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Instituto Politécnico de Lisboa

Escola Superior de Comunicação Social


Jornalismo
Ano lectivo 2004/2005

Perfil de Fernando Chalana:

Uma Luz
para lá do estádio

Docente:
Mário Mesquita

Trabalho realizado por:


Helena Ramos, nº 2581, T-B

Lisboa, Janeiro de 2006


Uma Luz para lá do estádio

Cresceu apegado a uma bola no meio do nada. Sabia que o


mundo e o sucesso passavam por aquele pedaço de borracha. Tinha
um talento natural demasiado grande para ficar esquecido além-
Tejo. Fernando Chalana era o protótipo do jogador português:
‘maneirinho’, baixo, driblador e com um futebol quase malandro.
Mas houve poucos como ele. Sempre viveu com o seu nome na boca
do povo. Nem sempre pelas melhores razões. Hoje, está mais feliz do
que nunca. Regressou a casa.

Estádio da Luz, 19 de Novembro de 1977. Benfica – Sporting. Confronto,


clássico, apaixonante e espectacular que dispensa predicados, move multidões e
exacerba sentimentos. Poucas circunstâncias revelam tamanha rivalidade. Ao intervalo,
5-0! Três dos golos com a assistência de um menino de 18 anos. Ferreira Queimado,
presidente do SLB, mas, antes de mais, adepto apaixonado e entusiasmado com o
resultado como tantos outros milhares, oferece a duplicação do prémio e um extra por
cada golo a partir daí. Mas algo mais aconteceu nesse intervalo... Artur, ex-jogador do
Benfica e agora defesa do SCP, pediu àquele menino das assistências e autor de
maravilhosa primeira parte, que ficasse longe dele para evitar maior humilhação. Esse
menino-prodígio, de uma fantasia de levantar estádios, era Fernando Chalana.
Era sempre assim. Defrontar Fernando Chalana era prenúncio de trabalhos
redobrados e, quem sabe, de uma consulta ao oftalmologista! Com a fantasia do seu pé
esquerdo “tirava da cartola” os lances mais imprevisíveis. Ninguém sabia o que esperar
e todos se perguntavam como fazia. A resposta é simples e vem na primeira pessoa: “É
instintivo.” Para Chalana era assim tão claro. O futebol era intrínseco, uma força que
nascia de dentro e sem racionalidade possível.

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Desde cedo que quem o visse, via uma bola. Era a companhia perfeita para quem
não tinha muitos luxos. Até para debaixo da carteira escolar a levava, desafiando os
professores na sua ingenuidade de catraio. Nos descampados do Lavradio, desde os seis
anos, que dá azo à sua alegria de jogar, batendo-se contra quem quer que fosse. Novos
ou velhos, não alterava uma vírgula no seu jogo: “Era um jogador terrivelmente
precoce, quer em termos de qualidade que exibia, quer em termos de personalidade e à-
vontade com que jogava.”, refere Joaquim Rita, jornalista da Sporttv. Aos poucos, o
menino começa a frequentar, na companhia do padrinho, o peão do Estádio Alfredo da
Silva, enquanto sonha tornar-se jogador de futebol. O Mundial de 1966, na Inglaterra, e
sobretudo Eusébio, espicaçam-lhe ainda mais o desejo.
Fernando Albino de Sousa Chalana nasceu a 10 de Fevereiro de 1959, no
Lavradio, Barreiro. Em casa da família, a vida não era fácil naqueles tempos pré-
revolucionários. Os pais, Joaquim e Maria José, eram trabalhadores da CUF
(Companhia União Fabril) cujos ordenados não permitiam grandes gastos. Tudo faziam
para poupar o filho às agruras do seu dia-a-dia. Por isso, Fernando foi criado, até à 4ª
classe, pelos tios que viviam nas instalações da CUF, onde era a creche: “Deixava [o
Fernando] na casa da irmã, ia lá dar-lhe de comer, tratar dele e depois ia trabalhar e, ao
fim do dia, voltava.”, conta Ana Cristina, actual mulher de Chalana.

UM MENINO – HOMEM
O entusiasmo do miúdo baixo e franzino pelo desporto levou-o a participar nos
jogos juvenis do Barreiro. Inscreveu-se pela equipa de Serpa Pinto, no futebol de salão,
e logo encantou ao arrecadar a Taça Joanina, seu primeiro troféu, destinada ao melhor
marcador da prova. Com efeito, chegaram-lhe as primeiras propostas, do Unidos e do
Sporting do Lavradio, mas não se deixou seduzir. Afinal, entretanto, tinha-se fascinado
pelo atletismo. A sua nova paixão não era descabida. Tinha talento que rapidamente
traduziu num campeonato de Lisboa em iniciados e num quinto lugar no nacional.
Foi um amor momentâneo. Aos 14 anos, trocou definitivamente os ténis pelas
chuteiras. Agradeceria, mais tarde, o futebol nacional. Tentou então a sorte no
Desportivo da CUF, mas não obteve a resposta desejada. Foi recusado. Com mágoa na
voz, conta: “Não consegui entrar por não haver equipamentos para treinar.”. Mas houve
outras razões. Segundo parece, o menino não tinha altura, do mesmo modo que os pais
também não tinham influência para lutarem contra o regime de cunhas de então.

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Fernando não esmoreceu, logo seguiu para o Barreirense. O pai Joaquim ficou radiante:
o filho era jogador do seu clube do coração.
No Barreirense, o talento do pequeno desde cedo não passou despercebido, por
isso poucas vezes jogou no escalão que a idade lhe destinava: “Com 14 anos, era um
adulto a jogar futebol – jogava com a serenidade, o à-vontade, a confiança, a
personalidade de um jogador de 25-26 anos.”, afiança Joaquim Rita. A sua estreia pelo
clube acontece num Torneio da Costa Azul. Sem idade de principiante, viu-se forçado a
usar um bilhete de identidade falso para poder defrontar o Benfica. De nada valeu,
perderia por 0-2. Aos poucos, começa a falar-se nele, e o Sporting é o primeiro clube a
demonstrar interesse. Contudo, as palavras levou-as o vento, ou melhor, a falta de
confiança: “Envolvia muito dinheiro e não tiveram a certeza de que poderia vir a ser um
jogador de grande nível.”, relembra. Afinal, à época, 800 contos era um preço
demasiado alto para a desobrigação de um juvenil. O miúdo mantinha-se à margem
destas questões, tripartindo o seu tempo entre as três horas de trabalho numa tipografia
de manhã, os treinos dos seniores e os estudos à noite.
O Benfica não desperdiçou tamanho talento e, após seis jogos pelo Barreirense,
garante-o nas águias. Coluna tinha-o observado, mas foi, finalmente, o treinador Pavic
quem deu o ‘sim’ ao director Ilídio Fulgêncio para a contratação. Antes, Fernando tinha
realizado um treino à experiência no clube, em que os calções, grandes e com
necessidade de serem apertados, lhe caíam a cada movimento que fazia. Não o sabia.
Era a inexperiência própria da idade. A Revolução dos Cravos concedeu-lhe não só
liberdade mas também a perspectiva de uma nova e melhorada vida. Em Julho, após o
pagamento de 750 contos, assinaram-se os papéis. O pai Joaquim não impediu a ida do
filho para a Luz, mas não gostou dos contornos do negócio, feito sem o seu
conhecimento e sem qualquer recompensa: “O pai do Fernando, se calhar, pensava que,
já tivesse direito a alguma coisa na transferência Barreirense – Benfica, mas não tinha
nem teve.”, esclarece Bento, amigo da família e companheiro de Chalana no Benfica.
Era o sonho tornado realidade. O petiz sempre se dedicara ao futebol como os
pais queriam que fizesse aos estudos. Quando os pais saíam, saltava o muro, equipava-
se a rigor e lá ia aperfeiçoar o seu génio: “Uma vez o pai até o pôs de castigo porque
chegaram a casa antes do tempo e o pai apanhou-o a jogar na rua.”, conta divertida Ana
Cristina. Como consequência, o seu aproveitamento era o suficiente para passar. A mãe
Maria José bem o tentava instigar acenando-lhe com os tempos difíceis do pré-25 Abril,
mas para isso Fernando já tinha remédio: “Dizia à minha mãe que ia jogar para o

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Benfica para fugir ao Ultramar.”, recorda. Os pais não desistiam e exigiram ao Benfica,
como condição, que o menino continuasse a estudar. O sonho de um Chalana doutor
esfumou-se, em 1976, perante as obrigações futebolísticas do filho.
A ida para o Benfica deixou os pais de sobreaviso, afinal Fernando era o seu
filho único e, apesar da estranha maturidade que parecia exalar, nunca tinha saído dos
arredores de sua casa no Lavradio. Para o próprio tudo se mantinha igual: duas balizas,
um relvado, onze jogadores de cada lado e uma bola. Por isso, logo no primeiro ano,
ganhou o campeonato de juniores, sendo a figura de proa. Em 75/76, as suas qualidades
técnicas levaram a que Mário Wilson, então treinador dos seniores, o mantivesse
debaixo de olho, até lhe estender a mão. Com 17 anos acabados de fazer, é convocado
para o jogo com o Bayern de Munique para a Taça dos Campeões Europeus. Não podia
jogar, pois, na altura das inscrições, tinha apenas 16 anos. Mário Wilson sabia-o: “Foi
sobretudo uma forma de o galvanizar porque era um prémio com influência directa no
seu carácter.”. A sua oportunidade chegaria quatro dias depois, a 7 de Março de 1976,
frente ao Farense num estádio da Luz cheio. Ao intervalo, o menino Fernando substituía
o mítico capitão Toni e não desmereceu. A crítica apreciou-lhe a qualidade do futebol, a
desenvoltura de jogar olhos nos olhos com os adversários e o fascínio do pé esquerdo.
Nesse ano, revalidou o título de juniores e ganhou o seu primeiro campeonato nacional
sénior.
A estreia deu-lhe o mote para reivindicar uma revisão de contrato. Depois de
dois anos na Luz, o seu salário mantinha-se inalterado. Enquanto isso, a possibilidade
de subir aos seniores assumia contornos mais prementes, por isso exigia uma melhoria
das suas condições ou, caso surgissem outros clubes interessados, sairia. Afinal, não era
com o pouco que ganhava que conseguia ajudar a família, estando a mãe reformada e o
pai a receber apenas seis contos.
É com Mortimore que se fixa definitivamente nos seniores e, no final da época
75/76, segue na digressão do clube ao Brasil. Havia que mostrar talento, mas a dureza
dos treinos físicos, na praia de Copacabana, surpreendê-lo-ia. O corpo frágil de
Fernando ressentiu-se: “Acabávamos os treinos, íamos para o hotel e só mexíamos os
olhinhos.”, lembra Pietra, ex-companheiro de equipa. Mas Chalana não baqueou, não
agora que estava no escalão maior do futebol nacional. No regresso a Lisboa, já
enquadrado no plantel, deparou-se com dois balneários dentro de um, fisicamente
separados pelo posto médico e a rouparia. De um lado, os ‘cobras’: os jogadores mais
velhos, com mais estatuto e a quem os mais jovens se dirigiam por “senhor”. Era a

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hierarquia de respeito na ponta da língua. Do outro, os ‘minhocas’: os jovens que, como
ele, subiam das camadas jovens. No seu canto, procura adaptar-se, observando os mais
velhos e escutando os seus conselhos.
O Benfica arranca mal nesse ano de 76/77, mas rapidamente encarrila por
influência decisiva e directa de Fernando Chalana. Depois de falhar o primeiro jogo, os
seus atributos convencem o treinador Mortimore e, com apenas 18 anos, transforma-se
na estrela da companhia. Por onze vezes fez o gosto ao pé. Foi assim nas Antas onde,
descaído para a direita, recebeu a bola de Nelinho e rematou de fora da área sem
hipótese para Torres, guarda-redes dos azuis; como o foi também em Coimbra e na Luz
com o Sporting. Começa a ganhar o seu espaço e a confiança dos companheiros, apesar
da tenra idade: “Às tantas começámos a pensar que tínhamos de trabalhar para ele
porque, ganhando, tínhamos prémios e só ele nos podia levar rapidamente para a
vitória.”, explica Shéu, amigo e ex-colega de equipa.
Fernando consolida o seu estatuto e os colegas começam, pouco a pouco, a
treinar e a jogar em função dele, muitas vezes preenchendo-lhe as lacunas físicas ao
correr atrás de adversários: “Nós carregávamos o piano, ele tocava.”, brinca Shéu. Até
nos treinos, os seus dotes eram apreciados num misto de deleite e respeito tácito. Uns
aplaudem-lhe a magia de marcar golos sem tocar na bola. Outros evitam ‘duelos’:
“Pedia a todos os santinhos que não me aparecesse à frente porque ou ele fazia de mim
“gato de sapato” com as suas qualidades ou eu, como jogador agressivo que era, podia
lesioná-lo sem intenção.”, garante Pietra.

GENIALIDADE À SOLTA
A barba farfalhuda de Chalana escondia-lhe a inocência de criança. Apenas
biológica, porque mal entrava em campo era gente grande. Fernando encantava dentro e
fora dos relvados. Tinha dois pés fabulosos, sobretudo o pé esquerdo, dono de uma
técnica como há muito não se via no futebol português. O miúdo era a combinação
explosiva de imprevisibilidade, imaginação, simplicidade, beleza e inteligência. Para
gáudio de uns e temor de outros. Por ser ambidextro o seu toque de bola desnorteava os
defesas. Na Luz, crescia a olhos vistos um novo expoente de virtuosismo que
entusiasmava a cada lance. Avesso ao vedetismo, o seu futebol era simples: receber,
passar, golo! Além disso, beneficiava de uma inteligência avançada para a época. Nele,
o pensamento antecedia a acção, aumentando-lhe o sucesso: “Na véspera do jogo, antes
de dormir, imaginava como ia defrontar o meu adversário.”, recorda. Os elogios da

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imprensa valeram-lhe o epíteto de ‘pequeno genial’ por parte do jornalista Neves de
Sousa: “A facilidade com que Chalana jogava futebol a sério com ar de brincadeira, a
forma como ele garoto – ainda com 17 anos – convivia e se sobrepunha em termos de
valia técnica, táctica e de decisão de jogo aos jogadores mais velhos era o prenúncio
dessa genialidade.”, clarifica Joaquim Rita.
O menino sabia como agarrar a multidão com as suas brincadeiras, os seus
dribles, mesmo quando as coisas não lhe saíam bem. O público fez dele um ídolo
eterno: “Para mim era Deus no Céu e Chalana na Terra.”, conta José Marinho, jornalista
da Sporttv. Vivia-se o final dos anos 70, e, na altura, a falta de transmissões desportivas
motivava as constantes romarias à Luz. Chalana era um fenómeno, uma garantia de
receitas: “Eu e os meus amigos fazíamos viagens – quase quinzenalmente – de Gaia a
Lisboa, numa altura em que se faziam em cinco-seis horas, só para o ver jogar.”,
esclarece José Marinho. Era impossível passar indiferente ao futebol de Chalana tanto
que, mais tarde, inspirou ídolos de gerações vindouras, entre eles Figo e Paulo Futre.
Este costumava sair dos jogos do Sporting a correr para ir ver Chalana jogar no rival
Benfica.
Contudo, nem todos gostavam de o ver em campo, sobretudo os seus adversários
directos: “Num metro quadrado, o Chalana conseguia sentar os adversários. Nunca o
defrontei, mas imagino o que é que eles sentiam.”, troça Pietra. O ‘pequeno genial’ era
um verdadeiro diabo à solta e só as faltas o travavam. Quando, pela frente, tinha um
adversário sarrafeiro, refugiava-se em zonas do terreno onde pudesse soltar o seu
futebol. Nem sempre podia fugir, por isso, em 1978, tem a sua primeira lesão grave.
Carlos Manuel, seu companheiro na Luz, ainda hoje se impressiona: “Na Póvoa de
Varzim, vi-lhe a tíbia e o perónio. Foi uma situação que o prejudicou muito porque
foram oito-nove meses de recuperação.”.
Aos poucos, e vergados ao talento de Chalana, os rivais Porto e Sporting
tornaram-no o seu alvo preferencial. Uma vez num derby em Alvalade, o defesa leonino
Gabriel travou Chalana, numa das suas fugas para a baliza, com uma entrada por trás.
Anabela Mateus, ex-mulher de Chalana, continua a surpreender-se com o que se seguiu:
“O Gabriel dá-lhe uma cacetada valente e o Fernando vai direito a ele e dá-lhe também.
Toda a gente ficou maluca.”. Mas aconteceram-lhe episódios (ainda) mais insólitos.
Entre eles, a perseguição de um defesa jugoslavo, num torneio em Toronto, para onde o
Benfica foi convidado. Farto de ser ultrapassado e humilhado, o defesa que marcava
Chalana – com quase dois metros – descalçou a bota, durante a partida, para lhe bater.

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No início da década de 80, começam a chegar à Luz propostas do estrangeiro
para Chalana: Vasco da Gama, Bétis de Sevilha e Lille eram alguns dos interessados,
embora sem nenhum atractivo que o fizesse abandonar o estatuto de indiscutível no
clube. Por cá, o Sporting voltava a piscar-lhe o olho, acenando-lhe com um futuro
contrato depois de terminada a ligação ao rival: “O Chalana esteve fechado num hotel
da Lapa com um director do SCP que lhe oferecia uma mala cheia de dinheiro e um
contrato fabuloso para assinar pelos leões.”, afirma José Marinho. Era realmente
maravilhoso: uma mala com tanto dinheiro junto como Fernando nunca tinha visto, a
oferta de uma casa, 15 mil contos e uma reforma dourada se permanecesse em Alvalade
entre três a cinco anos consecutivos. Não respondeu de imediato, precisava de saber
quais os planos do Benfica para si. Gaspar Ramos, dirigente na Luz, assegurou-lhe que
contavam consigo. Fernando disse ‘não’ ao SCP, mas estava feliz. Afinal, não era sua
vontade abandonar a Luz, mesmo que a Direcção não lhe pudesse oferecer 15 mil
contos. Os encarnados veriam a sua aposta recompensada, financeira e
futebolisticamente, nas épocas seguintes.

A COMBINAÇÃO DO COFRE
Na temporada de 82/83, o Benfica regressa aos palcos europeus com sucesso e
consegue, pela primeira vez na história do futebol nacional, chegar à final da Taça
UEFA. Chalana é um dos obreiros da proeza, que usa também em benefício próprio,
catapultando o seu futebol além fronteiras. Enquanto a Europa se encantava com a
fantasia do menino, por trás da fantasia estava o segredo do sucesso: “Como capitão,
havia uma frase que dizia aos meus companheiros no decorrer do jogo: ‘Não inventem
nem percam tempo, passem a bola ao menino que ele resolve!’”, relembra Toni, ex-
capitão do Benfica. E resolvia, pelo menos quase sempre. Sabia como explorar uma
falta, tinha uma visão de jogo que descortinava os companheiros desmarcados e fazia
assistências primorosas para jogadas fatais.
Na caminhada até à final, o Benfica encontrou adversários de peso, sobretudo a
partir dos quartos de final. A vitória mais emblemática aconteceu no Olímpico de
Roma, a 2 de Março de 1983. No final do jogo, e após o resultado de 1-2, a AS Roma
estava praticamente afastada das meias-finais. Chalana fez jus ao número 10 que
envergava e arrancou para uma exibição tão memorável que merecia tamanha
pontuação. Segundo a crítica, depois do “Rei” Eusébio, chegava agora, aos 24 anos, o
“Príncipe” Chalana. Ainda hoje os italianos devem estar para perceber como dos pés

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daquela figurinha de 1,65m saíam lances tão desconcertantes, tão imaginativos e
simultaneamente tão mortíferos. Foi, aliás, o ‘pequeno génio’ quem fabricou o 0-2 dos
encarnados, aos 59 minutos. Após um contra-ataque pelo lado esquerdo, Chalana
centrou com régua e esquadro para a entrada de Filipovic, no lado contrário.
Naquele dia, os golos fizeram a História, mas outras estórias ficaram por contar.
“Três dias antes do jogo, perguntaram a Nela, defesa italiano, se conhecia o Chalana e
ele respondeu esta barbaridade: ‘Não, não conheço o Chalana de lado nenhum.’. No
final da partida, o jornalista insistiu e perguntou ao italiano se agora já conhecia o
Chalana e ele disse-lhe: ‘Agora já conheço o Chalana e agora já sei que é um dos
melhores jogadores do Mundo!’”, relembra José Marinho. É que, infelizmente para
Nela, foi a ele que coube a marcação do extremo-esquerdo luso. O à-vontade com que
Chalana defrontava os seus adversários, tornava-o, por vezes, um espectáculo dentro do
espectáculo: “A certa altura, o Chalana pega na bola a meio campo, junto do nosso
banco de suplentes e, com ela controlada no pé esquerdo, avança para o Falcão, um
internacional brasileiro. Começa a toureá-lo e a dizer: ‘eh, oh, eh’, como se estivesse a
incitar um touro numa pega. O defesa brasileiro começou a recuar até que desapareceu,
deixando a marcação a outro e o Chalana seguiu com a bola.”, descreve José Manuel
Delgado, jornalista do jornal A Bola e ex-guarda-redes benfiquista.
Depois de ultrapassar a Roma (quartos de final) e a Universidade de Craiova
(meias-finais), o Benfica começa a disputar a final da UEFA, então jogada a duas mãos,
a 4 de Maio de 1983. Chalana & Ca encontraram pela frente o Anderlecht, na altura,
uma das melhores equipas europeias. No estádio de Heysel, só os belgas marcaram,
apesar de Chalana, um dos que mais sobressaiu, ter tido nos pés o golo do empate.
Vários motivos justificavam, por isso, a esperança que jogadores e adeptos acalentavam,
entre eles o resultado tangencial de 1-0 e a enorme falange de apoio esperada na Luz.
Mas, a 18 de Maio de 1983, nem os foguetes lançados antes do jogo nem a tarja que
pendia do terceiro anel – “Anderlecht, nous allons te manger!” (Anderlecht, vamos
comer-te) – intimidaram os visitantes. Shéu, autor do golo dos encarnados, revive o
momento: “O Chalana agarrou a bola do lado esquerdo, avançou por ali abaixo e
quando se pensava que ia rematar surgiu o Humberto no lado contrário. Sabia que dali o
‘Chala’ não rematava, não rematou. Cruzou para o Humberto que, de onde estava,
também não arriscava a baliza – sabia que ia amortecer. Deixei-me levar pelo instinto e,
quando dei por mim, rematava à baliza a bola amortecida pelo Humberto.”. A
combinação dos três jogadores foi insuficiente para segurar a Taça UEFA, já que, sete

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minutos depois, os belgas restabeleceram o empate, vencendo o conjunto das
eliminatórias e levando a Taça. Apesar da derrota, Fernando Martins, presidente do
SLB, recompensou Chalana e cada jogador envolvido na epopeia com 500 contos.
“Só faltou ganhar uma Taça UEFA”. É assim que Chalana avalia a sua carreira,
rebatendo as críticas de que ficou à beira do êxito total. Infelizmente, nunca conseguiu
vingar a derrota com o Anderlecht ao falhar as duas finais da Taça dos Clubes
Campeões Europeus a que o Benfica chegou em 1988 e 1990. A primeira, com o PSV,
falhou-a devido a uma lesão e na outra, com o Milan, ficou na bancada por decisão de
Ericksson. Ficam ‘apenas’ no seu currículo seis Campeonatos, três Taças de Portugal e
duas Supertaças.

A PRIMEIRA VEZ
A fama do pequeno Chalana precedia-o, chegando aos ouvidos do então
seleccionador nacional José Maria Pedroto. Durante um estágio, o seleccionador tentou
saber junto de Bento o valor do tão falado barbas: “Só lhe disse para o ir ver porque
depois ia conhecê-lo.”, recorda Bento. O técnico foi e, no final do jogo, encantado,
levou Chalana para a Selecção principal. A estreia do mais novo internacional de
sempre com 17 anos ficaria marcada para 17 de Novembro de 1976 diante da
Dinamarca, no estádio da Luz. Seguiram-se outros adversários num total de 27
internacionalizações pelos AA e 42 no conjunto de todos os escalões. Na altura, o fraco
envolvimento dos jogadores com a Selecção devia-se sobretudo à diminuta
compensação monetária: “Em 74, recebia 300$ de diária, isto é, por um dia de estágio.
Hoje, na equipa A, uma diária são 200 ou 250 contos. Agora, quem é que não gosta de
ir à Selecção?”, relembra Fernando.
Em 1984, depois de sete meses afastado das convocatórias por lesão, Chalana
regressa de forma determinante, reconduzindo Portugal aos grandes eventos de
selecções. Depois do Mundial de 66, a equipa nacional estreava-se num Europeu:
“Antes do Euro, éramos uns excursionistas. Quando íamos para estágio, uns iam
recuperar de dias perdidos, comia-se e bebia-se muito e treinava-se pouco. Não havia
muita responsabilidade.”, critica. O Euro é, aliás, considerado por muitos como um
marco na sua carreira. Foi, segundo dizem, muito à custa das suas exibições portentosas
que Portugal fez um brilharete, espantando a Europa. Outros, no entanto, defendem que
o bom futebol de Chalana, em França, apenas funcionou como surpresa para os
adversários, ao mesmo tempo que usufruiu de uma maior visibilidade mediática.

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O grupo de qualificação de Portugal composto por Finlândia, Polónia e URSS
não era fácil, pelo que só, no último jogo, foi possível assegurar um lugar em França.
Portugal tinha apenas uma hipótese: ganhar! A 13 de Novembro de 1983, no estádio da
Luz, uma multidão vibrante recebia a Selecção Nacional, enquanto hostilizava os
adversários: “Havia público que tinha laranjas e atirou aos jogadores soviéticos como
projécteis. E, como na URSS, a laranja era preciosa, eles tomaram como fineza e sinal
de hospitalidade.”, conta Silva Resende, presidente da Federação Portuguesa de Futebol
(FPF) na época. Nesse jogo, a velocidade e a imaginação do extremo só eram travadas
pelas faltas dos soviéticos, uma das quais originou o penalty que, ainda hoje, suscita
discussão. Uns consideram que, na sua magia, Chalana fantasiou a falta, mas o próprio
tem uma visão diferente: “Se virem com cuidado e em slow-motion, verão que tenho o
meu pé direito em cima do risco quando a falta acontece. A mensagem que passou foi a
de que tinha mergulhado a dois metros da área. Não! Sofri a falta no risco.”. Jordão
converteu-a e levou Portugal ao Euro’84. Já Fernando, no único jogo de apuramento em
que participou, deixou uma marca eterna na história dos Europeus de Futebol.
O feito conseguido não invalidou, no entanto, que o ambiente no seio da
Selecção se fosse deteriorando, sobretudo porque as clivagens entre jogadores e
dirigentes se acentuavam. Chalana, dado o seu estatuto, tinha autoridade moral para
falar. E fê-lo, sem rodeios nem meias palavras. Foi incisivo nas críticas à classe
dirigente. Em causa estava a negociação de contratos de publicidade com a ADIDAS®,
nas costas dos jogadores. O extremo-esquerdo não gostou da desconsideração e, em
jeito de boicote, deixou de vestir o equipamento patrocinado. Posteriormente, também
no final do Euro, a publicidade seria o pomo de discórdia. Tudo porque, até hoje, o
Renault 5 prometido aos jogadores, após a passagem às meias-finais, não chegou até
eles. Nem tão pouco o respectivo valor...
Ainda hoje Chalana se espanta com o que Portugal alcançou no Europeu, dado o
amadorismo dos dirigentes da altura: “Já viu o que era um presidente, na altura o Dr.
Silva Resende, dizer: ‘olha, está ali o Shéu.’ e o Shéu nem ter sido convocado? Afinal,
era o Jordão. Em França, havia jogadores que pediam [aos dirigentes] um vale de 50 ou
100 francos e eles chegavam lá com um guardanapo e diziam: ‘assina aqui’.”. O grupo
de trabalho, esse, valeu-se da coesão, para ultrapassar colossos como a Alemanha, a
Espanha e a Roménia até chegar às meias-finais.
O jogo com a França foi mais do que um jogo. Foi um duelo entre os
‘pobrezinhos’ e os ‘empertigados’; foi um duelo entre o talento de Platini e a fantasia de

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Chalana; foi um duelo entre o sonho e o pesadelo. Chalana, como até então, foi o
protagonista, entusiasmando a selecção lusa e causando problemas aos franceses: “Teve
lances de uma qualidade incrível. Dava a sensação de que dizia aos adversários para se
desviarem.”, recorda Joaquim Rita. Encantou com a sua magia, os seus dribles em
velocidade, as suas assistências fantásticas. Duas delas tiveram o melhor seguimento
com Jordão. Para espanto dos franceses e delírio dos adeptos nacionais, os portugueses
venciam por 1-2 no prolongamento. Até que surgiu Platini. Em cinco minutos, o francês
ressuscitou a equipa e virou o jogo. Chalana, os companheiros e todo o país choraram...
às portas do céu.

O SALTO PARA A QUEDA


O Euro’84 foi, como Fernando pretendia, a montra certa para garantir o contrato
de uma vida. Antes da competição, contudo, já tinha estado com um pé fora da Luz. Ao
acabar, pela primeira vez, contrato com o Benfica, manifestava o desejo de sair, embora
não se pudesse comprometer com o Sporting ou o Porto face a um protocolo existente.
O Boavista, por intermédio de Valentim Loureiro, apressou-se a seduzi-lo, mas Anabela
Mateus e Fernando Martins fizeram Fernando recuar, depois de ter dito o ‘sim’, perante
um atraente aumento salarial de 350 para 1000 contos: “Não era o Boavista que ia fazer
um grande contrato com o Fernando para o estrangeiro.”, afirma Anabela Mateus. De
fora, chegavam propostas do Barcelona, da Roma e do Bordéus para a compra do
número 10 encarnado. Contudo, foram os franceses quem, no Verão de 84, apresentou
os valores mais condizentes com a vontade do clube e do jogador: 232 mil contos e 100
mil contos, respectivamente: “Achei que tinha chegado o meu fim no Benfica. Queria
experimentar outros povos e outro futebol.”, recorda.
Havia, no entanto, outras razões para a sua saída, nomeadamente a garantia de
uma melhor condição financeira e, acima de tudo, a oportunidade ímpar para projectar a
sua carreira internacionalmente. O extremo acabaria por não ser feliz na aventura.
Afinal, a sua intenção de que o Bordéus fosse apenas uma ponte para outros voos foi
hipotecada assim que, ao terceiro jogo pelo clube, o infortúnio lhe bateu à porta. À
primeira lesão, em Setembro de 1984, seguiram-se outras, acompanhadas por longos
períodos de tratamento, deixando-lhe marcas profundas, física e psicologicamente:
“Estava a ser operado quase de seis em seis meses e, em termos desportivos, fiquei um
bocado traumatizado.”, recorda.

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Em terras gaulesas, deparou-se com uma realidade bem diferente da nacional:
“Como é possível que o Bordéus, enquanto clube profissional, apenas tivesse a equipa e
o relvado para jogar? Nem médicos havia!”, comenta. Viveu tempos difíceis marcados
por uma frieza a que não estava habituado e que não facilitaram a adaptação. Dos
colegas não teve a recepção desejada porque era visto como uma ameaça. Por isso, foi
alvo de atitudes chauvinistas: temiam a possibilidade de Fernando se tornar
preponderante na equipa e ganhar ascendência no afecto dos adeptos. Mas também a
(constante) intromissão de Anabela no mundo futebolístico não era bem aceite:
“Chalana, para onde fosse, ia de braço dado e há alturas no futebol em que o jogador
deve ir sozinho.”, conta Joaquim Rita. Ainda assim, o jogador fez algumas boas
exibições pelo clube francês, e, em 1987, numa tentativa de se enquadrar melhor e
colmatar as dificuldades constantes, chegou a pedir a nacionalidade francesa.
Depois do calvário que foram as quase três épocas em França, quando surgiu
oportunidade, regressou a casa. Apareceram, então, convites do Porto e do Benfica. Os
primeiros tinham, curiosamente, uma boa relação com o extremo, dado que o seu
médico tinha sido o responsável pelas várias operações deste: “O Porto, ao contrário do
Benfica, ofereceu as instalações do clube e prontificou-se na recuperação até o
Fernando estar em condições de ir para o Bordéus”, relembra Anabela Mateus. No
Benfica, a vinda de Chalana era muito desejada, sobretudo porque muitos benfiquistas
não tinham concordado com a sua transferência. Gaspar Ramos era um deles e, como
director do futebol recentemente eleito, fez tudo para que o jogador voltasse a encantar
o Terceiro Anel.
O Benfica ganha a corrida e, a 25 de Junho de 1987, Fernando Chalana é
apresentado como reforço do seu clube do coração. O acordo entre as partes surgiu
facilmente, ainda que ensombrado por mais uma operação do extremo para debelar uma
grave lesão muscular. Pela frente tinha um longo período de recuperação: “Negociá-mo-
lo com o Bordéus numa altura em que nos questionávamos se o Chalana voltaria a ser o
jogador que conhecíamos.”, recorda Gaspar Ramos. Era a oportunidade de o número 10
relançar a carreira e responder aos que o davam como morto para o futebol.
Tinham passado apenas três anos que pareceram dez. Chalana estava diferente.
Perdera o fulgor de outrora, a alegria de encarar o jogo como se se tratasse de uma
brincadeira e estava desencantado com as rasteiras que o destino lhe pregara. Além
disso, a demorada recuperação adiou-lhe o regresso aos relvados da Luz. Voltou a 17 de
Outubro de 1987 num jogo contra o Salgueiros, que começou a suplente. Pacheco

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ocupava o seu lugar e, ao fim de cinco minutos, era assobiado. O público queria o
‘pequeno genial’. E quando, aos 88 minutos, Fernando se levantou para o aquecimento,
chorou. Era compreensível para quem tinha o Inferno da Luz aos seus pés: “Quando fiz
o meu primeiro jogo, depois do regresso, era suplente e estavam 80000 pessoas de pé a
bater-me palmas.”, conta emocionado.
“A história não se repete.”, defende José Couceiro, ex-companheiro no Estrela
da Amadora. Assim foi com Chalana. As mazelas das lesões nunca o deixaram atingir
níveis exibicionais e de rendimento de outros tempos. Já não era um indiscutível na
equipa, ainda que continuasse a pôr os olhos em bico aos defesas contrários e ao público
com a sua genialidade. Porém, com a chegada do treinador Ericksson, em 1989,
Fernando passou a ser cada vez menos utilizado. Ambos tinham uma visão diferente do
futebol: “Ericksson tinha uma filosofia muito mais competitiva do que um certo
romantismo do futebol Chalana, o qual já não estava nas condições físicas ideais para
poder corresponder.”, confessa Joaquim Rita. Fernando estava insatisfeito. Não era este
o regresso que imaginara e não hesitou em manifestar o seu desagrado junto dos colegas
e da imprensa. Uma vez, à saída de um hotel onde o Benfica tinha ficado, Ericksson
aproximou-se dele e perguntou-lhe por que falava tanto. Fernando não lhe escondeu o
motivo: “Disse-lhe que, se não falasse, não estava bem comigo próprio. Tinha de dizer
as coisas ou não dormia.”, relembra.

SEM BRILHO E SEM APLAUSOS


Depois de três anos na Luz, é dispensado na época 89/90 então com 31 anos. A
12000 metros de altitude, no regresso da digressão do clube a Angola e Moçambique,
Ericksson surpreende alguns jogadores benfiquistas com o seu anúncio: estavam
dispensados! Chalana era um deles, mas já sabia o seu futuro antes sequer de embarcar:
“Não fui apanhado de surpresa porque o Sr. Gaspar Ramos já me tinha dito,
antecipadamente. Chamou-me ao gabinete e disse-me que não ia ficar no Benfica, mas
não disse os porquês.”.
De todos os treinadores com quem trabalhou, Ericksson foi sempre aquele com
quem teve pior relacionamento. Desde o início que não se entenderam, mas rapidamente
o treinador sueco se rendeu aos dotes do extremo. Porém, tentava a todo o custo que a
equipa se libertasse da sua prestação: “A dependência em relação ao Chalana podia,
eventualmente, tirar aos jogadores a capacidade de poder, como equipa, resolver os
problemas na sua ausência.”, afirma Shéu. Fora dos relvados, o conflito entre ambos

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agudizou-se quando, em 1984, Ericksson lhe indicou o seu empresário numa tentativa
de mediar um possível contrato para o estrangeiro. Fernando não acatou a ideia e nunca
se encontrou com o Sr. Borge Lantz. Consequentemente, seria excluído por parte do
sueco. Quando saiu do Benfica, em entrevista A Bola de 7 de Julho de 1990, expressou
o seu desagrado por tudo o que viveu com o técnico durante a segunda passagem de
ambos pela Luz: “É fundamental sentirmos a confiança do treinador, sentirmos que
estamos a trabalhar com um objectivo e não como me aconteceu na última época, em
que trabalhava todos os dias e já sabia que, em termos concretos, não teria hipóteses
nenhumas de jogar. Treinava por prazer.”
Com a anunciada saída do Benfica, Fernando Chalana não tardou a ser
assediado por vários clubes, embora não estivesse nos seus planos integrar outro plantel:
“Eu gostava de acabar a carreira no Benfica. Não queria continuar mais a jogar.”,
adianta. O Belenenses apresentar-lhe-ia uma proposta através do seu director desportivo
José Manuel Delgado, seu antigo companheiro no Benfica. Apesar das reticências
existentes no seio da Direcção azul, Fernando foi contactado enquanto estava de férias
no Algarve e rapidamente chegou a acordo com o clube. O contrato tinha a validade de
um ano, apresentava valores razoáveis e tinha uma “cláusula” especial: “Lembro-me de
lhe dizer que estava proibido de se lesionar porque eu tinha investido muito na sua
contratação.”, recorda José Manuel Delgado. O director desportivo tinha garantido que
Fernando Chalana estava fisicamente bem. E, de facto, o ‘pequeno genial’ acabaria por
fazer uma época praticamente sem lesões.
A ida para o Belenenses era, sobretudo, uma forma de Fernando mostrar que
ainda tinha muito para dar ao futebol. Ou pelo menos, assim pensava. Embora apto,
faltavam-lhe os requisitos físicos de um médio ala: “O Chalana começou a jogar aos 15
anos com os seniores e foi sempre muito desgastado. Chegou a uma altura e já não tinha
a mesma vontade, a mesma frescura, a mesma capacidade para jogar.”, conta José
Manuel Delgado. Mesmo assim, agora a jogar pelo meio na posição de número 10,
continuava a encantar o público que, semanalmente, se deslocava ao Restelo para ver a
equipa. Uma vez num jogo particular de início de época, Fernando controlou a bola,
simulou, driblou e fez um passe que extasiou todo o estádio: “Ninguém aplaudiu.
Ouviu-se foi o estádio todo a fazer ‘ohhhh’ de admiração.”, afirma o director desportivo
de então. A época, no entanto, acabaria por ser para esquecer com o Belenenses a descer
à II divisão e com a Direcção a deixar de pagar em Setembro.

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Na época seguinte, em 91/92, aos 32 anos, e depois da má experiência no
Belenenses, Fernando volta a estar sem clube. Daí que, durante as suas férias no
Algarve, numa tentativa de manter o ritmo competitivo, tenha pedido para treinar com a
equipa do Estrela da Amadora, que lá fazia o seu estágio de pré-época. Pouco depois, e
sem que nenhuma das partes tivesse planeado, o clube formalizou uma proposta de
contratação. Fernando aceitou: “Ele queria provar que ainda conseguia jogar futebol,
mas talvez pela amizade que nutria pelo Jesualdo Ferreira veio dar-lhe uma ajuda na
Amadora.”, esclarece António Bernardo, dirigente do Estrela na época. Houve, no
entanto, vozes discordantes: “Pensavam que já não era altura de o Chalana vir porque o
clube não era propriamente um asilo.”, relembra o dirigente. Ideias que não impediram,
contudo, a assinatura de um contrato válido por um ano e com Fernando a receber 500-
600 contos mensais.
A relação entre o jogador e Jesualdo Ferreira começara há muito, quando o
último orientava as selecções de juniores. Numa altura em que o Estrela se propunha
regressar à I Divisão, era importante ter jogadores que fossem, simultaneamente,
referências e mais-valias. Fernando foi-o. Pelo menos até às 10-12 primeiras jornadas,
ao mesmo tempo que, com as suas boas exibições, arrastava público ao estádio José
Gomes, na Reboleira: “Senti-me orgulhoso de o ter trazido para o Estrela.”, afirma
António Bernardo.
A genialidade do extremo fascinava igualmente os companheiros, sobretudo nos
treinos. Fernando conservava a classe e o talento que o tinham notabilizado. Nas
peladinhas, todos queriam ser da sua equipa porque garantia não só a vitória, mas
também a recompensa monetária muitas vezes em causa: “Havia aquelas pequenas
apostas de valores insignificantes entre jogadores que davam para o almoço.”, clarifica
o dirigente do Estrela. Também nos penalties, no final dos treinos, Fernando era exímio
para desespero dos guarda-redes. Um dia, durante o decorrer de uma sessão de trabalho,
António Bernardo reparou que Fernando apontava os penalties com os dois pés e
perguntou-lhe se era alguma táctica. A resposta deixou-o boquiaberto: “ ‘Não. O pé que
chegar lá primeiro é o pé com que bato.’”, recorda.
No Estrela, tentou a sua ressurreição futebolística, mas a saída de Jesualdo
Ferreira do comando técnico da equipa impossibilitou esse desejo. O novo treinador
tinha métodos e filosofias de trabalho diferentes e, dado que começava a apresentar
pequenas lesões, deixou, aos poucos, de contar com ele. Quando contava, fazia-lhe
exigências físicas a que o extremo não conseguia corresponder. A meio da época optou

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por sair, embora o clube tenha pago o seu salário até ao final do contrato. Acabou a
carreira em casa, longe dos flashes e dos olhares dos que o admiravam: “Um jogador
daquela índole não podia terminar assim. Merecia muito mais. Merecia ter saído pela
porta grande e ter ficado reconhecido como um jogador do outro mundo até pelas
pessoas que não ligam muito ao futebol.”, diz António Bernardo.

ALHEIO À RIBALTA
Assim que entra no restaurante “O Cantinho do Viveiro”, no Monte Estoril, o
empregado reconhece-o: Fernando é cliente habitual. Ao balcão, pergunta o que há de
comer e logo se encaminha para a mesa mais distante para falar à vontade. De vez em
quando pára para saudar os conhecidos que entram. Conversam sobre o Benfica, o seu
clube; sobre o Oriental, o clube que treina; e sobre o futuro profissional que continua
incerto. À primeira vista, ninguém diria que aquele homem é, segundo muitos, um dos
melhores jogadores nacionais. Sim, melhores porque, com discordâncias aqui e ali, é
considerado o segundo melhor jogador português ou, pelo menos, integra o lote de 10
primeiros. Sim, nacionais porque foi dos poucos que conseguiu extravasar as cores do
clube que representou quase uma vida. Só a fisionomia o denuncia, sobretudo o bigode
característico e o nariz saliente. Mas a idade não perdoa – actualmente tem 46 anos, e o
seu bigode e cabelo têm agora grandes manchas grisalhas. Envelheceu.
A escolha da mesa é o reflexo da personalidade de Chalana. Sempre gostou de
passar despercebido, ainda que nunca recusasse um contacto mais directo com os
adeptos: “Acho que, quando se tem tempo livre, se deve visitar as Casas do Benfica. É
quase uma obrigação dada a forma como nos acarinham.” A vida difícil dos pais
ensinou-o a ser humilde e, nem mesmo quando foi para França ganhar cinco mil contos,
alterou a sua maneira de ser. Não vivia em função do dinheiro. Pouco falador, abria-se
sobretudo para um grupo restrito de amigos, entre eles Diamantino, Carlos Manuel e
Bento. Foi na carrinha Ford Transit deste, nas viagens entre a Luz e a margem Sul, que
o menino foi crescendo. Por 20$ – contribuição exigida para o gasóleo – foi aprendendo
lições para toda a vida.
Hoje, Chalana vive a sua terceira relação, o seu segundo casamento. O acaso fez
com que conhecesse Ana Cristina em 1993, num jantar de amigos comuns, quando esta
celebrava o seu 30º aniversário. Cinco anos depois o casal decide casar pela Igreja, em
Lisboa. Mas muito antes Fernando se envolveu nos meandros do amor. Luísa, sua
companheira de escola, é a sua primeira grande paixão. Fernando tinha então 15 anos.

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Dois anos mais tarde, começam a viver juntos na casa da família dele. O filho de ambos,
também ele Fernando, nasceria a 13 de Abril de 1981. Mas, aos poucos, o clima entre o
casal piora, sobretudo devido às constantes discussões e a solução encontrada foi a
separação. Um ano depois, Fernando conhece Anabela Mateus com quem rapidamente
oficializa a relação, na Conservatória da Guerra Junqueiro, em 1983.
As luzes da ribalta não incomodam Anabela que depressa se adapta à nova
realidade. O mundo futebolístico, antes complicado, torna-se progressivamente o seu
habitat. Pouco a pouco, assume-se como a sombra de Fernando: vai aos treinos, viaja
com ele para os estágios, assiste a todos os jogos: “Ele gostava que estivesse sempre
presente porque acho que sentia a minha força e isso dava-lhe alento.”, defende. O
estatuto do jogador permite estas excentricidades. Mas ela não se limita a acompanhá-
lo. Negoceia contratos, torna-se intérprete dele, em França, e quase sempre é ela quem
dá a cara nas entrevistas: “As pessoas interpretaram-me mal, mas o que eu fazia era
sempre para ajudar e catapultar o Fernando.”, esclarece.
A influência feminina na vida de Fernando não era, contudo, bem aceite,
sobretudo pelos responsáveis técnicos do Benfica. Prova disso foi o conflito entre
Ericksson e o casal Chalana, em 1984, quando o Benfica se deslocou à Grécia para
jogar com o Olympiakos. A regra do clube era que as mulheres de jogadores não
ficavam no hotel da equipa, mas Anabela decidiu quebrar o estabelecido. Ericksson não
gostou da afronta e fez um ultimato ao jogador: “ ‘Se quiseres, ela fica e tu não jogas’.
Mas a Anabela acabou por sair.”, relembra José Manuel Delgado. Também durante todo
o Euro’84, Fernando teve a companhia de Anabela. Inicialmente, os responsáveis da
FPF não gostaram da ideia, mas, aos poucos, cederam, apesar de ela ser a única esposa
presente. Passou a jantar com a equipa, a andar atrás dela e telefonava, constantemente,
a Fernando. Tornou-se uma curiosidade e conhecida no futebol português. Por vezes, o
‘pequeno genial’ era simplesmente Fernando, o marido de Anabela. Daí que muitos
ainda hoje apontem este protagonismo como um dos pontos mais negativos na carreira
dele: “Ela foi contraproducente. Os dotes de Chalana podiam pô-lo nos píncaros da lua,
mas ela quis sempre atingir níveis mais altos do que ele.”, diz Mário Wilson.
Quase em simultâneo com o final da carreira de jogador, começam os problemas
entre o casal. E, em 1994, é confrontado com o divórcio. Litigioso, por decisão inicial
de Anabela. Como consequência, os bens de Fernando são congelados. Sem dinheiro
para as contas da água e da luz, só o uso da lanterna, dentro da própria casa, lhe permite
que ziguezagueie por entre os móveis com sucesso. Nessa altura, valeu-se de amigos,

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mas nunca dos que o alertaram sobre a ex-mulher: “Não se aproximou muito de mim,
do Carlos Manuel e do Diamantino que o andámos a avisar sobre a situação Anabela,
antes de lhe ‘pegar’. Demos-lhe murros na cabeça e ele não acreditou.”, relembra Bento.
Mais tarde, porém, o divórcio surgiu de comum acordo a que se seguiram as partilhas.
O pé-de-meia amealhado por Fernando foi dividido pelos dois e a casa que tinham
comprado para a reforma vendida. Desvaneciam-se os sonhos: “Ele via-se naquela casa
velhinho com os seus chinelos e por isso lhe custava tanto. Era uma parte da vida que
terminava.”, recorda Ana Cristina.

DO OUTRO LADO
Fernando arrumou as botas, mas não se afastou do futebol. Antes se deixou
absorver pela vertente técnica do mesmo e logo começou a tirar o curso de treinador.
Hoje, tem já o III nível e só a elevada quantia do curso o impede de prosseguir. As
escolinhas da Associação Desportiva de Oeiras foram a rampa de lançamento, mas
ficaria por lá pouco tempo. Durante uma reestruturação do departamento de futebol
juvenil do Benfica, em 1994, Gaspar Ramos convida-o para treinar os escalões de
formação. Era um misto de reconhecimento pelo que tinha dado ao clube, como
jogador, e de ajuda pelas dificuldades, sobretudo financeiras, que atravessava. Fernando
não recusou: “Havia sempre aquele brilhozinho nos olhos quando ia ver jogos do
Benfica com ele. Acho que até teria ido de borla.”, confessa Ana Cristina.
Passou por todos os escalões, mas foi sobretudo nos juniores que se destacou. Na
época 99/00, sagra-se pela primeira vez campeão nacional de juniores. E, contra tudo e
todos, quebra o jejum de 11 anos do clube nessa categoria. Desde o início que previu tal
desfecho, apesar das difíceis condições de que a equipa dispunha: “Treinámos quase o
ano todo no pelado, tínhamos apenas quatro bolas e nem os dirigentes do futebol juvenil
acreditavam em nós!”, critica. Em resposta, o plantel solidificou o espírito de grupo e
foi ultrapassando os adversários até garantir o primeiro lugar em Alvalade. A relação
entre o grupo tornou-se forte, demasiado forte para ficar pelos relvados. Fernando não
era simplesmente o treinador, era um pai para muitos deles: um porto de abrigo e uma
voz crítica. Mas o sucesso deveu-se também à forma como soube transmitir a mística do
clube: “Dizia-lhes que nas vitrinas só entram os campeões.”, recorda.
O bom desempenho técnico de Fernando cativa os responsáveis dos seniores.
Até que Jesualdo Ferreira, treinador, e António Simões, director-geral, o convidam para
ser adjunto da equipa principal. Ganhava uma nova alma: “O Fernando, antes, era visto

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como alguém que jogava muito bem, mas não sabia fazer mais nada.”, clarifica Ana
Cristina. A 3 de Janeiro de 2002, assume as novas funções, mas nem por isso deixa de
ser mais um jogador no balneário. O futebol estava-lhe no sangue, daí o afinco com que
se entregava às peladinhas. Parecia que, semanalmente, disputava um lugar no onze
titular: “No primeiro treino em que o Chalana participou logo que recebeu a bola
conduziu-a em direcção à baliza, driblou três jogadores, sentou o guarda-redes e fez
golo.”, relembra José Gomes, ex-preparador físico do SLB. Contagiou o grupo com a
sua alegria pelo jogo, com a sua simplicidade e tornou-se numa voz apaziguadora em
momentos de maior tensão. Era o elo perfeito entre o técnico principal e os jogadores
que, nesse ano, em jeito de reconhecimento, colocaram no balneário uma camisola com
o número 10 e o seu nome inscritos nas costas. Comoveu-se.
Nesse ano, na Taça de Portugal, a surpresa aconteceu na Luz. O Benfica foi
afastado à 4ª eliminatória pelo Gondomar, da II Divisão B (zona norte). Jesualdo
Ferreira saiu do comando técnico da equipa e imediatamente a família Chalana supôs os
piores cenários que, no entanto, não se concretizaram. Ainda assim, após o jogo, surgiu
a possibilidade de Fernando e de José Gomes abandonarem a equipa dada a chegada de
um novo treinador, José António Camacho, e respectiva equipa técnica. O plantel não
gostou da ideia, sobretudo os jogadores-referência, como Petit, Nuno Gomes e Simão.
António Bernardo, na altura dirigente benfiquista e o único presente no balneário, foi
porta-voz da decisão do grupo: “Disseram-me que se a saída do Chalana e do José
Gomes era porque não havia dinheiro para os manter com a nova equipa técnica, então
eles pagavam os salários deles os dois do próprio bolso.”. Fernando ficou por vontade
dos dirigentes e para alegria dos jogadores. Pelo menos até à jornada seguinte com o
Braga.
A semana que antecedeu o jogo foi das mais marcantes que viveu na Luz. Pela
primeira vez ia dirigir a equipa principal do seu clube e, apesar das responsabilidades
acrescidas, não se atemorizou: “Foi uma semana intensa, mas, ao mesmo tempo, calma.
Ele sabia exactamente o que tinha de fazer.”, afirma Ana Cristina. Era só um jogo, ainda
por cima de transição, mas Fernando decidiu assumir os riscos e mudou as caras,
chamando jogadores, como Hélder, Zahovic, Mantorras, Argel e Miguel, antes
preteridos. Faziam parte da equipa que tinha esboçado há já algum tempo. A 30 de
Novembro de 2002, Fernando ganhou a aposta técnica e o Benfica venceu
tranquilamente o Braga por 3-0: “Os jogadores queriam a vitória, mas foi também uma
forma de mostrarem a alegria sentida por o Chalana ter sido o técnico principal.”, afirma

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António Bernardo. Não foi a vitória que surpreendeu, mas antes o desempenho de
Miguel, então extremo direito pouco utilizado, nas funções de lateral direito. Nas
jornadas seguintes, Camacho manteve a aposta em Miguel e o Benfica colheu os louros
da visão de Fernando, novamente adjunto.
Fernando, mesmo tendo sido o mais breve treinador da história do Benfica,
marcou o clube e, consequentemente, a Selecção Nacional com a sua novidade táctica.
O renovado Miguel na lateral direita, foi, naquela época de 02/03, uma das razões que
justificaram a chegada dos encarnados à pré-eliminatória da Liga dos Campeões e aos
respectivos prémios monetários. Porém, a Selecção também soube aproveitar esta
descoberta que passou a ser presença assídua nas convocatórias do técnico Luís Filipe
Scolari: “A primeira vez que o Miguel foi à Selecção ofereceu a camisola ao Fernando.
Para ele, são esses pequeninos gestos que compensam uma série de outras coisas.”,
confessa Ana Cristina.

ATÉ BREVE!
Na Luz, a chegada de um novo treinador não foi benéfica para Fernando.
Mantinha-se como adjunto, mas deixou de se sentar no banco de suplentes, e perdia,
pouco a pouco, espaço de manobra. Mas a tristeza que expressava na intimidade do lar e
dos amigos também se devia a outros motivos, nomeadamente o incumprimento de
promessas. Na altura em que foi convidado para subir à equipa sénior, os responsáveis
benfiquistas garantiram-lhe que o ordenado de treinador juvenil seria revisto, mas em
vão: “Durante o tempo em que esteve como adjunto nunca foi feito nenhum contrato,
nunca o aumentaram cinco tostões e, inclusivamente, chegou a ter quase quatro meses
de salários em atraso.”, critica Ana Cristina. No final dessa época (02/03), e a terminar o
contrato de treinador juvenil, sentiu que era altura de arriscar. Aceitou o convite de José
Gomes, então preparador físico do SLB, para o acompanhar, como adjunto, até Paços de
Ferreira.
Ao Benfica não agradava a saída de Fernando e, numa reunião com o presidente
Luís Filipe Vieira, foi-lhe apresentada uma proposta de renovação: “Iria ganhar mais e,
finalmente, teria um contrato de treinador-adjunto.”, esclarece José Marinho. Fernando
não cedeu, afinal, tinha dado a sua palavra ao amigo José Gomes. Contudo, num último
esforço, o presidente prometeu-lhe que, se ficasse, o centro de estágio benfiquista, no
Seixal, chamar-se-ia Fernando Chalana: “Já lhe tinham prometido tantas coisas que lhe
custou a acreditar. Mas já têm a estátua do Eusébio, podem dar perfeitamente o nome

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dele ao centro.”, defende Ana Cristina. Mais tarde, também o técnico espanhol, no livro
Camacho: Um ano e meio à Benfica, da autoria do jornalista Gabriel Alves, se
pronunciaria sobre a partida de Fernando: “Obviamente que caso o Chalana não tivesse
acompanhado José Gomes, e quisesse ter esperado que me decidisse se ficava ou não no
Benfica, ter-se-ia mantido como meu adjunto.”.
No Norte, a experiência não correu bem e Fernando, junto com José Gomes, foi
afastado sem cumprir uma dezena de jornadas à frente da equipa. Da passagem fugaz
ficam as estatísticas, nada abonatórias, diga-se: em oito jogos, tiveram sete derrotas e
uma vitória. Decide regressar a Lisboa e refazer a sua vida. Estava desempregado e sem
perspectivas de trabalho quando o Oriental, em Novembro de 2003, lhe dá uma nova
oportunidade para se mostrar. Agora, e pela primeira vez, como técnico principal. É o
médico do clube, também em actividade no Benfica, quem menciona o nome do
extremo por conhecer o seu trabalho nas camadas de formação encarnadas. Fernando
aceitou o desafio para surpresa do presidente do Oriental, José Nabais: “Não tinha
grandes esperanças que aceitasse a nossa proposta porque não tínhamos muito para lhe
oferecer. E, afinal, ele sempre é o Chalana!”. Mais surpreendido ficou com a atitude de
Fernando em relação ao seu adjunto Luís Roquete, seu antigo colaborador na Luz:
“Normalmente, o treinador principal ganha mais do que o adjunto. Só que o Chalana,
como a nossa relação de amizade e de trabalho é tão próxima, não me vê como adjunto
e quis que fossemos ganhar o mesmo.”, esclarece Luís Roquete. Fernando foi ganhar
350 contos, mais ou menos o que recebia no Benfica e menos do que o Paços de
Ferreira lhe pagava.
O balneário reagiu com espanto ao nome do novo treinador. No começo, os
jogadores mostraram-se inibidos, mas depressa a simplicidade de Fernando suplantou as
barreiras. Aos poucos, a descontracção tornou-se característica do grupo: “Íamos para a
sauna e conversávamos normalmente. Não havia aquela grande diferença entre jogador
– treinador.”, afirma Pedro Lopo, ex-jogador do clube. O objectivo de Fernando era que
os jogadores desfrutassem dos prazeres do jogo como tantas vezes fizera no seu tempo.
Não deixava, contudo, de ser exigente. Por um lado, desde o início, que quis que os seus
pupilos entendessem a diferença entre ‘ir treinar’ e ‘ir para os treinos’: “ ‘Ir para o
treino’ é, por exemplo, ir tomar banho ou falar com os colegas enquanto ‘ir treinar’ é ir
melhorar as capacidades físicas, técnicas e mentais.”, clarifica. Por outro, perder quase
nunca era opção fosse numa peladinha ou num jogo de campeonato. Uma vez, num
treino, um dos jogadores da equipa de Fernando – que habitualmente participava – fez

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uma tabelinha perfeita e, quando chegou à frente da baliza, atirou ao lado. Quando
voltava ao seu meio campo, o jogador, apesar da falha, esboçou um sorriso que o
técnico rapidamente repreendeu: “ ‘Ri-te quando houver golos!’”.
Fernando esteve em Marvila uma época e meia, orientou quase 40 jogos, durante
os quais proporcionou bons espectáculos: “Pôs o Oriental a jogar um futebol razoável,
mas claro que, com grandes limitações no plantel, não se podem fazer grandes coisas.”,
defende António Bernardo. Mas o jogo que marcou a sua passagem pelo clube foi o da
4ª eliminatória da Taça de Portugal, a meio da época 04/05. O sorteio (destino?) ditou
um regresso à Luz para defrontar o Benfica. Pela primeira vez, ocupava o balneário dos
adversários e tentava ser um dos protagonistas do dia. E foi-o, pelo menos para o
programa Reporttv cujas câmaras acompanharam a par e passo o seu retorno a casa. As
imagens, essas, mostravam o apreço sentido para com o ‘pequeno genial’: “A festa que
os jogadores do Benfica fizeram ao Chalana foi indescritível. Queriam metê-lo no
balneário, ele é que, por uma questão de pudor, não quis porque podia ser mal
interpretado pelo Trapattoni ou pelo Álvaro.”, relembra José Marinho, jornalista da
Sporttv. Também o público se preparou a preceito para o receber, surpreendendo-o, à
saída do túnel dos balneários, com as palavras: ‘Chalana, bem-vindo a casa!’. Fernando
sensibilizou-se, afinal, não estava esquecido. No final do jogo, longe dos flashes, a festa
continuou e, num gesto de amizade, muitos jogadores ofereceram-lhe a camisola.
Contudo, apesar do simbolismo do jogo para o Fernando homem, era só mais um
encontro para o Fernando treinador. Mantinha-se o mesmo objectivo de sempre: ganhar!
Ainda por cima, estava em vantagem em relação ao Benfica: “Ouvi a palestra no
balneário e ele expôs, em pormenor, todas as fragilidades dos jogadores do Benfica e
que conhecia bem. Usou tudo em proveito da equipa, mas era uma luta desigual.”, conta
o presidente do clube. E, de facto, o Benfica ganharia sem grandes dificuldades por 3-1.
No final da temporada 04/05, o seu futuro continua incerto. No meio
futebolístico correm rumores de que Fernando está referenciado para voltar à Luz. A
hipótese parecia estranha, ainda para mais porque os encarnados tinham sido campeões
nacionais 10 anos depois. Mas esse cenário viria a confirmar-se em Junho quando,
durante as férias da família Chalana no Algarve, recebe um telefonema do Benfica. Do
outro lado da linha, o presidente Luís Filipe Vieira pede para falar consigo
pessoalmente. Naquele momento, sentiu um misto de alegria por o clube se ter
lembrado dele e de ansiedade por não saber o que lhe iam propor. Quis partir de
imediato para Lisboa, mas só o fez na madrugada seguinte, chegando mais cedo do que

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o combinado ao estádio da Luz. Estava a viver um novo sonho. E, a partir do momento
em que a imprensa soube do acordo entre o clube e o treinador, o seu telemóvel nunca
mais parou e nem com a mulher conseguiu partilhar a felicidade. No Algarve, Ana
Cristina soube das notícias pelo enteado de Fernando, Duarte, filho mais velho de
Anabela: “Ele tinha ouvido n’A Bola Branca que o Fernando tinha voltado para o
Benfica. Foi por ele que soube que tinha voltado por dois anos porque não conseguia
falar com o meu marido.”.
O convite do Benfica acalmou a instabilidade da família cujo futuro continuava
indefinido. Outros clubes tinham já apresentado propostas mas economicamente só
garantiam mais um ano de dificuldades. Além disso, depois da passagem pela II divisão
B, era importante relançar a carreira. Fernando regressava à Luz quase dois anos depois
e novamente para ser adjunto, agora de Ronald Koeman. Para muitos, o seu perfil não o
deixa aspirar a muito mais: “Para se ser técnico principal de uma equipa de topo é
preciso uma liderança forte e o Fernando, pelo seu feitio, não conseguiria dizer que não
a uma série de situações. É muito boa pessoa. Não precisa de ser sacana, tem é de ser
rígido.”, explica José Couceiro.

DIREITO À PRIVACIDADE
A casa de Fernando fica a poucos metros do restaurante “O Cantinho do
Viveiro”. O pequeno apartamento cujas paredes contam as suas memórias é o seu
refúgio. Poucos sabem que ali vive porque, há largos anos, optou por uma vida mais
reservada: “É uma pessoa recatada, talvez excessivamente, mas foram, porventura, as
amarguras da vida que lhe criaram essa defesa. Prefere um almoço de meia dúzia de
amigos num ‘tasco’ com boa gastronomia aos grandes eventos sociais.”, esclarece José
Gomes. Fernando, para os mais chegados, ou ‘Chalas’, para os companheiros de
futebol, só aceita a exposição mediática enquanto treinador. Fora disso, é um homem
comum que vive com a mulher, Ana Cristina, e a filha mais nova, Mariana. Tem mais
dois filhos: Fernando Miguel, filho de Luísa; e João, filho de Anabela. Mas a vida
separou-lhes os caminhos. O primeiro partiu novo com a mãe para o Algarve e perdeu-
lhe o rasto até que, em 1995, voltam a encontrar-se. Numa das vezes em que veio ao
Barreiro, o jovem reencontrou a avó paterna e, em conversa, confessou-lhe o desejo de
rever o pai. Fernando não hesitou e depressa acertou com Luísa um encontro com o
filho: “Foi uma sensação esquisita, talvez por não o ver há tanto tempo. Mas ainda me

24
recordava dele. Hoje, apesar das distâncias, tenho com ele uma relação adulta, embora
ele seja muito reservado.”, confessa Fernando Miguel.
Os problemas aumentam quando se fala do segundo filho de Fernando. João
nasceu a 3 de Dezembro de 1986, em Portugal, mas durante a passagem dos pais por
Bordéus. Foi dos três o que acompanhou e viveu mais de perto a carreira do pai que,
consequentemente, não lhe proporcionava muito tempo livre: “Ele passava muito tempo
fora o que fomentava uma separação. Quando vinha, estava pouco tempo com o João e
participava pouco da vida dele tanto escolar como do dia-a-dia porque a vida do
Fernando também era complicada. Nunca houve grande ligação.”, confessa Anabela. O
distanciamento cresce quando, em 1993, numa altura em que os problemas do casal se
começam a agravar, Fernando fica durante algum tempo sem ver o filho. Uma vez num
jantar com amigos, entre eles a actual mulher, surpreendeu-os: “Chegou lá com um bolo
de anos e ninguém percebeu porquê. No final, pediu-nos que cantássemos os parabéns
ao filho porque, apesar de não poder estar com ele, gostava de festejar. E cantámos.”.
Com o pedido de divórcio, em 1994, torna-se cada vez mais um pai de fim-de-semana,
embora nem sempre o deixem ver o pequeno. Farto da situação, decide ir directamente à
escola do filho, no Monte Estoril, e a reacção deste à sua ausência deixa-o de rastos: “‘Ó
pai, afinal não nos abandonaste.’”.
A ligação entre os dois, já de si conturbada, complicar-se-ia quando João,
juntamente com a mãe, acusa o pai, na imprensa, de insuficiente apoio financeiro e
violência doméstica. A notícia que viria a ser capa do jornal Tal & Qual cai que nem
uma bomba. Tinha sido essa, aliás, a motivação de Anabela para requerer o divórcio e,
ainda hoje, mantém a sua versão: “Separámo-nos porque não aguentava a violência
todos os dias e dar entrada no Hospital de Cascais a toda a hora.”. Ideias que Ana
Cristina, companheira de Fernando há quase 11 anos, se apressa a desmentir: “Quem é
violento agride todas as mulheres que estiverem com ele. A minha experiência não é
essa. É uma relação baseada no respeito mútuo, na amizade e no companheirismo. Já
sabia que essas eram as queixas do divórcio quando o conheci.”. Mais recentemente, em
Março de 2005, João voltou a tomar o partido da mãe num processo que Anabela
interpôs contra Fernando. Quando depôs, o jovem falou sem que o pai pudesse intervir e
contestar tudo o que dizia sobre ele. No final, Fernando chorou: “Ele nunca pensou que
o filho pudesse dizer e sentir todas aquelas coisas em relação a ele.”, afiança Ana
Cristina. Mas, nem assim, deixou de o apoiar e de lhe estender a mão sempre que o filho
precisou. Desconhece o rancor: “O Fernando é muito boa pessoa porque outra pessoa

25
que fosse, sentindo-se tão magoada como ele se sentiu, teria fechado as portas do
coração. Ele não fez isso. Perdoa tudo.”, afirma Ana Cristina.
A vida de Fernando sempre correu muito diante da comunicação social,
sobretudo por culpa de Anabela, desejosa de fama. Com o fim da relação do casal,
procurou o anonimato, mas sempre manteve o seu interesse particular. Perseguiram-no
boatos que, até hoje, não se confirmaram, mas deixaram no ar a suspeita e tudo o que
isso implica aos olhos da sociedade. Foi acusado de envolvimento com drogas por
culpa, segundo alguns, da ex-mulher: “Diziam que havia família dela, em Abrantes, que
se dedicava a essas práticas e, como o Chalana ia lá muitas vezes, começou a levar por
tabela.”, conta Bento. Mais tarde também a própria Anabela o acusou, na praça pública,
de violência doméstica e, apesar das acções judiciais que interpôs, nada foi apurado.
Muitos dos que o conhecem não resistem a virar o feitiço contra o feiticeiro: “Essa
história de violência doméstica está muito mal contada. Se fosse ao contrário, a Anabela
bater no Chalana, acho que era mais fácil de acreditar.”, diz José Marinho. As
desconfianças voltaram a recair sobre si quando, em 2003, o seu nome foi envolvido no
processo Casa Pia.
A notícia era um exclusivo da TVI e veio no site www.portugaldiario.iol.pt:
“Uma testemunha, na altura com 14 anos, afirma que foi levada por Carlos Silvino para
uma casa no Restelo em 1994 [...]. Segundo a TVI, a testemunha avança que nesta festa
no Restelo estavam presentes os ex-futebolistas Chalana e Carlos Manuel, Paulo
Pedroso, Carlos Cruz, Jorge Ritto, Ferro Rodrigues e Jaime Gama.”. Fernando
surpreendeu-se. E mais espantado ficou quando, ao mesmo tempo que a notícia era
dada, um jornalista estava à porta de sua casa para um depoimento em directo: “Nunca
ninguém vem a nossa casa! Nem sei como souberam a morada porque o meu telefone é
confidencial e está em meu nome.”, conta Ana Cristina. Mas Fernando não reagiu. A
cabeça quente nunca anda de mãos dadas com a sensatez. Quando falou ao Correio da
Manhã a 31 de Dezembro de 2003 foi duro e mostrou-se desalentado: “Estamos num
país de merda. Aqui já ninguém respeita ninguém. Mandam o nome das pessoas para a
frente sem qualquer confirmação. Nunca fui ouvido pela PJ, pelo DIAP ou quem quer
que seja. Estou chocado. Dizem que vivemos num país democrático, mas se a
democracia é isto, podem limpar o rabo a ela.”. José Marinho, jornalista e amigo de
Fernando, arrasa os métodos da TVI: “Vejo o processo da Casa Pia como jornalismo
sensacionalista que não cuida sequer de fazer cruzamento de fontes nem aplica o

26
importante princípio do contraditório. Daí que corra o risco de ‘meter água’. No caso do
Fernando, foi o que aconteceu.”.
Quando a poeira acalmou, decidiu processar a estação de televisão, o autor da
notícia e, no 24 Horas de 3 de Janeiro de 2004, apontou o dedo à ex-mulher pelo
envolvimento do seu nome no processo: “A Anabela quer matar-me.”. Não no sentido
literal, obviamente. Anabela, segundo o casal Chalana, pretendia sobretudo “acabar com
a reputação e o bom-nome do indivíduo.”. Apesar de toda a especulação, no seu círculo
de amigos, todos negam que esteja envolvido em actos pedófilos. Mas uma coisa é
certa: vai ser difícil livrar-se do labéu.
Ainda para mais, o processo Casa Pia não foi o único a associar o seu nome à
pedofilia. No decorrer de 2004, Pedro Inverno, sócio de Fernando e director desportivo
do projecto Fernando Chalana: Escolas de Aprender Futebol, foi detido por práticas
pedófilas. A ligação entre eles, juntamente com Nuno Cristovão, António Santos e Lívio
Semedo, começou em 2002 quando lhe propuseram abrir uma escola. Ana Cristina foi
das primeiras a apoiar a iniciativa: “Estou tão arrependida! Achava que era uma coisa
que o Fernando devia fazer e já lhe tinha dito que ele se podia juntar ao meu primo
Carlos Lisboa [ex-basquetebolista do Benfica] para fazerem uma coisa diferente.” O seu
papel consistia em aparecer de vez em quando, muitas vezes, usando o facto de estar no
Benfica para cativar mais miúdos. O projecto, esse, era diferente de todos o que
existiam, apostando na criação de núcleos por todo o país. Surgiram três: na Cova da
Piedade, na Marinha Grande e em Cernache, mas só os dois últimos resistem. A
detenção de Pedro Inverno – até hoje continua detido – abalou a iniciativa, mas não a
deitou por terra. Embora continue sem os resultados esperados: “Estamos todos a pagar
custos da escola e não temos lucro nenhum.”, confessa Ana Cristina.
É junto dos pombos que muitas vezes Fernando se tenta abstrair dos olhares e
pressões da imprensa. Uma paixão antiga fomentada no Barreiro nos finais dos anos 70:
“Foram as conversas que, possivelmente, no campo não se tinham, mas que, pelo
caminho, na carrinha, da Luz até ao Barreiro e vice-versa, se iam tendo.”, explica Bento.
A aventura columbófila começou aos poucos, arranjando pombos aqui e ali. Apurou o
seu olho clínico: conhece-os a todos no ar. Com tempo e dedicação foi aperfeiçoando os
seus ‘pupilos’ e, nem mesmo as obrigações no Benfica, o faziam desistir: “Brincávamos
muito com ele causa da criação de pombos e de ir a concursos. Às vezes quando, num
treino, aparecia com uma cara mal dormida dizíamos-lhe que tinha dormido no pombal.
Adorava os pombos.”, conta Pietra. Actualmente, em sociedade com Paulo, seu amigo,

27
tem cerca de 240 pombos no Club Columbófilo da Costa do Sol. Mas, cada vez mais,
falta-lhe tempo para estar com os animais e os preparar para as competições que se
avizinham: “O ano passado (2005) vinha cá sempre soltar os pombos, que agora, a
partir de Dezembro, têm de começar a treinar, já que em Março se inicia o campeonato.
Tem de se fazer um treino gradual para estarem em plena forma: terem os músculos
desenvolvidos e estarem treinados para fazer os quilómetros necessários.”, queixa-se
Paulo. Infelizmente para Fernando as suas duas grandes paixões chocam, mas enquanto
o Benfica dá dinheiro, os pombos custam, por mês, a cada um dos sócios, quase 30-40
contos.
A propósito de uma homenagem ao jogador em 1995, José Torres (ex-avançado
encarnado e columbófilo) enviou-lhe a seguinte mensagem: "Aproveita a nova época
pombalista, agarra-te a eles e voa mais alto.". Fernando voou, mas não muito longe.
Estava no auge quando as lesões o apanharam desprevenido. Sofreu em demasia para
deixar apenas um fogacho como lembrança. Tinha 29 anos quando Ericksson lhe traçou
o destino: não havia mais espaço para ele e tinha ainda tantos sonhos... Hoje, já não é o
jogador de outrora, mas o técnico que palmilha terreno à procura da sua própria
aventura.
Estas eram questões de somenos importância desde que o menino suasse a
camisola como um gigante. E ele fê-lo. Em Novembro de 2005, a equipa principal de
futebol do Sport Lisboa e Benfica treinava na Madeira. Mais um treino para mais um
jogo... Um adepto entre os vários presentes deliciava-se com as habilidades e o toque de
bola dos atletas do clube do seu coração. Quando um dos repórteres lhe perguntou que
autógrafo gostava de ter, não hesitou: “o do Chalana!”. Ele era assim. Vivia para
encantar os adeptos e adorava a bola. Tudo o resto estava a mais!

28
BIBLIOGRAFIA

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 HUGO, Vítor, “70 mil pessoas, 35 mil contos” in A Bola, 14/11/84, p.10;
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 JORGE, Tiago, “Não alimento telenovelas” in VIP, 18/12/02;
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 KRITHINAS, Sérgio, “O génio da Luz mágica” in 24 Horas, 11/04/03, pp. 24 e
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 L.P, “Azar de Chalana” in A Bola, 14/02/87, p. 4;
 L.P., “Stromberg e Chalana” in A Bola, 28/06/84, p. 12;
 LEAL, Luís, “Benfica está grato a Chalana. Não é tarde para o reconhecer” in
Record, 22/01/95, p. 27;
 LOPES, Gonçalo, “Chalana substitui Álvaro Magalhães” in Correio da Manhã,
17/06/05, p. 33;
 LOPES, Octávio, “Carlos Cruz convoca Chalana e Carlos Manuel” in Correio
da Manhã, 19/11/04, p. 11;
 MACEDO, António, “Chalana, a um passo do cume” in Record, 28/06/00;

30
 MANARTE, João, “Não houve nenhum milagre. Houve futebol – e do bom!” in
A Bola, 14/11/83, p. 9;
 MARCELINO, João, “... E o sonho tornou-se realidade como esta equipa bem
mereceu” in Record, 15/11/83, p. 12;
 MÁRCIO, Aurélio, “O túnel da final está algo escuro e distante” in A Bola,
7/034/83, pp. 8, 9 e 12;
 MARCOS, Acúrcio, “Chalana sem inspiração no momento do remate” in Diário
de Notícias, 4/02/86, p. 20;
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 PEREIRA, Carla, “Inverno surpreende” in Record, 27/04/04;
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 PINHÃO, Carlos, “Um empate que é bom e mau” in A Bola, 18/06/84, p.9;
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 RIBEIRO, António, “Todos querem jogar contra estas equipas” in Record,
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 RIBEIRO, António, “Vendi o Chalana por andar injectado” in Record, 26/02/04;
 RIBEIRO, Daniel, “Anabela e Chalana: eles são o ‘espectáculo do amor’” in O
Jornal, 21/06/84, p.35;
 RIBEIRO, Daniel, “Chalana aguarda em Paris o fim da ‘telenovela’” in O
Jornal, 4/4/86, p. 5;
 RITA, Joaquim, “... Mas vai cair água fria na fervura da Selecção” in A Bola,
14/06/84, p. 5;
 RITA, Joaquim, “750 contos para cada jogador?” in A Bola, 25/06/84, p.8;
 RITA, Joaquim, “Afundou-se no porto de Marselha barco português carregado
de sonho” in A Bola, 25/06/84, pp. 9 e 10;

31
 RITA, Joaquim, “Aos que dizem que estou todo roto peço tempo para lhes
responder... a jogar” in A Bola, 25/06/87, pp. 9 e 10;
 RITA, Joaquim, “Não jogarei nos seniores com o contrato actual” in A Bola,
11/03/76, pp. 4 e 6;
 RITA, Joaquim, “Procurarei obter em França um grande contrato para o
estrangeiro” in A Bola, 7/06/84, pp.8 e 10;
 ROSA, Francisco, “Chalana acredita em bruxas” in Diário de Notícias, 1/03/86;
 SANTOS, Vítor, “Chalana exagerou podia ter visto o ‘vermelho’” in A Bola,
Junho de 84;
 SANTOS, Vítor, “Festival do futebol latino e da velha genica portuguesa” in A
Bola, 3/03/83, pp. 9 e 12;
 SANTOS, Vítor, “Um Benfica à Benfica” in A Bola, 5/05/83, pp. 8 a 10;
 SÉRGIO PINTO, Paulo, “Saí magoado do Benfica” in A Bola, 11/07/03, p. 18;
 SERPA, Homero, “Resistir a tudo até a si próprio!” in A Bola, 21/04/83, pp. 8 a
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 SIMÕES, Luís, “Disse que um dia voltaria” in A Bola, 24/06/05, p. 6;
 SIMÕES, Luís, “É bom jogar com o Sporting” in A Bola, 27/05/99, p. 18;
 SIMÕES, Luís, “Pequeno génio ainda faz sonhar” in A Bola, 17/11/01, pp. 16 e
17;
 SOEIRO, Edite, “... agora tudo é possível” in O Jornal, 21/06/84, p. 34;
 URBANO, Fernando, “Chalana teve a homenagem que há muito merecia” in A
Bola, 19/11/02, p. 22;
 VARA, Carlos, “Os génios escolhem a data certa para nascer” in A Bola,
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SITES E BLOGUES CONSULTADOS

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 http://www.abola.pt/euro/euro2004/index.asp?sub=por&op=por&pasta=e19
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 http://www.abola.pt/publica/100f/index.asp?n=f31
 http://www.icicom.up.pt/blog/quarto-arbitro/
 www.maisfutebol.iol.pt
 www.portugaldiario.iol.pt
 www.slbenfica.pt
 www.tsf.sapo.pt

FONTES ORAIS

Segue a lista de todas as pessoas entrevistas para o presente trabalho:

 ALVES, Gabriel, 19/10/05;


 BENTO, Manuel, 31/10/05;
 BERNARDO, António, 3/11/05;
 CHALANA, Ana Cristina, 27/11/05;
 CHALANA, Fernando, 15/05/05;
 COUCEIRO, José, 14/10/05;

32
 EDUARDO, José, 14/11/05;
 HAN, Shéu, 7/12/05;
 LOPO, Pedro (ex-jogador do Oriental), 21/11/05;
 MANUEL DELGADO, José, 17/11/05;
 MANUEL, Carlos, 6/10/05;
 MARCELINO, João, 26/11/05;
 MARINHO, José, 26/09/05.
 MARTINS, Fernando, 26/10/05;
 MATEUS, Anabela, 29/10/05;
 MIGUEL CHALANA, Fernando, 17/12/05;
 NABAIS, José, 8/10/05;
 OLIVEIRA, Toni, 8/10/05;
 PIETRA, Minervino, 7/12/05;
 RAMOS, Gaspar, 4/11/05;
 RESENDE, Silva, 23/10/05;
 RITA, Joaquim, 30/11/05;
 ROQUETE, Luís, 13/10/05;
 SOUSA, Paulo, 8/11/05;
 WILSON, Mário, 26/10/05;

OUTRO MATERIAL

Gostaria ainda de mencionar que solicitei à Federação Portuguesa de Futebol o


registo de internacionalizações do jogador, respeitante a todos os escalões.

33

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