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1Pe 2.

11-25

A espiritualidade em meio ao sofrimento

Abra sua Bíblia na 1 carta de Pedro, capítulo 2, verso 11. Iremos ler até o final deste capítulo. Como é de praxe,
vamos lendo e comentando as lições que podemos tirar deste texto.

Uma delas é a respeito do sofrimento, especialmente aquele tipo de sofrimento que chegou até sem que nós
mesmos o tivéssemos causado.

Claro que ao falar isso, estou expandindo o tema que é tratado neste trecho. Ao final do texto vai falar dos maus
tratos de um patrão ao seu empregado de forma injusta. No entanto, o fundamento que temos para lidar com esta
questão especificamente serve para qualquer outra situação de sofrimento espontâneo.

Além disso, a temática da carta de Pedro permanece em torno da vida cristã e da forma como ela deve ser vivida.
Assim, poderíamos dizer que esta é uma carta que fala bastante da espiritualidade cristã.

Espiritualidade de forma bem simples é o que conhecemos sobre Deus e como vivemos a partir disso. Assim, se
você conhece pouco sobre Deus, você vai viver de forma equivocada. De igual modo, se você tem conhecimentos
equivocados sobre Deus, você também viverá de forma a não o agradar.

Por isso, Pedro disse no verso 8 que as pessoas tropeçam por não conhecerem a Palavra. Ou seja, penso eu que
você, se quer realmente ser um cristão exemplar, um cristão que manifestar Cristo autenticamente, você deveria
ser o primeiro a procurar uma forma de estudar mais as Escrituras Sagradas. E é claro que eu sou bem suspeito em
falar isso pois é eu quem cuido da área de ensino da igreja.

Mas você deveria buscar fazer nossos cursos aqui. São de graça porque a gente quer que você tenha acesso mesmo.
São onlines para os irmãos não gastarem tanta gasolina para poder fazer.

Porque é a partir do conhecimento de Deus que você vai sendo transformado por Ele e sendo habilitado pelo
Senhor a ser um cristão mais coerente. É no conhecer a Deus através de um bom estudo que seus valores são
confrontados e o Espírito atua para você ir amadurecendo na fé.

Nessa temática do amadurecimento da fé e da espiritualidade é que Pedro diz nos versos 11 e 12 dizem assim:
Amados, eu os advirto, como peregrinos e estrangeiros que são, a manter distância dos desejos carnais que lutam
contra a alma. Procurem viver de maneira exemplar entre os que não creem. Assim, mesmo que eles os acusem de
praticar o mal, verão seu comportamento correto e darão glória a Deus no dia da sua intervenção. 1 Pedro 2:11,12

A primeira observação deste texto é que o cristão é peregrino e forasteiro. Ou seja, ele até se estabelece neste
mundo, compra uma casa, tem uma família, arruma um emprego. Mas ele sabe que é temporário. Ou seja, estas
coisas são importantes, mas não devem ser o centro da vida do cristão.

O centro da vida do cristão é Deus de com força mesmo. A esperança do cristão é a volta de Jesus que irá trazer o
céu para a terra. É isso que deve mover o cristão em sua vida.

A segunda coisa é manter distância dos desejos carnais, se afastar destes desejos. Desejos carnais são toda a nossa
vontade querendo ser completamente independente e livre de Deus. É levar a vida do nosso jeito, governar nossa
vida autonomamente sem levar Deus em consideração. E é disso que saem os maus comportamentos e é disso que
devemos nos afastarmos.

No entanto, é um engano pensar que essa luta se faz sozinho. Sem a oração e o pedido de ajuda do Espírito para
vencer esta batalha não vai funcionar. Se você tentar lutar sozinho para vencer sua carne, ainda assim, esta é uma
forma de ser independente de Deus, e, portanto, você está apenas, na verdade, fazendo a vontade de sua carne.

A atitude positiva aqui é viver de modo exemplar. Então, você vira as costas para os desejos carnais, mas abraça
um viver exemplar.

Agora nisto aqui, gostaria de chamar a atenção para uma coisa. Muitas vezes confundimos o Evangelho como uma
mera junção de regras e comportamentos. E o Evangelho não é isso. O Evangelho não é uma boa opção, ou um bom
conselho. O Evangelho é uma boa notícia. Logo, ele não é uma coisa que você escolhe ou não se vai pegar na
prateleira. Ou você está no Evangelho ou você não tem nada dele em si e é um mero religioso.

É a partir do Evangelho na sua vida que seu comportamento vai sendo transformado. E não a partir do seu esforço
que você vai se transformando em um evangélico. A sua transformação começa ao olhar para a cruz e lá você
enxergar, não a sua vitória, mas seus pecados castigados em Jesus.

E isso vai trazer a você um peso: de que era para ter sido você, mas foi Ele. E também uma certeza: de que tudo o
que Ele fez foi porque Ele te amou e ali você recebeu o perdão de Deus.

E é a partir disto e por causa disto que você vai então viver de modo exemplar. E vivendo assim, Deus poderá usar
seu testemunho como mais uma comprovação de Sua Glória. A palavra intervenção aqui é exatamente a
intervenção na vida dos que não creem. Assim, você se torna privilegiado em ter sua vida como participante e
influenciadora na vida de alguém que se volta para Jesus.

O apelo é seu. O Pipe falou nas pregações passadas que você não pode transferir para nós a responsabilidade
exclusiva de levar uma pessoa a Jesus. Nós aqui fazemos outro movimento: a gente te equipa, te prepara, te dá as
ferramentas, através da pregação e do ensino para você ir até onde não conseguimos ir e evangelizar quem não
conseguimos evangelizar.

Aí então, depois de ter fundamentado a razão para a forma de viver, Pedro então começa a falar de várias áreas da
vida, começando pela política. Assunto bem espinhoso, mas vamos lá.

Ele diz nos versos 13 a 17: Por causa do Senhor, sujeitem-se a toda autoridade constituída entre os homens; seja ao
rei, como autoridade suprema, seja aos governantes, como por ele enviados para punir os que praticam o mal e
honrar os que praticam o bem.

Pois é da vontade de Deus que, praticando o bem, vocês silenciem a ignorância dos insensatos. Vivam como pessoas
livres, mas não usem a liberdade como desculpa para fazer o mal; vivam como servos de Deus. Tratem a todos com o
devido respeito: amem os irmãos, temam a Deus e honrem o rei. 1 Pedro 2:13-17

Por causa disso tudo, por causa do Senhor, e não por causa da autoridade em si, sujeitem-se. Essa sujeição não é
absoluta. Toda autoridade que existe é relativa, só Deus é absoluto. Eu por exemplo, a autoridade que tenho, só
vale enquanto eu permanecer nas Escrituras. Eu me desviando, minha autoridade deve ser questionada e se eu não
me arrepender, eu devo ser retirado.

Assim com qualquer autoridade. Enquanto ela promove a justiça, ela deve ser obedecida. A partir do momento que
tolera por muito tempo a livre ação da maldade, ela deve ser resistida. Agora, olhe bem, isso não tem a ver com
preferência partidária pessoal.

Naquele tempo, o rei era o imperador romano. E a ele que Pedro está se referindo. Por isso, esse princípio não
depende de qual seja seu título e que forma de governo um país possua. Nessa questão não importa se o dirigente
também apresenta suficientes capacidades organizativas e morais ou se assumiu o poder de forma legítima.

Você pode até discordar dos governantes que aí estão, mas nenhum deles, nem os atuais e nem os passados estão
quebrando ou quebraram este princípio. Se você pensa que o governo atual ou o anterior fez isso, você
simplesmente está sendo levado por suas preferências e não pelo evangelho. Se você não tem críticas ao governo
atual ou ao anterior, você está sendo levado por suas preferências e não pelo evangelho.

Você é livre para votar em quem quiser, para não querer que governo X ou Y assuma. Esse não é o problema. O
problema é quando você tenta impor este princípio da resistência só porque não foi o governo que você queria.

A resistência cristã só é legítima quando a maldade é duradoura e permitida de forma direta, ou seja, quando o
governo classifica o mal como bem e o bem como mal, pois isso vai contra a Palavra de Deus. Do contrário, mesmo
discordando do governo atual, o cristão ainda assim se submete. Mas se submeter não é ser acrítico, não é não ter
críticas.
Lembrem-se: este princípio foi traçado em relação ao imperador romano que daí a alguns anos começaria a
perseguir os cristãos. E os cristãos não pegaram em arma para retaliar. Eles simplesmente resistiram, não se
submetendo ao imperador que exigia adoração e por isso foram martirizados.

Porque hoje tantos insensatos falam mal dos cristãos? Exatamente porque os cristãos esqueceram destes princípios
e oferecem muitas vezes uma resistência ilegítima ao invés de um testemunho legítimo. Falar mal dos cristãos
sempre vai acontecer. Então na antiguidade o cristão dizia Jesus Cristo é o Senhor. As pessoas ignorantes, porém,
concluíam: o cristianismo é contra a autoridade das autoridades. E quando ouviam que perante Deus todos eram
iguais, eles concluíam: o cristianismo instiga os escravos e as mulheres. Consequentemente o mundo considerava
os cristãos como revolucionários perigosos, que geravam desobediência e tentavam derrubar as ordens vigentes.

Os insensatos olham para o Evangelho e enxergam sua força, porém pensam que é uma força para criar uma
espécie de anarquia e tomar o poder, ou algo assim. No entanto, a força do evangelho é para se fazer o bem, lutar
pelo bem de todos. Não só do grupo cristão, mas de todos na sociedade.

O cristão não tem escolha, ou ele pratica o bem, ou ele não é cristão. Por isso Pedro disse para não usar a liberdade
para fazer o mal. O cristão é livre, isto é, habilitado a fazer o bem. A liberdade do cristão é para se fazer o bem.

E nessa liberdade, Pedro se volta para situações mais específicas, como por exemplo a escravidão na antiguidade.

Veja aí nos versos 18 até o início do 21: Vocês, escravos, submetam-se a seu senhor com todo o respeito. Façam o
que ele mandar, não apenas se ele for bondoso e amável, mas até mesmo se ele for cruel. Porque Deus se agrada de
vocês quando, conscientes da vontade dele, suportam com paciência o tratamento injusto.

Claro que não há mérito algum em ser paciente quando são açoitados por terem feito o mal. Mas, se sofrem por
terem feito o bem e suportam com paciência, Deus se agrada de vocês. 1 Pedro 2:18-20

A escravidão na antiguidade era um pouco diferente da escravidão que conhecemos. Claro que naquela época havia
sim os escravos que eram totalmente subjugados a trabalhos exaustivos. Geralmente trabalhavam em minas e
raramente poderiam circular pela cidade.

Os escravos especializados (cozinheiros, médicos, secretários), porém, possuíam outra condição e tinham grande
valor comercial, eram bem tratados e muitas vezes conseguiam ser libertos.

Assim, era provavelmente para esse grupo que Pedro estava se dirigindo. O cristianismo primitivo não afrontou
diretamente o sistema escravagista da época, primeiro por ter sido uma questão cultural e segundo, se ele se
levantasse ferozmente contra o sistema da época, o cristianismo seria massacrado e extinto.

No entanto, de forma velada, havia oposição. Mas essa oposição era mediada pelo amor. Paulo escreve uma carta
a um senhor de escravos para receber seu escravo fugitivo como um irmão em Cristo, e até mesmo como se
estivesse recebendo o próprio Paulo, esperando que Filemon fizesse ainda muito mais do que era esperado. Ou
seja, sem exigências, Paulo está dizendo: liberte ele pois é teu irmão.

Clareando esta questão, Pedro diz para os escravos, provavelmente os escravos domésticos, para serem submissos
ao seu senhor com respeito, ou seja, para o funcionário se submeter ao patrão. Mesmo se o cara for um mala, for
mal, perseverem em obedecer. Não obedecer a uma ordem que contraria a Deus, mas obedecer de boa vontade
mesmo que não haja boa vontade do outro lado.

E isso é muito difícil para nós pois somos reativos. A gente reage quando somos contrariados. E, claro, muitas vezes
nossa reação é desproporcional. Mas Pedro está exortando, animando, estimulando a aguentar as pontas.

Ele diz que Deus se agrada quando estamos conscientes que suportar o sofrimento que não é uma consequência
de nossas ações. Existe sofrimento que é apenas consequência de nossos pecados.

Mas existe sofrimento que simplesmente bate na nossa porta. A gente não procurou, a gente até evitou, mas ele
chegou. E passar por ele sem nos rebelarmos agrada a Deus.

E aí vem as justificativas: Porque Deus os chamou para fazerem o bem, mesmo que isso resulte em sofrimento, pois
Cristo sofreu por vocês. Ele é seu exemplo; sigam seus passos. Ele nunca pecou, nem enganou ninguém. Não revidou
quando foi insultado, nem ameaçou se vingar quando sofreu, mas deixou seu caso nas mãos de Deus, que sempre
julga com justiça.

Ele mesmo carregou nossos pecados em seu corpo na cruz, a fim de que morrêssemos para o pecado e vivêssemos
para a justiça; por suas feridas somos curados. Vocês eram como ovelhas desgarradas, mas agora voltaram para o
Pastor, o Guardião de sua alma. 1 Pedro 2:21-25

Não sei qual é a mais pesada e mais confrontadora, mas vamos lá. A primeira, Deus nos chamou para fazer o bem,
e isto já ficou bem claro anteriormente, porém, mesmo que isso resulte em sofrimento. Ou seja, você não vai
colher coisas boas sempre que fizer o bem, mas não é para desistir de fazer o bem por causa disso.

A gente não faz o bem para ser beneficiado. A gente faz o bem porque ama a Deus e ponto final. Se vamos receber
glórias ou insultos, isto é secundário, pois Cristo não recebeu benefício nenhum ao sofrer por nós.

A segunda então é essa: Cristo é nosso modelo e devemos seguir seus passos. Ele nunca pecou nem enganou,
mesmo sofrendo. Ele não revidou um insulto, nem ameaçou vingança, mesmo sendo torturado e humilhado. Ele
deixou seu caso nas mãos de Deus, mas não naquele tom de ameaça: não vou fazer nada com você, quem vai fazer
é Deus. Na verdade Jesus disse: Pai, perdoa porque eles não sabem o que fazem.

A terceira é porque nossa garantia de sucesso não é voltada para as coisas daqui. Nós somos peregrinos e
estrangeiros, lembra? Você até pode sonhar e tentar realizar, mas isso não pode governar sua vida. O princípio que
governa sua vida de sucesso é que Cristo carregou nossos pecados para que pudéssemos viver para a justiça. Nós
somos pessoas curadas, nossa ferida mortal que era o pecado já está remediada e podemos lutar contra ela agora.

E a quarta justificativa é que estamos em segurança. Está tudo seguro em Cristo, o Pastor e Guardião de nossas
almas. Antes a gente estava perdido como uma ovelha desgarrada. A ovelha é um animal que não tem senso de
direção e é míope, ou seja, enxerga pouco. Quando uma ovelha se perde do rebanho, ou seja, se desgarra, ela está
completamente desprotegida. Por exemplo, se ela entra em um riacho, ela afoga porque seu pelo pesa muito e ela
não consegue sair. Mas Cristo é o nosso Pastor e Protetor.

Por isso, podemos perder a vida que ainda assim tudo está garantido em Cristo, autor e consumador de nossa fé.

Que a partir desses fundamentos você construa sua vida e siga e anuncie a Cristo.

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