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Todo menino inteligente e que quer ser bom de bola sonha em ser um Menino da
Vila.
Meninos da Vila são uns meninos que tem magia nos pés e encantam o mundo dos
fanáticos por futebol.
Os Meninos da Vila são antes de tudo torcedores apaixonados pelo Santos. Eles
surgem em qualquer lugar do país, assim como eu, que comecei a torcer para o Santos
e me encantar com seus meninos quando ainda morava numa pequena cidade do
interior do Ceará, chamada Limoeiro do Norte.
Naquela cidade que tinha mais pés de limão do que pessoas, eu via os jogos pela TV
e imaginava como seria se, dentro de alguns anos, fosse eu que estivesse no lugar
daqueles meninos.
Com 18, 17 e até 16 anos, esses meninos já saem das categorias de base do Santos e
entram para o time principal, jogando ao lado de homens e ídolos.
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Há mais de cem anos, sempre que um menino entra para o time principal do Santos,
a torcida na Vila Belmiro aplaude e sonha em ver a alegria e a magia que sai dos pés
desse menino quando ele toca numa bola.
Ou eu poderia contar, ainda, a maior e mais linda história de todas, que foi quando
o Santos e seus meninos foram jogar na África (qual país?), onde acontecia uma
guerra entre dois povos, e os inimigos aceitaram dar uma trégua e parar aquela guerra
para poderem assistir ao Santos jogar.
As histórias e os feitos dos meninos da Vila são infinitos e cada um que eu conheci
fez eu me apaixonar cada vez mais pelo Santos.
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Porém, não foi nenhuma delas que me fez sonhar pela primeira vez em ser um
menino da Vila e começar a torcer pelo Santos Futebol Clube.
A primeira vez em que sonhei em ser um menino da Vila, com magia e alegria nos
pés, foi num jogo que aconteceu em 1995.
Foi assim...
Se uma virada dessas acontecesse, essa seria uma daquelas histórias que não
morreriam nunca.
E talvez por isso a verdade é que ninguém acreditava nessa virada… Aliás, ninguém
não!
Um homem, o melhor jogador do time, Giovanni, o nosso camisa 10, acreditou! Ele
era, naquela época, nosso principal menino da Vila, pois todos que jogam no Santos
voltam a ser meninos ousados, habilidosos e sonhadores.
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– Nós vamos vencer. Eu vou fazer dois gols no jogo de volta. O Marcelo Passos, o Camanducaia e
o Macedo farão outros três!
O Santos joga para frente, sempre buscando o ataque, com ousadia e habilidade. E
assim, atacou o Fluminense como se aquele fosse o último jogo da vida. Aos 25
minutos o estádio grita. Tensão no ar… e o juiz apita: pênalti para o Santos!
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O craque Giovanni pega a bola. Ele parece tenso. O goleiro do Fluminense é um
grande pegador de pênaltis. O nosso camisa 10 correu para a bola e marcou o
primeiro gol. Giovanni continuou sério, enquanto ia buscar a bola dentro das redes.
Ele parecia ter vindo de outro mundo, com a mente focada unicamente em realizar
o sonho daquela multidão fanática por futebol.
Ele acabava de cumprir a previsão de que faria 2 gols. Era como se soubesse com
certeza como seria seu destino.
Giovanni, nosso camisa 10, estava vivendo uma noite de Pelé. Era o craque dos
cabelos de fogo. Ele parecia ter vindo de outro mundo, enviado pelos deuses do
futebol para realizar milagres naquele jogo. Era como um cavaleiro da esperança,
com o cabelo e os pés em chamas, libertando do peito dos santistas o grito de êxtase
e emoção.
Mas, para o time conquistar a classificação e ir à final, faltava o terceiro gol. Sem ele,
nada adiantava. Até na trave a bola batia e parecia mesmo não querer entrar mais
nenhuma vez.
Chegou o intervalo. Os times vão descer para o vestiário… Não, espera! Algo de
diferente estava acontecendo… O Santos não desceu, não saiu do campo…
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É que os jogadores decidiram que, daquela vez, iriam fazer algo inédito.
Permaneceriam no gramado, no meio do campo de jogo, ouvindo sua torcida
inflamada a cantar eufórica.
Ficariam ali, aquecidos e empolgados com o calor do espetáculo, até que a partida
recomeçasse. A torcida se emocionava e os jogadores vibravam elétricos. Foi uma
cena nunca antes vista! Quem viveu aquele momento, jamais esquecerá a emoção
que sentiu.
Quando o segundo tempo começou, aquele calor incendiou os pés dos Meninos da
Vila. E Giovanni, o craque dos cabelos de fogo, continuou a ter sua noite de Pelé.
É verdade que o Santos ainda levaria dois gols durante o segundo tempo, causando
aflição à torcida. Mas Giovanni, como um anjo que havia descido dos céus, dava
dribles, passes, criava jogadas, segurava a bola, acertava tudo.
Ao final de tudo, além de fazer seus dois gols, ele também deu passes e participou
dos outros três gols, que foram de Marcelo Passos, Camanducaia e Macedo. Não há
quem duvide: aquela foi uma das maiores exibições de um jogador de futebol em
toda a história.
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A torcida agora cantava entre lágrimas, gritos e abraços, em um delírio de felicidade
coletiva. Foi simplesmente inacreditável. No futebol, meninos da Vila sempre
realizam coisas inacreditáveis.
A magia daquela noite me fez sonhar. Sonhar em jogar no Santos, em ser um menino
da Vila. E me fez torcer por aquele time com paixão, romantismo e amor.