Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Unidade Didatica para Ensino de Ple Um M
Unidade Didatica para Ensino de Ple Um M
Resumo
Este trabalho propõe uma unidade didática em forma de material-fonte de base comunicativa para
o ensino de Português Língua Estrangeira no contexto universitário. A abordagem comunicativa
pressupõe que o ensino de línguas deve estar o mais próximo possível do contexto do aluno e, além
disso, trazer tópicos que sejam relevantes para ele. A unidade foi desenvolvida para um grupo de
alunos recém-chegados à uma universidade brasileira e com a necessidade imediata de se localizar e
locomover no campus e na cidade. A unidade é voltada para o contexto universitário e o público-
alvo são alunos em seu primeiro contato com a língua.
Palavras-chave: Unidade Temática; Material-Fonte; Abordagem Comunicativa.
Abstract: This article presents a thematic unit proposal through reference source material based on
a communicative approach to be used in the teaching of Portuguese as a foreign language or second
language (PFL) in a university context. The communicative approach assumes that language
teaching should be as close as possible to the context of the student. The unit was developed
considering a group of newly arrived students at a Brazilian university and their immediate need to
settle in and find residence on campus and downtown. The unit is aimed at a university context and
the target audience is students in their first contact with the language.
Key-words: Thematic Unit; Reference Source Material; Communicative Approach.
Introdução
Como forma de socializar uma unidade didática em forma de material-fonte para ensino de
português para falantes de outras línguas, este trabalho foi desenvolvido na intenção de propor um
exemplo material de base comunicativa para ser usado no ensino de português como língua
estrangeira ou segunda língua (PLE) no contexto universitário. Por seguir a abordagem
comunicativa, a gramática seria apenas explicitada no caso de haver uma forte justificativa para tal,
que poderia ser identificada através da interpretação do comportamento da turma. Por este motivo,
dispomos os conteúdos relacionados à realização de função como conteúdo gramatical possível,
como pode ser observado nos planos de aula localizados no apêndice deste trabalho. Nesta
unidade, procuramos escolher atividades que proporcionassem o máximo de chances de aquisição
de segunda língua.
30 Mestre em Letras pela Universidade Federal de Viçosa (MG). Professor da Universidade Federal de Viçosa,
Além da carência de materiais, temos o segundo eixo, que diz respeito a certa restrição
metodológica encontrada pelo professorado, já que pode parecer bastante desconfortável ao
professor ter que contravir uma tradição, convencionada por muito tempo como uma abordagem
produtiva e suficiente para ensinar e aprender uma outra língua.
O fato é que, mesmo que inconscientemente, ainda existe uma supremacia pautada no
grande legado gramatical experienciado e aplicado por uma boa parte dos professores e tido como
suficiente para o ensino de língua estrangeira. É claro que não estamos rechaçando a abordagem
gramatical, visto que concordamos que as abordagens gramatical e comunicativa não se excluem.
Acreditamos, porém, que um foco estrutural com nuances comunicativas não seja suficiente para
que o aprendiz adquira a língua, sem apenas aprender sobre a língua e seu sistema (ALMEIDA
FILHO, 2011).
É importante discutir até onde essas duas principais abordagens de ensino são necessárias,
principalmente se é dado um momento em que o foco no uso de técnicas majoritariamente
gramaticais parecer ser implacável. Há de se convir que, frente às novas tecnologias e ao tipo de
estudante que temos hoje, não podemos nos limitar a uma só abordagem, principalmente quando
essa abordagem pode não ser suficiente para inserir o aluno num mundo pós-moderno que exige
que sejamos hábeis a ser minimamente fluentes nas complexidades inerentes à língua-em-uso para
34 Esta unidade não pertence ao material-fonte, sendo um material desenvolvido e aplicado por Glauber
Heitor Sampaio (anexo), co-autor deste artigo, na Universidade Federal de Viçosa. É uma demonstração de
como este material-fonte pode ser transformado em material de aula concreto.
Revista Querubim – revista eletrônica de trabalhos científicos nas áreas de Letras, Ciências Humanas e
Ciências Sociais – Ano 13 Nº33 vol. 02 – 2017 ISSN 1809-3264
Página 75 de 143
um fim comunicacional.
Fundamentação teórica
Acreditando no impacto que uma unidade didática comunicativa pode ter no ensino de
PLE, procuraremos nesta seção localizar teoricamente as ideias nas quais nos baseamos para a
elaboração desta unidade.
Widdowson (1978) defende que a força comunicativa já na deve estar presente na escolha
dos objetivos e conteúdos visando o uso autêntico da língua nas interações dentro da sala de aula.
Este autor também defende que a língua alvo, doravante L-alvo, pode ser estudada com
conteúdos de outras disciplinas, ou seja, podemos buscar a fonte básica para o ensino de PLE em
outras disciplinas e não somente na língua portuguesa obedecendo ao interesse dos alunos. De
acordo com o interesse dos aprendizes, podemos utilizar elementos de outras fontes disciplinares
como história, ciências, matemática, dentre outras.
Segundo Almeida Filho (2008) o professor comunicativo deve apresentar alguns aspectos
para que sua aula seja considerada comunicativa: oferecer conteúdos significativos e de relevância;
utilizar a nomenclatura comunicativa; tolerar o apoio ou interferência da língua materna, incluindo
os erros; apresentar temas e conflitos do universo do aluno; respeitar as variáveis afetivas como
motivação, ansiedade, inibição e empatia com a cultura da L-alvo, no caso da unidade por nós
elaborada e compilada, PLE.
Krashen (1982) estabelece alguns critérios para que o aluno tenha uma aprendizagem mais
durável e significativa. O insumo oferecido ao aprendiz de uma língua estrangeira deve ser
Revista Querubim – revista eletrônica de trabalhos científicos nas áreas de Letras, Ciências Humanas e
Ciências Sociais – Ano 13 Nº33 vol. 02 – 2017 ISSN 1809-3264
Página 76 de 143
Neste sentido, ao desenvolver uma unidade didática, devemos nos perguntar sobre o que é
melhor para o aluno, o que promoverá o seu interesse e o seu envolvimento, o que fará com que as
aulas sejam agradáveis e relevantes para amparar o aluno no desenvolvimento das suas habilidades
comunicativas.
Apresentação da unidade
Esta proposta para uma unidade didática foi desenvolvida seguindo os preceitos da
abordagem comunicativa (ALMEIDA FILHO, 2011), buscando aproximar a língua do contexto do
aluno, tornando-a mais significativa para ele. Os insumos trazidos pelo professor seriam fotos,
vídeos, mapas, gráficos e, para o caso de alunos com maior contato prévio com a língua, textos e
materiais autênticos.
Considerando que este seria o início de um curso de português e que, portanto, os alunos
seriam recém-chegados à cidade e à universidade, o objetivo desta unidade é familiarizar os
estudantes com informações sobre a localização da universidade e como ela é organizada
fisicamente. Além disso, seria relevante evidenciar aos alunos alguns pontos estratégicos da
cidade/universidade, além da linguagem necessária para “sobreviverem” durante seus primeiros
dias imersos na nova língua-cultura que farão parte como membros temporários por pelo menos
alguns meses.
A unidade está dividida em três aulas de cinquenta minutos, que podem ser redistribuídas
em mais aulas de acordo com a realidade da sala de aula, o tempo de aula e as atividades extras que
o professor decidir acrescentar a ela. A primeira aula tem como tema a Universidade de Brasília, que
pode ser substituída pela universidade onde o curso será dado. A segunda aula trata sobre a
organização de Brasília e como se locomover na cidade. A terceira aula busca levar os alunos a
identificarem os pontos de interesse da cidade.
35 Esta disciplina é ofertada pelo Departamento de Línguas Estrangeiras e Tradução do Instituto de Letras da
Universidade de Brasília (LET – IL – UnB), sendo uma das três disciplinas de Linguística Aplicada para
alunos da graduação.
Revista Querubim – revista eletrônica de trabalhos científicos nas áreas de Letras, Ciências Humanas e
Ciências Sociais – Ano 13 Nº33 vol. 02 – 2017 ISSN 1809-3264
Página 77 de 143
Plano de aula 1
Uma outra opção caso a aula esteja sendo dada a estudantes que não estão familiarizados
uns com os outros é a de iniciar a aula com uma atividade que proporcione a eles a oportunidade de
falar o seu próprio nome e de que país vieram. Neste caso, o procedimento 1, que duraria de 5 a 8
minutos dependendo do número de alunos seria o seguinte:
PROCEDIMENTOS TEMPO
1. Inicialmente, com a ferramenta google maps projetada na tela, o professor ou
professora se apresentará à turma dizendo “Sou _________, e sou brasileira 5’ a 8’
[apontando o Brasil na tela]. E você?” apontando a um aluno aleatoriamente
para que se apresente (caso se tenha conhecimento de um aluno que esteja mais
à vontade na língua, este poderia ser o escolhido para iniciar a atividade).
Esperamos então que os alunos digam seus nomes e o país de onde vieram.
Caso não saibam o país, eles podem levantar e apontar no mapa mundi de onde
vieram e o auxiliaríamos fornecendo o nome em português e pedindo que
repetissem.
Caso a alternativa ao procedimento 1 acima seja aplicada, sugerimos também que se faça a
seguinte atividade no procedimento 5:
5.Revisão: cada aluno repete seu nome, diz o país de onde veio e fala qual e 10’
onde fica seu ponto de interesse turístico favorito em seu país. Caso a turma
tenha poucos alunos e o tempo seja suficiente, eles podem apontar no mapa o
local do ponto de interesse mencionado.
Acreditamos que esta atividade, além de ajudar aos colegas e ao professor a lembrar os
nomes dos alunos, cria um ambiente confortável para que os alunos se sintam seguros para
começar a produzir enunciados em português. Além disso, desperta a curiosidade dos participantes
pela cultura do outro, aproximando-os e suavizando o contato e reduzindo as chances de haver a
ocorrência de filtro afetivo.
Revista Querubim – revista eletrônica de trabalhos científicos nas áreas de Letras, Ciências Humanas e
Ciências Sociais – Ano 13 Nº33 vol. 02 – 2017 ISSN 1809-3264
Página 78 de 143
Plano de aula 2
PROCEDIMENTOS TEMPO
1. Iniciaremos a aula cumprimentando os alunos e fazendo perguntas que
remetem a uma revisão sobre a aula anterior. Pediremos a eles que se
7’
apresentem novamente, de forma breve, reavivando o insumo da primeira aula.
PROCEDIMENTOS TEMPO
1. Iniciaremos a aula cumprimentando os alunos e fazendo perguntas que remetem a uma
revisão sobre a aula anterior. Pediremos a eles que se apresentem novamente, de forma
breve, reavivando o insumo da primeira aula. Explicaremos, então, o que será abordado
7’
naquela aula, na intenção de trazer uma introdução sobre o que o aluno ira desenvolver,
para que o aluno fique mais consciente do que será desenvolvido durante a unidade.”
do desenho de uma Rosa dos ventos, o que seria mais fácil para os alunos relacionarem).
No caso do Rio de Janeiro, por exemplo, existe a opção de visitar o Paço Imperial e a
maquete do centro histórico da cidade, cabendo ao professor julgar ser viável e relevante fazer esta
visita ou não. Acreditamos que aproximar a cidade do alcance do aluno possa dar a ele mais
segurança e despertar nele mais interesse por aprender a língua através deste tema, presente em
tudo o que ele faz diariamente.
Plano de aula 3
A ideia desta aula é apresentar os pontos de interesse da cidade aos alunos. Inicialmente
seriam apresentados os pontos turísticos, e em uma quarta aula, não inclusa nesta unidade
experimental, os pontos de interesse como, por exemplo, a “Rua das Farmácias”, a “Rua da
Informática” e o “Setor de Indústrias e Abastecimento”.
O procedimento 5, descrito a seguir, pode não ser possível caso os aprendizes tenham
dificuldade nos exercícios anteriores ou precisarem de mais tempo para realiza-lo por algum outro
motivo.
7. Traremos alguns pontos (em flashcards, ou outra mídia) e perguntar “Onde fica?”.
Por exemplo, mostrar uma foto do Coliseu e perguntar “Onde fica?” O aluno deverá
responder com o nome do país. O professor pode colocar os nomes dos países no 5’
quadro, na medida em que os alunos fornecerem e demandarem insumo.
Esta atividade faria incluir nos conteúdos “nomes de países”. A depender do tempo e dos
recursos disponíveis, um globo ou mesmo um mapa mundi poderiam bastante práticos.
Resultados esperados
I like how you teach. It is the most intensive class yet and I feel like we’re learning things we should
already know at this point.
(eu gosto de como você ensina. É a aula mais intensiva e eu sinto como se nós tivéssemos aprendendo
coisas que nós já deveríamos saber nesse ponto (fazendo referência à experiência de ensino anterior e as
deficiências em termos comunicativos que trazia consigo))
Nesse fragmento, podemos observar que o aluno tem uma percepção de que da forma
como foi abordado o ensino, ele pôde aprender coisas que já deveria saber, mas que, talvez, não
tinha aprendido anteriormente por não ter sido significante pra ele.
36 Ao final da terceira aula foi pedido aos alunos que comentassem, por escrito, sobre as aulas que tiveram.
Apesar de ser um comentário muito breve, é interessante ressaltar que para o aluno a aula
foi positiva, pois viu possibilidades de aprender ou realmente melhorar suas habilidades de
comunicação oral. Outro aluno indicou, inclusive, sua apreciação pelos usos gráficos utilizados no
material para tornar a unidade mais visual e interessante (o que deve ser uma das características de
um material legitimamente comunicativo):
Gosto das aulas, porém, para mim pessoalmente é tudo um pouco devagar demais. Entendo que os
demais estão de um nível mais baixo, mas gostaria de fazer mais actividades escritas e gramáticas, e.g.
redações, lições de gramática adiantadas, discussões assuntos populares e importantes (política, do
meio-ambiente, da música, da história contemporânea, etc).
Acima de tudo, através dessa verificação entendemos que a proposta alcançou algum
sucesso, haja vista a interação gerada, a ativação de conhecimentos prévios e interculturais, além de
insumos positivos para a aquisição.
Em suma, esperamos que, através do uso deste material, o professor já tenha um ponto de
partida para aperfeiçoar e dar continuidade, colaborando assim também com outros professores
que poderão usar esta unidade no futuro e, também, dar contribuições para o trabalho.
Acreditamos que esta unidade pode receber mais aulas do que as que estão aqui sugeridas.
Seria altamente recomendável acrescentar uma aula de revisão, reinserindo os tópicos trabalhados
nas primeiras aulas de forma a variar o uso para preveni-los de situações imprevistas.
Considerações finais
Nesta área de português língua estrangeira, tão carente de material didático de qualidade,
especialmente na abordagem comunicativa, esperamos que este material seja bem recebido pelos
professores em serviço. Faltam ainda os ajustes necessários e outras complementações que não
puderam ser feitas. A ideia de elaborar material-fonte abre caminhos para o compartilhamento de
contribuições de professores.
O que parece uma tarefa simples, de desenvolver uma unidade comunicativa de PLE, foi se
constituindo um verdadeiro desafio para nós, professores condicionados de certa forma a trabalhar
sob uma perspectiva gramatical apenas com elementos da abordagem comunicativa (BROWN,
2000). Através do trabalho de pensar e elaborar atividades verdadeiramente comunicativas,
pudemos perceber a ampliação das nossas idéias e concepções de ensinar língua de uma forma que
não pensávamos em fazer.
Revista Querubim – revista eletrônica de trabalhos científicos nas áreas de Letras, Ciências Humanas e
Ciências Sociais – Ano 13 Nº33 vol. 02 – 2017 ISSN 1809-3264
Página 82 de 143
Referências Bibliográficas
ALMEIDA FILHO, J. C. P. Fundamentos de Abordagem e Formação no Ensino de PLE e de Outras
Línguas. Campinas: Pontes Editores, 2011.
______________________. Pârametros Atuais para o Ensino de Português Língua Estrangeira.
Campinas: Pontes Editores, 1997.
______________________. Projetos Iniciais em Português para Falantes de Outras Línguas. Campinas:
Pontes Editores, 2007.
BROWN, H.D. Principles of Language Learning and Teaching. New York: Longman, 2000.
CELANI, M.A.A. . Prefácio. In: GIL, G.; ABRAHÃO, M.H.V. (Orgs). Educação de Professores de
Línguas: os desafios do formador. 1. Ed. Campinas: Pontes Editores, 2008.
GLOSSÁRIO DE LINGUÍSTICA APLICADA. Página do Programa de Pós-Graduação em
Linguística Aplicada da UnB. www.pgla.org.br. Acesso em 25 de janeiro de 2012.
KRASHEN, S. Principles and Practice of Second Language Acquisition. Oxford: Pergamon Press, 1982.
WIDDOWSON, H.D.The Teaching Language as Communication. Oxford: Oxford University Press,
1978. (Tradução brasileira: O Ensino de Línguas para a Comunicação. Tradução de José Carlos Paes de
Almeida Filho. Campinas: Pontes, 1991).
Enviado em 31/08/2017
Avaliado em 15/10/2017