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os tontos dolosos
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Reinaldo Azevedo
Reinaldo Azevedo
Colunista do UOL
09/10/2023 07h15
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"O Governo brasileiro condena a série de bombardeios e ataques terrestres
realizados hoje em Israel a partir da Faixa de Gaza, provocando a morte de ao
menos 20 cidadãos israelenses, além de mais de 500 feridos. Expressa
condolências aos familiares das vítimas e manifesta sua solidariedade ao povo de
Israel.
Ao reiterar que não há justificativa para o recurso à violência, sobretudo contra
civis, o Governo brasileiro exorta todas as partes a exercerem máxima contenção
a fim de evitar a escalada da situação.
Não há, até o momento, notícia de vítimas entre a comunidade brasileira em Israel
e na Palestina.
O Brasil lamenta que em 2023, ano do 30º aniversário dos Acordos de Paz de
Oslo, se observe deterioração grave e crescente da situação securitária entre
Israel e Palestina.
Na qualidade de Presidente do Conselho de Segurança das Nações Unidas, o
Brasil convocará reunião de emergência do órgão.
O governo brasileiro reitera seu compromisso com a solução de dois Estados,
com Palestina e Israel convivendo em paz e segurança, dentro de fronteiras
mutuamente acordadas e internacionalmente reconhecidas. Reafirma, ainda, que
a mera gestão do conflito não constitui alternativa viável para o encaminhamento
da questão israelo-palestina, sendo urgente a retomada das negociações de paz."
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A súcia ideológica que não teme nem mesmo mercadejar a morte reclamou de o país
não ter citado o nome do Hamas e de ter reafirmado a solução em favor dos dois
Estados, como se isso fosse um mal e estivesse a indicar algum flerte com o caos.
A suposição é uma aberração. Pouco importa o que digam este ou aquele políticos ou
militantes, o fato é que o Brasil está na presidência do Conselho de Segurança da ONU
e lhe cabe, precipuamente, cobrar a cessação de qualquer hostilidade que ecloda
mundo afora, distinguindo, quando evidente e inequívoco, quem é o agredido. A
condenação é clara, sem subterfúgios ou ambiguidade. "Ah, mas não citou o Hamas..."
Nem deveria. Quem está na ONU na condição de "observador" é a Autoridade Nacional
Palestina, que não agrediu ninguém.
Num texto sobre os atos insanos, com tradução publicada no Estadão, faz
especulações de várias naturezas — o mundo está perplexo, e Friedman também.
Pergunta, por exemplo, se a razão principal do terror é uma encomenda feita pelo Irã,
um dos financiadores do Hamas, com o objetivo de interromper a aproximação da
Arábia Saudita com Israel, que já havia celebrado entendimentos, noto eu, com outros
países árabes, como Marrocos, Sudão, Emirados Árabes e Bahrein. Esses países
árabes teriam visto nesse caminho, também no horizonte dos sauditas, um modo de
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enfraquecer o regime dos aiatolás. Para quem sabe ler, nem é preciso cortar o "t", não
é? Reproduzo um trecho, mexendo um tantinho só na tradução em benefício da
precisão. Leiam com atenção:
"Por que o Hamas lançou esta guerra agora, sem qualquer provocação imediata?
É de se perguntar se não terá sido menos em nome do povo palestino e mais a
mando do Irã, um importante fornecedor de dinheiro e armas ao Hamas, para
ajudar a impedir a normalização das relações entre a Arábia Saudita, rival do Irã, e
Israel. Tal acordo, tal como estava sendo elaborado, também beneficiaria a
Autoridade Nacional Palestina na Cisjordânia, mais moderada — ao proporcionar-
lhe uma enorme injeção de dinheiro da Arábia Saudita, bem como restrições às
colônias israelenses na Cisjordânia e outros avanços para preservar uma solução
de dois Estados. Como resultado, os líderes da Cisjordânia poderiam ter ganhado
um impulso desesperadamente necessário de legitimidade por parte das massas
palestinas, ameaçando a legitimidade do Hamas.
VAMOS VER
Um analista como Friedman não precisa ter receio de inserir a barbárie no contexto da
criação de um estado palestino -- e não para facilitá-la.... E não é nada sutil ao explicitar
que a eventual aliança não era exatamente a melhor notícia para a extrema-direita.
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viu 'a nossa segurança nacional num estado pior' e que já houve danos nas
unidades de reserva de formações essenciais das Forças de Defesa de Israel, 'o
que reduziu a prontidão e a capacidade operacional'"
A pergunta é outra: Netanyahu fez algum movimento para esfriar a "caldeira de vapor"
ou, até agora, só concorreu para elevar a temperatura? A resposta é estupidamente
evidente. E, para má sorte de quase todo mundo, o Hamas existe, e Bibi está no poder,
liderando o governo mais reacionário da história. São, já escrevi aqui, duelistas da sorte
alheia.
E AGORA?
O espetáculo macabro e sangrento protagonizado pelo Hamas fortalece, por ora, o
primeiro-ministro, contra quem havia se levantado parte considerável da sociedade.
Mas volto à sutileza de Friedman. Citando Nahum Barnea, um colunista do jornal
"Yediot", escreve:
"Por último, Nahum observou que as altas patentes das Forças Armadas e o primeiro-
ministro, que preside o gabinete de segurança, sabem neste momento que, no futuro,
haverá provavelmente uma comissão de inquérito sobre a forma como a invasão do
Hamas foi permitida.
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Por isso, eles têm agora de conduzir esta guerra, tomar decisões penosas sobre os
compromissos entre a dissuasão, a retaliação, a recuperação de reféns do Hamas e
talvez mesmo a invasão de Gaza, sabendo sempre que, mesmo que consigam fazer
tudo isto na perfeição, no fim do caminho espera por eles algum tipo de inquérito. Não é
fácil pensar corretamente nestas condições."
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Sim, meus caros, há esta outra questão: seguem inexplicáveis as ações espetaculares
do Hamas, que teria enganado as forças de segurança mais bem-treinadas do planeta,
que dispõem daquele que é considerado o melhor serviço de Inteligência e de
Contrainteligência do mundo, ao qual não falta aporte tecnológico de ponta, que
costuma ser exportado para outros países. Friedman fala em inquérito, vale dizer: em
investigação. Não existe até agora explicação razoável.
ENCERRO
Não há causa que justifique as ações terroristas do Hamas. Ignorar, no entanto, o
contexto em que elas se dão é só picaretagem ou militância ideológica. Pode-se não
gostar dessa ou daquela opiniões de Friedman, por exemplo, mas pistoleiro não é.
Tampouco se confunde com um desses bobalhões que não se constrangem em usar
uma tragédia -- que é só a véspera de mais carnificina -- para produzir proselitismo
barato.
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imediatamente negociações que conduzam a uma solução ao conflito que garanta
a existência de um Estado Palestino economicamente viável, convivendo
pacificamente com Israel dentro de fronteiras seguras para ambos os lados."
Como se nota, ele chama terrorismo de "terrorismo", sem hesitação. Mas houve por
aqui canalhas que leram na defesa dos dois Estados uma "relativização" do horror. É
uma interpretação moralmente dolosa. Essa gente não está nem aí para o desastre em
curso. Têm apenas de cumprir a sua cota de antilulismo ou de antipetismo vagabundos,
ainda que sobre cadáveres. Infelizmente, vem muito sangue por aí para assanhar ainda
mais a sede desses canibais.
Opinião
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