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§ 6º Será responsabilidade do dirigente da instituição de educação superior a
inscrição junto ao Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio
Teixeira – INEP de todos os alunos habilitados à participação no ENADE.
§ 7º A não-inscrição de alunos habilitados para participação no ENADE, nos
prazos estipulados pelo INEP, sujeitará a instituição à aplicação das sanções
previstas no § 2º do art. 10, sem prejuízo do disposto no art. 12 desta Lei.
§ 8º A avaliação do desempenho dos alunos de cada curso no ENADE será
expressa por meio de conceitos, ordenados em uma escala com 5 (cinco) níveis,
tomando por base padrões mínimos estabelecidos por especialistas das diferentes
áreas do conhecimento.
§ 9º Na divulgação dos resultados da avaliação é vedada a identificação
nominal do resultado individual obtido pelo aluno examinado, que será a ele
exclusivamente fornecido em documento específico, emitido pelo INEP.
§ 10. Aos estudantes de melhor desempenho no ENADE o Ministério da
Educação concederá estímulo, na forma de bolsa de estudos, ou auxílio específico,
ou ainda alguma outra forma de distinção com objetivo similar, destinado a
favorecer a excelência e a continuidade dos estudos, em nível de graduação ou de
pós-graduação, conforme estabelecido em regulamento.
§ 11. A introdução do ENADE, como um dos procedimentos de avaliação do
SINAES, será efetuada gradativamente, cabendo ao Ministro de Estado da
Educação determinar anualmente os cursos de graduação a cujos estudantes será
aplicado. (grifei)
Ao longo desses quinze anos da edição da Lei nº 10.861, de 2004, ela jamais foi
aplicada conforme determina § 1º do art. 1º: “O SINAES tem por finalidades a
melhoria da qualidade da educação superior, a orientação da expansão da sua
oferta, o aumento permanente da sua eficácia institucional e efetividade
acadêmica e social e, especialmente, a promoção do aprofundamento dos
compromissos e responsabilidades sociais das instituições de educação
superior, por meio da valorização de sua missão pública, da promoção dos
valores democráticos, do respeito à diferença e à diversidade, da afirmação da
autonomia e da identidade institucional”.
Nesses quinze anos, os ministros da Educação usaram e abusaram do direito de
“legislar”, mediante portarias normativas e portarias, no que foi seguido pelos
titulares da Secretaria de Educação Superior (Sesu) e, posteriormente, da
Secretaria de Regulação e Supervisão da Educação Superior (Seres) e pelo Inep.
O ministro da Educação, pela Lei do Sinaes, tem apenas o poder de
regulamentar “os procedimentos de avaliação do SINAES”. Cabe
exclusivamente à Comissão Nacional de Avaliação da Educação Superior
(Conaes), criada pela citada lei, estabelecer os indicadores e critérios de
avaliação de desempenho dos estudantes (Enade), de avaliação institucional
(Conceito Institucional-CI) e de avaliação de cursos de graduação (Conceito de
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Curso-CC). Regulamentar “procedimentos” não é legislar, criar à margem da lei
indicadores ou conceitos não previstos no Sinaes.
Dois outros incisos do art. 2º da Lei do Sinaes jamais foram cumpridos: “II - o
caráter público de todos os procedimentos, dados e resultados dos processos
avaliativos; III - o respeito à identidade e à diversidade de instituições e de
cursos;”.
O MEC dá ampla divulgação exclusivamente aos resultados do Enade e dos
“indicadores” CPC e IGC anualmente. Essa política, passou para a mídia e,
assim, para a sociedade, que o Conceito Enade, o CPC e o IGC são “indicadores
de qualidade” da educação superior. Daí resultaram os rankings e, mais, as
punições do MEC às IES e cursos com CPC e IGC igual ou inferior a 2. A mente
econometrista que gerou esses dois monstros marginais à Lei do Sinaes não
pensou no estudante, nas IES e nem nos seres humanos que atuam nessas
instituições. Não pensou em avaliar a qualidade da educação, mas aligeirar e
superficializar o complexo processo de avaliação da educação superior, um
desafio até para as grandes nações. Parece invento de um robô, sem sentimentos
e sem respeito aos princípios de legalidade, preceito básico para os agentes
públicos, como determina a Lei nº 9.784, de 1999.
O MEC não respeitou a identidade e a diversidade das IES e de seus cursos. A
identidade institucional está inscrita no Projeto Pedagógico Institucional (PPI) e
no Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI), obrigatórios em sucessivos
decretos e, mais recentemente, pelo Decreto nº 9.235, de 15 de dezembro de
2017. A diversidade é também classificada pelo mesmo decreto, quando
estabelece que podem atuar na educação superior faculdades, centros
universitários e universidades, com as exceções que o governo criou para as IES
mantidas pela União. Os “indicadores de qualidade” CPC e IGC e os
instrumentos de avaliação in loco, institucional e de cursos, nivelaram, pelo
alto, faculdade e centro universitário à universidade. Ignorou que as
universidades são os únicos entes referenciados na Constituição de 88, no art.
207, que “gozam de autonomia didático-científica, administrativa e de gestão
financeira e patrimonial, e obedecerão ao princípio de indissociabilidade entre
ensino, pesquisa e extensão”. Faculdades e centros universitários podem, mas
não são obrigados, por lei, a promoverem a pesquisa e a extensão,
indissociáveis do ensino. E as avaliações do MEC há que respeitarem a
Constituição e as leis. Decretos, resoluções, portarias, instruções normativas,
notas técnicas ou despachos ministeriais ou de seus secretários não cumprem os
“princípios de legalidade”. Estes quaisquer rábulas sabem que são originários
de leis complementares ou ordinárias, aprovadas pelo Congresso Nacional e
sancionadas pelo presidente da República. Não vamos emporcalhar este blog
dedicando alguma consideração às medidas provisórias, herança maldita da
ditadura militar, irmãs dos decretos-leis.
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Segundo amplo noticiário da mídia, o Tribunal de Contas da União (TCU),
depois de engolir os procedimentos marginais adotados pelo MEC, acordou
dessa inércia e aprovou parecer exigindo o cumprimento integral da Lei nº
10.861, de 2004. Talvez, agora, o MEC desperte para iniciar o cumprimento
integral da Lei e a eliminação desses espúrios “indicadores de qualidade”. Caso
esse milagre aconteça, finalmente, o Sinaes poderá contribuir para a melhoria
da qualidade da educação superior, nível educacional que deve formar
pesquisadores e profissionais com habilidades para o exercício pleno da
cidadania e das atividades para as quais foram habilitados.
Vou acompanhar o desenrolar dos fatos e voltarei ao assunto sempre que o
tema interessar aos educadores e à sociedade, que anseiam por uma educação
de qualidade, em todos os níveis, e não avalições inconsequentes, como as que o
MEC vem usando, há mais de vinte anos.
Registro, finalmente, que o Enade é uma jabuticaba brasileira. Só existe no
Brasil. Nenhum outro país deste planeta tem exame igual, idêntico ou similar.
Talvez em Marte... ▲