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CONFLITO ÁRABE-ISRAELENSE conjunto de instituições (exército, marinha, aeronáu-

1. INTRODUÇÃO tica; poderes executivo, legislativo e judiciário etc.)


O conflito envolvendo Israel e árabes é um dos mais político-administrativas (o Estado é de natureza polí-
antigos do mundo contemporâneo. A compreensão tica) criadas historicamente para o governo do terri-
desse conflito faz-se indispensável para entender o tório. O Estado, tem num sentido bem próximo de
mundo atual, sua complexidade torna a análise ainda país - acrescenta-se ao último, a natureza, a base fí-
mais interessante. Passível de cobrança em qualquer sica.
processo seletivo, concurso, vestibular e/ou ENEM o Um território não necessariamente é um país.
torna assunto praticamente obrigatório para classe Para efeito do que nos propomos para este texto, não
discente tanto da educação básica quanto superior. cabe aqui tecermos discussões sobre superposição, ou
Mas, desde quando e por que esses povos estão as múltiplas escalas de poder que podem ocorrer num
em guerra? Como Jerusalém se tornou sagrada para território. Porém, ressalta-se que sem um povo, um
ambos? Quais os principais entraves que impedem a território e um governo autônomo, reconhecido inter-
paz entre israelenses e palestinos? A paz é possível? nacionalmente, não pode existir um país.
Estamos longe de pretender esgotar o tema, entre- Um povo pode ou não ser uma nação. Nação ou
tanto, nos propomos contribuir para dirimir dúvidas etnia é uma sociedade que tem as mesmas raízes his-
sobre estas indagações. tóricas. O principal elemento que dá identidade à et-
Os ramos da ciência utilizam-se de conceitos nia é o idioma, o que não significa que povos que fa-
para nortear suas análises e corroborar as interpreta- lam a mesma língua, necessariamente pertençam ao
ções. Por se tratar de um olhar da Geografia, os con- mesmo grupo étnico, portanto, outros elementos são
ceitos-chave de espaço e território, principalmente, significativos: costumes e crenças religiosas podem
foram privilegiados nesse estudo. relevantes. Apesar da amplitude do termo, pedagogi-
2. DESENVOLVIMENTO camente, pode-se dizer que se trata de um grupo com
2.1. Conflitos e conceitos a mesma cultura.
Um conjunto de objetos estáticos cuja a essência é No mundo moderno, o termo também é empre-
deve ser considerada em razão do movimento para os gado para se referir a um país ou Estado-Nação, nesse
quais foram construídos e/ou das funções que adqui- caso, de acordo com Cukier (2023), o termo naciona-
riram, é assim que Santos (1979) entende o espaço lidade não necessariamente está ligado ao sentido de
quando fala da inseparabilidade de fixos e fluxos. Já nação, de etnia, mas às pessoas que nascem, são des-
Rogério Haesbaert (2001), na vertente jurídico-política cendentes e/ou conseguem cidadania num Estado-
conceitua território como “[...] um espaço delimitado e Nação ou país.
controlado por um poder, especialmente estatal [...]”. Não Quanto ao reconhecimento externo, vale dizer
se pretende esmiuçar os conceitos, mas uma breve in- que, desde o término da Segunda Guerra Mundial
ferência se faz necessária. (1945), ser reconhecido internacional equivale a se
Quando o tema envolve geopolítica, conflitos tornar membro da Organização das Nações Unidas –
e/ou guerras, para uma compreensão adequada exige- ONU. A ONU foi criada, em substituição à Liga das
se o entendimento, além dos conceitos mencionados, Nações, em 1945, numa conferência em São Fran-
de povo, nação, Estado e país; Por povo, entende-se cisco (Califórnia), nos EUA; com sede em New York,
como a população absoluta, ou a totalidade de pes- no referido país. Os objetivos que nortearam a criação
soas que habita um espaço, aqui, não raro, o termo da ONU foram a promoção da cooperação entre as
poderá ser mencionado com sentido nação. nações, dessa forma, haver-se-ia a colaboração para a
Territórios são espaços dotados de ordem. Gru- promoção da paz. Apesar de contar com vários ór-
pos se apropriam, legal ou ilegalmente, do espaço, so- gãos, nessa temática a relevância fica com o Conselho
bre ele exercem o poder, a força, o governo. Esse po- de Segurança da ONU.
der, entretanto, não é, espacialmente falando, infinito. Embora a ONU conte, em 2023, com cento e
Acaba onde começa outro governo, ou seja, no limite, noventa três membros, o Conselho de Segurança é
na divisa com outro território. O termo fronteira é po- composto apenas por quinze. Desses, dez (cinco a
lissêmico, mas, para efeito deste assunto, trata-se de cada ano) são escolhidos pela Assembleia Geral e
uma zona, uma faixa que acompanha o limite entre os cinco têm assentos permanentes. Além disso, Rússia,
territórios. Em se tratando de Estados-Nacionais, as França, China, Reino Unido e Estados Unidos da
fronteiras geralmente possuem uma legislação espe- América têm poder de veto. Logo, conclui-se que, a
cífica. paz só é possível quando interessa às potências com
Geralmente, todo povo organizado deseja exer- cadeira permanente e poder de veto no Conselho de
cer o governo sobre o seu território. O Estado é o Segurança da ONU.

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2.2. O palco do conflito: considerações relevantes por obra de
Na Antiguidade e nos dias atuais, região de localiza- Samuel, úl-
ção estratégica. No Oriente Médio, região onde se lo- timo juiz. Saul
calizam o Estado de Israel e os territórios palestinos, tornou-se rei.
também se encontram alguns dos maiores produtores, Nesse reinado,
exportadores e detentores das maiores reservas de pe- os filisteus –
tróleo do mundo; além disso, uma grande obra da en- arqui-inimi-
genharia moderna – o Canal de Suez, que integra os gos, foram
oceanos Índico e Atlântico via mar Vermelho e mar derrotados, ao
Mediterrâneo; por onde circula grande parte do petró- vencer a bata-
leo e demais mercadorias comercializadas em todo o lha contra Go-
planeta. Esses fatos tornam a região de relevância ím- lias, o soldado
par para grande parte dos países desde o advento da David saiu
segunda revolução industrial. Mas, o conflito não tem muito presti-
como razão a via de circulação, tampouco essa im- giado.
portante fonte de energia. Após a
Na Antiguidade, controlar a região era sinô- morte de Saul,
nimo de dominar o mundo (até então conhecido por David se auto-
europeus, asiáticos e africanos), de certa forma, sig- proclamou rei
nificava também ter controle das rotas comerciais, de Israel, entretanto, as dez tribos do Norte entendiam
principalmente pelo Mar Mediterrâneo. Tudo isso que o reinado deveria pertencer aos descentes de
tornava a região alvo de todos os grandes impérios, Saul. Por um breve período (sete anos de guerra civil)
dos egípcios aos britânicos. Única ligação por terra o reino foi dividido e depois de sete anos de guerra
entre os continentes que compunham o Velho civil, reunificado. Durante o reinado de Salomão, o
Mundo. Consequentemente, não por serem árabes, Reino de Israel tornou-se um império, Jerusalém –
nem por serem judeus, mas por estarem na região, a cidade da paz, conquistada dos Jebusitas, por Salo-
história desses povos beligerantes, é a história de rara mão, filho de David, tornou-se a capital.
autonomia sobre seus territórios. Um povo, dois reinos. A geografia condicio-
2.2.1 Origem dos israelenses nando a história. Após a
Os hebreus são descendentes de emigrantes que dei- morte de Salomão o reino
xaram a cidade de Ur, na Mesopotâmia1, para o vale de Israel, foi mais uma
do rio Jordão por volta do ano 2000 a.C.. de acordo vez, dividido. As tribos de
com Cukier (2023), o termo significa “povo do outro Benjamin e Judá constituí-
lado do rio”. Ao longo do tempo os hebreus se dis- ram o Reino de Judá, com
tinguiram das demais nações da região, dentre outros capital em Jerusalém; as
aspectos, por serem monoteístas (práticas religiosas e tribos do Norte formaram
crenças num Deus único), numa região onde os povos o Reino de Israel, com ca-
eram, predominantemente, politeístas pelas, ou seja, pital em Samaria. Apesar
por professarem uma religião monoteísta. de dois séculos de guerras
Os hebreus eram compostos por inúmeras tri- civis, o reino não foi mais
bos e fragmentados politicamente. A “terra prome- unificado. A figura 02
tida” foi conquistada dos canaanitas, por volta do ano mostra os dois reinos.
1100 a. C. onde se estabeleceram doze tribos2 (veja O Reino de Israel
fig. 01). Além dos inimigos externos, as tribos esta- era detentores de solos
vam constantemente em guerra civil. A unificação mais férteis, a agricultura
política-territorial só ocorreu no ano de 1030 a. C. passou a ser mais

1
A Mesopotâmia corresponde, aproximadamente, aos territórios do para o Egito, de onde foram expulsos e se estabeleceram em
Iraque, do Irã e da Jordânia, de hoje. Gaza. Assim como os judeus, os filisteus também foram feitos
2
Segundo a crença judaica, cristã e islâmica, Abraão é precursor cativos na Babilônia. As cidades filisteias tiveram o mesmo des-
do povo que conquistaria Canaã, “a terra prometida”. As tribos tino que Jerusalém: foram destruídas por Nabucodonosor. Di-
são dos descendentes Jacob, filho de Isaac, neto de Abraão. ferentemente dos judeus, os filisteus não retornaram. Por-
Após a conquista de Canaã, os hebreus contaram como inúme- tanto, o povo palestinos de hoje - assim denominados, a partir
ros inimigos. Mas a ameaça mais contundente partia dos filis- do século XX, são árabes, não são descendem dos filisteus
teus. Confederação de povos indo-europeus que imigraram (SZPILMAN, p.14).
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desenvolvida, porém, o território mais cobiçado. mais desenvolvidos que o próprio europeu. Apesar
Além disso, disputas pelo poder, o tornaram mais frá- disso, por conta do judaísmo, sobreviveram enquanto
geis política e militar. Consequências, depois de três identidade cultural.
anos de cerco, foram conquistados e levados como 2.2.2. Origem dos árabes
escravos pelos Assírios. Os israelitas, como se iden- A “terra prometida” não ficou despovoada. Tem-se,
tificavam, do Reino de Israel provavelmente foram até aqui, um breve histórico da trajetoria dos judeus –
absorvidos (aculturados) e se perderam na história, povo aos quais os israelenses contemporâneos atri-
não retornaram da Assíria. O Reino de Judá, no en- buem sua descendência. Mas, os árabes, quem são, de
tanto, sobreviveu por mais cento e trinta anos onde surgiram, desde quando ocupam a região, em
(SZPILMAN, 2012. pp. 14-16). que acreditam? Até o século VI a península Arábica
O terreno montanhoso, coesão política e militar – quase toda coberta por desertos, era habitada por
tornaram o Reino de Judá mais forte. O relevo mon- tribos nômades semitas, politeístas sem uma unidade
tanhoso da região contribuiu para que os judeus se es- territorial e política. Mesmo assim, importantes entre-
pecializassem no desenvolvimento do pastoreio, a postos comerciais na rota Oriente, mar Mediterrâneo
mesmo tempo que dificultava as incursões inimigas e e mar Vermelho haviam sido edificadas, a exemplos
facilitavam a defesa do território. Ainda assim, Nabu- de Latribe e Meca.
codonosor conseguiu capturá-los, Jerusalém foi des- A condição de importante centro comercial de
truída e os judeus feito escravos na Babilônia por Meca era potencializada por abrigar a Caaba – lugar
aproximadamente quarenta e cinco anos (de 586 a. C que abrigava divindades de todas as tribos, para onde
a 538 a. C.), quando os babilônicos capitularam aos os crentes se dirigiam periodicamente. A administra-
Persas. ção da cidade e da Caaba era de responsabilidade das
Sob o domínio do império persa, o retorno. tribos dos coraixitas – tribo do profeta Maomé. Se-
Cerca de cinquenta mil judeus retornaram à “terra gundo a crença islâmica a Caaba foi colocada nesse
prometida”. Ainda que a Judeia (assim denominada lugar por obra do Anjo Gabriel.
pelo império Persa) não tivesse autonomia, a admi- Historicamente, se atribui o monoteísmo da
nistração cabia aos judeus que passaram a ter relativa pregação de Maomé ao contato que tivera com a cul-
liberdade nesse período. Os muros de Jerusalém fo- tura a judaico-cristã quando era guia de caravanas por
ram reconstruídos e o Templo reerguido, missão que inúmeras regiões, dentre elas, a Palestina5.
coube a Neemias, nomeado governador da Judeia pe- A difusão do islamismo e da língua árabe, que
los persas. se pode denominar de civilização árabe, se deu a par-
No último século antes da Era Cristã, já sob do- tir do século VII. A submissão a um Deus único e eli-
mínio do Império Romano, no reinado de Herodes o minação de todos os ídolos iam de encontro aos inte-
Templo foi ampliado. Quando Jerusalém foi destru- resses das elites de Meca, por essa razão, em 622, Ma-
ída pelos romanos no ano 70 d.C., o Templo, mais omé e seus seguidores foram expulsos da cidade (Hé-
uma vez, virou escombros3. gira)6. Fugiram para Latribe, posteriormente chamada
Como já ocorrera antes, sob o domínio de Medina (a terra do profeta), de onde organizou seu
Roma, mais uma diáspora. Nos séculos I e II da nossa exército para conquistar Meca dez anos mais tarde, é
era, mais precisamente por volta dos anos 70 e 130 o que diz (SOUSA, 2023).
grandes rebeliões dos judeus foram depreendidas Após a morte de Maomé, inicia-se expansão do
contra o domínio romano. Esses eventos levaram Je- islamismo. Em 634, com Abu Beker, sucessor de Ma-
rusalém às ruínas e os judeus à dispersão. Grande omé, começa a formação e expansão do império árabe
parte foi levada cativa para a Europa4. Durante sécu- e a difusão do islamismo7. A língua árabe e o isla-
los os judeus se tornaram uma segunda classe, vítimas mismo se tornaram enraizada no norte da África, em
de preconceitos e perseguições nesse continente – o grande parte da Ásia – não só no Oriente Médio. Ao
antissemitismo contra judeus. Ainda assim, e por essa longo de séculos, com alterações de suas sedes (Me-
razão, se tornaram intelectual e economicamente, dina, Damasco, Bagdá e Constantinopla,

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O Muro das Lamentações – ruínas do Antigo Templo (se- Hégira - ano de 622, o evento marca o início do calendário is-
gundo) é o lugar de reza dos judeus em Jerusalém nos dias atu- lâmico.
7
ais. O islamismo, assim como o judaísmo e o cristianismo, acredita
4
Nesse contexto a região foi denominada Palestina pelo impe- no mesmo Deus de Abraão, é monoteísta. Meca e Medina (Ará-
rador Adriano porque o termo faz referências aos filisteus, po- bia Saudita) e Jerusalém são cidades sagradas. Possui duas di-
vos arqui-inimigos dos judeus. visões principais: sunitas e xiitas.
5
De acordo com o livro sagrado dos muçulmanos, o Corão, que
a missão profética de Maomé foi revelada pelo Anjo Gabriel.
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respectivamente, nos Estados contemporâneos da Terminada
Arábia Saudita, Síria, Iraque e Turquia) impérios is- a Segunda
lâmicos dominaram grande parte do Velho Mundo e, Guerra Mundial
o Oriente Médio em particular. (1945), a recém-
Portanto, a civilização árabe desenvolveu-se a criada Organiza-
partir do dogma da religião islâmica. Maomé foi res- ção das Nações
ponsável pela unificação de diversos povos semitas Unidas – ONU,
de inúmeras linhagens, Gasparetto Júnior (2023) de- sob as bênçãos
fine povos semitas como das novas potên-
cias, EUA e
Os Semitas tiveram origem no Oriente Mé- URSS, “solucio-
dio, onde ocuparam vastas regiões indo nou” o problema
do Mar Vermelho até o planalto iraniano. São dos judeus: Divi-
povos típicos de ambientes com clima seco, o
que os caracteriza pelas práticas do pastoreio
diu a Palestina
e do nomadismo. Esses antigos povos identi- em dois territó-
ficados pela fala semítica envolvem os ara- rios. Um para a
meus, assírios, babilônios, sírios, hebreus, fe- criação do Es-
nícios e caldeus. tado de Israel,
outro, para o Es-
Nesse caso, a origem dos povos árabes é a mesma dos tado Palestino
hebreus, que séculos antes, após a unificação de di- (conforme mapa
versas tribos, haviam formado o Reino de Israel. da figura 04).
2.2.3. Conflito Árabe-Israelense: da gênese aos Pelo plano de
dias atuais partilha, Jerusa-
O início do retorno. No final do século XIX sur- lém9, cidade sa-
giu na Europa o Movimento Sionista, movimento po- grada para ju-
lítico que angariava fundos e adquiria terras dos ára- deus, cristão e
bes na Palestina8 e defendia a criação de um Estado muçulmanos, ficou sob administração da ONU, a fi-
para os judeus na região. Esta, nesse contexto, estava gura 03 mostra a geografia do sagrado em Jerusalém.
sob domínio do Império Otomano. Os britânicos, Segundo matéria da EXAME (2023) os árabes
maior potência econômica política e militar do oci- não aceitaram a partilha do território porque constitu-
dente, apoiava a causa. Obviamente, o controle da Pa- íam 67% da população e, ficaria apenas com 44% do
lestina fazia parte dos interesses geopolíticos do
Reino Unido. Fato se concretizado após a derrota e
desintegração do Império Otomano na Primeira
Guerra Mundial (1914-1918).
O antissemitismo em relação aos judeus que
sempre ocorreu nesse continente, tornou-se mais exa-
cerbado na Europa. Durante as primeiras décadas do
século XX, em particular no contexto da Segunda
Guerra mundial (1939-1945) a perseguição aos ju-
deus na Europa foi ao extremo. Ao mesmo tempo do
holocausto nazista – estima-se que mais de cinco mi-
lhões e meios de judeus tenham sido exterminados, a
imigração de judeus para a Palestina cresceu de forma
extraordinária, que no final do século XIX era inferior
a 10% chegou a aproximadamente de 33%.

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Nas terras adquiridas eram implantados os Kibutzim (comu- reconstruído após a liberdade proporcionada pelos persas e, destruído
nidades agrícolas onde a propriedade da terra é coletiva). pelos romanos. Deste restam o Muro das Lamentações, lugar de reza
9
Jerusalém é uma a cidade sagrada para judeus, cristãos e muçulma- dos judeus hoje. Sob o domínio dos árabes, foi construído o santuário
nos. No Abraão sacrificaria o filho (Isaac, para os judeus e cristãos; Domo da Rocha (cúpula dourada) e mesquita de Al-Aqsa. Na cidade,
Ismael, para os muçulmanos), no Monte Moriá, o rei Salomão, ergueu após o cristianismo ter se tornado religião oficial, os romanos manda-
o Templo – Templo do Rei Salomão. Destruído pelos babilônicos e ram erguer a igreja do Santo Sepulcro. Veja esses objetos na figura
03.
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território, além disso, as terras mais férteis, região A Guerra dos Seis Dias e a desterritorialização
costeira, pertenceria ao Estado judeu. Além de não do povo palestino. Em 1967, depois que o Egito in-
aceitar a divisão, os árabes, não só os palestinos, não terditou a o golfo de Akaba para passagens de navios
aceitaram, se quer, a existência de Israel na região. israelenses, o Estado judeu impôs uma derrota humi-
A proclamação da independência veio acompa- lhante aos países árabes. Em apenas uma semana ani-
nhada da declaração de guerra. Em 14 de maio de quilou a viação egípcia ainda no solo, e atacou de sur-
1948, David Ben Gurion proclamou a criação do presa as forças militares da Jordânia e da Síria.
Estado de Israel, as tropas inglesas se retiraram, no Nesse caso, as fronteiras foram profundamente
dia seguinte os países árabes declararam guerra ao re- alteradas. Israel tomou posse dos territórios palesti-
cém-criado Estado. nos da Faixa de Gaza, da Cisjordânia e Jerusalém Ori-
A primeira guerra Árabe-Israelense (1948) é ental; além disso, ocupou as Colinas de Golã – nas-
tida da como a Guerra de Independência pelos israe- centes do rio Jordão, da Síria e a província do Sinai,
lenses. Depois de um ano foi vencida pelo novo Es- do Egito, a expansão das fronteiras israelense pode
tado. Essa vitória não provocou alterações significa- ser observada no mapa da figura 05. Centenas de mi-
tivas nas fronteiras israelenses, mas palestinos não lhares de palestinos deixaram seus territórios e se tor-
conseguiram autonomia sobres os territórios da Faixa naram refugiados em países vizinhos, principalmente
de Gaza e da Cisjordânia, estes passaram, para con- na Jordânia.
trole, respectivamente, do Egito e da Jordânia. Os dois territórios não-palestinos se justificam
Sete anos mais tarde, nova guerra. Em 1956, por interesses, não só israelenses. O Sinai, para a ga-
Israel (com a o apoio da França e do Reino Unido) rantir a navegabilidade entre o mar Vermelho e o mar
invade o Sinai. A motivação eram as ameaças egíp- Mediterrâneo, indispensáveis para as potências oci-
cias de nacionalizar e controlar o Canal de Suez (até dentais. Nas colinas de Golã encontram-se as nascen-
então administrado pelos franceses e britânicos). So- tes do rio Jordão e do lago Tiberíades, vitais para os
viéticos e estadunidenses se opuseram à invasão. judeus por constituírem-se nas principais fontes de
Nesse caso, derrota na guerra e vitória política, o abastecimento do Estado de Israel, haja vista os re-
Egito foi agredido, mas a liderança Gamal Abdel cursos hídricos existentes em seu território serem in-
Nasser saiu fortalecida. O Egito conseguiu o controle suficientes para abastecer suas cidades, irrigação e in-
sobre o Canal de Suez – com a condição de manter a dústrias. Os sírios projetavam a construção de repre-
livre navegação tanto nessa via quanto no Mar Ver- sas para limitar o acesso de águas aos israelenses.
melho. Guerra do Yom Kippur, Dia do Perdão, o troco
árabe? Em 1973, seis anos após serem atacados de
surpresa pelas forças do Estado judeu, agora, os isra-
elenses que foram surpreendidos. Egito, Jordânia e
Síria, na tentativa de reaver seus territórios, ataca-
ram os Israelenses num dos dias mais sagrados da
religião judaica, o “Dia do Perdão”. Tem-se a Guerra
do Yom Kippur, apesar de baixas civis e militares,
maior que nas guerras anteriores, foi novamente ven-
cida pelos judeus.
Mesmo não sendo reconhecido, Israel impôs
respeito e mostrou-se invencível pelos inimigos ára-
bes. Diante da invencibilidade nas guerras convenci-
onais, lideranças árabes mudam de estratégias. Inspi-
radas ideologicamente na Irmandade Muçulmana –
surgida no Egito em 1929 (CLÁUDIO, 2023), inúme-
ros organizações (Jihad Islâmico, Hezbollah, HA-
MAS - Movimento de Resistência Islâmica, o FA-
TAH - Harakat al-Tahrir al-Watani al-Filastini, lite-
ralmente: Movimento de Libertação Nacional da Pa-
lestina Organização para a Libertação da palestina –
OLP, dentre outros. Em que pese essas organizações
serem tidas como terroristas por vários países, várias
atuam também como organizações políticas.

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De Conflito Árabe-Israelense a conflito Israe-
lense-Palestino. Sejam com guerras convencionais
e/ou terrorismo, o Estado de Israel é uma realidade.
O principal intento da maioria dos países do mundo
islâmico não se concretizou: Israel não foi varrido do
mapa. Ao longo dessas décadas os palestinos que aca-
baram por perder seus territórios. Mudanças impro-
váveis aconteceram.
Em fim um reconhecimento. Entre 1978 e 1979
foram realizados uma série de encontros entre repre-
sentantes de Israel e do Egito, intermediadas pelos
EUA, os acordos assinados ficaram conhecidos como
os Acordo de Camp David. No que se refere aos pa-
lestinos – “autoridades autônomas” foram rechaça-
das. Através desses acordos o Estado de Israel passa-
ria a ser reconhecido, em compensação devolveria o a OLP e Israel se reconheciam mutuamente; previa-
Sinai aos egípcios. Os acordos foram cumpridos por se retirada das tropas israelenses dos territórios pales-
ambos os lados. (BBC, 2023) tinos e a criação da Autoridade Palestina, órgão que
Como consequências da Conferência de Ma- ficaria encarregado de administrar os territórios pa-
10 lestinos. Territórios, por sinal, cada vez menor, de
dri , ocorrida em1991, ainda que analistas digam que
esse reconhecimento aconteceria independente da conforme pode ser observado na figura 06.
conferência, em 25 de outubro de 1994, a Jordânia Na prática, abria-se caminho para o reconheci-
também assinou acordo de paz com Israel. Na prática, mento do direito de o Estado de Israel existir e em paz
foi segundo país árabe a reconhecer a o Estado de Is- e, da criação do futuro Estado Palestino. O HAMAS
rael. e outros grupos, no entanto, não aceitaram o tratado.
Nesse contexto, surgiu uma nova forma de de- Os Acordos de Oslo foram cumpridos apenas parci-
monstrar oposição ao domínio dos territórios ocupa- almente. (BBC, 2023). O retorno às fronteiras de
dos através de greves, manifestações e apedrejamen- 1967 – conforme pleiteia os palestinos, é extrema-
tos das tropas militares e da população civil israelense mente difícil porque ao longo décadas governos isra-
– conhecidas como Intifada (levantamento, em elenses instalaram dezenas de assentamentos nesses
árabe). Primeira Intifada durou de 1987 a 1993. A re- territórios, observe-nos, na figura abaixo.
ação extremada das forças de Israel levou à Segunda Desde então, a cidade de Ramallah se tornou a
Intifada, de 2000 e 2005 (SILVA, 2023). capital de um governo provisório sob incumbência da
Um aperto de mão histórico. No dia 13 de se- Autoridade Nacional Palestina (ANP). Em novembro
tembro de 1993, Yitzhak Rabin, primeiro-ministro de de 2004, o principal líder da OLP – Yasser Arafat,
Israel e o líder da OLP, Yasser Arafat, sob os olhares faleceu. Nas eleições de 2005, Mahmoud Abbas, do
do presidente dos EUA, Bill Clinton, apertaram as FATAH, braço da OLP, saiu vitorioso; No entanto,
mãos. Um marco na história dos dois povos. Pelos os no ano seguinte o HAMAS venceu as eleições parla-
Acordos de Oslo, assinados, no pátio da Casa Branca, mentares, tendo portanto, direito de formar o Gabi-
nete.
Apesar de as eleições terem sido consideradas
limpa e democrática por órgão de observação inter-
nacional, EUA, Israel e União Europeia não aceitam
a composição do governo porque o HAMAS é consi-
derado uma organização terrorista por ambos. Diante
disso, o HAMAS rompeu com a Autoridade Nacional
Palestina e passou a governar a Faixa de Gaza. Tem-
se, a partir de então, um povo dividido, não só terri-
torial, mas politicamente, também. Faixa de Gaza ad-
ministrada pelo HAMAS e a Cisjordânia governada
pela Autoridade Palestina.

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Na conferência de Madri, o povo palestino esteve represen- OLP, porque até então, Israel não aceitava a participação da
tado em conjunto pela delegação da Jordânia, não foi repre- Organização.
sentado pelo líder Yasser Arafat, nem por outra liderança da
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Rumo à formação do Estado Palestino. Em Saudita, estava bem próximo disso, antes dos ataques
2011 a Autoridade Nacional Palestina solicitou a con- do HAMAS e da reação do governo israelense.
dição de Estado-Membro da ONU, mas só obteve, Além disso, sob certas condições, a Liga Árabe
por enquanto o status de Estado Observador não- também faria o reconhecimento do Estado de Israel
membro. De um total de cento e noventa e três, em existir e em paz na Palestino na região. Portanto, a
2023, o Estado Palestino já era reconhecido por cento paz pode estar distante, mas é possível.
e trinta e oito países (ONU, 2012).
3. CONCLUSÃO 4. REFERÊNCIAS
A partilha da Palestina pela ONU em 1947 tornou o
Estado de Israel uma realidade e, diversos tipos de ALVAREZ, Rodrigues. Por que JUDEUS e ÁRA-
conflitos também. É praticamente consenso que a paz BES se enfrentam no Monte do Templo? Por que
na região só se fará presente a partir da coexistência JERUSALÉM é sagrada para o ISLÃ? Disponível
de dois Estados. Entretanto, para que o Estado Pales- em https://www.you-
tino se torne concreto, ainda existem inúmeras barrei- tube.com/watch?v=NM3MC9zmtKc (acessado em
ras a serem superadas, dentre as quais merecem des- 22/10/2023).
taques: BBC News Brasil. Tratados de paz: os muitos fra-
➢ É condição sine qua non, (sem a qual não, es- cassos e poucos sucessos das negociações entre Is-
sencial, indispensável) para existência de um Es- rael e palestinos. Disponível em
tado, um território. Os territórios que pertenceriam https://www.bbc.com/portuguese/arti-
ao povo palestino foram drasticamente reduzidos cles/cqv98qpelweo (acessado em 20/10/2023).
desde a Guerra dos Seis Dias, em 1967; os israe-
lenses assentados nos territórios não aceitam sair, CLÁUDIO, Fernandes. História da Irmanada Mu-
tampouco ficar sob governo que não seja israe- çulmana. Disponível em https://www.historiado-
lense. Portanto, retornar às fronteiras de 1967 – mundo.com.br/idade-contemporanea/historia-irman-
pleitos dos palestinos, é praticamente impossível; dade-muculmana.htm (acessado em 02/11/2023).
➢ Uma cidade, duas capitais. Jerusalém é cidade CUKIER, Heni. Ozni. O QUE VOCÊ PRECISA
sagrada para judeus, cristãos e muçulmanos, Israel SABER SOBRE ORIENTE MÉDIO PARA NÃO
a considera a capital histórica do povo judeu; os PASSAR VERGONHA. Disponível em
palestinos reivindicam a parte Oriental para a ca- https://www.youtube.com/watch?v=DZX-
pital do futuro Estado; SSVwOX7M (acessado em 22/10/2023).
➢ Extremismo de ambos os lados. Judeus ultra-
nacionalistas não aceitam a existência de dois Es- EXAME. Israel-Palestina: entenda como começou
tados por entenderem que o Estado de Israel tem este conflito histórico centenário. Disponível em
direito de ser restabelecido sobre todo o território https://exame.com/mundo/israel-palestina-entenda-
da Palestina, como o era na Antiguidade; radicais como-comecou-este-conflito-historico-centenario/
islâmicos também, desde que o Estado seja o Pa- (Acessado em 03/11/2023).
lestino;
GASPARETTO JÚNIOR, Antônio. Semita.
➢ Retorno proibido. Desde a expansão das fron-
https://www.infoescola.com/historia/se-
teiras israelenses sobre os territórios palestinos,
mita/#:~:text=Os%20Semitas%20tiveram%20ori-
centenas de milhares de palestinos se tornaram re-
gem%20no,do%20pastoreio%20e%20do%20noma-
fugiados nos países vizinhos, principalmente na
dismo. Disponível em (Acessado em 03/11/2023).
Jordânia, na Síria e no Líbano. Israel criou legisla-
ção que “legitimaram” a ocupação de propriedades GUITARRARA, Paloma. Palestina; Brasil Escola.
dos que foram obrigados a emigrar. Por essa razão, Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/geo-
alegando motivo de segurança, não aceitam que grafia/palestina.htm. Acesso em 03 de novembro de
volte; os palestinos querem ter o direito de retornar 2023.
e reaver suas propriedades.
Portanto, diante do cenário exposto, a paz na re- HAESBAERT, R. Da desterritorialização à multi-
gião parece bem distante. Porém, apesar da tortuosi- territorialidade. Anais do IX Encontro Nacional da
dade do túnel, há uma luz. O reconhecimento do Es- ANPUR. Vol. 3. Rio de Janeiro: ANPUR. PRADO
tado de Israel por alguns países árabes era pratica- Jr, Caio. Formação do Brasil contemporâneo. Ed. 20.
mente impensável décadas atrás, Egito e Jordânia já Editora Brasiliense-DF. 1987.
o fazem e, a maior potência sunita da região, a Arábia ONU Brasil. Assembleia Geral da ONU concede
status de Estado Observador não membro à
Atenção! O MEC recomenda acessar www.valdemirogomes21.blogspot.com para temas da Geografia 7
Palestina. https://brasil.un.org/pt-br/61166-assem-
bleia-geral-da-onu-concede-status-de-estado-obser-
vador-n%C3%A3o-membro-%C3%A0-pales-
tina#:~:text=A%20Assembleia%20Geral%20deci-
diu%20conce-
der,solu%C3%A7%C3%A3o%20de%20dois%20Est
ados%20permanentes. Disponível em (Acessado em
03/11/2023).

SANTOS, Milton. Espaço e sociedade. Petrópolis: Vo-


zes, 1979.
SILVA, Daniel Neves. Intifada; Brasil Escola. Dis-
ponível em: https://brasilescola.uol.com.br/guer-
ras/intifada.htm. Acesso em 02 de novembro de 2023.
SOUSA, Rainer Gonçalves. Civilização Árabe - A
história dos Árabes. Disponívem em
https://www.historiadomundo.com.br/arabe/ara-
bes.htm (Acessado em 03/11/2023).
SZPILMAN, Marcelo. Judeus: Suas Extraordiná-
rias Histórias e Contribuições para o Progresso da
Humanidade. 2. ed. Rio de Janeiro: MAUAD X,
2012.

Atenção! O MEC recomenda acessar www.valdemirogomes21.blogspot.com para temas da Geografia 8

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