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Artigo de Sicsú, na revista Será, com meus comentários.

Tenho recebido muitas mensagens de solidariedade. Amigos e ex


alunos me ligam perguntando como está a situação em Israel e se tenho
parentes lá. Agradeço e informo não ter parentes, mas poucos amigos e
muitos filhos de amigos. Minha preocupação com a situação e possíveis
desdobramentos, situação que acompanho com muito interesse faz
tempo, é algo de meu cotidiano.

Lembro de uma visita que fiz ao país e um encontro com um


pernambucano emigrado a quem muito respeito. Ele me dizia da
dificuldade de defender suas ideias, mesmo de poder expô-las.

Tinha a firme convicção de que as atividades belicosas jamais


cessariam se não houvesse uma mudança de postura. Ia na direção da
existência de dois países livres e independentes, um judeu e outro
palestino, da necessidade de uma Zona de Desmilitarização e da
importância de diminuir ou eliminar os assentamentos em áreas de
conflito. Faz mais de dez anos.

O que é Zona de Desmilitarização? Não deve estar vivendo no


mundo atual, onde existem mísseis que percorrem distâncias
enormes. Adiantaria colocar um batalhão de soldados das
“forças de paz” para impedir o lançamento de 5.000 mísseis
de dentro de Gaza?

Jamais se podem admitir atos terroristas, mas, para evitá-los, é


fundamental entender o que lhes dá combustível para serem cada vez
mais incendiários.

Comentário: não se pode admitir atos terroristas, mas ... há


um combustível para isso, ou seja, Israel forneceu o
combustível de ódio, para que o Hamas realizasse seu ato
terrorista
É a eterna posição “em cima do muro”, para agradar aos
pseudopacifistas, que aparentemente condenam o ato
terrorista, mas observam que há uma motivação, que
justificaria esse ato. São “antissionistas”, para mascarar um
antissemitismo enraizado em séculos de procurar justificar
os atos contra os judeus dizendo que eles fizeram alguma
coisa para merecer isto.

A morte de mais de mil e duzentas pessoas em dois dias aponta para


isso.

Domingo de manhã. Abro um jornal local. Um colunista, em letras


garrafais, apresenta um artigo cujo título me assusta. “Chocado com
ataques terroristas, Lula suaviza para o lado do Hamas”.

Faço um esforço e vou lê-lo. Baseia sua argumentação em uma


declaração do Presidente da República que vale reproduzir:

“O Brasil não poupará esforços para evitar a escalada do conflito,


inclusive no exercício da Presidência do Conselho de Segurança da
Organização das Nações Unidas (ONU). Conclamo a comunidade
internacional a trabalhar para que se retomem imediatamente
negociações que conduzam a uma solução ao conflito que garantam a
existência de um Estado Palestino economicamente viável, convivendo
pacificamente com Israel dentro de fronteiras seguras para ambos os
lados.”

Com isso como base, conclui que “ao contrário do governo brasileiro, a
embaixada israelense em Brasília acusou o Hamas de ser um ramo do
regime dos aiatolás do Irã”. Não consigo ver a relação. O uso da palavra
“contrário” parece trazer o que o colunista gostaria de ver, não o que foi
dito.
Acredito que o Senhor Presidente está correto. Procurar um caminho
da paz mais segura e duradoura parece ser correto.

Com preocupação, vejo as afirmações de Bibi Netanyahu, ou do


embaixador de Israel no Conselho de Segurança, que apontam para
uma escalada de violência, com retaliações de grande monta.

Comentário: é preciso se informar um pouco mais, e ter ao


menos o cuidado de ler o Estatuto do Hamas, que segue
anexo, junto com alguns trechos que destaquei. Uma coisa é
procurar segurar os radicais do governo de Israel, impedir
os assentamentos dos religiosos ultra ortodoxos e partir para
uma negociação com a Autoridade Palestina, outra coisa, de
uma inocência lastimável, é achar que há possibilidade de
acordo com o Hamas. Novamente: procurar se informar
melhor e ler o Estatuto do Hamas com atenção.

Essa postura aponta para o enraizar da polarização atroz e da


impossibilidade de convivência pacífica. Em nada ajuda para uma
estabilização da região e para o desenvolvimento em bases seguras de
Israel.

Lembrar que políticos como Shimon Peres e Itzak Rabin conseguiram


avanços significativos que, se continuados, poderiam ter dado nova
perspectiva para a Região. Verdade que a morte de Rabin por ato
tresloucado interrompeu a possibilidade de paz. Uma pena insistir em
beligerância e em medidas que só levam a uma maior insegurança da
população civil. Digo isso de ambos os lados.

O Brasil pode ajudar em muito nesse processo. Principalmente como


mediador que tem bom relacionamento com as duas partes. E, nessa
direção, manter uma postura equilibrada se faz necessário. Não aderir
a movimentos intempestivos de violência, em que a força momentânea
seja a única arma de negociação.
Reagir, sim, a qualquer atitude terrorista que coloque em risco vidas
civis, sem partir para o extremismo de tornar a situação em uma guerra
convencional, onde a destruição e morte imperarão.

Comentário: o que seria o “extremismo” na reação de Israel?


Entrar em Gaza estuprando e matando mulheres,
decapitando bebês, sequestrando crianças, mulheres e
idosos? É o discurso surrado de reação desproporcional?

Opinião de um judeu por religião, nascido no Marrocos, país árabe, que


tem muito orgulho de ser brasileiro.

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