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Considerações Iniciais
língua (PL2); promover a divulgação e o intercâmbio da produção científica na área; implementar a troca
de informações e contatos profissionais com instituições e outras associações interessadas em PLE e PL2;
promover o intercâmbio cooperativo entre cursos de pós-graduação e pesquisa no que se refere à atuação
docente e discente; apoiar a criação e a melhoria de cursos de graduação e pós-graduação em PLE e PL2.
uma das universidades brasileiras que disponibilizam vagas para o PEC-G e que vem
recebeu, no ano de 2010, alunos oriundos do Haiti, da Guatemala e do Congo.
O trabalho pedagógico realizado no PLEI, que atende alunos PEC-G,
intercambistas de graduação e de pós-graduação, e outros estrangeiros residentes na
cidade, pauta-se na preparação para a certificação Celpe-Bras, pois, acredita-se que,
mesmo que o aluno não venha a realizar tal exame, preparar-se para tal possibilita o
desenvolvimento das habilidades de recepção e produção – tanto na modalidade oral
quanto escrita. Assim, com o intuito de habilitarmos nossos alunos também à
certificação no referido exame, o pressuposto teórico-metodológico que buscamos na
prática didática, que inclui o planejamento, a elaboração de material, a intervenção
prática e a avaliação é a abordagem comunicativa que, segundo Larsen-Freeman
(1986), pretende tornar os alunos comunicativamente competentes. Nesta perspectiva,
mais relevante do que ensinar formas e significados é desenvolver no aluno a habilidade
de selecionar as estruturas que melhor se encaixam na sua situação de comunicação. Ele
deve escolher apropriadamente as estruturas no contexto de interação entre os
interlocutores, nas atividades de produção e recepção, tanto na modalidade oral quanto
escrita. Entendemos que a reprodução de diálogos, com as respostas pré-formuladas,
cópias de frases, repetições de estruturas, entre outras atividades, resumem-se a uma
reprodução automática que não aparenta trazer grande enriquecimento para as
habilidades comunicativas do aluno.
Acreditamos que na utilização de atividades reais de comunicação o aprendiz
observa a língua efetivamente como é usada por seus falantes nativos, diminuindo a
distância entre prática e sala de aula, distância essa tão comum quando se estuda uma
língua estrangeira e que age como barreira na utilização efetiva dessa pelos aprendizes.
Em busca desse resultado, fazemos uso daquilo que podemos chamar de material real,
como revistas, jornais, vídeos, músicas etc. Trata-se, então, de trabalhar o texto a partir
da perspectiva dos gêneros textuais/discursivos, proporcionando ao estudante de PLE
o contato com variados textos que de fato circulam na sociedade. Vale ressaltar que a
proposta baseada na abordagem comunicativa e estruturada a partir dos gêneros também
vai ao encontro do fundamento teórico-metodológico no qual se baseia o exame Celpe-
Bras. A competência do candidato é avaliada por meio de tarefas, tais como a resposta a
uma carta, o preenchimento de um formulário, a elaboração de um folder, a
compreensão de um artigo de jornal ou de uma entrevista. Não se busca aferir
conhecimentos a respeito da língua, com questões sobre gramática e vocabulário, nem
tampouco se exige a metalinguagem, mas a capacidade de uso dessa língua, já que a
competência linguística se integra à comunicativa.
Em função dessa prática metodológica adotada nas aulas de PLE e
considerando que entre as quatro habilidades desenvolvidas na abordagem comunicativa
a escrita é a habilidade delimitada neste trabalho como objeto de investigação,
apresentamos, na próxima seção, os pressupostos teóricos necessários como aporte à
análise dos textos selecionados.
TEXTO 1 2
Oi, Kevin,
2
Os textos aqui apresentados estão digitados na íntegra, tal como foram entregues pelos alunos, apenas
sem a identificação.
Já estou 8 meses aqui e em dois meses tenho que voltar. Você sabe que eu não quero muito, mas
não posso escolher. Tenho muitas coisas aqui que nós não temos na Alemanha. Já me falta meu
suco de limão. Todo dia eu bebo o suco aqui e na Alemanha não temos. Assim, encontrei um
suco em pó. Não é a mesma coisa, mas melhor que nada. Uma outra coisa que vai me falta são
as danças. Gosto dançar muito e tem aqui um lugar chama-se “ponto de cem reis”. Tem toda
semana uma festa lá. Você pode dançar até meia noite ou mais. Na Alemanha nós não podemos
fazer isso por causa do frio. No meia noite você precisar lá de duas camisas ou mais e aqui
você que tora sua camisa. Mas ultimas semanas vou ficar muito na praia. Não tive tempo antes,
mas agora tenho férias.
Uma outra vez você tem que viajar comigo ao Brasil. Quero ver outros lugares no sul também.
Encontrei no fim da semana um moço do Rio de Janeiro aqrui e ele dizze que o portuguesi
[letra incompreensível] e difícil. Quero ver a diferentia.
Então até anguto[augusto] e vamos ver na nossa escola.
Abraço, ***
JP 02-02-2010
TEXTO 1
Olá Alceu Brasinha.
Eu li o teu projeto de lei que amplia o horário das mesas nas calçadas, eu, particularmente,
concordo com o teu projeto. Por que ajuda comerçiantes e pessoas que saem na rua a noite
principalmente na segurança. Onde há muitas pessoas é difícil que alguma coisa ruim
aconteça. Eu te apoio muito porque em meu bairro é assim, nós temos uma segurança total e as
pessoas são livres de andar a noite toda.
****** ******
TEXTO 2
Venho pelo meio dessa carta me posicionar sobre a lei que foi aprovada há algum tempo.
Queria dizer que não sou à favor dessa lei, porque depois de muitas reclamações dos
moradores da cidade, da região boêmias de porto alegre, vi que será difícil aprovar esta lei
pois o povo reclama demais sobre o barulho que fazem os bares durante toda a semana e ainda
até meia noite, mas dessa vez ir até duas horas no fim de semana vai piorar a situação.
Falei com muitas pessoas da região a maioria dos moradores não são satisfeitos por causa do
barulho causada, eles chegam até usar remédios para dormir é por isso que não concordo com
o projeito de lei que amplia os horários para bares, restaurantes e lanchonete pois todo mundo
merece um momento de descança e não vamos agradar só os comerciantes e não os moradores.
Cordialmente,
O representante dos moradores da região.
O que diferencia esta carta é o fato de o autor ter assumido uma identidade:
representante dos moradores da região. Isso possibilita que ele argumente em relação ao
projeto com mais propriedade, pois seu discurso representa o discurso de outros, dos
moradores, dos interessados na questão, grupo a quem ele representa e por quem pode
interceder. Para tal, o argumento utilizado é justamente o resultado da pesquisa de
opinião feita com os moradores. A credibilidade está nos relatos coletados, na voz da
maioria. No entanto, o uso da primeira pessoa do plural, como poderia ser esperado pelo
fato de o texto ser a voz da coletividade, não ocorre. O autor opta pelo pronome eu,
assumindo a responsabilidade pelo envio da carta, mesmo que não seja individualmente
responsável pelo argumento.
Esta característica é o que nos faz contrapor este texto ao anterior: a clareza do
argumento. Também fica evidente a diferença entre ambos, no que diz respeito à
competência linguística do aluno de PLE, o que facilitaria a construção argumentativa,
porém este aspecto não é o foco da nossa análise. Deixaremos, pois, tal discussão para a
última seção.
Se por um lado, apontamos as diferenças, por outro, podemos afirmar que,
igualmente ao primeiro texto, aqui também não encontramos o diálogo com o
interlocutor e a exploração da imagem do vereador. Pelo menos, não de modo explícito.
Apenas podemos inferir que o apelo feito, sendo de desejo dos moradores, seria uma
forma chamar a atenção do vereador para uma camada da população na qual ele deve
prestar a atenção – os moradores da região – opondo-os ao grupo dos comerciantes. No
entanto, não há de fato referência direta ao interlocutor no decorrer do texto.
A hipótese posta aqui é o fato de ser um tanto quanto difícil explorar a imagem
do interlocutor em situações de total simulação. Estamos diante de textos produzidos
por congoleses, que, na época da atividade, estavam imersos no nosso país e na nossa
cultura há oito meses, apenas na cidade de João Pessoa. Portanto, desconhecem a cidade
de Porto Alegre, desconhecem o vereador, assim como também desconhecem as leis
referentes ao tema em pauta. As informações obtidas são apenas as do texto lido, sendo
estas reproduzidas como argumento nas cartas. Seria impossível que tais alunos se
dirigissem ao interlocutor como um cidadão de Porto Alegre faria.
Mas aí está o exercício da escrita, que consiste na adequação aos diversos
contextos de comunicação. A ideia é justamente a de propiciar ao aluno a oportunidade
de simular, de se colocar na condição do outro, de aprender qual seria a linguagem e
qual seria o argumento desse outro locutor, cuja identidade passa a assumir.
Para dar continuidade à nossa análise, passemos ao terceiro texto selecionado,
resultado de uma proposta dada pelo professor da turma de nível avançado, em que
solicitava de seus alunos a produção de uma carta direcionada ao coordenador do
Programa responsável pela oferta dos cursos de PLE. A proposta também delineou o
tema, o qual deveria ser a solicitação de sala de aula.
TEXTO 3
João Pessoa, 19 de outubro de 2009
Cordialmente,
O curso avançado.
Há três pontos relevantes a serem aqui discutidos, pois são neles que podemos
nos embasar para a defesa do texto, no que concerne à adequação ao gênero: a estrutura
formal e linguagem apropriada; o diálogo com o interlocutor; a natureza da
argumentação.
Os requisitos formais são explícitos, tais como local, data, direcionamento ao
interlocutor (vocativo), agradecimento e assinatura. Além disso, é clara a tentativa (e
muito bem sucedida aqui) de se usar a norma culta da língua, porém, sem que isso
impossibilite a presença do autor no texto.
O segundo ponto a ser levantado é o diálogo travado entre autor e interlocutor.
O autor, assinando por um grupo, assume a fala e a voz coletiva, utilizando-se das
marcas linguísticas: somos estudantes estrangeiros, nós temos, e, sucessivamente, a
conjugação de vários verbos. Fala-se aqui por um grupo do qual o autor faz parte, por
isso, sua solicitação não se embasa em um desejo individual, mas em uma necessidade
coletiva, o que ratifica o argumento. Também estão presentes, no corpo do texto e não
apenas no início, as marcas linguísticas de referência ao interlocutor, como: pela sua
instituição; solicitar-lhe; sua consideração. Trabalha-se aí com a imagem deste
interlocutor que, sendo o coordenador do Programa responsável pela oferta do curso,
seria a pessoa com mais competência e autoridade para receber tal reivindicação e
solucionar o problema apresentado. Há, portanto, uma outra relação entre autor e
interlocutor, marcada linguisticamente pela primeira pessoa do plural (quem diz) e a
segunda pessoa (a quem se diz).
A última observação a ser feita em relação ao texto 3 é referente à construção
do argumento. Inicia-se o texto pela contextualização e apresentação dos solicitantes,
momento em que expõem de forma positiva a realização do curso. Esse é um recurso
interessante, pois não permite que a reivindicação soe como uma crítica generalizada ao
curso. Em sequência, de modo pontual e delimitado, faz-se a reclamação e parte-se para
a contra-argumentação, pois antecipa-se uma possível resposta negativa à solicitação e
já se apresenta um dado: a certificação de que há salas vagas.
Tem-se, assim, um roteiro fechado, em que o pedido é posto claramente ao
interlocutor, seguido de justificativa e contra-argumento. As considerações feitas aqui
corroboram para a afirmação de que este texto responde à proposta e se constrói com
total adequação ao gênero esperado.
No entanto, é relevante ainda dizer que, ao contrário dos textos anteriores,
direcionados ao vereador, aqui a proposta de escrita não partiu de uma situação
simulada, mas de uma necessidade real, pois o aluno escreve (ação) sobre o que
vivencia, fazendo uma solicitação real (propósito) a quem conhece (interlocutor) e de
fato receberá e responderá ao seu texto (ação).
5. Considerações Finais
6. Referências