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PRODUZIR UMA
FIBRA DE QUALIDADE
Jean-Louis
BELOT
Desde o início do cultivo do algo- ramulária e nematoides.
IMAmt doeiro mecanizado em Mato Grosso, Assim, uma variedade é definida
os trabalhos de melhoramento gené- por um conjunto de características,
tico proporcionaram ganhos genéti- como a arquitetura da planta, a du-
cos significativos, o que possibilitou a ração do ciclo (variedades precoce,
comercialização de variedades adap- intermediária e tardia), o potencial
tadas ao clima, ao solo e ao sistema de produtivo, o rendimento e a qualida-
produção do Estado, resultando em de de fibra e resistência ou tolerância
alto potencial produtivo e qualidade às principais doenças e nematoides.
de fibra. O algodão é cultivado em Na escolha de uma variedade, ge-
Mato Grosso em condições tropicais ralmente o potencial produtivo é a
Patricia M. C. úmidas, necessitando de variedades característica principal; ele indica a
A. VILELA com alta resistência ou tolerância a produtividade que pode ser alcan-
IMAmt doenças como ramulose, mancha de çada quando todos os fatores (água,
Figura 2
Variabilidade de
IM para diversas
posições dos
capulhos na planta
(Fonte: R. Baird,
2003)
luz, nutrientes, controle de pragas, doenças etc.) gens de cada material, tanto do ponto de vista
estiverem disponíveis em condições de lavoura. agronômico, como da qualidade da fibra. Porém,
Porém, as condições de ambiente podem afetar essas variedades são em parte testadas em rede
significativamente a expressão desse potencial de ensaios com pequenas parcelas, em que se
produtivo, assim como a qualidade da fibra, e analisam amostras de algodão em caroço não
cada variedade pode responder diferentemente sempre representativas da planta inteira. Esse
ao local ou à época, o que chamamos de intera- sistema não permite que se tenha uma ideia exa-
ção variedade x ambiente. Portanto, a escolha ta do comportamento da fibra da variedade por
correta da variedade é de extrema importância. diversas razões:
Em função da complexidade dessas interações,
é de importância fundamental para a sustenta- • Existe uma grande variabilidade de qualidade
bilidade do sistema como um todo que o pro- de fibra entre as diversas posições dos capu-
dutor opte por plantar mais de uma variedade, lhos na planta. Muitos trabalhos já evidencia-
independentemente do sistema que ele for utili- ram isso, como ilustrado na Figura 2 para o pa-
zar — safra, safrinha e/ou adensado —, a fim de râmetro de índice micronaire (IM).
minimizar o risco produtivo em sua propriedade.
Por razões operacionais, amostras “padrão”
1. Avaliação da fibra das novas variedades de de capulhos colhidas em certas posições (por
algodão exemplo, no terço médio da planta) são usadas
para avaliar a qualidade da fibra da parcela. Essa
Todo ano, são oferecidas novas variedades aos amostra pode não ser representativa da qualida-
produtores; diversos tipos de resultados são dis- de da planta como um todo.
ponibilizados para os produtores, para que eles
tenham uma ideia do perfil de cada variedade. • O gradiente de variabilidade intraplanta
Comentaremos particularmente os aspectos re- pode ser diferente em função do genótipo,
lativos à qualidade da fibra. como mostrado para a variabilidade intra-
planta para o comprimento de fibra (UHML)
Qualidade da fibra nas redes de ensaios e fai- no Texas (Tabela 1).
xas demonstrativas de cultivares
As empresas obtentoras tentam orientar os O resultado mostra que é provavelmente pos-
produtores sobre as vantagens e as desvanta- sível selecionar variedades com menor variabi-
195
MANUAL DE QUALIDADE DA FIBRA
Figura 3
Mapeamento
de produtivi-
dade de um
talhão (Fonte:
R. Mion)
196
AMPA - IMAmt 2018
lidade intraplanta para a qualidade de fibra, e dade dos fardinhos de fibra provenientes do
assim ter estabilidade de qualidade quando cul- talhão. No caso das colheitadeiras antigas, com
tivadas em diversos ambientes. a necessidade de prensas, os módulos de algo-
dão em caroço eram o resultado da colheita de
Qualidade de fibra de um talhão aproximadamente 10 toneladas, ou seja, aproxi-
Alguns comportamentos “anormais” das varie- madamente 2,5 hectares. Com as colheitadeiras
dades quando cultivadas em talhões grandes (di- novas de rolinhos, eles são de aproximadamente
ferentemente do que era esperado, em vista dos 2,4 toneladas, ou seja, o resultado da colheita de
resultados de rede de pesquisa) podem resultar na 0,6 a 0,8 hectare. O novo sistema provavelmente
heterogeneidade da produção (e da qualidade de aumentará a variabilidade interfardinhos de fibra
fibra) em diversas partes do talhão cultivado. produzidos na parcela.
A Figura 3 mostra o resultado de um mape-
amento de talhão feito em Mato Grosso, mos- 2. Variedades disponíveis para Mato Grosso
trando alta heterogeneidade de produtividade.
Como consequência, a qualidade de fibra será A participação das principais variedades co-
também muito heterogênea. merciais e em lançamento no Estado de Mato
Para terminar, é importante mencionar a in- Grosso, na safra 2016/2017, é apresentada na Ta-
cidência do modo de colheita na heterogenei- bela 2.
Tabela 2. Principais variedades cultivadas em Mato Grosso na safra 2016/17 (Fonte: Ampa/IMAmt)
Rank- Variedades Área (ha) Área (%) Rank- Variedades Área (ha) Área (%)
ing ing
197
MANUAL DE QUALIDADE DA FIBRA
198
AMPA - IMAmt 2018
LEN UN STR EL
Materiais MIC Rd +b SFI SCI
mm % g/tex %
FM 975WS 30,2 be 83,3 ab 31,9 ac 7,0 dg 4,7 ad 80,2 8,0 8,2 142 ae
FM 944GL 31,3 ad 85,0 a 32,0 ac 6,7 eg 4,4 bd 80,2 8,0 6,9 156 ac
FM 954GLT 32,6 a 84,8 a 31,7 ac 6,3 g 4,3 bd 80,8 7,9 5,4 158 ab
FM 983GLT 31,4 ad 81,9 b 32,2 ab 6,5 fg 4,3 bd 80,3 8,0 9,7 142 ae
FM 940GLT 30,3 be 84,3 ab 29,4 bd 8,2 ac 4,2 d 80,7 7,9 7,4 145 ae
DP 1536B2RF 31,1 ad 85,7 a 33,1 a 6,7 eg 4,8 ad 81,9 7,7 6,3 160 a
IMA 5675B2RF 30,0 ce 83,9 ab 27,1 d 7,8 ad 4,3 cd 80,3 8,0 8,1 136 de
TMG 42WS 30,3 be 84,4 a 27,9 d 7,2 cg 4,5 ad 80,8 7,9 7,7 139 be
TMG 43WS 29,3 e 85,0 a 31,5 ac 7,0 dg 4,4 bd 81,3 7,9 7,7 151 ad
TMG 81WS 29,0 e 85,0 a 30,3 ad 7,6 bf 4,8 ac 81,3 7,8 7,3 143 ae
TMG 82WS 29,7 de 84,3 ab 30,0 ad 7,0 dg 4,4 ad 80,3 8,0 7,5 144 ae
DP 1648B2RF 30,7 be 85,2 a 30,0 ad 6,7 eg 4,7 ad 81,3 7,8 7,1 147 ae
TMG 45B2RF 29,3 e 85,0 a 27,9 d 7,7 ae 4,9 ab 81,3 7,8 7,5 136 ce
TMG 47B2RF 31,7 ac 84,3 ab 30,3 ad 6,6 fg 4,6 ad 81,9 7,8 6,8 147 ae
IMA 2106GL 31,9 ab 83,8 ab 29,5 bd 6,9 dg 4,4 bd 81,3 7,8 6,6 144 ae
IMA 8405GLT 31,6 ac 83,6 ab 30,0 ad 6,4 g 4,6 ad 80,8 7,9 7,4 143 ae
IMA 7501WS 29,3 e 84,4 a 31,8 ac 8,4 ab 5,1 a 81,3 7,8 7,7 144 ae
IMA 6501B2RF 31,3 ad 84,3 ab 28,8 cd 7,9 ad 4,6 ad 81,3 7,8 7,6 142 ae
IMA 7201B2RF 29,0 e 83,4 ab 29,0 bd 8,8 a 4,9 ab 80,7 7,9 8,0 131 e
(*) Médias seguidas pela mesma letra não diferem no teste de Tuckey no nível de 5% de probabilidade
Observação: São informadas a primeira e a última letra. Exemplo: ad = abcd
199
MANUAL DE QUALIDADE DA FIBRA
LEN UN STR EL
Materiais MIC Rd +b SFI SCI
mm % g/tex %
FM 975WS 30,3 84,0 31,7 7,2 4,5 81,8 8,0 7,7 148
FM 944GL 31,1 84,8 32,0 6,8 4,4 82,1 7,9 6,7 155
FM 954GLT 32,4 84,5 31,4 6,5 4,4 82,0 8,0 5,4 154
FM 983GLT 31,2 82,4 31,7 6,4 4,5 82,1 7,9 8,5 143
FM 940GLT 30,0 84,4 30,4 8,2 4,3 82,1 8,1 7,2 148
DP 1536B2RF 30,7 85,1 32,4 6,8 4,8 82,4 8,0 6,6 154
IMA 5675B2RF 29,9 83,9 27,8 7,7 4,4 81,8 8,1 8,0 138
TMG 42WS 29,7 84,2 29,8 7,2 4,5 82,1 8,0 8,1 143
TMG 43WS 29,7 85,1 32,9 6,8 4,5 81,8 8,1 7,0 156
TMG 81WS 29,3 84,5 31,2 7,3 4,8 82,2 8,1 7,5 145
TMG 82WS 29,4 83,8 30,3 6,9 4,4 81,5 8,1 7,8 143
DP 1648B2RF 30,7 84,8 30,7 6,9 4,7 82,1 8,0 6,9 148
TMG 45B2RF 29,3 84,6 29,2 7,7 4,8 82,0 8,1 7,4 139
IMA 2106GL 31,6 84,2 30,8 7,1 4,5 82,2 7,9 6,5 149
IMA 8405GLT 31,2 83,4 31,0 6,7 4,5 82,2 8,0 7,6 146
IMA 7501WS 29,6 84,2 31,6 8,5 5,0 82,1 8,3 7,3 144
IMA 6501B2RF 31,1 84,4 29,5 7,8 4,6 82,4 8,0 7,0 145
IMA 7201B2RF 28,9 82,9 28,8 8,7 4,7 81,9 8,3 8,3 131
200
AMPA - IMAmt 2018
Tabela 5. Média das características HVI das variedades cultivadas em Mato Grosso na safra de
2016-2017, Laboratório Unicotton.
#
UHML STR SFC
Variedades Amos- UI EL MIC Rd +b SCI
mm g/tex %
tras
FM 975WS 277 29,82 82,3 30,76 6,36 4,03 9,02 76,1 8,5 138
FM 944GL 159 29,90 82,5 31,03 6,67 3,93 8,82 75,6 8,4 140
TMG 81WS 156 29,19 82,7 30,24 6,29 4,41 8,62 76,0 8,4 133
TMG 47B2RF 100 29,68 81,8 29,73 6,38 3,87 9,45 75,3 8,5 133
FM 954GLT 61 30,04 82,2 30,87 6,72 3,90 9,15 76,2 8,3 139
FM 983GLT 48 29,74 81,4 30,20 6,56 3,98 9,84 76,5 8,2 132
TMG 42WS 48 28,93 82,5 29,76 6,90 4,01 9,27 76,9 8,4 134
DP 1243B2RF 32 30,25 83,1 31,73 6,95 3,82 8,61 75,5 8,1 146
FM 940GLT 25 29,85 83,5 31,36 6,21 4,11 8,04 75,4 8,5 144
FMT 701 23 29,46 83,0 31,82 6,45 4,50 8,61 74,8 8,6 138
IMA 8405GLT 21 30,07 81,2 29,53 6,22 3,88 9,54 75,3 8,2 129
IMA 7501WS 19 28,72 82,2 28,99 6,94 4,51 9,03 75,1 8,8 125
IMA 6501B2RF 15 30,18 82,1 30,58 6,89 3,89 8,53 76,4 8,7 138
TMG 43WS 15 29,41 82,6 30,84 6,77 3,94 8,99 75,1 8,4 138
TMG 44B2RF 12 30,82 83,4 31,25 6,29 3,78 8,51 77,0 8,4 149
TMG 46B2RF 12 29,72 83,2 30,38 6,28 4,12 8,17 76,8 9,1 140
IMA 2106GL 11 29,07 81,9 30,60 6,83 3,96 9,46 77,6 8,6 136
DP 1536B2RF 10 29,52 82,9 29,83 6,95 4,20 8,69 74,6 8,4 134
FM 913GLT 10 29,77 81,6 31,42 7,23 3,70 9,61 76,2 8,4 139
FM 982GL 10 30,05 83,2 30,84 6,55 4,03 8,42 75,0 8,4 141
TMG 82WS 9 29,21 82,6 30,20 6,44 4,08 8,28 76,7 8,8 136
TMG 45B2RF 8 29,78 82,6 30,85 6,44 4,25 7,90 73,9 9,3 136
IMA 7201B2RF 7 28,38 80,9 27,66 7,09 3,89 10,40 75,9 9,3 120
FM 910 6 29,30 81,8 30,93 6,65 3,85 9,48 76,5 7,9 136
DP 1648B2RF 5 29,77 83,3 30,80 6,84 4,22 8,58 74,7 8,4 139
201
MANUAL DE QUALIDADE DA FIBRA
Figura 4.
Safra 2014/15
- Qualidade
de Fibra -
Análises HVI.
Distribuição do
parâmetro HVI:
Comprimento
(UHML), por
variedade.
202
AMPA - IMAmt 2018
Figura 2.
Distribuição de
LEN - Varieda-
de FM 975WS -
Safra 2014/15.
203
MANUAL DE QUALIDADE DA FIBRA
LITERATURA CONSULTADA
204
AMPA - IMAmt 2018
205
MANUAL DE QUALIDADE DA FIBRA
Desenvolvimento da planta
e qualidade da fibra
206
AMPA - IMAmt 2018
207
MANUAL DE QUALIDADE DA FIBRA
Figura 3.
Representação
esquemática de
fibra imatura (A);
fibra de maturação
média (B); e fibra
madura de aspecto
cilíndrico e com
lúmen reduzido
(C) (Fonte: Correa,
1965)
Figura 4.
Representação
esquemática
da estrutura da
fibra de algodão
com suas partes
principais (Fonte:
Kondo e Sabino,
1989)
chimento bem sucedido das camadas internas; forma final espiralada de fibra. O comprimento
na parte central da fibra permanece um canal tem de mil a 3 mil vezes a largura (Basra e Malik,
vazio, o lúmen. O número de fibras por semente 1984).
na espécie Gossypium hirsutum varia tipicamente A estrutura da fibra é composta pelas seguin-
entre 7 mil e 15 mil (Correa, 1965), embora em tes partes principais, ilustradas na Figura 4:
análises recentes números próximos a 20 mil uni-
dades tenham sido observados (Cranmer, 2004). a) Cutícula - localizada na parte mais externa da
Uma representação de fibras em diferentes con- fibra, composta por pectinas, ceras, óleos etc.,
dições de maturidade pode ser vista na Figura 3. com a função de proteção.
b) Parede primária - delimitada externamente pela
Estrutura da fibra de algodão
cutícula e internamente pela parede secundária, ten-
A fibra de algodão é tubular, mais larga na base
do papel importante sobre o comprimento e sobre
e mais achatada nas extremidades, apresentan-
a finura da fibra; embora sua participação seja pro-
do uma série de torções estruturais, que surgem
porcionalmente pequena, pode influenciar proprie-
durante as deposições de camadas de celulose
dades intrínsecas finais.
na fase de maturação e decorrem do fato de que,
embora concêntricas, essas camadas são deposi- c) Parede secundária - constitui o corpo da fibra,
tadas em direções aleatórias, resultando em uma composta por fibrilas de celulose pura, depositada
209
MANUAL DE QUALIDADE DA FIBRA
Figura 5.
Teores de
celulose e
açúcares
redutores em
fibras de algodão
durante seu
desenvolvimento.
Médias de duas
cultivares de G.
hirsutum (Fonte:
adaptado de Abidi
et al., 2010)
Os teores de proteínas e açúcares redutores são das basicamente por elementos inorgânicos, como
inicialmente maiores, mas diminuem conforme potássio, cálcio, magnésio etc. Os teores de silício
ocorre o acúmulo de celulose na parede secundá- e dos principais metais encontrados na fibra estão
ria. As ceras estão associadas a importantes pro- presentes na Tabela 2.
priedades, como lenta absorção de água, o que Uma vez compreendidas as noções básicas
dificulta sua degradação por microrganismos e de fisiologia da formação da fibra, pode-se en-
possibilita redução do atrito entre as diferentes fi- tão estudar suas relações com fatores ambientais
bras durante o beneficiamento e a fiação, evitando abióticos e práticas de manejo, visando adotar
o desgaste excessivo; as ceras são encontradas na estratégias no campo que propiciem a melhor
parede primária, assim como as pectinas, que pos- qualidade possível dos capulhos a serem desti-
suem função cimentante. As cinzas são constituí- nados para a indústria têxtil.
Potássio 2000-6500
Silício 600-1200
Cálcio 400-1200
Magnésio 400-1200
Sódio 100-300
Ferro 20-90 (a) partes por milhão.
Manganês 1-10
(b) não detectado
Cobre 1-10
(Fontes: Boylston, 1988;
Zinco 1-10 Brushwood e Perkins Jr., 1994)
Chumbo n.d.b
Cádmio n.d.
211
MANUAL DE QUALIDADE DA FIBRA
Figura 7.
Variação do 140 FP FP+14
micronaire
em genótipos
120
de algodão
submetidos
100
ao estresse Número de genótipos
hídrico no
80
estádio de
florescimento
pleno (FP) e 60
florescimento
pleno + 14 40
dias (FP+14).
Redução 20
(<10,1%);
Estável (+-10%) 0
e Aumento Redução Estável Aumento
(>10,1%)
no índice 2. Efeito dos fatores abióticos so- mas que podem limitar a qualidade da
micronaire bre a qualidade da fibra fibra pela interação com a seca, pois,
em relação mesmo que as temperaturas voltem a
ao controle O algodoeiro está sujeito a estres- ficar em patamares ideais, a disponi-
irrigado ses ambientais desde sua semeadura bilidade hídrica pode limitar a trans-
até a colheita; por exemplo, o excesso locação dos carboidratos para enchi-
de chuva aliado à textura argilosa do mento dos frutos e haver problemas
solo pode reter muita água no solo, nas características da fibra, principal-
levando à condição de encharcamen- mente no micronaire e na resistência.
to, principalmente no início do de-
senvolvimento vegetativo, podendo 2.1 Estresse hídrico
estender-se até o começo do floresci- O estresse hídrico caracteriza-se
mento (Figura 6). Aliado a isso, tem-se por uma oferta em maior ou me-
a condição de baixa disponibilidade nor quantidade de água demanda-
luminosa, que pode levar à redução da pelo algodoeiro em determinada
da produtividade e da qualidade da fase fenológica. Assim, o fenômeno
fibra, dependendo do momento em será tratado neste capítulo como os
que ocorrer. Depois, a baixa disponi- eventos de seca e de encharcamento,
bilidade de água, principalmente em pois, em uma mesma safra, existe a
solos de textura leve, pode limitar as possibilidade da ocorrência das duas
fases de elongação e enchimento das situações em lavouras de Mato Gros-
fibras. Associada à seca pode estar a so, a exemplo do excesso de chuva
elevada temperatura, tanto a diurna em algumas regiões (Nova Mutum,
quanto a noturna, em algumas regiões Lucas do Rio Verde, Sorriso, Sapezal
de baixa altitude, o que pode limitar e Campo Novo do Parecis) nos está-
tanto a retenção das estruturas como dios iniciais da cultura (germinação,
o suprimento de carboidratos para o emergência, desenvolvimento vege-
enchimento da fibra. Baixas tempe- tativo, emissão de botões florais e até
raturas também podem ocorrer nas o início do florescimento) e da defi-
regiões mais altas (Chapada dos Gui- ciência hídrica posterior na fase de
marães, Campo Verde e Primavera do enchimento das maçãs, sobretudo as
Leste), normalmente por poucos dias, do terço médio e superior da planta.
212
AMPA - IMAmt 2018
213
MANUAL DE QUALIDADE DA FIBRA
1,2
Figura 8.
Índices de déficit
qualidade da fibra
fibra de algodão.
Os valores
potenciais foram
estimados pela 0,8
divisão dos
valores máximos
Comprimento
estimados por 0,6
todos os valores Resistência
para derivar Uniformidade
os fatores de Micronaire
redução e 0,4
expressos como -2,40 -2,20 -2,00 -1,80 -1,60
a fração entre Potencial hídrico da folha (MPa)
0 e 1 (Fonte:
adaptado de
Lokhande e
Reddy, 2014)
Figura 9.
Efeito do
período de
encharcamento
do solo (2, 4,
6, 8 e 10 dias)
em diferentes
estádios
fenológicos
do algodoeiro
sobre as
características
tecnológicas
da fibra e sobre
o número de
capulhos por
planta (Fonte:
adaptado de
Wang et al.,
2017)
214
AMPA - IMAmt 2018
da fibra foi inversamente proporcional á quan- sob baixas temperaturas ou pelo aumento da
tidade de capulhos retidos na planta, assim, respiração noturna, o que consome os carboidra-
as plantas com menos capulhos apresentaram tos que seriam disponibilizados para enchimen-
maior resistência, o que se justifica pela altera- to da fibra (Echer et al., 2014; Loka et al., 2010;
ção da relação fonte dreno (Figura 9). Loka et al., 2016). A consequência disso será fi-
bra imatura, de baixa resistência e micronaire.
2.4 Temperatura Ainda em relação ao efeito da temperatu-
A temperatura é o principal fator ambiental ra sobre o micronaire, Bange et al. (2010) de-
que interfere no crescimento e no desenvolvi- senvolveram um modelo para estimar o efeito
mento do algodoeiro e também de grande im- das temperaturas mínimas e médias sobre o
portância para a formação da qualidade da fibra. micronaire com uma acurácia de 68%. Des-
Em geral, em Mato Grosso, as temperaturas nas sa forma, para obtenção de fibras com micro-
regiões produtoras de algodão não são limitantes naire na faixa premium (3,7 a 4,2), as faixas de
para obtenção de alta produtividade e qualidade temperatura mínima e média seriam entre 15-
de fibra. Em alguns locais específicos pode haver 18°C e 22-25°C, respectivamente (Figura 11).
limitação por baixas temperaturas no mês de ju- A resistência da fibra aumenta linearmen-
nho (altitudes superiores a 600 metros - Chapada te com o aumento da temperatura (Lokhan-
dos Guimarães, Campo Verde, Primavera do Les- de e Reddy, 2014), e esse comportamento
te, Serra da Petrovina), de modo que a principal ocorre devido à menor retenção de capulhos
consequência disso é o alongamento do ciclo, sob temperaturas maiores que 30-22°C, de-
pois a planta precisa de mais dias para acumu- vido à modificação da relação fonte-dreno.
lar os graus-dias necessários para o avanço nas Além da alteração na deposição de celulose,
fases fenológicas, e, nesse caso, a formação e o observa-se que, sob regimes de temperatura
desenvolvimento da qualidade da fibra podem mais elevados (34-34°C e 34-28°C), o comprimen-
ser modificados. Dependendo das condições to final da fibra é atingido cerca de uma semana
ambientais após o período de frio, pode haver mais cedo em relação à temperatura 34-22°C; en-
perdas na qualidade. Em outros lugares, de baixa quanto que, sob baixas temperaturas noturnas
altitude (Rondonópolis, Lucas do Rio Verde, Vale (34-15°C), a fibra fica menor e não atinge o com-
do Araguaia), as altas temperaturas noturnas po- primento dos demais regimes (Figura 12).
dem interferir tanto na qualidade como na pro-
dutividade. Por fim, a combinação de eventos, 2.5 Luminosidade
tais como seca vs. alta temperatura, seca vs. baixa O algodoeiro é cultivado em Mato Grosso pre-
temperatura ou encharcamento vs. temperatura dominantemente em áreas não irrigadas, sendo
noturna ou diurna alta podem apresentar gran- dependente da ocorrência de chuvas; a estação
de limitação à obtenção de altas produtividades chuvosa normalmente inicia-se em setembro/
e qualidade de fibra. outubro, permanecendo até meados de abril.
Boa parte das precipitações concentra-se entre
Efeito das temperaturas sobre a qualidade janeiro e fevereiro. Embora a disponibilidade de
da fibra água seja essencial para o desenvolvimento das
Um trabalho clássico que mostra o efeito da plantas, nesses meses períodos nublados pro-
temperatura, tanto baixa como elevada, foi de- longados podem ocorrer, limitando a disponibi-
senvolvido por Haigler et al. (1991). Os autores lidade de luz. A restrição de luz reduz a disponi-
reportaram um bom desenvolvimento dos anéis bilidade de radiação fotossinteticamente ativa e
concêntricos de celulose quando a fibra se de- a atividade fotossintética das folhas, implicando
senvolveu em temperatura de 34-22°C (Figura em diversas outras consequências fisiológicas.
10). Por outro lado, sob temperatura noturna Uma discussão mais direta desses efeitos sobre o
de 15°C (34-15°C) houve deposição irregular de desenvolvimento e a produtividade do algodão
celulose. Sob temperaturas noturnas mais ele- foi realizada anteriormente (Echer e Rosolem,
vadas, o número de camadas de celulose depo- 2014), de modo que aqui será dada maior aten-
sitadas foi menor (34-28°C) e sob temperatura ção ao desenvolvimento e à qualidade da fibra.
constante de 34°C não houve a formação das Durante o desenvolvimento reprodutivo, a re-
camadas de celulose. A deposição irregular de dução da produção de açúcares nas folhas pela
celulose dá-se pela menor atividade enzimática fotossíntese devido ao sombreamento limita o
215
MANUAL DE QUALIDADE DA FIBRA
Figura 10.
Enchimento da
fibra de algodão
sob diferentes
regimes de
temperatura
diurna/noturna
(12/12h) (Fonte:
adaptado de
Haigler et al.,
1991)
Figura 11.
Relação entre o
micronaire e as
temperaturas
mínima e
média (Fonte:
adaptado de
Bange et al.,
2010)
Figura 12.
Comprimento
da fibra sob
diferentes
regimes de
temperatura
(Fonte:
adaptado de
Haigler et al.,
1991)
216
AMPA - IMAmt 2018
fluxo de sacarose para frutos jovens (Zhao e Oos- do ar dentro do dossel, criando condições favo-
terhuis, 1998). Essa limitação nos frutos pode de- ráveis para o desenvolvimento de fungos sapró-
sencadear uma série de repostas fisiológicas que fitos que atacam os frutos, levando a perdas por
levam à menor qualidade após colheita; esses podridão que podem atingir níveis consideráveis
efeitos, de modo geral, podem ser divididos em (podridão de baixeiro).
direto e indireto.
O efeito direto é o suprimento insuficiente de Efeitos da restrição de luz sobre a qualidade
açúcares aos frutos, reduzindo a produção de po- intrínseca
límeros de celulose, levando à formação de fibras Resultados experimentais indicam que o som-
imaturas; o efeito indireto, por sua vez, é decor- breamento prolongado nas fases críticas de flo-
rente da influência de outros fatores ambientais rescimento e frutificação pode reduzir o peso
associados ou posteriores ao período de restri- dos capulhos (Zhao e Oosterhuis, 2000; Chen et
ção de luz. Neste último caso, a redução do fluxo al., 2017a), a resistência (Lv et al., 2013; Chen et al.,
de carboidratos para botões florais e frutos re- 2017a) e o índice micronaire (Zhao e Oosterhuis;
cém-formados resulta em sua abscisão, podendo Lv et al., 2013; Liu et al., 2015; Chen et al., 2017a),
levar à redução do número de capulhos por área sendo este último o atributo mais frequentemen-
(Echer e Rosolem, 2015; Chen et al., 2017a). A abs- te afetado. Assim, os riscos maiores estão relacio-
cisão de botões e frutos iniciais jovens aumenta nados à formação de fibras imaturas. No entanto,
a proporção de frutos mais tardios (Pettigrew et embora menos provável, também é possível que
al., 1992), sujeitos, nas condições tropicais, a am- o sombreamento possibilite um aumento no ín-
bientes mais limitantes em temperatura e dis- dice micronaire, mesmo com a compensação da
ponibilidade hídrica durante sua formação; esse produção em épocas mais tardias. Esse fenôme-
efeito é intensificado quando a produção perdi- no é possível, por exemplo, se os frutos mais tar-
da é parcial ou totalmente compensada em po- dios se desenvolverem em condições menos li-
sições de frutificação mais tardias. Se as tempe- mitantes de temperatura (Echer e Rosolem, 2015)
raturas e a disponibilidade hídrica forem baixas, ou umidade do que os que foram abortados.
o peso de capulhos poderá ser reduzido, as fibras Os efeitos sobre o comprimento da fibra não são
poderão ser imaturas e apresentar menor resis- consistentes e variam; em alguns experimentos o
tência (Figura 13). A redução do índice micronaire comprimento não foi afetado pelo sombreamento
associado ao aumento da abscisão de frutos e da (Zhao e Oosterhuis, 2000; Echer e Rosolem, 2015).
proporção de frutos tardios pode ocorrer se as Aumentos de comprimento foram relatados na Chi-
plantas são sombreadas em diferentes épocas do na em ambientes de maiores temperaturas (Chen
florescimento (Figura 14). As épocas mais críticas et al., 2014; Lv, 2015), estando associados à maior
de sombreamento incluem o início e o pico de duração do período de fechamento dos plasmo-
florescimento e o período inicial de frutificação. desmos das células da fibra, gerando maior turgor
Fibras analisadas após o sombreamento durante osmótico interno para a elongação. Por outro lado,
seu período de formação apresentaram menor em temperaturas baixas, a redução na atividade de
acúmulo de sacarose e menor atividade das en- enzimas e no fluxo de carboidratos levou à diminui-
zimas sacarose sintase e invertase, que apresen- ção da taxa de elongação, reduzindo o comprimen-
tam importante função na elongação e na forma- to final (Chen et al., 2014). Nesse sentido, é possível
ção dos polímeros de celulose (Figura 15). que semeaduras muito tardias resultem fibras mais
Além do sombreamento proveniente da redu- curtas se houver sombreamento prolongado du-
ção de radiação direta, as folhas localizadas em rante a formação de maçãs, uma vez que a redução
regiões inferiores da planta podem ser sombrea- da temperatura pode tornar-se restritiva para elon-
das por aquelas localizadas em regiões superiores gação. No entanto, ressalta-se que temperaturas
da mesma planta ou de plantas vizinhas. Depen- baixas são mais restritivas para a maturação que
dendo da magnitude do fenômeno, conhecido para a elongação; é possível também que, depen-
como autossombreamento, a fotossíntese dessas dendo do ambiente, o sombreamento não afete a
folhas é comprometida a ponto de resultar na qualidade da fibra (Echer e Rosolem, 2015). Se o pe-
abscisão em grande número de frutos próximos. ríodo de restrição luminosa for muito curto, ou se as
Os frutos que continuam na planta podem apre- condições após esse período não forem limitantes,
sentar fibras malformadas. A presença excessiva os frutos remanescentes na lavoura não terão sua
de folhas também aumenta a umidade relativa formação comprometida.
217
MANUAL DE QUALIDADE DA FIBRA
Figura 13.
Redução do peso de
capulho e da qualidade in-
trínseca de fibra pelo som-
breamento durante todo
o período de formação da
maçã (48 dias). Sombrea-
mento mantido sobre o
dossel através de telas com
capacidade de redução de
luz a 79-62% da disponib-
ilidade original. Médias de
dois anos de experimento
(Fonte: adaptado de Chen et
al., 2017)
Figura 14.
Efeito de oito dias de
sombreamento aplicado
em diferentes fases do
desenvolvimento reprodutivo
sobre a o número de abortos
(abscisão) de frutos, a
produtividade e o índice
micronaire. Redução de 63% da
radiação fotossintética com tela
de cor preta sobre o dossel. As
fases de pico de florescimento e
frutificação correspondem a oito
e dezesseis dias após a abertura
da primeira flor, respectivamente
(Fonte: adaptado de Zhao e
Oosterhuis, 2000)
Figura 15.
Efeito do sombreamento sobre
comprimento e respostas
fisiológicas da fibra durante seu
processo de formação (variações
porcentuais). Disponibilidade
relativa de luz estabelecida pela
ausência (100%) ou presença
de telas de sombreamento
durante toda a formação do
fruto para obtenção de 80-60%
da radiação fotossinteticamente
ativa original. Média de três
épocas de semeadura e duas
cultivares (Fonte: adaptado de
Chen et al., 2014)
218
AMPA - IMAmt 2018
Figura 16.
Resultados de
produtividade em
pluma (A), peso médio
de capulho (B), índice
micronaire (C) e
comprimento da fibra
(D) em duas cultivares
de algodão semeadas
no fim de janeiro de
2014, sendo uma de ciclo
precoce e outra de ciclo
tardio em Primavera do
Leste/MT. As plantas
foram submetidas ou
não ao sombreamento
(50%) com tela de cor
preta por quinze dias
durante o florescimento.
Notar o menor efeito
do sombreamento
sobre produtividade,
micronaire e
comprimento na cultivar
tardia. (Fonte: adaptado
de Echer, 2017)
219
MANUAL DE QUALIDADE DA FIBRA
220
AMPA - IMAmt 2018
Foi demonstrado que tanto o excesso de N antigamente, ou mesmo pelas diferenças en-
aplicado na cultura como o atraso em sua aplica- tre cultivares antigas e modernas, embora nem
ção resultam em frutos maiores na parte superior sempre se obtivesse resposta do P em termos de
da planta, com uma diminuição correspondente qualidade da fibra (Silva et al., 1970). O fato é que
do tamanho dos frutos da parte de baixo (Bo- a literatura atual mostra que doses de P aplica-
quet et al., 1994). Assim, o excesso de N modifica das ao algodoeiro não resultam em modificação
o perfil de produção da planta, alongando o ciclo na qualidade da fibra, exceto no rendimento de
e aumentando a proporção de maçãs que matu- benefício (Tewolde e Fernandez, 2003; Saleem et
ram em época com menos água e temperatura al., 2011).
menor. O resultado é a obtenção, além de menor
porcentagem de fibra, fibras de pior qualidade, Potássio
com menores micronaire, comprimento, unifor- O potássio tem sido geralmente ligado à qua-
midade, resistência, alongamento e fiabilidade lidade da fibra de algodão, entretanto, seu im-
(Ferreira et al., 2004). Com excesso de nitrogênio, pacto nem sempre é visível e consistente na me-
a planta prioriza o crescimento vegetativo, pois lhoria da qualidade da fibra (Bauer et al., 1998).
as folhas são o destino preferencial do nitrogênio Tem sido demonstrado, entretanto, que a aplica-
absorvido no final do ciclo do algodoeiro (Roso- ção de K pode melhorar a elongação e a grossura
lem e Mikkelsen, 1989). Dessa forma, a planta em da parede secundária da fibra, assim como a re-
final do ciclo fica mais verde, com alta retenção sistência (Cassman et al., 1990; Temiz et al., 2009;
foliar, mas com menor rendimento de benefício Waraich et al., 2011). O elemento tem ainda gran-
e qualidade de fibra. O atraso no ciclo da planta, de efeito na maturidade da fibra e no micronaire,
com maturação mais tardia, leva ainda ao acú- com menor efeito no comprimento e na resis-
mulo de sacarose nos frutos, uma vez que a saca- tência e quase não efeito na uniformidade (Petti-
rose sintase, necessária para o acúmulo de celu- grew, 2003; Zhao et al., 2013). No Brasil, tem sido
lose nas fibras, tem sua atividade muito reduzida observado que o potássio favorece a uniformida-
em temperaturas abaixo de 22oC. O acúmulo de de de comprimento e a finura das fibras (Silva et
sacarose leva ao aparecimento do defeito “algo- al., 1970), mas Francisco e Hoogerheide (2013),
dão doce” (Girma et al., 2007). Em experimentos em local com resposta ao K em Mato Grosso, não
conduzidos em Mato Grosso e Bahia, foi observa- observaram efeito do elemento no micronaire.
do que a resistência da fibra foi menor com altas Como o K está associado ao transporte de
doses de N (Kappes et al., 2016), em algodão de açúcares, é possível que sua deficiência afete a
segunda safra, com espaçamento adensado. Nos deposição de microfibrilas de celulose na parede
Estados Unidos demonstrou-se que níveis mode- secundária das fibras, influenciando a resistên-
rados de deficiência de N não têm efeito sobre cia, a finura e o micronaire (Kappes et al., 2016).
a qualidade da fibra de algodão (Tewolde e Fer- Chen et al. (2016) reportaram que a absorção de
nandez, 2003). K está diretamente relacionada ao alongamento
Assim, para o nitrogênio, deve-se atentar, prin- e à melhor qualidade da fibra nas partes superior
cipalmente, para a dose que proporciona a maior e distal da planta.
produtividade; depois, executar a aplicação da A maior parte dos carboidratos utilizados na
forma recomendada, no máximo até a primeira síntese de celulose nas fibras vem das folhas do
semana de florescimento. Com a dose certa apli- respectivo nó da haste principal. Diversos estu-
cada corretamente, atinge-se a maior produtivi- dos confirmam que a deficiência de K afeta a ca-
dade e a melhor qualidade. pacidade fotossintética por inibir não só a síntese,
como o transporte de carboidratos. Dessa forma,
Fósforo a deficiência de K afeta as propriedades da fibra
A literatura mais antiga mostra aumentos no por induzir dificuldades na aquisição de matéria-
comprimento da fibra causados por altas doses -prima para sua formação (Yang et al., 2016). A
de fósforo (Hooten et al., 1949), e ainda que a deficiência de K acelera significativamente a acu-
adubação fosfatada concorre para aumentar o mulação de celulose na fibra, bem como o pro-
comprimento das fibras, sem efeito sobre a uni- cesso de desidratação, o que sugere que a baixa
formidade de comprimento, finura e resistência aquisição de carboidratos induzida pela deficiên-
(Sabino, 1975). Esses resultados podem dar-se cia pode causar o desenvolvimento desordenado
por conta de doses baixas de P que se utilizavam da fibra, por estimular a expressão de proteínas
221
MANUAL DE QUALIDADE DA FIBRA
222
AMPA - IMAmt 2018
nutrientes, principalmente o nitrogênio, o fósforo de cada cultivar, o que pode representar mudança
e o potássio, neutraliza o alumínio tóxico do solo, nos padrões definidos de cada material pelo obten-
bem como diminui a toxidez causada por man- tor, dentro de uma margem aceitável. Isso ocorre
ganês e outros metais pesados. Isso tudo pode porque, para que determinada característica tecno-
ocorrer, mas certamente depende da espécie em lógica da fibra seja expressa, o ambiente precisa ser
questão. Normalmente, os maiores benefícios do adequado (bom status hídrico, boa luminosidade,
silício têm sido observados em gramíneas; mesmo nutrição e temperatura). Assim, é natural que uma
assim, tem-se aventado o uso de Si em lavouras mesma cultivar não apresente o mesmo comporta-
algodoeiras. mento em ambientes totalmente distintos (Rondo-
Em algodoeiro, embora se tenha encontrado nópolis vs. Sapezal, por exemplo). Uma discussão
um efeito positivo do silício na fotossíntese (Ferrei- mais aprofundada sobre o tema pode ser acessada
ra, 2008), a aplicação do elemento alçando-o a ní- no link que se segue: http://www.imamt.com.br/
veis altos resultou em tendência de diminuição do system/anexos/arquivos/358/original/circular_tec-
número de maçãs (Nóbrega et al., 2007). Em outro nica_edicao28_bx_(1).pdf?1490875492.
trabalho concluiu-se que, de uma forma geral, as
doses de silício aplicadas no solo para a cultura do 3.2 População de plantas
algodão não devem ser elevadas, pois podem tra- Em relação à qualidade da fibra, Silva et al.
zer perdas de germinação e crescimento em altura (2011) não observaram mudança nos parâmetros
de forma excessiva (Cunha et al., 2005), o que pode qualitativos do algodão pela modificação do espa-
prejudicar a qualidade da fibra pela diminuição da çamento de cultivo ou da densidade de plantas.
fotossíntese. Com relação à qualidade da fibra, não Estudos conduzidos em outros países também re-
se observou efeito positivo quanto à resistência e ao portaram ausência ou pouco efeito da densidade
alongamento à ruptura (Madeiros et al., 2005). de plantas sobre a qualidade da fibra (Zhang et el.,
Em princípio, qualquer fator que afete a fotossín- 2016; Heitholt e Sassenrath-Cole, 2010).
tese do algodoeiro pode afetar a qualidade da fibra Por outro lado, em regiões com janela de cul-
produzida; entretanto, a literatura toda indica que, tivo curta (140-150 dias), o adensamento promo-
em geral, antes de ser afetada a qualidade da fibra, veu um pequeno aumento no comprimento e na
há modificação na produtividade. Mesmo que al- resistência, mas o maior ganho foi no micronaire
guns nutrientes estejam em deficiência leve, pode e na finura (Bednarz et al., 2005). Echer e Rosolem
não haver problemas de qualidade do algodão pro- (2015) observaram pouco efeito da população de
duzido, com exceção do potássio, mais importante plantas (espaçamento de cultivo) sobre a qualida-
nessa situação. Por outro lado, têm sido relatados de de fibra, e dos três locais estudados (Primavera
problemas de piora na qualidade da fibra, principal- do Leste/MT, Chapadão do Céu/GO e Paranapane-
mente pelo excesso ou pela aplicação errônea do ma/SP), apenas em Paranapanema (baixas tempe-
nitrogênio, do fósforo e, ainda, do boro. raturas no outono/inverno - Cfa - Koppen) houve
Assim, a dose de nutriente necessária para piora da qualidade intrínseca da fibra com o aden-
uma boa produtividade proporcionará também samento, resultando em redução do comprimen-
boa qualidade de fibra. to da fibra e aumento de fibras curtas.
223
MANUAL DE QUALIDADE DA FIBRA
Figura 17.
Variáveis
climáticas
(chuva, radiação
e temperaturas
máxima e
mínima) em
municípios de
Mato Grosso
(médias de dez
anos)
Figura 18.
Influência
da época
de plantio
sobre o índice
micronaire
do algodão
em diferentes
regiões de Mato
Grosso na safra
2012/2013.
Média de
dezenove
genótipos
(Fonte: adaptado
de Snider e
Kawakami, 2014)
224
AMPA - IMAmt 2018
226
AMPA - IMAmt 2018
Figura 19.
Porcentuais de desfolha, abertura de
capulhos e dessecação de folhas não
desfolhadas dos produtos Aurora
(Carfentrazona etílica) + Assist (óleo
mineral) (A+A; 0,1 +1,0 L/ha); Finish
(FIN) (Etefom, 1,5 L/ha); e Dropp Ultra
(DU) (Tidiazurom + Diurom, 0,6 L/ha).
Rondonópolis/MT (Fonte: adaptado de
Siqueri, 2001)
Figura 20.
Desenvolvimento da maçã
do algodoeiro. Conforme os
cotilédones desenvolvem-se,
tornam-se consistentes, e uma
camada preta que se tornará
o tegumento da semente
começa formar-se ao redor
da semente; conforme essa
camada preta amadurece
e a maçã seca, suturas são
formadas entre os lóculos,
resultando na sua abertura
(fonte: Ritchie et al., 2004)
227
MANUAL DE QUALIDADE DA FIBRA
Figura 21.
Determinação
do número de
nós acima da
maçã em ab-
ertura (Fonte:
Guthrie et al.,
1993)
228
AMPA - IMAmt 2018
Figura 22.
Influência da desfolha
realizada em função do
número de nós acima da
maçã em abertura (NAMA)
sobre a produtividade e o
índice micronaire da fibra.
A recomendação de que a
desfolha seja feita quando
NAMA for igual 4 se deve
às perdas praticamente
inexistentes em
comparação ao momento
de 100% de capulhos
abertos (NAMA = 0) (Fonte:
adaptado de Kerby e Hake,
1996)
Figura 23.
Receita bruta (US$/
ha) e índice micronaire
em função da desfolha
em épocas distintas,
considerando critérios
de nós da acima da maçã
em abertura (NAMA) e
porcentual de capulhos.
Média de duas cultivares
em dois anos (Fonte:
adaptado de Siebert e
Stewart, 2006)
fase de maturação, o comprimento de fibra é mui- 3.6 Problemas associados à demora da co-
to pouco afetado pela desfolha prematura (Hake lheita sobre a qualidade da fibra
et al., 1989). Quando os frutos maduros se abrem, a fibra
Mesmo após a aplicação de desfolhante, a branca é bem clara por conta da natureza alta-
fibra continuará seu crescimento por 5-7 dias; mente reflexiva da celulose e da ausência de de-
a semente, por sua vez, seguirá acumulando gradação microbiana. Se a abertura ocorre em
peso por alguns dias após a fibra atingir seu condições favoráveis para sua desidratação, os
máximo desenvolvimento. Essa variação é a ra- açúcares naturais sobre a fibra são eliminados,
zão pela qual frutos imaturos usualmente po- provavelmente sendo fixados na celulose ou de-
dem apresentar um rendimento porcentual de gradados pela exposição à luz solar (Hake et al.,
fibra ligeiramente superior ao de frutos madu- 1992). No entanto, a partir do dia da abertura,
ros (Hake et al., 1989). o peso do capulho pode reduzir-se, em média,
229
MANUAL DE QUALIDADE DA FIBRA
0,6% por dia (Chiavegato, 2006), res- diamente, por conta de chuvas, por
secando a fibra gradativamente. exemplo, exige uma melhor limpeza
Adicionalmente, a exposição pro- de fibra para uma melhor avaliação de
longada ao ambiente possibilita a qualidade. Uma segunda limpeza, se
reprodução microbiana sobre a fi- necessária, pode remover uma quan-
bra. Quando afetada por pouco tem- tidade importante do fardo e, além
po, fibra de algodão excessivamente disto, promover rupturas nas fibras,
úmida recupera a coloração branca aumentando a formação de neps.
natural e o brilho; no entanto, se a O algodão mantido exposto prolon-
fibra é mantida úmida por um longo gadamente também apresenta um au-
tempo, a fauna microbiana pode pas- mento no índice de fibras curtas e de
sar a alimentar-se sobre a superfície. redução na uniformidade de compri-
O aspecto escuro dos esporos desses mento no beneficiamento. Além dis-
microrganismos produz na fibra uma so, fungos e radiação solar ultravioleta
coloração acinzentada, a qual se in- podem reduzir a resistência da fibra;
tensifica se há depósito adicional de a absorção de radiação ultravioleta
açúcar por insetos sugadores. Se as por alguns minerais presentes na fibra
condições permanecem chuvosas ou pode favorecer a quebra de moléculas
muito úmidas, a reprodução dos fun- de celulose, tornando-as mais fracas à
gos sobre a fibra continua, e os capu- rotura. A resistência é bastante depen-
lhos ficam completamente escureci- dente da uniformidade e do compri-
dos. A umidade elevada e as chuvas mento das moléculas de celulose.
contínuas resultam em perda de re- Assim, o procedimento mais reco-
flectância (Hake et al., 1992). mendado é preparar a colheita o mais
As perdas de qualidade da fibra rápido possível uma vez diagnostica-
exposta prolongadamente ao tempo da a maturidade das últimas maçãs,
no beneficiamento podem ser impor- evitando-se que sejam desnecessaria-
tantes. O algodão colhido muito tar- mente mantidas no campo. n
230
AMPA - IMAmt 2018
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MANUAL DE QUALIDADE DA FIBRA
Figura 2. Unidades de colheita com fusos de uma colheitadeira John Deere (à esquerda) e Case
IH (à direita) (Fonte: John Deere & Case International)
pados com barras de fusos articulados e com mo- dições de campo próximo a 20%. Vários proble-
vimentos de rotação, extraem o algodão dos capu- mas podem causar perdas na eficiência de co-
lhos com o mínimo possível de impurezas. lheita:
Dependendo do modelo da máquina, as barras
podem conter entre 18 e 20 fusos. Depois de en- • Unidades de linha não centradas na linha
rolar o algodão, e através de um sistema de pista (erro do operador ou ajuste de rastreamento
(trilho ou came), as barras deslocam os fusos até os de linha)
desfibradores. No sistema em linha, os tambores
giram no sentido anti-horário, e o fuso no sentido • Colheita logo após a aplicação de desfolhan-
horário. O eixo com os desfibradores giram em alta tes e maturadores
rotação no sentido anti-horário em cima do fuso, • Colheita de capulhos imaturos que não abri-
retirando as plumas de algodão, mas ainda sobram
ram
minúsculos restos de fibrilha, que são retirados pe-
las escovas (sistema umidificador). Após esse pro- • A tensão das placas de pressão e a folga da
cesso, o algodão é transportado através de dutos ponta do fuso não estão ajustadas correta-
por sucção, gerada por uma corrente de ar criada mente
pelo ventilador do sistema de ar.
• Ajuste dos desfibradores em relação à posi-
Eficiência das colhedoras de fusos (“picker”) ção dos fusos
• Fusos usados, buchas do fuso ou desfibrado-
As colheitadeiras de fuso são capazes de co- res necessitando de manutenção
lher 95-98% do algodão das plantas, mas alguns
produtores relatam perdas na colheita em con- • Limpeza incorreta do fuso por conta do acú-
239
MANUAL DE QUALIDADE DA FIBRA
Figura 3.
Unidade Pro
12 VRS para
colheita de
linhas de
0,45-0,50 m
(Foto: John
Deere)
240
AMPA - IMAmt 2018
241
MANUAL DE QUALIDADE DA FIBRA
Figura 6.
Diversos
modelos de
colheitadeiras
“stripper” de
pente;
A - Busa;
B - Wouchuck ;
C - Montana;
D - Dalazen
(Fotos: Jean
Belot)
C D
242
AMPA - IMAmt 2018
A maioria dessas colheitadeiras “stripper”, dos atrás da cabine das colheitadeiras de algo-
tanto de escova como de pente, é equipada dão, conforme a Figura 8.
com limpadores de algodão em caroço de tipo
extrator HL na própria máquina (ou tipo HLST: 1.4 Métodos de colheita
Hull, Leaf, Stick, Trash). Porém, algumas fazen- Diversos são os métodos de colheita de algodão,
das optaram para realizar a colheita sem HL, e cabe ao produtor rural a escolha do que mais se
agilizando-a, porém transportando um algo- adéque a suas características com relação ao cus-
dão carregado em impurezas até a algodoeira, to da manutenção e qualidade da fibra. O sistema
onde ele será beneficiado com sistemas de lim- “picker”, que é o mais utilizado pelos agricultores no
peza reforçados. Estado de Mato Grosso, apresenta como principal
Existem algumas plataformas que apresentam característica a presença menor de impurezas no
um limpador nelas próprias (Figura 7). momento da colheita, contribuindo para a preser-
Os limpadores (HL) ficam geralmente instala- vação da qualidade da fibra de algodão.
VANTAGENS
DESVANTAGENS
2.Principais recomendações para uma colhei- aderência do algodão ao capulho podem afetar
ta de qualidade tanto a carga do algodão em impurezas, como
a eficiência da colheita, contribuindo para o au-
Para realizar uma colheita de qualidade, é ne- mento das perdas.
cessário respeitar diversas recomendações, desde Como comentado nos capítulos anteriores deste
o manejo da lavoura até as operações de colheita. manual, o manejo de altura das plantas, a lavoura
limpa — sem plantas daninhas — e a desfolha ade-
2.1 Preparação da lavoura para a colheita quada têm papel importante na qualidade da co-
A escolha da variedade pode ter incidência na lheita. É importante ressaltar que a contaminação
qualidade da colheita. Características como a pi- do algodão por picão-preto pode gerar descontos
losidade das folhas, o tamanho das brácteas ou a significativos no momento da comercialização.
243
MANUAL DE QUALIDADE DA FIBRA
244
AMPA - IMAmt 2018
Figura 9. Ajuste de inclinação das unidades de colheita (Fotos: Jean Belot & John Deere)
245
MANUAL DE QUALIDADE DA FIBRA
Figura 11.
Circulação
do ar e do
algodão nos
dutos da
colheitadeira
de rolinhos
(Fonte: John
Deere)
246
AMPA - IMAmt 2018
2.4 Regulagens específicas a planta, pois, caso contrário, esta soltará galhos
e restos de capulhos, diminuindo a qualidade do
2.4.1 Placas de pressão produto. Se as placas estiverem com uma pressão
Se a lavoura apresenta um estande homogêneo muito alta, elas podem derrubar os capulhos ain-
de maturação, a regulagem da pressão das placas da com as plumas, aumentando as perdas antes
compressoras deve ser de forma que estas retirem da colheita. Como os rotores dianteiros colhem
o máximo de pluma, sem atacar mecanicamente em média 75% do algodão, um operador pruden-
Figura 13. Regulagem da folga entre fusos e placa de pressão (Foto: John Deere)
*As regulagens das placas de pressão são de dois furos na frente e três furos atrás para a primeira apanha. Uma vez que 75%
do algodão é colhido no tambor dianteiro, deve-se manter maior pressão atrás. Para algodão muito adensado, recomenda-se
iniciar com pressão menor, ou seja, 1½ orifício na frente e dois atrás. Caso seja necessário, aumentar em incrementos de ½
orifício, iniciando-se pelo tambor traseiro.
247
MANUAL DE QUALIDADE DA FIBRA
Figura 14.
Placa de
raspagem
no tambor
traseiro
(Foto: Jean
Belot)
248
AMPA - IMAmt 2018
2.4.4 Desfibradores
A função dos desfibradores é remover o algo-
dão em caroço dos fusos, limpando e retirando Figura 15. Regulagem da altura dos desfibradores
as plumas presentes nestes. (foto: John Deere & Jean Belot)
Ajuste da altura dos desfibradores: dos (Figura 15), sempre observando sua folga em
relação ao fuso.
1º passo (Figura 15): coloque uma barra na posi-
ção de regulagem, indicada pelo rasgo no chassi Os desfibradores devem manter uma distância
da unidade. de 1 mm em relação ao fuso, como mostra a Figu-
ra 16 e, quando estiverem desgastados, a coluna
2º passo: solte a contraporca superior e, em se- deve ser retirada e levada para ser lixada em uma
guida, gire o parafuso central para ambos os la- bancada especial.
249
MANUAL DE QUALIDADE DA FIBRA
250
AMPA - IMAmt 2018
Figura 18. Guia de plantas (foto: John Deere & Jean Belot)
251
MANUAL DE QUALIDADE DA FIBRA
Figura 20.
Remoção
das escovas
(Fotos: John
Deere)
Para uma ótima performance, elas sos da parte inferior do tambor sofre-
devem estar reguladas corretamen- rem maior desgaste que os da parte
te; e os orifícios de fluxo da água, de- superior, pelo fato de estarem mais
sobstruídos. próximos do solo, fazendo com que
É importante salientar que certas se desgastem diferentemente nas
regulagens devem ser conferidas ao barras, conforme as características de
longo do dia, em função principal- cultivo.
mente das condições dos talhões O desgaste nos fusos (Figura 21)
colhidos. Mudanças de regulagens pode reduzir a eficiência da colhei-
(fusos-placas ou fusos-barras) po- ta; sendo identificado o desgaste, é
dem ser a origem de incêndio nas necessário proceder à substituição
máquinas. imediata do fuso quando estiver que-
brado ou com as farpas arredondadas
2.5 Fusos ou mais de 10% das farpas quebra-
Os fusos são os responsáveis pela das; em caso de dúvida, rodar o fuso
retirada da pluma do algodão do na palma da mão, se estiver em boas
capulho. Ocorre tendência de os fu- condições, penetrará na pele.
FIGURA 21.
Fusos novos
e desgasta-
dos (Fonte:
Case Interna-
tiona)
252
AMPA - IMAmt 2018
3.1 Umidade na colheita e qualidade da fibra Figura 23. Sensor de monitoramento da por-
O controle adequado e a medição para per- ta (Fotos: Jean Belot)
mitir o controle da umidade do algodão são es-
senciais para manter e preservar a qualidade da A umidade é atributo importante no comér-
fibra. O comprimento e a resistência das fibras de cio do algodão, não apenas por influir no peso
algodão, bem como outras propriedades, podem do fardo, mas também por conta dos potenciais
ser afetadas pela umidade da fibra. Há diversas impactos na qualidade e no beneficiamento da
formas de medi-la e em muitos pontos dentro da fibra. A umidade excessivamente elevada pode
cadeia produtiva a umidade precisa ser medida. levar à deterioração da qualidade do algodão e
As tecnologias foram desenvolvidas para permi- das sementes; no entanto, a baixa umidade do
tir o monitoramento e o controle da umidade do algodão com caroço pode ocasionar quebra de
algodão no campo durante a colheita, no benefi- fibras e redução geral da qualidade durante a co-
ciamento e no processo de descaroçamento. lheita e o beneficiamento.
253
MANUAL DE QUALIDADE DA FIBRA
254
AMPA - IMAmt 2018
Figura 24. Capulhos colhidos com umidade acima da recomendada (Fotos: Renildo Mion)
O monitoramento de umidade deve ser cons- as condições climáticas do Estado de Mato Gros-
tante, principalmente no início e ao final do dia, so (Figura 25) mostra os horários e a umidade do
ocasiões em que o índice pode mudar abrupta- algodão em caroço para colheita.
mente, em poucos minutos, principalmente à noi-
te, pela presença do orvalho, fazendo com que a 3.3 Umidade e perdas na colheita
temperatura caia rapidamente. O monitoramento Em ensaio realizado no âmbito do Projeto da
da umidade do algodão em caroço é essencial, Qualidade de Fibra, em agosto de 2013, os va-
e com o aumento do uso dos fardos redondos, é lores de perdas totais apresentados na Tabela
necessária uma atenção especial, em função das 1 estão abaixo do valor mínimo de perdas en-
características da construção desse módulo. contradas em diversos trabalhos realizados nos
Estados Unidos e no Brasil, evidenciando a boa
3.2 O manejo da umidade durante a colheita regulagem da colheitadeira testada, mesmo tra-
Por ocasião da colheita, é comum as fazendas balhando com velocidade de 7 km.h-¹, que é con-
buscarem a máxima utilização das máquinas dis- siderada alta para o padrão do algodão em que
poníveis, a fim de não deixar o algodão com os foi realizado o ensaio.
capulhos abertos exposto às condições do clima. Destaca-se que o maior valor de perdas, em
Porém, é importante levar em consideração o negrito na Tabela 1, ocorreu com 90% de maçãs
efeito da umidade sobre a qualidade do algodão abertas no inicio da colheita (em torno das 8 ho-
em caroço, colhido com colheitadeiras mecâni- ras da manhã). Nessa semana e nesse horário, foi
cas. Muitos trabalhos técnicos já apresentaram encontrado o maior valor de umidade da pluma
uma série de considerações sobre a influência da de algodão (próximo de 10%), demonstrando
umidade no algodão em caroço em relação ao que nessas condições de umidade o operador da
processo de colheita e à qualidade da fibra. máquina deve diminuir a velocidade de colheita
A decisão do início da colheita do algodão de- para reduzir as perdas, bem como evitar proble-
pende de fatores que comprometem a qualida- mas com “embuchamento” e retenção das plu-
de da fibra. A maioria dos produtores agenda a mas na planta.
colheita entre 10 e 14 dias após a aplicação de Essas observações estão em consonância com
desfolhantes. A condição do algodão no campo as recomendações sobre a umidade ideal de co-
pode afetar a colheita, destacando a umidade, lheita, disponíveis na literatura, nas quais pesqui-
que reduz a eficiência da máquina quando está sadores observaram que a eficiência da colheita-
acima do recomendado para colheita, além de deira é reduzida quando o algodão está úmido,
causar danos às fibras. O gráfico adaptado para além de causar danos às fibras.
255
MANUAL DE QUALIDADE DA FIBRA
Figura 25.
Horário de
colheita e
umidade
da pluma e
sementes
de algodão
- adaptado
de Mayfield
et al. (1983)
e Willcutt et
al. (2010).
Tabela 1. Perdas totais (%) em função dos horários e das diferentes sema-
nas de colheita na Fazenda Céu Azul
Horário
Porcentagem de Sema-
maçãs abertas nas
H1 H2 H3
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AMPA - IMAmt 2018
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MANUAL DE QUALIDADE DA FIBRA
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AMPA - IMAmt 2018
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MANUAL DE QUALIDADE DA FIBRA
Figura 28.
Horas neces-
sárias de cada
atividade
para a colhei-
ta total da
área
Figura 29.
Capacidade
de campo
teórica (ha
h-1); capacida-
de de campo
efetiva (ha h-1)
260
AMPA - IMAmt 2018
Figura 32. Consumo médio de combustível por hora de atividade e consumo médio de com-
bustível para cada hectare colhido
261
MANUAL DE QUALIDADE DA FIBRA
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AMPA - IMAmt 2018
4. Medidas de segurança
263
MANUAL DE QUALIDADE DA FIBRA
Figura 34.
Módulo na
parte traseira
da máquina
e ao final do
talhão
Figura 35.
Algodão col-
hido arma-
zenado em
fardões (A)
ou rolinhos
(B) e rolinhos
fora da área
(C)
(fotos: A e B,
Jean Belot; C, A
John Deere)
264
AMPA - IMAmt 2018
custo desta operação é muito baixo em relação 5. Recomendações para uma colheita preser-
ao valor de uma máquina. vando a qualidade da fibra
No momento das operações de limpeza pe-
riódicas ao longo do dia, os operadores das má- Finalmente, a qualidade da fibra de uma plan-
quinas devem seguir as seguintes regras de se- ta de algodão é definida ao longo de todo seu
gurança: ciclo, sendo expressa no momento da abertura
• Ninguém pode permanecer na plataforma da total dos capulhos. A partir dessa etapa, todas
máquina quando ela estiver em funcionamento as operações que antecedem a colheita, como a
• Prestar atenção aos operários que ficam na la- desfolha e aplicação de maturadores fisiológicos,
voura no momento de manobra a própria colheita e os procedimentos pós-co-
• Não operar a máquina quando o cesto estiver lheita podem reduzir a qualidade da fibra. Essas
sendo levantado observações sobre o manejo da umidade durante
a colheita visa sensibilizar produtores e técnicos
• Levantar os tambores ao máximo quando ma- das fazendas sobre a necessidade de realizar a co-
nobram lheita nas melhores condições possíveis, a fim de
• Em terrenos irregulares, a máquina deve ser evitar a deterioração do “potencial” de qualidade
conduzida em marcha lenta de fibra elaborado a campo.
• Evitar freadas bruscas, que podem ocasionar
danos aos tambores Principais recomendações
• Não realizar lubrificação ou limpezas sob a má- • Manejar a altura das plantas a fim de colher o
quina com o motor ligado. A única exceção é
algodão com altura no máximo 1,5 vez o valor
quando se usa o controle remoto para acionar
do espaçamento entre linhas, sendo recomen-
as cabeças de colheita para inspeção
dado o limite de 1,30-1,40 m para espaçamen-
• Não operar a máquina sem as placas de prote- to de 0,90 m
ção e extintores em perfeito estado de funcio-
namento • Colher a lavoura sem infestação de plantas
daninhas (principalmente picão-preto, corda-
• Limpar folhas secas e algodão eventualmente -de-viola etc.);Colher a lavoura devidamente
presentes no motor, a fim de evitar incêndios desfolhada e com capulhos abertos (mínimo
• Não tentar apagar o fogo no cesto, derramar de 90-95% dos capulhos abertos), sem rebro-
imediatamente o algodão no chão tes de folhas (Figura 37)
265
MANUAL DE QUALIDADE DA FIBRA
Figura 37.
Lavoura
devidamente
preparada
para a colhei-
ta, desfolha-
da e aberta
(Foto: Jean
Belot)
Figura 38.
Realizar a
limpeza
periódica
das unidades
de fusos e
enfardadeira
(Foto: Renato
Bassini)
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AMPA - IMAmt 2018
A B
C D
Figura 39. Sujeira e encarneiramento nos fusos (A), fiapos nos desfibradores (B), alto índice de
caules e maçãs verdes (C) e módulo após incêndio (D) (Fotos: Renildo Mion)
267
MANUAL DE QUALIDADE DA FIBRA
LITERATURA CONSULTADA
ALVAREZ, G.; BASTOS, H.; SIERRA, J.F. Recolección. In: Federación Nacional de Al-
godoneros (Edt). Bases técnicas para el cultivo del algodón en Colombia. Bo-
gotá: Guadalupe, 1990. p. 609-632.
HUGHS, S.E.; PARNELL Jr, C.B.; WAKELYN, P.J. Cotton harvesting and ginning in the
21th Century. In: WAKELYN, P.J. ; CHAUDHRY, M.R. (Edt). Cotton: Technology for
the 21th Century. ICAC. Washington. 2010. p.227-250.
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20p. Acesso em 02/01/2018.
https://www.deere.com/en_US/docs/pdfs/brochures/at_CP690_QRG_KK11529.
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ROBERTS, B.A.; CURLEY, R.G.; KERBY, T.A.; WRIGHT, S.D.; MAYFIELD, W.D. Defolia-
tion, harvest, and ginning. In: HAKE, S.J.; KERBY, T.A.; HAKE, K.D. (edt). Cotton pro-
duction manual. University of California. Publication 3352. 1996. p. 305-323.
SILVA, O.R.R.F.; SOFIATTI, V.; MION, R.L. Colheita mecanizada do algodão. In: FREI-
RE, E.C. Edt Técnico. Algodão no cerrado do Brasil. ABRAPA, Brasília-DF. 2015. p.
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SLUIJS, R. van der. Harvesting & Delivering Uncontaminated Cotton. In: CSIRO
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http://www.insidecotton.com/xmlui/bitstream/handle/1/554/2013ACPMChap-
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WANJURA, J.D.; FAULKNER, W.B.; BOMAN, R.K.; KELLEY, M.S.; BARNES, E.M.; SEAR-
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http://cotton.okstate.edu/harvesting-and-ginning/cotton-stripping-harvest-ci.
pdf
268
AMPA - IMAmt 2018
269
MANUAL DE QUALIDADE DA FIBRA
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AMPA - IMAmt 2018
Figura 2. Desmanchador fixo (Fonte: Cotimes) Figura 3. Fibra beneficiada pelo desmanchador
(Fonte: Cotimes)
Impacto das etapas do processo e recomendações pelos pinos sem possibilidade alguma de seca-
gem, o que provoca o encarneiramento da fibra
1. Descarregamento e alimentação do processo e de sua sujeira, que fica mais difícil de separar
nas demais etapas de pré-limpeza, aumentando,
O descarregamento é realizado por desmancha- no final, as perdas de fibra no limpador de pluma.
dores de módulos; o desmanchador utiliza cilindros
rotatórios de pinos ou facas para desmontar a massa Recomendações
de algodão. No caso do desmanchador fixo (Figuras
2 e 3), o algodão cai por gravidade em um dispositivo • Dispor um sistema de catação de poeira na ca-
de regulação de fluxo ou sai lateralmente, em geral beça do desmanchador
por uma fita. No caso do desmanchador móvel, o • Isolar os desmanchadores da sala do processo
algodão é coletado na parte baixa da máquina por de beneficiamento por uma parede vedada
uma rosca e levado a uma correia/fita, que o trans- para evitar a contaminação do ambiente de
porta até o ponto de sucção para o processo. Os des- trabalho e do algodão
manchadores de fardões geram muita poeira.
Ao descompactar o algodão em caroço do far- • Evitar fardões muito compactados
dão, os pinos dos rolos desmanchadores arrancam • Limitar as rotações de rolos desmanchadores
fibra, soltando mechas observáveis no algodão a 360 RPM
depositado na fita lateral; é um inconveniente do
• Preferir o acréscimo de uma segunda etapa de
desmanchamento que não existe com os telescó-
pré-limpeza ao acréscimo de um batedor no
pios. Essas mechas soltas, em sua maioria, perdem-
desmanchador
-se no decorrer do processo (principalmente nos
batedores que trabalham com sucção) ou chegam
aos descaroçadores, onde se encarneiram, reduzin- A heterogeneidade da densidade nos módu-
do o tipo da fibra produzida. Velocidades maiores los e o uso de módulos cilíndricos com desman-
aumentam o beneficiamento pelos pinos e afetam chadores fixos geram fortes variações do fluxo de
negativamente a apresentação da fibra. matéria que desfavoráveis à homogeneidade e à
O desmanchador móvel é frequentemente eficiência da secagem e da pré-limpeza, com risco
equipado de um batedor acoplado; a taxa de su- de sobressecar a fibra com consequente perda de
jeira fina eliminada é alta, o que explica o suces- resistência. Um dispositivo de regulação de fluxo
so dessa adaptação. No entanto, nas adaptações permite liberar para o processo um fluxo regular
existentes, a seção batedora não pode ser des- e controlado; o dispositivo justifica-se para qual-
viada, o que apresenta um inconveniente grande quer processo e capacidade e é indispensável para
no caso do algodão úmido, que é batido e rolado as instalações de capacidades média e alta.
271
MANUAL DE QUALIDADE DA FIBRA
Figura 4.
Sistema de
catação de poe-
ira no desman-
chador móvel
(Fonte: Cotimes)
Recomendações
2. Gestão da unidade
dão em caroço, melhora o brilho e reduz as impure- O sistema de secagem comum usa uma fonte
zas e o encarneiramento; uma secagem exagerada de calor (queimador e ventilador), tubulações,
resulta em perda de resistência, redução do com- um secador (torre de secagem) e um dispositivo
primento e amarelamento da fibra. Corretamente de separação (batedor). Equipamentos comple-
operado, o sistema não apresenta risco para a fibra; mentares são importantes para operar o sistema,
a secagem deve ocorrer o mais cedo possível, antes como medidores, sensores e controladores.
de qualquer tratamento mecânico, porém, para se- A fonte de calor condiciona a eficiência do siste-
car, o algodão em caroço deve ser bastante aberto. ma de secagem; ela deve ser adaptada a grandes
O princípio da secagem é colocar o algodão fluxos de ar e ter tempo de resposta muito curto
em contato com uma corrente de ar quente. para poder adaptar a temperatura do ar às varia-
Vários fatores influenciam a secagem: ções de umidade do algodão, preservar a fibra e
gastar a energia justa necessária. Por isso sistemas
• A temperatura e a umidade do ar: quanto mais a gás ou petróleo são mais adaptados que sistemas
quente e seco o ar, maior o potencial de remo- que se valem de vapor de caldeira, e queimadores
ção de umidade da fibra de tipo cortina são preferidos aos de tipo canhão.
Os queimadores utilizados nas algodoeiras têm
• O volume de ar disponível: haverá maior po- poder calorífico entre 250 mil e 4 milhões de kcal/h.
tencial de secagem quanto maior for a relação Com a evolução do conceito da secagem mo-
ar/algodão derna, as torres de gavetas baixas (20 cm) são
• O tempo de contato entre o algodão e o ar: a cada vez menos utilizadas no mundo. A torre de
quantidade de água retirada da fibra aumenta gavetas altas de alto volume usa espaçamentos
com o tempo de exposição maiores entre gavetas (até 69 cm) para aumen-
tar a capacidade e serem utilizadas em sistema
• O deslizamento do ar sobre o algodão favorece
de secagem por sucção; existem vários modelos
a troca de vapor de água por convecção
de secadores sem gavetas, que sempre utilizam
• A abertura do algodão: o algodão em caroço a agitação do algodão no ar quente para com-
aberto seca mais rapidamente binar abertura e secagem, gerando um desliza-
273
MANUAL DE QUALIDADE DA FIBRA
Figura 8.
Secagem com
torre sem gave-
tas em linhas
duplas (Fonte:
Cotimes)
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AMPA - IMAmt 2018
Figura 9.
Comprimento
de fibra e SFC
em função
da umidade
(Fonte:
Cotimes)
Figura 10. Caixas de umidificação do algodão em caroço (entrada dupla) (Fonte: Cotimes)
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MANUAL DE QUALIDADE DA FIBRA
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AMPA - IMAmt 2018
Os batedores
Os batedores inclinados ou horizontais permi-
tem abrir, espalhar e esponjar o algodão em caro-
ço (Figura 12); ao mesmo tempo, a limpeza ocorre
por agitação e fricção, que são mais eficazes quan-
to mais o algodão em caroço estiver seco. Os bate-
dores que funcionam por sucção e com ar quente
são os mais eficientes; nos sistemas de secagem,
os batedores ajudam muito, por conta da abertu- Figura 12. Pinos e grade de batedor
ra e da agitação do algodão no ar quente. (Fonte: Cotimes)
O batedor retira 50%-55% dos pequenos resí-
duos (folhas, fragmentos vegetais, poeiras e areia) e
10%-40% dos resíduos totais (Figura 13); ele é essen-
cial para melhorar o tipo, dada sua ação direta e seu
efeito, que beneficia etapas posteriores do processo.
277
MANUAL DE QUALIDADE DA FIBRA
Figura 15.
Resíduos típicos
de extrator
(Fonte: Cotimes)
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Figura 17.
Sequência de
limpeza do
algodão em
caroço (Fonte:
Cotimes)
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AMPA - IMAmt 2018
Figura 18. Descaroçador de baixa capacidade Figura 19. Descaroçador de alta capacidade
(Fonte: Cotimes) (Fonte: Cotimes)
Figura 20. Costelas de vários fabricantes Figura 21. Aspecto característico dos
(Fonte: Cotimes) resíduos de cata-piolho (Fonte: Cotimes)
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MANUAL DE QUALIDADE DA FIBRA
Figura 22.
Corte do limpa-
dor centrífugo
(Fonte: Cotimes)
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Figura 24.
Regulagem
essencial do
limpador de
pluma e visor
(Fonte: Cotimes)
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AMPA - IMAmt 2018
nejar o beneficiamento no dia a dia e no decorrer mentos não podem fazer o melhor sem o melhor
da safra. pessoal:
As miniusinas constituem uma referência inte-
ressante para o monitoramento de desempenho e • Escola de beneficiamento do IMAmt
para a melhoria da produtividade e da qualidade • Treinamentos completos e repetidos para ge-
das unidades de beneficiamento. rentes e maquinistas (escola e na UBA)
(1) Medições e controles recomendados para • Curso organizado para operadores (escola e
o monitoramento do beneficiamento UBA)
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MANUAL DE QUALIDADE DA FIBRA
LITERATURA CONSULTADA
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MANUAL DE QUALIDADE DA FIBRA
Sobre a Escola
A escola de beneficiamento de algodão fica situa-
da em Rondonópolis, junto ao centro de treinamento
e difusão tecnológica do Instituto Mato-grossense do
Algodão (IMAmt). A escola é composta por uma miniu-
sina de beneficiamento e, em anexo às salas de aula,
copa, oficina mecânica e depósitos.
A miniusina de beneficiamento de algodão foi pro-
jetada para ter sua funcionalidade semelhante à da usi-
na de beneficiamento real, possuindo as características
das algodoeiras, sendo a única diferença o tamanho
reduzido. Assim, os experimentos realizados na escola
podem ser estendidos a todas as usinas do Estado.
A construção das máquinas foi feita de maneira a fa-
cilitar a observação pelos alunos, com o intuito de mos-
trar o caminho do algodão no interior de cada máqui-
na, expondo a funcionalidade dos equipamentos e o
efeito de cada ajuste, o que facilita muito a aprendiza-
gem, estimulando o aluno a buscar e propor melhorias.
Maquinário instalado
Figura 2. Máquinas de pré-limpeza (Foto:
• Descarregamento e regulagem de fluxo: para o des-
Rodrigo Sperotto)
carregamento de algodão, a miniusina conta com
dois equipamentos: um telescópio e um desman-
chador fixo; a regulação do fluxo de algodão é feita
por meio de uma caixa reguladora.
• Secagem do algodão em caroço: a secagem é feita
por meio de torres de secagem (Figura 3) que ante-
cedem cada etapa de pré-limpeza, sendo que a mi-
niusina conta com duas etapas de pré-limpeza (Fi-
gura 2) e secagem, sendo a primeira composta por
um batedor inclinado seguido de um extrator HL; a
segunda pré-limpeza é constituída por um batedor
inclinado seguido de um trashmaster.
• Descaroçamento: no quesito descaroçadores, a mi-
niusina possui duas máquinas, sendo uma de alta
produção, moderna e automatizada, e outra mais
antiga, com sistema de limpeza por jato de ar.
• Limpeza de pluma: para a limpeza de pluma, a esco-
la conta com dois limpadores com cinco possibilida-
des de configuração, sendo elas em série e paralelo.
• Prensagem: para a prensagem da pluma dispomos
de uma prensa (Figura 4) com a capacidade de 3 far-
dos/hora.
• Outros sistemas: dispomos ainda de sistemas de Figura 3. Torre de secagem (Foto: Rodrigo
umidificação de algodão em carroço e de pluma, Sperotto)
por meio de geradores de ar quente-úmido, siste-
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MANUAL DE QUALIDADE DA FIBRA
Figura 4.
Prensa
(Foto: Rodri-
go Sperotto)
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