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Gabriel Soares
CAMPINAS
2015
Agência(s) de fomento e nº(s) de processo(s): CAPES, 2013/1186360
Ficha catalográfica
Universidade Estadual de Campinas
Biblioteca do Instituto de Física Gleb Wataghin
Valkíria Succi Vicente - CRB 8/5398
Keywords:
Ferromagnetism, magnetic anisotropy, thin films, ferromagnetic resonance
Sumário
1 Introdução 11
2 Ressonância ferromagnética 14
2.1 Fenomenologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
2.1.1 Introdução histórica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
2.1.2 Ressonância eletrônica de spin (ESR) . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
2.1.3 Ressonância ferromagnética . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
2.2 Formulação teórica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
2.2.1 Equação de Landau-Lifshitz-Gilbert . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
2.2.2 Susceptibilidade magnética próxima a ressonância . . . . . . . . . . 20
2.2.3 Fórmula geral para frequência de ressonância - Método de Smit-Beljers 25
2.2.4 Energia livre magnética . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
2.2.5 Ressonância ferromagnética de um filme com anisotropia uniaxial . 33
3 Métodos experimentais 40
3.1 Experimento de FMR em cavidade (reflexão) . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
3.1.1 Blocos de operação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
3.1.2 Potência absorvida e a susceptibilidade magnética . . . . . . . . . . 41
3.1.3 Leitura do módulo de tensão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
3.1.4 Cavidade ressonante e a onda perturbativa estacionária . . . . . . . 45
3.1.5 Montagem experimental . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
3.1.6 Exemplo de medida . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
3.2 Experimento de FMR com analisador de rede vetorial (varredura de frequên-
cia e campo aplicado) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
3.2.1 Analisador de rede vetorial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
3.2.2 Guia de onda coplanar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
3.2.3 Parâmetros de espalhamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52
3.2.4 Tratamento de dados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
4 Revisão bibliográfica 59
4.1 Anisotropia magnética uniaxial em filmes finos . . . . . . . . . . . . . . . . 59
4.1.1 Filmes de CoCrPt . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60
4.2 Bicamadas com anisotropia perpendicular . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60
4.2.1 Sistema CoCrPt/Ni . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
4.3 Ressonância ferromagnética e bicamadas com anisotropia perpendicular . . 64
5 Resultados Experimentais 66
5.1 Medidas de FMR com VNA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66
5.1.1 Filmes de Ni . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67
5.1.2 Filmes de CoCrPt . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69
5.1.3 Bicamadas CoCrPt/Ni . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70
5.1.4 Bicamadas com espaçador . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72
5.1.5 Fatores giromagnéticos e campos de anisotropia . . . . . . . . . . . 74
5.2 Medidas de FMR em cavidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76
5.2.1 Evolução das espessuras . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76
5.2.2 Anisotropia uniaxial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77
6 Conclusões e perspectivas 81
Referências 83
11
Capítulo 1
Introdução
cristalina, juntamente com efeitos de superfície, vencem a anisotropia de forma. Com isso
é possível controlar a intensidade da energia de anisotropia final, obtendo valores superio-
res aos respectivos devido à geometria do material. Ligas de CoCrTa, CoCrPt, CoCrPtTa
são comunmente utilizadas para este tipo de aplicação [3]. No entanto, os PMAs também
trazem uma grande desvantagem, que é a baixa tolerância ao desalinhamento entre o eixo
de anisotropia perpendicular e o campo magnético local de escrita. Por exemplo, com
uma variação de 2% no alinhamento, o campo aplicado necessário para inverter o sentido
da magnetização do domínio aumenta entre 8% a 10% [4].
Uma das soluções promissoras propostas para aumentar a tolerância em respeito ao
alinhamento é fabricar filmes com eixo de anisotropia a 450 . Como fabricá-los em labo-
ratório já apresenta uma série de dificuldades técnicas, consequentemente eles não são
viáveis em escala industrial. Para contornar esse fato, foi proposto sobrepor dois filmes,
um PMA e um com anisotropia longitudinal. Como será visto mais adiante, a combinação
de duas anisotropias uniaxiais (com apenas uma direção preferencial) não resulta em uma
intermediária, mas o conjunto pode apresentar propriedades magnéticas de interesse ao
problema, de maneira a resolver a questão do alinhamento [4].
O Laborátorio de Materiais e Baixas Temperaturas (LMBT), do qual sou estudante,
participou em 2012 de um trabalho de colaboração internacional em bicamadas de Co-
CrPt/Ni (o CoCrPt é um PMA). Nosso grupo realizou medidas de caracterização mag-
netostática (ciclos de histerese) de onde foram retiradas as primeiras estimativas para as
constantes de anisotropia. No entanto, a obtenção da constante de anisotropia através
deste tipo de caracterização não é tão precisa, uma vez que a modelagem fisíca associ-
ada assume uma série de aproximações (para mais detalhes, ver [5]). Por não depender
dessas aproximações, a ressonância ferromagnética é uma ferramenta mais adequada para
esse tipo de caracterização. Além do mais, a estimativa é obtida através da medida das
duas camadas em conjunto, ausentando informações locais independentes e a natureza da
interação entre elas [6]1 .
Neste trabalho foram realizadas medidas de ressonância ferromagnética nestas mesmas
bicamadas. Escolhemos essa técnica justamente por apresentar mais detalhes das propri-
edades de anisotropia e interações na interface entre os dois filmes. Os objetivos desta
dissertação consistem em estudar a teoria e experimentação da ressonância ferromagnética
e então caracterizar as anisotropias das bicamadas e a interação na interface.
No capítulo 2 será descrita a teoria de ressonância ferromagnética, com as soluções da
equação de dinâmica da magnetização. O capítulo 3 é composto das técnicas experimen-
1
Formalmente, o tratamento adequado para este tipo de problema é mais conhecido como ressonância
de ondas de spin. Para este trabalho, as equações e métodos experimentais são equivalentes, e mais
interessantes do ponto de vista didático.
CAPÍTULO 1. INTRODUÇÃO 13
Capítulo 2
Ressonância ferromagnética
nomenológica das equações, a atenção será centrada de maneira mais intuitiva do ponto
de vista físico/experimental. Este capítulo é baseado no livro Ferromagnetic Resonance,
editado por Vosovskii [12].
2.1 Fenomenologia
2.1.1 Introdução histórica3
Os primeiros registros de absorção de microondas numa amostra ferromagnética são
da década de 1910 por magnetologistas russos. V.K. Arkhad’yev, em uma série de estu-
dos entre 1911 e 1913, observou absorções de ondas de rádio (comprimento de onda em
centímetros) em fios de ferro e níquel e a mudança na sua magnetização. Neste momento,
as bandas de absorção foram interpretadas como uma resposta ressonante de momentos
magnéticos elementares ao campo de radiofrequência aplicado. Em 1923, Ya. G. Dorf-
mann sugeriu qualitativamente a influência do efeito Zeeman4 em separar dois estados
de energia; em 1926 a questão de campos magnéticos perturbativos perpendiculares e
paralelos ao campo fixo aplicado foi atacada por N.S. Akulov. Com a equação de magne-
todinâmica de L.D. Landau e L.M. Lifshitz (1935), foi possível modelar uma teoria geral
para cristais ferromagnéticos uniaxiais em um campo alternado e investigar o efeito de
ressonância. E.K. Zavoiskii (1944) descobriu experimentalmente o fenômeno da ESR, e
em seguida ele e D. Griffiths (1946) investigaram os materiais ferromagnéticos: Fe, Ni e
Co. Os campos de ressonância encontrados de 2 a 6 vezes maiores que os calculados teo-
ricamente motivaram C. Kittel (1946 e 1947) e Polder (1949) a desenvolver e generalizar
o fenômeno a partir da equação de Landau-Lifshitz da magnetodinâmica.
Desde então inúmeros trabalhos foram feitos e continuam sendo realizados sobre a
dinâmica de magnetização e FMR, inclusive abrindo campos de estudo a outros fenômenos
semelhantes, como a geração de ondas de spin e sua propagação, com alta aplicabilidade
tecnológica (spintrônica, magnônica).
Esta última relação é conhecida como a frequência de Larmor, e com ela é possível
realizar experimentos varrendo o campo aplicado H para encontrar a frequência de res-
sonância6 . Experimentalmente, expõe-se a amostra a uma radiação eletromagnética, e
quando encontrada a condição de ressonância do material em questão, os elétrons sofrem
transições de estado, absorvendo a radiação.
A análise quântica do problema recém apresentada é importante para justificar a
conservação de energia da onda perturbativa, bem como seu intervalo de frequência na
ordem de GHz. A partir da próxima seção, será tratado apenas do ponto de vista clássico,
sendo suas equações mais convenientes para se trabalhar experimentalmente.
5
Relacionado a transferência de momentos mecânicos e magnéticos, definidos por experimentos giro-
magnéticos. Para um elétron livre: 𝑔 = 2.
6
O fator 𝛾 é utilizado para converter, nesse caso, entre frequência e campo de ressonância, o que for
mais conveniente dependendo da montagem experimental.
CAPÍTULO 2. RESSONÂNCIA FERROMAGNÉTICA 17
1
Ei= gµB H
2
ΔEik
hωik
1
Ek= − gµB H
2
H
0
Figura 2.1: Níveis de energia do multipleto Zeeman. Se uma onda eletromagnética per-
turbativa tem energia Δ𝐸𝑖𝑘 , o sistema tem transições entre os estados 𝐸𝑖 e 𝐸𝑘 .
a) H ef z b)
M
y
h
x
Figura 2.2: a) Precessão dos momentos magnéticos 𝑀 ⃗ ao redor do campo efetivo 𝐻⃗𝑒𝑓 e
perturbativo ⃗ℎ. b) Com campo perturbativo suficientemente uniforme (não apresentado),
a precessão também é majoritariamente uniforme.
formando ondas de spin. Essas ondas podem ser estacionárias, e também fazem o sis-
tema ressonar. O fenômeno em questão é conhecido como ressonância de ondas de spin,
e foi proposto devido a descompensação entre spins vizinhos devido ao comprimento de
penetração da onda eletromagnética em amostras ferromagnéticas metálicas [13].
Pelo resto da dissertação, será utilizada a explicação do ponto de vista clássico recém
comentada. Com base na descrição fenomenológica, é mais intuitivo acompanhar a solução
da equação de dinâmica de magnetização (Landau-Lifshitz-Gilbert) para a FMR a ser
realizada na próxima seção (2.2).
𝑑𝑀⃗
= −𝛾𝜇0 𝑀
⃗ × 𝐻⃗𝑒𝑓 (2.2.4)
𝑑𝑡
O campo efetivo é encontrado a partir do gradiente da densidade de energia livre magné-
tica F :
1
𝐻⃗𝑒𝑓 = − ∇𝑀⃗ 𝐹 (𝑀
⃗) (2.2.5)
𝜇0
𝛼 ⃗
O termo de amortecimento adicionado na equação de movimento por Gilbert é − 𝑀×
𝑀𝑠
𝑑𝑀⃗
, onde 𝛼 é o amortecimento magnético (adimensional). Consequentemente, chegamos
𝑑𝑡
a equação de Landau-Lifshitz-Gilbert:
𝑑𝑀⃗ ⃗
⃗ × 𝐻⃗𝑒𝑓 + 𝛼 𝑀
= −𝛾𝜇0 𝑀 ⃗ × 𝑑𝑀 (2.2.6)
𝑑𝑡 𝑀𝑠 𝑑𝑡
Para trabalhar com a FMR, é necessário encontrar duas soluções da equação de LLG.
A primeira, relativa a absorção da onda eletromagnética perturbativa, é a variação da
7
𝜇0 é a permeabilidade magnética do vácuo.
CAPÍTULO 2. RESSONÂNCIA FERROMAGNÉTICA 20
𝑑𝑀⃗
= −𝛾𝜇0 𝑀
⃗ ×𝐻
⃗ (2.2.7)
𝑑𝑡
⃗ devido a perturbação de campo
onde tem-se uma resposta da magnetização alternada 𝑚(𝑡)
⃗ tornando os vetores de magnetização 𝑀
externo ℎ(𝑡), ⃗ e campo aplicado 𝐻:
⃗
⃗ =𝑀
𝑀 ⃗
⃗ 0 + 𝑚(𝑡) (2.2.8)
⃗ =𝐻
𝐻 ⃗
⃗ 0 + ℎ(𝑡) (2.2.9)
onde 𝑀
⃗0 e 𝐻
⃗ 0 são a magnetização e campo aplicado. Substituindo os campos na equação
2.2.7:
𝑑𝑀⃗
= −𝛾𝜇0 [𝑀⃗0 × 𝐻 ⃗ 0 × ⃗ℎ + 𝑚
⃗0 + 𝑀 ⃗ × ⃗ℎ]
⃗0 + 𝑚
⃗ ×𝐻 (2.2.10)
𝑑𝑡
onde considera-se a amostra completamente saturada (𝑀0 ≈ 𝑀𝑠 e constante) e sob ação
⃗ uniforme da forma exp [𝑖𝜔𝑡]. Como 𝐻𝑒𝑓 = 𝐻0 , 𝐻
de um campo perturbativo ℎ(𝑡) ⃗0 e 𝑀 ⃗0
estão paralelos entre si, então o primeiro termo do lado direito da equação desaparece.
Linearizando o processo, ou seja, fazendo com que a perturbação seja de baixa amplitude
e 𝑀0 ≈ 𝑀𝑠 , o último termo se torna desprezível em uma aproximação de primeira ordem.
Fazendo ⃗ℎ⊥𝐻⃗ 0 , a equação 2.2.10 se torna:
⃗ = 𝑧^ × [−𝜔𝑚⃗ℎ + 𝜔0 𝑚]
−𝑖𝜔 𝑚 ⃗ (2.2.11)
8
ver seção 3.1.2.
9
O campo efetivo será tratado na seção 2.2.3.
CAPÍTULO 2. RESSONÂNCIA FERROMAGNÉTICA 21
com
𝜔𝑚 ≡ +𝛾𝜇0 𝑀0 (2.2.12)
𝜔0 ≡ +𝛾𝜇0 𝐻0 (2.2.13)
⃗ = 𝜒¯𝐻
𝑀 ⃗ (2.2.15)
𝜔0 𝜔𝑚
𝜒= (2.2.17)
𝜔02 − 𝜔 2
𝜔𝜔𝑚
𝜅= 2 (2.2.18)
𝜔0 − 𝜔 2
Na ressonância, ou seja, quando a frequência de precessão do sistema é igual a de
Larmor (𝜔 = 𝜔0 ), ambos 𝜒 e 𝜅 tendem a infinito. Isso acontece porque não há perdas
magnéticas, o que não é observado em um sistema real.
⃗
[︃ ]︃
𝑑𝑀 ⃗ 0 × ⃗ℎ + 𝑚 𝛼
⃗ ⃗ × 𝑑𝑚
⃗ 𝑑𝑚
⃗
= −𝛾𝜇0 [𝑀 ⃗0 + 𝑀
⃗0 × 𝐻 ⃗ ×𝐻 ⃗ × ⃗ℎ] +
⃗0 + 𝑚 𝑀 +𝑚
⃗ ×
𝑑𝑡 𝑀𝑠 𝑑𝑡 𝑑𝑡
(2.2.19)
Após o mesmo raciocínio que levou a linearização da equação 2.2.11 (sem amortecimento),
chega-se a:
⃗ = 𝑧^ × [𝜔𝑚⃗ℎ − (𝜔0 + 𝑖𝛼𝜔)𝑚]
−𝑖𝜔 𝑚 ⃗ (2.2.20)
CAPÍTULO 2. RESSONÂNCIA FERROMAGNÉTICA 22
Comportamento da susceptibilidade
𝑑𝑒𝑡[𝜒¯ − Λ.𝐼] = 0
(𝜒 − Λ)2 − 𝜅 = 0 (2.2.31)
E então:
Λ± = 𝜒 ± 𝜅
(𝜔0 − 𝑖𝜔𝛼)𝜔𝑚 ± 𝜔𝜔𝑚
=
(𝜔0 − 𝑖𝜔𝛼)2 − 𝜔 2
𝜔𝑚 [𝜔0 − 𝑖𝜔𝛼) ± 𝜔]
=
[(𝜔0 − 𝑖𝜔𝛼) − 𝜔][(𝜔0 − 𝑖𝜔𝛼) + 𝜔]
𝜔𝑚
= (2.2.32)
(𝜔0 ∓ 𝜔) − 𝑖𝜔𝛼
⃗ = 𝜒¯ · ⃗ℎ
𝑚 (2.2.36)
= ℎ0 𝜒¯ · 𝐶⃗+
= 𝜒+⃗ℎ
CAPÍTULO 2. RESSONÂNCIA FERROMAGNÉTICA 24
1.0
0.8
0.6
FWHM
αω/ωm χ+
0.4
0.2
χ''+
0.0
- 0.2 χ+
'
- 0.4
- 4 - 2 0 2 4
(ω0 − ω)/ωα
Figura 2.3: Gráfico normalizado e centrado na ressonância das partes real (𝜒′+ ) e imagi-
nária (𝜒′′+ ) da susceptibilidade, em função da frequência. No gráfico está destacado pelas
linhas verticais a largura a meia altura (FWHM) da parte imaginária e sua correlação
com a parte real.
e fazendo Δ𝜔 = 2(𝜔𝑟𝑒𝑠 − 𝜔𝑖 ) 12
, encontramos:
𝜒′′+𝑚𝑎𝑥 𝜔𝑚 𝜔𝑚 𝛼𝜔
= = ⇒
2 2𝜔0 𝛼 Δ𝜔 2
( ) +𝜔 𝛼2 2
2
𝛼
Δ𝜔 = 2 √ 𝜔0 (2.2.41)
1 + 𝛼2
O estudo da largura de linha permite obter a constante de amortecimento magnético
𝛼, e a FMR é a principal ferramenta para essa caracterização. Uma vez obtido essa
constante, é possível relacioná-las a fenômenos magnéticos de conjunto do material, a
fim de construir um modelo para as origens do amortecimento em cada caso. Em geral,
provêm desde inomogeneidades - como defeitos cristalinos e impurezas - a desacoplamento
dos spins.
A análise descrita nesta seção só é válida rigorosamente para sistemas não metálicos e
isotrópicos. No caso de ferromagnetos, o campo efetivo deve ser considerado: por exem-
plo, se a amostra tem um formato diferente de uma esfera, ele já induz uma série de
efeitos que dependem de sua direção (anisotropias) e magnetização de saturação (campo
desmagnetizante). Para considerar esses efeitos, a melhor maneira é obter como primeira
aproximação a frequência de ressonância e a largura de linha com as expressões detalha-
das nesta seção, e posteriormente estudar sua evolução em função de outros parâmetros
(frequências de perturbação, magnitude e direção de campos aplicados).
êz
θ
êρ
êφ
M êθ
êy
êx
(𝑀 ≈ 𝑀𝑠 ):
⃗ = 𝑀𝑠 𝑒^𝜌
𝑀 (2.2.43)
e então,
𝑑𝑀⃗ 𝑑𝑒^𝜌
= 𝑀𝑠 ⎢𝜃 cos𝜃 sen𝜑 − 𝜑˙ sen𝜃 cos𝜑⎥ = 𝑀𝑠 (𝜃˙𝑒^𝜃 + 𝜑˙ sen𝜃𝑒^𝜑 )
⎢˙
⎢ ⎥
= 𝑀𝑠 (2.2.44)
⎥
𝑑𝑡 𝑑𝑡
−𝜃˙ sen𝜃
⎣ ⎦
Onde 𝐹𝜃𝜃 , 𝐹𝜑𝜑 e 𝐹𝜃𝜑 são as derivadas duplas. Finalmente tem-se o campo efetivo 𝐻𝑒𝑓 :
1 ⃗ ) = 1 𝜕𝐹 𝑒^𝜌 + 1 1 𝜕𝐹 + 1 𝑒^𝜃 + 1 𝜕𝐹
𝐻𝑒𝑓 = − ∇𝑀⃗ 𝐹 (𝑀 𝑒^𝜑 (2.2.54)
𝜇0 𝜇0 𝜕𝑀𝑠 𝜇0 𝑀𝑠 𝜕𝜃 𝜇0 𝑀𝑠 sen𝜃 𝜕𝜑
de onde obtêm-se as componentes nas direções 𝑒^𝜃 e 𝑒^𝜑 :
1 1
𝐻𝜃 = 𝐹𝜃 = (𝛿𝜃𝐹𝜃𝜃 + 𝛿𝜑𝐹𝜃𝜑 ) (2.2.55)
𝑀𝑠 𝑀𝑠
1 1
𝐻𝜑 = 𝐹𝜑 = (𝛿𝜑𝐹𝜑𝜑 + 𝛿𝜃𝐹𝜃𝜑 ) (2.2.56)
𝑀𝑠 sen𝜃 𝑀𝑠 sen𝜃
Substituindo 𝐻𝑒𝑓 nas equações de movimento (2.2.47 e 2.2.48):
−𝛾 *−1 𝑀𝑠 sen𝜃0 𝛿 𝜃˙ = [𝐹𝜃𝜑 + 𝛼𝐹𝜃𝜃 sen𝜃0 ]𝛿𝜃 + [𝐹𝜑𝜑 + 𝛼𝐹𝜃𝜑 sen𝜃0 ]𝛿𝜑 (2.2.57)
𝛾 *−1 𝑀𝑠 sen𝜃0 𝛿 𝜑˙ = [𝐹𝜃𝜃 − 𝛼𝐹𝜃𝜑 ( sen𝜃0 )−1 ]𝛿𝜃 + [𝐹𝜃𝜑 − 𝛼𝐹𝜑𝜑 ( sen𝜃0 )−1 ]𝛿𝜑 (2.2.58)
considerando:
𝛾
𝛾* = (2.2.59)
1 + 𝛼2
sen𝜃 = sen(𝜃0 + 𝛿𝜃) ≈ sen𝜃0 (2.2.60)
Colocando as oscilações de maneira que 𝛿𝜃 = 𝛿𝜃′ exp[𝑖𝜔𝑡] e 𝛿𝜑 = 𝛿𝜑′ exp[𝑖𝜔𝑡], suas deriva-
^ = 𝑖𝜔𝛿𝜃′ exp[𝑖𝜔𝑡] e 𝛿𝜑
das se tornam: 𝛿𝜃 ^ = 𝑖𝜔𝛿𝜃′ exp[𝑖𝜔𝑡]. Escrevendo as equações 2.2.57
e 2.2.58 na forma matricial:
⎡ ⎤ ⎡ ⎤
[𝐹𝜃𝜑 + 𝛼𝐹𝜃𝜃 sen𝜃0 ] + 𝑖𝜔𝛾 *−1 𝑀𝑠 sen𝜃0 𝐹𝜑𝜑 + 𝛼𝐹𝜃𝜑 sen𝜃0 𝛿𝜃′
0=⎣ ⎦·⎣ ⎦
𝐹𝜃𝜃 − 𝛼𝐹𝜃𝜑 ( sen𝜃0 )−1 [𝐹𝜃𝜑 − 𝛼𝐹𝜑𝜑 ( sen𝜃0 )−1 ] − 𝑖𝜔𝛾 *−1 𝑀𝑠 sen𝜃0 𝛿𝜑′
(2.2.61)
13
Expansão em série de Taylor de duas dimensões: 𝑓 (𝑥, 𝑦) = 𝑓 (𝑎0 , 𝑏0 ) + (𝑥 − 𝑎)𝑓𝑥 (𝑎, 𝑏) + (𝑦 − 𝑏)𝑓𝑦 (𝑎, 𝑏).
CAPÍTULO 2. RESSONÂNCIA FERROMAGNÉTICA 28
e o sistema tem solução não trivial se o determinante da matriz 2x2 for igual a zero:
[𝐹𝜃𝜑 + 𝛼𝐹𝜃𝜃 sen𝜃0 ][𝐹𝜃𝜑 − 𝛼𝐹𝜑𝜑 ( sen𝜃0 )−1 ] − [𝐹𝜃𝜃 − [𝐹𝜃𝜃 − 𝛼𝐹𝜃𝜑 ( sen𝜃0 )−1 ][𝐹𝜑𝜑 + 𝛼𝐹𝜃𝜑 sen𝜃0 ]+
+ 𝑖𝜔𝛾 *−1 𝑀𝑠 sen𝜃0 [[𝐹𝜃𝜑 − 𝛼𝐹𝜑𝜑 ( sen𝜃0 )−1 ] − [𝐹𝜃𝜑 + 𝛼𝐹𝜃𝜃 sen𝜃0 ]+
+ 𝜔 2 [𝛾 *−1 𝑀𝑠 sen𝜃0 ]2 = 0
= − (1 + 𝛼2 )[𝐹𝜃𝜃 𝐹𝜑𝜑 − 𝐹𝜃𝜑
2
]] − 𝑖𝜔𝛾 *−1 𝑀𝑠 sen2 𝜃0 𝛼[𝐹𝜃𝜃 + 𝐹𝜑𝜑 ( sen𝜃0 )−2 ] + 𝜔 2 [𝛾 *−1 𝑀𝑠 sen𝜃0 ]2 = 0
(2.2.62)
onde:
𝜇0 ∫︁ 𝑀⃗ (𝑟⃗′ ) 𝜇0 ∮︁ 𝑀⃗ (𝑟⃗′ )
𝜑𝑀 (⃗𝑟) = − ∇′ · 𝑑𝑉 ′
+ ^
𝑛 · 𝑑𝑆 ′ (2.2.66)
4𝜋 𝑉 |𝑟 − 𝑟′ | 4𝜋 𝑆 |𝑟 − 𝑟′ |
M
M
Hd
Hd
Figura 2.5: Seção transversal de um elipsoide de revolução magnetizado tanto na direção
do seu eixo maior quanto menor. Se magnetizado no seu eixo mais longo (a esquerda),
apresenta menos dipolos nas extremidades que se magnetizado no eixo menor (a direita).
dV'
dS' r-r'
P
r'
r
O
Figura 2.6: Esquema dos vetores e elementos infinitesimais 𝑑𝑉 ′ e 𝑑𝑆 ′ encontrados na eq.
2.2.66. 𝑂 refere-se a origem, e 𝑃 ao ponto no espaço de teste do potencial.
CAPÍTULO 2. RESSONÂNCIA FERROMAGNÉTICA 31
Anisotropia cristalina
𝐹𝑐𝑟𝑖𝑠 = 𝐾0 + 𝐾1 (𝛼12 𝛼22 + 𝛼22 𝛼32 + 𝛼32 𝛼12 ) + 𝐾2 (𝛼12 𝛼22 𝛼32 ) (2.2.72)
onde a expressão dos cossenos diretores foi convertida, para a série de senos. Se 𝐾1 > 0,
CAPÍTULO 2. RESSONÂNCIA FERROMAGNÉTICA 33
onde:
1
𝐾𝑒𝑓 = 𝐾𝑢 − 𝜇0 𝑀𝑠2 + 𝐾𝑠 (2.2.76)
2
No entanto, deve se tomar com o fato que não necessariamente 𝑀⃗ é paralelo a 𝐻
⃗ 0 . Para
tanto, o filme é posicionado no plano 𝑥^𝑦^ com 𝐻
⃗ 0 variando em orientação perpendicular
CAPÍTULO 2. RESSONÂNCIA FERROMAGNÉTICA 34
θ
M
θH
H y
Figura 2.8: Coordenadas esféricas para filmes finos. Dois ângulos azimutais: 𝜃 e 𝜃𝐻 ,
relativos a orientação da magnetização e campo aplicado respectivamente.
𝐹𝑍𝑒𝑒𝑚𝑎𝑛 = −𝜇0 𝑀
⃗ ·𝐻
⃗0
𝜕 2 𝐹 ⃒⃒
⃒ ⃒
= −𝜇0 𝐻0 𝑀𝑠 [− sen𝜃𝐻 sen𝜃0 cos𝜑 − cos𝜃𝐻 cos𝜃0 ] + 2𝐾𝑒𝑓 cos2𝜃0 ⃒⃒
⃒
2
𝜕𝜃 𝜑=𝜑0 ;𝜃=𝜃0
⃒
𝜑=𝜑0
𝜕 2 𝐹 ⃒⃒ 𝜕𝐹 ⃒⃒
⃒ ⃒ ⃒
= 𝜇0 𝐻0 𝑀𝑠 [ sen𝜃𝐻 sen𝜃 sen𝜑]⃒⃒ =0 (2.2.85)
⃒
𝜕𝜃𝜕𝜑 𝜑=𝜑0 ;𝜃=𝜃0
⃒
𝜕𝜃 𝜃=𝜃0
⃒
𝜑=𝜑0
θ0 (0)
40
0.6 20
0
0 20 40 60 80
0.4 θH (0)
z
θ
y
0.2
x
0 20 40 60 80
0
Ângulo de campo aplicado, θH ( )
e
√︁
𝜔𝑟𝑒𝑠 = 𝛾 * (1 + 𝛼2 )1/2 𝜇0 [𝜇0 𝐻0 cos(900 − 𝜃0 ) + 𝜇0 𝐻𝐴 cos2 𝜃0 ] × [𝜇0 𝐻0 cos(900 − 𝜃0 ) + 𝜇0 𝐻𝐴 cos2𝜃0 ]
√︁
= 𝛾 * (1 + 𝛼2 )1/2 𝜇0 𝐻0 × [𝐻0 + 𝐻𝐴 (2 cos2 𝜃0 − 1)]
√︁
= 𝛾 * (1 + 𝛼2 )1/2 𝜇0 𝐻0 × [𝐻0 − 𝐻𝐴 ] 𝑠𝑒 |𝐻𝐴 |< 𝐻0 (2.2.92)
CAPÍTULO 2. RESSONÂNCIA FERROMAGNÉTICA 38
√︁
𝜔𝑟𝑒𝑠 = 𝛾 * (1 + 𝛼2 )1/2 𝜇0 𝐻0 × [𝐻0 + 𝐻𝐴 ] 𝑠𝑒 𝐻𝐴 < 𝐻0 (2.2.93)
A ressonância (equação 2.2.86) para anisotropia fora do plano da amostra (𝐾𝑒𝑓 > 0
→ 𝐻𝐴 > 0, 𝜃0 = 00 ) se torna:
√︁
𝜔𝑟𝑒𝑠 = 𝛾 * (1 + 𝛼2 )1/2 𝜇0 [𝐻0 cos(00 − 𝜃0 ) + 𝐻𝐴 cos2𝜃0 ] × [𝐻0 cos(00 − 𝜃0 ) + 𝐻𝐴 cos2 𝜃0 ]
√︁
= 𝛾 * (1 + 𝛼2 )1/2 𝜇0 [𝐻0 + 𝐻𝐴 ] × [𝐻0 + 𝐻𝐴 ]
= 𝛾 * (1 + 𝛼2 )1/2 𝜇0 [𝐻0 + 𝐻𝐴 ]
√︁
𝜔𝑟𝑒𝑠 = 𝛾 (1 + 𝛼 )
* 2 1/2
𝜇0 [𝐻0 cos(00 − 𝜃0 ) − 𝐻𝐴 cos2𝜃0 ] × [𝐻0 cos(00 − 𝜃0 ) − 𝐻𝐴 cos2 𝜃0 ]
√︁
= 𝛾 * (1 + 𝛼2 )1/2 𝜇0 [𝐻0 − 𝐻𝐴 ] × [𝐻0 − 𝐻𝐴 ]
= 𝛾 * (1 + 𝛼2 )1/2 𝜇0 [𝐻0 − 𝐻𝐴 ] 𝑠𝑒 |𝐻𝐴 |< 𝐻0 (2.2.96)
3.0
2.5
4
2.0
2
ωres/γ*HA
1.5
1 3
1.0
0.5
0.0
0.0 0.5 1.0 1.5 2.0 2.5 3.0
H0/HA
As recentes expressões encontradas para orientação de campo aplicado fixo serão uti-
lizadas para o ajuste de mínimos quadrados a fim de caracterizar as anisotropias do
conjunto de amostras no capítulo 5.
No próximo capítulo, será feita a conexão entre os experimentos de FMR que foram
realizados para esta dissertação e as expressões encontradas para um filme com anisotropia
uniaxial.
40
Capítulo 3
Métodos experimentais
• O bloco de leitura, composto por um diodo Schottky e a leitura de tensão sobre ele
pelo lock-in.
Finalmente todo o processo é automatizado por computador, através da porta GPIB (ver
figura 3.1).
Em seguida, será detalhado o processo de leitura do sinal perturbativo, partindo da
conexão entre as equações de Maxwell e a potência absorvida, e como a medida de ten-
são relacionada é realizada. Ao final será apresentada a montagem experimental, e um
exemplo completo de medida e análise de resultados de FMR para um filme de Ni.
Campo Aplicado
GPIB
Computador
Campo perturbativo
Leitura
[15]:
⃗
∇×𝐸⃗ = − 𝜕𝐵 (3.1.1)
𝜕𝑡
⃗
⃗ = 𝜕 𝐷 + 𝐽⃗
∇×𝐻 (3.1.2)
𝜕𝑡
⃗ = −𝑖𝜔 𝐵
∇×𝐸 ⃗ (3.1.3)
⃗ = 𝑖𝜔 𝐷
∇×𝐻 ⃗ + 𝐽⃗ (3.1.4)
⃗ ·∇×𝐻
𝐸 ⃗ −𝐻 ⃗ = 𝑖𝜔 𝐸
⃗*·∇×𝐸 ⃗* +𝐸
⃗ ·𝐷 ⃗ · 𝐽⃗* + 𝑖𝜔 𝐻
⃗*·𝐵
⃗ (3.1.5)
onde 𝑑𝑆
⃗ é normal a superfície da amostra. A potência absorvida pelo fenômeno da
ressonância ferromagnética age diretamente na susceptibilidade magnética, então, se é de
interesse conhecer a contribuição desse fenômeno para a absorção de potência, deve-se
apenas considerar o termo 𝑖𝜔 𝐻
⃗*·𝐵 ⃗ do lado direito da equação. Assim sendo, a potência
absorvida 𝑃𝑎𝑏𝑠 pela ressonância é a parte real da integral no volume do termo magnético:
1 ∫︁
[︂ ]︂
𝑃𝑎𝑏𝑠 = 𝑅𝑒 𝑖𝜔 𝐵 ⃗ ·𝐻 ⃗ * 𝑑𝑉
2 𝑉
1
[︂ ∫︁ ]︂
= 𝑅𝑒 ⃗
𝑖𝜔 𝐻 𝜇 *
¯ · 𝐻𝑑𝑉
⃗
2 𝑉
1
[︂ ∫︁ ]︂
= 𝑅𝑒 𝑖𝜔 𝐻 · (𝐼 + 𝜒)
⃗ *
¯ 𝐻 · 𝑑𝑉
⃗
2 𝑉
1
[︂ ∫︁ ]︂
′′ ⃗ 2
= 𝑅𝑒 𝑖𝜔(1 + 𝜒 + 𝑖𝜒 )|ℎ| 𝑑𝑉
′
2 𝑉
1 ∫︁
=− 𝜔𝜒′′ |⃗ℎ|2 𝑑𝑉 (3.1.8)
2 𝑉
onde foi utilizada a relação entre a permeabilidade magnética 𝜇 e a susceptibilidade mag-
nética 𝜒: 𝜇 = 1 + 𝜒, juntamente com as equações 2.2.37 e 2.2.39. Como nesta dissertação
sempre é considerada a aproximação de macrospin, i.e., a magnetização como um grande
vetor uniforme dentro do volume da amostra, tem-se [15]:
1
𝑃𝑎𝑏𝑠 = − 𝜔𝜒′′ |⃗ℎ|2 𝑉 (3.1.9)
2
A equação 3.1.9 mostra que há uma relação diretamente proporcional entre a potência
absorvida e a parte imaginária da susceptibilidade magnética. Lembrando que a potência
de um sistema também é diretamente proporcional a diferença de potencial, basta encon-
trar uma maneira de medir o módulo da tensão complexa na amostra, desde antes até
após as condições de ressonância.
A potência total incidida no sistema 𝑃𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 é: :
onde 𝑃𝑟𝑒𝑓 𝑙𝑒𝑡𝑖𝑑𝑎 é a potência refletida pela cavidade, 𝑃𝑎𝑏𝑠𝑜𝑟𝑣𝑖𝑑𝑎 é a potência absorvida pela
variação da permeabilidade magnética (ressonância), 𝑃𝑝𝑒𝑟𝑑𝑎𝑠 são as perdas residuais do
circuito, e 𝑃𝑑𝑖𝑜𝑑𝑜 a potência sobre o diodo. A tensão medida no diodo então é proporcional
a:
𝑃𝑑𝑖𝑜𝑑𝑜 = 𝑃𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 − 𝑃𝑟𝑒𝑓 𝑙𝑒𝑡𝑖𝑑𝑎 − 𝑃𝑎𝑏𝑠𝑜𝑟𝑣𝑖𝑑𝑎 − 𝑃𝑝𝑒𝑟𝑑𝑎𝑠 (3.1.11)
Vac
Vdiodo t
Absorção
Vrms
t
Figura 3.2: Tensão alternada 𝑉𝑎𝑐 de resposta do experimento em função do tempo. Após
passar pelo diodo, o sinal é retificado, e a tensão rms 𝑉𝑟𝑚𝑠 é proporcional a absorção.
figura 3.2). Como a retificação é de meia onda, e a medida de 𝑉𝑟𝑚𝑠 é menor do que seria
se a retificação fosse completa. No entanto, isso reflete num fator de proporcionalidade, e
não é de interesse o valor numérico da amplitude do sinal6 , e sim utilizar a sua variação
a fim de encontrar a ressonância e a largura de linha. As informações possíveis de se
encontrar com a amplitude é o fator giromagnético 𝛾 e a magnetização de saturação 𝑀𝑠 .
Ambos podem ser encontrados com maior confiabilidade com os ajustes da fórmula geral
de ressonância (equação 2.2.86).
O próximo passo é medir a tensão 𝑉𝑟𝑚𝑠 , a qual é feita através de um lock-in.
∫︁
𝑉𝑚𝑒𝑑𝑖𝑑𝑜 = 𝑉0𝑟𝑒𝑓 sen(𝜔𝑟𝑒𝑓 + 𝜑𝑟𝑒𝑓 )𝑉0 sen(𝜔0 𝑡) + 𝑉0𝑟𝑒𝑓 sen(𝜔𝑟𝑒𝑓 + 𝜑𝑟𝑒𝑓 )𝑉1 sen(𝜔1 𝑡) + ...
𝑇 +𝑡
Duas funções seno, quando integradas no seu período, se anulam caso não tenham a mesma
frequência. Por isso, diz-se que duas funções seno são ortogonais se suas frequências
são diferentes. Essa propriedade é conhecida como ortogonalidade das funções seno. A
equação 3.1.13 se torna (fazendo a diferença de fase 𝜑𝑟𝑒𝑓 = 0):
dentro da cavidade funciona como dielétrico, e como as paredes são condutoras, apresenta
uma capacitância. Como elas estão em curto, também são espiras - um indutor - e
portanto temos um circuito 𝑅𝐿𝐶 em paralelo. Consequentemente, há uma frequência de
ressonância 𝜔0 neste sistema. Dessa maneira, ambas as energias magnéticas e elétricas são
armazenadas dentro da cavidade, e são dissipadas por perdas do circuito, principalmente
por uma amostra no interior da cavidade. A relação entre essa energia armazenada e
dissipada, mais precisamente a razão entre elas multiplicadas pela frequência 𝜔 da onda
eletromagnética introduzida, é definida como fator de qualidade da cavidade 𝑄[16]:
𝑒𝑛𝑒𝑟𝑔𝑖𝑎 𝑎𝑟𝑚𝑎𝑧𝑒𝑛𝑎𝑑𝑎
𝑄=𝜔 (3.1.15)
𝑒𝑛𝑒𝑟𝑔𝑖𝑎 𝑑𝑖𝑠𝑠𝑖𝑝𝑎𝑑𝑎
𝑄 é máximo quando 𝜔 = 𝜔0 , e 𝜔0 é a frequência necessária para se formar ondas
estacionarias dentro da cavidade, que podem ser transversas magnéticas (modo TM) ou
elétricas (modo TE). A geometria e dimensões da cavidade determinam a frequência de
operação, ou seja, a frequência 𝜔0 para formar as ondas estacionárias.
Ao introduzir uma amostra na cavidade, mudam-se os parâmetros do circuito 𝑅𝐿𝐶,
alterando 𝜔0 e consequentemente, 𝑄. Se este sinal for comparado com uma referência
em que 𝜔0 se mantém com o valor inicial, podemos medir a potência absorvida pela
amostra. Para a ressonância ferromagnética, é necessário posicionar a amostra de forma
que o campo magnético seja uniforme e máximo dentro do volume da amostra. Ao mesmo
tempo, a potência deve ser baixa o suficiente para manter o regime linear da perturbação
[16].
Circulador
Cavidade
Gerador de
ressonante
Microondas
Microonda
Braço de refletida
referência
Detetor
Lock-in
GPIB
Computador
2𝐴Δ𝐻 2 (𝐻 − 𝐻𝑟𝑒𝑠 )
𝐿′ (𝐻) = − + 𝑎𝐻 + 𝑏 (3.1.16)
(Δ𝐻 2 + (𝐻 − 𝐻𝑟𝑒𝑠 )2 )2
A sua absorção apresenta formato (amplitude dos picos) bastante simétrico. A ampli-
tude da absorção não traz nenhuma informação confiável, pois há outras contribuições da
montagem experimental envolvidas; a parte deste fato, ela é diretamente proporcional a
𝑀𝑠 e o volume de material magnético. O campo foi varrido de 0 a 0, 27 T, a ressonância
𝜇0 𝐻𝑟𝑒𝑠 encontrada em 0, 1289 ± 0, 0001 T e a largura de linha 𝜇0 Δ𝐻 = 0, 01423 ± 0, 00002
T. Esses erros são da confiabilidade do ajuste, não necessariamente os experimentais reais.
Por via de regra foi utilizado 1% para a ressonância e 10% para a largura de linha.
Nos experimentos em cavidade, existe a possibilidade de variar a orientação do campo
aplicado H em respeito a normal do filme. Continuando o exemplo do filme de Ni, estão
sobrepostos os espectros para cada orientação na figura 3.5. Depois de realizar o ajuste
CAPÍTULO 3. MÉTODOS EXPERIMENTAIS 48
Pontos experimentais
30 Ajuste
R^2 = 0.999
A = -0.647 +/- 0.001
20 a = 0.18 +/- 0.04
b = 0.4 +/- 0.2
ΔH = 0.01423 +/-0.00002
10 Hres = 0.1289 +/-0.0001
Sinal (mV)
−10
−20
−30
0 0.05 0.1 0.15 0.2 0.25 0.3
Campo aplicado, μ0H (T)
Figura 3.4: Exemplo típico de espectro de varredura de campo (IP, 𝜃𝐻 = 900 ). Filme de
40 nm de Ni.
lorentziano para cada espectro, o comportamento final da ressonância pode ser visto na
figura 3.6, onde foi graficado a solução das equações 2.2.89 e 2.2.88. Foi utilizado 𝛾 = 29, 7
GHz/T e 𝜇0 𝐻𝐴 = −0, 5652 T7 .
Os experimentos de varredura em cavidade tem alta sensibilidade devido ao seu alto
fator de qualidade (𝑄), e a possibilidade de variar a orientação de campo aplicado, ne-
cessário para procurar o eixo fácil a 450 nas bicamadas. No entanto, é limitado a uma
frequência fixa por cavidade, e as condições de ressonância nem sempre podem ser re-
solvidas nesta frequência e faixa de campo aplicado. Para investigar de maneira mais
completa o perfil da ressonância para faixas maiores de campo aplicado e frequência é
realizado experimentos com o analisador de rede vetorial (VNA).
40 900
00
20
Sinal (mV)
- 20
- 40
0.0 0.2 0.4 0.6 0.8
Campo aplicado , μ0H (T)
Pontos experimentais
0.8 Solução numérica
0.6
0.4
0.2
0 20 40 60 80
Angulo de campo aplicado, θH (⁰)
bativa. Diferentemente do lock-in, ele mede tanto o módulo, quanto a fase relativa a onda
perturbativa. Essa medida é feita em função dos parâmetros de espalhamento 𝑆. Nas
medidas de ressonância utilizamos um VNA de duas portas, e os parâmetros complexos
𝑆 estão ligados a todas as possibilidades de transmissão e reflexão em ambas as portas.
Os parâmetros 𝑆 medidos estão diretamente ligados com a permeabilidade magnética
𝜇 e a permissividade elétrica 𝜖 [17]. A análise desses parâmetros pode ser feita sobre o sinal
obtido de uma ou duas portas, sendo a última consideravelmente mais complicada. Nessa
dissertação, foi utilizado a análise de uma porta, negligenciando o efeito das reflexões
[18]. Nas próximas seções será discutido a relação entre os parâmetros 𝑆 medidos e a
permeabilidade magnética 𝜇, seguido de um exemplo de medida para o filme fino de 40 n
de Ni.
O experimento de ressonância é realizado conectando as duas portas em um guia
de onda coplanar - CPW, Coplanar Waveguide, em inglês - colocado sob ação de um
campo magnético externo de maneira que os campos aplicados e perturbativos fiquem
perpendiculares entre si. Assim, escolhe-se um campo magnético após a saturação e
nessas condições faz-se uma varredura de frequência. Após repetir o processo para vários
campos, tem-se um mapa da ressonância para todas as condições possíveis dentro das
limitações experimentais de campo aplicado (a menos da orientação do campo aplicado)
e frequência de perturbação.
O ajuste do sinal é feito agora tanto da parte imaginária quanto real de 𝜒, tornando
mais fácil diferenciar as absorções de ressonância de outras indesejadas da montagem
experimental.
(a) (b)
Figura 3.8: a) Esquemático de um CPW. ℎ𝑟𝑓 e 𝑒𝑟𝑓 são os campos magnético e elétrico
perturbativos, gerados pela onda eletromagnética que atravessa pelo condutor central
(signal) [18]. b) Foto do CPW utilizado para realizar as medidas nesta dissertação.
Créditos da foto: Dr. Sergiy Bunyayev
𝜇m e 𝑤 = 150 𝜇m.
[𝑉 − ] = [𝑆][𝑉 + ] (3.2.2)
onde 𝑉𝑛+ é a amplitude da onda incidida e 𝑉𝑛− é a amplitude da onda refletida na porta
𝑛. Elemento a elemento de 𝑆:
𝑉𝑖−
𝑆𝑖𝑗 = (3.2.3)
𝑉𝑗+
Por exemplo, no sistema que será tratado adiante de duas portas, 𝑆12 corresponde em
incidir uma onda com amplitude 𝑉2+ através da porta 2 e medir a amplitude transmitida
𝑉1− na porta 1.
CAPÍTULO 3. MÉTODOS EXPERIMENTAIS 53
l t l
a1 b2
Porta 1
Porta 2
DUT
b1 a2
I II III
Figura 3.9: Esquemático do guia de onda do material. As regiões I e III correspondem
ao espaço de ar sobre o guia de onda coplanar, e a região II da amostra (DUT). 𝑎𝑛 e 𝑏𝑛
são as amplitudes das ondas que incidentes e transmitidas/refletidas respectivamente em
cada porta.
As portas são ligadas através de cabos no dispositivo sobre teste (DUT - Device un-
der test, em inglês). Com duas portas, temos quatro parâmetros, relacionados com as
amplitudes incidentes 𝑎𝑛 e transmitidas/refletidas 𝑏𝑛 9 (ver figura 3.9):
⎡ ⎤ ⎡ ⎤ ⎡ ⎤
𝑏1 𝑆11 𝑆12 𝑎1
⎣ ⎦ =⎣ ⎦·⎣ ⎦ (3.2.4)
𝑏2 𝑆21 𝑆22 𝑎2
onde 𝑡 e 𝑙 são os comprimentos dos espaços com e sem amostra, respectivamente. Fazendo
𝑆21 ≈ 𝑆12 , devido a pequena espessura dos filmes a serem trabalhados [18] e finalmente
comparando com a equação 3.2.6, encontra-se os parâmetros 𝑆 como:
(1 − 𝑅2 )𝑒−𝑖2𝑘0 𝑙
𝑆12 = 𝑆21 = (3.2.8)
𝑒𝑖𝑘𝑡 − 𝑅2 𝑒−𝑖𝑘𝑡
𝑖2𝑅𝑒−𝑖2𝑘0 𝑙 sen𝑘𝑡
𝑆11 = 𝑆22 = 𝑖𝑘𝑡 (3.2.9)
𝑒 − 𝑅2 𝑒−𝑖𝑘𝑡
isolando 𝑘𝑡 e 𝑅:
𝑒−𝑖4𝑘0 𝑙 + 𝑆12
(︃ )︃
2 2
− 𝑆11
𝑘𝑡 = cos −1
= cos−1 (𝑎𝑟𝑔) (3.2.10)
2𝑒−𝑖2𝑘0 𝑙 𝑆12
𝑆11
𝑅 = −2𝑖𝑘0 𝑙 (3.2.11)
𝑒 − 𝑆12 𝑒−𝑖𝑘𝑡
Separando 𝑘 em partes real e imaginária, temos:
onde:
[︂ √︁ √︁ ]︂
Θ𝐺 = arctan 𝐼𝑚(𝑎𝑟𝑔 − 𝑎𝑟𝑔 2 − 1)/𝑅𝑒(𝑎𝑟𝑔 − 𝑎𝑟𝑔 2 − 1) (3.2.14)
√︂ √︁ √︁
𝐺= 𝑅𝑒[𝑎𝑟𝑔 − 𝑎𝑟𝑔 2 − 1]2 + 𝐼𝑚[𝑎𝑟𝑔 − 𝑎𝑟𝑔 2 − 1]2 (3.2.15)
√︃
𝜇𝑟
𝑍0 𝐴 , onde 𝑍0 é a impedância característica do sistema e A é uma constante da
𝜖𝑟
geometria do CPW. Resolvendo para 𝜇𝑟 e 𝜖𝑟 :
𝑘 1−𝑅
𝜖𝑟 = 𝐴 (3.2.16)
𝑘0 1 + 𝑅
𝑘 1+𝑅
𝜇𝑟 = 𝐴 (3.2.17)
𝑘0 1 − 𝑅
Como 𝐴 depende não somente dos parâmetros do CPW, mas também do espaço de ar
entre ele e a amostra, se é limitado a lidar com a diferença de magnitude de 𝜇𝑟 e 𝜖𝑟 .
Além do mais, se forem utilizados dielétricos adequados na confecção do porta amostra,
negligencia-se a parte imaginária e considera-se apenas a parte real constante de 𝜖𝑟 na
faixa de microondas.
Os parágrafos passados consistem em uma tradução livre de [17]. Esse método, apesar
de mostrar uma argumentação matemática bastante sólida, apresenta diversos problemas
experimentais. O primeiro deles é o casamento de impedância do sistema como um todo
- cabos, conectores, CPW - que nunca é perfeito, apresentando respostas não ligadas a
ressonância, podendo ser da mesma ordem de grandeza de 𝜇𝑟 e 𝜖𝑟 . O segundo é a medida
dos comprimentos 𝑡 e 𝑙, que podem propagar erros enormes nas medidas, principalmente
se a amostra não estiver perfeitamente centrada (implica em 𝑆12 ̸= 𝑆21 ).
O problema da calibração pode ser resolvido através de uma simplificação desenvolvida
por [18]. Se baseia em negligenciar o efeito das reflexões, i.e. ignorando as medidas de
𝑆11 e fazendo 𝑅 = 0. Substituindo na equação 3.2.8:
(1 − 𝑅2 )𝑒−𝑖2𝑘0 𝑙
𝑆21 =
𝑒𝑖𝑘𝑡 − 𝑅2 𝑒−𝑖𝑘𝑡
𝑒−𝑖2𝑘0 𝑙
= 𝑖𝑘𝑡
𝑒
=𝑒 −𝑖2𝑘0 𝑙+𝑖𝑘𝑡
Agora, ao medir a amostra em questão numa condição que será chamada de referên-
cia, por exemplo medir 𝑆21 a campo aplicado alto, e em seguida realizar a medida de
interesse, a campo aplicado baixo. Dessa maneira, as contribuições de outros fenômenos
não relacionados a variação da permeabilidade magnética na ressonância (campo aplicado
𝐻) não se alteram, e são subtraídos pelo espectro de referência. No entanto, como agora
não há variáveis suficientes (𝑆11 ) não é possível mais resolver a diferença entre 𝜇𝑟 e 𝜖𝑟 .
Lembrando que a permissividade 𝜖𝑟 pode ser aproximada a não ter componente imagi-
nária a frequências altas, continua possível identificar unicamente o comportamento da
permeabilidade relativa 𝜇𝑟 .
CAPÍTULO 3. MÉTODOS EXPERIMENTAIS 56
Exemplo de medida
Um exemplo de ajuste pode ser visto na figura 3.10. A amostra em questão é um filme
de 40 nm de Ni, com campo aplicado 𝜇0 𝐻 = 0, 806 T perpendicular ao plano da amostra
e potência de 1 mW. Os contatos do CPW são coaxiais, sob impedância casada de 50 Ω.
Os erros de confiabilidade do ajuste (mínimos quadrados não-linear) na maioria dos casos
são menores que os experimentais. Por segurança, vamos seguir como guia o erro mínimo
1% para 𝑓𝑟𝑒𝑠 e 10% para Δ𝑓 (inclusive para os experimentos de cavidade). Após obter
a 𝑓𝑟𝑒𝑠 e Δ𝑓 para um determinado campo aplicado, um novo valor superior é aplicado, e
retiramos sucessivamente os mesmos pontos de interesse para cada valor de intensidade.
Na figura 3.11a estão todos os espectros de frequência 𝑓 obtidos em função de cada
campo aplicado 𝐻. O esquema de cores determina a intensidade da absorção, em unidades
arbitrárias, indo do azul (menor) a vermelho (maior). O processo descrito no parágrafo
CAPÍTULO 3. MÉTODOS EXPERIMENTAIS 57
anterior é repetido para cada valor de campo aplicado, de onde se obtêm a 𝑓𝑟𝑒𝑠 e Δ𝑓 . A
partir daí, é feito o ajuste de mínimos quadrados com as expressões 2.2.91 e 2.2.95, para
campos aplicados 𝐻 IP (900 ) e OOP (00 ) respectivamente. O resultado do ajuste para o
exemplo em questão (OOP) está na figura 3.11b . Foram encontrados 𝛾 = 29, 75 ± 0, 05
GHz/T e 𝜇0 𝐻𝐴 = 0, 5652 ± 0, 0005 T.
O procedimento que recém descrito foi repetido para todo o conjunto de amostras,
tanto para campos IP quanto OOP. A partir dos valores de 𝐻𝐴 e 𝛾 obtidos, é possível
encontrar a constante de anisotropia uniaxial 𝐾𝑒𝑓 , através da equação 2.2.82. Para tanto,
é necessário conhecer a magnetização de saturação do filme 𝑀𝑠 . No próximo capítulo
será descrito o conjunto de amostras e suas características estruturais, juntamente com
as constantes encontradas.
0
Permeabilidade não-cal., U (U.A.)
Permeabilidade não-cal., U (U.A.)
0.05
−1
0
−2
−0.05
−3
Re[U(f)] Im[U(f)]
Ajuste não-linear Ajuste não-linear
Δf = 3.64e+08 +/- 8e+06 Hz Δf = 3.59e+08 +/- 6e+06 Hz
−0.1 −4
fres = 7.281e+09 +/- 4e+06 Hz fres = 7.282e+09 +/- 4e+06 Hz
6 7 8 9 6 7 8 9
Frequência, f (GHz) Frequência, f (GHz)
14
Pontos experimentais
Freq. de ressonância, fres (GHz)
Ajuste
12
10
0
0.6 0.7 0.8 0.9 1
Campo aplicado, μ0H (T)
(a) (b)
Figura 3.11: Exemplo de medida para filme de 40 nm de Ni, campo OOP. a) Diagrama
com todos os espectros de 𝑓 obtidos para diferentes intensidades de 𝐻. O esquema de cores
é determinado pela intensidade da absorção (u.a). De azul (menor) a vermelho (maior).
b) Exemplo de ajuste das frequências de ressonância 𝑓𝑟𝑒𝑠 em função da intensidade de
campo aplicado 𝐻.
59
Capítulo 4
Revisão bibliográfica
Neste capítulo, será apresentada uma breve revisão bibliográfica sobre as amostras a
serem trabalhadas, e os resultados já publicados sobre elas. O seguinte texto inicia-se
com a descrição da anisotropia magnética uniaxial em filmes finos, as limitações tecno-
lógicas para escrita magnética com anisotropia perpendicular, e a solução proposta com
bicamadas. Finalizando, as constantes de anisotropia e magnetização obtidas bicamadas
de CoCrPt/Ni, com técnicas magnetostáticas [6].
𝐹𝑎 = 𝐾𝑢 sen2 𝜃, (4.1.1)
• 𝑉2 /𝑉1 = 1/2;
• 𝑀2 /𝑀1 = 0, 1 a 0, 3;
Detalhes de fabricação
Resultados
na literatura de 0, 440 T [6]. O erro maior nos valores encontrados de CoCrPt se deve
principalmente a camadas amorfas entre o CoCrPt e o Ti, relacionado a interdifusão (grãos
de Co-Ti) e desalinhamento da rede cristalina no CoCrPt. As espessuras ferromagnéticas
também foram caracterizadas, sendo 32, 79 ± 0, 06 nm e 18, 04 ± 0, 04 nm para os valores
nominais de 40 nm de Ni e 20 nm de CoCrPt respectivamente. A rugosidade não excedeu
1 nm.
Ainda com os resultados de PNR, uma medida do filme de 20 nm de CoCrPt e 40 nm
de Ni com campo IP de 250 Oe (0,025 T) permitiu uma análise qualitativa e preliminar
da formação dos domínios magnéticos. Neste estado, é esperado a formação de domínios
trapezoidais com o campo e piramidais perpendiculares ao campo. É resultado da com-
petição entre as energias de troca da interface, das anisotropias de cada camada e dos
defeitos estruturais [6].
Capítulo 5
Resultados Experimentais
5.1.1 Filmes de Ni
Campo OOP
14 14
Pontos experimentais
Ajuste 12
12
10 10
8 8
6 6
4 4
2 2
0 0
0.6 0.7 0.8 0.9 1 0.7 0.8 0.9 1
Campo aplicado, μ0H (T) Campo aplicado, μ 0H (T)
(a) 40 nm (b) 20 nm
14 14
Pontos experimentais
Freq. de ressonância, fres (GHZ)
Pontos experimentais
10 10
8 8
6 6
4 4
2 2
0 0
0.6 0.7 0.8 0.9 1 0.6 0.65 0.7 0.75 0.8
Campo aplicado, μ 0H (T) Campo aplicado, μ 0H (T)
(c) 10 nm (d) 5 nm
Figura 5.1: Frequências de ressonância em para os filmes de Ni, e seu respectivos ajustes.
Campo perpendicular ao plano da amostra (OOP).
Campo IP
Novamente, apenas uma absorção de ressonância foi encontrada nos espectros. Na fi-
gura 5.2, estão os ajustes para o campo aplicado longitudinal (IP, ver seção 2.2.5). O com-
portamento das curvas está de acordo com o esperado, e os ajustes também apresentam
uma confiabilidade alta, com exceção da amostra com 5 nm de espessura, pelas mesmas
razões discutidas anteriormente. No entanto, os valores de 𝛾 e 𝐻𝐴 diferem substancial-
mente dos encontrados na seção anterior (tabela 5.2). O fator giromagnético encontrado
foi em torno de 30 GHz/T e 𝜇0 𝐻𝐴 em torno de −0, 58 T. Os valores deveriam ser os
mesmos que com campos OOP, e esta variação pode ter várias causas. Estão entre elas:
descompensação da calibração, ajuste dos mínimos quadrados (𝑓𝑟𝑒𝑠 ), posicionamento do
gaussímetro, etc.
CAPÍTULO 5. RESULTADOS EXPERIMENTAIS 69
Tabela 5.1: Resultados dos ajustes das camadas de Ni independentes, sob campo magné-
tico OOP
20
20
Pontos experimentais
Freq. de ressonância, fres (GHz)
Pontos experimentais
15
15
10
10
5
5
0
0 0.1 0.2 0.3 0.4 0
0 0.05 0.1 0.15 0.2 0.25 0.3 0.35 0.4 0.45
Campo aplicado, μ 0H (T)
Campo aplicado, μ 0H (T)
(a) 40 nm (b) 20 nm
20 20
Freq. de ressonância, fres (GHz)
Ajuste Ajuste
15 15
10 10
5 5
0 0
0 0.05 0.1 0.15 0.2 0.25 0.3 0.35 0.4 0.45 0.5 0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5
Campo aplicado, μ 0H (T) Campo aplicado, μ 0H (T)
(c) 10 nm (d) 5 nm
Figura 5.2: Frequências de ressonância para os filmes de Ni, e seu respectivos ajustes.
Campo paralelo ao plano da amostra (IP).
Tabela 5.2: Resultados dos ajustes das camadas de Ni independentes, sob campo magné-
tico IP
Figura 5.3: Mapa completo (𝐻 ×𝑓𝑟𝑒𝑠 ×𝑈 (𝑓 )) das camadas independentes de CoCrPt. Não
foi possível encontrar adequadamente as absorções. As cores determinam a intensidade
da absorção, de azul (menor) a vermelho (maior).
O mesmo procedimento das seções anteriores foi repetido para as bicamadas. Lem-
brando que são compostas de uma camada superior de Ni, variando de 5 a 40 nm, sobre
uma camada de 10 nm de CoCrPt. Para campos OOP, apenas uma ressonância foi en-
contrada por espectro, e a sua evolução apresenta comportamento linear, indicando a
possibilidade de se usar a equação 2.2.95. Na figura 5.4, temos os ajustes para cada
bicamada. A camada de 5 nm de Ni (figura 5.4d), não apresenta resposta uniaxial, e
não foi considerada. Repetindo o mesmo ajuste da seção 5.1.1, encontramos valores de
𝛾 = 29, 7 ± 0, 1 GHz/T (tabela 5.3). Esses valores são muito próximos dos encontrados
CAPÍTULO 5. RESULTADOS EXPERIMENTAIS 71
16 20
Frequ. de ressonância, fres (GHz)
12 15
10
8 10
4 5
0 0
0.6 0.7 0.8 0.9 1 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1 1.1
Campo aplicado, μ 0H (T) Campo aplicado, μ 0H (T)
20
Pontos experimentais
Freq. de ressonância, fres (GHz)
Freq. de ressonância, fres (GHz)
Pontos experimentais
Ajuste 15
15
10
10
5
5
0 0
0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7
Campo aplicado, μ 0H (T) Campo aplicado, μ 0H (T)
Campos IP
Como discutido anteriormente, as medidas com campo OOP sugerem ter mais confi-
abilidade que as IP. Na figura 5.5a estão expostos os espectros das frequências antes dos
CAPÍTULO 5. RESULTADOS EXPERIMENTAIS 72
Tabela 5.3: Resultados dos ajustes das bicamadas (10 nm de CoCrPt) em função da
espessura da camada de Ni, sob campo magnético OOP
ajustes de permeabilidade. Podem ser observados duas absorções, uma relativa ao Ni com
o comportamento de raiz quadrada esperado (equação 2.2.91), e outra acima de 12 GHz
que pode representar o CoCrPt. A contrapartida é que as larguras de linha para este
último padrão de absorção encontradas são grandes demais (por volta de 3 GHz, quando
no Ni são da ordem de dezenas de MHz), a ponto de não ser possível encontrar o mínimo
devido a ressonância.
Para espessuras menores de Ni, foi observado apenas uma absorção de ressonância.
Apesar disso, o comportamento encontrado nesses casos não corresponde a teoria da FMR
uniaxial. Isso pode ter várias causas, desde convoluções de ressonâncias das duas camadas
a um comportamento multiaxial da anisotropia [12].
Um fator de suma importância, são os valores de 𝐻𝐴 s esperados (saturação magnética
completa) de cada camada. Quando o campo está aplicado longitudinalmente, a camada
de CoCrPt não está saturada, consequentemente está quebrada em vários domínios mag-
néticos, induzindo fenômenos não lineares de ressonância. Na figura 5.5b está um exemplo
referente a bicamada de CoCrPt 10 nm e Ni 20 nm, que difere claramente da equação
2.2.91.
20
15
10
0
0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7
Campo aplicado, μ0H (T) Campo aplicado, H (T)
Tabela 5.4: Resultados dos ajustes das bicamadas (10 nm de CoCrPt) com espaçador
14 20
10 15
6 10
5
2
0
0.6 0.7 0.8 0.9 1 0 0.1 0.2 0.3 0.4
Campo aplicado, μ 0H (T) Campo aplicado, μ 0H (T)
Figura 5.6: Frequências de ressonância para as bicamadas com espaçador, e seus respec-
tivos ajustes.
γNi
30
γe
28
Ni (IP)
Ni (OOP)
CoCrPt 10 nm / Ni (OOP)
CoCrPt 10 nm / Ti 7 nm / Ni (IP)
CoCrPt 10 nm / Ti 7 nm / Ni (OOP)
26
0 10 20 30 40
Espessura de Ni (nm)
Figura 5.7: Valores de 𝛾 encontrados nos ajustes da seção anterior, em função da espessura
da camada de Ni.
2. Por que não foi possível observar a ressonância da camada de CoCrPt sozinha?
3. É correto utilizar a teoria da FMR com anisotropia uniaxial para a absorção encon-
CAPÍTULO 5. RESULTADOS EXPERIMENTAIS 76
Ni (IP)
−0.4
−0.5
−0.6
Kforma
0 10 20 30 40
Espessura de Ni (nm)
Figura 5.8: Valores de 𝐻𝐴 encontrados nos ajustes da seção anterior, em função da es-
pessura da camada de Ni.
a maiores ângulos, até diferir completamente, com eixo fácil (mínimo global) a 450 e
o novo eixo difícil a 900 (máximo local de mesma intensidade que o encontrado a 00 ).
Obviamente, a teoria utilizada não é apropriada, uma vez que deveriam ser considerados
os termos de energia das duas camadas, e da interface (equação 4.2.1). No entanto, o termo
de interação de troca faz com que o eixo difícil se alargue [22], e não pode introduzir esse
CAPÍTULO 5. RESULTADOS EXPERIMENTAIS 78
0.6 z 0.6
θ
y
x
0.4 0.4
0.2 0.2
0 0
0 20 40 60 80 0 20 40 60 80
Ângulo de campo aplicado, θH (⁰) Ângulo de campo aplicado, θH (⁰)
CoCrPt 10 nm Ti 3 nm Ni 20 nm
0.8 CoCrPt 10nm Ni 20 nm
Ni 20 nm
0.6
0.4
0.2
0
0 20 40 60 80
Ângulo de campo aplicado, θH (⁰)
tipo de comportamento. O que é possível afirmar por hora é que os valores encontrados
para as medidas OOP em varredura de frequência (00 ) concordam com a teoria uniaxial.
A partir das medidas em cavidade, concluímos que: as camadas de Ni sozinhas apre-
sentam anisotropia uniaxial e os valores obtidos em varredura de frequência estão muito
próximos entre os dois experimentos (considerando as constantes encontradas com campo
OOP); a bicamada de 10 nm de CoCrPt com 5 nm de Ni apresenta anisotropia a 450 em
banda X; a teoria da FMR uniaxial não pode ser aplicada para as bicamadas, no entanto
se aproxima a baixos ângulos dos pontos experimentais para maiores espessuras de Ni.
A próxima etapa é repetir as medidas com uma cavidade de banda K (18 a 27 GHz) a
fim de encontrar a ressonância do CoCrPt, e responder as questões em aberto em relação
a seu fator giromagnético e possibilidade de convolução nas bicamadas. Ao mesmo tempo,
escrever um programa de análise de dados para realizar o ajuste de mínimos quadrados
CAPÍTULO 5. RESULTADOS EXPERIMENTAIS 79
0.8
0.6
0.6
0.4
0.4
0.2
0.2
0 20 40 60 80 0 20 40 60 80
Angulo de campo aplicado, θH (⁰) Ângulo de campo aplicado, θH (⁰)
(a) 40 nm (b) 20 nm
Campo de ressonância, μ 0H res (T)
0.6 0.6
0.4 0.4
0.2 0.2
0 20 40 60 80 0 20 40 60 80
Ângulo de campo aplicado, θH ( 0) Angulo de campo aplicado, θH (⁰)
(c) 10 nm (d) 5 nm
Figura 5.10: Pontos experimentais obtidos das ressonâncias em cavidade ressonante, com-
parados com a teoria uniaxial da FMR. As constantes utilizadas foram as obtidas nos
experimentos de varredura. Camadas individuais de Ni.
nas medidas de cavidade, juntamente com obter a expressão adequada de FMR para as
bicamadas.
CAPÍTULO 5. RESULTADOS EXPERIMENTAIS 80
0.8 0.8
Campo de ressonância, μ 0H res (T)
0.6 0.6
0.4 0.4
0.2 0.2
0 20 40 60 80 0 20 40 60 80
Angulo de campo aplicado, θH (⁰) Angulo de campo aplicado, θH (⁰)
0.7
Campo de ressonância, μ 0H res (T)
Pontos experimentais
Solução numérica
0.6
0.5
0.4
0.3
0.2
0.1
0 20 40 60 80
Ângulo de campo aplicado, θH (T)
(c) CoCrPt 10 nm / Ni 20 nm
Figura 5.11: Pontos experimentais obtidos das ressonâncias em cavidade ressonante, com-
parados com a teoria uniaxial da FMR. As constantes utilizadas foram as obtidas nos
experimentos de varredura. Bicamadas, a respectiva com 5 nm Ni não foi considerada,
pois não foi possível encontrar suas constantes.
81
Capítulo 6
Conclusões e perspectivas
Referências