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Eu era aquela que te incomodava, que incomodava a todos.

Era uma presença garantida, irritava-te, embora me chamasses.

Sabia que querias saber de mim, porque és uma eterna mistura de contrariedades.
Incomodava quando vomitava, quando corria no corredor, quando queria água.

Naquela noite, não te levantaste, não me foste chamar, estavas drogada.

Mas pensaste em mim, não pensaste?

No dia seguinte, foste buscar o meu corpo morto. Eu agora já não te incomodo, tens lágrimas
que não consegues chorar, percebes que gostas de mim, embora eu te incomodasse,

Sentes culpa, custa-te recordar como me encontraste. Não fiques assim. Eu perdoo-te tudo,
porque, ao contrário de mim, tu nunca me incomodaste. Não fiques assim, eu fui feliz, sabia
que gostavas de mim, minha tonta. Descansa, repensa, não repitas erros. Vive e recorda-te de
mim, não como me encontraste, mas como vivemos juntas. Recorda-te de quando me
encontraste e levaste para casa. De como foram os primeiros tempos. Fomos próximas, muito
próximas, as coisas mudaram, mas tivemos toda uma história.

Não fiques triste. Eu amo-te, foste uma boa amiga, embora resmungona. Seca as lágrimas que
às vezes sentes, não prendas o choro que te sufoca, não esperes por mim à noite, não me
esperes, porque eu não fui verdadeiramente embora. Não me podes ver, mas eu ainda estou
aí, estou junto de ti, aguardo pelo momento em que, um dia, estaremos juntas de noite.

Vive e cumpre a tua promessa. Cuida das meninas e, um dia, junta-te a ti. Um dia estaremos
juntas de novo, foi o que disseste, e eu sei que estaremos.

Um ronron para ti. Descansa, não chores, eu estou aqui.

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