Desde os meus sete anos, sou apaixonado pelo futebol. Morava na Fazenda da Serra, onde nasci, no distrito de São Sebastião do Paraíba, em Cantagalo (RJ). Não tínhamos rádio, mas meu pai, Henrique, assinava o diário O JORNAL, publicado no Rio de Janeiro. Chegava em nossa fazenda com cerca de uma semana de atraso. Era o único veículo em que lia as notícias sobre futebol e as histórias em quadrinho. O Fluminense era – e ainda é – o meu “time do coração”. O rádio chegou quando eu já dez anos. Funcionava com bateria (não tínhamos energia elétrica), um trambolho com uns trinta centímetros de largura e uns quinze de profundidade e de altura. A antena era um fio de metal com as suas pontas amarradas em duas varas de bambu, o mais alto possível. E só pegava em ondas curtas (OC). Ouvir uma transmissão dos jogos do Fluminense e da seleção brasileira (Copa do Mundo de 1946) era uma tortura. Quem conheceu as OC sabe do que estou falando. Às vezes, na hora do gol, o som desaparecia ou era uma barulheira que não dava para saber o que o locutor estava falando. O futebol, até hoje, é o meu único esporte favorito. Não assisto mais jogos dos campeonatos brasileiros. Meu Fluminense – e a maioria dos times – não é mais uma equipe, mas um bando de jogadores dando chutes para o alto, livrando-se da bola pensando que estão dando um passe. Vejo os principais jogos da Espanha, Inglaterra, Alemanha e França, onde jogam os melhores craques do planeta. Com a velhice, o meu gosto ficou mais refinado... Estou assistindo, pela TV, quase todos os jogos da atual Copa do Mundo, na Rússia. Os craques dos campeonatos europeus estão espalhados pelas diversas seleções. Cobram do Messi a mesma atuação que ele tem no Barcelona. Acontece que na seção Argentina ele não tem o Coutinho, Soares, Iniesta. Está explicado? O Cristiano Ronaldo não pode contar, na seleção portuguesa, com o Marcelo, Modric, Isco, Toni Kross. Já Neymar não pode reclamar. Tem o Coutinho, do Barcelona; Marcelo, do Real Madrid; Gabriel Jesus, do Manchester City; Firmino, do Liverpool; William, do Chelsea; Douglas Costa, do Juventus. Vejam a diferença. Neymar está devendo. Tenho observado, nos jogos da Copa, como o futebol não evoluiu muito. O fundamento do passe, excelente em alguns clubes europeus, nas seleções é um vexame. A quantidade de passes errados e de chutes a esmo é um absurdo. Podemos ver, claramente, que o jogador quis apenas se livrar da bola. Os goleiros, com a exceção de Neuer, da Alemanha, podem ser bons debaixo dos “três paus”, como o brasileiro Alisson, mas péssimos ao repor a bola em movimento, com os pés ou com as mãos. Dão chutões que, geralmente, caem na cabeça de atleta adversário. A propósito, o goleiro da Seleção brasileira deveria ser o Ederson, do Manchester City, que já domina, razoavelmente, as técnicas do goleiro século 21, como Neuer, da seleção alemã. Creio que os goleiros de futebol deveriam jogar, uma vez por semana, pelo menos, no gol de uma equipe de futsal. Ali os bons goleiros sabem repor a bola com as mão e com os pés. Deveria ser um treinamento obrigatório, desde os treinamentos da sub- 15, sub-17 e continuar na profissionalização. No futebol moderno, ao “bater a lateral”, ao lado da grande área, a bola deve ser lançada na área, como no córner. É mais uma oportunidade dos jogadores de maior porte e dos craques “furarem as Redes”. Mas a maioria lança para traz. Um fato que me incomoda e, creio, a todos os amantes do bom futebol é a teatralidade da maioria dos atletas quando sofrem uma falta ou, pior, simulam uma falta. Nesse aspecto, Neymar é mestre. Todos deveriam aprender com Messi, ao sofrer uma falta. Ele cai sem teatro, não reclama e nem levanta os braços para o árbitro. Dificilmente ele reclama do juiz. E entre Neymar e Messi, a única diferença é essa. Os dois são craques acima de quaisquer outros, incluindo o Cristiano Ronaldo. Entre os técnicos, Guardiola, do Manchester City, está léguas à frente de seus colegas. Ele é o técnico ideal para a seleção brasileira, enquadraria o Neymar no futebol arte ofensivo e sem a teatralidade nas faltas recebidas. Neymar dificilmente parte driblando para a grande área, onde, na maioria das vezes, sofrerá faltas, convertidas em pênaltis. Ele adora driblar, e sofrer falta, no seu próprio campo ou fora da grande área. Alguém precisa ensiná-lo a aproveitar a sua extraordinária visão de jogo e criatividade em jogadas incríveis, que possam ser convertidas em gol. Dos técnicos das seleções da atual Copa do Mundo, a minha admiração vai para o da seleção Uruguaia, Óscar Tabárez, El maestro, ex-professor e diretor de escola pública, no bairro de Cervo, em Montevideo. Técnico dessa seleção desde 2006, o professor Tabárez, ao ser questionado sobre a partida entre Uruguai e Portugal, saiu-se com esta frase genial: O que importa é que, no meu país, não há um único analfabeto. Nessa competição, o Uruguai será sempre campeão. O Brasil? Não passará das eliminatórias. Finalmente, os locutores e comentarias da rede Globo – TV Globo e Sport TV. Não vou nem comentar a atuação de Galvão Bueno. Estaria sendo repetitivo. Mas locutores e comentaristas dessa rede, que monopoliza, há anos, as transmissões da Copa do Mundo, esquecem a partida que estão transmitindo, jogam confetes uns nos outros, trombeteiam anúncios da programação da Globo, contam estórias das copas de 1930, 50, 58 etc., fazem piadinhas comparações entre um modelo de futebol que já morreu e os modelos do século 21. A partida é secundária. E como gritam! Eu até postei #eunãosousurdo!, mas não surtiu nenhum efeito, tive apenas um seguidor: eu mesmo. Ah! Quem é o técnico das arábias? Sou eu...▲