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O Peido que a doida deu

Natanael Cordeiro e Antônio Severo

Uma doida em Soledade, em Fevereiro passado.


Deu um peido tão danado que a balou a cidade
Um leão quebrou a grade, saiu da jaula e correu.
O sol desapareceu, a lua fez uma pausa
Tudo isso só por causa do Peido que doida deu.

O vigário Baltazar tava celebrando a missa


Quando sentiu a carniça abandonou o altar
Fecharam a bodega e bar, a cidade apodreceu
A prefeitura entendeu que havia necessidade
Decretar calamidade do peido que a doida deu

O doutor José Aurora, que era senhor delegado,


Ficou tão agoniado que correu na mesma horta
Botou os presos pra fora e depois desapareceu
Um sargento adoeceu um cabo e quarto soldados
Quase morreram intoxicados do peido que a doida deu

No hospital São Vicente um médico se agoniava


Pois toda hora chegava carro com gente doente
E de atender tanta gente o doutor adoeceu
A enfermaria encheu e nem injeção dava jeito
Para cortar o efeito do peido que a doida deu

A cachorrada latia, os gatos todos miavam


As crianças Desmaiavam, a fedentina cobria
A água benta da pia ficou da cor de pneu
Teve um cabra que bebeu um litro e meio de pinga
Mas não cortou a caatinga do peido que a doida deu.

Formou-se uma nuvem escura, plantas e flores murcharam


As lojas também fecharam por ordem da prefeitura
O engenho de rapadura nesse dia nem moeu
Uma estátua ainda correu, saiu tapando o nariz
Era um mau cheiro infeliz o peido que a doida deu

A cidade ficou cheia com uns cinco mil urubus


Faltou água, faltou luz e a coisa ficou feia
Com cinco légua e meias muita gente adoeceu
Quem era fraco morreu, foi o maior desespero
Ninguém agüentava o mal cheiro do peido que a doida deu

Caçaram a doida danada, para fazer o estudo


Mas ela vendo isto tudo, saiu numa disparada
Entrou na mata fechada, nunca mais apareceu,
A cidade escureceu, a terra ficou tremendo,
Ainda hoje está fedendo O peido que a doida deu.

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