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ÀS ESCOLAS DO BRASIL

Elisete Moura Sousa do Nascimento


Graduanda em Pedagogia na Universidade Federal da Paraíba/UFPB,
Campus I, João Pessoa, PB, BR. E-mail: elisetetarataratatatatatatata.

João Pessoa, outubro de 2023.

Prezados amigos do mundo todo, e de minha escola querida. Escrevo


esta carta a todos vocês, e espero que ela os encontre bem.

Não tenho a pretensão de que todos leiam e sigam o meu conselho, mas
acredito que se vocês lerem com a mente e o coração abertos, poderão
proporcionar ao mundo um futuro bem mais feliz. Sou o Matheus, do 7° ano,
tenho 12 anos de idade e eu amo intensamente a vida. Eu sou autista, o que
significa que o meu cérebro funciona um pouco diferente do da maioria das
pessoas e me faz experimentar e ver o mundo com um olhar único – não
melhor, nem pior, apenas diferente. O autismo não é algo que pode ser visto,
mas é uma parte importante de quem eu sou. Quero que vocês entendam o
que isso significa e como eu me sinto, para que possamos ser ainda melhores
amigos uns para os outros.

O TEA atinge de 1% a 2% da população mundial e, no Brasil,


aproximadamente dois milhões de pessoas (SITE CORREIO BRASILIENSE).
Esses números crescem a cada dia, e acho que seria legal de você entender
um pouco sobre a gente. Descobrimos minha condição ainda cedo, com 3
anos, e desde então faço acompanhamento com alguns profissionais
maravilhosos que me ajudaram a ser uma criança mais feliz. Minha família é
muito legal, e todos sempre me incentivaram a brincar com meus primos e
irmão, ler, explorar minha imaginação, me expressar e jogar bola – apesar de
não ser muito bom neste último, acho que vocês já perceberam, né?

O Ziraldo fez uma cartilha que fala um pouco sobre o Autismo e pedi
permissão à tia Ana, minha coordenadora, para deixar algumas cópias na
recepção, salas e biblioteca da escola para compartilhar um pouco sobre o
Transtorno do Espectro Autista (TEA) com vocês. É ilustrado, não se
preocupem.

Sei que as vezes ajo e reajo a algumas situações de forma “esquisita”,


diferente, e por vezes até engraçada para vocês, mas para mim... estou
apenas sendo eu. Sempre ando com meu copo da NASA na mão, no mundo
da lua – ou no mundo de Matheus. Gosto de ficar um pouco só com meus gibis
intergalácticos sobre os quais posso passar horas falando, acredito em tudo
que me contam, sendo fácil de ser enganado, preciso beber água sempre em
horas fechadas... Sim, tenho algumas peculiaridades, como sei que você
também tem. Para mim, os cheiros são mais fortes, os sabores são mais
intensos, as cores são mais vibrantes, os olhares mais perturbadores e o toque
mais impactante. Meus sentimentos são um verdadeiro turbilhão de emoções,
todas misturadas e sacudidos como numa máquina de lavar roupas.

Uma vez pesquisando na internet sobre o autismo me deparei com a


seguinte frase: “Ser autista não é uma tragédia. Ignorância é a tragédia” (Zoe
Gross). Minha tentativa aqui nesta carta é exercitar e provocar o conhecimento
acerca do autismo a ponto de, se não extinguir, pelo menos diminuir um pouco
o preconceito para comigo e meus colegas. Mentiria se dissesse que nunca
sofri por ser assim. Sofri e ainda sofro. Aqui na escola, meu irmão sempre está
se metendo em encrencas para me ajudar a sair das minhas próprias. Sou
muito feliz por tê-lo por perto, e por mais que não pareça muito ou expresse, eu
o amo muito. Minha família sempre o incentivava a brincar comigo, por mais
que eu não quisesse, não falasse ou correspondesse aos seus estímulos.
Obrigado, Luan, por não desistir da gente, irmão. Mas voltando ao que
interessa, aqui seguem outros comportamentos que colegas do espectro
podem apresentar: sempre evitar olhar nos olhos, movimentar o corpo com
gestos repetitivos, falar algumas coisas várias vezes (até sem contexto, em
alguns casos), levar tudo ao pé da letra, não entender algumas piadas de duplo
sentido, não ter noção de situações perigosas (DA CARTILHA).

Me atrevo a escrever sobre isso porque assim como já sofri muito,


também já conheci o prazer da inclusão e sou muito grato por todos os adultos
que fizeram e fazem a diferença na minha vida. Graças a eles posso viver
numa escola que me acolhe, ter amigos que me valorizam com um jeito
diferente de ser, posso estar e viver em sociedade onde caminho com
esperança de chegar a ser um adulto ativo, estudioso, trabalhador, que
interage e vive plenamente. Posso sonhar como carro que terei quando
aprender a dirigir, e como será meu apartamento em que morarei com minha
esposa, meus dois filhos e um grande labrador.

Eu continuo sendo o mesmo amigo que vocês sempre conheceram, e


me importo muito com a nossa amizade. Às vezes, posso precisar da
compreensão e do apoio de vocês, assim como talvez vocês precisem dos
meus às vezes.

Se tiverem alguma pergunta ou não entenderem algo, sintam-se à


vontade para me perguntar. Estou sempre aqui para ajudar vocês a
entenderem mais sobre o autismo e como eu me sinto. Juntos, podemos
fortalecer a nossa amizade. Obrigado por dedicarem um tempo para ler esta
carta e por serem amigos maravilhosos.

Do seu amigo Matheus.


REFERÊNCIAS

https://www.correiobraziliense.com.br/brasil/2022/04/4997766-cerca-de-
2-milhoes-de-pessoas-vivem-com-o-autismo-no-brasil.html

CARTILHA DO ZIRALDO

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