mos para lembrá-lo, ao deixar de ser secretá-
rio-associado da Associação Ministerial, para vi-
ver e labutar em outra parte.
The Ministry.
Julho Agôsto, 1963 Página 3
" O Pastor
Está do
Nosso Lado”
ENOQUE DE OLIVEIRA

(I Tim. 3:5) Um filho favorecido pelo papai,


QUANTAS vêzes hemos ouvido surpresos a
afirmação triunfante que serve de epígra­ em detrimento de seus irmãos, constitui mo­
tivo de constantes altercações e controvérsias
fe a êste Editorial!
Paulo em uma de suas epístolas a Timóteo, dentro do lar. O mesmo ocorre na igreja se
jovem ministro, o exorta a guardar-se dos pe­ o pastor se conduz com um espírito parcial,
rigos do parcialismo, dizendo: “Conjuro-te favorecendo a uns em prejuízo de outros.
diante de Deus e do Senhor Jesus Cristo, e Existem em quase tôdas as igrejas, entre os
dos anjos eleitos, que sem prevenção guardes seus membros, diferenças de opiniões e idéias
estas coisas, nada fazendo por parcialidade.” I que, com freqüência, suscitam controvérsias e
Tim. 5:21. divisões. Em alguns lugares existem problemas
Uma igreja dividida, com os seus membros antigos, velhas questiúnculas, que, como o car­
em controvérsia, denuncia, muitas vêzes, a au­ vão semi-apagado, com um sôpro imprudente
sência de habilidade de um pastor que não revive e arde.
sabe conduzir o seu ministério com eqüidade Quão sensato deve ser o pastor em sua obra
e espírito imparcial. conciliadora! Pertence-lhe a responsabilidade de
Certa vez um pastor assumiu o pastorado de unir os grupos em litígio e apagar as chamas
uma igreja na qual existiam dois grupos em da intolerância e incompreensão.
conflito. Membros influentes se encontravam John R. Steelman logrou grande notorieda­
em ambos os lados. Como dirigente espiritual de ao conseguir harmonizar 87% de todos os
estava, evidentemente, em condições excepcio­ conflitos trabalhistas ocorridos nos Estados Uni-
nais para tentar uma conciliação entre as par- dos, no decurso de 7 anos. Interrogado sôbre
tes litigantes. Entretanto, embora sincero e o segrêdo do seu êxito, contestou:
bem intencionado, revelou ausência de espíri­ “Não procure decidir as contendas de grupos
to conciliador, manifestando simpatia para com em divergência. Leve-os a resolverem por si
um dos grupos em luta e hostilizando o grupo mesmos suas questões. Não poderemos obrigar
opositor. Como resultado, os ânimos se exacer­ ninguém a fazer alguma coisa. O nosso dever
baram, o conflito se intensificou, e o pastor, é irmos ter com êles e pedirmos que se unam.
com uma maioria eventual, logrou eliminar da
“Dirija os pensamentos dos litigantes para
igreja as pessoas que integravam a facção por
um ponto no qual se harmonizem e logo sur­
êle considerada rebelde. Excluídos, sem o di­
girá um acôrdo. Não há entre os homens con-
reito de serem ouvidos, passaram a formar par-
flito para o qual não possa haver um comum
te de uma escola sabatina que êles organiza­
acôrdo. Procure êste e firme-o.” — David Guy
ram em uma casa particular. Após vários anos,
Powers, Live a New Life, pág. 68.
essa igreja recebeu nôvo pastor, e uma de suas
primeiras preocupações foi receber outra vez na É evidente que os desentendimentos que se­
comunhão da igreja, aquêles que haviam sido param os membros de nossas igrejas não po-
demitidos. O êrro foi sanado, porém a causa dem ser comparados com as greves e litígios tra­
de Deus muito sofreu por êsse infeliz aconte­ balhistas, mas o mesmo princípio pode ser apli­
cimento, que bem poderia ter sido evitado. cado com êxito.
O pastor, se deseja preservar a sua influên- O fiel pastor se esforçará sempre por remo­
cia sôbre o rebanho, deve guardar-se dos pe­ ver tôdas as discórdias, promovendo, em seu lu-
rigos que resultam do favoritismo. Com mui­ gar, harmonia, unidade e cooperação.
ta oportunidade perguntava o apóstolo S. Pau- As lutas internas, as controvérsias e discór­
lo: “Se alguém não sabe governar a sua pró- dias, trazem mais danos ao reino de Deus que
pria casa, como cuidará da igreja de Deus?” a sistemática e impertinente oposição dos ad-
Página 4 O Ministério Adventista
ARTIGOS GERAIS

Confiança Entre os Irmãos


ROBERTO H. PIERSON
Presidente da Divisão Sul-Africana

QUEestarabençoada experiência
de nôvo com os obrei­
Êste recém-conhecido meu suportara pesadas
responsabilidades na causa de Deus. Fôra pre-
ros de Deus, após haver ficado se- sidente duma de nossas maiores uniões-missões.
parado todos êstes desolados anos! Então surgiram os mal-entendidos. Lançaram-
Quem assim falava era um ho- se calúnias sôbre a sua liderança. A confian-
mem de idade avançada, sentado ça foi quebrada e o oprimido líder não mais
do outro lado em que eu estava, pôde suportar as responsabilidades. Apartou-
à mesa de hotel. Assistíamos à se. Seus lábios não me revelaram êstes de­
assembléia duma União-Associa- talhes. Êle estava por demais feliz na restabe­
ção. Após haver passado aproximadamente lecida amizade com “os irmãos”. Outros ami-
trinta anos distanciado de seus irmãos, êste an­ gos compuseram a história para mim, entre as
tigo líder em Israel finalmente voltara para o reuniões.
povo de Deus. Durante os dias em que esti­ Quem poderá saber das solitárias horas, dos
vemos e oramos juntos, repetidas vêzes expres­ pesares e da luta contra a amargura que êste
sou a grande alegria que lhe enchia o coração oprimido homem de Deus experimentou por
por se reunir novamente com “os irmãos”. trinta anos! Tudo porque a confiança foi des­
feita!
“Satanás . . . sabe que se puder pôr irmão
versários do evangelho. Por isso Davi exaltou a vigiar irmão, na igreja e no ministério, mui-
a beleza do companheirismo e cooperação cris­ tos ficarão tão desanimados e desencorajados
tãs, cantando: “Oh! quão bom e quão suave que deixarão seu pôsto de dever.” — Testemu-
é que os irmãos vivam em união!” Salmo 133:1. nhos para Ministros, pág. 189.
Eu poderia contemplar durante horas, sem Como é lamentável quando os homens fi­
evidências de cansaço, u’a máquina de impri­ cam com o coração magoado e o espírito opri­
mir em operação. Há milhares de pequenas mido pela indelicadeza e falta de confiança até
peças, cilindros, alavancas, parafusos e muitos isso os obrigar a sair da obra e, às vêzes, da
outros acessórios que trabalham juntos, cada um igreja! Quanto necessitamos de confiança en-
em seu lugar correspondente. Com unidade de tre os irmãos nas nossas fileiras de obreiros!
movimentos e harmonia de conjunto a máquina Algum tempo atrás, dirigi uma série de reu­
engole bobinas de papel, vomitando-as impres­ niões de reavivamento numa de nossas igrejas.
sas, em forma de diários e livros. Trinta anos antes, dois irmãos daquela igreja
Como a máquina impressora, assim deve ser perderam a confiança um no outro. Durante
a igreja. Entretanto, vale que se acentue, a êstes longos anos, raramente haviam falado en-
unidade dêste conjunto muito depende da atua­ tre si. Perante os mútuos conhecidos, faziam
ção do pastor e do comportamento de cada um uma invectiva de crítica dum contra o outro.
dos seus membros. Era uma coisa terrível! Dividia os membros da
Que Deus nos inspire em nosso ministério igreja. A atitude dos irmãos litigantes se refle­
para que, eliminando divergências e concilian­ tia em duas facções que se desenvolveram na
do os espíritos, saibamos somar as fôrças exis­ igreja. Males sem conta provieram para a cau-
tentes na igreja, conduzindo-as como um re­ sa. Fiquei grato pelo que o Espírito de Deus
gimento unido na luta contra os poderes con­ fêz, por êstes dois desafetos membros, nas duas
federados do mal. semanas de reuniões de reavivamento. Com lá­
Julho-Agôsto, 1963 PÁGINA 5
grimas deslizando pelas faces, abraçaram-se, e peita do mundo em volta de nós se insinuem
as velhas barreiras desapareceram. Que expe- em nossas fileiras. Não deve haver falta de
riência abençoada adveio para tôda a igreja, confiança, inquirição ou impugnação de moti­
quando se restabeleceu a confiança! vos e falta de fé entre os que levam os vasos
Recentemente, estava lendo o jornal diário do Senhor nestes solenes tempos em que vive­
de Salisbury, The Rhodesia Herald. Numa de mos.
suas páginas internas, em títulos pequenos, en- Todo o obreiro entre nós se interessa em ser
contrei estas palavras: "Confiança É A Nossa um trabalhador de êxito. Anelamos e oramos
Necessidade”. Eram palavras dirigidas ao Ro­ por poder no ministério. Diàriamente rogamos
tary Club de Salisbury pelo Primeiro Ministro a Deus que nos use na expansão e terminação
da Rodésia do Sul, Sir Edgar Whitehead. Es­ de Sua obra, em nossa parte da vinha. A men­
tas palavras apareceram distintamente perante sageira do Senhor claramente delineia as condi-
mim. “Confiança É A Nossa Necessidade” — ções para o êxito e o poder na vida e no tra-
São palavras que constituem uma mensagem balho. Faríamos bem em ler freqüentemente
desafiante para os obreiros na causa de Deus, as palavras que seguem: “O êxito de nossa obra
hoje em dia. Devido à urgência da hora, de- depende de nosso amor a Deus, e nosso amor
vido à iminente aparição do Mestre, devido ao aos semelhantes. Quando houver ação harmo­
repto da tarefa inacabada, não há nada que nós niosa entre os membros individuais da igreja,
como obreiros mais necessitemos do que a con- quando houver manifesto amor e confiança dum
fiança em Deus e um no outro. irmão para com outro, haverá proporcional fôr-
Quando lia a afirmação de Sir Edgar, es­ ça e poder em nossa obra, para a salvação dos
tas palavras do apóstolo Paulo reluziram-me na homens.” — Testemunhos para Ministros, pág.
mente: “Não abandoneis, portanto, a vossa 188.
confiança”. (Hebr. 10:35). Isto êle aconselhou “Manifesto amor e confiança dum irmão pa-
aos hebreus de seu tempo e aos obreiros ad- ra com outro” proporcionarão êxito e poder ao
ventistas do presente. trabalho.
Vivemos em tempos de ansiedades e agita­
ção. Devido à falta de confiança internacional, Que É Confiança?
o mundo treme na guerra fria. A suspeita ator­
menta as mentes dos dirigentes mundiais. Pa- A palavra confiança vem do infinito latino
rece que não se encontra nenhuma base de con- confidere, e, como tal, significa ter fé. Se con­
fiança entre o Oriente e ó Ocidente. Tudo que fiamos nos bons préstimos duma pessoa, se te-
um lado propõe, com certeza o outro irá con­ mos fé em sua sinceridade, embora nem sem-
trapor. Intenções sinistras são atribuídas a am­ pre concordemos com seus pontos de vista e
bos os lados. Pressões e tensões provam êste com a maneira em que faz as coisas, ainda po­
velho mundo em muitas regiões. demos reter a confiança nela. A confiança não
É algo torturante e terrível quando existe faz de alguém um carimbo de borracha. Tor­
tal falta de confiança entre os dirigentes do na-o caritativo. Produz certeza e fé na since-
mundo. Mais lamentável ainda é quando tais ridade e nas intenções dos irmãos.
sentimentos se insinuam entre membros e obrei­ A confiança não é alguma coisa que pode-
ros na causa de Deus. O movimento adven- mos reclamar por direito. Mesmo nossa posi­
tista é um movimento internacional. Ademais, ção na obra de Deus pode exigi-la apenas con­
reúne várias raças e diferentes tipos de perso­ dicionalmente. A confiança é algo que deve­
nalidades e índoles entre os povos representa­ mos merecer. Confiança gera confiança. Ela
dos. É-nos muito importante recordar que, in­ é uma qualidade tão prodigiosa como o amor.
diferentemente da bandeira ou raça que osten­ Quanto mais a manifestarmos aos que nos ro­
tamos, somos primeiramente cristãos. Como se­ deiam, tanto mais aumentará e tornará para nós.
guidores do Senhor Jesus Cristo, deve haver Há algum colega na obra que suspeita de nós,
confiança entre nós. e cuja confiança aparentemente não desfruta­
Vivendo no mais crítico período da história mos? Confiamos nós nêle? A confiança é uma
do mundo e da igreja, quando contendas, ten­ rua de duas vias, e exige que dois transitem por
sões e desconfianças de tôda a espécie predo­ ela. Podemos, também, compará-la a um as­
minam em nosso redor, creio que a mensagem sento de quatro pernas. Se uma delas é remo­
de Deus para todos nós como obreiros é: “Não vida, o assento perde a estabilidade.
abandoneis, portanto, a vossa confiança”. Não “Nutramos o espírito de confiança em . . .
devemos permitir que a desconfiança ou a sus­ nossos irmãos”. — Idem, pág. 500.

Página 6 O Ministério Adventista


Os Cultos Sincréticos
e o Adventismo do Sétimo Dia
G. OOSTERWAL*
Secretário de Educação e Temperança na Missão Ocidental da Nova Guiné

DESDE o fim do século pas- de “despertar” os referidos cultos em Papua.


sado, muitos movimentos re- Van Baal também menciona a Missão Adven-
ligiosos foram noticiados em ter­ tista do Sétimo Dia em conexão com os cul­
ritórios onde as tribos nativas en­ tos sincréticos no território da Melanésia, e com
traram em contato com a civili­ alguns “movimentos espíritas”.8 Numa quan­
zação européia. tidade de livros e artigos, não tão bem conhe­
De 1870 a 1890, os movimen­ cidos, sôbre os cultos sincréticos na Melanésia,
tos da Dança dos Mortos alas­ tais acusações foram repetidas. 9
traram-se pelas regiões índias dos Parece ser conveniente reconsiderar essas
Estados Unidos. 1 Shamans se levantou e pre­ acusações. Os cultos sincréticos amiúde causa­
disse o breve regresso dos mortos e a vinda do ram muito dano às pessoas participantes e à
grande “Búfalo”. Movimentos religiosos idên­ ordem estabelecida. Agitação, destruição de ali­
ticos são conhecidos entre os índios da Améri­ mentos, queima de casas e outras coisas valiosas,
ca do Sul. Os índios guaranis e tucunas, por psicose das massas, o fenômeno dos transes e
exemplo, esperavam o fim dêste mundo e o das obsessões, homicídios, rebelião, revolução
breve início de um “mundo sem maldade”, on- contra o govêrno (dos brancos), etc., são ca-
de não mais houvesse doença e morte.2 Os racterísticas comuns dêsses movimentos. A
estudos de Sundkler3 e Sclosser4 sôbre mais acusação de os adventistas despertarem tais cul­
de 1.200 movimentos proféticos e sincréticos na tos é muito séria.
África, demonstram claramente o quanto êsses
cultos nativos são conhecidos na África. Exis­ Cultos Sincréticos
te uma ampla bibliografia sôbre os movimen­ Dificilmente se encontrará na Nova Guiné
tos religiosos da Oceania (Polinésia, Microné­ e nas ilhas adjacentes uma região que não te­
sia e Melanésia), em que os nativos aguar­ nha sido influenciada pelos cultos sincréticos.
dam o breve regresso de um ancestral (mito­ Apesar de seu caráter desigual, êsses cultos têm
lógico), a ressurreição dos mortos e a vinda de
muitos traços em comum. Ei-los: 1) As pes-
um nôvo mundo sem doença e morte. 5 soas aguardam a breve volta de um antepas­
Na Oceania geralmente se dá a êsses cultos sado (mitológico) e a ressurreição dos mortos;
sincréticos o nome de “cargo-cultos”. “Cargo”,
2) então se estabelecerá uma nova ordem on-
ou melhor, “Kago” é um têrmo do jargão in­
de não mais existirá fome, doença, ou morte;
glês usado para designar a riqueza européia.
3) o antepassado e os mortos voltarão com na-
Neste artigo limitar-me-ei princípalmente a ês­
vios cheios de “cargas”, tais como roupas, ma­
ses “cargo-cultos” da Oceania, pois é em cone­
chados, facas, motores de pôpa, aviões, etc.
xão com êles que repetidas vêzes se mencionou
o nome da Missão Adventista do Sétimo Dia. Ao longo da costa o povo construiu desem­
Numerosos autores relacionaram êsses movi­ barcadouros onde os navios possam atracar. Os
mentos sincréticos com os ensinos dos adventis- povos do interior fizeram pistas para os aviões
tas do sétimo dia. Kamma declara, em seu bem aterrissarem. Em regiões não atingidas pela ci­
conhecido estudo sôbre os movimentos messiâ­ vilização européia, espera-se que os “navios”
nicos dos países baixos da Nova Guiné: “Os que trarão o antepassado, os mortos, e a “car-
cultos sincréticos na região oriental da Nova ga”, provenham das sepulturas. “Noites intei­
Guiné parecem ser incitados em grande medi- ras o povo canta e dança sôbre as sepulturas
da pelo trabalho dos adventistas do sétimo dia.” 6 para saudar Djeeuwmé (o antepassado) e os
G. H. Granswick e J. W. H. Hevill 7, no es- warria (os espíritos dos mortos)”. Sôbre os se­
tudo que fizeram sôbre os cultos sincréticos em pulcros construíram-se grandes casas, onde se
Papua, acusaram os adventistas do sétimo dia supõe que os warria irão acumular as caixas
* O Dr. Oosterwal é um dos nossos conceituados obrei­ e malas cheias de roupas, machados, fumo e
ros na Nova Guiné, e se especializou em antropologia. outras cargas. Mataram-se todos os porcos, e,
Julho Agôsto, 1963 Página 7
até ao regresso de Djeeuwmé, a ninguém mais Ensinos dos Adventistas do Sétimo Dia
se permitirá comer carne de porco.
As casas na vila foram tôdas queimadas. — A breve volta de Jesus. Os mortos ressusci­
Moraremos em casas de tijolos, foi dito aos al­ tarão por ocasião da vinda de Jesus.
deões. Outros bens, por êles mesmos prepa­ Os justos herdarão a Nova Terra, onde não
rados, também foram destruídos. — Teremos mais haverá tristeza. “Jamais terão fome, . . .
abundância de alimentos, roupas (trajes bran­ pois o Cordeiro ... os apacentará ... E Deus
cos) e qualquer coisa que desejarmos quando lhes enxugará dos olhos tôda lágrima.” (Apoc.
Djeeuwmé chegar. Nenhum de nós mais fi­ 7:16 e 17). Também Apoc. 21.
cará doente. Nenhum de nós mais terá fome. O Cordeiro terá todo o “poder, e riqueza, e
Ali nunca mais ficaremos cansados, mesmo que sabedoria, e fôrça, e honra, e glória, e louvor.”
dancemos por noites consecutivas. Jamais al- (Apoc. 5:12). “E entoavam nôvo cântico, . . .”
guém morrerá. — Como Djeeuwmé demorou a (Apoc. 5:9).
vir, alguns cairam em êxtase. Certa noite, o “Depois destas coisas vi, e eis grande mul-
povo ouviu as vozes de Djeeuwmé e dos warria tidão . . ., vestidos de vestiduras brancas ...”
como o chilrar de pássaros. — “Êles estão che­ (Apoc. 7:9). Também Apoc. 3:4 e 5.
gando — gritou o povo — Êles estão chegando e
trazem carga para nós. Já ouvimos o sonido do Os adventistas do sétimo dia se abstêm de
mar nos sepulcros — Mas nada aconteceu.” 10 comer carne de porco.
Êste é um breve resumo de um relatório sôbre São estas semelhanças que dão aos “cargo-
um culto dêles no território Mamberamo. As cultos” uma aparência de sincretismo. São es­
mesmas palavras poderiam ser empregadas pa- tas semelhanças que levaram diversos autores
ra descrever um culto semelhante em qualquer a acusar os adventistas do sétimo dia de serem
parte da Oceania. Os europeus freqüentemen- a “fonte” dessas crenças, que originaram os “car-
te são acusados pelos nativos de retardarem a go-cultos”. No entanto, como se verá mais
volta do antepassado, ou de conhecerem o se- adiante, êstes autores erroneamente confundi­
grêdo de ficarem com a “carga” para si mes- ram a sombra com a substância.
mos. Conseqüentemente, surgem movimentos
nacionalistas e contra os estrangeiros; casas são O Parecer da Antropologia
queimadas e os moradores perturbados. O vo­ Os cultos sincréticos geralmente são descri­
cábulo “loucura” foi algumas vêzes aplicado a tos como uma “situação crítica”, resultante do
essas irrupções. Nos Estados Unidos, tais mo­ contato entre as tribos nativas e a civilização
vimentos na África, Ásia e Oceania são muitas cristâ-européia. Declara Firth, antropologista
vêzes confundidos com a agitação comunista, britânico de renome: “Êles são essencialmen­
com a qual certamente nada têm que ver. É te reações às novas fôrças introduzidas através
u’a maneira primitiva de descobrirem um mun- do contato com o Ocidente.” 13 O desejo ar­
do melhor para si mesmos, um mundo sem dente por riqueza material — por carga —enten­
“maldade”, onde as pessoas poderão ser feli­ de-se como um resultado da ligação com a su­
zes. 11 perior civilização material do Ocidente; enquan-
Para uma descrição mais detalhada dêsses to que a volta do antepassado, a aproximação
cultos sincréticos, reporto-me à literatura que de um nôvo mundo, a ressurreição dos mortos,
há sôbre o referido assunto. 12 Esta breve re­ etc., consideram-se como resultado do ensino
senha, entretanto, prestará para êste propósito. cristão, no caso, o ensino adventista do sétimo
Expõe os aparentes pontos de identificação en- dia. Certamente qualquer adventista do séti-
tre as crenças dos cultos sincréticos e as dou­ mo dia admitirá, à primeira vista, a semelhan-
trinas adventistas do sétimo dia: ça entre essas crenças “cargo” e as suas pró­
prias. Devido às outras denominações dificil­
Crenças dos Cultos Sincréticos
mente mencionarem a verdade da breve vol-
A breve volta do antepassado, seguida pela ta de Jesus, a ressurreição dos mortos, a absti­
ressurreição dos mortos. nência da carne de porco, etc., a Missão Ad-
Aproxima-se um nôvo mundo, sem fome, ventista do Sétimo Dia, mais do que qualquer
doença, morte, etc. Será um mundo de abun­
dância e sem maldade. Não existirá mais mor- outra sociedade missionária cristã, é acusada de
te; ninguém ficará enfêrmo; ninguém envelhe­ despertar ou incitar êsses “cargo-cultos”.
cerá ou ficará cansado. Recentemente surgiu outra opinião antropo­
O antepassado será a única “autoridade”. lógica. Os antropologistas culturais não mais
Todos os povos o honrarão “com novos cânti­ encaram os cultos sincréticos como “grave de-
cos”. sajustamento social” ou “reação em circuito”,
Tôdas as pessoas irão trajar “roupas novas mas como um culto autênticamente nativo. K.
e brancas”. E. Read, P. Lawrence, F. C. Kamma e G. Oos­
Proíbe-se comer carne de porco. terwal nos estudos que fizeram a respeito dês-
Página 8 O Ministério Adventista
ses cultos mostram que as crenças concernen­ ção de comer carne de porco, são de um genuí-
tes à vinda do antepassado, à volta dos mor- no caráter nativo, e não o resultado do traba-
tos, e à aproximação duma nova terra, sem lho dos adventistas do sétimo dia. Evidente­
maldade, enfermidade, morte, etc., já eram co­ mente, esta é a opinião da administração dos
nhecidas antes que êstes povos nativos entras­ Países Baixos em Nova Guiné, pois, há pou-
sem em contato com as missões cristãs e com co tempo, quando surgiu um muito grande mo-
a civilização ocidental. “O culto sincrético tem vimento sincrético nos Países Baixos da Nova
um caráter genuinamente nativo. Em essência, Guiné, o govêrno solicitou que eu — um minis­
é apenas um dos muitos cultos ‘da fortuna’, tro adventista do sétimo dia e antropologista —
que são conhecidos nesta região, tais como os fôsse investigar o movimento e prestasse um
relacionados com as casas e as flautas sagra­ relatório sugestivo.
das.” 14 As ennemaree (cerimônias de sepulta­
mento) claramente demonstram isto, o que tam- A Opinião Adventista
bém se reflete nos mitos e no canto.15 Duran­
te as antigas cerimônias de sepultamento, o po- Os missionários adventistas do sétimo dia de-
vo de Mamberamo já cantava a volta de Djee- vem prevalecer-se do auxílio prático que a an­
uwmé e a ressurreição dos mortos. Quando tropologia cultural oferece. 20 Será valioso em­
Djeeuwmé chegar, dizem êsses mitos e cantos, preender estudos antropológicos sôbre o povo
os mortos se erguerão e virá um nôvo mundo a que se deseja comunicar o evangelho, e se
sem maldade, doença e morte. Lawrence escre­ tomaram providências para isto nos arranjos sô­
veu: “O ritual dos cultos sincréticos é, pois, bre o estudo de línguas, nos Regulamentos da
o mesmo em essência que o ritual da religião Associação Geral. Em relação com o assunto
pagã de Garia.” 16 Read e Kamma provam a que apresentamos, o conhecimento de traba­
mesma coisa. lhos antropológicos é indispensável.21 Embo-
Mooney 17 já salientara que a crença na vin- ra seja certo que os missionários adventistas do
da do “Messias” que haveria de restaurar o “pa­ sétimo dia não despertem os cultos sincréticos,
raíso” sôbre a Terra, era uma crença univer­ a influência de seu trabalho sôbre êsses cul­
sal entre os índios. Mais tarde Spier demons­ tos é inegável. É verdade que numa tal situa-
trou brilhantemente que a Dança dos Mortos ção, em que o povo já aguarda a breve volta
entre os Sioux não foi proveniente de seu con- de um “salvador” e a ressurreição dos mortos,
tato com o Ocidente, mas que surgiu das pró­ e onde os mitos e cânticos refletem êsse dese-
prias percepções do mundo indígena. 18 O mes- jo, um homem branco, embora inconsciente,
mo é verdade com respeito às crenças dos ín­ pode estimular e promover um culto sincréti-
dios da América do Sul e dos povos da Áfri­ co. O antropologista Lawrence, por exemplo,
ca e Oceania. Muitos autores cometeram a se defrontou com esta situação. Tornou-se “o
grande falta de facilmente concluírem que tu­ centro de rumores que, se recebessem a apro-
do o que aparentemente se pareça com a dou- priada animação, bem poderiam ter-se desen­
trina adventista do sétimo dia, deve originar- volvido num amplo movimento sincrético.”22
se desta fonte. Em conexão com isto, Cora Du Essa “apropriada animação” sem dúvida advém
Bois tem algo de valioso a dizer: “Sem se ba­ dos ensinos dos adventistas do sétimo dia sô­
sear na velha cultura, a doutrina adventista e bre a breve volta de Jesus, a ressurreição dos
revivalista foi inexpressiva”. mortos, a abstenção da carne de porco, etc. Por
Além disso, mais de uma vez se tornou vi­
um lado, portanto, nossa mensagem encontra
sível que os autores que acusam os adventistas ouvintes receptivos nos territórios em que do­
do sétimo dia de avivarem os cultos sincréti- minam os “cargo-cultos”, e uma parte do êxi­
cos não foram inteiramente imparciais. Kamma, to de nossos missionários na Nova Guiné de-
ministro da Igreja Reformada Holandesa, cer­ ve ser atribuída a êsses “pontos de contato pa-
ta vez acusou um adventista do sétimo dia de ra identificação.” O perigo está em que as dou­
haver incitado o bem conhecido “Movimento trinas adventistas do sétimo dia, se desvirtua­
de Sansão”, no norte da Nova Guiné, ao pas­ das, poderiam realmente reavivar as velhas cren-
so que as fontes diretas revelavam que Sansão ças e promover um culto sincrético.
fôra influenciado por um espírita. O missionário tiraria muito proveito de um
Os antropologistas culturais presentemente estudo continuado e intensivo da língua, da
concordam em que “os cultos sincréticos devem história, das religiões e dos costumes das pes-
ser observados em sua perspectiva cultural, con- soas pelas quais trabalha.
tra o fundo da vida indígena”. 19 De estudos Uma ajuda maior ainda se obteria do estu­
antropológicos de confiança se conclui que as do dos movimentos religiosos nativos, ao redor
crenças num “salvador” vindouro, a ressurreição do mundo. Algumas vêzes perguntamos qual
dos mortos, a aproximação de um nôvo mun- a melhor maneira de levar nossa mensagem aos
do, sem maldade e morte, e mesmo a proibi­ milhões que habitam sôbre a Terra. Recen-
Julho-Agôsto, 1963 Página 9
temente Harry W. Lowe chamou-nos a aten- REFERÊNCIAS
ção para a seguinte declaração de P. E. Hu- 1. J. Mooney, The Ghost Dance Religion and the
gues, em Christianity Today, de 31 de julho Sioux Outbreak of 1890. Washington, 1896.
de 1961: Tim bilhão e quinhentos milhões, 2. C. Niumendaju. “Die Sagen von der Erschaffung
und Vernichtung der Welt als Grundlagen der Apapocuva
dos dois bilhões e novecentos milhões de habi­ — Guarani." Zeitschrift für Ethnologie, 46, pág. 248-403.
tantes do mundo, jamais ouviram a mensagem 3. Bengt G. M. Sundkler. Bantu Prophets in South
do evangelho.” Acrescentou o pastor Lowe: África. Londres, 1948.
"Tão enorme é a tarefa, do ponto de vista hu- 4. K. Scholosser. Propheten in Africa. Braunschweig,
1948.
mano, que só poderá ser realizada por meio 5 I. Leeson Bibliography of Cargo-cults and Other
dum poder espiritual, até agora desconheci­ Nativistic Movements in the South Pacific Comission.
do.” 23 Deus tem Sua maneira peculiar de ter­ Sidnei, 1952
minar a obra! Quando Jesus veio a primeira 6. F. C. Kamma. De Messiaanse Koréri-bewegingen in
het Biaks-Noemfoorse cultuurgebied. Haia, 1954, pág. 208.
vez, o mundo estava pronto para receber o Sal­ 7. G. H. Granswick and J. W. H Hevill. A New Deal
vador. A “plenitude dos tempos” não se refe­ for Papua. Londres, 1949, pág. 90.
re apenas ao aspecto cronológico, mas também 8. J. van Baal. “Algemeen culturele heschouwingen,”
in W C. Klein, Nieuw Guinea, Vol. 1, págs. 243-246
a essa prontidão espiritual. O mesmo se refe­ (1956).
re ao presente. O tempo é curto. O mundo 9. F. C. Kamma. Papoesch adventismo, Opwekker, 1940.
está maduro para a vinda de um “salvador”. Artigos em “Kruis en Korwar,” 1955.
“A seara na verdade é grande”, de conformi­ 10. G. Oosterwal. “A Cargo-Cult in the Mamberano
Area.” Anthropological Report, Nv 3. Holanda, 1962, págs.
dade com a expressão bíblica (S. Mat. 9:37). 12-22.
À vista disso, podemos interpretar muitos dos 11. G. Oosterwal. Papoea’s, mensen zoais wij. Baarn,
cultos sincréticos e movimentos religiosos na 1961, págs. 112-143.
Oceania, África, Ásia e América do Sul. Há 12. F. E. William “The Vailala, Madness,” Territory
of Papua Anthropology Report, Nº 4. Porto Moresby,
o anelo por um Salvador, por um mundo sem 1923.
pecado e fome; sem doença e morte. J. Guiart. “The John Frum Movement in Tanna".
Não é de todo estranho que um nôvo desper­ Oceania, Vol. XXII, março de1952, pág. 163.
Kamma. Obra cit.
tamento dêsse “desejo dos séculos” se realizas­ G. Oosterwal. “A Cargo-Cult in the Mamberamo
se no fim do século passado e nos primeiros Area,” 1962
I. Leeson. Bibliography of Cargo-Cults and Other
sessenta anos do atual. É uma nova prova de Nativistic Movements in the South Pacific, 1952.
que “a ceifa é o fim do mundo” (S. Mat. 13: R. M. Berndt. “A Cargo Movement in the East Cen­
39). A maneira em que essa “maturidade es- tral Highlands of New Guinea.” Oceania, Vol. XXIII, Nos.
1-3, 1952-53, págs 40-137.
piritual” se revela poderá ser rude e “incivili­ 13. R. Firth. Elements of Social Organization, 1952.
zada”. Mas é uma resposta exata, primitiva e 14. G. Oosterwal. People of the Tor. Um estudo cultural-
emocional à revelação divina. Não nos iluda­ antropológico sôbre as tribos do território Tor. Assen, 1961.
15. G. Oosterwal “A Cargo-Cult in the Mamberamo Area,
mos com a sua forma. Seu conteúdo demons­ Anthropological Report, No. 3, 1962.
tra o desejo ardente por um Redentor, por um 16. P. Lawrence. “Cargo-Cult and Religious Belifs Among
the Garia," International Archives for Ethnography, Vol.
mundo melhor sem maldade, e por uma visão XLVII, Nº 1, 1954, págs. 1-20.
profética da breve realização dos mesmos. Nes- K. E. Read “A ‘Cargo’ Situation in the Markham
te sentido, é notável o paralelo com a primei- Valley, New Guinea”, Southwestern Journal of Anthropo­
logy, Vol. 14, Nº 3, 1858, págs. 273-294.
ra vinda de Jesus. Ellen G. White declara 17. Mooney. Obra cit., págs. 650 e seguintes.
corretamente: “Fora da nação judaica houve 18. L. Spier “The Prophet Dance,” General Series in
homens que predisseram o aparecimento de um Anthropology, Menasha, 1935.
instrutor. Êsses homens andavam em busca da 19. Berndt. Obra cit., pág. 40.
20. G. Ooesterwal. “Anthropology and the Missionary”
verdade, e foi-lhes comunicado o Espírito de (Uma palestra, 1952), pág. 5.
inspiração. Um após outro, quais estrelas num 21. O autor dêste artigo uma vez sugeriu (Ver G.
céu enegrecido, haviam-se erguido êsses mes­ Oosterwal, “Anthropology and the Missionary,” págs. 5 e
tres. Suas palavras de profecia despertaram a 6) que cursos sôbre antropologia social fôssem apresentados
em nossos colégios missionários, e universidades. Lamenta­
esperança no coração de milhares, no mundo mos que o preparo para os deveres missionários, nesse sen-
gentio.” 24 tido, esteja tão atrasado.
22. Lawrence. Obra cit., pág. 3
O mesmo é verdade no presente. Que de­
23. The Ministry, dezembro de 1961, pág. 48.
safio para nós! Que privilégio é ser coobreiro 24. Ellen G. White. O Desejado de Tôdas as Nações,
com Deus neste tempo do fim! pág. 24.

PÁGINA 10 O Ministério Adventista


Cantando
"Com o Espírito e o Entendimento"
GERY P. FRIESEN
Cantor-Evangelista na Associação Georgia-Cumberland

TODOS temos sentido o po- portante, pois, que aprendamos a tirar o má­
der do canto. “É um dos ximo proveito da mesma! Ninguém conhece tô­
meios mais eficazes para im­ das as soluções, mas aqui aparecem algumas
pressionar o coração com as convicções e idéias, que selecionei.
verdades espirituais.” — Evan-
gelismo, pág. 496. O Senhor Organização
usou êsses meios muitas vêzes, "Deve haver sistema e ordem nisto (na mú­
com grande vantagem. Por sica), da mesma maneira que em qualquer ou­
esta razão o diabo procurou tra parte da obra do Senhor.” — Idem, pág. 506.
fazer mau uso dêles, imitan- A parte musical do culto deve ser muito bem
do sua maneira típica de apresentar uma con­ organizada. Os ministros precisam saber que
trafação para cada verdade. variações haverá — e quando. Uma maneira de
No terreno da música é fácil desviar-se pa- conseguir isto é tirar diversas cópias do progra-
ra um lado ou outro. Há música que é pe­ ma do serviço de canto e dar uma para cada
sada e inexpressiva, comum no canto de ópe­ participante. O chefe dos acomodadores tam-
ras que, nos é dito, “não agradam aos anjos”. bém deveria ter uma cópia para saber quando
— Idem, pág. 510. Hoje em dia prevalece uma deverá recolher a oferta, etc. Dêste modo to­
espécie de música dissonante, barata e dum sen­ do o programa da noite pode desenrolar-se sem
timentalismo fútil, que se canta em nome do qualquer confusão. Geralmente o cantor-evan-
culto religioso. Há também a tendência, da gelista terá a responsabilidade de coordenar o
parte de alguns, de prescindir quase que com- programa da noite — indicando quem deverá
pletamente do serviço do canto — enquanto que orar, recolher a oferta, etc. Isto exigirá prepa­
outros dedicam tempo demasiado para o mes- ro antecipado, mas a importância desta parte
mo, utilizando-se imprudentemente dos áureos do programa, fá-lo necessário.
momentos da reunião. Outros tendem para as
composições teatrais na hora do programa mu­ Que Espécie de Música se Deve Usar
sical, tornando esta parte do culto uma ocasião
para exibição pessoal. A instrução dada é que "A música deve possuir beleza, poder e fa­
se devem usar cânticos suaves e simples, em culdade de comover.” — Idem, pág. 505. Is­
que tôda a congregação possa tomar parte. O to eliminaria os corinhos levianos e a inexpres­
ideal deve ser cantar essa música “com o es­ siva música de ópera. Entretanto, há corinhos
pírito e com o entendimento”. — Idem, pág. 509. que correspondem às especificações, como: “Ve­
jo a Cristo”; “Quero Ser Leal”; “Maravilhoso
A Importância do Serviço do Canto Jesus”, etc. A instrução inspirada é que esta
música deve ser “canto suave e simples”, en­
“O canto é uma parte do culto de Deus,
toado “em tom natural” e “com o espírito e o
porém na maneira estropiada por que é mui-
entendimento.” — Idem, págs. 509 e 510.
tas vêzes conduzido, não é nenhum crédito pa-
ra a verdade, nenhuma honra para Deus.” — O Côro
Idem, pág. 506. Sabemos, então, que o canto
é uma parte do culto — não um passatempo até “Organizai um grupo dos melhores cantores,
que o povo chegue, mas uma parte integrante cuja voz possa guiar a congregação, e depois
do todo. Nosso principal propósito é pregar a todos quantos queiram se unam com êles”. —
verdade e honrar a Deus. Isto pode ser reali­ Idem, pág. 506. O côro é incomparável em seu
zado no bem dirigido serviço de canto. Não poder para o bem, no culto. Enquanto o po-
houvesse a possibilidade de fazê-lo duma "ma- vo está chegando para o local da reunião, o
neira estropiada”, a inspiração não nos adver­ côro pode estar ensaiando. Cria-se assim uma
tiría contra isto. O diabo quis desvirtuar os me­ atmosfera propícia à atuação do Espírito de
lhores desígnios divinos, despojando-nos de Deus. Os anjos estão presentes para cantar com
bênção durante esta parte do culto. Quão im- êles. Os cantores disponíveis podem não ser os
Julho-Agôsto, 1963 PÁGINA 11
melhores, mas se as vozes estiverem unidas, ao trofe. Tudo estará pronto, então, para a oração
se cantar em partes, Deus dará a bênção e os inicial.
anjos “tomam o estribilho entoado de coração, Como variação durante o programa de can­
com o espírito e o entendimento.” — Idem, pág. to, o côro poderá ser convidado a cantar uma
511. Amigos que não são membros podem ser estrofe dum dos hinos. Periodicamente o co­
convidados a se unirem com o grupo, tornando ral poderá trazer uma seleção especial. Ocasio­
assim o côro uma agência ganhadora de almas. nalmente, a outros grupos se permitirá aumen­
Após o ensaio de aproximadamente vinte e cin­ tar o prazer e a inspiração do serviço de can­
co minutos, em que cânticos bem conhecidos to — mas, falando dum modo geral, deixe-se o
são entoados — alguns para apresentação futu­ povo cantar!
ra, outros apenas pelo prazer de cantar, faz-se
uma oração em que se suplica a bênção do Muitos evangelistas solicitam um número es-
Céu sôbre o restante da música, e se roga tam-
pecial antes do sermão. Tem-se assim a opor-
bém pelo orador e pelos que compareceram. Is­ tunidade e responsabilidade de apresentar um
to ajuda a colocar a devida ênfase sôbre a mú­ número que desperte a atenção de todos, pre-
parando-lhes a mente para a mensagem. Se o
sica. Ocorre quatro ou cinco minutos antes da
anunciada reunião. Enquanto o piano ou ór­ cantor cantar o que sente e sentir o que can­
ta, estará cantando “com o espírito e o enten­
gão continua tocando, o cantor-evangelista se
une em oração aos outros ministros, no quarto dimento”. Êsse cântico deve completar, se
ao lado, antes que o culto, propriamente dito, possível, a mensagem da noite. Entretanto, um
comece. hino bem espiritual e inspirador se adaptará
quase a tôda mensagem.
O Serviço do Canto
Outra Variedade de Aspectos
Na hora anunciada, o cantor-evangelista,
acompanhado por todos os ministros participan­ 1. Familiarizando-se com as Pessoas. — Na
tes, sobe à plataforma. Ao os ministros subi­ noite inicial, ou em ocasiões quando um nú-
rem à plataforma, faço o coral levantar-se e mero descomunal de visitas está presente, pa-
cantar o côro do “Mais de Cristo”. Êste cân- ra fazer o auditório sentir-se à vontade e in­
tico é apresentado em cada culto, como um te- troduzir um espírito de confraternização, cos­
ma de abertura. Há outros hinos que também tumo usar o hino: “Descansando Nos Eternos
poderão ser utilizados. Então volto e estendo Braços”. Depois de cantar uma estrofe, convi­
as boas-vindas aos presentes, e o serviço do can­ do os presentes a se porem de pé e apertarem
to começa. “O mais freqüentemente possível, as mãos de quem estiver perto. Depois que
una-se tôda a congregação” no canto. “O can­ se tornaram conhecidos, digo-lhes o meu no-
to não deve ser sempre feito por uns poucos”. me e apresento os instrumentistas. Daí can­
Todos os presentes devem ser estimulados a to­ tamos mais uma estrofe daquele hino e os pre­
mar parte no serviço de canto.” — Idem, pág. sentes são convidados a se assentarem. O pro-
507. Êste é um conselho inspirado. O povo gos­ grama de canto continua como foi planejado.
ta de cantar — êles vêm para cantar, e, tendo-se 2. A Noite Especial de Música. — Haverá
apenas quinze minutos para o serviço de can­ muitos que instarão convosco para apresenta­
to, êstes serão melhor aproveitados, fazendo-se rem tal e tal cântico. Poderá ser que não se-
o povo cantar. Haverá tempo para aproxima­ jam cantores qualificados. Escreva-lhes o no-
damente quatro ou cinco hinos. me e conserve uma lista de todos os prováveis
Durante o serviço de canto, esteja contente cantores. Num sábado à noite, perto do fim
e radiantemente feliz, sem ser frívolo. Para da cruzada, anuncie uma noite especial de mú­
continuar a dignificante atmosfera iniciada com sica, e faça todos os que foram anotados parti­
o cantar do côro, costumo fazer uma breve ora- ciparem. Êste programa terá, necessàriamente,
ção, depois de cantar o primeiro hino. Esta de ser iniciado mais cedo do que o usual. Se-
deve ser curta e ir diretamente ao ponto dese­ rá um incentivador de freqüência, além de criar
jado. Por exemplo, pode-se orar assim: “Agra­ boa vontade entre os músicos. Aos membros
decemos-Te, Senhor, por esta oportunidade de do coral se dará prioridade na participação des­
cantar êstes hinos de louvor. Dá-nos esta noi- sas noites, devido ao seu meticuloso compare­
te um cântico no coração, porque T’o suplica­ cimento e à sua leal ajuda no programa.
mos em nome de Jesus. Amém!” Isto faz do 3. A Noite dos Pedidos. — Esta é sempre uma
canto uma parte do culto. noite agradável. Deve ser anunciada com mui­
A última parte do programa de canto poderá ta antecedência. Na noite indicada, após o
cantar da estrofe dum hino e a apresentação
ser um hino de entrega, como: “Jesus, Sem-
duma curta prece, solicite aos presentes que
pre Te Amo”; “Todo Teu”; “Salva-me Tam- mencionem seus hinos prediletos. Logo que u’a
bém”. Peça-se ao auditório que se levante ao mão se levantar, dê à pessoa o ensejo de citar
entoar êsse hino, ou por ocasião da última es­ (Continua na pág. 18)
PÁGINA 12 O Ministério Adventista
Nossa Afirmação e Obrigação
KENNETH H. EMMERSON
Tesoureiro-Associado da Associação Geral

I S. João 2:6: “Aquêle que diz que permanece nÊle, trabalho cristão dificultoso, é errado para mim,
êsse deve também andar assim como Êle andou.” (Edição
revista e atualizada no Brasil). e preciso, como cristão, abandoná-lo.”
New English Bible Version: “Aquêle que afirma que Infelizmente, a norma do Dr. Chapman não
permanece nÊle, obriga-se a viver como Cristo mesmo vi-
veu.” é hoje facilmente aceita por muitos obreiros cris-
tãos, e certamente não é o que o homem mo­
DESEJARIA iniciar minhas observações, es­ derno mais deseja que se saliente em sua re-
ta manhã, com duas asserções que são as ligião. Os modernos reavivamentos entre nós
seguintes: Afirmações solenes exigem um an­ não produzem os frutos que foram expressos na­
dar e viver correspondentes, e grandes profis­ quela norma. Obediência, disciplina e lei não
sões envolvem grandes responsabilidades. Es­ são têrmos populares nos círculos religiosos ou
tas duas asserções estão arraigadas no versículo populares desta geração. De preferência, enfa­
citado. tiza-se a independência, a exaltação da própria
Examinemos a primeira delas: Afirmações personalidade e a libertinagem. Restrições e re­
solenes exigem um andar e viver corresponden­ gulamentos apenas aborrecem o povo.
tes. Se afirmamos ou pretendemos permane­ Um dos grandes paradoxos do presente é que,
cer em Cristo, obrigamo-nos a levar uma vida embora pareça haver algum entusiasmo para
semelhante à de Cristo. reavivamento e manifestação religiosa, os gover­
Nos dois versículos precedentes, João demons­ nos do mundo se defrontam com a maior on­
tra o fato de que a obediência é o fruto da da de ilegalidade. Creio que estarei certo ao
salvação e não apenas um sentimento ou pro­ dizer que nunca na história do mundo tantas
fissão. Demonstra também que a obediência é pessoas se tornaram membros da igreja. A re-
a prova do discipulado com Cristo. No livro ligião está, pois, progredindo ràpidamente; no
Vereda de Cristo, às páginas 78 e 79, a men­ entanto, o mesmo sucede com o crime. Nin-
sageira do Senhor torna isto bem claro: “Se guém duvida, então, que a experiência religio­
o coração foi renovado pelo Espírito de Deus, sa de nosso tempo produziu muita adulação.
a vida dará testemunho dêsse fato . . . Ver- Evidentemente o reavivamento consiste numa
se-á uma mudança no caráter, nos hábitos e forma religiosa, a que falta obediência, disci­
atividades. Será claro e positivo o contraste en- plina e lei, que, se presentes, tornariam bem
tre o que foram e o que são”. clara a confirmação de fé em Cristo.
Lemos também em Test. Seletos, (Edição O colunista e comentarista de renome, Drew
Mundial), Vol. 1, pág. 157: Pearson, fala duma pergunta que lhe foi fei­
“Não nos devemos medir pelo mundo, nem ta, certa vez, pelo netinho. Eis suas palavras:
pelas opiniões dos homens, nem pelo que nós “Meu neto de seis anos de idade, Joe, ob­
éramos antes de abraçarmos a verdade. Nossa servava um avião arrastar um anúncio pelo céu.
Dizia: ‘Veja Agora êste Mundo Perdido’.
fé e posição no mundo, porém, tais como são
agora, devem ser comparados com o que po­ — Está o mundo perdido? perguntou Joe.
deriam ter sido, caso nossa direção tivesse si- Enquanto o Sr. Pearson procurava uma res-
do sempre para a frente e para cima, desde posta compreensiva, Joe deu sua própria res-
que professámos ser seguidores de Cristo. Es­ posta.
ta é a única comparação digna de confiança — Talvez, disse, as pessoas do mundo este-
que se pode fazer.” jam perdidas.”
Faríamos bem em considerar e adotar o que ' Foi uma asseveração que habilmente descre-
o Dr. J. Wilbur Chapman denominou “Minha ve a condição religiosa da maioria das pessoas.
Norma de Viver Cristão”. Declara-a nestas pa- O profeta Isaías escreveu de um mundo de
lavras: trevas em seu tempo, e, indubitàvelmente, suas
“A norma que orienta minha vida é esta: tu­ palavras se aplicam com muito mais precisão
do o que obscurece minha visão de Cristo, ou à atualidade.
remove minha predileção pelo estudo da Bíblia, Porque eis que as trevas cobriram a Terra,
ou restringe minha vida de oração, ou torna o e a escuridão os povos.” Isaías 60:2.
Julho-Agôsto, 1963 Página 13
Sim, a escuridão espiritual do povo dêste cooperadores de Deus". Se nos entregarmos in­
mundo é enorme, apesar do despertamento re­ teiramente a Êle, instruir e guiar-nos-á. Ligou-
ligioso, que não parece ser uma experiência nos a todos numa estreita unidade, e tudo o
sentida no íntimo da alma, mas apenas algo for­ que venha perturbar esta unidade deve ser te­
mal e lisonjeiro. Não é esta espécie de expe- mido.
riência que Cristo espera de mim e ti, nem a Então os instrumentos do despertamento se-
experiência que o povo do mundo hoje tanto rão os inteiramente consagrados ministros e
necessita. obreiros da igreja, estreitamente ligados em uni-
Quando confirmamos que Cristo é uma Pes- dade, e isto fará com que as pessoas se dete­
soa, temos de confirmar tudo aquilo em que nham para ouvir-nos, à Bíblia e aos escritos do
Cristo está envolvido. É unicamente quando Espírito de Profecia. Quando nossa conversão
nos relacionamos com Êle em tôdas as coisas, pessoal e nossa unidade forem verdadeiramen-
que vivemos como Êle viveu. Então nossas vi­ te manifestadas e se tornarem o centro de nos-
das se tornarão exemplos nítidos de que vive­ sa experiência com Cristo, faremos algo pelo
mos em união com o próprio Cristo. Em Atos povo e por aquêles aos quais transmitimos a
dos Apóstolos, pág. 551, diz a Sra. White: mensagem.
“Para ter êxito em seus esforços devem os Os outros nos observam — a mocidade de nos-
obreiros cristãos conhecer a Cristo; e para co- sos colégios, os membros de nossas igrejas e as
nhecê-Lo, precisam conhecer Seu amor. No pessoas que não pertencem à nossa fé. Cristo
Céu sua aptidão como obreiros é medida por é perfeito e nosso único exemplo. Não pode-
sua habilidade em amar como Cristo amou e mos imediatamente igualar êste perfeito Modê-
trabalhar como Êle trabalhou.” lo em tudo, mas não seremos aprovados por
Como ministros, penso que é bom relermos Deus se O não imitarmos e, de conformidade
de vez em quando os votos de nossa ordena­ com a capacidade que Deus nos deu, não nos
ção, para que não percamos de vista quem so- assemelharmos com Ele.
mos. Somos ministros e obreiros de uma gran- Unidade com Cristo, reforçada por uma vida
de pretensão. dirigida por Cristo, não apenas desenvolve vi­
“Cristo crucificado, Cristo ressurgido, Cristo das e pregação poderosas, mas também a uni-
assunto aos Céus, Cristo vindo outra vez, de- dade duns para com os outros. O único lu-
ve abrandar, alegrar e encher o espírito do mi­ gar em que se pode buscar a unidade é ao pé
nistro, por tal forma, que êle apresente estas da cruz. Só poderá ser obtida pela experiência
verdades ao povo em amor, e profundo zêlo. O pessoal da confirmação e da demonstração na
ministro desaparecerá então, e Jesus será reve­ vida.
lado.” — Obreiros Evangélicos, pág. 159. “Necessita-se uma reforma ou despertamen­
to entre o povo, mas primeiramente deve co-
Quando nós, ministros e obreiros, combinar­
meçar com uma obra de purificação entre os
mos nossa afirmação, confissão e convicção com
ministros”. — Testimonies, Vol. 9, pág. 469.
uma tremenda obrigação moral na vida, tere­
mos então um poder irresistível. “Se os cristãos agissem de comum acordo,
avançando como um só homem, sob a direção
Não pensais vós que chegou o tempo para de um único Poder, para a realização de um
o ministério A.S.D. e a operante fôrça leiga só escopo, êles abalariam o mundo.” — Test. Se­
se tornarem tão imbuídos da comunhão com letos, (Edição Mundial), Vol. 3, pág. 343.
Cristo, a ponto de os homens pararem, escuta­
A segunda asseveração é: Grandes profis­
rem e seguirem seu exemplo? Não deveria o
ministério, juntamente com os dirigentes das sões envolvem grandes obrigações. Isto nos le-
igrejas, ocupar o exato lugar no púlpito e na va às penetrantes perguntas desta manhã: Qual
igreja, e desafiar, atrair e dirigir o pensamen- é o nosso dever presente? Estamos cumprin­
to do povo dêste movimento, em vez de per­ do-o? Ou descansamos nos lauréis de passadas
mitir que a liderança e orientação passem pa- realizações?
ra movimentos separados e irmãos descontentes, Permiti-me chamar-vos a atenção para êste
que se encontram em confusão e discordância? verso das Escrituras: ... (Jonas 1:2).
Um dos maiores perigos do Movimento Ad- Ao eu hoje considerar nossa tarefa e obri­
ventista tem sido o da divisão. Sem credo, mas gação, lembro-me de duas declarações da Sra.
com homens e mulheres ávidos para aprender White, a primeira delas feita em 1900, quan­
do disse:
a verdade, fàcilmente poderão surgir diferenças
“Caso houvesse sido executado o propósito
de opinião em doutrinas. Com o desejo e en­ divino de transmitir ao mundo a mensagem da
tusiasmo de espalhar a mensagem evangélica, misericórdia, Cristo já teria vindo à Terra e os
podem desenvolver-se diferentes idéias quanto santos teriam recebido as boas-vindas na cida-
à melhor maneira de proceder. de de Deus.” —Test. Seletos, (Edição Mun­
Não nos esqueçamos, porém, de que “somos dial), Vol. 3, pág. 72.
Página 14 O Ministério Adventista
Em 1903, ela novamente esclareceu êste pen- mesquinhas senhoras idosas que nos apertam a
samento, nestas palavras: mão, ao saírem da igreja, e efusivamente nos
“Sei que, se o povo de Deus houvesse man­ declaram que aquêle foi o mais admirável ser-
tido viva ligação com Êle, se Lhe houvessem mão do mundo. Não o creiamos — é apenas
obedecido à Palavra, estariam hoje na Canaã bajulação! A outra classe em que não pode-
celestial.” — Evangelismo, pág. 694. mos confiar é a dos “irmãos visitantes”, que
chegam e nos dizem: “Esta é a mais notável
Nossa experiência tem sido idêntica à do sol­
corporação de obreiros da igreja, no mundo”.
dado que não estava no pôsto indicado duran­
te o ardor da batalha. Depois que a peleja pas­
Se somos tentados a acreditar nas idosas senho­
sara, foi encontrado entretendo-se num jardim ras da porta ou nos irmãos visitantes, preste­
mos atenção a isto como um exemplo.
de flôres. — Eu não estava causando nenhum
dano, disse. Sim, não estava causando nenhum Numa associação, não direi onde, a igreja de
dano, mas tampouco lutara onde deveria estar. maior crescimento, num período de dez anos,
acusou um ganho líquido de 2,9 almas por ano;
Temos sido, como um grupo de obreiros, com
e, daí, os relatórios das outras igrejas vão de-
o atual desafio para evangelizar, culpados de
crescendo até o ponto de muitos dêles regista­
semelhante negligência? Talvez uma de nos-
rem a perda líquida duma alma por ano. Pen­
sas maiores faltas seja a de nossa santificada
indiferença. Falamos de Cristo, mas recuamos so que isto deveria ser motivo para solicitude
e verdadeiro exame do íntimo.
da tarefa dinâmica de Lhe cumprir a incum­
bência. É mais fácil ocuparmo-nos com a par- De vez em quando declaramos que no pró­
te mecânica dos projetos, com a organização e ximo ano esperamos progredir no evangelismo.
com os membros atualmente no rol da igreja Tal afirmativa é idêntica à duma emprêsa de
— embora sejam importantes e necessários — do estrada de ferro ou de avião que proclama que
que destemidamente prosseguir com a evange­ irá incrementar os transportes. A ocupação du­
lização dos milhões em nosso redor. ma companhia de estrada de ferro ou de avião
é transportar, e o dever da igreja é evangeli-
O mundo precisa ser advertido, e, para rea­ zar. É a principal ocupação de Deus para Sua
lizar isto, devemos utilizar tôdas as fôrças da igreja em todo e qualquer tempo.
igreja. O trabalho à nossa frente, como minis-
tros e obreiros leigos, foi muito bem resumido, A igreja começou com um grupo de crentes
nas palavras escritas em 1895, por Ellen G. no Senhor, cheios do Espírito. Depois veio a
White: organização. O simples se tomou complexo, e,
destarte, se desenvolveu uma ampla organiza-
“Repousa sôbre nós a pesada responsabili- ção que se tornou um fim em si mesma. Ten-
dade de advertir o mundo quanto ao juízo imi­ de a ocupar-se tanto com a movimentação de
nente. De tôdas as direções, de longe e de per­ suas próprias engrenagens, que pode ser com­
to, ouvem-se os pedidos de auxílio. A igreja, parada ao poço de petróleo que o não exporta,
inteiramente consagrada ao seu trabalho, deve devido a empregá-lo todo na lubrificação do
levar a mensagem ao mundo . . . Um mun- próprio maquinário. Os movimentos religosos
do, a perecer no pecado, deve ser iluminado. geralmente são pequenos no início, daí passam
A pérola perdida deve ser achada. A ovelha por sucessivas etapas de desenvolvimento e or­
perdida deve ser conduzida de volta, em segu­ ganização, e acabam sendo monumentos, a não
rança, para o curral.”—Evangelismo, pág. 16. ser que se tomem precauções.
O caminho mais fácil é cuidar do que já te- Inclinamo-nos a dissipar as energias em ques-
mos. Mas não permitamos que os relevantes tões secundárias. Colocamos tantas barras de
detalhes de cuidar da igreja nos levem à ina­ ferro ao fogo, que nenhuma se abrasa. Não
tividade em nosso real propósito — transmitir o precisamos apenas de consagração, mas de con-
evangelho ao mundo. sagração a nosso maior dever. Ouvimos do fa-
Há associações e missões que se salientam roleiro que recebeu certa quantidade de óleo,
na recolta; têm uma média elevada de donati­ para conservar o farol brilhando. Com boas in­
vos para as missões, mas não estão crescendo. tenções, porém, emprestou parte do mesmo a
Ora, a recolta, os donativos para as missões e um pescador, para ser usado no barco; deu ou­
outras atividades são muito bons, mas devemos tra a um aldeão, a fim de utilizá-la na ilumi­
ganhar novas almas. As igrejas prosseguem em
nação. Assim gastou o óleo, aqui e ali. De noi-
sua maneira habitual, enquanto almas se des­
viam; batizam crianças para contrabalançar is­ te ergueu-se violenta tempestade, navios se afun­
so, e parecem estar contentes e satisfeitas com daram e vidas se perderam, porque o óleo aca­
essa situação. bara e os refletores deixaram de iluminar.
Freqüentemente nós, os ministros e oficiais A crise desta hora nunca será defrontada com
responsáveis da igreja, somos acalentados por pequenas e hábeis palestras sôbre acontecimen­
duas classes de pessoas, nas quais faríamos bem tos em curso e por vendas de “Dorcas” no po-
em não confiar. São os bajuladores. São as (Continua na pág. 18)
Julho-Agôsto, 1963 PÁGINA 15
Um Batismo Para Glória de Deus

EDUARDO TORREBLANCA
Pastor-Evangelista na Associação Central do Norte do Chile
“Dè-se ao ato (do batismo) tôda a importância e soleni­
dade que êle comporta. Essa cerimônia é sempre assinalada
pela presença de anjos de Deus.” — Evangelismo, pág. 313.

ERAM quatro horas da tarde do sábado 3 de nação de intensa espiritualidade inundava o lu-
novembro de 1962, quando, atraída pela gar enquanto que, com passos lentos, os mi-
nova de que se efetuaria um batismo da Igreja nistros oficiantes, uniformemente vestidos de
Adventista do Sétimo Dia na piscina do Está­ preto, desciam as escadarias da piscina, dois a
dio Militar, uma multidão de aproximadamen­ dois, para colocarem-se no ponto indicado. O
te três mil pessoas, se reuniu neste recinto, pa- pastor Fayard pediu a Bênção do Céu sôbre o
ra presenciar o solene rito a realizar-se. Rodea­ ato a ser realizado. Em seguida começou o ba­
do de árvores exuberantes e perfumadas flores, tismo pròpriamente dito, e no profundo silên­
o imenso espelho das águas tranqüilas refletia cio reinante se ouviam as palavras de bênção
a imponente turba. Tudo convidava ao reco­ para os candidatos, pronunciadas alternadamen-
lhimento e à meditação nas coisas elevadas da te pelo pastor Carlos Ayala e pelo signatário,
vida, fazendo lembrar os tempos em que, nos após as quais oito pessoas eram submergidas si­
campos da Judéia, os homens se aglomeravam multaneamente, de maneira digna e decorosa,
em busca da bênção que Jesus lhes podia co- nas cristalinas águas, a fim de ressurgir para
municar. uma nova e gloriosa experiência.
Não houve no ato uma única nota discor­ A parte musical desta ocorrência merece ser
dante. Tudo havia sido previsto e preparado destacada. A atuação do côro das igrejas de
com antecedência pelo corpo de pastôres ofi­ Santiago, em número de mais de cinco vozes
ciantes, sob a orientação do pastor Enoque de rigorosamente disciplinadas, sob a regência do
Oliveira, diretor da Associação Ministerial da maestro Werner Arias, deu uma nota de gran­
Divisão Sul-Americana, em colaboração com diosidade ao programa e nos fêz sentir no ín­
o pastor José Torres, presidente da Associação timo que, cantando os cânticos de Sião, se de­
Central do Norte do Chile. As pessoas que to­ simpede o caminho de abrolhos, na marcha pa-
maram parte no programa, fizeram-no sem ne- ra a Pátria Celestial.
cessidade de qualquer anúncio, porque todos sa­
biam quando e como deviam desempenhar suas
No final desta impressiva cerimônia, e en-
partes, para conseguir que a cerimônia cons­ quanto os recém-batizados trocavam de roupa,
tituísse uma mensagem de verdade para os pre­ o pastor Juan Tabuenca, professor de teologia
sentes e uma honra para a causa de Deus. no Colégio Adventista do Chile, com a palavra
Após um programa inspirador de música co­ fluente e saturada do espírito do evangelho, fêz
ral, o pastor Enoque de Oliveira tomou a pa­ sentir no recinto o chamado de Deus aos ho-
lavra e com pinceladas magistrais desenhou o mens, para que se convençam de que só Ele
quadro do plano da salvação e realçou o glo­ é amor.
rioso significado do batismo cristão, cujos de­ Ao nos retirarmos daquele aprazível local,
talhes teríamos o privilégio de presenciar.
sentimos gratidão para com Deus, devido a ain-
Os pastôres Samuel Fayard, José Torres, Ru­ da manifestar Sua misericórdia à humanidade,
bens Perevra, Erwin Wandersleben, Carlos Bus-
e refletimos profundamente, manifestando o
so, Carlos Avala, Omer Fonseca e o autor des­
tas linhas administraram o sagrado rito às cen­ propósito de sermos mais fiéis no desempenho
to e dezoito pessoas que, constrangidas pelo amor de nossa parte na terminação da tarefa ainda
de Cristo, renunciavam ao mundo. Uma ema­ por fazer.
Página 16 O Ministério Adventista
OBRA PASTORAL

A Espôsa do Ministro
Visitando e Evangelizando
NAJLA D. BECHARA
Espôsa do pastor Assad Bechara — Associação Paulista

gelística, não reclamar de sua ausência ou fal-


ÀS vêzes como esposas de mi- ta de atenção. Nosso eu deve esconder-se atrás
nistro pensamos que tão sò­ da cruz de Cristo e dos milhares de perdidos.
mente bastarão a realização dos Qualquer queixume poderia influir naquele que
trabalhos domésticos, o esmero batalha contra as hostes malignas. Devemos
pela educação dos filhos e o contentar-nos também com a nova transferên­
preenchimento das minúcias do cia e com o nôvo clima. Concordar alegremen­
lar. Maiores responsabilidades te com êle para enfrentarmos juntos, novos rep-
repousam sôbre nossos ombros. tos e tarefas.
Acima de donas-de-casa, mãe Em segundo lugar, mediante nosso interêsse
dos nossos filhos, espôsas do nosso companhei­ em seu trabalho, ouvindo-o atentamente, vi­
ro, somos servas de Deus, do Deus que nos brando com suas experiências e sentindo com
privilegiou ligando-nos a êste homem, o homem êle o impacto da luta. Disse o expoente evan­
de Deus, o procurador das almas; e com êle gelista Roy Allan Anderson: “Nada é mais im-
devemos ser procuradoras de almas. portante para um ministro do que saber que
Como Rute disse a Noemi, dizemos: Teu sua espôsa está com êle, não sòmente na bata­
povo será meu povo, teu Deus será meu Deus, lha da vida e nas responsabilidades do lar, mas
teu trabalho será o meu trabalho. Devemos também nas desafiantes e delicadas experiências
compartilhar com o ministro, nosso espôso, a que fazem seu ministério.”
mesma paixão pelas almas, a mesma sêde por Focalizemos agora algumas maneiras diretas
evangelizar; orar e trabalhar com êle pelo per­ de fazermos evangelismo:
dido, pelo infeliz, pelo aflito, pelo indeciso e Em primeiro lugar, acompanhando o espôso
pelo tentado. às visitas missionárias e estudos bíblicos. Isso,
“Repousa sôbre a mulher do ministro uma princípalmente, quando o chefe da família es-
responsabilidade a que ela não deve, nem po- tá freqüentemente ausente, ou se êle é ciumen­
de levianamente eximir-se. Deus há de reque­ to. Devemos lembrar-nos, entretanto, que quan­
rer dela o talento que lhe foi emprestado, com do nosso espôso nos chamar para tais visitas,
usura. Cumpre-lhe trabalhar fiel e zelosamen­ devemos nos aprontar rapidamente, evitando que
te, em conjunto com o marido, para salvar al- êle perca seus preciosos minutos.
mas.” — Evangelismo, pág. 674. Em segundo lugar, quando a situação exigir
“A espôsa de um ministro pode fazer mui- deve ela ser capaz de ministrar estudos bíbli-
to, se quer. Se fôr dotada de espírito de sa­ cos. Por exemplo, ao descobrir interêssse nu-
crifício, e tiver amor pelas almas, poderá fa- ma vizinha, ao se deparar com uma jovem in­
zer com êle outro tanto de bem . . . pode com- decisa. Ter sempre os olhos abertos para as
preender e tratar, especialmente entre as irmãs, oportunidades de evangelizar e ter no coração
de certos casos que se acham fora do alcance a chama abrasadora da verdade.
do ministro". — Idem, pág. 675. Terceiro, ela poderá fazer uso de um peque­
Indiretamente muito podemos contribuir, pa- no projetor e exibir quadros evangelísticos ao
ra a consecução do evangelismo: seu círculo de amizades.
Primeiro, através do nosso contentamento. Poderá incentivar visitas a hospitais e outras
Quando o espôso enceta nova campanha evan­ instituições.
Julho Agôsto, .1963 Página 17
No quinto ponto, queremos ressaltar a cor­ programa musical. Deverá ser iniciado pelo me-
tesia. A espôsa do pastor deverá ser cordial e nos uma hora antes do sermão. Esta é, sem
amigável para com as visitas que comparecem exceção, a noite de maior assistência de tôda
ao sermão evangelístico de domingo ou a outras a série. Constitue uma ótima noite para deci-
assembléias. Lembremo-nos que “a bondade já sões. Também provê uma excelente oportuni-
converteu mais pecadores que o zêlo, a eloqüên­ dade para recolher uma vultosa oferta de gra­
cia e a instrução.” Quantos estão desesperados, tidão.
entre a ruína e a morte, apenas esperando um Em oposição à prática aceita, descobri que a
olhar de simpatia, uma simples palavra aten­ canção principal se usa com muita vantagem
ciosa, um cumprimento, talvez. no encerramento da reunião. Com as melodias
Enquanto nosso espôso está ocupado nos úl­ do “Quero o Salvador Comigo” ou “Volve Teus
timos preparativos para o sermão, podemos es- Olhos a Cristo” ressoando-lhes na mente, ao
tar presentes alguns minutos antes para recep­ se retirarem da reunião, as pessoas terão cer­
cionar os visitantes, ou ajudá-los a encontrar teza da bênção divina, ao decidirem seguir a
passagens, quando houver classe bíblica. recém-encontrada verdade.
Nas séries de conferências a espôsa é tão in­ O programa termina com as palavras do can-
dispensável quanto na igreja. Colherá novos en­ tor-evangelista: “E agora, até amanhã. Boa
dereços com tato e habilidade. Abrirá contatos Noite! Deus vos abençoe!” O piano ou órgão
para estudos bíblicos. continua tocando a canção principal ou um
número conhecido, como “Fé De Nossos Pais”,
Êsses são trabalhos que a espôsa do ministro,
à medida que o povo se retira.
nesta época trepidante de super-ocupações po-
de fazer, pois a maioria dêles são perfeitamen­ Estas são algumas idéias que tenho usado.
te realizáveis nas horas das reuniões. Há muito mais que podemos aprender uns dos
outros. Troquemos sugestões através da revis-
Quanto à falta de tempo de que sempre nos
ta O Ministério Adventista e aprendamos a ser
queixamos, diz o Espírito de Profecia: “A mu- melhores cantores-evangelistas!
lher, caso aproveite sàbiamente o tempo e suas
faculdades, descansando em Deus quanto à sa­
bedoria e à força, pode ombrear com seu ma­
rido como conselheira, companheira e coobrei­ Nossa Afirmação . . .
ra, sem todavia nada perder de sua graça femi­
nil e modéstia.” — Evangelismo, pág. 467. (Continuação da pág. 15)
Finalmente, “se alguém tem falta de sabedo-
ria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmen­
rão da igreja. Como seremos egoístas, se nos
te.”
abarrotarmos com a verdade do evangelho en-
Levemos essa promessa ao Trono da mise- quanto há multidões que nunca a ouviram!
ricórdia e veremos seu cumprimento fecundo em Quando os discípulos passaram os pães e os pei­
nossas vidas. Peçamos ao Senhor maior espí­ xes aos milhares, não alimentaram apenas a fi­
rito missionário, mais ampla visão de nossos de­ leira da frente, mas foram até os últimos ho-
veres e que isto se traduza numa vida plena mens da fileira de trás. Não podemos aglome­
de utilidade e consagração. E naquele dia, o rar-nos em volta de brasas nas sociedades de
dia final, o dia das recompensas, nossos ouvi- congratulação e detrás de toneladas de concreto
dos escutarão as mais doces palavras ditas a e montões de papel.
mortais: “BEM ESTÁ”.
Nossa elevada profissão envolve a grande
Que esta seja a sorte de tôdas aquelas que obrigação de ganhar almas. Os ministros, an-
levam o título: “A ESPÔSA DO PASTOR” — tes de mais nada, devem ser ganhadores de al-
Amém. mas, “buscar e salvar o que se tinha perdido”,
como fêz o divino Mestre.
“Os ministros de Deus devem chegar a uma
íntima privança com Cristo, e seguir Seus exem­
Cantando “com o . . . plos em tôdas as coisas . . . Ganhar almas pa-
(Continuação da pág. 12)
ra o reino de Deus precisa ser sua primeira
preocupação. Com tristeza pelo pecado, e pa­
um número. Cante-se uma estrofe de cada hi­ ciente amor, devem trabalhar como Cristo o fa­
no, o que possibilitará a entoação de muitos zia, desenvolvendo decidido e pertinaz esfôrço.”
hinos prediletos. — Obreiros Evangélicos, pág. 31.
4. A Recapitulação da Noite Final. — Na úl­ Queira Deus despertar-nos da comodidade e
tima noite do esfôrço evangelístico, os melho- da inquietação com uma multidão de pequenas
res números de tôdas as apresentações musi­ coisas, até que deixemos de engrandecer o in-
cais são selecionados, e disto resulta um bom (Contlnua na pág. 23)
PÁGINA 18 O Ministério Adventista
EVANGELISMO DA SAÚDE

Novas Fronteiras
no Evangelismo Médico
E. J. FOLKENBERG
Secretário da Associação Ministerial na União Atlântica

UMA ocasião no passado, deci- compreender a incumbência que confiou aos


di que era tempo de averi­ discípulos e a nós?” — Medicai Ministry, pág.
guar sinceramente se meu traba- 246. Ou ainda: “Ministros, não restrinjais o
lho pelas almas correspondia ou vosso trabalho a dar estudos bíblicos. Fazei
não ao escopo que me fôra de­ trabalho prático. Procurai restaurar os doentes
signado pelo Céu; assim apliquei- à saúde. Isto é autêntico ministério. Lembrai-
me a examinar mais detalhada­ vos de que a restauração do corpo prepara o
mente os métodos de trabalho de caminho para a restauração da alma.” — Idem,
Cristo, quando Se encontrava na pág. 240. Notai ainda a impressionante sen­
Terra. Não levou muito tempo para que so­ tença: “Nenhuma linha deve ser traçada en-
fresse a perda definitiva de vários conceitos de tre a genuína obra médico-missionária e o mi-
trabalho ministerial, e penetrasse num intensi­ nistério evangélico. Êstes dois devem misturar-
vo programa de experimentação, o ano passa­ se. Não devem ser separados como linhas dis­
do, que abriu novas fronteiras de atividade bem tintas de trabalho. Devem ser ligados numa
à minha frente. Embora seja um tanto espeta- união inseparável, assim como a mão está li­
culoso comparar acontecimentos do ano passa­ gada ao corpo.” — Idem, pág. 250. Examine­
do com a experiência do apóstolo Paulo na es- mos ainda mais uma declaração que parece ilu­
trada de Damasco, certos aspectos bem podem minar o âmago dêste importante assunto: “A
ser comparados a uma manifestação repentina união da obra idêntica à de Cristo em favor do
de luz, um cair de joelhos, além de uma no­ corpo, com a obra idêntica à de Cristo em fa-
ção mais ampla do trabalho ministerial. vor da alma, é a verdadeira interpretação do
Para servir de base a esta exposição, detenha- evangelho.” — Welfare Ministry, pág. 33. Is­
mo-nos um pouco para repassar diversas cita­ to nos leva ao seguinte conselho: “Devemos
ções vitais, que despertaram uma sensacional sé­ agora unir-nos e pela verdadeira obra médico-
rie de experimentos médico-missionários, nesta missionária preparar o caminho para a vinda de
União Atlântica. Afirmou a serva do Senhor: nosso Rei.” — Testimonies, Vol. 8, pág. 212.
“Percebo que na providência de Deus a obra Nestas, e em numerosas citações semelhantes,
médico-missionária é uma notável cunha de en- o suposto médico-missionário descobre uma apa-
trada, por meio da qual a alma enfêrma po- rente brecha, freqüentemente separando a teo-
derá ser alcançada.” — Counsels on Health, pág. ria da obra médico-missionária de sua capaci-
535. Agora leiamos com reflexão a seguinte e dade de realmente exprimir essa teoria na prá-
surpreendente frase: “Quão vagarosos são os tica. No entanto, tomemos em consideração as
homens em compreender a preparação de Deus palavras proféticas, que nos inspirarão com re-
para o dia de Seu poder! Deus hoje trabalha novada coragem e com a preparação pessoal pa-
da mesma maneira para alcançar corações, co- ra o dia em que “veremos a obra médico-mis­
mo fazia quando Cristo estava sôbre a Terra. sionária alargar-se e aprofundar-se em cada se­
Lendo a Palavra de Deus, vemos que Cristo tor de seu desenvolvimento, devido à afluên­
introduziu a obra médico-missionária cm Seu cia de centenas e milhares de caudais, até que
ministério. Não podemos abrir os olhos para tôda a terra esteja coberta como as águas co­
discernir os métodos de Cristo? Não podemos brem o mar.” — Medical Ministry, pág. 317.
Julho-Agôsto, 1963 PÁGINA 19
Ninguém negará que o nosso trabalho mun­ rebro, desta maneira capacitando Adão para ado­
dial, através dos sanatórios e hospitais, eviden­ rar o Criador. Por conseguinte, fomos criados
temente cumpra uma grande parte da profecia para o tríplice desígnio de desenvolver o físico,
acima mencionada. No entanto, se pararmos aí, o mental e o espiritual. A fim de realizar, pois,
ignoraremos os mais extensos planos do Céu um equilibrado trabalho ministerial em favor
da participação de todo ministro e membro na do homem como um todo, não nos devemos li­
genuína obra médico-missionária, como foi re­ mitar à sua restauração mental e espiritual, tra­
velado nas seguintes e inspiradas palavras: balhando apenas parcialmente pela sua recupe­
“Atingimos um tempo em que todo membro da ração física. Se negligenciarmos o físico, o Céu
igreja deveria lançar mão da obra médico-mis­ comparará nosso trabalho a um tripé um tan-
sionária.” — Test. Seletos (Edição Mundial), to deformado, com uma escora bem mais cur­
Vol. 3, pág. 102. Admitamos francamente que ta que as outras duas, e inclinado para um la-
tão claras declarações, em vista das populações do, se é que poderá ficar em pé. Prestemos,
civilizadas de hoje viverem dentro do alcance portanto, atenção para estas inspiradas palavras:
do telefone do mais adiantado tratamento mé­ “Cristo permanece à nossa frente como o Ho-
dico, e rigorosas leis restringirem as atividades mem-modêlo, o grande Médico-Missionário —
médicas da parte dos leigos, à primeira vista um exemplo para todos os que viriam depois.”
quase parecem impossíveis de serem postas em — Medical Ministry, pág. 20. Então segue uma
prática. Por outro lado, antes que êstes pará­ quase clamorosa e suplicante pergunta: “Aca­
grafos sejam concluídos, descobriremos u’a ma- so realizarão os homens e as mulheres, algum
neira de realizar trabalho médico-missionário, dia, uma obra que tenha as feições e o cará-
por meio dum plano que o Dr. J. Wayne ter do grande Médico-Missionário?” — Ibidem.
McFarland e eu estivemos testando calmamen­ Devido à graça de Deus sempre ser transfor-
te, través de programas orientadores na União mante e eficaz, a instrução ministerial sôbre o
Atlântica, há mais de um ano. divino evangelho da graça deve simultâneamen­
Antes de tudo, porém, haverá pouco provei­ te abranger um compreensivo programa de edu­
to em discutir os princípios médico-missionários cação em favor das faculdades físicas, mentais
do ponto de vista ministerial, sem compreender- e espirituais do homem, que se processará me-
mos bem que no Éden o homem originalmen­ lhor na ordem acima mencionada.
te caíu pela investida de Satanás contra a sua Nós, adventistas, desenvolvemos uma consi­
natureza física, mental e espiritual. Havendo derável habilidade para pregar a natureza obri­
iniciado um bem sucedido ataque à natureza gatória dos Dez Mandamentos, com especiali­
física daquele, Satanás prosseguiu até lograr dade do quarto mandamento. No entanto, gos­
romper a ligação espiritual do homem com taria de saber se já percebemos que no sexto
Deus. Pela razão de o mesmo cair nos três ní­ mandamento — Não matarás — reside o próprio
veis citados, não se torna imediatamente evi­ âmago do princípio da verdadeira obra médico-
dente que os verdadeiros esforços ministeriais missionária. Temos, então, moralmente, o sa-
para salvar o homem todo, devem ser despen­ grado dever de declarar que todo o hábito fí-
didos na recuperação de sua natureza física, sico que prepara o terreno para futuras doen-
mental e espiritual, para que Deus dêles Se ças e uma possível morte prematura, constitui
possa agradar? uma grave violação do claro mandamento de
A desolada e satânica filosofia pagã: “Co­ Deus — Não Matarás.
mamos e bebamos, porque amanhã morreremos”, Observando o fluxo e refluxo da multidão,
com tôdas as suas perniciosas conseqüências his­ na esquina duma rua de Nova York, pensei
tóricas, difundiu-se mais do que se possa ima­ comigo mesmo: — Como posso fazer de nossa
ginar, até mesmo no pensamento religioso da mensagem de saúde uma cunha de entrada pa-
atualidade. Após uma recente palestra sôbre
ra êstes corações? Depois de muito meditar sô­
saúde, apresentada pelo Dr. McFarland à asso­
ciação ministerial duma cidade, um eminente bre o fato de que Deus nos concedeu um sis-
clérico declarou: “Nós, os ministros, por mui- tema superior de vida, destinado a reformar os
to tempo acreditámos que a mente e a alma costumes de vida do mundo, achei que a úni­
eram os mais importantes elementos do homem, ca maneira viável seria pesquizar o livro The
religiosamente falando, por isto dedicámos pou­ Ministry of Healing e adaptar seus eternos prin-
ca atenção à sua natureza física.” Para evitar cípios para o tempo atual. Então, numa reu­
nião em que se planejou a propaganda para
êste conceito errôneo, Jesus, o grande Médico-
uma série de palestras sôbre a saúde em geral,
Missionário, geralmente atendia em primeiro lu- surgiu inesperadamente esta audaciosa idéia: —
gar o corpo, antes de procurar alcançar o cora- Por que não cobrar a entrada do programa, eli­
ção humano. Certamente Jesus sabia o que es- minando assim a necessidade de se retirar uma
tava fazendo quando Se inclinou ao pó e for­ oferta? Conseqüentemente, nosso anúncio no
mou um corpo físico como habitação para o cé- New York Times declarava que os assentos re­
Página 20 O Ministério Adventista
servados custariam um dólar e vinte e cinco o que muitas vêzes me pareceu ser mais efi-
centavos, cada um. Para surpresa minha, o te­ ciente do que apenas a palestra de quinze mi-
lefone tocou constantemente por vários dias, ter­ nutos sôbre saúde, por parte dum médico. Os
minando por ficar o nosso salão repleto com 800 assistentes se impressionam ao verem ministros
dos mais atenciosos ouvintes que se possam ima­ e médicos visivelmente associados, e em estrei­
ginar, todos êles resolvidos a obter o máximo ta cooperação. Outros pastôres, não tendo al-
de seu dinheiro. Animados com isto, continua­ gum médico dedicado para ajudá-los, introdu­
mos com o plano de vender ingressos para os ziram nas reuniões noturnas a série de filmes
vinte programas adicionais sôbre saúde, obten­ do Dr. Clifford Anderson sôbre assuntos médi­
do uma assistência bem maior do que a de ou- cos, acompanhada da respectiva narração em fi­
tras reuniões gratuitas que versavam apenas sô­ ta. Algumas noites uma enfermeira local vi­
bre religião. Evidentemente, embora êste mé­ nha demonstrar certos tratamentos caseiros, an­
todo apenas possa ser usado sob determinadas te uma fascinada assistência. Que estava acon­
condições e com muita cautela, depois daquele tecendo? Êstes ministros simplesmente utiliza­
sucesso inicial, eu não necessitava provas adi­ ram alguns princípios básicos da obra médico-
cionais de que bons princípios de saúde real- missionária, obtendo um conhecimento essencial
mente se possam tornar uma poderosa cunha para futuras realizações.
de entrada. Mas compreendi que sòmente to­ Certa vez, uma afirmação extraordinária co­
cara na superfície do plano de Deus para al­ moveu-me intensamente. Ei-la: Um nôvo ele-
cançar os corações. Para os colegas de minis- mento deve ser introduzido na obra. O povo
tério que desejam desenvolver uma filosofia de Deus deve atender à advertência, e trabalhar
mais cabal sôbre o evangelismo médico-missio­ pelas almas exatamente onde elas se encontram;
nário, muito recomendo um cuidadoso estudo pois as pessoas não compreendem sua necessi­
de uma compilação de 47 páginas, intitulada: dade e perigo.” — Idem, pág. 319.
A Call to Medicai Evangelism and Health Edu­ Muitas vêzes refleti na pergunta: — Que “nô­
cation, com um incentivo prefácio do Depar­ vo elemento” é êste, que deverei introduzir em
tamento Médico da Associação Geral, e edita­ meu trabalho? Esta pergunta não deve ser con­
da pela Associação Publicadora do Sul. Le­ siderada levianamente. Por muito tempo senti
mos na página oito: “O evangelho da saúde um persistente descontentamento devido a sò­
deve estar intimamente relacionado com o mi- mente pregar para as pessoas e visitá-las do pon-
nistério da palavra.” (Citação tirada do Medi­ to de vista intelectual e espiritual, sabendo mui-
cai Ministry, pág. 259). Agora vem a inevitá­
to bem que suas mentes freqüentemente esta­
vel pergunta: — Está o meu ministério intima­
vam tão obscurecidas por errôneos hábitos de
mente relacionado com a obra médico-missio­ vida, que eram incapazes de se apoderarem
nária? completamente dos grandes temas do dever e
Por mais de um ano, tem-me sido um pri­ do destino. Outrossim, na citação anterior so-
vilégio empreender nesta União Atlântica, com mos admoestados como um povo a “trabalhar
a cooperação do Dr. McFarland, uma série de
pelas almas exatamente onde elas se encontram.”
ponderadas experiências médico-missionárias.
Como incentivo, observei o Dr. H. W. Vollmer Com certeza, isto sugere uma tentativa de ele­
e senhora, nas aulas de nutrição por êles rea­ var a humanidade, começando com um plano
lizadas através desta União, adestrando as es- que a ajude a se libertar dos escravizantes há­
bitos, pelos quais tem estado ligada a Satanás.
pôsas dos ministros na arte de fazer demons­
trações culinárias. Era emocionante ver uma jo­ Naturalmente, deve haver algo com que ini­
vem senhora, assim preparada, subir à platafor­ ciar êste trabalho, que também deverá ser do
ma por trinta minutos, antes do sermão evan­ interêsse daquêles que se deseja ajudar. Evi­
gelístico do marido, e primorosamente preparar dentemente, a pessoa mediana não sente a cons­
um saudável alimento. Seu marido modesta­ trangedora necessidade de mudar seus pontos
mente declarou: — Êles vêm para vê-la cozinhar de vista sôbre o milênio ou o estado dos mor-
e permanecem para me ouvir pregar. Em par- tos, mas milhares de pessoas pensantes se preo­
te êle está certo. Êstes dois jovens obreiros es- cupam com o fumo e a saúde em geral. Acaso
tão apenas demonstrando a grandiosidade do é esta a chave para uma nova fronteira na obra
evangelismo da saúde. Abertamente nos foi de­ médico-missionária? Como um povo, estamos
clarado que as aulas de nutrição devem acom­ há décadas proclamando os perigos do fumo e
panhar cada esfôrço evangelístico, empregando ajudando as pessoas a deixá-lo. Por conseguin­
dêste modo o plano do Céu na salvação do ho- te, do ponto de vista histórico e de saúde, aca­
mem todo. so não somos nós o povo certo para apresentar
No ano passado, observei ministros iniciarem ao mundo, com exatidão, como quebrar êste há-
séries de conferências, levando médicos locais bito aviltante?
à plataforma, e ombro a ombro prosseguirem Surgiu o seguinte pensamento: “Aquêles que
numa série de questões arranjadas de antemão, procuramos ajudar geralmente são induzidos
Julho-Agôsto, 1963 Página 21
por sentimentos religiosos a combater o fumo, fiança na idéia básica do plano e instar com o
e o homem comum da rua não o é.” De al­ Dr. McFarland e comigo para inicarmos um
guma maneira veio-nos uma convicção recor­ programa de experimentação em larga escala,
rente de que se empregássemos vários métodos foi-nos uma animação. Depois de passarmos
já usados durante anos, com muito êxito, por quase um ano realizando diversas tentativas, en­
ministros e médicos desta denominação, poder- contramo-nos relacionados com um emocionan­
se-ia inventar um plano capaz de fazer gran- te programa de imensas possibilidades, em que
des grupos de pessoas quebrarem o hábito de êste contato faz mais do que apenas abrir por­
tas diante de nós. Quando bem efetuado, ês­
fumar, mesmo que não fossem impulsionadas te plano figuradamente como que remove aque­
por convicções religiosas. las portas pelos gonzos. Conhecido como “O
Neste primeiro período de experimentação, Método de Deixar de Fumar em Cinco Dias”,
o fato de o Pastor W. J. Hackett, presidente êste projeto será detalhadamente descrito em
da União Atlântica, demonstrar inabalável con- outro artigo.

Os Adventistas do Sétimo Dia Respondem a

PERGUNTAS SÔBRE DOUTRINA


A Observância do Sábado
Um Critério Válido
(Original em Inglês, págs. 177 e 178)
Pergunta 17

Crêem os adventistas do sétimo dia que o sá- não vos apanhem” (Versículo 35). “Repara,
bado é o único critério válido para determinar pois, que a luz que há em ti não sejam tre­
completa obediência à lei de Deus, ou pode al- vas. Se, portanto, todo o teu corpo fôr lumi­
guém que adorar sinceramente no domingo, mas noso, sem ter qualquer parte em trevas, será
deixar de guardar o sábado, ser ainda conside­
todo resplandecente como a candeia quando te
rado um fiel e obediente cristão?
ilumina em plena luz” (S. Lucas 11:35 e 36).
Os adventistas do sétimo dia não podem ler No que se refere à pergunta em si mesma,
os corações, nem o fazem; isto é prerrogativa deveria ser notado que:
Quando, porém, a observância do domingo fôr imposta
de Deus. Cremos na luz progressiva. O tem- por lei, e o mundo fôr esclarecido relativamente à obriga­
po, as circunstâncias, o conhecimento, a com- ção do verdadeiro sábado, quem então transgredir o manda-
mento de Deus para obedecer a um preceito que não tem
preensão e a convicção são fatôres determinan­ maior autoridade que a de Roma, honrará desta maneira ao
tes. Além disso, cremos que em tempos esta­ papado mais do que a Deus. — O Conflito dos Séculos, pág.
486.
belecidos existe uma peculiar “verdade presente”
• Reconhecemos que o sábado não foi uma pro­
a que se deve dar ênfase (II S. Pedro 1:12).
va nos tempos medievais. Não acreditamos que
Cremos igualmente que a luz deve crescer tenha sido uma prova nos dias da grande Re­
“mais e mais até ser dia perfeito” (Prov. 4: forma do século XVI, ou mesmo no tempo de
18), e que o aumento do conhecimento e da Wesley. Mas nestes “últimos dias”, quando,
compreensão inevitàvelmente acarreta um au­ cremos, tôda a verdade deverá ser restaurada
mento da responsabilidade (S. João 9:41). antes da segunda vinda de Cristo, e a mensa-
“Aquêle pois que sabe fazer o bem e o não faz gem sôbre o sábado do quarto mandamento de-
comete pecado” (S. Tiago 4:17). A rejeição, verá alcançar o gênero humano com significa­
portanto, de reconhecida luz se torna uma ques- ção divina, haverá uma responsabilidade para
tão pela qual o indivíduo é responsável. “En- obediência da parte daqueles aos quais adveio
quanto tendes a luz, crede na luz, para que vos luz e convicção. Deus certamente não terá por
torneis filhos da luz” (S. João 12:36). “An­ responsável da verdade aquêle que ainda não
dai enquanto tendes a luz, para que as trevas a conhece e compreende.
Página 22 O Ministério Adventista
tãos. Fazem uma profusão de movimentos, mas
Nossa Afirmação e Obrigação não progridem.” Nos Estados Unidos, a divisa
da maior companhia de material elétrico é a
(Continuação da pág. 18)
seguinte: “O progresso é o nosso principal pro-
duto.” O progresso em transmitir a mensagem
significante e diminuir o valioso. Se nossa de Deus aos povos da Terra, no presente, é a
ocupação não fôr a de Deus, logo nos encon­ nossa mais importante realização. Numa pala­
traremos sem ocupação. vra, o evangelismo!
Compreende-se que, com muitas exigências A serva do Senhor, referindo-se à experiên-
pesando sôbre nós, nos sintamos exaustos e so­ cia de Jonas, diz-nos que:
brecarregados. É fácil de raciocinar que se apro­
“A lição é para os mensageiros de Deus ho-
veitamos bem as oito horas dum dia rotineiro,
je, quando as cidades das nações encontram-se
já fizemos realmente a nossa parte. Indiferen­
tão verdadeiramente em necessidade do conhe-
tes para com os tempos em que vivemos, nós
cimento dos atributos e propósitos do verdadei-
nos juntamos ao grande grupo de pessoas que
ro Deus, como os ninivitas do passado. Os
se encerram detrás das grades da fadiga. São
embaixadores de Cristo devem apontar aos ho-
poucos os que rompem essa barreira e partem
mens o mundo mais nobre, que tem sido em
para uma jubilosa e emocionante aventura.
grande parte perdido de vista.” — Profetas e
Muitas pessoas param quando o trabalho se tor-
Reis, pág. 274.
na penoso. Não gostam de andar a segunda
milha na proclamação da urgente mensagem Embora reconheçamos que o autêntico evan-
dêste tempo. gelismo e despertamento provenham de Deus,
Desejaria sugerir-vos esta manhã que, ao nos e unicamente de Deus, nós, como homens, de­
defrontarmos com a tarefa do autêntico evan- vemos promovê-los e ser seus porta-vozes. Deus
gelismo, rompamos a barreira da fadiga e pen­ envia o Sol e a chuva; Deus faz o solo ficar
semos em caminhar a segunda milha com o Se- fértil, mas o homem deve lavrar o solo e cul-
nhor. tivar o campo, do contrário jamais haverá co­
lheita.
Se ficais desanimados, sentindo-vos huma­
namente inadequados para arrostar o grande de­ “Não temos tempo para preocupar-nos com
safio à vossa frente, desejaria recomendar-vos assuntos destituídos de importância . . . Logo
um trecho da pena inspirada: uma surprêsa terrível sobrevirá aos habitantes
do mundo. Imprevistamente, com poder e gran-
“Deus poderia ter confiado aos anjos celes­ de glória, Cristo virá. Não haverá, então, tem-
tiais a mensagem do evangelho e tôda a obra po de preparo para encontrá-Lo. Agora é o tem-
de amoroso ministério. Poderia ter emprega­ po de proclamarmos a mensagem de advertên­
do outros meios para realizar o Seu propósito. cia.” — Test. Seletos, (Edição Mundial), Vol.
Mas em Seu infinito amor preferiu tornar-nos 3, pág. 220.
cooperadores Seus, de Cristo e dos anjos, a fim
de que pudéssemos participar da bênção, da Grandes afirmativas exigem um andar e vi-
alegria e do erguimento espiritual que resul­ ver correspondentes. Grandes profissões envol­
tam dêsse desinteressado ministério.” — Vereda vem grandes obrigações. Em primeiro lugar, o
de Cristo, págs. 110 e 111. chamado para a manifestação duma vida seme-
lhante à de Cristo, depois, a execução de nos-
A imaginação de que podemos ser uma fôr- sa grande obrigação de tornar conhecido o evan-
ça para Deus e participar com Cristo e os an­ gelho — o poder de Deus para a salvação dos
jos da bênção, da alegria e do erguimento es- que estão nas trevas.
piritual, por meio dum desinteressado e infa­
Queira Deus ajudar-nos a viver à altura de
tigável ministério, deveria ser mais do que su­
nossa elevada afirmativa e profissão, e a nos
ficiente para dar-nos nôvo vigor, coragem e
mantermos progredindo e enfrentando o desa­
energia para enfrentar o repto. Isto certamen­
fio. Nunca nos esqueçamos da maneira em que
te bastaria para levar-nos a renovar e redobrar
Êle nos tem guiado. Oxalá que nos levante­
os esforços evangelísticos em prol das multidões
mos para ir e anunciar esta mensagem de ad­
que sucumbem!
vertência, a fim de que a obra de Deus nesta
Entretanto, certifiquemo-nos de que estamos Terra logo seja concluída e Jesus volte para
progredindo e não apenas marcando o passo. o Seu povo!
Rolland Hill, quando visitava uma casa em que Nota: Êste tema foi apresentado numa das
havia uma criança montada num cavalinho de reuniões devocionais realizadas durante a sessão
pau, após observar o pequeno por algum tem- plenária da comissão da Divisão Sul-Americana,
po, disse: “Êle me faz lembrar de alguns cris- que teve lugar entre 5 a 11 de dezembro de 1962.

Julho-Agôsto, 1963 PÁGINA 23


Nossa Língua

Pronúncia das Palavras


(segundo artigo)

PEDRO APOLINÁRIO

DAMOS o nome de ortofonia ou ortoépia ao uso da Bíblia de Almeida, Edição Revista e


estudo da pronúncia correta das palavras. Atualizada no Brasil, por indicar a pronúncia
É fato simples e conhecidíssimo que em tô­ exata de vários nomes, empregados até agora,
da a palavra de mais de uma sílaba, há uma por muitos, com prosódia imperfeita. Entre
que vibra mais forte, com mais intensidade, por muitos notemos êstes cujas pronúncias estão in­
isso é chamada tônica ou predominante. dicadas pelos acentos correspondentes: Eliézer,
O acento tônico regula a pronúncia do vo­ Pármenas, Prócoro, Cléopas, Herodes Ântipas,
cábulo e se cada sílaba fôsse representada por Getsêmani, arráteis.
uma nota musical, a sílaba tônica seria repre­ Alguns se insurgem contra os muitos acen­
sentada por uma nota mais alta, mais aguda. tos de nossa língua, e há dificuldades em seu
Ao contrário do que possa parecer ao estu­ uso para diferençar as homógrafas, mas temos
dante apressado, a pronúncia é um dos pontos que concordar que os acentos muito nos aju­
difíceis e assim sendo deve merecer a nossa aten- dam na pronúncia correta de inúmeros vocá­
ção. bulos.
Antes de estudarmos a pronúncia, devemos Apresentaremos uma lista de palavras, que
estar cientes de que em algumas palavras, com para muitos ainda oferecem dificuldades de pro­
o passar do tempo e por influências várias, o núncia, onde as sílabas tônicas não marcadas
acento tônico sofreu deslocamento. Podemos por sinais diacríticos serão colocadas entre pa­
apresentar como exemplo: míope, oceano, idó­ rênteses:
latra, pântano, que de conformidade com a eti­ Acólito, alimária, alvíssaras, anátema, antíti-
mologia deveriam ser pronunciadas miope, océa- po, areópago, aríete avaro (va), autóctone, azá­
no, idolatra e pantano. A pronúncia pantano, fama, aziago (ziá).
ainda hoje é comum em algumas regiões do Batavo (ta), blasfemo (fê)
Brasil. Cleópatra, cômputo, cônjuge, cânon, crisân­
Outro ponto que não pode ser olvidado ao temo.
tratarmos dêste assunto, é que as palavras gre­ Decano (câ).
gas por nos terem vindo, quase tôdas, através Etiópia, estratégia, eutanásia, exegese (ge).
do latim, devem ser pronunciadas com a pro­ Filantropo (trô), grácil, gratuito (túi).
sódia latina e não grega. Hieróglifo, horóscopo.
A prosódia portuguêsa obedece, em regra ge- Ibero (be), ímprobo, impudico (di), íncli-
ral, à prosódia latina, embora seja mais comple­ to, inquérito (inkérito), ínterim, intoxicar (in-
xa por não dispensar o uso dos acentos. tocsicár).
Todos os obreiros interessados em pronun­ Leucócito, Lúcifer, Lucíferes.
ciar e acentuar corretamente as palavras deve­ Misantropo (trô)
riam possuir, para consulta, o Vocabulário Or­ Novel (vél)
tográfico e estudar as respectivas regras de acen­ Ômega
tuação de nossa língua. Pegada (ga), projétil, protótipo, pudico (di).
Aconselharíamos também aos pregadores o Sânscrito, simulacro (la), sóror.
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