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Algumas pessoas pensam que nunca é possível fazermos qualquer coisa diferente daquilo que de facto fazemos neste

sentido
absoluto. Reconhecem que aquilo que fazemos depende das nossas escolhas, decisões e desejos e que fazemos escolhas diferentes
em circunstâncias diferentes: não somos como a Terra, que roda no seu eixo com monótona regularidade. Mas afirmam que, em
cada caso, as circunstâncias que existem antes de agirmos determinam as nossas ações e tornam-nas inevitáveis. O total das
experiências, desejos e conhecimentos de uma pessoa, a sua constituição hereditária, as circunstâncias sociais e a natureza da
escolha com que a pessoa se defronta, em conjunto com outros fatores dos quais pode não ter conhecimento, combinam-se todos
para fazerem com que uma ação particular seja inevitável nessas circunstâncias.

(...) A ideia não consiste em que podemos conhecer todas as leis do universo e usá-las para prevermos o que irá acontecer. Em
primeiro lugar, não podemos conhecer todas as circunstâncias complexas que afetam uma escolha humana. Em segundo lugar,
mesmo quando chegamos a saber alguma coisa acerca dessas circunstâncias e tentamos fazer uma previsão, isso já é uma
alteração nas circunstâncias, o que pode alterar o resultado previsto. Mas a previsibilidade não é o que está em questão. A hipótese
é que existem leis da Natureza, tal como aquelas que governam o movimento dos planetas, que governam tudo o que acontece no
mundo — e que, de acordo com essas leis, as circunstâncias anteriores a uma ação determinam que ela irá acontecer e eliminam
qualquer outra possibilidade.

Se isso é verdade, então mesmo enquanto estavas a decidir que sobremesa irias comer já estava determinado pelos muitos fatores
que operavam sobre ti e em ti que irias escolher o bolo. Não poderias ter escolhido o pêssego, apesar de pensares que podias fazê-
lo: o processo de decisão é apenas a realização do resultado determinado no interior da tua mente.

Se o determinismo é verdadeiro para tudo o que acontece, já estava determinado antes de nasceres que havias de escolher o bolo.
A tua escolha foi determinada pela situação imediatamente anterior, e essa situação foi determinada pela situação anterior a ela, e
assim sucessivamente, até ao momento em que quiseres recuar.

Thomas Nagel – Que quer dizer tudo isto?

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