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Indo além do possível Mt 5.

43 – 48
Introdução
Eu sou eu e minha circunstância, e se não a salvo a ela, não me salvo a mim",
de autoria do filósofo espanhol José Ortega. O que o filosofo parece dizer é
que, somos reféns de nossas circunstâncias de forma que é quase impossível
ir além delas já que elas dizem ser o que somos. No texto que vamos analisar
hoje, Jesus parece estar contradizendo essa fala e dizendo que é possível ir
além do que nossas circunstâncias nos impõem como caminho a ser seguido.

Página 1 – Exposição do problema


Quando examinamos o texto de Mateus 5.43-48, percebemos que Jesus
está tratando de algo que é crucial para a diferenciação entre o cristão e o não
cristão, é que o cristão é capaz de ir além na expressão do seu amor, do que
qualquer outra pessoa seria. Enquanto uma pessoa que não conhece a Deus é
capaz de amar somente quem o faz bem, o crente consegue ultrapassar essa
barreira e expressa seu amor mesmo a quem o faz mal. Isso fica claro no verbo
que Mateus usa a palavra agapao no modo imperativo, ou seja, uma ordem
expressa de Jesus.

A necessidade da ordem de Jesus para amar os inimigos, está


relacionado a um problema que Jesus reconhece no meio do povo Judeu. Esse
problema está relacionado com uma má interpretação da Torah, em Levíticos
19.18 temos a origem da ordenança de Jesus lá lemos que o povo de Deus
deveria expressar o seu amor ao próximo, porém nada é dito a respeito do ódio
aos inimigos. A pergunta é, de onde vem essa interpretação? Não sabemos ao
certo sua origem, mas o que tudo indica é que a tradição judaica ao longo do
tempo fez uma associação direta, mais ou menos assim “já a ordem é para
amar meu próximo, devo odiar quem não entra nessa categoria, ou seja,
qualquer não Judeu”. Outra possibilidade é uma influência da comunidade
sectária dos Essênios, aquele grupo de Judeu que insatisfeito com o
sacerdócio em Jerusalém, se retirou para a região de Qunran, já que vemos
diversos indícios de “ódio” a quem não pertencia a comunidade.

Não temos a necessidade de saber a origem dessa interpretação o que


importa é que ela é uma má e, portanto, condenada por Jesus. O que Jesus
está afinal criticando nos Judeus de sua época? Simplesmente que eles não
eram capazes de ir além do normal, isso é, o que se espera de qualquer
pessoa afim de expressar seu amor ao próximo e no final das constas glorificar
a Deus com essa ação. Direcionando essas palavras aos seus discípulos,
Jesus diz: se eles amassem as pessoas que os amavam e saudassem os que
os saldavam, não teria diferença entre eles, um publicano e um pagão também
faziam essas coisas. Precisamos lembrar que ir além da justiça dos Fariseus
(que não adulteravam de forma física, mas em pensamento; que não matavam
fisicamente, mas com palavras), era um pré-requisito para a entrada no reino
de Deus, ou seja, fazer parte de tudo que já estava e que estaria acontecendo.

Página 2 – aplicação do problema em nossos dias.

E se ao invés de olharmos para os discípulos e a audiência de Jesus,


nós aplicássemos essa palavra de Jesus em nossa vida? Muitos de nós já
sofremos com a atitude errada de pessoas. As vezes sem querer, outras vezes
de pessoa que estão más intencionadas mesmo. Imagina uma pessoa que te
fez mal, ou aquela pessoa que talvez não seja tanto do seu agrado.
Precisamos admitir, não é hora de falso moralismo, não é com todo mundo que
temos intimidade ou que queremos ter. Não é com todo mundo que
concordamos com a forma de agir, pensar e falar. Isso é um fato. Mas vamos
além, se você já teve a experiencia de ter que enfrentar alguém que te fez
muito mal, ou a sua família, é a essa pessoa que Jesus nos manda amar.

No filme “A cruz e o punhal” que conta a história de David Wilkerson e


sua evangelização das gangues de NY temos uma boa demonstração do que
Jesus disse aos seus discípulos. David sentiu que Deus o havia chamado para
evangelizar NY no auge das gangues e da criminalidade na cidade. Quando
chegou na cidade teve contato com Nick Cruz, um líder de uma das gangues e
que futuramente se tornaria discípulo de David Wilkerson. Porém não foi fácil,
muito pelo contrário, ele teve que insistir muito até que isso acontecesse. Em
certa cena do filme David Wilkerson tenta convencer o bandido Nick Cruz de
seu mal caminho e temos uma frase emblemática: Nick diz a David que o
mataria se chegasse perto dele novamente para evangelizar e David responde
“eu sei que pode fazer isso e se você me cortar em mil pedaços e espalhar eles
pela rua, todos eles vão dizer, eu te amo”.
O que David Wilkerson fez foi ir além do que normalmente se iria. O
amor dele por Nick Cruz era tão grande que era capaz de suportar até o
extremo de ser assassinado brutalmente por ele e mesmo assim continuar o
mando. Talvez não precisemos ir a esse extremo, mas podemos pensar em
coisas que estão a nosso alcance, como você responde a falsa acusação que
fizeram contra você no seu serviço? Como você tem reagido a aquela pessoa
que parece te perseguir e tudo que você faz parece estar errado para ela?
Nesse exato momento se parecemos essa pregação e começássemos a orar e
abençoar quem tanto nos quer mal, seja qual for o nível, você conseguiria com
o coração sem mácula fazer essa oração?

Página 3 – exposição da graça de Deus no texto.

Jesus continua no texto dizendo o porquê devemos ir além do que os


não crentes vão na expressão do seu amor. Ele diz que a chave estar em agir
e, portanto, se tornar igual a Deus (obviamente que não ser um deus, mas ter a
mesma atitude que ele). Jesus diz: Porque ele faz cair a chuva sobre o justo e
o injusto. O que Jesus está fazendo aqui é revelar o caráter bondoso e
gracioso de Deus. Se tomos duas hortas, uma do lado da outra, ou até mesmo
afastadas, sendo uma de um justo e outra de um injusto, Deus não controla a
chuva para que ela caia somente na horta do que aparentemente é justo, mas
ao contrário ele abençoa os dois. Assim como faz raiar o sol sobre crentes e
descrentes.

E por que Deus faz isso? A resposta é simples, porque ele abençoa
conforme o seu caráter e não conforme o caráter e atitude os homens. Deus
não espera bondade das pessoas para poder agir graciosamente, até porque
ele não conseguiria abençoar se assim fosse, pois nunca chegaremos ao
status de agradável diante de Deus. Essa é uma doutrina basilar na fé cristã,
de que não somos capazes de agradar a Deus ao ponto de sermos habilitados
da estar diante dele como justo nas condições de sermos abençoados, por isso
o movimento sempre é da parte de Deus. Paulo diz em Romanos 3 “não há um
justo se quer, não quem busque a Deus, não há quem entenda, não há quem
faça o bem, todos pecaram e estão afastados da gloria de Deus”. E na mesa
carta capítulo 5 ele vai dizer que “por meio da justificação temos paz com
Deus”. Sim justificação, ou seja, o ato de nos tornar justos sem sermos justos.
O que Jesus está dizendo é que o caráter imutável de Deus foi além da
justiça dos fariseus e publicados (de qualquer pessoa) e continua indo, todas
as vezes que Ele nos abençoa. Deus não muda porque nós mudamos nossa
maldade, ou pretensa bondade não faz com que suas ações sobre nós mudem
também, Ele continua trazendo chuva sobre justos e injustos, não por causa
deles, mas apesar deles.

Página 4 – Aplicação da graça de Deus em nossas vidas.

Da mesma forma como Deus faz o sol raiar sobre justos e injustos
revelando o seu caráter e não das pessoas, assim nós, como imitadores de
Cristo devemos fazer o mesmo. Jesus diz que ao passo que amamos quem
nos persegue e oramos pelos que nos caluniam, nos tornamos parecidos com
Deus e mostramos que temos ele como nossa referência, isso é, como pai
(verso 45).

Antes de continuarmos é importante falarmos um pouco do que é a


Bíblia está querendo dizer quando fala sobre amor. Diferente do que
entendemos em nossos dias, amor bíblico, não tem a ver só com um
sentimento que nutrimos sobre uma pessoa, mas também com uma atitude que
decidimos tomar. Jesus em outra ocasião diz que devemos amar com toda
nossa alma, todo nosso entendimento e todas as nossas forças. Portanto,
assim como Deus decidiu nos amar, nós hoje podemos tomar essa decisão
pelo amor ao próximo mesmo diante de situações mais adversas, porque
lembramos que nossa referência de amor e perdão não é esse sistema falho e
caído capaz de amar somente quem nos ama.

Isso acontece porque amamos as pessoas não pelo que elas são, mas
semelhantemente a Deus, amamos pelo que somos. Nós podemos ir além do
que uma pessoa sem Deus vai, porque conhecemos um amor que foi além do
possível por nós.

Por isso podemos, ao contrário do que disse José Ortega, ir além das
nossas circunstâncias. Não precisamos ficar presos a elas, mesmo as mais
contrarias, mesmo nas que parece não ser possível e parece que ficaremos
refém delas pelo resto de nossas vidas, o perdão de Jesus em nós nos faz ir
além delas a fim de amarmos nosso inimigo e orar por quem nos calunia.

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