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tica.
Para o autor� os partidos políticos,
nascidos da instauração da demo
cracia, e concebidos como os ins ..
trumentos privilegiados do seu de·
senvolvimento, trans fo rm am .. se
inexoravelmente, até mesmo os
mais democráticos, em organiza
ções oligárquicas.
Desta fonna, a leitura de Michels con ..
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Impresso no Br�sil
Título or iginal : Zur Soz.iologie des Parteiu1esens in der Modernen Demokratie de Robert Michels
EQUIPE TÉCNICA
Editores:
Lúcio Reiner, Manuel Montenegro da Cruz,
Maria Rizza Baptista Dutra, Maria Rosa Magalhães.
Supervisor Gráfico:
Elmano Rodrigues Pinheiro.
Supervisor de Revisão:
José Reis.
Controladores de 1'exto:
Antônio Carlos Ayres Maranhão, Carla Patrícia Frade Nogueira Lop e s ,
Clarice Santos, La.is Serra Bátor, Maria del Puy Diez de Uré Helinger,
Maria Helena Miranda, Monica Fernandes Guimarães, Patrlcia Maria Silva de Assis,
Thelma Rosane Pereira de Souza, Wilma G. Rosas Saltarelli.
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SUMARIO
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PREFACIO 3
PR EFAC IO D O AUTOR 9
PRIMEIRA PARTE
C - Fatores intelectuais
SEGUNDA PARTE
E
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Capítulo IV - A atitt1de dos chefes e em relação às massas 87
Capítulo V- A luta pelo poder entre os chefes 95
Capítulo VI - Burocratismo. Tendências cer1tralizadoras e descer1trali
zadoras 105
T E RC EI RA PARTE
QUARTA PARTE
QUI N TA PARTE
SEXTA PARTE
PREFAC I O
O livro de Robert M ichels tem, há mais de meio século, a reputação de ser um
grande livro , mesmo entre aqueles que o citam sem o terem lido. Com o de
Os trogorsky, alguns anos mais velho, é um clássico dos estudos políticos. Durante
mt1ito tempo não teve nenhum equivalente, na França ou no estrangeiro, mesmo
nos Estados Unidos. Continuaria quase o único de sua espécie até o surto de
.
estudos sobre os pa .rtidos p c)líticos, às vésperas da Segunda Guerra M undial,
caracterizado na França pelo aparecimento, em 1 951, do livro p ioneiro de M aurice
Duverger '' O s Partidos Políticos'' .
numa via tão oposta à sua inspiração declarada. E necessário atribuir a responsabi-
lidade desse fato à maldade da natureza humana ou à mediocridade dos
dirigentes . Embora Robert Michels não se prive de emitir julgamentos de grande
severidade sobre estes últimos, recusa- se a ess e tipo de explicação. As verdadeiras
causas de uma evolução tão geral só podem ser mecânicas e institucionais, dizerr1
respeito à natureza das coisas, tal como modelada pela organização social. A
explicação de Michels se organiza em função de dois eixos comple1nentares.
ipso facto, no dia em que o socialismo chegar ao poder: ele tambérn traz em seu
seio a semente da oligarquia.
mais incomodados com a mistura de tons: o cuidado com o rigor, que anima a
descrição, não a isenta de apreciações subj etivas, usualmente críticas, sobre o
comportamento e as motivações dos líderes; M ichels, no nosso modo de ver, passa
com freqüência da análise científica ao julgamento moral. Embora evite ligar os
fatos observados a causas ligadas à psicologia individual, não se priva de fazer o
processo dos indivíduos e sua severidade nem s empre parece fundamentada, por
exemplo, sobre os líderes trabalhistas dos Estados Unidos. O leitor atual ficará
desconcertado com a estreiteza da informação. Muito poucos dados estatísticos em
apoio das análises da composição dos partidários, nada sobre o financiamento das
organizações, nenhum estudo sobre os estatutos, pouca atenção dada ao funcio
nan1ento das instituições, ao desenvolvimento dos congressos, à aplicação das
regras, ao j ogo das forças no interior dos órgãos dirigentes.
Q,ue a obra sofra a marca da época en1 que foi feita não poderia causar-nos
admiração e, menos ainda, ser um motivo de critica Percebe-se isso pelos autores
con· s ultados: Ostrogorsky, Georges Sorel, E. Bertl1. discerne-se nela o eco das
teorias elitistas da época, de M osca e Pareto, o que também se nota na fot111ulação
das questões e nas referências às controvérsias: a disputa Bernstein-Kautsky é
apresentada como pano de fundo. Mais amplamente, o confronto entre reformis
tas e revolucionários nos partidos socialistas da Segu nda Internacional pesa no
estudo.
enriquece, enfim , a reflexão sobre a lgu mas das noções que estão, presentemente,
no núcleo do deb at e po líti co , tais como: del egaç ão , re p resen tação participação e
,
na, não deveríamos infer i r que el a não é realizável na escala da so ci ed ade p ol í tica
glo bal ? Sobre esse ponto, já o dissemos, Robert M ichels não se p er m i t e enunciar
u ma conclusão tão negativa, embora ela s ej a o resultado lógico de sua demonstra
ção. Põe sua e sp er ança na recusa de alguns em aceitarem essa corrupção da
democracia. A t en d ên ci a à o l i gar q ui a é, sem dúvida, incurável, ela res surge
inevitavelmente das p r ópri as tentativas de destruí-la, mas a t end ê n cia antagô n i ca
será menos incoercível? E ssa mistura de p e ss i mis mo lúcido e de resistência ao
desespero transporta-nos a um outro analista da democracia, sobre o qual M ichels
não chega a pronunciar- se, mas do q ual está próximo por algumas de suas
preocupações : Tocqueville. A questão continua aberta nos dias atuais. O fato de
que se possa, meio século após M ichels, pro p ô l a em termos relativamente
-
próximos aos seus, autoriza-nos a acreditar que a inclinação à oligarquia, que tão
utilmente ele trouxe à baila, encontra na natureza das coisas uma tendência
co m p ens adora que a neutraliza parcialmente, de modo a assegurar à democracia
po l í ti c a um equilíbrio re lativ o ?
,
Nesta edição francesa do meu livro utilizo todas as críticas e obse rvaçõ es que
ele suscitou na edição alen1ã, surgida aproximadamente há dois anos. A acolhida
que ele recebeu , então, no mundo científico ultrapassou verdadeiramente to d as as
minhas esperanças. Embora escrito em alemão, meu livro encontrou o primeiro
eco na França, esta velha terra da democracia e das críticas à democracia. Em
segui�a foi discutido na H olanda, onde Leeuwenburg, entre outros consagrou-lhe
uma série de artigos, nos quais minhas teorias se encontram corroboradas por
argumentos tirados da história do Partido Sc)cialista H olandês. Finalmente, ele foi
acolhido com grande fervor na Alemanha, onde a democracia, virgem, e por assim
dizer pouco conhecida tem, não obsta11te, ardentes e cegos admiradores. Em toda
a parte minha obra teve a rara sorte de provocar exan1es notáveis, quer pela
quantidade, quer pela qualidade, inspirados numa meditação s éria das questões
que abordo e escritos por personalidades, algumas das quais ocupam cargos
emi11entes no mu ndo científico e político.
Muitos qualificaram meus es tudos de '' ciência pessimista' '; Outros, viram
nisso o mérito, considerando o oti mismo em ciências sociais como mera mentira.
.
Alguns até mesmo admitiram que o pessimismo decorre fatalmente dá co·nsta
tação dos fatos existentes no livro. Mas, corri respeito a este ponto, dirigiram-me
críticas sérias, en1bora às vezes um tanto ingênuas. Um socialista francês,
10 Robert Michels
E evidente que um livro (1ue sa(�ode a tal ponto as bases do partido socialista
teria que encontrar inúmeros opc)sitores. Mas, a berr1 da verdade, devo reconhecer
que, contrariarnente às mi11has previsões, foi muito berr1 acoll1ido pelos socialistas.
É certo que o economista Konrad Schmidt, en1bora preste homenagem à
abu ndâ11cia d() material ret1nido p<)r mim e ao caráter ''interessante e atraente'' da
mi11ha s í r1tese , declara que os meios de controle de qt1e o partido socialista dispõe
t1oj e en1 dia na Alemanha são suficientes para manter os cl1efes subrnetidos à
vontade da massa. Alguns outros, entre os quais o marxista Konrad Haenisct1,
declararn compreender perfeitamente a utilidade do meu livro, mesmo do ponto
de vista especial do partido socialista e adrnitem explicitamente a existência da
oligarquia no seio do partido. Mas censuram-me por ter tratado o problema da
democracia de uma maneira. muito abstrata, de não ter mostrado suficientemente
que os defeitos e lacunas do sistema democrático na vida dos partidos socialistas
conten1porâneos explica-se, em última análise, pelas condições gerais do regime
social moderno, regime fundado sobre a existência de diferentes classes e de
condições diversas, à cuja influência os próprios S()cialistas não saberiam subtrair
se completamente. Creio ter respondido suficientemente ern meu livro a esta
censura que vê na oligarquia dos partidos uma realidade de ontem e de hoje, mas
nega-lhe o caráter de lei.
CAPITULO 1
repouse sobre o princf pio do menor esforço, isto é, da maior economia de forças, a
organização é, nas mãos dos fracos, uma arma de luta contra os fones.
Urna luta só pode ter chances de êxito 11a medida em que ela se desenvolva no
terreno da solidariedade entre indivíduos com interesses idênticos. Os socialistas,
os mais fanáticos partidários da idéia da organização, enunciam, assim, um
princípio que combina bem com os resultados dos estudos científicos sobre a
natureza dos partidos, quando fazem obj eções às teorias anarquistas e individua
listas de que nada seria mais agradável aos patrões do que verem as forças operárias
se dispersarem e se desagregarem.
CAPITULO II
� ,
eleito mediante maioria de, pelo menos, quatro quintos � os votos . Em casos de
divergências com os patrões ·, motivadas por questões de salários, o representante
da organização devia, antes de começar as negociações , munir-se de uma procura
ção legal. Com esta procuração, cada membro da corporação autoriza\'a,
individualmente, as posições do seu representante, assinando o documento.
Mas, rr1ais re<:ente111er1te, a direção decid iu s u 1'.) rin1 i r o diplorr1a e o título a que dava
direito e instituir um curso complementar destinado exclusivamente aos que já
possuíam empregos nas <)rganizações <) perárias ou que se destinavam a tais
err1pregos. Para os cursos e sp e c i ai s seri a1r1 criadas b<)lsas el e e s t u ci o s , de 200 francos
c ad a financiadas em parte pela l'humanitaria , e, em parte, pelas organizações que
,
,.
Na Austria, enfirr1, proj eta- se a criação de uma escola do partido com base no
modelo ale111ão .
Não o bstante, é i negável que todas estas instituições educacio nais, destinadas
a fornecer fu n c i o n ários ao partido e às organizações trabal histas , contribuern,
sobretudo, a criar artificialrnente, uma elite operária, uma verdadeira cas ta de
cadetes, de aspira11tes ao comando das trc>pas proletárias . Sem o des�jar, cavam
air1da mais <) fosso que separa os dirigentes das rnassas.
Cada partido deixa insinuar- se no seu seio o sistema eleitoral indireto ql1e na
vida pública. combate com a maior veemência. C ontudo, ess e sistema exerce uma
influência mais nefasta no círculo estreito da vida de u m partido do que na esfera
infinitamente mais extensa do Estado . Mesmo 11o s C ongressos que representam a
quintessência do partido, passado através de sete crivos , vemos cada vez mais
estabelecer- se o hábito de devolver as questõ es importantes à comissões que
deliberam a portas fechadas.
err1 todos os ramos da atividade humana. E bem verdade que certos militantes,
sobretu do entre os marxistas ortodoxos do socialismo alemão, procurarn nos
persuadir, atualmente, que o socialismo não tem chefes, no rr1áximo empregados,
porque é um partido democrático e que a existência de chefes é incompatível com
a democracia. M as uma tal asserção, cor1trária à verdade, nada pode contra uma lei
sociológica. Ela tem, ao contrário, o efeito de fortificar o domínio dos chefes,
escondendo das massas um perigo que realmente ameaça a democracia.
Uma organização forte exige, por razões, tanto de técnica administrativa como
táticas , uma direção igualmente forte. Se uma organização é frouxa e vaga, torna
s e impotente para dar nascimento a uma direção profissional. O s anarquistas, que
têm l1orror a toda organização fixa, de qualquer natureza, não têm chefes corri
funções regulares.
A medida que o partido moderno evolui para uma fo1111a de organização mais
sólida, vemos acu sar-se muito mais a tendência a substituir os cl1efes ocasionais
por chefes profissionais . Toda organização partidária, mesmo pouco complicada,
exige certo número de pessoas que lhe dediquem toda a sua atividade. A massa
delega, então, o contingente necessãrio, e os delegado·s , munidos de uma
procuração formal, representam a n1assa de forma permanente e abandonam suas
outras atividades.
Por volta de 1 8 40, es sas idéias eram muito propagadas e quase universalmente
aceitas. Na França, particularmente, os que se ocupavam de ciências sociais e os
políticos de idéias de1nocráticas estavarn profundamente convencidos da sua
verdade. Os próprios clérigos juntavam sua voz àqueles que condenavam o sistema
representativo. O católico Louis Veuillot dizia: ' ' Quando eu voto, minha igualdade
cai na urna junto com o meu voto; eles desaparecem ju ntos' ' .
CAPITULO I I I
democráticas. ' 'Aqueles que são chamados para nos conduzir, nós prometemos
fidelidade e submissão. Nós lhes dizemos: homens enobrecidos pela escolha do
povo mostrai-nos o caminho e nós vos seguiremos. '' São reflexões desse tipo que
28 Robert Mich els
A ligação íntima que existe entre o partido e o exército é atestada pelo interesse
passional com o qual alguns dos chefes mais notáveis do socialismo alemão se
ocupam das questões militares.
PSI C O LO GI CA
,
CAPITULO I
' �
mer1tos.
,
Tratam-se de bonitos gestos d·e mocrático s, mas que di ss imulam mal o espírito
autoritário que os dita Qµem coloca uma questão de confiança parece s11bmeter
se ao julgamento de seus partidários; mas, na realidade, está j ogando na balai1ça
todo o peso da sua autoridade, verdadeira ou suposta, e acaba exercendo, na
maioria das vez es , uma pressão a que os ou tro s têm que s e submeter.
O s chefes cuidam para não deixar transparecer que suas ameaças de demissão
visam apenas a reforçar o poder deles sobre as m as s as . Eles d ecl aram , ao
contrário, que sua conduta é ditada pelo mais puro espírito democrático, que ela é
uma pro..va flagrante de sua se n si b il id ade e de sua delicadez� de seu sentirnento de
d i gn i d ad e pessoal e de sua deferência para com as massas. M as se examinarmos a
fundo, perceberemos que a maneira deles agire m qu eir am eles ou não, é um a
clara demonstração oligárquica; a manifestação de uma tendência a se livrar da
v o n t ade das massas. Sej am elas p e didas com segundas intenções ou apenas co1n o
fin1 de imped ir divergências de opiniões entre os cl1efes
de 111é:tr1tt:�r
e a i-nas sa, e
entre ambos o contato necessário, as demissões têm sempre o efeito p rát i co ele
impor à massa a autoridade dos chefes.
,
CAPITULO I I
Temos aqui, portanto, uma prova da influência que exercem, além das
condições locais, as considerações de ordem tática. A preponderância das massas
urbanas da organização sobre as massas rurais espalhadas, é um fenômeno que
reflete a necessidade de pro11tidão 11a resolução, e de rapidez na execução;
necessidade cuja alusão j á fizemos no capítulo relativo à importância tática da
.
organ1zaçao.
...
Nas próprias cidades grandes, ocorre com freqüência, uma seleção espontânea,
através da qual se desprende da massa organizad a um certo número de indivíduos
34 Robert Michels
Em quase todos os países podemos observar este fato, de que as reuniões onde
se discutem as atualidades políticas, sensacionais ou sentimentais (impostos sobre
o trigo, acusações contra ministros, Revolução Russa, etc.), até mesmo aquelas
onde são tratados assuntos de interesse geral (exploração do Pólo None, higiene tisica,
espiritismo), atraem muito mais gente, mesmo que sejam reservadas só aos
membros do partido, do que as reuniões consagradas às questões de tática ou de
teoria. Essas últimas questões são , entretanto, de uma importância vital para a
doutrina ou a organização.
Nós mesmos, tivemos a oportunidade de fazer essa observação '' de visu' ' em
três grandes cidades típicas: Paris, Frankfurt e Milão. Podemos constatar que,
apesar das diferenças políticas e étnicas, existe nesses três centros a mesma
indiferença pelos assuntos do partido e a mesma falta de ass iduidade às suas
reuniões ordinárias.
O que agrava ainda mais a situação, é que não são sempre os proletários que
formam, particularmente nos pequenos centros, o público habitual das reuniões e
Sociologia dos Partidos Políticos 35
...
exceções, tudo acontece naturalmente, e não ' ' artificialmente' ' . E natural, antes de
mais nada, o próprio movimento à frente do qual se encontra o chefe. E, na
maioria das vezes, este entra na arena não por sua própria vontade, mas levado
pelas circunstâncias. Não menos natural é o ráp ido esvaziamento da agitação
quando o exército se encontra desprovido de seus chefes.
Mas a necessidade que a massa tem de ser dirigida e a sua incapacidade de agir
de outro modo que não seja pela iniciativa vin.da de fora e de cima, impõe aos
chefes fardos extremamente pesados. Os chefes dos partidos políticos modernos
certamente não levam uma vida tranqüila. Seus postos nada têm a ver com
sinecuras. Eles têm de adquirir sua supremacia ao preço de um trabalho
massacrante. A vida. deles é um esforço incessante. O trabalho de agitação tenaz,
perseverante, incansável do partido socialista, e particularmente do socialismo
alemão, também suscitou, com justiça, a admiração de seus críticos e adversários
burgueses.
Ele tem de pagar constantemente com sua pessoa, e quando motivos de saúde
exigem sua licença temporária, ele não está livre de ter que negá-la a si próprio. As
exigências que tem de cumprir não lhe dão o menor descanso. As massas têm a
mania incurável dos oradores de peso, dos grandes nomes e, na falta deles, elas
exigem, pelo menos, os ' ' honoráveis ' ' . Em ocasiões de festas e aniversários, pelas
quais as multidões democráticas são tão gulosas, assim como em ocasiões de
reuniões eleitorais e inaugurações, a direção é assediada por todas as panes com
pedidos que terminam sempre pelo mesmo refrão: ' ' Mandem-nos deputados' ' .
Na Itália, basta uma simples greve local para que se solicite, imediatamente, da
direção do partido, o envio de um deputa.do socialista ao local. Já aconteceu até de
uma organização rural do partido socialista italiano ter chamado um deputado
para_ encarregá-lo de estudar as condições locais do trabalho agricola, de encontrar
tneios de melhoramento, e de apresentar logo em seguida, um relatório aos
proprietários; o que o mobilizou durante quatorze dias.
CAPITULO I I I
"" ,
Mas, se abstrairmos esses casos excepcionais, podemos dizer que a massa paga
40 Robert M ichels
seus chefes com um reconhecimento sincero, o qual é considerado até mesmo como
,.
CAPITULO IV
A adoração dos militantes pelos seus chefes permanece geralmente latente. Ela
se revela através de sintomas aper1as perceptíveis, tais como o tom de veneração
com que se pronur1cia o nome do chefe, a absoluta docilidade com que se obedece
ao menor dos seus sinais, a indignação com que se acolhe toda crítica dirigida
contra a sua pessoa. Mas, quando se trata de personalidades realmente excepcio
nais ou em momentos de excitação particularmente viva, o fervor latente se
manifesta exteriormente com a violência de um paroxismo agudo.
Em 1 8 64, os habitan tes exaltados da região Renânia acolheram Lassalle como
um Deus. As ruas estavam todas enfeitadas com guirlandas; damas de honra
especialmente escolhidas para essa ocasião pelos comitês formados nas diferentes
localidades, faziam cair sobre ele uma chuva de flores. Filas intermináveis de
carruagens seguiam o coche do '' Presidente'' . Um entusiasmo transbordante e
irresistível, e aplausos frenéticos acolhiam as alocuções as vezes extravagantes e or-
gulhosas, d e um charlatanismo exagerado, pelas quais o triunfante mais parecia
querer desafiar a cr íti ca do que provocar aplausos.
Foi uma marcha verdeiramente triunfal. Não faltou nada: nem os arcos de
triunfo, nem os hi nos de saudação, nem as recep ções solenes de delegações vindas
.
42 Robert Michels
com os costumes religiosos, eles às vezes levavam nos seus cortejos o crucifixo ao
lado da bandeira vermelha e cartazes inscritos com frases tiradas das obras de
Marx. Camponesas e camponeses faziam a escolta dos chefes, a can1inho das
reuniões, com música, tochas e lampiões. Para saudá-los, muitos se postavam à sua
frente, extasiados de adoração, do mesmo modo como se postavam antigamente à
frente dos seus bispos.
particularmente, pelo seu culto aos l1 eró i s. E por isso que na Itália meridional e em
parte, também, na I tália central, os ch efe s ainda são, mesmo atualmente, rodeados
de mitos de caráter religioso.
Enrico Ferri foi, durante tt m certo ten1po, adorado na Calábria como um santo
protetor contra a corrupção governamental. Em Roma., onde a tradição das formas
clássicas do· paganismo ainda é conservada, o mesmo Ferri foi saudado no salão de
uma grande cervej aria, em nome de todos os po p u lare s como ' ' o maior dos
'' '',
maiores'' : e tudo isso por ter qt1ebrado um vidro em sinal de p rotesto contra a pena
de cer1sura que lhe foi infligida p elo Presidente da Câmara ( 1 90 1 ) .
soberano recebera antes ; e os salões onde ele dava· reuniões foram transformados
em verdadeiras estufas floridas, tantos eram os buquês que lhe traziam ( 1 8 8 6 ) .
E tal atitude da massa não se observa somente nos países ditos ' ' atrasados' ' ; ela
é um resquício herdado da psicologia primitiva. C omo prova disso, basta ver a
idolatria de que a pessoa do p ro feta rnancistajules Guesde é obj eto no Norte, isto
é, na região rnais industrializada da França. M esmo nos distritos operários da
I nglaterra, ainda hoj e acontece das massas proporcionarem aos seus chefes uma
acolhida que lembra os tempos de Lassalle.
A veneração aos chefes persiste depois de suas mortes . Os maiores dentre eles
são simplesmente santificados. Depois da morte de Lassalle, o Allgemeiner
Deutscher Arbeiteroerein, do qual ele acabou tornando- se o rei absoluto, não
demorou para dividir- se em dois grupos : a ' ' facção da Condessa H atzfeld' ' ou
'' linha feminina' ' , assim corno a chamavam ironicamente os adversários marxis
tas, pelo nome da Condessa H atzfeld qt1e o dirigia, e a ' 'linha mas culina' ' tendo
como chefe J . B . von Scheitzer. E mbora combatendo-se asperamente, esses dois
grupos tinharn en1 comum não só o culto à memória de Lassalle, mas tam bérr1 a
fidelidade até a última letra do seu programa: este é um fato dos mais conhecidos
da história do rr1ovimento operário moderno. O próprio Karl Marx não escapou a
essa espécie de canon ização socialista, e o zelo fanático com que certos marxistas
ainda o defendem hoje, se aproxima muito da idolatria da qual Lassalle foi objeto
no pas sado.
ciclos os nomes dos grandes fundadores d·a nova religião, São Pedro e São Paulo, os
pais socialistas de hoj e também dão aos seus nenéns, em algumas partes da I tália
Central onde o partido conseguiu se implantar, os nomes de Lassalo e de Marxina.
E ste é, por assim dizer, um símbolo da nova fé. E muitas vezes esse símbolo só
prevalece à custa de sofrimentos, brigas com parentes rancorosos ou com oficiais
do registro civil teimosos; às vezes também à custa de graves danos materiais,
como a p erda de emprego, etc . . .
Esse hábito, se ele é às vezes uma manifestação desse esnobismo fanfarrão que
infesta os meios operários , não deixa de ser, com freqüência, a expressão exterior
de um idealismo profundo e sincero. Mas é, em todos os casos, uma prova da
adoração das massas pelos chefes, adoração essa que ultrapassa os limites da
simples devoção que deve se sentir em relação a p essoas que prestaram serviços
inesquecíveis ao partido.
As massas sentem urr1a profu nda necessidade de se curvar, não só diante dos
grandes ideais, mas também diante dos indivíduos que, para eles, representam esses
ideais. Seu idealismo leva-as a ajoelharem-se diante das divindades temporárias às
quais elas se agarram com um amor tão cego a ponto de tornar a vida que levam
44 Robert M ichels
ainda mais dura. Há um pouco de verdade no paradoxo pelo qual Bernard Shaw
opõe a democracia à aristocracia como um agregado de idólatras a um agregado de
ídolos.
A necessidade de adoração é, às vezes, o único ' ' rochedo de bronze' ' que
sobrevive a todas as mudanças supervenientes na maneira de pensar das massas.
Protestantes fervorosos, os operários industriais do Reino da Saxônia tornaram-
,
se, ao longo desses últimos anos, socialistas ardentes. E possível que essa evolução
tenha sido acompanhada, entre eles, por uma transformação completa de todos os
valores. M as é certo que se eles tirara1n do melhor canto da sua mansarda a
imagem tradicional de Lutero, foi apenas para st1bstituí-la pela de B ebel.
I
No meio das ruínas do velho mundo moral das massas , só continua intacta a
coluna triunfal da necessidade religiosa. Muitas vezes as massas se comportam em
relação aos seus chefes, como aquele escultor da Grécia antiga que, depois de
modelar u m Júpiter robusto, cai de joelhos, ch eio de adoração diante da s ·ua
própria obra.
CAPITULO V
Sabemos a influência que exerce a palavra falada num país que conheceu
,
Poderr1os dizer também, por outro lado, que a ausência de talento oratório
explica em grande pane porque, na Alemanha, uma person alidade como a de
Edouard Bernstein permaneceu na obscuridade, apesar do valor de sua doutrina e
sua grai1de i nfluência intelectual; porque, na Holanda, um Domela Nieuwenhuis
acabou perdendo sua posição preponderante; porque, 11a França, um homem da
inteligência e da cultura de Paul Lafargue, apesar do seu próxim o parentesco com
Karl Marx preferiu na direção prática e teórica do partido um Guesde que, longe
de ser um sábio, possui uma n1entalidade sobretudo simplista mas é, em troca, um
orador de grande valor.
Os que aspiram à capitania nas organizações operárias estão, aliás, longe de
desconhecer a importância da arte da oratória. No mês de março de 1 909, os
estudantes socialistas do nome menos socialista ' ' Rus ki n College' ' , da U niversi
dade de Oxford, declararam- se descontentes com o fato de seus professo res
concederem ao estudo da sociologia e da lógica pura, um lugar mais imponante do
que aos exercícios de oratória. Políticos em potencial, os alu no s percebiam muito
bem o proveito que poderiam tirar da arte da oratória na carreira à qual estavam
destinados. Por isso resolveram dar à sua reclamação uma sanção enérgica e se
puseram em greve até que lhes fosse dada plena e inteira satisfação.
O prestígio que o orador adquire junto às massas é, por assim dizer, ilimitado.
Mas o que a massa aprecia sobretudo no orador são os dons da oratória, tais como
a beleza e a força da voz, a docilidade de espírito, a classe; enquanto que o
conteúdo do discurso só tem para ela uma importância secundária. Um uivador
que corre de um lado para outro como se tivesse sido picado por uma tarântula,
para discursar na frente do povo, passa facilmente por u m camarada zeloso e
' ' ativo'' , por um verdadeiro militante; mas aquele que, sentado diante da sua mesa
de trabalho, discursando pouco, trabalhando muito, realizando uma obra
verdadeiramente útil para o partido, é considerado com desd enho e tido por um
socialista incompleto.
Maso que as mas sas supo rtam no .mais alto grau é o pr estigi o da celebridad� .
Basta que o hom em céleb re levante um dedo para que no mes mo mom ento se crie
Sociologia dos Partidos Políticos 47
uma situação política. As massas, aliás, julgam uma honra confiar a uma
celebridade a direção dos seus assuntos. As multidões se curvam sempre, e de
bom-grado, ao jugo dos indivíduos célebres.
Para o povo , o fato de ter u m nome que j á lhe s�j a farniliar cm certos d()n1ínios,
constitu i o rr1elhor título para obter o grau de cl1efe. N () lugar (Í e seus chefes que, a()
preço de longas e dt1ras lutas , adquiriram un1 r1 or11e d e11tro do próprio partido, as
massas sempre preferirarr1 i nstin tiva111e11te o s i nd ivíclu() S que, já (:()l)ertos de
honras e de glória, chegaram a elas com toda a sua bagager11 de direitos à
imortal i da.d e.
Alguns fatos concorn itantes , ligados a<) fe11ômer10 ql1e ora descrevemos,
merecem ser mencionados. A h istória nos er1s ina desse modo que, entre os cl1efes
que conqu i staram sua posição der1tro do pré)prio partido e os que entraram rio
partido com o prestígio de urr1a glória a�quirida lá fora, um conflito não demora
em .surgir e que esse conflito se reveste,co rn freqüência, na forma de uma luta regular
pela hegemonia entre duas facções . Essa luta é provocada pela inv�j a e o ciúme em
uns e pela presu nção e ambição nos outros.
A esses fatores subj etivos acrescentam- se ainda razões obj etivas e de tática.
O grande homem que conqui stou suas posições dentro do partido tem geral mente
sobre o outsider a vantagem de possuir o senso do imediato, um conhecimento
mais profundo da psicologia da multidão e da história do rnovimento operário e,
e1n muitos casos, uma idéia mais precisa sobre o co nteúdo dogmático do
programa.
N essa luta entre os dois grupos de chefes , podemos quase sempre discernir
duas fases . Os grandes ho mens, recém-chegados, começam por arrancar as rnassas
do poder dos velhos chefes para em seguida pregar o seu novo evangelho que as
multidões aceitam com um er1tu siasmo delirante. Mas a luz que ilumina esse
evangelho não mais emana do tesouro de idéias, cuj o conjur1to cor1stitui o
sociali smo propriamente dito, mas da ciência ou da arte nas quais esses grandes
hon1ens adqu irirarr1 anteriormente sua glória. e a admiração que eles suscitararn
j unto ao grande público arr1orfo.
Por sua vez, os velhos chefes, cheios de rancor, depois de terem se organizado
na surdina, acabam por tomar abertamente a ofensiva. Eles têm, aliás, a seu favor, a
vantagem natural da preponderância numérica. Acontece er1tão, com muita
freqüência, dos novos chefes perderem a cabeça, porque, na sua qualidade de
grandes homens, eles alirr1entavam a ilusão de estarem completamente protegidos
de qualquer surpresa dessa natureza: os velhos chefes não são, na verdade,
indivíduos medíocres, que só ganharan1 a situação que ocu p am senão depois de
um longo e penoso aprendizado? Ess·e aprend izado que, na opinião deles , não
exige grandes qualidades intelectuais, é considerado pelos novos grandes homens,
do alto de suas superioridades , com urna mistura de desdenho e de pena.
Mas existem outras razões pelas quais os homens célebres quase sempre
sucumbem à luta que ora descrevemos. Poetas, estetas ou sábios, eles recusam
So ciologia d o s Partidos Polí ticos 49
Enrico Ferri, depois de ter-se deparado, desde seu ingresso no partido, com a
desconfiança tenaz dos velhos chefes, cometeu faltas teóricas e práticas que
te rm i naram de uma vez por todas, com o seu p apel de chefe-oficial do partido
,
socialista.
Q.,uanto à idade dos chefes, ela não tem nenhuma importância. Os antigos
gregos diziam que os cabelos brancos são a primeira coroa que deve cobrir a
cabeça dos chefes. M as nós vivemos numa época em que j á não se precisa tanto da
experiência acurnulada de vida; em que a ciência coloca, ao alcance de todos,
tantos meios . de i11strução que até o mais jovem pode tornar-se em pouco
tempo um poço de ciência. Tudo se adquire rápido hoje em dia, inclusive a
experiência que constituía a única e verdadeira superioridade dos velhos sobre os
JOVens.
•
50 Robert Michels
Por isso (e isso não depende da democracia, mas do modelo técnico da civiliza
ção moderna) a velhice perdeu, atualmente, muito do s eu valor de antanho e, por
conseqüência, o respeito que ela inspirava e a influ ência que ela exercia.
E s ses líderes não faz em somente sen ti r sua i nflu ência na organização sindical,
r1a. ad ministração e na imprensa do partido : ex- op erário s ou ex- burgueses, eles
monopolizam igu al m ente a representação parlamentar do partido.
E para realizar essa co 11quista que os rep resentantes dos partidos revolu cio-
nários entram no corpo legislativo . M as o trabalho parlamentar qu e eles ali
reali zam, inicialmente a contrago sto , depois com uma sati sfação e um zelo
p rofissi onal crescentes , o s a.fas ta cada vez mai s dos s eus elei tores . As qu es tões que
se colo can1 à sua frente e que exigem, para s erem compreen d idas, uma preparação
s éria, têm o efei to d e ampliar e de aprofun dar sua competência técni ca e de
,
aumentar ainda mai s a di s tânci a que os separa dos outro s camarad as . E as sim que
os ch efes chegam a possuir, se j á não possuíam antes , u ma ' ' instru ção ' ' real. E
ins tru ção s ignifica p o s si biliclade d e exercer sobre as mas sas u m poder d e suges tão .
N ada mais natural , aliás , poi s es s es chefes não poden1 ser subs ti tt1ídos
imedi atamente, uma vez que to dos os demais membro s do partido são es tranhos
ao mecanismo buro crático, absorvidos que são p elas suas ocupações coti dianas .
Graças à competência que proporcionam em trabalhos pot1 co ou nada aces síveis à
Sociolo gia dos Partidos Políticos 55
A hi stória dos partidos operários nos oferece todos os d ias casos em que os
chefes entram em contradição flagrante co rn os princípios fundamentais do
movimento e os militantes não reso lvem tirar dessa situação todas as conseqüên
cias que dela decorrem logicamente.
O s socialistas ingleses, seja qual for a ala que pertençam, ao contrário, sempre
declararam abertamente que, por ser eficaz, a democracia deve necessariamente
sofrer a pressão de uma espécie de despotismo benévolo: He (the leader) has a scheme
to which he works, and he has the power to make his will ejfect ive.
O CARATER D OM I NAD O R D O S C H E FE S
T
CAPITULO 1
A E STA B I LI DAD E D O S C H E FE S
Bem mais graves foram as perdas que o partido socialista alemão teve que
sofrer durante o primeiro período agitado do regime de exceção, e sob retudo
durante a era bismarquiana.
Nos anos mais agitados , o êxodo foi particularmente inten so . Foi assim que
em 1 88 1 , um pouco ar1 tes das eleições que d emonstraram a vitali dade ind omável
do partido socialista na Alemanha, atraves s aram o oceano Friedrich Wilhelm
Frítzch ( morto em 1 905) e o critico de La.ssalle, Julius Vahlteich, este último ainda
vivo, ambos antigos chefes do movimento lassaliano e deputados socialistas no
Reichstag.
Mas apesar da tempestade que castigou durante mais de dez anos o partido
socialista, o nú mero daqueles cuja atividade socialista sobreviveu a es sa época de
terror foi p rodigiosamente gr an d e Subentende- se daí nas ép ocas de relativa calma
.
O autor des te livro se irnpôs a tarefa de revelar bas eado nas listas de presença
dos C o ngressos realizados em 1 8 93 por três partidos socialistas internacionais
•
(' ' D emocracia-Social ' ' alemã, ' ' Partido operário' ' gu esdistas na França, ' ' Partido
Socialista italiano' ' na Itália) , o s nomes daqueles que, ern 1 9 1 O, ainda se
encontravam nas primeiras fileiras dos combate11tes . D esse modo ele chegou ao
s egu inte resultado que, na med ida em que está baseado unicamente no conheci
mento direto das pes soas , não pode certamente p retender u ma precisão absoluta
nem p or isso, deixa de se aproximar sensivelmente da verdade: dos 200
rr1as,
delegados no C ongresso de C olônia, 60 ainda es tavam lutando em 1 9 1 O; dos
93 delegados no C ongresso de Pari s , 1 2; e dos 3 1 1 delegados no C ongresso de
Reggio, Emília, 1 0 2. O que cons titui, sobretudo para os partidos operários da
Alema�n ha e da I tál ia, uma proporção muito elevada.
N ada disso existe, contudo, nos p artidos socialistas que têm uma sólida
organização ; o sentimer1to da tradição, l igad o à necessi dade instir1tiva de um
estado de co isas estável, faz, ao contrário, que a d ireção sup erio r represente
sempre mai s o passado do que o presente. Essa direção é mantida indefini damen
te, não porque ela é a expressão tangível das relações d e forças existentes no
p artido num determinado momento, mas s imples mente porque ela já está
,.
ção contra esse eventual sacrilégio foi enorme e suficiente para fracassar com o
plano.
,
Vemos, por esse exemplo, que nos assuntos da organização operária italiana a
responsabilidade ministerial é menor do que no Estado italiano, onde o ministério
se acha na obrigação de pedir demissão quando a maioria da Câmara vota contra
Todo organismo burocrático repousa, pela sua natureza, sobre uma divisão
do trabalho . Mas em toda a parte onde reina a divisão do trabalho existem funções
específicas, especializações . Isso é particularmente verdadeiro num Estado como a
Alemanha, onde reina o espírito prussiano, onde, para dirigir com segurança o
navio do partido entre os escolhos das humilhações policiais, administrativas e
judiciárias, é preciso que os comandantes possuam uma experiência empírica
muito grande e onde, por conseqüência, só se pode assegurar uma certa
continuidade para o desenvolvimento do partido mantendo invejosamente os
mesmos chefes nas mesmas funções.
Da mesma rr1ai1eira, um partido que muda com muita freqüência seus chefes
corre o risco de não poder, no momento oportuno, contrair alianças úteis. O s dois
mais graves defeitos da democracia, sua falta de estabilidade, o perpetuum mobile
66 Robert M ichels
Já faz algum tempo qu e o mandato imperativo recebe uma aplicação cada vez
mais rara: con statou-s e, na verdade, que ele p rej udica a coesão, de vital
necess idade para um partido, e que ele provoca perturbações e inceneza na sua
direção.
"
A medida que os chefes se afastam das mas sas , eles se mostram cad a vez mais
dispostos a ocupar os vazios que se p roduzem em seus quadros, não pela via da
eleição p opular, mas pela cooptação; a aumentar seus efetivo s criando, por st1a
próp ria iniciativa, sen1pre que isso for possível, novos postos. O s chefes ter1dem,
p or assim dizer, a isolar-se, a a rodear-se de
for1nar uma es p écie de carlell� um
muro que só pode s er transposto por aqueles que o s agrad am.
CAPITULO I I
As deserções e as traições dos chefes são raras rio partido socialista alemão .
Elas são, ao co11trário, muito freqüentes no partido s ocialista francês , sobretudo na
sua facção parlamentar. As eleições de 20 de agosto de 1 8 93 trouxeram ao Palácio
Bourbon seis deputados socialistas: Paulin M éry, Alphonse Humbert, Abel
H ovelacque, Alexandre M illrand, Pierre Rich ard e Ernest Rache. Desses sei s
deputados socialistas, apenas o lingüista e a.n tropólogo muito conhecido, Abel
Hovelacqu e, permaneceu até a sua morte fiel ao socialismo; quanto aos outros,
eles figuram hoje em dia, vinte anos depois, entre os adversários declarados do
partido socialista.
Podemos dizer o mesmo dos partidos socialistas de n1uitos outros países tais
como a B élgica, a Itália, etc. , onde os chefes socialistas ainda não foram contami
nados pelo vírus governamental.
Podemos dizer dos chefes socialistas alemães que eles nunca perdem contato
com as massas.
Num Estado onde não existe governo parlamentar nem, por conseqüência,
uma via direta que conduza os representantes do povo às chancelarias ministeriais
(os ministros sendo escolhidos pelo soberano entre os altos funcionários da
administração e sem levar em conta a maioria parlamentar) , a possibilidade de
Sociologia dos Partidos P()líticos 71
- u1r1a corrupção intel ectual, isto é, d e uma mudança repentina de opir1ião por parte
dos chefes socialistas, e11contra-se excluída ipso facto; da mesma maneira como se
<�11contra excluída urna adesão dos representantes do socialis mo revolucionário ao
reforn1ismo social burguês.
Mas, por outro lado, Arturo Labriola, que aco mpanhou o movimer1to alemão
co 1n rr1uito interesse e viva simpatia, está completamente certo quando prediz,
ir<-) nicamente, que o dia em q·u e o goverr10 alemão quiser se dar ao luxo de um
si 1nples rn inistério l ib eral izante (os socialistas sendo, na verdade, fác:eis de
agradar) , a ' ' infecção reforrr1ista' ' to111ará na Alemanha uma vasta exten são . E os
ger1nes dessa i11 fecção, acrescenta. ele, existem d esde j á em grande abundância.
Mas, embora admitind(> que a estrutura feudal do irr1pério alemão, que ainda
se reflete no direito públi<:(> e na rnentalidade coletiva, opõe, limites, por assim
dizer autóctones, às eve11tuais ar11bições dos chefes operários, devemos reconhe
cer que só a falta de ten tações 11ão é suficier1te para explicar o fato em questão . Essa
explicação inostra-se tão insuficiente quanto as tentações , no ser1tido Vl1lgar e
material (la palavra, qu(� r1 ão faltara 1n na Alemanha mai s que em alhures.
por fran co ati radores fora da ambiência do p arti d o propriamen te dito: estas são
- ,
algumas das numerosas causas que concorreram para fazer nascer entre os
merr1bros do partido sociali sta alemão o amor pela organização como tal, amor
capaz de resistir às mais violentas tempestades .
O amor pelo partido com o qual a grande · maioria dos carr1aradas se senterr1
identificados contribui bastante para que homer1s do valor de Edouard Bernsteir1,
de Kurt Eis ner e outros, não hesitassem, nem por u m só instante, em permanecer
nele, mesmo quando ásperos conflitos quase os reduziram ao mais baixo grau do
partido. Mas é j usto acrescentar que ao longo desses conflitos, eles souberam
conservar intacta essa dignidade sem a qual um ho mem honesto não pode
permanecer entre seus companheiros de luta.
Essas razões idealistas são reforçadas por razões, não menos importantes, de
orderr1 material . O háb ito de remunerar, de uma maneira suficiente pelo menos,
os serviços prestados ao partido pelos seus servidores , cria um laço que numerosos
compan heiros evitam romper, e isso por mil razões . O princípio da remuneração
pecuniária dos serviços prestados ao partido, em vigor na democracia socialista
alemã, imuniza seus servidores contra tentações mais grosseiras.
E o que nos dirão todos aqueles que conhecem , mesmo de longe, as condições
de trabalho e de remuneração da imprensa socialista e o tipo de vida que levam o s
empregados do partido. H o mens que possuem a cultura de u m Karl Kautsky, de
um M arx Q_uarck e cem outros poderiam dispor, se não tivessem colocado suas
faculdades a serviço da cau sa operária, de meios e poder m ateriais bem superiores
àqueles que cons egu iram na condição de humildes servidores do partido
socialista.
organ1zaçao.
...
Diz- se que: Staatserhaltend sind nur jene, Die von Staate viel erhalten1 •
1. Jogo de palavras i n tradu zível . A tradução lit erária seria: " São conseivadores (do Estado) só aqueles
que recebem muito do Estado" . A palavra alemã erhalten tem dois senúdos: o de conservar e o de
receber.
74 Robert Michels
conservadores mai s tenaz es de um partido são na verdade aqueles que dele mais
dependem.
Quand(> a dependência atinge um certo grau, ela exerce igualmente uma ação
decisiva sobre a psicologia. O bservamos que nos países onde a gratificação
parlamentar não existe, mas onde as próprias organizações pa.gam seus deputados,
estes têm urr1 sentimento muito vivo da sua dependência face aos seus mandantes.
Nos países, ao co ntrário, onde existe uma gratificação parlamentar mais ou menos
elevada, os deputados, mesmo que eles devam sua eleição u nicamente ao partido
socialista, s e sentem antes de tudo parlamentares .
Saben1os que o s êxitos numéricos dos sindicatos devem ser atribuídos em boa
parte ao princípio da mutualidade, isto é, às vantagens ecor1ômicas que os
sindicatos oferecem a seus partidários. Ora, esses êxitos sugeriram à democracia
socialista alemã, por s ua vez a idéia de as segurar à totalidade de seus membros as
vantagens cuj a. burocracia do partido era a única a se beneficiar até aqui.
subsídios para despesas funerárias . Eles sabem muito bem porque introduziram
este costume. Eles entenderam que nós estávamos numa situação de inferioridade
com relação às organizações profissionais precisamente porque não asseguráva
rnos aos nossos mernbros nenhuma vantagem direta. M as isso não poderá
.
cont1n uar assim ' .
'
.
Na Itália, o g·o verno se opõe à gratificação parlamentar, j ustifi cando que não
seria conver1iente que os eleitos da 11ação recebessern, em trc>ca de sua atividade,
um vil salário e m moeda soante; daí resulta (1ue, visto à pobreza do particlo
social ista italiano, os operários se encontram excluídos, a priori, do parlamento .
Dos tri nta e seis deputados socialistas da Câmara italiana ( 1 909), só encontramos,
na verclade, dois velhos operários (cl1efes de organizações sindicais) . Na França,
entretanto, onde os deputados recebem 11ma gratificação suficientemente elevada,
pudemos con statar, segundo M . Fourniere, que os colegas mais pobres são
representados por deputados ricos.
Na Alemar1ha, todavia, semelhante fato tornou- se mais difí cil, por um lado,
pela própria composição do partido socialista, que co mpreende muito poucas
pessoas ricas e, por outro lado, pela grande riqueza coletiva que dispõem suas
caixas .
•
no Congresso.
Mas nós deven1os acrescentar que a opinião pú l)lica condena, com freqüência,
esse co sturne de conferir manciatos sem subvencionar as despesas de viagem do
delegado, e estig1natiza os ma11clatos desse gênero, qualificando-os de ' ' mar1 datos
de complacência' ' . O fato de conferir e de aceitar esses r11a11datos é considerado
pela maioria dos camaradas como uma traição contra o partido e como u ma
tentativa de corrupção. No Congresso de Brême, em 1 9 0 4 , esse fato fo i até mesmo
denunciado como t1m verdadeiro cri me (caso Feh11drich) . Essas acusações são às
vezes i nj us tas , pois é p reci so , corri freqüência, rr1ais devoção e espírito de sacrifício
para ir a um congresso às próprias cus tas, do que para ir passar uma semana de
férias às custas dos ca.m aradas da seção l <)Cal .
Várias proposições fo ram feitas co1n o fito de re111 ed iar esse estado de co isas .
Foi assim que para reali zar o postulado democrático da igualda.d e de todos os
colegas, qua11to ao direito de se fazerem representar nos congressos, a seçã() de
Marbo u rg tinha emitido o voto , ern 1 9 0 3 e ern 1 9 04 , para que as despesas de t<) d as
as delegações fossem cobertas pel a caixa central d o p artid o .
E ssa iniciativa r1ão teve contir1u ação . Foi preciso, p c) rt a r1 te) , pr<)curar u111 () Lt tf()
.
reméd io para o m al , e <) que se e 11co n trou , e r11 b<) ra i 11 s u fic i e n te, cor1 s i s t i a e r11 reu nir
,
várias organ izações l o cais em fe<ierações provinciais . E ass i rr1 que C) S t' stat Ltt-c> s d a
federação prc)v incial de H esse11- N assau CC)11tên1 a d isp()s ição segui r i t e : Ac1 u <:�las ' '
der1tre as seções loca.i s que faze1n parte da federação , e s ã<) lTl ll i t C) p()brt:S f) a ra
subve11cio nar as d espesas de u 1r1a del t�gação , part i(jpa. r ãc) t() d <) S os J.Il () S d e u n1a
escolha tirada ri a sc)rte, que d es i g11 ará quais d e l a s terão <) d irei to cie e11viar a<)
Sociologia dos Partidos Políticos 77
, ,
congresso um delegado às custas da fed eração . E notemos, de passagem, que
cinco ' ' colégios' ' , dos dez que compõern a federação, figuram nesse caso.
Um partido que dispõe de uma caixa bem provida pode não somente
renunciar ao apoio material dos seus membros mais afortunados e eliminar assim
sua preponderância nos assuntos internos, mas também formar um corpo de
funcionários fiéis e devotados, pois estes tiram do partido seus únicos meios de
. .
ex1stenc1a.
"'
Quanto aos deputados que, para conservar sua cadeira, aceitaram esse
imposto em princípio, a maior parte deles sempre se mostrou pouco apressada em
pagá-lo. Os congressos do partido socialista francês também carregaram nas
costas, durante longos anos, o pesado fardo da discussão inter111 inável sobre os
meios de obrigar os parlamentares teimosos a depositar suas cotas na caixa central.
Mas (e esta é uma amarga ironia da história) , não tardou para se perceber que o
fato de despoj ar os deputados de uma parte de seus vencimentos em favor do
partido não constituía o meio mais eficaz de im.p edir a formação de uma oligarquia
plutocrática. Consta, na verdade, do relatório elaborado pela direção do partido
socialista francês no Congresso de Nimes ( 1 9 1 O), que dos 1 28.000 F de receita que
dispõe o partido, 6 7 . 250 F, isto é, mais da metade, são formados pelos pagamentos
78 Robert Michels
As coisas mudaram de l á p ara cá, mas ainda existe uma corren te operária que
procura fixar o s vencimento s dos fu ncionários do partido de forma que não
ultrapas sem o s alário pago nas fábricas .
H á alguns ano s, u m s i ndicato operário votou até mesmo uma moção segundo
a qual o emp regado deveria ser remu nerado por hora e pela tarifa em vigor no
ramo de indústria à qual ele pertencess e como membro do sindi cato .
M ui tos camaradas adotam ainda, para a fixação dos venci mento s dos s eus
empregados, esse princípio ..de. que o montante da remuneração deve ser inferior
àquele que seus res pectivos colegas recebem do s empregad ores burgueses .
•
Sociologia dos Partidos Políticos 79
Devemos dizer, todavia, que, de uma maneira geral, a classe operária alemã
está habituada, hoje em dia, a pagar bem seus empregados. I sso se explica em
parte pela riqueza crescente dos sindicatos e do partido socialista. M as além dessa
existe ainda outra causa: os próprios empregados co11seguiram deixar a questão
dos vencimentos longe da publicidade dos congressos, fazendo-a discutir a portas
fechadas nas comis sões da imprensa.
A indignação contra os ' ' quinze mil' ' foi tanta, que os operários não quiseram
mais conceder ao s funcionários de suas organizações vencimentos que ultrapas
sassem a décima parte da gratific..ação parlamer1tar: eles lhes pagavam, conseqüente
mente, os modestos ordenados de 1 . 500 F por ano. Em 1 900- 1 90 1 , os três
en1pregados da C onfederação Geral do Trabalho (secretário, tesoureiro e ' ' per
manente' ') só receberam, todos eles j untos, 3 . l 7 3 F. Os dois servidores superiores
da Federação do Livro recebem cada um, 300 F e o tesoureiro 1 00 F mensais. Os
metalúrgicos acreditavam estar dando prova de uma generosidade extraordinária
ao contratar três empregados com o ordenado mensal de 234 F cada um e (em
1 905) sete ' ' secretários regionais' ' com o ordenado mensal de 1 8 0 F cada u m .
Isso se explica, acima de tudo, pela falta de fundos. Durante vários anos foi
preciso improvisar no dia-a-dia administradores , secretários e tesoureiros de
sindicatos e de seções locai s, apelando para a boa vontade e devoção dos
carnaradas. A11tes de 1 905, a Federação dos Tipógrafos era a única qu e tinha um
pessoal especializado para a guarda dos livros e para a administração do
patrimônio federal. E mesmo hoj e em dia, a vida das organi z açõ es ainda é
rudimentar e exposta às maiores vicissitudes.
arrogância patronal e pelo arbítrio do qual a clas se operária r1ão está isenta nas suas
relações com seus subordinados. E, no que concerne às organizações jovens, ela
tampouco se explica somente pela penúria dos meios financeiros.
Na Alemanha, tal estado de coisas pode ter cor1seqüências rr1ais graves que em
qualquer outro pais. A concentração do poder no partido que prega as doutrinas
• • • 1 .
•
Sociologia dos Par ti d o s Políticos 81
marxi stas é m ais evid ente que a concentração marxista dos capitais na vid a econô
mica. D e alguns ano s para cá, os dirigentes do p artiçlo socialista alemão
recorreram a várias medid as de repressão como , por exemplo, a ameaça de não
dar nenhu m homem , as sin1 como nenhum centavo, p ara p ropaganda eleitoral em
favor de candidato que não os agrade, mesmo que os camaradas conced am a es se
candidato toda a sua co nfiança. I nútil dizer que tal procçdi mento não se aj usta
,_ . ..
,
bem com os pri ncípios da ' ' liberdade'' e da ' ' fraternidade' ' . E assim que nascem
relações estreitas de depend ência, de superioridade e de i11ferioridade hierárqui
cas , relações provocadas pela força do deus invisível ' ' D inheiro' ' , e isso no seio de
um partido de trabalhad o res que se louva de não ter ' ' nem D eus nem M estre' ' .
CAPÍTULO I I I
OS C HE FES E A I M PRE N SA
A fo11na com que os chefes utilizam a imprensa com vistas a exercer seu
domínio varia naturalmente de um país para o outro, segundo os costl1mes
nacionais . Onde a organização e a força do partido ainda são fracas, a influência
dos chefes é direta e pessoal. Acontece, por exemplo, que em países como a
França, a Inglaterra e a Itália, onde o caráter popular ainda apresenta uma marca
fortemente individualista, o chefe democrático se considera o autor, pessoalmente
respor1sável, pelo s eu artigo de fundo, que ele assina com o seu nome e sobreno
me. O artigo que aparece no ú Socialiste, de Paris, chama a atenção, não por si
só, mas porque traz, em letras grandes, a assinatura de Jules Guesde. O chefe faz
pesar sua influência sobre as massas de uma forma direta, manifestando sua
opinião abertamente, e atribuindo-lhe, com freqüência, a fonna de um decreto,
no lugar de maior destaque do jornal.
até mesmo a sua existência. Isso explica a pouca impo rtân cia do papel pessoal que
desempenha o jornalista alemão , e, a pouca consideração social que parece
gozar.
A grande massa considera a censura que foi infligida como tendo sido
praticada em nome de um princípio ou de uma classe, como err1anante, em suma,
de uma esfera superior e impessoal; essa censura aparece, por esse motivo, mais
grave e quase indelével.
Por outro lado, toda a redação se sente responsável pela publicação que,
enquanto anônima, foi feita com o consentimento unânime da coletividade; ela se
solidariza, portanto, com o agressor, o que torna quase impossível a reparação
eventual do dano que poderia ter sido cometido.
Quanto à vítima, ela ignora quem é seu agres sor; ª<? passo que se soubesse o
seu nome, poderia adivinhar as razões que inspiraram o ataque, em vez de ficar
reduzida a se defender contra sombras ilusórias e fugitivas. E se por acaso acontece
Sociologia dos Partidos Políticos 85
mais tarde dela descobrir s eu agressor, não lhe é permitido, sob pena de perder
seu cargo de jornalista, defender- se individualmente; e essa proibição tira da
defesa um de seus elementos mais preciosos e mais eficazes .
A imprensa fica sempre nas mãos dos chefes, nu nca nas das massas.
""' '
socialistas modernos. E aos membros que mais se distinguerr1 por st1a competên-
cia e sua capacidade que cada partido confia os cargos mais eminentes , os cargos
que permitem, na sua opinião, o trabalho mais útil e o mais eficaz.
Resulta daí que a conduta seguida pela facção parlamentar adquire em muitos
casos o valor de suprema lex.
Qualquer crítica um pouco viva, ainda que fosse feita em nome dos princípios
fundamentais do socialismo, é rigorosamente repudiada pelas massas, a partir do
momento que ponha em risco o grupo parlamentar, no sentido de enfraquecê-lo.
E os que, apesar de tudo, ousam fazer uma crítica d essa natureza, são imediata
mente reduzidos ao silêncio e severamente estigrnatizados pelos chefes .
Mas não é· a etiol o gia do estado o l igár quico dos s indicatos- que nos interessa
aqui. Constatat'emos apenas quão pouco as facções das oligarquias proletárias
d i ferem das facções de outras o l i garqu i as Isso feito, daremos uma rápida olhada
.
mente a cooperativa de p rod u ção que, por sua natureza, parece se prestar rr1enos
ao estabelecimento de um poder o l i gárqu ico .
que, como tal, ultrapassa a co m petê nci a da mass a. E por isso que as sociedades
cooperativas de con s u m o são d iri gi das de uma maneira geral, segundo o
,
p r1 n c1 p 1 0 m onarqu 1 co
, .
. , .
Vejam, por exemplo, o que um critico, com boas intenções, pôde escrever
sobre o Vooruit, de Gand, uma cooperativa de consumo de tendências nitidamente
socialistas, encabeçada pelo socialista Édouard Anseele: ' ' Esta prosperidade e esta
boa administração não acontecem sem alguns prejuízos à sacrossanta liberdade
operária. O Vooruit inteiro traz a marca da fone personalidade que o criou . . . "
' ' Uma vontade poderosa, pronta para reivindicar as responsabilidades, diante das
quais outros recuam incessantemente, acaba quase sempre por se entusiasmar por
ela mesma M. Anseele, grande industrial de fato, tem voluntariamente as
maneiras impett1osas, imperiosas e bruscas dos capitães de indústria mais
burgueses, e o Vooruit nada mais é do que uma república anárquica. Ele repousa,
principalmente, sobre o principio da autoridade' ' .
Na medida em que uma coo p e rativa de p rod ução precisa de u ma direção, esta
pode ser exercida por todos os associados, pois todos possuem a mesma
competência profissional.
Em geral, os chefes não fazem questão da alta estima das massas. Tendo tido a
oportunidade de vê-las de perto e de apreciá-las durante o exercício de suas
funções, os chefes não temem em afirmar que as massas são incapazes de gerir seus
próprios assuntos. Seria, dizem eles, contrário aos interesses do partido que uma
minoria de camaradas, que seguem e estudam atentamente as questões, se
deixassein di s suadir pela maioria daqueles que não têm nenhuma opinião pessoal sobre
,
aquilo que se passa em volta deles. E por isso que os chefes se pronunciam, senão
contra o referendum em geral, pelo menos contra sua introdução na vida do partido.
O que caracteriza, na verdade , essencialmente uma d emo cracia é que S<)b seu
reino cada um traz cor1sigo um b astão de m...arechal.
,
O ra, essa ascensão de novos chefes sempre acarreta, para aqueles que já estão
p rov id os e garantidos, o p erigo de ceder seus lugares aos recén1-chegados. Por isso,
o velho chefe deve manter-se em contato p er m an en te com a_s opin i õ es e os
sentimentos da massa, a quem ele deve o seu cargo, confessar.. se seu instrumento e
submeter-se aparentemente, pelo menos, a seu b el p razer
- .
Parece então que estes últimos, se não desej am submeter-se à vontade das
massas e se retirarem , devem con sentir em dividir seu poder com os recém- chega
dos. Mas, vendo isso de perto, constata- se s em qualquer constrangimento que sua
submissão não p assa, geralmente, de uma medida de previsão , destinada a
neutralizar a influência dos j ovens concorrentes .
se vê obriga.do a fazer algu ma coisa para ser lembrado de vez em quando. E essa
necessidade que provoca tantos discursos, desses discursos gue os alemães chamam
' ' D auerreden' ' (discursos intermináveis) , e mais de uma cena tumultuada nos
Parlamentos austríaco, francês, inglês e italiano .
Essa loquacidade não setve apenas para manter o prestígio do partido aos
olhos dos adversários, mas também responde ao interesse de cada deputado, que
vê r1ele um meio de assegurar sua reeleição tanto contra os inimigos externos como
contra os concorrentes invejosos que conta no próprio seio do partido.
'foda oligarquia é suspeita em relação aos seus próprios as p irantes nos quais
,
ela busca não apenas seus herdeiros eventuais, mas também sucessores prontos a
suplantá-la sem esperar sua morte natural. É, para seIVir-nos de uma expressão
yankee, uma lura. entre os ins e o s outs, entre os q ue estão dentro e os que
esperam do lado de fora, entre os capitães e os aspirantes ao capitanato.
98 Robert Michels
talking big things, e11chendo a boca, e isso com o único fim de intimidar os
dirigentes do partido e levá-los a ceder aos camaradas turbulentos e impacientes
uma parte do quinhão. Mas, com freqüência, os velhos chefes resistem, ficam
fi111.1es; nesse caso o s oponentes mudam de tática, abandonam a atitude de
combate e agarram-se ao carro de triunfo dos homens que estão no poder, na
esperança de atraírem seus favores e de realizarem assim, por uma via indireta,
seus projetos am b i ci o s o s
.
estão de acordo com eles . E por isso qt1e os detentores do poder são sempre os
partidários mais zelosos da disciplina e da subordinação, que eles consideram
con10 as condições essen.ciais da existência do partido. Eles chegam a ap li car a
censura aos colegas suspeitos de intenções de rebelião; eles os obrigam a renunciar
às revistas independentes que dirigem e a publicar seus artigos apenas nos j ornais
oficiais do p ar ti d o
.
Em sua luta contra os j ovens, o velho chefe pode contar em p r i m ei ro l u gar com
o apoio das próprias rnassas.
quando o recém- chegado é desertor de uma outra classe social. Por isso o novo
recruta deve submeter-se a uma longa quarentena, antes de a dq u i ri r o direito de
exprimir uma opinião pessoal. Essa quarentena é par ti cu l arm ente longa no
partido socialista alemão e se explica pela existência mais longa desse partido e
pelo pres tí gio que recai sobre seus chefes atuais. Mui tos destes podem, na verdade,
considerar-se seus fundadores e 111uitos sofreran1 perseguições goverr1air1entai s e
rigores da lei contra os socialistas .
Um socialista que leva no bolso há oito ou dez anos sua carteira de membro do
p arti d o passa rnuitas vezes, na sua própria seção, por um camarada ' 'jove1n'' . E o
Sociologia dos Partidos Políticos 99
que vem reforçar ainda esse fenômeno, é o respeito pela idade, pela h ierarqu i a ,
Para combater os novos chefes , que ainda são minoria, os velhos recorrem
ainda, com um i n s ti r1 to seguro, a uma série de procedimentos mais ou menos
honestos que, se não lhes asseguram sempre a vitória, pelo menos retardam u m
pouco o momento de sua d errota. Fazer os oposicionistas passarem por incompe
tentes, profanos, fofoqueiros , corruptores, demagogos e mistifica.d ores é um
me i o ao alcance de todos, e os velhos chefes não deixam de empregá-lo.
Mas muitas vezes também eles procuram justificar sua conduta em relação aos
j ovens por motivos de ordem mais elevada. Eles invocam notadamente a
necessidade de manter a integridade do partido, a unidade da sua doutrina e da sua
tática, integridade e unidade essas que poderiam ser gravemente comprometidas
pela invasão de joven s que não se submeteram a um estágio suficiente e qu e não
possuem a exper1enc1a e a competenc1a necessar1as .
. I'\ • " • , •
Os velhos chefes declaram que é seu dever cuidar para que as massas não lhes
im p onh am, com o colegas, pessoas indesejáveis. E é por essa razão que eles exigem
que os colegas não enviem ao Reichstag candidatos que não se submeteram à
investidura da direção do partido .
Os velhos chefes procuram ainda atrair e conquistar para seu partido as novas
subcategorias que , recém-abertas à vida política, ainda não têm cl1efes reconheci�
1 00 Robert Michels
E para guiar esse j ovem movimento, criou- se um ' ' C omitê Central da Juven
tude O perária Alemã' ' , composto de quatro representantes para cada uma das
três seções: direção do partido socialista, comissão geral dos sindicatos ej uventude
socialista Esse ' ' Comitê Central' ' compreendia, portanto, oito ''velhos' ' contra
quatro ' 'jovens'' . Para justificar essa tutela imposta aos jovens, os velhos chefes
alegai..am, com mais oportunismo do que lógica, a incapacidade dos j ovens, e dos
jovens somente, de escolher judiciosamente seus chefes· e de exercer sobre eles um
controle eficaz.
Por isso o caminho que conduz ao poder é para eles excessivamente penoso.
Ele está se1neado de armadilhas e obstáculos de toda espécie, e só a benevolência
da rnassa é capaz de facilitá-lo.
'Todavia, é raro que a luta entre os velhos chefes e os jovens tern1ine co1n a vitória
completa dos primeiros. Na maioria das vezes ela tem1ina mais numa fusão do que
numa circulação das elites ou, em outras palavras, num amâlgama dos dois
elementos. Esperando sua hora, e desde que não percam de vista seus interesses, as
minorias rebeldes sabem aceitar as circunstâncias, simular uma obediência
exterior à vontade da maioria, aceitar sem o menor escrúpulo ordens do dia que
impliquem sua própria condenação.
É assim que na França os ' ' guesdistas' ' , que contam com muitos partidários,
gostariam de ver adotado o principio da representação proporcior1al; ao passo que
os ' 'jauresistas' ' , que dispõem de mais seções do que membros, assim como os
' ' heIVeistas'' , pedem a con servação do sistema da representação local ou por
delegações.
Q.,uando um projeto de lei de certo interesse está a ponto de ser votado, esse
Comitê convoca imediatamente um caucus, isto é, uma reunião do grupo
parlamentar que estabelece, em sessão privada, a orientação s egu nd o a qual os
deputados deverão votar. A decisão de tal caucus é obrigatória para todos o s que
pertencem ao partido.
Por isso o grupo vota no Parlamento como um homem só, e isso não apenas
nas questões relativas ao socialismo, mas também naquelas que não estão
relacionadas a ele senão que indiretamente e nas quais cada um deveria poder
decidir-se segundo suas idéias pessoais.
E corr·eto reconhecer que agindo assim, eles são, com freqüência, guiados por
um puro sentimento democrático.
so, a fazer uso dos mandatos que lhes foram conferidos por grupos políticos ou
corporativos. Após discussões extremamente violentas, eles não deixaram de ser
admitidos na sua simples condição de deputados , depois de terem levantado a
seguinte questão de princípio: um corpo eleitoral importante, capaz de enviar à
Câmara um deputado socialista, não deve ter pelo menos os mesmos direitos que
são reconhecidos a um círculo soç:ialista ou a um sindicato operário local,
sobretudo se levarmos em consideração que esse círculo ou esse sindicato está
composto na maioria das vezes por um pequeno grupo de membros?
A exemplo dos católicos que, todas as vezes que estão em minoria, se tornam
partidários ardentes da liberdade, os chefes socialistas, que estão à frente da
minoria oposicionista de seu partido, se dizem inimigos ferozes de qualquer
tirania. Eles protestam com veemência contra o espírito rigoroso e policial dos
chefes no poder e simulam uma atitude irrepreensivelmente democrática
Mas, assim que os novos chefes alcançam os seus fins, assim que eles
conseguem derrubar, em nome dos direitos violados da massa anônima, a odiosa
tirania de seus predecessores e conquistar, por sua vez, o poder, imediatamente
vemos operar-se neles uma transformação que termina por torná-los exatamente
semelhantes, sob todos os aspectos, aos tiranos destronados.
N a época do que chamavam ' ' o social i s m o d o s emigrantes' ' , os social istas
tinham todo o tempo para ded icar- se a urr1a políti(�a elevada de princípios ,
inspirada pelo i n tern acior1al i smo c lá ssi co . O tipo de v i d a que l ev ara.m esses
pri rr1eiros S()Cialist.as , as lor1gas e ard entes tro cas de idéias , durante os i ntermi ná
veis l azeres , em vo l ta ela chal eira russa assubiante, o co n tat<) co 11tí11 uo co rn hon1ens
de d iversas origen s , a impossibilidade de d e s d obrar a menor at i vi d ad e p r áti c a - ' ' ' ' ,
todas essas C()11d ições l h es impunharr1 a co r1ce p çà() de urr1 socialismo ern inente
r11ente ideal i s ta e ir1ternacio nal ista.
s i n d icai s . Qu a n t o rr1ai s eles s e ded icarr1 ac) estudo d e ciuestões t.é(=n icas , n1er1 os
te111 p o , des�j <) e ir1 teres se l hes s ob ra para <) e s t u do dos grandes p r ob le IP,. as d e
.,
.
\. . .. ..
científi cas .
E rn to d a bu ro cracia, o b serva- s e a caça a()S emp regc)s , a man i a das p ro1no çõe s ,
u ma servi l i d ad e o b sequ io sa frente aos superi()res e u m a ati tu d e co r1des cen dente
e m rel ação ao s i n feri o res .
É verda(le, d i z ele, que a Prús s i a é governad a segu ndo p ri ncíp i o s h o mogên eos ,
por urna buro cracia que p o d e ser co nsiderada con1 0 o m o d el o do gê nero; mas é
i gu al m e nte verdad e que, pelo fato dess a bu rocracia, e ap esar de set1 s s u ce ssos
exteri ores , a Prú s s ia está regredi ndo do p o n to de v i s ta i n t er11 0. S e e s s e E s tado ai n d a
é capaz d e prod uzir algu mas i ndivi d ual id ad es d e destaque, ele n ão pode de
ne11 l1 u rn n1o d c) t<)lerá- las no seu s ei o ; de modo que sua p o lí t i ca se dege nere cad a
vez mais para u m a ro ti na mecânica o nde o es pí rito está au sente. E l e é hostil a
qual quer p ro gres so verdadeiro .
Pod ern (JS até rnes n10 d i zer que qu a11 to m ai s u ma bu rocraci a s e di sti n gu e pelo
s eu z el() , pelo s et1 senti mento do d ever e p ela ded icação à causa qu e rep res enta,
rr1ais ela se mo s tra p eque na, res trita, rígida e i l i beral .
Socio logia dos Parti dos Político s 107
C om o todo s i s tema cen tral izador, a buro cracia enco n tra, entretan to , s u a
j us tificação nesta vel ha o b servação d e que, p o r s erem exp ed i dos de uma form a
ráp ida e p reci sa, a rr1aior parte dos as su ntos exigem u ma certa unidade
adm i n i s trativa. C orr1 o s i stema do fed erali s m o o exercício de um grande número
de fu nções como, por exem p l o , a execu ção d e trabal h o s es tatís ti cos tão i n1po rtan
tes , não p o d eria n u n ca ser fei to d e mar1eira sati sfatória.
N a A lerr1anl1 a, a au toridad e dos chefes rr1anifes tava- s e i n i cial m ente, co11 fo rme
o caráter do povo e a i ns u ficie11te edu cação política das mas s as , sob u ma forma
monárq u ica: era a d i tadu ra i l i mitada d e u m s ó .
C riação pes s o al d e u m h orn em extraord i nári o , ela conti n h a até 11o s seu s
menores d etalh e s a marca d e sua pers o nal i dade.
Mas esse órgão não estava composto no L 'Arbeiteroerein, como era o caso
do J\Tationalverein, de vários membros: ele estava representado por um só
indivíduo . Ferdi n an d Las sall e, co mo mai s tarde seu s u ce s s o r J o h nann B ap ti st vo n
S chwe i tzer, ti n h a, co m o tí tu lo de Presi d ente do partido dos trabalha.d o res
alemães , poderes comparáveis ao s do D oge ela Rep ú b l i ca de Veneza, co m a úr1 i ca
diferença de que sua autoridade não era limitada, como a dos doges, por
instituições de controle oligárquicas. O presidente governava como um verda
deiro monarca absoluto. Livre de qualquer fiscalização, ele nomeava motu
proprio seus s ubstitutos, seus plenipotenciários e até mesn10 s eu próprio
s ucess or. Ele co rnand ava: os outro s não tinham senão q u e obedecer.
E ele acres centou : ' ' O s d o i s te rmos o p o s to s que n o s s o s h o rnens de E s tado têm
co nsid erado até aqu i como inco nciliáveis, cuj a fu são lhes p arece até mesmo uma
verdad ei ra p e d ra fi lo sofal , isto é, a l i berdad e e a au toridad e, esses d o is extremos
es tão ti nidos da forma mai s í n.ti ma err1 r1 o s s a as sociação qt1e rep res en ta, p o r
consegu i nte, o modelo e m miniatu ra d a n o s s a próxima forma so(:ial! ' '
As s i m n as ceu em l 0 11 d res () C <) r1sel l1() Geral , aut oridade s up rerna, corn p o s t o
..
Ele es c o l h i a e rrt s eu p r ó p r i o seic) os fu n <:i o 11 ár Í () S er1 car regacl c)s e.i a di reçã(> (i C) S
as s u nto s , tais co mo o tesoureiro , o secretário- ge ral e o s s ecretário s correspon
dentes p ara os d i fere11tes paí ses, e 11 ão h es i ta\!a, 110 1 n o 111 e n t o oportu r1 0 , > fi ar
t:� r11 C( r1
Sociolo gia dos Parti d o s Polí tico s 1 09
i\ l é� r1 1 (f i s S() C) S t'('rt·t.ari a<i c) adr11 it i a p rerrogati vas 111 u i t<) i 111 p o rta11 te s , t ai s C<) Ill ü ,
J»() r <:"> x(· 111 1) l (> , <> r(�C<) 1 1 h eci 1 1 1 e11 to d as St"' çÕes rcc(�rr1- co n stitu í (l as , a cc)r1 ces s ão <) U a
r<'<� u s a de s u l) s í cl i o s f) Ccu 11 i ár i o s (� a solu çã<) d t· C() fl trc)vt·rs i as s u rgi (fas e11 t re
ca1r1 ar a ci as .
,.
e111 t c)ci a s as s u as r11a r1 i fes taçõ es prát Í (�as e teóri c·as r11 ais s ign i fi cat ivas , à dor11 i 11ação
ei a \'() ll t�t<l <:"' el e· fe rrc) excl u s iv<1 ele Karl M arx. O CC) r1 fl i t.o q u e ex i s tia 11 0 seic> do
(� (> 1 1 s el l1() t� 1 1 t rt� a <) l i garq u i a (l e (l i re i t<) <� a 1 n o 11 ar(1 u i a d e fat () fc) Í a c�au sa í r1 ti111a da
ráf) i ci a <l(:.cafl t"r1 ci a <i a 1 11 t e rr1 ac i c) 11 al .
A c< > 11 cl t1 t a cl<) (� <) r1 s e l r1 <) C�t�ral e �l d e M arx e r11 p art i cu lar f() ran1 d e 11 u nc.·i ad as
('() I l l <.) s (� 1 1 cl <) cc> 1 1 t rá r i as ac) s<>cial i s 111c) , p c) rci ue , 11 a s u a fu nesta avi d ez pelo p (>cier,
es s es l1 <) 111 t� 11 s , (_l i z i a- s e , i 1 1 t ro d u z i a111 11 a p c) l í t i ca dos C) f) Crári os <) S p ri 11cí p i o s el o
au tc)ri tari s 1 11 <> . E. s s ,1s acu s ações parti ra 111 a p ri r11 e i ra vez el e fo ra, i s t c) é, de gru p c) s
q u e r1ãc) es tava111 re1)re s e 11 ta(ÍC) S Il () C c) 11 s t� l t1 () Geral .
M as p o u co a p o u co vo zes eleva ra111- se 110 s e i <) d o C o nsel l·1c) i ncl Lts íve p ara
conter a am b i ção des mes u rad a de M arx . E rn b reve el e fo i aba n do r1 ad o pela
maio ria dos seu s ve lhos an1 í go s . O s blanq u i s tas franceses separaran1- se d e l e co m
o stentação, depois dele ter transferido arbitrariamente a sede do C onselho Geral
para Nova Iorque. Os dois chefes influentes das uniões operárias inglesas, Odger e
Lucraft, afastaram- se de Marx, porque, como membros do C onselho Geral, eles
não foram consultados por ele a propósito do ma11ifesto em favo r da comun idade
d e Paris que co nti n ha, er1 tretanto, s u as as s i 11atu ras . E o s e111 ig·rar1 tes al e 1nães
res identes 11 a I n glaterra, J u ng e E ccari u s , d eclarararr1 r1 ão p o d er col ab c) rar cc> 111
p es s o as tão autoritárias c o mo M arx e E nge ls . E o s ol iga.r cas fizeran1, as s i 111 ,
desaparecer a rno narq u i a i n ci p iente q u e ti 11 h a s e fc.) rm ad o no s eio do C o r1 selho .
A fi m de po der ' ' co l o car em ação sem d emora, o nd e q uer que estouras s e a
l u ta eco11ô rni ca de clas se s , as fo rças reu n idas e o rgan izadas de toda a cl as se
operária' ' , a Vel ha I nternacional impôs ao proletariad o internacional a concentra
ção mais ógida. A N ova I nternacional toma, ao contrário, a forma d e um sistema
n1u i to fraco , co m p o s to de elementos es t ran h o s u n s aos o u tro s , o n de cad a qual
p o s s l1 i uma o rgani zação interior m ui to rígida, mas q u e não u l trap as sa em
extensão os limites de um Estado. Em outras palavras, a N ova Internacional é uma
confede ração de o rgan i s m o s polí tico s perfeitam ente au tô no mo s .
As oligarqu ias nac i o r1ai s não es tão d i spo s tas a recon h ecer a au toridade das
res o l uções i11terr1acionais senão quando q u is erem livrar- se de uma fac ç ão
incômoda d e seu parti d o . O ra os chefes da m in o ri a fazem au tenticar através de um
C() tnu n í cado i n ternacio 11al a pu reza el e sell S ser1tin1 e ntos em relação a mai o ria, que
ele s acusam de heresia, ora são, ao contrário, os chefes da maioria que procu ram
tri u n far no carn po i n ternacio nal s obre chefes da mi noria que r1 ão co nsegu em ter
raz ã() 11c) s eu p ró p ri o paí s .
Exe m p lo do segu n d o caso: os parti dos s o cialistas alemão e i tal ian o ap ó iam s e
-
1 8 95) pa.ra l ivrar- se defi n itivamer1te de su as facções antip arl amen tares e anar-
qu 1 stas .
.
M as, no próp rio s e io d o s partidos naci o nai s , a cen tral ização está longe d e ser
abs o luta. O bserva- s e aí também t end ênc:ias à d es central ização . Essa des central i
zação é o b ra das rr1in orias com pactas d e chefe s que, antes d e s u bmeterem-se à
d ireção central do partido, p refererr1 co ntinuar na s u a esfera de ação lo cal
( mu n i cí p i o s , co m u n i d ades , etc. ) .
O s chefes que fazem p arte da minoria não den10 11 s tram r1e nhuma si mpati a
por u ma organização nacional fortemen te central izada. j\1lio C és ar preferia ser
p ri meiro em Gália que segu ndo em Ro ma. U m Vo ll mar que p o s s u i sobre seus
bávaro s u m a au to rid ade tão gran cle a ponto de ter s i do apel idado ' ' o re i não
coroado da B avária' ' , não pode prestar- se ao pap el de segu r1do viol i no no co11certo
do so cial i s mo ale mão . An tes primeiro e1n M u nique que s egu n do em Berlin1 !
A luta destas co ntra aquelas reves te- se, as s i m , com as fo rmas d e urr1a
verdad e ira luta pela_ l i berd ade; e q u ando os chefes d as m i n o rias s e sentem muito
fortes, eles chegam até a i nvo car a s u p ressão p u ra e s i m p l e s d e todo ó rgão central
do partid o .
três emp regados técn ico s . E própria do j aco b i n i s m o , acres cen tava ele, a vo ntade
de governar de cima o part i d o i n te i ro .
seio dos partid o s democráticos m odernos apresenta.rn , s o b vári cis aspectos , u rr1a
importânci a ci en tí fi ca mu ito gran d e .
<) fato el e que a o po s i ç ão centralizaci a, i n ter r1aci<> n al o u nacio 11al , r1ão tt�rr1 la a n a(
V(�r , j u r1to ac) s seu s (�am peões , co r11 o des �j o de c o n c1 t1 i sta.r u r11 a rr1 ai c) r lil) erdad e
i 11 d i v i d u al .
afi rmam q u e o s ' ' suli stas ' ' ai r1 da vivem n u m meio p eq u e r10- burgu ês , p acífico,
rur al , e r1 q uan t<) eles, corn sua gran d e ind ú s tria, representam o progres so ; ao que
os ' ' s u l i stas ' ' res pondem , não s e m o rgt1 l h o , que j á v i vem em co nd ições de centro
qu{� s eu s camaradas d o norte ai r1da devem co n q u i s tar, destru i n d o a grande
propriedade e suprimindo a classe privilegiada dos junkers .
D i ferenças d e rn e i o análo gas separam os s o c i al i s tas i tal i an o s .
Na Itál ia, o s soci al i s tas d o s u l s e vol tam igualm e nte co ntra os do n o rte e
Enquanto os sociali stas do Vale do Pó são adver sários feroze s dos direito s
sobre o tri go , p o i s esses d ireito s faze m en carecer a v i d a d as mas s as o perárias
Sociologia dos Partidos Políticos 1 13
A essas razões, por assim dizer intrínsecas, porque resultarr1 diretamente das
diferenças objetivas que separam as duas regiões, acrescenta-se ainda, p;:tra
confrontar os socialistas do sul corn os do norte, u ma razão extraída da atitude do
governo central.
Essa atitu de foi qualificada de p olítica de duas faces : liberal no norte, ela tem se
mostrado na rnaioria das vezes iliberal no sul, onde o governo se acl1a muito
ligado aos grupos loca.i s, únicos ju ízes eleitorais numa região cuj a população corn
direito a voto é p ouco numerosa.
CAPITULO 1
,
A M ETAM O RFO S E PS I C O LO GI CA D O S C H E FE S
Na maior parte dos casos, e sobretudo no começo de sua carreira, o chefe está
sinceramente convencido da excelêr1cia de princípios que representa. ' ' O guia, diz
com rnuita razão M . Gustave Le B on, tem sido sobretudo, na maioria das vezes, o
guiado. Ele próprio foi hipnotizado pela idéia de que se torr1ou um apóstolo . ' '
Isso é particularmente verdad eiro no caso ern que o chefe, lo nge de fazer parte
de u m partido sólido capaz de oferecer empregos remunerados , deve começar por
fundar, por criar seu p artido. Mas mesmo nos partidos fortemente constituídos, o
chefe nem sempre age visando a seu s interesses pess oais.
Mas aquele que chegou não volta de bom grado à situação obscura que
ocupava anteriormente. ' 'Aquele que foi eleito uma vez fará todo <> possível para
se r reeleito' ' , disse um dos mais honestos de p utados d a Câmara italiana, o
professor de direito p enal Pio Viazzi, membro do grupo republicano.
Quando os chefes não poss uem nem fortuna pes soal nem outras fontes
suficientes de renda, eles se agarrarn com tenacidade, por razões eco nôrr1icas, ao
seu emprego, o qual terminam por considerá-lo como sua posse, como seu bem
inalienável .
O que lhes resta fazer? Eles se sentem estranhos às suas ocupações primitivas,
mu ito n1ais estranl1os quando suas oct1pações apresentam menor relação com o
trabal ho político .
Mas a transformação psíquica. que os ct1efes sofrem ao longo dos anos deve-se
ainda a outras causas.
Por isso numerosos chefes socialistas se tornam com a idade estranhos ao que
o socialismo contém de mais essencial, u n s se debatendo com dificuldade contra
seu ceticismo, outros voltando, conscientemente ou não, ao ideal da st1a época pré
social is ta.
Mas para esses desencantados a volta con1pleta para trás é impossível. Seu
passado os prende. Eles têm uma família a sustentar. Por outro lado, seu renome
1 20 Robert Michels
político exige ciue eles persistam sempre com a mesma visão. Por isso eles
continuam externamente fiéis à causa que um dia sacrificaram dando o melhor qe
si. Mas rent1r1ciando ao idealis1no, eles tornaram- se oportunistas; esses antigos
crentes, esses altruístas de outrora, cuj o coração fervoroso só aspirava a entregar- se,
transformaram- se em céticos , em egoístas cuj as açõ es nã.o são n1ais guiadas ser1ão
pela frieza do seu cálculo .
É certo que à medida que um indivíduo conqui sta no seu partido situações
ca.da vez mais elevadas, seu mundo psíquico e rr1ental sofre, com freqüência., uma
evolução que alcança uma trar1sformação completa. E quando essa transformação
acontece, o chefe não vê na sua própria mudança senão um reflexo da
mudança superver1iente, pretende ele, no mundo qu e o circunda. As novas ,.
circunstâncias, diz ele, exigem uma nova teoria e impõem uma tática. E da
r1ecessidade psicológica de enco ntrar uma explicação e uma desculpa para a
metamorfose dos chefes que nasce, en1 grande parte, a teoria reformista e
revis io nista do socialisrno internacional .
que exerce uma ação particularmente forte sobre a mentalidade dos chefes e
O
sobre sua composição, é a passagem brusca da oposição para a participação no
poder.
mart1res.
,
Mas o partido socialista italiano mal acabara seus entendimentos para estreitar
laços com o governo, por volta de 1 900, quar1do vozes se elevaram de todas as
partes para deplorar suas perdas e para denunciar a entrada no partido de
numerosos elementos que só viam 11ele a oportunidade de con seguir as vantagens
da administração pública.
Sociologia dos Partidos Políticos 121
CAPITULO I I
Enquanto foi chefe de Estado, Nap oleão I fazia questão de passar pelo eleito
do povo. N os seus atos públicos, o imperador vangloriava- se por só ter que dar
satisfação do seu poder ao povo francês. Depois da Batalha das Pirâmides, quando
sua glória começava a atingir o auge, o general exigiu irnperiosarnente que l l1 e
fosse cor1ferido o tí tulo d e ' ' primeiro representante do povo' ' , que, até então, era
reservado apenas aos membros dos corpos legislativos. Quando, através do
plebiscito, o p róprio povo o elevou mai s tarde ao trono da França, ele declarou que
considerava seu poder como apoiado exclusivamente sobre a massa.
Uma ditadura pes soal conferida pelo povo, segundo as normas constitu
cionais: tal era a interpretação bonapartista da soberania do povo.
(�om muita habilidade, ele repetia continuamente que não era senão urn
instrumento, uma criação das inassas.
Quando ainda era presidente, ele declarou num discurso que estava pronto,
caso fosse preciso, sej a para a abnegação, sej a para a perseverança, em outras
palavras: seja para ir, seja para ficar.
Era o mais puro espírito bonapartista qt1e se exprimia pela boca do Ministro
da Justiça, Ollivier, quando proclamou na Câmara, durante uma das sessões
tumultuadas do verão de 1 8 70: '' Nós lhe pertencemos, você nos representará
quando quiser; nós estaremos sempre aqui para receber suas reprovações e seus
,
,
anatemas .
,
A partir do momento que seu nome sai da urna eleitoral, o eleito não sofre
mais nenhuma oposição.
O chefe de tal democracia é irrevogável, pois a nação que falou não saberia se
contradizer.
Ele é, além disso, infalível: enquanto for ' ' o eleito de seis milhões de sufrágios
ele executa a vontade do povo, ele não a trai' ' .
como representando a coletividade que nele depositou sua co11fiança por um ato
de decisão espontânea. São, dizem, os próprios eleitores que exigem do eleito para
que use medidas de repressão severas, para que recorra à força, para que
concentre em suas mãos toda a autoridade.
A sanção plebiscitária, três vezes renovada pelo povo francês ao governo ilegal
do terceiro Bonapane e confirmada por inúmeras e gritantes demonsu..ações de
simpatia, ofereceu ao desejo de conciliação dos republicanos condescendentes um
fácil pretexto para passar da oposição para a monarquia. O cesarismo plebiscitário
não se apoiava, na verdade, sobre a mesma base da república que eles sonhavam?
,
E por uma outra razão, psicológica e histórica, que a massa aceita sem
protestar um certo grau de tirania da parte dos chefes eleitos: é qt1e a massa suporta
mais facilmente a dominação quando cada um de seus membros tem a possibili
dade de aproximar- se do poder e até mesmo de conquistar uma parcela dele. O s
burgueses e os camponeses franceses da metade d o século XIX, imbuídos d e idéias
democráticas, detestavam a monarquia legitimista, mas davam voluntariamente
seus votos ao terceiro Napoleão, pois lembravam- se com que facilidade seus pais se
tornaram grandes dignitários na época do seu glorioso tio. Da. mesrna maneira,
quando se trata de partidos, raramente sente- se o peso de t1ma oligarquia na qual
os direitos da massa estão codificados e na qual cada um pode participar ern
pr1nc1 p10.
• •
r
O s próprios chefes, todas as vezes qt1e são reprovados por uma atitude
antid e mocrá tica, invocam a vontade da massa, da qual são oriundos, isto é, sua
condição de eleito s. Pois, dizen1 eles, as massas nos elegeram e reelegeram para
chefes, nós somos a expressão legi tima da sua vontade e nós nos confundirr1os com
elas.
A antiga aristocracia acreditava q ue a desobediência às ordens do monarca era
um pecado contra Deu s. Na democracia moderna acredita- se, ao contrário, que
Sociologia dos Partidos Políticos 127
E s sas cond ições p rovo cam, tanto nos chefes do partido como nos dos
s in di c ato s u 1na rr1en talidade especial: tanto uns como os outros exigem das
,
massas, não son1e11te que elas lhe prestem obediência, mas ainda que elas aceitem,
executando sem discutir as ordens que eles, chefes, err1item com toda ciência e
.
corisc1enc1a.
. "
pc) ssa cen s u rar co m mais ou menos severidade os atos da autoridade suprema.
E n gel s que possuía um senso muito apurado da essência da democracia, achava
,
de que seus camaradas revolucionários do partido socialista ' ' procuram afas tar os
membro s dos sindicatos de seus chefes, o s quais foram, entretanto, eleito s por eles
mesmos. C hegou- se até a querer colocar esses camaradas co ntra seus dirigentes.
Eles foram abertamente forçados a infringir a disciplina. Pois é exatamente a isso
.
que se visa, quando se d iz nas reuniões que os camaradas devem resistir a s eus
chefes' ' .
Toda critica, venha do lado que vier, é condenada de antemão. ' ' Q,ue não se
tire do povo sua religião! É em nome desse prinápio que toda crítica dos defeitos
obj etivos d o governo é estigmatizada como um atentado contra esse governo e que
o s elemento s de oposição são banidos do partido como seus demolidores e seus
inimigos! ' ' ( R. Luxemburg. )
CAPITULO I I I
D e um lado, é Guilherme II quem aconselha aos ' ' descontentes' ' , isto é,
àqueles entre seus súditos q·ue não acham que tudo vai bem no melhor dos
impérios, d e sacudir a poeira de suas s olas e ir embora. De outro lado, é Bebei que,
denuncia que já é tempo de acabar de uma vez por todas com os eternos descon
tentes e os eternos criadores de caso no partido e quem declara q11e a oposição, se
ela não aprova a for1na de agir da direção, deve ser eliminada do partido .
Existe alguma diferença entre essas duas atitudes além daquela que separa urr1a
·organização volt.1ntária ( partido) , à qual se está livre d e ingressar ou não, de urr1a
organização coercitiva ( Estado) à qual não se pode fugir, porque a ela se pertence
pelo fato do nascimento?
Não exi ste talvez nenhu� chefe de partido que não pense e não aj a, e, se
1 30 Robert M i ch el s
p o s s ui u m tem peramente vivo e u m caráter leal, que não fale como falava digamos,
0 Rei- Sol: ' ' O Estado sou eu '' . O burocrata ident i fi ca se c ompletame r1 te com a
-
o rgani zação e confunde seus intere s s es con1 os i 11teresses desta. Ele co nsi dera
como uma o fe n sa p essoal toda cens ura obj etiva dirigi da ao partido p o r quem quer
que sej a Dai a incapacidad e de todo chefe de p artido d e ap reciar de uma forn1a
serena e j ttsta as crí ticas dos ad\iersários. E, i nversamen te, ele não deixa, to das as
vezes que é atacado pessoalmente, de relacionar esses ataques com o partido
i n teiro. Nos d o i s casos, ele vi sa a tirar p roveito deslocando o terreno da lu ta.
O despotismo dos chefes não decorre apenas de um amor vulgar pelo poder e
de um egoís m o i1noderado, rr1as também da con s ciência do s eu próprio valor e d o s
s erviços que eles p res taram à causa comum. A burocracia mais fiel a seus deveres e
mais co m petente será também a mai s autoritária.
Entre os indivíduos que compõem tal burocracia, não existe, talvez, ner1hum
que não esteja pronto a considerar como um delito contra o Estado a menor
,
alfinetada dirigida contra sua pessoa. E ainda pela mesma causa que podemos
explicar a forte solidariedade que os torna todos unidos como os dedos da mão.
Cada um acredita encarnar urria parte desse Todo que se chama Estado, e essa parte
sofre necessariamente um prejuízo quando outra parte qualquer encontra- se
lesada.
Além disso o burocrata acredita fácil e sinceramente que conhece muito bem
as r1ecessidades que nem a própria massa conhece, opinião essa que não está,
talvez, completamente errada em certos casos, mas que constitui na maioria das
vezes uma mistura de tola pretensão e presunçosa exageração.
palavra, etc. E verdad e, sej a dito de passagem, que a freqüência dos aplausos que
ele recebe nessas ocasiões não pode senão estimular sua vaidade pessoal.
C��PITUL O I
..... '""
O ra, s e uma classe oprimida não conseguiu sacudir esse fatalismo, se ela não se
tornou plenamente consciente da inj ustiça social que a oprime, ela é incapaz de
aspirar à ema.ncipação.
Fato paradoxal: é a burguesia que, sem querer, zela para que o proletariado
,
tom e consciência da sua situação de classe oprimida. E uma ar111 a que ela aponta
para si rr1esma. Mas a história está cheia dessas ironias.
'
I mpotente para conduzir essa luta pelos seus próprios meios, ela é cons tan te
mente obrigada a ' ' recorrer ao proletariado, a pedir sua aj uda e a lançá-lo assim na
confusão política' ' ; desse modo, a burguesia transfere ao proletariado ' ' os elemen
tos da sua própria cultura' ' , ou seja,ela coloca nas s uas mãos ' ' uma. arma que ele
usará contra a própria burguesia' ' .
Mas, sob outro aspecto ainda, a burguesia aparece como a educadora, como o
professor de esgrima da classe operária.
Seu con tato contínuo co m o proletariado tem por efeito separar d o grosso de
�uas forças um pequeno grupo de homens que colocam seus conhecimentos e seus
nervos a serviço das massas trabalhadoras . Eles se estabelecem com a missão d e
encorajar estas na luta contra a ordem de coisas existentes, d e fazê- las sentir e
compreender a falta de equilíbrio do regime econômico e social em vigor.
Esses elementos que deixan1 o bloco burguês para aderir ao proletariado nunca
são, é 'Verdade, muito numerosos. M as são os melhores . Os indivíduos que chegam
a dar esse passo podem ser considerados, até certo ponto, como super-homens.
Sua conversão é, na verdade, ditada na maioria das vezes por razões desinteressa
das. Eles são guiados seja pelo amor ao próximo, sej a pela piedade, sej a pela
aptidão moral de se ind ignarem contra as iniqüidades sociais, sej a por u1n
profundo conhecimento teórico das forças que agem na história, seja, enfim, pelo
fato de que sabem traduzir em atos seus princípios com mais energia e mais
Sociologia dos Partidos Políticos 1 37
coerência lógica O ra, são esses burgueses que, desertando da sua classe de origem,
dão uma direção consciente aos instintos ainda adormecidos do proletariado,
incitando, assim, sua emancipação.
tar toda sua classe para o campo inimigo? Se esta última teoria fosse verdadeira, os
operários não teriam senão que armar- se de paciência e esperar tranqüilamente
que a burguesia tenha consumido seu suicídio social e político.
Cada vez mais persuadida de que essa guerra não pode ter111 i nar a não ser
com sua própria derrota, ela recua com horror diante da visão das ruínas que ela
terminará acumulando. Ela sente a necessidade de repouso, de renovação, de
idealismo; e quando essa necessidade tiver atingido seu parônimo, o que é quase
fatal, ela passará com armas e bagagens para o campo inimigo. O triunfo do
proletariado será, então, alcançado sem transfusão de sangue, sem violência de ne
nhuma espécie, unicamente porque a classe operária terá sabido se impor pela
sua superioridade moral, pelas promessas de um futuro fecundo, feito de bondade
e de justiça, que ela proporciona ao mundo.
,
É verdade que a doutrina socialista ganhou a seu favor bastantes ' ' filhos de
família' ' burgueses e apoderou- se de suas almas a ponto de fazê- los abandonar o
resto: pai, mãe, arr1igos, parentes e posição social. Sern arrependimento e sem
hesitação, eles consagraram sua vida à obra da emancipação humana, tal como a
concebe o socialismo.
Na falta de outras razões ela é sustentada pelo egoísmo de classe, pelo mesmo
egoísmo que o proletariado possui como classe social com a diferença que nele esse
egoí smo particular de classe confunde-se, na teoria pelo menos, com o ideal de
uma humanidade sem distinção de classes.
estabelecer uma ordem social onde a ciência, a saúde e a propriedade não sejam,
como hoj e, monopólio de uma minoria.
Mas só a persuasão não basta, pois uma classe, sej a como estiver convencida da
superioridade da classe adversária, não deixará, hipnotizada pelo seu próprio
egoí smo coletivo, de continuar a batalha e na maioria das vezes não cederá senão
por força dos fatos.
Por meio dessas considerações nós acreditamo s ter mostrado que o ingres so
d e elementos burgueses nas fileiras dos operários organizados em partido de
classe é determinado p rincipalmente por razões psicológicas e apresenta- se corr10
um p rocesso de seleção espontânea. Se esse êxodo p arcial da burguesia deve ser
considerado corno uma conseqüência lógica dos acontecimentos que atravessa
mos, não pode, devido às razões especiai s que o provocam, ser interpretado como
o sinal precursor da desagregação da burguesia no seu todo. Por isso diremos, para
terminar, que o fim da luta, entre as duas grandes classes representando interesses
opostos, não pode de nenhuma forma depender da passagem, de uma para a
outra, de moléculas individuais isoladas .
,
CAPITULO I I
Nos paí ses onde o capitalismo já existe de longa data, formou- se em certos
meios operários e até em categorias inteiras de operário s, uma verdadeira tradição
socialista. O filho herda o espí rito de classe do pai, que por sua vez o tem, sem
dúvida, do avô. Eles têm, por assim dizer, o socialismo ' ' no sangue' ' .
_
porque esse é o seu interesse mais imediato. O fato de pertencer ao socialis m . o
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. •
1 42 Robert M ichel s
p ode causar-lhe grandes prejuízos materiaís, tais como a perda d o seu em prego e até
mesmo a impossibilidade de ganhar seu pão . M as seu socialismo não deixa de ser
por i s s o o efeito espontâneo de seu egoí smo de classe, e ele suporta os sofri mentos
ao s quai s pode s ub meter- se muito mai s alegremente se tiver a cor1sciência de
sofrer pela causa comum. O reconhecimento e a gratidão mais ou menos explíci tas
de seus camaradas são, no caso, um reconforto suficiente.
É por isso que as co ndições econôm i cas nas quai s nasce o burgu ês o
pred is põe, da mesma maneira como a instru ção que recebe na escola, a não sen ti r
senão aversão pelas lutas de uma classe operária d e aspirações socialistas. Sua
ambiência econômica o faz trem er pelas suas riquezas, com o pensamento do
choque que sua classe terá que sofrer un1 dia com o avanço das massas organizadas
do ' ' quarto E s tado' ' . Essa idéia não faz senão to rnar seu egoí smo de classe mai s
agudo, até transformá- lo num ó dio implacável .
Sua educação, apo iada sobre a ciência oficial, con tribui para afirmar e
fortalecer seus go sto s de ' 'j ovem lí der' ' . A influ ência que a escola e o meio exercem
sobre o j ovem descend en te é tão profunda que, mesmo quando ele descende de
parentes s im pati zantes do socialismo e do movi n1en to operário, seu insti n to
burguês termina ria maioria das vezes por despo ntar der1tro dele, e tirar vantagem
s obre as simpatias e até sobre as tradições socialistas da sua família.
fortemente da ação do seu meio social nativo. Mesmo depois de ter aderido ao
partido socialista, ele guarda uma certa solidariedade com a classe que acaba de
desertar e, por exemplo, nas relações com seus empregados domésticos ele
cor1serva s empre uma atitude de empregador, de ' ' explorador' ' , senão n.o sentido
vulgar, pelo menos no sentido sociológico da palavra.
M as quanto mais rica for a família à qual pertence o burguês, mais ela está
l i gada às suas tradições de casta; quanto mais elevada for a posição q ue ela ocupa,
mais difícil e dolorosa é a ruptura: banido da sua própria classe, sofrendo com esse
fato um grave prejuízo social e material, o desertor vê ao mesmo tempo seus novos
amigos desconfiarem dele e não admiti-lo nas suas fileiras senão com precaução e
contra a vo ntade.
Quais são as razões que o levam a agir assim? Sob esse aspecto, os desertores
burgueses p odem ser divididos em duas categorias fu ndamentais.
Em primeiro lugar existe o homem de ciência. Este não persegue senão fins
obj etivos q_ue, à primeira vista, aparecem comumente como desprovidos de
q u al q ue r u tilidade prática, senão estranhos e extravagantes. Capaz de sacrificar
pela ciência e pelos seus resultados qualquer outro bem, o cientista é arrastado
para o socialismo pelo amor desinteressado daquilo que ele considera con10 a
verdade. Todavia, mesmo agindo assim, ele não faz senão que obedecer à sua
natureza, que sen.te antes de tudo a necessidade da coesão, da coerência científica.
1 44 Robert Michels
sentimento que ele sente pode até, em certos casos, tornar- se uma ambição: a
ambição de prestar à causa os mais distinguidos serviços.
Depois do cientista vem o l1omem que leva uma vida sentimental í ntima, que
queima por assim dizer um fogo sagrado. Ele torna- se na maioria das vezes
socialista na sua j uventude, isto é, num período da sua vida onde o contrapeso das
preocupações e das p recauções rnateriais ainda não opõem um ob stáculo à
pressão do sangue em ebulição e ao entusiasrr10 transbordante. Ele é inspirado pelo ardor
do neófito e pela necessidade de dedicar- se aos seus semelhar1tes. Ele sente, ao
lutar contra a injustiça e ao sacrificar- se pelos humildes e oprimidos, unia
felicidade que torna corajosos e combativos até rr1esmo os caracteres mais tímidos e
mais tranqüilos. Essa coragem é susten tada por uma boa dose de otimismo na
apreciação da natureza do movimento socialista e da sua força 111oral, por uma fé
excessiva na eficácia da sua própria abnegação, por uma fal sa concepção do ritrno
da evolução e por uma profunda ilusão sobre a proximidade e a facilidad e da
vitória final.
Em muitos casos, a fé socialista alimenta- se tam bém nas fontes de uma certa
sensibilidade estética, poética: as pessoas dotadas de uma imagir1ação viva e de um
temperamento vibrante captan1, mais rapidamente e represe11 tam de uma forma
mais concreta, toda a grandeza e profundidade dos sofrimentos humanos. E
quanto mais se inflama a sua imaginação maior é a dis tância social que os separa do
obj eto imagir1ado. É isso que explica o fato de u m n úmero tão g·rande d e
ir1divíduo s, de nascença e ed ucação burguesa, terem passado para o lado do
,
socialismo. E isso que explica também a presença rias fileiras socialistas de tar1tos
poetas, homens de temperamento ardente, passional, fogoso.
,
numerosos dos que a ele aderem por convicção arrazoada. E provável que os
senti mentais sejam mais numerosos entre os que ingressam no socialismo des de
suaj uventude, enq11anto qu e os que o abraçam na maturidade decidem- se por ele,
na maioria das vezes, por convicção científica. Mas é geralmente o tipo misto que
domina. N 11merosos são na verdade os burgueses que, tendo semp re aprovado o
socialismo do ponto de vista moral, isto é, estimado que ele é a única solução po.ra a
questão social conforn1e o s postulados da j ustiça, não concedem sua adesão
efetiva à doutrina senão quando adquiriram a convicção (o que lhes acontece às
vezes sem dar- se co nta) de que as aspirações do seu coração r1ão somente são j ustas
e belas, mas também realizáveis. Em resumo, seu socialismo é feito ao mesmo
tempo de sentimento e de ciência.
Sociologia dos Partidos Político s 1 45
Uma pesquisa sobre o socialismo foi feita em 1 8 94 j tinto aos cientistas e artistas
mais ilustres da Itália. Foi-lhes perguntado, entre outras coisas, se a sua simpatia,
sua indiferença ou sua hostilidade em relação aos obj etivos perseguidos pelo
socialismo resultam de uma investigação concreta dos p roblemas que o compõem
ou são de origem puramente sentimental.
O ra, a maior parte das pessoas interrogadas respondeu que sua atitude em
relação ao socialismo resulta de uma predi sposição psíquica reforçada por
convicções obj etivas.
Apesar do seu soberbo desi)rezo por tudo que sej a ideologia e compaixão e a
despeito do seu materialismo de fachada, os rr1arxistas poderiam dar muito bem
uma resposta análoga. Enquanto eles não são ab sorvidos pela vida de panido, ou
melhor, enquanto eles não sucumbiram a ela, eles dão, na verdade, prova de urr1a
rigidez de princí pios essencialmente idealista.
Muitas pessoas não o fazem porque ,s entem uma bizarra repugr1ância pela
idéia de ter que manipular materiai s hum�.nos que não co nhecem ou um desgo sto
estético pela perspectiva de estar em contato com ger1te suj a ou cheirando n1al.
Muito mais numerosas são as que têm preguiça ou amor exagerado pela
tranqüilidade, ou ainda medo, mai s ou menos jl1stificado, das con seqüências que
tal passo pode ter para seu futuro.
Em outros casos, um indivíduo ciue ainda não era socialista senão no seu foro
íntimo, sem ousar confessar suas simpatias, de reper1te se vê obriga.d o a tirar a
n1áscara, porque un1 inimigo desleal ou um amigo desajeitado achou que devia de
nunciá-lo publicame11te, não lhe deixando, assim, senã.o que duas saídas: ou uma
retirada honesta, ao preço de uma retratação r1ão menos honesta, o u a confissão
pública das idéias que ele tinl1a p rofessado até então no fundo secreto da s u a
consc1enc1a.
. ,.. .
Declarou- se, com freqüência, que todas as profissões liberais não são
igualmente acessíveis às idéias socialistas. As ciências especulativas, no sentido
estrito da palavra, tais como a filosofia, a história, a economia política, a teologia, a
jurisprudência, estariam tão imbuídas do espírito do passado que seus represen
tantes se mostram, a priori, absolutamente refratários a q u al q uer idéia subversiva.
A profissão juridica, em particular, irri plicaria um certo amor à ordem, um apego
àquilo que existe, um respeito sagrado pelas formas, uma lentidão de procedimen
to e, se quiserrnos, uma certa estreiteza de horizonte: tantos corretivos naturais
para os defeitos inerentes à democracia.
Não existe nenhuma corrente política ou social nova nesses últimos setenta e
cinco anos, na qual os j udeus não tenham desempenhado um papel predominan
te. Podemos até mesn10 dizer que mais de um movimento foi criado, provocado
por eles. São os j udeus que organizam a revolução, e são ainda os j udeus que
organizam a resistência do Estado e da sociedade contra as forças subversivas. O
socialismo e o conservadorismo foram forjados por mãos hebraicas e estão
impregnados de espí rito hebraico.
Na Alemanha, por exemplo, nós vemos , de um lado, Marx e Las salle atiçar o
fogo da revolução e, do outro, o j udeu Julius Stahl fazer- se o teórico genial da
reação feudal depois de 1 8 48.
É ain da D israeli que, na I nglaterra, inventa a grande divisa .lntegrity ofthe .B ritish
Empire, e na Alemanha os judeus, Edouard Simson, Bamberger, Lasker, se fazem
o s campeões desse l ibe ral i s mo p in tado d e nacionalismo que contribui tão
Aliás, podemos dizer que não existe movimento que os j udeus não sejam
capazes de organizar. Encontramos descendentes de Israel até entre os. chefes do
ant1-sem1t1smo.
• • •
Além disso, a Rússia fornece ao s partidos socialistas de outros países bastan tes
chefes de origem judaica: Rosa Luxemburg e o Dr. I srael H elphant ( Parvus), que
combatem na Alemanha; C . Rappoport, na França; Anna Kuliscioff e Angelica
Balabanoff na I tália; os irmãos Reichesberg na Suíça; M . Beer e T. Roithstein na
1 nglaterra.
Não ·se trata aqui daquilo que seriamos tentados a chamar da ' 'judai zação' ' do
partido socialista, isto é, de um açambarcamen_to do partido por camaradas
judeus, porque eles disporiam de maiores meios financeiros.
N esses países, sua emancipação legal ainda não veio a completar sua
e_m ancipação social e moral. O povo alemão, considerado no seu todo, ainda não
conseguiu libertar-se do ódio do j udeu ou pelo menos de um vago sentimento de
desprezo a s eu respeito. O israelita se vê entravado na sua carreira, excl uído das
funções administrativas e j udiciárias, do grau de oficial no exército. Por isso a raça
hebraica continua alimentando um velho e legítimo sentimento de revolta contra as
1 50 Robert Michels
inj ustiças que se perpetuam em seu prej uí zo. E, visto o fundo de idealismo que
persiste nessa raça do minada pelas paixões mai s extremas, esse sentimento
traduz-se, com mais facilidade do que na raça germânica, por um horror
desinteressado por toda inj ustiça e transforma- se numa aspiração revolucionária
para um grande melhoramento universal.
Por todas essas razões, o caminho que conduz os j udeus ao socialismo é quase
sempre mais curto do que aquele que deve percorrer o intelectual ' ' ariano' ' . M as
esse fato não diminui em nada o reconhecimento que o partido socialista deve aos
intelectuais de raça j udaica. E ao s intelectuai s somente, pois a grande burguesia do
comércio e da indústria e a pequena burguesia, embora votando, com freqüência,
nas eleições pelos socialistas, recusam- se de uma maneira a.b soluta a aderir ao
partido.
O ' ' socialismo anti- semita' ' fez sua aparição por volta de 1 8 7 0 . Foi Eugen
Dühring, então livre- docente na Universidade de Berlim, que inaugurou uma
cruzada em favor de um socialismo ' ' alemão ' ' . Ele opunha este ao socialismo
''judeu' ' de M arx e dos seus colaboradores, socialismo esse cuja realização deveria
acarretar, na sua opinião, a suj eição cornpleta do povo ao Estado, em ber1efício dos
dirigentes j udeus e dos seus cúmplices.
ele, existe urna boa meia- dúzia que não tem nenhum valor, mas um aprumo
extraordinário, uma fecundidade inesgotável, uma caneta impertinente e impa
ciente, e nenhuma compreensão do socialismo'' .
Mas a campanha de Calwer não obteve mais sucesso que a de Dühring, tendo o
partido socialista, no Congresso de C olônia (ou tubro de 1 8 93) , condenado de uma
vez por todas as veleidades de nacionalismo e de anti- semitismo que existiam no
seu seio.
•
São pessoas boas e caridosas que, providas ern abundância de tudo o que
precisam, sentem por vezes a necessidade de submeter- se a uma propaganda em
relação à sua situação especial. Elas desejam, por exemplo, fazer participar seu
p róximo do bem-estar que elas próprias des ·fru tam. São os ricos filantrópicos. Na
maioria das vezes, sua conduta decorre de uma esp é cie de sensibilidade ou de
sentimentalismo: elas não podem suportar os sofrimentos do outro, não tanto
porque sentem uma verdadeira piedade pelos que sofrem, mas porque a visão de
dores faz sofrer seus próprios nervos e choca seu sentimento estético.
Isto posto, podemos afirmar, s em receio de erro, que a maior parte dos j ovens
burgueses que ingressam no socialis1no o fazem, para servir- nos de uma expressão
de M orr1igliano, com toda sinceridade e corri todo ardor de boa vontade. Eles não
procuram nem a aprovação do povo, nem a riqueza, nem as condecorações, nem
os empregos gordamente remunerados. Eles pensam somente que o homem deve
ficar em paz com sua consciência e afirmar sua fé através de atos.
Esses homens podem ser reapresentados, por sua vez, em dois tip
o s: o
apóstolo da alma caridosa que compreende tu do e gostaria, com um aperto ideal,
de a braç ar a humanidade inteira, e o ' ' crente' ' fogoso, rigido, intransigente.
s1mpat1cos.
.
, .
Existe antes de tudo a falange daqueles que são descontentes ' ' por princípio' ' :
os neurastênicos, os ' ' que não dormem bem' ' .
lhes é inaces sível. E a velha história da raposa e das uvas muito verdes. O que os
empurra é a inveja, a sede insaciável do poder: o ódio e o ciúme dos caçulas pobres
das grandes farrúlias flelos seus irmãos rr1ai s ricos e mais afortunados.
Existe ainda outros tipos que aproximam-se com esses que nós já enume
ramos.
O s excêntricos em primeiro lugar: estes acham natural que os que estão por
baixo queiram atingir os mais alto s graus. M as existem pessoas que estão por cin1a
e sentem uma necessidade irresistível de descer, pessoas que encontram- se muito
apertadas nas suas posições e acham que j ogaram por terra uma liberdade muito
maior e horizontes mais vastos. Eles procuram a ' ' sinceridade' ' , o ' ' povo' ' , do qual
eles fizeram uma imagem ideal. São idealistas que se aproxirr1am da loucura.
O partido socialista exerce uma atração tão grande que ele se torna mais forte,
mais vasto e desempenha j unto às massas populares urr1a autoridade maior.
Nos paí ses onde o espí rito gregário está muito desenvolvido, como na
Alemanha, os pequenos partidos são condenados a uma existência precária.
M uitos burgueses acreditam ' ' encontrar no grande partido socialista o que não
encontram nos partidos burgueses' ' ; um vasto campo de atividade política (Bebei) .
Neste último caso, e sobretudo quando o partido passa da oposição para a cola
boração com o governo, vemos aumentar o número dos que não vêem no
partido senão um meio de saciar seus baixos instintos e sua vaidade; dos que não
vêem no sucesso do partido senão um meio de fazer valer sua própria p ersonali-
dade.
Como o diz muito bem Arcoleo, teme- se o triunfo dessas pessoas como um
desencadeamento de bestas famélicas; mas, ao vê- las de perto, percebe-se estar na
presença de um amontoado de moluscos ávidos de p resas, mas inofensivos no
fundo.
CAPITULO III
1 .0 - Aad·e são dos pequeno- b urgueses aos partidos p roletários - por razões
de maior parte eleitorais, o partido procura o apoio da pequena burguesia. Daí
resulta uma série de conseqüências que imprimem ao panido modificações mais ou
menos profundas. E em primeiro lugar, o partido dos operários tor11a-se o partido
do ' ' povo' ' . Seus apelos não se dirigem mais aper1as ao s ' ' irmãos operários de
uniforme' ' , mas a ' ' todo o povo que produz' ' , a ' ' todo o povo que trabalha' ' ,
expressões essas que se aplicam a todas as camadas da sociedade, salvo os ociosos
que vivem das suas rendas.
Por toda parte onde foi possível analisar a composição do partido socialista,
quanto às classes e às profissões de seus memb ros, encontramos, em geral, que os
elementos burgueses e pequeno-burgueses estão nele representados numa
proporção que, embora sendo considerável, está longe de ser prepo nderante.
N o que diz respeito à democracia socialista alemã, nós j.á mostramos, aliás,
que em todas as suas seções, sem exceção, a proporção dos proletários ainda é mais
elevada e oscila entre 7 7 , 4% e 7 4, 7 % . Podemos até dizer, com Biank, que se existe
um partido onde predomina o elemento proletário, então é o partido socialista.
alemão, e isso se aplica à massa dos seus inscritos numa proporção bem maior que
à sua massa eleitoral.
É, aliás, sua relativa homogeneidade social que o torna tão forte, do ponto de
vis ta eleitoral, e lhe dá urna coesão que os outros partidos, sobretudo os de
esquerda, não conhecem.
O socialismo, ao contrário, guarda seus materiais humanos ria única classe que
satisfaz as condições econômicas, sociais e numéricas, necessárias para dar à luta
contra o velho mundo o maior vigor possível. Mui to ingênuo é aquele que queima
as pestanas para saber se é realmente o proletário, a classe dos operário s
assalariados, que constitui a fonte na qual se alimenta o partido socialista alemão. E
essa fonte está longe de se esgotar.
É preciso, portanto, aceitar cum grano salis a afirmação daqueles que, como
os socialistas anarquistas e os radicais burgueses, denunciam o ' ' aburguesamento''
do partido, porque constata- se nele a presença de um certo número de pequenos
industriais e de pequeno s comerciantes.
burguesas a luta de classes provoc� pela ação dos órgãos com a ajuda dos quais
-
N o auge da era capital i sta, certos ope rários, mais inteligentes e mai s
ambicio sos que o s outro s, con seguiram, graças a um trab alho fero z e aproveitando
circu nstâncias favoráveis, elevar- se à situação de empresários . Mas atualmente,
vis to a acumulação de empresas e de riquezas e o custo elevado da p rodução , tal
transfor1nação não se ob serva mais senão e m certos partidos das duas Ainéricas ( é
o que explica, aliás, a extensão tão in significan te do movimento socialista nesses
p aí ses) .
Podemos d izer, portan to, que exis te uma elite operária que, d e�pois de 11 ma
s eleção natural op erad a no s eio do p artido socia!ista, chega a exercer funções
diametralmen te opos tas às suas funções ou ocupações hab ituais. Para servir,.. n o s
d e uma expressão q ue, ap esar da falta d e precisão cientifica, não é menos fácil d e ser
comp reend ida na sua grosseira evidência, direm os que o s indiví duos qu.e
compõem essa elite abandonam o trabalho natural pelo trabalho intelectual.
1 58 Robert Michels
M ais do que isso: ele está ligado a essa empresa, não somente pelos seu s
ir1teresses materiais mai s fortes, mas também pelos sólidos laços de solidariedade
na luta. E, não obstante algumas exceções susceúveis de induzir o leigo ao erro, ele
é tratado de uma forma mais humana do que por qualquer ou tro empresário
particular.
O tipo de vida reservada aos funcionário s do partido está longe de ser tão
agradável quanto poderíamos imaginar. A esse propósito, não podemos repetir
aqui senão o que já dissemos anteriormente: en1 troca do pão de cada dia que o
partido assegura aos seus empregados e que não ultrapassa senão muito raramente
a medida certa, es tes têm que fornecer uma soma de trabalho enorme que arruí na
prematuramente sua saúde.
Mas, seja como for, o antigo operário terr1 meios suficientes para viver com
dignidade e num conforto relativo. Como empregado de salário fixo, ele leva uma
vida que, apesar de lhe impor muita agitação exterior, lhe assegura mais
tranqüilidade interior do que a vida do operário assalariado. Se ele for preso, o
partido provê suas necessidades e a dos seus; e, quanto mais ele é perseguido, mais
chances ele tem de conseguir uma rápida ascensão na sua carreira de funcionário
socialista, com todas as vantagens que tem direito.
Esse rápido crescim ento não está relacio nado apenas com a extens ão dos
s indicatos; ele se deve sobretud o aos progress os realizado s na organização das
instituiç ões de assistênc ia. Não houve, por assim dizer, nenhum a assembl éia geral
realizada pelos conselho s centrais das diferente s federaçõ es onde r1ão se tenha
discutido e deliberad o a questão do engajam ento de novos funcionários, medida
essa que se tornou necessária pela diferenciação cada vez maior das funções
sindicais.
No corneço, nós já vimos, não se trata senão de uma mudança de sua situação
profissional e econômica: os ordenados pagos pelo partido, por modestos que
sej am, não deixam de ser sensivelmente superiores ao salário méd io que o
o perário ganhava antes de ingressar na democracia- socialista e suficientes para
proporcionar uma vida de pequeno- burguês. D u rante o congresso socialista ale
mão, Wilh elm Liebknecht lanço11 à nlultidão C()ffiandada pel()S outros chefes,
seus carnaradas de partido, a apóstrofe seguinte: ' ' Vocês que estão reunidos aqui,
são, do pc)nto de vista financei ro, aristocratas entre os operários. O que vocês
ganham representa os ganhos de C resus para a população operária de L' Erzgebirge
ou para os tecelões da Silésia' ' .
M as além dessa metamorfose, ele sofre ainda., apesar do seu contato freqüente
corn as grandes massas operárias, uma profunda transforrnação psicológica. O
operário, que ocupa doravante um nivel social mais elevado, não terá sempre forças
para resistir às seduções do r1ovo meio no qual ele se encontra transplantado e sua
educação política e social não bastará sempre para subtraí- lo das influências desse
novo meio.
.
Não foi outro senão o próprio August Bebel que chamou em diverso s
pronunciamentos a atenção do partido sobre os perigos que os chefes fazern correr
à unidade de seu pensamento e à sua pureza de classe. ' ' O s empregados
proletários do partido, dizia ele, são pessoas que chegaram ao ponto de ver sua
situação pessoal estabelecida de uma forrna praticamente definitiva. ' '
Examinada de mais perto, essa circunstâ.n cia adquire uma importância social à
qual ainda não demos, ni intra ni extra muros, toda a atenção que ela merece.
O movimento operário tem para a classe operária alemã uma importância análoga
à da igreja católica para certas frações da pequena- burguesia e da população rural.
T'a nto um como a outra servem aos elementos mais inteligentes dessas respectivas
classes de alavanca para sua ascensão social.
Certamente, os oficiais não fazem senã.o seguir a tendência da '' fidalguia' ' que
arras ta toda a burguesia, mas neles esse processo se realiza com rapidez e com
plena consciência das conseqüências que dele decorrem. Todos os anos são vistas
Sociologia dos Partidos Políticos 161
É assim que o partido socialista age sobre certas camadas da classe operária na
forma de uma máquina elevatória. E quanto mais ele se expande e co rr1plica seu
mecar1ismo burocrático, mais numerosos são os que ele eleva de sua situação
social primitiva.
É por isso que o proletariado tem seus desertores, como a burguesia tem o s
seus. As famílias operárias, que o proletariado extrai do seu seio e às quais ele
�ssegura uma situação superior, na esperança de tornar assim mais eficaz a luta
contra a bt1rguesi� terminam se unindo a est.a última, na maioria das vezes a partir
da segunda geração.
Produz- se, desse modo, uma - mudança social entre a classe que representa o
capital e a que representa o trabalho.
M as é preciso dizer a.p enas que essas mudanças, parecidas com as ondas que
não afetam senão a superficie de um espelh o d' água, não são de nat11reza a
162 Robert Michels
3. 0 ' ' defesa patro nal' ' como criadora de novas camadas pequeno
- A
b u rgu esas - o abu rgue s am e n to' de certas categorias de operários não é
'' '
Na maioria das vezes, seu s antigos irmãos de classe os sustentarr1 com uma
solidariedade admirável. Eles se comprometem a não deixar seus antigos
camaradas de luta em aperto e os ajudam a viver concedendo-lhes sua clientela.
Por isso acontece que muitos desses novos pequeno- burgueses conseguem se
aproximar definitivamente das classes médias da sociedade e se infiltrar no seu
meio.
.
Mas nos centros mais importantes, eles se tornam, com seus estabelecimentos
anti- higiênic os, uma verdadeira ferida para o partido. Além disso acrescenta-se
ainda que a luta brutal pela existência leva esses elementos pequeno-burgueses a
exercer sobre a organização socialista a pressão mais indel.i cada pos sível. E como
eles desfrutam junto aos camarada.s de uma infltiência que está longe de ser
desprezível, o partido é obrigado a contar com essa pressão. Na maior parte dos
casos, esta se manifesta sob uma forma nitidamente prej udicial aos interesses do
proletariado.
Na maioria dos casos, essa oposição teria permanecido sem efeito. Mas nós
conhecemos ainda hoje cidades d e 20. 000 a 30. 000 habitantes onde a exis tência de
um parteikneipe, que apesar do seu nome, constitui a propriedade privada de
um mernbro do partido, é a única causa que impediu até agora a organização
o perária local de fundar uma ' ' casa do povo' ' .
Mas as cervejarias ditas socialistas aparecerr1, por uma outra razão ainda, como
uma verdadeira calamidade para o partido: elas opõem, notadamente, um
obstáculo dos mais poderosos ao m ovimento antialcoólico que tanto se expandiu
durante esses último s anos manifestando- se pela constituição de sociedades de
sobriedade.
Não é segredo para ninguém, nas es feras socialistas, que muito tempo antes do
Congresso de Iéna ( 1 90 7 ) o partido teria se pronunciado abertamente contra o
alcoolismo e teria, em seguida, aplicado com m ais rigor as decisões desse
Congresso, se seus dirigentes não tivessem sido detidos pelo temor de lesar, pelas
1 64 Robert Michels
Essas cifras mostram que, em certas cidades, existe um albergue para cada 20
camaradas. E, corr10 o albergue socialista só conta praticamente com a clientela
desses últimos, resulta que são esses 20 camaradas que devem fornecer à empresa
todos os seus recursos financeiros.
Certamente, não se pode esquecer que essa associação deve em grande parte
sua origem ao fato de que os hoteleiros socialistas, ao contrário de seus colegas
Sociologia dos Partidos Políticos 1 65
' ' burgueses' ' , têm outras tarefas a cum prir. E igualmente certo que os membros
dessa associação formam uma categoria de socialistas s elecionados, de uma
•
CAPITU LO IV
Todo membro da clas se operária aspira elevar- se a uma classe superior que lhe
garanta uma existência melhor e mais longa. Elevar- se até a pequena- burguesia:
esse é o ideal individual do operário. N ão mais do que a b urguesia, as multidões
operárias que compõem o partido socialista não representam uma massa cin za,
uniforme, compacta. E ssa constatação, aliás, nada acrescenta ao fato de que,
vivendo apenas de seu trabalho e imbuídos dos princípios de organização
socialista, o s trabalhadores sentem- se, teo ricamente pelo mer1os, unidos em face
do s possuidores dos in strumentos de produção e da força que esses possuidores
dispõem no Estado.
Existe j unto às massas operárias uma neces sidade de diferenciação que escapa
facilmente às pessoas que não se encontram em co ntato permanente com elas. O
tipo de trabalho, o ní vel dos salários, as diferenças de raça e de clima produzem
numerosas nuanças, tanto na forma de viver corr10 nas vontades dos operários. A
parti r de 1 8 60, pode- se dizer: ' ' Entre operário s, há categorias e uma classitJ.cação
aristocrata: os impressores tomam a frente, os trapeiros, os que retiram os
excremen tos das fossas, os encarregados da limpeza dos esgotos completam a
marcha' ' (E. About) . Entre o tipógrafo e o j ornalista do mesmo país existe, do
ponto de vista da cultura, da situação social e econômica, diferenças mais
pronunciadas do que entre o tipógrafo de um pais e, por exemplo, o pequeno
industrial de outro.
Nós sab emos, na verdade, que a polí tica seguida, por exemplo, pelas
federações tipográ.ficas da .Alemanha, da França e da I tália difere daquela seguida
pelas outras federações e mesmo daquela do partido socialista: ela desvia
nota.damente para a direita, no sentido de que ela é mais oportunista e mais
.
transigente.
É por isso que os operários dos arsenais r1ão são afetuosos, em geral, com seus
camaradas an timili taris tas.
econo m1cas e soc1a1s que travam uns contra os outros represer1 tam um dos
"
no município industrial da Bélgica, ' ' p ernas de chefe'' ; na Franç<lt ' ' amarelos'' ,
.
' ' raposas ' ' , ' ' b e d u1 nos ' ' � na H o l an d a, onder-ruipers,
etc.
'
Uma das mulheres mais incansáveis entre as socialistas francesas diz com
razão: ' ' Ficamos quase tentados a desculpar as traições desses suplantadores,
quando vimos, com os próprios olhos, todo o lado trágico do problema dos
desempregados na Inglaterra. Nos grandes portos do sul e do oeste são vistos
enfileirados, ao longo do muro de urr1 cais, milhares e milhares de esfomeados de
aparência pálida, tiritantes, que esperam para conseguir uma vaga como descar
regadores. Só algumas dezenas con seguem. Quando as portas se abrem, é uma
correria terrível, uma verdadeira batalha. Recentemente, um desses homens,
pren sado pelos lados, morreu esmagado na confusão'' (M ne. Sourgue) .
Os organizados, por seu lado, não se acham de nenhum modo obrigados a ser
solidários com os não- organizados, mesmo no caso de miséria comum, de
desemprego. As bolsas de trabalho alemãs exigem muitas vezes que os subsídios
que lhes são concedidos, dos cofres públicos, por algumas cidades grandes para a
luta contra o desemprego ( sistema dito de Strasbourg) , sejam distribuídos
exclusivamente aos operários organizados, sendo que os outros não são dignos,
segundo eles, de nenh um auxílio.
C omo diz, com muita razão, M . de La Grasserie, ' ' a luta de clas ses tem por
obj etivo elevar a classe inferior ao nível da superior, e é por isso que as revoluções
vencem com freqüência, não para democratizar os eugênicos, mas para eugenisar
o s d emocratas ' ' .
A mesma lei, es sa que eleva, por exemplo, a idade mínima para a ad missão dos
menores nas fábricas, terá efeitos variáveis de uma facção para a outra, segundo a
força que dispõem as organizações, segundo o nível dos salários, segundo as
condições do mercado de trabalho nos diferentes ramo s da indústria e da
agricultura.
Sociologia dos Partidc)s P()líti<.�os 171
Por isso esses efeitos traduzir- se-ão, para certas categorias, por uma depressão
passageira, para outras, por uma elevação permanente. Resultará daí uma maior
acentuação da estrutura em escala que o proletariado já apresenta pelo fato da
d iferenciação nacional, local e técnica.
Como e por quem devem ser guiadas as mas sas operárias que 111tam pela sua
emancipação econômica e social?
Essa pergunta, que pessoas refletidas não cessaram de se fazer desde o ir1ício
do movimento proletário moderno, recebeu soluções tão numerosas quanto
variadas. De todas es sas soluções, nós só rios ocuparemos aqui daquela que vi sa
de confiar a direção do movimento unicamente a operários, excluindo os intelectuais.
Ela se apóia em alguns conceitos socialistas de ordem geral, subentendidos 0 1 i
mutilados, ou interpretados de uma forma rigida, como, por exemplo, o princí pio
enunciado no primeiro C ongresso da Internacional em Gen ebra, em 1 8 6 6 , de que
a emancipação dos operários deve ser obra dos próprios operários.
E preciso dizer apenas, que seria alimentar uma ilusão acreditar que,
confiando a homens da sua própria classe, o proletariado dirigirá seus interesses
mais diretamente do que confiando-os a advogados ou a médicos. Tanto num caso
como no outro, ele os d irige através de pessoas interpostas.
No movimento operário, como vimos, o chefe encontra-se na impossibilidade
absoluta de permanecer fiel ao seu antigo trabalho manual. No mesmo momento
em que um sindicato encarrega um camarada da fábrica para administrar
regularmente e mediante uma remuneração determinad a o s interesses da.
coletividade, ele o tira, sem perceber, da sua classe, para colocá-lo numa classe
nova: a dos empregados. O chefe operário do p roletariado cessa irr1ediatamente de
ser operário, e isso, não somente no sentido técnico, profissional da palavra, mas
também na sua acepção psicológica e econômica: ele se torna um intermediário,
na mesma condição que seu colega, o advogado ou o médico.
Mas o próprio tipo de chefe sindical varia muito, dependendo da fase em que
se encontra o movimento profissional. É por isso que para dirigir uma organização
pobre, servindo principalmente de instrumento de propaganda e de greve, é
preciso outras qualidades do que para dirigir um sin.dicato ricamente provido de
instituições de assistência, perseguindo principalmente resultados práticos.
Mas isso é diferente num período mais avançado. A grande complexidade das
tarefas que são incurr1bida.s agora aos sindicatos e a grande importância que
adquirem na sua vida as questões financeira, técnica e administrativa, exigem que o
agricultor ceda o lugar ao empregado que tenha conhecimer1tos especiais. O
caixeiro viajante da luta de classes é substituído, assim, pelo burocrata rigido e
prosaico, o ardente idealista pelo frio materialista, o democrata de convicções
inabaláveis (em teoria pelo menos) pelo autocrata consciente. A atividade oratória
recua, por sua vez, diante da a.t ividade administrativa que passa a adquirir uma
import.ância de primeira ordem.
Por isso a forma como os chefes dirigem o movimento é, nesse novo periodo,
menos brilhante e barulhenta, mas em compensação mais sólida, porque fundada
sobre uma competência prática mais segura.
A experiência nos mostra que ern quase todos os paí ses o chefe operário de
origern proletária é caprichoso e despótico. Ele suporta contra sua vontade as
contradições de seus camaradas. I s so se deve, s.em dúvida, também ao seu caráter
de novo- rico. Sab emos, na verdade, que o novo- rico zela invej osamente pela
manutenção da sua recentíssima autoridade e vê em tod a crítica que lhe é d irigida
uma tentativa de humilhá-lo e de diminuí- lo, uma alu são intencionalmente
rr1aligna ao seu passado. D a mesrna maneira como o judeu convertido não gosta
que lhe lembrem a sua raça de origem, o chefe operário oriundo do proletariado
não gosta que se faça alusão ao seu estado de dependência e à sua qualidade de
empregado.
É preciso não esquecer, além disso, que, como todos os self-made men, o
chefe de sindicato é de uma vaidade extraordinária. I ncapaz de compreender, ele
não deixa de se admirar pela sua obra e pela de seus colegas. E esse sério
conhecimento técnico da vida operária, dos quais o s chefes de sindicatos tiram
tanta \1aidade, é, entretanto, pelo menos entre a maioria deles, exclusivo de
qualquer cultura geral, de qualquer concepção filosófica. Esses conhecimentos
também não os impedem de ser acessíveis ao s avanço s rnais ou menos desinteres
sados dos burgueses ou de outras pessoas bem colocadas.
Eis, por exemplo, o que F. Engels escreveu da Inglaterra numa das suas cartas
a Sorge: � " O que existe aqui de rr1ais revoltante, é q ue a respectability penetrou
no sangue dos próprios operários. A d ivisão da sociedade em várias camadas
hierárquicas, tendo cada uma se11 próprio orgulho e um respeito inato pelo s
betters ou superiors, tem raí zes tão antigas e profundas q ue os burgueses
air1da conseguem atualmente seduzir, com suas bajulações e seus elogios, os que
S ociologia dos Partidos Políticos 1 77
estão embaixo deles. Eu não sei ao certo, por exemplo, se John Burns está mais
orgulhos o por con � com a benevolência do Cardeal Manning, do prefeito da
cidade e da burguesia em geral ou por desfrutar de popularidade junto à sua
própria classe. O próprio Tom Mann, que eu considero como o melhor de todos
os chefes de origen1 operária, sente prazer em contar que foi convidado para uma
colação na casa do prefeito da cidade' ' .
Guilherme I I dignou- se em lhe dirigir a palavra: ' ' E verdade que todos os
socialistas são adversários da monarquia? ' ' perguntou o Kaiser a Buchholz, cujas
opiniões políticas ele não devia ignorar. ' ' Nem todos, sua majestade' ' , respondeu
prontamente o interpelado.
Não é raro ver deputados que procuram disfarçar a mudança que se operou
neles.
O que esse titulo significa, na realidade, nós podemos ver pelas listas de
candidatos apresentadas pelos socialistas de hoje na França, na Itália e alhures:
1 78 Robert M ichels
vemos notadamente figurar nes sas listas patrões que trabalham com ferro branco,
loj istas, portanto pequeno-burgueses que escondem cuidadosamente sua con
dição de patrões. Já vimo s até mesmo casos em que as mesmas pessoas se passam
por operários nos seus apelo s eleito rais dirigido s à classe operária e se clas sificam
de patrões nos seus apelos à burguesia.
Por isso eles afirmam que trata- se aci ma de tudo de organizar, organizar sem
parar, pois a cau sa operária só sairá vitoriosa no dia em que o último operário tiver
sido englobado na organização.
Como todos os beati possidentes , eles não são batalhadores. Eles se in
clinam, como na I nglaterra, para uma concepção segundo a qual operários e
capitalistas seriam ligados entre si por uma espécie de pacto de aliança e divi
diriam, embora de uma forma ainda desigual, o produto liquido do business
feito em comum.
Essa concepção, que resulta da teoria dita do salário em escala, estende um véu
sobre todos os antagonismos de classe existentes e imprime à t1nalidade própria da
o rganização um caráter purarnente mercantil e técnico.
Se uma luta se torna inevitável, o chefe tira dela um pretexto para empreender
longas negociações com o adversário; quanto mais es sas negociações se prolon-
Socio logia dos Partidos Polí ticos 1 79
gam, mais o seu nome é repetido no público e nos jornais. Se ao fazer i sso, acontece
dele exprimir opiniões ' ' razoáveis' ' , ele pode estar certo tanto dos elogios dos
adversários como da admiração reconhecedora das multidões.
D e uma forma geral, a história do movimento operário nos ensina que quanto
mais o caráter proletário de um partido é acusado, mais ele está exposto às
influências da ambiência poli tica.
O primeiro deputado que o partido socialista italiano, que não admitia, então,
nas suas fileiras, senão operários manuais, enviou ao Parlamento ( 1 8 8 2), ou seja, o
1 80 Robert Michels
O s chefes dos partidos democráticos não apres entam nos diferentes países um
tipo uniforme. O caráter nacional, a tradição histórica, etc. , fazem com que esse ti
po varie de um país para o outro.
chefes são recompensados por aumentos de salários que atingem, às vezes, cifras
enormes.
São os próprios socialistas que nos ensinam coi sas inacreditáveis à. respeito de
certas categorias de operários americanos que adqu iriram uma .s ituação privile
giada, mas que são totalmente desprovidos de senso moral.
CAPITULO VI
É por i sso que, enquanto uns classificam a maior parte dos intelectuais de
reformistas ou socialistas de extrema-direita, outros, ao contrário, os consideram
como ultra- revolucionários, corno socialistas de extrema-esquerda, de tendências
anarquistas.
•
Tanto para uns como para os outros, os intelectuais eram os bodes expiatórios,
responsáveis por todos os erros e por todos os vício s que sofria o partido. Mas tanto
uns como os outros estavam igualmente enganados. E, em princípio, não se
compreend e porque os desertores burgueses devem necessariamente aderir à
extrema direita do partido. Existe sobretudo razões d e ordem psicológica e
histórica de natureza a tornar provável a tese oposta.
Mas existe ainda outra razão que leva o ex- burguês a j untar- se aos socialistas
intransigentes: é sua cultura histórica e seu profundo conhecimento da natureza
íntima da burguesia.
Por outro lado, aquele que sai da burguesia interpreta com rnais precisão os
esforços realizados por sua classe de origem para adormecer o movimento
operário. Mais perito no as sunto, ele descobrirá com mais facilidade os verda
deiros motivos das diferentes atitudes do adversário. O que pode parecer ao seu
camarada proletário um ato cavalheiresco e uma prova de espírito de conciliação dos
burgueses se revelará aos seus olhos como um ato de baixa bajulação, de ignóbil
corrupção. O que urn socialista proletário pode considerar como um grande passo
à frente em direção ao objetivo, será julgado por ele como uma etapa i nsignificante
na estrada infinitamente longa da luta de clas ses.
impressões que ele guarda e as experiências que ele adquiriu nessas diferentes
organizações lhe proporciona com freqüência, uma satisfação muito grande. Ele
vê a evolução social como um dia favorável e se mos tra bastante otimista quando
pensa no caminho que sua classe ainda deve percorrer para concreti zar sua mis são
l1istórica. O progresso social termina por lhe parecer con10 um movimento
contínuo e retilíneo.
Em regra geral (e nesse caso só pode ser uma questão cuja regra está lirr1itada
por várias exceções) , o ex- burguês socialista dará, em todas as grandes questões,
preferência às soluções mai s radicais, mais intransigentes, mais es tritamente
condizentes aos princípios.
Tambén1 é verdade, por outro lado, que muitas correntes ' ' reformistas' '
estavam fortemente impregnadas de elementos intelectuais. Não há dúvida, por
exemplo, de que se o reformismo não foi criado na Alemar1ha pela pequena
falange agrupada em torno do jornal Der Soziallistische Studen t, de Berlim,
nern por isso ele deixou, desde o seu nascimento, de ser patrocinado fortemente e
com ostentação por esse grupo. M as olhando-os de perto, percebe- se facilmente
que são chefes do movimento sindical , isto é, pessoas de origem proletária, que
imprimiram maior impulso à ala refo1111 i sta da democracia socialista alemã.
filosofia H eir1rich Braun e muitos outros intelec:tuais, não devemos nos esquecer
que na ala contrária do partido combatem o doutor em filosofia Franz M ehring, o
doutor Paul Lensch, a doutora Ro sa Luxemburg, o doutor Israel Helphant
( Parvus) , o ex- estudante Max Grunwald, o ex- advogado Arthur Stadthagen, o
advogado Karl Lieb knecht e, finalmente, Karl Kautsky, ( que não deve senão a um
,
acidente o fato de não ter o título de doutor) . E por isso que na Alemanha os
intelectuais, no seu todo, não são nem exclusivamente revolucionários nem
exclus ivamente reformistas.
' ' O desertor da classe burguesa, diz com razão Clara Zetkir1, é na maioria das
vezes o mais solitário e incompreendido entre seus carr1arad as . Ao mesmo tempo
estrangeiro e cidadão na planície habitada por aqueles de quem assimila sua
educação e seus hábitos, ele se sente igualrne11te estrangeiro e cidadão em relação
aos altos objetivos do proletariado, dos quais se aproximam suas convicçõ e s. ''
,
Na Alemanha, como na França, na. I tália e até em alguns paí ses balcânicos,
lançaram contra os intelectuais as acusações mais graves e mai s terríveis.
Mas não nos deixemos enganar. M erlino acerta, quando nos previne
ironicamente que esse estado de coisas só dura até o momento em que os
intelectuais conseguem apoderar- se da direção do movimento operário. A partir
desse momento, eles se sentem em segurança, pelo meno s nas suas relações com as
massas, e não têm mais necessidade de dissimular. E se eles continuam simulando
mesmo assim atitudes humildes e demagógicas , eles o fazem por um vago temor
de serem taxados de tiranos pelos partidos burgues es e a fim de escapar às críticas
dos seus concorrentes de origern proletária.
Os estudos universitários não são somente aces síveis a indivíduos de elite que
receberam dons excepcionais da natureza. Qualquer proletário de inteligência
média poderia, se dispusesse dos meios necessários, adquirir um título universitá
rio com a mesma facilidade com que o adquire u rn burguês de inteligência. méd ia.
Além disso, e sobretudo, se a desconfiança que os operários alimentam em
relação aos desertores burgu eses fosse cem vezes rnais forte do que é atualmente,
seria antes um bem do que um mal: este é, na verdade, para a classe operária, o
melhor meio de poupar as decepções que provocaria uma confiança cega e
ilimitada. O que não significa que eliminando totalmente os intelectuais, a clas se
operária evitaria todas as decepções possíveis.
Pelo que acabamos de dizer conclui- se que a 1 uta dirigida contra os intelectuais
no partido socialista, apesar de todas as razões que possam j ustificá- lo em certos
casos particulares, não só é soberanamente inj usta, como também completamente
inoponuna e absurda.
Apesar do seu caráter nitidamente proletário e apesar de ter à sua frente chefes de
origem proletária da autoridade de um August Bebei, de um Ignar Auer, de um
Johannes Timm, de um M artin Segitz, de um Adolph von Elm, de um Otto Hué e
tantos outros, é permitido afirmar que a democracia socialista alemã perderia
muito do s eu prestígio se eliminasse os intelectuais.
O s intelectuais podem prestar aos operários serviços precio sos, se desej arem
apenas se co ntentar com a elaboração teórica da luta de classes. J_,onge deles de
desmanchar os nós dos laços históricos que ligam o movimento operário à
fenomenologia universal, de impedir os operários de perderem de vista a unidade
orgânica que existe entre as diferentes correntes do seu movimento e o fim comum
à realização do qual todos eles devem concorrer. a palingenesia social. A missão dos
intelectuais consistiria, por conseguinte, em ' ' manter presente e viva a grande
finalidade do movimento operário e fazer nascer entre os operários, com o
conhecimento das relações sociais, a certeza de sua pronta vitória'' ( F. Mehring) .
Conclui- se daí que só o socialismo de origem burguesa possui o que ainda falta
totalmente ao proletariado: o tempo e os meios para desenvolver sua educação
polític� a liberdade fisica de se transportar de um lugar para outro e a
independência material sem a qual o exercício d e uma atividade política no
próprio e no verdadeiro sentido da palavra é inconcebível.
E o mesmo fato se produz todas as vezes que se trata de resolver temicamente uma
questão jurídica, econômica, filosófica, enfim, uma questão que exige
conhecimentos que só se adquire depois de longos e ap rofundados estudos. Or� o
autodidata nem sempre pos sui uma competência suficiente.
,
CAPITUL O I
O REFEREND UM
É por i sso, por exemplo, que a democracia socialista alemã não subordina as
deliberações dos seus cor1gressos, isto é, das assembléias de delegados da massa
socialista, na ratificação posterior feita pelo partido inteiro. E mesmo, ao contrário
do que acor1tec:e na França e na Itália, onde o voto está baseado no número de
partidários das seções locais repres entadas pelos delegados, as decisões tomadas
no s congressos alemães só são tomadas com a maioria dos delegados presentes aos
congressos. Nós temos aqui, portanto, o parlame11tarismo em lugar da democracia.
Nos próprios congressos, uma proposição deve reunir dez as si naturas para
poder ser discutida. O único instituto que se aproxima do direito de iniciativa nos
partidos socialistas modernos é aquele em virtu de do qual a direção do partido é
ob rigada a convocar um congresso extrao rdinário, quando um deterrr1ir1ado
número de membros o exige ( quinze seções na Alemanha, um décimo dos
filiados na Itália, duas federações municipais ou vinte seções locais na Bélgica).
O refere·ndum foi praticado durante algum tempo pelo partido socialista ita
liano, notadamente nos casos que a ordem do dia comportava questões sobre
1 98 Robert M ichels
as quais o congresso predeces sor não tinha tomado nenhuma decisão ou não se
tinha pronunciado de uma forma suficientemente clara.
O referendum está suj eito à crítica na mesma medida e pelas mes mas razões que
qualquer outra for1na d e governo popular direto . O que podemos Ih.e obj etar
acima de tudo é a falta de competência das massas, assim como a sua falta de
tempo. Bernstein d iz com razão que mesmo que só as funções polí ticas e
administrativas mais importantes fossem submetidas ao voto popular, o feliz
Sociologia dos Partidos Políticos 1 99
Por outro lado, nos casos particularmente importantes, quando se qui sesse,
por exemplo ( e essa proposta já foi feita) , deterrr1inar através desse meio a atitude
que o partido socialista deveria adotar em relação a uma guerra irr1ine11te, o
referendu1n se chocaria com a oposição mais irresi stível do Estado.
mente consciente, pois a história desse sistema eleitoral rios ensina como é fácil
fraudar os resultados d e um plebiscito . E mesmo que as operações se desenrolas
sem com uma regularidade perfeita, o resultado do referendum não teria um valor
dernonstrativo absoluto, poi s lhe faltaria sempre a força revigorante da discussão.
E, para terminar, digamos que ele é absolutamente incapaz de exercer qualquer
influência sobre o poder executivo .
CAPÍTULO I I
Nós já falamos dos meio s, dos quais algu ns bastante enérgicos, que foram
propostos com vistas a impedir o aburguesaine11to dos cl1efes de origem proletária.
Mas esses meios não são suficientes, pois é preciso ainda obter a proletarização,
por assim dizer, dos chefes de origem burguesa, afas tar deles qualquer possibilida
de de voltar ao seu antigo meio e obrigá-los a ass imilar-se aos proletários, a
abaixar- se ao nível daqueles que os consideram seus líderes.
Bakounine via que em certos paí ses, tais como a Itália e a Rússi� o movimento
o perário não podia dispen sar a cooperação de intelectuais burgueses, mas ele
exigia que aqueles que, pelo próprio nascimento, deveriam ser os adversários do
socialismo, fos sem submeti dos, quando aderissem a este, a regras muito severas .
É lícito considerá- lo, sob esse aspecto, como um precursor de Tols toi.
202 Robert Michels
' 'A forma de viver domina o mundo das idéias e determina a vor1tade. " Foi
através desse aforismo, tirado da concepção materialista da história, que Bakouni
ne definiu sua atitude em relação a essa questão.
E ele continua: ' ' Se o homem, nascido e criado num meio burguês, quer
tornar-se um amigo leal e sincero dos operários, isto é, um socialista que busca a
emancipação da classe daqueles que não possuem nada, ele só pode fazê-lo com
uma única condição: é preciso que ele renuncie para sempre a todos os hábitos e a
todas as vaidades da vida burguesa, que ele se aliste sem restrições do lado dos
operário s e consagre à burguesia uma hostilidade eterna. Se ele não se sente capaz
disso, ele poderá muito bem, em tempo de paz relativa e impulsionado por razões
de ordem moral, prestar um apoio à causa dos operários; rr1as a cada cor1flito um
pouco rnais grave, o seu antigo sentimento de solidariedade com a classe burguesa
,
desp ertará com toda força. E por isso que depois de ter se enganado a si próprio,
ele enganará por sua vez o partido operário ' ' .
Portanto, era acima de tudo por razões de ordem psicológica que Bakounine
exigia dos '' socialistas burgueses' ', dos ' ' intelectuais' ' , um abandono absoluto de
sua antiga maneira de viver. Ele acred itava, na verdade, que o mundo exterior
exerce uma influência decisiva sobre o mundo da co nsciência.
M ais importante ainda do que essa ilusória morte interior era a morte exterior
que uma tendência nascida posteriormente entre os socialistas russos colocou na
base de sua atividade: é o que Bakounine definiu incidentemente ''a prisão na vida
'
d o povo ' .
A supressão dos instintos burgueses: esse foi o postulado que durante muiio
tempo dominou a história do socialismo ru sso; e os apóstolo s intelectuais, que
provinham, com freqüência, de famílias da mais alta nobreza, deviam obter essa
supressão, misturando-se entretar1to, conforme um costume estabelecido, ' ' no meio
do povo' ' e esforçando- se para confundir- se completamente com o proletariado.
Sociologia dos Partidos Políticos 203
Essa era a teoria dos narodniki (populistas), teoria cujas conseqüências práticas
eram suportadas com o rr1aior heroísmo.
E um fato histórico, cujas provas não nos cabe fornecer aqui, que os burgueses
do primeiro movimento operário italiano eram ' ' desclas sificados' ' , mas quase
unicamente no sentido bakounineano da palavra, e não naquele atribuído por
Karl M arx . O chefe mais conhecido da seção italiana da I nternacional , Carlo
· Cafiero, que descendia de urr1a nobre e muito rica família, colocou à disposição do
partido toda a sua imensa fortuna, contentando-se em viver ele próprio como um
pobre boêmio. Podemos considerá-lo, e corr1 razão, como f'rotótipo desses
socialistas idealistas .
tendências mais perigosas dos chefes. A identidade com o tipo de vida adquiria por
causa desse fato o valor de um postulado moral. Ela era considerada como uma
válvula de segurança, destinada a impedir, ou pelo menos a interromper o
desenvolvimento das formas oligárquicas no seio dos partidos operários.
E evidente que es sas tentativas, pouco eficazes e pouco práticas, que não
tratam senão do lado ideológico do problema, têm praticamente o efeito de criar
um fana_tismo de partido. Elas são impotentes para estabelecer uma id entidade
perfeita, do ponto de vista da mentalidade e da ação, entre os chefes e as massas
proletárias.
,
CAPITULO I I I
Os sindicalistas querem ( e nesse ponto eles estão , pela primeira vez, de acordo
com os políticos do marxismo) propagar entre os operários sindicalizados a
convicção de que o sindicato só poderá alcançar definitivamente seu fim
eliminando o cap italisn10, isto é, colocando um ponto no regime econômico atual.
econom1ca.
"
E eis que uma escola política, à qual pertencem muitos homens inteligentes ,
instruídos e genero sos, afirma ter encontrado no sindicalismo o antídoto da
democracia autoritária. Mas pode o antí doto da oligarquia consistir num método
que também decorre do princípio da representação? Parece sobretudo que esse
mesmo princípio se opõe de uma forma irredu tível à quinta-essência democrática
do sindicalismo. Em outras p alavras, o próprio sindicalis mo sofre, na nos sa
opio.ião, de uma antinomia flagrante.
' ' A democracia pretende con tinuar a exploração das massas produtoras
através de uma oligarquia de profissionais de inteligência' ' ( G. Sorel) .
Manti ca diz, com razão, que o s própr ios sindicalist�s não conseguiram se
desem baraçar da bagagem mental da qual são encarregado s todos aquele s que
penencem a um partido qualquer, eletivo ou não. Q,uer eles queiram quer não, o
partido sindic alista nada mais é do que um partid o social ista mais ou meno s
revis to e corrigido. O s sindicalistas gos tariam de p arar lá onde a lógica das coisas
não perrnite mais parar. Tudo o que eles escreveram sobre os partid os polític os em
geral e sobre seu irmão mais velho, o p arti d o social ista, em panic ular, se aplica a
eles e a toda organização, sem exceção, porqu anto o rganiz ação.
Sociologia dos Partidos Polí ticos 207
Analisar1do bem, podemos até mesmo dizer que quanto rr1ais o sindicalismo
procura deslocar o eixo da política operária para a ação sindical, mais ele se expõe
ao perigo de se degenerar, ele próprio, numa oligarquia.
O s sindicalistas franceses sempre insi stiram, e até com uma certa violência, na
ação dita direta, como sendo o único meio de fazer a classe operária agir como urna
massa autônoma, não representada por tercei ro s , e de excluir, a priori, toda
representação que não passa de ' ' traição, desvio, aburguesamento' ' . Mas eles
restringem arbitrariamente sua teo ria unilateral ao partido socialista, como se as
mesmas ca.usas não devessem produzir os rnesmos efei tos quando sua ação se
manifesta no terreno do movimento sindical. Eles raciocinam como se estivessem
imunizados contra a ação das lei s sociológicas, quando essas leis possuem uma
eficácia universal.
o que atraiu sobre sua pessoa os olhares do povo e a atenção da opinião pública e
do governo.
A situação polí tica quej ohn Burns ocupa atualmente na I nglaterra, ele a deve,
em grande parte, à celebridade que lhe valeu sua grande habilidade estratégica
q uando se enco ntrava à frente do amplo movimento grevista dos trabalhadores
das docas de Londres, em 1 8 8 9 . Ele deu, então, à sua fu tura popularidade uma
base sólida e ganhou sobretudo junto às categorias mais importantes de operários
organizados, essa confiança que iria conduzi- lo mais tarde do seu modesto atelier
d e construtor de máquinas ao palácio do Ministério do Rei.
Este é um exemplo, dentre tantos outros, para apoiar nossa afirmação de que
em muitos casos a greve, em vez de ser um campo de ação para as massas unidas e
co mpactas, facili ta, ao contrário, o processo de diferenciação e favorece a formação
de uma elite de chefes . O si ndicalismo é, numa medida m aior que o socialismo,
um partido de combate. Por isso ele preci sa, mais do que o partido socialista, de
uma direção .
Essa concepção reflete bem á. verdade histórica, rnas seu alcance seria mu ito
maio r se nos fosse possível produzir a prova de que esses dirigentes de greves,
saídos da obscuridade e dos quais os próprios sindicalistas não colocam em dúvida
a necessidade, sempre tiveram o desinteresse de ' ' se eclip sar' ' , uma vez terminada
a greve. O ra, nós sabemo s que na maioria dos casos é o contrário que acontece: s e
ber1eficiando da situação que adquiriram, os chefes só pensam em uma coisa:
assegurar- se um poder durável.
Nenhum movimento faz sob res sair com tanto destaque o direito e a aptidão
da massa para se governar a si própria do que o movimento sindicalista. Quar1do a
direção superior do movimento s e encontra em suas mão s, como é o caso na
França, eles atribuem muita importância ao fato de que sua autoridade se limita a
assegurar a execução das deliberações tomadas nas assembléias soberanas de seus
camaradas.
Mas a teoria das massas professada pelo sindicalismo tem um revés que é bom
trazer à baila.
proporção) na Suécia. D es s e s op e rário s os que têm uma p artic i p ação ativa na vida
,
ras.
Mas, mesmo na F'rança, existe uma grande distância entre a teoria e a prática.
E, em princípio, os chefes exercem uma forte influência sobre os camaradas
organizados por intermédio do s jornais que, todos sabem, não são redigidos pelas
massas.
Hoj e em dia os sindicalistas repudiam essa concepção por causa do seu caráter
jacobino; mas isso não os impede, apesar da contradição teórica em que caem, de
ter que concordar co1n sua ação prática. Para alguns teóricos do sindicalismo
francês, que apresentam u ma forte inclinação pelo esteticismo, e pa.nicularmente
para Edouard Benh, as sementes jacobinas dessa teoria já atingiram seu pleno
desenvolvimento.
Conservar o poder torna- se, mesmo para os sindicalistas, a lei suprema; a tal
ponto que, abandonando a velha tática que consistia em se beneficiar dos
processos movidos contra eles pelo governo, para pronunciar discursos de
propaganda e falar a linguagem do herói e do profeta, eles, ao contrário, adotaram
o princípio de não agir mais nessas ocasiões senão com uma prudêr1cia e uma
reserva diplomática. O próprio Georges Sorel encontrou esta expressão: ' ' Degene
rescência progressiva do sindicalismo'' . E ele escreveu com suas palavras: ' ' A
C o nfederação Geral do Trabalho toma cada vez mais a for111 a de um governo
. ''
o perar10 .
,
,
CAPITULO IV
Aos anarquistas cabe o mérito de terem sido os primeiros a insistir com energia
sobre as conseqüências hierárquicas e oligárquicas das organizações de partido.
Eles sabem até que ponto o individualismo dos chefes coloca em cheque e
paralisa o socialismo dos gregários. Para não correr esse risco os anarquistas, a
despeito dos inconvenientes que tal conduta implica na prática, renunciaram em
constituir um partido, pelo menos no sentido estrito da palavra. Seus membros
não estão organizados sob uma forma estável. Nen�uma disciplina os une. Eles
não conhecem nem obrigações, nem deveres, tais como eleições, contribuições
pecuniárias, as sembléias estatutárias, etc.
Segundo essa caracterí stica, o tipo do chefe anarquista deve diferir sensivel
mente do chefe sociali sta, tal como se fo1111 o u duran te esses últimos vinte e cinco
anos. O anarquismo não dispõe de uma organização de partido suscetível de
o ferecer fundo s, e o atalho que segue não conduz às honras do parlamentarismo.
A ambição pessoal encontra nele, portanto, para se desenvolver, um campo menos
vasto, tentações menores e chances do contágio m enos numerosas. Por isso deve
se esperar, e esta é uma conseqüência que decorre logicamente da teoria do meio,
que o idealismo seja, de uma forma geral, mais acentuado no chefe anarquista do
que no chefe socialista.
homens sinceros e grandes almas, esses Pierre Kropotk.ine, Elisée Reclus, Cl1ristian
Comelissen, Enrico M alatesta e tantos outros menos conhecidos.
Mas o fato dos chefes anarquistas serem, em geral, moralmente superiores aos
chefes dos partidos organizados e lutarem no terreno político não impede que
reencontremos neles algumas das qualidades e pretensões próprias dos chefes
como tais, independentes do partido ao qual pertencem. A análise psicológica. do
caráter de cada um deles forneceria facilmente a prova. A luta teórica contra toda
autoridade, contra toda limitação, luta pela qual muitos anarquistas entre os mais
eminentes, sacrificaram vários anos de sua vida, não foi suficiente para abafar neles
a natural ambição pelo poder.
M arx fez observar com razão que, para execu tar o que quer que seja, os
comitês executivos deveriam estar munidos de poderes e apoiados pela força
pública. O Parlamento federal não teria nenhuma razão de ser se não fos se
encarregado de organizar essa força pí1blica. Além disso, esse Parlamento poderia,
assim como o conselho comunitário, delegar o poder executivo a um ou a vários
comitês ; estes se sentiriam por esse fato investidos de um caráter autoritárío que as
necessidades provocadas pela luta não deixariam de acentuar cada vez mais. Em
suma, todo o projeto bakouniano estaria marcado, segundo Marx, por um
autoritarismo exagerado.
A exemplo dos sindicalistas, os anarquistas louvaram a ' ' ação direta' ' , à qual
eles atribuem o valor de um ' ' princípio moral' ' : ' ' Contrariamente à tática das
negociações, dos compromissos recíprocos, da via hierárquica e do sisterr1a dá
delegação, a ação direta permite buscar uma melhor sorte para os trabalhadores e,
por conseguinte, emancipar o proletariado do capitalisrno e da centralização
política através da obra pessoal e imediata dos p róprios operários' ' (Mühsam) .
Após ter mostrado o poder da sociedade burguesa, Malatesta fez observar que
seria facilitar o triunfo definitivo dessa sociedade, deixá-la na preser1ça das forças
desorganizadas dos operários, e concluía pela neces sidade de opor à organização
forte dos ricos uma organização ainda mais forte dos pobres.
' ' Se este é o teu pensamento, caro amigo, exclamou N ieuwenhuis dirigindo- se
a M alatesta, você pode ir tranqüilamente para o lado dos socialistas. Eles não
dizem outra coisa. ' '
216 Robert Michels
Ora, a análise dos partidos políticos à qual nos temo s submetido até aqui
au to riza-nos a duvidar da eficácia desse meio. Sua adoção não co nstituiria un1
progresso sen sível, mesmo que fosse pos sível suprimir através de um simples
decreto os organismos que fizeram nascer a evolução histórica e a necessidade. Se
o anarquismo, que constitui a visão rr1ais abstrata e rr1ais idealista do futuro,
prometeu ao mundo uma ordem onde toda concentração do poder seria excluída,
ele não soube fornecer na sua teoria os elementos lógicos dessa ordem.
S EXTA PARTE
S I NTE S E :
CAPITU LO I
Ao atingir este ponto de nossa demor1stração, vemos surgir à nossa frente duas
perguntas decisivas.
Q.ue a polí tica interna das organizações de partido sej a hoje ab solutamente
conservadora, ou na iminência de sê-lo, este é um fato que sobressai nitidamente da
análise à qual acabamo s de nos submeter. Mas poderia se argumentar que a
política externa desses organismos conservadores foi uma política ousada e
revolucionária; poderia se argumentar que a centralização antidemocrática do
poder nas mãos de alguns chefes não passou de um meio tático adotado com o
obj etivo de derrubar com muito mais facilidade o adversário no momento
desejado; poderia se argumentar que as oligarquias só foram encarregadas da
n1issão provisória de educar as m.as sas com vis tas à revolução, e qtie a orgar1ização
não passou, por conseguinte, de um meio colocado a serviço de uma concepção
exagerada do blanquismo.
Essa tend ência está reforçada pelo caráter parlamentar do partido; pois se todo
partido aspira a ter o maior número pos sível de memb ros, o parlamentarismo
aspira a ter o maior número possível de votos.
com os novos partidários como para com os que são somente suscetíveis d e se filiar
e que são chamados na Alemanha mitliiufer, na Itália simpatizanti, na H olanda
geestvenvanten . Para não assustar essas pessoas que ainda estão afastadas do mundo
ideal do socialismo ou da democracia, evita- se de praticar uma política de
prindpios, sem antes perguntar se o aum ento quanti tativo da organização não é de
natureza a trazer prejuízo para a sua qualidade.
O partid o subversivo organiza nos seus quadro s a revolução social. Daí seus
esforços cotidianos para co11solidar suas posições , estender seu mecanismo
burocrático, acumular capitais. To do funcionário novo, todo secretário novo
engajado no partido é teoricamente um novo agente da revolução; como toda
seção nova é um batalhão novo e tod o novo milhar de francos fornecidos pelas
cotas dos membros ou pelas receitas da imprensa, ou oferecidos generosamen te
por um benfeitor simpático, é um novo tesouro de guerra para a lt1ta contra o
adversário.
C onclui- se daí que, na medida em que for humanamente pos sível de prever,
todas as tentativas de medir suas forças com as do antagonista serão, salvo por
acontecimentos extraordinários, condenadas a um xeque fatal.
222 Robert Michels
Nos primeiros anos da sua existência, este não deixaria transparecer seu
caráter revolucionário, não somente pelo fim que buscava, mas também pelos
meios que sabia escolher na ocasião, sem nunca ter por eles uma predileção de
pr1nc1p10.
. .
,
Mas quando vell10 ou, se preferirmos, politicamente maduro, ele não hesitou
em rnodificar sua primeira profissão de fé, declarando- se revolu cionário apenas
' ' no melhor sentido da palavra' ' , isto é, não mais pelos meios que só interessam ao
programa, mas unicamente na teoria e no papel.
Esse mesmo pa.rtido, que não temeu proclarnar um dia em voz alta, diante dos
fuzis ainda fumegantes do s triunfantes em Paris , sua solidariedade entu s iasta com
os partidários das co munidades, anuncia hoj e ao m11ndo inteiro seu repúdio pela
propaganda antimilitarista ern to das as formas su scetíveis de colocar um dos seus
membros em conflito com o Código Penal, não querendo , acrescenta ele, assumir
nenl1uma responsabilidade pelas conseqüências que possam daí resultar.
Ele s e agarra com uma tenacidade cada vez maior ao que cl1ama d e ' ' a velha e
gloriosa tática' ' , isto é, à tática que lhe permitiu aumentar seus quadros. E é assim
que se torna cada vez mais invendvel sua aversão por qualquer ação agres siva.
Por is so a idéia de uma nova tática desse gênero é cada vez mais abandonada.
Ela vai de encontro, na mesma medida, contra um sentimentalismo inj u stificado e
contra um egoísmo j ustificado: o amor sentimental do artista p ela obra que ele
criou e que deseja preservar intacta, o interesse pessoal de milhares de honestos
pais de família cuj a vida econômica está indissoluvelmente ligada à existência do
partido e que tremem com a idéia de perder seu emprego e corn as conseqüências
que teriam que suportar se o governo procedesse à dissolução do partido, o que
p oderia facilmente ocorrer em caso de guerra.
A única p reocu p a.ção consiste doravante em afastar tudo que seja suscetível de
introduzir- se nas rodas da sua. engrenagem, ameaçando assim, senão o pró prio
organismo, então sua forma externa representada pela organização.
antigos direitos, em vez de responder a ofensivas dos adversários por meios que
poderiam ' ' comprometer' ' o partido.
C ertamente, tudo isso não estava no pensamento de Karl M arx. Tudo isso não
tem mais nada de marxismo. M arx, se estivesse vivo ainda, iria se revoltar co11tra tal
degenerescência. Seria, todavia, possível que, seduzido pelo espetáculo de um
exército de três milhões de homens invocando sua p resença, e até j urando
fidelidade in verba magi.stri nas ocasiões solenes, ele não encontrasse, por sua
vez, nada para dizer dian te de uma falta tão grave aos p rindpios por ele
enunciados. Em todo caso, existem antecedentes na vida de M arx que não
excluem a possibilidade de tal hipótese. Foi assim que ele soube fechar os oll1os
pelo menos diante do grande público, às faltas graves cometidas pela democracia
socialista alemã em 1 8 7 6 .
A luta que os socialistas travam contra os p artido s das classes dominantes não é
mais conceb ida como uma luta de priná·p ios, mas como uma luta de concor
rência. O partido revolucionário rivaliza corri o s partidos burgueses pela conquista
do poder. Por isso ele abre seus quadros a todos os indivíduos que possam lhe ser
úteis sob esse aspecto ou sej am simplesmente suscetíveis de refo1n1ar e aumentar
seus batalhões na luta em que está engaj ado.
Seu ódio é dirigido, primeiramente, não contra o adversário d e sua '' con
cepção' ' , mas contra os rivais temidos, contra aqueles que aspiram ao mesmo fim
que ele: o poder. Fazendo isso, o partido não perde apenas sua virgindade
política, como conseqüência das relações de toHa espécie que contrai com os
elementos mais diversos e que acarretam para ele conseqüências graves e duráveis:
ele corre ainda o risco de perder seu caráter de partido ( pois um partido supõe o
acordo de todos aqueles que o compõem �·o bre a direção a segu ir para atingir fins
obj etivos e p ráticos comuns) e de ser reduzido, por conseguinte, à organização
pura e simples.
,
CAPITULO II
Ainda que a maior parte das escolas socialistas acreditem que será possível,
num futuro mais ou menos distante, realizar uma verdadeira democracia e que a
maior parte dos que professam em política idéias aristocráticas estimem que a
democracia, apesar dos perigos que apresenta para a sociedade, não sej a por isso
menos realizável, existe, por outro lado, no mundo da ciência, uma corrente
conserva dora que nega resolutamente e para sernpre uma possibilidade t-lesse
gênero.
Nós já dissemos que essa corrente conta com u1na benevolência particular
mente grande na Itália onde está representada por um homem de grande valor,
Caetano Mosca: ele p roclama que uma orderr1 social não é pos sível s en1 uma
'' classe política' ' , isto é, sem uma classe politicamente dominante, uma classe de
m1nor1a.
• •
Eles defendem a teoria segundo a qual as eternas lutas entre ari stocratas e
democratas, que a história nos mostra, nunca passaram de lutas entre uma v·elh a
minoria que defendia s·ua predominância e u m a nova minoria arnb icio sa que
procurava por sua vez, conquistar o poder, quer se juntando à primeira, quer
tomando seu lugar.
Segi.1ndo essa teoria, essas lutas não con.sistiam senão numa suces são pura e
simples de minorias no poder. As classes sociais que se submetem, aos nossos
olhos, a batalhas tão gigantescas .sobre a cena da história, batalhas que têrr1 nos
antagonismos econômicos sua causa mais distante, poderiam, por conseguinte,
s er comparadas a dois grupos de dançarinos executando um chassé-croisé ( N ota:
passo de dança).
226 Robert M ichel s
É preciso di zer, todavia, que a ' ' teoria da circulação das elites' ' , formulada por
M . Pareto, só pode ser aceita com restrições, no sentido de que se trata corn muito
menos freqüência de uma suces são pura e s imples das elites do que de uma
mi stura inces sante, com os antigos elementos atraindo, absorvendo e assimilando
continuamente os novos.
•
Caetano M osca que é atualmente, j unto com Vilfredo Pareto, o intérprete mais
em inente e ao mesmo te mp o o mais hábil e mais autorizado nessa concepção,
Mosca, dizí amos nós, embora disp utando com M . Pareto a prioridade científica
dessa teoria, não deixa de reconhecer em H ippolyte Taine e em Lu dwig
Grumplowi cz seu s prect1rsores.
Apesar de estimar que o conceito de clas se será um dia despoj ado de todo
atri b u to eco nômico, a escola de Saint-Simon não i maginava um futuro sem
classes.
Sociologia dos Partidos Políticos 227
Ela sonhava com a criação de uma nova hierarquia, fu ndada não em privilégios
de nascença, mas em privilégios adquiridos: os homens que possuem esses
privilégi os sendo ' ' os mais amorosos, os mais inteligentes e os mais fortes,
personificação viva do triplo progresso da sociedade'' e '' capazes de conduzir esta
p ara horizontes mais amplos, , .
"
A escola d e Fourier foi ainda mais longe. C om uma minúcia que chegava ao
pedantismo e que tinha mais de um traço grotesco, Fourier tinha ! maginado todo
u m sistema vasto e complexo e construiu, sob a forma de quadros apropriados,
uma hierarquia esférica ' ' de n1il graus' ' , compreendendo todas as formas possíveis
de governo, desde a ' ' anarquia' ' até a ' ' oniarquia' ' , cada uma com suas ' ' altas
dignidades'' e suas ' ' altas funções' ' especiais.
Sorel restabeleceu com razão o laço estreito que reata o sociali smo anterior a
Louis-Philippe à era do grande Napoleão e mo strou que as utopias de Saint-Simon
e de Fourier só podiam nascer e prosperar sobre o terreno da idéia de autoridade à
qual o grande C orso conseguira dar um novo esplendor. E segundo Berth, todo o
sistema de Fourier, para poder funcionar, exigiria a ubiqüidade invisível, mas real
228 Robert Michels
e indispensável do próprio Fourier que sozinho seria capaz, tal como o Napoleão
d o socialismo, de colocar em ação e em harmonia as diversas paixões humanas.
A única doutrina cientifica que pode se louvar de ter uma resposta séria para
todas as teorias, velhas ou novas, que afirmam a necessidade imanente de uma
' ' classe polí tica' ' , é a doutrina marxi sta.
M as a nova sociedade coletiva, a sociedade sem clas ses, que se edificará sobre
as ruínas do antigo Estado, precisará, ela também, de representantes eleitos.
Dir- nos- ão que, graças à observação das regras preventivas formuladas por
Rousseau no Contrato Social e retomadas mais tarde p ela Declaração dos Direitos
do Homem, graças principalmente à aplicação rigoros a do princípio de revoga
b ilidade constante de todos os cargos, a atividade desses representantes poderá ser
mantida em limites muito estreitos . M as a única alternativa é a de que a riqueza
social só poderá ser administrada de for111a satisfatória por intermédio de uma
burocracia ampla.
Ora, aqui surgem obj eções que levam, se raciocinar111 o s logicamente, a negar
pura e simplesmente a possibilidad e de u m Estado sem classes.
Ele obj etava a Mazzini e seus amigos que todas as mudanças políticas que eles
sonhavam eram de natureza puramente formal e visavam somente à satisfação de
suas necessidades pessoais e, sobretudo, à aquisição e ao exercício de uma
autoridad e ilimitada.
Foi por isso que Buonarotti se opôs ao levantamento armado organizado por
Mazzini no Piémont, em 1 83 3 , através de um decreto no qual ele proibia seus
camaradas carbonari de dar assistência aos insurgidos, cujo triunfo eventual só
poderia, segundo ele, dar nascimento a uma nova aristocracia ambiciosa. ' ' A
república ideal de Mazzini, escreveu ele ainda, só diferia da monarquia no q u e ela
comportava uma dignidade a menos e um cargo eletivo a mais. "
querer servir- se da guerra como o meio mais eficaz para defender a paz ou do
álcool para lutar contra o alcoolismo.
Espera- se, na verdade, que a revolução social não substitua a classe dominante
visível e tangível que existe atualmente e que age abertamente, por uma oligarquia
demagógica clandestina operando sob a falsa máscara da igualdade.
Essa ob servação de Rodbertu s resume a próp ria essência do partido polí tico .
Para ver até que po nto ele estava certo, convém examinar o s elementos que entram
na composição de um p artido.
U m partido não é nem uma unidade social, nem uma unidade econômica. Sua
base está formada pelo seu progran1a. Este pode mu ito bem ser a expressão teórica
dos interesses de uma determinada classe. Mas, na prática, cada um pode aderir a
u m p artido, independentemente de seus interesses privados coincidirem ou não
com os princí pios enunciados no programa.
Todos os socialistas como tais, qualquer que sej a sua situação econômica na
vida privada, admitem em teoria a absoluta preeminência de uma grande classe: a
do proletariado . M es mo o s elen1entos não- proletário s , ou não puramente prole
tários, que estão filiados ao partido adotam o ângulo visual da classe operária
e reconhecem esta como uma clas se preponderante.
elementos heterogêneos se submetem em princípio à ' ' idéia'' de uma classe que
lhes é estranha.
O que determina os interesses é sua força respectiva, isto é, as relações que eles
apresentam com as principais necessidades da vida. De sorte que nada se oponha,
a priori, a que nasça entre os membros burgueses e os membros proletários do
A experiência nos ensina que na sua conduta com pessoas que estão ao seu
serviço, os burgueses- socialistas nem sernpre subordinam seus interesses parti
culares aos da sua classe adotiva. Apesar de toda a sua boa vontade pessoal e apesar
da pressão que o partido exerce sobre eles, os socialistas patrões e industriais se
comportam em relação a seus empregados e operários da mesma forma como
se comportam em relação a seus colegas cujas convicções estão de acordo com sua
função econômica, isto é, que pensam não como socialistas, mas como ' ' bur-
gueses ' .
'
Mas existe ainda outro perigo: a direção do partido socialista pode cair nas
mãos de homens cujas tendências práticas estão em oposição com o programa
operário. Resultará daí que o movimento operário será colocado a seni.ço de
interesses diametralmente opostos aos do proletário. Esse perigo é particularmente
grande nos países em que o partido operário não pode dispensar a ajuda (e a
direção) de capitalistas que não dependem dele economicamente; é mínimo nos
paí ses em que o partido não precisa desses elementos ou está, pelo menos, em
condições de mantê-los afastados da direção de seus assuntos.
Num partido, os interesses das massas organizadas que o compõem estão longe
de {'.Oincidirem com os da burocracia que o personifica.
Ora, é uma lei social inelutável que qualquer órgão da coletividade, nas cido da
divisão do trabalho, cria para si, logo que estiver consolidado, um interesse especial,
um interesse que existe dentro de si e para si. Mas interesses especiais não podem
existir no seio do organismo coletivo sem estarem imediatamente em oposição
com o interesse geral. Mais do que isso: camadas sociais desempenhando funções
diferentes tendem a se isolar, a se outorgar órgão s aptos a defender seus interesses
particulares e a se transfo1111 ar finalmente em classes distintas.
Eles parecem demonstrar com evidência que a sociedade não pode subsistir
sem uma classe ' ' dominante' ' , que esta é a condição neces sária para aquela e que a
classe dirigente, embora suj eita na sua composição a uma freqüente renovação
panidária, não deixa de constituir o único fator o nde a ação se manifesta
suficientemente durável na história do desenvolvimento humano.
Existe nos meios operários franceses o provérbio: Homme élu, homme Joutu. A
revolução social se reduziria, como a revolução política, numa operação que
consiste, como diz o provérbio italiano, em trocar de pároco, sem trocar a música.
A história parece nos ensinar que não existe nenhum movimento popular, por
enérgi co e vigoroso que sej a, capaz de provocar no organismo social do mundo
,
A ' ' classe política' ' , para servir- nos ainda da expressão de Mosca, possui
incontestavelmente um sentimento muito aguçado das suas possibilidades e dos
seus meios de defesa. Ela emprega uma força de atração e uma capacidade de
abso rção podero sas que raramente per111a necem sem efeito, mesmo sobre seus
adversários mais ferozes e mais intransigentes. Do ponto de vista histórico, os
anti-românticos estão completamente certos quando resumem seu ceticismo nesta
cáustica sátira: ' ' O que é uma revolução? Pes soas qu e se dão tiros de fuzil na rua:
isso quebra muitos vidros; os únicos que lucram com isso são os vidreiros. O vento
,
leva a fumaça. Os que ficam em cima colocam os outros embaixo . . . E uma pena ter
que remover tantos paralelepípedos honestos que já não resistiam mais' ' . (T.
Gautier. )
,
CAPITULO I I I
Reduzida à sua mais breve expressão, a lei sociológica fundamental que rege
inelutavelrr1ente os partidos políticos ( dando à palavra ' ' políticos' ' seu sentido mais
abrangente) pode ser formulada assim: a organização é a fonte de onde nasce a
dominação dos eleitos sobre os eleitores, dos mandatários sobre os mandantes,
dos delegados sobre os que os delegam. Quem diz organização, diz oligarquia.
O s socialistas muitas vezes acreditam, e com toda sinceridade, que uma nova
elite de homens políticos cumpriria suas prornessas melhor que a precedente. A
idéia da representação dos interesses do povo, idéia à qual a grande maioria dos
democratas, e especialmente as grandes massas operárias dos países de língua
alemã, se agarram com tanta tenacidad e e com sincera confiança, é uma ilusão
p rovocada por um falso efeito de luz, por um efeito de miragem.
Numa das mais deliciosas páginas da sua análise do moderno ' ' dom
quixo ti sm o Alphonse Daudet nos mostra o ''bravo comando'' Bravida, que
'',
nunca saiu de Tarascon, persuadir- se pouco a pouco, sob a ação do ardente sol do
meio- dia, de que esteve em Shangai e lá teve todo tipo de aventuras heróicas. E sse é
praticamente, o caso do proletariado moderno: sob a influência inces sante de
i11divíduos intelectualmente superiores e hábeis falantes, ele termina persuadido
de que basta-lhe recorrer às urnas e confiar sua causa econômica e social a um
delegado para assegurar imediatamente uma participação direta no poder.
A massa nunca será soberana a não ser de uma forma abstrata. Por isso a
p ergunta que se faz não é a de saber de que maneira é pos sível realizar uma
democracia ideal. Deve- se, sobretudo, perguntar até que ponto e em que medida a
democracia é desej ável, possível e realizável num momento determinado.
A concepção realista das condições mentais das massas nos mostra com
evidência que, mesmo adtnitindo a possibilidade de uma melhoria moral dos
homens, os materiais humanos, dos quais os políticos e os filósofos não podem
fazer abstração em seus proj etos de reconstrução social, não estão em condições de
j ustificar um otimi smo excessivo. Nos limites de tempo acessíveis às previsões
humanas, este continuará o apanágio exclusivo dos utopistas.
O s partidos socialis tas são, como os sindicatos operários, corpos vivos da vida
social. Como tais, eles reagem com a maior energia contra qualquer tentativa de
analisar sua estrutura e sua natureza, como se se tratas se de submetê-las à
vivissecção. Quando a ciência alcança resultados contrários à sua ideologia, a
priori, eles se revoltam contra ela com todas as suas forças. M as sua defesa é de uma
fragilidade excessiva.
Nada mais anticientífico que a suposição de que, quando os sociali stas tiverem
co11quistado os poderes públicos, bastará que as massas exerçam um ligeiro
controle para fazer coincidir os interesses dos chefes com os da coletividade. Só
podemos compará- la com esta outra suposição, tão anticientífica quanto anti
marxista, de Jules Guesde (o qual se diz, entretanto, marxista) , a saber que, do
1nesmo modo como o cristianismo fez de Deus um homem, o socialismo fará do
homem um D eus.
Mas seria co1neter um grande erro tirar de todas essas cons tatações e
convicções científicas a conclusão de que é preciso renunciar a toda investigação
sobre os limites das potências oligárquicas ( E stado, classe domi nante, partido,
etc . . . ) que se sobrepõem ao indiví duo. E seria cometer um erro mai or, concluir
que é preciso renunciar ao empreendimento desesperado para encontrar uma
ordem social que torne possível a realização completa do conceito de soberania
popular.
Ao escrever este livro, nós não tínhamos de modo algum a intenção (e nós o
dis semos desde o começo) de indicar novos caminhos.
Nossa intenção era também demolir algumas das fáceis e superficiais ilusões
democráticas que confundem a ciência e induzem as mas sas ao erro. E nós
quisemos, enfim, trazer à baila algu mas tendências sociológicas que se opõem ao
reino da democracia e, numa medida ainda maior, ao do socialismo.
Sociologia dos Partidos Políticos 24 1
Nós não pretendemos hegar, todavia, que todo movimento operário revolu
cionário, animado de um sincero espírito democrático, não esteja em condições de
contribuir para o enfraquecirr1ento das tendências oligárquicas. O camponês da
fáb ula confia aos seus filhos, sobre seu leito de n1orte, que um tesouro es tá
enterrado em sua terra; morto o velho, o s filhos começam a remover ferozmente a
terra. N enhum tesouro, é claro. Mas eles conseguem, à custa de trabalho
incansável, adquirir um ceno bem- estar.
A demo cracia é, ela tan1bém, um tesouro que ninguém nunca poderá trazer à
luz . M as continuando as investigações e pesquisando incessantemente para
encontrar o desconhecido, não deixaremos de realizar um trabalho útil e fecundo
pela democracia.
até mesmo em virtude dos postulados teóricos que ele proclama e defende, o
movimento operário suscita, com freqüência, contra seus chefes, um certo
número de homens livres que, quer por princí p io, quer por instinto, desejam
revisar a base sobre a qual se ap ó ia a autoridade. Levados pelas suas convicções ou
pelo seu temperamento, eles nunca deixam de repetir a eterna pergunta do porquê
final de todas as instituições humanas.
O ra, essa predisposição à livre pesquisa, que é um dos mai s preciosos fatores
de civilização, aumentará à medida que melhorarem e se tornarem mais seguras as
condições econômicas das massas, e que estas forem admitidas a desfrutar, numa
medida maior, dos beneficios da civilização.
Portanto, cabe à pedagogia social a grande missão de elevar () nível das massas, a
fim de colocá-las em condições de se oporem, na medida elo possível, às tendências
oligárquicas que as ameaçam .
Qualquer análise mais ou menos aprofu ndada das formas sob as quais se
apre senta atualmente a democracia é, para o idealista, uma fonte d e amargas
decepções e de triste desencorajamento.
S i r l vor J e n n i n g s
31 . Aristó teles
J o h n B . M o rra l l
3 2 . A Idade da Ideologia
Frederick M. \,'\Jatkins e Isaac Kramnick
3 3 . O Processo de Decisão Política
C ha r l e s E. Lin d b l om
34. A. Prática da Po lítica
K . W. Watk i n s
35. Teoria Política Moderna
L. J . M a cfa rl a n e
36. A Polltica
G i ova n n i S a rtori
3 7 . Ideologias Poltticas
A n thony d e C re s p i g n y e J e re my
C ro n i n
3 8 . Da Guerra
C a rl C l a u sewitz
3 9 . Qua tro Ensaios sobre a L ib erda de
l s a i a h B e rl i n
40. A Decadência do Ocidente
O s\'Va ld S pe n g l e r
41 . é'm Defesa da Polltica
B e rn a rd C ri c k
42 . Líng uagem e Poder
P a o l o S e m a rr1 a
43. Partidos e Sistemas Partidários
G i ova n n i Sa rt o r i
44 . A Re volução Inglesa
G e org e M cC a u l a y
4 5 . O Senso Comum e a Crise
Th o m a s Pa i n e
4 6 . O Poder em Cena
G e o rg e s Ba la n d ie r
4 7 . Os Partídos Pollticos
J ea n C h a rl ot
48. Os laranjais do lago Ba laton
M a uri c e D uverg e r
49. Víco & fferder
I s a ia h B e rl i n
5 0 . Uma Teoria da Justiça
John Rawls
51 . Re fiexões sobre a Re volução em
França
E d m u n d B u rke
52. Pensadores Polltícos Comparados
R oss F i tzg e ra l d