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GUARULHOS – SP
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 3
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1 INTRODUÇÃO
Prezado aluno!
Bons estudos!
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2 CURRÍCULO: CONCEITOS E ORIGEM
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Outra maneira de pensar o currículo é colocar tudo o que acontece na escola
como parte integrante de sua estrutura: assuntos, aulas, relacionamentos, situações.
A complexidade do currículo está em relacionar todas essas esferas, visto que,
quando apenas uma está em foco, perde-se a visão sistêmica do todo. Assim,
currículo é uma série de ações de diferentes agentes. De acordo com Zotti 2006), o
conceito de currículo é multifacetado e modificou-se historicamente atendendo a
realidades sociais distintas, há tempos e espaços específicos e, em consequência
disso, precisa ser compreendido no contexto social em que está inserido.
O ponto-chave para entender o currículo está na resposta a duas questões
específicas:
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sua realidade de maneira diferente e a agir de maneira a buscar uma maior qualidade
de vida para si e para a comunidade.
Segundo Galian (2016), o conhecimento capacita o ser humano a olhar para
o mundo de outro ponto de vista, diferente daquele que já tem no seu dia a dia.
Portanto, os conhecimentos oferecidos pela escola devem servir para que os
estudantes possam estranhar o mundo cotidiano, de maneira a se sentirem potentes
para investigá-lo e agir sobre ele, melhorando-o. A escola deve ensinar que o mundo
está como está porque foi organizado assim, de maneira desigual e injusta, mas que
há outras possibilidades. A naturalização do status quo social fixa a ideia de que o
mundo é assim porque não é possível ser de outra forma.
Entretanto, não é possível ensinar todos os conhecimentos na escola, seja
pela falta de tempo, de recursos ou até mesmo pelo pouco valor de determinados
assuntos para o desenvolvimento humano. Assim, sempre será preciso fazer uma
seleção de conhecimentos, uma escolha sobre o que vai compor o currículo escolar.
Galian (2016), ressalta que essa escolha não acontece pelo valor intrínseco
do conhecimento, mas pelos interesses que acompanham cada assunto. Para
determinado público, pode-se escolher conhecimentos que tendem a limitar o
horizonte de possibilidades dessas pessoas àquilo que elas já têm no dia a dia, ou
seja, vão inserir-se no trabalho mais próximo e viver no ambiente já conhecido. Para
outros, pode-se escolher um currículo com um horizonte bem mais amplo de
possibilidades, o que acontece justamente porque não vivemos em uma sociedade
justa, e isso se reflete na problematização da escolha dos currículos para cada classe
social.
As teorias críticas do currículo mostram que especialmente a escola oferecida
para aqueles menos favorecidos, que não têm outra maneira ou outro local para
adquirir esses conhecimentos, tende a ser menos rica em conhecimentos ou a
simplificar os assuntos de maneira regular. Ora, se a escola e o currículo mostrarem
apenas o que os estudantes já conhecem em seu dia a dia ou tentarem construir um
currículo que apenas os agrade, pouca transformação cognitiva poderá ser adquirida,
e os estudantes sairão da escola com um repertório muito parecido com o que já
tinham antes de entrar.
Enquanto isso, outra camada da população tem acesso a um conhecimento
diferenciado, que permite que eles olhem o mundo de outra forma e possam agir de
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outra maneira. É justamente essa dinâmica que faz com que cada indivíduo (e sua
classe social) fique onde está, permanecendo na posição em que se encontra.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação LDB 9394/96 traz explícito em seu
Título II:
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2.1 Fenômenos e elementos da construção curricular
A educação é uma atividade intencional cujo objetivo é o desenvolvimento de
determinadas habilidades e competências humanas que são apreciadas e
necessárias para a vida em sociedade. Você já pensou quais são os conhecimentos
que auxiliam a escola a concretizar sua intenção (segundo o Estado, a gestão e os
professores)?
De acordo com Zotti (2006), os estudos sobre o currículo têm seu cerne na
análise dos conflitos socioeconômicos advindos dos processos de industrialização e
urbanização dos Estados Unidos e da Inglaterra. Essas situações marcam a
necessidade de escolarização em massa das camadas menos favorecidas da
população para formar mão de obra especializada para as indústrias em ascensão
nos séculos XVIII e XIX. A mencionada obra de Bobbitt, espelha o desejo de
racionalização técnica e instrumental desejado pela economia ao propor um currículo
metodicamente organizado, medido, controlado e avaliado. No Brasil, essa cultura
curricular ficou conhecida como tecnicismo e se manteve nas décadas de 1960 e 1970
como uma renovação do pensamento escolanovista anterior.
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curriculares. É um norteador que se refere a princípios e metas, visto que se encontra
fora da realidade concreta das escolas. Entretanto, é a partir desse conjunto de
princípios que a realidade na sala de aula se concretiza.
Para ser utilizado na escola, o currículo formal deverá e será transformado em
livros didáticos e apostilas, em interpretações e adaptações que a escola faz da sua
realidade, em práticas que os professores oferecerão em sala de aula diante das reais
necessidades e expectativas de seus alunos. Por isso, o currículo precisa ser
entendido como um documento adaptável, flexível e elaborado por professores,
estudantes e governantes.
O ponto de destaque do documento formal está nas escolhas feitas para a
escola brasileira e o plano formativo da população, que explicita os conhecimentos
essenciais que deverão ser apresentados e ensinados para as novas gerações, a fim
de capacitá-las para viver em sociedade. Historicamente, os professores não fazem
parte da construção do currículo, apenas o recebem e devem segui-lo, executá-lo.
Assim, podem pensar apenas em método, não em conteúdo, de modo que não há
espaço e tempo para questionar por que se ensina o que se ensina. Para favorecer a
compreensão sobre a organização complexa que envolve o currículo, vamos utilizar a
classificação de Galian (2016), disposta na Figura 2, a seguir.
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Fonte: Adaptada de Galian (2016)
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Esse é um processo natural, visto que as escolhas de hoje podem não ser
mais imprescindíveis daqui a um ou cinco anos (por exemplo, aulas de latim, moral e
cívica, datilografia, entre outras). A conversa sobre currículo e política envolve
formação de identidade, não é neutra. Assim, embora não seja o ideal fazer escolhas,
que eliminam outras possibilidades, é essa a única maneira de elaborá-lo.
3 TIPOS DE CURRÍCULO
O conceito de imaginação é crucial aos propósitos da educação. Ele “é a
faculdade por meio da qual somos capazes de examinar as coisas como elas não são”
(Warnock, 1973, p. 113). O que isso sugere é que a experiência condensa mais do
que nós podemos ver ou prever. Lawrence Stenhouse (1975), uma vez observou que
“a educação como indução ao conhecimento é bem-sucedida na medida em que torna
os efeitos comportamentais do aluno imprevisíveis”. Stenhouse lidou com uma
situação importante sobre a teoria curricular nesse ponto. O que ele argumentou foi
que a mente educada simplesmente não chega a efeitos predeterminados, mas sim a
efeitos imprevistos porque usa conhecimento para construir um significado singular.
Esse é o desafio da educação e da imaginação humana. É uma operação
construtivista.
A aquisição de novas perspectivas requer uma imaginação e uma mente
reflexivas. Maxine Greene (19860, assumiu a posição de que as artes são as áreas
de conteúdo mais prováveis para liberar a imaginação e a capacidade e para dar livre
desenvolvimento de suas aptidões. Deve haver um engajamento autêntico e
maravilhoso da experiência estética para a imaginação se desenvolver livremente.
Maria Montessori reconheceu isso com sua teoria da educação baseada na contação
de histórias, o que incita a curiosidade e a imaginação do aluno. A arte nos chama a
atenção como sendo mais do que simplesmente objetos, conforme sugeriu Jean Paul
Sartre (1949):
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Dessa forma, Sartre vê muitas maneiras pelas quais os alunos que
experienciam as artes através do currículo podem usar a imaginação para renovar e
estender sua experiência e conhecimento. Porém, com bastante frequência, as artes
e o currículo são concebidos como um repositório ou urna da noção bancária de
currículo numa sociedade pós-industrial, servindo às necessidades da tecnologia. A
visão alternativa é permitir aos jovens alunos encontrar seus próprios valores e vozes.
Alguns poucos teóricos desenvolveram essa ideia existencial de currículo. William
Pinar (1975) escreve sobre a natureza pessoal do currículo. Mesmo que o currículo
possa ser experienciado como um encontro pessoal particular, Pinar não acredita que
o currículo possa ser planejado para os outros. Esse não é um princípio útil, pois os
currículos são, de fato, planejados para todos os alunos.
O que afirmamos aqui é que o estudo e o planejamento do currículo são
tarefas tanto do professor quanto daqueles com responsabilidade de planejar num
nível de autoridade educacional, distrital, estadual ou nacional. A criação de unidades
de ensino e aprendizagem divididas em lições diárias está na base do planejamento
curricular sólido. Um currículo não é o equivalente a um plano de ensino, o qual é uma
mera lista de tópicos, que talvez tenha levado à visão de currículo como “conteúdo” a
ser cumprido. Há pelo menos três aspectos relacionados ao currículo:
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Tipos de currículo
3. Currículo nulo. Esse é o currículo que as escolas não ensinam, mas que
talvez seja tão importante quanto o currículo formal. Eisner (2002, p. 97)
argumenta que uma dimensão importante são os processos intelectuais que
as escolas enfatizam e então negligenciam sua implementação, e a outra é a
disciplina que está ausente de um currículo formal.
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se obteve por restrita testagem e pesquisa. Para Hirst (1965), as disciplinas, têm
quatro características:
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a Sociedade Nacional para o Estudo da Educação (National Society for the Study of
Education), que viabilizou um modelo de campos amplos, abrangendo as ciências
naturais, a linguagem e os estudos literários, a arte, os estudos sociais e a matemática
para todos os discentes.
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importante, uma compreensão e uma “conscientização” deve ser o objetivo primordial
do currículo e da pedagogia. No livro Pedagogia do oprimido (Freire, 1970) é uma
referência dessa forma de ensino, professores que priorizam a emancipação e a crítica
cultural como propósitos fundamentais da educação.
Tem sido defendida a ideia de que o conhecimento seja mais como um “manto
sem costuras” – ou seja, não há limites ou compartimentos puros em termos de
disciplinas e assuntos. Que se tomarmos seriamente a noção de aprendizagem
investigativa, então o aluno romperá limites na busca por respostas. O currículo pode
ser organizado ao redor de temas como “o clima”, permitindo assim que os
professores abordem o tema conforme se encontra em literatura, matemática ou
geografia. É mais frequente encontrar tal elaboração do currículo na educação da
primeira infância.
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Elaboração curricular de processo
O Currículo Nacional
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educação pessoal, social e da saúde (EPSS); educação física; educação religiosa;
ciências.
Nas idades de 14 a 16 anos, o núcleo é: inglês, matemática, ciências, LEM,
design e tecnologia, TIC, educação física, educação religiosa e quaisquer outras
disciplinas disponíveis no quadro de pessoal de uma escola. É interessante que a
educação religiosa deva estar no currículo por lei, mas também é verdade que os
alunos podem ser eximidos dessa área se desejarem. De 16 a 18 anos, alunos
estudam três disciplinas no nível A ou avançado, preparando-se para o ingresso na
educação superior.
Nos Estados Unidos, a Constituição Federal não discute educação ou sua
provisão – isso é deixado aos estados individualmente, os quais têm a autoridade e o
poder legal para administrar a educação pública conforme acharem adequado.
Portanto, na Carolina do Norte o estado tem responsabilidade pelo currículo. Uma
listagem de conteúdo padrão detalhada em cerca de 1.649 páginas é fornecida desde
1898 e engloba as seguintes áreas: educação artística – quatro disciplinas (artes
visuais, artes dramáticas, música e dança); educação técnica para a carreira;
habilidades de informática/tecnologia; educação infantil; inglês como segunda língua;
artes dramáticas em língua inglesa; orientação educacional; viver com saúde;
habilidades de informação; matemática; ciências; línguas estrangeiras; estudos
sociais.
O surgimento do conceito de currículo nacional possui questões de igualdade,
padrões e centralização em sua base. A ideia de “Escola Comum” foi desenvolvida
nos primeiros anos da república norte-americana, de modo que as crianças de todas
as procedências recebessem uma experiência curricular comum e porque um
currículo nuclear nacional seria mais facilmente avaliado. Sistemas centralizados de
currículos permitiriam comparações, digamos, entre alunos com 13 anos em
diferentes regiões. A premissa é que maçãs não seriam comparadas com laranjas
num sistema nuclear comum.
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simples ato de levantar da cama e planejar o dia até a organização de uma trajetória
profissional de forma científica, como afirmam Menegolla e Sant’anna (2001):
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Comum Curricular (BNCC) (BRASIL, 2017), sem excluir, é claro, a liberdade criativa
e teórica que cada escola tem de acrescentar a seus próprios projetos e conteúdos
nos currículos. É uma oportunidade de caracterizar, nesse momento, a identidade da
escola, incluindo sua missão, valores e visão, seus diferenciais e a própria noção de
“para quê” servem esses conhecimentos na prática.
Para cada criação e planejamento, deve-se observar os aspectos da realidade
escolar, tanto a externa quanto a interna. A externa se refere às relações com a
comunidade de pais e responsáveis e toda comunidade escolar. Já a interna tem
relação com ordem estrutural, como infraestrutura da escola, qualificações,
quantitativo de docentes, resultados anteriores, dificuldades na gestão pedagógica,
dentre outros, para, assim, viabilizar e tornar factível a elaboração do plano conforme
as intenções da escola e a sua realidade, a fim de propiciar que se atinjam os objetivos
(LIBÂNEO, 2001).
Assim, entendido o contexto da comunidade escolar, elabora-se um
documento multidisciplinar — em seu conteúdo e em relação aos profissionais que o
escrevem —, que deve ter desdobramentos na instituição de ensino no planejamento
de cada professor para cada turma e cada disciplina.
Nesse conjunto, deve-se prezar pela objetividade, pois o processo de decisão
assemelha-se com a realidade dos alunos e dos recursos da escola; pela coerência,
que é a relação de ideias e práticas; e pela flexibilidade, isto é, ter consciência de que
o planejamento pode ser mudado e adaptado conforme os contextos e situações.
Além disso, o planejamento é dividido em algumas etapas. Para Sant’Ana (1986), a
primeira etapa consiste na preparação ou na estruturação do plano de trabalho
docente; deve-se prever como será desenvolvido o trabalho durante determinado
período, reunindo aspectos metodológicos, recursos didáticos e tecnológicos que
contribuam e efetivem o trabalho.
Após essa etapa, dá-se o desenvolvimento do plano de trabalho, momento
em que as ações previamente organizadas durante a elaboração do planejamento são
colocadas em prática. Por fim, temos o aperfeiçoamento, que envolve a verificação,
com a qual se analisa até que ponto os objetivos traçados foram alcançados,
realizando-se, também, os ajustes necessários para que a aprendizagem seja mais
funcional e objetiva (SANT’ANA, 1986). De acordo com Luckesi (2006):
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[...] o planejamento curricular é uma tarefa multidisciplinar que tem por
objetivo a organização de um sistema de relações lógicas e psicológicas
dentro de um ou vários campos de conhecimento, de tal modo que se
favoreça ao máximo o processo ensino-aprendizagem. É, dessa forma, a
previsão de todas as atividades que o educando realiza sob a orientação da
escola para atingir os fins da educação. (LUCKESI, 2006, P. 112)
Qualquer que seja o modelo que se tome como base, deve-se elaborar o plano
curricular com contexto e justificação, o que fornece a referência e a orientação do
plano, suas finalidades e objetivos. Por sua vez, esse quadro de objetivos é
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responsável por preencher a intencionalidade fundamental do plano, que é a direção
a ser tomada e os resultados que se pretende alcançar. Essa explicitação do conteúdo
do currículo se dá por meio de um roteiro de matérias ou conteúdo (NUNES, 2017).
Para sua efetiva realização, há de se ter uma organização e sequência lógica
do ensino-aprendizagem, planificada em tipos de atividades e experiências de
aprendizagem, incluindo, dessa maneira, as ações do professor e do aluno, ou seja,
os métodos, atividades, materiais e meios para o ensino, que se finaliza pela avaliação
e pelo plano de apreciação dos resultados (NUNES, 2017).
A fim de contemplar o máximo de exigências normativas, bem como ponderá-
las e equilibrá-las de acordo com cada contexto, tudo o que promover e ativar o
processo educativo deve constituir o currículo. Nesse sentido, deve-se evidenciar as
oportunidades de integração e correlação dos conhecimentos, utilizando bases de
estudo da realidade, filosóficas, psicológicas, axiológicas e legais, e meios e eventos
como sondagem, definição de objetivos, seleção das disciplinas e conteúdos, seleção
de procedimentos, seleção de recursos humanos e materiais, processos de avaliação.
Para a elaboração de um plano, é fundamental determinar claramente como
se relacionam entre si os diversos elementos e critérios (TABA, 1974), considerando
sempre que o planejamento curricular inclui:
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2) O seu desenvolvimento, isto é, a execução do plano, em que professor e aluno
são atores e alvos de atuação.
3) O seu aperfeiçoamento, que se trata da avaliação que se inicia no primeiro
momento de aplicação e geração do planejamento e perpassa todas as fases
até o atingimento dos objetivos
As etapas necessárias para um bom planejamento consistem então, em
suma: no conhecimento da realidade local, seja da escola e/ou da comunidade
escolar, na sua elaboração multidisciplinar e feita por inúmeras “mãos” e na sua
avaliação e no seu aperfeiçoamento, tendo em vista as mudanças das realidades
locais, globais e de perfis, exigindo a flexibilidade já comentada.
Tendo como referência os estudos da realidade, as bases filosóficas do
contexto escolar, bem como as psicológicas, sociológicas e legais devem relacionar-
se com os elementos do plano, que se constituem nos objetivos, conteúdos,
procedimentos, recursos e processos avaliativos. Alguns elementos que fazem parte
do planejamento são os objetivos, que vão nortear os outros elementos; os conteúdos,
que se relacionam ao “o que fazer”, à prática; a metodologia, que contém a maneira
como será realizado; os recursos didáticos e, por fim, a avaliação da aprendizagem.
Assim, podemos aferir que é a partir dos planos curriculares que é planejada, de
maneira sistemática e global, toda a ação escolar.
Dessa forma, tendo em mãos as diretrizes nacionais, bem como a análise do
contexto escolar, tem-se, também — em decorrência dos planos curriculares —, os
planos de ensino, que são os planos das disciplinas, ou seja, as proposições feitas
pela escola, pelos professores, alunos e/ou pela comunidade (PADILHA, 2001).
Dessa forma, o planejamento deve explorar os princípios norteadores pelos quais os
indivíduos se constituem, considerando o tipo de educação que é necessária para a
sua integração na sociedade e que, para Menegolla e Sant’Anna (2001), deve ter uma
abordagem racional e científica dos problemas; além de determinação dos objetivos
e dos recursos.
Libâneo (1992), nesse sentido, destaca alguns requisitos para a efetividade
do planejamento, como os objetivos e as tarefas da escola, ou seja, o papel que se
destaca para a escola na formação dos alunos; as exigências dos planos e programas
oficiais, isto é, as diretrizes oficiais; as condições prévias dos alunos para a
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aprendizagem, seu nível de preparo ou nível cognitivo; os princípios e condições do
processo de transmissão e assimilação ativa dos conteúdos.
É necessário, portanto, que o professor planeje as vivências, com foco na
ampliação das dimensões do conhecimento e do repertório utilizado, enfatizando a
experimentação e as práticas. Nessa perspectiva, para Trevisan:
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A sociedade sempre se preocupou em definir o que deveria ser ensinado de
uma geração para outra, associando esses ensinamentos com a construção da
sociedade. Assim, as classes dominantes ou que governavam determinadas regiões
impunham o pensamento que entendiam ser o mais correto ou o padrão a ser
repassado adiante. Inúmeras tendências educacionais surgiram antes do século XX,
como aquelas advindas do Iluminismo, dos ideais da Reforma Protestante e do
Renascimento. Porém, no início do século XX, surgiu a teoria do currículo, em que,
de forma sistemática, os discursos em torno do termo foram associados a
determinados sentidos específicos, estabelecendo como as instituições de ensino
deveriam desenvolver as suas atividades (SILVA, 2015).
Quando falamos em currículo, pensamos nas disciplinas das matrizes
curriculares e no conteúdo a ser ensinado. Embora o conceito de currículo —
sobretudo em uma das suas teorias, a tradicional — envolva, de fato, conteúdo, o seu
conceito vai muito além, pois envolve a produção de subjetividades e o poder exercido
por aqueles que selecionam e classificam os saberes ensinados. Logo, existem
inúmeros conceitos de currículo, conforme a teoria com que estão alinhados.
Para Moreira e Silva (2001), o currículo é um fator social e cultural. O currículo
transmite visões sociais especificas e interessadas, o currículo produz identidades
particulares e sociais. Por artefato social e cultural, pode-se compreender algo
construído pelos indivíduos a partir de suas relações e da interação com os seus pares
sociais e culturais. A escola, nesse aspecto, exerce forte contribuição para a
construção da identidade, o que demonstra como as discussões em torno do currículo
escolar são pertinentes. De acordo com Silva (2015), uma teoria do currículo
geralmente considera alguns pontos:
➢ Conhecimentos a serem ensinados - saber
➢ Tipo de ser humano desejável - identidade
➢ Poder.
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relações de poder envolvidas entre quem decide o que precisa ou não ser ensinado e
o modelo de pessoas ideais formadas a partir do ensino escolar.
As teorias tradicionais do currículo ganharam força no Brasil a partir da década
de 1930, quando o País se encontrava em processo de desenvolvimento urbano e
industrial. Na época, a partir do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, de 1932,
foram propostas ações para o planejamento e a organização das ações educacionais
extensivas a todas as escolas brasileiras, concebendo o currículo como um modo de
alcançar objetivos, capacitando os indivíduos a viver em sociedade. Os educadores
Anísio Teixeira e Fernando de Azevedo foram importantes nos anos 1930 e 1940 no
Brasil, uma vez que procuraram associar a educação escolar com os conceitos de
uma sociedade justa e democrática e da necessidade de aproximação da sociedade
com a escola, respectivamente.
Também surgiram, nessa mesma época, o Instituto Nacional de Estudos
Pedagógicos (atual Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio
Teixeira [Inep]) e os acordos internacionais entre o Ministério da Educação e a United
States Agency for International Development (USAID), que reforçaram essa tendência
curricular norte-americana tradicional nos currículos escolares nacionais em todos os
níveis educacionais.
A década de 1960 foi marcada por inúmeros movimentos de contestação
social, sobretudo, na sociedade norte-americana, com ações antirracismo, de defesa
dos negros, das mulheres, dos homossexuais, entre outros, manifestados por meio
do rock e do movimento hippie. Com isso, os aspectos curriculares também foram
revistos, promovendo a discussão dessas desigualdades e da reprodução desse tipo
de sociedade a partir dos currículos escolares. Esses foram os fatores que
impulsionaram a teoria crítica dos currículos. A teoria crítica dos currículos encontrou
inspiração nos escritos de Kant, Hegel e Marx, trazendo, nas suas discussões,
assuntos atrelados à ideia do estruturalismo corrente na época, como (SILVA, 2015):
classe; poder; cultura; ideologia; hegemonia; estado.
Para os autores da teoria crítica dos currículos, a preocupação sobre o
currículo desloca-se da questão prática (das teorias tradicionais) para aquilo que o
currículo efetivamente faz em termos de reprodução de desigualdades a partir de seus
ensinamentos. Dessa forma, para a teoria crítica do currículo, este:
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[...] carrega marcas indeléveis das relações sociais de poder. O currículo é
capitalista. O currículo reproduz culturalmente as estruturas sociais. O
currículo tem um papel decisivo na reprodução das estruturas da classe
capitalista. O currículo é um aparelho ideológico do estado. O currículo
transmite a ideologia dominante. O currículo é em suma, um território político
(SILVA, 2015, p. 147).
Com base nesses movimentos culturais, surge com caráter obrigatório, por
exemplo, no interior dos currículos escolares, o ensino das histórias e culturas afro-
brasileira e indígena. O Quadro 1 apresenta algumas diferenças entre as teorias
estudadas.
Quadro 1. Teorias do currículo e as suas diferenças.
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4.1 Parâmetros Curriculares Nacionais, Diretrizes Curriculares Nacionais e
Base Nacional Comum Curricular
Com o processo de redemocratização ocorrida nos anos 1980 no Brasil —
que culminou com o final da ditadura militar e, mais especificamente, com a
Constituição Federal de 1988 —, são encaminhadas discussões nacionais e
internacionais visando reforçar a própria democracia e o conceito de cidadania, que
envolve os direitos e deveres individuais e coletivos. A Constituição Federal de 1988,
art. 205, estabelece que (BRASIL, 1988): “Art. 205 “A educação, direito de todos e
dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da
sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o
exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”. Essas ideias são
reforçadas por movimentos internacionais, como a Declaração Mundial sobre a
Educação para Todos, realizada em Jomtien, na Tailândia, em 1990, organizada por:
➢ Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
(Unesco);
➢ Fundo Internacional de Emergência para a Infância das Nações Unidas
(Unicef);
➢ Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento;
➢ Banco Mundial.
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(CNE/CEB) nº. 7, de 14 de dezembro de 2010, ao regular a escrita dos currículos
escolares em busca da construção de uma proposta comum, “[...] o desafio das
Diretrizes é diminuir ou eliminar o distanciamento existente entre as várias propostas
pedagógicas e a sala de aula” (BRASIL, 2010, documento on-line).
Ou seja, não basta apenas pensar o currículo ao elaborar as propostas
pedagógicas das escolas, é preciso realizá-lo a partir das práticas diárias junto aos
estudantes. As DCNs para a educação básica apresentam um conjunto de obras que
envolvem: diretrizes gerais para educação básica; diretrizes e respectivas resoluções
para a educação no campo; educação indígena; educação quilombola; educação
especial; educação de jovens e adultos em situação de privação de liberdade nos
estabelecimentos penais; educação profissional e técnica de nível médio; educação
de jovens e adultos; educação ambiental; educação em direitos humanos; educação
das relações étnico-raciais; ensino de história e cultura afro-brasileira e africana.
Seguindo na busca pela normatização curricular, a BNCC (Base Nacional
Comum Curricular), se propõe, segundo as suas palavras introdutórias, a ser “[...] um
documento de caráter normativo que define o conjunto orgânico e progressivo de
aprendizagens essenciais que todos os alunos devem desenvolver ao longo das
etapas e modalidades da Educação Básica” (BRASIL, 2017, p. 7). Ou seja, norteia
aquilo que será desenvolvido por meio do currículo e será ensinado aos alunos na
educação básica. A BNCC, de caráter normativo para a educação escolar, vem ao
encontro do que é requerido no Plano Nacional de Educação (2014–2024) e nas DCNs
da educação básica.
A BNCC coloca como a sua principal finalidade definir as “[...] aprendizagens
essenciais que todos os alunos devem desenvolver durante todas as etapas da
educação básica” (BRASIL, 2017, p. 7). Para que essas aprendizagens sejam
desenvolvidas nos estudantes, a base propõe o alcance de dez competências a todos
os alunos da educação escolar nacional. Essas competências reúnem os
conhecimentos históricos e culturais a serem adquiridos, as habilidades desenvolvidas
e as atitudes esperadas dos estudantes como resultado desse processo educacional.
Ao referir-se ao conceito de competência, a BNCC do ensino fundamental comenta:
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linguagens artística, matemática e científica, para se expressar e partilhar
informações, experiências, ideias e sentimentos em diferentes contextos e produzir
sentidos que levem ao entendimento mútuo.
5. Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e
comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas
sociais (incluindo as escolares) para se comunicar, acessar e disseminar informações,
produzir conhecimentos, resolver problemas e exercer protagonismo e autoria na vida
pessoal e coletiva.
6. Valorizar a diversidade de saberes e vivências culturais e apropriar- -se de
conhecimentos e experiências que lhe possibilitem entender as relações próprias do
mundo do trabalho e fazer escolhas alinhadas ao exercício da cidadania e ao seu
projeto de vida, com liberdade, autonomia, consciência crítica e responsabilidade.
7. Argumentar com base em fatos, dados e informações confiáveis, para
formular, negociar e defender ideias, pontos de vista e decisões comuns que
respeitem e promovam os direitos humanos, a consciência socioambiental e o
consumo responsável em âmbito local, regional e global, com posicionamento ético
em relação ao cuidado de si mesmo, dos outros e do planeta.
8. Conhecer-se, apreciar-se e cuidar de sua saúde física e emocional,
compreendendo-se na diversidade humana e reconhecendo suas emoções e as dos
outros, com autocrítica e capacidade para lidar com elas.
9. Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação,
fazendo-se respeitar e promovendo o respeito ao outro e aos direitos humanos, com
acolhimento e valorização da diversidade de indivíduos e de grupos sociais, seus
saberes, identidades, culturas e potencialidades, sem preconceitos de qualquer
natureza.
10. Agir pessoal e coletivamente com autonomia, responsabilidade,
flexibilidade, resiliência e determinação, tomando decisões com base em princípios
éticos, democráticos, inclusivos, sustentáveis e solidários
Para desenvolver essas competências, a BNCC descreve as competências
gerais por meio das quais serão descritos os objetivos de aprendizagem específicos
a serem atingidos junto aos alunos. Na educação infantil, esses objetivos de
aprendizagem são organizados a partir dos campos de experiências, que dividem por
faixas etárias as crianças da creche e da pré-escola, considerando bebês (0 a 1 ano
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e 6 meses); crianças bem pequenas (1 ano e 7 meses a 3 anos e 11 meses); crianças
pequenas (4 anos a 5 anos e 11 meses).
Já nos ensinos fundamental e médio, existe a definição das áreas de
conhecimento, das competências específicas de cada uma dessas áreas e das
habilidades a serem desenvolvidas pelos estudantes. Como podemos perceber, o
caráter normativo é evidenciado no momento que se estabelece sumariamente o que
deve ser aprendido e que constitui a base comum das competências de todos os
estudantes da rede de ensino nacional.
Os PCNs, as DCNs e a BNCC se constituem em esforços do Ministério da
Educação em regular, padronizar e normatizar as ações curriculares desenvolvidas
dentro da escola. Esse movimento começa de maneira orientadora com os PCNs,
reforça-se já com caráter normativo, porém não tão detalhado quanto à sua aplicação
prática com as DCNs e se estrutura com maior nível de organização e detalhamento
com a construção da BNCC atual, que define competências e estipula as habilidades
para as áreas de conhecimento, inclusive codificando-as para efeito de
acompanhamento e controle posterior por parte da escola.
6 COMPETÊNCIAS NA EDUCAÇÃO
Segundo Perrenoud (2013), competência é a capacidade de impulsionar
vários mecanismos cognitivos (saberes, capacidades, informações, etc.) a fim de
encontrar soluções com eficácia para situações da vida diária, como, por exemplo,
saber se conduzir em uma cidade que nunca tenha ido antes, tendo a habilidade desse
orientar em um mapa ou GPS, pedir informações ou conselhos, além de ter noção de
escala, elementos de topografia e referências geográficas.
As competências estão relacionadas às circunstâncias profissionais, culturais
e sociais e podendo abranger diversas situações e espaços, pois os seres humanos
passam por situações desiguais, desenvolvem suas competências na adaptação às
suas realidades — algumas delas se desenvolvem, na escola. As instituições se
preocupam em formar competências normalmente dando prioridade aos recursos, os
objetos, que abrangem certas competências, em vez de contextualizá-las com
situações complexas.
Esse fenômeno da escolaridade começa no ensino básico, quando se domina
a leitura, a escrita, aprende a fazer contas, capacidade de raciocínio, dar explicações,
38
fazer resumos, observar e tantas outras capacidades gerais; então, passam por
assimilação dos conhecimentos disciplinares, como matemática, ciências, geografia
etc.; contudo, a escola não tem se preocupado relacionar esses artifícios das
situações da vida (PERRENOUD, 2013).
Quando a escola é questionada em relação ao motivo de ensinar determinado
conteúdo, a explicação geralmente tem como base as normas, que apontam uma
sequência a ser seguida, como, por exemplo, quando se aprende gramática com a
finalidade de escrever textos. No modelo atual de escola, o discente é instruído para
chegar ao ensino superior, ele recebe treinamentos através de testes e exames
nacionais para desenvolver, competências relacionadas às habilidades específicas de
saberes que são executados teoricamente, porém fora da realidade.
Para superar esses moldes, é necessário que as escolas deem significado
para a aprendizagem, fornecendo as bases com múltiplos conhecimentos que
agreguem utilidades no dia a dia do aluno e não fiquem presos somente à
apresentação de conteúdos que serão aprofundados depois, nas universidades
(PERRENOUD, 2013). De acordo Perrenoud (2013), as questões que envolvem os
princípios de cidadania e democracia, sustentabilidade, convivência e diversidade
cultural resultam no desenvolvimento de novas competências, e o currículo
educacional precisa ser uma ferramenta que a caracterize, mobilizando, para isso,
múltiplos recursos cognitivos no enfretamento e na solução dessas problemáticas.
Perrenoud (2000), define oito categorias de competências fundamentais para
a autonomia das pessoas:
39
Saber identificar, avaliar e valorizar suas possibilidades, seus direitos, seus
limites e suas necessidades;
Saber formar e conduzir projetos e desenvolver estratégias, individualmente
ou em grupo;
Saber construir e estimular organizações e sistemas de ação coletiva do tipo
democrático;
Saber cooperar, agir em sinergia, participar de uma atividade coletiva e
partilhar liderança;
40
série de demandas em diversos contextos; ser importante não somente para os
especialistas, mas também para os indivíduos.
Segundo Sacristán (2013), o projeto DeSeCo engloba três competências
fundamentais, com grande vantagem pelo fato de serem competências
metacurriculares, que visam interagir, de um modo efetivo, com pessoas e controlar a
própria vida. Veja no Quadro 1, a seguir, uma síntese dessas três competências do
projeto DeSeCo.
Quadro 1. Competências do projeto DeSeCo.
Ser um cidadão em uma democracia sempre foi, e segue sendo, uma questão
complexa, pois exige que se opine sobre questões cada vez mais complicadas, que
passam por temas que variam de mudanças climáticas até o uso de células- -tronco.
41
Em uma democracia autêntica, são necessários cidadãos cultos, cuja formação, em
grande parte, compete à escola (SACRISTÁN, 2013).
Sacristán et al. (2011) enfatizam que uma organização de aprendizagem por
competências tem o objetivo de consolidar o aprendizado, sendo uma forma de refutar
as aprendizagens academicistas, que são comuns nas práticas educacionais
tradicionais, em que não se agrega capacitação nenhuma ao sujeito, que, depois de
memorizar o conteúdo e ser avaliado, acaba esquecendo o que foi lido e
supostamente ensinado.
Nesse sentido, deve-se focar na utilidade prática dos conteúdos trabalhados,
aproximando-se da realidade vivenciada na formação profissional, contexto no qual o
importante é dominar habilidades, capacidades e competências para qualificar a
formação. Nesse contexto, encontra-se a meta de toda a educação, em que o que for
aprendido deve ser usado como recurso ou capacitação para a realização de qualquer
função humana, não se ligando exclusivamente à questão manual, mas também a
conduta, comportamentos, relação com o outro, comunicação, etc. (SACRISTÁN et
al., 2011).
Seguindo a ideia de currículo por competências, Sacristán et al. (2011)
enumeraram em uma lista sugestões, que também podemos considerar como um
conjunto de princípios para projetar um currículo que tenha por objetivo o
desenvolvimento de competências fundamentais. Entre essas sugestões, por
exemplo, destaca-se que as competências precisam ser compreendidas como marco
de referência na seleção de conteúdos em virtude da questão prática e da
potencialidade de ajudar na compreensão da complexidade do mundo real. Para isso,
o currículo precisa envolver as dimensões do desenvolvimento pessoal, englobando
conhecimento, identidade e ação, de modo que não fique atrelado a uma lista
interminável de conteúdos mínimos, classificados por disciplinas.
A grande quantidade de conteúdos acaba por saturar e tornar o aprendizado
mecânico, baseado na memorização, sem aplicação e real compreensão; dessa
forma, é necessário um planejamento de temas que permitam seu desenvolvimento
em profundidade, sem exacerbar a quantidade — mais é menos —, facilitando a
busca, seleção, organização, aplicação e valorização da informação, contribuindo
também para a construção do senso crítico do aprendiz (SACRISTÁN et al., 2011).
42
Segundo os autores, nesse sentido, também é fundamental fortalecer a
competência dos professores e das escolas no projeto real para adaptar o currículo,
os conteúdos e as atividades às necessidades e aos interesses dos estudantes e ao
seu ritmo de desenvolvimento e aprendizagem, assim como propor módulos
interdisciplinares ou multidisciplinares, previamente testados, que ajudem os
professores a compreender suas possibilidades e a evitar suas resistências, utilizando
os conteúdos estudados na parte e no todo, para entender os problemas e agir sobre
eles, contextualizando os conteúdos na vida cotidiana dos aprendizes.
Finalmente, Sacristán et al. (2011), destacam que o currículo deve ser
desenvolvido e criado de maneira flexível e dinâmica, permitindo o surgimento do
“currículo emergente”, que facilite que cada aluno e/ou grupo, em qualquer momento
e apoiado em seus interesses e propósitos, apresente novas propostas de conteúdos,
problemas, informações e focos de interesse. O aprendiz deve ser colocado diante de
situações desafiadoras, que lhe permitam buscar conhecimento adequado e relevante
para a sua identificação, o seu entendimento e enfrentamento.
43
também utilizar conexões interdisciplinares de conteúdos junto a atividades e meios
em unidades temáticas com complexidade e tempo de desenvolvimento e ter plena
consciência de que as escolas não são o único local para contato com a cultura ou
informação úteis na composição do currículo.
Explorar todos os tipos de aprendizagens possíveis em cada unidade —
conhecimentos, habilidades, hábitos, aquisição de atitudes e valores —, propiciar o
diálogo com diferentes opiniões e estimular virtudes como tolerância e cooperação,
construindo um ambiente educacional motivador, que permita a autonomia do aluno e
o respeito ao ritmo de desenvolvimento individual dos mesmos.
Segundo Sacristán et al. (2011), por meio desses princípios, podem ser
desenvolvidas infinitas possibilidades pedagógicas de encontrar temas que busquem
o desenvolvimento de competências. Madelaine Walker (2007 apud SACRISTÁN et
al., 2011), também define algumas prioridades educacionais e destaca, como você
confere a seguir, qualidades humanas fundamentais como objetivos últimos da prática
educacional.
Raciocínio prático: ser capaz de fazer e de tomar decisões reflexivas, bem
pensadas, informadas, independentes, intelectualmente rigorosas e socialmente
responsáveis.
Implicação educacional: ser capaz de levar a vida do estudo, do trabalho e
das relações sociais com perseverança, resistindo a frustrações e aproveitando as
oportunidades, tendo esperança de um futuro melhor.
Conhecimento e imaginação: ser capaz de construir conhecimento
acadêmico e profissional, desenvolver procedimentos de busca rigorosa, análise,
comparação e síntese e, ao mesmo tempo, usar a imaginação e o conhecimento para
compreender as diferentes posições e opiniões, debatendo princípios complexos,
adquirindo conhecimento por prazer e para entender e agir de maneira justa e
adequada.
Disposição em direção à aprendizagem: ter curiosidade, desejo de
aprender e confiança na própria capacidade de aprender, tornando-se um
pesquisador ativo, sendo, para isso, capaz de participar de grupos sociais, resolvendo
problemas de forma conjunta, respeitando a si mesmo e aos outros.
Respeito, dignidade e reconhecimento: ser tratado e tratar com dignidade,
valorizar outras línguas, outros costumes, outras religiões e outras filosofias de vida,
44
demonstrando compaixão, empatia, justiça e generosidade, desenvolvendo
competência na comunicação intercultural.
Integridade emocional: não estar submetido à ansiedade e ao medo, que
impedem a aprendizagem, ser capaz de desenvolver maturidade emocional para a
compreensão do outro e de si mesmo na complexidade e na incerteza. Além disso,
ter segurança e liberdade física e de movimentos.
Assim, no contexto do uso das competências no desenvolvimento do
currículo, dentro das dimensões práticas do ensinar e aprender, deve-se estimular nos
alunos o princípio do “aprender fazendo” (learning by doing), transformando a
aprendizagem em um processo ativo de indagação, pesquisa e intervenção na prática.
A aprendizagem, para ser significativa, deve ser estabelecida nas práticas da
vida real, em que os conceitos, ideias e princípios se tornam funcionais e são,
consequentemente, recursos estimáveis para o aluno. Ainda é necessário propor
atividades e recursos que estimulem a metacognição como um meio para desenvolver
a capacidade de autonomia e autorregulação da aprendizagem, isto é, aprender como
aprende, conhecendo as próprias fraquezas em cada âmbito do saber e do fazer
(SACRISTÁN et al., 2011).
45
exterior e real, esse conteúdo situado é parte da competência, e não algo separado
dela (SACRISTÁN et al., 2011).
Segundo Sacristán et al. (2011), outro ponto muito relevante quando se fala
nas limitações encontradas na organização curricular por competências se refere à
abordagem das competências principais a partir da perspectiva das disciplinas
acadêmicas e da abordagem com enfoque multidisciplinar, pois ambas têm dificuldade
de levar a uma base de trabalho amplo e conceitual — é ingênuo pensar que esses
duas propostas unidas levem a uma formação coerente, já que também é preciso
manter um diálogo entre prática, conhecimento e decisões políticas curriculares de
forma permanente.
Os países em que a implantação das competências alcançou maior
desenvolvimento e eficácia acabaram gerando complicados sistemas orientados a
normatização e certificação, bem como a formação; por isso, deve-se considerar que
a normalização deve ter como propósito formular normas de competência, acordadas
entre sindicatos, empresários e outros atores vinculados a um determinado setor
produtivo e cuja utilização posterior seja voluntária, não podendo ser um procedimento
elitista, corporativo ou de decisões aristocrática — essas normas precisam ser
permanentemente atualizadas e constituir referência básica dos sistemas de
competências (SACRISTÁN et al., 2011).
46
questão proposta por Young (2014), é preciso pensar no que a sociedade
contemporânea espera dos alunos quando deixam a escola.
O sistema educacional e suas concepções sobre a formação que deseja para
seus egressos têm como suporte um currículo oficial que traduz os valores, ideologias,
conteúdos e diretrizes desse percurso. Assim, temos um currículo oficial que
representa a posição de uma instituição escolar, em nível governamental ou local,
mas esse currículo, até chegar às salas de aula, passa por diferentes interlocutores,
transformando-se em um novo currículo, ou, simplesmente, tem-se um currículo real,
que é aquele que se realiza.
Há uma grande preocupação dos governos que elaboram seus currículos em
formar cidadãos aptos a enfrentar as demandas contemporâneas do mundo do
trabalho; por isso, a discussão que estamos trazendo reverbera para um novo olhar
na formação e na atuação dos futuros pedagogos. Entre as inúmeras demandas
sociais do século XXI, não há como negar que as novas tecnologias e a informática
trouxeram profundas transformações na esfera do conhecimento, e isso implica
mudanças na trajetória escolar e de vida de todas as pessoas. Diante disso, nesse
contexto, é importante ter claros dois conceitos: técnica e tecnologia.
Quando você ouve a palavra tecnologia, o que vem à sua mente? No senso
comum, é possível ouvir exemplos diretamente ligados a celulares, tablets ou
computadores de última geração, conectados à internet de alta velocidade e mais
outros tantos que façam alusão ao contexto informatizado que vivemos. Entretanto,
uma caneta também é fruto de estudos tecnológicos, assim como uma cadeira, um
carro e tudo que de certa forma se torna uma extensão do ser humano.
Kenski (2007, p. 24) apresenta argumentações interessantes sobre os
conceitos abordados quando coloca que “[...] as maneiras, os jeitos ou habilidades
especiais de lidar com cada tipo de tecnologia, para executar ou fazer algo, chamamos
de técnica”. Já “[...] ao conjunto de conhecimentos e princípios científicos que se
aplicam ao planejamento, à construção e à utilização de um equipamento em um
determinado tipo de atividade, chamamos de tecnologia”. O que a autora apresenta é
uma certa noção de como as técnicas estão ajustadas ao tempo e ao espaço em que
são utilizadas, mas, de certa forma, são impulsionadas pelos avanços dos estudos
sobre a tecnologia em questão, pois promovem, assim, um movimento construtivo de
saberes que possibilita a inovação nas mais diversas áreas, inclusive a educacional.
47
Vamos acompanhar a evolução dessas mudanças considerando as
tecnologias que mais se destacaram ao longo do tempo sobre as mídias que surgiram
no século passado e mudaram o cenário para a promoção da educação no século
XXI. Dentre essas mídias, vamos conhecer melhor a impressa, a radiofônica, a
televisiva, a computacional e a telemática (Figura 1).
Figura 1. Adaptação das cinco gerações de educação a distância para a
utilização das mídias em âmbito educacional.
48
seja, mais pessoas passariam a ter acesso aos materiais impressos, disseminando as
informações registradas em diferentes localidades. A contribuição de Gutenberg para
o setor da impressão e da tipografia foi enorme. Como curiosidade, vale lembrar que
o primeiro livro inteiro que utilizou essa técnica impressa foi a Bíblia Sagrada.
Quando pensamos em materiais impressos sendo utilizados como recursos
para a promoção da educação e procuramos fazer uma ligação com os aspectos
tecnológicos da contemporaneidade, podemos perceber nitidamente suas vantagens
e limitações, que você confere no Quadro 1, a seguir.
Quadro 1. Vantagens e desvantagens da mídia impressa
Mídia radiofônica
O rádio causou um grande alvoroço junto à população no início do século XX,
principalmente nos educadores de departamentos de extensão das universidades
americanas que reagiram de modo entusiasmado frente às novas possibilidades que
se abriam para essas instituições de ensino. De acordo com Pittman (1986), a
Universidade de Iowa, nos Estados Unidos, já oferecia aos alunos cursos de cinco
créditos por meio do rádio.
Os dados coletados da pesquisa de satisfação realizada nessa universidade
apontaram que, dos 80 matriculados naquele primeiro semestre, 64 acabaram
49
completando o programa do curso. Embora a empolgação fosse grande em relação
ao uso da radiotransmissão para fins educacionais, o que se notou na época foi uma
falta de experiência profissional dos entusiastas de plantão, que acabaram declinando
da realização de projetos dessa linha diante da qualidade exigida pelas emissoras. As
emissoras logo perceberam que poderiam gerar lucro com as propagandas a serem
exibidas durante esses programas educativos, de forma que os interesses de mercado
se sobrepuseram aos interesses acadêmicos.
Quando ligamos as iniciativas radiofônicas do passado com as tecnologias
contemporâneas, notamos que ganha escala em modelos fragmentados e
disponibilizados globalmente por intermédio da internet em programas transmitidos
digitalmente de diversas partes do mundo ou até mesmo por podcasts, um tipo de
arquivo digital de áudio que é veiculado pela internet, apresentando um conteúdo que
pode ser variado, normalmente com o propósito de repassar informações.
Tanto o rádio quanto a televisão apresentavam, nos primórdios de sua
adaptação junto à população, características em comum, como a necessidade de uma
sincronicidade de uso, ou seja, ouvir ou ver o programa somente no momento em que
era transmitido. Ficou clara a maior dinâmica proporcionada por programas
transmitidos por esses aparelhos e também o detalhe da falta de interação com os
receptores, pois o foco inicial era apenas a transmissão de informações.
Mídia televisiva
O ano de 1934 foi instigante para a Universidade de Iowa, pois, engajada com
o propósito de promover uma televisão educativa, realizou transmissões sobre temas
do tipo higiene oral e astronomia. Nos anos seguintes, várias outras universidades
americanas lançaram e transmitiram programas educacionais (MOORE E
KEARSLEY, 2007).
Com relação aos incentivos para criação de programas educacionais, a
televisão teve mais sucesso que a rádio educativa, pois passou a contar com
contribuições da Fundação Ford, o que desencadeou uma série de ações positivas e
favoráveis para o fortalecimento desse tipo de transmissão (MOORE E KEARSLEY,
2007).
De certa forma, a televisão ampliou as possibilidades do rádio, dando um novo
impulso aos programas educativos da época e aos diferentes que começariam a surgir
50
a partir de iniciativas inovadoras. Veja, a seguir, exemplos das produções que
passaram a figurar no sistema de TV educativa com possibilidades de alcance
específico para essa finalidade.
Dentre as dificuldades encontradas para a produção de material didático
educacional televisivo, é possível elencar alguns pontos que devem ser considerados
para esse processo.
O primeiro deles converge para o estabelecimento de linguagens próprias, ou
seja, a criação de uma certa identidade no modo de interagir com o público-alvo por
conta da multiplicidade de olhares que se voltam ao produto midiático resultante, que,
de certo modo, tem que dar conta de certas especificidades em relação a quem o
assiste e, ao mesmo tempo, manter um poder de influência de alcance regional ou
globalizado.
A apropriação das mídias (meios de comunicação) pode ser um fator relevante
quando se pensa na distribuição desse tipo de material. As produções nesse formato
não veiculam somente em canais televisivos — em broadcast, “processo pelo qual se
transmite ou difunde determinada informação para muitos receptores ao mesmo
tempo” (NETSHOW.ME, 2017) —, mas estão sendo distribuídos também em pela
internet via streaming — “transferência de dados na internet com o intuito de enviar
informações multimídia de servidores para clientes” (AMARAL, 2019).
Como último destaque, fica a difícil missão de delimitar e não ultrapassar a
linha tênue que separa a educação do puro entretenimento. É comum estarmos
assistindo a um programa e sermos interrompidos por uma mensagem no celular ou
mesmo no comunicador instalado no computador, visto que podemos assistir a esses
conteúdos diretamente em nossos desktops, notebooks ou tablets. No entanto, o
problema ainda é maior se essa linha estiver implícita dentro da produção educativa,
não dando ao usuário ou telespectador condições de perceber os limites de um
conteúdo meramente de entretenimento, sem cunho educacional, o que desprepara
mais do que prepara esse espectador.
No quesito das recomendações para aproveitamento da mídia televisiva em
situações educacionais, fica a sugestão de uso de materiais pré-produzidos que se
enquadrem como recursos acessíveis, ou seja, estejam de certo modo disponíveis em
repositórios que permitam sua utilização e tenham a liberação de questões legais
referentes aos direitos autorais. A partir dessa primeira recomendação, o interessado
51
em utilizar esse tipo de material tem à disposição diferentes fontes, como: internet
(Youtube, Vimeo, etc.), TV escola, filmes, comerciais e documentários.
Em caso de necessidade de produções específicas, a recomendação se
refere ao uso de formatos de baixo custo, como debates, mesas redondas e
depoimentos. Por fim, é importante frisar que a composição de uma equipe
multidisciplinar para realizar as produções é imprescindível. Serão múltiplos olhares
debruçados sobre uma problemática específica, possibilitando que uma visão
sistêmica seja construída sob a tutela dos diferentes profissionais que participam da
produção do material.
Mídia computacional
A entrada dos computadores para uso no universo educacional dependeu de
um certo amadurecimento dessa tecnologia ao longo dos anos após um período de
descobertas de finalidades para um equipamento criado inicialmente para realizar
cálculos matemáticos com rapidez e precisão, a ponto de influenciar em decisões
estratégicas em período difícil da segunda Guerra Mundial (1939–1945). Em relação
a esse período, é inevitável citar o matemático britânico Allan Turing (1912–1954)
(Figura 2), que atuou também como criptoanalista, lógico e cientista da computação e
é considerado o pai da computação. Turing, além de ter uma inteligência ímpar, foi
responsável por planejar uma série de técnicas para quebrar os códigos alemães,
incluindo o método da bomba eletromecânica, uma máquina eletromecânica que
poderia encontrar definições para a máquina Enigma.
Os computadores foram tomando formas e dimensões menores ao longo do
tempo e, já nas décadas de 1960 e 1970, era possível notar vários equipamentos,
ainda considerados de grande porte, conectados em salas especialmente preparadas
para recebê-los. De acordo com Moore e Kearsley (2007), a Universidade de Illinois,
nos Estados Unidos, projetou uma rede de computação durante os anos de 1970 que
permitia a comunicação entre alguns locais por linhas de discagem ou por conexões
específicas. O PLATO (Programmed Logic for Automatic Teaching) introduziu a ideia
de uma forma de instruções por rede eletrônica e também deu origem a alguns
produtos comerciais muito difundidos e conhecidos, como o Lotus Notes (INGLIS;
LING; JOSTEN, 1999).
52
Na década de 1980, os programas educacionais (softwares) começaram a ser
produzidos com características de ampliar o nível de instrução de uso de diferentes
ferramentas computacionais e em situações de treinamentos baseadas em uma
concepção mais instrucional. Nos anos subsequentes, em meados da década de
1980, uma abordagem mais construcionista baseada nos pensamentos de Seymour
Papert (1928-2016) desenhou um cenário no qual era possível visualizar diferentes
níveis educacionais que focaram basicamente a fixação de conteúdos curriculares, o
desenvolvimento psicomotor, o desenvolvimento da criatividade, a representação do
pensamento e a construção do conhecimento.
Os produtos construídos seguindo essa linha educacional tangem diferentes
vertentes, como jogos interativos, centro de atividades, simuladores e até laboratórios
virtuais que reduzem o custo de montagem e compra de equipamentos e
proporcionam uma experiência de aprendizado muito próxima da realidade. Um
exemplo criado em 1967 por Papert foi a linguagem de programação logo, utilizada
inicialmente por crianças quando os computadores ainda eram muitos limitados, a
interface gráfica não existia e muito menos a internet. O aperfeiçoamento dessa
linguagem e sua aplicação mais difundida entre os meios educacionais começou em
meados dos anos 1980.
Fundamentado no construtivismo, Papert cunhou o termo construcionismo,
que, em outras palavras, permite que o educando construa o seu próprio
conhecimento por intermédio de alguma ferramenta, como o computador, por
exemplo. Nota-se, então, a adaptação aos princípios do construtivismo cognitivo de
Jean Piaget, com a finalidade de aproveitar da melhor maneira possível a tecnologia,
principalmente a computacional, como ferramenta potencializadora da construção de
saberes na área educacional.
As abordagens educacionais implícitas no uso das tecnologias de informação
e comunicação permitem aos pedagogos que se apropriam desses recursos promover
uma nova experiência de aprendizagem junto aos seus alunos. Alguns exemplos que
podem ser citados são: tutoriais e exercícios e prática, softwares com recursos de
inteligência artificial, softwares de programação, programas aplicativos básicos,
programas de simulação e modelos, realidade virtual, jogos, ambientes virtuais de
colaboração e aprendizagem, comunidades virtuais e as redes sociais.
53
Telemática
[...] uma rede de longa distância criada a partir de 1965 pela Advanced
Research Agency (Agencia de Pesquisas Avançadas — ARPA, atualmente
Defense Advanced Projects Research Agency, ou DARPA ) em consórcio
com as principais universidades e centros de pesquisa dos EUA, com o
objetivo específico de investigar a utilidade da comunicação de dados em alta
velocidade para fins militares. É conhecida como a rede-mãe da internet de
hoje e foi colocada fora de operação em 1990, posto que estruturas
alternativas de rede já cumpriam o seu papel nos EUA. SITES RECORD
(2010).
54
Por fim, o currículo retrata todo nosso percurso vivido e, de certo modo, a
partir do século XXI, notamos que a tecnologia digital está imbricada com tudo o que
planejamos realizar no contexto educacional junto aos alunos. Por esse motivo, todo
público que passa pelo movimento da educação formal, que tem como base um
currículo, sofre influência dessas tecnologias que já fazem parte naturalmente dessa
juventude conectada e ativa em conexões digitais criadas pelo ciberespaço.
55
Os novos currículos já estão, dessa forma, olhando para novas tecnologias e
práticas vinculadas ao uso de recursos que dialogam com o conhecimento e, por isso,
a formação do pedagogo precisa contemplar essas discussões. Uma das questões
importantes na formação desse profissional é conhecer melhor a potencialidade das
mídias sociais e utilizá-las a favor da aprendizagem, bem como orientar os alunos de
forma crítica frente a esse universo de informações.
Relação entre currículo e tecnologia
A tecnologia deve ser encarada como uma ferramenta, um meio que auxilia
na execução de diferentes projetos e na realização de diversas atividades previstas
mediante planejamento prévio. Quando se pensa nesse uso no ambiente educacional
pautado em um currículo formal prévio, a tecnologia da informação e da comunicação
entra como um motor que impulsiona e amplifica possibilidades de aprendizagem.
Para que exista um currículo no qual de fato a tecnologia possa transitar, a sua
concepção deve ser pensada no sentido de atender um percurso que contemplará as
expectativas de seu público-alvo.
De certa forma, apontará direções que possam servir como parâmetros para
uma formação mais rica e dinâmica, e não datada de conceitos e aplicações que
seriam boas soluções para problemas que existem. É fato que as tecnologias digitais
trazem benefícios colaborativos aos usuários e favorecem a velocidade de acesso às
informações, mas estamos navegando por um território que tem uma linha divisória
muito tênue entre o uso racional e produtivo do ciberespaço e a possibilidade de
reverter esforços para uso inadequado de tanto recurso disponibilizado. Como o aluno
constrói seu trajeto pode e deve estar apoiado em um currículo formal, mas esse
percurso também depende de suas escolhas ao logo da caminhada.
Assim, é importante pensar em como as escolhas que fazemos em nosso dia
a dia podem intervir em nossa trajetória pessoal e profissional, principalmente como
educadores. Dessa forma, a palavra escolha comumente nos leva à ideia de tomada
de decisão, mas podemos observar que, geralmente, temos três tipos de escolhas
que nos rodeiam. A primeira é escolher entre o bom e o ruim, o que não demanda
muito esforço, pois, entre um lanche e um pisão no pé, por exemplo, obviamente
alimentar-se seria a melhor opção. Já o segundo tipo de escolha exige mais do
indivíduo, pois estamos falando de uma escolha entre o bom e o bom. A complexidade
dessa decisão está no fato de que se deixará uma boa opção de lado em prol da
56
efetivamente escolhida. Já a última situação é um pouco mais desconfortável, pois é
a escolha entre o ruim e o ruim. O drama maior nesse tipo de escolha é que não há
solução, fica-se com uma opção ruim.
Falamos de escolhas nesse contexto porque elas precisarão ser feitas na
prática profissional e porque também devem orientar os alunos, que devem fazê-las
da melhor maneira possível em um ambiente virtual apoiado pela tecnologia. Esse
mesmo aluno que pode fazer boas escolhas estará cercado de possibilidades de
praticar cyberbullying, uma espécie de ação que faz uso de um espaço virtual para
intimidar e hostilizar uma pessoa (colega de escola, professores ou mesmo
desconhecidos), difamando, insultando ou atacando covardemente. Isso sem falar na
possibilidade de que esse mesmo aluno espalhe fake news, as notícias falsas, o que
já seria uma forma de proliferar informações falsas pela rede, ignorando todas as
consequências geradas por esse tipo de atitude.
Resta, então, a pergunta: como o futuro pedagogo lidará com questões como
essa durante a formação de seus alunos que já são, muitas vezes, nativos digitais? O
desafio do pedagogo e futuro professor será o de um mediador, ou seja, aquele que
provoca seus alunos a pensar diante da imensidão de informações disponíveis, sejam
elas oriundas das fundamentações teóricas clássicas ou de novas descobertas
pautadas em relações construídas dentro dos novos espaços virtuais de colaboração
entre futuros cidadãos. Esse profissional da educação que está sendo formado deve
saber realizar a intervenção no momento correto durante a formação de seus alunos,
pois essa intervenção é intencional, ou seja, o professor sabe propor boas perguntas,
sabe criar boas problematizações para que seus alunos possam desenvolver o
pensamento crítico diante do oceano de informações e possibilidades que eles
encontrarão pela frente.
57
As teorias que tratam da formação da identidade também sofreram ressignifi
cações com o decorrer das décadas, acompanhando o próprio desenvolvimento das
ciências e da cultura humana. Assim, podemos dizer que temos, hoje, um conceito de
identidade contemporânea, pós-moderna, que serve como balizador para as ações do
currículo escolar. Hall (2006) utiliza três concepções de identidades para que
possamos entender esse processo histórico de mudança sobre o conceito de
identidade que comentamos. A seguir, as concepções de identidade do sujeito do
Iluminismo, do sujeito sociológico e do sujeito pós-moderno.
Sujeito do Iluminismo
Sujeito sociológico
Sujeito pós-moderno
Não tem mais uma identidade fixa, essencial ou permanente, vindo a ser
composto não somente por uma, mas por várias identidades, algumas vezes
contraditórias e não resolvidas. Assim, a identidade é formada e transformada
continuamente em relação às formas pelas quais somos representados ou
interpelados nos sistemas culturais que nos rodeiam. A identidade é definida
historicamente, e não biologicamente. O sujeito pode assumir diferentes identidades,
em diferentes momentos, que não são unificadas em torno de um “eu” unificado.
58
Com base nessas mudanças sobre o conceito das identidades, podemos
perceber com maior clareza a importância que tem o currículo para a formação dessas
identidades, uma vez que cabe a esse elemento proporcionar a contextualização das
mudanças sociais e culturais que o mundo tem observado e, assim, promover que as
múltiplas identidades dos estudantes sejam produzidas a partir das interações com o
“outro”, com a percepção das diferenças e a reflexão crítica sobre o que desejam ser
ou, ainda, como querem impactar o mundo e a sociedade a partir do que se tornarão.
Hall (2006), destaca ainda que:
59
mundo e outros, como concepções de elite que privilegiam determinados grupos e
marginalizam outros”.
Ou seja, o currículo nunca é neutro, pois costuma ser o resultado de conflitos
e tensões que busca estabelecer os sentidos mais apropriados sobre determinado
fato, conceito ou conhecimento histórico. Assim, a partir das “verdades” que veicula
para os estudantes, o currículo também constrói suas subjetividades, forma o seu eu,
produz sua identidade. Perceba, no exemplo a seguir, como isso pode ocorrer de
forma prática.
60
em formação do seu “eu”, de sua subjetividade, realizando aproximações com o
“outro”, com o qual interage para formar sua identidade — esses conceitos sobre o
que se diz, sobre o que significam e simbolizam os grupos culturais são importantes
e, muitas vezes, determinantes de sua constituição.
Esses aspectos tornam as análises sobre o currículo e a formação das
identidades contemporâneas complexas, uma vez que, conforme acrescenta Paraíso:
61
Para que tenhamos melhores condições de analisar como o currículo escolar
causa impacto na formação das identidades dos estudantes que frequentam a escola,
precisamos conhecer mais detalhadamente o mecanismo de formação da identidade
e suas características recorrentes. Para isso, precisamos retomar o conceito de
cultura, que, neste caso, pode ser utilizado “[...] para se referir a tudo o que seja
característico sobre o ‘modo de vida’ de um povo, de uma comunidade, de uma nação
ou de um grupo social” (HALL, 2016, p. 19). Isso nos remete à reflexão sobre os vários
aspectos antropológicos e sociológicos presentes na cultura que não a restringem
exclusivamente a “[...] um conjunto de coisas — romances e pinturas ou programas
de TV e histórias em quadrinhos — mas, sim, a um conjunto de práticas” (HALL, 2016,
p. 20).
Dessa forma, podemos considerar a escola como uma instituição social que
faz parte do universo cultural da grande maioria da população e afirmar que os
indivíduos que partilham da mesma cultura tendem a apresentar uma interpretação
do mundo semelhante, uma atribuição de sentido sobre as coisas similar, pois
aprenderam no interior das práticas cotidianas dos grupos sociais e instituições nas
quais interagem a respeito desses conceitos e seus significados.
Para compreender melhor como ocorre a formação das identidades, podemos
analisar algumas características inerentes a esse processo, conforme esquematiza a
Figura 1.
Figura 1. Mecanismo de formação da identidade.
62
NEGAÇÃO
RELAÇÃO DIFERENÇA
63
elemento central dos sistemas classificatórios por meio dos quais os significados são
produzidos” (WOODWARD, 2000, p. 68).
O problema com a questão da diferença ocorre quando ela é utilizada dentro
desse sistema classificatório para realizar juízo de valor e construir representações
ruins, negativas e que inferiorizem algumas identidades. As diferenças são
marcadores que nos constituem, tornam-nos seres singulares e especiais e, dessa
forma, deveriam ser reconhecidas, valorizadas socialmente e fazer-se presentes nos
currículos escolares e suas práticas.
O terceiro componente é o caráter relacional da identidade: nossa identidade
é produzida a partir das relações que temos nos grupos sociais e nas instituições que
fazem parte de nossas experiências como seres humanos. Assim:
Ao falarmos sobre esses campos sociais que são importantes e decisivos para
que as relações e interações sociais ocorram e, assim, contribuam para que possamos
produzir nossas identidades, temos que marcar a escola como importante instituição
que as crianças frequentam de forma obrigatória a partir dos quatro anos de idade no
Brasil e que acolhe os mais diversos grupos étnicos e culturais. Assim, as escolas
também possuem seus contextos particulares e seus simbolismos — por exemplo,
uma escola pública pode apresentar-se muito diferente de uma escola privada nas
questões estruturais, curriculares e, até mesmo, em relação ao público que atende.
Ao reforçarmos a importância do outro para a formação da identidade, convém
marcarmos que “[...] é apenas por meio da relação com o Outro, da relação com aquilo
que não é, com precisamente aquilo que falta, com aquilo que tem sido chamado de
seu exterior constitutivo, que o significado ‘positivo’ de qualquer termo — e, assim,
sua ‘identidade’ — pode ser construído” (HALL, 2000, p. 110).
Pensando sobre os mecanismos de constituição das identidades que viemos
analisando, fica fácil perceber como a alteridade é importante para a nossa formação
humana, afinal, como seríamos sem a convivência, a interação e a interdependência
social que experienciamos cotidianamente nos grupos culturais dos quais
participamos?
64
Ao refletir sobre o currículo escolar na perspectiva de experiências que
propiciassem um encontro com os desejos dos estudantes, Paraíso (2009), esclarece
que “[...] a experiência é algo que se dá solitariamente, mas que outros vêm cruzá-la,
atravessá-la, compor com ela. Na experiência saímos sempre transformados; e o
mundo também se transforma”. Dessa forma, ainda que a experiência seja subjetiva,
tenha efeitos internos, muitas vezes depende de um exercício de alteridade, do apoio
ou oposição do outro para que ocorra. Assim, que bom seria que os estudantes
experienciassem no currículo escolar oportunidades de realizar trocas com os
múltiplos aspectos da diversidade que habita a escola, seja ela étnica, religiosa, de
gênero, de classe social ou orientação sexual — com isso, certamente, o mundo
poderia vir a transformar-se em algo melhor e mais humano.
É importante, portanto, que possamos colocar em prática nas escolas o
exercício da alteridade, do reconhecimento da importância do outro, com a potência
de suas diferenças e semelhanças para a formação de todos ali presentes; que o outro
possa deixar de ser visto como nas visões modernas do currículo, das quais Skliar
alerta:
É a visão que impera ao longo do século XX, quando houve conflitos bélicos,
genocídios, matanças étnicas, apartheid, ditaduras militares, violência contra
imigrantes, etc. Também se constroem mecanismos de regulação internos por meio
de leis e normas que fazem com que o outro se invisibilize, estando ausente também
dos acontecimentos e discussões históricas em prol dos privilegiados. Assim, regula-
se o outro a partir das políticas do conhecimento oficial estabelecidas também na
escola
66
O outro como alguém a tolerar
69
ministrados aos alunos. Mas entendê-la como tal é uma visão reducionista, utilizada
em sua teoria tradicional, no que se refere à produção de subjetividade, ou formação
de sujeitos, e ao exercício do poder na seleção e classificação do conhecimento. Isso
marcará o processo de ensino e aprendizagem.
Segundo Moreira e Silva (2001), os programas são concebidos como criações
sociais e culturais. As performances transmitem perspectivas sociais específicas e
interessantes, e os programas produzem uma identidade pessoal e social concreta.
As pessoas constroem artefatos sociais e culturais com base em suas relações umas
com as outras e em suas interações com os grupos sociais e culturais dos quais
participam. Por outro lado, as escolas partilham desta ideia, dando um contributo
significativo para a formação da identidade. Para Silva (2007), um currículo de ação
abrangente envolve os pontos mostrados na Figura 1.
Figura 1. Pontos de análise das teorias do currículo escolar.
Saber
Identidade
Conhecimentos a
serem ensinados Tipo de ser
humano desejável
Poder
70
se pretendia, ou uma nova forma de fazer algo. Aplicando isso ao currículo,
entendemos que a inovação curricular passa necessariamente por um repensar da
prática cotidiana e da relação ensino-aprendizagem, da qual os professores são
partes importantes. Portanto, o processo e a prática de pesquisa em inovação serão
métodos para melhorar a qualidade do ensino do sistema educacional e a qualidade
do aprendizado dos alunos. Segundo Masetto (2011), o currículo inovador requer:
Como você pode ver nesta citação, a busca pela mudança e inovação no
currículo vem do entendimento e direção da instituição educacional. Desta inovação
também sugere um afastamento do mesmo paradigma pedagógico, que há décadas
enfatiza programas educacionais e de base tecnológica que reforçam a centralidade
do professor no processo educativo que realiza com seus alunos. À medida que o
currículo se adapta às exigências de hoje, o professor é um ator fundamental nessa
mudança e deve rever suas práticas de sala de aula, reinventar a maneira como
conduzir sua prática pedagógica, focar nos alunos, formando protagonistas na arte de
aprender.
Por outro lado, projetos educacionais inovadores são aqueles que mesmo não
possuindo uma sala de informática bem estruturada com um bom acesso à internet,
onde todos possam se comunicar, eles conseguem reorganizar a partir estrutura da
escola, por exemplo, desenvolvendo um currículo misto que inclua atividades que são
realizadas fora do tempo presencial junto com os alunos, que deve ser planejado e
criado pelo professor. Assim, qualquer inovação no currículo requer uma combinação
de diferentes métodos e investimentos.
Inovação curricular significa valorizar a pessoas que está sendo produzida
pelas práticas escolares, e compreender que estas são mais importantes que
conteúdos, pois educação é preparação para a vida e para as exigências que cada
época impõe aos alunos. Por exemplo, no contexto atual, onde toda a informação está
disponível no mundo digital, introduzir uma prática escolar que não leve em conta essa
possibilidade é no mínimo retrógrado. Quanto ao papel do professor, a situação é
71
ainda pior, pois aqueles que ainda não entendem que as mudanças na vida social
provocadas pelo ambiente digital podem ser uma boa ferramenta para o trabalho em
sala de aula falham e são percebidos pelos alunos como ultrapassados.
Masetto (2011), ao analisar os projetos curriculares que funcionam de forma
inovadora, na Faculdade de Medicina de Harvard, diz sobre as estratégias
pedagógicas:
72
Organizar o Tratar as
conhecimento informações
Relacionar
diferentes
conteúdos
73
Fonte: Adaptada de Hernández e Ventura (2017).
74
Fonte: Adaptada de Hernández e Ventura (2017).
75
projeto, notando como as aprendizagens ocorrem e propondo a tomada de decisões
quanto ao seu desenvolvimento ou possíveis adaptações para que os alunos
consolidem ao máximo suas aprendizagens. Victor está muito questionador, até aí
não vejo nenhum problema.
76
operações de pensamento que possibilitem “abordar e pesquisar problemas que vão
além da compartimentação disciplinar” (HERNÁNDEZ, 1998, p. 34). Como concepção
curricular, por sua vez, ela busca entender o currículo da escola para promover a
relação dos conteúdos conceituais, procedimentais e atitudinais.
Zabala (1998) associa os conteúdos conceituais, procedimentais e atitudinais
às perguntas “o que se deve saber?”, “o que se deve saber fazer?” e “como se deve
ser?”. Assim, você pode perceber que os conteúdos escolares devem envolver mais
do que saber sobre o caráter disciplinar do currículo, atentando-se também à forma,
aos métodos e estratégias para promoção de ensino, aprendizagem (procedimentos),
constituição da subjetividade dos alunos, bem como de quem eles se tornarão por
meio do desenvolvimento de valores e da ética (atitudes).
Este caráter que amplia a função da escola e a dimensão do currículo,
fazendo-o inovar a partir de uma visão globalizada, bem como ressignifica as práticas
docentes e o papel do professor, será reforçado nos quatro pilares da educação
propostos por Delors et al. (1998), no relatório feito para a Organização das Nações
Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), intitulado “Educação: Um
futuro a descobrir”. Atente para os quatro pilares considerados, na época, como a
base para os processos educacionais no século XXI.
➢ Aprender a conhecer
➢ Aprender a fazer
➢ Aprender a viver juntos
➢ Aprender a ser
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cada vez mais, se exige competências no mercado de trabalho para que se tenha
empregabilidade ou trabalhos a fazer.
O aprender a viver juntos, ou conviver, se refere a uma aprendizagem que
“representa, hoje em dia, um dos maiores desafios da educação. O mundo atual é,
muitas vezes, um mundo de violência que se opõe à esperança posta por alguns no
progresso da humanidade” (DELORS et al., 1998, p. 96). Ao olhar ao redor, você
percebe na cidade, no interior da escola e nos noticiários locais como essa questão,
sobretudo no Brasil, é urgente na contemporaneidade. A violência de todas as ordens,
como doméstica, de gênero, racista, sexista, homofóbica, xenofóbica, bullying, entre
outras, deve encontrar na instituição escolar um espaço de reflexão, discussão e
práticas que possam reconstruir esse cenário. As escolas podem contribuir para que
a sociedade reconheça o outro, respeitando e tratando todos com equidade e justiça.
O aprender a ser remete ao desenvolvimento total da pessoa, o que envolve
“espírito e corpo, inteligência, sensibilidade, sentido estético, responsabilidade
pessoal, espiritualidade” (DELORS et al., 1998, p. 99). Assim, a partir da educação
que receberam em sua juventude, em que a escola tem papel primordial, os indivíduos
podem estar preparados para exercer sua autonomia de pensamento e estabelecer
juízos de valor necessários para que decidam sobre as questões que a vida impõe a
todos.
Pensar em um currículo globalizado é entender a instituição de ensino se
empenhando nas suas práticas educativas para a promoção de aprendizagens que
capacitem os alunos para sua vida plena, o que envolve o conhecer, o fazer, o
conviver e o ser. Para que isso seja possível, obrigatoriamente, deve-se repensar as
práticas escolares e o próprio percurso da didática. Sacristán (2000), ao referir-se ao
discurso da didática sobre a prática escolar, relembra que:
78
aprendizagem significativa por intermédio de práticas pedagógicas contextualizadas
e que se aliem à realidade social e cotidiana dos estudantes, logo, despertando seu
interesse e participação. Assim, segundo Zabala (1998),
79
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