Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
agosto. 2013
Jornada do Percurso
de Escola XI (II)
Gestão 2013-2014
Presidência
Marta Pedó
1ª Vice-Presidência
Liz Nunes Ramos
2ª Vice-Presidência
Eduardo Ely Mendes Ribeiro
1ª Secretaria
Gerson Smiech Pinho
2ª Secretaria
Fernanda Breda
Maria Elisabeth Tubino
1ª Tesouraria
Marcia Helena de Menezes Ribeiro
2ª Tesouraria
Ieda Prates da Silva
Mesa Diretiva
Alfredo Néstor Jerusalinsky
Ana Laura Giongo
Ana Maria Medeiros da Costa
Beatriz Kauri dos Reis
Deborah Nagel Pinho
Eduardo Ely Mendes Ribeiro
Fernanda Breda
Gerson Smiech Pinho
Lúcia Alves Mees
Lucia Serrano Pereira
Marcia Helena de Menezes Ribeiro
Maria Ângela Bulhões
Maria Ângela Cardaci Brasil
Norton Cezar dal Follo da Rosa Júnior
Renata Maria Conte de Almeida
Robson de Freitas Pereira
Sidnei Artur Goldberg
Silvia Raimundi Ferreira
Simone Goulart Kasper
Simone Madke Brenner
Tatiane Reis Vianna
Mensal
ISSN 1983-5337
Boa leitura!
23 e 24 de agosto de 2013
Hotel Continental – Porto Alegre
Largo Vespasiano Julio Veppo, 77,
Centro, Porto Alegre, RS
PROGRAMA
Sexta-feira, 23/08/2013
17:30 – Inscrições
18:00 – Abertura – Jaime Alberto Betts (APPOA, Diretor do Instituto
APPOA)
Lançamento da Revista da APPOA nº 41-42 – Psicanálise: invenção
e intervenção
18:30 – Conferência – O desejo do analista face ao desamparo con-
temporâneo – Caterina Koltai (psicanalista, PUCSP)
20:00 – Mesa 1 – Passagens: Sujeito e Cultura – Catástrofe e Repre-
sentação
• A colaboração da psicanálise na construção do acolhimento às vítimas
do incêndio na Boate Kiss – Volnei Antonio Dassoler (APPOA, Instituto
APPOA, Secretaria Municipal de Saúde de Santa Maria)
Sábado, 24/08/2013
9:30 – Mesa 2 - Psicanálise e Educação: O que pode a psicanálise no
campo da educação?
Educação impossível? Gerson Pinho (APPOA, Instituto APPOA, Centro
Lydia Coriat) e Larissa Scherer (APPOA, Instituto APPOA)
Crise do vínculo educativo – Roseli Cabistani (APPOA, Instituto
APPOA, UFRGS) e Cristina Pinto Gomes Mairesse (Psicóloga, UNIFIN)
Coordenação: Sonia Ogiba (APPOA, Instituto APPOA)
11:00 – Intervalo
11:15 – Mesa 3 - Psicanálise, Políticas Públicas e Saúde Mental
• A clínica e as práticas de cuidado na rede de atenção à infância e
adolescência – Ieda Prates (APPOA, Instituto APPOA, supervisora de
CAPSi) e Tatiane Reis Vianna (APPOA, Instituto APPOA, CIAPS/HPSP)
• Brincando de tráfico? Notas sobre o proibicionismo e a internação
compulsória – Sandra Djambolakdjian Torossian (APPOA, Instituto
APPOA, UFRGS)
• A Casa dos Cata-Ventos: uma aposta na dimensão política do brin-
car – Anderson Beltrame Pedroso (Casa dos Cata-Ventos, consultor
UNESCO/PIM)
Coordenação: Renata M. C. de Almeida (APPOA, Instituto APPOA,
Casa dos Cata-Ventos)
12:45 – Almoço
Informações e inscrições:
• Na sede da APPOA.
• Horário de funcionamento da Secretaria da APPOA: De segunda a
quinta-feira, das 8h30 às 12h e das 12h às 21h30 e sextas-feiras das
8h30 às 12h e das 12h às 20h.
• Inscrições pelo site www.appoa.com.br. Após efetuar o pagamento da
sua inscrição pelo site, enviar por fax ou por e-mail o comprovante
de pagamento devidamente preenchido.
• Inscrições mediante depósito bancário, para Banco Itaú, agência
0604, conta-corrente: 32910-2 ou Banco Banrisul, agência 0032,
conta-corrente 06.039893.0-4. Neste caso, enviar, por fax ou e-mail, o
comprovante de pagamento devidamente preenchido, para a inscrição
ser efetivada.
• Estudantes de GRADUAÇÃO e recém formados até 2 anos devem
enviar comprovante por e-mail ou fax.
• Inscrições para grupos, informe-se na Secretaria da APPOA.
• As vagas são limitadas.
testemunha não seria somente aquele que viu com os próprios olhos.
(...) testemunha também seria aquele que não vai embora, que con-
segue ouvir a narração insuportável do outro e que aceita que suas
palavras levem adiante, como num revezamento, a história do outro:
não por culpabilidade ou por compaixão, mas porque somente a
transmissão simbólica, assumida apesar e por causa do sofrimento
indizível, somente essa retomada reflexiva do passado pode nos
ajudar a não repeti-lo infinitamente, mas a ousar esboçar uma outra
história, a inventar o presente” (Gagnebin, J. M., 2009, p. 57).
1
Psicóloga, especialista em Atendimento Clínico com ênfase em Psicanálise.
J., a partir disso, fala da saudade de sentir-se apenas “mais um”. Aqui
é o estrangeiro, o estranho. Na medida em que sua fala podia continuar,
inicia um movimento na direção de apresentar ao outro sua cultura. Algo
do estrangeiro que se fazia estranho e ameaçador tornou-se menos perse-
cutório, mais habitável, mais compartilhado. J. passa a experimentar-se em
outros espaços da cidade, descobre lugares onde pode dançar o merengue
e a salsa. A música de seu país e a língua materna começam a encontrar
eco no outro. Filho de donos de restaurante começa a preparar e a oferecer
pratos que trazem o gosto de sua terra.
Assim, no atendimento a pacientes em urgência, escuta-se sujeitos
estrangeiros do próprio corpo e da própria fala. Ao longo de meu trabalho
percebo que a escuta faz função ao acompanhar o sujeito por sua incur-
são no discurso, podendo se possível e suportável apontar elementos que
possam oferecer ao sujeito um instante de encontro com sua história. A
transferência, nessa linha associativa, assume a direção de um trabalho
possível com a psicose, principalmente em seus momentos de ruptura.
Uma pergunta, a partir disso, me acompanha: o que (ir)rompe em um
episódio de crise na psicose?
A crise psicótica, como retoma Ramalho (2007), acontece quando
alguém em algum momento da vida – momento esse caracterizado por
uma injunção imperiosa – vive a situação como sendo além de suas pos-
sibilidades psíquicas. Diante da situação, para conseguir lidar com ela, o
sujeito sente a necessidade de se referir ao saber paterno (ao significante
Nome-do-Pai) e, como não o tem simbolizado, o mundo, o saber que até
então o sustentava, desmorona. Depois da crise, quando tudo aquilo que
era insuportavelmente intenso já passou, resta, por vezes, um vazio sem
sentido. Na urgência, há algo que se desmonta no nível da palavra e o que
emerge aí é a angústia, um não nomeável, indizível que paralisa. Nem
sempre a palavra, o discurso tem efeito.
Por vezes, parece que minha função é apenas estar ali, fazendo-me
presente via olhar, voz, ritmo, como presença de um corpo outro que parece
Referências bibliográficas
GAGNEBIN, Jeanne Marie. Lembrar, escrever, esquecer. Rio de Janeiro: editora 34, 2009.
PIPKIN, Mirta & HOLGADO, Mirta. Intervir em la emergência. A clínica psicoanalítica em los limites. Buenos Aires: Letra Viva, 2007.
QUINET, Antônio. Teoria e Clínica da Psicose. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2011.
RAMALHO, Rosane Monteiro. Clínica das psicoses: os impasses da transferência. Em Psicose: aberturas da clínica. Porto Alegre:
APPOA: Libretos, 2007.
1
Psicóloga (UFRGS), Mestre em Psicologia Social e Institucional (UFRGS), Psicóloga da equipe técnica da Clínica de Atendimento
Psicológico da UFRGS.
2
Cabe situar que, quando estivermos nos referindo à instituição, utilizaremos os termos atendimento psicológico, terapeuta
e paciente, por se tratar da nomenclatura oficial e adequada ao local. No entanto, nos apontamentos teóricos, utilizaremos os
termos análise, analista e analisante.
Início do tratamento
A psicanálise sustenta-se de seu ato, o qual opera por meio da pala-
vra. O ato psicanalítico é o que situa a psicanálise em sua esfera ética. É o
próprio analista que, com seu ato, dá existência ao inconsciente, regido,
pois, por seu desejo. Existe, enfim, uma profunda delicadeza envolvida
em um percurso analítico no que tange à direção do tratamento, desde
suas primeiras sessões.
Em uma interessante citação, Freud traçará certo paralelo entre as pri-
meiras entrevistas e um jogo de xadrez: “Todo aquele que espera aprender o
nobre jogo de xadrez nos livros, cedo descobrirá que somente as aberturas
e os finais de jogo admitem uma apresentação sistemática exaustiva e que
a infinita variedade de jogadas que se desenvolvem após a abertura desafia
qualquer descrição deste tipo (Freud, 2003, p. 139)”.
Segundo Freud, as regras que podem ser estabelecidas para o trata-
mento psicanalítico acham-se sujeitas a limitações semelhantes, ou seja, o
modo como conduzo as primeiras peças será crucial para o seguimento do
jogo de xadrez, tal qual a condução das primeiras entrevistas será crucial
para o desenrolar do tratamento analítico.
Em O início do tratamento (1913), Freud situará, pois, a relevância
do que chama de ‘tratamento de ensaio’, o qual teria duração de uma ou
duas semanas e se calcaria em razões diagnósticas e de estabelecimento
da transferência.
Em Lacan (1971/1997), o tratamento de ensaio corresponde às entre-
vistas preliminares, denotando que existe um momento, um limiar a ser
transposto em um determinado tempo, que separa as primeiras entrevistas
do tratamento propriamente dito, corte que corresponderá à travessia entre
aquilo que é preliminar e aquilo que já está na dimensão de um discurso
analítico. Sendo assim, podemos depreender que não há entrada em análise
sem as entrevistas preliminares (op. cit.).
No percurso das entrevistas preliminares, o analista toma sua deci-
são no que tange a acatar ou não aquele pedido de análise. Diz-nos Quinet
(2005) que, do ponto de vista do analista, “as entrevistas preliminares
podem ser dividas em dois tempos: um tempo de compreender e um
momento de concluir, no qual ele toma a sua decisão. É nesse momento
de concluir que se coloca o ato psicanalítico, assumido pelo analista, de
transformar o tratamento de ensaio em análise propriamente dita” (p. 15).
Nesta passagem, o sujeito estará impelido a elaborar sua demanda
de análise, o que podemos situar em dois momentos: a histericização e a
produção do sintoma analítico.
No processo de tratamento preliminar (na clínica clássica da neurose)
trata-se, pois, de uma dupla transformação da demanda. Isso implica dizer
que a demanda inicial é estéril, e não deve ser tomada como demanda real
da análise, mas deve ser trabalhada, questionada.
No que se refere à dita histericização, trata-se eminentemente de um
reconhecimento, o sujeito reconhecendo-se como dividido, sendo capaz
de reconhecer que há algo de um saber que lhe escapa, que lhe transcen-
de. É na forma de um enigma que um sintoma pode, enfim, ser decifrado.
Neste sentido, poder pensar sobre o que faz um paciente sustentar um
tratamento talvez seja pensar que, ao que algo de um enigma se constitua
nesta divisão subjetiva, nesta cisão entre saber e verdade, o paciente suporá
que o analista saberá resolver isso.
Lacan trabalha, igualmente, a ideia de que a demanda de análise é
correlata à elaboração do sintoma (do qual o sujeito vem queixar-se) em
sintoma analítico, este sim o âmago de uma demanda verdadeira - deman-
da de saber sobre si. É neste momento que se estabelece a transferência
analítica, na justa produção de um sujeito suposto saber.
De acordo com Quinet (2005), o sujeito bem pode se apresentar ao
analista com vistas a se queixar de seu sintoma ou até pedir para dele
se desvencilhar, mas isso não é o bastante: “É preciso que esta queixa se
transforme em uma demanda endereçada àquele analista, e que o sintoma
passe de estatuto de resposta para o estatuto de questão para aquele sujeito,
para que este seja instigado a decifrá-lo” (p. 16). De acordo com o autor, o
analista é colocado no lugar do Outro, e cabe a ele transformar esse sintoma
na questão que Lacan denomina “que queres?”, questão chamada desejo.
Assim, o que é decisivo para que estejamos no campo da psicanálise
é que este sujeito acredite que seu sintoma comporta alguma verdade e, a
propósito disto, recorra à figura do analista como aquela que supostamente
porta o saber que lhe escapa.
As Entrevistas Iniciais
Desde o início de suas atividades, a instituição em questão passou por
diversas etapas até a constituição das atuais Entrevistas Iniciais. As EIs
Sobre a transferência
Nas primeiras entrevistas, o que está em jogo é fazer trabalhar a trans-
ferência. De acordo com Lacan (1953/1998, p.258), a assunção, pelo sujeito,
em situação de análise, de sua história é constituída pela fala endereçada
ao outro. Contudo, a questão fundamental que se coloca com relação à
transferência é a de pensar sua posição ética, ou seja, qual o lugar que o
analista ocupará frente às demandas do paciente.
O sujeito que vem em busca de um analista o faz porque supõe que
este detém a priori um saber sobre sua verdade. O analista, por seu turno,
deve abster-se de identificar-se com esta posição de saber absoluto, todavia
Referências bibliográficas
BRIZIO, M. Abertura da II jornada do curso de especialização e comemoração do aniversário da Clínica de Atendimento Psicológico.
In: Boletim da Clínica de Atendimento Psicológico da UFRGS, Porto Alegre, 1997.
FREUD, S. O início do tratamento. Obras Completas. Vol. XII, Rio de Janeiro: Imago, s/d.
LACAN, J. A Direção do tratamento e os princípios de seu poder. (1958). In: Escritos. Rio de Janeiro: Zahar, 1998.
_________. Posição do inconsciente. (1963). In: Escritos. Rio de Janeiro: Zahar, 1998.
_________. O tempo lógico e a asserção da certeza antecipada: um novo sofisma. (1945). In: Escritos. Rio de Janeiro: Zahar, 1998.
_________. Função e campo da fala e da linguagem. (1953). In: Escritos. Rio de Janeiro: Zahar, 1998.
_________. O saber do psicanalista. (1971). Centro de Estudos Freudianos do Recife. Publicação Interna, 1997.
POMMIER, G. O amor ao avesso: ensaio sobre a transferência em psicanálise. Rio de Janeiro: Zahar, 1998.
VEGH, I. A lógica do ato na experiência da análise. Revista da Associação Psicanalítica de Porto Alegre, nº. 39, jul-dez/2010.
1
Psicóloga da Fundação de Assistência Social e Cidadania (FASC) – Prefeitura Municipal de Porto Alegre. Especialista em
Atendimento Clínico – ênfase em psicanálise (UFRGS).
Marcela e seu marido Lucas vêm nos procurar. Ela se mostra muito
apreensiva com a possibilidade de uma nova internação de seu compa-
nheiro em função do uso excessivo de álcool. Marcela diz: “Mas e eu? Vou
ficar sozinha?”. No que imediatamente o marido rebate: “Não, a D. Carolina
é que vai cuidar de você!”.
Seguem-se mais reuniões e mais casos a serem atendidos. Casos graves
dentro de uma região em que casos graves são o que há de mais comum.
Vânia e seu psiquiatra encontravam-se com a relação estremecida.
Vânia se queixava. Dizia que ele não a entendia. Na tentativa de inter-
mediar essa relação a acompanhamos em uma consulta. Durante o aten-
dimento o médico solicita alguns dados pessoais. Ela diz: “Não lembro,
mas a Carol sabe!”.
Emanuele nos liga chorando e diz que está sendo expulsa de sua
casa pelos traficantes. Se não sair em poucas horas ela e seus filhos serão
assassinados. Somos os primeiros a quem ela pede ajuda.E assim, vamos
representando os nossos usuários, tecendo com cuidado os delicados
laços no social...
Aventurar-se na desventura. Esse parece ser o lema que acompanha o
profissional que atua na política de Assistência Social. Talvez seja o lema
de profissionais que atuam com populações socialmente vulneráveis. Mas
há algo dentro da política de Assistência Social que faz com que, muitas
vezes, essa aventura vá longe demais. Como política de intermediação
com outras políticas, sentimos na pele a fragilização de toda uma rede
de atendimento. Vamos traçando planos de atuação e também planos
de sobrevivência. Sobrevivência considerando os casos que nos chegam
cotidianamente. Aventurar-se num mundo que não é nosso pode ser mais
caótico do que poderíamos supor. Isso parece ficar ainda mais claro no
momento em que uma política pública está sendo implantada. Estamos
falando da criação do Sistema Único de Assistência Social, o SUAS.
Quando iniciamos nesse trabalho somos tragados por uma quantidade
enorme de apelos e situações que nos arrepiam as espinhas. Identificamo-
Referências bibliográficas
BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social. Norma Operacional Básica do Sistema Único de Assistência Social, 2005.
ENDO, P. A violência no coração da cidade: Um estudo psicanalítico. São Paulo: Escuta/Fapesp, 2005.
JULIEN, P. Abandonarás teu pai e tua mãe. Rio de Janeiro: Companhia de Freud, 2000.
ROSA, M. D. Uma escuta psicanalítica das vidas secas. Em: Adolescência: Um problema de fronteiras. Porto Alegre: APPOA, 2004.
1
Psicóloga na Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Referências bibliográficas
BETTS, Jaime. Estruturas coletivas, suas lógicas e modos de subjetivação: instrumentos para uma Clínica Psicanalítica da
Instituição. Porto Alegre: Correio da APPOA, 2011, nº 200.
CALLIGARIS, Contardo. Cartas a um jovem terapeuta: reflexões para psicoterapeutass, aspirantes e curiosos. Rio de Janeiro:
Elsevier, 2004.
FLEIG, M. (org.) Psicanálise e Sintoma Social. CALLIGARIS, Contardo. Sociedade e Indivíduo. In: Psicanalise e Sintoma Social.
São Leopoldo, Ed. UNISINOS, 1993.
FREUD, Sigmund. Obras Completas vol.15, Psicologia das Massas e Análise do Eu e outros textos (1920-1923). São Paulo:
Companhia das Letras, 2011.
KASTRUP, Virginia. Psicologia em Estudo. O conceito de coletivo como superação da dicotomia indivíduo - sociedade. Maringá:
2005, . 10, n. 2.
KAUFMANN, Pierre. Dicionário Enciclopédico de Psicanálise: o legado de Freud e Lacan. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed, 1996.
KEHL, Maria Rita. Sobre Ética e Psicanálise. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.
LACAN, Jaques. O seminário livro XVII: o avesso da psicanálise (1969-1970). Rio de Janeiro, Jorge Zahar Ed., 1992.
________. O seminário livro VIII: a transferência.(1960-1961). Rio de Janeiro, Jorge Zahar Ed., 2010.
RIBEIRO, Eduardo Mendes. A psicanálise nas instituições: clínica e política. In: Psicanálise e Intervenções Sociais. Porto Alegre:
APPOA, 2011.
ROSA, Miriam Debieux. Revista Mal-estar e Subjetividade. A pesquisa psicanalítica dos fenômenos sociais e políticos: metodologia
e fundamentação teórica. Fortaleza, 2004, vol. IV, nº 002.
________. A psicanálise e as instituições: um enlace ético-político. On-line ISBN 978-85-60944-06-4. An. 5 Col. LEPSI IP/
FE-USP. São Paulo, 2004.
agarrada por três meninos de aproximadamente oito anos, que pedem que
eu os leve para minha casa. Sendo bombardeada diariamente por perguntas
sobre a minha vida: se tem cama, comida ou brinquedos em minha casa;
se tenho filhos, se sou casada, se eu levo meus filhos na pracinha, se eu
e meu marido costumamos bater em nossos filhos, etc. Frases, perguntas
e atitudes como essas são frequentes e mostram experiências vividas, ao
mesmo tempo em que apontam a esperança de constituir outros laços, tão
necessários a sua integridade psíquica
Muitas das pessoas que trabalham no abrigo acabam por levar as
crianças ou os adolescentes para passar finais de semana em suas casas
ou para passeios com suas famílias, por se sentirem sensibilizadas por
tais pedidos. Algumas vezes tais proximidades são de grande proveito
para as crianças e adolescentes e lhes permitem viver e conhecer outras
formas de dinâmicas familiares e de relações afetivas, porém há de se
ter cuidado em tais situações, pois outras vezes lhes criam esperanças
de fazer parte daquelas famílias ou de ter vínculos mais fortes do que
realmente o são, ou a gerar questionamentos nas crianças e adolescentes
como: “Por que o tio André levou Marcelo para passear e não a mim?”.
Isto pode acabar por reforçar experiências de desamparo ou de reviver
abandonos. Uma das lutas que entravo na instituição e junto ao poder
público é a de que se proporcionem, aos finais de semana, atividades
fora da instituição, de cultura e lazer, para que a instituição lhes pro-
mova tais direitos. Não ter tais atividades tem criado, na instituição, a
justificativa necessária para que os passeios sejam proporcionados por
monitores em suas residências, considerando que não há no município
o projeto Apadrinhamento Afetivo.
A demanda de amor, que nos é endereçada na transferência, nesta
convivência na Casa de Passagem torna-se mais intensa, mais escancarada e
é verbalizada diretamente por crianças e adolescentes quando são tratados
e escutados com atenção e respeito. A especificidade desde ambiente nos
permite questionar quais seriam as condições mínimas necessárias para se
Referências bibliográficas
ALBERTI, S. & POLLO, V. Adolescência e criminalidade. In: Revista Marraio – Formações Clínicas do Campo Lacaniano, nº 10.
Rio de Janeiro: Rios Ambiciosos, 2005.
FREUD, S. (1915 [1914]). Observações sobre o amor transferencial (Novas recomendações sobre a técnica da Psicanálise III).
In:. O caso de Schreber, artigos sobre técnica e outros trabalhos. Rio de Janeiro: Imago, 1980.
LACAN, J. O Seminário - Livro 7 – A ética da psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor Ltda, 1991, 2ªed.
PORGE, E. A transferência para os bastidores. Littoral: a criança e o psicanalista. Rio de Janeiro: Companhia de Freud, 1998.
Valéria Rombaldi1
Inicio esta escrita pelo termo avosidade, que aparece no título. Não
sei se o escutei de alguém ou se surgiu de uma necessidade de nomear a
função exercida pelos avós. De qualquer forma, esta palavra não aparece
no dicionário Aurélio, então coloco aqui minhas reflexões sobre o que está
implicado no ser avô/avó no contexto social em que vivemos, na tentativa
de delinear o que avosidade poderia significar.
A partir da escuta de diversos relatos e de observações sobre as rela-
ções familiares em que avós, seus filhos e netos estão em foco, algumas
mudanças não podem passar despercebidas. De alguma forma, a imagem
dos avós aparece cada vez menos associada a uma possibilidade de trans-
missão entre gerações, seja porque dedicam menos tempo ao convívio
1
Psicanalista.
“nós, pobres, devíamos alargar a garganta não para falar, mas para melhor
engolir sapos” (p. 34). O avô conta uma experiência ruim no trabalho,
consequência de ter ficado calado, e a avó suspira. Diz o filho: “Amadalena
suspirava direito por silêncios tortos” (p. 35). Após uma outra situação
em que o avô repele o menino que aprende a engatinhar, a avó o convoca
a dar explicações. E ele se explica.
Afinal, ele sempre dissera: não queria ter netos. Os filhos não des-
pejassem ali os frutos do seu sangue.
– Não quero cá disso, eu não sou avô, eu sou eu, sou Zedmundo
Constante.
Agora, ele queria gozar o merecido direito: ser velho. A gente morre
ainda com tanta vida!
– Você não entende, mulher, mas os netos foram inventados para,
mais uma vez, nos roubarem a regalia de sermos nós.
E ainda mais se explicou: primeiro, não fomos nós porque éramos
filhos. Depois, adiávamos o ser porque fomos pais. Agora, querem-
nos substituir pelo sermos avós (p. 35).
A avó, farta da situação, lhe diz que ou ele se abrandasse ou que tudo
estaria acabado entre eles. Ele que saísse, procurasse outro lugar. Eles
ficaram juntos, mas a filha, seu marido e o filho é que se mudaram para
outra cidade.
Após poucas semanas, o genro faleceu, a filha foi internada e o neto
voltou para a casa dos avós. No momento em que entrou, o avô saiu.
“Tudo o que você não falou, está certo, Amadalena, mas eu não agüento”
(p. 36), disse ele.
Ficou sumido por dias, e quando voltou estava mais magro e chorava.
A esposa o recebeu maternalmente, acatando o marido no peito. “E sentiu
que já não era apenas o espreitar da lágrima. Vendo-o assim, babado e
minguado, minha mãe entendia que o velho, seu velho homem, queria,
afinal, ser sua única atenção” (p. 37).
A avó levou o avô pela mão para ver o neto em seu berço. Este o
levantou e beijou longamente, como se saboreasse seu cheiro. Depois de
deitá-lo de volta, deitou-se com o marido no sofá, com o neto adiado ao
seu lado. Quando o filho chega, na manhã seguinte, lê um bilhete escrito
pela mãe antes de sair:
que ocupou aquele lugar. Para que os pais dos pais de uma criança se
façam avós, há também uma dimensão de escolha, eles precisam desejar
ocupar este lugar. É preciso que opere uma mudança subjetiva para que
uma outra posição do sujeito se produza.
Alfredo Jesuralisnky nos lembra, em um seminário de outubro de 2004,
que Freud, no “Projeto de uma psicologia para neurologistas”, estabelece
uma discussão com a corrente já chamada Psicologia Social, sobre a cau-
salidade das mudanças subjetivas. Intelectuais alemães sustentavam que
a causa de qualquer mudança subjetiva estava naquilo que a sociedade
como um todo apresentava para cada indivíduo, e não em cada sujeito
mesmo. Segundo Jerusalinsky, é uma polêmica que continua.
Referências bibliográficas
ARENDT, Hannah. Entre o passado e o futuro. São Paulo: Ed. Perspectiva, 1968.
COUTO, Mia. O Fio das Missangas. São Paulo: Ed. Companhia das Letras, 2004.
JERUSALINSKY, A. Seminários V – O declínio do império patriarcal. São Paulo: Universidades de São Paulo, Instituto de Psi-
cologia, 2004.
JORGE, M. A. Coutinho, Fundamentos da Psicanálise – De Freud a Lacan, vol I. Rio de Janeiro: Ed Zahar, 2000.
JULIEN, Phillipe. Abandonarás teu pai e tua mãe. Rio de Janeiro: Ed. Companhia de Freud, 2000.
KEHL, Maria Rita. A juventude como sintoma da cultura, blog da autora (acessado em maio 2013).
LACAN, J. O estádio do espelho como formador da função do eu. In: Escritos. Rio de Janeiro: Ed Zahar, 1966.
LAZNIK, Marie-Christine. O Complexo de Jocasta. Rio de Janeiro: Ed. Companhia de Freud, 2003.
PENOT, Bernard. A importância da noção de adolescência para uma concepção psicanalítica de sujeito. In: Revista da APPOA,
número 11, 1995.
RODULFO, R. O brincar e o significante – um estudo psicanalítico sobre a constituição precoce. Porto Alegre: Ed. Artes Médicas,
1990.
agenda
agosto. 2013
próximo número
Relendo Freud: Além do princípio do prazer (1920)
Comissão do Correio
Coordenação
Luciano Assis Mattuella
Regina de Souza Silva
Integrantes
Ana Paula Melchiors Stahlschmidt
Fernanda Pereira Breda
Graziela Alberici
Lúcia Martins Costa Bohmgahren
Marcia Helena de Menezes Ribeiro
Márcia da Rocha Lacerda Zechin
Mercês Sant Anna Ghazzi
Paulo Gleich
Silvia Raimundi Ferreira
Tatiana Guimarães Jacques
Jornalista responsável
Jussara Porto
Capa e projeto gráfico
Rosana Pozzobon
Foto de capa
Reprodução de texto lacaniano
Editoração eletrônica
Clo Sbardelotto
Impressão
Gráfica Calábria
Tiragem
350 exemplares
Editorial 1
Notícias 3
Temática 9
(Des)enlaces – O que convoca à escrita? 9
Carmela de Lima Tubino
A delicadeza dos tempos das primeiras entrevistas 17
Marcia Giovana Pedruzzi Reis
Aventurar-se na desventura: um ensaio
sobre política pública e laço social 29
Carolina Monte Lague
Psicanálise e o coletivo, uma ética singular 37
Júlia Lângaro Becker
Irreversível? Sobre o trabalho de transferência com
crianças e adolescentes em situação de abrigamento 47
Fernanda Perlin de Cesaro
Reflexões sobre a avosidade na contemporaneidade 55
Valéria Rombaldi
Agenda 65