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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 2

2 O PSICOPEDAGOGO .......................................................................................... 3

2.1 Diagnóstico Psicopedagógico Clínico .................................................................... 4

3 MODALIDADE DE APRENDIZAGEM ................................................................... 4

4 DESENVOLVIMENTO INFANTIL ......................................................................... 6

5 A FUNÇÃO DIAGNÓSTICA DA AVALIAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA .................. 7

6 DIAGNÓSTICO DO DISTÚRBIO DE APRENDIZAGEM ...................................... 8

6.1 Recursos a serem usados no diagnóstico e intervenção


psicopedagógica......................................................................................................11

7 AVALIAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA ................................................................... 12

7.1 Entrevista de Queixa ........................................................................................... 16

7.2 Entrevista de anamnese ...................................................................................... 16

7.3 EOCA................................................................................................................... 17

7.4 Observação lúdica ............................................................................................... 19

7.5 Provas Operatórias Piagetianas .......................................................................... 20

7.6 Técnicas Projetivas Psicopedagógicas................................................................ 21

7.7 Área Psicomotora ................................................................................................ 23

7.8 Área Pedagógica ................................................................................................. 23

7.9 Área Social .......................................................................................................... 24

8 ENTREVISTA DE DEVOLUÇÃO E ENCAMINHAMENTO ................................. 25

8.1 Entrevista Familiar Exploratório Situacional (E.F.E.S.) ........................................ 26

9 A PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL EM COLABORAÇÃO À GESTÃO


EDUCACIONAL ........................................................................................................ 27

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10 A CLÍNICA PSICOPEDAGÓGICA E AS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM
.............................................................................................................................34

11 A PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA E SUA RELAÇÃO COM PROFESSORES,


ESCOLA E FAMÍLIA ................................................................................................. 37

12 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................ 40

13 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................... 42

14 SUGESTÕES BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................... 44

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1 INTRODUÇÃO

Prezado aluno!
O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante
ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável -
um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma
pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é
que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a
resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas
poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em
tempo hábil.
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa
disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que
lhe convier para isso.
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser
seguida e prazos definidos para as atividades.

Bons estudos!

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2 O PSICOPEDAGOGO

Fonte: dialogosdosaber.com.br

O Código de Ética do Psicopedagogo, no seu artigo 1°, define a


Psicopedagogia como um campo de atuação em Saúde e Educação que lida com o
processo de aprendizagem humana: seus padrões normais e patológicos
considerando a influência do meio, família, escola e sociedade no seu
desenvolvimento, utilizando procedimentos próprios da Psicopedagogia. A
Psicopedagogia surge para atender a uma demanda específica de auxílio à superação
das dificuldades de aprendizagem, atuando de forma preventiva e terapêutica.
A Psicopedagogia se divide em três processos: prevenção, diagnóstico e
intervenção. Na prevenção, o psicopedagogo realiza uma investigação institucional,
avaliando os processos didáticos e metodológicos aplicados, e a dinâmica dos
profissionais, buscando compreender o processo ensino/aprendizagem e propondo
alternativas que otimizem os esforços empreendidos pelos envolvidos. A
Psicopedagogia, na forma clínica, busca a promoção da saúde mental auxiliando o
indivíduo na superação das dificuldades de aprendizagem, investigando os sintomas,
a modalidade de aprendizagem e desenvolvendo atividades interventivas. O
atendimento psicopedagógico com uma postura clínica considera a singularidade do
sujeito, os aspectos inconscientes envolvidos no não aprender nos seus diversos
contextos (biológico, afetivo e cognitivo), além da família e da escola.

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Podem-se destacar duas formas básicas de trabalho psicopedagógico: a
primeira delas é o atendimento clínico, que tem como objetivo a recuperação, a outra
é a institucional, que tem como objetivo principal a prevenção. Atualmente há um
grande interesse no trabalho preventivo, situação que não é exclusiva da área
psicopedagógica. Ao contrário, é uma tendência em várias áreas. Acredita-se que
dessa forma muitos problemas podem ser evitados.

2.1 Diagnóstico Psicopedagógico Clínico

O diagnóstico, para o terapeuta, tem a mesma função que a rede para um


equilibrista, ou seja, ele dará o suporte para que o psicopedagogo caminhe de maneira
segura durante o processo de intervenção. O sucesso e a eficácia do diagnóstico
psicopedagógico pressupõem por parte do terapeuta: profundo conhecimento teórico
do processo de aprendizagem, postura clínica, capacidade de observação e
instrumentos e métodos adequados. O objetivo do diagnóstico psicopedagógico
clínico é identificar a modalidade de aprendizagem, o nível da escrita e o nível
cognitivo. Os instrumentos aplicados no diagnóstico psicopedagógico aqui relatado
são descritos no item método e fazem parte do protocolo utilizado na clínica-escola
campo desta pesquisa.

3 MODALIDADE DE APRENDIZAGEM

Modalidade de aprendizagem A forma como cada indivíduo entra em contato


com o objeto de conhecimento, a modalidade de aprendizagem, é particular, individual
e oferece um saber que é singular para cada indivíduo. A modalidade de
aprendizagem é construída desde o nascimento e nas várias situações de
aprendizagem, constituindo-se como um esquema de operar ou processar as
informações. Com a identificação da modalidade de aprendizagem do sujeito com
dificuldades de aprendizagem, o psicopedagogo poderá introduzir a intervenção
adequada, que atenda às necessidades específicas do paciente. Para melhor
compreensão do processo que resulta em modalidade de aprendizagem, é importante
compreender o movimento definido como “adaptação”. Adaptação é o resultado de
um duplo movimento complementar de assimilação e acomodação. Por meio da

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assimilação, o sujeito transforma a realidade para integrá-la às suas possibilidades de
ação e, através da acomodação, transforma e coordena seus próprios esquemas
ativos, para adequá-los às exigências da realidade.
As modalidades de aprendizagem sintomáticas são geradas por um
desequilíbrio nos movimentos de assimilação e/ou acomodação. O excesso (hiper) ou
escassez (hipo) em um desses movimentos afeta o resultado (aprendizagem), ou seja,
dificuldades de aprendizagem estão relacionadas a uma hiperatuação ou hipo -
atuação de um desses processos. Quando há o predomínio da assimilação, as
dificuldades de aprendizagem são da ordem da não resignação, o que leva o sujeito
a interpretar os objetos de modo subjetivo, não internalizando as características
próprias do objeto.
Quando a acomodação predomina, o sujeito não empresta sentido subjetivo
aos objetos, antes, resigna-se sem criticidade. As modalidades de aprendizagem
sintomáticas são assim descritas:
• Hipoassimilação: nesta sintomatização ocorre uma assimilação pobre ou
baixa, o que resulta na pobreza no contato com o objeto.
• Hiperassimilação: sendo a assimilação o movimento de adaptação que
permite a alteração das informações fornecidas pelo meio, para que possam ser
incorporadas pelo sujeito, na aprendizagem sintomatizada pode ocorrer um exagero
desse movimento, de forma que o sujeito não se submete ao aprender. Nesse
movimento, há o predomínio dos aspectos subjetivos sobre os objetivos;
• Hipoacomodação: a acomodação consiste em adaptar-se para que ocorra a
internalização. A sintomatização da acomodação ocorre pela resistência em
acomodar elementos do meio (informações), que pode ser definida como a dificuldade
de internalizar os objetos;
• Hiperacomodação: se acomodar significa internalizar os elementos do meio
(informações), o exagero nesse processo pode levar a uma pobreza de contato com
a subjetividade, levando à submissão e à obediência acrítica às normas;
As informações, ou elementos do meio, são pouco alterados, de forma que não
podem ser incorporados pelo sujeito, apenas acomodados. Analisando a forma como
operam as modalidades de aprendizagem, existem três grupos de modalidades
(organizações) que perturbam o aprender: hipoassimilação-Hipoacomodação;
hiperassimilação-hipoacomodação; e hipoassimilação-hiperacomodação.

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4 DESENVOLVIMENTO INFANTIL

Fonte: daddy.com.br

O conceito de desenvolvimento infantil pode ser entendido como um processo


que envolve vários aspectos: crescimento físico, maturação neurológica, construção
de habilidades relacionadas ao comportamento e às esferas cognitivas, social e
afetiva da criança. O desenvolvimento adequado habilita a criança a atender à
demanda do meio, tornando-a “competente” para responder às suas necessidades,
considerando o seu contexto de vida. O desenvolvimento infantil relaciona-se
diretamente com fatores biológicos e ambientais. Os fatores biológicos estão
relacionados a danos ocorridos nos períodos pré, peri e pós-parto, que podem
conduzir a deficiências e problemas no desenvolvimento neurológico.
Neste grupo estão os distúrbios de ordem genética, malformações congênitas,
prematuridade, hipóxia cerebral, meningites e condições da gestação da mãe (uso de
drogas, fumo e doenças) que podem impactar o desenvolvimento da criança. Os
fatores ambientais estão relacionados à exposição da criança aos estímulos e
situações do meio, tais como condições de habitação, higiene, conforto, nutrição,
estímulo familiar e vida social.
Neste contexto, a reabilitação é o processo pelo qual a criança com alterações
no desenvolvimento poderá ser adequadamente estimulada com o objetivo de
melhorar a funcionalidade das suas habilidades físicas, mental e/ou social. Nessa
perspectiva, todo trabalho de reabilitação, independentemente da idade, deve estar

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centrado nas habilidades da criança, lembrando que sua integridade e dignidade
devem sempre ser respeitadas. Para tal, importa que, ao planejar os programas de
reabilitação e de apoio, o terapeuta possa impreterivelmente considerar os costumes,
possibilidades e as estruturas da família e da comunidade, adequando sua proposta
terapêutica às dificuldades e necessidades da criança. No entanto, para orientar
qualquer proposta terapêutica, a avaliação diagnóstica é a primeira etapa.

5 A FUNÇÃO DIAGNÓSTICA DA AVALIAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA

Fonte: neurosaber.com.br

O trabalho de Educação Escolar se desenvolve através do processo


ensino/aprendizagem e de todos os seus determinantes, sendo assim há um ponto
muito importante na prática psicopedagógica que é a busca do diagnóstico do porquê
da criança (s) ou adolescente (s) não conseguirem aprender dentro dos padrões pré-
estabelecidos pela escola, família e sociedade. Quando se remete ás dificuldades ou
problemas de aprendizagem, alguns aspectos tem que ser levados em conta como a
constituição do sujeito (física, psicológica, necessidades especiais, afecções
cerebrais – lesões herdadas ou adquiridas por distúrbios metabólicos,
cromossômicos, etc.); o desejo do sujeito (motivação pessoal, familiar ou social); a
família do sujeito (estrutura e dinâmica familiar, nível de autonomia na família, nível
sociocultural, relação da família com a escola e papéis assumidos na configuração
familiar); e a escola (estrutura, organização material, de conteúdo e pessoal). Dessa

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forma o cabe ao psicopedagogo vasculhar cada “canto” da pessoa, enxergando não
apenas o que a criança mostra, mas saber perceber que a mesma pode ter algum
problema imperceptível que está dificultando sua aprendizagem e saber conduzi-la a
outros profissionais como psicólogos, fonoaudiólogos, neurologistas, etc., com intuito
de investigar múltiplos fatores que influenciam o não aprender dessa criança.

O psicopedagogo é como um detetive que busca pistas, procurando


solucioná-las, pois algumas podem ser falsas, outras irrelevantes, mas a sua
meta fundamental é investigar todo o processo de aprendizagem levando em
consideração a totalidade dos fatores nele envolvidos, para valendo-se desta
investigação entender a constituição da dificuldade de aprendizagem
(RUBINSTEIN, 1987, apud UHLMANN 2018, p. 225).

É um processo que permite ao profissional investigar, levantar hipóteses


provisórias que serão ou não confirmadas ao longo do processo, porém uma vez
iniciado esse processo, deve-se lançar mão de todos os instrumentos diagnósticos
necessários. Essa busca terá o intuito de descobrir as razões que impedem o sujeito
de aprender, situação essa levantada por uma queixa seja do educador, da família,
da escola ou até mesmo do próprio sujeito. Caberá, portanto, ao psicopedagogo
“ouvir” essa queixa, analisá-la, interpretá-la e seguir com seu processo de avaliação
como função diagnóstica na busca em atender as necessidades educativas traduzidas
em situações passíveis de melhora e com a concretização de auxílio e suporte.

6 DIAGNÓSTICO DO DISTÚRBIO DE APRENDIZAGEM

Investigação é um termo utilizado por Rubinstein (1987), e que definem a


psicopedagogia. O profissional desta área deve analisar o modo de como ela se
expressa, seus gestos, a entonação da voz, tudo. O psicopedagogo deve também
enxergar não só o que essa criança mostra, mas saber perceber que ela pode ter
algum problema imperceptível que está dificultando sua aprendizagem e saber
conduzi-la para um outro profissional, como: psicólogos, fonoaudiólogos,
neurologistas, etc., isso significa saber investigar os múltiplos fatores que levam está
criança a não conseguir aprender.

O psicopedagogo é como um detetive que busca pistas, procurando


solucioná-las, pois algumas podem ser falsas, outras irrelevantes, mas a sua
meta 6 fundamentalmente é investigar todo o processo de aprendizagem
levando em consideração a totalidade dos fatores nele envolvidos, para

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valendo-se desta investigação, entender a constituição da dificuldade de
aprendizagem (RUBINSTEIN, 1987, apud MORAIS, 2010, p. 6).

Diagnosticar um distúrbio de aprendizagem é uma tarefa difícil e para fazê-lo


de modo preciso e eficiente há que se ter a participação de equipe interdisciplinar e
utilização de diferentes instrumentos para avaliação. O diagnóstico, para o terapeuta,
deve ter a mesma função que a rede para um equilibrista. É ele, portanto, a base que
dará suporte ao psicopedagogo para que este faça o encaminhamento necessário. É
um processo que permite ao profissional investigar, levantar hipóteses provisórias que
serão ou não confirmadas ao longo do processo recorrendo, para isso, a
conhecimentos práticos e teóricos.
Esta investigação permanece durante todo o trabalho diagnóstico através de
intervenções e da escuta psicopedagógica para que se possa decifrar os processos
que dão sentido ao observado e norteiam a intervenção. Diagnosticar nada mais é do
que a constatação de que a criança possui algum tipo de dificuldade na aprendizagem,
fato que normalmente só é detectado quando ela é inserida no ensino formal. Porém,
uma vez realizada essa constatação, cabe à equipe investigar a sua causa e, para
tanto, deve-se lançar mãos de todos os instrumentos diagnósticos necessários para
esse fim.
O diagnóstico psicopedagógico abre possibilidades de intervenção e dá início
a um processo de superação das dificuldades. O foco do diagnóstico é o obstáculo no
processo de aprendizagem. É um processo no qual analisa-se a situação do aluno
com dificuldade dentro do contexto da escola, da sala de aula, da família; ou seja, é
uma exploração problemática do aluno frente à produção acadêmica. Durante o
diagnóstico psicopedagógico, o discurso, a postura, a atitude do paciente e dos
envolvidos são pistas importantes que ajudam a chegar nas questões a serem
desvendadas. É através do desenvolvimento do olhar e da escuta psicopedagógica,
trabalhados e incorporados pelo profissional que poderão ser lançadas as primeiras
hipóteses acerca do indivíduo. Esse olhar e essa escuta ultrapassam os dados reais
relatados e buscam as entrelinhas, a emoção, a elaboração do discurso inconsciente
que o atendido traz.
O objetivo do diagnóstico é obter uma compreensão global da sua forma de
aprender e dos desvios que estão ocorrendo neste processo que leve a um
prognóstico e encaminhamento para o problema de aprendizagem. Procura-se

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organizar os dados obtidos em relação aos diferentes aspectos envolvidos no
processo de aprendizagem de forma particular. Ele envolve interdisciplinaridade em
pelo menos três áreas: neurologia, psicopedagogia e psicologia, para possibilitar a
eliminação de fatores que não são relevantes e a identificação da causa real do
problema. É nesse momento que o psicopedagogo irá interagir com o cliente (aluno),
com a família e a escola, partes envolvidas na dinâmica do processo de ensino-
aprendizagem.
Também é importante ressaltar que o diagnóstico possui uma grande
relevância tanto quanto o tratamento, por isso ele deve ser feito com muito cuidado,
observando o comportamento e mudanças que isto pode acarretar no sujeito. O
diagnóstico psicopedagógico é visto como um momento de transição, um passaporte
para a intervenção, devendo seguir alguns princípios, tais como: análise do contexto
e leitura do sintoma; explicações das causas que coexistem temporalmente com o
sintoma; obstáculo de ordem de conhecimento, de ordem da interação, da ordem do
funcionamento e de ordem estrutural; explicações da origem do sintoma e das causas
históricas; análise do distanciamento do fenômeno em relação aos parâmetros
considerados aceitáveis, levantamento de hipótese sobre a configuração futura do
fenômeno atual e, indicações e encaminhamentos.
O diagnóstico não pode ser considerado como um momento estático, pois é
uma avaliação do aluno que envolve tanto os seus níveis atuais de desenvolvimento,
quanto as suas capacidades e possibilidades de aprendizagem futura. Por muitos
anos, era uma tarefa exclusiva dos especialistas, que analisavam algumas
informações dos alunos, obtidas através da família e às vezes da escola, e logo após
devolviam um laudo diagnóstico, quase sempre com termos técnicos
incompreensíveis.
A distância existente no relacionamento entre os especialistas, a família e a
escola impediam o desenvolvimento de um trabalho eficiente com o aluno. A proposta
atual é que o diagnóstico seja um trabalho conjunto onde todas as pessoas que estão
envolvidas com o aluno devem participar, e não atuar como meros coadjuvantes
desse processo. Ele não é um estudo das manifestações aparentes que ocorrem no
dia-a-dia escolar, é uma investigação profunda, na qual são identificadas as causas
que interferem no desenvolvimento do aluno, sugerindo atividades adequadas para
correção e/ou compensação das dificuldades, considerando as características de

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cada aluno. O diagnóstico não deverá somente fundamentar uma deficiência, mas
apontar as potencialidades do indivíduo. Não é simplesmente o que este tem, mas o
que pode ser e como poderá se desenvolver.

É de extrema relevância detectarmos, através do diagnóstico, o momento da


vida da criança em que se iniciam os problemas de aprendizagem. Do ponto
de vista da intervenção, faz muita diferença constatarmos que as dificuldades
de aprendizagem se iniciam com o ingresso na escola, pois pode ser um forte
indício de que a problemática tinha como causa fatores intra-escolares
(BOSSA, 2000, apud MORAIS, 2010, p. 8).

Ao se instrumentalizar um diagnóstico, é necessário que o profissional atente


para o significado do sintoma a nível familiar e escolar e não o veja apenas em um
recorte, como uma deficiência do sujeito. Que o psicopedagogo, através do
diagnóstico acredite numa aprendizagem que possibilite transformar, sair do lugar
estagnado e construir. Que ele seja o fio condutor que norteará a intervenção
psicopedagógica.

6.1 Recursos a serem usados no diagnóstico e intervenção psicopedagógica

O Código de Ética da Psicopedagogia, em seu Capítulo I – Dos Princípios –


Artigo 1º afirma que o psicopedagogo pode utilizar procedimentos próprios da
Psicopedagogia, procedimentos próprios de sua área de atuação. O psicopedagogo
pode usar como recursos a entrevista com a família; investigar o motivo da consulta;
conhecer a história de vida da criança, realizando a anamnese; entrevistar o aluno;
fazer contato com a escola e outros profissionais que atendam a criança; manter os
pais informados do estado da criança e da intervenção que está sendo realizada;
realizar encaminhamentos para outros profissionais, quando necessário.
Também há outros recursos, referindo-se as Provas de Inteligência (WISC);
Testes Projetivos; Avaliação perceptomotora (Teste de Bender); Teste de Apercepção
Infantil (CAT.); Teste de Apercepção Temática (TAT.); Provas de nível de pensamento
(Piaget); Avaliação do nível pedagógico (nível de escolaridade); Desenho da família;
Desenho da figura humana; Teste HTP ( casa, árvore e pessoa); Testes psicomotores;
Lateralidade; Estruturas rítmicas... A autora não apresenta restrição quanto ao uso
dos testes, no entanto, alguns destes testes (Wisc, Teste de Bênder, CAT, TAT,
Testes Projetivos), aqui no Brasil, são considerados de uso exclusivo de psicólogos.
Para evitar atritos, o psicopedagogo pode ser criativo e desenvolver atividades que
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possibilitem fazer as mesmas observações que tais testes. Ele também pode
organizar uma equipe multidisciplinar, de maneira a que se faça uma avaliação de
todos os aspectos sobre os quais recai nossa hipótese diagnóstica inicial. Exemplo:
teste de inteligência (psicólogos); testes de audição e de linguagem (fonoaudiólogos).
Os pedagogos especialistas em psicopedagogia, podem usar testes como o
TDE, Metropolitano, ABC, Provas Piagetianas, provas pedagógicas, etc. O uso de
jogos também é sugerido como recurso, considerando que o sujeito através deles
pode manifestar, sem mecanismos de defesas, os desejos contidos em seu
inconsciente. Além do mais, no enfoque psicopedagógico os jogos representam
situações-problemas a serem resolvidos, pois envolvem regras, apresentam desafios
e possibilita observar como o sujeito age frente a eles, qual sua estrutura de
pensamento, como reage diante de dificuldades.

7 AVALIAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA

A aprendizagem é um processo que está sempre em busca de novos


conhecimentos, que necessita de um aprendiz capaz de conhecer o mundo que o
rodeia e a si próprio. Envolve as experiências individuais, resultando numa mudança
de comportamento. É uma interação entre os aspectos biológicos, afetivos,
intelectuais e culturais, que levam ao processo educativo. Estamos sempre em
processo de aprendizagem, pois continuamos a aprender por toda nossa vida.

[...] "para a aprendizagem ocorrer, é necessário que haja uma interação ou


troca de experiências do indivíduo com o seu meio ambiente ou comunidade
educativa"(LAKOMY, 2008, apud ESPÍNDOLA, 2016, p. 3).

A dificuldade de aprendizagem pode surgir a qualquer momento, problemas de


vários fatores interferem na aprendizagem. Estas dificuldades não são determinadas
por um único fator, portanto, deve-se fazer uma investigação detalhada para descobrir
o que leva a esta dificuldade de aprendizagem, podem ser originados por fatores
orgânicos, específicos, emocionais e ambientais. Nunca um problema de
aprendizagem virá isolado, é antes de tudo um sintoma.
Esta dificuldade pode vir em termo restrito, como um problema clínico e num
sentido geral, como uma questão no próprio conhecimento.

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[...] "o processo de aprendizagem é complexo e delicado, porém é saudável
que haja dúvidas, dificuldades para assimilar e acomodar novos
conhecimentos”. (LEAL,2011, apud ESPÍNDOLA, 2016, p. 3).

Quando a criança passa por algum problema, ela pode desenvolver alguma
dificuldade afetando a aprendizagem, o que deve ser investigado. A aprendizagem
deve ser bem trabalhada para que conflitos da própria personalidade do indivíduo não
gerem angústias, prejudicando assim o ato de aprender.
O trabalho do psicopedagogo está estritamente ligado à aprendizagem
sistemática, que é aquele presente nas instituições escolares, desde a infância até o
ensino superior. Pode ser no aspecto social, emocional, pedagógico e psicomotor.
Portanto, é fundamental este olhar e escuta do profissional, pois recebe-se a queixa
emergente é necessário fazer uma leitura latente, ou seja, o que poderá estar por trás
deste problema, que gerou esta dificuldade na aprendizagem do sujeito, como
elaborações simbólicas.
Então, de acordo com a queixa escolar e/ou familiar, surge a necessidade de
uma avaliação psicopedagógica clínica, onde o psicopedagogo fará uma investigação
para uma intervenção no âmbito clínico. Pois o objetivo é identificar os obstáculos que
levam a este aprendiz passar por dificuldades em sua aprendizagem dentro do que é
esperado pela sociedade.
Através da avaliação psicopedagógica levanta-se hipóteses, que poderão ou
não serem confirmadas até o final desta avaliação para que se possa ter
encaminhamentos adequados para cada indivíduo. Cada situação é totalmente
diferente da outra, pois é única e requer atitudes específicas para cada caso.
É importante saber receber bem a queixa, para que se possa direcionar o
trabalho. Receber a queixa escolar, familiar e a do próprio avaliando, e nunca perder
o foco das queixas. Avaliar todas as áreas como cognitiva, afetiva, pedagógica e
funcional, pois cada uma delas dará uma resposta mostrando em que nível estará o
aprendiz.
Assim a avaliação psicopedagógica é um dos componentes críticos da
intervenção psicopedagógica, pois nela se fundamenta as decisões voltadas à
prevenção e solução das possíveis dificuldades dos alunos, promovendo melhores
condições para o seu desenvolvimento. Ela é um processo compartilhado de coleta e
análise de informações relevantes acerca dos vários elementos que intervêm no
processo de ensino e aprendizagem, visando identificar as necessidades educativas
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de determinados alunos ou alunas que apresentem dificuldades em seu
desenvolvimento pessoal ou desajustes com respeito ao currículo escolar por causas
diversas, e a fundamentar as decisões a respeito da proposta curricular e do tipo de
suportes necessários para avançar no desenvolvimento das várias capacidades e
para o desenvolvimento da instituição.
A avaliação psicopedagógica envolve:
a) a identificação dos principais fatores responsáveis pelas dificuldades da
criança. Precisa determinar se tratasse de um distúrbio de aprendizagem ou de uma
dificuldade provocada por outros fatores (emocionais, cognitivos, sociais...). Isto
requerer que sejam coletados dados referente à natureza da dificuldade apresentada
pela criança, bem como que se investigue a existência de quadros neuropsiquiátricos,
condições familiares, ambiente escolar e oportunidades de estimulação oferecidas
pelo meio a que a criança pertence;
b) o levantamento do repertório infantil relativo as habilidades acadêmicas e
cognitivas relevantes para a dificuldade de aprendizagem apresentada, o que inclui:
conhecimento, pelo profissional, do conteúdo acadêmico e da proposta pedagógica,
à qual a criança está submetida; investigação de repertórios relevantes para a
aprendizagem, como a atenção, hábitos de estudos, solução de problemas,
desenvolvimento psicomotor, linguístico, etc.; avaliação de pré-requisitos e/ou
condições que facilitem a aprendizagem dos conteúdos; identificação de padrões de
raciocínio utilizados pela criança ao abordar situações e tarefas acadêmicas, bem
como déficits e preferências nas modalidades percentuais etc.;
c) a identificação de características emocionais da criança, estímulos e
esquemas de reforçamento aos quais responde e sua interação com as exigências
escolares propriamente ditas.
Ela deve ser um processo dinâmico, pois é nela que são tomadas decisões
sobre a necessidade ou não de intervenção psicopedagógica. Ela é a investigação do
processo de aprendizagem do indivíduo visando entender a origem da dificuldade e/ou
distúrbio apresentado. Inclui entrevista inicial com os pais ou responsáveis pela
criança, análise do material escolar, aplicação de diferentes modalidades de
atividades e uso de testes para avaliação do desenvolvimento, áreas de competência
e dificuldades apresentadas. Durante a avaliação podem ser realizadas atividades
matemáticas, provas de avaliação do nível de pensamento e outras funções

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cognitivas, leitura, escrita, desenhos e jogos. Inicialmente, deve-se perceber, na
consulta inicial, que a queixa apontada pelos pais como motivo do encaminhamento
para avaliação, muitas vezes pode não só descrever o sintoma, mas também traz
consigo indícios que indicam o caminho para início da investigação.

“A versão que os pais transmitem sobre a problemática e principalmente a


forma de descrever o sintoma, dão-nos importantes chaves para nos
aproximarmos do significado que a dificuldade de aprender tem na família”
(FERNÁNDEZ, 1991, apud MORAIS, 2010, p.4).

Avaliar as aprendizagens de um aluno equivale a especificar até que ponto ele


desenvolveu determinadas capacidades contempladas nos objetivos gerais da etapa.
Para que o aluno possa atribuir sentido às novas aprendizagens propostas, é
necessária a identificação de seus conhecimentos prévios, finalidade a que se orienta
a avaliação das competências curriculares a avaliação psicopedagógica irá fornecer
informações importantes em relação as necessidades dos alunos, bem como de seu
contexto escolar, familiar e social, e ainda irá justificar se há ou não necessidade de
introduzir mudanças na oferta educacional.
Depois de coletadas informações que considera importante para a avaliação, o
psicopedagogo irá intervir visando à solução de problemas de aprendizagem em seus
devidos espaços, uma vez que a avaliação visa reorganizar a vida escolar e doméstica
da criança e, somente neste foco ela deve ser encaminhada, vale dizer que fica vazio
o pedido de avaliação apenas para justificar um processo que está descomprometido
com o aluno e com a sua aprendizagem. De fato, se pensarmos em termos bem
objetivos, a avaliação nada mais é do que localizar necessidades e se comprometer
com sua superação.
De acordo com a Epistemologia Convergente, os passos para a avaliação
psicopedagógica clínica são: levantamento da queixa com contrato firmado por ambas
as partes, Entrevista Operativa Centrada na Aprendizagem (EOCA), escolha dos
instrumentos de acordo com o primeiro sistema de hipótese, anamnese, aplicação das
provas de todas as áreas com segundo sistema de hipótese, levantamento de dados
escolares, análise e conclusão da terceira e última hipótese, informe psicopedagógico,
devolutiva escolar e familiar e pôr fim a proposta de intervenção.

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7.1 Entrevista de Queixa

A queixa escolar poderá ser recebida pela direção, orientação e professores,


onde teremos a primeira visão do sintoma apresentado pela escola. É importante estar
atento de como os profissionais envolvidos com a criança encaram esta dificuldade
de aprendizagem e o que esperam desta avaliação.
Num segundo momento, é necessário ouvir a queixa do próprio sujeito, para
poder perceber se tem consciência da sua dificuldade e o que espera da possível
proposta de intervenção.
Passando, assim, para a entrevista com os pais ou responsáveis, que poderá
ser bem detalhado através da anamnese, onde serão observadas as reações
comportamentais dos demais.

7.2 Entrevista de anamnese

Considerada como um dos pontos principais de um bom diagnóstico, busca


colher dados significativos sobre a história do sujeito na família, integrando passado,
presente e com projeções para o futuro. Permite entender a inserção do mesmo na
família. O trabalho da Anamnese se inicia com dados das primeiras aprendizagens,
da história clínica, da história familiar do núcleo que o sujeito está inserido, nas
histórias das famílias maternas e paternas e a influência dessas gerações passadas
sobre a família nuclear. É necessário que todos estejam bem à vontade

“[...]para que todos se sintam com liberdade de expor seus pensamentos e


sentimentos sobre a criança para que possam compreender os pontos
nevrálgicos ligada à aprendizagem. ” (WEISS, 1992, apud UHLMANN 2018,
p. 227).

Anamnese permite a obtenção e análise de dados desde a concepção até a


vida escolar atual do aluno, considerando que se trata de uma investigação profunda
e detalhada. Leva em consideração como foi o processo gestacional, se a gravidez foi
desejada ou não por ambos os pais assim como por toda a família, qual opção de
parto, posteriormente analisar sobre as primeiras aprendizagens como usar
mamadeira, copo, a colher, quando aprendeu a sentar, engatinhar, a andar, controlar
seus esfíncteres, com objetivo de descobrir como a família possibilita e participa do
desenvolvimento cognitivo da criança. Se os pais não permitem o descobrimento ou
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bloqueiam novas experiências da criança por si só evitando por exemplo, comer
sozinha para não se sujar, não tiram a fralda para não urinar em casa, também não
permitem que haja o processo de desenvolvimento do equilíbrio entre assimilação e
acomodação, causando o processo chamado de hipoassimilação, onde os pais
acabam retardando o desenvolvimento da criança. Por outro lado, existem pais que
forçam as crianças a realizarem sozinhas atividades para as quais ainda não possuem
maturidade em seu organismo, não estando portando a criança pronta para assimilar,
é o chamado Hiperassimilação, que acaba acelerando negativamente o pensamento
da criança, tornando as precoces.
Dando continuidade ao processo investigatório, o psicopedagogo por meio da
Anamnese também abordará a história clínica da criança, abordando as possíveis
doenças, como foram diagnosticadas e tratadas, se resultaram em alguma
consequência. É também de grande relevância saber a história escola do sujeito,
desde quando começou a frequentar a escola, como foi o primeiro dia de aula, se
existiram frustrações, entusiasmos, porque os pais escolheram aquela escola, se
houve alguma troca de escola, quais são os aspectos positivos e negativos e as
possíveis consequências para o processo de aprendizagem. As informações obtidas
na Anamnese deverão ser registradas para levantar hipóteses que poderão justificar
a defasagem do indivíduo, bem como auxiliar na seleção de outros instrumentos de
diagnóstico.

7.3 EOCA

EOCA é a Entrevista Operativa Centrada na Aprendizagem, elaborada por


Jorge Visca, aplicada aos sujeitos em processo de aprendizagem. É o primeiro
momento do psicopedagogo com o avaliando que traz a queixa, com o objetivo de
observação e das reações do sujeito frente à aprendizagem. O profissional precisa
conhecer melhor a maneira como a criança aprende a fazer o que lhe ensinam.
Os materiais são deixados sobre uma mesa, que podem ser: lápis de cor, giz
de cera, massa de modelar, caneta hidrocor, régua, barbante, palitos de sorvete,
borracha, tesoura, cola, papel pautado, papel sulfite, papel colorido, revistas, gibis,
livros de acordo com a faixa etária do avaliando, jogos, lápis grafite sem ponta, para

17
que se possa observar a iniciativa do sujeito. Utilizar materiais que sejam coerentes
com o ambiente do sujeito.
Diante da mesa com todos os materiais já dispostos segue para a aplicação da
EOCA, deve-se seguir as seguintes consignas.
Consigna de abertura ou inicial, "Gostaria que você me mostrasse o que sabe
fazer, o que lhe ensinaram e o que você aprendeu". Caso o sujeito não se manifeste,
parte para a consignação múltipla.
Consigna múltipla, "Você pode ler, escrever, pintar, desenhar, recortar,
calcular, pode fazer o que quiser". Esta será uma opção, caso ele não responda a
consigna de abertura, onde você irá mostrar várias opções de acordo com os materiais
presentes na mesa.
Consigna fechada, "Gostaria que você me mostrasse algo diferente do que já
fez". Fazer algo diferente e observar a iniciativa da criança.
Consigna direta, "Gostaria que me mostrasse algo de leitura, escrita ou
matemática". Esta consigna será determinada de acordo com a queixa.
Consigna de pesquisa, "Para que serve isto, o que você fez, que horas são,
que cor você está utilizando, etc." Esta consigna questiona vários materiais expostos,
para investigar o conhecimento do sujeito.
Deve-se anotar tudo o que for falado e feito pelo avaliando, inclusive suas
reações. Isto é um trabalho de muita observação e sensibilidade do psicopedagogo,
respondendo somente o que lhe for perguntado e estritamente o essencial, sem
qualquer tipo de demonstração satisfatória ou insatisfatória. Deixar o avaliando se
manifestar livremente.
Alguns fatores devem ser observados, como a temática, ou seja, todas as falas
do indivíduo. A dinâmica são todas as manifestações não verbais, como postura,
manuseio do material, postura corporal, etc. O produto é aquilo que o sujeito realmente
produziu durante a EOCA. A dimensão afetiva manifestada através do comportamento
do avaliando como medos, frustrações, fugas, distração, resistência, ansiedade,
choro, etc.
A dimensão cognitiva também deve ser observada através da utilização dos
materiais, estratégias utilizadas durante a atividade, organização, planejamento, a
construção da sua produção e suas relações durante o pensamento para execução
da tarefa.

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Se o sujeito não quis produzir nada, deverá ser rigidamente analisado o motivo
desta fuga.

7.4 Observação lúdica

Há muito tempo vem-se discutindo as questões dos jogos e das brincadeiras,


principalmente quais efeitos positivos podem trazer a vida das crianças.

[...] o brinquedo exerce enorme influência na promoção do desenvolvimento


infantil, apesar de não ser o aspecto predominante na infância. [...] o termo
brinquedo refere-se essencialmente ao ato de brincar, à atividade.
(VYGOTSKY, 2007, apud UHLMANN 2018, p. 228).

O lúdico como instrumento de aprendizagem na atuação do psicopedagogo,


tem a importância de se compreender as dificuldades de aprendizagem, observando
individualmente na sessão diagnóstica e por meio de orientação correta fornecer o
desenvolvimento em relação a essa dificuldade apresentada onde o sujeito estará
naturalmente desenvolvendo a coordenação motora, a atenção, a expressão corporal,
estimulando a iniciativa, trabalhando a oralidade, o raciocínio lógico, dentre outros
aspectos. O momento em que a criança esteja em contato com o lúdico, torna-se
precioso, pois expõe suas aptidões, mantém a concentração e produtividade. Mesmo
que não se obtenha resultado final esperado, é por meio da forma como a criança
brinca que o psicopedagogo estará analisando-a, conhecendo o comportamento e
interagindo com a mesma.

“[...] o lúdico privilegia a criatividade e a imaginação, por sua própria ligação


com os fundamentos do prazer. Não comporta regras preestabelecidas, nem
velhos caminhos já trilhados, abre novos caminhos, vislumbrando outros
possíveis”. (ALVES, 1987, apud UHLMANN 2018, p. 228).

A atividade lúdica mostrará o que se sabe de forma descontraída, sem a


necessidade de comandos com aplicação de atividades adequadas a idade do sujeito
objetivando a exposição das dificuldades relatadas, ou evidenciando que talvez não
existam, faltando apenas estímulo ou forma correta para se trabalhar com a aplicação
dos processos de aprendizagem. É na sessão lúdica onde observamos a conduta do
sujeito como um todo, colocando também um foco sobre o nível pedagógico e
trabalhando as questões que precisam ser desenvolvidas para a autonomia do sujeito.
O brinquedo cria uma zona de desenvolvimento proximal na criança, aquilo que na

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vida real passa despercebido por ser natural, torna-se regra quando trazido para a
brincadeira. Baseados nisso pode-se perceber o quanto a ludicidade que abrange os
jogos, os brinquedos e as brincadeiras, tem relevância em função de serem tão
característicos à infância e em função disto devem ser de atuação do psicopedagogo
tanto nas atividades avaliativas como nas interventivas.

7.5 Provas Operatórias Piagetianas

A área cognitiva avalia o processo de desenvolvimento cognitivo do indivíduo.


Deve-se estar atento para concentração, atenção, memória, autonomia e percepção.
Busca entender o processo de lógica, ou seja, o raciocínio lógico deste sujeito, se o
pensamento equivale com a faixa etária do avaliando.

De acordo com Nogueira e Leal (2011, p.122) "as estruturas cognitivas


evoluem à medida que a criança cresce, permitindo novas aprendizagens e
possibilitando a ela adquirir os conteúdos formais”. (NOGUEIRA, 2011, apud
ESPÍNDOLA, 2016, p. 10).

Para o uso da análise da área cognitiva, recomenda-se o uso das provas


operatórias criadas por Jean Piaget, que são as provas de conservação, classificação
e seleção. Através destas provas pode-se ter uma visão do diagnóstico operatório,
mas jamais rotular o avaliando. Com elas podemos perceber se o sujeito tem noção
de identidade, compensação, reversibilidade, causalidade, quantificação, raciocínio
lógico, estrutura do pensamento, tempo e espaço.
Estas provas dão a percepção do funcionamento e desenvolvimento das
funções lógicas do sujeito.
As provas de conservação são divididas em provas de conservação de
pequenos conjuntos discretos de elementos; prova de conservação das quantidades
de líquidos (transvasamento); prova de conservação da quantidade de matéria; prova
de conservação do comprimento; prova de conservação do peso e prova de
conservação do volume.
Já as provas de classificação são divididas em prova de mudança de critério
(dicotomia); prova de quantificação da inclusão de classes e prova de intersecção de
classes.
A prova de seriação de palitos analisa a capacidade de a criança seriar. Para
as crianças com 12 anos ou mais pode-se usar a prova de combinações de duplas
20
para pensamento formal e prova de permutações possíveis com um conjunto
determinado de fichas. Não é necessário a aplicação de todas as provas, somente as
que o psicopedagogo julgar imprescindíveis para o caso que está avaliando.
Para cada prova devem ser usadas as suas próprias consignas, suas
transformações, argumentações, contra argumentações, justificativas e retorno
empírico.
As respostas argumentadas por critérios de identidade ocorrem quando o
sujeito consegue perceber que nada foi acrescentado ao material da prova. Os
critérios de identidade subjetiva ocorrem quando o sujeito tem a percepção de que
continua a mesma quantidade de material. A reversibilidade é quando o sujeito
questiona o retorno empírico. A compensação é quando o sujeito consegue perceber
e argumentar compensando as formas apresentadas, ou seja, se está mais esticado,
se achata ou divide.
Estas provas são avaliadas por três níveis. O nível 1 de não-conservação, que
estabelece a identidade inicial, quando o sujeito não consegue responder as
perguntas corretamente, ou seja, dando respostas não conservadoras. O nível 2 de
transição ou intermediário, oscila entre as respostas de conservação e não-
conservação.
O nível 3 de conservação, dá respostas conservadoras, apresentando
raciocínio de identidade, ou seja, percebe que nada foi acrescentado ou retirado. A
reversibilidade, quando percebe que mesmo após as transformações, o material é o
mesmo. E a compensação quando tem a noção que houve o processo de compensar.
Com estas provas, o psicopedagogo investiga a dificuldade do sujeito e pode
retomar o processo partindo da constatação da dificuldade, portanto é fundamental o
olhar psicopedagógico.

7.6 Técnicas Projetivas Psicopedagógicas

A área emocional avalia o lado afetivo frente à aprendizagem nos âmbitos:


escolar, familiar e consigo mesmo. Dão informações sobre o aspecto emocional e
relacional. As técnicas projetivas Psicopedagógicas buscam entender o vínculo que o
sujeito estabelece com a realidade e com a própria aprendizagem. Investiga-se a rede
de vínculos em três domínios: escolar, familiar e consigo mesmo.

21
O uso de provas e testes não é indispensável em um diagnóstico
psicopedagógico, porém representa um recurso a mais a ser utilizado quando avaliado
necessário na especificação do nível pedagógico, estrutura cognitiva e ou emocional
do sujeito. Provas operatórias, testes psicométricos e técnicas projetivas poderão ser
relacionados de acordo com a necessidade de confirmação de aspectos levantados
aos longos das sessões anteriores (E.F.E.S, Anamnese, Sessões Lúdicas centradas
na Aprendizagem, etc.). Existem diversos tipos de testes e provas para serem
atrelados a um diagnóstico, como as provas de inteligência (WISC é o mais conhecido,
porém de aplicação exclusiva por psicólogos), avaliação perceptomotora (Teste de
Bender, cujo objetivo é avaliar o grau de maturidade viso motora do sujeito, também
só podendo ser aplicado por psicólogos); testes projetivos (CAT, TAT, desenho da
família, desenho da figura humana, também de uso apenas para psicólogos). Os
psicopedagogos devem ser criativos e desenvolver atividades que atendam a mesma
propositura dos testes apenas administrados por psicólogos, ou trabalhar em
conjuntos com uma equipe multidisciplinar objetivando levantar todos os aspectos que
envolvem a hipótese do diagnostico inicial lembrando sempre que a psicopedagogia
não é um ramo da medicina, mas sim da educação acoplado com a saúde. Dessa
forma prioriza-se o conhecimento sobre o qual o processo que se dá a aprendizagem.
Lembrando também que algo padronizado não vai servir para todos os “aprendentes”,
os testes são apenas umas das alternativas de uso.

“[...]as provas operatórias têm como objetivo principal determinar o grau de


aquisição de algumas noções chave do desenvolvimento cognitivo, detectado
o nível de pensamento alcançado pela criança, ou seja, o nível de estrutura
cognitiva que opera”. (WEISS 2012, apud UHLMANN 2018, p. 229).

Os psicopedagogos podem aplicar diretamente os testes de TDE (que busca


oferecer de forma objetiva a avaliação das capacidades fundamentais para o
desempenho escolar, mais especificamente da escrita, aritmética e leitura); Teste
ABC (para verificar nas crianças de escola primária o nível de maturidade requerido
para a aprendizagem da leitura e da escrita); Provas de nível de pensamento (Piaget,
como alvo principal crianças na fase escolar, com objetivos de investigar e avaliar o
nível cognitivo da criança e constatar se realmente corresponde a sua idade
cronológica ou se existe alguma defasagem), testes psicomotores e jogos
psicopedagógicos.

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7.7 Área Psicomotora

A área psicomotora avalia os aspectos psicomotores e o desenvolvimento físico


do indivíduo. Cada pessoa tem suas próprias características, que são únicas para
cada indivíduo, as pessoas agem de acordo com sua vivência desde o nascimento.
É de fundamental importância, os sentimentos e emoções durante a fase de
desenvolvimento do seu esquema corporal, para não refletir na possível falta de
coordenação motora, agressividade, mau humor, apatia, que poderão ser
manifestados em seu comportamento, podendo prejudicar a aprendizagem, o
funcionamento cognitivo.
Os aspectos psicomotores revelam a importância de um trabalho educativo
para a organização da personalidade. É importante ressaltar que as atividades devem
ser determinadas de acordo com a faixa etária das crianças.

[...] "a avaliação psicomotora possibilita ao professor verificar se os


conhecimentos e as atividades propostas estão adequados e cumprindo suas
funções". (MARINHO, 2007, apud ESPÍNDOLA, 2016, p. 12).

Na avaliação psicopedagógica clínica é necessário investigar vários aspectos


como coordenação motora fina; coordenação motora global; equilíbrio estático;
equilíbrio dinâmico; lateralidade; esquema corporal; orientação espacial; orientação
temporal; tonicidade e todas as percepções que são visuais, auditivas, tátil, olfativa,
motora e espacial.

7.8 Área Pedagógica

A área pedagógica avalia o nível pedagógico, principalmente no âmbito da


leitura, escrita e cálculo matemático. Deve-se fazer uma análise detalhada do material
escolar do aluno. O caderno do aluno dá muitas dicas do tamanho da letra, orientação
espacial e uso da força para a escrita.
De acordo com as atividades que o psicopedagogo irá proporcionar, deverá
situar o nível em que se encontra o sujeito, que são: pré-silábico, silábico, silábico-
alfabético e alfabético.
Existem várias atividades investigativas para esta área, citadas a seguir.

23
Prova do realismo nominal, que tem como objetivo perceber se o educando vê
a palavra como característica do objeto ou como representação da escrita do objeto,
observando a quantidade de caracteres, momento da relação entre números e letras,
características do texto lido, distinção entre letras e sinais gráficos, orientação espacial
da leitura, leitura com imagens, palavras e orações, leitura sem imagens e leitura de
orações.
Na observação de leitura tem que analisar a fluência, o reconhecimento de
palavras, a reação diante de palavras desconhecidas, utilização do contexto, uso da
voz e hábitos de postura. Na leitura compreensiva investigar como o sujeito
compreende e interpreta o texto.
O ditado topológico pode também ser feito com gravuras, ordenação de figuras
e o ditado propriamente dito.
Na amostra da linguagem oral, através de gravuras e suas consignas, deve-se
observar durante a oralidade, sua pronúncia, vocabulário e sintaxe oral.
Desempenho lógico-matemático, onde serão observados a disponibilidade
para a atividade, facilidades e dificuldades para operações e situações problemas e
as próprias atividades do conteúdo escolar do sujeito.

7.9 Área Social

A área social está vinculada com as demais áreas, principalmente com a área
afetiva, engloba vários dados do sujeito, as dificuldades que o levam a não
aprendizagem e como a família encara estas dificuldades de aprendizagem.
Ainda faltam alguns aspectos para serem analisados para que se chegue ao
diagnóstico de uma avaliação psicopedagógica clínica.
Como o Teste de Audibilização, onde será avaliado a discriminação fonética,
memória, conceituação e identificação de palavras e situações, organização sintático
semântica e compreensão do vocabulário. A Orientação Temporal observa como o
sujeito se situa perante o tempo.
Informação Social avalia aspectos gerais como nome e idade dos familiares,
endereço, suas brincadeiras, hábitos alimentares, programas de televisão preferidos,
amigos, seus gostos e pessoas do seu convívio.

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Teste de Snellen é o teste do "E" Mágico, onde será observada a postura do
sujeito às mudanças de posição da letra E, como também, se apresentou algum
sintoma físico, comportamental, reclamações e a postura do indivíduo quando está
olhando para objetos distantes e quando está lendo. A Anamnese também faz parte
desta área social.
Na Avaliação das capacidades básicas para aprendizagem, pode-se fazer um
apanhado geral para a análise de informações como exercícios prontos para finalizar
esta avaliação, que podem ser referentes a coordenação motora fina, noção de
causalidade, orientação espacial, lateralidade, orientação temporal, discriminação
visual, discriminação auditiva, noção de tamanho, de distância, de quantidade,
percepção, análise e síntese.
Nos jogos diversos poderão ser avaliadas todas as áreas através da aplicação
destes jogos. Atividades complementares para confirmação das hipóteses levantadas
também podem ser usadas.

8 ENTREVISTA DE DEVOLUÇÃO E ENCAMINHAMENTO

É o momento em que o psicopedagogo irá relatar o motivo da avaliação


(encaminhamento), período e número de sessões, instrumentos utilizados, descritivo
das dimensões do sujeito, síntese dos resultados que concluiu, articulando as queixas,
os sintomas, os obstáculos e as possíveis causas bem como o prognóstico, ou seja,
as indicações. É perfeitamente normal que esse momento seja norteado por muita
ansiedade dos envolvidos, ou seja, o psicopedagogo, o paciente e os pais e que deve
ser bem conduzida para que haja efetiva participação de todos na eliminação das
dúvidas, não se deve ater somente a apresentação das conclusões, é necessário
sensibilizar os pais para que tomem todas as rédeas e assumam o problema em todas
as suas dimensões, procurando afastar rótulos e fantasmas.
Inicialmente o ideal é que se toque nos aspectos mais positivos do paciente,
para que o mesmo se sinta valorizado e somente depois deverão ser mencionados os
pontos causadores dos problemas de aprendizagem. Deve-se organizar os dados
sobre o paciente em três áreas: pedagógica, cognitiva e afetivo-social, com um roteiro,
para que o psicopedagogo não se perca e não deixe os pais confusos. A atitude do
psicopedagogo deve ser compreensiva e acolhedora com os pais, promovendo a

25
articulação e a integração coerente dos dados e de seus significados. A devolutiva
deve fazer com que a visão dos pais, em relação ás suas práticas educativas se
ampliem. Posteriormente o psicopedagogo menciona as recomendações como
estimular leitura em casa, amenizar superproteção dos pais ou responsáveis, aumento
das responsabilidades a criança ou até a troca da escola ou turma e indicar os
atendimentos que julgue necessários como psicólogo, fonoaudiólogo, neurologista,
etc. Além disso, o psicopedagogo também deve fazer a devolutiva na escola, e traçar
com a equipe pedagógica as estratégias necessárias para sanar as dificuldades.
Dessa forma a integração entre escola, família, sujeito e profissionais caminharão em
conjunto.

Cabe ao psicopedagogo perceber eventuais perturbações no processo de


aprendizagem, participar da dinâmica da comunidade educativa, favorecendo
integração, promovendo orientações metodológicas de acordo com as
características e particularidades, dos indivíduos do grupo, realizando
processos de orientação (BOSSA, 2000, apud UHLMANN 2018, p. 230).

Todo processo de aprendizagem é composto por três elementos: em primeiro


lugar há a pessoa que aprende, que traz consigo os órgãos dos sentidos, seu sistema
nervoso, seu sistema muscular e também o conjunto de habilidades e capacidades
que adquiriu anteriormente. Em segundo lugar, existe a situação estimuladora,
compreendendo o conjunto de fatores que estimulam os órgãos dos sentidos como a
família, a escola e a sociedade que a pessoa está inserida e finalmente, há a ação ou
resposta que resulta da estimulação e da atividade nervosa subsequente.
O primeiro elemento corresponde à condição interna e o segundo, à condição
externa, graças aos quais, o terceiro elemento se manifesta, ou seja, a resposta. As
dificuldades de aprendizagem interferem consideravelmente na vida do cidadão,
dessa forma quanto mais precocemente forem observadas melhor será o seu
diagnóstico e tratamento, dando importância e atenção devida que o compreende.

8.1 Entrevista Familiar Exploratório Situacional (E.F.E.S.)

Visa a compreensão da queixa nas dimensões da escola e da família, a


captação das relações e expectativas familiares centradas na aprendizagem escolar,
a expectativa em relação ao psicopedagogo, a aceitação e o engajamento do paciente
e de seus pais no processo diagnóstico e o esclarecimento do que é um diagnóstico

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psicopedagógico. Nesta entrevista, pode-se reunir os pais e a criança. É importante
que nessa entrevista sejam colhidos dados relevantes para a organização de um
sistema consistente de hipóteses que servirá de guia para a investigação na próxima
sessão.

9 A PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL EM COLABORAÇÃO À GESTÃO


EDUCACIONAL

A importância da Psicopedagogia Institucional consolida-se no momento em


que o profissional dessa área consegue olhar e escutar com a devida atenção um
grupo de pessoas que faça parte de uma instituição/escola. Dessa forma, por meio da
avaliação Psicopedagógica Institucional, é possível compreender quais as
necessidades desse grupo, qual a melhor forma para que ele aprenda e se desenvolva
de forma ampla.

O trabalho psicopedagógico institucional é realizado com base na análise das


redes de relações que se estabelecem em instituições que atuam, direta ou
indiretamente, em processos de ensino e aprendizagem. Logo, seu objeto de
estudo é a instituição, seja ela uma escola, um hospital ou uma empresa,
onde pessoas se relacionam, ensinam e aprendem. (GRASSI, 2009, apud
TEIXEIRA, 2015, p. 3).

Pode-se compreender a amplitude de abordagem dessa área que não se detém


apenas ao ambiente escolar. Além disso, firma-se que a psicopedagogia no espaço
institucional tem um papel importante no auxílio nas relações de ensino e
aprendizagem. Essa relação é influenciada por todos que a constituem, sejam alunos,
professores, comunidade escolar em geral, assim como as metodologias utilizadas.
Portanto, é preciso compreender essas diferenças e aproveitar de cada um aquilo que
melhor pode contribuir para um processo de ensino e aprendizagem que busque
minimizar ou até superar as dificuldades identificadas no contexto da instituição.
Dessa forma, o psicopedagogo, em uma ação institucional, dedica atenção ao
grupo e pode atuar de forma preventiva. Isso possibilita a abordagem de diferentes
projetos, a compreensão da cultura dessa instituição e a forma como o grupo interage
entre si. A psicopedagogia institucional se propõe, portanto, a estar atenta às
inúmeras possibilidades de construção do conhecimento e valorizar o imenso universo

27
de informações que nos circunda. Para isso, em sua atuação o psicopedagogo
institucional, busca contribuir de forma com que a instituição melhore no processo de
ensino, e que isso aconteça por meio de trabalhos envolvendo aprendizagens
cooperativas, do estreitamento da relação com a comunidade escolar, da promoção
de momentos de formação para seus professores, entre outros.
É muito importante o diálogo no processo de avaliação institucional quando o
psicopedagogo se insere na atuação na escola. O psicopedagogo desenvolve seu
trabalho orientando os elementos que compõem essa instituição, pontuando o que
precisa ser feito e, às vezes, como deve ser feito, sendo o diálogo fundamental nesse
processo”. Além disso, é essencial, no processo de avaliação, observar a instituição
como um todo, como acontece o seu funcionamento, como o processo de ensino e de
aprendizagem é direcionado e como as relações entre o grupo constituem-se e
estabelecem-se. O olhar para a rede de relações e de ações, que estão presentes na
instituição, acarreta também a percepção e a compreensão de fatores de ordem
social, política e econômica que se refletem no ambiente escolar.
É na interação com seu meio social que o indivíduo se constitui, e um desses
meios é a escola. É nela que o aluno tem espaço para se transformar e influenciar a
transformação dos outros. Logo, nessa troca mútua, com influências diversas
advindas de todas as realidades que circundam o espaço escolar, é que se torna
possível perceber os avanços e também as dificuldades e os fracassos. A dificuldade
de aprendizagem é um sintoma que se destaca na escola, mas pode emergir de uma
situação social, familiar, entre outras.

“[...] a dificuldade de aprendizagem pode, portanto, caracterizar-se como um


sintoma que emerge em uma situação familiar, configurando-se a partir do
não-cumprimento das funções sociais por parte de determinado sujeito, [...]”.
(Oliveira, 2009, apud TEIXEIRA, 2015, p. 4).

Todas essas convergências de influências que cercam a vivência tanto de


alunos quanto de professores refletem-se na atuação pedagógica, na Gestão
Educacional e na intervenção Psicopedagógica Institucional. Por isso é preciso estar
sempre atento à realidade que circunda a instituição e aos comportamentos e às
ações dos indivíduos que dela fazem parte. Ao realizar a atuação psicopedagógica, o
psicopedagogo institucional vai analisar o sintoma referido na queixa prestada e,
diante disso, o que isso afeta no funcionamento da instituição e no processo de ensino

28
e aprendizagem. Depois de realizado todo o processo de avaliação, o psicopedagogo
institucional irá chegar a um diagnóstico da realidade estudada.

[...] o diagnóstico é muito mais do que uma coleta de dados, sobre a qual se
organiza um raciocínio. Ele é um momento de transição, como um passaporte
para a intervenção posterior. Usa de aproximação sucessiva para entrar em
contato com seu objeto de estudo. [...] (Oliveira, 2009, apud TEIXEIRA, 2015,
p. 5).

Essa troca é uma dinâmica de relações e que assim deve ser entendido. Além
disso, para entender o processo de ensinar e aprender, é preciso ter uma
compreensão das causas do sintoma apresentado, como também é preciso um olhar
psicopedagógico direcionado ao fenômeno. Para compreender as causas do sintoma
apresentado, é importante que se conheça a realidade vivenciada, com a finalidade
de melhor direcionar a ação psicopedagógica.
Ao propor uma intervenção, o psicopedagogo precisa refletir sobre as
necessidades da escola para que sua atuação venha a contribuir para a solução
dessas demandas. Então, é preciso influenciar a reflexão crítica sobre a atuação no
ambiente escolar e o processo de ensino e aprendizagem perpassando por todas as
instâncias da instituição. A intervenção do psicopedagogo tem como objetivo
potencializar ao máximo a capacidade de ensinar dos profissionais que a integram e
a capacidade de aprender dos alunos, supondo que há um complexo emaranhado em
que aspectos estruturais e organizacionais e as configurações relacionais intra e
extrainstituições interagem constantemente.
Portanto, a intervenção psicopedagógica visa a possibilitar a transformação
tanto da instituição como dos próprios sujeitos, compreendendo a dinâmica
estabelecida entre as partes e buscando a melhor forma de operacionalizá-las. Assim,
acontecerá um trabalho colaborativo entre a psicopedagogia e a gestão educacional,
possibilitando uma transformação de forma mais abrangente, com a reflexão não
apenas no ambiente escolar, mas também que se estenda para a comunidade
escolar.
É necessário que a atuação do psicopedagogo esteja de acordo e leve em
consideração a proposta apresentada no Projeto Político Pedagógico da instituição,
pois esse documento é o que define o perfil da escola e de suas ações. Com isso,
tendo conhecimento do que embasa as ações dessa instituição, o psicopedagogo
institucional pode agir em colaboração a Gestão Educacional.

29
gestão educacional corresponde ao processo de gerir a dinâmica do sistema
de ensino como um todo e de coordenação das escolas em específico,
afinando com as diretrizes e políticas educacionais públicas, para a
implementação das políticas educacionais e projetos pedagógicos das
escolas, compromissado com os princípios da democracia e com métodos
que organizem e criem condições para um ambiente educacional autônomo
[...] de participação e compartilhamento [...], autocontrole [...] e transparência
(LÜCK, 2006, apud TEIXEIRA, 2015, p. 6).

Pensar, pois, um processo educacional e a ação das escolas significa definir


um projeto de cidadania e atribuir uma finalidade à escola que seja congruente com
aquele projeto. Nesse viés torna-se evidente a necessidade de articulação entre
gestão e comunidade escolar.

A gestão democratizada da escola autônoma consiste na mediação das


relações intersubjetivas, compreendendo, antes e acima das rotinas
administrativas: identificação de necessidades; negociação de propósitos;
definição clara de objetivos e estratégias de ação; linhas de compromissos;
coordenação e acompanhamento de decisões pactuadas; mediação de
conflitos, com ações voltadas para a transformação social (BORDIGNON,
2011, apud TEIXEIRA, 2015, p. 6).

Nesse sentido, conhecer e ter uma relação próxima entre comunidade escolar
e a escola é imprescindível. Além disso, torna possível que todos trabalhem em prol
da educação. Participando da rotina escolar, o psicopedagogo interage com a
comunidade escolar, participando das reuniões de pais - esclarecendo o
desenvolvimento dos filhos; dos conselhos de classe - avaliando o processo didático
metodológico; acompanhando a relação professor-aluno - sugerindo atividades ou
oferecendo apoio emocional e, finalmente acompanhando o desenvolvimento do
educando e do educador no complexo processo de aprendizagem que estão
compartilhando.
Essa ideia vem a corroborar com a educação, entendida como emancipação
humana, precisa levar em conta a condição de sujeito tanto de educandos quanto de
educadores. A partir disso, é importante que sejam feitos esforços para compreender
ambas as partes e as necessidades específicas identificadas. Para se ter um processo
de ensino e aprendizagem estimulador para alunos e professores, é necessário
compreender o que os alunos precisam para aprender e o que os professores
precisam para ensinar. Além disso, é preciso que se tenham professores preparados
por meio de processos formativos e que procurem proporcionar aos seus alunos

30
experiências educacionais que estimulem o processo de aprendizagem tornam a
prática enriquecedora.
A respeito da atuação do psicopedagogo na instituição promovendo formações
e orientações, pode-se dizer que: o psicopedagogo pode desempenhar uma prática
docente, envolvendo a preparação de profissionais da educação, ou atuar dentro da
própria escola. Cabe também ao profissional detectar possíveis perturbações no
processo de aprendizagem; participar da dinâmica das relações da comunidade
educativa a fim de favorecer o processo de integração e troca; promover orientações
metodológicas de acordo com as características dos indivíduos e grupos; realizar
processo de orientação educacional, vocacional e ocupacional, tanto na forma
individual quanto em grupo. Os fatores envolvidos na educação são articulados pela
gestão, a qual deve buscar o caminho para planejar e agir com a participação de todos
os sujeitos envolvidos. As ações articuladas - e com colaboração de diferentes áreas
- precisam ter:

A compreensão da visão, missão, valores e princípios assumidos pela escola,


assim como dos seus objetivos e metas, constitui-se em condição para o
estabelecimento da unidade entre as diferentes ações educacionais, de modo
a dar o sentido de continuidade entre elas e obter resultados mais amplos e
consistentes. (LÜCK, 2006, apud TEIXEIRA, 2015, p. 7).

Assim, contar com a colaboração de um psicopedagogo institucional contribui


para que as decisões e a prática a ser realizada tenham uma estratégia bem
elaborada. Isso porque será composta tanto pela visão da gestão quanto da
psicopedagogia, oportunizando, dessa maneira, que os reflexos obtidos sejam
positivos e duradouros. Isso pode ser uma forma de caracterizar a dimensão social
que essas ações em conjunto, tanto da psicopedagogia como da gestão educacional,
podem atingir promovendo mudanças no espaço escolar e na forma como os sujeitos
envolvidos nesse processo relacionam-se entre si e com a própria educação.
A questão da gestão educacional e a dimensão política e social que a permeia
diz o seguinte: é importante notar que a ideia de gestão educacional, correspondendo
a uma mudança de paradigma, desenvolve-se associada a outras ideias globalizantes
e dinâmicas em educação, como, por exemplo, o destaque a sua dimensão política e
social, ação para a transformação, participação, práxis, cidadania, autonomia,
pedagogia interdisciplinar, avaliação qualitativa, organização do ensino em ciclos, etc.,
de influência sobre todas as ações e aspectos da educação, inclusive as questões

31
operativas, que ganham novas conotações a partir delas. A respeito da gestão
educacional, ela abrange tanto a gestão dos sistemas de ensino quanto a gestão
escolar. Além disso, a gestão educacional tem como foco a interação social, o que é
importante para que se efetive uma gestão democrática e participativa, com a
colaboração da comunidade escolar.

Em termos organizacionais, os mecanismos autoritários de mando e


submissão devem dar lugar a processos e dispositivos que favoreçam a
convivência democrática e a participação de todos nas tomadas de decisão.
Nesse sentido é que devem ser implementados os conselhos escolares, os
grêmios estudantis e outras formas que favoreçam a maior participação de
todos os usuários e o relacionamento mais humano e mais democrático de
todos os envolvidos nas atividades escolares. (PARO, 2008, apud TEIXEIRA,
2015, p. 8).

Dessa forma, para que aconteça uma transformação do processo educacional,


é preciso que seus participantes sejam conscientes de sua responsabilidade por seus
desenvolvimento e resultado. O processo educacional só se transforma e se torna
mais competente na medida em que seus participantes tenham consciência de que
são corresponsáveis pelo seu desenvolvimento e seus resultados.
A realidade educacional é dinâmica e complexa; por isso, faz-se necessário
valorizar a realidade local e as vivências dos alunos como uma forma de aproximação
que possibilita a compreensão desse meio. Também, enfatiza-se que com a
colaboração de todos os envolvidos no processo educacional é possível melhor
atender as ações necessárias.
Cada vez mais se faz necessário inserir o psicopedagogo na instituição escolar,
já que seu papel é analisar e assinalar os fatores que favorecem, intervém ou
prejudicam uma boa aprendizagem em uma instituição. O papel da Psicopedagogia e
da Educação é o de instituir caminhos entre os opostos que liguem o saber e o não
saber e estas ações devem acontecer no âmbito do indivíduo, do grupo, da instituição
e da comunidade, visando a aprendizagem.
Articular a visão, a partir da Psicopedagogia Institucional com a visão a partir
dos estudos sobre Gestão Educacional, possibilita a compreensão mais abrangente
do processo de ensino e aprendizagem e como agir em momentos de dificuldades.
Ações conjuntas tendem a superar, com maior eficácia, os casos de fracasso e
melhoram a qualidade do ensino. A psicopedagogia institucional pode ter caráter
assistencial e que, nesse formato de atuação,

32
[...] o psicopedagogo participa de equipes responsáveis pela elaboração de
planos e projetos no contexto teórico/prático das políticas educacionais,
fazendo com que professores, diretores e coordenadores possam repensar o
papel da escola frente a sua docência e às necessidades individuais de
aprendizagem da criança ou, da própria "ensinagem”. (BEYER, 2003, apud
TEIXEIRA, 2015, p. 8).

Nesse sentido, a Psicopedagogia Institucional, em colaboração com a Gestão


Educacional, possibilita que sejam elaborados projetos que favoreçam o processo de
ensino e de aprendizagem de forma que compreenda as diferenças existentes e as
necessidades de seus alunos. Também, pode ser um suporte aos professores para
sua formação.
É importante que a escola seja próxima de sua comunidade escolar, que
desenvolvam projetos em parceria. A comunidade precisa participar das ações da
escola e da sua gestão, porque, para o psicopedagogo institucional, essa relação da
comunidade com a escola facilita a compreensão da organização sistemática dessa
instituição e o reflexo no processo de ensino e aprendizagem. O psicopedagogo, em
sua avaliação e atuação, leva em consideração a relação do sujeito com o meio em
que está inserido, pois o processo de aprendizagem é influenciado por essas
vivências.
Por isso, a necessidade de a escola ter uma boa relação com sua comunidade,
de atuar de forma que traga elementos do local a sua forma de ensino, procurando
levar em consideração a história de vida e experiências de seus alunos. Nesse
sentido, entender o sujeito da aprendizagem de forma contextualizada permite ao
psicopedagogo e ao educador que se subsidia pelo saber psicopedagógico uma visão
mais compreensiva das particularidades existenciais do sujeito, de maneira que se
possa melhor inseri-lo nos sistemas dos quais ele faz parte.
Uma escola que tem uma gestão democrática e participativa, bem organizada
com a participação da sua comunidade e que a escuta, tem evidências positivas no
rendimento dos alunos. Para a atuação do psicopedagogo, o conhecimento da
realidade local ajuda a delinear o perfil e a identificar certas dificuldades; dessa forma,
torna mais fácil o processo de avaliação e de atuação psicopedagógica. Dificuldades
identificadas na escola não são específicas da escola, do aluno, da família do aluno,
mas sim de um conjunto de fatores e sujeitos que contribuem de alguma forma para
isso.

33
Sendo assim, estão envolvidos fatores sociais, institucionais e individuais, e é
importante identificar como cada parte envolvida trata da dificuldade. Além disso, é
importante dar voz aos sujeitos que enfrentam essas dificuldades e procurar
compreendê-los nas suas singularidades, pois, dessa maneira, será possível auxiliá-
los e solucionar ou minimizar as dificuldades encontradas na escola.
É necessário reconhecer como elementos substanciais da realidade o
pluralismo, a diversidade e a multiplicidade que são fatores que compõem a
complexidade da realidade estudada. Por isso, a intervenção de forma articuladora,
contextualizada com todos os segmentos envolvidos proporciona ações engajadas na
busca por melhoras no processo de ensino e aprendizagem.
Ter um conhecimento contextualizado a respeito do caso investigado
proporciona que o psicopedagogo compreenda, de melhor forma, tanto a
especificidade quanto a amplitude do que precisa ser trabalhado em sua intervenção.
No caso da atuação da Psicopedagogia Institucional em colaboração com a Gestão
Educacional, possibilita a análise das dificuldades encontradas na escola, a partir dos
dois pontos de vista, e, assim, encontrar a melhor forma de ação para que se resolva
efetivamente.

10 A CLÍNICA PSICOPEDAGÓGICA E AS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM

Fonte: guiadoestudante.abril.com.br

34
Existem muitos fatores que interferem no processo de aprendizagem, porém a
criança não é a única responsável pelos problemas que enfrenta ou que se encontra.
Mas também, não é a busca de culpados por esses problemas que permitirá encontrar
soluções. É preciso o psicopedagogo ter clareza de que a dificuldade de
aprendizagem não se dá isoladamente, mas precisa ser compreendida como um
sintoma social, cultural, epistemológico e individual, que se manifesta na dimensão da
singularidade do sujeito. Na realidade, para compreender os problemas que surgem
na aprendizagem, necessita-se um processo de interação, fora desse não existirá
compreensão. Os problemas necessitam ser analisados considerando o processo
interativo existente para haver a aprendizagem. Dessa forma o psicopedagogo precisa
ter um olhar e uma escuta aprofundada a todos os momentos do processo.

[...] podemos considerar o problema de aprendizagem como sintoma, no


sentido de que o não-aprender não configura um quadro permanente, mas
ingressa numa constelação peculiar de comportamentos, nos quais se
destaca como sinal de descompensação. (PAÍN, 1989, apud ESCOTT, 2004,
p. 28).

A dificuldade de aprendizagem pode apresentar-se como um sintoma,


mascarando a repressão de algum acontecimento no qual o aprender tem seu
significado, outra possibilidade se dá pela inibição cognitiva, que diz respeito a uma
retratação intelectual do ego. E ainda, tem-se como terceira possibilidade o
comportamento reativo em relação às propostas escolares. Neste caso, a dificuldade
de aprendizagem está fora do sujeito, pois corresponde às inadequações das
propostas escolares às necessidades da criança e às diferenças de ideologia entre
escola e grupo social familiar.
O sintoma do não-aprender tem um significado funcional dentro da estrutura
na qual está inserido o sujeito. Nas dificuldades de aprendizagem sintoma, aprender
torna-se um fato ameaçador e, portanto, fonte de sofrimento, de repulsa e de
desprazer. Pode-se dizer que, o que é percebido pelo próprio sujeito ou pelos outros
é chamado de sintoma. Com o sintoma o sujeito sempre diz alguma coisa aos outros,
se comunica, e sobre o sintoma sempre se pode dizer algo. O sintoma é, portanto, o
que surge da personalidade em interação com o sistema social em que está inserido
o sujeito.
O problema de aprendizagem pode ser gerado por causas internas ou externas
à estrutura familiar e individual, ainda que sobrepostas. Os problemas ocasionados

35
pelas causas externas são chamados de aprendizagem reativos, e aqueles cujas
causas são internas à estrutura de personalidade ou familiar do sujeito denominam-
se sintoma. Segundo as autoras, quando se atua nas causas externas, o trabalho é
preventivo. Na intervenção em problemas cujas causas estão ligadas à estrutura
individual e familiar, o trabalho é terapêutico.

“Para entender o significado do problema de aprendizagem sintoma,


deveremos descobrir a funcionalidade do sintoma dentro da estrutura familiar
e aproximar-nos da história individual do sujeito e da observação de tais
níveis operando”. (FERNÁNDEZ, 1991, apud ARAGÃO, 2010, p. 21).

De acordo com essa comparação, no sintoma, existem as possibilidades de


aprendizagem, como a comida existe para o anoréxico, porém se perdeu a vontade
de aprender. E no problema chamado de reativo, pode-se comparar com o desnutrido,
pois nesse caso o sujeito deseja aprender, mas não são ou não foram proporcionadas
situações de aprendizagens viáveis. “Assim como em todas as classes sociais pode
aparecer a anorexia, em todas as situações socioeducativas pode aparecer o
problema de aprendizagem sintoma”.
É de grande importância ter-se claro o que é a desnutrição (fracassos
escolares) e o que é a anorexia (problemas de aprendizagem), para que dessa forma
se possa fazer a intervenção antes que algum deles seja produzido, pois, em muitos
casos, um pode vir a surgir do outro, ou seja, um sujeito com desnutrição pode vir a
se transformar em um sujeito com anorexia como uma defesa, dessa forma um
problema reativo pode vir a se tornar um sintoma. O fracasso escolar ou o problema
de aprendizagem deve ser sempre um enigma a ser decifrado que não deve ser
calado, mas escutado. Dessa forma, quando surgir o “não sei” como principal
resposta, o psicopedagogo deve perguntar-se o que não está permitido saber.

Para resolver o problema de aprendizagem reativo, necessitamos recorrer


principalmente a planos de prevenção nas escolas (batalhar para que o
professor possa ensinar com prazer para que, por isso, seu aluno possa
aprender com prazer, tender a denunciar a violência encoberta e aberta,
instalada no sistema educativo, entre outros objetivos), porém, uma vez
gerado o fracasso e conforme o tempo de sua permanência, o psicopedagogo
deverá também intervir, ajudando através de indicações adequadas
(assessoramento à escola, mudança de escola, orientação a uma ajuda
extraescolar mais pautada, a um espaço de aprendizagem extraescolar
expressivo, etc.), para que o fracasso do ensinante, encontrando um terreno
fértil na criança e sua família, não se constitua em sintoma neurótico. Para
resolver o fracasso escolar, quando provém de causas ligadas à estrutura
individual e familiar da criança (problema de aprendizagem – sintoma ou
inibição), vai ser requerida uma intervenção psicopedagógica especializada

36
[...] para procurar a remissão desta problemática, deveremos apelar a um
tratamento psicopedagógico clínico que busque libertar a inteligência e
mobilizar a circulação patológica do conhecimento em seu grupo familiar.
(FERNÁNDEZ, 1990 apud BOSSA 2000, p.88).

Em determinados casos de não aprendizagem, a intervenção pode ser feita na


escola, em outros na clínica. A aprendizagem é um processo que resulta de uma
interação do sujeito com seu meio. Dessa forma a dificuldade para aprender se
caracteriza por ser um impedimento, persistente ou momentâneo, do sujeito diante de
obstáculos que surgem nessa interação.
O processo de aprender não acontece em linha reta, numa ascensão suave de
aquisições que vão se somando simplesmente umas às outras; e sim apresenta um
traçado acidentado, definido como “dente de serra”, com picos de alturas variadas,
em que se soma, subtrai-se, divide-se e multiplica-se. Em alguns momentos o
aprendiz resolve as situações com facilidades; em outros, surge a dificuldade que
mobiliza para a solução. A dificuldade na aprendizagem é um elemento que faz parte
do processo de aprendizagem e não deve ser vista sem vínculo com o mesmo. Sem
dificuldade não existe aprendizagem real, não havendo desequilíbrio, não há busca
pelo equilíbrio e a aprendizagem não se faz.

11 A PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA E SUA RELAÇÃO COM PROFESSORES,


ESCOLA E FAMÍLIA

Fonte: www.domboscoead.com.br

37
É de grande importância que haja um trabalho integrado entre psicopedagogo,
professor, escola e família. Dessa forma é necessário que no trabalho do profissional
de psicopedagogia, se tenha a definição dos papéis dele, do professor, da escola e
da família. Em relação à família no processo de ensino e aprendizagem:

Propor o pensamento psicopedagógico sistêmico no entendimento das


questões educativas, na família e na escola, é possibilitar uma visão mais
ampla entre o ensinar e o aprender na compreensão do quando, onde e como
acontece. Seria possibilitar aos alunos, crianças e adolescentes, membro de
uma família, assimilarem os conhecimentos que vão adquirindo em seus
contextos culturais, reunindo-os, religando-os em novas bases de saberes.
(MUNHOZ, 2004, apud SCOZ, 2004, p.175)

Com base nessa afirmação, defende-se que um saber só é pertinente se for


capaz de ser situado num contexto, neste caso a família. O ambiente escolar pode
exercer, também, um efeito estimulador para o estudo ativo dos alunos. Os
professores precisam procurar unir-se a direção da escola e aos pais para tornar a
escola além de um espaço educativo, também um lugar agradável e acolhedor. A
família deve estar ligada à escola, pois suas funções se encontram e se
complementam. É na família que se tem as primeiras experiências de aprendizagem,
pois o indivíduo e a família vivem em constante interação.

Sabemos que as famílias podem ser facilitadoras ou inibidoras desse


processo, portanto compreendê-las em suas interações e significados sobre
o que consiste a autoria de pensamento na formação do sujeito autor, como
poder diferenciar-se de suas famílias de origem, acaba sendo um ponto
crucial nos estudos sobre a família, no desempenho de sua função educativa.
(MUNHOZ 2004 apud SCOZ, 2004, p. 181).

O psicopedagogo deve buscar o que significa o aprender para o sujeito e sua


família, tentando descobrir o porquê de o sujeito não aprender. Conhecer como se dá
à circulação de conhecimento na família, qual a modalidade de aprendizagem do
sujeito, não esquecendo qual o papel da escola na construção do problema de
aprendizagem apresentado, tentando também engajar a família no projeto de
atendimento. É a escola, indiscutivelmente, a principal responsável pelo grande
número de crianças encaminhadas ao consultório por problemas de aprendizagem.
Há alguns anos, a falta de clareza a respeito de problemas de aprendizagem fazia
com que os alunos com dificuldade fossem encaminhados concomitantemente para
profissionais das mais diversas áreas da atuação. Pouco a pouco, foi se criando a

38
consciência da necessidade de uma formação mais globalizante e consciente, que
unisse a ação educacional na figura de um único indivíduo apto para integrar
conhecimentos e para atuar de maneira mais objetiva e eficaz. Assim, os
atendimentos antes dispersos entre várias pessoas poderiam centrar-se num só
profissional, facilitando o vínculo do aluno com o processo de aprendizagem e o
resgate de aprender e desenvolver-se.
Assim, é extremamente importante que a Psicopedagogia dê a sua contribuição
à escola, seja no sentido de promover a aprendizagem ou mesmo tratar de distúrbios
nesse processo.

[...] não basta que o psicopedagogo tenha somente uma ação preventiva,
trabalhando com educadores, quando surgirem processos patológicos
individuais; nessas situações cresce a importância da identificação da
patologia e da indicação terapêutica. Da mesma forma, não é suficiente que
o psicopedagogo intervenha terapeuticamente, atendendo ao sujeito
individualmente, sem que sua ação se estenda à instituição escolar. Dentro
dessa perspectiva, as dimensões clínicas e institucionais não se contrapõem.
(WONFEBUTTE, 2001 apud ESCOTT, 2004, p.34).

O profissional de psicopedagogia tem grande importância, atuando, como


assessor na busca da melhoria do processo de aprendizagem e mais importante ainda
é que se desenvolva um trabalho integrado psicopedagogo, professor, escola e
família, no sentido de melhor desenvolver a prática educativa. A reação familiar frente
ao fracasso escolar ou frente ao não aprender, relaciona-se com os valores que
predominam o grupo social ao qual se liga à família, uma imagem desvalorizada de si
mesma. É necessário que a família procure conhecer melhor a escola que vai escolher
para seus filhos, que tipo de homem pretende formar, sua metodologia de ensino,
formas de avaliação, normas disciplinares, atualização de professores, etc. Nem todas
as famílias se comprometem com a escola em que seu filho está inserido, muitos pais
se ausentam da participação escolar. Alguns desconhecem a importância de sua
participação junto à escola e aos professores.
Pensar a escola, à luz da psicopedagogia significa analisar um processo que
inclui questões metodológicas, relacionais e socioculturais, englobando o ponto de
vista de quem ensina e de quem aprende, abrangendo a participação da família e da
sociedade. Sendo assim, o psicopedagogo não irá analisar somente quem ensina ou
quem aprende, mas todo o contexto, incluindo também a família e a sociedade. Cabe
ao profissional da psicopedagogia livrar-se de estereótipos, generalizações e analisar

39
cada escola com suas histórias e particularidades. O professor desempenha essa
tarefa com dedicação e esforço constante e, geralmente, ao sentir que a família não
colabora ou até atrapalha a sua tarefa, sente-se impotente e desvalorizado e faltam-
lhe estratégias e habilidades para intervir. Nesses casos, fica difícil ajudar esse aluno,
e a relação com a família torna-se frustrante e difícil. O psicopedagogo pode, então,
ajudar a tomar distância, a analisar a situação com maior objetividade e a tentar
mediar nessa relação para superar a incompreensão ou rejeição que possa gerar.
Dessa forma, família, escola e professores possuem um fundamental papel no
processo de aprendizagem da criança. Essa tríade precisa estar comprometida com
o processo de ensino e aprendizagem e, assim, haverá um trabalho integrado com o
psicopedagogo.

12 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Todo processo de aprendizagem é composto por estes elementos: em primeiro


lugar há a pessoa que aprende, que traz consigo os órgãos dos sentidos, seu sistema
nervoso, seu sistema muscular e também o conjunto de habilidades e capacidades
que adquiriu anteriormente.
Em segundo lugar, existe a situação estimuladora, compreendendo o conjunto
de fatores que estimulam os órgãos dos sentidos como a família, a escola e a
sociedade que a pessoa está inserida e finalmente, há a ação ou resposta que resulta
da estimulação e da atividade nervosa subsequente. O primeiro elemento
corresponde à condição interna e o segundo, à condição externa, graças aos quais, o
terceiro elemento se manifesta, ou seja, a resposta.
As dificuldades de aprendizagem interferem consideravelmente na vida do
cidadão, dessa forma quanto mais precocemente forem observadas melhor será o seu
diagnóstico e tratamento, dando importância e atenção devida que o compreende.
Sabe-se que o déficit de aprendizagem pode ter causas das mais diversas, como um
simples elo afetivo, um suporte pedagógico precário, além de distúrbios de ordem
fisiomotora do sujeito, o importante é que o psicopedagogo saiba introduzir os meios
para um diagnóstico cuidadoso, evitando rotular ou marginalizar o sujeito aprendiz.
Cabe, portanto, ao psicopedagogo diante das dificuldades apresentadas, ser capaz
de ouvir, falar, propor, intervir diagnosticar e encaminhar corretamente o sujeito á

40
profissionais especialistas quando realmente necessário, envolvendo nesse trabalho
todos os que se relacionam diretamente ou indiretamente com o indivíduo, ou seja, a
família, escola, amigos, etc. Dessa forma o trabalho do mesmo deverá ser um trabalho
de dedicação, de atenção, acolhimento e sensibilidade para redescobrir o indivíduo,
aprimorar e transformar sua vida, através do respeito a si próprio e ao próximo,
tornando – o ativo, capaz e único dentro da sociedade onde vive.

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