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As terríveis lições do ataque do Hamas a Israel; leia


artigo da Economist
The Economist

7 - 8 minutes

É difícil projetar o choque do ataque sangrento do Hamas contra Israel


— porque a ação envolveu milhares de foguetes e combatentes atacando
o sul do país por terra, mar e ar; e porque a ação foi completamente
inadvertida apesar de sua escala, infligindo um golpe humilhante contra
os celebrados serviços de inteligência israelenses; mas acima de tudo em
razão da matança de centenas de pessoas inocentes e do sequestro de
muitas outras pelo Hamas. Conforme as Forças de Defesa de Israel
(IDF) ponderam sobre sua resposta, a atenção do mundo se voltará para
o seu martírio desesperado.

É cedo demais para saber como transcorrerão as próximas semanas. O


primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, jurou cobrar “um
preço enorme”, e ele está certo: o Hamas deve pagar por suas
atrocidades, que incluem o massacre de mais de 250 jovens israelenses
em um festival no sul do país. Mas a resposta de Israel engendra riscos
graves. Mandar tropas terrestres entrar em Gaza poderia envolvê-las
em um sangrento combate urbano — além de colocar os reféns em risco.
Quanto mais os combates se arrastarem, maior a chance da violência se
espalhar para a Cisjordânia e o Líbano. Mortes de muitos civis em Gaza,
especialmente se consideradas injustificadas, poderiam prejudicar a
posição de Israel no mundo e não deixariam de ser profundamente
erradas em seus próprios termos.

Mas não é cedo demais para ser claro afirmando que este ataque marca
o fim de uma convicção de décadas em Israel de que as aspirações
palestinas por soberania poderiam ser deixadas de lado indefinidamente
enquanto o restante do Oriente Médio avança. Além de tudo mais que
possa emergir deste conflito, decorrerá uma nova busca por respostas à
dúvida sobre como israelenses e palestinos podem viver em paz.

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Uma bola de fogo aparece após bombardeio israelense à Faixa de Gaza em 9 de


outubro Foto: MOHAMMED ABED/AFP

A política de Netanyahu de escantear os palestinos dependia de três


cálculos, e todos foram pelos ares com o ataque do Hamas. O primeiro:
mesmo que a questão palestina seja abandonada os israelenses poderão
permanecer seguros. Como resultado das baixas terríveis da Segunda
Intifada, que terminou em 2005, Israel cercou as populações palestinas
com muros de segurança. Superioridade em inteligência e poder de
fogo arrebatador, incluindo o sistema antifoguetes Domo de Ferro,
significavam que a ameaça armada dos combatentes palestinos era
controlável.

Parece que agora esta noção se rompeu. Uma razão para os serviços de
inteligência israelenses poderem ter desviado a atenção de Gaza é que a
Cisjordânia está agitada pelos objetivos expansionistas da extrema
direita de Israel. No sul do Líbano, o Hezbollah possui um arsenal
temível, grande parte fornecido pelo Irã. Não há dúvida de que Israel
será capaz de restabelecer seu domínio militar sobre os palestinos, mas
mesmo que seus soldados e espiões acreditarem que é possível garantir a
proteção dos cidadãos israelenses, os eleitores dificilmente concluirão
que um retorno ao status quo seria bom o suficiente.

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O segundo cálculo era que a existência do Hamas ajuda Israel a lidar com
o Fatah, o partido palestino que governa a Cisjordânia. Assumia-se que a
doutrina de dividir para controlar mantinha os palestinos enfraquecidos

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e que a influência de facções radicais poderia minar a credibilidade dos


moderados enquanto parceiros para a paz — o que atendia
completamente aos interesses de Netanyahu.

Para entender

• O que significa a declaração de guerra por Israel? Veja essa e outras


perguntas sobre o conflito

• Ataque do Hamas a Israel: veja em mapas como se desenrolaram os


atentados e a resposta israelense

• Mil brasileiros em Israel e Palestina já pediram volta ao Brasil, diz


governo

Com estes ataques, essa noção também saiu dos trilhos. Uma razão para o
Hamas atacar foi a doutrina de dividir para controlar ter criado
condições que deixaram o Fatah decadente e isolado; seu líder,
Mahmoud Abbas, está enfermo. Com seu ataque, o Hamas está
reivindicando a posição de porta-voz verdadeiro da resistência palestina.
As rivalidades internas dos palestinos deveriam proteger os israelenses,
mas acabaram transformando-os em alvo.

O terceiro cálculo era que Israel seria capaz de fortalecer sua


posição no Oriente Médio perseguindo diplomacia regional mesmo
que deixasse os palestinos apodrecendo. Essa visão foi endossada pela
assinatura dos Acordos de Abraão, entre Bahrein, Israel e Emirados
Árabes Unidos, em 2020 — e a adição posterior de Marrocos e Sudão.
Até o fim de semana passado, parecia que a Arábia Saudita também

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poderia se juntar, e eventualmente os sauditas ainda poderão aderir, mas


o Hamas mostrou que os palestinos também têm algo a dizer.

Pessoas lamentam a morte de seus familiares após bombardeio israelense na


Faixa de Gaza Foto: Fatima Shbair/AP

A próxima operação contra o Hamas somente contribuirá para a


sensação de que chegou a hora de uma nova abordagem. Após o
derramamento de sangue do sábado, Israel não pode fulminar o Hamas
mas permitir que o grupo permaneça no poder em Gaza como se nada
tivesse acontecido.

Contudo, nenhuma alternativa simples está em oferta. As IDF não


querem ocupar Gaza — por este motivo o enclave é autogovernado. A
ideia de uma força de paz internacional também é difícil imaginar:
nenhum país quer assumir essa responsabilidade. E ainda assim, se as
IDF destruírem o Hamas em Gaza e depois marcharem de volta para
casa, quem saberá que forças destrutivas poderão ocupar o vácuo
deixado para trás.

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Ninguém deve subestimar as dificuldades adiante. A Segunda Intifada


dissuadiu jovens israelenses de se posicionar por negociações com os
palestinos. O atual ultraje certamente criará uma nova geração de
israelenses incapazes de imaginar como facções palestinas podem

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ser parceiras para a paz. Ao mesmo tempo, a coalizão de extrema


direita que governa Israel tem colocado foco em anexar partes da
Cisjordânia — e redobrará esses esforços.

Apesar disso, israelenses cabeça-dura precisarão aceitar o fato de que


devem voltar a negociar na questão palestina. O aparato de segurança de
Israel precisa de uma contraparte com a qual possa trabalhar se quiser
exercer qualquer tipo de influência sobre os territórios palestinos. Isso
significa que os israelenses precisam de um interlocutor palestino.

O que virá depois dependerá enormemente de quem estiver ocupando o


poder em Jerusalém. No momento, Israel está unindo esforços, mas logo
passará por um amargo acerto de contas que ainda poderá levar a uma
nova coalizão ou até a um novo primeiro-ministro. Para os israelenses
poderem estar seguros, quem ocupar o poder precisará deixar de pensar
nos palestinos como um problema que pode ser engavetado e começar a
pensar neles como um povo que deve ser ouvido. /TRADUÇÃO DE
GUILHERME RUSSO

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