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ADALBERTO BARRETO
Prefácio:
5 Carta de OMS
homem da ciência, eu teria que renegar a minha própria cultura. Eu não poderia mais
exprimir as minhas crenças, sem me expor ás criticas dos meus colegas. Havia aqueles
que já estavam descrentes, e por esta razão, consideravam-se superiores aos outros que
ainda acreditavam. Eu me sentia desarmado: como responder às exigências de uma
ciência, baseada na materialidade das coisas, se aquilo que me estimulava, pertencia ao
mundo invisível, ao qual a ciência não permitia ter acesso? Muitas vezes, eu me
questionava: o que fica de um homem se lhe são retirados suas crenças, seus valores,
suas convicções que fazem dele um nordestino, um sertanejo.
Tal qual a criança perdida na Floresta Amazônica, eu temia ser devorado pelas
“certezas científicas”. Passei, então, a desconfiar das grandes certezas. Muitas vezes,
eles são uma arma mortal para aqueles que desejam dominar o espírito das pessoas
perdidas em suas dúvidas e seus processos libertadores.
O primeiro mundo nutria uma verdade mítica, onde o imaginário tinha um papel
primordial e reduzia a realidade material a uma espécie de miragem sem importância; já
o mundo científico privilegiado a realidade material, ignorando e, até mesmo,
5 Carta de OMS
combatendo o imaginário, o irracional. Esse novo mundo exigia a morte de meu
universo cultural para poder reinar como senhor absoluto. Ele desejava ser sua única
medida. Essa foi, sem dúvida, umas das minhas primeiras batalhas interiores. Eu estava
convencido de que manipulava um verdadeiro arsenal atômico, o qual o menor
equívoco poderia reduzir, em pedaços, uma existência desejosa da plenitude da vida. Eu
sabia que tinha que lutar e que a única saída possível passava por um diálogo entre
aquele que eu era e aquele que eu me tornava. Nesse clima de guerra interior, aprendi a
nada eliminar, sem antes ter examinado, questionado. O grande temor que me habitava
era de encontrar-me esvaziado dos elementos que constituíam a base de minha
existência, de pessoa membro de uma cultura. Para mim, era inconcebível uma vida sem
autonomia criativa.
Todas essas questões tocavam o cerne da minha vida. Era minha própria
identidade que estava em jogo. Perguntava-me: quem sou eu? Quer ser me tornarei?
5 Carta de OMS
Em busca de uma nova identidade:
5 Carta de OMS
dar a sua contribuição nesse intercâmbio intercultural. Foi assim que eu tentei fazer da
minha estada na Europa uma ocasião para mútuas trocas.
Hoje, Canindé tornou-se para mim um espaço de reencontro com meu primeiro
universo, minha cultura, com os elementos que constituem minha identidade cultura. Ir
a Canindé faz parte de um ritual de vida tão importante quanto me dirigir aos
congressos internacionais em Paris ou Washington. Tanto em um como em outro, eu
5 Carta de OMS
encontro interlocutores que me interpelam e me fazem refletir sobre a prática cotidiana
em minha existência. Eles me permitem progredir em minhas idéias e anseios. As duas
experiências me enriquecem, tanto no aspecto pessoal quanto profissional. Elas nutrem
em mim um vínculo vital. Oferecem-me referências de percepção do mundo, do
homem, de uma maneira de viver. A primeira me ajuda a salvaguardar minha identidade
cultural, a outra reforça a coerência de minha identidade profissional.
5 Carta de OMS
Diante da demanda progressiva, um dia, decidi, com meus alunos do curso de
Psiquiatria, deixar o conforto e a segurança do consultório do Hospital Universitário
para ver as pessoas em seu próprio contexto. Foi assim que fui à comunidade de Quatro
Varas realizarem, com meus alunos, um trabalho de prevenção e de cuidados
psicológicos para os excluídos de nossa sociedade, os que vivem na favela.
Descobri que eu não era o único a desejar sobreviver neste mundo conturbado, e
que o grande desejo que me habitava e me levava a desejar, na minha infância, salvar a
alma dos outros e, na minha juventude, de salvar os corpos sofridos, era, ao final das
contas, o mesmo que me possibilitava salvar a mim mesmo. É graças aos outros que eu
me redescubro e me alegro por pertencera a uma comunidade dos que crêem numa vida
em que tudo pode ser partilhado.
O Choque Criativo:
2-ver além do sintoma: “Quem olha para o dedo que aponta a estrela, jamais
verá a beleza da estrela”
5 Carta de OMS
A resposta a esses desafios contextuais nos levou a levantar uma série de
questões:
*Como sair de um modelo que gera dependência para um modelo que nutra a
autonomia?
Foram necessários vários anos de prática para me dar conta de que o desafio
crucial era desencadear uma ação transformadora significativa. Como fazer o grupo
acreditar em si, em sua competência? Eu diria que a palavra-chave que pode
desencadear uma transformação significativa é a palavra FÉ. Porém, tudo depende de
como ela é utilizada. As igrejas estão sempre pedindo para seus fiéis acreditarem em seu
Deus e seguirem seus preceitos; os governos estão sempre pedindo para a s pessoas
acreditarem em seus programas; os técnicos estão sempre pedindo para as pessoas
acreditarem em suas teorias; nós, médicos, estamos sempre pedindo para que os
pacientes acreditarem em nossos remédios. Exige-se das pessoas a fé em nossos
modelos, a fé em nossas verdades e convicções. Tudo isso desencadeia conflitos,
competições, exclusões... Criam-se feudos de poder, intolerância e isso dificulta a
criação de redes solidárias e transformadoras de indivíduos e realidades. Parece-me que
os cultos das diversas igrejas agregam os sofridos e excluídos e tornam-se UTI‟S
existenciais, que permitem ao homem sofrido reanimar a anima desanimada pela dureza
da vida. Estes centros religiosos tornam-se fonte de esperança. Pede-se aos santos
aquilo que não se recebe das instituições sociais. As diversas religiões ou doutrinas
(católica, evangélica, afro-brasileira, espírita) oferecem uma carteira de identidade que
lhes é negada pela sociedade. Neste sentido, ser devoto de um santo, filho de um orixá,
incorporar uma entidade de luz permite aos desvinculados, aos abandonados, fazer parte
de uma nação de luz, na qual os governantes os acolhem com respeito e afeição. Os
cultos tornam-se espaço de reflexão para tomada de consciência das implicações
históricas e humanas na gênese do mal e do sofrimento.
A origem do mal é atribuída aos maus espíritos que devem ser exorcizados. Sob
o pretexto de exorcizar o mal, exorciza-se o homem de si mesmo, de suas crenças de
seus valores ancestrais, do senso crítico. O que resta de um homem se o impedirem de
5 Carta de OMS
ter acesso aos recursos de sua cultura? Estes cultos catárticos não estariam esvaziando o
homem de sua identidade cultural? Já outros cultos, como a Umbanda, são mais
respeitosos quanto à diversidade cultural e já oferecem a possibilidade de inserção em
uma nova família, na qual co-habitam múltiplas imagens identificadoras e facilitam a
apropriação de um modelo mais comunitário e mais tolerante.
Introdução:
1-Métodos e fundamentos:
5 Carta de OMS
interfere na outra parte. Para enfrentar a vida com prazer e buscar a solução para os
nossos problemas pessoais, familiares, comunitários e sócias precisamos estar
conscientes de que fazemos parte desse todo. Precisamos estar conscientes da
globalidade em que estamos inseridos, sem perder de vista a relação entre várias partes
do conjunto a que pertencemos. Só assim, poderemos compreender os mecanismos de
auto-regulação, proteção e crescimento dos sistemas sociais, e passaremos a vivenciar a
noção de co-responsabilidade.
Essa Teoria nos aponta para o fato de que a comunicação entre as pessoas é o
elemento que une os indivíduos, a família e a sociedade. Ela nos permite compreender
que todo o comportamento, todo ato, verbal ou não, individual ou grupal tem valor de
comunicação num processo, sempre desafiante, e de entendimento das múltiplas
possibilidades de significados e sentidos que podem estar ligados ao comportamento
humano. A riqueza e a variedade das possibilidades de significados e sentidos que
podem estar ligados ao comportamento humano. A riqueza e a variedade das
possibilidades de comunicação entre as pessoas nos convidam a ir além das palavras,
para entender a busca desesperada de cada ser humano pela consciência de existir e
pertencer, de ser confirmado e reconhecido como sujeito e cidadão. Além disso, nos
alertam para os riscos e efeitos nocivos de uma comunicação usada de forma ambígua,
ensinando-nos, assim, a valorizar a clareza e a sinceridade ao nos comunicar, ato que
pode ser um verdadeiro instrumento de crescimento e transformação pessoal e coletiva.
E é, a partir dessa referencia, que podemos nos afirmar, nos aceitar e nos amar,
para então podermos amar os outros e assumir nossa identidade como pessoa e cidadão.
E é a partir dessa referência, que podemos nos afirmar, nos aceitar e nos amar, para
então podermos amar os outros e assumir nossa identidade como pessoa e cidadão.
Dessa forma, podemos romper com a dominação e com a exclusão social que, muitas
vezes, nos impõem uma identidade negativa ou baseada nos valores de outra cultura que
não respeita a nossa. Quando reconhecemos que, mesmo num único país, convivem
várias culturas e aprendemos a respeitá-las, descobrimos que a diversidade cultural é
5 Carta de OMS
boa para todos e verdadeira fonte de riqueza de um povo e de uma nação. Se a cultura
for vista como um valor, um recurso que deve ser reconhecido, valorizado, mobilizado e
articulado de forma complementar com outros conhecimentos, poderá ver que este
recurso nos permitirá somar, multiplicar nossos potenciais de crescimento e de
resolução de nossos problemas sociais e construir uma sociedade mais fraterna e mais
justa.
Paulo freire nos lembra que ensinar não é apenas uma transferências de
conhecimentos acumulados por um educador (a) experiente e que sabe tudo pra um
educando(a) inexperiente que não sabe nada. Ensinar é o exercício do diálogo, da troca,
da reciprocidade, ou seja, de um tempo para falar e de um tempo para escutar, de um
tempo para aprender e de um tempo para ensinar. Freire (1983:95), nesse sentido,
afirma que:
5 Carta de OMS
Outro ponto a mencionar sobre o método de Paulo Freire é que nenhum
educador pode assumir a prática de sua missão se não tiver por ela um mínimo de
carinho, apreço, identificação. Isso é válido também no trabalho do terapeuta
comunitário. Se não houver envolvimento e identificação nosso trabalho fica
prejudicado. Para educar não basta ter tempo livre fazendo da missão um bico ou um
passatempo enquanto não chegar outro “trabalho” mais rentável. Da mesma forma que o
educador não pode jamais esquecer que a sua missão é com a formação dos seres
humanos – crianças, adolescentes e adultos que têm sonhos, ideais, indagações,
interrogações, acerca de si próprio e do mundo que os cerca, o terapeuta comunitário
deve sempre ter uma visão contextual e compreender que não está lá somente para
realizar uma tarefa para os outros, mas, sobretudo, para si mesmo. Portanto, nesse
sentido, a natureza do trabalho pedagógico é política, pois envolve valores acerca da
cidadania. E para ser cidadão não basta não basta saber reconhecer o mundo das
palavras mas, perceber-se como o ser humano histórico que produz cultura. Enfim, o
método de Paulo Freire é um chamado coletivo a todos os membros da raça humana
para criar e recriar, fazer e refazer através da ação e reflexão. Descobrindo novos
conhecimentos e, conseqüentemente, novas formas de intervir na realidade, os
indivíduos tornam-se sujeitos da história e não meros objetos.
1.6. A Resiliência
5 Carta de OMS
comunitária, voltadas para a prevenção, mediação das crises e promoção da inserção
social dos indivíduos.
Nós nos apoiamos na competência dos indivíduos e das famílias e, jamais, nas
carências que são prerrogativas dos especialistas.
3.A comunidade:
5 Carta de OMS
São pessoas ou grupo de pessoas em relação que tem alguém comum como
exclusão, desemprego, sofrimento, migração...
4.População-alvo:
5.Orientação:
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- o povo é ignorante, e nós precisamos educá-lo;
Trata-se, pois, de uma terapia para a prevenção, uma vez que permite ao
excluído e marginalizado enfrentar a realidade que ameaça distanciá-lo de sua cultura e
destruir sua identidade. Integrado em sua cultura e em sua comunidade, ele se torna
consciente de seus direitos e deveres individuais e sociais, o que lhe permite uma
existência cidadã, digna e plena. Nesse sentido, prevenir é, sobretudo, estimular o grupo
a usar a sua criatividade e construir o seu presente e o seu futuro a partir de seus
próprios recursos.
6. Ética:
CAP I
Terapia (do grego: therapeia) é uma palavra de origem grega que significa
acolher, ser caloroso, servir, atender. Portanto, o terapeuta é aquele que acolhe e cuida
dos outros de forma calorosa.
5 Carta de OMS
Comunidade: a palavra comunidade é composta de duas outras palavras:
COMUM + UNIDADE, ou seja, o que as pessoas têm em comum. Entre outras
afinidades têm sofrimentos, exclusão, buscam soluções e superação das dificuldades.
5 Carta de OMS
Comunitária se propõe ser um instrumento de aquecimento e fortalecimento das
relações humanas na construção de rede de apoio social, em um mundo cada vez mais
individualista, privatizado e conflitivo.
2- A Terapia:
3- Os objetivos:
1- Reforçar a dinâmica interna de cada indivíduo, para que este possa descobrir
seus valores, suas potencialidades e tornar-se mais autônomo e menos dependente.
5 Carta de OMS
4- valorizar o papel da família e da rede de relações que ela estabelece com o seu
meio.
A cultura é como uma teia invisível que integra e une os indivíduos. Portanto,
podemos acreditar qual a melhor prevenção é manter o indivíduo ligado a seu universo
cultural e relacional, a sua teia, pois é através de sua identificação com os valores
5 Carta de OMS
culturais de seu grupo que ele se nutre e constrói a sua identidade. A cultura para o
indivíduo é como a teia para a aranha.
5- A escolha do terapeuta:
1- Ser escolhido pela comunidade e que haja uma explicação sobre o trabalho do
terapeuta comunitário. Esse trabalho deve ser discutido com as pessoas da comunidade,
para que elas sugiram nomes que correspondem ao perfil exigido. O ideal seria
promover uma votação, ou seja, uma indicação pelo voto dos futuros terapeutas
comunitária. Esse processo democrático consolida o papel do terapeuta comunitário e
nos garante que o eleito seja alguém que tem o respeito e a confiança da comunidade.
4- Ter mente aberta para participar das práticas vivenciadas durante o curso. É
preciso querer se conhecer, aceitar rever seus esquemas mentais, para que, haja
crescimento humano e profissional.
6-Não ser pessoa com situação-problema mal resolvida, uma vez que lidará com
a formação de pessoas para atuarem como mediadores sociais do sofrimento humano. O
5 Carta de OMS
curso para formação do terapeuta comunitário não é para tratar pessoas complicadas.
Exige-se, portanto, um mínimo de equilíbrio emocional.
7-não ser pessoa que não possa se dedicar, por já estar envolvida com outras
atividades.
8-Saber que esta formação exige afastar-se de sua família e de suas atividades,
por período de quatro dias, em intervalos de dois à três meses. (O curso ocorre em
quatro módulos, dos quais, dois são de quatro dias e dois, de três dias).
10- Ter disponibilidade de duas horas semanais para realizar as rodas de Terapia
Comunitária. Caso a pessoa faça parte de uma instituição, solicita-se que, no ato da
inscrição, apresente declaração confirmando sua liberação para realizar as TC, conforme
planejado. Essa providência evita contratempos e desistências por falta de condições
mínimas que compreendem as práticas.
11- Em locais onde já existe a TC, propor aos candidatos que participem de, pelo
menos, três rodas de Terapia Comunitária. Isso lhes permitirá entender melhor a
proposta e observar se identificam com ela.
Devem ainda ser escolhidas duas ou três pessoas por comunidade ou instituição,
a fim de que seja constituída uma equipe para coordenar a Terapia Comunitária.
6- A Capacitação:
5 Carta de OMS
Depois da seleção, feita com base nos critérios apontados, os escolhidos devem
fazer a formação. Trata-se de um curso de capacitação profissional com 360 h/a, assim
distribuídas: 80 h/a são dedicadas aos aspectos teóricos; 80h/a às vivências terapêuticas,
quando serão utilizadas técnicas de relaxamento e autoconhecimento, e 120 h/a
dedicadas à realização de práticas em Terapia Comunitária, equivalentes à condução de
quarenta e oito terapias como terapeuta ou co-terapeuta realizadas em sua comunidade e
ou instituição, com 80h?a de intervenção.
Este curso, geralmente, ocorre em quatro módulos de 40h/a cada, sendo dois de
quatro dias, com intervalo de dois meses e outros dois módulos de três dias, com
intervalo de três meses. Sugere-se que, durante os dias de curso, os participantes fiquem
em regime de internato, pois a convivência com o grupo, nesses dias é fundamental para
a formação, sobretudo para consolidar a rede interpessoal.
7- Os Terapeutas Comunitários:
Embora o sofrimento passe pelo corpo, não é uma dor só do corpo. Não diz
respeito somente à Medicina. Trata-se da dor de pessoas humanas que estão vivendo um
drama, uma dificuldade e precisam de apoio e suporte da comunidade. São mães e pais
que precisam ser escutados e apoiados.
Antes não existiam as ameaças que existem hoje, a violência urbana e as drogas.
Nossas famílias precisam entender esse quadro social e a forma como ele altera suas
5 Carta de OMS
vidas. Como elas podem compreender, senão refletindo e aprofundando suas
observações sobre a realidade?
A grande preocupação dos discípulos era não confiar em suas capacidades para
resolver aquela situação-problema. Jesus, contudo, mandou que eles acreditassem neles
mesmos, que acreditassem na capacidade do povo.
5 Carta de OMS
ultrapassamos a lógica cartesiana que faz com que 2+2 sejam sempre quatro. Nesses
casos, 2+2 resultam em 12. É aí onde está o milagre da transformação.
O terapeuta comunitário deve ter esta crença no outro. É como disse Jesus, em
outra ocasião: “Homem, tua fé te salvou!” Jesus Cristo foi Aquele que veio suscitar a
capacidade de auto cura.
O terapeuta comunitário não pode ser aquele que vê em cada falha um pecado;
em cada erro, a presença de um espírito do outro mundo. E, sim, ser aquele que enxerga
em cada falha um apelo, um sinal de necessidade, de carência e de ajuda. Ele precisa ter
a sensibilidade bastante aguçada, para poder compreender o outro.
O terapeuta não deve colocar suas idéias na terapia, mas suscitar idéias do
próprio grupo, como por exemplo: “Quem já vivenciou algo parecido e o que fez para
superá-lo.
O terapeuta deve provocar perguntas para ser “ como um parteiro que facilita o
nascimento da criança”, que faz suscitar a vida que está ali. Ajudar o outro a nascer é
conhecê-lo capaz de fazer opções, de ser livre, para continuar o seu caminho de vida.
5 Carta de OMS
O terapeuta comunitário deve agir como o maestro de uma orquestra, fazendo
com que todos os músicos usem bem seus instrumentos. Precisa saber que a riqueza do
grupo não está fora, mas dentro dele.
8- A intervenção terapêutica:
Em um grupo terapêutico, uma mãe chega e diz que está com insônia. Tem cinco
filhos e o marido morreu. O desespero não a deixa dormir. Além disso, tem medo de
perder o emprego, única fonte de alimento para sua família. Teme enlouquecer se não
voltar a dormir. Pensa: “ o que vou fazer da minha vida, agora que perdi meu marido?”
E acrescenta: “ Doutor, me dê um remédio, mas vou logo lhe dizendo, não me dê receita
que eu não tenho dinheiro nem para comprar comida, quanto mais para comprar
remédio” e começa a chorar.
5 Carta de OMS
ser: “Encosta tua cabecinha no meu ombro e chora,/ e conta logo tuas mágoas todas para
mim,/ quem chora no meu ombro eu juro que não vai embora,/ que não vai embora/
porque gosta de mim...” ( Paulo Borges)
“Ah, eu já passei por isso, eu só faltei ficar doida, mas eu fiquei boa da minha insônia,
tomando o suco do capim santo” (e passa a dar a receita de como preparar), ou “ O meu
caso foi terrível. Eu sei o que é isso, fiquei várias noites sem dormir. Para mim os chás
não resolveram, o que resolveu foi umas massagens que tomei com um senhor que mora
na rua Santa Elisa. Ele tem umas mãos abençoadas,” ou “Eu resolvi minha insônia foi
rezando na igreja, entregando a Jesus. Depois que entreguei minha vida a Jesus, não sei
mais o que é insônia.”, ou ainda “Eu curei minha insônia cansando o meu corpo. Todo
dia depois de cuidar da casa eu saio, dou uma voltinha e quando chego tomo um banho e
o sono é uma beleza.”
E assim vão surgindo do grupo pistas, idéias, soluções possíveis. Uma senhora
com insônia chegam com uma demanda específica -quer um remédio – e sai com várias
possibilidades. A história dela permite a cada um falar também da sua dor, do seu
sofrimento e socializar toda a produção de saber elaborado ao longo da vida.
5 Carta de OMS
capaz de trazer soluções. Na Terapia Comunitária é a comunidade quem oferece
alternativas de soluções e cura. Isso não impede que, no final da terapia, as pessoas que
precisam de uma consulta especializada sejam encaminhadas aos especialistas.
5 Carta de OMS
A Terapia Comunitária é muito mais centralizada nos “laços” do que nos
“espaços”. Laço é, sobretudo, a relação estável e dinâmica com a terra, a religião, os
sistemas simbólicos e os vizinhos. Com a migração, os favelados perdem suas raízes,
perdem seus laços e suas referências identitárias. Com a noção de laços, define-se uma
outra visão do sofrimento e do processo terapêutico. A Terapia favorece uma tomada de
consciência das implicações humanas, na gênese das crises e conflitos, para que a
própria comunidade possa sentir-se implicada e co-participe dos acontecimentos.
9- A importância da diversidade:
O terapeuta comunitário precisa entender que nem toda a cultura, nem todo o
saber têm sido valorizados como deveriam. Ele só será um bom terapeuta se conseguir
5 Carta de OMS
lidar com a diferença sem querer “colonizá-la”. É preciso admitir que a riqueza esteja na
diferença. Cada um é rico naquilo que o outro é pobre.
A conduta do terapeuta deve seguir uma ética que se baseia no respeito ao outro
e na importância de uma escuta que permite ao outro explicitar suas motivações
profundas, suas dúvidas e verdades.
5 Carta de OMS
comunidade. É exatamente, quando a informação é escamoteada, maquiada, negada,
escondida que ela vira fofoca e passa a ser fonte de sofrimento para pessoas. A
informação, nas mãos de algumas pessoas, é usada para dominar, impor, denegrir e
destruir famílias, alimentar intrigas e dificultar o crescimento coletivo.
Quando uma pessoa decide falar de seu sofrimento, de suas angústias, não
expressa apenas uma queixa ou informação verbal. Ela comunica, através de suas
lágrimas, de sua voz embargada, de seu silêncio, o sofrimento que aniquila a fragilidade
que a habita, o temor que domina.
Por sua vez, o grupo que a escuta termina por fazer eco do que ouviu. Aqueles
que se identificam podem, enfim, falar daquilo que os habitava em silêncio. A escuta
suscita o desejo de solidariedade, desperta a compaixão e, assim, esboçam-se os
primeiros passos da construção de uma comunidade solidária. A partir daquele
momento, o indivíduo não se sente só. Já tem com quem compartilhar. Com a conotação
positiva no final, o terapeuta valoriza a pessoa e sua intervenção e permite situar o que
foi falado, dentro de uma leitura valorizadora daquele que se expressou.
Identificamos, pelo menos, duas grandes linhas de ação, dois grandes modelos
vigentes que norteiam as ações de cuida dores:
5 Carta de OMS
Este modelo privilegia as carências e baseia-se num só aspecto da tradição cristã,
que adverte:
“E tenho Deus descoberto que Adão e Eva haviam provado do fruto proibido os
expulsou do paraíso”.
(Gn. 3,24)
Todo o mundo ocidental está impregnado dessa visão que privilegia o que não
funciona, o negativo, as falhas e os erros. Um exemplo marcante é a educação dos
nossos filhos. Quando a criança age corretamente, nós, raramente, elogiamos. Mas basta
que ele faça algo errado para logo nós repreendermos. Outro exemplo são os prontuários
dos médicos e dos psicólogos que contêm toda uma informação minuciosa que está
errado e do que não funciona e quase nunca assinalam o potencial pessoal e familiar do
paciente.
“Na Terapia Comunitária, precisamos romper com esse modelo que valoriza o
negativo, a falha, o pecado, pois ele nutre o salvador da pátria”. Ele gera dependência,
uma vez que o indivíduo está sempre à procura de um iluminado, de um “guru”, de um
doutor, enfim, de um “salvador da pátria” para resolver seu problema.
5 Carta de OMS
começam os conselhos, os sermões, os discursos, em que cada um quer mudar o outro:
esposa quer que o marido mude; pais querem que os filhos mudem. Há sempre um
querendo mudar o outro, embora saibamos que ninguém muda ninguém.
O mais dramático dessa visão negativista é que a solução é vista como vinda de
fora, de longe, e é centrada no unitário, deixando indivíduos, famílias e comunidades na
dependência total dos outro indivíduo – políticos, religiosos, cientistas – na tentativa de
superar seus problemas e dificuldades. Se as respostas para nosso problema dependem
de alguém, o que o indivíduo, sua família e a comunidade podem fazer? Será sempre
objeto, e, jamais, sujeito de sua história.
Esse modelo se apóia na competência das pessoas. Quem tem problemas tem,
também, soluções. O fato de estarmos todos vivos e termos superado as dificuldades, ao
longo da vida, nos mostra que temos uma grande bagagem de experiências e sabedoria.
Cada pessoa tem uma experiência de vida e deve ser suscitada a ser co-
responsável diante do sofrimento do outro. Não como um “salvador da pátria”, dando
conselhos e fazendo exortações, mas partilhando sua dor, suas dificuldades, suas
descobertas, de forma simples, abrindo seu coração, sendo solidário aos apelos dos
outros.
Nesse tipo de abordagem, é sabido que se alguém vive hoje uma depressão,
outra pessoa já pode ter passado por situação semelhante e convivido com esse mesmo
tipo de sofrimento, e, assim, pode falar de suas dificuldades e, sobretudo, de como as
superou. Ou ainda, se alguém nunca viveu algo parecido, pode informar-se prevenir-se
caso algum dia, conviva com este problema.
5 Carta de OMS
tem apenas a função de suscitar essa capacidade terapêutica que emerge do próprio
grupo.
Mudando o olhar:
De Para
Clientelismo Cidadania
Síntese:
Terapia Comunitária:
É essa diversidade cultural que faz a grandeza deste país. Possibilitar cada um
agregar novos valores é uma riqueza inestimável no processo de empoderamento e na
construção da cidadania.
5 Carta de OMS
Aprender coletivamente gera uma dinâmica de inclusão e empoderamento.
Precisamos deixar de apenas pedir a adesão do outro às nossas propostas, para
podermos estar a serviço das competências dos outros, sem negarmos a contribuição da
ciência.
CAP 2
Preparando o terreno:
5 Carta de OMS
1-Cada terapeuta deve procurar envolver a comunidade. A participação da
comunidade é decisiva para a implantação deste programa.
1-Acolhimento
2-Escolha do tema
3-Contextualização
4-Problematização
6- Avaliação
A terapia deve ser iniciada com uma música conhecida da comunidade, pois
contribui para criar um clima de amor, companheirismo e amizade no grupo. É
importante que seja uma música interativa, dinâmica, para “quebrar o gelo” e criar um
clima de grupo.
5 Carta de OMS
comunitária é um espaço onde a comunidade se reúne para falar suas soluções, desde
que nós nos reunamos para escutarmos uns aos outros. Cada um tem um saber, seja
construído com sua experiência de vida ou vindo dos antepassados. É disto que a
Terapia Comunitária se constitui. A qualidade da escuta. Mas, para que a terapia possa
acontecer, é necessário seguirmos algumas regras.
1-A regra principal é fazer silêncio, isto é, enquanto o outro fala, devemos
ficar calados para não intimidar quem está falando e respeitar sua fala.
3-Não devemos nos esquecer de que não estamos no grupo para dar
conselhos, fazer discursos ou sermões, ou ainda julgar, mas, sim, para falarmos de
nossas vivências e aprendermos com as experiências dos outros.
5 Carta de OMS
2-Escolha do tema:
Os órgãos falam,
O que falar?
Tudo se torna mais fácil quando a terapia é feita numa comunidade que já tem o
hábito de se reunir. Por isso, é importante que a terapia aconteça em espaços públicos.
5 Carta de OMS
O terapeuta, então, solicita às pessoas que fiquem atentas aos temas
apresentados, pois será o grupo que irá escolher o tema para ser compartilhado.
Enquanto cada pessoa vai falando de seus problemas, o terapeuta deve anotar o
nome e qual o problema que ela traz para, quando as pessoas terminarem de apresentar
seus temas, pode fazer uma síntese de cada um antes de perguntar ao grupo qual
daqueles temas deverá ser o escolhido.
“Esta senhora foi a primeira a se colocar. Como vimos, esta mulher trouxe seu filho na
esperança de encontrar alguma luz que a ajuda a exercer seu papel de mãe de uma
criança de risco”.
Muitas vezes, várias pessoas sugerem muitos temas. Será preciso escolher
apenas um deles para ser trabalhado por Roda de Terapia Comunitária. Nesse caso, o
terapeuta submete ao grupo a escolha do problema que pareça de maior gravidade,
perguntando: “Qual destes casos você acha que é mais urgente, com qual você mais se
identifica e poderia ser escolhido para nossa terapia de hoje?” Após as pessoas se
pronunciarem, o terapeuta comunitário pode propor uma votação.
É importante valorizar aqueles que não tiveram seus temas escolhidos pelo
grupo, pedindo sua opinião e perguntando se eles concordam com a escolha de outro
tema que não o seu; se eles não vão ficar chateados e sugerir que, nas próximas sessões
de terapia comunitária, esses temas possam ser representados, ou ainda colocar-se à
disposição deles, após a Terapia Comunitária, para algum encaminhamento ou
orientação individual.
Após ter sido escolhido o tema, o terapeuta passa a palavra à pessoa cujo
problema foi o escolhido para ela falar sobre seu sofrimento e solicita ao grupo fazer
5 Carta de OMS
perguntas, a fim de que se compreenda melhor a dificuldade apresentada. A discussão
para a escolha do tema do dia é muito importante, pois oferece uma oportunidade de
cunho educativo: aprender a estabelecer critérios para priorizar aquilo que é mais
urgentes, mais graves.
Lembrete
O terapeuta deverá seguir sempre a decisão do grupo, mesmo que julgue outro caso
mais interessante. A escolha pelo grupo é feita porque os participantes se identificam
com o problema. Isso será garantia da participação. Na realidade, as pessoas se
escolhem ao escolher o tema que as toca, pois só reconhecemos no outro aquilo que
conhecemos em nós mesmos.
3-Contextualização
Certo dia, durante uma sessão de Terapia Comunitária, uma mãe trouxe o seu
filho e disse:
“Eu trouxe o meu filho hoje, aqui, para vocês fazerem alguma coisa por ele. Ontem, eu
dei nele uma surra muito grande (mostra as costas La peadas da criança). Eu não sei
mais o que fazer. Estou desesperada. Ontem, meu filho foi chegando, e dizendo:
“_Mamãe, vai ser a última vez que eu vou dormir sem jantar e acordar sem tomar o
café da manhã. Eu vou fazer como os outros. Vou roubar!”Nessa hora, eu me
desesperei, bati, açoitei, porque eu não admito que se roube que se mexa naquilo que é
dos outros.”
5 Carta de OMS
O terapeuta e a comunidade escutam, então, a mãe aflita, e, em seguida,
contextualizam o problema, isto é, lançam questões para compreender o sofrimento da
mãe, bem como o sentido do comportamento do filho. Nesta hora, são colocadas
questões que ajudam a esclarecer o ocorrido, a situar melhor os acontecimentos,
permitindo, assim, que se compreenda o problema em seu contexto global e, ao mesmo
tempo, possibilitem à pessoa que fala organizar melhor suas idéias, sentimentos e
emoções.
A senhora se sente culpada pelo fato de seu filho demonstrar vontade de entrar numa
gangue?”
5 Carta de OMS
Cada pessoa vem participar da Roda de Terapia Comunitária com uma certeza,
com uma visão de mundo, e sai enriquecida porque se confronta com outras visões de
mundo. Por isso, é importante que haja uma atitude de escuta e respeito. O terapeuta
comunitário deve estar atento para ver se todos estão escutando o que o outro diz,
evitando conversas paralelas. Havendo conversas paralelas, o terapeuta comunitário
interrompe, dizendo:
“Como é que nós podemos ajudar uma pessoa, se nós não a estamos escutando? Nós
temos que ouvi-la e respeitá-la.”
“É porque lá em casa tem dia que a gente não janta, tem dia que a gente não come!...
Eu vejo aí os meus colegas na rua, tudo com dinheiro, comprando as coisas... Aí eu
fico triste quando vejo isso. Por que os outros têm e eu não tenho? E quando eu vejo a
mamãe só rezando, só pedindo a Deus pra resolver, ou trabalhando, eu tenho vontade
de fazer alguma coisa. Eu sou pequeno, eu não trabalho, ninguém me dá emprego...
Dizem que menino não trabalha. E eu quero ajudar minha mãe. Uma forma de ajudar é
tirar de quem tem. Eu não estou pensando em matar ninguém. Eu vou tirar é de quem
tem, porque o que eu quero mesmo é ajudar a mamãe”.
“Meu filho, você fez um negócio desses?! Você não sabe que isto é pecado?”
A criança responde:
“Sim. E a gente que não tem nada pra comer em casa!? Como é que fica? E aí ?
(Dirige-se à mãe) “ A senhora vai morrer de fome?”
5 Carta de OMS
Aquela pessoa que chegou à sessão convicta da maldade em cada menino de
gangue pode perceber que aquele menino é alguém que, de alguma maneira, queria
ajudar sua mãe, mas não estava encontrando outro caminho para fazê-lo.
Faz parte de a Terapia Comunitária tentar ver o que há de positivo em cada gesto
ou atitude, tanto da parte da mãe, quanto da parte do filho, pois é gestos que indicam
uma busca desesperada, uma vontade, uma tentativa de o sistema familiar encontrar
soluções.
Não é só este menino, nesta comunidade, que pensa em roubar porque vê que o
dinheiro que entra em casa não dá para sustentar o sistema da familiar. Os meninos
escolhem este caminho por falta de opções, assim como outro poderia escolher a droga.
Escolhem este caminho não porque haja maldade em seu coração, mas, sim, porque não
conseguem ver outra forma de resolver seus problemas, para satisfazer suas
necessidades. A intenção é boa, embora possa trazer conseqüências graves para ele, para
o sistema familiar e para a sociedade como, por exemplo, sua prisão e os mais variados
tipos de violência a que poderá estar submetido.
Para o grupo, o terapeuta aponta para o fato de este caso não ser único na
comunidade, e ser preocupante o descanso das autoridades para com essa situação.
O terapeuta comunitário deve estar preparado para ouvir mil e uma respostas, e
para evitar que seu discurso seja uma condenação moral.
As pessoas saem da sessão com elementos novos, por isso não são mais as
mesmas. A química nos lembra que a água (H²O), ao receber um novo elemento, uma
nova informação, uma nova partícula, transforma-se em água oxigenada (H²O²). Deixou
de ser simplesmente água, como vinha sendo. Ocorreu o SALTO QUALITATIVO.
5 Carta de OMS
Com o que se ouve na TC algo muda na vida dessas pessoas. E essa mudança é
tão significativa que permite ver o mundo de uma forma nova. Assim, depois dessa
terapia, ninguém é mais o mesmo ou a mesma. A comunidade também mudou.
A terapia não cria caminhos novos, mas ensina uma maneira nova de ver as
coisas e de caminhar juntos.
São Paulo diz que os homens só condenam quando não compreendem (Romanos
14,23). Então, o que buscamos é a compreensão. O terapeuta comunitário não é juiz, ele
não está nessa posição para julgar, condenar ou dar conselhos. Ele não vai ao grupo para
dizer o que está certo, nem o que está errado. Ele está lá para despertar questões, abrir
essas questões para o entendimento para que as pessoas compreendam a situação.
É uma mulher sofrida, largada, pobre, vinda do interior, que mora em um bairro
pobre e discriminado. Quando chegou à cidade grande, o marido a abandonou e ela
ficou sozinho com os quatro filhos. Tinha que sair para trabalhar. Trabalhava o dia todo
para conseguir comida. Não tinha quem ficasse com os filhos. Muitas vezes, chegava ao
final do mês, e o patrão não lhe pagava. Inventava qualquer desculpa e não dava
dinheiro. Ela era obrigada a voltar pra casa sem nada. É este o contexto familiar: uma
mulher que lava roupas, que faz tudo, mas que o patrão não paga; ou paga, porém,
quando vinha para casa, o ladrão roubou seu dinheiro. Ficou sem dinheiro...
Não se trata, portanto, de uma mãe malvada que espanca seus filhos, ou de uma
mãe irresponsável. Esta mãe tem o direito de dizer:
De um lado, vê-se uma família tradicional. Uma mãe cheia dos valores cristãos,
como “não roubar”, “respeitar os outros”, “respeitar os mais velhos”, “viver a
5 Carta de OMS
obediência”, enfim, com todos os tradicionais valores e familiares. Do outro lado,
observa-se uma família em transição.
Uma vez vivendo na favela, na periferia, surge desta família uma nova geração,
uma geração que não acredita mais nos velhos valores, que está comprometida com o
“aqui e agora”, com a sobrevivência, com o “eu quero comer, eu quero dormir, eu quero
isso, eu quero aquilo!”
Toda essa situação revela, ainda, o que significa, para as famílias pobres terem
que enfrentar as conseqüências do desemprego, da falta de escola, de vida, de espaços
de lazer para os filhos. Entregues à própria sorte, ao total desamparo, fragmentam-se
como famílias e como seres humanos. Santo Thomas de Aquino (1995) advertia:
“Não se pode exigir as virtudes de uma pessoa quando as necessidades básicas não são
preenchidas.”
Como nada está isolado, mas, ao contrário, tudo está ligado, a família não pode
viver sozinha como se fosse uma ilha. Nada ou ninguém é uma ilha. Se sua família não
é uma ilha, ela é um continente, um sistema. É o que chamamos de Sistema familiar. Se
nós entendermos bem como funciona o Sistema Familiar (ver capítulo 6), teremos muito
mais condições de ajudar àquela família, e outras tantas, a encontrar luzes para seus
problemas.
Lembretes:
2-Muitas pessoas, por não serem escutadas, nem valorizadas, têm uma tendência a não
5 Carta de OMS
escutar. Por isso, temos que estar atentos para a qualidade da escuta. Às vezes, vale a
pena ressaltar uma fala importante, dita por alguém lançando ao grupo uma pergunta:
“Vocês ouviram o que ela disse? Quem poderia dizer para o grupo o que entendeu
dessa fala? Ou vocês preferem que ela diga de novo?”
4-uma vez escolhido o tema pelo grupo, o terapeuta lança o mote. É importante sempre
repetir o mote, para que as pessoas possam se fixar no tema proposto. É importante,
também, trabalhar os dois pólos do mote. Por exemplo: se o tema é infidelidade destrói,
como também trabalhar a fidelidade ( o que eu tenho feito para me manter fiel0. Se o
tema for a perda, a morte, trabalhar também a vida ( o que a perda traz como ganho) ou
ainda o que a morte não destruiu, naquele que partiu?
5-deve-se trabalhar, também, a questão simbólica para não se restringir a ficar apenas
olhando para o dedo que aponta a estrela. É preciso olhar para além do dedo. Por
exemplo, se o tema for aborto, suas dificuldades e perigos, deve-se procurar elaborar
um mote que permita refletir, também, sobre os perigos do aborto social, sobre o valor
da vida, sobre a co-responsabilidade social pelo dom da vida.
5 Carta de OMS
MUDANÇA:
CONSCIÊNCIA
PENSAMENTO
Racionalização:
EMOÇÕES
SENSAÇÕES
Muitas pessoas temem assumir suas emoções. Entrar em contato com elas seria
revisitar uma antiga dor traumática insuportável. Essas condutas são muito freqüentes
5 Carta de OMS
nas pessoas resistentes a toda e qualquer abordagem psicoterapêutica. Surgem, então,
inúmeras estratégias de evita mento.
Vejamos:
4-Problematização:
Nesta etapa, a pessoa que expôs seu problema fica em silêncio. O terapeuta
deixa de lado sua história, não faz perguntas a ela e apresenta, então, um MOTE que vai
permitir a reflexão do grupo. A partir da situação apresentada, o terapeuta então se
dirige ao grupo dizendo:
“Ouvimos a história dessa mãe que, com certeza, nos fez lembrar nossas histórias e
mexeu com as nossas emoções. Vamos agora falar de nós, daquilo que nos tocou e que
nos chamou a atenção.”
5 Carta de OMS
O mote, ou seja, o tema que será discutido é a alma da terapia. Ele promoverá
a reflexão coletiva capaz de trazer à tona os elementos fundamentais que permitem a
cada um rever os seus esquemas mentais, seus preconceitos e reconstruir a realidade. É
a qualidade da escuta que vai determinar a escolha de um bom mote. E para isso não
podemos ter muita pressa.
“Sinto-me arrasado. Acabo de perder meu único filho. Ele estava doente, o médico
queria operá-lo, mas eu era contra essa operação, porque tinha medo que ele morresse.
O que mais me dói é que minha nora me enganou, levou ele escondido de mim, e ele
não resistiu à operação. Se eu soubesse que ele ia se operar, eu não tinha deixado. Oh,
meu deus! Perdi meu filho e fui trado pela nora que me enganou e, agora, estamos
intrigados.”
1-Mote coringa:
Várias pessoas vão se manifestar, cada uma pode ter se identificado com
um aspecto do problema trazido.
5 Carta de OMS
Vejamos uma relação entre palavras-chave e motes possíveis;
O quadro da página anterior apresenta muitos temas que podem ser passíveis
de reflexão com a comunidade. No entanto, seria impossível refletir sobre tudo isso.
Para melhor proceder, uma vez identificados todos os temas, o terapeuta, comentando as
diversas palavras-chave, propõe ao grupo a escolha de um deles, para ser objeto de
reflexão.
5 Carta de OMS
Enquanto as pessoas vão partilhando as experiências, alguém da equipe vai
anotando as falas que julga significativas para poder finalizar a terapia, isto é, fazer o
fechamento.
O terapeuta diz:
“Eu queria parabenizar a senhora, pelo seu senso de responsabilidade como mãe. Só
uma mãe consciente de seu dever, e que, de fato, ama seu filho, é capaz deste gesto, de
se expor, diante da comunidade...”
5 Carta de OMS
Ou ainda:
O terapeuta pede aos participantes que digam à senhora que fez o depoimento
algo que os tenha colocado, ou algo que tenham admirado na senhora. O mesmo
procedimento deve ser feito com a criança. O terapeuta, então, pode dizer:
“Joãozinho, eu queria lhe dizer que fiquei admirado com a sua sensibilidade e com a
sua vontade de querer ajudar a sua mãe, e lhe dizer que eu tenho certeza de que você
vai saber encontrar uma maneira de ajudar a sua família, sem se arriscar tanto...”
Aquele que dirige em terapia deve estar aberto e ser tolerante à diversidade.
No entanto, deve coibir todo proselitismo, evitando que alguém use seu credo para
humilhar os outros ou fazer sermões.
Uma coisa é falar da fé, do que ela significa para a vida; outra, é querer impor
às pessoas valores e uma visão de mundo. È preciso ter cuidado com aqueles que
costumam falar como “senhores da verdade” e aparecem como alguém que nada tem
para aprender.
5 Carta de OMS
A espiritualidade só é fator de crescimento pessoal e comunitário quando
vem reforçar a solidariedade e permitir sentir o pertencimento a uma família, na qual se
é valorizado, aceito. Uma família que se constitui espaço onde se vê nutridos os laços de
reciprocidade, onde se aprende e se ensina se escuta e se é escutado, se respeita e se é
respeitado.
Em seguida, pede para que todos formem uma teia, uma corrente de apoio,
ombro a ombro e fiquem se balançando lentamente com os olhos fechados para que
cada pessoa sinta-se ligada ao grupo. O terapeuta pode comentar:
Lembretes:
1-O terapeuta deve sempre repetir a pergunta, após cada fala, para evitar que as pessoas
recomecem a contar novas histórias de vida. Um exemplo de pergunta seria: “O que
aprendi hoje nesta terapia? ou ainda: “O que vou levando de aprendizado?”
2-No final, o terapeuta lembra ao grupo a data da próxima sessão. Pode-se dirigir o
grupo e dizer: “Existem várias maneiras de se apoiar alguém. Uma delas é falando,
outra é dando um abraço fraterno. Por isso, eu faço um convite à fraternidade. Vamos
todos nos abraçarem.” E encerra a terapia.
5 Carta de OMS
6-Apreciação da condução da terapia:
Acolhimento
Escolha do tema
Contextualização
Problematização
Encerramento
R. Às vezes, acontece de cada pessoa dizer o que fez para superar seu
problema: um chá, uma massagem, um esporte etc. e logo em seguida alguém,
geralmente “bitolado” por uma visão religiosa, faz uma observação do tipo.
“Tudo isso que foi dito até agora é besteira. O verdadeiro remédio para
superarmos nossos problemas é Jesus. É ele que é o nosso médico, nosso Salvador”.
5 Carta de OMS
Ouvindo a senhora (ou senhor), eu me lembrei de outra história, que eu vou contar para
vocês. Havia um homem que era devoto de São Francisco. Tudo que ele queria era São
Francisco quem dava. Certo dia, houve uma grande enchente por conta das chuvas
torrenciais, e cada pessoa tentou fazer um esforço para se salvar. O devoto subiu num
coqueiro e ficou esperando por São Francisco. Mais, tarde, chegou uma canoeira e
disse: “Aqui tem um lugar para o senhor. Pode descer”. Ele respondeu: “Pode ir
embora, quem vai me salvar é São Francisco”. “Mais, “tarde, chegou um senhor, com
um barco a motor e insistiu:” Desça que vem muita água por aí”. O homem recusou o
auxílio e disse: “Só tenho confiança em São Francisco”. Já bem tarde, quando a água já
estava quase sufocando o homem, apareceu um helicóptero. Logo depois, o homem foi
arrastado pelas águas e morreu. Indignado, quando chegou ao céu , foi tomar satisfação
com São Francisco e disse: “mas, meu são Francisco, eu tinha tanta confiança no
senhor e o senhor me deixou morrer? São Francisco respondeu: “Eu mandei a canoeira,
e você não quis. Providenciei um barco a motor, e até um helicóptero mandei para
você. O que você queria que eu fizesse que eu descesse daqui do céu para te salvar?
“Eu tenho muito que fazer e do que me ocupar”. Moral da história: DEUS AJUDA O
HOMEM, ATRAVÉS DO HOMEM. Quem garante que não foi Jesus que mandou a
senhora vir hoje, aqui na terapia, exatamente, para que a senhora ouvisse o que cada
um tem para lhe dizer? Pense nisso.
E continua a terapia.
5 Carta de OMS
pergunta: “É isto?” E retoma em seguida: “Ok! Foi registrado, entendemos seu
sofrimento.”
Às vezes, acontece que a pessoa confirma que você entendeu, mas assinala
logo: “Esta é apenas uma parte do problema”. Nesse caso, o terapeuta pode dizer: “ até
agora o que o senhor ( ou a senhora) falou já é muito rico de elementos que nós vamos
refletir. O restante da história o(a) senhor(a) poderá colocar, em outra ocasião.” Caso a
pessoa tente, mais tarde, retornar ao mesmo problema, o terapeuta pode, educadamente,
dizer-lhe: “Não se preocupe, nós anotamos o que o(a) senhor(a) disse.” Geralmente, a
pessoa se satisfaz.
R. “dar alta” é uma terminologia do campo dos que lidam com a patologia.
A TC tenta resgatar o saber produzido pela experiência. Ela se situa no campo do
suporte, do apoio aos que sofrem. Sendo a TC um espaço de partilha de experiências e
uma aprendizagem coletiva, ninguém é tão sadio que não possa aprender e nem tão
sofrido que não possa superar a dor. Nossa experiência tem demonstrado que não possa
superar sua dor. Nossa experiência tem demonstrado que aqueles que já superaram seu
5 Carta de OMS
sofrimento são os mais assíduos e terminam tornando-se futuros terapeutas
comunitários e nossos colaboradores mais fiéis.
5 Carta de OMS
uma reunião, quantos outros se sentiriam presos a uma cadeira atrás de um birô. Muitas
pessoas não aceitam porque não conhecem a proposta da TC, ou porque não acreditam
que alguém, que não passou pela academia, seja capaz de ter uma ação eficiente em um
trabalho comunitário. O terapeuta deve estar atento para que a resistência ao método não
se torne um complô contra ele, ou em rejeição por parte de alguém que não o aceito, ou
“mais um doutor que não o aceito só porque o terapeuta não tem um diploma também”.
5 Carta de OMS
Com certeza, algumas pessoas vão trazer temas interessantes (Até o
terapeuta poderá expor o que passou em sua cabeça nestes momentos). Eu lembro que,
na escolha do tema, é muito importante o terapeuta falar um pouco do por que é
importante falar com a boca, lembrando o já citado ditado popular.
Síntese:
1-Dar as boas-vindas
4- Regras:
5 Carta de OMS
O co-terapeuta convida o grupo para fazer algum exercício ou brincadeira.
Neste momento, ele pode recorrer aos participantes perguntando: “Alguém conhece
algum exercício ou brincadeira e gostaria de propor?” Após a dinâmica interativa
apresenta o terapeuta.
6-Apresentar o terapeuta
5 Carta de OMS
4-Votação
É sempre bom começar a votação por aquele problema que não apresentou
muita identificação com o grupo, bem como lembrar às pessoas que só podem votar
uma vez. Vejamos um exemplo: “Chegou o momento da votação e cada um só pode
votar uma vez. Então, hoje, nós temos o problema da dona Maria que está se separando,
mas fica muita preocupada com o filho de três anos que gosta muito do pai. Quem vota
no tema da Dona Maria, levante o braço. “ O terapeuta conta com os votos e repete o
procedimento com todos os temas apresentados. Caso ocorra empate entre dois temas, o
terapeuta comunitário repete o procedimento de votação somente com os mais votados.
5- Agradecimento
1- Informações:
2- Mote
5 Carta de OMS
1-Lançar o mote
1-Formação da roda
2- Conotação positiva
O terapeuta comunitário verbaliza o que mais lhe tocou no tema escolhido e abre
para o grupo verbalizar o que aprendeu com as histórias de vida verbalizadas. Por
exemplo: “O que aprendi hoje nesta Terapia?” Ou: “ o que mais admirei nas histórias
contadas aqui?”
CAP. 3
Resiliência:
5 Carta de OMS
Várias crianças tomavam banho em um rio. De repente, uma delas foi levada por uma
correnteza na direção de uma grande cachoeira. A criança, desesperada, com medo da,
morte, na luta contra a força da água, procurou lembrar do seu pai tinha-lhe ensinando
sobre como fugir das grandes correntezas. Apegando-se a deus e a São Francisco, ficou
atenta procurando se agarrar a algum galho. De repente, um pescador joga uma bóia e
ala consegue escapar da queda d‟água fatal.
Vemos nesse que o que salvou a criança foi o fato de ela fazer apelo a sua
memória, procurando seguir tudo aquilo que tinha aprendido com seus pais e de ter
recebido um apoio externo: a bóia lançada pelo pescador. Essa bóia representa todo tipo
de apoio externo: uma instituição, um grupo de jovens, uma escola, um amigo.
“meus pais me abandonaram e eu fiquei sozinha com meus dois irmãos. A gente vivia
triste. No dia em que eu encontrei o Aírton e ele me disse: “ a partir de hoje eu vou
cuidar de vocês. “Vocês serão parte de minha família, esse sentimento de abandono
desapareceu da minha vida”.
“No dia em que o Dr. Adalberto olhou para mim e me disse: “Dona Francisca, a
senhora não está só, a senhora pode contar comigo”, eu me senti acolhida e segura. E
hoje, quando a situação fica preta, eu me lembro daquelas palavras e tudo fica tranqüilo
novamente”.
O que queremos ressaltar é uma palavra, um gesto de apoio pode fazer diferença
entre os que fracassam e os que vencem. Temos observado que à medida que a pessoa
vai partilhando seu sofrimento na Terapia Comunitária, vai transformando os seus
sentimentos e possibilitando uma (re) significação dos fatos traumáticos, vai tecendo
laços sociais e gerando um sentimento de pertença ao grupo. O encontro com o outro se
torna a bóia que permite escapar da morte trágica, sobretudo se o gesto, a palavra de
hoje encontram vestígios de outros gestos e atitudes positivas que no passado nos
confortou, nos apoiou, nos valorizou. Desta forma, relativa- se elementos importantes
do processo resiliente.
5 Carta de OMS
escolas, as universidades e as academias: instituições detentoras de saber, formadoras de
profissionais, com seus rituais de iniciação, seus títulos, suas teses, suas teorias.
Por isso afirmamos, “minha primeira escola foi minha família e meu primeiro
mestre foi a criança que fui”. Geralmente atribuímos nossas competências a livros que
lemos, cursos que fizemos e jamais a algo que vivenciamos. Como poderemos nos
empoderar- se deixarmos de lado o saber produzido no contexto familiar, na escola da
vida? Seremos meros marionetes prontos para sermos manipulados, colonizados e,
portanto, alienados de nosso potencial criativo.
Usando uma metáfora para melhor compreendermos estes dois saberes, são
como duas mãos que se chocam, produzindo inicialmente barulho e sofrimento, e aos
poucos, se dá conta que podem produzir: música, ritmos, batucada, que demonstram a
5 Carta de OMS
alegria de viver. Portanto, são saberes que chocam se interpelam, num choque criativo e
jamais destrutivo, no qual um novo saber quer eliminar o outro, seguindo a lei do
mercado que faz com que o surgimento de um novo produto, sempre provoca a
destruição do outro. Seria uma perda inestimável se a diversidade dos souber não
permitisse a co-habitação, de forma respeitosa, desta diversidade. Ora, a sociedade é
composta de contextos os mais diversos e, por isso, precisamos compreender que um
modelo único, uma leitura única será sempre parcial. Um ponto de VISTA, é sempre a
VISTA de um ponto. A compreensão da realidade social exige leituras, abordagens as
mais variadas e plurais possíveis para atender a complexidade dos diversos contextos.
Um modelo é uma construção sempre provisória. Um modelo aplicado para fazer para
fazer essa leitura num determinado contexto. A realidade é uma universidade. Ela nos
ensina a cada momento a relativizarmos o nosso saber, para podermos incluir, articular
outros saberes construídos em outros contextos.
Não se trata de rejeitar o saber acadêmico, mas, sim, resgatar esta outra fonte
geradora de competências. Trata-se de permitir que um método de cunho científico
possibilite ao outro método de cunho mais intuitivo e cultural tomar corpo, consciência,
consistência e reconhecimento de habilidades adquiridas por outras vias que não as
convencionadas. Trata-se de reconhecer que a cultura tem também seus processos e
métodos geradores de habilidades e competências.
2- A ostra e a pérola
5 Carta de OMS
“ As pérolas são produtos da dor; resultado da entrada de uma substância estranha ou
indesejável no interior da ostra, como um parasita ou um grão de areia. Na parte interna
da concha é encontrada uma substância lustrosa chamada nácar. Quando um grão de
areia a penetra, as células do nácar começam a trabalhar e cobrem o grão de areia em
camadas e mais camadas, para proteger o corpo indefeso da ostra. Como resultado,
uma linda pérola vai se formando. Uma ostra que não foi ferida, de algum modo, não
produz pérola, pois a pérola é uma ferida cicatrizada.
Você já se sentiu ferido pelas palavras rudes de alguém? Já foi acusado de ter dito coisa
que não disse? Suas idéias foram rejeitadas ou mal interpretadas? Você já sofreu os
duros golpes do preconceito? Já recebeu o troco da indiferença?
Então, produza uma pérola!
Cubra suas mágoas com várias camadas de amor.
Infelizmente, são poucas as pessoas que se interessam por esse tipo de movimento-
atitude. A maioria aprende apenas a cultivar ressentimentos, deixando as feridas
abertas, alimentando-as com vários tipos de sentimentos mesquinhos e, portanto, não
permitindo que cicatrizem.
Assim, na prática, o que vemos são muitas. “Ostras Vazias”, não porque não tenham
sido feridas, mas, porque não souberam perdoar, compreender e transformar a dor em
amor.
“Um sorriso, um olhar, um gesto, na maioria das vezes, falam mais do que mil
palavras”
As Feridas e as pérolas
Se as feridas nos trazem dores, é compreensível que se tente fugir deste lugar,
desta lembrança e passemos para seu lado oposto. Nestes 21 anos de trabalho, de ajuda
às pessoas a garimparem suas pérolas temos observado que:
5 Carta de OMS
Do contrário, o sofrimento sem crescimento, sem transformação em
competência, transforma-se num fatalismo aniquilador de esperanças, gerando
comodismo. Não adianta fazer nada. “Se correr o bicho pega e se ficar o bicho come”.
E, aos poucos, vamos perdendo a confiança em nós mesmos, em nosso potencial e
vamos alimentando atitudes de fracasso, de auto desvalorização e dependências as mais
diversas, provocando o que chamo de a “síndrome da miséria psíquica”. Se, por um
lado, este adágio popular sugere conformismo, nos convida a deixar as coisas como
estão. Por outro lado, neste mesmo provérbio, podemos descobrir outra mensagem
oculta, transformadora, mobiliza Dora desde que acrescentamos uma frase. Ou seja, se a
gente se juntar, o bicho é quem corre a gente pega e mata o bicho da corrupção, da
violência, dos preconceitos...
Portanto, se as pérolas são respostas às agressões, temos que ter cuidado para
não apenas reagir, mas, sim, procurar a síntese, lapidar nossa pérola.
Para refletir:
O poeta e dramaturgo Antonio Carlos Vieira com sua poesia sobre A PEDRA,
nos convida a reflexão sobre todos os obstáculos da vida:
5 Carta de OMS
“A pedra, o distraído nela tropeçou...
Drumond a poetizou
Não existe pedra no seu caminho que você não possa aproveitá-la para o seu próprio
crescimento.
“Das oportunidades saiba tirar o melhor proveito, talvez não tenhamos outra chance.”
Considerando que o que eu faço hoje se insere na minha história de vida, ficam
duas perguntas para reflexão:
Essa lei da Psicologia permite compreender que o sofrimento que se vive é o que
anima a restaurar aquilo que já é conhecido. Como posso identificar o sofrimento do
abandono se desconheço esse cenário? Como posso identificar e combater a injustiça se
essa problemática não fazia parte da minha convivência?
Certa vez, em uma vivência que possibilita um diálogo interior em contato com
a sua criança interior para consolidar o vínculo do adulto de hoje com a criança de
ontem, nos fez o relato seguinte:
5 Carta de OMS
“Durante essa dinâmica que fiz, eu revivi uma cena de minha infância. Eu tinha nada
para comer em minha casa. Minha mãe me disse: „Minha filha, fique brincando com
suas irmãzinhas menores que eu vou ver se consigo alguma coisa para nós comermos‟.
E eu me via com um prato vazio na mão e uma colher, tentando fazer uma música para
fazer meus irmãos esquecerem a fome, enquanto minha mãe chegava.”
Em lágrimas, ela confidenciou que era a primeira vez que ousava partilhar
aquele sofrimento. Foi, então, perguntado a ela:
“De onde vem esta habilidade, esta sensibilidade para reconhecer que a fome precisa
ser combatida”?
“Foi a fome que eu passei na minha infância que me fez ver a dor do outro. Quando
vejo a dor do outro, ela reflete na minha própria dor, só que desta vez eu consigo
superá-la com alegria.”
Portanto, fica claro que o antigo sofrimento dessa pessoa tornou-se fonte de
competência saneadora. O cuidador com sua ação resgata a sua própria história. Cada
vez que essa senhora alimenta uma criança faminta, é a ela que está alimentando. Sua
ação lhe permite resgatar sua história. Nesse sentido, dizemos que a primeira escola é a
família, e o primeiro mestre que tivemos foi a criança que fomos. Permitir que cada
futuro terapeuta comunitário possa trabalhar os vínculos entre aquilo que faz hoje com
aquilo que vivenciou na sua história familiar e social, tem trazido maior consciência do
papel do cuidador.
Nunca é demais enfatizar: Eu não nasci para sofrer, mas o sofrer me faz
crescer... Desde que eu tenha a humildade necessária para aprender com ele. Esse
trabalho reflexivo sobre o papel do cuidador é fundamental para as pessoas que
5 Carta de OMS
pretendem cuidar de outras pessoas. Ele tem permitido, sobretudo, romper com falsos
conceitos de que são pessoas caridosas e bondosas. Ninguém trabalha para ninguém.
Nós trabalhamos para nós mesmos. O que fazemos aos outros estamos fazendo a nós
mesmos. Nesse sentido, ajudar o outro é prazeroso e nos permite ser solidários, sem
assistencialismos. Do contrário, iremos valorizar a carência, nos tornar salvadores da
pátria, gerando dependência. Não podemos esquecer que aquele que é objeto de nossa
ação, na realidade, é um parceiro que nos ajuda a nos conhecer e crescer.
A clareza daquilo que nos motiva a fazer o que fazemos é a bússola de nossa
ação. Desconhecer estas motivações profundas pode ser um grande risco para quem se
aventura numa ação cuidadora do outro. Sob o pretexto de ajudar os outros, acabam por
agravar o sofrimento, gerando culpabilidades e dando a falsa impressão de que estão
sendo bons e caridosos, quando, na realidade, estão provocando desastres e agravando
os problemas.
Nesse sentido, faz-se necessária uma reflexão sobre a arte do cuidar para que
possamos compreender melhor o sentido do sofrimento que nos empurra para uma ação
transformadora.
Para saber se o que você está fazendo hoje tem a ver com a sua história de vida,
proponho que você reflita sobre estas duas indagações:
Não se trata de fazer uma correlação linear de causa e efeito entre o passado e o
presente e, sim, procurar identificar minhas motivações profundas, inconscientes que
me mobilizam para fazer o que faço. Conhecê-las é uma forma de me apropriar de
minha história de vida e de minha ação.
5 Carta de OMS
Na minha juventude, a leitura que eu fazia das bem-aventuranças me deixava
indignado, pois parecia um hino ao conformismo. Como se o sofrimento vivido na Terra
fosse necessário para o gozo no paraíso fora da Terra. Hoje, vejo nas bem-aventuranças
um apelo dinâmico, dialético que nos impulsiona para uma ação transformadora da
própria realidade.
De que forma? Quando morrerem será consolado pelos anjos? Isso é pura
alienação. Seremos saciados na medida em que nos tornarmos consoladores dos que
choram aqui e agora, na minha cidade, no meu país.
De que maneira? Após a morte comeremos do manjar celeste? Com certeza seria
uma alienação. Seremos saciados na medida em que nos tornarmos saci adores dos
famintos de nosso país.
5 Carta de OMS
processo resiliente. Por isso é que, à medida que as pessoas falam de seus sofrimentos e
dizem o que têm feito para resolvê-los, procura-se ressaltar as estratégias utilizadas para
cada indivíduo e cada família. Descobre-se então, que lá onde houve um sofrimento,
uma dor, se construiu um conhecimento que permitiu sua superação. A socialização
desse saber gera um movimento dinâmico entre a leitura vertical de si mesmo e a leitura
horizontal com o outro. Ou seja, ao ouvir a experiência do outro, cada um se reporta a
sua própria experiência, permitindo a cada um fazer descobertas, tomar consciência e
descobrir que cada um tem sua trajetória, produz seu saber.
O homem que sofre não pode ser visto como alguém que tem uma fragilidade ou
uma carência. Tal percepção desencadearia um tratamento voltado para repor o que
falta, além de desqualificar as relações humanas, afetivas e culturais, muito eficientes
quando mobilizadas. Precisamos compreender que um homem só pode sobreviver se
puder contar com uma teia de apoio e suporte. Nesse sentido, procuremos tanto ajudá-lo
a descobrir os seus recursos internos, quanto os recursos externos presentes em seu
contexto familiar e comunitário.
5 Carta de OMS
5-A arte de dar
Gosto de fulano porque ele reconhece o que faço por ele (tem
consciência da dívida)
Quanta ingratidão! Fiz isto por ele e ele foi ingrato, (não reconhece a
dívida)
5 Carta de OMS
2)Rebelar-se contra o credor
Uma vez que meu “salvador” não pode corresponder as minhas expectativas,
preencher minhas carências, ele é diabolizado. Invertem-se os papéis. O “devedor”
passa a acusar negar todo o benefício recebido. Uma maneira de fugir do sentimento de
aniquilação e dependência fruta de um relacionamento baseado no equívoco de que
alguém vai salvá-lo, e o faz sentir-se sujeito livre. William Shakespeare nos alerta que:
“existe uma diferença, uma sutil diferença entre dar a mão e acorrentar a alma.”
“Você não me deve nada. O que faço por você é o que fizeram por mim. Espero que
você faça o mesmo, quando encontrar alguém nas mesmas condições. Esta é uma das
leis da vida. Faça o bem sem olhar a quem...”
6- A arte de perdoar
Guardar mágoa é como quem toma veneno e espera que o inimigo morra.
Perdoar não é esquecer e, sim compreender que não se pode crescer ficando preso
ao sofrimento.
5 Carta de OMS
Muitas vezes a dificuldade de perdoar está relacionada ao medo de perder a
única coisa concreta que se tem: o sofrimento. Para sorrir precisamos ter a boca vazia.
Lembra-nos o adágio popular: “O cachorro que não abandona seu osso, não se nutrir”.
5 Carta de OMS
A arte do cuidar é prazerosa para o cuidador, pois cuidando do outro ele tem a
grande chance de cuidar de si, de crescer juntos. Mas vale lembrar as armadilhas que
podem transformar este prazer em grandes sofrimentos e confusões. Daí porque
precisamos permanecer atentos às dimensões inconscientes presentes numa relação de
escuta, acolhimento e cuidado com o outro.
5 Carta de OMS
você tem orelho nas de elefante “e logo a garota responde” e você tem o
dedão”. E a interlocução parou por ali. Quando chegou a vez do menino
freqüentar a escola, aconteceu o mesmo com ele. Um coleguinha chama
a atenção para as orelhas de elefante que ele tinha e logo, sem demora, o
menino nascido príncipe, bem acolhido e amado responde “e você tem
um cabeçona”. A confusão acabou por ali. Mas quando a segunda
menina, nascida sem festejos, e que seu nascimento gerou certa
frustração de seus pais, chega à escola e uma coleguinha assinala que ela
tem orelhas de elefante, ela começa a chorar e se isola da classe. Foi a
segunda pedrada na vidraça ou a segunda martelada. A primeira foi
quando não correspondeu às expectativas de seus pais. Doeu, feriu, mas
não sangrou. Agora, ela pode, enfim, começar a elaborar um sentimento
de ser rejeitada, de ser inadequada.
Eu não vejo a pessoa, mas através dela. Há algo nela que me lembra personagens
conhecidos e fatos vivenciados. Um fato muito comum acontece em casais que se
separam de forma traumática. O filho que ficou com a mãe, muitas vezes, é tratado
como se fosse o retrato do pai. A mãe tende a ver o filho à presença insuportável do
esposo agressivo. Muitas vezes, a frase é dita de forma anedótica: “O diabo foi embora,
mas deixou seu secretário”. Quando o outro se torna espelho, meu interlocutor deixa de
existir enquanto pessoa. Ele não se reconhece em minhas palavras e atitudes. É negado
em sua existência, fica confuso. A criança fica refém de seus pais. É compreensível que
a criança pense: “Se a mamãe expulsou meu pai de casa, foi porque ele não fazia o que
ela queria. O mesmo pode expulsar e eu vou morrer de fome e de frio...” Nós podemos
imaginar o sofrimento desta criança. Existem algumas situações ainda mais dramáticas.
É comum quando a criança nasce o pai é quem vai ao cartório para registrar o filho. Já
conheci casos em que o pai deu a sua filha o nome de uma ex-noiva, frustrando sua
esposa que desejava outro nome. Quando a esposa descobriu, o conflito eclodiu.
Imaginem o sofrimento desta criança. Quando o pai olhava para ela, lembrava da ex-
noiva e quando a mãe a olhava via a ex-concorrente. E fica a grande pergunta: quem
olha para esta criança pelo que ela é?
5 Carta de OMS
hora da raiva a pessoa diz o que outro já imaginava: “ Você quer saber a verdade? Eu te
detesto, maldita a hora que eu te gerei...”
Muitos pais procuram, a todo preço, evitar que seus filhos passem pelo
sofrimento que passaram e tendem a superproteger seus filhos. Quando superprotejo
alguém, na realidade, estou dando um atestado de incapacidade ao outro. Esta é a
mensagem que passamos quando superprotegemos alguém. O beneficiado vai confiar
mais no outro do que em si mesmo, vai ficando inseguro dependente e imaturo. Terá
dificuldades de concluir suas tarefas e de consolidar sua autonomia como adulto.
Certa vez, uma senhora, mãe de uma criança de 7 anos, me procurou com uma
situação familiar bem típica. Ela dizia. “Estou muito preocupada com minha filha de 7
anos. Não deixa ela sair só nem na calçada do prédio. Sei que estou prejudicando minha
filha pelo excesso de proteção”. Quando perguntei a ela sobre sua infância ela me disse:
“Eu era a caçula de uma grande família e me sentia meio deixada de lado. Quando
completei meus 7 anos, minha mãe me mandava comprar pão na padaria e, certa vez,
eu fui abusada pelo padeiro. Nunca contei isso para ninguém. Me sentia desprotegida
por minha mãe”. Perguntei então a ela: Quando a senhora olha para a sua filha quem a
senhora vê, ou seja, a senhora vê a você, ontem, uma criança desprotegida ou vê sua
filha hoje como ela é?” Nesta hora caiu a ficha: “Ah! Quando eu olho para a minha filha
de 7 anos eu estou vendo é a mim mesma, eu estou revivendo o meu passado. Estou
querendo dar a proteção a minha filha que eu não recebi de minha família. “Por isso que
estou dando em dose dupla.” Esta descoberta abre a possibilidade de desfazer o
equívoco e uma nova relação mãe – filha poderá, enfim, começar.
5 Carta de OMS
CAP. 4
Quando a crise surge, ela está sempre querendo dizer alguma coisa, comunicar
algo que tem a ver com o seu contexto. Se não a contextualizamos, tudo parece sem
sentido. Lembre-se sempre do ditado que diz:
“Quem olha para o dedo que aponta a estrela, jamais verá a estrela.”
No caso, os dedos são sintomas que apontam para uma realidade oculta.
O Terapeuta é aquele que não se contenta em olhar para os dedos; ele olha para
onde os dedos estão apontando. Através de perguntas, ele será capaz de desvendar o
que está por trás das queixas. Por exemplo, por trás da violência praticada por uma
criança pode estar um apelo por atenção, um pedido de amor; por traz de uma
depressão, pode haver um sofrimento, alguém pedindo uma força.
Não se pode esquecer o que diz a sabedoria popular: “Quando a boca cala, os
órgãos falam, e quando a boca fala, os órgãos saram”. Poder falar num clima de
confiança já é uma grande ajuda e permite a todos refletirem sobre o sofrimento em
questão, resgatando a sabedoria dos que já passaram por aquele sofrimento e
possibilitando a outros se prevenirem.
1.
Modelo Crise Contexto
_ _
5 Carta de OMS
Modelo-Crise- Contexto: três palavras que costumam sempre estar juntas.
Toda crise é como um sinal vermelho no trânsito. Por que ele acende? O que ele
está sinalizando? Sinaliza que é preciso parar para esperar que outros passem. Parar para
não sermos atropelados, esmagados pelos que transitam em sentido contrário. Ou ainda,
pode ser um sinal pedindo para avançarmos. Quem estiver atento e fizer uma boa
interpretação do sinal da crise é capaz de compreender seu real significado e conduzir-
me na estrada da vida.
A crise é como o canto da rã que, pressentindo a chuva, der repente, sai do seu
silêncio e começa a coaxar, alertando-nos para a chegada das chuvas.
No sertão nordestino, por exemplo, quando o homem olha para o chão rachado
da secura, ele vê os sinais da seca. Mas, se olha mais para cima e vê uma flor no
mandacaru, ele sabe que a chuva está perto de chegar:
Através dos sinais, podemos entender a natureza e sua ligação com as pessoas. Na
sabedoria popular, que vem do índio, do negro e do colono, existem muitos desses
sinais. Vejamos alguns:
- Muita ventania: sinal de que o tempo de chuva ainda vai demorar a chegar.
5 Carta de OMS
Todo o terapeuta deve estar atento aos sinais que a natureza (os animais, as
pessoas e os grupos) oferece à nossa leitura e compreensão.
É oportuno esclarecer que o valor dos ditados ou provérbios não está no uso
terapêutico que se pode fazer deles. Está, principalmente, no que eles representam em
si: a cultura, a história, a memória, enfim, a sabedoria de um povo fruta de sua longa
experiência de vida.
5 Carta de OMS
Quem cala, consente.
Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come; mas se agente se juntar o bicho corre, a
gente pega, mata e come.
2.Compreendendo a crise
Toda a crise é como um dedo apontando para uma estrela perdida no céu. Quem
olha só para o dedo, jamais verá a estrela.
Crise e Transformação
Pablo Picasso.
5 Carta de OMS
O caos é a matéria-prima de toda construção.
“No princípio Deus criou o céu e a terra. A terra estava sem forma e vazia; as trevas
cobriam o abismo e um vento impetuoso soprava sobre as águas.
No sétimo dia, fez o homem a sua imagem e semelhança: “E Deus criou o homem à
sua imagem de Deus ele o criou; e os criou homem e mulher”. “No sétimo dia, Deus
terminou todo o seu trabalho; e no sétimo dia, ele descansou de todo o seu trabalho.”
(Gn. 1,2)
O que essas passagens bíblicas nos mostram? No início era a crise, o caos, e
Deus pôs em ordem no caos pelo trabalho e criou o mundo. Da lama, da argila construiu
o homem. O caos foi, portanto, a matéria-prima da construção do universo. E o homem
foi feito à imagem e semelhança de Deus. Em que somos semelhantes à Deus? Somos
semelhantes, porque como ser pode transformar o caos pelo esforço, pelo trabalho, e
não pelo milagre. Hoje, cada um de nós é chamado a transformar o caos familiar, social,
econômico pelo esforço coletivo.
Muitas são as coisas da natureza que, para serem criadas, passam por um
processo de destruição e transformação. Para se produzir uma obra de arte, ou escrever
um poema, muitos atos de destruição foram precedentes à criação. Para se fabricar
papéis precisa-se sacrificar árvores. Para se obter tintas é preciso triturar minérios (
como o lápis-lazúli e a azurita para se conseguir o azul; ou moer frutinhas como o
sanguinheiro, para se obter a laca amarela; ou insetos como a cochonilha, para obter o
carmim) Para se fazer tijolos é preciso bater e amassar muito barro e depois levá-lo ao
fogo intenso. Para se produzir um medicamento é preciso arrancar a planta da terra,
triturar, moer, ferver, fazer surgir uma nova fórmula.
Poder falar da dor pode ser um fator importante para a reconstrução da vida.
Uma crise bem aproveitada pode transformar o caos em matéria-prima para o
crescimento humano, para o crescimento do próprio grupo e de toda a comunidade.
5 Carta de OMS
As crises não acontecem por acaso. Elas sempre fazem parte de um cenário, de
um contexto familiar, comunitário me social.
As crises vividas por um indivíduo, de uma forma ou de outra, vão ter eco, vão
repercutir entre seus familiares, entre seus amigos e colegas e em sua comunidade. Por
isso, é importante considerar a crise não como um fato isolado, mas como parte de um
determinado contexto. A crise se nos manifesta diversos sistemas de relações.
SISTEMAS RELACIONAIS:
Variáveis (aspectos que devem ser considerados ou para mais ou para menos, de
acordo com cada caso).
Pessoa
Família, amigos, vizinhos e natureza das relações com pessoa em crise (coesão,
padrões de comunicação, papéis e responsabilidades, flexibilidades e franqueza,
valores).
Comunidade
Cultura ou sociedade
5 Carta de OMS
- Falta de criatividade. Quando este presente nas crises, a falta de criatividade
faz com que as pessoas tentem resolver seus problemas utilizando as mesmas soluções
de sempre.
É muito importante ter em quem se apoiar nos momentos difíceis. Poder contar
com os amigos e vizinhos atenciosos e solidários. Receber visitas de membros da igreja
ou sindicato, sentir que não se está só na dor em si já é um grande conforto. Nesse
ponto, os massoterapeutas têm uma grande importância para a comunidade. Poder
receber uma massagem nos momentos de muito estresse é um recurso valioso.
5 Carta de OMS
O perigo ou risco surgem quando a crise paralisa as pessoas, as famílias e as
comunidades, fazendo com que se perca a confiança uns nos outros. Quando se chega a
esse ponto todos se isolam e ninguém mais assume responsabilidade por causa alguma,
nem por si mesmo, nem pelos outros.
Por outro lado, a grande oportunidade que a crise nos traz é poder refletir sobre o
que erramos. Ela nos possibilita rever nossos relacionamentos, buscar novas formas de
agir e de nos relacionar. As crises nos forçam as mudanças, rompem nossa acomodação
e nos fazem avançar na caminhada. Para tento, temos que ter humildade e reconhecer
nossas falhas, nossos equívocos. É a queda da água de uma cachoeira que dá forças ao
rio.
GANDHI
Tudo que se manifestam todos os sinais que surgem, por exemplo, o choro de
uma criança, a depressão que chega e fica são formas de comunicar, de dizer que
alguma coisa não vai bem, que a situação não está mais dando pé. São sinais de uma
crise e apontam para uma oportunidade de mudar para melhor. Mudar para melhor é o
que chamamos de salto qualitativo!
Como a vida é dinâmica, sempre vamos passar por várias crises. Daí a
necessidade de descobrirmos maneiras criativas de lidarmos com elas, de criarmos uma
pedagogia para a crise.
Os tempos mudaram e o que antes levar muitos anos para se transformar, hoje
muda em um piscar de olhos. Como o contexto social e cultural é mais dinâmico, nossos
modelos têm que ter rodas, isto é, têm que ter mecanismos que nos permitam
acompanhar as mudanças. Precisamos desenvolver nossa capacidade de adaptação às
mudanças e às crises. Quando nossos modelos de tratamento das crises e das mudanças
não correspondem às novas exigências do contexto, nos perdemos diante das crises.
E logo surgem as perguntas e os questionamentos: “mas por que este sapato não
entra mais no meu pé? O que aconteceu? Encolheu! Mas esse sapato me foi dado pelo
Papa! Foi-me dado pelo Santo! Foi-me dado pelo Freud!”
5 Carta de OMS
Mesmo assim, que tristeza! Não serve mais para o pé...
Se continuarem insistindo: “Ah! Jamais jogarei meu sapato fora!, terão que
perceber que só há uma maneira de continuar usando o sapato: cortando os dedos para
que o pé caiba no sapato! O jeito, então, é partir para a multiplicação. Mas como o pé é
mais importante que o sapato, o que a gente deveria fazer? Jogar o sapato fora e
comprar um que nos deixe confortáveis.
Para que haja melhoria na qualidade de vida, políticas públicas deveriam ser
implementadas como a da reforma agrária e outras que possam aumentar a renda da
família e combater o desemprego. Os filhos precisam entender o contexto porque, caso
não entendam, vão culpar os pais pela falta de alimentos.
5 Carta de OMS
Um novo contexto pode ser imposto de cima para baixo, junto com o modelo
correspondente, sem levar em conta a cultura e as referências importantes para a
identidade das pessoas.
O que somos passa pelo que acreditamos pelo que gostamos de comer, pelo que
gostamos de ouvir, pelo que gostamos de vestir, pelo que admiramos e amamos.
Hoje, a tecnologia diz que o Saci Pererê e a Caipora, ou qualquer outro mito da
floresta, não existem mais. O respeito à sabedoria dos mais velhos, à tradição
desapareceu ou foi desvalorizado.
Isso tem sido o sinal verde para a depredação e a destruição. Mesmo que se diga
que a floresta é o pulmão da humanidade, não se deu uma explicação que tivesse uma
relação com a cultura.
Não faz muito tempo, as casas dos pobres eram cheias de santos de madeira, de
baús velhos, de ferros de engomar a carvão. As casas dos ricos eram todas modernas: os
santos eram de gesso, pintados recentemente e tudo era elétrico. E, der repente, houve
uma intervisão de valores: tudo que era pobre e velho foi parar na casa do rico. Hoje em
dia, você chega na casa do rico e encontra o oratório de madeira e seus santinhos, o
velho ferro de engomar de carvão agora é peça de decoração! O que dizer da antiga
máquina de costura de pés de ferro bordados que o pobre jogou no lixo porque achava
5 Carta de OMS
feia, ultrapassava e sentia vergonha de possuir? Como explicar o lugar de honra que
agora ocupa na nobre sala de estar da burguesia?
É muito prático e cômodo, em uma crise, nos sentirmos vítimas, achando que o
satanás é o responsável pelo nosso sofrimento, ou ainda, que tem alguém nos
perseguindo. Se formos vítima sempre pode esperar pelo surgimento do Salvador.
5 Carta de OMS
Se forem doze idiomas porque eram doze apóstolos, não importa. O que importa
é que, mesmo falando línguas diferentes, falavam sobre a mesma coisa, o mesmo
conteúdo, a mesma referência, que é o amor libertador de Deus.
Como já vimos no decorrer deste manual, para nós não existe uma relação
causa-efeito entre o fator precipitante - gota d‟água - e a crise. Diante de uma mesma
situação – problema, algumas pessoas ou famílias se sentem emocionalmente
ameaçadas e entram em crise, outras não.
5 Carta de OMS
1º etapa: Cada pessoa escolhe um problema e 2º etapa: Cada pessoa apresenta sua ficha
segue as orientações a seguir. para o grupo. O grupo ajudará lançando
perguntas (motes) e completando informações
que irão facilitar na resolução da crise.
Quadro 1: Quadro 6:
Quadro 2 Quadro 5
O que eu senti? Raiva? Medo? Decepção? Este quadro é o mais difícil. Pergunte: Sem
Tristeza? É importante identificar as emoções. dar-me conta, alimentei ou contribui para
desenrolá-lo do problema? Geralmente, as
pessoas se colocam como meras vítimas.
Quadro 3 Quadro 4
Enumere a repercussão na sua família, na sua Busque na sua própria experiência: Quais
comunidade, na sua instituição. as estratégias que utilizei para superar a crise?
Isolei-me? Agi com indiferença? Adoeci?
Agredi?
5 Carta de OMS
Síntese:
É importante perceber que sempre podemos sair fortalecidos após as crises. Para
que isso ocorra, vamos procurar problematizar o contexto. Vamos questionar nossos
modelos, identificar os sinais, tentar entender nossas atitudes. Vamos tentar decifrar os
símbolos, os sentidos e os pensamentos que estão presentes em nossa forma de nos
comunicar com os outros. Lembre-se de que toda convicção pode ser uma prisão. As
emoções fortes, as paixões podem diminuir nossa capacidade de reflexão.
5 Carta de OMS
CAP. 5
A Força da comunidade:
Devido à forma como a nossa está organizada, raramente, os grupos agem como
um todo. Mas uma parte consegue defender interesses comuns, amplos, complexos,
abrangentes, buscando o bem-estar social.
O fio, com o qual se tecem as relações sociais, vem do que somos, do que
pensamos da forma como agimos. Vem da nossa identidade construída a partir de toda
nossa bagagem de vivências, sejam elas afetivas, sociais, profissionais ou espirituais.
Como as aranhas, em comunidade, somos capazes de construir novas teias, novas
5 Carta de OMS
relações, tecendo os fios do nada, ou, aparentemente, do nada. Porque tecemos a partir
de algo invisível que existe dentro de nós. Algo que, mesmo não sendo palpável,
constrói e dá forma ao nosso viver. Tecendo as teias usando nossas linhas da vida como
um ato de amor ao próximo.
_Grupos Esportivos.
_Áreas de Lazer
_Hortas Comunitárias
_Delegacias
5 Carta de OMS
_Organização Sindical.
_Partidos Políticos.
_Transportes coletivos.
_O que é produzido?
5 Carta de OMS
_As pessoas lêem jornais ou outro material de leitura?
_De que forma é utilizada a sabedoria que não é adquirida na escola, mas na
tradição e na experiência de vida?
Grande parte das pessoas que mora nas favelas e bairros periféricos veio (ou é
descendente) do interior, do sertão, da roça e teve que deixar sua terra por necessidade
de sobrevivência. Essas pessoas foram forçadas a romper, bruscamente, com seu quadro
de valores, com sua forma de vida, sonhos e aspirações.
2- A força da participação:
5 Carta de OMS
Um espaço apropriado para iniciar a prática da participação, junto com outras
pessoas, é a família. Da família para a comunidade é um salto. Participar das grandes
decisões da sociedade é uma exigência posta para nós, cidadãos, todos os dias.
Assim como o carro não anda sem gasolina, não existe comunidade sem
participação. A participação é a alma do trabalho comunitário e de toda a transformação
social.
Conseguir motivar um grupo a agir junto não é uma tarefa tão fácil e exige
habilidade. Não se pode agir apressadamente. Quem não conhece a expressão que diz
ser a pressa inimiga da perfeição?!
Qualquer que seja nossa luta (por moradia, saúde, educação etc.), deveu buscar o
desenvolvimento global, sistêmico, da família e da comunidade. O que nos dirá se tal
desenvolvimento está acontecendo é o estado em que se encontra a pessoa humana. O
seu desenvolvimento integral é a medida de todas as coisas.
5 Carta de OMS
De que maneira o trabalho comunitário pode correr o risco de criar novas
dependências? Se estiver acontecendo, que medidas precisam ser tomadas com a
participação de todos?
Vejamos o exemplo:
*envolvimento do raizeiros;
O agir comunitário nos torna ainda mais atentos, dando-nos condições de olhar o
contexto, as relações humanas de forma mais questionadora, mais crítica. Quando
formos capazes de sentir que sozinhos não realizaremos grandes coisas, perceberemos a
importância que tem a nossa participação.
5 Carta de OMS
4- “A participação desperta o senso de responsabilidade pelo projeto”.
Muitos projetos fracassam porque a comunidade está ausente nas horas em que
as decisões são tomadas. Nesse caso, ela sofre muito mais as conseqüências das ações
dos técnicos ou lideranças do que se beneficia de seus resultados.
“Existem pessoas que sabem, e sabem, e sabem que sabem. Existem outras que
sabem, e não sabem que sabem. E existem aquelas que não sabem, e não sabem que não
sabem.”
5 Carta de OMS
elas que vivem os problemas e as soluções. Por essa razão, precisam dispor de
autonomia para tomar decisões.
Diante de uma situação dessas, como evitar que a organização comunitária sirva
de trampolim aos pára-quedistas em busca de autopromoção?
Como demarcar este tipo de atitude? De que forma a comunidade pode libertar-
se de um líder ávido de poder pessoal? Como desarmar esses mecanismos de
manipulação do outro?
Por vezes, esses espaços de integração são ocupados com discurso de chefes,
que têm facilidade de falar e manipular pessoas que ficam impressionadas com o que
ouvem. Se isto acontece, o espaço terapêutico, criado para ser espaço de palavra e
escuta, vai reproduzir o ambiente das fábricas, onde o barulho das máquinas e a
dominação dos chefes anulam a vez e a voz do humilde e do operário. Esta é uma ótima
oportunidade de reconhecer o líder manipulador e o chefe opressor que agem como
máquina barulhenta e que reduzem ao silêncio a voz dos que são por eles desvalorizados
e que, na maioria das vezes, são os que mais necessitam falar.
O terapeuta comunitário deve silenciar. Ele silencia para que outros possam
exprimir suas inquietações, frustrações, realizações e descobertas. Aquele que conduz
uma Terapia Comunitária precisa ter consciência da dificuldade dos outros. Deve, ainda,
estar sempre atento ao seu papel de facilitador de expressões, pois ele assume,
permanentemente, a figura do parteiro de soluções, parteiro de um parto coletivo que
desperta o desejo e a oportunidade de participar.
5 Carta de OMS
Não é difícil perceber que nosso modelo social é baseado em uma hierarquia de
valores. Essa hierarquia determina uma escala, onde estão por cima os que sabem os que
devem falar ensinar, mandar. Embaixo ficam aqueles que “sabem, ou muito pouco
sabem”, e por isso deve limitar-se a ouvir, a seguir os ensinamentos e as ordens.
O líder educador ou técnico educador que queira romper com esse modelo e
libertar as pessoas precisa submeter-se a uma verdadeira reeducação e redescoberta do
seu papel, de sua função, bem como, do valor do outro. É de fundamental importância
reconhecer que mesmo o calado possui experiências e vivências, também importantes,
para o seu aprendizado e libertação.
É preciso ter humildade e consciência para verificar que o poder não está
naqueles que sabem manipular as palavras e as pessoas, mas nas mãos dos que sabem
escutar, dividir, estimular, integrar e que querem participar.
5 Carta de OMS
Significou, também, fazer de uma experiência que não alcançou o objetivo desejado
numa oportunidade de aprendizado.
Sabe-se que a aprendizagem é um evento pessoal. Cada pessoa tem a sua forma
própria de aprender, seu ritmo, sua percepção e a sua forma própria de dar retorno
daquilo que foi aprendido. A noção de erro ganha, assim, uma nova conotação nesse
contexto de valorização das experiências. Todas as ações e atitudes podem ser
aproveitadas com o objetivo de enriquecimento pessoal e coletivo.
3- A avaliação:
“O homem que não tem presente sua história na memória, arrisca repeti-la várias
vezes”.
5 Carta de OMS
Canudos. O mesmo fenômeno de ocupação desordenada, miséria e abandono se nos
repetiu outros dois centros fornecedores de escravos: Bahia e Minas Gerais.
O lote que ocupam não é deles. Eles ocupam, procurando algo em que se fixar.
Seu desejo e sonho é o da integração à sociedade. Sua primeira tentativa, nesse sentido,
é fixar-se na terra, construir um barraco. Começa, então, uma verdadeira via crucis.
Aqueles que possuem algum laço de amizade são recebidos, provisoriamente, na casa de
amigos. Por isso é comum, em favelas e bairros pobres, num espaço de 12 m², viverem
cerca de 17pessoas, pertencentes a mais de três famílias. A casa é pequena, mas de três
5 Carta de OMS
famílias. A casa é pequena, mas o coração e a necessidade são grandes. A grande
maioria, contudo, ocupa terrenos destinados à especulação imobiliária.
4.1- Habitação
A primeira preocupação dos que vivem nas cidades é conseguir um lugar para
morar, um pedacinho de terra, um lote mínimo, mas que permita a construção de um
barraco. Mas a terra, como vimos, está reservada à especulação imobiliária. Mesmo
quando se consegue levantar o sonhado barraco, surge uma nova ameaça: a chuva, que
na roça era motivo de alegria e esperança, na cidade, torna-se um inferno, podendo
inundar e destruir a precária construção. Soma-se a tudo isso a violência dos desejos e
expulsões, e seus moradores acabam descobrindo que na cidade não existe espaço para a
vida, resta, somente, a opção de resistir, recomeçar, talvez, em outra favela, sempre
perseguidos pelo fantasma do medo, da repressão e da expulsão.
Dessa forma, esses indivíduos compreendem logo que o novo contexto tem suas
regras e exigências. Tentam improvisar tudo: casas, respostas, relacionamentos, tudo na
expectativa de superação desse novo desafio.
4.2- Emprego
5 Carta de OMS
A cada dia, eles seguem o mesmo ritual: acordar cedo, com as esperança no
coração; caminhar pela cidade, em busca de uma oportunidade; bater em portas
fechadas e voltar, à noite, com fome, cansaço e sem trabalho. Mas a barriga não pode
esperar, ela precisa de alimento. A prioridade passa a ser “procurar o que comer”.
O que resta de energia e força é gasto à procura de comida. Os pais são capazes
de se submeter a tudo para conseguir comida para seus filhos. Na busca de ocupação
para conseguir o pão, pai e mãe deixam, diariamente, sua casa. Cada um, seguindo um
caminho diferente. E os filhos? Estes, quando não ficam sob cuidados de uma irmã mais
velha, são deixados na casa de vizinhos, em creches, quando há vagas, ou então,
também vão à luta, à procura do que comer, seja mendigando ou limpando pára-brisas
de carros nos sinais e esquinas da cidade.
Às vezes, nem vale a pena voltar para casa. Meninos e meninas acabam
dormindo pelas ruas, cada um procurando “se virar”, sobreviver. As crianças
abandonam muito cedo a infância. Assim, nascem os meninos de (na) rua.
É a família que agoniza, é a família que se despedaça, com cada um indo para
um lado. E a sociedade assiste indiferente, à desagregação daquilo que considera sua
célula mãe.
4.3- Saúde
A fome tem pressa e a barriga não pode esperar. Viver nas piores condições de
moradia, falta de saneamento das comunidades, tensão emocional provocada pela
insegurança constante e violência urbana fragilizam a saúde do corpo e da mente.
4.4- Violência:
5 Carta de OMS
Nos conflitos conjugais, a violência física entre homens e mulheres (apesar de
não ser um privilégio dos pobres e excluídos) é muito freqüente. Além de vítimas
freqüentes da violência, as crianças sofrem por estarem imersas nessas situações de
conflitos e tensões.
4.5- Frustrações:
Muitos deixam suas casas, suas terras, em busca da cidade grande sonhando com
grandes oportunidades. Pouco a pouco, descobrem que os seus sonhos, as suas ilusões,
transformaram-se em miragens, no grande deserto das grandes cidades. E, assim, as
expectativas não correspondidas desencadeiam um sentimento de frustração que
conduz, facilmente, o homem para a violência, para as tentativas de suicídio ou, ainda,
para a busca de compensações no álcool e nas drogas.
É neste contexto que muitos se mobilizam para não perder esta guerra interior,
para manter viva a esperança, a crença em seus valores, para poder salvaguardar uma
identidade ameaçada.
5 Carta de OMS
esta crise desperta um esforço criativo e um desejo de integração social muito grande
sejam através de inúmeros cultos religiosos ou movimentos associativos.
“Eu não deveria ter recebido aquela cesta. Só trouxe confusão lá em casa e você
é o culpado disso. Depois da cesta entrar lá, minha filha vive brigando comigo porque
ela não recebeu também”.
Na realidade, esse exemplo ilustra uma forma de lucrar com a miséria. Fazer da
carência um meio de conseguir mais, culpado a pessoa que deu e obrigando-a a dar mais
para não sentir culpada.
2- A internalizarão da miséria
Se durante toda a vida uma criança ouviu que ela por ser cabocla, negra, pobre,
favelada – é preguiçosa, vagabunda, feia, desajeitada, não serve pra nada – acaba
acreditando em todos estes preconceitos produzidos por uma educação repressora e por
uma sociedade preconceituosa.
5 Carta de OMS
O resultado desse processo de desvalorização do outro pode ser visto quando
encontramos pessoas sem auto-estima, pessoas que não acreditam em seu valor e em sua
capacidade de ser gente e, assim, poder contribuir com as transformações sociais.
Quando aparece uma chance dessa pessoa arrumar um emprego, por exemplo,
ela inconscientemente, sofre com as inseguranças e as dúvidas sobre sua capacidade e
desempenho.
3- A Violência
Sabemos que a lei da violência impera em nossa sociedade: “Se bate, se quebra,
se grita, se mata...” Faz-se valer a lei do mais forte: “Dente por dente. Olho por olho.”
5 Carta de OMS
O combate à violência precisa ser feito em vários níveis:
A fofoca
Até chegam a dizer: “Eu entendo o teu sofrimento... meu marido também é
assim”. Dá uma vontade de abraçar, de dirigir uma palavra... De dizer uma frase... “De
fazer alguma coisa por aquela pessoa.”
Gera-se um sentimento de partilha que permite que a dor do outro nos lembre de
nossas próprias dores, de nossas próprias chagas. Este sentimento partilhado vai criando
um cimento que une o grupo, até que surja uma emoção positiva, uma emoção que tem
valor de cura para o indivíduo e para o grupo.
5 Carta de OMS
então, o suposto lado pitoresco e anedótico da fofoca. A graça e a piada desaparecem.
Resta somente o lado humano.
Como ter privacidade individual em uma casa sem divisórias e portas internas
onde convivem 12 pessoas? Onde a proximidade com os vizinhos nos obriga a partilhar
os sons, os cheiros e as visões? Onde, sem que queira, sabemos tudo o que se passa na
casa ao lado/ Os vizinhos está tão próximo que ouvem os gemidos uns dos outros;
sabem se brigaram se deixaram de brigar... Todo mundo sabe da vida dos outros.
Quando um menino briga, ouvem-se logo os gritos: “Meu filho!”. Todo mundo
logo entende o que esta se passando.
Nas casas não existe o direito individual ao espaço, ele é comum e deve ser
dividido de forma pacífica. O que nem sempre acaba ocorrendo. A proximidade física
também implica numa proximidade emocional, não se podem esconder os sentimentos e
as emoções. É tudo muito aberto e está ao alcance dos olhos e ouvidos.
Isso não quer dizer que as pessoas de comunidades pobres não tenham seus
momentos de privacidade e deles necessitem para recuperar o espírito.
Apesar de tudo, é interessante observar que 80% dos problemas pessoais podem
ser discutidos com o grupo. No grupo temos uma excelente ocasião para socializar as
perguntas e as respostas. O problema trazido por alguém pode ajudar o grupo a se
consolidar e a se transformar. Não se trata de ter uma terapia (individual) destinada ao
rico e uma terapia pública (comunitária) destinada ao pobre.
6- A imprevisibilidade:
O tempo das pessoas excluídas é vivido um dia por vez. Não dá para se prever o
dia de amanhã. Vive-se o dia-a-dia com aquilo que se tem.
5 Carta de OMS
A preocupação maior é com o presente, com o aqui e agora: “O futuro? Esse a
Deus pertence”.
Talvez este investimento com o presente siga uma espécie de “lógica do agir
cotidiano”. Se hoje se dispõe de dinheiro para comprar vinte tijolos para levantar uma
casa, compram-se os tijolos. O cimento fica para quando aparecer mais dinheiro.
Quem pode planejar e controlar o tempo pode achar insensato que se comprem
os tijolos se não se tem com que comprar o cimento.
A noção de tempo para estas populações é bem diferente da noção de tempo para
as classes médias e altas. Se pensarmos nos meses que virão, nos anos futuros, eles
pensam no dia seguinte, na hora presente.
5 Carta de OMS
Esta capacidade pode existir em estado latente. Mas, conforme a história de cada um,
ela pode se transformar em um processo ativo de resistência à destruição e de
construção de uma vida contra a diversidade.” (Vanistendael, 1995).
Os nomes das ruas evidenciavam as histórias dos excluídos e das lutas que
condicionavam novas casas e lembrava que a luta deveria continuar, que a resistência
não deveria ser destruída como as casas. “Rua Grito de Alerta”, de onde partiam os
alertas: “Lá vem a polícia vamos resistir...”
Quando fui convidado a intervir como psiquiatra nesta favela, me dei conta de
que o arsenal de medicamentos da psiquiatria moderna não poderia ser a única arma na
luta contra os efeitos de um contexto social e político desagregador e mutilador de
indivíduos.
Em meus primeiros contatos com a comunidade foi preciso explicar que eu não
estava ali para passar remédios para os nervos, mas para, junto com as pessoas, refletir
sobre seus sofrimentos, suas causas e possíveis soluções.
5 Carta de OMS
Brasil. Foi um momento muito significativo para todos nos. Após 21 anos de trabalho,
com muita dedicação e esforço, recebemos este reconhecimento inestimável. Foi um
estímulo a continuarmos nesta perspectiva.
Esta situação é semelhante ao trabalho da aranha que tece teias invisíveis, porém
fortíssimas. Este trabalho tem se tornado referência para os deslocados da sociedade,
porque permite agregar os sem - rumo e perdidos, abre um espaço de expressão para os
que sofrem, é um suporte e apoio que permitem a muitos nutrirem-se do que ali se
constrói.
A cultura é como uma teia invisível que integra e une os indivíduos. Se assim
agi foi por acreditar que a melhor prevenção é manter o indivíduo ligado a seu universo
cultural e relacional, pois é através da identificação com valores culturais e relacionais,
pois é através da identificação com os valores culturais de seu grupo que o indivíduo
nutre-se e constrói sua identidade. A cultura para o indivíduo é como a teia para a
aranha.
Síntese:
5 Carta de OMS
A participação é a alma do trabalho comunitário e de toda transformação
social.
A participação:
Permite a adoção de técnicas adaptadas culturalmente
É fator de conscientização
1. Agir juntos
2. Ponto de partida
3. Senso de responsabilidade
4. Garantia de atendimento às necessidades
5. Valorização de conhecimentos e competência
6. Mais confiança. Menos dependência
7. A consciência em participar
Pretexto pedagógico - quando e como utilizar
Quais os efeitos na comunidade de uma avaliação participativa?
CAP 6
Pensamento Sistêmico:
_ O que é um sistema?
5 Carta de OMS
1-Uma pequena explicação:
O pólen é uma espécie de um fino pó que existe nas flores. É trocado entre os
órgãos genitais femininos e masculinos das plantas e permite sua reprodução. O Pólen
tem a função de fecundar as flores e produzir os frutos. O vento, as abelhas e outros
insetos, alem dos morcegos, são importantes veículos de pólen entre as flores de várias
plantas.
5 Carta de OMS
importante que o comportamento de qualquer pessoa ou dos sistemas que ela forma só
pode ser compreendido a partir dos contextos nos quais se dão.
Vimos que existem sistemas que são formados por vários subsistemas. Será que
a explicação pára Por aí mesmo? Não! Além do subsistema e do sistema, temos o supra-
sistema ou sistema de sistema. Como o exemplo a seguir, fica fácil entender o que seja
supra- sistema. Mas, não podemos perder de vista a ligação entre uma coisa e outra, de
acordo com o objetivo que queremos alcançar. Isto porque, na vida, nada está separado.
Será que isso é importante para o nosso trabalho? Claro que sim! Saber
reconhecer, identificar cada nível vai ter repercussão na forma como vamos abordar o
problema que queremos resolver. Por isto, devemos sempre perguntar:
No entanto, não podemos esquecer que toda organização humana pode ser
considerada como um sistema. Se adotarmos essa forma de compreender o
comportamento humano, toda situação-problema deve ser vista e tratada como inserida
em um dado contexto. Se não percebemos a questão dessa forma, nosso trabalho dar-se-
á de forma mecânica, uma vez que desconsiderará as três dimensões presentes em todo
sistema: relações, contexto e processo.
5 Carta de OMS
De que adianta cuidar dos filhos sem cuidar da mãe, do pai, da família, da
comunidade, da sociedade, sem cuidar do mundo que partilhamos com o resto da
humanidade?
1.2- O contexto:
Se, por outro lado, o nosso campo de trabalho é a família, o contexto será a
família. Em nossas Terapias Comunitárias, seja qual for o contexto escolhido, ou
surgido da própria realidade, e ele será sempre tratado como parte de um sistema.
O contexto, seja ele qual for, deve sempre ser considerado se quisermos
compreender o funcionamento de um sistema. Desta forma, o contexto compreende o
conjunto das circunstâncias e sistemas que estão ligadas umas às outras e que dão
sentido ao funcionamento do sistema.
Toda situação-problema deve ser vista em seu contexto, caso contrário, nos
perderemos, ficaremos desorientados. Por exemplo: no caso de alguém que fala de seu
sofrimento, nós só seremos capazes de compreender sua dor, se formos capazes de
visualizar o contexto em que esta pessoa se situa.
5 Carta de OMS
Qual é o seu contexto? De uma comunidade rica ou de uma comunidade de
excluídos de todos os direitos sociais? Quem faz parte dele? Como se relacionam?
Como se organiza a sua comunicação? Em que momento de seu ciclo vital essas
pessoas se encontram? Quais os significados dos seus sofrimentos?
O texto das comunidades pobres é marcado pelas perdas. Esta é uma referência
que nós temos para compreender a situação das pessoas (nossos companheiros)
marginalizada.
Um rapaz disse-lhe que havia roubado uma corda. Se o padre tivesse procurado
saber em que contexto ocorreu o furto, ele não teria dito, simplesmente, que roubar uma
corda “não é tão grave”. Na verdade, o rapaz havia roubado uma corda que tinha atrás
um cavalo, e, atrás do cavalo, uma carroça com a mudança do Seu Manoel. Se tivesse
abordado todo o contexto, teria percebido que não se tratava apenas de uma corda.
5 Carta de OMS
somos só nós que estamos atentos para compreender os contextos. O grupo que
participa das terapias, também, precisa entender o contexto em que estamos inseridos e
nossas motivações.
1- Características:
Mesmo que o sistema seja composto de vários elementos ou de várias partes, ele
funciona como um todo, com total independência. O comportamento de cada elemento
ou de cada parte de um sistema tem influência no conjunto, no todo, e vice-versa: o
comportamento de todo irá influenciar modificar e alterar cada parte componente deste
todo. Como entender a situação de uma família, se não somos capazes de enxergar o
problema de desemprego do pai, do subemprego da mãe, da desesperança dos filhos...
É muito importante saber que o sistema não se resume á soma das partes.
Para se compreender um sistema, não basta conhecer as partes isoladamente. A
sociedade brasileira não é a soma de suas favelas, bairros de periferia, vilas
rurais, bairros chiques. O bairro não é a soma da escola, da creche, da
associação, da igreja, da fábrica. Esses elementos não se somam. Do mesmo
modo, o nosso corpo não é a soma do aparelho digestivo, do aparelho
respiratório etc.; o sistema solar também não é a soma dos vários planetas, das
várias estrelas.
Por que o sistema não é a soma das partes? Seria a família a soma do pai,
da mãe, dos filhos? Isto é um absurdo, não é? Mas, cada filho herdou
características importantes de sua mãe e de seu pai e avós e mantém, com eles, a
relação de vínculos de afeto. No entanto, a família é muito mais do que as
relações de parentesco, ela é a toda a globalidade. Cada membro da família (pai,
mãe irmãos) é um elemento, é parte desse sistema integrado e globalizante, cujas
relações apresentam uma dinâmica própria.
No sistema, tanto a parte faz parte do todo, como o todo faz parte de cada
parte, ou melhor, o todo está presente nas partes. Parece até um jogo de palavras,
mas não é. O que define um sistema é a relação das partes com o todo e de todo
com as partes, por isto, dizemos que um sistema é mais do que a soma das
partes.
5 Carta de OMS
Vejamos três exemplos para melhor compreensão.
O exemplo da água
5 Carta de OMS
“Minha mãe foi à pior mãe do mundo. Ela batia na gente. Certa vez ela
amarrou meu irmão mais novo pelos pés e deixou toda uma noite pendurado
numa mangueira e no dia seguinte ainda deu uma paulada na cabeça dele que
cortou, mais tarde a ferida virou uma bicheira. Hoje ela morreu e o inferno é
pouco pra ela pelo que ela fez com a gente”.
Eu queria hoje dizer para vocês que lamento que ela tenha morrido sem
que eu tenha dito para ela que compreendia seu sofrimento e sua maneira de
cuidar da gente. Eu não sou mais o mesmo desde a semana passada. Percebi que
estou fazendo com meus filhos o mesmo que ela fez comigo. Vou reunir meus
filhos casados e pedir perdão pela minha dureza na maneira de educá-la.
Aqui podemos observar que esse senhor tinha uma convicção de que sua
mãe era má a partir das informações que ela tinha. Quando ele acolheu outra
leitura, “minha mãe não podia dar o que desconhecia” veio a dúvida que
permitiu a mudança. Esta nova informação foi à molécula de oxigênio que a fez
mudar da água para o vinho. Quando acolhemos uma nova informação, ela
provoca uma mudança bem maior do que se espera. É por isso que, muitas
vezes, uma só terapia pode desencadear um processo de descobertas e
superações.
Na Terapia Comunitária acontece muito isso. Cada pessoa chega com sua
convicção, com uma visão do problema e sai com cinco, seis ou sete leituras
possíveis. E essas visões ou opiniões, que nasceram da participação de cada um,
podem resultar em uma nova forma de ver o problema, podem, até, apontar para
uma nova solução.
5 Carta de OMS
Mais do que a simples soma, ocorreu uma transformação, uma
multiplicação, como se dois mais dois resultassem em dezoito.
A união dos elementos de um sistema não é feita por acaso. Esta união
segue uma lógica própria.
5 Carta de OMS
Quando a situação esta “pegando fogo”, esta ruim mesmo, o sistema
tenta, de imediato, auto - regular-se. Todo sistema tem vários atributos e, um
deles é a capacidade de autocontrole, ou seja, de regular as interferências e de
ajustar-se às demandas do meio, garantido a sua continuidade e homeostasia.
Isto quer dizer que um sistema como, por exemplo, uma família, dadas as
devidas condições, tem capacidade de gerar recursos para fazer frente aos
desafios do cotidiano mantendo a sua integridade como família.
Como pedra com pedra, em atrito, produz, trazendo luz e calor, trazendo
esclarecimento, permitindo enxergar longe, também, idéia com idéia traz
claridade, traz iluminação e as pessoas começam a compreender seu contexto e
as soluções para seus problemas. Toda comunidade, grupo, família ou pessoa é
capaz de encontrar soluções para os seus problemas. Por quê? Porque nós temos
certeza, pela abordagem sistêmica, que todo sistema tem essa capacidade de
autocontrole, de auto- organização, de autoconhecimento, de auto crescimento,
de autotransformação.
5 Carta de OMS
As informações recebidas do meio externo pelo sistema (no caso, o
familiar), e conduzidas por toda uma energia que flui, permitem que a mulher
prepare o ambiente, acalme os filhos, desligue o rádio, e, assim, mantenha o
equilíbrio.
5 Carta de OMS
Ora, é muito fácil dizer: “Mauro é alcoólatra porque a mulher o traiu.”
Qual a causa do alcoolismo de Mauro? De acordo com o pensamento linear, a
causa foi a traição da mulher. O efeito seria o alcoolismo de Mauro e ponto final.
O pensamento linear pára por aí. Não questiona, não apronta, não procura
ver as relações de Mauro com a família, de sua família com a comunidade, da
comunidade com a sociedade. O raciocínio linear vai e finda, voltando para o
mesmo ponto de partida. Não transforma nada, não estabelece ligação entre os
vários planos e sistemas. O que faz é isolar, delimitado a suposta causa.
Vejamos o exemplo.
5 Carta de OMS
Exemplo 2: Conflito entre vizinhos
5 Carta de OMS
Nesse caso, nós vemos muito bem a noção de casualidade circular. Cada
uma com seu comportamento reforçavam na outra a convicção de ser vítima.
2.6- A finalidade
5 Carta de OMS
forma, quais os significados presentes nas relações que definem as suas
competências?
A família extensa envolvia outras pessoas além dos pais e dos filhos.
Envolvia as avós, tios, primos, afilhados e aderentes. As grandes famílias eram
valorizadas porque representam mais mão-de-obra e mais eleitores. Com o
passar do tempo, as condições de trabalho, principalmente no meio rural, foram
sendo modificadas e as famílias não precisavam mais ser tão numerosas.
5 Carta de OMS
de funcionar, tendo que se adaptar, de acordo com as circunstâncias internas e
externas. Entende-se por circunstâncias internas o nascimento de um filho, a
morte do pai, da mãe, dos avôs, abandono, bem como o contexto específico em
que se dão as relações entre seus membros. E por circunstâncias externas o
desemprego, um acidente grave com um dos seus membros ou algum tipo de
violência.
A crise foi instalada. A crise é uma condição que está presente em todos
os sistemas, inclusive, no sistema familiar.
_ é dinâmica;
Vimos que os retratos da família são como o corpo humano: com cabeça,
tronco e membros. Mas, não é somente o aspecto físico que faz o ser humano. É,
sobretudo, a energia vital, a alma que anima que o vivifica a partir das crenças,
dos valores, da ética, da religião, da postura assumida no mundo. A alma dá vida
ao corpo e o integra, como um todo ao infinito.
5 Carta de OMS
A Terapia Comunitária tem como objetivo revitalizar a família. A crise
da família, hoje, é o reflexo direto da crise da sociedade que concentra a renda,
gera injustiças, condena à miséria e à exclusão populações inteiras.
5 Carta de OMS
_ Como se distribui o poder dentro da família?
A importância da família, para cada um dos seus membros, está, não só,
nas funções que ela desempenha na sociedade, mas na intermediação entre o
indivíduo e a sociedade.
5 Carta de OMS
Esse ditado tanto pode ter uma conotação positiva, quanto negativa. Em
ambos os casos, é preciso considerar que, em determinados ambientes sociais, o
nome da família chega a ser mais importante do que as qualidades pessoais do
indivíduo. Antigamente, isto era mais forte do que é hoje em dia. De qualquer
maneira, até que ponto essa pré-condição imposta, dificulta a descoberta dos
valores individuais?
Aprofundemos mais:
-De onde, portanto, deverá vir a força da família e de cada um dos seus
membros?
- qual deve ser o tipo de apoio que a família precisa receber da sociedade
e do Estado?
5 Carta de OMS
tempo depois, procura caminhar com seus próprios pés e movimentar-se pelos
seus próprios meios. É a nova vida que se ergue. Apoiando-se nos dois pés,
procura o equilíbrio entre esses dois pontos móveis que buscam fixar o homem
na terra e fazê-lo caminhar, em um constante movimento, oscilando entre o
equilíbrio, e o desequilíbrio, e que se expressa na forma do caminhar humano.
As crianças não falam, mas estão atentas a tudo: ao tom de voz, aos
gestos, às cores e aos odores de seu ambiente físico e humano. Para elas, tudo é
comunicação e tudo deve ser decodificado, descoberto e compreendido.
5 Carta de OMS
Elas precisam explorar seu contexto para terem certeza de que,
realmente, chegaram ao lugar certo, que são amadas pelo que são que podem
expressar seus desejos e intenções, sem risco de serem rejeitadas ou excluídas.
Esta atitude é sentida pela criança como uma rejeição a sua existência,
uma vez que não se levam em conta as suas opiniões. Ela começa, então, a
sentir-se como um corpo estranho e o ambiente familiar passa a ser um espaço
de asfixia, de muita frustração e sofrimento.
5 Carta de OMS
Nestas famílias, não há espaço para desabrochá-lo de uma vida. O filho
que chega não é visto como um ser diferente com seus próprios desejos e
projetos. Ele deve se conformar com as regras da família, embora essas regras
estejam a serviço do crescimento de cada um.
“Você está como somos bons para você, faça o mesmo conosco, faça o
que nós estamos lhe pedindo e tudo funcionará muito bem”.
5 Carta de OMS
fragmentadas. Convertem-se no pára-raios das tempestades afetivas que
acometem o sistema familiar.
Nas drogas, busca aquilo que não consegue receber de sua família, de seu
grupo e, assim, a vida torna-se uma busca incessante do prazer e da ilusão
passageira.
Toda educação que não visa a esta transformação fundamental, que não
capacite o indivíduo para que ele explore suas potencialidades, descubra seus
valores, é anti-educação. Mas, por que existem tantos partidários desta anti-
educação? Por que a verdadeira educação, aquela que transforma o homem em
sujeito livre, consciente de seus direitos, participativo e questionador assusta e
ameaça? Por que ameaça? E a quem ameaça? Aos que não se interessam pela
liberdade e pela emancipação dos que estão à margem da vida. Isto porque a
educação transformadora desperta a inteligência do homem, aguça seu senso
crítico e torna o homem dependente e escravo, em um homem independente e
livre. E, este homem transformado, torna-se ameaça para as instituições,
baseadas na exploração do outro, na defesa de interesses privados ou de grupos
minoritários que se enriquecem a custa do suor e do trabalho deste homem,
amordaçado pela ignorância e por uma educação conformista. É sempre mais
difícil manipular pessoas conscientes e inteligentes.
5 Carta de OMS
A família é o primeiro espaço educativo, local em que se desenvolve o
que chamamos de EDUCAÇÃO ESSENCIAL. É na família que a criança
experimenta as primeiras alegrias e frustrações da convivência humana. É na
família que ela deve descobrir que não é o centro do mundo e que é parte de um
grupo. É onde ela aprende que seus direitos terminam, onde começam os direitos
do outro e, assim, pouco a pouco, ela aprende a viver em sociedade.
Da dependência à autonomia
O fracasso escolar dos jovens, a fuga pelo vício das drogas, o apelo à
violência, a depressão, o suicídio, assim como a incapacidade de inserção social
deve nos levar a um questionamento profundo sobre a natureza e a qualidade da
educação que está sendo dada aos nossos filhos.
Nós, pessoas com valores cristãos, não podemos deixar que os jovens e
adultos tenham, como base de referência, apenas os valores da sociedade de
consumo e competição, no lugar de cooperação. Ter no lugar do ser;
individualismo, no lugar do coletivismo; egoísmo, no lugar de solidariedade e de
partilha. Cabe-nos oferecer outros valores, outros princípios de vida que
permitam romper com a falta de perspectivas, para que possamos ter outras
opções e formas de vida social.
5 Carta de OMS
A autoconfiança para responder às necessidades de segurança
5 Carta de OMS
altruísmo, a solidariedade, a abertura de espírito e a formação do sentido do
público, do universal.
Vejamos um exemplo:
Maria, desde pequena, seguia as regras impostas pelos pais. Ela só podia
brincar com os irmãos ou primos. Só saía acompanhada por alguém, mesmo
depois de crescida. Suas roupas eram compradas pela mãe. Ela não tinha direito
de se vestir como alguém da sua de sua idade e época.
5 Carta de OMS
A família aberta demais, por sua vez, pode gerar indivíduos frágeis,
inseguros, sem raízes, o que os impede de desenvolver uma visão pessoal e,
posteriormente, uma visão familiar e comunitária. Alguns de seus membros
desenvolvem uma personalidade “anarquista”. Já outros, devido à carência de
modelos de liderança e de noção de limites, caem, facilmente, nas garras das
pessoas autoritárias. Só agem se receberem ordens específicas.
Por exemplo:
5 Carta de OMS
enraizadas em valores partilhados, não confusos, que permitem a expressão da
identidade individual e grupal.
Vale salientar que mesmo nos modelos familiares mais rígidos e cruéis,
surgem crianças que criaram defesas e alternativas para sua sobrevivência.
Crianças que, apesar de terem vivido em meio às adversidades dos contextos, se
desenvolveram como pessoas emocionalmente bem estruturadas, tendo
conseguido transformar os sofrimentos em competência. Conhece, na pele, a
dureza da vida e tentam sobreviver à sua maneira. No nosso dia-a-dia, nós as
encontramos defendendo seus interesses, fazendo alianças com outros
oprimidos, tentando superar as dificuldades, pedindo esmolas no cruzamento,
5 Carta de OMS
lavando pára-brisas de carro nos sinais ou organizando gangues e arrastões.
(Aprofundamos esse aspecto no capítulo 5).
Você conhece alguém que seja sensível a ponto de dar tudo de si, de
sacrificar a própria vida, de sacrificar seus sonhos, seus ideais, para tentar salvar
o sistema familiar?
“Não consigo mais imaginar minha vida sem vocês. Aqui, eu encontrei
uma família!”
5 Carta de OMS
tem um papel de aprendizado fundamental: estas pessoas aprendem a repartir, a
compartilhar a ser cooperativas.
Lembrete:
Síntese:
_Ser globalizante;
5 Carta de OMS
_o todo é mais do que a soma das partes que o constituem;
5 Carta de OMS
Capitulo 7
A teoria da comunicação
Muitas vezes, nós não nos saímos melhor na vida por problemas de
comunicação, isto é, ou não soubemos nos comunicar, ou não soubemos entender bem
a comunicação da outra pessoa, do grupo, da comunidade ou, até mesmo, da natureza.
Para que possamos nos comunicar bem, precisamos observar algumas regras
básicas. Aliás, estas regras nós já as conhecemos na pratica. Talvez, não as conheçamos
de forma organizada.
5 Carta de OMS
Vamos agora especificar um pouco mais cada uma dessas regras.
Na maioria das vezes, a comunicação feita por gestos e atitudes ocorre de forma
inconsciente e não intencional.Acontece sem que percebamos.Com atitudes silenciosas,
nós comunicamos mensagens sutis como, por exemplo, “não estou de acordo”, “eu te
detesto”, “não agüento mais”, “se continuar assim, vou explodir”, e tantas outras.Como
a mensagem não é confirmada com palavras firmes e claras, permitidos que o outro
interprete como quiser.Então, perdemos a chance de expressar nossa opinião, de
esclarecer mal-entendidos, pensamentos e sentimentos, indispensáveis á vida em grupo,
á vida comunitária.
Algumas pessoas não participam das reuniões, dos mutirões etc., alegando estar
com dor de cabeça ou apelando para outra desculpa. Qualquer desculpa que seja dada
significa que o individuo esta querendo livrar-se da responsabilidade, do engajamento,
ou sinalizar outra coisa.
Neste caso, a pessoa fez uso de um problema como a surdez, o sono a dor de
cabeça para evitar a comunicação. É por isso que nós dizemos que todo sinal ou sintonia
tem valor de comunicação e sempre esconde alguma coisa que é importante. O terapeuta
comunitário pode criar condições para aprofundar uma situação parecida com as que
exemplificamos, principalmente, quando acontece negação da comunicação. Essa ação
pode ser decisiva para o desenvolvimento do processo terapêutico.
Muitas vezes, a família usa o sintoma como mecanismo para voltar ao equilíbrio.
Vamos explicar de outra forma. Vejamos: Junior esta desinteressado nos estudos, mas
esse desinteresse pode querer dizer algo mais: pode sinalizar um conflito entre seus pais.
5 Carta de OMS
É como se ele tivesse dizendo: ”Professora, ajude meus pais!...” ou “Minha família
precisa de apoio”.
REFLEXÃO
Vejamos:
5 Carta de OMS
”É assim que eu me vejo”. E quer saber: ”Como é que você me vê?” O individuo
B com sua resposta indica: ”Eu te vejo assim”.
Tomando o exemplo anterior, a mãe diria: “Você nada fez que seu
dever”. “E “falando assim, a mãe esta querendo dizer:” Você não tem o direito
de se considerar inteligente e responsável”. Esta atitude gera muito sofrimento
na criança que fica confusa, não se sente aceita e passa a duvidar de si mesma.
Ela não se sentira confiante e valorizada diante de si e dos outros.
5 Carta de OMS
Nesse caso, nega-se a existência do próprio individuo. É como se ele não
existisse. Onde impera a renegação, o individuo tem dificuldade de saber que ele é. Por
exemplo: uma pessoa decide “dar um gelo no outro”, agindo como o outro não existisse.
É por isso que se diz: O pior sofrimento é viver sem ser percebido pelos outros.
REFLEXÃO
1- Você tem confirmado a definição que seus familiares estão dando de você a
cada momento?
2- Você se lembra da ultima vez m que foi confirmado? O que você sentiu?
3- Você já se sentiu renegado? O que sentiu?
4- O que você poderia fazer para estar mais atento ás pessoas que estão
procurando ser confirmadas?
Claudio manda
Joana obedece
5 Carta de OMS
A comunicação entre eles esta sendo pontuada de tal forma que Claudio
da as ordens e Joana as obedece.Até que certo dia há uma mudança.
Epâ! O que é isto? A pontuação esta mudando? Esta sendo, agora, ao contrario?
Claudio ou Joana?
O labirinto é um tipo de bordado vai ter uma flor, uma rosa, ou ramos de
flores, tudo isto tem que ficar assegurado, no inicio. Caso o ponto de partida não
fique determinado, o resultado vai ser uma peça de bordado confusa e de difícil
compreensão. O ponto de partida vai definir a seqüência do bordado.
5 Carta de OMS
Na comunicação entre os dois, poderá haver um novo ponto de partido.
Porém, para que haja conflitos, os dois precisam dialogar, previamente,
estabelecendo um novo acordo.
REFLEXÃO
Você conhece casos parecidos, em que uma pessoa fica acusando a outra,
e esta outra não entende o que esta acontecendo?
Pela cara do rapaz, da para ver que ele não é sincero. Será que a pessoa
esta recebendo o abraço esta percebendo a falta de sinceridade?
Durante abraço, ele piscou o olho e mexeu com a cabeça, e alguém notou
que o abraço não passava de fingimento. Algo foi comunicado, sem ser utilizada
a linguagem verbal. Entretanto, a coisa pode ser mais seria e profunda. A pessoa
que recebeu o abraço, também poderá ter sentido que o outro não era verdadeiro.
As vezes, não é preciso que o outro se valha de sinais verbais para sentirmos que
não esta sendo verdadeiro.
5 Carta de OMS
Na comunicação entre s pessoas, o conteúdo é transmitido na forma de
um enunciado, de uma fala, enquanto os sentimentos envolvidos na relação entre
elas serão, sempre, transmitidos de forma analógica, não verbal. Todas as vezes
que o sentir esta no centro da comunicação, a linguagem falada é menos forte,
menos expressiva.
Uma mulher diz a outra: “Ora essa! Se ele arranjar uma mulher, eu
arranjo um homem. Vai ser olho por olho, dente por dente! ”Temos ai um
exemplo de comunicação simétrica. As duas partes envolvidas, no caso, o
5 Carta de OMS
marido e a mulher, agem, imitando um ao outro. É como se ele olhasse no
espelho, e ao invés de ver a si próprio, visse a imagem da sua mulher. É também
como se ela se olhasse no espelho e o que visse fosse a imagem projetada do
marido. O que um faz, o outro também faz, para se parecerem iguais.
5 Carta de OMS
Se o homem é o I, a mulher tem que ser outra letra complementar da
relação, podendo ser, por exemplo, o R, formando o I + R = IR, isto é, IR juntos,
para algum lugar, para construir uma vida juntos.
Síntese:
5 Carta de OMS
CAP 8
Na Terapia Comunitária, a cura passa pelo resgate das raízes e dos valores culturais
que despertam n o homem o valor e o sentido da pertença.
Esta descoberta histórica mostrou que a grandeza desta busca pela vida e pela
preservação da espécie humana nunca se deixou limitar por nenhuma fronteira, seja ela
geográfica, política, ideológica ou religiosa. Para sobreviver, o homem viu-se desafiado
a ultrapassar fronteiras, a superar seus próprios limites, sempre. Esse homem foi sempre
um peregrino que andou em busca de novas terras, de melhores climas e de novas
alternativas de alimentação. Assim, foram-se espalhando pela Ásia, Europa, Américas.
No começo, movido pela fome e pela escassez de alimentos, o homem foi à caça.
Em seguida, descobriu o cultivo das plantas e, assim, criou a agricultura. Muito tempo
depois, dedicou-se ao comércio e, mais recentemente, à indústria.
Nesta caminhada que começou na África e espalhou-se pela Ásia, geração após
geração, o homem descobriu e povoou novas terras, adaptou-se a diferentes climas,
mesclou-se a outros povos, criou novos grupos sociais. Vencendo as distâncias,
superando obstáculos naturais como o deserto, as altas montanhas, os rios e os mares,
sobrevivendo à neve ou ao calor, resistindo ao ataque das feras, chegaram àquela parte
do mundo que, mais tarde, seria a Europa.
5 Carta de OMS
para seu uso pessoal. A adaptação às diferenças climáticas, os hábitos alimentares, as
uniões matrimoniais e outros fatores foram decisivos nas transformações fizeram a
diferença essencial entre sobreviver ou desaparecer.
Nesta sua caminhada através dos tempos e dos continentes, as diferenças de clima,
localização geográfica, alimentação e hábitos culturais fizeram surgir diferentes raças.
Os povos que vivem em clima quente, como o da África tinha pele escura e grandes
narinas, pois o ar da região em que viviam era quente e não precisava ser aquecido,
podendo entrar, livremente, nos pulmões pelas narinas mais abertas. Já os povos em que
viviam em clima frio, como os da Europa, com menos sol e calor, precisaram adaptar-se
de forma diferente. Sua pele era branca e, para aquecer o ar que entraria nos pulmões,
desenvolveram narinas finas, que dificultavam a entrada desse ar, aquecendo-o por
fricção. Essas mudanças físicas, fundamentais para a preservação das espécies,
manifestaram-se como diferenças na cor da pele, no tipo de cabelo, na formação dos
traços do rosto. Diferenças físicas como mo cabelo loiro, ruivo, preto ou pixaim, a pele
branca, preta, parda ou amarela foram a natural expressão da capacidade do homem
para se adaptar ao meio, para assegurar sua sobrevivência. Desta maneira, surgiram os
diferentes padrões raciais ou etnias, que costumamos chamar de raças. Assim é que, a
raça dos negros, a raça dos de cor amarelada, a raça dos brancos, a raça dos pardos
representam respostas da natureza a favor da perpetuação da vida. A prepotência, a
arrogância e a ignorância quanto a estes fatores criaram a ilusão de que só os brancos
são superiores.
Por esta via de conhecimento, fica fácil compreender que não existe uma raça cuja
forma física seja inferior ou decadente. O que há são apenas diferenças. A estas
diferenças, quando se manifestam na natureza, damos o nome de beleza. Se todas as
flores fossem como as rosas, se todas as borboletas fossem brancas, se todas as árvores,
os rios, os pássaros e as cascatas fossem iguais, enfim, se tudo tivesse uma mesma cor,
o mundo seria monótono. A beleza é o resultado do aprimoramento das leis naturais
para fazer com que cada rosa, cada borboleta, árvore, rio, pássaro e cascata apresentem
sua maneira própria e pessoal de ser. Na natureza humana esse aprimoramento tem um
nome: raça
A procura por alimentos, por meios para se preservar das intempéries e para se
defender dos inimigos, o desejo incessante de melhorar fez do homem um peregrino,
um buscador, um caminhante fazendo o seu próprio caminho. As condições climáticas
adversas obrigaram-no a usar a pele dos animais para se proteger, a descobrir o fogo
para se aquecer. Dividiu tarefas na caça, no plantio, na guerra, no cuidado com os filhos,
enfim, foi contado com a ajuda de outras pessoas que o homem tornou a vida mais fácil.
5 Carta de OMS
Com a ajuda do outro, fabricou utensílios e objetos necessários à manutenção da vida.
Aperfeiçoando o trabalho das mãos, criou ferramentas e instrumentos próprios para o
trabalho, fabricando bens e conseguindo, através da troca, aquilo que não possuía,
iniciou o comércio e, mais tarde, muito mais tarde, criou a indústria. Em grupos, tornou-
se mais forte. Em grupos, foi procurando novos lugares para morar.
“Sem a comunidade, mesmo um indivíduo livre e seguro de si, não pode prosperar
ao longo do tempo.”
5 Carta de OMS
Os índios do tronco Macro-Jê trouxeram como hábito, alimentação básica do
milho e do feijão, hábitos que herdaram das nações ancestrais, andinas e mexicanas,
com as quais conviveram.
Cada uma destas nações já tinha sua cultura: língua, religião, mitos, rituais, sua
maneira de trabalhar, de viver e de ser. Enfim, uma identidade própria, da qual se
orgulhavam muito.
Embora o português seja a língua oficial do país, há pelo menos 200 outras línguas
que são faladas regularmente. Quando os europeus chegaram ao Brasil, existiam mais
de 1.300 línguas indígenas. Hoje, são pouco mais de 180. Apesar do violento processo
de destruição por que passaram, ainda há, hoje, grupos inteiros que só falam sua língua
materna – a indígena.
5 Carta de OMS
mar, antes mesmo da chegada do europeu. Com as naus portuguesas, aprenderam o uso
das velas que, acrescentadas à jangada indígena, deu origem às jangadas usadas até hoje
pelos pescadores nordestinos. Tal espécie de integração entre as culturas deu-se também
em vários outros contextos, o que foi muito útil para a humanidade.
Para os Xavantes, a água, símbolo da vida, era guardado como o mais precioso dos
tesouros. Dentro dela, realizam-se as lutas e a disputa de forças nas brincadeiras
infantis, preparando-se, assim, os meninos para os rituais de iniciação à adolescência.
Para eles, preservar os rios dentro de suas reservas é proteger a própria vida. Foram os
índios os pioneiros na preservação ambiental em nosso país.
O mutirão ou muxirão, como era chamado o trabalho coletivo, era a forma que os
índios utilizavam para construírem as casas, prepararem a terra, colherem, praticando
uma lição de solidariedade e de ajuda a terra, colherem, praticando uma lição de
solidariedade e de ajuda mútua. Havia a troca de experiências, serviços e curas, prática
que persiste até hoje nas comunidades.
5 Carta de OMS
na qual as matas são queimadas para se fazer carvão, lenha, muitas vezes, em terras que
são próprias para o plantio.
Os índios Aruaques, que usavam tangas de barro cozido, davam ao Sol e à Lua o
papel de orientadores ou chefes, deles recebendo ensinamentos, quando vinham à terra
em forma humana ou sob o aspecto de uma aranha. Já os índios Kaxinawás, no Acre,
contam que a aranha é a dona do algodão.
Antigamente, era a aranha quem tecia as roupas dos kaxinawás. Certo dia, uma
mulher reclamou da aranha pela demora em fazer as roupas encomendadas. A aranha
ficou aborrecida e resolveu, daquele dia em diante, não trabalhar mais para as mulheres.
Mesmo assim, ela ensinou à mulher Kaxinawás a fiar e tecer o algodão.
Veja o exemplo da aranha: sem teia, ela é como o índio sem a terra e sem sua
cultura. Um índio, sem sua terra e sua cultura, é como uma aranha sem sua teia. As
pessoas que perdem a sua cultura, que desconhecem suas raízes, não têm mais a rede
que dá valor e significado à vida para se apoiar. Pessoas sem uma família, sem uma
comunidade e quase sem identidade, pessoas tomadas pelas melancolias, pelo
desespero, pelo abandono, mais cedo ou mais tarde, podem vir a adoecer.
Dito isso, vale ressaltar a capacidade resilience de muitas culturas, como brasileira,
de reconstruir novas teias sincréticas, complexas que têm permitido a convivência dos
contrários.
O primeiro equívoco foi o de julgarem que, havendo chegado às índias, o povo que
nela habitava era índio. O segundo, que durou um longo tempo, foi que, tendo os
5 Carta de OMS
colonizadores vindos até aqui para encontrar ouro e outras riquezas, levaram tudo o que
encontraram de valor para Portugal.
Abalados espiritualmente, foi fácil o abate físico. Muitos índios e nações foram
mortos, mas muitos, até os dias atuais, chamam por justiça e pelo resgate de sua cultura.
Em nossa vida cotidiana, ainda que não estejamos conscientes disso, estão muitas das
sementes de sua cultura. Esta herança indígena, guardada no campo do inconsciente, na
forma de sementes guardadas em hábitos e costumes que praticamos até hoje, ainda
podem brotar, e quem sabe, um dia, ser novamente uma poderosa nação.
5 Carta de OMS
Europa. Foi com este espírito de exploração das riquezas que os portugueses chegaram
ao Brasil.
_ A vinda dos jesuítas e sua proposta de catequese nas novas terras, cria uma força
centralizada que reúnem, num só espaço, indígenas de tradições e culturas diferentes.
Todo o modo de ser e de viver do índio é, abruptamente, substituído por uma nova
realidade que, misturando códigos culturais, impõe o código do colonizador. A cultura
do europeu, diante do índio ou gentio desenvolve-se sem sofrer grandes rupturas. E é o
seu modelo, a sua forma de viver e de enxergar o mundo que prevalece sobre a dos
naturais habitantes da terra Brasil is. Esta dominação cultural do branco carrega a
intensidade de uma mensagem, cujo significado é: “minha é a verdade, porque sou
branco, europeu...”
A chegada dos portugueses inicia, porém, uma inevitável troca de culturas entre os
nativos e os europeus. Se, por um lado, o choque de civilizações provocou estragos de
ambos os lados, por outro, propiciou o nascimento de uma nova raça, a dos morenos
mais ou menos claros permitindo a co-habitação de velhos e novos valores.
“Estou pela trilha que leva à aldeia, carregando a cesta nas costas. Os galhos dos
arbustos acariciam levemente meu corpo nu sem deixar sinal na pele. Os brancos são
fracos e tontos. Cada vez que passam pelos arbustos, saem com riscos e sangue na pele,
porque não querem ceder às pontas dos galhos. Não se desviam dos espinhos, parecem
que nem os percebem. Eles não vêem a parte do corpo na qual o galho toca. Forçam
seus movimentos como se estivessem no limpo e, com isso, os espinhos saem vencendo.
Caminho na mata com prazer e vou percebendo as semelhanças das partes de meu corpo
com as plantas. Passo pelo bambuzal e me lembro da história contada pela minha avó de
que a alma de um menino de nossa aldeia se transformou num sopro de música e foi
5 Carta de OMS
morar numa flauta de bambu. Cada vez que esta flauta toca, o menino sai de dentro
dela, livre e feliz, voando por toda parte. Quando a música pára, ele vem descansar
dentro dela. Estou cansada de carregar este cesto cheio de frutos que vim colher no
mato, mas logo, ali adiante, vou descansar o corpo e banhar-me. Atravesso o mato alto e
chego ao riacho. Entro na água e nado um pouco. Nós, índios, nadamos de forma
natural, como os animais costumam nadar. Saindo da água, esfrego meu corpo inteiro
com folhas verdes dos arbustos que crescem à beira do riacho, ponho o cesto nas costas
e vou caminhando na direção da aldeia. Perto, esfrego um pouco de fuligem de carvão
no nariz, na face e perto das orelhas. Vou passar no meio da aldeia e não quero que os
outros digam que não cuido de minha aparência”.
Este relato do cotidiano de uma índia nos dá uma idéia da visão dos índios sobre o
homem branco.
7-Os Brancos
Vindos de uma cultura na qual a nobreza, cada vez mais, precisava de ouro para se
manter no poder absoluto, os recém-chegados, cuja coragem e bravura tinham sido
suficientes para levá-los a atravessar um oceano inteiro, ávidos por riquezas e poder,
sentiam-se fracos, diante dos obstáculos naturais de um país primitivo, exuberante e
desafiador. Depois de passada a euforia da descoberta, quando os barcos que chegavam
do Brasil não levaram nem o ouro, nem a prata tão cobiçada, mas, somente comidas
desconhecidas e frutos exóticos, além de papagaios e outros e outros animais curiosos, a
metrópole perdeu o interesse pela nova terra. Assim foi que, depois de descoberto, o
Brasil foi, por muito tempo, abandonado a cupidez dos aventureiros, que vinham atrás
da tinta do pau-brasil, e aos cristãos novos – judeus convertidos, à força, ao catolicismo
pela inquisição – que vinham trocar miçangas e fazendas coloridas. Não demorou muito
para que o modelo social europeu começasse a se repetir na nova terra, com a seguinte
diferença: nobre aqui era qualquer europeu que chegasse, enquanto a classe trabalhadora
era composta pelas tribos indígenas. Livres e altaneiros, os índios não aceitaram o
trabalho imposto pelo novo dono da terra. Daí, à escravidão do indígena, foi um pulo.
5 Carta de OMS
Abandonado pela metrópole, o Brasil passou a ser motivado de cobiça por outras
nações européias, como por exemplo, a Holanda e a França. Para não perder o direito
sobre a terra descoberta, a corte passou a oferecer vastas extensões de terra a fidalgos
portugueses, que se tornariam seus verdadeiros donos, com a condição de que a
cultivassem e fizessem benfeitorias, com mão-de-obra local. É o período de
colonização, durante a qual, começam as caçadas aos índios, para que, trabalhando
como escravos, eles garantissem a posse da terra – que era deles – para o invasor.
Passando de invasor a subjugador, o europeu obrigava o índio a fazer um trabalho de
exploração extrativa que roubava da terra sua força, suas riquezas.
8-Os índios
Desde o desembarque das primeiras naus portuguesas, a cultura indígena não foi
mais a mesma. Espantados, os índios viram sair, do enorme barco dos brancos, animais
ainda desconhecidos, como o boi, a vaca, o porco, a galinha. Intrigados com a
proximidade dos brancos, os índios que, a princípio, eram caçadores e nômades, pouco
a pouco, foram desenvolvendo habilidades na agricultura e se tornando sedentários. De
caçadores, passaram a ser agricultares. Fixando-se nos lugares, formaram grupamentos
e aldeias. Na falta de mulheres, o europeu, de cabelos claros, pele branca e nariz afilado,
mesclaram-se com as índias. Dessa mistura nasceu o mulato.
5 Carta de OMS
teceram cobertores e mantas e criaram o pala, com o qual se protegiam do frio. O pala,
ainda hoje, é usado pelos gaúchos, habitantes do rio Grande do Sul, durante o inverno.
Ainda assim, muitas verdades do gentio foram assimiladas pelos estrangeiros que aqui
chegaram para conquistar a nova terra. As mudanças de hábito – de uma vida itinerante
para uma vida sedentária – produziram mudanças nos costumes, hábitos, crenças
religiosas e na organização social indígena. Festas da colheita, misturadas às tradições
do catolicismo, ensinadas pelos jesuítas que vieram salvar a alma do gentio, mesclaram-
se e surgiram as festas e procissões católicas.
Os índios nos ensinaram sábias lições sobre direitos e deveres de cada indivíduo.
Na tribo, o respeito à velhice, o cuidado com os jovens e as crianças, a preservação da
natureza eram normas importantes. Considerava a terra a mãe que alimenta os filhos e,
por isto, não a destruía, nem a poluíam. Antes da chegada dos brancos, viviam em
comunidades nas quais o trabalho era dividido.
Os homens encarregavam-se do feitio das casas, das canoas e das armas; caçavam,
pescavam e faziam queimadas para as roças. O que eles produziam era dividido entre
todos. As mulheres cozinhavam, plantavam e colhiam. Elas domesticavam pequenos
animais selvagens, e, se preciso fosse, os amamentava no próprio seio, junto ao filho
recém-nascido. Faziam as panelas, vasos, cestos, redes e esteiras de que a tribo
precisava.
5 Carta de OMS
Para refrescar-se do calor intenso, os povoadores aprenderam o costume dos índios
de uma região próxima a Dourados. Eles costumavam descansar do sol quente embaixo
do caarapó ou do pé de erva-mate. Caarapó é, hoje, o nome de uma pequena cidade no
mato Grosso do Sul. No contexto da vida destes índios, por causa do calor, o chimarrão
é bebido frio.
A capital do mato Grosso do Sul, Cuiabá, deve seu nome, segundo dizem, a
antigos rituais indígenas da região, durante os quais a cuia, onde se bebia o líquido
místico, era um objeto precioso e sagrado. Os índios estavam mudando seu
acampamento e confiaram a um jovem guerreiro a guarda e o transporte da cuia
sagrada. Ao atravessar as águas caudalosas de um rio, o índio deixou cair a cuia e, tão
logo chegou à outra margem, pôs-se a gritar desesperado: “a cuia bá, a cuia bá...”
Segundo a tradição oral, deve-se a este fato o nome dado àquele rio,e, mais tarde, à
cidade de Cuiabá erguida junto ao rio. Outros nomes próprios de cidades, locais ou
pessoas, são também de origem indígena, como: Beberibe-rio que sobe e desce;
Jericoacoara – rio das borboletas...
No oeste do estado do Paraná, duas cidades devem seus nomes a belas histórias
indígenas; uma delas leva o nome do cacique Condoí. Eles preferiram a morte, à
submissão.
A herança cultural deixada pelos índios foi a adoção do nome de Guarapuava, para
o pequeno povoado, planejado pelos arquitetos de D. João VI, e que foi erigido pelos
portugueses, tempos depois.
No início, nossos índios eram caçadores e nômades. Pouco a pouco, eles foram
desenvolvendo a agricultura e foram ficando sedentários, fixando-se, formando aldeias.
5 Carta de OMS
Assim como os brancos, os índios possuem a sua própria religião, tem seus mitos
de criação do mundo e da humanidade, o seu Gênese. O dilúvio era a explicação para as
diferenças físicas entre os índios do Paraná.
“Um dia começou a chover. E choveu, choveu por muitas luas... Gente de todos os
lados, amigos e inimigos, fugindo das águas foram andando e só parou nos altos do
Morumbi. Na escuridão, na tormenta, todos eram iguais, lutando para sobreviver.
Kaingamgues e Canés, Curutons e não mais guerreavam entre si.
“Um dia, o sol se pôs a brilhar, as águas começaram a baixar, e cada, nação foi
para o seu lado. Kaingangues escravizaram os Curutons e foram embora com eles pela
mata. Alguns poucos Curutons que escaparão da escravidão, para não serem apanhados,
passaram a andar por sobre as árvores e acabaram se transformando em grandes e feios,
os bugios, que gritam feito os homens. Os Caiurucrês voltaram para a sua terra, que não
era muito longe, acompanhando a trilha d um pequeno e sinuoso rio, em terra plana e
sem pedras, e, por isso, ficaram com os pés pequenos. Mas os Canés, como tiveram que
enfrentar uma longa caminhada por sobre um terreno difícil e pedregoso, incharam os
pés, que ficaram grandes para sempre.”
“Um menino foi a o mato com o pai e não quis mais voltar. Por um pouco de
tempo, o pai o deixou só, dentro do mato. Quando voltou, não encontrou mais seu filho,
pois este tinha rebentado seu corpo em pedaços. Com esses pedaços, formou muitas
plantas. De suas mãos, fez a folha da mandioca, que parecem dedos. De seus dentes, fez
os grãos de milho. De suas unhas, as brancas sementes grandes, brancas e redondas das
favas, que têm uma mancha preta no meio – as pupilas do menino. O sulco de sangue
formou o sulco vermelho do urucum. A alma do menino foi morar dentro das flautas
5 Carta de OMS
sagradas de bambu, de onde sai, cada vez que os homens tocam a música sagrada, na
cabana das flautas.
A criança indígena era, e ainda é, muito valorizada. Para conversar com ela, o
índio abaixava-se, procurando ficar na exata altura da criança, olhando direto em seus
olhos.
“A escola de vocês ensina a cantar? Ensina a criança a servir-se dos pés e das
mãos? Ensina a escolher uma comida sadia, a cuidar de um bebê, de uma criança
doente? Ensina a salvar alguém picado de cobra, de aranha? Ensina a ser um índio
verdadeiro? Escrever é bom? Para que ler?”
Vivendo com seus ancestrais, há milênios, uma índia, pertencente a uma tribo
situada entre Mato Grosso e Rondônia, recebeu uma educação passada, exclusivamente,
por meio da fala e do corpo, educação mantida e transmitida como fecunda, notável e
rica herança cultural, geração após geração.
5 Carta de OMS
Para nós, habitantes da cidade, qual o interesse em cantar se podem comprar discos
de cantores profissionais, que cantam por nós e bem melhor do que nós?
“O canto, meu canto, o canto de todos é uma das coisas mais fortes do mundo...
Sem ele, não poderemos curar os doentes. Canto tem força. O canto pode curar qualquer
doença. Sem o canto e a dança, nem seríamos povo. O grupo ia se dispersar.
No mato, tem aquela sensação de irmandade que a música nos dá. Não duvido do
poder do canto. Nunca canto ou falo sem motivo. Eu não posso negar o que vou contar,
porque vi com meus próprios olhos.
Um velho, de outro grupo, estava viajando a dois dias quando foi mordido por uma
cascavel, um pouco antes de chegar aqui. O velho ficou cego por três luas. Cantamos
tanto que ele sarou. “Acho que a planta que esfregamos na ferida também ajudou, mas o
canto tem mais poder do que qualquer remédio.”
Os mesmos conceitos sobre a cura, dados pela índia Witisu, são, hoje, confirmados
por estudos da etno-medicina. Recentes pesquisas nesta área comprovaram que a dança,
o som, a cor, a música, a forma, a mímica, a representação dos dramas individuais e
coletivos da cultura indígena foram efetivamente aplicados como medicamento, de
maneira eficaz, durante milênios, em todas as culturas.
5 Carta de OMS
Entre os índios da tribo de Witisu, os rituais curativos, envolvendo cânticos e
danças, são uma forma de medicina que passa de pai para filho.
Os índios tinham muitas crenças. Acreditavam na vida após a morte e nos espíritos
da floresta que protegiam a todos, zelando pelo equilíbrio entre o homem, a natureza e
os espíritos que nela habitavam.
Os Kaiapó têm como costume usar uma rodela de madeira fixada no lábio interior
e nas orelhas. Isto serve para destacar as partes do corpo mais importantes na resolução
de conflitos, na tomada das decisões vitais para a tribo. A boca é assim marcada, para
que se possa bem falar, e os ouvidos para escutar melhor. Esta é a maneira Kaiapó de
alertar para o valor do diálogo e da escuta na vida de um homem e de seu grupo social.
Estes adereços corporais, de grande significado entre eles, são usados em momentos
cruciais, de forma oficial e pomposa, para a resolução de conflitos sérios e em momento
de extrema gravidade. Como muitos outros índios, os Kaiapó usam as pinturas coloridas
como instrumento de comunicação, de forma não verbal, mas visual, que pode dizer
muitas coisas a um simples olhar. Cada cor tem um significado, seja para demonstrar
sentimentos, como alegria, a tristeza, a dor, o desespero, a raiva, ou, até mesmo, para
indicar sua posição social, sua situação familiar, se é casado, solteiro, jovem ou
guerreiro.
O pajé, a quem eram confiadas as artes da cura, tem um papel central em três
domínios: na saúde do corpo, como uma espécie de médico, prescrevia remédios e
mezinhas. Nos conflitos interpessoais, na resolução de conflitos, como uma espécie de
sacerdote, conduzindo rituais religiosos e nos distúrbios espirituais.
Para os índios, a saúde não era separada do social e do religioso. Toda tentativa de
separar estas dimensões esvazia os esforços feitos na direção da saúde dos indivíduos.
5 Carta de OMS
As populações indígenas vivem uma forte espiritualidade. O pajé ou xamã é uma
pessoa muita respeitada. Ele é o elo entre o mundo dos homens e o mundo espiritual.
Por este motivo, ele conhece os rituais de cura, os segredos das ervas medicinais e
possui o conhecimento da cultura e das histórias de seu povo. Tais conhecimentos e
seus rituais têm um profundo significado diante das ameaças e perigos, e, sobretudo,
quando a harmonia e a integridade do grupo encontram-se em questão. Nestes
momentos de solenidade, nos quais todos os membros da tribo se unem, acontecem os
rituais.
Um ritual pode conter toda a energia espiritual, mítica individual ou grupal, a ser
representado como em um teatro. Isso acontece, também, no ritual indígena como
acontece em muitas outras sociedades tradicionais. Nestas sociedades, a vida de um
indivíduo era representada em público e assistida por muitos espectadores, como no
Theatron dos gregos. Nas peças gregas, a catarse vivida pelo ator era repetida, de modo
idêntico, pelos espectadores na platéia de forma coletiva. As pessoas dramáticas ali
representadas tinham como função terapêutica, a de espelho da alma, de reflexo da vida
de homens e mulheres que, embora assistindo ao drama do outro, viam, nele, a
manifestação pública de sua própria luta contra seus próprios destinos. Entre os índios
brasileiros esta representação coletiva do sofrimento individual não é diferente.
Rituais de cura, na tribo dos índios do sul do Pará, podem nos dar uma dimensão
mais clara dos conceitos indígenas, e de como são tratadas as doenças de fundo mental.
Se a santidade de um de seus integrantes for ameaçada, a tribo toda se sente atingida.
Vendo seu sofrimento, os membros da tribo param todas as suas atividades e, enquanto
durar o combate do homem contra os inimigos invisíveis, rituais mágicos, ricos em
canto, danças e orações, nos quais todos estão envolvidos, devidamente pintados, serão
feitos em benefício do guerreiro em crise que luta enfrentando as forças contidas do
próprio inconsciente, nos embates entre o bem e o mal, dentro de si mesmo, e que
precisa enfrentar. Vendo-se subjugado por convulsões internas, desordem mental,
visões e delírios, o guerreiro Xicrim vai retirar de uma palmeira já consagrada para usos
sagrados às palhas com as quais tecerá um artefato qualquer. Traçando a palha,
enfrentará cada um de seus medos, tentações e visões, com firmeza, repelindo, com
todas as suas forças, as sugestões destas visões, infernais para fazer o mal. A cada
vitória, a cada etapa vencida, mais um pedaço do artesanato é tecido. Quando as forças
do mal são, finalmente, vencidas, o índio ostenta, vencedor, uma cesta, esteira ou rede
que conseguiu tecer, durante o combate, como se fosse um troféu. Enquanto durou o
embate, o canto, a dança, as preces não pararam. Agora, entre gritos de júbilo e abraços,
o índio é festejado como herói. Começa, então, uma grande festa na qual o protagonista
5 Carta de OMS
principal é o mais novo herói da tribo. Chamado daqui para ali, ele vai contar minúcias
de seu combate a uma platéia atenta, que o ouve e admira. Deste dia em diante, até o
fim de seus dias, contará sua história para as novas gerações da aldeia. Após a morte,
seu nome, seus grandes feitos serão perpetuados entre os de sua raça e transmitidos, pela
tradição oral, às novas gerações.
Em uma pequena cuia de cabaça está a tinta preparada por algumas mulheres, com
a mistura de jenipapo mascado, carvão e um pouco de água. O corpo todo é coberto com
tinta passada com a mão e, em seguida, passa-se um pente para formar as listas. A
pintura seca com a ajuda de um abano de palha. Terminada a sessão de pintura, as
mulheres voltam para suas casas, enquanto os jovens trazem folhas de buriti, bem
verdes, colocadas no meio da praça, onde se sentam os rapazes e os homens mais
velhos, formando o conselho da aldeia ou o clube dos homens, no qual, as mulheres não
podem entrar. Ali, eles se reúnem todo o final de tarde para ouvir os feitos e as bravuras
de seus guerreiros, jovens e velhos. Ao passarem por eles, pintadas, as mulheres
sentem-se orgulhosas, pois exerceram uma das atividades mais importantes da tribo: a
arte de pintar-se.
Apesar de ser uma história que não se estuda em livros didáticos, as nações
indígenas brasileiras não aceitaram sem luta e resistência a dominação branca e
ocidental. De ponta a ponta de nosso continente e de nosso país, existem relatos de
5 Carta de OMS
revoltas e rebeliões indígenas. Muitas vezes, esse sentido de resistência foi orientado
através de práticas religiosas, como entre os Baniwa no rio Negro. Os índios também
têm seus mártires na luta pela liberdade e contra a opressão: Sepe Tiarajú, no Rio
Grande do Sul, Tupac Amaru, e o próprio povo Mapuche que lutou até o final do século
passado contra a ocupação de seu território pelos chilenos. O Tupi-guarani, ainda hoje,
busca uma terra sem mal; com a queda de resoluções de Guairá, 20.000 guaranis foram
escravizados pelos espanhóis; dos outros tantos que fugiram 8.000 morreram na fuga.
Os sobreviventes que fugiram em direção ao sul fundaram Sete Povos das Missões, no
Rio Grande do Sul, onde ainda se podem ver alguns vestígios de sua civilização. Dos
sobreviventes que fugiram em direção ao leste, alguns ficaram em Guarapuava, no
Paraná, outros andaram até São Paulo, onde vive na região da Represa e próxima a
Bertioga.
Junto à igreja, ficava a área destinada ao plantio para o sustento dos velhos, dos
doentes, das viúvas e dos órfãos. Aos domingos e dias santos, cada habitante da aldeia,
índio ou religioso, dava duas horas de seu trabalho na lavoura deste campo, o campo
santo, para garantir o sustento dos desamparados. Nas escolas e oficinas, crianças e
jovens aprendiam, além da catequese, a ler e escrever, na sua e em outras línguas. Artes,
História, Cultura, Ciências, Matemática, Música e ofícios eram matérias oferecidas às
crianças índias, educadas como nos melhores colégios da Europa. Os índios aprenderam
5 Carta de OMS
arte e ofícios tais, que eram capazes de entrar na mata, escolher e cortar a árvore certa,
preparar a madeira, fazer com ela instrumentos musicais e tocá-las.
Durante um bom tempo, os índios de várias tribos viveram em paz, sob a proteção
dos jesuítas, até que o sucesso de seu sistema educacional e os progressos alcançados
por eles despertou a cobiça do reino distante e da Espanha. Vieram ordens para que os
padres enviassem os tesouros encontrados para a Europa. Como não havia tesouros em
forma de ouro e pedras preciosas, como sonhava a corte espanhola, convencida de que
estava sendo ludibriada, a realeza ordenou aos soldados sediados em Assunción Del
Paraguai que descobrissem, de qualquer maneira, onde estavam as riquezas descobertas
pelos espanhóis. Começaram, então, os ataques às aldeias em busca de tesouros
imaginários. Destruição, saques, escravidão, morte... As batalhas iam acontecendo, no
meio daquela gente aturdida, que não sabiam mais lutar para se defender. Fuga luta
reconstrução das aldeias em lugares distantes das primeiras batalhas foram os
resultados. Índios e jesuítas sobreviventes ergueram as aldeias dos Sete Povos das
Missões, no Rio Grande do Sul, onde os sobreviventes pareciam estar a salvo. Mas, a
notícia de tais tesouros se espalhara, e novos ataques aconteceram. De São Paulo,
desceram os bandeirantes; do Uruguai, subiram os soldados gananciosos... as lutas
pareciam não ter fim. Fugir, encaminhar, vagar, esta passou a ser a sina desta gente, de
cuja civilização nada restou, a não ser, algumas ruínas e um povo, também, em ruínas.
Os poucos índios famintos, confusos e maltrapilhos que restaram, carregam consigo as
lembranças de lutas ferozes pelo direito de viver em paz, em sua própria terra, e as
lembranças do tempo em que os guaranis viviam em uma Terra Sem mal. Ainda hoje,
como seus ancestrais, eles perambulam de lá para cá no Brasil, em busca da Terra sem
mal.
10.Os Negros
5 Carta de OMS
Depois de escravizar e destruir muitas nações indígenas, com a mão-de-obra
escassa e as dificuldades de domar a imensa e bravia terra, começaram a chegar ao
Brasil escravos vindos da África. O projeto colonizador de acumulação de riquezas,
desbravando continentes e mais continentes, estava baseado na utilização de mão-de-
obra escrava. Com o cultivo da cana-de-açúcar, a criação de animais e a extração de
ouro, havia urgência de uso intensivo de mão-de-obra escrava. Os negros foram trazidos
da África, à força, a partir de 1538. Este comércio de vidas humanas, durou mais de três
séculos, calcula-se que tenham sido trazidos, às Américas, mais de 3 milhões de
escravos. Esse número refere-se, somente, aos que sobreviveram às duras condições de
transporte nos navios negreiros.
Símbolo de riqueza, o negro era “a peça da África” e como um objeto, uma peça,
foi motivo de compra, venda, empréstimo, aluguel, hipoteca, enfim, foi um bem
transmitido por herança de pai para filho. No dia do casamento, no batizado ou no dia
do aniversário ganhar um negro era ganhar um excelente presente. Crianças brancas
ganhavam crianças negras que, separadas das mães, serviriam de brinquedo, distração e
pajem ao seu dono. Nenhum negro podia andar calçado, entrar em uma igreja ou ser
enterrado em um cemitério. Brincar, só se fosse para distrair seu amo. Ao escravo, não
era permitido amar e nem ter família. As crianças eram afastadas de suas mães e
vendidas bem cedo, para que as mães servissem de amas de leite para as crianças
brancas.
Não tinham identidade nem estado civil, pois não podiam casar nem criar laços
afetivos. Muitos não tinham nome, somente apelidos, aos quais adicionavam o
sobrenome dos senhores.
Trabalhando na roça, eram obrigados pelo feitor a cantar, cadenciando o ritmo das
batidas da enxada com o ritmo da música. Grande foi a contribuição africana para nossa
civilização. A cadência da enxada, bem como o látego do chicote, excitou a
musicalidade desta gente, influenciando a música, criando o frevo, o coco, o maracatu e
5 Carta de OMS
o batuque que originou o samba. A necessidade de defender-se e a proibição do uso de
armas fizeram com que criassem a capoeira. A sedução que a mulher negra exerceu
sobre branco facilitou a mestiçagem, em um enlace de culturas entre pessoas de origem,
cor e hábitos diferentes.
Quando a liberdade veio, porém, alguns negros permaneceram junto a seus ex-
donos, como agregados, trabalhando gratuitamente em troca de um pedacinho de terra,
que lhe seria dado, legalmente, depois de muitos anos de serviço prestados. Outros
serviam como criados, em troca de casa e comida. Os mais corajosos saíram em direção
às cidades, em busca de familiares, na esperança de um reencontro. Foram em direção
ao Rio de Janeiro, onde acreditavam estar sob a proteção da Princesa Isabel, a
Redentora, que os tornara livres. Chegando ao Rio em grandes grupos, acomodaram-se
como puderam, nas encostas dos morros, começando, assim, as primeiras favelas
brasileiras. Sem saber ler nem escrever, sem qualificação profissional, sem família e
sem raízes, foram assim que o negro conheceu “a liberdade”.
O Grande Desafio
O modo de vida dos índios, dos negros e dos europeus representava três modelos
de sociedade. Três diferentes projetos de vida estavam em jogo. Para um dos modelos
prevalecia a dimensão individual, a privatização da terra, dos bens naturais e das
pessoas, enquanto para outros, a dimensão comunitária e o aspecto coletivo da
propriedade.
Para os mais fracos o enorme desafio: como conviver com o poder dominante, sem
perder suas características próprias? A intransigência absoluta era tão perigosa quanto a
servidão doentia.
5 Carta de OMS
Os conflitos, que surgiram por toda parte, eram sinais de que ninguém estava
disposto a abdicar de seus direitos e interesses. A resistência era a única forma de cada
um demonstrar e defender sua identidade, conferida pelo conjunto de valores, práticas e
crenças. Em se tratando de povos transplantados, como os escravos trazidos da África,
os elementos do contexto natural que permitiria a eles uma estruturação desta
identidade, estavam ausentes, ficaram na pátria distante. A todo o momento, eles
estavam ameaçados de invasão e possessão da própria individualidade, por estarem
esvaziados de suas crenças, e de sua espiritualidade, de seus valores básicos. Por isto,
são tão manifestas as formas de expressão cultural da possessão, do encosto em nosso
contexto. Esta forma de construção de uma realidade que pressupõe o apagamento da
própria individualidade para que o outro tome conta do espaço vazio dentro do
indivíduo, que se ausenta de si mesmo. Esta forma de possessão, com certeza, nos fala
muito mais desta dominação e da posse do outro, que invade existências, violenta vidas
e penetra um espaço de vida que não é seu. Mas, quem é este outro que invade o espaço
alheio, senão imposições sociais de toda ordem e natureza.
A lei da Terra, de 1850, proibia aos negros criarem seus espaços de resistência –
os quilombos. Por esta lei, os negros não podiam ser proprietários de terras. Quando
desobedeciam, suas plantações eram queimadas pelo exército, a mando do Governo.
5 Carta de OMS
A lei do ventre livre, de 1871, trazia, em si, uma grande ilusão: por trás da
aparente vontade de libertar os negros nascidos a partir daquela data, estava o propósito
de fragmentar a família negra, pois, de cada 100 crianças libertadas, 70 morriam de
fome, antes de completar o primeiro ano de vida. O fazendeiro estava, portanto, isento
de qualquer responsabilidade social sobre o jovem escravo que nascera livre. Em
conseqüência, quando a criança livre completava doze anos de idade, testemunhando
ainda a escravidão dos pais, o caminho a seguir era abandonar a família. Estava, pois,
oficializadas a delinqüência com a “fabricação” dos primeiros menores de rua, crianças
abandonadas a cumprir uma “sina”, e, continuada pelos excluídos, até hoje.
Este lugar de culto tornava-se, também, espaço de ajuda social aos desvalidos. Já
não era somente o sangue e a raça que os unia, mas o espírito de humanidade, daquela
humanidade nascida na África de Deus, e que fora espalhado, no mundo, pelos
caminhos dolorosos da escravidão e da humilhação social.
Na luta de resistência dos negros, além dos terreiros e dos quilombos, tiveram
importância fundamental na reconstrução da dignidade africana as Irmandades dos
pobres, do período colonial até o início do século XX. Estas Irmandades davam
assistência dos excluídos da partilha e da vida social, assumindo, muitas vezes, o papel
5 Carta de OMS
que caberia aos governos estaduais e federais. Como os negros não podiam pertencer às
Irmandades dos brancos, já que estas não aceitavam o “sangue sujo” do negro, do índio,
do mestiço e do judeu, eles criaram as suas próprias, sob a proteção de santos, tais
como: São Gonçalo, São Benedito, Nossa Senhora do Rosário, Nossa Senhora da Boa
Morte e outros. A devoção aos santos, tão peculiar à religiosidade popular, tem sido um
forte componente e contínua, entre as populações marginalizadas.
Esta devoção aos santos leva à descoberta de uma identidade entre o peregrino e o
santo que, quando homem vivendo nesta terra, sofreu como ele sofre. Esta ligação
pessoal entre o homem e o santo confere uma identidade religiosa e cultural, uma
espécie de carteira de identidade pela qual ele é conhecido diante de seu santo protetor,
identidade que lhe foi negada, enquanto pessoa do povo. “Ser “devoto do santo”, “filho
de um orixá”, “ ser incorporado por um espírito de luz” dá às pessoas e aos grupos
sociais a sensação de segurança e o sentimento de pertença, ou seja, de pertencer a uma
cultura que foi negada pela sociedade, mas que, no templo, na procissão, na romaria,
nos cultos religiosos pode ser vivenciada. Ao optar pela aliança com os santos de sua
devoção, os excluídos – aqueles que não conseguiram fazer suas alianças terrenas –
estão criando suas próprias alternativas de luta e resistência mesmo correndo riscos. Um
dos riscos desta aliança extraterrena é o de ver este impulso de agregação transformar-se
em uma forma de acomodação, de aceitação passiva da realidade.
O perigo reside no fato de que muitas igrejas e seitas, adotando esta forma de
vivenciar a espiritualidade, reforçam a idéia de que os problemas humanos só podem ser
resolvidos por uma única e singular via de comunicação: a fé e a devoção a Deus.
Assim sendo, o homem desiste de lutar pelos seus direitos, de buscar soluções, de fazer
algum esforço em direção a organizar-se enquanto grupo, de formar novas
comunidades, de construir sua própria cidadania.
A história religiosa dos povos cristãos conta que todos os homens são
descendentes de um só homem, e que este, por sua vez, nasceu da terra: “Tu és pó, e ao
pó voltarás...” Embora esta seja uma expressão relativa ao início e ao final da vida
5 Carta de OMS
biológica do homem, ao seu nascer e morrer, comparativamente, ela, também, refere-se
ao processo social, cuja ação leva o homem a constantes altos e baixos, marcados por
uma permanente opressão e uma constante busca pela libertação.
Estamos sempre abertos para aprender, sobretudo, uns com os outros. A sensação
de pertencer à humanidade, ao nosso grupo social, à nossa raça, à nossa cultura, nos faz
resistir e, em um crescendo, vai-se forte, além das fronteiras do eu, acabando por
contaminar, por tomar conta de todo o tecido social, levantando e fortalecendo outros
homens.
Os romanos conseguiram manter o poder por muitos séculos, tinham tanto poder,
riqueza e terras, quando escravos de todas as nações sob seu jugo. Enquanto seus
escravos trabalhavam até a morte, em todos os recantos do mundo, os patrícios ( a
nobreza romana) viviam em busca de prazeres, em festas intermináveis. Milhares de
pessoas foram impedidas de plantar alimentos e obrigadas a cultivar rosas para que suas
pétalas fossem usadas como tapetes macios e perfumados durante os banquetes
romanos. Como nunca trabalhavam, não praticavam qualquer atividade física, os
patrícios romanos, que não usavam as mãos para nada, nem mesmo para pentear os
próprios cabelos, foi enfraquecendo, de tal maneira corrompida pelo excesso de lazer e
de prazeres, que não foi muito difícil para os povos bárbaros – os únicos ainda não
dominados pelos exércitos romanos – acabarem com a civilização romana.
5 Carta de OMS
A sociedade nazista, cujos princípios de higienização da humanidade pretendiam
eliminar da face da Terra todo ser humano que não estivesse dentro dos padrões da raça
ariana – pele, cabelo e olhos claríssimos levantaram tal clamor mundial que foi
combatida e destruída após duas violentas guerras.
Todo o futuro e toda a história do mundo brotam de fontes ocultas nos indivíduos,
em nossas vidas mais privadas e mais subjetivas.
Somos nós, não as testemunhas passivas de nossa época e seus sofredores, mas,
principalmente, seus autores. O Brasil, que hoje somos, nasceu desse encontro de
diferenças culturais. No início, choques traumáticos, barulhentos como duas mãos que
se chocam provocando barulho e dor. Ao longo da história, esse barulho e a energia
produzida pelo choque da diferenças foram se transformando em ritmos e batucadas
criativas, transformando gemidos em melodias.
O brasileiro hoje é bem mais consciente de que a diversidade cultural é sua maior
riqueza e que o melhor do Brasil é o brasileiro. Ser brasileiro é ser índio, negro, europeu
ou oriental. Somos frutos desta mistura bem sucedida que conseguiu pegar o melhor de
cada cultura. Nosso maior mérito e também nosso maior desafio tem sido saber
conviver com os contrários, as diferenças nesse universo tão complexo da convivência
humana.
Síntese:
O mesmo desejo de desbravar terras, de ocupar e povoar novas terras que levou o
homem a caminhar por todos os continentes levou os portugueses e espanhóis no século
XV, a querer desbravar novo continentes, espoliando e escravizando populações
5 Carta de OMS
inteiras. A descoberta de uma rota marítima para as Índias e a produção de açúcar nas
ilhas do Oceânico Atlântico fizeram reaparecer o comércio de escravos na Europa.
O modo de vida dos índios, dos negros e dos brancos representa distintos modelos
de vida social.
CAPITULO 9:
2. Fundamentos Educacionais
5 Carta de OMS
para um educando inexperiente que não sabe nada. Ensinar é um exercício de dialogo,
de troca, de reciprocidade.
Para ser funcional, essa troca exige uma associação pertinente entre teoria e
pratica. Aprendizagem só se efetiva quando o educando relaciona os conteúdos
programáticos á sua realidade (familiar, comunitária, eclesial, escolar, etc.) A relação
com a realidade passa pelo plano de expressão dos educandos, através da explicitação
do seu saber e da apreensão dos novos saberes, de modo que educandos e educadores se
assumam como sujeito sócio-historico-culturais.
5 Carta de OMS
aprender com a coletividade. Não estou lá para resolver os problemas da comunidade,
como se isso fosse possível sem gerar dependências. Estou lá para aprofundar meus
dilemas, compreender melhor meus impasses, sofrimentos e dificuldades. Descubro que
a melhor maneira de me ajudar, de resolver minhas inquietações, se faz numa relação de
comunicação com s outros.
Não estou blefando quando digo, de forma anedótica, que o curso de formação em
TC é um curso que a gente faz para acabar com a mania de querer curar os outros.
Quanto á humildade e a tolerância, são geralmente duas virtudes em falta entre nós
profissionais da saúde. Isso porque recebemos uma formação em que cada ciência
aparece como um todo em si, com suas bases epistemológicas que definem seus
métodos específicos. Ora, cada ciência especifica se constrói no combate sistemático de
conhecimentos construídos por outras ciências.
Essa visão linear, que seria uma parte detectável do processo, se põe, muitas vezes,
como totalizante e excludente de outras possíveis leituras. Nasce então a intolerância ao
diferente. É neste território que são construídas as verdades quantificáveis e as técnicas
de intervenção. Uma coisa é focalizar um órgão, um individuo, outra é vê-lo imerso em
suas redes relacionais familiares e sociais.
5 Carta de OMS
Não se trata de negar a contribuição de cada área especifica, mas de articulá-las, de
passar do linear-estatistico ao dialético-circular. Cada ciência tem seu saber. Mas saber
a serviço de quem?Do objeto de sua intervenção ou da afirmação de uma identidade
profissional?
É fato para quem é sucessor dos curandeiros, pajés e sacerdotes, é difícil romper a
concepção mítica de um saber totalizante construída por nossos antepassados. Os
sacerdotes se apresentavam como porta-vozes dos deuses. Ninguém ousava questioná-
los. Falar de um lugar sagrado confere um poder imenso: “Deus disse”, “os espíritos
disseram”. Hoje se diz : “a ciência provou”, “as pesquisas comprovam...”Neste contexto
é difícil aceitar desconhecer.Não há espaço para a humildade, para duvidas, para
questionamentos, mas para afirmações categóricas, para combate ao diferente, para
imposição por parte da instituição.
É verdade que, para sairmos da rigidez do disciplinar, para termos uma ação
interdisciplinar, precisamos relativizar nossos modelos esquemas. Não tomar a parte
pelo todo. Cada disciplina tem algo a oferecer, a contribuir. Mas conhecemos apenas
parte do processo, do sistema. A educação recebida dificulta a busca da
interdisciplinaridade e da transcultural idade.
Instalar a duvida em nossas certezas, pois toda convicção é uma prisão. Como a
realidade é dinâmica, temos que ter a mesma disposição para repensarmos
nossas certezas. O grande escritor Mark Twain (1971) diz: ”O homem mais
inteligente que encontrei em toda a minha vida foi meu alfaiate, de que o que
capto de você, da realidade de hoje, pode não ser valida para alguns dias depois,
pois muitos fatores intervem, provocam mudanças.Essa noção da
provisoriedade, da efemeridade dos acontecimentos deve nos deixar sempre
alertas;
Ter humildade para nos abrirmos as novas formas de perceber o homem. O
homem é um ser dinâmico, multifacetario.A realidade é maior do que qualquer
esquema explicativo;
Romper com os estereótipos dos outros modos de pensar e agir. As diferenças
formas de pensar e agir estão fundamentadas em percepções, em contextos
historicamente construídos. Precisamos entender que a pluralidade de
percepções e condutas enriquece o arsenal de possibilidades de intervenção. Não
existe uma melhor do que a outra, mas uma mais pertinente do que a outra em
função do contexto em que se aplica. Inclusive as contradições fazem parte da
realidade cotidiana e precisamos coabitar com elas.
5 Carta de OMS
Ousar transpassar fronteiras geográficas, conceituais. O homem é um ser
pensante que questiona, interpela e tenta superar os desafios do cotidiano com a
coragem e determinação. A realidade esta ai nos interpelando a criarmos novos
paradigmas para enfrentar os desafios da globalização. Precisamos ter a
liberdade de criar, inovar, transformar.
Neste esforço de dar uma contribuição para a transformação da realidade,
precisamos ainda romper dois obstáculos: o narcisismo individual e o neocolonialismo.
5 Carta de OMS
afligem.Precisamos de u dialogo permanente, para não tomarmos nossas
fantasias por realidade e nem nos sectarizar-mos;
É conveniente que as dobradiças da consciência sejam flexíveis para a
abertura ao desconhecido e para nosso crescimento profissional e
pessoal;
É fundamental caminhar para uma ecologia do espírito, ou seja, ser capaz
de pensar o homem na sua relação com o universo numa visão holística;
É necessário integrar as diversas formas de saber filosófico, econômico,
político, para termos uma melhor resolutividade no enfrentamento dos
desafios que se apresentam.Integrar, articular, relacionar os diferentes
conhecimentos faz com que o homem deixe de ser objeto da ciência para
ser percebido como sujeito de sofrimento;
É preciso desconstruir os modelos mentais limitantes e aproveitar a
ocasião fecunda para iniciar dialogo respeitoso entre as diversas formas
de saber.
Esses novos paradigmas precisam ser construídos por todos nós. Eles serão
frutos do esforço e da transpiração coletivos e jamais da inspiração de algum
iluminado.
A orientação pedagógica na TC
5 Carta de OMS
As regras que estruturam as rodas de TC – realizar escuta respeitoso, não dar
conselhos, não fazer discursos, não julgar – asseguram a circularidade e a
horizontalidade da comunicação por considerar que cada participante possui o
seu saber, fruto de sua experiência de vida. Trata-se de uma partilha de saberes,
os mais diversos, respeitando sempre a palavra do outro, deixando-se interpelar
por uma nova leitura de uma mesma problemática.
Nas rodas de TC, tentamos estimular as falas sem impor leituras, nem
censurar e muito menos nos preocupar em transmitir informações e conteúdos
teóricos. O terapeuta comunitário que coordena a roda deve suscitar
questionamentos capazes de proporcionar uma nova leitura do sofrimento
exposto ao grupo e levar o protagonista a descobrir os caminhos a trilhar em sua
caminhada de vida. A escuta ativa me possibilita ajudar-me a reconhecer na fala
do outro e a entrar em contato comigo mesmo, com minha historia, meus
valores.
5 Carta de OMS
Costumo dizer, de forma lúdica, que a TC é mais eficiente, quando
participamos dela de forma zarolha, estrábica, ou seja, com um olho para dentro
de nós, procurando rever a nossa própria historia; e com um olho para fora,
vendo o outro. É graças ao que ouço da fala do outro que passo a ter vontade
também de falar, de me expressar e de questionar. Descubro que todos têm o
mesmo direito de se expressar.
5 Carta de OMS
partilhas, o mais importante é o acolhimento e a escuta sem julgamento, sem
criticas. É isso que as pessoas esperam quando abrem o seu coração.Não vieram
para pedir conselhos, mas para ser reconhecidas em seus esforços, apoiadas em
suas buscas e valorizadas como pessoas conscientes das dificuldades da
convivência humana.
Certa vez uma grande enchente fez transbordar os rios e muitas pessoas
caiu na água, tentando se salvar. Uma senhora que não sabia nadar, tentou se
agarrar em uma espécie de tronco que boiava.Ao agarrar-se a ele, disse a si
mesma: “que bom que encontrei este tronco de bananeira, liso, aquecido”.
Um individuo que estava a salvo a margem alta do rio teve outra visão da
mesma situação. Viu que o “tronco de bananeira” na qual aquela senhora se
achava salvo, apoiada, era uma grande cobra sucuri, que também tentava se
salvar da correnteza.
5 Carta de OMS
Pois bem, o terapeuta é como aquele ribeirinho que esta na margem do
rio e pode, com a escuta, as perguntas e o seu ponto de vista apoiar as pessoas no
seu processo de superação, sem acrescentar outros sofrimentos desnecessários.
Paulo Freire (1979) afirma que não pode haver aprendizado libertador
onde não há respeito aos saberes socialmente construído pela experiência de vida
e que é preciso estar atento e rejeitar toda e qualquer forma de discriminação
alimentada por preconceitos de classe ou gênero. Qualquer discriminação é
imortal, pois agride o ser humano e nega a possibilidade de vivermos
democraticamente com as diferenças.
Para concluir
5 Carta de OMS
pessoais e das raízes culturais nos põem a face pedagógica da TC. E essa face de
delineia com os mesmos traços da pedagogia do oprimido e da pedagogia da
autonomia.
CAP. 10
A Terapia Comunitária
5 Carta de OMS
afirma que as causas comuns da mortalidade nas populações, no seu conjunto, são
influenciadas pelo meio sociais e identifica dez determinantes sociais da saúde:
2-O estresse
6-O desemprego
8-As dependências
9-A alimentação
10-O transporte
1- A desigualdade social
As pessoas que passaram por situações difíceis no passado são as mais expostas
a dificuldades diante das mudanças no ciclo de vida que vai desde o nascimento, à
primeira infância, à ida para a escola, o primeiro emprego, o casamento. Daí porque se
faz necessário o apoio através de políticas de inclusão, investimentos na educação,
melhoria da habitação, segurança, valorização da cidadania e reconhecimento dos
direitos sociais.
2-O estresse
5 Carta de OMS
O estresse é uma fonte de inquietação e ansiedade que interfere no
enfrentamento dos problemas existenciais, além de ter um efeito cumulativo,
aumentando a degradação da saúde. Com relação ao estresse vale ressaltar que:
5 Carta de OMS
A pobreza e a exclusão social são ao mesmo tempo causas e efeitos de um
aumento dos riscos de divórcio, separação, invalidez, doenças relacionadas à
dependência química e isolamento social que criam círculos viciosos cada vez mais
degradantes.
4- A Primeira infância:
O cuidado com a gestante torna-se ainda mais imperativo quando esta vive num
contexto socioeconômico desfavorável. Todo desequilíbrio nutricional da gestante,
como também o estresse, tabagismo, dependência química, em especial, o alcoolismo,
falta de exercício físico e ausência de cuidados, aliados ao não acompanhamento do pré-
natal podem acarretar graves prejuízos futuros para a criança tais como: dificuldades
cognitivas, emocionais e sensoriais, que levam à limitação da capacidade de
aprendizagem na escola, problemas de comportamento e propensão à marginalização na
idade adulta.
5- O Trabalho:
5 Carta de OMS
Não basta ter um trabalho. É preciso se sentir seguro nele, ser valorizado, ter
autonomia. A insegurança no trabalho, como o medo de perdê-lo, é um fator que
desencadeia uma série de problemas como a ansiedade, o estresse e a insônia. O estresse
do trabalho é um componente importante que influi na constituição da saúde.
6- O desemprego:
*O apoio social oferece aos indivíduos os recursos afetivos e práticos de que eles
necessitam.
5 Carta de OMS
*O sentimento de pertença a uma rede e o apoio mútuo geram um sentimento de
ser reconhecido, valorizado, amado e apreciado.
As pessoas que têm vínculos sociais e afetivos frágeis estão mais expostas aos
agravamentos das doenças crônicas à depressão, bem como complicações na gravidez e
parto e tendência à incapacitação por ocasião de doenças crônicas.
9- As dependências:
5 Carta de OMS
A Terapia Comunitária é uma abordagem de prevenção do uso de drogas,
trabalhando no cerne das questões que motivam o uso. Também é apoio no tratamento,
pois possibilita uma reflexão e tomada de consciência de questões importantes
relacionadas ao uso e é suporte para a reinserção social de usuários e familiares, pois o
contato com a comunidade se dá num contexto de acolhimento, valorização e não
julgamento.
10- Alimentação:
5 Carta de OMS
Diante do exposto, fica claro que a saúde é o produto das complexas relações
entre os distintos determinantes sociais, sendo a doença produto deste processo que
intervêm fatores ambientais, históricos, socioeconômicos e psíquicos.
De um lado temos:
Esta anedota ilustra muito bem esta dupla perspectiva da saúde. Dois índios
tomavam banho em um rio e, logo, apareceram duas crianças se afogando. Eles
salvaram as duas. Apareceram quatro e salvaram as quatro. Quando apareceram oito,
salvaram as oito. Quanto mais salvavam, mais apareciam. Diante do esforço sobre
humano para salvá-las e do número de crianças que se afogavam a cada instante, um dos
índios disse para o outro: “tenta salvar as crianças que puder que eu vou olhar para saber
quem está jogando estas crianças dentro do rio”. O índio que ficou salvando as crianças
achou que seu colega foi passear enquanto ele estava fazendo o trabalho mais
importante que era salvar os afogados. O outro que foi agir nos determinantes sociais
tende a considerar que seu trabalho é mais importante. Ora, estas duas dimensões
CURAR A DOENÇA e PROMOVER A SAÚDE é duas faces de uma mesma moeda.
Reduzir a saúde a um destes aspectos é uma prova de miopia intelectual. Precisamos
entender que estas atividades são complementares uma da outra.
A Terapia Comunitária tem sido uma destas soluções que nasce da força/riqueza
da diversidade. A TC é uma ação cidadã que transcende classes sociais, profissões,
raças, credos, partidos... Cada um partilha seu saber, sua competência, construindo uma
grande rede solidária na multicultura brasileira. Os responsáveis por esta atividade são
5 Carta de OMS
os agentes comunitários de saúde, os agentes pastorais das diversas igrejas, as
lideranças comunitárias, os psicólogos, os assistentes sociais, os fisioterapeutas, os
advogados, os artistas, os sacerdotes, os pastores, os curandeiros, os médicos, os
educadores, os enfermeiros...
A rede da TC no Brasil
Temos:
30 pólos formadores
Em 26 Estados Brasileiros.
CAP 11
5 Carta de OMS
como referencial aos alicerces teóricos, a metodologia e a ética da abordagem da TC.
Por isso, é importante que ela seja contínua e integral, ou seja, contemple aspectos
internos (atuação da equipe de terapeutas) e externos (impacto individual e coletivo)
2-Auto-Estima
4-Mudanças Coletivas
Vínculo é tudo aquilo que liga os homens entre si e os homens à terra, a suas
crenças, aos seus valores, enfim, a sua cultura que lhe confere identidade, inclusão e
sentido de pertença. É importante identificar, quantificar e qualificar esses vínculos,
sobretudo quando as pessoas estão vivendo situação de crise e sofrimento psíquico.
Poder quantificá-los e, sobretudo, qualificá-los nos permite avaliar a situação vincular
em que o indivíduo se encontra e procurar sanear, reforçar e, principalmente,
desenvolver ações complementares de consolidação do tecido social, promovendo a
inclusão social.
1-Vínculos Saudáveis: são os vínculos que nos ligam aos outro de maneira
positiva, que nos deixam felizes e confiantes, pois reforçam nossa identidade pessoal e
cultural, consolidam nossa inclusão social e reforçam o sentimento de pertença do
grupo. Ter um trabalho, possuir documentos de identidade, pertencer a um grupo ou
associação, votar em dirigentes são vínculos que consolidam e promovem a vida em
sociedade. São esses vínculos que se tornam armaduras protetoras contra os choques
próprios de quem vive em família e na comunidade.
3-Vínculo de risco: É aqueles vínculos que infernizam nossa vida, que nos
separam uns dos outros, como intriga, a ausência de diálogo. Esse tipo de vínculo
5 Carta de OMS
prejudica nossa saúde, assim como o uso de drogas que nos exclui do grupo e das
chances de inclusão. Ou ainda, quando somos privados do suporte solidário do grupo
diante das dificuldades de saúde, de busca de emprego ou em momentos de perdas.
“As catástrofes são obras do acaso, mas a miséria é uma construção humana.”
Todo sofrimento é uma construção humana, dizia um poeta da comunidade Quatro
Varas. De fato, compreender que cada um de nó detém a chave do próprio sucesso e do
próprio fracasso é um importante passo para nos livrarmos de um sentimento de
impotência diante de fatos produtores de sofrimento.
5 Carta de OMS
“O homem que não tem sua história presente em sua memória está condenado a repeti-
la”.
Branden (19990 enumera seis grandes pilares que dão sustentação á auto-estima.
Vejamos:
Viver conscientemente
São muito importantes termos consciência do que está por trás dos nossos atos. É
preciso compreender os motivos que nos levam a ter atitudes geradoras de felicidade e
de sofrimento. Tudo é possível compreender, quando fazemos um esforço de
clarificação. Quando não compreendemos o que está acontecendo nos sentimos vítimas,
objetos e apenas sofremos os efeitos de causas ocultas, misteriosas, sempre vistas como
mais fortes do que nossa capacidade de resistir e superar. Poe isso, é muito importante a
reflexão, o esforço para compreender as motivações conscientes e inconscientes.
Conhecê-las é a melhor maneira de dominá-las, de transformá-las e de nos sentirmos
sujeitos e não mais objetos.
Auto-aceitação
Auto-aceitar-se é ver-se como uma pessoa que tem valor próprio. É poder dizer:
“Tenho valor, sou capaz.” É poder se afirmar, dizer “não, basta, me respeite.” Se
calamos, com certeza, o corpo vai falar através de vários sintomas: gastrites, úlceras etc.
Quem se rejeita e não se aceita não tem futuro promissor. Todo ser humano é imperfeito
e, como somos humanos, cometeu erros e, muitas vezes, somos possuídos por
sentimentos negativos. Se desejarmos nos livrar deles, temos que primeiro aceitar que
erramos. Se tivermos raiva, aceitemos ter raiva, se temos medo, aceitemos ter medo.
Como podemos aprender com um erro que não aceitamos que o cometemos?
Como podemos superar um medo que nos habilita quando negamos tê-lo? Para
superar nossas dificuldades temos que admiti-las, temos entrar em contato com nossos
sentimentos e experimentá-los, como pessoa, quando aceitamos serem amigos de nós
mesmos. A auto-aceitação exige que questionemos os porquês que nos levaram a ter
atitudes que consideramos desejáveis e apropriadas.
5 Carta de OMS
Auto-Responsabildade:
Auto-afirmação:
Não pode ser confundida com intransigência, nem agressividade. É aceitar ser o
que é com qualidades e defeitos, sem precisar esconder ou falsificar a si mesmo para
poder ser aceito pelos outros. “Eu sou o que sou e não estou neste mundo para
corresponder às expectativas dos outros”. Muitas pessoas têm medo de dizer o que
pensam por medo de não serem aceitas; outras têm medo de se revelarem felizes por
medo de sofrerem a inveja. Estes pensamentos só fazem imobilizar o crescimento
humano. Submeter-se à tirania dos outro só faz adiar confrontos que são inevitáveis e
perder a chance de virar a página ou fechar o livro que terminou de ler. Precisamos
nutrir em nós a confiança e a segurança naquilo que somos sem medo de represálias.
Intencionalidade:
Diz o ditado popular: “Nenhum vento sopra favorável quando não sabemos para
onde queremos ir”. Não podemos perder de vista nossos objetivos, nossos sonhos e
nosso potencial. Um dos maiores desafios da vida é deixarmos de viver na dependência
de pessoas e de coisas para atingirmos uma autonomia que nos permita comer pão do
suor de nosso esforço. Para tanto, precisamos ter disciplina, perseverança, capacidade
de nos organizar e, sobretudo, acreditar em nós mesmos. Precisamos ser cuidadosos e
sempre nos perguntar: “O que quero de minha vida? “O que estou fazendo para
conseguir?”“, “Preciso mudar de estratégia para corrigir os desafios?”, Vale à pena
manter certos relacionamentos que já sei de antemão que não me levaram a lugar
nenhum?” temos que ir a luta, temos que ter garra. Precisamos dizer sim, quando for
necessário, e dizer não, quando for preciso.
Integridade pessoal:
Exige autenticidade e cobrar dos outro aquilo que cobramos de nós mesmos.
Precisamos ter uma vida pautada em valores e crenças e não arredamos o pé desses
valores. Temos que evitar o que deploramos e, sobretudo, procurar sermos justos com
os outros. Para restaurarmos a integridade, precisamos admitir nossas falhas, sem culpar
os outros; entender o porquê daquilo que fazemos; reconhecer nossos erros e pedir
perdão; reparar os danos causados e nos comprometer a agir no futuro de forma
diferente.
5 Carta de OMS
4-Avaliação da rede de apoio social:
6-Como avaliar?
3. Avaliação do impacto:
_Vínculos
_ Auto-Estima
_ Rede social
Ficha nº 1
5 Carta de OMS
Refere-se à reflexão da equipe de terapeutas comunitários sobre o
desenvolvimento da etapa, Acolhimento, Escolha do Tema, Contextualização,
Problematização, e Encerramento (rituais de agregação)
Comunitário
capacidade de síntese
temas apresentados
5 Carta de OMS
2.4. Votação Justifique
3.Contextualização a) Justifique
informações/questionamentos sobre o
tema escolhido
roda
b)Conotação Positiva
Comunitária
5 Carta de OMS
Integrantes da Equipe:
1- ( )Acolhimento
2- ( )Desenvolvimento da TC
3- ( ) Encerramento
Localização:
18 a 45 anos
45 a 60 anos
+ de 60 anos
(1)
(2)
(3)
(4)
(5)
(6)
Estratégias de Enfrentamento:
5 Carta de OMS
1-
2-
3-
4-
5-
6-
7-
8-
9-
10-
Ficha nº3
(Plano Individual)
5 Carta de OMS
IDENTIFICAÇÃO:
Profissão: _______________________________________________
Religião:________________________________________________
Endereço: ______________________________________________
Telefone:________________________________________________
E-mail: __________________________________________________
Procure assinalar a alternativa que mais se aproxima da situação vivida pelo (a)
entrevistado (a).
5 Carta de OMS
2 Vínculo Conjugal: ( saber se a pessoa vive atualmente um relacionamento afetivo e
como lida com o conflito, caso haja.
2.2 por que você não convive 2.3 Quando vive um conflito
maritalmente com alguém neste com o (a) parceiro (a)?
momento?
C.2( ) Nunca conversam ou tem
2.1( )Tenho dificuldade de sempre um que se fecha e não
convivência. quer falar.
3.2 Por que você tem filhos (as)? 3.3. Na relação com os (as) filhos
(as):
3.1( ) Por opção ou não quero ter
filhos(as). B.3( ) Às vezes converso, brinco
e troco idéias.
3.2( )Não gosto de criança.
-3( ) A.3( ) tenho o hábito de 3.V( )
3.3( )Tentei, mas não consegui. conversar, brincar ou trocar
idéias.
5 Carta de OMS
4) Vínculo de moradia (Saber se tem moradia e como é o tipo da habitação).
A) B) (
Não {0 ponto} Sim {1 ponto}
4.2 Quais o motivo para não ter 4.3 Este lugar é:
um lugar para morar?
A.4 ( ) Próprio ou da família.
4.1( )Já tive mas perdi
C.4 ( ) Ocupação ou
4.2( )Falta condição material. cedido(emprestado)
-4( ) 4.V( )
4.3( )Eu acho que nunca vou ter B.4 ( ) Alugado
a minha casa.
5.1 Você conhece a comunidade, prédio ou bairro onde mora? (por ex: delegacia,
escola, associações, posto de saúde).
A) B) (
Não {0 ponto} Sim {1 ponto}
5.2 Por que você não conhece a 5.3 Como você se sente na
comunidade, prédio ou bairro comunidade, prédio ou bairro
onde mora? onde mora?
5 Carta de OMS
6) Vínculo com a leitura (saber sobre o uso da leitura como um recurso de inserção)
A) B) (
Não {0 ponto} Sim {1 ponto}
6.2 Qual a razão para não saber 6.3 Gosta de ler?
ler?
A.6 ( ) Sempre que eu posso.
6.1( )Tenho dificuldade para
aprender. B.6( )De vez em quando.
7) Vínculo com a escrita ( saber sobre o uso da escrita como recurso de inserção).
A) B)( ) Sim {1 (
Não {0 ponto} ponto}
C.7( )É muito
difícil
5 Carta de OMS
8) Vínculo Profissional (saber se houve capacitação e se trouxe benefício).
A) B) (
Não {0 ponto} Sim {1 ponto}
8.2Por que você nunca fez um 8.3 Na prática, este curso
curso? melhor tem lhe ajudado a fazer
melhor o que você faz hoje?
8.1( 0Não acredito nesses cursos.
C.8( )Este curso não me
8.2( )Ainda não tive chance. ajudou a fazer melhor o que eu
8.3( )Não sei se um curso vai me faço.
-8( ) 8.V( )
ajudar. B.8( )mais ou menos, porque
uso muito pouco o que
aprendi.
A) B) (
Não {0 ponto} Sim {1 ponto}
9.2 Por que você está sem 9.3 No desempenho do trabalho
trabalho e sem algum tipo de ou quanto à renumeração
serviço? recebida
5 Carta de OMS
10) Vínculo Religioso (saber sobre o envolvimento com um grupo religioso de apoio)
A) B) (
Não {0 ponto} Sim {1 ponto}
11.2 Vocês não se sentem 11.3 Vocês atribuem a saúde:
saudável por quê?
C.11( )Aos desígnios de Deus.
11.1( )Quando tem de morrer,
morre. A.11( )Ao tipo de vida que
levo.
-11( ) 11.2( ) Sei que estou doente, 11.V( )
mas não gosto de tomar B.11( )Aos remédios que tomo.
remédio.
5 Carta de OMS
12)Vínculo de Saúde Psíquica: (saber sobre o uso do remédio controlado).
A) B) (
Não {0 ponto] Sim {1 ponto}
12.2 Por que você não toma 12.3 Quantos remédios
remédio para os nervos? controlados você faz uso por
dia?
12.1( )Não gosto de tomar
remédio. A.12( ) 1(um)
13.1 Em caso de doença, você sabe a qual hospital ou centro de saúde se dirigir?
A) B) (
Não {o ponto} Sim {1 ponto}
13.2 Por quê? 13.3 Por quê?
5 Carta de OMS
14) Vínculo de apoio social 2: (saber a qualidade do acolhimento e o nível de
confiança no atendimento de saúde)
14.1 Vocês já precisaram ser atendidos (a) por algum profissional do Serviço de Saúde?
A) B) (
Não {0 ponto} Sim {1 ponto}
14.2 Por quê? 14.3 Durante o atendimento:
15) Vínculo de apoio social 3: (saber se ele(a) pode contar com a ajuda de alguém).
15.1 Se você precisar do serviço de saúde pode contar com alguém para chegar lá?
A) B) (
Não {0 ponto} Sim {1 ponto}
15.2 Por quê? 15.3 Quem?
16.1 Quando você se sente magoado (a), ofendido(a), injustiçado(a), humilhado(a) tem
com quem desabafar?
16.2 Quais o motivo por não ter 16.3 Quando você desabafa?
ninguém para desabafar?
C.16( )Nunca me escutam
16.1( ) prefiro guardar para mim
B.16( )Algumas vezes sinto-me
16.2( ) Não tenho amigo(as) escutado(a)
5 Carta de OMS
17) Vínculo de documentação: (saber se a pessoa possui documentos)
A) B) (
) Não { 0 ponto} ) Sim { 1 ponto}
17.2 Por que você não tem 17.3 Quais (is)?
documentos?
A.17( ) Todos (RG, CPF, C.
17.1( )Não preciso de Trabalho. Habilitação, C.
documentos para o tipo de vida Nascimento, Título de Eleitor.
-17( ) que levo. 17.V( )
B.17( ) Uns 2 ou três.
17.2( ) Nunca tive.
C.17( ) Somente um.
17.3( )Tinha, mas perdi ou
roubaram.
A) B) (
) Não {0 ponto} ) Sim {1 ponto}
18.2 Por que você não votou? 18.3 Por quê?
5 Carta de OMS
19) Vínculo de segurança: saber sobre o nível de consciência de participação na
própria segurança)
A) B) (
) Não {0 ponto} ) Sim {1 ponto}
19.2 Por quê? 19.3 O que você tem feito para
se proteger?
19.1( 0 Quando chega a hora de
morrer não pode impedir que C.19( ) Não saio mais de casa.
aconteça.
A.19( ) Evito sair sozinho(a)
19.2( )Não adianta, quando tem para lugares perigosos.
-19( ) que acontecer, acontece. 19.V( )
B.19( )Nada, confio em Deus.
19.3( ) Hoje não existe lugar
seguro.
A) B) (
Não {0 ponto} Sim {1 ponto}
20.2 Por que você não se Por que você se diverte?
diverte?
B.20( ) Com a diversão esqueço
20.1( ) Não tenho tempo. um pouco as preocupações.
-20( ) 20.V( )
20.2( ) Não tenho vontade. A.20( ) Para viver com mais
alegria, disposição e felicidade.
20.3( ) Diversão é luxo.
5 Carta de OMS
21) Vínculo Alimentar: (saber se a pessoa tem recursos para se alimentar e se está
satisfeita com os alimentos que ingere)
A) B) (
Não {0 ponto} Sim {1 ponto}
21.2 Quais o motivo? 21.3 Vocês gostam de sua
alimentação?
21.1( ) Como o que me dão.
A.21( )Sim, porque como o que
21.2( ) Nem sempre posso gosto
comprar.
C.21( )Como o que dá para
21.3( ) Para economizar e pagar comprar.
-21( ) outras contas. 21.V( )
B.21( ) Mais ou menos, ou, se
eu pudesse, melhoraria a
qualidade da minha
alimentação.
A) B) (
Não {0 ponto} Sim {1 ponto}
22.2 Por que você não se Por que você se preocupa?
preocupa?
C.22( )Porque é importante,
22.1( ) Não tenho nada com mais é coisa do governo.
isso.
B.22( ) Porque está na moda.
-22( ) 22.V( )
22.2( )Não tenho tempo para
isso. A.22( ) Porque todos os seres
vivos têm direito à vida.
22.3( ) Não tenho interesse.
5 Carta de OMS
23)Vínculo Tecnológico 1: saber se a pessoa faz uso e reconhece o valor do aparelho
telefônico).
A) B) (
Não {0 ponto} Sim {1 ponto}
23.2 Por que você não sabe 23.3 Como se sente?
usar um telefone?
A.23( )Muito bem e facilita a
23.1( ) É complicado. minha vida.
-23( ) 23.V( )
23.2( ) Não posso, pois não B.23( )Bem, mas evito usar.
tenho dinheiro para comprar.
C.23( ) Não gosto, prefiro falar
23.3( ) Não tive chance de pessoalmente.
aprender.
24) Vinculo Tecnológico 3: (saber se a pessoa faz uso e reconhece o valor do caixa
eletrônico).
A) B)
Não {0 ponto} Sim {1 ponto}
24.2 Por que você não sabe 24.3 Como se sente?
usar o caixa eletrônico?
C.24( )Bem, mas evito usar por
24.1( ) Não tive chance de uma questão de segurança.
aprender
B.24( ) Não gosto de ficar na
-24( ) 24.2( ) É complicado. fila esperando. 24.V( )
5 Carta de OMS
25) Vínculo da solidariedade: ( saber do nível de participação e sensibilidade com os
que estão precisando de apoio.
25.1 Quando você sabe que alguém de sua comunidade precisa de ajuda, você faz
alguma coisa?
A) B) (
Não {0 ponto} Sim {1 ponto}
25.2 Por quê? 25.3 Por quê?
26) Vínculo Social: (saber se a pessoa dispõe de algum grupo de apoio social)
A) B) (
Não {0 ponto} Sim {1 ponto}
26.2 Por quê? 26.3Por quê?
5 Carta de OMS
27) Vínculo de Dependência: (saber se a pessoa possui algum vício)
A) B) (
) Não {0 ponto} ) Sim { 1 ponto}
27.2 Por quê? 27.3 por quê?
A) B) (
) Não {0 ponto} ) Sim {1 ponto}
28.2 Por que você não 28.3 Por que você precisa
acredita? dessa crença?
7- Orientações:
3) Para saber QUALIDADE dos vínculos existentes (contabilizados nas questões 1.1,
2.1, 3.1, 4.1...28.1) veja a resposta:
5 Carta de OMS
3.2) Vínculo frágil - Letra B (B.1, B.2, B.3, B.4...B.28)
28 28
12 12
5 Carta de OMS
Tabela:
Vínculos
existentes.
Ausência Vincular Quantitativo Qualitativo
1-Vinculo
Familiar
2-Vínculo
Conjugal
3-Vínculo
Filial
4-Vínculo de
Moradia
5-Vínculo
Comunitário
6-Vínculo
com a leitura
7-Vínculo
com a escrita
8-Vínculo
Profissional
9-Vínculo
Econômico
10-Vínculo
religioso
11-Vínculo de
Saúde Física
12-Vínculo de
Saúde
Psíquica
13-Vínculo de
Apoio Social 1
5 Carta de OMS
14- Vínculo de
Apoio Social 2
15-Vínculo de
Apoio Social 3
16-Vínculo de
Amizade
17-Vínculo de
Documentação
18-Vínculo de
Cidadania
19-Vínculo de
Segurança
20-Vínculo de
Lazer
21-Vínculo
Alimentar
22-Vínculo
Ecológico
23-Vinculo
Tecnológico 1
24-Vínculo
tecnológico 2
25-Vínculo de
Solidariedade
26-Vínculo
Social
27-Vínculo de
Dependência
28-vínculo
Espiritual
Total Pontos
5 Carta de OMS
Quantitativo Qualitativo
V. Saudável
1º aplicação V. Frágil
V. de Risco
V. Saudável
2º aplicação V. Frágil
V. de Risco
2. Avaliação da Auto-Estima
A ( ) Constantemente.
C ( )Dificilmente.
D ( )Não
5 Carta de OMS
B ( )Muitas vezes sim
A ( ) A todo momento.
A ( )Todas as vezes.
C ( ) Poucas vezes
B ( )Me empenho.
D ( ) Em tempo algum.
C ( )Não.
B ( )Provavelmente, sim.
A ( )A toda hora.
D ( ) Nunca.
B ( ) faço esforço
A ( ) Sempre.
D ( ) em tempo algum.
C ( ) Às vezes.
D ( ) Não
B ( )Muitas vezes
C ( )Dificilmente
A ( ) Constantemente
D ( ) jamais.
B ( )Me esforço.
5 Carta de OMS
C ( ) Raramente
A ( ) A todo o momento.
D ( )Não consigo.
B ( )Me interesso
D ( )Não.
A ( )Constantemente.
C ( )Dificilmente
D ( ) Em tempo algum.
A ( ) Sempre.
B ( ) Às vezes.
B ( ) Me esforço para.
A ( ) Constantemente.
C ( ) Dificilmente.
D ( ) Jamais.
D ( ) Não
A ( ) A todo o momento.
5 Carta de OMS
13) Quando erra, você assume e pede desculpa para o outro?
A ( ) Todas as vezes.
C ( ) Poucas vezes
B ( ) Me empenho.
D ( ) Não.
14) Você consegue dizer não sem se sentir e aprender com eles?
C ( ) Muito pouco
B ( )Provavelmente sim.
A ( ) a toda hora.
D ( ) Nunca.
B ( )Faço esforço.
A ( )Sempre.
D ( ) Em tempo algum.
C ( ) Às vezes.
D ( ) Não
C ( )Dificilmente.
A ( ) Constantemente.
A ( ) Continuamente
D ( ) Jamais.
B ( ) Me esforço.
C ( )Raramente.
A ( )A todo o momento.
5 Carta de OMS
D ( ) Não consigo.
C ( ) Às vezes consigo.
B ( ) Me empenho.
B ( )Me interesso.
C ( ) em algumas situações
D ( ) Não.
A ( Constantemente.
C ( )Dificilmente
D ( ) Em tempo algum.
A ( ) Sempre.
B ( ) Às vezes.
Tabulação:
Alternativa Pontuação
Letra A 4 pontos
Letra B 2 pontos
Letra C 1 ponto
Letra D 0 ponto
5 Carta de OMS
Resultado:
Ficha nº 3:
1.1( )Não
Por quê?
3.1( )Não
3.2( )Sim
4.1( )Não
4.2( )Sim
5 Carta de OMS
Ficha nº 4
O terapeuta devem ainda considerar todos os outros fatores que podem estar
também influenciando a melhoria das condições de vida como adoção/reforço de
programas e políticas de intervenção.
Anexo A
Termo de autorização:
Eu, ,
5 Carta de OMS
Entrevistado (a):
Entrevistador (a)
, de de 20 .
Anexo B
5 Carta de OMS
CAP. 12
O Impacto da TC na saúde
Introdução:
Metodologia:
Procedimentos
5 Carta de OMS
Instrumento:
Resultados:
Estresse 26,7%
Família 19,7%
Trabalho 9,7%
Conflitos
Outros
5 Carta de OMS
Agrupamentos sob a mesma categoria de estresse (somatizações e ansiedade
19,7%) e emoções negativas (raiva, vingança, mágoa, desânimo e desprezo 7%). Na
análise destes resultados, cumpre destacar que esta categoria foi à predominante
absoluta em todos os 12 estados.
Trata-se das relações entre filhos e pais, irmãos, esposo e esposa, em que há
separação, traição e ciúmes. A família é o lugar primordial para dar e receber apoio,
acolhimento e pertencimento aos seus membros. No entanto, esses resultados sugerem
que a família está vivendo uma crise, tendo dificuldade de assumir suas funções básicas
adequadamente. Neste sentido, a Terapia Comunitária tem sido, para muitos, o único
espaço de apoio, acolhimento e pertencimento. Dentre os depoimentos espontâneos de
participantes das rodas, a Terapia Comunitária tem sido uma família substituída, para
muitos indivíduos, evidenciando que “a comunidade age lá onde as famílias e as
instituições sociais falham” (BARRETO, 2005).
5 Carta de OMS
No nosso entender, a categoria violência e a categoria depressão têm algo em
comum. A categoria violência se volta contra o entorno, ou seja, contra o outro:
mulheres, crianças, idosas são vítimas de assaltos, homicídios, gangues, violência
sexual. Já agredir, bater, matar, destruir, muitas vezes, é uma resposta às frustrações,
perdas angústias, estresses, fracassos etc.,
5 Carta de OMS
O encaminhamento para a rede social é um dos indicadores de saúde
comunitária. As pessoas que são atendidas nas rodas de Terapia
Comunitária. As pessoas que são atendidas nas rodas de Terapia
Comunitária, para trabalhar seu sofrimento, precisam se beneficiar da
rede de apoio médico-psicossocial formal e informal. Todo
encaminhamento feito após a Terapia Comunitária para os casos que
requerem os cuidados de especialistas é uma busca de articulação das
ações básicas com a rede, estes precisam ser removidos para que, de fato,
haja uma complementaridade das ações. Do contrário, corremos o risco
de termos práticas isoladas sem nenhum efeito integrador e fortalecedor
dos vínculos pessoais e sociais.
Categorias:
Empoderamento Pessoal-31,3%
5 Carta de OMS
Buscar ajuda profissional e ações de cidadania-12,02%
Outros 1,53%
Empoderamento Pessoal:
O que mais nos chamou a atenção foram os depoimentos que demonstraram uma
atitude positiva diante dos acontecimentos. Em face de contextos traumáticos
estressantes, as pessoas agiam como quem tem certo domínio da situação,
demonstrando uma capacidade resiliente surpreendente.
5 Carta de OMS
seus próprios fracassos. Segue a lógica de “ Tua culpa...minha salvação”. Culpar
o outro pela infelicidade e fracasso dificulta as mudanças, pois só há mudança
quando reconhecemos nossos erros.
Encaminhar ao AA
Procurar conversar com pessoas diferentes
Procurar ajuda de um grupo de apoio
Procurar conversar com os vizinhos e dar boas risadas
Visitar os grupos do ALANOM
Participar de grupos anônimos
Telefonar para amigos
Trocar experiências no grupo
Procurar a pastoral da sobriedade
Praticar o amor exigente para ajudar a superar o sofrimento
Procurar apoio na comunidade
Enviar para a Terapia Comunitária
Buscar lutar pelos direitos
5 Carta de OMS
O que chama a atenção é a riqueza e a adversidade dos grupos de auto-ajuda
como AA, NA, Alanom, pastorais de diversas igrejas que funcionam como redes de
apoio. Durante as rodas de Terapia Comunitária a troca de experiências ressaltando as
estratégias de resolução das dificuldades, devidamente registradas, possibilita emergir
vários recursos, sejam institucionais ou culturais. A Terapia Comunitária tem se tornado
um espaço de interconexão dessas redes. Achamos que são recursos importantes que
precisam ser reconhecidos e valorizados em todo o programa de prevenção, reinserção e
encaminhamento para a rede social. Neste sentido, constatamos o que alerta a OMS:
Quando uma pessoa reconhece no outro – vizinha, amigo – um recurso com a qual pode
contar, torna-se menos dependente das instituições, menos oprimida pelos próprios
problemas e, portanto, mais autônoma.
Busco forças na fé
Tenho bastante fé
Rezo em dobro
Confio em Deus
5 Carta de OMS
respaldada pelo seu referencial teórico e por seu protocolo pautado por regras ( não dar
conselhos, não julgar, escutar com respeito, falar na primeira pessoa, ao promover a
troca de experiência entre os participantes), induz ao respeito às crenças pessoais, mas
favorece, sobretudo, a que cada pessoa possa construir suas próprias soluções sem gerar
novas dependências tanto química como religiosa.
5 Carta de OMS
Procurei a prefeitura
Procurei um advogado
Relaxar o corpo
Muita poesia
Nas rodas de Terapia Comunitária, cada vez mais as pessoas ousam falar de seus
recursos culturais para resolução de problemas do cotidiano. Poder falar disso no grupo,
valoriza e reconhece o saber dos antepassados. Os interlocutores sentem-se
reconhecidos, o que facilita o empoderamento e o resgate da auto-estima.
5 Carta de OMS
Apesar de termos documentado as estratégias específicas para cada problema
apresentado, decidimos apresentar, a título de exemplo, as estratégias de resolução
utilizadas pela comunidade para o uso e abuso de álcool e outras drogas.
4.1-Apoio Familiar:
5 Carta de OMS
a) Rede de amigos e vizinhos:
Para ajudar o viciado, é preciso falar menos, ouvir e dar mais atenção.
Ninguém pode esquecer que sem a ajuda espiritual tudo torna-se mais
difícil
Evitar amigos e ambientes que têm drogas é uma boa dica para quem
quer se livrar delas
Quem tem objetos de valor, guarde-os senão o viciado leva para vender
Quando estou com vontade de fumar, eu chupo uma bala ou tomo água
de gole em gole.
Foi nos AAA que eu aprendi que o alcoolismo é uma doença e que tem
tratamento
Eu aprendi com Amor Exigente que nada é mais terapêutico do que o amor.
No NA, cada um de nós tem um padrinho que nos acompanha, nos anima e nos
dá força.
5 Carta de OMS
excluindo outras abordagens profissionais, privando os protagonistas de acesso a outros
recursos complementares, que, com certeza, agregariam valores ao trabalho espiritual.
Dito isso, a redução desta problemática complexa a apenas um dos aspectos, seja
biológico, social ou espiritual gera intolerância a outros métodos, empobrece os
recursos necessários e indispensáveis, dificulta o tratamento e, sobretudo, a inserção
social dos indivíduos. Este reducionismo limitante não é apenas privilégio de algumas
religiões fundamentalistas, mas, também, de todos os modelos ideológicos fechados em
seus próprios conceitos, tachados de científicos, dogmas que excluem outros recursos e
abordagens complementares. Precisamos ultrapassar estes “preconceitos” para realizar
um trabalho transdisciplinar e transcultural que, com certeza, seria de grande valia tanto
para nós, profissionais, como para todos os usuários e para a própria sociedade.
A fé alivia o sofrimento
Eu fiz um trato com Deus: se meu marido parasse de beber, eu pararia de fumar
Eu descobri que não são só remédios que curam, mas a fé em Deus ajuda muito.
5 Carta de OMS
comunidade não está em condições de lidar, por isso, as frases seguintes se referem ao
CAPS como um recurso importante no tratamento:
5 Carta de OMS
Apesar do curto intervalo entre as entrevistas, os resultados mostram uma nítida
melhoria. O intervalo de dois meses entre a primeira e a segunda entrevista é exíguo
demais para que haja uma mudança nas condições materiais. Por exemplo, não é
possível imaginar que em dois meses se adquira uma casa, se saia do analfabetismo ou
se gere um filho. Na realidade, são as percepções das pessoas que mudaram. Uma frase
que tem surgido nas avaliações, em todo o país, é bem significativa: “Lá em casa os
problemas continuam os mesmos, mas eu não sou mais a mesma”. Resignificar idéias e
acontecimentos são formas de melhor se situar em contextos caóticos, de se sentir
sujeito pensante e atuante na busca de soluções.
5 Carta de OMS
6- Depoimentos e Aprendizados:
Criação de vínculos:
a) Partilha e Acolhimento:
“Somos diferentes”
5 Carta de OMS
Concluindo
Durante esses dois últimos anos de trabalho, aplicando a terapia comunitária em vários
contextos, graças ao convênio entre a Secretaria Nacional Antidrogas A
UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ, MOVIMENTO INTEGRADO DE
SÁUDE COMUNITÁRIA DO CEARÁ E POLOS FORMADORES, podemos constatar
que esta metodologia é um instrumento valioso de intervenção psicossocial na saúde
pública. A terapia comunitária funciona como uma primeira INSTÂNCIA DE
ATENÇÃO BÁSICA em saúde pública. Ela acolhe, escuta, cuida e direciona melhor as
demandas e permite que só afluam para os níveis secundários e terciários de
atendimento as que não foram resolvidas neste primeiro nível de atenção. Ela não tem a
pretensão de ser uma panacéia, nem de substituir os outros serviços da rede de saúde e
sim complementá-los. Atua no nível primário promovendo a saúde e jamais trabalhando
com a patologia.
Os elementos que emergiram desse trabalho têm como objetivo suscitar debates
sobre importância sobre as redes de apoio social para a promoção da saúde 5, tendo a
TC como um instrumento de mobilização dos recursos pessoais e culturais na
construção de redes de apoio social, os dados coletados neste trabalho são encorajadores
e nos incitam a desenvolvermos outros instrumentos de avaliação do impacto da TC
junto a Às comunidades. Este trabalho foi um primeiro passo neste sentido e
convidamos outros profissionais a se debruçarem sobre este instrumento para que
possamos aprimorá-lo para termos maior impacto em suas ações.
5 Carta de OMS
estudos ouvirem e observar os professores, lembrar de sua obrigação de esgotar a cada
ano a programação que lhes fora atribuída, assistir suas aulas, ler os apontamentos dos
alunos [...]”. Sobre esse viés empirista – o conhecimento vem pronto de fora e a
preocupação maior é que aprendam, decorem e executem as instruções transmitidas,
Thompson (2000) lembra que é uma estratégia de exclusão, portanto, profundamente
ideológica, ou seja, são formas simbólicas para criar, ou reproduzir relações de
dominação, não levando as relações que respeitem o diferente, pois não são
democráticas nem participativas.
5 Carta de OMS
Modelo Vertical Núcleo de Bom senso Por outro lado...
É certo que deve haver respeito Mas isto não deve significar
por parte do aluno em relação ao uma visão ingênua; é preciso
conhecimento a que está tendo também desenvolver no
acesso, pois se trata do aluno a capacidade de se
Aluno respeitar o conhecimento
patrimônio acumulado pela perguntar sobre a validade
humanidade. dos conhecimentos
apresentados, que não
devem se tornar fetiches,
dogmas.
5 Carta de OMS
Como podemos perceber, a verticalidade como modelo didático tem
características que podem ser mantidas, são úteis, validas. A nossa tarefa é transpor os
seus limites. É ousar para superá-la e não negá-la: “gosto de ser gente, porque,
inacabado, sei que posso ir mais além dele”. (freire, 1997, p.59).
5 Carta de OMS
A separação entre intelecto e afeto enquanto objetos de estudo é uma das principais
deficiências da psicologia tradicional, uma vez que esta apresenta o processo de
pensamento como um fluxo autônomo de pensamentos que pensam a si próprios,
dissociado da plenitude da vida, das necessidades e dos interesses pessoais, das
inclinações e dos impulsos daquele que pensa. [...] Esse pensamento dissociado deve
ser considerado tanto um epifenômeno sem significado, incapaz de modificar qualquer
coisa na vida primitiva a exercer influência sobre a vida pessoal, de um modo
misterioso e inexplicável.
Diálogo é movimento
Diálogo é insegurança
Diálogo é desconfiança
Diálogo é esclarecimento
Diálogo é castigo
Diálogo é posicionamento
Diálogo é surpresa
Diálogo é felicidade
Diálogo é punição
5 Carta de OMS
Diálogo é alegria
Diálogo é carinho
Diálogo é transformação
Diálogo é confronto
Aceitar que não é de uma vez que vamos conseguir transpor os limites da
verticalidade já se constitui como ação concreta na direção da nossa utopia, não no
sentido de algo impossível de ser realizado, mas como sonho possível, como afirma
Freire (1979, p.27):
É lição sabida que o novo não se constrói e nem surge por passe de mágica. O novo
nasce do arcaico, mas não repete o arcaico. O novo cria outros paradigmas, mas
preserva dos arcaicos valores e práticas indispensáveis à construção da ponte para o
futuro. A transição do velho para o novo é um processo. Em uma determinada hora, os
dois convivem lado a lado [...]. Até que é chegado o momento em que o novo ganha
velocidade e ocupa o palco da história e deste se retira o arcaico para desempenhar as
funções de referências, de arquivo, de memória, de cultura. Esta concepção do processo
histórico é uma norma que é visível até mesmo nos tensos momentos de ruptura.
a) O professor não pode mais falar: tudo tem que sair do aluno. Há aqui uma
confusão entre a necessidade de levar em conta o que o aluno sabe e a crença
de que se pode tirar todo o conhecimento do aluno;
5 Carta de OMS
c) Em decorrência do equívoco anterior, o que se costuma ver é a prática do
vazio, do não dar conteúdo, do deixar o achismo tomar conta;
d) Estamos todos acostumados a ouvir: “Nós já temos esta prática”, “Isto não é
novo para nós”, “Faz tempo que trabalhamos assim”, ou “Ah! Só não damos
esse nome”. Cuidado: pode ser um sutil mecanismo de resistência;
e) Outra forma de resistência é elogiar tanto a nova proposta, mas tanto, que
nem é possível colocá-la em prática;
A realidade não pode ser modificada, senão quando o homem descobre que é
modificável e que ele pode fazê-lo. É preciso, portanto, fazer desta conscientização o
primeiro objetivo de toda a educação: antes de tudo, provocar uma atitude crítica, de
reflexão, que comprometa a ação.
Queremos salientar que o nosso projeto é fazer da nossa prática reflexão - ação -
reflexão grandes cirandas pedagógicas de humanização. Escolhemos colocar as pessoas
em roda em vez de colocá-las em fila (BRANDÃO, 2005). Nessa disposição, todos são
importantes e legítimos, sem lugar privilegiado. Portanto, temos que ficar atentos
porque nem sempre a estratégia vertical aparece de forma clara, pois.
Muitas vezes, pode vir precedida ou sucedida por certo “glacê construtivista”, ou seja,
por algumas atividades mais “modernas”, “diferentes”, mas onde não se altera a
postura epistemológica, já que a relação básica continua sendo de depósito de
informações na cabeça do aluno.
5 Carta de OMS
sementes, mesmo quando as rosas estiverem murchas. Parafraseando Caetano Veloso,
em Dom de iludir, é a dor e a delícia da condição humana.
Para que a intervisão construa pontes que permitam travessias para “novos
conhecimentos, emoções e ações” através da partilha de experiência reflexiva e
respeitosa com os diferentes saberes do grupo pautada nas três dimensões da nossa
proposta – sistematização do trabalho; crescimento profissional e humano; melhoria na
qualidade de vida e bem-estar da população -, lembramos que é fundamental para o
facilitador (a) alguns cuidados que devem ser tomados antes, durante e depois da
intervisão. Vejamos:
Existem aqueles que não mais planejam, talvez já tenham robotizado suas ações,
portanto, não têm a consciência do que estão fazendo, nem se ainda podem construir
alguma coisa. Alguns até dizem: “Nem preciso mais pensar, vou fazendo o que mandam
fazer... Eu não necessito planejar, já vou fazendo, porque sei onde vai dar”. E assim por
5 Carta de OMS
diante. Nesta circunstância, parece estar presente a alienação do homem como sujeito,
na medida em que assume a atitude de dominado, fazedor dócil e outras tantas
denominações que podem ser impressas ao sujeito, quando este se torna objeto nas
mãos de outrem. (LEAL, 2001). Mas, como planejar?
c) Tenha claro onde está querendo chegar com a atividade que está
desenvolvendo. Considere: Perspectivas em relação ao futuro! Como será
o amanhã a partir do que estamos fazendo hoje?
5 Carta de OMS
é condição para quem se dispõe a trabalhar com grupos e comunidades além
das certezas lineares. Não esqueça: flexibilidade!
Dimensão Elementos
Conteúdo: Explicitação do
conteúdo a ser trabalhado
5 Carta de OMS
Nesse sentido, a ação do facilitador não deve ficar limitada à oferta de
informações, como se o outro fosse um depósito, muito menos assumir uma atitude
liberal, deixando o grupo sozinho e esperando que, pelo achismo e pela espontaneidade,
o conhecimento germinará. O que queremos:
Algumas coisas que eu não sei, ainda, eu posso aprender sozinho, por minha conta, mas
elas são poucas e não são as coisas mais importantes. Assim, muita coisa e as mais
importantes para minha vida eu só aprendo com a ajuda dos outros. Mas acontece que,
sem a minha participação no que aprendo as outras pessoas não podem, sozinhas, me
ensinar o que não sei. Elas só podem me ajudar a pensar e a aprender por minha conta,
com o meu esforço e com a ajuda delas, o que não sei pensar ainda porque ainda não
aprendi. (BRANDÃO, 2005, p.62)
5.2-Durante a intervisão
5 Carta de OMS
Acreditar que o outro pode se desenvolver é o ponto de partida para fazer da
intervisão um espaço de troca, descobertas e crescimento. Paulo Freire (1996) assume
que prefere ser criticado como idealista e sonhador inveterado do que deixar de apostar
no ser humano.
O diálogo durante a intervisão deve ser claro e franco, possibilitando que todas
as questões pertinentes ao grupo sejam discutidas abertamente. Para que isso aconteça,
um tempo para falar e um tempo para escutar é essencial. Vejamos o que diz Freire
(1996, p.116):
Aceitar o diferente com humildade é outra condição “virtude” para uma relação
dialógica permeada pela sinceridade. Se estivermos convictos de que as nossas idéias,
opiniões, pensamentos são as únicas estratégias viáveis as melhores, não podemos
escutar quem pensa diferente de nós, então, só nos resta discriminar, recusar, destratar,
proibir, evitar.
Nenhum ser humano é superior ao outro. A ausência de respeito pelo outro ser
humano na prática dialógica se expressa “na arrogância e na falsa superioridade de uma
pessoa sobre outra, de um gênero sobre o outro, de uma classe ou de uma cultura sobre
a outra, é uma transgressão da vocação humana do ser mais [...] (FREIRE, 1996, p.121-
122). Queremos ou não, somos diferentes e:
Não podemos fazer (“exigir”) com que todos dancem de acordo com a música que
tocamos [...] É evidente que temos de ter nossas idéias e não sermos caniços agitados
pelo vento. Mas devemos respeitar a opinião dos outros e com eles estabelecer um
diálogo em pé de igualdade (GUARESCHI, 2005, p. 47).
5 Carta de OMS
A sinceridade solicita de todos os presentes abertura ao mundo das muitas
indagações, das possíveis respostas e curiosidades frente ao contexto em que estão
inseridos e a aceitação da própria natureza na condição da incompletude. Conflitos estão
presentes na dinâmica do grupo que pensa, sente e age na direção dos seus propósitos e,
com certeza, são menos prejudiciais do que o disfarce, o acobertamento, o fingimento, a
hipocrisia, a simulação.
Para nós, o ato de criticar assume o sentido de agitar o grupo para pensar
respostas aos problemas suscitados, portanto, não é falar mal dos outros, nem colocar
uns contra os outros. É fundamental que todos se dêem bem.
A culpa excessiva pelas lembranças das nossas transgressões passadas com uma
contínua atitude de censura e ódio a nós mesmos não leva a nenhum objetivo, a não ser
o de representar uma fonte implacável de autopunição e de sofrimento induzido por nós
mesmos.
5 Carta de OMS
É, pois, com objetivo de procurar fazermos o melhor possível que apresentamos
abaixo uma sugestão para apreciação dos encontros de intervisão, tendo como
referencial os seus propósitos.
I-Identificação
-------------------------------------------------------------------------------------------------
-----------------------------------------------------------------------------------
-------------------------------------------------------------------------------------------------
-----------------------------------------------------------------------------------1.3 A
qualidade de vida e bem-estar da comunidade em que você atua:- ------------------
-------------------------------------------------------------------------------------------------
----------------------------------------------------------
-------------------------------------------------------------------------------------------------
-----------------------------------------------------------------------------------
-------------------------------------------------------------------------------------------------
-----------------------------------------------------------------------------------
-------------------------------------------------------------------------------------------------
-----------------------------------------------------------------------------------
5 Carta de OMS
5.2.6 decisão coletiva; intervisor a serviço do grupo
Toda e qualquer decisão que necessita ser tomada parta que o grupo avance em
sua prática precisa ser refletida e adotada pelo grupo. O (a) intervisor(a) não deve fazer
escolhas pelo grupo, mas ajudá-lo a reconhecer a necessidade de fazer uma escolha,
tendo em vistas os propósitos a ser alcançados. O grupo é responsável pelas suas ações.
O intervisor como autoridade auxilia o grupo a crescer e para isto não precisa de
subordinados.
5.2.7 Escrita
1. Em vez de ficar correndo atrás de criar vários grupos, busque manter o grupo
que já está feito.
5 Carta de OMS
7. As experiências mostram que, quando um trabalho está voltando para o
interesse particular/partidário, com registro de dificuldade para chegar ao
local, reclamações pela ausência de alguns sem a valorização dos que vieram
julgamento, centralização das ações deixando o outro sentir-se incapacitado,
o trabalho “morre na praia”;
8. Acreditar no que está fazendo é também uma força para seguir em frente;
9. Não vale a pena ficar reclamando de barriga cheia que as coisas não dão
certo. É preciso compreender que, se não fizer acontecer diferente, os
problemas só vão aumentar. É preciso romper com a dependência de que a
solução está no outro;
10. É necessário cuidar-se e se deixar cuidar para poder estar bem para cuidar do
outro.
Herbert Mc Luhan (1974) diz que o planeta é a sala de aula e rompe, assim, com
a idéia de um tempo e espaço definido tradicionalmente para aprender. Em qualquer
lugar e tempo pode-se aprender, são muitas as possibilidades.
5 Carta de OMS
6. Quem sou eu? Do que sou capaz?
A segurança com que a autoridade docente se move implica outra, a que se funda na
sua competência profissional. Nenhuma autoridade docente se exerce ausente desta
competência. O professor que não leva a sério sua formação, que não estuda, que não
se esforça para estar à altura de sua tarefa não tem força moral para coordenar as
atividades de sua classe[...]. Há professores e professoras cientificamente preparados,
mas autoritários a toda prova. O que quero dizer é que a incompetência (“afetiva ou
profissional”) desqualifica a autoridade do professor.
Essas reflexões nos possibilitam uma constatação: NÃO BASTA QUERER SER
INTERVISOR (A). a dinâmica interativa exige muito mais do que a simples aceitação
para realizar um trabalho, formação técnica e tempo disponível. Exige identificação
com a ação de que o “conhecimento precisa de expressão e comunicação” (GADOTTI
2000, P.2).
5 Carta de OMS
“Está escolhendo com quem trabalhar, está definindo para que fazê-lo, está
pensando num sentido para a sua vida, está escolhendo um com, delimitando um
quando e onde [...] Está definindo quem vai ser, está escolhendo um papel adulto e, para
fazê-lo, não pode se basear numa outra coisa que não é o que” (BOHOSLAVSKY,
1997, p.79).
c) Garantir que todos no grupo possam ter vez e voz, que todos pensem ser
reconhecidos em sua singularidade, e as diferenças possam ser respeitadas.
5 Carta de OMS
não tem utilidade, sentido. É preciso saber pensar a realidade local e global. Nós somos
os cidadãos dessa grande nação chamada Terra.
5 Carta de OMS
7) Colaboradores: Com que a equipe pode contar para a implantação do
projeto?
5 Carta de OMS
outras expectativas além do que está previsto, para juntos analisarem
como vão conciliar o tempo com a programação. O intervisor deve se
comprometer somente com o que é necessário e possível!
Procure saber qual o perfil do grupo com que está trabalhando, pois
também é relevante para o planejamento das intervisões. O desinteresse
ou mesmo a ausência física pode ser porque o participante ache que está
fácil demais ou porque é tão difícil que não dá para entender mesmo e
por isso desista de prosseguir. Exemplo:
5 Carta de OMS
Exemplo:
Pólo:- ----------------------------------------------------------------
1.
2.
3.
1.
2.
3.
Talvez não devamos lutar pela premiação final, nem mesmo pelos louros e escalpos...
Podem ser irrisórios... O que pode e certamente deve alimentar nossa luta e nossa
paixão – que não tem preço – é o sonho de que todos saibam, sobretudo os opressores,
claramente, de que lado estamos! Não arredaremos pé do nosso compromisso de
fidelidade cotidiana com a vida, com a verdade e com os massacrados e excluídos.
Manteremos nossa reserva ético-política em favor da vida.
Somos transição buscando estar com o outro e desejosos de que o outro esteja
conosco, com liberdade para pensar, sentir, desejar e criar. Raul Seixas, em
Metamorfose ambulante, expressa muito bem essa liberdade para transcender e não
5 Carta de OMS
apenas reproduzir: “Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante. Do que ter aquela velha
opinião formada sobre tudo”.
Com muito prazer, alegria e satisfação fecharam esta parte do nosso texto com o
andarilho da esperança e do amor – o querido mestre Paulo Freire:
É impossível ensinar sem esta coragem de querer bem, sem a valentia dos que insistem
mil vezes antes de uma desistência. É impossível ensinar sem a capacidade forjada,
inventada, bem cuidada de amor {...} É preciso ousar para dizer, cientificamente e não
bla-bla-blantemente, que estudamos, aprendemos, aprendemos, ensinamos,
conhecemos com o nosso corpo inteiro. Com os sentimentos, com as emoções, com os
desejos, com os medos, com as dúvidas, com a paixão e também com a razão crítica
{...}. É preciso ousar para jamais dicotomizar o cognitivo do emocional. É preciso
ousar para ficar ou permanecer ensinando ao risco de cair vencidos pelo cinismo. É
preciso ousar, aprender a ousar para dizer não à burocratização da mente a que nos
expomos diariamente. É preciso ousar para continuar quando às vezes se pode deixar
de fazê-lo, com vantagens materiais (1994, p10).
Conclusão:
5 Carta de OMS
usada a serviço de uma especialidade. Nestes casos, surgem conflitos na equipe na qual
predominam questões de auto-afirmação e competição, repercutindo negativamente no
paciente que se torna peça no jogo do poder. Estamos convencidos de que toda a
interdisciplinaridade deve haver prevalência de uma especialidade sobre o objeto da
ação. A preocupação é o sujeito de quem tenho certo conhecimento e posso trazer
contribuição parcial. Isto pressupõe uma atitude de respeito a outros profissionais
porque passo a conhecer meus limites e tenho consciência da complexidade do “objeto-
sujeito” de minha ação.
Nossa ação tem nos firmado na convicção de que o futuro da psiquiatria não será
mais no investimento de espaços asilarem que excluem os que sofrem, que guetizam os
doentes mentais e os excluem da participação dos valores culturais, mas, sobretudo, no
reforço dos vínculos interpessoais e culturais que unem, fortalecem e fazem o homem
descobrir o sentido da pertença.
A cultura é tal qual teia invisível que integra e une os indivíduos. O que
construímos tem sido fruto de um esforço coletivo, de engajamentos pessoais, de
vontade de fazer algo para amenizar o sofrimento de populações excluídas da partilha.
5 Carta de OMS
Estado/ Pólo Coordenação Contato
Distrito
Federal
5 Carta de OMS
15.Pernambuco Espaço Áurea Silva mabsilva@hotlink.com.br
Família
espacofamilia@yahoo@hotmail.com
5 Carta de OMS
ENFERM
AGEM
ESOPS
Depoimentos
(GESTÃO 2007/09)
5 Carta de OMS
“Passei a entender por que eu gosto de acolher as pessoas e sou muito acolhida.
Na minha vida a frase: “eu reconheço no outro o que eu vejo em mim”, faz muito
sentido. Esse curso me deu coragem para me assumir, aceitar que sou criativa e pôr pra
fora o que penso e o que sinto sem medos. Estou me entendendo melhor, estou mais
calma tendo mais paciência, sou uma pessoa transformada. Eu era um casulo fechado,
agora sou uma borboleta voando.”
“Uma prática de terapia popular, mambembe, que entra nas casas dos José e das
Maria e das comunidades em que lês vive, alavancando o saber popular e as
competências aprendidas na raça para fazer frente aos desafios que a vida oferece... A
Terapia Comunitária, proposta por Adalberto Barreto, tem me oferecido um contexto
eficiente, mas, acima de tudo, amoroso e humano em que, como terapeuta, tem vivido o
lugar de criadora de um contexto de mudança em que o resgate da dignidade e do
respeito pela pessoa humana são as estrelas-guia. Trabalhar de maneira simples e
popular com a complexidade desses contextos comunitários tem me trans formado
como terapeuta e como pessoa.”
“A terapia me deu uma paulada na cabeça, tirou tudo do lugar, mexeu com
coisas que eu não sabia que tava amarrada na minha infância, relacionadas ao passado.
No trabalho tava muito sobrecarregada e aprendi a compartilhar responsabilidades. O
maior ganho foi isso: adquirir coragem para ver o que tá errado, mudar dar advertências.
O grande ganho foi poder exercer melhor o papel de gerente, aprendi a buscar a solução
juntos e isso foi grande ganho: confiança e compartilhar responsabilidades.”
“Sempre que penso em como a TC me afetou é tudo superlativo. Não sei falar
simples. Penso que poderia dizer algo como: ao entrar em contato com a TC fiquei
chocada, foi como se eu já esperasse por ela em sonhos e ela tivesse chegado me
libertando de velhas amarras. Descobri um mundo de novas possibilidades que casou
muito bem com o meu tipo de trabalhar e minha personalidade. Eu me senti autorizada
pelo Prof. Adalberto a trabalhar de maneira mais leve, mais livre e isso se refletiu na
melhora no atendimento e mais satisfação profissional. Com ele eu me senti validada,
uma sensação que já carregava e não encontrava apoio na ciência: o uso de minha
história, de minha biografia em benefício dos meus semelhantes e com isso um
sentimento de inclusão na vida e não mais de espectadora. Do ponto de vista pessoal,
refletiu-se numa melhora da saúde física e melhor equilíbrio emocional aumentando a
capacidade de trabalho.”
5 Carta de OMS
Dirce de Assis Rudge – Médica especializada em
dependência química, Terapeuta Familiar e Terapeuta Comunitária.
5 Carta de OMS
relações interpessoais, me encantou o modelo do Doutor Adalberto de formar o
terapeuta comunitário e envolve-lo numa formação continuada e numa rede de
possibilidades.”
“Além de ter sido uma descoberta, a Terapia Comunitária fez para mim uma
síntese da minha prática profissional. Pessoalmente, me fez uma pessoa melhor, mais
respeitosa e crédula do outro.”
5 Carta de OMS
Liliana Becaro Marchete - Psicóloga Coordenadora e
Intervisora- Tecendo. SP Nenge-Sp. Coordenadora do CDC da ABRATECOM
(2007/2009).
“Logo que participei de uma rápida sessão de Terapia Comunitária, vi que ali as
pessoas podem falar livremente da sua dor e são escutadas com amor. Devido ao modo
inovador de conduzir os grupos, estes são, ao mesmo tempo, agradáveis e afetuosos,
rápidos e eficazes, as pessoas se libertam das aflições, transformam seus problemas em
soluções. Isso trouxe um grande alerta ao meu sonho que compartilhei com meus
amigos, juntos, assumimos o desafio de implantarmos a Terapia Comunitária em Minas
Gerais. A sua grande aceitação no país e no exterior é sinal do quanto ela é importante
para o nosso povo e para a humanidade, nesta época.”
“Eu era um animalzinho feio, aquele que não aparecia e não desconhecia seu
próprio potencial e a TC me fez ver que eu tenho o meu conhecimento, o meu valor, que
as pessoas viam o que eu não enxergava. Hoje eu aprendi a delegar e a deixar que as
coisas andem quando eu não estou. A terapia funciona para muitas pessoas e também
para um grupo pequeno, e eu vejo que tem resultado, e as pessoas voltam falando dos
resultados positivos.”
5 Carta de OMS
“Eu era dona de casa, cuida Dora do meu marido e dos meus dois filhos, às
vezes eu tava cozinhando e sentia um vazio, desligava o fogão e ia cantar no quarto pra
mim. Então eu cantava e tocava para mim e já saía aliviada. Quando eu fui convidada
para a terapia, eu percebi que colocando as musiquinhas muita gente também
melhorava. Eu falei „vou parar de cantar pra mim e vou cantar para o pessoal‟, para a
minha surpresa eu to no terceiro CD e as músicas vêm assim como um presente e
quando eu vendo um CD, eu fico realizada. Então, essa terapia pra mim foi tudo, eu não
tinha profissão e agora eu tenho.
“A Terapia trouxe pra mim uma coisa que eu tinha e não conseguia transmitir e,
de repente, aqui na terapia eu descobri quem sou eu, pra quem eu devo ser eu acho que
isso foi muito legal pra mim, porque me deu mais força e a Terapia Comunitária me
fezeu descobrir realmente a minha potência como ser humano e olhar nas pessoas e
reconhecer a força que cada um tem.”
Na aceitação da minha
5 Carta de OMS
Um mensageiro de unidade,
Um construtor do novo,
Um agente de solidariedade.
Descobridores de possibilidades.
Voltei para Chicago para terminar o meu mestrado com o propósito de voltar
para Fortaleza e aprender esta nova metodologia. Em 1996, voltei para o Brasil e
trabalhamos juntos com Adalberto na formação dos primeiros terapeutas comunitários.
5 Carta de OMS
Em 1998, inspirado nas experiências de Quatro varas e no centro da família,
nasceu o Movimento de Saúde Mental Comunitária do Bom Jardim que, com a ajuda de
um grupo de lideranças das comunidades eclesiais de base, iniciou um trabalho de
escuta e de apoio às pessoas em crise. A partir da técnica da Terapia Comunitária
surgiram outras formas de ajuda como resposta às necessidades do povo . Grupos de
resgate da auto-estima, o projeto Sim à Vida não às Drogas, o cursinho de pré-
vestibular, a biodança, o teatro, as técnicas de mensagens, rei ki, constelação familiar,
eneagrama, a terapia ocupacional, a geração de emprego e renda, entre outras. Hoje o
movimento está no processo de transformação em Caps., para que as instituições
públicas possam continuar a garantir um serviço de saúde mental de qualidade para o
povo. Obrigado, Adalberto, o seu trabalho tem uma força transformadora que pode
ajudar a melhorar a qualidade da Saúde Mental, baseada na energia que vem da cultura
popular, resgatada e valorizada a serviço dos mais pobres e abandonados. Paz e
alegria!”
Um ser anjo
“Um ser anjo, pioneiro de sonhos reais, inconcebíveis e convincentes do saber, do crer,
do realizar-se “SENDO” plenitude divina - humana e parte “DUM TODO” de
concretude mastigada, deglutida, refletida no leito do rio seco d‟água e imenso
enquanto celeiro de sementes raras de árvores que sombreiam o retirante e acolhem os
espíritos-vagantes nas noites de ventanias...
Escutar os gritos abafados em peitos vibrantes de filhos (as) crianças descalças, nuas de
roupas e sábias de conceber e esbanjar criatividade na luta pela vida-vivida no sertão,
agreste ou mata do Semi-Árido, pedaço de um país gigante de dimensões-matas, rios
abundantes de cara pebas e ninhos-rolinhas que gorjeiam os sonhos das minorias. Ter
asas de carcarás e pés de condor de unhas afiadas para dar sustentação-resolução, nos
vôos rasantes, onde toda potencialidade precisa desabrochar, florir, frutificar no outono
de DIAS E NOITES refeitas do amor e sabor do belo.
Tecer teias e prender “zumbis” no rodar, piar, chorar dores, dando e recebendo
“ENERGIAS” de curas-criatura, de braços e tantos abraços perdido-achados e
repartidos coletivamente.
5 Carta de OMS
crenças e punições banidas pelos feitos do cotidiano-desumano.
O belo exige ousadia ou paixão desenfreada - amarrada pelas cordas do “coração” que
glorifica ninhos de pecados e redenção da vida, daí minha convicção-danação:
5 Carta de OMS
Enternecidos todos glorificam o quotidiano humano da LUZ E LOUVOR.
As riquezas, as competências,
Dificuldades, problemas,
Partilhar soluções,
Despertar a solidariedade,
Desfrutar isto,
5 Carta de OMS
Sair do unitário para o
Comunitário, em encontros,
É o de amizade, da compreensão,
Da empatia, da tolerância
E da solidariedade.
Cada um é um elo.
(Walkere Kaminsky)
Terapeuta Comunitária
Arte Terapeuta
Referências Bibliográficas:
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Alves, Rubem Azevedo, Conversas com quem gosta de ensinar. São Paulo:
Artes Poéticas, 1995.
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Boulard, C L‟abord non verbal em Psychiatrie Transculturelle. Médecine
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