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Fundamentos da

Psicopedagogia

Pós-graduação a Distância

Brasília-DF, 2007.

Direitos reservados ao CETEB 1


Elaborado por:

Mônica Souza Neves-Pereira


Fundamentos da Psicopedagogia

DOCUMENTO DE PROPRIEDADE DO CETEB / GIP


TODOS OS DIREITOS RESERVADOS

Nos termos da legislação sobre direitos autorais, é proibida a reprodução total ou parcial
deste documento, por qualquer forma ou meio – eletrônico ou mecânico, inclusive por
processos xerográficos de fotocópia e de gravação – sem a permissão expressa e por
escrito do CETEB.

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Sumário

Apresentação.............................................................................................................................. 04

Organização da Disciplina............................................................................................................. 05

Fundamentos da Psicopedagogia................................................................................................. 06

Unidade I - FUNDAMENTOS E OBJETO DE ESTUDO DA PSICOPEDAGOGIA.......................................... 09

Capítulo 1 - A Psicopedagogia como ciência: objeto de estudo e método........................................ 09

Capítulo 2 - Histórico do campo de conhecimento psicopedagógico no Brasil................................... 15

Capítulo 3 - Introdução aos aspectos contituintes da abordagem psicopedagógica: conceito de


aprendizagem e seus impedimentos, etiologia, taxonomia e modelos de intervenção..................... 19

Capítulo 4 - Questões sobre a interdisciplinaridade na Psicopedagogia......................................... 35

Unidade II - O PSICOPEDAGOGO COMO PROFISSIONAL..................................................................... 37

Capítulo 5 - Construindo o campo de conhecimentos da Psicopedagogia: articulando diferentes


contribuições teóricas.......................................................................................................... 37

Capítulo 6 - A formação profissional......................................................................................... 41

Capítulo 7 - Código de Ética e Atuação do Psicopedagogo............................................................. 42

Referências.................................................................................................................................................. 46

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Apresentação

Caro(a) aluno(a),

Bem vindo(a) à disciplina “Fundamentos da Psicopedagogia”!

Este é o nosso Caderno de Estudo. Ao elaborarmos este mateiral, nosso propósito foi contribuir para
que você possa realizar seus estudos de modo prazeroso e com excelente aproveitamento. Também é
nosso objetivo apresentar conteúdos que permitam a ampliação de seus conhecimentos acerca dos
Fundamentos da Psicopedagogia.

Para que você se situe sobre o que vai estudar nas próximas 4 semanas, conhecá os objetivos da
disciplina, a organização dos temas e o número aproximado de horas de estudo que deve dedicar a
cada unidade.

A carga horária dessa disciplina é de 40 horas, cabendo a você administrar seu tempo conforme a
sua disponibilidade. Lembre-se, porém, que há uma data limite para conclusão, pois, até o final da
disciplina, você everá apresentar ao seu tutor os trabalhos avaliativos indicados na folha anexa, com
as respectivas pontuações e prazos de entrega.

As unidade foram organizadas de forma didática, objetiva e coerente. Elas apresentam os textos
básicos com questões para reflexão e indicam as leituras e pesquisas complementares.

Esperamos que você aproveite ao máximo o estudo dos temas abordados nesta disciplina.

Um bom trabalho!
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Organização da Disciplina

Organização da Disciplina: Fundamentos da Psicopedagogia


Objetivos:
- Compreender a Psicopedagogia como campo do saber científico, seu objeto de estudo e metodologias
utilizadas na produção do conhecimento psicopedagógico;

- Conhecer oprocesso de construção histórica da Psicopedagogia como área que lida com os processos de
aprendizagem e seus impedimentos;

- Analisar os elementos constituintes do saber psicopedagógico e suas dimensões interdisciplinares;

- Avaliar a formação do especialista em psicopedagogia no Brasil e as implicações éticas e morais desta


área de atuação profissional.

Unidade I : Fundamentos da Psicopedagogia


Carga horária: 30horas

Conteúdo Capítulo
A Psicopedagogia como ciência: objeto de estudo e método Capítulo 1
Histórico do campo de conhecimento psicopedagógico no Brasil Capítulo 2
Introdução aos aspectos constituintes da abordagem psicopedagógica: conceito
de aprendizagem e seus impedimentos, etiologia, taxonomia e modelos de Capítulo 3
intervenção.

Questões sobre a interdisciplinaridade na Psicopedagogia Capítulo 4

Unidade II : O psicopedagogo como profissional


Carga horária: 10horas

Conteúdo Capítulo
Construido o campo de conhecimento da Psicopedagogia: articulando diferentes Capítulo 5
contribuições teóricas
A formação profissional.
Código de Ética e Atuação do Psicopedagogo Capítulo 6
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As Associações de Psicopedagogia no Brasil

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Fundamentos da Psicopedagogia

Fundamentos da Psicopedagogia
Mônica Souza Neves Pereira

Querido(a) aluno(a), a partir da agora você será introduzido no universo da Psicopedagogia. Esta área do conhecimento
é ainda jovem, vem sendo construída há pouco tempo, especialmente no Brasil, porém, trás em suas propostas
teóricas e práticas diversas alternativas de compreensão e intervenção com relação aos problemas de aprendizagem
vivenciados por muitos alunos, que geram o fenômeno do fracasso escolar, tão devastador para a nossa sociedade.

Quando um aluno fracassa na escola, todo um sistema fracassa junto. A falha do aluno é também a falha do
professor, da escola, da família, da sociedade, das políticas públicas, da economia, enfim, de todos os elementos
que, conjuntamente, tecem este fenômeno complexo e impeditivo do sucesso e realização profissional e pessoal de
muitas pessoas.

Neste módulo vamos nos aproximar do conhecimento psicopedagógico, como uma disciplina que objetiva investigar,
com profundidade, a natureza dos processos de aprendizagem e a construção da não-aprendizagem, considerando
seus elementos constitutivos. Lidar com o fracasso escolar exige, do profissional, conhecer os mecanismos do
sucesso escolar. Este tema também é de nosso interesse, pois permite uma visão panorâmica da Psicopedagogia
como área de construção de conhecimentos teóricos, de pesquisa e de aplicação não só das queixas de aprendizagem
como, também, de estratégias promotoras do sucesso na escola.

Antes de iniciarmos o estudo deste módulo, gostariamos de propor um primeiro desafio. Todos estão convidados a
refletir sobre as frases em destaque, logo em seguida, a buscar algum tipo de informação acerca destas afirmações.
São questões para pensar, para refletir, para renovar valores e saberes. Para analisar adequadamente estas questões,
também é indispensável a leitura, a pesquisa e uma reflexão crítica sobre diversos temas relacionados à educação e
à aprendizagem.

Vamos lá?
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Fundamentos da Psicopedagogia

Temas para reflexão


“Os diferentes sistemas de avaliação da Educação Básica mostram que os alunos da
escola pública brasileira chegam à 4ª série do Ensino Fundamental sem saber ler, escrever
e contar”.

“A escola pretende ofertar a todos as mesmas condições de ensino e aprendizagem.


Entretanto, o ensino não considera a singularidade de cada aluno e os trata de maneira
padronizada, tornando o processo de aprendizagem inviável, para muitos deles”.

“É preciso combater o fracasso escolar representado pela repetência. Em 1990,


constatava-se que mais de 50% dos alunos repetiam a primeira série do ensino
fundamental. Os números da educação no Brasil de 2003, recentemente divulgados,
revelam que as taxas caíram. A proporção nacional, na primeira série do ensino
fundamental é de 30,1%, e, na segunda série, de 19,8%. São ainda elevadas,
constituindo-se um sério problema para a educação”.
Fonte: INEP/MEC, 2006.

Então, você não acha que estes temas são da maior importância para qualquer profissional da educação, no Brasil?
O que você pensa a respeito destas informações? Que comentários você tem a fazer acerca destes assuntos?

Pode parecer que a Psicopedagogia não tem muito a ver com esta temática, não é? Mas ela tem sim. Como campo
do conhecimento que investiga a aprendizagem e seus possíveis impedimentos e considerando a escola como sua
área de atuação prioritária, a Psicopedagogia tem que assumir um compromisso sério e relevante com a oferta de
ensino de qualidade para todos, sem exceção. Não é só o fracasso escolar que nos interessa, antes de tudo,
buscamos os caminhos que promovem o sucesso escolar, a relação vitoriosa da criança com o processo de aprendizagem,
o resgate do prazer e da alegria que envolvem o ato de aprender.

Sendo assim, a partir destas reflexões iniciais, vamos começar o estudo do nosso módulo.

Este módulo está dividido em 2 unidades, sendo a Unidade I composta por 4 capítulos e a Unidade II composta por
2 capítulos. Ao término de cada capítulo há um glossário com os principais termos e/ou palavras discutidos no
texto.
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Fundamentos da Psicopedagogia
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Unidade I
Fundamentos e Objeto de Estudo
da Psicopedagogia
Capítulo 1 - A Psicopedagogia como ciência: objeto de estudo e método
Objetivo específico: proporcionar ao aluno saberes sobre a conceituação da
Psicopedagogia, seu objeto de estudo e método.

A Psicopedagogia é uma área do saber científico que surgiu há pouco tempo. Como toda ciência, em especial as
emergentes, seu campo teórico e metodológico encontra-se em plena construção.

Quando nos propomos a definir o que é a Psicopedagogia encontramos, freqüentemente, conceitos amplos, abrangentes
e complexos, que buscam destacar procedimentos, métodos e ideologias, que ainda não conseguem refletir um único
corpo teórico consistente.

Talvez por ser um tema recente, com sua base conceitual em formação, percebemos que os investigadores envolvidos
com este saber definem seus pressupostos conceituais a partir dos marcos teóricos eleitos como norteadores de sua
prática. Uns priorizam as contribuições da Psicanálise, outros enfatizam a abordagem Piagetiana ou a leitura de
Vygotsky sobre desenvolvimento e aprendizagem, enfim, embora utilizando os conhecimentos gerados pela Psicologia,
Pedagogia e áreas afins, a Psicopedagogia ainda reflete, como campo de conhecimento, sua instabilidade metodológica
e, conseqüentemente, sua inconsistência conceitual.

Neste capítulo apresentaremos diversos conceitos de Psicopedagogia como se têm discutido na atualidade, explorando
as leituras elaboradas por autores diferenciados, com seus aportes teóricos específicos.

Encontramos no popular dicionário Aurélio a seguinte definição para Psicopedagogia:

Psicopedagogia: S.f. Aplicação da Psicologia Experimental à Pedagogia (Ferreira, 1975,


1ª edição, p.1154).

Segundo Macedo (1992), “o termo aplicação implica a possibilidade de se empregar na Pedagogia resultados de
pesquisas que se fazem em Psicologia; ou seja, pode-se recorrer a dados da Psicologia, quando se dedica à tarefa de
educar ou ensinar alguma coisa a alguém” (p.122).

Ao escrever o prefácio para o livro Psicopedagogia, contextualização, formação e atuação profissional, de Scoz,
Barone, Campos & Mendes (1992), o professor Lino de Macedo argumenta que:

A psicopedagogia, conforme disse o dicionário, busca legitimamente, uma articulação


entre estas duas áreas, mas para isso há de pagar um preço muito caro: o de criar uma
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nova área (p.ix).

Para Refletir!

A identidade da Psicopedagogia deve ser procurada em seu próprio nome


e na legitimidade com que utiliza conteúdos da Psicologia e da Pedagogia,
o que a torna tributária destas duas áreas.

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Fundamentos e Objeto de Estudo da Psicopedagogia Unidade I

De acordo com Kiguel (1990),

(...) a Psicopedagogia é um campo de conhecimento relativamente novo que surgiu na


fronteira entre a Pedagogia e a Psicologia. Encontra-se em fase de organização de um
corpo teórico específico, visando à integração das ciências pedagógica, psicológica,
fonoaudiológica, neuropsicológica e psicolingüística para uma compreensão mais integrada
do fenômeno da aprendizagem humana (p.25).

Sua prática se organiza a partir de dois tipos de intervenção: a profilática e a terapêutica. O psicopedagogo exerce
uma função preventiva ou profilática quando atua nas escolas e orienta a formação profissional de professores e
uma função curativa ou terapêutica, quando sua ação se dirige aos alunos que apresentam dificuldades de
aprendizagem e seus contextos familiares.

Fernández (1991) argumenta que a psicopedagogia se ocupa do sujeito que aprende da mesma forma que a psicanálise
se ocupa do sujeito que deseja e a epistemologia genética do sujeito que conhece. Seu eixo fundamental situa-se no
campo onde se processa a relação ensino-aprendizagem. Este campo configura-se a partir da interação do organismo/
corpo/inteligência/desejo na relação com o outro. Articular esta interação constitui função primordial da psicopedagogia.
De acordo com a autora, a autonomia de pensamento e a liberdade para pensar representam o objeto desta
psicopedagogia. Se o sujeito humano necessita renunciar a essa liberdade e à autonomia de pensamento, termina
por aprisionar sua inteligência compondo, dessa forma, o palco onde se originam as dificuldades de aprendizagem.

Sara Pain (1992) apresenta definições distintas para os termos Psicopedagogia e dificuldades na aprendizagem. Em
sua abordagem, a aprendizagem é o instrumento por meio do qual se transmite a cultura, a ferramenta básica da
função educativa.

Uma definição ampla de educação, segundo esta autora, inclui quatro funções interdependentes, que são: a) função
mantenedora da educação (mantém a sobrevivência da espécie); b) função socializadora da educação (transforma o
indivíduo em sujeito); c) função repressora da educação (mantém o sistema social através do controle) e d) função
transformadora da educação (a abertura para as revoluções e os saltos qualitativos da humanidade). A aprendizagem,
como ferramenta básica deste processo complexo, tanto pode resultar em instância alienante como em uma
possibilidade libertadora (Pain, 1992).

Isto é Importante

O sujeito que não aprende torna-se incapaz de realizar essas funções básicas
da educação e assume a instância alienante que lhe cabe na sociedade.
Surge o fracasso escolar que, ao mesmo tempo, delata a responsabilidade
social em sua criação e pune o sujeito que o representa, ao fazê-lo assumir
também a culpa por não aprender.
Fundamentos da Psicopedagogia

A Psicopedagogia para Pain (1992):

(...) Surge como técnica da condução do processo psicológico da aprendizagem e traz,


com seu exercício, o cumprimento dos fins educativos. A Psicopedagogia adaptativa,
preocupada em fortalecer os processos sintéticos do ego (yo) e facilitar o desenvolvimento
das funções cognitivas, pretende colocar o sujeito no lugar que o sistema lhe designou.
Diferentemente, optamos por uma Psicopedagogia que permite ao sujeito que não aprende
fazer-se cargo de sua marginalização e aprender, a partir da mesma, transformando-se
para integrar-se na sociedade, mas dentro da perspectiva da necessidade de transformá-
la (p.12).

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Fundamentos e Objeto de Estudo da Psicopedagogia Unidade I

Para Bossa (1994), a Psicopedagogia constitui um campo do conhecimento muito recente e bastante atípico: “quanto
mais se tenta elucidá-lo, menos claro ele nos parece” (p.5). A denominação “Psicopedagogia” carrega consigo,
segundo esta autora, uma ambigüidade que reside tanto na palavra como em seu conteúdo.

Para Refletir

A Psicopedagogia não representa meramente uma aplicação da Psicologia


à Pedagogia, conforme consta no dicionário Aurélio, mas, ao utilizar e
aplicar esses conhecimentos, ela transcende estas áreas e cria um campo
novo, onde o processo de aprendizagem ocupa lugar central, mas não o
eixo fundamental do processo.

A Associação Brasileira de Psicopedagogia, com sede em São Paulo, publicou em seu Boletim Oficial, em junho de
1990, nº 18, ano 9, um documento onde se encontra uma definição para a Psicopedagogia (Noffs, 1995) que
corresponde a “área que estuda e lida com o processo de aprendizagem e suas dificuldades” (p.21). Dois anos depois
desta conceituação, surgiu o Código de Ética do Psicopedagogo, aprovado em assembléia durante o II Congresso
Brasileiro de Psicopedagogia, em 1992, onde se situou a:

A psicopedagogia é um campo de atuação em Saúde e Educação que lida com o processo


de aprendizagem humana; seus padrões normais e patológicos, considerando a influência
do meio - família, escola e sociedade - no seu desenvolvimento, utilizando procedimentos
próprios da psicopedagogia. Capítulo I - Dos princípios, Art. 1º (Noffs, 1995, p.26).

Finalizando a discussão conceitual, Solé (2001) apresenta a concepção de César Coll, eminente psicólogo educacional
da Espanha, acerca da Psicopedagogia como área de conhecimento e formação. A saber:

Numa primeira abordagem (...), podemos caracterizar o campo profissional da


psicopedagogia como aquele para o qual conflui um conjunto de profissionais – basicamente
psicólogos, pedagogos e psicopedagogos – cuja atividade fundamental tem a ver com
a maneira como as pessoas aprendem e se desenvolvem, com as dificuldades e os
problemas que encontram quando levam a cabo novas aprendizagens, com as
intervenções dirigidas a ajudá-las a superar estas dificuldades e, em geral, com as
atividades especialmente pensadas, planejadas e executadas para que elas aprendam
mais e melhor. De um ponto de vista genérico, podemos dizer que o trabalho
psicopedagógico está intimamente vinculado à análise, ao planejamento, ao
desenvolvimento e à modificação de processos educacionais (grifo nosso). Coll, 1996,
p.33 (em Sole, 2001).
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VAMOS CONSOLIDAR NOSSOS CONHECIMENTOS?

Já deu para perceber que não há um único conceito que defina a Psicopedagogia como área do conhecimento. Os
autores apresentam consenso com relação às definições, mas divergem entre si ao conceituarem esta disciplina.

Depois da leitura de todos estes conceitos, procure construir a sua definição de Psicopedagogia.

Não esqueça, você tem que elaborar este conceito com base na literatura, mas refletindo sua síntese sobre este
conteúdo!

Psicopedagogia é....

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Quanto ao objeto de estudo da Psicopedagogia, há consenso quando se afirma ser o estudo dos processos da
aprendizagem e seus impedimentos. Neves (1991) destaca que:

A Psicopedagogia estuda o ato de aprender e ensinar, levando sempre em conta as


realidades interna e externas da aprendizagem, tomadas em conjunto. E, mais, procurando
estudar a construção do conhecimento em toda a sua complexidade, procurando colocar
em pé de igualdade os aspectos cognitivos, afetivos e sociais que lhe estão implícitos
(p.12).

Segundo Rubinstein (1992), a princípio, a intervenção psicopedagógica clínica voltou-se, prioritariamente, para a
construção de métodos que pudessem auxiliar e readaptar ao contexto educacional, os sujeitos que apresentavam
dificuldades de aprendizagem. A partir da inserção de novas contribuições ao corpo de conhecimentos da
Psicopedagogia, nota-se uma mudança de enfoque que abrange o seu objeto de estudo. A intervenção institucional,
que objetiva compreender todo um sistema envolvido com o processo de ensino e aprendizagem, toma corpo e passa
a representar um campo de intervenção significativo na Psicopedagogia. O sistema de ensino e aprendizagem também
passa a ser objeto de estudo da Psicopedagogia.

Para Refletir!

Não só o processo de aprendizagem e suas nuances interessa ao


psicopedagogo, mas, também e principalmente, as relações que o
aprendiz estabelece com este processo, seus agentes e as instituições
que o legitimam.

À etiologia das dificuldades de aprendizagem soma-se, como objeto de estudo, a compreensão das inter-relações que
cercam o aprendiz em seu ambiente sócio-histórico-cultural. Rubinstein (1992) encerra este tópico confirmando a
amplitude do objeto de estudo da Psicopedagogia ao dizer:

A intervenção psicopedagógica tem como principal meta contribuir para que o aprendiz
consiga ser um protagonista não só no espaço educacional, mas na vida em geral (p.104).

GLOSSÁRIO

Epistemologia Genética – Modelo teórico de desenvolvimento da cognição, construído por Jean Piaget e que
explica o processo da construção do conhecimento desde sua origem. Epistemologia significa estudo (logia) do
conhecimento (episteme). A palavra “genética” diz respeito à gênese, não à dimensão genética. O interesse central de
Piaget era investigar a gênese da construção do conhecimento.

Etiologia - Estudo sobre a origem das coisas; parte da medicina que trata da causa de cada doença.
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Ideologia - Conjunto articulado de idéias, valores, opiniões, crenças etc., que expressam e reforçam as relações que
conferem unidade a determinado grupo social (classe, partido político, seita religiosa) seja qual for o grau de
consciência que disso tenham seus portadores.

Intervenção profilática – Modelo de intervenção que objetiva prevenir a ocorrência de um determinado fato, evento,
sintoma.

Intervenção terapêutica – Modelo de intervenção que busca curar e/ou solucionar, por meio de atendimento clínico,

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um fato, sintoma ou situação-problema.

Marcos teóricos – Opções teóricas feitas por pesquisadores e que sustentam a organização de suas idéias, concepções
e práticas. Aporte teórico é um sinônimo de Marco Teórico.

Psicanálise – Modelo teórico, criado por Sigmund Freud, que tem por objeto de estudo o inconsciente. Considera,
também, as desordens mentais e emocionais que constituem a estrutura das neuroses e psicoses, por meio de uma
investigação psicológica profunda dos processos mentais.
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Capítulo 2 - Histórico do campo de conhecimento psicopedagógico.


Objetivo específico: compreender a construção histórica da Psicopedagogia,
como ciência, no contexto mundial e, em especial, no Brasil.

O campo das dificuldades de aprendizagem tem sua origem em múltiplas concepções teóricas, provenientes das
diferenças conceituais abraçadas pelos profissionais envolvidos com essa temática. Para compreender o processo de
aprendizagem e sua contrapartida - o não-aprender - é necessário uma visão multidisciplinar, que abarque diferentes
áreas do conhecimento humano. Profissionais da Psicologia, Pedagogia, Neurologia, Lingüística, Antropologia,
Sociologia, Fonoaudiologia, entre outros, são chamados para uma atuação conjunta e articulada, com o propósito
de, segundo Fonseca (1995a):

(...) Explicar por que algumas crianças, independentemente das suas inteligências normais,
das suas adequadas acuidades sensoriais, dos seus adequados comportamentos motores
e sócio-emocionais, não aprendem a ler, a escrever e a contar (p.5).

De acordo com Fonseca (1995a), o aparecimento das dificuldades de aprendizagem se relaciona com o desenvolvimento
e a crescente complexidade da sociedade nos últimos séculos. Ao acompanharmos o percurso da História a partir do
momento em que surgiram as instituições escolares, nas sociedades dos séculos XIII e XIV, evidenciaremos um
processo evolutivo das práticas, crenças e valores vinculados à tarefa acadêmica, onde as exigências foram crescendo
em alta progressão, demandando das crianças comportamentos cada vez mais especializados e complexos.

A escola tornou-se, ao longo do tempo, um local cada vez mais exigente, com abordagens metodológicas semelhantes
para diferentes crianças, de classes sociais e econômicas distintas, que deveriam se adaptar aos contextos escolares
vigentes de qualquer forma.

Quem, por ventura, não se saísse bem no modelo escolar em pauta, deveria ser atendido em classes especiais para
tentar suprir suas dificuldades. A segregação e a discriminação surgem como reflexos de padrões estereotipados de
comportamentos que a escola espera que seus alunos apresentem e da sua dificuldade e falta de preparo para lidar
com o diferente.

Isso é Importante

Se o aluno não consegue aprender, é porque tem algum problema e não


porque sente dificuldade em se adaptar aos métodos escolares eleitos pela
sociedade. Será que é assim?

Nem sempre a criança que tem dificuldade para aprender é aquela que não se adapta ao contexto escolar com suas
características. Fatores de outra ordem estão implicados no processo do não-aprender, mas a escola certamente não
tem agido de forma a amenizar situações dessa natureza. Segundo Fonseca (1995a):

A escola pode humilhar, ameaçar e desencorajar, mais do que reforçar o eu, libertar ou
encorajar a criança. Temos o hábito de dizer que mandamos as crianças para a escola
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para aprenderem. O que se faz tradicionalmente é ensinar-lhes a pensar erradamente,


perdendo elas a sua espontaneidade e curiosidade, submetendo-as muitas vezes a normas
de rendimento e eficácia ou a métodos e correntes pedagógicas que estão na moda (p.9).

A história desses “outros” fatores que impedem a aprendizagem tem sua origem em investigações de diversos
pesquisadores (Ajuriaguerra, 1986, 1990; Fernández, 1991; Ferreiro & Teberosky, 1986; Fonseca, 1995a, 1995b;
Goldstein & Goldstein, 1994; Johnson & Myklebust, 1985; Pain, 1987, 1992; Piaget, 1989, 1991; Shain, 1978;
Teberosky, 1993; Vygotsky, 1991), que contribuíram para a construção do que hoje conhecemos como o campo de
estudo da Psicopedagogia.
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VAMOS CONSOLIDAR NOSSOS CONHECIMENTOS?

A Psicopedagogia é uma ciência que vêm construindo seu corpo teórico a partir das contribuições de diferentes
autores.

Faça uma pesquisa na internet sobre os autores citados no parágrafo anterior e analise suas contribuições para o
saber psicopedagógico e a questão das dificuldades de aprendizagem.

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Em Fonseca (1995a) encontramos uma breve revisão de literatura sobre os grandes pioneiros e suas pesquisas na
área das dificuldades de aprendizagem. Passeando por estudos clássicos, o autor organiza um quadro que retrata a
evolução das pesquisas neste campo, seus principais expoentes e o processo de desenvolvimento dentro de cada
abordagem.

É importante ressaltar que o enfoque dado inicialmente às dificuldades de aprendizagem era basicamente orgânico,
pautado em estudos de investigadores das áreas psiquiátricas, neurológicas, entre outras. Posteriormente, transferiu-
se o foco de atenção para a escola e a qualidade das relações lá existentes, o que demandou alternativas teóricas às
já existentes, com destaque para as contribuições da psicologia sócio-histórica.

Isto é Importante

Hoje, o que se observa, é uma tendência de integração teórica para


compreensão da etiologia e construção das dificuldades de aprendizagem,
em que fatores endógenos e exógenos interagem de forma dinâmica, sistêmica
e dialética.

A Psicanálise, com sua enorme influência no modo de pensar ocidental, colaborou com um arcabouço teórico consistente,
que foi incorporado ao campo de conhecimento da Psicopedagogia. A partir de uma leitura de Scoz (1994), com base
em pressupostos psicanalíticos, observa-se que:

A influência ambiental sobre o desenvolvimento da personalidade nos primeiros anos de


vida e a dimensão afetivo-emocional na determinação do comportamento e de seus desvios
passaram a ser enfatizados, provocando uma mudança terminológica para designar as
crianças que apresentavam problemas de ajustamento ou de aprendizagem escolar: em
vez de criança-anormal, criança-problema. (pp.19-20).

Em sua revisão da literatura sobre a história das dificuldades de aprendizagem, Fonseca (1995a) estabeleceu algumas
categorias funcionais, com o propósito de facilitar a compreensão das várias abordagens emergentes, que originaram
a área de investigação dos problemas de aprendizagem. Estas categorias refletem o foco de atenção dos diferentes
pesquisadores e se subdividem em: a) perspectivas lesionais e cerebrais; b) perspectivas perceptivo-motoras; c)
perspectivas de linguagem; d) perspectivas neuropsicológicas e e) perspectivas de integração (que incluem fatores
ambientais, sociais, emocionais, afetivos, entre outros).

Impossível desconsiderar a enorme contribuição dada pelos teóricos da área do desenvolvimento humano, que
investigaram facetas diferenciadas do processo de desenvolvimento e da aprendizagem. Dentre estes se destacam,
especialmente, Piaget e Vygotsky. As abordagens psicopedagógicas atuais utilizam os conhecimentos organizados
por estes teóricos como marcos referenciais para a sua prática tanto clínica como institucional.

Para Refletir!
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O que se deduz de todas essas especulações é a ausência de um modelo


ou proposta teórica que investigue as dificuldades de aprendizagem a
partir de uma perspectiva integrada e dialética. A diversidade de visões é
a regra, ao que parece.

Hoje, observa-se que o campo de investigação das dificuldades de aprendizagem assemelha-se a uma enorme colcha
de retalhos, onde alguns observam a origem das Dificuldades de aprendizagem - DAs em uma dimensão neurológica,
outros em uma dimensão social e contextual e alguns em uma perspectiva interativa. Fonseca (1995a) encerra esta
discussão argumentando:
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Dislexia ou dispedagogia? Problema da(s) criança(s) ou problema do(s) adulto(s)?


Dificuldade(s) de aprendizagem ou dificuldade de ensino? A falta de uma perspectiva
integrada, a delimitação de áreas de conteúdo e o divórcio interdisciplinar entre profissionais
fazem perder de vista uma dimensão global das dificuldades de aprendizagem (p.55).

Em resumo, as teorias das dificuldades de aprendizagem são controversas, conceitualmente


confusas e raramente apresentam dados de aplicação educacional imediata (p.57).

No Brasil, o campo de investigação das dificuldades de aprendizagem espelha sua juventude. A Psicopedagogia é
uma área do conhecimento em fase de construção, que deriva da fronteira entre a Pedagogia e a Psicologia, necessitando
de conhecimentos de outras áreas que também investigam o ser humano. Sua abordagem acerca do fenômeno da
aprendizagem e seus entraves é multidisciplinar, tornando-a tributária de várias áreas do conhecimento.

Isto é Importante

O primeiro curso de especialização em Psicopedagogia surgiu em São Paulo,


no ano de 1970, em nível de Pós-graduação Lato Sensu, no Instituto Sedes
Sapientiae (Campos, 1994).

GLOSSÁRIO

DAs – Abreviatura utilizada de Dificuldades de Aprendizagem.

Dialética – É o desenvolvimento de processos gerados por oposições que provisoriamente se resolvem em unidades
e se definem segundo o processo racional que procede pela união incessante de contrários — tese e antítese - numa
categoria superior, a síntese. Pensar dialeticamente inclui trabalhar com uma tese (instância A) que se choca ou se
opõe a uma antítese (instância B) e que gera uma nova forma ou estrutura de pensamento, que é a síntese (instância
C). Na perspectiva dialética, C não é o somatório de A + B. A síntese (C) contém a tese (A) e a antítese (B), porém
de forma modificada, transformada.

Fatores Endógenos – Fatores originados no interior do organismo ou por fatores internos.

Fatores Exógenos – Fatores originados fora do organismo ou por fatores externos.

Perspectivas lesionais e cerebrais – Fatores que geram problemas e/ou doenças ao organismos e que têm origem
em lesões, internas ou externas, e danos cerebrais.

Perspectivas perceptivo-motoras – Fatores que geram problemas e/ou doenças ao organismo e que têm origem em
disfunções no sistema da percepção ou no sistema motor do sujeito.
Fundamentos da Psicopedagogia

Visão Multidisciplinar – Adotar uma visão multidisciplinar sobre um tema consiste em vê-lo a partir da contribuição
de múltiplas disciplinas. A Psicopedagogia exige uma visão multidisciplinar, na medida em que necessita dos saberes
de várias áreas do conhecimento para a construção de seu objeto de estudo.

Visão Sistêmica – Adotar uma visão sistêmica sobre um tema consiste em vê-lo a partir da contribuição da Teoria
dos Sistemas. Um sistema pode ser definido como um conjunto de elementos interdependentes que interagem com
objetivos comuns formando um todo, e onde cada um dos elementos componentes comporta-se, por sua vez, como
um sistema cujo resultado é maior do que o resultado que as unidades poderiam ter se funcionassem
independentemente. Uma visão sistêmica permite compreender um fenômeno em relação direta e interdependente
com suas partes, formando um todo complexo, dinâmico e capaz de transformação.

18 Universidade Gama Filho


Fundamentos e Objeto de Estudo da Psicopedagogia Unidade I

Capítulo 3 - Introdução aos aspectos constituintes da abordagem


psicopedagógica: conceito de aprendizagem e seus impedimentos, etiologia,
taxonomia e modelos de intervenção.

Objetivo específico: Conceituar aprendizagem e seus impedimentos; etiologia


e taxonomia das dificuldades de aprendizagem e modelos de intervenção
psicopedagógica.

Aprendizagem é um termo abrangente, que permite diversas conceituações. Na Psicologia representa uma área de
extrema importância, à qual se dedicaram teóricos de grande porte, como Bandura, Gagné, Guthrie, Hull, Kohler,
Lewin, Piaget, Rogers, Skinner, Thorndike, Tolman, entre outros.

Definir aprendizagem é uma tarefa complexa. Neste capítulo optamos por apresentar conceituações elaboradas por
investigadores renomados na área, com o propósito de ampliar as possibilidades de compreensão deste fenômeno
assim como do seu oposto: o processo do não-aprender.

Seguem diversos conceitos para apreciação:

A idéia teórica mais distinta, talvez, é a de que a aprendizagem de qualquer nova


capacidade, em seu sentido ideal, requer a aprendizagem prévia de capacidades
subordinadas que estão envolvidas na nova capacidade. Especificamente, aprender regras
de ordem superior requer a aprendizagem prévia de regras mais simples; aprender regras
requer a aprendizagem prévia de conceitos relevantes; aprender conceitos requer
aprendizagens prévias de discriminação etc. Gagné, 1968 (em Sahakian, 1980, p.1).

A aprendizagem é definida como alteração no comportamento que resulta da experiência.


O estudo do comportamento e suas alterações deve selecionar acontecimentos observáveis
e designáveis. Guthrie, 1942 (em Sahakian, 1980, p.23).

A aprendizagem é a ligação de um estímulo e uma resposta mediada por variáveis


intervenientes ou construções simbólicas, isto é, atividade acontecendo dentro do
organismo......Incorpora propósitos, idéias, conhecimento e insights característicos de
comportamento molar.......A aprendizagem é uma resposta a uma recompensa. Hull, 1943
(em Sahakian, 1980, p.124).

Aprende-se perseguindo sinais para o objetivo, mapeando nosso caminho para esse objetivo
(mapa cognitivo); a aprendizagem é adquirida através de comportamento significativo,
não do mero movimento. A compreensão, mais que o condicionamento, é a essência da
aprendizagem. Tolman, 1932 (em Sahakian, 1980, p.220).

A aprendizagem é um fenômeno que resulta de experiências diretas, que podem ocorrer


Pós-graduação a Distância

numa base vicariante, através da observação do comportamento de outras pessoas e


suas conseqüências para o observador. Um indivíduo pode adquirir padrões intrincados
de respostas simplesmente observando os desempenhos de modelos apropriados. Bandura,
1969 (em Sahakian, 1980, p.261).

A aprendizagem por insight corresponde a uma apreensão significativa súbita de


relacionamentos, sem recurso à experiência prévia. É o aparecimento de uma solução
completa com referência à disposição total do campo. Köhler, 1959 (em Sahakian, 1980,
p.274).
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As concepções sócio-construtivistas, discutidas na atualidade, expressam, especialmente, as idéias de Piaget e


Vygotsky sobre a aprendizagem e seus processos. De acordo com Bassedas e cols. (1996):

Do ponto de vista construtivista da evolução e da aprendizagem dos seres humanos,


defende-se que o indivíduo participa ativamente na construção da realidade que conhece
e que cada modificação ou avanço que realiza no seu desenvolvimento pressupõe uma
mudança na estrutura e organização dos seus conhecimentos. Segundo esse ponto de
vista, quando uma pessoa enfrenta algumas situações específicas, a sua resposta, reação
ou aprendizagem dependerá, obviamente, das características dessa situação, mas será
determinada também, em grande parte, pelas suas características pessoais e pela
organização dos seus conhecimentos (pp.14-15).

VAMOS CONSOLIDAR NOSSOS CONHECIMENTOS?

Depois de ler todos estes conceitos sobre a aprendizagem, seria interessante você construir o seu conceito.

Com base no texto e exercendo sua capacidade de síntese de conteúdos, defina:

Aprendizagem é....

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Fundamentos da Psicopedagogia

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A função da aprendizagem, segundo Fernández (1991), “é incorporar o indivíduo à espécie humana, fazendo-o
sujeito de uma cultura” (p.30). A criança necessita ser interpretada/traduzida/ensinada por um outro, para que
assimile e compreenda a cultura onde está inserida.

A mãe, no princípio da vida, surge como este outro que outorga, dá significados aos comportamentos, movimentos,
sons e desejos incluindo a criança no mundo, investindo-a de humanidade. O nível qualitativo dessa relação de
significação vai depender do tipo de vínculo emocional existente entre os dois sujeitos do processo.

Para Refletir!

Para que uma criança alcance a autonomia de pensamento, é imprescindível


que conte com pais significadores, capazes de suportar a originalidade e
a diferença de seu pensamento.

Considerando que os pais representam as primeiras figuras que ensinam e que exercem grande influência sobre a
criança, percebe-se a importância de uma ação tolerante, paciente e amorosa por parte deles no sentido de interpretar
e traduzir as expressões infantis sem atropelar ou impedir seus esforços em direção à autonomia e liberdade de
pensar e sentir.

É indispensável para a criança sentir-se aceita e desejada como ser pensante, sentir-se valorizada por seus produtos
e criações. Segundo Aulagnier (em Fernández, 1991), “a mãe é a porta-voz do bebê quando este chega ao mundo,
mas se emerge na mãe um desejo de não-mudança, isso tem um poder desestruturante porque a criança não poderá
usar a sua voz para enunciar a sua palavra” (p.32).

É neste contexto que se configura a gênese das dificuldades de aprendizagem, na dimensão das interações sociais,
onde o sujeito se constrói, de modo ativo e co-participativo, contando sempre com a mediação do outro, mesmo que
este outro não se dê conta disto.

É fácil visualizar, nas conceituações e proposições de Fernández (1991), a influência dos pressupostos psicanalíticos
e do enfoque sócio-construtivista sobre a aprendizagem. Quando enfatiza a relação mãe/bebê, situando-a como
fonte e origem dos distúrbios que, posteriormente, afetarão a aprendizagem, a autora reflete um aspecto muito
valorizado pela psicanálise que considera o palco onde se vive o drama da primeira infância o ponto nevrálgico que
irá determinar os comportamentos futuros do sujeito. Quando argumenta que o sujeito aprendiz é atuante em seu
processo de aprender, ressalta a visão sócio-construtivista que percebe o conhecimento como construção do sujeito
agindo em um mundo de significados, por meio das relações com o outro e com o legado cultural.

Ao falar de aprendizagem, Fernández (1991) argumenta que a visão usual encara o processo de aprender como ação
vinculada à mão e ao cérebro, desconsiderando o sujeito desejante e criador, que atribui sentido e expressão ao ato
da aprendizagem.
Pós-graduação a Distância

Para Refletir!

A ação psicopedagógica, como extensão, tenta também “curar” o aprendiz


enfocando o orgânico e cognitivo e excluindo o desejo, o afeto, a emoção
e a criatividade como aspectos significativos do processo. O que você
acha disto?

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Ao desconsideramos as dimensões do desejo, do afeto, da emoção, da imaginação e da criatividade terminamos por


reforçar a tendência de desperdiçar talento e potencial latentes existentes nos seres humanos. Como nos diz Fernández
(1991):

Quantos Leonardo da Vinci - gênio artístico e científico de sua época - estaremos hoje
expulsando de nossas escolas e, o que é mais grave, afogando-lhes também sua capacidade
criadora, cerceando a construção de sua identidade como sujeitos pensantes (pp.33-34).

As idéias de Fenelon (1994) sobre a aprendizagem e sua contrapartida, o não-aprender, assemelham-se aos pressupostos
defendidos por Alícia Fernández. Na sua visão,

A aprendizagem é vista como um processo que se dá no vínculo entre o ensinante e o


aprendente em uma inter-relação. Este processo inicia-se quando a pessoa nasce e com
seus primeiros ensinantes, aqueles que lhe dão a sobrevivência, e continua ao longo da
vida com aquelas pessoas que intervêm na sua história e lhe transmitem significações
(p.20).

Isto é Importante

A aprendizagem é uma teia tecida conjuntamente pelas mãos de quem ensina


e de quem aprende, onde os fios condutores do fenômeno correspondem ao
organismo, à inteligência, ao desejo e o corpo. É no jogo complexo e dinâmico
desses fios que se constrói o processo de aprender e também o de não-
aprender.

Segundo Fenelon (1994):

No problema de aprendizagem o que acontece, particularmente, é que a inteligência e o


corpo ficam aprisionados pelos desejos inconscientes. O sintoma é um nó que se dá na
trama dos fios que tecem a aprendizagem (p.20).

Pain (1992) considera que as dificuldades de aprendizagem representam todas as perturbações que impedem a
normalidade do processo de aprender, qualquer que seja o status cognitivo do sujeito. Independente de o sujeito
obter escores de inteligência altos ou baixos serão considerados problemas de aprendizagem outros fatores que o
impeçam de aprender, não permitindo o aproveitamento de suas potencialidades.

Em Fonseca (1995a) destacamos uma definição de dificuldades de aprendizagem, elaborada pelo National Joint
Committee of Learning Disabilities - NJCLD - USA, 1988, que diz o seguinte:

Dificuldades de aprendizagem (DA) é um termo geral que se refere a um grupo heterogêneo


Fundamentos da Psicopedagogia

de desordens manifestadas por dificuldades significativas na aquisição e utilização da


compreensão auditiva, da fala, da leitura, da escrita e do raciocínio matemático. Tais
desordens, consideradas intrínsecas ao indivíduo, presumindo-se que sejam devidas a
uma disfunção do sistema nervoso central, podem ocorrer durante toda a vida. Problemas
na auto-regulação do comportamento, na percepção social e na interação social podem
existir com as DA. Apesar das DA ocorrerem com outras deficiências (por exemplo,
deficiência sensorial, deficiência mental, distúrbios sócio-emocionais) ou com influências
extrínsecas (por exemplo, diferenças culturais, insuficiente ou inapropriada instrução etc...),
elas não são o resultado dessas condições (p.71).

Nos Estados Unidos, há uma definição criada por lei (US Public Law 94-142), para o termo learning disabilities, de

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acordo com a publicação Learning Disabilities: A Guide for Parents and Teacher - Silber Psychological Service, 1992
(Zorzi, 1994), que relata a seguinte conceituação:

Dificuldades de aprendizagem (learning disabilities) é uma desordem em um ou mais dos


processos psicológicos envolvidos na compreensão ou uso da linguagem, falada ou escrita,
que pode manifestar-se como uma habilidade imperfeita para ouvir, pensar, falar, ler e
escrever ou realizar cálculos matemáticos (pp.15-16).

Isto é Importante

Chegamos às definições de Dificuldades de Aprendizagem.

Vocês vão perceber que, a princípio, a tendência era compreender o “não-


aprender” como fenômeno situado no aluno, em problemas médicos, mentais
e/ou psicológicos apresentados por ele.

Esta visão “ medicalizada ” das Dificuldades de Aprendizagem será


ultrapassada nos conceitos que virão a seguir.

Percebe-se, com clareza, a visão americana das dificuldades de aprendizagem. A conceituação das DAs, nesta
cultura, vincula-se especialmente aos fenômenos observados em sala de aula, como ler, escrever e contar, tendo
como etiologia, basicamente, desordens nas dimensões orgânicas, psicológicas e neurológicas.

Tarnopol, 1981 (em Drouet, 1995) apresenta uma definição para distúrbios da aprendizagem influenciada por uma
visão interacionista. Segundo este autor, “distúrbios são perturbações de origem biológica, neurológica, intelectual,
psicológica, sócio-econômica ou educacional, encontradas em escolares, que podem tornar-se problemas para a
aprendizagem dessas crianças” (p.91).

Já Kirk e Bateman, 1962 (em Drouet, 1995) preferem reservar o termo distúrbios de aprendizagem “apenas para
aqueles casos de crianças com dificuldades de aprendizagem de causas desconhecidas, uma vez que essas crianças
não apresentam defeitos físicos, sensoriais, emocionais ou intelectuais de espécie alguma” (p.92).

Autores como Parente e Ranña (1990) discutem as inúmeras definições existentes para as dificuldades de aprendizagem
como efeito resultante do caráter complexo e amplo deste campo do conhecimento. Diversas áreas estão envolvidas
na formulação deste conceito, criando determinantes de várias ordens, como sociais, culturais, pedagógicos,
psicológicos, neurológicos, entre outros, que influenciarão a conceituação formal das dificuldades de aprendizagem.

A partir desta mistura surgem termos como: distúrbios psiconeurológicos, disfunção cerebral mínima, dislexia, dislalias,
disortografias e muitos outros que só servem para mascarar o processo diagnóstico, criando confusão na classificação
e avaliação das crianças com problemas de aprendizagem.

Isto é Importante
Pós-graduação a Distância

O uso indiscriminado desses rótulos em diagnósticos, sem conhecimento de


causa, pode comprometer a ação benéfica da psicopedagogia, incorrendo
em erros, reducionismos e atitudes parciais.

Para Parente e Ranña (1990), um problema de aprendizagem é “considerado como um sintoma que expressa algo e
possui uma mensagem. Assim o não aprender tem uma função tão integradora quanto o aprender” (p.51).

A conceituação das dificuldades de aprendizagem parece tarefa complicada, uma vez que é cercada de posicionamentos
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distintos, oriundos de áreas do saber que precisam ser conjugadas para um entendimento global do fenômeno.

Reflete também movimentos sociológicos, provenientes das diferentes demandas que a sociedade impõe aos indivíduos,
ao longo de seu desenvolvimento. Novos tempos exigem novos currículos, novos conhecimentos são produzidos,
novas metodologias surgem. As crianças e os adolescentes nem sempre conseguem se adaptar às modificações que
surgem com os novos métodos, assim como o contrário, nem sempre a escola consegue acompanhar a intensa
transformação pela qual passa a sociedade, tornando-se um lugar dissociado da realidade e pouco interessante para
a criança e o jovem.

Para Refletir!

Há concordância quanto à falta de consenso com relação à conceituação


das dificuldades de aprendizagem e os problemas oriundos deste fato na
intervenção clínica e institucional. É imprescindível para um bom trabalho
de intervenção psicopedagógica que ocorra uma avaliação psicopedagógica
acurada e precisa.

A tarefa de elaborar um bom processo de avaliação psicopedagógica, tanto no âmbito clínico quanto institucional,
constitui-se em um enorme desafio para o psicopedagogo, uma vez que a dimensão conceitual das dificuldades de
aprendizagem permanece ainda um setor confuso e ambíguo, com especificações imprecisas e generalizações
inapropriadas. Segundo Fonseca (1995a):

A falta de uma teoria sólida e coesa nos seus paradigmas e pressupostos e de uma
taxonomia pormenorizada e compreensível é, assim, uma das razões que explicam a
ambigüidade e a legitimidade das dificuldades de aprendizagem, daí que a criação e
promulgação de serviços educacionais sejam, presentemente, muito restritas e ineficazes,
porque não surge, nem se vislumbra um critério ou uma definição fidedigna e aquiescente.
As dificuldades de aprendizagem representam um assunto conceitualmente confuso,
decorrente de uma investigação teórico-prática ainda incipiente, contraditória e demasiado
complexa nas suas variáveis e nos seus pressupostos (pp.72-73).

Isto é Importante

É chegada a hora de investigarmos as origens das Dificuldades de


Aprendizagem!

Uma discussão inicial sobre as origens das dificuldades de aprendizagem requer uma constatação importante: a
criança que apresenta dificuldades no processo de aprender não é uma criança deficiente. Em geral pertence
Fundamentos da Psicopedagogia

a uma população heterogênea, com subtipos de dificuldades, alguns comportamentos desviantes e outros
semelhantes às crianças normais e sem a apresentação de características específicas. Tal fato dificulta a
avaliação psicopedagógica e, conseqüentemente, os limites da intervenção.

Para Fonseca (1995a), a criança que apresenta dificuldades no processo de aprendizagem emite um conjunto de
comportamentos que podem ser considerados desviantes, concomitantemente a comportamentos considerados
absolutamente normais. Em pesquisas diversas, foram listados mais de 100 itens comportamentais característicos
de conduta desviante de dificuldade de aprendizagem.

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Para Refletir!

As Dificuldades de Aprendizagem consistem em um fenômeno com uma


etiologia complexa e que nos remete a uma avaliação dos seus
componentes, a partir de uma perspectiva múltipla, dialética, buscando
sempre uma síntese, que por menos completa que seja, pelo menos
possa esclarecer a dinâmica das dificuldades de aprendizagem em seus
processos de construção e cristalização.

Segundo McCarthy, 1974 (em Fonseca, 1995a), os dez comportamentos desviantes mais freqüentes em crianças
com problemas de aprendizagem são:

1) Hiperatividade;

2) Problemas psicomotores;

3) Problemas emocionais;

4) Problemas gerais de orientação espacial;

5) Desordens de atenção;

6) Impulsividade;

7) Desordens na memória e no raciocínio;

8) Dificuldades específicas de aprendizagem: dislexia, disgrafia, disortografia e discalculia;

9) Problemas de audição e fala;

10) Sinais neurológicos ligeiros e equívocos e irregularidades no EEG (p.92).

A busca do entendimento da história do sujeito que apresenta dificuldades de aprendizagem é o método utilizado por
Fonseca (1990) para avaliar os graus de condutas desviantes. O processo evolutivo das dificuldades de aprendizagem
deixa marcas em certos níveis de funcionamento que devem ser rastreados para a clarificação da avaliação
psicopedagógica. Dentre esses níveis, a autora destaca o psicomotor, o perceptivo e o cognitivo. Investigações nos
domínios da linguagem falada, lida e escrita e de determinadas aquisições pedagógicas também são realizadas como
parte importante da verificação das origens dos problemas de aprendizagem. De acordo com a autora:

Procuramos detectar as características emocionais e condutuais, anteriores e atuais, as


expectativas e exigências dos pais e a sua vida escolar anterior e atual. Na realidade,
busca-se montar ou reconstituir a história de todo um processo de desenvolvimento para,
através de sua gênese e evolução, melhor compreender o momento atual (p.67).
Pós-graduação a Distância

Para Drouet (1995), as dificuldades de aprendizagem atendem a uma origem complexa, que envolve aspectos múltiplos
da vida inter e intrapsíquica, orgânica e social do sujeito que as apresenta. Tentando agrupar as possíveis causas
das dificuldades de aprendizagem, a autora chegou a uma classificação que inclui: a) causas físicas, relacionadas a
perturbações somáticas transitórias ou permanentes; b) causas sensoriais, compreendendo os distúrbios que atingem
os órgãos sensoriais e a percepção; c) causas neurológicas, relacionadas ao equipamento cerebral e sistema nervoso;
d) causas emocionais, formadas pelos distúrbios psicológicos e de personalidade; e) causas intelectuais ou cognitivas,
relacionadas à inteligência do sujeito; f) causas educacionais, vinculadas ao contexto da escola e g) causas sócio-

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econômicos, provenientes do status vivenciado pelo sujeito, seus recursos e limites (pp.97-98).

Na visão de Pain (1992), nenhum fator isolado é determinante no surgimento das dificuldades de aprendizagem.
Suas origens surgem “da fratura contemporânea de uma série de concomitantes” (p.28). Dentre os fatores considerados
fundamentais na etiologia das dificuldades de aprendizagem, esta autora destaca: a) os fatores orgânicos, que se
relacionam à integridade anatômica e funcionamento dos órgãos diretamente comprometidos com o processo de
aprender; b) os fatores específicos, que surgem de inadequações nas áreas perceptivo-motoras, causando problemas
na aquisição da linguagem e da escrita; c) os fatores psicógenos, relacionados a distúrbios emocionais e de
personalidade e d) os fatores ambientais, que correspondem ao meio ambiente material do sujeito, suas possibilidades
e recursos reais.

VAMOS CONSOLIDAR NOSSOS CONHECIMENTOS?

Vários autores apresentaram diferentes listas de fatores que são originários das Dificuldades de Aprendizagem.

Organizem estes fatores em uma só lista e analisem a relevância de cada um deles na gênese das DAs.

Criem uma lista de fatores originários das Dificuldades de Aprendizagem de acordo com a compreensão de cada um
acerca do texto lido e estudado.

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Ampliando a investigação sobre dificuldades de aprendizagem, evidencia-se que sua gênese situa-se nas dinâmicas
que envolvem a criança, a família, o professor e a escola inseridos em um contexto sociocultural.

Isto é Importante

A aprendizagem é um processo que ocorre na relação. É dialético, pois


necessita de um sujeito e um objeto em embate para que aconteça, para que
ocorra a síntese. Necessita que haja essa interação para que os processos
de assimilação e acomodação se desenvolvam conforme descreveu Piaget
(1991).
Se o aprender pertence à esfera da relação, o não-aprender também tem a mesma
origem, podendo ser acrescido de fatores de ordem orgânica que completam o
quadro. O sintoma que delata o não-aprender surge como um emissário que
aponta a origem ou o ponto nodal de sua própria essência.

De acordo com Parente e Rannã (1990):

A origem do problema de aprendizagem pode estar relacionada com o modelo de relação


vincular que cada criança estabelece e que foi desenvolvido e articulado nas suas primeiras
relações com a mãe, num determinado contexto familiar. Esse modelo de relação vincular
tende a ser reproduzido na escola (p.53).

Fichtner (1990), posicionando-se sobre a origem dos distúrbios de aprendizagem, argumenta que:

Atualmente, um enfoque multidimensional e histórico está substituindo o posicionamento


unívoco. Este tipo de pensamento dialético, oposto ao pensamento causal, faz com que
já não se procure a explicação dos distúrbios de aprendizagem neste ou naquele déficit
particular, mas em uma constelação de fenômenos sociais, psicológicos, neurológicos,
pedagógicos e familiares, que só adquirem o seu pleno sentido quando referidos à história
de cada criança ou adolescente, considerando-se as múltiplas interações e os conflitos
que marcam essa história (p.56).

Isto é Importante

Já trabalhamos o conceito de dificuldades de aprendizagem, suas origens e


possíveis causas e as características da criança que apresenta problemas
para aprender.
Agora vamos complementar nossos estudos analisando como se classificam as
dificuldades de aprendizagem.
Pós-graduação a Distância

Antes de iniciarmos uma classificação dos tipos e subtipos de dificuldades de aprendizagem existentes, discutiremos,
ainda, sobre algumas definições relacionadas aos problemas e/ou dificuldades que acometem uma criança no processo
de aprender.

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Para Refletir!

O termo dificuldade de aprendizagem tem sido utilizado em uma


população heterogênea de sujeitos, muitas vezes designando situações
bastante diferenciadas. A proliferação de termos que buscam explicar
os sintomas ou características do problema termina por confundir os
profissionais no momento de elaboração de uma avaliação
psicopedagógica.

Muitas vezes, adotam-se termos técnicos que não encontram lastro ou contrapartida no campo orgânico, como a
célebre “disfunção cerebral mínima” (DCM), que muitos discutem ser a causa da maioria dos casos de dificuldades
de aprendizagem e ninguém, até hoje, conseguiu localizá-la ou comprová-la através dos exames neurológicos,
permanecendo a mesma como uma disfunção sem representação ou verificação orgânica.

Uma conceituação precisa das dificuldades de aprendizagem permite um maior rigor na determinação de quem
pertence a esta categoria de problemas e quem não pertence.

Isto é Importante

É importante lembrar que as crianças com dificuldades de aprendizagem


costumam ser absolutamente normais, com aspectos do seu comportamento
evidenciando-se normalmente, e parte apresentando desvios.

Saber diferenciá-las das crianças com incapacidades reais ou deficiências


orgânicas é de extrema importância, não só para a avaliação
psicopedagógica, mas, especialmente, para a escolha de procedimentos de
intervenção psicopedagógica adequados para a solução do problema.

Em Fonseca (1995a), encontramos uma série de definições para as dificuldades de aprendizagem, que atendem ao
critério aqui estabelecido de informar, com o máximo de precisão, quem faz parte deste grupo e quem não faz.

São elas:

Dificuldade de aprendizagem (...) é um atraso, desordem ou imaturidade em um ou mais


processos: da linguagem falada, da leitura, da ortografia, da caligrafia ou da aritmética;
resultantes de uma possível disfunção cerebral e/ou distúrbios de comportamento, e não
dependentes de uma deficiência mental, de uma privação sensorial (visual ou auditiva),
de uma privação cultural ou de um conjunto de fatores pedagógicos. (Kirk, 1973, p.194,
Fundamentos da Psicopedagogia

em Fonseca, 1995a).

As crianças que têm dificuldades de aprendizagem são as que manifestam discrepâncias


educacionalmente significativas. Discrepância entre o seu potencial intelectual estimado
e o atual nível de realização escolar, relacionada essencialmente com desordens básicas
do processo de aprendizagem, que pode ser ou não acompanhada por disfunções do
sistema nervoso central. As discrepâncias de qualquer maneira não são causadas por um
distúrbio geral de desenvolvimento ou provocadas por privação sensorial. (Bateman, 1965,
p.194, em Fonseca, 1995a).

A criança com dificuldade de aprendizagem é uma criança com problemas em seu


desenvolvimento que revelam uma disparidade no processo psicológico relacionado com
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a educação, disparidade tal (muitas vezes de 2, 4 ou mais anos escolares) que requer
programas adequados de evolução acadêmica, de forma a adaptá-los à natureza a ao
nível do desvio do seu processo de desenvolvimento (Gallagher, 1966, p.195, em Fonseca,
1995a).

A dificuldade de aprendizagem é uma desarmonia do desenvolvimento normalmente


caracterizada por uma imaturidade psicomotora, que inclui perturbações nos processos
receptivos, integrativos e expressivos da atividade simbólica. Traduz uma irregularidade
biopsicossocial do desenvolvimento global da criança, que normalmente envolve, na maioria
dos casos: problemas de lateralização e de praxia motora, deficiente estruturação
perceptivo-motora, dificuldades de orientação espacial e sucessão temporal e outros tantos
fatores inerentes a uma desorganização da constelação psicomotora, que impede a ligação
entre os elementos constituintes da linguagem e as formas concretas de expressão que
os simbolizam (Fonseca, 1974, pp.195-196, em Fonseca, 1995a).

A partir deste elenco de definições, podemos concluir que, se não há consenso quanto ao que seja dificuldade de
aprendizagem, pelo menos a grande maioria dos autores concorda com as características que as crianças com
problemas para aprender “não” possuem.

De acordo com Fonseca (1995a), a criança com dificuldade de aprendizagem não possui deficiência sensorial, seja
ela visual ou auditiva; não é deficiente motor, com quadros de paralisia cerebral ou de membros; não é deficiente
intelectual, mantendo escores de QI por volta de 90 pontos e não apresenta distúrbios emocionais graves, que
podem caracterizar quadros de psicoses severas.

Para Refletir!

Em geral, a criança com dificuldade de aprendizagem apresenta um


desnível entre o seu potencial e aquilo que realiza.
É como se ela não percebesse ou não conseguisse expressar suas habilidades,
caracterizando um bloqueio na dimensão da expressão e/ou realização de suas
competências.

Essa discrepância sempre se relaciona às desordens básicas no processo de


aprendizagem, que podem sugerir um quadro de comprometimento do sistema
nervoso central ou não.

Na sua maioria, não apresentam sinais de debilidade mental, privação cultural,


perturbações emocionais ou privação sensorial, porém perturbações no campo
perceptivo, comportamentos inadequados e problemas no processamento de
informações são evidenciados com freqüência em crianças com dificuldades de
aprendizagem.
Pós-graduação a Distância

A importância de uma taxonomia das dificuldades de aprendizagem reside na necessidade de se conhecer como um
aspecto ou função de natureza psiconeurológica pode ter sido afetado a ponto de comprometer o processo de
aprendizagem ou se a origem da dificuldade pode possuir uma etiologia diferenciada, proveniente do seu ambiente
sócio-histórico-cultural. Nesta perspectiva, é importante compreender de que forma se constrói um quadro de
dificuldades e como este evolui até alcançar os processos gerais de aprendizagem, prejudicando-os.

Fonseca (1995a) propõe uma classificação das dificuldades de aprendizagem em dois níveis, a saber: a) as dificuldades
de aprendizagem primárias e b) as dificuldades de aprendizagem secundárias. O quadro comparativo a seguir
apresentará as principais diferenças entre os dois tipos:
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QUADRO COMPARATIVO DAS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM


Baseada em Fonseca, 1995a (pp.199-200).
Dificuldades de Aprendizagem Primárias - DA I Dificuldades de Aprendizagem Secundárias - DA II
(1) DAs primárias são aquelas onde não se identifica uma (1) DAs secundárias resultam de condições, desordens,
causa orgânica específica. limitações ou deficiências devidamente diagnosticadas
em: deficiência visual, auditiva, mental, motora, emocional
(2) Compreendem perturbações nas seguintes aquisições: ou privação cultural.
práxicas e simbólicas, como: a linguagem falada (receptiva
e expressiva), a linguagem escrita (receptiva e expressiva) (2) As DAs são a conseqüência secundária de deficiências
e a linguagem quantitativa. nervosas, sensoriais, psíquicas ou ambientais.

(3) O potencial sensorial, intelectual, motor e social está (3) O potencial sensorial, intelectual, motor e social é atípico
intacto e é, portanto, normal. e desviante.

(4) Se há perturbações, elas dependem de alterações mínimas, (4) Se há perturbações, elas dependem secundariamente de
tão mínimas que não são detectadas pelos exames deficiências sensoriais, neurológicas, psíquicas ou
médicos pediátricos, neurológicos, psiquiátricos, ambientais como, por exemplo: privação cultural,
psicológicos porque são insuficientes para identificar desvantagem sócio-econômica, má nutrição, envolvimento
distúrbios e problemas no processamento da informação. afetivo, facilidades de estimulação precoce, expectativas
etc.
(5) As aquisições da linguagem falada, da linguagem escrita e
da linguagem quantitativa estão primariamente (5) As aquisições da linguagem falada, da linguagem escrita e
perturbadas. da linguagem quantitativa estão secundariamente
perturbadas.

CATEGORIAS DE DAs PRIMÁRIAS CATEGORIAS DE DAs SECUNDÁRIAS


1. Disfunções cerebrais 1. Afecções biológicas
1.1. Da linguagem falada 1.1. Do sistema nervoso central
· Disnomia · Lesões cerebrais
· Disfasia · Paralisia cerebral
· Disartria · Epilepsia
· Deficiência Mental 1.2. Dos sistemas sensoriais
1.2. Da linguagem escrita · Deficiência auditiva
· Dislexia (auditiva e visual) · Hipoacusia (diminuição da audição)
· Disgrafia · Deficiência visual
· Disortografia · Ambliopia (diminuição da visão)
1.3. Da linguagem quantitativa
· Discalculia 2. Problemas de comportamento
2. Problemas Perceptivos · Reativo
2.1. Do processo auditivo · Neurótico
· Discriminação · Psicótico
Fundamentos da Psicopedagogia

· Síntese
· Memória de curto termo 3. Fatores ecológicos e sócio-econômicos
2.2. Do processo visual · Envolvimento afetivo
· Discriminação · Má Nutrição
· Figura-fundo · Privação cultural
· Complemento · Dispedagogia (problemas de ensino)
· Constância da forma
· Posição e relação espacial
· Visualização

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3. Problemas Psicomotores, controle vestibular e


proprioceptivo
· Lateralização
· Imagem do corpo
· Estruturação espaço-temporal
· Praxia global
· Praxia fina (visuomotricidade)

Isto é Importante

Esta taxonomia e suas terminologias serão estudadas em um módulo


especificamente voltado para as dificuldades de aprendizagem.

Este módulo objetiva, apenas, apresentar estes conteúdos, sem o


compromisso de investigá-los a fundo.

Inúmeras são as causas das dificuldades de aprendizagem. Fatores biológicos, orgânicos, emocionais, ambientais,
ecológicos, entre outros, interagem de forma sistêmica na composição de um quadro problemático para a aprendizagem.

Na classificação de Fonseca (1995a), o que observamos é uma organização de fatores que são mais bem explicados
e comprovados pelas ciências biológicas, como os componentes das DA II, e um outro grupo de fatores que apresentam
causas ou origens nebulosas, muitas vezes impossível de verificação ou comprovação orgânica, como os fatores das
DA I. Segundo o autor:

As DAs II compreendem a taxonomia de deficiência e estão mais relacionadas com os


fatores médicos, isto é, as suas causas são óbvias e bem conhecidas. Aqui o diagnóstico
não oferece dúvidas. As DAs I não estão tão relacionadas com os fatores médicos e por
isso as suas causas são mal conhecidas. Por definição, as DAs I não cabem no âmbito de
qualquer deficiência (p.201).

Uma classificação apropriada das dificuldades de aprendizagem facilita os passos posteriores, em uma intervenção
psicopedagógica, seja ela realizada em âmbito de atendimento individualizado ou na instituição escolar. Tentar
clarificar o que são ou o que representam os sintomas que surgem em quadros de dificuldades de aprendizagem é
tarefa básica do profissional desta área, especialmente como contribuição para a composição do corpo teórico
psicopedagógico. Se conseguirmos estruturar avaliações psicopedagógicas criteriosas, se falarmos a mesma linguagem,
talvez possamos tornar mais fácil a dura tarefa de compreender por que algumas pessoas, com todos os atributos e
elementos presentes, constroem barreiras que as impedem de aprender, tanto na vida diária quanto na escola.

GLOSSÁRIO
Pós-graduação a Distância

Aprendente – Neologismo derivado de uma expressão argentina que significa “aquele que aprende”.

Avaliação Psicopedagógica – Processo de avaliação de um aluno e/ou instituição de ensino em que se evidencia
situações de queixas escolares. Consiste em elaboração de estratégias de avaliação do aluno, do sistema escolar,
interpretação dos dados coletados na avaliação e elaboração de prognóstico, que são as futuras ações a serem
implementadas.

Biopsicossocial – Expressão que significa a interação das dimensões biológicas, psicológicas e sociais de um dado
fenômeno.

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Co-participativo – Pressupõe a participação coletiva e/ou de mais de um sujeito. O prefixo “co” significa contigüidade,
‘companhia.

Concepções Sócio-Construtivistas – abordagens teóricas que compreendem os processos de desenvolvimento


humano a partir de determinantes sociais, históricos e culturais, considerando a ação do sujeito na construção das
rotas desenvolvimentais.

Conduta Desviante – Comportamento que se afasta de um padrão de regularidade esperado para a idade, etapa
desenvolvimental e estado emocional.

Desejos inconscientes – Expressão oriunda da Psicanálise e que diz respeito aos desejos não manifestos do
sujeito, por estarem em uma dimensão inconsciente.

Disfunção Cerebral Mínima – Funcionamento irregular cerebral que gera um quadro caracterizado por crianças com
inteligência próxima ou superior à média, com problemas de aprendizado e/ou certos distúrbios de comportamento de
grau leve à severo, associados a discretos desvios de funcionamento do Sistema Nervoso Central, SNC. Não há
como evidenciar esta disfunção em exames neurológicos.

Discalculia – É uma desordem neurológica específica que afeta a habilidade de uma pessoa de compreender e
manipular números. A discalculia pode ser causada por um déficit de percepção visual. O termo Discalculia é usado
com relação à inabilidade de executar operações matemáticas ou aritméticas, mas é definido por alguns profissionais
educacionais como uma inabilidade mais fundamental para conceitualizar números como um conceito abstrato de
quantidades comparativas.

Disgrafia - A disgrafia é uma dificuldade que se expressa por meio da famosa “letra feia”. Acontece devido a uma
incapacidade do sujeito em recordar a grafia da letra. Ao tentar recordar este grafismo, o indivíduo escreve lentamente,
o que acaba unindo inadequadamente as letras, tornando a letra ilegível. Algumas crianças com disgrafia possuem,
também, uma disortografia amontoando letras para esconder os erros ortográficos. Esta disfunção não está associada
a nenhum tipo de comprometimento intelectual.

Dislalia - Transtorno articulatório, que se caracteriza por acréscimos, distorções, inversões, omissões e ainda troca
de fonemas causados por desordens funcionais dos órgão periféricos da fala. As Dislalias classificam-se em Dislalia
Fisiológica, Funcional, Social ou Cultura, Audiógena e, ainda, Dislalia Orgânica”

Dislexia – É uma disfunção neurológica que apresenta como conseqüência dificuldades na leitura e escrita. Consiste,
também, em uma dificuldade específica que afeta a aprendizagem da decodificação do sistema verbal escrito,
classificada entre as disfunções da linguagem, mais especificamente da linguagem escrita.

Disortografia - É uma disfunção na linguagem escrita. A característica principal de um sujeito com disortografia
consiste na confusão de letras, sílabas, palavras e trocas ortográficas já conhecidas e trabalhadas no processo de
educação formal.
Fundamentos da Psicopedagogia

Distúrbios Psiconeurológicos – Consistem no mau funcionamento de funções psicológicas e neurológicas que


mantêm relações de interdependência.

EEG – Exame neurológico denominado “eletroencefalograma”, em que o paciente (sedado ou não) fica com uma série
de fios ligados à sensores que são colados na região da cabeça e, através de aparelho, um gráfico mostra o ritmo
das ondas cerebrais, impresso num papel. O resultado impresso é então interpretado pelo neurologista e/ou psiquiatra
e determina se há algum tipo de disfunção no sistema neurológico.

Ensinante – Neologismo derivado de uma expressão argentina que significa “aquele que ensina”.

Extrínseca - Que é exterior; não pertencente à essência de uma coisa.

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Gênese das DAs – Gênese, neste sentido, diz respeito à origem, surgimento das DAs.

Hiperatividade - O Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) é um transtorno neurobiológico, de


causas genéticas, que aparece na infância e freqüentemente acompanha o indivíduo por toda a sua vida. Ele se
caracteriza por sintomas de desatenção, inquietude e impulsividade.

Insight – Em inglês, significa “olhar para dentro” Compreensão repentina, em geral intuitiva, de suas próprias
atitudes e comportamentos, de um problema, de uma situação.

Interpsíquica – Expressão que significa “entres psiques”, ou seja, função psicológica que se desenvolve na relação
com outras psiques, ou estados psicológicos.

Intrapsíquica - Expressão que significa “dentro da psique”, ou seja, diz respeito aos processos psicológicos que
ocorrem no interior da psique do sujeito.

Intrínseca – Que está dentro de uma coisa ou pessoa e lhe é próprio; interior, íntimo.

Lateralidade – Que é lateral. Diz respeito à dominância que os hemisférios cerebrais exercem em cada lado do
organismo.

Mediação – Conceito da psicologia sócio-histórica que representa o elemento que se interpõe entre o sujeito e o
objeto da experiência. O homem tem uma relação mediada com o mundo, ou seja, sua experiência não se dá de forma
direta com os objetos e coisas da natureza, como acontece com os animais, mas mediante a intervenção de um outro
que dá sentido e significado a esta experiência.

Molar – Relativo a mol, molécula, um, único.

Paradigma – Modelo, padrão que representa um corpo de idéias, crenças, valores, saberes, habilidades e competências.

Pensamento Causal – Modelo de pensamento onde se estabelece uma relação de causa e efeito entre as partes.

Pensamento dialético - Modelo de pensamento onde se estabelecem relações antagônicas entre as partes, tendo
como resultado sínteses elaboradas a partir de teses e antíteses.

Ponto Nodal – Nodal diz respeito a nó. Ponto nodal significa o ponto central.

Ponto Nevrálgico – Nevrálgico diz respeito a nervo. Ponto nevrálgico significa o ponto mais sensível.

Praxia – Expressão que significa “ação” e diz respeito às ações motoras, em geral.

Psicógeno – Fenômeno que tem origem psicológica e/ou emocional.

Psicopedagogia Clínica – Campo de intervenção curativa psicopedagógica em que o foco é o sujeito com problemas
de aprendizagem. A Psicopedagogia Clínica deve ser realizada por profissionais com especialização clínica, de
preferência, no âmbito do atendimento individualizado.
Pós-graduação a Distância

Psicopedagogia Institucional – Campo de intervenção preventiva psicopedagógica em que o foco é o contexto


escolar onde surgem dificuldades de aprendizagem. A Psicopedagogia Institucional é realizada por especialistas
formados em cursos de pós-graduação em Psicopedagogia.

Sintoma – Qualquer fenômeno de caráter subjetivo provocado no organismo por uma disfunção ou doença, e que,
descritos pelo paciente, auxiliam, em grau maior ou menor, a estabelecer um diagnóstico. Sinal, indício.

Taxonomia – Sistema de classificação.

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Vicariante – Que faz as vezes de outrem ou de outra coisa. Diz-se do poder exercido por delegação de outrem. No
sentido empregado no texto, vicariante diz respeito ao reforço ou desejo de imitação a partir da experiência de
outrem.

Visão Interacionista – Compreensão de um processo a partir da interação de dois ou mais fatores.

Unívoco - Diz-se de palavra, conceito ou atributo que se aplica a sujeitos diversos de maneira absolutamente
idêntica. Que só comporta uma forma de interpretação. Que é homogêneo, uníssono ou homônimo.
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Capítulo 4 - Questões sobre a interdisciplinaridade na Psicopedagogia.


Objetivo específico: conhecer a dimensão interdisciplinar do conhecimento
psicopedagógico.

Isto é Importante

O QUE É INTERDISCIPLINARIDADE?

Interdisciplinaridade é a integração de dois ou mais componentes curriculares


na construção do conhecimento.

A interdisciplinaridade surge como resposta à necessidade de uma reconciliação


dos saberes, processo necessário devido à fragmentação dos conhecimentos
ocorrido com a revolução industrial e a necessidade de mão de obra especializada.

A interdisciplinaridade buscou conciliar os conceitos pertencentes às diversas


áreas do conhecimento a fim de promover avanços como a produção de novos
conhecimentos ou mesmo, novas sub-áreas.

A interdisciplinaridade surge como aspecto vital na discussão do objeto de estudo da Psicopedagogia e sua
conceituação.

Por ser um campo do conhecimento que está em processo de construção, utilizando para isso material gerado por
outras áreas, a Psicopedagogia tem por natureza um caráter interdisciplinar. Mas não somente porque herda
conhecimentos de outras ciências e sim porque, ao recebê-los, transforma-os, adaptando-os ao seu objeto de estudo.

Para Refletir!

As dificuldades de aprendizagem constituem a problemática que originou


a construção do conhecimento em Psicopedagogia.
Para compreender o processo de construção das dificuldades de aprendizagem e
também para saber como intervir no sentido desconstruí-las, quais ciências são
importantes como auxiliares à Psicopedagogia na análise destas questões?

Embora se ocupe da investigação da aprendizagem e de seus impedimentos, a Psicopedagogia permanece ainda em


Pós-graduação a Distância

fase de elaboração, pensando seu objeto de estudo, que deriva de suas investigações principais já citadas, como
também de outras contribuições recebidas a partir de sua abertura interdisciplinar a outras áreas do conhecimento.
De acordo com Bossa (1994):

A Psicopedagogia, como área de aplicação, antecede o status de área de estudos, a qual


tem procurado sistematizar um corpo teórico próprio, definir o seu objeto de estudo,
delimitar o seu campo de atuação, e para isso recorre à Psicologia, Psicanálise, Lingüística,
Fonoaudiologia, Medicina, Pedagogia (p.6).

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A investigação da gênese das dificuldades de aprendizagem nos remete à questão da interdisciplinaridade quando
evidencia os diversos focos teórico-metodológicos necessários para uma descrição adequada do fenômeno da
aprendizagem e seus impedimentos.

O enfoque interdisciplinar justifica-se a partir do objeto de estudo da Psicopedagogia, as dificuldades de aprendizagem


humana, que se revestem de um caráter múltiplo e complexo e que envolvem determinantes culturais, sociais,
psicológicos pedagógicos, médicos, antropológicos, entre outros.

Neste campo de trabalho é de fundamental importância a participação, na avaliação psicopedagógica, de diversos


profissionais para que o sujeito e/ou a instituição que demandam uma intervenção possam ser avaliados e tratados
adequadamente, considerando-se sua complexidade orgânica, psíquica, emocional e sociocultural. O próprio conceito
de “dificuldade de aprendizagem” reflete a urgência da abordagem interdisciplinar.

Por que a interdisciplinaridade? Para atender à complexidade do ser humano e seus processos. O fenômeno da
aprendizagem necessita de múltiplas abordagens para sua compreensão, pois se relaciona com diversos aspectos
componentes do homem como a cognição, a afetividade, o físico, o emocional, o social, entre outros.

Como complemento indispensável, a questão ética vem delimitar a atuação do psicopedagogo no sentido de canalizar
esforços para que a ação psicopedagógica seja realmente benéfica e apropriada para a maioria dos alunos que
constituem a clientela alvo desse serviço.

GLOSSÁRIO

Ética - Estudo dos juízos de apreciação referentes à conduta humana suscetível de qualificação do ponto de vista do
bem e do mal, seja relativamente a determinada sociedade, seja de modo absoluto.

Fonoaudiologia – A fonoaudiologia é a ciência que estuda os sons e o sistema fonatório do ser humano. Problemas
com a fonação podem dificultar a vida social e produzir desvios dentários e dificuldades no aprendizado das linguagens.

Interdisciplinaridade – É a integração de dois ou mais componentes curriculares na construção do conhecimento.

Lingüística - Lingüística é o estudo científico da linguagem humana. Um lingüista é alguém que se dedica a esse
estudo.
Fundamentos da Psicopedagogia

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Fundamentos e Objeto de Estudo da Psicopedagogia
Unidade II
O Psicopedagogo como
Profissional

Capítulo 5 - Construindo o campo de conhecimentos da Psicopedagogia.


Objetivo específico: Analisar a Psicopedagogia em suas áreas de atuação,
a partir das diferentes contribuições teóricas que estruturam seu campo de
estudos e pesquisa.

A Unidade II deste módulo vai discutir a Psicopedagogia como área de formação e a relevância das múltiplas
contribuições teóricas para a construção dos seus saberes sobre o desenvolvimento humano, a aprendizagem e seus
processos impeditivos.

Já discutimos o processo de formação histórica desta disciplina, caracterizando-a como uma área relativamente
nova, que se encontra em plena construção de seu corpo teórico.

Para Refletir!

A característica interdisciplinar da Psicopedagogia faz com que esta


disciplina seja tributária de várias outras, ou seja, a Psicopedagogia
necessita dos saberes de outras ciências para melhor investigar seu objeto
de estudo e construir estratégias de intervenção competentes.

Em uma perspectiva de construção teórica, encontramos um número significativo de investigadores que vêm contribuindo
com pesquisas, artigos, livros, palestras, congressos, no sentido de consolidar a ciência psicopedagógica.

Do ponto de vista da prática, há registros de diversos projetos e propostas de trabalho institucional, apresentados
em países da Europa e da América Latina, que vêm surtindo efeitos positivos e modificando as políticas públicas
educacionais. A Psicopedagogia começa a destacar-se como área do saber que não só auxilia os demais profissionais
da educação a lidarem com temáticas complexas, como também assume o papel de influenciar decisões com relação
à gestão dos sistemas públicos de ensino.

A instância do trabalho clínico também vem alcançando notoriedade por meio de renomados profissionais que têm
estendido seu lócus de atuação para além dos consultórios, incluindo nestes novos espaços de intervenção os
hospitais, as clínicas de reabilitação e demais instituições de saúde onde os processos de ensino e aprendizagem
Pós-graduação a Distância

destacam-se como parte indispensável das propostas terapêuticas.

Já identificamos o psicopedagogo como o profissional preparado para avaliar e propor estratégias de intervenção em
situações em que dificuldades de aprendizagem surjam, a despeito de suas origens e causas. Este profissional deve
estar preparado para transitar ao longo de todas estas dimensões e propor, tanto para a escola como para a família,
alternativas que auxiliem as crianças a reconstruírem suas estratégias de aprendizagem. Para isto, ele vai utilizar um
vasto arsenal de técnicas, instrumentos e recursos que vão possibilitar a realização de seu trabalho com o aluno e a
escola.

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O Psicopedagogo como Profissional Unidade II

Isto é Importante

Especialmente na escola, o psicopedagogo vai atuar junto aos professores


e outros profissionais para promover melhoria de condições do processo de
ensino e aprendizagem, assim como organizar estratégias que impeçam a
ocorrência das dificuldades, geradoras de fracasso escolar.

Sendo assim, podemos destacar duas áreas específicas de atuação psicopedagógica:

(1) Uma área clínica, que se ocupa da avaliação psicopedagógica do aluno que apresenta dificuldades
de aprendizagem impossíveis de serem sanadas na escola e que demandam um atendimento
terapêutico e/ou curativo. Espera-se que o especialista em psicopedagogia, ao decidir atuar
profissionalmente, dê início a uma formação clínica que deve habilitá-lo para exercer sua função
com maior competência e propriedade. O curso de especialização não forma o clínico. Esta formação
deve ser complementada por outros meios, mediantes programas específicos de preparo do
psicopedagogo para o exercício do método clínico.

(2) Uma área institucional que vai atuar no sentido de prevenir a ocorrência das dificuldades de
aprendizagem, no âmbito da instituição escolar, junto aos professores e demais educadores, sempre
considerando o aluno, sua família e seu contexto como partes integrantes do sistema escolar.

Isto é Importante

O curso oferecido pelo CETEB, em parceria com a Universidade Gama Filho,


vai concentrar suas disciplinas na área da Psicopedagogia Institucional, ou
seja, vai preparar o especialista para intervir no contexto escolar como
elemento capaz de elaborar políticas e estratégias preventivas do fracasso
escolar.

O especialista em Psicopedagogia pode, também, atuar em outros espaços profissionais, com destaque para as
organizações, empresas, instituições de ensino coorporativas, ou seja, em qualquer lugar onde haja ensino e
aprendizagem. É de extrema importância discutir sobre a atuação deste especialista em locais que não a escola,
pois as contribuições que a Psicopedagogia tem a dar para os processos de aprendizagem, em geral, não se restringem
ao âmbito da educação formal. Programas de treinamento, capacitação profissional e cursos de universidades
coorporativas só têm a lucrar com os saberes que vem sendo construídos pelos pesquisadores da disciplina
psicopedagógica.

Para Refletir!
Fundamentos da Psicopedagogia

O psicopedagogo que vai atuar em instituições de ensino deve trabalhar


no sentido de construir uma escola que não seja o problema, mas sim a
solução.

Bossa (2000)
Na escola, o psicopedagogo deve trabalhar para construir, junto com alunos e professores, um espaço de aprendizagem
saudável, criativo e instigador. É importante que sua participação se estenda aos vários espaços escolares, desde a
construção do Projeto Político-Pedagógico da instituição até a definição das rotinas em sala de aula.

Um bom profissional de Psicopedagogia vai propor à escola uma reflexão sobre (a) a qualidade do ensino que oferta;
38 Universidade Gama Filho
O Psicopedagogo como Profissional Unidade II

(b) a escolha do currículo; (c) as metodologias adotadas em sala de aula; (d) a postura e compromisso do corpo
docente; (e) os comportamentos dos alunos; (f) os processos interativos ocorrentes; enfim, sobre tudo o que acontece
na escola e que diz respeito a este especialista.

Quando surgem problemas é chegado o momento de avaliar a instituição como um todo, considerando suas múltiplas
instâncias, a saber:

· O aluno;

· Os professores;

· Os profissionais de educação;

· O próprio psicopedagogo;

· Os servidores escolares;

· As famílias;

· A comunidade;

· O contexto sócio-cultural;

· As crenças e valores da escola;

· As políticas públicas.

Isto é Importante

Espera-se que uma boa avaliação psicopedagógica institucional detecte os


principais focos de problemas escolares que estão impedindo o processo de
aprendizagem e prejudicando a qualidade do ensino ofertado.

A partir da identificação dos principais motivos impeditivos da aprendizagem, o especialista em psicopedagogia


parte para a compreensão do contexto escolar e para a proposição de ações que objetivem prevenir danos com
relação ao desempenho escolar dos alunos e seus processos de aprendizagem.

Ciente dos problemas presentes na escola e que estão atuando como impeditivos da aprendizagem dos alunos, o
psicopedagogo institucional pode realizar inúmeras ações preventivas, como por exemplo:

· Trabalhar com os professores para que eles conheçam todos os aspectos envolvidos no processo de
ensinar e aprender e que reconheçam que, muitas vezes, o modo como eles ensinam não
necessariamente é o melhor modo para o aluno aprender;
Pós-graduação a Distância

· Orientar os alunos que apresentam maiores dificuldades em suas rotinas escolares e, quando for o
caso, encaminhá-los para atendimento especializado;

· Auxiliar os pais a lidarem com seus filhos que enfrentam dificuldades para aprender, sugerindo
atividades e orientações que facilitem a retomada da aprendizagem significativa;

· Colaborar com a Direção da escola e demais educadores para que todos atuem conjuntamente no
sentido de prevenir situações de fracasso escolar;

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O Psicopedagogo como Profissional Unidade II

· Pesquisar e produzir literatura na área, como contribuição ao campo do conhecimento psicopedagógico.

O especialista em Psicopedagogia deve, ainda, estar sintonizado com a evolução do conhecimento, não só em sua
área de atuação, mas em todas as disciplinas auxiliares do trabalho psicopedagógico. Deve ter postura crítica e
pensamento complexo, saber analisar contextos educacionais, conhecer a realidade do seu país e posicionar-se de
forma pró-ativa, demonstrando competência, ética, valores consolidados e responsabilidade social.

Para Refletir!

Um profissional se forma não somente pela aquisição de conhecimentos


científicos. Ele também necessita, de modo indiscutível, cultivar um caráter
reto, honesto, responsável e ético.
Uma boa formação deve orientar qualquer profissional de educação para a
relevância de nos tornarmos cidadãos exemplares e, só desta forma, auxiliarmos
o outro na aventura que é compreender o mundo por meio da aprendizagem.
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O Psicopedagogo como Profissional Unidade II

Capítulo 6 - A formação profissional, o Código de Ética e Atuação do


Psicopedagogo e as Associações de Psicopedagogia no Brasil.
Objetivo específico: Compreender o processo de formação do especialista
em Psicopedagogia, seu código de ética e entidades de classe.

O profissional de Psicopedagogia é formado no âmbito da especialização lato sensu, em instituições de ensino


devidamente credenciadas. Ele pode ser um profissional de psicologia, pedagogia, fonoaudiologia ou qualquer área
que lide com educação e saúde. A especialização não gradua um profissional, apenas torna-o um conhecedor, em
maior grau, de um campo científico. Portanto, o psicopedagogo não é um profissional graduado, mas um profissional
que já tem uma profissão e acrescentou uma especialização em psicopedagogia.

No Brasil já existe um local que congrega os especialistas em psicopedagogia: trata-se da Associação Brasileira de
Psicopedagogia – ABPp. Esta Associação teve sua origem na Associação Estadual de Psicopedagogia de São Paulo,
fundada em 1980, por um grupo de profissionais já atuantes na área, que pesquisavam e construíam conhecimentos
acerca das dificuldades de aprendizagem como fenômeno expressivo e de relevância para o contexto escolar. Esta
entidade tem caráter científico-cultural, sem fins lucrativos e congrega profissionais da área da Psicopedagogia.

Isto é Importante

A Associação Brasileira de Psicopedagogia tem um site oficial que oferta aos


especialistas inúmeros serviços, como consultas, orientações, espaço para
publicação, artigos, dentre outros. Há também um periódico publicado pela
ABPp que deve ser assinado pelos especialistas, pois traz pesquisas recentes
na área.

O endereço do site é: http://www.abpp.com.br/

Desde sua fundação, a Associação Brasileira de Psicopedagogia tem promovido conferências, mesas-redondas,
cursos, seminários, congressos, bem como a divulgação de trabalhos sobre sua área de atuação, através da Revista
Psicopedagogia. Nos últimos anos, a ABPp vem cuidando de questões referentes à formação, ao perfil e ao
reconhecimento profissional do psicopedagogo.

Uma das contribuições de peso da ABPp, para a comunidade psicopedagógica, foi a elaboração do Código de Ética
Pós-graduação a Distância

do Especialista em Psicopedagogia, que orienta sobre a prática desta especialização, assim como apresenta os
referências éticos necessários para o exercício profissional.

Abaixo segue cópia do referido documento, retirado do site da ABPp (http://www.abpp.com.br/, acesso em 10 de
dezembro de 2006).

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O Psicopedagogo como Profissional Unidade II

CÓDIGO DE ÉTICA DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PSICOPEDAGOGIA – ABPp

Reformulado pelo Conselho Nacional e Nato do biênio 95/96

CAPÍTULO I - DOS PRINCÍPIOS

Artigo 1º

A psicopedagogia é um campo de atuação em Saúde e Educação que lida com o processo de aprendizagem humana;
seus padrões normais e patológicos, considerando a influência do meio - família, escola e sociedade - no seu
desenvolvimento, utilizando procedimentos próprios da psicopedagogia.

Parágrafo único

A intervenção psicopedagógica é sempre da ordem do conhecimento relacionado com o processo de aprendizagem

Artigo 2º

A Psicopedagogia é de natureza interdisciplinar. Utiliza recursos das várias áreas do conhecimento humano para a
compreensão do ato de aprender, no sentido ontogenético e filogenético, valendo-se de métodos e técnicas próprios.

Artigo 3º

O trabalho psicopedagógico é de natureza clínica e institucional, de caráter preventivo e/ou remediativo.

Artigo 4º

Estarão em condições de exercício da Psicopedagogia os profissionais graduados em 3º grau, portadores de certificados


de curso de Pós-Graduação de Psicopedagogia, ministrado em estabelecimento de ensino oficial e/ou reconhecido, ou
mediante direitos adquiridos, sendo indispensável submeter-se à supervisão e aconselhável trabalho de formação
pessoal.

Artigo 5º

O trabalho psicopedagógico tem como objetivo: (i) promover a aprendizagem, garantindo o bem-estar das pessoas
em atendimento profissional, devendo valer-se dos recursos disponíveis, incluindo a relação interprofissional; (ii)
realizar pesquisas científicas no campo da Psicopedagogia.

CAPÍTULO II -DAS RESPONSABILIDADES DOS PSICOPEDAGOGOS

Artigo 6º
Fundamentos da Psicopedagogia

São deveres fundamentais dos psicopedagogos:

a. Manter-se atualizado quanto aos conhecimentos científicos e técnicos que tratem o fenômeno da
aprendizagem humana;

b. Zelar pelo bom relacionamento com especialistas de outras áreas, mantendo uma atitude crítica, de
abertura e respeito em relação às diferentes visões do mundo;

c. Assumir somente as responsabilidades para as quais esteja preparado dentro dos limites da
competência psicopedagógica;

42 Universidade Gama Filho


O Psicopedagogo como Profissional Unidade II

d. Colaborar com o progresso da Psicopedagogia;

e. Difundir seus conhecimentos e prestar serviços nas agremiações de classe sempre que possível;

f. Responsabilizar-se pelas avaliações feitas fornecendo ao cliente uma definição clara do seu diagnóstico;

g. Preservar a identidade, parecer e/ou diagnóstico do cliente nos relatos e discussões feitos a título
de exemplos e estudos de casos;

h. Responsabilizar-se por crítica feita a colegas na ausência destes;

i. Manter atitude de colaboração e solidariedade com colegas sem ser conivente ou acumpliciar-se, de
qualquer forma, com o ato ilícito ou calúnia. O respeito e a dignidade na relação profissional são
deveres fundamentais do psicopedagogo para a harmonia da classe e manutenção do conceito
público.

CAPÍTULO III - DAS RELAÇÕES COM OUTRAS PROFISSÕES

Artigo 7º

O psicopedagogo procurará manter e desenvolver boas relações com os componentes das diferentes categorias
profissionais, observando, para este fim, o seguinte:

a. Trabalhar nos estritos limites das atividades que lhes são reservadas;

b. Reconhecer os casos pertencentes aos demais campos de especialização; encaminhando-os a


profissionais habilitados e qualificados para o atendimento;

CAPÍTULO IV - DO SIGILO

Artigo 8º

O psicopedagogo está obrigado a guardar segredo sobre fatos de que tenha conhecimento em decorrência do
exercício de sua atividade.

Parágrafo Único

Não se entende como quebra de sigilo, informar sobre cliente a especialistas comprometidos com o atendimento.

Artigo 9º

O psicopedagogo não revelará, como testemunha, fatos de que tenha conhecimento no exercício de seu trabalho, a
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menos que seja intimado a depor perante autoridade competente.

Artigo 10º

Os resultados de avaliações só serão fornecidos a terceiros interessados, mediante concordância do próprio avaliado
ou do seu representante legal.

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O Psicopedagogo como Profissional Unidade II

Artigo 11º

Os prontuários psicopedagógicos são documentos sigilosos e a eles não será franqueado o acesso a pessoas estranhas
ao caso.

CAPÍTULO V - DAS PUBLICAÇÕES CIENTIFICAS

Artigo 12º

Na publicação de trabalhos científicos, deverão ser observadas as seguintes normas:

a) A discordância ou críticas deverão ser dirigidas à matéria e não ao autor;

b) Em pesquisa ou trabalho em colaboração, deverá ser dada igual ênfase aos autores, sendo de boa
norma dar prioridade na enumeração dos colaboradores àquele que mais contribuir para a realização
do trabalho;

c) Em nenhum caso, o psicopedagogo se prevalecerá da posição hierarquia para fazer publicar em seu
nome exclusivo, trabalhos executados sob sua orientação;

d) Em todo trabalho científico deve ser indicada a fonte bibliográfica utilizada, bem como esclarecidas
as idéias descobertas e ilustrações extraídas de cada autor.

CAPÍTULO VI - DA PUBLICIDADE PROFISSIONAL

Artigo 13º

O psicopedagogo ao promover publicamente a divulgação de seus serviços, deverá fazê-lo com exatidão e honestidade.

Artigo 14º

O psicopedagogo poderá atuar como consultor científico em organizações que visem o lucro com venda de produtos,
desde que busque sempre a qualidade dos mesmos.

CAPÍTULO VII - DOS HONORÁRIOS

Artigo 15º
Fundamentos da Psicopedagogia

Os honorários deverão ser fixados com cuidado, a fim de que representem justa retribuição aos serviços prestados e
devem ser contratados previamente.

CAPÍTULO VIII - DAS RELAÇÕES COM SAÚDE E EDUCAÇÃO

Artigo 16º

O psicopedagogo deve participar e refletir com as autoridades competentes sobre a organização, implantação e
execução de projetos de Educação e Saúde Pública relativo às questões psicopedagógicas.

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CAPÍTULO IX - DA OBSERVÂNCIA E CUMPRIMENTO DO CÓDIGO DE ÉTICA

Artigo 17º

Cabe ao psicopedagogo, por direito, e não por obrigação, seguir este código.

Artigo 18º

Cabe ao Conselho Nacional da ABPp orientar e zelar pela fiel observância dos princípios éticos da classe.

Artigo 19º

O presente código só poderá ser alterado por proposta do Conselho da ABPp e aprovado em Assembléia Geral.

CAPÍTULO X - DAS DISPOSIÇÕES GERAIS

Artigo 20º

O presente código de ética entrou em vigor após sua aprovação em Assembléia Geral, realizada no V Encontro e II
Congresso de Psicopedagogia da ABPp em 12/07/1992, e sofreu a 1ª alteração proposta pelo Congresso Nacional e
Nato no biênio 95/96, sendo aprovado em 19/07/1996, na Assembléia Geral do III Congresso Brasileiro de
Psicopedagogia da ABPp, da qual resultou a presente solução.

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SUGESTÃO DE SITES NA INTERNET


Associação Brasileira de Psicopedagogia - http://www.abpp.com.br/
Pós-graduação a Distância

Cadernos de Psicopedagogia - http://scielo.bvs-psi.org.br/


scielo.php?script=sci_serial&pid=1676-1049&lng=pt&nrm=iso

Construção Psicopedagógica - http://scielo.bvs-psi.org.br/


scielo.php?script=sci_serial&pid=1415-6954&lng=pt&nrm=iso

Psicopedagogia Online - http://www.psicopedagogia.com.br/

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Referências
Fundamentos da Psicopedagogia

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