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ORLAS DAS VESTES

Franjas

Em Mateus 9.20-22 encontramos uma história curiosa de uma mulher com


fluxo de sangue que recebeu uma cura, tocando simplesmente às roupas de
Jesus (Yeshua). "Certa mulher, que há doze anos padecia de um fluxo de
sangue, chegou por detrás dele e tocou a orla do seu manto. Ela dizia
consigo: "Se eu tão somente tocar o seu manto, ficarei sã". Jesus, voltando-se
e vendo-a, disse: Tem bom ânimo filha, a tua fé te salvou". E desde aquele
momento a mulher ficou sã".

Em Marcos temos a continuação dessa história... "Jesus, conhecendo que de


si mesmo saíra poder voltou-se na multidão, e perguntou: "Quem tocou nas
minhas vestes?" Respondeu-lhes os discípulos: "Vês que a multidão te aperta
e dizes: Quem me tocou? (Mc 5.30-31).

Numa outra passagem, Jesus chega à cidade de Genesaré à beira do Mar da


Galiléia. Os homens da cidade reconheceram Jesus e: "Correndo toda a terra
em redor começaram a trazer os enfermos em leitos ao lugar onde ouviam
que Ele estava. Onde quer que Ele entrava, em cidades, aldeias ou campos,
colocavam os enfermos nas praças. Rogavam-lhe que ao menos os deixasse
tocar na orla da sua veste, e todos os que a tocavam saravam-se" (Mc 6.53-
56).

Qual é a significância da orla das vestes de Jesus? Na primeira leitura parece


uma prática fora do comum. Porém, assim que entendemos a significância da
"orla" das vestes de alguém, estas passagens têm muito mais sentido.

Quando traduzimos a palavra "orla" aprendemos que se refere as FRANJAS


(chamado Tzitziot em hebraico), que ficam obrigatoriamente nos quatro
cantos das vestes de todo homem judeu, de acordo com as instruções de
Deus:

"Disse o Senhor a Moisés: : "Fala aos filhos de Israel e dize-lhes que, por
todas as suas gerações, façam franjas nas bordas das vestes, e ponham nas
bordas das vestes um cordão azul. Tereis essas franjas para que, vendo-as,
vos lembreis de todos os mandamentos do Senhor, para os cumprirdes, e
não correrdes após o vosso coração, nem após os vossos olhos, após os quais
andais adulterando. Então vos lembrareis de cumprir todos os meus
mandamentos, e sereis consagrados ao vosso Deus. Eu sou o Senhor vosso
Deus..." (Nm 15.37-41a).

Estas franjas serviam para trazer à memória a todo homem judeu da sua
responsabilidade de cumprir os mandamentos de Deus. Porque elas estavam
penduradas nas quatro bordas de suas vestes, em plena vista de todos,
inclusive de si mesmo, seriam uma lembrança constante. Até hoje, podemos
ver estas franjas penduradas no lado de fora, sobre os cintos dos homens
judeus religiosos. Eles vestem uma camiseta com quatro cantos e puxam as
franjas para o lado de fora. Estas franjas também estão amarradas em 613
nós para que se lembrassem constantemente das 613 leis de Moisés, das
quais 248 são proibições e 365 são afirmações.

Caracóis
Porém, há mais ainda atrás da mensagem destas franjas.

Milhares de Caracóis "Murex" como estes foram encontrados na escavação


no Tel Mor perto do porto Ashdod em Israel.

Cada franja tinha que Ter um fio azul. Como a cor azul sendo tão
predominante hoje, é difícil de imaginar que durante o inteiro período
bíblico, o azul era provavelmente a cor mais cara para se produzir. Por isso,
foi reservada para a família real e só os ricos tinham os recursos para
comprá-la.

Antes dos tingentes sintéticos, a única fonte da cor azul era uma glândula
pequena no caracol murex. Precisava-se de 12.000 caracóis para se Ter mais
ou menos 3ml desta tinta azul. Em 200 A.C., meio quilo de tecido tingido de
azul custava equivalentemente a US$36.000. Até 300 D.C., este mesmo meio
quilo de tecido custava US$96.000. Isto indica que Lídia, a vendedora de
púrpura que cedo se convertera ao cristianismo, era uma das mulheres
mais ricas do Império (Atos 16:14).
O azul também representa os céus e algo divino, por essa razão o azul real
separava as pessoas do resto do mundo comum. Assim, Ter um fio azul era
Ter algo do divino e real, e servia para lembrar a cada um que o vestia de
seu próprio valor aos olhos de Deus.

Esse fio precioso provavelmente era passado de pai para filho, como uma de
suas preciosas heranças. A faixa azul no manto de oração dos homens judeus
tem o mesmo significado, e interessante, este símbolo está representado na
faixa azul da bandeira de Israel.

Autoridade
Estas franjas também estão associadas com a autoridade de uma pessoa.

No caso do Rei Saul, descobrimos que Davi o humilhou por Ter chegado perto
dele na caverna no deserto de En-Gedi pois cortara as franjas do manto de
Saul, o símbolo de sua autoridade.

"Então os homens de Davi lhe disseram: "Este é o dia do qual o Senhor te


disse. Deu te dou o teu inimigo nas tuas mãos, e far-lhe-ás como parecer bem
aos teus olhos..." Depois doeu o coração de Davi, por Ter cortado a orla do
manto de Saul. Disse ele aos seus homens: "O Senhor me guarde de que eu
faça tal coisa ao meu senhor, ao ungido do Senhor, que eu estenda minha
mão contra ele; pois é o ungido do Senhor" (1Sm 24)

Obs.: No hebraico "orla" é "franjas".


Por que Davi estava chateado consigo mesmo? Porque ele entendeu que
roubar as franjas de alguém era o mesmo que roubar sua autoridade. Ainda
que Davi provara a Saul que não estava tentando matá-lo, a simbolização de
tirar as suas franjas foi uma humilhação para Saul. E isso incomodou a Davi.

Davi imediatamente saiu da caverna e se prostrou em humildade diante de


Saul para provar a ele que não estava tentando matá-lo. Davi disse:

"Ó rei meu senhor! Por que dás ouvidos as palavras dos homens que dizem:
Davi procura fazer-te mal? Este dia os teus olhos viram que o Senhor te pôs
em minhas mãos nesta caverna. Alguns disseram que eu te matasse, porém a
minha mão te poupou; eu disse: não estenderei a mão contra o meu senhor,
porque é o ungido do Senhor. Olha, meu pai, vê aqui a orla do teu manto na
minha mão! Eu cortei a orla do teu manto, mas não te matei. Considera e vê
que não há na minha mão nem mal nem rebeldia alguma, e que não pequei
contra ti, ainda que andes a caça da minha vida, para me tirares..." (1Sm
24.8-11).

Todo mundo, inclusive Saul, sabia que Davi tinha sido ungido por Samuel
para que fosse o próximo rei. Por isso, Saul temia Davi. Em En-Gedi, Davi
tinha literalmente tomado a autoridade de Saul e neste ponto, ele também
poderia Ter tomado o trono de Saul. Mas, ele não fez. Ao invés disso, deixou
que Deus escolhesse o tempo certo para que ele recebesse o trono. Este ato
convenceu a Saul de que Davi estava falando a verdade.

O ato de Davi de devolver a autoridade de Saul também reconciliou os dois


homens. Saul disse:

"O Senhor te pague com bem, pelo que hoje me fizeste. Eu sei que
certamente hás de reinar, e que o reino de Israel há de ser firma nas tuas
mãos" (1Sm 24.19b-20).

Um outro exemplo de autoridade representado nas franjas pode ser


encontrado numa passagem do livro de Rute, que pode ser difícil de
entender. No capítulo três, Rute foi a Boaz para receber sua bênção que lhe
ajudaria sair de uma situação difícil. Ela foi à eira e dormiu aos seus pés, e
versos 8-9 nos dizem:

"No meio da noite o homem acordou de repente, voltou-se e viu uma mulher
deitada a seus pés. Perguntou ele: "Quem és tu?" Disse ela: "Sou Rute, tua
serva. Estende a tua capa sobre a tua serva, porque tu és o remidor".

Imediatamente ele entendeu e disse a ela: "E agora, minha filha, não temas.
Tudo o que pedires eu te farei. Toda a cidade do meu povo sabe que és
mulher virtuosa" (v. 11). Ele preparou tudo para ajudá-la, e eventualmente
casou-se com ela.
O que Rute fez quando pediu a Boaz para estender sua capa sobre ela foi a
sua maneira simbólica de lhe dizer que estava se colocando debaixo de sua
autoridade.

Vamos voltar para a história do povo da Galiléia, querendo tocar na orla das
vestes de Jesus. O povo não era curado simplesmente por encostar contra
Yeshua numa multidão. Eles foram curados quando sua fé tocou a "orla" ou
franjas de Suas vestes, o que representava sua autoridade (Mc 5.31). A fé
deles e o poder de Jesus curaram suas enfermidades.

Humildade
No período do segundo templo (70 A.C. - 135 D.C.), as franjas se tornaram
um símbolo de "status". Quanto mais rico alguém era, mais grandiosa a
franja aparentava. Durante o tempo de Jesus, as franjas de alguns dos
fariseus eram tão longas e elaboradas, que elas se arrastavam no chão. Foi
esta demonstração ostensiva de orgulho que Yeshua estava repreendendo,
quando disse:

"Tudo o que fazem é a fim de serem vistos pelos homens. Alongam as franjas
das suas vestes" (Mt 23.5).
(Por falar nos fariseus, é importante reconhecer que nem todos os fariseus
eram hipócritas. Nicodemos era um fariseu (João 3.1). Eles eram os líderes
religiosos conservadores de seu tempo. De fato, deles, Jesus disse:

"(Eles) estão assentados na cadeira de Moisés. Portanto observai e fazei tudo


o que vos disserem. Mas não procedais de conformidade com as suas obras,
pois dizem e não fazem" (Mt 23.2-3).

Assim como em nosso tempo, alguns líderes religiosos eram bons e temiam a
Deus; outros eram manipuladores. Por causa das referências sobre alguns
que eram hipócritas, hoje muitos cristãos pensam erroneamente que todos
os fariseus eram hipócritas. Teologicamente Jesus estava mais próximo dos
fariseus do que dos saduceus).

A lição para todos nós desta passagem é que é mais importante cumprir os
mandamentos por uma convicção interior em humildade, do que
simplesmente vesti-lo pelo lado de fora, com práticas religiosas excessivas.
Deus olha para o coração, enquanto o homem muitas vezes olha para o que
está diante dos olhos (1Sm 16.7).

Aplicações
Considerando estas histórias bíblicas, qual é a mensagem para nós?

Em primeiro lugar, entendemos melhor agora algumas passagens da


Escritura que nos pareciam obscuras simplesmente porque não entendíamos
e nem conhecíamos o contexto no hebraico como o símbolo dos "cantos" ou
"orla" de suas vestes.

Em segundo lugar, nas histórias do Novo Testamento, podemos ver que uma
fé ativa libera o poder milagroso de Deus.

Nas situações difíceis na vida, Deus nos pede para demonstrar nossa fé de
formas diferentes. Na Bíblia podemos constatar exemplos que podem nos
parecer como estranhos pedidos de Deus ao Seu povo como prova de fé.
Porém, quando obedecidos geraram milagres.

Porém não há fórmulas. Certamente, quando pensamos que há uma fórmula,


falhará. Deus é Deus, e não será reduzido a uma fórmula. Ele fará Seus
milagres, e demonstrará Seu poder em nossas vidas de várias formas. Deus
quer que tenhamos fé n'Ele e não em métodos.

Em terceiro lugar, a autoridade de Deus é suprema e está embaixo das Suas


vestes onde devemos buscar habitação. No livro de Apocalipse, está escrito
que quando o Messias vier, "no manto, sobre a sua coxa tem escrito o nome:
Rei dos reis e Senhor dos senhores" (Ap 19:16). Será que a referência à "sua
coxa" é uma referência às franjas que se estendem até as coxas e fala de sua
autoridade? Quem poderia Ter mais autoridade do que o Rei dos reis e o
Senhor dos senhores?

Em quarto lugar, há muitas coisas que Deus nos pede como demonstração de
nossa fé. Na lei de Moisés, o povo judeu foi instruído para vestir franjas,
colocar Sua palavra sobre o portal de suas casas, para afastar-se de certas
comidas, para celebrar certas festas comemorativas, etc. Os cristãos também
devem viver suas vidas de uma maneira que reflita o Deus que servimos.
Assim como os fariseus tinham um problema com o comprimento das suas
franjas, nós também podemos "exibir" nosso cristianismo de formas externas
que alimentem o orgulho humano e nos distraiam da importância de andar
com humildade com nosso Deus.

Artigo extraído do Bridges for Peace (pontes para a Paz)

Baruch Há Shem!
Bendito seja o Nome!

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