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DISCIPLINA
TEORIAS E PRÁTICAS DA
PSICOPEDAGOGIA
INSTITUCIONAL
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Teorias e Práticas da Psicopedagogia Institucional |
Sumário
Sumário
Sumário ----------------------------------------------------------------------------------------------------- 2
1 Conhecendo a psicopedagogia: conceitos gerais, bases históricas e
fundamentação teórica ---------------------------------------------------------------------------------------- 4
1.1 Áreas da Psicopedagogia --------------------------------------------------------------------------------------- 5
1.2 Sobre a epistemologia convergente ------------------------------------------------------------------------- 8
2 Psicopedagogia institucional na escola: desafios e processos -------------------------- 8
2.1 Fracasso escolar ------------------------------------------------------------------------------------------------- 10
2.2 O currículo -------------------------------------------------------------------------------------------------------- 11
2.3 O planejamento com enfoque psicopedagógica ------------------------------------------------------- 12
2.4 Avaliação de aprendizagem ---------------------------------------------------------------------------------- 13
2.5 Conselho de classe---------------------------------------------------------------------------------------------- 15
2.6 Trabalhando por meio de projetos------------------------------------------------------------------------- 15
2.7 Afetividade e aprendizagem --------------------------------------------------------------------------------- 16
2.8 Reuniões de pais ------------------------------------------------------------------------------------------------ 16
2.9 Formação continuada de profissionais da educação -------------------------------------------------- 17
2.10 Indisciplina na escola ------------------------------------------------------------------------------------------ 18
2.11 Inclusão ------------------------------------------------------------------------------------------------------------ 18
3 A intervenção psicopedagógica institucional nas dificuldades de aprendizagem 23
3.1 Contribuições e operacionalização das teorias de Piaget e Vygotsky no cotidiano escolar 24
3.1.1 Piaget e o desenvolvimento humano -------------------------------------------------------------------------------- 25
3.2 Afetividade e aprendizagem: contribuições da teoria do vínculo de Pichon-Rivière para as
práticas pedagógicas ------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 29
4 Grupos operativos e psicodrama educacional ---------------------------------------------- 32
4.1 A aplicação do grupo operativo na escola --------------------------------------------------------------- 34
4.2 O psicodrama na escola --------------------------------------------------------------------------------------- 35
5 A indisciplina na escola e os distúrbios de conduta como problemas reativos de
aprendizagem --------------------------------------------------------------------------------------------------- 36
5.1 Construção da ética e da moralidade no cotidiano escolar: uma leitura piagetiana --------- 41
6 A construção do currículo na escola segundo a psicopedagogia ---------------------- 44
6.1 O planejamento escolar como instrumento de prevenção das dificuldades de
aprendizagem---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 46
6.2 Sugestões de formulários ------------------------------------------------------------------------------------- 49
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No nosso caso, ela representará o que há de comum entre essas três teorias.
Você pode imaginar qual seria esse ponto de convergência? A aprendizagem! Cada
qual com o seu enfoque e com a sua forma de perceber o homem e seus processos
internos e externos. Dessa forma, é possível afirmar que a epistemologia convergente
pode significar uma posição teórica, mas também pode representar uma prática
(VISCA, 1987). Ou seja, podemos estudar as contribuições das três escolas e atuar
sobre a aprendizagem dos nossos alunos de forma que os três enfoques teóricos
(afetivo, cognitivo e social) sejam contemplados.
Um professor pode não ser psicopedagogo por formação, mas pode adotar uma
postura psicopedagógica diante da aprendizagem de seus alunos. Você concorda?
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✓ fracasso escolar;
✓ currículo;
✓ planejamento com enfoque psicopedagógico; a avaliação da aprendizagem;
✓ conselho de classe; trabalho com projetos;
✓ afetividade e aprendizagem;
✓ reuniões de pais;
✓ formação continuada de profissionais da educação; indisciplina na escola;
✓ inclusão.
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Eis um problema nacional. Por que tantas crianças e jovens não conseguem
aprender? Especialmente no período da alfabetização, o problema do fracasso escolar
tem tirado o sono dos professores. Ao analisar a questão, procuramos as causas no
próprio aluno, muitas vezes atribuindo os seus resultados à falta de interesse, à
ausência de investimentos na aprendizagem e até mesmo à existência de alguma
deficiência que impede a aprendizagem de transcorrer normalmente. É comum
também que o problema seja atribuído ao contexto familiar, às condições sociais do
aluno e, ainda, à privação cultural. Todos esses fatores podem representar,
certamente, causas para o não aprender. Ou, ainda, o fracasso escolar pode ter origem
num conjunto de causas anteriormente apresentadas que se entrelaçam. No entanto,
é preciso ter cuidado para não “responsabilizar” o aluno pelo seu fracasso escolar, pois
nem sempre o problema está localizado no próprio sujeito. Recomenda-se que o
professor também reflita sobre a sua prática pedagógica, especialmente sobre as
atividades repetitivas e sobre as experiências de aprendizagem que são oferecidas,
que nem sempre respeitam a individualidade dos alunos. Todos nós, crianças ou
adultos, temos os nossos modelos próprios de aprendizagem e, dessa maneira, a
aprendizagem torna-se um processo muito singular.
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preconceituosos como “estudar para vencer na vida”, “estudar para ser alguém”. O
mestre Paulo Freire pode nos ajudar a organizar um discurso de convencimento
respeitoso e dialético sobre a importância do ato de estudar.
2.2 O currículo
Seja qual for a escola, seja qual for a sociedade, uma coisa é certa: há um currículo
definido para ser ensinado e que serve à sociedade no qual ele está inserido. Ou seja,
a escola “presta serviços” à sociedade educando os seus cidadãos e entregando-os à
sociedade para servi-la. Em contrapartida, a sociedade “diz” para a escola o que ela
precisa ensinar aos seus cidadãos. Portanto, no momento da organização do currículo
escolar, devemos nos perguntar o que precisamos ensinar aos nossos alunos de
acordo com a nossa cultura. Isso nos faz concluir que nenhum currículo é neutro, ao
contrário, está permeado de fatores sociais, políticos e econômicos.
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Uma queixa muito comum das escolas, em geral, é a falta de materiais e recursos
técnicos para o desenvolvimento das aulas. É certo que os recursos ajudam bastante,
especialmente na facilitação do dia a dia, colaborando para que a turma fique mais
motivada, mas, para a Psicopedagogia, que valoriza muito o componente afetivo para
a aprendizagem, os únicos “recursos” que não podem faltar são o desejo de aprender
e o desejo de ensinar. Com materiais simples e com muita criatividade, professores e
alunos podem construir mecanismos de grande utilidade para a aprendizagem.
É importante que fique claro que, ao avaliar, o professor não deve prestar atenção
somente no aluno e sim na aprendizagem. Para isso, ele não precisa necessariamente
fazer uso de testes e provas. Atividades de sala de aula, como trabalhos em grupo,
exercícios, projetos e a observação do professor, podem dizer muito sobre a
aprendizagem dos alunos.
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estudar para tirar somente os pontos necessários para a aprovação, deixando a ideia
do estudo para o desenvolvimento intelectual e pessoal completamente de lado.
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debates com os alunos. Não cabe ao professor criar os temas de projetos, sob pena
de não oferecer sentido aos alunos. Ao eleger o tema, o professor direciona o grupo
para a investigação, primeira fase da pesquisa, posteriormente para a formulação dos
assuntos aprendidos e, na última fase, temos a apresentação, e, portanto, a avaliação
do trabalho.
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sozinhas. Em suma, a família mudou bastante ao longo dos anos e isso nos faz pensar
que as relações entre a escola e a família não podem ser as mesmas.
É comum ouvirmos queixas, por parte das escolas, sobre a pouca participação
dos pais na vida escolar dos filhos, inclusive que nas reuniões de pais a frequência é
baixíssima, e também é frequente ouvir dos pais que a escola possui alguma falha e
que gostariam de ser mais ouvidos pelos professores e equipe técnica. Refletir sobre
esses desencontros é necessário para o bem da aprendizagem de nossos alunos.
Alguns procedimentos muito simples podem ajudar no progresso dessas relações. Por
exemplo, as reuniões podem variar de dia e horário, a fim de concentrar o maior
número possível de pais. Ou, ainda, mantermos um horário fixo, depois de ter
levantado a disponibilidade dos pais. As reuniões devem ser breves e respeitar o
horário marcado. Além disso, é bom que tratemos dos assuntos coletivos, e os
individuais devem ser agendados para uma conversa em particular.
Se permitirmos que os pais de nossos alunos falem, vamos aprender com eles e
descobrir talentos que podem ser úteis para a escola.
Phillipe Perrenoud nos orienta que uma das competências do professor deve ser
gerir a própria formação. Como profissionais da educação e da aprendizagem,
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sabemos que a nossa formação é um processo contínuo, sem fim. Participar das
oportunidades de formação continuada oferecidas pelo nosso local de trabalho, bem
como participar autonomamente de outros, é uma forma de aprimorar o nosso
trabalho.
Talvez um dos grandes desafios de nossos tempos seja a construção dos limites
e da ética dentro da escola.
2.11 Inclusão
Inclusão é um tema bastante amplo, pois ela não se restringe aos portadores de
necessidades especiais. Os excluídos nesse grande Brasil são muitos e as exclusões
vão desde questões raciais e étnicas até os problemas de desemprego. O fracasso
escolar também merece uma análise sobre inclusão, pois, na verdade, esses alunos
“não estão na escola”.
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Durante muito tempo, esses alunos estiveram fora da escola, recebendo uma
educação segregada. Os professores, por sua vez, não recebiam, em seus cursos de
formação, uma qualificação adequada para trabalhar com os portadores de
necessidades especiais. No entanto, a inclusão se faz hoje uma realidade presente na
maioria das escolas e, preparados ou não, esses professores estão recebendo os
alunos especiais.
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Vejamos que o autor utiliza a palavra “consecutivos”, o que significa que cada
nível de aprendizagem ocorre após o outro, mas não elimina o anterior. Se a
protoaprendizagem consiste na aprendizagem dos vínculos e se dá, principalmente,
com a mãe ou com a pessoa que a substitui, ela está baseada nos seus substratos
biológicos, e a aprendizagem se dá em forma de condicionamento, a partir dos
estímulos biológicos. Quando a criança avança para o segundo nível, que é a
deuteroaprendizagem, para Jorge Visa, é como se a placenta tivesse sofrido uma
terceira mudança e ampliação. A primeira seria na ocasião do nascimento, a segunda
na ocasião da protoaprendizagem e a terceira na deuteroaprendizagem. Nesse
segundo nível de aprendizagem, a criança tem contato com as estruturas de
conhecimento e com a cultura do grupo em que vive. É o que Visca vai chamar de
axiologia do grupo. O mesmo substrato biológico que servia à protoaprendizagem
servirá à deuteroaprendizagem. A protoaprendizagem modificava o substrato
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Fonte: VISCA, J. Clínica Psicopedagógica – Epistemologia Convergente. Porto Alegre: Artmed, 1987, p. 79.
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mas não afeta o núcleo essencial da aprendizagem, possibilitando que ela ainda se
desenvolva.
Para aprender, é necessário que exista uma relação integrada entre o indivíduo e
o seu meio, pois o produto aprendizagem é fruto de uma relação de condições
externas e condições internas, por meio de um processo sensório-neuropsicológico
(FONSECA, 1995). Ainda para este autor, a aprendizagem envolve complexos
processos neurológicos, reações químicas, atividades bioelétricas, arranjos
moleculares das células nervosas, eficiências sinápticas, redes interneuronais,
metabolismo protéico etc.
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aprendem são sempre um desafio para nós, professores, não é mesmo? Para aquele
que possui estas dificuldades, a situação não é menos difícil. Não conseguir
acompanhar o seu grupo destrói a autoestima e deixa o aluno à margem de um
processo que deveria ser plenamente integrador. As causas do não-aprender podem
ser diversas.
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Piaget demonstrou que a criança tem uma forma própria de ver o mundo e
entender o que a cerca, e que, em cada faixa etária ou etapa de desenvolvimento, a
concepção de mundo sofre alterações. Existem alguns fatores que interferem
diretamente no desenvolvimento humano, como, por exemplo: a hereditariedade – o
potencial humano também é estabelecido pela sua carga genética. Hoje sabemos que
a hereditariedade influencia, mas não limita esse potencial. O crescimento orgânico
também é um outro fator e diz respeito ao desenvolvimento físico da criança e o
domínio do ambiente que ela passa a ter a partir do crescimento. A maturação
neurofisiológica garante o desenvolvimento neurológico, e a sofisticação dos
comportamentos e o meio influenciam na estimulação ambiental. É importante que,
ao estudar a inteligência humana e a construção do pensamento, não esqueçamos
que o homem é formado por diversos aspectos, como o físico-motor, o intelectual, o
afetivo e o social.
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todos os meios que o homem usa para o domínio do ambiente foram construídos
pela civilização.
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plasticidade foi muito importante para o trabalho que Vygotsky desenvolveu com
crianças portadoras de deficiência e seu trabalho influenciou muito na atual
compreensão de que todos são capazes de aprender. O surgimento da fala representa
para Piaget o resultado de uma maturação biológica e das estruturas cognitivas, sendo
um movimento do interior do sujeito para o mundo exterior. Para Vygotsky, o
surgimento da fala representa que a criança se apropriou de mais um aspecto do
mundo exterior e o levou para dentro de si, num constante processo de interação.
Vygotsky valoriza bastante a prática docente e seus estudos são voltados para a
atuação do professor em sala de aula. Ele esclarece que, se temos 20 alunos em sala,
temos, então, 20 zonas proximais diferentes, pois cada aluno chega à sala de aula com
uma história diferente e com um repertório diferente, e a cada informação que o
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professor fornece, a cada proposta de novas experiências, essa zona proximal se altera,
formando um novo repertório. Logo, o professor não possui nenhum tipo de controle
sobre a zona proximal de seus alunos. O desenvolvimento, para Vygotsky, é
prospectivo, por isso, o “não-saber” não existe para este autor. Existe o “ainda não-
saber”, pois o desenvolvimento sempre ainda está por vir. Nesse caso, cada aluno tem
o seu tempo e o seu ritmo, o que contraria bastante o nosso sistema de educação por
meio da organização de turmas, o tempo de um ano letivo que estipulamos para a
aprendizagem do conteúdo da série etc.
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Rivière não significa trabalho, a tarefa é um processo interno, que vai do manifesto ao
latente. O projeto é a mudança de atitude para a aprendizagem.
Pichon-Rivière também elaborou a “teoria dos três D”. O que seria? Depositante,
depositado e depositário. Esta teoria acredita na interação depositante/depositário
por meio do depositado. O depositante é o cliente, no nosso caso, o aluno; o
depositado é o capital que, para nós, representa o conteúdo, o conhecimento; e o
depositário é o professor. A teoria de Pichon-Rivière nos faz concluir que a
aprendizagem acontece por meio de um processo de interação entre aluno, professor
e o conteúdo, e que esta relação é permeada de afetividade e conflitos.
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O fato é que cada escola acaba resolvendo os seus conflitos éticos, um a um,
adotando o critério “cada caso é um caso”, muitas vezes contrariando ou em
consonância com a própria concepção de homem e de educação. Os conflitos e
dilemas éticos são muitos, vamos nos deter na indisciplina na escola.
A partir do conceito de indisciplina que foi aqui exposto, vamos agora tratar de
como a criança recebe as regras e a autoridade do adulto e do ambiente social durante
o seu desenvolvimento. Até por volta dos dois anos de idade, a criança está na fase
da anomia, que significa ausência total de regras. Significa que nessa fase ela não é
capaz de discernir o certo do errado e a aquisição das regras virá pela formação dos
hábitos. A rotina de horários e atividades será um ótimo recurso para a apreensão da
disciplina e das regras sociais. No entanto, a criança não é capaz, ainda, de
compreender o sentido semântico das expressões verbais e o que demarca se ela está
errando ou acertando é a expressão facial do adulto e o tom de voz utilizado. Isso
ocorre porque as crianças, no período da anomia, não são capazes de compreender
as regras e, por isso, sorriem quando um adulto pede para não mexer na tomada
elétrica, por exemplo, e continuam colocando o dedinho. Também é comum encontrar
crianças de turmas de maternal resolvendo seus problemas com outras crianças na
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“base da mordida”. É o sensório falando mais alto e o corpo precisa “participar” das
decisões, já que a cognição não está preparada para isso.
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Ainda para Piaget (1977), a forma como o adulto vai demarcar os limites e corrigir
as infrações cometidas pelas crianças pode levar o sujeito à autonomia moral ou à
heteronomia moral. Vejamos como isso ocorre. Existem duas formas de sanções
disciplinares: a sanção expiatória e a sanção por reciprocidade. Na sanção expiatória,
não há nenhuma relação entre o comportamento do adulto e a atitude da criança. É
o famoso castigo e uma punição aleatória; por exemplo, quem briga com o irmão não
merece doce-de-leite de sobremesa. Não há relação entre a atitude de brigar e o
objeto doce-de-leite. Na sanção por reciprocidade, busca-se uma coerência entre a
infração e a atitude do adulto e, principalmente, deve haver a possibilidade de a
criança reparar o erro que cometeu. Em suma, a sanção expiatória leva à heteronomia
moral, enquanto a sanção por reciprocidade conduz à autonomia moral.
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Para Bock (2000), a escola cumpre o papel de preparar as crianças para viverem
no mundo do adulto, trabalhando e assimilando a cultura, as regras sociais, os
conhecimentos básicos, os valores morais coletivos, os comportamentos considerados
adequados pela sociedade, estabelecendo uma mediação entre a criança e a
sociedade. É bom lembrar que esta é uma tarefa muito complexa, pois a escola não
trabalha com um valor padrão, mas com um conjunto deles, já que cada criança e
adolescente traz de casa um conjunto de valores construídos dentro do grupo familiar.
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A partir dos 7 anos, inicia o estágio da cooperação incipiente, que não significa
o trabalho para um mesmo fim, e sim o fato de o jogo adquirir uma característica mais
social. A competição também aparece nessa fase. A linguagem socializada surge e a
criança começa a levar em consideração o ponto de vista do ouvinte.
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É fato que não podemos continuar trabalhando com alunos utilizando a porta da
escola como limite isolante do mundo. A realidade vivida e sentida garante
aprendizagens significativas. Muitos conteúdos se tornam amorfos porque estão
desconectados da realidade, e as aulas tornam-se enfadonhas, intermináveis, gerando
o baixo rendimento. Há necessidade de refletir sobre o conhecimento, questionando
o acúmulo de conteúdo que de pouco valerá na vida dos nossos alunos.
Principalmente porque o desenvolvimento tecnológico atual é de ordem tão variada
que fica impossível atuar com a velocidade necessária para produzir e acumular tanto
conhecimento. Isso também não é necessário. O conhecimento deve ser construído
para a produção de competências e para a construção da autonomia intelectual,
objetivo maior da Psicopedagogia.
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Planejar é uma das atividades docentes mais importantes, porque faz com que o
professor reflita sobre a sua prática diária, sobre os objetivos que deseja alcançar e
sobre a forma como pretende alcançá-los. É a forma mais eficiente, junto à avaliação,
é claro, que o professor possui de controlar a aprendizagem de seus alunos e garantir
a forma de intervenção mais adequada para cada momento. Portanto, se o
planejamento é uma forma de controlar a aprendizagem, bem como promovê-la, o
professor pode trabalhar na esfera da prevenção das dificuldades de aprendizagem,
planejando de maneira a respeitar as características do seu público e também as
necessidades que este apresenta. Planejar um conteúdo além das possibilidades do
aluno pode impedir que ele aprenda, já que o que estamos oferecendo está além de
suas possibilidades cognitivas. Trabalhar aquém dessas possibilidades não
proporciona aprendizagem e desenvolvimento, haja vista que as experiências de
aprendizagem não incitam nenhum movimento intelectual.
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O componente afetivo também não pode ser esquecido. Para Mamede (1993), o
momento em que a criança entra em contato com o mundo é considerado um marco
inicial na construção do conhecimento e inseparável da afetividade. Esta assume o
papel de comportamento energético que age na relação do sujeito com o objeto,
enquanto que o aspecto cognitivo é caracterizado por suas estruturas hierárquicas. A
organização do planejamento de maneira interdisciplinar também é um recurso
facilitador da aprendizagem. A construção do conhecimento é interdisciplinar, pois as
informações interagem e se agrupam, formando novos conhecimentos, novas leituras
de mundo. Piaget considera a aprendizagem não como cada criança relaciona os
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conceitos de cada matéria, mas como ela relaciona o conhecimento geral, amplo, no
qual o mais específico estaria inserido como composição do conhecimento maior.
Logo, conhecimento não é um agrupamento de particularidades, mas uma estrutura
organizada e resultado das trocas com o mundo exterior.
Nome:
Idade:
Série:
Lógico-matemática
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Lecto-escrita
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Escola:
Objetivos
Conteúdo/assunto
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Estratégias/procedimentos:
Na dimensão cognitiva
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Na dimensão afetiva
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Na dimensão social
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Recursos didáticos
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Avaliação
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“Se por um lado, a educação inclusiva exige que o professor do ensino regular
adquira formação para fazer frente a uma população que possui características
peculiares, por outro, exige que o professor de educação especial amplie suas
perspectivas, tradicionalmente centradas nessas características” (BUENO, 1999, p.
162). A prática pedagógica é um elemento-chave na transformação da escola,
estendendo essa possibilidade de transformação à sociedade. Em função do tema da
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A forma como a Educação Especial está expressa nas Leis de Diretrizes e Bases
formuladas ao longo dos anos traduz o tratamento dado a ela pela sociedade e
interfere na distribuição de verbas, na divisão de recursos e, especialmente, nas ações
educativas. Se a Educação Especial fará do sistema geral de educação ou se estará à
margem deste, deve fazer parte das definições das diretrizes da Educação Especial. A
Lei de Diretrizes e Bases 9.394/96, que atualmente estabelece as Diretrizes e Bases da
Educação Nacional, normatiza a Educação Especial por meio dos artigos abaixo
relacionados:
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Mas a inclusão não se faz somente por meio do aluno e da escola. A família tem
um papel muito importante neste processo. Os sentimentos da família sobre a
deficiência de seus filhos são cíclicos e podem transitar entre a aceitação e a negação,
especialmente nas mudanças de fases da criança. Por exemplo, quando o filho entra
na adolescência, é comum os pais o compararem com os demais jovens e, na maioria
das vezes, o resultado dessa comparação é negativo, considerando sempre o que ele
não é capaz de fazer e, muitas vezes, desconsiderando o quanto já evoluiu. A família
pode colaborar de maneira muito especial para o desenvolvimento da criança
portadora de autismo na escola, principalmente fornecendo aos profissionais
informações sobre as formas de comunicação da criança. Havendo pelo menos uma
forma de comunicação utilizada pela criança, outras podem ser desenvolvidas
(PETEERS, 1998). “A família se constitui, portanto, no fator determinante para a
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Família e aprendizagem
A escola também pode colaborar dando sugestões aos familiares de como eles
podem agir em casa, de maneira que se tornem coautores do processo de inclusão
de seus filhos. Muitas vezes, as estratégias educacionais que são desenvolvidas em
sala de aula não têm uma continuidade dentro de casa. É comum, por exemplo, a
escola não permitir o uso de fraldas e incentivar que a criança utilize o banheiro
quando necessário, mas, em casa, o uso das fraldas continuar existindo. Muitos são os
desafios da inclusão escolar, mas este é um movimento irreversível, e cabe aos
profissionais de educação a busca de instrumentalização para atuar em escolas
inclusivas. Existe uma área da Psicopedagogia especializada na atuação com crianças
portadoras de necessidades especiais. Chama-se Psicopedagogia Diferencial, quer
dizer, o estudo da aprendizagem em suas diferentes formas de ocorrer. Vale a pena
conhecer!
8 Família e aprendizagem
O mundo mudou bastante neste século e, com ele, a família. Qual o conceito de
família no mundo contemporâneo? Você saberia explicar, por exemplo, qual o grau
de parentesco da nova mulher do pai de seu aluno com a criança? Se você pensou em
madrasta, errou! É correto usar a palavra madrasta quando a mãe da criança é falecida.
Já consegue se lembrar de algum termo para denominar esse grau de parentesco?
Não tente. Ele não existe! A família mudou tanto, tanto, que a Língua Portuguesa não
acompanhou essas mudanças. Na Língua Inglesa, encontramos os termos stepmother,
stepfather, mas, na Língua Portuguesa, eles não existem.
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Família e aprendizagem
Para Jorge Visca, é nesse berço que ela também construirá seus valores. Desde o
ingresso da criança na escola, é necessário que a família “autorize” a ida de seu filho
para esse novo espaço, caso contrário, a criança terá dificuldades de adaptação desde
a sua entrada. É comum assistirmos a cenas no portão de escolas de Educação Infantil
de choros e birras por parte de crianças muito pequenas, e, quando as crianças entram
na escola, sem ao menos olhar para trás, são os pais que choram no portão. Sentem-
se abandonados pelos filhos e enciumados quando estes começam a demonstrar
carinho por seus professores. Muitas vezes, esses sentimentos não estão no plano de
nossa consciência, mas eles surgem nas relações e são demonstrados em algumas
atitudes. A participação dos pais na vida escolar dos filhos é fundamental para a
aprendizagem, e participar não significa estar todos os dias na escola ou ensinar o
dever de casa. Pais analfabetos podem participar da vida escolar dos filhos
organizando formas para que eles tenham momentos de estudos diários em casa e
conversando sobre a sua dificuldade com os professores.
Uma criança também pode desejar não aprender (de maneira inconsciente, é
claro), para continuar fazendo parte de sua família. Ou seja, vamos imaginar que esta
criança possui pais e irmãos mais velhos analfabetos e ela, somente ela, teve a
oportunidade de ir à escola. Essa criança pode “decidir” não aprender por fidelidade
à família, pois, se aprender, ficará tão diferente de seu grupo que deixará de pertencer
a ele. Assim, opta-se pelo fracasso. Curioso, não? Mas esse fato é bem mais frequente
do que se imagina no ambiente escolar.
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escola porque dessa forma ela mantém a mãe ao seu lado para ajudar nos deveres de
casa. Seja qual for o problema, ficaríamos durante muito tempo listando todos eles.
É certo que nem a escola nem a família podem prescindir uma da outra. Ambas
são coautoras no processo de aprendizagem das crianças e jovens e possuem papéis
muito específicos. É comum ouvirmos de educadores que a família moderna tem
depositado muito de seus papéis na escola e deixado de cumprir com suas funções,
acreditando que a escola poderá suprir todas as lacunas. Mas é importante perguntar
até que ponto a escola também não aceitou essas funções e deixou de estabelecer
limites claros de atuação. Uma não pode executar o papel da outra, mas devem, sim,
serem complementares na ação de um único objetivo, que é a aprendizagem de seus
filhos e alunos.
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Além disso, é importante que a escola incentive os pais a construir uma relação
mais saudável com a aprendizagem de seus filhos. Na adolescência, quando os filhos
não se sentem apoiados pelos pais nas suas dificuldades escolares, é comum
esconderem provas e resultados insatisfatórios. Esse comportamento é um sintoma
de uma relação familiar que precisa ser reconstruída. Da mesma forma, pais que se
surpreendem com a reprovação dos filhos denunciam a falta de participação na vida
deles. Afinal, ninguém reprova repentinamente. Quanto mais os filhos crescem, mais
os pais se afastam da escola e, muitas vezes, isso acontece a pedido dos filhos. Quando
os filhos estão na Educação Infantil, há uma proximidade muito grande dos pais com
os professores e a existência de estreitos laços afetivos. Ao ingressar no Ensino
Fundamental, especialmente no período da alfabetização, os filhos ainda podem
contar com a presença dos pais na escola, mas quando chega a adolescência e com
ela o desejo de romper limites e de conquistar a liberdade, é normal que os filhos não
se sintam à vontade ao serem levados até a porta da escola ou de encontrar seus
familiares no pátio. Perante os colegas, parece que o adolescente ainda é um bebê,
ideia essa que é enfaticamente rejeitada.
No entanto, respeitar esse desejo dos filhos adolescentes não significa que os
pais devam se afastar da vida escolar de seus filhos. Afinal, eles pensam já ter
condições de se cuidar de maneira independente, mas todos nós sabemos que é
apenas fruto do sentimento fantasioso de onipotência da adolescência. Como a
Psicopedagogia é uma teoria e uma prática que se ocupa da aprendizagem humana
em qualquer faixa etária, entendemos que ela pode ajudar os profissionais da
educação a perceber os pais como seres em processo de aprendizagem, assim como
seus filhos, cabendo à escola o gerenciamento dessa aprendizagem acerca de como
gerir a vida escolar de seus filhos.
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REFERÊNCIAS
GLAT, R.; DUQUE, M. A. Convivendo com Filhos Especiais: o olhar paterno. Rio de
Janeiro: Sette Lettras, 2003.
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PIAGET, Jean. Seis Estudos de Psicologia. 13. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1985.
RAPPAPORT, C. R.; FIORI, W. F.; DAVIS, C. A Idade Escolar e a Adolescência. São Paulo:
EPU, 1982. v. 4.
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