Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Psicopedagogia
Pós-graduação a Distância
Brasília-DF, 2007.
Nos termos da legislação sobre direitos autorais, é proibida a reprodução total ou parcial
deste documento, por qualquer forma ou meio – eletrônico ou mecânico, inclusive por
processos xerográficos de fotocópia e de gravação – sem a permissão expressa e por
escrito do CETEB.
Apresentação.............................................................................................................................. 04
Organização da Disciplina............................................................................................................. 05
Fundamentos da Psicopedagogia................................................................................................. 06
Referências.................................................................................................................................................. 46
Pós-graduação a Distância
Caro(a) aluno(a),
Este é o nosso Caderno de Estudo. Ao elaborarmos este mateiral, nosso propósito foi contribuir para
que você possa realizar seus estudos de modo prazeroso e com excelente aproveitamento. Também é
nosso objetivo apresentar conteúdos que permitam a ampliação de seus conhecimentos acerca dos
Fundamentos da Psicopedagogia.
Para que você se situe sobre o que vai estudar nas próximas 4 semanas, conhecá os objetivos da
disciplina, a organização dos temas e o número aproximado de horas de estudo que deve dedicar a
cada unidade.
A carga horária dessa disciplina é de 40 horas, cabendo a você administrar seu tempo conforme a
sua disponibilidade. Lembre-se, porém, que há uma data limite para conclusão, pois, até o final da
disciplina, você everá apresentar ao seu tutor os trabalhos avaliativos indicados na folha anexa, com
as respectivas pontuações e prazos de entrega.
As unidade foram organizadas de forma didática, objetiva e coerente. Elas apresentam os textos
básicos com questões para reflexão e indicam as leituras e pesquisas complementares.
Esperamos que você aproveite ao máximo o estudo dos temas abordados nesta disciplina.
Um bom trabalho!
Fundamentos da Psicopedagogia
- Conhecer oprocesso de construção histórica da Psicopedagogia como área que lida com os processos de
aprendizagem e seus impedimentos;
Conteúdo Capítulo
A Psicopedagogia como ciência: objeto de estudo e método Capítulo 1
Histórico do campo de conhecimento psicopedagógico no Brasil Capítulo 2
Introdução aos aspectos constituintes da abordagem psicopedagógica: conceito
de aprendizagem e seus impedimentos, etiologia, taxonomia e modelos de Capítulo 3
intervenção.
Conteúdo Capítulo
Construido o campo de conhecimento da Psicopedagogia: articulando diferentes Capítulo 5
contribuições teóricas
A formação profissional.
Código de Ética e Atuação do Psicopedagogo Capítulo 6
Pós-graduação a Distância
Fundamentos da Psicopedagogia
Mônica Souza Neves Pereira
Querido(a) aluno(a), a partir da agora você será introduzido no universo da Psicopedagogia. Esta área do conhecimento
é ainda jovem, vem sendo construída há pouco tempo, especialmente no Brasil, porém, trás em suas propostas
teóricas e práticas diversas alternativas de compreensão e intervenção com relação aos problemas de aprendizagem
vivenciados por muitos alunos, que geram o fenômeno do fracasso escolar, tão devastador para a nossa sociedade.
Quando um aluno fracassa na escola, todo um sistema fracassa junto. A falha do aluno é também a falha do
professor, da escola, da família, da sociedade, das políticas públicas, da economia, enfim, de todos os elementos
que, conjuntamente, tecem este fenômeno complexo e impeditivo do sucesso e realização profissional e pessoal de
muitas pessoas.
Neste módulo vamos nos aproximar do conhecimento psicopedagógico, como uma disciplina que objetiva investigar,
com profundidade, a natureza dos processos de aprendizagem e a construção da não-aprendizagem, considerando
seus elementos constitutivos. Lidar com o fracasso escolar exige, do profissional, conhecer os mecanismos do
sucesso escolar. Este tema também é de nosso interesse, pois permite uma visão panorâmica da Psicopedagogia
como área de construção de conhecimentos teóricos, de pesquisa e de aplicação não só das queixas de aprendizagem
como, também, de estratégias promotoras do sucesso na escola.
Antes de iniciarmos o estudo deste módulo, gostariamos de propor um primeiro desafio. Todos estão convidados a
refletir sobre as frases em destaque, logo em seguida, a buscar algum tipo de informação acerca destas afirmações.
São questões para pensar, para refletir, para renovar valores e saberes. Para analisar adequadamente estas questões,
também é indispensável a leitura, a pesquisa e uma reflexão crítica sobre diversos temas relacionados à educação e
à aprendizagem.
Vamos lá?
Fundamentos da Psicopedagogia
Então, você não acha que estes temas são da maior importância para qualquer profissional da educação, no Brasil?
O que você pensa a respeito destas informações? Que comentários você tem a fazer acerca destes assuntos?
Pode parecer que a Psicopedagogia não tem muito a ver com esta temática, não é? Mas ela tem sim. Como campo
do conhecimento que investiga a aprendizagem e seus possíveis impedimentos e considerando a escola como sua
área de atuação prioritária, a Psicopedagogia tem que assumir um compromisso sério e relevante com a oferta de
ensino de qualidade para todos, sem exceção. Não é só o fracasso escolar que nos interessa, antes de tudo,
buscamos os caminhos que promovem o sucesso escolar, a relação vitoriosa da criança com o processo de aprendizagem,
o resgate do prazer e da alegria que envolvem o ato de aprender.
Sendo assim, a partir destas reflexões iniciais, vamos começar o estudo do nosso módulo.
Este módulo está dividido em 2 unidades, sendo a Unidade I composta por 4 capítulos e a Unidade II composta por
2 capítulos. Ao término de cada capítulo há um glossário com os principais termos e/ou palavras discutidos no
texto.
Pós-graduação a Distância
A Psicopedagogia é uma área do saber científico que surgiu há pouco tempo. Como toda ciência, em especial as
emergentes, seu campo teórico e metodológico encontra-se em plena construção.
Quando nos propomos a definir o que é a Psicopedagogia encontramos, freqüentemente, conceitos amplos, abrangentes
e complexos, que buscam destacar procedimentos, métodos e ideologias, que ainda não conseguem refletir um único
corpo teórico consistente.
Talvez por ser um tema recente, com sua base conceitual em formação, percebemos que os investigadores envolvidos
com este saber definem seus pressupostos conceituais a partir dos marcos teóricos eleitos como norteadores de sua
prática. Uns priorizam as contribuições da Psicanálise, outros enfatizam a abordagem Piagetiana ou a leitura de
Vygotsky sobre desenvolvimento e aprendizagem, enfim, embora utilizando os conhecimentos gerados pela Psicologia,
Pedagogia e áreas afins, a Psicopedagogia ainda reflete, como campo de conhecimento, sua instabilidade metodológica
e, conseqüentemente, sua inconsistência conceitual.
Neste capítulo apresentaremos diversos conceitos de Psicopedagogia como se têm discutido na atualidade, explorando
as leituras elaboradas por autores diferenciados, com seus aportes teóricos específicos.
Segundo Macedo (1992), “o termo aplicação implica a possibilidade de se empregar na Pedagogia resultados de
pesquisas que se fazem em Psicologia; ou seja, pode-se recorrer a dados da Psicologia, quando se dedica à tarefa de
educar ou ensinar alguma coisa a alguém” (p.122).
Ao escrever o prefácio para o livro Psicopedagogia, contextualização, formação e atuação profissional, de Scoz,
Barone, Campos & Mendes (1992), o professor Lino de Macedo argumenta que:
Para Refletir!
Sua prática se organiza a partir de dois tipos de intervenção: a profilática e a terapêutica. O psicopedagogo exerce
uma função preventiva ou profilática quando atua nas escolas e orienta a formação profissional de professores e
uma função curativa ou terapêutica, quando sua ação se dirige aos alunos que apresentam dificuldades de
aprendizagem e seus contextos familiares.
Fernández (1991) argumenta que a psicopedagogia se ocupa do sujeito que aprende da mesma forma que a psicanálise
se ocupa do sujeito que deseja e a epistemologia genética do sujeito que conhece. Seu eixo fundamental situa-se no
campo onde se processa a relação ensino-aprendizagem. Este campo configura-se a partir da interação do organismo/
corpo/inteligência/desejo na relação com o outro. Articular esta interação constitui função primordial da psicopedagogia.
De acordo com a autora, a autonomia de pensamento e a liberdade para pensar representam o objeto desta
psicopedagogia. Se o sujeito humano necessita renunciar a essa liberdade e à autonomia de pensamento, termina
por aprisionar sua inteligência compondo, dessa forma, o palco onde se originam as dificuldades de aprendizagem.
Sara Pain (1992) apresenta definições distintas para os termos Psicopedagogia e dificuldades na aprendizagem. Em
sua abordagem, a aprendizagem é o instrumento por meio do qual se transmite a cultura, a ferramenta básica da
função educativa.
Uma definição ampla de educação, segundo esta autora, inclui quatro funções interdependentes, que são: a) função
mantenedora da educação (mantém a sobrevivência da espécie); b) função socializadora da educação (transforma o
indivíduo em sujeito); c) função repressora da educação (mantém o sistema social através do controle) e d) função
transformadora da educação (a abertura para as revoluções e os saltos qualitativos da humanidade). A aprendizagem,
como ferramenta básica deste processo complexo, tanto pode resultar em instância alienante como em uma
possibilidade libertadora (Pain, 1992).
Isto é Importante
O sujeito que não aprende torna-se incapaz de realizar essas funções básicas
da educação e assume a instância alienante que lhe cabe na sociedade.
Surge o fracasso escolar que, ao mesmo tempo, delata a responsabilidade
social em sua criação e pune o sujeito que o representa, ao fazê-lo assumir
também a culpa por não aprender.
Fundamentos da Psicopedagogia
Para Bossa (1994), a Psicopedagogia constitui um campo do conhecimento muito recente e bastante atípico: “quanto
mais se tenta elucidá-lo, menos claro ele nos parece” (p.5). A denominação “Psicopedagogia” carrega consigo,
segundo esta autora, uma ambigüidade que reside tanto na palavra como em seu conteúdo.
Para Refletir
A Associação Brasileira de Psicopedagogia, com sede em São Paulo, publicou em seu Boletim Oficial, em junho de
1990, nº 18, ano 9, um documento onde se encontra uma definição para a Psicopedagogia (Noffs, 1995) que
corresponde a “área que estuda e lida com o processo de aprendizagem e suas dificuldades” (p.21). Dois anos depois
desta conceituação, surgiu o Código de Ética do Psicopedagogo, aprovado em assembléia durante o II Congresso
Brasileiro de Psicopedagogia, em 1992, onde se situou a:
Finalizando a discussão conceitual, Solé (2001) apresenta a concepção de César Coll, eminente psicólogo educacional
da Espanha, acerca da Psicopedagogia como área de conhecimento e formação. A saber:
Já deu para perceber que não há um único conceito que defina a Psicopedagogia como área do conhecimento. Os
autores apresentam consenso com relação às definições, mas divergem entre si ao conceituarem esta disciplina.
Depois da leitura de todos estes conceitos, procure construir a sua definição de Psicopedagogia.
Não esqueça, você tem que elaborar este conceito com base na literatura, mas refletindo sua síntese sobre este
conteúdo!
Psicopedagogia é....
_____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________________________________________________
Fundamentos da Psicopedagogia
Quanto ao objeto de estudo da Psicopedagogia, há consenso quando se afirma ser o estudo dos processos da
aprendizagem e seus impedimentos. Neves (1991) destaca que:
Segundo Rubinstein (1992), a princípio, a intervenção psicopedagógica clínica voltou-se, prioritariamente, para a
construção de métodos que pudessem auxiliar e readaptar ao contexto educacional, os sujeitos que apresentavam
dificuldades de aprendizagem. A partir da inserção de novas contribuições ao corpo de conhecimentos da
Psicopedagogia, nota-se uma mudança de enfoque que abrange o seu objeto de estudo. A intervenção institucional,
que objetiva compreender todo um sistema envolvido com o processo de ensino e aprendizagem, toma corpo e passa
a representar um campo de intervenção significativo na Psicopedagogia. O sistema de ensino e aprendizagem também
passa a ser objeto de estudo da Psicopedagogia.
Para Refletir!
À etiologia das dificuldades de aprendizagem soma-se, como objeto de estudo, a compreensão das inter-relações que
cercam o aprendiz em seu ambiente sócio-histórico-cultural. Rubinstein (1992) encerra este tópico confirmando a
amplitude do objeto de estudo da Psicopedagogia ao dizer:
A intervenção psicopedagógica tem como principal meta contribuir para que o aprendiz
consiga ser um protagonista não só no espaço educacional, mas na vida em geral (p.104).
GLOSSÁRIO
Epistemologia Genética – Modelo teórico de desenvolvimento da cognição, construído por Jean Piaget e que
explica o processo da construção do conhecimento desde sua origem. Epistemologia significa estudo (logia) do
conhecimento (episteme). A palavra “genética” diz respeito à gênese, não à dimensão genética. O interesse central de
Piaget era investigar a gênese da construção do conhecimento.
Etiologia - Estudo sobre a origem das coisas; parte da medicina que trata da causa de cada doença.
Pós-graduação a Distância
Ideologia - Conjunto articulado de idéias, valores, opiniões, crenças etc., que expressam e reforçam as relações que
conferem unidade a determinado grupo social (classe, partido político, seita religiosa) seja qual for o grau de
consciência que disso tenham seus portadores.
Intervenção profilática – Modelo de intervenção que objetiva prevenir a ocorrência de um determinado fato, evento,
sintoma.
Intervenção terapêutica – Modelo de intervenção que busca curar e/ou solucionar, por meio de atendimento clínico,
Marcos teóricos – Opções teóricas feitas por pesquisadores e que sustentam a organização de suas idéias, concepções
e práticas. Aporte teórico é um sinônimo de Marco Teórico.
Psicanálise – Modelo teórico, criado por Sigmund Freud, que tem por objeto de estudo o inconsciente. Considera,
também, as desordens mentais e emocionais que constituem a estrutura das neuroses e psicoses, por meio de uma
investigação psicológica profunda dos processos mentais.
Fundamentos da Psicopedagogia
O campo das dificuldades de aprendizagem tem sua origem em múltiplas concepções teóricas, provenientes das
diferenças conceituais abraçadas pelos profissionais envolvidos com essa temática. Para compreender o processo de
aprendizagem e sua contrapartida - o não-aprender - é necessário uma visão multidisciplinar, que abarque diferentes
áreas do conhecimento humano. Profissionais da Psicologia, Pedagogia, Neurologia, Lingüística, Antropologia,
Sociologia, Fonoaudiologia, entre outros, são chamados para uma atuação conjunta e articulada, com o propósito
de, segundo Fonseca (1995a):
(...) Explicar por que algumas crianças, independentemente das suas inteligências normais,
das suas adequadas acuidades sensoriais, dos seus adequados comportamentos motores
e sócio-emocionais, não aprendem a ler, a escrever e a contar (p.5).
De acordo com Fonseca (1995a), o aparecimento das dificuldades de aprendizagem se relaciona com o desenvolvimento
e a crescente complexidade da sociedade nos últimos séculos. Ao acompanharmos o percurso da História a partir do
momento em que surgiram as instituições escolares, nas sociedades dos séculos XIII e XIV, evidenciaremos um
processo evolutivo das práticas, crenças e valores vinculados à tarefa acadêmica, onde as exigências foram crescendo
em alta progressão, demandando das crianças comportamentos cada vez mais especializados e complexos.
A escola tornou-se, ao longo do tempo, um local cada vez mais exigente, com abordagens metodológicas semelhantes
para diferentes crianças, de classes sociais e econômicas distintas, que deveriam se adaptar aos contextos escolares
vigentes de qualquer forma.
Quem, por ventura, não se saísse bem no modelo escolar em pauta, deveria ser atendido em classes especiais para
tentar suprir suas dificuldades. A segregação e a discriminação surgem como reflexos de padrões estereotipados de
comportamentos que a escola espera que seus alunos apresentem e da sua dificuldade e falta de preparo para lidar
com o diferente.
Isso é Importante
Nem sempre a criança que tem dificuldade para aprender é aquela que não se adapta ao contexto escolar com suas
características. Fatores de outra ordem estão implicados no processo do não-aprender, mas a escola certamente não
tem agido de forma a amenizar situações dessa natureza. Segundo Fonseca (1995a):
A escola pode humilhar, ameaçar e desencorajar, mais do que reforçar o eu, libertar ou
encorajar a criança. Temos o hábito de dizer que mandamos as crianças para a escola
Pós-graduação a Distância
A história desses “outros” fatores que impedem a aprendizagem tem sua origem em investigações de diversos
pesquisadores (Ajuriaguerra, 1986, 1990; Fernández, 1991; Ferreiro & Teberosky, 1986; Fonseca, 1995a, 1995b;
Goldstein & Goldstein, 1994; Johnson & Myklebust, 1985; Pain, 1987, 1992; Piaget, 1989, 1991; Shain, 1978;
Teberosky, 1993; Vygotsky, 1991), que contribuíram para a construção do que hoje conhecemos como o campo de
estudo da Psicopedagogia.
Direitos reservados ao CETEB 15
Fundamentos e Objeto de Estudo da Psicopedagogia Unidade I
A Psicopedagogia é uma ciência que vêm construindo seu corpo teórico a partir das contribuições de diferentes
autores.
Faça uma pesquisa na internet sobre os autores citados no parágrafo anterior e analise suas contribuições para o
saber psicopedagógico e a questão das dificuldades de aprendizagem.
_____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________________________________________________
Fundamentos da Psicopedagogia
Em Fonseca (1995a) encontramos uma breve revisão de literatura sobre os grandes pioneiros e suas pesquisas na
área das dificuldades de aprendizagem. Passeando por estudos clássicos, o autor organiza um quadro que retrata a
evolução das pesquisas neste campo, seus principais expoentes e o processo de desenvolvimento dentro de cada
abordagem.
É importante ressaltar que o enfoque dado inicialmente às dificuldades de aprendizagem era basicamente orgânico,
pautado em estudos de investigadores das áreas psiquiátricas, neurológicas, entre outras. Posteriormente, transferiu-
se o foco de atenção para a escola e a qualidade das relações lá existentes, o que demandou alternativas teóricas às
já existentes, com destaque para as contribuições da psicologia sócio-histórica.
Isto é Importante
A Psicanálise, com sua enorme influência no modo de pensar ocidental, colaborou com um arcabouço teórico consistente,
que foi incorporado ao campo de conhecimento da Psicopedagogia. A partir de uma leitura de Scoz (1994), com base
em pressupostos psicanalíticos, observa-se que:
Em sua revisão da literatura sobre a história das dificuldades de aprendizagem, Fonseca (1995a) estabeleceu algumas
categorias funcionais, com o propósito de facilitar a compreensão das várias abordagens emergentes, que originaram
a área de investigação dos problemas de aprendizagem. Estas categorias refletem o foco de atenção dos diferentes
pesquisadores e se subdividem em: a) perspectivas lesionais e cerebrais; b) perspectivas perceptivo-motoras; c)
perspectivas de linguagem; d) perspectivas neuropsicológicas e e) perspectivas de integração (que incluem fatores
ambientais, sociais, emocionais, afetivos, entre outros).
Impossível desconsiderar a enorme contribuição dada pelos teóricos da área do desenvolvimento humano, que
investigaram facetas diferenciadas do processo de desenvolvimento e da aprendizagem. Dentre estes se destacam,
especialmente, Piaget e Vygotsky. As abordagens psicopedagógicas atuais utilizam os conhecimentos organizados
por estes teóricos como marcos referenciais para a sua prática tanto clínica como institucional.
Para Refletir!
Pós-graduação a Distância
Hoje, observa-se que o campo de investigação das dificuldades de aprendizagem assemelha-se a uma enorme colcha
de retalhos, onde alguns observam a origem das Dificuldades de aprendizagem - DAs em uma dimensão neurológica,
outros em uma dimensão social e contextual e alguns em uma perspectiva interativa. Fonseca (1995a) encerra esta
discussão argumentando:
Direitos reservados ao CETEB 17
Fundamentos e Objeto de Estudo da Psicopedagogia Unidade I
No Brasil, o campo de investigação das dificuldades de aprendizagem espelha sua juventude. A Psicopedagogia é
uma área do conhecimento em fase de construção, que deriva da fronteira entre a Pedagogia e a Psicologia, necessitando
de conhecimentos de outras áreas que também investigam o ser humano. Sua abordagem acerca do fenômeno da
aprendizagem e seus entraves é multidisciplinar, tornando-a tributária de várias áreas do conhecimento.
Isto é Importante
GLOSSÁRIO
Dialética – É o desenvolvimento de processos gerados por oposições que provisoriamente se resolvem em unidades
e se definem segundo o processo racional que procede pela união incessante de contrários — tese e antítese - numa
categoria superior, a síntese. Pensar dialeticamente inclui trabalhar com uma tese (instância A) que se choca ou se
opõe a uma antítese (instância B) e que gera uma nova forma ou estrutura de pensamento, que é a síntese (instância
C). Na perspectiva dialética, C não é o somatório de A + B. A síntese (C) contém a tese (A) e a antítese (B), porém
de forma modificada, transformada.
Perspectivas lesionais e cerebrais – Fatores que geram problemas e/ou doenças ao organismos e que têm origem
em lesões, internas ou externas, e danos cerebrais.
Perspectivas perceptivo-motoras – Fatores que geram problemas e/ou doenças ao organismo e que têm origem em
disfunções no sistema da percepção ou no sistema motor do sujeito.
Fundamentos da Psicopedagogia
Visão Multidisciplinar – Adotar uma visão multidisciplinar sobre um tema consiste em vê-lo a partir da contribuição
de múltiplas disciplinas. A Psicopedagogia exige uma visão multidisciplinar, na medida em que necessita dos saberes
de várias áreas do conhecimento para a construção de seu objeto de estudo.
Visão Sistêmica – Adotar uma visão sistêmica sobre um tema consiste em vê-lo a partir da contribuição da Teoria
dos Sistemas. Um sistema pode ser definido como um conjunto de elementos interdependentes que interagem com
objetivos comuns formando um todo, e onde cada um dos elementos componentes comporta-se, por sua vez, como
um sistema cujo resultado é maior do que o resultado que as unidades poderiam ter se funcionassem
independentemente. Uma visão sistêmica permite compreender um fenômeno em relação direta e interdependente
com suas partes, formando um todo complexo, dinâmico e capaz de transformação.
Aprendizagem é um termo abrangente, que permite diversas conceituações. Na Psicologia representa uma área de
extrema importância, à qual se dedicaram teóricos de grande porte, como Bandura, Gagné, Guthrie, Hull, Kohler,
Lewin, Piaget, Rogers, Skinner, Thorndike, Tolman, entre outros.
Definir aprendizagem é uma tarefa complexa. Neste capítulo optamos por apresentar conceituações elaboradas por
investigadores renomados na área, com o propósito de ampliar as possibilidades de compreensão deste fenômeno
assim como do seu oposto: o processo do não-aprender.
Aprende-se perseguindo sinais para o objetivo, mapeando nosso caminho para esse objetivo
(mapa cognitivo); a aprendizagem é adquirida através de comportamento significativo,
não do mero movimento. A compreensão, mais que o condicionamento, é a essência da
aprendizagem. Tolman, 1932 (em Sahakian, 1980, p.220).
Depois de ler todos estes conceitos sobre a aprendizagem, seria interessante você construir o seu conceito.
Aprendizagem é....
_____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________________________________________________________
Fundamentos da Psicopedagogia
A função da aprendizagem, segundo Fernández (1991), “é incorporar o indivíduo à espécie humana, fazendo-o
sujeito de uma cultura” (p.30). A criança necessita ser interpretada/traduzida/ensinada por um outro, para que
assimile e compreenda a cultura onde está inserida.
A mãe, no princípio da vida, surge como este outro que outorga, dá significados aos comportamentos, movimentos,
sons e desejos incluindo a criança no mundo, investindo-a de humanidade. O nível qualitativo dessa relação de
significação vai depender do tipo de vínculo emocional existente entre os dois sujeitos do processo.
Para Refletir!
Considerando que os pais representam as primeiras figuras que ensinam e que exercem grande influência sobre a
criança, percebe-se a importância de uma ação tolerante, paciente e amorosa por parte deles no sentido de interpretar
e traduzir as expressões infantis sem atropelar ou impedir seus esforços em direção à autonomia e liberdade de
pensar e sentir.
É indispensável para a criança sentir-se aceita e desejada como ser pensante, sentir-se valorizada por seus produtos
e criações. Segundo Aulagnier (em Fernández, 1991), “a mãe é a porta-voz do bebê quando este chega ao mundo,
mas se emerge na mãe um desejo de não-mudança, isso tem um poder desestruturante porque a criança não poderá
usar a sua voz para enunciar a sua palavra” (p.32).
É neste contexto que se configura a gênese das dificuldades de aprendizagem, na dimensão das interações sociais,
onde o sujeito se constrói, de modo ativo e co-participativo, contando sempre com a mediação do outro, mesmo que
este outro não se dê conta disto.
É fácil visualizar, nas conceituações e proposições de Fernández (1991), a influência dos pressupostos psicanalíticos
e do enfoque sócio-construtivista sobre a aprendizagem. Quando enfatiza a relação mãe/bebê, situando-a como
fonte e origem dos distúrbios que, posteriormente, afetarão a aprendizagem, a autora reflete um aspecto muito
valorizado pela psicanálise que considera o palco onde se vive o drama da primeira infância o ponto nevrálgico que
irá determinar os comportamentos futuros do sujeito. Quando argumenta que o sujeito aprendiz é atuante em seu
processo de aprender, ressalta a visão sócio-construtivista que percebe o conhecimento como construção do sujeito
agindo em um mundo de significados, por meio das relações com o outro e com o legado cultural.
Ao falar de aprendizagem, Fernández (1991) argumenta que a visão usual encara o processo de aprender como ação
vinculada à mão e ao cérebro, desconsiderando o sujeito desejante e criador, que atribui sentido e expressão ao ato
da aprendizagem.
Pós-graduação a Distância
Para Refletir!
Quantos Leonardo da Vinci - gênio artístico e científico de sua época - estaremos hoje
expulsando de nossas escolas e, o que é mais grave, afogando-lhes também sua capacidade
criadora, cerceando a construção de sua identidade como sujeitos pensantes (pp.33-34).
As idéias de Fenelon (1994) sobre a aprendizagem e sua contrapartida, o não-aprender, assemelham-se aos pressupostos
defendidos por Alícia Fernández. Na sua visão,
Isto é Importante
Pain (1992) considera que as dificuldades de aprendizagem representam todas as perturbações que impedem a
normalidade do processo de aprender, qualquer que seja o status cognitivo do sujeito. Independente de o sujeito
obter escores de inteligência altos ou baixos serão considerados problemas de aprendizagem outros fatores que o
impeçam de aprender, não permitindo o aproveitamento de suas potencialidades.
Em Fonseca (1995a) destacamos uma definição de dificuldades de aprendizagem, elaborada pelo National Joint
Committee of Learning Disabilities - NJCLD - USA, 1988, que diz o seguinte:
Nos Estados Unidos, há uma definição criada por lei (US Public Law 94-142), para o termo learning disabilities, de
acordo com a publicação Learning Disabilities: A Guide for Parents and Teacher - Silber Psychological Service, 1992
(Zorzi, 1994), que relata a seguinte conceituação:
Isto é Importante
Percebe-se, com clareza, a visão americana das dificuldades de aprendizagem. A conceituação das DAs, nesta
cultura, vincula-se especialmente aos fenômenos observados em sala de aula, como ler, escrever e contar, tendo
como etiologia, basicamente, desordens nas dimensões orgânicas, psicológicas e neurológicas.
Tarnopol, 1981 (em Drouet, 1995) apresenta uma definição para distúrbios da aprendizagem influenciada por uma
visão interacionista. Segundo este autor, “distúrbios são perturbações de origem biológica, neurológica, intelectual,
psicológica, sócio-econômica ou educacional, encontradas em escolares, que podem tornar-se problemas para a
aprendizagem dessas crianças” (p.91).
Já Kirk e Bateman, 1962 (em Drouet, 1995) preferem reservar o termo distúrbios de aprendizagem “apenas para
aqueles casos de crianças com dificuldades de aprendizagem de causas desconhecidas, uma vez que essas crianças
não apresentam defeitos físicos, sensoriais, emocionais ou intelectuais de espécie alguma” (p.92).
Autores como Parente e Ranña (1990) discutem as inúmeras definições existentes para as dificuldades de aprendizagem
como efeito resultante do caráter complexo e amplo deste campo do conhecimento. Diversas áreas estão envolvidas
na formulação deste conceito, criando determinantes de várias ordens, como sociais, culturais, pedagógicos,
psicológicos, neurológicos, entre outros, que influenciarão a conceituação formal das dificuldades de aprendizagem.
A partir desta mistura surgem termos como: distúrbios psiconeurológicos, disfunção cerebral mínima, dislexia, dislalias,
disortografias e muitos outros que só servem para mascarar o processo diagnóstico, criando confusão na classificação
e avaliação das crianças com problemas de aprendizagem.
Isto é Importante
Pós-graduação a Distância
Para Parente e Ranña (1990), um problema de aprendizagem é “considerado como um sintoma que expressa algo e
possui uma mensagem. Assim o não aprender tem uma função tão integradora quanto o aprender” (p.51).
A conceituação das dificuldades de aprendizagem parece tarefa complicada, uma vez que é cercada de posicionamentos
Direitos reservados ao CETEB 23
Fundamentos e Objeto de Estudo da Psicopedagogia Unidade I
distintos, oriundos de áreas do saber que precisam ser conjugadas para um entendimento global do fenômeno.
Reflete também movimentos sociológicos, provenientes das diferentes demandas que a sociedade impõe aos indivíduos,
ao longo de seu desenvolvimento. Novos tempos exigem novos currículos, novos conhecimentos são produzidos,
novas metodologias surgem. As crianças e os adolescentes nem sempre conseguem se adaptar às modificações que
surgem com os novos métodos, assim como o contrário, nem sempre a escola consegue acompanhar a intensa
transformação pela qual passa a sociedade, tornando-se um lugar dissociado da realidade e pouco interessante para
a criança e o jovem.
Para Refletir!
A tarefa de elaborar um bom processo de avaliação psicopedagógica, tanto no âmbito clínico quanto institucional,
constitui-se em um enorme desafio para o psicopedagogo, uma vez que a dimensão conceitual das dificuldades de
aprendizagem permanece ainda um setor confuso e ambíguo, com especificações imprecisas e generalizações
inapropriadas. Segundo Fonseca (1995a):
A falta de uma teoria sólida e coesa nos seus paradigmas e pressupostos e de uma
taxonomia pormenorizada e compreensível é, assim, uma das razões que explicam a
ambigüidade e a legitimidade das dificuldades de aprendizagem, daí que a criação e
promulgação de serviços educacionais sejam, presentemente, muito restritas e ineficazes,
porque não surge, nem se vislumbra um critério ou uma definição fidedigna e aquiescente.
As dificuldades de aprendizagem representam um assunto conceitualmente confuso,
decorrente de uma investigação teórico-prática ainda incipiente, contraditória e demasiado
complexa nas suas variáveis e nos seus pressupostos (pp.72-73).
Isto é Importante
Uma discussão inicial sobre as origens das dificuldades de aprendizagem requer uma constatação importante: a
criança que apresenta dificuldades no processo de aprender não é uma criança deficiente. Em geral pertence
Fundamentos da Psicopedagogia
a uma população heterogênea, com subtipos de dificuldades, alguns comportamentos desviantes e outros
semelhantes às crianças normais e sem a apresentação de características específicas. Tal fato dificulta a
avaliação psicopedagógica e, conseqüentemente, os limites da intervenção.
Para Fonseca (1995a), a criança que apresenta dificuldades no processo de aprendizagem emite um conjunto de
comportamentos que podem ser considerados desviantes, concomitantemente a comportamentos considerados
absolutamente normais. Em pesquisas diversas, foram listados mais de 100 itens comportamentais característicos
de conduta desviante de dificuldade de aprendizagem.
Para Refletir!
Segundo McCarthy, 1974 (em Fonseca, 1995a), os dez comportamentos desviantes mais freqüentes em crianças
com problemas de aprendizagem são:
1) Hiperatividade;
2) Problemas psicomotores;
3) Problemas emocionais;
5) Desordens de atenção;
6) Impulsividade;
A busca do entendimento da história do sujeito que apresenta dificuldades de aprendizagem é o método utilizado por
Fonseca (1990) para avaliar os graus de condutas desviantes. O processo evolutivo das dificuldades de aprendizagem
deixa marcas em certos níveis de funcionamento que devem ser rastreados para a clarificação da avaliação
psicopedagógica. Dentre esses níveis, a autora destaca o psicomotor, o perceptivo e o cognitivo. Investigações nos
domínios da linguagem falada, lida e escrita e de determinadas aquisições pedagógicas também são realizadas como
parte importante da verificação das origens dos problemas de aprendizagem. De acordo com a autora:
Para Drouet (1995), as dificuldades de aprendizagem atendem a uma origem complexa, que envolve aspectos múltiplos
da vida inter e intrapsíquica, orgânica e social do sujeito que as apresenta. Tentando agrupar as possíveis causas
das dificuldades de aprendizagem, a autora chegou a uma classificação que inclui: a) causas físicas, relacionadas a
perturbações somáticas transitórias ou permanentes; b) causas sensoriais, compreendendo os distúrbios que atingem
os órgãos sensoriais e a percepção; c) causas neurológicas, relacionadas ao equipamento cerebral e sistema nervoso;
d) causas emocionais, formadas pelos distúrbios psicológicos e de personalidade; e) causas intelectuais ou cognitivas,
relacionadas à inteligência do sujeito; f) causas educacionais, vinculadas ao contexto da escola e g) causas sócio-
econômicos, provenientes do status vivenciado pelo sujeito, seus recursos e limites (pp.97-98).
Na visão de Pain (1992), nenhum fator isolado é determinante no surgimento das dificuldades de aprendizagem.
Suas origens surgem “da fratura contemporânea de uma série de concomitantes” (p.28). Dentre os fatores considerados
fundamentais na etiologia das dificuldades de aprendizagem, esta autora destaca: a) os fatores orgânicos, que se
relacionam à integridade anatômica e funcionamento dos órgãos diretamente comprometidos com o processo de
aprender; b) os fatores específicos, que surgem de inadequações nas áreas perceptivo-motoras, causando problemas
na aquisição da linguagem e da escrita; c) os fatores psicógenos, relacionados a distúrbios emocionais e de
personalidade e d) os fatores ambientais, que correspondem ao meio ambiente material do sujeito, suas possibilidades
e recursos reais.
Vários autores apresentaram diferentes listas de fatores que são originários das Dificuldades de Aprendizagem.
Organizem estes fatores em uma só lista e analisem a relevância de cada um deles na gênese das DAs.
Criem uma lista de fatores originários das Dificuldades de Aprendizagem de acordo com a compreensão de cada um
acerca do texto lido e estudado.
_____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________________________________________________________
Fundamentos da Psicopedagogia
Ampliando a investigação sobre dificuldades de aprendizagem, evidencia-se que sua gênese situa-se nas dinâmicas
que envolvem a criança, a família, o professor e a escola inseridos em um contexto sociocultural.
Isto é Importante
Fichtner (1990), posicionando-se sobre a origem dos distúrbios de aprendizagem, argumenta que:
Isto é Importante
Antes de iniciarmos uma classificação dos tipos e subtipos de dificuldades de aprendizagem existentes, discutiremos,
ainda, sobre algumas definições relacionadas aos problemas e/ou dificuldades que acometem uma criança no processo
de aprender.
Para Refletir!
Muitas vezes, adotam-se termos técnicos que não encontram lastro ou contrapartida no campo orgânico, como a
célebre “disfunção cerebral mínima” (DCM), que muitos discutem ser a causa da maioria dos casos de dificuldades
de aprendizagem e ninguém, até hoje, conseguiu localizá-la ou comprová-la através dos exames neurológicos,
permanecendo a mesma como uma disfunção sem representação ou verificação orgânica.
Uma conceituação precisa das dificuldades de aprendizagem permite um maior rigor na determinação de quem
pertence a esta categoria de problemas e quem não pertence.
Isto é Importante
Em Fonseca (1995a), encontramos uma série de definições para as dificuldades de aprendizagem, que atendem ao
critério aqui estabelecido de informar, com o máximo de precisão, quem faz parte deste grupo e quem não faz.
São elas:
em Fonseca, 1995a).
a educação, disparidade tal (muitas vezes de 2, 4 ou mais anos escolares) que requer
programas adequados de evolução acadêmica, de forma a adaptá-los à natureza a ao
nível do desvio do seu processo de desenvolvimento (Gallagher, 1966, p.195, em Fonseca,
1995a).
A partir deste elenco de definições, podemos concluir que, se não há consenso quanto ao que seja dificuldade de
aprendizagem, pelo menos a grande maioria dos autores concorda com as características que as crianças com
problemas para aprender “não” possuem.
De acordo com Fonseca (1995a), a criança com dificuldade de aprendizagem não possui deficiência sensorial, seja
ela visual ou auditiva; não é deficiente motor, com quadros de paralisia cerebral ou de membros; não é deficiente
intelectual, mantendo escores de QI por volta de 90 pontos e não apresenta distúrbios emocionais graves, que
podem caracterizar quadros de psicoses severas.
Para Refletir!
A importância de uma taxonomia das dificuldades de aprendizagem reside na necessidade de se conhecer como um
aspecto ou função de natureza psiconeurológica pode ter sido afetado a ponto de comprometer o processo de
aprendizagem ou se a origem da dificuldade pode possuir uma etiologia diferenciada, proveniente do seu ambiente
sócio-histórico-cultural. Nesta perspectiva, é importante compreender de que forma se constrói um quadro de
dificuldades e como este evolui até alcançar os processos gerais de aprendizagem, prejudicando-os.
Fonseca (1995a) propõe uma classificação das dificuldades de aprendizagem em dois níveis, a saber: a) as dificuldades
de aprendizagem primárias e b) as dificuldades de aprendizagem secundárias. O quadro comparativo a seguir
apresentará as principais diferenças entre os dois tipos:
Direitos reservados ao CETEB 29
Fundamentos e Objeto de Estudo da Psicopedagogia Unidade I
(3) O potencial sensorial, intelectual, motor e social está (3) O potencial sensorial, intelectual, motor e social é atípico
intacto e é, portanto, normal. e desviante.
(4) Se há perturbações, elas dependem de alterações mínimas, (4) Se há perturbações, elas dependem secundariamente de
tão mínimas que não são detectadas pelos exames deficiências sensoriais, neurológicas, psíquicas ou
médicos pediátricos, neurológicos, psiquiátricos, ambientais como, por exemplo: privação cultural,
psicológicos porque são insuficientes para identificar desvantagem sócio-econômica, má nutrição, envolvimento
distúrbios e problemas no processamento da informação. afetivo, facilidades de estimulação precoce, expectativas
etc.
(5) As aquisições da linguagem falada, da linguagem escrita e
da linguagem quantitativa estão primariamente (5) As aquisições da linguagem falada, da linguagem escrita e
perturbadas. da linguagem quantitativa estão secundariamente
perturbadas.
· Síntese
· Memória de curto termo 3. Fatores ecológicos e sócio-econômicos
2.2. Do processo visual · Envolvimento afetivo
· Discriminação · Má Nutrição
· Figura-fundo · Privação cultural
· Complemento · Dispedagogia (problemas de ensino)
· Constância da forma
· Posição e relação espacial
· Visualização
Isto é Importante
Inúmeras são as causas das dificuldades de aprendizagem. Fatores biológicos, orgânicos, emocionais, ambientais,
ecológicos, entre outros, interagem de forma sistêmica na composição de um quadro problemático para a aprendizagem.
Na classificação de Fonseca (1995a), o que observamos é uma organização de fatores que são mais bem explicados
e comprovados pelas ciências biológicas, como os componentes das DA II, e um outro grupo de fatores que apresentam
causas ou origens nebulosas, muitas vezes impossível de verificação ou comprovação orgânica, como os fatores das
DA I. Segundo o autor:
Uma classificação apropriada das dificuldades de aprendizagem facilita os passos posteriores, em uma intervenção
psicopedagógica, seja ela realizada em âmbito de atendimento individualizado ou na instituição escolar. Tentar
clarificar o que são ou o que representam os sintomas que surgem em quadros de dificuldades de aprendizagem é
tarefa básica do profissional desta área, especialmente como contribuição para a composição do corpo teórico
psicopedagógico. Se conseguirmos estruturar avaliações psicopedagógicas criteriosas, se falarmos a mesma linguagem,
talvez possamos tornar mais fácil a dura tarefa de compreender por que algumas pessoas, com todos os atributos e
elementos presentes, constroem barreiras que as impedem de aprender, tanto na vida diária quanto na escola.
GLOSSÁRIO
Pós-graduação a Distância
Aprendente – Neologismo derivado de uma expressão argentina que significa “aquele que aprende”.
Avaliação Psicopedagógica – Processo de avaliação de um aluno e/ou instituição de ensino em que se evidencia
situações de queixas escolares. Consiste em elaboração de estratégias de avaliação do aluno, do sistema escolar,
interpretação dos dados coletados na avaliação e elaboração de prognóstico, que são as futuras ações a serem
implementadas.
Biopsicossocial – Expressão que significa a interação das dimensões biológicas, psicológicas e sociais de um dado
fenômeno.
Co-participativo – Pressupõe a participação coletiva e/ou de mais de um sujeito. O prefixo “co” significa contigüidade,
‘companhia.
Conduta Desviante – Comportamento que se afasta de um padrão de regularidade esperado para a idade, etapa
desenvolvimental e estado emocional.
Desejos inconscientes – Expressão oriunda da Psicanálise e que diz respeito aos desejos não manifestos do
sujeito, por estarem em uma dimensão inconsciente.
Disfunção Cerebral Mínima – Funcionamento irregular cerebral que gera um quadro caracterizado por crianças com
inteligência próxima ou superior à média, com problemas de aprendizado e/ou certos distúrbios de comportamento de
grau leve à severo, associados a discretos desvios de funcionamento do Sistema Nervoso Central, SNC. Não há
como evidenciar esta disfunção em exames neurológicos.
Discalculia – É uma desordem neurológica específica que afeta a habilidade de uma pessoa de compreender e
manipular números. A discalculia pode ser causada por um déficit de percepção visual. O termo Discalculia é usado
com relação à inabilidade de executar operações matemáticas ou aritméticas, mas é definido por alguns profissionais
educacionais como uma inabilidade mais fundamental para conceitualizar números como um conceito abstrato de
quantidades comparativas.
Disgrafia - A disgrafia é uma dificuldade que se expressa por meio da famosa “letra feia”. Acontece devido a uma
incapacidade do sujeito em recordar a grafia da letra. Ao tentar recordar este grafismo, o indivíduo escreve lentamente,
o que acaba unindo inadequadamente as letras, tornando a letra ilegível. Algumas crianças com disgrafia possuem,
também, uma disortografia amontoando letras para esconder os erros ortográficos. Esta disfunção não está associada
a nenhum tipo de comprometimento intelectual.
Dislalia - Transtorno articulatório, que se caracteriza por acréscimos, distorções, inversões, omissões e ainda troca
de fonemas causados por desordens funcionais dos órgão periféricos da fala. As Dislalias classificam-se em Dislalia
Fisiológica, Funcional, Social ou Cultura, Audiógena e, ainda, Dislalia Orgânica”
Dislexia – É uma disfunção neurológica que apresenta como conseqüência dificuldades na leitura e escrita. Consiste,
também, em uma dificuldade específica que afeta a aprendizagem da decodificação do sistema verbal escrito,
classificada entre as disfunções da linguagem, mais especificamente da linguagem escrita.
Disortografia - É uma disfunção na linguagem escrita. A característica principal de um sujeito com disortografia
consiste na confusão de letras, sílabas, palavras e trocas ortográficas já conhecidas e trabalhadas no processo de
educação formal.
Fundamentos da Psicopedagogia
EEG – Exame neurológico denominado “eletroencefalograma”, em que o paciente (sedado ou não) fica com uma série
de fios ligados à sensores que são colados na região da cabeça e, através de aparelho, um gráfico mostra o ritmo
das ondas cerebrais, impresso num papel. O resultado impresso é então interpretado pelo neurologista e/ou psiquiatra
e determina se há algum tipo de disfunção no sistema neurológico.
Ensinante – Neologismo derivado de uma expressão argentina que significa “aquele que ensina”.
Gênese das DAs – Gênese, neste sentido, diz respeito à origem, surgimento das DAs.
Insight – Em inglês, significa “olhar para dentro” Compreensão repentina, em geral intuitiva, de suas próprias
atitudes e comportamentos, de um problema, de uma situação.
Interpsíquica – Expressão que significa “entres psiques”, ou seja, função psicológica que se desenvolve na relação
com outras psiques, ou estados psicológicos.
Intrapsíquica - Expressão que significa “dentro da psique”, ou seja, diz respeito aos processos psicológicos que
ocorrem no interior da psique do sujeito.
Intrínseca – Que está dentro de uma coisa ou pessoa e lhe é próprio; interior, íntimo.
Lateralidade – Que é lateral. Diz respeito à dominância que os hemisférios cerebrais exercem em cada lado do
organismo.
Mediação – Conceito da psicologia sócio-histórica que representa o elemento que se interpõe entre o sujeito e o
objeto da experiência. O homem tem uma relação mediada com o mundo, ou seja, sua experiência não se dá de forma
direta com os objetos e coisas da natureza, como acontece com os animais, mas mediante a intervenção de um outro
que dá sentido e significado a esta experiência.
Paradigma – Modelo, padrão que representa um corpo de idéias, crenças, valores, saberes, habilidades e competências.
Pensamento Causal – Modelo de pensamento onde se estabelece uma relação de causa e efeito entre as partes.
Pensamento dialético - Modelo de pensamento onde se estabelecem relações antagônicas entre as partes, tendo
como resultado sínteses elaboradas a partir de teses e antíteses.
Ponto Nodal – Nodal diz respeito a nó. Ponto nodal significa o ponto central.
Ponto Nevrálgico – Nevrálgico diz respeito a nervo. Ponto nevrálgico significa o ponto mais sensível.
Praxia – Expressão que significa “ação” e diz respeito às ações motoras, em geral.
Psicopedagogia Clínica – Campo de intervenção curativa psicopedagógica em que o foco é o sujeito com problemas
de aprendizagem. A Psicopedagogia Clínica deve ser realizada por profissionais com especialização clínica, de
preferência, no âmbito do atendimento individualizado.
Pós-graduação a Distância
Sintoma – Qualquer fenômeno de caráter subjetivo provocado no organismo por uma disfunção ou doença, e que,
descritos pelo paciente, auxiliam, em grau maior ou menor, a estabelecer um diagnóstico. Sinal, indício.
Vicariante – Que faz as vezes de outrem ou de outra coisa. Diz-se do poder exercido por delegação de outrem. No
sentido empregado no texto, vicariante diz respeito ao reforço ou desejo de imitação a partir da experiência de
outrem.
Unívoco - Diz-se de palavra, conceito ou atributo que se aplica a sujeitos diversos de maneira absolutamente
idêntica. Que só comporta uma forma de interpretação. Que é homogêneo, uníssono ou homônimo.
Fundamentos da Psicopedagogia
Isto é Importante
O QUE É INTERDISCIPLINARIDADE?
A interdisciplinaridade surge como aspecto vital na discussão do objeto de estudo da Psicopedagogia e sua
conceituação.
Por ser um campo do conhecimento que está em processo de construção, utilizando para isso material gerado por
outras áreas, a Psicopedagogia tem por natureza um caráter interdisciplinar. Mas não somente porque herda
conhecimentos de outras ciências e sim porque, ao recebê-los, transforma-os, adaptando-os ao seu objeto de estudo.
Para Refletir!
fase de elaboração, pensando seu objeto de estudo, que deriva de suas investigações principais já citadas, como
também de outras contribuições recebidas a partir de sua abertura interdisciplinar a outras áreas do conhecimento.
De acordo com Bossa (1994):
A investigação da gênese das dificuldades de aprendizagem nos remete à questão da interdisciplinaridade quando
evidencia os diversos focos teórico-metodológicos necessários para uma descrição adequada do fenômeno da
aprendizagem e seus impedimentos.
Por que a interdisciplinaridade? Para atender à complexidade do ser humano e seus processos. O fenômeno da
aprendizagem necessita de múltiplas abordagens para sua compreensão, pois se relaciona com diversos aspectos
componentes do homem como a cognição, a afetividade, o físico, o emocional, o social, entre outros.
Como complemento indispensável, a questão ética vem delimitar a atuação do psicopedagogo no sentido de canalizar
esforços para que a ação psicopedagógica seja realmente benéfica e apropriada para a maioria dos alunos que
constituem a clientela alvo desse serviço.
GLOSSÁRIO
Ética - Estudo dos juízos de apreciação referentes à conduta humana suscetível de qualificação do ponto de vista do
bem e do mal, seja relativamente a determinada sociedade, seja de modo absoluto.
Fonoaudiologia – A fonoaudiologia é a ciência que estuda os sons e o sistema fonatório do ser humano. Problemas
com a fonação podem dificultar a vida social e produzir desvios dentários e dificuldades no aprendizado das linguagens.
Lingüística - Lingüística é o estudo científico da linguagem humana. Um lingüista é alguém que se dedica a esse
estudo.
Fundamentos da Psicopedagogia
A Unidade II deste módulo vai discutir a Psicopedagogia como área de formação e a relevância das múltiplas
contribuições teóricas para a construção dos seus saberes sobre o desenvolvimento humano, a aprendizagem e seus
processos impeditivos.
Já discutimos o processo de formação histórica desta disciplina, caracterizando-a como uma área relativamente
nova, que se encontra em plena construção de seu corpo teórico.
Para Refletir!
Em uma perspectiva de construção teórica, encontramos um número significativo de investigadores que vêm contribuindo
com pesquisas, artigos, livros, palestras, congressos, no sentido de consolidar a ciência psicopedagógica.
Do ponto de vista da prática, há registros de diversos projetos e propostas de trabalho institucional, apresentados
em países da Europa e da América Latina, que vêm surtindo efeitos positivos e modificando as políticas públicas
educacionais. A Psicopedagogia começa a destacar-se como área do saber que não só auxilia os demais profissionais
da educação a lidarem com temáticas complexas, como também assume o papel de influenciar decisões com relação
à gestão dos sistemas públicos de ensino.
A instância do trabalho clínico também vem alcançando notoriedade por meio de renomados profissionais que têm
estendido seu lócus de atuação para além dos consultórios, incluindo nestes novos espaços de intervenção os
hospitais, as clínicas de reabilitação e demais instituições de saúde onde os processos de ensino e aprendizagem
Pós-graduação a Distância
Já identificamos o psicopedagogo como o profissional preparado para avaliar e propor estratégias de intervenção em
situações em que dificuldades de aprendizagem surjam, a despeito de suas origens e causas. Este profissional deve
estar preparado para transitar ao longo de todas estas dimensões e propor, tanto para a escola como para a família,
alternativas que auxiliem as crianças a reconstruírem suas estratégias de aprendizagem. Para isto, ele vai utilizar um
vasto arsenal de técnicas, instrumentos e recursos que vão possibilitar a realização de seu trabalho com o aluno e a
escola.
Isto é Importante
(1) Uma área clínica, que se ocupa da avaliação psicopedagógica do aluno que apresenta dificuldades
de aprendizagem impossíveis de serem sanadas na escola e que demandam um atendimento
terapêutico e/ou curativo. Espera-se que o especialista em psicopedagogia, ao decidir atuar
profissionalmente, dê início a uma formação clínica que deve habilitá-lo para exercer sua função
com maior competência e propriedade. O curso de especialização não forma o clínico. Esta formação
deve ser complementada por outros meios, mediantes programas específicos de preparo do
psicopedagogo para o exercício do método clínico.
(2) Uma área institucional que vai atuar no sentido de prevenir a ocorrência das dificuldades de
aprendizagem, no âmbito da instituição escolar, junto aos professores e demais educadores, sempre
considerando o aluno, sua família e seu contexto como partes integrantes do sistema escolar.
Isto é Importante
O especialista em Psicopedagogia pode, também, atuar em outros espaços profissionais, com destaque para as
organizações, empresas, instituições de ensino coorporativas, ou seja, em qualquer lugar onde haja ensino e
aprendizagem. É de extrema importância discutir sobre a atuação deste especialista em locais que não a escola,
pois as contribuições que a Psicopedagogia tem a dar para os processos de aprendizagem, em geral, não se restringem
ao âmbito da educação formal. Programas de treinamento, capacitação profissional e cursos de universidades
coorporativas só têm a lucrar com os saberes que vem sendo construídos pelos pesquisadores da disciplina
psicopedagógica.
Para Refletir!
Fundamentos da Psicopedagogia
Bossa (2000)
Na escola, o psicopedagogo deve trabalhar para construir, junto com alunos e professores, um espaço de aprendizagem
saudável, criativo e instigador. É importante que sua participação se estenda aos vários espaços escolares, desde a
construção do Projeto Político-Pedagógico da instituição até a definição das rotinas em sala de aula.
Um bom profissional de Psicopedagogia vai propor à escola uma reflexão sobre (a) a qualidade do ensino que oferta;
38 Universidade Gama Filho
O Psicopedagogo como Profissional Unidade II
(b) a escolha do currículo; (c) as metodologias adotadas em sala de aula; (d) a postura e compromisso do corpo
docente; (e) os comportamentos dos alunos; (f) os processos interativos ocorrentes; enfim, sobre tudo o que acontece
na escola e que diz respeito a este especialista.
Quando surgem problemas é chegado o momento de avaliar a instituição como um todo, considerando suas múltiplas
instâncias, a saber:
· O aluno;
· Os professores;
· Os profissionais de educação;
· O próprio psicopedagogo;
· Os servidores escolares;
· As famílias;
· A comunidade;
· O contexto sócio-cultural;
· As políticas públicas.
Isto é Importante
Ciente dos problemas presentes na escola e que estão atuando como impeditivos da aprendizagem dos alunos, o
psicopedagogo institucional pode realizar inúmeras ações preventivas, como por exemplo:
· Trabalhar com os professores para que eles conheçam todos os aspectos envolvidos no processo de
ensinar e aprender e que reconheçam que, muitas vezes, o modo como eles ensinam não
necessariamente é o melhor modo para o aluno aprender;
Pós-graduação a Distância
· Orientar os alunos que apresentam maiores dificuldades em suas rotinas escolares e, quando for o
caso, encaminhá-los para atendimento especializado;
· Auxiliar os pais a lidarem com seus filhos que enfrentam dificuldades para aprender, sugerindo
atividades e orientações que facilitem a retomada da aprendizagem significativa;
· Colaborar com a Direção da escola e demais educadores para que todos atuem conjuntamente no
sentido de prevenir situações de fracasso escolar;
O especialista em Psicopedagogia deve, ainda, estar sintonizado com a evolução do conhecimento, não só em sua
área de atuação, mas em todas as disciplinas auxiliares do trabalho psicopedagógico. Deve ter postura crítica e
pensamento complexo, saber analisar contextos educacionais, conhecer a realidade do seu país e posicionar-se de
forma pró-ativa, demonstrando competência, ética, valores consolidados e responsabilidade social.
Para Refletir!
No Brasil já existe um local que congrega os especialistas em psicopedagogia: trata-se da Associação Brasileira de
Psicopedagogia – ABPp. Esta Associação teve sua origem na Associação Estadual de Psicopedagogia de São Paulo,
fundada em 1980, por um grupo de profissionais já atuantes na área, que pesquisavam e construíam conhecimentos
acerca das dificuldades de aprendizagem como fenômeno expressivo e de relevância para o contexto escolar. Esta
entidade tem caráter científico-cultural, sem fins lucrativos e congrega profissionais da área da Psicopedagogia.
Isto é Importante
Desde sua fundação, a Associação Brasileira de Psicopedagogia tem promovido conferências, mesas-redondas,
cursos, seminários, congressos, bem como a divulgação de trabalhos sobre sua área de atuação, através da Revista
Psicopedagogia. Nos últimos anos, a ABPp vem cuidando de questões referentes à formação, ao perfil e ao
reconhecimento profissional do psicopedagogo.
Uma das contribuições de peso da ABPp, para a comunidade psicopedagógica, foi a elaboração do Código de Ética
Pós-graduação a Distância
do Especialista em Psicopedagogia, que orienta sobre a prática desta especialização, assim como apresenta os
referências éticos necessários para o exercício profissional.
Abaixo segue cópia do referido documento, retirado do site da ABPp (http://www.abpp.com.br/, acesso em 10 de
dezembro de 2006).
Artigo 1º
A psicopedagogia é um campo de atuação em Saúde e Educação que lida com o processo de aprendizagem humana;
seus padrões normais e patológicos, considerando a influência do meio - família, escola e sociedade - no seu
desenvolvimento, utilizando procedimentos próprios da psicopedagogia.
Parágrafo único
Artigo 2º
A Psicopedagogia é de natureza interdisciplinar. Utiliza recursos das várias áreas do conhecimento humano para a
compreensão do ato de aprender, no sentido ontogenético e filogenético, valendo-se de métodos e técnicas próprios.
Artigo 3º
Artigo 4º
Artigo 5º
O trabalho psicopedagógico tem como objetivo: (i) promover a aprendizagem, garantindo o bem-estar das pessoas
em atendimento profissional, devendo valer-se dos recursos disponíveis, incluindo a relação interprofissional; (ii)
realizar pesquisas científicas no campo da Psicopedagogia.
Artigo 6º
Fundamentos da Psicopedagogia
a. Manter-se atualizado quanto aos conhecimentos científicos e técnicos que tratem o fenômeno da
aprendizagem humana;
b. Zelar pelo bom relacionamento com especialistas de outras áreas, mantendo uma atitude crítica, de
abertura e respeito em relação às diferentes visões do mundo;
c. Assumir somente as responsabilidades para as quais esteja preparado dentro dos limites da
competência psicopedagógica;
e. Difundir seus conhecimentos e prestar serviços nas agremiações de classe sempre que possível;
f. Responsabilizar-se pelas avaliações feitas fornecendo ao cliente uma definição clara do seu diagnóstico;
g. Preservar a identidade, parecer e/ou diagnóstico do cliente nos relatos e discussões feitos a título
de exemplos e estudos de casos;
i. Manter atitude de colaboração e solidariedade com colegas sem ser conivente ou acumpliciar-se, de
qualquer forma, com o ato ilícito ou calúnia. O respeito e a dignidade na relação profissional são
deveres fundamentais do psicopedagogo para a harmonia da classe e manutenção do conceito
público.
Artigo 7º
O psicopedagogo procurará manter e desenvolver boas relações com os componentes das diferentes categorias
profissionais, observando, para este fim, o seguinte:
a. Trabalhar nos estritos limites das atividades que lhes são reservadas;
CAPÍTULO IV - DO SIGILO
Artigo 8º
O psicopedagogo está obrigado a guardar segredo sobre fatos de que tenha conhecimento em decorrência do
exercício de sua atividade.
Parágrafo Único
Não se entende como quebra de sigilo, informar sobre cliente a especialistas comprometidos com o atendimento.
Artigo 9º
O psicopedagogo não revelará, como testemunha, fatos de que tenha conhecimento no exercício de seu trabalho, a
Pós-graduação a Distância
Artigo 10º
Os resultados de avaliações só serão fornecidos a terceiros interessados, mediante concordância do próprio avaliado
ou do seu representante legal.
Artigo 11º
Os prontuários psicopedagógicos são documentos sigilosos e a eles não será franqueado o acesso a pessoas estranhas
ao caso.
Artigo 12º
b) Em pesquisa ou trabalho em colaboração, deverá ser dada igual ênfase aos autores, sendo de boa
norma dar prioridade na enumeração dos colaboradores àquele que mais contribuir para a realização
do trabalho;
c) Em nenhum caso, o psicopedagogo se prevalecerá da posição hierarquia para fazer publicar em seu
nome exclusivo, trabalhos executados sob sua orientação;
d) Em todo trabalho científico deve ser indicada a fonte bibliográfica utilizada, bem como esclarecidas
as idéias descobertas e ilustrações extraídas de cada autor.
Artigo 13º
O psicopedagogo ao promover publicamente a divulgação de seus serviços, deverá fazê-lo com exatidão e honestidade.
Artigo 14º
O psicopedagogo poderá atuar como consultor científico em organizações que visem o lucro com venda de produtos,
desde que busque sempre a qualidade dos mesmos.
Artigo 15º
Fundamentos da Psicopedagogia
Os honorários deverão ser fixados com cuidado, a fim de que representem justa retribuição aos serviços prestados e
devem ser contratados previamente.
Artigo 16º
O psicopedagogo deve participar e refletir com as autoridades competentes sobre a organização, implantação e
execução de projetos de Educação e Saúde Pública relativo às questões psicopedagógicas.
Artigo 17º
Cabe ao psicopedagogo, por direito, e não por obrigação, seguir este código.
Artigo 18º
Cabe ao Conselho Nacional da ABPp orientar e zelar pela fiel observância dos princípios éticos da classe.
Artigo 19º
O presente código só poderá ser alterado por proposta do Conselho da ABPp e aprovado em Assembléia Geral.
Artigo 20º
O presente código de ética entrou em vigor após sua aprovação em Assembléia Geral, realizada no V Encontro e II
Congresso de Psicopedagogia da ABPp em 12/07/1992, e sofreu a 1ª alteração proposta pelo Congresso Nacional e
Nato no biênio 95/96, sendo aprovado em 19/07/1996, na Assembléia Geral do III Congresso Brasileiro de
Psicopedagogia da ABPp, da qual resultou a presente solução.
Pós-graduação a Distância
REFERÊNCIAS
Ajuriaguerra, J. (1990). A dislexia em questão. Porto Alegre: Artes Médicas.
Ajuariaguerra, J. & Marcelli, D. (1986). Psicopatologia infantil. Porto Alegre: Artes Médicas.
Bassedas, E., Huguet, T., Marrodán, M, Oliván, M., Planas, M., Rossell, M., Seguer, M. & Vilella, M. (1996).
Intervenção educativa e diagnóstico psicopedagógico. Porto Alegre: Artes Médicas.
Bossa, N.A. (2000). Dificuldades de aprendizagem. O que são? Como tratá-las? Porto Alegre: ARTMED Editora.
Fenelon, G.M. (1994). Problema de aprendizagem normal: Revelação e denúncia ou a/cerca do indioma.
Psicopedagogia, 13 (30), pp.19-22.
Ferreira, A.B.H. (1975). Novo dicionário da língua portuguesa. 1ª edição, Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira.
Ferreiro, E. & Teberosky, A. (1986). Psicogênese da língua escrita. Porto Alegre: Artes Médicas.
Fonseca, S.A. (1990). Da criança ao adolescente: gênese e desenvolvimento dos distúrbios de aprendizagem.
Em B.J.L. Scoz, E. Rubinstein, E.M.M. Rossa & L.M.C. Barone (Orgs), Psicopedagogia. O caráter interdisciplinar
na formação e atuação profissional (pp.66-72). Porto Alegre: Artes Médicas.
Fonseca, V. (1995b). Educação especial. Programa de estimulação precoce. Uma introdução às idéias de
Feuerstein. Porto Alegre: Artes Médicas.
Goldstein, S. & Goldstein, M. (1994). Hiperatividade. Como desenvolver a capacidade de atenção da criança.
São Paulo: Papirus.
Fundamentos da Psicopedagogia
Johnson, D. J. & Myklebust, H. R. (1985). Distúrbios de aprendizagem. São Paulo: Editora Universidade de
São Paulo.
Kiguel, S.M. (1990). Abordagem psicopedagógica da aprendizagem. Em B.J.L. Scoz, E. Rubinstein, E.M.M.
Rossa & L.M.C. Barone (Orgs.), Psicopedagogia. O caráter interdiciplinar na formação e atuação profissional
(pp.25-39). Porto Alegre: Artes Médicas.
Macedo, L. de (1992). Para uma psicopedagogia construtivista. Em E.M.L.S. Alencar (Org.), Novas contribuições
da psicologia aos processos de ensino e aprendizagem (pp.121-140). São Paulo: Cortez Editora.
Noffs, N.A. (1995). A psicopedagogia no enfoque existencial fenomenológico. Psicopedagogia, 14(32), pp.21-
27.
Pain, S. & Echeverria, H. (1987). Psicopedagogia operativa. Tratamento educativo da deficiência mental. Porto
Alegre: Artes Médicas.
Pain, S. (1992). Diagnóstico e tratamento dos problemas de aprendizagem. Porto Alegre: Artes Médicas.
Parente, S.M.B.A & Rannã, W. (1990). Dificuldades de aprendizagem: Discussão crítica de um modelo de
atendimento. Em B.J.L. Scoz, E. Rubinstein, E.M.M. Rossa & L.M.C. Barone (Orgs.), Psicopedagogia. O caráter
interdisciplinar na formação e atuação profissional (pp.48-55). Porto Alegre: Artes Médicas.
Piaget, J. (1991). Seis estudos de Psicologia. São Paulo: Editora Forense Universitária.
Rubinstein, E. (1992). A intervenção psicopedagógica clínica. Em B.J.L. Scoz, L.M.C. Barone, M.C.M. Campos
& M.H. Mendes, Psicopedagogia. Contextualização, formação e atuação profissional (pp. 103-111). Porto Alegre:
Artes Médicas.
Sahakian, W.S. (1980). Aprendizagem. Sistemas, modelos e teorias. Rio de Janeiro: Interamericana.
Scoz, B.J.L., Barone, L.M.C., Campos, M.C.M. & Mendes, M.H. (1992). Psicopedagogia. Contextualização,
formação e atuação profissional. Porto Alegre: Artes Médicas.
Solé, I. (2001). Orientação educacional e intervenção psicopedagógica. Porto Alegre: ARTMED Editora.
Teberosky, A. (1993). Psicopedagogia da linguagem escrita. Petrópolis: Editora Vozes em co-edição com a
Editora da UNICAMP.
Vygotsky, L.S. (1991). A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes.
Zorzi, J.L. (1994). Dificuldades na leitura e escrita. Contribuições da fonoaudiologia. Psicopedagogia, 13 (29),
15-23.