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Ouro Preto
2021
Cleberson Ferreira de Morais
Ouro Preto
2021
SISBIN - SISTEMA DE BIBLIOTECAS E INFORMAÇÃO
CDU 34
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO
REITORIA
ESCOLA DE DIREITO, TURISMO E MUSEOLOGIA
DEPARTAMENTO DE DIREITO
FOLHA DE APROVAÇÃO
Membros da banca
Prof. Dr. Amauri Cesar Alves - Orientador - Universidade Federal de Ouro Preto
Prof. Dr. Carlos Magno de Souza Paiva - Universidade Federal de Ouro Preto
Prof. Dr. Cláudio Jannotti da Rocha - Universidade Federal do Espírito Santo
Prof. Dr. Amauri Cesar Alves, orientador do trabalho, aprovou a versão final e autorizou seu depósito na Biblioteca Digital de
Trabalhos de Conclusão de Curso da UFOP em 03/06/2022.
Documento assinado eletronicamente por Amauri Cesar Alves, PROFESSOR DE MAGISTERIO SUPERIOR, em
03/06/2022, às 10:35, conforme horário oficial de Brasília, com fundamento no art. 6º, § 1º, do Decreto nº 8.539,
de 8 de outubro de 2015.
http://sei.ufop.br/sei/controlador_externo.php?
acao=documento_conferir&id_orgao_acesso_externo=0 , informando o código verificador 0337768 e
o código CRC 463C355E.
Referência: Caso responda este documento, indicar expressamente o Processo nº 23109.007224/2022-53 SEI nº 0337768
R. Diogo de Vasconcelos, 122, - Bairro Pilar Ouro Preto/MG, CEP 35400-000 Telefone:
(31)3559-1545 - www.ufop.br
https://sei.ufop.br/sei/controlador.php?acao=documento_imprimir_web&acao_origem=arvore_visualizar&id_documento=374431&infra_sistema=1… 1/2
03/06/2022 10:41 SEI/UFOP - 0337768 - Folha de aprovação do TCC
Dedico, como tudo, à minha mãe, Maria Bernarda.
AGRADECIMENTOS
Bertold Brecht
RESUMO
Labour Law, as a protective instrument for the worker, plays an important role in the capitalist
system. However, reforms in the labour legislation implemented around the word in the last
decades have deviated from this protective purpose, proposing changes such as the
flexibilization and deregulation of labour norms with promise of creating new jobs. In Brazil,
the summit of this reform process took place with the enactment of the Act 13.467/2017, which
brought a profound change in the labour legislation, modifying several legal provisions of the
Consolidation of Labour Laws (CLT). This research was developed under the perspective that
Brazilian labour norms must respect their protective constitutional foundations, with an
emphasis on the centrality of the human being, allowing the fundamental right to decent work
to be enforced, the opposite of the bias of the reformer legislation. In addition to the literature
review, used as a way to broaden the scope of understanding of normative changes, the main
methodological strategy was the empirical research, developed with the application of
questionnaires aiming to access the perceptions and impacts already perceived by the legislative
change in labour relations, specifically with regard to contracts, duration of labour and salary,
focusing on the tourism workers, and hotel and food sectors in the cities of Mariana and Ouro
Preto in the state of Minas Gerais. The data obtained made it possible to draw a profile with
prominent characteristics of workers, at the same time, it was possible to analyse the variations
in the labour pact, comparing the periods before and after the effective date of the labour reform
in 2017. Thus, there was a better understanding of the labour market in the surveyed
municipalities and the practical consequences of the 2017 labour reform on the daily lives of
local workers. The legal-diagnostic investigation highlighted the need for further studies with
a specific focus on the labour market and local/regional labour relations, since the data obtained
showed particularities in the provisions of services in each municipality. The field research also
made it possible to extract evidences of the negative effects on the local labour market,
aggravated by the context of the Covid-19 outbreak, which is main reason that it became
relevant to carry out an addendum to this research.
Quadro 2 – Alteração da Legislação Trabalhista nos termos propostos pela CNI ................... 66
Imagem 4 – Saldos detalhados de contratos celetistas em Mariana e Ouro Preto – 2019 e 2021
.................................................................................................................................................. 78
Imagem 6 – Dinâmica recente de empregos celetistas em Mariana e Ouro Preto – 2019 a 2021
.................................................................................................................................................. 80
Imagem 14 – Dinâmica dos empregos com carteira assinada em Mariana e Ouro Preto ........ 89
Imagem 15 – Doses administradas no mundo de vacinas contra Covid-19 por 100 pessoas – Em
03 de novembro de 2021 ........................................................................................................ 135
Imagem 17 – Ocupações com mais desligamentos por morte em janeiro e fevereiro com
emprego formal....................................................................................................................... 151
Imagem 18 – Contratos de trabalho encerrados por morte no Brasil – 2019 a 2021 ............. 152
Tabela 1 – Saldo de contratos celetistas em Mariana e Ouro Preto – 2019 a 2021 .................. 77
Tabela 4 – Autoavaliação sobre a CLT e a CCT dos trabalhadores entrevistados ................. 100
Tabela 6 – Nível de conhecimento da Lei 13.467/2017 dos trabalhadores entrevistados ...... 102
Tabela 8 – Dados detalhados da data de início do contrato de trabalho atual e anterior dos
trabalhadores entrevistados..................................................................................................... 109
Tabela 9 – Dados detalhados da realização de horas extras durante o pacto laboral até e após
11/11/2017 dos trabalhadores entrevistados ........................................................................... 117
1 INTRODUÇÃO
proteção trabalhista (ALVES; ALVES, 2017). Sob o enfoque social, é sabido que o Direito do
Trabalho possui raízes nas normas sociais, tanto que os direitos dos trabalhadores, urbanos e
rurais encontram-se inseridos na Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, sendo
notório os desdobramentos do trabalho em outras esferas da vida, como nas relações pessoais e
sociais do trabalhador com seus familiares e a comunidade.
Também do ponto de vista acadêmico, justifica-se a pesquisa pela pertinência e
atualidade do tema, reforma trabalhista, quando focado na perspectiva dos trabalhadores em um
contexto local/regional, bem como devido à escassez de trabalhos científicos empíricos no
Direito (IGREJA, 2017; SILVA, 2019). Além disso, tanto na perspectiva prática quanto no
debate teórico, acredita-se que o trabalho visibiliza o tema da reforma trabalhista no contexto
local/regional, campo escasso de pesquisas jurídicas. Também foi obtida grande quantidade de
dados que podem aguçar o interesse de outros pesquisadores a se debruçarem sobre o assunto,
contribuindo para uma melhor compreensão do tema, colaborando para o desenvolvimento das
relações laborais locais/regionais.
Portanto, investigar em profundidade os impactos da modificação da legislação laboral,
nas relações trabalhistas do ramo de atividade econômica (turismo, hotelaria e alimentação)
específico e valioso para os municípios mineiros de Mariana e Ouro Preto, pela perspectiva do
trabalhador, se justifica pela ampla repercussão jurídica, política, social e acadêmica que poderá
ser gerada para a Região dos Inconfidentes. Tudo isso, agora, agravado pela Pandemia da
Covid-19.
Além disso, são objetivos secundários da pesquisa: entender o caráter protetivo do
Direito do Trabalho; analisar a reforma trabalhista de 2017 e suas principais transformações
normativas; coletar dados que evidenciem as percepções dos trabalhadores e compreender os
impactos das mudanças a partir dos dados obtidos. Nesse contexto, para atingir tais objetivos,
realizou-se uma pesquisa de cunho jurídico-sociológica/social, em que o fenômeno jurídico é
analisado no ambiente social, nas interações e contradições da relação direito/sociedade. Uma
pesquisa empírica com aplicação de questionário ao grupo de trabalhadores específicos, na
medida em que sua prestação de serviços se dá no setor de turismo, hotelaria e alimentação; e,
em locais específicos, os municípios de Mariana e Ouro Preto.
Trata-se de pesquisa do tipo jurídico-descritiva/diagnóstica, uma abordagem com a
finalidade de apresentar características, percepções e descrições do problema jurídico
pesquisado. No capítulo 2, designado “Metodologia”, estão apresentadas de forma detalhada as
etapas e os aspectos metodológicos norteadores da pesquisa, o caminho de produção do
conhecimento.
20
2 METODOLOGIA
Por certo, não é somente pelo saber científico, por meio de pesquisas e investigações,
que se produz conhecimento, mas também por qualquer pessoa através de suas vivências e
experiências cotidianas. Esta última situação, contudo, diferencia-se da produção de
conhecimento científico pelo fato de não haver “[...] necessidade de ser sistemática ou de se
fundamentar numa teoria crítica” (GUSTIN; DIAS; NICÁCIO, 2020, p. 43). Também não se
deve hierarquizar os saberes de forma apriorística (SILVA, 2019).
Na dissertação de mestrado deve-se apresentar formalmente o estudo reflexivo acerca
de um problema complexo, o que exige a adoção de metodologia própria dos trabalhos
científicos, estando os dados sistematizados, ordenados e interpretados (MARCONI;
LAKATOS, 2021). Desse modo, a escolha dos procedimentos científicos da pesquisa que
permitem a sistematização ganha relevo e destaque. As professoras Miracy Barbosa de Sousa
Gustin, Maria Tereza Fonseca Dias e Camila Silva Nicácio (2020) apresentam três elementos
condicionadores para esta escolha em uma pesquisa jurídica: 1) a estreita relação entre a
realidade jurídica e as relações econômica, política, ética e ideológica; 2) o olhar crítico dos
institutos jurídicos positivados, que acabam por manter o status quo, desconsiderando as
demandas de transformações sociais; e 3) a adoção político-ideológica da realidade ao se optar
pela metodologia adotada. Para as autoras, essa adoção permite distanciar-se da racionalidade
formalista, com a produção de um conhecimento jurídico abrangente, crítico, inter ou
transdisciplinar, atento às demandas e reivindicações sociais.
1
BOTOMÉ, Silvio Paulo; KUBO, Olga Mitsue. Ciência e Senso comum: contrastes de duas formas de conhecer
como recursos para construção de conhecimento no trabalho científico e na vida cotidiana. Universidade Federal
de Santa Catarina, Florianópolis, 2001.
23
Como explica Gustin, Dias e Nicácio (2020, p. 43): “[...] uma pesquisa científica se
origina sempre de uma indagação, de uma questão posta pelo pesquisador, sem solução
imediata”, não se trata apenas de procurar a verdade, mas da busca de respostas para as
indagações, baseada em procedimentos científicos (MARCONI; LAKATOS, 2021). No caso
deste trabalho, a pergunta inicial, em 2019, era: Quais são, na percepção dos trabalhadores, os
impactos da reforma trabalhista2 já sentidos nas relações de emprego3 acerca do contrato de
trabalho, da duração do trabalho e da remuneração do trabalho, nos ramos de turismo,
hotelaria e alimentação nos municípios mineiros de Mariana e Ouro Preto?
Para responder a essa questão, buscava-se desenvolver uma pesquisa empírica, “de
campo”, com aplicação de questionário a um grupo destes trabalhadores dos referidos
municípios mineiros. Daí seu cunho jurídico-sociológico (vertente jurídico-social), por se tratar
de uma metodologia que se aproxima do sujeito, analisando os fenômenos jurídicos na
amplitude do ambiente social, com as interações e contradições entre o Direito e a sociedade
(GUSTIN; DIAS; NICÁCIO, 2020; SILVA, 2019).
2
Aqui a reforma trabalhista era entendida como sinônimo da Lei 13.467, de 13 de julho de 2017.
3
Depois, ocorreu a mudança para relações laborais, ampliam o escopo da pergunta de modo a abarcar
trabalhadores, formais e informais.
24
Desse modo, a coleta das informações obtidas com a aplicação dos questionários e a
sistematização desses dados é apenas uma das etapas do desenvolvimento da pesquisa empírica,
uma vez que a interpretação dos dados obtidos, juntamente, com o arcabouço teórico, se mostra
essencial para o sucesso da investigação científica, o que ocorrerá no capítulo 5.
Apesar das pesquisas empíricas terem como finalidade o aprendizado de uma realidade,
é notória sua escassez nas ciências jurídicas quando comparado com as demais ciências sociais.
De todo modo, na América Latina ganha relevo, na década de 1980, os estudos empíricos sobre
4
LEEUW, Fraz L.; SCHMEETS, Hans. Empirical Legal Research: a gundance book for lawyers, legislators and
regulators. USA/UK: EElgar, 2016.
25
o pluralismo jurídico dos povos originários (IGREJA, 2017; SILVA, 2019), enquanto, no
Brasil, observa-se um crescimento das pesquisas empíricas, podendo citar as experiências da
Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), articulando atividades
de pesquisa e extensão, com relevante destaque para o Programa Pólos de Cidadania5, fundado
em 1995; e, também, a criação da Rede de Estudos Empíricos em Direito6 (REED). No âmbito
das relações laborais, são exemplos os trabalhos realizados pelo Centro de Estudos Sindicais e
de Economia do Trabalho7 (CESIT); e mais especificamente, acerca da reforma trabalhista,
cerne desta pesquisa, a louvável iniciativa da Rede de Estudos e Monitoramento Interdisciplinar
da Reforma Trabalhista8 (REMIR).
Nesse âmbito, para alcançar os objetivos da pesquisa, serão utilizadas diversas
estratégias metodológicas, sendo a principal delas, o survey9. Nesse tipo de estratégia
metodológica os dados e informações são obtidos normalmente por meio da aplicação de
questionário com questões predominantemente objetivas e alternativas predefinidas
(padronizadas) de respostas para um grupo de indivíduos representantes de uma população-
alvo10. Assim, é possível a generalização dos resultados para toda a população, com as respostas
de um grupo (amostra) dessa população. Entretanto, não há óbice quanto à existência de
perguntas “abertas”, nas quais não existe padronização das respostas ao serem apresentadas aos
entrevistados, permitindo a estes discorrerem de forma espontânea sobre a pergunta (GUSTIN;
DIAS; NICÁCIO, 2020; RIBEIRO; VILLAROUCA, 2019; SILVA, 2019).
Deve-se ainda, considerar a abrangência e seleção da amostra, a elaboração das
perguntas e sua percepção pelos entrevistados e os procedimentos para coleta das respostas e
parâmetros de análise como os principais desafios do survey (GUSTIN; DIAS; NICÁCIO,
2020). Em relação à abrangência da pesquisa, é rara a possibilidade de se aplicar o questionário
para todo o universo pesquisado, ou seja, todas as pessoas (população), sendo necessário eleger
5
Para maiores informações acerca do Programa Pólos de Cidadania: https://polos.direito.ufmg.br/
6
Para maiores informações acerca da Rede de Estudos Empíricos em Direito (REED): https://reedpesquisa.org/
7
Para maiores informações acerca do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho (CESIT):
https://www.cesit.net.br/
8
Para maiores informações acerca da Rede de Estudos e Monitoramento Interdisciplinar da Reforma Trabalhista
(REMIR): https://www.eco.unicamp.br/remir/
9
Nessa dissertação utilizar-se-á o termo em inglês remetendo-se à sua origem, nos EUA, em meados do Século
XX, e à pouca difusão da tradução do termo para o português (GUSTIN; DIAS; NICÁCIO, 2020). Ressalte-se que
Ribeiro e Villarouca (2019) utilizam survey ou entrevista estruturada.
10
Lakatos e Marconi (2021, p. 123) esclarecem: “Universo ou população é o conjunto de seres animados ou
inanimados que apresentam pelo menos uma característica em comum”.
26
parte do universo pesquisado, com a seleção da amostra11, que “[...] constitui uma porção ou
parcela, convenientemente selecionada do universo (população): é um subconjunto do
universo” (LAKATOS; MARCONI, 2021, p. 123).
Outro ponto central do survey diz respeito ao questionário12, este deve ser bem
construído, de acordo com o tema problema, os objetivos e o marco teórico da pesquisa. As
perguntas devem considerar se a terminologia é adequada e compreensível do público-alvo, se
a ordem das perguntas e as alternativas pré-estabelecidas não direcionam o entrevistado, além
da realização de pré-teste para verificação da construção do questionário (GUSTIN; DIAS;
NICÁCIO, 2020; RIBEIRO; VILLAROUCA, 2019). Em síntese, quando da formulação das
perguntas deve-se ter atenção se
(a) a pergunta precisa ser compreendida consistentemente; (b) a pergunta precisa ser
comunicada consistentemente; (c) as expectativas quanto à resposta adequada
precisam ser claras para o respondente; (d) a menos que esteja verificando
conhecimento prévio, os respondentes devem ter todas as informações necessárias; e
(e) os respondentes precisam estar dispostos a responder (GUSTIN; DIAS; NICÁCIO,
2020, p. 163).
11
Na presente pesquisa foi contratado pelo pesquisador/mestrando uma equipe de profissionais de estatística com
fins de obter a amostra correta do universo pesquisado, como será detalhado no tópico 2.2.
12
O questionário desta pesquisa pode ser encontrado no apêndice a.
13
ROTH, Michael. Validating the use of Internet survey techniques in visual landscape assessment-An empirical
study from Germany. Landscape and Urban Planning, v. 78, n. 3, p. 179-192, 2006.
27
resposta obtida do entrevistado. Nesse tipo de coleta costuma-se obter melhores resultados,
pois, o entrevistador poderá esclarecer alguma dúvida do entrevistado e tornar fidedigna a
resposta, entretanto, tem como desvantagens o custo elevado e uma possível interferência nos
resultados finais, caso o entrevistado queira dar respostas socialmente desejáveis a depender
das características do entrevistador (gênero, raça, aparência socioeconômica) (GUSTIN; DIAS;
NICÁCIO, 2020; RIBEIRO; VILLAROUCA, 2019). Nesse caso, para evitar a distorção dos
dados coletados é fundamental “[...] treinar a equipe de aplicadores do questionário para que
saibam os objetivos da pesquisa, compreendam o instrumento de coleta de dados e que tipo de
informação ela pode ou não prestar para os entrevistados” (GUSTIN; DIAS; NICÁCIO, 2020,
p. 163).
Na presente pesquisa, optou-se pela aplicação de questionário presencial14 e existência
conjunta de perguntas com respostas em sua maioria, predefinidas, e outras poucas livre,
tornando a pesquisa empírica do tipo misto, adquirindo características tanto quantitativa, como
qualitativa. Sendo majoritariamente quantitativa, permite aferir dados expressos em forma
numérica, transformando informações não estruturadas nestes dados quantificáveis, o que é um
complicador para as pesquisas jurídicas na medida em que as normas jurídicas e as decisões
judiciais se apresentam em formato textual, tornando desafiador transformar essas informações
textuais em dados numéricos e mensuráveis a serem analisados pelo pesquisador (GUSTIN;
DIAS; NICÁCIO, 2020; CASTRO, 2017; SILVA, 2019). Por outro lado, possui perguntas
qualitativas que pressupõem uma abordagem mais reflexiva e interpretativa, preocupando-se
mais com a interpretação dos dados obtidos pelo pesquisador do que com os valores estatísticos
obtidos com estes (ALYRIO, 2009).
14
Nesta pesquisa foi contratada empresa especializada para a coleta dos dados, como será detalhado no tópico 2.2.
15
GOLDENBERG, Míriam. A arte de pesquisar: como fazer pesquisa qualitativa em ciências sociais. Rio de
Janeiro: Editora Record, 2004.
28
16
“O nome Covid é a junção de letras que se referem a (co)rona (vi)rus (d)isease, o que na tradução para o
português seria “doença do coronavírus”. Já o número 19 está ligado a 2019, quando os primeiros casos foram
publicamente divulgados” (FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ, 2020).
17
Em tradução livre: coronavírus 2 da síndrome respiratória aguda grave.
29
A pesquisa empírica desenvolvida possui como foco trabalhadores atuantes nas cidades
de Mariana e Ouro Preto, em Minas Gerais, levando em consideração o segmento de turismo,
hotelaria e alimentação. Optou-se pela aplicação de questionários ao grupo de trabalhadores
(amostragem), com vista a aferir os possíveis e já percebidos impactos e percepções no
cotidiano laboral, diante das profundas alterações ocorridas na legislação trabalhista.
De início, em 2019, o principal desafio era conhecer o universo de trabalhadores
atuantes nesses segmentos econômicos, ou seja, a quantidade total de trabalhadores para que
pudesse ser feito um trabalho técnico-estatístico de delimitação da amostra. Provocado e
instigado durante as aulas de Metodologia da Pesquisa, ministrada pela professora Dra. Flaviane
de Magalhães Barros Bolzan de Morais, no Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em
Direito, “Novos Direitos, Novos Sujeitos”, da Universidade Federal de Ouro Preto
(PPGD/UFOP), diligenciou-se em órgãos públicos, institutos de pesquisa, empresariado e
sindicato da categoria local, sem sucesso imediato, o que, por si só, corrobora a dificuldade de
encontrar dados estruturados e atualizados sobre o tema pesquisado.
Por conseguinte, foi junto ao Cadastro Geral de Empregados e Desempregados
(CAGED) da Secretaria de Trabalho18, vinculada ao Ministério da Economia do Governo
18
A Medida Provisória (MP) n. 870, de 1º de janeiro de 2019, posteriormente convertida na Lei 13.844, de 18 de
junho de 2019, extinguiu o Ministério do Trabalho e criou a Secretaria de Trabalho vinculada ao Ministério da
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Federal, que se chegou ao número de total empregados atuantes nos municípios de Mariana e
Ouro Preto, em Minas Gerais, no setor de atividade econômica pesquisado. Assim, em janeiro
de 2019, analisando o perfil de cada município, existiam 3.758 pessoas formalmente
empregadas, sendo: 1.182 em Mariana e 2.576 em Ouro Preto (BRASIL, 2019).
Com base nos dados obtidos acerca da quantidade total de empregados, a EstatisJr,
empresa júnior do curso de Estatística da Universidade Federal de Ouro Preto, delimitou a
amostra estratificada, ou seja, a quantidade de questionários que deveriam ser aplicados,
considerando a margem de erro de 5% (cinco por cento) e de 10% (dez por cento). Considerando
a margem de erro de 5% (cinco por cento) deveriam ser aplicados questionários para 398
trabalhadores, 125 em Mariana e 273 em Ouro Preto; enquanto, com a margem de erro de 10%
(dez por cento), seria necessária a aplicação do questionário para 108 trabalhadores, 34 em
Mariana e 74 em Ouro Preto. Optou-se por esse último cenário, com uma razoável margem de
erro de 10%, que não comprometeria o rigor dos dados obtidos, a finalidade da pesquisa e se
adequaria ao exíguo tempo do mestrado, a quantidade de questionários a serem aplicados em
dois municípios e as peculiaridades da equipe de aplicação dos questionários, que
compreenderia o pesquisador/mestrando com auxílio de alunos da graduação selecionados, os
quais passariam por treinamento prévio necessário para aplicação dos questionários. Como
forma de preparação, acompanhamento e controle, seriam realizadas reuniões periódicas,
quinzenais.
Ato contínuo passou à elaboração do questionário, estruturado com perguntas
majoritariamente quantitativas, contando também com perguntas abertas de caráter qualitativo,
tornando o questionário do tipo misto. Nas primeiras perguntas buscou-se identificar o
trabalhador entrevistado/participante, depois passou-se a perguntas gerais sobre a atividade
laboral e o conhecimento da legislação vigente, por fim, formulou-se perguntas em um quadro
que permitisse comparar questões relacionadas ao contrato, à remuneração e duração do
trabalho nos períodos anteriores e posteriores à Lei 13.467/2017. No encerramento há um
espaço próprio para possíveis observações dos entrevistados, caso julgassem pertinente. O
questionário completo pode ser encontrado no apêndice a e foi estruturado para que as questões
fossem respondidas em cerca de 15 (quinze) minutos, conforme testes preliminares.
Após a delimitação da amostra, a elaboração do questionário e os ajustes finais no
projeto realizados no 1º semestre letivo do PPGD/UFOP, devido à opção de coleta de dados
Economia. Agora, em 27 de julho de 2021, a MP n. 1.058, alterou a supramencionada Lei e recriou o Ministério
do Trabalho e Previdência.
31
Ademais, sinalizou que o acesso e a análise dos dados coletados são feitos
exclusivamente pelo pesquisador/mestrando e seu orientador. Tais dados permanecem
confidenciais mesmo ao fim da pesquisa, sendo o responsável pelo armazenamento dos
questionários o mestrando, como forma de garantir o sigilo das informações e documentos.
Essa submissão se deu no início do 2º semestre de 2019, tendo sido aprovado já no
primeiro parecer do CEP/UFOP ainda em 2019 (Anexo A). Ao iniciar os preparativos para a
seleção de alunos colaboradores para aplicação dos questionários, percebeu-se alguns pontos
de atenção e preocupação. A primeira preocupação foi o acesso a esse grupo de trabalhadores,
pretendendo-se, incialmente, valer-se do cadastro dos trabalhadores existentes no sindicato da
categoria, qual seja: Sindicato dos Empregados em Turismo, Hospitalidade, Asseio e
Conservação de Ouro Preto e Região (SETHOP). Porém, houve grande dificuldade de contato
com o ente sindical e, em deslocamento até a sede, descobriu-se estar ela inativada; por telefone,
foi informado que estava “de mudança”. Outras situações peculiares foram a atuação do
pesquisador como advogado militante na região dos inconfidentes, o que poderia ser entendido
como captação irregular de clientela, e a pouca experiência com a pesquisa de campo desse
vulto, o que poderia contaminar a amostragem e, consequentemente, invalidar os dados obtidos
com a pesquisa.
Tendo em vista que a principal estratégia metodológica da pesquisa é o survey, alertam
Gustin, Dias e Inácio (2020, p. 161): “o survey não é uma estratégia metodológica fácil de ser
realizada por pesquisadores iniciantes sem sua preparação prévia e de sua equipe”. A maior
preocupação é a distorção dos dados coletados, o que contaminaria toda a pesquisa empírica,
eis que: “[...] dependendo da forma como são trabalhados, têm potencial de afetar os resultados
do survey, desde a existência de vieses na composição da amostra e na elaboração das questões;
da forma de coleta de dados e de realização das entrevistas” (GUSTIN; DIAS; NICÁCIO, 2020,
p. 162).
Para evitar esse enviesamento, novamente, contratou-se a EstatisJr para que realizasse
a aplicação dos questionários, a tabulação e análise dos dados, bem como a apresentação do
relatório. Nesse momento, o pesquisador/mestrando realizava o levantamento bibliográfico,
com revisão de literatura com vistas a “[...] verificar o estágio teórico em que o assunto se
encontra no momento atual, com o propósito de levantar suas novas abordagens, visões,
aplicações, atualizações” (MICHEL19, 2009, p. 41 apud GUSTIN; DIAS; NICÁCIO, 2020, p.
19
MICHEL, Maria Helena. Metodologia e pesquisa científica em ciências sociais. 2ª ed. São Paulo: Atlas, 2009.
33
162) e, paralelamente, mantinha contato constante com a equipe da EstatisJr para sanar dúvidas
e questões técnico-jurídicas essenciais para a aplicação do questionário.
A previsão de aplicação dos questionários era entre o 2º semestre de 2019 e o 1º semestre
de 2020, respeitando o trabalho técnico-estatístico acima mencionado, com entrega dos dados
tabulados e do relatório em meados de abril de 2020. Começada a aplicação dos questionários
tudo acontecia dentro do planejado e previsto até que ocorreu a confirmação do primeiro caso
de COVID-19 no Brasil em fevereiro de 2020. No mês seguinte, março, a Organização Mundial
da Saúde (OMS) passou a considerar como uma doença pandêmica.
Os municípios de Mariana e Ouro Preto, locais nos quais foram aplicados os
questionários, assim como as demais cidades do país, suspenderam diversas atividades,
adotaram medidas de prevenção, controle e contenção de riscos e danos à saúde pública, com
vistas a evitar a disseminação do vírus SARS-CoV-2. Foram editados Decretos Municipais
declarando situação de emergência em saúde pública – em Mariana, o Decreto Municipal n.
10.030, de 16 de março de 2020, e, em Ouro Preto, o Decreto Municipal n. 5.660, de 19 de
março de 2020 (MARIANA, 2020; OURO PRETO, 2020). A Universidade Federal de Ouro
Preto (UFOP) suspendeu suas atividades acadêmicas, conforme decisão do Conselho
Universitário de 17 de março de 2020, ressaltando que, naquele momento, não existia “[...]
quaisquer condições de se estabelecer um prazo para que a rotina institucional se normalize”
(DAHER, 2020).
Com isso, as aplicações dos questionários pela EstatisJr. foram suspensas
temporariamente. Eram tempos de incertezas, o contato por e-mail com a empresa júnior foi
mantido e houve a ampliação do prazo de entrega do serviço, porém, no meio do ano de 2020,
ocorreu a comunicação pela EstatisJr que não seria possível dar continuidade à prestação dos
serviços contratados. Perdeu-se tempo, além dos questionários já aplicados, e iniciou-se um
calvário para o distrato do contrato do iniciado, mas não concluído. Resolvida as pendências,
para além da frustração e do tempo exíguo, se apresentaram vários dilemas: mudar a temática
ou a metodologia da pesquisa, sair a campo ou “virtualizar” a aplicação do questionário...
Optou-se pela continuidade da pesquisa, da sua metodologia e da aplicação presencial.
Após, procurar algumas empresas na região, um novo contrato foi firmado com a
empresa Giga Consultoria Ltda.20, conhecida como GIGA Instituto de Pesquisa, criada em
Minas Gerais no ano de 1999 e com vasta experiência em pesquisas de opinião. Desse modo,
os especialistas da empresa fizeram ajustes estatísticos, resultando em uma amostra final com
20
Para maiores informações: http://institutogiga.com/index.php?p=nav/contato
34
190 respondentes, com intervalo de confiança de 95% e margem de erro de 7 pontos percentuais
da amostra total. Já, em relação à amostra individual por município, tem-se 87 respondentes em
Mariana e 103 respondentes em Ouro Preto, com margem de erro de 10 pontos percentuais em
cada uma delas.
A pesquisa de campo realizada entre os meses de dezembro de 2020 e fevereiro de 2021
se mostrou longa e dificultosa diante dos cuidados necessários e impostos pela Pandemia da
COVID-19, para que fosse garantida a segurança de aplicadores e respondentes dos
questionários, concomitantemente, com a manutenção da aleatoriedade e lisura da pesquisa de
campo, permitindo obter os resultados generalizáveis e fidedignos apresentados no capítulo 6.
35
O Direito do Trabalho possui uma relação umbilical com o sistema capitalista. Nesse
sistema produtivo há a titularidade dos meios de produção por poucos sujeitos que necessitam
de uma massa de indivíduos ofertando sua força de trabalho. Surge, então, uma relação
complementar e antagônica, de oposição e exploração, na qual os trabalhadores, despossuídos
dos meios de produção, acabam por ofertar sua força de trabalho em troca de um salário para
os detentores do capital, dos meios de produção.
Essa situação pressupõe a existência de uma relação de subordinação dos empregados
para com seus empregadores, possível somente a partir da Idade Moderna, momento no qual se
pode falar em trabalho livre.
21
No mesmo sentido, o professor Maurício Godinho Delgado (2019, p. 98) explicita que as relações de escravidão
e servidão “[...] supõem a sujeição pessoal do trabalhador, não a sua subordinação”.
22
Art. 149. Reduzir alguém a condição análoga à de escravo, quer submetendo-o a trabalhos forçados ou a jornada
exaustiva, quer sujeitando-o a condições degradantes de trabalho, quer restringindo, por qualquer meio, sua
locomoção em razão de dívida contraída com o empregador ou preposto:
Pena – reclusão, de dois a oito anos, e multa, além da pena correspondente à violência.
§ 1º Nas mesmas penas incorre quem:
I – cerceia o uso de qualquer meio de transporte por parte do trabalhador, com o fim de retê-lo no local de trabalho;
II – mantém vigilância ostensiva no local de trabalho ou se apodera de documentos ou objetos pessoais do
trabalhador, com o fim de retê-lo no local de trabalho
§ 2º A pena é aumentada de metade, se o crime é cometido
I – contra criança ou adolescente;
II – por motivo de preconceito de raça, cor, etnia, religião ou origem.
37
Surge, então, o Direito do Trabalho como uma forma de reação da classe obreira “[...]
com a crescente e incontrolável exploração desumana do trabalho” (CASSAR, 2017, p. 11),
quando, em razão exclusivamente da geração de lucro da classe burguesa, aos titulares dos
meios de produção “[...] eram exigidas extensas jornadas de trabalho em condições sub-
humanas, que implicavam fadiga mental e muscular e aumentavam o número de acidentes do
trabalho, muitos deles fatais” (CAIRO JÚNIOR, 2019, 64).
Porém, não se pode olvidar do paradoxo intrínseco ao Direito do Trabalho, se por um
lado “[...] é resultado das lutas operárias empreendidas no mundo por melhores condições de
trabalho, podendo ser incluído como uma das vertentes da luta de classes na sociedade
capitalista” (REIS; COUTINHO, 2017, p. 73), acabou por servir aos interesses dos detentores
do capital impedindo que “[...] fosse colocado em xeque o seu próprio sistema econômico de
produção” (REIS; COUTINHO, 2017, p. 73).
[...] o Direito do Trabalho não apenas serviu ao sistema econômico deflagrado com a
Revolução Industrial, no século XVIII, na Grã-Bretanha; na verdade, ele fixou
controles para esse sistema, conferiu-lhe certa medida de civilidade, inclusive
buscando eliminar as formas mais perversas de utilização da força de trabalho pela
economia (DELGADO, 2019, p. 95).
Não se pode olvidar a existência de trabalho livre coexistindo com o trabalho escravo,
anterior à abolição da escravatura, todavia, a predominância da escravidão e a ausência de um
mercado consumidor interno acabou por frear o desenvolvimento do capitalismo industrial,
tornando a história das relações trabalhistas e o próprio Direito do Trabalho diferente da
experiência europeia (ALVES, 2021a). Ainda que
23
O terceiro período de evolução histórica, a fase da transição democrática propiciada pela promulgação da
Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, será objeto do tópico 3.2.
40
24
A Constituição de 1937 foi apelidada de “Polaca”.
41
O sistema corporativista implantado por Vargas para a regulação social por meio do
direito do trabalho acabou por reduzir o papel que poderia ter sido desempenhado
pelos sindicatos se houvesse o reconhecimento da luta de classes e da necessidade de
ação autônoma da classe trabalhadora para a construção de seus direitos (ALVES;
ALVES, 2017, p. 48).
De todo modo, é incorreto afirmar que os direitos trabalhistas foram recebidos como
uma benesse do presidente Getúlio Vargas, sem que tivesse ocorrido qualquer participação da
classe obreira. Esse mito da outorga acaba por relegar a segundo plano as lutas e reivindicações
de trabalhadores agindo, individualmente ou coletivamente, se organizando através de
entidades representativas de classe (sindicatos). Alessandro da Silva, ao desmistificar o mito da
outorga, é taxativo: “[...] o modelo de regulação do mercado de trabalho construído durante
esse período foi, sobretudo, uma conquista dos trabalhadores e de toda a sociedade brasileira e
não mera concessão de um estado benevolente” (SILVA, 2017, p. 47).
Segundo Amauri Cesar Alves,
brasileiro ao longo das primeiras décadas do século XX, e deve ser, em seu conteúdo
(não necessariamente em sua forma), preservada, visto constituir parte da garantia de
um patamar mínimo para a contratação de emprego (ALVES, 2021a, p. 37).
No período entre 1946 e 1985, que perpassa tanto o período conhecido como Quarta
República (ou República Populista), ocorrido entre 1946 e 1964, como a Ditadura Militar, de
1964 e 1985, apesar de não ter sofrido substancial atividade legislativa no âmbito das relações
trabalhistas, é possível encontrar algumas leis que permitiram alguns avanços e retrocessos nos
direitos trabalhistas. A título exemplificativo, durante o Governo João Goulart, houve o
aperfeiçoamento da legislação com o Estatuto do Trabalhador Rural (Lei 14.214/1963), em
contraponto, em 1964 foi promulgada a Lei 4.330 (Lei Antigreve) por Castelo Branco
(DELGADO, 2019).
Já, com a redemocratização e a promulgação da CRFB/1988 entende-se ter ocorrido
substancial modificação no ramo justrabalhista, com a constitucionalização dos direitos
trabalhistas, inaugurando-se assim uma nova fase do Direito do Trabalho no Brasil
(DELGADO, 2019), é o que será abordado no próximo tópico.
25
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito
Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:
[...]
IV – os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa
[...]
26
Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a
segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma
desta Constituição.
43
Nesse sentido, Tereza Aparecida Asta Gemignani28 (2014 apud ALVARENGA, 2020,
p. 49) é certeira ao afirmar que “num país marcado por profundas diferenças culturais,
econômicas e sociais, a constitucionalização dos direitos trabalhistas representa inequívoco
avanço institucional, ao erigir o trabalho como valor estruturante da república brasileira”.
Assim, ao eleger os valores sociais do trabalho e a livre-iniciativa como fundamentos da
República, o constituinte originário deixa claro seu conhecimento acerca da necessidade de
compensar as desigualdades existentes nas relações de trabalho no sistema capitalista, ao
mesmo tempo em que há a liberdade para contratar (CARVALHO NETTO; OLIVEIRA, 2020).
Ao tratar a valorização do trabalho humano juntamente com a livre iniciativa como
fundamentos da ordem econômica, o constituinte originário optou por explicitar a notória
tensão existente entre capital e trabalho. Uma ordem econômica cuja finalidade é assegurar a
todos, existência digna, conforme os ditames da justiça social, tendo como um de seus
princípios a busca do pleno emprego (art. 17029, caput e inciso VI, CRFB/1988, no Título VII
– Da Ordem Econômica e Financeira).
Essa tensão não passou despercebida para Menelick de Carvalho Netto e Paulo Henrique
Blair de Oliveira:
Nas esferas individual e coletiva, a “tradição brasileira” de relações de trabalho
“harmoniosas” cede ante a afirmação constitucional de que, na ordem econômica, são
princípios constitucionais tanto a liberdade de inciativa empresarial quanto a
valorização social do trabalho. A presença simultânea destes princípios significa que
eles existem em tensão (CARVALHO NETTO; OLIVEIRA, 2020, p. 107).
Entretanto, em uma democracia não se deve temer essa tensão, mas sim explicitá-la,
tornando-a conhecida para a sociedade e permitindo seu amplo e aberto debate público, pois
27
SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos direitos fundamentais: uma teoria geral dos direitos fundamentais
na perspectiva constitucional. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2008.
28
GEMIGNANI, Tereza Aparecida Asta. De algodão entre os cristais a protagonista na formação da nacionalidade
brasileira. In: GEMIGNANI, Tereza Aparecida Asta; GEMIGNANI, Daniel (Coord.). Direito constitucional do
trabalho. São Paulo: LTr, 2014.
29
Art. 170 A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim
assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:
[...]
VI – busca do pleno emprego
[...]
44
dissentir. Seu papel é torna-la visível. Deste modo, a própria sociedade poderá lidar
com os riscos que dela decorrem, sem a mutilação do processo democrático e através
de uma institucionalidade que se aperfeiçoa ante as demandas sociais. Abre-se um
debate público sobre o sentido que se atribui a cada direito fundamental
(CARVALHO NETTO; OLIVEIRA, 2020, p. 107).
Para além da constitucionalização dos direitos sociais, com destaque para o direito do
trabalho, pertinente apontar a centralidade do direito fundamental ao trabalho. Tanto que
Leonardo Vieira Wandelli, citando expressões de autores internacionais como Rafael Sastre
Ibarreche31, José Luiz Monerero Pérez e Cristóbal Molina Navarrete32, bem como Stefano
Giubboni33 afirma:
[...] o direito do trabalho é considerado pela doutrina internacional mais abalizada
como “el arquétipo de los derechos sociales” ou “o direito social por antonomásia” ou
ainda “il primo dei diritti sociali”. Sua centralidade para o discurso jurídico é afirmada
na literatura, não só por razões de ordem normativa, mas também por razões de ordem
histórica – como primeira bandeira que levou ao constitucionalismo social – e de
ordem cultural – pela necessária hierarquia valorativa que assume na “sociedade do
trabalho” (WANDELLI, 2020, p. 55-56).
30
Art. 193 A ordem social tem como base o primado do trabalho, e como objetivo o bem-estar e a justiça sociais.
31
SASTRE IBARRECHE, Rafael. El derecho al trabajo. Madri: Trotta, 1996. p. 19.
32
MONEREO PÉREZ, José Luiz; MOLINA NAVARRETE, Cristóbal. El derecho al trabajo, la libertad de
elección de prefesión u oficio: princípios institucionales del mercado de trabajo. In.: MONEREO PÉREZ, José
Luiz; MOLINA NAVARRETE, Cristóbal; MORENO VIDA, Maria Nieves (Org.). Comentario a la
Constitución socio-económica de España. Granada: Comares, 2002.
33
GIUBBONI, Stefano. II primo del diritti siciali Riflessioni sul diritto al lavoro tra Constituzione italiana e
ordenamento europeo. Informacione previdenziale, n. 3, p. 287-301, 2006. Disponível em:
http://aei.pitt.edu/13686/1/giubboni_n46-2006int.pdf.
45
Destaque também para a opção do constituinte de 1988 por enfrentar não apenas os
problemas individuais, como os problemas coletivos, produzindo uma renovação na cultura
jurídica brasileira (DELGADO, 2019), nessa perspectiva:
Gabriela Neves Delgado (2015, p. 13) ensina que “[...] o panorama constitucional de
1988 exige do intérprete a elaboração de parâmetros argumentativos que se proponham a
concretizar a inclusão social no trabalho, em condições de dignidade”. Logo,
Amauri Cesar Alves, com base na obra “Direito Fundamental ao Trabalho Digno” de
Gabriela Neves Delgado34, apresenta seis principais características do trabalho fundamental ao
trabalho digno. São elas:
[...] direito assegurado a toda e qualquer pessoa que trabalha, que deve ser vista e
reconhecida enquanto tal e não como mero instrumento de realização de lucros, que
deve ser tratada pelo Estado e pelo contratante com respeito à sua integridade física e
moral, que deve ter acesso a direitos previstos em normas autônomas ou heterônomas
que lhe garantam contraprestação pecuniária mínima por jornada razoável e
controlada, bem como a capacidade plena e efetiva de fruição de direitos
constitucionais (ALVES, 2020, p. 141).
34
DELGADO, Gabriela Neves. Direito fundamental ao trabalho digno. 2ª ed. São Paulo: LTr, 2015.
47
35
LOCKMANN, Ana Paula Pellegrina. Direitos fundamentais do trabalhador – breves considerações. In:
FREDIANE, Yone; ALVARENGA, Rúbia Zanotelli. Direitos fundamentais nas relações de trabalho. São
Paulo: LTr, 2015.
48
Com efeito, a dignidade no trabalho, está na base dos direitos laborais, não passa de
uma dimensão da dignidade humana, que está na base dos direitos humanos em geral;
a liberdade dos trabalhadores não é mais do que uma vertente da liberdade individual
em geral; a igualdade no trabalho e no emprego é somente uma declinação do
princípio geral da igualdade. Por isto, os direitos fundamentais dos trabalhadores
também são humanos a título pleno.
36
MOREIRA, Vital. Trabalho digno para todos: a “cláusula laboral” no comércio externo na União Europeia.
Coimbra: Coimbra Editora, 2014, p. 79.
37
Na citação a expressão “decent work” foi utilizada como trabalho digno. Em outros casos, é traduzida como
trabalho decente. Como apontado pelo Dr. Cláudio Jannotti da Rocha na banca de defesa desta pesquisa, em
26/11/2021, essa proteção especial a relação de trabalho pode ser compreendida sob uma perspectiva dual:
trabalho decente, pela proteção das convenções internacionais; e, trabalho digno, pelas normas protetivas
constitucionais.
38
Ironicamente, no mesmo ano em que a Lei 13.467/2017 foi promulgada no Brasil e alvo de substanciais críticas
quanto a seu papel de retrocesso nos direitos laborais, o contrário do que preconiza a Agenda 2030.
50
39
A expressão “desmercadorização do trabalho” é de Richard Hyman (HYMAN, Richard. Europerização ou
erosão das relações laborais? In: ESTANQUE, Elísio; SILVA, Leonardo Mello e; VÉRAS; Roberto; FERREIRA,
António Cassimiro; COSTA, Hermes Augusto (Org.). Mudanças no trabalho e ação sindical: Brasil e Portugal
no contexto da transnacionalização. São Paulo: Editora Cortez, 2005.
52
40
PIASNA, Agnieszka; MYANT, Martin. Introduction. In. Piasna, Agnieszka; Myant, Matin. Myths of
employment deregulation: how it neither creates jobs nor reduces labour market segmentation. Brussels. ETUI.
2017.
54
Na Alemanha, as reformas propostas a partir dos anos 2000 tiveram como escopo central
a priorização dos contratos atípicos, que se caracterizam pelo menor grau de proteção aos
trabalhadores, assim diminuíram as restrições e regulações dos contratos por prazo fixo,
permitindo a contratação de temporários para todos os setores da economia por até 18 meses.
Em outra ponta, aumentaram o tamanho da firma de 5 para 10 empregados para que pudesse
ser elegível a proteção contra a despedida dos seus trabalhadores. Cabe ressaltar que, no
mercado de trabalho alemão, existe um alto grau de proteção aos empregos dos contratos
regulares, nos quais há diversas barreiras contra a dispensa individual e coletiva, por outro lado,
a proteção aos trabalhadores cai consideravelmente nos contratos atípicos, especialmente, após
1990 (SALAS; PERNÍAS, 2017).
Percebe-se nos anos 2000 uma diminuição na taxa de desemprego, o que poderia ser
analisado como um ponto positivo das reformas propostas, contudo, ao se destrinchar os dados
atinentes aos empregos gerados, vê-se que um aumento de 3,4 milhões de empregos de tempo
parcial, incidindo tanto em trabalhadores de baixa qualificação, eram 31,3% em 2001 e passa
para 39,9% em 2007, como em trabalhadores com maior instrução profissional de 19,5% para
25% no mesmo período. Frise-se, “[...] mais de 60% dos empregos criados entre 2000 e 2015
estão nas categorias de contratos temporários, contratos de prazo fixo, pequenos serviços ou
trabalho de 20 horas por semana (meio período)” (SALAS; PERNÍAS, 2017, p. 6).
Logo, verifica-se uma substituição dos empregos regulares pelos contratos atípicos,
pois, “[...] as reformas que diminuíram a proteção legal aos trabalhadores forçaram tanto os
empregados, bem como os desempregados, a aceitar – ou manter – trabalhos precarizados, o
que corrobora para aumentar a desigualdade salarial e empregos atípicos” (JAEHRLING41,
2017 apud SALAS; PERNÍAS, 2017, p. 7).
Essa abundância de contratos atípicos e trabalhos precarizados também se observa na
Espanha que, desde 1980, já realizou mais de 50 reformas. A reforma de 1984 permitiu a
41
JAEHRLING, Karen. The atypical and gendered ‘employmet miracle’ in Germany: a result of employment
protection reforms or long-term structural changes? In. Piasna, Agnieszka; My ant, Matin. Myths of employment
deregulation: how it neither creates jobs nor reduces labour market segmentation. Brussels. ETUI. 2017.
55
contratação de temporários para qualquer tipo de trabalho e setor econômico, fazendo com que
nos dez anos seguintes, um terço da força de trabalho fosse de contratos temporários. Pior, a
maior parte dos empregos temporários são de curta duração, 25% eram de menos de 7 dias,
enquanto, apenas 0,4% eram de mais de um ano, em outubro de 2014. Em relação ao emprego
total, antes da crise de 2008, os trabalhos em tempo parcial correspondiam a 11% e passaram
para 16% em 2015, com o alarmante dado que desse total de trabalhadores, 62% só trabalham
nesse regime de tempo parcial porque não conseguem emprego regular, em tempo integral, o
que demonstra haver não uma opção por parte do trabalhador pelo trabalho parcial, mas sim
uma imposição diante da realidade do mercado de trabalho precarizado (BUSTILLO;
ESTEVE42, 2017; BUSTILLO; HERNANDEZ43, 2016 apud SALAS; PERNÍAS, 2017).
É possível concluir,
42
BUSTILLO, Rafael Muñoz de; ESTEVE, Fernando. The neverending story. labour market deregulation and the
performance of the spanish labour market. In: Piasna, Agnieszka; Myant, Matin. Myths of employment
deregulation: how it neither creates jobs nor reduces labour market segmentation. Brussels. ETUI. 2017.
43
BUSTILLO, Rafael Muñoz de; HERNANDÉZ, Fernando Pinto (2016) Reducing precarious work in Europe
through social dialogue: precarious employment in Spain, Brussels. http://www.research.mbs.ac.uk/
44
FANA, Marta; GUARASCIO, Dario; CIRILLO, Valeria. The crisis and labour Market reform in Italy: a regional
analysis of the job act. In. Piasna, Agnieszka; Myant, Matin. Myths of employment deregulation: how it neither
creates jobs nor reduces labour market segmentation. Brussels. ETUI. 2017.
56
45
GRIMSHAW, Damian; JOHNSON, Mat; KEIZER, Arjan; RUBERY, Jill. The governance of employment
protection in the UK: how the state and employers are undermining decent standards. In. Piasna, Agnieszka;
Myant, Matin. Myths of employment deregulation: how it neither creates jobs nor reduces labour market
segmentation. Brussels. ETUI. 2017.
46
Esse tipo de contrato de trabalho foi introduzido na legislação trabalhista brasileira, sendo uma das inovações
trazidas pela Lei 13.467/2017, com o contrato de trabalho intermitente.
57
No Chile, também, foi percebida essa precarização das relações de trabalho com as
alterações legislativas implementadas por Pinochet, após a derrubada de Allende em 1973,
especialmente com o Código Trabalhista de 1979. Neste diploma legal eliminou a face protetora
dos direitos dos trabalhadores, tendo como alguns exemplos das mudanças: a permissão de
negociação coletiva de grupos autônomas, sem a participação do ente sindical; a possibilidade
de substituição de trabalhadores em greve; a facilitação das despedidas diante da necessidade
da empresa, ou por força maior; a introdução de novas formas e o elastecimentos das jornadas
de trabalho; dentre outras alterações correlatas (SALAS; PÉRNIAS, 2017; BIAVASCHI;
DROPPA; ALVARENGA; COELHO; PERNÍAS, 2017).
O impacto negativo dessas mudanças nas relações trabalhistas chilena, exaltado pelos
economistas neoliberais, que consideram o Chile um exemplo da vanguarda na modernização
das leis trabalhistas, ainda hoje é sentido pelos trabalhadores chilenos, mesmo com os tímidos
avanços e as tentativas de reversão da legislação trabalhista durante o período de
redemocratização, com vistas a restabelecer uma tela de proteção dos direitos trabalhistas
(SALAS; PÉRNIAS, 2017; BIAVASCHI; DROPPA; ALVARENGA; COELHO; PERNÍAS,
2017). Assim, “os resultados são um enorme grau de precariedade e grande parte dos
58
trabalhadores auferindo não mais que o salário mínimo – num país de elevado custo de vida”
(SALAS; PÉRNIAS, 2017, p. 3).
Por fim, na Argentina, segundo BIAVASCHI, DROPPA, ALVARENGA, COELHO,
PERNÍAS (2017), o processo de reforma trabalhista pode ser compreendido e dividido em três
períodos:
1991 a 2001: caracterizado por medidas de flexibilização e descentralização da
negociação coletiva, eliminação da ultratividade dos convênios coletivos, e
implantação dos contratos precários atípicos, com ênfase à terceirização;
2002-2015: período caracterizado pela re-regulação via lei de ordenamento nº 25.877
que dispôs sobre a centralização da negociação coletiva, a ultratividade dos convênios
coletivos, a formalização da negociação coletiva ampliada;
2015 até hoje: caracterizada pela Reforma da lei dos riscos do trabalho e que se a
caracteriza pela extrema agressividade do governo contra os sindicatos, e ataques
contra a negociação coletiva centralizada (BIAVASCHI; DROPPA; ALVARENGA;
COELHO; PERNÍAS; 2017, p. 21).
47
Os países estrangeiros pesquisados foram: Alemanha, Reino Unido, Itália, Espanha, Chile e México (SALAS;
PERNÍAS, 2017).
59
Corroborando com essa conclusão, Magda Barros Biavaschi, Alisson Droppa, Ana
Paula Alvarenga, Elaine D’ávila Coelho e Tomás Rigoletto Pernías48, sintetizam:
Partindo-se desse panorama geral acerca das reformas trabalhistas, no próximo tópico
será abordada a reforma trabalhista no Brasil, com ênfase para as mudanças legislativas
ocorridas em 2017 no que tange aos direitos individuais trabalhistas.
48
Nesse caso, além de Alemanha, Reino Unido, Itália, Espanha, Chile e México, houve ainda a análise das
alterações legislativas ocorridas na Argentina, que apresenta similaridade tanto nos objetivos prometidos como
nos resultados insuficientes, quando não inexistentes dos demais países (BIAVASCHI; DROPPA;
ALVARENGA; COELHO; PERNÍAS, 2017).
49
Apesar das semelhanças com as experiências internacionais, é essencial perceber que a reforma trabalhista
brasileira vai além das demais experiências internacionais, na medida em que nestas há retiradas de direitos, mas
não renegam os direitos como no caso brasileiro. Aqui, ocorreu uma “deforma trabalhista”, nas palavras do Dr.
Cláudio Jannotti da Rocha, por ocasião da banca de defesa desta pesquisa em 26/11/2021.
60
50
Essa visão sobre a Lei 13.429/2017 foi exposta pelo Dr. Cláudio Jannotti da Rocha, na banca de defesa desta
pesquisa, em 26/11/2021, merecendo o acréscimo na dissertação final.
51
Essa compreensão da Lei 13.467, de 13 de julho de 2017, não como “a” reforma trabalhista, mas sim como um
processo, foi pontuada e esmiuçada, com primor, pelo professor Dr. Cléber Lúcio de Almeida, membro da banca
de defesa do mestrado do PPGD/UFOP de Thiago Henrique Lopes de Castro, tendo como orientador o Dr.
Amauri Cesar Alves, em 20/05/2020.
52
Essa diferenciação técnica é feita por autores como (DELGADO, 2019; ALVES; CASTRO, 2018).
53
Como já mencionado, melhor seria chamar de reforma trabalhista de 2017, como é feito ao longo dessa
dissertação.
61
Rogério Marinho, relator do Projeto de Lei 6787/2016, que resultou na reforma trabalhista de
2017:
A modernização de nossa Lei trabalhista vem, portanto, com o objetivo de racionalizar
as relações de trabalho no Brasil, trazendo segurança jurídica para quem empreende,
mantendo todos os direitos do trabalhador, dinamizando as formas de contratação e
ampliando o acesso das pessoas ao mercado formal de trabalho garantindo as
proteções básicas previstas no texto constitucional (MARINHO, 2017, [s.p]).
Nelson Mannrich (2018, p. 10) afirma não ter havido efetivamente uma reforma
trabalhista, na medida em que “[...] não foi alterado o modelo de relações trabalhistas, que
continua o mesmo, marcado pelo autoritarismo e intervencionismo do Estado”, sugerindo o
aprofundamento das alterações legislativas.
Talvez essa Lei tenha conseguido provocar um sentimento inusitado: que se está
distante de uma CLT não adequada aos interesses dos atores sociais – por mais gosto
que os operadores do direito tenham em manuseá-la – ao contrário, estes, os atores
sociais, parecem que devem estar a serviço da CLT (MANNRICH, 2018, p. 10).
Para o autor as inúmeras mudanças nas regras trabalhistas trazidas pela Lei 13.467/2017
são insuficientes, apesar de sinalizar um começo de mudança que deve ser do modelo atual
vigente apto a promover os valores do trabalho e a livre iniciativa (MANNRICH, 2018). Essa
posição é combatida pelos opositores da reforma trabalhista de 2017, estes se posicionam de
forma diametralmente oposta e asseveram “[...] a reforma que altera substancialmente as
condições sob as quais se estrutura o mundo do trabalho em nosso país (KREIN; GIMENEZ,
2018, p. 15).
[...] ela constitui um sistema que amplia o poder e a liberdade do capital para
determinar as condições de contratação, uso e remuneração do trabalho. sua
contraface é deixar o trabalhador em uma condição de maior insegurança,
vulnerabilidade e risco, com consequências negativas sobre a vida pessoal, familiar e
social. A viabilização desse novo padrão requer fragilizar, não somente os direitos
inscritos no arcabouço legal institucional, bem como esvaziar as instituições públicas
responsáveis em assegurar a efetivação dos direitos. Na mesma perspectiva,
enfraquece os sindicatos e descentraliza as negociações coletivas (KREIN;
GIMENEZ, 2018, p. 15).
Nessa premissa, a reforma trabalhista de 2017 deve ser tratada como mais um capítulo
tenebroso na história do Direito do Trabalho no Brasil, com a modificação de mais de 200
comandos legais, com flagrante viés de flexibilização e desregulamentação trabalhista, de modo
a atender exclusivamente aos interesses do capital, resultando em retrocesso e precarização de
direitos da classe trabalhadora. Como exposto de forma contundente por Amauri César Alves
(2018, p. 9): “se antes havia um Direito do Trabalho caracterizado como mínimo, agora o que
resta é um Direito do Capital, potencializado perigosamente”.
Cláudio Jannotti da Rocha e Ailana Ribeiro enfatizam que, desde seus primórdios,
63
54
MAIOR, Jorge Luiz Souto. A pequena política do grande capital: “reformas a qualquer custo”. 2017.
Disponível em: <http://www.jorgesoutomaior.com/blog/a-pequena-politica-do-grande-capital-reformas-a-
qualquer-custo>. Acesso em: 2 jul. 2017.
64
Há, portanto, em todo o discurso dos apoiadores da Reforma Trabalhista uma tática para
impor um posicionamento político, com uma proposta de viés neoliberal, motivo pelo qual as
práticas discursivas do sindicato patronal devem ser vistas não como meros enunciados, mas
sim como resultantes de relações de poder, como pensado por Michel Foucault, buscando
encontrar a intencionalidade do sujeito falante.
O tipo de análise que eu pratico não se ocupa do problema do sujeito falante, mas
examina as diferentes maneiras pelas quais o discurso cumpre uma função dentro de
um sistema estratégico onde o poder está implicado e pelo qual o poder funciona. O
poder não está, pois, fora do discurso. O poder não é nem a fonte nem a origem do
discurso. O poder é algo que funciona através do discurso, porque o discurso é, ele
mesmo, um elemento em um dispositivo estratégico de relações de poder
(FOUCAULT, 2006, p. 253).
Por certo, outros elementos e táticas foram utilizados nesse jogo de poderes55
relacionados à reforma trabalhista de 2017, pois, como sabido
55
Um relato detalhado da tramitação da reforma trabalhista e os jogos de poderes que a envolveram pode ser
consultado em Jorge Luiz Souto Maior e Bruno Gilga Sperb Rocha (2017, p. 15-28).
65
Deslocamento in- terno Súmula n. 429, TST Proposta 14 Art. 58, § 2º, CLT
Compensação de
Súmula n. 85, TST Proposta 09 Art. 59-A, CLT
jornada
12 x 36 sem intervalo Súmula n. 444, TST Proposta 06 Art. 59-B, CLT
12 x 36 sem dobra do
Súmula n. 444, TST Proposta 10 Art. 59-B, CLT
feriado
Descaracterização da Art. 59-C, parágrafo
Súmula n. 85, IV, TST Proposta 05
compensação único, CLT
Pagamento parcial de
Súmula n. 437, I, TST Proposta 07 Art. 71, § 4º, CLT
intervalo suprimido
Equiparação, P.C.S. e
Súmula n. 06, inciso I Proposta 22 Art. 461, CLT
homologação
Ultratividade da norma Art. 614-B, parágrafo
Súmula n. 277, TST Proposta 04
coletiva único, CLT
Perícia e sucumbência Súmula n. 457, TST Proposta 84 Art. 790-B, CLT
Propostas
Intervalo de 30 minutos Súmula n. 437, II, TST Art. 611-A, III, CLT
01 e 13
Jornada, saúde e Art. 611-B, parágrafo
Súmula n. 437, II, TST Proposta 01
segurança único, CLT
Sobreaviso Súmula n. 428, TST Proposta 16 Art. 611-A, III, CLT
Ponto eletrônico Súmula n. 338, TST Proposta 98 Art. 611-A, X, CLT
Terceirização em
Súmula n. 331, TST Proposta 19 Lei nº 6.019/1974
qualquer atividade
Horas “in itinere” Súmula n. 90, TST Proposta 28 Art. 58, § 2º, CLT
Banco de Horas
Súmula n. 85, V, TST Proposta 09 Art. 59, § 5º, CLT
individual
Fonte: Grupo de Estudos de Direito do Trabalho da UFOP (ALVES, 2018, p. 3-4).
66
“101 PROPOSTAS DA
TEMA Lei 13.467/2017
CNI”
Restrição do sistema de cotas Proposta 43, 44, 45, 46, 66 Art. 611-A, XII, CLT
Assim, como percebido por Amauri César Alves (2018, p. 5): “[...] a Reforma
Trabalhista tem autor, tem dono, tem patrocinador. Tem também foco e alvos que foram
atingidos: a CLT e a face mais progressista da jurisprudência do TST”. Tratou-se de uma
estratégia capitalista de culpabilização do Direito do Trabalho, pois
[...] apesar da existência de uma ampla legislação social e trabalhista, não foi
constituído um sistema de direitos e proteções para o conjunto dos trabalhadores.
Prevaleceu um mercado de trabalho pouco estruturado, com alta informalidade,
baixos salários, alta rotatividade e desigual distribuição dos rendimentos do trabalho.
Apesar disso, a lógica da reforma trabalhista apresenta o mesmo sentido de
flexibilização das relações de trabalho e de fragilização da proteção da proteção social
[...] (KREIN; TEIXEIRA, 2020, p. 52).
56
RAMOS FILHO, Wilson. Direito capitalista do trabalho: histórias, mitos e perspectivas no Brasil. São Paulo:
LTr., 2012.
68
Houve profunda alteração nas regras referentes à duração do trabalho, momento no qual
o empregado, devido ao vínculo laboral, permanece à disposição ou executa ordens do seu
empregador. Trata-se de um dos pilares do contrato de trabalho, juntamente, com a remuneração
(DELGADO; DELGADO, 2017a). Maurício Godinho Delgado e Gabriela Neves Delgado
sublinham a importância da duração do trabalho
de seus efeitos em outras parcelas, o dito efeito expansionista (ALVES, 2021b). Ao comentar
a regra, Amauri Cesar Alves (2021b, p. 82) afirma: “há clara infração a garantias trabalhistas
fundamentais, principalmente no que tange à saúde mental e física do empregado, protegida
pelo inciso XXII do artigo 7º da Constituição da República, sendo inconstitucional [...]”.
No âmbito dos contratos individuais do trabalho, destaca-se a criação de modalidade: o
contrato de trabalho intermitente, quiçá, o símbolo da precarização da reforma trabalhista de
2017, que pode ser conceituado como:
O trabalho intermitente também é conhecido como trabalho “zero hora” por representar
uma absoluta sensação de imprevisibilidade e instabilidade ao trabalhador. Este, não possui
garantia de trabalho, podendo ou não ser chamado a laborar, e consequentemente, não tem
certeza quanto à sua remuneração. Desse modo, “[...] busca romper com dois direitos e garantias
justrabalhistas importantes, que são a estrutura central do Direito do Trabalho: a noção de
duração do trabalho (e de jornada) e a noção de salário” (DELGADO; DELGADO, 2017a, p.
154).
Noutro giro, cumpre esclarecer que a Lei 13.467/2017 modificou normas relacionadas
à composição do salário e à natureza de verbas trabalhistas, que ao serem transformadas em
natureza indenizatória, retiram o efeito expansionista, como acima já mencionado. Novamente,
a mudança causa prejuízo ao trabalhador, tendo o objetivo de reduzir o custo trabalhista do
empregador, como é o grande foco na maior parte das disposições contidas na reforma
trabalhista de 2017 (DELGADO; DELGADO, 2017a). A título de exemplo, os abonos e as
férias, pagas pelo empregador em decorrência da relação labora ao trabalhador, portanto, claro
seu caráter de contraprestação e a natureza salarial, tiveram expressa e artificialmente retirada
a sua natureza (DELGADO; DELGADO, 2017a).
Em sínteses, com as alterações no direito individual do trabalho, a reforma trabalhista
de 2017, busca: minimizar ou, se possível, eliminar a correlação tempo de
trabalho/disponibilidade e retribuição salarial, desconsiderar a correlação entre as regras de
duração do trabalho e de saúde e segurança do trabalho, inserir novas situações ensejadoras de
70
A reforma trabalhista de 2017 foi propagada tanto pelo Governo quanto pelo
empresariado como capaz de modernizar e flexibilizar as relações de trabalho, sendo
fundamental para resolver o problema do desemprego, impulsionar o crescimento econômico e
gerar milhões de empregos. A expectativa era criar 2 milhões de empregos formais nos anos de
2018 e 2019, quiçá, 6 milhões de novas vagas em 3 a 5 anos após a reforma trabalhista (MAIA,
2017). Entretanto, como já visto nesse próprio capítulo 4, nas demais reformas trabalhistas
inspiradas no receituário neoliberal ocorridas ao redor do mundo, não logrou êxito.
Os estudos de Foucault acerca das relações de poder são relevantes para entender as
várias nuances e modos em que o poder é exercido sobre a sociedade. Se no século XVII
imperava o poder disciplinar, voltado para o corpo individual; durante os séculos XVIII e XIX
aparece a biopolítica cujo poder normalizador, regulamentador foca no corpo populacional
(DUARTE, 2008). As diferenças de formas de exercício do poder são:
Foucault interessa-se, então, pelas formas flexíveis e sutis de controle e governo das
populações e dos indivíduos, tal como elas se exercem por meio das regras da
economia do mercado mundializado, para além dos domínios limitados da soberania
política tradicional: “É preciso governar para o mercado, em vez de governar por
causa do mercado” (DUARTE, 2008, p. 7).
Desse modo, o objetivo – ainda que não explicitado – da reforma trabalhista de 2017
era “implantar um gerenciamento planificado da vida das populações” (DUARTE, 2008, p. 3).
Sendo a população entendida por Foucault (2008, p. 56) “[...] tanto como objeto, isto é, aquilo
71
sobre o que, para o que são dirigidos os mecanismos para obter sobre ela certo efeito, [quanto
como] sujeito, já que é a ela que se pede para se comportar deste ou daquele jeito”.
Buscava-se, assim, controlar e normalizar as estatísticas de desemprego, mantendo as
médias em um ponto considerado como ideal, “ótimo” sob o ponto de vista do “mercado”. Até
porque “o desemprego é antes de tudo uma categoria de ação, feita por reformadores sociais,
sendo estes orientados para a intervenção pública, para uma concepção estatística e
macrossocial, associando o desemprego a um risco social” (OSHIRO; MARQUES, 2017, p.
84).
Em 201957, passados 2 anos da reforma trabalhista, a taxa de desemprego permaneceu
praticamente inalterada, 12% em 2017 e 11,8% em 2019, ou seja, uma redução de 0,2%, incapaz
de alterar o dramático cenário do trabalho no país, como evidencia a imagem abaixo.
57
Optou-se pela limitação da análise nesse tópico ao ano de 2019, evitando a influência dos efeitos deletérios do
período pandêmico no mercado de trabalho.
72
O desemprego não é uma bolha que se formou nas relações de trabalho e que poderia
ser reabsorvido. Começa a tonar-se claro que a precarização do emprego e do
desemprego se inseriram na dinâmica atual da modernização. É consequência da
estruturação do emprego, a sombra lançada pelas reestruturações industriais e pela
luta em favor da competitividade (CASTEL59 apud OSHIRO; MARQUES, 2017, p.
88).
58
CASTEL, Robert. As metamorfoses da questão social: uma crônica do salário. 10.ed. Petrópolis, RJ: Editora
Vozes, 2012.
59
Ibid.
73
A alteração legal é justificada com o argumento de que pode gerar novos postos de
trabalho. A questão é justamente que tipo de vínculo seria criado, pois da forma como
previsto, se aplicado sem a necessária contaminação pelas normas e princípios que
orientam e justificam o Direito do Trabalho, exigiria dos empregados que
mantivessem pelo menos quatro ou cinco vínculos, para que pudessem ter alguma
previsibilidade de remuneração (e contribuição previdenciária) suficiente para sua
subsistência física. Então, o que aparentemente é apontado como uma vantagem,
concretamente apresenta-se como a mágica da multiplicação dos postos de trabalho
sem aumentar, de fato, o número de empregados, podendo até, ao contrário, provocar
maior desemprego, no sentido da eliminação dos empregos efetivos, que se
substituiriam por esses precários (SEVERO; MAIOR, 2017, p. 69).
Destaque-se, ainda, ter ocorrido um aumento do trabalho sem carteira assinada, de 17,8
milhões de trabalhadores em outubro de 2017, para 18,9 milhões em setembro de 2019, bem
como do trabalho por conta própria, passando de 22,8 milhões para 24,4 milhões durante o
mesmo período, como informado na reportagem especial de Leda Antunes (2019) baseando-se
em dados do IBGE. Essas formas de trabalho, informal e por conta própria, é reflexo da
precarização das relações de trabalho, ante a ausência de oportunidades de trabalhos dignos,
com garantia de direitos formais. Há, portanto, uma corrosão do trabalho contratado, formal e
regulamentado, sendo este substituído por outras formas de trabalho e subtrabalho, qualquer
tipo de labor que permita manter a subsistência do indivíduo, com destaque para o trabalho
intermitente, o trabalhador de aplicativos e o “empreendedor de si mesmo”, no qual “a empresa
é promovida a modelo de subjetivação: cada indivíduo é uma empresa que deve gerir e um
capital que se deve se fazer frutificar” (DARDOT; LAVAL, 2016, p. 372).
O sociólogo Ricardo Antunes sintetiza:
60
Para maiores informações e acesso as informações contidas na Plataforma SmartLab: https://smartlabbr.org/
61
A Iniciativa SmartLab de Trabalho Decente possui outros observatórios, sendo eles: Observatório de Segurança
e Saúde no Trabalho, Observatório da Prevenção e da Erradicação do Trabalho Infantil, Observatório da
Erradicação do Trabalho Escravo e do Tráfico de Pessoas e o Observatório da Diversidade e da Igualdade de
Oportunidades no Trabalho. As informações sobre esses observatórios também podem ser obtidas na Plataforma
SmartLab: https://smartlabbr.org/
76
62
O Produto Interno Bruto (PIB) refere-se ao somatório dos bens e serviços finais produzidos em uma determinada
região em um dado período, sendo um indicador utilizado para mensurar a atividade econômica de uma região.
No caso em tela, a Plataforma SmartLab de Trabalho Decente utilizou dados do IBGE – PIB dos Municípios de
2018 (SMARTLAB MPT-OIT, 2021).
63
Ressalte-se que essa métrica sofre influências de outras variáveis, como aspectos migratórios, o que pode
comprometer a exatidão do indicador, uma vez que nem sempre o valor/renda gerada no município é
apropriada/internacionalizada pelo município e as famílias residentes (SMARTLAB MPT-OIT, 2021).
64
Trata-se de população estimada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2018. No censo
demográfico do IBGE em 2010, Mariana e Ouro Preto possuíam 54,2 mil e 70,3 mil habitantes, respectivamente.
Tais dados seriam atualizado em 2020, mantendo-se a série histórica do censo demográfico do IBGE, contudo,
este foi adiado para o ano de 2021, por causa da Pandemia da Covid-19. Em 2021, devido a cortes do orçamento,
não houve a realização do censo demográfico pelo IBGE (SMARTLAB MPT-OIT, 2021; LEÓN, 2021).
65
Conforme censo demográfico de 2010, IBGE (SMARTLAB MPT-OIT, 2021).
66
A população ocupada é considerada como o somatório da população com carteira assinada e sem carteira
assinada, acrescido de pessoas que trabalham por conta própria, empregadores, pessoas não remuneradas ou que
trabalham na produção para o próprio consumo, além de militares e funcionários públicos estatutários, razão pela
qual não os dados apresentados para pessoas ocupadas no texto não é igual a 100% (SMARTLAB MPT-OIT,
2021; LEÓN, 2021).
77
Ouro Preto; seguido da indústria 32%, em Mariana e 27%, em Ouro Preto; e, apenas 6%, tanto
em Mariana quanto em Ouro Preto, na agricultura. Novamente, ao se considerar as médias
nacionais e estadual, os municípios se destacam estando Mariana na 533º e Ouro Preto em 404º
entre os 5.565 municípios do país e 63º, Mariana e 48º, Ouro Preto entre os 853 municípios
mineiros (SMARTLAB MPT-OIT, 2021).
A categoria de oportunidade de emprego registra importantes dados relacionados às
relações laborais formais, especialmente, os contratos celetistas, e informais de trabalho, a
dinâmica dos empregos celetistas, os níveis de ocupação, taxa de desocupação e de formalidade,
dentre outros dados correlatos que permitem dessecar o mercado de trabalho nos municípios
brasileiros e, nesse trabalho, especificamente, em Mariana e Ouro Preto. Na tabela abaixo
encontram-se os dados relacionados ao saldo (admissões – desligamentos) de contratos de
emprego celetista.
se repete no ano de 2020 com 483 admissões em Ouro Preto e 238 em Mariana, bem como no
1º semestre de 2021, 300 e 199 admissões em Ouro Preto e Mariana, respectivamente
(SMARTLAB MPT-OIT, 2021).
A partir da imagem acima, relevante pontuar a queda brusca nas admissões entre o 1º e
o 2º trimestre de 2020 em ambos os municípios, fruto da Pandemia da COVID-19 e todas as
consequências políticas, econômicas e sociais, que perdurarão por longos anos. Outrossim,
verifica-se uma recuperação nas admissões a partir do 2º trimestre de 2020, que acentua-se no
3º trimestre do mesmo ano, é quando o cenário se modifica em relação as cidades pesquisadas:
em Mariana há uma nova queda no 4º semestre de 2020, revertido após o 1º semestre de 2021,
inclusive, os desligamentos passam a cair a partir do 4º semestre de 2020; paralelamente, em
Ouro Preto, as admissões perduram e chegam ao pico no 1º trimestre de 2021, momento no qual
ocorre acentuada queda nas admissões e, pior, com a manutenção dos desligamentos iniciados
no 4º trimestre de 2019 e potencializados pelo cenário pandêmico.
Noutro giro, a imagem abaixo explicita a série histórica do CAGED (2004 a 2021)
acerca das relações formais de trabalho.
Samarco Mineração S.A. (PROJETO, 2013), pouco depois, ocorreria o fatídico rompimento da
Barragem do Fundão em 05/11/2015, um dos maiores desastres ambientais e sociais do país67.
Em 201968, Mariana possuía 13.256 vínculos de emprego celetistas, enquanto em Ouro
havia 13.286 empregados celetistas. Todavia, ao analisar a evolução da série histórica, percebe-
se que o município marianense teve um salto de empregos celetistas, pois, em 2002 havia
somente 3.908 empregados celetistas; por certo, também houve aumento – porém, mais tímido
– no número de empregados celetistas no município ouro-pretano, eis que em 2002 eram 9.041
vínculos celetistas. O máximo de vínculos de emprego celetistas ocorreu em 2013, em Mariana,
com 14.182 e em 2012, em Ouro Preto, com 17.001, é o que se infere da imagem abaixo
(SMARTLAB MPT-OIT, 2021).
67
Para maiores informações sobre o Caso Samarco: http://www.mpf.mp.br/grandes-casos/caso-samarco.
Os números são de 2019 extraídos do Ministério da Economia – Relação Anual de Informações Sociais (ME –
68
70
O nível de ocupação é medido pela divisão da População Ocupada de 16 a 64 anos pela População em Idade
Ativa (PIA) da mesma faixa etária, multiplicado por 100. Além disso, os dados são baseados no censo demográfico
de 2010, IBGE (SMARTLAB MPT-OIT, 2021).
84
71
A taxa de desocupação é obtida dividindo-se o número de pessoas desocupadas de 16 a 64 anos pela População
Economicamente Ativa (PEA) da mesma faixa etária, multiplicado por 100. Além disso, os dados são baseados
no censo demográfico de 2010, IBGE (SMARTLAB MPT-OIT, 2021).
85
72
Conforme dados do censo demográfico de 2010, IBGE (SMARTLAB MPT-OIT, 2021).
86
empregadores e trabalhadores por conta própria que contribuem para a previdência social na
estrutura ocupacional total das pessoas com idade entre 16 e 64 anos, nesse diapasão tem-se em
Mariana 71,3% de formalidade (59º em Minas Gerais e 539º no Brasil), ao mesmo tempo em
que em Ouro Preto essa taxa é de 67,7% (103º em Minas Gerais e 785º no Brasil 73)
(SMARTLAB MPT-OIT, 2021). Na imagem abaixo é apresentada a distinção pelos grupos
rural/urbano, mulheres/homens e negros/brancos, novamente, como dos demais dados acima,
pessoas do meio rural, mulheres e negros possuem índices piores que as pessoas do meio
urbano, homens e brancos.
73
Conforme dados do Censo Demográfico de 2010, IBGE (SMARTLAB MPT-OIT, 2021).
74
Conforme ME – RAIS, 2019 (SMARTLAB MPT-OIT, 2021).
87
acima exposta acerca da desatualização dos dados, pode-se afirmar que em 2010, data do último
Censo Demográfico do IBGE, o rendimento médio do trabalho principal da população ocupada
de 16 a 64 anos em Mariana e Ouro Preto perfazia R$ 1.091,00 (2,1 salário mínimo à época) e
R$ 1.101,00 (2,2 salário mínimo à época), respectivamente (SMARTLAB MPT-OIT, 2021).
Ao se analisar os empregos formais no quesito remuneração, os municípios mineiros
pesquisados possuem excelente ranqueamento ao se comparar com a média nacional (Mariana
em 352º e Ouro Preto em 70º de um total de 5.570 municípios no Brasil) e estadual (Mariana
em 22º e Ouro Preto em 6º de um total de 853 municípios em Minas Gerais). Entretanto, chama
atenção que ao partir para a análise da remuneração da população ocupada, os municípios caem
no âmbito estadual (Mariana fica em 79º e Ouro Preto em 69º) e nacional (Mariana passa a 985º
e Ouro Preto 927º). Logo, há uma maior disparidade entre as remunerações formais e informais
quando comparados com os demais municípios brasileiros (SMARTLAB MPT-OIT, 2021).
Dentro dessa ótica remuneratória, sob uma perspectiva interseccional75, observa-se uma
disparidade da remuneração de trabalhadores formais, de acordo com o sexo e raça/cor, em
ambos os municípios em que a maior remuneração é do homem branco, seguido pelo homem
negro, pela mulher branca e só no fim a mulher negra. Em Mariana, o homem negro recebe
68,4% da remuneração do homem branco, enquanto a mulher branca 66,6% e a mulher negra
apenas 47%. A situação é similar em Ouro Preto, com o homem negro recebendo 71,7% da
remuneração do homem branco, enquanto a mulher branca 65,9% e a mulher negra apenas
48,6% (SMARTLAB MPT-OIT, 2021).
Há que se salientar que ao examinar as remunerações do mercado de trabalho formal e
informal, a disparidade se torna mais flagrante, podendo-se concluir que o problema no setor
informal aprece com maior intensidade, quando do prisma interseccional. Nesse contexto,
diferentemente do setor formal, a ordem remuneratória se altera, ainda mantendo-se o
predomínio da maior remuneração do homem branco, este vem seguido pela mulher branca, do
homem negro e da mulher negras. Em Mariana, a mulher branca passa a receber 62,1%,
enquanto o homem negro 58,4% e a mulher negra apenas 37,6% da remuneração do homem
branco. Outrossim, em Ouro Preto, esse fenômeno se repete, a mulher branca passa a receber
73,2%, enquanto o homem negro 59,9% e a mulher negra apenas 43% da remuneração do
homem branco (SMARTLAB MPT-OIT, 2021). A imagem abaixo explicita essa disparidade
ao comparar com os salários-mínimos da época, 2010.
75
Conforme censo demográfico de 2010, IBGE (SMARTLAB MPT-OIT, 2021).
88
Imagem 14 – Dinâmica dos empregos com carteira assinada em Mariana e Ouro Preto
76
Conforme dados do IBGE – Cadastro Central de Empresas (CEMPRE) de 2015 (SMARTLAB MPT-OIT, 2021).
77
Conforme dados do Ministério do Trabalho – Cadastro Nacional de Entidades Sindicais (MT – CNES) de 2016
(SMARTLAB MPT-OIT, 2021).
90
6.1 Perfil dos sujeitos pesquisados: apresentação e análise dos dados da amostra
Nesse tópico serão apresentados os dados gerais acerca da amostra dos trabalhadores
entrevistados, o que permite traçar um perfil dessas pessoas e compreender a dimensão da
amostra pesquisada. Em relação ao sexo há uma leve predominância do sexo masculino dos
trabalhadores entrevistados ao se analisar a amostra completa, sendo 52% do sexo masculino e
48% do sexo feminino, conforme observa-se no gráfico abaixo.
91
48%
52%
Feminino Masculino
7%
1%
23%
35%
34%
Para fins de estudos demográficos, o IBGE convencionou tratar a população negra como
o somatório das pessoas que se autodeclaram pretos e pardos (OLIVEIRA, 2004). Assim, a
população negra é majoritária entre os trabalhadores entrevistados compreendendo 69%, quase
7 entre 10 respondentes. Essa maioria negra é encontrada também ao se analisar isoladamente
os municípios pesquisados: 75% em Mariana, contra 22% branca; 65% em Ouro Preto, contra
24% branca. Os trabalhadores entrevistados que trabalham tanto em Mariana quanto em Ouro
Preto são 58% negros e 14% brancos.
Ademais, metade dos trabalhadores entrevistados são jovens, com idade entre 18 e 29
anos, seguido por 29% entre 30 e 39 anos, 10% de 40 a 49 anos e apenas 9% com 50 anos ou
mais de idade.
93
Referente à faixa etária, os dados sugerem que esse setor de atividade econômica
pesquisado serve como importante “porta de entrada” para o mercado de trabalho de jovens nos
municípios de Mariana (isoladamente são 57% entre 18 a 29 anos) e Ouro Preto (isoladamente
são 48% na mesma faixa etária). Além disso, ao se cruzarem com os dados da classificação
racial (cor), a relevância aumenta uma vez que a população jovem e negra, normalmente,
encontra maiores dificuldades de inserção no mercado de trabalho brasileiro. Por fim, ressalte-
se, a diferença do perfil etário quando analisado os trabalhadores que atuam, simultaneamente,
nos dois municípios, eis que a preponderância da faixa etária se dá entre pessoas de 30 a 39
anos com 56%, as demais faixas etárias correspondem a 14% cada.
Também se destacam os dados referente ao grau de formação (escolaridade), no qual
prepondera o ensino médio completo ou incompleto com 49%, enquanto 36% possuem ensino
superior completo ou incompleto, 6% o ensino fundamental completo, 7% o ensino
fundamental incompleto e 1% não frequentou ensino formal, como se visualiza no gráfico
abaixo.
94
30%
25%
20%
15%
10%
5%
0%
Elétrica Pedagogia Artes Cênicas Administração Turismo NR/ NS
Fonte: Resultado da pesquisa (2021).
78
Considerando apenas os cursos da UFOP, Administração e Pedagogia são cursos ofertados em Mariana; já, Artes
Cênicas, Elétrica e Turismo são no campus de Ouro Preto.
96
Ouro Preto
Mariana
Nos dados separados percebe-se uma maior diversificação nas ocupações em Mariana:
atendente (20%), seguida de garçom/garçonete (14%) e balconista (9%), ante a maior
concentração em Ouro Preto, com 47% garçom/garçonete, 13% atendente e 9% recepcionista.
As ocupações dos trabalhadores entrevistados que trabalham tanto em Mariana quanto em Ouro
Preto se subdividem em 29% serviços gerias e 14% cada para atendentes, garçom/garçonete,
freelancer e segurança.
A divisão entre as atividades preponderantes do empregador atual dos trabalhadores
entrevistados é verificada no gráfico abaixo, com 54% em bares/restaurantes, 21% em hotéis e
pousadas, 11% em limpeza/conservação e 3% no setor de turismo. Outras atividades
preponderantes e não responderam/não sabem somados perfazem 12%.
98
Bar/ Restaurante
Hotel/ Pousada
Limpeza ou Conservação
Outros
NR/ NS
Setor de Turismo
Bar/ Restaurante
Outros
NR/ NS
Limpeza ou Conservação
Hotel/ Pousada
Setor de Turismo
Não o conheço
Sou sindicalizado
NR/NS
O gráfico acima revela um amplo desconhecimento quanto ao ente coletivo, além disso,
das pessoas que conhecem o sindicato, somente uma pequena parte é sindicalizada. Os dados
são preocupantes na medida em que os problemas enfrentados pelos trabalhadores dessa
categoria tendem a ser tratados de forma individual (um dos objetivos da reforma trabalhista de
2017), na relação direta empregador/trabalhador, levando ao enfraquecimento da luta coletiva
por transformações estruturais e melhorias nas condições de trabalho de toda a categoria.
Entre os respondentes que atuam somente em Ouro Preto, o grau de conhecimento do
sindicato ultrapassa a metade, são 58% divididos em 13% sindicalizados e 45% não
sindicalizados (39% não conhecem o ente coletivo). O pior cenário diz respeito aos
trabalhadores atuantes em Mariana, exclusiva, ou simultaneamente com Ouro Preto, nenhuma
dos respondentes é sindicalizado, 78% e 71% desconhecem o sindicato, enquanto, 16% e 29%
conhecem, mas não são sindicalizados, respectivamente79.
Sublinhe-se, ainda, as respostas acerca da nota média de conhecimento da legislação
trabalhista, especificamente sobre a CLT e das normas coletivas de trabalho, neste caso, a CCT.
Nessas perguntas de autoavaliação, os trabalhadores entrevistados se davam notas
compreendidas entre 1, o mínimo de conhecimento, até 10, o máximo de conhecimento. O
resultado compreende notas médias de 4,1, em relação ao nível de conhecimento da legislação
trabalhista/CLT; e 2,8, no que tange ao nível de conhecimento quando considerada a norma
coletiva/CCT. Esses dados podem ser visualizados na tabela abaixo, inclusive, com a
subdivisão entre trabalhadores que atuam por município, no qual destaca-se a nota média
superior dada pelos trabalhadores com atuação apenas em Mariana quanto ao seu conhecimento
da CLT.
Da análise dos dados acima, pode-se concluir que os trabalhadores não “passariam de
nota”, conforme suas próprias avaliações, devido ao baixo nível de conhecimento dos mais
importantes diplomas legais trabalhistas, a CLT e a CCT da categoria.
79
O SETHOP possui sede em Ouro Preto, o que pode resultar no maior conhecimento por parte de trabalhadores
que atuam nesse município.
101
Ora, a análise conjunta das respostas a essas perguntas de autoavaliação apresenta uma
aparente contradição, presume-se que o maior conhecimento das normas que regem uma
matéria, seja ela trabalhista, como no caso da presente pesquisa, ou de outros ramos do direito,
como por exemplo, o direito do consumidor, é essencial para minimizar as notórias assimetrias
existentes nessas relações jurídico-sociais. Todavia, esse fato não refletiu nas notas médias
dadas, sobretudo pelos trabalhadores atuantes em Mariana.
Nesse tópico são apresentados os dados obtidos na pesquisa de campo que permitem
traçar um perfil da amostra, ou seja, dos trabalhadores entrevistados. Em síntese, pode-se
concluir que a amostra geral possui um leve predomínio do sexo masculino (52%), sendo
formada majoritariamente pela população negra (69%) e jovem, de 18 a 29 anos (50%).
Apresenta elevado grau de escolarização, correspondente a 85% no somatório entre ensino
médio e superior, completo e incompleto.
Especificamente acerca das atividades laborais, verificou-se um ligeiro domínio de
trabalhadores atuantes em Ouro Preto (54%), maioria de garçons/garçonetes (32%) e atendentes
(16%), cuja setor preponderante do empregador é bar/restaurante (54%). Outrossim, trata-se de
trabalhadores que desconhecem o sindicato da categoria (56%), com baixo conhecimento da
CLT (nota 4,1 de 10) e da CCT (nota 2,8 de 10), quase a metade se considera em condições de
igualdade ao negociar com seu empregador (nota 4,9 de 10).
102
6%
31%
63%
Jornal
Internet
Televisão
Redes sociais
Sindicato
NR/ NS
Institucional
Pesquisa
Outros
Rádio
Colegas de trabalho
Advogado trabalhista
Universidade
Pela associação
0% 5% 10% 15% 20% 25%
Quanto à percepção dos trabalhadores entrevistados sobre alterações nas suas relações
de trabalho após 11 de novembro de 2017 – data de início da vigência da Lei 13.467/201780 –
é possível inferir que 42% não perceberam mudanças no pacto laboral; por outro lado, 52%
sentiram mudanças nas suas relações de trabalho. Tendo em vista que as respostas foram obtidas
de forma espontânea e a aplicação dos questionários se deu em março de 2021, durante a
Pandemia da COVID-19, pode-se subdividir as respostas por períodos de percepção de
mudanças no pacto laboral, até 17/03/2017, data anterior à decretação de emergência de saúde
80
Art. 6º Esta Lei entra em vigor após decorridos cento e vinte dias de sua publicação oficial (BRASIL, 2017). A
Lei 13.467/2017 foi publicada em 13 de julho de 2017, assim, considerando a vacatio legis de 120 dias, entrou
em vigor em 11/11/2017.
104
NR/NS
Não
Nesse momento, ante a espontaneidade das respostas, permite-se obter uma maior
abrangência nas percepções dos trabalhadores sobre a reforma trabalhista de 2017, ampliando,
assim, o escopo da pesquisa com dados que não seriam obtidos através das questões elaboradas
pelo pesquisador com resposta previamente. As respostas serão apresentadas nos quadros
abaixo, mantendo a subdivisão antes/depois da Pandemia da COVID-19, ambas após o início
de vigência da Lei 13.467/2017.
No quadro abaixo as percepções anteriores ao período pandêmico revelam percepções
dos trabalhadores em relação à alteração nas relações de trabalho. Nesse contexto, 9,7%
afirmam ter ocorrido uma migração do trabalho formal para o informal (em contrapartida, 3,2%
perceberam o contrário, diminuição da informalidade), aumento das demissões e cortes na
empresa (4,8%) e no círculo social próximo (1,6%), maior dependência dos trabalhadores em
relação aos empregadores (3,2%), também, perda de direitos dos trabalhadores (1,6), menor
quantidade de empregos (1,6%). Há, ainda, a percepção de alteração na duração e remuneração
do trabalho, objetos dessa pesquisa como se verá adiante na abordagem das perguntas com
105
respostas pré-definidas, 8,1% revelam ter tido alteração na carga horária e 6,5% pontuam ter
tido alteração no salário (sem precisar se aumentando ou diminuindo), menos atribuições no
salário e aumento de salário ficaram com 1,6% cada.
Cabe ressalvar as preocupações dos trabalhadores em relação à aposentadoria, em que
8,1% afirmam ter percebido – dado contraditório, tendo em vista que as últimas mudanças na
legislação previdenciária apontam para o sentido contrário, do aumento do tempo de
contribuição para obtenção da aposentadoria – e o mesmo percentual relata o aumento da
dificuldade ou burocracia para a aposentar.
Por oportuno, é interessante observar que 6,5% falam sobre o fim da obrigatoriedade de
pagamento ao sindicato, independentemente, da concordância ou discordância com a medida.
Essa foi uma outra mudança substancial promovida pela Lei 13.467/2017, com repercussões no
direito coletivo do trabalho. As respostas espontâneas estão detalhadas no quadro abaixo.
início da Pandemia da COVID-19 e 34% após o surto; somente 20% não percebeu mudanças
nas relações laborais. Por fim, dos trabalhadores atuantes em ambos os municípios, mais da
metade (57%) não percebeu mudanças, ante 43% que sentiu mudanças (14%, antes de
17/03/2020 e 29%, a partir de 18/03/2020).
Por fim, propriamente sobre a Lei 13.467/2017, a maior parte dos trabalhadores teve
conhecimento dela (63%), através de jornal (22%), internet (22%) ou televisão (20%), sendo
que pouco mais da metade (52%) percebeu mudanças no pacto laboral após a vigência da
reforma trabalhista de 2017.
25%
20%
15%
10%
5%
0%
Os dados podem ser vistos detalhadamente na tabela abaixo, mesmo na subdivisão por
município de atuação profissional, os contratos atuais permanecem sendo recentes, mais da
109
metade celebrados a partir de 2017, com destaque para os trabalhadores que atuam
exclusivamente em Mariana, com 71%. Por outro lado, como esperado, a maioria dos contratos
anteriores dos respondentes foram firmados antes de 2017, assim, os dados separadamente por
município de atuação acompanham a média geral da amostra.
Os dados referentes à data de início dos contratos de trabalho sugerem uma alta
rotatividade nessas atividades laborais, uma vez que os vínculos são recentes, especialmente,
nos contratos atuais em que a maioria são dos últimos 4 anos.
No próximo gráfico estão os dados referente à modalidade básica do vínculo de trabalho
dos trabalhadores entrevistados se celetistas, informais ou terceirizados. Há prevalência do
trabalho informal com 46%, contra 44% de celetistas diretamente contratados pelo empregador
e 8% de trabalhadores terceirizados. Optaram por não responder ou não souberam responder,
3% dos respondentes.
110
Terceirizado
NR
Já, no vínculo de trabalho anterior, apurou-se 43% de trabalho informais, ante 29% de
celetistas diretamente contratados pelo empregador e 12% de trabalhadores terceirizados.
Optaram por não responder ou não souberam responder, 16% dos respondentes.
NR/ NS
Terceirizado
A tabela abaixo traz os dados detalhados por local de prestação de serviço profissional,
nos contratos atuais e anteriores, com destaque para o alto número de trabalhadores
terceirizados que atuam em ambos os municípios nos contratos atuais.
Desse modo, ao se comparar os vínculos anteriores e atuais, na amostra geral, percebe-
se crescimento tanto dos celetistas com contrato direto com o empregador de significativos
15%, quanto no trabalho informal de 3%; pelo contrário, tem-se uma redução 4% nos contratos
terceirizados. Outrossim, verifica-se uma diferença de 13% (16% dos contratos antigos
passando para 3% nos contratos atuais) de respondentes que não responderam ou não souberam.
Essa redução no número de pessoas optantes por não responder ou que não souberam supõe
números atuais mais fidedignos quanto à modalidade de contratação.
Conforme mencionado no preâmbulo desse tópico, com relação às alterações
legislativas trabalhistas provenientes da Lei 13.467/2017 e possíveis mudanças nas relações
laborais, no questionário foram estruturadas perguntas que permitissem a comparação entre o
período anterior e posterior à entrada de vigência da referida Lei, ocorrida em 11/11/2017, as
quais serão apresentadas a partir de agora, alterando-se também o formato dos gráficos para
facilitar a percepção dos resultados obtidos na pesquisa empírica.
Nesse âmbito, inicialmente buscou-se identificar mudanças já percebidas nos tipos de
contrato de trabalho, conforme dados apresentados no gráfico abaixo, verifica-se um aumento
de 3% nos contratos por tempo indeterminado (42% para 45%) e, também, crescimento do
percentual de pessoas que não possuem contratos formalizados de trabalho, passando de 26%
para 35%, um aumento substancial de 9%. Por outro lado, diminuíram os contratos por tempo
determinado, de 10% pra 8% e, após 11/11/2017, já aparecem o contrato intermitente com 3%;
este tipo contratual foi uma inovação trazida pela Lei 13.467/2017. As pessoas que optaram por
não responder ou não souberam responder, diminuíram de 21% para 9% dos respondentes.
112
50,0%
40,0%
30,0%
20,0%
10,0%
0,0%
Contrato por tempo Contrato por tempo Não possuo contrato NR/ NS
indeterminado determinado formal
50,0%
40,0%
30,0%
20,0%
10,0%
0,0%
Contrato por tempo Contrato por tempo Contrato de trabalho Não possuo contrato NR/ NS
indeterminado determinado intermitente formal
Ao analisar os dados acima, tomamos como aporte teórico a explicação dada por
Adriano Cerqueira, segundo o qual:
Antes de 11 de novembro de 2017, Ouro Preto se destaca por ter mais contratos por
tempo indeterminado e por apresentar a maior porcentagem de quem não possui
contrato formal. Mariana se destaca por ter mais contratos por tempo determinado.
Depois de 11 de novembro de 2017, Mariana & Ouro Preto se destaca por ter mais
contratos por tempo indeterminado e por tempo determinado. Ouro Preto continua se
destacando por ter maior porcentagem de quem não possui contrato formal
(CERQUEIRA, 2021, [s.p]).
Gráfico 22 – Dados detalhados sobre o regime de trabalho semanal, por local de atuação
profissional, dos trabalhadores entrevistados – Até 11/11/2017
NR/ NS
Integral: 61 horas ou mais
Parcial: 36 horas
Horista: 10 a 20 horas
Horista: 21 a 30 horas
Integral: de 56 a 60 horas
Integral: 12 por 36 horas
Integral: 49 a 54 horas
integral: até de 36 a 40 horas
Integral: 55 horas
Integral: 48 horas
Integral: 42 horas
Parcial: 11 a 20 horas
Parcial: entre 30 e 35 horas
Integral: entre 35 e 40
Integral- 40 a 48 hora
Integral: 44 horas
Outros
Horista
Parcial
Integral
Antes de 11 de novembro de 2017, Ouro Preto se destaca por ter maior percentual de
regime de trabalho integral de 36 a 40 horas. Mariana se destaca por ter maior
percentual de regime de trabalho integral de 48 horas. Mariana & Ouro Preto se
destaca por ter mais contratos por tempo indeterminado e por tempo determinado
(CERQUEIRA, 2021, [s.p]).
116
Gráfico 23 – Dados detalhados sobre o regime de trabalho semanal, por local de atuação
profissional, dos trabalhadores entrevistados – Após 11/11/2017
NR/ NS
Integral: 61 horas ou mais
Parcial: 36 horas
Horista: 10 a 20 horas
Horista: 21 a 30 horas
Integral: 12 por 36 horas
Integral: 49 a 54 horas
integral: até de 36 a 40 horas
Integral: 24 hora
Integral: 55 horas
Integral: 48 horas
Parcial: 11 a 20 horas
Sem horário definido/ sem escala
Parcial: entre 30 e 35 horas
Integral: entre 35 e 40
Integral- 40 a 48 hora
Integral: 44 horas
Outros
Horista
Parcial
Integral
0,0% 5,0% 10,0% 15,0% 20,0% 25,0% 30,0% 35,0%
Depois de 11 de novembro de 2017, Ouro Preto se destaca por ter maior percentual
de regime de trabalho integral de 21 a 30 horas. Mariana se destaca por ter maior
percentual de regime de trabalho integral de 48 horas. Mariana & Ouro Preto se
destaca por ter mais contratos em tempo integral (CERQUEIRA, 2021, [s.p]).
No tocante às horas extras excedentes à jornada, os dados revelam que antes da reforma
trabalhista de 2017, 42% dos trabalhadores entrevistados realizaram horas extras, sendo 33%
de forma esporádica e 9% de forma habitual; contra 36% que não realizavam horas extras. Após
o início de vigência da Lei 13.467/2017 houve um aumento para 48% das pessoas que realizam
horas extras, permanecendo o predomínio das esporádicas (37%) ante às horas habituais (11%).
Outrossim, houve o crescimento dos trabalhadores que não fazem horas extras, passando para
41%. Registre-se que esse aumento das pessoas que faziam horas extras e também das que não
faziam, se dá concomitantemente com a redução no número de pessoas que optaram por não
responder ou não souberam responder, eram 21% diminuindo para 11%.
117
No tocante aos dados por local de prestação de serviços, observa-se em Mariana, assim
como na média geral, aumentos em todas as opções, tanto de trabalhadores que fazem horas
extras, habituais ou esporádicas, como dos que não prestam labor excedente à jornada normal
de trabalho. Em Ouro Preto, houve diminuição das horas extras habituais. Atualmente, dos
trabalhadores respondentes que laboram em Mariana e Ouro Preto, nenhum faz horas extras
habituais, todavia, há um elevado número que prestam serviços extra jornada esporádicas.
Tabela 9 – Dados detalhados da realização de horas extras durante o pacto laboral até e
após 11/11/2017 dos trabalhadores entrevistados
Geral Mariana Ouro Preto Mariana e Ouro Preto
Até 11/11/2017
Sim, esporádicas 33% 21% 42% 29%
Sim, habituais 9% 6% 11% 14%
Não 36% 44% 31% 29%
Após 11/11/2017
Sim, esporádicas 37% 25% 45% 57%
Sim, habituais 11% 15% 9% ---
Não 41% 51% 35% 14%
Fonte: Resultado da pesquisa (2021).
118
Antes de 11 de novembro de 2017, Ouro Preto se destaca por ter maior percentual de
pagamento de horas extras. Mariana se destaca por ter maior percentual de não
pagamento de horas extras.
Depois de 11 de novembro de 2017, Ouro Preto se destaca por ter maior percentual
de pagamento de horas extras. Mariana se destaca por ter maior percentual de não
pagamento de horas extras. Mariana & Ouro Preto se destaca por ter maior percentual
de compensação de horas extras integral (CERQUEIRA, 2021, [s.p]).
119
50%
40%
30%
20%
10%
0%
Sim, por acordo ou Sim, por acordo Não NR/NS
convenção coletiva individual escrito
Há consistência dos dados acima, como pode-se concluir pela análise conjunta com a
pergunta anterior. A título de exemplo, em Ouro Preto verificou-se um alto índice de pagamento
das horas extras, o que se reflete nos baixos números acerca do banco de horas. Igualmente,
houve aumento na utilização da compensação para trabalhadores que prestam seus serviços em
Mariana, exclusivamente ou juntamente com o município ouro-pretano, como relatado na
pergunta anterior, justificando os maiores índices de conhecimento/utilização do banco de horas
nos dados acima expostos.
Com base nos dados obtidos na pesquisa empírica, é possível inferir a concessão de
férias, antes e depois da Lei 13.467/2017. Apesar do predomínio do gozo de férias em período
único de 30 dias, e tanto antes da reforma trabalhista de 2017 (44%) quanto depois do início de
sua vigência (42%), destacam-se os dados referentes ao não gozou de férias, que abrangem 27%
dos trabalhadores antes de 11/11/2017 e, pior, a porcentagem aumenta para 32% após
11/11/2017. Nessa data, é visível o crescimento do parcelamento das férias, se antes era 6%,
salta para 14% (4% para a divisão 15/15 dias e 10/20 dias), um aumento de 8% no comparativo
antes e depois de 11/11/2017. Em porcentagem, os trabalhadores entrevistados optaram por não
responder ou não souberam responder em 23% e 12%, antes e depois de 11/11/2017,
respectivamente.
122
Antes de 11 de novembro de 2017, Ouro Preto se destaca por ter maior percentual de
concessão de férias únicas de 30 dias. Mariana & Ouro Preto se destaca por ter maior
percentual de não gozo das férias.
Depois de 11 de novembro de 2017, Ouro Preto se destaca por ter maior percentual
de não gozo das férias. Mariana & Ouro Preto se destaca por ter maior percentual de
férias parceladas (CERQUEIRA, 2021, [s.p]).
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
1 hora por dia 30 minutos, no máximo Sem intervalo NR/NS
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
Não Sim, para práticas Sim. para descanso, Sim, para higiene NR/NS
religiosas lazer e estudo pessoal ou troca de
roupa
No que tange aos dados abaixo, não existem alterações significativas, a maior parte dos
trabalhadores como já visto na amostra geral, não necessita antecipar a chegada ou prorrogar a
saída. Quando necessário o fazem com o objetivo de realizar tarefas afeitas a higiene pessoal
ou troca de roupa, de todo modo, menciona-se o baixo número em Mariana mesmo nesse
quesito.
126
de trabalhadores que não gozam das férias e também, de um razoável percentual que não possui
intervalo intrajornada ou descanso de apenas 30 minutos.
50%
40%
30%
20%
10%
0%
Salário fixo, apenas Salário fixo + Salário fixo + Salário, sempre NR/NS
Comissão ou gorjeta Comissão ou gorjeta variável
+ Prêmio
Antes de 11 de novembro de 2017, Ouro Preto se destaca por ter o maior percentual
de pagamento apenas de um salário fixo. Mariana & Ouro Preto se destaca por ter
maior percentual de chegada mais cedo para descanso, lazer ou estudo.
Depois de 11 de novembro de 2017, Ouro Preto se destaca por ter o maior percentual
de pagamento de salário, sempre variável. Mariana se destaca por ter maior percentual
de pagamento de salário fixo, mais comissão ou gorjeta. Mariana & Ouro Preto se
128
destaca por ter maior percentual de pagamento de salário fixo, apenas (CERQUEIRA,
2021, [s.p]).
60,0%
50,0%
40,0%
30,0%
20,0%
10,0%
0,0%
Salário fixo, apenas Salário fixo + Salário fixo + Salário, sempre NR/NS
Comissão ou gorjeta Comissão ou gorjeta variável
+ Prêmio
Convém ressaltar uma inquietude com os dados acima, considerando que o maior
quantitativo de trabalhadores revela atuar em bar/restaurante, verifica-se um número não tão
alto de recebimento de gorjetas, tradicionalmente difundido nesse tipo de empreendimento
empresarial.
Por fim, em relação ao recebimento de utilidades, é possível inferir que, antes da
vigência da Lei 13.467/2017, 64% dos trabalhadores recebiam algum tipo de utilidade como
129
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
Cesta básica Plano de saúde Ticket Vale-transporte Outro NR/NS
ou odontológico alimentação ou
vale refeição
Antes de 11 de novembro de 2017, Ouro Preto se destaca por ter o maior percentual
de recebimento de cesta básica, de plano de saúde ou odontológico, de ticket
alimentação e de vale transporte.
Depois de 11 de novembro de 2017, Mariana & Ouro Preto se destaca por ter o
maior percentual de recebimento de cesta básica e de ticket alimentação. Ouro Preto
se destaca por ter o maior percentual de recebimento de plano de saúde ou
odontológico e de vale transporte (CERQUEIRA, 2021, [s.p]).
131
No final de 2019, a OMS entrou em alerta com relação a uma pneumonia, de cepa/tipo
desconhecido em seres humanos, na República Popular da China, o que foi confirmado pelas
autoridades chinesas em 07 de janeiro de 2020, tratava-se de um novo tipo de coronavírus. Em
30 de janeiro de 2020, a OMS declarou Emergência de Saúde Pública de Importância
Internacional (ESPII), aumentando o nível de alerta e as preocupações com o novo coronavírus,
até que em 11 de março de 2020, Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor da Organização
Mundial da Saúde (OMS), anunciou que a COVID-19 passou a ser caracterizada como uma
pandemia. Dessa maneira, houve o reconhecimento pelo órgão internacional da existência de
surtos de COVID-19 em vários países e regiões do mundo; à época, o número de casos chegava
a 118 mil em 114 países, com 4,2 mil mortes (ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DE
SAÚDE, 2020a; ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DE SAÚDE, 2020b).
A preocupação mundial com a COVID-19 se justificava, ainda mais, pela rápida
proliferação do vírus e sua letalidade, aliado ao receio de colapso dos sistemas de saúde, público
e privado, com o previsível alto número de internados, especialmente, as pessoas com risco de
morte e com sequelas, a requerer atenção especial por parte dos profissionais da área médica.
Junte-se a isso a inequívoca disparidade econômico-social existente no mundo, refletindo na
compra de insumos médicos, acesso a rede de saúde e assistência social, aquisição de itens
133
básicos como água, sabão, álcool 70%, máscaras... Enfim, na desigual possibilidade de adoção
das medidas recomendadas pela OMS de distanciamento81, isolamento social82 e quarentena83
como forma de redução dos efeitos pandêmicos (LIMA; LIMA; TORRES, 2021).
Dessa forma e sob tal complexidade, Christian Ingo Lenz Dunker instiga a reflexão ao
indagar:
O coronavírus parece ter posto à luz a verdade latente em nossa forma de vida
neoliberal: é preciso acelerar sempre, é impossível parar, quem está contra o mercado
é comunista, queremos o Estado mínimo – e a opção final: vida ou economia? Mas
onde estão os argumentos neoliberais agora? Como se lida com uma peste ‘à moda
neoliberal’? Comprando cargueiros com máscaras destinadas ao Terceiro Mundo,
simplesmente porque, se você pode fazê-lo, você deve fazê-lo? (DUNKER, 2020, p.
10)
81
As medidas de distanciamento social são “[...] aplicadas a entornos sociais específicos, ou à sociedade em sua
totalidade, para reduzir o risco de adquirir ou difundir a COVID-19” (ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DE
SAÚDE, 2020c, [s.p]).
82
As medidas de isolamento social resultam na “separação de pessoas doentes ou contaminadas de outras com o
objetivo de prevenir a propagação de uma infecção e/ ou contaminação” (ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA
DE SAÚDE, 2020c, [s.p]).
83
A quarentena é a “restrição de atividades e/ou separação de outras pessoas que não estão doentes de modo a
prevenir a possível propagação da infecção ou contaminação” (ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DE
SAÚDE, 2020c, [s.p]).
134
quando da aprovação das vacinas para conter o SARS-CoV-2, a distribuição dos imunizantes
se deu de forma desigual entre os países, sempre em favor dos países mais ricos (CHADE,
2021; LIMA, 2021).
Em dezembro do ano passado, uma britânica então com 90 anos fez história ao receber
a dose que inaugurou a vacinação contra a Covid-19 no mundo. Seis meses depois,
mais de 1,6 bilhão de doses foram aplicadas. A maioria delas, porém, em braços de
habitantes de países ricos.
Com 15% da população mundial, esses países concentram quase metade das vacinas
disponíveis. Enquanto um terço de seus habitantes recebeu ao menos uma dose, nas
nações pobres a proporção é de apenas 0,2%.
Assim como ocorreu com o acesso a respiradores e máscaras ao longo da pandemia,
os países que tinham mais recursos e poder na geopolítica global chegaram primeiro
e reservaram para si a maior parte dos imunizantes disponíveis. As primeiras compras
foram feitas pelos EUA e pelo Reino Unido em maio de 2020, quando as vacinas
ainda estavam em desenvolvimento (MANTOVANI; QUEIROLO, 2021, [s.p]).
Essa disparidade vacinal no início do período de imunização (1º semestre de 2021) foi
definida como um “fracasso moral catastrófico”, um “apartheid das vacinas” por Tedros
Adhanom Ghebreyesus84 (apud MANTOVANI; QUEIROLO, 2021). No que Daniel Dourado85
(apud MANTOVANI; QUEIROLO, 2021) afirmou ser perceptível a adoção de uma lógica de
mercado, na qual alguns poucos países ricos, com mais recursos e capacidade de produção
levam vantagem no desenvolvimento e compra de imunizantes, restando a dependência de
países periféricos e pobres de doação das vacinas, que tem sido insuficiente para suprir as
necessidades destes.
Com o passar do tempo, permanece o cenário de desigualdade na distribuição dos
imunizantes, com prevalência nos países mais ricos do mundo em detrimento dos países
periféricos, com especial destaque para a diminuta administração de vacinas no continente
africano. Em setembro de 2021,
Segundo um balanço feito pela AFP a partir de dados oficiais, 9 doses de vacinas
foram administradas para cada 100 habitantes na África, contra 118 nos Estados
Unidos e Canadá, 104 na Europa, 85 na Ásia, 84 na América Latina e Caribe, 69 na
Oceania e 54 no Oriente Médio (ABANDONADOS..., 2021).
84
Expressões literais da fala do diretor da OMS retirados da reportagem (MANTOVANI; QUEIROLO, 2021).
85
Médico e advogado, a afirmação foi feita na reportagem (MANTOVANI; QUEIROLO, 2021).
135
86
O autor apresenta essa relevante contextualização ao prefaciar a obra: KREIN, José Dari; MANZANO, Marcelo;
TEIXEIRA, Marilane Oliveira; LEMOS, Patrícia Rocha (org.). Trabalho pós-reforma trabalhista (2017) [livro
eletrônico]: volume 1. São Paulo: Cesit – Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho, 2021.
87
SANTOS, Boaventura de Sousa. A crítica da razão indolente: contra o desperdício da experiência. 2ª ed. Porto:
Edições Afrontamento, 2002.
88
FREIRE, Paulo. Pedagogia da esperança: um reencontro com a pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Editora
Paz e Terra, 2014.
89
FANON, Frantz. Pele negra, máscaras brancas. Trad. Renato da Silveira. Salvador: EDUFBA, 2008.
137
Desse modo, a Pandemia da COVID-19 recoloca o trabalho como centro das relações
sociais, porém, não se pode olvidar que o impacto nas relações trabalhista se dá de forma
diferente em relação a cada trabalhador. Não estão todos no mesmo barco, mas sim sob a mesma
tempestade, diferenciando-se pela proteção que sua “embarcação” permite: os privilegiados
possuem iates, navios e lanchas... Alguns, possuem escunas, caiaques e coletes salva vidas,
contudo, os menos afortunados foram relegados à própria sorte.
Como alertado por Slavoj Zizek (2020, p. 74): “[...] devemos notar como as divisões de
classe adquiriram uma nova dimensão em meio ao pânico do coronavírus. Somos
bombardeados por apelos para trabalharmos de casa, na segurança do isolamento – mas quem
de fato pode fazer isso?” Poucos, na medida em que “muitas coisas precisam continuar
funcionando na insegurança do lado de fora para que eu possa sobreviver na minha
quarentena...” (ZIZEK, 2020, p. 74). Tal constatação aproxima-se das reflexões de Mike
Davis90:
Em suma: quem dispõe de um bom plano de saúde e tem condições de trabalhar ou
lecionar de casa está confortavelmente isolado, contanto que siga com prudência as
diretrizes de segurança. Funcionários públicos e outros grupos de trabalhadores
sindicalizados que gozam de uma cobertura decente não terão de fazer escolhas
difíceis, optando entre renda e proteção. Enquanto isso, milhões de trabalhadores de
baixa renda do setor de serviços, trabalhadores agrícolas, desempregados e sem-teto
são atirados aos lobos (DAVIS, 2020, [s.p]).
Desse modo, enquanto uma parcela dos trabalhadores consegue se manter protegido em
suas casas, desempenhando suas atividades laborais e podendo suprir suas necessidades
básicas; outros, os trabalhadores de atividades essenciais tiveram que manter o labor sob maior
risco de contaminação, uma vez que não houve a cessação de suas atividades em prol da própria
comunidade, como os profissionais de saúde, de assistência social, de segurança, dos
supermercados, os entregadores, dentre outros (LIMA; LIMA; TORRES, 2021; CARDOSO;
PERES, 2021). Pior, ainda, para a classe trabalhadora mais vulnerável, os
Nesse contexto desigual foram adotadas medidas legislativas emergenciais com vistas
a conter a grave crise econômica ocasionada pela Pandemia da COVID-19, em que se buscou
90
No livro “o monstro bate à nossa porta: a ameaça global da gripe aviária”, edição brasileira publicada pela
editora Record, em 2006, o historiador norte-americano já alertava para o perigo de uma pandemia catastrófica no
futuro nos casos de transmissões de vírus de animas para as pessoas (SANDOVAL, 2020).
138
91
Como pode se inferir da nota conjunta assinada pelos representantes da Central Única dos Trabalhadores (CUT),
da Força Sindical, da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), da Nova Central Sindical de
Trabalhadores (NCST), da Central dos Sindicatos Brasileiros (CSB), da União Geral dos Trabalhadores (UGT),
da Central Sindical e Popular (CSP-Conlutas), Intersindical – Central da Classe Trabalhadora, Intersindical –
Instrumento de Luta e Organização da Classe Trabalhadora, Central Geral dos Trabalhadores do Brasil (CGTB)
disponível em: https://admin.cut.org.br/system/uploads/ck/Nota%20Centrais%20coronavirusvf.pdf.pdf
139
movimento sindical era forçar o Governo Federal a adotar medidas efetivas para proteção à
vida, à saúde, ao emprego e a renda dos trabalhadores e trabalhadoras, sendo assegurada:
(1) proteção ao emprego, com estabilidade; (2) proteção à renda, com garantia e
ampliação dos programas existentes na seguridade social e outros mais que se fizerem
necessários; (3) proteção à saúde, com segurança alimentar e medidas de combate ao
contágio dos trabalhadores e trabalhadoras, formais e informais, com medidas
específicas para os mais afetados: saúde, transporte, segurança pública e educação
(NOBRE; TORRES; ARAÚJO; RAMOS; ANTÔNIO NETO; PATAH; LOPES;
ÍNDIO; MELATO; OLIVEIRA, 2020, p. 2).
ADOÇÃO TOTAL
ADOÇÃO PARCIAL
A CNI considera que somente duas propostas foram parcialmente adotadas, quais sejam:
a exclusão de forma expressa no texto de lei da COVID-19 como doença relacionada ao
trabalho e a extensão de forma emergencial do critério de dupla visita. Convém salientar que as
duas propostas foram adotadas pelo Governo Federal quando da edição da Medida Provisória
n. 927, nos artigos 29 e 31, respectivamente, todavia, tiveram seu efeito posteriormente
suspensos por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) (VALENTE, 2020).
O resultado de todas as propostas apresentadas pela CNI, trabalhistas ou não, a alta taxa
de aceitação e adoção pelo Governo Federal pode ser visto na imagem abaixo.
143
92
Para conhecer a relação completa da legislação brasileira sobre a Pandemia da COVID-19, acessar:
http://www.planalto.gov.br/CCIVIL_03/Portaria/quadro_portaria.htm
93
Os atos normativos relacionados a Pandemia da COVID-19 devem observar essa data para incidência e
aplicação, como explicitado por Rodolfo Pamplona Filho e Leandro Fernandez (2020).
144
94
O estado de calamidade pública é regulado pela Lei Complementar n. 101, de 4 de maio de 2000, mais
precisamente no artigo 65.
145
sem receber salário. Quatro. Meses. Sem. Salário”, alertou a economista Mônica de
Bolle95 (apud JIMÉNEZ; MENDONÇA, 2020, [s.p]).
O recuo não altera a crítica feita à medida, nem mesmo a intenção de privilegiar o
socorro às empresas em detrimento aos trabalhadores e a proteção da renda da base da pirâmide
social brasileira pelo Governo Federal (JIMÉNEZ; MENDONÇA, 2020). Além disso, alerta
PAMPLONA FILHO e FERNADEZ (2020, p. 776): “A Medida Provisória n. 927/20 prevê
uma série de medidas que, em regra, podem ser estabelecidas unilateralmente pelo empregador,
reconhecendo em seu favor amplos contornos ao jus variandi durante o estado de calamidade”.
Corroboram dessa visão Antônio Umberto de Souza Júnior, Danilo Gonçalves Gaspar, Fabiano
Coelho e Raphael Miziara:
95
Essa afirmação textual foi feita na reportagem (JIMÉNEZ; MENDONÇA, 2020).
146
Começando pelo teletrabalho, art. 4º, foi dada autorização ao empregador, a seu critério,
de alterar o regime de trabalho presencial para outros regimes como o teletrabalho, o trabalho
remoto ou outro tipo a distância, bem como determinar o retorno do trabalhador ao regime
presencial, sendo desnecessário acordo individual ou coletivo96.
Ainda que à custa de algum isolamento em relação aos colegas (amenizável pelo uso
das tecnologias disponíveis de comunicação não-presencial) de trabalho e de profissão
(impactando também no grau de coesão das categorias profissionais) e dos riscos da
resistência pessoal à imprescindível desconexão, o teletrabalho constitui
importantíssimo mecanismo de preservação da atividade empresarial e,
consequentemente, dos empregos e renda (SOUZA JÚNIOR; GASPAR; COELHO;
MIZIARA, 2020, p. 61).
Os parágrafos do referido artigo tratavam desde a conceituação dos regimes (§ 1º), como
a forma de comunicação do trabalhador da mudança de regime, está se dará por escrito ou meio
eletrônico, com antecedência mínima de quarenta e oito horas (§ 2º). Abordava, ainda, a
relevante responsabilização pela aquisição, manutenção e fornecimento dos equipamentos e
infraestrutura necessários para o desenvolvimento das atividades laborais e o reembolso das
despesas tidas pelo trabalhador, que devem ser firmadas por contrato escrito, previamente ou
no prazo de 30 dias (§ 3º). Ressalte-se que o reembolso pelo empregador se encontrava em
consonância com a previsão de risco do negócio contido no art. 2º, CLT (SOUZA JÚNIOR;
GASPAR; COELHO; MIZIARA, 2020).
Além disso, na hipótese do trabalhador não dispor desses equipamentos e infraestrutura,
poderia o empregador fornecer em contrato de comodato e pagar pelos serviços de
infraestrutura, não sendo caracterizada verba de natureza salarial. Contudo, caso o empregador
não pudesse, ou quisesse, oferecer os equipamentos em comodato seria considerado tempo à
disposição, com o normal pagamento da jornada de trabalho (§ 4º). Novamente, prevalecia o
entendimento da não transferência do ônus do empreendimento ao trabalhador.
O regramento acerca do tempo de uso de aplicativos e programas de comunicação (§ 5º)
trouxe polêmica ao dispor que o labor fora da jornada normal de trabalho não constituiria tempo
à disposição, regime de prontidão ou sobreaviso, salvo em caso de acordo individual ou
coletivo. Sobre o assunto, ponderam Antônio Umberto de Souza Júnior, Danilo Gonçalves
Gaspar, Fabiano Coelho e Raphael Miziara (2020, p. 67): “a regra exoneratória da tutela da
duração do trabalho somente deve recair naquelas situações concretas em que possa o
empregado livremente escolher o momento mais conveniente para realizar suas tarefas”. Caso
contrário, se o trabalhador tivesse seu horário de trabalho controlado pelo empregador, valeriam
96
Essa previsão se estende aos aprendizes e estagiários (art. 5º, MP n. 927/2020).
147
Também, houve a criação de uma modalidade especial de banco de horas, por meio de
acordo coletivo ou individual formal, com elastecimento do prazo de compensação das horas
de trabalho para dezoito meses, a contar do término da calamidade pública97 (art. 14).
Em 01/04/2020 foi editada outra Medida Provisória, a MP n. 936/2020, com medidas
trabalhistas complementares, com a finalidade de preservar emprego e renda, garantir a
continuidade do trabalho e da empresa e minimizar os impactos sociais causados pelo estado
de calamidade pública e emergência de saúde pública; assim, foi instituído o BEm (art. 2º)
(NAHAS; MARTINEZ, 2020, p. 806).
Nesse âmbito, foi autorizado o desconto 25, 50 ou 70% do salário com redução
proporcional da jornada, por um período de até 90 dias, mediante acordo individual (art. 7º).
Todavia, ressalte-se que o trabalhador que ganhasse salário superior a R$ 3.135,00 (até três
salários-mínimos) e inferior a R$ 12.202,12 (duas vezes o teto da previdência), fazia jus apenas
ao desconto de 25% pela via do acordo individual, nos demais casos necessitaria de norma
coletiva (art. 12). Caso o empregador quisesse celebrar acordos em percentuais distintos,
97
Conforme Decreto Legislativo n. 6/2020, o prazo de duração foi estabelecido em 31/12/2020.
149
No Brasil, o “excesso de mortes” foi de 22%, com mais de 275.500 mortes por causas
naturais que o esperado para 2020, conforme dados do Conselho Nacional de Secretários de
Saúde (CONASS). Ao comparar os meses de janeiro e fevereiro de 2020, período anterior à
pandemia no país, com os mesmos meses de 2021, percebe-se um aumento de mortes, não
necessariamente decorrentes da COVID-19, 68% de frentistas de posto de gasolina, 67% de
operadores de caixa de supermercado, 62% de motoristas de ônibus e 59% de vigilantes, dentre
outras atividades laborais correlatas como atesta a figura abaixo (SOARES, 2021).
98
A proposta inicial do Governo Federal era no valor de R$ 200,00 (SALGADO, 2020).
99
Essas mortes podem, ou não, terem sido ocasionadas pela COVID-19. Não é possível se precisar através dos
dados obtidos pelo CAGED, que informam somente o motivo do desligamento, neste caso por falecimento/morte.
151
Imagem 17 – Ocupações com mais desligamentos por morte em janeiro e fevereiro com
emprego formal
100
Os dados se baseiam na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (PnadC/IBGE).
153
101
Consideram desocupadas, as pessoas sem trabalho na semana de referência, mas que tomaram alguma
providência para consegui-lo e estariam preparados para assumir o posto de trabalho na semana de referência
(INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2021a).
102
A força de trabalho é composta pelas pessoas ocupadas e desocupadas na semana de referência. Assim, as
pessoas fora da força de trabalho são pessoas que estão na idade de trabalhar, com 14 ou mais anos, porém, não
estão procurando emprego (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2021a).
154
[...] o dado mais preocupante é que, entre os chefes de família, essa mesma taxa
combinada de desocupação com desalento correspondeu a 11,2%, em 2020, e a
13,4%, em 2021, o que indica maior número de famílias em situação de
vulnerabilidade.
Ainda, entre os desempregados, a proporção daqueles que procuraram trabalho há
mais de 5 meses aumentou de 49,6% para 61,3%. (DEPARTAMENTO
INTERSINDICAL DE ESTATÍSTICA E ESTUDOS SOCIOECONÔMICOS, 2021,
[s.p]).
Esses dados nacionais, igualmente, são inferidos no contexto mineiro, no qual a taxa
combinada de desocupados e desalentados dos responsáveis pelos domicílios aumentou de
9,6%, no 1º trimestre de 2020, para 12%, no 1º trimestre de 2021, bem como há um maior
tempo na procura por trabalho dos desocupados, salto de 9,9%. Já, o rendimento médio real por
hora teve um ligeiro aumento no âmbito nacional (R$ 0,28), por outro lado teve queda de R$
0,02 em Minas Gerais.
É preciso ficar atento aos problemas estruturais que corroem a economia e o mercado
de trabalho brasileiro, e também, à legislação trabalhista brasileira que durante a Pandemia da
COVID-19 – se não a maior, uma das maiores crises dessa geração – adotou como remédio
amargo novamente medidas voltadas para a desregulação e a flexibilização de elementos
centrais do contrato de trabalho. Como alertam Gabriela Neves Delgado e Helder Santos
Amorim,
Nesse momento de crise, a legislação pandêmica do trabalho, ao autorizar a redução
salarial e a compensação de jornada por acordo individual de trabalho, institui
perigosíssimo precedente de flexibilização de elementos centrais ao contrato de
trabalho. Em sacrifício aos direitos fundamentais trabalhistas, abrem-se fendas no
processo civilizatório com potencial de reduzir o trabalho humano a um mero recurso
de sobrevivência, destituído de sua função constitucional protetiva da dignidade
humana (DELGADO; AMORIM, 2020, [s.p]).
Por sua vez, Zlavoj Zizek reflete sobre a mudança ocorrida durante esse período
pandêmico e como isso poderá impactar nas orientações básicas da vida no pós-pandemia.
A questão é que, mesmo quando a vida eventualmente voltar ao normal, não será mais
o mesmo normal que conhecíamos antes do surto: coisas com as quais nos
acostumamos com parte da vida cotidiana não serão mais dadas como certas, teremos
103
No caso do desalento são consideradas as “pessoas fora da força de trabalho na semana de referência que
estavam disponíveis para assumir um trabalho na semana de referência, mas não tomaram providência para
conseguir trabalho no período de referência [...]” (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E
ESTATÍSTICA, 2021a, [s.p]).
155
de aprender a levar uma vida muito mais frágil, repleta de ameaças constantes. Será
preciso mudar completamente nossa postura diante da vida, diante de nossa existência
como seres humanos convivendo com outras formas de vida (ZIZEK (2020, p. 81-
82).
Para o autor é imprescindível que o enfoque seja para o real significado da vida, bem
como a luta deve se dar por uma nova ordem que suplante o ideal liberal-capitalista, apesar de
prever que o cenário mais provável, infelizmente, é de um capitalismo ainda mais bárbaro,
desigual e precarizado para as classes mais vulneráveis (ZIZEK, 2020).
156
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Se toda pesquisa científica se inicia com uma indagação para um problema sem resposta
imediata, a pergunta dessa pesquisa era: quais são, na percepção dos trabalhadores, os impactos
da reforma trabalhista já sentidos nas relações de emprego acerca do contrato de trabalho, da
duração do trabalho e da remuneração do trabalho, nos ramos de turismo, hotelaria e
alimentação nos municípios mineiros de Mariana e Ouro Preto? Na verdade, essa questão não
era a ideia original. Ao apresentar o projeto de pesquisa não havia restrição a um grupo de
trabalhadores de um setor econômico específico, buscava-se pesquisar os empregados nas
micro e pequenas empresas marianenses e ouro-pretanas. Era, o primeiro contratempo
metodológico exposto na aula de metodologia da pesquisa no 1º semestre do PPGD/UFOP.
Durante a aula de metodologia científica, as desconcertantes perguntas: quantos seriam
esses trabalhadores? Qual seria o método de coleta dos dados? Universo? Amostra? Seria
possível realizar tal pesquisa no curto tempo do mestrado? Não se sabia as respostas. Entretanto,
as perguntas levaram a novas reflexões, com a colaboração de muitas pessoas: orientador,
colegas mestrandas, professores, leituras, pesquisas... Uma revisão, para melhor, do projeto foi
realizada, restringindo a um relevante setor econômico da região dos inconfidentes, aqui
compreendida como Mariana e Ouro Preto.
Agora, sim, a pergunta problema acima, nortearia essa pesquisa. Com o novo tema-
problema, as perguntas metodológicas ressurgiram: saberia informar o universo da pesquisa?
Sim, 3.758 trabalhadores formalmente empregados no setor de atividade a ser pesquisado,
sendo 1.182 em Mariana e 2.576 em Ouro Preto conforme dados do CAGED em janeiro de
2019. E a amostra? Após contratação da empresa júnior do curso de estatística da Universidade
Federal de Ouro Preto, EstatisJr, delimitou-se a amostra estratificada, ou seja, a quantidade de
questionários que deveriam ser aplicados, considerando uma margem de erro de 10% (dez por
cento), seria necessária a aplicação do questionário para 108 trabalhadores, 34 trabalhadores
em Mariana e 74 em Ouro Preto.
E quanto à coleta de dados, bastava sair e perguntar aos trabalhadores? Não, devido à
opção de coleta de dados diretamente dos trabalhadores, cumpre ressaltar que havia a submissão
do Projeto ao Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Ouro Preto, e discorria-
se sobre questionário, TCLE, declaração de custos etc. Então, mas como seria realizada a coleta
dos dados? Os questionários seriam aplicados valendo-se do cadastro dos trabalhadores
existentes no sindicato da categoria, qual seja, Sindicato dos Empregados em Turismo,
Hospitalidade, Asseio e Conservação de Ouro Preto e Região, SETHOP. Naquele momento,
157
não se sabia, como demonstrou a pesquisa empírica, o alto nível de desconhecimento do ente
sindical pelos trabalhadores, especialmente, em Mariana.
Além disso, o foco eram as relações de emprego, ou seja, as relações formais de
trabalho, os celetistas, cujas relações trabalhistas são reguladas pela CLT, a qual sofreu
múltiplas alterações pela Lei 13.467/2017. Também, nesse quesito, logo se percebeu a
necessidade de adaptação da pergunta para relação laboral, visando abarcar trabalhadores
formais e informais. Os dados empíricos obtidos na pesquisa de campo, com grande número de
trabalhadores informais, confirmaram o acerto de se pesquisar o trabalhador de forma ampla, a
“classe-que-vive-do-trabalho”.
O mestrado se mostrou desafiador, a pergunta problema possuía três principais prismas
(recortes metodológicos): as modificações pontuais da legislação trabalhista (contrato, duração
e remuneração do trabalho); o ramo de atividade econômica específico de atuação dos
trabalhadores (hotelaria, hotelaria e alimentação) e o contexto local/regional de trabalhadores
(os municípios mineiros de Mariana e Ouro Preto).
Ao longo da pesquisa, em evento promovido pelo PPGD/UFOP, percebeu-se que a lei
13.467/2017 não deveria ser vista como sinônimo de reforma trabalhista, mas sim, o ápice de
um processo reformador de matriz neoliberal. Após realizar uma revisão bibliográfica sobre o
tema, esse ponto se tornou nevrálgico na pesquisa, sendo abordado no capítulo 4 e ampliando
o entendimento sobre as transformações ocasionadas pela reforma trabalhista de 2017, um dos
objetivos da pesquisa.
Ainda no campo da dogmática jurídica, a pesquisa apresentou a íntima relação entre o
Direito do Trabalho e o sistema capitalista, além de realizar uma digressão sobre o papel
protetivo desse ramo jurídico. No Brasil, destacou-se o processo de sistematização das leis
trabalhistas na CLT, em 1943, e a constitucionalização dos direitos sociais trabalhistas, alçados
a direito fundamental com o advento da CRFB/1988. O direito fundamental ao trabalho digno
se assenta na norma constitucional brasileira e em diversos diplomas internacionais, como
demonstrado no capítulo 3, busca-se evitar que o trabalho se converta em mercadoria e o
trabalhador em objeto, visa garantir a efetivação de direitos trabalhistas mínimos, uma
remuneração justa e satisfatória para uma jornada de trabalho razoável, que lhe proteja a saúde
mental e física, lhe oportunizando perspectivas de desenvolvimento pessoal, profissional e
social para uma existência digna.
A reforma trabalhista brasileira de 2017, ao descontruir normas protetivas do trabalho,
flexibilizando quando não desregulando direitos trabalhistas, ampliando o poder do capital na
contratação, uso e remuneração do trabalho, na vã promessa de gerar mais empregos e
158
Nesse sentido, os dados apurados revelam que os municípios de Mariana e Ouro Preto,
com população majoritariamente urbana, possuem dados acima da média nacional e estadual
na maioria dos quesitos pesquisados, é o caso do PIB e do PIB per capita. Quando a comparação
se dá por ranqueamento, com os demais municípios brasileiros e mineiros, os municípios
pesquisados também se destacam, é o caso da taxa de participação (68% em Mariana e 72% em
Ouro Preto) – imagem 9, do nível de ocupação (61% em Mariana e 66% em Ouro Preto) –
imagem 10, e da taxa de desocupação (10% em Mariana e 8% em Ouro Preto) – imagem 11,
conforme imagens apresentadas na dissertação.
Também, a título de remuneração, os dados são favoráveis na região pesquisada, na
média, acima da maior parte dos municípios. Por certo, identificou-se históricos problemas com
a interseccionalidade no mercado de trabalho, com uma maior remuneração de homens brancos,
seguidos por homens negros e mulheres branca e, finalmente, as mulheres negras, como provou
a imagem 13. Uma chaga latente em nosso desigual mercado de trabalho.
Igualmente, a jornada de trabalho semanal superior a 44 horas, teto constitucional, é
maior em Ouro Preto com 30,8% do que em Mariana com 21,9% (a média mineira, é 31,4%).
Já, o trabalho formal corresponde a 57,4% em Mariana e 51,9% em Ouro Preto, ante 15,5% e
16,8% de informais em Mariana e Ouro Preto, respectivamente – tabela 3 da dissertação.
Torna-se pertinente revisitar esses dados gerais nessas considerações finais, pois, com a
ressalva dos dados gerais estarem defasados, sendo do Censo Demográfico de 2010 – diante do
cancelamento do Censo de 2020 –, ao analisar os dados por setor econômico, no caso do estudo,
turismo, hotelaria e alimentação, constatou-se uma jornada de trabalho acima de 44 horas
semanais variando de 13% a 21% em Mariana e, entre 2 a 6% em Ouro Preto, bem inferior à
média local nesse último caso, como atesta o gráfico 23104 da dissertação; por outro lado, a taxa
de informalidade por setor econômico é bem superior à média local: 23,4% em Mariana e 46,4%
em Ouro Preto, conforme gráfico 18.
Dito isso, uma das conclusões dessa pesquisa diz respeito à necessidade de análise
parcimoniosa dos dados e a produção de conhecimento empírico e local, objetivando a obtenção
de dados e análises do mercado de trabalho, das relações trabalhistas, inclusive por setor de
atividade econômica, por regiões e bairros, por sexo, por faixa etária, por raça... Enfim, os dados
específicos, ainda pouco utilizados nas pesquisas jurídicas, porém ganhando espaço, como se
104
A variação se deve pelo fato de trabalhadores terem respondido que cumpre jornada de 40 a 48 horas (8% em
Mariana e 4% em Ouro Preto), logo, podem exceder, ou não, se habitual ou esporádico, as 44 horas semanais.
160
105
Por exemplo, a dissertação de mestrado de Leila Bitencourt Reis da Silva (2019).
106
Nessa pesquisa explicita-se a perspectiva justrabalhista, porém, os demais ramos do direito devem ser
abrangidos por essa conclusão.
161
previamente. Ora, como a essencia da Lei 13.467/2017, a reforma trabalhista de 2017, foi no
sentido de flexibilizar e desregulamentar as normas trabalhistas, em um mercado de trabalho já
flexível e informal como se verificou no setor pesquisado, a tendência é que o impacto seja
menor, devido a menor efetividade das propostas reformadoras.
Durante o desenvolvimento dessa pesquisa o mundo foi assolado pela Pandemia da
COVID-19, a pesquisa de campo teve que ser interrompida, ao retornar as aplicações de
questionários, respostas espontâneas surgiram e relacionaram o evento pandêmico com o
cotidiano das relações laborais dos trabalhadores respondentes. Não restam dúvidas dos efeitos
deletérios para o mercado e as relações de trabalho, as desigualdades sociais se agravaram e as
medidas legais trabalhistas de urgência se mostraram, novamente, flexibilizantes,
precarizantes... Na esperança de um futuro mais igualitário e solidário, consagrando a função
constitucional protetiva da dignidade humana, mas ciente dos tempos sombrios que se
avizinham aos mais vulneráveis, se impôs o acréscimo de um adendo à pesquisa, o capítulo 7.
Por fim, constata-se a oportunidade de realização de outros estudos sobre tema, a
profusão de dados obtidos na pesquisa empírica possibilita desdobramentos utilizando-se da
das evidências produzidas.
163
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APÊNDICE A – QUESTIONÁRIO
DATA: ______/_______/__________
1. Nome:___________________________________________________________________
2. Sexo: ( ) Feminino ( ) Masculino
3. Cor da pele: ( ) Branca ( ) Preta ( ) Parda ( ) Outra:_______________________
4. Profissão/Atividade:_______________________________________________________
5. Celular:_________________________________________________________
6. Data de nascimento: ______/_______/__________
7. Atividade preponderante do empregador atual:
( ) Hotel ou Pousada ( ) Bar ou Restaurante ( ) Limpeza ou Conservação
( ) Outro:___________________________________________________________________
8. Atividade preponderante do empregador anterior, na mesma atividade:
( ) Hotel ou Pousada ( ) Bar ou Restaurante ( ) Limpeza ou Conservação
( ) Outro:___________________________________________________________________
175
QUESTIONÁRIO
1. Em relação à sua atividade como trabalhador, ainda que informal, indique:
8. Qual nota você se daria em relação à sua capacidade de negociar em condições iguais
com seu empregador sobre direitos trabalhistas (1 mínimo de condições e 10 máximo de
condições): _________________________________________________________________
( ) Não sabe/Não respondeu
15. Como era e como são concedidos intervalos para alimentação e descanso (almoço ou
jantar)?
16. Você chegava ou chega ao trabalho mais cedo, ou sai mais tarde, além do horário
normal?
18. Você recebia ou recebe utilidades (bens ou serviços além do que é pago em dinheiro)?
Possível marcar mais de uma assertiva.
Obs:________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
179
Após ser esclarecido(a) sobre as informações a seguir, caso aceite fazer parte do estudo,
assinale ao final do documento. Use o tempo que julgar necessário para tomar a decisão de
confirmar ou não sua participação. Em caso de recusa, nenhuma penalidade lhe será imposta.
Declaro por meio deste termo que concordei em participar na pesquisa de campo
referente ao projeto de mestrado intitulado “REFORMA TRABALHISTA E CONTRATOS
DE EMPREGO: percepção dos trabalhadores em turismo, hotelaria e alimentação de Mariana
e Ouro Preto”. Fui informado(a) ainda do objetivo estritamente acadêmico do estudo, que a
pesquisa é orientada pelo professor Dr. Amauri Cesar Alves e realizada em conjunto com o
discente Cleberson Ferreira de Morais, mestrando do Programa de Pós-Graduação em Direito
– “Novos Direitos, Novos Sujeitos” da UFOP, respondendo a um questionário cujo escopo é
possibilitar a apuração estatística dos impactos da Reforma Trabalhista (Lei 13.467/2017)na
minha relação empregatícia, mais precisamente no contrato, na duração e na remuneração do
trabalho.
Como benefício da pesquisa almeja-se através dos dados estatísticos levantados
compreender os impactos da Reforma Trabalhista (Lei 13.467/2017) no contrato, duração e
remuneração do trabalho no ramo de turismo, hotelaria e alimentação em Mariana e Ouro Preto,
permitindo obter maior conhecimento prático sobre o tema, com o objetivo de auxiliar a classe
trabalhadora a enfrentar as dificuldades relacionadas à mudança legislativa e a consequente
transformação nas relações laborais.
Confirmo que aceitei participar por minha própria vontade, sem receber qualquer
incentivo financeiro ou ter qualquer ônus vinculado à minha participação. Participei com o
único objetivo de colaborar com o sucesso da pesquisa.
O acesso e a análise dos dados coletados serão feitos exclusivamente pelo Pesquisador
e seu Orientador. Salienta-se que tais dados permanecem confidenciais mesmo ao fim da
pesquisa. O responsável pelo armazenamento dos questionários será o mestrando,
permanecendo os documentos e dados da pesquisa armazenados na sala da Secretaria do
Programa de Pós-Graduação em Direito – “Novos Direitos, Novos Sujeitos”, cujo endereço é:
Escola de Direito, Turismo e Museologia (EDTM), Campus Universitário, s/n, Morro do
Cruzeiro, Ouro Preto/MG, CEP: 35.400-000, Telefone: (31) 3559-1545. No endereço
supracitado haverá um computador, patrimônio nº. 133923, com senha no qual se armazenarão
os dados produzidos, os quais serão armazenados pelo período de 5 (cinco) anos a contar do
depósito definitivo da dissertação. Os dados resultantes da aplicação dos questionários serão
publicados, quaisquer que sejam os resultados, mas sem identificação pessoal (nominal) de
quem quer que seja.
Trata-se de pesquisa com seres humanos, ainda que restrita à aplicação de questionário.
Consequentemente há riscos envolvidos. Os riscos são aqueles inerentes à aplicação de
questionários e um possível constrangimento na resposta das perguntas, o qual será amenizado
em seu máximo, tendo em vista que o conteúdo do questionário não envolve questões morais,
mas tão somente profissionais. Além disso, o mestrando será responsável por promover
treinamento e supervisão dos(as) aplicadores(as) de questionários para que realizem a mais
adequada abordagem do(a) participante, de modo que ajam de forma cuidadosa, respeitosa e
180
RELATÓRIO:
BELO HORIZONTE
05 DE NOVEMBRO DE 2021
186
SUMÁRIO
1. Metodologia
Após a coleta foi realizada a codificação nas perguntas que não tinham sido pré-
codificadas, e, após ela, os questionários foram digitados seguidos de uma meticulosa crítica
eletrônica da consistência dos dados.
Adriano Cerqueira
2. Universo Pesquisado
3. Desenho Amostral
A amostra final obtida foi de 190 respondentes (total dos que assinaram o termo de
consentimento livre e esclarecido), com intervalo de confiança de 95% e margem de erro de 7
pontos percentuais dos resultados da amostra total, e de 87 em Mariana e 103 em Ouro Preto (a
margem de erro para Mariana e Ouro Preto é de10 pontos percentuais).
NOTA TÉCNICA: As porcentagens estão arredondadas e por essa razão pode acontecer
de sua soma não atingir 100% (podem ficar como 99%, 101%, próximo de 100%).
Em algumas questões podem aparecer itens com 0%, mas o significado é que o percentual
ficou abaixo de 0,5% e por isso foi arredondado para 0%.
NR: Não respondeu à pergunta / NS: Não soube responder à pergunta.
190
48%
52%
Feminino Masculino
Há mais homens que mulheres entrevistadas. Na população em geral, há mais mulheres que
homens.
35%
34%
Profissão/Atividade
Garçom/ Garçonete
Atendente
NR/ NS
Recepcionista
Balconista
Auxiliar de limpeza
Serviços gerais
Musicista
Operador(a) de caixa
Segurança
Auxiliar administrativo
Freelancer
Vendedor(a)
Motorista
Repositor(a)
Varredor(a)
Auxiliar de comunicação
Cozinheira(o)
Camareira
Artesã(ão)
Arquiteto(a)
Embalador(a)
Porteiro(a)
Monitor(a) de turismo
Engenheira(o)
Calceteira(o)
Estagiária(o)
Gari
Distribuição das profissões dos entrevistados. Predominância de garçons/ garçonetes, com 32%.
Grau de formação
36% têm formação de ensino superior incompleto a completo, 49% de ensino médio incompleto
a completo, 6% de ensino fundamental completo e 8% estão no fundamental incompleto/ sem
instrução.
Curso superior
35%
30%
25%
20%
15%
10%
5%
0%
Elétrica Pedagogia Artes Cênicas Administração Turismo NR/ NS
Quem tem formação completa de ensino superior, 20% são de Turismo e 20% de
Administração, enquanto 10%, respectivamente, são de Elétrica, Pedagogia e Artes Cências.
193
Ouro Preto
Mariana
Distribuição dos entrevistados nos municípios de Ouro Preto (54%) e Mariana (42%).
Bar/ Restaurante
Hotel/ Pousada
Limpeza ou Conservação
Outros
NR/ NS
Setor de Turismo
54% dos atuais empregadores atuam no setor de bares e restaurantes. 21% atuam em hotéis e
pousadas.
194
Bar/ Restaurante
Outros
NR/ NS
Limpeza ou Conservação
Hotel/ Pousada
Setor de Turismo
Não o conheço
Sou sindicalizado
NR/NS
Conhecimento da Reforma
Trabalhista, Lei 13.467/2017
6%
31%
63%
61% afirmaram ter conhecimento da Reforma Trabalhista (Lei 13.467/2017), enquanto 31%
não conhecem.
196
Meio de informação
Jornal
Internet
Televisão
Redes sociais
Sindicato
NR/ NS
Institucional
Pesquisa
Outros
Rádio
Colegas de trabalho
Advogado trabalhista
Universidade
Pela associação
Jornal e internet foram os principais meios de informação sobre a Reforma Trabalhista (22%
para cada), seguidos da televisão com 20%. Redes socais foram o meio para 8% e os sindicatos
para 5%.
NR/NS
Não
52% perceberam alteração na relação de trabalho após 11 de novembro de 2017, sendo que
29% foram até 17 de março de 2020 que notaram a diferença, enquanto 23% perceberam após
o inpicio da pandemia da Covid-19.
42% não perceberam alteração.
Obs: As respostas foram obtidas espontaneamente.
197
25%
20%
15%
10%
5%
0%
62% dos atuais contratos foram celebrados a partir de 2017, enquanto 19% foram celebrados
antes de 2017. 24% não souberam ou não quiseram informar.
24% foram a partir de 2017, enquanto 38% dos contratos anteriores foram celebrados antes de
2017. 44% não souberam ou não quiseram informar.
198
Terceirizado
NR
46% dos vínculos trabalhistas são informais, sem Carteira, enquanto 44% são celetistas e 8%
terceirizados.
NR/ NS
Terceirizado
43% dos vínculos trabalhistas anteriores eram informais, sem Carteira, enquanto 29% eram
celetistas e 12% terceirizados.
Logo, houve um aumento significativo de contratos celetistas nos atuais contratos.
199
40%
30%
20%
10%
0%
Contrato por tempo Contrato por tempo Contrato de Não possuo contrato NR/ NS
indeterminado determinado trabalho formal
intermitente
No comparativo (antes e depois de 11/11/2017), houve um crescimento nos contratos por tempo
indeterminado (42% para 45%) e para quem não possui contrato formal (de 26% para 35%).
No comparativo (antes e depois de 11/11/2017), houve um crescimento de 33% para 37% nas
horas extras esporádicas e houve um crescimento na não concessão de horas extras (de 36%
para 41%).
50%
40%
30%
20%
10%
0%
Sim, por acordo ou Sim, por acordo individual Não NR/NS
convenção coletiva escrito
No comparativo (antes e depois de 11/11/2017), houve uma diminuição de 44% para 42% na
concessão de férias, houve um crescimento nas férias parcelas (de 5% para 9%) e também houve
crescimento para quem não estava gozando férias (de 27% para 32%).
202
No comparativo (antes e depois de 11/11/2017), houve um crescimento de 55% para 58% nos
intervalos para alimentação e descanso, houve um crescimento nos intervalos de 30 minutos
(de 16% para 22%) e na não concessão de intervalos (de 9% para 13%).
No comparativo (antes e depois de 11/11/2017), houve um crescimento de 61% para 65% para
quem não alterou o horário normal de trabalho.
203
50%
40%
30%
20%
10%
0%
Salário fixo, apenas Salário fixo + Salário fixo + Salário, sempre NR/NS
Comissão ou gorjeta Comissão ou gorjeta variável
+ Prêmio
No comparativo (antes e depois de 11/11/2017), houve um crescimento de 54% para 56% para
quem recebe apenas salário fixo e houve um crescimento para quem recebe salário fixo mais
comissão/ gorjeta (de 15% para 25%).
No comparativo (antes e depois de 11/11/2017) houve uma diminuição de 31% para 27% para
quem recebe vale-transporte.
204
5. Mariana: Amostra
32%
68%
Feminino Masculino
Há muito mais mulheres que homens entrevistados. Na população em geral, há mais mulheres
que homens, mas em uma proporção bem menor que a da amostra.
30%
46%
Profissão/Atividade
Atendente
Garçom/ Garçonete
NR/ NS
Balconista
Serviços gerais
Operador(a) de caixa
Auxiliar administrativo
Freelancer
Recepcionista
Varredor(a)
Monitor(a) de turismo
Estagiária(o)
Gari
Vendedor(a)
Motorista
Repositor(a)
Auxiliar de comunicação
Artesã(ão)
Arquiteto(a)
Embalador(a)
Porteiro(a)
Engenheira(o)
Auxiliar de limpeza
Calceteira(o)
Grau de formação
35% têm formação de ensino superior incompleto a completo, 52% de ensino médio incompleto
a completo, 2% de ensino fundamental completo e 11% estão no fundamental incompleto.
Curso superior
45%
40%
35%
30%
25%
20%
15%
10%
5%
0%
Administração Elétrica Pedagogia NR/ NS
Quem tem formação completa de ensino superior, 20% são de Elétrica, 20% de Pedagogia e
20% de Administração.
207
Bar/ Restaurante
Limpeza ou Conservação
Outros
Hotel/ Pousada
Setor de Turismo
NR/ NS
51% dos atuais empregadores atuam no setor de bares e restaurantes. 16% atuam em Limpeza
ou Conservação.
Outros
NR/ NS
Limpeza ou Conservação
Setor de Turismo
Hotel/ Pousada
38% dos empregadores anteriores atuavam no setor de bares e restaurantes. 12% atuavam em
Limpeza ou Conservação.
208
Não o conheço
NR/NS
Conhecimento da Reforma
Trabalhista, Lei 13.467/2017
10%
46%
44%
46% afirmaram ter conhecimento da Reforma Trabalhista (Lei 13.467/2017), enquanto 44%
não conhecem.
Meio de informação
Internet
Televisão
Jornal
Redes sociais
Institucional
NR/ NS
Sindicato
Colegas de trabalho
Pela associação
Advogado trabalhista
Pesquisa
Internet (27%) e televisão (24%) foram os principais meios de informação sobre a Reforma
Trabalhista, seguidos de jornal (16%) e Redes socais (11%).
210
NR/NS
Não
69% não perceberam alteração na relação de trabalho após 11 de novembro de 2017, sendo que
10% perceberam até 17 de março de 2020, enquanto 8% perceberam após o início da pandemia
da Covid-19.
Obs: As respostas foram obtidas espontaneamente.
211
32%
68%
Feminino Masculino
Há muito mais homens que mulheres entrevistados. Na população em geral, há mais mulheres
que homens.
39%
26%
Profissão/Atividade
Garçom/ Garçonete
Atendente
Recepcionista
Auxiliar de limpeza
NR/ NS
Musicista
Balconista
Segurança
Cozinheira(o)
Motorista
Camareira
Porteiro(a)
Auxiliar administrativo
Operador(a) de caixa
Serviços gerais
Distribuição das profissões dos entrevistados. Predominância de garçons e garçonete com 47%.
Grau de formação
39% têm formação de ensino superior incompleto a completo, 48% de ensino médio incompleto
a completo, 8% de ensino fundamental completo e 6% estão no fundamental incompleto/ sem
instrução.
Curso superior
45%
40%
35%
30%
25%
20%
15%
10%
5%
0%
Administração Artes Cênicas NR/ NS Turismo
Quem tem formação completa de ensino superior, 40% são de Turismo, 20% de Artes Cênicas
e 20% de Administração.
214
Bar/ Restaurante
Hotel/ Pousada
Outros
Limpeza ou Conservação
NR/ NS
Setor de Turismo
59% dos atuais empregadores atuam no setor de bares e restaurantes. 24% atuam em Hotel/
Pousada.
Bar/ Restaurante
Outros
Hotel/ Pousada
NR/ NS
Limpeza ou Conservação
49% dos empregadores anteriores atuavam no setor de bares e restaurantes. 12% atuavam em
Hotel/ Pousada.
215
Não o conheço
Sou sindicalizado
NR/NS
45% dos entrevistados conhecem, mas não são sindicalizados, enquanto 13% dos entrevistados
são sindicalizados no SETHOP (Sindicato dos Empregados em Turismo, Hospitalidade, Asseio
e Conservação de Ouro Preto e Região). 39% não conhecem a entidade.
Conhecimento da Reforma
Trabalhista, Lei 13.467/2017
3%
19%
78%
78% afirmaram ter conhecimento da Reforma Trabalhista (Lei 13.467/2017), enquanto 19%
não conhecem.
Meio de informação
Jornal
Internet
Televisão
Sindicato
Redes sociais
NR/ NS
Outros
Pesquisa
Rádio
Colegas de trabalho
Institucional
Advogado trabalhista
Universidade
0% 5% 10% 15% 20% 25% 30%
Jornal (26%) e internet (20%) foram os principais meios de informação sobre a Reforma
Trabalhista, seguidos de televisão (18%).
217
NR/NS
Não
45% perceberam alteração até 17 de março de 2020, enquanto 34% perceberam após o início
da pandemia da Covid-19. 20% não perceberam alteração na relação de trabalho após 11 de
novembro de 2017.
Obs: As respostas foram obtidas espontaneamente.
218
43%
57%
Feminino Masculino
Há mais mulheres que homens entrevistados. Na população em geral, a proporção feminina está
levemente inferior à da amostra.
14%
29%
28%
29%
Profissão/Atividade
Serviços gerais
NR/ NS
Segurança
Freelancer
Garçom/ Garçonete
Atendente
Distribuição das profissões dos entrevistados. Predominância de serviços gerais com 29%.
Grau de formação
14% têm formação de ensino superior incompleto, 58% de ensino médio incompleto a
completo, 14% de ensino fundamental completo e 14% estão no fundamental incompleto/ sem
instrução.
Limpeza ou Conservação
Hotel/ Pousada
71% dos atuais empregadores atuam no setor de bares e restaurantes. 29% atuam em Limpeza
ou Conservação.
221
Outros
Limpeza ou Conservação
Hotel/ Pousada
43% dos empregadores anteriores atuavam no setor de Hotel/ Pousada. 29% atuavam em
Limpeza ou Conservação.
Não o conheço
29% dos entrevistados conhecem, mas não são sindicalizados no SETHOP (Sindicato dos
Empregados em Turismo, Hospitalidade, Asseio e Conservação de Ouro Preto e Região),
enquanto 71% dos entrevistados não conhecem a entidade.
222
Conhecimento da Reforma
Trabalhista, Lei 13.467/2017
43%
57%
Sim Não
43% afirmaram ter conhecimento da Reforma Trabalhista (Lei 13.467/2017), enquanto 57%
não conhecem.
223
Meio de informação
Televisão
Redes sociais
Internet
Internet, Redes sociais e televisão (cada um com 33%) foram os principais meios de informação
sobre a Reforma Trabalhista.
Não
14% perceberam alteração até 17 de março de 2020, enquanto 29% perceberam após o início
da pandemia da Covid-19. 57% não perceberam alteração na relação de trabalho após 11 de
novembro de 2017.
Obs: As respostas foram obtidas espontaneamente.
224
Antes de 11 de novembro de 2017, Ouro Preto se destaca por ter mais contratos por tempo
indeterminado e por apresentar a maior porcentagem de quem não possui contrato formal.
Mariana se destaca por ter mais contratos por tempo determinado.
60,0%
50,0%
40,0%
30,0%
20,0%
10,0%
0,0%
Contrato por tempo Contrato por tempo Contrato de Não possuo NR/ NS
indeterminado determinado trabalho contrato formal
intermitente
Depois de 11 de novembro de 2017, Mariana & Ouro Preto se destaca por ter mais contratos
por tempo indeterminado e por tempo determinado.
Ouro Preto continua se destacando por ter maior porcentagem de quem não possui contrato
formal.
225
Antes de 11 de novembro de 2017, Ouro Preto se destaca por ter maior percentual de regime de
trabalho integral de 36 a 40 horas.
Mariana se destaca por ter maior percentual de regime de trabalho integral de 48 horas.
Mariana & Ouro Preto se destaca por ter mais contratos por tempo indeterminado e por tempo
determinado.
226
Depois de 11 de novembro de 2017, Ouro Preto se destaca por ter maior percentual de regime
de trabalho integral de 21 a 30 horas.
Mariana se destaca por ter maior percentual de regime de trabalho integral de 48 horas.
Mariana & Ouro Preto se destaca por ter mais contratos em tempo integral.
227
50,0%
40,0%
30,0%
20,0%
10,0%
0,0%
Sim, esporádicas Sim, habituais Não NR/ NS
Antes de 11 de novembro de 2017, Ouro Preto se destaca por ter maior percentual de horas
extras esporádicas.
Mariana se destaca por ter maior percentual de não concessão de horas extras.
Mariana & Ouro Preto se destaca por ter maior percentual de horas extras habituais.
40,0%
20,0%
0,0%
Sim, esporádicas Sim, habituais Não NR/ NS
Depois de 11 de novembro de 2017, Mariana & Ouro Preto se destaca por ter maior percentual
de horas extras esporádicas.
228
Antes de 11 de novembro de 2017, Ouro Preto se destaca por ter maior percentual de pagamento
de horas extras.
Mariana se destaca por ter maior percentual de não pagamento de horas extras.
Depois de 11 de novembro de 2017, Ouro Preto se destaca por ter maior percentual de
pagamento de horas extras.
Mariana se destaca por ter maior percentual de não pagamento de horas extras.
Mariana & Ouro Preto se destaca por ter maior percentual de compensação de horas extras.
229
Antes de 11 de novembro de 2017, Mariana se destaca por ter maior percentual de utilização
de banco de horas.
Mariana & Ouro Preto se destaca por ter maior percentual de não utilização de banco de horas.
Depois de 11 de novembro de 2017, Mariana se destaca por ter maior percentual de utilização
de banco de horas por acordo inividual escrito.
Mariana & Ouro Preto se destaca por ter maior percentual de utilização de banco de horas por
acordo ou convenção coletiva, e também por ter maior percentual de não utilização de banco
de horas.
230
Antes de 11 de novembro de 2017, Ouro Preto se destaca por ter maior percentual de concessão
de férias únicas de 30 dias.
Mariana & Ouro Preto se destaca por ter maior percentual de não gozo das férias.
Depois de 11 de novembro de 2017, Ouro Preto se destaca por ter maior percentual de não gozo
das férias
Mariana & Ouro Preto se destaca por ter maior percentual de férias parceladas.
231
60,0%
40,0%
20,0%
0,0%
1 hora por dia 30 minutos, no máximo Sem intervalo NR/NS
Antes de 11 de novembro de 2017, Ouro Preto se destaca por ter maior percentual de intervalo
de uma hora por dia para alimentação.
Mariana se destaca por ter maior percentual de intervalo de no máximo 30 minutos, e também
por não ter intervalo.
60,0%
40,0%
20,0%
0,0%
1 hora por dia 30 minutos, no máximo Sem intervalo NR/NS
Depois de 11 de novembro de 2017, Mariana se destaca por ter maior percentual de não ter
intervalo
Mariana & Ouro Preto se destaca por ter maior percentual de intervalo de uma hora por dia e
também de intervalo de 30 minutos, no máximo.
232
Antes de 11 de novembro de 2017, Ouro Preto se destaca por ser o único que registra a chegada
mais cedo para o trabalho por causa de práticas religiosas.
Depois de 11 de novembro de 2017, Ouro Preto se destaca por ser o único que registra a chegada
mais cedo para o trabalho por causa de práticas religiosas.
Mariana se destaca por ter maior percentual de chegada mais cedo para descanso, lazer ou
estudo.
233
Antes de 11 de novembro de 2017, Ouro Preto se destaca por ter o maior percentual de
pagamento apenas de um salário fixo.
Mariana & Ouro Preto se destaca por ter maior percentual de chegada mais cedo para descanso,
lazer ou estudo.
Depois de 11 de novembro de 2017, Ouro Preto se destaca por ter o maior percentual de
pagamento de salário, sempre variável.
Mariana se destaca por ter maior percentual de pagamento de salário fixo, mais comissão ou
gorjeta.
Mariana & Ouro Preto se destaca por ter maior percentual de pagamento de salário fixo, apenas.
234
Antes de 11 de novembro de 2017, Ouro Preto se destaca por ter o maior percentual de
recebimento de cesta básica, de plano de saúde ou odontológico, de ticket alimentação e de vale
transporte.
Depois de 11 de novembro de 2017, Mariana & Ouro Preto se destaca por ter o maior
percentual de recebimento de cesta básica e de ticket alimentação.
Ouro Preto se destaca por ter o maior percentual de recebimento de plano de saúde ou
odontológico e de vale transporte.