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Sumário

Apresentação 10

Sentimento do mundo 12
A triste geração que virou escrava da própria carreira 14
Agressividade is the new black 17
30 minutos na vida de uma pessoa com dificuldade
de concentração 19
Trabalhei muito, dormi pouco, comi mal e me sinto diariamente
culpado 22
Em que momento nós deixamos de gostar do que é simples? 24
E se eu chegar aos 35 sem estar com a vida resolvida? 27
Por uma vida menos gourmet 29
Melhor amigo e a vida adulta 32
Amizades acabam por causa de política? 35
Socorro! Eu não nasci para ser fitness! 37
Aos 20 anos x Aos 30 anos 41
Se acaso me quiseres, sou dessas mulheres… Que vão investigar
sua vida na internet 44
Quando foi a última vez que você fez algo pela primeira vez? 47
Detox na vida 49
A diferença entre ter uma vida e ter um lifestyle 51
37 anos, separada e sem grandes esperanças 53
Parem com essa bobagem de querer ter sucesso 56
Um grande beijo para o recalque 58

6 ruth manus
Viver para contar 60
A geração que queria ter 25 anos para sempre 62
A menina que eu nunca fui 64
Chore e lute, filha 67
Pai, eu não te amo mais como antigamente 69
Pauzuzé 72
Rua Professor Antônio Prudente 75
O colo de uma amiga 78
Estante-altar 80
A casa da minha avó 82
Tudo sobre minha irmã 85
Marina de Deus 87
Didi 89
Um tabu: como vai a sua tese? 91
Para sua surpresa, eu sigo em frente 93
O que você vai ser quando crescer? 95
Filha da PUC 97
Ser professor nos tempos do cólera 99
A doce vida de um advogado 102
Por que meus amigos mudaram tanto? 105

Meu quintal é maior do que o mundo 108


A incrível geração de mulheres que foi criada para ser tudo
o que um homem NÃO quer 110
Carta aos pais de um filho gay 113
A vida começa no fim da sua zona de conforto 117
E se eu te contar que você é feminista? 119
O quanto o machismo também reprime os homens 122
O dia em que roubaram meu iPhone 125
O que aprendi sobre Direito do Trabalho 128
Pequeno dicionário do machismo (parte 1) 130
Sobre padrões estéticos e mágoas 134

 7
A injustiça da boa forma 137
Se eu fosse um homem, branco, hétero, magro, europeu
e católico 139
Vanessa’s Hair 142
A ditadura do elogio 144
Pequeno dicionário do machismo (parte 2) 146
Não é fácil ser uma mulher que gosta de futebol 149
Mulheres não são inimigas 152
Você até pode ser gay, desde que seja invisível 154
Pequeno dicionário do machismo (parte 3) 156

O caminho para a distância 158


O alto preço de viver longe de casa 160
Bilinguismo luso-brasileiro (parte 1) 163
Favorzinho 165
O dia em que resolvi invadir a casa de García Márquez 167
Fim do romance 170
Eu não casei com você 172
Viver longe dos irmãos 174
Coisas que o mundo inteiro deveria aprender com Portugal 176
Bilinguismo luso-brasileiro (parte 2) 179
Como se sente um estrangeiro? 181
Diritto del Prosciutto 183
Hemisférios 186
Voo 1052 188
Eire 191
Amor e fé 194
Me olvidé de vivir 197
Todo rosto mexicano 199
Amores e distância 201

8 ruth manus
Felicidade clandestina 204
A geração que só quer viver amores de cinema 206
Mulheres fantásticas também tomam pé na bunda 208
Você ainda vai sentir a minha falta 211
A delícia de perceber que a vida seguiu em frente 213
Quando eu percebi que era você 215
Apaixone-se por alguém que cuide de você numa virose 217
Parem de ser mimados e lutem pelos seus relacionamentos 219
O que que eu respondo pra ele, amiga? (parte 1) 222
Sorte 225
Porque eu acredito em nós dois 227
Você quer ser amado ou quer ser amado à sua maneira? 229
Oi, ex, como vai? 231
O que que eu respondo pra ele, amiga? (parte 2) 233
Amor, vamos à academia? 237
Madrasternidade 239
Ainda precisamos fazer tanta coisa juntos 242
Chegar em casa e te encontrar 244
A odisseia de dormir junto 246
Sim, eu aceito 249
O estranho mundo das festas de casamento 251

Agradecimentos 254
Apresentação

A prendi a escrever aos 5 anos. Mas foi só aos 25 que dei para
a escrita o espaço que ela merecia na minha vida. Aos 29, ela
se instalou nos meus dias como aquele genro folgado que domina
o sofá na casa dos sogros. Ainda bem. Ao contrário do genro, ela é
muito bem-vinda por aqui.
Muita gente fez parte disso. Tenho certeza de que sem eles eu
não teria ido nem até o segundo parágrafo. Mas ando sempre acom-
panhada dessa tal de sorte, que aparece muitas vezes na forma de
pessoas que caminham ao meu lado.
Gostaria de ser mais segura, confesso. Mas não. Eu só funciono
aos trancos. Sou aquela que precisa de um empurrão para cair na
piscina gelada, a que precisa de mil confirmações para acreditar que
está no caminho certo e que, ainda assim, tem um “Será?” persistente,
alojado no alto do ombro, sussurrando dúvidas toda hora no ouvido.
Em 2015 publiquei meu primeiro livro: Pega lá uma chave de
fenda – e outras divagações sobre o amor. Agora lanço esta pequena
coletânea: textos do blog no Estadão, da coluna no “Caderno 2”,
do Estadão, da coluna no Observador, em Portugal, e mais um belo
apanhado de inéditos.
É uma sensação curiosa. Uma boa confirmação que vem em for-
ma de vento, afastando meu fantasma do “Será?” para mais longe. É
mesmo bom saber que o que eu escrevi fez sentido para as pessoas,
foi bem-vindo em seus dias e, agora, volta às minhas mãos, nestas
páginas que sorriem para mim.
Admito que há uma pequena angústia que sei que nunca me

10 ruth manus
abandonará. E da qual eu talvez nem queira me livrar. Sempre,
sempre, sempre penso: “O tempo que as pessoas gastam lendo o
que eu escrevo deveria estar sendo gasto com Drummond. García
Márquez. Manoel de Barros. Vinicius. Clarice.” A representação
mais genuína da culpa.
Foi essa sensação que me fez pensar muito, até ter a ideia de de-
nominar o capítulo de textos sobre a vida moderna de “Sentimento
do mundo”, o capítulo de textos sobre a minha história de “Viver
para contar”, o de causas que abraço de “Meu quintal é maior do
que o mundo”, o de viagens e outras andanças de “O caminho para
a distância” e os de amores de “Felicidade clandestina”.
Foram alguns dos livros que me transformaram na pessoa que
sou. Busquei em suas páginas alguns trechos que mostrassem um
pouco de como cheguei até aqui. É uma pequena forma de agrade-
cer por essa condução, tão suave quanto potente, que os escritores
da nossa vida nos proporcionam.
Mas agora, fantasmas à parte, é hora de comemorar. Tudo o que
está aqui foi embrulhado para presente e, sim, eu estou muito orgu-
lhosa disso. Sejam bem-vindos, divirtam-se e voltem sempre.
É uma honra estar nas suas mãos, na sua mesa de cabeceira, na
sua mochila, na sua estante e nas preciosas horas vagas do seu dia.
Obrigada por isso.

– Ruth

Apresentação 11
A triste geração que virou
escrava da própria carreira

E ra uma vez uma geração que se achava muito livre.


Tinha pena dos avós, que casaram cedo e nunca viajaram para
a Europa.
Tinha pena dos pais, que tiveram que camelar em empregui-
nhos ingratos e suar muitas camisas para pagar o aluguel, a escola e
as viagens em família para pousadas no interior.
Tinha pena de todos os que não falavam inglês fluentemente.
Era uma vez uma geração que crescia quase bilíngue. Depois
vinham noções de francês, italiano, espanhol, alemão, mandarim.
Frequentou as melhores escolas.
Entrou nas melhores faculdades.
Passou no processo seletivo dos melhores estágios.
Foram efetivados. Ficaram orgulhosos, com razão.
E veio pós, especialização, mestrado, MBA. Os diplomas foram
subindo pelas paredes.
Era uma vez uma geração que, aos 20, ganhava o que não preci-
sava. Aos 25 ganhava o que os pais ganharam aos 45. Aos 30 ganha-
va o que os pais ganharam a vida toda. Aos 35 ganhava o que os pais
nunca sonharam ganhar.
Ninguém podia detê-los. A experiência crescia diariamente, a
carreira era meteórica, a conta bancária estava cada dia mais bonita.
O problema era que o auge estava cada vez mais longe. A meta
estava cada vez mais distante. Algo como o burro que persegue a
cenoura ou o cão que corre atrás do próprio rabo.
O problema era uma nebulosa na qual já não se podia distinguir

14 ruth manus
o que era meta, o que era sonho, o que era gana, o que era ambição,
o que era ganância, o que era necessário e o que era vício.
O dinheiro que estava na conta dava para muitas viagens. Dava
para visitar aquele amigo querido em Barcelona. Dava para realizar o
sonho de conhecer a Tailândia. Dava para voar bem alto.
Mas sabe como é, né? Prioridades. Acabavam sempre ficando ao
invés de sempre ir.
Essa geração tentava se convencer de que podia comprar saú-
de em caixinhas. Chegava a acreditar que uma hora de corrida
podia mesmo compensar todo o dano que fazia diariamente ao
próprio corpo.
Aos 20: Ibuprofeno. Aos 25: Omeprazol. Aos 30: Rivotril. Aos 35:
stent. Uma estranha geração que tomava café para ficar acordada e
comprimidos para dormir.
Oscilavam entre o sim e o não.
Você dá conta? Sim. Cumpre o prazo? Sim. Chega mais cedo?
Sim. Sai mais tarde? Sim. Quer se destacar na equipe? Sim.
Mas, para a vida, costumava ser não.
Aos 20 eles não conseguiram estudar para as provas da faculda-
de porque o estágio demandava muito.
Aos 25 eles não foram morar fora porque havia uma perspectiva
muito boa de promoção na empresa.
Aos 30 eles não foram no aniversário de um velho amigo porque
ficaram até as 2 da manhã no escritório.
Aos 35 eles não viram o filho andar pela primeira vez. Quan-
do chegavam, ele já tinha dormido; quando saíam, ele não tinha
acordado.
Às vezes, choravam no carro e, descuidadamente, começavam
a se perguntar se a vida dos pais e dos avós tinha sido mesmo tão
ruim como parecia.
Por um instante, chegavam a pensar que talvez uma casinha
pequena, um carro popular dividido entre o casal e férias em um
hotel-fazenda pudessem fazer algum sentido.

Sentimento do mundo 15
Mas não dava mais tempo. Já eram escravos do câmbio automá-
tico, do vinho francês, dos resorts, das imagens, das expectativas da
empresa, dos olhares curiosos dos “amigos”.
Era uma vez uma geração que se achava muito livre. Afinal, tinha
conhecimento, tinha poder, tinha os melhores cargos, tinha dinheiro.
Só não tinha controle do próprio tempo.
Só não via que os dias estavam passando.
Só não percebia que a juventude estava escoando entre os dedos
e que os bônus do final do ano não comprariam os anos de volta.

16 ruth manus
Agressividade is the new black

T he new black. Expressão inglesa que designa uma nova ten-


dência, algo que está tão na moda que poderia até mesmo fun-
cionar como um pretinho básico. Adoraria que este fosse um texto
sobre jaqueta jeans, mas não é.
“Se prepare, Ruth, a agressividade nas redes sociais é algo que
você não pode imaginar.”
Foi o que me disseram pouco antes da estreia do blog. Eu, fin-
gindo não estar com medo, balancei a cabeça positivamente como
quem diz “Tô sabendo, tô sabendo”. Mas, como diria Compadre
Washington, “Sabe de nada, inocente”.
Após a publicação do meu segundo texto quase desisti de tudo.
Eu realmente não tinha dimensão do nível sem cabimento que as
pessoas poderiam atingir para atacar algo que na maioria das vezes
nem mesmo as provocou.
Há muito tempo venho tentando digerir, mas não consigo.
Achava que a agressividade vinha só de alguns leitores meio panca-
das. Engano meu. Ela vem de todo lado: de quem lê, de quem não
lê, de quem lê só o título e até de quem escreve.
E eu pensava que isso acontecia porque o computador torna as
pessoas intocáveis, assim como os carros, e que, por isso, elas cana-
lizavam toda a sua agressividade para as redes sociais ou o trânsito.
Engano meu. Está generalizado, como uma peste que se espa-
lha pelo país, e ninguém faz nada para conter. Mesa de bar, fila de
farmácia, ponto de ônibus. Discursos de ódio e ignorância estão
por toda parte.

Sentimento do mundo 17
Acho que existe um erro de conceito. As pessoas passaram a utilizar
a agressividade como um artifício para aumentar a própria autoestima.
Como as pessoas se sentem politizadas? Sendo agressivas.
Como as pessoas se sentem informadas? Sendo agressivas.
Como as pessoas se sentem engraçadas? Sendo agressivas.
Como as pessoas se sentem menos ignorantes? Sendo agressivas.
Entendam: pessoas inteligentes não jogam pedras. E pessoas
equilibradas não berram, nem mesmo via Caps lock. Sempre me
vem à mente aquela passagem de Sagarana, em que Augusto Ma-
traga diz que vai para o céu “nem que seja a porrete”. As pessoas
tentam reduzir a violência com agressividade. Tentam melhorar o
país com agressividade. Tentam educar os filhos com agressividade.
Tentam fazer justiça amarrando pessoas em postes.
“Pra pedir silêncio eu berro, pra fazer barulho eu mesma faço.”
Será que um dia essa gente vai entender que o antônimo de agressi-
vidade não é passividade?
Mas é assim que está sendo.
Porque argumentar dá muito trabalho. Pesquisar então, nem se
fala. Articular um discurso está fora de questão. Tentar persuadir
é bobagem. E tolerar… Tolerar é um verbo morto. Agressividade is
the new black.

P.S.: Ruth, repita comigo o mantra “Eu não leio comentários,


eu não posso ler comentários, eu não vou sobreviver se
ficar lendo comentários”. Ok, vamos ler só um comentário.
18 ruth manus
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