Abrir portas onde se erguem muros Director: David Pontes Sexta-feira, 19 de Janeiro de 2024 • Ano XXXIV • n.º 12.

V • n.º 12.314 • Diário • Ed. Lisboa • Assinaturas 808 200 095 • 2€

Médio Oriente
Palestina: as artes para
desarmadilhar a História
Ípsilon

Líbano, Irão,
Iraque, Síria, Iémen.
e Paquistão: Gaza já é
uma guerra regional
Destaque, 2/3

Amnistia do Papa abrangeu mais

de mil proƊssionais da PSP e GNR
A amnistia disciplinar não tinha limite de idade. Mais de mil proÄssionais da PSP e GNR foram abrangidos,
a nível disciplinar, beneÄciando da amnistia aplicada aquando da vinda do Papa a Portugal Sociedade, 11
MANUEL DE ALMEIDA/LUSA

Crise nos
media
Marcelo exige
transparência
na propriedade
dos órgãos de
comunicação
social
Trabalhadores
do JN e d’O Jogo
suspenderam
contratos
de trabalho

Opinião de Manuel
Caldeira Cabral
Financiar os media
pela consignação
do IRS

Sociedade, 14

Cidades Bubacar Turé Escolha centralizada Cinema no Batalha

Os activistas “Estamos a Líder do PS Jane Birkin: da
da mobilidade matar Cabral encabeça lista nudez à verdade
que lutam por todos os dias” de deputados nua. Ciclo
ruas melhores na Guiné-Bissau por Aveiro começa amanhã
Local, 16/17 Mundo, 18/19 Política, 8/9 e Editorial Cultura, 27/28
ISNN-0872-1548
2 • Público • Sexta-feira, 19 de Janeiro de 2024
Destaque Conflito no Médio Oriente
Irão, Iraque,
Síria, Iémen
e Paquistão:
Gaza já é
uma guerra
regional
Estados Unidos e Reino Unido
bombardeiam um país no Médio Oriente
e não há como não pensar em 2003. Mais
de cem dias depois, ainda não é possível
prever as consequências de Gaza
Sofia Lorena
V
inte anos depois de a inva-
são do Iraque ter feito dis-
parar um conÇito intersec-
tário regional e um novo
jihadismo global, é possível
que outro acontecimento
tenha em si a mesma capacidade
desestabilizadora — e os Estados Uni-
dos arriscam voltar a enredar-se na
região de onde passaram os últimos
anos a tentar fugir. No “novo” Médio
Oriente, aquele que começou a 7 de
Outubro, a diplomacia, que parecia
avançar triunfante, voltou a ser engo-
lida pelo confronto, e o risco de um
conÇito regional alargado passou a
realidade.
AÆnal, o brutal ataque do Hamas e
a feroz resposta israelita que desen-
cadeou mudaram mesmo a realidade
do Médio Oriente. Até que ponto é
cedo para saber, mas o conÇito envol-
ve um número crescente de interve-
nientes (alguns são Estados, outros,
ainda menos previsíveis, milícias) que
se atacam ou aproveitam para se for-
talecer através de demonstrações de
poder. Há cenários novos, como o dos
ataques dos houthis à navegação no
mar Vermelho e países como o
Paquistão e o Irão que atacam um
inimigo comum, pela primeira vez no
território um do outro. E há vícios
antigos, com vários actores a bombar-
dearem alvos na Síria e no Curdistão
iraquiano. Tudo junto, a guerra é total
— e faz vítimas em todos os palcos —,
mas ainda se trava de forma contida.
Só que, à medida que cresce o núme-
ro de intervenientes, aumenta a pos-
sibilidade de um erro de cálculo que
destrua as estratégias de dissuasão
mútuas.
Nas últimas semanas, alguns ata-
ques Æzeram acelerar a regionaliza-
ção do conÇito: Israel terminou o
ano a matar um general dos Guardas
da Revolução iranianos na Síria e
começou 2024 a matar um líder do
Hamas em Beirute, no primeiro ata-
que do género na capital libanesa
desde a guerra entre Israel e o
Hezbollah de 2006. Arouri foi morto
a 2 de Janeiro — a 4, o Irão sofria o
pior ataque suicida desde a fundação
da República Islâmica, em 1979 (rei-
Agentes de segurança paquistaneses num posto de controlo à beira da estrada em Quetta, a capital da provín
vindicado pelo Daesh, que ligou a
acção a Gaza).
Entretanto, os houthis, uma tribo
xiita que nos últimos anos conquistou
grande parte do Iémen enquanto
dava luta à aliança regional liderada
pela Arábia Saudita, lançaram uma
vaga de ataques sem precedentes
contra a navegação no mar Vermelho.
Esgotados os avisos, Washington
começou a bombardeá-los no territó-
rio iemenita, sabendo que há poucas
probabilidades de isso os deter.
Esta semana, novo acelerar. Em
dois dias, o Irão bombardeou alega-
dos alvos da Mossad no Curdistão
iraquiano, “grupos terroristas anti-I-
rão” na Síria, apreendeu um petrolei-
ro americano ao largo de Omã e lan-
çou ataques aéreos contra “terroristas
iranianos em território do Paquistão”,
na província do Baluchistão, matan-
do, segundo Islamabad, pelo menos
duas crianças. A resposta demorou
menos de 48 horas como uma “série
de ataques de precisão altamente
coordenados e direccionados contra”
esconderijos de separatistas na pro-
víncia iraniana do Sistão-Baluchistão.
Os paquistaneses dizem ter matado
vários “militantes”; os iranianos falam
em quatro crianças e três mulheres.
Horas antes dos ataques paquista-
neses, ontem, a Jordânia bombardea-
va duas casas na Síria, matando pelo
menos dez pessoas, segundo vários
grupos de activistas que monitorizam
a guerra no país. Serão os últimos de
uma série de ataques contra suspeitos
traÆcantes de droga ligados a milícias
pró-iranianas que estarão por trás do
aumento da venda da droga psicoes-
timulante captagon no reino.
Dez conÅitos
Num artigo publicado na quarta-feira
na revista The New Yorker, a jornalista
e autora Robin Wright propõe-se
explicar “como dez conÇitos do
Médio Oriente estão a convergir numa
só grande guerra”: “a conÇuência de
conÇitos é vertiginosa”, anuncia.
Israel, escreve Wright, “enfrenta
quatro linhas da frente distintas”:
combate o Hamas na fronteira sul; o
Hezbollah, a norte; e, face à mortan-
dade em Gaza, enfrenta animosidade
crescente no mundo árabe, vinda de
países “próximos” e de alguns com
os quais nunca fez a paz; a quarta
frente, uma “guerra de sombras com
o Irão a desenrolar-se na Síria”, não é
nova, mas também piorou.
O Iémen é um conÇito em si mes-
mo, responsável pela que era, antes
de Gaza, a pior tragédia humanitária
do mundo. Apesar de se ter tornado
uma guerra regional em 2015 — e de
já ter ameaçado transbordar, quando
os houthis atacaram alvos na Arábia
Saudita e nos Emirados Árabes Uni-
dos —, parecia contida dentro de fron-
teiras. Só que os houthis, parte do
“eixo da resistência” formado pelo
Irão e pelos seus aliados, do Hezbollah
aos paramilitares iraquianos da
Kata’ib Hezbollah, têm há muito
ambições regionais, só esperavam
por uma causa que justiÆcasse darem
isso a conhecer ao mundo. “Deus é
grande, morte aos EUA, morte a
Israel, malditos judeus e vitória para
o islão” foi o slogan adoptado depois
da invasão do Iraque.
“Noutras frentes, as forças dos EUA
continuam no Iraque e na Síria para
conter o que resta do Daesh”, escreve
NotíciasFlix
cia do Baluchistão
Wright. Só que essa presença — que
será reforçada com 1500 soldados —,
assim como os porta-aviões enviados
para a região depois do 7 de Outubro,
deixam o país mais exposto. Desde
Outubro que estas forças são alvo de
milícias apoiadas pelo Irão, atacando
de volta sempre que há soldados feri-
dos, numa guerra à distância entre
Washington e Teerão.
Acordo para a Palestina
“Esta é uma história palestiniana”,
escreveu na rede X dois dias depois
do 7 de Outubro Raz Zimmt, analista
de um centro de estudos associado à
Universidade de Telavive. Mas “a ope-
ração do Hamas muda a realidade no
Médio Oriente e isso pode obrigar o
Irão a evoluir da fase actual de apoio
e coordenação para um envolvimen-
to mais directo”, avisava o historia-
dor, especialista na República Islâmi-
ca. Em 2003, a invasão do Iraque
conÆrmou os receios dos líderes ára-
bes sunitas, fortalecendo o do Irão e
criando um “arco xiita” de Teerão a
Beirute, passando pelo Iraque e pela
Síria de Assad. Estavam criadas as
FAYYAZ AHMED/EPA
condições para a formação do “eixo
da resistência”.
Agora, os acontecimentos de 7 de
Outubro e a guerra em Gaza “revita-
lizaram o ‘eixo de resistência’”, escre-
vem os analistas Vali Nasr e Narges
Bajoghli na revista Foreign Affairs. E
depois de tudo o que cada movimen-
to aprendeu com o Irão, os seus mem-
bros “estão a consolidar paciente e
metodicamente uma aliança de for-
ças no campo de batalha regional,
evoluindo rapidamente para algo que
é maior do que a soma das partes”.
Usando tanto a força como as redes
sociais, promovendo a contestação
aos EUA e aos seus aliados ocidentais
e oferecendo uma narrativa alterna-
tiva, o “eixo da resistência” mudou.
Hoje, sustentam Nasr e Bajoghli, “os
EUA não podem nem desmantelar o
eixo nem derrotar as ideias por ele
geradas”: “A única forma de abrandar
o vento que sopra a favor do eixo é
negociar um acordo real e justo para
a questão israelo-palestiniana.”
Sem isso, concluem, “o eixo será
uma realidade regional que os EUA
enfrentarão por muitos anos”.
Conflito regional com dimensões globais
Opinião
Manuel Poejo Torres
N
ós lutaremos nas praias,
nós lutaremos nos locais
de desembarque, nós
lutaremos nos campos e
nas ruas, nós lutaremos
nas colinas; nós nunca nos
renderemos — palavras
imortalizadas no discurso de
Winston Churchill a 4 de Junho de
1940 à Câmara dos Comuns para
controlar a euforia popular e
apelar ao auxílio dos Estados
Unidos da América, depois do
inesperado sucesso da Operação
Dínamo na costa de Dunquerque
que salvou 338.000 soldados
aliados de morte certa.
No mesmo ano, o Japão assinou
o Tratado Tripartite com a
Alemanha e Itália formalizando as
forças do Eixo e garantindo assim
a mundialização da Segunda
Guerra Mundial. Embora os
Estados Unidos se tenham
mantido neutrais, responderam
com sanções económicas à
invasão da Manchúria, o que
resultou em grave escassez de
recursos naturais necessários
para alimentar a máquina de
guerra nipónica. No dia 7 de
Dezembro de 1941, o Japão
bombardeou a base naval
americana em Pearl Harbor numa
voraz projecção de força militar
objectivando impedir a
interferência americana no teatro
do PacíÆco e impondo-se como
poder hegemónico no
Índico-PacíÆco. Arrastando os
Estados Unidos para a guerra, o
Japão selou inadvertidamente o
destino do Eixo, e da guerra.
O primeiro quartel do século XXI
não foi poupado nem a guerras,
nem a crises internacionais.
O conÇito no Darfur, onde
300.000 pessoas foram vítimas do
primeiro genocídio do século, ou
guerras como o do Tigré na
Etiópia, onde se estimam mais de
100.000 mortos, ou a violência e
sofrimento humano causados pela
sequência de golpes de estado em
toda a região do Sahel africano,
retratam graves episódios
políticos com tendência para se
expandirem e multiplicarem.
Também as guerras no
Afeganistão (2001-2014), e no
Iraque (2003-2011)
impressionaram pela vasta
dimensão operacional, pelo
número de actores internacionais
envolvidos e pela complexidade
das dinâmicas geopolíticas
Público • Sexta-feira, 19 de Janeiro de 2024 • 3
regionais e internacionais.
Embora existissem dinâmicas
sensíveis nestas geograÆas do
mundo, o Ocidente determinado,
liderado resolutamente pelos
Estados Unidos da América foram
hábeis navegadores, contornando
precipícios políticos, contendo o
conÇito e impedindo a sua
mundialização.
A guerra na Ucrânia representa o
retorno do pesadelo à Europa, o
ressuscitar da guerra convencional
mas mais importante, presta
testemunho da fraqueza política e
militar da União Europeia e dos
Aliados Atlânticos. A pressão russa
aparece em crescendo, medindo o
pulso às democracias liberais,
enquanto patrocina milícias
separatistas na Geórgia e na
Ucrânia. Atestada a prostração
estratégica do Ocidente europeu
em 2014, a Rússia avança para a
Crimeia. No entanto, a invasão
territorial da Ucrânia em 2022
acordou a Europa adormecida,
unindo-a no combate às
autocracias emergentes, e de
forma idêntica à resposta dada
após o 11 de Setembro, os Estados
Unidos lideraram uma operação
internacional de isolamento
político, económico e Ænanceiro da
Rússia.
Em semelhança aos eventos da
Segunda Guerra Mundial em que
os Estados Unidos sancionaram o
Japão, também a Rússia procurou
meios alternativos para perturbar
o statu quo internacional, dividindo
para conquistar, patrocinando
múltiplas crises no continente
africano e em especial no Médio
Oriente.
O conÇito entre o Movimento de
Resistência Islâmica (Hamas) e
Israel por via das suas sensíveis
dinâmicas geopolíticas, deu lugar a
um conÇito transnacional com
contornos preocupantes que
podem levar à sua mundialização.
A falta de resultados diplomáticos
positivos face à explosiva situação
político-militar em Gaza, expressa
bem a conÇitualidade vincada
entre Estados, actores e
sociedades. Depois de 2021,
quando Donald Trump assinou os
Acordos de Doha com a liderança
taliban, anunciando
unilateralmente o Æm das
operações militares americanas no
Afeganistão, os Estados Unidos
removeram-se politicamente da
região claramente enfraquecidos.
A colaboração da Rússia com o
Irão, com a Coreia do Norte e com
a China, evidencia contornos de
alinhamento estratégico com
implicações globais. O
enfraquecimento do Ocidente
colectivo e da sua liderança
americana possibilita não apenas o
aparecimento de um novo Eixo
autocrático, mas incapacita as
democracias de conterem a
expansão dos conÇitos regionais.
Nos últimos dias assistimos a um
aumento exponencial na cadência
de ataques transfronteiriços. Nesta
semana a Turquia atacou posições
curdas no Norte da Síria e Norte do
Iraque; o Irão atacou posições
curdas nos mesmos países, e do
grupo separatista do Baluchistão
no Paquistão; a Jordânia atacou o
Sul da Síria para destruir pontos de
acesso ao tráÆco de armas; os
houthis do Iémen condicionam as
linhas de navegação e actividade
mercantil com impactos globais.
Face à arquitectura do sistema
internacional e ao desenho das
diferentes dinâmicas de poder,
entre Estados Unidos da América,
Rússia e China, o conÇito no Médio
Oriente é hoje uma guerra regional
com amplas dimensões mundiais.
Cabe à liderança política do mundo
livre garantir a contenção do
conÇito e impedir a multiplicação
de ataques transfronteiriços, sob
pena da repetição histórica das
guerras do século XX.
Doutorado em Ciência Política e
consultor da NATO desde 2013
IBRAHEEM ABU MUSTAFA/REUTERS
4 • Público • Sexta-feira, 19 de Janeiro de 2024

Espaço público

Pedro Nuno Santos e a sombra da TAP

P
edro Nuno Santos chegou
Editorial demasiado cedo à corrida
para primeiro-ministro. O
ex-ministro socialista
recolheu a uma posição
mais discreta depois de ter saído do
Governo por ter reconhecido que,
Marta Moitinho Oliveira aÆnal, tinha aprovado a
indemnização de meio milhão de
euros à ex-administradora da TAP.
A ideia era deixar passar um
tempo, preparar-se e, num momento
político mais à frente, disputar o
cargo de secretário-geral do PS.
Mas tudo se acelerou. E, pouco
mais de um ano depois de deixar o
executivo, Pedro Nuno Santos já
lidera o partido, e as eleições
Pedro Nuno Santos legislativas estão ao virar da esquina.
mostrou já ter um guião Problema? Como se livrar do caso
traçado, do qual deverá TAP que durante meses exibiu na
socorrer-se sempre comissão parlamentar de inquérito
as entranhas de um processo que
que na pré-campanha deixou muita gente mal na fotografia.
e na campanha a crise Ontem, Pedro Nuno mostrou já ter
da TAP vier à tona um guião traçado, do qual deverá
socorrer-se sempre que na
pré-campanha e na campanha a crise
da TAP vier à tona. Instado pelos
jornalistas a comentar a batalha
jurídica entre a companhia aérea e a
ex-presidente executiva Christine
Ourmières-Widener, Pedro Nuno
Santos avançou com sete
argumentos: “Não vou comentar”,
“não fui eu que [a] demiti”, “não há
factos novos”, o caso TAP foi
“escrutinado”, “não é
responsabilidade dos ministros
sectoriais” tratar dos contratos de
gestão, “herdei a responsabilidade
por uma empresa” com prejuízo que
hoje está “saudável e a dar lucro”,
resultados estes que, conclui, devem
ser usados para medir o trabalho de
um ministro.
Compreende-se que Pedro Nuno
Santos queira afastar de cima de si
esta sombra, mas se é certo que os
resultados são relevantes, é também
importante saber como se chega a
eles. E neste ponto há dois aspectos a
ter em conta.
Em primeiro lugar, é fácil encontrar
notícias de 2023 sobre os lucros
recorde ou os lucros que disparam
nas outras companhias aéreas na
Europa. O que nos pode deixar com
uma pergunta: era possível ter um
mau resultado quando o sector vive
um momento bom?
Em segundo lugar, a avaliação dos
resultados não nos deve demitir de
analisar as práticas da empresa. E o
que se viu na comissão de inquérito
era que uma das maiores empresas
do país era gerida informalmente,
sem que fossem sempre respeitadas
as melhores práticas empresariais. É
também disto que se está a falar
quando se pergunta pela TAP.
Se vencer as legislativas de 10 de
Março, Pedro Nuno Santos terá
oportunidade de escolher os
ministros que partilham a tutela
sectorial e Ænanceira da TAP e
garantir que os erros do passado não
se repetem.

CARTAS AO DIRECTOR
Ortograficamente
acordados? Não...
Bem-haja Nuno Pacheco por não
largar o Acordo OrtográÆco (AO),
que o desinteresse público e o tabu
político sobre este tema são
impróprios. “Ao que uma coisa é, é
como é, ou é porque é, chama-se
essência.” É o início de A Origem
da Obra de Arte, de Heidegger. Mas
poderia ser A Origem da Palavra. É
sobre a essência greco-latina de
grande parte da palavra em
português que o AO faz
palimpsesto. Para quê? É uma
perplexidade kafkiana. Para nada.
Nada se ganha, e perde-se a ligação
à preciosa origem clássica, prenhe
de fundamento ÆlosóÆco, o étimo,
pulso do signiÆcado. Porquê virar
costas à proveniência, se na origem
está a potência da verdade? Virar a
língua para além-mar é
transformá-la no sucedâneo. Não
faz sentido, e nenhum país
europeu o faz. Ficámos mais longe
das línguas europeias de
etimologia comum. E mais perto
de quê, exactamente?
Maria Afonso, Lisboa
Querer fazer omeletes
sem partir os ovos
É compreensível a apreensão
demonstrada por produtores
vitivinícolas da zona de Anadia
que ontem, num artigo no
PÚBLICO, se queixam de um
viaduto de 1,5km de extensão e
14m de largo e a 200m das adegas
que lhes vai atravessar os terrenos.
Foi, segundo a dona da obra, a IP,
a mais consentânea e a menos
prejudicial das soluções,
sobejamente discutida com os
locais.
Meça-se, sim, o interesse
público vs. o interesse privado.
Pague-se as indemnizações
devidas. E construa-se. Dá que
pensar como o país que ainda
não tem 1m de alta velocidade
ferroviária e que se exalta
discute, vem para os jornais,
opina, contrapõe, reÆla, manda
refazer — tudo desejável e
bem-vindo — é o mesmo país que
construiu 3000 km de
auto-estradas.
Será que as obras rodoviárias
recorrem a uma anestesia e
amnésia gerais durante e após a
construção?
Eduardo Miranda,
Vila Nova de Famalicão
O Chega é um partido
muito perigoso
O Chega é um partido racista,
xenófobo, algo misógino,
populista, demagógico, falso,
boçal. É verdade. É muito perigoso
para a democracia. É verdade.
Mas é urgente termos consciência
do seguinte, duma vez por todas:
o eleitorado do Chega não é só
classe baixa do interior ignorante
e analfabeta, manipulável, como
todos gostam de pensar. Não. Uma
parte muito, mas mesmo muito
signiÆcativa deste eleitorado é
classe média e alguma classe alta,
que foi muito maltratada e perdeu
direitos, poder e prestígio social.
São professores, enfermeiros,
forças de segurança, médicos,
funcionários judiciais,
funcionários públicos, eleitorado
culto. Estes eleitores sabem
perfeitamente o que é o Chega.
Mas estão cheios de raiva, de
fadiga, de frustração e alguns até
de ódio, que acumulam há muito,
muito tempo, e que já vem desde
o tempo da troika. Vão usar o
Chega para castigar com muita
dureza a classe política que os tem
maltratado. A democracia
portuguesa precisa deste cartão
vermelho de protesto para ver se
pára de brincar com os cidadãos e
amadurece mais. Resta passar à
frente, aprender esta dura lição e
evitar que volte acontecer no
futuro.
Estêvão Emanuel Fernandes,
Mirandela
Esta é sarcástica
Estamos já em plena campanha
eleitoral e os partidos tentam
‘comprar’ o nosso voto com
promessas mesmo que
irrealizáveis porque sabem de
longa experiência que eleição
ganha é promessa esquecida ou,
subitamente, incumprível porque
aÆnal o estado das Ænanças não o
permite e ‘eles’ foram enganados
por quem antes governou. Banha
da cobra, alguém o diz pois como
sabemos o povo é sereno mas
também ingénuo.
O universo de reformados a que
pertenço, força votante que há que
cativar, tem sido ‘aliciado’ com as
mais belas promessas e não foi por
acaso que, de repente — milagre,
milagre! —, o PS, quando governo,
achou que a actualização das
pensões deveria cumprir a inÇação.
Acho porém que a ‘classe’ a que
pertenço não deve ter uma posição
meramente passiva nesta luta entre
partidos pelos seus votos com
promessas e, como em qualquer
contrato, neste caso entre mim,
votante, e os partidos, deve haver
uma negociação. Você promete
10%, eu contraproponho 20. V. Ex.
ª diz que me dá mil, mas para eu
votar em si não o faço por menos
de dois mil. Assim é que este
‘concurso’ Æca equilibrado, a gente
chega (sans blague!) a um acordo e,
com a minha desinteressada ajuda,
ainda poderão vir a ser governo. Só
é preciso é negociar e, como
sabemos, o bom negócio é aquele
em que ganham ambas as partes.
Vamos a isso?
Jorge Mónica, Parede

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ESCRITO NA PEDRA A emenda paralisante
Não existe meio
mais seguro Ainda ontem
para fugir do
mundo do que
a arte, e não há
forma mais
segura de se Miguel Esteves Cardoso
O
unir a ele do s portugueses são peritos em
fazer emendas locais. Durante
que a arte muito tempo levei a mal, mas
acho que estou Ænalmente a
Johann Goethe perceber qual é a ideia. Eu digo
“o ser humano é teimoso:
prefere falhar a desistir”. E vem logo a
O NÚMERO emenda paralisante: “Bem, em Vila Real não
90
é assim. O pessoal lá desiste imediatamente.
Não são como os outros transmontanos.”
Eu digo “os gatos gostam de peixe”. A
emenda paralisante não se faz esperar: “O
meu não.” A frase favorita dos emendadores
paralisantes é: “Não é bem assim.” É
maravilhosa porque, pensando bem, nada
deste mundo é “bem assim”.
Baixas de doentes oncológicos, Alguém diz: “Em França, falam francês.” E
cardíacos e vítimas de AVC vão o empata não resiste: “Não é bem assim.”
ter validade de 90 dias. Em situa- Outro observa, já muito à cautela, que “os
ções de tuberculose, o prazo é cavalos tendem a ser mais altos do que os
estendido até aos 180 dias burros”. E vai o lança-água: “Nem sempre é
ZOOM ESTADOS UNIDOS
Actuação da claque feminina dos Boston Celtics numa das paragens do jogo frente aos San Antonio Spurs,
realizado no TD Garden
assim.”
Mesmo no domínio cientíÆco, já não se
pode dizer que 2 e 2 são 4, porque há sempre
um desmancha-prazeres que diz: “Isso
depende.” Ou “isso hoje já não é bem assim”.
O lema destes rigorosistas, que não deixam
passar uma aÆrmação sem a qualiÆcar,
também podia ser: “Olhe que não”. É o que
diz, de peito cheio, a gazela heráldica ao leão
heráldico, prostrado e confuso diante dela.
O que entretanto percebi é que estas
emendas paralisantes não se destinam a
desmotivar quem ousa fazer qualquer tipo de
aÆrmação geral. Não, é muito pior:
destinam-se a dar cabimento a essas
aÆrmações. São verdadeiras emendas:
aperfeiçoam os grandes pronunciamentos,
dando-lhes a verdade eterna que cobiçam.
Assim, diria: “A não ser em Vila Real, o ser
humano prefere falhar a desistir.” E o
universo poderia Æcar descansado: nenhuma
mentira tinha sido dita.
Em vez da grosseira generalização que seria
dizer que “as crianças gostam de gelado”,
podemos ascender à universalidade das
grandes leis da física: “As crianças, à excepção
da minha prima Madalena, que é parva,
gostam de gelado.”
Está pronto para pôr numa estátua. Os
emendadores paralisantes não são
relativistas: são sociólogos.
WINSLOW TOWNSON/USA TODAY SPORTS
Público • Sexta-feira, 19 de Janeiro de 2024 • 5
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6 • Público • Sexta-feira, 19 de Janeiro de 2024

Espaço público

Ventura não se moderou. Pelo contrário

NELSON GARRIDO

Francisco Mendes da Silva

H
á cerca de vinte anos, numa
pista de dança, quando a
inevitável Nowhere fast, dos
Fire Inc., atingia o seu clímax
Ænal — “Godspeed! Godspeed!
Godspeed! Speed us away!” —,
um amigo aproximou-se e cantou-me ao
ouvido: “Carl Schmitt! Carl Schmitt! Carl
Schmitt! Schmitt us away!” Eu sabia que a
canção era um exemplo do chamado “rock
wagneriano”, mas foi aquela sugestão
homofónica que na minha cabeça
transformou para sempre o alvoroço
dramático dessa Cavalgada das Valquírias
pop num hino fascista cómico e acidental.
Carl Schmitt caiu em desuso depois da
desgraça dos autoritarismos de direita do
século XX, dos quais tinha sido o grande
pensador político e jurídico. Foi também
com base na sua tese de que a política
assenta na divisão entre “amigos” e
“inimigos” que as ditaduras europeias
justiÆcaram que o papel de um líder não é o
de descobrir modos de convivência pacíÆca
entre todos os membros de uma servem para construir uma base social de É óbvio que o Chega não tem uma muita da energia populista capturada hoje
comunidade (como defendem em geral as apoio própria dos partidos extremistas, organização de juventude militarizada nem pelo Chega já o foi no passado pelo PCP e
doutrinas do liberalismo político), mas a de assente na divisão “amigo” vs. “inimigo”. uma proposta revolucionária sobre a ordem pelo BE.
identiÆcar os inimigos internos e externos De resto, os “inimigos” a perseguir são os constitucional do país (ainda que as suas No entanto, André Ventura é de longe o
que devem ser expulsos da comunidade. “parasitas” de sempre: os estrangeiros, os ideias sobre a redução drástica do número de que parece vir a ser mais recompensado
Vale a pena estar atento à actual imigrantes, as minorias étnicas e raciais, os deputados e o reforço do presidencialismo, enquanto líder anti-sistema. Há várias razões
popularidade de Schmitt nas franjas radicais “subsidiodependentes” e as elites embrulhadas no slogan da “IV República”, para isso: o seu talento raro para a
do pensamento da direita e da esquerda, degeneradas, a começar pelos banqueiros apontem claramente para uma visão demagogia, a onda populista internacional, a
ambas ansiosas por “grelhas de análise” que (ontem com a arma do anti-semitismo, hoje caudilhista da legitimidade política). desnecessidade de mediação oferecida pelas
as ajudem a superar a democracia liberal. com a da taxação agressiva). Tudo com base O problema é que essa precisão cientíÆca redes sociais, a degradação da imagem dos
No último domingo, não consegui evitar na mentira sobre a gravidade iminente dos sobre o que o fascismo acabou por ser políticos, a incapacidade crónica de os
franzir ironicamente o sobrolho quando problemas, para dar ao eleitorado mais esquece o que o fascismo começou por ser, sucessivos governos darem satisfação às
percebi pelos directos televisivos que susceptível a ideia de que existe uma solução quando construiu a sua base social de apoio. necessidades das pessoas em aspectos
Nowhere fast foi a banda sonora escolhida política simples para a sua sensação difusa Como escreveu o historiador A.J.P. Taylor centrais das suas vidas.
para o momento festivo de encerramento da de insegurança. nos anos 50, “o fascismo é a verbalização do Mas há um outro motivo pelo qual ele é tão
convenção do Chega, ela própria disparada Às vezes discute-se se o Chega é fascista. irracional, pelo que a tentativa de o reduzir a apelativo para o eleitorado que procura um
dos altifalantes num volume autoritário que Os termos habituais desse debate são parâmetros racionais se derrota a si mesma”. megafone do ressentimento. É que ele não se
praticamente impediu os representantes dos bastante absurdos, porque para a No seu âmago, a característica central do limita a ser um demagogo rotineiro, como os
partidos convidados de comentarem os comparação se utilizam as características fascismo foi o incitamento a uma “psicologia que há por sistema no sistema. Ventura vai
trabalhos. Hugo Soares que o diga. dos partidos fascistas quando o fascismo já da indignação”, a uma “sensação de agravo mais longe e usa a fórmula de sucesso dos
Não pretendo retirar conclusões estava organizado numa simbologia, numa social”, a uma “barafunda de emoções verdadeiros extremistas. Não escolhe a fonte
exageradas de uma escolha musical, muito liturgia e numa ideologia sobre a sombrias e incoerentes”, e à “violência sobre do agravo, não se agarra só aos instintos da
menos com base numa historieta pessoal. comunidade e o Estado. os elementos considerados exteriores à direita. Tanto se atira aos pobres da
Aliás, para os militantes do Chega, salvo comunidade”. Em que é que o Chega não imigração e dos subsídios como aos ricos dos
porventura Diogo Pacheco de Amorim e encaixa nesta deÆnição? bancos e das gasolineiras. É esse populismo
mais uma ou duas excepções, “Carl Schmitt” Todas as democracias têm bolsas de de escopo largo, pouco preocupado em ser
é o treinador do BenÆca. descontentamento contra o “sistema”. É coerentemente “de direita”, que o faz
Só que, se há conclusão da convenção que uma energia catártica, não necessariamente crescer tanto.
me parece realmente exagerada, apesar de negativa, que não é canalizada sempre pelos E é esse crescimento que ameaça levá-lo à
consensual nos analistas, é a de que André O Ventura que vimos mesmos. Pode sê-lo pela direita ou pela orla do poder, acolhido por quem se
convenceu de que, no país da guerra
Ventura se “moderou” (só porque deixou de
falar de ciganos, castração química e prisão
na convenção é um líder esquerda, por partidos inorgânicos ou até
por partidos ideológicos. Nem sempre há permanente entre dois blocos políticos,
perpétua). puramente schmittiano, uma coincidência absoluta entre o inaugurado em 2015 por António Costa, toda
Discordo. O Ventura que vimos na a direita é coerente entre si na missão de
convenção é um líder puramente
que recorre às tácticas posicionamento desejado pelos partidos e a
utilidade que o povo vê neles. Quando a inÇigir ao PS a vingança que tarda. Eis, hoje,
schmittiano, que recorre às tácticas e aos e aos temas típicos ideologia é suÆcientemente marginal e o ressentimento mais determinante da
política em Portugal.
temas típicos do extremismo de direita. Não
só o contemporâneo, mas também o de há
do extremismo irredutível, a sua real mais-valia, aos olhos do
eleitorado, é a de oferecer um voto “de
cem anos. Todo o seu discurso e programa de direita protesto” contra a “situação”. É por isso que Advogado

Portugal precisa é de mais imigrantes
Susana Peralta
Os trabalhadores
estrangeiros são essenciais
para alguns setores de
atividade, que “entrariam em
colapso” sem eles
U
m trabalho da Joana Gorjão
Henriques da semana passada,
aqui no PÚBLICO, dava conta
das diÆculdades das
associações de apoio a
imigrantes, constrangidas a
dispensar funcionários por falta de
Ænanciamento. As organizações eram
Ænanciadas por fundos europeus, cujo prazo
de execução terminou a 31 de dezembro e o
Governo não assegurou continuidade do
Ænanciamento. Ou melhor: assegurou, com a
abertura de um novo concurso para
Ænanciamento a partir de 1 de janeiro... só que
esse concurso ainda não tem resultados.
Uma responsável citada explica que, “com
base na experiência anterior, até os fundos
estarem disponíveis para as associações após
a divulgação dos resultados pode demorar no
mínimo dois meses, ou seja, seriam quase
cinco meses sem financiamento”. O Governo
promete retroativos, mas nem todas as
associações conseguem suportar os encargos
neste intervalo de tempo. O resultado é a
limitação dos meios disponíveis no terreno
para o apoio essencial aos imigrantes em
Portugal. A começar pelo “mar de
burocracia” em que mergulham, como
denunciou recentemente o Serviço Jesuíta
dos Refugiados, que só conseguem navegar
com a ajuda destas associações.
Recordo também os armazéns insalubres,
como o da Lourinhã e os algarvios, que
servem de residência a imigrantes como
Laxman Shrestsha, professor nepalês a residir
no Algarve. Em abril do ano passado, Laxman
explicava ao PÚBLICO: “Sonhava com a
Europa como o lugar onde a minha vida ia
mudar [, mas] nem no Nepal passamos por
estas coisas.” Viver num armazém em cujas
traseiras se alinham “seis sanitas, com
paredes de chapa castanha da ferrugem, (...)
em cubículos sem portas, ou portas que não
fecham” não configura tráfico de pessoas;
para isso, é preciso que ocorram situações
mais graves, como confisco de documentos.
Isto cria um vazio: as câmaras alegadamente
não têm capacidade e queixam-se da inação
da Autoridade Tributária e do Governo
central. Mais uma excelente razão para
financiar as organizações de proximidade.
Relatos de situações de tráfico também não
faltam. No final de novembro, foram detidas
28 pessoas devido à exploração de pelo
menos 100 imigrantes. Em junho e dezembro,
operações da Polícia Marítima identiÆcaram
um total de 750 imigrantes na apanha ilegal
de bivalves. Recuando ao Ænal de 2022,
encontramos a notícia da operação da PJ que
resgatou meio milhar de imigrantes em
condições de semiescravidão: “Mais de 70
pessoas a dormir num alojamento com uma
única casa de banho, colchões nas próprias
casas de banho, amontoados em várias
divisões (...) a ganhar entre 5 e 10 euros por
semana, forçadas a mendigar para
conseguirem sobreviver.” Convém recordar
que os imigrantes ilegais não costumam ligar
às autoridades a pedir ajuda. Outra excelente
razão para Ænanciar as organizações que os
apoiam.
A falta de meios das organizações causa-me
bastante perplexidade porque a dignidade
dos imigrantes devia ser uma prioridade
absoluta das nossas políticas públicas, por
várias razões. A primeira é de ordem ética
perante seres humanos em situação de
grande precariedade Ænanceira, emocional e
legal.
A segunda razão é pragmática. Os
imigrantes trazem-nos aumento da população
num país em declínio populacional,
rejuvenescimento num país a envelhecer,
resolvem problemas de escassez de mão de
obra em alguns setores e, sem surpresa,
oferecem uma contribuição positiva para a
segurança social. Segundo o último relatório
do Observatório das Migrações (OM),
publicado em dezembro, representam 7,5%
das pessoas que residem em Portugal e desde
A dignidade dos
imigrantes devia
ser uma prioridade
absoluta das nossas
políticas públicas,
por várias razões
2019 os saldos migratórios positivos mais do
que compensam os saldos naturais negativos.
As mulheres estrangeiras foram responsáveis
por 17% dos nascimentos, pelo que a
imigração também contribui para um saldo
natural menos negativo.
Os imigrantes já representam 13,5% dos
contribuintes para a segurança social e as suas
contribuições chegaram a 1861 milhões de
euros. Como os imigrantes reformados
(também os há, sobretudo da UE) não
recebem pensões portuguesas e há uma
maioria em idade ativa, custam pouco
dinheiro à segurança social, pelo que deram
lucro. Este resultado muito positivo é
igualmente reÇexo da taxa de atividade dos
estrangeiros em Portugal, que é superior à dos
nacionais.
Os trabalhadores estrangeiros são
essenciais para alguns setores de atividade,
que “entrariam em colapso” sem eles, ainda
segundo o relatório do OM. Quase um terço
tem ocupações não qualiÆcadas e outros 20%
são trabalhadores da indústria ou construção,
artíÆces, operadores de máquinas e
trabalhadores de montagem. Ou seja, os
imigrantes estão expostos a maior
precariedade, relações laborais mais
instáveis, salários mais baixos e maior
sinistralidade em setores como a construção
civil, hotelaria e restauração, serviço
doméstico: outra ótima razão para deixar as
organizações de apoio continuarem o seu
trabalho.
A terceira razão é de ordem política. A
moção temática “Portugal precisa de mais
portugueses”, apresentada na convenção
nacional do Chega, agita todas as bandeiras
típicas do discurso xenófobo e anti-imigração.
Está lá a suposta destruição da “nossa”
cultura: “Basta sair à rua em qualquer vila e
cidade do nosso Portugal para vermos que a
nossa população está a sofrer uma mudança
nas suas características fundamentais:
cultura, religião, idioma, costumes.” Está lá o
colapso dos serviços sociais (quando sabemos
que, pelo contrário, os imigrantes são
contribuintes líquidos!): “Basta ver a crise na
habitação, o colapso do SNS, o caos nas
escolas com turmas cada vez menos
portuguesas e a falta de vagas nas creches.”
Está lá o crime: “Importar gente de qualquer
lugar para vir trabalhar ao preço da chuva — se
tiverem sorte. Se não tiverem, depressa cairão
na mendicidade, no mundo das drogas, na
pequena criminalidade.” E, claro, não podia
faltar a grande substituição: “Basta ir a
qualquer maternidade e ver esse ‘novo
Portugal’ que nos estão a impor — na
Maternidade Alfredo da Costa, um em cada
três bebés já é Ælho de mãe estrangeira (...)
chamam-se Aariz, Snyam e Thomas os
primeiros bebés do ano.”
Quando escolhemos conviver
coletivamente com as condições desumanas
em que alguns imigrantes vivem entre nós,
estamos a contribuir para o terreno fértil em
que crescem as narrativas de quem os
pretende desumanizar. Não é com apoios
retroativos que vamos lá.
Professora de Economia na Nova SBE.
Escreve à sexta-feira
Público • Sexta-feira, 19 de Janeiro de 2024 • 7
Um dia destes
Fábrica
de criadas
Afonso Cruz
A
Esperança não visitava a irmã
com a frequência expectável
de quem vive na mesma
cidade: na cidade nunca há
tempo para nada, nunca dá
jeito, vai-se adiando, um dia
por ter de ir com a cadela ao veterinário,
depois porque está a chover, a seguir
porque é dia de limpezas, e a frase “um dia
destes temos de combinar um café” é a
manifestação amistosa de um desejo que
não dá jeito nenhum cumprir. Contudo, por
vezes acontece, a Esperança apareceu um
dia para tomar café com a irmã, levando
consigo alguns livros para emprestar, tens
de ler estes, São, vais adorar. Eram novelas
românticas, como era hábito, mas de um
novo autor que começara a fazer algum
sucesso nos quiosques e papelarias. A São
abriu um dos livros, leu uns trechos: “Usava
um cafetão de lã branca e fez vermelho,
cabelos grisalhos, muito alto e esguio, com
barba pontiaguda e babuchas amarelas.
Levava uma mala de couro que pousou na
mesa, abrindo-a de seguida e exibindo
milhares de dólares com que iria
prodigalizar os inúmeros criados que
abundavam no casino. Não usava aquele
dinheiro para apostar, as suas apostas eram
sempre muito mais complexas, as suas
apostas não caberiam numa mala de couro
(…) recostada num canapé forrado com
tecidos persas, a madame Rose fumava
cigarrilha para assegurar o lugar-comum. A
sua proÆssão exigia determinados adereços
que, muitas vezes anacrónicos, conferiam a
aura requerida pelos clientes. O conforto é
dado pela expectabilidade e não pela
surpresa e a madame Rose era um corpo
expectável, de robe chinês e chinelas
turcas.” A São teve um sentimento de
familiaridade com aquela escrita, pareciam
as histórias do Moisés, daquelas que
ninguém levava a sério, ninguém acredita
em ti, Moisés. A São leu alto o nome do
autor, talvez esperando que fosse Moisés,
mas não tinha nada que ver, era um nome
francês. Acabou por ler todos os livros do
escritor, primeiro os que a Esperança lhe
emprestou — e que a São não devolveu — e
depois os que encontrou à venda, lendo
alguns deles mais de uma vez. Sempre que
fechava um daqueles livros, fazia-o
emocionada dizendo “ninguém acredita
em ti”.
Não perca o podcast com
Fábrica
de criadas os textos lidos pelo autor.
AFONSO
CRUZ
Ao fim-de-semana,
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8 • Público • Sexta-feira, 19 de Janeiro de 2024

Política Socialistas ultimam listas de candidatos às legislativas de Março

Líder do PS
centraliza
escolha de
deputados
e encabeça lista
por Aveiro
“Nunca trocaria o meu distrito por
outro”, diz o líder do PS, que centralizou
o processo das listas. De caminho, atira
a Montenegro, que concorre por Lisboa
Ana Sá Lopes, David Santiago
e Maria Lopes
Pedro Nuno Santos é o candidato
número um da lista do PS por Aveiro.
É esta a única certeza absoluta da
composição das listas de deputados
socialistas que vai ser aprovada na
reunião da comissão política de terça-
feira. O secretário-geral está a centra-
lizar o processo, fechando-o a sete
chaves, como já tinha feito com a
escolha do secretariado e da comis-
são política.
“Nunca trocaria o meu distrito por
nenhum outro”, diz Pedro Nuno San-
tos ao PÚBLICO, numa óbvia alusão
a Luís Montenegro, que decidiu dei-
xar o seu círculo natal — o mesmo de
Pedro Nuno, Aveiro — para ser o pri-
lista neste círculo eleitoral, o candi-
dato derrotado nas directas socialis-
tas reforçou o seu peso no PS com os
resultados obtidos na eleição interna
e, como tal, volta a garantir uma posi-
ção com protagonismo nas legislati-
vas de Março.
Na Federação da Área Urbana de
Lisboa, as informações recolhidas
pelo PÚBLICO permitem perceber
que há dois nomes apontados às duas
primeiras posições: a deputada e ex-
-ministra Alexandra Leitão e o minis-
tro do Ambiente, Duarte Cordeiro,
dois socialistas do núcleo mais restri-
to de apoiantes de Pedro Nuno San-
tos. Falta, porém, decidir quem lide-
“A TAP é, no essencial, um caso de sucesso”, diz Pedro Nuno Santos
rará a lista. Alexandra Leitão, que foi
cabeça de lista por Santarém em 2019 Líder socialista reage às críticas da oposição sobre a sua governação
e 2022, foi a coordenadora da moção

meiro candidato da lista da coligação
Aliança Democrática por Lisboa.
As listas estão a ser construídas
pelas concelhias e distritais e, na sua
maioria, serão aprovadas entre hoje
e segunda-feira pelas comissões polí-
ticas distritais, para que possam ir à
reunião da comissão política nacional
prevista para terça-feira. Aí, o secre-
tário-geral vai fazer valer o seu direito
estatutário a escolher, no máximo,
30% do número de deputados eleitos
por cada círculo na última eleição.
Tendo em conta que o PS teve maioria
absoluta, Pedro Nuno Santos tem ago-
ra poder sobre mais nomes — e tam-
bém tem de fazer contas de cabeça
para integrar candidatos que apoia-
ram José Luís Carneiro nas directas e
que são hoje deputados.
Em Braga, tudo indica que será José
Luís Carneiro a encabeçar a lista.
Depois de em 2022 já ter liderado a
do actual líder e tem agora a mesma
missão sobre o programa eleitoral do
partido.
Outro nome próximo do novo
líder do PS em lugar de destaque é
o da sua antiga chefe de gabinete e
depois sua secretária de Estado.
Marina Gonçalves deverá liderar a
lista por Viana do Castelo, depois de
há dois e há cinco anos ter surgido
no segundo lugar por este mesmo
distrito de que é natural. Aliás, é essa
“a vontade” de Pedro Nuno Santos,
ouviu o PÚBLICO de uma fonte
conhecedora do processo.
Já Francisco Assis, que o PÚBLICO
noticiou querer encabeçar a lista pelo
Porto, é visto pelo actual secretário-
-geral como a melhor aposta para
este distrito e, nesse sentido, deverá
mesmo garantir o regresso ao Parla-
mento. Alexandre Quintanilha, que
liderou essa lista desde as eleições
O
secretário-geral do PS,
Pedro Nuno Santos,
considera que Portugal
estaria “muito melhor” se
os políticos que criticam a TAP
tivessem conseguido os
mesmos resultados que ele
próprio conseguiu quando era
ministro das Infra-Estruturas.
Respondendo ao líder da IL,
Rui Rocha, que o acusou de
fazer “trapalhadas” na
operadora aérea, defendeu
que “o caso da TAP é, naquilo
que é essencial, um caso de
sucesso”.
“Nós estamos a falar de uma
empresa que estava parada;
uma empresa que, quando
assumi funções como ministro,
dava prejuízos na ordem dos
100 milhões de euros, e nós
deixámos a empresa saudável, a
dar lucro. Se todos os outros
políticos que vão falando
conseguissem estes resultados,
nós estaríamos muito melhor em
Portugal”, começou por dizer
Pedro Nuno Santos, à margem de
uma iniciativa em Ílhavo, no
distrito de Aveiro.
O novo líder socialista
reafirmou ontem que a injecção
de capital na TAP foi um processo
bem-sucedido. “O caso da TAP é,
naquilo que é essencial, um caso
de sucesso. Não de insucesso!
Caso de uma empresa que
funcionava mal e hoje funciona
bem. E isso é motivo de orgulho
para todos”, afirmou.
Em conferência de imprensa, na
quarta-feira, o vice-presidente do
PSD Miguel Pinto Luz disse ter lido
“com espanto” a contestação da
TAP à acção movida pela
ex-presidente executiva (CEO),
que alega que Christine
Ourmières-Widener “nunca foi
trabalhadora da companhia”.
Por outro lado, o líder do PS
remete responsabilidade para o
Ministério das Finanças sobre a
inexistência de um contrato de
gestão com a então CEO,
frisando que não cabia ao seu
ministério firmar o contrato de
gestão com a gestora. “Aquilo
que vamos ouvindo sobre os
contratos de gestão, deixem-me
dizer que, infelizmente, a maioria
dos gestores públicos não os
tem e isso não é
responsabilidade dos ministérios
sectoriais”, afirmou Pedro Nuno
Santos, citado pelo Eco. M.M.T.
 Público • Sexta-feira, 19 de Janeiro de 2024 • 9

NUNO FERREIRA SANTOS

entanto, Ana Abrunhosa é também
falada como hipótese para liderar a
lista por Viseu, ou até mesmo por
Coimbra, dois distritos onde a indeÆ#
nição é ainda grande.
Na cidade dos estudantes, além de
Abrunhosa também já foi sinalizado
o nome de Marta Temido, porém o
facto de a ex-ministra ser agora líder
da concelhia lisboeta do PS diÆculta
que tal possibilidade se concretize,
até porque a própria prefere ir por
Lisboa. Ao que o PÚBLICO apurou,
Temido não exerceu qualquer tipo de
inÇuência para voltar a encabeçar
uma lista e o cenário com maiores
probabilidades consiste numa candi-
datura pela capital em lugar elegível,
ceiro e último mandato autárquico.
Na lista do distrito de Beja, também
poderá haver troca de lugares: a lide-
rança tem sido ocupada pelo deputa-
do Pedro do Carmo — mesmo em
2022 quando já deixara a presidência
da federação socialista do Baixo Alen-
tejo —, e poderá agora passar para o
actual líder, Nelson Brito, que há dois
anos ia em segundo.
Nos Açores a lista mantém-se como
há dois anos, liderada por Francisco
César, até porque o deputado é do
círculo restrito de Pedro Nuno Santos
e foi o director da sua campanha
interna. Seguem-se Sérgio Ávila e Isa-
bel Rodrigues (secretária de Estado
da Igualdade e Migrações).
Pedro Nuno Santos encabeça
lista em Aveiro. Alexandra Leitão Compromisso sobre justiça
deverá ser candidata por Lisboa Pedro Delgado Alves Æcou encarrega-
e José Luís Carneiro por Braga do de fazer um projecto de compro-
misso a assinar pelos deputados, com
diferenças relativamente aos “com-
promissos” assinados pelos candida-
tos nas últimas eleições. A ideia-base
Socialistas era ser mais especíÆco do que nas
fecham listas eleições anteriores relativamente a
questões de justiça. Certo é que, tal
de candidatos como avançou o Observador, o PS vai
a deputados na deÆnir a priori qual é o momento em
que um deputado deve renunciar ao
noite da próxima mandato quando estiver envolvido
terça-feira num processo judicial.
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mas não de destaque.

de 2015, não deverá voltar a candi-
datar-se.
A dúvida Santos Silva
Nos círculos da emigração, onde o PS
fez o pleno na Europa e dividiu com
o PSD o resto do mundo, a dúvida
recai sobre Augusto Santos Silva: o
ex-ministro dos Negócios Estrangei-
ros liderou esta segunda lista nas duas
últimas eleições precisamente por
causa da pasta governativa, e até já
tornou público que gostaria de se
manter na função de presidente da
Assembleia da República por ter tido
o mandato interrompido.
Mas o facto de ter sido apoiante de
José Luís Carneiro não joga a seu
favor, sobretudo quando a lista pela
Europa é liderada desde o tempo de
António Guterres por Paulo Pisco,
outro apoiante do ainda ministro da
Administração Interna. Pedro Nuno
Santos deverá abdicar pelo menos de
um deles.
No distrito da Guarda, onde só na
noite de segunda-feira Æcarão fecha-
das as listas — nesta federação, os
militantes podem apresentar uma
espécie de candidatura a serem can-
didatos e depois caberá ao secretaria-
do distrital apontar dois nomes para
cada lugar, para, Ænalmente, a comis-
são política federativa fazer a escolha
deÆnitiva a enviar para a sede do Lar-
go do Rato —, o nome que “reúne
melhores condições” é o de Ana Men-
des Godinho, ministra do Trabalho,
Solidariedade e Segurança Social, que
nas legislativas de 2022 e 2019 já enca-
bou a lista por este distrito.
Já a ministra da Coesão Territorial,
Ana Abrunhosa, apoiante de Pedro
Nuno Santos na recente disputa inter-
na, já demonstrou vontade de ser
cabeça de lista, sabe o PÚBLICO. No
entanto, numa fase em que diversas
federações não deÆniram quem serão
os seus cabeças de listas, Ana Abru-
nhosa está a ser falada para mais do
que um distrito.
A hipótese mais forte passa por
uma recandidatura por Castelo Bran-
co, círculo eleitoral onde foi cabeça
de lista em 2022, mas persistem divi-
sões neste distrito, onde há uma con-
tenda crónica entre os dirigentes da
capital de distrito e os da Covilhã. No
Assim, a escolha para Coimbra, que
será hoje fechada, poderá recair
numa terceira possibilidade para a
qual estão ainda a ser considerados
vários nomes. Um dos nomes que
chegaram a ser falados foi o de João
Portugal, líder da federação do distri-
to desde Junho, que já foi deputado e
dirigente da Juventude Socialista no
tempo de Pedro Nuno Santos. Contu-
do, o dirigente entende que os líderes
federativos não têm obrigatoriamen-
te de ser deputados.
Outro nome falado para Coimbra é
o da ministra da Presidência, Mariana
Vieira da Silva, ainda que fontes ouvi-
das pelo PÚBLICO apontem como
hipótese mais segura que seja cabeça
de lista por Santarém.
Renovação em Évora
Nas federações de Leiria e de Porta-
legre os processos já estarão mais
encaminhados. No primeiro, o actual
líder parlamentar Eurico Brilhante
Dias deverá manter-se como cabeça
de lista, ao passo que em Portalegre
o número um da lista deverá ser Luís
Testa, recuando para a segunda posi-
ção Ricardo Pinheiro (que foi cabeça
de lista em 2022).
Em Évora, depois de Luís Capou-
las Santos ter anunciado em Novem-
bro que não pretendia voltar a can-
didatar-se a cargos políticos, chegou
a hora da renovação: a federação
deverá aprovar hoje uma lista enca-
beçada pelo actual presidente da
Câmara de Vendas Novas, Luís Car-
los Dias, que, apesar de ter apenas
40 anos, cumpre actualmente o ter-
10 • Público • Sexta-feira, 19 de Janeiro de 2024
Política
Depois de Algarve e Guarda, listas
do PSD geram insatisfação no Porto
Margarida Gomes
Concelhias do PSD-Porto
descontentes com as
interferências da direcção
nacional nas listas de
candidatos a deputados
A lista de candidatos a deputados da
Aliança Democrática (AD) pelo distri-
to do Porto às legislativas de Março
tem algumas surpresas que desagra-
daram às estruturas concelhias do
partido, que viram as suas escolhas
remetidas para a chamada “zona cin-
zenta”. Um exemplo: SoÆa Matos,
que foi cabeça de lista pelo distrito do
Porto nas legislativas de 2022, ocupa
agora o 37.º lugar. A deputada, que foi
uma escolha do ex-líder do PSD, Rui
Rio, havia sido indicada pela conce-
lhia da Trofa.
Em 45 candidatos a deputados que
constam da lista, a direcção nacional
indicou nove nomes. Nos quatro pri-
meiros lugares, há duas indicações da
direcção nacional e ambos são inde-
pendentes. Miguel Guimarães, ex-
bastonário da Ordem dos Médicos,
que lidera a lista do Porto, e Óscar
Afonso, director da Faculdade de Eco-
nomia da Universidade do Porto.
É mais um foco de insatisfação nas
estruturas locais do PSD com as esco-
lhas feitas pela direcção nacional para
as listas de deputados, depois de Faro
e da Guarda. Em Faro, a escolha de
Crise política e caso das gémeas fizeram
de Marcelo um Presidente discreto
Sofia Rodrigues
Desde que se abriu uma crise política
em Novembro passado — e por coin-
cidência o caso das gémeas ganhou
força mediática — que o Presidente da
República se tem mantido discreto.
Ao longo dos últimos dois meses, por
poucas vezes Marcelo Rebelo de Sou-
sa deu oportunidade aos jornalistas
para o questionarem sobre os mais
variados assuntos em pontos de agen-
da pública, como acontecia regular-
mente nos últimos sete anos.
Depois de ter anunciado a dissolu-
ção da Assembleia da República e a
convocação de eleições antecipadas
a 9 de Novembro, Marcelo só por
duas vezes quebrou o silêncio de
várias semanas perante os jornalistas,
para fazer declarações de largos
Miguel Pinto Luz para liderar a lista
pelo distrito gerou insatisfação nas
hostes algarvias do PSD, sendo que 15
das 16 secções do partido no distrito
indicaram Cristóvão Norte para lide-
rar a lista, mas a direcção preferiu
apostar em Pinto Luz.
Na Guarda também há desconten-
tamento com a escolha da cabeça de
lista, que recaiu em Dulcineia Catari-
na Moura. A ex-deputada, que na XI
legislatura foi eleita pelo círculo de
Lisboa, é mulher de Carlos Condesso,
actual presidente da Câmara de
Figueira de Castelo Rodrigo, ex-chefe
de gabinete de Álvaro Amaro e é pre-
sidente da distrital do PSD-Guarda.
Os dois nomes que geraram mais
Direcção de Luís Montenegro ouviu críticas sobre listas de deputados
minutos sobre a actualidade política.
Fê-lo a 14 de Dezembro, à margem da
iniciativa Natal dos Hospitais, quando
assumiu que António Costa pode vir
a ser candidato presidencial ou can-
didato a um cargo europeu. Ao mes-
mo tempo, descartou responsabilida-
des na crise política aberta com o
pedido de demissão do primeiro-mi-
nistro, por ser alvo de investigação na
Operação Influencer.
Depois, só na véspera de Natal o
Presidente voltou a abrir uma excep-
ção ao seu recato quando cumpriu a
tradição de ir beber ginjinha no Bar-
reiro e aproveitou para assumir que
desejaria ver Costa como presidente
do Conselho Europeu.
De resto, só o avolumar de suspei-
tas em torno do envolvimento do
Presidente no caso do tratamento
polémica na lista do Porto junto das
estruturas foram o de Pedro Roque,
secretário-geral dos Trabalhadores
Social Democratas (TSD), e de Celes-
te Amaro, antiga directora da Direc-
ção Regional de Cultura do Centro,
que é mulher do ex-eurodeputado do
PSD Álvaro Amaro, que foi também
presidente da Câmara de Guarda e da
autarquia de Gouveia.
Pedro Roque, que ocupa a sétima
posição na lista, e Celeste Amaro, que
surge em 22.º lugar, não foram suge-
ridos por nenhuma estrutura do PSD
do distrito. Ambos foram indicação
nacional. Desta vez, há dois represen-
tantes dos TSD na lista do Porto e
ambos estão em lugares elegíveis.
MANUEL DE ALMEIDA/LUSA
médico das gémeas levou a que con-
vocasse os jornalistas para o Palácio
de Belém para dar esclarecimentos e
afastar ter interferido no processo.
Sobre a restante actualidade políti-
ca, o Presidente já tinha avisado, no
Ænal de Novembro, que se ia “apagar”
por ser este o tempo dos partidos, a
que se seguirá o do “povo”, com as
eleições legislativas.
Desde então, Marcelo cumpriu
poucas iniciativas de agenda pública
fora de Belém e nem permitiu que as
Uma excepção
ao recato surgiu
na véspera de
Natal, quando
Marcelo foi beber
a tradicional
ginjinha
Além de Pedro Roque, também Carla
Barros, que é presidente do secreta-
riado distrital dos TSD, vai na lista,
tendo sido indicada pela concelhia do
PSD da Póvoa de Varzim.
Mas há outros casos que têm moti-
vado insatisfação das concelhias por-
tuenses. Andreia Júnior, um dos dois
nomes escolhidos pela concelhia do
Porto, surge em 31.º na lista. O mes-
mo aconteceu em Lousada, cuja
comissão política indicou Leonel Viei-
ra como primeira opção, mas o lugar
que lhe reservaram foi o 20.º.
Também em Amarante e em Baião,
“as pessoas estão muito zangadas”,
sabe o PÚBLICO. Pedro Simão Mari-
nho foi o primeiro nome da estrutura
concelhia amarantina, mas o lugar
que lhe deram foi o 32.º. Em Baião,
os dois nomes sugeridos pela estru-
tura local foram os de Ana Raquel
Azevedo, que é presidente da conce-
lhia, e o de José Pereira. A Ana Raquel
foi-lhe atribuída pela distrital do Por-
to a 30.ª posição e José Pereira foi
remetido para o lugar 43.º.
A intromissão da direcção nacional
deixou os dirigentes do partido des-
contentes, o que pode gerar desmo-
tivação na hora de a campanha arran-
car. “Fomos colocados em lugares
pouco honrosos nas listas e depois
querem-nos motivados para a cam-
panha? A direcção devia ter pensado
nisso quando mexeu nas listas e fez
as suas escolhas”, disse ao PÚBLICO
fonte social-democrata.
câmaras de televisão o seguissem na
visita a locais de acolhimento tempo-
rário de sem-abrigo por causa das
baixas temperaturas, como era hábi-
to desde o primeiro mandato.
Mesmo no Palácio de Belém, inicia-
tivas como a apresentação de cum-
primentos de Natal dos representan-
tes dos tribunais superiores e da
Procuradora-Geral da República
foram apenas noticiadas com uma
nota no site, sem abrir as portas aos
jornalistas ou à divulgação posterior
do discurso do Presidente em vídeo,
como aconteceu em 2022.
No site da Presidência, foi dada
nota da publicação do decreto que
exonerou o Governo, a 7 de Dezem-
bro, mas nem sinal do decreto que
dissolveu o Parlamento na passada
segunda-feira.
A ainda deputada liberal vai
desfiliar-se no fim da legislatura
Carla Castro
sai da
Iniciativa
Liberal
Margarida Gomes
A deputada Carla Castro, da Iniciativa
Liberal, vai desÆliar-se do partido no
Ænal do mandato, quando terminar a
actual legislatura na sequência das
legislativas de 10 de Março. É uma
decisão tomada num contexto de pro-
gressivo afastamento em relação ao
partido. “Cumprirei até ao Æm o man-
dato para o qual fui eleita, que servi
com honra e gosto. Após essa data,
fecha-se um ciclo da minha vida e sai-
rei também de membro da Iniciativa
Liberal”, revelou ao PÚBLICO Carla
Castro, frisando que se trata de “uma
decisão reÇectida e ponderada”.
“Considero que esta é a altura cer-
ta, antes do início da campanha elei-
toral e com as listas fechadas, evitan-
do distorções ou distracções mediá-
ticas”, diz sobre o momento para
anunciar a decisão, que justiÆca por
estar desiludida com o rumo do par-
tido. “A minha decisão de deixar o
partido prende-se exclusivamente
com a minha visão do que é um par-
tido liberal, do que entendo que o
país precisa e no que me revejo”,
acrescenta, frisando que não o faz
“por futuras ambições partidárias”.
Há um ano, Carla Castro disputou
a liderança do partido com Rui Rocha,
tendo perdido para o actual presiden-
te, mas registando 44% dos votos. E
em Maio, a deputada decidiu aban-
donar a vice-presidência da bancada
da IL, alegando que se sentia excluída
na direcção do grupo parlamentar.
Há um mês, Carla Castro recusou
ser candidata em sétimo lugar na lista
de deputados por Lisboa e manifes-
tou o seu descontentamento à direc-
ção. Nas legislativas de 2022, ocupou
a segunda posição na lista por Lisboa,
tendo a IL eleito quatro deputados.
 Público • Sexta-feira, 19 de Janeiro de 2024 • 11

Medida para a JMJ aplicada a processos disciplinares Sociedade

Mais de mil proƊssionais da PSP e GNR

abrangidos pela amnistia do Papa
Número de beneÄciários das medidas de clemência na PSP e na GNR ainda não está fechado.
A grande maioria são polícias. Expulsões e reformas compulsivas não estão abrangidas
NELSON GARRIDO

Ana Henriques
A amnistia decretada a propósito da
visita do Papa Francisco a Portugal,
em Agosto passado, abrangeu, ao
nível disciplinar, mais de mil proÆs-
sionais das forças de segurança, entre
a PSP e a GNR, até ao momento. Já a
Polícia Judiciária não prestou quais-
quer informações sobre quantos
efectivos seus beneÆciaram destas
medidas.
Em resposta ao PÚBLICO, a direc-
ção nacional da PSP contabiliza a
amnistia de dez penas de repreensão,
95 de multa e 43 suspensões, a que
se juntam mais 302 processos amnis-
tiados ainda em fase de instrução.
Tudo somado, são 718 amnistias num
universo de 22 mil polícias.
Já a GNR, que conta com um efec-
tivo ligeiramente superior, informa
que beneÆciaram da amnistia 285
militares, cujos procedimentos dis-
ciplinares foram arquivados, ou as
penas aplicadas extintas. “Dos 285,
apenas foram extintas 147 penas, as
quais dizem respeito às penas de
repreensão escrita, repreensão escri-
ta agravada, suspensão e suspensão
agravada, sendo que a sua maioria
diz respeito a penas de suspensão
(até 30 dias)”, responde esta corpo-
ração, explicando que aos restantes
processos ainda não tinha sido apli-
cada pena.
Enquanto ao nível criminal a
amnistia só se aplicou a infractores
até aos 30 anos, já que teve como
pretexto a Jornada Mundial da Juven- Aministia da JMJ aplicou-se plo, os advogados e os enfermeiros e Os sindicatos do sector recusam- quem, por alguma razão, teve um
tude, ao nível disciplinar não foi esta- a todos os processos médicos do sector privado. se a identiÆcar casos disciplinares azar proÆssional.”
belecido pelos deputados da Assem- disciplinares Na PSP e na GNR, a pena máxima em que tenha sido aplicada a amnis- Não foi bem o que sucedeu ao
bleia da República qualquer limite abaixo da expulsão e da reforma tia, limitando-se a dizer que a maio- agente da PSP de Castelo Branco mul-
etário para os seus beneÆciários, fac- compulsiva cifra-se em 240 dias de ria diz respeito a infracções meno- tado em 2021 em 84 euros por se ter
to que motivou fortes críticas. suspensão, que foi, por exemplo, o res, passíveis de multa ou de recusado a lavar viaturas de serviço,
Neste capítulo, as medidas de cle-
Agente multado castigo aplicado a um polícia apa- repreensão, como o desrespeito de tarefa que os sindicalistas dizem não
mência apenas deixaram de fora as em 84 euros por nhado a roubar uma mochila de 13 normas de serviço ou até acidentes fazer parte do conteúdo funcional da
expulsões da proÆssão e as aposenta- euros numa loja de um centro rodoviários em que se tenham visto proÆssão. A hierarquia entendeu,
ções compulsivas, tendo sido usadas
não lavar viaturas comercial, em Lisboa, há cerca de envolvidos em serviço. “É, por porém, que violou os deveres de
para perdoar também, em todas as de serviço foi um três anos. exemplo, o caso da falta não justiÆ# aprumo e de obediência. Agora foi
proÆssões, infracções graves que Foi também esta a pena com que cada a um serviço remunerado ou um dos beneÆciários da amnistia.
tinham dado origem a suspensões
dos beneÄciários foi castigado um chefe da PSP depois de um expediente mal elaborado”, Neste caso, como o agente foi
prolongadas da respectiva actividade da amnistia de ter comentado no Facebook o aponta o presidente da Associação recorrendo da pena disciplinar, terá
proÆssional. louvor atribuído a um colega nos Sindical dos ProÆssionais da Polícia, acabado por nunca pagar a multa. Já
Foi o caso da professora acusada seguintes termos: “Nunca esperei Paulo Santos. “Se da amnistia bene- nos casos em que os infractores pro-
de atacar com ácido colegas da Facul-
dade de Farmácia da Universidade
Sindicatos dizem ver isto em toda a minha carreira.”
Em 2022, a então ministra da Jus-
Æciam todos os cidadãos, é da mais
elementar justiça que os polícias
cederam ao seu pagamento, tem-se
revelado controverso se podem ser
do Porto, que viu perdoados os 181 que a maioria dos tiça, Francisca van Dunem, suspen- também tenham direito a ela.” ressarcidos desses montantes por via
dias de suspensão que lhe foram apli-
cados pela instituição. Além dos fun-
casos abrangidos deu por 90 dias prorrogáveis os sete
militares da GNR suspeitos de agre- Multa por não lavar carro
da lei da amnistia. Embora alguns
tribunais lhes tenham dado razão, a
cionários públicos, a amnistia disci- diz respeito dir imigrantes em Odemira, tendo Armando Ferreira, do Sindicato maioria das sentenças não lhes tem
plinar também beneÆcia as proÆs-
sões re guladas por ordens
a infracções um deles acabado por ser expulso da
Guarda depois de condenado pela
Nacional de Polícia, exprime opinião
idêntica: “É uma forma de redimir e
reconhecido o chamado “direito de
regresso”. Apenas têm conseguido
proÆssionais, tais como, por exem- menores agressão em tribunal. de dar uma segunda oportunidade a limpar o cadastro disciplinar.
12 • Público • Sexta-feira, 19 de Janeiro de 2024
Sociedade
Professores contratados
podem progredir sem avaliação
Clara Viana
Avaliação de desempenho
poderá ser feita após
subida de escalão, evitando
barrar quem não foi
avaliado devido a doença
Os professores contratados vão
poder subir de escalão mesmo que
não tenham ainda as avaliações de
desempenho requeridas pelo novo
regime de gestão do pessoal docente,
segundo informação do Ministério
da Educação enviada em resposta a
questões do PÚBLICO. Devido à
ausência das avaliações respeitantes
aos últimos dois anos lectivos ou a
um deles, vários professores contra-
tados têm sido impedidos de mudar
de escalão e assim conseguir um ven-
cimento superior ao que auferem.
Esta situação foi alterada por via
de uma “actualização” do Æcheiro de
perguntas e respostas publicado no
site da Direcção-Geral da Adminis-
tração Escolar (DGAE), efectuada
terça-feira. Segundo o ME, “a actua-
lização serve para esclarecer que a
mudança de índice produz efeitos à
data em que se completa o tempo de
serviço mesmo que só depois é que
se obtenha a avaliação”.
Os professores contratados que
estavam a ser barrados na progres-
são estiveram de baixa por doença
ou em licença de parentalidade, não
tendo sido avaliados devido a estes
períodos de ausência. Entre os
Baixas de doentes oncológicos, cardíacos
e vítimas de AVC vão ter validade de 90 dias
Ana Maia
O Governo decidiu rever a duração
dos certiÆcados de incapacidade tem-
porária para o trabalho atribuídos aos
doentes com cancro, com doença
isquémica cardíaca e também aos que
sofrerem um acidente vascular cere-
bral (AVC), aumentando o prazo de
validade das baixas dos actuais 30
para 90 dias. Há mais situações em
que, para evitar que os doentes
tenham de se deslocar tão amiúde ao
médico de família, a validade também
é revista. As novas regras entram em
vigor a 1 de Março.
“De acordo com a experiência e o
conhecimento gerado ao longo dos
anos de vigência dos referidos diplo-
docentes prejudicados encontram-se
professoras que estiveram de baixa
devido a gravidezes de risco.
Aos docentes do quadro nesta
situação tem sido aplicado o que se
encontra estipulado no Estatuto da
Carreira Docente: Æcam com a men-
ção qualitativa atribuída na última
avaliação de desempenho que con-
cluíram. Apesar de se encontrar
expressa na lei, esta prerrogativa foi
liminarmente afastada pela DGAE no
seu Æcheiro de perguntas e respostas
relativo ao posicionamento remune-
ratório dos docentes contratados.
O que se traduz em mais um “tra-
tamento discriminatório”, como
denunciou a Federação Nacional de
Professores (Fenprof ). A “solução”
Actualização de vencimentos decorre no próximo mês
mas, veriÆca-se a necessidade de se
proceder a ajustes nos limites tem-
porais estabelecidos, quer para o
período inicial, quer para a prorro-
gação do CIT [certiÆcado de incapa-
cidade temporária], em determina-
das patologias”, explica o Governo
na portaria publicada ontem em Diá-
rio da República.
No diploma é explicado que no que
diz respeito à doença oncológica,
AVC, doença isquémica cardíaca e
situações de pós-operatório, “os limi-
tes actualmente estabelecidos reve-
lam-se desajustados”. Obrigam os
doentes, “em condições de vulnera-
bilidade e limitação da mobilidade”,
a terem de se deslocar ao médico de
família apenas para pedir uma baixa
agora encontrada pelo ME continua
a ignorar o estipulado no Estatuto da
Carreira Docente (ECD) a este respei-
to, mas permitirá desbloquear a
situação ao permitir que os contra-
tados progridam só com base no
tempo de serviço prestado, Æcando
o requisito da avaliação adiado para
um momento posterior à progres-
são. Para esta se manter, os docentes
terão de obter, no mínimo, uma
menção de ‘Bom’.
Por outro lado, nas respostas ao
PÚBLICO, o ME reforçou que “o tem-
po de serviço em licença de parenta-
lidade ou baixa médica é contabili-
zado para efeitos de progressão”. É
o que se encontra também estipula-
do no ECD.
PAULO PIMENTA
“com uma periodicidade desajusta-
da”. Para este conjunto de situações,
continua o Governo, “os dados
demonstram, numa abordagem de
equilíbrio e de exigência, que o alar-
gamento dos períodos simpliÆcará a
vida dos cidadãos e permitirá aos
médicos terem mais tempo para rea-
lizarem consultas a doentes”.
Assim, quer seja no caso de uma
primeira emissão de baixa ou de uma
Alterações que
foram agora
publicadas fazem
parte da Agenda
para o Trabalho
Digno, vertida em
lei em 2023
Para subirem de escalão, os pro-
fessores contratados precisam de
ter 1460 ou 2920 dias de serviço
prestado conforme o índice remu-
neratório para que transitam. A
actualização dos salários daí decor-
rente será concretizada em Feverei-
ro, com efeitos retroactivos a Setem-
bro, segundo garantiu o ministro da
Educação.
É uma estreia para os professores
contratados. Até agora, tinham sem-
pre o mesmo vencimento, indepen-
dentemente de estarem a dar aulas
há um ano, dez ou mais. Esta perma-
nência sem termo no mesmo índice
remuneratório foi considerada dis-
criminatória pela Comissão Euro-
peia, que abriu um processo contra
Portugal por violação da legislação
comunitária.
Foi este processo que levou o ME
a abrir a porta à progressão dos pro-
fessores contratados, conforme se
encontra regulamentado no diploma
de 2023 que estabelece o novo regi-
me de gestão e recrutamento do
pessoal docente.
Na prática, foram criados mais
dois patamares para os vencimentos
destes docentes, que passam a ter
em consideração o número de anos
de serviço que cada um tenha desem-
penhado. No segundo escalão, têm
um salário mensal bruto de 1782
euros, ao passo que no terceiro (índi-
ce 205) ganham 1938 euros brutos
por mês. Ou seja, mais 350 euros
brutos por mês do que ganhavam até
agora.
prorrogação, no caso de doença
oncológica, de AVC e de doença isqué-
mica cardíaca “os limites temporais
para o período inicial e para a prorro-
gação são de 90 dias”. Já para as situa-
ções de pós-operatório, a duração é
de 60 dias. Em situações de tubercu-
lose, o prazo do certiÆcado de inca-
pacidade temporária é alargado até
aos 180 dias e, em casos de risco clí-
nico durante a gravidez, a extensão
do prazo vai até à data provável do
parto, indicada por médico.
Para as restantes situações, o diplo-
ma refere que “a certiÆcação da inca-
pacidade temporária está subordina-
da a limites temporais de 12 e de 30
dias, consoante se trate de período
inicial ou de prorrogação”.
Bombeiros
não vão cobrar
macas retidas
nos hospitais
Daniela Carmo
Houve entendimento
com Direcção Executiva
do SNS e a medida,
anunciada no início do mês,
não vai avançar
As corporações de bombeiros não
vão começar a cobrar uma taxa aos
hospitais pelas macas retidas nos hos-
pitais. A medida tinha sido anunciada
pela Liga dos Bombeiros Portugueses
(LBP) no início do mês, mas, após
reunir-se ontem com a Direcção Exe-
cutiva do Serviço Nacional de Saúde
(DE-SNS) e com o INEM, foi dado um
passo atrás. “Temos de fazer parte da
solução”, disse António Nunes, pre-
sidente da Liga dos Bombeiros, que
justiÆcou a decisão com o acordo
alcançado entre as três partes.
Segundo o responsável, a DE-SNS
tem em curso um conjunto de medi-
das que visa reduzir o tempo de espe-
ra por macas retidas nos hospitais. “A
Direcção Executiva solicitou que não
avançássemos com a questão do
pagamento dos tempos de espera
porque tem um conjunto de medidas
que está a implementar e que espera
que, em muito curto prazo, surtam
efeito”, referiu António Nunes aos
jornalistas à saída da reunião nas ins-
talações da DE-SNS, no Porto.
Para já, Æcou marcada uma nova
reunião para avaliar possíveis
melhorias, cuja data ainda não foi
divulgada. A Liga dos Bombeiros e
a direcção liderada por Fernando
Araújo tinham-se já reunido na
semana passada. Nessa reunião, a
LBP apresentou nove medidas para
os problemas que as corporações
enfrentam, as quais, adiantou ago-
ra, “foram todas aceites”.
Do encontro de ontem resultou
também o compromisso de uma
melhor relação da Linha de Saúde 24
com os bombeiros (que também se
irão reunir) e também com os Centros
de Orientação de Doentes Urgentes
no sentido de “aumentar a interliga-
ção das comunicações” com as cor-
porações para evitar esperas de 30
minutos a uma hora sobre qual o hos-
pital de destino, além da reorganiza-
ção das urgências prometida pela
DE-SNS.
Num comunicado, há uma semana,
a DE-SNS dizia estar a “trabalhar acti-
vamente com as Unidades Locais de
Saúde, no sentido de elaborar medi-
das de contingência que permitam,
mesmo na altura de picos de aÇuên-
cia, resolver os constrangimentos na
recepção de doentes.”

Irmãos iraquianos condenados a 16 e 10 anos
de prisão por adesão ao Estado Islâmico
Ana Dias Cordeiro
Testemunhos recolhidos
no Iraque foram decisivos
para a condenação.
Advogados dos dois irmãos
vão recorrer
O Tribunal Central Criminal de Lisboa
condenou ontem dois irmãos iraquia-
nos, Ammar e Yassir Ameen, a 16 e 10
anos de prisão, respectivamente. Em
causa estão, no caso do primeiro, cri-
me de guerra e de adesão à organiza-
ção terrorista do autoproclamado
Estado Islâmico. No caso do segundo,
apenas a adesão a grupo terrorista foi
provada em tribunal.
Os dois irmãos de Mossul, cidade
que esteve sob domínio do Daesh a
partir de 2014 e começou a ser recon-
quistada em 2016, são os réus do pri-
meiro julgamento em Portugal por
crimes de guerra num outro país;
Ammar torna-se assim a primeira
pessoa condenada por estes crimes
previstos desde 2004, no quadro de
uma lei que adapta a legislação penal
portuguesa ao Estatuto do Tribunal
Penal Internacional.
A viver em Portugal desde Março
Foi a primeira vez que Portugal julgou um caso de crime de guerra num outro país
de 2017, os dois irmãos, de 34 e 36
anos, estavam acusados pelo Minis-
tério Público (MP) de um crime de
adesão a organização terrorista.
Ammar, o irmão mais velho, e Yassir
estavam também acusados, respecti-
vamente, de nove e oito crimes de
guerra contra as pessoas “em concur-
so aparente com o crime de terroris-
mo internacional”, podendo ser con-
denado por terrorismo se não fosse
provado o crime de guerra.
A juíza-presidente do colectivo con-
siderou “suÆciente” a declaração
para memória futura de algumas tes-
temunhas no Iraque para corroborar
a versão da pertença dos dois irmãos
ao Daesh e de uma testemunha em
particular (entre as 14 ouvidas) para
sustentar, no caso de Ammar, o crime
de guerra — cuja pena pode ir de 10 a
25 anos. As declarações de outras
duas principais testemunhas que acu-
savam o arguido mais velho de rapto
e tortura deixaram dúvidas ao tribu-
nal pela forma como foi relatado o
episódio.
Ammar foi igualmente condenado
pelo crime de ameaça, num episódio
que aconteceu nas instalações do Ser-
viço de Estrangeiros e Fronteiras, em
Lisboa. Segundo testemunhas ouvi-
das em tribunal, ter-se-á exaltado,
perante a não resolução do seu esta-
tuto de refugiado, e dito que se o seu
caso não fosse resolvido “ia morrer
logo ali e que não ia sozinho”.
Na leitura do acórdão, que se pro-
longou por três horas na tarde de
ontem, a juíza-presidente, Alexandra
Veiga, em vários momentos aÆrmou
que o tribunal dava como provado
que Ammar e Yassir pertenciam ao
grupo terrorista.
“São os próprios Ammar e Yassir
Ameen que, nas suas diversas decla-
rações, mostram ter perfeita noção
do que era o Estado Islâmico”, um
grupo que “torturou, amputou, vio-
lou mulheres, atacou a população”
de forma indiscriminada, naquilo que
conÆgura “crimes de guerra e viola-
ção do direito humanitário interna-
cional”, repetiu a magistrada. A juíza
justiÆcou não ser possível “excluir
ilicitude por obediência”, tanto mais,
insistiu, que Æcou provado que os
dois arguidos “juraram Ædelidade” ao
grupo.
A juíza disse não haver margem
para dúvidas de que Ammar e Yasser
“executaram funções” enquanto Æs-
calizadores das regras impostas pelo
Daesh, perseguindo infractores que
Público • Sexta-feira, 19 de Janeiro de 2024 • 13
depois eram sujeitos a castigos, como
chicotadas, ou torturas, acrescen-
tou.
Ammar foi identiÆcado como
tomando parte num desses castigos,
que o tribunal não teve dúvidas em
qualiÆcar de “tortura”, havendo lugar
a “sofrimento e humilhação da víti-
ma”, premissa para se estar perante
um crime de guerra, justiÆcou Ale-
xandra Veiga. “Estamos a julgar pes-
soas que Æzeram mal a outras pes-
soas. Não estamos a julgar religiões”,
disse a juíza.
Os dois irmãos, que negam a per-
tença ao Daesh, chegaram ao tribunal
pensando poderem vir a ser conde-
nados a uma pena ainda mais gravo-
sa; e assim era porque consideram
que “não puderam defender-se”, diz
o advogado de Yassir, Vítor Parente
Ribeiro. A juíza criticou a postura dos
Irmãos viveram
em Mossul, cidade
que esteve sob
domínio do Daesh.
Estão em Portugal
desde 2017
DANIEL ROCHA
Sociedade
arguidos em tribunal, dizendo de
Ammar que a sua declaração tinha
sido “uma invenção, uma cabala”, e
vincando que nenhum dos réus tinha
dito a verdade em tribunal. “A juíza
queria que eles assumissem que eram
do Daesh e isso não aconteceu porque
eles não iam assumir algo que não
aconteceu”, diz Parente Ribeiro ao
PÚBLICO. “Em que Estado de direito
os arguidos são proibidos de contac-
tar a família no seu país, como acon-
tece com eles, ou impedidos de rece-
ber ou enviar correspondência, de
ligar ou receber telefonemas dos
advogados, como eles foram?”, ques-
tiona o advogado, para quem, “hou-
ve, desde o início, muita pressão para
condenar”.
Defesa vai recorrer
“Só isso explica” que, em todo o jul-
gamento, além da representante do
MP, a procuradora Júlia Henriques,
estivesse também a procuradora do
inquérito [Cláudia Porto], disse. “É
raro estarem duas procuradoras no
julgamento. Isso mostra muito bem a
importância deste caso para o Estado
português”, concluiu, “como se de
um favor [à comunidade internacio-
nal] se tratasse para se justiÆcar a
existência do departamento da ONU
criado no Iraque para investigar os
crimes do Daesh, ou para Portugal
querer mostrar algum tipo de comba-
te ao terrorismo.”
Nas alegações Ænais, a procuradora
acenou com o perigo de acções terro-
ristas na Europa, dando o exemplo
de dois atentados recentes, para pedir
uma pena “muito próxima” da pena
máxima em Portugal, de 25 anos,
para os dois arguidos. A defesa, pelo
seu lado, lembrou que nenhuma
acção terrorista em solo europeu
havia sido cometida por iraquianos.
Tanto Vítor Parente Ribeiro como
Lopes Guerreiro, advogado de
Ammar, vão “obviamente recorrer da
decisão”, disseram ao PÚBLICO. “Os
depoimentos não são credíveis” e são
contraditados, insiste Lopes Guerrei-
ro, lembrando, como é possível cons-
tatar pela consulta do processo, que
se há testemunhas a dizer que os
irmãos faziam parte do Estado Islâmi-
co, “também há aquelas” que em
nenhum momento, em Mossul, os
associaram a esse grupo que contro-
lava a cidade. Para Parente Ribeiro
não é plausível que, se uma testemu-
nha associa um arguido a uma orga-
nização terrorista e, nesse âmbito, o
identiÆca como responsável por vio-
lações do direito internacional e cri-
mes de guerra, a condenação venha
a dissociar as duas coisas, conÆrman-
do apenas a adesão à associação.
14 • Público • Sexta-feira, 19 de Janeiro de 2024
Sociedade
Marcelo exige transparência na propriedade
dos órgãos de comunicação social
Ruben Martins
Trabalhadores de JN
e O Jogo suspenderam
contratos de trabalho
depois de administração
ameaçar não pagar salários
O recato do Presidente da República
(PR) foi interrompido pela urgência
de falar na crise dos media. Na aber-
tura do Congresso dos Jornalistas,
que arrancou ontem em Lisboa, Mar-
celo Rebelo de Sousa exigiu transpa-
rência na propriedade dos meios de
comunicação, naquela que é uma
referência directa às dúvidas sobre
o fundo que controla o grupo Global
Media.
“Tudo isto torna inevitável que
haja transparência no saber quem
lidera o quê na comunicação social,
com que projectos editoriais, com
que modelos, com que perÆs e viabi-
lidade de dar vida ao sector“, defen-
deu o Presidente. Com um ciclo elei-
toral intenso no horizonte, Marcelo
Financiar os media pela consignação do IRS
Opinião
Manuel Caldeira Cabral
A situação da Global Media trouxe
atualidade à questão do
Ænanciamento dos media. Neste
artigo defendo que se utilize um
mecanismo de apoio aos media,
com base na consignação de uma
pequena parte do IRS, semelhante
ao já existente de apoio às entidades
do terceiro setor. Um Ænanciamento
público totalmente assente na
decisão dos cidadãos, que Ænancie
uma parte importante da atividade
dos media, reconhecendo o papel
determinante que estes têm para o
funcionamento da sociedade
democrática.
Jornalistas sem ser pagos, e
instituições como o JN, DN e a TSF
em risco de fechar, exigem uma
atuação imediata, uma intervenção
pública ou de privados que resolva a
crise. Mas, além desta solução
especíÆca e de curto prazo, é
necessária uma solução com um
horizonte mais amplo.
A consignação de IRS é uma
admite que este tempo possa “ser
virtuoso” para que surjam novas pro-
postas que garantam a sustentabili-
dade dos media, tendo “atenção
especial à situação dos jornalistas,
sem os quais não há jornalismo”.
Sem detalhar propostas especíÆcas,
o PR defende que o Estado “não se
alheie de um debate essencial”,
defendendo “os meios públicos his-
tóricos e muito importantes” e “uma
base ampla” que possa chegar a um
consenso de regime no que toca aos
restantes títulos.
O pedido de transparência na pro-
priedade dos media surge no dia em
que os trabalhadores do Jornal de
Notícias (JN) e do jornal O Jogo decidi-
ram suspender os seus contratos de
trabalho. Depois de saberem que não
vão receber salários até à retirada da
providência cautelar anunciada pelo
empresário Marco Galinha e à pro-
núncia da Entidade Reguladora da
Comunicação Social, que recente-
mente abriu um procedimento para
conhecer a estrutura accionista do
grupo.
possibilidade que todos os
contribuintes têm ao seu dispor há
mais de 20 anos (n.º 6 do art. 32.º da
Lei 16/2001). Permite atribuir 0,5%
da coleta de imposto a uma
instituição de solidariedade (por
exemplo, às IPSS). Esta contribuição
tem ajudado muito estas instituições
e em nada tem contribuído para que
estas sejam governamentalizadas.
Quem recebe sabe que não é o
Governo que decide. São os
cidadãos que tomam a decisão, e é a
estes que as IPSS enviam informação
e pedem contribuições, pelas redes
sociais, por email, etc.
Uma solução desta natureza
permitiria a cada contribuinte
decidir que órgãos de informação
Ænanciaria. Poderia permitir
também que o jornal ou rádio a que
atribuísse o Ænanciamento lhe desse
acesso a mais conteúdos. Seria um
mecanismo de avaliação de mérito,
mas também próximo do resultado
de mercado, pois teria uma
contrapartida de acesso.
É importante que a introdução
deste Ænanciamento obrigue, tal
como se fez no caso das IPSS, a um
processo de certiÆcação, que
implique regras quanto a um
mínimo de jornalistas com carteira
Durante a suspensão, o trabalha-
dor pode exercer outra actividade
remunerada, desde que não haja
conflito com o empregador originá-
rio, ou então pedir o subsídio de
desemprego. Em comunicado, a
redacção do Jornal de Notícias fala em
“mais um acto de terrorismo da
Crise na Global Media marcou início do Congresso dos Jornalistas
proÆssional, independência
editorial, etc. É importante que se
garanta pluralidade e se permita a
cada cidadão escolher vários meios,
e não apenas um.
Não sendo eu especialmente
favorável à consignação de
impostos, penso que este caso
justiÆca amplamente a exceção,
pois queremos um Ænanciamento
público, com escolha dos cidadãos e
com total independência do
Governo. De qualquer forma, deve
manter-se a publicidade e outras
formas de Ænanciamento, que num
país pequeno como Portugal têm
demonstrado ser insuÆcientes. Daí a
necessidade de serem
complementadas.
Porque é que se justiÆca pensar
neste tipo de apoio? A resposta é: a
tecnologia fez com que a
informação tenha deixado de ser
um bem normal para passar a ser
um bem público, criando uma falha
de mercado que, se não for
corrigida, cria uma provisão
insuÆciente, com consequências
para os consumidores de
informação, mas também para o
funcionamento da democracia.
Um bem público, no sentido
económico do termo, signiÆca um
comissão executiva do Global Media
Group”. Os jornais deverão continuar
em banca por mais oito dias, deta-
lhou Alexandre Panda, membro da
comissão de trabalhadores do JN.
Sem solução nesse prazo, parece ine-
vitável a paragem do funcionamento
normal dos títulos.
MANUEL DE ALMEIDA/LUSA
bem em que não há rivalidade no
consumo e não há possibilidade de
exclusão. Um farol quando está a
funcionar dá uma luz que é vista por
todos os barcos e custa o mesmo se
for vista por um ou por dez barcos —
é um bem público clássico. Uma
maçã não é assim. Para dez pessoas,
precisamos de dez maçãs, e
podemos vender maçãs apenas a
quem pagar (tem possibilidade de
exclusão). As notícias de um jornal
eram maçãs, hoje são como a luz de
um farol, todos conseguem ver e
quase ninguém paga. E são uma luz
importante para o bom
funcionamento do sistema
democrático. A informação tem
hoje mais valor. Mas a tecnologia fez
com que quem a produz tenha
maior diÆculdade de conseguir reter
o valor que produz.
Noutras áreas (e.g
telecomunicações), a tecnologia
permitiu que, onde havia uma falha
de mercado (monopólio natural),
passasse a poder haver
concorrência. Que onde havia uma
solução pública, pudesse haver uma
privada. Aqui, a alteração da
tecnologia levou a uma alteração
radical do enquadramento
regulatório do mercado. Passou-se
No congresso, enumerando uma
série de ideias que vão desde o “apoio
à literacia” ou o “fomento da qualida-
de”, o PR pediu também que “os pro-
prietários e gestores de meios for-
mem uma plataforma de diálogo
constante com os jornalistas” e que
haja uma alteração da relação com as
plataformas digitais — através de
medidas de carácter nacional, euro-
peu e, até, “universais”.
O presidente do 5.º Congresso dos
Jornalistas, Pedro Coelho, defendeu
que “têm de ser os jornalistas a cons-
truir o futuro do jornalismo”, admi-
tindo “ser mais fácil” um consenso no
diagnóstico do que nas soluções. Sete
anos depois do último congresso
“estamos pior”, resume. Desde 2017
saíram da proÆssão 436 jornalistas
— cerca de 8% de quebra. Aos respon-
sáveis políticos, pediu “que se discuta
sem tabus o Ænanciamento do jorna-
lismo e não das empresas cuja pro-
priedade desconhecemos”. A reunião
magna dos jornalistas decorre até
domingo, com foco na sustentabilida-
de dos órgãos de comunicação.
de uma maioria de países europeus
com monopólios públicos, para
concorrência com regulação.
O problema dos media é que a
evolução da tecnologia criou uma
necessidade de resposta no sentido
contrário. Onde existiam bens
normais passou a haver uma falha
de mercado (um bem público).
Onde não havia necessidade de
Ænanciamento público, hoje há. E
parece que estamos todos cheios de
preconceitos sobre o que fazer. Um
bem público sem Ænanciamento ou
provisão pública cria uma falha de
mercado. É isso que temos como a
crise dos media demonstra. É isso
que temos de corrigir.
A falência dos media, ou o
desenvolvimento de um modelo de
negócio em que a posse dos media
serve de moeda de troca para
favores políticos, poderá custar
muito mais aos cidadãos e aos
contribuintes, do que um modelo
de Ænanciamento público
transparente que valorize os media e
que coloque a sociedade a pagar o
importante papel que estes e os
jornalistas prestam à comunidade.
Ex-ministro da Economia;
professor na Univ. do Minho

Estado pagou mais 153 milhões
de euros por testes à covid do que
deveria, diz Tribunal de Contas
Ana Maia
Nem sempre foi seguida
a fundamentação técnica
apresentada pelo Instituto
Nacional de Saúde Pública,
conclui auditoria
“Os preços Æxados pelo Ministério da
Saúde para os testes de diagnóstico
da covid-19 comparticipados pelo SNS
nem sempre tiveram subjacente a
fundamentação técnica apresentada
pelo Instituto Nacional de Saúde Dou-
tor Ricardo Jorge (Insa), o que preju-
dicou a transparência dos respectivos
processos de formação de preços e se
traduziu em acrescida despesa públi-
ca”, concluiu o Tribunal de Contas
(TdC). Segundo uma auditoria, que
avaliou o período entre Março de
2020 e Abril de 2022, em termos glo-
bais, as diferenças registadas “resul-
taram numa despesa adicional esti-
mada de 153,4 milhões de euros”.
Segundo o relatório, divulgado
ontem, entre 1 de Março de 2020 e 30
de Abril de 2022 realizaram-se, em
Portugal continental, 37,9 milhões de
testes de diagnóstico à covid-19, dos
quais 74,1% foram realizados por
prestadores privados. O montante
total de despesa paga “ascendeu, em
termos acumulados, a 693,5 milhões
de euros” no Ænal de 2022.
Com o crescente número de casos
de infecção e a declaração de pande-
mia, por parte da Organização Mun-
dial da Saúde, uma das estratégias
adoptadas por Portugal foi a massiÆ#
cação de testes de diagnóstico à covid-
19. Com uma capacidade pública
limitada, o Governo decidiu alargar a
resposta a laboratórios convenciona-
dos. Os preços a pagar pelo Estado
foram sofrendo alterações: começa-
ram nos 87,95 euros, por teste, em
Março de 2020, e culminaram em 30
euros, em Março de 2022.
Mas, refere o TdC, a actualização
dos preços a pagar “não acompa-
nhou, em montante e ou em tempo,
as propostas técnicas de revisão em
baixa que foram sendo apresentadas”
ao Ministério da Saúde pela Adminis-
tração Central do Sistema de Saúde e
pelo Insa.
No caso dos testes de antigénio, “o
impacto estimado na despesa decor-
rente das dilações ocorridas na actua-
lização dos preços e da não adopção
dos preços propostos foi de 97
milhões de euros”. Nos testes rápidos,
o “desvio entre o preço decorrente
do custeio apurado pelo Insa e aque-
les que viriam a ser os preços Æxados
pela tutela” resultou num “impacto
Público • Sexta-feira, 19 de Janeiro de 2024 • 15
Custos dos testes à covid-19 podiam ter sido inferiores
estimado de 56,4 milhões de euros na
despesa do SNS com a comparticipa-
ção destes testes”.
O TdC aponta ainda um adicional
de despesa estimado em cerca de
48,3 milhões, resultante de um des-
pacho, do então secretário de Estado
da Saúde, de Novembro de 2021, só
se ter concretizado em Março do ano
seguinte. O mesmo implicava uma
revisão do preço por teste antigénio
de 45 para 30 euros. Nesse período,
realizaram-se 3,3 milhões de testes.
Jamila Madeira foi secretária de
Estado adjunta e da Saúde até 17 de
Setembro de 2020 e a “responsável
pela Æxação inicial” do preço unitário
dos testes antigénio: 87,95 euros, “de
acordo com o custeio então apurado
pelo Insa”, refere a auditoria. Que
salienta que o preço só foi revisto —
para 65 euros — a 26 de Setembro de
2020 “por despacho do secretário de
Estado que, entretanto, lhe sucedeu”
(Diogo Serras Lopes).
No contraditório apresentado, a
ex-responsável refere que os repre-
sentantes dos laboratórios preten-
diam que o preço inicial a pagar por
teste fosse de 100 euros, “preço míni-
mo que já praticavam fora do sector
convencionado”. E que a diferença
entre esse valor e o preço que acabou
por Æcar deÆnido (87,95 euros) “per-
mitiu ao Estado poupar um montan-
te superior a 11 milhões de euros”
entre 1 de Abril de 2020 e 1 de Julho
do mesmo ano.
Quanto à manutenção desse valor,
apesar de propostas técnicas de revi-
são em baixa, disse que se deveu à
necessidade de articulação com as
associações que não se mostraram
disponíveis para uma baixa do preço.
Razão pela qual “foi sinalizado pelo
Insa e ACSS que havia um risco signi-
Æcativo de muitos prestadores sus-
Sociedade
PAULO PIMENTA
penderem a convenção com o SNS
para a realização deste exame espe-
cíÆco”. “Risco que, salvo melhor opi-
nião, o interesse público não aconse-
lhava correr sem que se tivesse alter-
nativas, numa altura em que ainda
PRÉMIO
era indispensável manter níveis ele-
vados de testagem num período mui-
to crítico da pandemia”, defendeu.
O TdC também dá conta do contra-
ISABEL M. AGUIAR BRANCO E SILVA
ditório apresentado pelo ex-secretá- Patrocínio
rio de Estado da Saúde Diogo Serras Fundação Eng. António de Almeida
Lopes, que justiÆcou as decisões com
vários factores. O relatório destaca “a
Para Professores de Português
‘(…) diferenciação de custos entre
entidades públicas […] e entidades Quinta Edição
convencionadas (…)’; a necessidade
de analisar aquelas decisões de forma
Edital de Abertura
mais abrangente e integrada ‘(…) do
ponto de vista da estratégia global de Promovido pelo Centro de Literatura Portuguesa e
combate à pandemia covid-19 e não apoiado pela Fundação Eng. António de Almeida, o
isoladamente.” Prémio Isabel Maria Aguiar Branco e Silva tem o valor
A análise do TdC estendeu-se também
pecuniário de 3000 Euros (1º lugar), 1500 Euros (2ºlugar)
à vigilância epidemiológica, que con-
siderou ter sido “prejudicada pelas e 1000 Euros (3º lugar).
limitações dos sistemas de informa- O Prémio destina-se a honrar a memória de um nome
ção utilizados”. “No que se refere ao
rastreio de contactos, a avaliação de
que se destacou no domínio do ensino das línguas
necessidades e o reforço de capacida- e a estimular a apresentação de propostas didáticas
de foi essencialmente ditado por centradas nos conteúdos literários que figuram nos
medidas reactivas em função da dinâ- Programas de Português, que se encontram em vigor à
mica pandémica”, aponta a auditoria, data da publicação do presente Edital.
que refere que, entre Novembro de
2020 e Janeiro de 2022, “terá sido Podem apresentar-se a concurso professors de Português
realizado o rastreio de contactos de do 3.º Ciclo do Ensino Básico e do Ensino Secundário.
69% do total de casos conÆrmados
registado naquele período (cerca de O prazo para a apresentação de originais decorre entre
um milhão de notiÆcações de casos os dias 02 de outubro de 2023 e 31 de janeiro de 2024.
conÆrmados)”. Fica ainda a nota que
a aplicação StayAway Covid, que Para mais esclarecimentos, os interessados devem
“beneÆciou de um apoio especial da consultar o Regulamento do Prémio que se encontra
Fundação para a Ciência e a Tecnolo- disponível no sítio do Centro de Literatura Portuguesa
gia no montante de 400 mil euros”,
(www.uc.pt/fluc/clp).
teve um impacto “meramente margi-
nal”. O sistema foi criado para acele-
rar o rastreio de contactos, tendo
funcionado até Setembro de 2022.
16 • Público • Sexta-feira, 19 de Janeiro de 2024
Local Que causas perseguem estes activistas da mobilidade?
Enquanto as cidades
não mudam, eles lutam
por ruas melhores
Pela redistribuição de um espaço público onde o carro ainda é
rei, nasceram várias páginas nas redes sociais. Querem ruas mais
seguras e acreditam que outra forma de mobilidade é possível
Camilo Soldado e Samuel
Alemão (texto), Adriano Miranda
e Nuno Ferreira Santos (fotografia)
Antes de se mudar com a família da
capital dos Países Baixos para o Por-
to, Peter Füssy não parava para pen-
sar na organização da cidade. “Quan-
do vivia em Amesterdão, ia de bici-
cleta para todo o lado. O meu Ælho,
que tinha dois anos, também já saía
e tínhamos sistemas sempre conec-
tados com transporte público como
metro e comboio”, começa por con-
tar ao PÚBLICO.
A viver em Portugal desde 2022,
começou a questionar o desenho da
rua. O primeiro choque coincidiu
com a primeira saída de casa em
família. Como moram a cerca de dois
quilómetros do Parque de Serralves,
tentaram fazer o percurso a pé, com
o carrinho de bebé. Ao virar a pri-
meira esquina, notaram que o pas-
seio ia Æcando estreito, demasiado
estreito. “Tínhamos de dividir a rua
com os carros e, de cada vez que pas-
sávamos a estrada, tínhamos de
levantar o carrinho”, para subir o
lancil. Pode parecer pouco, diz o ex-
jornalista de 40 anos que hoje traba-
lha em marketing, mas acaba por
desencorajar a saída.
“A partir do momento que se expe-
rimenta algo que funciona melhor, é
muito difícil não ver e não se sentir
frustrado”, diz, sobre o desenho das
ruas que encontrou e o papel que o
carro ainda tem nas cidades portu-
guesas. Foi essa insatisfação que ser-
viu de base à criação da página Der-
rotando o Trânsito, no Instagram,
para tentar contrariar “esta situação
de carrocentrismo” que as ruas por-
tuguesas têm em comum com as do
Brasil, onde cresceu.
A página de Peter é uma de várias
que começam a habitar as redes
sociais, a levantar questões sobre a
redistribuição do espaço na rua, a
utilização de modos alternativos ao
carro ou, simplesmente, a imaginar
uma cidade diferente. Até porque,
em muitos casos, as soluções são
tecnicamente simples, diz Peter
Füssy. Para “dar o mínimo de segu-
rança a quem procura uma alterna-
tiva ao carro”, defende, é apenas
preciso “vontade política e algum
dinheiro”.
“Podia ter sido eu”
As motivações variam. Ksenia Ashra-
fullina andava de bicicleta pelo Alen-
tejo, no Ænal de Setembro de 2021,
quando soube da eleição de Carlos
Moedas como novo presidente da
Câmara Municipal de Lisboa. “Na
altura, Æquei surpreendida. E ocor-
reu-me que, se calhar, e tendo em
conta o que se sabia, Lisboa tinha
acabado de Æcar com um presidente
de câmara que não gostava de bici-
cletas. E pensei ‘o que é que vai acon-
tecer agora?’”, diz, recordando um
dos momentos-chave que acabariam
por deÆnir o seu activismo em prol
da mobilidade sustentável na capital.
O outro foi, três meses antes, a morte
por atropelamento de Patrizia Para-
diso, italiana de 37 anos residente em
Lisboa, quando se deslocava de bici-
cleta na Avenida da Índia. A investi-
gadora do Instituto Superior Técnico
estava grávida. “Podia ter sido eu”,
comenta Ksenia, que tem diversos
amigos que a conheciam.
A junção de ambos os aconteci-
mentos acabou por funcionar como
propulsor da motivação para a cida-
dã portuguesa de origem russa, ago-
ra com 38 anos, assumir um papel
mais interventivo na promoção de
formas de deslocação na cidade que
passam, sobretudo, por caminhar e
usar a bicicleta. E que, na verdade,
visam reduzir o protagonismo que o
automóvel ainda tem. Através do
movimento Lisboa Possível, criado
com Rita Prates e Diogo Machado, e
que com ela formam o seu núcleo
duro, Ksenia tem encetado uma série
de acções com esse objectivo, usando
as redes sociais como elemento cen-
tral de uma estratégia de comunica-
ção assente sobretudo no humor.
Tem sido essa a tónica dominante
das publicações que o colectivo, nas-
cido no Ænal de 2021, na luta pela
manutenção da ciclovia na Avenida
Almirante Reis, publica com frequên-
cia nas suas redes. “Acredito que
tudo o que é importante tem de ser
popular, tem de manter o interesse
das pessoas”, aÆrma a tradutora nas-
cida na cidade russa de Kazan e que,
após deambulações por várias cida-
des europeias, acabou, em 2012, por
se Æxar em Lisboa, para onde veio
trabalhar numa start up. Foi em Lon-
dres, onde acabou por comprar uma
bicicleta em segunda mão, que pas-
sou por o que chama “o grande salto”
na forma de ver as cidades por uma
perspectiva diferente.
“São só cinco minutos”
Catarina Oliveira depara-se frequen-
temente com uma situação seme-
lhante à de Peter Füssy, quando ten-
tou levar o carrinho de bebé até
Serralves. Tem 35 anos e começou a
sentir vontade de discutir questões
de acessibilidade quando adquiriu
uma deÆciência motora que faz com
que tenha de usar cadeira de rodas
para se deslocar. A nutricionista e Em Lisboa e no Porto, vários não passeio, mas esqueceram-se de quem
consultora faz da página Espécie baixam os braços por uma utiliza o passeio. Eu não consigo cir-
Sobre Rodas uma plataforma de acti- cidade mais humana cular e quem não souber não conse-
vismo pelos direitos das pessoas com gue descer o lancil e é obrigado a ir
deÆciência onde, a partir da sua de marcha-atrás”.
experiência, fala de questões de O estacionamento abusivo pode
mobilidade, mas também de acesso assumir várias formas. Desde a subi-
ou de formas de tratamento. Vários da para o passeio, à ocupação de
tons de discriminação, portanto. paragens de autocarro ou de lugares
Há coisas que deixa de fazer e sítios
Há várias páginas reservados a pessoas com deÆciên-
aonde vai menos por causa da aces- nas redes sociais a cia. Sobre todos e sobre a desculpa
sibilidade, explica. “Não me trazem “são só cinco minutos”, Catarina
dignidade ou segurança”, diz. “Pas-
questionar a tem coisas para dizer. “Eu não pos-
sear ou ir sozinha à Baixa do Porto distribuição do so simplesmente descer e voltar a
está completamente fora de questão. subir o passeio”, diz, acrescentando
Não é impossível, mas será uma via-
espaço na rua, a que o lugar reservado é o único que
gem cheia de barreiras e constrangi- querer alternativas pode utilizar por causa do espaço
mentos”, acrescenta. previsto para que consiga retirar a
No centro da cidade e na Baixa há
ao carro sua cadeira de rodas. O estaciona-
“guetos de acessibilidade”, diz, para
descrever os trajectos com obstácu-
los a partir de certo ponto. Mas o
restante Porto é pródigo em passa-
deiras sem rampa, estradas esbura-
cadas e passeios desconfortáveis ou
que não têm largura para as cadei-
ras de rodas. “Há muitas passadei-
ras sem rampa e algumas que, ten-
do-a, não têm a inclinação prevista
na lei. Os autarcas têm de entender
que fazer isso ou não ter rampa é
igual”, avisa.
Refere também o caso da Rua Con-
de de Vizela como exemplo de dese-
nho das ruas que esquecem as pes-
soas com mobilidade reduzida:
“Colocaram pilaretes para que os
carros não estacionem em cima do

mento em paragens de autocarro
impede que o transporte público se
aproxime do passeio para accionar
a rampa, sublinha.
A velocidade do carro
“Isto começou com fotograÆas que
tirava a caminho do trabalho, a outras
pessoas que andam de bicicleta no
Porto”, conta Francisco Castelo Bran-
co. “Queria mostrar que a bicicleta
faz parte da paisagem e que, aÆnal,
há pessoas interessadas em usá-la”,
diz o arquitecto de 37 anos, contra-
riando uma certa ideia de que o Por-
to não é uma cidade ciclável. Foi
assim que nasceu a página Um Dia de
Bicicleta, para notar que há um
número crescente de utilizadores e
que essa mensagem tem de chegar
aos decisores políticos. “Até porque
as condições que temos não são as
melhores”, diz.
Essas condições ajudam a alimen-
tar-lhe a página com vídeos de ciclo-
vias em mau estado, estacionamen-
to abusivo, coexistência com carros
a velocidade pouco recomendável
ou ultrapassagens demasiado pró-
ximas. “Não há uma lista ordenada
de problemas. Acaba por ser o dese-
nho das ruas que condiciona muitas
coisas”, diz o arquitecto que tem um
olhar especializado sobre o assunto,
uma vez que já trabalhou num gabi-
nete que planeia espaço público.
Mas a velocidade do automóvel é a
principal consequência (e risco)
para os restantes utilizadores da
rua, sublinha.
O Porto é pródigo em ruas que se
desenham em longas rectas e poucas
ou nenhumas medidas de acalmia de
tráfego, nota, favorecendo assim a
circulação automóvel a velocidade
superior à indicada. A redistribuição
de espaço na rua pode contribuir
para resolver o problema. “Mas sen-
do arquitecto, sei que o perÆl da rua
não permite que haja sempre uma
ciclovia”, refere, embora diga que
falta à cidade uma “rede estruturan-
te” de ciclovias. Ainda assim, há
outras medidas, como o estreitamen-
to da via para carros.
A página que gere identiÆca mui-
tas vezes o município do Porto ou
vários dos membros do seu executi-
vo, nas suas publicações. Queria
chegar ao executivo e “mostrar que,
se apostar em mobilidade activa,
haverá mais utilizadores”. Até lá, diz
Francisco, em tom de piada, vai
“continuar a ser chato”.
A página assume um carácter acti-
vista, admite, mas diz que procura
evitar extremar posições, compreen-
dendo que a bicicleta não é a solução
para todas as pessoas ou para todos
os problemas da cidade, mas que
pode ser um elemento importante na
mobilidade urbana. Até porque as
ciclovias não servem apenas as bici-
cletas, como atesta Catarina Oliveira.
“São espaços que uso porque, sim-
plesmente, são mais confortáveis”,
diz, sobre as suas viagens a cidades
com uma rede mais desenvolvida.
Antes das ciclovias
Os efeitos nefastos da preponderân-
cia do uso do automóvel em contex-
to urbano também sempre foram
uma das maiores preocupações de
Laura Alves, de 46 anos, uma das
faces mais reconhecíveis do “activis-
mo das bicicletas” na capital. Pelo
menos desde que, em 1999, vinda de
uma aldeia do concelho de Tábua,
no distrito de Coimbra, se mudou
para Lisboa. Por volta de 2007, “far-
ta de esperar pelo autocarro e pelo
eléctrico”, passou a utilizar a bicicle-
ta nas deslocações para o local de
Público • Sexta-feira, 19 de Janeiro de 2024 • 17
trabalho, entre Alcântara e a Baixa.
“Comecei a fazer isto, de vez em
quando, junto ao rio, numa altura
em que praticamente não havia ciclo-
vias na cidade”, recorda a produtora
de conteúdos e revisora de textos. E
a prática rapidamente a converteu.
A ponto de, em pouco tempo, Lau-
ra ter feito da bicicleta a forma prefe-
rencial de deslocação em Lisboa e,
mais que isso, passado a assumir a
defesa pública do seu uso. “Quando
se conhecem outras pessoas que
andam de bicicleta, começas a perce-
ber que há problemas com que todos
se deparam e precisam de ser resol-
vidos”, diz a co-autora, com Pedro
Carvalho, do livro A Gloriosa Bicicleta
— Compêndio de costumes, emoções e
desvarios em duas rodas, editado em
2013, quando este meio de locomo-
ção conhecia forte crescimento na
cidade. Por essa altura, Laura Alves
usava mais o Facebook para alertar
para os problemas que afectam os
ciclistas. Algo que hoje faz sobretudo
como responsável pela comunicação
da MUBI — Associação pela Mobilida-
de Urbana em Bicicleta, tarefa desem-
penhada sem remuneração.
A essa vertente, de algum modo,
mais institucional acresce a comuni-
cação com a comunidade ciclista da
capital através de canais de
WhatsApp. Com um teor bem mais
informal, permitem, porém, resulta-
dos mais eÆcazes na hora de mobili-
zar as pessoas, como aconteceu
recentemente com a manifestação
em defesa da manutenção da ciclovia
da Avenida de Berna. Momento que,
através dessa rede, serviu também
para reactivar o colectivo informal
Massa Crítica. “Sempre que há um
assunto premente, é nesses grupos
que a comunicação acontece”, expli-
ca Laura Alves, que diz ter sentido,
desde a construção da ciclovia da Ave-
nida Almirante Reis, um aumento da
agressividade dos automobilistas para
com quem anda de bicicleta.
“Nunca tive carro, nem percebo
porque é que se quer comprar um”,
diz Ksenia, resumindo, de certa for-
ma, a ética do Cravo Bravo, iniciativa
da Lisboa Possível em que, reapro-
priando-se da imagética do cravo de
Abril, se espalha pela cidade o graffi-
to de uma criança a colocar aquela
Çor no cano de escape de um auto-
móvel. No sítio do colectivo, existe até
uma loja com T-shirts dessa imagem.
“Este activismo é, de certa maneira,
a minha forma de contribuir para a
comunidade e agradecer ao país que
me acolheu”, explica.
Mas nem todas as pessoas conse-
guem prescindir do carro. “O plano
era não ter”, diz Peter Füssy. E sorri.
“Tentámos por alguns meses. Resis-
timos. Mas não tínhamos a mesma
qualidade de vida que queríamos ter,
principalmente com uma criança de
dois anos”, conta. Ainda assim, tem
como meio de transporte preferencial
a bicicleta que está amarrada ao pos-
te da esquina do café onde se encon-
trou com o PÚBLICO, no Porto.
Nela tem instalada a cadeirinha que
usa para levar o Ælho, que o inspirou
a escrever o livro Se Essa Rua Fosse
Minha, publicado no ano passado.
“Não queria que ele perdesse essa
memória, de que outro tipo de cidade
onde pode brincar na rua também é
possível”, diz, sobre o tempo que pas-
saram em Amesterdão. “Se Essa Rua
Fosse Minha é para ele, mas também
para os pais perceberem o quanto a
infra-estrutura da cidade tem impac-
to na qualidade de vida dos Ælhos.” É
um exercício para mudar mentes,
para que as crianças de hoje esco-
lham, no futuro, “governantes que
estão dispostos a fazer este tipo de
mudança”.
18 • Público • Sexta-feira, 19 de Janeiro de 2024
Mundo Democracia em perigo
“Os sonhos de Cabral
continuam a ser mortos
todos os dias”
na Guiné-Bissau
Bubacar Turé Líder da Liga Guineense dos Direitos Humanos,
diz que “ninguém está imune a ataques e detenções arbitrárias,
rapto e espancamentos”, mas é preciso lutar pela democracia
Entrevista
António Rodrigues
Assumiu o cargo de presidente da
Liga Guineense dos Direitos
Humanos (LGDH) na segunda-feira,
depois de 16 anos como
vice-presidente. Bubacar Turé, 46
anos, activista, jurista de formação,
trabalhou mais de uma década na
ONU na área da igualdade de
género. Ontem, coube-lhe
apresentar o Relatório sobre a
Situação dos Direitos Humanos na
Guiné-Bissau 2020-2022, um
documento que traça um retrato
sombrio de um país onde se assiste
a uma “regressão espantosa” no
exercício de liberdades
fundamentais”.
Este relatório traça um retrato
sombrio da Guiné-Bissau. Como
é que o país chegou até aqui?
Bom, infelizmente a Guiné-Bissau
tem tido vários problemas no
percurso de construção da
democracia e na consolidação do
Estado de direito desde a abertura
ao multipartidarismo em 1994. A
partir de 2020, com a ascensão ao
poder do actual regime,
começámos a assistir a uma
espécie de regressão espantosa no
que concerne às conquistas no
domínio do exercício de liberdades
fundamentais, nomeadamente as
de expressão, manifestação, etc. O
nosso sistema político cada vez
mais exclui a qualidade e, por isso,
temos tido estes problemas
gravíssimos que hoje atingem
quase o ponto de não retorno.
Este é um relatório que analisa
o estado do país desde 2020,
que coincide com a chegada à
presidência de Umaro Sissoco
Embaló. A culpa é apenas do
Presidente?
É evidente que, sendo o Presidente
da República, tem enorme
responsabilidade nisso, mas a
culpa é do nosso sistema político,
dos nossos actores políticos,
porque não podemos esquecer que
o Presidente tem um conjunto de
actores à sua volta e cada um deles
tem a sua quota-parte de
responsabilidade neste processo
de desmantelamento do Estado de
direito e da democracia que está
em curso. Estas pessoas não têm
consciência da gravidade da
situação porque a maioria está
preocupada com os seus interesses
pessoais, egoístas.
Não podemos responsabilizar
apenas o Presidente, aliás, temos
cometido esse erro ao longo do
percurso histórico da Guiné-Bissau.
No período em que Nino Vieira era
Presidente, toda a culpa era dele.
Depois apareceu o Kumba Ialá e foi
a mesma coisa. Com o José Mário
Vaz, na crise em 2015, era o
principal responsável. E hoje temos
as baterias apontadas para o Umaro
Sissoco Embaló.
É evidente que todos eles,
incluindo o actual, têm enorme
responsabilidade na situação do
país. O actual Presidente tem ainda
uma particularidade em relação aos
anteriores, tem uma forma de
encarar o exercício do poder
diferente, com uma tendência a
presidencializar o nosso sistema
semipresidencialista. É uma pessoa
que tem apetência pela
concentração de poder e isso tem
repercussões graves. Diminui a
importância dos outros órgãos de
soberania, o Governo e a
Assembleia Nacional Popular. Num
curto espaço de tempo vimos a
dissolução de dois parlamentos,
este último de forma
inconstitucional.
Lê-se no relatório que “o Estado
de direito soçobrou e deu lugar
ao autoritarismo e à apetência
pela ditadura”. A democracia
está em perigo?
Neste momento estamos num
estado avançado de
desmantelamento da democracia.
Assistimos nos últimos anos a
fenómenos impensáveis num
Estado de direito democrático.
Assistimos a situações de cidadãos
a serem raptados e brutalmente
espancados por grupos de milícias
sem que o Estado accionasse os
mecanismos à sua disposição,
através de instituições judiciárias,
para perseguir, identiÆcar e trazer
à justiça essas pessoas. Isso
leva-nos a acreditar que o Estado
está por detrás dessas acções, com
o objectivo de intimidar e de
instalar o medo na sociedade e,
consequentemente, impedir os
cidadãos de exercerem a as suas
liberdades fundamentais.
Por outro lado, assistimos a
comportamentos de afronta à
justiça, com a recusa das
autoridades políticas e militares em
cumprir as ordens judiciárias. Por
exemplo, quando ordenam a
libertação de um suspeito no
âmbito de um processo, mas as
autoridades competentes
recusam-se a cumprir essa decisão disseram publicamente que foram
judicial. São situações que nos levados ao palácio presidencial,
preocupam muito e que se onde foram brutalmente
consubstanciam, digamos assim, agredidos. Algumas foram levadas,
numa conspiração colectiva para depois de espancadas, para o
desmantelar a democracia e o Ministério do Interior. Por isso,
Estado de direito.
Este relatório é temos diÆculdade em dissociar
O relatório refere a existência uma maneira de este grupo de milicianos das
de milícias palacianas, que estruturas do Estado.
milícias são estas, quem as
alertar a opinião É uma situação vergonhosa, triste.
formou e a quem respondem? pública, os nossos A Guiné-Bissau foi considerada
Não sabemos, o que podemos um narcoestado, depois houve
dizer é que o Estado sabe quem
actores nacionais alguns avanços no combate ao
são, porque utilizam as para a necessidade tráfico, mas o relatório diz que
ferramentas do Estado, as armas houve um retrocesso nestes três
do Estado, os uniformes do Estado,
de revivermos os anos e o tráfico de droga
inclusive as instalações do Estado ideais de Cabral continua a existir e a influenciar
para atacar brutalmente os a vida política no país.
cidadãos. Portanto, não podemos Nunca concordámos com esse
acreditar quando o Estado nos vem O Presidente tem rótulo de narcoestado. A
dizer que não sabem quem são Guiné-Bissau está numa sub-região
estas pessoas. Alguns activistas
apetência pela onde o Çuxo de tráÆco de droga
foram espancados por causa das concentração em vários desses países é muito
suas declarações, identiÆcaram maior e não são catalogados com
pessoas que estavam por detrás
de poder e isso esse rótulo. Reconhecemos que há
dos seus espancamentos e essas tem repercussões uma fragilidade enorme em termos
pessoas estão afectas a diferentes institucionais e não há capacidade
estruturas do Estado. Outros
graves de resposta das nossas estruturas

nacionais para o combate ao
fenómeno da criminalidade
organizada e do narcotráÆco. Com
a agravante de assistirmos nos
últimos anos a uma espécie de
assalto a algumas das instituições
vitais no combate à criminalidade
organizada. Não podemos
compreender que a Polícia
Judiciária tenha feito apreensões
históricas de toneladas de droga,
prendendo pessoas em Çagrante
delito, que foram condenadas em
primeira instância com penas
pesadas, e à medida que o
processo vai subindo nas instâncias
da Justiça essas pessoas são
inocentadas e libertadas. Alguns
juízes deixaram-se corromper e
tomaram decisões que afectaram e
vão continuar a afectar a imagem e
a reputação da Guiné-Bissau.
E isso repercute-se no
quotidiano dos guineenses.
Estamos a falar de um país
extremamente pobre, onde os
serviços sociais básicos quase não
existem, o sistema de educação é
caótico e disfuncional, tem um
sistema de saúde que não atende
os utentes: a Guiné-Bissau deve ser
o único país no mundo onde o
cidadão sai da capital do país para
ir procurar assistência médica e
medicamentosa com melhores
condições na 15ª cidade de um
outro país, que é o Senegal. Um
país onde a maioria da população,
sobretudo nas zonas rurais, está a
passar fome. Temos graves
problemas de segurança alimentar
em consequência da má campanha
da castanha de caju que é o
produto estratégico que sustenta as
famílias. Essas deveriam ser
prioridades das autoridades, em
vez de inventarem crises políticas
superÆciais com objectivo de
consolidar o poder absoluto e, com
isso, agravar a situação social.
O relatório diz que a
Guiné-Bissau nunca tenha tido
tantos atropelos aos direitos
humanos desde a sua abertura
ao multipartidarismo em 1994.
Como é que se explica que o
DR
Presidente tenha conseguido
mesmo assim ter tão boa
imagem internacional?
Temos um Presidente com uma
certa inÇuência ao nível
diplomático, não podemos ignorar
isso, não tenho explicações para o
que estará por detrás dessas
inÇuências, mas temos constatado
as visitas sucessivas de chefes de
Estado e de outros responsáveis
políticos à Guiné-Bissau. Mas do
ponto de vista prático, isso não tem
correspondido na melhoria das
condições de vida das nossas
populações. A pobreza continua a
agravar-se e a situação social é
deplorável. Está num estado crítico
e, portanto, os direitos humanos
são violados constantemente.
Quando vê Portugal a elogiar e
a condecorar o Presidente
guineense e a elogiá-lo como um
garante da estabilidade no país
qual é o comentário que lhe
merece?
Portugal tem uma relação histórica
com a Guiné-Bissau e é natural que
Público • Sexta-feira, 19 de Janeiro de 2024 • 19
as autoridades portuguesas ameaças de certos sectores, mas
tenham interesse em manter uma são ataques a que já nos
relação cordial com as autoridades habituamos e desvalorizamos.
guineenses. Nunca duvidei e nunca Tomou posse como presidente
critiquei, é algo que decorre das da LGDH esta semana,
relações internacionais, sobretudo coube-lhe apresentar este
de um país que foi colonizador relatório, é aquilo que pensa
para o outro que foi colonizado. No sobre a situação?
entanto, elogiar um Presidente que Sim, este relatório é um reÇexo
tem utilizado excessivamente, em daquilo que é a minha visão da
alguns casos de forma Guiné-Bissau. O relatório foi
inconstitucional, os seus poderes, elaborado por uma equipa
só tenho de lamentar, enquanto multidisciplinar, não só da Liga,
cidadão e activista dos direitos mas as ideias defendidas
humanos. coincidem com as minhas.
O relatório fala em alguma Enquanto presidente assumo na
acalmia na actuação das Forças íntegra o conteúdo e todas as
Armadas, num país habituado a responsabilidades. É uma maneira
golpes militares, é um bom de contribuir para a consolidação
sinal. O que motivou esta da democracia e do Estado de
acalmia? direito, aliás, é por isso que o
Quando o relator fala em certa relatório tem como título Resistir
acalmia está a fazer uma análise ao autoritarismo e reviver Cabral.
comparativa com situações Temos neste momento na
anteriores, em que tivemos Guiné-Bissau um regime autoritário
intervenções excessivas, golpes de que vê o exercício das liberdades
Estados, assassinatos de cidadãos; fundamentais, a separação de
intervenções extremamente poderes, o Estado de direito e a
violentas das Forças Armadas no democracia como ameaças. Não
cenário político. Hoje temos uma podemos aceitar. Entendemos que
situação diferente, mas as Forças os ideais que nortearam a luta de
Armadas continuam a servir como libertação foram traídos, os sonhos
actor importante na deÆnição do de Cabral continuam a ser mortos,
rumo político do país. nós estamos a matar Cabral todos os
“Os últimos dois anos dias com estes acontecimentos
constituem um dos pontos mais tristes, com este desmantelamento
baixos na história da da democracia e do Estado de
Guiné-Bissau, no que se refere à direito. É por isso que este relatório
decência no desempenho da é também uma homenagem a
Presidência da República.” Esta Amílcar Cabral, ao seu centenário e
afirmação que consta do uma maneira de alertar a opinião
relatório é muito forte, não pública, os nossos actores nacionais
teme as consequências? para a necessidade de revivermos
Nós temos consciência clara dos os ideais de Cabral. Há uma frase
riscos que corremos quando emblemática que utilizamos nas
exercemos as nossas funções nossas publicações e consta na
enquanto activistas e seres parede da sede da Liga, a Casa dos
humanos, mas as autoridades Direitos: “É uma luta para ter pão,
reconhecem alguma legitimidade para ter terra, mas livremente. Uma
naquilo que fazemos. Ninguém luta para ter escolas, para que as
está imune a ataques e detenções crianças não sofram, para ter
arbitrárias, de rapto e hospitais. É assim a nossa luta. É
espancamentos na Guiné-Bissau, também uma luta para mostrar à
mas, pelo menos até aqui, temos a face do mundo que somos gente
exercido as nossas funções. Há com dignidade.”
Circulação Condicionada | A4
Na A4, de 23 de janeiro a 3 de fevereiro, das 21h às 07h,
realizaremos trabalhos de beneficiação do pavimento, que implicarão
alguns desvios e condicionamentos de tráfego nas seguintes vias
de acesso:
Nó Vias afetadas
Custóias Entrada na A4, sentido Custóias/Matosinhos
A4
Sendim Entrada na A28, sentido Matosinhos/Porto
Os condicionamentos e desvios estarão devidamente
sinalizados nos locais.
Para mais informações consulte regularmente o
site Ascendi utilizando o código QR ao lado, aceda a
www.ascendi.pt ou ligue 229 767 767 (24H).
Ascendi Grande Porto, Auto-Estradas do Grande Porto, S.A.
20 • Público • Sexta-feira, 19 de Janeiro de 2024
Mundo
Procurador que investigava invasão de
estúdios de televisão no Equador assassinado
João Ruela Ribeiro
Carro onde seguia César
Suárez foi alvejado 20
vezes. Procurador tinha em
mãos vários casos ligados à
corrupção e ao narcotráfico
Quando parecia que a pior fase da
onda de violência que tem varrido o
Equador teria passado, eis que o
homicídio de um dos procuradores
mais conhecidos e respeitados do
país em plena rua volta a abalar as
fundações do país sul-americano.
César Suárez circulava de automó-
vel na tarde de quarta-feira na zona
Norte de Guaiaquil quando o seu car-
ro foi atingido mais de 20 vezes por
um grupo de homens armados. Na
véspera, o procurador tinha dado
uma entrevista ao jornal El Universo
em que dizia não ter qualquer escolta
policial, apesar de investigar alguns
dos casos mais mediáticos do país.
Entre os casos nas mãos de Suárez
estava o assalto aos estúdios de um
canal de televisão na semana passada,
em que um grupo de homens arma-
dos chegou a interromper uma emis-
são em directo. Dias antes de ser mor-
to, o procurador tinha interrogado os
Tribunal do Maine suspende proibição de candidatura
de Donald Trump às primárias do Partido Republicano
Alexandre Martins
Juíza vai aguardar por uma
decisão do Supremo
Tribunal dos Estados
Unidos sobre um caso
semelhante no Colorado
Uma juíza do Maine, nos Estados
Unidos, suspendeu uma decisão
anunciada em Ænais de Dezembro
que proíbe Donald Trump de se can-
didatar às eleições primárias do
Partido Republicano naquele estado
norte-americano. A decisão foi bem
recebida pelos advogados de Trump
e também pelos autores da queixa
no Maine.
Segundo a juíza, Michaela Murphy,
o facto de o Supremo Tribunal dos
EUA já ter anunciado que vai come-
çar a analisar, a 8 de Fevereiro, a
questão da elegibilidade de Trump
no estado do Colorado torna desne-
cessário qualquer novo desenvolvi-
13 detidos por suspeita de terem par-
ticipado naquela invasão.
As autoridades acreditam que Suá-
rez foi morto por causa do seu traba-
lho, mas não traçaram ainda directa-
mente uma ligação ao caso do assalto
aos estúdios de televisão, episódio
que correu mundo, sobretudo pelo
impacto das imagens que mostraram
os trabalhadores do canal aterroriza-
dos com a entrada de rompante de
homens armados que os mantiveram
como reféns algumas horas. E cha-
mou a atenção internacional para a
onda de violência que tem varrido o
Equador há já vários anos.
Nos últimos anos, o Equador tor-
nou-se numa peça central nas rotas
internacionais do tráÆco de droga,
sobretudo da cocaína, porque os gru-
pos criminosos locais têm trabalhado
em conjunto com os grandes cartéis
mexicanos. Um dos principais efeitos
tem sido o aumento da insegurança
urbana — o número de homicídios
tem subido consistentemente — e a
penetração dos interesses do narco-
tráÆco nas polícias e até no Exército.
Todos aqueles que, como Suárez,
têm trabalhado publicamente para
denunciar os crimes dos grupos cri-
minosos e as suas ligações corruptas
têm sido alvos a abater. No ano passa-
mento na queixa apresentada no
Maine contra o ex-Presidente norte-
americano.
Na prática, o processo vai Æcar
parado até que o Supremo dos EUA
se pronuncie sobre o caso do Colo-
rado, onde o Supremo Tribunal
estadual determinou, a 20 de
Dezembro, que Trump não pode ser
candidato às eleições primárias
naquele estado.
O cenário mais provável é que os
juízes do Supremo dos EUA queiram
tomar uma decisão que seja aplicável
a todos os estados norte-americanos,
e não apenas ao Colorado — o que
vincularia também o Maine, onde a
proibição foi determinada pela secre-
tária de Estado, Shenna Bellows.
Depois de conhecida a decisão do
Supremo dos EUA, a responsável
pela ordem de proibição da candida-
tura de Trump no Maine será chama-
da a dizer se mantém a sua decisão
inicial, ou se a anula — e só nessa altu-
ra é que a juíza Murphy poderá pro-
do, a campanha presidencial foi
ensombrada pelo assassínio do então
candidato Fernando Villavicencio,
um jornalista conhecido por expor
casos de corrupção que envolviam a
polícia e o narcotráÆco.
Suárez era um dos procuradores
mais respeitados no Equador e a sua
morte foi recebida como um cho-
que, embora não como uma surpre-
sa total. “Não sei como sobreviveu
tanto tempo...”, dizia ao El País uma
pessoa que trabalhou directamente
César Suárez foi morto na zona norte de Guaiaquil
nunciar-se sobre o que está verdadei-
ramente em causa nesta questão.
“O Presidente Trump acredita que
os nossos argumentos vão ser con-
Ærmados por uma decisão justa do
Supremo Tribunal”, disse um porta-
voz do ex-Presidente dos EUA, num
comunicado citado pelo jornal New
York Times. “É a decisão correcta”,
disse o mesmo responsável.
Pelo seu lado, Ethan Strimling, um
antigo presidente da câmara de
Portland e um dos autores da queixa
inicial contra Trump no Maine, con-
gratulou-se com o facto de a juíza
“ter mantido a decisão intacta, em
vez de a reverter”.
Em Ænais de Dezembro, em res-
A inegibilidade
de Trump está a
ser discutida em
pelo menos 35
dos 50 estados
norte-
-americanos
com o procurador, mas que não se
quis identiÆcar.
A primeira investigação mediática
nas mãos de Suárez envolvia um
caso de corrupção na compra de
materiais para os hospitais durante
a pandemia da covid-19, em 2020.
Também participou numa investi-
gação à corrupção no sistema judi-
cial e nas operações da Petroecua-
dor, a antiga petrolífera estatal.
Num país em que o narcotráÆco se
tem inÆltrado nas principais institui-
JONATHAN MIRANDA/EPA
posta a uma queixa de Strimling e de
outros eleitores, a secretária de Esta-
do do Maine decidiu que o ex-Presi-
dente dos EUA não pode participar
nas eleições primárias naquele esta-
do devido ao seu papel na invasão
do Capitólio, a 6 de Janeiro de 2021.
Poucos dias antes de a decisão sobre
o Maine ter sido conhecida, o Supre-
mo Tribunal do Colorado tinha
determinado que Trump também
não podia participar nas eleições
primárias naquele estado.
Em causa está a Secção 3 da 14.ª
Emenda da Constituição norte-ame-
ricana, que foi aprovada após a
Guerra Civil dos EUA (1861-1865), e
que proíbe qualquer cidadão de vol-
tar a assumir cargos electivos depois
de ter participado numa insurrei-
ção.
O problema é que a Constituição
dos EUA não esclarece quem deve
determinar que um candidato elei-
toral esteve envolvido numa insur-
reição, nem se é necessário que os
ções públicas, Suárez parecia ser
sempre um alvo a abater. A procura-
dora-geral da República, Diana Sala-
zar, que também já recebeu ameaças
à sua vida, garantiu que o trabalho
da justiça irá prosseguir sem receios.
“Os grupos da delinquência organi-
zada, os criminosos, os terroristas,
não irão travar o nosso compromis-
so com a sociedade equatoriana.
Iremos continuar com mais força e
compromisso”, aÆrmou.
Na sequência do ataque contra a
emissora de televisão, o Presidente
do Equador, Daniel Noboa, declarou
um estado de guerra contra os gru-
pos criminosos, que passaram a
integrar a categoria de organizações
terroristas.
As medidas tomadas pelo Governo
lograram acalmar a situação, sobre-
tudo nas cadeias, que são um terri-
tório totalmente tomado pelos car-
téis. Mas o homicídio de Suárez vem
recordar que a guerra em curso no
Equador está muito longe de termi-
nar. O ministro da Defesa, Gian Carlo
Loèredo, condenou o assassínio do
procurador e garantiu o apoio cons-
tante do Governo ao sistema judicial.
“Todos nós, equatorianos, estamos
juntos e unidos numa só força, num
só Equador”, declarou.
tribunais — ou o Congresso norte-
americano — dêem como provado
que o acto em causa foi um atentado
contra as instituições do país.
Desde a aprovação da 14.ª Emen-
da, em 1868, nenhum candidato à
eleição presidencial nos EUA tinha
sido alvo de uma queixa eleitoral por
envolvimento numa insurreição, e os
tribunais norte-americanos foram
agora chamados a pronunciar-se
sobre o caso em dezenas de estados
— num processo que está a ser discu-
tido em pelo menos 35 dos 50 esta-
dos norte-americanos e que só deve-
rá terminar com a intervenção do
Supremo.
Segundo os queixosos, a determi-
nação sobre a elegibilidade de
Trump pode e deve ser feita pelos
tribunais de cada estado — como é
o caso do Colorado —, ou pelos res-
ponsáveis estaduais pela aprovação
de candidaturas, geralmente os
secretários de Estado — como é o
caso do Maine.

Por António Rodrigues
Jornalista. Escreve à sexta-feira
Riqueza
é para taxar
Herdei uma fortuna O ano passado, pela
primeira vez desde que
e, com ela, um o banco suíço UBS
começou em 2014 a
poder sem ter feito publicar o Relatório de
Ambições Bilionárias, entre os 137
nada para o novos multimilionários, os 53 que
merecer. E o Estado tinham herdado a sua fortuna
somavam mais património (138,7
nem sequer quer mil milhões de euros) do que o
conjunto de todos os outros que
que pague imposto tinham feito a sua riqueza (129,4
sucessório mil milhões de euros).
Num Fórum Económico
Marlene Mundial, em Davos, na Suíça, onde
a organização não governamental
Engelhorn britânica Oxfam foi mais uma vez
fazer ver aos líderes mundiais que
Herdeira é preciso taxar as grandes fortunas
do fundador ao mostrar que os cinco mais ricos
do mundo mais do que duplicaram
da BASF a sua fortuna desde 2020, uma
jovem herdeira da família
fundadora do grupo químico
alemão BASF, Marlene Engelhorn,
aproveitou também para fazer
passar a sua mensagem.
O estudo da UBS afirma que, ao
contrário dos pais, os herdeiros
das fortunas são menos dados à
filantropia que os pais: se 68% dos
bilionários de primeira geração
acreditam na caridade, essa
percentagem baixa para 32% entre
aqueles que receberam a fortuna
de mão beijada.
Marlene Engelhorn não quer
saber dos 25 milhões de euros
herdados em 2022 da avó.
Fundadora da iniciativa
Taxmenow (cobrem-me
impostos), vai escolher 50 pessoas
para lhe darem ideias de como
gastar o dinheiro a partir de dez
mil austríacos maiores de 16 anos
que serão convidados a participar.
No domingo passado, em Davos,
juntou-se com outros donos de
fortunas e activistas de esquerda
para exigir um sistema fiscal mais
justo. Nas palavras do milionário
britânico Phil White, citado pela
BBC: “É escandaloso que os nossos
líderes políticos dêem ouvidos
àqueles que mais têm, que menos
sabem sobre o impacto económico
desta crise e muitos dos quais
pagam, de forma infame, pouco
em impostos. O único resultado
credível desta conferência é
tributar os mais ricos e
tributar-nos agora.”
Nem a conta
pagam
Num país onde o
Exército gasta mais
dinheiro a pagar
pensões a viúvas e
órfãos de generais do
que com os ordenados de soldados
e cabos no activo, onde uma elite
de 153 mil pessoas ou 0,1% da
população quase duplicou a sua
fortuna entre 2017 e 2022, não
admira que haja pessoas que
aÆrmem publicamente e sem
pudor ter como proÆssão herdeiro.
Mais de metade dos
multimilionários do Brasil são
herdeiros das suas fortunas, de
acordo com a Forbes. E os últimos
anos têm sido bons para os ricos, o
seu rendimento cresceu até três
vezes mais do que a parcela mais
pobre da população, de acordo com
dados divulgados esta semana pela
Fundação Getulio Vargas.
De acordo com esses dados, o
topo da pirâmide de rendimentos,
esse 0,1% da população que são
pouco mais de 15 mil pessoas,
passou de ter 9,2% do rendimento
total do país em 2017 para 11,9%
cinco anos depois.
“Ainda é cedo para avaliar se o
aumento da concentração de renda
no topo é fenómeno estrutural ou
conjuntural”, escreve o
Observatório, “mas as evidências
reunidas reforçam a necessidade de
revisão das isenções tributárias
actualmente concedidas pela
legislação e que beneÆciam
especialmente os mais ricos”.
Palavras que cairão em saco roto,
se há algo que a maioria dos
milionários (herdeiros ou não)
detesta é pagar impostos. Alguns
nem gostam de pagar as contas.
Como Chiquinho Scarpa, um
playboy que se auto-intitula conde,
herdeiro da fortuna acumulada pelo
hegado no
avô, imigrante italiano chegado
Ænal do século XIX ao Brasil,
rasil, e
que nos seus 72 anos de vida
pouco mais fez do que
gozar dos rendimentos. E
mesmo vivendo numa
mansão de que não
conhece todas as
divisões, como contou
numa entrevista
recente, foi processado
pela clínica onde esteve
internado porque não
pagou a factura.
Público • Sexta-feira, 19 de Janeiro de 2024 • 21
4 esquinas
Teddy
Se for ao site oÆcial do
vice-presidente da
Guiné Equatorial, tudo
parece institucional,
tem notícias oÆciais
com os Obiang, ligação à revista La
Vicepress com os Obiang na capa, a
única diferença é a palavra no
canto superior direito: Teddy.
Quando se carrega abre uma janela
com ligações ao X (antigo Twitter),
ao TikTok e ao Instagram e aí
entra-se noutro mundo: o mundo
glamoroso de Teddy Nguema.
Teddy é Teodorín ou Teodoro
júnior, o primeiro vice-presidente
da Guiné Equatorial, sucessor
constitucional do pai, o ditador
Teodoro Obiang. Teddy é um
amante do lado faustoso da vida e
gosta de o mostrar em todo o seu
esplendor nas redes sociais.
Sempre impecavelmente vestido,
Teddy pratica com afinco os
grandes prazeres da vida. Dos
carros velozes às festas, dos iates
aos jactos privados, e das viagens,
para o Dubai, Hollywood, Rio de
Janeiro (adora o Carnaval e até
causou polémica, em 2015, a vitória
da Beija Flor com um enredo sobre
a Guiné Equatorial pago com um
patrocínio que poderá ter atingido
1,8 milhões de euros).
Num país com petróleo, os
Obiang vivem bem dos recursos,
70% da população sobrevive na
pobreza. Teddy afirma que se
licenciou na Universidade
Pepperdine (EUA), ligada às Igrejas
de Cristo, embora o Sydney Morning
Herald diga que só lá andou cinco
meses. Mas é provável que a escolha
de Teddy fosse mais geográÆca que
educativa: Malibu é conhecida pelas
belas praias e mansões das
celebridades.
Esta semana, em mais um vídeo
autocentr
autocentrado publicado por
Tedd
Teddy no Instagram, o
no
norueguês Thomas
A
Andersen deixava
o comentário:
“Nunca se
concentram em
mensagens reais
ccom conteúdo.
Ape
Apenas mostram
supe
superÆcialmente
com o dinheiro das
como
pesso
pessoas é
despe
desperdiçado.”
Mundo
O mundo que se conta
a partir do que se diz
Descamisado
Sam Haskell foi
obrigado no sábado a
comparecer nu da
cintura para cima
num tribunal de Los
Angeles. As autoridades dizem que
tiveram receio de que pudesse
fazer mal a ele próprio e lhe
ofereceram a indumentária
habitual nestes casos; o advogado
de defesa garantiu não haver
nenhum indício de que o seu
cliente pretendia suicidar-se, que é
alérgico ao material usado no
colete anti-suicídio e que “a
situação é desumana e cria uma
imagem incorrecta do sr. Haskell”.
O “desumanizado” Sam Haskell,
quarto do seu nome, filho de um
dos principais agentes de
Hollywood, Sam Haskell III, e da
actriz Mary Donnelly Haskell, antiga
Miss Mississípi, é suspeito de ter
matado a mulher e os sogros. Foi
preso depois do corpo identificado
da sua mulher, Mei Li Haskell, ter
sido encontrado no lixo.
Detido desde Novembro sem
direito a caução, Haskell, de 35
anos, declarou-se inocente do
homicídio da mulher e dos sogros,
cujos corpos ainda não foram
encontrados. A polícia encontrou
provas dos homicídios e do
esquartejamento dos corpos na
casa. E Haskell surge numa câmara
de videovigilância a deixar um saco
preto no caixote do lixo.
Segundo o Guardian, Haskell terá
pago a uns jornaleiros 500 dólares
para se livrarem de uns sacos que
alegadamente estariam cheios de
pedras, mas os homens, intrigados
por serem demasiado moles e
ensopados, abriram um deles,
viram um umbigo e rapidamente
devolveram os sacos à procedência.
Foram à polícia, mas como só falam
espanhol demoraram a prestar-lhes
atenção e quando lá chegaram não
encontraram sacos nenhuns.
Mei Li imigrou para os EUA e
conheceu Haskell na universidade,
os pais chegaram da China em 2010
quando nasceu o primeiro dos três
Ælhos. Da vida do casal só se sabe
que ela sustentava a família. Dele
não se lhe conhece emprego, nem
se recebe apoio Ænanceiro da
família, apenas que foi condenado
em 2008 a três anos de pena
suspensa por agressão com arma.
22 • Público • Sexta-feira, 19 de Janeiro de 2024

Economia “Incentiva+TP” substitui PART

Governo reforça com mais 140 milhões

incentivo aos transportes públicos
O executivo aprovou em Conselho de Ministros um novo programa de incentivo ao uso de transportes
públicos, com uma dotação de 410 milhões de euros. Área Metropolitana de Lisboa recebe a maior fatia
DANIEL ROCHA

Rafaela Burd Relvas

O Governo aprovou, ontem, a cria-
ção do “Incentiva+TP”, programa de
incentivo à utilização de transportes
públicos colectivos que virá substi-
tuir os apoios já existentes nesta
área. O programa vai contar com
uma dotação orçamental de 410
milhões de euros, o equivalente a
um aumento de mais de 140 milhões
de euros face aos anteriores progra-
mas desta área. O montante será
distribuído pelas áreas metropolita-
nas e comunidades intermunicipais,
consoante a dimensão da popula-
ção, com Lisboa a receber a maior
fatia: mais de metade do Ænancia-
mento total.
Previsto no Orçamento do Estado
para 2024, o decreto-lei que estabe-
lece o regime jurídico do “Incenti-
va+TP” foi aprovado ontem, em Con-
selho de Ministros. O novo programa
irá substituir o Programa de Apoio à
Redução Tarifária (PART) e o Progra-
ma de Apoio à DensiÆcação e Reforço
da Oferta de Transporte Público
(PROTransP), bem como as verbas
extraordinárias alocadas ao Ænancia-
mento dos transportes (ExtraPART).
O objectivo, conforme explica o
comunicado do Conselho de Minis-
tros ontem divulgado, é Ænanciar as
“competências das autoridades de
transportes e dos operadores de A Área Metropolitana de Lisboa vai receber mais de metade da dotação orçamental do “Incentiva+TP”, 217 milhões de euros
transportes públicos, no que respeita
às suas obrigações de serviço públi- va+TP” é Ænanciado através do Fundo factores, a dimensão da população tes públicos. Esta região terá direito ANMP levanta dúvidas sobre o mode-
co”, assim como “Ænanciar medidas Ambiental. O montante de Ænancia- que reside em Portugal continental e a perto de 62,8 milhões de euros, o lo de Ænanciamento do programa,
de promoção do transporte público mento será deÆnido anualmente pelo que se desloca habitualmente e, mais equivalente a cerca de 15% da dotação bem como a fórmula de cálculo das
colectivo”. Governo e terá de corresponder a concretamente, a população que uti- total do programa. verbas a distribuir por cada área
Para isso, há um reforço signiÆca- uma percentagem entre 50% e 75% liza transportes públicos colectivos. No espectro oposto estão as regiões metropolitana e intermunicipal.
tivo de verbas. No Orçamento do das receitas provenientes das taxas De acordo com os dados anexados do interior do país e de menor densi- Assim, a associação espera que as
Estado do ano passado, considerando de carbono. ao decreto-lei, é considerada uma dade populacional, onde a proporção regras do programa possam ser dis-
todas as componentes dos progra- Fica estabelecido, ainda, que have- população móvel de mais de 5,18 de população que usa transportes cutidas.
mas, estava inscrita uma verba total rá um montante mínimo a transferir milhões de pessoas, das quais cerca públicos é menor, tal como a fatia de “A ANMP considera que a enorme
de cerca de 268,6 milhões de euros anualmente para as áreas metropoli- de 730 mil utilizam transportes públi- Ænanciamento a que terão direito. diversidade dos problemas e questões
para o PART e o PROTransP, que ago- tanas e comunidades intermunici- cos, o equivalente a 14% do total. Mas Terras de Trás-os-Montes, Alto Tâme- levantadas e identiÆcadas no presen-
ra desaparecem. Já o Orçamento do pais, que será actualizado em função os números diferem de forma signiÆ# ga, Beira Baixa e Alto Alentejo terão, te parecer demonstram a indispensa-
Estado para este ano estipula uma da taxa de actualização tarifária. As cativa entre regiões. cada uma, direito a menos de dois bilidade de que este programa seja
verba de 360 milhões de euros para transferências nunca poderão ser A Área Metropolitana de Lisboa milhões de euros. objecto de um trabalho conjunto e de
o “Incentiva+TP”, a que acrescem 50 inferiores às do ano anterior, nem conta com a maior população móvel, uma efectiva discussão aberta com
milhões para assegurar o não-aumen- poderá haver aumentos superiores a superior a 1,5 milhões de pessoas, das Municípios querem dialogar todas as entidades intermunicipais e
to do preço dos passes em relação ao 5%. Ao mesmo tempo, o acesso ao quais cerca de 24%, ou mais de 377 Do lado dos municípios, o reforço de autoridades de transportes, enquanto
ano passado. Assim, a dotação total Ænanciamento deste programa está mil, usam transportes públicos colec- verbas para Ænanciar a rede de trans- principais envolvidos, de forma a
será de 410 milhões de euros, uma sujeito a uma comparticipação míni- tivos. Assim, esta é a região que terá portes públicos é aplaudido, mas são garantir de forma duradoura a susten-
subida próxima de 53%, ou de 141 ma dos municípios, que será propor- direito à maior fatia de Ænanciamento levantadas várias questões quanto à tabilidade de todo o sistema de trans-
milhões de euros, em relação aos cional às verbas que receberem. no âmbito do “Incentiva+TP”, levan- formulação do decreto-lei relativo ao porte público colectivo de passagei-
anteriores programas. do em torno de 53% do montante “Incentiva+TP”. ros”, lê-se no parecer.
A versão Ænal do decreto-lei que irá Só 14% da população usa total (mais de 217 milhões de euros). As dúvidas são colocadas pela Asso- Ontem, a ANMP adiantou que, na
regular este novo programa ainda A distribuição das verbas deste novo Segue-se a Área Metropolitana do ciação Nacional dos Municípios Por- resposta ao parecer, o Governo garan-
não é conhecida, mas o projecto de programa por cada área metropolita- Porto, com 938,5 mil pessoas consi- tugueses (ANMP) num parecer ao tiu que “está assegurada a previsibili-
decreto-lei, a que o PÚBLICO teve na e comunidade intermunicipal será deradas como população móvel, das projecto do decreto-lei que irá regular dade das verbas a destinar às autori-
acesso, determina que o “Incenti- feita tendo em conta, entre outros quais cerca de 15% utilizam transpor- o programa. Entre outros aspectos, a dades de transporte”.

Autoridade da Concorrência trava
compra da Nowo pela Vodafone
Ana Brito
Os “remédios” propostos
pela Vodafone não são
suficientes para eliminar
receio de entraves à
concorrência no mercado
As propostas feitas pela Vodafone
para mitigar potenciais impactos
negativos da compra da Nowo no
mercado de telecomunicações não
foram suÆcientes para convencer a
Autoridade da Concorrência (AdC) de
que a operação não seria prejudicial
para os consumidores, pelo que a
entidade reguladora chumbou a ope-
ração que estava em análise aprofun-
dada desde Abril do ano passado,
segundo noticiou ontem o Jornal de
Negócios e conÆrmou o PÚBLICO.
A empresa liderada por Luís
Lopes está agora a avaliar os passos
seguintes: “A Vodafone tomou
conhecimento da decisão hoje
[ontem] anunciada pela Autoridade
da Concorrência quanto aos com-
promissos que foram apresentados
no âmbito da operação de aquisição
da Nowo, encontrando-se agora a
analisar os pressupostos dessa deci-
são”, adiantou fonte oÆcial.
A empresa pode agora apresentar
novos “remédios” ou então terá de
desistir do negócio que lhe daria aces-
so a mais “cerca de 250 mil subscrito-
res do serviço móvel e 140 mil clientes
Fisco clarifica IVA dos menus e garante
separação de taxas de 13% e 23%
Pedro Crisóstomo
Restaurantes vão poder
continuar a repartir taxas
na venda de menus que
incluam refrigerantes ou
álcool com um preço global
A Autoridade Tributária e Aduaneira
(AT) emitiu um esclarecimento sobre
a forma como os restaurantes devem
aplicar as taxas de IVA — Imposto
sobre o Valor Acrescentado, quando
vendem menus de refeições que
incluam refrigerantes e bebidas
alcoólicas, como a cerveja ou o vinho
(produtos que têm IVA de 23%).
Num primeiro momento, os ser-
viços de IVA do fisco emitiram um
ofício circulado que foi contestado
do acesso Æxo”, ou seja, Internet em
banda larga e televisão por subscri-
ção, com uma rede que chega a cerca
de um milhão de casas.
Segundo o Negócios, a decisão
negativa da entidade reguladora pre-
sidida por Nuno Cunha Rodrigues
“prende-se com o facto de nos conce-
lhos portugueses em que a Nowo está
presente todos os operadores prati-
carem preços mais baixos, o que, aos
olhos da AdC, atribui à Nowo um
valor concorrencial superior ao que
a empresa poderá ter”.
Foi já em Dezembro de 2023, mais
de um ano depois de anunciado o
acordo de compra, que a operadora
de telecomunicações apresentou pro-
Empresa liderada por Luís Lopes avalia agora os passos seguintes
pelo sector da restauração, porque
aí dizia-se que, se um restaurante
praticasse um preço único num
menu ou num buffet que incluísse
aqueles produtos não abrangidos
pela taxa de IVA de 13%, teria de apli-
car “a taxa normal do imposto”
(23%) ao valor global.
Embora esse ofício incluísse um
quadro exempliÆcativo sobre como
aplicar as taxas do IVA e, aí, já se
explicasse que havia uma outra hipó-
tese que permitia aos restaurantes
contornar a aplicação de IVA de 23%
a tudo (porque, em alternativa, os
restaurante podiam aplicar o IVA de
13% à parte do menu efectivamente
abrangida pela taxa intermédia e os
23% aos refrigerantes e bebidas
alcoólicas), o documento não era
explícito em relação a esses dois
postas de “remédios” à AdC, nomea-
damente a garantia de abrir a rede de
Æbra óptica a terceiros e devolver à
Anacom o espectro adquirido pela
Nowo no leilão 5G que foi vendido
exclusivamente a empresas ainda
sem operações móveis com rede pró-
pria. Mas essas propostas não foram
suÆcientes para convencer o regula-
dor da concorrência.
A entidade reguladora das comu-
nicações, a Anacom, foi a primeira a
levantar reservas quanto à transacção
ainda em Dezembro de 2022, consi-
derando, no parecer então enviado à
AdC, que, caso fosse aprovado, este
negócio deveria ser acompanhado de
compromissos que eliminassem ris-
JOSÉ SENA GOULÃO(LUSA
caminhos possíveis.
O corpo do texto, ao contrário do
que acontecia no quadro exempliÆ#
cativo, só referia a primeira possibi-
lidade, dizendo que, quando um
restaurante Æxasse “um preço global
único (ex. menu, buffet ou em even-
tos que incluem o serviço de alimen-
tação e bebidas), ao valor global é
aplicável a taxa normal”.
A interpretação do Æsco neste
novo ofício não altera a anterior, que
resultava dos dois exemplos referi-
Os refrigerantes
e as bebidas
alcoólicas
continuam a ser
vendidos com a
taxa de IVA de
23%, a normal
Público • Sexta-feira, 19 de Janeiro de 2024 • 23
cos como o “aumento de preços” e a
diminuição do nível de concorrência
no mercado.
A Anacom sublinhava que a Nowo,
apesar de não ter cobertura nacional,
é “o prestador que oferece os preços
mais reduzidos num conjunto signi-
Æcativo de serviços e ofertas, Æxos e
móveis”. Se os preços da Vodafone
“são, em muitos casos, superiores aos
praticados pela Nowo, esta operação
poderá resultar em aumentos de pre-
ços da Vodafone e também para os
clientes da Nowo (após o respectivo
período de Ædelização contratual-
mente deÆnido)”, frisou a Anacom.
Por outro lado, “no caso dos clientes
da Vodafone, nas zonas onde a Nowo
está presente, os mesmos [clientes]
deixariam de ter como alternativa um
operador com preços mais baixos”.
Essa ausência “resultaria na diminui-
ção da pressão concorrencial e, como
tal, poderia originar um aumento de
preços”, acrescentou a Anacom pre-
sidida então por Cadete de Matos.
Em Abril de 2023, a AdC levou esta
operação de concentração para uma
fase de investigação aprofundada,
por temer efeitos negativos na con-
corrência, sinalizando que a Vodafo-
ne poderia ter de fazer cedências se
quisesse concluir o negócio. A Nowo,
mesmo sendo mais pequena do que
os concorrentes directos (Vodafone,
Nos e Meo), exerce “uma pressão con-
correncial não-despicienda no mer-
cado” assinalou então a AdC.
dos nesse quadro, mas vem clariÆcar
que os restaurantes podem conti-
nuar a aplicar taxas diferentes nos
menus, “independentemente da
forma como [o menu] seja anuncia-
do”. A chave está na elaboração da
“factura que titula o fornecimento
de alimentação e bebidas”.
Se a factura só apresentar o preço
único, sem fazer uma repartição das
parcelas que são abrangidas pela
taxa de 13% e pela de 23%, aplica-se
a tudo a normal (23%).
Já se a factura indicar “separada-
mente os valores que correspondem
aos serviços abrangidos pela taxa
intermédia (ex. prato, sobremesa,
sumo, café, etc.) e aos serviços de
bebidas alcoólicas ou refrigerantes”,
aplica-se a taxa de 13% aos primeiros
e a de 23% aos segundos.
Economia
Dono da Zara
investe mil
milhões em
imobiliário
Rafaela Burd Relvas
Empresário dono da Zara
investiu numa altura em
que os preços estão a cair.
Europa e EUA foram os
mercados mais visados
Numa altura em que os preços do
imobiliário já começam a cair em
alguns dos principais mercados des-
te sector, incluindo em países euro-
peus e em algumas regiões dos Esta-
dos Unidos, os grandes investidores
voltam a apostar em força nesta
área. Amancio Ortega, multimilio-
nário espanhol, não foge a esta
estratégia. No ano passado, o funda-
dor da Inditex, empresa que detém
marcas como a Zara, Pull&Bear ou
Massimo Dutti, investiu mais de mil
milhões de euros em imobiliário
comercial e residencial.
A informação é avançada pelo
Financial Times, que recolheu os
números envolvidos nos negócios
imobiliários que foram tornados
públicos por Amancio Ortega.
No conjunto de 2023, a Pontega-
dea, empresa de investimentos imo-
biliários detida pelo empresário
espanhol, anunciou dez aquisições
de imobiliário nos segmentos de
logística, escritórios e residencial,
num investimento total de 1,1 mil
milhões de euros.
A maioria das aquisições concen-
tra-se na Europa e nos Estados Uni-
dos da América (EUA). Entre os
negócios contam-se um complexo
logístico em Dublin, onde a Amazon
tem instalado um centro, por 225
milhões de euros; uma torre de
apartamentos de luxo em Chicago,
por mais de 200 milhões de euros;
e um armazém de distribuição nos
Países Baixos, que está arrendado à
Primark, por 100 milhões de
euros.
A justiÆcar esta aposta esteve um
cenário de liquidez acima do espe-
rado, motivado pelos dividendos
entregues pela Inditex, o que levou
a que a empresa de Amancio Ortega
escapasse ao impacto da subida das
taxas de juro, já que, de acordo com
o Financial Times, terá avançado
com as aquisições sem necessidade
de recorrer a crédito.
A isso, junta-se a correcção dos
preços do imobiliário que já se faz
sentir em várias regiões.
“O grupo observou um ajustamen-
to dos preços em vários segmentos
na Europa, nos últimos meses”, dis-
se Roberto Cibeira, presidente da
Potegadea, ao mesmo jornal.
24 • Público • Sexta-feira, 19 de Janeiro de 2024
Economia
O amoníaco verde terá como
matérias-primas água,
hidrogénio verde e ar
Água do Sado e Alqueva usada para
produzir amoníaco verde em Sines
Ana Brito
Iberdrola quer investir
427 milhões de euros em
fábrica de amoníaco limpo
para exportação
A Iberdrola vai usar água das barra-
gens de Morgavel e do Alqueva para
produzir o hidrogénio verde neces-
sário ao fabrico de amónia verde em
Sines. O projecto Green Ammonia
Express Sines (Exporting Renewable
Energies and Sustainability) quer
criar uma “cadeia de produção de
amoníaco verde, em larga escala, a
partir de hidrogénio verde” na Zona
Industrial e Logística de Sines (ZILS),
de modo a exportar por via maríti-
ma esta matéria-prima usada no
fabrico de fertilizantes e outros pro-
dutos químicos.
A fábrica “totalmente verde”, cuja
Proposta de DeÆnição de Âmbito (um
dos passos iniciais da avaliação
ambiental) entrou em consulta públi-
ca no início do mês, representa um
investimento de quase 427 milhões
de euros e deverá ocupar cerca de 21
hectares da ZIL de Sines. Deverá fun-
cionar durante 25 anos.
A Iberdrola acredita que terá
capacidade para produzir anual-
mente até 16.988 toneladas/ano de
hidrogénio verde a partir de electro-
lisadores com 137 megawatts (MW)
que “utilizarão electricidade obtida
a partir de fontes renováveis pró-
prias”, de modo a fabricar 95 mil
toneladas de amoníaco verde/ano
(300 toneladas/dia).
“Basicamente, o processo de pro-
dução consiste na utilização do azoto
extraído do ar e do hidrogénio pro-
duzido pela electrólise da água para
produzir amoníaco verde”, explica o
documento.
O processo de electrólise (que per-
mite separar as moléculas da água
em hidrogénio e oxigénio, sendo este
libertado para a atmosfera) vai reque-
rer a produção de água desminerali-
zada a partir da água bruta que será
fornecida pela Águas de Santo André
(AdSA).
A empresa do grupo Águas de Por-
tugal explicou ao PÚBLICO que a
água que irá vender à Iberdrola “pro-
vém da Barragem de Morgavel, ali-
mentada a partir de uma origem no
rio Sado e, complementarmente, do
Empreendimento de Fins Múltiplos
do Alqueva, gerido pela EDIA”.
De acordo com a AdSA, que tem a
responsabilidade de abastecer a área
industrial de Sines, a água captada
na Barragem de Morgavel destina-se
exclusivamente a usos industriais.
Esta água bruta “é captada, tratada
e fornecida pela AdSA como produ-
to Ænal designado por ‘água indus-
trial’”.
A AdSA fornece cerca de 18 hectó-
metros cúbicos (hm3) de água indus-
trial por ano, pelo que este acrésci-
mo para a instalação industrial da
Iberdrola representará “cerca de 9%
face aos consumos actuais”. No
futuro, a empresa irá complementar
a água entregue à fábrica de amo-
níaco com água “recuperada a partir
dos eÇuentes industriais e urbanos
recolhidos pelo seu sistema”. Na
prática, a AdSA irá produzir água
para Æns industriais a partir de
águas residuais, o que signiÆca que
o projecto da Iberdrola irá usar
“água industrial com incorporação
de água reutilizada”.
Segundo o plano, o volume médio
anual da água industrial necessária
rondará os 1,6 milhões de metros
NUNO FERREIRA SANTOS
cúbicos (com um consumo diário de
água bruta de 181m3). Uma pequena
parte será usada para obter a água
desmineralizada que vai ser usada
nos electrolisadores e a restante será
usada na unidade de síntese de amo-
níaco e no sistema de refrigeração das
unidades. A restante água bruta segui-
rá para os depósitos de água de servi-
95
mil toneladas ao ano de
amoníaco verde (300 toneladas/
dia) a partir de 16.988 toneladas
de hidrogénio verde é a
produção potencial prevista
25
Fábrica representa um
investimento de quase 427
milhões de euros, ocupando 21
hectares da ZIL de Sines. Deverá
funcionar durante 25 anos
ço e de combate a incêndios.
A expectativa da Iberdrola é que
esta fábrica com duas unidades prin-
cipais (uma para a produção do
hidrogénio limpo, que inclui a des-
mineralização da água bruta, e uma
outra, “de síntese de amoníaco ver-
de, que inclui a separação do ar”) seja
erguida em cinco anos, incluindo a
fase de estudos e licenciamento. Tem
“data prevista de Ænalização dos tra-
balhos e início da exploração em
Dezembro de 2027” e a Iberdrola
antevê a criação de “55 postos de tra-
balho directos, na sua maioria quali-
Æcados”.
“Procura consistente”
O documento em consulta pública
refere que hoje os principais produ-
tores de amoníaco são “China (22%),
Rússia (9%), EUA (8%) e Índia (7%),
sendo responsáveis por quase 50%
da produção global de amoníaco”. A
Europa é ainda importadora e, de
acordo com a Iberdrola, comprou
em 2019, no exterior, 3,2 milhões de
toneladas desta matéria-prima.
“Resumindo, existe uma enorme e
crescente procura consistente de
amoníaco na Europa” e Portugal
pode passar a ser relevante neste
mercado, considera a empresa.
O plano é que o amoníaco verde
liquefeito seja depois conduzido ao
Porto de Sines através de um oleo-
duto, de modo a ser exportado por
via marítima a partir do terminal de
granéis líquidos “com destino a ins-
talações onde será utilizado na pro-
dução de fertilizantes agrícolas e de
outros produtos químicos de valor
acrescentado, como os bioprodu-
tos, substituindo os combustíveis
fósseis nalguns processos e produ-
tos industriais. A sua utilização
como combustível verde para o
transporte marítimo é outra das
possibilidades.
Quando comparado com a produ-
ção de amoníaco convencional, ou
seja, amoníaco cinzento fabricado
com recurso a combustíveis fósseis,
o projecto de Sines, alimentado com
electricidade renovável, “evitará –
para a mesma produção de amonía-
co – cerca de 150 mil toneladas por
ano de emissões de CO2 (correspon-
dente a cerca de 0,39% do total de
emissões de CO2 de Portugal)”, esti-
ma a empresa.
A electricidade será fornecida à
fábrica por um parque próprio de
energia renovável com uma capaci-
dade de produção de aproximada-
mente 220 megawatts (MW), que
serão comercializados a partir de um
contrato de compra e venda de ener-
gia de longo prazo (PPA, de Power
Purchase Agreement) com a Iberdro-
la Renewables.
Trata-se de um projecto com uma
vida útil que será no mínimo de 25
anos e 210 mil horas de operação.
Após este período proceder-se-á à
sua desactivação (descomissiona-
mento, desmantelamento e desmon-
tagem da instalação).
 Público • Sexta-feira, 19 de Janeiro de 2024 • 25

Edif. Diogo Cão, Doca de Alcântara Norte, Tel. 21 011 10 10/20 Fax 21 011 10 30
1350-352 Lisboa
pequenosa@publico.pt
De seg a sex das 09H às 19H
Sábado 11H às 17H
CLASSIFICADOS

Constrangimentos Contratação de Doutorado (M/F) Contratação de Doutorado (M/F)

de trânsito na A24 Foi publicado no Diário da República nº 13, 2.ª Série, de 18 de janeiro de
2024, o Aviso n.º 1192/2024 relativo ao concurso Ref.ª CDL-CTTRI-306-
SGRH/2023 de âmbito internacional, para recrutamento na modalidade
Lanço: Pedras Salgadas – A7 de contrato de trabalho a termo resolutivo incerto celebrado ao abrigo
do Código de Trabalho, de 1 (um) lugar de Investigador Doutorado de
KM 38+800 a KM 39+300 (Norte-Sul) nível inicial, para o exercício de atividades de investigação científica nas
de 19-01-2024 a 26-01-2024 áreas científicas de Química ou Física, com vista ao estudo computacional
de matérias bidimensionais com propriedades eletrónicas exóticas no
âmbito do projeto “Fabricating and Implementing Exotic Moiré Materials
A Norscut informa que o tráfego estará from Covalent Organic Frameworks” (FantastiCOF, Grant agreement ID:
condicionado no troço e data acima indicados. 101046231) suportado pelo programa Europeu Pathfinder.
Os trabalhos estarão devidamente sinalizados no 2 - O requerimento de candidatura deverá ser elaborado nos termos do
edital antes referido, publicitado no seguinte endereço eletrónico: https://
local. Agradecemos a compreensão dos utentes www.ua.pt/pt/sgrh/pessoal-investigador-novos-concursos-e-ofertas.
por eventuais transtornos causados no decorrer 3 - O prazo de candidaturas é de 10 dias úteis, contados a partir da data da
dos trabalhos. publicação do aviso no Diário da República.
Aveiro, em 5 de dezembro de 2023
Número de Apoio ao utente: 808 24 00 24 O Reitor, Prof. Doutor Paulo Jorge dos Santos Gonçalves Ferreira
Foi publicado no Diário da República nº 13, 2.ª Série, de 18 de janeiro de
2024, o Aviso n.º 1190/2024 relativo ao concurso Ref.ª CDL-CTTRI-308-
SGRH/2023 de âmbito internacional, para recrutamento na modalidade
de contrato de trabalho a termo resolutivo incerto celebrado ao abrigo
do Código de Trabalho, de 2 (dois) lugares de Investigador Doutorado
de nível Inicial para o exercício de atividades de investigação científica na
área científica de Biologia, subárea de Ecologia e Biodiversidade e área de
especialização em Ecotoxicologia, no âmbito da Unidade de Investigação e
Laboratório Associado Centro de Estudos do Ambiente e do Mar (CESAM),
com o apoio financeiro da FCT/MCTES, suportado pela Fundação para
a Ciência e a Tecnologia, na sua componente de Orçamento de Estado.
2 - O requerimento de candidatura deverá ser elaborado nos termos do
edital antes referido, publicitado no seguinte endereço eletrónico: https://
www.ua.pt/pt/sgrh/pessoal-investigador-novos-concursos-e-ofertas.
3 - O prazo de candidaturas é de 10 dias úteis, contados a partir da data da
publicação do aviso no Diário da República.
Aveiro, em 27 de novembro de 2023
O Reitor, Prof. Doutor Paulo Jorge dos Santos Gonçalves Ferreira

Constrangimentos Contratação de Doutorado (M/F) Contratação de Doutorado (M/F)

de trânsito na A24 Foi publicado no Diário da República nº 13, 2.ª Série, de 18 de janeiro de 2024,
o Aviso n.º 1191/2024 relativo ao concurso Ref.ª CDL-CTTRI-319-SGRH/2023
de âmbito internacional, para recrutamento na modalidade de contrato de
trabalho a termo resolutivo incerto celebrado ao abrigo do Código de Trabalho,
Fecho do Ramo de Entrada Armamar/Valdigem (S/N) de 1 (um) lugar de Investigador Doutorado de nível inicial para o exercício de
de 22-01-2024 e 09-02-2024 atividades de investigação científica nas áreas científicas das ciências sociais,
com vista ao desenvolvimento de investigação socioeconómica sobre o papel
entre as 07h30 e as 18h00 do género e as necessidades de conhecimento e capacitação das mulheres
para o desenvolvimento da Economia Azul sustentável e de elevada intensidade
A Norscut informa que o tráfego estará tecnológica na Europa, no âmbito do Projeto European Maritime, Fisheries and
Aquaculture Fund (EMFAF) “WIN-BIG - Women In Blue Economy Intelligence
condicionado no troço e data acima indicados. Gathering and Capacity Boosting”, (Grant Agreement 101111985), financiado
pela Comissão Europeia - ClNEA, concurso EMFAF-2022-PIA- WBE.
Os trabalhos estarão devidamente sinalizados no 2 - O requerimento de candidatura deverá ser elaborado nos termos do edital
local. Agradecemos a compreensão dos utentes antes referido, publicitado no seguinte endereço eletrónico: https://www.ua.pt/
pt/sgrh/pessoal-investigador-novos-concursos-e-ofertas.
por eventuais transtornos causados no decorrer
3 - O prazo de candidaturas é de 20 dias úteis, contados a partir da data da
dos trabalhos. publicação do aviso no Diário da República.
Aveiro, em 28 de novembro de 2023
Número de Apoio ao utente: 808 24 00 24 O Reitor, Prof. Doutor Paulo Jorge dos Santos Gonçalves Ferreira
Foi publicado no Diário da República nº 13, 2.ª Série, de 18 de janeiro de 2024, o Aviso
n.º 1193/2024 relativo ao concurso Ref.ª CDL-CTTRI-337-SGRH/2023 de âmbito
internacional, para recrutamento na modalidade de contrato de trabalho a termo
resolutivo incerto celebrado ao abrigo do Código de Trabalho, de 1 (um) lugar de
Investigador Doutorado de nível inicial para o exercício de atividades de investigação
científica nas áreas científicas de Ciências Biomédicas (subáreas de Investigação
Clínica ou Farmacologia) ou Ciências da Saúde (subáreas de Saúde Pública ou
Epidemiologia) com vista a exercer funções de investigação na construção de base
de dados para recolha, análise e tratamento de dados farmacoepidemiológicos e
desenvolvimento de intervenções na comunidade, no âmbito do projeto “Intervenção
multifacetada para melhorar o uso de antibióticos em Portugal: uma abordagem
“One Health”, (2022.04568.PTDC), suportado pela Fundação para a Ciência e a
Tecnologia, na sua componente de Orçamento de Estado.
2 - O requerimento de candidatura deverá ser elaborado nos termos do edital antes
referido, publicitado no seguinte endereço eletrónico: https://www.ua.pt/pt/sgrh/
pessoal-investigador-novos-concursos-e-ofertas.
3 - O prazo de candidaturas é de 10 dias úteis, contados a partir da data da
publicação do aviso no Diário da República.
Aveiro, em 20 de dezembro, 2023
O Reitor, Prof. Doutor Paulo Jorge dos Santos Gonçalves Ferreira

Manuel Bacalhau
Administrador Judicial
Anúncio de venda
Processo nº 2515/23.3T8OAZ
AVISO DE ABERTURA DE PROCEDIMENTO AVISO DE ABERTURA DE PROCEDIMENTO
JOÃO GOMES FERNANDES & FILHOS, LDA
CONCURSAL DE SELEÇÃO INTERNACIONAL CONCURSAL DE SELEÇÃO
Nos autos acima identificados foi designada a promoção de negociação particular
PARA A CONTRATAÇÃO DE INVESTIGADOR(A) Diretor(a) Administrativo(a) e Financeiro(a) a decorrer no domicílio profissional do Administrador da Insolvência, sito na Rua
JÚNIOR DOUTORADO(A) - 1 vaga das Águas, nº 61, 3700-028 São João da Madeira, sendo para tal aceites todas as
Referência: 2024_004_DAF ofertas entregues em mão, enviadas para aquela morada ou endereço eletrónico
Referência: 2023-138-IJ-Horizon
Encontra-se aberto um concurso para um quadro superior – manuel.c.bacalhau@aj.caaj.pt até ao dia 29/02/2024, pelos interessados na compra de:
Encontra-se aberto um concurso para a contratação de um Diretor(a) dos Serviços Administrativos e Financeiros - para o Centro Lote único – Composto pelo estabelecimento comercial compreendido na massa
investigador(a) nível 33 no âmbito do Horizonte Europa, Projeto com Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental – CIIMAR. insolvente como um todo, nos termos da disposição legal do artigo 162º do Código
Grant Agreement Nº. 101136739, designado por “Eco-innovative da Insolvência e da Recuperação de Empresas, incluindo-se neste a totalidade
Prazo de candidatura: 18 a 31 de janeiro.
technologies for improved nutrition, sustainable production and dos bens móveis e imóveis propriedade da sociedade João Gomes Fernandes
marketing of agroecological food products in Africa”, para o exercício Requisitos de admissão: Licenciatura em Economia, Gestão, ou & Filhos, Lda. apreendidos no âmbito do processo de Insolvência. Da venda do
de atividades de investigação-gestão no projeto, para trabalhar áreas afins; Experiência não inferior a 5 anos em funções similares; estabelecimento comercial, são, no entanto, excluídos os créditos detidos sobre
na unidade de investigação CIIMAR – Centro Interdisciplinar de Experiência comprovada em gestão financeira e gestão de recursos clientes e terceiros. Ao presente lote é atribuído o valor base de 1.300.000,00€ (um
humanos (v. condições no edital). milhão e trezentos mil euros), ao qual poderá acrescer IVA à taxa legal em vigor.
Investigação Marinha e Ambiental.
Remuneração mensal: a partir de €3.280,88 ilíquido. A venda é efetuada, mediante negociação particular, pelo valor atribuído ao lote
Prazo de candidatura: 18 a 31 de janeiro. supra-indicado, aceitando-se para tal propostas que correspondem a, pelo menos,
As candidaturas devem ser enviadas por e-mail para: rh@ciimar.up.pt As candidaturas devem ser enviadas por e-mail para: rh@ciimar.up.pt 85% do valor base indicado.
Mais informação: https://www.ciimar.up.pt/pt-pt/posicoes-em-aberto/ Mais informação: https://www.ciimar.up.pt/pt-pt/posicoes-em-aberto/ Durante o prazo para apresentação das propostas encontra-se o Administrador
da Insolvência, Manuel Casimiro Duarte Bacalhau, incumbido de mostrar os bens
apreendidos a favor da Massa Insolvente, podendo para esse efeito fixar as horas
Fundada em 1988 pelo Professor Doutor Carlos Garcia, a Associação Portuguesa de Familiares e Amigos de Doentes de Alzheimer em que, durante o dia, facultará a sua inspeção, bem como, de prestar todos os
- Alzheimer Portugal é uma Instituição Particular de Solidariedade Social. É a única organização em Portugal, de âmbito nacional, esclarecimentos pertinentes solicitados pelos Interessados.
constituída há mais de 30 anos especificamente para promover a qualidade de vida das pessoas com demência e dos seus familiares e
cuidadores. Tem cerca de dez mil associados em todo o país. O Administrador da Insolvência – Manuel Bacalhau
Oferece Informação sobre a doença, Formação para cuidadores formais e informais, Apoio domiciliário, Apoio Social e Psicológico e Consultas Médicas da Especialidade. Manuel Casimiro Bacalhau – SAJ, Unipessoal, Lda.
Como membro da Alzheimer Europe, a Alzheimer Portugal participa ativamente no movimento mundial e europeu sobre as demências, procurando reunir e divulgar os Rua das Águas, nº61 | 3700-028 São João da Madeira
conhecimentos mais recentes sobre a Doença de Alzheimer, promovendo o seu estudo, a investigação das suas causas, efeitos, profilaxia e tratamentos. Registo Comercial e Número de Pessoa Coletiva nº 514 197 307
Telefone: 256 898 188 (Chamada para a rede fixa nacional) | manuel.c.bacalhau@aj.caaj.pt
Contactos
Sede: Av. de Ceuta Norte, Lote 15, Piso 3 Quinta do Loureiro, 1300-125 Lisboa - Telefones: 213 610 460 - Fax : 21 361 04 69 - E-mail: geral@alzheimerportugal.org
Centro de Dia Prof. Doutor Carlos Garcia: Av. de Ceuta Norte, Lote 1, Loja 1 e 2 Quinta do Loureiro, 1350-410 Lisboa - Telefone: 213 609 300 - E-mail: geral@alzheimerportugal.org
Lar, Centro de Dia e Apoio Domiciliário «Casa do Alecrim», Rua Joaquim Miguel Serra Moura, n.º 256 - Alapraia, 2765-029 Estoril - Telefone: 214 525 145 - E-mail: casadoalecrim@alzheimerportugal.org
Horário de Atendimento: Quartas e sextas, entre as 9h e as 13h
Núcleo do Ribatejo da Alzheimer Portugal: R. Dom Gonçalo da Silveira n.º 31 «A, 2080-114 Almeirim - Telefone: 243 000 087 - E-mail: geral.ribatejo@alzheimerportugal.org
Delegação Norte da Alzheimer Portugal: Centro de Dia «Memória de Mim», Rua do Farol Nascente, n.º 47A R/C, 4455-301 Lavra - Telefone: 229 260 912 | 226 066 863 - E-mail: geral.norte@alzheimerportugal.org CONHEÇA AS NOSSAS COLECÇÕES
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Delegação Centro da Alzheimer Portugal: Centro de Dia do Marquês, Urb. Casal Galego - Rua Raul Testa Fortunato n.º 17, 3100-523 Pombal - Telefone: 236 219 469 - E-mail: geral.centro@alzheimerportugal.org
Núcleo do Algarve da Alzheimer Portugal: Urbanização do Pimentão, lote 2, Cave, Gabinete 3, Três Bicos, 8500-776 Portimão - Telemóvel: 965 276 690 - E-mail: geral.algarve@alzheimerportugal.org
Delegação da Madeira da Alzheimer Portugal: Avenida do Colégio Militar, Complexo Habitacional da Nazaré, Cave do Bloco 21 - Sala E, 9000-135 Funchal
Telefone: 291 772 021 - Fax: 291 772 021 - E-mail: geral.madeira@alzheimerportugal.org MAIS INFO: 210 111 010
26 • Público ClassiÄcados • Sexta-feira, 19 de Janeiro de 2024

Dá-se conhecimento de que se encontra aberto o

Universidade Nova de Lisboa
Instituto de Tecnologia Química e
Biológica António Xavier (ITQB NOVA)
Aviso (extrato)
Abertura de concurso para Técnico Superior
em regime de contrato de trabalho
a termo resolutivo incerto
Ref. 002/TRI-TS/PneumoY4/2024
O Instituto de Tecnologia Química e Biológica António Xavier da
Universidade Nova de Lisboa (ITQB NOVA) pretende recrutar,
em regime de contrato de trabalho a termo resolutivo incerto,
um Técnico Superior, Ref. 002/TRI-TS/PneumoY4/2024, para
desenvolver trabalho de investigação, no âmbito do projeto
“PneumoY4 - Impact of universal use of pneumococcal conjugate
vaccines in the pediatric population in Portugal”, financiado pela
empresa Pfizer e executado no Laboratório de Microbiologia
Molecular de Patogéneos Humanos do Instituto de Tecnologia
Química e Biológica António Xavier da Universidade Nova de
Lisboa (ITQB NOVA).
Universidade Nova de Lisboa seguinte recrutamento para a NOVA Medical School
Instituto de Tecnologia Química e da Universidade Nova de Lisboa:
Biológica António Xavier (ITQB NOVA) • 1 vaga de Técnico Superior para o Serviço de
Formação Avançada (Ref.ª: TS/4/FA/2024);
Aviso (extrato) Podem candidatar-se os indivíduos que reúnam as
Abertura de concurso para Técnico Superior condições fixadas nos avisos disponíveis no endereço:
em regime de contrato de trabalho www.nms.unl.pt (Junte-se à nms/Recrutamento/
a termo resolutivo incerto Colaboradores).
Ref. 003/TRI-TS/GI/2024 O prazo limite para submissão das candidaturas é de 6
O Instituto de Tecnologia Química e Biológica António Xavier da dias úteis a contar da data da publicação do presente
Universidade Nova de Lisboa (ITQB NOVA) pretende recrutar, anúncio.
em regime de contrato de trabalho a termo resolutivo incerto, um
Técnico Superior, Ref. 003/TRI-TS/GI/2024, para desempenhar
funções de coordenação do Gabinete de Inovação partilhado
entre o Instituto de Tecnologia Química e Biológica António
Xavier da Universidade Nova de Lisboa (ITQB NOVA) e a
Fundação Calouste Gulbenkian/Instituto Gulbenkian de Ciência
(IGC), em parceria com o Município de Oeiras, no contexto do O Iscte – Instituto Universitário CONHEÇA
projeto/programa InnOValley. AS NOSSAS
Local de trabalho: de Lisboa pretende recrutar COLECÇÕES DE
Instituto de Tecnologia Química e Biológica António Xavier, Técnicos(as) Superiores em

MÚSICA
Local de trabalho:
Instituto de Tecnologia Química e Biológica António Xavier, Oeiras. Oeiras.
regime de Contrato Individual
As candidaturas deverão ser obrigatoriamente formalizadas As candidaturas deverão ser obrigatoriamente formalizadas
através de correio eletrónico para concursos@itqb.unl.pt, através de correio eletrónico para concursos@itqb.unl.pt, de Trabalho.
contendo toda a documentação exigida, num único ficheiro pdf, contendo toda a documentação exigida, num único ficheiro pdf,
indicando a respetiva referência. indicando a respetiva referência.
Para mais informações consultar no
Mais informações disponíveis na página do ITQB NOVA em: Mais informações disponíveis na página do ITQB NOVA em: dia útil seguinte:
https://www.itqb.unl.pt/jobs. https://www.itqb.unl.pt/jobs.
https://www.iscte-iul.pt/conteudos/
Oeiras, 17 de janeiro de 2024 Oeiras, 17 de janeiro de 2024 iscte/quem-somos/trabalhar-no-
O Diretor do ITQB NOVA O Diretor do ITQB NOVA iscte/1393/concursos loja.publico.pt
Professor Doutor João Crespo Professor Doutor João Crespo INFO: 210 111 010

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 Público • Sexta-feira, 19 de Janeiro de 2024 • 27

Ciclo no Batalha Centro de Cinema começa amanhã Cultura

Jane Birkin: da nudez à verdade nua

Quem és tu, Jane B.? é a pergunta. A resposta é o próprio ciclo que o Batalha, no Porto,
dedica à actriz e que amanhã tem início com A Piscina, de Jacques Deray
MCKEOWN/HULTON ARCHIVE/GETTY IMAGES

Vasco Câmara
Se a swinging London talvez nunca
tenha existido porque a realidade
está montada como uma farsa
incompreensível orquestrada por
uma troupe de mimos — são as cenas
que abrem e fecham Blow Up — His-
tória de um Fotógrafo, de Michelan-
gelo Antonioni (1966) — então Jane
Birkin (1946-2023) terá sido uma
miragem.
Há-de passar uma hora deste que
foi o primeiro Ælme em língua ingle-
sa do cineasta italiano antes de Jane
e de Gillian Hills “assaltarem” o ate-
lier do fotógrafo interpretado por
David Hemmings. Ou serem por ele
assaltadas. Numa sequência que se
vai progressivamente despindo de
sentido(s), porque começa com os
preparativos que levam a uma orgia,
mistura os gestos de um combate
travado entre cores, cabides e vesti-
dos e acaba com a destruição do
cenário, uma brincadeira pueril,
inconsequente e que se parece
dobrar como papel usado mas que
simultaneamente se ergue como
plasticamente monumental (é ver
como Antonioni a termina: abrupta-
mente, como se nada tivesse aconte-
cido), é nestes preparos, dizíamos,
que o fotógrafo (Hemmings) vai reve-
lando a sua impotência em se rela-
cionar com o mundo sempre que
não se escuda atrás da máquina foto-
gráÆca. Ficando reservado para elas,
Jane e Gillian, um protagonismo algo BRIDGE FILMS/CARLO PONTI PRODUCTION/GETTY IMAGES
dúbio: o primeiro vislumbre púbico Jane Birkin George Harrison, que abrilhantou a como memória e com o actor inicial-
no cinema dito não-porcalhão. em 1964. estreia em Cannes com a sua presen- mente previsto, Marcello Mastroian-
Dois anos depois daquele que é o David ça ao lado de Ringo; leva-nos a um ni, em Entrevista, de 1987.
título de iconograÆa mais celebrada Hemmings e la la la na mente sempre que esvoa-
dos que compõem o ciclo que o a actriz na ça o nome da personagem de Birkin: 1969, ano erótico
Batalha, no Porto, dedica a Jane sequência (de chama-se Penny Lane. O ciclo dedicado a Jane Birkin no
Birkin (1946-2023) a partir de ama- violência? de Faz Ægura de curiosidade esta his- Batalha Centro de Cinema não come-
nhã, a Ælha de uma actriz, Judy brincadeira tória, sintonizada com o psicadelis- ça com nenhum destes títulos, que
Campbell, e de um tenente da Royal pueril?) em mo dos anos 60, em que um cientis- serão exibidos depois de amanhã
Navy, David Birkin, surgia em Won- Blow-Up, a ta distraído ( Jack MacGowran), (Wonderwall) e a 4 de Fevereiro (Blow
derwall como uma pedaço da pintu- História de um Ægura do absent minded professor Up), ambos às 17h15. Começa com
ra que era, de novo, a Londres dos Fotógrafo, que foi também eloquente na comé- um Ælme de 1969, 69 Année érotique
anos 60. De que ela, de facto, pare- de Antonioni dia americana clássica (Cary Grant segundo a canção de Serge Gains-
cia constituir peça de mobiliário em As Duas Feras, de Howard Hawks, bourg: A Piscina, de Jacques Deray
porque já lá estivera antes no pri- por exemplo), se transforma em pee- (amanhã, 21h15, e dia 31 às 15h15).
meiro momento da sua carreira: ping tom, espreitando a vizinha Mas como os outros dois citados, é
presença fugaz, en passant, é preci- manequim por um buraco na pare- ainda algo que não pertence a Birkin,
so estar atento para a reconhecer em de. Viveu várias décadas no nicho mesmo se este representa já de certa
The Knack... and How to Get It, de dos circuitos da meia-noite este Æl- forma uma promoção dela a “perso-
Richard Lester, o “realizador dos me. Não sendo uma relíquia precio- nagem”, porque tem de Æcar à entra-
Beatles” (A Hard Day’s Night, 1964, sa, mas também sem vergonha de da, visto que o espaço está ocupado
Help, 1965), ao lado de outra Ælha de ser pechisbeque, sintoniza-nos com por dois astros, Alain Delon e Romy
um militar (será por isso que as uma era que foi também a de Fellini, Schneider. Com os quais, numa villa
duas...?), Charlotte Rampling. No link para a espécie de Mandrake de da Côte d’Azur, ela vai formar um
futuro seriam duas inglesas no con- MacGowran, cartola e capa sobre os quarteto destrutivo que inclui ainda
tinente, em França. telhados de Londres — um Ælme o seu pai, personagem interpretada
Wonderwall, primeira longa de Joe sobre esta Ægura da BD foi um dos por Maurice Ronet.
Massot, tem o toque dos Beatles: projectos por concretizar do cineas- A Piscina marcou o reencontro de
pelo orientalismo da música de ta italiano, a que ele regressaria um ex-casal, Delon e Schnei- 
28 • Público • Sexta-feira, 19 de Janeiro de 2024
Cultura Ciclo no Batalha Centro de Cinema começa amanhã
der, numa altura em que se invertera
o estatuto comercial de ambos: des-
ta vez era Delon que estava na mó de
cima, quando em 1958, ano em que
os dois Ælmaram Christine, era ele o
desconhecido. A carreira de Romy
estancara, mesmo com o encontro
com gente da estirpe de Visconti,
Orson Welles, Alain Cavalier ou Otto
Preminger, e foi Delon que a impôs
no cast. Disse-se: era o seu pedido de
desculpa pela forma como rompera
a relação de ambos.
Birkin parece assistir de fora a
tudo isso, ao voyeurismo que a reu-
nião das duas stars estava a gerar nos
espectadores, alimentando o escân-
dalo, o todo a ser aquecido em
banho-maria — não havia memória
de um Ælme tão físico no cinema
francês. Por isso a Deray o que é de
Deray, também: em vésperas do
enorme sucesso que seria outro
encontro, o de Delon e Jean-Paul
Belmondo (Borsalino), e ainda a
caminho de dois dos seus títulos
maiores, Un Homme est Mort (1972,
com Jean-Louis Trintignant perdido
em Los Angeles) e Un Papillon Sur
L’Épaule (1978, com Lino Ventura),
o realizador que gostava de cidades,
e Ælmava-as bem (veja-se ainda Rifi-
fi à Tokyo, 1963), construía um
microcosmos de um erotismo mal-
são, com a música esvoaçante de
Michel Legrand a cotejar a tragédia
e a beleza dos corpos a cobrir a feal-
dade. E na villa da Côte D’Azur um
conto moral da França narcísica de
Ænal de década.
Birkin toma a palavra
Momento sobretudo icónico, tal
como Blow-Up, no percurso de Jane
Birkin, é a partir dele que se vai dese-
nhar o ciclo do Batalha. Concretizan-
do-se numa escolha no mínimo sur-
preendente e até algo estonteante,
uma vez que vários exemplares de
cinema glorioso, por exemplo A Bela
Impertinente, de Jacques Rivette
(1991), ou qualquer dos momentos
do encontro decisivo entre Birkin e
Jacques Doillon iniciado com La Fil-
le Prodigue em 1981, estão ausentes.
Quem és tu Jane B.?, título do ciclo,
está fundamentalmente ancorado a
essa pergunta essencial. Desenha,
como possível resposta, e também
de forma basilar e exemplar, mais do
que digressiva, um movimento de
síntese que vai da nudez dos corpos,
perfume que acompanhou a noto-
riedade da actriz-cantora, para a
verdade nua dos seres. O momento
em que a Ægura decorativa, objecti-
Æcada, sem biograÆa, dos primeiros
Ælmes, toma a palavra, a sua própria,
destemida na exposição artística,
emocional e autobiográÆca.
É a segunda parte do ciclo. Títulos
como Dust, de Marion Hansel (8 de
Fevereiro, 19h15), Boxes (11 de Feve-
reiro, 17h15) e Souvenirs of Serge (17
de Fevereiro, 17h15), da própria
Birkin, e Kung-Fu Master (22 de
Fevereiro, 19h15), de Agnès Varda,
propõem um teatro de emoções,
FOTOS DR
uma herança da “escola” Doillon
com quem Jane faria um dos Ælmes
mais assobiados da história do Fes-
tival de Cannes, La Pirate (1984),
para muitos o extremo histérico da
obra do cineasta francês. Ainda,
como sinais de quem era ela, Jane
Birkin, a convocação do jogo auto-
biográÆco e a escolha audaciosa dos
temas.
No Ælme de 1985 de Hansel, que
adapta In the Heart of the Country, do
Nobel da Literatura 2003 J.M. Coet-
zee, uma Ælha submissa de um fazen-
deiro sul-africano participa na busca
de uma linguagem que estruture a
sua história íntima e a História do seu
país. O Ælme é uma espécie de tabula
rasa Ægurativa e narrativa pronta a
ser iniciada. A personagem de Birkin
é também uma síntese de passadas
e futuras composições da actriz,
essencializando, por exemplo, o
motivo do incesto (La Fille Prodigue)
e o seu masoquismo (A Bela Imperti-
nente).
À exposição autobiográÆca Jane
não disse não. Souvenirs of Serge
(2011) é um comovente racconto, já
protegido pela distância e pela clari-
vidência que sobra das perdas, dos
11 anos de vida com Gainsbourg, que
conheceu tinha ela 21 anos e ele 40.
Os Ælmes caseiros Ælmados ao sabor
das viagens, por causa dos Ælmes
dela (de Abraham Polonsky a Roger
Vadim ou títulos como Slogan ou Le
Mouton Enragé) e das gravações dos
discos e das composições dele (L’His-
toire de Melody Nelson, 69 Année éro-
tique...), e dos nascimentos das
Ælhas, são a matéria muito palpável
com que se experimenta o tempo e
as suas elipses.
Já em Boxes (2007) Birkin faz a cró-
nica das suas três conjugalidades
( John Barry, Serge Gainsbourg,
Jacques Doillon) utilizando a casa
familiar, um cenário realista, com a
Çexibilidade abstracta, fantasiosa,
de uma black box teatral. É incrível o
fôlego de escrita e de reinvenção que
sopra aqui, tudo muito bergmaniano
e com um sentido de jogo rivettiano.
Finalmente, o indescritível Kung-Fu
Master, de Varda (1988), Ælme nasci-
do de um outro, Jane B. par Agnès V
A Piscina, — Varda mudou-se de armas e baga-
de Jacques gens para a casa de Birkin e com a
Deray, abre família de uma e de outra concebe-
o ciclo que o ram o díptico.
Batalha dedica Kung-Fu Master nasce de uma ideia
a Jane Birkin. de Jane sobre a personagem de uma
Kung-Fu mãe de família e mulher que se
Master, de esquecera de si própria e que se des-
Agnès Varda. cobre apaixonada por um miúdo de
Em Boxes, 14 anos (interpretado por Mathieu
Birkin Demy, Ælho de Varda). Não há qual-
faz a crónica quer arte da sublimação chez Varda
das suas três na Paris contaminada pela sida des-
conjugalida- te Ælme. É o olhar frontal para as
des: John personagens e seus sentimentos, que
Barry, Serge não recua nem contorna, que fazem,
Gainsbourg sobretudo hoje, de Kung-Fu Master
e Jacques um Ælme de um estremecimento
Doillon raro que é obrigatório experimentar.
Até porque, hoje, este Ælme não seria
possível.

Festival da
Canção 2024
vai dar o palco
aos autores
Rodrigo Nogueira
A sucessora de Ai coração, de Mimi-
cat, ou seja, o tema vencedor do pró-
ximo Festival da Canção, será um
dos 20 que foram apresentados
ontem no Musicbox, em Lisboa. Já
eram conhecidos, desde Novembro,
os autores convidados para o con-
curso; a novidade é que, pela primei-
ra vez desde que o festival foi remo-
delado, em 2017, caber-lhes-á tam-
bém interpretar as suas canções.
As 20 concorrentes distribuir-se-
-ão pelas duas semifinais, marcadas
para 24 de Fevereiro e 2 de Março.
Na primeira, desfilarão o rap com
guitarra portuguesa de Casa portu-
guesa, de Bispo; o Grito de iolanda,
em co-autoria com Luar; a pop dis-
torcida e eurovisiva de... Pelas costu-
ras, de João Borsch, com guitarra
processada à la Aerodynamic de Daft
Punk; a balada Volto a ti, de LEFT.;
Água, de MENA.; a portugalidade
rural, com azeite, alecrim e pão duro
de Mila Dores e da sua AÆa a língua,
com a ajuda de Filipe Sambado; as
Teorias da conspiração de Nena; e a
balada em inglês Memory, de NOBLE,
co-escrita por Rui Saraiva. Também
Mimicat, com o
tema Ai coração,
foi a vencedora
da edição do ano
passado do
Festival da
Canção
se mostrarão nessa noite pop à anos
1980 da banda Perpétua, com Bem
longe daqui, e os estilhaços pós-Æm
de relação, pontuados por harpa,
dos Pontos Ænais de Rita Rocha.
Uma semana depois, ouvir-se-á O
farol, de Buba Espinho, com mão de
Bruno Chaveiro, Edu Mundo e Luís
Aleixo; a Primavera de Cristina Clara,
com música do cabo-verdiano Jon
Luz e parcialmente falada em criou-
lo; FILIPA, com You can’t hide, co-es-
crita com Rich Pilkington e Marie
Jenkins; e Pé de choro, de (Bruno)
Huca, homenagem sentida e terna à
recém-falecida, e ex-vencedora do
concurso, Sara Tavares.
Haverá ainda espaço, na mesma
eliminatória, para o Quarto para um
de João Couto; Doce mistério, do bra-
sileiro Leo Middea; Maria João e a
multilingue e hiperactiva Dia, co-es-
crita por João Farinha; Aceitar, do
duo No Maka; a Criatura de Rita Ono-
fre; e o grito de mudança Change, de
Silk Nobre, com referências à emer-
gência climática.
A Ænal desenrola-se a 9 de Março.
Prémio máximo da arquitectura
britânica para Lesley Lokko
Lucinda Canelas
Arquitecta de origem
ganesa é a primeira afro-
-britânica a ter a medalha
de ouro do Royal Institute
of British Architects
O Royal Institute of British Architects
(RIBA) atribuiu a sua medalha de ouro
de 2024 a Lesley Lokko, a arquitecta,
académica e Æccionista ganesa-esco-
cesa que tem desenvolvido boa parte
do seu trabalho tendo África como
foco e que foi curadora-geral da Bie-
nal de Arquitectura de Veneza no ano
passado.
“Lesley Lokko é reconhecida pelo
seu empenho na defesa de diversas
abordagens à prática e ao ensino da
arquitectura”, justiÆcou o RIBA em
comunicado. “Durante mais de duas
décadas, dedicou a sua carreira a
ampliÆcar as vozes sub-representadas
e a examinar a complexa relação
entre arquitectura, identidade e raça,
com um impacto profundo na educa-
ção, no diálogo e no discurso no
domínio da arquitectura.”
Uma das maiores distinções mun-
diais nesta disciplina, a medalha é
atribuída anualmente a uma pessoa
ou grupo de pessoas que tenha tido
um contributo decisivo para o desen-
volvimento da arquitectura.
“Isto nunca esteve nos meus pla-
nos. Não se trata apenas de um
triunfo meu, mas antes de um tes-
temunho das pessoas e das organi-
zações com que trabalhei e que
partilham os meus objectivos”, dis-
se a arquitecta de 60 anos, citada no
comunicado do RIBA, que enumera
também alguns dos marcos da sua
carreira, com destaque para a cria-
ção, em 2021, do African Futures
Portugal tem três finalistas no Mies van der Rohe
A edição 2024 do prémio de arqui-
tectura europeu Mies van der Rohe
conta com três projectos portugue-
ses entre os 40 dos quais sairá a lis-
ta de Ænalistas a anunciar em Feve-
reiro: o Caminho das Escadinhas,
em Matosinhos, de Paulo Moreira,
o Edifício General Silveira, no Porto,
de Tiago Antero e Vítor Fernandes,
e o Posto de Turismo de Piódão, por
João Branco e Paula del Río.
As 40 obras de arquitectura agora
apontadas ao galardão atribuído
pela Comissão Europeia e pela Fun-
dação Mies van der Rohe estão dis-
tribuídas por 38 cidades de 20 paí-
Lesley Lokko foi a curadora da Bienal de Arquitectura de Veneza
Institute, em Acra, no Gana, insti-
tuição que ensaia um novo modelo
de ensino em que as artes, as ciên-
cias e as humanidades dialogam em
função de objectivos comuns.
Académica de créditos reconheci-
dos, Lokko deu aulas e orientou semi-
nários um pouco por todo o mundo,
tendo criado a pós-graduação em
Arquitectura da Universidade de Joa-
nesburgo e dirigido a Escola de Arqui-
tectura Bernard e Anne Spitzer do
City College, um dos pólos da univer-
sidade pública de Nova Iorque.
Procurando abrir a arquitectura a
pessoas de múltiplas origens étnicas,
culturais, económicas e sociais, pro-
movendo o debate em torno de
temas como a exclusão, o racismo e
a descolonização, tanto na sua prá-
tica académica como curatorial, tor-
nou-se, nas palavras do presidente
do RIBA, Muyiwa Oki, uma “defen-
sora acérrima da equidade e da
inclusão em todos os aspectos da
vida” e tem sido uma “agente visio-
nária da mudança”.
ses. A Área Metropolitana do Porto
está entre as regiões mais nomea-
das, a par da Catalunha, da Panónia
croata, da Flandres e das regiões de
Berlim, de Bruxelas e de Viena.
Espanha é o país com mais projec-
tos nesta shortlist (seis), seguindo-
se-lhe Alemanha e Bélgica (quatro)
O Caminho das
Escadinhas,
projecto de Paulo
Moreira para o
bairro Monte
Xisto, em
Matosinhos
Público • Sexta-feira, 19 de Janeiro de 2024 • 29
MURDO MACLEOD/ROYAL INSTITUTE OF BRITISH ARCHITECTS
Nascida em Dundee, na Escócia,
Ælha de um cirurgião ganês e de uma
escocesa, Lesley Lokko cresceu em
Acra e aos 17 anos regressou ao Reino
Unido para estudar. Sempre se con-
siderou meio escocesa, meio ganesa
e esta condição que a faz ser, em
simultâneo, europeia e africana, her-
deira de um país colonizador e de
um país colonizado, está presente
em tudo o que escreve ou ensina.
“Entrei na arquitectura à procura
de certezas, à procura de respostas.
Em vez disso, encontrei perguntas e
possibilidades, formas muito mais
ricas, mais curiosas e mais empáticas
de interpretar e moldar o mundo”,
diz no mesmo comunicado.
Quando começou a trabalhar em
arquitectura, há 30 anos, o panorama
era muito diferente: “Havia apenas
duas pessoas não brancas na minha
turma de quase cem alunos. Acho que
éramos seis mulheres”, lembrou à
BBC aquela que foi a primeira cura-
dora-geral da Bienal de Arquitectura
de Veneza com raízes africanas.
e Portugal, França e Croácia (três).
A selecção destes 40 projectos
coube a um júri composto por Fré-
déric Druot, Martin Braathen, Pippo
Ciorra, Tinatin Gurgenidze, Adriana
Krnácová, Sala Makumbundu e
Hrvoje Njiric.
Nesta edição, os prémios Mies van
der Rohe visam “os melhores pro-
jectos” completados entre Abril de
2021 e Maio de 2023, procurando
“reÇectir sobre os desaÆos que cida-
dãos, arquitectos, clientes, emprei-
teiros, decisores políticos e outros
proÆssionais enfrentam actualmen-
te no contexto do Pacto Ecológico
Cultura
Grupo Pestana
e Alves Ribeiro
concorrem a
hotel no CCB
O Grupo Pestana e a construtora
Alves Ribeiro são as empresas auto-
rizadas a apresentar propostas de
construção do futuro módulo do
Centro Cultural de Belém (CCB), em
Lisboa, que incluirá um hotel de
luxo, apartamentos turísticos e lojas.
A notícia foi ontem avançada pelo
jornal Eco, tendo o CCB conÆrmado
à Lusa que ambas “demonstraram
ter capacidades técnica e Ænanceira
suÆcientes”, à luz dos critérios Æxa-
dos no caderno de encargos.
O concurso internacional para o
projecto CCB New Development
2023, que prevê a concessão por 65
anos do direito de superfície para
construção e exploração de hotel e
área de comércio e serviços (a área
correspondente aos módulos 4 e 5 do
projecto original de Vittorio Gregotti
e Manuel Salgado), foi lançado em
Outubro e envolve um investimento
de cerca de 80 milhões de euros.
Na altura, o então presidente do
CCB, Elísio Summavielle, estimou
que o futuro “hotel e centro de
comércio e serviços” — a que corres-
ponde uma área de cerca de 23 mil
metros quadrados — poderá estar
concluído em 2027.
Os investidores interessados na
construção de um hotel com 161
quartos duplos e de um aparthotel
com 126 unidades, comércio e servi-
ços tiveram 50 dias para apresentar
candidaturas.
Esta é a segunda tentativa do CCB
para lançar o projecto. Em 2018,
quando já tinham avançado as nego-
ciações com a Mota Engil, a constru-
tora desistiu devido aos constrangi-
mentos impostos pela pandemia.
Lusa
Europeu”. Portugal partiu para o
concurso, em Outubro, com 14 pro-
jectos. Entre os que não passaram à
nova fase estão a Escola Superior
Artística do Porto, o Terminal Inter-
modal de Campanhã, o Cinema
Batalha, o Mercado do Bolhão e o
Hotel Vincci Ponte de Ferro, todos
na Área Metropolitana do Porto, o
Praia do Canal Nature Resort, em
Aljezur, uma casa em Grândola,
outra no Barreiro e mais duas em
Lisboa.
Os vencedores do Mies van der
Rohe 2024 serão conhecidos em
Abril. Lusa
30 • Público • Sexta-feira, 19 de Janeiro de 2024
Cultura
Ricardo III em língua gestual: o teatro
também é o lugar da palavra que não se ouve
Mariana Duarte
Até domingo, uma versão
da peça de Shakespeare
é apresentada no Teatro
Carlos Alberto através
“do gesto, da expressão”
Num autor em que a palavra dita cos-
tuma sair com tanta imponência e
veemência, o encenador Marco Paiva
substitui-a por um gestuário que fala
bem alto. Neste Ricardo III que ocupa
o Teatro Carlos Alberto, no Porto, até
domingo, Shakespeare é levado à
cena em língua gestual portuguesa e
espanhola, onde os jogos de poder, o
egocentrismo, a traição, a intriga e o
rolamento de cabeças são comunica-
dos através do gesto, da mímica e do
músculo de um elenco com intérpre-
tes portugueses e espanhóis.
“Há esta ideia muito enraizada de
que o teatro é o lugar da palavra que
se diz, quando, na verdade, o teatro
é o lugar onde alguma coisa acontece
e onde as línguas e linguagens podem
encontrar outros lugares de expres-
são”, diz Marco Paiva ao PÚBLICO.
Com um percurso dedicado a traba-
lhar com pessoas surdas e ensurdeci-
das, com deÆciência intelectual e
mobilidade reduzida, a Terra Amare-
la, estrutura fundada por Paiva em
2018, atira-se pela primeira vez a
Shakespeare. E isso é sinónimo de
liberdade.
“Apesar de ser um autor canónico,
o facto de ter sido abordado ao longo
dos séculos a partir de estéticas e
abordagens linguísticas muito dife-
rentes cria um lugar de alguma liber-
dade”, considera o actor e encenador,
que com este espectáculo dá o pon-
tapé de saída do ciclo “Outro Shakes-
peare”, no âmbito do qual o Teatro
Nacional São João propõe olhar o dra-
maturgo inglês sob ângulos pouco
habituais, até Março.
Outro dos motivos para escolher
Ricardo III foi virar ao contrário uma
história de tirania para conseguir
encontrar “uma ideia de justiça”, ala-
vancada pela própria não-normativi-
dade de quem faz e de como se faz
este espectáculo. “Nós já tínhamos
feito um pouco isso no Calígula Mor-
reu. Eu não (2021). Temos um fascínio
por Æguras totalitárias, porque de
alguma maneira a nossa prática artís-
tica ajuda a matar essas Æguras, a
contrapor essa ideia de poder totali-
tário a partir dos objectos e das pes-
soas que nós trazemos para as cria-
ções”, explica Marco Paiva.
Nesta co-produção com o Centro
Nacional Dramático de Madrid (onde
a peça se estreou em 2023), o Teatro
O espectáculo reúne intépretes
portugueses e espanhóis. E tem
legendas em português, para
quem não sabe língua gestual
“Como é que se
consegue criar um
sussurro, não a
partir da voz, mas
a partir do
movimento das
mãos”, propõe o
actor e encenador
Marco Paiva
Nacional D. Maria II e o Cineteatro
Louletano, interessou ao encenador
redescobrir outra dinâmica num tex-
to “muito conhecido e muito repre-
sentado”. Desregulando o metabolis-
mo normal do acto teatral, a equipa
foi à procura da “poética” inscrita na
obra de Shakespeare não através da
oralidade e da retórica, mas através
“do gesto, da potência do músculo,
da expressão de um corpo inteiro”.
“Nós fomos buscar as ferramentas
que constroem a poética oral — as
inÇexões, as suspensões —, só que
utilizamo-las a partir do lugar físico”,
assinala Paiva. “Como é que se con-
segue criar um sussurro, não a partir
da voz, mas a partir do movimento
das mãos. Ou, a partir de uma deslo-
cação de cena, como é que se trans-
porta esse lugar, às vezes mais oníri-
FOTOS: PAULO PIMENTA
co, ou mais poético, que está dentro
do texto, para um desenho de movi-
mento.” Esse processo, que resultou
também numa “redescoberta” do
texto de Shakespeare, começou no
momento de tradução da peça escri-
ta para o texto gestuado. “É como se
fôssemos à procura das respirações
do texto.”
Além da língua gestual portuguesa
e espanhola, o elenco aplica duas téc-
nicas “da cultura surda”: o visual ver-
nacular, “que mistura a mímica com
a língua gestual”, facilitando a apreen-
são para o público que não sabe lín-
gua gestual”, e a poética, utilizada
“para dilatar o tempo daquilo que
estamos a contar e para lhe dar um
lugar de vibração distinto”.
Diversidade de olhares
Este Ricardo III é ritmado por uma
Æsicalidade pontilhista, por um voca-
bulário de gestos que preenchem o
espaço — e também o silêncio. Há
legendas em português para quem
não sabe língua gestual, mas deixa-
mos o desaÆo aos espectadores para
desviar o olhar, pelo menos durante
alguns momentos, e se focarem ape-
nas na expressão física dos actores e
das actrizes. Se por vezes pode pare-
cer um espectáculo mais próximo da
performance ou até da dança, é o tea-
tro que predomina. “Acho que isto
coloca o público, na sua diversidade,
a apreender o espectáculo de lugares
muito distintos”, observa Marco Pai-
va. “Permite uma liberdade ao espec-
tador de poder seguir a narrativa a
partir de um lugar de abstracção.”
Essa diversidade de olhares sobre
o teatro é, de resto, uma parte fulcral
da actividade da Terra Amarela. “A
estrutura nasce com o objectivo de
aprofundar, por um lado, o trabalho
artístico com artistas com e sem defi-
ciência e pessoas surdas e, por outro,
trabalhar nas questões de qualiÆca-
ção e empregabilidade destes artis-
tas”, contextualiza o director artísti-
co. “Por isso, o nosso trabalho é
impregnado por gente muito distinta,
com necessidades e expectativas mui-
to distintas sobre a arte.”
Marco Paiva nota que à represen-
tatividade em palco corresponde
uma maior diversidade de públicos.
“Todos os nossos espectáculos ou
são bilingues — ou seja, em portu-
guês oral e em língua gestual portu-
guesa —, ou então só em língua ges-
tual portuguesa. Desde o início que
a comunidade surda nos acompanha
porque vê os seus artistas, a sua cul-
tura e a sua língua espelhados num
objecto performativo.”
Sobre a questão da empregabilida-
de dos artistas com deÆciência, a
Terra Amarela procura fazer a sua
parte. Tentam mapear a presença
destes artistas por todo o território
(ilhas incluídas) através de oÆcinas,
cursos e outras actividades de media-
ção, “colaborar na sua qualiÆcação e
formação”, e depois trazê-los para as
suas criações. “De uma maneira geral,
a empregabilidade de uma pessoa
com deÆciência em Portugal é muito
complexa e existe um nível de desem-
prego muito alto”, aponta Marco Pai-
va. “O meio artístico não foge à regra
e ainda acresce o facto de o sector ser
muito precário.”
E o que poderia fazer o meio teatral
quanto a isso, incluindo as instituições
culturais? “Num primeiro momento,
abrir os horizontes no que toca àquilo
que são as linguagens artísticas e ir à
procura de outras histórias, de outros
corpos, de outras línguas que possam
aportar outro tipo de perspectivas”,
propõe o actor e encenador. “Depois,
estarem atentos ao território. Um tea-
tro não é um conjunto de agendamen-
tos de iniciativas, é um lugar que deve
estar em permanente diálogo com o
território e, portanto, quanto mais
estiver, mais vai conseguir auscultar
a diversidade de pessoas que ocupa
esse território.”
Por falar em território, nos próxi-
mos tempos ,a Terra Amarela estará
a palmilhar Portugal (“descentraliza-
mos brutalmente”). Além de Ricardo
III, na próxima semana vão a Ponte
de Lima com O Tamanho das Coisas
e, em início de Fevereiro, passam por
Barcelos com Zoo Story.

Perdeu o telemóvel? Saiba como
pode apagar tudo à distância
O PÚBLICO explica como apagar os dados de um telemóvel à distância. Mesmo que
não tenha ecrã de bloqueio, como o telemóvel da Apple que caiu cinco mil metros
Karla Pequenino
O telemóvel da Apple que sobreviveu
a uma queda de cinco mil metros,
quando a janela de um avião da
Alaska Airlines se soltou no começo
do voo, foi encontrado inteiro e des-
bloqueado. No ecrã, tinha ainda o
aviso de entrega de bagagem. O apa-
relho foi devolvido, mas sem bloqueio
de ecrã, facilmente se podia aceder
aos Æcheiros, fotograÆas e outra infor-
mação. Incluindo apps bancárias.
Em 2024 ainda não há um botão de
“autodestruição” como nos Ælmes
para aparelhos perdidos, mas tanto a
Apple (iOS) como a Microsoft (Win-
dows) e a Google (Android) têm siste-
mas para barrar o acesso a aparelhos
à distância. Seja o telemóvel, tablet,
computador, auriculares ou relógios
inteligentes. Explicamos de seguida
como bloquear e apagar os dados de
aparelhos digitais à distância. Ou,
caso preÆra, como impedir que essa
função seja utilizada.
Passos iniciais
Para conseguir apagar ou bloquear
um dispositivo à distância, é impor-
tante garantir que este pode ser loca-
lizado remotamente. Regra geral, a
opção para “localizar dispositivos”
está disponível nas deÆnições e ligada
por defeito se o utilizador estiver
registado com uma conta da Apple,
Google, ou Windows.
Para telemóveis Android (Google),
por exemplo, deve-se aceder a DeÆ#
nições > Google > Localizar Dispositi-
vo e escolher a opção para activar.
Em telemóveis iOS (Apple), deve-se
abrir a app DeÆnições > Encontrar
[dispositivo] e escolher a opção para
activar (ou desactivar). Com a opção
activada, dá-se autorização às empre-
sas para guardar a localização mais
recente dos diferentes dispositivos.
Ao permitir que um dispositivo seja
localizado, torna-se possível bloqueá-
lo ou apagá-lo à distância.
Apagar tudo em Android
Em aparelhos Android, deve-se ace-
der ao site android.com/Ænd e entrar
Apple termina reinado de Samsung nos telemóveis
A Apple acaba de pôr termo à liderança de 12 anos
da Samsung e é agora a maior fabricante mundial
de telemóveis em volume. Segundo dados
da analista IDC, as vendas de 2023 aumentaram
3,7%, para 234,6 milhões de unidades, superando
os 226,6 milhões da Samsung.
Com a Internet, há várias técnicas para apagar dados de dispositivos à distância
na conta Google. Se estiver a usar o
telemóvel, pode usar a app móvel
Localizar o Meu Dispositivo.
Na página (ou app) tem acesso à
localização — aproximada — dos dis-
positivos ligados à conta da Google.
Ou a última localização em que foi
registado antes de ser desligado.
Tem a opção de obrigar um apa-
relho a “Reproduzir som” (mesmo
que o aparelho esteja no modo silen-
cioso), bloquear o dispositivo, ou
apagar o conteúdo. Esta última
impede um dispositivo de ser loca-
lizado, mas também impede que
outros vejam e acedam a informa-
ção (por exemplo, fotograÆas). A
opção “proteger dispositivo” tam-
bém permite programar uma men-
sagem de recuperação no ecrã para
que quem encontre o aparelho o
consiga devolver. No entanto, que
formatar o aparelho pode não eli-
minar a informação guardada em
cartões de memória.
Apagar tudo de iOS
O processo é semelhante nos telemó-
veis e tablets da Apple. Pode localizar
diferentes dispositivos através do site
tecnologia
icloud.com/Ænd. Caso seja possível
localizar o dispositivo, porque está
ligado à Internet e a funcionar, é apre-
sentada uma localização aproximada
num mapa. Caso contrário, aparece
uma nota de “oëine” por baixo do
nome do dispositivo, com a última
localização.
Ainda assim, é possível registar um
pedido para eliminar remotamente
os dados do dispositivo assim que for
ligado.
Quando se pede para “Eliminar”
um dispositivo, é enviado um email
para o utilizador da Apple aprovar.
Se eliminar um dispositivo com o
iOS 15 ou posterior (lançado em
Setembro de 2021), continua a ser
possível tentar localizar o aparelho e
produzir um alerta sonoro.
Ao permitir
que um aparelho
seja localizado,
torna-se possível
apagá-lo à
distância
Público • Sexta-feira, 19 de Janeiro de 2024 • 31
TOWFIQU AHAMED/GETTY IMAGES
Caso o dispositivo esteja oëine,
será eliminado remotamente da pró-
xima vez que estiver online. Se encon-
trar o aparelho (ainda desligado),
poderá cancelar o pedido.
Botão de autodestruição?
As opções acima só funcionam para
quem tem o seu telemóvel ou compu-
tador ligado a uma conta e “visível”
para encontrar. No entanto, o concei-
to de aparelhos que se autodestroem,
para evitar que a informação que con-
têm caia em mãos alheias, já não faz
só parte do mundo da Æcção e come-
ça a ser explorado.
Em 2017, investigadores da Univer-
sidade de Ciência e Tecnologia da
Universidade King Abdullah (KAUST),
na Arábia Saudita, desenvolveram
uma tecnologia que impedia apare-
lhos portáteis roubados de cair nas
mãos erradas, precisamente através
de autodestruição. Contrariamente a
Ælmes de espionagem, o mecanismo
não leva um aparelho a explodir. Em
vez disso, os aparelhos incluem uma
peça que, quando aquecida, se expan-
de e permite deformar os chips dos
dispositivos.
Guia
publico.pt/tecnologia
Telemóveis
Samsung Galaxy S24:
o salto para a
inteligência artificial
O Galaxy AI, produto de
inteligência artificial da
Samsung apresentado com os
novos telemóveis S24, dá o
passo para demonstrar de que
forma a inteligência artificial (IA)
se vai tornar mais fundamental
nas tarefas do quotidiano.
No primeiro contacto que
tivemos com os novos
smartphones, a funcionalidade
mais impressionante foi a
tradução de voz em tempo real
que permite, como o nome
indica, traduzir de um idioma
para outro quase
instantaneamente. Fizemos
uma chamada telefónica,
falámos em português e a voz
que se ouviu, em espanhol,
demorou apenas um instante e
apresentou-se sem trejeitos
robóticos ou hesitações.
Esta funcionalidade está
disponível em 13 idiomas,
incluindo o português do
Brasil. O português de Portugal
deverá chegar até ao final
deste ano.
A IA também se mostrou
bastante eficaz na
identificação e pesquisa de
conteúdos. Para isso, a
Samsung estabeleceu uma
parceria com a Google,
partilhando com os telemóveis
Pixel a seguinte funcionalidade:
perante uma fotografia, é
possível usar a caneta S-Pen
para isolar um objecto e
efectuar uma pesquisa para o
identificar.
De resto, os novos telemóveis
da Samsung são produtos
premium com excelente
construção e especificações. O
S24 Ultra é o mais apetrechado
(a partir de 1620 euros),
nomeadamente por ser um dos
primeiros telemóveis no
mercado a incluir no novo
processador Qualcomm
Snapdragon 8 de
terceira
geração.
A Samsung
também garante
sete anos de
actualizações do
sistema operativo
e de segurança —
uma decisão que
segue a tomada
pela Google para
os novos Pixel.
32 • Público • Sexta-feira, 19 de Janeiro de 2024
Guia
Cinema
Lisboa
Cinema City Alvalade
Av. de Roma, 100. T. 214221030
Só Nós Dois M14. 13h20, 15h25; O Rapaz
e a Garça M12. 19h25; O Pub The Old
Oak M14. 17h10; Dias Perfeitos M12. 14h55,
21h50; Viagem ao Sol M12. 15h; Anselm
- O Som do Tempo M14. 19h45; Ferrari M12.
17h30, 21h45; O Corno do Centeio M12.
17h20; Pássaro Branco - Uma História
Extraordinária M12. 15h20, 21h40; Via
Norte + Engine M12. 13h15; A Zona de
Interesse M12. 13h15, 17h40, 21h30,
21h45; Rosinha e Outros Bichos do
Mato M12. 19h25; Folhas Caídas 13h15, 20h
Cinema City Campo Pequeno
Centro de Lazer. T. 214221030
Calamity M6. 13h45, 15h40 (VP); O Rapaz
e a Garça M12. 13h35; Wish: O Poder dos
Desejos M6. 15h45 (VP); Wonka M6. 15h50,
18h30 (VO); Patos! M6. 13h20
(VP); Aquaman e o Reino Perdido M12. 16h,
18h40; Som da Liberdade M14.
21h20; Todos Menos Tu M12. 15h25, 17h30,
19h35, 21h40, 23h45; Ferrari M12. 15h20,
19h, 21h35; Dogman M16. 17h35; Johnny
Puff: Missão Secreta M6. 13h20 (VP); Mean
Girls M12. 19h50, 22h, 00h15; Pássaro
Branco - Uma História Extraordinária M12.
15h15, 17h40, 21h10, 23h30; A Zona de
Interesse M12. 13h40, 17h50, 19h55, 22h,
00h05; The Beekeeper - O Protector M12.
13h15, 15h20, 17h25, 19h30, 21h30,
23h45; Masha e o Urso: Diversão a
Dobrar M6. 13h15 (VP); Hanu Man 21h
Cinema Fernando Lopes
Cp. Grande. T. 217515500
Quando o Mal Espreita M16. 19h
A Semente do Mal M16. 21h;
Cinema Ideal
Rua do Loreto, 15/17. T. 210998295
Dias Perfeitos M12. 18h; Anselm
- O Som do Tempo M14. 14h30;
A Zona de Interesse M12. 21h45;
Folhas Caídas M12. 16h25, 20h15
Cinemas Nos Alvaláxia
R. Francisco Stromp. T. 16996
Calamity M6. 14h, 16h30 (VP); O Rapaz
e a Garça M12. 13h40, 16h25, 19h10,
22h; Napoleão 18h, 21h35; Wonka M6.
13h15, 15h50, 18h25, 21h05 (VO); Aquaman
e o Reino Perdido M12. 18h30, 21h40; Som
da Liberdade M14. 13h30, 16h10, 19h,
21h50; Todos Menos Tu M12. 13h45, 16h15,
18h55, 21h25, 23h55; Ferrari M12. 13h15,
15h55, 18h45, 21h45, 23h45; Mean
Girls M12. 13h55, 16h35, 19h15,
21h55; Pássaro Branco - Uma História
Extraordinária M12. 13h25, 15h55, 18h35,
21h15, 24h; A Semente do Mal M16. 13h10,
15h40, 18h20, 21h, 23h40; A Zona de
Interesse M12. 13h50, 16h20, 18h50,
21h30; The Beekeeper - O Protector M12.
Sala Atmos - 13h20, 16h, 18h40, 21h20,
23h50; Masha e o Urso: Diversão a
Dobrar M6. 13h35, 15h45 (VP)
Cinemas Nos Amoreiras
Av. Engº Duarte Pacheco. T. 16996
Calamity M6. 17h (VP); Só Nós Dois M14.
20h50, 23h40; Napoleão 13h20, 16h50,
20h30, 23h50; Maestro M14. 14h, 17h30,
21h, 24h; Patos! M6. 13h30, 15h50, 18h20
(VP); Som da Liberdade M14. 13h50, 21h10,
24h; Ferrari M12. 13h40, 17h10, 21h20,
00h10; Pássaro Branco - Uma História
Extraordinária M12. 13h10, 16h10, 18h50,
21h30, 00h10; A Zona de Interesse M12.
14h10, 16h30, 19h10, 21h50, 00h20
Cinemas Nos Colombo
Av. Lusiada. T. 16996
Wonka M6. 18h50; Patos! M6. 13h25,
15h55, 18h20 (VP); Aquaman e o Reino
Perdido M12. Sala Atmos - 12h30, 15h10,
18h10, 21h10, 24h; Todos Menos Tu M12.
13h10, 15h30, 18h, 20h30, 23h; Águas
Negras M14. 20h50, 23h30; Ferrari M12.
14h, 17h, 20h, 23h20; Mean Girls M12.
13h20, 16h, 19h10, 21h50, 00h25; Pássaro
Estreias
A Zona de Interesse
De Jonathan Glazer. Com Sandra
Hüller, Christian Friedel, Freya
Kreutzkam, Ralph Herforth. GB/
EUA/POL. 2023. 105m. Drama,
Guerra. M12.
Enquanto milhões de pessoas são
mortas nos campos de
concentração, o comandante
Rudolf Höss e a sua mulher tentam
transformar a vivenda que lhes foi
atribuída, junto ao campo de
extermínio de Auschwitz-Birkenau
(comandado por Rudolf ), num lar
aconchegante.
A Semente do Mal
De Gabriel Abrantes. Com
Brigette Lundy-Paine, Carloto
Cotta, Anabela Moreira, Alba
Baptista, Rita Blanco, Sónia
Balacó. POR. 2023. 91m.
Drama, Thriller. M16.
No dia de aniversário de Edward, a
namorada oferece-lhe um teste de
ADN. É assim que ele, que sempre
morou em Nova Iorque, descobre
que tem um irmão gémeo a viver
em Portugal. Entusiasmado com a
notícia, resolve partir e conhecer a
família.
Rosinha
e Outros Bichos do Mato
De Marta Pessoa. POR. 2023.
64m. Documentário. M12.
Este documentário fala sobre a
Exposição Colonial Portuguesa de
1934, quando homens, mulheres e
crianças vindos das várias colónias
foram exibidos “nos seus
‘habitats’”.
Pássaro Branco - Uma História
Extraordinária
De Marc Forster. Com Gillian
Anderson, Helen Mirren, Olivia
Ross, Bryce Gheisar, Patsy
Ferran. EUA. 2023. 120m. Drama,
Guerra. M12.
Esta é a versão cinematográÆca da
obra “White Bird”, da autoria de R.
J. Palacio, onde é narrada a
história de Julian que, depois de
todas as crueldades feitas a Auggie
em “Wonder”, aprende a maior
lição da sua vida com a avó,
sobrevivente do Holocausto.
Os Delinquentes
De Rodrigo Moreno. Com
Daniel Elías, Esteban Bigliardi,
Margarita Molfino. BRA/Chile/
LUX/ARG. 2023. 369m. Drama,
Comédia. M12.
Empenhado em nunca mais
trabalhar, Morán cria um plano
arriscado: assaltar um banco,
confessar, cumprir pena e depois
usufruir calmamente do resultado.
Mas, para que isso seja viável, tem
de encontrar alguém que aceite
guardar o dinheiro durante os
anos em que estiver detido.
The Beekeeper - O Protector
De David Ayer. Com Jason
Statham, Emmy
Raver-Lampman, Bobby Naderi,
Josh Hutcherson. EUA/GB. 2024.
105m. Thriller, Acção. M12.
Jason Statham é Adam Clay, um
homem com um passado
misterioso que hoje se dedica à
apicultura. Quando a Sr.ª Parker,
sua vizinha e amiga, comete
suicípio depois de ter sido vítima
de uma burla que a arruinou, Clay
decide encontrar os responsáveis e
fazê-los pagar.
Calamity
De Rémi Chayé. Com Salomé
Boulven (Voz), Alexandra Lamy
(Voz), Alexis Tomassian (Voz),
Jochen Hägele (Voz). FRA/DIN.
2020. 85m. Animação, Comédia,
Aventura. M6.
Em meados do século XIX, a
família de Martha Jane segue num
a caravana de colonos pelo Oeste
americano, em busca de um sonho
e de um lugar para morar. Quando
o pai Æca ferido, ela vê-se forçada a
tomar as rédeas dos cavalos e
conduzir a família ao destino Ænal.
Apesar de assustador para uma
menina da sua idade, isso dá-lhe
uma sensação de liberdade
inexplicável.
Rosinha
e Outros
Bichos
do Mato
Cartaz, críticas, trailers
e passatempos em
cinecartaz.publico.pt
Branco - Uma História Extraordinária
M12. 12h50, 15h50, 21h30; A Semente
do Mal M16. 19h30, 22h, 00h30; The
Beekeeper - O Protector M12. Sala Atmos
- 13h, 15h40, 18h30, 21h, 23h40; Godzilla
Minus One M12. 13h40, 16h30; Quando o
Mal Espreita M16. 00h15; The Beekeeper
- O Protector Imax - 13h30, 16h10, 00h20
Cinemas Nos Vasco da Gama
Parque das Nações. T. 16996
Wish: O Poder dos Desejos M6. 13h30,
16h10 (VP); Patos! M6. 13h10, 15h40
(VP); Aquaman e o Reino Perdido M12. Sala
Atmos - 14h, 17h, 20h30, 23h30; Todos
Menos Tu M12. 13h50, 16h20, 19h, 21h30,
00h05; Ferrari M12. 13h40, 17h, 21h; Mean
Girls M12. 18h50, 21h40; A Semente do
Mal M16. 18h10, 21h10, 23h40; The
Beekeeper - O Protector M12. Sala Atmos
- 13h20, 16h, 18h40, 21h20, 23h55
Cinemateca Portuguesa
R. Barata Salgueiro, 39. T. 213596200
O Amor de Uma Mulher 15h30;
Quinze Pontos na Alma M12. 19h;
Flaming Creatures 22h;
Medeia Nimas
Av. 5 Outubro, 42B. T. 213142223
Corações na Penumbra 17h30; História de
Um Proprietário Rural M12. 12h30; A Zona
de Interesse 22h; Os Delinquentes M12.
14h; Folhas Caídas M12. 20h
UCI Cinemas - El Corte Inglés
Av. Ant. Aug. Aguiar, 31. T. 213801400
Só Nós Dois 13h35, 18h45; Napoleão
14h10, 21h30; May December 13h45,
19h10; Wonka 16h05, 21h05 (VO);
A Vingança do Professor Poutifard M12.
13h50, 19h10; Dias Perfeitos M12. 13h20,
16h, 18h50, 21h40; Patos! M6. 14h, 16h30
(VP); Aquaman e o Reino Perdido M12.
16h40, 21h50; Som da Liberdade M14. 16h,
21h10, 00h10; Dança Primeiro, Pensa
Depois M12. 16h15, 21h05; Todos Menos
Tu M12. 13h55, 16h25, 18h55, 21h25;
Anselm - O Som do Tempo M14. 14h20,
19h30; Ferrari M12. 13h25, 16h10, 19h,
21h55, 24h; O Processo Goldman M12.
14h25; Mean Girls M12. 16h30, 21h50;
O Corno do Centeio M12. 13h40,
18h50; Pássaro BrancoM12. 16h20, 21h20,
23h45; O Novo Rapaz M12. 13h30, 18h30;
A Semente do Mal M16. 19h25, 22h,
00h15; A Zona de Interesse M12. 14h05,
16h35, 19h05, 21h35; The Beekeeper
- O Protector M12. 14h15, 16h45, 19h15,
21h45, 00h25; Os Delinquentes 17h30;
Folhas Caídas M12. 16h50, 19h20, 21h30
Almada
Cinemas Nos Almada Fórum
R. Sérgio Malpique 2. T. 16996
Napoleão 13h45, 17h, 20h20, 23h40; Wish:
O Poder dos Desejos M6. 13h20, 15h40, 18h
(VP); Wonka M6. 20h40, 23h20; Patos! M6.
13h40, 16h, 18h20 (VP); Aquaman e
o Reino Perdido M12. Sala Atmos - 12h40,
15h30, 18h30, 21h20, 00h10; Som da
Liberdade M14. 21h15, 00h05; Todos
Menos Tu M12. 13h30, 16h10, 18h50, 21h30,
24h; Hypnotic - Arma Invisível M14. 17h20,
19h40, 22h10, 00h30 ; Águas Negras M14.
20h30, 23h15; Ferrari M12. 12h30, 15h20,
18h10, 21h, 23h50; Mean Girls M12. 13h10,
16h20, 19h, 21h40, 00h15; Pássaro Branco -
Uma História Extraordinária M12. 12h50,
15h40, 18h45, 21h35, 00h20; Via Norte +
Engine M12. 14h10, 16h15; A Semente do
Mal M16. 13h30, 15h50, 18h, 20h50,
23h10; A Zona de Interesse M12. 13h50,
16h20, 19h10, 21h50, 00h20; The Beekeeper
- O Protector M12. Sala Atmos - 13h40,
16h10, 18h40, 21h10, 23h30; Masha e o Urso:
Diversão a Dobrar M6. 13h, 15h15, 17h15,
19h15 (VP); Calamity M6. 12h50, 15h10
(VP); The Beekeeper - O Protector Sala 4DX
- 12h45, 15h10, 17h25, 19h45, 22h, 00h20
Barreiro
Castello Lopes - Fórum Barreiro
Campo das Cordoarias. T. 212069440
Aquaman e o Reino Perdido M12. 13h45,
16h20, 18h55, 21h30; Todos Menos Tu
M12. 13h10, 15h15, 17h20, 19h25, 21h35,
00h15; Ferrari M12. 13h35, 16h15, 18h55,
21h35; The Beekeeper - O Protector
M12. 14h45, 17h, 19h15, 21h30
Cascais
Cinemas Nos CascaiShopping
Wonka M6. 19h30; Patos! M6. 13h30, 16h,
18h15 (VP); Aquaman e o Reino Perdido M12.
14h15, 17h, 19h45; Som da Liberdade M14.
22h30; Todos Menos Tu M12. 12h45, 15h15,
17h30, 20h, 22h15; Águas Negras M14.
22h; Ferrari M12. 12h30, 15h45, 18h30,
21h15; Mean Girls M12. 13h45, 16h45,
22h45; Pássaro Branco - Uma História
Extraordinária M12. 13h15, 16h15, 19h15;
A Semente do Mal M16. 20h45, 23h15;
The Beekeeper - O Protector M12. 13h,
15h30, 18h, 20h30, 23h; The Beekeeper
- O Protector M12. Sala Imax - 14h, 16h30

Lazer
TEATRO
Cinderella
LISBOA CAL - Centro de Artes de
Lisboa. De 17/1 a 4/2. Quarta a
sábado, às 21h; domingo, às 17h.
M/12. 10€
Os Primeiros Sintomas completam
a trilogia que pega em obras do
universo infantil e adapta
cenicamente para servir um
público mais geral. Começou em
2016 com Pinocchio e seguiu
caminho com Hansel e Gretel, em
2021. O ciclo fecha-se agora com
Cinderella, o famoso conto de
fadas que serviu de inspiração a
múltiplas versões, teatrais e
musicais — Charles Perrault,
Giambattista Basile, os irmãos
Grimm, Serguei ProkoÆev e
Gioachino Rossini são apenas
alguns dos que o eternizaram.
Nesta peça, são as “belas e livres
palavras de Robert Walser” que
dão o tom à narrativa. A partir da
ideia de uma jovem bela e cândida
que, enquanto “habita um mundo
de pó e de cinzas”, sonha com um
príncipe encantado, a história
remete aqui para um “poético e
desÆgurado ideal de liberdade e
redenção”, explica a sinopse. Uma
encenação de Bruno Bravo que
conta com a interpretação de
Catarina Pacheco, Joana Campelo,
Joana Campos, João Pedro Dantas,
Nídia Roque, SoÆa Marques e
Tiago Amado Gomes.
EXPOSIÇÃO
Lekha Singh. As Mulheres
Carregam o Mundo
LISBOA Museu Nacional de
Etnologia. De 10/11 a 31/5.
Terça, das 14h às 18h; quarta a
domingo, das 10h às 18h. 5€
A exposição aponta o foco às
mulheres e à sua capacidade (e
sobrecarga) física nas esferas
familiar e económica em vários
pontos do globo.
“Tradicionalmente valorizadas
apenas pela sua dimensão
reprodutora mas invisibilizadas ou
secundarizadas no que respeita às
actividades produtivas”, nota a
folha de sala, as mulheres são hoje
agentes de emancipação e de
ruptura com a falta de
reconhecimento. É essa a
perspectiva captada pela lente da
artista norte-americana Lekha
Singh, em realidades tão diversas
como a da Índia, do Butão, do
Japão, de Marrocos, do Quénia, do
Ruanda, da Tanzânia, da Namíbia
ou dos EUA, e aqui mostrada.
Público • Sexta-feira, 19 de Janeiro de 2024 • 33
Guia
Jogos Jogue também online.
Palavras-cruzadas, EuroDreams 8 16 19 23 30 40 5 Lotaria Popular 2 5 2 9 7
bridge e sudoku em
1.º Prémio 20.000€/mês x 30 anos 1.º Prémio 75.000€
publico.pt/jogos
Esta informação não dispensa a consulta da lista oficial de prémios Esta informação não dispensa a consulta da lista oficial de prémios
Cruzadas 12.314 Paulo Freixinho
palavrascruzadas@publico.pt
Horizontais:1. Recorreu à ironia para comparar dois anos do seu Governo com oito
do PS. Assim seja (interj.). 2. Planisfério. Elemento de formação de palavras que
exprime a ideia de vinho. 3. Afligir (fig.). Brotar. 4. Destruidor. 5. Tem um catálogo
genético disponível para ajudar a resolver os problemas do mundo. Vê corte nos
juros como provável no Verão, mas alerta para “incertezas”. 6. Austrália (Internet).
Preposição designativa de substituição. 7. Que tem dificuldade em compreender ou
falar. Sereia dos rios e dos lagos, na mitologia dos Índios do Brasil. 8. Parte lateral de
um edifício. Homem simplório (pop.). 9. Traulito. Experimentado. 10. Rodrigo (...),
realizador do filme argentino “Os Delinquentes”. Símbolo de miliampere. 11. Avenida
(abrev.). Correia dupla que sustenta o estribo. Epiderme, especialmente a do rosto.
Verticais: 1. As folhas ou agulhas do pinheiro. Escolhe. 2. Nome feminino. Reduz a
auto. 3. Significar. Peixe da família dos Escombrídeos. 4. Em forma de asa. Galha de
uma espécie de carvalho. Sufixo nominal que traduz a ideia de semelhança ou
origem. 5. Massa de cera, pez e sebo, com que os sapateiros enceram as linhas. O
seu território passou a ter três esferas de gestão e de ordenamento. 6. Ordem dos
Médicos. Anfíbio anuro com a pele muito verrugosa. Ente. 7. “(...) de mesa não é de
firmeza”. Tecido. 8. Estragado. 9. Mais pequeno. Ligo. 10. Eia! (interj.). Existe por
muito tempo. A mim. 11. Setentrião. Ousado
Solução do problema anterior
Horizontais: 1. Algarve. CCC. 2. Louro. Manha. 3. Varino. Meio. 4. USD. MB. Ns. 5. TV. Cafeína. 6. Raso.
Ruga. 7. Eco. Se. TR. 8. Desforra. 9. Alcance. Eis. 10. Garvão. Siba. 11. Er. Aorta. Os.
Verticais : 1. Alvitre. Age. 2. Loa. Vacilar. 3. Guru. SO. Cr. 4. Arisco. Dava. 5. Ronda. Senão. 6. Frescor. 7.
Em. Meu. Fe. 8. Ambíguo. SA. 9. CNE. Na. Rei. 10. China. Tribo. 11. Caos. Brasas.
João Fanha © Alastair Chisholm 2008
Bridge bridgepublico@gmail.com Sudoku www.indigopuzzles.com
Dador: Sul dão a perceber que Oeste tem um Problema 12.396 (Fácil)
Vul: EO bicolor pobre 6-6. Portanto, há
que encontrar uma forma de
NORTE
Ƅ 65 evitar perder duas vazas a copas.
Ɔ K1065 Isso pressupõe, como veremos
Ƈ QJ42 mais tarde, que o singleton de
ƅ QJ2 Oeste seja o 9, o Valete ou a Dama
OESTE ESTE (três possibilidades em cinco, não
Ƅ- Ƅ Q102 é mau de todo!). Mas como?
ƆJ Ɔ Q943 Observe: comece por apresentar Solução 12.394
Ƈ AK9875 Ƈ 106 o 8 de copas na quarta vaza do
ƅ AK10765 ƅ 9843
SUL
jogo. Oeste joga o Valete e o Rei
Ƅ AKJ98743 do morto faz a vaza. Agora o 5 de
Ɔ A872 copas do morto. Se Este jogar
Ƈ3 pequena, o 5 fará a vaza e
ƅ- podemos jogar trunfo para
capturar a Dama e acabar em
Oeste Norte Este Sul beleza. E se Este cobrir aquele 5
2ƅ 1 de copas com o 9, fazemos com o
4ST2 X 5ƅ 5Ƅ Ás de Sul e seguimos com o 2 de
Todos passam copas para o 6 do morto e a Dama
de Este. Cortamos a volta, seja
Leilão: Qualquer forma de bridge. qual for o naipe pobre escolhido Problema 12.397 (Muito difícil)
1 – Forte indeterminado; 2 – por Este, regressamos ao morto
Bicolor pobre através do 10 de copas e
capturamos a Dama de espadas
Carteio: Saída: K . Oeste joga para um contrato bem cumprido!
também o Rei de paus e Sul corta. Considere o seguinte leilão:
Segue-se o Ás de trunfo, mas
Oeste balda o 5 de paus Nas duas Oeste Norte Este Sul
primeiras vazas, Este dá a 1Ƈ passo 1ST ?
entender que tem um número par Solução 12.395
de cartas em cada um dos naipes O que marca em Sul com a
pobres. Como continuaria? seguinte mão?
Ƅ K1086 Ɔ AQ3 Ƈ 7 ƅ A10864
Solução: É fácil ir ao morto no Rei
de copas para jogar espadas e Resposta: Quando se dobra a
capturar a Dama de trunfo, mas resposta de 1ST, estamos a
isso só não é o suficiente para mostrar o equivalente a um dobre
resolver este problema. O leilão e de chamada sobre a abertura que
a sinalização fornecida por Este foi feita à nossa esquerda.
34 • Público • Sexta-feira, 19 de Janeiro de 2024

Guia

CINEMA Televisão Os mais vistos da TV

Quarta-feira, 1
RTP1 9,6% SÉRIE
Assim Nasce Uma Estrela
Jornal da Noite
% Aud. Share
SIC 8,8 16,7
RTP2 1,1 Cristóbal Balenciaga
Fox Life, 22h20
Ally sempre sonhou ser uma
Festa é Festa VIII TVI 8,7 18,6 SIC 13,4 Disney+, streaming
Estreia-se uma série biográÆca
TVI
O Preço Certo RTP1 8,6 16,6
estrela da música. Um dia, Jornal Nacional TVI 7,6 14,3 12,8 sobre Cristóbal Balenciaga

conhece Jackson Maine, um
cantor consagrado que reconhece
o seu talento e que a quer ajudar.
Acabam por viver uma grande
história de amor. Mas, ao mesmo
tempo que ela começa a atingir o
estrelato e a emocionar multidões,
Maine torna-se vítima da
implacável máquina de criar e
destruir vedetas. “Oscarizado”
pela canção Shallow, é um drama
musical dirigido por Bradley
Cooper, na sua estreia em
realização. É também
argumentista e co-protagonista,
ao lado de Lady Gaga.
Elis
RTP2, 22h54
Hugo Prata estreou-se na
realização em cinema em 2017,
com este drama biográÆco sobre
Elis Regina (1945-1982), uma das
maiores artistas do Brasil. Com
RTP1
6.00 Bom Dia Portugal 10.00 Praça da
Alegria 12.59 Jornal da Tarde 14.24
Topíssima 15.06 A Nossa Tarde 17.30
Portugal em Directo 19.06 O Preço
Certo
19.59 Telejornal
21.01 A Prova dos Factos
21.39 Joker
Big Brother - Diario TVI 7,4
FONTE: CAEM
RTP2
6.27 Folha de Sala 6.31 Repórter África
7.00 Espaço Zig Zag 10.26 A Guerra
11.47 Enfermeira ao Domicílio 13.17
Sociedade Civil 14.22 Andebol:
Eslovénia x Portugal (Euro 2024) 16.10
A Fé dos Homens 16.43 Afazeres do
Mês 16.47 Cuidado com a Língua!
17.02 Espaço Zig Zag 20.3380 Folha
de Sala 20.43 Espaços Incríveis de
George Clarke
21.30 Jornal 2
22.01 Boneca de Trapos
22.46 Folha de Sala
Cabo
14,2
43,2
TVCINE TOP
18.10 Champagne! 19.50 Shotgun
Wedding - Casamento Explosivo 21.30
Astérix & Obélix — O Império do Meio
(VO) 23.25 Para Leslie 1.25 Febre da
Montanha
FOX MOVIES
17.55 300: O Início de Um Império 19.35
A Mexicana 21.15 Corrupção Total 22.55
Jogo Mortal 0.35 Rastejantes
HOLLYWOOD
18.05 Velocidade + Furiosa 19.55
Comando 21.30 Viagem ao Centro da
Terra 2: A Ilha Misteriosa 23.05 Não
Brinques com Estranhos 0.45 A Purga:
Ano de Eleições
(1895-1972), criador de uma das
mais importantes casas de
alta-costura. Nascido no País
Basco, Ælho de um pescador e de
uma costureira, sonhava vingar na
moda e conseguiu-o com a marca
que fundou, em 1919, em San
Sebastián. Vestiria a realeza e as
maiores estrelas da época, e viria a
tornar-se um mestre absoluto para
vultos como Chanel, Dior ou
Givenchy. Nesta série original da
Disney+, protagonizada por
Alberto San Juan e criada por
Aitor Arregi, Jon Garaño e Jose
Mari Goenaga, apanhamo-lo em
1937, no primeiro desÆle em Paris,
para onde se muda quando a
Guerra Civil o obriga a fechar
portas em Espanha — e onde se
elevará ao estatuto de um dos
mais icónicos e revolucionários
designers de moda de sempre.

Andreia Horta como protagonista,
o Ælme conta ainda com Caco
Ciocler, Lúcio Mauro Filho, Júlio
Andrade e Zé Carlos Machado,
entre outros.
A Hora dos Lobos
RTP1, 23h52
Maria João Luís Ælma um
argumento de Mário Cunha
inspirado em Alcateia, o segundo
romance de Carlos de Oliveira.
Mariana Monteiro, João Nunes
Monteiro e Vítor Correia ocupam
os papéis principais da “história
de um pescador, um homicídio e
um destino improvável, tendo
como pano de fundo Cantanhede
dos anos 1940”, descreve a RTP.
Almeno Gonçalves, Paulo Manso,
Lucinda Loureiro, Graciano Dias,
Hélder Agapito, Pedro Moldão,
António Fonseca, Silvia
Figueiredo, Vítor Oliveira e Sérgio
22.37 Em Casa d’Amália
ália
23.52 A Hora dos Lobos
bos
0.53 Condor 2.30 Topíssima
SIC
6.00 Edição da Manhã 8.15 Alô
Portugal 9.50 Casa Feliz 12.59
Primeiro Jornal 14.50 Linha Aberta
16.20 Júlia 18.20 Morde & Assopra
19.57 Jornal da Noite
22.54 Elis
0.46 Sociedade Civil 1.51 Folha de Sala
1.56 Portugal Mais Perto 2.22 Grandes
Memórias 2.51 A Última Nau 3.39
Alves dos Reis, Um Seu Criado 4.26
A Arte Eléctrica em Portugal 5.27 Folha
de Sala 5.32 Contentor 13
TVI
6.15 Diário da Manhã 6.59 Esta Manhã
9.55 Dois às 10 12.58 TVI Jornal
14.50 A Herdeira
16.00 Goucha
AXN
17.42 The Rookie 19.22 Mentes
Criminosas 21.06 Hudson & Rex
22.00 Ghost Rider 23.53 Um Crime
no Expresso do Oriente
FOX
17.27 Hawai Força Especial 18.08
Investigação Criminal: Los Angeles
19.30 FBI 20.52 Hawai Força Especial
22.15 Resgate Arriscado 23.43 Ender’s
Game — O Jogo Final 1.37 Corrida Mortal
DISNEY CHANNEL
17.15 Miraculous - As Aventuras de
Ladybug 18.05 A Maldição de Molly
McGee 18.55 Tico e Teco: Vida no
Parque 19.15 Os Green na Cidade
Grande 20.00 O Panda do Kung Fu (VP)
21.35 O Panda do Kung Fu 2 (VP)
DOCU-REALITY
Amor no Espectro
Netflix, streaming
Estreia-se a segunda temporada
da versão norte-americana da
produção original australiana que
conquistou Emmys e outros
prémios pela forma como aborda
a vida romântica de pessoas no
espectro do autismo. Assumindo o
formato de reality show, segue um
grupo de jovens adultos que estão
determinados a encontrar as suas
almas gémeas. Contam com o
apoio de uma equipa que lhes
recomenda potenciais parceiros e
lhes vai dando “dicas” práticas de
socialização para os primeiros
encontros. Nos novos episódios
reencontramos caras conhecidas e
conhecemos alguns estreantes.

DOCUMENTÁRIO
Gomes juntam-se ao elenco. 18.10 Big Brother

Ex Machina
AMC, 00h04
Alex Garland, o autor do romance
A Praia, estreou-se na realização,
em 2014, com este Ælme de Æcção
cientíÆca, “oscarizado” pelos
efeitos visuais. Caleb (Domhnall
Gleeson), programador numa
importante empresa de Internet, é
premiado com uma semana no
refúgio privado do director (Oscar
Isaac). Quando lá chega, percebe
que está ali como cobaia. A sua
função é interagir com um robô de
última geração que consegue agir,
sentir e expressar-se. Chama-se
Ava (Alicia Vikander) e está dentro
do corpo de uma sedutora Ægura
feminina. Apesar de saber que não
passa de uma máquina, Caleb
começa a sentir-se ligado a ela.
DISCOVERY
22.10 Era Uma Vez na Quinta 19.57 Jornal Nacional 17.15 Mestres do Restauro 18.20
Mistérios no Museu 19.05 Aventura
à Flor da Pele 21.00 Controlo de
22.50 Flor Sem Tempo 21.30 Festa É Festa Fronteiras: Suécia 22.50 Operação
Fronteira América Latina 0.45
Controlo de Fronteiras: Suécia
23.40 Papel Principal
incipal 21.50 Cacau
HISTÓRIA
17.16 A Prova Existe Algures 18.43
0.40 Travessia 22.40 Queridos Papás O Inexplicável 20.51 O Preço da História
1.15 O Clube 23.30 Big Brother 2.15 Doida por Ti ODISSEIA
3.10 Mistura Fina 17.29 O Reino dos Fungos 18.24 Vida
Selvagem 19.18 A Batalha dos Alfas
2.20 Passadeira Vermelha 3.55 Era 21.01 O Universo 22.30 Planeta
Uma Vez na Quinta Selvagem 23.20 Parques Naturais
de Portugal 0.15 Mortos de Tanto Rir!
Fellinopolis - O Mundo de
Federico Fellini
TVCine Edition, 10h55
As opiniões, o imaginário e o
processo criativo de Federico
Fellini desvendam-se no
documentário que Silvia Giulietti
realizou em 2020. A
matéria-prima é um conjunto de
gravações feitas à socapa por
Ferruccio Castronuovo nos
bastidores e sets dos Ælmes do
cineasta, entre 1976 e 1986.
Também inclui testemunhos de
colaboradores que o conheceram
bem, como Lina Wertmüller,
Nicola Piovani, Dante Ferretti,
Maurizio Millenotti, Norma
Giacchero ou o próprio
Castronuovo.
 Público • Sexta-feira, 19 de Janeiro de 2024 • 35

Guia

Meteorologia

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PORTUGAL PRÓXIMOS DIAS LISBOA
Viana do Castelo Sábado, 20 Domingo, 21 Segunda-feira, 22
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UM
3º

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Coimbra Valores por semana Mau
13º Não é Coimbra
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4º
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Santarém Nível pré-industrial 280
Portalegre Faro
15 º
4º 10º
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Lisboa 25 Jan. 17h54

QUAL-
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15º 2º Nascente Poente Nascente Poente
7º
07h52 17h43 16 Fev. 15h01 12h31 03h18* Xxxxx
*de amanhã
Xxxxx
Sines Beja EUROPA
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Helsínquia
9º 4º Oslo

QUER
17º Talín

2,2m Riga
Copenhaga

Vílnius
Dublin Berlim
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Londres Varsóvia
Sagres 17º
7º Bruxelas
17º Faro Praga
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Viena Budapeste
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2,0m
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Istambul
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17º Atenas
16º 2,2m
São Jorge 18º
17º 14º
2,8m
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Terceira TEMPERATURAS ºC
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Min. Máx. Min. Máx.
16º
17º
16º
1,8m
Amesterdão
Atenas
1 5
11 19
Roma
Viena -2
7 17
3
O importante
Ponta Delgada
Berlim -1 2 Bissau 20 32 é que apoie
Bruxelas -4 2 Buenos Aires 20 29
Madeira
Sta Maria
Bucareste -1 13 Cairo 12 24 a imprensa.
Porto Santo Budapeste -5 2 Caracas 19 32 Faça a sua
Copenhaga -1 2 Cid. do Cabo 20 34
21º
Madeira
19º
16º
20º 20º Dublin 4 6 Cid. do México 8 23 escolha.
14º
1,2m 2,5m Estocolmo -16 -13 Díli 25 32
Frankfurt -7 0 Hong Kong 18 24
Funchal Genebra -4 3 Jerusalém 6 17
Istambul 11 18 Los Angeles 11 20
MARÉS Preia-mar Baixa-mar *de amanhã Kiev -4 2 Luanda 24 31
Londres 1 6 Nova Deli 8 18
Leixões m Cascais m Faro m
Madrid 0 11 Nova Iorque -8 -1
09h23 2,9 08h57 2,9 08h58 2,9 Milão -1 8 Pequim -4 0
15h40 1,2 15h17 1,3 15h03 1,2 Moscovo -12 2 Praia 21 27
Oslo -21 -12 Rio de Janeiro 26 35
22h04 2,8 21h40 2,8 21h37 2,7 Paris -5 3 Riga -8 -1
04h17* 1,2 03h54* 1,4 03h41* 1,3 Praga -6 1 Singapura 24 29
Fontes: AccuWeather; Instituto Hidrográfico; QualAR/Agência Portuguesa do Ambiente; NOAA-ESRL
36 • Público • Sexta-feira, 19 de Janeiro de 2024
Desporto Sportinguistas conservam a liderança isolada da I Liga
Sporting entra a ganhar
na segunda volta
“Leões” venceram em Vizela depois de terem estado a perder. O sueco Gyökeres
marcou mais dois golos e voltou a ser dos melhores em campo
Crónica de jogo
Marco Vaza
Erros próprios e boa fortuna. Foi
assim que o Sporting entrou na segun-
da volta, a ganhar em Vizela por 2-5 e
a garantir que vai continuar no
comando do campeonato por mais
uma jornada. A equipa de Rúben
Amorim começou a perder, conse-
guiu chegar ao empate antes do inter-
valo e arrancou para um triunfo
robusto que lhe permite chegar aos
46 pontos, mais quatro que o BenÆca,
que defronta hoje o Boavista. Quanto
ao Vizela, vai continuar em zona de
despromoção, podendo mesmo aca-
bar a jornada em último.
Quase com os mesmos que tinham
fechado a primeira volta em Chaves
(Coates voltou ao “onze”, Matheus
nem no banco esteve), o Sporting
apresentou-se em Vizela para, como
tinha dito Amorim na véspera,
“ganhar da maneira que for”. Do
outro lado estava um Vizela a habi-
tuar-se às ideias de Rúben de la Bar-
rera, um espanhol de apenas 38 anos,
mas já no seu 13.º emprego — antes do
Vizela, estava na selecção de El Salva-
dor e, antes disso, passara pelo Qatar
e pela Roménia.
O Sporting já tinha sofrido com o
Vizela no início da época, voltou a
sentir diÆculdades contra a formação
minhota quando nada o fazia adivi-
nhar. Depois de uma entrada razoa-
velmente personalizada, os “leões”
voltaram a facilitar na defesa e, num
ápice, viram-se em apuros. Tudo
começou num livre que os vizelenses
conseguiram reciclar para um segun-
do momento de ataque. Ainda bem
longe da área, Hugo Oliveira fez o cru-
zamento e Alberto Soro, entre os cen-
trais “leoninos”, cabeceou para o
fundo das redes à guarda de Adán.
O Vizela via-se a ganhar no primei-
ro remate que fazia e não era difícil
adivinhar o que iria fazer a seguir —
tentar guardar a bola e fazer andar o
relógio. Podia ter Æcado sem ela cinco
minutos depois, mas Gyökeres,
depois de uma boa jogada de Pedro
Gonçalves, acertou na trave quando
estava quase dentro da baliza.
Pelo tempo em que o jogo esteve
parado durante a primeira parte, o
árbitro acrescentou mais cinco minu-
tos — seriam mais. E passou-se muita
coisa. Aos 46’, Paulinho meteu a bola
na baliza, mas o lance foi anulado por
fora-de-jogo. E aos 53’, Gyökeres redi-
miu-se daquele falhanço ao marcar o
golo do empate, numa jogada de
insistência, com Paulinho a ganhar
nas alturas e o sueco a fugir à marca-
ção de Oliveira antes do remate cru-
zado e sem hipóteses para Busnic.
O Sporting entrou na segunda par-
te da mesma forma que terminou a
primeira, a marcar. Logo na primeira
jogada, depois de uma perda de bola
JOSÉ COELHO/LUSA
Vizela 2
Alberto Soro 13’,
Essende 63’
Sporting 5
Gyökeres 45’+7’ e 86’,
Trincão 46’, Paulinho 57’
Coates 72’
Jogo no Estádio FC Vizela, em Vizela.
Assistência Não disponível.
Vizela Buntic a37’; Hugo Oliveira,
Anderson a66’, Rodrigo Escoval,
Matheus Pereira, Lebedenko (Jota
Gonçalves, 88’); Samu (Bustamante,
46’ a89’), Diogo Nascimento (Nuno
Moreira, 90’+1’), Busnic; Essende,
Alberto Soro (A. Méndez, 70’).
Treinador Rúben de la Barrera.
Sporting Adán; Eduardo Quaresma,
Sebastián Coates (rafael Pontelo,
90’+1’), Gonçalo Inácio; Ricardo
Esgaio, Hjulmand a16’ (Daniel
Bragança, 61’), Pedro Gonçalves
(Essugo, 90’+1’), Nuno Santos; Trincão,
Gyökeres, Paulinho (Edwards, 79’).
Treinador Rúben Amorim.
Árbitro André Narciso (AF Setúbal)
VAR Rui Costa (AF Porto)
Positivo/Negativo
Gyökeres
Já é um hábito aparecer
neste espaço. Marcou o
primeiro e o último golo do
Sporting no jogo,
chegando aos 22 na época
em 25 jogos — e ainda teve
uma assistência posicional
no golo de Trincão.
Compensou largamente o
golo que falhou quando
estava quase dentro da
baliza.
Francisco Trincão
Foi tão influente no jogo
como o sueco, marcando o
golo que concretizou a
reviravolta e fazendo a
assistência para mais um.
de Bustamante, Trincão meteu uma Está a ganhar regularidade
bola na área a partir da direita e na nas boas exibições e vai ser
direcção de Gyökeres que foi direiti- difícil tirá-lo da equipa
nha para a baliza sem tocar no sueco quando Edwards estiver a
— foi uma espécie de assistência posi- 100%. Pedro Gonçalves e
cional de Gyökeres, que, sem tocar Paulinho também
na bola, arrastou marcações. estiveram a nível alto.
Os “leões” não demoraram muito
a ganhar outro conforto no marcador, Defesa do Vizela
com um excelente cabeceamento de Os minhotos seguem em
Paulinho após cruzamento de Trin- penúltimo lugar (podem
cão (57’). Mas nem isto serviu para ficar em último), mas ainda
tranquilizar o “leão”, que voltou a ser têm quase meio
penalizado pelos seus erros. O Vizela campeonato para
reentrou no jogo (63’)com um passe recuperar. Há uma base
directo de Busnic para o excelente com potencial para Barrera
Essende — o avançado francês ganhou trabalhar, mas o Vizela terá
no duelo com Coates e fez o 2-3. de reforçar o seu sector
O uruguaio acabaria por se redimir defensivo com urgência —
aos 72’, com um cabeceamento cer- e o afastamento de Bruno
teiro após livre de Pedro Gonçalves e, Wilson terá de ser
aos 86’, Gyökeres deu o carimbo de repensado — ou vai
goleada à vitória, após passe de Pedro continuar a encaixar
Gonçalves. Não foi uma vitória linear, goleadas.
mas foi mais do que justa.
 Público • Sexta-feira, 19 de Janeiro de 2024 • 37

Desporto

Conselho de
Arbitragem vai Sp. Braga salva face com golo I Liga
Jornada 18

poder explicar VAR de última hora em Famalicão Famalicão-Sp. Braga

Vizela-Sporting
Benfica-Boavista
1-2
2-5
20h15, BTV

em tempo real Estoril-Arouca

Casa Pia-Farense
sáb, 15h30, SPTV
sáb, 18h, SPTV
FC Porto-Moreirense sáb, 20h30, SPTV
HUGO DELGADO/LUSA
Portimon.-Gil Vicente dom, 15h30, SPTV
Augusto Bernardino Desp. Chaves-Rio Ave dom, 18h, SPTV
Vitória SC-E. Amadora dom, 20h30, SPTV
O Conselho de Arbitragem (CA) da “Arsenalistas” iniciam J V E D M-S P
Federação Portuguesa de Futebol
(FPF) recebeu autorização para
segunda volta com 1. Sporting 18 15 1 2 45-19 46
triunfo suado frente 2. Benfica 17 13 3 1 35-11 42
explicar em tempo real as decisões
3. FC Porto 17 12 2 3 25-12 38
do árbitro com recurso ao videoár- a um adversário que tinha 4. Sp. Braga 18 11 3 4 42-26 36
bitro (VAR), adiantou à agência Lusa saído vitorioso de Braga 5. Vitória 17 10 3 4 28-19 33
fonte ligada ao processo.
6. Moreirense 17 8 5 4 24-18 29
Segundo a mesma fonte, a autori- O Sp. Braga salvou a face, com um
7. Famalicão 18 5 7 6 18-22 22
zação da FIFA e do International triunfo (1-2), em Famalicão, na 18.ª
8. Farense 17 6 3 8 23-23 21
Board (IFAB) vai permitir que um jornada, obtido já nos instantes Ænais
9. Boavista 17 5 5 7 26-31 20
árbitro possa explicar no estádio, em (90+11’), e evitando o que parecia ser
10. Casa Pia 17 5 4 8 18-23 19
tempo real, uma decisão factual que uma cada vez maior crise de identi-
11. Est. Amadora 17 4 6 7 18-24 18
tenha tomado, através de um sistema dade, capaz de comprometer a car-
12. Portimonense 17 5 3 9 18-36 18
sonoro, como por exemplo o caso de reira dos “guerreiros” na disputa com
13. Estoril 17 5 2 10 31-32 17
um lance de falta dentro ou fora da o trio de candidatos ao título.
14. Arouca 17 4 4 9 23-25 16
área, ou um fora-de-jogo. O triunfo permite à equipa de Artur
15. Gil Vicente 17 4 4 9 27-31 16
Este sistema já existe noutras Jorge encurtar, provisoriamente, a
16. Rio Ave 17 3 6 8 19-28 15
modalidades, como o râguebi, e já distância para BenÆca e FC Porto e
17. Vizela 18 2 7 9 18-32 13
foi testado pela FIFA em competições nega aos famalicenses a aproximação
18. Desp. Chaves 17 3 2 12 18-44 11
como o Mundial feminino de 2023. aos lugares europeus, depois de
A autorização da FIFA e do IFAB per- terem estado muito perto de repetir Próxima jornada Gil Vicente-Vitória,
mite que Portugal seja um dos pio- o triunfo da primeira volta. Moreirense-Famalicão, Farense-FC Porto,
neiros a avançar para uma fase de A reversão de um segundo penálti Boavista-Portimonense, Arouca-Vizela,
testes a este sistema, não sendo cer- por “mão” de José Fonte, perto dos E. Amadora-Benfica, Sporting-Casa Pia,
Rio Ave-Estoril, Sp. Braga-Desp. Chaves
to quando é que se vai iniciar. 90’, e um golo de Álvaro Djaló mesmo
O Sporting já se pronunciou sobre a acabar, atenuaram os problemas
o tema, mostrando-se favorável à bracarenses.
decisão. “O Sporting está desde a Apesar dos sinais de alerta deixa-
primeira hora na linha da frente pela dos pelo empate no recente derby II Liga
implementação desta medida, que com o grande rival de Guimarães e
Jornada 18
mais não é do que a evolução natural das derrotas da Luz e do Dragão, para União Leiria-Paços Ferreira 1-1
de um caminho sem retorno iniciado a Taça de Portugal e na Liga, o Sp. Länk Vilaverd.-Ac. Viseu 18h, SPTV
com o VAR. É uma medida que Braga apresentou-se apático em Mafra-Benfica B sáb, 11h, SPTV
defende os árbitros, mas, sobretudo, Famalicão para o arranque da segun- Belenenses-AVS sáb, 14h, SPTV
Feirense-Oliveirense sáb, 15h30, SPTV
um futebol cada vez mais transpa- da volta.
Tondela-FC Porto B dom, 11h, SPTV
rente”, congratularam-se os lisboe- E essa atitude, do mesmo “onze” (à Leixões-Penafiel dom, 14h, SPTV
tas, em comunicado. excepção da troca de Zalazar por Torreense-Santa Clara dom, 15h30, SPTV
Desde Setembro de 2023, as comu- Pizzi) que saíra cabisbaixo do jogo Marítimo-Nacional dom, 18h, SPTV
nicações entre árbitros e videoárbi- com o FC Porto, pesou no arranque a Bracarenses regressaram às vitórias J V E D M-S P
tros (VAR) dos jogos da I Liga portu- frio da equipa de Artur Jorge. 1. Santa Clara 17 10 6 1 23-9 36
guesa passaram a ser feitas através Responsabilidade, também, da endurecido, Vítor Carvalho foi 2. Nacional 17 10 4 3 33-1634
de um programa televisivo mensal. postura e qualidade dos famalicenses, Famalicão 1 admoestado e Zalazar chamado a 3. AVS 17 11 1 5 23-15 34
Jhonder Cádiz 62’ (g.p.)
Antes, em 24 de Julho, o CA da FPF que podiam ter provocado um rombo preencher a lacuna no meio campo. 4. Marítimo 17 8 4 5 25-17 28
tinha defendido a divulgação das na defesa “arsenalista” não fossem os Mas foi o Famalicão a ameaçar por 5. Torreense 17 7 6 4 22-16 27
comunicações para “um objectivo reÇexos de Matheus a negarem o golo Theo Fonseca e a adiantar-se num 6. Tondela 17 7 6 4 29-26 27
pedagógico”: “A divulgação de a Chiquinho (10’). Sp. Braga 2 penálti (braço de José Fonte) que não 7. Mafra 17 7 4 6 21-18 25
áudios auxilia a total compreensão Vindo de um triunfo que quebrou Borja 73’, Álvaro Djaló 90+11’ passou o crivo do VAR. Cádiz não per- 8. P. Ferreira 18 7 4 7 22-19 25
da função de arbitrar.” um ciclo de seis jogos sem vencer, o doou, precipitando o Sp. Braga numa 9. Ac. Viseu 17 5 8 4 18-18 23
Famalicão oscilava entre um 4x2x3x1 corrida contra o tempo que Borja aca- 10. Benfica B 17 6 5 6 24-22 23
e um 4x1x3x2 que promovia o avanço baria por vencer parcialmente ao 11. FC Porto B 17 6 3 8 30-28 21
Estádio Municipal de Famalicão.
dos laterais, especialmente de emendar um falhanço de Roger. 12. U. Leiria 18 5 5 8 23-2220
Nathan, bem compensados pelos Famalicão Luíz Júnior; Nathan, Mihaj, O golo foi objecto de protesto por 13. Oliveirense 17 5 5 7 20-2820
“pilares” Mirko Topic e Zaidou. Otávio a27’, Francisco Moura; Zaydou, suposta carga de Moutinho no início 14. Feirense 17 6 2 9 17-23 20
O Sp. Braga vivia, então, dos rasgos Mirko Topic; Théo (Liimatta, 68’), do lance, argumento insuÆciente para 15. Penafiel 17 5 3 9 13-21 18
Gustavo Sá (F. Soares, 68’ a90+13’),
de Ricardo Horta, autor do primeiro demover o árbitro, pelo que o Sp. Bra- 16. Leixões 17 4 5 8 13-22 17
Chiquinho a64’ (Dobre, 68’); Jhonder
remate digno de registo, com Luíz Cádiz a76’ (H. Araújo, 86’). ga ganhava novo fôlego para ir em 17. L. Vilaverdense 17 4 1 12 13-33 13
Júnior a salvar os anÆtriões. Treinador João Pedro Sousa busca do triunfo que acabou por con- 18. Belenenses 17 3 4 10 11-27 13
Pizzi ainda tentou aliar-se ao “capi- seguir à beira do Æm. Antes, nova mão
Sp. Braga Matheus; Víctor Gómez Próxima jornada Nacional-Torreense,
tão”, recordando ao adversário que de José Fonte levou os bracarenses ao
(Bruma, 71’), José Fonte, Paulo Oliveira, AVS-Marítimo, Paços Ferreira-Mafra,
poderia marcar a qualquer momento, Borja (Mendes, 90+3’); Vítor Carvalho desespero. O árbitro assinalou penál- Santa Clara-Leixões, Benfica B-U.Leiria,
mesmo tendo sido de Matheus a inter- a21’ (Zalazar, 46’), Moutinho a89’; ti, mas o VAR ajudou a revogar a deci- FC Porto B-Belenenses, Oliveirense-Länk,
venção mais importante dos instantes Álvaro Djaló, Pizzi a26’ (Roger, 63’), são, dando tempo a Djaló para desem- Penafiel-Feirense, Ac. Viseu-Tondela
Ænais da primeira parte, a impedir Ricardo Horta; Abel Ruíz a90+13’. patar o encontro e salvar a equipa de
Treinador Artur Jorge MELHORES MARCADORES
que Zaydou marcasse. um desfecho dramático, pelo que o I Liga
Inconformado, Artur Jorge trocou Árbitro Manuel Oliveira (AF Porto) Sp. Braga poderá agora respirar um 14 golos Simon Banza (Sp. Braga)
uma unidade para abordar a segunda VAR Hugo Miguel (AF Lisboa) pouco melhor antes da Taça da II Liga
parte. Numa fase em que o jogo tinha Liga. 11 golos Wendel Silva (FC Porto B) e Nenê (AVS)
38 • Público • Sexta-feira, 19 de Janeiro de 2024
Desporto
Pinto da Costa abre a porta à sua
recandidatura e “atira” a Villas-Boas
Miguel Dantas
O actual presidente
do FC Porto diz que André
Villas-Boas é apoiado pelos
inimigos do clube e que isso
o faz pensar em ir a votos
Pinto da Costa não fecha a porta a um
16.º mandato enquanto presidente
do FC Porto e, ontem, o histórico
dirigente reuniu-se com os apoiantes,
num jantar organizado pela comissão
de apoio à sua recandidatura.
O repasto esteve agendado para
Ænais de Dezembro, mas um aciden-
te de viação sofrido pelo presidente
portista obrigou ao seu adiamento.
Horas antes do jantar de ontem, a
RTP publicou um excerto de uma
entrevista de Pinto da Costa ao pro-
grama Primeira Pessoa de Fátima
Campos Ferreira, que será transmi-
tido no Ænal de Janeiro. O dirigente
assumiu que ainda não tem uma
decisão tomada sobre as eleições,
deixando uma crítica a André Villas-
Do assédio à paridade de género
Opinião
José Manuel Meirim
1. Mesmo no final do campeonato
parlamentar ,aprovou-se um texto
— futura lei — intitulado “Consagra o
assédio como infracção disciplinar
no âmbito do regime jurídico das
federações desportivas e prevê a
criação de canais de denúncia de
infracções de normas de defesa da
ética desportiva”. A iniciativa
legislativa coube ao PAN e, assim
nos parece, movida por boas
intenções. Todavia, recebidos que
foram alguns contributos externos
(FPF, IPDJ e COP), em debate na
especialidade, que contou ainda
com diversas propostas de partidos,
levado a cabo na comissão
parlamentar competente,
significativas alterações vieram a
registar-se perante aquilo que era o
projecto de lei originário.
2. Assentemos, para facilitar a
leitura, que o texto vem precipitar
Pinto da Costa diz que Villas-Boas não tem um percurso no FC Porto
-Boas, o mais recente candidato à
presidência portista.
“Então os nossos inimigos é que
apoiam um candidato para o meu
clube? Aqui há gato. E eu, mesmo
gostando de animais, desse tipo de
gatos não gosto. Isso pode ser um
argumento para eu tomar uma deci-
um conjunto de alterações ao
regime jurídico das federações
desportivas e do estatuto de
utilidade pública desportiva,
aprovado pelo Decreto-Lei n.º
248-B/2008, de 31 de Dezembro.
Em primeiro lugar, registe-se o
facto de a autonomização da
infracção disciplinar do assédio não
ter vingado, como integrando um
atentado à ética desportiva. Prevista
em algumas federações (caso da
FPF), podendo viver ao abrigo de
outras menções mais abrangentes,
o foco inicial do projecto morreu.
3. Então o que sobrevive nesta
futura lei? A alteração aos artigos
27.º, 29.º, 32.º e 53.º do Decreto-Lei
n.º 248-B/2008, de 31 de Dezembro.
Daí decorre, em primeiro lugar,
para as federações e para as Ligas, o
estabelecimento de uma proporção
de representação (a proporção de
pessoas de cada sexo designadas
para cada órgão de administração e
de fiscalização não pode ser inferior
a 33,3%). Em segundo lugar, a
obrigatoriedade da existência de
um canal de denúncia interna
destinado a factos susceptíveis de
PAULO PIMENTA
são diferente que acho que para mim
— enquanto pessoa — seria melhor”,
aÆrma Pinto da Costa.
Apelidando como “obsessão” a
ambição de André Villas-Boas pela
presidência, o dirigente questiona o
percurso — manifestamente insuÆ#
ciente, no entendimento de Pinto da
configurarem infracção de normas
de defesa da ética desportiva. Em
terceiro lugar, a aplicação às Ligas
do regime disciplinar das
federações desportivas.
4. Seguem-se as normas finais e
transitórias. Assim, as federações
devem adaptar os seus estatutos e
regulamentos disciplinares ao
disposto na lei até à data da
apresentação do requerimento de
renovação do estatuto de utilidade
pública desportiva. Por sua vez, as
Ligas devem adaptar os seus
estatutos e regulamentos
disciplinares ao disposto na lei no
prazo de 180 dias após a sua entrada
em vigor. Por outro lado, a
proporção de pessoas de cada sexo
a designar para cada órgão das
federações desportivas não pode
ser inferior a 20%, a partir da
primeira assembleia geral electiva
após a entrada em vigor da futura
lei, e a 33,3%, a partir da primeira
assembleia geral electiva após 1 de
Janeiro de 2026. Aparentemente,
não há regime transitório, nesta
matéria, para as Ligas. E assim
chegámos a um decreto da
Costa — do ex-treinador na estrutura
“azul e branca”.
“Quando vejo uma pessoa que
quer ser presidente por obsessão,
não é para servir o FC Porto ou ser
director como fui. Eu comecei como
chefe de secção. Agora, quando vejo
uma pessoa que diz: ‘Quero ser o
presidente’. Que percurso é que tem?
Se visse que havia uma pessoa que
toda a gente quer que seja e aceite
como missão, eu não me recandida-
taria.”
Pinto da Costa relembrou ainda a
famosa expressão “cadeira de sonho”
cunhada por André Villas-Boas quan-
do chegou ao clube em 2010. “A
cadeira de sonho dele acabou quan-
do lhe acenaram com dinheiro. Teve
uma cadeira de sonho, ganhou tudo
e tinha uma equipa fenomenal. Esta-
va eu tranquilo para a época seguin-
te, fui chamado pelo Antero [Henri-
que] a dizer que ele queria ir embora,
que tinha um contrato milionário no
Chelsea. Quando os sonhos termi-
nam com dinheiro, para mim, não
são de recordar.”
Assembleia da República que
“Estabelece a proporção de pessoas
de cada sexo na composição dos
órgãos das federações desportivas e
da Liga profissional e prevê a
criação de canais de denúncia de
infracções de normas de defesa da
ética desportiva, alterando o
Decreto-Lei n.º 248-B/2008, de 31
de Dezembro”.
5. Não nos conforta este
“remendo” do regime jurídico das
federações desportivas, alcançado
em final de época. Tal regime tem
um peso essencial no quadro do
sistema desportivo nacional e o que
ansiamos, e já o afirmámos por
diversas vezes, é por uma revisão
global e não por pontuais alterações
ao correr do tempo e da pena.
6. O que aguardamos, com pouca
esperança seja dito, é que os
programas eleitorais e depois o
programa de Governo, qualquer
que ele seja, venha a incorporar esta
matéria, a que já somámos a leitura
crítica da lei de bases da actividade
física e do desporto.
Professor de Direito do Desporto
Breves
Futebol internacional
Nápoles é o primeiro
finalista da
Supertaça italiana
Um Nápoles extremamente
eficaz tornou-se ontem o
primeiro finalista da
Supertaça de Itália de futebol,
após vencer a Fiorentina, por
3-0, num jogo disputado em
Riade, Arábia Saudita. No
Al-Awwal Park, o campeão
italiano até esteve por baixo
nas estatísticas ofensivas,
mas aproveitou da melhor
forma as oportunidades de
que dispôs, com golos
apontados por Giovanni
Simeone (22’) e Alessio Zerbin
(84’ e 86’), tendo pelo meio a
equipa de Florença
desperdiçado um penálti. O
Nápoles venceu a prova em
1990 e 2014 e ficará hoje a
conhecer o adversário que vai
defrontar na final, na
segunda-feira, depois de o
Inter Milão e a Lazio medirem
forças, pelas 19h00.
Futsal
Benfica-Belenenses e
Sporting-Porto Salvo
na Taça da Liga
As meias-finais da Taça da
Liga de futsal vão colocar
hoje frente a frente Benfica e
Belenenses, num dos jogos
(21h), e Sporting e Leões de
Porto Salvo, no outro (17h).
Ontem, nos quartos-de-final,
disputados no Pavilhão
Municipal da Póvoa de
Varzim, o dia começou com o
triunfo do Leões de Porto
Salvo sobre o Caxinas (4-1) e
prosseguiu com as vitórias do
Belenenses ante o Torreense
(3-2), do Sporting sobre o
Fundão (4-1) e do Benfica
sobre o Sp. Braga (5-1). Os
“encarnados” são os actuais
detentores do troféu e
também os recordistas, lado a
lado com o Sporting, com
quatro conquistas cada.
 Público • Sexta-feira, 19 de Janeiro de 2024 • 39

Desporto

Nuno Borges atinge a terceira Portugal tenta

ronda no Open da Austrália
Pedro Keul
Três tenistas do top 10
eliminados no quinto dia
do primeiro torneio do
Grand Slam de 2024
Houve de tudo na quinta jornada do
Open da Austrália, que terminou
perto das quatro da manhã de Mel-
bourne: excelente ténis, recordes,
chuva, surpresas e emoção a rodos.
Dos 16 encontros de singulares, 15
foram decididos no último set, três
dos quais no match tie-break. O único
no qual o vencedor não cedeu qual-
quer set foi histórico para Nuno Bor-
ges — o tenista português derrotou o
23.º cabeça de série, Alejandro Davi-
dovich Fokina, e, pela primeira vez,
chega à terceira ronda de uma prova
do Grand Slam.
“Estou muito contente, é uma
grande altura para ter a minha
melhor vitória de carreira. E, à
melhor de cinco sets no Grand Slam,
vale mais, sem dúvida”, admitiu Bor-
ges (69.º mundial), depois de elimi-
nar Davidovich Fokina (24.º), por 7-6
(9/7), 6-3 e 6-3, em 2h18m.
No primeiro set, Borges acumulou
32 erros directos e viu o espanhol
servir a 6-5, liderar o tie-break por 5/2
e dispor de um set-point, mas conse-
guiu inverter o sentido do encontro
Borges afastou Davidovich-Fokina em três sets
e imitou os compatriotas Frederico
Gil e João Sousa, os únicos a atingi-
rem a terceira ronda num quadro
masculino do Grand Slam.
“Não comecei a servir muito bem,
mas senti que acabei muito melhor.
Soube usar um bocadinho o vento a
meu favor e claro que ganhar aquele
primeiro set deu algum ascendente”,
resumiu o tenista da Maia.
Borges, que deverá sair de Mel-
bourne com um novo melhor
ranking de carreira, terá como ter-
ceiro adversário, amanhã, Grigor
MAST IRHAM/EPA
Dimitrov, actual 13.º do ranking,
depois de, na primeira semana
do ano, ter conquistado em Brisba-
ne o nono título da carreira — e pri-
meiro desde 2017. Ontem, o búlgaro
de 32 anos eliminou o australiano
Thanasi Kokkinakis (80.º), por 6-3,
6-2, 4-6 e 6-4.
Antes, Borges irá disputar a segun-
da ronda da prova de pares, fase para
a qual se qualificou Francisco Cabral
ao lado de Henry Patten. A dupla
luso-britânica salvou um match-point
antes de eliminar os australianos
Tristan Schoolkate e Adam Walton,
por 6-3, 6-7 (6/8) e 7-6 (10/4).
Holger Rune (8.º) foi o primeiro do
top 10 masculino a ser eliminado do
Open da Austrália, ao perder com o
francês Arthur Cazaux (122.º), por 7-6
(7/4), 6-4, 4-6 e 6-3. Alexander Zverev
(6.º) esteve a perder 1-2 em sets com
o qualifier eslovaco Lukas Klein
(163.º), mas impôs-se no tie-break do
último set, tal como Casper Ruud
(11.º) diante de Max Purcell (45.º).
O dia terminou com Daniil Medve-
dev (3.º), pela terceira vez na carreira,
a ganhar depois de ceder os dois sets
iniciais. O russo venceu Emil Ruu-
suvuori (53.º), por 3-6, 6-7 (1/7), 6-4,
7-6 (7/1) e 6-0, num encontro que ter-
minou às 3h39 locais, sendo o tercei-
ro final mais tardio do Open. O recor-
de data de 2008, quando Lleyton
Hewitt e Marcos Baghdatis jogaram
até às 4h34.
Na prova feminina, já caíram qua-
tro top 10 e só restam 13 das 32 cabe-
ças de série. As duas últimas vítimas
sonantes foram Elena Rybakina (3.ª)
e Jessica Pegula (5.ª). Campeã em
Wimbledon há dois anos, Rybakina
desperdiçou seis pontos para fechar
o embate com Anna Blinkova (57.ª) e
foi a russa de 25 anos a aproveitar o
seu nono match-point para vencer o
decisivo e mais longo tie-break em
encontros de singulares na história do
Grand Slam: 6-4, 4-6 e 7-6 (22/20).
continuar a
somar no Europeu
de andebol
Portugal defronta hoje (14h30, RTP)
a Eslovénia, em Hamburgo, na fase
principal do Euro2024 de andebol,
apontando à conquista de pontos
para poder sonhar com o apuramen-
to para o torneio pré-olímpico.
Depois de se ter estreado no main
round com uma vitória frente à pode-
rosa Noruega (37-32), crónica candi-
data às medalhas, a selecção portu-
guesa quer manter esse registo.
“Portugal tem de jogar como até ago-
ra. Temos estado num bom nível,
quer ofensivo quer defensivo, e
temos de continuar neste registo”,
referiu à agência Lusa Gilberto Duar-
te, que regressou à selecção após um
ano e nove meses de ausência.
O lateral português, de 33 anos,
assegurou que o objectivo passa ago-
ra pela qualiÆcação para o torneio
pré-olímpico. “Vamos tentar ganhar
o maior número de pontos possível
para atingir esse objectivo”, defen-
deu Gilberto Duarte, referindo-se
aos jogos que faltam disputar frente
à Eslovénia, Suécia (domingo) e Paí-
ses Baixos (terça-feira).
A Eslovénia apresenta como
melhores registos internacionais a
medalha de prata conquistada no
Euro2004, na Ænal perdida em casa
diante da Alemanha (30-25), e o
bronze alcançado no Mundial2017,
que teve como vencedora a selecção
anÆtriã, a França.

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Carlos Sainz abre uma “auto-estrada” rumo à vitória

nos automóveis do rali Dakar 2024
O piloto espanhol Carlos Sainz
(Audi) deu ontem a estocada Ænal
na classiÆcação dos automóveis da
46.ª edição do rali Dakar de todo-o-
terreno, ao assegurar uma vanta-
gem de quase uma hora e meia após
a penúltima etapa.
(Toyota), que repetiu o triunfo da
véspera. O belga Guillaume de
Mevius (Toyota) terminou na segun-
da posição, a 5m32s.
Na classiÆcação geral, Carlos
Sainz lidera agora com 1h27m06s de
vantagem sobre De Mevius, enquan-
Nas motas, Ross Branch (Hero)
venceu a tirada, com 32 segundos de
vantagem sobre o líder da geral, o
norte-americano Ricky Brabec (Hon-
da). O francês Adrien van Beveren
(Honda) foi o terceiro classiÆcado do
dia, a 3m17s. António Maio (Yama-
Construção de Passagem Inferior,
no Sublanço Almada – Fogueteiro (A2)
de janeiro de 2024 a março de 2025
A Brisa Concessão Rodoviária (BCR) informa que, no âmbito da Empreitada para a
Construção do Aumento do número de vias do Lanço IC20 – Via Rápida da Caparica,
entre o Nó A2/IC20 e o Nó das Casas Velhas, será necessário construir
uma Passagem Inferior à A2, na zona do atual Nó de Almada.

Sainz, que partia com a liderança
presa por 13 minutos, viu o seu prin-
cipal adversário, o francês Sébastien
Loeb (BRX), ceder mais de uma hora
devido à quebra de um braço da sus-
pensão dianteira do veículo, ao qui-
lómetro 132 dos 420 que compu-
nham a 11.ª especial da prova e que,
pelo quinto ano consecutivo, se dis-
puta na Arábia Saudita.
O espanhol nem precisou de ven-
cer a tirada, terminando na terceira
posição, a 5m35s do mais rápido do
dia, o francês Guerlain Chicherit
to Sébastien Loeb acabou por des- ha), no 27.º posto, foi o melhor por- Durante a obra cuja responsabilidade é da Subconcessionária AEBT – Autoestradas
cer à terceira posição, a 1h36m02s. tuguês do dia, com Bruno Santos do Baixo Tejo, da Concessionária IP-Infraestruturas de Portugal, S.A., vão existir
constrangimentos, nomeadamente, cortes de via e/ou basculamentos de tráfego,
O francês Æcou à espera do camião (KTM) a terminar em 30.º e Mário
no Sublanço Almada – Fogueteiro, da A2-Autoestrada do Sul.
de assistência, mas acabou por Patrão (Honda) em 31.º. Na classiÆ#
Os trabalhos ocorrerão durante catorze meses.
resolver a avaria com uma peça do cação geral, Brabec tem agora
A Brisa Concessão Rodoviária agradece antecipadamente a compreensão
Hunter do chinês Zi Yungang. 10m22s de avanço sobre Ross
e colaboração dos automobilistas e espera contribuir para reduzir eventuais
Branch, com Van Beveren a 14m31s. inconvenientes decorrentes desta operação, estando certa de que os possíveis incómodos
Carlos Sainz, Nos SSV, João Ferreira (Can-Am) serão compensados pelo nível de qualidade, segurança e conforto que resultam
que já venceu o foi quinto classiÆcado, a 24m40s do de uma autoestrada mais bem-adaptada às necessidades de quem a utiliza.
Dakar, nos carros, vencedor, o checo Jerome de Sadeler
nas edições de Para informação de trânsito atualizada poderá consultar o site www.brisaconcessao.pt.
(South Racing), ocupando o portu-
2010, 2018 e
2020, está perto
guês a mesma posição na geral a
Melhoramos a pensar em si
de novo triunfo 1h19m27s do primeiro, o francês
Xavier de Soultrait (Loeb Racing).
Sexta-feira, 19 de Janeiro de 2024
BARTOON LUÍS AFONSO
Um jornalista agredido e os novos amigos políticos
Sementes
de alfarroba
Carmo Afonso
O
jornalista do
Expresso Tiago
Soares foi agredido
quando fazia a
cobertura da
iniciativa “Encontros
Parlamentares”, organizada
por alunos da Universidade
Católica Portuguesa (UCP). Foi
agarrado, levantado do chão e,
suspenso até pelas pernas, foi
retirado da sala de forma
agressiva. Nessa altura, tentou que
os assessores do Chega
esclarecessem a situação e ainda
chamou pelo próprio André
Ventura. Deixou o equipamento
de trabalho para trás, onde se
incluía o seu computador portátil.
Tiago Soares identificou-se
como jornalista à entrada do
evento e deixaram-no entrar. Fez o
mesmo antes de ter sido retirado
da sala à força. De nada lhe valeu.
Os estudantes decidiram resolver
o assunto com as próprias mãos.
Poderiam ter chamado uma força
PÚBLICO, Comunicação Social, SA. Todos os conteúdos do jornal estão protegidos por Direitos de Autor ao abrigo da
legislação portuguesa, da União Europeia e dos Tratados Internacionais, não podendo ser utilizados fora das condições de
uso livre permitidas por lei sem o consentimento expresso e escrito da PÚBLICO, Comunicação Social, S.A.
CONTACTE-NOS: assinaturas.online@publico.pt • 808 200 095 (dias úteis das 9h às 18h)
policial, como todas as pessoas
razoáveis fazem, em vez de o
terem forçado Æsicamente a sair
do evento. Não passa pela cabeça
de ninguém no seu perfeito juízo
fazer uma ação direta deste tipo,
sobretudo visando um jornalista
no exercício das suas funções.
Claro que existem muitos
aspetos nesta história que não
batem certo e outros que
merecem reÇexão.
Antes de mais, existiu uma
comunicação do Chega, cujo
conteúdo constava também na
agenda divulgada pela Lusa, que
dava conta da realização do
evento e que dava conta de duas
situações: por um lado, que André
Ventura falaria aos jornalistas à
entrada do evento; por outro, que
não seriam admitidas câmaras lá
dentro. Ora, isto não signiÆca,
nem poderia ser assim
interpretado, que não pudessem
entrar jornalistas.
Se era essa a regra estabelecida
pelos alunos que organizaram o
evento, o Chega não divulgou a
regra e induziu no sentido oposto.
Foi isso mesmo que a UCP referiu
em comunicado: que repudiava a
manipulação deliberada das
normas de acesso ao evento pelo
partido convidado.
Qual o interesse do Chega em
induzir jornalistas em erro? O
Subscrever é poder.
Num ano de decisões, torne-se assinante do PÚBLICO
e tenha o poder da informação do seu lado
interesse de sempre — atrair
jornalistas às iniciativas em que
Ventura participa. Informar com
clareza que não poderiam
participar teria eventualmente
evitado que Tiago Soares lá fosse.
Nota positiva para a UCP, que
não se coibiu de denunciar o mau
procedimento do partido. Mas há
uma pergunta que Æca no ar:
porque é que os estudantes da
UCP organizam iniciativas deste
género e restringem o acesso aos
jornalistas? É incompreensível que
o modelo de evento que
conceberam exclua a assistência
ou participação de quem tem a
missão de partilhar a informação
com o público. O que se passa
naquelas iniciativas, e estando o
país em vésperas de eleições
legislativas, tem interesse para as
pessoas.
Mas não, aqueles estudantes
entendem que os seus eventos não
devem ser e estar acessíveis. Há
aqui uma lógica de “isto não é
para todos”. Dessa lógica até à que
lhes permitiu sentirem-se no
direito de usar a força para
expulsar um jornalista da sala foi
um saltinho. Nem os seguranças
de uma discoteca nos anos 80
fariam melhor.
Foi neste contexto que Miguel
Morgado, no Linhas Vermelhas da
SIC Notícias, saiu em defesa dos
estudantes, digo do Chega, digo,
na verdade, que não se percebeu
bem quem queria defender.
Miguel Morgado aÆrmou que o
jornalista “decidiu violar a
vontade dos organizadores e
entrar”. É legítimo que
perguntemos como poderia Tiago
Soares conhecer a vontade dos
organizadores se, como Miguel
Morgado bem sabe, essa vontade
não foi comunicada aos jornalistas
pelos próprios e se o Chega
manipulou a informação
relativa às normas de acesso.
publico.pt/assinaturas
Também se estranha que Miguel
Morgado não tenha uma palavra
a dizer sobre a ação direta e
violenta que exerceram sobre o
jornalista. Talvez esteja
convencido de que estava a
pedi-las. AÆnal estar no exercício
da sua proÆssão pode ser uma
grande provocação.
Mais ainda se estranha que
Miguel Morgado tenha tido a
preocupação de dizer, repetir e
insistir que não foram os
seguranças do Chega que
expulsaram o jornalista. Nem uma
palavra sobre a manipulação das
normas de acesso feita pelo
partido ou sobre a intervenção
agressiva do velho amigo, digo
segurança pessoal, digo
secretário, digo motorista, digo
faz-tudo de Ventura: Luc
Mombito, conhecido por ameaçar
pessoas, entre elas jornalistas.
Essa intervenção mereceu
destaque nas notícias.
A UCP tinha conseguido
defender os alunos sem defender
o Chega. Miguel Morgado não
conseguiu. Ainda ironizou, essa
moda da direita, falando na SS
nazi. Ventura já agradeceu
publicamente a Miguel Morgado.
A amizade é uma coisa linda. É
uma quase aliança.
Advogada
ASSINE JÁ