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VICE-REITORIA DE ENSINO DE GRADUAÇÃO E CORPO DISCENTE

COORDENAÇÃO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

SOCIOLOGIA GERAL

Rio de Janeiro / 2006

TODOS OS DIREITOS RESERVADOS À

UNIVERSIDADE CASTELO BRANCO


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U n3p Universidade Castelo Branco.


Sociologia Geral. – Rio de Janeiro: UCB, 2006.
52 p.

ISBN 85-86912-11-5

1. Ensino a Distância. I. Título.


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SOCIOLOGIA GERAL
Conteudista
Ziléa Baptista Nespoli
Apresentação

Prezado(a) Aluno(a):

É com grande satisfação que o(a) recebemos como integrante do corpo discente de nossos cursos de graduação,
na certeza de estarmos contribuindo para sua formação acadêmica e, conseqüentemente, propiciando
oportunidade para melhoria de seu desempenho profissional. Nossos funcionários e nosso corpo docente
esperam retribuir a sua escolha, reafirmando o compromisso desta Instituição com a qualidade, por meio de uma
estrutura aberta e criativa, centrada nos princípios de melhoria contínua.

Esperamos que este instrucional seja-lhe de grande ajuda e contribua para ampliar o horizonte do seu
conhecimento teórico e para o aperfeiçoamento da sua prática pedagógica.

Seja bem-vindo(a)!
Paulo Alcantara Gomes
Reitor
Orientações para o Auto-Estudo

O presente instrucional está dividido em quatro unidades programáticas, cada uma com objetivos definidos e
conteúdos selecionados criteriosamente pelos Professores Conteudistas para que os referidos objetivos sejam
atingidos com êxito.

Os conteúdos programáticos das unidades são apresentados sob a forma de leituras, tarefas e atividades
complementares.

As Unidades 1e 2 correspondem aos conteúdos que serão avaliados em A1.

Na A2 poderão ser objeto de avaliação os conteúdos das quatro unidades.

Havendo a necessidade de uma avaliação extra (A3 ou A4), esta obrigatoriamente será composta por todos os
conteúdos das Unidades Programáticas 1, 2, 3 e 4.

A carga horária do material instrucional para o auto-estudo que você está recebendo agora, juntamente com os
horários destinados aos encontros com o Professor Orientador da disciplina, equivale a 60 horas-aula, que você
administrará de acordo com a sua disponibilidade, respeitando-se, naturalmente, as datas dos encontros
presenciais programados pelo Professor Orientador e as datas das avaliações do seu curso.

Bons Estudos!
Dicas para o Auto-Estudo

1 - Você terá total autonomia para escolher a melhor hora para estudar. Porém, seja
disciplinado. Procure reservar sempre os mesmos horários para o estudo.

2 - Organize seu ambiente de estudo. Reserve todo o material necessário. Evite


interrupções.

3 - Não deixe para estudar na última hora.

4 - Não acumule dúvidas. Anote-as e entre em contato com seu monitor.

5 - Não pule etapas.

6 - Faça todas as tarefas propostas.

7 - Não falte aos encontros presenciais. Eles são importantes para o melhor aproveitamento
da disciplina.

8 - Não relegue a um segundo plano as atividades complementares e a auto-avaliação.

9 - Não hesite em começar de novo.


SUMÁRIO
Quadro-síntese do conteúdo programático........................................................................................................ 11
Contextualização da disciplina............................................................................................................................... 14

UNIDADE I

A SOCIOLOGIA E SUA HISTÓRIA

1.1 - A Sociologia e o homem.................................................................................................................................. 15


1.2 - Conceito de Sociologia................................................................................................................................... 16
1.3 - Objetos de estudo........................................................................................................................................... 16
1.4 - Ciência: ramo de conhecimento..................................................................................................................... 16
1.5 - A Sociologia Pré-Científica............................................................................................................................... 17
1.6 - A Sociologia Clássica......................................................................................................................................... 19

UNIDADE II

SOCIALIZAÇÃO, COMUNIDADE E SOCIEDADE

2.1 - Socialização.......................................................................................................................................................... 24
2.2 - Comunidade e sociedade: conceitos e características.................................................................................... 24
2.3 - Tipos de sociedades........................................................................................................................................... 25
2.4 - As instituições sociais...................................................................................................................................... 26
2.5 - A vida em sociedade........................................................................................................................................... 27

UNIDADE III

PROCESSOS SOCIAIS BÁSICOS

3.1 - Competição e rivalidade...................................................................................................................................... 38


3.2 - Conflito e acomodação...................................................................................................................................... 38
3.3 - Cooperação e assimilação.................................................................................................................................. 40

UNIDADE IV

VALORES SOCIAIS E O INDIVÍDUO

4.1 - Atitudes, interesses e valores ............................................................................................................................ 44


4.2 - Atitudes, interesses e valores sociais............................................................................................................... 44
4.3 - Desejos fundamentais do homem...................................................................................................................... 44

Glossário....................................................................................................................................................................... 49
Gabarito........................................................................................................................................................................ 50
Referências bibliográficas......................................................................................................................................... 52
Quadro-síntese do conteúdo
11
programático

UNIDADES OBJETIVOS BIBLIOGRAFIA


ESPECÍFICOS BÁSICA

UNIDADE I: A 1.1 -Analisar o poder • RUDOLF, Lenhard. Sociologia geral. SP:


Sociologia e Sua coercitivo que emana Pioneira, 2004.
História da sociedade sobre o
1.1 - A Sociologia e o indivíduo.
homem 1.2 - Conceituar
1.2 - Conceito de Sociologia.
Sociologia 1.3 - Analisar o objeto
1.3 - Objeto de estudo de estudo da
1.4 - Ciência: ramo do Sociologia.
conhecimento 1.4 - Caracterizar a
1.5 - A Sociologia Pré- Sociologia como
Científica ciência.
1.6 - A Sociologia 1.5 - Avaliar as
Clássica mudanças sociais
ocorridas na fase da
Sociologia Pré-
Científica.
1.6 - Analisar a
influência da
Sociologia de
Durkheim na
educação.

UNIDADE II: 2.1 - Analisar os • MEKSENAS, Paul. Sociologia. SP:


Socialização, mecanismos sociais Cortez, 2005.
Comunidade e da socialização. • TORRE, Della. O homem e a sociedade:
Sociedade 2.2 - Distinguir uma introdução à Sociologia. SP:
2.1 - Socialização sociedade de Companhia Editora Nacional, 2001.
2.2 - Comunidade e comunidade.
sociedade: conceitos 2.3 - Descrever três
e características tipos de sociedade,
2.3 - Tipos de dentre os estudados.
sociedade 2.4 - Descrever as
2.4 - As instituições quatro instituições
sociais sociais estudadas.
2.5 - A vida em 2.5 - Exemplificar
sociedade interação social e
controle social.
12 UNIDADE III: Processos 3.1 - Analisar os • MEKSENAS, Paul. Sociologia, SP:
Sociais Básicos processos sociais Cortez, 2005.
3.1 - Competição e estudados.
rivalidade 3.2 - Exemplificar na
3.2 - Conflito e sociedade atual, os
acomodação processos sociais
3.3 - Cooperação e estudados.
assimilação 3.3 - Analisar os
processos de
cooperação e
assimilação.

UNIDADE IV: Valores 4.1 - Compreender a • COSTA, Maria Cristina Castilho.


Sociais e o Indivíduo importância dos Sociologia: introdução à ciência da
4.1 - Atitudes, interesses e valores sociais e sociedade. SP: Moderna, 2003.
valores individuais na • MATTA, Roberto da. O que faz o brazil,
4.2 - Atitudes, interesses e sociedade brasileira, Brasil? RJ: Rocco, 1989.
valores sociais utilizando o estudo de
4.3 - Desejos casos.
fundamentais do homem 4.2 - Distinguir
atitudes de valores.
4.3 - Analisar a
motivação humana
com base nos tipos
fundamentais de
desejos descritos por
W. I. Thomas.
13
Contextualização da Disciplina
14

Profissionais das mais diversas áreas não desconhecem a utilidade da Sociologia, pois a sociedade tem
características que precisam ser conhecidas para que aqueles que nela atuam tenham sucesso. Não existe,
portanto, nenhum setor da vida em que os conhecimentos sociológicos não sejam de ampla utilidade. E essa
certeza perpassa hoje toda a linguagem dos meios de comunicação e toda a atuação profissional das pessoas
e, é por isso que a Sociologia faz parte dos programas universitários que preparam os mais diversos profissionais.

Hoje afirmamos que a Sociologia é uma ciência que se define não por seu objeto de estudo, mas por sua
abordagem, isto é, pela forma com que pesquisa, analisa e interpreta os fenômenos sociais.

Dizer que “o objeto da Sociologia é a sociedade” é dar ao cientista social um objeto sem limites precisos, amplo
demais para que ele possa dar conta. Tudo que existe, desde que o homem se reconhece como tal, existe em
sociedade. Portanto, não é por fazer parte da sociedade, ou de um meio social que um fato se torna objeto de
pesquisa sociológica. Um acontecimento ou um comportamento é sociológico quando sobre ele se debruça o
sociólogo, tentando entendê-lo nos aspectos que dizem respeito às relações entre os homens e às raízes de seu
comportamento.

Os conhecimentos sociológicos tentam explicar as relações entre acontecimentos complexos e diferenciados,


unindo fenômenos aparentemente dissociados, permite ao homem transpor os limites de sua condição particular
para percebê-lo como arte de uma totalidade mais ampla, que é o todo social. Isso faz da Sociologia um
conhecimento indispensável num mundo que, à medida que cresce, mais diferencia e isola os homens e os
grupos entre si.
UNIDADE I 15

A SOCIOLOGIA E SUA HISTÓRIA

1.1- A Sociologia e o Homem

PODRES PODERES
A sociedade humana tem atribuído uma grande (Caetano Veloso)
importância à convivência social, assim, devemos
destacar o estudo do homem, enquanto indivíduo e Enquanto os homens exercem seus podres poderes
ser social, para melhor analisarmos as relações de Motos e fuscas avançam os sinais vermelhos
poder e prestígio, bem como os valores pessoais e/ E perdem os verdes
ou sociais que envolvem essa relação. Cada indivíduo, Somos uns boçais!
nessa sociedade, desempenha papéis e conquista Queira querer gritar setecentas mil vezes
“status”. Como são lindos, como são lindos os burgueses
E os japoneses
Durkheim em seu trabalho “Les régles de la méthode Mas tudo é muito mais
sociologigue” (1983) faz a seguinte afirmativa: Será que nunca faremos senão confirmar
A incompetência da América Católica
Quando desempenho meus deveres de irmão, de Que sempre precisará de ridículos tiranos?
esposo ou de cidadão, quando me desincumbo de Será será que será que será que será
encargos que contrai, pratico deveres que estão Será que essa minha estúpida retórica
definidos fora de mim e de meus atos, no direito e Terá que soar, terá que se ouvir
nos costumes, mesmo estando de acordo com Por mais mil anos?
sentimentos que me soam próprios, sentindo-lhes Enquanto os Homens exercem seus podres poderes
interiormente à realidade, esta não deixa de ser Índios e padres e bichas negros e mulheres
objetiva, pois não fui eu quem os criou, mas recebi- E adolescentes
os através da educação. Estes tipos de conduta são Fazem o carnaval
apenas exteriores ao indivíduo são também dotados Queria querer cantar afinado com eles
de um poder coercitivo em virtude do qual se lhe Silenciar em respeito ao seu transe, num êxtase
impõem quer queira ou não (In: MAKSENAS, Ser indecente, mas tudo é muito mal
2006:45). Ou então cada paisano e cada capataz com sua burrice
fará jorrar sangue demais
Na música “Podres Poderes” de Caetano Veloso Nos pantanais, na cidades, caatingas
podemos analisar a questão do jogo e do prestígio E nos gerais?
social. Será que apenas os hermetismos pascoais
Os tons os mil tons seus sons e seus dons geniais
Nos salvam, nos salvarão dessas trevas e nada mais?
Enquanto os homens exercem seus podres poderes
Morrer e matar de fome de raiva e de sede
São tantas vezes, gestos naturais
Eu quero aproximar o meu cantar vagabundo
Daqueles que velam pela alegria do mundo
Indo mais fundo tins e bens e tais
1.2 – Conceito de Sociologia
16

A Sociologia é uma ciência que se define não por pela forma com que pesquisa, analisa e interpreta os
seu objeto de estudo, mas por sua abordagem, isto é, fenômenos sociais.

1.3 – Objetos de Estudo

Segundo Durkheim (1952) os fatos sociais se da sociedade, ou de um meio social, que um fato se
constituem no objeto da Sociologia. Porém, dizer que torna objeto de pesquisa sociológica. Um
o objeto da Sociologia é a sociedade, significa dar ao acontecimento, ou um comportamento é sociológico
cientista social um objeto sem limites precisos, amplo quando sobre ele se debruça o sociólogo, tentando
demais para que ele possa dar conta. Pois, tudo que entendê-lo nos aspectos que dizem respeito às relações
existe desde que o homem se reconhece como tal, entre os homens e às raízes de seu comportamento.
existe em sociedade. Portanto, não é por fazer parte

1.4 – Ciência: Ramo de Conhecimento

Durante séculos, o homem pensou sobre si mesmo preocupações meramente práticas e passara a tratá-la
e sobre o mundo, desenvolveu conhecimentos, como uma “atividade de espírito”, importante em si
estabeleceu relações aplicáveis à vida cotidiana. mesma e, para muitos, a mais elevada dentre todas.

Foram os gregos que elaboraram a idéia do saber Assim, surgiu uma maneira nova de pensar o “porquê”
como atividade destinada às descobertas desligadas e o “para quê” das coisas. Surgiu um saber mais
de uma finalidade prática imediata. Foram eles os desligado das atividades religiosas, ao qual se
primeiros a inventar os rudimentos do que veio a se dedicavam homens não necessariamente responsáveis
chamar de ciência. Menos preocupados com a pelos cultos religiosos. Surgiram os sábios, homens
religião e a vida após a morte, foram eles os primeiros cuja atividade era descobrir os segredos do mundo e
a entender o conhecimento como uma necessidade do universo.
em si mesmo.
Durante a Idade Média, com o grande poder da Igreja
Enquanto os povos antigos só se interessavam pelo Católica, novamente imperou o saber ligado à religião.
mundo em que viviam como uma janela para entender Apenas as ordens religiosas, nos mosteiros,
todo o universo, os gregos criaram as disciplinas e a guardavam textos sobre a filosofia, geometria e
filosofia, o “amor pelo conhecimento”. Os egípcios astronomia. A população laica deixou de participar
elaboraram conhecimentos biológicos e químicos desse saber.
porque acreditavam na ressurreição e queriam
conservar os cadáveres. Os gregos disseram que tais Só com o Renascimento é que o homem volta aos
conhecimentos não eram domínio da religião, mas da textos antigos e redescobre o prazer de investigar o
medicina. Assim, iniciaram esse hábito de mundo, descobrir as leis de sua organização como
desenvolver o conhecimento através de uma atividade com valor em si mesma, independente de suas
atividade abstrata, desligada de uma aplicabilidade implicações religiosas. Nos últimos quatrocentos anos,
imediata ou de um caráter religioso. Deram às idéias, em particular a partir do século XVII, vimos assistindo
sobre o que se deve ou não se deve fazer, o nome de ao crescente progresso desse conhecimento – a ciência –
ética, ramo do conhecimento que deveria se dedicar destinado à descoberta das relações entre as coisas,
a essas questões morais. Se os povos antigos das leis que regem o mundo natural. Aprimoram-se as
justificavam sua maneira de agir em função do que técnicas e os utensílios de medição, e a imprensa e
os deuses queriam, para os gregos isso fazia parte e demais meios de comunicação levaram a uma
era resultado da intenção pura e simples de pensar transmissão cada vez maior dos conhecimentos. No
sobre os fatos. Isso não significa que a geometria ou seio desse movimento de idéias, surgiu no século XIX
a medicina gregas fossem mais desenvolvidas do uma ciência nova – a Sociologia, a ciência da sociedade.
que as egípcias, mais que, a partir de então, o homem Como a medicina e a geometria entre os gregos, o
desvinculara sua curiosidade pelo mundo das surgimento da Sociologia significou não o aparecimento
da preocupação do homem com o seu mundo e sua conhecidas e formuladas por uma nova forma de
vida em grupo, pois isso sempre existiu em qualquer linguagem e discurso – o científico –, o qual, na 17
das religiões antigas, mas a separação dessa forma de sociedade moderna, adquiriu o estatuto de “verdade”.
pensar do vínculo com as tradições morais e religiosas.
A partir de então o homem começou a desenvolver
Desencadeou-se então a preocupação com as regras métodos e instrumentos de análise capazes de traduzir
que organizavam a vida social. Regras que pudessem sua experiência social de maneira científica. Isso
ser observadas, medidas e comprovadas, capazes equivaleu a criar, como nas demais ciências, métodos
assim de dar ao homem explicações plausíveis num de averiguação e medição e a fazer formulações sobre
mundo onde passou a imperar o racionalismo, isto é, a a sociedade que pudessem ser comprovadas
crença no poder da razão humana de alcançar a empiricamente – isto é, através de observação e
verdade. Regras, enfim, que tornassem possível prever experimentação –, de modo a tornar a ação social
e controlar os fenômenos sociais. humana explicável em termos de regularidades e
previsões.
Portanto, o aparecimento da Sociologia significou
que as questões relativas às relações entre os homens O pensamento relativo às ligações do homem com
deixaram de ser apenas matéria religiosa: passaram a seus semelhantes passava assim a outra esfera de
interessar também aos cientistas. A constituição desse abstração, a outra maneira de formular problemas,
campo do conhecimento significou, antes de mais ligada à necessidade de descobrir leis de interpretação
nada, que as relações entre os homens mereciam ser e previsão de acontecimentos.

1.5 - A Sociologia Pré-Científica

a) Renascimento (1478 – 1535), nasceu em Londres, idealizou um lugar


sem problemas, onde todas as soluções foram
Movimento filosófico e artístico dos séculos XV e encontradas: a Utopia. Uma ilha cujo nome significa
XVI que teve como principal centro difusor a Itália e “nenhum lugar”, onde existe harmonia e equilíbrio,
alcançou, sobretudo, a Inglaterra, a França e a onde estão reunidos a verdade e o bem.
Alemanha. Foi um movimento de redescoberta do
humanismo greco-latino. Foi uma primeira Desse modo, o pensamento social no Renascimento
transformação do pensamento medieval, sempre se expressa na criação imaginária de mundos ideais
voltado para a religião, para a vida pós-morte. O que simbolizariam como a realidade deveria ser.
Renascimento foi, portanto, o retorno da idéia de
homem com toda a importância das Antigüidades Utopia é uma ilha onde reina a igualdade e a
Clássica, Grega e Latina. concórdia. Todos vivem as mesmas condições de vida
e executam em rodízio os mesmos trabalhos.
Para alguns historiadores, o Renascimento
significou, principalmente, o reviver da cultura e da Seria A Utopia uma obra sociológica?
erudição. Com o surgimento da imprensa e das
universidades, o burguês inculto teve acesso aos Não no sentido moderno ou científico do conceito,
antigos textos dos sábios. mas como expressão das preocupações do filósofo
com a vida social e com os problemas de sua época.
Outros viram no Renascimento um surto de “cultura Todavia ou, como o próprio autor chama, o “regime
de ostentação”, à qual teve acesso a burguesia, social” dos utopienses demonstra claramente a
enriquecida pelo comércio e desejosa de mostrar à preocupação com o estabelecimento de regras sociais
nobreza sua capacidade de adquirir bens de valor, mais justas e humanas como respostas às críticas,
entre eles a própria cultura. particularmente em relação à Inglaterra, na parte
introdutória do livro.
Procurando pensar sobre a vida social e política, o
homem renascentista vai desenvolver também suas MAQUIAVEL (1469 - 1527) nasceu em Florença – O
teorias, nas quais ficará refletida sua inquietude para criador da ciência política. Escreveu “O Príncipe”, livro
com as turbulências dessa transição. dedicado a Lourenço de Médici, em que se propõe a
explorar as condições pelas quais um monarca
Como Platão, os filósofos renascentistas criaram uma absoluto é capaz de fazer conquistas, reinar e manter
sociedade imaginária perfeita. THOMAS MORUS o seu poder. O Príncipe é um manual de ação política
cujo ideal é a sedimentação de um poder absoluto. termos de utilidade prática. Era preciso preparar a
18 Maquiavel (1996) acredita que um bom governo sociedade para receber os resultados do trabalho bem
depende de pulso forte e mente sábia, aliados a dirigido. Os próprios sábios deveriam se interessar em
qualidades pessoais como astúcia, coragem e decisão. desenvolver conhecimentos de aplicação prática.

Em seu livro, mostra como deve agir o soberano Novos valores guiando a vida social para a
para alcançar e preservar o poder, como manipular a modernização da vida, maior empenho das pesquisas
vontade popular e como usufruir de seus poderes e e do saber para conquistar avanços técnicos, melhora
de seus aliados. Faz uma análise clara das bases em nas condições de vida – tudo isso somado levou a um
que se sustenta o poder político, como conseguir novo surto de idéias conhecido pelo nome de ilustração
exércitos fiéis e corajosos, como castigar os inimigos, (ela foi essencialmente pragmática e liberal).
como recompensar os aliados e como destruir, na
memória do povo, a imagem dos antigos líderes. Fortalecida, a burguesia propunha agora formas de
governo baseadas na legitimidade popular.
A visão laica da sociedade e do poder Conclamava o povo a aderir à defesa do liberalismo
econômico, da igualdade jurídica e do sufrágio
universal.
Em relação ao desenvolvimento do pensamento
sociológico, Maquiavel teve mais êxito do que
A filosofia social nos séculos XVII e XVIII
Thomas Morus, na medida em que seu objetivo foi
conhecer a realidade tal como se lhe apresentava, em
O pensamento da ilustração defendia a idéia de que a
vez de imaginar como ela deveria ser.
economia era regida por leis naturais de oferta e
procura que tendiam a estabelecer, de maneira mais
De qualquer maneira, nas obras de Thomas Morus e
eficiente do que os decretos reais, o melhor preço, o
de Maquiavel, percebemos como as relações sociais
melhor produto e o melhor contrato através da livre
voltam, após a predominância quase absoluta do
concordância. O controle das relações humanas surgia,
pensamento místico e teológico da Idade Média, a
portanto, da própria dinâmica da vida econômica e
ser objeto de estudo e análise. A vida dos homens já
social, dotada de uma racionalidade intrínseca cuja
aparece, nessas obras, como resultado das condições
descoberta era a principal meta dos estudos
econômicas e políticas e não de sua fé ou de sua
científicos.
consciência individual.
A racionalidade estava na origem natural e física das
Além disso, esses filósofos expressam os novos
leis de organização da sociedade humana e na base da
valores burgueses, ao colocarem os destinos da
própria atividade humana e do conhecimento, como
sociedade e sua boa organização nas mãos de um
defendiam René Descartes e Denis Diderot. O
indivíduo que se distingue por características
racionalismo cartesiano se expressa pela frase “penso,
pessoais. A monarquia proposta no Renascimento não
logo existo”, na qual mostrava ser a razão a essência
se assenta na legitimidade do sangue ou da linhagem,
do ser humano.
na herança ou na tradição, mas na capacidade pessoal
do governante e sua sabedoria. Nessa idéia de
No plano social, o racionalismo manifestava-se na
monarquia, se baseia a aliança que a burguesia
noção de que as sociedades se baseavam em acordos
estabelece com os reis para o surgimento dos estados
mútuos entre os indivíduos que as compunham.
nacionais, onde a ordem social será tanto mais
atingível quanto mais o soberano agir como estadista,
JEAN – JACQUES ROUSSEAU (1712 - 1778) nasceu
pondo em marcha às forças econômicas do
em Genebra. Afirmava que a base da sociedade estava
capitalismo em formação.
no interesse comum pela vida social, no consentimento
unânime dos homens em renunciar as suas vontades
b) A ilustração e a sociedade contratual: particulares em favor de toda a comunidade.
uma nova etapa do pensamento burguês JOHN LOCKE (1632 - 1704) – Inglês. Para ele a
contratação estabelecia, entre outras coisas, as formas
O Renascimento exalta a natureza e os prazeres da de poder, as garantias de liberdade individual e o
vida terrena, fossem a glória ou o simples prazer dos respeito à propriedade. Seus princípios deveriam ser
sentidos, apesar de ainda ter um certo caráter redigidos sob a forma de uma constituição.
religioso.
Os filósofos da ilustração só conseguiram conceber
No século XVII, a burguesia avança na concepção a idéia de sociedade como somatório de indi-
de uma forma de pensar própria, capaz de transformar vidualidades. O comportamento social decorria da
o conhecimento num processo que desse frutos em manifestação explícita das vontades individuais.
ADAM SMITH ( 1723 - 1790) nasceu na Escócia, deles foi a crescente credibilidade alcançada pelo
fundador da ciência econômica. Demonstrou que a pensamento científico. 19
análise científica pode ir além do que era expressamente
manifesto nas vontades individuais. As idéias de progresso, racionalismo e vitória do
homem sobre a natureza exerceram todo seu encanto
Em sua análise sobre a riqueza das nações, descobriu sobre a mentalidade da época. Esse pensamento
no trabalho, ou seja, na produtividade, a grande fonte científico e racional via a sociedade como um
de riqueza. componente da natureza. A sociedade, como a
natureza, poderia ser explicada, conhecida e
Adam Smith (1776) revelara a importância do trabalho controlada.
ao pensar na sociedade não como um conjunto
abstrato de indivíduos dotados de vontade e liberdade, Começaram, então, as discussões em torno do método
tal como Rousseau e Locke, mas ao aprender e científico: a indução (manipulação empírica) e a
interpretar a realidade inglesa de seu tempo. A dedução (racional – encadeamento lógico de hipóteses
Revolução Industrial estava em pleno andamento e elaboradas).
seus frutos já se anunciavam.
A existência da Igreja como instituição social foi
c) A crise das explicações religiosas e o discutida por alguns pensadores e sociólogos do
século XIX. Émile Durkheim a considerava um meio de
triunfo da ciência integrar os homens em torno de idéias comuns. Karl
Marx a julgava responsável por uma falsa imagem dos
Vários aspectos da filosofia da ilustração preparam o problemas humanos, ligada à acomodação e à
surgimento das ciências sociais no século XIX e um submissão pregadas por sua doutrina.

1.6 – A Sociologia Clássica

a) Positivismo – Uma primeira forma de outro superior, em que o organismo social se mostraria
pensamento social. mais evoluído, mais adequado e mais complexo. Esse
tipo de mudança garantiria a sobrevivência dos
A primeira corrente de pensamento sociológico organismos – sociedade e indivíduos – mais fortes e
propriamente dita foi o positivismo. A primeira teoria mais evoluídos. Em meio a tudo isso e devido ao
a organizar alguns princípios a respeito do homem e desenvolvimento industrial europeu, repleto de
da sociedade tentando explicá-los cientificamente. Seu conflitos sociais, os positivistas responderam aos
representante e sistematizador foi o pensador francês anseios com idéias de ordem e progresso, em que
Auguste Comte (1798 -1857). procuraram ajudar todos os indivíduos para as
condições estabelecidas que garantiam o melhor
Os primeiros cientistas sociais, através do método funcionamento da sociedade.
de investigação, tentaram explicar que as ciências
sociais derivam das ciências físicas. Comte (1840) identificou na sociedade esses dois
movimentos vitais. Chamou de dinâmico o que
O próprio Comte deu inicialmente o nome de “física representava a passagem para formas mais complexas
social” às suas análises da sociedade, antes de criar de existência, como a industrialização, e de estático, o
o termo “Sociologia”. responsável pela preservação dos elementos
permanentes de toda organização social, isto é, as
O positivismo foi também chamado de organicismo, instituições que mantinham a coesão e garantiam o
porque concebia a sociedade como um organismo funcionamento da sociedade, família, religião,
constituído de partes integradas e coesas que linguagem, direito, etc.
funcionam harmonicamente, segundo um método
físico e mecânico. O positivismo foi, portanto, o pensamento que
glorificou a sociedade européia do século XIX, em
Charles Darwin (1859), cientista inglês, nessa época franca expansão. Buscava justificar, através de um
muito contribuiu com sua teoria da evolução biológica método científico adequado, os padrões burgueses e
das espécies animais. Suas idéias transpostas para industriais de organização social. Procurava resolver
as análises da sociedade fizeram surgir o Darwinismo os conflitos sociais por meio da exaltação à coesão, à
social, isto é, a crença de que as sociedades mudariam harmonia natural entre os indivíduos, ao bem-estar do
e evoluiriam sempre de um estágio inferior para um todo social.
A Sociologia de Durkheim 2. São exteriores aos indivíduos, ou seja, atuam sobre
20 os indivíduos independentemente de sua vontade.
Comte – O Pai da Sociologia Ex: Regras sociais, costumes, leis.
Durkheim – um de seus primeiros grandes teóricos.
3. Generalidade – é social todo fato que é geral.
Durkheim e seus colaboradores se esforçaram em Manifestam uma natureza coletiva.
emancipar a Sociologia das filosofias sociais e Ex: A moral, formas de habilitação.
constituí-la definitivamente como disciplina científica
rigorosa. É ele quem coloca que os fatos sociais se Para garantir a objetividade do fato social é preciso
constituem no objeto da Sociologia. encarar os fatos sociais como coisas.

Características dos fatos sociais:


1. Coerção social – força que os fatos exercem sobre
os indivíduos, o grau de coerção se torna evidente
pelas sanções.

ÉMILE DURKHEIM (1858 – 1917)


Nasceu em Epinal, na Alsácia, descendente de uma família de rabinos. Iniciou seus estudos
filosóficos na Escola Normal Superior de Paris, indo depois para a Alemanha. Lecionou
Sociologia em Bordéus, primeira cátedra dessa ciência, criada na França. Transferiu-se em
1902 para Sorbonne, para onde levou inúmeros cientistas, entre eles seu sobrinho Marcel
Mauss, reunindo-os num grupo que ficou conhecido como escola sociológica francesa.
Suas principais obras foram: Da divisão do trabalho social, As regras do método sociológico,
O suicídio, Formas elementares da vida religiosa, Educação e Sociologia, Sociologia e
Filosofia e Lições de Sociologia (obra póstuma). Morreu em Paris.

Para Durkheim, a Sociologia tinha por finalidade não b) A Sociologia Alemã: Max Weber
só explicar a sociedade, como também encontrar
remédios para a vida social. Na Alemanha o positivismo teve menor repercussão.
A grande fonte filosófica de lá foi o idealismo e Kant e
A generalidade de um fato social, isto é, sua Hegel, que exerceram grande influência sobre o
unanimidade, é garantia de normalidade na medida em pensamento sociológico desenvolvido por Weber e
que representa o consenso social e a vontade coletiva. outros.

A harmonia é conseguida através do consenso social, O conhecimento para a filosofia alemã é fruto da relação
a “saúde” do organismo social. Os fatos patológicos da razão com os objetos do mundo, ou seja, os
são considerados transitórios e excepcionais. conhecimentos não são apenas vividos, mas também
pensados.
Toda a teoria sociológica de Durkheim pretende
demonstrar que os fatos sociais têm existência própria O positivismo valoriza apenas a lei de evolução, a
e independente daquilo que pensa e faz cada indivíduo generalização e a comparação entre formações sociais.
em particular. Ele chamou isso de consciência coletiva.
É ela que vai revelar o tipo psíquico da sociedade. A MAX WEBER (1864 – 1920) – nasceu na cidade de
consciência coletiva é, em certo sentido, a forma moral Erfurt. Figura dominante na sociologia alemã, tendo
vigente na sociedade. Para Durkheim, a Sociologia forte formação histórica, se opôs a essa concepção.
deveria ter ainda, como objeto, comparar as diversas
sociedades. Ele se distingue dos demais positivistas, Para ele, a pesquisa histórica é essencial para a
porque suas idéias ultrapassaram a simples reflexão compreensão das sociedades. Seu objetivo de
filosófica e chegavam a constituir um todo organizado investigação é a ação social, a conduta humana dotada
e sistemático de pressupostos teóricos e de sentido. O homem dá sentido à ação social:
metodológicos sobre a sociedade. estabelece a conexão entre o motivo da ação, a ação
propriamente dita e seus efeitos.
Para a sociologia Weberiana os acontecimentos que • Classes Sociais – são formadas pelas desigualdades 21
integram o social têm origem nos indivíduos. O que sociais provocadas pelas relações de produção do
garante a cientificidade de uma explicação é o método sistema capitalista.
de reflexão, não a objetividade pura dos fatos. Weber
relembra sempre que, embora os acontecimentos sociais As relações entre os homens resultam das relações
possam ser quantificáveis, a análise do social envolve de oposição, antagonismo, exploração e complemen-
sempre uma questão de qualidade, interpretação, taridade entre as classes sociais.
subjetividade e compreensão. Os trabalhadores, para assegurarem sua
sobrevivência, vendem sua força de trabalho ao
Seus trabalhos abriram as portas para as empresário capitalista, que se apropria do produto do
particularidades históricas das sociedades e para a trabalho de seus operários.
descoberta do papel da subjetividade na ação e na
pesquisa social. • Operários – alugam “por um certo tempo” a força
de trabalho e, em troca recebem salário (contrato).
c) Karl Marx e a História da Exploração do
• Força de trabalho – mercadoria.
Homem (1818-1883)
• Valor – o valor de uma mercadoria era dado pelo
MATERIALISMO HISTÓRICO – a corrente mais tempo de trabalho socialmente necessário à sua
revolucionária do pensamento social nas produção.
conseqüências teóricas e na prática social que propõe.
• Mais-valia – valor excedente produzido pelo
MARX – não quis apenas contribuir para o operário.
desenvolvimento da ciência, mas propor uma ampla
transformação política, econômica e social. O Capital Para Marx (1848), o estudo do modo de produção é
destinava-se a todos os homens, não apenas aos fundamental para se compreender como se organiza e
estudiosos da economia, da política e da sociedade. funciona uma sociedade. As relações de produção,
nesse sentido, são consideradas as mais importantes
TEORIA MARXISTA – dimensão de ideal relações sociais. A história do homem é a história do
revolucionário e ação política efetiva. desenvolvimento e do colapso de diferentes modos
de produção.
Influências Básicas: (Marx)
Marx conseguiu imprimir às análises da sociedade a
a) Leitura crítica da Filosofia de Hegel (observou e idéia de totalidade.
aplicou o método dialético de modo peculiar);
Para Marx, a ciência não dependia da objetividade,
b) Destacou o pioneirismo dos críticos da sociedade mas de uma consciência crítica. Ao invés de sugerir
burguesa (Saint-Simon, Fowier e Proudhon), mas soluções para uma sociedade “doente”, Marx propunha
reprovava o “utopismo”; um caminho prático de ação política e um objetivo
claro a ser por ele atingido. Substituiu a idéia de
c) Crítica à obra dos economistas clássicos ingleses: “harmonia” pela de universalização dos interesses da
Adam Smith e David Ricardo, maior parte de sua obra classe burguesa, através do Estado.
teórica.
Ser Marxista é não só aceitar o ideal comunista de
Esta trajetória é marcada pelo desenvolvimento de uma sociedade sem classes e sem propriedade privada,
conceitos importantes: alienação, classes sociais, valor, é também seguir seus pressupostos teóricos, procurar
trabalho, mais-valia e modo de produção. exercer a crítica contundente do momento histórico
em que se vive, buscar nele as relações de exploração,
• Alienação – o capitalismo alienou, isto é, separou o opressão e expropriação do homem pelo homem e
trabalhador dos seus meios de produção – as transformar essa crítica em posição ideológica e
ferramentas, as terras e as máquinas que se tornaram política.
propriedade privada do capitalismo. O homem só pode
recuperar sua condição humana através da crítica Ser Marxista não é apenas uma questão científica ou
radical. Essa crítica radical só se efetiva na praxis, isto política. O marxismo é também uma ética baseada em
é, na ação política consciente e transformadora. princípios dignificantes, independentemente de tudo
o que se pense sobre a maneira como suas idéias
supostamente foram colocadas em prática.
Antônio Gramsci (1891-1937) de uma das reflexões filosóficas mais fecundas de
22 nosso tempo.
Intelectual italiano, vítima do fascismo, pensador
ligado à realidade do seu país e empenhado em Mas a influência de Gramsci não se limita à Itália.
descobrir, na tradição nacional, os aspectos positivos Suas concepções marxistas – originais, profundas e
que impulsionassem a classe, à qual dedicara a sua ousadas – começam a ser, cada vez mais, discutidas
vida, a assumir a função dirigente que o processo por toda a parte, rompendo o boicote que o stalinismo
histórico-social lhe confere. lhe impusera: na França, na União Soviética, na
Alemanha, no Chile, em Cuba, no Brasil, Gramsci
Nos seus escritos do cárcere, que vieram à luz pela influencia todos aqueles que lutam por uma renovação
primeira vez na Itália, em 1948, Gramsci mostra a democrática e humanista da cultura e da sociedade.
importância e a necessidade do livre curso das idéias.
Polemizando em todas as direções, jamais considera a Habermas (Jürgen)
posição do adversário um simples alvo contra o qual
se deva concentrar o fogo dos argumentos contrários, Nasceu em 18 de junho de 1929, em Dusseldorf.
como jamais revela uma forma qualquer de tolerância Dotourou-se em 1954, com uma tese sobre “O absoluto
passiva de conciliação com qualquer tendência ou idéia na história – um estudo sobre a filosofia das idades
contrária aos seus princípios. do mundo, de Schelling”.

O que ressalta na sua obra, nesse aspecto, é a O nome de Habermas está intimamente associado ao
consciência de que a posição adversária, quando é da Escola de Frankfurt. Com a morte de seus
digna de consideração, faz parte de uma realidade mais fundadores – em especial Adorno, Horkheimer e
complexa do que aquilo que pode resultar dos Marcuse – Habermas é considerado o último
argumentos e das palavras. Realidade cujo estudo se representante da teoria crítica da sociedade.
volta para ela mesma, a fim de desvendar a substância
dos contrastes que o levará, finalmente, a confirmar Interrogando os diversos autores, a partir de Hegel,
ou não a validade da posição em causa (concepção Habermas mostra como a intuição fundamental de Kant
dialética). – a de que a objetividade do conhecimento é
constituída e condicionada por princípios e categorias
a priori – foi sendo obliterada, com isso abrindo
Profundamente ligado aos problemas do seu tempo,
caminho para a ilusão objetivista, pela qual a ciência
Gramsci foi também, homem de ação. Nele o pensador,
acredita na existência de uma relação não-mediatizada
o político prático e o intelectual fundem-se numa só
entre a consciência e o real. Mas essa mesma
unidade. Daí que em sua obra as idéias apareçam
interrogação leva-o a distinguir, em Pierce e Dilthey, a
integralmente como funções de uma ação.
latência, não de todo perdida, da reflexão
transcendental, e com isso consegue reconstituir, no
Renovação radical da sociedade e da história, o
primeiro, um a priori fundador das ciências naturais, e
marxismo se identifica, em Gramsci, com a fundação de
no segundo, um a priori fundador das ciências
uma nova cultura. Nesse sentido, ele deve sintetizar
histórico-hermenêuticas. Situando esse a priori, não
dialeticamente a profundidade intelectual do
nas estruturas de uma subjetividade transcendental,
Renascimento com o caráter popular e de massa da
como para Kant, mas no processo de autoformação
Reforma, deve unificar toda a humanidade em uma
de uma espécie humana que se produz e se reproduz
síntese superior de cultura. Nessa unificação – que
no duplo contexto da ação instrumental e da ação
permite a formação de uma “subjetividade universal”
comunicativa (ou interação), Habermas chega à teoria
orgânica, equiparada por Gramsci à objetividade
dos interesses cognitivos. Essa teoria torna-se mais
hitórico-concreta – reside a superação do pensamento
precisa quando Habermas descobre, em Freud, última
ideológico e das contradições antagônicas. O
etapa de sua auto-reflexão fenomenológica, o
socialismo é, assim para Gramsci, a fundação não só
paradigma de uma ciência crítica, que assume
de uma economia planificada e socializada, mas de uma
explicitamente seu enraizamento num interesse: o da
nova cultura, de uma comunidade humana real e
dissolução das estruturas patológicas que inibem a
autêntica.
livre comunicação do sujeito consigo mesmo e com
os outros.
A obra de Gramsci é um poderoso instrumento na
luta por esta sociedade. Apesar de fragmentárias, Admitindo-se que a crítica ao positivismo tenha
apesar de redigidas sem obediência a um plano constituído o fio vermelho que transpassa todos os
preconcebido e sem amplitude nas fontes trabalhos de cunho epistemológico, a crítica do Estado
bibliográficas, as anotações constantes dos Cadernos e da sociedade é o fio condutor dos estudos que, sob
do Cárcere constituem não só um dos documentos uma perspectiva político-cultural, procuram elucidar a
mais preciosos da literatura marxista, mas a expressão relação de teoria e prática.
O ponto de partida para a apresentação sistemática epistemológica e numa perspectiva político-cultural,
da obra de Habermas pode ser o tema que unifica os ambas integradas numa teoria da competência 23
seus diferentes momentos da mediação entre a teoria comunicativa.
e a prática. Esse tema é tratado numa perspectiva

Exercícios

1- Baseado no texto do instrucional, faça o exercício proposto:


1.1- Caracterize a Sociologia como ciência.
1.2- Caracterize a visão laica da sociedade e do poder.
1.3- Avalie as mudanças sociais ocorridas na fase da Sociologia Clássica.
1.4- Analise as leituras complementares abaixo e destaque a idéia central dos textos.

Leituras Complementares

TEXTO 1 - SOBRE O SURGIMENTO DO PENSAMENTO CRÍTICO – MAQUIAVEL

É extremamente provável que tenha sido o trato cotidiano com assuntos políticos que, pela primeira
vez deu consciência e senso crítico ao homem face ao elemento ideológico de seu pensamento. Durante
a Renascença, entre os concidadãos de Maquiavel, emergiu um novo adágio chamando a atenção
para uma observação comum na época – que era a de o pensamento do palácio é uma coisa, e o da
praça pública é outra. Isto era uma expressão do crescente grau em que o público ganhava acesso aos
segredos da política. Podemos aqui observar o início do processo no decorrer do qual o que antes
havia sido apenas uma eclosão ocasional de suspeita e ceticismo, face aos pronunciamentos públicos,
evoluiu para uma procura metódica do elemento ideológico em todos eles. A diversidade de formas de
pensamento entre os homens é ainda, neste estágio, atribuída a um fator que, sem exagerar o termo
indevidamente, poderia ser denominado sociológico. Maquiavel, em sua profunda racionalidade,
tomou como tarefa específica relacionar as variações das opiniões dos homens às variações
correspondentes em seus interesses. De acordo com sua prescrição de medicina forte para toda
subjetividade das partes interessadas em uma controvérsia. Maquiavel parecia estar explicitando e
estabelecendo como regra geral do pensamento o que estava implícito no adágio (sentença moral) de
seu tempo.

MANNHEIM, Karl, Ideologia e utopia. Rio de Janeiro: Ed. Guanabara, 1986. p. 89.

TEXTO 2 - DURKHEIM E O MÉTODO SOCIOLÓGICO

Durkheim deslocou o problema para um terreno estritamente formal, único em que ele poderia ser
estabelecido em uma ciência em plena formação. Uma observação bem feita em geral deve muito a uma
teoria constituída, mas ela não é o produto necessário dos conhecimentos já obtidos. Ao contrário,
representa a via inevitável para a consecução destes. Daí a conclusão lógica: os sociólogos se
beneficiarão das teorias à medida que a investigação sociológica progredir. Até lá, e mesmo depois,
precisam saber proceder a descrições exatas, a observação bem feita e, em particular devem aprender
a extrair, da complexa realidade social, os fatos que interessam precisamente à Sociologia. Para
atingir esses fins, não necessitam de uma teoria sociológica, propriamente falando. Mas, de uma
espécie de teoria da investigação sociológica, o que é outra coisa e presumivelmente algo exeqüível
e legítimo. Nesse sentido (e não em um plano substantivo), é que a Sociologia poderia aproveitar a
lição e a experiência das ciências mais maduras, transferindo para o seu campo o procedimento
científico usado nas ciências empírico-indutivas de observação ou experimentais. Isso seria fácil,
desde que a ambição inicial se restringisse à formulação de um conjunto de regras simples e precisas,
aplicáveis à investigação sociológica dos fenômenos sociais.

Do que foi exposto concluiu-se que Durkheim se propôs a tarefa de realizar uma teoria da investigação
sociológica. De fato, ele empreendeu tal tarefa. E foi o primeiro sociólogo que conseguiu atingir
semelhante objetivo, em condições difíceis e com um êxito que só pode ser contestado quando se toma
uma posição diferente em face das condições, limites e ideais de explicação científica na Sociologia.

FERNANDES, Florestan. Fundamentos empíricos da explicação sociológica. Rio de Janeiro: Ed. LTC,
1978. p. 89.
24
UNIDADE II
SOCIALIZAÇÃO
SOCIALIZAÇÃO,, COMUNID ADE E SOCIED
COMUNIDADE ADE
SOCIEDADE

2 .1- Socialização

a) A Perpetuação da Sociedade pela • No processo de socialização, o homem


simultâneamente tornar-se membro útil da sociedade,
Socialização
e pessoa social, no contexto daquela determinada
sociedade e cultura.
• A sociedade sobrevive aos indivíduos que a
compõem. • A personalidade tanto tem conteúdo social como
se forma num processo social; ela tem um substrato
• Socialização é o processo pelo qual os “novatos” físico moldado pela influência de outra pessoas que,
de uma sociedade são preparados para o convívio, por sua vez, funcionam como intermediários da
para adquirir os modos de vida que essa sociedade sociedade e da cultura.
elaborou através de sucessivas gerações.
• A socialização é um processo cumulativo em que
• Patrimônio cultural – modos de vida de uma novas aquisições não apagam as anteriores, mas se
sociedade: tecnologia, costumes, técnicas de integram no sistema pessoal já existente.
comunicação social, crenças, sentimentos e formas de
expressão.
c) Mecanismos Sociais de Socialização
•A socialização envolve a aquisição de conhe-
cimentos, de hábitos e de sentimentos próprios da São três os fatores de socialização:
sociedade. Ou seja, é preciso aprender a utilizar os
conhecimentos a serviço dos objetivos que a a) Educação – os mais velhos impõem aos mais novos
sociedade preza. os ensinamentos, por meio da persuasão, sugestão
ou coação.
• Há padrões sociais que quase todos sabem, sentem
e praticam (universais), porém, há outros que pertencem b) Experiências sociais – o que se vê, ouve, etc.
a determinadas categorias da população (especiais). colabora para a sua socialização, aprendendo a apreciar
certas coisas e detestar outras, a amar, a desprezar,
• Padrões alternativos - modos de agir não- etc. (aquisição de sentimentos).
obrigatórios, entre os quais os indivíduos podem
escolher (ex: cortar cabelo ou barba, etc.). c) Participação em atividades sociais – fazendo é que
se adquire, não apenas hábitos, mas também,
conhecimentos sólidos.
b) A Formação da Personalidade pela
Socialização

2.2 – Comunidade e Sociedade: conceitos e


características

a) Conceitos

a) “Comunidade” e “Sociedade” são, às vezes, com outras palavras. Note-se, aliás, que o
usados como termos antitéticos, referindo-se, este, à inconveniente foi provocado pela tradução
associação de pessoas movidas por interesses inadequada de vocábulos alemães (empregados por
individuais, por laços contratuais ou quase F. Tonnies e M. Weber), os quais correspondem melhor
contratuais, enquanto que aquele designa a fusão de aos termos comunhão e associação.
pensamentos e sentimentos num todo que supera as
individualidades. Esta terminologia é inconveniente, b) De acordo com a literatura mais moderna, vamos
embora a idéia que exprima seja correta, mas formulada entender por comunidade um conjunto de pessoas
que encontra numa determinada área geográfica, em mas podem encerrar suas atividades da noite para o
que convive, satisfação de quase todas as suas dia. Certas famílias tornam-se verdadeiramente 25
necessidades sociais. Assim entendido, são históricas, mas para chegar a tanto, tiveram que
comunidades: uma aldeia ou vila, um conjunto de enfrentar numerosas crises e resolvê-las, sempre a curto
sítios dispostos ao redor de uma capela, escola, prazo. As sociedades, ao contrário, parecem-nos
venda, etc., uma cidade pequena ou grande. Certos eternas, sem que façamos muito por isto e sem que
autores estendem o conceito mesmo a nações achemos necessário um esforço especial para mantê-
inteiras. Parece mais útil, entretanto, o seu uso las. As sociedades podem mudar profundamente o seu
restritivo, como denominação de unidades sociais tipo de organização, mas são raras, e nunca previsíveis,
que façam parte de outras maiores, chamadas as imensas catástrofes em que possam perecer.
sociedades.
b) A sociedade é multifuncional, isto é, ela não serve à
c) O termo sociedade é ambíguo, por outro motivo satisfação de certas e limitadas necessidades Isso ela
além do já citado, pois, por um lado, dizemos que tem em comum com outras formas de vida social (a
vivemos “em sociedade” e, em outros contextos, família, a comunidade), mas é um atributo indispensável
referimo-nos a uma ou a várias sociedades. No à sua definição.
sentido mencionado em primeiro lugar, trata-se de
uma nação abstrata. Ou seja, da organização dos c) Ela é tal como a comunidade, um grupo local, ou
indivíduos mediante interação social organizada. seja, localizado em determinado território, com cuja
Quando, ao contrário, falamos de uma ou de várias extensão os seus limites coincidem, pelo menos,
determinadas sociedades, temos em mente aproximadamente (há, às vezes, faixas cuja atribuição a
coletividades concretas de pessoas reais. O conceito uma ou outra sociedade é incerta, mormente quando
que aproxima-se, então, do de “comunidade” limites nacionais não são idênticos com os da
significa um conjunto de pessoas que convive em distribuição de outros fatores não-políticos).
determinado território. Quando este conjunto é muito
pequeno (uma tribo isolada de índios), a “sociedade” d) Em virtude da ação conjunta das características
confunde-se com a comunidade; quando é grande, anteriormente citadas, as sociedades têm cada qual, sua
aquela inclui numerosas “comunidades”. cultura peculiar. Desempenhando múltiplas funções para
muitas pessoas que residem próximas uma às outras, e
b) Características das Sociedades isso por tempo que abrange muitas gerações. As
sociedades criam e perpetuam os seus padrões de
comportamento, porque estes formam conjuntos de
Um conjunto de fatores importantes faz-nos modos de ajustamento a circunstâncias relativamente
distinguir o conceito de sociedade dos de estáveis, e que se modificam, em geral, apenas
“comunidade” e “grupo”. São os seguintes: paulatinamente. As comunidades menores têm, também,
as suas culturas, mas estas são subculturas no contexto
a) A duração temporal de uma sociedade ultrapassa da cultura da sociedade a que pertencem e distinguem-
o período de vida dos indivíduos componentes. A se entre si por trações geralmente menos importantes
maioria dos grupos sociais tende a ter existência do que aquelas que diferenciam uma sociedade de outra.
temporária, mesmo quando sobrevivem por muito Outros grupos podem ter algo parecido com uma
tempo. Isso não era previsto com qualquer grau de “cultura’, com as mesmas restrições mencionadas em
segurança. Em qualquer fase da sua história, firmas relação às comunidades e ainda acentuadas pela menor
comerciais, associações políticas ou recreativas duração no tempo.
orgulham-se de sua continuidade, às vezes secular,

2.3 – Tipos de Sociedades

Assim como as sociedades que diferem em muitos a) Um povo possuir, ou não, linguagem escrita influi
pontos são múltiplas, igualmente são diferentes as decisivamente na extensão e flexibilidade do seu sistema
maneiras pelas quais podem ser classificadas. As de comunicações e na natureza e amplitude do
classificações mais importantes, sociologicamente, patrimônio cultural que consegue transmitir de uma
são evidentemente aquelas feitas com base em geração à outra. Os povos letrados podem comunicar-
características que repercutem em grande parte da se com pessoas ausentes muito mais perfeitamente que
organização e estrutura social. Apresentaremos os iletrados, e a tradição e o desenvolvimento gradativo
algumas freqüentemente mencionadas por dos conhecimentos científicos não podem passar de
sociólogos. proporções relativamente modestas quando não é
possível fixar graficamente grande número de fatos,
fórmulas e teoremas cuidadosamente redigidos. Assim, costuma dizer-se com alguma razão que, de sociedade
26 o tamanho da sociedade e a complexidade de sua estática passou à dinâmica, a partir de certo momento
cultura dependem, em parte, da escrita. Muitas outras histórico, identificado, por simplificação, com a
diferenças entre povos letrados e iletrados decorrem revolução de 1930.
direta ou indiretamente disso. Basta pensarmos numa
tribo de índios e na nossa sociedade moderna para d) Uma modalidade de mudança sociocultural, que
encontrarmos inúmeras diferenças que se relacionam tem recebido merecida atenção nas duas últimas
com este fator. décadas, é o chamado desenvolvimento. Trata-se da
transformação de sociedades estáticas pela adoção
b) Sociedades podem ser simples ou complexas, de tecnologia moderna em benefício do nível geral do
independentemente de terem ou não escrita. A ausência padrão de vida da população. Os países
desta, limita, evidentemente, a complexidade possível, tecnologicamente mais adiantados, onde a
mas por outro lado, sociedades letradas podem ser repercussão social dos recursos técnicos é grande,
bastante simples. Um dos mais importantes fatores de são chamados desenvolvidos; os mais atrasados, mas
complexidade é a divisão do trabalho social. Alguma que aspiram ao desenvolvimento, denominam-se
divisão social do trabalho sempre existe, seguindo as subdesenvolvidos; daqueles que ainda devem ser
linhas de sexo e idade, mas ela assume proporções considerados subdesenvolvidos, mas onde a
maiores e leva a conseqüências cada vez mais “modernização” está se processando com muita
profundas para a estrutura da sociedade, à medida que rapidez (provocando geralmente desajustamentos
homens e mulheres, jovens e velhos subdividem as socioculturais sérios), diz-se que estão em
suas funções. Isso costuma começar pelo aparecimento desenvolvimento acelerado. É preciso notar,
de especialistas em magia e em relações com os poderes entretanto, que não há linhas divisórias nítidas entre
sobrenaturais e vai até a complexidade da nossa estas categorias, mesmo porque alguns países
sociedade atual com suas incontáveis especializações. altamente desenvolvidos incluem áreas subde-
senvolvidas, e em países subdesenvolvidos algumas
c) Comparando várias sociedades coexistentes, ou regiões podem já estar desenvolvidas ou, pelo menos,
uma mesma sociedade em diferentes fases da sua vida, encontram-se em desenvolvimento acelerado.
notamos que podem ser muito diferentes os graus de
estabilidade da sua vida social. Em umas, os padrões e) Quase sempre o que consideramos uma
de comportamento social pouco ou nada mudam duma “sociedade” corresponde a um estado, isto é, é regido
geração para outra; o curso da vida de cada indivíduo por um sistema de poder político. A natureza deste é
pode ser previsto desde o início com bastante sumamente importante para o funcionamento dos
segurança, no que concerne às posições que irá ocupar demais setores da vida social. No presente contexto
e às responsabilidades que irá assumir. A sociedade convém, apenas, antecipar a distinção entre regimes
como um todo e cada uma das suas comunidades políticos livres e totalitários. Nestes, o governo tende
componentes recrutam os seus membros no seu a impor muitos padrões de comportamento,
próprio seio, mediante nascimento e educação (ou mais transformando em lei (ou decreto) o que em sociedades
propriamente: “socialização”). Ao lado de tais livres é moral ou costume, nascidos do consenso
sociedades estáticas, há outras em que leis e costumes espontâneo dos cidadãos. Também neste caso não
mudam tão rapidamente que os indivíduos não os há uma linha divisória clara, qualquer sociedade
concebem como um enquadramento inalterável do seu aproxima-se mais de um ou outro extremo, segundo
comportamento; cada pessoa abre o seu caminho na os limites estabelecidos à penetração da ação
vida, e pouco seguras são as previsões que se podem governamental na vida social. Na sociedade totalitária
fazer quanto ao que cada um fará e sofrerá no futuro; a pura não há limite algum, a não ser aquele que o próprio
migração do estrangeiro, em várias regiões do país, governo considere conveniente observar; na
altera constantemente a composição das comunidades, sociedade livre, o estado deve restringir-se, segundo
introduzindo elementos humanos para quem não existe o ideal extremo do liberalismo do século passado, à
um “lugar” previamente reservado e que, portanto, nutenção da ordem.
precisa procurá-lo em meio de insegurança maior ainda
do que os naturais da terra. Em relação ao Brasil,

2.4 – As Instituições Sociais


Por instituição social há de entender-se, como ou interesse e mais uma estrutura de rituais e
Fairchild, uma configuração de conduta integrada, funcionários para concretizá-lo.
duradoura, organizada no meio social. Não é muito
diverso o que nos diz Donald Pierson, ao estabelecer De certo modo, comparando-as com o que Durkheim
que as instituições envolvem sempre um conceito, idéia denominou de fatos sociais veremos que as
instituições seriam aqueles fatos sociais mais dito dos meios (mass media) de comunicação de massas
importantes, exigentes e duradouros. Instituição seria (mass comunication) como a imprensa, o rádio, o cinema 27
assim, uma espécie do gênero fato social, diferindo a televisão.
essencialmente pela maior rigidez da primeira e,
consequentemente, mais rápida a solução deste. c) A igreja - um dos fenômenos universais da cultura
é a religião. A finalidade social que ela procura é, como
Como muitas das instituições constituem um grupo, bem observou Max Scheler, a salvação individual do
ou uma associação, tende-se a supor que toda homem na dimensão da ultratumba, e essa crença na
instituição desenvolve a forma grupal. sobrevivência do espírito humano é quase tão velha
quanto à própria humanidade, não sendo raros os
a) A família - uma das instituições básicas da maioria achados arqueólogos da pré-história que podem
dos tipos de sociedade é a instituição da família. comprovar que dela participavam nossos “irmãos”
Instituição chave, ela é na verdade um feixe ou molho trogloditas.
de instituições: casamento, dote, parentesco, mono
ou poligamia, endo ou exogamia, concubinato, A corporificação de uma religião é a Igreja. A Igreja é
filiação, divórcio, desquite, regime conjugal de bens, a estrutura social de uma religião. Todos os elementos
são algumas das muitas instituições ligadas à sociais de uma religião são aspectos de sua
instituição maior da família. Por esta sua significação correspondente igreja.
sociológica, o estudo da família mereceu da sociologia
a constituição de um ramo da sociologia especial por d) O Estado - inclui o governo e os governados,
isso denominado de sociologia doméstica. abrangendo todas as pessoas dentro de um território
definido, como membros de um governo soberano,
b) A escola - embora a família se incumbisse outrora cidadãos ou súditos, cujas ações são controladas por
da educação e até da instrução da sua prole, desde ele.
que uma determinada atividade reunisse os requisitos
de certa complexidade e distância do ambiente Povo refere-se a um agrupamento humano com cultura
doméstico, que a educação formal – a escola – fez semelhante (língua, religião, tradições) e antepassados
sua aparição no meio social. Ela é assim, por comuns.
excelência, a agência encarregada da educação formal
dos indivíduos. Entretanto, não só a escola em seus Nação é um povo fixado em determinada área
vários níveis – pré-primário, primário, secundário, geográfica. Para alguns autores seria um povo com
universitário, pós-graduado – se ocupa de educar. certa organização. Para que haja uma nação é
Outras instituições e agências existem que, embora necessário haver um ou mais povos, um território e
não tenham uma tarefa educacional como dominante, uma consciência comum.
também exercem alguma função educativa. A empresa
comercial ou industrial, a igreja e o partido político Estado é uma nação politicamente organizada. É
estão entre aquelas instituições que exercem constituída, portanto, pelo povo, território e governo.
significativa tarefa educacional. O mesmo há que ser Engloba todas as pessoas dentro de um território
delimitado - governo e governados.

2.5 - A vida em Sociedade


a) Grupo Social

Um grupo não é apenas a soma de indivíduos, mas A postura dos integrantes do grupo deve estar
sim um conjunto que nasce, adquire a sua própria pautada, primeiramente, na humildade, e estar sempre
individualidade e, como pessoa, evolui. Nesse caso, consciente de que a participação de cada um é tão
quanto mais diferentes os indivíduos, mais importante quanto a de qualquer outro.
possibilidades têm de transmitir uns aos outros as
suas experiências. A vida em grupo sempre beneficiou a sociedade, ainda
mais quando o respeito é incentivado pela educação.
Se tivermos consciência disso, o grupo sairá A convivência estimula o conhecimento, colocando
fortalecido pela troca e pela participação de cada um os erros e os acertos a serviço do fortalecimento moral
no crescimento do outro. Do contrário, estaremos dos seus integrantes, selecionando as atitudes que
contribuindo para que o nosso ambiente se certamente darão os subsídios necessários à formação
transforme num palco de “estrelas” e rejeitados. Viver de um grupo forte e unido, que deve ser a base do seu
em grupo é importante para o homem. Conviver é crescimento.
uma aprendizagem que deve ser desenvolvida o mais
cedo possível.
Michel Quoist diz que “em volta dos buracos os c) Interação Social
28 arames dão-se as mãos. Para não romper a roda,
apertam com muita força o punho do companheiro: e
assim é que, com buracos, conseguem fazer uma Literalmente, interação significa ação recíproca entre
cerca”. Sugere ainda uma oração para o grupo: dois objetos. É um processo no qual se acham
constantemente envolvidos todos os seres da
Senhor, na minha vida há uma porção de buracos.
natureza, embora não tenham consciência disto: as
Há vazios também na vida dos meus vizinhos, mas,
plantas, os animais e os próprios minerais estão sempre
se quiserem, vamos dar-nos as mãos, apertar bem
interagindo entre si e com o meio no qual se acham
com força e, juntos, fazer um belo rolo de tela e
inseridos. Tal processo pode durar milhares de anos
arrumar o paraíso (In: LENHARD, 2004:76).
(a transformação da árvore morta em carvão), como
pode ser instantâneo (a explosão de bomba atômica).
É dele que derivam todas as transformações e toda a
b) Contato Social renovação que fazem do Universo algo em movimento
permanente. O velho Heráclito - filósofo grego - já
O contato social entre indivíduos e grupos dá-se afirmara: “tudo muda, tudo se transforma, ninguém se
sob múltiplas formas, constituindo estas os banha duas vezes no mesmo rio”.
denominados processos sociais. Basicamente,
podemos dizer que há duas formas de atuação dos A interação social, embora possa ser entendida como
homens em sociedade: a cooperação e a oposição, ação recíproca, semelhante àquela que se processa
que só se apresentam raramente em suas formas puras. entre os seres não-racionais, tem como característica
Com efeito, em qualquer relação do tipo cooperativo o fato de que tal ação é consciente, implicando não
existem, latentes ou expressos, alguns fatores de apenas em modificação de comportamento como
oposição, enquanto que no processo de oposição também em autoconhecimento desta modificação.
também é preciso que estejam presentes algumas
formas de cooperação para que o próprio conflito seja Sorokin assim definiu interação social: “todo o
possível. A sabedoria popular, aliás, expressa muito evento com que se manifesta, em um grau tangível, a
bem isso no dito: “quando um não quer dois não influência de uma parte sobre as ações exteriores ou
brigam”. estados mentais de outra” (In:LENHARD, 2004:53).
As formas predominantes de relações sociais de um Quando o citado autor nos fala em grau tangível de
determinado grupo constituem os seus processos
influência (unilateral ou mútua), significa que a
sociais básicos. Estas, embora apresentem em todos
interação só pode ser considerada como tal, quando
os grupos certas características comuns – daí serem
for passível de observação, quando nos fala em ações
considerados como universais – expressam-se, na
exteriores ou estados mentais. Significa que o caráter
prática, de modos diferentes de uma sociedade para
da interação não se limita ao plano objetivo, mas
outra e também entre grupos dentro de uma mesma
envolve o plano mais subjetivo do psiquismo
sociedade. Há inclusive grupos que enfatizam
determinados processos enquanto outros mal individual, que também é atingido pelas ações dos
conhecem, dando preferência a modos distintos de indivíduos com os quais interagimos. A referência ao
atuação social. Há sociedades eminentemente sentido da interação prende-se ao fato de que o modo
competitivas e outras predominantemente como uma parte influi sobre outra possui um valor ou
cooperativas. Algumas mais conflitantes, enquanto uma significação que se sobrepõe às qualidades
outras são mais amistosas e assim por diante. Além meramente físicas ou biológicas das ações
disso, o mesmo processo de competição, cooperação correspondentes. A ausência deste sentido tira da
ou conflito, pode obedecer a normas distintas, de interação a característica de fenômeno sociocultural
grupo para grupo. Por exemplo, a competição entre os para reduzi-lo a mera ação física ou biológica.
habitantes de Nova York pauta-se por normas,
objetivos e valores muito distintos daqueles que Na convivência humana, podemos dizer que este
existem num mosteiro trapista ou numa tribo africana. sentido da interação apresenta-se com um grau maior
Por isso que, ao falarmos em processos sociais ou menor de intensidade, dependendo do tipo de
básicos, devemos ter em mente que tais processos contato que ocorra. Por exemplo, duas pessoas podem
têm lugar em sociedades distintas, obedecendo a sentar-se lado a lado em um ônibus, para uma viagem
modelos particulares que variam em função das rápida e neste caso, tende a ser mínima a influência de
condições socioculturais de cada grupo. uma sobre a outra. O sentido da interação social aí é
quase nulo, embora esteja presente o aspecto da
Os processos básicos mais comumente interação física, que se expressa no espaço que cada
considerados no estudo da Sociologia um pode sofrer por parte do vizinho, etc. O mesmo
Contemporânea são a cooperação, a competição, o acontece num cinema, na praia, em um supermercado
conflito, a acomodação e a assimilação. onde os indivíduos podem estar lado a lado, como
frente a frente sem que tal contato chegue a afetá-los lançá-lo num mundo estranho, onde estava condenado
de modo sensível. Este tipo de relação é comum a perder sua individualidade, ao mesmo tempo em que 29
principalmente nos grandes centros urbanos: nos perdia sua categoria de cidadão.
locais freqüentados por muitas pessoas estranhas,
nos meios de transporte urbano, etc. A prisão é outro exemplo de punição que a sociedade
reserva para aqueles que atentam contra os seus
De um lado, podemos ter processos de interação princípios. Neste caso, o indivíduo é impedido –
carregados de um profundo sentido e que afetam temporária ou definitivamente – de conviver com a
intensamente as partes, não só nas suas ações parte considerada “sadia” da sociedade, sendo
exteriores, como também em seus estados mentais: obrigado a viver junto àqueles que, como ele, foram
uma conversa entre dois amigos que há muito não se postos à margem do grupo. Lembremos ainda que, neste
viam; a despedida de dois apaixonados; a mãe que caso, quando os detentos infringem os regulamentos
leva, pela primeira vez, o filho à escola; o povo que da prisão, é costume mandá-los para a solitária, por ser
ouve, empolgado, a fala de seu líder; são alguns a forma extrema do isolamento, aquela que pune o
exemplos de processos de interação carregados do homem ao máximo, diante de si mesmo e da coletividade.
mais profundo sentido psíquico e social (social aí
usado no sentido do que transcende ao individual). A pena de morte, neste sentido, pode ser entendida
como o isolamento total e definitivo, em relação ao
grupo, daquele que demonstrou, por sua conduta
d) Isolamento Social criminosa, não possuir condições mínimas de participar
da vida social, mesmo limitada às grades de uma prisão.
Define-se isolamento social como sendo a ausência A supressão da vida é aí a própria supressão definitiva,
de qualquer forma de contrato de um indivíduo com em grau irrecorrível de toda e qualquer forma de
os outros seres de sua espécie. No sentido absoluto convivência social.
do termo, é impossível conceber-se um indivíduo que
viva em condições de total e permanente isolamento. É tão grande a nossa reação ao isolamento social que
Mesmo os casos de “meninos-lobo” descritos pelos muitas vezes os indivíduos mais solitários são levados
antropólogos nos indicam que essas crianças devem a uma forma substitutiva de interação com seres
ter conhecido um período ainda que reduzido, de irracionais (plantas ou até objetos), transferindo para
convivência com algum ser humano (provavelmente, estes o afeto, o carinho e o cuidado que não lhes é
a mãe), pois em caso contrário não teria havido para permitido demonstrar para com seres de sua espécie.
eles condições mínimas de sobrevivência. Portanto, Eles, por assim dizer, humanizam, antropomorfizam o
o isolamento social deve ser visto como uma ausência cão, o gato, a plantinha no vaso, e com estes mantém
relativa de interação, nunca no sentido absoluto. A verdadeiros “diálogos”, em que a solidão é amenizada
literatura deu-nos a conhecer uma figura clássica que e as necessidades sociais do homem são satisfeitas.
é sempre citada como exemplo de isolamento social: Tal transferência ocorre com muita freqüência em
Robinson Crusoé, o imortal personagem criado por relação a indivíduos que são obrigados a viver longo
Daniel Defoe. Mesmo neste caso, é importante tempo em isolamento (presidiários, faroleiros, pastores,
acentuar que a solidão do herói foi muito amenizada, etc.). Mesmo nas sociedades mais modernas, isso pode
na medida em que ele era portador de uma cultura ocorrer com indivíduos que moram sozinhos em grandes
bastante complexa, que lhe permitiu enfrentar com habitações coletivas.
êxito as dificuldades de um meio totalmente estranho.
Também é interessante lembrar que, após as primeiras A solidão afeta tão seriamente o equilíbrio mental e
aventuras do náufrago solitário, o próprio autor emocional dos indivíduos que não são raros os casos
introduziu no seu consagrado romance um outro de melancolia profunda, loucura e até suicídio a que
personagem humano – o “Sexta-feira” –, a fim de dar são levados pelo desespero de se sentirem isolados
nova motivação à história, que cairia fatalmente no dos outros seres humanos.
desinteresse para o público leitor, se Robinson
continuasse até o final na condição de herói solitário. Quanto ao isolamento dos grupos sociais vivendo
sem condições de contato ou comunicação com outros
A sociedade humana parece ter sempre atribuído à grupos, também cabe lembrar que seus efeitos são os
convivência social uma grande importância, visto mais nocivos, determinando empobrecimento cultural,
que, na maior parte dos grupos com algum esboço de estagnação e rigidez das estruturas, tudo isso
organização, a punição máxima prevista para os refletindo-se em uma grande resistência a qualquer
violadores do costume ou da lei é o isolamento ou a sorte de mudança, mesmo aquelas que são tentadas
segregação do grupo. O ostracismo, para os antigos com o objetivo de melhorar suas condições materiais
gregos, era uma pena comparável à perda da vida, de vida. Desde os tempos mais remotos, viajantes e
visto que tirava o homem de seu contexto político, de exploradores vêm observando as diferenças de
seu “meio cultural” – dentro da visão grega – para comportamento e de mentalidade entre grupos que
vivem isolados em ilhas ou montanhas e outros, Se analisarmos os modos pelos quais se expressa
30 diversamente, vivendo em portos ou comunidades esta necessidade de amoldar a conduta dos indivíduos
próximas umas das outras, em freqüentes contatos com às regras do jogo social, veremos que o controle social
grupos diferentes. Nestes últimos há uma tendência atua sob uma infinidade de formas, as quais se
em aceitar de bom grado as influências culturais vindas manifestam com diferentes graus de intensidade, desde
de fora, os costumes tendem a ser menos rígidos e a os usos mais corriqueiros, seguidos pelos costumes
estagnação cultural não é conhecida. solidamente implantados no grupo, até às instituições
e às leis, podendo estas últimas atingir formas de
e) Controle Social extrema violência, inclusive a prisão perpétua e a própria
pena de morte.
Chamamos de controle social a soma de processos A existência desta gradação, na aplicação do controle
que a sociedade lança mão para obter dos indivíduos
social, levou muitos sociólogos a classificar seus
e grupos que a constituem uma conduta enquadrada
diferentes tipos em dois grandes grupos:
nas expectativas gerais de comportamento. É em torno
destas expectativas que se organiza a nossa vida de
a) controles do tipo persuasivo
relação, isto é, nossa conduta está basicamente
b) controles do tipo coercitivo
condicionada por aquilo que o grupo espera de nós.
As respostas às expectativas do grupo surgem na
Entendemos por controles persuasivos todos os
criança, a partir de seus contatos iniciais com a família,
meios de que o grupo lança mão para impor suas
logo nas primeiras semanas de vida, muito embora, na
exigências sem recorrer ao uso da força ou da violência
maioria das vezes nem mesmo os adultos tenham
ostensiva. A maior parte das técnicas que se enquadram
consciência do significado profundo desta fase de
iniciação social. Quando, por exemplo, a criança, neste tipo são usadas inconscientemente pelo grupo
movendo naturalmente os músculos da face, nos e seu ajustamento a elas também se faz de modo
apresenta uma careta que a mamãe ansiosa toma por inconsciente. Por exemplo, quando a mãe de uma jovem
expressivo sorriso, os aplausos, a aprovação do recomenda-lhe que não chegue tarde da noite em casa,
pequeno grupo familiar já consagram aquela contração porque os vizinhos podem murmurar, nem a mãe nem a
muscular, que, aos poucos, irá deixando de ser um filha têm consciência de que está em jogo uma das
mero reflexo de tipo incondicionado, para se mais velhas técnicas de controle social, baseada no
transformar numa reação realmente consciente às medo ao “falatório”, ao “mexerico” capaz de difamar a
expectativas do grupo e, finalmente, numa expressão jovem e torná-la indesejável aos olhos do grupo.
real dos sentimentos humanos da criança. Assim, um
ato que ao leigo parece fundamentalmente instintivo, Os provérbios, os ditos populares, de tão largo uso
como é o riso, é algo socialmente aprendido através entre as camadas populares, são outro exemplo de um
do contato social. A partir daí, aos poucos, a criança mecanismo de controle social persuasivo, através do
irá aprendendo que há momentos em que se deve rir e qual as pessoas mais simples vão buscar, na tradição
outros em que se precisa ficar sério; que há uma forma oral, respostas às questões de difícil solução no plano
de rir, socialmente aprovada, e outra mal vista e da explicação teórica. Postos em uma situação para a
censurada pelo grupo; que há risos que ofendem e qual não tem nenhuma resposta válida, em termos de
risos que agradam, tudo isso, transmitido de maneira experiência anterior, estas pessoas tendem a recorrer
imperceptível para ela, mas nem por isso menos eficaz aos provérbios e máximas, que são fórmulas simples e
em seus resultados. Durante todos os momentos de aparentemente eficazes de enfrentar aquela situação.
nossa vida, mesmo quando estamos sós, nosso Por exemplo, quando não conseguem compreender
comportamento obedece a certos estímulos que não uma injustiça flagrante de que foram vítimas, seja por
nasceram conosco, mas que chegaram até nós através parte de um parente, de um chefe, de uma autoridade
do contato social. ou do próprio destino, podem encontrar conforto no
velho dito “Deus escreve direito por linhas tortas” ou
Durkheim atribuía tanta importância a esta coação então, “Deus sabe o que faz” e outros similares. É
do grupo sobre os indivíduos que chegou a caracterizar interessante acentuar o caráter claramente
o fato social pela coercitividade, isto é, pela pressão conservador e conformador da maior parte destes
que o social exerce sobre as consciências individuais. ditados, que se propõem, em última análise, a
possibilitar uma forma de racionalização para situações
O estudo pormenorizado dos mecanismos de controle que não sabemos ou não podemos controlar. “Quem
social e de suas formas de atuação é da maior nasce pra dez réis não chega a vintém”; “não suba o
importância para o professor do Ensino Fundamental sapateiro além da chinela; “quando a esmola é demais
e Médio, entretanto, tem sido um ponto bastante o pobre desconfia”; “em terra de cego quem tem um
descuidado pela maior parte dos programas de olho é rei”; “quem semeia ventos colhe tempestades”,
Sociologia nas faculdades de Educação e nas escolas são alguns exemplos que bem confirmam o sentido
normais. conformista que os provérbios procuram imprimir à
maior parte de nossos conflitos interiores. Também no cujo contato social não foi ditado pela vontade, mas
plano da educação, está o folclore cheio de ditos sim forçado pelas circunstâncias. 31
populares que expressam as crenças sociais
construídas a partir da experiência acumulada e que Neste caso, quando os mecanismos de controle de
muito ajudaram pais e educadores de outros tempos tipo persuasivo perderam sua eficácia, tendem a ser
quando os conhecimentos da Psicologia ainda não invocados os de tipo coercitivo. Estes caracterizam-se
tinham chegado até eles. Como exemplos de ditados pelo uso, não da sugestão ou da argumentação, mas
ligados ao processo educacional, podemos lembrar: da força e da violência.
“é de pequeno que se torce o pepino”; “quem dá o
pão dá o castigo” “dize-me com quem andas que te Nos grupos primários, tais como a família e os grupos
direi quem és”, etc. de brincadeira, as formas de controle mais espontâneos
são, em geral, suficientes para manter os indivíduos
Uma área da vida social que bem nos permite dentro dos padrões mínimos exigidos pelo grupo. Esta
compreender como as técnicas de controle social estão afirmação é particularmente real nas condições de vida
intimamente relacionadas com os estilos de vida da sociedade tradicional, agrária, em que os
dominantes é a passagem de indivíduos e grupos do grupamentos sociais podiam ser vistos quase como
meio rural para o meio urbano. Nas condições da uma família ampliada e as aberrações de conduta eram
sociedade brasileira de nossos dias, tal passagem tem- particularmente esporádicas. Então, só de raro em raro,
se feito com uma certa violência, impedindo que muitos se era obSSrigado a apelar para a violência, visto que
indivíduos se ajustem com a necessária rapidez às o costume, a tradição e o princípio da autoridade eram,
novas exigências. Por isso, é comum surgirem em geral, suficientes para manter a unidade do grupo.
problemas decorrentes da pretensão – às vezes
expressa com violência – por parte de muitos Porém, à medida que a urbanização como estilo de
emigrantes do meio rural, de fazerem valer na “urbs” vida foi-se impondo, os líderes sociais foram tomando
os mesmos padrões de comportamento vigentes no consciência da ineficácia crescente daquelas técnicas
seu “habitat” anterior. Para evitar os conflitos persuasivas. Cada vez mais se impunha a invenção e a
resultantes do encontro de diferentes padrões de aplicação de novos instrumentos de controle social
comportamento, impõe-se, na vida urbana, um sem- específicos para a vida em grandes aglomerados.
número de prescrições, não baseadas no costume nem
na tradição, mas que são da maior importância de serem As habitações coletivas, os edifícios de apartamentos,
reconhecidas e cumpridas. Os regulamentos, os o trabalho realizado em conjunto por grupos
estatutos, os regimentos internos, os códigos, são heterogêneos, a freqüência cada vez mais generalizada
permanentemente invocados nos centros urbanos, ao a espetáculos públicos, numa palavra, todas as
passo que são praticamente ignorados nos meios manifestações da sociedade de massa, têm obrigado a
rurais. uma reformulação constante dos esquemas ligados ao
controle do comportamento social.
Nos edifícios de apartamentos das cidades grandes,
temos freqüentes experiências relacionadas com Ainda hoje, esta diferença entre o estilo de vida
indivíduos ou famílias de origem rural recente, que urbana e rural é notada pelo urbanista ou morador da
acreditam poder reproduzir nos centros urbanos a cidade que, indo a um lugarejo do interior, se espanta
mesma conduta que tinham na vila de origem. Insistem, com o pouco cuidado que se tem com portas e janelas
por exemplo, em criar animais, os mais estranhos aos abertas, com objetos ao alcance dos passantes e com
hábitos da cidade (jaguatirica, tartaruga, papagaios, a cordialidade ostensiva com que somos saudados,
macacos, etc.); acham legítimo fazer barulho a qualquer mesmo por aqueles que desconhecem nossa
hora da noite, ouvem aparelhos sonoros em alto identidade. Reciprocamente, choca ao nosso homem
volume, cultivam verdadeiros jardins e hortas nos do interior o clima de desconfiança que ele respira na
exíguos parapeitos das janelas, manifestando em tudo cidade. O olho-mágico, a tranca e o pega-ladrão na
um absoluto desprezo pela segurança e pela porta dos apartamentos são um testemunho sempre
tranqüilidade dos demais moradores, mas guardando presente desta desconfiança, que se impõe como regra
velhos hábitos de seu lugar de origem. de conduta.

Como neste caso os mecanismos de controle Se alguém nos aborda na rua, nossa primeira reação é
persuasivo funcionam deficientemente, impõem-se a de esquiva ou de medo, pois sabemos, por experiência
necessidade de fazer valer os meios de controle própria ou alheia, que de um estranho se deve esperar
ostensivo, tais como a presença do síndico e até mesmo sempre atitudes negativas. Basta ver o orgulho com
da radiopatrulha. Tais experiências repetem-se e são que o morador de apartamento gosta de contar que
fonte permanente de atritos, no trabalho, nos vive ali há tantos anos e nem sequer sabe o nome do
transportes, na recreação, em todas as oportunidades vizinho que mora ao lado. Tal situação em uma cidade
que se acham ligados por nenhum laço de simpatia e pequena ou em uma vila seria absolutamente
impossível. Ali, a primeira preocupação que o grupo ostensivos na família de nossos dias, principalmente
32 manifesta em relação a um forasteiro é de identificá-lo nos centros urbanos maiores, retratam este
e descobrir sua origem (geográfica e social); tal descompasso entre algumas áreas da realidade social
conduta, que a nós pode parecer estranha, tem para que vão mudando com grande rapidez e outras nas
aquele grupo um sentido profundo; ela significa que quais a mudança se faz de modo mais lento e difícil.
a convivência só é possível quando existem
expectativas mútuas de comportamento bem definidas, f) Institucionalização das Normas de
e para tanto é preciso que os “socii” se conheçam
suficientemente bem. Isso explica a desconfiança
Comportamento
existente, no interior, em relação ao caixeiro-viajante,
que representa justamente, o “out-group”, o homem Dizemos que uma norma de comportamento está
em quem não se deve confiar porque não está ligado institucionalizada quando as expectativas do grupo
por nenhum laço mais profundo à comunidade. Nesta, em relação a ela são bastante definidas, e quando a
o estranho é a exceção, enquanto na cidade ele é a maior parte dos membros do grupo a aceita como
regra. válida e a cumpre efetivamente. Exemplo de
comportamento institucionalizado é o casamento
Outra atitude típica do provinciano é a de identificar como cerimônia religiosa ou jurídica, que torna a união
e catalogar os indivíduos a partir de sua origem familiar. de um homem com uma mulher reconhecida
Assim, quando se quer dar uma informação definitiva socialmente. A maior parte das pessoas que compõem
a respeito de alguém, diz-se: é filha de fulano, neto de a nossa sociedade concorda que aquela união deva
sicrano, sobrinho de beltrano, etc. Isso se explica pela ser legitimada, espera que as pessoas que queiram
importância que tem, neste contexto, os laços de constituir família recorram a ela e, por sua vez, também
sangue, que implicam em um compromisso tão estreito o farão quando se unem a outrem em matrimônio.
com o grupo que muitas vezes chegam a funcionar
melhor que qualquer outro argumento para impor uma Já as leis entram em ação, pelo menos teoricamente,
atitude socialmente aprovada. A tradição familiar tem quando os demais instrumentos de controle vão
ali uma força tão grande que é capaz de separar para perdendo sua eficácia original e a coesão social corre
sempre corações apaixonados, de manter unidos perigo. Por isso que a legislação formal só aparece
outros que os laços afetivos já desapareceram, de naquelas sociedades que alcançaram um certo grau
negar vocações que pareciam insopitáveis, de de complexidade em suas relações onde o costume e a
encaminhar para certas profissões pessoas que tradição já não conseguem manter aquele mínimo de
espontaneamente não as teriam escolhido, enfim, de ordem e de uniformidade de conduta, sem as quais a
criar um clima em que a área de decisão individual fica vida em sociedade não seria possível. Isso ocorre,
extremamente reduzida, em benefício das expectativas principalmente, com a passagem do estilo de vida rural
do grupo e, principalmente, das gerações mais velhas. para o estilo urbano, quando tendem a se romper os
laços de solidariedade que unem os grupos primários
Já nos centros urbanos maiores, esta influência e novas formas têm que ser criadas para reconstituir a
familiar, embora exista, é muito menos forte e atuante. “ordem social”. Por isso, a legislação é típica das
Na presença de outros fatores, ela tende a se diluir, sociedades urbanas, e, em nossos dias, seu veículo
ampliando-se a área de decisão individual, em de expressão mais representativo é a autoridade
detrimento da opinião do grupo familiar. policial, ostensiva e sempre presente quando a
“harmonia social” está em perigo.
Não é sem razão que um dos temas mais gratos
àqueles que defendem a manutenção do “status quo” O guarda de trânsito, o guarda-noturno, a polícia de
social é o protesto constante contra o que eles chamam vigilância, o fiscal de alfândega, são figuras bem
de “desagregação da família” e que, do ponto de vista conhecidas e sua presença serve para nos lembrar a
da Sociologia, tende a ser visto mais como um período cada instante, que o não-cumprimento das regras do
de crise conseqüente à substituição de uma ordem Jogo social acarreta uma punição que nos atingirá
social determinada por outra. onde quer que estejamos. A imagem simbólica do
“longo braço da lei” é muito feliz para expressar que
Esta crise demonstra um esforço de adaptação da neste terreno não há distâncias que não possam ser
instituição às novas condições vigentes, visto que, vencidas (A Polícia, nos últimos tempos, aperfeiçoou
em face da interdependência que caracteriza os de tal forma suas técnicas de ação, que conseguiu se
diferentes níveis da realidade social, é ponto pacífico articular com relativa eficácia até mesmo no plano
que as alterações ocorridas num destes níveis vão internacional, com a criação da Polícia Internacional
repercutir com maior ou menor rapidez em todos os (Interpol).
outros. Assim, os desajustes e as tensões, tão
A lei só surge na história da humanidade em época Todos estes princípios de aplicação da justiça
relativamente recente, expressando a necessidade de baseados no costume, hoje nos aparecem, em sua 33
definir obrigações e direitos que são o produto de maioria, terrivelmente bárbaros e, embora estejamos
circunstâncias inteiramente novas no quadro das sempre a protestar contra muitos absurdos que
relações sociais. Ela representa, inclusive, um passo sobrevivem nas legislações modernas, somos
à frente no aperfeiçoamento das instituições sociais obrigados a reconhecer que, neste particular, demos
e da autoridade tradicional que, ao aplicarem seus um grande salto à frente, quanto ao aperfeiçoamento
princípios de direito, o faziam de modo extremamente de nossas instituições jurídicas. A igualdade perante
arbitrário. Basta lembrarmos, a título de exemplo, a a lei e ausência de privilégios continuam sendo o ideal
aplicação da justiça baseada no princípio da “ordãlia” máximo de todo o regime democrático e a base do
em que a inocência ou a culpabilidade de um acusado direito, muito embora ainda não tenham sido
eram comprovadas pela sua capacidade de resistência plenamente atingidas em nenhuma nação ou sociedade
ao fogo, à água fervente ou ao combate em condições moderna. Só o fato de terem chegado a ser formuladas
desiguais. Ou, ainda, no princípio da lei de Talião, do já implicam na possibilidade de sua materialização
“olho por olho e dente por dente” em que a punição dentro das atuais condições da vida social e justificam
do ladrão consistia em cortar-lhe a mão, do delator em toda a luta que se trava para torná-las uma realidade.
arrancar-lhe a língua, do espião em cegá-lo e assim
por diante.

Exercícios

1- Momento de estudos e reflexões


Interprete as informações dos textos abaixo e faça uma análise da sociedade atual.

TEXTO 1

CINCO DESAFIOS À IMAGINAÇÃO SOCIOLÓGICA

Os desafios, quaisquer que eles sejam, nascem sempre de perplexidades produtivas. Tal como Descartes
exercitou a dúvida sem a sofrer, julgo hoje ser necessário exercitar a perplexidade sem a sofrer. Se quisermos,
como devemos, ser sociólogos das nossas circunstâncias, deveremos começar pelo contexto sociotemporal
de que emergem as nossas perplexidades.

OITENTA / NOVENTA

Do ponto de vista sociológico, a década de oitenta será uma década para esquecer? Está na tradição da
Sociologia preocupar-se com a “questão social”, com as desigualdades sociais, com a ordem/desordem
autoritária e a opressão social que parecem ir de par com o desenvolvimento capitalista. À luz desta
tradição, a década de oitenta é sem dúvida uma década para esquecer. No seu decurso, aprofundou-se nos
países centrais, a crise do Estado-Providência que já vinha da década anterior e com ela agravaram-se as
desigualdades sociais e os processos de exclusão social (30% dos americanos estão excluídos de qualquer
esquema de segurança social) e de tal modo que estes países assumiram algumas características que pareciam
típicas dos países periféricos. Daí o falar-se do terceiro mundo interior. Nos países periféricos, o agravamento
das condições sociais, já de si tão precárias, foi brutal. A dívida externa, a desvalorização internacional dos
produtos que colocaram no mercado mundial e o decréscimo da ainda externa, levou alguns destes países à
beira do colapso. Na década de oitenta morreram de fome na África mais pessoas que em todas as décadas
anteriores do século. Se as assimetrias sociais aumentaram no interior de cada país, elas aumentaram ainda
mais entre o conjunto de países do Norte e o conjunto de países do Sul. Esta situação, que alguns festejaram
ou toleraram como a dor necessária do parto de uma ordem econômica finalmente natural e verdadeira, isto
é, neoliberal, foi denunciada por outros como uma desordem selvática a necessitar ser substituída por uma
nova ordem econômica internacional a arrogância dos primeiros e a impotência dos segundos põe a
Sociologia decididamente de candeias às avessas com a década de oitenta.

Decididamente, sim, mas também incondicionalmente? O outro pilar da tradição intelectual da Sociologia
é a preocupação com a participação social e política dos cidadãos e dos grupos sociais, com o
desenvolvimento comunitário e a ação coletiva, com os movimentos sociais. À luz desta outra tradição, o
mínimo que se pode dizer é que a década de oitenta se reabilitou de maneira surpreendente e mesmo
brilhante. Foi a década dos movimentos sociais e da Democracia, do fim do Comunismo autoritário e da
34 apartheid, do fim do conflito Leste-Oeste e de um certo abrandamento (momentâneo) da ameaça nuclear.

É este o claro-escuro da década precedente. Temos com ela uma relação de amor e ódio. Não podemos
esquecê-la. Tão pouco queremos repeti-la. Evidentemente que as décadas só existem na nossa imaginação
temporal. As transformações ocorridas no final da década de oitenta entram de rompante na década de
noventa e estão agora em casa. Que fazer delas? Por que as transformações estão a passar transformações?
Que desafios colocam à Sociologia, às Ciências Sociais e às humanidades em geral? De que modo vão nos
afetar? De que modo podemos afetá-la? Não é fácil responder a estas questões, por mais que elas pressuponham
como não-problemática uma postura epistemológica que a é cada vez mais. Pressupõem a separação sujeito-
objeto: nós, aqui; as transformações, lá fora. Quando, na verdade, as transformações não são mais que nós
todos, todos os cientistas sociais e todos os não cientistas sociais deste mundo a transformarmo-nos.

ENTRE A AUTOTEORIA E A AUTO-REALIDADE

Contudo, é próprio da Sociologia reivindicar um ângulo de observação e de análise, um ângulo que, não
estando fora do que observa ou analisa, não se dissolve completamente nele. Qual é, pois, esse ângulo e como
mantê-lo nas condições presentes e futuras? A rapidez, a profundidade e a imprevisibilidade de algumas
transformações recentes conferem ao tempo presente uma característica nova: a realidade parece ter tomado
definitivamente a dianteira sobre a teoria. Com isso, a realidade torna-se hiper-real e parece teorizar-se em
si mesma. Essa autoteorização da realidade é o outro lado da dificuldade das nossas teorias para darem
conta do que se passa e, em última instância, da dificuldade de serem diferentes da realidade que supostamente
teorizam. Esta condição é, no entanto, internamente contraditória. A rapidez e a intensidade com que tudo
tem acontecido se, por um lado, torna a realidade hiper-real, por outro lado, trivializa-a, banaliza-a, uma
realidade sem capacidade para nos surpreender ou empolgar. Uma realidade assim torna-se afinal fácil de
teorizar, tão fácil que a banalidade do referente quase nos faz crer que a teoria é a própria realidade com
outro nome, isto é, que a teoria se auto-realiza.

Vivemos assim uma condição complexa: um excesso de realidade que se parece com um déficit de realidade;
uma auto-teorização da realidade que mal se distingue da auto-realização da teoria. Numa condição deste
tipo é difícil reivindicar um ângulo de análise, muito mais mantê-lo. Não está na tradição da Sociologia
desistir dessa reivindicação e, valha a verdade, alguns fatores correm a favor do seu sucesso. O conflito
Leste-Oeste foi um dos grandes responsáveis por que, durante todo o século XX, a Sociologia tivesse sido
feita com os conceitos e teorias que nos foram legados pelo século XIX. O fim do conflito Leste-Oeste cria uma
oportunidade única para a criatividade teórica e para a transgressão metodológica e epistemológica e essa
oportunidade só será desperdiçada se nos esquecermos de que o fim do conflito Leste-Oeste corre de par com
o agravamento do conflito Norte-Sul. E será igualmente desperdiçada se a liberdade criada pela ausência
dos dogmas teórico-políticos for asfixiada pelos sempre velhos e sempre novos dogmas institucional-fácticos.

A tradição da Sociologia é neste domínio ambígua. Tem oscilado entre a distância crítica em relação ao
poder instituído e o comprometimento orgânico com ele, e entre o guiar e o servir. Os desafios que nos são
colocados exigem de nós que saiamos deste pêndulo. Nem guiar nem servir. Em vez de distância crítica, a
proximidade crítica. Em vez de compromisso orgânico, o envolvimento livre. Em vez de serenidade
autocomplacente, a capacidade de espanto e revolta.

DAS PERPLEXIDADES AOS DESAFIOS

Quais são, pois, os desafios? Como disse no início, os desafios começam sempre por se manifestar como
perplexidades produtivas. Salientamos as cinco seguintes que vão nos ocupar nos próximos anos.

Obs.: Estamos falando sobre a realidade das décadas de 70 e 80.

1. A primeira perplexidade consiste no seguinte: um relance pelas agendas políticas de diferentes países
revela-nos que os problemas mais absorventes são, como nunca, problemas de natureza econômica: inflação,
desemprego, taxas de juro, déficit orçamental, crise financeira do Estado-Previdência, dívida externa, política
econômica geral. E o mesmo se passa se, em vez de relancear a política nacional, relancearmos a política
internacional: integração regional (UE, CEI, EUA, Canadá, México, Cone Sul, Sudeste Asiático),
protecionismo (Uruguay Round, Fortaleza Europa), ajuda externa, etc. Contudo, e em aparente contradição
com isso, a teoria e a análise sociológica dos últimos dez anos têm vindo desvalorizar os modos de produção
em detrimento dos modos de vida. Podemos mesmo dizer que a crítica que tem sido feita ao Marxismo assenta,
em parte, na desvalorização do econômico. Será esta contradição não apenas aparente, mas também real? 35
E se assim for, estaremos a falhar o alvo analítico e a cavar a nossa própria marginalidade: ou será, pelo
contrário, que estes diferentes fatores e conceitos e as distinções que assentam (Economia, Política, Cultura),
todas legadas pelo século XIX, estão hoje superados e exigem uma reconstrução teórica radical? E neste
caso, como fazê-la?

2. A segunda perplexidade pode ser formulada assim: nos últimos dez anos assistimos a uma dramática
intensificação das práticas transnacionais, da internacionalização da economia à translocalização maciça
de pessoas como migrantes ou turistas, das redes planetárias de informação e de comunicação à
transnacionalização da lógica do consumismo destas transformações. A marginalização do Estado nacional,
a perda da sua autonomia e da sua capacidade de regulação social tem sido considerada como principal
conseqüência. Contudo, no nosso quotidiano raramente somos confrontados com o sistema mundial e, ao
contrário, somos obsessivamente confrontados com o Estado, que ocupa as páginas dos nossos jornais e os
noticiários das nossas rádios e televisão, que tanto regulamenta a nossa vida para a regulamentar como
para a desregulamentar. Será então o Estado nacional uma unidade de análise em vias de extinção, ou pelo
contrário, é hoje mais central do que nunca, ainda que sob a forma ardilosa da sua desconcentração? Quais
são as responsabilidades específicas da Sociologia, uma disciplina que floresceu com o intervencionismo
social do Estado? Será que o intervencionismo social do Estado vai assumir nos próximos anos a forma de
intervencionismo não estatal? Será que o Estado vai criar a sociedade civil à sua imagem e semelhança?
Será que a Sociologia é parte da armadilha ou parte do mecanismo que a permite desarmar?

3. A terceira perplexidade ou desafio é a seguinte: os últimos anos marcaram decididamente o regresso do


indivíduo. O esgotamento do estruturalismo trouxe consigo a revalorização das práticas e dos processos e
nuns e noutros, a revalorização dos indivíduos que a protagonizam. Foram os anos da análise da vida
provada, do consumismo e do narcisismo, dos modos e estilos de vida, do espectador ativo da televisão, das
biografias e trajetórias de vida, análises servidas pelo regresso do interacionismo, da fenomenologia, do
micro em detrimento do macro. Contudo, em aparente contradição com isso, o indivíduo parece hoje menos
individual do que nunca, a sua vida íntima nunca foi tão pública, a sua vida sexual nunca foi tão codificada,
a sua liberdade de expressão nunca foi tão inaudível e tão sujeita a critérios de correção política, a sua
liberdade de escolha nunca foi tão derivada das escolhas feitas por outros antes dele. Será tão só aparente
esta contradição? Será que a distinção indivíduo-sociedade é outro legado oitocentista de que nos devemos
libertar? Será que, pelo contrário, nos libertamos cedo demais do conceito de alienação? Como fazer vingar
a preocupação tradicional da Sociologia com a participação e a criatividade sociais numa situação em que
toda a espontaneidade do minuto um se transforma, no minuto dois, em artefato mediático ou mercantil de si
mesma?

4. A quarta perplexidade pode ser formulada assim: iniciamos o século com clivagens sociopolíticas muito
profundas, entre Socialismo e Capitalismo, entre revolução e reforma; clivagens que, por tão importantes, se
inscreveram na tradição das ciências sociais. Chegamos, no entanto, ao fim do século com um surpreendente
desaparecimento ou atenuação dessas clivagens e com a sua substituição por um não menos surpreendente
consenso a respeito de um dos grandes paradigmas sociopolíticos da modernidade: a Democracia. A década
anterior, não só viveu muitos processos de democratização, como instituições insuspeitas a esse respeito
abraçaram publicamente o credo democrático. O Banco Mundial, através do princípio da “condição política”
(political conditionality), faz defender a concessão de crédito da vigência da Democracia no país creditado,
ao mesmo tempo que a Agência Internacional para o Desenvolvimento dos EUA promove em larga escala
“iniciativas para a Democracia” (Democracy initiatives), com o mesmo objetivo de vincular o desenvolvimento
à Democracia. Contudo, em aparente contradição com isso, ocorrem dois fenômenos, um mais visível do que
o outro. Por um lado, se a Democracia é hoje menos questionada do que nunca, todos os seus conceitos
satélites têm vindo a ser questionados e declarados em crise: a patologia da representação, sob a forma da
distância entre eleitores e eleitos, do ensimesmamento dos parlamentares, da marginalização e
governamentalização dos parlamentos, etc. Por outro lado, se atentarmos na História européia desde meados
do século XIX, verificamos que a Democracia e o liberalismo econômico foram sempre má companhia um
para o outro. Quando o liberalismo econômico prosperou a Democracia sofreu e vice-versa. Contudo,
surpreendentemente, hoje a promoção da Democracia em nível internacional é feita conjuntamente com o
neoliberalismo, de fato em dependência dele. Haverá aqui alguma incongruência ou armadilha? Alguém
está a tramar contra alguém? Será que o triunfo da Democracia, que liquidou o conflito Leste-Oeste, se
articula com o triunfo do neoliberalismo de que resultará o agravamento do conflito Norte-Sul? Será que
estes dois triunfos conjuntos vão criar novos conflitos Norte-Sul tanto dentro do Norte como dentro do Sul?
36 Como vamos analisar as sociedades que são o Sul do Norte (por exemplo Portugal) ou o Norte do Sul (por
exemplo o Brasil).

5. A quinta e última perplexidade pode formular-se do seguinte modo: a intensificação da interdependência


transnacional e das interações globais, já referida, faz com que as relações sociais pareçam hoje cada vez
mais desterritorializadas, ultrapassando as fronteiras até agora policiadas pelos costumes, pelo Nacionalismo,
pela língua, pela ideologia e, muitas vezes por tudo isso ao mesmo tempo. Contudo, e aparentemente em
contradição com esta tendência, assiste-se a um desabrochar de novas identidades regionais e locais
alicerçadas numa revalorização do direito às raizes (em contrapartida com o direito à escolha). Este localismo,
simultaneamente novo e antigo, outrora considerado pré-moderno e hoje em dia reclassificado como pós-
moderno, é com freqüência adotado por grupos de indivíduos “translocalizados” (Sihks em Londres,
fundamentalistas islâmicos em Paris), não podendo por isso ser explicado por um genius loci, isto é, por um
sentido de lugar específico. Contudo, assenta sempre na idéia de território, seja ele imaginário ou simbólico
real ou hiper-real. Semelhantemente o aumento da mobilidade transnacional inclui fenômenos muito diferentes
e contraditórios: por um lado, a mobilidade, seja ele ou ela o executivo de uma grande multinacional, o
cientista entre congressos, ou o turista: por outro a mobilidade de quem sofre esses processos, seja ele ou ela
o refugiado, o emigrante, o índio ou o nativo deslocado do seu território ancestral. Acresce que a mobilidade
transnacional e a aculturação global de uns grupos sociais parece correr de par com o aprisionamento e a
fixação de outros grupos sociais. Os camponeses da Bolívia e da Colômbia contribuem, ao cultivar a coca,
para o desenvolvimento da cultural transnacional da droga e dos modos de vida desterritorializados que
Ihes são próprios, mas eles, camponeses, estão presos, talvez mais do que nunca, aos seus lugares de nascimento
e de trabalho.

Será que esta dialética de territorialização/desterritorialização faz esquecer as velhas opressões? E será
que a velha opressão de classe e – de que a Sociologia internacional corre o risco de se esquecer
prematuramente – porque transnacionalizável faz esquecer, ela própria, a presença ou até o agravamento de
velhas e novas opressões locais, de origem sexual, racial ou étnica?

O exercício das nossas perplexidades é fundamental para identificar os desafios que merecem a pena ser
respondidos. Afinal todas as perplexidades e desafios resumem-se num só: em condições de aceleração da
História, como a que hoje vivemos, é possível pôr a realidade no seu lugar sem correr o risco de criar
conceitos e teorias fora do lugar?

TEXTO 2

AQUI NÃO É A SUÍÇA


Marcelo Averbug
O Globo 08/09/94

No Brasil, ao se atravessar numa rua de mão única é sempre bom, por precaução, olhar antes para a
contramão. O desrespeito às mais elementares regras de trânsito é apenas um dos aspectos de um fenômeno
mais amplo: o desprezo generalizado por leis, regulamentos e códigos. Quem é disciplinado corre o risco de
ser atropelado no trânsito, no trabalho, na política e até nas relações sociais.

Enquanto nos chamados países do Primeiro Mundo a afronta aos preceitos de integração harmônica à
sociedade é privilégio das minorias delinqüentes; no Brasil é encarada como normal, faz parte do cotidiano
e é praticada por qualquer cidadão definido como honesto e pacífico, inclusive doces mães de família. Não
estou me referindo, é claro, ao banditismo e à criminalidade.

Um fato aparentemente insignificante retrata com nitidez essa insubordinação endêmica: freqüentadores
do calçadão de Copacabana, Ipanema e Leblon reclamavam, com razão, dos ciclistas que por lá circulavam
atrapalhando a tranqüilidade de suas caminhadas. Resolveu então a Prefeitura construir ciclovias ao longo
dessas praias, pois bem, agora são os pedestres que insistem em andar na pista destinada às bicicletas! E, e
evidentemente, inúmeros ciclistas continuam pedalando na calçada.

Além de anarquizar a convivência humana, sobretudo nas áreas urbanas, esse gênero de desobediência
gera efeitos econômicos negativos:
1. Certas medidas de política econômica não produzem os resultados esperados, pois são sabotadas;
37
2. Parte da atividade produtiva do país não serve para aumentar a disponibilidade de bens, mas sim
apenas para repor aqueles destruídos prematuramente como conseqüência de atos ilegais;

3. Matéria-prima, mão-de-obra e capital são desperdiçados ao longo do processo produtivo devido ao


pouco caso para com normas referentes ao seu uso, inclusive as de segurança;

4. Em conseqüência do afinco com que os brasileiros se dedicam a burlar o fisco, o montante arrecadado
em impostos é inferior ao que deveria ser,

“O brasileiro se conforma com a idéia de que não nos incluímos entre os povos civilizados”;

5. Qualidade e quantidade dos serviços prestados pelos setores público e privado se encontram muito
abaixo dos padrões corretos, pois há desleixo no desempenho de funções e os direitos do consumidor são
ignorados;

6. Para não me estender mais, concluo com o mais sinistro dos efeitos’, o custo em vidas humanas.

Esse comportamento está de tal forma enraizado na mentalidade nacional, que o brasileiro se conforma
com a idéia de que não nos incluímos nos povos civilizados. Tenho um exemplo verídico que reflete bem esta
realidade. Um amigo meu vinha dirigindo calmamente, um dia desses, uma senhora, em outro carro, cometeu
perigosa infração. Ao reclamar com a motorista infratora, esta vociferou a seguinte resposta: “Não amola,
seu bolha, aqui não é a Suíça.” Essa frase singela constitui um símbolo fiel do que o brasileiro pensa de si
próprio, e serve como motivo de reflexão para os que não se conformam com tal situação. Demonstra,
também, o quanto será difícil alcançar mudanças.

Exatamente por serem difíceis e não sensibilizarem eleitores, metas neste sentido são ignoradas pelos
candidatos a postos eletivos. Talvez até porque eles próprios encarem com naturalidade esse traço da
personalidade nacional, não o considerando problema relevante. Na verdade, tentar tal reforma de
mentalidade é mais complicado do que executar a reforma agrária.

É fácil avaliar o impacto sobre a Nação de algum processo no grau de respeito às normas de convivência
social. O gesto revolucionário de levar a sério o arcabouço legal seria repercussão positiva sobre a taxa de
crescimento do PIB e qualidade de vida da população, transformando a fisionomia nacional. Mesmo sem
criar nenhuma nova lei, bastaria cumprir as existentes e já estaríamos caminhando para o paraíso.

Se Fernando Henrique Cardoso e Lula desejam realmente promover mudanças profundas no país, necessitam
incluir em seus programas ações destinadas a conscientizar o brasileiro em relação a essa questão, deflagrando
um processo que exigirá longo período para apresentar resultados. E, assim, quem sabe, algum dia o Brasil
será igual à Suíça.

2- Responda de acordo com o conteúdo do instrucional.

2.1-Conceitue socialização, comunidade e sociedade;


2.2-Caracterize as instituições sociais estudadas;
2.3- Exemplifique interação social e controle social.
38
UNIDADE III

PROCESSOS SOCIAIS BÁSICOS


A vida social é uma teia infinitamente complexa de ação social que estão na base de todas as demais. Não
ações humanas recíprocas, de processos de interação surpreende saber que os sociólogos estejam em ligeiro
que se fundem num único processo total. Desse desacordo quanto ao destaque que convenha dar,
emaranhado, só por meio da análise intelectual podem nesse sentido, a uns fenômenos sociais ou a outros.
ser apartados processos individuais, limitados quer Optamos pela dicotomia básica de competição e
pela restrição do estudo à interação entre cooperação, isto é, dos processos pelos quais se
determinadas pessoas, quer pela focalização de certo distanciam e se aproximam socialmente, em função dos
tipo de ação humana. Quando se fala em “processos seus interesses, opondo-se uns aos outros ou
sociais fundamentais” tem-se em mira esta segunda conjugando os seus esforços.
maneira de proceder, admitindo que há categorias de

3.1 - Competição e Rivalidade


A competição é fenômeno fundamental; ocorre de suas forças. Pode-se falar, neste caso, de
maneira generalizada na vida orgânica e assume concorrência: luta-se, mas sem hostilidade.
aspectos peculiares na vida humana, dando, em
circunstâncias especiais, origem à concorrência, à c) Muitas vezes, porém, os competidores não se
rivalidade e ao conflito. limitam ao esforço de superarem uns aos outros,
passando a, pelo menos, embaraçarem-se: eis a
a) Quando são escassos os meios de satisfazer rivalidade. Conquanto seja discutível se a
necessidades ou desejos, os homens, usualmente, “concorrência” é sempre um fenômeno social – desde
competem por eles, do mesmo modo como as árvores que não haja interação –, a rivalidade certamente o é.
competem pelo solo e pela luz. Cada qual esforça-se Não se trata mais, apenas, de chegar primeiro, de
para chegar primeiro e se apossar do melhor quinhão vender mais, de conseguir o emprego, mas de
ou do único objeto disponível. Esse processo assume “vencer” um determinado competidor. Este tornou-
aspectos sociais à medida que os competidores não se pelo menos, alvo secundário da ação.
apenas têm consciência, uns da existência dos
esforços dos outros, mas orientam os seus, levando d) A luta pode apossar-se de tal modo do espírito
em conta os demais. dos competidores que, enquanto ela durar, se
esquecerão do alvo verdadeiro ou o colocarão em
b) A competição consciente pode produzir nada mais segundo plano, como algo mais remoto, enquanto se
que a intensificação do empenho de cada um. Assim, dedicam totalmente ao objetivo imediato de “vencer”.
os corredores esportivos, os comerciantes desejosos Com isso, passa-se da competição para outro
de vender mercadoria idêntica, os participantes de um fenômeno fundamental de natureza diferente: o
concurso público são estimulados pela presença dos conflito.
demais para o desempenho mais eficiente de todas as

3.2 - Conflito e Acomodação

Conflito

Denominamos conflito o processo em que duas ou procurando para tanto superar as suas resistências”
mais pessoas ou grupos tentam ativamente frustrar (1970:62).
os propósitos uns dos outros e impedir a satisfação
de seus interesses, chegando inclusive a lesar ou Enquanto o processo de competição é inconsciente
destruir o adversário. e impessoal, no conflito tais características
desaparecem para dar lugar a uma atitude
Karl Mannhein define a luta como “uma relação social conscientemente hostil em relação ao inimigo ou rival,
na qual desejamos obrigar, pela força, a outra pessoa devidamente identificados.
ou grupo que atue segundo nossa vontade,
São inúmeras as classificações que têm sido constituir-se numa condição de sobrevivência de
sugeridas para o conflito. Partindo de critérios ligados indivíduos ou espécies obrigados a viver em 39
à natureza dos grupos envolvidos, temos a revolução, contextos que não mais coincidem com o original. A
a guerra e o duelo. história natural cita-nos um sem-número de exemplos
de espécies animais e vegetais que existiram há
Segundo a forma de manifestação, o conflito pode milhões de anos atrás e desapareceram pela falta de
ser aberto ou fechado. É aberto quando as formas de condições de adaptar-se a novas circunstâncias. Ao
luta e os motivos estão convenientemente expressos mesmo tempo, sabe-se que muitos animais, hoje
para ambas as partes e para o restante da sociedade. reduzidos em tamanho, parcial ou inteiramente
É fechado quando as formas de luta estão disfarçadas domesticados, foram outrora temíveis feras de
sob outros processos e podem até ser ignorados pelo grandes proporções, semeando o terror no meio em
grupo. Exemplo do segundo, no plano das nações, é que viviam. Eles encontraram ou forjaram condições
a chamada “guerra fria”, a 5ª Coluna, a espionagem, e, de adaptação tais que lhes permitiram vencer os
no plano privado, uma disputa em família que não desafios de uma natureza hostil e que, de outro modo,
chega a ultrapassar os limites desta (a necessidade tê-los-ia destruído se a acomodação não tivesse
de manter as aparências perante os grupos de fora, ocorrido.
muitas vezes, pode fazer com que um conflito não se
revele em toda a sua plenitude). Na sociedade humana, ocorre coisa semelhante,
embora não idêntica, similarmente exige-se dos
Segundo os motivos predominantes que dão origem indivíduos e dos grupos que se adaptem
ao conflito, ele pode ser classificado de religioso, constantemente a novas condições de vida. Desde o
econômico, político, ideológico, racial, etc. Falamos nascimento até a morte somos levados a ajustar-nos
em motivos predominantes porque dificilmente os a condições que nos são impostas, quer do meio
conflitos que envolvem grupos mais ou menos natural quer do meio social. Os inadaptados tendem a
numerosos podem ser atribuídos a uma única causa. ser eliminados no próprio processo, sobrevivendo
aqueles cuja estrutura psicofísica está melhor
Trata-se, em geral, de um complexo de fatores de preparada para a luta.
natureza diversa ou semelhante em que é possível,
contudo, vislumbrar um fator que desencadeia o A acomodação social pode processar-se em
conflito e pode até, eventualmente, encobrir outras quaisquer dos campos das relações humanas, como
motivações. o ecológico, o econômico, o religioso, o político, etc.

Os conflitos podem, ainda, ser organizados ou É um processo transitório a que somos levados pelo
desorganizados, conforme se pautem ou não por próprio dinamismo da vida social, bem como pelas
normas e leis conhecidas e aceitas por ambas as partes. diferenças naturais ou sociais existentes entre os
Exemplo de luta desorganizada é um conflito de rua, indivíduos e entre os grupos. Alterna-se com outras
ou uma briga entre dois bandos de garotos. formas de interação, principalmente com o conflito,
do qual a acomodação muitas vezes decorre quase,
Podem ser ainda transitórios ou duradouros, ao poderíamos dizer, espontaneamente, como condição
contrário da competição que tem, em geral, caráter mesma de sobrevivência das partes em litígio, seja no
permanente. O desgaste físico e emocional, inerente plano físico, seja no social.
ao conflito, faz com que ele se destine, pela sua própria
natureza, a ter uma duração limitada. Tende a se A educação da criança, por exemplo, é um processo
resolver pela vitória de uma das partes, pela destruição em que se alternam constantemente fases de
de ambas ou pela acomodação, que é outro processo cooperação, de competição, de conflito e de
social básico. acomodação, cada uma delas atendendo a
peculiaridades da relação criança-meio social.
Acomodação
É interessante, ainda, acentuarmos que a
acomodação não implica modificação da estrutura
Define-se acomodação como um processo social,
psíquica ou das atitudes do indivíduo. Ela se passa
consciente ou inconsciente, que consiste em alterar
no plano do comportamento externo, quase do mesmo
as relações funcionais entre pessoas e grupos, a fim
modo como uma planta posta em uma sala escura
de evitar reduzir ou eliminar conflitos e favorecer o
tende a orientar suas folhas para o foco de luz, ou
ajustamento recíproco.
como alguns animais, que se fingem de mortos quando
sentem a aproximação do perigo. Apenas nestes
É um processo de grande significação, tanto na vida
exemplos, a adaptação faz-se a partir de mecanismos
dos grupos, como nas relações interindividuais. Na
inconscientes, instintivos, enquanto nos homens a
natureza, corresponde à adaptação e chega a
acomodação tende a ser fruto da razão, da necessidade nenhum grupo ou instituição social. A História registra
40 que sentem de conviver com os outros homens em um casos isolados de indivíduos que viveram em conflito
clima de relativa harmonia. permanente com seus contemporâneos e com as
instituições de sua sociedade. Trata-se de casos
O processo de acomodação tem profundas extremos de inadaptação social, muitas vezes ligados
implicações psicológicas e morais, pelo fato de não a uma mentalidade avançada demais para os costumes
ser um ato irracional, tal como ocorre entre os animais. e a cultura de sua época e que tendem, por isso mesmo,
Na sociedade humana, é fundamentalmente um ato de a serem vistos como visionários, maníacos,
razão, poderíamos dizer um projeto, que está perseguidos ou ignorados, conforme sua ação ponha
dimensionado pelas convenções sociais que nos vão ou não em perigo as instituições vigentes.
dizer a que, quando e como é conveniente nos
acomodarmos. Aqueles que não se enquadram nessas A criminologia, por outro lado, também nos descreve
limitações estão condenados à insatisfação, ao casos típicos de marginais da lei que, desde a infância,
desajuste, às sanções sociais e até, em casos extremos, viveram em conflito permanente com os costumes e as
à marginalização completa. convenções sociais. Punições, violências, isolamento,
nada consegue fazer deles indivíduos socialmente
Há indivíduos para os quais muitas formas de ajustados. Raramente chegam à velhice, sucumbindo
acomodação voluntária são difíceis, quase impossíveis. precocemente, vítimas da própria resistência à
Na realidade, nenhum ser humano sobreviveria em acomodação.
sociedade, se não fosse capaz de responder aos
desafios sociais, com algum tipo de acomodação. O Esses exemplos devem servir para nos mostrar que
inadaptado às pressões religiosas e políticas pode os mecanismos formais ou informais de controle social
muito bem adaptar-se à vida em família, aos funcionam justamente no sentido de nos levar à
companheiros de trabalho, aos amigos; aquele que não acomodação no grupo, à aceitação das regras do jogo
se acomoda às exigências de uma vida familiar social, tal como nos são apresentadas ao ingressarmos
responsável pode ser o mais disciplinado membro de na vida coletiva. Caso contrário, toda a máquina
uma seita política clandestina, e assim por diante. O coercitiva volta-se contra nós, tentando processar o
que é difícil é encontrar um indivíduo que, ao longo de nosso enquadramento ou, quando tal não é possível,
sua vida, não encontre condições de acomodação em forçando-nos ao isolamento.

3.3 - Cooperação e Assimilação

Cooperação

Conceituamos cooperação como uma ação coletiva, Em todo o processo de cooperação, existem sempre
integrada, com vistas a um fim comum. A cooperação presentes fatores compulsivos, mais ou menos
parece ter suas raízes não numa suposta “natureza evidentes. Essa coerção, disfarçada ou ostensiva, se
associativa” do homem, mas nas suas limitações, na origina no grupo e parece ser uma condição da própria
sua desvalia enquanto individualidade, frente aos eficácia da cooperação, a qual sem ela tenderia a
obstáculos que lhe são postos pelo meio natural e degenerar-se e a perder sua funcionalidade. Não raro
pelos outros homens. Prova deste caráter o caráter compulsivo desse comportamento
“predominantemente egoísta” das motivações sociais cooperativo está tão eficazmente incorporado à nossa
do homem seria o fato de que a cooperação tende a conduta social que nos parece espontâneo, natural,
acentuar-se nos momentos de dificuldades e a diluir- fruto maduro de um instinto cooperador, comum a toda
se, até mesmo a desaparecer, nos momentos de maior espécie humana. Na realidade, sua manifestação não é
estabilidade social e econômica, bem como nos mais que uma bem sucedida ação educativa do grupo,
momentos de pânico total, sob a iminência de grandes orientada com o fim de estimular, em certos indivíduos
catástrofes. Esses tipos de comportamento, que podem e em algumas profissões, o sentimento de ajuda ao
ser observados com freqüência em casos concretos, próximo, de renúncia dos próprios interesses, em favor
mostram que a cooperação não está determinada a do interesse alheio, como é o caso dos bombeiros,
priori, não é instintiva nem natural, mas é produto da dos salva-vidas, dos padioleiros, entre outros. Nesse
razão humana e visa criar melhores condições de caso, os grupos desenvolvem mecanismos de controle
sobrevivência e de convivência para os grupamentos social que têm por objetivo expressar a aprovação e o
humanos. reconhecimento coletivo e reforçar, nas novas
gerações, o apreço e a admiração pelos indivíduos
que são capazes de adotar tais comportamentos. Esses
estímulos tendem a ser mais intensos em períodos
no meio rural, valoriza-se tanto a solidariedade, a
críticos como guerras, convulsões sociais, grandes 41
simpatia, a cordialidade no trato. Enquanto isso, na
catástrofes etc., quando a cooperação é particularmente
cidade, na medida em que a própria sociedade
importante, como fator de garantia da sobrevivência
desenvolveu eficientes modos de assistência à
do grupo, como um todo.
população, tende a se criar nos indivíduos uma atitude
de descompromisso com relação à coletividade. Aqui
Exemplo de cooperação no qual um elevado grau de
temos certeza de que um indivíduo necessitado será
espontaneidade está presente, quase nos fazendo
socorrido e ajudado independentemente de nosso
duvidar da existência de fatores coercitivos, é o do
auxílio e, nós também, se tivermos tais necessidades,
mutirão (ou muxirão). Essa forma de trabalho
podemos recorrer às instituições existentes, resultando
associativo, muito encontrada no interior do Brasil,
daí o desenvolvimento de uma atitude mais egoísta,
consiste na junção dos esforços de toda a comunidade
do não-envolvimento em situações alheias aos nossos
com o fim de realizar uma tarefa que interessa
interesses específicos.
particularmente a um indivíduo ou a uma família
(construção de um paiol, tapamento de uma casa,
Não é recente, entre os pensadores sociais, a
plantio, colheita, etc.) e que deve ser feita em curto
preocupação em explicar as transformações que o
prazo. Poderia parecer que o elemento coerção está
processo de urbanização determina no comportamento
ausente de um auxílio aparentemente espontâneo como
coletivo. Ibh Khaldun, grande pensador árabe que
é o mutirão. Entretanto, a coercitividade existe, embora
viveu no século XlV, já tivera sua atenção voltada
não formalizada em sanções ostensivas, na medida em
para esta questão. H. Becker, em A História do
que o indivíduo presta seu auxílio esperando que, ao
Pensamento Social, assim se refere às reflexões desse
chegar a sua vez de precisar do grupo, poder contar
que é considerado o precursor da Sociologia no mundo
com este. O costume ainda criou um outro fator de
muçulmano:
atração que são as festas oferecias pelo beneficiado a
todos aqueles que o ajudaram. Nesses casos, a pressão
Questões como a função religiosa na coesão social,
invisível e imponderável do costume e da tradição pode
a migração rural urbana, os movimentos de população
ter uma eficácia muito maior do que a mais rígida das
(demografia) já ocupavam o centro das reflexões de
leis oficiais.
Khaldun muito antes de se criar a Sociologia Urbana
como disciplina autônoma.
Mas, como dizíamos acima, a cooperação é um
processo que está presente quando se trata de
A vida na cidade faz com que a solidariedade que
compensar as nossas deficiências individuais ou
une os pequenos grupos – o corporativismo – tome a
coletivas, tendendo a desaparecer quando indivíduos
forma de uma espécie de associacionismo secular que
e grupos atingem condições de auto-suficiência que
se manifesta ostensivamente no desenvolvimento de
lhes vão permitir dispensar a ajuda alheia, ou quando
facções e grupos políticos que podem dar lugar a uma
a situação é de tal modo aflitiva que o instinto de
sociedade conspiradora, onde os laços de sangue e
sobrevivência se opõe a qualquer solução de tipo
os vínculos de parentesco tendem, naturalmente, a
racional. É do conhecimento geral que, por ocasião de
reduzir sua importância.
pânicos generalizados, o número de indivíduos que
são sacrificados pela massa em movimento é sempre
Esse problema de ausência de sentimento afetivo e
consideravelmente maior do que o de vítimas da causa
de solidariedade humana, nos grandes centros urbanos
original do pânico (incêndio, desabamentos, etc.).
nos nossos dias, é, aliás, um dos aspectos mais
Nestes momentos, o espírito de cooperação desaparece
chocantes da chamada sociedade de massas, na qual
para dar lugar ao “salve-se quem puder” e o
a convivência social tende a assumir um caráter
comportamento considerado heróico é sempre o do
meramente formal, com prejuízo de sentido afetivo,
indivíduo capaz de superar seus instintos para pensar
emocional, que caracteriza a verdadeira integração.
e agir em benefício do grupo.

Assim, a cooperação está ligada a um certo grau de Assimilação


necessidades que não pode ser tão intenso e dramático
a ponto de suscitar formas extremas de comportamento Quando, no processo de ajustamento ao meio, as
egoísta. Igualmente, não pode ser tão reduzido que camadas mais profundas da personalidade são
possa prescindir da ajuda dos outros. afetadas e ocorrem alterações substanciais no nosso
modo de pensar e de agir, estamos vivendo não mais
No meio rural, por exemplo, a cooperação é mais no campo da acomodação, mas ingressando numa
constante que na cidade, visto que ainda não se nova área de relacionamento, que é a assimilação. Esta
desenvolveram os mecanismos de assistência oficial e pode ser definida como o processo pelo qual indivíduos
pública que possam levar a uma atitude indiferente ou grupos, originariamente diferentes, fundem-se em
quanto às necessidades alheias de ajuda; por isso que, uma unidade homogênea. A etimologia da palavra já
nos traz a idéia de semelhança, similitude. A No campo das migrações, o estudo da assimilação
42 assimilação consiste, em última análise, não tanto em tem fornecido subsídios para se entender de que modo
eliminar as diferenças, mas em dar ênfase às se pode ajudar, com os recursos da ciência social, a
semelhanças, identificando-se as partes, em função integração dos grupos imigrantes à nova sociedade.
de seus pontos comuns. Na assimilação, pode-se dizer É sabido que todo o processo migratório que envolve
que há substituição de um traço cultural por outro, ou grupos de nacionalidades distintas apresenta-se, em
mesmo de uma cultura por outra, pois, na realidade, sua primeira fase, sob a forma predominante de
esse processo implica em profundas modificações na conflito, ainda mais se estas distinções estendem-se
atitude e no comportamento dos indivíduos. também ao campo étnico e religioso. Tanto o grupo
Modificações essas que são definitivas, isto é, as imigrante, nesse caso, quanto o grupo nativo, vão
partes que se transformaram não voltam a ser o que tentar impor, um ao outro, seus respectivos padrões
eram anteriormente, ao contrário do que acontece na culturais. Após esse período inicial de desajuste,
acomodação, na qual a qualquer momento pode haver ambos tendem a ingressar em uma fase de
um retorno à situação anterior. acomodação, em que as respectivas atitudes
continuarão sendo de hostilidade, mas já existindo de
No processo educativo, é muito fácil perceber, na permeio a compreensão mais ou menos consciente da
prática, tal distinção se, ao ver-se longe dos pais ou necessidade de ajustamento recíproco. Nessa fase, a
professores, a criança altera de modo patente sua convivência se processa com um mínimo de conflito e
conduta. Podemos dizer que ela apenas se acomoda já há uma aceitação passiva dos respectivos modos
às exigências dos adultos, seja por temor ao castigo, de agir e de pensar finalmente – e isso quase sempre
seja por desejar a aprovação destes; mas quando se ocorre quando a primeira geração de imigrantes deu
comporta dentro dos padrões estabelecidos, em lugar a seus filhos na sociedade acolhedora –, a
qualquer circunstância, criando quase que uma assimilação revela-se pela modificação substancial,
segunda natureza, com transformação efetiva de seu íntima, não só na conduta como na própria atitude e
modo de pensar e de agir, aí, nesse caso, podemos mentalidade dos indivíduos que constituem os dois
dizer que a criança realmente “assimilou” os grupos. Isto é, as partes originariamente antagônicas
ensinamentos do grupo. fundiram-se, por assim dizer, e novas formas culturais
vieram substituir as antigas, pois é uma característica
Também em relação ao fenômeno religioso, a História da assimilação o intercâmbio de influências.
aponta-nos exemplos que nos permitem bem distinguir
os processos de assimilação e de acomodação. A esta altura de seu processo de interação, tanto os
Quando as primeiras levas de escravos africanos imigrantes quanto os naturais do país, viram alteradas
chegaram ao Brasil, começou, simultaneamente, o suas respectivas culturas: novos traços surgiram e se
trabalho dos missionários para convertê-los ao impuseram a ambos, como decorrência da convivência
cristianismo, mas os negros eram possuidores de não mais em termos conflitantes, mas de acomodação
religião milenar, cujos conteúdo e ritual diferiam e assimilação.
substancialmente do novo credo. A situação de
subordinação em que se encontravam não lhes As ciências sociais podem fornecer a esse processo
permitia, entretanto, oporem-se à catequese, ao mesmo de mútuo ajustamento um precioso auxílio, facilitando
tempo, que não podiam abrir espontaneamente mão os contatos, ensinando como podem ser evitados os
de todo o seu passado religioso. Começou, então, a conflitos mais ásperos, oferecendo à ação política
operar-se um processo de acomodação, no qual as muitos subsídios no sentido de esclarecer, pelo
novas crenças eram aparentemente aceitas, mas seus processo educativo e pela propaganda, quais os
velhos ídolos continuavam a ser adorados sob a figura melhores meios de se atingir rapidamente e com o
dos santos católicos e seu ritual continuou vivo, mínimo de malefícios possível, o ajustamento dos
embora disfarçado sob formas cristãs. grupos imigrantes à nova sociedade.

À medida que o tempo passava, as novas gerações O exemplo da imigração japonesa no Brasil retrata
de escravos, cuja resistência ao cristianismo já não bem todas as fases do processo social que acabamos
era tão sólida, foram fundindo as crenças e ritos de descrever. Desde os conflitos iniciais, não apenas
herdados dos primeiros escravos, com os dogmas e o entre os grupos, mas, principalmente, intragrupos (na
ritual católico, dando à religião do Brasil, medida em que os japoneses mais radicais pretendiam
principalmente nas regiões onde a importação de continuar atados cultural e politicamente à pátria de
escravos foi maior, um caráter muito particular, que só origem), até a assimilação que atualmente podemos
pode ser suficientemente entendido se levarmos em testemunhar e cuja prova mais evidente é a presença
conta os fatores históricos e culturais a que acabamos numerosa nos estados de migração nipônica, do
de nos referir. É o fenômeno conhecido como “nissei”, isto é, do filho de pais japoneses nascido no
sincretismo religioso. Brasil ou mesmo filho de japonês com brasileira ou
vice-versa.
Aliás, em todo o mundo, a assimilação sempre tem casamento e nas ligações intersexuais, em geral.
encontrado um poderoso elemento catalisador no 43

Exercícios

Chegou a hora de você refletir um pouco sobre o que estudou nesta unidade.

1- Analise o texto abaixo e responda: Qual o papel da escola na sociedade atual?

DEBAIXO DAS RODAS

Hermann Hesse
Muitos que hoje são cidadãos respeitados por suas atividades construtivas ter-se-iam tornado, sem os
esforços da escola, meros inovadores impetuosos, desregrados, estéreis, sonhando com obras que jamais
poderiam realizar sem a escola, haveria sempre neles algo de selvagem, inculto, perverso, disposto a atear
um incêndio, mas sem saber como extingui-lo. O homem, tal como a natureza o cria, é algo imprevisto, opaco,
perigoso. É o rio que irrompe caudaloso, do seio de uma montanha e, se não lhe for traçado um curso, se não
lhe impuserem represas, alagará campos férteis, destruirá casas e vidas, acabará se perdendo, cego e
extenuado, antes de atingir o mar. É a floresta virgem que tem de ser clareada e limpa, a quem tem de ser
traçados limites para que não invada as terras de cultivo e abertos caminhos para que quem a penetre não
se perca na desordem, nos charcos traiçoeiros e na crescente podridão. Assim é a escola, tem de quebrar,
vencer, subjugar e restringir as cegas energias do homem natural; é seu dever convertê-la em membro útil da
sociedade, segundo os princípios consagrados pelas autoridades, e despertar no jovem a seu cuidado as
qualidades cívicas cuja instrução é coroada pela disciplina da caserna.

2- Dos processos sociais básicos estudados escolha um e explique.


44
UNIDADE IV

VALORES SOCIAIS E O INDIVÍDUO

4.1
4.1- Atitudes, Interesses e Valores

a) A motivação do indivíduo aparece no mundo social b) Tendo atitude em relação a um objeto, a pessoa
quando se fixa em determinado objeto ou numa atribui-lhe valor, que como a atitude, pode ser positivo
categoria de objetos. Fala-se, então, da atitude de uma ou negativo. Os objetos das atitudes hostis são
pessoa em relação a esse objeto, ou seja, da sua portadores de valor negativo e os de atitudes
disposição interior para agir em relação a ele, de certa favoráveis, de valor positivo.
maneira. O desejo de possuir dispõe a pessoa para se
esforçar (isolada, competitiva ou cooperativamente) c) Interesse é a relação existente entre um objeto
pela obtenção de alimento, dinheiro ou afeto; o amor valorizado e a pessoa que, para com ele tenha atitude.
impele para o estabelecimento de relações íntimas; a O interesse está entre a pessoa e o objeto; não
repulsa indispõe contra as pessoas ou objetos, enfim, pertence diretamente nem a um nem a outro, é algo
desagradáveis. Pode-se falar então, em atitudes puramente abstrato.
positivas e negativas. As atitudes são indefinidamente
variáveis, tanto quanto o são as pessoas e os objetos.

4.2 - Atitudes, Interesses e Valores Sociais

a) Toda vida mental se processa em função da sociais ou não, no que concerne à sua tendência a
sociedade em que está inserida e, naturalmente, a promover a associação das pessoas. Podemos dizer
formação de atitudes resulta, em última análise, também que interesses convergentes podem dar origem a
da reelaboração de padrões sociais. Nesse sentido interesses comuns (ação conjugada organizada) e os
toda atitude é social. A atitude é social ainda num interesses paralelos poderão transformar-se em
sentido especial: é uma disposição específica para agir competitivos e contrários à associação.
de maneira bastante definida em relação a um objeto
ou a uma categoria de objetos, caracterizados por um c) Valores sociais são aqueles para os quais se voltam
estereótipo social, é padrão usual numa determinada interesses convergentes ou comuns.
sociedade.
Todos os grupos sociais e todas as sociedades são
b) Os interesses são sociais no mesmo sentido em voltadas para os valores sociais, mais numerosos ou
que o são as atitudes de que decorrem, mas ainda, menos considerados, muito importantes ou pouco,
numa outra perspectiva, podem ser considerados quando comparados entre si e aos valores individuais.

4.3 - Desejos Fundamentais do Homem

a) A motivação humana é complexa. O sociólogo b) Estes quatro tipos de desejos seriam


americano W. I. Thomas faz um esquema sobre independentes um do outro e a satisfação de um
motivação humana, destacando quatro tipos deixaria insatisfeitos os demais. Eles motivariam todas
fundamentais de desejos que buscam satisfação na as pessoas, mas com intensidade diferente, sendo uma
sociedade: personalidade mais dominada por um deles, outra por
algum outro. Na interação humana, a pessoa estaria
- o de correspondência afetiva; sempre procurando manter um equilíbrio pessoal de
- o de merecer consideração; satisfações. Compreenderíamos a maior parte do
- o de segurança física e psíquica; comportamento individual se verificássemos qual dos
- o de novas experiências. quatro desejos está, em determinada situação,
impelindo precipuamente as ações. Os desejos mais
específicos poderiam ser substitutivamente satisfeitos c) Esta teoria serviu para Thomas explicar
dentro de cada uma das quatro categorias. Assim, por desajustamentos sociais de pessoas, mas ela ilumina, 45
exemplo, uma pessoa frustrada em sua necessidade também inversamente, a fonte dos interesses e a
de correspondência afetiva no grupo a que pertence função dos valores sociais como expressões de
poderia manter o seu equilíbrio mediante importantes necessidades de muitos indivíduos e como
compensação em outro grupo, mas não conquistando meios promotores de sua organização em grupos.
mais consideração ou novas experiências.

Exercícios

1- Reflita sobre a bondade e a felicidade, em seguida, responda às questões que se encontram no final dos
textos.

TEXTO 1

A QUESTÃO DA BONDADE

Leandro Konder
O Globo 20/08/94

Qual é o lugar da bondade no mundo atualmente? Que apreço merecem, de fato, as pessoas consideradas
boas?

Há indícios de que ser bom, nas condições em que vivemos não é uma das características mais altamente
apreciadas.

Em outras épocas, as criaturas que se notabilizavam pela bondade eram objeto de autêntica veneração.
Algumas foram beatificadas, mereceram o título de santos.

Hoje, os seres humanos ainda são aconselhados a ser bons, porém aprendem depressa que existem outras
qualidades mais importantes, tais como a eficiência e a competitividade.

A bondade acaba por ser vista como um mérito menor, que costuma ser alcançado por indivíduos não multo
inteligentes.

O que as pessoas entendem quando ouvem dizer de um cidadão que a sua maior qualidade consiste em ser
generoso? A impressão que elas têm é a de que se trata de um perdulário, “mão aberta”, “coração mole”; um
crédulo que se deixa facilmente explorar pelos outros. Alguém a quem falta “esperteza” Em suma, um tolo.

Mesmo quando não é considerada uma tolice, a generosidade é vista como um fator de diminuição da
eficácia. Na novela “Pátria Minha”, por exemplo, o personagem Evandro é mais simpático que o prepotente
Raul Pelegrini, porém o implacável realismo de Gilberto Braga deixa claro que é o empresário duro de
coração que consegue construir um império, enquanto o outro passa por “sentimental” e “paternalista”.

Bertold Brecht, na peça “A alma boa de Se-Tsuan”, já tinha abordado o tema. Três deuses descem à Terra em
busca de um ser humano integralmente bom e só encontram um exemplar de bondade absoluta: a suave
prostituta Chen-Tê. Dão-lhe, então, a ordem de continuar a ser boa e, ao mesmo tempo, assegurar sua
própria sobrevivência, para servir de modelo aos homens.

Chen-Tê constata que a dupla tarefa não podia ser cumprida. Se pautasse sua conduta pela generosidade,
não conseguiria sobreviver: seria destruída, reduzida à miséria pelos parasitas e necessitados que a cercavam.
Então, para preservar sua pequena empresa, a moça se disfarça e inventa um personagem, seu primo Chui-
Ta, que impõe critérios “racionais” ao funcionamento do negócio e o salva da falência. Sem ceder à “tentação
da bondade”.

No final da peça, Chen-Tê discute com os deuses e Brecht se dirige aos espectadores, dizendo-lhes que o
espetáculo não tem uma conclusão, porque cabe ao público concluir por conta própria.
Em que condições os seres humanos poderiam cultivar a bondade com a desejável desenvoltura?
46
Como poderíamos organizar a nossa vida de modo a permitir que as crianças sejam realmente boas sem
ficarem expostas à destruição por parte da avidez dos demais?

Brecht procurou uma resposta para essa pergunta e chegou a acreditar que a solução para o problema
passava por uma reorganização radical da sociedade, uma revolução do tipo daquela que Lenin tinha
liderado na Rússia.

Nas circunstâncias atuais, depois do fim da União Soviética, a opção do poeta e dramaturgo alemão se
mostra, obviamente, ultrapassada. A questão com que ele se defrontou, entretanto, continua de pé.

Basta olharmos em volta para percebemos que os valores pragmáticos e utilitários da mentalidade
calculadora e do espírito competitivo vêm se expandindo, em detrimento da importância da bondade.

Estamos nos tornando, ao que tudo indica, mais eficazes. Mas estaremos nos tornando humanamente
melhores?

TEXTO 2

O QUE É A FELICIDADE

Fernando Bastos de Ávila


O Globo 20108/94

A felicidade sempre foi o objeto supremo do homem, felicidade como uma luminosa plenitude sem ocaso.
Parece ser este o sentido de nossa história íntima, pessoal, bem como o da história profunda da Humanidade.
Duas dimensões talvez indissociáveis, como ficou ruidosamente evidente em dois momentos críticos da
História do Ocidente.

A Revolução Francesa, demolindo o Antigo Regime da Monarquia como direito divino, vinha oferecer ao
povo a felicidade garantindo a todos a liberdade, na Democracia “O máximo de felicidade para o maior
número de pessoas é o fundamento da moral e da lei”, dizia Bentham. “A felicidade é um conceito novo na
Europa”, proclamava Saint-Just.

Mas a liberdade, como penhor da felicidade, resultou num instrumento de opressão do proletariado
emergente pela Burguesia. Nunca tantos tinham sofrido tanto para o enriquecimento de tão poucos.

A Revolução de 1917, eliminando uma opressão autocrática, também oferecia felicidade, garantindo a
todos a igualdade sob a ditadura provisória do proletariado, até que o Estado se transformasse “do governo
das pessoas na mera administração das coisas”(Karl Marx). Essa idéia foi denunciada pelo filósofo Popper,
quando escreveu. “De todos os ideais políticos, o de tornar as pessoas é o mais perigoso.” (Curiosamente,
este ideal está inscrito na Constituição americana, que não há muito tempo comemorava os seus 200 anos).

A felicidade prometida como garantia da igualdade de todos resultou, como se viu, numa nova opressão
do povo pela ditadura do Partido, opressão que só com a queda do Muro de Berlim começou a revelar-se em
todas as suas dimensões.

O ideal da felicidade é apresentado hoje sob um outro signo, já sem referências doutrinárias ou ideológicas.
Ela é identificada com o que poderíamos chamar paradoxalmente de hedonismo estóico: gozar ao máximo
a vida e assumir com dignidade o sofrimento e a morte. “Coronemus nos rosis, eras enim moriemur” (coroemo-
nos de rosas, pois amanhã morreremos), dizia o poeta. Visão absolutamente imanentista da felicidade.

“A Igreja sempre se sentiu desafiada pela interrogação moderna a respeito da felicidade”.

A Igreja Católica, convencida de ser ela a portadora da Boa Nova (que é o que quer dizer Evangelho),
sempre se sentiu desafiada pela interrogação moderna a respeito da felicidade. Entendendo sempre a
felicidade como uma plenitude sem ocaso, convencida de que a aspiração humana se rebela contra a idéia
de uma felicidade confinada aos breves anos de uma vida, a Igreja tem sido fiel a mais radical originalidade
de sua mensagem: a felicidade presente, longe de excluí-Ia, prefigura a plenitude da felicidade além da 47
morte. Como escreveu o padre Henrique de Lima Vaz, “a proclamação da Boa Nova como uma fonte de
felicidade tem pouca possibilidade de ser ouvida pelo homem moderno, a menos que ele não comece a pôr em
discussão os pressupostos de uma felicidade puramente humana, radicada numa forma fechada de imanência”.

A Igreja resolveu abrir essa discussão. Depois de uma pesquisa que durou três anos, consultando pensadores
de todos os quadrantes e de todas as tendências doutrinais e ideológicas, ela promoveu em Roma (março de
1991) uma assembléia do Conselho para o Diálogo com os Não-Crentes precisamente sobre o tema “Fé
cristã e busca da felicidade”. Os resultados dessa pesquisa e da assembléia foram apresentados pelo Cardeal
Paul Poupard em seu livro “Felicidade e Fé Cristã”, agora traduzido no Brasil e publicado pelo Instituto de
Desenvolvimento Cultural.

O tema da felicidade talvez seja, hoje, o grande caminho para o diálogo com os não-crentes, diálogo franco,
fraterno, cordial. No discurso em que saudava os participantes da mencionada assembléia, João Paulo II
lembrou que 1991 coincidia com o bicentenário da morte de Mozart, e observou: “A comemoração do
bicentenário da morte de Mozart chama a nossa atenção para a mensagem de alegria traduzida por sua
obra. Nela, divisamos um sentimento de felicidade, como uma experiência simultânea de morte e ressurreição.
O diálogo que, às vezes, se torna ácido na troca de idéias, pode encontrar uma inspiração privilegiada ao
maravilhar-se diante da beleza artística, reflexo da eterna e indizível beleza de Deus.”

Que nosso diálogo não se reduza a uma “árida troca de idéias”, mas seja uma partilha sincera de nossa ânsia
pela felicidade perfeita.

2- O que é “ser feliz” para você?

3- Comente a afirmativa: “Todos os grupos sociais, todas as sociedades são voltadas para valores sociais”.
48

Se você:
1) concluiu o estudo deste guia;
2) participou dos encontros;
3) fez contato com seu tutor;
4) realizou as atividades previstas;
Então, você está preparado para as
avaliações.

Parabéns!
Glossário
49
Antropomorfismo – forma de pensamento que atribui formas ou características humanas a Deus, deuses, ou
quaisquer outros entes naturais ou sobrenaturais.

Astúcia – lábia; habilidade em enganar.

Burguesia – indivíduos que se estabeleceram nos burgos e posteriormente nas cidades medievais, onde
estes se transformaram, e se caracterizavam pelas suas atividades lucrativas e por não exercerem trabalho braçal
ou artesanal.

Coercitividade – qualidade de coercitivo; reprimir ; controlar.

Corporificação – ato ou efeito de corporificar ; reunir em um corpo; tomar corpo.

Epistemológico – relativo à epsitemologia; conjunto de conhecimentos que tem por objeto o conhecimento
científico, visando explicar seus condicionantes, sistematizar as suas relações, esclarecer os seus vínculos e
avaliar os seus resultados e aplicações.

Fenomenologia – estudo descritivo de um fenômeno ou de um conjunto de fenômenos em que estes se


definem quer por oposição às leis abstratas e fixas que o ordenam, quer por oposição às realidades de que
seriam a manifestação.

Laico ou leigo – que não é clérico ; laiciasmo – doutrina que proclama a laicidade absoluta das instituições
sociopolíticas e da cultura, ou pelo menos reclama para estas autonomia em face da religião; ensino não
religioso.

Liberalismo – conjunto de idéias e doutrinas que visam a assegurar a liberdade individual no campo da
política, da moral, da religião, etc., dentro da sociedade.

Ostracismo – afastamento imposto ou voluntário das funções políticas; exclusão; repúdio.

Positivismo – também chamada de Comtismo. Doutrina de Auguste Comte, caracterizada, sobretudo, pela
orientação antimetafísica e antiteológica que pretendia imprimir à filosofia, e por preconizar como válida
unicamente a admissão de conhecimentos baseados em fatos e dados da experiência.

Provérbio – máxima ou sentença de caráter prático e popular, comum a todo um grupo social, expressa de
forma sucinta e geralmente rica em imagens; ditado; adágio.

Racionalismo – método de observar as coisas baseado exclusivamente na razão.

Renascimento – renascença; ato ou efeito de renascer; movimento artístico e científico dos séculos XV e XVI
que pretendia ser um retorno à Antiguidade Clássica.

Sedimentação – consolidação; sedimentar; tornar estável.

Subjetividade – qualidade ou caráter de subjetivo. Domínio do que é subjetivo (relativo a sujeito).


Gabarito
50
Unidade I

1-
1.1 - A Sociologia é caracterizada como uma ciência social devido às múltiplas pesquisas sociológicas, a que
analisam aspectos precisos da vida social. Ela vem se preocupando com as regras que organizam a vida social.

1.2 - Renascimento, há uma exaltação da natureza e dos prazeres da Terra. O poder sai da mão da Igreja Católica.
Com o surgimento da burguesia, o poder não está mais centrado na legitimidade do sangue e da linhagem, e
sim na capacidade pessoal do governante e sua sabedoria.

1.3 - Ao analisar a Sociologia Clássica, temos que ressaltar Comte (pai da Sociologia) e Durkeim (grande
teórico). Também devemos ressaltar o positivismo, uma corrente que concebia a sociedade como um organismo
constituído de partes integradas e coesas que funcionam harmonicamente.
Segundo a visão da Sociologia Alemã, , os conhecimentos não são apenas vividos, mas pensados.
Marx analisa a relação trabalhador e meios de produção e diz que o homem só pode recuperar sua condição
humana através da crítica radical.
Com Gramsci, o pensador, o político prático e o intelectual fundem-se numa só unidade.
Habernas procura elucidar a relação teoria e prática numa perspectiva político-cultural, ambas integradas
numa teoria de competência comunicativa.
Essa evolução do pensamento sociológico trouxe conceitos importantes: alienação, força de trabalho, valor,
mais-valia.

1.4 - Idéias Centrais:


Texto 1: Surge, com o pensamento crítico, a sentença moral, a subjetividade.
Texto 2: Discorre sobre a investigação sociológica dos fenômenos sociais.

Unidade II

2-
2.1 -Socialização: é um processo cumulativo em que novas aquisições não apagam as anteriores, mas se
integram no sistema pessoal já existente.
Comunidade: conjunto de pessoas que encontra numa determinada área geográfica, onde convive, satisfação
de quase todas as suas necessidades sociais.
Sociedade: aproxima-se do conceito de comunidade, significa um conjunto de pessoas que convive em
determinado território.

2.2 - Família: instituição social básica na maioria dos tipos de sociedade.


Escola: agência encarregada da educação formal
Igreja: prega a salvação individual do homem na dimensão pós-morte e a crença na sobrevivência do espírito
humano.
Estado: refere-se a um agrupamento de indivíduos com cultura semelhante e antepassados comuns. Estado é
uma nação politicamente organizada.

2.3 - Interação social: é uma ação consciente, implicando não apenas em modificação de comportamento,
como também em autoconhecimento desta modificação.
Controle social: é a soma de processos de que a sociedade lança mão para obter dos indivíduos e grupos que
a constituem uma conduta enquadrada nas expectativas gerais de comportamento.

Unidade III

1 - Tornar o indivíduo uma pessoa, um cidadão.

2 - a) Competição e rivalidade.
b) Conflito e acomodação.
c) Cooperação e assimilação.
Unidade IV
51
Os comentários dos textos são subjetivos.

3 - São os valores sociais de uma sociedade que orientam as atitudes de uma pessoa em relação a um objeto.
A educação, por exemplo, aparece nas sociedades humanas com a função social de evitar a contradição existente
entre os interesses pessoais e os sociais.
Referências Bibliográficas
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