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INVESTIGAGOES EM TORNO DO OBJETO DA PSICOLOGIA L INDIVIDUO E PSICOLOGIA: GENESE E DESENVOLVIMENTOS ATUAIS DEISE MANCEBO" 1, Novas Abordagens em Psicologia Social: de que Perspectiva Falamos uforia vivida nos anos que se seguiram & IT Guerra, as jeas se acumnularam, ¢ a partir dos anos 70, na América Latina, tionamento ocorre, princi ica-se, desde entdo, o mecanicismo e a auséncia de rel uma psicologia em consonancia com a ino, 1996; Lane, 1985; , calcados nas formul ive a partir da leitura de de Psicologia Social (Abrapso), que se propunha Mogia voltada aos interesses das classes mais ico as categorias politicas e soci s de a 4 ssibilidade de del mentos no campo das Ciéncias Humanas e Sociais{ Psicolo Antropologia, Economia, Hist6ria, Pedagog’ nas com fronteiras que devem ser necessariamente permediveis se 0 objetivo for ampliar © conhecimento do individuo, do grupo, da sociedade e da cia material e conereta (Camino, 1996, p. 20)-} ia Social com outros saberes e aifida {mos esto embebidos no contex\ cial em que sdo criados e, assim, considera-se que as formagées da st tividade no podem ser compreendidas desligadas da formagao si qual se constituem, Deste modo, “tunto os fenémenos ‘normais’ quanto os “patoldgicos’, bem como a determinagdo das fronteiras entre uns e outros, clizem respeito a uma dada formagio social e s6 podem ser compreendidos 1996, p. 83). Em conseqiléne que 0s forjaram. ‘Um terceiro aspecto que ganhou relevancia nos estudos destas hi na produgio de nossos conhecimento: do e ele & pare de nds mesmos. A realidade é uma coms cotidiana, na qual (05 € sociedade se transformam mutuamente no curso de uma inevitavel interago, Assume-se, deste modo, a impossibili- lade, (Zo cara a muitos no campo da investigagao ‘cossocial: a presenga d jgador, a selegao do 10, a escolha dos sujeitos, a determinagdo das condigées de observagao ea coleta de dados so partes constitutivas da construgao invest objeto cen deve por certo ser problematizado e aperfei com 0 desenvolvimento de novos procedimentos, téenicas e instru mas tal esforgo niio deve se dar para garamtir a tio perseguida objet mis para o aleance de uma melhor compreensao da te A investigagiio psicossocial, 40 Ive sob determinadas condigdes es lades, nilo raramente normatizando, la. ima, pretendo, neste trabalho, de- ia do saber psic« mente, valoriza a vida psiquica privada e 0 conseqiiente empobrecimen- dav 2, O Conceito de Individuo: uma construcio da modernidade mnente reafirmacao dos .dos. Desse modo, fica dificil percebermos que esta 1974) niio € inata e sim uma ca- ‘em uma reflex devida sobre estes pre: Desde o trabalho pioneiro de Mauss (1974), no entanto, a juo vem sendo objeto de uma extensa e rica produgio de estudos sobre 0 homem. Os antores que se filiam a essa tradigao vm retirar essa categoria do estado de naturalizagdo em que se ccigncias humanas em geral e nas teorias do psiquismo em particular, demarcando as circunstincias e as condigdes de possibilidade que fizeram emergir, ao longo de séculos, essa forma particular de se perceber como ser humano. Trata-se, em sintese, de’ dar densidade cri a expresstio cunhada por Bezerra Jénior ( “N6s, of individuos modernos, somos um cay 37 INDIVIDUO E PSICOLOGIA, ic0s sio necessérios neste ponto, 1985, p. 29) os dois sentidos sob os quais moral, independente, autOnomo, ¢ assim ‘como se encontra, sabretudo, em nossa ideologia moderna do homem e da sociedade. Em decorréncia deste primeito esclarecimento, segue-se que 0 individuo € apenas um dos modos de subjetivacto possiveis. Cada época, cada Sociedade poeem funcionamento alguns desses modos, sendo a cate \divicluo” 0 modo hegeménico de organizagio da subj modernidade, donde decorre o segundo esclareci io pode ser confundida com a de ismo, 0s individuos empfticos sio, sobretudo, re- presentados como identidades posicionais, isto é, como € dado pelo lugar que ocupam na hicrarquia estr de; no individualismo, forma hegeménica das sociedades ociden identidade individual & dado, sobretudo, pela idéia de aut tm relago ao todo. Deste modo, 0 presenta como um ser que preexist e que se organiza para te. suas potencialidades conce- ‘duo tal qual apresentado ica e realidade econémi jindo-se em parcela sig rio social da modemnidade. Para os contratualistas dessa Locke, Hobbes, Rousseau ~ 0 poder das familias havia sido subs- jcamente pelo Estado Moderno, constituido, ao menos em tese, ago direta de individuos. Os contomos bisicos desse novo liberdade (inclusive em relagzio a prépria coletividade na DEISE MANCEBO si sinicos) ¢ a cons ro propria, emogées e sentimentos préprios, singulares, tnicos) e a 1e gem mediagdes (Gentil, 1996, p. 92) portanto, da modemidade ocidental € a supo- ‘ima, € 0 em decorréncia, cria-se a expet joridade, por meio da protecdo de sua {oberano no exclui uma diversidade de formas e destinos. A modernidade vas tio dispares como a do “individualismo liberal, as do jco e disciplinar ¢ também as do smo, em sua génese, n ‘Tais direitos deveriam ser defendidos e consagrados por um Estado remente firmado entre indivduos autonomos. Ao lo, portanto, ndo cabia a intervengfo e administragdo da vida particular ia no plano das opiniges, no da vida doméstica ou no dos vaguardla das relagSes entre individuos para que demais, Segundo Figueiredo [Bra fundamental, portant ‘08 abusos eventuais forgn destes poderes: © monopélio estatal do poder de faze! Unie deveria estar completamente subordinado & fungio de salvaguarda jdusis, denise os quais se destacavam os is pudessem ser ‘a separagio entre prevalecem as i20u 0 solo necessario & e atomizada, na qual os ee 10 entanto, Novos TuMos, a0 ex! idade, chegando a contrapor-se a varias rento destas idéias po © ctiador do Syenthamiano” ird substituir, em diregao oposta 20 renga ¢ a defesa intransigente dos direitos naturais dos indivi- indo priortariamente na organizagao mais racional da socieda- imi vistas ao alcance de uma maior harmonia coletiva. Nesta perspec- ai iva e uma certa administra- lamentos individual \do, assim, novas modalidades de poder. E sério mais geral deita raizes na sociedade, de modo que de saide e de lazer passam a par- pprivada para adotarem, » e de normatizagio das “Michel Foucault (1983, 1989) analisa o cont tos novos dispositives disciplinares e pela normalizagao técnico: entando-nos criticamente a modernidade como uma era de \¢io dos corpos ¢ de regulagio das populagées, de modo a lade social e a reduzir, ao mais baixo c i base nesta idéia que Foucault se recusa a atribuir ao Estado rt he Kentral no processo de dominagio moderna. De fato, segundo ele, 0 iuridico- politico sediado no Estado e n: igdes nilo tem ces- do de perder importdncia em favor dos mintiseu rma ites poderes disciplinares. ‘Atribuindo-se ou ndo maior respor inmar que a partir da segunda metade do ao longo do século XX, ass nares, & medida sovos codos 1s refiigios em que os individu procuravam se abrigar e, além o, forum apresentando-se a estes de forma positivamepte seduto Vincente e eficaz. Uh De toda esta doutrinagdo esperava {gou-se com sucesso ~ a construgzo de subjet ada vez. mais treinadas para o desempenho delegados e, principalmente, déceis e domesticadas con que Luis Claudio Figueiredo (1995) tao bem qualificou de “meros in vidos pelo interesse no aleance de supostos bons I favorecer a maioria, mesmo que em prejuizo de alguns (ou m ‘Viduos, Embora as perdas e ganhos individuals sejam as unidades b dlgulo 0 que taduz uma posicio predominantemente individualsta > es do poder piblico sfo advogadas em nome de uma icidade” geral (Figueiredo, 1994). 4 expansto do pensimento romantico 80 d com erties ao ibe: 10 individualismo da Hustragio. Segundo Figueiredo (1994, pi. ica ¢ racional - como os valores fe a conjugagiio destes tragos numa dda vida social (a gual incluia tanto a nogio igo da tends e de suas leis impessoais) foram rejeitados. fe as mascaras social e convencional- ‘mesmo que A custa de cri- ura ou desagreg: Na obra de Simmel (1977) encontramos uma sintese bastante fértl ja compreensio diferenciada dos idedrios ro - {teria ocorrido, primeiramente no sécul ivo, que denominou de ral ficava para a liberdade e a igualdade entre XIX, exatamente sob a influéncia do romamtismo, ter-se- tro tipo de individualismno, a uniqueness, que, sem tt igualdade como valor humano, dava maior énfase & de desenvolver suas particularidades e peculiar interiotidade. Mlb de ser un individu livre, era preciso que 0 homem fosse di Ainico e singular. salismo a cisio entre a esfera publica e a privada rdade individual dual assumiu tamanha proporgao que os proce i" mnatitule nos prdprios organizadores i jean um aspect por Richard Ser 4 invasfio do. pl ibatenta para a confustio que se estabelece, re estas duas esferts, levando-nos a procurar o pil ,,de modo a petdermos a referencia dos yeeto bastante exacerbado nos dias atuais. (0 individuos construfdos sob os id Embora convivam sirmultaneam ea € nilo perder analisar 0 peso diferenciado que ional do mundo e do desenvol pleno desenvol smo, nos pafses centrais, carat designado “cidadania soci: im outros termos, Ocort conquistas de di ci ‘ociedade, através do uso de priticas jento dos direitos iu novos horizontes ao desenvol liana propiciada no dor ia satide, da educagio ¢ da hat tam 0 espago urbano desagregador e atomizado, destruiram rul= eiais de interconhecimento, de ajuda métua e de do mercado e do e das rela- ucro) t8m desempenhado, ne: Wo na revalidactio social e politica do id: ivfduo af subjacente (Santos, 1997). No en criatividade e reflexividade (romanticas) mmetidas intensa smos assistido a um refinamen- wares de construgao das indivi- 4 que, sem maiores contradigées, convive | autonomia liberal, entendida cada vez mais como uma eterna de teorias, ciéncias, idéias e conhecimentos puderam flo- “4 esquiad initlo apenas peas tecnologias de poder, a exemplo das que se manifestam na localizagio das pragas e nos locais de diver- ‘ona das fabricas, escolas, prisées etc. Os saberes s © psicolégicos, desde 0 sé ia de organizar imente” os problemas oriundos da indus- fam er desenvolvimento destes saberes, dentre eles 0 P' ico, nos 6 apresen- nna forma de: processos de com mas de {0 mobilizadas pela soriedade urbano-indus {ios idemtitarios e os alocam em campos tre 0 normal e 0 patol6gico. Para este aut cago. das saber, nasceu com iu, Do mesmo modo, @ emergéncia ¢ desenvol , enguanto saber pro- prio do homem, & 0 resultado mais premente dos muliplos dispositivos ‘Em sintese, toda esta nova tecnologia fabrica, de modo magist {sto 6, um registro de sentido que ‘marca formas de estar, pensar e viver 0 mundo. utciras] modos de subjetivagdo, modos de existéncia ou de possibilidades de vida" (Barros, 1993, p. 14). 4, Individualismo ¢ Psicologia: desenvolvimentos atuais ¢ perspectivas ‘Vivemos hoje situagdes cada vex mais intensamente construidas como individuais © “interiores" seguranga no ‘os espagos privados de autoprote¢ao profiferam (shopping centers, condominios fechados etc.). Pode-se afirmar que 0 ¢ 4s ites ou personalidades, ial A margem do social ¢ da historia (Baptista " mundo a partir de si proprio, in mais refinada de sua propria individualidade, \do a liberdade, prineipalmente, de troca e a relativizagdo que @ ia prevalecente da ‘uma varidvel indiferenga, de um embotamer 1s is diversas formas de individu: 1983, p. 4), essa cultura vem produ esse rio, n objeto de desconfortaveis « \de nao deve ser tradu No momento 1 0, no sentido de impde-se trazer as no: ia Psicologia como dis Tre is, contrapondo alternativas de reflexdio sobre o nyolveu ao longo da histéria. ‘outro, Tratacse da construgio instincia, de diferentes quatidades | ‘na autonomia eno autogoverno, "i tatizngo e nn demmocracin participaiva. Por fim depence da possi- ‘de nos deslocarmos: do estrito espago jndividualista ao qual preten- gir, de ensaiarmos novas formas de subjetividade e de cons- ygas que dem sustentagZo a projetos de sociedade e de vida 993. cnevides de, Grupos e producto, Sade ¢ loucura: gripes ¢ 1993 sade € loucura’ 10 do psicolégico: EscutwEDUC, Vigiar € ras e as coisas. Sio Pal io de Janeiro: Gi

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