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AS INTERFACES ENTRE
DIFERENTES CONTEXTOS,
SUJEITOS E TERRITÓRIOS
Elmo de Souza Lima
Keylla Rejane Almeida Melo
Organização
EDUCAÇÃO DO CAMPO:
AS INTERFACES ENTRE
DIFERENTES CONTEXTOS,
SUJEITOS E TERRITÓRIOS
2020
Conselho Editorial
Dr. Clívio Pimentel Júnior - UFOB (BA)
Dra. Edméa Santos - UFRRJ (RJ)
Dr. Valdriano Ferreira do Nascimento - UECE (CE)
Drª. Ana Lúcia Gomes da Silva - UNEB (BA)
Drª. Eliana de Souza Alencar Marques - UFPI (PI)
Dr. Francisco Antonio Machado Araujo – UFDPar (PI)
Drª. Marta Gouveia de Oliveira Rovai – UNIFAL (MG)
Dr. Raimundo Dutra de Araujo – UESPI (PI)
Dr. Raimundo Nonato Moura Oliveira - UEMA (MA)
Dra. Antonia Almeida Silva - UEFS (BA)
Editoração
Acadêmica Editorial
Diagramação
Danilo Silva
Capa
Acadêmica Editorial
Reprodução e Distribuição
CAJU: Educação, Tecnologia e Editora
ISBN: 978-65-88307-22-9
CDD: 371.04
Bibliotecária Responsável:
Nayla Kedma de Carvalho Santos – CRB 3ª Região/1188
DOI: 10.29327/522732
Link de acesso: https://doi.org/10.29327/522732
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO .............................................................. 9
PEDAGOGIA DA ALTERNÂNCIA E EDUCAÇÃO POPULAR:
DIÁLOGOS POSSÍVEIS ..................................................... 17
Elson Silva Sousa
Elmo de Souza Lima
EDUCAÇÃO DO CAMPO NO CONTEXTO DO SEMIÁRIDO:
ALTERNATIVAS TEÓRICAS E METODOLÓGICAS QUE
PERMEIAM A PRÁTICA EDUCATIVA DA ECOESCOLA
THOMAS A KEMPIS ........................................................ 49
Patrícia da Conceição Lima Torres
Elmo de Souza Lima
PRÁTICAS EDUCATIVAS NAS ESCOLAS DO CAMPO:
FOMENTANDO O PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DA
IDENTIDADE CAMPONESA DOS/AS EDUCANDOS/AS ....
....75
75
Maria Sueleuda Pereira da Silva
OS PRINCÍPIOS POLÍTICOS E PEDAGÓGICOS
QUE NORTEIAM AS PRÁTICAS EDUCATIVAS NOS
ASSENTAMENTOS DO MST ............................................ 99
Lorena Raquel de Alencar Sales de Morais
Elmo de Souza Lima
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS E ADAPTAÇÕES
CURRICULARES PARA ALUNOS COM TRANSTORNO
DO ESPECTRO AUTISTA EM ESCOLAS DO CAMPO DO
PIAUÍ .............................................................................. 129
Keyla Cristina da Silva Machado
DIÁLOGOS COM CRIANÇAS DOS ANOS INICIAIS DO
ENSINO FUNDAMENTAL SOBRE EDUCAÇÃO INFANTIL
EM ESCOLA DO/NO CAMPO........................................... 153
Keylla Rejane Almeida Melo
Iara Vieira Guimarães
PEDAGOGIA DA ALTERNÂNCIA E OS SABERES DO
COTIDIANO DO CAMPO ................................................ 183
Maria Raquel Barros Lima
Carmen Lúcia de Oliveira Cabral
Luana Vieira de Sousa
RESSIGNIFICAÇÃO DE SABERES E PRÁTICAS
EDUCATIVAS NO SEMIÁRIDO POTIGUAR A PARTIR DA
LICENCIATURA INTERDISCIPLINAR EM EDUCAÇÃO DO
CAMPO DA UFERSA .......................................................203
....................................................... 203
Linconly Jesus Alencar Pereira
Maria do Socorro Xavier Batista
Luciélio Marinho da Costa
OS PROCESSOS DE FORMAÇÃO EM UMA LICENCIATURA
EM EDUCAÇÃO DO CAMPO: A AVALIAÇÃO DOS
EDUCANDOS, MONITORES DE ESCOLAS FAMÍLIA
AGRÍCOLA .....................................................................235
..................................................................... 235
Diego Gonzaga Duarte da Silva
Lourdes Helena da Silva
Élida Lopes Miranda
O PRONERA NO ESTADO DO PIAUÍ: UMA ANÁLISE A
PARTIR DA II PESQUISA NACIONAL DE EDUCAÇÃO NA
REFORMA AGRÁRIA (PNERA) ....................................... 257
Jullyane Frazão Santana
Maria Clara de Sousa Costa
Marli Clementino Gonçalves
SOBRE O(A)S AUTORE(A)S ............................................. 277
ÍNDICE REMISSIVO .......................................................287
....................................................... 287
8
APRESENTAÇÃO
“...porque a vida é mutirão de todos,
por todos remexida e temperada”
Guimaraes Rosa
APRESENTAÇÃO
9
educação contextualizada na sua vida, no seu trabalho,
na sua cultura – e, principalmente, como nos diz Paulo
Freire, uma formação humana e emancipadora.
Os artigos reunidos nesta publicação provêm
de uma variedade de práticas sociais e educativas que
colocaram em diálogo o ensino superior e a educação
básica, a partir do olhar investigador de sujeitos
comprometidos e vinculados às lutas, organizações
e práticas educativas que geraram questionamentos,
curiosidades e saberes de um fazer político e educacional
que foi “sendo aprendido no caminho”, na interação
com os diversos sujeitos da Educação do Campo e das
contradições existentes nos seus contextos sociais,
econômicos e políticos. Principalmente, no momento
atual no qual o sistema capital se torna tão violento no
aniquilamento de direitos e expropriação do trabalho
humano, dentre estes o trabalho docente.
Estes são alguns dos embates teóricos e políticos
que estão postos para a produção do conhecimento
em Educação do Campo. Neste caso, a identificação
e o compromisso com o Movimento da Educação do
Campo, dos autores e autoras, somente contribuiu para
uma construção teórica, que buscou situar no tempo
e no espaço, os diversos objetos estudados, que foram
apresentando as singularidades de cada experiência
educativa a partir do contexto da convivência com o
semiárido, da educação na reforma agrária, na vivência
da alternância e nas questões postas com a chegada das
camponesas e camponeses na Universidade.
EDUCAÇÃO DO CAMPO:
10 as interfaces entre diferentes contextos, sujeitos e territórios
Elmo de Souza Lima e Elson Silva Sousa abrem
a coletânea com um artigo no qual argumentam sobre
os possíveis diálogos entre a Pedagogia da Alternância
e a Educação Popular, com o acesso dos camponeses à
educação. Para isto, remontam a história da Educação
Rural e da Educação do Campo, utilizando a belíssima
metáfora “o joio e o trigo” para caracterizar cada
paradigma. Ao situarem o surgimento da Pedagogia
da Alternância, na França, e sua chegada ao Brasil,
na década de 1960, período histórico que também se
constituía a Educação Popular, evidenciam como esta
trouxe mudanças na prática da alternância, e como
estas duas matrizes vão contribuir para década de 1990
se constituir o Movimento da Educação do Campo, com
sua ênfase numa práxis que articule tempos, espaços
e saberes populares e escolares de forma crítica e
emancipadora.
Patrícia da Conceição e Elmo de Sousa Lima
nos apresentam no artigo seguinte, uma pesquisa
realizada com professores/as, estudantes e gestores da
Ecoescola Thomas a Kempis, localizada no Município
de Pedro II, no Piauí. E de como os fundamentos da
Convivência com o Semiárido e da Agroecologia têm
possibilitado formulações teóricas e metodológicas, que
tomam as vivências campesinas para organização de
um trabalho pedagógico interdisciplinar e crítico entre
docentes, discentes e comunidade, fortalecendo a auto-
organização e o trabalho coletivo na escola.
Maria Sueleuda Pereira da Silva convida-nos
a refletir sobre como os territórios camponeses, com
seus símbolos, saberes e lutas, podem fomentar nas
APRESENTAÇÃO
11
práticas educativas processos de afirmação identitária
desta população e, consequentemente, contribuir
para a formação dos/as educadores/as do campo e
para que os/as educandos/as possam internalizar as
especificidades e singularidades dos seus contextos,
valores e as contradições sociais e econômicas, bem
como compreender as mudanças e permanências que
simultaneamente acontecem no campo.
A pesquisa de Mestrado em Educação realizada
por Raquel de Alencar Sales de Morais e Elmo de Souza
Lima buscou refletir sobre as contradições enfrentadas
pelos/as educadores/as e movimentos sociais para
materialização dos princípios políticos e pedagógicos
defendidos para a educação nos assentamentos da
reforma agrária, pelo Movimento dos Trabalhadores/as
Sem Terra. A construção de um novo projeto social exige
muita luta e resistência contra as forças conservadoras
propagadas pelo capitalismo, visto que os contextos,
as demandas e as lutas sociais vivenciadas nos
assentamentos tornam-se referências importantes para
a organização do trabalho pedagógico na escola, o que
impõe uma permanente luta e resistência para assegurar
este direito e a sua proposta político-pedagógica.
A pesquisa documental e bibliográfica realizada
por Keyla Cristina da Silva Machado colocou-nos o desafio
de pensar a escola do campo a partir das singularidades
dos sujeitos sociais e dos direitos da educação inclusiva
conquistados na legislação. Dentre a diversidade das
deficiências, a autora destaca os alunos com transtorno
do espectro autista, os desafios que colocam para
as práticas pedagógicas e adaptações curriculares,
EDUCAÇÃO DO CAMPO:
12 as interfaces entre diferentes contextos, sujeitos e territórios
considerando a infraestrutura das escolas existentes
no campo, a precarização dos seus equipamentos,
mobiliários e materiais didáticos, bem como a formação
inicial e continuada dos docentes para uma prática
educativa com estes sujeitos.
Keylla Rejane Almeida Melo e Iara Vieira
Guimarães mostram-nos um diálogo construído com
crianças dos anos iniciais do ensino fundamental sobre
a oferta da educação infantil em escola no/do campo,
amparadas por uma análise documental da legislação
brasileira que trata dos direitos das crianças pequenas
à Educação Infantil. Esta pesquisa, que parte de um
trabalho de doutoramento, realizou-se com diferentes
procedimentos: grupos focais, fotografias, desenhos
produzidos por 20 crianças com idades que entre 08
e 10 anos, escuta de suas narrativas com o objetivo de
compreender a necessidade de (re) organização dos
espaços/tempos educativos de escolas do campo para o
atendimento às crianças pequenas. A fragilidade no que
se refere às três dimensões do cotidiano escolar–espaços,
materiais e tempos – é enfatizada nas narrativas como
fundamentais para dificultar este acesso e permanência.
O artigo de Maria Raquel Barros de Lima, Carmem
Lucia de Oliveira Cabral e Luana Vieira de Sousa é
resultado de uma pesquisa bibliográfica sobre como
a Pedagogia da Alternância incorpora os saberes do
cotidiano do campo como um dos fundamentos de sua
proposta pedagógica. O protagonismo das famílias nas
escolas famílias agrícolas, os diferentes instrumentos
pedagógicos utilizados para assegurar a articulação entre
teoria e prática, escola e comunidade são fundamentais
APRESENTAÇÃO
13
para que os conhecimentos, sabedorias e experiências
produzidas no cotidiano circule na escola e seja refletido
a partir das áreas de conhecimento, construindo novos
saberes e relações com as comunidades.
Linconly Jesus Alencar Pereira, Maria do Socorro
Xavier e Lucielio Marinho da Costa trazem no seu
artigo o contexto do surgimento da Licenciatura em
Educação do Campo- Ledoc, na Universidade Federal
Rural do Semiárido – Ufersa, e como esta formação tem
contribuído para a ressignificação de saberes e práticas
educativas no semiárido Potiguar. A partir da concepção
dos estudantes da Licenciatura e de agriculturores/
as deste território, destacam como os fundamentos
da Educação Contextualizada têm contribuído para o
fortalecimento das ações coletivas nas comunidades,
enfatizando o trabalho do movimento das mulheres com
práticas de economia solidária, soberania alimentar e a
discussão sobre as relações sociais de gênero.
Diego Gonzaga Duarte da Silva, Lourdes Helena da
Silva e Elida Lopes de Miranda trazem também no seu artigo
uma pesquisa sobre as contribuições da Licenciatura em
Educação do Campo – Licena, da Universidade Federal de
Viçosa, na formação de monitores de Escolas Famílias
Agrícola. Estas práticas da Pedagogia da Alternância,
na região mineira, possuíam um número de monitores-
educadores sem formação superior. O estudo evidencia
que, além de assegurar o direito destes profissionais à
sua formação inicial, a prática possibilitou também uma
reflexão crítica sobre a articulação entre os diferentes
saberes – profissionais, curriculares e disciplinares – que
EDUCAÇÃO DO CAMPO:
14 as interfaces entre diferentes contextos, sujeitos e territórios
compõem a prática docente e como estes se referenciam
na vida, no trabalho e nas expressões culturais das
comunidades campesinas.
Jullyane Frazão Santana, Maria Clara de Sousa
Costa e Marli Clementino Gonçalves resgatam, no último
artigo do livro, como o Programa Nacional de Educação
na Reforma Agrária – Pronera se efetivou no Piauí, como
resultado do diagnóstico de exclusão da escolarização
dos assentados/as e acampados/as e das lutas
empreendidas pelos movimentos sociais e sindicais, a
partir da década de 1980, na região. Destacam a parceria
construída entre a Universidade, os movimentos sociais e
sindicais na construção e gestão desta prática educativa
nos assentamentos e acampamentos, para efetivação
de uma interlocução com o mundo acadêmico e para
desencadear outras lutas pelo direito à Educação do
Campo no Brasil.
De modo específico, este conjunto de textos
nos evidencia um tensionamento na materialização das
diferentes políticas educacionais para as populações
campesinas, para o contexto do semiárido, que é do eixo
da ação consentida, posta pelos governos, para a arena
da disputa do direito, posta pelos sujeitos sociais e suas
necessidades, o que gera novas práticas, reflexões e
indagações nas comunidades rurais, no poder público e
na Universidade.
A criação de novas práticas educativas, a
entrada de sujeitos diversos na escola e na Universidade
enfrentam uma arraigada cultura política elitista e
urbanocêntrica que não se transforma da noite para
o dia, portanto, desafia ainda mais a função social
APRESENTAÇÃO
15
da Universidade, a autonomia e a organização dos
movimentos sociais e sindicais para intervirem em
contextos tão adversos, como o que vivemos atualmente.
Para intervir, é necessário conhecer. Conforme nos coloca
Paulo Freire, para construir uma educação com e a favor
dos esfarrapados do mundo, precisamos compartilhar os
aprendizados por uma outra educação possível. Instigar
a reflexão, aprofundar o debate e os nossos referenciais
analíticos numa perspectiva ético-política e prática.
Acredito ser este o convite feito pelas autoras e
autores deste livro! Vamos à leitura!
EDUCAÇÃO DO CAMPO:
16 as interfaces entre diferentes contextos, sujeitos e territórios
PEDAGOGIA DA ALTERNÂNCIA
E EDUCAÇÃO POPULAR:
DIÁLOGOS POSSÍVEIS
Elson Silva Sousa
Elmo de Souza Lima
Introdução
Nas discussões sobre o acesso dos camponeses
às políticas públicas, entre elas a garantia do direito
a educação, é possível identificamos que, ao longo da
história do Brasil, os governos trataram a oferta da
educação no meio rural como uma pauta de menor valor.
Os projetos educacionais propostos pelos governos se
limitaram a reforçar a Educação Rural, associada ao
modelo de escola tradicional, conservadora e excludente,
centrada no ensino de conteúdos desconectados da
realidade camponesa.
Este modelo de ensino está ligado ao ideário
capitalista de modernidade social, voltado ao contexto
produtivo da industrialização do meio rural. Contrapondo-
se ao modelo de Educação Rural, a partir da década de
1990, os movimentos sociais assumiram o desafio de
lutar por outro projeto de educação, associado a uma
perspectiva de sociedade mais justa, democrática e
popular, em que o trabalhador é sujeito desse processo
e não o objeto dele, um projeto pautado nos ideais da
Educação Popular.
Considerações finais
As reflexões desenvolvidas ao longo do texto
apontam que a Educação Popular e a Pedagogia da
Alternância surgiram num contexto de resistência contra
a exclusão social e educacional dos povos do campo,
portanto, estão vinculadas às lutas sociais em torno de
outro projeto de campo e de sociedade. São propostas
educativas que se colocam em contraposição aos projetos
educacionais hegemônicos que ignoram os sujeitos do
campo, seus saberes e fazeres, cultura e identidade.
Educação Popular e Pedagogia da Alternância
caminham no sentido de pensar outro projeto educativo,
no qual os sujeitos do campo são protagonistas. Para isto,
buscam construir alternativas políticas e pedagógicas
que favoreçam a construção coletiva do conhecimento,
pela problematização da realidade, conscientização e
formação crítica dos camponeses, assumindo um caráter
progressista e transformador.
Na construção destes dois projetos educativos
fica evidente o protagonismo dos movimentos sociais do
campo na garantia do direito à educação dos povos do
campo, associada à luta pela democratização da terra,
Referências
Introdução
A educação no meio rural nunca foi prioridade
na agenda das políticas públicas brasileiras. Este
descaso do Estado com a educação dos povos do campo
deixou marcas de precariedade no funcionamento das
escolas, como a infraestrutura inadequada, organização
curricular descontextualizada, fragilidade na formação
inicial e continuada dos/as educadores/as, condições
salariais defasadas, dentre outros.
Neste contexto, a Educação Rural foi marcada
pela subordinação do campo à cidade, em que as práticas
educativas e os materiais didáticos valorizavam o espaço
urbano e ignoravam a realidade do campo e dos seus
sujeitos. Diante deste cenário, os movimentos sociais do
campo assumiram o desafio de pensar num projeto de
Considerações finais
As práticas educativas desenvolvidas na
perspectiva da Educação Rural negam os saberes e a
vivência sociocultural dos/as camponeses/as. A partir
da luta dos movimentos sociais, houve um avanço na
elaboração de documentos e na formulação de políticas
públicas que assegurem o direito a uma educação crítica
no e do campo.
A Educação do Campo, ao denunciar o
pensamento pedagógico hegemônico conservador,
constitui-se como um novo paradigma de educação
que problematiza as questões sociais, busca construir
coletivamente os saberes, conscientiza e liberta. Nesse
contexto, os movimentos sociais do campo defendem um
modelo de desenvolvimento que atenda aos interesses
políticos, econômicos e culturais da agricultura familiar.
De modo consequente, busca-se desenvolver práticas
educativas que valorizem os conhecimentos e saberes
Referências
Introdução
As práticas educativas desenvolvidas na
Educação do Campo têm possibilitado aos sujeitos que
vivem nesse lugar uma reflexão constante sobre as
contradições sociais e econômicas, bem sobre como
as mudanças e permanências que simultaneamente
acontecem no campo. Dessa forma, faz-se necessário
forjar educadores que tenham a sensibilidade de
compreender essas contradições e a partir daí sejam
capazes de ampliar elementos das práticas educativas
que os instrumentalizem no enfrentamento e superação
dessas dicotomias.
Nesse intuito, entendemos que potencializar
práticas educativas na Educação do Campo, através
dos saberes e fazeres, bem como das lutas dos povos
do campo, é uma forma de ampliar as possibilidades de
intervenção na realidade na qual os educandos estão
inseridos e de desencadear mudanças no processo
político-pedagógico e métodos de organização, no
Algumas considerações
A Educação do Campo, ao contrário da educação
rural, tem estimulado a recriação da identidade dos
sujeitos na luta e em luta, como um direito social, porque
fomenta a reflexão na práxis da vida e da organização
social do campo, apontando saídas e alternativas ao
modelo hegemônico de desenvolvimento rural vigente.
Assim, a política de educação do campo
que pressupõe a equidade precisa conceber que a
cidade não se sobrepõe ao campo, e, a partir dessa
compreensão, impõem-se novas dinâmicas baseadas na
“horizontalidade e solidariedade entre campo e cidade,
Referências
Introdução
O presente artigo tem como objetivo discutir
sobre os princípios políticos e pedagógicos que orientam
as práticas educativas desenvolvidas nas escolas do
Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST),
evidenciando as contradições enfrentadas pelos
educadores e movimentos sociais na materialização
de uma educação transformadora diante do projeto
de sociabilidade imposto pelo modelo de sociedade
capitalista. O trabalho é fruto da pesquisa desenvolvida
durante Mestrado em Educação do Programa de Pós-
Graduação da Universidade Federal do Piauí.
O texto está estruturado em duas seções,
na primeira parte, é feita uma discussão sobre a
contextualização do campo e das lutas dos movimentos
sociais, tendo como foco a Reforma Agrária e a Educação
do Campo como instrumento de emancipação da classe
trabalhadora. Discutimos ainda sobre o processo a
constituição de uma política de Educação do Campo
crítica ao modelo de educação rural, concebida a partir da
Referências
Introdução
O ensino de crianças com deficiência na
educação básica vem sofrendo constantes mudanças
no decorrer dos tempos. Tais variações são oriundas das
transformações sociais, as quais perpassam os aspectos
políticos, econômicos e culturais, que se entrelaçam e
movem a engrenagem social.
As escolas do campo, por sua vez, vêm tentando
adequar-se às singularidades dos sujeitos, na intenção de
superar uma visão uniforme de massificação de ensino,
baseados em currículos e práticas voltados a paradigmas
tradicionais. Dessa forma, faz-se urgente a superação
da lógica da homogeneidade, pela compreensão da
diversidade em uma perspectiva inclusiva, voltada à
escolarização no ensino comum para todos.
796.486
1.000.000
0 28,3% 19,0% 2,1%
500.000
13.870 17.795 21.171 21.611
0
2016 2017 2018 2019
Título do Eixo
Brasil Piaui
6.000
5.000
Matriculas
4.000
6375
3.000
2.000
1.000
1250
630 511 490 406 383 378 376 305 305 304
-
600
510
500
400
300
BRASIL 1.090.805 6.252 73.839 20.087 36.314 474 127.693 709.683 61.796 166.620 48.133
PIAUÍ 21.611 170 1.999 466 623 18 3.093 12.661 2.039 4.966 634
2.141
2.000
1.500
1.000
500 338
244
112 97 93 92 67 66 63 47 47 46 45 44 38 36 36 33 33 32 29 28 28
-
Considerações finais
O objetivo deste escrito foi apresentar reflexões
através de discussões teóricas que elucidassem a
importância de ampliar os investimentos para efetivação
com qualidade na educação inclusiva das crianças e
adolescentes que residem nas comunidades campesinas.
Para tanto, é indissociável a ampliação de políticas
públicas que resguardem os direitos da pessoa com
deficiência de estudar e ter seu pleno desenvolvimento
a partir de suas habilidades e possibilidades cognitivas.
Dito isso, acreditamos que a história de luta para
assegurar os direitos à educação da população
campesina é uma constante em face das conjunturas
Referências
Introdução
O meio rural brasileiro é território de vida de quase
seis milhões de crianças (IBGE, 2018), isto é, 16,5% das
crianças que habitam o Brasil vivem no campo. A forma
de viver a infância por esses sujeitos ora se aproxima
ora se distancia daquelas que vivem nos grandes
centros urbanos. Sarmento (2003) apresenta como
características universais desse grupo etário a fantasia,
a criatividade, a interatividade, a ludicidade, ao tempo
em que chama atenção para condições existenciais que
diferenciam as formas de viver a infância.
Este artigo discute Educação Infantil do/no
campo, um dos muitos aspectos explorados na Tese
de Doutoramento intitulada “Protagonismo infantil na
Escola do Campo: caminhos para a (re)organização das
práticas pedagógicas e do espaço/tempo escolares”
(MELO, 2019), resultante de pesquisa desenvolvida com
o objetivo geral de compreender a (re)organização dos
Brasil Piauí
[Muito alvoroço]
Crianças: - Tem!
[...]
Ravi (9): - Tem. [Ele explica como funciona o jogo]. E diz: - Mas
ele não deixa nós brincarmos, só se a professora for pedir.
Considerações Finais
O diálogo com as crianças do Ensino Fundamental
sobre o atendimento das crianças de Educação Infantil na
escola do campo pesquisada, enfatiza, veementemente,
três dimensões do cotidiano escolar - espaços, materiais
e tempos. Observamos que as crianças deixam
transparecer a ideia de que essas dimensões devem ser
sistematicamente pensadas para proporcionar a vivência
e ampliação de experiências. Inclusive, advogam que às
crianças da Educação Infantil devem ser promovidos
espaços, tempos e materiais diferenciados das crianças
do Ensino Fundamental.
Na visão das crianças, é necessário que a escola
investigada reelabore o ambiente institucional para
que sejam disponibilizados locais/tempos adequados
e específicos para as refeições; para o acesso a livros,
jogos, brinquedos; para a livre movimentação das
crianças; para a ludicidade, etc. Potencializar os espaços
lúdicos existentes (o campo de futebol, o pátio, o quintal)
e os de ampliação do saber (biblioteca, sala de jogos e
de leitura) é demanda urgente apontada pelas crianças
para que se estabeleçam relações interpessoais mais
harmônicas, mesmo que não sejam livres de conflitos.
Estes, acredita-se, podem ao menos ser minimizados.
Para a organização do trabalho educativo com
crianças camponesas de 0 a 5 anos, a escola e o poder
público precisam considerar tanto o arcabouço teórico
Referências
Introdução
A Pedagogia da Alternância (PA) põe em relevo, no
processo formativo, os saberes cotidianos experienciados
e vivenciados pelos/as jovens educandos/as em suas
famílias e comunidades. Estes saberes constituem um
dos princípios fundamentais da ação formativa realizada
nas Escolas Famílias Agrícola – EFAs1. Ancoradas
pela Pedagogia da Alternância, as EFAs piauienses
materializam a ação educativa pautada pela inserção dos
saberes cotidianos dos jovens camponeses constituídos
em suas famílias (propriedade), comunidade e território.
Maria Raquel Barros Lima - Carmen Lúcia de Oliveira Cabral - Luana Vieira de Sousa
184
O modelo de ação formativa pensado pelos
camponeses articula a realidade vivenciada no cotidiano
de trabalho produtivo das famílias dos jovens que residem
no campo. Elementos como organização política e cultural,
as lutas pela terra no enfrentamento contra políticas
neoliberais de descaracterização do campo e desrespeito
aos sujeitos do campo possuem papel relevante na ação
formativa seja para o Movimento de Educação do Campo,
seja na materialização da formação dos jovens nas EFAs
piauienses. Aspecto interessante a pontuar é o fato de a
Pedagogia da Alternância representar para o Movimento
de Educação do Campo uma das alternativas viáveis para
consubstanciar a ação educativa nas escolas do campo.
A viabilidade que o Movimento de Educação do Campo
observa é justamente um dos princípios fundamentais
da Pedagogia, a valorização e inserção dos saberes
cotidianos das famílias no ambiente escolar como forma
de significar a ação formativa dos jovens.
Os processos educacionais perspectivados
pela Pedagogia da Alternância versam sobre outros
elementos que transpassam a proposta formativa
das políticas educacionais organizadas com base no
paradigma urbano. As Medicações Pedagógicas2 da
Alternância traduzem a conduta diferenciada da ação
Maria Raquel Barros Lima - Carmen Lúcia de Oliveira Cabral - Luana Vieira de Sousa
186
A reflexão sobre os saberes do cotidiano
no contexto da Pedagogia da Alternância encontra
sua relevância ao questionar as finalidades e
intencionalidades do uso desses saberes nas EFAs, visto
ser uma ação pedagógica voltada para construção da
educação emancipatória e problematizadora. Trabalhar
a ação formativa na perspectiva de fomentar entre
os educandos/as a desconstrução das desigualdades
existentes na sociedade remete à necessidade de
comprometimento com uma ação educativa pautada
pelo viés emancipador e problematizador no processo
de ensino aprendizagem de forma contínua. Nas EFAs,
o ensino/aprendizagem perpassa pala articulação
entre tempos/espaços distintos (15 dias no espaço
escolar e 15 dias na família), processo facilitado
através das Mediações Pedagógicas da Alternância.
Esta performance atribui à Pedagogia da Alternância
importância na articulação dos saberes cotidianos dos/
as educandos/as aos conteúdos científicos.
Este estudo se caracteriza como uma pesquisa
bibliográfica que tem como justificativa aprofundar o
debate em torno das temáticas relacionadas à Pedagogia
da Alternância e suas relações com o campo, em seu
processo de formação junto ao educando nas EFAs.
Maria Raquel Barros Lima - Carmen Lúcia de Oliveira Cabral - Luana Vieira de Sousa
188
aspectos educativos pautados pelo viés mais tecnicista.
Nessa compreensão, a dimensão problematizadora
e emancipatória dos sujeitos fica excluída desses
processos educacionais mediados pela BNCC.
Atualmente, encontra-se em discussão a
magnitude da inserção do contexto social como elemento
fomentador da dinamicidade educacional no âmbito
escolar. Este é um atributo conferido à atuação dos
movimentos sociais ligados à educação.
A função da escola, como espaço responsável
pela aquisição de saberes mais sistematizados, é
conhecer a vida cotidiana dos sujeitos que se encontram
inseridos nela. As EFAs, através da inserção dos saberes
cotidianos dos educandos/as na ação formativa no
tempo/espaço escolar, possibilitam aos/às educandos/
as uma “[...] leitura do mundo [...], fazer a leitura do mundo
da vida, construído cotidianamente [...]”. (CALLAI, 2005,
p.228). A Pedagogia da Alternância considera os saberes
dos educandos/as construídos no meio socioprofissional
como diretriz básica na ação formativa desses sujeitos.
As EFAs instigam o comprometimento com a construção
de sujeitos problematizadores de sua realidade a partir da
problematização da realidade vivenciada pelos sujeitos
inseridos nessas escolas. Por esse ângulo, a escola como
espaço de formação formal cumpre com a função social
de potencializar ação educativa que gere transformações
protagonizadas pelos/as educandos/as. Libâneo (2005),
referindo-se ao espaço escolar, é enfático:
Não haverá mudanças efetivas enquanto
a elite intelectual do campo científico da
educação e os educadores profissionais
Maria Raquel Barros Lima - Carmen Lúcia de Oliveira Cabral - Luana Vieira de Sousa
190
Neste sentido, a Pedagogia da Alternância
como alternativa viável para o campo articula, em sua
ação educativa, o trabalho realizado na propriedade
e a formação no espaço escolar. Segundo Gnoatto et
al. (2006), o envolvimento com a realidade dos jovens e
suas famílias, bem como com a comunidade, garante o
sucesso desse paradigma pedagógico.
A Pedagogia da Alternância é um modelo de ação
educativa que se contrapõe às práticas de transferência
dos conhecimentos pautados pelo modo de vida
urbano para as escolas do campo. Nessa perspectiva,
a observância dos saberes culturais produzidos pelos
sujeitos camponeses no cotidiano de trabalho produtivo
confirma a existência do jovem-estudante-trabalhador/a.
Acerca dessa realidade camponesa no que se refere
à realidade de educação desses sujeitos, percebe-se
haver, por força da materialidade, a necessidade de
processos educativos que respeitem as especificidades
existentes no contexto camponês. A Pedagogia da
Alternância assume, neste viés, a relevância para
adentrar no território educativo desses sujeitos na
medida em que possui como princípio basilar a inserção
dos saberes cotidianos dos jovens no meio escolar, como
já mencionado anteriormente.
Assim, o projeto de formação dos sujeitos
camponeses em conformidade com a Pedagogia da
Alternância, segundo Gnoatto et al. (2006),
[...] vincula o conhecimento empírico dos
agricultores com o conhecimento científico,
alternando períodos em casa (propriedade)
durante duas semanas, e períodos na
Casa Familiar Rural (escola) durante
Maria Raquel Barros Lima - Carmen Lúcia de Oliveira Cabral - Luana Vieira de Sousa
192
atividades agrícolas, elementos para o
desenvolvimento social e econômico da sua
região. (TEXEIRA et al., 2006, p. 229)
Maria Raquel Barros Lima - Carmen Lúcia de Oliveira Cabral - Luana Vieira de Sousa
194
vida cotidiana dos jovens nos tempos/espaços distintos
(sessão familiar/sessão escolar);o Plano de Estudo
(PE); Colocação em Comum, entre outras mediações
pedagógicas3 da Pedagogia da Alternância, possuem
a função em propiciar ação educativa embasada pelos
saberes tecidos no dia a dia dos jovens.
Como projeto pedagógico formativo inovador
nas escolas situadas no campo, as EFAs se fortalecem
como modelo viável para educação na realidade rural, na
medida em que
[...] atribui grande importância à
articulação entre momentos de atividade
no meio sócio profissional do jovem
e momentos de atividade escolar
propriamente dita, nos quais se focaliza o
conhecimento acumulado, considerando
sempre as experiências concretas dos
educandos. Por isso, além das disciplinas
escolares básicas, a educação nesse
contexto engloba temáticas relativas à
vida associativa e comunitária, ao meio
ambiente e à formação integral nos meios
profissional, social, político e econômico.
(TEIXEIRA, 2008, p. 229)
É o chão da articulação
entre os saberes
vivências.
estruturação,
conceitualização.
Maria Raquel Barros Lima - Carmen Lúcia de Oliveira Cabral - Luana Vieira de Sousa
196
Percebe-se, na Figura 1, a dimensão interativa
entre os saberes cotidianos e os saberes escolares
apresentados no espaço da EFA, resultando na
ressignificação dos saberes cotidianos. Didaticamente
explicada, essa dinâmica pode parecer linear, todavia
as complexidades próprias do tempo/espaço educativos
(sessão escolar/sessão familiar) desconstroem qualquer
perspectiva de linearidade na desenvoltura dos
processos formativos em alternância. A heterogeneidade
dos sujeitos e suas relações experienciais cotidianas, de
trabalho, estudo, a lida com a terra, o envolvimento com
outros espaços como sindicatos e associações, tornam
essa dinamicidade vivaz e desafiadora.
Todavia, a Pedagogia da Alternância possui a
expertise de adequar-se a situações diversas em que se
insere, provocando dessa forma a riqueza de experiências
formativas em alternâncias, conforme pontua Silva
(2012, p. 169), de “[...] mosaicos de contornos variados e
de formas multifacetadas”.
Outro aspecto que se deve salientar é o princípio
da inserção das famílias no espaço escolar, extrapolando
o comumente admissível. As famílias possuem aparato
legal no cenário organizacional das EFAs. Cada EFA
possui associação das famílias juridicamente registrada.
Entre outras funções dessa associação, uma delas é o
acompanhamento do rendimento escolar dos jovens.
O protagonismo das famílias para o movimento
das EFAs incide na coformação que, segundo Gimonet
(2007), é condição sine qua non para efetivar de forma
significativa a ação formativa dos educandos/as nas EFAs.
Exercitar o protagonismo das famílias nos processos
Considerações finais
De uma maneira geral, a prática escolar impõe
certos modelos educacionais fundamentados ainda em
práticas escassamente problematizadoras da realidade
cotidiana dos sujeitos em formação. A urgência sobre
o respeito dos saberes cotidianos como elementos
imprescindíveis à ação formativa desses sujeitos, sejam
esses urbanos ou camponeses, visibiliza a necessidade
de avaliação de políticas educacionais historicamente
constituídas a partir do viés unilateral, o urbano.
O fazer pedagógico das EFAs envereda pela
descolonização do modelo educacional de transposição
do modelo urbanocêntrico da ação formativa. As EFAs,
através das Mediações Pedagógicas da Alternância,
inserem os saberes cotidianos no ambiente escolar,
no intuito de realizar a problematização e fomentar a
transformação da realidade, promovendo e oportunizando
o protagonismo dos/as educandos/as.
A inserção dos saberes cotidianos desses/as
educandos/as no tempo/espaço escolar oportuniza a
participação das famílias nos processos de organização
e direcionamentos formativos em conformidade com as
diretrizes da Pedagogia da Alternância. A observância
dos saberes cotidianos na ação educativa dos jovens nas
EFAs propicia a educação significativa e contextualizada,
Maria Raquel Barros Lima - Carmen Lúcia de Oliveira Cabral - Luana Vieira de Sousa
198
além de fomentar o comprometimento com práticas
de transformação social protagonizada pelos próprios
educandos/as e famílias.
As transformações da realidade dos jovens é um
aspecto que as Mediações Pedagógicas da Alternância
possuem como meta a ser alcançada, através do
envolvimento com as demandas cotidianas, bem como
a construção de saberes culturalmente construídos. A
articulação entre saberes cotidianos e saberes escolares
remete à ressignificação de saberes dos educandos/
as, tendo como referência a dinamicidade da formação
em alternância cuja ação-reflexão-ação é a trajetória
imbricada na ação educativa nas EFAs.
De fato, os saberes cotidianos dos educandos/
as é um aspecto bastante relevante na ação formativa
das EFAs. Saberes, principalmente, voltados para os
conhecimentos acerca da área produtiva no campo.
Assim, a ação formativa em alternância se dinamiza
através dos conhecimentos prévios que os estudantes
trazem quando chegam às EFAs. Neste sentido, o Plano
de Estudo, uma das mediações mais relevantes do
processo de formação nessas escolas, cumpre com a
função de viabilizar essa prática de inserção.
A formação das EFAs faz-se pelo viés produtivo
no campo, visto que essas escolas assumem a formação
técnica profissionalizante geralmente em agropecuária
e agroindústria, entre outros cursos nessa linha de
preparação dos jovens para o mundo do trabalho. Neste
sentido, os saberes previamente constituídos de lida com
a terra, plantio e colheita favorecem que a articulação
Referências
Maria Raquel Barros Lima - Carmen Lúcia de Oliveira Cabral - Luana Vieira de Sousa
200
NOSELLA, Paolo. Educação no campo: origens da pedagogia
da alternância no Brasil / Paolo Nosella. Vitoria: Ed. UFES,
2012. (Educação do campo. Diálogos interculturais)
Introdução
Este artigo apresenta reflexões resultantes de
uma pesquisa que teve como objetivo compreender
as percepções de agricultores/as e estudantes do
curso de Licenciatura Interdisciplinar em Educação
do Campo (Ledoc), da Universidade Federal Rural do
Semiárido (Ufersa), acerca dos saberes e práticas de
convivência com o semiárido potiguar da região do
Apodi e as ressignificações que esses saberes tiveram
a partir do acesso ao conhecimento sobre a educação
contextualizada.1 A proposta política, educacional e
Considerações finais
Compreendemos o semiárido como um espaço
de conflitos e contradições em que nele, com suas
diversas especificidades, tentamos evidenciar a luta e
resistência das populações campesinas e em específico
os agricultores e estudantes da Ledoc/UFERSA, que
residem nos assentamentos rurais do município de
Apodi/RN. Esse panorama traçado, nos ajuda a perceber
o quão significativa é a experiência de formação inicial
de professores/as desenvolvida no contexto do semiárido
potiguar, e como vem tecendo a construção de novos
saberes e práticas pedagógicas contextualizadas e que
irão promover processos de autonomia referentes à
educação nas comunidades rurais.
Evidenciamos, a partir das percepções dos/
das estudantes, a contribuição dos movimentos sociais
do campo na luta e nas estratégias de enfrentamento/
resistência da agricultura familiar nos territórios do
município de Apodi-RN, o que nos levou a compreender,
que o processo formativo na Ledoc realmente potencializa
a autonomia dos/as estudantes, pois ser agricultor/a
ou filho/a de agricultor/a, o que antes era motivo de
vergonha, torna-se motivo de luta para a transformação
da sua realidade a partir do contexto educacional, de
resistência frente à grande expansão do agronegócio
da fruticultura irrigada, orgulho da trajetória de vida dos
homens e mulheres que vivem no semiárido.
Referências
Introdução
O presente capítulo é oriundo da pesquisa
sobre as contribuições da Licenciatura em Educação
do Campo da Universidade Federal de Viçosa (Licena)
para a formação dos estudantes que atuam como
monitores de Escolas Família Agrícola (EFAs) que, por
sua vez, integram o Programa de estudos intitulado “A
Licenciatura em Educação do Campo na Universidade
Federal de Viçosa: Sujeitos, Representações e Práticas
Pedagógicas” , cujo objetivo geral é analisar os sujeitos,
as representações sociais, os processos e as práticas
pedagógicas construídas pela Licena.
É importante destacar que as Licenciaturas em
Educação do Campo (LEdoCs) são conquistas recentes
dos movimentos sociais e sindicais camponeses que, em
nossa sociedade, têm realizado nos últimos vinte anos um
Considerações Finais
As Licenciaturas em Educação do Campo,
presentes em diferentes regiões da sociedade
brasileira, objetivam a formação inicial de educadores
comprometidos com as lutas dos povos do campo, bem
como o desenvolvimento de práticas que contribuam
para uma organização educacional que, articulando
dimensões do mundo da vida e do trabalho dos povos do
campo, contribua para a formação dos seus educandos
(MOLINA; SÁ, 2011). São cursos que buscam superar
modelos e práticas de ensino fragmentadas em áreas
do conhecimento, propondo o desenvolvimento de
Referências
Introdução
No Brasil, na década de 1990, com a adoção ao
neoliberalismo como modelo de desenvolvimento do
Estado, as questões sociais passam a se configurar a
partir desse modo de organização das ações públicas.
No que concerne à educação escolar, a perspectiva
neoliberal aponta como problemas a ineficiência,
ineficácia e improdutividade do Estado, o protecionismo
dos sindicatos aos docentes e o comodismo da sociedade
de modo geral na busca pela ampliação da escolaridade.
No ideário neoliberal, a questão se assenta em culpar a
sociedade, os indivíduos, pelo não acesso à educação
escolar (GENTILLI, 1997).
Entretanto, a educação escolar no país está
vinculada à oferta, qualidade e condições de acesso
desiguais. O número de analfabetos nesse período
chegou à marca dos 48 milhões de brasileiros, com maior
Referências
EDUCAÇÃO DO CAMPO:
278 as interfaces entre diferentes contextos, sujeitos e territórios
Elson Silva Sousa
Mestrando em Educação pela Universidade Federal do
Piauí (UFPI) e Licenciado em Pedagogia pela Universidades
Estadual do Maranhão - UEMA; Especialista em Currículo
e Avaliação da Educação Básica (2018) na Universidade
Estadual do Maranhão. Atualmente, é professor Efetivo
da Educação Básica em Aldeias Altas-MA, atuando
na coordenação de Ensino da Zona Rural, e professor
substituto do Departamento de Educação da UEMA –
Caxias/MA. É pesquisador vinculado ao Núcleo de Estudo
e Pesquisa em Educação do Campo (NUPECAMPO). E-mail:
elsonssousa@hotmail.com
EDUCAÇÃO DO CAMPO:
280 as interfaces entre diferentes contextos, sujeitos e territórios
Keylla Rejane Almeida Melo
Professora Adjunta da Universidade Federal do Piauí,
vinculada ao Curso de Licenciatura em Educação do
Campo/CCE. Doutora em Educação pela Universidade
Federal de Uberlândia – UFU. Mestre em Educação pela
Universidade Federal do Piauí. Graduada em Pedagogia
pela Universidade Estadual do Piauí. Possui experiência
na área da educação, com ênfase em Educação do Campo,
Educação Infantil, Infâncias, Prática Pedagógica e
Formação de Professores. E-mail: keyllamelo@ufpi.edu.br.
EDUCAÇÃO DO CAMPO:
282 as interfaces entre diferentes contextos, sujeitos e territórios
Luciélio Marinho da Costa
Doutor em Educação pelo Programa de Pós-Graduação
em Educação da Universidade Federal da Paraíba - PPGE/
UFPB, com estágio doutoral na Universidade de Barcelona,
Barcelona/Espanha. Possui Mestrado em Educação/
PPGE/UFPB (2010). Graduado em Letras e em Pedagogia.
É professor adjunto da Universidade Federal da Paraíba.
Integrante do Grupo de Estudos Educação Popular e
Movimentos Sociais do Campo (PPGE/UFPB); Currículo e
Práticas Educativas (UFPB). E-mail: leomarinhosufpb@
gmail.com
EDUCAÇÃO DO CAMPO:
284 as interfaces entre diferentes contextos, sujeitos e territórios
de Defesa Agropecuária do Piauí (ADAPI) e consultoria
na área da educação do campo no contexto do semiárido.
E-mail: msuele@gmail.com
ÍNDICE REMISSIVO
287
Prática Educativa (61)
Princípios Pedagógicos (55)
EDUCAÇÃO DO CAMPO:
288 as interfaces entre diferentes contextos, sujeitos e territórios
Camponeses (97, 99, 101, 104, 105, 112, 116, 117, 118.)
Luta (96, 97, 98, 99, 101, 102, 106, 108, 105, 111, 116, 120.)
Políticas (98, 99, 100, 106, 115, 116, 118, 120.)
Reforma Agrária (96, 97, 98, 99, 102, 103, 105, 117, 118, 120.)
MST (95, 97, 98, 99, 101, 102, 103, 105, 106, 107, 108, 109,
110, 111, 113, 115, 116, 118, 119, 120, 121.)
Formativo (107, 119.)
Agronegócio (97, 101, 208, 209, 210, 214, 215, 219.)
ÍNDICE REMISSIVO
289
Educação Infantil do/no campo (152, 153, 154, 155, 156,
157, 158, 159, 160, 161, 164)
Participação Infantil (158, 159, 162, 163, 164, 165, 166, 167,
168, 169, 170, 172, )
Escola do/no campo (159, 160, 161, 164, 172)
Espaços, materiais e tempos na Educação Infantil (161,
162, 163, 164, 165, 168, 169, 170, 171, 173)
Aprendizagem e desenvolvimento infantil (165, 168, 171,
172)
Interações e brincadeiras (170, 171, 172, 173)
Práticas pedagógicas (156, 157, 158, 159, 165, 173, 174)
Formação Docente (155, 157, 158)
EDUCAÇÃO DO CAMPO:
290 as interfaces entre diferentes contextos, sujeitos e territórios
RESSIGNIFICAÇÃO DE SABERES E PRÁTICAS
EDUCATIVAS NO SEMIÁRIDO POTIGUAR A PARTIR DA
LICENCIATURA INTERDISCIPLINAR EM EDUCAÇÃO DO
CAMPO DA UFERSA
Práticas Educativas: (199,215, 219, 220,
221,222,224,225,226).
Semiárido Potiguar: (199, 200, 203, 204, 205, 207, 210, 215,
217, 225, 226).
Licenciatura Interdisciplinar em Educação do Campo: (199,
200).
Educação do Campo: (199, 200, 201, 202, 203, 204, 207,
216, 217, 219, 222, 224, 228, 229, 230, 231).
Saberes: (199, 200, 204, 217, 226, 229).
Semiárido Potiguar: (204, 205, 207, 210, 215, 217, 225, 226).
Convivência com o Semiárido: (199, 200, 200, 215, 216, 217,
219, 220, 221, 222, 224, 225).
Agricultura Familiar: (211, 212, 213, 214, 215, 219,224, 226,
230).
Educação Contextualizada: (199, 204, 206, 226,227).
Universidade Federal Rural do Semiárido: (199, 231).
ÍNDICE REMISSIVO
291
Licena: 233, 234, 235, 237, 241, 242, 244, 245, 247, 248,
249, 250, 251, 252.
Licenciaturas em Educação do Campo: 234, 237, 238, 240,
249.
Monitores: 233, 235, 236, 237, 240, 241, 242, 243, 244,
247, 248, 249, 250, 251, 252.
Movimentos Sociais: 234, 238, 239, 240, 241.
Práticas Pedagógicas: 244, 245, 247, 248, 249, 250, 251.
Saberes: 236, 242, 243, 244, 245, 246, 247, 249, 250, 251.
EDUCAÇÃO DO CAMPO:
292 as interfaces entre diferentes contextos, sujeitos e territórios