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Candomble Olubaje o Banquete Do Rei
Candomble Olubaje o Banquete Do Rei
A música continua. Ao lado e a um canto da “mesa” uma grande bacia esta preparada
para receber os restos que devem
ali ser depositados. As folhas que servem de prato devem ser fechadas, juntamente
com os restos de comida não
consumidos, e passadas ao longo do corpo, as mãos não devem ser lavadas...elas
serão limpas ao serem esfregadas nos
braços, pernas ou cabeça para que o Axé se impregne na pele.
Opèré má dó péré
Dó sú, màá dó é Operé não ficará só
Dó sú, màá dó, Dó sú, màá dó ficará cansado,
ficará bem
Dó sú, màá má n’gbé ficará cansado e será
ajudado.
Ayò kégbe hún hún Contende gritara,
sim , sim
Ayò kégbe hún hún
Com voz forte e cheia de entusiasmo, esta frase melodiosa ecoa. O conjunto dos
participantes se levantan e cantan:
Dançam em volta da mesa até que a música termine. Novamente a Avamunha se instala.
Toda a louça, a toalha, a
esteira, a bacia com os restos são retirados do local e a antiga roda sai em fila
indiana, portando os recipientes sobre os
ombros, os quais serão depositados na casa de Obaluaiê e na manha seguinte serão
despachados.
Yaloshundê anuncia em voz baixa e alguém trás um grande cesto de pipocas que é
depositado aos seus pés.Com um
gesto delicado ela toma um punhado de Doburus lançando sobre os convidados caindo
como chuva.
Um novo intervalo permite que os atabaques retornem aos seus lugares de origem.
O canto repetido varias vezes fala daquele que castiga e pune os infratores.
03
O cântico suplica ao Deus , cujo rosto oculto inspira temor e medo, porem todos
sabem que padeceu enfermo,
sofreu o flagelo do abandono e, por isso mesmo, ampara e protege os desafortunados.
O aspecto punitivo do Orixá, é expresso em outra cantiga , assim como seu poder
criador.
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04
Um último canto precede o balé dos outros orixás presentes á festa. Em algumas
casas de santo de tradição
nagô, ele antecede o banquete. Os adeptos entram no barracão dançando.
Á frente do cortejo uma filha de Iansã tem sobre sua cabeça um balaio ornado com
grandes laços.
Dentro um “ assentamento “ de Obaluaê recoberto de pipocas que são distribuídas aos
presentes.
Em troca, quando podem oferecem pequenas quantias em dinheiro.
Kóró nló awo , kóró nló awo Ele vai embora,
sé ó gbèje embora da cerimônia,
Kóró nló awo , kóró nló awo embora do culto.
sé ó gbèje Ele aceitou comer.
Este canto anuncia que Onilé – Senhor da terra , aceitou as homenagens partilhando
com todos , povo e Orixás,
as oferendas.
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05
a saudação dos convivas......
È hora da família mítica de Obaluaê. Vem dançar Oxumarê, seu irmão, o arco-íris;
depois Nanã, a sua mãe;
em seguida Iemanjá, sua mãe adotiva e finalmente Iansã, “ aquela que acalmou seu
sofrimento na infância.
Oxumarê, que se encontrava sentado placidamente, ao ouvir os primeiros acordes do
seu “Orô”. Isto é, da
cantiga que fala de sua história. Curvando-se em uma saudação, todos ouvem seu
assobio alto e melodioso,
anunciando sua satisfação.
A dança compassada deixa que todos possam admirar as roupas do Deus - Serpente .
06
È a vez de Iemanjá , a quem se pede proteção, filhos saudáveis , parto tranquilo,
beleza e prosperidade.
Suas vestes regiamente ricas em tons claros fazem dela uma das mais belas das
Iabás.
Os cânticos falarão de seus atributos, os mesmos que seus adeptos em todos o Brasil
desejam e suplicam á
deusa das águas.
As quatro cantigas que se seguem falam disso:
Yemonja àwa Iemanjá protege-nos e
nos enche de
Ààbò a yó satisfação.
Yemonja È Iemanjá , estamos
protegidos ,
Àwa ààbò a yó e nossa satisfação é
completa.
Ìyààgbà ó dé iré sé A velha mãe chegou fazendo-nos felizes, nos
cumprimentamos Iemanjá.
A kíì e Yemonja A primeira que chamamos para abençoar nossa
casa e dar satisfação.
A koko pè ilé gbè a ó yó Usar seu rio que escolhemos para nos
banharmos,
Odò ó fi a sà pois o rio que escolhemos
Wè rè ó é o rio que usas para seu banho.
A sà wè lé ó Nós escolhemos nos
banharmos
Odò fi ó em nossa casa.
A sà Wé lé ó Ela costuma escolher
A sà Wè lé ó banhar-se no seu rio.
Ìyá kòròba Mãe que enfeita os
cabelos dividindo-os
Kòròba ní sàbá no meio da cabeça, ela
tem o hábito de
Ìyá kòròba enfeitar os cabelos
dividindo-os no meio
Kòròba ní sàbá da cabeça.
A dança de Iemanjá é solene e altiva. Ora parece um minueto, onde uma dama graciosa
caminha, ora simula
um mergulho em águas imaginárias e profundas.
Todos repetem suas saudações em tom alto de admiração:
= Odò Ìyá - ah!! A mãe dos rios !! = Èérú Ìyá - Mãe das espumas
das águas !!
Ao cessar o toque dos atabaques ela despede-se de todos os presentes, curvando-se
de maneira graciosa; e assim
é ela mesma, sozinha que se dirige para o quarto – de – santo.
O silencio no barracão e interrompido, Oiá “ Senhora dos raios, das tempestades,
mãe de todos os ancestrais-
egunguns” está chegando.
Quando começam as cantigas de Oiá, um frenesi percorre o barracão e o ritmo rápido
de suas músicas contagia
a todos.
E assim começa seu grande bailado, numa coreografia com as mãos espalmadas para
frente e para o alto
evocando os ventos que antecedem as tempestades.
Oya balè e Láárí ó Oiá tocou a terra, ela é
importante.
Oya balè Oiá tocou a terra
Oya balè e Láárí ó Oiá tocou a terra
Oya balè Ela é e alto valor, Oiá
tocou a terra.
Àdá máà dé f´àrá Que sua espada não
chegue até nós,
gè ngbélé e nem use seus raios
para cortar a casa
Oya balè e Láárí ó onde vivemos.
Ó ní lábá-lábá - Ó lábá ó Ela ( Oiá ) é uma
borboleta
Ó ní lábá-lábá - Ó lábá ó ela é uma borboleta.
Olúafééfé sorí Dona dos ventos que
sopram sobre seus
Omon filhos.
Os textos da Deusa guerreira, falam que ela é a senhora dos ventos e alguns ate
afirmam “ ela também é bela
e delicada como uma borboleta” ....” quando quer “, ...respondem outros.
= Epa He yi Oyá !! – Salve Oiá !!...a assistência exclama em voz alta, e novamente
o silencio se faz.
07
...celebrando a criação
Vestido de branco , segurando um longo cajado e indiferente a toda agitação do
barracão está
Oxalufâ - “ o Senhor da Criação “ .
Amparado, é delicadamente erguido de sua cadeira; a passos curtos e lentos é
conduzido até a orquestra, que
aguarda pacientemente sua caminhada até que chegue mais próximo, para então
executar o seu ritmo Igbi.
Ao seu lado, Oxaguiã , seu filho guerreiro, e como ele, também “ Pai da Criação “.
Amparado pelo guerreiro, o mais velho encurvado começa a dançar, e todos
exultam....
= Epa babá !! - Respeitos ao pai !! /// = Epa babá !! - Respeitos
ao pai !!
Èyin rí àwa Vós vedes a nós e a
crença em nossos corações.
ìgbàgbó wa okòn Vós vedes a nós e a
crença em nossos corações.
Èyin rí àwa , ìgbàgbó wa okòn Façais com que haja
concórdia em nossa reunião
Ètùtù sé ipadé siré de xirê ( dançar e
brincar para orixás )
Kò rú lé, kò rú lé, Que não causeis confusão
na casa,
Bàbá Ifá Pai Ifá.
E sìn sé ipàde siré Vos cultuaremos em
nossas reunião de xirê,
Kò rú lé, kò rú lé, não causeis confusão em
nossa casa,
Bàbá Ifá Pai Ifá.
Sem cessar a dança e no mesmo ritmo, é saudado, agora, Ajalá , o grande oleiro,
construtor das cabeças dos
homens:
Àjàlá mo rí mo rí mo yo Ajalá fez o meu ori
( minha cabeça ),
Álá forí kòn me germinou e fez
crescer,alá que segura
E àgó fi rí mi e mantém a minha cabeça.
Bée orí kò kíì Àjàlá Assim não há ori ( cabeça )
que não saúde Ajalá.
Bàbá òkè kí a mò rè O Pai que está no topo, nós o
conhecemos e saudamos.
Kíì Àjàlá bée orí kò Ajalá , não há ori que não o
faça.
Um último cântico é executado para saudar os orixás funfun – donos do branco, da “
pureza” como dizem
outros, é em especial a homenagem a Oxaguiã, sempre louvado no alvorecer, nas
preces feitas aos ancestrais.
Ojó mò tyìn odó aláyé ojó Chefe do dia que entende
o dia
Ojó bí walé ojó e tem pilão.
Ojó mò tyìn odó aláyé ojó O que nasce em nossa
casa ,
A bo wa Bàbá ó vamos cultuar o nosso
pai.
Uma história ouvida há alguns anos, na Casa Branca do Engenho Velho – Ilê Ia –
Nassô , relata.....
“ Oguiã, que gostava muito de guerra...voltava para sua cidade, quando viu que ela
estava muito vazia..soube
então que parte de seu povo fora levado e escravizado...Cheio de raiva vai á
floresta e arranca uma imensa
árvore e vem sobre o seu tronco até o Brasil...No meio do mar encontra uma linda
mulher, Iemanjá-Ogunté,
guerreira como ele...fazem um filho – Ogunjá... e os três chegam à Bahia para lutar
juntos por sua gente....”
Neste dia - o da festa – apesar das homenagens feitas a todos no xirê, dois Orixás
estão ausentes:
Xangô – o irmão rival do homenageado.
Ogum, de quem o povo-de-santo diz ter com ele “ uma disputa” muito antiga com
referencia a faca.
Olubajé....