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DA INCLUSÃO
1
Sumário
NOSSA HISTÓRIA ...................................................................................................... 2
INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 3
O CURRÍCULO: HISTÓRIA, CONCEITOS E SITUAÇÃO ATUAL .......................... 4
Currículo, poder e controle social ................................................................................ 18
Currículo prescrito X currículo real ............................................................................. 27
Futuros do currículo e currículos do futuro: currículo e construção de identidades....... 31
Perspectivas de inclusão no currículo .......................................................................... 39
AS NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS E A ESCOLA INCLUSIVA... 45
A inclusão e o processo histórico ................................................................................ 45
As necessidades educacionais especiais e a legislação referente à inclusão nas escolas
regulares ..................................................................................................................... 54
A escola inclusiva ....................................................................................................... 65
O outro lado da inclusão.............................................................................................. 69
De que inclusão se fala? Que inclusão se pratica? ....................................................... 73
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 75
1
NOSSA HISTÓRIA
2
INTRODUÇÃO
3
O CURRÍCULO: HISTÓRIA, CONCEITOS E SITUAÇÃO
ATUAL
4
estudos. A partir desse momento, buscou-se responder questões importantes
relativas ao currículo e à educação, como: quais os objetivos da educação? O
que se devia ensinar: habilidades como escrever, ler e contar ou habilidades
práticas para a profissionalização? Dever-se-ia dar prioridade ao saber
acadêmico ou em experiências subjetivas? As crianças deviam ser ajustadas ao
sistema social, tal como era, ou se devia prepará-las para transformar esse
sistema social?
Assim, foi John Franklin Bobbitt o homem que deu forma à área de
currículo visando à eficiência. Seu primeiro princípio na área da educação foi:
usar toda a área da escola durante todo o tempo disponível. O segundo princípio
foi reduzir o número de trabalhadores, obtendo de cada um o máximo de sua
eficiência. Já o terceiro princípio compreendia na eliminação de gastos
supérfluos e o quarto se referia ao treinamento das pessoas dentro da escola.
(GOODSON, 1995).
5
social determinado, para isso havia muitos tipos de currículos destinados a
diferentes grupos da população. Havia currículos diversos: clássico, científico,
geral, comercial, de estenografia, de secretariado, artes domésticas, agricultura,
impressão, eletricidade, mecânica, marcenaria, desenho, automobilismo e
carpintaria.
6
Nessa perspectiva, assim como na empresa havia a linha de produção, a
divisão do trabalho (intelectual, manual), o trabalhador que executava funções
sem tomar parte das decisões, o conhecimento em pedaços e segmentado; nas
escolas havia carteiras enfileiradas, a divisão do planejamento e da execução,
as notas como prêmio para a produtividade, a memorização, a cópia e o
especialista com o conhecimento disciplinar. A racionalização da atividade
industrial transferiu-se para a escola. Nesse modelo, dever-se-ia produzir o
homem certo para lugar certo e a palavra de ordem era “produzir” o máximo
possível. Até mesmo os espaços escolares deveriam ser aproveitados ao
máximo, pois na racionalidade fabril o erro era o desperdício. O currículo nasce
com o objetivo de preparar o homem para o trabalho e não para a formação da
autonomia; nesse sistema, o homem deveria sair da escola qualificado,
competente e eficiente; nada mais, o que explicitou um dos mais importantes
representantes do campo no início dos anos 50.
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Na Inglaterra, o período dos anos 60 e 70 também foi marcado por
importantes mudanças sociais e culturais, bem como por grandes
transformações no interior da escola. Iniciou-se, então, um debate sobre a
natureza dos conteúdos cognitivos e culturais suscetíveis de serem incorporados
aos programas escolares e sobre a diferenciação possível desses conteúdos em
função das diferentes categorias de público a qual o ensino se dirige. (FORQUIN,
1993).
8
encontrou caminhos privilegiados para o seu desenvolvimento, renovação e
colaboração à educação. (FORQUIN, 1993).
Foi o livro Knowledge and control: new directions for the Sociology of
Education, publicado por Michael Young, em 1971, que marcou o início de uma
9
nova abordagem sociológica, a “Nova Sociologia da Educação” (NSE). Michael
Young fica reconhecido como o líder desse “movimento”, que reunia também
outros autores, ligados à Universidade de Londres e que, mesmo fora da
Inglaterra, tiveram artigos publicados no livro; como Pierre Bourdieu, que
enfatizava a legitimação de culturas dominantes pela escola. Outro
representante inglês da NSE é Basil Bernstein, que defendia a idéia de que o
currículo é um dos mecanismos que viabilizam a realização do controle social
dos comportamentos individuais.
10
e a desvalorização do saber não escolar, a NSE entendia o currículo como
instrumento de poder para a exclusão da classe social. (YOUNG, 2000).
11
A partir de 1976, Young inicia um novo estágio de pensamento e modifica
a imagem que tem do professor como transformador da sociedade. Ele passa
então a sugerir que os professores progressistas, juntamente com outros setores
da sociedade, e não mais sozinhos, lutem para a construção de uma ordem
social mais justa. Nesse novo estágio, Young reconhece que o saber acadêmico
contraria interesses das camadas populares. Depois passou a ver que currículo
acadêmico nem sempre oferece esse papel. Dessa forma, supera-se o caráter
pessimista das teorias da reprodução, como também da crença demais otimista
no poder da educação, enfatizadas no início da NSE.
Com isso, a NSE teve uma vida breve, por um lado, por suas limitações
teóricas e, por outro, devido às mudanças nas circunstâncias políticas e
econômicas mais amplas.
12
Assim, a NSE “fez uma carreira curta enquanto corrente de pensamento
autônoma” (FORQUIN, 1995, p.190), em grande parte, devido às diversas
referências teóricas e, em parte incompatíveis, levando assim, a um relativismo
muito intenso, o que desvalorizou a teoria. No entanto, ela permanece hoje tão
importante, como há 26 anos, já que ainda se debate e pesquisa as relações de
poder na seleção e distribuição dos conteúdos e saberes escolares. Ainda é
atual e necessária a tendência de “levantar alguns problemas fundamentais que
foram âmago da questão do que é a educação.” (YOUNG, 2000, p. 72). Com a
contribuição da NSE
Como pôde ser visto, A NSE foi realmente um divisor entre uma visão
mais ingênua e tradicional do currículo e uma visão mais crítica. A partir daí,
surgem conceitos diferenciados de currículo, porém conceitos que se interagem,
se penetram e se completam.
Para Nóvoa, “ele deve ser visto como parte dos jogos de interesses que
definem o trabalho acadêmico e os processos de legitimação das diversas
correntes científicas” (NÓVOA, 1999, p. 14). Nessa mesma perspectiva, Costa
13
(2001) define o currículo como lugar de representação simbólica, transgressão,
jogo de poder multicultural, lugar de escolhas, inclusões e exclusões, produto de
uma ‘lógica clandestina’, que nem sempre é a expressão da vontade de um
sujeito, mas imposição do próprio ato discursivo.
14
(...) proporcionar aos educandos a formação necessária ao
desenvolvimento de suas potencialidades como elemento de auto-
realização, preparação para o trabalho e para o exercício consciente
da cidadania. (PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS, 1997,
p. 14).
15
forma mais adequada à natureza do processo de aprendizagem; a valorização
das diversas culturas regionais e religiosas, reconhecendo a diversidade cultural
brasileira.
Contudo, Macedo (1998) faz críticas aos PCN e aos seus Temas
Transversais. Ela expõe vários questionamentos em relação à reafirmação que
o documento faz às disciplinas clássicas deixando lacunas sobre esses temas.
Também questiona o limite das disciplinas clássicas e tradicionais a ponto de ter
que ser criado Temas Transversais, ou seja, as disciplinas tradicionais não se
mostram suficientes para abordar todas as áreas do conhecimento. Questiona
ainda a forma de apresentação dos Temas Transversais pelo documento,
quando ele não explica de forma clara como eles serão trabalhados, já que
devem ser integrados e perpassados em todas as disciplinas; critica a base dos
PCN, assentada em autores conteudistas e, por fim, questiona o lugar de
importância das disciplinas e dos Temas Transversais, uma vez que os temas
importantes da vida em sociedade são tratados fora das disciplinas clássicas.
16
de poder, e a outra da naturalidade das coisas, como um resultado acrítico das
ações cotidianas.
Portanto, o caminho percorrido até aqui direciona a uma atitude em que a
prioridade sobre o tema deixa de ser a definição do currículo e passa a ser a
compreensão das suas intenções. Dessa forma, algumas questões vêm à tona:
o que se deve ensinar? Quem deve controlar a seleção e distribuição do
conhecimento? O que deve ser considerado como conhecimento? Como medir
a importância de um conhecimento em detrimento de outro? Como o controle do
conhecimento é ligado ao poder de uns e não de outros? Como se pode colocar
o conhecimento curricular ao alcance dos alunos?
A prioridade é no momento, não o consenso do significado de currículo,
mas como e por quem ele é organizado. É possível considerar como currículo
os programas escolares, os planos de curso, as disciplinas, seus conteúdos;
tudo o que é supostamente aprendido e ensinado, como valores, atitudes,
relações interpessoais, mesmo que de maneira inconsciente. E é justamente a
falta da consciência com que muitos ensinamentos são transmitidos que reforça
a análise do currículo. A transmissão de qualquer saber pode ser inconsciente,
mas sempre intencional, pois as intenções são muitas vezes inerentes às
pessoas, já que cada um leva consigo uma bagagem adquirida ao longo da vida,
referente às aprendizagens formais e informais. Nessa bagagem, estão
presentes os valores, os costumes, a cultura e as crenças de cada um. Nesse
sentido, não há ação sem intenção, e consequentemente, não há currículo
ingênuo.
17
Currículo, poder e controle social
18
educacionais contribuem para essa prática da desigualdade em que o
conhecimento adquirido na escola não seja ameaçador para o domínio de
poucos.
19
De acordo com Apple (2002), Finney (1922), um dos primeiros sociólogos
da educação nos Estados Unidos da América, insistia que a classe média era a
mais afetada. Era afetada pela classe mais abastada, de capitalistas industriais
e pela classe baixa, já que havia, com a imigração, muita mão-de-obra barata.
Para fazer com que o problema se resolvesse era necessário uma conduta
harmônica e homogênea entre a população. Assim, a escola é posta como
protagonista nesta tarefa: fazer com que as pessoas pensem da mesma forma,
tenham os mesmos valores e não se tornem problemas ou ameaças futuras na
desterritorização do poder. O currículo escolar poderia criar um consenso de
valores que representasse a meta de suas políticas econômicas e sociais. Uma
dessas respostas para a época seria o ensino médio universal.
20
perceber a escola, não se questionava quais saberes e a origem dos saberes
que seriam transmitidos nas escolas e o que isso significaria para a sociedade.
21
para expandir mercados, controlar o trabalho e a pessoas. Esse saber é utilizado
para servir aos interesses das classes dominantes da sociedade. Como ele
mesmo afirma, “embora tudo isso pareça demasiado abstrato, as suas raízes
estavam e estão em algo muito mais concreto.” (APPLE, 1989, p. 38).
22
Nesse sentido de entendimento da escola, o currículo é um projeto
cultural, social e político. Ele está construído em bases ideológicas, mergulhado
no sistema de ideias, valores, atitudes e crenças compartilhadas por um grupo
de pessoas com um peso significativo em sua criação e elaboração.
23
cultura é mantida. O que importa, no entanto, é qual conceito de cultura e qual
cultura vem sendo perpetuada a partir de então.
A cultura erudita é retratada como uma cultura que tem mais valor,
reafirmando a ideia de que as elites possuem o que há de melhor em uma
sociedade e a cultura popular, corresponde a uma cultura produzida pelo povo,
cotidianamente.
24
No entanto, é importante ressaltar que uma cultura de classe dominante,
ou seja, a cultura burguesa não é sempre opressora e nem a cultura popular é
sempre libertadora. Há cultura popular, do senso comum, que muitas vezes
oprime e cria preconceitos, como é o caso de se achar que o índio é preguiçoso.
Com isso, é possível perceber que há momentos em que determinada cultura
liberta e oprime, seja ela erudita ou popular. Portanto, nem sempre a cultura
burguesa será a dominante e nem sempre a cultura operária será a dominada.
25
Lopes chama a atenção sobre como a escola “repassa” seus saberes
escolhidos como melhores e mais significativos. É necessário mais cautela ao
observar, analisar e compreender o que e como os livros didáticos ilustram e
omitem certos saberes. A ação dos professores também precisa ser examinada
e observada com mais atenção, pois quando eles se esforçam para explicar
certos conteúdos de uma maneira mais objetiva e simples para seus alunos,
novas construções e significações são feitas, o que às vezes pode significar
novos conceitos.
Sendo assim, é preciso que muitas pesquisas continuem sendo feitas com
o intuito de esclarecer como os conhecimentos são escolhidos e se esses
conhecimentos passam uma idéia de verdade absoluta em relação à cultura de
que fazem parte: erudita ou popular e que, sobretudo, não há hierarquias quando
o assunto é cultura, mas sim uma diversidade; e esse é o papel da escola “admitir
uma diversidade de conhecimentos sem hierarquizações absolutas” para fazer
da escola “um campo de expressão dos embates entre diferentes saberes.”
(LOPES, 1997, p. 110).
26
conhecimentos sejam contestados e nem sempre ingenuinamente aceitos. O
desafio da escola, portanto, é estar atenta ao que é perpassado e transmitido,
mesmo que de forma velada e implícita. “...o pensamento pedagógico
contemporâneo não pode se esquivar de uma reflexão sobre a questão da
cultura e dos elementos culturais dos diferentes tipos de escolhas educativas,
sob pena de cair na superficialidade.” (FORQUIN, 1993, p. 10).
27
lógica, na medida em que as lógicas de Estado, de mercado, do actor
e cultural são peças de um puzzle, que adquire sentido pelas fronteiras
conquistadas em momentos diferentes. (PACHECO, 2005, p.111).
28
crianças de classes abastadas aprendem maneiras de dominação a traços
sociais relacionados à posição de ordem.
29
Levando em conta o papel regulador da escola e do currículo, o currículo
real e com ele o oculto, tornam-se palco principal para a efetivação do controle
social, já que a manutenção dos privilégios de grupos dominantes e a cultura
dita como verdadeira encontrano currículo oculto seu terreno para a sua
concretização e efetivação. Mas, o currículo real abre também o espaço e as
possibilidades de entrada na sala de aula de experiências significativas para os
alunos, que povoam seu mundo real e, com os alunos, adentram a escola.
30
Futuros do currículo e currículos do futuro: currículo e
construção de identidades
31
privilegiado de construção de identidades e subjetividades. (
MOREIRA, 2006, p. 15).
32
moderno, até aqui visto como um sujeito unificado. As identidades modernas
estão sendo “descentradas”, isto é, deslocadas ou fragmentadas,
consequentemente, a opinião dentro da comunidade sociológica está ainda
profundamente dividida quanto a esses assuntos, pois as tendências são
recentes e ambíguas. O próprio conceito “identidade” é complexo, muito pouco
desenvolvido e muito pouco compreendido na ciência social contemporânea.
(HALL, 2005).
33
produzindo aquela fragmentação de códigos cultuais, aquela
multiplicidade de estilos, aquela ênfase no efêmero, no flutuante, no
impermanente e na diferença e no pluralismo cultural. (HALL, 2005, p.
73-74).
34
Entretanto, imersos a esse movimento globalizante, as consequências
aparecem, Hall (2005) cita três consequências da globalização, isto é, a
homogeneização das identidades globais: reafirmação das identidades locais;
existência de uma própria “geometria de poder” e retenção de alguns aspectos
da dominação global ocidental. Talvez o exemplo mais real do terceiro aspecto
seja o fenômeno da migração.
35
Agora, numa perspectiva intercultural não basta reconhecer a
diferença, é preciso estabelecer uma relação, a inter-relação entre
pessoas de culturas diferentes para justamente permitir um
entendimento recíproco, de tal forma que essa relação implique um
desafio à reelaboração de cada um. (MOREIRA, 2002, p.7).
36
O campo do currículo, hoje, desconfia de discursos que se apresentem
como meramente técnicos, buscando perceber neles vozes autorizadas e vozes
silenciadas. Cobram-se da educação e do currículo, medidas para a formação
de cidadãos abertos ao mundo, tolerantes e democráticos. “O que caracteriza
propriamente os seres humanos não é uma similaridade, mas a própria
diferença.” (MOREIRA, 2002, p.14).
37
Os caminhos possíveis, sugeridos acima, estão longe dos currículos que
deformam ou tratam de forma superficial as comunidades marginalizadas e
silenciadas, chamados por Santomé (1998) de “currículo de turistas”, cujas
temáticas são citadas esporadicamente e contempladas de uma perspectiva
distante, como algo que não tem a ver com cada uma das pessoas na sala de
aula. Alguns exemplos desse tipo de currículo são: a) a trivialização, quando
grupos são tratados de forma banal, lembrados apenas por seus folclores,
comidas típicas, rituais festivos, vestimentas e etc; b) a recordação, é quando se
faz uso de objetos e fatos isolados para registrar lembranças de determinado
grupo, como por exemplo, uma única boneca negra, recordando valores; c) “o
dia de”, acontece quando instituições escolares enfrentam a diversidade
comemorando datas simbólicas, como o Dia do Índio, em que muitas escolas
pintam os rostos dos alunos na tentativa de representá-los; d) a estereotipia,
como ato para perpetuar situações de opressão e marginalização; e) a
tergiversação, que significa o ocultamento e a deformação de histórias e origens,
na tentativa de justificar tais preconceitos, como inferioridade genética, maldade
inata e outros.
Esse tipo de filtro nas escolas, usado para selecionar apenas fragmentos
da realidade, contribui para negar e ocultar verdadeiras realidades e, com efeito,
não ajuda meninos e meninas a compreender o mundo que os rodeia. “Doutrinar
é impedir o surgimento de determinadas realidades que possam transformar-se
[sic] em objeto de análise e reflexão.” (SANTOMÉ, 1998, p. 151).
38
análise e reflexão pode ser uma boa maneira de participar dessa luta política por
uma sociedade mais inclusiva.
39
embate entre os sexos é importante que surjam questões para se compreender
como a visão e o comportamento masculino são formados e mantidos na escola
e na sociedade como um todo. Necessita-se conhecer como o currículo produz
a masculinidade e como a formação masculina está ligada à posição privilegiada
de poder que os homens apresentam na sociedade.
40
etnia não é simplesmente um ‘tema transversal”: ela é uma questão
central de conhecimento, poder e identidade. (SILVA, 2005, p.102).
41
diferentes’ e diferentes. “Não se pode ser “diferente” de forma absoluta; é-se
diferente relativamente a uma outra coisa, considerada precisamente como “não-
diferente”. Mas essa “outra coisa” (...), o “não-diferente”, também só faz sentido,
só existe, na “relação de diferença” que se opõe ao “diferente.” (SILVA, 2005, p.
87).
42
sempre com a agricultura e pesca, e ainda como “uma roça”, em que nada de
importante acontece, sugerindo uma realidade inferior à da vida urbana. A
distorção desses contextos é comum assim como das pessoas que vivem do
mar. A realidade da vida rural e da vida litorânea não aparece nos livros. Não é
comum debater sobre as dificuldades inerentes à agricultura, os altos custos da
criação, os desastres causados por variações climáticas, as pragas que atacam
plantações inteiras, a falta de rede de esgoto e água tratada, as deficiências nas
telecomunicações, assim como a vida dos pesadores em alto mar, as
dificuldades e os benefícios da pesca.
O grupo dos idosos tem tido uma atenção nos últimos anos, ainda que
pequena, devido ao crescimento desse grupo, afetando assim as economias dos
países, fazendo-os tornar uma grande massa de consumidores. Dessa forma,
de um lado os idosos tornam-se problemas para o caixa dos Estados e de outro
criam e resgatam um mercado próprio para esse setor, possibilitando
crescimento econômico. Mas por sua vez, essas relações de rentabilidade e as
condições de vida desse grupo ainda são omitidas pelo currículo.
43
ampliação de perspectiva para o debate, acerca da função social da escola na
direção da educação multicultural, tem implicações no debate acerca de
educação inclusiva. Esse debate, ao ter colocado para a escola o desafio de
reconhecer a existência de identidades diferenciadas, particulares, cria as
possibilidades e a exigência de experiências escolares que possam não apenas
tolerar, mas reconhecer as demandas específicas daquelas pessoas que
apresentam situações que lhes são inalienáveis.
44
AS NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS E A
ESCOLA INCLUSIVA
45
consideradas adequadas às suas limitações. Na história da humanidade, os
indivíduos com deficiência eram vistos como “doentes” e incapazes e sempre
estiveram em situação de maior desvantagem, ocupando no imaginário coletivo
a posição de alvos da caridade popular e da assistência social e não de sujeitos
de direitos sociais, entre os quais se inclui o direito à educação.
46
Segundo Mazzota (2001), no Brasil, somente no final dos anos cinquenta
começaram a surgir iniciativas oficiais de âmbito nacional voltadas para a
educação de pessoas com deficiência. E conclui: “A defesa da cidadania e do
direito à educação das pessoas portadoras de deficiência é muito recente em
nossa sociedade.” (MAZZOTA, 2001, p.15).
Sassaki (2003) aponta o caminho para que uma escola comum se torne
inclusiva, dizendo que ela deve se reestruturar para atender à diversidade do
novo alunado, sendo este visualizado não só em termos de necessidades
especiais decorrentes de deficiência física, mental, visual, auditiva ou múltipla,
como também aquelas resultantes de outras condições atípicas; em termos de
estilos e habilidades de aprendizagem dos alunos e em todos os outros
47
requisitos do princípio da inclusão, conforme estabelecidos no documento ‘A
Declaração de Salamanca’ e o ‘Plano de Ação para a Educação de
Necessidades Especiais’ pois, todas as pessoas devem ser incluídas.
48
aprendam, e assim será possível adequar o processo de aprendizagem ao ritmo
e às condições de desenvolvimento de cada aprendiz, um dos princípios da
escola de qualidade para todos. Portanto, a escola não deveria ser formatada
com um processo em que as crianças “passem sem aprender”, que passem a
frequentar os ciclos seguintes sem o devido desenvolvimento das habilidades
previstas para o ciclo anterior. A estrutura de ciclos foi pensada para atender à
criança e não para resolver estatísticas de retenção e repetência. Infelizmente,
em muitas escolas, isso se tem confirmado como tendência. (GLÓRIA, 2002).
49
Sem conhecer os seus alunos e os que estão à sua margem, não é
possível à escola elaborar um currículo que reflita o meio social e
cultural em que se insere. A integração entre áreas do conhecimento e
a concepção transversal das novas propostas de organização
curricular consideram as disciplinas acadêmicas como meios e não fins
em si mesmas e partem do respeito à realidade do aluno, de suas
experiências de vida cotidiana, para chegar à sistematização do saber.
(MANTOAN, 2001, p.114).
O que se observou até agora foi que muitas pessoas com deficiência
evadiram das escolas, na forma como lhes foram apresentadas. Não seria então
a evasão escolar ocasionada como consequência de uma política educativa que
não está voltada para atingir a todos, gerando a desistência dos que não se
adaptam ao modelo? Assim a culpa recai sobre as próprias vítimas. Ao entender
que se deve empenhar pelo desenvolvimento da sociedade, no sentido de que
se transfiram os problemas dos encargos dos indivíduos para a esfera do
planejamento social, compreende-se que as escolas devem garantir a
permanência das crianças, renovando e ampliando sua filosofia, propostas e
práticas curriculares.
50
A luta que mobilizou os educadores brasileiros ao longo do século
passado, na qual destaco Anísio Teixeira como um símbolo, foi pela
universalização do acesso à escola. Esta está praticamente vencida.
Hoje já podemos dizer que quase a totalidade das crianças brasileiras
tem vaga na escola. A luta do século que se inicia, é pelo direito de
permanecer na escola, o direito de não ser excluído do processo
educacional. (GUIMARÃES, 2002, p.10-11)
51
possa, desenvolvendo a sua criatividade, buscar respostas aos seus interesses
e dúvidas, sendo assim verdadeiramente compreendido. Não há necessidade
de que as minorias percam suas características mais peculiares para se
tornarem parecidas e se assemelharem a uma virtual maioria, mas, de um
processo inverso: a aceitação da diferença como mais um exemplo da
diversidade humana, para a construção de um verdadeiro processo educativo.
52
Analisando assim o processo histórico, pode-se verificar que o isolamento
das pessoas diagnosticadas como pessoa com deficiência foi muitas vezes
pautado por justificativas legais, como também, pelas autoridades médicas.
Sabe-se que os testes psicológicos foram amplamente utilizados
desempenhando um papel muito importante no processo de exclusão escolar.
Não é o caso de se renunciar às medidas psicométricas nem às classificações
nosológicas, mas devolver à criança com dificuldade, sua dignidade de aprendiz
do saber. O diagnóstico deve ser usado, portanto, não para rotular esta criança
ou ainda para servir como uma barreira insuperável que traça um destino
derradeiro, mas sim, sendo reconhecido o acometimento, possibilitar que a
escola planeje a melhor forma de incluí-lo no modelo institucional.
53
sala de aula. Dessa forma, a fala de Guimarães (2002) sobre a ampliação do
debate e a busca de novas alternativas se faz relevante.
54
Segundo esses documentos oficiais, não é o aluno com NEE que deve se
adequar à escola, mas sim a escola que deve se adequar a ele. Seja qual for a
limitação, que dificulte o acompanhamento das atividades curriculares, essa é
considerada uma necessidade educativa especial. De acordo com o conceito
acima, desmistificou-se o conceito de que um aluno com NEE, para ser
considerado como tal, precisa ter uma deficiência física ou mental. Muitas
limitações existentes não se encaixam com um perfil de dificuldade física ou
sensorial e, mesmo assim, são consideradas necessidades educativas
especiais.
55
deficiência, posição econômica, condição de saúde, idade,
nacionalidade, naturalidade, etc). (GUIMARÃES, 2002, p. 22).
56
à doença, que é crônica, grave e incurável, não é reconhecido como um aluno
que mereça um olhar especial.
57
da voz, gagueira, atrasos no desenvolvimento, crianças superdotadas e também
deficiências como paralisia cerebral, doenças cardíacas, hidrocefalia e outras.
Embora também ampliada, a concepção desse autor não é a mesma que a de
Guimarães. O autor não aborda questões de ordem cultural.
58
um leque de manifestações, de natureza orgânica ou não, de caráter temporário
ou permanente, cujas consequências incidem no processo educacional. “Mas as
ressalvas e sutilezas continuam, pois o termo “portadores de” caiu na armadilha
do léxico que aprisiona o sujeito ao desconforto de portar ou carregar
deficiências, necessidades ou direitos.”(DICIONÁRIO DO PROFESSOR, 2001,
p. 37).
59
Em 1948, a Declaração dos Direitos Humanos vem assegurar o direito de
todos à Educação pública e gratuita, oportunidades sociais iguais para todos
contribuindo para a criação dos serviços de educação especial e classes
especiais em escolas públicas do Brasil. Mais adiante, surge a política Nacional
de Educação, LDB nº 4021/61 com a recomendação de integrar no sistema geral
de ensino a educação de excepcionais, como eram chamadas as pessoas com
necessidades educacionais especiais. Nesse documento, a educação especial
foi colocada no Titulo X, arts. nº 88 e 8920, separadamente da educação geral,
tida até então como “normal”. No entanto, de forma contraditória, a educação
especial deveria, no que fosse possível, enquadrar-se no sistema geral da
educação. Entretanto, o Estado não atribuía a si nenhuma responsabilidade e
não mencionava seu dever, ficando restrito apenas a um direito de todos. É bom
lembrar que antes desse panorama em que a educação especial foi destacada
na legislação brasileira; no século XIX, a escolaridade elementar não era
obrigatória para crianças não vacinadas, com doenças contagiosas, escravos, a
população residente num espaço geográfico longe da escola e, menores de 5
anos e maiores de 15. (Não obrigatoriedade da educação, 21-)
60
e adultos devem aprender juntos, independentemente de suas características,
origens, condições físicas, sensoriais, intelectuais, linguísticas ou emocionais,
econômicas ou socioculturais.
61
Posteriormente, um encontro ibero-americano resultou na Convenção da
Guatemala, que aboliu toda forma de discriminação, na sociedade e na escola.
O documento resultante dessa Convenção foi aprovado pelo Congresso
Nacional e incorporado à legislação brasileira, em 2001, por meio do Decreto
Presidencial nº 3956 de 8/10/2001.
62
classes, de modo a se beneficiarem das diferenças e que ampliem positivamente
as experiências de todos os alunos, considerando os princípios da educação
para a diversidade; flexibilizações e adaptações curriculares, que considerem o
significado prático e instrumental dos conteúdos básicos; metodologias de
ensino e recursos didáticos diferenciados, bem como processos de avaliação
contextualizada que envolvem todas as variáveis intrínsecas ao processo ensino
e aprendizagem. E ainda: serviços de apoio pedagógicos especializados, sejam
em classes comuns; avaliação pedagógica processual para a identificação das
necessidades educacionais especiais e indicação dos apoios pedagógicos
adequados; temporalidade flexível do ano letivo, de forma que o aluno possa
concluir em tempo maior o currículo previsto para a série ou etapa escolar na
qual está inserido, quando necessário; condições para a reflexão, ação e
elaboração teórica da educação inclusiva na prática pedagógica, colaborando
com instituições de ensino superior e pesquisa; uma rede de apoio inter-
institucional que envolva profissionais das áreas de saúde, assistência social e
de trabalho, por meio de convênios com organizações públicas ou privadas, para
garantir o sucesso da aprendizagem e a sustentabilidade do processo inclusivo
mediante o trabalho da equipe escolar com a participação da família e da
comunidade.
63
identificação e descrição de prováveis classes onde ele possa melhor se
beneficiar, desenvolvimento de um programa de atividades que contemple o
período de adaptação, estabelecimento do sistema de apoio necessário, oferta
de apoio técnico ao desenvolvimento do programa, capacitação dos professores
quanto às necessidades educacionais em sala de aula, envolvimento contínuo
dos pais no programa escolar e acompanhamento do progresso do aluno e sua
modificação, sempre que necessário.
64
Mais uma vez, evidencia-se a direção do debate de inclusão para o foco
das deficiências. No entanto, considera-se importante ratificar que quando os
documentos se referem à equidade na educação, igualdade nas condições de
acesso e permanência na escola, educação para a diversidade, respeito às
diferenças individuais das crianças e garantia de cuidados essenciais ao
desenvolvimento de sua identidade, consequentemente, eles incluem todas as
categorias de NEE, abarcando todas as situações de minorias e diferenças.
A escola inclusiva
Como foi assinalado, não há uma conceituação única para a educação
inclusiva. Entretanto, o debate colocado permite concluir que a inclusão não visa
apenas à inserção do aluno ou o acesso à escola, mas sim a inserção escolar
de forma completa e sistemática, não deixando ninguém no exterior do ensino
regular, desde o início da idade definida como “escolar”. É essa perspectiva que
defende o campo curricular no movimento de “direito às diferenças”, como
também aqueles que amparam a educação de PNEE.
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identidade fixada em modelos ideais, dentro de uma ordem dicotômica de bonito
e feio, normal e anormal, produtivo e improdutivo, forte e fraco, útil e inútil ou
igual e diferente. É um aluno que é sujeito, que pertence a diferentes culturas,
que apresenta diferenças sociais, econômicas, raciais, físicas, mas que não os
inferiorizam. “Há diferenças e há igualdades – nem tudo deve ser igual, assim
como nem tudo deve se diferente. É preciso que tenhamos o direito de sermos
diferentes quando a igualdade nos descaracteriza e o direito de sermos iguais
quando a diferença nos inferioriza.” (MANTOAN, 2006, p. 24-25), (SANTOS,
1995)
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então, essa questão estava sempre ligada aos alunos. Uma escola inclusiva
pressupõe uma série de mudanças: flexibilidade no uso do tempo, do espaço e
das formas de agrupamento, revisão das estratégias educacionais e os
fundamentos que as sustentam, avaliação crítica dos resultados do seu fazer
pedagógico, assumindo responsavelmente e fazendo correções da prática,
quando necessário.
Sabe-se que a escola inclusiva ainda sofre resistência por vários grupos:
pais, professores, gestores e os próprios alunos. Usam-se argumentos como:
“esses alunos aqui conosco vão nos desviar do nosso propósito real e destruir
nossa rotina”. Isso porque esses alunos são os gagos, epiléticos, ciganos,
explorados sexualmente, hiperativos, diabéticos, artistas de circo, pobres, de
outras religiões, desnutridos, superdotados, homossexuais, sem apoio da
família, com déficit de atenção e muitos outros que estão sendo alijados do
sistema escolar regular. “Se desejamos uma sociedade inclusiva em que todas
as pessoas sejam consideradas com direitos iguais, a segregação nas escolas
não pode ser justificada.” (STAINBACK e STAINBACK, 2006, p. 433).
67
Para se construir uma escola inclusiva não há regras e nem receitas, cada
escola é uma e recebe alunos diferentes umas das outras. Cada escola precisa
construir com sua equipe um projeto e pensar novas posturas frente à
diversidade. Como se viu no item 3.2 deste trabalho, a política de inclusão é algo
recente em nossa sociedade, ainda não se tem muitos modelos e práticas de
inclusão. O mais importante no momento é saber que a largada já foi dada e que
não há tempo a perder. O debate existe e as práticas precisam ser reconstruídas.
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Outro debate semelhante aconteceu no V Colóquio de Pesquisa em
Educação, em outubro de 200725. O debate sobre a formação dos professores
girou em torno de uma formação específica para cada diferença ou uma
formação genérica de inclusão e, a partir do surgimento das diferenças em sala
de aula o professor se aprofundaria no assunto. Vê-se que as dúvidas são
maiores que as certezas, porém, vê-se que o debate está em jogo e que precisa
continuar.
Mantoan (2006) define bem o que não é inclusão: “quando há uma classe
de inclusão, quando há uma escola de inclusão, quando há uma professora de
inclusão, quando há as crianças de inclusão”, (MANTOAN, 2006, p.42), ou seja,
quando há segregação, não há inclusão. E mais, quando os livros didáticos são
usados como ferramenta exclusiva da orientação do currículo, quando se serve
de matrizes para que todos os alunos preencham ao mesmo tempo, as mesmas
perguntas, com as mesmas respostas; quando os projetos são desvinculados
das experiências e do interesse dos alunos, quando se considera a prova final
decisiva na avaliação do rendimento escolar dos alunos e outros, é também
prova de que não houve inclusão.
69
relação à sua origem e significado, assim como foi feito com o currículo a partir
da década de 70. Da mesma forma que o currículo foi desvelado e teve um olhar
mais crítico quanto à sua ingenuidade e naturalidade, a proposta de inclusão
escolar também merece um foco nesse sentido. Até mesmo para que sua
construção seja eficaz, sem rótulos e sem inocência.
Já se sabe que a inclusão pode ser benéfica para que os estudantes com
NEE tenham acesso a uma gama bem mais ampla de papéis sociais; percam o
medo e o preconceito em relação ao diferente, desenvolvam a cooperação e a
tolerância; adquiram senso de responsabilidade e melhorem o rendimento
escolar; e sejam melhores preparados para a vida adulta porque desde cedo
assimilam que as pessoas, as famílias e os espaços sociais não são
homogêneos e que as diferenças são enriquecedoras para o ser humano. Além
disso, também podem ser citadas ações como: aceitação e celebração das
diferenças sociais; valorização de cada pessoa (o direito de pertencer);
convivência dentro da diversidade humana, ou seja, igual importância às
minorias; aprendizagem através da cooperação (solidariedade humanitária); e
cidadania com qualidade de vida.
No entanto, há o outro lado da inclusão em que ela pode ser vista como
espaço de poder, poder para o controle e a regulação social. De forma que, a
partir do momento em que o “excluído” se torna “incluído”, ele perde
características singulares de sua diferença para se homogeneizar ao todo.
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domina-se e regula-se toda uma massa que antes era caracterizada por suas
diferenças. O que é mais sério do que o controle do grupo, é o controle de cada
um, ou seja, o autogoverno. Com a inclusão, ou uma suposta inclusão, o sujeito
se torna mais um dentro do “todos”, se autogovernando a todo o momento para
não ser diferente e continuar “sendo incluído”.
Portanto, aquilo que deve ser posto em discussão não é o caráter binário
das políticas de inclusão/exclusão, mas os argumentos, as condições de
possibilidades que fundamentam essas políticas, como também quais os
significados e representações que se produzem e reproduzem nessas
propostas. Assim, a inclusão deve ser concebida nos seus contornos teóricos e
práticos para permitir uma visão crítica dessa prática social e não somente de
seu discurso que, gradualmente, está se tornando hegemônico.
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Pensando no outro lado da inclusão e em seu descortinamento, não é só
o controle social que pode significar o outro lado da moeda, mas a contenção de
gastos, por parte do governo também é um fator que incentiva à inclusão. Com
o fim das escolas especiais e com os alunos no sistema regular de ensino, tem-
se claro que há uma diminuição dos gastos, uma vez que a educação especial
demanda gastos especiais e atendimento de especialistas. Muitas vezes, alunos,
alguns com deficiência, precisam de um suporte educacional, além do horário
previsto no sistema regular e que, por vezes, com o fim das escolas especiais
esse suporte nem sempre tem acontecido.
Até onde a inclusão não pode ser vista como contenção de gastos e dessa
forma tão incentivada pelos poderes públicos?
Urge outros olhares para a inclusão, até porque não somente a regulação
social, como a diminuição de gastos, mas também a onda de modismo, quanto
ao termo e a prática da inclusão podem ser denominados como ‘outro lado da
moeda’. Há um movimento em que todos devem ser inclusivos e todas as
escolas também devem ser inclusivas, porém na maioria das vezes o discurso
não é reflexo da realidade. Com uma tendência grande a um discurso vazio de
inclusão, em que para ser politicamente correto todos incluem; a verdadeira
inclusão pode ser prejudicada. Pois qualquer movimento e qualquer atitude é
grandiosamente valorizada como forma de incluir, resultando na minimização da
inclusão verdadeira. “Transformou-se em verdadeiro modismo e lugar comum
falar/defender e pregar a inclusão.” (FERREIRA, 21-) Portanto, incluir é preciso,
mas manter os olhos abertos para qual inclusão tem acontecido também se faz
necessário.
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De que inclusão se fala? Que inclusão se pratica?
Chegando ao término de uma visão teórica sobre os temas currículo e
educação inclusiva, que foram discutidos nos capítulos 2 e 3, tem-se um
parâmetro global da situação atual. Ao conhecer perspectivas, tendências,
conceitos e históricos de cada assunto, pode-se observar que ambos os temas
são abrangentes e complexos e, por vezes, genéricos.
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No início deste capítulo, pôde-se ver que muitas podem ser as NEE dos
alunos e que nem todas estão relacionadas às questões culturais, cognitivas,
físicas, de raça, gênero e outras já citadas neste trabalho, como é o exemplo do
diabético. Nesse sentido, pode-se dizer que há ambiguidade no tratamento das
questões curriculares e inclusivas e que, por vezes, o conceito é ampliado,
porém tratado de forma superficial, na sua maioria, ele é restrito àqueles que
apresentam déficits de ordem física e cognitiva.
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REFERÊNCIAS
ALVES-MAZZOTTI, Alda Judith; GEWANDSZNAJDER, Fernando. O
método nas ciências naturais e sociais: pesquisa quantitativa e qualitativa. 2. ed.
São Paulo: Pioneira, 1999.
75
(Orgs). Currículo: debates contemporâneos. São Paulo: Cortez, 2003, p. 174-
195.
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DEJOURS, Christophe. A loucura do trabalho.5.ed.ampliada. São Paulo:
Cortez, 1992. DICIONÁRIO DO PROFESSOR: sistema de ação
pedagógica.Secretaria de Estado da Educação de Minas Gerais, 2001.
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