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Ciencias Das Religiões - Uma Análise Interdisciplinar Ok
Ciencias Das Religiões - Uma Análise Interdisciplinar Ok
ORGANIZADOR
RELIGIÕES
CIÊNCIAS DAS
editora científica
RELIGIÕES
CIÊNCIAS DAS
1ª Edição
2020
editora científica
Copyright© 2020 por Editora Científica Digital
O conteúdo dos artigos e seus dados em sua forma, correção e confiabilidade são de responsabilidade exclusiva dos
autores. Permitido o download e compartilhamento desde que os créditos sejam atribuídos aos autores, mas sem a
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Prof. Dr. Robson José de Oliveira - Universidade Federal do Piauí
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Prof. Me. Hudson Wallença Oliveira e Sousa - Instituto Nordeste de Educação Superior e Pós-Graduação
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Profª. Ma. Juliana Campos Pinheiro - Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Profª. Dra. Maria Cristina Zago - Faculdade de Ciências Administrativas e Contábeis de Atibaia
Profª. Dra. Gracielle Teodora da Costa Pinto Coelho - Centro Universitário de Sete Lagoas
Profª. Ma. Glória Maria de França - Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Profª. Dra. Carla da Silva Sousa - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Baiano
SUMÁRIO
CAPÍTULO 01........................................................................................................................................... 12
Vicente Artuso
DOI: 10.37885/201001634
CAPÍTULO 02........................................................................................................................................... 28
DOI: 10.37885/201001678
CAPÍTULO 03........................................................................................................................................... 40
Arilson Paganus
DOI: 10.37885/201001620
CAPÍTULO 04........................................................................................................................................... 56
Antônio Lopes
DOI: 10.37885/201001778
CAPÍTULO 05........................................................................................................................................... 67
DOI: 10.37885/201001642
CAPÍTULO 06........................................................................................................................................... 75
DOI: 10.37885/201001638
CAPÍTULO 07........................................................................................................................................... 86
DOI: 10.37885/200801035
SUMÁRIO
CAPÍTULO 08......................................................................................................................................... 100
DOI: 10.37885/201001689
CAPÍTULO 09..........................................................................................................................................111
DOI: 10.37885/201001780
DOI: 10.37885/201001608
Saulo Baptista
DOI: 10.37885/201001773
DOI: 10.37885/201001692
DOI: 10.37885/200801162
DOI: 10.37885/200901486
SUMÁRIO
CAPÍTULO 15......................................................................................................................................... 207
DOI: 10.37885/201001728
DOI: 10.37885/201001684
DOI: 10.37885/201001598
DOI: 10.37885/200901237
DOI: 10.37885/201001701
DOI: 10.37885/200901564
DOI: 10.37885/201001572
SUMÁRIO
CAPÍTULO 22......................................................................................................................................... 292
DOI: 10.37885/201001700
DOI: 10.37885/201001596
DOI: 10.37885/201001672
DOI: 10.37885/201001742
DOI: 10.37885/201001685
DOI: 10.37885/201001659
DOI: 10.37885/201001639
SUMÁRIO
CAPÍTULO 29......................................................................................................................................... 423
DOI: 10.37885/200801033
DOI: 10.37885/201001660
E ARTE SACRA
DOI: 10.37885/200901460
DOI: 10.37885/201001657
Vicente Artuso
PUCPR
10.37885/201001634
RESUMO
O artigo destaca a contribuição de Santo Agostinho sobre o tempo na sua obra: As con-
fissões. Embora tenha falado do tempo cosmológico e sua origem com a criação, sua
contribuição maior foi o tratado sobre o tempo psicológico na sua sucessão de um pre-
sente inapreensível de momentos que fluem. O tempo está na consciência quando se tem
consciência que as coisas passam e nos damos conta da existência de três momentos:
passado, presente e futuro que se sucedem. Portanto o tempo é considerado inseparável
da experiência existencial. Na consciência o passado se conserva e está presente pela
memória e o futuro está presente como expectação. Permanece o presente, momento
em que o ser humano sintetiza a experiência na memória e se torna protagonista da
história vivendo-o com mais intensidade e projetando-se para o futuro.
Deus criou todas as coisas por um ato de sua vontade, em consonância com suas
idéias. Os seres são bons porque criados por Deus, porem implicam em certa imperfeição
intrínseca porque feitos do nada. O ponto de partida para explicar a origem do tempo é a
Escritura que diz: “no princípio Deus criou o céu e a terra” (Gn 1,1). Portanto o mundo teve
um começo e não é eterno26. “Todo ser que começa a existir e tem um fim, começa e acaba
quando a eterna inteligência que não tem início nem fim, sabe que ele devia começar ou
acabar”27. Deus é um princípio estável, se Ele fosse instável nos desencaminharíamos e
não teríamos mais para onde voltar28. O que seria este princípio? Agostinho explica: “No
princípio, quer dizer que não havia nenhuma criatura antes da primeira criatura”29. Nisso ele
se inspira num dos famosos diálogos de Platão, o Fedro, o qual afirma um princípio abso-
luto. “O início é algo que não se formou, sendo evidente que tudo que se forma, forma-se
de um princípio. Este princípio de nada proveio, pois que se proviesse de uma outra coisa,
não seria princípio. Sendo o princípio coisa que não se formou, deve ser também coisa
que não pode ser destruída. Se o princípio pudesse desaparecer, nem ele mesmo poderia
nascer de uma outra coisa, nem dele outra coisa poderia surgir, porque necessariamente
tudo brota do princípio”30.
Se Deus é o princípio eterno, tudo pode, tudo cria, tudo domina, é Ele o autor do céu
e da terra 31 e simultaneamente criador do tempo com a matéria. Assim explica Agostinho:
“Como poderiam transcorrer os inumeráveis séculos, se não os tivesses criado, tu que és o
autor e criador de todos os séculos? Que tempo poderia existir, se não fosse estabelecido
por ti?32. “O teu dia não é cada dia, mas hoje, porque o teu hoje não cede lugar ao amanhã
nem sucedeu ao ontem”. O teu hoje é a eternidade. Criaste todos os tempos e existes an-
tes de todos os tempos. E não existia tempo quando não havia tempo”33. Nesse aspecto
Agostinho mais uma vez parece um eco de Platão no Timeu, diálogo que ele revela conhecer
34 Cf. ANGEL, Custódio. Las Confesiones In: - Obras de San Agustin. Tomo II, p. 606, nota 18.
35 Cf. AGOSTINHO, Confissões, XI, 30,40; XI, 12,14; XI, 10,12.
36 AGOSTINHO, Confissões, XII, 30,40
37 AGOSTINHO, Confissões, XI, 30,40
38 AGOSTINHO, Confissões, XI, 14,17.
39 Cf. ANGEL Custódio, Obras de San Augustin. Tomo II, p. 607
40 AGOSTINHO, Os Pensadores, p. 215, nota 558.
41 AGOSTINHO, A cidade de Deus contra os pagãos, livro XI, capítulo VI.
42 AGOSTINHO, Confissões, XI, 4,6
Sendo Deus eterno, ou seja transcendente ao tempo, e nós outros temporais; a relação
tempo e eternidade constitui um problema em aberto, impossível de ser solucionado43. No en-
tanto Agostinho faz algumas considerações sempre em vista de confessar e reconhecer a
eternidade de Deus para o qual convergem todas as coisas.
Deus é eterno pois não é no tempo que ele precede o tempo44. “Os anos de Deus não
vão nem vêm”. “Os teus anos são como um só dia” (2Pe.3,8). O hoje de Deus é a eternidade,
ois “o hoje de Deus não cede lugar ao amanhã nem sucedeu ao ontem”45. O que caracteriza
a eternidade é a imutabilidade, pois nada passa, tudo é presente, ao passo que “o tempo
nunca é todo presente”46. A eternidade jamais comporta mudança, mas o tempo implica al-
teração. Esta mutabilidade faz parte da essência de toda criatura. O tempo existe em função
da criatura e não existiriam os tempos se não existisse a criatura”47. “Deus é eterno porque
precede todo o passado com a sublimidade da sua eternidade sempre presente, e domina
todo o futuro porque é ainda futuro”48. Agostinho fala da eternidade confessando que Deus
é eterno, sempre presente, mas acima do tempo. “Tu és sempre, sempre, sempre o mesmo,
Santo, Santo, Santo Senhor Deus onipotente”49. “És eterno, o único a possuir a imortalidade
(Cf. 1Tm 6,16) porque possuís uma vontade imutável”50. “Tua eternidade é superior a todos
os tempos”51. Contigo não há um tempo eterno, e se o tempo fosse estável, eterno, já não
seria tempo52. “Não se pode pensar que o tempo preexistia a Deus, que é anterior a todas
as obras por ser causa suprema de tudo. O tempo foi criado por Deus e este não constitui
um prolongamento da eternidade pois o tempo infinito não constitui a eternidade que é de
ordem transcendente. O tipo de duração chamado eternidade e o tipo de duração chamado
tempo são heterogêneos, embora haja certas analogias a admitir como: ambos são funda-
mentalmente presentes. A eternidade porém é uma presença simultânea, enquanto o tempo
não o é”53. Para Agostinho, inspirando-se em Platão na sua obra o Timeu, “o tempo é uma
imagem da eternidade que nunca avança segundo o número”. Tempo é apenas “um vestígio
da eternidade” que é transcendente, enquanto nós somos temporais. Daí a dificuldade de
estabelecer uma relação clara entre o mutável e o eterno imutável.
O tempo, para Agostinho não é a imagem móvel da eternidade (Platão) nem a medida
do movimento (Aristóteles), mas a duração de uma natureza finita que não pode ser toda
simultaneamente, tendo necessidade de fases sucessivas e contínuas para realizar-se
completamente. Estas fases são o presente, passado e futuro75. Agostinho no seu tratado
sobre o tempo vai retomar as aporias dos diversos êxtases do tempo no seu caráter fugaz
e inapreensível por um lado, e por outro, da memória alargada, de um presente inclusivo76 .
No seu tratado sobre o tempo Agostinho considera que a condição temporal do ho-
mem no mundo não é independente do tempo objetivo e matemático, ou chamado tempo
cosmológico. O tempo está necessariamente ligado à existência, ao devir. “Não existiria
um tempo passado, se nada passasse; e não existiria um tempo futuro, se nada devesse
vir; e não haveria o tempo presente se nada existisse”77. Aqui permanece o problema da
duração do tempo passado. “O tempo passado foi longo, quando era já passado ou quando
ainda era presente”? Não é possível portanto medir a extensão do tempo, sendo passado
já não existe. O tempo longo para Agostinho é o tempo presente78. Como responder então
a extensão do presente, se o passado não pode ser medido e num dado momento já foi
presente? Observa-se que todo tempo pode ser dividido em minúsculas partes. “A duração
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Embora tenha falado do tempo cosmológico, da sua origem com a criação, na forma
de compreensão da época; sua grande contribuição foi o tratado sobre o tempo psicológico
na sua sucessão de um presente inapreensível de momentos que fluem. O tempo está na
consciência, quando se tem consciência que as coisas passam e também nós, estando
sujeitos ao devir, nos acordamos da existência dos três momentos: passado, presente, e
futuro que se sucedem. Através da experiência, pela função da memória que lembra, o pas-
sado tem valor em vista do presente, porque o tempo é qualificado como passado enquanto
relacionado com um sujeito pensante num momento determinado. O que já deixou de ser
continua a existir na memória, sob a forma de presença psíquica.
REFERÊNCIAS
1. AGOSTINHO, S. Confissões. Tradução de Maria Luiza Jardim Amarante. São Paulo: Paulus,
1984.
2. AGOSTINHO, A cidade de Deus contra os pagãos. Parte II. São Paulo: Federação Agosti-
niana Brasileira & Vozes, 1990.
3. AGOSTINHO, Confissões. In; - Os Pensadores. Vol. VI, São Paulo: Abril Cultural, 1973.
4. BOHENER, Philotheus & GILSON, Etienne. História da Filosofia Cristã. Petrópolis: Vo-
zes,1982.
5. CAPANAGA, Victorino. Introduccion General. In: OBRAS DE SAN AGUSTIN, Tomo I, Edición
Bilíngüe, direción de Felix Garcia. Madrid: Biblioteca de Autores Cristianos, 1951.
7. GILSON, Étienne. Introduction a l’étude de Saint Augustin. Paris: Editión Librairie Philoso-
phique J. Vrin, 1949.
8. JERPHAGNON, Lucien. História das grandes filosofias. São Paulo: Editora Martins Fontes,
1992.
100 Entre os estudiosos que sucederam Agostinho no tratado sobre o tempo destacam-se: Tomás de Aquino, Nicolau de Cusa, Kant,
Hurssel e Heidegger.
11. PLATÃO, Diálogos, Mênon, Banquete, Fedro. Tradução do grego de Jorge Paleikat, Coleção
Universidade de Bolso, São Paulo: Ediouro Tecnoprint, 1985.
12. REALE, José & ANTISERI, Dario. História da Filosofia. Vol. I, São Paulo: Paulinas, 1990.
13. REALE, Giovanni & ANTISIERI, Dario. História da Filosofia. Volume 2, São Paulo: Pauli-
nas,1990.
14. SCIACCA, Michele Federico. História da Filosofia, Antiguidade e idade média. São Paulo:
Editora Mestre Jou, 1967.
16. VEGA, Angel Custódio. Las Confesiones. In.- OBRAS DE SAN AGUSTIN, Tomo II, Edición
Bilingue, Madrid: Biblioteca de Autores Cristianos, 1955.
Helena Seibert
Unifesp
10.37885/201001678
RESUMO
MÉTODOS
Instrumentos
Procedimentos
Após consentimento dos diversos locais em que o estudo foi desenvolvido, houve
uma reunião explicativa nos grupos religiosos. O TCLE foi enviado para os responsáveis
assinarem. No dia combinado, os adolescentes que aceitaram participar assinaram o Termo
de Assentimento, responderam os instrumentos durante a reunião do seu grupo religioso, e
tiveram sua altura e peso aferidos. No CAAA, os adolescentes eram convidados a participar
Análise estatística
Os dados foram analisados pelos softwares SPSS V16, Minitab 15 e Excel Office
2007. Foram utilizados os testes de Igualdade de Duas Proporções. Um valor de p < 0,05
foi considerado significante.
RESULTADOS
● Em relação à amostra
A amostra inicial continha 101 registros, foram perdidos 13 (12,9%) por preenchimento
incorreto ou não preenchimento de alguns dos questionários. Restaram 88 adolescentes,
sendo 50 (56,82%) do sexo feminino; a média de idade da amostra foi de 16,12 anos (2,47
DP), a idade mínima foi 12,2 anos e a máxima 19,7 anos. O grupo controle foi composto
por 19 (21,6%) adolescentes (14 [73,7%] do sexo feminino). O grupo estudo foi composto
por 69 (78,4%) adolescentes (35 [50,7%] do sexo feminino). É importante ressaltar que os
adolescentes religiosos eram de quatro denominações diferentes (N= 10, 16, 21 e 22)
Quando comparado o tempo de estudo em anos entre os grupos, foi encontrada dife-
rença estatística significante (p=0,009). Foi verificado maior tempo de estudo em anos no
grupo religioso (9,78 ± 0,47), quando comparada ao grupo controle (8,38 ± 1,00).
● Em relação à religiosidade
Foi encontrada maior frequência (p<0,01) a serviço religioso no grupo religioso (todos
os participantes deste grupo responderam terem uma frequência de 2-3 vezes ao mês),
enquanto a distribuição do grupo controle variou desde algumas vezes ao ano (57,9%) ou
não frequentavam (15,8%).
● Em relação ao hábito alimentar
Tabela 4. Distribuição de IMC do grupo Controle em Frequência Alimentar, por grupo de alimentos
DISCUSSÃO
Limitações do estudo
Por ter sido adotada uma amostra por conveniência, foram escolhidas igrejas protes-
tantes e comparadas com um grupo de pacientes do CAAA – Unifesp, o fato de os pacientes
estarem em um serviço médico, pode ter influenciado na característica da amostra, já que
os adolescentes/jovens do grupo estudo podem não frequentar algum serviço médico com
certa regularidade, e desta maneira os grupos comparados seriam diferentes.
CONCLUSÕES
REFERÊNCIAS
1. ABRAMO, H. W.; BRANCO, P. P. M. Retratos da juventude brasileira: Análises de uma
pesquisa nacional. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2005.
2. ACHENBACH, T. M.; RESCORLA, L. A. Manual for the ASEBA School, Age forms & profiles.
Burlington, VT: University of Vermont, Research Center for Children, Youth & Families, 2001.
3. APRIL MICHELLE HERNDON. Taking the Devil into Your Mouth: ritualized American weight-
-loss narratives of morality, pain, and betrayal. Perspectives in Biology and Medicine, v. 51,
n. 2, p. 207–219, 2008.
6. FEINSTEIN, M. et al. Incident obesity and cardiovascular risk factors between young adulthood
and middle age by religious involvement: The Coronary Artery Risk Development in Young
Adults (CARDIA) Study. Preventive Medicine, v. 54, n. 2, p. 117–121, fev. 2012.
8. GILLUM, R. F.; HOLT, C. L. Associations Between Religious Involvement and Behavioral Risk
Factors for HIV/AIDS in American Women and Men in a National Health Survey. Annals of
Behavioral Medicine, v. 40, n. 3, p. 284–293, 10 dez. 2010.
10. KOEHLY, L. M.; LOSCALZO, A. Adolescent obesity and social networks. Preventing chronic
disease, v. 6, n. 3, p. A99, jul. 2009.
14. MELLOR, J. M.; FREEBORN, B. A. Religious participation and risky health behaviors among
adolescents. Health Economics, v. 20, n. 10, p. 1226–1240, out. 2011.
16. ROSSI, D. S. et al. Imagem corporal, aspectos nutricionais e atividade física em estudantes
de uma escola pública. Adolescencia e Saude, v. 10, n. 3, p. 36–44, 2013.
Arilson Paganus
UFCG
10.37885/201001620
RESUMO
[...] a melhor e mais famosa das versões do Pañcatantra na Idade Média foi
a germânica, de Anton von Pforr,2 intitulada Das Buch der Beispiele der alten
Weisen, a qual apareceu em 1483, logo após a invenção da imprensa, e reim-
pressa posteriormente [em Estrasburgo]. Por um longo período ela contribuiu
ao máximo com um conhecimento original por toda a Europa. [Desta forma,]
ela não apenas influenciou a literatura germânica em muitos aspectos, mas
foi também, ela mesma, traduzida para o dinamarquês, islandês e holandês
[e iídiche, língua judaica]. Esta versão germânica estava quatro gerações
distante dos árabes, desde o início da aventura ocidental do Pañcatantra
(MACDONELL, 1994, 123).
Tal Pañcatantra, por uma via semelhante – versão em persa, depois em árabe, georgia-
no, grego e latim –, chegou também ao Portugal medieval, juntamente com o Dhammapada
(um dos mais famosos compêndios budistas), o Jatakamala e o Lalitavistara − escritos bio-
gráficos e aforísticos sobre Buda.
Explicitamente, a dimensão ética e universal da vida de Buda inspirou o mundo oriental
e parte do Oriente Médio de muitas maneiras, tendo atravessado transversalmente a história
da humanidade em basicamente três fases: 1) o Dhammapada e o Jātakamāla seguiram as
rotas do comércio oriental, percorridas pelos monges budistas no seu missionar pela Ásia
até o Ocidente macedônio, grego e romano; 2) seguiu pelas traduções e adaptações árabes,
espalhando-se pelo mundo árabe até a Europa; e, finalmente, 3) o missionar cristão acabaria
1 O historiador de arte alemão, Rudolf Wittkower (1901-1971), confirma que os mananciais que promoveram o bestiário mediévico, por
exemplo, voltam-se ao passado helenístico, e aclara o andamento das imagens anômalas pelo meio artístico ocidental, partindo dos
documentos helenísticos que abordam a geofísica mundial e as circunscrições do Oriente, assim como as empreitadas de Alexandre
na Índia. Não obstante, Ctésias já havia registrado, logo após Heródoto descrever os afazeres ordinários indianos, um tratado que
aborda excepcionalmente a Índia, aglomerando múltiplas ideias do orbe grego e persa e tracejando teratologias como os cinocéfalos
(criaturas com cabeça de cachorro), os sciápodes, pessoas com abissais pés e que se movimentam com alta agilidade, entes sem
cabeças e cujas faces se encontram no busto, além de unicórnios e outros. Tais relatos nutriram exaustivamente a fantasia do senso
comum e dos doutos europeus (WITTKOWER, 1987).
2 Donald Lach observa que a versão germânica de Pforr também ficou conhecida como Seven Wise Masters [Os Sete Mestres Sábios]
(LACH, 1994, 347). Também há versões como The Seven Sages ou até The Seven Sages of Rome (CAMPBELL, 2009).
3 Para pesquisa empírica ver: manuscrito no códice do mosteiro de Alcobaça, nº 266, na Tôrre do Tombo, em Lisboa II.
4 O que nos diz a plagiada história de Josafá? O enredo básico da história apresenta um rei orgulhoso e poderoso, o qual persegue os
ascetas religiosos que vivem em seu reino (obviamente cristãos) e os expulsa. Ele despreza o mundo, nega os ensinamentos mo-
noteístas, ao mesmo tempo em que é um hedonista politeísta. Quando um dos filhos (Josafá ou Josafate) nasce, ele, como todo rei
antigo, sente que sua linhagem real tornara-se segura, o que lhe proporciona pleno júbilo. No entanto, após previsões astrológicas em
volta do nascimento da criança, surge a ideia de dois possíveis futuros para o menino: ele poderia se tornar um grande rei ou renun-
ciar ao mundo, alcançando outro tipo de glória. Temendo que o destino de seu filho pudesse seguir o segundo curso, o rei o prende no
palácio e o mantém afastado das imperfeições do mundo. Josafá, inevitavelmente, torna-se insatisfeito com a vida no palácio, e após
muito insistir lhe é concedida a permissão para sair do mesmo – momento chave da trama –, ao que ele tem uma série de encontros
perturbadores, basicamente as três primeiras do famoso quadro de sinais do Buda: doença, velhice e morte. Nesse momento, ele é
visitado pelo asceta Barlaão, ou seja, o asceta do quarto sinal, o qual preenche quase todo o enredo como um personagem que lhe
dá instrução religiosa monoteísta e ascética. Josafá é aconselhado a renunciar o mundo para superar as misérias contempladas, que
também o atingiram. Mas antes de sua renúncia, ele deve enfrentar muitos conflitos com o rei. No final, após um fervoroso diálogo
com Barlaão, ele passa a viver asceticamente e morre na certeza de que será concedido a um lugar nos Céus. Com exceção do
pregador cristão e do contexto monoteísta dogmático, observamos, aqui, a história de Buda quase em sua íntegra versão budista
(LANG, 1966).
Audrius Beinorius ainda observa que uma igreja cristã foi dedicada a Josafá em Palermo,
na Sicília, enquanto a igreja de André d’Anvers, na França, guarda uma de suas enganadiças
relíquias.5 Um dos primeiros europeus a noticiar as similitudes entre a história de Buda e a
história de Barlaão e Josafá, junto à sua origem indiana, segundo Beinorius, foi o historia-
dor português – que ajudou Camões a voltar da Índia para Portugal e, assim, poder apre-
sentar Os Lusíadas – Diogo do Couto (1542-1616), em 1612. Mas a observação de Couto
apontou apenas uma vida modelo de Josafá como sendo semelhante à de Buda. A união
dos fatos, ou seja, a acusação de plágio e não de semelhança, veio à tona apenas com os
franceses Eduoard Laboulaye (1811-1883) e Felix Liebrecht, em 1859 (PITTS, 1981, 3).
Philip Almond aponta que a história de Buda, juntamente com sua ideia ascética,
foi, portanto, “uma força positiva à vida [sobrevivência e nova cosmovisão] do cristianis-
mo”. No entanto, a partir desse plágio dogmatizado e da tradição que se manifestou com
Josafá e Barlaão, motivou-se o terror das perseguições antipagãs e heréticas na Europa
– induzidas na obra –, assim como o monasticismo e o celibato acentuado, até então ine-
xistentes no cristianismo, como métodos eficazes de salvação da alma (ALMOND, 1987,
p. 406). Além disso, John Hirsh (1986, XXVI) apontou acertadamente a atmosfera de “per-
seguição e intolerância” a partir da violação e descaracterização de tal apanágio budista.
Comparando-os, Monique Pitts (1981, 10) nos diz: “para Buda a meta era atingir a iluminação
perfeita [Buddhahood], [enquanto] para Josafá o ascetismo era a preparação para o mundo
real, [ou para] aquele [mundo] que não pode ser visto”.
5 No Brasil, temos a igreja católica de Curitiba, dedicada a esse ícone budista que metamorfoseou-se em um fictício santo cristão, como
tantos outros, no intuito aculturador desbravado.
6 Foi integralmente vertida ao português por Sebastião Rodolpho Dalgado (1855-1922), com o título Hitopadexa, editado pela Antiga
Casa Bertrand em Lisboa, em 1897.
7 Com uma introdução de 600 páginas, a qual é a mais completa já conhecida sobre o apólogo indiano. No juízo de Benfey, o Pañcatantra
é obra de um budista que viveu no século III de nossa era. No entanto, hoje, consensualmente, segundo Moriz Winternitz, sabe-se que
ele estava equivocado, pois o mesmo é de autoria brahmânica, com vários detalhes ortodoxos que o diferenciam do pensamento budis-
ta, e muito mais antiga à sua indicação temporal, existindo meras versões jainistas e budistas posteriores (WINTERNITZ, 1985, 318).
8 No processo de reconstituição dos poemas medievais, Joseph Bédier reuniu os fragmentos escritos por Béroul, Thomas, Eilhart von
Oberg, Gottfried von Strasbourg e outros, registrados em sua maioria entre os séculos XII e XIII, na França e na Germânia. Mais uma
vez a Germânia em cena e em torno de uma obra com influência indiana (Cf. BÉDIER, 1981).
Michael Stitt vai mais além, afirmando que não é mera coincidência a relação e o pa-
ralelismo dos mitos de dragões presentes no medievo europeu – como bem apresentado
em Beowulf –, com a história védica (no Rg Veda) do deus Indra matando o dragão Vrtra:
“Indra com o seu grande e mortal trovão partiu em pedaços Vrtra, o mais terrível dos vrtras
[serpentes ou dragões]. Assim como troncos de árvores, quando o machado cai sobre eles, da
mesma forma, caído ao chão jaz prostrado o dragão” (RG VEDA, 1976).10 Dirá Stitt (1992, 31):
Complementará Peter Baker (1998, p. 284) que “a Fêmea Formidável”, dragão mãe
de Vrtra, nos Vedas, antecipa o mais temível humanoide de Grendel que, por sua vez, é
finalmente substituído por uma senhora de idade instável no romance de Fulk, e as águas
da vida (entidades femininas) aprisionadas por uma donzela raptada.
9 Como elucida Peter Baker: “[…] temas no Beowulf e em trabalhos relacionados e anteriores a ele, pensando especificamente na
Germânia, podem ser encontrados primeiramente na tradição épica indo-europeia” (BAKER, 1998, 284).
10 Rg Veda, I.32.5; ver também IV.17.7 e todos os versos anteriores e subsequentes ao referido: I.32.1-15.
11 Sobre a conexão de Boccaccio e Chaucer com as fábulas indianas, ver: GANIN, 2000, 128-147.
12 De acordo com John Tolan, o tratado Disciplina clericalis é uma das antologias de relatos moralizantes medievais mais veneráveis da
Europa cristianizada. Tais narrações voltam-se para distrair, doutrinar e nortear os passos dos homens. Abarcando adágios, versos,
fábulas e anedotas tomadas das tradições árabes, judias, gregas e principalmente indianas. Famoso no medievo europeu e traduzido
de sua versão original em latim ao francês, basco, italiano, castelhano e inglês, sobrevive hoje em 76 manuscritos latinos, nos quais
constam 34 relatos estruturados em diálogos entre mestres e discípulos e cujo principal objetivo é conduzir mandamentos utilitários.
Acrescentará John Tolan que Pedro Alfonso se utilizou fartamente das fontes árabes e indianas (TOLAN, 1993, 132-158).
Aqui, mais uma vez, a marca da literatura indiana adentra o cenário de As Mil e Uma Noites.
Confirma-nos a sanscritista Valíria Mello Vargas (PAÑCATANTRA, 2004) que o mais
afamado fabulista francês do século XVII, La Fontaine, em suas Fabules, prefácio do sétimo
livro, menciona Pilpay, que, na verdade, é uma corruptela do sânscrito vidya-pati, “senhor da
sabedoria”, epíteto de Vishnusharma, como o já referido autor da obra. Mello Vargas infere
que há muitas razões suficientes para considerarmos que La Fontaine possui marcas ou se
baseou nas versões (de Kalila e Dimna) francesas Livre des Lumières de David Sahid, e na
versão latina de Pierre Poussines (1609-1686), Specimen sapientiae Indorum Veterum, para
compor muitas de suas fábulas; as mesmas fábulas que contagiaram alguns dos homens
da razão na modernidade europeia.
Porém, a saga de tal literatura fora da Índia começou com o rei persa Chosroes
Anusharvan (531-579 d.C.), que enviou à Índia um de seus 25 médicos, Barzuyeh, em mis-
são ao encontro de ervas medicinais que ressuscitavam mortos e propiciavam imortalidade.
Como a Índia sempre manifestou e nos manifesta prodígios da razão, além das aparências,
àqueles que a procuram, Barzuyeh teve uma surpresa além do esperado.
Segundo o Shahnameh (1985, 330-334), “Épicos dos Reis”, considerado a certidão
identitária do povo persa,13 Barzuyeh obteve permissão para ir à Índia em busca das ervas
mágicas. Uma vez ali, encontrou tais ervas, mas as mesmas não possuíam efeitos sem a
manipulação e o conhecimento adequado de suas propriedades; o que obviamente resultou
em fracassos aparentes para Barzuyeh. Ansioso e com medo da reação do rei pela até então
missão infrutífera, passou a consultar os brahmanas sobre a manipulação da mesma. Todos
inclinados, logicamente, a não revelar nenhuma literatura canônica ao médico mleccha. Mas
tratando-o como uma criança sem linhagem, conhecimento e ética védicas de fato, que de
alguma forma poderia ser ajudada,14 disseram ao mesmo: “Há um antigo brahmana que nos
13 Trata-se de uma grande obra poética escrita no século X d.C., pelo escritor iraniano Hakīm Abu’l-Qāsim Firdawsī Tūsī ou simplesmen-
te Ferdowsi (935-1020), a qual narra a história do Irã e do zoroastrismo, desde a manifestação do mundo até as conquistas islâmicas
nos seus primórdios. Foi elaborado durante 30 anos, resultando em 62 histórias, 990 capítulos e 56.700 dísticos (ANVARI, 2004).
14 A moral da obra não é certamente muito elevada em relação aos padrões védicos, ou seja, sem a tragédia e o realismo do estilo india-
no. Na fábula, há predominado desde suas remotas origens, notadamente indiana, certo sentido utilitário, o que nos leva a aceitar que
“um rei que tomara por modelo o rei dos animais tal como está representado nestes contos, careceria de energia e de valor, cederia
ao primeiro movimento de cólera, violaria sem escrúpulos a fé jurada e abandonaria pelo menor capricho o serviço a um amigo e a
fidelidade de uma esposa” (DERENBOURG, 1881, 208). Ou seja, seria um rei não ariano, sem pura paixão, senso de proporção e
determinação política vocacional; enfim, sem dever ou dharma de um verdadeiro guerreiro ou kshatriya. O que nos leva a concluir
que as ideias presentes nessa fábula, em sua versão persa ou árabe, estão muito longe do pensar indiano, apesar de conter origi-
nalmente um apelo e um caráter popular de fonte brahmânica e versões budistas, suprimida por Barzuyeh, o qual a transformou em
uma teologia simplicíssima. Só assim podemos pensar e explicar como estes apólogos hão podido acomodar-se com tanta facilidade
a civilizações tão diversas e hão tido séquito entre homens de opostas crenças.
15 Aqui há 14 comentários sobre essa versão árabe.
Assim sendo, as novelas medievais, com seus heroicos cavaleiros etc., assim como as
fábulas modernas, todas possuem uma marca profunda da literatura popular indiana. Na ver-
dade, foi a Índia a fonte longínqua e literária do conto, apólogo, romance de cavalaria etc.,
que tanto encanto deram à época medieval. E, de quando em quando, aparecem outros que
não podem resistir ao seu fascínio aliciante.
Isto é confirmado por Theodor Benfey, como observamos anteriormente, um dos tra-
dutores do Pañcatantra, ao pronunciar o dictum, em 1859, de que o grande número das
fábulas mundiais, as quais foram produzidas no Ocidente, têm origem na Índia; destas, um
pequeno número já havia chegado à Europa como histórias orais, antes mesmo do sécu-
lo X. O filósofo e historiador britânico James Mackintosh (1765-1832),18 o folclorista francês
Emmanuel Cosquin (1841-1919) e o historiador e crítico literário espanhol Menéndez Pelayo
(1856-1912) também confirmam a Índia como uma região de origem, centro e disseminação
da fábula ao mundo (COSQUIN, 1912, 337-373). Pelayo (1905), no mais, relata que Kalila
e Dimna chegou a ser recitada por Ricardo, Coração de Leão, em 1195, ao censurar os
príncipes cristãos que não queriam se armar para a cruzada.
REFERÊNCIAS
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the Early History of the Arabian Nights’. In: Journal of Near Eastern Studies, v. VIII, 1949, pp.
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7. BALAGUER, Jordi Rubió. Ramon Llull i el Lullisme. Barcelona: Abadia de Montserrat, 1985.
18 Afirmará sem reservas Mackintosh: “Todos os pontos da história voltam-se para a Índia como a mãe da ciência e da arte. Este país
foi antigamente tão famoso por seu conhecimento e sabedoria que os filósofos da Grécia não tardaram a viajar para lá para aprimo-
rarem-se” (DANINO, 1996, 18).
10. BENFEY, Theodor. Pantschatantra, fünt Bücher indischer Fabeln Märchen und Erzählungen
aus dem Sanskrit übersetz. Leipzig: F. A. Brockhaus, 1859, 2 vols.
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12. BLACKMORE, Josiah & HUTCHESON, Gregory S. Queer Iberia: Sexualities, Cultures, and
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13. CAMPBELL, Killis. A Study of the Romance of the Seven Sages with special reference to the
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14. COSQUIN, Emmanuel. ‘Les Mongols et leur Prétendu Rôle dans la Transmission des Contes
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Research & Mira Aditi, 1996.
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59; MUKERJEE, Radhakamal. The Culture and Art of India. New York: F. A. Praeger, 1959.
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46. WITTKOWER, Rudolf. `Marvels of the East: a Study in the History of Monsters`. IN: Allegory
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Antônio Lopes
PUC - Goiás
10.37885/201001778
RESUMO
Este artigo tem análise estruturada no materialismo dialético-histórico, dentro dos pre-
ceitos da Cultura e Sistemas Simbólicos. Investiga a prisão sob a ótica dos discursos de
Paulo. Aborda o cárcere, discute a crença, infere na reflexão do apóstolo com relação
aos marginalizados em meio à cultura e sistemas simbólicos que trespassam a religião
e os costumes. Desde a Antiguidade as autoridades trabalham essa expressão social
paradigmática permeada pela fé, desespero e realidade. Na contemporaneidade as
políticas públicas manipulam esta expressão da questão social, retrato da sociedade
capitalista, consumista, movida no fluxo incessante, a destinar mínimos sociais à classe
trabalhadora. A luta pelo direito de viver estreita relações materiais-filosóficas, humano-
-racionais-legais as quais alicerçam a consciência do trabalhador. O sujeito social resiste
à alienação pelo capital atravessado por uma existência atada à trama econômica, po-
lítica e cultural que dá sopro à sobrevivência. Ao caminhar por este paradigma a escrita
busca dialogar sobre A Interface Evangelho e Prisão na Contemporaneidade. O foco é
em conceitos e discursos postos sobre a fé, a penalização e a pós moderna idade.
METODOLOGIA
Neste ponto o artigo adentra aos trâmites e bastidores do poder de fato retratado no
sistema panóptico. A estrutura das políticas públicas de segurança esbarra na inabilidade do
Estado em desvelar e inferir na desigualdade-injustiça social enquanto mazela e consequên-
cia da dicotomia riqueza acumulada versus pobreza extremada. Este recorte social revela a
coação adotada nas mais diversas formas de punição corporal da classe trabalhadora, tem
como palco e arena a prisão. Para Andrade:
[...] construiu uma comunidade muito viva mas cheia de problemas, pois era
composta de judeus com suas tradições rigorosas e de coríntios pagãos, co-
nhecidos por sua permissividade e lassidão, quando a grande maioria era de
pobres, mas havia também convertidos de melhor condição cultural e social
(BOFF, 1999, p. 8).
Como nos tempos antigos, o homem contemporâneo pode ser admirável. Desta vez,
a partir do seu poder de consumo em meio a:
Do contrário, passa a integrar o lote dos excluídos da competição imposta pelo sis-
tema capitalista neoliberal globalizado, a retratar milhões de sujeitos sem face, ou, os “so-
brantes” na concepção de MÉSZARÓS (2005). A crise estrutural articulada pelo sistema
1 Metanoia: termo grego, significa conversão, mudança radical de mentalidade, atitude. (TANJAN, 2018; https://robertotranjan.com.br/
sabe-o-que-e-metanoia/
2 Koinonia: termo grego, significa comunhão dos homens, mecanicamente compartimentada, passivamente aberta ao mundo que a
irá ‘enchendo’ de realidade” (FREIRE, 1977, p. 71).
“Em todos os seus aspectos. Dos mais coletivos, como a desagregação dos
centros urbanos e a militarização dos conflitos sociais, até os mais individuais.
Os elementos de continuidade deixam de ser acumulação da riqueza; para
ser a própria crise enquanto tal” (LESSA, 2007, p. 104).
A lógica do mundo contemporâneo, em seu rigor formal, exige do ator social reprogra-
mar-se, assunto discutido a seguir.
Esse coletivo ou classes sociais achatadas pelo sistema capitalista, alojadas na peri-
feria da pirâmide social, caracterizam, no século XXI, o precariato, de acordo com BAUMAN
(2016)3. Com relação a esta realidade sociopolítica, econômica e cultural mundializada “não é
por meio de inciativas isoladas de esforços generosos ou com homens carismáticos que cons-
truiremos um mundo melhor, o que é uma tarefa a ser assumida pela coletividade que aspira
um mundo melhor, pois é difícil aprender a nadar sem se jogar na água” (BETO, 2008, p. 54).
A lógica do mundo contemporâneo, em seu rigor formal, exige do ator social reprogra-
mar-se. Aprofundado no item anterior, a alma permeia os meandros da prisão a enfrentar a
instabilidade enlouquecedora, o estruturalismo, funcionalismo, lado a lado com a miséria da
razão exasperada. A partir da “mundialatinização (estranha aliança do cristianismo, como
experiência da morte de Deus, com o capitalismo teletecnocientífico) hegemônica e finita,
superpoderosa e em vias de esgotamento” (DERRIDA, 2000).
Os que comprometem com essa supervalorização da fé e do sagrado, em função do
lucro, status e poder, levam a refletir a fé. Há que questionar se “não será loucura, a ana-
cronia absoluta de nosso tempo, a disjunção de toda contemporaneidade de si, o dia velado
de todo4 Zygmunt Bauman: “As redes sociais são uma armadilha” https://brasil.elpais.com/
brasil/2015/12/30/cultura/1451504427_ 675885.html presente?” (DERRIDA, 2000, p. 23).
Tomando por base o princípio de que o núcleo central na vida de Jesus não foi a religião,
mas a missão de humanizar o mundo, o teólogo espanhol María Catillo (2017) destila sua
crítica conjuntural apontando que “mais do que com a religião, deveríamos nos preocupar
com a saúde, a alimentação e as relações humanas porque Jesus não fundou uma igreja,
mas inaugurou uma nova maneira de convivermos4”.
3 Zygmunt Bauman: “As redes sociais são uma armadilha” https://brasil.elpais.com/bra sil/2015/12/30/cultura/1451504427_ 675885.
html
4 Revista eletrônica Religión Digital, 14 de julho de 2017. (http://www.periodistadigital.com/religion/opinion/2017/05/15/ jose-maria-cas-
tillo-en-la-iglesia-en-los-seminarios-en-los-centros-de-estudios-teologicos-hay-miedo-mucho-miedo-iglesiareligion-dios-jesus.shtml).
CONSIDERAÇÕES
A luta pela sobrevivência é estreitada a partir da relação humana com aquilo que é
material, imaterial, filosófico, advém da consciência, resiste à alienação capitalista imposta ao
homem contemporâneo nivelado a partir de seu poder de consumo. A cultura e os sistemas
simbólicos trespassam a religião, os costumes, as políticas públicas destinadas a amenizar
as mais variadas expressões da questão social. A desigualdade e a injustiça social revelam
a realidade, quando o desespero e a fé trespassam o trabalhador, ser humano acuado por
normas, perfeita criatura viável ao sistema, desde que submetido ao capitalismo selvagem
retratado no caos que o fragmenta enquanto homem.
A escravidão moderna levada a cabo é torniquete da loucura instalada, numa última
instância, trancafiada nas alas do presídio. É ali que instiga o fenômeno do transe coletivo,
o gritar de desespero, a esperança clamada. É pelo viés da crença que a libertação da
situação de exclusão pode aliviar, manter o controle social da caótica situação retratada
intramuros da comunidade vigiada e punida. O modo de vida ou escravidão moderna revela
a luta desigual. Por entre oprimidos a enfrentar a violência os “opressores, violentando e
proibindo que os outros sejam, não podem, igualmente, ser; os oprimidos, lutando por ser,
ao retirar-lhes o poder de oprimir e de esmagar, lhes restauram a humanidade que haviam
perdido no uso da opressão” (BOFF, 1999, p. 46).
Embora haja preocupação do legislador penal em evitar a pena privativa de liberdade,
Jales Perilo afirma ser “inegável é a falência da pena da prisão” (2016). Ao tratar da ultrapas-
sada visão da pena privativa de liberdade como meio mais eficaz para o combate à crimina-
lidade e manutenção da ordem, num mundo envolto em ambiguidades, a religião torna-se
REFERÊNCIAS
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Coríntios. Rio de Janeiro: Vozes, 1999.
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8. IANNI, Octavio; FERNANDES, Florestan (orgs). Karl Marx: sociologia. São Paulo: Editora
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10. LODI, Rafael. G. C. O gerenciamento de crises e a polícia civil. São Paulo: Ed. Espaço
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11. MÉSZÁROS, István. A Teoria da Alienação em Marx. São Paulo: Boitempo Editorial, 2005.
12. PERILO, Jales. A odiosa pena da prisão. Goiânia: Ed. Kelps, 2016.
10.37885/201001642
RESUMO
Collins (2010, p. 20) afirma que a maioria das literaturas apocalípticas não foi reco-
nhecida como pertencente a esse gênero antes do cristianismo. Segundo Collins (2010, p.
18), em pesquisas acadêmicas mais recentes, o termo “apocalíptica” tem sido abandonado
como um substantivo. Estas pesquisas fazem distinção entre “apocalipse como um gênero
literário, apocalipticismo como uma ideologia social e escatologia apocalíptica como um
conjunto de ideias e motivos literários que também podem ser encontrados em outros gê-
neros literários e contextos sociais”. Villanueva (1992, 193-217) assevera que é difícil definir
conteúdos próprios de uma literatura apocalíptica, pois muitas características são também
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Segundo Valdez (2002, p.57) o gênero literário “se reflete num grupo de textos que
contém um conjunto de características que os permite reunir por afinidade”. Se analisarmos
o conteúdo do livro de Joel, o que este artigo devido sua limitação de espaço não permite
detalhamento, mas de forma resumida, pode ser percebido o contexto histórico-político-cultu-
ral e religioso de opressão acentuada, assim como é caracterizado o ambiente apocalíptico.
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Acesso em 02 jun. 2015.
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Obadja, Jona, Michia (AT D, 24), 5. verbesserte Auflage. Gottingen: Vandenhoeck & Ruprecht,
1967.
10.37885/201001638
RESUMO
METODOLOGIA
O método percorrido neste trabalho foi o qualitativo com pesquisa descritiva de cam-
po, que viabilizou a aplicação da sequência didática elaborada pelo professor titular desta
pesquisa. A fundamentação baseou-se na teoria do Imaginário proposta por Durand (2002),
onde o autor apresenta uma nova metodologia para trabalhar as imagens textuais produzidas
[...] uma crítica do tipo crítica literária, como se diz, crítica de um texto, crítica
que tenta pôr a descoberto por detrás do texto, quer seja um texto literário
(poema, romance, peça de teatro etc) ou mesmo o estilo de todo conjunto de
uma época [...] que tenta pôr a descoberto um núcleo mítico, uma narrativa
fundamentadora.
Assim, para proceder à mitocrítica, é necessário fazer uso das noções operatórias
(DURAND, 1983, p. 29-39), que são:
• Escala de amplitude faz com que um mitema possa ser um mitologema em certos
momentos, ou ao contrário possa reduzir-se quase a um ser emblemático.
O MITO E SUAS EVOLUÇÕES
Pitta (2005) diz que para Durand, o mito não é apenas uma narrativa, atividade de
contar, mas um ato de pensar, uma reflexão que revela um estado de espírito em busca de
razões que escamoteiam o que é, por natureza, sem razão: o mistério do universo e da vida.
Aprofundando o seu objeto de estudo, isto é, o mito, Durand (1996) apresenta três
evoluções ou manipulações que o mito vai sofrer: a perenidade, as derivações e o desgas-
te. Vale ressaltar que a compreensão desse assunto é importante para o entendimento da
análise mitocrítica.
Segundo Durand (1996, p.94), o discurso mítico se situa no campo do não-natural ou
do não-profano. Esse discurso é segmentável em mitemas, ou seja, em pequenas unidades
semânticas, que se articulam e que juntamente com o processo lógico do mito (junção dos
opostos) são articulações redundantes, “a repetir, quase diria a repisar” (DURAND, 1996,
p.96). A diferença do mito para outras narrativas é o que Cassirer chamou de “uma preg-
nância simbólica” (DURAND, 1996, p.95).
Destarte, a perenidade, termo que Durand tomou por empréstimo ao sociólogo Vilfredo
Pareto, é qualquer coisa que se mantém, é o aspecto sempiterno do mito. “O mito é [...]
um quadro, senão formal, pelo menos esquemático e que é incessantemente preenchido
por elementos diferentes. É a isto que chamo derivação. A estrutura de um mito é sempre
preenchida pela raça, pelo meio e pelo momento” (DURAND, 1996, p. 97). A derivação
O estudo do mito em sala de aula é uma metodologia que visa ao despertar do ima-
ginário do educando, uma vez que o seu cotidiano, na maioria das vezes, é fomentado por
tecnologias, que muitas vezes apresentam de forma conclusiva aquilo que poderia ser re-
pensado, recriado a fim de que a criatividade fosse ressaltada no humano. Compreendendo
o mito como uma narrativa de conteúdo religioso, cujo objetivo é esclarecer as produções
culturais por meio do sobrenatural, percebe-se o valor do seu estudo como um meio de dar
abertura ao imaginário, que é a fonte de toda produção humana.
Visando a esse fim, a aula inicial foi introduzida por figuras, desenhos e imagens para
a discussão e interpretação dos mesmos com o fim de que o imaginário fosse despertando
e libertando-se da concretude existencial. Em seguida, deu-se início ao debate sobre o
conceito de mito, onde se percebeu o preconceito quanto ao seu estudo, uma vez que no
senso comum conhece-se o mito como uma inverdade. No segundo encontro, foi dado início
à sequência didática (1ª etapa) com a leitura de um mito (mito de Prometeu) e a produção
de seu esquema (2ª etapa), que consistiu em mostrar seu cenário a partir das característi-
cas dos personagens, das ações, dos símbolos presentes; percebeu-se o tema, ou seja, o
assunto relatado e as suas lições.
A partir desse trabalho conjunto, os alunos foram desafiados a ler outro mito (Mito de
Orfheu) e elaborar seu quadro esquemático. (3ª etapa) A transmissão do filme “Uma história
de amor e fúria”, que foi comentado pelo mediador da sequência didática para “facilitar” a
discussão sobre o mito. Seguiu-se a 4ª etapa quando os alunos elaboraram o esquema do
filme e, mediante a comparação do quadro esquemático dos mitos estudados com o quadro
esquemático do filme, os alunos desvelaram o mito subjacente ao filme (5ª etapa).
O desenrolar das etapas aconteceram em sete encontros de 50 minutos cada. Para
tanto, foi utilizado o Datashow como suporte dos slides com as imagens dos mitos e um
resumo teórico. Cada aluno recebeu impresso os mitos e o modelo dos quadros para serem
preenchidos. A sessão de cinema foi descontraída, mesmo porque o filme é bem empolgan-
te. Contudo, houve uma orientação para que os educandos observassem e anotassem as
cenas que remetessem aos mitos estudados, objetivando a elaboração do quadro do filme
para comparar com os quadros dos mitos previamente elaborados.
PALAVRAS SIGNIFICATIVAS
QUADRO FIGURATIVO DO MITO DE ORFEU TEMA MÍTICO
(MITEMA= menor elemento SIGNIFICATIVO
RESUMO DO CENÁRIO MÍTICO (MITOLOGEMA)
do mito caracterizado pela sua redundância )
● Filho de Apolo e da ninfa Calíope;
● Herda do pai uma lira ou flauta mágica;
●Casa-se com a ninfa Eurídice;
● Assediada por Aristeu, de quem foge, é picada por uma cobra e morre;
● Orfeu, inconformado, desce ao inferno (Hades);
A música que entorpece;
● Caronte, o barqueiro do inferno o guia ao mundo dos mortos;
● Sua lira entorpece Cérbero, cachorro guardião; A paixão por Eurídice;
● Sua música faz Hades chorar lágrimas de ferro;
A descida ao
● Perséfone, esposa de Hades, intercede por Orfeu; A luta contra a morte;
inferno.
● Hades impõe que Orfeu só deverá olhar para Eurídice quando esta estivesse
A frustração;
sob a luz do sol;
● Orfeu não resiste e olha para trás e Eurídice volta a ser um espectro;
O pessimismo.
● Frustrado, Orfeu não quer saber de outra mulher;
●As Mênades, rejeitadas, cortam o corpo de Orfeu em pedaços e lança no
rio Hebrus;
●As nove musas sepultam seus pedaços no monte Olimpo;
●Orfeu se reúne a Eurídice no reino dos mortos.
O filme “Uma história de amor e fúria” foi selecionado para este projeto porque poderá
ser trabalhado de forma interdisciplinar: História, Linguagem, Ciências Políticas, Filosofia e
Mitologia. Da História aprendemos sobre três períodos importantes da História do Brasil e
uma narrativa fictícia do futuro do Brasil: a colonização (1566), a balaiada (1825), a ditadura
militar (1968), e o Brasil no futuro (2096).
As narrativas míticas subjacentes (mito de Prometeu e o mito de Orfheu) retratam os
dilemas humanos de cada fase histórica, cuja cultura de luta mostra quais valores o homem
busca em seu tempo. As ações do jovem guerreiro, Abeguar, da tribo Tupinambá (fase da
Colonização), que tinha a missão de conduzir o seu povo para uma terra sem mal; a descida
ao infernos; João Balaio (balaiada), que lutou contra a corrupção e a miséria; o personagem
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
1. CARVALHO, José Carlos de Paula. Imaginário e mitodologia: hermenêutica dos símbolos e
estórias de vida. [S.l: s.n.], 1998
10. JUNG, Carl Gustav. O homem e seus símbolos. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1964.
12. PITTA, Danielle P.R. Iniciação à teoria do imaginário de Gilbert Durand. Rio de Janeiro:
Atlântica Editora, 2005 (Coleção Filosofia).
13. PURA, Lúcia Oliver Martins. Didática teórica, didática prática: para além do confronto. (V.1).
São Paulo: Edições Loyola, 1989. 181 p.
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RESUMO
Sahliyeh (1990) enfatiza que, quando o impacto da religião é considerado nas relações
internacionais, é frequentemente visto com relação a diversas concepções normativamente
“antimodernas”, tais como “fundamentalismo religioso” e “hostilidade étnica”. Restringir o
entendimento de atores religiosos nas relações internacionais a tal visão, no entanto, sig-
nifica que nos esquivamos de outras compreensões cujas preocupações podem ser bem
diferentes (SAHLIYEH, 1990).
Obviamente, as religiões não haviam de modo nenhum desaparecido da realidade
social, cultural e política do mundo, mas elas tinham sido confinadas a esfera privada ou de
irrelevância política, como consequência internacional do paradigma dominante da secula-
rização. De acordo com esta leitura da estrutura e da evolução social, a dimensão religiosa
teria sofrido o destino de uma crescente marginalização no âmbito doméstico da existência
das pessoas e na vida das comunidades políticas (GIUMBELLI, 2004).
Paralelo a isso, as ciências sociais estiveram por longo tempo ocupado em discutir as
causas e os efeitos da secularização nas várias manifestações da vida individual e coletiva
nas sociedades contemporâneas, enquanto as relações internacionais, confirmando sua
distinção em relação ao âmbito mais amplo da pesquisa e da reflexão sociológica e política,
substancialmente ignoraram as religiões no articular de diferentes paradigmas interpretativos
e analíticos (HERZ; HOFFMANN, 2004). Todavia, as relações internacionais rapidamente
recuperaram terreno, em concomitância com a tendência mais geral de revalorizar os ele-
mentos imateriais da política internacional.
Muitos identificam na revolução iraniana de 1979 o evento que produziu uma nova
consciência na análise internacional sobre a fundamental relevância das religiões no
cenário mundial.
1 Peter Berger apresenta um diagnóstico da situação das religiões na sociedade ocidental moderna, defendendo a tese de que os
processos infraestruturais concretos desta sociedade trouxeram como reflexo a “secularização”. Esta, por sua vez, não impediu,
como muitos argumentam, o impulso religioso que motivou os homens a aderirem à religião de forma intensa, dando base para o que
ele caracteriza como “dessecularização”; sendo o mundo de hoje, portanto, e com algumas exceções, tão impetuosamente religioso
quanto antes. BERGER, Peter. A Dessecularização do Mundo: uma visão global. In: Religião e Sociedade, vol. 21, nº 1, CER/ISER,
Rio de Janeiro, p. 10, 2000.
A religião se destacou a partir dos anos 90 do século XX, como fator relevante e por
vezes decisivo para a política externa de países diversos enquanto sua capacidade, colo-
cação geopolítica e modalidade de presença no cenário internacional. Em primeiro lugar,
o papel dos atores políticos internos (estatais e governamentais, mas também de partido
e sociais) que elaboram sua agenda “externa” a partir de princípios religiosos cresceu em
termos de influência e de agenda setting (teoria do agendamento) (SOARES, 2012). Isto
ocorreu, por exemplo, nos países que antes de 1989 faziam parte do Pacto de Varsóvia,
a partir justamente da Rússia e da renovada influência da Igreja Ortodoxa; mas também a
mesma pertença da Polônia à União Europeia foi influenciada pelo retorno do catolicismo
na vida política nacional (FOX, 2012).
No Irã as escolhas fundamentais de política externa não podem prescindir da aprovação
do Guia Supremo, enquanto em países de lealdade dividida como no Líbano o papel das for-
mações político-religiosas organizadas como Hezbollah, Amal, os partidos Cristiano-maronitas
(as Falanges e as Forças Libanesas) e daqueles sunitas (como a “Corrente do Futuro” de
Saad Hariri) torna complexa não apenas a governança interna, mas também a colocação
do país em um cenário médio-oriental de crise, desagregação, conflitos (OLIVEIRA, 2001).
Para Da Silva e Peres (2012), deve-se à presença de Hamas na Faixa de Gaza, por
exemplo, a reconceitualização do confronto israelense-palestiniano (essencialmente um
conflito de natureza territorial e política) em termos de oposição entre islâmicos e judeus,
enquanto até o Daesh, que persegue o objetivo imperialista da reconstituição de um Grande
Califado a partir do Iraque e Síria, visa a fazer das fraturas religiosas com os xiitas e os
RELIGIÕES E VIOLÊNCIA
Os atores políticos transnacionais religiosos, para o bem ou para mal, influenciam no-
toriamente a ordem internacional, e muitas vezes atuam a partir de bases nacionais progres-
sivamente globalizadas. A relevância de tais atores no plano transnacional é caracterizada
por um acentuado dualismo e, em particular, sua dinâmica se movimenta nas duas direções
opostas da cooperação ou do conflito.
Segundo Oliveira (2001, p. 100):
Por um lado, acredita-se que o advento das religiões transnacionais possa levar
à criação de identidades religiosas globais que podem favorecer a intensifica-
ção do diálogo inter-religioso implicando um maior compromisso das religiões
sobre algumas questões cruciais, como o desenvolvimento, a resolução de
conflitos, a justiça de transição.
Por outro lado, teme-se que a progressiva globalização das crenças possa produzir
uma competição inter-religiosa entre membros de várias denominações e crenças, sem
mencionar os fenômenos dramáticos de terrorismo transnacional camuflados por motivações
supostamente religiosas.
O fundamentalismo é outro elemento de risco em sua relação com as instituições. As cha-
madas religions as religiões fortes ou fortíssimas – como se auto concebem todos os fun-
damentalismos – assumem uma preponderância indevida quando operam no âmbito de
“Estados fracos”, ou seja, quando o contexto político-institucional ou a cultura política são
extremamente instáveis ou pouco enraizados no tecido social (OLIVEIRA, 2001).
As religiões produzem e motivam extremistas religiosos violentos, mas também “mili-
tantes da paz” que operam fundamentados em convicções religiosas articuladas em termos
de reconciliação e de perdão, e no contexto de programas de peacebuilding estrutural.
É, todavia, objeto de discussão se tal ambivalência em si mesma é capaz de fazer
com que se torne cada vez mais popular o componente da “violência sagrada” se não é
mais do que a busca do poder a ser intrinsecamente ambivalente, sem que se tenha algum
escrúpulo em usar a religião, entre os muitos outros fatores, como pretexto ou como meca-
nismo de legitimação.
No entanto, o argumento útil para uma política externa agressiva é simplesmente que
se deve confrontar com sociedades caracterizadas por uma organização política apresentada
como inerentemente violenta e irracional, e, portanto, isso não deixaria qualquer margem de
debate e diálogo construtivo: a única “resposta” seria a guerra. A verdade é que, na metade
da segunda década do século XXI, é difícil identificar as características exatas de um sistema
internacional que esteja longe das feições de ordem.
O certo é que a longa transição que começou com o fim da Guerra Fria não só ainda
não atingiu a maturidade como também está assumindo os traços da confusão global. Torna-
se cada vez mais evidente que as forças econômicas da globalização se confrontam com
aquelas bem mais antigas e profundas das culturas e identidades.
A globalização, de fato, não tem nada a ver com a universalidade; é unilateral, caracte-
rizada no sentido geocultural como emanação da época (e das áreas) euro-atlântica e, como
tal, estruturalmente hegemônica. Em algumas áreas do mundo, e em particular no Oriente
Médio, se manifestam fatores de instabilidade que vão muito além do conceito de choque
de civilizações. Em muitos casos, um radicalismo bruto se junta às práticas de violência e
de intolerância, que pareciam relegadas aos arquivos da história.
Neste contexto, já por si mesmo crítico, o erro mais grave que se poderia cometer seria
aquele de cair na armadilha preparada pelos fundamentalistas violentos, que têm todo o
interesse em radicalizar a oposição ao Ocidente em termos de guerra religiosa. Infelizmente,
famosos intelectuais ocidentais exortaram a opinião pública europeia a tomar consciência
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
1. BERGER, Peter L. A Dessecularização do Mundo: uma visão global. Religião e Sociedade,
vol. 21, n. 1, p. 9-24, 2000. Disponível em: <http://www.iser.org.br/ religiaoesociedade/pdf/
berger21.1_2000.pdf>. Acesso em: 02/ junho de 2019.
2. BERLINCK, T. Manoel; Ciência e Política: Duas Vocações. Editora Cultrix; São Paulo; 2011,
p. 44.
3. CARLETTI, Anna; FERREIRA, Alan Marcos S. V., Religião e Relações Internacionais, Juruá
Editora, 2016, p. 53.
4. DA SILVA, Igor da S.; PERES, Lorenzo de A. Religiosidade e Decisão Política: Problemas nas
áreas de Política Externa e Gestão de Guerra. Cadernos de Estudos Sociais e Políticos,
v. 2, n. 3, 2013, p.34.
9. HERZ, Mônica & HOFFMANN, Andréa Ribeiro. Organizações internacionais; história e prá-
ticas. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004, p. 132.
10. NOÉ, Sidney Vilmar. Religião e violência: da repressão da agressividade à sua sublimação.
In: PEREIRA, Mabel Salgado; SANTOS, Lyndon (Org.). Religião e violência: em tempos de
globalização. São Paulo: Paulinas, 2004, p. 24.
11. NOGUEIRA, João Pontes; MESSARI, Nizar. Teoria das Relações Internacionais – Correntes
e Debates. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005, p. 124.
12. OLIVEIRA, Odete Maria de. Relações Internacionais: Estudos de introdução. Curitiba: Juruá,
2001, p. 96.
14. SAHLIYEH, E. ‘Introduction’. In: SAHLIYEH, E. (ed.). Religious Resurgence and Politics in
the Contemporary World. Albany: State University of New York Press, 1990, p. 77.
15. SOARES, Pedro Gustavo Cavalcanti. Um Coeficiente Religioso nas Teorias das Relações
Internacionais? Faculdade Damas – Cadernos de Relações Internacionais, v. 3, n.5, p. 46,
2012. Disponível em: <http://www.faculdadedamas. edu.br/revista/index.php/relacoesinterna-
cionais>. Acesso em: 02 julho. 2019.
16. VOEGELIN, Eric. A Nova Ciência da Política. Brasília: Editora da Universidade de Brasília,
2012, p. 124.
17. WALTZ, Kenneth N. O Homem, o Estado, a Guerra. São Paulo: Martins Fontes, 2004, p. 84.
10.37885/201001689
RESUMO
1 Cf. FRANKL, Viktor. Em busca de sentido: um psicólogo no campo de concentração. 25. ed. Petrópolis: Vozes; São Leopoldo: Sino-
dal, 2008. p. 161.
2 Bíblia de Jerusalém. São Paulo: Paulus, 2002. Doravante será citado apenas o livro bíblico com o capítulo e o versículo.
3 Cf. ROSSI, Luiz A. Solano. A falsa religião e a amizade enganadora: o livro de Jó. São Paulo: Paulus, 2005.
4 Cf. PIXLEY, J. Jó ou o diálogo sobre a razão teológica. Perspectiva teológica, Belo Horizonte, v. 16, n. 40, p. 333-343, 1984.
5 Cf. GUTIERREZ, G. Falar de Deus a partir do sofrimento do inocente: uma refl exão sobre o livro de Jó. Petrópolis: Vozes, 1987. p.
23.
6 Cf. LATTKE, Michael. In: BALZ, Horst; SCHNEIDER, Gerhard (Eds.). Diccionario Exegético del Nuevo Testamento. Salamanca: Sí-
gueme, 2005. Tomo I, c. 2.295-2.297.
RELENDO A PATRÍSTICA
Durante séculos a teologia deu muito enfoque à apatheia de Deus. Embora Clemente
de Alexandria e Gregório de Nissa tenham se dedicado a esse tema, a patrística não teve
a intenção de negar a compaixão divina pelo sofrimento humano.10 Quando a patrística
mencionava a apatheia de Deus, aqueles teólogos dos primórdios do cristianismo estavam
empenhados em confrontar o antropomorfismo das mitologias pagãs e implantar, na men-
talidade cristã em vigor, que Deus não passa da potência ao ato, ou seja, que em Deus não
7 Cf. XAVIER, Donizete J. A teologia da Santíssima Trindade: a kénosis das Pessoas Divinas como manifestação do Amor e da Mise-
ricórdia. São Paulo: Palavra e Prece, 2005. p. 90.
8 Cf. OSORIO HERRERA, Bayron L. Kénosis y Donación: la Kénosis como atributo divino. Cuestiones Teológicas, Medellín, v. 41, n.
96, p. 347-376, 2014.
9 Cf. SOBRINO, Jon. A fé em Jesus Cristo: ensaio a partir das vítimas. Petrópolis: Vozes, 2000. p. 16.
10 Cf. WARE, Kallistos. Apatheia. In: WAKEFIELD, Gordon S. (Ed.). The Westminster Dictionary of Christian Spirituality. Philadelphia:
The Westminster Press, 1983. p. 18-19. Apatheia signifi ca “não sofrimento”, isto é, Deus não sofre como uma criatura. Apatheia é
oposto de pathos (sofrimento imposto, comum às criaturas sensíveis: seres humanos e animais). O “sofrimento” em Deus não é do
mesmo tipo daquele que afeta a criatura, que é o padecimento (pathos), mas o sofrimento próprio de quem ama, que é o compadecer
(sympatheo).
11 AUGUSTINE, Saint. Expositions of the Psalms 51-72. Part III / 17. Translation and notes by Maria Boulding, OSB. New York: New City
Press, 2001. p. 60.
12 Cf. ADEN, Ross. Justifi cation and Divinization. Dialog: a Journal of Theology, St. Paul (Minnesota), v. 32, p. 102-107, 1993.
13 TOLLEFSEN, Torstein Theodor. The Christocentric Cosmology of St Maximus the Confessor. New York: Oxford University Press,
2008. p. 191.
14 Cf. RAHNER, Karl. L’Homme à l’écoute du verbe: fondements d’une philosophie de la religion. Paris: Mame, 1968. p. 69-89 e 131-149.
15 Cf. ELLACURÍA, Ignacio. El pueblo crucifi cado. Ensayo de soteriología histórica. In: ASSMANN, H. et. al. Cruz y resurrección: pre-
sencia y anuncio de una iglesia nueva. México: CRT; Zalapa, 1978. p. 49-82.
16 Cf. SOBRINO, Jon. ¿Cómo hacer teología? La teología como intellectus amoris. Sal Terrae, Santander, v. 910, p. 397-441, 1989.
17 Compêndio do Vaticano II: constituições, decretos, declarações. Petrópolis: Vozes, 2000.
2. AUGUSTINE, Saint. Expositions of the Psalms 51-72. Part III / 17. Translation and notes by
Maria Boulding, OSB. New York: New City Press, 2001.
3. BALZ, Horst; SCHNEIDER, Gerhard (Eds.). Diccionario Exegético del Nuevo Testamento.
Salamanca: Sígueme, 2005. Tomo I. Bíblia de Jerusalém. São Paulo: Paulus, 2002.
5. FRANKL, Viktor. Em busca de sentido: um psicólogo no campo de concentração. 25. ed. Pe-
trópolis: Vozes; São Leopoldo: Sinodal, 2008.
6. GUTIERREZ, Gustavo. Falar de Deus a partir do sofrimento do inocente: uma reflexão sobre
o livro de Jó. Petrópolis: Vozes, 1987.
7. OSORIO HERRERA, Bayron L. Kénosis y Donación: la Kénosis como atributo divino. Cues-
tiones Teológicas, Medellín, v. 41, n. 96, p. 347-376, 2014.
10. ROSSI, Luiz A. Solano. A falsa religião e a amizade enganadora: o livro de Jó. São Paulo:
Paulus, 2005.
11. SOBRINO, Jon. ¿Cómo hacer teología? La teología como intellectus amoris. Sal Terrae, San-
tander, v. 910, p. 397-441, 1989.
12. SOBRINO, Jon. A fé em Jesus Cristo: ensaio a partir das vítimas. Petrópolis: Vozes, 2000.
TOLLEFSEN, Torstein Theodor. The Christocentric Cosmology of St Maximus the Confessor.
New York: Oxford University Press, 2008.
13. XAVIER, Donizete J. A teologia da Santíssima Trindade: a kénosis das Pessoas Divinas como
manifestação do Amor e da Misericórdia. São Paulo: Palavra e Prece, 2005.
14. WAKEFIELD, Gordon S. (Ed.). The Westminster Dictionary of Christian Spirituality. Phila- del-
phia: The Westminster Press, 1983.
10.37885/201001780
RESUMO
I. F. Gadelha.
Por ano, cerca de 1,3 milhão de mortes no mundo são causadas pela poluição
urbana, segundo dados da OMS. Só em São Paulo morrem 4 mil por ano. Em
2004, quando o número de carros era um terço menor, estima-se que o número
de mortes tenha sido 2,9 mil. Idosos, crianças, gestantes, portadores de doen-
ças respiratórias e cardíacas crônicas e, principalmente, os mais pobres – que
têm níveis maiores de exposição – são os principais atingidos. (IHU, 2012).
1 O V Congresso da ANPTECRE – Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Teologia e Ciências da Religião foi realizado
de 9 a 11 de setembro em Curitiba, Paraná.
2 OMS – Organização Mundial da Saúde.
9
Iahweh disse a Caim: “Onde está teu irmão Abel?” Ele respondeu: “Não sei.
Acaso sou guarda de meu irmão?” 10 Iahweh disse: “Que fizeste! Ouço o san-
gue de teu irmão, do solo, clamar por mim! 11 Agora, és maldito e expulso do
solo fértil que abriu a boca para receber de tua mão o sangue de teu irmão. 12
Ainda que cultives o solo, ele não te dará mais seu produto: serás um fugitivo
errante sobre a terra”. (Gn 4, 9-12).
Nossos bosques têm mais vida”: não deixeis que se apague esta chama de
esperança que o vosso Hino Nacional põe em vossos lábios. A devastação
ambiental da Amazônia e as ameaças à dignidade humana de suas populações
requerem um maior compromisso nos mais diversos espaços de ação que a
sociedade vem solicitando. Bento XVI (2007).
O homem é ilimitado em sua sede por riqueza, poder e prazer, motivos de adoecimento
da criação, fato que pode ser refletido através de uma parábola ou anedota contada pelo
teólogo Jünger Moltmann.
Uma antiga e porque não dizer traiçoeira anedota fala de dois planetas exis-
tentes no espaço: Um perguntou ao outro: “Como vai você?” Ao que o outro
respondeu: “Eu vou muito mal. Estou doente. Estou sofrendo de homo sapiens”.
O outro lhe disse: “Sinto muito. Isso é realmente lamentável. Mas não fique
Esta dura realidade que ocorre no Brasil foi resumida de forma clara por DUTRA (2018)
ao comentar sobre as eleições ocorridas em 2018 e o fanatismo religioso.
53. Assim como o mandamento “não matar” põe um limite claro para assegu-
rar o valor da vida humana, assim também hoje devemos dizer “não a uma
economia da exclusão e da desigualdade social”. Esta economia mata. Não é
possível que a morte por enregelamento dum idoso sem abrigo não seja notí-
cia, enquanto o é a descida de dois pontos na Bolsa. Isto é exclusão. Não se
pode tolerar mais o fato de se lançar comida no lixo, quando há pessoas que
passam fome. Isto é desigualdade social... (Francisco, Evangelli Gaudium, 53).
Em 2010, no Brasil, as famílias 20% mais pobres apresentavam rendimento médio per
capita igual a 0,29 vezes o salário mínimo, enquanto o rendimento médio das famílias 20%
mais ricas equivale a 4,83 vezes o salário mínimo (IBGE, PNAD 2011), ou seja, quase 17
(dezessete) vezes a mais.
Aliado à distribuição de renda, existe também a distribuição desigual de terras. Os resul-
tados do Censo Agropecuário 2006 indicam que estabelecimentos rurais com áreas inferiores
a 10 (dez) hectares ocupam menos de 2,7% da área total ocupada pelos estabelecimentos
rurais, enquanto a área ocupada pelos estabelecimentos com área superior a 1.000 hectares
concentra mais de 43% da área total (Agência Estado, 2009).
Existem diversos indicadores que apresentam as situações de desigualdade na socie-
dade brasileira. E é nesta desigualdade que existe uma parcela de população mais pobre
e que está mais sujeita aos efeitos da poluição, habitando áreas deficientes de serviços de
Vós sóis a luz do mundo...”, cf. Mt 5, 13-17, com importante contribuição do poema / salmo
Pai Nosso da Libertação e da oração ensinada por Jesus, o Cristo, o Libertador.
Bem cedo,
como todas as manhãs,
meninos disputam com cães
em volta da lata de lixo.
Mexem e remexem,
tiram e põem
os restos de comida do lixo.
E repartem com os cães
o pão apodrecido do lixo.
Num mundo cão, sem coração,
eis a forma que Deus encontrou
para atender à oração
dos miseráveis pequenos famintos:
o pão nosso de cada dia nos daí hoje!
Naquele dia, não, naquela semana,
o pão da nossa mesa não era o mesmo.
Era pão amargo, cheio de blasfêmia dos pobres,
que para Deus são súplicas.
Leonardo Boff.
(COMBLIN; MESTERS; FERREIRA, 1987, p. 80).
Papa Francisco, ainda na Exortação Apostólica Evangelli Gaudium, afirma que o ser
humano é um bem de consumo e os excluídos não são explorados, mas resíduos.
A dimensão ética, moral e social de nossa fé nos direciona à missão de Jesus, o Cristo,
o Libertador, que ao proclamar a leitura do livro do profeta Isaías apresentou sua missão
que é inapelavelmente estendida a todos nós, como anunciadores da Boa Nova.
18
O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me consagrou pela unção
para evangelizar os pobres; enviou-me para proclamar a libertação aos presos
e aos cegos a recuperação da vista, para restituir a liberdade aos oprimidos
19
e para proclamar um ano de graça do Senhor. (Lc 4, 18-19).
METODOLOGIA
Louvado sejas, ó meu Senhor, pela nossa irmã a Mãe Terra, que nos sustenta
e governa, e produz variados frutos, com flores coloridas e verduras. (Fran-
cisco de Assis).
O trabalho tem como objetivo refletir sobre a voz profética da Igreja Católica Apostólica
Romana e o zelo pelo meio ambiente, a Casa Comum. Na primeira parte, introdução, foi
refletido sobre a questão: Qual o papel da Igreja Católica Apostólica Romana na defesa do
meio ambiente? Foram apresentadas algumas situações e demonstrado a importância da
resposta da Igreja, sendo voz daqueles que não tem voz.
Os resultados do trabalho são apresentados em duas partes, sendo a primeira sobre
a Bíblia Sagrada, que fundamenta a nossa fé, e a segunda sobre os documentos e ações
da Igreja. Os documentos da Igreja, como, os pronunciamentos dos Papas, desde João
Paulo II até Francisco, e os elaborados pela CELAM e CNBB, donde inclui-se a realização
das Campanhas da Fraternidade e, inclusive, músicas que nos ajudam a refletir sobre a fé
e animam o nosso caminhar na fé, na esperança e no amor.
É claro, que não podemos deixar de citar tesouros da nossa fé, tais como, os escritos
de Basílio de Cesaréia, Gregório Magno e Francisco de Assis.
RESULTADOS
Senhor,
existem cristãos mudos, que,
enquanto não se mexe com eles,
ficam tranquilos, por mais que o mundo se arrebente.
Não protestam contra as injustiças,
porque estão escravizados ao Estado
pela perseguição ou pelo compromisso,
comprados pelo medo ou pelo oportunismo.
Outros, talvez, porque nada tem como contribuição,
para eles a fé é uma coisa etérea,
que nada tem a ver com a vida;
vale só das nuvens para cima.
Nós te pedimos, Senhor,
pelos cristãos do silêncio;
que tua palavra lhe queime as entranhas
e os faça superar a coação.
Que não se calem como se nada tivessem a dizer.
...
Luiz Espinal.
Da Bíblia Sagrada
Podemos relacionar o trecho desta homilia proferida por Basílio de Cesaréia com o
Evangelho Segundo Mateus 25, 14-30, conhecida como parábola dos talentos, compara-
mos o homem cheio de avareza que usa sua riqueza somente para seus fins com o servo
preguiçoso e medroso que enterra os seus talentos.
Bento XVI (2011) adverte que Jesus quer ensinar os discípulos a usar bem os seus
dons: Deus chama qualquer homem à vida e entrega-lhes talentos, confiando-lhes ao mesmo
tempo uma missão para cumprir. Gregório Magno (p. 569-570) adverte que devemos admi-
nistrar os talentos recebidos, como a inteligência ou o aprendizado de uma arte, utilizando
em favor dos necessitados de tais bens.
Mas os talentos são meus! Ou não!?!
“O que faço de errado, diz ele, guardando o que é meu?” Dize-me, de que
modo é teu? Donde tiraste, tomando-o para teu sustento? É como alguém
que, indo ao teatro, se apoderasse do espetáculo e quisesse excluir os que
entrassem depois, pretendendo ser só seu aquilo que é comum a todos os que
se apresentam, conforme lhes parece bem. Assim são os ricos. Pois, apode-
rando-se primeiro do que é de todos, tudo tomam para si por uma falsa ideia.
Se cada um tirasse para si o que lhe é necessário e entregasse ao indigente
o que sobra, ninguém seria rico, ninguém pobre. Não saíste nu do útero e
não retornarás nu para a terra (Jó 1,21)? Os bens que possuis, de onde vêm?
(Basílio de Cesaréia, p. 35-36).
Os talentos (riqueza, inteligência etc.) nunca são nossos e devemos utilizá-los a serviço
de todos na realidade em que encontramo-nos inseridos, pois como diz o ditado popular,
parafraseando Jó: o caixão não tem gavetas.
Evangelizar
no Brasil cada vez mais urbano,
pelo anúncio da Palavra de Deus,
formando discípulos e discípulas de Jesus Cristo,
em comunidades eclesiais missionárias,
à luz da evangélica opção preferencial pelos pobres,
cuidando da Casa Comum e
testemunhando o reino de Deus
rumo à plenitude. (CNBB, 2019, Documentos da CNBB 109).
• Em relação aos motivos para o cuidado com o meio ambiente, as respostas foram:
Sobrevivência, 65%; Futuro melhor, 15%; Preservação, 8%, Prevenção de catás-
trofe, 4%; Responsabilidade ambiental, 1%; e Não souberam ou não responderam,
6%;
• Após esse período foram realizadas mais duas campanhas relacionadas direta-
mente ao tema:
• 2016 – Tema: Casa Comum, Nossa Responsabilidade – Lema: Quero ver o direito
Mas, por vezes, é difícil a luta contra o comodismo e contra aqueles que desejam viver
a fé afastados do mundo, nas nuvens.
51. A fé não afasta do mundo, nem é alheia ao esforço concreto dos nossos
contemporâneos... A fé é um bem para todos, um bem comum: a sua luz
não ilumina apenas o âmbito da Igreja nem serve somente para construir
uma cidade eterna no além, mas ajuda também a construir as nossas so-
ciedades de modo que caminhem para um futuro de esperança. (Francisco,
Lumen Fidei, 51).
Continuando, o Papa Francisco fala sobre a fé e o bem comum, destacando que inexiste
uma cerca entre o viver a fé e ser cidadão que procura o bem comum e destaca, também, que
O Papa Bento XVI por várias vezes alertou sobre a importância do cuidado com o meio
ambiente. Na sua mensagem do Dia Mundial da Paz em 2010 observou que
No ano anterior, na mensagem do Dia Mundial da Paz, alertou sobre a questão moral
e a pobreza das crianças:
“Quando a pobreza atinge uma família, as crianças são as suas vítimas mais
vulneráveis: atualmente quase metade dos que vivem em pobreza absoluta é
constituída por crianças. O fato de olhar a pobreza colocando-se da parte das
crianças induz a reter como prioritários os objetivos que mais diretamente lhes
dizem respeito, como por exemplo os cuidados maternos, o serviço educativo,
o acesso às vacinas, aos cuidados médicos e à água potável, a defesa do
ambiente e sobretudo o empenho na defesa da família e da estabilidade das
relações no seio da mesma. Quando a família se debilita, os danos recaem
inevitavelmente sobre as crianças. Onde não é tutelada a dignidade da mulher
e da mãe, a ressentir-se do fato são de novo principalmente os filhos”.
Em 1990, o Papa João Paulo II no Dia Mundial da Paz alertou que a crise ecológica é
um problema moral e destacou que:
“o índice mais profundo e mais grave das implicações morais, ínsitas na proble-
mática ecológica, é constituído pela falta de respeito pela vida, como se pode
verificar em muitos comportamentos poluidores. Muitas vezes as condições da
produção prevalecem sobre a dignidade do trabalhador e os interesses eco-
nômicos são postos acima do bem de cada uma das pessoas, se não mesmo
acima do bem de populações inteiras. Nestes casos, a poluição e a destruição
do ambiente são frutos de uma visão redutiva e inatural que, algumas vezes,
denota um verdadeiro desprezo do homem”.
• Incentivar a participação social e política dos cristãos leigos e leigas nos diversos
níveis e instituições, promovendo-se formação permanente e ações concretas;
2. Empreender uma tarefa de reeducação de todos, a partir das crianças e dos jovens,
diante do valor da vida e da interdependência dos diversos ecossistemas;
1. Evangelizar nossos povos para que descubram o dom da criação, sabendo contem-
plá-la e cuidar dela como casa de todos os seres vivos e matriz da vida do planeta;
2. Aprofundar a presença pastoral nas populações mais frágeis e ameaçadas pelo de-
senvolvimento predatório, e apoiá-las em seus esforços para conseguir equitativa
distribuição da terra, da água e dos espaços urbanos;
2. Incentive-se cada vez mais a participação social e política dos cristãos leigos e lei-
gas nos diversos níveis e instituições; e
CONCLUSÃO
Senhor,
Livra a tua Igreja de todo ranço do mundo;
que não pareça uma sociedade a mais,
com seus caciques, acionistas,
privilégios, funcionários e burocracia.
Que tua Igreja nunca seja Igreja do silêncio,
uma vez que é depositária de tua palavra;
que apregoe livremente,
sem reticências nem covardias.
Que jamais se cale diante dos que usam de meiguice,
nem diante dos que tomam em armas.
Luiz Espinal.
REFERÊNCIAS
1. BÍBLIA DE JERUSALÉM. Tradução do texto em língua portuguesa. Edição: 1998, revista e
ampliada, 8ª reimpressão. São Paulo: PAULUS, 2012.
2. COMBLIN, José; MESTERS Carlos; FERREIRA, Maria Emília. Salmos latino-americanos, São
Paulo: Edições Paulinas, (Coleção “A oração dos pobres”).
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diz médico da USP. Disponível em <http://www.ihu.unisinos.br/noticias/512065-pobres-sao-
-os-mais-atingidos-pela-poluicao-urbana-diz-medico-da-usp>. Data: 03 de agosto de 2012.
Acesso em 12 de outubro de 2020.
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12 de outubro de 2020.
13. Basílio de Cesaréia (330 – 379). Homília sobre a Palavra do Evangelho Segundo Lucas:
“Destruirei Meus Celeiros e Construirei Maiores” e Sobre a Avareza ou o Rico Estulto,
(tradução de Roque Fangiotti), São Paulo: Paulus, (coleção Patrística, volume 14), 1998.
14. BENTO XVI, Papa. ANGELUS. Domingo, 13 de Novembro de 2011. Disponível em <http://www.
vatican.va/content/benedict-xvi/pt/angelus/2011/documents/hf_ben-xvi_ang_20111113.html>.
Acesso em 12 de outubro de 2020.
15. San Gregorio Magno (590 – 604). Obras de San Gegorio Magno – Regla pastoral. Homilias
sobre la profecia de Ezequiel. Cuarenta homilías sobre los Evangelios. (tradução castellana
por Paulino Gallardo – introducción general, notas e índices de Melquiades Andres), Madrid:
Biblioteca de Autores Cristianos, 2009.
16. CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL - CNBB. Estudos da CNBB 107 –
Cristãos Leigos e Leigas na Igreja e na Sociedade. Sal da Terra e Luz do Mundo (cf. Mt
5,13-14). Edições CNBB. 2013.
18. FRANCISCO, Papa. Carta Encíclica Laudato Si’ sobre o Cuidado da Casa Comum. Disponível
em <http://w2.vatican.va/content/francesco/pt/encyclicals/documents/papafrancesco_20150524_
enciclica-laudato-si.html>. Acesso em 14 de abril de 2015.
19. BRASIL. Brasil. Ministério do Meio Ambiente. Secretaria de Articulação Institucional e Cidadania
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nacional de opinião: principais resultados / Ministério do Meio Ambiente, Secretaria de Articu-
lação Institucional e Cidadania Ambiental. – Rio de Janeiro: Overview, 2012.
20. BENTO XVI, Papa. Mensagem de Sua Santidade Bento XVI para a celebração do Dia Mun-
dial da Paz. 1º de janeiro de 2010. Se quiser cultivar a paz, preserva a criação. Disponível
em <http://www.vatican.va/content/benedict-xvi/pt/messages/peace/documents/hf_ben-xvi_
mes_20091208_xliii-world-day-peace.html >. Acesso em 12 de outubro de 2020.
23. CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL - CNBB 94. Documento “Diretrizes
Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil – 2011 – 2015”. Jesus Cristo, “Caminho,
Verdade e Vida” (Jo 14,6). 49ª Assembleia Geral Aparecida-SP, de 4 a 13 de maio de 2011.
Texto aprovado 09 de maio de 2011.
Sidney A. da C. Damasceno
UFPB
10.37885/201001608
RESUMO
Ensino-Aprendizagem.
INTRODUÇÃO
METODOLOGIA
1 Ressalta-se que essa opção segue o entendimento admitido de preservar o uso do termo “pedagógico-didáticas” preferencialmente
em relação a expressão mais habitual, ou seja, o termo didático-pedagogicas, por reconhecese que a Pedagogia incorpora o pen-
sar a respeito da educação proposta e a Didática engloba a educação que se faz. Consequentemente, nesse sentido, o reflexionar
(considerando-se o cerne do duvidar), que integra o planejar, vem muito antes, ainda que perpasse todo o fazer. Sem perder de
vista, o entendimento de que na práxis, a complexidade de suas interligações, resulta em uma complementação reciproca. Que
‘naturalmente’, sofre ressignificações e reapropriações por parte de cada professor, frente aos desafios da mediação no processo de
aprendizagem-do-ensino-aprendizagem-da-docência.
2 Pesquisa do mestrado que propôs como objetivo, averiguar se o modelo de Formação Continuada de Professores de Ensino Religio-
so contribuía com os professores de ER no ensino do tema “função e valores da tradição religiosa”; a qual ficou intitulada “Formação
continuada de professores de Ensino Religioso: do conteúdo das ciências das religiões à prática na sala de aula de ER” e encontra-se
disponível em: <https://repositorio.ufpb.br/jspui/bitstream/tede/8781/2/arquivo%20total.pdf > Acesso em: 01 set. 2020.
3 Anteriormente, o cerne deste trabalho foi apresentado também no V Congresso da ANPTECRE: “Religião, Direitos Humanos e Laici-
dade” como verifica-se nos seus anais
Pois, como frisa Lilian Blank, uma vez que a transição da primeira para a segunda
geração dos professores do FONAPER já foi feita antes do chegar aos 25 (vinte e cinco)
anos de atuação no pais e o desafio atual é como equipar os professores de ER que estão
na Educação Básica por todo o Brasil:
O termo Transposição Didática neste estudo diz respeito a uma expressão dos saberes,
como no ano de 1985 foi rediscutido pelo matemático Yves Chevallard8 – a partir das con-
siderações do sociólogo francês Michel Verret (1975) – observando que desde quando um
conhecimento que os cientistas sistematizam na academia tem o objetivo de ser ensinado
e aprendido pelos educandos na escola, esse saber passa por considerável processo de
transformações. Chevallard (1991, p. 45) afirma que:
Um conteúdo do saber que foi designado como um saber a ensinar sofre a partir
daí, um conjunto de transformações adaptativas que vão torná-lo apto para ocu-
par um lugar entre os objetos de ensino. O trabalho que transforma um objeto do
saber a ensinar em um objeto de ensino é denominado de Transposição Didática.
8 Miriam Leite destaca que o autor apesar de, na maior parte da sua obra, “La transposición didáctica: del saber sabio al saber enseña-
do” (CHEVALLARD, 1991) referir-se a didática das matemáticas, sua perspectiva de extensão da teoria da transposição didática às
outras didáticas específicas foi reconhecida pelo próprio autor no posfácio da segunda edição dessa obra (LEITE, 2004, p. 61).
9 No espaço escolar o “saber ensinado” é denominado de várias formas como conhecimento científico escolar, conteúdo, conteúdo
escolar, programa escolar, entre outros. Assim, o “saber ensinado” é um objeto didático que é um produto de um conjunto de trans-
formações.
10 No dizer de Chevallard (1991) esses processos são o da segmentação que os conteúdos sofrem (que ele chama da desincretização),
o deslocamento das problemáticas (a descontextualização), o apagamento do autor primeiro do conhecimento (a despersonalização)
e a adaptação de um con
11 Principalmente, sob dadas situações políticas (como temos verificado também através da nossa pesquisa de mestrado), como por
exemplo, o que se observa constituir um trabalho a mais para os docentes do componente curricular de ER que é ainda a ausência
da adoção do livro didático na escola por muitas das Redes de Ensino públicas ao longo dos anos (mesmo face as ofertas de livros
didático específicos por várias editoras de livros didáticos no mercado).
Fonte: ESQUEMA 1
Veiga (2008, p. 275)
12 Porque cada professor, ao entender o significado e a significância do que e do como articular os conteúdos didática/pedagógica/
metodologicamente, desenvolve em sua práxis as mais distintas maneiras de propor ao seu aluno o entendimento para assumir a
respectiva habilidade de cada objeto de conhecimento.
13 Do mesmo modo que, outras formas de manter o controle da pessoa dos alunos, as quais, assim como nós, distintos professores no
trânsito entre diversas escolas (de municípios, estados e países diferentes) identificam e lamentam que persistam. Porque a utiliza-
ção da insegurança e do medo como uma estratégia de domínio não se justifica por qualquer que seja o propósito. Principalmente,
porque na hodiernidade constata-se que existem muitos outros procedimentos mais propícios para educar o comportamento humano
para as convivências sociais
14 Ao contrário, observa-se no componente curricular de ER que mesmo em meio a peculiaridade de cada sala de aula, sabe-se que
quando o professor de ER entra na classe (uma vez por semana, para dá sua aula com um tempo total em torno de 50 minutos),
ele tem, antes de tudo, no conquistar o carinho e o respeito das crianças, seu primeiro desafio profissional, se objetivar trabalhar em
uma perspectiva crítica-reflexiva! E, sobretudo, vencer os mais diversos percalços e discórdias advindos dos resultados de articular o
processo de ensino aprendizagem com esmero. O que nesse contexto, do mesmo modo, expressa seus resultados só que em frases
do tipo opostas: “Eu amo o Ensino Religioso”, “O Componente curricular que eu mais gosto é Ensino Religioso”, “O professor que eu
mais gosto é o de Ensino Religioso”. Reação essa que no dia a dia, geralmente, ou torna-se desconcertante, (e é um preço que o
docente arca) ou (re)concerta o ambiente e as práticas escolares (quando os resultados falam por si só).
As perguntas norteadoras
15 Raciocinando a partir da contagem de no mínimo uma aula por semana. Arredondamos para doze aulas, cientes de que tomamos
um número de aulas de um OBC pelo outro, devido em um ano letivo, um Plano de curso apresentar cercar de quarenta aulas de ER
dentro da referência do mínimo de 200 dias de aula no ano escolar.
Ao seguir este empenho descritivo, pontua-se que no conjunto dessas doze aulas, opta-
se na preleção inicial aplicar-se a primeira avaliação (a de diagnóstico inicial), (LUCKESI,
1992, 2002). Explicar o assunto a ser apreendido pelos alunos – crianças – e, principalmente,
ajustar o Plano de Ensino. Da segunda a quinta aula prefere-se tratar da primeira parte do
OBC, o “Eu”. Na sexta aula prioriza-se aplicar uma avaliação gráfica (uma vez que para o
primeiro ano existe essa prática).
Na sétima e oitava aula, as lições escolhidas são sobre a segunda parte do OBC, o
“Outro”. A nona e a décima preleções elege-se para expor a respeito da terceira parte do
objeto que é o “Nós”. Na décima primeira aplica-se uma outra avaliação e na decima segunda
concretiza-se a recuperação da aprendizagem de todo o assunto.
Uma das características mais marcantes da(s) Ciência(s) da(s) Religião(ões) é a inter-
disciplinaridade. Depois da autonomia da área “Ciências da Religião e Teologia” como área
de avaliação da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES,
17 Maiores detalhes dessa evolução significativa podem ser constatados no exame desse relatório de avaliação apresentado por Flávio
Sienra Ribeiro, Dilaine Sampaio e Cláudio Ribeiro, coordenadores da Área Ciências da Religião e Teologia (CAPES, 2019).
Porque, em suma, uma teoria pedagógica não se faz boa ou ruim em si mesma.
O que se deve observar são os aspectos positivos que surtem efeitos para que
a ação pedagógica venha a atingir os seus objetivos propostos. Isso de acordo
com cada realidade onde uma teoria específica é idealizada na estruturação
de seu desenvolvimento. Assim, são os aspectos positivos que devem ser
levados em conta e moldados conforme as particularidades de cada realidade
dentro dessa proposta de transitar entre as TPMs.
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
1. ANDRADE, Maria Margarida de. Como preparar trabalhos para cursos de pós- graduação:
noções práticas. São Paulo: Atlas, 2008.
3. ARAUJO, José C. S. Para uma análise das representações sobre as técnicas de ensino. In:
VEIGA, Ilma Passos Alencastro (Org.). Técnicas de ensino: por que não? São Paulo: Papirus,
p. 11-34, 1991. (Coleção magistério: formação e trabalho pedagógico).
10. CIVIERO, Paula A. Grawieski. Transposição Didática reflexiva: um olhar voltado para a
prática pedagógica. 2009. 179 f. Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós-Graduação em
Ensino de Matemática, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2009.
12. CHEVALLARD, Yves. La transposición didáctica: del saber sabio al saber enseñado. Buenos
Aires: Aique, 1991.
13. COSTA. Matheus Oliva da. Entrevista com Wolfgang Gruen sobre sua experiência com a pri-
meira graduação de Ciência da Religião no Brasil. Numen: revista de estudos e pesquisa da
religião, Juiz de Fora, v. 21, nº 2, p. 306-316, jul./dez. 2018. Disponível em: <https://periodicos.
ufjf.br/index.php/numen/article/view/22137/14810> Acesso em: 02 out. 2020.
16. DAMÁSIO, António A. Estranha ordem das coisas: as origens biológicas dos sentimentos
e da cultura. São Paulo: Companhia das Letras, 2018.
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18. GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas, 1994.
20. HAYDT, Regina Célia Cazaux. Curso de didática geral. São Paulo: Ática, 2011.
23. HABERMAS, J. O discurso filosófico da modernidade. São Paulo: Martins Fontes, 2002.
27. JAPIASSÚ, Hilton; MARCONDES, Danilo. Dicionário básico de filosofia. Rio de Janeiro:
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30. KANT, Immanuel. Crítica da razão pura. Fundação Calouste Gulbenkian: Lisboa, 2001.
31. LAKATOS, Eva M; MARCONI, Marina de A. Metodologia Científica. São Paulo: Atlas, 2011.
33. LEITE, Miriam Soares. Contribuições de Brasil Bernstein e Yves Chevallard para a dis-
cussão do conhecimento escolar. 2004. 131 f. Dissertação (Mestrado) – Departamento de
Educação, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2004.
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Filocalia, 2009.
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40. PASSOS, João Décio. Como a religião se organiza: tipo e processos. São Paulo: Paulinas,
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43. PERRENOUD, Philippe. Dez novas competências para ensinar. Porto Alegre: Artmed, 2000.
44. PERRENOUD, P. Ensinar: agir na urgência, decidir na incerteza. Porto Alegre: Artmed, 2001.
45. RIBEIRO, Djamila. O que é lugar de fala? Belo Horizonte: Letramento, 2017.
46. SAMPAIO, Dilaine S. Ciências da Religião e Teologia como área autônoma: reconfiguração
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48. SENRA, Flávio. Programas profissionais. Situação atual e perspectivas na área de Ciências
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50. SOARES, Afonso Maria Ligorio. Religião & educação: da ciência da religião ao ensino reli-
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52. UNESCO. Educação para a cidadania global: preparando alunos para os desafios do século
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Papirus, 2008. (Coleção Magistério: formação e trabalho pedagógico). Disponível em: <https://
edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/3205897/mod_resource/content/3/Cap%C3%ADtul oIlmaPas-
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55. WICKERT, Tarcísio Alfonso. Terra, Ensino Religioso e Alteridade. In: CAMARGO, Cesar da
S.; CECCKETTI, Elcio; OLIVEIRA, Lilian B. (Orgs.). Terra e Alteridade: pesquisas e práticas
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Saulo Baptista
Uepa
10.37885/201001773
RESUMO
1 Sobre esse tema, é recomendável consultar: RODRIGUES, Leôncio Martins. Mudanças na classe política brasileira. São Paulo:
Publifolha, 2006.
Sobre uma tentativa de identificar um perfil de atuação, o mesmo autor indica o seguinte:
Prisco partiu da seguinte questão: “De qual maneira se desenvolve a ação política da
bancada evangélica federal da Câmara dos Deputados do Brasil durante a 53ª legislatura?”
(p. 96) E obteve como resposta a constatação de que a ação dos parlamentares evangélicos,
durante a 53ª legislatura federal, deu ênfase a dois temas: Trabalho e Direitos do Consumidor.
O resultado, segundo ele, “mostra uma ação política coerente, pois responde às ne-
cessidades dos eleitores que compõem a base eleitoral dos evangélicos.” (id.). Sandro
Amadeu Cerveira, citado por Prisco, considera que essa inserção tem caráter estratégico-
-corporativo. Ou seja:
3 Idem, https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2015/05/20/relancada-frente-parlamentar-mista-em-defesa-da-familia-e-apoio�
-
-a-vida. Acesso em 12/10/2020.
4 Os evangélicos na Câmara dos Deputados: um olhar sobre os projetos de Lei da bancada evangélica da 53º legislatura (2009-10).
Disponível em https://iepweb.sciencespo-rennes.fr/bibli_doc/download/80/, acesso em 16/4/2013.
O mesmo estudo indica que os evangélicos se identificam em sua maioria com os par-
tidos de direita, mas o grupo é bastante heterogêneo, com diversos parlamentares de outros
matizes ideológicos. Com essa observação, Prisco conclui, tendo o cuidado de ressaltar que
os resultados do seu estudo são válidos apenas para o grupo evangélico da 53ª legislatura.
Sobre o episódio que envolve o deputado Marcos Feliciano na conquista da Comissão
de Direitos Humanos e seus desdobramentos, penso o seguinte: Em todas as legislaturas,
os pentecostais têm dado ênfase aos temas que se referem à defesa da família, no sentido
tradicional, constituída de pai (macho), mãe (fêmea) e filhos. Como todo fundamentalismo, e
o campo evangélico é, predominantemente fundamentalista, eles têm necessidade de lidar
com seus inimigos, quaisquer que sejam esses. Na ausência ou desatualização de alguns
inimigos, outrora relevantes, esses evangélicos tiveram que inventar outros inimigos. Foi
nesse contexto que ocorreu a escolha dos grupos de homossexuais e população LGBTQI+,
para exercer o papel de novos inimigos, em substituição, ou, pelo menos, como prioridade
sobre outros desafetos, que, historicamente, era ocupado por comunistas e católicos. Quanto
à atuação destes últimos e de espíritas, desde que ligados a correntes conservadoras, os
novos evangélicos descobriram que podiam arrolá-los como aliados de ocasião na Frente
Parlamentar da Família e de Apoio à Vida, conforme já foi mencionado, anteriormente.
Sobre o interesse por liderança e controle de comissões no parlamento brasileiro, por
parte de evangélicos fundamentalistas, bem exemplificado no episódio de conquista da
Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM) pelo deputado Marco Feliciano, pastor
pentecostal, destaco apenas os seguintes pontos:
5 A referência temporal aqui era a 54ª legislatura, que durou de 1º de fevereiro de 2011 a 31 de janeiro de 2015.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Há muito tempo estamos diante de uma reorganização da direita, que tem nos
pentecostais e neopentecostais um braço eficiente e agressivo para mobilizar
as massas, semanalmente, nas igrejas, com discursos religiosos. Eles estão
produzindo uma visão de mundo, que é receptiva para grande parte dos bra-
sileiros. Depois de conseguirem presenças grandes nos parlamentos, eles
vão tentar os cargos executivos. [Aliás, já estão conquistando esses cargos,
conforme se pode constatar pelos resultados das eleições majoritárias pos-
teriores a 2013].
O termo evangélico perdeu a conotação de herdeiro da Reforma. Hoje evangéli-
co é quem promete prosperidade, curas, experiências emocionais mirabolantes
etc. Junto com esses ingredientes, eles apresentam enorme sede de poder e
são adeptos da tirania. Eles só aceitam o jogo democrático porque o utilizam
para, logo que puderem, se chegarem a ser maioria, destruírem essa mesma
democracia que os possibilitou participar da vida pública. Se democracia é
coisa ausente nas igrejas, como que os religiosos iriam defender a democracia.
Só se fossem esquizofrênicos.
Os reformados, hoje, são minoria e o termo evangélico perdeu o sentido para
designá-los. Os reformados não são evangélicos no sentido que o termo as-
sumiu nas duas últimas décadas. Teremos que conscientemente deixar claro
esse divisor de águas.
REFERÊNCIAS
1. BEBBINGTON, David W. Evangelicalism in modern Britain: a history from the 1730s to the
1980s. London: Routledge, 1989.
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2006.
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da bancada evangélica da 53ª legislatura (2009-10). Disponível em https://iepweb.sciences-
po-rennes.fr/bibli_doc/download/80/, acesso em 16/4/2013.
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5. GOMES, Angela de Castro. O populismo e as ciências sociais no Brasil: notas sobre a trajetória
de um conceito. Tempo, Rio de Janeiro , vol. 1, n°. 2, 1996, p. 31-58. Disponível em https://
www.historia.uff.br/tempo/artigos_dossie/artg2-2.pdf. Acesso em 12/10/2020.
6. FERREIRA, Jorge (org.) O populismo e sua história: debate e crítica. Rio de Janeiro: Civi-
lização Brasileieira, 2010.
7. WEFFORT, Francisco. O populismo na política brasileira. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1978.
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RESUMO
Os séculos XIX e XX foram marcados por um profundo estudo da cultura e das religiões
orientais, visto que essas passaram por um fenômeno de intensa popularização nesse perío-
do. Tais estudos foram realizados principalmente por europeus, em grande medida devido
à consolidação da dominação colonial na Ásia. O autor do livro Jung and Eastern Thought
– A Dialogue with the Orient, J.J. Clarke, afirma que “Indeed, the whole idea of cultures as
entities which have distinct characteristics and which in some sense stand opposed and
alien to one another is a European invention” (2001, p. 14). Ele observa uma certa tensão
existente entre duas posições, uma que distância e outra que agrega, e é justamente a partir
dessa proposição que podemos chegar à compreensão do julgamento de Carl Jung sobre
o contato entre tradições diferentes.
A Europa desse período caracterizava-se por uma atitude de eurocentrismo em rela-
ção às outras culturas, colocando-se em posição de destaque e de privilégio em termos de
conhecimento e organização social. A religião foi marcante nesse aspecto, pois o cristianismo
era considerado diferente e superior às outras religiões. Assim, o homem europeu buscava
em seus estudos compreender as demais religiões, mas o fazia de maneira superficial e pre-
conceituosa. A ideia de entender uma religião por critérios científicos ao invés de investigá-la
através da própria experiência religiosa reduzia, de fato, a possibilidade de compreendê-la
adequadamente. Um exemplo disso seria o estudo e a leitura de textos sagrados das religiões
orientais sem que se tivesse uma ideia clara a respeito da parte prática da própria religião.
Clarke afirma que “but for Europe the question of the ‘other’ has seemed especially
problematic, whether that ‘other’ be outside or within” (2001, p. 14). O eurocentrismo é uma vi-
são de mundo que tende a colocar a Europa como o elemento fundamental na constituição
da sociedade moderna, sendo necessariamente a protagonista da história do homem. Clarke
cita Said que afirma: “In brief, [o discurso] Orientalism is ‘a kind of Western projection onto
and will to govern over the Orient’” (2001, p. 18).
Carl Jung rompe com essa ideia ao perceber que, justamente na Europa, ocorre um
depauperamento simbólico1, ou seja, um enfraquecimento dos símbolos religiosos do
cristianismo. Isso permitiu que ele enxergasse a necessidade ou a falta de algo dentro da
própria cultura e se abrisse para outras civilizações. Essa experiência foi positiva no sentido
de ajudar Jung a definir sua personalidade e seus ideais, e demonstra sua sensibilidade
ao apontar para uma perspectiva diferente diante dos fatos e narrativas com os quais se
deparou. Para Jung, existem diferenças nas características de um mundo oriental e de
1 Foi necessário um depauperamento dos símbolos para que se descobrisse de novo os deuses como fatores psíquicos, ou seja, como
arquétipos do inconsciente. [...] Desde que as estrelas caíram do céu e nossos símbolos mais altos empalideceram, uma vida secreta
governa o inconsciente. É por isso que temos hoje uma psicologia, e falamos do inconsciente. Tudo isto seria supérfluo, e o é de fato,
numa época e numa forma de cultura que possui símbolos. (JUNG, OC 9/1, 2014, p. 32, § 50)
Carl Jung apresentou sua teoria sobre tipos psicológicos em 1921, mas algumas bio-
grafias indicam que em meados de 1911 Jung já estava trabalhando nessa teoria. O que o
motivou a elaborá-la foram seus estudos sobre a personalidade. Carl Jung percebeu desde
de cedo que a divergência entre Freud e Adler com relação ao primado da sexualidade e do
poder, respectivamente, refletiam tipologias distintas da personalidade. Com isso, passou a
analisar essas disposições distintas da personalidade na história do pensamento humano
em diferentes culturas e civilizações.
Os tipos psicológicos envolvem duas categorias principais, o extrovertido e o introver-
tido, cada qual podendo se desdobrar em quatro funções psicológicas – a saber, pensa-
mento, sentimento, sensação e intuição. O tipo psicológico reflete a atitude específica de
cada ser humano em seu processo de relacionamento com o mundo. A palavra introversão
aponta para os indivíduos que ficam mais excitados ou energizados pelo mundo interno,
2 As referências às obras de Jung têm como base o título “Obras Completas”, publicado em 18 volumes pela editora Vozes. Adotei aqui
a abreviação OC, seguida do número do volume correspondente ao parágrafo padronizado universalmente e a página da edição da
Vozes.
A citação acima mostra o respeito e o reconhecimento de Carl Jung pelo modelo orien-
tal, caracterizado por uma ênfase nos processos de transformação pessoal. Jung afirma:
“O Oriente nos ensina outra forma de compreensão, mais ampla, mais alta e profunda – a
compreensão mediante a vida” (2013, p. 24). A psicologia junguiana está, portanto, ligada
não só ao Ocidente, mas também ao Oriente, pois é no reconhecimento dos valores em
comum que ela identifica as faltas e as complementaridades necessárias à tradição ociden-
tal. Apesar de imerso numa cultura predominantemente eurocêntrica, Carl Jung revela uma
capacidade extraordinária de ir além desses preconceitos e de reconhecer em outra tradição
a presença de algo essencial que teria sido negligenciado pela sua própria tradição. Só atra-
vés do reconhecimento de um compromisso fundamental de Jung com o cristianismo é que
podemos compreender toda a amplitude de sua abertura a outras civilizações.
Clarifying the ways in which Buddhism and psychotherapy are both similar and
different in their goals and methods should assist the practitioners of both in
addressing the concerns of people who seek help for their suffering. Tracing
the boundaries and domain of subjective distress—specifically dukkha as it is
described in Buddhism—may also assist us in making scientific investigations
of certain well-established methods and processes of the transformation of
human suffering.(YOUNG-EISENDRATH, 2005, p. 65)
Once the ego complex is formed, the self-conscious emotions such as jealousy,
shame, pride, self-pity, embarrassment, envy, and guilt—as well as fears and
3 A possível correlação entre a interpretação de sonhos e a imaginação ativa, de um lado, e os dois níveis de meditação budista, śama-
tha e vipaśyanā, de outro, decorre de sugestão feita pelo Dr. Professor Dilip Loundo da UFJF em nos nossos encontros de orientação.
Não seria possível uma ação voluntariosa do ego de submissão aos desíg-
nios de algo que o transcende sem a participação instigadora e orientadora
Por isso, quer eu queira quer não, se eu estiver disposto a fazer o tratamento
psíquico de um indivíduo, tenho que renunciar à minha superioridade no sa-
ber, a toda e qualquer autoridade e vontade de influenciar. Tenho que optar
necessariamente por um método dialético, que consiste em confrontar as
averiguações mútuas. (JUNG, OC 16/1, 2013, p. 15, § 2)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
E, de fato ela [a realização doTrikāya] produz uma unificação. Mas não somos
capazes de conceber como uma tal realização possa ser completa em qual-
quer ser humano. É preciso que haja sempre alguém para presenciar essa
Na citação acima, Carl Jung parece sugerir que não existe uma realização total do
Self, sendo o sofrimento algo inerente a vida e, portanto, algo impossível de ser extirpado
de forma definitiva. Caso contrário, haveria então, necessariamente uma cessação total da
existência. Em outras palavras, o sofrimento seria mitigável, mas envolveria sempre uma
resignação a uma convivência residual com o sofrimento.
Essa nuance cética da postura de Carl Jung condiciona provavelmente a leitura crítica
empreendida por Jung da condição de realização nas tradições, tanto do budismo quanto
do hinduísmo. Frases como consciência sem o eu, o eu se dissolve no Self e mergulho
no inconsciente parecem refletir essa posição de Jung que torna incompatível a ideia de
realização do Self com a ideia de preservação de um ego. O sentido atribuído por Carl Jung
às palavras espírito e mente nos ajudam a pensar as razões do porquê Carl Jung afirma
que o oriental consegue atingir um estágio de mente sem um eu, ao passo que o ocidental
não conseguiria lograr tal feito, pois, haveria sempre a necessidade de uma testemunha que
confirmasse tal fato. Isso nos mostra que, para Carl Jung, o eu (cêntrico) é indispensável no
processo de conscientização. Ele afirma:
Em outros momentos, entretanto, Carl Jung parece adotar uma postura bem diferente,
de caráter mais otimista, e admite uma possibilidade da resolução definitiva do problema da
existência. São testemunho disso as seguintes passagens: (i) trata-se de uma solução defi-
nitiva, em relação à qual todos os outros caminhos se comportam apenas de modo auxiliar
e provisório – esta citada acima; (ii) A minha vida é a história de um inconsciente que se
realizou (JUNG, 1975, p. 19). Essas citações são congruentes com uma ideia reformulada
de se entender a condição de realização: ao invés de implicar uma eliminação do ego, ela
implicaria no descentramento do mesmo na direção do Self, sem redundar na eliminação
daquele. Afinal, como indaga Loundo, “por que motivo o descentramento do ego implicaria
necessariamente em sua dissolução?” (2015, p. 27). Nesse contexto, o ego preservaria a
sua existência, ainda que radicalmente resignificado. Em outras palavras, o ego (eu) seria
concebido como um modo de ser, uma manifestação do Self. Como afirma Rob Preece:
The only road to perfection is for the ego to finally give up this search and allow
what is, recognizing that our innate Buddha nature is beyond the relative quali-
ties of good and bad. To become enlightened is not about perfecting our relative
state of being but is about recognizing our true nature. (PREECE, 2006, p. 61)
Essa nuance otimista da postura de Carl Jung tende a condicionar uma visão distinta
da realização de existência nos contextos orientais, em especial no contexto do budismo
tibetano. Na obra Psicologia e Religião Oriental, ele afirma:
É nesse contexto de uma perspectiva otimista de realização existencial que Carl Jung
aponta para uma convergência de metas entre a tradições religiosas do Oriente representa-
das pelo budismo e as tradições religiosas do ocidente representadas pelo cristianismo, sem
contudo deixar de observar as especifidades que as destinguem. No tange as convergências
ele afirma: “Cristo também – como o Buda – é uma encarnação do Si-mesmo [Self], mas
num sentido muito diferente. Ambos, dominaram o mundo de si-mesmos” (JUNG, 1975, p.
REFERÊNCIAS
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2. CLARKE ,J.J..Jung and Eastern Thought: A dialogue with the Orient. London and New York:
Routledge, 2001.
3. HARVEY, Peter. An Introduction to Buddhism: Teachings, History and Practices. 2 e.d. New
York: Cambridge University Press, 2013.
4. JUNG, Carl G. . Memórias, Sonhos e Reflexões. 2 e.d. São Paulo: Nova Fronteira, 1975.
5. JUNG, Carl G; WILHELM, R. O segredo da Flor de Ouro. 15 e.d. Petrópolis: Vozes, 2013.
6. JUNG, Carl G. Tipos psicológicos. Obras Completas, 7. e.d. OC 6, Petropólis: Vozes, 2013.
4 “Shin’ichi Hisamatsu (1889-1980), membro da Escola de Kyoto e discípulo de Kitaro Nishida, foi um dos principais filósofos zen do Ja-
pão moderno. Em 1958, como parte de sua pesquisa comparativa sobre a religião e filosofia oriental e ocidental, ele lecionou extensi-
vamente em todo os Estados Unidos. No seu caminho de volta ao Japão, ele visitou vários especialistas europeus proeminentes para
uma série de conversas sobre o pensamento zen e ocidental. Entre os seus interlocutores estava C.G.Jung. Sua conversa ocorreu na
casa de Jung em Küsnacht, Suíça, em 16 de maio de 1958. Também estavam presentes o intérprete Koichi Tsujimura, estudante de
Martin Heidegger, e Aniela Jaffé, secretária particular de Jung, que mais tarde compilou sua autobiografia.” (YOUNG-EISENDRATH
and MURAMOTO, 2005, p. 105).
11. LOUNDO, Dilip. Jung, Freud e a Índia: diálogos ou conversações monológicas?. WALTER,
Melo (org.). A Liberdade Ainda que Tardia. Rio de Janeiro, Espaço Artaud, 2015. Págs 12-31.
13. MOACANIN, Ludmila. A Psicologia de Jung e o Budismo Tibetano. São Paulo: Pensamento,
1986.
14. ROB, Preece. The Wisdom of Imperfection: The Challenge of Individuation in Buddhist Life.
New York: Snow Lion, 2006.
15. YOUNG-EISENDRATH, Polly; MURAMOTO, Shoji. Awakening and Insight: Zen Buddhism
and Psychoterapy. New York: Brunner-Routledge, 2005.
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RESUMO
Sou missionário redentorista e tenho alguns anos de experiência com missões popu-
lares que, nas últimas quatro décadas, busca constituir a missionariedade na paróquia pelo
processo de setorização paroquial. Nesses tempos mudados e de mudança, o maior desafio
das missões populares tem sido sustentar os setores ou pequenas comunidades paroquiais
que não são duráveis, pois em pouco tempo se desfazem. O objetivo aqui não é expor ou
refletir as missões populares, mas sim estabelecer uma reflexão sobre a compatibilidade
entre paróquia e CEBs e sua importância para a configuração evangelizadora paroquial.
Para isso, utilizamos o método dedutivo, com uma reflexão propositiva, sugerindo algumas
possibilidades e limitações sobre o tema, sabendo que nossa reflexão teológica não tem
como pretensão concluir o referido assunto.
Numa espécie de realismos negativo, José Comblin afirma que o ponto inicial da teo-
logia é ver cada coisa pelo seu nome e sua simplicidade, sem a diplomacia intelectual. Com
isso, esse teólogo assume um método teológico que parte da simplicidade para observar a
fé do povo de modo mais próximo e mais real (cf. COMBLIN, 1969, p. 120-121). No esforço
em analisar a compatibilidade da realidade paroquial e das CEBs, também buscamos um
caminho simples desde a fé do povo, empreendendo uma reflexão que utilize o mínimo de
conceitos abstratos. As análises científicas sobre o pluralismo e o movimento das religiões
na atualidade são um diálogo importante de várias ciências e que auxiliam na reflexão sobre
a paróquia, mas este não é o ponto central desta reflexão. Tomamos o movimento das reli-
giões na realidade brasileira como um fato secundário em nossa reflexão. Mas, reiteramos
que a reflexão sobre a compatibilidade entre paróquia e CEBs é importante, em razão de
a paróquia ser um espaço de vivência da fé e da pertença eclesial para a Igreja em quase
todos os cantos do mundo. Mas, é certo que sua estrutura e dinâmica não têm colaborado
com a missão e com a evangelização1. As CEBs, que são comunidades menores e não se
adaptam ao anonimato da estrutura paroquial, podem auxiliar em um novo cenário paroquial.
Por exemplo, na obra “Comunidade Eclesial, comunidade Política” (1978), Clodovis Boff
analisou rapidamente tal compatibilidade; descartou o risco da função paroquial ser perdida
e assinalou as CEBs como elemento importante de sua reestruturação, visto terem uma di-
nâmica mais ligada aos carismas e ministérios, podendo promover um movimento pastoral
1 Entendemos missão como o ato pontual de anunciar o kerigma. Na Redemptoris Missio, o Papa João Paulo II observa que o evan-
gelista Marcos toma a missão como proclamação do Evangelho, ou kerigma (Mc 16, 15) (RM 23). Entendemos evangelização como
o processo de amadurecimento do anúncio querigmático na vida da pessoa. O papa Paulo VI diz que o conteúdo da evangelização
requer ousadia, prudência e fidelidade total ao Evangelho, sendo a evangelização um processo de comunicar a mensagem evangé-
lica em cada tempo (EN 40). O Papa Francisco diz que Jesus evangelizou como processo, ao mostrar aos discípulos que algumas
coisas lhes eram incompressíveis, sendo necessário esperar o Espírito Santo (cf. Jo 16, 12-13). A parábola do trigo e do joio (cf. Mt
13, 24-30), por exemplo, descreve o processo de evangelização que, aos poucos, supera o inimigo pela bondade manifestada com o
tempo (EG 225). A evangelização é processo, pois Deus não age por impulso ou imposição, e o ser humano demora para assimilar
aquilo que lhe é transmitido.
A fé religiosa só tem sentido se fizer diferença prática frente à existência humana (cf.
BOURDIEU, 2004, p. 109; 118). Para agir socialmente, a instituição religiosa requer mem-
bros e estrutura. As estruturas são feitas para servir a evangelização e influem no anda-
mento missionário. Da estrutura faz parte o que Bordieu chama de “poder simbólico”. É um
“poder de construção da realidade, que tende a estabelecer uma ordem gnosiológica...”
(BOURDIEU, 2004, p. 9) e é exercido por um ou vários membros que tenham a confiança
dos demais componentes da instituição. Esse poder faz ver e crer; confirma ou transforma
a visão de mundo e só é exercido se for reconhecido. Tal poder não reside nas estruturas,
mas entre os que as exercem e a elas estão sujeitos. É um poder importante, sem o qual
haveria arbitrariedade. Contudo, se for mal exercido, também se tornará arbitrário.
As estruturas da instituição religiosa são importantes para a apostolicidade e catoli-
cidade, mas quem confere a conotação da fé à sociedade são os que exercem o “poder
simbólico”. Por falarem em nome da instituição, podem transformar ou tornar as estruturas
transformadoras. A missão e a evangelização, entretanto, terá características exclusivas
dos detentores do “poder simbólico”, caso estes venham a agir por si e para si mesmos,
desinteressados do objetivo do que pensa o restante dos membros. Se os interesses indi-
viduais dos representantes forem maiores que os da missão e da evangelização, o objetivo
comum passa a ser objetivo individual; a missão ganha o rosto dos representantes, e não
do conjunto como um todo. A evangelização não será próxima das pessoas, pois um único
indivíduo não consegue atender à grande demanda social atual.
As CEBs nasceram na América Latina no final da década de 1950 (cf. BOFF, 1978, p.
57), tiveram grande incentivo com as reflexões do Vaticano II, foram ratificadas pela Teologia
da Libertação e por vários documentos eclesiais latino-americanos. Para Medellín, elas
têm o rosto de uma Igreja local ou ambiental, de grupo homogêneo, de trato pessoal entre
A territorialidade
A comunitariedade
Sem comunidade não há como viver autenticamente a experiência cristã (CNBB, 2013,
n.42). Pela comunitariedade existe vitalidade na Igreja, mas a vivência comunitária contra-
cena com o exercício do poder. A questão é partilhar e revezar o poder, para que não seja
centralizado e clientelista.
Na realidade pluralista, errante, descompromissada, de ressignificação e de constante
movimento, a comunitariedade é elemento de contraponto. Ela mostra um novo jeito de viver
a fé. Até o fim do primeiro milênio, a índole comunitária da Igreja era tão forte que levava o
conjunto de fiéis a considerar sua comunidade como responsável pela obra geral no mundo
inteiro, facilitando as relações primárias com os novos que nela eram admitidos (cf. LEÑERO,
1973, p. 39). Este valor se enfraqueceu quando a administração paroquial foi se tornando
mais forte que a vivência comunitária.
A dimensão comunitária auxilia a reconfiguração da paróquia, e um meio para que
isso aconteça é que esta se torne um centro de CEBs, em um novo cenário de Igreja paro-
quial, com nova consciência dos atores e com novas estruturas. Cenário esse, que Libanio
A mentalidade
Entendemos por mentalidade aquilo que o ser humano culturalmente tem de comum
com outros de seu tempo (cf. LE GOFF, 1990), seja no plano histórico, quotidiano, estrutural,
conjuntural, marginal, etc. A “nova cultura” implica nova mentalidade e pressiona as institui-
ções. Essa mudança de mentalidade não significa romper com o passado, deixando de lado
as experiências anteriores. Isto seria perder o sentido da história e agir com imediatismo,
sem entender o presente como resultado do esforço iniciado pelas gerações passadas.
Também não significa modificar a mensagem e o objetivo da missão, mas interagir com as
novidades e, nessa interação, estabelecer os métodos para a missão (cf. BRIGHENTI, 2013,
p. 87). É a identificação da obra de Deus na nova realidade, revelando este Deus nesta nova
conjuntura, a partir dessa identificação.
A reconfiguração paroquial pela compatibilidade com as CEBs requer a superação da
mentalidade tradicional e clericalizada. Mudar a estrutura sem mudar a mentalidade seria
como trocar a roupa, sem tomar banho.
A estrutura
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
1. ALMEIDA, Antônio José de. Paróquia, Comunidades e Pastoral Urbana. São Paulo: Paulinas,
2009. (Coleção Ecclesia 21).
2. AMARAL, Leila. Deus é pop: sobre a radicalidade do trânsito religioso na cultura popular de
consumo. In: SIERPIERSKI, Paulo D.; GIL, Benedito M. (org.). Religião no Brasil: enfoques,
dinâmicas e abordagens. São Paulo: Paulinas, 2007. p. 97-108.
6. BORDIEU, Pierre. O poder simbólico. Trad. Fernando Tomaz. 16. ed. Rio de Janeiro: Bertrand
Brasil, 2012.
7. BRIGHENTI, Agenor. Por uma evangelização realmente nova. In: Perspectiva Teológica, Belo
Horizonte, v. 45, n. 125, p. 83-106, jan 2013.
9. COMBLIN, José. O caminho: ensaio sobre o seguimento de Jesus. 2. ed. São Paulo: Paulus,
2005.
10. COMBLIN, José. Os desafios da cidade no século XXI. São Paulo: Paulus, 2002.
11. CONCÍLIO VATICANO II. Lumen Gentium (1964). In: Compêndio Vaticano II: Constituições,
decretos e declarações. Petrópolis: Vozes, 1969.
13. IGREJA CATÓLICA Papa (1978-2005 : João Paulo II). Carta encíclica Redemptoris Missio
sobre a validade permanente do mandato missionário. São Paulo: Paulinas, 2003. (A voz do
Papa ; 125).
15. IGREJA CATÓLICA Papa (1963-1978 : Paulo VI). Exortação apostólica Evangelii nuntiandi
do Sumo Pontífice Paulo VI ao episcopado, ao clero, aos fiéis de toa da Igreja sobre a evan-
gelização no mundo contemporâneo. São Paulo: Paulinas, 1999. 116 p. (A voz do Papa ; 85)
16. LAPOINTE, Eugène. Communautés Chrétiennes: pour une Église rassemblée et responsable.
Paris: Medias Paul, 2000.
17. LE GOFF, Jacques. História nova. São Paulo: Martins Fontes, 1990.
18. LEÑERO, Luís. A Igreja como comunidade e como instituição: uma perspectiva histórica. In:
GREGORY, Afonso. Comunidades Eclesiais de Base: Utopia ou realidade. Petrópolis: Vozes/
Ceris, 1973. P. 32-45.
19. LIBANIO, João Batista. Cenários da Igreja: num mundo plural e pragmático. São Paulo: Loyola,
2012.
22. SANTO DOMINGO. Documento de Santo Domingo (1992). In: CONSELHO EPISCOPAL LA-
TINO-AMERICANO. Documentos do Celam: conclusões das Conferências do Rio de Janeiro,
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23. SCHERER, Jacqueline. Alguns paradoxos das comunidades contemporâneas: uma visão
sociológica. In: GREGORY, Afonso. Comunidades Eclesiais de Base: Utopia ou realidade.
Petrópolis: Vozes/Ceris, 1973. P. 97-123.
24. SCHILLEBEECECKX, Edward. Por uma Igreja mais humana: identidade cristã dos ministérios.
Trad. Isabel Fontes. São Paulo: Paulinas, 1989 (Coleção Teologia hoje).
10.37885/200901486
RESUMO
Durante as primeiras décadas do século XX, enquanto os valores culturais eram transfor-
mados em bens de consumo pela macroestrutura econômica do materialismo industrial,
o sujeito se viu mergulhado em uma crise que o esvaziava psíquica e espiritualmente,
abalado pela barbárie das guerras, pelo colapso socioeconômico e pela eclosão do nazi
fascismo. Em face dessa perturbadora realidade, a poesia moderna se afirmou como
uma ação crítica, proporcionando ao sujeito uma experiência de reinvenção do seu lugar
no mundo através da linguagem. Efetivamente, o cultivo da poesia assumiu-se como
uma experiência e uma ética, de transgressão e resistência contra a lógica indus- trial
e a alienação moral do capital, propiciando ainda uma experiência de transformação
espiritual (metanoia) desse mesmo sujeito. Nesse sentido, este texto propõe abordar a
poesia de tonalidade espiritual em Jorge de Lima e Murilo Mendes, examinando o modo
pelo qual suas respectivas poiesis foram movidas essencialmente pela crise do sujeito
moderno no início do século XX em dissidência com o mundo civilizado, através da tensão
permanente entre a negatividade profana e a espiritualidade cristã, experimentadas ao
nível do corpo e no plano da poesia.
Se a poesia moderna revelou ao homem uma verdade, essa verdade se inscreveu sob
o signo de uma crise do sujeito. Desde Charles Baudelaire na segunda metade do século
XIX, passando pelo surrealismo de Antonin Artaud e Guillaume Apollinaire no século XX, até
a poesia beat norte americana de Allen Ginsberg, inapelavelmente, a evidência do mal-estar
do sujeito diante da barbárie da era industrial foi uma tônica recorrente na lírica moderna.
Para Hugo Friedrich, a tensão dissonante da poesia moderna exprime-se tanto no ní-
vel formal quanto em seu conteúdo, tornando-se indissolúveis no plano de sua significação.
Estilisticamente, além de incorporar os aspectos contrastantes, a lírica moderna trouxe à
tona o absurdo, a obscuridade e a anormalidade sob um tom de tenacidade e precisão,
provocando a surpresa, o choque e o estranhamento:
Em meio a esse cenário, a poesia moderna se afirmou como um lugar crítico, propor-
cionando ao sujeito uma experiência vivencial através da linguagem, ao ressignificar seu
espaço e reinventar sua perspectiva para além da experiência estética. O cultivo da poesia
assumiu-se, efetivamente, como uma experiência ética de resistência e transgressão contra
a barbárie da lógica utilitarista e a alienação moral proveniente do capital. No entanto, ao
revelar a crise e mal-estar do sujeito diante do mundo civilizado, a lírica moderna proporcio-
nou ao sujeito voltar-se sobre si por meio do outro, dando passagem a um acontecimento
pelo qual se inscreveu um saber acerca da dimensão humana.
Nesse sentido, a presente abordagem da poesia de Jorge de Lima e Murilo Mendes
visa examinar o modo pelo qual suas respectivas experiências poéticas foram potencializa-
das por esse estado de crise e inquietude do sujeito no início do século XX, expressando
a dissidência com o mundo civilizado através da tensão permanente entre a negatividade
profana e a espiritualidade cristã, experimentadas ao nível do corpo e no plano da poesia.
Tensão e queda
Em 1935 Jorge de Lima e Murilo Mendes lançaram o livro Tempo e Eternidade, logo
após a conversão dos dois poetas ao cristianismo. Este livro foi determinante para o rumo
de suas respectivas poéticas, tornando-se o ponto divisório na obra de cada um, ao conso-
lidar a busca de ambos pelo sagrado e sobrenatural. Além da expressão agônica da crise,
havia o imperioso desejo de compreensão desse mal-estar sob a perspectiva espiritual e
por meio da experiência poética.
Para Murilo Marcondes Moura, o questionamento e os conflitos do poeta mineiro com
relação à fé, à crença e à devoção religiosa antecedem e se manifestam posteriormente à
conversão e à produção de Tempo e Eternidade, como se essa inquietude fosse parte do
próprio processo de consolidação ética e estética do poeta.
Sob outro ângulo, para Georges Bataille, em A literatura e o mal, a poesia moderna é
marcada por um paradoxo que corresponde à natureza humana mais profunda, ao expressar
a essência dualista e dinâmica de nossa condição, configurada pela tensão entre o bem e
o mal, como ele exemplificou em vários poetas, com destaque para William Blake e Charles
Baudelaire. Segundo Bataille, a significação do Mal se proclama a partir de uma auto-conde-
nação da própria condição humana, seja na inclinação para a morte, para a guerra ou para
o erotismo, o que poderia forjá-lo para um estado de angústia, de raiva e repugnância. Para
ele, o Mal é tomado como um impulso, uma paixão ou uma atração irrefletida, diferentemente
de uma intencionalidade calculista, crapulosa e egoísta.
Deste modo, o Mal é deslocado de um lugar moral, sujeito à lei, porém, situado sob
a espessura humana e passional, já que, segundo ele, “A literatura mais humana é o alto
lugar da paixão”, isto é, como se esse embate apaixonado fosse absolutamente necessário
ao homem para reconhecer sua natureza.
Afinal, se por um lado a crise foi desencadeada pelo vazio de um sujeito que perdeu
sua ordem íntima com o sagrado, por outro, a poesia surgiu como lugar de uma experiência
restauradora. Isto é, não se tratava de uma verdade que se refere ao humano como sua
origem, mas sim à verdade da experiência humana como substância, visando libertar o
desejo que ainda pulsava em um sujeito fadado à indigência social, de restaurar-se com o
sagrado por meio da comunhão com o outro no plano da poesia.
Da crise à metanoia
Sim, creio numa única, imensa, geral e verdadeira revolução: que é a Revo-
lução de Cristo, que apenas começa e em que as outras revoluções sociais
sejam elas quais forem, francesa ou russa, serão unicamente minutos dentro
dessa eterna revolução, que só terminará no dia do Juízo Final. [...] Trazendo
à Humanidade, muitas vezes distante da verdade, atrações momentâneas
da vida, a realidade da Dor, a realidade da Morte, que jamais será afastada
da realidade de Cristo, que a todo o instante nos espera, no final de todos os
momentos. (LIMA, 1997, p. 96)
Para uma poesia assim, o problema que se coloca, desde logo e agudamente,
é a questão da integridade da forma: como soldar os elementos díspares no
todo acabado, que é o corpo de palavras do poema. Desde o princípio, Murilo
enfrentou os riscos do informe, maiores sempre para os que se arriscam como
ele a buscar a fusão do múltiplo, a concórdia do discorde, querendo juntar o
mais disperso e refratário, mas tendo de espiar pela janela do caos: a face
de fragmentos, fantástica e terrível, do mundo em que nos tocou viver. Desse
ângulo, sua obra toda pode ser vista como a articulação arriscada e difícil
entre a linguagem poética que busca a unidade e a experiência de um mundo
desencontrado. (ARRIGUCCI JR., 2000, p. 97)
De modo implacável, tanto Jorge de Lima quanto Murilo Mendes voltaram-se para a
criação de uma nova sintaxe, cada qual guardando suas particularidades estilísticas. Em face
dessa transformação, se há um ponto em comum entre eles é que ambos foram movidos
pela inquietude diante do processo da barbárie do mundo civilizado, articulando suas res-
pectivas linguagens sob a tônica da dissonância, impregnados pela radicalidade experimen-
tal vanguardista.
Nesse sentido, incorporação das técnicas de colagens e foto-montagens originárias do
dadaísmo e da pintura surrealista contribuiu decisivamente para que Jorge de Lima e Murilo
Mendes desenvolvessem procedimentos poéticos capazes de expressar a tensão agônica
vivenciada pelo sujeito moderno diante da inospitalidade do mundo, e do seu desejo de
idealidade e transcendência, elevando-o à unidade e reconciliação com o sagrado.
Todo conhecimento cristão, por estrita que seja de resto a sua forma, é in-
quietação e deve sê-lo; mas essa mesma inquietação edifica. A inquietação
é o verdadeiro comportamento para com a vida, para com a nossa realidade
Na obra O desespero Humano, Kierkegaard define o sujeito a partir de uma tensão agô-
nica ou acirramento que produz, dialeticamente o desespero e a liberdade. Segundo ele, se
por um lado o sujeito é a síntese entre finito e infinito, entre a possibilidade e a necessidade,
desesperamo-nos ou por não querermos ser quem somos, ou por querermos desesperada-
mente descobrir quem somos, o que nos impossibilita de atingir repouso e equilíbrio. Logo,
nos desesperamos pelo que nos tornamos e pelo eu que não deveio.
O eu não é a relação em si, mas sim o seu voltar-se sobre si própria, o conhe-
cimento que ela tem de si própria depois de estabelecida. O homem é uma
síntese de in- finito e de finito, de temporal e se eterno, de liberdade e de ne-
cessidade, é, em suma uma síntese. Uma síntese é a relação de dois termos.
Sob este ponto de vista, o eu não existe ainda. (KIERKEGAARD, 1979, p. 195)
CONCLUSÃO
A poética do sagrado
Portanto, Kierkegaard afirma que, após o pecado original, o homem está condicionado
à sua natureza animal, determinada pela queda do paraíso, e assim ele luta intensamente
para reconciliar-se com Deus. Para que isso aconteça, é necessário elevar-se espiritualmente
e renunciar ao instinto, sendo que, dessa luta, resulta o seu desespero. Para ele, o homem
não tenta livrar-se da carne, mas deseja ser tocado espiritualmente pelo sagrado. Deste
modo, ao ser tocado pelo eterno e imortal de Deus, o espírito prevalecerá sobre o instinto
naturalmente devorador e vazio. Pois na medida em que o desejo é suprido, revela-se a
ausência de sentido que o preencha, além do próprio desejar e devorar.
Evidentemente que, para ele, isto implica em um paradoxo, já que a consciência espi-
ritual é movida pelo desejo de uma existência com Deus, sendo que o desejo de uma exis-
tência junto a Deus depende de uma consciência transformada que só pode ser alcançada
por meio de um “salto qualitativo” (ético espiritual) em direção ao abismo e ao vazio, pela
fé. Não obstante, esse salto exige a convicção e a consciência em desejar ser transformado
pelo poder sobrenatural de Deus, de modo que aquele vazio angustiante acentuado por um
desejo e desespero, só pode ser preenchido pela unidade com o sagrado.
Portanto, reitera-se que a poesia de tonalidade espiritual cristã de Jorge e Murilo
forjou-se a partir desse prisma dramático e paradoxal entre a negatividade demoníaca e a
transcendência divina. E, sob essa perspectiva, se a queda adâmica pode ser vista sob o
signo de um mal-estar e esvaziamento, por outro lado, esse mal inoculado em nossa condição
humana pode, ao mesmo tempo, servir como uma força propulsora ao sujeito, movendo-o
da crise à metanoia. Todavia, trata-se da fé como uma decisão espiritual consciente, que
cultiva sua transformação ética ao nível das práticas comuns e cotidianas com o outro, e
não como um mero fideísmo.
Ainda em face dessa perspectiva, pode-se dizer que, além de serem movidas pela
crise e mal-estar do sujeito, as poéticas de Jorge e Murilo expressam a visão cristã que
compreende a vida terrena como um dilaceramento entre as forças do bem e do mal, ao nível
do corpo e da consciência. Guardadas as respectivas singularidades, ambas as poéticas
assinalam, sob a ótica teológica e beatífica, que a compreensão dessa luta e acirramento
corresponde à nossa própria transformação espiritual, isto é, à nossa metanoia, na medida
em que vivemos para superar a consciência secular, purificando-nos através da crise77 e
das tribulações.
Contudo, as poíesis de Jorge e Murilo são expressamente movidas por esse desejo
metanoico do sujeito em ser livre, transcendendo tanto a negatividade que devora quanto a
ansiedade que esvazia, por meio da crença no eterno que o liberta do tempo, por meio do
cultivo de uma experiência mais íntima e substancial com Deus, que nos infinita pelo amor
ao outro como a um irmão e semelhante, através da poesia.
REFERÊNCIAS
1. ANDRADE, Fábio de Souza. O engenheiro noturno. São Paulo: Editora da Universidade de
São Paulo, 1997.
2. ARRIGUCCI JR., Davi. O cacto e as ruínas: a poesia entre outras artes. São Paulo: Duas
cidades; Ed. 34, 2000.
7 Segundo Leonardo Boff, “Em sânscrito, crise vem de kir ou kri que significa purificar e limpar. De kri vem crisol, elemento com o qual
limpamos ouro das gangas e acrisolar que quer dizer depurar e decantar. Então, a crise representa um processo crítico, de depuração
do cerne: só o verdadeiro e substancial fica, o acidental e agregado desaparece
8 LIMA. Poesia completa, p. 425.
6. FRIEDRICH, Hugo. Estrutura da lírica moderna: da metade do século XIX a meados do século
XX. São Paulo: Duas Cidades, 1978.
9. LIMA, Jorge de. Poesia completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1997.
10. MENDES, Murilo. Poesia completa e prosa - volume único. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994.
11. MOURA, Murilo Marcondes. Murilo Mendes: a poesia como totalidade. São Paulo: Editora da
Universidade de São Paulo: Giordano, 1995.
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RESUMO
OBJETIVOS
MÉTODO
O método bibliográfico se dará a partir da leitura das obras de Paul Ricoeur, A Metáfora
Viva, O Si Mesmo Como Outro e, como fonte principal, Interpretação e Ideologias, em es-
pecial do segundo capítulo A Função Hermenêutica do Distanciamento.
RESULTADOS
CONCLUSÃO
HERMENÊUTICA RICOEURIANA
Toda crise atual da linguagem pode ser resumida na oscilação entre desmis-
tificação e restauração de sentido. E o projeto de Ricoeur não é outro senão
o de redescobrir a autenticidade do sentido graças a um esforço vigoroso de
desmistificação. [...] O método usado por Ricoeur é o fenomenológico, tentando
compreender o que descreve, para descobrir seu sentido. (JAPIASSU, 1990
A realidade não se reduz ao que pode ser visto. Identifica-se, também, ao que
pode ser dito. Há uma síntese do visto e do dito numa filosofia do discurso, mas
que só se aplica à ordem das coisas. (...) O que importa, no final das contas
é que o homem não se contente com sua linguagem primária para exprimir
toda a sua experiência. Ele precisa chegar a uma interpretação criadora de
sentido, a essa atitude filosófica do compreender. (JAPIASSU, 1990 apud
RICOEUR, 1990, p.6).
A HERMENÊUTICA ROMÂNTICA
Ricoeur afirma ver a história recente da hermenêutica dominada por duas preocupa-
ções: a primeira se dá pela desregionalização da hermenêutica; a segunda é o movimento
de radicalização, pelo qual a hermenêutica se torna fundamental. A polissemia de nossas
palavras exige uma sensibilidade de contexto e uma atividade de discernimento que seja
capaz de produzir um discurso relativamente unívoco com palavras polissêmicas e, ao
mesmo tempo, identificar essa intenção de univocidade na recepção das mensagens. São,
como Dilthey as chamou, as expressões da vida fixadas pela escrita, aquelas que exigem
um trabalho específico de interpretação já que, com a escrita, não se preenchem mais os
critérios da interpretação direta através do diálogo. Fazem-se necessárias, então, técnicas
específicas que possam elevar a cadeia de sinais escritos ao nível do discurso.
O movimento de desregionalização da hermenêutica começa com Friedrich
Schleiermacher2 que se defrontou com o problema da relação entre duas formas de inter-
pretação, a saber, a “gramatical”, que se apoia nos caracteres do discurso que são comuns
a uma cultura, e a “técnica”, que se dirige a singularidade, a genialidade da mensagem.
(RICOEUR, 1990). Segundo ele,
2 Foi em Schleiermacher que a questão do distinguir as operações particulares dos dois grandes ramos da hermenêutica, a saber, a
filologia e exegese, de suas operações comuns e estabelecer um estudo aprofundado sobre as últimas demonstrou uma tentativa de
fundamentação de uma hermenêutica geral.
É a essa aporia entre explicar e compreender, a qual Japiassu chamou de “tão nefasto
dualismo epistemológico” (JAPIASSU, apud RICOEUR, 1990), que as categorias do texto
vêm tentar resolver.
3 Para Ricoeur, Dilthey ainda está envolvido no debate hermenêutico em termos epistemológicos, o tipo de debate hermenêutico ca-
racterístico da modernidade.
Não é de se estranhar, pois, que não seja por uma reflexão sobre o ser-com,
mas sobre o ser-em, que possa começar a ontologia da compreensão. Não
se trata do ser-com o outro, que duplicaria nossa subjetividade, mas do ser-no
mundo (...) Ao mundanizar, assim, o compreender, Heidegger o despsicologiza.
(RICOEUR, 1990, p. 32).
4 O distanciamento alienante, rigor das ciências exatas, em relação à transcendência dos pressupostos ontológicos do conhecimento
se torna, em Gadamer, pressuposição ontológica para assegurar a atuação objetiva das ciências humanas.
Então, Ricoeur apresenta a questão central de sua tese. Se não procuramos mais
pelas intenções psicológicas do outro, que se dissimulam por traz do texto, e se não ad-
mitimos a hermenêutica como um processo de desconstrução de estruturas, então, o que
poderíamos manter em termos de interpretar é o movimento de explicitar o tipo de ser-no-
-mundo que se manifesta, na verdade, diante do texto, e não escondido nele. Assim, Ricoeur
segue na mesma direção tomada por Heidegger em Ser e Tempo, quando desvincula da
Ele, então propõe que a problemática seja organizada em torno traços que constituem
os critérios do texto. Primeiramente, na efetuação da linguagem como discurso, ele apresenta
uma dialética entre evento e significação, um traço de distanciamento primitivo. O discurso
se dá como evento no sentido de que, primeiramente, é realizado temporalmente no pre-
sente, a “instância do discurso”; em segundo lugar, o discurso é sempre auto-referencial,
pois, na medida em remete a seu locutor, o caráter de evento vincula-se à pessoa que
fala; e, finalmente, o discurso sempre fala, à alguém, sobre alguma coisa. Nesse terceiro
sentido, o evento é “a vinda à linguagem de um mundo mediante o discurso.” (RICOEUR,
1990, P. 46). A significação é a maneira como tal discurso é compreendido, pois, assim como
a língua, ao articular-se como discurso, ultrapassa-se e realiza-se como evento, o discurso,
ao se ultrapassar como evento, realiza-se como significação. Segundo Ricoeur, (1990),
E ainda,
Assim ele propõe três traços distintivos da noção de obra, resultado da ultrapassagem
do discurso. Primeiramente, uma obra apresenta um problema novo de compreensão, relati-
vo à totalidade constituída pela natureza da obra. Em segundo lugar a obra se constitui sob
uma forma de codificação que classifica o discurso (literário, poético, filosófico, religioso), ou
seja, nos aponta seu estilo. Ao impor uma forma à matéria, tornamos o discurso, como obra,
em objeto de uma práxis e uma techné. A obra literária é o resultado de um trabalho que,
ao organizar o discurso, opera uma determinação prática de uma categoria de indivíduos, a
CONCLUSÃO
De forma alguma Ricoeur tenta impor ao texto uma capacidade finita de compreen-
dê-lo. Na verdade, a autonomia faz com que uma obra seja considerada como algo que
5 Para um estudo aprofundado ver RICOEUR, Paul. Da Interpretação: ensaio sobre Freud. Rio de Janeiro: Imago Editora Ltda,
1977.
A tragédia imita a realidade através de mythos e, para Ricoeur esse tipo de distancia-
mento é o que a experiência hermenêutica deve incorporar. No entanto, a partir do momento
que se entende o distanciamento como parte fundamental da natureza do próprio texto, não
se pode mais considerar as visões de caráter historicizantes e psicologizantes da herme-
nêutica romântica. É na analise da própria estrutura da obra como tal que se encontra seu
sentido desvelado e revelado no mundo do texto. O referencial do discurso como texto não
está, como no discurso oral, no aqui e agora, revelado no espaço tempo do acontecimento,
ou melhor, naquilo que se pode ver. Com a escrita, não há mais o conceito de situação co-
mum entre escritor e leitor. O discurso fictício, ao abolir o referencial de primeiro nível, nos
possibilita buscar um referencial totalmente original da obra, o do mundo da obra, dando
ao texto autonomia e tendo acesso nele àquilo que Gadamer chamou de “a coisa do texto”.
“Compreender é compreender-se diante do texto”. (RICOEUR, 1990, P. 58).
REFERÊNCIAS
1. HEIDEGGER, Martin. Ser e Tempo. Rio de Janeiro: Editora Vozes, 2005.
2. RICOEUR, Paul. Interpretação e Ideologias. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves Editora
S/A, 1990.
3. _______. Da Interpretação: ensaio sobre Freud. Rio de Janeiro : Imago Editora Ltda, 1977.
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RESUMO
Neste estudo pretende-se abordar o tema dom de variedades de línguas (1Co 12.10),
também conhecido como glossolalia. A manifestação do dom de variedades de línguas
nas denominações de tradição pentecostal e neopentecostal é um fato comum. Para estas
denominações, o dom de variedades de línguas possui grande importância e é dada a ele
grande ênfase, sendo que a maioria delas tem este dom como a evidência inicial do batismo
no Espírito Santo. Por outro lado, há denominações que não tem o mesmo ponto de vista
em relação a este dom, entendem que o mesmo já cessou, restringindo sua operação para
os dias apostólicos e para a igreja do primeiro século. Há também aqueles que defendem
que o dom de línguas não cessou, mas não é necessariamente uma evidência do batismo
no Espírito Santo. Como desenvolvimento da discussão do tema problema desta pesquisa
temos, além desta seção inicial, as seções seguintes: ii) origem do termo glossolalia; iii)
natureza e conteúdo do dom de variedades de línguas; iv) o propósito e valor do dom de
variedades de línguas; e por fim, v) contemporaneidade do dom de variedades de línguas.
O termo Glossolalia é uma palavra que se originou da junção de dois termos gregos:
o substantivo glossa (língua) e o verbo laleiy (falar). A fusão destes dois termos gregos é
apropriada no caso do NT para descrever um fenômeno distinto. Este fenômeno pode ser
descrito somente por estes dois termos. O verbo laleiu é usado com o substantivo glossa no
caso dativo. Esta construção ocorre 16 vezes no NT, destas 12 vezes com glossa no plural
(glossai), e 4 vezes no singular, glossh (ELDEREN, 1964, p. 54).
A expressão falar em línguas (Glossolalia) é testemunhado diversas vezes no NT, como
consequência do derramamento do Espírito Santo. Em “Mc 16.17 refere-se ao falar em no-
vas línguas; At 10.46; 19.6, a falar em línguas; 1Co 12.30 e 13.8, simplesmente a línguas;
1Co 12.10,28 a variedades de línguas e 1Co 14 oferece, ao lado do relato de Pentecostes,
a única apresentação detalhada e clara” (WELKER, 2010, p. 221).
Conforme Kalisher (2009, p. 40), em 1Co 12.7-11 somos informados que os dons são
manifestações do Espírito Santo. O Espírito Santo é a única e legítima fonte de todos os
autênticos dons espirituais. É Ele quem decide o que conceder e a quem conceder, fazendo
a distribuição dos diversos dons entre a comunidade com o propósito de edificar o corpo de
Cristo e glorificar a Deus.
A ordenança de Paulo em 1Co 12.31 e 14.1,39, indicam que devemos desejar e buscar
os dons espirituais. Cada dom espiritual tem seus propósitos na comunidade cristã e dentre
os principais propósitos e valores do dom de variedades de línguas temos: 1) edificação
pessoal - sobre edificação pessoal, Paulo fala em 1Co 14.4: “O que fala língua estranha
edifica-se a si mesmo, mas o que profetiza edifica a igreja”. Esta edificação pessoal ocorre
quando a pessoa fala em línguas e não há interprete, no caso de uma reunião pública, ela
fala com Deus num relacionamento pessoal. A edificação pessoal não é algo ruim, só não
é o objetivo principal de uma reunião pública na visão de Paulo. Todo dom espiritual edifica
seu portador de alguma forma ou grau, direta ou indiretamente, mas o dom de falar em lín-
guas é o que edifica numa intensidade maior se não houver interpretação (STORMS, 2014,
p. 150). 2) Glorificação a Deus – para Carson (2014, p. 145), a glorificação a Deus é um
atributo das línguas, pois o texto de 1Co 14.2 está em conformidade com o fato das línguas
serem entendidas como direcionadas a Deus em primeiro lugar. No dia de pentecostes, por
ocasião da descida do Espírito Santo, as pessoas de diversas nações ali presentes,
ouviam os apóstolos “falar das grandezas de Deus” (At 2.11), este modelo de adoração de-
veria de ser mantido pela igreja contemporânea, uma adoração desinibida e poderosa que
fosse um tipo de testemunho, mesmo que indireto, para descrentes que estão observando.
(RENOVATO, 2014, p. 65). Em 1Co 14 o apóstolo Paulo descreve o falar em línguas como
um falar extático incompreensível, como uma oração dirigida a Deus, para o seu louvor,
agradecimento e exaltação cuja edificação é daquele que fala em línguas. Esta é uma forma
de adoração a Deus em que a limitação humana é rompida e passamos a expressar de uma
forma mais profunda os desejos e paixões do nosso coração (WELKER, 2010, p. 221). 3)
Comunicação espiritual com Deus - “pois o que fala em língua, não fala aos homens, mas
a Deus; pois ninguém o entende; porque em espírito fala mistérios” (1Co 14.2). Quando a
pessoa fala em línguas e não há interpretação, ela fala de maneira direta com Deus, espírito
Além destes propósitos, o dom de variedades de línguas é dado com o fim de procla-
mar louvores à Deus, anunciar as boas novas da salvação ao mundo e, não para satisfazer
A citação de Marcos 16 também sugere que o falar em línguas era uma experi-
ência contínua. Não há nenhuma insinuação de que as novas línguas tenham
sido verbalizadas somente uma vez, nem que a expulsão de demônios fora
uma experiência única. Em todo caso, Atos, na verdade, registra apenas as
línguas em conexão imediata com a vinda do Espírito Santo. No entanto, não
há nenhuma indicação de que as línguas tenham desaparecido depois disso
(WILLIAMS, 2011. p.543).
“O que está registrado como acontecendo várias vezes em Atos, e referido em Marcos
16, é um aspecto da vida da igreja primitiva. Conforme vimos, esse não foi apenas o caso
de Corinto, mas também de outras comunidades de fé do NT” (WILLIAMS, 2011, p. 546).
No entendimento de alguns autores não há qualquer razão dogmática para pensarmos
que as línguas e outras manifestações espirituais tenham o propósito de desaparecer da
igreja cristã, nem no esquema divino, ou que tais manifestações não sejam mais de valor
na igreja contemporânea. Este tipo de raciocínio parece ter-se motivado da tentativa de
fazer nossas doutrinas se adaptarem aquilo que praticamos atualmente, e não aquilo que
deveríamos ser e praticar em nossas igrejas (CHAMPLIN, 2002, p. 46).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O dom de variedades de línguas tem a mesma importância que qualquer outro dom do
Espírito, ele não representa um sinal de amor especial de Deus, nem um sinal de maior zelo
ou compromisso, em relação às pessoas que possuem esse dom com aquelas que não o
REFERÊNCIAS
1. CARSON, D. A. A Manifestação do Espírito: a contemporaneidade dos dons à luz de 1Coríntios
de 12-14. Tradução Caio Peres. São Paulo: Vida Nova, 2013.
2. CHAMPLIN, R. N. O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. São Paulo: Hag-
nos, 2002. v. 3 e 4.
3. CHO, David Y. O Espírito Santo, Meu Companheiro: conheça melhor o Espírito Santo e seus
dons. Tradução João Batista. São Paulo: Vida, 2007.
4. ELDEREN, Bastian Van. Glossolalia in the New Testament. Grand Rapids, Michigan: Calvin
Seminary, p. 54-58. In: http://www.etsjets.org/files/JETS-PDFs/7/7-2/BETS_7_2_53- 58_Va-
nElderen.pdf «acesso: 28/01/2015.
5. KALISHER, Meno. O Livro dos Dons: dons do Espírito Santo, curas, sinais e milagres. Tradução
Jamil Abdalla Filho. Porto Alegre: Actual edições, 2009.
6. LIM, David. Os Dons Espirituais. In: HORTON, Stanley M. Teologia Sistemática: Uma pers-
pectiva Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1996, p. 465 – 500.
7. RENOVATO, Elinaldo. Dons Espirituais e Ministeriais: Servindo a Deus e aos homens com
poder extraordinário. Rio de Janeiro: CPAD, 2014.
8. STORMS, Sam. Dons Espirituais: uma introdução bíblica, teológica e pastoral. Traduzido por
Claudio Chagas. Rio de Janeiro: Anno Domini, 2014.
9. WELKER, Michel. O Espírito de Deus: Teologia do Espírito Santo. Tradução Uwe Wegner.
São Leopoldo: Sinodal/EST, 2010.
Cristiane Velasque
Universidade de Caxias do Sul
10.37885/201001598
RESUMO
O presente artigo visa estudar sobre as orientações propostas na “Encíclica Laudato si’
sobre o cuidado da casa comum” em relação aos povos indígenas. Visa ainda analisar a
matéria sob a linguagem teológica da Criação promotora da dignidade humana. A teologia
vê-se aguerrida e alia-se na interdisciplinaridade em vista do cuidado com a Criação. A hu-
manidade é uma família constituída por pessoas portadoras de direitos fundamentais
da dignidade. Contudo, a história do Brasil registra o abandono em relação à cultura
indígena e a negação dos direitos diante de projetos antiecológicos. Portanto, exige-se
uma atenção especial a este povo mediante uma espiritualidade e educação ecológica,
bem como ações conjuntas sob a perspectiva de uma ecologia integral, com o respeito
à sua etnia, seus direitos e tradições. O método a ser abordado será dedutivo.
O EVANGELHO DA CRIAÇÃO
O Evangelho da Criação na Laudato Si’ (Louvado sejas) vem contribuir na reflexão sobre
a Revelação Divina nas origens, ou seja, fazendo uma teologia da Criação. Especificamente
no livro do Gênesis, a partir dos textos sagrados e de perspectiva judaico-cristã, Deus fez
tudo por amor e não há outro motivo que possa convencer a linguagem religiosa acerca da
origem de tudo.1 Pode-se perceber no hino repleto da inocência original, harmoniosa com
Deus, com o próximo e com a terra, o modelo relacional que humanidade poderia ter com
o planeta e todos os seus conviventes. Eis um fragmento do hino:
Louvado sejas meu Senhor, com todas as tuas criaturas, especialmente o meu
irmão sol, o qual faz o dia e por ele nos alumia. E ele é belo e radiante com
grande esplendor: de Ti, Altíssimo, nos dá ele a imagem. Louvado sejas, meu
Senhor, pela irmã lua e pelas estrelas, que no céu formaste claras, preciosas
e belas...Louvado sejas meu Senhor, pela nossa mãe terra que nos sustenta
e governa e produz diversos frutos com coloridas flores e ervas. 2
O lugar teológico é a Casa Comum criada pelo sopro de Deus e local de sua habita-
ção sob o cuidado dos que são sua imagem e semelhança. Eis o lugar de convergência
da teologia com a ecologia: a terra. Deus os criou, homem e mulher, revestindo-os de uma
dignidade infinita3 e de responsabilidade para com os demais seres, cuidando da terra e
1 FRANCISCO, Papa. Laudato Si’, Louvado sejas, sobre o cuidado da casa comum. São Paulo, Edições Loyola, 2015. Pág. 43.
2 FRANCISCO, Papa. Laudato Si’, Louvado sejas, sobre o cuidado da casa comum. São Paulo, Edições Loyola, 2015. Pág. 57
3 FRANCISCO, Papa. Laudato Si’, Louvado sejas, sobre o cuidado da casa comum. São Paulo, Edições Loyola, 2015.
4 LAS CASAS, Bartolomeu de. Liberdade e justiça para os povos da América: oito tratados impressos em Sevilha em 1552; obras
completas II. São Paulo, Paulus, 2010. Pág.220.
5 Nosso Futuro Comum/ Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento. Rio de Janeiro: Editora da fundação Getúlio
Vargas, 1988. p. 125.
6 FRANCISCO, Papa. Laudato Si’, Louvado sejas, sobre o cuidado da casa comum. São Paulo, Edições Loyola, 2015. Pág. 90.
7 FRANCISCO, Papa. Laudato Si’, Louvado sejas, sobre o cuidado da casa comum. São Paulo, Edições Loyola, 2015. Pág. 88.
8 Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se
em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:
9 Di Lorenzo, Wambert Gomes Di Lorenzo. (2010) Teoria do Estado de Solidariedade. Rio de Janeiro. Elsevier. 52.
10 Maritain, Jacques. Humanismo Integral. São Paulo. Companhia Editora Nacional. 1965. p. 7.
A cultura indígena brasileira encontra-se numa situação gravíssima por sofrer ameaças
em todos os âmbitos, principalmente no tocante à demarcação de terras. Como relata a pes-
quisadora Helena Guimarães12, há mais de 500 anos os índios são torturados, assassinados
e isto tudo culmina no senso comum de que tais vítimas são um entrave ao desenvolvimento
nacional do país. Desde o cultivo da cana-de-açúcar no Nordeste, do Cacau no sul da Bahia,
do café no oeste paulista, da extração da borracha na Amazônia, da introdução da mão de
obra dos imigrantes no sul do país; da criação expansiva de gado no centro-oeste, à mono-
cultura da soja; construção de linhas telegráficas, abertura de estradas à extração de madei-
ras. E mais recentemente na extração de minérios e construção de barragens hidrelétricas13:
O Conselho Indigenista Missionário – CIMI, relata que, somente em 2014 foram as-
sassinados 138 indígenas, além dos altos índices de suicídios e mortalidade infantil. Em ter-
mos de território os povos indígenas estão sendo cada vez mais dizimados. A Proposta de
Emenda à Constituição (PEC) 215/2000, que transfere do Executivo para o Legislativo a
palavra final sobre a demarcação de terras indígenas. O texto é encarado pelos diversos
povos tradicionais brasileiros e ativistas como uma ameaça aos direitos indígenas. PEC
215, para é um sinal claro do extermínio, pois tirará do governo o poder de demarcação das
terras indígenas. Como diz o Papa Francisco nesta Encíclica, as populações aborígenes
têm este amor apaixonado pela terra, uma capacidade de solicitude e responsabilidade.15
14 4 FRANCISCO, Papa. Laudato Si’, Louvado sejas, sobre o cuidado da casa comum. São Paulo, Edições Loyola, 2015. Pág. 90.
15 FRANCISCO, Papa. Laudato Si’, Louvado sejas, sobre o cuidado da casa comum. São Paulo, Edições Loyola, 2015. Pág. 107
16 FRANCISCO, Papa. Laudato Si’, Louvado sejas, sobre o cuidado da casa comum. São Paulo, Edições Loyola, 2015. Pág. 125.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
1. AGOSTINI, Nilo. Ética: diálogo e compromisso. 1ª Edição. FTD, São Paulo.
3. Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. A Igreja e a questão ecológica. Paulinas (1992).
4. Declaração das Nações Unidas sobre os Povos Indígenas. Rio de Janeiro: Nações Unidas,
2008.
7. Helena Guimarães é mestre em memória social pela Universidade Federal do Estado do Rio
de Janeiro – Unirio e graduada em Jornalismo pela Universidade Federal do Rio de Janeiro –
UFRJ. Atualmente, trabalha no Núcleo de Biblioteca e Arquivo do Museu do Índio/Fundação
Nacional do Índio – FUNAI.
8. LAS CASAS, Bartolomeu de. Liberdade e justiça para os povos da América: oito tratados im-
pressos em Sevilha em 1552; obras completas II. São Paulo, Paulus, 2010.
10. MARITAIN, Jacques. Humanismo Integral. São Paulo. Companhia Editora Nacional. 1965.
11. MURAD, Afonso. TAVARES, Sinivaldo Silva (org). Cuidar da casa comum: chaves de leitura
teológicas e pastoraisda Laudato Si’. São Paulo, Paulinas,2016.
12. Nosso Futuro Comum/ Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento. Rio de
Janeiro: Editora da fundação Getúlio Vargas, 1988.
13. Relatório Violência contra os povos indígenas do Brasil – Dados de 2014. Conselho Indigenista
Missionário (CIMI). Disponível em: http://www.cimi.org.br/pub/Arquivos/Relat.pdf. Acesso em
01 out. 2016. p. 47-57.
14. Relatório Violência contra os povos indígenas do Brasil – Dados de 2014. Conselho Indigenista
Missionário (CIMI). Disponível em: http://www.cimi.org.br/pub/Arquivos/Relat.pdf. Acesso
em 01 out. 2016. p. 45.
15. SANTI, Thais. Belo Monte. Atualização do processo de destruição dos povos indígenas. HIU-
Online: Revista do Instituto Humanitas Unisinos, nº478, ano XV, 30/11/15. Pág. 78
16. SARLET, Ingo Wolfgang; FENSTERSEIFER, Tiago. Princípios de direito ambiental. São Paulo:
Saraiva, 2014. p. 174-177
17. SILVA, José Lopes da. Atualidade Histórico-literária das narrações bíblicas. Disponível em:
www.saopedromaceio.com.br/index.php/cienciasdareligiao/246-responsabilidade-do-ser- hu-
mano-como-co-criador. Acesso em 26/09/16.
10.37885/200901237
RESUMO
A salvação que as religiões anunciam como Boa Notícia pertence ao campo da esperan-
ça. Se quem deve responder à pergunta pelo que nos é permitido esperar é a religião,
segue-se que o diálogo entre as religiões deverá se dar no horizonte da esperança. Os ob-
jetivos deste breve artigo são os seguintes: mostrar que neste contexto plurirreligioso
a atitude de abrir-se ao diálogo não é um luxo, mas uma necessidade; sublinhar que a
boa notícia da salvação apregoada por cada religião não pode e nem deve ser imposta à
outra religião ou religiões sem que se contradiga e, consequentemente, se autodestrua;
apresentar os principais aportes do Papa Francisco para o diálogo inter-religioso. O mé-
todo é bibliográfico e sistemático. Consiste, num primeiro momento, em apresentar um
breve itinerário histórico sobre o tema, e, então, o Papa Francisco como um autêntico
mensageiro da esperança e da paz a partir de breves referências aos seus principais
discursos em encontros com líderes religiosos diversos. O segundo momento buscará
organizar sistematicamente os principais conceitos que aparecem nos discursos de
Francisco: diálogo, esperança, caminho, dom e paz. Como resultado teremos que é na
relação entre religião e salvação que esses termos adquirem seu significado religioso
mais profundo; que o diálogo é condição para se encontrar a paz; que a paz, por sua vez,
exige um compromisso comum; e que esse compromisso comum deveria começar por
aquilo que nós todos já temos em comum: o planeta que habitamos (nossa casa comum).
A pluralidade das religiões é hoje um fato incontestável. O encontro das religiões, com
todas as dificuldades que isso implica, será certamente uma das características mais relevan-
tes do terceiro milênio. Abrir-se ao diálogo será questão vital para as religiões, oportunidade
de se renovarem, se purificarem, se reafirmarem, resgatarem o que lhes é constitutivo, o
que elas têm de melhor.
As iniciativas e os esforços dos três últimos pontífices da Igreja Católica para aproximar
as religiões do mundo por meio da oração pela paz se compreendem à luz do espírito de
abertura suscitado pelo Concílio Vaticano II.
A Constituição Pastoral Gaudium et Spes: sobre a Igreja no mundo atual, começa
dizendo: “As alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de nosso
tempo, sobretudo dos pobres e dos que sofrem, são alegrias e esperanças, tristezas e an-
gústias dos discípulos de Cristo. Nada há de verdadeiramente humano que não encontre
eco em seu coração” (GS 1).
A Declaração Dignitatis Humanae: sobre a liberdade religiosa, assinala que “todos os
homens estão obrigados a buscar a verdade sobretudo no que se refere a Deus e à sua
Igreja, e uma vez conhecida, abraçá-la e praticá-la” (DH 1). “Obrigados a buscar a verdade”
ressalta a necessidade de pôr-se a caminho, afinal ninguém busca o que já tem. “Uma vez
conhecida” não significa conquistada, aprisionada, possuída, pois uma verdade que pudesse
ser plenamente apreendida perderia sua transcendência e seria tão somente uma verdade a
mais entre outras tantas. “Abraçá-la e praticá-la” denota a dimensão prático-existencial desta
busca, posto que não se trata de uma verdade meramente intelectual, mas antes que atinge
o ser humano em sua unidade e totalidade. Esta declaração sobre a liberdade religiosa é
um dos documentos mais significativos do Concílio porque contribuiu para o surgimento de
uma mudança de atitude frente às outras tradições religiosas.
Não por último, a Declaração Nostra Aetate: sobre as relações da Igreja com as reli-
giões não-cristãs, tomava como ponto de partida, para falar sobre as religiões, uma base
considerada comum, segundo a qual
todos os povos formam uma comunidade, tem uma mesma origem, posto que
Deus fez habitar a todo o gênero humano sobre a face da terra, e tem também
um mesmo fim último: Deus, cuja providência, manifestação de bondade e
desígnios de salvação se estendem a todos, até que se unam os eleitos na
cidade santa que será iluminada pelo resplendor de Deus, na qual os povos
caminharam sob sua luz (NA 1).
Aos líderes de outras religiões e de outras denominações cristãs disse o Papa Francisco:
No Encontro das Religiões - Jornada de oração pela paz “Sede de Paz - Religiões e
Culturas em Diálogo”, dizia o Papa Francisco a mais de 500 representantes religiosos:
Este caminho de paz e de diálogo ... é atual e necessário. (...) Muitos ainda
têm “sede de paz”. (...) As religiões são chamadas... a responder a esta sede,
a indicar e abrir, juntamente com todos os homens e mulheres de boa vontade,
caminhos de paz, sem se cansarem. (...) Somos chamados a despertar as
consciências, a difundir a esperança, a suscitar e apoiar os agentes de paz
(FRANCISCO, 2017).
Uma religião que não anuncia nem promove a paz depõe contra si mesma. Se a reli-
gião não anuncia a paz, não pode matar a sede do ser humano, porque ela não consegue
tocar a sua esperança de salvação. Se não mata a sede do ser humano, a religião acaba
matando o próprio ser humano.
Durante uma viagem apostólica aos Emirados Árabes, um grande encontro o inter-
-religioso realizou-se. Desta vez, o Papa Francisco iniciou seu discurso pelo Deus-criador.
CONCLUSÃO
O diálogo inter-religioso é fundamental para que haja paz entre as pessoas no mundo.
Numerosas guerras e violentos conflitos foram motivados por convicções religiosas reves-
tidas de traços fundamentalistas. A história dos conflitos na relação do cristianismo com
outras religiões não é, em verdade, motivo de orgulho para os cristãos e cristãs do terceiro
milênio. Estes, aliás, têm a tarefa de juntos reencontrarem a sua unidade cristã na única
Igreja que Cristo Jesus fundou sobre a profissão de fé de Pedro em Cesareia de Felipe
(cf. Mt 16,16). O diálogo ecumênico haverá de acompanhar o inter-religioso.
Incentivos para essa abertura ao diálogo não faltam, pelo menos não da parte do Papa
Francisco. Nunca antes na história da Igreja católica um Pontífice falou tanto sobre a neces-
sidade de diálogo e de paz com outras culturas, religiões e tradições religiosas.
Percebemos, a partir destas breves considerações, que as condições para o diálogo
inter-religioso estão interconectadas. Sem uma mente aberta à pluralidade e sem um espírito
aberto à acolhida do diferente não é possível escutar o outro na sua verdade, no seu ser-ou-
tro. Impedida de expressar-se, a pessoa se vê ferida na sua dignidade e liberdade religiosa.
Nenhuma religião promete salvação sem comprometimento efetivo e afetivo do fiel para
com a verdade, a prática da justiça, o cultivo do amor e da paz. E ninguém se compromete
com isso, se não houver nele a esperança no cumprimento da promessa que sua religião lhe
anuncia como salvação e, por isso, como boa notícia (Evangelho). Para os cristãos, Deus
é Amor. E o amor não conhece diferenças religiosas.
REFERÊNCIAS
1. BENTO XVI, Jornada de reflexión, diálogo y oración por la paz y la justicia en el mundo: “Pere-
grinos de la verdad, peregrinos de la paz”. Intervención del Santo Padre Benedicto XVI. Asís,
Basílica de Santa María de los Ángeles, 27.10.2011. In: https://w2.vatican.va/content/benedict
xvi/es/speeches/2011/october/documents/hf_benxvi_spe_20111027_assis i.html (20.08.2016).
2. CONSTITUIÇÃO PASTORAL Gaudium et Spes: sobre a Igreja no mundo atual. In: http://www.
vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vat-ii_const_19651207_gau-
dium-et-spes_po.html (acessado em 10.08.2020)
4. DECLARAÇÃO Nostra Aetate: sobre as relações da Igreja com as religiões não-cristãs. http://
www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vat-ii_decl_19651028_nos-
tra-aetate_po.html (acessado em 15.08.2020).
7. FRANCISCO, Papa. II, Encuentro Mundial de los Movimientos Populares com el Papa Fran-
cisco – Bolívia, 2015. http://latinoamericana.org/2016/info/docs/ CartillaMovsPopularesPapa-
FranciscoBolivia.pdf (acessado em 11.08.2016).
8. FRANCISCO, Papa. Jornada de oração pela paz, “Sede de paz. Religiões e culturas em
diálogo”, Assis, 2016. http://w2.vatican.va/content/francesco/pt/speeches/2016/september/
documents/papa-francesco_20160920_assisi-preghiera-pace.html (acessado em 24.03. 2019).
10. FRANCISCO, Papa. Discurso do Papa Francisco no Encontro Inter-religioso de Abu Dhabi,
2019. https://www.acidigital.com/noticias/discurso-do-papa-francisco-no-encontro-inter-religio-
so-de-abu-dhabi-66661 (acessado em 10.04. 2019).
12. PANIKKAR, Raimon. Paz e Interculturalidad: Una reflexión filosófica. Barcelona: Herder, 2006.
Texto adaptado de artigo publicado nos Anais do V Congresso da ANPTECRE “Religião, Direitos Humanos e Laicidade”, ocorrido de 9 a
11 de setembro de 2015, em Curitiba/PR.
10.37885/201001701
RESUMO
A educação está presente na história da igreja luterana desde sua origem, conforme as
principais obras de Lutero. Esta pesquisa abordou a formação contínua na fé de adultos.
Teve como objetivos: contribuir para a reflexão-ação sobre a importância da formação
contínua na fé de adultos; investigar a existência de programas de formação contínua
na fé de adultos na EKD, na atualidade; identificar a ênfase dada à formação contínua
de adultos em faculdades alemãs e socializar os resultados da pesquisa na IECLB. Para
atender os objetivos, foram realizados os seguintes procedimentos: a) Seleção e análise
de literatura sobre organização e desenvolvimento de programas de formação contínua
de adultos, junto à EKD. b) Verificação da existência de programas de formação con-
tínua na fé de adultos, em comunidades da EKD, pela aplicação de instrumentos com
ministros ordenados e leigos. c) Visita a faculdades alemãs para identificação da ênfase
dada à formação contínua de adultos. d) Participação em eventos de formação a respeito
do tema em estudo. A pesquisa foi realizada no âmbito local e regional da EKD, com a
participação de ministros ordenados, leigos e coordenadores de departamentos, e em
faculdades alemãs que promovem formação contínua de adultos. Os dados apontam à
oferta e manutenção de cursos de fé nas comunidades, devido aos bons resultados que
eles têm trazido para as pessoas que deles participam e para a comunidade, onde há
inclusão de novos membros bem como a promoção do seu crescimento na fé.
A presente pesquisa aborda a formação cristã contínua de adultos. Tem por objetivo
geral: contribuir para a reflexão-ação sobre a importância da formação cristã contínua de
adultos; e como objetivos específicos: investigar a existência de programas de formação
cristã contínua de adultos na EKD1, identificar a ênfase dada à formação cristã contínua de
adultos em faculdades alemãs e socializar os resultados da pesquisa na IECLB2.
A preocupação com educação está presente na história da igreja luterana desde a
origem, como apontam as principais obras de Lutero: a Missa Alemã (1526); a Instrução
dos visitadores (1528); os Catecismos pequeno e alemão (1529); as traduções do Novo
Testamento (1522) e da Bíblia (1534). Para Lutero, cristãos fiéis deveriam preocupar-se e
reivindicar um ensino saudável e competente. Esta preocupação de Lutero veio na baga-
gem dos imigrantes, que se estabeleceram no Brasil e acompanha a história da formação
da e na IECLB, que desde o início, ocupou-se com a escolaridade e a educação cristã
de seus membros.
A IECLB tem promovido reflexões, fóruns, estudos sobre a educação, elaborando
documentos no intuito de retomar e fazer avançar a postura da igreja frente aos desafios
da educação em cada tempo. Do Catecumenato Permanente - Discipulado Permanente
(década de 1970) até as Diretrizes para uma política educacional da IECLB (2005), a igreja
procura promover e viabilizar o sacerdócio geral de todos os crentes, entendido como parti-
cipação ativa de todos os membros na vida da comunidade, assumido também como tarefa
da igreja no PAMI3/2008-2012, no PECC4 e mais recentemente nas Metas Missionárias da
IECLB/2019-2024.
A formação continuada é concebida como a sequência de uma formação inicial, a
procura permanente da continuidade na educação, mas também, e principalmente, como
formação para toda a vida5. Tanto a educação geral quanto a educação na fé acontecem
num processo permanente, dinâmico e contínuo.
A formação cristã contínua tem o papel de possibilitar o desenvolvimento da maturidade
na fé de todos os membros da igreja, inclusive os adultos. O conhecimento prático dos cristãos
é objeto cognoscente a ser problematizado e apreendido no processo educacional. Assim,
na formação de comunidade crítica, age-se e reage-se sobre prática, propósitos e desafios.
De acordo com os objetivos definidos para esta pesquisa, foram realizados os se-
guintes procedimentos de investigação: a) Seleção e análise de literatura sobre programas
6 SAUTTER, Jens Martin. Theologische Herausforderungen eines EKD-Projektes »Erwachsen glauben«. Aus Deutsches Pfarrer-
blatt – Heft: 3 / 2012. Disponível em: http://www.pfarrerverband.de/pfarrerblatt/dpb_print.php?id=3129 . Acesso em: 10 dez. 2012.
7 Arbeitsgemeinschaft Missionarische Dienste – Associação de Serviços Missionários.
8 Mais informações sobre o projeto são encontradas em: www.kurs-zum-glauben.org
a. Hoje, na Alemanha, existem dois movimentos de igreja: o que busca viver espiritu-
alidade genuína e o que ainda desenvolve muita intelectualidade, distanciando as
pessoas da fé;
c. Só o culto não é suficiente. Realiza-se todo ano uma grande evangelização, depois
um curso básico de fé para adultos e jovens e, na sequência, reuniões em pequenos
grupos;
d. Uma comunidade é inovadora quando tem todas as gerações juntas na vida da comu-
nidade. Tem espaço pensado para todas as idades. A igreja é organizada em depar-
tamentos e continua em crescimento. Por conta do crescimento, foi construído um
espaço bem iluminado que durante a semana é quadra de esporte e aos domingos é
espaço de culto;
e. Uma das comunidades visitadas sempre tem um estudante de teologia fazendo es-
tágio;
f. Os adolescentes que passam pela Confirmação10 são convidados para um curso bá-
sico de fé e dos que participam deste curso 100% continuam participando no grupo
da Juventude.
9 Com base em: HÄRLE, Wilfried et al. Wachsen gegen den Trend. Analysen Von Gemeinden, mit denen es aufwärtsgeht. Leipzig:
Evangelische Verlagsanstalt, 2008.
10 Espaço de Educação Cristã, oferecido aos adolescentes no contexto luterano.
11 Landeskirche são as igrejas estatais. Cada estado na Alemanha tem sua igreja evangélica, vinculada à EKD
12 Deutsche Evangelische Arbeitsgemeinschaft für Erwachsenenbildung – Associação Evangélica Alemã para a Educação de Adultos.
Mais informações em: http://www.deae.de.
13 “Was bringt mir das?” Vom Nutzen religiöser Bildung für Individuum, Kirche und Gesellschaft!
14 Disponível em: http://www.ekd.de/download/kirche-der-freiheit.pdf. Acesso em: 14 jan. 2013.
c. Parece que existe uma inversão: as empresas oferecem cursos que poderiam/deve-
riam ser pensados pelas Comunidades cristãs.
g. É mais comum sabermos falar sobre as coisas de fora, dos outros, do (que é) falso, do
que falar sobre o que é nosso, o que pensamos, o que cremos, o que fazemos.
h. É preciso competência didática: ouvir as perguntas das pessoas, seus interesses, suas
expectativas.
Em Lübeck, de 18 a 20 de janeiro de 2013, aconteceu um seminário de treinamento de
lideranças sobre um dos temas do curso Stufen des Lebens. Este curso é conhecido como
aulas de ensino religioso para adultos. Consiste em histórias bíblicas contadas para adultos
de forma envolvente, dinâmica, criativa, com auxílio de recursos visuais concretos sobre o
solo, no centro de um círculo de participantes.
Destaca-se a pessoalidade com que é tratada a fé dos participantes, de forma que
o curso avança significativamente do aspecto cognitivo-ativo para a dimensão emocional,
espiritual, de cuidado e vivência da fé, na relação com a vida.
No treinamento acontecem todos os temas pensados para o curso realizado em quatro
semanas. Chama atenção pela quantidade de detalhes e materiais que precisam ser orga-
nizados e executados com antecedência. A participação neste treinamento foi ecumênica,
com a presença de várias denominações cristãs. Entre as temáticas do curso, eram tratados
aspectos práticos de orientação para a realização do curso posteriormente nas Comunidades.
Foi possível participar de duas ofertas de formação, referente aos cursos de fé para
adultos, organizadas em cooperação entre o Amt für Gemeindedienst – AFG – Departamento
de serviços à Comunidade e a Arbeitsgemeinschaft für Evangelische Erwachsenenbildung
in Bayern – AEEB – Associação para a educação evangélica de adultos na Baviera.
15 Formação Evangélica de Adultos.
b. As pessoas vêm ao curso porque têm uma grande pergunta ou crise. A pessoa só
pode dizer que crê se ela é ativa sobre o conteúdo da fé. Anteriormente havia a
Formação Catequética. Hoje, para a nova geração é preciso ressignificar conteúdos,
enfatizar pontos importantes, aspectos principais, chaves de compreensão dos con-
teúdos para viver a fé. Tomar para si o que se crê.
c. Didaticamente, instrui-se não dar tudo pronto, mas permitir que se construa com os
ouvintes o conteúdo sobre o qual se queira pregar. Ajuda no processo de reflexão
sobre a preparação da prédica. Ter a sensibilidade para não despejar quantidade de
conteúdo, mas perceber se existe reflexão, compreensão dos ouvintes.
f. Com Lutero se trazia as pessoas e trabalhava a formação. Hoje temos que convencer
as pessoas sobre a necessidade de espiritualidade.
g. Missão interna: como todos já são cristãos, precisamos nos ocupar em manter nossos
membros.
h. Pode-se dizer no que se crê, mas não se pode forçar o outro a crer no que se crê.
i. Toda cultura está fundamentada no cristianismo, mas não dá para entender como
ainda aparecem pessoas que dizem “Quem é aquele na cruz?”.
b. É importante desenvolver um trabalho com os pais dos confirmandos que estão aber-
tos para aprofundar a fé.
Segue aqui análise dos dados e discussão dos resultados elaborados sobre as respos-
tas ao questionário, enviado via e-mail, para comunidades e departamentos na Alemanha
que têm contato com os cursos de fé para adultos (Erwachsenglaubenskurse). A pesquisa
Outros cursos foram citados e que são desenvolvidos em diferentes comunidades como:
Glaube hat Gründe (Fé tem razões) de Klaus Douglass (cada ano, 1-2 vezes); Farbwechsel
de Kopfermann; Vertikalkurs; Wort und Antwort (Palavra e resposta - oferecido uma vez);
“Exerzieten im Alltag” Spuren Gottes in meinem Alltag entdecken (Retiro na vida cotidiana
- Descobrindo os traços de Deus na minha vida); 40 Tage Gott erleben (Experimente Deus
por 40 dias); Stille (Silêncio) de Elke Werner e Klaus Günter Pache; Leben mit Vision (Vida
com propósito) de Rick Warren; Curso próprio sob medida para os desejos dos participan-
tes; Kurs auf Gott (Curso sobre Deus); Modelo próprio, que é baseado no Alpha, mas é
mais curto; Christ werden = Christ bleiben (Torne-se um cristão = permaneça um cristão,
conhecido hoje como SPUR 8).
Os resultados apontam para a existência de muitos cursos que estão disponíveis para
as comunidades e que ocorre a realização de pelo menos um curso de fé em cada comuni-
dade consultada, o que mostra a preocupação das comunidades em oferecer possibilidades
de avivamento e amadurecimento na fé cristã.
A pesquisa demonstra que os cursos oferecidos para os membros são bem aceitos.
Podemos depreender que os cursos são bem estruturados e permitem aos membros/par-
ticipantes um conhecimento maior e aprofundado em relação à fé. Algumas comunidades
consultadas ainda relataram que: a) são realizados dois cursos por ano, mais recentemente
cada curso acontece de manhã e à noite; b) a participação da Comunidade é expansível,
pois muitos participantes vêm do entorno das Comunidades.
Quando perguntadas sobre os objetivos da comunidade na promoção destes cursos,
as respostas foram: 35 (32,40%) - aprofundamento na fé; 25 (23,14%) - alcançar pessoas
distanciadas na vida de fé; 21 (19,44%) - evangelismo; 13 (12,08%) - crescimento da igreja;
14 (12,96%) citaram outros objetivos tais como:
• Recrutamento de colaboradores
• Formação de multiplicadores
• Comunidade
– Os cursos são parte integrante da vida comunitária. Eles são uma boa oportunidade
para convidar pessoas para a Comunidade e para falar sobre a fé.
– O curso Alpha ensina temas básicos da fé para as pessoas, que estão procuran-
do ou estão interessadas na Igreja/Comunidade, como os pais dos confirmandos,
pessoas após um período de luto etc. Participantes do fim de semana Alpha geral-
mente ficam na Comunidade.
– Stufen des Lebens (Estágios da vida) fala às pessoas principalmente devido à for-
ma de trabalho com imagens no solo e ao curto tempo de duração (apenas quatro
encontros). Alguns participantes vêm apenas para este curso, dois, três anos e
depois deixam-se convidar para outros eventos na Comunidade, ou começam a ir
regularmente ao culto. Outros participantes sempre voltam para aprofundar a sua
– Porque por isto (estes cursos) sempre de novo pessoas têm encontrado a fé, na fé
são amadurecidas e integradas na Comunidade.
– A oferta do curso tem se mostrado ao longo dos anos como uma necessidade. Ao
mesmo tempo é nossa oferta anual para não-batizados, para se preparar para o
batismo.
– Uma boa ferramenta entre muitas outras para alcançar pessoas com o Evangelho
e assegurá-las na fé .
– Porque percebemos, que vale a pena o esforço, tanto para os colaboradores, bem
como os membros da paróquia, que participaram de um dos cursos.
– Porque Stufen des Lebens produz a relação de fé com a vida e é adequado para
todos. Este curso é visto como top e é uma adição muito importante para os outros
eventos da Comunidade.
– É muito importante.
– Nós somos um grupo misturado de jovens e adultos e este ano, pela primeira vez,
ecumênico.
– Porque com isto, sempre de novo, pessoas, pela primeira vez ou de forma nova são
familiarizadas com Jesus Cristo.
– Atenção: nós não somos nenhuma comunidade, mas esta oferta como comunidade
realiza-se no âmbito da nossa casa de hóspedes.
– Porque eles ficam bem e a demanda ainda está lá. Eles (os cursos) são parte inte-
grante do trabalho comunitário.
– Já uma longa tradição, sempre vem de novo novos participantes para fazê-lo, um
curso popular em toda a Alemanha! O curso é oferecido aqui de forma intermunici-
pal, regional, no âmbito dos Kurse zum glauben (cursos para a fé).
– Stufen des Lebens sim, porque este curso é bem procurado por muitos anos. Ele
sempre é atraente, porque os temas, os textos bíblicos e o material são muito varia-
dos. Sempre de novo novos participantes vêm fazê-lo. Spur 8 foi oferecido em dois
anos consecutivos, o que agora não é mais possível, porque o pessoal responsável
por isto não pode mais ser pago pela Igreja.
As comunidades que não continuam a oferecer os cursos apresentaram os seguintes
motivos: mudança do pastor; atualmente os colaboradores estão envolvidos de outra forma;
oferecemos um curso diferente (Emmaus), para que pessoas diferentes sejam abordadas;
a aceitação é muito baixa; os participantes (7 ou 5) beneficiaram-se, mas: 1) havia muito
material para o grupo-alvo (pouco leitores); 2) a Comunidade é muito pequena (polo de
interessados é pequeno demais. Preocupação: sacrificar-se muito para isso é muito traba-
lho para pouca gente); 3) nós queremos tentar de novo em forma mais ampliada em nível
regional; e a pessoa encarregada estava muito doente e depois da recuperação, manteve
só os seminários dos instrutores para Stufen des Lebens. Até agora ninguém foi encontrado
na Comunidade, que queira manter esses cursos de fé.
Os dados apontam para a manutenção dos cursos de fé nas comunidades, devido
aos bons resultados que estes têm trazido para as pessoas que deles participam e para a
comunidade, onde há inclusão de novos membros bem como o seu crescimento na fé.
Neste capítulo, será feita a descrição dos principais cursos oferecidos dentro do Projeto
de formação de adultos Erwachsen glauben, no contexto da EKD.
ALPHA
É um livro que pode ser lido individualmente, mas também pode ser adotado
por uma Comunidade para trabalho de compartilhar em pequenos grupos. É es-
pecialmente pensado para que tem interesse por uma busca pessoal com os
principais textos bíblicos combinados e em uma expedição de 40 dias através da
Bíblia. Três colunas são combinadas: uma agenda de viagens para o trabalho in-
dividual, pequenos grupos com uso de material relacionado e cultos temáticos28.
KAUM ZU GLAUBEN
A prática cristã que combina sete passos de culto e de vida juntos. Cada unidade
é executada por uma liturgia de culto em encontro com a vida cotidiana. É uma
mistura de formação cristã e projeto de desenvolvimento comunitário, um pro-
cesso que se refere a impulsos cotidianos de um texto bíblico e compartilhando
juntos experiências que surgem a partir dele30.
WARUM GLAUBEN?
CONSIDERAÇÕES FINAIS
35 Para mais informações e aprofundamento sobre Cursos da fé para adultos, confira: RODRIGUES, Marilze Wischral. Implicações da
prática educativa cristã holística para a aprendizagem integral ao longo da vida. São Leopoldo: EST/PPG, 2019.
REFERÊNCIAS
1. A BÍBLIA da mulher. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2008.
3. HÄRLE, Wilfried et al. Wachsen gegen den Trend. Analysen Von Gemeinden, mit denen es
aufwärtsgeht. Leipzig: Evangelische Verlagsanstalt, 2008.
4. http://www.alphakurs.de.
5. http://www.amd-westfalen.de.
6. http://www.deae.de.
7. http://www.eeb-niedersachsen.de/kaum-zu-glauben/index.htm.
8. http://www.ekd.de/download/kirche-der-freiheit.pdf.
9. http://ww.ekiba.de/7312.php.
10. http://www.expedition-zum-ich.de.
11. http://www.gemeindekolleg.de/projekte/spiritualitaetimalltag.
12. http://www.kurs-zum-glauben.org.
13. http://www.online-glauben.de.
36 IECLB. Diretrizes da Política educacional da IECLB. In: Textos orientadores para a educação evangélico-luterana. São Leopoldo:
Sinodal, 2005. p.18.
37 Efésios 4.12-15. In: A BÍBLIA da mulher. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2008. p. 1496-1497.
15. IECLB. Diretrizes da Política educacional da IECLB. In: Textos orientadores para a educação
evangélico-luterana. São Leopoldo: Sinodal, 2005.
16. _____. Metas missionárias da IECLB. In: Metas aprovadas pelo XXXI Concílio da Igreja Evan-
gélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB) 17 a 21 de outubro de 2018 – Curitiba/PR.
17. _____. Plano de Educação Cristã Contínua da IECLB (PECC). São Leopoldo: Sinodal; Porto
Alegre: IECLB, 2011.
18. PINTO, Homero Severo (Org.). Missão de Deus – nossa paixão: texto-base para o plano de
ação missionária da IECLB 2008-2012. São Leopoldo: Sinodal, 2008.
19. RODRIGUES, Marilze Wischral. Implicações da prática educativa cristã holística para a
aprendizagem integral ao longo da vida. São Leopoldo: EST/PPG, 2019.
10.37885/200901564
RESUMO
A proposta deste artigo é procurar mostrar que na devoção mariana podemos encontrar
elementos de uma Mística Marial, ou seja, uma experiência de Deus que conta com Maria
como ícone do mistério. Nossa pesquisa é bibliográfica, em primeiro lugar apresentaremos
o termo Mística a partir de Juan Martin Velasco1, em segundo lugar a Mística Marial, e o
Ícone humano do Mistério e a conclusão. No Brasil temos duas grandes manifestações que
expressam a devoção do povo brasileiro a Nossa Senhora: Aparecida e o Círio de Nazaré.
Além de muitas outras em distintas regiões. Neste artigo, voltamos nosso olhar ao Santuário
Nacional de Aparecida, que em 2017 celebrou 300 anos do encontro da pequena imagem
de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, no Rio Paraíba do Sul, por três pescadores.
Segundo relato do encontro da imagem a primeira parte a ser pescada foi o corpo e depois a
cem metros de distância foi encontrada a cabeça. É essa pequena imagem que leva milhões
de pessoas todos os anos a este Santuário, fato que nos leva a pesquisa e a perguntar o
porquê de tal fato?
Velasco ainda diz que nos últimos séculos o fenômeno místico em sua extraordinária
variedade de formas extras religiosas e religiosas; cristãs e não cristãs e a multiplicação
dos pontos de vista para seu estudo, explicam sua complexidade e inclusive a imprecisão
1 Juan Martin Velasco (1934) Espanhol, professor emérito de Fenomenologia da Religião da Universidade Salamanca, e da Faculdade
de Teologia San Dámaso, especialista em temas relacionados a mística.
O encontro mais profundo terá lugar na esfera da mística, na qual vamos além
das ideias, dos conceitos e das imagens, até o estado de amor silencioso. Aqui
as pessoas permanecem em um estado de união sem palavras, aqui o espírito
se encontra com o espírito. (VELASCO, 2009, p. 471)
– Mulher forte na dor, na mais pura das tradições das mães judias, mulher que sou-
be passar da relação toda natural de sua maternidade terna e afetuosa, podemos
pensar aqui em suas preocupações com o Filho (cf. Mc 3,31-35); permanece de pé
junto a cruz (cf. Jo, 19,25-27);
Essa mulher humilde e forte, silenciosa e ao mesmo tempo, incisiva nas pa-
lavras decisivas que pronuncia no Evangelho, é confiada ao “discípulo do
amor”, porque, por vontade do Filho agonizante, já pertence de modo vital ao
seu mundo. Nela o povo do cumprimento vem encontrar-se de tal modo com
o povo da esperança e da espera que a fé pascal reconhece em sua figura a
“filha de Sião” que exulta na alegria do tempo messiânico. (cf. 1,28 e Sl 3,14s).
(FORTE, 1991, p. 146)
A partir dos textos que falam de Maria, podemos dizer que ela é uma pessoa ple-
namente integrada, pessoa humana livre. Concebendo no coração e no corpo o Verbo, a
serva que ouve e cumpre a Palavra, podendo assim ser ícone humano do mistério, por sua
experiência de encontro e união com Deus. Maria sinaliza a cada pessoa humana, inde-
pende de sua crença, que como ela também podemos viver uma experiência de união com
Deus com o Mistério.
A palavra ícone do grego eikón, imagem, designa uma pintura sagrada feita em pai-
nel. A iconografia remonta ao século V-VI. Para os cristãos do oriente, os ícones são consi-
derados no mesmo plano da bíblia e da tradição, assumindo um conteúdo histórico, cultual
– litúrgico, espiritual e dogmático.
CONCLUSÃO
– A Mãe de Jesus surge com a fonte de inspiração para questões que afetam toda a
– Maria, mãe, move os sentimentos dos filhos nesta identificação da mãe com seus
filhos;
REFERÊNCIAS
1. BINGEMER, M.C. O Mistério e o Mundo. Rocco, 2013.
2. BOFF, C. Mariologia Moral, o significado da Virgem Maria para a Sociedade, São Paulo, Pau-
lus, 2006.
3. GRÜN, A. Mística, descobrir o espaço interior. São Paulo, Editora Vozes, 2012.
4. MURAD, A. Maria, toda de Deus e tão humana. Compêndio de Mariologia. São Paulo, Pauli-
nas, 2012.
7. VELASCO, J.M. El fenómeno místico, estúdio comparado. Madrid, Editoral Trotta, 2009.
11. TEB – Tradução Ecuménica da Bíblia. São Paulo, Edições Loyola, 1994.
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RESUMO
Sabendo que o cristianismo comporta uma exigência radical pelo amor ao próximo, nossa
pesquisa busca abordar os temas do amor e do perdão subjacentes em Rm 12, assim
como suas implicações na vida prática. Para isso, a dividiremos em três partes. De iní-
cio, apontaremos a práxis cristã de transformação do mundo, a qual se apoia no esforço
cotidiano em corresponder à graça divina (Rm 12,1-2). Posteriormente, ressaltaremos
o tema da unidade do corpo de Cristo que se dá numa atitude de amor para com os
de dentro da comunidade (Rm 12,3-13). Aqui, a humildade e a justa estima tornam-se
condições indispensáveis para a concretização dessa unidade, uma vez que diminuem
a incidência de rivalidades e pretensões de grandeza. Por fim, abordaremos o amor aos
inimigos como um apelo oriundo do próprio Cristo, em seu imperativo do amor (Mt 5,44),
o qual possui várias releituras, por exemplo, Rm 12,14-20. Inspirado em Jesus, Paulo
anima seus interlocutores a vencerem o mal pelo bem. Convida-os a superar o desejo
de vingança, não retribuindo o mal com o mal, mas amando e abençoando aqueles que
os perseguem (Rm 12,14). Nessa atual conjuntura da sociedade, tão marcada por into-
lerâncias, desejos de vingança e discursos de ódio, acreditamos que Rm 12 possui uma
força profética que deve ser redescoberta e instaurada na sociedade atual.
Judeu, fariseu e perseguidor dos cristãos, convertido e escolhido por Deus para evan-
gelizar os gentios, Paulo tornou-se um dos personagens mais influentes do cristianismo
nascente. Nutrido por um profundo ardor missionário, percorreu localidades realizando pre-
gações, exortações e organizando comunidades. Tudo isso motivado por sua experiência no
caminho de Damasco (cf. At 9,1-19), através da qual fora alcançado pela graça divina que
revelara-lhe Jesus como Filho de Deus (cf. Gl 1,15-16). Ao longo de seu itinerário espiritual
percebeu os limites da Lei Mosaica, cuja complementação se dá na pessoa de Jesus Cristo
e em sua mensagem de fé, esperança e caridade.
A relevância desse perseguidor convertido é, de tal modo, significativa que seu pensa-
mento gestou boa parte da compreensão de fé cristã. Por meio das várias cartas, enviadas
às comunidades, exortava e indicava os meandros da fé. Essas indicações encontram-se
no bloco de cartas atribuídas a Paulo, chamado de Corpus Paulinum. Uma das cartas de
maior destaque é a que fora destinada aos romanos, uma vez que sintetiza boa parte de sua
reflexão teológica. Como tese principal dessa carta, Paulo assume o evangelho como força
de Deus para a salvação de judeus e gregos (Rm 1,16-17). Desse modo, supera a antiga
rivalidade, o muro de separação que havia entre os dois povos (cf. Ef 2,14).
De modo concreto, sustentado na caridade fraterna, Rm 12 nos anima a vencer as
divisões e inimizades por meio do amor, ainda que aos perseguidores. Esta decisão, concre-
tizada em atos de bondade e um coração puro, se revela fator de cura e de libertação para
quem opta por ela. No fundo, o apóstolo propõe a superação da lógica vingativa, animando
seus interlocutores a não retribuírem o mal com o mal.
As argumentações levantadas por Paulo nos levam a reconhecer a urgente necessi-
dade de praticar a lógica do amor e do perdão, ainda que nem sempre sejam verificados
no cotidiano da práxis humana. Segundo o raciocínio paulino, o amor é a plenitude da Lei
(Rm 13,10), por meio dele a comunidade sustenta sua unidade (cf. Rm 12,3-13) e abre-se
aos de fora (Rm 12,14-21). Alcançados pela graça de Deus, somos inseridos numa dinâmi-
ca de transformação do mundo no qual vivemos (Rm 12,2). Membros do corpo de Cristo,
devemos manifestar os sinais da presença do Ressuscitado dentro e fora da comunidade
cristã. No entanto, essa abertura não se limita aos amigos, mas deve ser levada até mesmo
aos inimigos e aos perseguidores. Em vista disso, nos alertara Santo Agostinho:
METODOLOGIA
Esta pesquisa parte de uma leitura analítica de Rm 12, a fim de perceber como o amor
e o perdão aparecem como exigências intrínsecas do cristianismo. Para isso, o capítulo
será dividido em três partes, as quais marcarão o ritmo da argumentação. A primeira parte
(Rm 12,1-2) aborda o importante tema da transformação do mundo, o qual reconhece o
cristão como um agente de mudança das realidades diversas. O segundo momento (Rm
12,3-13) ocupa-se da firme exigência por unidade no corpo de Cristo, entendido como as
diversas comunidades cristãs, indicando a urgente necessidade em romper com as divi-
sões. Por fim, Rm 12,14-21 tematiza uma das exigências mais árduas do cristianismo que
é o amor aos inimigos. Este terceiro momento se dá numa leitura “transversal” entre o texto
epistolar e textos evangélicos que indiquem possíveis influências e correspondências entre
o pensamento paulino e a pregação de Jesus Cristo. Portanto, nossa proposta é “abrir” o
RESULTADOS
A análise proposta revela, antes de mais nada, a estrutura ternária subjacente no texto
paulino, que pode ser percebida a partir dos temas principais abordados em cada uma das
subdivisões: a práxis cristã de transformação do mundo, a unidade do corpo de Cristo e
o amor aos inimigos. Um segundo resultado relevante, pode ser percebido nas inúmeras
aproximações que o texto paulino têm com o pensamento de Jesus, expresso sobretudo
no Sermão da Montanha (Mt 5 – 7), dentre os quais destacamos as ordens de amar aos
inimigos e a ninguém pagar o mal com o mal.
É salutar indicar ainda a percepção do amor e do perdão como realidades inerentes
da caminhada cristã, as quais devem figurar na práxis dos discípulos de Jesus, a fim de
uma efetiva transformação das realidades humanas. Há ainda a superação da lógica do
Talião, segundo a qual seria possível a devolução proporcional ao mal que lhe fora infligi-
do. No Sermão da Montanha, Jesus propõe a seus discípulos a negação desta mentalidade
e indica-lhes a “outra face” como melhor resposta (cf. Mt 5,39). O pensamento paulino ca-
minha na mesma direção, mas com uma nomenclatura diferente. Paulo chama tal postura
de “acumular brasas na cabeça” do adversário (Rm 12,20b), indicando assim um aspecto
de incompreensibilidade e de crise de consciência causadas pela atitude inesperada, fun-
damentada na práxis de Cristo e não na lógica da vingança.
Assim, parece clara a influência do pensamento discurso de Jesus no Sermão da
Montanha sobre a pregação de Paulo acerca da práxis cristã e sua vida em comunidade.
Contudo, não temos a pretensão de uma intepretação absoluta ou excludente, mas de pos-
sibilitar olhares diversos para temas tão essenciais como são o amor e o perdão.
Nosso ponto de partida é a exortação paulina para que seus ouvintes tornem-se sacri-
fícios vivos, por meio de um culto espiritual que agrade a Deus (cf. Rm 12,1-2). O apóstolo
anima-os a esforçarem-se por uma mudança de mentalidade, afim de que possam corres-
ponder à graça divina e sejam fatores de transformação na sociedade em que vivem. Nesse
sentido, o mundo, marcado pela segmentação e divisão entre os povos, pode ser transfor-
mado através da práxis cristã, realizada com amor sincero. É próprio desta práxis destruir
barreiras (Ef 2,14), estabelecendo unidade, com os de dentro e os de fora da comunidade.
2 Cf. CRANFIELD, C.E.B. Comentário de Romanos versículo por versículo. São Paulo: Vida Nova, 2005, p 280.
3 Cf. KARRIS, Robert J.; BERGANT, Dianne (Orgs.). Comentário Bíblico. Vol 3. São Paulo: Loyola, 2014, p. 187.
4 Cf. BRUCE, F.F. Romanos: Introdução e Comentário. São Paulo: Vida Nova, 2011, p. 182. (Série Cultura Bíblica).
5 Cf. BROWN, Raymond E.; FITZMYER, Joseph A.; MURPHY, Roland E. (Orgs.) Novo Comentário Bíblico São Jerônimo: Novo
Testamento e Artigos Sistemáticos. São Paulo: Paulus, 2018, p. 579.
6 Leitmotiv significa “motivo condutor”. Consiste em um tema que aparece constantemente no decorrer de uma obra com o objetivo de
associá-lo a um personagem, objeto ou ideia.
7 Cf. BARBAGLIO, Giuseppe. As Cartas de Paulo II. São Paulo: Loyola, 2017, p. 306. (Coleção Bíblica Loyola – 5).
8 Cf. REYNIER, Chantal. Para ler a Carta aos Romanos. São Paulo: Loyola, 2015, p. 122.
9 Cf. CRANFIELD, 2005, p. 281.
10 Cf. REYNIER, 2015, p. 124.
11 Cf. BARBAGLIO, 2014, p. 314.
12 Cf. BARBAGLIO, loc. cit.
A fé abriu horizontes positivos para o futuro: há razão para a alegria. Mas não se
confunda a esperança cristã com um otimismo fácil. O caminho está marcado por
adversidades de todo tipo. Impõe-se, pois, a necessidade de não se dobrar os
joelhos, de resistir com vigor. Além do mais, o Pai não abandona os seus filhos:
que se suplique a ele com assiduidade, que ele não faltará com sua ajuda14.
Sabemos que é característico do ser humano sua capacidade relacional e sua tendência
a estabelecer comunidade. Contudo, não é raro encontrar grupos e ideologias empenhados
em distanciar e dividir as pessoas. Geralmente, essa relação se dá à semelhança de círculos
concêntricos, os mais queridos ocupam o centro mais próximo da pessoa humana, enquanto
os mais distantes ocupam as regiões periféricas desse círculo. Nessa dinâmica é possível
categorizar em irmãos, amigos, colegas, conhecidos, desconhecidos e, até mesmo, inimigos.
Porém, o desejo de Jesus para seus seguidores é que transponham os limites da empa-
tia e comprometam-se com o amor a todos, superando os meros ciclos de amizades. Nessa
perspectiva Jesus propõe uma novidade radical a seus seguidores, a fim de que cheguem
à plenitude do amor e à semelhança radical com o Mestre, cujo o amor o fez perdoar seus
perseguidores (cf. Lc 23,34).
A exigência de Jesus por um amor autêntico ressoa em vários trechos dos evange-
lhos. Porém, nos deteremos em um bastante significativo, uma vez que trata das releituras
de Jesus sobre as leis de Israel. Nos referimos ao texto de Mt 5,20-48, no qual o Mestre
apresenta uma nova compreensão de justiça, baseada em seus ensinamentos. Mateus
reconhece Jesus não apenas como um intérprete da Torah, mas como aquele que lhe dá
pleno sentido. Isso é notório nas seis reinterpretações que ele faz dos preceitos mosaicos.
Embora o texto seja bem valioso, nos deteremos naquilo que influencia diretamente
nossa temática, tratada a partir de Mt 5,38. Inicialmente, Jesus faz uma releitura acerca do
que foi dito: “olho por olho, dente por dente”, referência clara à Lei do Talião15. Trata-se de
uma sentença sapiencial que encoraja os discípulos a não revidarem a ofensa recebida e
não cederem à vingança. A superação da lógica da vingança se dá no oferecer a outra face.
Jesus convoca-os ainda a orar pelos que os perseguem.
Parece claro que o pensamento paulino sobre o amor aos adversários, está direta-
mente relacionado com o imperativo cristão de amar os inimigos (Mt 5,44). O mestre dá
a conhecer a seus seguidores aquilo que os torna “filhos do Pai dos Céus”: fazer o bem a
justos e ímpios (Mt 5,45).
15 Recebe este nome a Lei expressa em Ex 21,23-24; Lv 24,19-20; Dt 19,21 e que estabelece uma retribuição proporcional ao mal que
alguém sofreu. No fundo, o objetivo dessa lei é proibir uma vingança desproporcional, muito comum no Antigo Oriente.
Esta forma do texto, que se acha também em Hebreus 10,30, aparece nos
targuns aramaicos e provavelmente era de uso corrente numa versão grega
não mais existente. O interesse da citação no presente contexto é que, desde
que a vingança e a recompensa são uma prerrogativa de Deus, devem ser
deixadas com Ele. Assim, na comunidade de Qumran a vingança particular era
proibida com base em que, segundo Naum 1,2, somente Deus “toma vingança
contra os seus adversários, e reserva indignação para os seus inimigos”17.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
1. AGOSTINHO, Santo, Bispo de Hipona. Explicação de algumas proposições da Carta aos
Romanos; Explicação da Carta aos Gálatas; Explicação Incoada da Carta aos Romanos
[tradução Agostinho Belmonte]. - São Paulo: Paulus, 2009. (Coleção Patrística – 25).
4. BORTOLINI, José. Como Ler a Carta aos Romanos. O Evangelho é a força de Deus que
se salva. São Paulo: Paulus, 2013.
5. BROWN, Raymond E.; FITZMYER, Joseph A.; MURPHY, Roland E. (Orgs.). Novo Comentário
Bíblico São Jerônimo: Novo Testamento e Artigos Sistemáticos. São Paulo: Paulus, 2018.
6. BRUCE, F.F.. Romanos: Introdução e Comentário. São Paulo: Vida Nova, 2011. (Série
Cultura Bíblica).
7. CRANFIELD, C.E.B.. Comentário de Romanos versículo por versículo. São Paulo: Vida
Nova, 2005.
8. HAHN, Scott; MITCH, Curtis: A Carta de São Paulo aos Romanos: Cadernos de estudo
bíblico. Campinas: Ecclesiae, 2016.
9. REYNIER, Chantal. Para ler a Carta aos Romanos. São Paulo: Loyola, 2015.
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RESUMO
O presente trabalho reflete sobre o papel das crenças religiosas na vida social pós-mo-
derna. A pesquisa tem objetivo de analisa as mudanças dos métodos de algumas deno-
minações religiosas para conduzir os fiéis ao bem estar tão desejado, beneficiando-os
de modo diferentes através dum processo de “encantamento” pelo qual os membros
passem a atuar de forma mais harmoniosa com sua religião e a sociedade. As ideias por
traz deste estudo contemplam de modo breve instituições cristãs, islâmica e hinduísta.
Demonstrando suas forças de adaptação e atuação num contexto social e plural do
cotidiano. Isto ocorre não por estas crenças serem “o ópio do povo”, mas por aponta-
rem o “norte” capaz de direcionar a vida moral, ética e espiritual dos seus membros a
laços condizentes com o transcendente propagados pelas mesmas, procurando assim
dar um sentido novo aos anteriormente “perdidos”, através da “influência” da fé em sua
vida social, algo por sinal ocorrido desde a antiguidade porém com características dife-
rentes. Na contemporaneidade a história mudou, a quantidade de pessoas que aderem
uma nova fé ou vivem sem acreditar nas religiões, vem aumentando com o passar do
tempo. A religião perdeu grande parte de suas forças para o poder inebriante do consu-
mismo. E tal consumo aparece de forma estranha porem vinculada a fé em determinados
ambientes/templos/igrejas desejosos por se “atualizarem” para demarcarem seu espaço
no mundo pós-moderno. A pesquisa ocorreu através duma revisão bibliográfica e análise
de documentários que revelam as novas “faces” das instituições religiosas no poderoso
e disputado mercado da fé.
Desde a antiguidade à “presença” de algo maior, mais forte ronda as mentes humanas
e os fazem crer num “Ser” o autor do mundo, céu, terra, mar... Ao longo dos milênios surgi-
ram estórias em diferentes povos tentando explicar a origem de tudo, vários pesquisadores
em diferentes épocas através das teorias filosóficas (cosmogonia) e científicas (cosmologia)
buscavam entender o que está oculto em torno do nascimento da vida e do universo. A re-
ligião (palavra derivada do latim relegere) significa para muitos a causa de conexão do
homem com o divino, do real ao sobrenatural, da criatura com o seu Criador. Para Bauman
(1998, p. 207) recorrendo ao conceito de Jeffrey C. Alexader a religião é a atividade que
nos permite a transcendência a partir do contato com o mundo numênico (além de nós
próprios) este é indubitavelmente um mundo de imaginação, projetado na sensibilidade do
espírito inconsciente. Segundo Greschat (2005, p. 17) a religião é um labirinto pelo qual
muitos podem se perder caso não tenham um fio para se orientar. Neste ponto de vista ela
pode ser a “bussola” apontando o “norte”, para o “místico” ajudando o ser humano na sua
compreensão do mundo ou dependendo do detentor temporário desse objeto ela pode ser
a causa da perdição, de atitudes dúbias contrarias a causa pela qual foi criada. Destarte
à necessidade das Ciências da Religião neste período contemporâneo para demostrar de
modo imparcial os conteúdos éticos e morais inseridos nas religiões, avaliando-as se são
corretamente entendidas ou não, porem não atestando a verdade ou falsidade das mesmas
(GRESCHAT, 2005, p. 34). Até porque a “verdade” não é um objeto tomado como posse
para si, e os cientistas da religião possuem uma convicção que os impendi de se compor-
tarem como mestres prepotentes ou incansáveis donos da verdade (GRESCHAT, 2005, p.
161). A Ciência da Religião desta forma com a sua estrutura multidisciplinar interage com
varias ciências auxiliares, realizando um inventário abrangente e comparativo de fatos reais
do mundo religioso e suas interações com outras áreas da vida, a sua importância perpas-
sa o campo acadêmico ou religioso se embrenhando na esfera pública e agindo de forma
impactante na sociedade (USARKIS, 2006, p. 113-127).
Lyotard (2002, p. xvi) ver no efeito do progresso a pós-modernidade surgir com a in-
credulidade presente sobre às metas-narrativas tendo agora cada um suas validades prag-
máticas sui generis. Este termo segundo Akbar Ahmed (1992, p. 21): “representa a era da
ambiguidade e ironia; ela avisam-nos de que devemos permanecer circunspectos quando
o utilizamos”. Porém num sentido religioso enquanto o modelo antigo de “experiência máxi-
ma costumava reconciliar o fiel com uma vida de miséria e privação, a versão pós-moderna
1 Cecília L. Mariz no artigo Instituições tradicionais e movimentos emergentes, contido no Compêndio da Ciências da Religião, destaca
no Brasil o trabalho de Silas Guerriero pela tipologia e abrangência neste assunto.
O Islã surgiu por volta do século VII E.C., na Península arábica, são monoteístas ado-
radores do Deus Único e Misericordioso. Para Mattew S. Gordon (COOGAN, 2007, p.93)
hoje a comunidade islâmica presente no mundo inteiro representa uma enorme variedade
de contextos nacionais, étnicos, socioeconômicos e linguísticos. Mas apesar de toda esta
multiplicidade o islamismo ao longo dos séculos demonstra sua força e resistência ao “lutar”
contra as tendências duvidosas da (pós) modernidade, defendendo sua tradição das “novas
ondas” que surgem constantemente “forçando” as adaptações culturais e religiosas num
contexto social. Segundo Ahmed (1992, p. 301) “A reação mulçumana a pós-modernidade
é a mesma que foi há um século atrás: retirada, acompanhada de expressões apaixonadas
de fé e de ira”. No entanto no século passado foi possível observar diferentes respostas
relacionadas às novas tecnologias e ideologias no mundo islâmico (COOGAN, 2007, p.120).
Apesar da resistência é evidente que aspectos consumistas fazem parte não de toda,
mas de parte da nação mulçumana. A tecnologia conseguiu alcançar e mostrar seu fascí-
nio de diferentes formas, Ahmed (1992, p. 302) cita o exemplo da força pós–moderna ao
chegar (porem de forma contida) em uma das zonas mais isoladas do mundo mulçumanos,
na faixa semideserta de Makran. Recentemente Nasser Fares, presidente da Sociedade
Beneficente Muçulmana, responsável por administrar a Mesquita Brasil deu uma entrevista
para o repórter João Luiz Rosa, ao qual informou que está em curso um projeto piloto cujo
objetivo é ampliar a difusão da fé islâmica, sendo necessária a criação de lugares capazes
de promover cursos, fornecer livros e ter espaço para orações. “Temos planos de criar re-
vistas, TV, etc., mas tudo a seu tempo”. Este seria o passo (o papel do islamismo) na busca
por “novos fiéis”, ou seja, na pratica de reversão2 como meio de aproximar o islamismo na
vida social pós-moderna ao utilizarem as novas tecnologias de informação e comunicação
ao seu favor, algo amplamente aproveitados por cristãos ao redor do mundo.
3 Para alguns filósofos hindus este foi o primeiro som a existir, nele está presente a essência do correto conhecimento.
CONCLUSÃO
As “novas” atitudes religiosas repercutem na vida social dos fieis a passos lentos, porém,
necessários a este tempo pós-moderno. Muitas dessas novas igrejas ou Novos Movimentos
Religiosos (bem como as clássicas) são restauradoras de relacionamentos familiares, suas
características particulares são o fator chave e atrativo para os membros, nestes ambientes
REFERÊNCIAS
1. AHMED, Akbar S. Pós-modernismo e islão. Tradução Maria José Figueiredo. Lisboa: Instituto
Piaget, 1992. (Crença e razão)
2. ARAGÃO, Gilbraz de Souza. O que é religião agora?! In MOTA, Lindomar R; SOUZA José
Carlos; OLIVEIRA, Pedro Ribeiro O. (Orgs.) Religião e cultura: memórias e perspectivas.
Belo Horizonte: PUC Minas, 2012.
5. CINTRA, Raimundo. O lótus e a cruz: hinduísmo e cristianismo. São Paulo: Paulinas, 1981.
6. COOGAN, Michael D (org.). Religiões. Tradução Graça Salles. São Paulo: Publifolha, 2007.
7. GAARDEN, Jostein; HELLERN, Victor; NOTAKER, Henry. O livro das religiões. Tradução
Isa Mara Lando. São Paulo: Companhia das Letras, 2000. p. 276-286
8. GRESCHAT, Hans Jürgen. O que é Ciências da Religião? Tradução Frank Usarski. São
Paulo: Paulinas, 2005. (Repensando a religião).
9. LAIN, Vanderlei (Org.). Mosaico religioso: faces do sagrado. Recife: Fundação Antônio dos
Santos Abranches, 2009.
10. LUIZ ROSA, João. A fé que se move: adesão de fiéis brasileiros ao islamismo é crescente. In
Jornal Valor. 06 fev. 2015. Disponível em: <http://www.ihu.unisinos.br/noticias/539727-a-fe-que-
-se-move-adesao-de-fieis-brasileiros-ao-islamismo-e-crescente>. Acesso em: 30 mai. 2015.
11. LYOTARD, Jean François. A condição pós-moderna. Tradução Ricardo Corrêa Barbosa. 7.
ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2002.
12. PAULO VI. Declaração Nostra Aetate. Roma. 28 out. 1965. Disponível em: <http://www.
vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vat-ii_decl_19651028_nostra-
-aetate_po.html >. Acesso em: 10 mai. 2015.
13. PASSOS, João Décio; USARSKI, Frank. (Orgs.) Compêndio de Ciências da Religião. São
Paulo: Paulinas, Paulus, 2013.
14. Revista histórias das religiões. São Paulo: Minuano, ano 1, v. 1, 2012.
16. SHATTUCK, Cybelle. Hinduísmo: a relação entre o indivíduo e a verdade fundamental do cos-
mos. In Revista IHU online. Ano IX, n. 312, Out. 2009 Disponível em: <http://www.ihuonline.
unisinos.br/index.php?option=com_content&view=article&id=2893&secao=312> Acesso em:
10 jun. 2015.
17. USARSKI, Frank. Constituintes da Ciência da Religião: cinco ensaios em prol de uma dis-
ciplina autônoma. São Paulo: Paulinas, 2006. (Repensando a religião).
Lubomir Zak
Pontifícia Universidade Lateranense
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RESUMO
1 Entre os estudos mais recentes sobre este tema deve-se assinalar os dez artigos de Vladislav A. Bačinin, filósofo, sociólogo e es-
tudioso do pensamento dostoievskiano, publicados com o título Tolstoyevsky-trip. Opyty sravniteľnoj teologii literatury [Ensaios de
teologia comparada da literatura] nos primeiros dez números (1-9) de 2013 da revista Neva de São Petersburgo. Quanto a questão
da recepção de Dostoiévski por parte da teologia esta foi tratada – limitando-nos a indicar somente as pesquisas mais recentes – nas
monografias de Maike Schult, Im Banne des Poeten: die theologische Dostoevskij-Rezeption und ihr Literaturverständnis (Göttingen:
Vandenhoeck & Ruprecht, 2012), e di Emanuele Rimoli, Libertà alla prova. Commento teologico alla Leggenda del Grande Inquisitore,
Roma: ed. Miscellanea Francescana, 2015.
2 Alain Besançon, Svoboda a pravda [Liberdade e verdade], Brno: CDK, 2013, p. 81 (o volume recolhe alguns artigos, da tradução
checa, publicados na revista Commentaire).
3 Romano Guardini, O mundo religioso de Dostoiévski, São Paulo: Editorial Verbo, s/d, p. VII.
4 Cfr. Konstantin A. Machlak, V.V. Fedorov, “Vzgljad na Dostoevskogo skvoz’ prizmu teologii krizisa” [O olhar sobre Dostoiévski na ótica
da teologia da crise], Načalo 1 (1994), pp. 93-99. Sobre a influência do escritor russo em Karl Barth remeto ao ensaio de Katya Tols-
taya, “Literary Mystification: Hermeneutical Questions of the Early Dialectical Theology”, Neue Zeitschrift fur Systematische Theologie
und Religionsphilosophie 54/3 (2012), pp. 312-331 e, sobretudo a monografia Idem, Kaleidoscope: F.M. Dostoevsky and the Early
Dialectical Theology, Leiden-Boston: Brill, 2013, pp. 177-344.
5 Cfr. Rowan Williams, Dostoevsky: Language, Faith and Fiction, London: Continuum, 2008, pp. 2-4.
6 Os tópicos principais evidenciados por estes autores referem-se de um lado à Lenda do Grande Inquisidor e ao famoso trecho do livro
o Idiota no qual Dostoiéski cunha a célebre frase: a beleza salvará o mundo. Conforme comenta Leonardo Boff: “Dostoiéski observa,
nos Irmãos Karamazov, que um rosto é belo quando você percebe que nele litigam Deus e o Diabo entorno do bem e do mal. Quando
percebe que o bem venceu, irrompe a beleza expressiva, suave, natural e irradiante. Qual beleza é maior? A do rosto frio de uma top-
-model ou a do rosto enrugado e cheio de irradiação da Irmã Dulce de Salvador, Bahia, ou a da Madre Tereza de Calcutá? A beleza,
característica transcendental, se revela como irradiação do ser. Nas duas Irmãs, a irradiação é manifesta, na top-model existe mas é
esmaecida” (https://leonardoboff.wordpress.com/2014/04/27/a-beleza-salvara-o-mundo-dostoiewski-nos-ensina-como). Ver também os
comentários de Clodovis Boff sobre a beleza no livro sobre o Sentido. Para um aprofundamento do tema seria oportuno estabelecer
ainda uma comparação entre a novela Todas las sangres do intelectual e escritor peruano José Maria Arguedas a quem Gustavo Gu-
tiérrez dedica o livro Teología de la liberación: Perspectivas e o texto do Grande Inquisidor de Dostoiéski. Na novela temos a presença
do sacerdote que aparece com a doutrina tradicional da onipotência divina e o sacristão que se contrapõe ao sacerdote questionando a
sua falta de sensibilidade frente as situações de opressão como aparece neste trecho: “¿Había Dios en el pecho de los que rompieron
el cuerpo del inocente maestro Bellido? ¿Dios está en el cuerpo de los ingenieros que están matando ‘La Esmeralda’? ¿De señor autori-
dade, que quitó a sus dueños ese maizal donde jugaba la Virgen con su Hijito, cada cosecha? No me hagas llorar, padrecito. Yo también
como muerto ando. Don Demetrio (el índio) tiene Dios, en la kurku (la jorobada que fue violada por don Bruno) está Dios, cantando; en
don Bruno pelea Dios con el demonio; para mí no hay consuelo, de nadie.” (José Maria Arguedas, Todas las sangres, Lima: Horizonte,
1987, p. 413). Segundo Gutiérrez, Arguedas ao descrever a dor cotidiana chamará de Deus libertador, aquele que o sacristão mestiço
no diálogo acima, declara ausente onde existe injustiça e opressão. A densidade humana que os seus personagens expressam “é uma
interpretação ineludível de todo o falar de Deus” (Gustavo Gutiérrez, Densidade humana, São Paulo: Loyola, 2008, p. 48).
7 Cfr. Rimoli, Libertà alla prova, em particular as páginas 33-154.
O primeiro aspecto consiste na escolha de se ocupar dos temas religiosos no seu intimo
nexo com as histórias pessoais ou coletivas dos protagonistas dos seus romances, colocando
em evidência a relação entre a verdade antropológica e aquela religiosa. No primeiro romance de
Dostoévski intitulado Gente pobre, narrativa elaborada na forma de uma troca epistolar, pode-se
encontrar muitos exemplos deste entrelaçamento da questão antropológica e religiosa, tal como
transparece em uma das cartas na qual o funcionário de uma repartição pública de Petersburgo
compartilha com a sua vizinha Várienka –uma pobre jovem orfã – os pequenos gestos cotidianos:
“E se é para falar tudo, pois saiba que fiquei com o coração repleto de alegria
quando vi quão bem falou de mim em sua carta e os elogios que dedicou aos
meus sentimentos. Não é por orgulho que digo isso, mas porque vejo como
gosta de mim, ao se preocupar tanto com o meu coração! (…) Passei por
tanta coisa hoje, e o peso que suportei na alma, numa única manhã, outro
não suportaria num ano inteiro. Eis como tudo aconteceu: sai de manhã bem
cedinho para apanhá-lo em casa e ainda poder chegar a tempo no serviço.
Chovia tanto hoje, era tanta lama! Eu, minha estrelinha, agasalhei-me bem
com o capote e fui andando, o tempo todo pensando: ‘Senhor, dizia comigo,
perdoe os meus pecados e fazei com que se cumpram os meus desejos’.
Passei perto da igreja de skoi, fiz o sinal da cruz e arrependi-me de todos os
meus pecados, mas me lembrei de que era indigno de querer me entender
com o Senhor Nosso Deus. Fiquei ensimesmado, sem a menor vontade de
olhar para nada; e fui andando assim, sem atentar no caminho” 9.
A teologia acadêmica do tempo, seja aquela russa-ortodoxa quanto aquela católica (am-
bas no estilo da manualística), não contemplava tal aproximação, excluindo completamente
8 Cfr. Guardini, Dostoiévski, pp. 125-135, aqui em particular p. 130. O teólogo italo-alemão chega a afirmar: “Não é esta, porém, a relação
que o Cristo do Grande Inquisidor tem para com o mundo. Não está ligado por qualquer relação de essência ao Pai Criador. Não é o
Verbo autêntico no qual o mundo foi criado e por cuja encarnação este deverá ser transformado e renascer. Este Cristo não possui
aquela relação sagrada de amor para com o mundo real que vai purificá-lo e renová-lo. Este Cristo é apenas movido pela compaixão
que o mundo lhe inspira. É um Cristo isolado, um Cristo com existência própria. Não é uma relação entre o mundo e o Pai. Não ama o
mundo como ele é e não vem verdadeiramente para o reconduzir. Não é o enviado nem o libertador. Tão-pouco é o medianeiro entre o
verdadeiro Pai do Céu e o verdadeiro homem. Não se encontra de facto numa posição definida”, op. cit., pp. 130-131. Para uma apre-
sentação sobre a interpretação feita por Guardini a respeito de Dostoiévski remetemos a obra de Rimoli, Libertà alla prova, pp. 63-76.
9 Cfr. F. Dostoiévski, Gente pobre, São Paulo: Editora 34, 2011, pp. 117-118.
11 Cfr. Johann B. Metz, “Theodizee-empfindliche Gottesrede”, in Idem (ed.), “Landschaft aus Schreien”. Zur Dramatik der Theodizeefra-
ge, Mainz: Matthias-Grünewald, 1995, pp. 81-102. Será necessário aqui observar as considerações criticas propostas por Villas Boas
a respeito da superação da teodiceia e a proposta de uma patodiceia. O núcleo dessa critica aparece no sentido de que “o Deus da
teodiceia não permite que a tragédia provoque um devir no ser humano, visto que tudo está no arco de sua vontade, de modo que o
pathos cristão dramático se resigna à vontade desse Deus. Assim, tais valores são dependentes de um imaginário apático fundado
na apatia divina, enclausurando o indivíduo na conformidade com a realidade em que se encontra” (Ales Villas Boas, Teologia em
diálogo com a literatura: origem e tarefa poética da teologia, São Paulo: Paulus, 2016, p. 89). Também será significativo o exame das
páginas de 97 a 160 em que o autor discute o pensamento poético como forma concreta de patodiceia. Estas discussões estão em
convergência com as provocações criticas a respeito da teodiceia realizada por Gustavo Gutierrez (2008) e Andrés Torres Queiruga
(2011) que deslocam a questão para a compaixão para com os pobres e dizem que a experiência da fome e das violências deve
modificar o modo de falar de Deus.
12 Dentre os poucos autores da época moderna que tiveram a ideia de repensar a teodiceia pode-se recordar Antonio Rosmini (1797-
1855) porque estava convencido a respeito da “possibilidade de superar o nível apofático-ético da teodiceia, para explicitar aquele
teológico-cristológico” que ele elabora “através da leitura da figura e do livro de Jó em chave fortemente cristocêntrica”, Giuseppe Lo-
rizio, “Teologia della rivelazione ed elementi di cristologia fondamentale”, in Idem, Teologia fondamentale, vol. 2: Fondamenta, Roma:
Città Nuova, 2005, p. 67.
17 Já numerosos estudiosos procuraram esclarecer que o ‘nacionalismo’ de Dostoiévski não está em conflito com tal visão, dado que,
para ele, o povo russo deveria ser o protagonista e o exemplo no meio de outros povos, do progressivo afirmar-se da ideia cristã a
respeito da fraternidade universale em Cristo.
É tipico de um romance, por outro lado, ter uma estrutura narrativa configurada dia-
leticamente, paradoxalmente. Ele não se limita a exprimir um único ponto de vista, mas
cria “permanentemente um cruzamento entre as diversas perspectivas, entre os diversos
tipos de juízo”. 20 Tudo isso explica porque o romance não se deixa traduzir em teorias ou
opiniões: na sua estrutura narrativa se imprimem, coexistem e vibram simultaneamente a
18 Partindo desta consideração, Bačinin afirma: “Enquanto isso uma profunda e criativa identificação com um texto, uma identificação
com a escuta criativa podem aparecer infinitamente mais importantes do que os princípios metodológicos do ‘apriori’. Sobretudo se
pensamos na lógica que a reflexiva identificação com um texto oferece como possibilidade a um estudioso de talento de chegar àque-
les níveis profundos nos quais já não se consegue mais manter a distinção entre o secular e o religioso, onde, como diria Dostoiévski,
as margens se cruzam e todas as contradições coexistem juntas. Se um tal estudioso não procura apresentar o mal como um bem, a
mentira como uma verdade, os resultados das suas pesquisas passarão a ser de interesse não só para os ateus, mas também para
os crentes. Isto significa, portanto, que não è necessário sustentar a ideia de um insuperável abismo entre as ciências seculares das
letras e a teologia com a literatura”, Vladislav A. Bačinin, Literatura i teologija [Literatura e teologia], Proza.ru, 2014, https://www.proza.
ru/2014/10/24/1999.
19 Gilberto Safra, A po-ética na clínica contemporânea, 3 edição, Aparecida/SP: Idéias e Letras, 2004, p. 34.
20 Elmar Salman, Teologia è un romanzo. Un approccio dialettico a questioni cruciali, Milano: Paoline, 2000, p. 22.
21 Ivi, p. 23.
22 Ivi, p. 24.
23 Kasatkina, Dostoevskij, p. 48.
24 Cfr. Berdjaev, Tipy, p. 80.
25 Kasatkina, Dostoevskij, p. 49.
Segundo Florenskij, os ícones, mesmo sendo representações dos vários temas e das
várias verdades da fé cristã, são antes de tudo um instrumento privilegiado da custódia e
da transmissão deste universal olhar místico sobre o mundo, sobre a vida interpretada à luz
da verdade trinitária do Deus revelado, por meio do Espírito Santo, em Cristo. Portanto, os
ícones contém uma espécie de ‘sabedoria universal’ em torno de realidades como comu-
nhão, unidade e diversidade:
“A realidade nos é dada somente vivendo, no contato vivo com o ser. A vida é
uma contínua mudança da auto-identidade abstrata, um contínuo morrer do eu
individual para crescer em comunidade [sobornosť]. Somente vivendo é que
conseguimos chegar à comunhão com nós mesmos no espaço e no tempo
como um organismo unitário; desde os singulares elementos que se excluem
mutuamente segundo a lei da identidade, partículas, células, estados de ânimo
nós nos reunimos em unidade. É desse modo que nos juntamos para tornar-
mo-nos família, estirpe, povo, etc. Nos unimos tornando-nos humanidade e,
desse modo, compreendemos na unidade do ser humano todo o mundo. Mas
26 Pavel A. Florenskij, La prospettiva rovesciata e altri scritti, Roma: Gangemi, 1990, p. 76. Idem, A perspectiva inversa, São Paulo:
Editora 34, 2012.
27 Cfr. Pavel A. Florenskij, Iconostasi. Saggio sull’icona, Milano: Medusa, 2008, p. 119; Idem, La colonna e il fondamento della Verità,
Cinisello Balsamo: San Paolo, 2010, p. 341; Idem, La concezione cristiana del mondo, Bologna: Pendragon, 2011, p. 189.
28 Pavel A. Florenskij, Il simbolo e la forma. Scritti di filosofia della scienza, Torino: Bollati Boringhieri, 2007, p. 269; Florenskij, Iconostasi,
pp. 108-112, 126-137.
REFERÊNCIAS
1. ARGUEDAS, José Maria. Todas las sangres. Lima: Horizonte, 1987.
4. BOFF, Clodovis. O livro do sentido: crise e busca de sentido hoje. Volume I: parte crítico-
-analítica. São Paulo: Paulus, 2014.
5. BUGAKOV, Sergej. Lo spirituale della cultura. Traduzione di Maria Campatelli. Roma: Lipa,
2006.
9. DOSTOIÉVSKI, Fiódor. Gente pobre. Tradução do russo de Fátima Bianchi. 1. edição. São
Paulo: Editora 34, 2011.
10. FLORENSKIJ, Pavel A. Il valore magico della parola. Milano: Medusa, 2001.
11. FLORENSKIJ, Pavel A. Il simbolo e la forma. Scritti di filosofia della scienza. Torino: Bollati
Boringhieri, 2007.
29 Pavel A. Florenskij, Il valore magico della parola, Milano: Medusa, 2001, p. 97.
13. FLORENSKIJ, Pavel A. La colonna e il fondamento della Verità. Cinisello Balsamo: San
Paolo, 2010.
14. FLORENSKIJ, Pavel A. La concezione cristiana del mondo. Bologna: Pendragon, 2011.
17. GUARDINI, Romano. O mundo religioso de Dostoiévski. São Paulo: Editorial Verbo, s/d.
18. LORIZIO, Giuseppe. Teologia della rivelazione ed elementi di cristologia fondamentale. In:
Teologia fondamentale, vol. 2: Fondamenta. Roma: Città Nuova, 2005.
19. LOSSKY, Vladimir. Teologia mística de la Iglesia de oriente. Barcelona: Herder, 1982.
20. METZ, Johann B. Theodizee-empfindliche Gottesrede. In: “Landschaft aus Schreien”. Zur
Dramatik der Theodizeefrage. Mainz: Matthias-Grünewald, 1995.
21. RIMOLI, Emanuele. Libertà alla prova. Commento teologico alla Leggenda del Grande
Inquisitore. Roma: ed. Miscellanea Francescana, 2015.
24. SCHULT, Maike. Im Banne des Poeten: die theologische Dostoevskij-Rezeption und ihr
Literaturverständnis. Göttingen: Vandenhoeck & Ruprecht, 2012.
25. SOLOV’EV, Vladimir S. Sulla belleza nella natura, nell’arte, nell’uomo. Traduzione di Adriano
Dell’Asta. Milano: Edilibri, 2006.
26. TOLSTAYA, Katya. “Literary Mystification: Hermeneutical Questions of the Early Dialectical
Theology”, Neue Zeitschrift fur Systematische Theologie und Religionsphilosophie 54/3 (2012),
pp. 312-331.
27. TOLSTAYA, Katya. Kaleidoscope: F.M. Dostoevsky and the Early Dialectical Theology.
Leiden-Boston: Brill, 2013.
29. VILLAS BOAS, Alex. Teologia em diálogo com a literatura: origem e tarefa poética da
teologia. São Paulo: Paulus, 2016.
30. ŽAK, Lubomir. Trindade e imagem. Aspectos de teologia mística de Vladimir Losskij. Prefá-
cio de Márcio.L. Fernandes, Posfácio di Clodovis M. Boff. São Paulo: Editora Ave-Maria, 2012.
31. WILLIAMS, Rowan. Dostoevsky: Language, Faith and Fiction. London: Continuum, 2008.
10.37885/201001672
RESUMO
No século XIX, mais precisamente próximo da passagem para o século XX, é impor-
tante de se observar, a visão científica de alguns europeus de que determinadas raças eram
mais evoluídas que outras. Segundo Elisa Rodrigues, “neste período, ocorreu a colonização
europeia da África e da Ásia, de modo que a ciência e a religião visavam legitimar a escra-
vidão e a exploração dos povos africanos primitivos”1.
Logo, no Brasil, o pensamento religioso de seres evoluídos já existia desde o desco-
brimento, trazido por missionários europeus, que justificavam a escravidão dos índios com
o argumento de que eles eram descendentes de Cam, filho amaldiçoado de Noé. De acordo
com John Hemming, “os portugueses, por sua vez, continuaram a justificativa da escravi-
dão, igualmente considerando os negros também como descendentes de Cam, estabele-
cendo a cor como o sinal da maldição e justificativa para a escravidão”2.
Segundo Flavia Silva Santos, durante a colonização brasileira, “o processo educacional
era de responsabilidade dos padres jesuítas, representantes do clero na colônia”3. É inegá-
vel, segunda a autora, que esta instituição tinha pensamentos escravistas, o que a levava
a educar segundo os interesses da época, sob a camuflagem de um discurso salvífico.
Discurso este que pode ser visto na argúcia e maestria de Padre Antonio Vieira, no século
XVII. Segundo Luiz Felipe de Alencastro, o jesuíta forjaria uma das mais brilhantes justifi-
cativas ideológicas de tráfico negreiro, garantindo a cumplicidade entre a cruz e a espada.
Vasconcelos aflora para a defesa do que mais tarde seria entendido como
pecado filosófico, ao afirmar que os adultérios, homicídios, furtos e semelhan-
tes ações cometidas por aqueles que relegam a existência de Deus não são
1 RODRIGUES, Elisa. Raça e controle social no pensamento de Nina Rodrigues. Múltiplas Leituras, v. 2, n. 2, p. 81-107, 2009. p. 84.
2 HEMMING, John. Ouro Vermelho: A conquista dos índios da Amazônia. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2007, p.
594.
3 SANTOS, 2017, p. 03.
4 ALENCASTRO, Luiz Felipe de. O trata dos Viventes: A formação do Brasil no Atlântico Sul. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.
p. 480.
5 SCHWARTZ, Stuart B. Cada um na sua lei: tolerância religiosa e salvação no mundo atlântico ibérico. São Paulo: Companhia das
Letras, 2009, p. 68.
6 SANTOS, Israel Silva dos. Catolicismo: Identidade e significado no Brasil do Século XIX. São Paulo: Anais XXIV Simpósio nacional
de História – ANPUH, 2011, p. 04.
7 SANTOS, 2011, p. 06.
8 CARMO, Sonia Irene Silva do; COUTO, Eliane Frossard Bittencourt. História: passado e presente. 2. ed. rev. e atual. São Paulo:
Atual, 1994. p. 110.
9 ALVES, Kleberson da Silva. A escrava Isaura e a inviabilidade econômica da escravidão considerações sobre o antiescravismo de
Bernardo Guimarães. Soletras, São Gonçalo, ano IX, n. 17, p. 15- 24, 2009. p.15.
10 RODRIGUES, 2009, p. 103.
O século XIX no Brasil ficou marcado pelo governo do imperador Dom Pedro II, que,
após a abdicação de seu pai, Dom Pedro I, ao trono brasileiro em 07 de abril de 1931, herdou
o país com apenas cinco anos de idade. Segundo Lilia Moritz Schwarcz, o imperador Dom
Pedro II foi um “jovem rei de poucas palavras, caráter pouco acessível, cauteloso e estudioso.
Que ao completar dezoito anos de idade, seguindo à moda das cortes europeias, casou”12.
A noiva foi encontrada, segundo a moda das cortes europeias, sem a partici-
pação de Dom Pedro II, através de uma procuração. Em 23 de julho de 1843,
chegava a escritura e um pequeno retrato de Teresa Maria Cristina, princesa
do reino de Duas Sicílias.13
De seu casamento com Tereza Maria Cristina em 1843, Dom Pedro II teve três fi-
lhos. O primeiro filho foi o príncipe herdeiro Dom Afonso, que faleceu com apenas um ano
de idade em 1945. Logo depois, em 1846, nasceu a princesa Izabel e, em 1847, a princesa
Leopoldina. Ainda sobre as particularidades e características do imperador Dom Pedro II,
de acordo com Rodrigo Dantas de Medeiros e Carlos Henrique Gileno, o imperador.
Era uma figura singular, que realmente não era ligado a religiosidade da igreja,
tendo uma aproximação maior com o liberalismo da maçonaria, adorava a cul-
tura, contudo, não podemos considerar o imperador um ateu, porém católico
por tradição e ancestralidade familiar.14
16 GOMES, Evaldo Xavier; CYSNEIROS, Hugo Sarubbi. Acordo entre a República Federativa do Brasil e a Santa Sé relativo ao Estatuto
Jurídico da Igreja Católica no Brasil. Brasília: Edições CNBB, 2014, p. 38.
17 GOMES; CYSNEIROS, 2014, p. 38.
18 SILVA, Ana Rosa Cloclet; CARVALHO, Thaís da Rocha. Ultramontanismo e protestantismo no período regencial: uma análise da
crítica panfletária dos padres Perereca e Tilbury à metodista no Brasil. Guarulhos: Almanak, 2017, p. 23
19 MADEIROS; GILENO, 2018, p. 89.
20 MADEIROS; GILENO, 2018, p. 89.
21 MADEIROS; GILENO, 2018, p. 89.
Após a integração do Brasil, a cultura ocidental pelo império português, todo o desen-
volvimento de colonização foi frisado pela transplantação de crenças, diluídas na essência
de indivíduos que chegavam. Sendo assim, Waldemar Valente, destaca que por meio do
“Cristianismo, se insere no país uma regularidade de valores peculiares de específica visão
de mundo firmada na centralização conveniente, na rígida hierarquia, na coerção do controle
rigoroso, na punição dos pensamentos e das condutas menos ortodoxos”25.
Para Rodrigues, “a sociedade brasileira é fruto da mestiçagem e do encontro de di-
versas culturas e fenotípicos de seus integrantes, é através dessas diferenças culturais
que encontramos as diferenças religiosas de nosso país”26. Por vários séculos, durante o
período colonial, a cultura e a religião negra que chegavam ao Brasil trouxeram diferentes
comportamentos e se transformaram.
Segundo Ênio José da Costa Brito, em relação às festas religiosas “os portugueses
adotavam um comportamento indiferente na relação com os negros e indígenas”27. Deste
modo, Brito também descreve que “na colônia brasileira, os pobres festejavam a seu modo,
sendo assim, os negros africanos e crioulos acabavam por executar suas próprias músicas
e danças ritualísticas nos festejos”28.
De acordo com Yvie Fevero “a exteriorização religiosa está atuante em quase todas
as culturas e pode ser determinada como um conjunto das condutas e posturas pelas quais
o homem se liga ou indica sua dependência ao divino”29. Desta forma, pode-se inferir que a
religião consiste, portanto de uma rede de símbolos, conjunto de cultos e culturas, por meio
de ritos, mitos e simbologias, que combinando preencher o vazio da ausência dos objetos
de desejo, ressignificando o mundo atual em um mundo ideal possível, isto é, compreender
o mundo com um sentido humano.
Sendo assim, podemos compreender que os fatos ocorridos na colonização do Brasil possibi-
litaram a formação de uma sociedade brasileira própria. No qual, pode ser observada em manifesta-
ções, comportamentos e crenças, que podem ter sido transmitidas de um sujeito para outro indivíduo.
Segundo Reginaldo Prandi, “a Igreja Católica tentava influenciar os escravos a ade-
rirem ao cristianismo, impedindo que eles propagassem e desempenhassem suas obri-
gações religiosas nas quais acreditavam”30. Porém, é correto salientar que os escravos
25 VALENTE, Waldemar. Sincretismo religioso Afro-Brasileiro.São Paulo: Editora Nacional, 1955. p. 48.
26 RODRIGUES, 2009, p. 89.
27 BRITO, Ênio José da Costa. Leituras afro-brasileiras: ressignificações afrodiásporicas diante da condição escravista no Brasil. Jun-
diaí: Paco, 2018. p. 197.
28 BRITO, 2018, p. 197.
29 FAVERO, YVIE. A religião e as religiões africanas no Brasil. São Paulo: Palmares, 2010. p. 01.
30 PRANDI, Reginaldo. Religião e sincretismo em Jorge Amado. In: SHUWARCZ, Lilia Mortiz; GOLDSTEIN, Ilana Seltzer. O universo de
Jorge Amado. São Paulo, 2009. p. 50.
Sendo assim, é correto compreendermos que a religião africana praticada no Brasil foi
adquirindo peculiaridades próprias. De acordo com Antonio Olinto “os herdeiros dos africa-
nos, arquitetaram métodos para as crenças de matriz africana, produzindo visíveis misturas
religiosas entre os deuses da África e os santos católicos”40.
É correto compreendermos, portanto que mesmo os escravos participando das festas
católicas, os mesmo, não desistiram de sua fé nos orixás, voduns e outras divindades oriun-
das de suas terras na áfrica. Com isso, destaca-se que o costume simultâneo de práticas de
diversas religiões resultou no surgimento de outras, que levavam características africanas,
cristãs e indígenas.
Segundo Sonia Aparecida Siqueira, para entender a religiosidade afro-brasileira.
Desta forma, Prandi destaca que “as religiões afro-brasileiras surgiram depois do en-
contro da cultura de vários povos africanos trazidos entre os séculos XVI e XIX”42. Destaca-
se assim a influência das religiões vindas do continente europeu, como o catolicismo que
43 O vocábulo criptojudeu se destina aos judeus que executavam sua fé e suas particularidades em discrição, por temor de encalço
religioso, ao mesmo tempo em que abertamente atuavam em outra religião.
44 CASTRO, Hebe Maria Mattos de. Laços de família e direitos no final da escravidão. In. História da vida privada no Brasil. Coord.
Fernando Navais; Luiz Felipe de Alencastro – Cia das Letras: São Paulo, 2001, p. 12.
Aquém dos santos e acima dos vivos ficavam, na hierarquia patriarcal, os mor-
tos, governando e vigiando o mais possível a vida dos filhos, netos, bisnetos.
Observa-se desta forma que os cultos aos santos católicos foram umas das maiores
transformações do catolicismo, como exemplo, segundo Valente “temos Nossa Senhora
dos Navegantes e Nossa Senhora da Piedade, que, para os negros, tornou-se a entidade
Iemanjá, usada tanto na igreja como nas religiões afro-brasileiras, porém com rituais di-
ferentes”49. Destaca-se também como exemplo da transformação do símbolo católico, de
acordo com Ribeiro “a lavagem das escadas da Igreja Nosso Senhor do Bonfim, na Bahia,
empreendidas pelas mães de santos e filhas de santos, demonstrando, assim, outra relação
com a Igreja Católica”50.
Segundo Reginaldo Prandi, “com a transformação dos santos católicos, os negros pas-
saram a cultuar seus deuses e os invocarem por meio dos santos transformados”51. Porém,
deve-se compreender que, em cada lugar, a correlação entre santos católicos e os deuses
africanos era distinto. Ainda, de acordo com Prandi, “a relação com um ou outro santo depen-
dia da região do país, diversificando de acordo com a estima do santo local”52. Destacando-se
assim como exemplo de transformação do catolicismo segundo Sérgio Figueiredo Ferretti
“as peregrinações que os católicos passaram a fazer após conhecerem os costumes negros,
além das danças nos festivais dos santos, a música dançante e as rezas nas casas”53.
CONCLUSÃO
48 FREYRE, Gilberto. Casa Grande e Senzala. 51. Ed. São Paulo: Globo, 2019. p. 40.
49 VALENTE, 1955, p. 155.
50 RIBEIRO, 2012, p. 20.
51 PRANDI, Reginaldo. Referências sociais das religiões afro-brasileiras. Rio de Janeiro: Pallas, 1999. p. 58.
52 PRANDI, 2000, p. 75
53 FERRETTI, 2007, p. 111.
REFERÊNCIAS
1. ALENCASTRO, Luiz Felipe de. O trata dos Viventes: A formação do Brasil no Atlântico Sul.
São Paulo: Companhia das Letras, 2000. p. 480.
3. BASTIDE, Roger. As religiões africanas no Brasil. São Paulo: Pioneira, 1989, p. 31.
6. CARMO, Sonia Irene Silva do; COUTO, Eliane Frossard Bittencourt. História: passado e pre-
sente. 2. ed. rev. e atual. São Paulo: Atual, 1994. p. 110.
8. CASTRO, Hebe Maria Mattos de. Laços de família e direitos no final da escravidão. In. História
da vida privada no Brasil. Coord. Fernando Navais; Luiz Felipe de Alencastro – Cia das Letras:
São Paulo, 2001, p. 12.
9. FAVERO, YVIE. A religião e as religiões africanas no Brasil. São Paulo: Palmares, 2010. p. 01.
10. FREYRE, Gilberto. Casa Grande e Senzala. 51. Ed. São Paulo: Globo, 2019. p. 40.
11. GOMES, Evaldo Xavier; CYSNEIROS, Hugo Sarubbi. Acordo entre a República Federativa do
Brasil e a Santa Sé relativo ao Estatuto Jurídico da Igreja Católica no Brasil. Brasília: Edições
CNBB, 2014, p. 38.
12. HEMMING, John. Ouro Vermelho: A conquista dos índios da Amazônia. São Paulo: Editora
da Universidade de São Paulo, 2007, p. 594.
13. OLINTO, Atonio. Brasileiros na África. 2. ed. São Paulo: GRD, 1980. p. 238.
15. PRANDI, Reginaldo. Religião e sincretismo em Jorge Amado. In: SHUWARCZ, Lilia Mortiz;
GOLDSTEIN, Ilana Seltzer. O universo de Jorge Amado. São Paulo, 2009. p. 50.
16. RIBEIRO, Josenilda Oliveira. Sincretismo religioso no Brasil: uma análise histórica das trans-
formações no catolicismo, evangelismo, candomblé e espiritualismo. 2012. 28 f. Trabalho de
conclusão de curso – Curso de Graduação em Serviço Social, Centro de Ciencias Sociais,
Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2012. p. 18.
17. RODRIGUES, Elisa. Raça e controle social no pensamento de Nina Rodrigues. Múltiplas Lei-
turas, v. 2, n. 2, p. 81-107, 2009. p. 84.
18. SANTOS, Israel Silva dos. Catolicismo: Identidade e significado no Brasil do Século XIX. São
Paulo: Anais XXIV Simpósio nacional de História – ANPUH, 2011, p. 04.
19. SCHWARTZ, Stuart B. Cada um na sua lei: tolerância religiosa e salvação no mundo atlântico
ibérico. São Paulo: Companhia das Letras, 2009, p. 68.
20. SILVA, Ana Rosa Cloclet; CARVALHO, Thaís da Rocha. Ultramontanismo e protestantismo no
período regencial: uma análise da crítica panfletária dos padres Perereca e Tilbury à metodista
no Brasil. Guarulhos: Almanak, 2017, p. 23
22. VALENTE, Waldemar. Sincretismo religioso Afro-Brasileiro.São Paulo: Editora Nacional, 1955.
p. 48.
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RESUMO
Esse trabalho numa mirada teopoética foi desenvolvido em torno das narrativas e lin-
guagens sacro-religiosas. Nessa perspectiva, busca-se olhar o texto bíblico de Mt 19,
16-30 pela ótica da Teoria da Literatura. À luz dessa narrativa, também de pensadores
pós-modernos, questionou-se sobre a possibilidade ou não do “segue-me” de Jesus Cristo
ser experimentado atualmente como o fora pelos primeiros cristãos. Levantou-se uma
hipótese positiva, que foi comprovada, a partir do pressuposto de que tal experimentação
é possível, desde que se escute e se obedeça a Palavra de Deus e se faça a travessia de
uma catequese tradicionalista antropológica a uma catequese pós-moderna querigmática.
Até este ponto os articulistas trabalharam para apresentar a Palavra de Deus como
meio para a experiência do chamado ao seguimento feito por Jesus aos seus seguidores
de todos os tempos. Com isso pretendíamos identificar o que é convergente na experiência
do “segue-me” feita pelos primeiros cristãos e os discípulos de Jesus em tempos de mo-
dernidade líquida. É preciso que reconheçamos, assim como o fez o grande poeta Carlos
Drummond de Andrade: “Há uma pedra no meio do caminho”. A pedra da individualização
levou o homem a recusa daquilo que é comum, que é comunitário ou a “flexibilização” do
comunitário. Denuncia Bauman: “A individualização chegou para ficar; toda elaboração sobre
os meios de enfrentar seu impacto sobre o modo como levamos nossas vidas deve partir
do reconhecimento desse fato.” (BAUMAN, 2011, p.47). A experiência cristã, no hoje, não é
impossível, mas deve levar em consideração o que é próprio do nosso contexto. O processo
de individualização vem sendo construído na sociedade desde o despertar da modernidade
e em suas diferentes fases. Em cada fase foi-se afetando uma face da vida social. Por fim
Nessa fase do presente artigo discutiremos como a fase líquida da modernidade atinge
a catequese local onde, teoricamente, o cristão deveria ter um contato mais íntimo com a
Palavra e assim ser despertado para a sua missão no mundo. Este contato que se torna o
“start”, como já destacamos, para a verdadeira experiência cristã. Experiência que, quando
autêntica, conduz a uma resposta positiva ao chamamento de Cristo.
Muitos catequetas e teólogos se colocam a produzir uma intensa gama de material
científico sobre o tema. Neste nosso trabalho seguiremos a trilha da Dra. Solange Maria
do Carmo. Em sua tese de doutorado a presente pesquisadora se coloca a refletir sobre a
grande crise da catequese na atual fase histórica.
A autora inicia sua fala refletindo sobre a origem da crise catequética. Ela identifica a
citada crise dentro de uma crise maior: a crise do cristianismo. Esta é real e corrói a instituição
eclesial. Dissertar sobre a crise da catequese significa admitir que ela é filha de uma crise
muito mais profunda. Assim a crise cristã “se estende também para o campo catequético.”
(CARMO, 2012, p. 25)
A pesquisadora reconhece que nem tudo está perdido, que na escuridão da crise há
luzes tímidas de esperança, sinais da graça de Deus agindo, no entanto, estas luzes “não
conseguem ofuscar a dolorosa realidade de um sistema em crise” (CARMO, 2012, p.25).
Diante desta realidade, a autora reconhece que é preciso dedicação para se levar adiante
o evangelho. Diz ela que esta realidade “nos impulsiona a buscar sempre o melhor de nós,
como colaboradores na obra divina da evangelização.” (CARMO, 2012, p.25). Os articulistas
CONCLUSÃO
A experiência cristã é possível hoje como foi antes. Estamos em um contexto que exalta
o egoísmo, mas este não precisa ser o diapasão com o qual afinamos nossa vida. O cris-
tão-cidadão deixa-se tocar pela Palavra num processo de interação com a mesma. Essa
interação é possível porque o texto bíblico sendo inspirado pelo Espírito Santo e interpretado
pela Igreja ganha sentido na vida da pessoa.
O literário e o teológico caminham juntos nesse processo. Uma vez que a pessoa
passa a orientar a sua vida pela Palavra de Deus, ela rompe com o individualismo e inicia
a sua volta a um novo jeito de viver. A experiência do “segue-me” se concretiza. A realida-
de se transforma.
Neste processo a catequese tem uma especial contribuição a apresentar. Ela é o es-
paço da comunidade cristã onde as novas gerações são formadas. No entanto, este espaço
hoje não atende as necessidades dos homens modernos. A pós-modernidade atingiu em
REFERÊNCIAS
1. BAUMAN, Zygmunt. Modernidade Líquida.1.ed. Rio de Jeneiro: Jorge Zahar Editor. 2001.
280p.
2. BAUMAN, Zygmunt. Comunidade.1.ed. Rio de Jeneiro: Jorge Zahar Editor. 2003. 144p.
3. CARMO, Solange Maria do. Catequese num mundo pós-cristão: estudo do terceiro para-
digma catequético formulado por Denis Villepelet. 2013. 315f. Tese (Doutorado em teologia)
– Faculdade Jesuíta de Filosofia e teologia/Departamento de teologia.
4. EAGLETON, Terry. Teoria da Literatura: uma introdução. 6. ed. São Paulo: Martins Fontes.
2006. 387p.
5. EVANGELHO SEGUNDO SÃO MATEUS. In: Bíblia Sagrada: edição pastoral. São Paulo:
Paulus, 2005.
6. EVANGELHO SEGUNDO SÃO LUCAS. In: Bíblia Sagrada: edição pastoral. São Paulo: Pau-
lus, 2005.
7. FERREIRA, João Cesário Leonel Ferreira. A Bíblia como Literatura - Lendo as narrativas
bíblicas. Revista eletrônica Correlatio. n. 13, jun. 2008. Disponível em ‹https://www.metodista.
br/revistas/revistasims/index.php/COR/article/viewFile/1650/16 46.› Acesso em 10 abr. 2016.
8. FILHO, Domício Proença. A linguagem literária. São Paulo: Ática, 1986. Série Princípios (p.
5-10 e 36-44)
9. GÊNESIS. In: Bíblia Sagrada: edição pastoral. São Paulo: Paulus, 2005.
10. GOPEGUI, Juan A. Ruiz de. Catequese e comunidade. Revista eletrônica. Perspectiva te-
ológica. v. 37. n. 103., 2005. Disponível em: ‹http://www. faje.edu.br/periodicos2/index.php/
perspectiva/article/view/376/712› Acesso em 18 abr. 2016.
11. IGREJA CATÓLICA. Papa (2005-2013 Bento XVI). Carta apostólica sob forma de motu
proprio Porta fidei do sumo pontífice Bento XVI com a qual se proclama o ano da fé.
Disponível em ‹http://w2.vatican.va/content/ benedict- xvi/pt/motu_proprio/documents/hf_ben-
-xvi_motu-pro- prio_20111011_porta-fidei.html› Acesso em 20 set. 2015.
13. IGREJA CATÓLICA. Papa (1978-2005: João Paulo II). Carta encíclica Ecclesia de eucha-
ristia do sumo pontífice João Paulo II aos bispos,aos presbíteros e diáconos, às pes-
soas consagradas e a todos os fiéis leigos sobre a eucaristia na relação com a Igreja.
Disponível em ‹http://www.vatican.va/holy_father/special_features/encyclicals/documents/
hf_jpii_enc _20030417_ecclesia_eucharistia_po.html› Acesso em 15 set. 2015.
14. IGREJA CATÓLICA. Papa (1963-1978: Paulo VI). Constituição conciliar sacrosanc- tum
concilium sobre a sagrada liturgia. Disponível em: ‹http://www. vatican.va/archive/hist_cou-
ncils/ii_vatican_council/documents/vatii_const_19631204_s acrosanctum-concilium_po.html›
Acesso em 19 de mar. 2016.
15. IGREJA CATÓLICA. Papa (1963-1978: Paulo VI) Constituição dogmática. Dei verbum sobre
a revelação divina. Disponível em: ‹http://www.vati- can.va/archive/hist_councils/ii_vatican_
council/documents/vatii_ const_19651118_dei- verbum_po.html.› Acesso em 19 de mar. 2016.
16. IGREJA CATÓLICA. Papa (1963-1978: Paulo VI) Constituição dogmática Lumem gentium
sobre a Igreja. Disponível em: ‹http://www.vatican.va/archive/ hist_councils/ii_vatican_council/
documents/vatii_const_19641121_lumengentium_po.h tml› Acesso em 19 de mar. 2016.
17. IGREJA CATÓLICA. Papa (1963-1978: Paulo VI) Constituição pastoral Gaudium et spes
sobre a igreja no mundo atual. Disponível em:‹http://www. vatican.va/archive/hist_councils/
ii_vatican_council/documents/vatii_const_19651207_g audium-et-spes_po.html.› Acesso em
19 de mar. 2016.
19. KOCH,I.V.; ELIAS,V.M. Escrita e interação. In: . Ler e escrever: estratégias de produção textual
2. ed. São Paulo: Contexto, 2015. Cap.2. p. 31-52.
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RESUMO
Compreender o relacionamento de Deus criador com a sua criação é um desafio que nos
proporciona uma aproximação com Ele. Esta pesquisa propõe compreender a ordem
dada por Deus em Gênesis 1.26-31 e 2.5-8. Nesta perspectiva, como a comunidade
cristã assume os princípios ambientais em suas pregações? Faz-se necessário destacar
pontos de analogia entre meio ambiente e os textos bíblicos de Gênesis para a homilia
cristã; analisar os princípios ambientais e sua relação com Gênesis 1.26-31 e 2.5-8 para
compreensão dos valores inerentes ao relacionamento criador e criatura; conhecer os
princípios ambientais que são destacados nos relatos de Gênesis e sua importância na
comunidade cristã. Esta investigação apresenta como organização: uma introdução;
dois capítulos que contêm a fundamentação teórica; considerações finais e bibliogra-
fia. No primeiro capítulo, descrevemos sobre ecologia destacando conceitos, princípios
ambientais conforme a Conferência Rio-92. No segundo capítulo, discorremos sobre
Gênesis 1.26-31 e 2.5-8, chamado de mandato cultural, sua definição, enfocando também
as relações de Deus com a sua criação. A pesquisa termina com as considerações finais
que fazem a síntese do trabalho. Os textos mostraram que o pecado traz o afastamento
do homem da presença de Deus e consequentemente a depredação e devastação do
meio ambiente, contrariando a ordem dada pelo Criador de ter o domínio sobre a criação,
de forma responsável voltando os olhos para o Criador.
1 ROSA, Antônio Carlos Machado da. Problemas e potencialidades ambientais globais, regionais, estaduais e locais. In: Educação
Ambiental: curso básico a distancia. Brasília: MMA, 2001. pp.209-235.
2 MÜLLER, Karl, Teologia da Missão. Ed. Vozes, 1995. p.111
9 DIAS, G.F. Atividades Interdisciplinares de Educação Ambiental. São Paulo: Global, 1994
10 A Carta da Terra é um documento que foi trabalhado por mais de 46 países e cerca de 100 mil pessoas. Depois de finalizado em mar-
ço de 2000 aguarda o endosso da Organização das Nações Unidas. Pretende-se que após aprovada pela ONU, ela tenha o mesmo
valor que a Carta dos Direitos Humanos. http://www.culturabrasil.org/cartadaterra.htm
A Carta da Terra é um documento que foi trabalhado por mais de 46 países e cerca de
100 mil pessoas. Depois de finalizado em março de 2000 aguarda o endosso da Organização
das Nações Unidas. Pretende-se que após aprovada pela ONU, ela tenha o mesmo valor
que a Carta dos Direitos Humanos. http://www.culturabrasil.org/cartadaterra.htm
A natureza vem sendo massacrada, de forma contínua e infalível, posto que, as pa-
lavras dos governos que estão à frente dos destinos deste planeta, não condizem com a
realidade dos fatos. Falam a linguagem dos ambientalistas, com o desencantado desenvol-
vimento sustentável, mas na prática a realidade é outra. Caso mais recente é o dos Estados
Unidos da América que levou o presidente, a recusar-se a assinar o “Protocolo de Kyoto”
que estabelece regras para diminuir, a níveis aceitáveis, a quantidade de gases poluentes
na atmosfera, afirmando, conforme Dias12 que esta assinatura iria inviabilizar o desenvol-
vimento econômico do país
11 LEITE, Ana L.T. de Aquino e MININNI-MEDINA, Nana (Coord). Educação ambiental: curso básico à distância. 5v. Brasília: MMA,
2001.p.69-70.
12 DIAS, G.F. Educação ambiental: princípios e práticas. São Paulo: Gaia, 2000.
O termo ecologia surgiu no final do século XIX para designar a inter-relação entre
plantas e animais nos seus respectivos ambientes. Somente em meados do século XX, o
termo começou a ser aplicado também às comunidades humanas recebendo a acepção
corriqueira de ciências que estuda a estrutura e desenvolvimento das “comunidades hu-
manas em seu processo de adaptação ao ambiente, tomando em consideração os efeitos
advindos deste processo”13.
Estando todo o planeta experimentando mudanças profundas, especialmente, a que
se refere ao habitat maior das pessoas, observa-se uma mudança radical e profunda da
zona rural para a zona urbana. É neste contexto agora urbano, que os valores e princípios
do Reino de Deus precisam ser vivenciados pela Igreja do Senhor Jesus, como uma nova
compreensão teológica da missão.
13 WESTHELLE, Vitor. A voz que vem da natureza. In: Estudos teológicos. São Leopoldo, ano 30, nº1, 1990, p.16 .
14 FERRY, L. Ecodúvidas. In: Veja 25 anos: reflexões para o futuro, 1993. p. 173
15 WESTHELLE, Vitor. Op.cit. p.p 20-21
Uma correta visão do mundo, com base religiosa, é uma concepção do homem
como ser dotado de faculdades racionais e de autoconsciência, que o diferem
do restante da Natureza, e lhe conferem atributos e problemas que os outros
seres vivos não têm. No âmbito da narrativa da Criação, vamos encontrar três
textos em que esta concepção do Homem é apresentada e detalhada, com uma
amplitude como não se encontrará em nenhuma outra parte das Escrituras.
A narrativa é rica em detalhes e em conteúdos; a primeira ideia que o texto
passa é a certeza de que o homem é o final de uma longa cadeia criativa:
do inanimado para a vida, da vida vegetal para a vida animal, e desta para
Mandato cultural
Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e
mulher os criou. E Deus os abençoou, e lhes disse: sede fecundos, multiplicai-
vos, enchei a terra e sujeitai-a; dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves
do céu e sobre todo animal que rasteja pela terra. E disse Deus, ainda: eis que
vos tenho dado todas as ervas que dão semente e se acham na superfície da
terra e todas as árvores em que há fruto que dê semente. Isso vos será para
mantimento. (Gn. 1.27-29)
16 OLIVEIRA, Paulo F. Uma sinfonia para a vida. São Paulo: ABU, 1994. p.39-41
17 OLIVEIRA. Op.cit. p.11.
18 OLIVEIRA. Op.cit. p.27
1.- Em 2:7, o autor diz que da terra (adamah), Deus fez adam; o jogo adamah/
adam destaca, fortemente, a inseparável e essencial vinculação entre o ser
19 WESTHELLE, Vitor. A voz que vem da natureza. In: Estudos teológicos. São Leopoldo, ano 30, nº1, 1990, p.21
20 PESKETT, H. & RAMACHANDRA, V. A mensagem da missão: a glória de Cristo em todo o tempo e espaço. São Paulo, ABU Editora,
2005, p. 45.
21 PESKETT, H. & RAMACHANDRA. Op.cit.
É o Criador que implanta no Homem sua própria criatividade e faz dele seu legítimo
representante, confiando-lhe a mordomia de sua criação. Ao Homem, como sua imagem,
seu representante, Deus dá faculdade de reproduzir-se e confia a mordomia do mundo.
A tarefa humana fundamental é o governo da realidade criada, em representação a
Deus e sob sua autoridade. Esse é o Mandato Cultural, em cujo cumprimento o ser humano
manifesta, efetivamente, que é Imago Dei. O Homem completo, (´avad), assemelha-se
a Deus porque a ele foi confiada à mordomia da criação. Nisso se radica a base da respon-
sabilidade humana no uso e cuidado dos recursos naturais, bem como, no desenvolvimento
científico e tecnológico.
Para J. Stott23, Mandato Cultural se estabelece em três afirmações legítimas:
Deus deu ao homem domínio sobre a terra. Assim, pois, desde o princípio,
os seres humanos foram dotados de uma dupla unicidade: têm a imagem de
Deus (que compreende qualidades racionais, morais, sociais e espirituais
que tornam possível nosso conhecimento d’Ele), e exercemos domínio sobre
a terra e suas criaturas. De fato, o caráter único do domínio sobre a terra se
deve ao caráter único da nossa relação com Deus.
Este domínio é corporativo. Ao exercer o domínio recebido de Deus, não se cria
os processos da natureza, senão que se coopera com eles. Neste sentido é um
senhor, de acordo com o propósito de Deus e seu mandato. Porém, também,
é um filho em sua dependência última da providência paterna de Deus, que é
quem lhe dá a luz do sol, a chuva e estações frutíferas do ano.
Este domínio é delegado e, portanto, responsável. O domínio que exercemos
sobre a terra, não nos pertence por direito, senão, somente por favor. A terra
nos “pertence” não porque a criamos nem porque somos seus proprietários,
senão, porque seu Criador no-la tem confiado para dela cuidar.
Não há como ocultar a intenção do texto: o homem foi colocado sobre a terra para
exercer domínio e controle sobre todas as formas de vida! É interessante notar que o texto
não diz que o homem tem o domínio sobre a Natureza, no sentido de que a ele foram en-
tregues os rios, os mares, as terras e a atmosfera, mas, ao homem foi dado, tão somente, o
domínio sobre a vida, permanecendo a Natureza, diretamente ligada ao Criador, enquanto
base de apoio da vida.
Sabemos que, para a tradição judaica o nome de qualquer coisa significa a essência
dessa mesma coisa, de modo que o nome traduz o que a coisa é. Por isso, havia o cuidado
22 STAM, J.B. Las buenas nuevas de La creación. Editora Nueva Creacion, 1994.p.26
23 STOTT, John. La fé cristiana frente a los desafios contemporaneos. Editora nueva creacion, 1991.p.32.
Não é surpresa o fato de que, ao criar a raça humana, de acordo com sua ima-
gem e semelhança, Deus transfere para os seres humanos seu próprio instinto
criativo Esse instinto criativo, é admitido como secundário e derivado, pois, é
limitado pelo potencial de cada um e pela disponibilidade de material com o
qual se possa expressar essa função criativa. Além disso, este instinto precisa
ser descoberto, treinado e então usado como serviço em favor de outros e não
para o próprio poder, benefício e deleite. Isso significa que, as possibilidades
criativas devem ser mostradas claramente e colocadas, firmemente, para ca-
pacitar todo aquele que estiver no seu exercício, em benefício de outros. O
Mandato Cultural, literalmente, implica que, enquanto a raça humana exerce
controle sobre a terra, sob a direção de Deus e para Sua glória, encontrará,
também, resistências24.
24 GLASSER, Arthur. Anunciando o reino. WWW.igrejapresbiteriana.org/diaigreja. Acessado em 01/02/2010.
Stott25 ao se deparar com os relatos da criação, encontra neles o que ele chama de
Dignidade Humana, que se estabelece por três relações: a) A primeira é a nossa relação
com Deus - Os seres humanos são seres de semelhança divina, criados a imagem de Deus,
segundo Seu propósito. A imagem divina compreende aquelas qualidades racionais, morais
e espirituais que nos separam dos animais e nos vinculam a Deus. b) A segunda é a nossa
relação uns com os outros - O Deus que criou a humanidade é um ser social, um Deus que
compreende em si mesmo três pessoas, eternamente distintas. Portanto, Deus fez o homem
varão e a mulher e lhes mandou procriar. A sexualidade foi criada por Deus, o casamento
foi instituído por Ele e o companheirismo humano estava em Seu propósito, quando disse:
“Não é bom que o homem esteja só”. De maneira que, todas as liberdades humanas que
chamamos de santidade do sexo, o casamento e a família, o direito de se reunir e o direito
de ser respeitado, sem distinção de idade, sexo, raça ou condição, correspondem à segun-
da categoria de nossa relação de uns para com os outros. c) A terceira é nossa relação
com a terra e suas criaturas - Deus nos tem dado o domínio, com o mandato de sujeitar
e cultivar a terra fértil e governar sobre suas criaturas. De modo que, os direitos humanos
que chamamos de direito ao trabalho e ao descanso, o direito de participar dos recursos da
terra, o direito à alimentação, o vestir e o morar, o direito a vida e a saúde e a sua proteção,
assim como a libertação da pobreza, da fome, da enfermidade, correspondem à terceira
classificação da relação com a terra.
“E Deus concluiu no sétimo dia a obra que fizera e no sétimo dia descansou, depois
de toda a obra que fizera. Deus abençoou o sétimo dia e o santificou, pois nele descansou
depois de toda a sua obra de criação” (Gn. 2.2-3). O dia de repouso se destina a lembrar
ao homem que ele foi posto no mundo provido abundantemente de tudo que é necessário
e de muitas coisas belas. Para o homem libertado por Deus, a semana não se encerra com
um dia de repouso, ela começa com ele. Segundo Wolff: 26
Gênesis 2 é a ordem probatória dada ao homem! Esta ordem probatória tinha duas tare-
fas: primeiro - cultivar e preservar o jardim; segundo - comer livremente de todas as árvores,
exceto da árvore do conhecimento do bem e do mal. A primeira tarefa define seu relaciona-
mento com a terra, enquanto a segunda, define seu relacionamento com o Deus. O homem
só poderia cumprir sua missão com relação a terra, se ele não tivesse quebrado a conexão
que o unia ao céu, ou seja, somente se ele continuasse a obedecer a Deus. Ele deveria
servir a Deus e servir-se a si mesmo, enquanto servia a terra.
Trabalho e descanso, domínio e serviço, vocação terrena e celestial, civilização e
religião, cultura e culto, esses pares caminham juntos desde o princípio. Eles pertencem e
estão contidos na vocação do grande, santo e glorioso propósito do homem. Toda cultura,
isto é, todo trabalho que ele realiza para subjugar a terra, seja através da agricultura, da
pecuária, do comércio, da indústria, da ciência, ou de qualquer outra forma, é o cumprimento
de um mandato divino. Mas, para que o homem, realmente, cumpra esse mandato divino, ele
tem de depender e obedecer à Palavra de Deus. A religião deve ser o princípio que anima
toda a vida e que a santifica, a serviço de Deus.Para Agostinho, o grande teólogo cristão
do IV Século, suas noções de criação podem ser assim resumidas:
Deus fez tudo por criação. O mundo, pois, não é antidivino. Porque Deus criou o
mundo livremente, por isso está perto dele. Porque o criou do nada, existe uma
distância. Tudo, pois, sem exceção é bom. Também a matéria pela criação ex
nihilo. Esta é uma afirmação constante de Agostinho, que procura explicar esta
criação, afirmando que Deus cria o mundo sem uma matéria prima preexistente
sobre a qual agiria o ato criador. A criação tem a sua universalidade: o mundo
tem começo, ele é temporal, não é eterno. A criação é obra da Trindade. Deus
cria por amor. A criação é teofania, espetáculo de luz e de vozes que proclama a
beleza de Deus, através de sua própria beleza. Para se ver a natureza de Deus
é preciso à superação do materialismo e a elevação da humildade. Pergunta
que é o que ama um homem, não perguntes pelo que sabe. Não existe nada
mais querido a Deus do que sua imagem. Por isso, colocou ele tudo debaixo
do homem e o homem debaixo de si. Queres que tudo o que Deus fez esteja
aos teus pés? Fica debaixo de Deus… De tal maneira Deus ordenou as coisas
criadas que colocou a sua imagem debaixo de si e tudo o mais debaixo dela.27
Em I Coríntios 4:2 “Ora, além disso, o que se requer nos despenseiros é que cada
um seja encontrado fiel”. Para quem tem juízo e personalidades de preservador este é um
aviso importante, administrar bem o que lhe confiado. Aqueles que destroem a terra serão
destruídos. Isto está bem explicito na natureza, com respostas visíveis em nossos dias.
28 SILVA. Op.cit.
29 VON RAD, Gerhard. Teologia do antigo testamento. São Paulo; ASTE, 1973. p.152.
30 DE LA PEÑA, Juan L. Ruiz. Teologia da Criação. São Paulo: Loyola, 1989.p.35 e 37.
No jardim o ser humano esta colocado num espaço vital onde existem os riscos de não
guardar, não servir e da desobediência. Também não é possível diminuir atividade e forma
culposa pela intervenção no meio ambiente. O jardim dispõe de irrigação garantida (Gn 2.5)
o provimento de alimentação esta assegurada (Gn. 2.8s).
Junto com o triunfo da ideia do progresso “herdamos a consciência de que não só
comemos do fruto da árvore da vida como também fincamos o machado no seu tronco”31.
No princípio, Deus deixou a cargo da humanidade, o cuidado com mundo belo e perfei-
to. A Bíblia diz em Gênesis 2:15 “Tomou, pois, o Senhor Deus o homem, e o pôs no jardim
do Éden para o lavrar e guardar”. Ele deseja que sejamos dignos de confiança na mordomia
dos nossos recursos. Deus se compromete com a Sua criação e não a abandona. A criação
não pode ser imaginada sem a Sua presença criadora, histórica e salvífica.
A questão ecológica não é um problema técnico e não se trata fazer certos ajustes. É ne-
cessário reorganizar e reorientar nossa compreensão de relação com a natureza. A crise
ecológica exige uma renovação espiritual, apreciando a natureza como um lugar de epifania,
apreciando a natureza como criação divina.
O ecossistema tem sido tratado a partir da perspectiva única da acumulação de rique-
za. É devido a este aspecto de embrutecimento já não se consegue mais louvar ao Criador
pelas obras que Ele fez. O ser humano não consegue agir como criatura de Deus. Julga-se
senhor sobre aquilo que cerca: quer ser igual a Deus. Tornou-se escravo de sua própria
cobiça. O ser humano se desumanizou.
Sabemos que há uma relação direta entre a destruição ambiental e os problemas so-
ciais que acarreta. Por detrás está o desrespeito com o valor fundamental da vida. Na des-
truição ambiental, o empobrecimento e a marginalização de povos inteiros transgridem
a ordem criadora.
Podemos nos conscientizar também deste fato quando lembramos que a proteção
ambiental resulta em um combate isolado e inócuo dos sintomas em vez das causas, se
os desafios ecológicos pelo valor fundamental da vida não forem compreendidos na sua
plena abrangência do complexo social. O nosso SIM à criação e ao meio ambiente em todo
o caso, deve ser acompanhado do nosso NÃO às distorções no sistema global, isto é, na
economia, na tecnologia, na produção e no consumo.
Como obra da graça e ordem divinas, incluídos na graça da aliança de Javé, a na-
tureza e o meio ambiente merecem por si mesmo respeito; o ser humano faz parte da
criação que traz em si salvação e benção; dentro dela e não contra ela lhe foi destinado se
lugar. O ser humano, portanto, deve cumprir sua função e tarefa que lhe cabe de acordo
31 WESTHELLE. Op.cit. p.17
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
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RESUMO
Timor-Leste é um país situado na parte Leste de uma ilha, no sudeste Asiático, e faz
fronteira com a Indonésia, um país coberto por paisagens equatoriais e iluminado pela
claridade esfuziante do seu sol trópico, e por esta razão, constituído também por múltiplas
identidades linguísticas e culturais. Timor-Leste é mestiço na língua e na cultura também
como outros países do mundo têm a sua história, a sua cultura e a sua tradição. A Cultura
de Timor-Leste, a Ilha do Crocodilo, tem a sua raíz na Uma Lulik. É esta a designação
que se dá à Casa Sagrada e Tradicional onde os rituais são realizados, pelos timorenses,
para chamar os seus antepassados. Uma Lulik era o local mais relevante na cultura do
povo timorense antes de os missionários portugueses terem tido contacto com povo timo-
rense, em 1512. A Religião Familiar Tradicional Timorense se baseia numa cosmologia
timorense é, como muitas sociedades do sudeste asiático, amplamente definida como
uma cosmologia dual. Os autores afirmam a existência das entidades fundamentais na
cosmologia timorense: o deus supremo (Maromak), os espíritos da natureza e os espí-
ritos dos antepassados. O lugar sagrado na Religião Familiar Tradicional para muitas
populações em Timor-Leste é Uma Lulik/Casa Sagrada que encarna a presença das
divindades e os antepassados.
O presente artigo, intitulado Religião Familiar Tradicional e Uma Lulik (Casa Sagrada)
de Timor-Leste, pretende apresentar os valores e as realidades da religiosidade dos timo-
renses em relação às existências das Casas Sagradas/Uma Lulik. Os motivos para esta
abordagem prendem- se ao fato de, como se verá, poucas pessoas escreveram sobre
este assunto. Na realidade Timor- Leste declara-se majoritariamente católico. O número de
pessoas que é considerado cristão, batizado (sarani) soma 96,9% da população conforme
dados do censo de 2010. Mesmo assim, o antigo patrimônio cultural, a Religião Familiar
Tradicional como sistema de crença tradicional já existia antes do Cristianismo, e continua
conservado como uma das maiores riquezas da história e da identidade cultural timorense,
apesar de poucos registros sobre o assunto.
Neste contexto, a idéia de herança sagrada, da memória e da tradição são cultivadas,
lembrando-se sempre de Deus/Maromak, de Cosmos e dos antepassados, como raízes da
existência e identidade do povo. Parecem ter sobrevivido, ou até se reforçaram as memórias
de alguns momentos: a) Antes da colonialização dos portugueses, b) Durante colonialização
dos portugueses, c) Durante a ocupação da Indonésia que teve de retirar-se em 1999 por
interferência da ONU que administrou até 2002, quando concedeu a independência aos
timorenses, d) Após a independência até os dias de hoje.
Portanto, este artigo aborda Religião Familiar Tradicional e Casa Sagrada/Uma Lulik
de Timor-Leste a partir de uma perspectiva historica-religiosa e ao mesmo tempo histórica-
antropológica num âmbito da diversidade religiosa.
METODOLOGIA
RESULTADO E DISCUSSÃO
Portanto, o que entendemos por religião familiar tradicional? Religião familiar tradicio-
nal pode significar um sistema da crença própria cultivada pelas famílias numa cultura em
determinado local ou região. E o que é a família timorense? A definição da família timorense
segundo Ruy Cinatti é: “A forma primeira e indivisa a partir da qual se edifica toda a complexa
estrutura social timorense. O casamento barlaque5, ato natural de constituição da família e
o compromisso mais importante assumido pelo homem e mulher nativos durante as suas
vidas” (CINATTI, 1987, p. 32). Por isso, há uma expressão popular “Quando um homem se
casar com uma mulher, quem casa é as duas famílias”. A instituição de uma família timorense
envolve todas as linhas de parentesco. Na visão cultural tradicional, uma pequena família
1 Lisan – significa costume, usos ou hábito, especialmente aplicada para costume da linhagem da família.
2 Kultura – é transliteração para Tétum da palavra português: Cultura
3 Kultura-adat – povo tem costume de utilizar as duas palavras juntas com mesmo sentido. A tradução seria Kultura (cultura), adat
(cultura) – vem de origem da língua melaia/bahasa melayu (língua oficial de Indonésia, Malásia, Brunei e Singapura).
4 Ai-to’os – um poste destinado para os sacrifícios. Um modelo de altar de Uma Lulik. Trata-se de uma forma emergente, vertical, de
origem vegetal normalmente, em geral situado nas proximidades das uma lulik. Em bunak chamase-lhe talak, ai-tosa em mambae e
ai-to’os em tétum.
5 Barlaque – um conceito específico dentro do processo de casamento cultural (ritual e material – animais, dinheiro e outros objetos).
Intercâmbio de bens entre família de noiva e do noivo. Na compreensão moderna é como dote.
De fato, Uis Neno ser considerado como o ser supremo não implica que a
religião de Atoni seja monoteísta, a menos que Uis Pah (o senhor da terra) e
o espírito da terra (pah nitu), os espíritos que assombram nascentes, rochas
e árvores, devam ser considerados como emanações de Uis Neno. Mesmo
assim, não seria monoteísmo no sentido histórico da abnegação do politeísmo
que encontramos em Israel (NORDHOLT, 1971, p.146).
6 Matebian – tradução literal seria: Alma dos mortos. Uma das entidades respeitadas da família timorense.
7 Maromak – denominação própria para Ser Supremo ou Ente Supremo.
Uma Lulik
Noção e existência
Uma Lulik ou em português foi traduzida por casa (uma) sagrada (lulik), é o nosso ponto
de referência se falar sobre a religião familiar timorense. Não somente um espaço físico sa-
grado para atividade ritual da família, mas também em sua existência como símbolo da uni-
dade, cultural e social-política. Uma Lulik é simbolicamente como templo no seu uso e âmbito
religioso, porque reúne família e membros da família da mesma linha de parentesco, reúne
também pessoas de outras linhagens da família. Muitas vezes, as reuniões são feitas nas
festas tradicionais sagradas que exigem obrigatoriamente a presença de todos os membros
Uma Lulik é o ‘templo’ dos objetos Lulik ou tabus da povoação, o seu Palácio.
Cada família tem o seu Uma Lulik doméstico ou familiar, em que os objetos
Lulik são guardados, se fazem oferendas de alimentos por ocasião das semen-
teiras e da colheita, e quando em casa há óbitos ou nascimentos (CASTRO
apud Silva, 2017, p. 26).
8 Uma lisan - refere à Casa de Linhagem é o principal centro de referência de uma pessoa, de uma linhagem. É nela se realizam en-
contros/reuniões importantes, onde se tratam de assuntos de vida ou de morte dos membros da Linhagem.
Além disso, a uma outra visão feminista da existência de Uma Lulik como casa sagrada
dos timorenses onde se celebram os rituais sagrados dos ancestrais, e onde se encontra
a representação simbólica do “fluxo da vida”, uma referência à essência da fertilidade das
mulheres timorenses como a Mãe-Terra que sustenta seus filhos (ARAÚJO, 2013, p. 36).
Baseia-se nessa ideia de “fluxo da vida” através dos símbolos femininos, Ruy Cinatti descreve:
Uma Lulik distingue-se das outras casas típicas timorenses, através dos or-
namentos e esculturas de aves em madeira, pelos remates das coberturas
e pelos crocodilos e lagartos, ou seios de mulher esculpidos ou incisos na
madeira das portas. Também as apresentações de pedras, árvores, ribeiras,
florestas que acreditam trazem a força dos espíritos, porque tudo o que é Lulik
tem alma como a gente. A figura de seios de mulher esculpidos, isto significa
que a mulher é o símbolo de proteção da natureza e que fomenta a sua família
e o universo (CINATTI, 1987, p. 40).
Para ele, nas casas sagradas, a presença das figuras e imagens, possuem significa-
do totémico e dão uma notícia do simbolismo dualista religioso timorense (CINATTI apud
CENTENO, 2001, p.79). Uma Lulik simboliza santuário ou templo da religião familiar, onde
os ancestrais mortos são venerados através dos símbolos de imagens e objetos que têm
maior significativo para família e linhagem da família.
Construção e Papel
Um escritor português, Paulo Braga considera que Uma Lulik é o templo dos cultos
indígenas, é lugar do culto do povo nativo. E ele apresenta: “Nos lembramos de que nas Uma
Lulik há sempre a recordação dos mortos e, em algumas, o domínio do feiticeiro, do Makái
Lulik9 temido por toda a gente” (BRAGA, 1936, p. 27). Podemos ter já uma noção e função
9 Makaer-lulik literalmente: o que guarda o lulik na sua mão. São especialistas rituais tradicionais (os lulik-na’in), são os responsáveis
de determinar que elementos ou que circunstâncias têm invalidado o equilíbrio cósmico básico. Alguns reflectiram o makaer-lulik
como uma autoridade tradicional (Alberto Fidalgo, 2012, p. 98).
1. A primeira etapa ocorre uma reunião entre os mais velhos para fazer o planejamen-
to da construção, a distribuição das tarefas e a definição dos respectivos responsá-
veis. É necessário pedir licença aos ancestrais para começar os trabalhos e fazer
os sacrifícios indicados pelas autoridades locais que intermedeiam o mundo dos
vivos, a natureza e os antepassados.
2. A segunda etapa ocorre a identificação e coleta dos materiais que serão usados. As
narrativas sobre as construções indicam que os materiais usados no passado eram
basicamente madeira, bambu, palha e cordas vegetais.
10 Lia-na’in foi traduzido muitas vezes como ‘senhor da palavra’, seria mais corretamente ‘o que fala’, ‘o que sabe falar’, ‘o que pode
falar’, ‘guardião da palavra’, ‘o que tem o direito de falar’, ‘orador’, ‘o custódio da palavra’, etc.. Mas também ‘senhor dos rituais’, ou
‘organizador de um ritual’ porque lia também se poderia traduzir, entre muitas outras formas, como «ritual» (halo-lia = fazer + ritual) –
Alberto Fidalgo (2012, p. 97).
Alguns autores defendem que palavra Lulik tem a possibilidade de ser traduzida para
português com a palavra sagrado, por um motivo que na cultura e na memória dos timo-
renses representam a história ligada aos ancestrais mortos, ciclos da vida, e também papel
da natureza como mediador da relação entre homem com a sua divindade ou as entidades
A palavra Lulik tem origem no tétum e pode ser literalmente traduzida como
“proibido”, “santo” e “sagrado”. O conceito de Lulik existe em todas as línguas
de Timor-Leste em diferentes termos. Por exemplo, “po” em Bunak, “luli” em
Naueti, “tei” em Fataluku, e “phalun” em Makasae. O Lulik refere-se ao cos-
mos espiritual que contém a criatura divina, o espírito dos ancestrais e a raiz
espiritual da vida, incluindo as regras e os regulamentos sagrados que ditam
as relações entre as pessoas e entre as pessoas e a natureza (TRINDADE
apud PAULINO et al, p. 28).
11 Foho Lulik – Foho (montanha em Tétum) e Lulik (sagrada em Tétum), seria montanha sagrada. A denominação muitas vezes depen-
de das lendas, mitos, sequências históricas reconhecidas na tradição oral, etc.
Esse fenômeno dos símbolos indica muitas vezes sinais de uma semelhança ao po-
liteísmo do antigo Israel antes da instituição do monoteísmo. Essa cosmologia timorense
significa que, “Tudo no mundo é composto por pares de opostos e que a harmonia do cosmos
depende do equilíbrio desses opostos; se esse equilíbrio é ameaçado, é preciso restaurá-lo
através de sacrifícios rituais. Assim, o indivíduo é constituído por uma parte sagrada, a alma,
e uma parte secular, o corpo, que devem estar em harmonia” (HICKS apud RESTIVO, 2015,
p. 33). A cosmologia timorense foi estudada com atenção por alguns investigadores. Os au-
tores analisados afirmam que:
Ligado a estas três entidades sagradas, corresponde também uma divisão tripartida do
mundo, que segundo Ruy Cinatti são: mundo superior, mundo terrestre e mundo subterrâneo
ou inferior (CINATTI apud RESTIVO, 2015, p. 33). Uma outra pesquisadora timorense, segue
a mesma linha de pensamento mas com uma maneira de expressão diferente, ela coloca o
desenvolvimento da relação humana timorense com todas as partes existentes no universo
numa união tridimensional: “Mundo visível, mundo dos espíritos e espaço celestial, e concluiu
que a natureza para timorenses é o centro da ligação entre o mundo dos vivos, mundo dos
espíritos dos antepassados e o mundo da divindade” (ARAÚJO apud PAULINO et al, p.61-
62). Mesmo tem divergência na interpretação no que se refere à caracterização deste tipo
de cosmologia, ela é caracterizada de duas formas, António Duarte de Almeida defende que
esta cosmologia é caracteriza cosmologia monoteísta (CARMO, 1965, p.132), e Francisco
Menezes também afirma que, por detrás desta religião doméstica/familiar, transparece um
conceito de Deus que se pode considerar um Deus incertus et remotus, e de um monoteísmo
primitivo (MENEZES, 2006, p. 106). Mas, vários autores a classificam como animista. Ou em
outra expressão quer dizer uma caraterística politeísta. Por isso, Januário de Correia (2013,
p. 13) argumenta que, “De facto, nas religiões primitivas (totemismo), alguns objetos, como
De acordo com Renata da Silva, “Uma Lulik é uma metonímia do mundo cósmico,
expresso na aldeia e na casa de habitação. Com o propósito de manter o bem-estar das
Portanto, coisas boas e ruins, sucesso ou fracasso na vida estão relacionados a dá-
divas, ou a castigos de Ente Supremo - Maromak e dos antepassados que estão no outro
mundo. Se não fazer esses rituais de oferendas pode ser considerada como uma traição aos
antepassados. É um mode de ação de graças aos antepassados (ibid. 2017, p. 57). Um exem-
plo concreto conhecido na cultura timorense, é o ritual de Tara Bandu12. É uma sabedo-
ria ecológica tradicional timorense, promovida para proteger a vida humana e a natureza
(CARVALHO et al, 2011, p. 52). Esse ritual acontece com objetivo principal de proteger e
conservar o ambiente, terra, árvores e animais. Convida as entidades sagradas a prote-
ger a ecologia, para o bem das pessoas e das criaturas. Na religião doméstica timorense,
Ruy Cinatti fundamenta que “Tudo tem alma, as pedras, as almas, as árvores, os gondões
frondosos, as montanhas elevadas que são habitas pelas almas dos mortos (matebian), as
ribeiras tumultuosas, as florestas primárias, impenetráveis e sempre verdes” (CINATTI, 1987,
p. 36). Uma indicação que mostra a presença dos espíritos dos antepassados da família
12 Tara Bandu – literalmente significa: dependurar proibição. É um dispositivo local de governança que opera pela imposição ritual de
regras, proibições e punições. Nos rituais que o instituem tomam parte autoridades locais e/ou nacionais, bem como entidades espiri-
tuais às quais se credita, em seu conjunto, agência nos processos de reprodução social. Em tais ocasiões, são realizados sacrifícios e
falas rituais. Tais procedimentos têm como objetivo instaurar canais de comunicação entre as autoridades (vivas e mortas) presentes
e validar publicamente as proibições prescritas, as quais são lidas em alta voz para a comunidade e inscritas em símbolos, que são
a seguir fixados nas áreas de cobertura de tara bandu.
Fala de ritual, é sempre ligado aos objetos rituais. Normalmente, os objetos sagrados
da religião familiar timorense são guardados no lugar considerado digno e sagrado. E maioria
destes objetos são objetos de herança de uma linhagem familiar. São guardados em Uma
Lulik. Portanto, fala de ritual e objeto sagrado, a primeira intuição já vai à Uma Lulik. É claro
que cada família ou linhagem da família tem seu próprio objeto considerado Lulik. Paulo
Braga nos lembra que materialmente, “Casa sagrada de uma família é uma casa que se
distingue das outras casas porque reúne dentro de si objetos sagrados, fetiches, vulgares
utensílios de uso indígena que, por qualquer motivo, passaram a ser Lulik” (BRAGA, 1936,
p. 27). Podemos mencionar alguns exemplos de objetos sagrados, Ruy Cinatti mencionou:
uma espada, uma pedra de feito singular, um saco de masca que foi pertença de um avô, são
Lulik conservados dentro da casa e dependurados na coluna principal (CINATTI, 1987, p. 34).
Para definir exatamente quais são os objetos sagrados. Alberto Fidalgo, a partir da sua
investigação nas Uma Lulik em Ainaro, define que:
Fidalgo (2010, 224-229), considera que os objetos considerados sagrados (sasán lulik)
existe uma grande variedade. Existem alguns muito frequentes e comuns: Surik, Belak, Rota,
Diman, Hiura, Biru, Titir, Baba-dook, Tala, Kaibauk, Kelu, Loku, Morten, Belak, Manu fulun,
etc. Outros objetos são obtidos mediante intercâmbios rituais no contexto de cerimónias de
muito diverso tipo, sendo os derivados do barlaque, por exemplo, determinados Tais, Kohe
e Mama. Na concepção comum da religião familiar, quanto mais dura de anos um objeto
sagrado, qualidade de sacralidade daquele objeto aumenta, mesmo que já é sagrado em si.
CONCLUSÃO
• Ritos verbais – Lulik/santo e Lia Nain/sacerdote, lugares de culto – Uma Lulik, cada
família tem sua casa sagrada. E imagens e figuras – representações de divindade.
Exemplo: os símbolos de animais.
• Divindade como protetora e que gera a vida. Exemplo: imagem de uma mulher pe-
lada nas casas sagradas, simboliza Mãe-Terra – figura da fertilidade e continuidade
da vida.
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Clóvis Ecco
PUC Goiás
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RESUMO
P a l a v r a s - c h a ve: R e l i g i ã o, S i s t e m a S i m b ó l i c o, S i n c r e t i s m o, G ê n e r o, R e g i m e
de Representações.
INTRODUÇÃO
O racismo projetado na intolerância religiosa indica que o estado, a partir de seus po-
deres legitimadores, elevou os cristãos (católicos, a princípio, e mais recentemente, evan-
gélicos, incluindo grupos pentecostais e neopentecostais), ao patamar de nação, cabendo
assim a esse determinado grupo representar a unidade nacional. Apesar da secularização
Baumann (2003) salienta que o estado preenche o vazio do embate entre nação e etnicidade
com ideias religiosas sobre o próprio estadonação, no caso brasileiro, a comunidade nacional
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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10.37885/200801033
RESUMO
A presente pesquisa busca analisar de que forma a espiritualidade pode exercer in-
fluência positiva sobre a saúde dos indivíduos, servindo de ponto de apoio, de conforto
para pessoas com problemas de saúde. Muitos estudos vêm confirmando uma relação
positiva da espiritualidade com a saúde física e mental, por prover aspectos como re-
curso de enfrentamento, aumento de emoções positivas, favorecendo o processo de
recuperação. O aporte teórico da pesquisa contou com autores tais como: Fleck (2000),
Dalgalarrondo (2008), Mesquita (2013), dentre outros estudiosos da temática. Acredita-se
que é necessário o olhar mais aprofundado dos profissionais da saúde sobre a espiritua-
lidade para que ela possa ser utilizada como instrumento terapêutico.
A espiritualidade e suas relações com a saúde tem sido tema de diversos debates nos
últimos tempos, pois estudiosos vem demonstrando em seus trabalhos que a espiritualida-
de tem exercido de forma significativa e positiva influência no processo de recuperação de
pacientes e em suas expectativas de vida. A espiritualidade passa a representar para os
pacientes um bem-estar psicológico, diminuindo o estresse e trazendo fortalecimento pessoal
e colaborando no processo de recuperação de doenças.
Muitos trabalhos e estudos que se propõem a explorar a interface da psicologia com a
espiritualidade tem apontado a carência de um posicionamento teórico e metodológico das
abordagens psicoterápicas e dos terapeutas quando o tema em questão se faz presente na
clínica. A presença do sagrado ou as diversas manifestações de fenômenos ou experiências
espirituais são muitas vezes ignoradas na prática da psicoterapia.
A pesquisa busca traçar um panorama sobre a presença da espiritualidade no contexto
psicoterápico e sua relação com o bem-estar psicológico do paciente, buscando compreender
este cenário a partir do olhar do profissional psicoterapeuta.
É preciso que o paciente seja encarado de forma holística e respeitado seus valores,
suas concepções religiosas e suas crenças, pois dessa forma ele se sentirá mais aberto
para compreender o processo saúde-doença.
DESENVOLVIMENTO
Segundo Giovanetti (2010), a psicoterapia consiste num encontro no qual se olha para
o homem em sua totalidade, portanto, a psicologia especialmente na prática psicoterápica
deve considerar essa dimensão, a significação que o sujeito atribui à sua existência, sua fé,
já que esse sentido da vida aparece como o elemento central da existência humana. É im-
portante ressaltar que nossa história, sociedade e cultura são fortemente demarcadas e, de
maneira relevante, constituídas pela religiosidade, ou seja, que estas tem sido “atravessadas”
por significativas relações com os diversos modos de manifestação religiosas.
Esse elemento influencia a subjetividade e as percepções do sujeito, delimitando um
lugar muito importante na clínica não é suficiente lidar somente com as mudanças externas ou
com os comportamentos, pois estes têm ou expressam diversas fontes e motivações que são
dotadas de significado. O ser humano é um ser religioso, mesmo que não se possa afirmar
se por razões culturais ou por predisposições naturais, e que, por isso, “a boa psicoterapia
tem um espaço reservado para a religiosidade humana, independentemente de os clientes
ou o terapeuta estarem, ou não, ligados a uma instituição religiosa” (PINTO, 2010, p. 23).
Quando tratamos de saúde mental ou do bem-estar do sujeito, é preciso considerar o
papel que a religiosidade ou a espiritualidade desempenham na sua orientação de sistema
de valores; assim, numa prática de psicoterapia sensível à espiritualidade, deve ser consi-
derado o histórico religioso de cada sujeito individualmente, e ainda, mesmo frente àqueles
cuja religiosidade aparece exercendo um papel de menos destaque, esse pode contribuir
para o processo terapêutico, para o curso do tratamento e sua expressão.
Na verdade, o que se quer dizer é que a psicoterapia deve ser um espaço aberto para
o diálogo – ou, pelo menos, para a consideração – com o religioso, buscando compreender
o papel que a religiosidade assume na vida do sujeito em questão, valorizando a relação
cliente-religião como fenômeno formador do sujeito, portanto elemento que merece nossa
atenção no processo psicoterápico.
Isso porque essa experiência pode contribuir para a tomada de consciência da pró-
pria existência, ajudando o homem a entender e atribuir sentido para sua vida, ampliando a
consciência da própria vivência ou, nas palavras de Pinto (2010, p. 74), se pressupõe que
“qualquer processo psicoterapêutico que explore de forma mais profunda a psique humana
CONCLUSÃO
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10.37885/201001660
RESUMO
A Bíblia, como livro sagrado cristão, constitui-se em uma fonte rica para que possamos
entender as origens do Diabo e tentar compreender essa personagem que tanto tem
influenciado autores ao longo dos séculos. O texto apresenta uma breve contextualização
sobre o texto bíblico como literatura e, em seguida, faz-se uma breve contextualização
da história do Diabo na literatura, tendo como base teóricos com Robert Muchembled,
Giovani Papini, Henry Ansgar Kelly, Salma Ferraz, entre outros.
“[...] onde quer que haja Teologia, o Diabo também deve entrar no quadro,
preservando sua autenticidade complementar a de Deus.”
Thomas Mann,
Dr. Fausto (1984).
1 Fala proferida em discussão na aula da disciplina: Filosofia e Literatura, oferecida no departamento de Pós-Graduação em literatura
da Universidade Federal de Santa Catarina, semestre 2018/2.
[...] no primeiro momento expressar uma face do divino, quer dizer, o primeiro
momento do diabo é ele ainda divino, ele é uma face de Deus, então a primeira
grande aparição do Diabo na história das ideias religiosa, em muitos contextos,
é uma aparição sedutora. Nesse sentido, o mal seria a ruptura do coletivo,
quer dizer, seria essa atitude egóica, exacerbada [...] eu quero matizar um
pouco isso, há momentos em que o coletivo precisa ser transgredido, eu vou
usar a imagem do mito do paraíso, o que é o mito do paraíso? Pertencemos
ao jardim, tudo está bem se obedecemos a tudo o que Deus determina, não
coma, caminhe com deus...ora o Diabo, a figura do mal aponta para esse
poder sedutor de dizer “eu não pertenço ao jardim”, eu pertenço à história, eu
pertenço ao pó.[...] É interessante na narrativa mítica que o casal é expulso e
o texto diz, inclusive no hebraico, que volta ao lugar a que pertence, quer dizer,
o humano, em outras palavras, não é para jardins harmônicos, o humano é
para a história, para a finitude e morre, por isso que o ato do Eva na narrativa
mítica da Bíblia é uma ato tão emancipador, porque come do conhecimento
do bem e do mal, e o conhecimento do bem e do mal diz “somos mortais”[...].
Magalhães quer dizer que “o coletivo te acolhe, te protege, mas também te domina” e
a figura do mal te seduz, te seduz para romper de certa forma, mas também para se inau-
gurar com pessoa, que significa se inaugurar na finitude. Em outras palavras, Adão e Eva
como figuras míticas descobrem que são mortais. Constatam isso, mas no fundo mortais
somos todos nós.
Então, uma das primeiras expressões do mal nas histórias religiosas foi seduzir-se o
humano para assumir-se na sua radical finitude e sua radical mortalidade. Somos mortais
e somos pó. Não pertencemos à jardins, ainda que jardins nos seduzam. Esse é o primeiro
momento, como diria Magalhães “momento metafísico”, o Diabo nesse primeiro momento
pertence a Deus. É uma dimensão pedagógica do divino, ele não está dissociado.
Não se pode esquecer que não existe processo inquisitorial no mundo da religião que
não passe por uma demonização do outro. Os processos inquisitoriais no mundo da religião
2 Pachamama é a Deusa da fertilidade ou a maior Divindade feminina cultuada em diversas culturas – principalmente a Inca -, onde
ela teve suas origens na mitologia do mesmo local. Seu nome deriva-se de Quéchua, uma antiga língua utilizada pelos povos andi-
nos, anteriores aos Incas. Pachamama, tem o significado de “Mãe Terra”.
3 Fala proferida em no Grupo de Trabalho
[...] a história do Diabo, história que tem vários momentos de realização, onde
no início o Diabo é divino, poderia dizer que nesse momento “o Diabo é bom”,
o Diabo é sedutor, o Diabo aponta para aquilo que tu pode ser, aquilo que tu
és em tua condição humana. Ele não tanto aterroriza, ele te conduz a novas
possibilidades da tua condição humana, ele te faz reconhecer que tu és mortal,
passageiro e finito. Em outro momento nas histórias das religiões, por vários
motivos, você tem o estabelecimento de uma dicotomia radical, e nessa dico-
tomia radial, o outro, o inimigo, o herege, o incrédulo, que no fundo ele não é
mais filho de Deus, ele é filho do Diabo. O Diabo é o seu senhor, e aí você tem
um outro momento da dicotomia, um ápice da herança dicotômica que está aí
marcando a história do Cristianismo, e parte do judaísmo.
Sendo assim, podemos pensar na contra música, por exemplo, tem a música e tem a
dissonância, a dissonância no primeiro momento assusta e intimida, mas dissonância é a
outra música, é a possibilidade de ouvirmos diferente, porque o excesso de harmonia tam-
bém aponta para uma possibilidade da música, mas não pode ser toda a música, porque
a ela também poder ser dissonante e o dissonante pode dizer muito do que somos... essa
ambiguidade que está aí nesse movimento do universo mítico, quer dizer “deveríamos levar
4 Para aprofundamento na questão consultar: Balthasar H. U. von, Theodramatik, I–IV, Einsiedeln 1973–1983.
Dentro dessa gama da teopoética tem-se Lúcifer, ou o Diabo, Demônio, Satanás, Satã,
e tantos outras denominações dadas a essa personagem, que seria o símbolo do mal, a
qual sempre esteve presente na cultura, na memória e nas narrativas ocidentais, seja em
textos sagrados como a Bíblia ou em textos literários das mais variadas naturezas. Uma
das personalidades mais inquietantes, apresentando-se como a caixa de pandora, ou seja,
ela se oferece à teologia e às especulações da literatura, como uma arca inesgotável de
tesouros. Que Ser é esse? Que Anjo é esse? Por que caiu? Anjo caído tem salvação? Essas
perguntas nos rementem às perguntas “para onde vim?”, “para onde vou?”.
Na caixa de pandora já mergulharam, só a título de exemplo, escritores como: Dante
Alighieri, que com A Divina Comédia desenha à sua maneira o Diabo; Milton, em O Paraíso
Perdido, o pinta de outra forma. Diferente será também o desenho do Diabo em Fausto, de
Goethe; ou Litanias de Satanás, de Baudelaire; o mesmo se dará na obra de Shakespeare; de
Thomas Mann; Paul Valéry; Walter Scott; Allan Poe; Gil Vicente; Fernando Pessoa; Saramago;
Christopher Marlowe; Clive Staples Lewis. Bem como em Eça de Queiroz; Guimarães Rosa;
Machado de Assis; Álvares de Azevedo; Ariano Suassuna; Franklin Joaquim Cascaes.
Assim, autores das mais variadas épocas trataram de utilizar a personagem do Diabo
em suas obras, bem como se utilizam das questões que envolvem a crença e a descren-
ça no Cristianismo. No leste europeu o Diabo também fez sucesso, especialmente na
Rússia. O Diabo também estendeu as suas garras. Vários autores russos se utilizaram
O Diabo, além de uma excepcional personagem da literatura, sendo talvez uma das
mais importantes do texto bíblico e do Cristianismo, em muitos grupos religiosos é responsa-
bilizado por todo o mal presente no mundo. O imaginário religioso atribui-o muitas imagens
e personificações. O livro O Diabo no Imaginário Cristão, de Carlos Roberto Nogueira, nos
fornece o panorama histórico necessário para compreendermos a estrutura da figura do
Diabo. De acordo com Nogueira (1986), na antiguidade não se tem registro de alguma figura
que pudesse correlatamente representar o mal. Tratando-se de textos bíblicos, no Antigo
Testamento a única contribuição que se tem à personificação do mal se encontra no Livro de
Jó. O Anjo “Satã” – que significa aquele que acusa ou que calunia - levanta a suspeita perante
o Senhor de que um de seus servos seria fiel por interesse. A partir do Novo Testamento,
5 A Revista Teoliterária publicou um dossiê temático sobre a Teologia e Literatura Russa. Volume 8, n. 16 (2018). Teologia e Literatura
Russa. Nele podemos encontrar diversas abordagens sobre a presença do diabo na literatura. Nesse dossiê publiquei na seção te-
mática artigo intitulado O Mestre e Margarida de Mikhail Bulgákov: Um Diabo Russo, no qual abordo o Diabo russo a partir do olhar do
humor. Para consultar: https://revistas.pucsp.br/teoliteraria/article/view/39390. Acesso em: 14 de out. 2019. Recentemente, publiquei
artigo intitulado A conversão do diabo: de discípulo a mestre, na revista Guavira Letras, que apresenta uma leitura da personagem
do diabo na obra A Conversão do Diabo, de Leonid Andreiev. Artigo que pode ser conferido em: Guavira Letras, v. 15, nº 39, 2019.
Disponível em: http://websensors.net.br/seer/index.php/guavira/article/view/791. Acessado em: 14 de out. 2019. Também estudo no
âmbito do meu doutorado a personagem do diabo na obra O Mestre e Margarida, de Mikhail Bulgákov. O texto ora apresentado, faz
parte, parcialmente, da construção da minha tese, que se encontra qualificada.
Portanto, para Papini (1953, p. 35), em verdade, as três pessoas da trindade diabólica
seriam as três pessoas da trindade divina invertida “o Pai cria e Satã destrói; o Filho resgata
e Satã escraviza; o Espírito Santo ilumina e consola, ao passo que Satã entenebrece e tortu-
ra”. Nesse sentido, Papini parece entender que o Diabo faz é um papel que lhe é reservado.
O professor emérito da Universidade da Califórnia, Henry Ansgar Kelly, em seu livro
Satã – Uma Biografia, publicado em 2008, coteja as pericopes bíblicas em que o Diabo
aparece com as representações que teve na teologia, literatura ou em outras formas de arte.
Satã tornou-se uma das figuras centrais do Cristianismo, para Kelly (2008), Satã possuía
uma biografia original, bíblica, que não o colocava como inimigo, mas sim como um subor-
dinado de Deus. Nesse sentido, cabe uma sintetização de Henry Ansgar Kelly, em Satã:
uma biografia (2008, p. 365-366, destaque do autor):
Para Kelly (2008), a Bíblia revela que o demônio era uma espécie de “empregado de
Deus”, uma entidade moralmente correta, pois seu papel era de observar, perseguir e para
assim acusar os verdadeiros pecadores. Para o autor, no século 2, os pais da Igreja ao in-
terpretarem o episódio bíblico de Adão e Eva no jardim do Éden, associaram-no à imagem
da serpente, transformando-o assim em inimigo de Deus. Parece-nos que o autor tinha uma
proposta de visão menos maniqueísta do Diabo, que estaria mais em sintonia com o conceito
de “mal” observado em algumas religiões como o budismo e o hinduísmo.
No último capítulo do livro Uma História do Diabo – Séculos XII a XX, de Robert
Muchembled (2001), o autor nos oferece o que ele chamou de “fio vermelho” da obra, que,
curiosamente, a crença em poderes demoníacos provenientes do próprio Diabo, sempre
terá estado mais intrinsecamente estabelecida no seio das chamadas classes superiores e
em menor escala ao nível das classes mais baixas.
O autor parte de forma inversa à cultura, “indo do presente para remontar o fluxo até
a sua fonte, que foi em descoberta do diabo.” Segundo o autor, “para compreender o lugar
que ele (o Diabo) tem atualmente em nosso universo mental, em nosso imaginário, em que
sentido as representações introjetadas por um indivíduo influem em suas ações, precisáva-
mos encontrar todas as suas pegadas” (MUCHEMBLED, 2001, p. 341).
O que Robert Muchembled faz é mostrar-nos um Diabo visto como instrumento de
controle e poder da Igreja, como forma de manter fiéis e eliminar de modo legítimo os de-
nominados hereges. Livrar-se do mal pelo mal – era a prática comum daqueles tenebrosos
tempos. Muchembled (2001) destaca que, no primeiro milênio cristão, o Diabo era uma figura
difusa, dissolvida no politeísmo popular e, portanto, sem poder de persuasão sobre as mas-
sas. No entanto, o Diabo resiste na sociedade por meio de uma série de arquétipos literários
com grande peso cultural, contudo, a crença no Ser ou Seres sobrenaturais vocacionados
para a prática do mal, não encontra raízes profundas nesta Europa progressista, no entanto,
segundo o autor, o contraponto europeu é o exemplo americano com as suas práticas e
crenças conservadoras em que parece sobressair o conceito de povo escolhido por Deus,
destinado em derrotar o mal. Robert Muchembled (2001) situa a figura do Diabo como motor
de regressões e progressões nas sociedades europeia e americana ao longo dos séculos.
Todavia, seria de se esperar que a vasta fortuna crítica, construída ao longo dos séculos,
sobre a personagem do Diabo, com autores vivenciando distintas realidades sociais, haveria
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Letras - Dossiê: O Diabo na Literatura Ocidental. V. 15, nº 39 (2019) p. 66-81. Disponível em:
http://websensors.net.br/seer/index.php/guavira/article/view/791. Acessado em: 14 out. 2019.
11. MUCHEMBLED, Robert. Uma História do Diabo: século XII-XX. Tradução Maria Helena
Kühner. Rio de Janeiro: Bom Texto, 2001.
12. NERY, AA. Primórdios do mito Faústico: o Faustbuch e o Fausto de Christopher Marlowe.
In:MAGALHÃES, ACM., et al., (orgs). O demoníaco na literatura [online]. Campina Grande:
EDUEPB, 2012. pp. 47-61. ISBN 978-85-7879-188-9. AvailablefromSciELOBooks.
13. NOGUEIRA, Carlos Roberto F. O diabo no imaginário cristão. São Paulo, Editora Ática, 1986.
14. PAPINI, Giovanni. O Diabo: apontamentos para uma futura diabologia. Trad. Fernando
Amado. Lisboa: Livros do Brasil, 1953.
Kellen I. R. Borges
Universidade do Estado do Pará
10.37885/200901460
RESUMO
Este artigo tem a pretensão de abordar temas como: símbolo, arquitetura e arte sacra
dentro do protestantismo. Devido à elevada pluralidade arquitetônica existente nes-
se universo religioso – pluralidade esta decorrente de vários fatores históricos e so-
ciais –, este artigo delimitou suas reflexões a partir das seguintes tradições: Luterana e
Calvinista. A escolha dessas duas tradições tem o propósito de apresentar a postura das
duas correntes da Reforma diante da arquitetura e da arte sacra. Essa temática nasceu
devido à especulação de que os templos protestantes seriam “vazios”, ou despidos de
símbolos religiosos. Tal questão ao ser analisada com profundidade revela que as duas
tradições escolhidas assimilam os símbolos religiosos de maneiras distintas, mas isso
não quer dizer que dentro delas não existam, pois, consideramos que a experiência
religiosa recorre a linguagem simbólica para ser expressa a comunidade. E ainda mais
a questão do “vazio” tem um significado. Dessa forma, um dos objetivos desse artigo é
também refletir o espaço litúrgico e a presença desses símbolos. Para da base as nossas
reflexões, procuramos dialogar com diferentes perspectivas, como por exemplo, Paul
Tillich, José Severino Croatto, Carter Linderg, John Leith e entre outros. Sendo assim,
este artigo tem como base uma pesquisa bibliográfica de perspectiva multidisciplinar
onde história, teologia, ciências da religião e outras áreas convergem para um diálogo
reflexivo que de conta da pretensão deste artigo.
A religião, como fenômeno que busca dar sentido à vida e ao cosmos, tem uma relação
profunda com o uso de linguagens simbólicas. A partir disso, este artigo procura abordar
a arquitetura protestante – Luterana e Calvinista – para observamos a presença de sím-
bolos religiosos.
Devido à elevada pluralidade arquitetônica existente no universo religioso – pluralidade
esta decorrente de vários fatores históricos e sociais –, este artigo delimitou sua análise a
partir dos símbolos que podemos encontrar no espaço arquitetônico litúrgico das tradições
Luteranas e Calvinistas.
A escolha dessas duas tradições tem o propósito de apresentar a postura das duas
correntes da Reforma diante da arquitetura e arte sacra. Postura esta que, inclusive, influen-
ciou outros segmentos evangélicos. Embora essas tradições possam divergir em aspectos
relacionados às imagens, ou símbolos religiosos, também existem pontos de convergências
em suas teologias.
Abaixo colocamos algumas imagens a fim de apenas ilustrar a ideia a respeito da
arquitetura e arte sacra.
Essa assertiva de Alister McGrath é corroborada pela própria história, já que no final
do século XVI, o protestantismo encontrava-se dividido nos seguintes ramos: luteranismo,
calvinismo, anabatismo e anglicanismo. Reconhecendo a complexidade desse movimento
1 Essa escolha também se deu por consideramos que ambas estão inseridas em um mesmo período histórico, onde semelhanças e
diferenças podem ser pontuadas, como por exemplo, a questão da arquitetura e da arte sacra.
A EXPERIÊNCIA SIMBÓLICA.
Para que nossas análises e interpretações da arquitetura e arte sacra entre Luteranos
e Calvinistas comecem, é relevante destacar que as experiências religiosas são de extrema
importância na constituição dos símbolos religiosos. E essa característica é pontuada por
José Severino Croatto (2010), pois ele alega que símbolo seria um tipo chave para com-
preendermos a linguagem de tal experiência. Dessa forma, as significativas experiências
que cada ser humano possa ter são passíveis de ser interpretadas, compreendida e repre-
sentada pela linguagem simbólica.
Mas o que poderia ser um símbolo? Entre as diversas contribuições optamos tanto as refle-
xões do fenomenologo José S. Croatto e do teólogo Paul Tillich. Dessa forma, na perspectiva de
Croatto (2010), no símbolo estariam presentes dois tipos de elementos que de alguma maneira se
conectariam. Em Tillich, “o símbolo faz parte daquilo que ele indica” (2002, p. 31). Sendo assim,
o símbolo carregaria dois elementos – significados – que indicam – comunica – algo dele próprio.
[...] duas coisas separadas, mas que se complementam. [...] uma parte remete
a outra. Podemos deduzir que no símbolo estão presentes dois elementos que
de alguma forma se inter-relacionam. Mas devemos manter-nos no nível do
sentido, não do das coisas em si mesmas. Dois aspectos do símbolo devem
ser levados em consideração [...] primeiro, que o “segundo sentido” não está
objetivado nas coisas, mas é uma experiência humana e singular em cada ser
humano. (CROATTO, 2010, p. 85-86).
nos leva a níveis de realidade que, não fosse ele, nos permaneceriam inaces-
síveis. Toda a arte cria símbolos para uma dimensão da realidade que não nos
é acessível de outro modo. Um quadro ou uma poesia, por exemplo, revelam
traços da realidade que não podem ser captados cientificamente (TILLICH,
2002, p. 31).
A respeito das músicas, a tradição protestante tem como gênio de melodias religio-
sas Johann Sebastian Bach (1685-1750). Nas imagens artísticas, encontramos também
Rembrandt Harmenszonn (1606-1669) que teria pintado cenas bíblicas onde seria possível
observar características protestantes.3
A partir desses dois exemplos – música e pintura – podemos perceber que a arte é um
elemento presente dentro do universo do sujeito protestante, e o simbolismo religioso está
presente em suas constituições artísticas, como por exemplo, “Jesus, joy of man’s desiring”
de Bach e “O sacrifício de Isaac” (1635) de Rembrandt.
Embora, como veremos, a tradição protestante tenha formulado ideias a respeito das
imagens e objetos religiosos em seus espaços de culto, o sujeito religioso (que também é
intérprete da religião) está envolto em um sistema de representações, onde símbolos, mitos
e ritos são elementos significativos dento do fenômeno religioso.
3 Cf. Pulici, Carolina. Traços Puritanos na Pintura de Rembrandt. Disponível em: <<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttex-
t&pid=S0100-85872007000100004>. Acesso em dezembro de 2016.
Nossa abordagem deste tópico tem como pretensão lançar reflexões para que seja
possível cada vez mais esta temática seja discutida no espaço da academia.
Antes de adentrarmos nas interpretações de nossa temática é necessário que façamos
uma breve história da arquitetura. Para as questões relativas à arquitetura recorremos a
algumas definições básicas sobre o significado da mesma. Sendo assim, para Lúcio:
A partir das reflexões de L. Costa arquitetura não significa o simples erquer de uma
estrutura física, mas encontra-se cercada de pressupostos artísiticos e estéticos. Tais conjec-
turas, por sua vez, não são aleatórias, mas cumprem uma finalidade. É importante ressaltar
que não é somente a intencionalidade que define um projeto arquitetônico, mas uma série
de fatos, como exemplo, a época, o espaço físico, o contexto social e outras características.
As ponderações que retiramos de L. Costa nos auxiliam a situar a nossa temática, pois:
de um lado temos a arquitetura como espaço de intenção, e de outro, relevância do contexto
em que a mesma se encontra.
Estas citações de L. Costa servirão como uma das bases para observamos à arquiteria
protestante como parte de um conjunto de representações simbólicas. Convém ressaltar que
o presente trabalho não focalizará de forma específica a arquitetura protestante brasileira,
devido à pequena representatividade da mesma par ao foco de nosso estudo.
A TRADIÇÃO E OS SÍMBOLOS.
4 Lutero levava tão a sério a ideia de se aperfeiçoar a fim de ganhar a aceitação de Deus, que logo se tornou um fardo para seus confrades.
A prática monástica prezava a introspecção e o auto-exame que sondava a consciência. “Será que realmente dei o melhor de mim em
favor de Deus? Será que realizei plenamente o potencial que me foi dado por Deus?” Nenhuma pessoa sensível, vivendo sob tal pressão
introspectiva de alcançar a justiça diante de Deus, tem condições de responder estas perguntas afirmativamente. Lutero vivia em um estado
de contínua ansiedade no tocante a sua justiça. Ele buscava constantemente orientação espiritual e confessores. Anos mais tarde, fez a
seguinte observação a respeito disso tudo: “Às vezes meu confessor me dizia, quando eu discutia repetidamente uma série de pecados
tolos com ele; “Tu és um idiota (...) Deus não está zangado contigo, tu és que estás zangado com Deus” (LW 54, p.15). Ironicamente, Lutero
entrou no mosteiro para superar sua incerteza de salvação, mas confrontou-se ali com a mesma introspecção que causara sua ansiedade
diante de Deus, introspecção agora intensificada ao ponto de tornar-se uma arte altamente especializada (LINDBERG, 2001, p.83-84).
5 Situada na Alemanha, Lutherstdt Wittenberg é uma cidade de notória importância para a história da Reforma Protestante.
A teologia elaborada por João Calvino difere de Martinho Lutero também na relação
entre transcendência e imanência de Deus. Mesmo admitindo que Deus se fizera humano
por meio de Jesus Cristo, e que, portanto, esteve próximo da humanidade em certo período
histórico, na época atual (século XVI), Calvino acreditava que Deus manteria contato com
sua criação através do Espírito Santo. Para Wachholz (2010, p.172), “Calvino, por sua vez,
chegou a afirmar a transcendência de Deus de uma forma tão vigorosa, que havia quem con-
cluísse que fazia ressurgir o escotismo novamente”. Dessa forma, o reformador de Genebra
reclamava para a divindade uma absoluta transcendência.
A ideia teológica de Calvino fora mantida por seus discípulos e sucessores, tendo claro
reflexo na adaptação e construção das casas de oração pertencentes à tradição reformada.
O interior dos templos luteranos, ao reinterpretar a função dos objetos artísticos, consi-
dera-os como símbolos de um Deus ainda transcendente e soberano, mas que, ao mesmo
tempo, se compadeceu do pecador ao ponto dele se aproximar. Wachholz (2016) nos lembra
de que a arte luterana também apresenta uma noção pedagógica, simbolizando, assim, o
papel da igreja como fiel escola do Espírito.
O simbolismo nos templos reformados primevos não se encontra restrito ao vazio.
Mesmo bastante “empobrecido”, se comparado com seu similar luterano, encontramos em
várias igrejas calvinistas cruzes em suas torres (o presbiterianismo irlandês e escocês, por
exemplo, manteve o uso da cruz céltica em seus cemitérios, por exemplo), pias batismais
etc. Mas três elementos considerados absolutamente pragmáticos e utilitários foram guina-
dos à condição de símbolo nesta família confessional. Referimo-nos à Bíblia, ao púlpito e a
mesa de comunhão. Leith comenta esse importante ponto:
A remoção ou destruição dos símbolos do culto medieval não quer dizer que os
reformados desprezavam os símbolos. Eles os consideravam de importância
decisiva e, por isso, mudaram os símbolos e arranjos do culto. Estavam preocu-
Notemos que o espaço arquitetônico luterano era organizado com finalidades peda-
gógicas. Tudo deveria colaborar para o correto entendimento da palavra anunciada, seja
de forma verbal ou artística.
Em comum com a tradição reformada, a ênfase concedida ao púlpito e ao altar (no
calvinismo conhecido simplesmente como mesa de comunhão) revela não somente prag-
matismo, mas aponta para um simbolismo bastante marcante: a importância da pregação
(representada pelo púlpito) e da eucaristia (representada pelo altar) na vida comunitária.
Levando-se em consideração o que fora dito sobre a questão no universo luterano,
cria-se a impressão de que o templo calvinista ou reformado seja desprovido de qualquer
elemento simbólico, haja vista a destacada simplicidade quase sempre presente nesse re-
cinto religioso. Sobre a típica igreja de corte calviniana, Leith esclarece:
Em Dinâmica da Fé (2002), Paul Tillich inicia suas considerações alegando ser natural
que o ser humano possua algo que lhe toque de maneira incondicional, algo absolutamente
transcendental e que seja responsável por conceder sentido à própria existência. Não obs-
tante, esse incondicional não pode ser representado, compreendido e vivenciado segundo
um prisma meramente racionalista. Somente os símbolos religiosos acabam representando e
comunicando o elemento incondicional, pois, “aquilo que toca o homem incondicionalmente
precisa ser expresso por meio de símbolos, porque apenas a linguagem simbólica consegue
expressar o incondicional” (TILLICH, 2002, p. 30).
As questões teológicas e o contexto histórico são temas significativos para compreen-
demos a Reforma, mas quando nos voltamos para os interpretes da religião —Luterana e
Calvinista — observamos que ainda assim a símbolos são elementos importante da expe-
riência religiosa, mesmo que essa ideia seja “velada” por um discurso que deixa de enaltecer
os símbolos religiosos. O que acontecem é que a interpretação desses símbolos difere na
questão de serem de fato extremamente importantes a ponto de ultrapassar a relevância de
Deus no culto. Como já mencionado anteriormente, em ambas as tradições encontramos
como símbolos centrais, a bíblia, ao púlpito e a mesa de comunhão, e entre outros. Mas
esses três elementos detêm significados atrelados à narrativa mítica e o ritual, temas esses
de extrema importância para a dinâmica do fenômeno religioso.
Em seu livro As Linguagens da Experiência Religiosa (2010) José Severino Croatto
elenca uma série de argumentos sobre o símbolo, o mito e o rito como esses três elemen-
tos dinâmicos interagem entre si. Entre eles o símbolo seria a chave para entendermos a
experiência religiosa. E nesse sentindo, embora Luteranos e Calvinistas tenham compreen-
sões teológicas um tanto quanto diferente sobre as imagens e esculturas que procuram
representar a divindade, devemos também compreender que os símbolos dos quais eles
comungam —bíblia, púlpito e mesa de comunhão — permanecem como elementos de sig-
nificados profundos para o interpretes dessas religiões que organizam seus cultos entorno
da importância atribuída a esses três elementos simbólicos.
Ainda que a ideia de pinturas artísticas e esculturas que procuram representar Deus
tenham compreensões distintas dentro da tradição protestante, à arquitetura das igrejas, a or-
ganização dentro dos templos é feitas dentro de uma lógica de comunhão que recorre a mitos
sagrados do cristianismo, que por sua vez são ritualizados através da oratória da palavra e da
ceia, símbolos esses importantes na constituição da fé. E assim, os símbolos também teriam
“uma função social” que gera “vinculo entre os seres humanos” (CROATTO, 2010, p. 114).
A intenção de nosso trabalho foi apresentar algumas reflexões — mesmo que de forma
breve — a respeito das duas linhas fundantes da Reforma: o Luteranismo e o Calvinismo.
REFERÊNCIAS
1. ABUMANSSUR, Edin Sued. Arquitetura Protestante. In: FILHO, Fernando Bortolleto. Dicionário
Brasileiro de Teologia. São Paulo: ASTE, 2008.
2. COSTA, Lúcio. Considerações sobre arte contemporânea. São Paulo: Empresa das Artes,
1995.
5. LEITH, John H. A Tradição Reformada- Uma maneira de ser a comunidade cristã. São
Paulo: Pendão Real, 1997.
7. KAUFMANN, Thomas. História Ecumênica da Igreja- Da alta Idade Média até o início da
Idade Moderna. São Paulo/São Leopoldo: Paulus, Loyola e Sinodal, 2014.
10. WACHHOLZ, Wilhelm. História e Teologia da Reforma- Introdução. São Leopoldo: Sinodal,
2010.
10.37885/201001657
RESUMO
Na colônia alemã de São Leopoldo, de 1868 a 1874, Jacobina Mentz liderou o movimento
religioso, influenciando os adeptos a viver, segundo o evangelho de Jesus Cristo, no seu
sentido primeiro. O grupo reunia-se na casa de Jacobina e seu marido, João Jorge Maurer
para ler e interpretar a Sagrada Escritura, orar e entoar cânticos. Acreditavam que o dia
do juízo final se aproximava e era preciso se preparar. A rejeição da comunidade, da
imprensa e das autoridades civis e religiosas fez com que o grupo se isolasse e não par-
ticipasse mais dos atos comuns da comunidade como da Igreja e da escola. Perseguidos
e não atendidos pelas autoridades, os mucker passaram a revidar as agressões que so-
friam, usando a violência para se defender e se vingar. O exército interveio para aplacar
a violência na colônia alemã, mas longe de pacificar, marcou com um desfecho trágico
um capítulo da História do Rio Grande do Sul.
1 BIEHL, J. G. A guerra dos imigrantes: o espírito alemão e o estranho Mucker no Sul do Brasil. In: Psicanálise e Colonização: leituras
do sistema social no Brasil. Porto Alegre: Artes Ofício, 1999, p. 156.
2 BIEHL, J. G. A guerra dos imigrantes: o espírito alemão e o estranho Mucker no Sul do Brasil. In: Psicanálise e Colonização: leituras
do sistema social no Brasil. Porto Alegre: Artes Ofício, 1999, p. 157.
3 BIEHL, J. G. A guerra dos imigrantes: o espírito alemão e o estranho Mucker no Sul do Brasil. In: Psicanálise e Colonização: leituras
do sistema social no Brasil. Porto Alegre: Artes Ofício, 1999, p. 160.
4 Ibid., p. 157.
Até 1871, os mucker não usavam a Sagrada Escritura e não se preocupavam em fazer
uma congregação de fiéis. As reuniões na casa dos Maurer eram uma atividade paralela à
5 A Câmara Municipal de São Leopoldo foi criada em 24 de julho de 1846, sendo abrigada na mesma casa a cadeia municipal. A Lei nº
4, de 1º de abril de 1846 fez nascer a Vila de São Leopoldo, instituindo a municipalização do povoado do mesmo nome. A vila tornar-
-se-ia cidade em 12 de abril de 1864, pela Lei nº 563 (SILVA, H. R. K. Fontes para a história da Câmara Municipal de Vereadores de
São Leopoldo. In: SILVA, H. R. K.; HARRES, M. M. (Orgs.). A história da Câmara e a Câmara na história. 1. ed. São Leopoldo: Oikos,
2006, p. 15).
6 BIEHL, J. G. A guerra dos imigrantes: o espírito alemão e o estranho Mucker no Sul do Brasil. In: Psicanálise e Colonização: leituras
do sistema social no Brasil. Porto Alegre: Artes Ofício, 1999, p. 159.
Jacobina para, parece tornar do êxtase à vida terrena, e lança um olhar sobre
os circundantes. Depois fixa os olhos num ponto: o seu gesto toma uma expres-
são suave, risonha. Todas as vistas voltam-se para aquela banda. Ali se acha
um homem, quase quinquagenário, espadaúdo, de cabelo negro e sobrance-
lhas hirsutas. Jacobina acena-lhe. Então aquele indivíduo, rompendo por entre
a turba e exclamando: - Sim, eu creio, eu creio que tu és Cristo – prostra-se
de joelhos a seus pés. Jacobina olha para ele, com ar benévolo. Pois bem!
Diz ela – Já que assim procedes, perdoo-te a inimizade que alimentavas, no
íntimo, contra mim. És digno de pertencer ao número dos meus discípulos...
Tu disseste – acrescentou ela – que eu sou o Cristo, e eu o sou, na verdade; e
estas palavras do espírito de Cristo; eu sofro e sofrerei, mas também eu terei
a minha ressurreição. Quem acreditar esta verdade e algumas outras mais,
esse terá a vida eterna13.
Talvez Jacobina misturasse o texto bíblico (Mt 16,17-19) em que Pedro responde a
Jesus: “Tu és o Cristo o filho do Deus vivo” com o texto da Transfiguração, no monte Tabor,
pois ambos os acontecimentos parecem acenar para o ritual de Jacobina no dia quatro
de maio de 1872. No primeiro texto, Pedro reconheceu em Jesus o Cristo, o filho de Deus
vivo. Jesus lhe chama de Bem-aventurado, filho de Jonas, pois Deus havia lhe havia feito
essa revelação; no segundo, Deus fez os apóstolos verem que Jesus, seu filho, tinha uma
7 NOÉ, M. História do ano de 1874. In: DOMINGUES, M. A nova face dos Muckers. 1. ed. São Leopoldo: Rotermund, 1977, p. 387.
8 DOMINGUES, M. A nova face dos Muckers, p. 72.
9 NOÉ, M. História do ano de 1874. In: DOMINGUES, M. A nova face dos Muckers. 1. ed. São Leopoldo: Rotermund, 1977, p. 387.
10 “O equívoco do Pe. Schupp, que parece ter seguido as pegadas de Koseritz, foi este: o fato aconteceu a 4 de maio de 1873 e não a
19 de maio de 1872, quando faziam apenas 19 dias que Aurélia, última filha de Jacobina, havia sido batizada pelo pastor de Campo
bom. Engano muito sério, pois deixa o intervalo de um ano entre a fundação da seita e a intervenção das autoridades, quando na
realidade esse intervalo foi de apenas 4 dias” (DOMINGUES, M. A nova face dos Muckers, p. 101).
11 Padre Schupp diz que dia 19 de maior de 1872 era o dia de Pentecostes.
12 SCHUPP, A. Os Muckers, p. 59.
13 SCHUPP, A. Os Muckers, p. 60.
14 João Jorge Klein: Nasceu em 14/05/1820, em Hunsrück, na Alemanha e faleceu em 06/10/1915, em Canoas, Rio Grande do Sul.
Chegou no Brasil em 1853, em 13/4/1855, casou com Catarina Mentz, irmão mais velha de Jacobina. Destacava-se dos demais pela
cultura acima da média, contribuindo até para jornais locais, embora dado a brigas e intrigas. Em 1858, foi eleito pastor das picadas
do Café e da 48 colônias, onde desempenhara as atribuições que lhe competiam com muito com zelo. Foi considerado pela popu-
lação e autoridades locais, desde o início, um dos principais líderes dos mucker: “o misterioso” tido como diretor espiritual da seita e
dos acontecimentos em torno do casal milagreiro (SCHUPP, op. cit., p. 44-45; Cf.: DOMINGUES, M. A nova face dos Muckers, p. 49).
15 SCHUPP, op. cit., p. 59.
16 AMADO, J. A revolta dos Mucker, p. 189.
17 Moacyr Domingues põe esse acontecimento no dia 4 de maio de 1873.
18 SCHUPP, A. Os Muckers, p. 76-77.
Pe. Schupp, em várias passagens de seu livro, narra que Jacobina se dizia ser o Cristo
na terra, incumbida de uma importante missão, tinha sido ungida por Deus20. Durante o in-
quérito policial do dia 22 de maio de 1873, Jacobina disse ao chefe de polícia, Dr. Luís José
de Sampaio, que entre ela e a divindade não necessitava de intermediários21. Essa fala é
relevante, pois aconteceu durante um inquérito policial e, por isso, tem veracidade. Na pre-
sença do chefe de polícia, em nenhum momento ela teria dito ser o Cristo. Com isso, há a
possibilidade de que essa afirmação não tenha sido feita por Jacobina, é provável que tenha
sido atribuído por seus detratores e teria chegado até hoje pelos relatos dos primeiros escritos
sobre os mucker. Se analisarmos o teor do inquérito policial, podemos ver a Jacobina como
uma líder religiosa, querendo que seus adeptos sigam o Evangelho no seu sentido literal,
preparando nova doutrina para embasar o ensino, afastando-se das igrejas, porque, ao seu
ver, os representantes religiosos não sabiam explicar a Escrituras Sagrada.
A carta que Jacobina mandou ao primo e delegado de São Leopoldo, Lúcio Schreiner,
em 19 de maio de 1874, sugere que Jacobina tem autoridade de cobrar que o primo leve uma
vida cristã. Ela pede a Schreiner que pare de perseguir os inocentes, de pecar, de endossar
calúnias, de organizar petições contra os mucker e, principalmente, pare de desrespeitar as
Sagradas Escrituras. Pede para que o primo se prepare para o dia do juízo final22. Em outra
carta, dessa vez ao primo Schroeder, Jacobina diz que o anticristo profetizado por Maria
Margarida Müller, mãe de Schroeder, era identificado como Lúcio Schreiner, pois “ha perto
de um ano”, vinha instigando Schroeder contra ela e seus seguidores. Que Schroeder viesse
visitá-los, assim também fizesse uma visita a Klein para ser contemplado de mais esclare-
cimentos sobre o que ela lhe falava através da carta23.
As práticas do mucker foram legitimadas por expressivo número de simpatizantes, entre
700 e 1000 pessoas, o que é significativo, considerada a população total da Colônia Alemã
de 14.000 pessoas daquele tempo. Em suas casas foram encontrados somente exemplares
da Sagrada Escritura e um hinário evangélico petista. Na concepção do historiador Martin
19 Ibid., p. 77.
20 Ibid., p. 76.
21 DOMINGUES, M. A nova face dos Muckers, p. 159.
22 Ibid., p. 242.
23 Ibid., p. 244.
24 DREHER, M. N. Conversas a partir da margem: dialogando sobre os Mucker. In: SIDEKUM, A.; GRÜTZMANN, I.; ARENDT, I. (Orgs.).
Campos múltiplos identidade, cultura e história. São Leopoldo: Nova Harmonia: Oikos, 2008, p. 64.
25 DREHER, M. N. (Orgs.). Imigrações e História da Igreja no Brasil, p. 122.
26 AMADO, Janaína. A Revolta dos Mucker. pág. 172.
CONCLUSÃO
33 COMBLIN, José. Atos dos Apóstolos vol. I: 1-12. 1. ed. Petrópolis: Vozes; São Leopoldo: Sinodal, 1988. p. 48.
34 QUEIROZ, Maria Isaura Pereira de. O Messianismo no Brasil e no mundo. 2. ed. São Paulo: Alfa-Omega, 1977, p. 311.
35 SCHUPP, Ambrósio. Os Muckers. 2. ed. Porto Alegre: Selbach e Mayer, 1910. p. 77-78.
36 Ibid., p. 125.
REFERÊNCIAS
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Carlos Barreto, Maria da Salete, Gisele Hiltl e Borba Sidnei. São Paulo: Filmes do Equador, Luiz
Carlos Barreto Produções Cinematográficas e Visional do Brasil, 2002. 1 DVD (103 min), color.
3. BÍBLIA. Português. A Bíblia de Jerusalém. Nova edição rev. e ampl. São Paulo: Paulus, 2002.
4. BIEHL, J. G. A guerra dos imigrantes: o espírito alemão e o estranho Mucker no Sul do Brasil.
In: Psicanálise e Colonização: leituras do sistema social no Brasil. Porto Alegre: Artes Ofício,
1999. p. 148-168.
6. COMBLIN, José. Atos dos Apóstolos vol. I: 1-12. 1. ed. Petrópolis: Vozes; São Leopoldo:
Sinodal, 1988.
8. DICKIE, Maria Amélia Schmidt. Afetos e circunstâncias. Um estudo sobre os Mucker e seu
tempo. São Paulo: Universidade de São Paulo, 1996.
9. DOMINGUES, Moacyr. A nova face dos Mucker. 1. ed. São Leopoldo: Rotermund, 1977.
10. DREHER, Martin N. Igreja e Germanidade. 1. ed. São Leopoldo: Sinodal/EST/EDUCS, 1984.
11. _______. (Org.). Imigrações e História da Igreja no Brasil. 1. ed. Aparecida: (S.P): Santuário,
1993.
13. DREHER, Martin Norberto. A Câmara Municipal de São Leopoldo e o conflito Mucker. In: SILVA,
Haike Roselane Kleber da; HARRES, Marluza Marques. A história da Câmara e a Câmara na
história. 1. ed. São Leopoldo: Oikos, 2006.
14. _______. Conversas a partir da margem; dialogando com os Mucker. In: SIDEKUM, Antônio;
GRÜTZMANN, Imgart; ARENDT, Isabel Cristina (Orgs.). Campos múltiplos: identidade, cultu-
ra e história. Festschrift em homenagem ao Prof. Arthur Blásio Rambo. São Leopoldo: Nova
Harmonia: Oikos, 2008. p. 64.
15. DREHER, Martin Norberto; FISCHER, Joachim. Peregrinação: estudos em homenagem a Jo-
achim Herbert Fischer pela passagem de seu 60º aniversário. São Leopoldo: Sinodal, 1990.
p. 102-112. Protestantismo em Revista, ano 02, n. 01, maio.-ago. 2003. ISSN 1678 6408.
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16. FABRIS, Rinaldo. Jesus de Nazaré história e interpretação. 1. ed. São Paulo: Loyola, 1988.
17. _______. Pelos caminhos de Jacobina: memória e sentimentos (res)significados. Tese (Dou-
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18. GIRARD, René. O bode expiatório. 1. ed. São Paulo: Paulus, 2004.
19. MAURER, Jacobina. Carta de Jacobina Maurer ao Sr. Mathias Schroeder, residente em Ma-
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20. NOÉ, Miguel. História do ano de 1874. In: DOMINGUES, Moacyr. A nova face dos Mucker. 1.
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21. PETRY, Leopoldo. O episódio do Ferrabraz: os Muckers. 2. ed. São Leopoldo: Rotermund. 1966.
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na concepção de Rinaldo Fábris e José Comblin. Dissertação de mestrado. Faculdade de
Teologia. Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Março de 2013.
Adolescente: 31 D
Amor: 65, 106, 110, 244, 278, 310 Devoção: 271
Antepassados: 380, 392 Diabo: 304, 434, 435, 436, 437, 438, 439, 440,
441, 442, 443, 444, 445
Apocalipse: 68, 441
Dialética: 208
Aprendizagem: 132
Diálogo: 149, 237, 241, 244
Apropriação: 208
Dignidade: 228, 231, 370
Arquitetura: 447, 453, 461
Distanciamento: 207, 208, 209
B
Dom: 150, 220, 221, 321, 322, 323, 324, 325,
Bíblia: 63, 73, 103, 110, 112, 115, 117, 118, 154, 326, 333, 396, 397, 472
157, 248, 258, 259, 264, 267, 273, 276, 291, 342,
354, 358, 364, 373, 375, 435, 436, 437, 439, 443, Dostoiévski: 301, 302, 303, 304, 305, 306, 307,
444, 450, 455, 457, 458, 459, 469, 473, 474, 475 308, 309, 310, 311, 312, 313, 316, 440
Ciências: 58, 83, 113, 132, 133, 134, 136, 138, Esperança: 236, 237, 377
141, 144, 145, 148, 149, 150, 151, 294, 295,
299, 366, 396, 399, 402, 405, 409, 411, 412, Espírito: 15, 36, 73, 113, 116, 149, 155, 181,
418, 419, 420, 421, 422 182, 221, 222, 223, 224, 225, 226, 282, 283,
284, 307, 309, 314, 343, 344, 345, 353, 442,
Compreensão: 208 456, 457, 465
Comunidade: 181, 190, 250, 252, 258, 259, Espiritualidade: 424, 433
260, 261, 262, 263, 264, 336, 352, 354, 463
Ética: 31, 66, 228, 234, 431
Cosmologia: 380, 390
Europa: 41, 42, 44, 45, 48, 50, 53, 88, 95, 96,
Crescimento na fé: 247 165, 303, 320, 321, 322, 397, 419, 443, 449,
459, 461, 471
Criação: 13, 228, 229, 360, 363, 365, 367, 372,
376, 377, 441 Evangélicos: 153, 476
Formação Contínua: 246, 247 Mistério: 271, 272, 273, 274, 275, 276, 314
Fraternidade: 117, 121, 122, 243, 278 Mito: 76, 82, 85, 413
G Moderna: 461
Gênero: 399, 411, 412, 420, 422 Mucker: 463, 465, 466, 467, 469, 471, 472, 475,
476, 477
H
Mulher: 271, 274, 412
Helenismo: 68
N
Hermenêutica: 208, 209, 210, 212
Narrativas: 52, 337
Humano: 13, 203
Neopentecostais: 153
I
P
Imaginário: 76, 77, 84, 85, 412, 440
Paróquia: 179, 180, 185, 190
Imperialismo: 68
Paz: 123, 129, 130, 162, 237, 239, 240, 241,
Indígenas: 121, 228, 234 242, 245, 363
K Plágio: 41
Religião: 58, 73, 87, 90, 98, 99, 113, 132, 133, 135, 136, 137, 144, 145, 146, 147, 148, 149, 150,
151, 176, 190, 237, 246, 272, 294, 295, 299, 300, 323, 327, 366, 379, 380, 381, 382, 384, 389, 398,
399, 402, 405, 409, 411, 412, 414, 418, 419, 420, 421, 422, 433
S
Salvação: 57, 237, 243
Seguimento: 336
Sequência Didática: 76
Símbolo: 447
Sofrimento: 101
T
Tempo: 13, 19, 20, 22, 25, 149, 162, 195, 196, 197, 198, 211, 214, 215, 219
Teoliteratura: 435
Teologia: 73, 113, 144, 145, 148, 150, 180, 184, 185, 191, 220, 226, 268, 272, 302, 306, 307, 312,
316, 358, 372, 376, 377, 436, 440, 444, 445, 461, 462, 477
V
Violência: 87, 121, 235, 412