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VACA

SAGR
ADA
“VACA SAGRADA”
UM ENSAIO INVESTIGATIVO E PROVOCATIVO SOBRE A ORIGEM DA
CARIDADE EM MADRE TERESA DE CALCUTÁ

GUÍVIEN E. NEDOCHETKO
JANEIRO DE 2022
Vaca Sagrada
Se você gosta de ajudar as pessoas muito provavelmente você acredita que é um ser
humano melhor.

O que é super compreensível, afinal essa é uma atitude cristã - todo mundo sabe que a
pessoa mais fodástica de que se tem notícia ajudava todo mundo, curava os doentes,
repartia comida e tinha compaixão pelos pecadores.

Poucos desconfiam das ações de quem faz o bem; qual seria o ganho nisso? Mas
desconfiar é preciso, viver não é preciso. Então sugiro que desconfiemos do “bem”,
peguemos uma pessoa que se transformou no epítome da bondade, mas cujos atos não
passaram despercebidos por olhos um pouco menos cegos.

Vejamos o exemplo da Madre Teresa de Calcutá, porque de Jesus já se fala muito. Ela é
aquela figura que faz muita gente desavisada realmente achar que somos mais do que
apenas mamíferos de calças. Para dissecarmos a santa madre lhes apresento o grande
desconfiado Christopher Hitchens - jornalista e autor britânico de coragem invejável,
sempre com um cigarro entre dedos, combateu com suas ideias a idiotice humana.
Infelizmente Hitchens morreu aos 62 anos em 2011 (se você já foi à alguma festa você
sabe que os bons se vão cedo e os imbecis ficam até mais tarde) e seu livro Missionary
Position: Mother Teresa in Theory and Practice - o sucessor do documentário de 1994
que foi ao ar na TV britânica, (cujo nome original seria “Sacred Cow” mas foi censurado
pela produção que decidiu mudar pra “Hell’s Angel” porque aparentemente um anjo do
inferno é melhor do que a vaca sagrada). Contaremos também com as ideias de um outro
super desconfiado pai da psicanálise - Sigmund Freud - este sempre com um charuto, que
nada disse sobre a Madre Teresa, mas que decodificou todos nós como códigos da
Matrix. Com a ajuda deles vamos dissecar as “boas ações” da Madre Teresa de Calcutá e
acabar com a raça dela – just kidding (but super willing).
Mas comecemos do início. Agnes Gonxha Bojaxhiu nasceu em 1910 filha de albaneses
na capital do que hoje se chama Macedônia do Norte. A História desse lugar é bem
truncada: primeiro foi parte do Império Otomano, aí se separou e virou Albânia com
alguns territórios passando pra Grécia e outros pra Sérvia e so on and so forth, mas agora
chama-se Macedônia. Esse panorama histórico do lugar pode parecer irrelevante, mas
poucas coisas são irrelevantes na história de vida de uma pessoa, se você pensa o
contrário muito provavelmente votou no Bolsonaro. A verdade é que a situação do lugar
foi o que levou à morte o pai idolatrado salve salve da Agnes.

Ela perdeu o pai aos 9 anos. Nikollë Bojaxhiu era filantropo (olha aí) e poliglota, ele era
o único católico no governo da cidade e foi morto porque queria unificar os territórios
albaneses. Aparentemente Nikollë foi envenenado por nacionalistas eslavos. Sempre tive
comigo que pessoas revolucionárias morrem de maneiras muito interessantes. A menina
Agnes também perdeu muitos parentes entre os 9 e os 12 anos, por isso provavelmente
ouviu no período de luto coisas do tipo “ele está no céu agora”, “ele está em um lugar
melhor”. Como a família era extremamente católica, aos 18 anos Agnes decidiu se juntar
às Irmãs de Nossa Senhora do Loreto na Irlanda e passou a ser chamada Madre Teresa, o
não tão merecido Calcutá viria anos mais tarde. Futuramente, porque o irmão dela se
juntou ao exército de Mussolini (isso mesmo, Mussolini!) e ela se preocupava com a
segurança da mãe e da irmã que viviam na Albânia comunista, Madre Teresa não falava
muito sobre sua família, dessa forma acaba sendo difícil sabermos os pormenores de seu
relacionamento com eles.

Em 1931 ela foi para Calcutá, na Índia, para trabalhar em uma escola para garotas. Nesse
período viu a pobreza do lugar e logo sentiu que queria sair do convento e fundar uma
nova congregação com objetivos, digamos, diferentes. Em 1950 ela finalmente conseguiu
aprovação do Vaticano para fundar a Congregação Missionárias da Caridade. Sua
intenção era ajudar o mais miserável dos miseráveis. Até parece que se precisa de
autorização do Vaticano para ajudar as pessoas; afinal de contas Osho levou centenas de
pessoas para a “iluminação espiritual” sem que o Vaticano precisasse autorizar coisa
alguma.

Voltemos à Madre. Em 1952 abriu a primeira casa de repouso para quem já estava
terminalmente doente, ela começou com poucos ajudantes e voluntários. Além da casa de
repouso havia também uma outra para quem tinha hanseníase e um orfanato. Esses locais
eram doados pelo governo ou por gente rica muito bondosa/culpada. Em 1986 ela já tinha
suas casas em mais de 100 países. Além das casas de repouso, orfanatos, creches e
institutos, Madre Teresa também participava de ações de ajuda a pessoas em situações de
risco como em zonas de guerra e catástrofes naturais. Por exemplo: em 1982 durante o
cerco de Beirute, Madre Teresa atravessou a zona de guerra para resgatar 37 crianças. Ela
também prestou auxílio a crianças vítimas de contaminação por radiação depois da
tragédia em Chernobyl, bem como vítimas de um terremoto na Armênia. Quem nunca,
não é Angelina?

Durante toda sua vida a Santa Madre foi a pró-vida mor. Enfrentava ferrenhamente o
aborto e condenava contraceptivos quaisquer que fossem. Obcecada pela causa, qualquer
que fosse a situação, ela dava jeito de empurrar a agenda antiaborto mesmo quando o
assunto era totalmente outro. Quer ver? Durante o discurso que deu ao receber o prêmio
Nobel da Paz (da PAZ!) ela disse o seguinte: “E eu sinto uma coisa que quero
compartilhar com vocês todos, o grande destruidor da paz hoje é o choro da inocente
criança não nascida. Pois se uma mãe pode assassinar seu próprio filho em seu ventre, o
que sobra para você e eu? Matar-nos uns aos outros?” Podemos concluir com essa fala
que: Menos abortos = mais paz. É preciso uma certa dose de imaginação para fazer essa
relação, especialmente se observarmos o resultado na vida de tantas crianças órfãs ou que
sofreram maus tratos de pais que não queriam ou não tinham condições de educar seus
filhos. É evidente que a “Madre Teresa do Pau Oco” não estava olhando para os lugares
certos.

Mas não divaguemos. A questão é, como é que ela ficou tão famosa? Como é que uma
irmãzinha saiu da Índia para ganhar os holofotes do mundo? Que grande ação de bondade
foi capaz de transformar aquela minúscula criatura com inglês duvidoso em santa? Não
foi ação não, foi culpa do jornalista inglês Malcolm Muggeridge.

Em 1971 o engodo humano conhecido como Malcolm Muggeridge (que parece mais
nome de personagem de literatura fantástica infanto-juvenil) publicou um livro chamado
“Algo de Belo para Deus”. Esse livro catapultou a Madre Teresa para o estrelato das
santas influencers. Ele visitou uma das casas da madrecita em Calcutá e por sorte o
cameraman tinha um filme novo da Kodak que ele nunca havia usado em sua filmadora –
e mesmo na escuridão do interior do prédio conseguiu fazer uma boa filmagem. No
entanto, o mérito da Kodak foi parar nas costas da M. Teresa. “Foi a luz da Madre
Teresa”, disse Muggeridge, que considerou aquele um milagre divino e não um feito
tecnológico – o cameraman rolou os olhos, mas a merda já estava feita. Você pode ver o
próprio Ken Macmillan (o cameraman) contando essa história no documentário Hell 's
Angel. Então como disse Hitchens: “nasceu uma estrela”. E foi assim que tudo começou;
ela ficou muito famosa e passou a receber doações milionárias para ajudar os que sofrem.
Os figurões usavam a imagem dela para passar de bonzinhos e ela usava os figurões para
se promover. Ela passava pano pra todos eles, puxava o saco deles, tudo supostamente
para poder obter meios de ajudar os que mais sofrem.

Então vamos ao sofrimento. Muito pouco do dinheiro que ela ganhava realmente era
colocado à disposição das casas para investimento em melhorias e para o conforto dos
doentes. Segundo relatos de pessoas que trabalhavam com ela, quem atendia as pessoas
eram voluntários com pouca ou nenhuma experiência e sem treinamento adequado. A
higiene nas dependências nas casas da congregação era das piores. Por exemplo: lençóis
sujos de fezes e urina eram lavados a mão na mesma pia em que se lavava os jarros de
água, as camas eram tipo da segunda guerra, no chão duro mesmo e seringas eram
lavadas em água fria e reutilizadas. Além das horrendas condições higiênicas os recursos
eram também escassos; os doentes recebiam remédios vencidos, não tinham acesso a
antibióticos e nem analgésicos, no máximo tomavam uma aspirina ou ibuprofeno –
mesmo quem tinha câncer terminal. Médicos não tinham autorização para fazer
diagnósticos e as pessoas não podiam ser levadas para hospitais. Os doentes, de todas as
idades, iam lá morrer mesmo. Teve até dedo do pé amputado sem anestesia. A desculpa
dada por Madre Teresa era que se um doente fosse levado para o hospital então todos
teriam que ser levados e para isso não haveria recursos.

Aparentemente a preocupação com o bem-estar das pessoas era secundário, porque


pessoas que melhoravam das suas enfermidades e podiam sair da instituição logo
voltavam, mas não porque estavam com saudade, e sim porque estavam doentes outra
vez. Não havia um serviço para ajudar os doentes a verdadeiramente se reabilitarem,
mantê-los longe da miséria não parecia ser uma preocupação da Santa Teresa. Suas casas
tinham uma porta giratória, eram tipo o sistema carcerário do Brasil; não reabilita
ninguém, o preso sai reincide e voilà! Prisão mais uma vez.

Outro exemplo de conduta duvidosa vem de relatos sobre o “Presente do Amor”, uma
casa de suporte para moradores de rua portadores do HIV em São Francisco, na
Califórnia. A tal casa não oferecia medicamentos aos doentes e sim algo parecido com
uma penitência. Os doentes não tinham permissão para assistir TV nem receber parentes
ou amigos. Isso está de acordo com o pensamento da Madre, segundo ela o HIV era uma
“retribuição por conduta sexual inapropriada”.

No entanto, é importante ressaltar que esses maus tratos não eram perpetuados
diretamente das mãos da Santa de Calcutá. Em 1986 ela já tinha operado 517 missões em
mais de 100 países. É humanamente impossível estar presente em tantos lugares para
garantir o tratamento qualquer que fosse. Isso então quer dizer que os maus tratos não
eram culpa da Madre?, Não, absolutamente. Eles eram sim culpa da Madre porque as
irmãs em cada casa ao redor do mundo seguiam cegamente os preceitos dela. (Você
também está achando isso com uma puta cara de seita? A Madre Teresa foi a líder de
seita que se safou, usufruiu dos louros até o fim da vida e ainda virou santa!) Mas, quais
eram esses preceitos? Ela vivia a filosofia de que “extrema simplicidade é fundamental
para evitar o luxo que corrompe”. Esse padrão teria que ser replicado através do mundo
em todas as casas das Missionárias da Caridade. As irmãs da congregação não
questionavam, apenas obedeciam. Não era permitido haver nas casas nada de conforto,
elas eram despidas de cortinas e tapetes, os doentes teriam que receber apenas o mínimo
possível.

Contudo, algumas das irmãs conseguiram perceber que havia algo errado e falaram sobre
suas experiências enquanto trabalhavam com a Congregação Missionárias da Caridade.
Susan Shields é uma delas, ela entrega tudo no livro Missionary Position onde relata que
as doações eram consideradas aprovação de Deus pelas ações da Madre. Certamente esse
Deus era o do antigo testamento. É notável que o que importava para ela era o bem-estar
espiritual das pessoas, não o bem-estar físico. Sendo a Madre uma irmã católica xiita
apenas poderia haver salvação para pessoas católicas, e já que estavam os pacientes com
o pé na cova algo precisava ser feito com urgência. Por isso as irmãs foram ensinadas a
fazer batismos secretos em pacientes terminais, tudo o que precisavam era uma resposta
afirmativa para a pergunta “você quer uma passagem para o céu?” - e quem não quer uma
passagem para o céu especialmente quando em agonia? As irmãs fingiam que estavam
aliviando a febre com água fresca quando na verdade estavam batizando hinduístas e
muçulmanos sem seu consentimento.

Então, com a fama que ganhou e com o ego inflado e cheio do amor de Deus, Madre
Teresa passou a viajar pelo mundo conhecendo líderes mundiais não tão bonzinhos assim.
Por exemplo, essa é ótima, no belo ano de 1981, ela foi visitar o Haiti onde foi muito bem
recebida pela primeira-dama Michelle e seu marido Jean-Claude Duvalier (o
Presidente/ditador que estava roubando o povo e fazendo todo mundo passar fome). Ele
era conhecido como Baby Doc (certamente o apelido mais ridículo que já deram para um
líder, nem representante de turma no ensino fundamental já teve um apelido tão ridículo
como esse). Suspeita-se que o casamento do Baby Doc e da Michelle custou 5 milhões de
dólares e foi bancado pelos cofres públicos, enquanto o povo estava na miséria. Em 2004
ele foi considerado pela Transparência Internacional o sexto líder mais corrupto do
mundo. Foi com esse líder que Madre Teresa foi se encontrar, mas não porque queria
ajudar o povo haitiano. Muito pelo contrário, ela soltou a seguinte pérola enquanto tirava
fotos com a primeira-dama: “É lindo ver a maneira como os pobres interagem com seu
líder” – tal disparate surpreendeu muitos, mas não o suficiente para desconfiar da
sanidade mental da madrecita, porque as visitas desconexas continuaram. Nancy e
Ronald Reagan receberam a doce irmã em 1985 quando lhe deram a “medalha
presidencial da liberdade”. Durante o discurso ela teve a pachorra de dizer o seguinte
sobre o então presidente dos Estados Unidos (um ex-ator hollywoodiano que zombava
dos pobres e perseguia as minorias): “Eu nunca tinha percebido que você ama seu povo
com tanto carinho”. Digo isso com indignação porque além do currículo poder
mencionado a pouco, administração de Reagan tratou como se fosse piada a epidemia de
HIV que havia iniciado há quatro anos e esteve em todos os tabloides ao redor do mundo
e provavelmente também em Calcutá. Reagan só foi se pronunciar sobre o HIV quatro
anos depois do início da crise quando já era tarde e a epidemia estava descontrolada.
Desconfio que não se trata de um presidente que “ama seu povo com muito carinho”.
Realmente, eleger imbecis despreparados não é um fenômeno recente. Mas ainda teve o
encontro com Margaret Thatcher. Dessa vez Madre Teresa foi até a Inglaterra em 1988
supostamente para discutir o problema do crescente número de moradores de rua, mas no
final ela apenas se mancomunou com a Dama de Ferro para tramar contra o aborto,
lógico.

No fim das contas a Madre se mostrou uma puxa saco de primeira linha e isso lhe
garantia muito dinheiro em doações. A Stern - revista alemã, publicou um artigo em 1998
levantando muitos questionamentos sobre a doce velhinha. O artigo em livre tradução
para o português teria o título “Madre Teresa, Onde Estão Os Seus Milhões?”. É difícil
decidir se a matéria é interessante ou revoltante. Nele constam muitos relatos de pessoas
em Calcutá, pessoas carentes que dependem de instituições para sobreviver, dizendo que
não entendem por que a Santa de Calcutá é tão respeitada no nosso lado do planeta
quando muitos deles nunca receberam ajuda dela ou nem nunca tinham visto nenhuma
instituição das Missionárias da Caridade.

Seguindo o dinheiro, a matéria afirma que talvez a unidade mais lucrativa da organização
seja a casa “Espírito Santo” no Bronx em NY. Susan Shields, que colocou a boca no
trombone alguns parágrafos atrás, trabalhou lá por 9 anos e meio. Ela era chamada irmã
Virgin e conta que junto com outras irmãs passavam uma boa parte de cada dia
escrevendo cartas de agradecimento e processando cheques. Toda noite por volta de 25
irmãs tinham que passar várias horas preparando recibos para doações. Era como uma
linha de produção: algumas datilografavam, outras faziam listas das quantias, outras
separavam os cheques. Os valores variavam de 5 a 100 mil dólares. Shields alega que os
doadores deixavam envelopes cheios de dinheiro na porta da instituição e que antes do
Natal o fluxo de doações era impossível de controlar e que os cheques de 50 mil não
eram raridade. De acordo com Susan, em determinado ano, havia 50 milhões de dólares
na conta da casa.

Existem muitas críticas quanto ao destino que era dado ao dinheiro, mas a meu ver o
dinheiro não passa de uma pista falsa. É natural que para qualquer habitante de um
mundo capitalista como o nosso o que importa mesmo é o dinheiro. Se ele existe e vai
para as mãos da irmã Teresa, mas não está sendo posto a seu propósito certamente há algo
muito corrupto e ganancioso acontecendo por debaixo do hábito. Obviamente que o mal
uso, ou mesmo o não uso do dinheiro representa um problema, e se isso nos causa
espanto o que dizer quando sabemos que o Vaticano usufruiu de grande parte das doações
e isso talvez explique a canonização da Santa Teresa? Digo que o dinheiro é uma pista
falsa porque a questão não é para onde/quem foi o dinheiro, e sim por que ele não era
usado.

A solução está nos objetivos da Madre Teresa. Veja bem, ela não estava muito interessada
em aliviar o sofrimento das pessoas com o dinheiro, seu objetivo era salvar a alma deles e
dessa forma aliviar o próprio sofrimento inconsciente que vinha muito provavelmente da
perda do pai. Sua mórbida fascinação pelo sofrimento dos mais miseráveis explica por
que ela precisava mesmo era de pessoas que estivessem sofrendo. Vamos construir um
caso, por exemplo, quando questionada a respeito da situação de pobreza numa
localidade de Washington, onde havia uma de suas casas, o seguinte diálogo aconteceu:

“Madre Teresa, o que a senhora espera conquistar aqui?”

“A alegria de amar e ser amado”

"Para isso precisa de muito dinheiro, não?”

“Precisa de muito sacrifício”

“A senhora ensina os pobres a suportar seu fardo?”

“Tem algo de belo em ver os pobres aceitarem o seu fardo, sofrerem como na Paixão de
Cristo. O mundo ganha muito com o sofrimento deles.”

Quando ela diz que quer conquistar a alegria de amar e ser amado, à primeira vista parece
que ela está falando de amar o outro e ser amado pelo outro em retorno. Mas se
pensarmos bem esse amor está repleto da necessidade narcisista que ela tinha de sentir-se
amada. Ao cuidar do doente, ela sente que está preenchendo um vazio em si mesma
agradando o Pai do céu, dessa forma ela sente prazer em ajudar. Na verdade, a satisfação
que vem de se sentir uma pessoa amada precedia o “bem” que ela fazia para os outros. E
ainda tinha um bônus; além de cair nas graças do Pai do Céu ela ainda tinha o amor dos
miseráveis, e eles eram muitos, e quer saber, ainda bem que eram muitos pois segundo ela
o mundo ganha muito com o sofrimento deles (autoestima invejável da irmãzinha, hein?).
Portanto, dessa forma, se continuassem sendo muitos ela teria uma fonte infinita de
satisfação.

Proponho agora uma investigação sobre as possíveis causas dessas atitudes. Quando o pai
da menina Agnes morreu, ela ficou desconsolada e a “escuridão da noite da alma” - como
ela chamava - chegou na sua vida. Nas cartas, que foram mandadas ao Vaticano na
ocasião da sua canonização, Madre Teresa faz questionamentos sobre a existência de
Deus e de como algumas vezes ela chegou a amar e escuridão. De acordo com essas
cartas houve um período obscuro na fé da irmãzinha que culminou na seguinte epifania:
“Hoje senti realmente uma profunda alegria - que Jesus já não pode passar pela agonia -
mas que quer passar por mim. - Abandono-me a Ele mais do que nunca. - Sim - mais do
que nunca estarei à disposição” Eureka! Por que não transformar essa dúvida em fé e
fazer disso o trabalho de uma vida – às custas das vidas alheias, obviamente.

Agora combinemos o trauma da infância com a sensação de desamparo na fase adulta e


temos um caso. Segundo Freud em “O Futuro De Uma Ilusão”, o que acontece com a
pessoa super religiosa é que quando o pai da terra já não ajuda mais então buscamos o pai
do céu. Freud diz que “o anseio pelo pai é a raiz da necessidade religiosa”. Quando
somos crianças nossos pais nos protegem e nos guiam pela vida porque não sabemos
nada sobre ela e somos impotentes diante de tanta coisa. Quando crescemos não é muito
diferente, ainda nos sentimos impotentes diante da vida. Esse desamparo do adulto faz ele
buscar na religião aquele sentimento de proteção e guia que os pais nos deram na
infância. A religiosidade nada mais é do que uma repetição infantil de bunda-molice na
fase adulta. O que dizer então de uma pessoa criada em uma família extremamente
devota que perdeu o pai da terra muito antes de se tornar adulta? Alguém cujo pai da terra
foi para o céu? E que a propósito era um filantropo revolucionário? “Madre Teresa Do
Pau Oco” levou tudo isso ainda mais longe. Ela inconscientemente, mas de maneira
muito eficaz, combinou essa lógica com o princípio do prazer. Freud explicou que “a
libido acompanha as vias das necessidades narcísicas e se apega aos objetos que
garantem sua satisfação”. Obviamente que o que a levava a manter as casas em situação
deplorável era a sua própria necessidade pela miséria alheia, pois o que garantia a
satisfação dela era sentir o pai do céu/da terra passando por ela toda vez que ela
“ajudava” alguém. - “Hoje senti realmente uma profunda alegria - que Jesus já não pode
passar pela agonia - mas que quer passar por mim”

Isso explica por que ela nem tocava direito no dinheiro, ele não fazia diferença, não trazia
nenhum prazer para ela, era na verdade a falta dele que proporciona o que ela mais
precisava, o sofrimento alheio. Vou usar as palavras dela para ilustrar: “Nossos corações
precisam estar cheios de amor por Deus, e já que precisamos expressar esse amor em
ações, naturalmente então o mais miserável dos miseráveis é o meio pelo qual
expressamos esse amor à Ele”. Isso foi dito naquele filme do Muggeridge na ocasião em
que a seita começou, e essa não é a única filmagem dela se entregando. Em uma
entrevista ela contou para a câmera que certa vez ela disse a um paciente terminal: “Você
está sofrendo como Cristo na cruz. Então Jesus deve estar te beijando” na sequência sem
perceber o tiro no pé Madre Teresa conta a resposta do moribundo: “Então que ele pare
de me beijar”.

Assim, como qualquer pessoa que nunca foi questionada, a Madre ficou tão confiante que
no fim da vida simplesmente largou os betes e aplicou um sonoro foda-se! Ela deixou
bem claro que era o sofrimento do miserável que era importante para o mundo, não o
dela. Quando adoeceu, Madre Teresa não hesitou em voar para a Califórnia onde se
internou nos melhores e mais caros hospitais. Já que ela não era pobre nem miserável
então não precisava sofrer, para ela nada de simplicidade já que não há o que corromper.

É quase inacreditável que tenha passado despercebido por tantos anos pelo grande
público o fato de haver algo de errado por trás das ações das Missionárias da Caridade. O
ponto cego na história da Madre Teresa de Calcutá só existe para os voluntariamente
cegos. “Quem tem olhos para ver e ouvidos para escutar, logo se convence de que os
mortais não são capazes de esconder segredo algum. Quem silencia com os lábios, fala
com as pontas dos dedos; declara-se por todos os poros,” dizia Freud. A menina Agnes
Gonxha Bojaxhiu, hoje canonizada como Santa Teresa de Californication, se declarou por
várias vezes, mas poucos tiveram olhos e ouvidos para perceber.

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