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OS MENINOS DA VILA

Todo menino inteligente e que quer ser bom de bola sonha em ser um Menino da
Vila.

Meninos da Vila são uns meninos que tem magia nos pés e encantam o mundo dos
fanáticos por futebol.

Eles jogam no Santos e em seu lendário estádio na Vila Belmiro.

Os Meninos da Vila são antes de tudo torcedores apaixonados pelo Santos. Eles
surgem em qualquer lugar do país, assim como eu, que comecei a torcer para o Santos
e me encantar com seus meninos quando ainda morava numa pequena cidade do
interior do Ceará, chamada Limoeiro do Norte.

Naquela cidade que tinha mais pés de limão do que pessoas, eu via os jogos pela TV
e imaginava como seria se, dentro de alguns anos, fosse eu que estivesse no lugar
daqueles meninos.

Com 18, 17 e até 16 anos, esses meninos já saem das categorias de base do Santos e
entram para o time principal, jogando ao lado de homens e ídolos.

Pelé, o maior jogador de todos os tempos, foi um menino da Vila.


Ele fez seu primeiro jogo pelo Santos com apenas 15 anos.

Sem os meninos da Vila em campo, o Santos não seria o Santos.

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Há mais de cem anos, sempre que um menino entra para o time principal do Santos,
a torcida na Vila Belmiro aplaude e sonha em ver a alegria e a magia que sai dos pés
desse menino quando ele toca numa bola.

Sem os meninos da Vila, o futebol também não seria o mesmo futebol.

Vários craques da seleção brasileira foram meninos da Vila. E muitos desses


meninos, depois de jogar por anos no Santos, foram jogar em outros grandes times
mundo afora, para levar [levando] o nome e a história do Santos aos quatro cantos
do planeta.

Eu poderia contar a vocês muitas histórias extraordinárias e verdadeiras sobre os


meninos da Vila. Histórias sobre os feitos extraordinários que já realizaram.
Como, por exemplo, quando o time ganhou X títulos em apenas 3 anos, sendo o
melhor time do mundo por dois anos seguidos.
Ou ainda falar sobre quando teve o melhor time de todos os tempos.

Eu poderia falar sobre quando os meninos da Vila golearam o Real Madri ou o


Barcelona.

Ou eu poderia contar, ainda, a maior e mais linda história de todas, que foi quando
o Santos e seus meninos foram jogar na África (qual país?), onde acontecia uma
guerra entre dois povos, e os inimigos aceitaram dar uma trégua e parar aquela guerra
para poderem assistir ao Santos jogar.

As histórias e os feitos dos meninos da Vila são infinitos e cada um que eu conheci
fez eu me apaixonar cada vez mais pelo Santos.

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Porém, não foi nenhuma delas que me fez sonhar pela primeira vez em ser um
menino da Vila e começar a torcer pelo Santos Futebol Clube.

A primeira vez em que sonhei em ser um menino da Vila, com magia e alegria nos
pés, foi num jogo que aconteceu em 1995.

Foi assim...

Era a semifinal do campeonato Brasileiro de 1995 e o Santos enfrentaria o


Fluminense. O primeiro jogo, que aconteceu no Rio de Janeiro, no grande Maracanã,
foi um completo e gigantesco desastre!
O Santos acabou cometendo muitos erros, teve dois craques do time expulsos, e
perdeu a partida por 4 a 1. Para chegar na final do campeonato, seria preciso ganhar
por nada menos do que três gols de diferença no jogo de volta, em São Paulo. Seria
possível?

Se uma virada dessas acontecesse, essa seria uma daquelas histórias que não
morreriam nunca.

E talvez por isso a verdade é que ninguém acreditava nessa virada… Aliás, ninguém
não!

Um homem, o melhor jogador do time, Giovanni, o nosso camisa 10, acreditou! Ele
era, naquela época, nosso principal menino da Vila, pois todos que jogam no Santos
voltam a ser meninos ousados, habilidosos e sonhadores.

Giovanni levou a torcida inteira a também acreditar, quando, ao sair do gramado


após a derrota de 4 a 1 para o Fluminense, olhou com um olhar de mistério e fez
uma previsão sobre o futuro. Ele falou:

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– Nós vamos vencer. Eu vou fazer dois gols no jogo de volta. O Marcelo Passos, o Camanducaia e
o Macedo farão outros três!

Ouvindo aquilo, a torcida do Santos se encheu de esperança e lotou o estádio no dia


do jogo, formando um verdadeiro mar branco e preto. Na arquibancada, milhares de
meninos da Vila, cheios de energia, esperança e fé, cantavam:

“Sou alvinegro da Vila Belmiro


O Santos vive no meu coração
É o motivo de todo o meu riso
De minhas lágrimas e emoção
Tua bandeira no mastro é a história
De um passo e um presente só de glórias!
Nascer, viver e no Santos morrer
É um orgulho que nem todos podem ter!”

Quando os jogadores, todos vestidos de branco, subiram ao gramado, era como se


um mundo de sonhos tivesse começado. Afinal, torcer para o Santos é viver sonhos
reais.

Entre os jogadores, Giovanni estava muito sério e concentrado. Seus cabelos


estavam pintados de vermelho. Era o craque dos cabelos de fogo! Iria ele cumprir a
previsão que fizera, de que faria 2 gols?

Apitou o árbitro e o primeiro tempo teve início!

O Santos joga para frente, sempre buscando o ataque, com ousadia e habilidade. E
assim, atacou o Fluminense como se aquele fosse o último jogo da vida. Aos 25
minutos o estádio grita. Tensão no ar… e o juiz apita: pênalti para o Santos!

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O craque Giovanni pega a bola. Ele parece tenso. O goleiro do Fluminense é um
grande pegador de pênaltis. O nosso camisa 10 correu para a bola e marcou o
primeiro gol. Giovanni continuou sério, enquanto ia buscar a bola dentro das redes.
Ele parecia ter vindo de outro mundo, com a mente focada unicamente em realizar
o sonho daquela multidão fanática por futebol.

Quatro minutos depois Giovanni recebe a bola, dá um drible maravilhoso e faz um


golaço! 2 a 0 para o Santos! A torcida foi à loucura!

Ele acabava de cumprir a previsão de que faria 2 gols. Era como se soubesse com
certeza como seria seu destino.

Giovanni, nosso camisa 10, estava vivendo uma noite de Pelé. Era o craque dos
cabelos de fogo. Ele parecia ter vindo de outro mundo, enviado pelos deuses do
futebol para realizar milagres naquele jogo. Era como um cavaleiro da esperança,
com o cabelo e os pés em chamas, libertando do peito dos santistas o grito de êxtase
e emoção.

Mas, para o time conquistar a classificação e ir à final, faltava o terceiro gol. Sem ele,
nada adiantava. Até na trave a bola batia e parecia mesmo não querer entrar mais
nenhuma vez.

Ela precisava entrar…

Chegou o intervalo. Os times vão descer para o vestiário… Não, espera! Algo de
diferente estava acontecendo… O Santos não desceu, não saiu do campo…

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É que os jogadores decidiram que, daquela vez, iriam fazer algo inédito.
Permaneceriam no gramado, no meio do campo de jogo, ouvindo sua torcida
inflamada a cantar eufórica.

Ficariam ali, aquecidos e empolgados com o calor do espetáculo, até que a partida
recomeçasse. A torcida se emocionava e os jogadores vibravam elétricos. Foi uma
cena nunca antes vista! Quem viveu aquele momento, jamais esquecerá a emoção
que sentiu.

Quando o segundo tempo começou, aquele calor incendiou os pés dos Meninos da
Vila. E Giovanni, o craque dos cabelos de fogo, continuou a ter sua noite de Pelé.

É verdade que o Santos ainda levaria dois gols durante o segundo tempo, causando
aflição à torcida. Mas Giovanni, como um anjo que havia descido dos céus, dava
dribles, passes, criava jogadas, segurava a bola, acertava tudo.

Ao final de tudo, além de fazer seus dois gols, ele também deu passes e participou
dos outros três gols, que foram de Marcelo Passos, Camanducaia e Macedo. Não há
quem duvide: aquela foi uma das maiores exibições de um jogador de futebol em
toda a história.

O sonho era real. Os anjos, de uniforme todo branco, venceram por 5 a 2 o


Fluminense. O Santos estava na final do campeonato brasileiro. E todos os meninos
da Vila espalhados por todo o Brasil sorriam.

Uma vitória fantástica! Uma virada santástica!

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A torcida agora cantava entre lágrimas, gritos e abraços, em um delírio de felicidade
coletiva. Foi simplesmente inacreditável. No futebol, meninos da Vila sempre
realizam coisas inacreditáveis.

A magia daquela noite me fez sonhar. Sonhar em jogar no Santos, em ser um menino
da Vila. E me fez torcer por aquele time com paixão, romantismo e amor.

O planeta é uma bola. E quem dá a bola é o Santos.

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