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Contra sua vontade, Noctorno

Hawthorne, um policial disfarçado,

encontra-se envolvido em magia, caos e

universos paralelos. Tarde demais, ele

conhece uma mulher incrível só para

descobrir que ela está destinada a seu

gêmeo idêntico em outro mundo.

E as coisas não estão indo muito bem lá.

Noc é recrutado para ajudar a salvar

esse mundo.

O que ele não sabe é que seu amor

destinado reside aí.


Franka Drakkar usa uma máscara.

Uma máscara que ela nunca tira para se

proteger em um mundo de malícia, intriga e

perigo.

Quando Franka conhece Noc e ele

descobre seus segredos, convencido de que

ela carrega uma alma da meia-noite, tendo

se protegido de formar laços com alguém,

ela se esforça para aceitar sua ternura e

cuidado.

Quando Noc encontra Franka, tomando

vinho e uísque, suas máscaras escorregam e

Noc sabe que é ela - só ela - e ele precisa

encontrar uma maneira de fazê-la voltar

para casa com ele.

E então faça ela querer ficar.


Não iria sequer piscar

Franka
Aquele dia foi um que eu queria esquecer rapidamente.

Realmente, os meses desde que essas bruxas pegaram


meu Antoine, eram um tempo que eu gostaria de ter o poder
de apagar da minha memória.

Eu tinha poder.

Porém não esse tipo de poder.

Com esses pensamentos na cabeça, desci pelo corredor


do Palácio de Inverno buscando o meu quarto, onde
planejava puxar a corda, chamar um criado e solicitar várias
garrafas de vinho Fleuridian.

Vinho pode não me fazer esquecer, mas ultimamente


percebi que servia bem para aliviar a dor.

Com os olhos em minhas sapatilhas, dobrei o corredor,


mas algo me fez levantar o olhar.
No que vi, parei e fiquei imóvel, em seguida, lenta e
silenciosamente refiz meus passos e me escondi num canto,
olhando de volta.

Oh meu.

O príncipe Noctorno do outro mundo estava na porta de


um dos quartos.

Embora, ele não fosse realmente um príncipe. Não neste


universo. Aparentemente, eles tinham muito poucos
príncipes nesse outro mundo. Um mundo que existia em um
plano paralelo onde todos os seres tinham um gêmeo no meu
mundo.

Eu achava isso muito louco (tudo sobre isso,


obviamente), mas com poucos 280

príncipes, isso significava que havia poucos reis, então:


quem governava?

Ele relatou que era, em vez disso, um membro da


guarda da cidade, uma ocupação a que se referiu como sendo
"um policial". Uma declaração bastante surpreendente,
considerando tudo o que ele era.

Ele não era membro de uma guarda.

Ele era um príncipe.

E ele chamava a si mesmo de Noc por alguma razão


desconhecida, pois Noctorno era um bom nome, um nome
forte, um nome real (este último era verdade pois o seu
homólogo neste mundo era um príncipe).

E agora, ele estava de costas para mim.


Usando um par de calças do tipo que não podiam ser
encontradas no meu mundo. Elas eram feitas de um material
áspero, resistente, de um azul desvanecido. Também usava
uma camisa que não era a moda no meu mundo. Era bonita
e feita de um xadrez igualmente atraente. E era uma camisa
que se encaixava em seus ombros largos magnificamente.

Seu cabelo espesso, preto, estava bagunçado (isto


também era atraente).

E eu podia ver seus olhos azul-claros, mas apenas na


minha imaginação, pois ele estava de costas para mim.

Eles não eram olhos que você provavelmente


esqueceria. Com seu cabelo escuro e a pele bronzeada do sol,
os olhos eram deliciosamente impressionantes.

Houve um dia, embora agora esse dia parecesse estar a


vidas atrás, quando uma visão tal como Noctorno Hawthorne
de um outro mundo (ou, na verdade deste) teria me feito ter
uma reação muito diferente, não só para ele, mas para os
meus planos para o futuro iminente.

Isso foi antes de Antoine.

Isso foi antes de eu conhecer o homem que me


apresentou para, bem... eu mesma.

Agora fiquei à espreita no canto, meu corpo escondido


(algo que eu nunca faria antes de Antoine, a menos que isso
servisse a um propósito claro), mas isso não teria importância
se eu estivesse no canto ou dançando jig1 no corredor.

As duas pessoas que estavam na porta do quarto no


final do corredor não saberiam que eu estava lá, a menos que
eu gritasse.

Pois Noctorno do outro mundo não estava sozinho.

Ele estava de pé com Circe. Circe deste mundo, meu


mundo, mas ela transportou a si mesma através de magia
para o universo paralelo e decidiu ficar.

Ela estava de frente para Noctorno, e uma vez que pude


tirar meus olhos de seus ombros, seu cabelo, sua bunda
nessas calças, olhei para o rosto dela.

E mais uma vez fiquei imóvel.

Pude ler muito em seu olhar.

Eu era Franka Drakkar da Casa de Drakkar. E se


qualquer membro da Câmara dos Drakkar fosse inteligente (e
eu era inteligente, muito inteligente, mas não inteligente o
suficiente), eles aprenderiam cedo a observar tudo o que
podiam para ler uma situação e depois manipulá-la para sua
vantagem.

Portanto, eu vi o olhar saciado em seu rosto, e eu sabia


por que Noctorno estava de pé, na porta de seu quarto, seu
grande corpo solto, relaxado, levantando a mão para que
pudesse gentilmente acariciar seu queixo com o polegar.

1
Jig - é uma forma de animada dança popular, assim como a música que a acompanha. Foi
desenvolvida no século 16, na Inglaterra, e foi rapidamente adotada no continente.
E o que eu soube enquanto assistia isso, foi que
acabaram de ter relações, e, pelo menos para Circe que agora
é do outro mundo, ela gostou.

Muito.

Mas, havia mais em seu olhar. Mais que me informaria a


mulher que eu costumava ser, tudo o que eu precisava para
atingi-la emocionalmente por esporte ou chantageá-la, a fim
de coagi-la a todos os meus caprichos.

Alívio. Alívio agudo.

E gratidão. Gratidão extrema.

Senti algo agitar na região da minha barriga, olhando


para seu rosto adorável, sabendo da sua história.

Sabendo como ela foi usurpada desde que era uma


criança. Seus pais abatidos por um rei que, em seguida, a fez
seu brinquedo de todas as maneiras que poderia fazer, cada
uma delas mais desprezível que a outra. Sabendo de sua fuga
do seu cativeiro, o que só a levou para as mãos dos piratas (e
mais abuso). Sabendo que sua sorte excepcionalmente infeliz
a levou, a partir dos referidos piratas, à terra selvagem de
Korwahk, onde foi inserida na ―Caça a Esposa‖ (uma prática
abominável), cujo nome simples afirmava exatamente o que
era, inferindo a informação de que, quando as "esposas"
fossem capturadas, seriam violadas.

Aguardando a Caçada, isso foi o fim para ela. Ela usou


sua magia considerável, toda ela, e enviou-se a um reino
diferente. Outro mundo. Esse universo paralelo. Um, a partir
dos fragmentos que ouvi, que era muito diferente do meu.
Circe trocou a si mesma por sua irmã gêmea. E a Circe
do outro mundo era agora a Rainha Guerreira Dourada de
Korwahk, amada, mesmo reverenciada, não só pelo seu povo,
mas por seu marido, o rei Lahn.

Ninguém saberia se a Circe que eu via agora, de pé com


Noctorno, ganharia essa adoração de um governante e seu
povo, se escolhesse permanecer depois de tudo o que lhe
aconteceu desde a infância.

No entanto, isso já não importava.

Pois agora era agora.

E nesse mesmo dia, o triunvirato do mal de bruxas que


ameaçava dois continentes foi despachado.

Executado.

Isso tornou seguro para os homens mais poderosos


desses dois continentes, viverem seus dias em harmonia com
os amores que encontraram através dos universos.

Encontrá-las e depois engravidá-las.

Todas as quatro.

Era a maneira dos homens.

Muito tedioso. Reivindicar, e, em seguida, emprenhar,


plantar a sua semente para que eles pudessem vincular suas
mulheres à servidão da maternidade e os homens poderem
viver eternamente por meio de sua prole.

Tanto quanto eu sabia (e eu não tinha muito


conhecimento), nenhum destes homens (exceto Frey Drakkar,
meu primo) estiveram com seus amores por muitos anos (e
em alguns casos por apenas alguns meses).

E, no entanto, todas as mulheres estavam


esperando; três delas com seu segundo filho.

Isso não tinha nada a ver comigo.

Eu estava indo beber vinho. Dormir. Acordar.

Sair.

Tentei não estar em Lunwyn ─ meu país gelado, minha


bela casa ─ com muita frequência. Não só porque, para
muitos daqueles que conheci, eu não era bem-vinda.

Mesmo assim, eu não queria voltar para Fleuridia onde


tinha apartamentos e passava a maior parte do meu tempo
também.

Eram apartamentos que eu compartilhei com Antoine.

Eu precisava me livrar deles.

Onde eu iria ficar? Não tinha ideia.

É claro que era necessário primeiro visitar Kristian, meu


irmão, por tudo que ele havia sofrido, depois do que fui
forçada a fazer na esperança de salvar o meu amante.

Meu irmão era enorme de coração, mas fraco de caráter.


Ele precisava de cuidados. Precisava de proteção.

Eu cuidaria dele.

Como sempre fiz.

Então…

Eu não fazia ideia.


Mas agora não era o momento para decidir isso.

Agora, enquanto eu estava assistindo Circe pressionar o


rosto para o toque de Noctorno, eu sabia que ele tomou conta
dela. Ao fazê-lo, eu sabia que ele foi imensamente gentil,
tomado grandes quantidades de tempo e prestado uma
enorme atenção.

Tudo isso entendi a partir da expressão satisfeita em


seu rosto.

O alívio que testemunhei no rosto dela era


compreensível, pois, depois de tudo que ela suportou, não
acreditava que nenhum homem pudesse oferecer esse tipo de
prazer e ficou encantada de saber que podia.

A gratidão não era pela suavidade, tempo, atenção e o


clímax indubitável que ele lhe dera.

Foi simplesmente por ele ser ele.

O tipo de homem que tinha tudo isso nele.

Um homem em bilhões.

Em dois universos.

Minha visão ficou turva quando memórias passaram


pela minha cabeça.

Fechei os olhos com a dor colossal que essas memórias


causavam.

Eu tive isso, não tive, meu amor. Nós tivemos isso. Não
é? Fiquei inquieta até mesmo através da dor, sacudida com a
incerteza. Eu dei-lhe isso, meu Antoine?
Como foi o caso a cada vez que mandei minhas
mensagens cegamente aos deuses, na esperança de que eles
se sentiriam generosos e as enviasse onde deveriam ser
recebidas, mesmo antes de morrer depois de suportar tal
crueldade, eu não tinha resposta.

Eu não podia permitir que as imagens que as bruxas


enviaram de sua tortura viessem a minha mente. Se eu
fizesse, seria paralisante. Então só as deixei passar, quando
estivesse sozinha à noite na cama e pudesse ser prejudicada
por elas, virando e revirando, sem dormir por horas.

Dias.

Semanas.

Abri os olhos e, mais uma vez rapidamente e em


silêncio, virei-me e caminhei de volta pelo corredor, deixando
Circe e Noctorno para o seu momento.

Quando fiz isso, senti meus lábios se curvarem em um


sorriso de escárnio.

Olha o que eu me tornei, Antoine. Gritei silenciosamente


ao éter2. Caminhando para longe daquela cena comovente,
mesmo sem capturar os olhos de Circe para dividir que eu
tinha visto o que tinha visto e sabia o que eu sabia. Você fez
isso comigo, mon coeur3. Devo voltar a ser quem eu
sou. Mesmo se for apenas para ter algo alegre nos próximos
anos que não terão você neles.

2
Ao Céu.
3
Meu coração, em francês.
Parei novamente, a meio caminho pelo corredor, quando
a voz profunda, polida de Antoine soou na minha cabeça em
resposta.

Essa não é você, mon ange, e eu ficaria muito chateado


se você voltasse para personificar aquela mulher que você
nunca foi.

Mon ange, seu anjo.

Todos esses meses que passamos juntos...

Será que ele chegou a me conhecer?

Este era um pensamento vago.

Um mais crucial veio aos meus lábios.

—Você está aí, amor? — Sussurrei para o local vazio.

Não ouvi nenhuma resposta.

—Antoine, mon coeur, você está aí? — Chamei e fiz uma


careta quando ouvi a urgência e desespero em minha própria
voz.

Mesmo assim, não havia mais de Antoine.

E se um servo, ou (como se eu já não fosse amaldiçoada


pela deusa Adele para suportar o insuportável), o acaso
terrível de ser pega por Noctorno (qualquer um deles), meu
primo Frey, sua Finnie, o rei de Korwahk, sua Circe (ou a
outra Circe), do príncipe Noctorno, Princesa Cora, Apollo ou
Madeleine, qualquer um deles caminhasse por este corredor,
eles me achariam perturbada.

E isso não poderia acontecer.


Eu já havia me mostrado fraca.

Com a perda que eu sofri, o que fui forçada a fazer à


minha Lunwyn, a casa de minha família, meu irmão, eu já
não tinha em mim como mostrar-lhes força.

E eu aprendi quando esse fosse o caso. Quando você


estivesse fraca, a fuga era o caminho mais sensato.

Corri em direção aos degraus, tomando a decisão de


encontrar o meu vinho em outro lugar.

Eu sabia que a rainha Aurora estava tomando refrescos


com a bruxa verde do outro mundo, uma mulher que usava o
nome de Valentine (e aprovei que ela o pronunciou da
maneira Fleuridian, Val-ehn-teen), bem como Lavinia, a
bruxa mais poderosa de Lunwyn.

E todos eles indiscutivelmente mereciam esses refrescos,


após o palácio ter todas as suas janelas estouradas pela
magia do mal, a bruxa verde arquitetando planos e
colocando-os em pratica, a fim de salvar nosso reino, e
Lavinia tendo realmente morrido nas mãos do triunvirato
ímpio, necessitando dos elfos para ressuscitá-la.

Elas estiveram nisso desde que todos foram


transportados de volta para o Palácio de Inverno e uma curta
atualização ocorreu.

Eram todas mulheres que eu admirava − inteligentes,


poderosas, sagazes. No caso da Aurora, fria e estratégica, no
caso de Valentine, presunçosa e calculista e no caso de
Lavinia, provedora e graciosa.
Eu nunca iria dizer-lhes que pensava isso.

Não porque não me dariam a oportunidade, ou não


buscando e desejando minha companhia.

Eu só não o faria.

Eu era uma Drakkar. Mesmo um elogio merecido era


retido, independentemente se esse elogio fosse para salvar o
mundo.

Eu terminei minha descida rápida até o primeiro andar


e peguei uma serva no meio de uma corrida para alguma
tarefa.

Como era hábito, levantei o queixo ligeiramente,


mantive-o no ar e olhei por cima do nariz para ela.

—Eu vou estar na sala matinal. Tenha duas garrafas de


vinho entregues para mim, um pouco de pão e queijo. Des
Champs du Sauvage, se a rainha tiver esse, em sua adega.

—Imediatamente, Lady Drakkar.

Nem sequer acenei. Movi-me calmamente para a sala


matinal enquanto a serva, que também sofreu o ataque
naquele dia, para não mencionar que eles tinham uma casa
cheia de visitantes devido ao Baile de Gala cancelado, que
devia ter acontecido naquela noite se o mundo não fosse
ameaçado, corria para cumprir minha ordem.

Eu me preocupei que a sala matinal teria alguns desses


visitantes ocupando-a e fiquei aliviada ao descobrir que não.

Solidão.

O que eu precisava.
Solidão, minha mente sussurrou.

O que ninguém precisava.

Respirei profundamente quando entrei na sala, vendo-a


habitável. O sol há muito havia se posto, pois já era tarde da
noite, mas independentemente disso, as janelas tiveram de
ser refeitas. Fiquei igualmente aliviada ao ver que os detritos
da explosão foram cuidadosamente limpos.

Sim, os criados estavam provavelmente mortos em pé.

Esse foi o último pensamento que tive antes de puxar a


corda e encontrar um assento.

Para minha sorte, um funcionário do sexo masculino


veio rapidamente. Eu não perdi tempo com brincadeiras
(como era meu costume) e ordenei um fogo pronto e aceso.

Ele fez isso enquanto outra serva corria com o meu


vinho, pão e queijo.

Talvez devido à quantidade de vinho que pedi trouxeram


dois copos.

Atipicamente, depois que a menina me serviu, não a fiz


levar embora o copo de vinho extra. Eu não precisava de um
lembrete de que estaria bebendo sozinha.

E ela não precisava de mais uma missão extra nesse


dia.

Você me fez mole, eu disse a Antoine. Muito mole.

Eu esperei, tomando o copo cheio e levando-o aos lábios


para um gole, meu corpo mantido tenso, expectante,
esperando ouvir sua bela voz na minha cabeça novamente.
Ela não veio.

Os servos deixaram-me com tudo o que eu pedi e uma


lareira que rapidamente aqueceu o espaço. No entanto,
quando o servo foi fechar a porta atrás dele, me fechando
assim e evitando que a corrente de ar do hall esfriasse o
quarto, eu levantei a mão preguiçosamente em sua direção.

—Não, deixe-a aberta. — Ordenei.

Ele balançou a cabeça, fez uma ligeira deferência e


escapuliu pela porta.

Pedi que a porta ficasse aberta, pois não tinha nenhuma


companhia, e seria bastante terrível me sentar e meditar
sozinha em uma sala fechada.

Com a porta aberta e as idas e vindas, de um palácio


ocupado, pelo menos haveria algo que chamaria minha
atenção.

Tomei um gole. Permiti que o queijo macio suavizasse


ainda mais no aquecedor. Tomei mais um gole. E mais outro.
Reabasteci meu copo. Abri o queijo sobre o pão e mordisquei.

E com isso, me vi sozinha em uma sala, olhando para o


fogo, pensativa.

—Ei. — Ouvi e estremeci na palavra estranha, que


pertencia a celeiros e cavalos, sendo proferida em voz
profunda que não era suave, mesmo nessa palavra curta,
mas áspera, como se cortada por meio de granito.
Virei a cabeça para ver Noctorno do outro mundo (e
suas atraentes calças desbotadas azuis), movendo-se para a
sala com imensa graça masculina, seu olhar em mim.

Mas, enquanto caminhava em minha direção, observei


sua expressão, que, como a de Circe, era saciada.

No entanto, sem nenhum alívio ou gratidão.

Em vez disso, mesmo que algum tempo já se passou ele


parecia revigorado, com certeza por suas atividades recentes
dentro do dormitório de Circe, e ao vê-lo, senti minha
respiração parar na garganta.

Lembrei-me desse olhar.

Eu apreciava esse olhar.

Não só no meu Antoine, mas qualquer amante que tive


(mas, obviamente, recebendo de Antoine era muito mais
gratificante).

Era um olhar que eu trabalhava para conseguir,


colocando grande energia e imaginação nisso, perdendo-me
nestes esforços, sentindo-me livre de meu nome, minha
história, meus segredos, minhas responsabilidades, e
deleitando-me com o meu sucesso como se escalasse
montanhas.

Esse era o meu maior talento: levar um homem ao


clímax e ter absoluta certeza de que era um que ele não
esqueceria.

Era o meu maior talento, fora, é claro (como qualquer


bom Drakkar iria se distinguir), focar em qualquer
vulnerabilidade e manipulá-la para o maior ganho de moedas
possível, joias, peles, favores, silêncio, informação, ou
simplesmente por diversão.

Vendo o olhar em Noctorno naquele momento, eu sabia


que Circe também tinha um bom desempenho
(admiravelmente bom, devo acrescentar, considerando seu
passado sombrio).

Também reconheci − focando sobre ele profundamente −


o que Circe poderia ter perdido, ou talvez o que Noctorno
escondeu de sua compreensão, ou simplesmente apenas
sentindo, da forma como ela veio a ele.

Ele não havia acabado.

Ah não.

Se ela não tivesse dado indicação de que ela lhe


desejava fora do seu quarto, ele ainda estaria lá dentro.

Na verdade, ele poderia estar nisso a noite toda, e não


para dormir.

Ele poderia estar nisso, talvez, por vários dias.

À medida que esses pensamentos flutuavam em minha


mente, percebi que ele entrou completamente na sala, estava
parado não longe da minha cadeira, de pé, com o queixo
inclinado, me olhando com um escrutínio que achei tão
desconfortável que eu realmente mudei de posição no
assento.

Parei com esta reação no instante em que tomei


conhecimento disto, horrorizada comigo mesma.
Dar algo tão facilmente? Especialmente algo como
derrota?

Você me arruinou, bati em silêncio para Antoine.

Meu amante morto não tinha tréplica.

—Você está okay? — Perguntou Noctorno.

—Eu estou o quê? — Perguntei em troca.

Sua cabeça deu um leve puxão antes que continuasse:


—Você está bem? Tudo bem? — Sua voz baixou. — Foi um
dia difícil, baby, para todos nós. Incluindo você.

Olhei além dele para o fogo, levantando o meu vinho


para os meus lábios, mas não bebi até depois que
murmurasse:

—Estou perfeitamente bem.

—Sim, claro. — Afirmou, e a pura descrença escorrendo


de seu tom de voz fez meu olhar firmar imediatamente de
volta para ele.

Isto significava que o vi caminhar bem na minha frente


para a cadeira que acompanhava a minha, jogar seu longo
corpo nela e estender a mão para o vinho na mesa que
separava nossos assentos.

Ele também estendeu a mão para o copo extra.

Estes eram assentos, vou acrescentar, situados no canto


da sala, voltados um de frente para o outro com uma
pequena mesa redonda no meio, por isso o meu joelho estava
quase tocando o seu.
Ele se serviu.

Estava na ponta da minha língua para compartilhar que


eu não o convidei para me acompanhar.

Infelizmente, fiquei distraída por seus longos dedos, e as


palavras morreram na minha boca.

—Essa merda foi exaustiva. — Declarou Noctorno, se


reclinando para trás na cadeira, levantando o vinho tinto
para os lábios masculinos finamente moldados enquanto eu
observava. —Fico feliz que acabou. — Ele concluiu antes que
desse um gole.

Com algum esforço que me recusei a reconhecer, virei


meus olhos de volta para o fogo.

—Franka, certo? — Ele perguntou.

—Correto. — Respondi, pensando que uma das


mulheres do outro universo, que foram reivindicadas por
homens desse mundo, deveria ter compartilhado com este
homem, príncipe ou não, que, como um membro da guarda
ele estava muito além de sua posição ao lançar o seu (longo,
potente) corpo em uma cadeira, servindo-se do meu vinho
e introduzindo-se a mim com um "Franka, certo?"

Indesculpável.

Talvez fosse assim que eles faziam em seu mundo.

Não era como nós fazíamos no meu.

Eu era da Casa de Drakkar. Era da aristocracia. Meu


primo, Frey Drakkar era O Frey, O Drakkar. Ele comandava
elfos e dragões. Ele era casado com a princesa de gelo do meu
país nevado (mesmo que ela, na verdade, não fosse
a verdadeira princesa, ela era de um universo paralelo, eu
não tinha ideia do que aconteceu com a verdadeira princesa
Sjöfn, mas todos pareciam estar desconsiderando, então, eu
não tinha escolha exceto fazê-lo também, e, francamente, eu
nunca gostei muito da mulher de qualquer maneira, a sua
substituição, no entanto, foi bastante animada).

Para não mencionar, que o meu primo, Frey, já havia


concebido o futuro rei nela, pelo amor de Adele!

Eu não ia, no entanto, oferecer-me para dar aulas de


etiqueta para este homem.

Gostaria de saborear o meu vinho e esperava que ele


pegasse a indicação, de que não desejava nenhuma
companhia, através das minhas ações. Se não, eu sairia
(embora, eu não descobrisse como fazer isso e levar a outra
garrafa de vinho comigo que parecesse digno).

Quando virei este dilema no meu cérebro, ele disse com


aquela voz suave:

—Ei. — Novamente, mas acrescentou, no final, por


algum motivo desconhecido, e pela segunda vez no curto
período que estava falando comigo, —baby.

Virei-me para ele e lhe informei condescendente: —Você


fala de forma estranha.

Isso provocou outra contração de sua cabeça antes de


perguntar:

—Perdão?
—―Ei‖, ―Baby‖, — eu disse. —O que essas palavras
significam?

—Você... uh, não têm as palavras ―Ei‖ e ―baby‖ neste


mundo?

Levantei meu queixo um pouco.

—Claro que sim. ―Eia‖ é expressão usada para


cavalos. E baby são pequeninos. Os recém-nascidos. Eu
simplesmente não entendo por que você as pronunciou para
mim.

Ele sorriu.

Meu coração se apertou, a dor tão imensa que foi uma


maravilha eu não me dobrar e cair no chão, morta antes de o
atingir.

Tão bonito. Aquela luz em seus olhos marcantes.

Meu Antoine era bonito.

Mas quando ele sorria...

—Não disse ―Eia‖ — Noctorno me disse. —Estou dizendo


―Ei‖, sem o A. É como as pessoas dizem ―Olá‖,
cumprimentam-se no meu mundo.

Lutei com a dor, escondendo a severidade da luta, e


balancei a cabeça uma vez.

—E ―baby‖? — Solicitei, embora não devesse. Começar


uma conversa não iria levá-lo a sair.

—É como os caras chamam as gatas no meu mundo.

Levantei uma sobrancelha.


Ele observou isso e seus olhos impressionantes ficaram
mais brilhantes.

—Gatas? — Perguntei, ignorando a luz divertida em


seus olhos.

—Meninas. Mulheres.

—Meninas e mulheres? — Perguntei.

—Bem, você não chamaria uma menina-menina, sendo


uma criança, de baby ou gata. No geral são as mulheres
adultas que são chamadas assim.

—Então, é um termo carinhoso. — Deduzi, pensando


que eu poderia, de fato, me esforçar para ter uma palavra
com uma das mulheres, que eram do mundo dele, para
compartilhar com ele algumas coisas importantes.

Precisamente por isso ele não deveria estar se referindo


a alguém que mal conhecia, e certamente não ao seu
superior, de forma carinhosa.

—Isso, porém ‗gata‘ é mais uma gíria. — Compartilhou


ele.

—Em outras palavras, em seu mundo, você se refere ao


sexo feminino com palavras que indicam à mulher, cada vez
que você as usa, não que você ache que elas são tão
vulneráveis e fracas como uma criança recém-nascida ou algo
similar, mas de uma espécie de animal doméstico em vez de
humano.

Sem hesitar sua alegria extravasou, enchendo a sala,


aquecendo-a, puxando-me fora do meu humor, longe dos
acontecimentos daquele dia, dos últimos meses, da perda do
único homem que eu amei, então silenciosamente observei e
ouvi.

Não dei nenhuma indicação de que gostei.

Mas eu gostei.

Ele controlou sua jovialidade, mas não parou de sorrir


ou me olhar enquanto perguntou: —Do que você chama os
caras aqui?

—Caras? — Respondi a sua pergunta com uma


pergunta.

—Homens. — Explicou ele, ainda sorrindo. —Rapazes.

—Nós os chamamos de homens ou senhores.

—Não, quero dizer palavras carinhosas ou gírias.

—Eu, pessoalmente, não me envolvo em proferir gíria.

Ele me estudou como se eu fosse um bufão muito


divertido que se apresentou na corte, antes de indagar:

—Ok, como você chama um homem com quem está?

—Com quem?

—Alguém que significa algo para você. O seu cara. Seu


homem. — Afirmou.

Olhei novamente ao fogo, sentindo meu rosto


congelando.

No instante em que o fiz, ele soltou:

—Droga. — Houve uma ligeira pausa antes —Baby...


Franka, Tor me contou sobre a merda que sofreu... porra. —
Eu senti os dedos fortes enrolarem em volta do meu pulso,
um pulso que estava descansando no braço da cadeira, antes
dele terminar: —Isso foi estúpido. Eu sinto muito.

Com um toque delicado, eu me libertei de seu toque,


levantei minha taça de vinho aos meus lábios, e antes de
tomar um gole eu murmurei: —Não é nada.

—Besteira.

Esta palavra estranha fez o meu olhar se mover de volta


para ele.

—Desculpe? —Rebati.

—Besteira. —Repetiu ele.

—Não entendo essa palavra.

Embora tivesse a impressão que sim, entendia.

Não havia sorriso em seu rosto. Nem humor em seus


olhos. Ele estava me olhando de perto novamente, mas desta
vez eu estava preparada e não me mexi.

—Você está cheia dela. — Explicou. —E não está


dizendo a verdade. Diz qualquer coisa apenas para escapar
de algo que não quer falar.

—E se eu fizer isso, considerando que sabemos sobre o


que estou passando, é habitual permitir que o momento
estranho passe.

Ele se inclinou ligeiramente para mim.

—Você está aqui sozinha, bebendo vinho sozinha, como


se o mundo tivesse acabado. E eu entendo porque se sente
assim. Só não entendo, quando há tantos aqui tão próximos,
por que você não está perto deles. Mas isso não é da minha
conta. Tudo o que sei é que você colocou o seu traseiro na
linha hoje para salvar a vida de mulheres e a vida de cada ser
neste universo. Foi preciso coragem para fazer isso,
querida. Você sofreu uma grande dor, perdendo o seu homem
e eu sinto muito por isso. Mas, pelo menos por esta noite,
você deve estar orgulhosa do que fez para o seu país, por
essas quatro boas mulheres e os homens que as amam, para
a memória do homem que você perdeu. É hora de
comemorar. O lado bom ganhou e você, — ele apontou o dedo
para mim (insuportavelmente rude!), —foi uma parte disso.

Mais uma vez, na ponta da minha língua, palavras


pairavam para compartilhar com precisão, de uma forma
calculada, como eu sabia que ele havia celebrado com Circe.

Essas palavras não saíram da minha boca.

Elas desapareceram completamente enquanto eu


simplesmente voltei minha atenção para o fogo.

—E esse tipo de situação meio que não pede vinho. —


Ele continuou. —Pede uísque, vodca, ou melhor ainda,
tequila.

Eu não podia discutir com isso (independentemente do


fato de que eu não tinha ideia do que era tequila).

—A isso, eu concordo plenamente. — Declarei, me


dignando novamente a olhar para ele e desejando que não
tivesse, porque seu sorriso retornou, fazendo-me desejar que
eu pudesse engolir as palavras de volta.
—Vou encontrar algo. — Ele anunciou, colocando as
mãos nos braços da cadeira, a fim de levantar seu grande
corpo fora dela, e senti minhas sobrancelhas erguerem
quando, uma vez que ele estava de pé, parecia que estava
movendo-se em direção à porta.

—Você simplesmente pode puxar a corda e exigi-lo de


um servo. — Expliquei.

Ele agora estava de pé, olhando para mim, parecendo


confuso.

Pelos poderes de Adele, se ela reinava em seu reino,


deu-lhe mais do que seu quinhão de tudo.

Até confuso ele parecia delicioso!

Eu realmente tinha que sair daqui o mais rápido que


pudesse, sem revelar nada.

—Uh... o quê? — Perguntou.

Fiz um gesto indolente com uma mão para o cordão no


canto da sala. —Puxar o cordão pendurado. Um sino soa... —
Eu não tinha a informação de onde ele soava, então não me
preocupei com essa questão, e continuei com: —em algum
lugar. Um servo vem. Dizemos-lhe que queremos uísque. Ele
irá trazê-lo.

Seus lábios se curvaram.

Puxei uma respiração irritada pois isso foi delicioso


também.

—Certo. — Ele murmurou e começou a caminhar em


direção ao cordão.
Torci-me na cadeira e chamei às suas costas: —Quando
eles chegarem, compartilhe com eles que mais combustível
precisa ser adicionado ao fogo.

Ele parou e se virou para mim enquanto eu estava


falando.

Quando terminei, ele olhou para o fogo e, em seguida,


de volta para mim.

—Baby, tem uma pilha de toras ali mesmo. — Afirmou.

—De fato, tem. — Concordei, embora não tivesse me


preocupado em verificar isso e não tinha ideia se ele falou a
verdade.

—Então eu posso colocar mais lenha na fogueira.

Por Adele, novamente ele parecia divertido.

Eu precisava encontrar uma maneira de sair desta


situação com a devida pressa.

—Se você deseja sujar as suas mãos...— Deixei por isso


mesmo, mas acrescentei um ligeiro encolher de ombros.

Ele balançou a cabeça, a boca novamente arqueando, e


virou-se para o cordão.

Bem.

Ele iria pedir uísque.

Gostaria de beber um pouco (ou talvez mais do que um


pouco). Então eu gostaria de encontrar uma maneira de
roubar a garrafa de vinho extra e um copo e retirar-me aos
meus aposentos.
Este era o meu plano.

Como Franka Drakkar da Casa de Drakkar, eu era


muito boa com os planos, elaborando-os e executando-os ao
máximo.

No entanto, naquela noite, não pela primeira vez, eu não


teria sucesso.

***

—Você está brincando. — Eu declarei.

Eu estava inclinando-me sobre o braço da minha


cadeira (totalmente deselegante) em direção a Noctorno, que
estava descansando (totalmente negligentemente) em sua
cadeira, uísque na mão, balançando, focando os olhos azul-
claros em mim.

—Naam. — Ele afirmou.

―Nam‖, eu tinha aprendido, através da toda a nossa


longa conversa, que em seu mundo queria dizer "não".

Aliás, nós tivemos uma boa dose de uísque.

Também terminamos todo o vinho.

E eu tinha certeza que, no futuro, era provável que


lamentasse o quão profundamente bêbada estava naquele
momento.

Apenas que simplesmente não me importava.


—Você pode falar com qualquer ser que você queira na
totalidade do seu universo, contanto que você tenha
esse... número que você descreve? Apenas inserindo-o em um
dispositivo e colocando-o ao seu ouvido? — Perguntei.

—Unhrum. — Respondeu ele. —E, contanto que eles


também tenham um telefone.

"Unhrum" Eu aprendi, significava "sim".

Assim como "positivo", mas tínhamos essa palavra no


meu mundo também.

Examinei seu rosto.

Ele parecia relaxado e divertido.

Não parecia como se ele estivesse inventando.

Mesmo assim, ele tinha de estar mentindo.

Portanto, retrocedi um centímetro na minha


acusação. —Você mente.

Ele balançou a cabeça, inclinou-se pra frente e afirmou:


—Não.

Então tirou um pedaço fino e retangular do que parecia


ser de metal e vidro. Tinha bordas arredondadas. Era
simples, mas de alguma forma excepcionalmente bonito.

Ele se inclinou para mim, segurando essa coisa na


minha direção, e, enquanto eu observava, a pequena janela
iluminou, mostrando uma variedade de pequenos retratos
nele, todos alinhados precisamente em filas, para cima e para
baixo.
—Pelos deuses! — Sussurrei, me inclinando na direção
daquilo, mas parei, ficando imóvel pelo fantástico.

—Sim. — Disse ele, movendo o polegar na janela. Uma


tela branca veio com uma listagem de texto. —Isso é o e-
mail. Você pode enviar e-mails a qualquer um também, se
você tem seu endereço. E chega a eles em poucos minutos. É
claro que eu não posso fazer isso agora, vendo como estou
completamente sem serviço. Mas se eu não estivesse, poderia
chamar, enviar e-mail, mandar textos.

Virei o meu olhar do seu dispositivo para o seu rosto.

—Mandar texto?

—Digitar uma mensagem. — Disse ele, meus olhos


caíram de volta à sua engenhoca enquanto seu polegar se
movia sobre ela. —Aperte enviar, ele vai para o telefone de
outra pessoa, dá um sinal, que recebeu a mensagem em
poucos minutos. Segundos mesmo.

—Isso é extraordinário. — Suspirei, me aproximando


mais uma vez, mas parando antes de tocar a pequena caixa
de magia.

—Você pode pegar, Franka. Não vai mordê-la.

Risos atados às suas palavras, e eu mais uma vez olhei


para seu rosto bonito.

Eu não peguei o seu dispositivo.

Perguntei: —Isso é mágica?

—Não temos magia em nosso mundo como no seu.

Sentei-me em estado de choque. —Que bizarro!


—Bem, nós temos. — Ele passou a esclarecer. —Apenas
não tão abertamente. Ou praticado às claras.

Ele não podia estar falando sério.

—Isso é muito perigoso. — Eu disse afetadamente (talvez


para esconder que também fiz isso desconfortavelmente).

—Provavelmente é. — Ele murmurou.

—Você deveria fazer algo sobre isso. — Informei-o com


autoridade. —É do meu entendimento que está na guarda da
cidade. Você deve falar com seu comandante. Talvez ele possa
falar com os seus... qualquer título que seu regente
utilize. Eles certamente podem fazer algo sobre isso. E como
você pode imaginar por suas atividades aqui, é aconselhável.

Ele balançou a cabeça.

—Se o presidente fizesse com que as pessoas se


apresentem para registrar que são bruxas e feiticeiros... ou o
que seja... ele seria destituído do cargo em cerca de vinte e
quatro horas.

—Isso é ridículo.

Um pequeno sorriso flertou em seus lábios quando


balançou a cabeça novamente. —É a verdade.

—Estranho. — Murmurei, olhando de volta para o


seu... telefone.

Sacudiu-o de um lado para o outro de uma forma


persuasiva.
—Pegue, querida. Você não pode feri-lo. Ele não pode te
machucar. Há jogos nele se você quer que eu te mostre como
eles funcionam.

Eu novamente encarei seus olhos. —Jogos?

Desta vez, ele concordou. – ―Paciência‖. ‖Tetris‖. ‖Trivia


Crack‖. Acho que pode haver ―Fruit Ninja‖ lá também.

—Fruit... ninja? — Fiz a pergunta pois eu estava


tentando entender as palavras.

Ele simplesmente riu com isso, mas fez isso de uma


forma que eu sabia que estava sendo gentil, pois parecia
estar lutando contra a vontade de gargalhar.

Eu ignorei e lhe disse: —Não conheço estes jogos.

Mais uma vez ele sorriu. —Então eu te ensino como


funcionam.

Eu observei seu sorriso.

Olhei em seus olhos.

Havia diversão lá (como parecia haver desde que ele


entrou na sala, algo que eu nunca encontrei na minha vida,
tanto humor).

Havia também inteligência, uma grande que não podia


ser dissimulada, mesmo que, por algum motivo, ele quisesse
esconder.

E havia bondade, tanta, mais do que suficiente para


abusar se alguém tivesse isso em mente.

Mas não havia astúcia.


Mesmo Antoine tinha um propósito escondido quando se
tratava de mim. De qualquer um. Era assim que se vivia no
meu mundo. Não apenas meu universo, o mundo que eu vivia
dependia do status que eu carregava.

Noctorno Hawthorne do mundo dos dispositivos mágicos


não tinha nenhum.

E olhando em seus olhos, senti uma sensação se


aproximando de mim, que eu não sentia desde que eu era
uma criança.

—Você não deve ser gentil comigo. — Sussurrei.

Sua expressão mudou.

Ele não ficou cauteloso.

Se aqueceu com uma gentileza que me fez sentir minhas


entranhas se desfazerem.

—Franka. — Ele sussurrou de volta.

—Você não deve ser gentil comigo. — Repeti.

—Baby...

—Eu fiz coisas terríveis.

Ele não disse nada, apenas olhou fixo em meus olhos,


sem medo, sem julgamento, segurando firme meu olhar.

—Eu amo meu país gelado. — O uísque (ou o vinho) me


fez sussurrar. —Eles não acreditam nisso. Eles não
sabem. Eu não posso... — Balancei a cabeça, o suficiente de
minhas faculdades ainda intactas para não dar isso a ele. —
Eu não permito que isso seja conhecido. Viajei muito pelas
Northlands. Mas não há nada como o ar em Lunwyn. Eu
prefiro os muitos meses que ele está coberto por neve. Eu
prefiro o frio. Prefiro o ar gelado penetrando em minhas
entranhas, tornando-as limpas.

Algo brilhou em seu olhar.

Curiosidade.

—Franka...

—Eu não faria nada... nada... para trair o meu país. —


Minha voz caiu para além de um sussurro, para quase
nada. —Mas por ele...

—Entendi.

Balancei minha cabeça. —Você não entende. — Eu


levantei uma mão fraca, em seguida, deixei-a cair no meu
colo. —Eles não entendem.

Eu estava me referindo à rainha Aurora. Frey e sua


Finnie. Rei Lahn e sua Circe. Príncipe Noctorno e sua
Cora. Apollo e sua Madeleine. A bruxa verde
Valentine. Lavínia.

Todo mundo.

—Eles entendem. — Ele devolveu.

—Não, não entendem.

—Entendem sim, querida. Você não acha que, se esses


homens tivessem a mesma escolha que você, suas mulheres
tomadas, torturadas, vivendo nos abismos do inferno todos
os dias por semanas, porra meses... ou se aquelas mulheres
tivessem essa escolha com seus homens... eles não fariam a
mesma escolha que você?

—Eu compartilhei este sentimento exato com eles, e


eles...

Ele se inclinou perigosamente no assento e sobre a mesa


que nos separava, muito perto de mim, e sua voz era o açoite
de um chicote quando me interrompeu para declarar: —
Mentiram.

Ele não se afastou quando continuou, e quando fez sua


voz não era menos forte.

—Eles mentiram para caralho, Franka. Eu sei que esses


são bons homens que fizeram coisas notáveis para seus
países. Sei também que não hesitariam em fazer qualquer
coisa em seu poder para manter suas mulheres seguras e
livres de danos. Assim, desde que eles não estavam em sua
posição, podem dizer o que diabos quiserem. Mas hoje,
quando Cora, Circe, Maddie e Finnie foram tomadas, se elas
não tivessem retornado para a segurança tão rapidamente
quanto fizeram, se você pensa por uma porra de segundo que
cada um desses homens não fariam um pacto com o maldito
diabo para conseguir isso, você... está... errada.

Ele apontou o dedo para o seu peito e não cessou de


falar.

—Eu sei, porque sou um homem como esse. E se eu


tivesse uma mulher que eu amasse, como os homens amam
as suas mulheres aqui, eu faria isso e nem sequer piscaria.
Essa sensação atrás dos meus olhos se tornou mais
forte quando perguntei:

—Você faria?

—Porra, sim. — Afirmou inflexível. —E eu nem piscaria.

Tinha começado, e pela primeira vez em décadas eu não


pude parar o fluxo de palavras que saíam da minha boca.

—Eu sou uma traidora. — Admiti.

—Você foi. E você não é a primeira pessoa a tomar a


decisão que tomou por alguém que amasse. Pior já aconteceu
quando as pessoas tomaram essa mesma decisão. E o que
você fez, no final, ninguém se machucou. Mas hoje, mesmo se
esse fosse o caso, você se redimiu por isso. Essas cadelas
poderiam tê-la destruído com um piscar de olhos. — Ele
levantou a mão e fez aquele barulho com os dedos, o som tão
alto que pulei. —Você sabia disso. E ainda assim, entrou
lá. Eu conheço a vingança, entendo a necessidade disso. Sei
que é o que empurrou você para tomar a decisão que
tomou. Mas havia mais. Fidelidade. Para o País que você acha
que traiu, e para a sua família, porque eu sei que você e Frey
são do mesmo sangue. Percebo a maneira como ele olha para
você, os outros percebem, que não há nenhum sentimento de
respeito e eu não dou a mínima para isso. Você mudou o
curso da história, baby, e todos os cidadãos desta nação
deveriam ser gratos.

—Eu apenas entrei em uma sala e lancei um


feitiço. Certamente não empunhei espadas, e não era nem
mesmo a minha magia. — Lembrei a ele.
—E salvou vidas fazendo isso. Um monte delas.

—Você me faz soar como uma heroína. — Zombei.

Ele se inclinou ligeiramente para trás, uma nuvem


escurecendo sua expressão.

—Não existe tal coisa como um herói. Apenas uma


pessoa que está fazendo a coisa certa em circunstâncias mais
que extremas.

Foi a minha vez de observá-lo com curiosidade.

Uma vez que eu tomei um longo momento fazendo isso,


perguntei em voz baixa: —Por que acho que essa declaração é
auto moderada?

—Eu responderia isso, se soubesse o que diabos ―auto


moderada‖ significa.

Senti meus lábios ondularem ligeiramente para cima


nas bordas.

—Modesto. —Expliquei.

—Não. —Afirmou. – Apenas só é o que é.

Como ele diria, besteira.

Não compartilhei esse sentimento.

Eu também não partilhei a minha imensa gratidão ao


alívio que suas palavras me fizeram sentir.

Eu simplesmente continuei a olhar em seus olhos


notáveis.

—Você é boa nisso. — Ele disse suavemente, inclinando


a cabeça em minha direção. —Esse jogo que tem em
andamento. Essas paredes que construiu onde se esconde
atrás. A distância que coloca em cada olhar, cada palavra,
cada porra de respiração. — Seu olhar inclinou-se à mesa,
em seguida, de volta para mim. —Quando você não está
bebendo uísque, claro.

—Noctorno...

—Ninguém me chama Noctorno. — Ele afirmou


categoricamente e se inclinou para mim novamente. —É
Noc. Especialmente para os amigos, e Franka, eu ajudei a
salvar um universo com uma mulher, e em seguida, tomamos
um par de garrafas de vinho e um o que quer que isso seja
chamado... — ele fez sinal com um movimento do pulso para
o uísque quase no fim. —Alcóolico...

—Um decanter. — Compartilhei.

—Seja como for, — ele murmurou, em seguida,


continuou. —Você é uma amiga. Então me chame Noc.

Pressionei meus lábios juntos.

Ele deixou isso passar e continuou.

—Então, agora eu sou um amigo. Eu também sou o


homem que vê você pelo que é, Lábios-açucarados. Você não
me engana. E os outros homens... — Seus olhos foram para a
porta brevemente, a sua indicação de Frey, Lahn, o outro
Noctorno e Apollo. —... se eles não tivessem o fim do mundo
como eles conhecem respirando em seus pescoços e levassem
o tempo para ver, você não iria enganá-los também.
Respirei, enterrando suas palavras, palavras que ouvi
(algo assim) a partir de um outro homem, de fato, a partir da
única outra pessoa que eu encontrei em meus anos nesta
terra que gastou energia para ver.

Contudo.

Ele me chamou Lábios-açucarados.

Senti minhas sobrancelhas erguerem juntas e eu não


podia controlar o desdém no meu: —Lábios-açucarados?

Foi então que seu olhar caiu para a minha boca antes
de voltar para os meus olhos e sussurrar: —Baby, você tem a
boca mais bonita que eu já vi.

Esse flerte depois de, naquela mesma noite, ele


conseguir levar para cama uma mulher que foi repetidamente
violada por mais de duas décadas.

O rancor.

—Cesse de flertar comigo. —Cortei.

Ele piscou, novamente perplexo, antes que declarasse:

—Eu não estou. Só estou falando o que realmente é.

Olhei para ele com raiva.

E mais uma vez não vi astúcia.

Este não era um homem que flertaria com uma mulher


que ele sabia que acabara de perder o único homem que ela
já amara, de um jeito hediondo e prolongado, cuja dor nunca
morreria.

Deus.
Que mortificante.

—Eu... eu, bem...— Pelos deuses, eu estava


gaguejando! —Peço desculpas. —E pedir desculpas! Deuses,
o que será de mim? Terminei rapidamente. —Eu confundi
suas palavras.

—Eu gosto de olhar pra você, Franka, e você é fofa


quando para de tentar tanto ser uma cadela. Mas nenhum
homem decente faria uma brincadeira com uma mulher na
sua situação. — Ele sorri. —Ele consegue deixá-la bêbada
como um gambá ou não.

Como um gambá?

Eu não perguntei.

—Eu não estou bêbada. — Menti arrogantemente com


um balanço de cabeça.

—Besteira.

Apertei os olhos para ele, declarando: —Não gosto desta


palavra.

Ele continuou a parecer divertido.

—Entendo que você acha que pode governar o mundo


com um piscar desses olhos azuis lindos, um beicinho dessa
boca bonita e um olhar irritado, baby, e há homens que
provavelmente quebrariam as costas para atender a todas os
seus caprichos. Mas eu não sou um desses que se deixam
levar por essas merdas. — Ele se inclinou numa zombaria
sugestiva. —Eu faço o contrário, menos o beicinho e partes
nervosas.
Pressionei em sua direção. —Você realmente flertou.

Ele deu de ombros, claramente entretido ―por mim‖ e


não escondendo-o.

—Esse é meu jeito.

Houve um tempo em que eu gostaria que ele


flertasse. Quando eu jogaria com Noctorno Hawthorne de
maneiras que nós dois gostaríamos.

Aqueles tempos estavam mortos para mim.

Para sempre.

Passei meus dedos em torno de meu copo totalmente


cheio, virei-me para enfrentar o fogo, recostei-me na cadeira e
esvaziei seu conteúdo na minha garganta.

—Hey. — Ele chamou.

Permiti que apenas os meus olhos fossem em sua


direção.

—Só mexendo com você, querida. — Explicou.

Olhei de volta para o fogo e decidi, com tudo o que eu já


lhe dei, não havia razão para parar de fazer isso.

Com este homem, um dos dois únicos que eu já conheci,


que não causaria nenhum dano.

Portanto, eu compartilhei: —Sinto falta dele.

—Aposto que sente. — Ele disse suavemente.

—Suas mortes foram demasiado rápidas. — Declarei,


falando de Minerva, Edith, Helda, as bruxas que tinham
todas merecidamente perecido naquele dia.
As bruxas que tomaram o meu Antoine de mim e, em
seguida, deram a ele uma morte lenta e agonizante.

—Mm-hmm. —Ele murmurou suavemente.

—Mas isso acabou. — Concluí.

—Esse é o problema, estou certo?

Virei a cabeça para dar a minha atenção para


Noctorno. —Problema?

—Sem vingança para se concentrar...

Entendi, mesmo que deixou por isso mesmo, e mudei


meu olhar de volta para o fogo.

—Tenho toda a noite, Franka. — Ele me disse. —Indo ao


casamento de Apollo e Maddie em alguns dias, ficando aqui,
passando um tempo num lugar que não muita gente do meu
mundo pode pagar para tirar férias. Então, se você quer que
eu puxe o cordão e peça mais uísque, basta dizer a palavra.

Ele era gentil.

Muito gentil.

—Eu gostaria que o pão e o queijo adorável que consumi


mais cedo permaneça no meu estômago, e não seja jogado no
tapete. —Disse a ele.

—Acho que é um bom plano, — ele murmurou.

Deixei o copo sobre a mesa e me empurrei para fora do


assento, olhando para ele.

—Eu deveria encontrar minha cama e permitir que você


encontre a sua.
Ele se levantou também, colocando-se quase nos meus
dedos dos pés.

Eu era uma mulher alta, excepcionalmente alta para


este mundo, e encontrei-me perguntando se seria o mesmo
no seu.

Mas ele se elevava sobre mim.

De repente, e de uma forma esquisita que encontrei


estranhamente agradável, me senti delicada.

Vulnerável.

Ele estava mais perto do que esteve com a Circe na


porta do seu quarto.

Assim, ele poderia facilmente levantar a mão e passar o


polegar ao longo da minha mandíbula.

—Você vai dormir? — Ele perguntou em voz baixa, e


desprendi meus pensamentos de seu polegar sobre meu
queixo, agora sentindo nenhuma alegria, mas uma profunda
culpa por um pensamento desleal, logo depois de eu ter
perdido Antoine.

—Desde que eu não dormi bem desde que ele foi levado,
eu duvido que esta noite vai ser diferente, independentemente
do whisky. — Respondi.

—Eles têm coisas que você possa tomar aqui, você sabe,
que ajuda você com isso? — Perguntou.

—Está se referindo a paliativos para dormir? —


Perguntei.

—Provavelmente. — Respondeu.
—Sim. — Disse em um aceno sucinto. —No entanto, eu
os evito. Há aqueles que os utilizam que se tornam
dependentes deles. Não quero arriscar isso.

—Bem falado, Franka. Mas uma noite? Duas? — Ele


inclinou-se infinitamente mais perto. —Eu posso ver isso em
seus olhos, baby, as sombras sob eles. Posso ver exatamente
o quanto você não tem dormido. Puxe a corda, querida. Peça
a alguém para lhe trazer algum. Obtenha um pouco de sono
verdadeiro. Certo?

Por que ele terminou sua declaração com um "Certo?"


(Outra forma de "sim" do seu mundo) como se ele estivesse
pedindo meu acordo quando soltou um comando direto antes
disso (Um suave, mas mesmo assim), eu não fazia ideia.

O que eu sabia era que minha cabeça estava nadando


da bebida, falta de sono, as atividades do dia, e
independentemente de eu saber que não ia dormir, eu estava
exausta e estive esgotada, até meus ossos, por meses.

Além disso, passei muito tempo em sua companhia


inebriante já.

Então concordei mentindo. —Eu vou puxar a corda,


Noctorno.

—Noc, baby. — Ele corrigiu.

—Claro. — Murmurei.

—Se quiser, estou por perto. Pelos próximos dias ainda


estaremos aqui e vou te ensinar Tetris. — Ele ofereceu.
Eu queria aprender Tetris, embora não tivesse ideia do
que fosse. Eu queria que ele me mostrasse tudo o que seu
aparelho pode fazer.

Eu queria estar em sua companhia calmante, não onde


há jogos a serem jogados.

Onde seria apenas ele e eu.

—Vou sair em breve.

Ele estudou o meu rosto, ficou sério e assentiu.

Embriagada ou não, a minha máscara estava de volta


no lugar, e Noctorno não perdeu isso.

—Vou te desejar boa noite. — Eu disse secamente,


dando um passo para trás, inclinei a cabeça e dobrei os
joelhos em uma ligeira reverência.

Uma ligeira reverência.

Para um plebeu.

O que estava acontecendo comigo?

—Noite, Franka.

Eu deveria lhe agradecer pela noite. Agradecer as


palavras que disse. Agradecer por passar o tempo comigo
quando ele poderia estar com os outros que eram melhor
companhia.

Não fiz isso.

Ergui-me completamente, me dei o presente de um


último olhar em seus olhos, virei e saí da sala.
***

Uma vez na referida cama, me joguei.

E me virei.

Deixando a minha criada de confiança no seu próprio


sono, eu finalmente levantei e puxei a corda.

Um servo trouxe-me um sonífero.

Demorou algum tempo para funcionar.

Mas uma vez que dormi, dormi durante doze horas.


Não existem tais coisas como os heróis.

Franka
Na tarde seguinte, seguindo um dos guardas reais,
caminhei tranquilamente pelos corredores em direção ao
escritório da rainha.

Eu fui convocada.

Tomei banho, arrumei meu cabelo, e minha criada


pessoal, Josette, fez milagres (como sempre) executando
tranquilamente o trabalho de três empregadas domésticas,
sem nenhuma queixa e grande talento.

Eu nunca disse-lhe isto, é claro. Apesar de pagar-lhe um


salário mais alto do que outros em sua posição, então
suspeitava que ela soubesse.

Se o visse novamente, também não diria a Noctorno que


segui o seu conselho sobre dormir, e agora me encontrava
mais revigorada do que estive em meses.
Além disso, não iria dizer-lhe que a nossa conversa da
noite anterior foi de muita ajuda.

Não tinha aliviado a dor ou a culpa. No entanto, me


ofereceu maneiras de lidar com, pelo menos, a última.

Eu não tinha ideia do porquê a rainha estava me


chamando, mas esperava que não demorasse muito. Não
comi desde o pão e queijo (e vinho e whisky) da noite anterior,
pela primeira vez desde que Antoine foi levado, estava
faminta.

Também precisava de silêncio e concentração para


planejar meus próximos passos, sendo estes os que tomaria
depois que visitasse Kristian para ter certeza de que estava
saudável e bem.

Segui o guarda pelo corredor pensando em tudo isso,


bem como no fato de que queria estar o mais longe do Palácio
de Inverno, assim que pudesse.

Pensei nisso porque simplesmente queria estar longe


assim que possível. Lunwyn nunca foi segura para
mim. Cada visita era um risco.

Mas também com as janelas cobertas, nenhuma luz


natural entrando, fazia do Palácio de Inverno uma
normalmente bela morada, estranha de uma forma que não
gostava.

O guarda parou na porta do escritório da rainha, bateu


na madeira fortemente com os nós dos dedos, esperando a
ordem de, "Entre", senti meus lábios se curvarem de alegria
reprimida.
Nenhuma rainha já havia governado Lunwyn.

Nem Hawkvale.

Nem Fleuridia ou a cidade-estado de Bellebryn. E


certamente não qualquer uma das nações selvagens das
Terras do Sul —Korwahk, Keenhak e Maroo.

As mulheres não se pronunciavam.

Mas quando o Atticus da Aurora, o rei de Lunwyn, foi


assassinado tempos atrás durante as hostilidades, o homem
mais poderoso do nosso país, (esse homem, aliás, era meu
primo, Frey), instalou sua sogra no trono.

Ele não fez isso como um ato de nepotismo.

Fez isso porque Atticus era o rei, e foi (um bom


governante) na maioria das vezes (penso eu), devido à mulher
ao seu lado.

A Rainha Aurora era educada, atenta, cautelosa e


prudente, bem como atraente e majestosa.

Todas excelentes qualidades de um governante.

Não foi nenhuma surpresa desde sua coroação que


tantas notícias chegassem até a mim. Notícias estas de que a
rainha era excelente em seu novo papel.

A nossa primeira rainha.

Longo reinado para ela.

É claro que eu pensava isso, mas nunca diria isso em


voz alta.
Não, quando segui o guarda pela porta, meu sorriso
morreu, e com a facilidade nascida de décadas de prática, a
fim de enfrentar o que estava por vir, como sempre, coloquei
uma das minhas muitas máscaras no lugar.

Esta aqui: a de Súdita Leal.

Quando o guarda saiu do meu caminho, olhei em frente


e vi uma grande escrivaninha. A rainha sentava-se atrás
dela. Apoiados na beirada exterior da mesa, mais próximos a
mim, notei distraidamente que haviam três baús, um bem
pequeno, um grande, e outro médio.

Mas isso tomou apenas uma pequena parte da minha


atenção.

Como sempre, eu precisava identificar os jogadores e


agir em conformidade.

Por isso vi que ao redor de Aurora encontravam-se meu


primo, Frey, e sua esposa, a princesa Sjöfn, ou como Frey e
todos os outros que a conheciam (e sentiam carinho por ela) a
chamavam, Finnie.

Perto de Frey estava Apollo Ulfr, general e estrategista


da rainha.

Ao seu lado estava Ilsa, embora a chamassem de


Madeleine, a mulher do outro mundo que tomou o lugar da
esposa morta de Apollo. Na verdade, esta Madeleine faria isso
em dois dias, tornando-se de forma oficial esposa de Ulfr.

Eu conheci a Ilsa desse mundo.

As mulheres eram a cara uma da outra.


Eu não entendia isso, Apollo ficar com a nova
Ilsa parecia sórdido para mim. Desrespeitoso à memória da
outra Ilsa.

Mesmo sabendo que o gêmeo de Antoine não existia no


outro mundo, eu nunca tentaria encontrá-lo lá ou trazê-lo
aqui para ficar comigo.

Não havia como substituí-lo.

Havia apenas um verdadeiro Antoine.

No entanto, parecia que Apollo tinha verdadeira afeição


pela mulher.

Ele era um homem de emoção. Sofreu abertamente por


sua esposa morta e fez isso por anos.

Mas não era um homem governado pela emoção. Ele


nunca tomaria como esposa uma mulher que não tivesse
encontrado o caminho do seu coração.

Mas nada disto importava para mim.

Naquele dia decidi uma coisa durante o banho, com a


cabeça fresca e os pensamentos claros, as preocupações dos
outros já não eram da minha conta.

Minha vida daquele dia em diante seria tranquila.

Sem maquinações.

Sem mais intrigas.

Esta decisão foi por Antoine também. Eu sabia.

No entanto, apesar de não ser o meu personagem, não


conseguia parar de olhar para um futuro como aquele, talvez
não com prazer, pois esse futuro não tinha nenhum Antoine,
mas com certa serenidade.

Pensei nisso enquanto virava a cabeça para olhar o resto


da sala.

Do outro lado da Finnie, encontrava-se o poderoso


(e grande) Dax de Korwahk ─ O Rei Lahn, sua Circe, e perto
deles o príncipe Noctorno e a princesa Cora.

Observando-os, descobri que gostaria de ter tempo para


estudar o príncipe Noctorno mais de perto. Mas mesmo com o
breve olhar que dei a ele, notei que a semelhança com o
homem que se chamava Noc era estranha.

Príncipe Noctorno de Hawkvale tinha uma cicatriz no


rosto que não o prejudicava, mas sim reforçava suas
características, o que Noc não tinha.

Mas essa era a única diferença.

Quando parei na frente da mesa, senti algo e olhei por


cima do meu ombro.

Quando fiz, senti uma pontada estranha atingir minha


barriga.

Circe estava sentada em uma poltrona (e foi mais do que


desconcertante, embora nunca me permiti mostrar isso, ter
uma Ilsa viva, duas Circes e dois Noctornos no mesmo
aposento).

Noc estava de pé do lado dela, apoiando-se em sua


cadeira de uma forma que me fez questionar minha leitura da
situação na noite anterior.
Parecia pela maneira como ele estava agora que o que
tiveram não era só um encontro.

Sua posição, a proximidade dele, sugeria outra coisa.

Aquela pontada estranha veio de novo, mais forte,


quando vi que ele estava me olhando, um olhar de
familiaridade no rosto, o calor em seus olhos.

Ele era o único naquela sala que demonstrava o mínimo


de cordialidade. O resto estava me olhando com franca
impaciência (mesmo que eu tivesse acabado de chegar), e até
mesmo (no caso de Frey e Apollo), desgosto.

Não era cordialidade que Noc estava exibindo, no


entanto.

Era simpatia.

Me pegou desprevenida, principalmente porque, fora


minha amiga Valeria, a única e verdadeira amiga que tinha
na Casa Drakkar (ou em qualquer lugar), ninguém olhava
para mim com simpatia.

—É bom que você foi capaz de levantar de sua cama. Ou


a cama de Sjöfn, já que o Palácio de Inverno é a casa da
princesa de Gelo de Lunwyn.

O cumprimento frio da rainha Aurora trouxe minha


atenção para ela.

Não me perturbei em dar uma resposta.

Não foi perdido por mim que meu comportamento (mais


do que ser forçada a me tornar traidora contra o meu país,
uma vida adulta e então algumas vezes mais de me
comportar exatamente como uma Drakkar) me conseguiu
este tipo de inimizade.

Qualquer outra pessoa, mesmo a nossa rainha (que


raramente mostrava emoção) estaria ciente de tudo o que eu
perdi, tudo o que passei, todos eles sabiam o que Antoine
sofreu, e, então, imaginariam que o sono não era assim tão
fácil.

De fato, pelos deuses, dia sim, dia não, simplesmente


encontrar forças para jogar minhas pernas pra fora da cama
e enfrentar mais um dia atormentada com a dor, era um
esforço extraordinário.

Mas eu não conquistei esse respeito.

Eu recebi o olhar gelado de seus olhos que


acompanhava o frio de sua voz.

E como sempre, resisti a ele, mas, desta vez, eu não


tinha resposta venenosa.

Eu só fiquei ali em silêncio.

—A fim de poupar a energia de fazer o seu jogo, Franka,


— ela continuou, —e, como todos nós temos coisas muito
mais importantes para fazer agora, discutimos a recompensa
por suas atividades de ontem e pensamos em resolver isso
sem demora.

Fiquei em silêncio, mas por dentro também estava


quieta.

Quanto eu mudei.
Mesmo fazendo minha pequena parte para salvar o
mundo, não pensei em usar essa possibilidade para melhorar
minhas circunstâncias. Antes de Antoine, este mesmo
pensamento seria a primeira coisa em meus lábios, antes
mesmo de ir para Ilha do Espectro enfrentar as três bruxas
mais malignas, e mais poderosas de todo nosso hemisfério.

Não estou desistindo Antoine, meu amor, pensei com


horror. Estou enlouquecendo!

Rainha Aurora acenou ligeiramente com a mão para a


direita, indicando o pequeno baú na escrivaninha.

—Diamantes de gelo Sjöfn de Lunwyn, — declarou ela, e


senti meus joelhos firmarem.

Mesmo um baú daquele tamanho, cheio de muitos


procurados diamantes de gelo de Lunwyn, não era uma
pequena fortuna.

Era uma magnífica.

—Isto de Lunwyn, como agradecimento, — Aurora


proferiu sua última palavra como se fosse difícil dizê-
la. Então fez um gesto para o baú maior que estava no meio
dos três. —Esmeraldas Korwahk, rubis e safiras.

Pelos deuses!

Fiz um esforço mortal para não arregalar os olhos.

—Do Dax, — ela virou a cabeça na direção do Rei e


Rainha, Lahn e Circe —Da sua Dahksahna e das
pessoas de Korwahk, em gratidão. — Ela olhou de volta para
mim e indicou o último baú. —Moeda de ouro, em
reconhecimento pelos seus esforços do Rei Ludlum de
Hawkvale, seu filho, o príncipe Noctorno, governante de
Bellebryn, e, claro (uma pequena quantidade de calor surgiu
em suas feições quando ela olhou para a princesa Cora) sua
princesa.

Virei meu olhar nessa direção e vi desgosto nos olhos do


príncipe Noctorno, olhos que estavam sobre mim.

Princesa Cora, no entanto, estava me estudando como


se eu fosse uma curiosidade.

—E por último, da Casa de Ulfr, — Rainha Aurora


continuou, e olhei de volta para ela vendo que tinha seu
braço direito esticado. Voltei minha atenção para onde estava
apontando, uma das cadeiras de frente a sua mesa, estava
repleta de peles de luxo, —zibelina, chinchila e visom, o
melhor, é claro, pois são de Ulfr.

Meus olhos se moveram do espetáculo de beleza


estonteante para a rainha do meu país enquanto ela
continuava falando.

—Como eu conheço você, Franka, posso seguramente


assumir, por sua parte nas dificuldades que enfrentaram
ontem, que isso será suficiente. Espero que você considere
esta uma dívida paga integralmente.

A moeda de Hawkvale sozinha, eu poderia dizer a partir


do tamanho do baú, era mais do que suficiente.

Era mais do que suficiente o fato de que eu poderia viver


com isso muito bem (em outras palavras, conseguir para
Josette uma assistente muito necessária para o cuidado da
minha pessoa e pertences). Eu também poderia conseguir um
apartamento melhor, decorado em Fleuridia (ou onde quer
que escolhesse ir). Além disso, eu poderia não só ter um
mordomo, uma cozinheira e duas criadas (eu já tinha todos
em Fleuridia, menos a segunda criada) mas também
contratar uma empregada doméstica que iria limpar, e
arrumar todos os dias, não só a cada duas semanas.

Por Adele, eu poderia contratar cinquenta se eu quisesse!

Com as riquezas que estavam diante de mim (e no


assento ao meu lado), eu poderia viver em extremo luxo até
dar meu último suspiro.

Além do mais poderia compartilhá-los com Kristian. Ele


seria, então, um homem independente, e estaria livre da casa
de Drakkar. Daria segurança para sua esposa e filho. Ele,
através de mim, deixaria todos a salvo dos segredos que nos
atormentaram desde que éramos crianças.

Na verdade, se ele pensasse direito nisso, poderia levá-


los embora. Ele poderia até mesmo viver em um reino depois
do mar verde, onde nada iria tocá-los.

Nada.

Ninguém.

Nem mesmo magia (talvez).

Sim, eu compartilharia com Kristian. Ele me


escutaria. Eu ouvi falar coisas sobre esses reinos. Possuíam
grande beleza os países de Airen, Firenze, Wodell.
Talvez eu até fosse embora com meu irmão e sua
família.

No entanto, quando esses pensamentos passaram pela


minha cabeça, junto com a sensação de alívio, o
conhecimento de que não precisaria mais conspirar, e
manipular para manter o estilo de vida que estava
acostumada, sabendo que poderia deixar meu irmão e sua
família seguros com uma finalidade que significaria décadas
de preocupação desaparecendo − provei uma acidez na
língua.

Eu espero que você considere esta uma dívida


integralmente paga.

Eles estavam pagando a Noctorno e a Circe com


riquezas por sua participação na batalha?

Ou era simplesmente a mim que queriam pagar, pois


pensavam (devido as minhas próprias ações ao longo dos
anos, deve-se ser dito) que seria o esperado.

—Espero que esse show extraordinário de generosidade,


— Rainha Aurora continuou, —faça com que você se sinta
bem cuidada, e esperamos que seja um longo tempo, um
grande longo, antes de ficarmos novamente em sua
companhia.

Eles também poderiam estar banhando Noctorno e Circe


com riquezas.

Mas estavam dando-me tais tesouros para se verem


livres de mim.
Para sempre.

A rainha me estudou, e suportei seu escrutínio, mesmo


enquanto eu tentava entender o que estava sentindo naquele
momento.

Eu sabia que tinha a atenção de todos. No entanto,


parecia muito mais aguçada do que seria necessário para
esta tarefa insignificante. A magnitude da oferta foi
surpreendente. Mas o fato de estarem quites comigo com
certeza foi sentida por todos (exceto Noc) como insignificante.

E ainda assim eu sentia que eles estavam todos me


observando de perto.

Não gostei da sensação. Parecia perigoso.

Em uma sala cheia de pessoas que ou não gostavam


muito de mim ou não pensavam muito bem de mim, o perigo
era considerável.

Eu conhecia esse tipo de perigo.

E sabia como teria que jogar quando me visse nele.

Eu precisava recuar imediatamente.

—Minha gratidão, sua graça, — eu disse calmamente. —


Posso pedir o favor de um funcionário para levar estas
generosas doações aos meus aposentos?

—Eu aprecio que você fez este pedido, visto que não
parecia se importar com demandas aos servos, que estavam
correndo por semanas pelo Palácio em preparativo para o
Baile de Gala, sem mencionar os acontecimentos realmente
terríveis e milagrosos que aconteceram ontem, para que eles
atendessem seus caprichos, — Rainha Aurora retornou.

Lutei quando minhas costas endureceram.

Isso não era frio.

Era rancoroso.

Qualquer hóspede neste palácio não hesitaria em fazer o


mesmo.

E pedi vinho, pão, queijo e um fogo aceso. Noc pediu o


maldito whisky.

Oh, eu pedi algo para dormir e um banho preparado


naquela manhã.

Mas isso era tudo.

Ainda não tinha solicitado café da manhã.

—Mas, sim, — Aurora passou a responder a meu


pedido. —Teremos eles entregues imediatamente em
segurança nos seus aposentos. E, posso oferecer ainda mais
os serviços do pessoal do palácio, para ajudá-la a embalar
suas coisas, e colocar os cavalos no seu trenó para que
estejam te esperando na manhã do dia seguinte?

Em outras palavras, saia.

Não lutei contra levantar meu queixo um pouco. —


Sim. Você pode. E eu ficaria muito grata.

—Excelente, — ela murmurou, lançando os olhos para


sua filha (que não era sua filha), de alguma forma
comunicando ao mesmo tempo que estava me expulsando de
sua mente.

Eu deveria sair.

Imediatamente.

Não me curvei ou dei até mesmo uma ligeira reverência,


embora isto fosse uma quebra considerável de protocolo.

Eu fui dispensada.

Portanto, me virei para sair.

—Como eu disse. — Ouvi Frey murmurar.

As palavras de Apollo vieram logo depois. —Sim, Franka


Drakkar nunca faria algo sem recompensas.

Ouvi isso, mas era o que eu estava sentindo vindo de


Noc que me fez olhar para ele.

E a batida voltou, dez vezes mais forte, queimando uma


faixa de dor através de mim quando vi decepção, e uma leve
aversão em seus olhos quando ele me viu caminhar pela sala.

Olhando para ele, eu sabia. Sabia que ele disse a eles do


nosso tempo juntos na noite passada. Ele tinha
provavelmente compartilhado que pensava mais de mim do
que antes.

Sem dúvida, isto foi recebido com incredulidade.

Ou, até mesmo, hilariedade.

E também sabia que ele disse que eu não aceitaria uma


gratificação por ter ajudado a salvar meu universo.

Ou, talvez, não essa quantidade extraordinária.


E sabia só de olhar para ele, olhando para a expressão
cuidadosamente em branco no rosto de Circe, que vi quando
olhei rapidamente para baixo em sua direção, que pode ter
sido oferecido recompensas a eles também.

Mas eles haviam recusado ou, pelo menos, evitado tal


extravagância.

Fizeram o que fizeram sem cuidado e preocupação. Eles


colocaram suas vidas em risco, porque era a coisa certa a
fazer.

Eles fizeram isso porque eram pessoas boas e gentis até


os ossos.

Diferente de mim.

Eu nasci com a alma negra de uma Drakkar e não


importa o quão duro Antoine trabalhou para purificá-la, ela
permaneceria para sempre a meia-noite.

—Como você disse, Noctorno, — Falei com altivez,


olhando diretamente em seus olhos enquanto continuava
caminhando em direção à porta, —não existem tais coisas
como os heróis.

Exceto, pensei, mas não disse, você.

E com isso, afastei meu olhar do dele, mantive minha


cabeça erguida e saí da sala.

***
Valentine

—Ela não é uma boa pessoa, — Lavinia declarou.

—Hmm...— Valentine murmurou, sua atenção voltada


para grande esfera em cima da almofada de veludo verde-
esmeralda, apoiada na mesa em frente a sua companheira
bruxa.

—Posso entender seu encanto, minha amiga, ela é muito


fascinante. Como uma cobra enrolada deitada sob o sol seria
fascinante. Mas chegue muito perto, e a cobra te ataca.

Valentine levou a mão à bola de cristal, torceu o pulso e


passou as unhas vermelho-sangue pelo vidro frio.

A imagem de Franka Drakkar com a cabeça erguida,


saindo do escritório da rainha, sumiu em uma névoa de
fumaça verde.

Ela olhou para Lavinia.

—Há muito mais nessa aí, — afirmou.

—Estou incerta sobre o que você deseja descobrir, —


Lavinia devolveu.

Valentine não estava incerta. —Talvez você se esqueça—


, Valentine disse, —mas a rosa cresce entre espinhos.

—Isso é verdade—, replicou Lavinia, — não tive


quaisquer contatos diretos com a mulher, mas ouvi bastante
coisa a seu respeito. Tanto, que indica não só que Franka
Drakkar é um espinho, mas um particular espinho
mergulhado em veneno.
Valentine estudou a amiga se perguntando se ela não
sentia aquela sensação.

Lavinia estava longe de ser tão poderosa quanto


Valentine.

No entanto, possuía grande poder. Devendo ser capaz de


sentir.

Sentada em frente a Lavínia, sentindo-se confortável em


seu aposento, Valentine perguntou: —Você não sente isso?

—Sim, sinto, — Lavinia respondeu.

Como Valentine pensava.

—Incomum em seu mundo, não? — Perguntou.

—Incomum e ilegal, — Lavinia respondeu rapidamente.

Sim, a partir do que ela aprendeu, de fato era.

Intrigante.

Valentine voltou seu olhar para o cristal enquanto


ronronava, —Hmm ...

—A única razão pela qual gosto desse olhar em seu


rosto, Valentine, é porque sinto que seu interesse em Franka
Drakkar significará que não vai deixar o nosso mundo, como
você planejou fazer, logo depois do casamento de Apollo e
Maddie. Eu gosto da sua companhia. Nos últimos meses,
rezei aos deuses para que os nossos problemas acabassem
sem muita destruição, e dor de cabeça. Mas, com o carinho
que tenho por você, ainda enfrentei o fim desses problemas
com o coração pesado, pois sabia que iria embora, não
havendo mais qualquer razão para você permanecer.
Portanto, mesmo se a razão de você ficar ou voltar aqui, seja
Franka Drakkar, irei aceitar.

Valentine assentiu, tocada além de si mesma com as


palavras de Lavinia.

Ela tinha por hábito não se conectar com meros


mortais. Não que fosse uma deusa, mas também não era uma
mera mortal. Um hábito que havia quebrado, precisamente,
quando começou a brincar de transitar entre os mundos, em
conjunto com as mulheres que trouxera consigo.

—Não, na verdade, acredito que as coisas irão continuar


a ser interessantes neste mundo, — falou erguendo os olhos
para Lavinia. —Um tipo interessante de bom neste momento.

Lavinia balançou a cabeça, um sorriso tocando seus


lábios, e Valentine sabia que se ela não sentisse a mesma
coisa, teria revirado os olhos.

Valentine sentiu os lábios se curvarem com a reação da


amiga, mas seus pensamentos se desviaram.

Muita coisa aconteceu ao longo dos últimos anos neste


universo. Levando uma grande dose de atenção. Portanto,
não foi nenhuma surpresa que as poucas pessoas que ela
conhecia neste mundo, a maioria delas bastante inteligentes,
não tiveram tempo para arranhar sob a superfície de Franka
Drakkar.

A verdade era que Valentine se interessaria por Franka,


mesmo se ela fosse tão vil quanto eles acreditavam ser.
Neste mundo, muito mais do que no seu próprio,
(apesar de ainda existir no seu, irritantemente), uma mulher
tinha muito pouco poder.

Aqui, ela teria que confiar em sua astúcia e inteligência,


sua aparência, sua sexualidade, tudo o que tivesse à sua
disposição, a fim de conseguir meios, com o propósito de
alcançar o que quisesse, exercendo tanto poder quanto
pudesse acumular.

Estas não eram armas fracas num arsenal, não de um


homem, muito menos no de uma mulher.

Por algum motivo que Valentine não entendia, o


órgão que balançava entre as pernas dos homens colocava-os
em vantagem.

Neste mundo, onde as guerras ainda eram travadas com


espadas, arcos e flechas, era compreensível que a força física
fosse valorizada.

Compreensível, mas ainda inaceitável, com o sucesso do


reinado da rainha Aurora atestando isso.

E pelo que Valentine sabia, Franka Drakkar desfrutava


de uma boa vida sem ocupação remunerada, viajando pelas
Terras do Norte, indo de baile em baile em vestidos finos,
causando estragos por esporte enquanto injetava seu veneno,
com objetivo tão verdadeiro que haviam muitos que realmente
a temiam.

Sim, Valentine achava Franka Drakkar muito


interessante.
Ela tinha negócios a tratar, entre outros, necessidades
mais íntimas a serem cumpridas, em casa. Sendo que essas
necessidades ela não havia atendido a um longo tempo.

Precisava voltar a Nova Orleans, cuidar de seus


negócios, então se transportar de volta para o casamento.

Valentine estava com vontade de arranhar um pouco,


cavar abaixo da superfície.

E era o que estava sob a pele de Franka Drakkar que


desejava descobrir.

***

Noc

—Você está pensativo.

—Não estou pensativo.

—Você está totalmente pensativo.

—Quem ainda diz pensativo?

—Eles dizem por aqui.

Noc fez uma careta para Cora.

Princesa Cora, para ser mais exato. Sua irmã gêmea era
o próprio mal, e agora estava morta, vítima dos dramas de
ontem, não sendo uma grande perda.

Seu corpo foi transportado para seus pais em Hawkvale.


Porra transportado.

Aparentemente, eles velariam o corpo.

Mas seriam os únicos.

Jesus, este lugar era uma porra louca.

Um tipo interessante de loucura.

Mas ainda era uma porra louca.

A mulher sentada ao seu lado tinha que seriamente


amar seu marido, para desistir de seu próprio mundo, e viver
no que parecia a Noc como um Festival Renascentista de
cometer loucuras. Um realmente bom. Mas com toda essa
neve lá fora, um muito frio.

Embora Cora lhe disse que em Bellebryn, onde vivia, era


muito mais ao sul, possuía um clima diferente.

—Temos um clima como a Flórida. Invernos frios e


verões quentes, dias ensolarados, — ela disse, em seguida,
lançou-lhe um enorme sorriso. —Sem a umidade, o que faz
com que seja totalmente perfeito.

Noc voltou dessas divagações e continuou a conversa.

—Ela não é aquela mulher—, afirmou, justificando a


razão de estar ―pensativo‖.

O belo rosto de Cora ficou ainda mais bonito quando ela


mostrou sua preocupação abertamente.

—Eu não a conheço, mas pelo que Frey e Apollo


disseram, ela é sim, ela é realmente daquele jeito, —
respondeu. —E Maddie me contou o que Franka lhe disse,
direto na cara, e Noc, não foi nada agradável.

—Mas é um ato, Cora. Tudo um grande show, — ele


disse.

—Talvez sim, mas se for o caso, pelo que ouvi, Franka é


uma excelente atriz.—Ela se inclinou na direção dele na mesa
de jantar. —E Noc, ok, ela ajudou a salvar o mundo. Isso foi
um grande negócio. Mas Frey explicou para você o que foi
dado a ela no escritório da rainha. Esse valor em nosso
mundo está na casa de milhões.— Ela se inclinou ainda
mais. —Talvez até bilhões. Não é brincadeira.

—Ela está entrando na linha, baby—, ele retrucou. —E


talvez precise de dinheiro.

—Talvez as peles, e algumas moedas. — Cora balançou


a cabeça, afastando-se e olhando para seu próprio prato. —
Mas tudo aquilo? — Ela continuou balançando a cabeça,
espetou uma batata com ervas na manteiga, e olhou para
ele. —Franka faz parte de uma casa. Em Lunwyn, eles
cuidam uns dos outros em famílias aristocráticas. Ela tem
um subsídio. E esse subsídio é bem interessante. Você pode
não saber disso, mas suas roupas são de excelente
qualidade. Possui claramente mais de uma empregada, pela
forma como está sempre bem cuidada. Certamente não
estava precisando. E mesmo assim aproveitou disso tudo,
bem, eu não preciso conhecê-la para saber que é gananciosa,
Noc.
—Sou um policial Cora, eu leio as pessoas para viver. E
estou te dizendo, a mulher que entrou naquele escritório hoje
não é a verdadeira Franka.

—Eu sei—, murmurou, levando mais batata a boca. —


Você nos disse tudo o que ela lhe mostrou antes.

Cora comeu suas batatas, Noc olhou para seu próprio


prato espetando uma também, porque este mundo podia ser
louco, mas faziam comida boa. Ele não sabia como essas
batatas eram feitas, mas porra, eram excelentes.

—Talvez ela estivesse, sei lá... brincando com você. —


Cora sugeriu suavemente.

Noc olhou para ela. —Eu não deixo que brinquem


comigo.

—Pelo que ouvi, ela é mestre em brincar.

—Eu não deixo que brinquem comigo—, ele repetiu.

—Ok, então talvez ela seja mais agradável quando está


bêbada, — Cora tentou.

Noc mastigou e engoliu sua batata, em seguida, virou-se


totalmente para linda princesa ao seu lado, sua companhia
para o jantar, como explicou Cora, sendo algo importante a
posição dos lugares na mesa neste mundo.

Louco.

—Há muito mais naquela mulher do que os olhos podem


ver—, afirmou.

Ela virou a cabeça. —Você... Quer dizer, eu pensei... uh,


bem, você sabe, você e Circe parecem... você... você...?
Ele resolveu acabar com seu sofrimento dizendo, —Circe
e eu, isso aconteceu, e ficou para trás. Ela é uma mulher
incrível. Nos manteremos em contato quando voltarmos para
nosso mundo. Mas ela não quer isso e eu também não. Nós
dois sabíamos que seria assim. Sabíamos o que queríamos.
Entendemos isso. Está feito.

—Eu realmente não entendo nada disso, — ela admitiu.

Noc lhe deu um sorriso esperando com isso tirar


qualquer picada de suas próximas palavras. —Não é seu para
entender, Baby. Isso é o que estou tentando lhe dizer.

—Certo—, ela respondeu.

—E honestamente, um tempo diferente, um mundo


diferente, eu escolheria Franka—, ele olhou para o
fenomenal, espesso, brilhante, cabelo castanho escuro de
Cora, olhou de volta para ela e piscou. —Ela é o meu tipo.

E ela era.

Ele teve encontros com loiras, e Circe era uma loira.

Mas ele sabia que no final escolheria uma morena.

Cora tinha um lindo cabelo, mas o de Franka era ainda


mais grosso, e brilhante de um rico e profundo marrom.

Para não mencionar que os olhos da mulher eram


extremamente incríveis. De um azul profundo. Muito lindos.

Ela também tinha um belo pescoço.

Não, não bonito.

Fino.
Delicado.

Elegante.

Mas foi sua boca que o atraiu. Possuía lábios que um


cirurgião plástico usaria de modelo para criar um milhão de
conjuntos diferentes. Rosado. Cheios. Eles pareciam suaves,
mesmo macios.

Noc teve que admitir que seria uma merda deixar este
mundo, e não ser capaz de colocar sua boca naqueles lábios.

Mas ele não iria beijá-la.

Não estava prestes a entrar em algo profundo com uma


mulher deste mundo e sabia; pelo jeito que ela o olhou, a
maneira como ela era antes e depois de terem bebido na noite
passada, ela de fato o atraía.

Mas ele já fez isso e teve sua bunda chutada em uma


variedade de maneiras, incluindo ser transportado para um
universo paralelo, cair em uma ilha remota, a fim de acabar
com três bruxas que queriam dominar o mundo, e não teriam
hesitado em acenar suas varinhas ou estalar seus dedos (ou
o que quer que as bruxas fizessem) e se livrar dele fácil como
soprar um fósforo.

Ele não seguiria por esse caminho com Franka.

Era por isso que sabia que todos estavam errados sobre
ela.

Não foi ela brincando com ele. Nem ficando bêbada.

Ela amava o homem que foi morto por essas bruxas, o


amava profundamente.
A mulher que todos descreveram não possuía
sentimentos profundos, exceto por si mesma.

Mas a dor por trás daqueles olhos azuis, ela poderia


tentar escondê-la, mas era tão imensa, que seria impossível.

O fato era, Noc não entendia porque ele se importava


tanto com o que os outros pensavam.

Falavam sobre o quanto estavam dando a ela, dos


tesouros exagerados. Queriam se ver livre para sempre e
zombavam dela tê-lo aceitado.

Ele falou que Franka não aceitaria, e pela forma como


discordaram não foi para zombar dele, só acreditavam
possuir absoluta certeza.

Então ela aceitou.

Noc não era aquele cara que sempre tinha que estar
certo, ele só passou algumas horas com a mulher.

Mas sentiu como se ela tivesse pessoalmente lhe dado


uma bofetada, quando aceitou todo o tesouro da rainha
Aurora. Tinha certeza, e compartilhou isso com Frey e Apollo,
depois do tempo que passaram bebendo whisky, quando ela
admitiu como se sentia culpada pelo que fez para trair seu
país, que ela recusaria.

Ele não se sentia como o idiota que perdeu uma


aposta. Aquele idiota que estava na posição de dar o golpe do
eu te disse.

Ele se sentiu traído por ela não ser quem ele sabia que
era, por fazer o que tinha certeza que Franka não faria.
Tudo isso significava que ela provavelmente estaria indo
embora amanhã.

Primeiro, Franka precisava se afastar de pessoas que


não gostavam dela, e não se importavam nem um pouco de
compartilhar isso. Ninguém precisava disso.

E em segundo, Noc precisava mantê-la longe.

Iria para o casamento de Apollo e Maddie.

Depois disso, iria velejar com Frey e Finnie enquanto


levavam Cora e Tor de volta a Bellebryn.

Quando eles ofereceram suas próprias caixas de joias e


ouro, ele trocou por isso. Poucos meses neste mundo, para
observar, ver tanto dele quanto podia.

Antes de vir para cá, discutiu sua participação com


Valentine, e pediu licença no trabalho.

Valentine também lhe prometeu encontrar uma posição


em Nova Orleans e ele queria muito isso. Uma grande
aventura, onde não precisava se preocupar com relatórios
para o serviço, ou todos os casos que deixou em aberto, nada.

Em seguida, um lugar novo, trabalho novo, um novo


começo.

E a boa notícia era, Circe estaria lá porque vivia em


Nova Orleans, então ele teria alguém com quem sair.

Valentine vivia lá também, mas Noc não via aquela


mulher saindo com ninguém. Embora suspeitasse que se
encontrasse um lugar que fizesse bons martinis, ela poderia
passar para tomar alguns drinks com ele.
Rainha Aurora (e Frey, e quando Noc ainda se
manteve recusando, a fodona, Cora) tinham insistido que ele
aceitasse um pequeno saco desses diamantes de gelo, e um
pequeno baú de ouro. Com sua aventura neste lugar louco,
era tudo que precisava. Um pouco além do que ele precisava
(Circe aceitou mais, mas ela tinha uma vida seriamente
fodida, estava trabalhando em Nova Orleans como gerente de
escritório de uma empresa de reboque, e depois de tudo que
passou, merecia alguns mimos e meios para estragar-se).

Era o que queria, e iria fazer, seria esse seu próximo


passo.

A linda, mas de luto, Franka Drakkar com a boca bonita


não contava.

—Então ela é o seu tipo, — Cora disse, levando-o


de volta para a conversa: —Mas você não vai atrás dela.

Noc sacudiu a cabeça. —Ela é daqui, e eu sou de lá. E


estou indo para casa. Não é nem mesmo sobre isso, Baby. Tor
tem você de volta. Frey conseguiu recuperar Finnie. Não vou
continuar porque você estava lá, e sabe. Franka não
encontrou seu homem de volta.

—Não diga isso na frente de Apollo, — ela


sussurrou. —Maddie ao sugerir isso o deixou irritado. Ele
pensa que Franka é incapaz de sentir qualquer emoção,
muito menos amor.

—Os quatro casais não são os únicos que


conhecem o amor, Cora, — ele retrucou. —Não quero parecer
idiota, mas as coisas são assim. Franka pode ser uma pedra
fria por fora, Baby, mas por dentro está gravemente ferida.
Ela é capaz de sentir emoções, assim como eu e você somos,
e se estou dizendo isso é porque vi.

O que ele não compartilhou era que Franka Drakkar


podia sentir muito mais, com a dor que viu em seus olhos, a
culpa que parecia pesar visivelmente nela com o que fez.

Ela apenas, por algum motivo, não se permitia mostrar,


talvez até mesmo sentir totalmente isso.

Essa razão era um mistério e Noc era um


policial. Policiais eram excelentes em mistérios. Em resolvê-
los, na verdade.

Porra.

Outra razão para ficar longe de Franka Drakkar.

Cora assentiu. —Eu acho que sua percepção dela está


correta, pelo menos da maneira como ela age com você, por
alguma razão ela lhe mostrou essa Franka em particular. O
que me preocupa, querido, é que isso parece significar muito
para você.

Isso era o que lhe preocupava também.

—Franka estava com dor, me mostrou isso, e me


deu seu tempo, — tentou explicar. —Amanhã, ela terá ido
embora e, eventualmente, será apenas mais uma memória
deste lugar. Mas passar horas com uma mulher bebendo
whisky, ver seu rosto iluminar-se, a dor que estava tentando
esconder sumir, quando ela viu pela primeira vez um
telefone. Vamos apenas dizer que será uma memória que não
irei esquecer.

—Eu aposto que sim—, Cora respondeu, a preocupação


deixando sua expressão, e ser substituída por compreensão.

Noc agarrou a faca e começou a cortar o macio, úmido,


perfeitamente cozido bife em seu prato.

Cora mudou de assunto.

—Eu não posso esperar para te mostrar o meu


mundo, Noc. É incrível. Você vai amá-lo.

Olhou para ela, mastigando com a boca cheia de carne e


sorrindo disse: —Não posso esperar também, Baby.

Seu rosto iluminou-se.

E ao vê-lo, Noc sabia que seria uma outra memória que


não se esqueceria, iria levá-la para casa deste mundo louco.

E lá estava.

Estavam tendo o jantar e Franka não foi convidada.

Amanhã de manhã, ela estaria partindo.

Então seria uma lembrança deste mundo.

Uma misteriosa.

Uma triste.

Mas apenas uma memória.

E Noc teria que viver com isso.

O que não iria admitir era que não gostava de fazê-lo.


Suportar

Franka
Sentei-me encolhida em uma poltrona ao lado da lareira
no meu quarto vestindo minha camisola de seda, meu xale de
lã com laço segurando firme em torno dos meus ombros
descobertos, olhando para o fogo, pensando que a casa de
Kristian era um passeio de trenó de oito dias a partir
Fyngaard, onde o Palácio de Inverno estava localizado.

Um longo, passeio frio para mim e Josette, mas tanto


quanto eu queria chegar ao meu irmão, eu iria saboreá-la,
pois provavelmente essa seria a última vez que passaria de
trenó sobre a minha Lunwyn.

Ao longo de um dia solitário e um jantar solitário, eu


tomei a minha decisão.

Eu iria para Airen, através do Mar Verde. Eu ouvi falar


que a cidade do céu era maravilhosa. Escura e austera, mas
dava para uma baía com uma vista deslumbrante, e a
Cidadela do Céu foi feita de pedra negra brilhante que só
poderia ser encontrada nesse continente, mas ouvi falar que
era extraordinário.

E ouvi que Firenze mal deu seus primeiros passos para


o mundo civilizado, mas sua cidade de fogo, e os bárbaros
que viviam ali, poderiam ser do meu gosto, se apenas visse
um (ou vários).

Para não mencionar, havia a irmandade mágica do


Nadirii, que viviam envoltos por encantamentos, uma classe
de mulheres guerreiras que viviam unicamente entre elas
mesmas, usando os machos apenas para fins de procriação...
e prazer.

Eu não era guerreira. Mas tinha outros atributos e não


havia necessidade de companhia masculina. Não mais. Eu
nunca fui boa em ser um membro da irmandade. Mas
enfrentando uma nova vida e novas aventuras, valia a pena
tentar. Talvez, eles me permitam ficar por trás dos seus
encantamentos.

Portanto, mesmo se eu não pudesse falar para Kristian


ir comigo, eu estava indo.

E talvez eu pudesse encontrar uma maneira de aliviar a


dor através de aventura.

Antes de eu sair, no entanto, eu daria a meu irmão uma


abundância de joias e moedas para deixá-lo seguro. Ele
amava sua esposa, seu filho. Ele pode não ser tão perspicaz
como a maioria dos Drakkars (uma benção para Kristian,
pois sem essa inteligência afiada ele também não têm garras
afiadas, e isso era algo como uma suave anomalia para a
nossa Casa − nada disso, é claro, eu já disse a ele, nem
nunca diria), mas ele definitivamente precisa ter os meios
para manter a segurança de sua família.

Eu enviei um pássaro para compartilhar que estava


chegando para que ele soubesse e pudesse se preparar.

Eu só esperava que o pássaro fizesse isso.

Eu não gostava de me comunicar pelo


pássaro. Obviamente levava muito menos tempo para fazê-lo
do que o envio de mensagens por terra ou por mar. Mas, era
fácil de interceptar um pássaro, ou outras coisas se abatiam
sobre as criaturas, e metade das vezes eles não chegavam ao
seu destino.

E, infelizmente, para Kristian, depois do que lhe


aconteceu quando ele me ajudou com meus planos traidores,
minha chegada não seria uma surpresa agradável.

Por isso decidi enviar um outro pássaro antes da minha


partida na parte da manhã, apenas no caso.

A porta do meu camarim se abriu e Josette entrou por


ela.

—Tudo está embalado e pronto para a nossa partida na


manhã, milady, — disse ela, movendo-se em direção a mim.

—Obrigado, Josette, — respondi.

Ela parou vários passos na minha frente. —Existe


alguma coisa que você precisa?

Balancei a cabeça, virando minha atenção de volta para


o fogo. —Não. Você pode ir para sua cama.
Para minha surpresa, momentos passaram e não senti a
sua presença partindo.

Voltei-me para ela.

—Tem mais? — Perguntei.

—Ele está sozinho, de volta na sala do café.

Eu sabia a quem ela estava se referindo e com o


pensamento senti um calor atingir minha barriga ao mesmo
tempo que um calafrio passou sobre minha pele.

—Eu acho que... bem, milady, — continuou ela,


nervosa, —Acho que ele pode estar lá esperando por você.

Fornecer a Josette um salário elevado não era só porque


ela era muito boa em fazer o que fazia. Também não pelo fato
de que ela fazia o trabalho de três criadas. Era porque
ninguém sabia o que estava acontecendo em uma casa
melhor do que os criados.

Durante anos, Josette foi meus olhos e ouvidos em


lugares que nunca estaria a par, fornecendo informações que
eu nunca teria sem ela, muito disso de grande utilidade.

Ela não era a única empregada de senhora que oferecia


esses serviços. Na verdade, eu suspeitava que todas
ofereciam se fossem mesmo boas em seus trabalhos.

Mas ela fazia questão de averiguar tudo o que eu


precisaria saber (e alguns que eu precisava, mas não doeria
me assegurar o conhecimento) e compartilhá-lo comigo.

Sim, ela ganhava seu salário elevado em uma série de


maneiras.
Portanto, não foi surpresa que, apesar de eu não
compartilhar com a minha empregada que encontrei com Noc
na noite anterior, ela saberia.

No entanto, agora, enquanto olhava para ela, não vi o


habitual. Uma menina pequena, bonita, gorda, cabelo loiro
quase branco, olhos castanhos olhando para mim e
aguardando a minha resposta, porque ela estava fazendo seu
trabalho.

Vi uma menina bonita com bondade e preocupação em


seus olhos cor de avelã, olhando para mim, sabendo tudo o
que perdi e que eu não tinha um único amigo verdadeiro no
mundo.

Aquele olhar só me fez sentir calor.

Toque em sua mão, mon ange, mostre-lhe o que sua


compaixão significa para você.

A voz de Antoine soando na minha cabeça me fez piscar


e perder o foco.

—Lady Franka, — Josette chamou, e forcei minha


atenção de esperar ouvir mais na minha cabeça, do meu
amante morto, para minha empregada. —Estarei feliz em
ajudá-la de volta para o seu vestido.

Noc sentado sozinho na sala de café poderia dizer muito


bem que estava esperando por mim. Que gostou do nosso
tempo juntos (o que eu sabia que ele gostou). Que ele queria
mais antes de eu sair.
Ou talvez isso significasse que ele queria uma explicação
do que aconteceu mais cedo no escritório da rainha.

De qualquer maneira (especialmente o último), eu não


irei até ele.

Seria melhor que ele deixasse este mundo quando


finalmente tivesse apenas uma memória de Franka Drakkar,
da alma da meia-noite.

Era melhor que ninguém fosse tocado por esse espírito


enegrecido.

Agora eu só estou sentindo pena de mim mesma, o que é


terrível, bem como chato, pensei.

O que eu disse a Josette foi: —Nós temos uma longa


viagem pela frente no dia seguinte. Devemos ambas ter um
boa noite de descanso.

Ela parecia desapontada antes que mascarasse sua


expressão e assentisse.

—Você gostaria de alguma outra coisa para dormir? —


Ela perguntou.

Eu não precisava dormir doze horas novamente (embora


eu realmente quisesse). Eu precisava estar acordada, pois
instruí Josette a me acordar às cinco e meia para que
pudéssemos cuidar da minha toilette e estar partindo antes
do palácio acordar e tornar-se agitado. Isto significaria (eu
esperava) que estaríamos longe sem esbarrar em alguém que
eu não quisesse ver.
E um desses "alguéns" principais era Noctorno
Hawthorne do outro mundo.

Portanto, balancei a cabeça.

Josette assentiu novamente e ela parecia estar se


movendo para sair antes que hesitasse e voltasse para mim.

—Você vai dormir? — Ela pressionou.

Eu a estudei, notando que ela não conseguia esconder


seus sentimentos de preocupação... por mim.

Assim continuei estudando-a, pensando, Deuses, ela


realmente gosta de mim?

Nunca fui cruel com ela. Nunca fui extremamente


bondosa. Respeitava o seu talento, demonstrando em mais
maneiras do que monetariamente, mas nunca disse isso a
ela.

Talvez fosse apenas a maneira dela. Eu não saberia, por


fora de sua partilha de fofocas enquanto estava me
arrumando ou fazendo o meu cabelo, ou eu estava dando
suas ordens, nós não falávamos muito. Mas havia muitos,
por motivos insondáveis, que eram atenciosos e benevolentes
com apenas qualquer um.

Parecia que minha empregada era um dos muitos.

Eu não sabia o que fazer com isso. Fora Antoine − e


Kristian quando eu lhe permitia fazer assim − ninguém
nunca mostrou preocupação por mim.

Ou bondade.

Não na minha vida.


—Sim, Josette, eu vou dormir, — me senti segura
assegurando-lhe.

Para minha surpresa, neste momento suportei a minha


criada me estudando, aparentemente para determinar se falei
a verdade, antes que se tornasse claro que ela aprovava o que
via. Quando ela fez, balançou a cabeça novamente e fez o seu
movimento para sair, desta vez através do seguinte.

—Boa noite, Lady Franka, — ela disse enquanto


caminhava até a porta do aposento.

—Boa noite, Josette, — respondi e a observei abrir a


porta, se mover através dela, e me dar um último olhar,
muito antes de fechar atrás dela.

No instante em que ouvi clique, voltei-me para o fogo e


sussurrei: —Antoine, você está aí?

Esperei. Escutei.

Não ouvi nada. Não senti nada.

Estudei as chamas dançando na sua grade e veio para


minha compreensão que Antoine não estava vindo para mim
como um espírito para me fazer companhia da única maneira
que podia.

Era apenas a minha consciência.

Deuses, minha consciência veio até mim na voz de


Antoine.

Eu supunha que seria assim considerando que eu


nunca tive uma antes dele.
Suspirei e desenrolei minhas pernas debaixo de mim,
colocando meus pés descalços nos tapetes grossos do chão.

O dia seguinte proclamava o início de uma viagem de


oito dias para o meu irmão através do frio e da neve.

Embora pudesse ser, depois de ter uma boa noite de


sono na noite anterior, tendo recebido baús de ouro e joias,
novos troncos cheios com as melhores peles, a riqueza da
segurança fornecida a mim, um plano para os próximos dias,
meses, anos, que eu fosse dormir, não contava com isso.

Então, poderia muito bem começar com isso.

Se isso trouxer a vitória...

Ou o que eu me tornei acostumada.

Derrota.

***

Atenda a seu pai.

O assobio soou no meu ouvido e meus olhos se abriram.

Eu não vi nada, mas um quarto escuro cortado apenas


pela dança fraca de luz do fogo da lareira.

Atenda a seu pai!

Ah não.

Deuses não.
Atirei-me sentada e joguei as cobertas de cima de mim,
o meu olhar correndo pela sala.

Ela não viria para o Palácio de Inverno. Ela nunca


mais viria para o Palácio de Inverno.

Mas ele viria.

Ele certamente viria.

Ele fez tudo o que desejava.

E ela fez tudo o que tinha que fazer para isso.

Assim, pior, ela faria o que era seguro para ele.

A adega no final do corredor fora das cozinhas, a voz


instruiu.

Senti a serpente do pânico e do medo enrolar minha


garganta, mas nem sequer desperdicei o tempo para
arrebatar meu xale do final da cama depois que pulei fora
dela e corri para a porta.

Eu só pedi para a sala, —Você tem ele?

Estou perto.

Oh deuses. Deus.

Nunca é seguro. Mesmo com troncos de joias e ouro eu


nunca estaria segura.

E pior, nem estaria Kristian.

—Eu vou para ele diretamente. Deixe Kristian em paz, —


exigi enquanto colocava a minha mão para a maçaneta da
porta.
Aceite a sua punição, suporte o comprimento da mesma, e
seu irmão estará seguro, a voz respondeu.

Pelo que eu sabia que estava por vir, senti saliva encher
a minha boca e engoli-a para baixo enquanto abria a porta.

O salão estava iluminado com lanternas de arandela nas


paredes, mas fracamente. Hesitando apenas um segundo,
tomei a decisão de procurar a escada de serviço, uma rota
mais direta e uma onde eu tinha certeza de não esbarrar em
um dos meu tipo. Eu não tinha ideia de onde aquelas
escadas eram, mas movi-me instintivamente para longe da
escadaria principal para o fundo da sala.

Encontrei-os e corri quase voando. A luz ainda mais


fraca lá, mantive o corrimão para guiar o meu caminho, meus
pés descalços sem fazer barulho nos degraus.

Cheguei às cozinhas, deslocando através da área deserta


mal iluminada nos pés dardejantes, sendo esta uma área que
foi familiar durante o meu primeiro interrogatório com Frey,
depois que uma mulher foi envenenada num Baile de Gala
passado.

Encontrei a porta no final do corredor fechada. Mesmo


sabendo o que havia além, não hesitei nem um segundo em
abrir.

Esta sala estava iluminada brilhantemente, cegando-me


no instante em que entrei.

Eu lutava para me acostumar com a luz enquanto


rapidamente fechava a porta atrás de mim.
Muito cedo, meus olhos se ajustaram e eu o vi. Parado
alto e forte entre os cascos e as prateleiras de garrafas, a boa
aparência Drakkar estampada em seus traços orgulhosos,
mesmo com a idade.

—Papa—, sussurrei, lutando contra o arrepio que vê-lo


causou sobre a minha pele.

Fazia anos.

Mas eu nunca estava segura. Eu sabia que nunca


estava segura. Não em Lunwyn.

Sua magia não alcançava Fleuridia. E assim eu contava


com o fato de que ele definitivamente não atingiria os reinos
através do Mar Verde.

Mas, em Lunwyn, eu sabia, sabia que eu nunca estaria


segura.

—Você e seu irmão se comportaram muito mal, Franka,


— meu pai declarou.

—Eu...— Comecei a explicar.

—Silêncio! — Ele gritou, inclinando-se para mim, e tão


acostumada a isso como eu estava, o ataque verbal de sua
palavra alta ainda fez o meu corpo guinar em surpresa e
medo.

Foi então que vi o chicote enrolado em seu aperto.

Eu não dei um passo atrás. Eu nunca dei. A fraqueza


não era tolerada. Eu aprendi. Eu aprendi que se mostrasse
fraqueza, Kristian receberia o castigo e seria duas vezes pior.
Ele não podia suportá-lo. Nós tínhamos descoberto isso,
quando éramos crianças, de uma forma tão hedionda, que eu
enterrei tão profundamente que não conseguia sequer
lembrar dos sentimentos que causava.

Mas nós aprendemos.

Kristian quebrou. Ele fez isso com facilidade.

Coração mole. Vontade fraca.

Assim eu tive que suportar. Cada um dos golpes. Se eu


quebrasse, eles se voltariam para Kristian e não parariam
até que o sangue fluísse em correntes para baixo de suas
pernas enquanto ele era pendurado inconsciente, recebendo
seu castigo por meio do esquecimento.

—O que você fez para a nossa casa, Franka? —


Perguntou meu pai, mas não me permitiu responder. Ele
continuou, —A poderosa Casa de Drakkar poderia ter sido
trazida para baixo por nada, e seria se esta geração não visse
o ressurgimento do Frey dentro do Drakkar.

Como ele ouviu?

—Por favor, papai, se você permitir que eu...— comecei.

—Não há nenhuma explicação para a traição, — ele


mordeu fora.

Deuses! Como tinha ouvido?

—Papa, se você me deixar compartilhar. Ajudei Frey e os


outros com...—

—Você, — ele me interrompeu, —pelo menos é uma


Drakkar. Cabeça dura. Língua afiada. Eu posso imaginar que
você tem uma razão para o que fez, embora eu não dê a
mínima para o que era. Seu irmão, no entanto, não tinha
razão. Nenhuma mesmo. Exceto para fazer o que lhe
disse. Sempre cuidando de você, como um filhote de cachorro
sem cérebro. É revoltante, — cuspiu a sua última fala, a
expressão torcendo sua face compartilhando o quão
revoltante ele pensou que seu filho era. —Eu queria puni-
lo. Sua mãe, no entanto, ela tem um fraquinho por aquele
rapaz. Então, estou aqui.

Estava incerta que minha mãe tivesse algo suave


nela. Em minha opinião, era menos seu carinho por Kristian
e mais o prazer que ela tinha de infligir dor em mim.

—O gancho está pronto, Franka. Prepare e faça o seu


caminho até ele, — ordenou.

Lancei um olhar para a direita e para cima, vendo que o


gancho estava realmente pronto como, em tempos como
estes, sempre estava.

Mas eu não me preparei e passei para ele.

Olhei de volta para o meu pai.

—Eu sofro, ela o deixa em paz, — afirmei.

Esse era o arranjo. Sempre foi o arranjo. E eles nunca


renegaram.

Mas havia uma razão pela qual eu carregava uma alma


da meia-noite, pelo mal contido em ambos os meus pais
deixando suas almas em cinzas anos atrás. Não era uma
surpresa que eu herdei a escuridão.
—Você cometeu traição, filha, — meu pai me lembrou.

—Eu sofro, ela o deixa em paz, — repeti.

O pânico ameaçou paralisar-me quando vi a onda de


desprezo cruel em sua boca, a luz de emoção em seus olhos,
a mesma rapidamente tingindo de rosa suas bochechas.

Ele gostava disso. Aprendi isso também. No passado,


não precisava nem mesmo ser uma transgressão para
Kristian ou eu ganhar um castigo. Não, nosso pai
simplesmente tinha que estar de bom humor.

E, para nossa desgraça, ele estava de bom humor


muitas vezes.

—Você perdura, minha filha, ela o deixa em paz, — ele


concordou.

Mas eu sabia disso por sua expressão. Eu sabia que a


minha transgressão, de Kristian, ganhou uma punição que
mesmo eu poderia não ser capaz de sobreviver.

Independentemente disso, assenti. Com as pernas


trêmulas concentrei todos os esforços em manter-me de pé,
me movi para o gancho.

Eu tinha doze anos quando parei de atar meus pulsos e


me pendurar no gancho. A partir desse ponto, era parte do
castigo manter meus dedos curvados ao redor, me segurando,
e não cair.

Nunca cair.

E hoje à noite, eu definitivamente não poderia cair.


Quando cheguei abaixo do gancho, virei as costas para o
meu pai e puxei as tiras finas de minha camisola de seda
para baixo dos meus ombros e braços. Senti o material
deslizar para baixo da minha pele e alcançar meus quadris.

Nua em cima, puxei uma respiração profunda, fechei os


olhos com força, em seguida, cerrei meus dentes.

Abri os olhos, levantei as mãos e enrolei os dedos ao


redor do aço frio do gancho.

—Eu começo, meu doce. — Ouvi meu pai dizer e sabia


que ele estava se comunicando com minha mãe. Uma mãe
que não estava lá, mas poderia estar em um piscar se não
houvesse encantamentos que protegessem o Palácio de
Inverno.

Não, ela estava perto de Kristian, pronta para concluir a


punição se eu caísse.

Com esse pensamento, meus dedos agarraram o gancho


mais apertado.

Ele não tardou em fazer como disse que faria.

A primeira chicotada eu mal senti. Anos disto, o tecido


da cicatriz era profundo.

Ele iria ficar lá, embora. Sempre ficava.

Não, naquele momento era o chicote assobiando através


do ar, o crack, o sussurro sinistro, uma vez que serpenteava
contra a minha carne, que poderia desvendar minha mente.

A fim de lutar contra isso, pensei em Antoine. O sorriso


dele. O som de sua risada. A mudança em seus olhos quando
eu dava sequer uma polegada de carne para ele. O toque de
seus dedos enquanto flutuavam sobre a minha pele.

Outra chicotada veio e mantive a preensão destes


pensamentos.

Em seguida, outra. E mais.

Mas fechei os olhos e só vi Antoine. Senti apenas o toque


de Antoine.

Até o primeiro filete de sangue deslizar sobre a parte


superior do meu quadril para mergulhar na seda da minha
camisola.

Então, de repente, vi Noc e a fúria em seu rosto quando


ele disse que nem sequer piscaria em se virar traidor para
salvar a mulher que amava.

O próximo chicote veio, e no próximo, a dor


intensificando a cada golpe, mas me concentrei em Noc e sua
ferocidade, mais focada em algo estranho para mim.

Esperança.

Neste caso, era a esperança de que ele encontrasse uma


mulher que poderia amar muito, mas muito mais, uma
mulher digna desse tipo de amor.

Eu mantive esse foco até o próximo chicote.

E no próximo.

Ele continuou e eu não conseguia mais pensar em


Noc. Ou Antoine. Ou nada, mas mantendo as minhas mãos
enroladas em torno desse gancho, tentando bloquear o suor
do esforço que mesclava com o sangue escorrendo pelo meu
corpo. A tentativa de forçar a minha respiração ofegante rasa
em respirações profundas para conter a dor. Piscando
rapidamente enquanto aguaceiros maçantes explodiam atrás
dos meus olhos ameaçando me cegar, me levando a um
esquecimento feliz, indolor.

Não havia nada disso para mim. Não Franka


Drakkar. Eu nasci para a agonia e, como sempre,
simplesmente tinha de suportar.

Mais cílios e eu temia não poder resistir. Era pior do que


nunca. Muito pior. Como minha transgressão foi.

Minhas mãos estavam mais do que úmidas, estavam


escorregando no gancho e eu estava apavorada de perder o
agarre.

Eu não poderia largar isso.

Minha mãe estava perto de Kristian. Ela poderia estar


com ele em segundos.

Ele nunca iria suportar.

Outra chicotada e pela primeira vez eu gritei quando ele


bateu, rasgando a minha carne, sentindo como escorria em
toda a minha espinha.

Quando estava acabado, meu corpo aquecido de repente


congelou mais com medo de que eu tinha perdido a
consciência quando ouvi a impossibilidade de um suspiro
feminino chocado e logo em seguida um enfurecido, —Puta
que pariu. Que porra?

A voz de Noc.
Ele não podia estar aqui. Eu tinha que ter apagado.

—Quem é você? — Perguntou meu pai.

—Consiga Frey. — A voz de Noc ordenou.

—Você não fará tal coisa! — Meu pai retrucou, sua voz
profunda não espantada, mas irritada.

—Porra obtenha Frey! — Noc exigiu.

—Você irá obedecer seus superiores, — meu pai


assobiou.

Um momento de nada antes, —Por


Deus... consiga... Frey.

A dor dirigia profundo enquanto eu por acaso olhava por


cima do ombro e vi Josette desaparecer da porta.

Eu também vi Noc, fúria esculpida em suas belas


feições, movendo-se para mim.

Como ele estava lá?

Por que estava lá?

A dor manteve-se, eu não poderia ter escorregado no


esquecimento.

Assim, ele estava realmente lá.

—Saiba o seu lugar! — Meu pai comandou um quase


grito diante. —Retire-se desta sala neste instante!

Noc não se afastou da sala. Ele chegou à minha frente,


seus olhos segurando os meus.
Sua voz veio como um choque, precisamente a gentileza
que rolando através dele desmentia o olhar de ira sentado no
fundo dos seus olhos. —Deixe de lado o gancho, baby.

—Isto é inaceitável, um servo se intrometendo em


assuntos particulares dos membros da mais poderosa Casa
em Lunwyn! — Meu pai decretou alto.

—Frannie, querida, — Noc sussurrou, ignorando Papa, e


senti o seu leve toque de mão na minha cintura, — solte o
gancho.

—Intolerável! — Meu pai mordeu fora. —Franka, é este


doméstico seu amante? — Perguntou ele.

—Não, — respondi a meu pai com voz rouca. —Você


deve ir, Noc, — sussurrei para Noc, não querendo sussurrar,
mas eu não tinha a força para mais nada. —Por favor. Você
deve ir. Será pior se ele não conseguir terminar. Eu preciso
para completar a minha punição.

Um surto de raiva brilhou em seus olhos, mas ele


simplesmente repetiu, —deixe de lado o gancho. Segure em
mim.

—Eu preciso suportar ou eles vão se virar para Kristian,


— eu disse a ele.

—Por favor, baby, deixe ir. Eu tenho você, — respondeu


Noc.

—Para trás, — meu pai ordenou.

—Você deve ir, — continuei.

—Prometo, Franka, eu tenho você, — disse Noc.


—Para trás! — Meu pai ordenou, sua voz não mais
ofendida e irritada.

Não, era muito pior.

No aviso do mesmo, puro terror correu através de mim,


quase paralisante.

—Você deve ir, — declarei. —Agora ou ele vai...

Quando falei o meu último, meu pai trovejou: —Para


trás!

Mas, através de seu trovão, ouvi o assobio do chicote.

Eu sabia que ele tinha se reposicionado e sabia qual o


seu objetivo.

Não era eu.

Portanto, eu fiz o que fiz em seguida automaticamente,


sem pensar. Fiz algo que nunca fiz. Não desde que eu era
jovem. Não desde que aprendi quão vil que era, o que eu
tinha em mim, que minha mãe me deu, o que fez um grande
esforço para se esconder, usando intriga e tormento como
armas não só como era esperado de um Drakkar, não só
como uma forma de manter os outros à distância para que
não fosse tocada pela escuridão da minha alma, mas como
uma maneira de esconder o verdadeiro poder que eu tinha.

Eu deixei de lado o gancho e torci. Incapaz de enterrar o


meu grito de dor quando o fogo do movimento rasgou minhas
costas, levantei a mão e levei-a esticada e alto, o brilho de
safira irrompendo, a ponta do chicote do meu pai irrompendo
contra ele, enviando-o de volta onde rasgou a pele do seu
rosto.

Ele caiu para trás de surpresa e dor, com os pés saindo


de debaixo dele, caindo de bunda no chão.

Isso não significaria coisas boas para mim.

Mas pelo menos ele não tinha acertado o chicote em


Noc.

—Puta merda, — Noc sussurrou.

Voltei-me para Noc com urgência.

—Você deve ir. Eu cometi um erro. Kristian cometeu um


erro. Eu devo suportar ou eles vão voltar sua atenção para
Kristian e ele não vai suportar, Noc. Ele não vai. E devo
protegê-lo.

—Franka, quem diabos é esse cara? — Perguntou Noc.

Seu olhar de choque mal penetrou quando respondi: —


Meu pai. E devo completar a punição. Devo...

—Baby, esta merda é louca. — Ele começou a


desabotoar a camisa. —Vamos levá-la coberta. Frey pode
lidar com ele. Vamos ver se este lugar tem um dou...

Eu ouvi meu pai se levantar, senti sua fúria provocando


o ar, e eu imediatamente levantei as mãos para o gancho,
enrolando meus dedos ao redor.

—Eu vou suportar, — anunciei para Papa. —Não


machuque Noc. Eu não cairei. Diga a ela. Diga a ela que eu
ainda estou de pé.
A mão de Noc voltou para minha cintura e se enrolou
nela. —Baby...

Olhei em seus olhos. —Ele vai quebrar. Kristian vai


quebrar. Eu devo...

—Ela usou sua magia, Anneka, — meu pai disse atrás


de mim e o terror tomou conta de mim, porque eu sabia que
ele estava compartilhando isso com a minha mãe.

—Não! — Exclamei. —Recomece! Eu não cairei!

—Vá para o menino, — meu pai ordenou.

Deuses!

Kristian!

—Não! — Gritei.

—Que diabos? — A voz de Frey veio da direção da porta.

Eu deixei de lado o gancho e virei-me para o meu primo.

Levantando os braços cruzados na minha frente para


cobrir meus seios à mostra, eu suplicava: —Você deve pará-
la! Você deve comandar os elfos! Você deve trazer a bruxa
verde! Ela vai para Kristian. Ele vai quebrar. A bruxa verde
deve ir lá e impedi-la.

O rosto de Frey era um quadro de descrença e de


angústia enquanto ele estava na porta olhando para mim,
Josette encolhida atrás dele.

—Explique o que está acontecendo—, ele mordeu com


força.

—Precisamos de um médico, Frey, — Noc afirmou.


—Ela cometeu traição e também o irmão. Por isso, ela
está sendo punida, — explicou o Papa.

Frey virou-se para meu pai.

—E esse castigo viria do comando de sua rainha se sua


filha não se movesse para fazer as pazes—, Frey cortou, se
inclinando pela cintura e ordenando a Josette, —chame
Valentine. E encontre um maldito médico.

Josette assentiu ao mesmo tempo, ela se virou e


desapareceu de vista.

Corri através do quarto para o meu primo, enrolando a


mão em sua camisola ao peito e implorei: —Você deve ir. Você
deve levar Noc. Se eu suportar o que ele deseja sem cair, eles
vão deixar Kristian sozinho.

Eu estava muito no fundo do meu estado para notar


meu primo pela primeira vez em nossas vidas me tratando
com delicadeza.

—E há quanto tempo isso foi o combinado, Franka?

Eu simplesmente respondi implorando.

—Por favor, Frey, deixe-o terminar.

Frey olhou nos meus olhos, mas um momento antes o


seu passou por cima da minha cabeça.

—Cubra-a, Noc, e leve-a daqui.

—Não! — Exclamei quando senti as mãos cuidadosas


sobre os meus ombros, puxando-me de Frey.
A dor nas minhas costas era muito imensa para lutar,
então não fiz. Assisti Frey olhar para o meu pai.

—Você está se comunicando com Anneka? —


Perguntou.

—Negócio familiar é um negócio familiar, Frey, — meu


pai voltou.

O tom de Frey deteriorou-se, enquanto Noc me virava


para ele. Vi seu peito nu e senti a agonia do deslizar do
material de sua camisa batendo minhas costas.

—Você está... se comunicando com Anneka?

—Eu não tenho que responder a isso, — me pai


replicou.

—Kristian está a mais do que um passeio de trenó de


uma semana de distância. Se ela está tomando orientações
de você, isso significa que você é um feiticeiro ou ela é uma
bruxa. De qualquer maneira, você ou ela não são
declarados. Qual deles é? — Frey exigiu.

—Isso não é da sua preocupação, sobrinho, — meu pai


retrucou.

Eu me encolhi quando Frey rugiu, — Qual deles é?

Nesta conjuntura, o meu grito torturado cortou através


do quarto quando Noc levantou-me para me embalar em seus
braços.

—Desculpe, Frannie, sinto muito, baby, — ele


balbuciou. —Fique comigo. Espere só um pouco mais até que
eu possa levá-la a uma cama.
Lutei contra a dor de seu braço contra a carne rasgada
das minhas costas e olhei nos olhos de Noc. —Ele deve
terminar.

O rosto de Noc endureceu quando declarou: —Ele não


vai acabar porra nenhuma.

—Noc...

—Quieta, Frannie. Frey tem isso.

Balancei a cabeça fervorosamente enquanto Frey saía do


nosso caminho e Noc levava-nos para a porta. —Não, você
não entende.

—Não, querida, você não entende, — Noc declarou,


caminhando através da porta e para o corredor. —Eles não
entenderam. Agora eles vão entender. E, baby, isso significa
que você não está mais sozinha.

Meu pânico me oprimindo, eu mal ouvi uma palavra do


que ele disse quando nos movemos para o corredor.

Mudei o meu olhar por cima do ombro em direção à


porta, ouvindo a demanda de Frey em um abaixo enfurecido,
—Fale, Nils. Agora!

Mas isso era tudo que ouvi enquanto Noc rapidamente


me levava pelo corredor.

—Isso não é bom—, sussurrei.

—Ele vai ficar bem, — Noc assegurou.

Fechei os olhos com força. —Você não sabe.

—O que em...?
Esta era uma voz feminina, e eu abri meus olhos e virei
minha cabeça para ver a bruxa verde correndo em nossa
direção.

—Frey precisa de você, — Noc grunhiu, sem parar um


passo, ou seja, Valentine necessitou saltar para o lado
enquanto ele marchava em frente, passando por ela. —
Quarto na parte de trás—, completou.

Voltei minha atenção por cima do ombro e vi Valentine


desaparecer em uma espiral alta, magra de fumaça verde.

Noc se manteve em movimento.

Eu tomei uma respiração profunda, fechei os olhos


novamente, e pela segunda vez naquela noite, pela segunda
vez em décadas, usei meu poder, abri meus sentidos e
procurei meu irmão.

Eu estava fora de prática e em imensa dor. Eu não


conseguia senti-lo.

Ou isso, ou ela já tinha quebrado ele. Com Kristian,


nunca levava muito tempo.

—Eu não posso senti-lo—, disse a Noc, ainda tentando


fazê-lo e sentindo-nos subir escadas.

—Franka, se concentre apenas em você, sim?

—Isto pode significar que ela já o quebrou.

—Frey e Valentine estão nisso.

Abri os olhos apenas para direcioná-los para ele. —O


que essas palavras significam mesmo?
Noc piscou enquanto se manteve subindo as escadas, e
quando terminou com o seu piscar de olhos, os lábios se
curvaram.

—Aí estão meus Lábios-açucarados, — ele murmurou.

Eu não tinha forças para cortá-lo com uma resposta. A


dor abalada pela minha consciência e senti a bile subir em
minha garganta.

Engoli-a para baixo, mas sussurrei um horrorizado, —


Eu posso querer vomitar.

—Por favor, porra, espere dez segundos até que eu


tenha você na minha cama, — Noc implorou.

—Eu vou tentar—, prometi, e, felizmente, depois do que


pareceu muito mais do que dez segundos, fui capaz de
manter essa promessa.

Mordi de volta um gemido quando ele cuidadosamente


livrou a camisa de mim e rangia os dentes em silêncio
enquanto ele me rolava para minha barriga. Uma vez que
tinha me posicionado, senti as cobertas sendo puxadas por
cima da minha parte inferior.

Eu, então, vi quando ele estendeu a mão para o cabo ao


lado da cama e o puxou.

—Como você sabia que era para vir para a adega? —


Perguntei.

Ele olhou para mim. —Sua menina. Ela me acordou,


totalmente assustada.

Senti minha testa franzir. —Assustada?


—Em pânico, — explicou. —Preocupada com você.

—Como ela sabia? — Perguntei.

—Eu não sei, querida. Ela me acordou, estava muito


assustada, disse que estava em perigo. Eu não tive tempo
para interrogá-la. Coloquei algumas roupas e movi minha
bunda.

Decidi deixar isso quieto. Eu falaria com Josette sobre


como ela sabia disso mais tarde, depois que me assegurasse
que Frey e a bruxa verde ―tinham isso‖.

Por isso, mudei de assunto enquanto observava Noc


passar determinadamente para outro lado da sala. —Por que
você puxou o cordão?

Ele desapareceu através de sua porta do camarim, mas


ainda gritou: —Vou precisar de toalhas limpas. E mais
água. E uma dessas bebidas para dormir que você falou. E
um monte de outras merdas, que este lugar tem.

Estar ligeiramente torcida para observar a porta para o


vestiário estava causando muita dor, então descansei minha
bochecha em meus braços cruzados debaixo de mim e exigi
em voz alta para que ele pudesse ouvir (o que significa
indecorosamente, que achei irritante), —Você precisa voltar
para Frey. Verificar que ele tem as coisas sob controle.

Noc voltou vestindo outra camisa, essa aqui estranha,


parecendo ser uma peça de material, sem botões, mangas
compridas, o tecido parecendo confortavelmente macio e
modelando seu peito e ombros.
Ele também carregava uma toalha que parecia molhada,
mas torcida.

—Seu primo tem dragões de plantão, Frannie, acho que


ele está bem—, ele negou o meu pedido.

—Eu...— Comecei apenas quando ele parou ao lado da


cama.

—Por favor, fique quieta, baby, — ele disse em um tom


suave. —Tente relaxar. Vou colocar isso em suas costas,
talvez o frio vá lhe dar algum alívio, e nós esperamos que um
doutor chegue aqui em breve.

Ele disse isso e não tive nenhuma resposta, apenas


mantive meus olhos inclinados para ele, fascinada que o tom
suave de sua voz era correspondido pelo olhar em seu rosto
bonito.

Depois de algum tempo, perguntou: —Você está bem


com isso?

—Perdão?

—Eu colocando isso em suas costas, Frannie, você está


pronta?

Senti meu rosto franzido. —Não gosto deste nome que


você me chama.

Ele se inclinou na cintura para que seu rosto estivesse


muito mais próximo do meu.

Confrontada com essa proximidade por sua


impressionante boa aparência, eu senti meu rosto
descontrair.
—Franka é um nome bom o suficiente, eu acho. Mas é
difícil e não é você.

Eu mentalmente puxei minha famosa bravata Franka


Drakkar ao meu redor e teria jogado a minha cabeça se eu
não soubesse que causaria dor intensa.

—Você não me conhece.

Sua voz ficou mais baixa quando retornou: —Você sabe


que conheço.

Isso me fez calar minha boca, pois estranhamente e não


com uma pequena quantidade de pânico só de pensar, eu
imaginava que ele conhecia.

—Você está pronta para a toalha, querida? —


Perguntou.

Eu não mordi meu lábio. Não fiquei tensa (enrijecer


tornava a dor pior, eu aprendi há muito tempo). Não fiz nada,
mas acenei.

Noc acenou de volta, endireitou-se, e com uma ternura


que fez a minha narina arder, a fim de conter uma reação
diferente, ele colocou o pano fresco e úmido ao longo das
minhas ardente e devastada costas.

Fechei os olhos.

—Agora—, ele sussurrou.

Quando abri os olhos, ele estava agachado próximo ao


lado da cama, então ele era tudo que eu podia ver.

—Há quanto tempo ele estava fazendo isso com você? —


Ele perguntou em voz baixa.
—Isso não é da sua conta, — respondi, embora não
pudesse infundir nem mesmo uma pequena medida de
condescendência na voz após o cuidado que ele teve comigo.

Seu olhar desceu na direção das minhas costas antes


que viesse a mim.

—Ele chegou tão longe, ninguém poderia tomar essa


merda sem desmaiar. A menos que tivessem prática, —
comentou.

Ele estava correto.

Não respondi.

Ele ergueu a mão, usou a ponta de um dedo para retirar


meu cabelo longe da minha testa e meu rosto enquanto
falava.

—Você é uma mulher adulta, Frannie. Você não tem que


ter isso. Por que você não colocou um fim a isso? Inferno, por
que você foi lá em tudo?

Isso, eu respondi.

—Porque o meu irmão não seria capaz de aguentar.

Houve uma mudança em seu olhar. A dureza brilhante


que eu achava fascinante.

E essa dureza agora estava em seu tom quando


declarou: —Você não é nada como eles pensam que é, não é?

—Eu sou exatamente o que eles pensam que sou, —


retruquei.
—Continue dizendo isso a si mesma, querida. Veja se
acredita. Mas é besteira total, — devolveu.

Antes que eu pudesse entrar em uma refutação, houve


uma batida na porta.

Assisti Noc endireitar de seu agachamento, mover


rapidamente e com fluidez masculina até a porta e abri-la.

Uma empregada do palácio estava além dela.

Os olhos dela para mim e eu respirava através de


minhas narinas na indignidade da minha posição e sua
atenção.

Diabos malditos Noc.

—Eu preciso de toalhas, por favor—, afirmou Noc. —


Muitas delas. Água quente. Sabão neutro. Você tem uma
garrafa de uísque ruim lá atrás, traga isso também. Se não o
tiver, traga um bom. E uma dessas bebidas que coloca você
para dormir. Sua menina foi enviada atrás de um médico, —
Noc continuou fazendo isso sacudindo a cabeça para trás
para me indicar. —Se você pudesse descobrir onde ele está e
que venha a nós, logo que puder, isso seria incrível.

A empregada assentiu e correu para longe, embora eu


suspeitasse que havia várias coisas que ele disse que ela não
entendia.

Ele fechou a porta e virou-se para mim.

Quando novamente chegou perto e agachou ao meu


lado, tentei tomar um rumo diferente.
—Significaria muito para mim, Noc, se você voltasse ao
Frey e verificasse o que está acontecendo com o meu pai,
minha mãe e meu irmão.

—Vou fazer isso, uma vez que o doutor esteja aqui e


você seja cuidada.

—Noctorno, — comecei a protestar, mas novamente ele


se inclinou mais perto.

—Frey sabe que você tem magia?

Estranhamente, permiti que meus olhos rolassem para


longe.

—Frannie, — ele chamou.

Meus olhos rolaram para trás e rebati, —Pare de me


chamar disso.

Ele ignorou minha demanda e afirmou: —Eu tenho que


saber. Você não quer que eu diga alguma coisa, eu tenho que
saber.

Senti meus lábios abrirem em surpresa com o fato de


que ele acabou de compartilhar que manteria o meu segredo.

—E se o seu pai diz alguma merda, eu tenho que estar


por dentro disso também, — ele continuou.

Oh bolas.

Eu deveria ter pensado nisso.

—Eu não pratico—, disse a ele rapidamente, levantando


minha cabeça um pouco, mas baixando-a quando a
dormência nas minhas costas desapareceu e o fogo
atravessou a minha carne mutilada. —Nunca a usei. Eu só...
herdei de minha mãe. Ela a usa.

Noc assentiu. —Entendi.

—Você tem que acreditar em mim, Noc, porque estou


dizendo a verdade, — por alguma razão insisti. —Quando eu
era jovem, experimentei com ela. Mas, vendo o que ela fazia,
como ela usava a dela. — Balancei a cabeça. —Eu não queria
ter nenhuma coisa a ver com isso.

Ele levantou a mão e segurou meu rosto, dizendo


confortavelmente: —Eu disse que entendi isso, baby. Isso
significa que eu te entendi. Está tudo bem. Estou com
você. OK? Você acredita?

Eu não tinha certeza, mas pensei que sim, por isso dei
um ligeiro aceno de cabeça.

—Agora, relaxe para mim, sim? Vou pegar outra toalha,


levar essa para fora, trocá-la. — Mesmo quando a boca dele
ficou apertada, sua voz se transformou em um murmúrio
enquanto sua atenção vagou às minhas costas. —O sangue
encharcou essa aqui.

Humilhação tardiamente passou através de mim, e


fechei os olhos contra a visão de seu rosto com aparência
bonita fechado com raiva que guerreava com preocupação.

—Está bem com isso, Frannie? — Perguntou.

Este nome, era comum. Eu detestava.

Eu não disse isso.


Suspirei, mantive meus olhos fechados e respondi: —
Tudo o que você desejar fazer, Noc.

—Baby, — disse ele.

Fiquei ali, imóvel.

—Querida, olhe para mim.

Eu não queria, mas senti que seria uma demonstração


de fraqueza se não o fizesse.

Por isso eu fiz.

—Vou cuidar de você, — prometeu, seu olhar agora com


calor e determinação. —Deixar você em forma. E vou ver que
ele seja cuidado também. Você acredita em mim?

Eu queria fazer isso.

Mas isso não iria acontecer.

—Ele é um membro de uma poderosa Casa, Noc. Você


pode não entender isso, mas isso significa alguma coisa. Ele
era detestado pela Aurora, como era por Atticus, por razões
que não sei, mas não foi surpreendente. O rei e a rainha
sentiam ainda menos pela minha mãe. Eles não se
relacionavam com a realeza e só permitiram Kristian e eu a
fazê-lo quando éramos mais jovens através do meu tio, pai de
Frey. Independentemente disso, a sua posição, e a dela, dá-
lhes margem de manobra. E mais, fui até ele sem coação.

—Quando isso começou? — Perguntou.

—Perdão?
—Tem tecido cicatricial que ele não conseguiu abrir
desta vez, Frannie, então não ache que pode me passar a
perna nisso. Esta não é sua primeira vez. Quantos anos você
tinha quando começou?

—Eu não entendo a importância desta informação, —


declarei com altivez.

—Apenas me diga com quantos anos, — empurrou.

—Se é assim tão interessante para você, cinco.

Ele se levantou.

Imediatamente.

Saindo direto de seu agachar em um poderoso salto, ele


estava elevando-se ao meu lado na cama.

E agora, com a expressão no seu rosto, lutei contra me


encolher diante dele.

—Cinco? — Ele sussurrou.

Lutei contra a dor enquanto me empurrava em meus


braços, começando, —Noc...

— Cinco? — Ele assobiou.

Olhei para ele, incapaz de falar diante de sua fúria.

Fúria em meu nome.

Algo que nunca aconteceu, não de Kristian, não de


Antoine.

Não de ninguém.

—Você foi coagida, Franka, se você sabe essa merda ou


não, — ele mordeu, e antes que eu pudesse proferir um
barulho, mesmo que não tinha nenhuma intenção de fazê-lo,
bateram na porta e Noc latiu, —Entre!

Ele, então, andou até a porta enquanto uma empregada


vinha com toalhas.

Fez isso continuando a latir, mas não tão alto, e


dispensando ―por favores‖ e ridículos ―Isso seria incrível‖ e
comportou-se como o homem que seria se fosse deste mundo.

Em outras palavras, ele emitiu ordens.

—Troque a toalha por um pano limpo, um fresco em


suas costas. Dê-lhe a maldita bebida de dormir para que ela
possa obter algum alívio da dor. E traga a porra do médico
aqui. — Ele estava na porta pela qual a empregada entrou e
virou-se para mim. —Você se move dessa cama, baby, eu
ficarei porra chateado. Deixe-a cuidar de você, beba a maldita
bebida, descanse um pouco. Eu voltarei.

Eu não tinha ideia na terra do que ―porra chateado‖


significava.

Ainda assenti.

Noc me viu fazê-lo.

Em seguida, voou para fora da porta.


Como seria

Noc

Foram necessários três dos caras de Frey para tirar Noc


de cima do homem.

Mesmo perdendo, ainda lutou contra eles, sabendo que


cada golpe que dava não o faria sentir-se melhor, mas isso
não significava que não ficaria grato por cada vez que seu
punho acertasse o idiota.

—Entendo sua raiva, Noc, mas isso não está ajudando,


— disse Frey próximo a ele.

—É inacreditável que você permita que... que... esse


homem coloque suas mãos em mim.

Ao ouvir tais palavras do pai de Franka, Noc ficou


imóvel.

Seu corpo inteiro.

Menos sua boca.


—É inacreditável que você bateu com essa porra
de chicote em sua filha desde que ela tinha cinco fodidos
anos sem que ninguém o parasse. — Ele cuspiu, não
sentindo nenhuma alegria enquanto observava o pai de
Franka limpar sangue da boca, devido aos repetidos golpes
que lhe dera, no mesmo lugar onde o chicote havia rasgado
uma grande ferida.

Não sentiu nenhuma alegria, principalmente porque


também percebeu que o trabalho não estava nem perto de
acabar.

Demorou um pouco para sentir a vibração na sala, mas


quando fez, se afastou dos rapazes de Frey e voltou sua
atenção para o próprio homem.

O rosto de Frey estava duro como pedra, com os olhos


voltados para o tio, e pareciam em chamas como no fogo do
inferno.

—Desde que ela tinha cinco anos? — Ele sussurrou, seu


tom pesado de descrença e nojo, para não mencionar raiva.

Noc voltou sua atenção para o homem mais velho


quando ele respondeu:

—Não é da sua conta, sobrinho, o que faço com meus


filhos.

—É lei em Lunwyn que a punição corporal de menores


não exceda uma surra simples ou um tapa, — Frey atirou de
volta.

—Ela é uma adulta agora. — O homem respondeu.


—O que não anula o crime de crueldade infantil, mas
acrescenta o de agressão. — Frey declarou.

—Eu sou membro de uma Casa, a sua Casa, só para


lembrá-lo. — O pai de Franka retrucou.

—Você é um monstro. — Noc cortou.

O homem olhou para ele. —E você é um camponês que


não tem permissão para falar comigo.

Noc abriu a boca, mas Frey chegou lá antes dele.

—Você está familiarizado com o Príncipe de Hawkvale?


— Perguntou.

—Eu conheço esses segredos. — O idiota disparou de


volta, um sorriso torcendo seus lábios, —e este não é o
herdeiro do trono de Hawkvale. — Ele indicou Noc com o
braço. —Este homem não é nada.

—Este homem salvou você da escravidão nas mãos de


Minerva e seus asseclas, — Frey respondeu. —Este homem
tem o ouvido da Rainha. A Princesa. E O Drakkar. Este
homem é gêmeo do herdeiro de Hawkvale. Este homem está
longe de ser nada.

—Você pode enfeitá-lo tanto quanto quiser, sobrinho,


exceto por suas maneiras, e sua linguagem. Ele pode ser
parecido com um príncipe do nosso mundo, mas está longe
de ser um. É simplesmente um comum. — Retornou o pai de
Franka.

—Pare de falar. — Frey ordenou.


—Você é quem você é, Frey, mas eu sou seu tio, sou
mais velho, e você não tem permissão para falar comigo desta
maneira. — O velho replicou.

—Pare... — Frey se inclinou para frente e trovejou, —de


FALAR.

—Eu...

Isso foi tudo o que saiu do idiota antes de Frey estar do


outro lado da sala com a mão envolvida em sua garganta, os
pés levantados a um metro do chão, estava sendo batido
contra uma estante tão forte, que todas as garrafas que lá se
encontravam oscilaram e quatro caíram no chão.

—Eu disse... pare de falar. — Frey repetiu com os dentes


apertados.

O pai de Franka abria e fechava a boca como se


estivesse lutando por ar, ao mesmo tempo, agarrou o braço
de Frey em sua garganta.

—É melhor esperar Valentine retornar com Anneka,


relatando que Kristian e sua família estão seguros, saudáveis
e inteiros, ou eu juro aos deuses, tio, vou apertar e não vou
parar, porra. — Frey avisou.

O pai de Franka fez um barulho borbulhante, Frey o


soltou, deixando-o cair no chão aterrissando em suas mãos e
joelhos.

Frey imediatamente olhou dele para um dos homens


que estavam perto de Noc.
—Thad, vá para Finnie. A criada de Franka acordou-a
junto comigo e, sem dúvida, ela ainda está acordada pois não
gostou muito de não me acompanhar até a cozinha. Peça-lhe
para ir ao quarto de Noc, ficar com Franka enquanto o
médico cuida dela e mesmo depois disso que permaneça por
lá. — Ordenou.

Thad assentiu e partiu.

Frey olhou para um dos outros homens perto de Noc e


exigiu. — Lund, busque o policial. Nils Drakkar está sendo
preso esta noite por crueldade infantil e agressão.

Lund não acenou. Ele deu um sorriso sem graça e, em


seguida, saiu da sala.

—Preso? — Nils Drakkar perguntou com a voz


embargada, ainda de joelhos, apenas a sua cabeça estava
inclinada para trás para olhar seu sobrinho.

—Você cometeu crimes durante décadas, tio. Será


julgado por esses crimes e pagará a penitência. — Frey
anunciou.

Nils levantou-se, declarando: —Isso é um absurdo.

—É a lei. — Frey devolveu.

As costas do homem mais velho enrijeceram. —Eu sou


um Drakkar!

—Você é um maldito inútil pedaço de merda. — Frey


ladrou, virando-se totalmente para o tio. —Eu ainda não
consigo entender o que vi quando entrei nesta sala. Eu nem
sequer quero entender. Como você pode marcar sua filha
desta maneira? É incompreensível fazer isso para um
filho. Mas é inconcebível fazê-lo a uma filha.

Nils sacudiu a cabeça. —Você conhece Franka. Ela


ganhou muitas punições.

—E sua escolha de punição foi rasgá-la em carne viva?


— Perguntou Frey incrédulo.

—Como seu pai, é minha decisão escolher seu castigo.

—E essa decisão te levará para uma cela. — Frey


disparou de volta. —E se eu tiver algo a ver com isso, e no
caso de você não ter entendido, tio, eu tenho muito a ver
com tudo, você apodrecerá nesta cela.

A expressão de Nils era desdenhosa quando retrucou. —


Você não pode me dizer isso.

—Olhe bem para o meu rosto, — Frey exigiu. —E agora


me diga se posso ou não dizer isso.

Nils, obviamente, olhou para o rosto de Frey porque o


homem empalideceu.

Mesmo assim, defendeu seu ponto. —Não posso


acreditar que você está protegendo-a depois dela ter cometido
traição.

—Excelente. — Frey estranhamente respondeu,


cruzando os braços sobre o peito de uma maneira que parecia
estar se acomodando. —Vamos falar sobre isso. Como,
exatamente, você sabe sobre a traição?

O homem mais velho ergueu o queixo.


—Anneka e eu nos mantemos informados sobre nossos
filhos. — Nils informou.

—Não é de surpreender se você tiver feito isso


provavelmente através de espiões, pagou por investigações e
por magia ilegal, porque tenho notado que há alguns anos
nenhum de seus filhos tiveram nada a ver com você. — Frey
respondeu. —Agora sei o porquê.

—Vou lembrar a você, sobrinho, ela veio a esta adega


por vontade própria. — Nils compartilhou.

Era hora de Noc se intrometer e fez exatamente isso.

—Ela veio a esta adega para proteger seu irmão.

Os olhos de Nils foram para Noc. —Fraqueza. De


ambos. Meu filho de sangue, não tenho ideia de como passa
pela noite, petrificado com sua própria sombra. E ela. Minha
filha. Torcendo-se em nós para esconder a aflição do irmão de
mim e de sua mãe, como se não notássemos
e lamentássemos isso. Colocando-se na frente de seus
castigos, porque o garoto desmaia, chora, implora, e ela não
consegue suportar. Indo tão longe com seu mau
comportamento, cortejando a nossa ira, para que voltássemos
nossa atenção para ela. É obsceno. Uma falha de caráter.

—E eu tenho certeza que você a puniu por isso também.


— Frey disse perigosamente com a voz baixa.

—Claro que fiz. — Nils estalou. —Ela é uma


Drakkar. Foi ensinada a ser melhor. E aquele menino... —
Ele fungou antes de declarar: —Meu filho deveria ter sido o
Chefe da Casa. Você não quis isso e nenhum de seus irmãos
de coração mole merecia. Em vez disso, meu filho casou-se
com uma mulher chorona que deu à luz a uma criança sem
valor, trazendo para sua mãe e eu vergonha indescritível.

Noc observou quando Frey segurou o olhar de seu tio, e


fez isso por um longo tempo antes de ser afastar e abaixar a
cabeça. Levando a mão a parte de trás do pescoço,
envolvendo-a lá, apertou.

Quando soltou o pescoço, deixou sua mão cair, dirigindo


o olhar para Noc.

—Como ela está? — Perguntou.

—Sofrendo, mas ainda arrogante como o inferno e


preocupada com seu irmão, — respondeu.

Frey assentiu.

—Os outros Chefes das casas não vão concordar com


meu encarceramento, — Nils declarou.

Frey virou-se para ele. —Isto é uma ilusão. Quando


ouvirem o que você fez, eles vão ficar na fila para condená-
lo. Mas, mesmo se o que você disse fosse verdade, eu não me
importaria.

—Você tem grande poder, sobrinho, mas não governa


esta terra. — Nils disparou de volta, o rosto torcido.

—Você está correto. — Frey concordou. —Mas minha


sogra sim e fui eu quem a coloquei no trono.

Nils deu um suspiro longo e alto pelo nariz.


—Maldição. — Frey murmurou, olhando para o teto. —
Eu não suporto estar em sua presença por mais tempo. Onde
está aquela bruxa sanguinária?

—Você me chamou?

Ambos Noc e Frey viraram-se para a voz feminina, e


fizeram isso apenas a tempo de ver a fumaça verde começar a
se dissipar e Valentine levantar a mão em um gesto
indiferente. Este movimento fez a mulher bonita, mas de
aparência assustada que trouxe com ela cair, batendo em
Nils Drakkar, levando-os ambos para as prateleiras onde
mais garrafas caíram e bateram no chão.

—Pena, desperdício de um bom licor. — Valentine


observou casualmente.

—Kristian e sua família? — Perguntou Frey.

Valentine olhou para ele. —Assustado, mas nenhum


dano foi feito. Cheguei na hora certa.

—Ela é uma bruxa. — Frey informou a Valentine.

—Ela era uma bruxa. — Valentine retornou. —Eu tirei


seus poderes.

—O quê? — Nils sussurrou.

Noc olhou para ele, que agora estava segurando sua


esposa em um abraço protetor que Noc não achava que o
homem possuía.

—É verdade, meu amor. — Disse a mulher com voz


trêmula. —Minha magia, ela a tomou. —Seu olhar vagou com
medo para Valentine. —Seu poder é... Eu nunca senti nada
como isso.

—Isso é... é... é, — Nils gaguejou, — indizível. — Ele


perfurou Valentine com os olhos. —Devolva-o imediatamente.

—Se você não parar de falar comigo dessa maneira, seu


homem odioso, você ficará sem língua, — Valentine replicou.

—Quem você pensa que é? — Nils exigiu, puxando sua


esposa para trás e dando um passo à frente para Valentine.

Quando o fez, a bruxa levantou a mão e revidou.

Ele parou imediatamente. Ambas as mãos indo para a


boca, seus olhos ficando enormes, seu rosto perdendo toda a
cor, ele cambaleou para trás e Noc viu como seus olhos
ficavam cada vez maiores, Nils torceu sua mandíbula de uma
forma bizarra, e assustadora pra caralho.

—Valentine. — Frey suspirou.

—Eu vou devolver, — ela prometeu, mas terminou com


um: —eventualmente.

Noc olhou para ela. —Você tirou sua língua?

Ela inclinou a cabeça para o lado. —Eu não gostei de


como ele estava usando-a.

—Maldição, — Frey murmurou.

O último homem de Frey na sala, um cara chamado


Ruben, riu.

—Suponho que você tenha planos para estes dois


cretinos que irei aprovar? — Valentine perguntou a Frey.
—Estou incerto se irá aprová-los, mas posso garantir
que serão punidos. — respondeu Frey.

Ela moveu apenas seus olhos para Nils e Anneka. —


Punidos parece uma palavra muito simples neste caso.

—Eles ficarão presos em uma cela pelo resto de seus


dias. — Frey compartilhou. —Será que isso é o suficiente?

—Você não pode estar falando sério. — As palavras de


Anneka soaram forçadas.

Frey olhou para a tia. —Eu não estou?

Ela observou seu rosto e se encolheu para mais longe.

—Suponho que isso será suficiente. — Valentine


murmurou.

Tendo virado totalmente para eles, ela estava olhando-os


como se estivesse vendo um irritante roedor que pretendia
pegar, esmagá-lo e depois descartá-lo.

—Eu acabei por aqui. — Frey disse e olhou para


Ruben. —Fique de olho neles até que Lund volte com a
polícia.

—Certo Frey, — respondeu Ruben.

Ele se virou para Valentine. —Devolva-lhe a língua.

A bruxa deu-lhe um pequeno sorriso. —Eu não posso


ficar com ela?

—Devolva, Valentine.

—Só por mais um pouquinho de tempo, — ela insistiu.

—Valentine, temos que ver Franka, — Frey lembrou-a.


Isso chamou a atenção da bruxa. Ela levantou a mão,
estalando-a e Nils instantaneamente sussurrou um aliviado,
mas ainda horrorizado: —Pelos deuses.

Frey não perdeu tempo levando um braço a frente para


Valentine antecedê-lo, algo que ela fez. Ele olhou para
Noc. Noc ergueu o queixo. Frey saiu e Noc fez o mesmo.

Eles caminhavam pelas cozinhas, indo para a escada


principal quando Frey falou.

—Eu a conheço desde que ela era uma menina. Mas


você estava certo.

Noc parou. Valentine parou. E ambos descobriram que


Frey parou, também.

Sua atenção estava em Noc.

—Existe grande honra em suportar o que ela suportou,


fazendo isso por décadas para proteger seu irmão, — Frey
continuou.

Noc não disse nada.

Valentine também permaneceu em silêncio.

—Kristian não é como Nils o descreveu. — Frey


continuou. —Mas sua inteligência não é tão afiada como de
sua irmã. E definitivamente não é o seu forte. Não posso nem
imaginar como ele lida com a ameaça do chicote, muito
menos sentindo a ardência dele, mas Franka, pelo que vi,
nem sei como permanece de pé.

—Ela permaneceu de pé para que seu irmão não caísse.


— Noc apontou.
Frey sacudiu a cabeça. —Eu nunca pensaria que ela
possuía isso.

—Estas duas pessoas que, desde o nascimento, estavam


destinadas a amá-la, cuidar dela, protegê-la, eram esses dois
fodidos. Mas para Franka, para ela, — Noc sacudiu a cabeça
na direção que eles vieram, —não é nenhuma surpresa que
ela fez tudo o que podia para ter certeza de que ninguém
chegasse perto. Esse cara, o que morreu, tinha que ser algo
para conseguir arrancar a máscara que ela usava por tanto
tempo que é uma maravilha que não estivesse fundida a pele.

—Vejo isso agora, — Frey disse suavemente, e não


precisava ser um policial que poderia ler as pessoas, para ver
que ele estava chutando o próprio rabo por não ter visto nada
disso antes.

—Cara, ela é uma mestra. — Noc disse a ele algo que


sabia. —Duas vezes, eu estive com dela, e ela estava sempre
tentando essa merda comigo mesmo sabendo que eu via
através dela. Não se abale. Você estava sentindo por ela
exatamente o que ela queria que você sentisse.

Frey continuou a olhar nos olhos de Noc quando


concordou.

—Vocês dois devem se sentir livres para ficar aqui no


corredor de um palácio no meio da noite, e dissecar traumas
de infância de Franka Drakkar e como isso influenciou a
mulher que ela se tornou. — Valentine disse. —Eu, no
entanto, estou indo ver a própria mulher.
Com isso, sem ter nada mais a dizer, ela evaporou, como
sempre elegantemente. Noc estava percebendo essa ser a
única maneira da mulher para fazer tudo.

Noc e Frey começaram a andar muito mais devagar. Noc


queria ir bem mais rápido, mas sentiu o humor de Frey,
então manteve-se alinhado com os passos do outro homem.

—Olhando para trás, — Frey falou reflexivamente


enquanto subiam as escadas, —fora, é claro, o que ela fez por
seu amante, e isso é explicável considerando que ele foi a
única pessoa a quem ela deu permissão para ver atrás de sua
máscara, ela nunca fez nenhuma coisa realmente errada,
exceto ser maliciosa e fortemente antipática. Ela mesmo
apresentou informações úteis quando Finnie e eu estávamos
tendo nossas dificuldades quando meu pequenino chegou.

—Frey, irmão, você sofrerá tentando encontrar os sinais


que perdeu que iriam levá-lo a seu verdadeiro caráter, —
respondeu Noc. —Mas esse segredo era um segredo muito
bem guardado. Você não sabia o que estava acontecendo com
ela, então não poderia fazer uma maldita coisa sobre
isso. Basta considerar-se sortudo por saber agora.

— Sim, — Frey murmurou. —Difícil de fazer isso. Mas


seria sábio.

Quando chegaram ao topo das escadas, Noc começou a


andar mais rápido e felizmente Frey saiu de seus
pensamentos e o acompanhou.

Eles mal alcançaram a porta antes de Finnie ir para


Frey.
—Frey... — ela começou.

—Agora não, minha pequenina esposa, — Frey disse


gentilmente, seu braço indo para sua cintura, mas seus olhos
foram para Franka. —Vou explicar tudo mais tarde.

Noc simplesmente foi para Franka.

Ela estava dormindo. Seus olhos fechados. Respiração


calma. Seu belo rosto pacífico. Viu tiras de gaze com algum
tipo de gosma leitosa em suas costas.

Ele olhou para o homem que estava debruçado sobre


uma maleta de couro apoiada em uma das cadeiras ao lado
da lareira.

—Como ela está? — Perguntou.

O homem levantou a cabeça e viu o olhar de Noc.

—Mutilada, — ele ladrou e voltou sua atenção para


Frey. —Espero, senhor, que quem cometeu este ultraje esteja
detido.

—Ele está, — Frey respondeu.

—O que é isso em suas costas? — Perguntou Noc, e o


cara que era, obviamente, o médico olhou de volta para ele.

—Sal willow, — afirmou. —Deixei uma jarra e curativos


limpos, — ele continuou baixando o queixo para variedade de
coisas que estavam colocadas na mesa ao lado da cadeira.

Em seguida, fechou sua maleta com um forte estalo e


levantou-a, ordenando: —Na parte da manhã, se você puder
fazê-la comer, faça. Mas eu também deixei um pouco de chá
de salgueiro para ajudar com a dor. Ele precisa ser filtrado
até que esteja escuro. E os curativos precisam ser trocados
também. Amanhã, misture esses frascos. — Ele apontou
para os vidros na mesa. —Com o sangramento estancado,
não será mais necessário sal willow. Basta misturar o óleo de
lavanda com a pomada de mel e a pasta de salgueiro. — Ele
olhou para Franka. —Não há nada que se possa fazer com os
pontos, considerando a extensa faixa de tecido cicatricial que
ela já possui. Mas mesmo que esse não fosse o caso, há
pouca pele deixada para costurar. O remédio será um
calmante e apressará a cura.

Ele marcha até a porta, mas parou olhando para Frey.

—Vou voltar no final da manhã para ver como ela está,


— anunciou.

—Isso seria bom, — Frey respondeu.

O médico deu a Frey um curto aceno de cabeça, e sem


olhar para ninguém mais caminhou para porta.

—Você pode fazer mais, Valentine? —Finnie perguntou,


ela e Frey aproximando-se da cama onde Valentine estava
parada de frente a Noc.

—Não sou uma curandeira, minha deusa do amor, —


ela afirmou, com o olhar em Franka, depois passando para
Finnie. —Sei alguma coisa, mas não seria capaz de fazer
muito mais do que o médico já fez. Mesmo que a levasse ao
nosso mundo, fora a questão da dor, não estou nem mesmo
certa se um cirurgião plástico poderia melhorar os
resultados. Infelizmente, o dano já foi feito.

Finnie olhou para Frey. —Os elfos?


Frey assentiu. —Vou chamar Nillen.

—Eu advirto-os, chéries, não ajam precipitadamente


sem a opinião de Franka. Sua bondade pode não ser
considerada da mesma forma por ela, —alertou Valentine.

—Não quero ofender, Valentine, mas isso me parece


idiotice. — Virando-se Frey sacudiu a cabeça em direção à
cama. —Sei que não foge de você o estado em que ela se
encontra.

—Há muitos de nós que encontram força e até mesmo


honra em nossas cicatrizes, aquelas por dentro, — ela
abaixou a cabeça para Franka, —e aquelas por fora.

—Implorando todos os seus perdões, — uma tímida voz


chegou até eles e Noc virou a cabeça para ver que, a menina
que o acordou para lhe dizer que Franka estava em perigo,
saía das sombras das janelas e se dirigia para a cama. —Lady
Franka deve continuar a descansar, mas temo que com as
luzes acesas, e a conversa acontecendo ... — ela parou, mas
todos pegaram a essência.

—Eu vou ficar, — disse Noc, pegando a lamparina do


lado da cama e torcendo-a de modo que a chama morreu. —
Vocês todos devem ir.

—Eu posso ficar com minha senhora. — A menina


ofereceu.

—Você tem um nome, querida? — Ele perguntou.

—Josette.
—Certo Josette, você deverá estar pronta para oferecer
seus cuidados quando ela acordar. Então você provavelmente
deve dormir agora.

Ela mordeu o lábio, olhou para Franka, tomou sua


decisão e assentiu.

Mas não saiu. Começou a andar ao redor, apagando as


lamparinas.

Frey, Finnie e Valentine se encaminharam para sair.

—Precisando de alguma coisa, você chama, — Finnie


disse assim que chegou a porta. —Nós estamos três quartos
para baixo, do outro lado.

—Certo, querida. Obrigado. — Noc murmurou, deu-lhe


um sorriso, e a Frey uma olhada quando saíram.

Valentine não disse nada. Apenas sorriu aquele sorriso


estranho que ele ainda não sabia se era bonito, afetado ou
sexy, mas assumiu que eram todos os três em conjunto.

Noc foi até o fogo, jogou-lhe um par de toras e se


estabeleceu numa cadeira.

—Boa noite, Senhor Noctorno, — Josette disse


calmamente enquanto se dirigia até a porta lateral.

—Eu não sou um senhor, Josette, e todos me chamam


de Noc.

Ela fez um barulho tímido, autoconsciente, evitou seus


olhos e desapareceu pela porta.

O quarto ficou escuro, exceto pelo fogo.


Mas, porra, graças a cadeira estava confortável.

Então Noc se esticou, olhou para o fogo, achando que


não conseguiria dormir, mas estava inconsciente em poucos
minutos.

***

Franka

Eu mal acordei antes de ouvir Josette falando baixinho,


—Acho que ela está acordada.

Abri os olhos e inclinei-os para cima vendo Noc e Josette


em pé ao lado da cama, Josette parecendo ansiosa, Noc
parecendo suave.

Diabos.

—Sim, ela está acordada, —Noc murmurou e começou a


sorrir. —Como vai, Frannie?

Comecei a me erguer pelos cotovelos, surpresa que a dor


nas costas tivesse amenizado em vez de aumentar, fiz isso
vociferando. —Eu vou estar excelente, quando você parar de
me chamar deste nome grosseiro.

O sorriso de Noc aumentou, e fez isso inclinando-se


mais para perto.
—Mova-se mais um centímetro, Lábios-açucarados, e
sentarei em cima de você.

Estava grogue do remédio para dormir, mas eu também


era Franka Drakkar.

Portanto, eu estava relativamente certa que o olhar que


enviei em sua direção era mordaz.

Aparentemente, eu estava errada, pois o olhar não teve


nenhum efeito, exceto para fazê-lo parar de sorrir e começar a
rir.

Ele tinha dentes excelentes.

Oh, mas a deusa Adele não gostava de mim.

Nossos olhos travados em uma batalha de vontades que


eu estava fisicamente incapaz de vencer, embora
mentalmente pudesse fazer melhor que ele (talvez), mas o
movimento fez a dor aumentar, portanto, decidi (para o meu
próprio bem, é claro) voltar a deitar.

Noc assentiu como se estivesse satisfeito e endireitou-se,


virando-se para Josette. —Você pode fazer um pouco daquele
chá?

—Imediatamente, — Josette sussurrou e correu para


longe.

—Kristian? — Eu disse o nome do meu irmão como uma


pergunta.

Noc olhou para mim. —Seu irmão está bem,


querida. Sua mulher, criança, todos eles estão
bem. Valentine chegou a tempo.
Obrigado a deusa por isso.

—Meu pai? — Perguntei.

—Seu pai e mãe estão ambos atualmente sentados em


uma prisão em algum lugar, com uma variedade enorme de
acusações.

Aquilo foi…

Isso foi…

Eu não poderia decidir o que era antes mesmo que Noc


continuasse a falar.

—E Valentine despojou sua mãe de sua magia. Frey está


possesso, querida. Quero dizer isso a sério. Eles não vão te
ferir. Também não vão prejudicar o seu irmão
novamente. Não vão machucar mais ninguém.

Minha mãe foi despojada de sua magia?

Não pude evitar, e senti minha boca curvar-se em um


sorriso maliciosamente alegre.

—Eu sei, — Noc afirmou, e me concentrei novamente


nele, pois não sabia do porquê ele dissera aquilo. —Queria
que você estivesse lá, querida. Valentine tomou magicamente
a língua do seu pai e do nada ele calou a boca. Se eu não
estivesse tão chateado, eu teria estourado de tanto rir.

Eu não podia lutar contra meus olhos aumentando.

—Ela retirou magicamente a sua língua?


—Você deveria ter visto a cara dele, Frannie. Foi
extremamente assustador, mas ainda assim, nunca vou
esquecer... de uma maneira boa.

Pensei nas punições que meu pai me deu, centenas


delas, talvez milhares, nenhuma das quais envolvendo um
chicote. Mas envolviam castigos verbais.

Sim, eu também desejava ter visto isto.

—Ela deu-lhe de volta, mas apenas porque Frey pediu,


— Noc compartilhou.

Ao falar, ele chamou a minha atenção e tomei uma


decisão imediata.

Kristian estava bem. Meus pais neutralizados.

Agora, seguir em frente.

—Você deve sair —declarei.

Suas sobrancelhas se juntaram um momento antes de


sua expressão mostrar claramente que compreendeu.

Infelizmente, a compreensão pode ter chegado, mas ele


não partiu.

Agachou-se ao lado da cama e disse em uma voz suave


—Você precisa de mim para levá-la para o outro quarto para
que possa ter um pouco de privacidade?

Pela Deusa.

Ele pensava que eu precisava de um urinol.

Mas…

O que estava acontecendo no meu rosto?


Pela Deusa!

O calor que senti em minhas bochechas poderia ser


outra coisa menos eu corando.

Eu não coro. Eu não corava. Nem mesmo quando resolvi


seduzir o meu primeiro amante aos dezesseis anos de idade.

Precisava ficar longe desse homem o mais rápido


possível.

—Não... eu... só... não. — Eu retruquei.

—Certeza? — Ele perguntou gentilmente.

—Eu preciso que você saia, Noctorno, — usei o seu


nome completo em um esforço para irritá-lo, algo que
funcionou se o aumentar de seus olhos fosse alguma
indicação, —de modo que Josette possa me
preparar. Estamos partindo para Kristian esta manhã.

Outro levantar de suas sobrancelhas antes dele


perguntar: —O que?

—Depois da minha toilette, Josette e eu vamos para


meu trenó a fim de começar nossa jornada para a casa do
meu irmão.

Seus olhos ficaram ainda maiores quando ele perguntou


curiosamente, —Você está alterada?

—Não. — Respondi sua pergunta ridícula


desnecessariamente —Na verdade, estou bem. Como você
pode ver, já que estou deitada na cama.

Por um segundo, ele apenas olhou para mim.


Então jogou a cabeça para trás e explodiu em uma alta,
profunda, gargalhada bonita.

Eu queria jogar alguma coisa nele.

Infelizmente, na minha posição atual, isso não era uma


opção disponível para mim.

—Eu não consigo ver o que é tão divertido, — observei.

Ele controlou seu ataque somente para murmurar: —


Vou explicar isso mais tarde. — Então falou mais
distintamente, —Frannie, você não vai hoje para o seu
irmão. Ou amanhã. Até que você esteja bem. Então, talvez
Valentine te transporte para lá, ou qualquer outra merda que
isso seja chamado. Mas durante um futuro previsível, sua
bunda está nessa cama e você está descansando para que
possa se curar.

Bem!

Quem ele pensava que era me dizendo o que eu iria ou


não fazer?

—Como você já sabe, — comecei, —esta não é a primeira


vez que me encontro nesta condição, então acredito
que eu sei melhor do que sou capaz e...

Parei de falar porque ele mudou de posição colocando


seu rosto próximo ao meu, e não aparentava estar feliz.

Parecia estar com raiva.

Muito irritado.
—Isso era quando não tinha ninguém cuidando de você,
mas isso não será mais o caso. Então é assim que vai ser, —
anunciou.

Ele, então, para minha surpresa, irritação e


indignação, anunciou como seria.

Como se tivesse o direito de dizer a mim como seria.

—Primeiro, como eu disse, você vai aguentar firme,


descansar e se curar. Em segundo lugar, uma vez que você
comece a se sentir melhor, então vamos discutir o que
acontecerá depois disso. E o último e mais importante, baby,
então ouça. Você tomará cuidado para não me lembrar que
sua mãe, e seu pai são fodidos idiotas porque consegui dar
alguns sólidos socos no rosto dele noite passada, mas os
rapazes de Frey me puxaram para fora antes que eu causasse
o dano que pretendia. Se você continuar me lembrando, vou
encontrar esses dois monstros, e fazer algo que significará
que o meu tempo aqui não será sobre descobrir um universo
paralelo, mas memorizando cada centímetro de uma cela de
prisão.

Havia um grande número de coisas para discutir a


respeito de sua declaração. Tantas, vendo apenas
rapidamente, que não poderia decidir uma prioridade assim
eu disse a primeira que me veio à mente.

—Você bateu no meu pai? — Perguntei.

—Repetidas vezes, — Noc respondeu. —Mas não


repetidamente o suficiente.

Oh meu.
O calor estava enchendo minha barriga.

Decidi concentrar-me na segunda coisa que precisava


ser discutida e não sobre esse sentimento.

—Acho que é importante salientar que eu mal o


conheço, portanto, você não é nada para mim. Embora
aprecie seus esforços na noite passada, você não tem nada a
dizer sobre o que eu faço ou onde vou. E mesmo se eu
quisesse ficar no Palácio de Inverno por mais um ou dois
dias, me esforçando para adquirir melhores condições, e
assim realizar a viagem que eu totalmente pretendo fazer,
seria minha decisão e o que acontece depois não seria
discutido com você.

—Pense como quiser, baby, — ele disse, movendo-se


para longe do meu rosto e de volta para a lateral da cama. —
Mas vamos ver, e vou te dizer que o que estamos vendo é sua
bunda não deixando esta cama.

—Não posso acreditar que preciso lembrá-lo que sou


dificilmente bem-vinda para permanecer no palácio, —
apontei.

—Creio que isso mudou, Frannie.

Eu o ignorei me chamando desse nome terrível e disse


com uma voz de escárnio —Você poderia estar errado.

—Baby, tive uma conversa com Frey ontem à noite, ele


estava chutando seu próprio rabo, pensando que você não
era assim. Então, o homem está até agora longe de lidar com
o que aconteceu noite passada, com o que você e seu irmão
estavam passando há anos, provavelmente pensando que se
tivesse reparado, poderia ter feito algo.

—Isso é um absurdo, — retruquei.

—Este é o pensamento de um cara bom que é leal aos


seus homens, ama sua esposa além da medida, e sente o
mesmo pelo garoto que fizeram juntos. — Noc sorriu
gentilmente. —Sei que você não está acostumada a esse tipo
de merda, mas fique comigo, Lábios-açucarados, você irá
aprender.

Senti um salto no meu coração nesta oferta. Em seu


sorriso. Com suas palavras e sabendo que provavelmente não
só descreviam Frey Drakkar, mas também Noctorno
Hawthorne do outro mundo (quando ele tivesse uma mulher
para amar, quero dizer).

Decidi acabar com esta conversa de uma só vez.

—Não tenho nenhuma vontade de discutir isso com


você, Noctorno...

Ele me interrompeu com: —Noc.

Ignorei sua interrupção e continuei: —Mas pedi-lhe para


sair. Por favor, para que eu possa cuidar das minhas coisas.

—Frannie, baby, você não está fazendo isso, — afirmou,


inclinando-se para mim, mas felizmente não tão perto que
seu rosto estivesse em cima do meu desta vez. —Não vou a
qualquer lugar. Se eu tiver que sair, alguém ficará aqui para
certificar-se de que você não vá a qualquer lugar. Você ficará
descansando. Está se curando. E somente acontecerá desta
maneira.

—Talvez então eu puxe a corda, peça para um servo


solicitar a rainha Aurora que me receba, e vamos ver o que
ela tem a dizer sobre os seus planos para mim.

Ele rapidamente se endireitou e estendeu a mão para a


corda, puxando-o.

Olhei suas ações, e continuei olhando quando ele voltou


seu olhar para mim.

—Sim, boa chamada. Vamos solicitar a presença de


Aurora e ver o que ela tem a dizer, — concordou.

Hmm.

Ele parecia mais certo do que eu sobre o resultado desse


compromisso.

Na verdade, sem a ajuda de Josette (ou sua), eu não


poderia fazer nada e nem ir a lugar algum. Não simplesmente
porque estava com dor, e o movimento sem ajuda seria
agonizante (mesmo com ajuda, seria doloroso), mas também
porque estava nua.

Não que eu tivesse qualquer escrúpulo sobre isso, era


apenas sobre eu tomar a decisão de quem me via nua, e ele já
tinha visto o suficiente sem que eu tomasse essa decisão.

Em outras palavras, eu estava presa.

E isto era enlouquecedor.

Por isso fiz a única coisa que podia.


Olhei para ele novamente.

Ele sorriu para mim de novo.

Que audácia!

—Agora que acertamos isso, você tem certeza que não


quer que te leve para o outro quarto? — Perguntou.

Na verdade, naquele momento eu poderia usar o urinol.

Claro, isso não foi o que compartilhei.

Eu disse: —Absolutamente não.

—Vou estar bem aqui, se precisar de mim, — afirmou.

—Para minha angústia eterna, — murmurei retrucando,


em seguida, fazendo a única coisa que eu poderia fazer,
sendo patético como era.

Virei a cabeça para longe dele.

Ele não deixou que isso passasse despercebido.

Ah não.

Ele riu.

Insuportavelmente grosseiro.

Ignorei isso, e encarei as pesadas cortinas que


escondiam a madeira sem brilho que revestia as janelas de
vidros jateados.

A boa notícia era, meus pais estavam encarcerados, a


magia da minha mãe despojada, assim ela não poderia usá-la
para se livrar de qualquer castigo ou derramar quaisquer
infortúnios em mim e meu irmão, Lunwyn era segura para
mim novamente.
E Kristian.

A má notícia era, minhas costas estavam dilaceradas, o


meu segredo foi revelado (ambos!), e eu parecia estar à mercê
de um membro ditatorial de uma guarda da cidade do outro
mundo, entre outras bizarrices.

Eu não podia permitir que isso me preocupasse.

Iria ignorá-lo a curto prazo, e lidar com o que aconteceu


comigo a longo prazo.

Porque eu não tinha escolha.

E essa era a minha vida.

Droga.

***

—Você dificilmente pode me segurar no Palácio contra a


minha vontade, —afirmei.

—Eu não posso? — Perguntou a rainha Aurora com


uma sobrancelha levantada.

Era indigno ao extremo eu estar deitada na cama,


olhando para a minha rainha, tendo qualquer tipo de
conversa, muito menos esta.

Mesmo assim, pode-se dizer que havia uma única


resposta para sua pergunta.

Ela podia.

—Isto não está acontecendo, — reclamei.


Sim!

Eu!

Franka Drakkar reduzida a resmungos.

A mortificação de tudo!

Ela olhou para as minhas costas e eu podia não merecer


(mas lá estava, bem na sua expressão) o ligeiro
abrandamento do seu rosto antes que olhasse de novo para
mim.

—Uma semana, acho, — ela murmurou, pensativa. —E


então vamos ver o que o médico diz.

—No que diz respeito, sua graça, estou ciente do que


sou capaz nesta condição ou em qualquer outra. — Eu disse,
evitando os olhos de Noc.

Um Noc, devo dizer, que estava encostado


negligentemente contra a parede além da cabeceira, os braços
cruzados sobre o peito, pés cruzados no tornozelo, assistindo
como se fosse um melodrama apaixonante.

—Posso imaginar que até mesmo você, Franka, admitiria


que um médico é muito mais capaz de fazer esse julgamento
do que você. — Rainha Aurora respondeu.

Eu não poderia argumentar contra isso.

Portanto, não fiz.

—Você tomou seu chá de salgueiro? — Perguntou ela,


como uma babá rigorosa, mas em questão.

Sim.
A rainha falando comigo como uma rígida, mas
preocupada babá.

Eu!

—Sim, minha rainha, — murmurei.

—Excelente. Acredito que vou dar-lhe o resto do


dia. Amanhã é o casamento, será perfeito para você
descansar ininterruptamente. Depois disso, vou jantar com
você. Eu e Finnie, e, é claro, O Drakkar.

Eu queria jantar com a rainha, sua filha do outro


mundo e seu genro, um primo que me odiava, como eu queria
que alguém enfiasse agulhas de tricô nos meus olhos.

Mas será que alguém recusava uma rainha?

Não.

Ninguém fazia.

—Seria meu desejo mais ardente, sua graça, —


respondi, minha voz traindo que era, absolutamente o oposto.

—E Noc também, tenho certeza. — Rainha Aurora


continuou.

Cerrei meus dentes e olhei para Noc.

Ele estava novamente sorrindo.

—Eu estarei lá, —assegurou.

—Perfeito, venho verificar você mais tarde. Descanse,


Franka, — a rainha ordenou.

—Como quiser, minha rainha. — Eu não tinha escolha a


não ser concordar.
Com um aceno curto, ela se virou, e sem mais delongas,
saiu. Olhei para porta.

Noc se afastou da parede e moveu-se preenchendo o


espaço que a rainha ocupou na minha cama.

—Estou pensando que isso seria tudo, — observou ele,


com os lábios ainda curvados.

—Como fui condenada a descansar pela nossa


soberana, talvez você me deixe fazer exatamente isso, —
sugeri geniosa.

Ele encolheu os ombros. —Certo.

—Minha gratidão. — Ladrei.

—Volto para almoçar com você, apesar de tudo.

Sério.

Eu poderia viver uma vida de maldade e de intriga, mas


certamente tudo o que eu fiz não tinha me conseguido isto.

— Mal posso esperar. — Cerrei.

—Aposto que você não pode, — ele murmurou, sua voz


tremendo de alegria.

Levantei minhas sobrancelhas. —Você estava saindo?

—Certo, — respondeu, mas não se mexeu.

—Quanto mais cedo você fizer isso, mais cedo eu posso


descansar e me curar, — solicitei.

—Porra, não sei se você é mais bonita do que é


engraçada ou o contrário.
—Só para você estar ciente, não encaro nenhum dos
dois como elogio. —Compartilhei.

Ele começou a rir, o som enchendo a sala e aquecendo-a


melhor do que o maior e mais ardente fogo poderia fazer.

Decidi que o melhor curso de ação a partir deste ponto


seria o silêncio.

Quando sua hilaridade acalmou, ele declarou: —Agora,


mais engraçada do que bonita. Mas apenas um pouco.

Eu simplesmente olhei para ele sem expressão.

Seu rosto ficou sério. —Se você sentir dor, diga. Josette
ou alguém vai estar perto. Nós daremos a você mais daquele
chá.

Fiquei em silêncio.

—O Doutor virá mais tarde, — ele disse.

Abaixei minha cabeça o melhor que pude, pois estava


descansando em meus braços.

—Tudo bem, amor? — Noc perguntou delicadamente.

Eu não estava.

—Tudo bem, — respondi.

Isso me conseguiu outro sorriso da parte dele.

—Tudo bem, Frannie. Até logo.

Pare de me chamar desse nome terrível! Minha mente


gritou.

A minha boca não disse nada.


Eu deveria dizer alguma coisa. Deveria ter mesmo
gritado meus pensamentos para ele.

Mas desde que não fiz, ele se aproximou inclinando-se


tão perto que foi capaz de escovar seus lábios na minha testa,
ao mesmo tempo que afastou o cabelo do meu pescoço.

—Descanse bem, — ele sussurrou em meu ouvido.

Lutei contra o calor na minha barriga, virei os olhos


para pegar os dele enquanto se afastava, e tentava mais uma
vez queimá-lo com meu olhar.

Ele me olhou de cima enquanto seus lábios se


curvavam, virou-se, e assisti sua bunda em outro modelo do
mais desbotado azul em suas atrativas calças do outro
mundo.

Quando ele desapareceu pela porta, olhei para cima,


observando o teto.

—Se eu prometer ser uma alma caridosa e bondosa,


alguém me libertaria deste tormento? — Perguntei aos
deuses, nenhum em especial, eu não me importava com
quem ouvisse.

—O que foi, Lady Franka? — Josette perguntou.

—Nada, — murmurei, frustrada por tudo, incluindo o


fato de que sabia que a minha empregada estava sentada
junto ao fogo em uma das poltronas no meu quarto,
consertando algumas das minhas roupas, assim, ela iria
ouvir que fui reduzida à mendicância verbal aos deuses por
um indulto.
Oh, era muito mais fácil quando ninguém se importava
comigo. Foi apenas há algumas horas atrás quando fizeram
isso e eu já sabia que era melhor.

Suspirei.

Olhei para o travesseiro.

Considerei fazer mais promessas aos deuses (mas em


silêncio).

Minha mente vagou para a bunda de Noc naquelas


calças.

E assim, sem que eu soubesse, adormeci com um


sorriso em meus lábios.

***

Acordei de repente, me sentindo estranha.

Vi a luz do fogo brilhando do meu travesseiro, mas o


quarto não estava iluminado por mais nada.

Era noite.

Estava dormindo.

E agora estava acordada.

Acordada eu podia ver a sombra de um homem grande


sentado em uma cadeira ao lado da minha cama.

Desorientada, mas sentindo um fio de alarme através de


mim com esta realização, minhas costas queimaram com dor
quando eu abruptamente empurrei meus braços.
—Calma, Franka, — A voz de Frey estava baixa. —Sou
só eu.

Tentei colocar um chicote na minha voz, mas estava


sonolenta e confusa por isso pareceu mais com uma leve
mordida quando perguntei: —E o que, por Deus, você está
fazendo sentado ao lado da cama no meio da noite?

—É quase oito da noite.

Culpei meu pai e seus abusos. Adormeci depois do meu


(delicioso, surpreendente ainda considerando o que era) caldo
de carne, pão e vinho.

—Presumi que você acordaria e então poderíamos


conversar. — Frey continuou.

—Espero que você entenda que não estou realmente


com humor para isso, —respondi.

Ele se aproximou de mim, colocando os cotovelos sobre


os joelhos, e ignorou minha afirmação completamente.

—Eu estava errado sobre você. — Me disse suavemente.

—Você não estava, — disse rapidamente. —Sou


exatamente quem você pensou que eu era.

—Você percebe que o jogo acabou? — Ele


perguntou.

—Não percebo nada do tipo, considerando que


não era nenhum jogo, —retruquei. —Sou Franka Drakkar
agora. Eu era Franka Drakkar há uma semana, há dois
meses, dez anos atrás. Nada mudou.

—Tudo mudou.
Eu não aguentava mais.

—Frey, meu primo querido. — Comecei em uma fala


arrastada, —parece que adquiri um macho teimoso, e
irritante na minha vida para um futuro próximo. Então
gostaria e apreciaria muito se você não dobrasse esse
número, pois não quero nem o que já tenho.

Mais uma vez ele me ignorou, algo que ambos os


teimosos, machos irritantes em minha vida eram claramente
muito hábeis em fazer.

—Tinha a impressão que seu pai estava morto.

Ah sim, a ―morte‖ do meu pai.

Uma parte juvenil de conivência. Desnecessariamente


dramática. Embora na época achei a falta de pesar
expressado pelas Casas pelo seu ―desaparecimento‖ quase
engraçada.

Dito isto, deixei que meu querido pai alcançasse o


sucesso em uma variedade de maquinações nefastas, uma
das quais foi o contínuo descarrego de abuso em seus dois
filhos com muita presteza e sem responsabilidade.

Dei de ombros cuidadosamente e segurei o meu olhar


em seu rosto, mas deixando minha voz baixa enquanto
compartilhava —Você sabe que nós Drakkars gostamos de
nossos planos, Frey.

Vi sua cabeça curvar-se em um aceno.

Por isso continuei.


—Os planos são muito mais fáceis de alcançar se
perpetrados por um fantasma.

Isto foi recebido com silêncio e esperei com impaciência


enquanto meu primo digeria a pepita que eu estava
concedendo.

Ele tinha claramente feito quando falou.

—Gostaria que você tivesse me dito.

Isso não foi retransmitido em voz baixa. Ou numa


suave.

Era gentil e melancólica.

E, por todos os deuses, senti tocar-me o coração.

Como eu era campeã em fazer, triunfei sobre a fraqueza


de tal sentimento.

—E como seria essa conversa, Frey? — Perguntei. —


Talvez na primeira vez que me acusou de traição, eu deveria
ter jogado este cartão conquistando sua simpatia. ―Oh, mas
Frey, eu nunca faço isso, não porque eu sou uma Drakkar e
seria insensato além da razão. Mas porque, pobre de mim,
meu pai gosta de um chicote e foi assim desde que eu era
pequenininha‖.

—Escárnio não é mais uma arma que você precisa usar,


Franka, —compartilhou ele.

—Me serviu bem por grande parte da minha vida. Eu


desenvolvi muito intensamente esse meu talento, por isso, se
é tudo a mesma coisa para você, acho que vou mantê-lo, —
devolvi.
Eu não poderia enxergar direito seu rosto através das
sombras e luz do fogo, mas ele não parecia estar ficando
irritado.

Se meus olhos não me enganavam, parecia que estava


sorrindo.

—Como desejar, prima, —ele murmurou. —Conhecer o


que está por baixo desta máscara, certamente não será
irritante e se mostrará bastante agradável.

As coisas pareciam continuar a piorar.

—Posso chamar os elfos, Franka, — disse ele


baixinho. —Pedir-lhes para ver suas costas.

Os elfos de nosso reino tinham poderes de cura além da


compreensão, como evidenciado pelo fato de que trouxeram
uma Lavinia morta de volta à vida. Era sabido que a pessoa
morta precisava ter morrido recentemente para isto provar-se
ser um sucesso, ao invés de um esforço altamente
perturbador (e, portanto, os elfos não faziam mais tal
coisa). Felizmente, Lavinia apenas esteve naquele estado
triste por algumas horas.

E Frey comandava os elfos.

Mas eu pensei não.

—Minhas costas vão curar, — declarei.

—Sim, mas eles podem...

—Elas são minhas, — rebati. —Eu mereci estes


ferimentos de um jeito que você não pode compreender, e
estou mantendo-os, Frey. E com todo respeito, mas isso é o
fim da discussão.

Ele ficou em silêncio por um momento e senti sua


contemplação.

Mas, felizmente, ele deixou o assunto ir.

—Precisa de alguma coisa antes de eu voltar para Finnie


e enviar Noc de volta a você? — Ele perguntou.

—Preciso que você não envie Noc de volta para mim, —


respondi.

Houve um timbre em sua voz que traiu sua diversão


quando respondeu, —sim, eu vejo que isso vai se revelar
bastante agradável.

Lutei rangendo os dentes.

Frey se levantou.

—Descanse bem, Franka. Vou dar uma espiada em você


após o casamento amanhã. Ver como está se saindo.

—Aguardo esta visita com a respiração suspensa, primo,


— murmurei sarcasticamente.

—Sim, —ele sussurrou. —Realmente divertido.

Eu não olhei, mas temia que ele estava de pé, sorrindo


para mim por um longo momento (porque ficou de pé perto
da minha cama por um longo momento) antes de finalmente
dar-me boa noite e se despedir.

Lá estava.

A Prova.
Os deuses me abandonaram.

Entendi isso desde que era uma pequena menina, mas


parecia que desde então eu me agarrei a uma veia de
esperança.

Essa esperança foi frustrada.

Meu primo Frey gostava de mim e me achava divertida.

Ele e outros.

Eu era uma vergonha para a minha casa.

Merda.
Seguir as Regras

Franka
—Está tudo bem, minha senhora? — Perguntou Josette.

Virei a cabeça da vista que eu contemplava pela janela


recém-instalada, em frente a qual minha cadeira estava, e
olhei para a minha empregada, tentando não ficar irritada
com toda a sua preocupação.

—Tudo está muito bem, Josette. Exceto, talvez, você


poderia me trazer o meu livro?

Ela saltou como se estivesse em transe e apenas


acordado antes de correr para o livro que estava sobre a mesa
de cabeceira, como se procurar por ele fosse de grande
importância. Uma vez que esta tarefa crucial foi realizada, ela
correu diretamente para mim.

—Aqui está, — disse ela, oferecendo-me o livro.

—Obrigada, — murmurei com força, pegando-o.


—Mais alguma coisa? — Ela perguntou. —Você está
com dor? Gostaria que eu preparasse um chá de
salgueiro? Seus curativos estão incomodando? Você gostaria
que eu a ajudasse a voltar para a cama?

—Eu gostaria, minha querida, de sossego e paz para ler,


— respondi entredentes.

—Sim, — ela respondeu rapidamente. —Claro. Estou


apenas no outro quarto se precisar chamar.

Assim como ela esteve nos últimos três dias, apenas a


poucos passos de distância.

Vi quando ela caminhou até a minha porta do closet,


uma pequena antecâmara da sala onde sua cama estreita
estava localizada, mas a parei antes que ela desaparecesse
por trás dela.

—Josette?

Ela se virou para mim.

Continuei. —Nós não discutimos isso, mas eu gostaria


que você compartilhasse como sabia que tinha de despertar
Noctorno e levá-lo à adega.

Seu olhar inquisitivo ficou reservado e levou um


momento para ela responder.

Enquanto o tempo passava procurei por paciência, algo


do qual uma vez tivera em abundância. Paciência era
importante quando quantidades abundantes de perguntas
estavam envolvidas.

Algo que eu percebi estar perdendo.


Quando eu estava à beira de avisar, ela declarou: —
Tenho sono leve.

—Isso não é bem uma explicação—, observei quando ela


não disse mais nada.

—Estive trabalhando quase toda a minha vida. Quando


meus empregadores necessitam de noite ou de dia, estou
treinada para estar acordada e atenta.

—Você é uma excelente empregada, Josette. Está


dizendo que algo acordou você, você encontrou minha cama
vazia e foi à minha procura?

—Na verdade, você me acordou, fechando a porta do seu


quarto. Fiquei preocupada com você, seu... bem, o estado de
espírito que estava... bem ... — Ela balançou a cabeça. —Isso
não importa. A coisa é, eu estava preocupada por isso a
segui.

Que curioso.

Eu não a ouvi. Nem sequer percebi.

Então, novamente, minha mente estava em outras


coisas.

—E, assim, você viu tudo—, comentei. —Ou ouviu,


quando não estava irrompendo para ir dizer ao Mestre
Noctorno o que estava acontecendo.

Ela visivelmente engoliu.

Estudei-a e enquanto fazia isso eu observava sua


ansiedade aumentar.
Como era de se observar, ela foi uma excelente
empregada por algum tempo.

Nos últimos dias, no entanto, foi mais.

Então, encontrei-me assegurando-lhe suavemente: —


Não estou brava com você, Josette.

—Ele era...— ela balançou a cabeça novamente, —


Mestre Noc era o único que eu tinha certeza que iria...
ajudar—, ela terminou debilmente.

—Estou certa que você está correta—, respondi.

Ela deu um passo em minha direção e parou. —Estou


muito satisfeita que você não está aborrecida comigo, Lady
Franka. Pensei... quando o assunto veio à tona, que você... —
ela parou e não continuou.

Havia muito sobre isso para considerar e eu


seguramente considerei ao longo dos últimos dias.

Ou seja, o segredo sujo de Nils, Anneka, Franka e


Kristian Drakkar foi revelado.

E o fim da dominação, medo e tormento.

Era inesperadamente difícil aceitar isso.

Considerando a magia de minha mãe, e a vida que eu


levei onde as memórias começavam com o sofrimento de uma
forma que eu não sabia de mais nada, eu nunca considerei
uma vida sem Nils e Anneka impondo a sua marca de
crueldade. Uma vida sem viver sob a nuvem disso acontecer
novamente, fazendo o meu melhor para escapar e encontrar
formas de me manter segura a partir do momento em que me
vi livre.

Eu deveria estar aliviada. Até mesmo alegre.

E ainda assim eu não estava.

Senti uma boa dose de humilhação, mas mais


envergonhada com um mal-estar subjacente.

Kristian, eu soube (de Finnie durante uma de suas


muitas visitas), queria cuidar de sua esposa e filho após a
chegada repentina da mãe, e então eles estavam viajando
para o Palácio de Inverno para me ver. Valentine se ofereceu
para levá-los lá muito mais rápido, e isso queria dizer em um
instante, mas Kristian negou, temendo a reação de seu filho
ao método inusitado.

Embora na maior parte, decidi que era provável que esta


oferta foi estendida logo após Valentine interromper os
preparativos da minha mãe, assim meu irmão estaria
provavelmente mais preocupado com o estado de espírito de
sua família do que com planos de viagem.

Era muito raro (e se eles estivessem viajando de trenó, o


que parecia que iam fazer, significava que eu estaria no
Palácio de Inverno por mais tempo do que a rainha decretou),
mas eu estava ansiosa pela visita do meu irmão.

Não era incomum, porque eu desejava vê-lo e verificar se


estava realmente bem em mente e espírito.
Era incomum porque queria falar com ele
sobre sua reação à nossa miséria ao longo da vida chegando
a um fim abrupto, inesperado.

Discutir meus sentimentos não era algo que eu


costumava fazer. Isso para dizer, já que eu acabei com
Kristian e eu sussurrando juntos quando éramos crianças
porque fomos repetidamente punidos por isso, eu nunca fiz
isso, nem mesmo com Antoine.

Portanto ansiosa para tal discurso era uma mentira.

Mas não se pode negar que eu fiz.

—Minha senhora, há qualquer outra coisa? — Josette


chamou, e comecei perdendo a noção da nossa conversa e até
mesmo esquecendo que ela estava lá.

—Eu sinto muito, Josette. Minha mente vagou. Não,


obrigada. Nada mais.

Ela não se moveu.

Tudo o que fez foi piscar.

Achei isso estranho até que percebi o que saiu da minha


boca.

Querida Deusa, eu me desculpei.

E…

Olhei mais de perto minha empregada, desviando o


olhar...

Parecia que estava à beira das lágrimas!

Diabos.
Eu não era uma ogra, mas ela está comigo há cinco
anos.

Cinco anos com alguém que era distante, respeitosa,


mas não carinhosa.

Para não mencionar, a própria ideia de viver uma vida à


disposição e espera da chamada de alguém era revoltante.

Além disso, como os meus pais me ensinaram − que os


funcionários estavam abaixo da minha atenção − vivendo a
minha vida, sem nem uma vez considerando esse fato tão
terrível, era ainda mais revoltante.

O que significava que eu era revoltante!

Você está aprendendo, meu anjo, Antoine disse na


minha cabeça.

Puta merda.

Saia daqui, rebati.

—Eu... você está... eu...— Josette cortou meus


pensamentos dementes e desta vez ela visivelmente engoliu
em seco, —Vou verificar você mais tarde, senhora.

Decidi manter minha boca fechada e simplesmente


levantar o meu queixo.

Ela finalmente desapareceu atrás da porta.

Vi isso e não reprimi o meu suspiro de alívio.

Encontrei então a fita no meu livro e abri o próximo


capítulo que eu deveria ler.
No entanto, eu sabia que este seria um esforço inútil,
pois, independentemente do tempo copioso que eu tinha
para descansar e curar, esse tempo foi interrompido várias
vezes, principalmente por Josette, mas também com
frequência irritante por Noc e até mesmo por um Frey solícito
e uma Finnie abertamente agradável e sociável.

E naquela manhã, assim que saí da minha cama, ela


trouxe Circe e Cora (Madeleine estava agora celebrando a
felicidade conjugal com Apollo, viajando para uma de suas
casas com algum lago em algum lugar, isso eu sabia, devido
à extrema tagarelice das duas princesas e rainha que me
visitaram, todas as quais falavam pelos cotovelos como
empregadas da copa).

Eu percebi que ignorar Noc ou dar-lhe respostas


monossilábicas não detinha sua simpatia. Na verdade, ele
achava divertido e não hesitava, não só em demonstrar isso,
sorrindo, rindo ou gargalhando, mas também compartilhando
isso comigo verbalmente. Como se não só eu pudesse notar
que ele achava isso por seu sorriso, rindo e gargalhando, mas
também queria me assegurar da veracidade desses atos como
se este fosse o atributo mais importante.

Eu também percebi que não tinha que ser sociável e


atenciosa em torno de pessoas sociáveis e atenciosas. Alguém
poderia estar praticamente silenciosa e até mesmo mal-
humorada e eles simplesmente continuariam a ser sociáveis e
acolhedores.

Estava irritando meus nervos.


Eu até puxei a real Franka para fora, dizendo algo
cortante para Finnie bem na frente de Aurora (embora Frey
tivesse deixado meu quarto, eu estava frustrada, não tola), e
se pudesse dar crédito, Finnie apenas sorriu para mim e
declarou: —Franka, eu juro, você é alguma coisa.

Sim.

Isso foi precisamente o que ela disse.

Eu nunca esqueceria.

E agora, quando eu deveria estar focada em meu livro,


eu não estava. Em vez disso, estava à espera de quem poderia
entrar pela porta.

Eu não iria admitir que desejava que fosse Noc assim


como eu sabia que, com a frequência de suas visitas, ele era o
candidato mais provável.

Na verdade, eu não admitiria que desejava que


fosse qualquer um, porque, desgraçadamente, sociabilidade e
compaixão eram nauseantemente agradáveis de se estar ao
redor.

Voltei minha atenção do meu livro para a janela e


perguntei: —Se eu olhasse no espelho, me reconheceria?

Isto é o que você sempre foi, amor, Antoine respondeu.

Estou muito satisfeita que você está morto, menti,


irritada.

Sei que isso não é verdade. Embora, seja isto o que você
pensa, você está livre para explorar os sentimentos que vêm
crescendo por Noc.
Ao ouvir estas palavras na minha cabeça, minhas costas
dispararam em linha reta tão rápido que uma onda de dor
aumentou e foi tão feroz que tive que morder o lábio em um
esforço para não gemer.

Durante este esforço, ouvi uma batida forte na porta,


anunciando a chegada de Noc (como sempre era o caso),
antes de eu conceder a entrada (ou negar, este esforço
sempre ignorado), a porta se abriu e ele entrou por ela.

—Hey, baby, — ele cumprimentou.

Eu não o cumprimentei de volta.

Eu olhei.

Isso porque ele estava usando aquelas calças


novamente. Parecia que ele tinha inúmeros pares, todos do
mesmo tecido, mas todos em diferentes tons de azul, todos
eles impossíveis de se decidir qual par lhe convinha melhor.

Ele também estava usando uma camisa que parecia do


mesmo material, exceto que, mais leve e quase
completamente desbotada, apenas uma nuance de azul foi
deixada. E esta camisa conseguia fazer coisas notáveis, não
só para o peito dele, mas também para sua cintura estreita,
ombros largos e seus olhos extraordinários.

Sim, se eu já não tivesse chegado a essa conclusão, nos


últimos três dias ficou claro que os deuses tinham
absolutamente me abandonado.
Olhei para a janela tentando visualizar Antoine. Seu
corpo magro. Seus traços refinados. A espessura de seu
cabelo loiro escuro. A vivacidade de seus olhos verdes.

Mas tudo que eu podia ver era Noc em suas calças.

E tudo que eu podia ouvir era Noc arrastando uma


cadeira ao meu lado.

—Você está bem? — Perguntou.

—Estou, — respondi para a janela.

—Você deveria estar sentada? — Ele perguntou.

—O médico parecia pensar assim, considerando que foi


a sua sugestão.

—O travesseiro que tem atrás de você é macio o


suficiente? — Noc pressionou.

Comprovado.

Simpatia e sociabilidade, para não mencionar a


bondade, eram frustrantes.

E nauseantes.

(Eu disse a mim mesma).

Lentamente, virei meus olhos para ele. —Não, é duro e


irrita. Mas, considerando que acabei de pedir a Josette para
me trazer uma camisa de pele para que eu possa continuar
minha autoflagelação em níveis mais elevados de desconforto,
acho que será suficiente.

Noc deu-me um sorriso. —Você está sendo engraçada,


posso ver que está bem.
De alguma forma, continuava a me entregar.

Suspirei pesadamente e voltei minha atenção para a


janela, anunciando: —Eu tinha a intenção de ler.

—Então, leia.

Olhei novamente para ele. —Sozinha.

—Então leia sozinha. Vou até a biblioteca, encontrar um


livro, voltar e fazer isso com você.

Eu inclinei minha cabeça para o lado. —Você tem a


palavra sozinha em seu mundo, não é?

—Claro que temos, — ele respondeu amigavelmente. —


Mas pense, se está focada no livro, você está sozinha, mesmo
se alguém está com você.

Se alguém, de fato, estivesse focado no livro, ele estava


certo.

Mudei meu olhar de volta para a janela.

—Seu livro não está fora da janela, Frannie.

Deuses, esse apelido.

—A bruxa verde desapareceu, — eu disse, a minha


curiosidade com o desaparecimento levando o melhor de mim
porque eu sabia que não deveria dizer nada que pudesse
iniciar uma conversa. Mesmo que não precisasse dizer nada
para iniciar a conversa, Noc era adepto de fazer isso tudo por
conta própria.

—Sim. De acordo com os outros, este é o seu jeito. Ela


vem e vai quando quer.
Eu não me afastei da janela quando perguntei, —Com
os problemas acabados, ela se foi para sempre?

—De acordo com Lavinia, ela calcula que Valentine


estará de volta. Quando? Isso é sempre uma incógnita.

Eu não disse nada por um longo tempo, lutando com


meus pensamentos sobre a bruxa verde fascinante, e de
todos os meus visitantes nestes últimos dias, ela era a única
que eu realmente desejava ver.

Me tornei consciente do meu reflexo na janela, o frio


saindo do vidro, gelando o meu ombro.

Eu precisava do meu xale.

Eu precisava de paz e tranquilidade.

Eu precisava da minha própria companhia.

Eu precisava…

—Eu não posso visualizá-lo, — eu declarei, por razões


desconhecidas, provavelmente porque tendo toda essa
sociabilidade e simpatia estava me deixando maluca.

—Diga de novo? — Perguntou Noc.

—Eu não posso visualizá-lo, — compartilhei


insanamente. —Antoine. É difícil trazê-lo para minha
mente. Posso me concentrar em uma característica, mas é
indescritível. O resto, fica obscuro.

—Certo, vejo que você pode não estar bem, — ele


murmurou.

Ele estava correto.


Eu lutei contra meus ombros caindo, e não
simplesmente porque esse movimento minúsculo pode causar
dor, mas porque iria revelar a Noc. Um hábito físico, esse
subterfúgio, e por mais que lutasse, minha boca continuou
dizendo-lhe o que estava em minha mente.

—Eu deveria ter contratado um artista de retrato, — eu


disse levemente para a janela. —Vinte deles. Centenas
deles. Eu não tenho uma única imagem dele e minha mente
está falhando muito cedo. — Minha voz caiu para um
sussurro.

—Muito, muito cedo.

Fiquei espantada quando Noc pegou minha mão. Olhei


para baixo para ela e para ele para ver que colocou sua
cadeira ainda mais perto, estávamos a centímetros de
distância, e ele estava segurando a minha mão em um aperto
quente, firme.

—Ele não era apenas a sua aparência, baby, — ele disse


gentilmente. —Sempre foi apenas o que a fazia sentir. E
aposto que isso não está falhando.

Olhando em seus olhos azuis surpreendentes, olhos que


eu sabia instintivamente que nunca esqueceria, nem por um
momento, temi que ele estivesse errado.

Retirei minha mão de seu aperto, coloquei a fita de volta


no livro, fechei-o e novamente virei-me para a janela.

—Estou certo? — Noc empurrou.


—Ele merece mais, — respondi, sem olhar para ele. —
Ele merece ter cada memória guardada como preciosa.

—As memórias são também o que faz você sentir,


querida. Mas Franka, — não tentando agarrar a minha mão
de novo, enrolou os dedos longos em torno de meu joelho, —
se você segurar muito apertado, você não vai deixar ir. Se não
deixar ir, você não segue em frente. Você tem que manter o
que pode ter, o bem que recebeu dele, como isso fez você se
sentir, mas se solte, baby, para que não perca o que pode
estar por vir.

Senti uma pontinha de dor nas minhas costas quando a


minha atenção voltou novamente para Noc.

—E você assume que eu gostaria de seguir em frente?

—Talvez não agora, — disse ele. —É muito recente. Mas


um dia, sim.

—Bem, você pode estar errado, — rebati.

—E o que Antoine acharia disso?

Fechei minha boca e, mais uma vez desviei o olhar para


a janela, porque eu sabia exatamente o que Antoine pensaria
disso.

E não era muito.

Ele viveu a vida ao máximo. Ele amava a vida. Ele me


ensinou a fazer o mesmo (quando eu estava com ele).

Ele ficaria desapontado se eu não continuasse nesse


caminho, agora, mais ainda, sem a ameaça de meus pais
obscurecendo cada movimento meu.
Noc deu um aperto em meu joelho. —Essa merda, não é
para agora, Frannie. Essa merda, você pensa no
futuro. Dizem que há cinco fases do luto. Não estava perto de
você para saber se você passou pela primeira, que é a
negação. Mas sei que você trabalhou através da raiva com a
vingança que você teve contra essas bruxas. Talvez você
tenha barganhado, mas parece-me que agora está na fase da
depressão e você só tem que sentir isso. Não lute contra
isso. Vai ser uma merda. Mas, então, vai passar por isso,
chegar à última fase, e aceitá-lo.

Voltei-me para Noc, declarando: —Isso é totalmente


absurdo.

—Diga-me que não passou por todas elas, querida. Diga


bem na minha cara, — ele ousou.

—Eu não passei, — retruquei.

Seus lábios se curvaram. —Pense sobre isso e repita.

—Este é um exercício ridículo, Noc, — anunciei, —


pensar sobre isso.

Isto ganhou-me um meio sorriso e um murmúrio, —


Certo, talvez você ainda esteja na fase da raiva.

—Você não estava indo para a biblioteca pegar um livro?


— Lembrei.

Suas sobrancelhas se ergueram. —Isso é um convite


para voltar e ler com você?

—Absolutamente não. No entanto, Frey levou a


fechadura da porta, então não posso usá-la contra você, para
que você e todos os outros no palácio, estejam livres para ir e
vir como quiserem, algo que você, e todos os outros no
palácio, sentem-se livres para fazer. O que eu desejo é que
você vá, e se simplesmente encontrar um livro, isso não seria
indesejável.

Ele soltou o meu joelho e sentou-se. —Não se chateie


com Frey por isso, Lábios-açucarados. Pedi-lhe para fazer
isso para que você não se levantasse para nada estúpido.

—Eu nunca fui estúpida nem um único dia na minha


vida, — voltei.

—Eu aposto que é verdade, — ele sussurrou, seus olhos


nunca deixando os meus.

Inspirei pelo nariz, em seguida, declarei: —Uma vez que


parecem determinados a passar um tempo na minha
presença, e você e Frey parecem ter uma boa dose de acordo,
seria prudente da minha parte torná-lo útil. Assim, antes de
meu irmão chegar no Palácio de Inverno, eu gostaria que você
pedisse a Frey que eu seja autorizada a ver os meus pais na
cadeia.

Ele piscou estranhamente, fechou os olhos, levantou as


sobrancelhas mantendo-os fechados, em seguida, abriu os
olhos apenas para partilhar que os seus estavam cheios de
descrença.

—O que você disse? — Ele perguntou tão estranhamente


quanto seu piscar demorado.
—Eu gostaria que você solicitasse a Frey que eu seja
autorizada a ver os meus pais na prisão, antes de Kristian e
sua família chegarem aqui, — repeti.

—Eu ouvi você, baby, estou apenas querendo saber se


você perdeu a cabeça nos últimos dois minutos.

Achei isso ofensivo e endireitei as costas tolamente,


controlei a careta que o movimento causou e perfurei-o com
um olhar.

—Eu não consigo ver como desejar uma visita aos meus
pais é perder minha mente.

—Frannie, você nunca terá que vê-los novamente.

Endireitei cuidadosamente meus ombros enquanto eu


sentia minha boca ofegar.

Então, com isso, declarei: —Uma barganha, gentil


senhor, todo meu baú de ouro Hawkvale, se você nunca me
chamar de Frannie novamente. E enquanto eu estou
mencionando isso, todo o meu baú de joias Korwahkian e as
peles se você nunca me chamar de Lábios-açucarados
novamente.

A luz atingiu seus olhos e eu estava começando a me


familiarizar com isso então me preparei para o que viria a
seguir.

—Vendo como cutucá-la te deixa mais bonita e mais


engraçada, não importa quão tentador esse negócio seja, eu
tenho que dizer não.
—Eu estava sendo honesta, — menti. Mesmo que o
perigo não se escondesse, eu absolutamente não lhe daria
baús de ouro e joias para o favor de não me chamar de
nomes que eu detestava.

Talvez uma pele e uma joia e várias moedas (que é o


quanto eu odiava esses apelidos pois a verdade era que nem
sequer desejava participar disso).

Mas nem todos eles.

—Mentirosa, — ele voltou.

Acenei uma mão na minha frente e trouxe-nos de volta


ao assunto pertinente, mas o fiz obtendo um corte porque eu
era, bem... eu . Ou, pelo menos, uma sombra de mim. Mas
ainda que fosse.

—Entendo. Então peço que não me chame desses


apelidos. Você se recusa. Peço-lhe para falar com Frey, a meu
favor, para adquirir uma visita aos meus pais. Você recusa
isso também. Isso significa que você não é apenas
inoportuno, também é inútil.

Inclinou-se de novo para mim, estendendo uma mão


para tocar meu joelho antes de perguntar cuidadosamente, —
Se você não tem que vê-los novamente, depois de tudo que
fizeram a você, e seu irmão, porque diabos quer vê-los de
novo, querida?

—Porque eu ainda estou de pé.

Ele se recostou na cadeira e me estudou.


Mas ao fazê-lo, um sorriso que nunca vi nele curvou sua
boca.

Estava cheio de maldade e alegria.

Foi surpreendente.

E saboroso.

—Vou falar com Frey para você, — ele concordou.

—Eu ficaria muito grata.

Ele se inclinou para frente novamente e declarou: —Só


para você saber, não irá sozinha.

Eu não iria?

—Porque diabos não? — Interroguei.

—Porque eu estarei com você.

—Por quê? — Essa pergunta veio mais aguda.

—Você é afiada como uma navalha, mas lenta para


pegar algumas coisas, então vou explicar de novo, — ele
começou e rapidamente terminou. —Você não tem que ir
sozinha.

—Eu não estou sendo lenta, Noc, — devolvi. —


Eu quero ir sozinha e vou explicar isso melhor. Eu não quero
você comigo.

—Não dou a mínima para o que você quer, — ele disse


de repente bruscamente, falando de uma maneira que nunca
falou para mim, algo que me fez ficar em silêncio. —Você não
sabe como lidar com isso e eu entendo, querida. Eu
absolutamente entendo. E você pode ter todo o tempo que
precisar para acordar e ver o que está acontecendo ao seu
redor. Durante isso, vou fincar o pé, e no caso de não ter
notado, Frey e Finnie também irão. Em outras palavras,
Frannie, aperte o cinto de segurança. Se você não segue as
regras, vai ter um passeio selvagem.

Havia muito que entendi do seu discurso.

Havia também um pouco que não.

—Acredito que eu entenda a palavra ―merda‖, —


retruquei. —E isso significa excremento.

Seu humor afiado estava falhando quando um sorriso


ampliou sua boca. —Sim.

—Então por que você iria dar um excremento por


mim? Isso não está dizendo que você não pensa muito de
mim?

—É gíria, — explicou.

—Tudo o que você profere é uma gíria.

—Não tudo.

—A grande maioria, — respondi.

Sua resposta veio em um murmúrio. —Não vou discutir


isso.

—Já terminamos de falar sobre este assunto? —


Perguntei.

—Você não recusou a ideia de ir comigo visitar seus


pais, então sim.
—Eu não estou com disposição para discutir. Estou com
vontade de ler, — menti sobre o último.

Estava com vontade de me aninhar, algo que eu não ia


fazer na frente dele, e estava assumindo que o que viesse a
seguir faria com que ele ao menos saísse do quarto.

—Eu retiro o que disse, — afirmou estranhamente. —Só


mais uma coisa sobre o assunto.

—Sim? — Solicitei.

—Por que você não pergunta a Frey você mesma?

—Quando estou perto dele, ele é simpático e sociável.

Noc olhou para mim por algum tempo depois que


terminei de falar antes de perguntar: —E?

—Acho isso repugnante.

Ele começou a rir.

Revirei os olhos.

Quando ele estava controlando seu riso, eu estava


terminando de revirar os olhos.

Ele pegou e declarou: —Você é tão cheia de merda.

—Que coisa ofensiva para se dizer. — Rebati.

—É uma gíria também, querida, como você sabe. Mas


sim. Eu só essencialmente te chamei de mentirosa. Embora,
de um modo provocativo.

Sem mais nada para responder, olhei para o teto e


implorei aos deuses que me abandonaram, —Livrai-me.

—Você vai ler? — Perguntou.


Voltei minha atenção para ele. —O próximo item na
agenda do meu dia será praticar a minha habilidade em
ignorá-lo. Então, sim, Mestre Noc, vou ler.

—Ótimo, vou pegar um livro, — ele murmurou,


levantando-se do seu assento e vindo até mim.

Ele então se curvou perto, a fim de beijar o topo da


minha cabeça.

Beijar o topo da minha cabeça!

Como se ele fosse um tio idolatrado.

Diabos!

Mesmo enquanto a aristocrata em mim foi insultada


além da medida, senti um arrepio descer pela minha espinha
e foi a primeira coisa que me fez sentir bem durante três dias.

—Vou voltar, — disse ele.

Decidida a colocar meu plano em ação, não respondi.

Eu simplesmente abri meu livro, removi a fita e fingi ler.

***

Mais tarde, naquela noite, depois do jantar, sentei-me


na chaise do closet, ao lado do quarto (ambos os cômodos
decididamente masculinos, mas, então, Noc e eu trocamos
devido a minha situação), cuidadosamente reclinada para
frente. Meu robe estava amarrado baixo na parte de trás, mas
segurei as bordas na frente para me cobrir.
Josette estava sentada atrás de mim, cuidando das
minhas feridas.

Depois de um dia em que passei completamente na


companhia de outros (Noc, leitura, Noc, almoço, Noc e Finnie,
bate-papo da tarde, Circe e Cora se juntando a nós para o
chá da tarde ─ vamos apenas dizer que foi um grande alívio
quando eles saíram para se preparar para o jantar),
terminamos o meu banho da noite.

—O médico quer lavanda e mel sobre eles esta noite,


milady, mas falou comigo e acredita que você deve fazer o seu
melhor para deixá-los tomar ar amanhã. A umidade não está
permitindo a formação das crostas. Podemos cobri-los antes
de dormir, mas durante o dia deixe-os abertos. Acha que
pode fazer isso?

Como eu nunca sofri uma surra do meu pai na minha


vida, onde alguém precisasse cuidar das minhas feridas, tive
um pressentimento de que eu podia.

Estas não foram as palavras que usei para responder a


minha empregada.

Eu disse: —Vamos tentar, Josette.

—Bom, — ela murmurou.

Sentei-me, sentindo seus cuidados suaves, e


aparentemente incapaz de parar minha boca de falar naquele
dia, mais palavras foram derramadas.

—Há questões sobre o nosso futuro para discutir, —


informei a ela.
—O nosso futuro? — Perguntou ela.

—Na verdade, — respondi. —Perder Mestre Antoine, a


situação tal como está aqui, as coisas estão incertas.

Sua voz soava surpresa. —Nós não vamos voltar a


Fleuridia?

Fleuridia era sua casa.

Eu sabia pelo seu currículo que esteve em serviço em


ambos Hawkvale e Lunwyn antes de estar comigo, e foi por
isso que assumi que a bela melodia de seu sotaque Fleuridian
não era forçado e seu Valerian era excelente.

Não me ocorreu, desconfortavelmente, mas ela poderia


desejar seu retorno para casa.

—Isto vai ser um problema para você? — Perguntei.

—Eu... bem, vou onde você vai, senhora.

Ela iria de fato.

Mas isso nunca foi através do Mar Verde.

—Você pode se sentar? — Ela solicitou. —Eu preciso


cobrir seus machucados.

Fiz o que ela pediu, relaxando os braços para dar-lhe o


acesso que precisava.

—Josette? — Chamei.

—Bem aqui, Lady Franka.

—Você sabe...— Pelos deuses, como é que alguém lida


com esse tipo de coisas? —Que o seu serviço... a maneira de
executar seus deveres... que eu realmente... valorizo isso.
Houve uma pausa em seus movimentos antes que me
respondesse, com a voz baixa, não com emoção, ou pelo
menos não a emoção leve.

Ela parecia que queria rir.

—Eu realmente tenho essa impressão, senhora.

—Excelente, — eu disse bruscamente. —Ao entender


isso, você pode imaginar que no futuro eu gostaria de mantê-
la como minha empregada.

Ela me enfaixava com a gaze pela minha frente e depois


atrás enquanto eu falava e continuou a fazê-lo enquanto me
respondia. —Espero que sim.

—E pela sua lealdade e nível de desempenho, —


continuei, me sentindo extremamente estranha, —que foi
sempre de um alto padrão, vou te dar um aumento de salário.

—Isso seria adorável, obrigada, — disse ela calmamente


por trás de mim, ainda envolvendo minha frente nua com
gaze, mas soando como se quisesse dizer essas palavras.

A intimidade da nossa situação não foi perdida em mim.

O fato de que eu não considerei nenhuma vez como


confiei essas intimidades a Josette sem pensar (até então),
também não foi perdida por mim.

Lutei com sentimentos de vergonha e esperava que a voz


de Antoine não aparecesse na minha cabeça enquanto eu
continuava.

—Eu também estou planejando adicionar novos


empregados. No entanto, se você concordar em me
acompanhar enquanto realizo meus planos para o futuro,
então gostaria que você não só cuidasse de empregar alguém
com quem sentisse que vai trabalhar bem, mas também
supervisionasse esse alguém uma vez que os contratemos.

—Ajuda com meus deveres? — Ela perguntou, o tom de


sua voz aumentando em surpresa.

—Você trabalhou diligentemente por algum


tempo. Estou em posição de remunerar você para lhe mostrar
o meu apreço, bem como conseguir alguma ajuda para você
com os referidos deveres.

—Eu... isso... Ficaria grata por isso, Lady Franka.

—Excelente, — murmurei quando a senti amarrando o


curativo no lugar.

—Acabei, — ela anunciou.

Puxei meu manto cuidadosamente nas minhas costas,


fechei-o na frente e amarrei-o frouxamente na cintura antes
de voltar a sentar-me corretamente na chaise.

Josette já se afastou e lidava com toalhas de banho


molhadas, organizando frascos e garrafas e recolhendo
minhas roupas usadas.

Eu nunca a observei nessas funções. Eu realmente não


sei o que acontecia com minha roupa e itens da minha
toilette depois de eu ter saído da sala de banho. Mas agora vi
o final da minha toilette, bem como a sua duração, para não
mencionar o tempo antes dela, visualizando nada além de
trabalho de Josette.
—Josette, — eu disse suavemente e seus olhos voaram
para mim quando parou de se mover. —Vem sentar-se
comigo, por favor, — pedi.

Tendo dito ―por favor‖, senti que era o suficiente de


bondade e me impedi de dar tapinhas na almofada ao meu
lado, que era um desejo bizarro que eu tinha naquele
momento.

Ela jogou minhas roupas em um cesto de roupas


lindamente decorado e se moveu na minha direção. Seu
passo era hesitante, mas seu olhar segurava o meu.

Ela se sentou ao meu lado, e zelando por minhas feridas


me virei com cuidado para ela.

—Tomei uma decisão sobre o que virá para mim e nossa


conversa anterior serviu para eu compartilhar isso, decidi
que, gostaria que você permanecesse comigo. No entanto, vou
dizer que o que está por vir, que eu planejei, é mais
incomum, e, claro, sua vida é sua então a sua decisão de me
acompanhar, ou não, é também sua.

—Tudo bem, Lady Franka, — ela disse, hesitante.

—E, obviamente, a partir do que eu já partilhei, vou dar-


lhe uma excelente referência e uma remuneração saudável se
você decidir que não continuará comigo. O suficiente para
que, talvez, você possa tomar algum tempo para si
mesma. Viajar ou..., — virei para o lado, —o que quer que
queira fazer. Ou você pode querer aprender um negócio
adicional. Será sua moeda para usar como desejar. Mas,
independentemente disso, não haverá necessidade de se
preocupar se você não encontrar um emprego alternativo
imediatamente. Você estará segura.

Enquanto eu falava, ignorei sua expressão chocada.

Continuei a ignorá-la, quando perguntei, —Você


entendeu?

Ela balançou a cabeça lentamente e disse: —Sim,


senhora.

—Bom, — respondi, mexendo-me no meu lugar, pronta


para ir em frente. —Agora vou compartilhar o que tive tempo
para reconsiderar sobre os planos que eu tinha antes dos
meus pais serem presos, e mesmo que isso signifique que
minhas opções para meu futuro são agora mais extensas em
Northlands...

Seu olhar se transformou de surpresa para confusão,


mas ignorei isso também e continuei.

—Eu ainda sinto que uma aventura seria o ideal. Com a


perda de Mestre Antoine, Fleuridia...

Josette não me deixou ir além disso, dizendo


rapidamente: —Entendo, Lady Franka.

Concordei com inteligência e declarei: —Então decidi


atravessar o Mar Verde.

Com isso, não só a deixei boquiaberta, mas seus olhos


se arregalaram.

—Isso não é uma aventura para qualquer um, —


continuei, apesar de sua expressão compartilhar que ela
sabia disso e algo mais. —Então, entendo se você não
preferir. Se você tem laços com Fleuridia, família ou... —
Balancei a cabeça, sem ter ideia do que ela tinha, —
conhecidos que você não gostaria de estar longe.

—Minha família está morta, milady.

Foi quando eu finalmente calei minha boca e olhei para


ela.

Parei de fazer isso para perguntar: —Todos eles?

Ela assentiu com a cabeça. —Mãe, pai, irmã.

Diabos.

—Eu... bem, — gaguejei, me recompus e perguntei: —Se


você desejar compartilhar, gostaria de me dizer como tal coisa
aconteceu?

—Uma ponte desmoronou sob o seu trenó, — ela


informou-me prontamente. —O trenó caiu completamente e
de alguma forma invertida enquanto descia. Meu pai ficou
livre, mas a minha mãe e irmã ficaram presas sob ela no
fundo do rio. — Ela encolheu os ombros como se isso pouco
importasse para ela, mas eu podia ver o rosado em suas
bochechas que pareciam pronunciadas devido à palidez
repentina de sua pele. —Meu pai morreu, porque ficou na
água tentando soltá-las.

Isto era ...

Bem…

Inimaginável.

Com nada mais em meu poder para fazer, simplesmente


murmurei: —Josette.
Ela balançou a cabeça como se isso pudesse negar a dor
dessas memórias.

—Foi há muito tempo. Como eu tinha um interesse em


música que eles não tinham, eu estava em um concerto na
nossa morada dos deuses com os amigos. Um coro itinerante
que era muito bom. Eles foram à cidade para jantar em um
pub local. O pub era conhecido por um excelente guisado. —
Outro dar de ombros e terminou, — pelo menos eles tiveram
um belo último jantar.

—Cesse esse absurdo, — pedi e assisti minha


empregada piscar.

—Desculpe?

—Isso é terrível, esta história, — anunciei algo que ela


sabia muito melhor do que eu. —Sei que você deseja fazer
pouco dela e seguir em frente, embora eu não sei por que,
exceto, talvez, você não querer incomodar-me com ela, ou se
deseja negar os sentimentos que ainda sente sobre isso.

—Bem, é claro que não desejo incomodar com isso. Você


tem o suficiente para se preocupar, — ela respondeu de
forma absurda.

—E a minha empregada que foi leal, trabalhadora e


atenta, e nestes últimos dias, excepcionalmente meiga, tendo
essa história não iria me preocupar? — Perguntei com uma
sobrancelha levantada.

Depois de uma pausa cuidadosa, ela me lembrou com o


mesmo cuidado, —não tem por anos, milady.
Ela estava terrivelmente certa.

Levantei meu queixo. —Bem, preocupa-me agora, — eu


disse secamente e continuei no mesmo tom. —E estou triste
por você. Você era próxima deles?

Ela assentiu com a cabeça.

—Então isso me deixa ainda mais triste por você, —


declarei.

—Obrigada, — respondeu ela.

—Foi assim que você veio para o serviço, ou sua família


estava em serviço antes de você?

—Eu estava... bem, eu precisava encontrar trabalho. Eu


tinha treze anos. Era um orfanato ou serviço. Acho que
escolhi certo, — respondeu.

Ela tinha treze anos.

Sim.

Inimaginável.

—Não tenho a menor ideia se você fez ou não fez, mas


isso não importa agora, — eu disse a ela. —Aqui está você. A
meu serviço. E é aí que eu gostaria que permanecesse, com
outra criada para que você possa supervisionar e apoiar você,
enquanto nós viajamos sobre o mar verde para o que nos
espera lá.

Percebi depois de fazer a minha proclamação que eu


estava ansiosa para ouvir sua resposta.
Viagem através do mar verde era incomum porque não
estava totalmente segura. Na verdade, viagens em qualquer
lugar não eram seguras por terra ou por
mar. Piratas. Ladrões de estrada. Mau tempo.

Mas do meu conhecimento (o que não era grande),


haviam outros perigos à espreita ao longo dessa passagem.

Em outras palavras, esta não era uma aventura


mediana.

Esta era a aventura.

Portanto, eu sabia o que estava pedindo, e estas eram


parcialmente as razões pelas quais eu estava oferecendo-lhe
um aumento de salário, mas também todas as oportunidades
para sair do meu serviço sem qualquer estresse ou
preocupação sobre o seu futuro, se desejasse recusar.

Eu acreditava, que depois da minha visita ao meu irmão


e sua família, e com minhas costas curadas o suficiente para
fazer a viagem, ao invés de permanecer em Lunwyn, o que
agora era seguro para mim, que uma aventura era
exatamente o que precisava.

Mas embarcar nela com alguém familiar seria benéfico.

E se eu só admitisse isso para mim (pois, eu parecia


estar compartilhando com uma frequência alarmante),
embarcar nela com Josette seria além de benéfico e talvez
tornasse a viagem e quaisquer aventuras que tivermos,
agradáveis.

—Seria uma honra ir com você, — disse ela.


Eu estava atordoada por sua pronta aceitação (bem
como animada e talvez lisonjeada), então, tive que lutar
contra o desejo louco de comemorar em voz alta.

Mesmo assim, eu precisava ter certeza de que Josette


tinha certeza.

—E Fleuridia? Você deixa alguém para


trás? Amigos? Um amante? — Perguntei.

—Não, senhora.

Estreitei meu olhar para ela. —Tem certeza?

Ela assentiu com fervor e foi, em seguida, que notei uma


luz de excitação em seus olhos.

—Sim, tenho certeza. Muito certa. — Ela pulou um


pouco em sua almofada e estendeu a mão para pegar minhas
mãos que estavam dobradas no meu colo. —Isso pode ser
divertido!

Olhei para as minhas mãos e mal avistei as dela


segurando a minha antes que ela arrancasse para longe.

—Minhas desculpas pela precipitação, milady, — ela


murmurou como se eu a tivesse castigado.

Olhei para o rosto dela para ver que desviou o olhar.

—Josette, — chamei.

Levou tempo, mas ela finalmente voltou sua atenção


para mim.

Ou, para ser mais exata, meu nariz.


—Você cuidou de mim durante anos. Acho que está tudo
bem em um momento de emoção tocar minhas mãos, não é?

Seu foco saiu do meu nariz para os meus olhos.

—Eu... sim, se você não se importa, senhora.

—Certamente que não. — Decretei, então, prontamente


me levantei, porque, francamente, tive o suficiente.

Honestamente, a facilidade em tomar parte na simpatia


e sociabilidade era preocupante.

—Gostaria da sua camisola, Lady Franka? — Perguntou


Josette.

—Sim, por favor.

Ela me ajudou a despojar-me do meu robe. Me ajudou a


vestir a camisola. Então, me auxiliou a colocar meu roupão
novamente. Ela até cuidou da tarefa inútil de me segurar
firme enquanto eu colocava meus pés em meus chinelos. E
pairou perto de mim enquanto eu voltava para o quarto.

Não satisfeita, ela fervorosamente afofou os travesseiros


antes de eu subir na cama e jogou uma macia manta de lã
sobre minhas pernas depois que eu conseguiu essa façanha.

—Há qualquer outra coisa? — Perguntou ela.

—Sim, — respondi.

Ela esperou pacientemente, mas eu podia ver que a luz


de excitação ainda estava lá em seus olhos.

Ela, de fato gostava de mim.

Ela também gostava de aventura.


—Milady? — Ela perguntou quando eu não falei.

—Você gostaria que fossemos por Airen ou prefere viajar


pelo interior e ir em direção a Firenze?

Um sorriso brilhante se espalhou em seu rosto, mesmo


quando ela balançou a cabeça. —Eu realmente espero irmos
por Mar-el.

Mar-el, uma nação em uma ilha, que se dizia ser


fortemente vigiada, por motivos que eram um segredo ainda
mais fortemente vigiado. Uma nação, onde também se dizia
que os seus cidadãos, que eram deliciosamente escuros de
pele, na verdade passavam a grande maioria de seu tempo
em galeões magníficos causando estragos nos mares.

—Hmm, — murmurei. —Eu não pensei nisso. —


Inclinei minha cabeça para o lado. —Nós vamos ter que
colocar isso em nossa agenda.

—Isso seria maravilhoso, — ela suspirou, seu


entusiasmo visivelmente crescendo.

Balancei a cabeça, na verdade lutando contra um


sorriso indulgente.

Percebendo isso, me segurei contra revirar os olhos ...


para mim mesma.

—De fato, — murmurei em uma maneira que esperava


que ela soubesse que estava dispensada, mas gentilmente.

Deus.

Talvez eu devesse permitir a Noc me chamar do


revoltante Frannie e pedir que todos os outros façam o
mesmo para que parecesse que eu não fosse mais Franka
Drakkar.

—Eu só terminarei de arrumar todas as coisas para a


noite, — disse Josette.

—Obrigada, Josette, — respondi, estendendo a mão


para o meu livro.

—Não.

Na sua resposta peculiar, voltei a minha atenção para a


minha empregada.

—Perdão? — Perguntei.

—Não, — ela disse suavemente. —Obrigada, Lady


Franka. Muito obrigada.

Isso me colocou em uma posição desconfortável e


desagradável ao sentir emoção inchando na parte de trás da
minha garganta.

Felizmente, Josette era muito boa em seu trabalho.

Então, antes que eu me envergonhasse (ainda mais), ela


colocou seu chinelo e correu para o closet.

Olhei para o meu livro, mas não o abri.

Josette me acompanharia através do Mar Verde.

Permiti que meus lábios se erguessem deliberadamente.

Maravilhoso.
Eu sorri. Amplamente.

Valentine
Os olhos de Valentine Rousseau se abriram e ela olhou
para o teto escuro.

Então desceu da cama, deixando adormecido o jovem


forte e másculo, nu sobre ela.

Curvando graciosamente seus dedos, com manicure


francesinha vermelha, pegou o pedaço de seda verde rendado
do chão. Ela puxou-o sobre a cabeça e o material macio
cobriu o seu corpo.

Saiu do seu quarto, pelo corredor e para a sala com as


paredes cor de salmão.

Não se preocupou em acender a luz. Ela conhecia cada


centímetro da sala, sua casa, não só porque vivia nela, mas
porque nasceu nela.

Caminhou através da escuridão parando em frente à


pequena mesa redonda em que a esfera grande de cristal,
clara e lisa repousava em cima de uma almofada de veludo
verde-esmeralda.

As pontas de seus dedos passearam na bola e,


instantaneamente, uma cortina de fumaça jade enrolou no
interior do cristal.

Ela olhou para seu brilho através da escuridão e sentiu


sua boca suavizar. Assim como ela pensava.

O que ela não entendia era por que se


importava. Importava tanto que a acordou.

Com esse pensamento, sua boca endureceu.

—Irritante, — ela murmurou enquanto a fumaça torcia,


enrolava e curvava.

Valentine respirou delicadamente, descontente.

Durante anos, ela se preocupou com muito pouco. Na


verdade, com nada. Exceto ela mesma.

Depois veio a sua pequena deusa do amor, Seoafin,


Finnie.

Agora, se importar parecia ser tudo o que ela fazia.

E não apenas consigo mesma.

Na verdade, todos os problemas estavam organizados


nesse outro mundo, mas ela saiu dele?

Não.

Ela não só não estava saindo dele, como estava em casa,


em Nova Orleans e ainda checando com frequência para ver
como as coisas progrediam, não só com Franka e Noctorno,
mas Seoafin e Frey, Circe e Lahn...

Todos eles.

Isso estava indo tão longe que a acordou no meio da


noite para que ela procurasse no cristal apenas para ter
certeza de que tudo estava bem.

Ela se importava, não havia como negar isso.

Isso não quer dizer que não lamentava estar fazendo


exatamente isso.

Valentine estudou a fumaça, suspirou e observou Noc


rindo e Franka carrancuda enquanto se sentavam juntos no
quarto de Franka.

Não foi surpresa que ele fez pouco progresso. Não só a


história de Franka inibiria as coisas de estarem evoluindo,
mas ela perdeu um amante de uma forma dramaticamente
triste.

Havia muitas feridas em Franka Drakkar que


precisavam ser curadas, mas apenas algumas delas que Noc
poderia se esforçar para ajudar.

Sobre a perda de seu amante, ela teria que entrar em


acordo consigo mesma.

De repente, Valentine inclinou a cabeça para o lado


enquanto sentia. Em poucos segundos, o quarto ficou
verde. Não o verde de Valentine, que tinha um tom esmeralda
jade. Não, verde de Lavinia. O verde da deusa de Lavinia do
outro mundo, Alabasta, que era a cor de um prado fértil.
Cada bruxa com qualquer quantidade de energia tinha a
sua própria cor.

Representava a sua alma.

Assim a da Lavinia era fresca e carinhosa.

E a de Valentine era rica e preciosa.

Valentine dirigiu os olhos para o vórtice em formação e


observou Lavinia aparecer.

—Minha amiga, — Lavinia saudou quando seus pés


foram plantados no tapete persa inestimável de Valentine.

—É tarde, — Valentine respondeu.

Lavinia, já acostumada a Valentine, não se ofendeu com


sua resposta e sorriu, mas olhou para a esfera sobre a mesa.

Os olhos dela se mudaram de volta para Valentine.

—O cavaleiro de seu mundo está fazendo progressos, —


observou ela.

Valentine varreu a mão pela sua bola de cristal.

—Isso eu notei, — disse lentamente.

Lavinia assentiu. —O que você pode não ter notado é


que a magia da mãe dela foi revelada, mas a de Franka não
foi. Ambas sentimos o aparecimento dela naquela noite
terrível há alguns dias, mas ela não se apresentou como uma
bruxa. Ninguém mais está ciente disso, salvo talvez
Noctorno. Isso me preocupa.

—Ela está lidando com muita coisa, Lavinia, talvez você


terá de lhe dar mais do que alguns dias, — Valentine sugeriu.
—É meu dever para com o meu país compartilhar que
eu tenho conhecimento disto, minha amiga, — Lavinia
respondeu.

Valentine deu um delicado suspiro de desagrado.

—Seria bom se você viesse, — Lavinia pediu. —Acho que


ela é do seu...— os lábios de sua amiga inclinaram-se, —tipo,
e vocês vão se dar bem juntas. — Sua voz ficou mais
silenciosa. —Em momentos como estes, ela pode precisar de
algo exatamente assim.

—Eu voltarei, — Valentine respondeu.

Lavinia assentiu. Ela sabia que se Valentine dissesse


que estaria lá, ela estaria lá.

Infelizmente, Lavinia sabia que Valentine estaria lá


porque ela se importava.

—Você veio para o meu mundo só para isso? —


Perguntou Valentine.

Lavinia olhou pelo quarto escuro, mas balançou a


cabeça ao fazê-lo, afirmando: —Eu estava curiosa.

—Então esteja curiosa em outro momento, — ela


convidou. —Quando não for na calada da noite e eu não tiver
um belo corpo, não o meu, obviamente, atualmente
aquecendo minha cama.

Lavinia olhou Valentine. —Agora entendo por que você


voltou para casa.

Valentine sacudiu a cabeça. —Você não vê nada. Ele é


apenas um corpo. Uma bagatela. Útil, mas apenas isso.
Lavinia olhou-a muito mais de perto. —Ninguém
é apenas um corpo, Valentine.

—Ele é, — Valentine suspirou.

—Você teve um outro que significava mais? —


Perguntou Lavinia.

—Ah, — Valentine suspirou. —Vejo que você veio no


meio da noite, não só porque estava curiosa, mas para
discutir minha vida amorosa, o que significa que você não
está simplesmente curiosa. Você é intrometida.

—É manhã no meu mundo, — Lavinia lembrou.

—Eu sei disso, chérie, — Valentine suspirou.

—Sei que você sabe. Também sei que não respondeu


minha pergunta, — Lavinia pressionou.

—Quando chegar a hora, vou escolher um homem para


me deixar redonda com uma filha. Mas mesmo assim, ele vai
ser apenas um corpo, embora ele também vai ser sua
descendência, de modo que com certeza, vou selecioná-lo com
muito cuidado.

—Isso é lamentável, — Lavinia disse gentilmente.

Valentine levantou as sobrancelhas em surpresa. —Você


deseja ficar presa em um relacionamento?

—Eu vivi uma vida onde estava bastante satisfeita com a


minha própria companhia. Mas devo dizer, observando Finnie
e Frey, Maddie e Apollo ...

—Isso era sobre mágica. E o destino, — Valentine


afastou-se.
—Todo o amor tem sua própria mágica, — Lavinia
devolveu, os olhos correndo para a porta, suas palavras
verdadeiras, é claro, com ressalvas. —Mesmo o amor que não
atravessa universos.

—Também pode ser utilizado para maldade, se


transformado em uma arma, — Valentina respondeu. —E
isso acontece muitas vezes, em ambos os mundos.

Lavinia voltou seu olhar para a amiga.

—Muito bem, minha querida, — sussurrou. —Estranho,


parece que estamos tendo esta conversa
frequentemente. Com resultados variados. Isto sugere que o
amor é o mais importante em nossas mentes a maior parte do
tempo. Incluindo a sua.

Valentine não se dignou a responder.

—Você tem que vir em breve, — Lavinia pediu,


sabiamente mudando de assunto. —Eu só estive com Franka
uma vez, e não a conhecia antes, mas pelo que soube dela,
ela mudou muito, embora acho que esteja frustrada por isso.

Valentine sabia muito bem como isso era.

Lavinia continuou. —Sem mencionar, quando estou com


os outros, eles falam dela já não simplesmente com
compaixão para com o que ela está aguentando, mas com
humor e até mesmo crescente afeto.

Isto, Valentine viu em seu cristal, encontrou-se


pensando nisso... feliz, tendo esperança de que continuaria.

—Eu estarei lá, — Valentine respondeu.


Ela então se perguntou quando começou a ter
esperança sobre qualquer coisa.

Cuidando e tendo esperança.

Quão vil. Ambos eram muito vulgares.

—Até nos encontrarmos no meu mundo, — Lavinia


chamou, e Valentine viu quando ela desapareceu.

Com um gesto agitado, Valentine sacudiu seu cabelo


vermelho elegante do rosto e olhou de volta para seu
cristal. Ela levantou a mão e passou seus dedos sobre ele,
buscando, e encontrou alguém que ela descobriu alguns dias
atrás, quando decidiu que mexer com Franka e Noc não seria
suficiente.

Havia outro.

E enquanto observava o grande homem dormir em sua


própria cama, sua mandíbula tensionou e ela arrastou seus
dedos sobre o cristal novamente.

A fumaça desapareceu.

Lá estava ela, se importando com outra pessoa.

E pior, fazendo algo sobre isso.

Valentine Rousseau raramente gastou esforços em


qualquer coisa que alguém não a compensasse, a não ser, é
claro, uma de suas ninharias.

Ela definitivamente gastava esforço nelas.

Seus pensamentos moveram-se para o que ela acabara


de ver em seu cristal e estava satisfeita que neste mundo,
como no outro, ele era um belo exemplar. Um brinquedo
como ele seria ─ Valentine retraiu uma melancólica
respiração ─ delicioso.

Infelizmente, tipos como ele, ela descobriu, não tendiam


a gostar da maneira que Valentine jogava.

Ele seria perfeito para o que pretendia.

Uma prometida que ele não sabia que tinha (ainda). E


essa prometida não sabia do que Valentine planejou para o
seu futuro.

Uma onda quente rodou em sua barriga.

Valentine suspirou mais uma vez quando sacudiu seus


pensamentos inusitadamente suaves e românticos.

Ela estava perdendo o toque.

Ela precisava encontrá-lo novamente.

Para fazer isso, seus pensamentos se moveram para o


jovem, nu, firme, masculino, dormindo em sua cama, e no
escuro, Valentine deu seu sorriso de gato.

Ela caminhou de volta para seu quarto, foi para a mesa


de cabeceira, abriu-a e tirou uma caixa de fósforos. Pegou um
e acendeu as três velas na mesa de cabeceira.

Ela trouxe o fósforo para os lábios, apagou a chama e


tocou a brasa contra sua língua onde ela chiou.

Deixou-o cair na mesa de cabeceira com um pequeno


sorriso nos lábios.
Ela, então, jogou a caixa de fósforos de volta na gaveta e
fechou-a.

E então Valentine virou com um propósito lânguido,


mas definitivo para a forma na cama.

***

Franka

Desci os degraus da frente do Palácio de Inverno um


pouco tensa, mas consegui fazê-lo, esperando ter escondido a
rigidez envolvendo meu casaco de pele mais perto em torno
de mim.

Essa rigidez se tornou mais pronunciada quando vi o


que me esperava na parte inferior das escadas.

Eu estava indo para a cadeia ver meus pais.

Noc me disse que me acompanharia.

No entanto, na parte inferior das escadas, fazendo hora


ao lado não do meu trenó, mas um dos trenós
reais suntuosamente equipados da rainha, estava não só Noc
mas também Finnie, Frey, Circe, Lahn, Cora e o Noctorno do
meu mundo (que permitiu que pessoas próximas a ele o
chamassem de Tor, algo que me convidou a fazer no meu
comparecimento ao jantar ontem à noite com todos eles e a
rainha).
O que, pelos deuses, eles estavam todos fazendo lá?

Não.

Não.

Eu não me importava.

Em minha opinião a partir da mensagem entregue pelo


pássaro que meu irmão enviou partilhando quando deixou
sua casa, Kristian e sua família iriam chegar ao Palácio de
Inverno, no dia seguinte.

Foram nove dias desde o drama na adega. Devido aos


cuidados de um médico (e de Josette), minhas costas ainda
doíam, mas estavam cicatrizando muito mais rapidamente do
que o normal.

Noc e o resto não deixaram de ser simpáticos e sociáveis


neste tempo. Na verdade, quanto mais eu era capaz de me
levantar e tudo mais, mais amigáveis e mais sociáveis eles se
tornavam.

Isso não importava para mim.

Eu queria deixar esta visita final com os meus pais para


trás. Queria ver o meu irmão. Depois disso, Josette e eu (e
qualquer que fosse a empregada que ela selecionou para nos
acompanhar, e a tarefa de encontrar essa empregada foi algo
que Josette se jogou com alegria abandonada) iríamos
atravessar o Mar Verde.

Portanto, o que quer que me acontecesse no presente


momento, e no próximo, e no próximo, eu suportaria.

Até que eu estivesse longe.


Talvez os outros estivessem se preparando para ir à
cidade. Havia dois trenós reais a espera e uma variedade de
cavalos.

Isso era provável.

Mas devido ao fato de que eram simpáticos e sociáveis,


por quaisquer motivos, que tal peculiaridade fizesse você se
comportar de maneiras como estas, eles estavam fazendo
hora esperando para ver Noc e eu sairmos.

Noc me notou fazendo a minha descida, e não é


surpreendente que parou de conversar com Cora e Tor e
correu até os degraus em direção a mim.

—Como vai, querida? — Perguntou, seu rosto uma


imagem de preocupação, sua mão capturando a minha, e
antes que eu pudesse puxá-la livre, ele enfiou meus dedos em
torno do interior do seu cotovelo, puxou-me perto de seu
lado, manteve os dedos confortavelmente em torno dos meus
de uma maneira que eu não poderia escapar, e assim ele me
ajudou a descer os degraus.

— Vou bem e bastante capaz de descer um lance de


degraus por mim mesma, — respondi.

—Vou levar essa insolência como uma forma de dizer


que está bem, — ele murmurou.

Eu aprendi desde o início que Noc decidiu entender o


que quer que eu dissesse da maneira que quisesse.

Daí, em resposta, eu simplesmente suspirei.


Noc levou-nos para o lado do trenó, onde Cora e Tor
estavam de pé, e observei que Frey parou de falar com Finnie,
Lahn e Circe e veio em nossa direção.

Paramos no trenó e Frey parou no nosso agrupamento.

Ele estava olhando para mim com a mesma


preocupação que Noc mostrou.

—Você tem certeza que deseja fazer isso, Franka? —


Perguntou.

—Absoluta, — respondi.

Ele me estudou por um momento antes de assentir uma


vez e declarar: —Nós vamos estar lá com você no caso de algo
perturbador acontecer.

Com suas palavras, senti meu corpo sacudir e soube da


extensão da recuperação nas minhas costas pois eu só senti
uma vaga pontada de dor.

—Eu... desculpe? — Perguntei.

Frey indicou o grupo com um movimento de sua


orgulhosa cabeça, que agora incluía Circe, Lahn e Finnie,
todos os quais se juntaram a nós, antes de repetir: —Vamos
todos estar com você no caso de algo perturbador acontecer.

Querida deusa.

Eles iam para a prisão comigo.

Mas…

Por quê?

—Isso não é necessário, — eu disse rapidamente.


—Uma irmã cuida das costas de outra irmã, — Cora
decretou. —E o homem de uma irmã tem as suas costas.

Eu olhei para ela. —Tenha certeza de que eu não quero


ofender, princesa, mas não somos irmãs.

—Nós totalmente somos, — ela voltou.

—Mas...— Senti minha testa enrugar. —Você é, quero


dizer, minha outra eu, é sua irmã em seu mundo?

Ouvi a risada de Noc e vi sorrisos e risadas de todos


enquanto Cora respondia (através de seu próprio sorriso): —
Não, baby. O que estou dizendo é que nós somos ambas
garotas e todas as garotas são irmãs, de sangue ou não. E
nós temos que cuidar umas da outras.

Que peculiar. Ela também usava estas gírias ―baby‖ e


―garota‖ para se referir a seu próprio gênero.

Louco.

E as mulheres cuidavam das mulheres?

Isso não era louco. Era delirante.

Pela minha experiência (e não a experiência devido à


minha participação em tais acontecimentos vulgares, eles
eram tão vulgares, eram inferiores até para mim) a maioria
das mulheres, pelo menos, as mulheres da minha classe, não
cuidavam umas das outras.

Elas seduziam os homens umas das outras e soltavam


coisas cruéis sobre a roupa, penteados, excesso de peso ou a
falta dele, para não mencionar focar no alvo e dissecar com
alegria maliciosa qualquer coisa que possa ser percebida
como uma fraqueza ou pouco atraente. Ou elas soltariam
farpas sobre isso para fazê-la parecer pouco atraente
(principalmente devido ao ciúme ou a despeito). O som de
uma voz. Um talento deselegante em um baile. Um
desastrado discurso social.

Estas não eram farpas que eu uma vez soltei, e não


porque era muito fácil.

Principalmente porque se uma mulher tinha um


homem, era além de baixo centrar seu foco sobre ele. E
rasgar alguém por coisas que não podia controlar não era
esportivo. Era simplesmente perverso.

Mas eu vivi minha vida com mulheres que se


comportavam desta maneira. Josette até compartilhou boatos
de servas fazendo a mesma coisa.

Três mulheres desistindo de uma manhã, onde elas


poderiam usar o tempo livre delas para fazer tudo o que
desejavam, a fim de me acompanhar a uma
maldita prisão apenas no caso de eu ficar triste?

Desconheço!

—Não há realmente nenhuma necessidade, — insisti. —


Eu só vou estar lá por um tempo curto.

—Há necessidade, — Circe colocou.

—Com certeza uma necessidade, — Finnie concordou.

Eu não entendia isso.

No entanto, esta discussão estava prolongando uma


situação que eu gostaria de ver terminada. Precisamente
entrar no trenó, chegar na prisão, ver meus pais e retornar ao
palácio.

Então desisti, murmurando, —Como quiserem, — me


libertei de Noc e me virei para o trenó.

Senti o movimento em torno de mim quando Noc


alcançou na minha frente a porta para abrir o trenó. Também
senti sua mão no meu quadril me firmando como se eu não
pudesse subir em um maldito trenó por mim mesma, algo
que eu vinha fazendo desde que ganhei o controle de minhas
pernas e pés.

Cerrei os dentes de frustração, tentando ignorar o seu


toque, que era firme o suficiente para senti-lo mesmo através
das minhas peles, meu vestido e minhas roupas quentes, e
encontrei meu assento.

Noc sentou-se ao meu lado e Cora entrou no trenó e foi


se acomodar ao lado dele.

Eu não me inclinaria a olhar ao redor para ver onde os


outros foram. Simplesmente agarrei a manta de pele, que
estava pronta para nós no piso do trenó, para puxar por cima
do meu colo. Era grande e longa e enquanto fiz isso, Noc
ajustou-a sobre seu colo enquanto Cora fez o mesmo.

Todos nós nos acomodamos no trenó juntos como


amigos do peito em uma excursão (risível), Noc estendeu a
mão para tomar as rédeas presas diante dele.

Olhei para os quatro cavalos ligados ao trenó.


Pelo amor ao cavalo, dois era o ideal para compartilhar a
carga, mesmo em uma longa viagem de distância.

Quatro para descer pela cidade era ridículo.

A menos que você fosse da corte real.

E uma vez que Cora era, eu supunha que não era


estranho.

O que me surpreendeu foi que Noc tomou as rédeas


quando eu estava relativamente certa de que os outros
homens montavam corcéis.

Virei-me para ele e perguntei: —Você não monta?

Ouvi-o apertar os dentes e observei-o estalar as tiras,


dar uma guinada com o movimento para a frente do trenó, e
depois o vi olhar para mim.

—Montar? — Perguntou.

—Uma montaria, — expliquei.

—Não há muito desse tipo de equitação no meu mundo,


baby, — afirmou, e me senti piscar em surpresa. —Apesar de
eu montar, só que não um cavalo. Uma hawg4. Como em uma
Harley5.

Cora interferiu neste momento.

—Você tem uma Harley?

Noc olhou para o outro lado. —Sim.

—Uau. Legal. Queria ter dado uma volta com você antes
que eu tivesse que deixar o nosso mundo, — ela comentou.
4
Hawg é como motocicletas são conhecidas, principalmente os modelos Harley Davidson.
5
Harley Davidson, marca de motocicleta.
—Não consigo pegar muito nela em Seattle, — comentou
Noc. —Imagino que isso vai mudar em NOLA6. Pelo menos
espero que sim.

Ouvi essa conversa, mas eu ainda estava no começo


dela.

—Você monta um porco7? — Perguntei com


incredulidade.

A atenção de ambos, Noc e Cora, vieram até mim e eles


me encararam em silêncio por um segundo antes que ambos
começassem a rir.

Bem.

Que rude.

Olhei para a frente.

—Não rindo de você, querida, — Noc disse gentilmente,


através do riso, que era, na verdade, de mim. — Mas você
estava sendo engraçada. Nós estamos falando sobre
motocicletas. Vocês não as têm aqui. Temos veículos
automotores movidos a gás. Movem-se sobre rodas chamadas
pneus. Nenhum animal é necessário. Eles vão muito mais
rápidos. A maioria deles são fechados, mas não as motos que
são, por vezes, referidas por uma marca que é a Harley. Isso é
o que eu tenho. Essas têm duas rodas, e não quatro, e estão
abertas aos elementos. Você as monta como a um cavalo, só
que elas são movidas a motor.

—Interessante, — eu disse como se não fosse.


6
Nova Orleans.
7
Aqui ela confundiu a palavra Hawg com Hog, que é um animal da família do porco.
No entanto, era.

Que tipos de máquinas seriam estas, sem necessidade


de animais? Elas pareciam improváveis e fantasiosas, assim
como o que ele tinha me mostrado na primeira noite que
conversamos ─ seu ─ telefone.

E ainda assim era real.

Eu pensei muitas vezes em sua engenhoca, desde que,


nas raras vezes que estava sozinha, desejava ter pego nela,
inspecionado, testado a sua magia.

―Veículos‖ sem animais, movidos a gás, eu adoraria a


oportunidade de ver.

—É fofo, você não conseguir entender, — Noc passou a


explicar, notando como meu humor continuava (como sempre
fazia, ele apenas preferia ignorá-lo). —Se você fosse para o
nosso mundo, entenderia.

Eu não compartilhei que estaria muito interessada em ir


ao seu mundo e ver essas engenhocas fantásticas
funcionando.

Eu também não compartilhei que não era bonito rir de


alguém que era ignorante sobre algo, por razões que não
estão em seu controle.

Eu apenas olhei para o lado de fora do trenó, sem notar


as casas, prédios e pessoas pelas quais passávamos e mal
percebendo o barulho do nosso transporte, as pessoas por
trás de nós, e o barulho alto dos muitos cascos dos cavalos
na neve.
Mas eu vagamente senti que muitos nos assistiram
passar.

Então, novamente, éramos uma grande procissão com


um rei, uma rainha, um príncipe, princesas e O
Drakkar. Mas, mesmo que fosse apenas Dax Lahn, o sujeito
era um espetáculo para ver com seu corpo grande e cabelos
longos agrupados, cara feroz com sua barba escura
abundante e roupas incomuns feitas de couro, todos
parariam para assistir.

Verdade seja dita, eu desejava vê-lo montar. Eu tinha


certeza que seria ótimo fazendo isso (embora, essa não fosse
a única razão pela qual eu queria fazer isso, tão feroz como
ele era, seria com certeza agradável aos olhos).

—Você está certa, — Noc murmurou, me puxando dos


meus pensamentos sobre Dax, e senti o braço em volta da
minha cintura então minha cabeça girou para olhar para ele
de novo, vendo que parecia contrito. —Não foi legal, nós
morrendo de rir assim. Você não sabe. E há todos os tipos de
merda sobre seu mundo que eu não sei ou conheço. Eu
provavelmente não gostaria muito se dissesse algo que você
achasse que era engraçado e você risse na minha cara.

—Sim, isso não foi legal, Franka, realmente sinto muito,


— Cora entrou na conversa.

Eu não sabia como lidar com isso. Fora tendo um servo


cometendo um erro e pedindo desculpas para mim por fazê-lo
(como deveriam), não acho que ninguém nunca me pediu
desculpas. Certamente não quando fizeram algo de errado ou
prejudicial. E absolutamente, não admitindo que entenderam
o que fizeram e agindo verbalmente para corrigir essa dor.

—Você está bem? — Perguntou Noc.

Naquele momento eu não queria entrar no fato de que


seu uso da palavra ―legal‖, era como o uso de ―merda‖ e
―porra‖ e uma variedade de outras de Noc. Em outras
palavras, essas eram todas utilizados com frequência, mas
com o que parecia ser significados diferentes.

Falamos a mesma língua, mas ainda sentia como se


estivesse à deriva em uma terra estrangeira, com apenas o
mínimo de compreensão da língua nativa e tendo que decifrar
todos com apenas o mínimo de conhecimento.

No entanto, a maneira que ambos usaram ―legal‖, eu só


podia supor que ele queria perguntar se eu havia superado
meu melindre.

Eu não havia, é claro, mas isso não importava.

—Sim, Noc, estou bem, — menti.

Seus lábios se curvaram, seus olhos não deixaram os


meus, e ele murmurou: —Você certamente não está.

Olhei em frente novamente.

Isto permitiu que os lábios de Noc estivessem em uma


linha direta com o meu ouvido, e eu imaginei que pude
realmente senti-lo sussurrar contra a pele lá, causando um
frio que corria pela minha espinha, que não estava nem um
pouco fria, quando ele disse: —isso também é fofo.
Considerando onde sua boca estava, ele não podia ver
meu rosto. Portanto, eu revirei os olhos.

Senti ele se afastar.

Decidi que silêncio era o meu melhor curso de ação para


o resto da viagem (e a de retorno).

No entanto, esta foi a decisão errada.

Embora Noc e Cora conversassem amigavelmente, todo


o caminho, ambos fizeram tentativas frequentes de me
chamar na conversa, e eu não seria rude, apenas curta ou
monossilábica, e, eventualmente eles me deixaram em paz,
deixando-me na minha cabeça.

Este não era um bom lugar para estar, especialmente


nestes últimos nove dias.

Se eu fosse honesta comigo mesma, algo que eu tendia


não ser por motivos de autopreservação, mas ainda mais na
última semana ─ admitiria que a sua companhia, de
qualquer um deles, foi uma benção. Isso me manteve fora da
minha cabeça. Me manteve longe de pensamentos
melancólicos, vergonha ou ansiedade do que me aconteceu e
do que estava por vir.

Mas agora, enquanto chegávamos cada vez mais perto


da prisão (um lugar que eu não sabia onde era, então não
sabia exatamente o quão perto estava, só que estávamos nos
movendo, então naturalmente estávamos chegando mais
perto), eu me perguntava porque decidi visitar meus pais.
Sim, eu estava onde deveria estar. Curando. De
pé. Livre. E eles estavam onde deveriam, presos, os seus
direitos despojados, a magia da minha mãe despojada, a sua
abundância de orgulho e presunção provavelmente (espero)
sendo lascada dia-a-dia.

Mas o que poderia ganhar com esta visita?

E ainda mais, o que poderia ser perdido?

Eles tinham poder sobre mim. Eles sempre tiveram. Eu


não tinha que admitir isso para mim mesma. Era um fato
com que vivia desde que pude parar para analisar. Esse
poder que me dominava se eu fosse jovem ou velha, estivesse
perto ou longe.

Será que eles estarem em uma prisão mudaria isso?

Será que o meu confronto com eles, de alguma forma,


seria virado sobre mim e causaria mais vergonha?

Estes eram os pensamentos que me atormentavam não


só durante nossa jornada, mas no final da mesma, com Noc
ajudando-me para fora do trenó e enquanto nós fazíamos o
nosso caminho para a porta da frente da cadeia.

Frey abriu a porta, Finnie em seu braço. Eles passaram


seguidos por Lahn e Circe, então Noc e eu, e fomos seguidos
por Tor e Cora.

No momento em que fizemos o nosso caminho através


da porta, Frey estava falando com alguém que parecia oficial
e estava vestindo um uniforme de guarda da cidade, com
shorts marrons de couro, meias marrons grossas, botas de
cano alto marrom e um suéter marrom de aparência quente
com ombreiras vermelho profundo costuradas ao longo dos
ombros.

No momento que Noc e eu entramos, os olhos dos dois


homens vieram até mim.

Inesperadamente, tive o desejo imediato de fugir. A fim


de não o fazer, endureci o meu corpo.

Noc sentiu.

—Frannie? — Ele chamou em voz baixa.

Meu olhar virou para ele. —Eu pareço bem?

Nos muitos ―Nunca‖ que eu experimentei acontecendo


recentemente, este era outro.

Eu nunca fiz essa pergunta a nenhuma alma.

E no meu coração, eu sabia que parecia exatamente


como sempre pareci. Josette se assegurou de que,
considerando a distância extra para onde eu iria, moldou o
adorável chignon8 que prendeu na minha nuca e selecionou
os acessórios perfeitos para o meu conjunto. Foi também ela
que decidiu sobre o vestido cor de vinho que destacava minha
figura lindamente, mostrando apenas um toque de pele no
decote quadrado, as sutis faixas finas de malha na minha
barriga, cintura e quadris dando a impressão de que toda
essa área era justa e pequena.

Ela também escolheu a minha mais cara, mais fabulosa


capa. Um sensual sable, luminosa, sua gola alta quando

8
Um coque na base da nuca.
virada para cima (como não estava agora) cobrindo não
apenas o meu pescoço, mas até além de meus ouvidos.

Eu sabia de tudo isso.

Mas também não sabia.

E quando fiz esta pergunta para Noc, ele teve uma


reação estranha.

Sua expressão tornou-se suave e gentil (mais) e virou-se


para mim ficando frente a frente, perto, mergulhando o
queixo em sua garganta para trazer o rosto perto, o tempo
todo segurando meus olhos.

—Você está linda, Franka. Você sempre está linda. Suas


faces coradas de estar fora no frio, os olhos mais brilhantes,
porque a dor está diminuindo, você parece mais bonita do
que ontem e no dia anterior, e eu poderia continuar com isso.
— Sua mão, que estava cobrindo meus dedos que ele enrolou
dentro de seu cotovelo, apertou enquanto seus lábios
inclinavam-se tranquilizadores. —Está tudo bem.

Ouvi suas palavras e ainda assim não escutei.

E não importa se fiz ou não.

Eu prontamente e aflitivamente fiz-lhe outra pergunta.

—Você pode dizer que eu ainda tenho dor? Quando me


movo, — apressei-me a acrescentar. —Ou até mesmo quando
fico de pé, — continuei nisso. —Você pode dizer, — fiquei na
ponta dos pés, —qualquer coisa?

—Não, baby, — ele sussurrou animador. —Ninguém


pode dizer qualquer coisa. Onde você estava, onde está agora,
durante todo o dia eu pensei nisso. Você pode apenas ser a
mulher mais forte que já conheci.

Minha mão se esticou e agarrou sua malha nos seu


bíceps, enrolando-se ao redor, mas no meu estado eu não
percebi a dureza do músculo debaixo de sua lã.

—Você não está dizendo essas coisas só para me


acalmar, está? — Pressionei.

Ele balançou sua cabeça. —De jeito


nenhum. Verdade. Tudo isso, Frannie. Juro por Deus.

Fiquei bem onde eu estava, tão perto de Noc, segurando


em seu braço, mas virei minha cabeça para onde Frey ainda
estava de pé, atrás do qual havia uma passagem que parecia
escura e sombria.

O braço livre de Noc desceu com cuidado ao longo da


minha cintura e minha atenção voltou para ele quando
declarou com firmeza: —Se você está tendo dúvidas, daremos
o fora daqui.

Olhei em seus olhos.

Eles todos vieram. Saíram no frio, e todos vieram. Para


estar lá comigo.

Para estar lá para mim.

E Noc estava bem ali, perto, me segurando, me


tranquilizando.

Por sua vontade, não me deixaria ir sem ele.

Eu poderia ser uma nova Franka Drakkar, e era uma


mulher que eu ainda não entendia.
O que entendi era que tinha que fazer isso.

Mas desta vez não era pelo meu irmão.

Era por mim.

—Você quer fazer isso, estamos com você, — Noc


continuou, e eu novamente foquei nele. —O capítulo final,
Frannie. O fim desse livro. Ponto. Ponto final. Você
terminou. Você pode fazer isso, mostrar-lhes que eles não a
quebraram, eles nunca quebraram você, querida, você vai
embora, vai fechar o livro e seguir em frente.

Ouvi cada uma daquelas palavras ditas com sua voz


forte, profunda, áspera, mas luxuriante, e elas de alguma
forma, pareciam afundar em minha carne, meu músculo,
meu coração, pulmões, vísceras, tudo isso forçando minhas
conturbadas costas a ficarem retas.

Eles nunca me quebraram.

Eu estava livre. Meu irmão e eu estávamos seguros.

E eles estavam lá. Nesse lugar sombrio, sinistro, numa


versão da qual estariam para o resto de suas vidas.

— Você está certo, Noc, — eu disse de forma inteligente.

— Com certeza , sim, estou, — ele respondeu em um


sorriso.

Inclinei meus ombros. —Estou pronta.

—Certo. — Isso veio como um grunhido determinado, e


ele inclinou o rosto ainda mais perto do meu. —Então vamos
fazer isso.
Balancei a cabeça. Noc assimilou isso, retirou sua mão
da minha cintura e nos virou para Frey, Finnie e o
guarda. Quando o fez, levantou o braço onde eu segurava seu
cotovelo e puxou a minha mão para segurá-la firmemente em
frente do seu peito.

—Ela está pronta para ir, — ele anunciou a Frey.

Frey observou Noc dizer isto antes de virar os olhos e me


estudar.

E então disse algo que se Noc não estivesse me


segurando, eu teria caído sobre o meu traseiro.

—Pela primeira vez na minha vida, você deixou-me


orgulhoso de ser uma Drakkar.

Ouvi um pequeno chiado que assumi vir de Cora, que se


aproximou pelo meu lado esquerdo. Parecia que ela estava
lutando contra um soluço.

O que vi foi Finnie sorrindo para mim tão amplamente


que seu rosto devia estar doendo.

Meus olhos saíram de Finnie, as palavras de Frey


aquecendo minha barriga, minha ansiedade me deixou
totalmente e o que me rodeava me atingiu.

Vi que o edifício não era feito de madeira, mas de uma


pedra fria, sem brilho, incolor. Havia barras de ferro que
eram como uma porta para a passagem. O quarto em que
estávamos tinha várias cadeiras de madeira alinhadas às
paredes, mas não o convidam a relaxar e passar o
tempo. Havia também uma mesa alta em um ângulo no canto
direito onde dois homens vestidos com uniformes de guarda
da cidade (mas com ombreiras pretas) estavam claramente
em um patamar mais alto que se elevava acima de nós,
dominando o pequeno quarto. E havia ganchos de ferro
redondos intermitentes nas paredes, alguns com correntes e
algemas penduradas neles, obviamente, onde prisioneiros
eram algemados antes de serem levados para o seu
alojamento na parte de trás.

Pensando que havia uma grande probabilidade de que


meus pais foram acorrentados assim, senti uma onda de
alegria cruel surgindo pela minha garganta sobre a qual eu
não sentia qualquer vergonha.

O guarda que Frey estava falando moveu-se para a porta


de barras, balançando um molho grande cheio de chaves.

Ele encontrou uma, abriu a porta e, com Noc e eu


seguindo Frey e Finnie, o restante atrás, nós atravessamos.

A primeira seção além das portas tinha mais dois


guardas em suas roupas de guarda, um em cada lado do
espaço atrás de mesas. Atrás dos homens haviam armários,
um lado parecendo que tinha gavetas onde os arquivos eram
mantidos, o outro lado com uma abundância de fechaduras,
o que significava onde as armas provavelmente eram
alojadas.

Eles olharam para nós e ficaram instantaneamente de


pé, num primeiro momento colocando seu punho no lado de
baixo de seu queixo, uma saudação para O Drakkar, e em
seguida, pressionando-se em arcos em deferência à sua
Princesa do Gelo, Finnie.

Eles ficaram nessa posição enquanto a nossa procissão


passava por suas mesas de trabalho e para a ampla
passagem adiante.

Nesta área havia uma linha de celas de cada lado.

Os dois primeiros conjuntos de celas, à esquerda e à


direita, estavam vazios.

A terceira à esquerda tinha um homem que parecia (e


um cheiro desagradável dele e do arroto inconsciente emitido
com sincronismo péssimo, enquanto passamos provou esta
suposição) estar dormindo depois de uma bebedeira.

Outros dois conjuntos de celas estavam vazias, o que


achei vagamente surpreendente. Fyngaard não era uma
cidade pequena. Certamente deve haver mais rufiões
cometendo loucuras do que isso.

Havia apenas uma outra cela preenchida com um


homem vestindo roupas ruins, claramente que não cuidou de
seus dentes ao longo dos anos, como ficou claro enquanto ele
zombava de nós de seu beliche. Isso também era evidente no
cuidado de seu cabelo, que era longo e liso, mas parecia que
na última vez que foi cortado, isto foi feito ao acaso, com uma
faca.

Uma faca cega.


Eu só o vi com curiosidade antes de olhar novamente
para as costas de Frey e Finnie enquanto fazíamos o nosso
caminho pelo corredor.

Eu tive um aviso quando nos aproximamos da minha


mãe e pai, este sendo um olhar de Frey por cima do ombro
para mim.

Levantei meu queixo. Seus lábios inclinaram para


cima. Ele olhou para frente e depois à direita.

Eu olhei a direita também.

Noc me atraiu ainda mais próximo.

Minha mãe estava na cela, sua elegância foi embora,


sem vestido de lã, angorá ou cashmere macio cobrindo sua
figura ainda jovem. Ela estava usando uma muda de roupa
áspera, quadrada com mangas compridas, que foi preso com
o que parecia ser corda, meias grossas visíveis e brutas botas
de couro amarradas.

Ao nos ver, ela se levantou de sua bunda, com o cabelo


brilhante que tinha apenas alguns fios de prata lindos nele,
trançados numa longa trança caindo sobre um ombro e
amarradas com o que parecia ser um pedaço sujo de pano.

—Filha, — ela sussurrou, os olhos travados em mim.

Eu não disse nada.

Além disso, não senti nada olhando para ela.

Que estranho.
Frey levou-nos para além de sua cela, mas parou-nos na
parede entre as dela e aquele ao lado dela. Lá eu vi meu pai
na última cela no corredor.

Ele estava igualmente vestido como a minha mãe, exceto


que sem meias, as calças exageradamente gastas. A única
coisa que parecia limpa sobre ele era o curativo que foi
amarrado em um lado do rosto com uma tira de gaze branca
que corria ao longo de sua mandíbula para a bochecha
oposta ferida e por cima da sua coroa.

Notei que ambos tinham cobertores de lã fina em seus


beliches estreitos (embora sem lençol sobre o colchonete
magro em cima dele) e baldes de madeira para servir como
penicos.

Fora isso, não havia nada de mais em suas celas.

Nada.

—Frey! — Meu pai disparou, e com a sua voz, pressionei


mais perto de Noc.

—Quando ele chegar aqui, meu advogado, vai ter uma


palavra com a rainha. Estar neste edifício é ultrajante. Estas
roupas, — ele arrancou a camisa dele furiosamente,
caminhando até a barras na frente de sua cela e parando na
frente delas. —Nenhum maldito conforto. Apenas uma manta
passável para manter o frio afastado que
verdadeiramente assobia através das paredes. Nem mesmo
um livro para passar o tempo. E exijo que Anneka seja
movida para a minha cela comigo, ou pelo menos na minha
frente para que possamos ver um ao outro enquanto
conversamos.

—Eu acredito, tio, que lhe escapou que você não está em
posição de fazer exigências, — Frey respondeu calmamente.

A voz de papai estava subindo. —Espere até que seu pai


ouça isso!

Me segurei firme, mesmo quando senti a minha mãe se


aproximando das barras.

—Choca-me o quão pouco você prestou atenção, Nils, —


Frey retornou. —Embora você está certo. Meu pai, sem
dúvida, estaria indignado com suas circunstâncias atuais. Eu
só não dou a mínima para o que ele pensa, e eu nunca dei.

—Franka, — minha mãe chamou suavemente.

Me certifiquei que minha face estava disposta como eu


queria, sem expressão, antes que lhe desse a minha atenção.

—Você não pode desejar isso para seu pai e eu. — Ela
continuou a falar naquele tom calmo, tímido, com
dificuldade, que, obviamente, eu nunca escutei.

Mesmo na minha primeira visão real dela, vi que estava


quebrada. Sem o nome do marido, sua casa, sua auto
importância e sua magia se escondendo atrás, foram nada
menos que alguns dias e ela era um fantasma da mulher
presunçosa, impiedosa, rancorosa, e má que eu conhecia.

Eu suportei a tortura em suas mãos, na mente, corpo e


espírito por trinta e quatro anos, e lá estava eu.

Lá estava eu.
E em nove dias ela simplesmente definhou.

Ela nunca sobreviveria a uma vida na prisão. Ou, mais


precisamente, a sua vida presa seria uma vida
significativamente reduzida.

—Frey, se você puder, — eu comecei olhando para meu


primo que por sua vez, dirigiu sua atenção para mim. —
Ordene que lhes seja dada outra manta. Um travesseiro. E
uma folha de flanela para cobrir os seus colchonetes e ajudar
a derrotar o frio. Talvez ambos também possam ter um livro.

Frey não escondeu sua surpresa, mas inclinou a cabeça


e se virou para o guarda.

—Veja para que isso seja feito.

—Claro, meu senhor, — o guarda murmurou.

—Um maldito cobertor e um livro? — Meu pai perguntou


furiosamente. —Franka, exijo nossa soltura
imediatamente, — ordenou.

Eu o ignorei e novamente olhei para a minha mãe.

Quando peguei os olhos, ela baixou os dela e disse: —


Sua bondade é apreciada, filha.

—Não confunda isso com bondade, — declarei, e


assustada, seu olhar voltou para o meu. —Eu não pedi isso
como uma gentileza, Mãe, — expliquei. —Peço isso em um
esforço para mantê-la saudável. Não seria bom para você
pegar uma gripe mortal e encurtar a sua penitência.

Ela empalideceu, dando um passo para trás das grades.

—Franka, — meu pai rosnou em tom de aviso.


Novamente ignorei e dei um passo para a cela da minha
mãe.

—Você colhe o que planta, — eu disse calmamente, sem


tirar meus olhos de seu olhar horrorizado. —Durante anos,
você me ensinou nada além de insensibilidade e
crueldade. Você me ensinou que a força estava na
manipulação das fraquezas dos outros para o meu
ganho. Você me ensinou que a arrogância era um ponto de
orgulho e uma arma para adicionar ao meu arsenal. Você me
ensinou que a lealdade era para ser punida. O medo devia ser
implacável. A dor era de se esperar. Só espero que nos anos
restantes da minha vida, eu tenha luz suficiente na alma
escura que você sombreou dentro de mim, para queimar em
cinzas a semente que você semeou, e plantar uma nova que
vai criar raízes e crescer. Mas mesmo se isso não for o caso,
como você me ensinou toda a minha vida para viver com
crueldade e egoísmo, saber que você viveu uma vida de medo
e tormento será suficiente para me levar através de meu
próprio fim.

Sua mão serpenteou até a garganta, os olhos


arregalados como pires, medo flutuando dela em maneiras
físicas que eu não só podia sentir, mas podia sentir o cheiro,
e cheirava. Meu pai gritou: —Você vai lamentar essas
palavras quando formos soltos, sua cadela ingrata!

Eu me mexi, soltando Noc e me aproximando da cela do


meu pai, mas senti Noc se mover comigo, perto de minhas
costas.
Inclinei minha cabeça para trás para olhar para Papa.

O olhar irado, atormentado em seu rosto e o fogo do seu


olhar mostravam que ele não abrandou. Ele estava certo de
que sua posição e nome mudariam sua situação no futuro
próximo.

Ele estava equivocado.

Não.

Ele era um tolo.

—E o que, por Deus, papa, eu deveria ser grata pelo que


você e a mãe me deram? — Perguntei.

Ele inclinou a cabeça com raiva em direção ao meu


corpo. —Essa pele que você está vestindo, por exemplo.

—Esta pele foi comprada quando o saldo trimestral de


Drakkar foi encaminhado para mim, algo que aumentou
agora que o irmão de Frey é chefe da Casa e administra-a de
forma competente, ao contrário de seu irmão que a levava
diretamente à ruína financeira.

—E o nome Drakkar lhe foi dado por mim, — ele cuspiu.

—Infelizmente, — murmurei.

—Que atrevimento, — ele rebateu.

Olhei-o.

Sem a magia da Mãe, além de manter sua beleza, que


não tinha nada a ver com ele e tudo a ver com a força da
linha Drakkar, de repente ele parecia um velho bufão
blasfemando.
E, de fato, sem a magia da mãe, isso era tudo que ele
era.

—Esta é a última vez que você me verá,


papai. Quaisquer palavras de amor que você gostaria de
dizer? — Convidei.

—Se você não falar com a rainha em nosso nome,


Franka... -— ele começou a avisar.

Levantei minhas sobrancelhas e o interrompi. —Você vai


o quê, papai? — Então, levantei a mão e toquei as barras que
nos separavam com a ponta do meu dedo indicador,
lembrando-o de sua situação. —O que você vai fazer?

Mais rápido do que sua idade permitia, e sempre foi


desta forma, a mão dele se lançou para cima e ele pegou meu
dedo com uma força excruciante, seus próprios dedos
apertando, esmagando o meu contra a barra, mesmo quando
pressionou o rosto entre elas.

—Vou te quebrar, sua merda revoltante, — ele assobiou.

Ele foi capaz de dizer isso antes que eu encontrasse meu


dedo subitamente liberado.

Ouvi o barulho terrível de ossos quebrando, então o uivo


de dor de meu pai soando contra as paredes de pedra, e,
finalmente, ao fim disso, Noc ordenando, —Passo para trás,
Franka.

Ele arrancou os dedos do meu pai do meu e os inclinou


para trás, usando a barra para alavancar o seu agarre, um
que ele ainda segurava, por isso mesmo agora eu podia ver
que eles estavam em um ângulo estranho que tinha que ser
excruciante.

Senti que seria prudente dar um passo atrás. Foi o que


fiz.

Quando o fiz, Noc largou o meu pai e tomou o seu


próprio passo para voltar ao meu lado.

Papai se afastou das barras e segurou sua mão


machucada com a outra, curvado sobre as duas ao seu peito
protetoramente.

—Você pode querer chamar um médico para arrumar


estes, — Frey sugeriu ao guarda.

—Você vai ouvir do nosso advogado, — Papa rosnou com


raiva, com a cabeça inclinada para trás para olhar furioso
para nós, mas sua voz traiu a sua dor.

—E eu tenho certeza que tudo o que ele disser será


muito divertido, — Frey disse lentamente.

Meu pai enviou uma carranca em sua direção, em


seguida, perguntou: —Você já nos humilhou o suficiente,
trazendo a Princesa do inverno aqui para ver a nossa
degradação? O governante maldito de Bellebryn e sua
noiva? O rei selvagem e sua rainha da Middleland? Você já
terminou, sobrinho? Porque, se você fez, eu agradeço se nos
deixar para o nosso calvário sem sermos mais molestados.

Frey não respondeu meu pai. Virou para mim.

—Você terminou, Franka?


Olhei para Papa, a dor começando a torcer o rosto, a ira
ainda brilhando em seus olhos.

Então olhei para a minha mãe. Ela recuou para ficar


contra a parede de trás ao lado da cama, as duas mãos
elegantes levantadas e apertando na base de sua garganta,
seus olhos em mim.

Finalmente, olhei para o meu primo.

—Terminei de fato, primo.

—Vamos sair então, — Frey afirmou, parecendo aliviado


e provando que ele estava, fez todos se moverem
imediatamente recuando.

Nenhum de meus pais chamou em despedida.

Eu fiz o mesmo, nem mesmo dando-lhes o meu respeito


quando saí fora da vista das suas celas.

Noc pegou minha mão e enrolou-a imediatamente em


torno de seu cotovelo, inclinando-se para mim e perguntou:
—Seu dedo está bem, querida?

—Muito bem, Noc, — respondi, meus olhos para frente.

—Você arrebentou lá, baby. Gostaria de ter isso em


vídeo. Brilhante pra caralho, — decretou.

Eu não tinha ideia do que ―em vídeo‖ significava, mas


não perguntei.

Eu também nem sequer tentei lutar contra a vontade de


fazer o que fiz em seguida.

Eu simplesmente fiz.
Isto foi virar a cabeça e inclinar para trás.

Uma vez que fiz e peguei o olhar de Noc, fiz a última


coisa.

Lentamente, e com grande prazer que eu não escondi,


sorri.

Amplamente.

***

—Mestre Noc quebrou os dedos dele? — Josette


perguntou, incrédula.

—Pelo menos três deles, — informei a ela.

Ela olhou para mim um momento parecendo


horrorizada, mas isto dissolveu quando seu corpo começou a
tremer e, em seguida, um riso alto irrompeu de sua boca.

Senti meus lábios se curvando para cima.

Quando ela controlou o seu regozijo, murmurou, —


Queria estar lá.

—Eu também, — eu respondi.

Eu a ignorei piscando para mim em choque, pois decidi


nos últimos dias, que quando fizesse algo bom que Josette
achasse inesperado e ela mostrasse sua surpresa, faria ela
finalmente se acostumar com isso.

Percebi que me guardar deste tipo de camaradagem, a


partilha de momentos, notícias e trechos da vida, e até
mesmo sentimento com a mulher com quem eu passava a
maior parte do meu tempo, não só estava me drenando e
cansando, mas também era desnecessário.

Josette não tinha um osso cruel em seu corpo. Ela


permaneceu firme para mim, mesmo quando eu não tinha
comecei a ser quem eu era agora.

Ela estava agora florescendo sob o meu olhar caloroso.

E eu achava que testemunhar isso era muito agradável.

Assim era o final da tarde, e estávamos compartilhando


agora, antes que ela me ajudasse na minha preparação para
participar de mais um jantar com a rainha e os outros.

—Agora, me diga, como vai à sua procura por uma nova


empregada? — Perguntei.

Ela acomodou-se para trás mais profundo na cadeira à


minha frente e disse: —Eu já reduzi a três, Lady
Franka. Todas elas parecem muito capazes, tem muita
experiência, excelentes referências, boas disposições e estão
ansiosas para ir em uma aventura, atravessando o Mar
Verde.

Em suas palavras, fiz uma careta.

Eu achava ultimamente (esse ―ultimamente‖ sendo os


últimos dias) que esse negócio ―Lady Franka‖, algo que eu
nem pensava no passado, era irritante.

Eu era, é claro, uma lady.

Josette me lembrar disso cada vez que ela falava meu


nome era supérfluo.
Eu não iria chamá-la de ―Serva Josette‖. A própria ideia
era ridícula.

—Josette, por favor—, eu disse em um aceno de minha


mão na minha frente, —Estou cansada de ―Lady9 Franka.‖

—Eu... bem, — sua expressão ficou perplexa, —que tal,


milady...

—Isso também—, respondi. — ―Milady‖. É claro que


quando estamos com companhia, você vai precisar continuar
a me tratar assim. Então, quando estivermos sozinhas, não
vejo nenhuma razão para você expressar de forma
consistente o meu título. Franka está bem.

Ela não disse nada, provavelmente porque estava


boquiaberta e seu olhar tornou-se vago.

—Isto é algo que te ofende? — Perguntei quando seu


olhar persistiu, assim como seu silêncio.

Ela estalou a boca fechada, abriu-a, fechou-a e


finalmente para baixo.

—Como você sabe, o meu, uh... bem, como se sabe,


nenhuma outra serva que eu conheça aborda sua dama
dessa forma. Isso só não é feito.

—Eu não sou uma lady qualquer e você definitivamente


não é apenas uma serva qualquer. Se a Princesa do Inverno
soubesse ela mesma dos seus talentos, tentaria roubar você
de mim.

9
Lady, além de ser um título de nobreza, também significa senhora. Em alguns momentos Josette usa
no sentido do título, em outras horas como sinônimo de educação, por isso os dois estão no texto.
Um rubor de prazer pincelou suas bochechas quando
disse, —Eu nunca vou deixá-la.

Abaixei o meu queixo. —E eu sei disso e valorizo. Então


vamos dispensar algumas das formalidades, não é?

—Eu... tudo bem, — ela concordou, um sorriso


hesitante formando em seu rosto.

—Excelente, — murmurei. —Agora que está dito, vou


conhecer suas candidatas finais amanhã. Uma vez que eu o
faça, vamos discuti-las e decidir. Mas eu preciso dar-lhe
outra tarefa.

—E isso seria? — Perguntou ela.

—Seus vestidos, meias, casacos, botas, chinelos, etc.


Você precisará visitar uma loja de roupas local, sapateiro e
modista, vai exigir roupas adequadas para uma variedade de
climas e uma boa dose disto. Quando estivermos a bordo de
um navio, eu não estou certa se haverá lavanderia, e não
gosto da ideia de você vestir a roupa suja porque não tem
reposição. E, por favor, aumente a qualidade das peças que
você escolher. Você é uma dama de uma senhora da Casa de
Drakkar, mas ainda mais, nós não temos nenhuma ideia do
que vamos encontrar. Seria bom para aqueles que olharem
para nós pensar que você é minha protegida, e assim ter
alguma proteção da minha classe, ao invés de minha
empregada.

—Realmente, senhora... Quero dizer, Franka? — Ela


respirou, sua boca trabalhando agora, mas seus olhos
aumentaram novamente.
—Se eu não quisesse dizer isso, eu não diria, —
repliquei.

—Eu iria... iria... iria...— ela finalmente cuspiu-o, quase


saltando em seu assento, —adorar isso.

— Mudei de ideia, — eu disse, e seu rosto caiu. —Vamos


juntas. Eu quero ter certeza de que você não escolha nada
simples por hábito. Uma vez que meu irmão chegar e eu já o
tiver cumprimentado, ele vai querer cuidar de sua família e
provavelmente descansar. Nós vamos sair depois que ele
chegar.

De olhos brilhantes de novo, Josette respondeu: —Isso


seria muito amável, erm..., Franka.

—Na verdade, seria, — concordei, olhando-a


pensativa. —Com a sua coloração, acho que verde. Talvez
rosa. Você tem pele excelente, rosas e cremes, rosa irá servi-
la. — Inclinei minha cabeça para o lado. —Acredito que
vermelho também iria bem com você, mas nós vamos ter que
ver.

Ela fungou e parei examinando-a e olhei em seus olhos.

Eles estavam molhados.

—Josette, — Repreendi suavemente. —Você realmente


não pode sair apressada do quarto, sob a ameaça de lágrimas
cada vez que eu mostrar bondade.

—Minha senhora, — disse ela com a voz embargada.

—Pensei que nós dispensamos isso, — lembrei a ela


gentilmente.
—Não, — ela declarou. Erguendo a mão e tossindo
delicadamente por trás dela, ela deixou cair e se endireitou
em sua cadeira. —Essa é a última vez que vou dizer isso,
prometo. Mas eu só quero que saiba, você é minha senhora.

Estas palavras me fizeram piscar rapidamente três


vezes, sentindo a picada atingir meus olhos. Então,
endireitei-me na minha própria cadeira e declarei: — me
envergonharia muito se o nosso crescente relacionamento
significar que nós vamos acabar como tolas sorridentes,
chorando em cada alegria que se passar entre nós.

—Vou esforçar-me para ser mais dura, Franka, —


prometeu.

—Faça isso, — pedi inteligentemente.

Ela lutou contra isso. Eu assisti. Mas ela não podia


controlar o riso estrangulado que passava seus lábios.

Eu sorri para ela com indulgência.

Eu não me contive em fazer isso ou fazê-lo com


indulgência.

Eu estava me acostumando com isso.


Se foi

Franka
Eu estava na cama com a minha bandeja de café da
manhã, quando veio uma batida na porta.

Virei a cabeça nessa direção só para ver a mencionada


porta abrir e Noc entrar.

Estreitei os olhos para ele.

Sério.

Que irritante.

Eu não estava nem mesmo fora da cama ainda!

—Estou tomando meu café da manhã, — disparei.

—Bom dia para você também, — respondeu ele, não


escondendo sua diversão diante da minha frustração e
atravessando para o outro lado do quarto, mas não chegando
à minha cabeceira.

Não.
Ele atravessou pelo pé da cama para o outro, o lado
vago, e assisti em silêncio atordoado quando colocou seu
traseiro nela, girou, colocou seu corpo inteiro nela, se
estendeu e se acomodou de lado, mas com o corpo apoiado
em seu antebraço, de frente para mim.

Noc naquelas malditas calças e uma camisa azul que


faziam coisas agradáveis para os olhos, esticado na cama ao
meu lado.

Ele era impossível.

Uma vez instalado, ele então estendeu a mão e


selecionou um pedaço de melão da minha taça de cristal de
frutas e colocou-o na boca.

—Esse é o meu melão, — continuei irritada.

—Fica fria, baby, — ele murmurou, sorrindo para mim.

—Fica fria? — Perguntei, sabendo que isso era uma gíria


do seu mundo, simplesmente não sendo capaz de entender o
que significava.

—Relaxe, — explicou.

Oh.

Humm.

Isso era realmente muito inteligente, considerando que a


minha ira foi aquecida.

Eu não transmiti esse sentimento para ele.


Declarei: —Vou relaxar quando você sair da minha
cama, deixar o meu quarto e me permitir tomar o meu café da
manhã em paz.

—Eu vou fazer isso quando me disser como está se


sentindo esta manhã e o que está programado para o seu dia,
— ele devolveu.

Virei-me um pouco em sua direção e perguntei: —Já lhe


ocorreu como você é irritante quando ignora
consistentemente meus desejos?

—Já lhe ocorreu que eu sei que sua atuação é besteira,


então vou continuar ignorando as besteiras e continuar com
as coisas? — Ele respondeu, mas não terminou
completamente. —Você gosta de mim. Gosta de passar tempo
comigo. Pare de fingir que não.

Ele estava certo, é claro. Ele era uma excelente


companhia. Comprometido.
Divertido. Afetuoso. Atencioso. Cheio de ideias. Carinhoso. E
muito difícil de não olhar.

Eu não estava prestes a compartilhar esses sentimentos


com ele também.

Voltei para minha bandeja, peguei uma torrada, em


forma de triângulo, com manteiga e minha faca e comecei a
espalhar marmelada sobre ela enquanto resmungava (Eu!
Resmungando!), — Será bom quando eu estiver longe em um
navio.

—O quê? — Perguntou Noc.


—Nada, — eu resmunguei e continuei espalhando
enquanto levantava minha voz e respondia a sua pergunta. —
Estou muito bem esta manhã, Noc. No que se refere às
minhas costas, melhor do que ontem. E imagino, apenas no
caso de amanhã você se encontrar curioso sobre o mesmo,
estará ainda melhor, pois a cura tende a ir por esse caminho.

—Fico feliz em ouvir isso, querida, — ele disse


suavemente. —Mas eu quis dizer o show com seus pais
ontem e seu irmão provavelmente aparecendo hoje.

Virei a cabeça para ele, levantando minha torrada e


perguntando, —O show com meus pais, se estou te
entendendo, está terminado. Ficou para trás. E eu e meu
irmão podemos não ter um relacionamento próximo e
amoroso, mas passamos por um bocado de coisas juntos por
isso estou ansiosa pela sua visita.

Eu, então, coloquei a torrada entre meus lábios,


afundando meus dentes nela e mastigando.

—Coisas grandes como o que aconteceu ontem podem


mexer com a sua cabeça, Frannie. Sente um alívio num
momento, então os demônios que todos lutam em suas
cabeças começam a jogar com você, — ele observou.

Os demônios com que todos lutam?

Ele tinha demônios?

O que eu achei surpreendente. E intrigante. Ele parecia


confiante em todos os assuntos. A maneira como ele cuidava
e usava seu corpo. A maneira como falava. A maneira como
se comunicava com os outros.
De repente, senti fome de algo que eu desisti de fazer.

Isto sendo reunir toda a informação que pudesse sobre


um determinado assunto e não me importando como eu agia
para obter essa informação.

Desta vez, o assunto era Noc.

Felizmente, depois de Kristian sair, Josette e eu


estaríamos longe então eu não poderia ter este passatempo.

—Não há demônios brincando com minha mente, — eu


assegurei a ele. — Tive algum desconforto antes da visita de
ontem, mas não poderia ter ido melhor se eu planejasse cada
segundo antes de entrar naquela cadeia.

—É bom ouvir isso também, — ele murmurou,


estendendo a mão e agarrando mais do meu melão.

Suspirei.

Eu, então, compartilhei, —Como já falou várias vezes,


você sabe o meu nome é pronunciado Frahn-kah.

Suas sobrancelhas se juntaram, ele engoliu o meu melão


e disse: —Bem... sim.

—Então, se eu desejasse ter um, o que eu não faço, o


apelido Frannie não só é abominável, mas não faz
sentido. Deve ser Frahnnie e isso é apenas ridículo. Ou mais
ridículo do que Frannie.

—Poderia chamá-la Koko, — observou ele, e senti meu


lábio curvar. Senti, então, a cama agitar um pouco com sua
risada quando disse, —Ok, isso está fora.

—Que tal me chamar Franka? — Sugeri.


—Não é possível chamá-la de Kaká, porque isso é
simplesmente errado, — ele seguiu a sua própria ideia, como
era seu hábito, ignorando completamente a minha sugestão
porque ia contra o que ele pretendia fazer.

Mas minha curiosidade levou a melhor sobre mim.

—Não é que eu deseje que me chame de Kaká também,


mas por que é simplesmente errado?

—No meu mundo isso é uma merda. Como que


significa cocô, bosta, excremento.

A curva dos lábios que ostentava ficou mais


pronunciada.

Noc explodiu com risos.

Suspirei novamente e mordisquei mais torradas.

—Então, é Frannie, — disse ele quando terminou de rir.

—Eu suponho, — murmurei, terminando minha torrada


e pegando meu garfo para espetar alguns ovos mexidos.

—Então você está bem com a visita a seus pais e está


parecendo ansiosa pela vinda do seu irmão. O que mais está
preparado para o seu dia? — Perguntou Noc.

Eu mastiguei e engoli os ovos (é preciso dizer, o


cozinheiro da rainha era excelente, até mesmo os ovos eram
deliciosos), ainda curiosa.

—Posso perguntar por que você deseja saber?

—Por que eu não gostaria de saber? — Ele respondeu à


minha pergunta com outra pergunta.
No entanto, ainda era uma resposta.

Ele estava interessado em mim. Mesmo os


acontecimentos mundanos do meu dia. Ele veio na primeira
hora na parte da manhã por qualquer razão, exceto,
aparentemente, para a minha companhia.

Senti minha garganta começar a fechar, limpei-a


delicadamente e voltei minha atenção à bandeja.

Mas fiz isso falando.

—Josette e eu vamos fazer a seleção final da empregada


nova. Depois disso e também depois do meu irmão chegar,
iremos de trenó até a cidade para encomendar algumas
roupas para ela. É hora de começar a se preparar para a
nossa viagem e as costureiras que estarão fazendo o seu novo
traje vão precisar trabalhar com ele o mais rápido
possível. Não suspeito que Kristian vai querer ficar muito
tempo. Ele tende a preferir estar em casa.

—Que viagem? — Noc consultou e olhei para ele.

—Perdão?

—Você disse que está se preparando para uma


viagem. Que viagem?

Segurei uma fatia de bacon, levantei-a e respondi: —


Uma vez que Kristian partir, Josette, a nova empregada que
nós selecionarmos, e eu iremos para Sudvic para
comprarmos a passagem através do Mar Verde.

—Diga de novo?
Meu bacon ficou no alto, eu voltei minha atenção para
Noc.

—Nós iremos navegar através do mar verde—, repeti. —


Não há muitas pessoas que viajam para lá, então imagino que
estaremos em Sudvic por algum tempo, à espera de um
galeão que faça aquela viagem de regresso, ou para se
preparar para fazer a viagem, como posso imaginar isso leva
algum tempo pois ouvi que são muitas semanas. Na verdade,
pode não haver galeões que naveguem no Mar Verde, que
param em Sudvic. Podemos precisar encontrar uma outra
cidade portuária, talvez até mesmo viajar para Hawkvale,
onde a passagem sobre as águas verdes não é tão
incomum. Mas nós vamos encontrar o nosso caminho, —
terminei decididamente.

Eu triturei o bacon, mastigando, engolindo e comecei a


murmurar novamente, desta vez principalmente para mim
mesma.

—Espero que possamos chegar à nação da ilha de Mar-


el, para alegria de Josette. Mas então eu ternamente desejo
ver Airen.

Terminei meu bacon, comi mais ovo e estava espalhando


marmelada em outro canto da torrada quando percebi que
Noc não disse nada durante algum tempo.

Olhei em sua direção para ver que ele tinha o olhar fixo
à minha bandeja, mas seus olhos estavam distantes.

—Você já tomou café da manhã? — Perguntei.

Ele não disse nada.


—Noc, — chamei, girou sua cabeça e seus olhos azul-
gelo vieram até mim.

—Desculpe, — ele murmurou. —O que?

—Você tomou café da manhã?

—Sim.

—Você ainda está com fome?

—Na verdade não.

—Então vai explicar por que está olhando para a minha


bandeja como se desejasse roubar meu bacon?

Sua boca se ampliou num sorriso que, pela primeira vez


eu não acreditei que era real.

—Ninguém pode ter o suficiente de bacon, — ele


brincou.

Isso era verdade, bacon era delicioso.

No entanto, eu tinha a sensação desconfortável que ele


estava mentindo e não gosto disso. Eu menti e recebi
mentiras de muitas pessoas, começando há tanto tempo que
nem sequer me lembro quando realmente começou.

Mas Noc, eu sabia instintivamente, nunca mentiu para


mim.

E pensar que ele estava agora, sobre o bacon de todas


as coisas, me incomodava muito mais do que eu gostaria de
admitir.

—Você pode ter meu bacon, — eu disse calmamente.


—Baby, eu não quero o seu bacon. Sério, — ele
respondeu em meu tom.

Estudei-o atentamente antes de perguntar: —Está tudo


bem?

—Eu só tenho algo em minha mente.

Eu não deveria estender o convite.

No entanto, estendi o convite.

—Você gostaria de compartilhá-lo comigo?

Seu olhar no meu rosto aqueceu e suas palavras fizeram


meu peito fazer o mesmo quando respondeu: —Sim.

Coloquei meus talheres para baixo, a fatia de torrada, e


girei meu corpo para ele para dar-lhe toda a minha atenção.

Mesmo assim, ele continuou dizendo, —apenas não


agora. Parece que você tem um dia cheio. Mas posso pedir
que terminemos com ele juntos?

—Terminemos juntos?

—Sim, — ele me deu um sorriso genuíno. —Você e eu


em um quarto em algum lugar com uma garrafa de uísque.

Eu queria muito isso, e era algo que eu nunca


partilharia.

Apesar de eu concordar com este compromisso.

—Nós podemos fazer isso, Noc.

—Ótimo, Frannie. Tenho que ir, — declarou ele e


imediatamente fez um movimento para ir, no entanto, rápido
como um raio, sua mão disparou para fora e ele beliscou
minha última fatia de bacon.

—Noc! — Bati.

Mas ele estava fora da cama, sorrindo para mim


descaradamente enquanto comia o meu bacon e passeava em
volta da minha cama para a porta.

Ele chegou nela, os olhos em mim, engoliu um pedaço


do meu bacon e disse: —Mais tarde, querida.

Revirei os olhos.

Ele continuou sorrindo para mim um momento antes de


fechar a porta atrás dele.

***

Noc

—Hey, — Noc cumprimentou Finnie quando entrou na


sala onde um dos servos lhe disse que estava.

Ela estava sozinha e parecia que estava escrevendo


cartas, mas parou de fazer isso no momento que levantou a
cabeça e viu a abordagem.

Ela colocou tudo de lado sobre a almofada do sofá onde


estava sentada e respondeu: —Hey.

—Não quero interromper você, — ele começou.


Ela o cortou. — Interromper-me. Por favor. As pessoas
trazem presentes no Baile de Gala para Frey e eu, e estou
escrevendo notas de agradecimento. Tentei compartilhar com
a rainha que fazer isso estava matando muitas árvores. Ela
pensou que eu estava perdendo minha cabeça, me disse isso
e também me disse para parar de procrastinar. Uma princesa
escreve notas de agradecimento. E as árvores são um inferno
de muito mais abundantes aqui do que no meu velho
mundo. Então, eu realmente não tinha qualquer desculpa
para não o fazer, — seus olhos brilharam, —a não ser para
falar com você.

Enquanto ela falava, ele moveu-se para um sofá,


sentou-se e sorriu para ela quando ela terminou.

—Prazer em estar a seu serviço.

Ela inclinou a cabeça para o lado.

Não confusa de modo algum, ela leu-o e perguntou: —


Você tem algo que queria falar comigo?

Ele tinha.

Um par de algumas coisas.

—Você sabe como entrar em contato com Valentine?

—Não de qualquer forma definitiva, não.

Porra.

Finnie continuou, —Mas ela está de volta.

Isso era novidade.

—De volta? — Noc solicitou a confirmação.


—Hum-hum. — Finnie assentiu. —Ela está de volta. Ela
se encontrou com Frey um par de dias atrás.

—Eu não a vi, — Noc compartilhou.

—Eu também não, na verdade. Aparentemente, ela


alugou alguma mansão perto. Não sei por quê. Quando ela
está aqui, gosta de estar no meio das coisas. Mas ela veio e
Frey sabe onde ela está, para que possa enviar uma
mensagem para ela.

—Eu gostaria de mandar uma mensagem para ela, —


Noc disse a ela.

Finnie assentiu. —Certo. Vou encontrar Frey e...

Ela começou a empurrar-se de seu assento, mas ele


levantou a mão e a parou.

—Não, querida. Vou falar com Frey. Há outra coisa que


eu quero perguntar-lhe.

—Solte, — ela convidou, recostando-se em seu assento.

—O Mar Verde, é o grande oceano a oeste, certo? —


Perguntou Noc.

Ela assentiu com a cabeça. —Sim. Grande corpo de


água. Verde, como o seu nome, — disse ela em um sorriso. —
Mas um verde que você não acreditaria, Noc. É lindo. Estou
realmente ansiosa para que você o veja. Eu viajei muito no
meu velho mundo e até mesmo as águas cor de esmeralda em
algumas das Caraíbas não chegam perto da grande beleza do
mar verde.
—E você viajou muito aqui também, né? — Perguntou
Noc.

Ela assentiu com a cabeça novamente. —Eu tenho.

—Além do Mar Verde?

Ela parecia confusa. —Além dele?

—Além dele. Para um lugar chamado Mar-el, ou Airen,


ou algo parecido.

Ela balançou a cabeça. —Ah não. Temos viajado para


cima e para baixo da costa dos Northlands, sobre o Mar de
Inverno, o mar Marhac também, mas nunca em todo o verde.

—Frey viajou por ele todo?

Outro aceno de Finnie.

—Sim. Duas vezes. Como diplomata para o meu pai


quando ele estava vivo e porque havia alguns tesouros
Lunwynian que nunca deveriam ter deixado solo Lunwyn que
foram parar lá. — Seus olhos se iluminaram, dizendo-lhe que
havia mais na história do que ela disse em seguida. —Frey
tem um hábito de colecioná-los.

—Então, é uma viagem real, não insegura, — Noc


empurrou.

Ela novamente parecia confusa. —Você quer viajar


através do mar verde?

—Não, Franka quer.

Seus lábios se separaram de uma maneira conhecedora,


ela sentou-se, murmurando: —Ah.
—É seguro?

Finnie sustentou o olhar. —A viagem é longa. Muito


longa. Eu nunca perguntei a Frey quanto tempo, mas acho
que leva meses. Fácil de ficar sem abastecimento,
especialmente se você não sabe para onde está indo ou ficar à
deriva por uma tempestade. E Frey disse-me que há muitas
ilhas que são habitadas, nem todas elas com pessoas
amigáveis, e algumas dessas pessoas hostis têm barcos.
Existem recifes que são difíceis de desviar se você não souber
onde estão para evitá-los. E há piratas neste mundo com a
adição de atacantes. Corsários tendem a causar estragos por
terra, ancorando perto da costa e invadindo a partir daí. Os
piratas tomam navio por navio. Corsários geralmente
simplesmente roubam e não criam um monte de danos
colaterais. Piratas tomam saque e mulheres e o resto sentem
o comprimento de um sabre ou vão para baixo com o navio
que eles costumam incendiar, se eles não decidirem roubar
isso também.

—Jesus, — Noc sussurrou.

—Sim, — Finnie concordou. —Eu vi um par de navios


piratas. Eles tentaram subir ao galeão de Frey. Mas viram a
sua bandeira e recuaram. — Ela sorriu com orgulho. —
Muitas pessoas não fodem com Frey. Você faz, de repente em
cima aparece um dragão e você está frito. Literalmente.

Noc sentiu os olhos arregalarem. —Sim, suponho que


afastaria a maioria das pessoas, até mesmo piratas.
Finnie se estabeleceu, cruzando as pernas sob seu longo
vestido de lã e continuou: —Na verdade, não acho que
existem quaisquer navios de passageiros que conheço que
façam essa viagem. Comerciantes, definitivamente. Há um
monte de coisas a partir desse lado do mundo que é
altamente valorizado aqui e custa uma pancada, então vale a
pena o risco da viagem. Eles têm um tipo de lã que é
incrível. Tenho vestidos e xales feitos delas e eu nunca senti
nada parecido. Rubis Firenzian são espetaculares. Frey me
deu um colar e brincos feitos deles e são
extraordinários. Especiarias exóticas. Toneladas de material.

—E você adora viagens, se fosse seguro para levá-la...—


ele não terminou porque ela estava balançando a cabeça.

—Sim, se fosse seguro, nós iríamos. Eu nem sequer


perguntei porque li nas entrelinhas quando ele me disse
tudo. Não há razão para entrar em uma discussão sobre isso.
Frey me estraga muito. Mas quando é hora de colocar o pé no
chão, ele não tem um problema em fazer exatamente
isso. Desde que às vezes me irrita, aprendi a ler quando é
importante para ele e eu não deveria empurrá-lo, por isso não
forço a barra.

Noc atirou-lhe um sorriso. —Bom plano.

Os lábios de Finnie se contraíram em sua resposta, mas,


em seguida, seu rosto ficou sério. —Ela não deveria ir.

O sorriso de Noc morreu.


Isso era o que ele pensou, não só por tudo que Finnie
acabou de compartilhar, mas a partir do minuto que Franka
mencionou que faria isso.

O que ele não pensou era por que isso o perturbou


tanto, que ela parecia estar totalmente bem com decolar
depois que seu irmão partisse como se ela não estivesse
deixando nada para trás.

A parte do ―deixando algo para trás‖ e precisamente o


que o incomodava sobre isso era a parte que ele não estava
pensando.

—Estou ficando com essa impressão—, disse ele.

—O que eu quero saber é por que ela quer ir—,


comentou Finnie.

—Porque ela perdeu o homem que ama, seus pais estão


mortos para ela e nunca foi muito de sentir falta de casa de
qualquer maneira, ela quer colocar tudo isso para trás e isso
é uma maneira infalível para fazer exatamente isso. Ela não
vai trombar em algo familiar em um continente
completamente diferente.

—Infalível, é verdade. Dramático, definitivamente. Um


pouco louco, também, definitivamente, — Finnie retornou. —
E isso é ser agradável porque na verdade é um monte de
loucura.

Porra.

—Você não pode deixá-la ir, Noc, — Finnie afirmou.


—Não tenho certeza, uma vez que ela continua lutando,
se vou ter muito a dizer sobre isso, Finnie.

Sua boca ficou suave enquanto se inclinava para cima, e


olhando para ela, normalmente, todo esse cabelo loiro-
branco, sua figura fantástica, com os olhos muito azuis, Noc
entendeu porque Frey fazia de tudo para mantê-la ao seu
lado.

Merda, quando ela olhava assim, ele entendia por que


Frey iria matar e morrer por ela.

—Acho que ela tem uma queda por você, querido, —


disse ela calmamente. —Foi difícil perder a forma como
você dois estavam na prisão ontem.

A maneira como estávamos na prisão ontem.

Não, era mais a forma como Franka estava na prisão


ontem. Tudo isso.

Porra, ele estava tão terrivelmente orgulhoso dela, era


assustador quanta emoção que sentia por uma mulher que
realmente mal conhecia.

Mas quando ela se virou para ele, vulnerável e agarrou-o


como se precisasse de sua força, olhou-o para acalmar seus
medos, isso causou ainda mais emoção. Ficou feliz para
caramba por poder apoiá-la. E mais, ela teve força para
mostrar sua fraqueza, mostrou isso a ele e o deixou apoiá-la.

—Ela definitivamente tem achado mais fácil deixar a


máscara escorregar de vez em quando, — ele respondeu. —
Mas é teimosa e entendo porque quer ir. Por que quer colocar
seu passado onde ele pertence e ir a um lugar onde nada a
lembre disso.

—Vejo por que ela quer isso, mas ainda não é a escolha
certa.

—Há um mundo nada parecido com o dela, para onde


pode ir e onde nenhum pirata vai levá-la como espólio, — Noc
apontou.

Os olhos de Finnie se arregalaram quando ela se sentou


para frente.

—Caramba, há sim, — ela sussurrou.

—Não sei se posso convencer Franka a vir conosco


quando eu for com vocês, enquanto você leva Tor e Cora de
volta para casa. Não sei nem mesmo se posso convencê-la a
voltar comigo. O que eu tenho certeza é que não posso levá-la
de volta a menos que Valentine faça isso por mim.

—Ela vai fazê-lo. Parece ser uma pessoa fria, mas ela é
todo coração.

Era com isso que Noc contava.

—Então, trazendo-nos de volta, eu tenho que falar com


Frey e levar a Valentine uma mensagem.

Finnie estava fora de seu assento antes mesmo de


terminar de falar.

—Vamos encontrá-lo, — disse ela.

Não.
Esse olhar em seu rosto, onde ela não escondia sua
excitação, foi provavelmente o que derrubou Frey. Aquele
olhar que você gostaria de ver todos os dias. Aquele olhar era
um pelo qual você mataria e morreria.

Noc gostou de observar o que parecia ser a única


maneira que podia, quando se levantou do sofá.

Em seguida, partiram juntos para encontrar o marido de


Finnie.

***

Franka

No final da manhã eu me sentei com Josette em uma


pequena sala de estar que a secretária da rainha reservou
para Josette e eu fazermos as nossas entrevistas finais de
empregadas domésticas em perspectiva.

Era uma sala adorável, a melhor parte disso era que já


teve seus vidros substituídos, então estava brilhante,
ensolarado e alegre.

Eu li todos os currículos e as referências das


candidatas. Houve várias referências escritas por pessoas que
eu conhecia ou das quais sabia (a única que eu sabia que
podia confiar em cada palavra era a menina que foi
empregada por Norfolk Ravenscroft, um homem inteligente,
honesto e primo da rainha). Nós falamos com todas as
candidatas. Eu tinha algumas perguntas, mas Josette fez
muitas mais, às suas perguntas de acompanhamento.

E agora eu estava, na maioria do tempo, silenciosa.

Ela não pareceu notar, estava falando furiosamente de


uma forma como se pensasse em voz alta.

—A segunda, Deona, eu acho que ela é afiada para o


trabalho só porque quer chamar a atenção de um selvagem
Firenze, — afirmou. —Homens loucos poderiam causar
problemas.

—Mm... — murmurei ao invés de dizer a verdade.

Ela estava absolutamente certa.

Ela continuou balbuciando.

—A primeira teve um problema em olhar em seus


olhos. Não tenho certeza do que se tratava. A timidez é uma
coisa, mas nós falamos com ela por mais de meia hora e nem
uma vez ela reuniu coragem para olhar diretamente no
rosto. Eu acho que iria irritá-la ao longo do tempo se ela
acabasse por não superar isso, e estou preocupada que não
vai.

—Mm... — murmurei de novo, porque mais uma vez ela


bateu no alvo.

—Para não mencionar, se ela não tem a coragem de te


olhar nos olhos, como é que vai ter a coragem de embarcar
em um galeão e se aventurar através do Mar Verde?

—Boa pergunta, — eu disse suavemente.


Ela ou não me ouviu ou estava profundamente
concentrada, pois continuava tagarelando.

—Mas a última, eu gosto dela. Ela ainda trouxe


amostras de costura com ela e é talentosa com uma
agulha. Quase mais do que eu, — Josette continuou.

Este último era falso, o talento de Josette com uma


agulha, na minha experiência, era insuperável, mas eu não
disse nada.

—Acho que foi inteligente, fazendo isso, — Josette


continuou. —Eu deveria ter pensado em trazer minhas
próprias amostras quando fui entrevistada por você. Ela
também não tem laços aqui que a deixariam com saudade e
melancolia, que nós acharíamos perturbador.

Ela estava novamente muito correta.

—E seus olhos se iluminaram com a ideia de cruzar o


Mar Verde, — Josette tagarelou adiante. —Parecia
genuíno. Muitos não têm essa reação. Ambas. um e dois,
disseram que estariam bem com isso, mas eu não
acreditei. Candidata três, bem, tenho a sensação de que ela é
como a Princesa Sjöfn... e você, claro. Uma fêmea, mas com
uma pitada de espírito de um raider.

Eu não falei e esperei.

—Eu acho que é a três, — Josette declarou.

Ela escolheu bem. Pequena e esbelta, embora a número


três era (uma menina com o nome de Irene), ela levou-se
bem, tinha respostas prontas, afirmou que apreciava estar
ocupada e ela era mais jovem e menos experiente do que
Josette então não haveria um futuro onde eu teria uma
empregada tentando dar um golpe para tomar o lugar da
minha outra.

—O que você acha? — Josette consultou.

—Três, — eu disse.

—Você gostou dela? — Ela perguntou incerta.

—Eu não a conheço. Gostei dela para o trabalho. E


vocês duas pareciam conversar bem.

—Eu gosto dela, — Josette compartilhou.

—Então é a três.

—Mas você tem que gostar dela, — ela voltou.

Eu respirei fundo para acalmar a minha súbita


impaciência e olhei em seus olhos.

—Ok, é três, — disse ela, lendo o meu olhar, os lábios


curvando.

Baixei meu queixo com uma afirmativa. —Envie sua


mensagem. Vamos precisar prepará-la para a nossa aventura
também. Ela poderia muito bem começar a planejar agora.

Josette saltou de sua cadeira e começou a correr da


sala, falando isso.

—Eu estarei de volta para ir às compras.

Eu tinha certeza de que iria.

—Até então, — eu respondi.

A porta se fechou.
Eu sorri.

Tarefa concluída, avante para a próxima.

Seja lá o que acabasse por ser.

***

Um dos servos do palácio veio a mim para compartilhar


que Kristian chegou.

Eu não prestei qualquer atenção ao que poderia deixar


transparecer quando me levantei abruptamente do meu
assento e deixei Cora e Circe sozinhas na sala de estar
enquanto corria para fora da porta.

Os corredores pareciam intermináveis.

Mas, finalmente, alcancei o salão da frente e lá estava


ele, permitindo que a sua capa fosse tomada por um lacaio,
enquanto o manto de sua mulher foi tomado pela sua própria
camareira.

Ela me viu primeiro.

Brikitta Drakkar.

Um rato de uma mulher com cabelo e características


indescritíveis, e um corpo extremamente magro, meu irmão
era muito mais atraente do que ela.

Dito isto, a não ser na presença dela, eu nunca vi


Kristian sorrir tanto.

Ou rir.
Eu vi o olhar congelado no rosto dela e sabia que era a
sua tentativa de esconder o medo que tinha de mim.

Era seguro dizer que eu estava longe de ser gentil com


ela.

Eu não fui no início porque não a queria com o meu


irmão. Não porque ela parecia um rato de uma
mulher. Porque ela se comportou como um. Eu queria que ele
tivesse ao seu lado uma forte companheira que pudesse
ajudá-lo a suportar a ameaça sob a qual ele viveu e ir além do
sofrimento de seu passado. Mas também para reforçar a sua
tendência de governar com o coração, não pensar com a
cabeça, algo em nosso mundo, e especialmente em nossa
casa, que era considerado uma fraqueza e, portanto, alvo de
tormento.

Apesar de ser muito mais.

Ela fez o meu irmão sorrir e rir. Tinha olhos


bondosos. Falava suavemente e não escondia seu afeto não
só para o meu irmão, mas sua família, de quem estava
perto. Ela era ainda expressiva com os seus servos.

Meus pais poderiam quebrar Kristian.

Se eu tivesse caído e eles voltassem para Kristian e os


dele, eles a destruiriam.

Eu queria afastá-la. Quando falhei nisso, queria que ela


desenvolvesse uma pele grossa.

Mas agora tudo que consegui foi seu medo e


provavelmente que me detestasse.
Nos poucos dias que eu sabia que permaneceriam no
palácio, não teria como mudar isso, disso eu estava
relativamente certa.

Mas isso não significava que eu não deveria tentar.

Bem pensado, mon ange, Antoine disse em minha


cabeça, e eu quase tropecei em meus próprios chinelos, sua
voz era uma surpresa, pois eu não a ouvi em dias.

Pensei que ele tinha ido embora.

Eu cheguei mesmo a ter a esperança de que ele se foi,


uma esperança que me causou culpa, bem como angústia.

—Brikitta, — eu a cumprimentei, não muito


calorosamente, porque ainda não tinha habilidades para fazer
aquilo.

—Franka, — ela respondeu afetada.

—E onde está Timofei? — Perguntei, olhando ao redor


enquanto meu irmão contornava sua esposa para vir em
minha direção.

Foi Kristian quem me respondeu.

—Seu sobrinho adormeceu no trenó logo antes de


chegar. Ele está tendo um momento difícil para dormir, por
isso, não queria acordá-lo. Ele está sob as peles lá fora com
sua babá.

Olhei para o meu irmão, os olhos azuis amáveis que


nunca foram nada além disso, mesmo quando pousaram em
mim.

—Irmão, — sussurrei.
—Irmã, — sussurrou de volta.

Diabos.

Eu ia chorar.

Mesmo no grande salão do Palácio de Inverno, pela


primeira vez desde que eu era uma criança pequenina, eu ia
chorar.

Meu irmão lá, alto, bonito, saudável e seguro.

Eu com ele, talvez não tão saudável, mas também


segura.

Nosso calvário acabou.

O alívio de tudo me consumiu e eu não sabia se poderia


suportar isso.

Eu precisava escapar.

Imediatamente.

Antes que eu pudesse fazê-lo, Kristian arrancou sua


luva de sua mão e levantou-a.

Cobrindo meu rosto, ele aproximou-se de mim,


mergulhando o rosto para o meu.

—Franka, — disse ele suavemente.

—Estou feliz que você esteja bem. — Eu forcei a sair em


uma voz que não era a minha. Era rouca e sem polimento.

Ele continuou a falar na sua voz calma, como se ele só


me quisesse para ouvir.

—Foi ruim.
—Foi, — afirmei, querendo tocá-lo, para puxá-lo para
mim, para envolver meus braços em torno dele e tê-lo
envolvendo os seus em volta de mim como fazíamos quando
éramos jovens, antes de minha mãe e meu pai colocar um fim
a isso.

Agora sua voz era rouca. —Irmã.

—Eu suportei, — compartilhei o óbvio.

Seus olhos começaram a ficar cheios de lágrimas


quando respondeu: —Você sempre suportou.

Eu delicadamente limpei minha garganta e recuei longe


o suficiente dele para a mão cair.

—É preciso acomodar a sua família. Descansar. Tenha


um pouco de almoço. Falaremos mais quando você descansar
de sua viagem.

Eu incluí Brikitta neste convite e notei que ela estava


olhando para mim como se nunca tivesse me visto, ou mesmo
qualquer coisa como eu antes.

—Sim, Franka. É claro, — disse Kristian.

—Ah, eles chegaram. Excelente. — Nós ouvimos atrás de


nós e todos nós viramos para ver a Rainha Aurora se
movendo em nossa direção.

Brikitta e eu caímos em reverências. Kristian inclinou-


se.

—Levanta-te, levanta-te, — Aurora murmurou. —


Encantada que você chegou com segurança, Kristian,
Brikitta, — afirmou, varrendo-os com seu olhar. —O seu
quarto os espera, um dos quartos com um berçário
anexo. Assim o berço de Timofei também aguarda.

—Nossa gratidão, sua graça, — Kristian respondeu.

—Não é nada, — afirmou, virando e apontando para um


lacaio pairando. —Leve-os para seus quartos e faça que seus
baús sejam levados para cima e envie uma empregada para
eles.

—Sim, sua graça, — o criado respondeu, fazendo uma


ligeira curva, em seguida, estendendo a mão para Kristian e
Brikkita.

—Vamos sentar juntos mais tarde, sim? — Kristian


perguntou quando colocou a mão no cotovelo de sua esposa.

—Claro, — respondi. —Grata que estão todos aqui em


segurança.

Brikitta assentiu e seus olhos foram para longe. Kristian


me deu um sorriso e, em seguida, virou-se para a criada de
Brikitta. —Por favor, você poderia ver como a babá está se
saindo com Tim?

—Sim, Senhor Kristian.

Ela prontamente fez seu caminho para as portas da


frente.

Kristian e Brikitta seguiram o lacaio.

Aurora caminhou para mim.

—Você está bem, Franka? — Perguntou ela.

—Muito bem, minha rainha, — respondi.


—Maravilhoso, — disse ela e começou a afastar-se,
declarando: —Muito ansiosa para o seu discurso animado no
jantar.

Eu ainda estava de pé e fiquei olhando para ela.

Então senti a bolha de alegria na minha garganta e


apenas consegui engoli-la.

Eu mal disse algo no jantar. Durante o primeiro jantar


que fui convidada para participar, e estava bem o suficiente
para fazê-lo, não falei porque não tinha intenção de fazê-
lo. Ontem à noite foi porque a conversa era tão rápida e
furiosa entre os homens e as mulheres, que não pude dizer
uma palavra.

Eu tinha a sensação de que era a maneira sutil de


minha rainha me dizer para fazer caber minhas palavras.

Ela realmente não deve pressionar para isso. Havia


muito surpreendendo-me recentemente e muito disso tinha a
ver com o meu próprio comportamento.

Portanto, mesmo eu não sabia o que aconteceria.

***

Foi surpreendente que não fui eu quem causou um


rebuliço no jantar naquela noite.

Foi o meu irmão sempre bem-educado.


Isso aconteceu logo após eu informá-los, uma vez que
ele e sua família deixassem o Palácio de Inverno, que eu
estava viajando com Josette e nossa nova aquisição através
do Mar Verde.

Ele era meu parceiro de jantar, sentado à minha direita,


e pensei que nós tivéssemos um casulo de privacidade,
assim, seria seguro compartilhar essa informação sem outros
processarem as suas opiniões.

Até que ele gritou: — Você ficou louca?

—Kristian, — murmurei, chocada com a reação dele,


incluindo o volume da mesma, e muito consciente de todos os
olhos próximos a nós, particularmente de Noc, que estava
sentado do meu outro lado, sua parceira de jantar Brikitta.

—Apenas a ideia é estúpida, Franka, — meu irmão


estalou (ainda em voz alta). —Eu não vou permitir isso.

Minha surpresa desapareceu e senti meu queixo


apertar.

Ele não iria permitir isso?

Kristian não permitiria que eu fizesse algo que eu queria


fazer?

Não era eu que enlouqueci. Era ele.

Não. Isso era impreciso.

O mundo inteiro enlouqueceu ao redor de mim, levando-


me com ele.

Meus pais foram presos, nunca respirarão liberdade


novamente.
Eu estava sendo gentil com a minha empregada,
pedindo-lhe para me chamar pelo meu nome e convidando-a
a tomar decisões sobre assuntos de grande importância,
como quem assistiria a minha pessoa e minha roupa e meu
quarto de dormir.

Eu estava permitindo a Noc interferir na minha vida em


qualquer momento, momentos esses escolhidos por ele.

Meu primo Frey gostava de mim. Sua esposa também


gostava de mim. Além disso, seus amigos gostavam de mim.

Aqueles amigos, as mulheres e os do sexo masculino,


me acompanharam em um experimento, simplesmente
tentando estar perto para o caso de eu ficar triste.

A voz do meu amado morto soava na minha cabeça.

A rainha de todo o maldito país falou comigo como se ela


fosse minha babá e, posteriormente, provocou-me como se eu
fosse uma querida amiga de sua filha que ela conhecia desde
que ambas estavam na sala de aula.

E o pior de tudo, parecia que eu não tinha controle, nem


um pouco, sobre nada.

—O que foi? — Aurora consultou.

Eu abri minha boca para intervir, na esperança de que


eu pudesse fazer o meu irmão permanecer em silêncio, mas
ele falou antes que eu pudesse emitir um som.

—Minha irmã deseja fazer uma jornada através do mar


verde, — declarou ele. —Ela tem a intenção de partir logo
após Brikitta e eu partirmos para casa, sua graça.
Rainha Aurora assumiu uma expressão grave. —Franka,
isso é verdade?

Eu cerrei os dentes, consegui não quebra-los e virei meu


tronco para enfrentar a cabeceira da mesa.

—Sim, minha rainha.

—Ela não vai fazer isso—, Kristian blasfemava, olhando


de Aurora para mim. —Se você não quiser voltar para o seu
apartamento depois que você perdeu Antoine, o que seria
compreensível irmã, então você vai viajar de volta com
Brikitta e eu. Você pode ficar com a gente até que tome
uma sã decisão sobre onde você deseja ir em
seguida. Inferno, pode ficar com a gente para sempre, tanto
quanto eu me importo. A casa é grande o suficiente e sei que
você gosta dela, não importa o que você diga.

Brikitta fez um barulho durante a fala mais recente do


meu irmão que eu decifrei como medo e pânico, e encontrei-
me intervindo não só em meu nome, mas no dela também.

—Irmão, você sabe que não é uma boa ideia. Sou muito
melhor estando no meu próprio lugar, — respondi
rapidamente, desejando que eu não tivesse que fazer isso e
desejando mais ainda que tais assuntos privados não fossem
partilhados em público.

Mas, novamente, não tive escolha.

—Você vai arrumar um novo plano, — ele fungou,


olhando para o seu consommé e mergulhando sua colher
nele, afirmando: —E isso é um assunto resolvido.
—Não é, — retruquei, fazendo tudo de mim para manter
a pressão da minha voz e não exatamente sucedendo. —
Estou muito entusiasmada com o meu plano e não tenho a
intenção de alterá-lo.

Kristian rudemente deixou cair a colher em seu


consommé e se voltou para mim. —Eu acredito que vai
mudar de ideia quando os piratas estiverem a bordo do seu
navio.

—Não há piratas a bordo do navio. — Eu zombei.

—Diga isso aos muitos marinheiros que nunca


retornaram, que provavelmente se sentiram da mesma
forma antes que os piratas embarcassem em seus navios, —
Kristian replicou.

—Mercadores fazem esta viagem muitas vezes, —


respondi.

—Mercadores tentam fazer essa viagem, muitas vezes, —


Kristian respondeu e não me deu tempo para contrariar. Ele
olhou para Frey. —O que você diz, Drakkar? Quantos vão e
quantos voltam?

Frey estava com um olhar divertido, o que eu tinha


certeza me fez parecer irritada desde que senti isso, mas não
tentou escondê-lo, quando respondeu: —Eu gostaria de dizer
que as apostas são meio a meio. Mas aposto que é mais como
30-70.

Soltei um suspiro exasperado antes de perguntar ao


meu primo, —Você foi através dessas águas?
—Sim—, respondeu.

—Quantas vezes? — Perguntei.

—Duas vezes, — afirmou.

Sentei-me na minha cadeira presunçosamente. —Então


eu diria que os riscos são muito melhores do que 30-70, com
certeza.

—Eu sou um bom marinheiro, — Frey respondeu. —Eu


sou bom com uma variedade de lâminas. Sem mencionar
arcos. Meus homens são, indiscutivelmente, melhores do que
eu... em ambos. Meu navio é rápido. E eu tenho menos
escrúpulos do que um pirata quando se trata de salvar os
meus homens e meu pescoço—. Seus lábios formaram um
sorriso lento, superior. —Oh, e há o pequeno fato de eu
comandar dragões.

Bufei e peguei minha colher, solicitando: —Será que


podemos seguir em frente a partir deste tema? Tenho certeza
de que estamos todos de acordo que não é da conta de
ninguém, mas da minha própria.

—Minha irmã, na melhor das hipóteses, uma chance de


cinquenta por cento com a sua vida para atravessar uma
extensão de água apenas para talvez mais esse desafio, se ela
tiver sorte, chegar em terras que a maioria de nós não sabe
nada sobre? — Perguntou Kristian, o seu tom caindo para
descrença. —Eu acho que é dever de qualquer pessoa
convencê-la de tal temeridade.

Eu nem sequer tentei evitar o meu, —Não é imprudente.


—É, — Kristian voltou acaloradamente. —Loucura
certa. E imprudente. E, francamente, um absurdo.

Fui eu que rudemente deixei cair minha colher no meu


consommé quando a minha voz se levantou quando exigi, —
Como você se atreve!

—Atrevo-me muito facilmente quando eu finalmente


consegui a minha irmã de volta, apenas para ela decidir fazer
algo imprudente e idiota que pode me fazer perdê-la de novo,
— ele respondeu.

Eu fechei minha boca quando a minha garganta fechou


completamente em suas palavras de uma forma que era um
milagre eu não ter começado imediatamente a sentir falta de
ar.

—Você vai voltar para casa com a gente, — Kristian


decidiu. —Vai ficar para conhecer a minha esposa e meu filho
e a criança que minha esposa agora carrega uma vez que ele
ou ela chegar, — ele continuou e meu olhar voou para
Brikitta que agora estava corando.

Mas meu irmão não terminou.

—E se você não fizer isso, vai estar em algum lugar


próximo, a distância mais distante em Fleuridia, então você
pode visitar-nos ou podemos visitá-la. Não vou mais ouvir
falar sobre seus impulsos ridículos. Na verdade, estou
determinado a fazer você voltar com a gente. É claro, com
tudo o que sofreu recentemente a sua mente não está certa e
você precisa de tempo para obtê-la novamente.
Eu tive muitas réplicas de corte na ponta da minha
língua.

Mas a nova Franka voltou seu olhar para a cunhada e


perguntou: —Você está grávida?

—Eu... — mais corar de Brikitta, —sim.

—Estou satisfeita por você, irmã. Muito.

Seus olhos arregalaram.

—Quanto a você, — olhei de volta para o meu irmão, —


vamos terminar essa discussão mais tarde.

—Nós não vamos, essa discussão já está terminada, —


decretou.

—Não está.

—Está.

—Não está.

—Está sim.

—Não! — Exclamei.

—Sim! — Ele disparou de volta.

Eu ouvi o riso em erupção em torno de nós, mas através


disso eu também ouvi o estremecimento da rainha Aurora
com diversão (estremecendo!) comandando —Franka, não fale
mais deste absurdo. Kristian está certo. Seus planos são
muito arriscados e você os decidiu em um momento em que
está vulnerável para tomar decisões pobres. Eu a proíbo de
atravessar o Mar Verde. Pelo menos durante um ano. Se você
continuar a desejar fazê-lo, talvez isso possa ser discutido
novamente após esse tempo.

Olhei para a minha soberana, sem palavras.

A rainha de Lunwyn não estava muda.

Ela continuou.

—Suas opções são retornar à casa de seu irmão com a


sua família ou viajar comigo para RiméeKeep. Com Frey,
minha Finnie e meu pequenino Viktor fora de Bellebryn, eu
vou estar muito sozinha e você vai ser uma agradável
companhia.

Eu seria uma muito agradável companhia?

Eu?

Fiquei sem palavras.

Aurora não o fez.

—Você tem até Kristian e Brikitta partirem em cinco


dias, portanto, para fazer a sua decisão. Agora, — ela olhou
ao redor da mesa, —isso está acabado. Permita-nos brindar
as lindas notícias de Kristian e Brikitta e seguir em frente das
disputas entre irmãos.

Ela pegou seu copo de vinho e todos seguiram, inclusive


eu. Quando uma rainha brindava, você não objeta.

Mas eu estava furiosa, porque, aparentemente, o fim


inesperado dos anos de tormento dos meus pais me levou a
ser incerta dos meus sentimentos e meu futuro e de toda a
minha maldita natureza e me tornar suave. No entanto, fez
com que crescesse em meu irmão uma espinha dorsal. Para
não mencionar uma disposição aberta para se envolver em
inadequações, estas sendo me dispondo ao que poderia ser
descrito como nada menos do que o que a rainha considerou
isso.

Uma maldita disputa entre irmãos.

Na maldita mesa de jantar real.

Tomei um gole de vinho, ignorando todos os sorrisos que


eu tinha certeza de que tinha algo a ver com o fato da família
do meu irmão estar crescendo, mas mais a ver com alegria
para o meu irmão e minhas palhaçadas.

Assim eu fiz isso carrancuda.

No entanto, notei que o único que parecia não ter se


divertido com nossa exibição foi Noc. Ele não estava
sorrindo. Estava me olhando atentamente.

Quando eu peguei seus olhos, ele murmurou: —Tudo


bem?

—Tudo bem, — bati de volta.

Ele continuou estudando-me antes de concordar.

—Espero, — Aurora gritou quando todos voltaram a


comer, e olhei para ela para ver sua atenção focada em
Brikitta, —que o seu pequenino Timofei foi capaz de obter
uma boa soneca nesta tarde. Antes de Franka levar às
compras a empregada doméstica, ela foi bastante exaustiva
em abordar os servos para pedir que eles ficassem quietos em
torno de seus quartos, pois seu pequenino teve problemas
para dormir recentemente.
Pela deusa Adele, estavam minhas bochechas em
chamas?

Os olhos de Brikitta correram para mim e estavam


novamente arregalados.

Sim, minhas bochechas estavam em chamas.

Merda!

—Uma fase, tenho certeza, — Aurora continuou. —Ele


vai parar de se preocupar e voltar ao bom sono em breve,
marque minhas palavras.

—Eu digo, Franka, — Kristian começou depois que a


rainha terminou, falando no meu ouvido. —É muito estranho,
contemplar este cavalheiro que é a visão do príncipe
Noctorno. Perturbador. Ainda bem que o príncipe tem uma
cicatriz ou eu não seria capaz de distingui-los.

Virei a cabeça e explodi meu irmão com um olhar gélido,


afirmando sem palavras que, ao contrário dele, não superei a
nossa recente briga.

Ele sorriu para o meu brilho e perguntou em tom de


provocação: —Você gosta de fazer compras com sua
empregada doméstica?

Meu olhar se intensificou.

Meu irmão observou-nos e não se acovardou.

Ele começou a rir e voltou ao seu consommé.

Com nenhuma outra opção aberta para mim, também


virei para o meu lugar arrumado, pensando que eu não
estava perdendo meu toque.
Ele foi embora.

E eu não tinha escolha, com o que pensar disso.

Exceto, que assim seja.


Minha Valente

Valentine
Valentine estava na janela de sua adorável casinha de
campo, fora de Fyngaard e olhou para o sombrio país das
maravilhas geladas da neve e do gelo cintilante ao luar.

Frey Drakkar ficou no meio da sala atrás dela e falando.

Enquanto falava, Valentine lutou contra a vontade de


sorrir.

—Estamos dispostos a fazer valer o seu tempo, —


Drakkar declarou enquanto concluía afirmando o que
desejava solicitar a Valentine.

Ela faria o que ele pediu sem cobrar.

No entanto, ele não precisa saber disso.

—Tenho certeza que sua esposa tem compartilhado


muito, embora você não possa entender a extensão disto,
Drakkar, — disse ela à janela. —Mas basta dizer que é um
eufemismo quando eu afirmar que o meu mundo é muito
diferente deste.

—Eu certamente tenho essa impressão, Valentine, e


apesar daquele mundo não possuir nenhum interesse para
mim fora aquelas coisas que eu pago para trazer para a
minha pequenina porque ela sente falta, — Frey
respondeu. —Parece ocupado e lotado, complicado, e pelo que
ouvi falar de Finnie, a maioria das pessoas que o habitam
vivem suas vidas equivocados sobre o que é importante.

Valentine voltou-se para o homem. —E ainda assim você


deseja enviar Franka para lá?

—Ela precisa se livrar das más recordações. Ela também


precisa de um desafio, — ele respondeu. —Mas eu sinto que
ela vai buscar outros muito diferentes daqueles que procurou
no passado. E com você e Noc, e talvez Circe para guiar seu
caminho, ela não vai se perder novamente, mesmo nesse
mundo.

—Eu vejo o seu ponto, — Valentine murmurou.

Frey deu-lhe um aceno curto. —E as suas riquezas, você


mencionou que elas também seriam consideráveis, mas
também seriam suspeitas se fossem descobertas por aqueles
em cargos de autoridade. Franka está acostumada a um certo
padrão de vida e vai esperar isso em qualquer terra em que
habitar. Ela também viveu uma vida de independência, fora
da ameaça das ações de seus pais. Não consigo imaginar que
isso mude, e com essa ameaça erradicada, só posso imaginar
que seu desejo de autonomia vai aumentar. Ela não vai
gostar deste padrão de vida reduzido ou sua nova liberdade
ameaçada com, por exemplo, a necessidade de procurar
emprego ou similares. Estes irão, seguramente, influenciar
sua decisão na direção errada sobre se deve ou não ir.

Os lábios de Valentine se curvaram. —Tenho maneiras


de ajudá-la na conversão dos seus recursos do universo
paralelo à moeda do meu mundo, para não mencionar outros
problemas que ela pode ter, tais como encontrar e pagar por
alojamento apropriadamente designado. Ela vai viver muito
bem, Drakkar, e irá fazê-lo sem ter que perguntar se alguém
deseja 'batatas fritas acompanhando'10.

—Bom, — ele murmurou, em seguida, perguntou: —


batatas fritas acompanhando?

Valentine levantou a mão e atirou-a languidamente, —A


explicação para isso é insignificante, Frey.

O Drakkar não respondeu.

Valentine inclinou a cabeça, consultando —E isso foi


ideia de Noc?

Frey deu outro aceno curto. —Sim, e acredito que foi


uma boa. — Naquele momento, seus lábios tremeram. —Nós
descobrimos no jantar que ela tem a intenção de atravessar o
Mar Verde. A rainha a proibiu, é claro, mas isso indica que
Franka está à altura de uma aventura, quanto mais ousada,
melhor.

10
Ela não precisaria trabalhar como garçonete para viver.
—E será eu ou Noc que sugerirá isso para ela? —
Valentine continuou.

—É de meu entendimento que Noc falará com ela esta


noite.

Valentine deu um pequeno sorriso. —Excelente. Bem,


me mantenha informada, Frey. Quando ela concordar em
deixar este mundo para o meu, vou ter a certeza de colocar
todas as peças no lugar para ela fazê-lo e desfrutar de sua
posição quando chegar.

Ele arqueou as sobrancelhas. —Há a questão do


pagamento, Valentine.

—É claro, — disse ela calmamente. —E você vai estar


vendo isso? Ou será esperado de Franka para compensar-me
para os meus serviços? Talvez Noc?

—Este é um presente meu e de Finnie, — respondeu


Frey.

Isso era o que Valentine esperava que ele dissesse.

—Se for esse o caso, solicito uma audiência com os elfos


em seu reino sob o gelo, — ela compartilhou e viu sua boca
tensionar apertada.

—Este é um grande pedido, — afirmou rapidamente.

—Mesmo eu, não tenho o poder para visitar os elfos e


tenho a sensação de que seria muito interessante.

—Você estaria certa, Valentine, mas eles consideram de


grande valor o próprio reino e podem não conceder este
pedido.
—Você os governa, Frey, — Valentine lembrou.

—Eu faço, mas não através de tirania como um dos


meus antecessores fez, resultando em perdê-los por séculos,
— ele voltou. —Eu levo seus desejos e preocupações em
conta, e se algo é importante para eles, eu o considero
gravemente.

Ele abaixou sua voz e seu olhar nunca deixou os dela


enquanto ele continuava.

—Você sabe que eu aprecio tudo o que fez para a minha


Finnie, a mim e ao meu país, mesmo que, para a maior parte
disso, você estava sendo muito bem paga. Sua vida também
ficou muitas vezes em perigo e você mostrou coragem e
lealdade, o que eu admiro. Você também sabe que por causa
disso eu tenho um carinho por você como tem a minha
esposa. Mas, mesmo assim, os elfos têm livre-arbítrio e
podem retirar-se para o seu domínio subterrâneo, para não
voltar até que haja um novo Frey, que não os governe com
uma mão opressiva. Se eles recusarem a sua visita,
Valentine, eu posso oferecer-lhe tempo para falar com Nillen e
seu conselho, chamando-os até o gelo. Isso não seria uma
ofensa, então espero que isso seja interessante.

—Eu preferiria a minha própria aventura no reino élfico,


Drakkar, mas se só tiver essa alternativa, tudo bem, — ela
concedeu.

—Meus agradecimentos.

Valentine olhou para a porta, em seguida, volta para


Frey. —Eu não quero ser rude, e você sabe que eu sempre
desfruto da sua companhia, mas está ficando tarde, tenho
coisas para ver.

—Claro, — ele murmurou, movendo em sua direção.

Valentine ficou onde estava.

Quando ele chegou nela, se inclinou para roçar os lábios


contra a bochecha dela e se afastou, mais uma vez pegando
seu olhar. —Vou entregar uma mensagem quando souber da
decisão de Franka.

—Enquanto isso, vou esperar que ela faça a escolha


certa.

Desta vez, os lábios de Frey curvaram. —Com o que eu


vejo crescendo entre ela e Noc, não tenho nenhuma dúvida
que ela irá.

Valentine esperava que fosse verdade também.

—Nossa gratidão, Valentine, — Drakkar disse assim que


começou a se mover para longe dela.

Valentine o observou ir, saboreou fazê-lo porque ele era


um belo espécime, e o fez respondendo: —Eu gosto de estar
ao seu serviço.

Ele parou na porta do quarto e olhou de volta para ela,


agora sorrindo totalmente.

—Você gosta de ser paga, — respondeu com uma nota


de brincadeira em sua voz.

—Isso também, — ela concordou.


Ele balançou a cabeça, levantou a mão e lançou, —
Adeus.

Valentine não disse nada. Ela simplesmente ficou onde


Frey a deixou e observou a porta, satisfeita que as coisas
estavam progredindo tão bem e tão rapidamente com Franka
e Noc, mesmo sem a sua interferência.

Mas agora ela tinha um convite real para se intrometer,


e Valentine esperou ansiosamente para fazer exatamente
isso.

Pensando em intromissão, ela voltou sua atenção da


porta para o seu cristal, que estava em seu leito de veludo
esmeralda.

Ela moveu-se para ele, passando suavemente a ponta


dos dedos em toda a superfície, observando o redemoinho de
fumaça dentro, sua mente tomada não só por Franka e Noc,
mas também com o que havia naquela mesma casa no andar
de cima à espera de sua atenção, e Valentine dirigiu seus
pensamentos para o que estava na esfera.

Ela flutuava novamente as pontas de seus dedos através


do cristal, observou a mudança de direção da fumaça e uma
nova visão se formou.

Ela não deveria se atrasar. Se deixada à sua própria


sorte, isso nunca iria acontecer simplesmente devido à
localização e circunstâncias. Ela ainda não podia atrair
qualquer um deles a encontrar o outro.

Ela fez a sua investigação. E foi completa. Ela sabia que


tomou a decisão certa. Não havia mais nada a fazer.
Exceto encontrar o momento perfeito.

E então intervir.

Na verdade, com os planos que tinha para Franka, seria


agradável que elas trabalhassem juntas para ver o outro
esquema de Valentine ser concretizado.

Uma excelente ideia.

Ela estalou os dedos e os tufos no cristal


desapareceram.

Então olhou para o relógio sobre a lareira.

Frey chegou quinze minutos depois que ela deu suas


instruções. Ele não ficou muito tempo. Se ela queria fazer o
seu teste um pouco mais difícil, esperaria outra meia hora,
ou mais.

Mas, pensando no que a esperava, Valentine achou


incomum que ela não queria esperar nem mais um minuto.

Não.

Ela estava muito ansiosa para ver os resultados de como


suas instruções foram realizadas.

Assim, era hora de cuidar das coisas.

E esta Valentine caminhou vagarosamente até a porta


para chegar ao que a esperava em seu quarto de dormir, a
fim de fazer isso.

***
Franka

—Aí está você.

Eu me virei com a voz do meu irmão e o vi entrar no


quarto.

Voltei-me para a janela onde eu estava olhando para o


quintal do palácio coberto de neve, inventando esquemas
elaborados para embalar tudo meu e de Josette, encontrar
Irene e fazer uma fuga clandestina.

Ainda mais, eu temia que se tentasse qualquer uma das


muitas manobras que sonhei nas horas que se passaram
depois do jantar, a própria rainha mandaria me pegar. Ela
provavelmente enviaria seu genro atrás de mim e nós
estaríamos fugindo por um dia e meio antes que fôssemos
arrastadas de volta, meu palpite.

Suspirei na janela.

—É muito tarde, Franka, e eu gostaria de me juntar a


minha esposa na cama, — meu irmão disse, e eu podia ouvir
agora que ele estava perto. —Mas não queria fazê-lo sem ter
certeza de que você superou o seu chilique de antes.

Isso me fez cortar o meu olhar para ele e arquear uma


sobrancelha. —Meu chilique?

Ele sorriu. —Certamente, mesmo você, — seus olhos


foram para a janela e de volta para mim, — depois de horas
meditando não pode ainda achar que uma viagem através das
águas esmeraldas é uma boa ideia.
Eu olhei de volta para a janela, sugerindo, —Talvez
possamos deixar de discutir este tema.

—Talvez isso seja sábio, — ele murmurou.

Ele não disse mais nada.

Continuei ignorando-lhe, fazendo isso ficando cada vez


mais fria, de pé na janela.

—Franka. — Ouvi mais de perto. —Foi somente


preocupação que me fez reagir daquela forma no jantar.

Isto era verdade.

Também foi irritante ao extremo, principalmente porque


ele era verdadeiro.

—Toda a minha vida você cuidou de mim, — ele


continuou, sua voz acalmando. —Agora é minha vez.

Ainda mais irritante porque ele era tão cativante.

E ele sempre foi.

—Eu deixei para muito tarde, mas pelo menos agora


tenho a chance, — terminou, e eu finalmente voltei em sua
direção.

—Eu não preciso que cuidem de mim, Kristian.

—Eu sei, Franka. Mas ainda desejo ter esse privilégio.

Mudei então para estar de frente para ele totalmente. —


Irmão, a beleza do que aconteceu é que agora nós dois
podemos viver nossas vidas sem se preocupar com tal
absurdo.
Seu rosto ficou duro de uma forma que seguramente
não combinava com ele.

E ainda assim, combinava muito.

Pelo menos, é adequado ao novo Kristian.

—Como o seu irmão, sempre foi o meu trabalho cuidar


de você, vai ser sempre o meu trabalho e não é um
absurdo. Até agora, eu falhei. A partir de agora, eu não vou. É
a minha vez e estou tomando-a.

Estudei-o, mas com cuidado de não mostrar quão


intensamente eu estava fazendo isso, de modo a não deixá-lo
desconfortável.

Eu fiz isso por algum tempo antes de suavemente


perceber. —Você está muito mudado.

—Assim como você, — respondeu ele.

Eu acenei com a aceitação disto.

—Você ...— Eu sutilmente limpei minha garganta e


comecei de novo, —Eu fui vê-los na prisão.

Sua cabeça se moveu de forma abrupta e


desconfortável. —Primo Frey informou-me disto.

Levantei meu queixo e continuei, —Percebi antes de


fazer isso que eu não estava muito em paz com a forma como
as coisas mudaram.

A expressão de Kristian ficou perplexa, ao mesmo tempo


preocupada. —Eu não posso imaginar como isso poderia ser,
irmã, — ele sussurrou.
Balancei a cabeça e reajustei a minha posição, virando
meu olhar de volta para a janela.

Em outras palavras, escondendo-me da única maneira


que podia do meu irmão, mesmo dando-lhe tudo.

—Eu não sabia quem eu era sem minha existência ser


do jeito que era.

—Franka, — ele disse calmamente de uma forma que eu


sabia que não estava mais perplexo.

—Eu ainda estou incerta, — admiti. Olhei por cima do


ombro para ele. —Você sente... ou talvez você sentiu o
mesmo?

—Não, amor, — ele declarou em voz baixa. —Quando


aquela bruxa despojou a Mãe de sua magia e compartilhou
comigo que Pai foi detido por Frey, eu senti como se grandes
pedras estivessem me pesando há séculos e, de repente,
foram levantadas, por isso não só eu poderia me levantar sob
meus pés, poderia levantar os braços e voar.

Isso me fez sentir algo que nunca senti.

Meu coração voou pelo meu irmão.

Sem pensar, minha mão disparou para encontrar a sua.

Nossos dedos se curvaram ao redor um do outro.

—Estou feliz por isso, irmão, — disse a ele.

—Você vai encontrar o seu caminho, irmã, — ele me


disse.

Eu esperava que sim.


Embora eu pensasse que meu caminho era uma
aventura através do mar, mas Kristian fez algo sobre isso.

Agora eu precisava encontrar um outro caminho.

Oh bem, eu o faria. Eventualmente, as minhas costas


estariam totalmente curadas e a atenção que recebi pelo que
suportei antes por Kristian desapareceria. As pessoas (eu
assumi) se sentiriam menos protetoras (ou, pelo meu modo
de pensar, extremamente protetoras). E então eu (e Josette,
para não mencionar Irene), teríamos a liberdade de cuidar do
nosso negócio novamente.

Eu só precisava de paciência e tive isso uma vez. Iria


encontrá-la novamente. Utilizá-la.

E para a frente nós iríamos.

—Merda, desculpe interromper.

Isso veio da porta, e Kristian deixou-me ir para pisar


para o lado, enquanto nós dois olhávamos para ver Noc
saindo do lugar.

—Não, Sir Noc, ou... um, Mestre Noc, — Kristian


chamou-o desajeitadamente, mas rapidamente se
recuperou. —Se procura Franka, você a encontrou e eu estou
saindo para me juntar a minha esposa. — Meu irmão olhou
para mim. —Nós vamos tomar o café da manhã juntos?

Balancei a cabeça. —Isso seria ótimo.

Ele sorriu e se moveu em direção a mim inclinando-se.

Ele tocou seu rosto no meu e sussurrou, —Boa noite,


minha valente.
Senti minha boca apertar, porque suas palavras me
afligiam. E elas me angustiavam, porque significavam o
mundo para mim e eu achei este constante transbordamento
de sentimentos extremamente desagradável.

Isto significou que quando ele se afastou e olhou para o


meu rosto, inclinou a cabeça antes de sua boca abrir-se num
sorriso largo.

—E com gratidão, algumas coisas nunca mudam, — ele


murmurou, ainda sorrindo enquanto se afastava.

Eu o assisti sair, ouvindo-o dizer boa noite para Noc


enquanto fazia isso, Noc retornou esse gesto.

Minha atenção se voltou para Noc somente quando meu


irmão desapareceu de vista.

Noc já estava no meio do quarto, olhando para mim, e


não pareceu estar em um bom humor.

—Alguma coisa de errado? — Perguntei, esperando soar


inocente do delito que eu sabia que cometi, que ele conhecia
tão bem pois estava escrito por todo o rosto.

—Algo definitivamente está errado, — afirmou. —Baby,


tínhamos um encontro e eu estive sentado em nosso quarto
pelas últimas duas horas esperando pela sua bunda.

Merda, o seu uso das palavras nosso quarto fez um calor


inundar minha barriga.

—O nosso quarto? — Perguntei, embora eu soubesse


exatamente ao que ele estava se referindo.

—Baby, — ele rosnou baixo, sabendo que eu sabia.


Tudo bem, para frente com isso.

—Por que você não perguntou a um servo onde eu


estava? — Perguntei.

—Por que você não veio para o nosso quarto como nós
combinamos? — Ele disparou de volta.

—Chegamos a um acordo sobre um encontro, Noc, nós


não chegamos a um acordo sobre um local.

Isto, pelo menos, era verdade.

Ele abriu um braço para fora. —Você estava esperando


aqui por mim?

Não, culpadamente eu não estava. Eu estava naquele


quarto evitando-o um pouco, mas o fiz de modo a pensar e
lamber minhas feridas do jantar, que se transformou numa
eu loucamente planejando uma variedade de fugas
elaboradas que não seria capaz de executar e perdi a noção
do tempo.

Mas principalmente eu estava evitando-o, e fazia isso


porque ele faz coisas simples, como dizer duas palavras
inócuas, e ao fazer isso leva calor a inundar minha barriga.

—Bem... — Eu disse essa palavra devagar e parei,


tentando encontrar uma resposta inofensiva, um pouco
factual.

—Inferno da porra, — ele murmurou, rondando até o


cabo no quarto e puxando-o. Ele então voltou-se para mim e
cruzou os braços sobre o peito. —Você vai trazer o seu
traseiro até aqui e sentar-se comigo junto ao fogo, ou vai ficar
na frente dessa janela até que o frio que vem através dela a
congele até a morte?

—Não há necessidade de ser rude, — eu disse (embora


houvesse), deslocando-me da janela (pois estava realmente
frio) e movendo em sua direção, onde havia duas cadeiras
com uma mesa entre elas, inclinadas em direção a um fogo
saudável.

—Frannie, esperei duas horas por você.

Deuses, a culpa que me atacava ia me fazer morder o


lábio!

Eu consegui não fazer algo tão ridículo e simplesmente


parei na frente de uma cadeira, mantendo meu olhar sobre
ele.

Eu abri minha boca para dizer algo irreverente.

Mas, —Sinto muito, Noc, eu tenho muito em minha


mente, — saiu em seu lugar.

Um pouco da ira em seu rosto desapareceu quando se


moveu em direção a mim.

Eu esperava que ele parasse na frente de sua própria


cadeira, mas ele era Noc. Ele não fazia o esperado.

Ele fazia o afetuoso.

Isso significava que ele parou a centímetros de mim para


que eu pudesse sentir o cheiro do seu perfume, um aroma
picante e fresco que gostava bastante, com a cabeça inclinada
para baixo para que seus olhos pudessem segurar os meus.
—Esta coisa, você sabe, com a que estou tentando
ajudá-la a se acostumar? Ele começou.

Balancei a cabeça.

—Parte disso é estar num lugar onde, quando você tem


merda na sua mente e tem alguém que se importa com você,
eles estão lá para você descarregá-lo, — explicou.

—Há coisas que eu preciso trabalhar por mim mesma.

—Eu ouvi você, querida, mas pelo que aconteceu no


jantar, pensar nisso é algo que você deve parar de fazer por
um tempo, descarregue a sua merda em mim, alguém que
está pensando muito mais claro, e deixe-me ajudá-la a
trabalhar através daquelas coisas, talvez dar-lhe ideias de
onde você poderia ir a partir daqui.

Puxei a respiração para acalmar o calor adicional que


esse pronunciamento causou na minha barriga.

Pode-se dizer que Antoine era muitas coisas, quase


todas elas boas, e parte dessas muitas coisas era que ele era
inteligente e era forte.

No entanto, ele não tinha esse tipo de força. Havia muito


que dependia de mim para fazer. Sua conservação, por um
lado, como antes dele vir a ser comprometido apenas comigo,
ele era um prostituto em Fleuridian. As decisões sobre a
nossa casa, servos, viagens, questões de dinheiro foram
outros assuntos que ele esperava que eu visse. Ele teve um
bom negócio com lucros quando teve o seu comércio, algo que
estava em grande demanda para fazer. Lucro que exigi que
mantivesse guardado pois ninguém sabia o que o futuro
traria e eu era capaz de cuidar de nós dois, isso era algo que
ele não tinha escrúpulos em aceitar.

Antoine era sensível. Era cuidadoso. Foi decente e gentil


com todos, não só comigo. Tinha um sentido de humor
irreverente que eu apreciava. E ele, como Noc, tinha uma
maneira de ver mais fundo dentro de mim do que eu queria
(inicialmente) que visse.

E ele era excepcional na cama (obviamente).

Mas ele não era aquele homem. Ele não era o Frey para
minha Finnie, Lahn para minha Circe, Tor para minha Cora,
Apollo para minha Madeleine.

Ele poderia ouvir os meus problemas, mas então ele ia


perguntar: —Então, o que você pretende fazer, mon ange?

Ele nunca diria: ―Isto é o que você deve pensar em


fazer‖. E definitivamente nunca, ―Isto é o que vai fazer,
porque isso é o melhor para você‖.

Vivendo minha vida, eu nunca admitiria, mesmo para


mim, que eu achava tomar todas as decisões ─ da pequena
para a grande ─ esgotante, e a própria ideia de viver toda a
minha vida com esse fardo sozinha era exaustivo.

Compartilhar um fardo e não simplesmente com alguém


para ouvi-la, mas para ajudar-me em ver além dele, parecia
como um presente tão precioso, que suplantou baús cinco
vezes maiores do que aqueles que eu enchi com os diamantes
Sjöfn.

—Frannie, — Noc chamou e me concentrei em seu rosto.


—Eu tinha meus planos, — soltei —e agora eles foram
frustrados.

Sua expressão tornou-se compreensiva quando ele


gentilmente ordenou: —Sente-se, baby, vou pedir um pouco
de uísque e dizer-lhe a minha ideia.

Ele teve uma ideia, e eu achava que não era me


ajudando em um esquema complicado para fazer Josette,
Irene e eu desaparecer na noite, levando-nos em algum lugar
que ninguém nos encontraria (até Frey nos encontrar, é
claro).

Sentei-me.

Noc, curiosamente determinado a continuar fazendo as


coisas mundanas, que eu suspeitava que ele fazia em seu
mundo, mas não fazia no meu, foi para as janelas e puxou as
cortinas. Em seguida, atiçou o fogo, acrescentou um par de
toras sobre ele, e enquanto isso, ordenou o nosso whisky ao
servo que chegou.

Eu entendi porque ele estava tendo esse esforço quando


o brilho quente do fogo se tornou uma chama radiante,
levando embora todo o frio, nos envolvendo em uma
intimidade confortável de uma forma que nenhum de nós
teria que chamar um servo (ou no caso de Noc, levantar e
fazê-lo ele mesmo) para adicionar mais combustível para o
fogo por algum tempo.

A garrafa de uísque veio rapidamente e o servo mal


colocou a bandeja sobre a mesa entre nossas cadeiras antes
de Noc agradecer e começar a servir.
—E feche a porta atrás de você, certo? — Ele chamou.

—Sim, senhor. — Ouvimos o murmurar e a porta


clicando.

Noc me entregou minha taça de cristal cheia de dois


dedos de uísque.

Bastante para uma dose.

E foi uma dose que me fez pensar com ainda mais


curiosidade sobre a sua ideia.

—Tudo bem, Noc, você disse que tinha uma ideia, então
talvez você quebrará o suspense e compartilhar? — Perguntei
enquanto ele bebia um gole do seu copo.

Eu fiz o mesmo quando ele abaixou e começou a falar.

—Finnie e Frey têm algumas coisas que eles têm que


resolver aqui antes de decolar, que acho que é principalmente
a sua maneira de atrasar porque ela gosta de passar tempo
com sua mãe, — declarou ele.

—Isto não é exatamente acabar com o suspense, —


respondi quando ele não compartilhou mais.

Ele sorriu para mim. —O que estou dizendo é, nós


provavelmente iremos ficar aqui por algum tempo e isso será
até pelo menos o tempo que o seu irmão partir.

Isso significava mais cinco dias de ser capaz de passar


mais tempo com Noc.

Eu achei alarmante o quanto isso me agradou.


Realmente, será que eu não adoro meu Antoine em
tudo?

Eu lutei me movendo desconfortavelmente na cadeira


enquanto Noc continuou falando.

—E você tem outra opção além de ir com seu irmão ou ir


com a rainha, — disse ele, e em seguida anunciou
prontamente, —Você pode vir conosco.

Senti meu corpo estremecer com surpresa com esta


oferta.

—Eu...— Comecei.

—Dou-lhe essa ideia para pensar sobre ela, Frannie, —


ele me interrompeu para dizer. —Não precisa tomar uma
decisão aqui e agora.

Tomei um gole de uísque para ordenar meus


pensamentos.

Depois que eu engoli, com cuidado, partilhei, —Noc, esta


é uma oferta gentil e fico feliz por isso. Mas o meu plano de ir
através do Mar Verde não era tão imprudente quanto as
pessoas acreditam. Havia uma razão pela qual eu fiz essa
escolha, e a fiz mesmo compreendendo os riscos que ela
traria. Josette escolheu para me acompanhar compreendendo
esses mesmos riscos.

—Você quer ficar longe de qualquer coisa que lembre de


seus pais ou Antoine.

Fechei minha boca, surpreendida que ele adivinhou com


tanta precisão.
Abri-a para dizer: —Eu fui a Bellebryn e estive com
Antoine. Nós tivemos um feriado lá uma vez. Ele nunca esteve
lá. Ele se divertiu bastante.

—Babe...—

Falei cortando-o. —Havia mais para Josette e minha


aventura, do que fugir do meu passado. Deduzi que isso é
provável em uma aventura, que você está vivenciado tantas
coisas, que não pode pensar em nada, além daquilo que está
experimentando.

—Você não pode escapar dos seus problemas, querida,


ou suas emoções, — ele me disse suavemente. —Eles têm um
jeito de não deixar ir.

Ele estava, sem dúvida, certo.

—Sim, mas quando outras coisas são predominantes e


elas são assim por um longo período de tempo, as emoções
têm uma maneira de desaparecer.

—Você me pegou, — ele murmurou.

—Em outras palavras, eu sabia o que eu estava fazendo,


Noc, e agora eu não sei. Agora minhas opções são
limitadas. E apesar de gostar de passar tempo com o meu
irmão, conhecer meu sobrinho ou sobrinha quando ele ou ela
chegar, algo que eu não sabia e agora tenho de levar em
consideração, acho que nós dois podemos concordar que o
tempo está certo para uma variedade de mudanças na minha
vida. E eu sinto que, quanto mais cedo eu buscá-las, melhor
será.
—Venha para casa comigo.

Eu congelei no meu lugar, meus olhos fixos nele.

Noc não congelou.

Ele continuou.

—Valentine diz que vai cuidar de tudo. E talvez nós


podemos dar-lhe um pouco do ouro que temos para nos
trazer de volta se você ficar com saudades. Eu posso tirar
férias, experimentar mais deste mundo então. Mas agora, ou
depois que seu irmão sair, eu não iria com Finnie e Frey, em
vez disso, iria levá-la de volta ao meu mundo comigo.

Sentei-me muda e imóvel, incapaz de tirar os olhos dele,


mas minha mente estava girando com centenas de
pensamentos.

Talvez milhares.

Mas o que repetidamente agitava através dos outros era


a voz atraente de Noc dizendo as palavras: Venha para casa
comigo.

—Frey já perguntou a ela, — ele continuou. —Está tudo


pronto. Você tem que fugir? Não há nada mais longe do que
lá, Frannie. E se quiser uma aventura para obter a sua mente
fora da merda, essa vai ser a maior aventura que você pode
ter, não existem quaisquer piratas e vou estar lá para mantê-
la segura.

E vou estar lá para mantê-la segura.

Pela deusa, ele deve parar.

—Noc...— Comecei em um esforço para fazê-lo parar.


Ele estendeu a mão sobre a mesa entre nós, pegou
minha mão que estava descansando no braço da minha
cadeira e entrelaçou os dedos nos meus.

Ele tinha dedos muito longos. Pareciam


competentes. Muito atraente.

Diabos.

—Não decida agora mesmo, — insistiu ele. —Você tem


tempo para pensar sobre isso. Mas, querida, — ele sorriu e
isso também foi muito atraente. Sempre. —Eu adoraria
mostrar-lhe o meu mundo. E você não estará sozinha lá. Você
terá Valentine. E Circe vive onde moramos também. Ela já
voltou para lá e pelo que me disse, ela precisa ter alguns
amigos que a conhecem como nós a conhecemos. Você terá
pessoas. Você terá recursos. Vai estar bem. Estará segura. —
Seu sorriso ficou mais largo. —E você vai estar em New
Orleans, assim terá boa música, excelente comida e todas as
oportunidades para ter uma tonelada de diversão.

Eu finalmente consegui encadear um pensamento junto.

—Eu não poderia pedir-lhe para não ter a sua aventura,


a fim de me dar a minha.

—Eu tenho dias de férias, atiro algumas moedas de ouro


na direção de Valentine, estaria de volta e poderia tê-la.

—Noc, isso é muito gentil, mas seria egoísta da minha


parte até mesmo considerar.

—Eu seria feliz em desistir da minha aventura para uma


diferente, essa sendo lhe dando a sua.
Parecia que ia ser difícil dissuadi-lo.

Pior, como eu era capaz de encadear outros


pensamentos, eu me perguntava por que tentaria.

Eu consegui lembrar, —Há Josette a considerar. E a


minha nova empregada, Irene.

—Não sei sobre essa Irene, Frannie. Ter uma dama de


companhia não é algo que as pessoas têm no meu mundo,
muito menos duas. Quanto a Josette, ela é sua menina e
entendo que você a quer junto. Mas ela estava disposta a
cruzar o Mar Verde com você, não acho que ela recuaria de
viajar para um universo paralelo.

Problematicamente, eu suspeitava que Josette me


seguiria direto para o inferno se eu a guiasse lá. Estimava
essa lealdade, mesmo que não soubesse como a ganhei.

Um lugar com tais coisas fantasiosas como motocicletas


e telefones, se ela estivesse bem ali na sala com a gente, ela
diria que sim por nós duas antes que eu pudesse emitir outro
som.

—Frannie, é um bom negócio e você sabe disso, — Noc


pressionou. —Melhor do que tudo o que queria ver em outro
continente nesse mundo. Diabos, depois que você morder um
pedaço, vai se perguntar por que você não disse sim antes de
eu terminar de fazer a oferta, quando você tiver pizza.

Eu sabia que não deveria perguntar.

Mas perguntei.

—O que é pizza?
—Picante molho de tomate, queijo suave, linguiça
picante, todos assados no topo de uma massa recheada com
crocantes bordas boas para mastigar. Você tem comida
assassina aqui, Frannie, mas no minuto que eu chegar em
casa, vou pegar uma fatia, e se você estiver comigo, estou
pegando-lhe uma também. Queijo extra e pepperoni.

Eu gostava de molho picante, queijo suave e linguiça.

Eu também gostava de pão.

Não, eu adorava pão.

Merda.

—Preciso pensar sobre isso, Noc, — eu disse a ele, e era


verdade.

O que também era verdade é que não havia nenhuma


razão para não embarcar nesta aventura alternativa, a não
ser que eu estaria ainda mais longe do meu irmão.

Embora, se Valentine estava apenas uma moeda ou


duas longe de me trazer para casa, eu tinha muitas delas e
poderia estar de volta com ele e sua família mais rápido e
mais seguro do que poderia voltar através do Mar Verde.

Não, Noc que era a preocupação.

Noc e apenas o quanto eu gostava de passar tempo com


ele.

E o quão errado isso era.

—Mais opções, — afirmou e meu foco afiado voltou


sobre ele. —Vou fazer as minhas coisas com Finnie e Frey e o
resto, você volta com o seu irmão. Alguns meses, talvez
depois do bebê nascer e você souber que está tudo bem com o
bebê, Valentine nos leva para casa. Eu faço minhas coisas
aqui, você obtém o seu tempo com sua família, e em seguida,
embarcamos na nossa aventura.

Nossa.

Agora isso pode ser viável.

Meses longe de Noc significaria que eu poderia ter a


minha cabeça organizada sobre ele, pois certamente era sua
atenção e carinho, tudo agrupado no pacote sedutor que ele
era e entregava a mim em um momento em que eu estava
mais vulnerável, que atrapalhava.

Eu perdi Antoine. Eu o perdi para sempre.

Talvez como um mecanismo de enfrentamento, minha


mente estava à procura de uma alternativa, mesmo que isso
fosse errado e desleal.

Tinha que ser isso.

—Sim? — Noc soltou.

—Sim, — eu respondi. —Vou pensar sobre essa opção


também, Noc.

Um sorriso dele e um sincero: —Ótimo, baby.

Parecendo satisfeito consigo mesmo, ele deu um aperto


na minha mão, a soltou e se virou para o fogo, levantando o
copo.

Eu fiz o mesmo.
—Pizza. Telefones. Motos, — a voz de Noc voltou. —
TELEVISÃO. Filmes. Computadores. Futebol. — Virei a
cabeça para ele no exato momento de vê-lo fazer o mesmo em
minha direção. —E saberá que gosto de você quando prometo
levá-la para a loja de departamentos de sapatos na
Nordstrom.

—Será que eles têm uma boa seleção de mocassins? —


Perguntei.

Seu sorriso desta vez foi diferente. Tirou o meu fôlego e


eriçou meus mamilos.

Pior, ele o fez inclinando-se sobre a mesa para mim e


sua voz era mais baixa, mais profunda, como se estivesse
compartilhando um segredo delicioso quando falou em
seguida.

—Baby, só espere e você verá.

Nossa.

Eu dei uma sacudida interior e me recompus.

—Acredito que, Mestre Noc, você está tomando


vantagem injusta através da aplicação de pressão não tão
sutil para eu cair nos seus planos.

Ele se sentou, levantou o copo e advertiu: —Você não


venha para mim depois de tomar café da manhã com seu
irmão amanhã e me diga que você está dentro, se acostume
com isso ao longo dos próximos dias, Frannie.

Maravilhoso.
Tirei meus olhos dele em uma forma de desprezo Franka
Drakkar patenteada, e tomei outro gole de meu uísque, só
para fazer isso ouvindo a risada de Noc.

Deus.

—Você vai ficar bem em saltos altos, — comentou Noc.

Saltos altos?

Intrigante.

—Pare. — Exigi.

Ele me ignorou.

—E um pequeno vestido preto.

—Pare. — Repeti.

—Vestindo ambos à meia-noite sentada na minha frente


no Café du Monde, depois de percorrermos a cidade,
descontrairmos ouvindo jazz ao vivo, ficarmos bêbados na
Bourbon Street, comendo uma das melhores patisseries11
assadas com açúcar de confeiteiro e bebendo café com
chicória.

Jazz? O que é que era isso?

E uma patisseries? Eu não sabia o que era aquilo, mas


qualquer coisa assada com uma substância chamada ―açúcar
de confeiteiro‖ tinha que ser delicioso, não é?

Virei a cabeça para olhar para ele.

—Noc. Pare! — Insisti.

11
É um tipo de padaria francesa ou belga especializada em doces e tortas
—Etoufée de camarão12.

Eu amava camarões.

—Quieto.

—Avenidas com árvores de carvalho de quinhentos anos


de idade e mansões antigas graciosas.

Eu definitivamente amava mansões.

—Quieto!

—Jambalaya13 picante-quente.

Eu tinha o suficiente.

—Você se importaria de vestir14 o meu uísque? —


Perguntei com falsa doçura.

—Não, baby, — ele murmurou divertidamente.

—Então pare de falar, por gentileza.

—Está curiosa, igual um gato, não está, Frannie? — Ele


brincou. —Vai te comer viva, não vir para casa comigo.

Venha comigo para casa.

Droga!

Virei-me novamente para enfrentar o fogo, anunciando:


—Estou ignorando-o agora.

—Dê cinco minutos a isso, que é o tempo que você pode


manter essa merda, — ele aceitou, fazendo isso para minha
frustração, porque eu suspeitava que ele estava certo.

12
É um prato clássico de Nova Orleans.
13
Jambalaya é uma espécie de paella típica de Nova Orleans e de toda a Louisiana, em que os principais
ingredientes são, além do arroz, frango, linguiça, lagostim de água doce ou camarão, e vegetais,
14
O vestir seria uma analogia a ela jogar a bebida nele.
E ele estava certo.

Embora, felizmente, quando me puxou de volta para a


conversa, ele o fez não me tentando com palavras estranhas
que despertavam minha curiosidade, mas sim com palavras
atenciosas que me induziam a falar sobre como me sentia
sobre o comportamento do meu irmão no jantar e como
estávamos ambos desde que ele chegou.

Assim passamos uma agradável hora bebendo uísque,


mas não o fizemos tornando-nos embriagados. Apenas
aproveitando a companhia agradável.

Mas desta vez, quando acabou, eu não corri do quarto.

Noc me acompanhou até a porta do meu quarto e beijou


minha testa antes de abrir e me empurrar levemente com a
mão na parte inferior das minhas costas.

E por último, me deu um sorriso suave que eu poderia


jurar que carregava uma promessa que eu não entendi muito
bem, antes de fechar a porta atrás de mim e o perdi de vista.
Decreto de Vida Rígido

Franka
Na manhã seguinte, entrei na sala de café da manhã
para ver apenas Brikkita lá, terminando seus crepes.

Ela olhou para mim, assustada, como se não soubesse


que eu chegaria no café da manhã, quando Kristian e eu
combinamos na noite anterior, algo que eu supus que ele
partilharia com sua esposa.

—Bom dia, Brikkita, — eu a cumprimentei, selecionando


um banco em frente a ela na mesa oval.

—Bom dia, Franka, — ela respondeu timidamente, da


maneira pela qual ela sempre me falou, da forma que eu
sempre achei cansativa, mas agora entendi que era uma
maneira que eu mereci.

Portanto, ouvindo-a agora, eu estava irritada comigo


mesma.
Mal me sentei e joguei o guardanapo, no lugar esperado,
no meu colo, um lacaio se adiantou para servir meu café.

Eu o preparei com creme e açúcar e tomei um gole,


olhando a minha cunhada, que manteve a cabeça
cuidadosamente abaixada para seu prato quando ela
fixamente raspou o último de seus crepes.

—Dormiu bem? — Perguntei.

Ela levantou os olhos para mim por um escasso


segundo antes de devolvê-los ao seu prato e respondeu: —O
palácio tem camas confortáveis.

Decidi que isso queria dizer sim.

—E Timofei? Ele teve uma boa noite? — Perguntei.

Seu olhar durou mais tempo antes que ela largasse o


garfo e pegasse sua xícara de café, evitando meus olhos. —
Ele esteve inquieto. Ele não nos acordou assim repetidamente
na noite, como desde que nasceu. Espero que a rainha esteja
certa e ele vá superar isso.

—Tenho certeza que ela está. Ela criou o seu próprio


filho, como você sabe, — respondi, embora a criança que ela
criou não estava no momento no palácio, mas isso era
irrelevante.

—É claro, — Brikkita murmurou, tomando um gole de


café, seus olhos voltados para longe de mim.

—Kristian vai chegar para o café da manhã em breve? —


Pressionei.
—Espero que sim, — disse ela, e isso, eu tinha certeza
que tinha mais de um significado.

—Mm, — murmurei, tendo utilizado todo o meu


discurso disponível e encontrando-me na posição
desconfortável de não ter mais, considerando o fato de não
saber o que lhe interessava porque nunca me dei ao trabalho
de descobrir.

O lacaio me salvou, perguntando: —Você gostaria que


eu dissesse à cozinheira para preparar crepes para você,
milady, ou deseja se servir do buffet?

—O buffet, penso eu, — decidi. —Mas torradas frescas


seriam bem recebidas.

O criado assentiu, deu um leve arco com um braço atrás


das costas e retirou-se por uma porta que, sem dúvida,
levava a escadas que iam para a cozinha.

Tomei outro gole de meu café, saí da minha cadeira,


caminhei até o buffet e fiz minhas escolhas.

Eu estava de volta ao meu lugar, mordiscando minha


comida, o lacaio retornou com a minha torrada, e eu achava
que não estava gostando nada do café da manhã. Ter a sua
cunhada à sua frente, sozinhas juntas pela primeira vez,
quando não tinha segundas intenções, mas sim desejava
encontrar algum caminho para iniciar um tipo diferente de
relacionamento, era excepcionalmente estranho.

Não foi surpreendente, mas absolutamente chocante


quando Brikkita saltou, e em vez de eu fazê-lo, assumiu ela
mesma essas rédeas.
—Espero que você não se importe de eu dizer ...— ela
começou e meus olhos foram para os dela.

Ela estava lançando uma espiada no lacaio e esperei


pacientemente, enquanto pude, para ela continuar.

Finalmente, ela parecia se sentir segura em voltar sua


atenção para mim, mas quando falou de novo, sua voz tinha
abaixado.

—Meu marido contou-me grande parte da história dele.

Larguei meu garfo, peguei novamente minha xícara de


café e segurei-a no alto, mantendo meu olhar preso ao
dela. Balancei a cabeça uma vez lentamente, uma indicação
para ela ir em frente.

Ela fez isso.

—Quando eu digo grande parte, o que quero dizer é toda


ela, — ela esclareceu.

—Você é sua esposa, — eu disse cuidadosamente. —Isto


não é nenhuma surpresa.

—Ao fazê-lo, — ela salientou adiante rapidamente, ainda


falando baixo, mas agora fazendo-o como se desejasse não
fazer, —é claro que ele tinha que compartilhar sobre você.

—Claro, — concordei.

Ela lambeu os lábios e pressionou-os juntos.

Tomei um gole de café, dando-lhe tempo.

—Eu... não é da minha conta—, ela eventualmente


continuou.
—O que não é da sua conta? — Perguntei quando ela
não explicou.

— Dizer o que eu quero dizer, — completou.

Eu inalei profundamente e deixei meu copo no


pires. Uma vez que eu fiz isso, cruzei as mãos no meu colo e
ajeitei meus ombros minuciosamente na esperança de que ela
não iria ver este esforço de me preparar, para o que eu
suspeitava que ela sentia não ser da sua conta para dizer, era
que agora, como seu marido começou a florescer para fora da
opressão dos pais opressivos, ela sentia-se segura o suficiente
para fazer o mesmo.

Mas sua opressão veio pelas minhas mãos.

E, portanto, agora ela sentiu que era hora de


compartilhar algumas coisas sobre como eu a tratei, e até
mesmo Kristian, não menos do que foi arrastar meu irmão
em minha traição, ao fazê-lo, colocando ela, ele e seu filho em
risco.

Coisas que eu não tinha apenas conquistado em ouvir,


mas eu merecia.

Eu não gostaria disso, disto estava certa.

Mas eu merecia.

Quando ela não falou mais, senti que era minha vez
para convidá-la a fazê-lo.

Foi o que fiz.

—Eu não te tratei assim, Brikitta, e havia razões para


isso que podem, neste momento, parecer fracas e ainda
cruéis, então não vou insultá-la com a tentativa de explicá-
las, mas no final você é minha irmã. A irmã que meu irmão
escolheu para adicionar à nossa família quando ele se
apaixonou por você. Tenho certeza de que não tenho que
lembrar que, no passado, eu não hesitei em dizer muitas
coisas para você, a maioria delas indesejáveis. Tenho certeza
que você sentiu que muita coisa mudou nas últimas
semanas. Assim, eu gostaria de encorajá-la neste momento
para retornar esse favor, não importa o que você deseja
dizer. Tudo o que posso dizer neste momento para assegurar-
lhe é que tem minha palavra que não importa o que diga, não
haverá retaliações, a você ou ao meu irmão.

Ela olhou para mim, seus olhos se arregalaram, seus


lábios se abriram de espanto.

Ela fez isso, mas não saiu disso e disse o que queria
dizer. Portanto, acrescentei: —Em outras palavras, Brikitta,
você é minha irmã. Você é minha família. E, portanto, é
absolutamente da sua conta dizer o que está em sua mente.

—Obrigada, — ela sussurrou.

Balancei minha cabeça. —Você não precisa me


agradecer por compartilhar isso, você está livre para falar o
que vem a sua mente.

—Não, o que eu queria dizer que acho que não era da


minha conta para dizer era... obrigada.

Olhei para ela, intrigada.

—Perdão? — Perguntei.
—Você... Eu amo meu marido, — ela declarou.

—Isso eu sei, — disse a ela.

—E você o manteve seguro. Durante anos, você


manteve-o seguro. Obrigada.

De repente, era eu desviando o meu olhar. Na verdade,


virei minha cabeça inteira para longe, dando-lhe o meu
perfil. E sem nenhuma razão, levantei meu guardanapo para
tocá-lo nos meus lábios, enquanto eu lutava para me
recompor.

—Franka, — ela chamou suavemente.

—Um momento, se você não se importa, — respondi, e


dane-se tudo, minha voz estava grossa.

—Certamente, — ela murmurou.

Inspirei profundamente, coloquei o guardanapo no meu


colo e novamente enfrentei a minha cunhada.

No instante em que peguei seus olhos, vi que os dela


não estavam tímidos ou assustados. Estavam brilhantes de
emoção, sem dúvida, como os meus.

—Isso está acabado. Nós seguimos em frente a partir


daqui, não é? — Ela perguntou, seu tom também bastante
rouco.

Balancei a cabeça, não confiando em minha voz para


não me entregar.

—Bom, — disse ela e cuidadosamente limpou a


garganta.
Eu retomei meu garfo e usei para cortar uma gorda,
suculenta salsicha.

—Eu também gostaria de estender o meu convite para


você viajar de volta e ficar com a gente no
nosso aateliskartono, — disse ela. —Kristian está certo, temos
muito espaço e acho que ele vai se divertir muito com sua
irmã por perto por um tempo. Para não mencionar, assisti-la
a começar a conhecer o seu sobrinho melhor.

Eu nunca tive muitos pensamentos sobre crianças,


exceto o fato de que eu nunca tive a intenção de ter qualquer
uma. Eu não tive bons exemplos de maternidade e o próprio
pensamento de estar nessa posição (eu não admiti para mim
mesma, mas era verdade) me aterrorizava.

Mas pode-se dizer definitivamente que Timofei era a


criança mais bonita que eu já coloquei meus olhos, e pelo
pouco que observei, ele era excepcionalmente brilhante, e eu
tinha certeza de que não era uma avaliação no mínimo
tendenciosa.

—Eu iria gostar de ambos, — disse a ela. —Com a


adição de gastar tempo para conhecer minha irmã melhor.

Ela corou com as minhas palavras e, em seguida, me


premiou com o primeiro sorriso que acho que ela já me deu,
exceto o que ela me deu quando me conheceu, e eu disse algo
desagradável que o tirou na hora do seu rosto.

Eu curvei meus lábios para cima em troca.

—Minhas duas meninas favoritas no mundo na mesa de


café da manhã juntas, — declarou Kristian, e torci no meu
lugar para vê-lo entrar. —Isto marca o início de um dia
excelente.

Ele estava atrasado por razões desconhecidas.

Até então.

Ele havia orquestrado o que acabou de ocorrer, talvez a


mando de Brikitta, talvez para seus próprios fins.

E lá estava ele.

Parece que meu irmão também estava florescendo na


arte da intriga.

—Bom dia, irmão, — eu o cumprimentei.

—Irmã, — ele cumprimentou de volta, sorrindo radiante


para mim e parando em meu assento para abaixar e varrer
seus lábios ao longo da minha bochecha.

Quando se endireitou e moveu-se em direção a sua


esposa, seu sorriso mudou uma nuance quando disse, —
minha esposa.

—Meu marido, — respondeu ela.

Ele chegou ao seu assento e ela inclinou a cabeça para


trás para ele tocar seus lábios nos dela. Ele levantou, mas só
uma polegada de distância, e eles compartilharam um olhar
que me fez afastar os olhos deles, pois era íntimo e não devia
ver, mesmo que fosse através de uma mesa de café da
manhã.

Mas no testemunho disso, de repente senti algo muito


parecido com o que Kristian explicou que sentiu quando
soube o que aconteceu com a nossa mãe e pai.
Ele tinha Brikitta. Alguém que o amava. Quem lhe deu
filhos. Quem o fez sorrir e rir. Que claramente se importava
por sua segurança e tinha a coragem de agradecer a uma
mulher, que não foi gentil com ela, porque ela manteve o seu
marido seguro. E ela era uma mulher que lhe deu essa
intimidade, e que era claro que ele não só saboreava, mas
também amava isso.

O sentimento que tudo isso me deu foi como se um peso


fosse tirado e eu poderia lutar para ficar de pé, e talvez, não
voar, mas ser livre para permitir que os meus pés me
levassem para onde eles queriam me levar.

Sem mencionar que, nunca pensei que minha cunhada


fosse atraente, mas pelo que vi, mudei de ideia.

O amor criava a beleza, ao que parece.

Seguindo esses pensamentos, eu também percebi com


algum desconforto que eu nunca tive isso com Antoine. Havia
intimidade, é claro, e carinho. Ele me conhecia bem, melhor
do que eu mesma, era verdade. Nós compartilhamos muitos
momentos de humor e também momentos calmos de união
que eu estimava.

Mas ele era meu amante mantido.

Ele nunca foi meu parceiro.

Eu nunca tive isso. Não de Antoine, nem de ninguém.

Mas eu estava feliz por poder seguir em frente com meus


planos futuros satisfazendo meu irmão.
—Então, espero que você vá permanecer conosco mesmo
que termine o seu café da manhã, meu amor, — disse
Kristian, e me virei de volta para eles para vê-lo sentado ao pé
da mesa, sua esposa à sua direita, eu à esquerda, os olhos
dele sobre sua amada.

Ele tinha o guardanapo no colo e o lacaio estava


servindo seu café.

—Por um período, Kristian, — Brikitta respondeu a seu


pedido. —Então eu gostaria de ir com o Timofei.

—Claro, querida, — Kristian murmurou, sorrindo para


ela com carinho, em seguida, virando esse olhar para mim. —
Encontrei o seu Noc na passagem do caminho para cá.

Senti minha respiração tornar-se fraca, simplesmente


com a menção de seu nome, mas também com a forma como
o meu irmão se referia a ele como ―o seu Noc‖.

—Ele dificilmente é meu Noc, irmão, — voltei.

—Humm ...— Kristian murmurou sem se comprometer e


novamente deu a sua atenção para a sua esposa. —Ele
acabava de retornar, correndo. Parece estranho. Lá fora na
neve com sapatos curiosos que, eu devo admitir, pareciam
bastante confortáveis, as calças largas mais peculiares e um
suéter feito de material de lã que pareceu bastante
quente. Mas junto com tudo isso, ele estava correndo, por
sua própria vontade apenas para fazê-lo, lá fora no frio. Ele
estava respirando pesadamente por causa disso, mas parecia
bastante revigorado. — Ele balançou a cabeça em
confusão. —Uma coisa incomum para se fazer.
Naturalmente, tanto Brikitta e Kristian foram
plenamente informados sobre o universo paralelo, menos
sobre a Princesa Finnie não ser a verdadeira, e a princesa
Cora não ser a real também, o mesmo com a rainha Circe,
aqueles eram considerados segredos de Estado.

—Muito incomum, — Brikitta concordou.

Eu não disse nada, tentando visualizar o traje de Noc e


como ele estava ―revigorado‖.

Eu o vi ―revigorado‖ uma vez antes, então apenas tão


rapidamente quanto eu tentava visualizar isso, tentei banir
tais pensamentos do meu cérebro (e falhei).

—Ele compartilhou comigo seu plano para levá-la para o


seu mundo depois que Brikitta der à luz em segurança, e
estou inteiramente de acordo.

Minha mente estava apagada de visões de Noc em calças


largas parecendo revigorado e meus olhos cortaram para o
meu irmão com suas palavras.

—Perdão?

Kristian não se repetiu.

Ele declarou: —Nós decidimos que é o que você vai


fazer. Voltar com a gente para Älvkyla. Uma vez que o bebê
vier, Mestre Noc terá concluído suas explorações no nosso
mundo e você vai voltar com ele para o outro mundo. Uma
excelente ideia. Passamos um pouco de tempo com a bruxa
daquele mundo, mas, mesmo no curto período que passamos
com ela, ela parecia muito capaz, e foi partilhado que ela
seria a sua guerreira. Para não mencionar, o Mestre Noc
compartilhou que cuidaria de você e ele pode não ser um
príncipe em seu mundo, mas ainda tem um porte
principesco. Assim, estou confiante de que você estará segura
com ele e a bruxa.

Embora eu estava inclinando-me para a mesma decisão,


achei a partilha de Noc com o meu irmão e sua declaração
mais do que um pouco irritante.

—Tenho certeza de que não tenho que lembrar que onde


vou em seguida é minha decisão para tomar, Kristian, —
informei a ele asperamente.

—Não foi perdido por ninguém que você ficou bastante


próxima a esse homem e ele não esconde o fato de que tem
um grande carinho por você, Franka, — Kristian retornou. —
Ele vai levar os seus melhores interesses em conta e parece
confiar nesta bruxa. Se você deseja uma mudança completa
de cenário, esta é muito preferível aos seus outros
planos. Além disso, Mestre Noc informou-me que você pode
voltar quando quiser, por apenas algumas moedas de ouro e
em segundos, não meses.

—Eu não falei com esta bruxa por isso não estou
realmente ciente qual o custo que viagem teria, — retruquei.

Porém, isso dito, eu sem dúvida pagaria qualquer custo,


mesmo que fosse extravagante.

E isso me fez lembrar que eu ainda tinha que falar com


meu irmão sobre isso também, pois eu pretendia dar-lhe uma
porção considerável do que eu tinha.
Isso aconteceria, é claro, mas naquele momento eu não
estava sentindo a necessidade de partilhar a minha pretensa
generosidade.

Kristian empurrou sua cadeira para trás e começou a se


mover para o buffet, afirmando: —Nós vamos falar nisso mais
tarde. Brikitta deseja chegar ao nosso menino e gostaria de
me juntar a eles. Ele teve uma noite agitada. Talvez mais
tarde todos nós vamos de trenó para Fyngaard e obter para
Timofei um pouco de chocolate líquido. — Ele deu a sua
esposa um olhar terno. —E para minha Brikitta também,
bem como você ama o chocolate do Esmeralda‘s.

—Gostaria disto, Kristian, — Brikitta concordou.

—Então está combinado, — Kristian decidiu e pegou


ovos.

—Bem, se vocês dois me derem licença, — anunciei,


empurrando minha própria cadeira para trás, não tendo
terminado meu café da manhã, não me importando, mas
ficando de pé, —Eu tenho alguma fumaça para queimar e eu
prefiro fazer isso sozinha.

Brikitta sorriu para seu prato.

Kristian parecia estar lutando contra sua própria


diversão quando levantou as sobrancelhas. —Fumaça?

—Não finja que você não sabe que suas maneiras


ditatoriais não são especialmente bem-vindas, irmão.

Sua expressão se tornou séria. —Estou cuidando de


você.
—E isso é muito chato, — eu compartilhei.

Sua diversão voltou quando ele se virou para o prato de


prata aquecido cheio de salsichas, murmurando: —Você se
acostumará com isso.

Suspirei.

—Excelente, pensamos que estaríamos atrasados e


perderíamos a companhia no café da manhã.

Isso veio da direção da porta, palavras proferidas por


Circe enquanto ela e Lahn entravam na sala, Circe primeiro,
Lahn necessitando abaixar a cabeça para passar pela porta,
tal era a sua altura.

—Tarde demais para Brikitta, pois ela está saindo para


ver o nosso filho, — Kristian declarou. —E Franka também
pois está saindo para fumegar.

Lahn e Circe olharam para mim, mas foi Circe que


perguntou: —Fumegar?

—Vou permitir que meu irmão explique já que ele se


sente livre para discutir sobre mim, minhas atividades e meu
futuro com apenas qualquer um, — eu respondi, em seguida,
arqueei uma sobrancelha para o meu irmão. —Você gostaria
que eu fosse buscar os servos? Enviá-los aqui para que você
possa pedir a sua opinião sobre o que eu deveria esperar para
os meus próximos dias e meses? Kristian começou a rir
quando tomou o seu lugar. Brikitta desviou o olhar e não fez
nenhum barulho, mas seus ombros estavam tremendo.
Lahn deu a Circe um olhar severo que seria bastante
assustador se eu não tivesse visto ele fazer isso antes, para
não mencionar os muitos momentos de ternura e carinho
abertos, esse olhar que eu tomei como sua versão de
confusão, mesmo quando ela abriu um grande sorriso para
mim.

De verdade, ninguém se incomodaria com tudo isso?

—Desejo a todos um bom dia, — eu disse, virei-me e


comecei a pisar duro saindo da sala, e não senti vergonha
alguma em pisar duro.

Se alguma vez houve um momento para fazer isso, era


esse.

—Vamos ver você no trenó para ir buscar o chocolate


líquido, — Kristian chamou quando continuei a fazer
exatamente isso.

Não dei nenhuma resposta, mesmo se eu totalmente


tivesse a intenção de ir com eles.

Eu passei pouco tempo com meu sobrinho em tudo,


desde que chegou.

Mas não era apenas isso.

Eu tinha um decreto de vida rígido que nunca quebrei.

Eu não recusava chocolate, de forma alguma.

Nunca.

***
Valentine

Uma vez banhada, vestida e seu cabelo arrumado,


Valentine acenou para sua criada que a deixou e então ela
não perdeu tempo movendo-se através da casa para sua
esfera que descansava em sua cama de veludo. Ela chamou
uma visão de Franka em suas profundezas, apurando a
localização dela e transportou-se até ali.

Sentado em uma cadeira em seu quarto, parecendo


como se estivesse tentando ler o livro na frente dela, mas sua
mente vagando, Franka estremeceu em seu assento enquanto
seus olhos voavam para Valentine.

—Pelos deuses, — ela sussurrou: —você está aqui.

—Estou, — Valentine respondeu, suavemente movendo-


se para a cadeira que estava no ângulo oposto a Franka na
frente do fogo quentinho. Sem convite ela se sentou, seus
olhos nunca deixando a mulher encantadora no quarto com
ela. —Estou satisfeita por notar que você está em um estado
muito melhor do que quando nos vimos pela última vez.

—Estou satisfeita também, — Franka respondeu, tendo


rapidamente superado sua surpresa por Valentine aparecer,
seu olhar estava firme quando fechou seu livro com um
estalo.

—Fui informada que eles estão cuidando bem de você,


— Valentine observou.
—Você estaria correta, por mais irritante que seja, —
Franka voltou secamente.

Valentine deu seu sorriso.

—A bondade é, claro, boa, mesmo que muitas vezes seja


mais irritante, o que acontece quando é intrusiva e
incessante.

Um olhar rapidamente escondido de alívio passou pelos


notáveis olhos azuis de Franka, uma indicação de que se
sentia aliviada de estar na presença de uma alma gêmea. Isto
veio antes que ela acenasse de forma inteligente.

—Me disseram que você foi convidada a uma jornada


para o meu mundo, — comentou Valentine.

—Eu fui, — Franka confirmou.

—Você tomou a sua decisão de vir? — Perguntou


Valentine.

—Não tomei.

Humm.

—Posso perguntar por que não? — Valentine


pressionou.

—Porque estou plenamente na intenção de fazê-lo, mas


também tenho total intenção de não deixar transparecer qual
foi a minha decisão, porque todo mundo está sendo tão
terrivelmente insistente sobre eu fazê-lo. E você saiba que
eles tomaram a decisão por mim, sem eu tê-la tomado, e
pretendo deixar claro que quando a decisão for oficial,
será minha a decisão que foi tomada.
—Eu aprovo este curso de ação, — Valentine murmurou
e observou Franka levantar o queixo.

—Com todo respeito, eu não me importo se você aprova


ou não.

—Estou de acordo com isso também, — Valentine


respondeu e nisso ela assistiu os lábios de Franka se
contorcerem. Sem delongas, ela anunciou então, —você tem
magia.

Franka não foi capaz de esconder a sua resposta a isso,


rapidamente ou de outra forma. Ela endureceu visivelmente e
sua expressão ficou resguardada.

—Calma, minha irmã, — Valentine disse suavemente. —


É o seu segredo e, como sua irmã, ele também é meu.

Franka não acalmou imediatamente. Ela estudou


Valentine com cautela e levou algum tempo antes de balançar
sua aceitação mesmo que Valentine sentisse que ela não iria
dar-lhe totalmente.

—Eu tenho a magia de sua mãe, como você sabe, —


Valentine continuou.

—Perdão? — Perguntou Franka.

—Magia de sua mãe. Eu tenho, — Valentine explicou. —


Eu poderia absorvê-la, tal como ela é. Eu não preciso disso,
embora nunca se pode ter magia suficiente. No entanto, eu
não fiz isso. Estou esperando que você me diga o que deseja
fazer com ela.
Levou um momento para Franka responder, mas depois
ela fez.

—Honestamente, como eu não sabia que algo assim


poderia ocorrer, não posso dizer o que você deve fazer com
ela, exceto que não quero participar no que quer que seja
feito.

Como Valentine esperava, Franka Drakkar possuía


magia, mas ela não a usava ou até mesmo entendia.

—Você tem opções, chérie, — ela começou, decidindo


ignorar o que Franka disse por último. —Eu poderia dá-la a
você, aumentar o poder que tem. Eu sinto que o seu poder é
significativo especialmente no que você herdou de sua mãe e
não o tem usado, por isso cresce dentro de você em grandes
escalas. O de sua mãe foi usado muitas vezes, de forma
aleatória e para o mal. Não era escasso, mas ele não é páreo
para o seu.

Isto não foi uma boa notícia, provocando claramente


Franka a se perguntar, se ela soubesse como usar seu poder
antes, se ela poderia tê-lo feito para salvar a si mesma, seu
irmão e seu amante dos danos.

Franka compartilhou tudo isso com Valentine, olhando


para o fogo.

—Isso não ajudaria, — disse Valentine com simpatia. —


É uma suposição, mas eu vi outros de pouca experiência
fazer tais tentativas com muito menos em jogo. Saiu pela
culatra e tornou as coisas muito piores. Então não se
preocupe com isso, irmã. Não havia nada que poderia ter
feito, não para você, seu irmão, mas mais particularmente,
para seu amante perdido.

Franka ergueu o queixo, mas não disse nada.

Portanto Valentine continuou. —Você deveria ser


treinada. Deveria ser algo belo, algo precioso, um tempo gasto
em conjunto com a sua mãe que você não olharia com
carinho, olharia com amor, recordando a beleza que ela
compartilhou com você, como ela lhe ensinou a aproveitar e
exercer o seu poder. Bem como cada momento que eu
compartilhei com minha mãe e minha avó quando elas me
orientaram em como manejar a minha.

Franka se voltou para ela.

—Isso, ela não fez.

—Eu sei, — Valentine respondeu. —Mas seria uma


honra para mim fazer isso, irmã.

Um flash de interesse rapidamente enterrou antes que


voltou, —Eu não quero nada dela.

—É o único bem que ela lhe deu, — Valentine


replicou. —E nenhuma mulher deve evitar qualquer poder
que ela detém, com razão, ou que ela ganhou, ou mesmo que
ela arrancou a partir de um inimigo derrotado. Sua mãe era
um desperdício para este mundo. Mas sua magia não deve
ser desperdiçada, e a magia é sagrada, então o que resta dela
também não deveria.

—Quais são as outras opções para a magia dela? —


Perguntou Franka.
Embora ela admirasse o traço, neste momento Valentine
encontrava a teimosia de Franka frustrante.

—Eu poderia expulsá-lo na terra, — Valentine


respondeu. —Perto de uma árvore de Adela, que iria ajudar
todas elas em Lunwyn a crescer.

—Como as adelas quase foram extintas durante a


guerra, possuem grande beleza e fornecem o mesmo quando
seu poder é usado, e levam décadas para crescer, acho que é
a melhor opção, não é?

—Embora fosse acelerar o crescimento, isso não iria


raspar décadas fora, mas só talvez alguns meses, —
Valentine respondeu.

—Alguns meses são apenas isso e isso é algo.

Valentine não estava satisfeita com a forma como esta


conversa estava indo.

Era hora de tomar outro curso com a voluntariosa


bruxa.

Com isso em mente, de repente, ela declarou: —No meu


mundo, quando você estiver comigo lá, eu não só desejo
treina-la para usar sua magia, mas desejo que se junte a mim
enquanto eu executo os serviços que realizo para meus
clientes, a fim de, eventualmente, assumir os seus próprios.
— Ela se inclinou para mais perto da bruxa-irmã. —Posso
assegurar-vos, as intrigas nas quais sou envolvida são muitas
vezes bastante deliciosas.

Finalmente, ela chamou a atenção de Franka.


—De verdade? — Perguntou ela.

—De fato, — Valentine disse quando se sentou para


trás. —Na verdade, eu tenho alguma intromissão que
pretendo fazer. E me ajudaria muito se tivesse uma parceira.

Franka não respondeu, ela simplesmente continuou


estudando Valentine.

—Eu gostaria de você no meu mundo. Eu acho que vai


servir pra você. Acho que vai florescer lá. E espero que
também vá florescer sob a minha tutela, — Valentine
persuadiu.

—Essa decisão foi tomada, como eu compartilhei, —


Franka lembrou. —Vou viajar para o seu mundo.

—Foi, mas estou falando sobre a sua magia e você


absorver a da sua mãe.

Franka começou a sacudir a cabeça, mas Valentine


falou novamente.

—Você está ciente que há gêmeos de quase todos em


ambos os mundos.

—Sim, — Franka afirmou.

—E gêmeo de Dax Lahn vive em Nova Orleans.

Valentine estava satisfeita de ver um ligeiro alargamento


dos olhos de Franka e um olhar definitivo de atenção
intensificada neles.

—Como também a Circe deste mundo, é claro, —


Valentine continuou.
—Nossa, — Franka sussurrou, sua irmã-bruxa longe de
tonta, Valentine não teve que explicar mais.

Em vez disso, ela compartilhou, —eu prestei alguma


atenção a ele. Decidi que eles vão combinar.

Levou um momento, mas depois desse momento os


lábios de Franka enrolaram de forma que Valentine achou
muito familiar, pois sentiu essa mesma curva em seus
próprios lábios muitas vezes.

—Nossa, — ela repetiu.

—Pode levar algum tempo, é importante para você se


sentir confortável em sua magia, mas você gosta de alguma
intromissão? — Valentine convidou.

Franka tomou outro momento e este foi mais longo.

Valentine esperou.

Valeu a pena a espera, quando recebeu sua resposta.

—Absolutamente.

***

Franka

—Eu gostaria que você colocasse isso para baixo e


viesse aqui, — eu disse para a criança.

Meu sobrinho olhou para mim, mas não fez o que eu


disse.
Em vez disso, colocou o que estava segurando direto em
sua boca.

—Eu vou repetir, — continuei falando com a criança. —


Por favor, coloque isso para baixo e venha aqui.

Timofei apenas olhou para mim.

Em seguida, ele soltou uma risadinha que fez a precária


busca de estabilidade que tinha sobre seus próprios pés
desaparecer. Ele cambaleou, caiu, e a pulseira que Josette
lhe dera para atrair a atenção de seus pais deixando-o comigo
(isso sendo logo antes de Josette deixá-lo completamente
sozinho comigo) voou de sua mão apenas para rolar para sob
o sofá.

Suspirei.

Timofei se ajustou, então estava em sua bunda coberta


de fralda, olhou para onde a pulseira desapareceu, olhou
para mim, seu rosto começou a enrugar, e eu sabia o que
estava por vir.

Assim mantive rapidamente a minha atitude e afirmei


com autoridade, —nem sequer considere chorar.

Ele piscou para mim.

Inclinei-me com apenas uma pequena pontada de dor,


experimentando outra enquanto eu pegava a criança que
tinha apenas um ano e meio de idade, mas que também era
um grande menino (ele iria crescer sério e alto, como seu pai,
eu estava certa) e plantei-o de forma que uma de suas pernas
estavam engatadas no meu quadril, o resto do corpo estava
enrolado em volta da minha barriga.

—Haverá muitas chances para chorar na vida, criança,


— declarei como se eu fosse uma professora que dá uma lição
ao seu aluno, que era muito mais velho do que aquele que
estava olhando para mim com os olhos arregalados que
pareciam como os meus, e lábios rosados molhados que eram
mais agradáveis do que eu gostaria de admitir. —Posso
garantir-lhe, uma pulseira perdida não é um desses
momentos.

Ele bateu no meu peito e decidi tomar isso como sua


concordância para a minha declaração.

—Muito bem, — eu disse, e movi-me com ele,


instintivamente, saltando-lhe no meu quadril.

Levei-o para a lareira, apontei para um nada atraente,


mas eu sabia quase inestimável, objeto de arte que
descansava lá e instruí, —Se isso vier a quebrar, sem choro.

Por alguma razão ele estava sorrindo para mim agora,


então joguei-o para o alto e isso produziu outra risada.

Estranho.

Ah bem.

Eu apontei para seu peito e pressionei, dizendo em uma


voz mais suave: —Agora, se isso viesse a quebrar, você deve
chorar. E não deixe que ninguém lhe diga de forma
diferente. Eu não me importo se você é homem. Um coração
partido merece lágrimas. Na verdade, acredito que é a única
maneira de consertá-lo.

—Acho que você está certa, Lábios-açucarados.

Eu peguei a voz provocante de Noc vindo para mim e


girei com o meu sobrinho para enfrentar a porta.

Sua voz era provocadora.

Conforme ele me olhou através da sala segurando meu


sobrinho, seu rosto não parecia brincalhão.

Disse algo muito diferente e eu bloqueei antes que


pudesse chegar a um entendimento do que exatamente dizia.

—Posso ajudá-lo com alguma coisa? — Perguntei.

—Você vem pra casa comigo? — Ele retornou minha


pergunta com sua própria pergunta.

Cara deusa, eu gostaria que ele cessasse de se referir a


isso daquele jeito.

Casa.

Com ele.

—Eu não me decidi ainda.

—Besteira, — decretou.

Olhei para baixo para Timofei, —É muito grosseiro e


rude falar desta maneira, sobrinho. Eu sei que você é jovem,
mas nunca é cedo demais para ter isso em mente.

Ele olhou para mim e saltou no meu quadril. Eu peguei


a sugestão e dei-lhe um saudável salto e ele riu novamente.

Achei isso bastante agradável.


—Baby, — Noc chamou.

Virei-me para ele e arqueei as sobrancelhas.

—Eu também estou aqui para dizer que eles estão


prontos para decolar para o Esmeralda‘s.

—Ah, — olhei para baixo para Timofei. —É hora de


chocolate.

Ele sabia algumas palavras, mas eu soube que ele sabia


essa, pois soltou um grito animado, balançou em meus
braços repetidamente, bateu meu peito com o punho, e uma
vez terminado de vibrar, gritou, —Choco choco!

—Vamos lá, querida, pegue o seu manto. Você está


andando no meu trenó comigo, — disse Noc.

Olhei para ele enquanto me movi em sua direção. —Você


vai me irritar com suas tentativas de incentivar-me para ir ao
seu mundo no referido trenó?

—Provavelmente.

—Então vou com o meu irmão, — disse a ele quando


meu sobrinho e eu chegamos na porta, uma posição da qual
ele não se moveu quando nós fizemos.

—O trenó dele está cheio, baby.

—Tolice, ele pode me encaixar. — Olhei novamente para


Timofei. —Não pode, sobrinho?

—Choco choco! — foi sua resposta.

Virei-me novamente para Noc. —Isso significa que sim.


—É absolutamente um não, — Noc respondeu, seus
lábios curvando.

—É absolutamente um sim, — voltei.

Noc desistiu da luta, sorriu, balançou a cabeça e, em


seguida, arrancou o meu sobrinho para fora dos meus braços
com uma facilidade praticada que achei um tanto
surpreendente e estranhamente agradável. Da mesma
maneira que ele plantou Timofei em seu quadril, chegou para
pegar minha mão, os dedos apertados ao redor dos meus, e,
assim, me arrastou para o corredor carregando o meu
sobrinho e falando.

—Acho você fofa, baby, sempre. Mas todo mundo está


falando sobre esse chocolate líquido, assim eu quero obter
algum para mim. Para fazer isso, você precisa de seu manto,
eu preciso do meu casaco e este pequeno precisa ser
empacotado. Então, vamos começar a nos mexer, sim?

Eu não tinha escolha de concordar ou não em começar a


nos mexer.

Noc me moveu, mantendo minha mão e me puxando


com ele.

Mais uma vez, sem escolha, como Josette estava na


grande porta de entrada me esperando com a minha capa, eu
aceitei e minhas luvas e chapéu.

Noc encolheu em seu casaco do outro mundo, um


agradável, azul-escuro, de lã trespassada que Finnie
compartilhou mais tarde ser um, ―Casaco verde ervilha da
marinha... quente‖ (suas palavras exatamente).
Timofei foi empacotado por sua babá.

E nós fomos.

Fui no trenó de Noc.

Ele não tentou me pressionar para ir para o seu mundo


durante a viagem. Nem durante o tempo no
Esmeralda‘s. Nem muito mais tarde, quando ele foi o meu
parceiro no jantar (algo que Rainha Aurora parecia com a
intenção de fazer, exceto quando Kristian tomou o seu lugar
uma vez, em todos os jantares que eu compartilhei com eles).

E ainda assim ele fez.

E fê-lo simplesmente por ser Noc.

***

Valentine

Valentine estudou Lavinia com desgosto indisfarçável.

Depois de sua amiga engolir um pedaço de seu


cachorro-quente do vendedor na calçada em uma rua de New
Orleans, Valentine compartilhou, —eu posso apresentá-la
para iguarias muito mais suntuosas, minha amiga.

Lavinia deu outra mordida no pimentão, cebola e


mostarda espalhados no cachorro-quente e disse com a boca
cheia que provocou outra ondulação dos lábios de Valentine.
—Mas isso é delicioso.
Ela estava completamente errada.

Valentine não compartilhou isso.

Olhou para outro lado da rua.

Estava quase na hora.

—Decidi que você vai vir para o meu mundo com mais
frequência e da próxima vez que vier, vou levá-la para o
Arnaud.

—Será que eles têm estes no Arnaud? — Lavinia


perguntou e Valentine voltou a vê-la levantando o pedaço
restante de seu cachorro-quente.

—Não, — Valentine falou lentamente desgostosa.

Lavinia sorriu, deu outra mordida, olhou longe de


Valentine e prontamente se engasgou com o cachorro-quente.

A atenção de Valentine foi até onde os olhos da amiga


estavam e ela viu Dax Lahn caminhando para fora do prédio,
bonito, usando um terno excepcionalmente bem cortado.

Ela não pensaria que um homem como ele usaria um


terno bem, mas estava errada.

—Você trouxe o Dax aqui? — Lavinia perguntou,


incrédula.

—Não, chérie, eu não trouxe, — Valentine respondeu.

Houve um momento de silêncio antes de Lavinia


consultar, —Esse é... esse é... o Dax deste mundo?

—É, de fato.
Com isso, sua amiga não tirou o olhar de Dax Lahn
enquanto caminhava para o Mercedes reluzente-preto
lustroso que esperava estacionado no meio-fio.

—Ele é um advogado, conhecido como ―o Selvagem‖, —


Valentine informou a sua colega bruxa. —É muito temido na
sala do tribunal, dizem por aí. Afiado. Astuto. Perspicaz. Um
estrategista astuto. E implacável.

O homem em discussão entrou no carro, enquanto


Valentine falou, e as duas mulheres observavam como o
veículo se afastava sem problemas do meio-fio.

Elas continuaram a observar até que desapareceu de


vista.

Só então Valentine sentiu os olhos de Lavinia sobre ela e


voltou sua atenção para a amiga.

—Ele é rico, muito, — afirmou. —Solteiro, obviamente. E


ele doa não apenas uma generosa quantia de dinheiro, mas
também a experiência da sua empresa, da qual ele é o
fundador e sócio-gerente, a um albergue de violência
doméstica local. Isto por razões que não se pode sondar, fora
o fato de que ele é simplesmente um bom homem, pois sua
mãe e seu pai tiveram um relacionamento longo e amoroso
que só terminou quando seu pai morreu em um trágico
acidente de carro.

—Valentine, — Lavinia começou.

Valentine não permitiu que ela continuasse.


—E ele se move em certos tipos de círculos que é
improvável que vai se encontrar com uma gerente do
escritório de uma empresa de reboque.

Luz brilhou nos olhos de Lavinia, mas com isso ela se


aproximou de Valentine.

—Com a nossa Circe, eu não tenho certeza que isso é


sábio, — declarou ela.

—Você estaria errada, — Valentine fungou.

—Minha querida...

—É, como não pode ter-lhe escapado, a ordem natural


das coisas, — Valentine lembrou.

O foco de Lavinia se dirigiu para a rua onde viu pela


última vez o carro de Dax Lahn.

Em seguida, ela sussurrou, —O Selvagem.

—Perfeição, — Valentine decretou.

A atenção de Lavinia cortou de volta para ela. —Espero


que você saiba o que está fazendo.

Valentine tentou não ficar ofendida.

E falhou.

—Sei exatamente o que estou fazendo, — ela disse com


um leve estalo.

—Acho que você acredita nisso até o fundo da sua alma


de esmeralda, só espero que esteja certa.

—Estou absolutamente certa.

Lavinia sustentou o olhar e balançou a cabeça.


Realmente, as dúvidas de sua amiga eram bastante
ofensivas.

—É tarde em Lunwyn e tenho coisas para ver para lá, —


Valentine anunciou. —Você acabou com essa... porcaria? —
Ela inclinou a cabeça para os restos do cachorro-quente
repulsivo de Lavinia.

A isso, Lavinia empurrou a última mordida em sua boca


e continuou a mastigação, ao mesmo tempo sorrindo.

Valentine controlou o lábio curvando em escárnio.

Moveu então as duas para um beco próximo, que estava


deserto e não havia olhos sobre elas.

E com a fumaça verdejante misturando com a jade, as


duas bruxas desapareceram.
Sempre somente Sempre

Franka
—Minha nossa, quase no alvo.

Pulei com as palavras de Cora e olhei para ver que ela


estava tão absorta no que eu estava vendo do lado de fora da
janela que não percebi sua aproximação.

E o que eu estava olhando pela janela era Finnie e Frey,


com alguns dos homens de Frey e Lahn olhando, ensinando
Noc como usar um arco e flecha.

Eu estava assistindo por algum tempo, e notei que neste


tempo ele não só demorou muito pouco para se sentir
confortável com a arma, mas também começou a se afastar
cada vez mais do alvo, atingindo cada vez mais próximo do
centro.

—Você deseja pegar nossas capas e ir até eles? —


Perguntou Cora, virando os olhos para mim.
—Certamente não, — funguei e forcei a me afastar
serenamente da janela até obter um assento em um dos dois
sofás paralelos perto da lareira. O sofá que selecionei estava
vazio. O que estava em frente tinha Circe e Brikitta sentadas
sobre ele, Circe sorrindo conscientemente para mim, Brikitta
me avaliando.

Ignorei as duas e estendi a mão para o serviço de chá


que foi arrumado para nós servindo a mim mesma um pouco
de chá.

—Ela queria sim, — declarou Circe, e eu sabia que ela


estava falando com Cora.

Eu também sabia que era uma provocação.

Mas meus sentimentos profundos de culpa e vergonha


vieram à tona, e apesar de lutar com ele por algum tempo fui
incapaz de empurrá-los de volta.

Por isso olhei para Circe e retruquei, —Você sabe que


não muito tempo atrás, meu amante foi torturado até a
morte.

O lindo rosto de Circe ficou aflito, e ao vê-lo, a minha


culpa e vergonha aumentou.

—Sinto muito, — disse ela rapidamente. —Eu sei


disso. Não deveria dizer nada.

—Não, — eu disse, desviando o olhar, sentindo meu


embaraço no calor em minhas bochechas e trazendo a minha
xícara de chá aos lábios, mas não bebendo. —Não havia
nenhuma razão para que eu fosse grossa quando estava
simplesmente brincando.

Tomei um gole e esperava que o assunto fosse morrer


ali.

Minha esperança foi em vão.

—É doce, você e Noc, — Cora disse, vindo a sentar-se ao


meu lado. —E não é ruim, você e Noc. Ele é um cara bom,
Franka. E entende isso. Eu não sei, nunca tive uma perda
como a sua, mas ele é um cara tão bom, e está apenas
tentando estar lá para você, como todos nós. E você deve
aceitar isso, querida. Pessoas cuidando. Deixe-o. Deixe-
nos entrar. Nós podemos ser capazes de ajudar.

—Ele é um ...— Hesitei antes de tentar as palavras, —


bom rapaz. Não é como se eu não soubesse disso.

Ela chegou mais perto de mim.

—O que estou dizendo é que, se você quer arejar a


mente, não vai machucar nada nem ninguém colocar o seu
casaco e ir para fora e estar com as pessoas que gostam de
estar perto de você e que querem estar lá para você, — Cora
explicou ainda.

—Eu tenho sentimentos por ele, — soltei.

Merda!

Agora eu estava proferindo meus pensamentos à toa.

Cora olhou para mim e quando o fez senti o quarto ficar


em silêncio.
Por que disse isso eu não sabia, mas como estava
acontecendo com bastante frequência ultimamente, eu não
controlava e ainda mais, não poderia me impedir de
continuar a partilhar.

E isto é precisamente o que fiz.

—É errado, é uma vergonha e é desleal para com a


memória de Antoine. Ele nem bem partiu para os deuses e
aqui estou eu, admirando outro homem.

—Há muita coisa para admirar sobre Noc, Franka, —


Circe disse cuidadosamente. —O cara é quente.

—Como eu entendo esta palavra em sua origem, —


respondi a ela: —você está muito certa. Mas, não faz isso
menos vergonhoso e desleal.

—Entendo a sua luta, — ela murmurou.

—Tem mais, — eu disse.

Droga.

Por que eu não podia parar de falar?

—Mais? — Perguntou Brikitta, olhando gentilmente para


mim.

Eu me fixei nisso e continuei falando mais do que devia.

—Estes últimos dias, ao estar com você e Kristian, e nas


últimas semanas, estar com os outros e seus companheiros,
percebi as insuficiências do meu relacionamento com
Antoine. Minha mente os conjura com frequência, fazendo-o
como se estivesse tentando encontrar alguma desculpa para
os sentimentos que tenho por Noc.
—Merda, — Circe murmurou.

Ela entendeu.

Por que isso parece tão bom?

—Verdade, — respondi.

—Ok, me escute, — Cora pediu, e olhei para ela. —


Rapazes quentes têm poder. Confie em mim. Meu cara quente
parece exatamente como Noc então eu sei. Quando nós, uh...
— ela fez uma pausa, apenas seus olhos foram na direção de
Brikitta e então olhou de volta para mim e continuou, —nos
encontramos pela primeira vez, ele me odiava. Tipo odiava a
mim. Sério. E ele não fez nenhum segredo disso. Eu ainda
pensei que ele era quente e me deixou totalmente
interessada, no momento que me tocou. E esqueci disso
quando realmente me beijou.

Eu achei isto confuso.

—Por que ele estava tocando e beijando uma mulher que


detestava? — Perguntei.

—Bem, porque ele gostou de fazê-lo e, é claro, ele meio


que queria um herdeiro. — Ela olhou completamente para
Circe e terminou em um leve sorriso: —Ele não fez confusão
sobre cuidar deste assunto.

—Então você está dizendo, — eu comecei, chamando


sua atenção de volta para mim, —simplesmente porque um
homem é excepcionalmente atraente, eu não deveria sentir
qualquer remorso sobre a minha falta de fé absoluta para um
amante pelo qual cometi traição a fim de tentar proteger?
—A maneira como você diz isso faz parecer não muito
bom, — Cora murmurou, mas seus olhos ainda estavam
iluminados com bom humor. —Embora, — ela continuou, —o
que você não entende que eu disse é que, obviamente, — ela
colocou a mão na barriga, dentro da qual o segundo filho que
ela daria ao príncipe Noctorno estava crescendo, e ele foi
colocado não simplesmente porque ele desejava outro
herdeiro, —algo estava lá entre nós. Algo no final que foi
realmente, realmente bom.

Pela deusa Adele, isso era verdade.

—Que invocações? — Perguntou Brikitta.

Olhei para ela, ainda abalada com as palavras de


Cora. —Perdão?

—Você diz que sua mente gera invocações sobre seu


relacionamento com Antoine. Quais são esses pensamentos?

—Eu o mantinha, — Informei a ela.

—O quê? — Perguntou Circe.

Eu olhei para ela. —Ele era um garoto de programa. Me


satisfazia. Para que fosse apenas meu e desistir de seu
emprego, eu o mantinha alojado, alimentado, vestido,
entretido, etc..., e fiz isso de uma maneira que ele se
acostumou. Ele não era um parceiro na minha vida, mesmo
que em alguns sentidos ele era. Para todos os efeitos, no
entanto, ele era o meu concubino.

—Mm ...— Cora murmurou.


—Isso não é incomum, Franka, — Brikitta declarou em
voz baixa, e assisti ambas Cora e Circe olharem surpresas
para ela e sabia por suas reações que este não era o mesmo
em seus mundos.

Enquanto se acostumavam, ambas esconderam essas


reações antes de Brikitta perceber.

Então, novamente, sua atenção estava fixa em mim.

Ainda gentilmente.

—E tais arranjos não são muitas vezes de longa


duração, — Brikitta continuou. —Isso não significa que não
haja afeto entre os dois jogadores. Ou mesmo, como no seu
caso, o amor. E isso não diminui a sua dor, não importa que
sentimentos você tem por um homem que lhe dá atenção, é
sensível às suas circunstâncias e é muito atraente. Para
terminar, o que estou tentando explicar é, você está
declarando estes pensamentos como ―invocações‖, como se
estivesse produzindo-os, quando na verdade eles são
verdadeiramente reais.

Eu não queria acreditar, mas não poderia negar que ela


estava certa.

Contudo.

—Não era apenas o fato de que ele não era um parceiro


no sentido tradicional. Ele não era isto de outras formas,
tipo... — eu pressionei. —Por exemplo, Antoine não me
auxiliava em decisões importantes. Ou de quaisquer decisões
em tudo. Não era só o seu lugar, como não era sua
natureza. Ele não era um pilar para se apoiar quando os
tempos eram difíceis, embora, — eu disse a última vagamente
pois acabava de recordar isso, —eu fui isso para ele quando
teve alguns problemas familiares, e, é claro, os problemas que
seus amigos causaram quando ele deixou a vida que
compartilhavam e se comprometeu comigo.

Percebi depois de algum tempo, quando o silêncio se


tornou prolongado na sala que eu caí em meus pensamentos.

Concentrei-me, limpei a garganta e continuei falando.

—Ele poderia ser um reflexo para minhas emoções


quando foi necessário, mas o conselho não seria
acessível. Noc é ambos. Ele é muito forte, e apesar de eu não
gostar de admitir isso, está vendo muito mais claramente do
que eu neste momento da minha vida e fornece excelentes
conselhos. Ele vê opções que eu não pensei. E tem maneiras
que são tanto irritantes como animadoras ao compartilhar
tudo isso comigo.

—Antoine não está aqui neste momento para fornecer


tais coisas para você, — Brikitta disse gentilmente.

—Mas eu o conhecia e se estivesse aqui, não iria, —


devolvi.

—O quanto o conhecia, eu não posso dizer, — Brikitta


admitiu.

—É como se eu não o amasse de verdade, tendo esses


pensamentos sobre ele, as dúvidas sobre o que tínhamos, —
compartilhei.
Brikitta endireitou-se, afirmando de forma mordaz algo
que nunca pensaria que ela pudesse falar, —Não é nada
disso.

—Eu discordo, — retruquei.

—Poderia ser, irmã, que, na presença de um homem que


lhe dá coisas que valoriza, sem Antoine aqui, você estaria
simplesmente chegando a conclusões a que chegaria se ele
realmente ainda estivesse, apesar de ter vergonha de chegar a
elas porque ele se foi? —Brikitta perguntou.

—Eu não entendo o que você está dizendo, — eu disse a


ela.

—Você achou que ia passar o resto de sua vida com


Antoine? — Ela perguntou.

—Não tenho ideia, — respondi, embora a verdade é que


eu não pensava muitas vezes no futuro. Eu vivia no
presente. Meu futuro estava sempre escuro e rodando com
ameaças que não queria considerar, então não parei muito
para pensar profundamente nisso.

Mas a verdade era, Antoine me amou como eu o amava,


mas ele era quem era e eu era quem eu era. Nós dois fomos
sempre honestos sobre isso, nada escondido, uma liberdade
que ele me deu e que eu valorizei.

Ele fez o que fez pelo emprego porque ele era bom no
que fazia e porque gostava. Havia uma boa possibilidade de
que ele acabaria por procurar outras diversões.
E, tão desconcertante quanto fosse perceber, havia
igualmente uma boa possibilidade de que eu fizesse também.

Dito isto, eu sabia no meu coração se alguma vez fosse


haver uma despedida, essa despedida seria doce, não
amarga, e ele permaneceria na minha vida de alguma
maneira, mesmo que já não fosse meu amante, por quanto
tempo durasse.

— Me diga se Antoine estivesse vivo, — Brikitta


empurrou, — e você conhecesse Mestre Noc e descobrisse que
ele te deu essas coisas que valoriza e estava atraída por
ele... Talvez fazendo isso de uma maneira que você quisesse
explorar. Não acha que a relação atual em que estava,
sabendo que nunca conseguiria essas coisas as quais,
Franka, não são coisas a se valorizar, mas coisas que
você precisa... Elas são coisas que qualquer
mulher precisa. Elas não são de valor. Elas são preciosas.
Sabendo isso por um concubino ou qualquer homem com
quem você estivesse gastando seu tempo, você reconsideraria
fazer isso...

—Trocá-lo por algo melhor? — Interrompi para


perguntar, incrédula.

—Terminar o relacionamento de modo que você pudesse


estar num que obtivesse não só o que quer, mas o
que precisa, — ela esclareceu.

—Isso também é ofensivo à memória de Antoine, — eu


disse a ela bruscamente.
Disse-lhe isso, mas eu não poderia dizer que ela estava
errada em suas palavras.

—Isso, irmã, — ela disse suavemente, —se Antoine


estivesse vivo, é o caminho do mundo. Tanto mais que ele era
seu concubino. Ele saberia isso ainda melhor do que você e,
sem dúvida, estaria se planejando para isso.

Ela está certa, Antoine disse na minha cabeça.

Quieto, rebati.

—Esta é apenas mais uma desculpa, Brikitta, — eu


disse em voz alta. —E eu aprecio seus esforços para tentar
fazer-me sentir melhor...

—Você está despedaçada, — Cora cortou e virei para


ela. —E eu entendo, Franka, querida, droga. Se tudo o que
aconteceu com você acontecesse comigo e Tor entrasse na
minha vida como Noc entrou na sua, minha cabeça estaria
totalmente confusa sobre isso também.

—A minha também, totalmente, — Circe entrou na


conversa.

—Vocês todas estão simplesmente sendo gentis, —


declarei.

—Sim, nós meninas fazemos isso para as outras, —


Cora afirmou. —Mas, Franka, o que você está lidando, nós
não estamos falando merda. De jeito nenhum. Se eu não
concordasse com Brikitta, eu manteria minha boca fechada.

—Eu também, — acrescentou Circe.


—Também poderia ser que você está negando o que está
crescendo entre você e Mestre Noc, o que todos nós podemos
ver muito claramente, porque deseja punir-se como seus pais
fizeram há décadas, não acreditando que mereça ser feliz, —
Brikitta colocou.

—Não quero causar nenhuma ofensa, mas isso é


absurdo, — eu disse a ela, realmente não querendo causar
ofensa, acreditando que era um absurdo. —Deixe-me lembrá-
las, eu traí por Antoine.

—Nada do que está dizendo nega seus sentimentos por


ele, Franka, — Brikitta retornou. —Eu sei de fato que você
ama seu irmão, e se ele fosse tomado por essas bruxas, você
faria o mesmo. O amor faz comportar-nos em uma variedade
de maneiras que nunca esperaríamos. Você honrou muito
Antoine com sua ação.

Pisquei em choque total nesta declaração, mas minha


cunhada não tinha terminado.

—O que eu gostaria de deixar claro é que você não o


desonra por viver a sua vida, sentindo seus sentimentos,
pensando os pensamentos que você teve agora que ele se
foi. Eles são naturais. E você não deve punir-se por eles. E
deve-se notar que nenhum relacionamento, não importa
quanto amor exista ou quão forte seja, é perfeito. Não tenho
dúvida de que deseja voltar a pensar em Antoine e o que você
teve com ele como se tudo fossem rosas. — Seu rosto se
suavizou. —Mas eu acho, minha irmã, que é também uma
progressão natural do processo de luto chegar à conclusão de
que o que você tinha era forte e bonito, mas não foi o que
poderia ser... perfeito.

Ela não estava errada sobre isso também.

Pelo jeito parece que por anos eu perdi não só o fato de a


minha cunhada ser bastante bonita do seu próprio jeito e deu
a meu irmão muitas coisas preciosas, mas ela também era
muito sábia.

—Para não mencionar, você colocou sua vida em risco


para corrigir isso. — Circe evocou sua própria lembrança.

Meus olhos se moveram para ela.

—E eu coloquei o meu irmão e vidas de sua família na


linha enquanto cometi a traição que cometi, — continuei
minha própria lembrança.

—Baby, você está se debatendo com a história, — Cora


observou. —A história é história. Liberte.

—Você acha que é fácil?—, Perguntei.

—Eu acho que seria mais difícil do que o inferno, — ela


respondeu instantaneamente. —Mas também acho que
Brikitta está certa. Seus pais, — ela balançou a cabeça, —
não são pessoas boas. Eu não sei o que fez você acreditar em
si mesma, mas eu estava lá naquela cadeia. Eu ouvi o que
você disse a eles. Ouvi como eles te ensinaram a ser. E te
ouvi dizer que quer ser algo diferente. Não deixe que eles te
segurem. Ok, você era como era. Você fez o que fez. Mas isso
acabou. Deixe isso ir. Deixe-os ir. E seja quem você quer ser.
Desviei o olhar de todas elas, levantei minha xícara de
chá esquecida e tomei um gole do conteúdo agora frio.

—Apenas seja sua amiga, — Cora aconselhou,


estendendo a mão e envolvendo seus dedos ao redor da
minha coxa para me dar um aperto que achei bastante
solidário. —Ele quer isso. Você precisa disso. Não lute contra
isso. E aconteça o que acontecer em seguida ...

Ela parou e olhei para ela, vi o seu sorriso bondoso e


ligeiro dar de ombros. Olhando fixamente em seus olhos,
permitindo que todas as suas palavras penetrassem, percebi,
de certa forma que eu ainda estava agitada.

Um futuro incerto tendia a fazer isso.

Elas não achavam que o meu pensamento era


vergonhoso. Não achavam nada menos de mim, depois de
compartilhá-los.

Elas deram carinho. E suporte.

E não poderia deixar escapar.

Era bom.

E dane-se tudo, eu tinha que agradecer-lhes por isso.

—Eu aprecio vocês me ouvirem, — murmurei,


inclinando-me para pôr a minha xícara no pires.

—Disponha, — disse Circe.

—Definitivamente, — disse Cora.

—Com prazer, irmã, — disse Brikitta.


Eu olhei para elas com os meus lábios ligeiramente
inclinados para cima.

—Certo, eu quero meus bebês. A hora da soneca deve


terminar. Devemos puxar a corda para as babás trazerem as
crianças? — Circe perguntou, habilmente mudando de
assunto.

—Eu adoraria isso, — Brikitta declarou.

—Eu estou nisso, — Cora disse, pulando para cima e


movendo-se para o cabo.

Agora isso era algo para aguardar ansiosamente. Os


últimos dias, passei algum tempo com Timofei e nesse tempo
eu provei estar irrevogavelmente correta. Ele era uma criança
quase insuportavelmente bonita, iria certamente ser alto e
sério como seu pai, e ele era excepcionalmente inteligente.

Eu não o vi naquele dia.

Sua chegada tiraria minha mente de meus problemas,


muito melhor do que ver Noc se exercitar com o arco.

Ou pelo menos eu me convenci disso.

***

Antes de descer para os drinks, antes do jantar naquela


noite, eu estava no meu quarto de vestir com o meu irmão, as
portas do guarda-roupa abertas, os baús também abertos, as
peles dobradas, empilhadas e em exposição.
E meu irmão estava falando.

—Fora de questão.

Eu acabei de lhe oferecer a sua parte.

—Kristian...

Ele virou um olhar severo para mim e eu fechei a boca.

—Você foi diante a Deusa má Minerva, sua vida


definitivamente em risco, ela poderia tê-la cortado em duas
em um piscar de olhos, — ele levantou a mão e fez
exatamente isso, —como penitência pelo que fez. Para a
minha penitência, eu me encolhia em acomodações muito
bem equipadas que, é verdade, eu não tinha liberdade para
sair, mas não havia nenhum perigo de morte ou risco a
integridade física.

—Você fez o que fez por minha causa, — lembrei.

—Pare com isso, — ele cortou.

Pisquei em choque total em seu tom irritado.

—Você pediu minha ajuda. Eu dei a você, — afirmou


bruscamente. —Eu não estava sob coação. Você não me
ameaçou ou a minha família. Foi minha escolha, Franka,
ajudar a minha irmã que estava em perigo e eu queria fazer
algo para alterar isso. Eu cometi traição e fiz isso com
conhecimento de causa, porque eu me importo com
você. Você não tem qualquer responsabilidade por isso e não
quero incomodá-la, amor, mas é ofensivo que me ache tão
fraco ao ponto de sentir que precisa arcar com isso por mim.
—Eu não tive a intenção de ofender, — respondi com
uma voz fraca que eu não tinha ouvido passar pelos meus
lábios, nunca, nem mesmo quando meu pai aplicava seus
castigos.

—Eu sei que você não fez, — Kristian respondeu, seu


tom agora suave. —Mas, irmã, você fez isso da mesma forma,
então estou pedindo-lhe para parar.

Tentei uma tática diferente.

—Eu certamente não preciso de tudo isso, Kristian, —


Acenei a mão para o guarda-roupa, — e você sabe que é
verdade. Eu poderia lhe dar apenas um quarto disto e você e
Brikitta não iriam querer mais nada para o resto de suas
vidas.

—Nós não ganhamos esse tesouro, — ele respondeu.

—Tudo bem, se você acredita que eu fiz, então é meu


para fazer o que eu desejo e eu gostaria de dividir com
você. E, — eu disse a minha última palavra laconicamente, —
se você se recusar de novo, então vou dá-lo para Timofei,
quando ele ou ela chegar, vou doar mais para seu feto. Isso
você não pode recusar.

Ele fez uma careta para o meu rosto por um longo


momento antes dele murmurar, —você é muito teimosa.

—Não diga como se você não soubesse isso sobre mim


por toda sua vida, — devolvi.

Ele olhou para o tesouro exibido.

Eu esperei.
Meu irmão não disse nada.

Fiquei impaciente.

—Eu apenas decidi visitar um designer de joias e tê-lo


começando imediatamente a confeccionar um conjunto para
Brikitta, brincos, colares, pulseiras, anéis, pelo menos cem
diamantes de gelo sjöfn, com talvez algumas joias
Korwahkian combinando, — eu declarei.

Kristian olhou para mim, sorrindo e balançando a


cabeça.

—Você sempre foi impossível, — declarou.

Joguei minha cabeça. —Uma característica das quais


mais me orgulho.

Sua próxima veio de repente, sem qualquer aviso.

Embora, mesmo avisando, era uma coisa que por toda a


minha vida eu soube que nunca poderia suportar sem
quebrar.

—Você sabe que te amo.

Eu dei um pequeno passo para trás.

Meu irmão não tomou esta sugestão não-verbal.

—Desde a primeira lembrança que tenho, eu me


apaixonei por você. Como uma criança, você era tão bonita,
deslumbrante, e isso nunca mudou. E mesmo assim, eu
sentia a sua força.

—Por favor, Kristian, — sussurrei.

—Eu não estaria aqui sem você.


—Isso não é verdade.

—Você sabe que é. Eu quebraria. Eles me deixariam


literalmente louco.

Eu balancei minha cabeça. —Kristian, não.

Ele ignorou o meu apelo.

—Eu te amarei até meu último suspiro. E vou contar


aos meus filhos histórias de sua coragem e força e a
profundidade do amor que você teve por mim tantas vezes,
que eles vão te amar até seu último suspiro. E eles vão
compartilhar isso com seus filhos de uma maneira que o
nome Franka Drakkar nunca vai morrer, mas vai ser falado
com devoção e reverência, até a minha linha deixar de existir.

Eu as senti, frias e úmidas, pairando sobre minhas


bochechas. A queimadura em minha garganta ameaçava me
consumir enquanto eu lutava para mantê-las dentro, mas
falhei.

Elas caíram pelo meu rosto.

—Por favor, vá para esse outro mundo e encontre a


felicidade, irmã, — Kristian sussurrou.

Balancei a cabeça, engoli e mais lágrimas caíram.

Ele abriu os braços e continuou sussurrando.

—Agora, por favor venha aqui para que eu possa te


abraçar.

Meus pés me moveram diretamente para ele, direto em


seus braços.
Eles fecharam em torno de mim.

No instante em que o fez, o soluço rachou através de


mim.

Foi doloroso, uma dor tão profunda, não havia cura.

E foi purificando, fazendo uma limpeza tão completa que


nem uma vez em minha vida me senti tão pura.

—Eu gostaria de ter a magia como você tem, — disse ele


na parte superior do meu cabelo. —Eu enxugaria as
cicatrizes que desfiguram sua beleza com memórias feias e
que lembram que você nunca esteve autorizada a ser
feliz. Faria isso fazendo você acreditar que tem esse direito e
que deve buscar isso.

—V-você... d-deve... parar, — eu gaguejei através do


meu pranto.

—Por você, Franka, vou parar.

E ele fez como prometido, segurando-me enquanto as


lágrimas derramavam. Anos de lágrimas que eu não estava
autorizada a lançar, fiz assim, deixei-as escorrer na camisa
do meu irmão, encharcando-o, dando-lhe o privilégio de uma
vez devolver o favor e absorver a minha dor.

Quando me acalmei para soluços nada femininos eu não


tinha energia para sentir a mortificação mais, seus braços
apertados e ele disse calmamente:

—Você nos dá o que deseja sobre seu tesouro, amor e


vamos aceitá-lo alegremente.

Balancei a cabeça.
Um de seus braços me soltou para que ele pudesse com
o punho levantar levemente meu queixo. Ele se inclinou para
trás quando o levantou para me olhar.

—Chamarei Josette para cuidar de você. Você gostaria


que eu compartilhasse com os outros que você irá perder os
drinks e se juntará a nós apenas a mesa de jantar?

Isto significava que eu parecia ter levado um susto.

Deus.

Balancei a cabeça novamente.

Ele sorriu para mim com ternura. Deslocando o punho


de modo que a mão segurasse meu queixo, ele limpou com o
polegar as lágrimas que estavam lá.

Uma vez que fez isso, se inclinou e tocou os lábios na


minha testa.

Ele se endireitou, me deu outro aperto com seu braço e


me segurou até que me mudei ligeiramente para compartilhar
que estava bem para ficar em pé por mim mesma.

Ele me soltou e foi até o cabo que chamaria Josette para


mim.

Ele puxou-o e moveu-se para a porta.

Parando nela, virou-se para mim. —Vejo você no jantar,


irmã.

Novamente balancei a cabeça e respondi: —Você vai.

Outro sorriso carinhoso antes dele começar a fechar a


porta atrás dele.
—Kristian, — chamei.

Ele parou e inclinou a cabeça para o lado.

—Você sabe que eu te amo também, — disse a ele.

Ele ficou congelado na porta, os olhos em mim, e eu


assisti-los ficarem brilhantes com lágrimas.

Eu também assisti uma única lágrima cair.

E ouvi o rouco da sua voz que era tão bonito, que se


detivesse o poder de cura, as cicatrizes nas minhas costas
desapareceriam em apenas um instante, quando respondeu:
—Isso, minha querida irmã, você realmente deve saber que
eu sempre, mas sempre, soube.

E com isso, ele fechou a porta, desaparecendo por trás


dela.

***

Desviando o meu rosto de Noc (que era meu parceiro de


jantar, novamente) uma hora depois, com a ajuda de Josette,
sentindo-me e mais importante parecendo refrescada, sentei-
me à mesa enquanto Noc segurava minha cadeira.

Independentemente disso, desviei meu rosto, porque eu


parecia revigorada, mas Noc tinha uma maneira de ver além
da fachada, e esta noite dentre todas as noites, isso era algo
que eu não queria que ele visse.
Ocupei-me com o meu guardanapo, meu queixo
inclinado para longe dele enquanto Noc tomava seu próprio
assento.

Meus esforços foram imediatamente frustrados quando


ele mal conseguiu sua bunda na cadeira, antes que seus
lábios estavam na minha orelha.

—Baby, que porra é essa?

Droga.

E ele ainda não me viu corretamente!

Alisei meu guardanapo no colo.

—Perdão? — Perguntei com um esforço inocente,


falhando miseravelmente, porque essa característica era algo
que meus pais despojaram de mim quando eu tinha cinco
anos, então eu não tinha ideia de como fazer.

—Olhe para mim.

Oh merda.

Eu não poderia objetar, ele forçaria a questão. Na mesa


de jantar. E era seguro dizer que eu já sofri mortificação
suficiente nesta mesa de jantar.

Virei-me para Noc e ele afastou sua cabeça, quando fiz


isso.

Seus olhos viajaram por meu rosto e lutei para não


corar e me mexi na minha cadeira.

Ele olhou para mim e sua repetição foi desta vez


rosnando.
—Baby, que porra aconteceu?

—Irei para o seu mundo depois que Brikitta der à luz ao


meu futuro sobrinho ou sobrinha com segurança, —
anunciei.

Noc piscou repetidamente, levantando suas


sobrancelhas

—Repita?

—Eu irei para o seu mundo, — eu disse. —E quando


compartilhei isso com meu irmão antes, ele e eu tivemos
um...— Eu lutava para encontrar uma palavra, —
momento. Me senti... — mais luta, —comovida. Eu precisava
de algum tempo para me recompor. Estou sensível. Agora eu
preciso de vinho.

—Ótimo. E agora eu não sei se cumprimento Kristian


com um ―bate aqui‖ por puxar isso para fora ou dou um soco
na cara dele, — declarou.

Meus ombros endureceram com a afronta. —Por que


você socaria a cara dele?

—Porque você parece emocionalmente despedaçada por


tudo o que estava te comovendo e ele fez isso com você.

—Noc...

—Mas você irá para casa comigo, então talvez eu


devesse controlar minha merda.

—Não há certeza sobre isso, — eu disse


sarcasticamente.
Finalmente, a dureza em seu rosto desapareceu e ele
sorriu.

Isso era pior.

Droga.

Segui em frente e perguntei: —O que significa ―bate


aqui‖?

Inexplicavelmente, ele agarrou o pulso da mão apoiada


em meu colo e levantou-o na minha frente.

—Palmas para fora, dedos retos, — ele ordenou.

Fiz o que disse.

Ele manteve a preensão do meu pulso, e com a outra


mão, bateu na minha.

Eu saltei de surpresa neste despropósito.

Em seguida, ele desceu a mão que segurava meu pulso


para que seus dedos estivessem atados nos meus e trouxe
ambas as nossas mãos para descansar sobre a mesa, como
se fôssemos amantes saindo em um jantar íntimo apenas nós
mesmos, não sentados numa mesa de um palácio rodeado
pela realeza.

Pelos deuses.

Maldito Noc.

—"Bate aqui‖, — ele declarou.

—Perdão?

—Cinco dedos, dar um tapa no alto, ―bate aqui‖.

Oh.
Bem, isso explica o nome da referida manobra.

Mas isso não explica o absurdo disso.

—Por que alguém faria isso? — Perguntei.

—Para comemorar, — respondeu.

—Você sabe que é um absurdo, — compartilhei.

Ele sorriu novamente. —Você irá para casa comigo,


Lábios-açucarados. Isso significa que eu vou levá-la para ver
os Seahawks 15. Estaremos na área do New Orleans Saints 16,
mas você e eu, nós vamos manter nossa lealdade. E quando
eles chutarem o traseiro, você vai ter um ―bate aqui‖.

—Você sabe que todas essas palavras são


compreendidas por mim e ainda assim todas elas não são.

Seu sorriso aumentou.

Suspirei.

—Vinho, milady? — Perguntou o criado, e puxei minha


mão de Noc para olhar por cima do ombro para ele.

—Claro.

Ele balançou a cabeça e derramou. Ele mal chegou no


outro lado de Noc antes de eu ter uma dose saudável na
minha garganta.

Tirei o copo de meus lábios, puxei um grande fôlego,


deixei-o ir e relaxei.

Deixei de relaxar quando a mão de Noc envolveu a


minha coxa debaixo da mesa e a apertou.
15
Seahawks time profissional de futebol americano de Seattle
16
New Orleans Saints é um time profissional de futebol americano dos Estados Unidos
Isto não foi para apoio, como foi o aperto de Cora.

Era algo totalmente diferente.

—Prazer da porra você ir para casa comigo, — declarou


ele, felizmente deixando minha coxa no movimento.

—Mm..., — murmurei.

—Vai ser um choque cultural, confie em


mim, enorme. Mas você vai superar isso e amá-lo.

Eu esperava que sim.

Não disse nada e tomei outro gole de vinho.

—Baby? — Ele chamou.

Olhei para ele e quase virei a taça na felicidade


aquecendo seu rosto e fazendo sua considerável beleza ainda
mais bonita, era quase insuportável de testemunhar.

—Você tomou a decisão certa, — decretou.

—Espero que sim, Noc.

—Sei disso, Frannie.

Balancei a cabeça.

Ele sorriu.

Hesitante, sorri de volta.

***
Mais tarde, naquela noite, depois de Josette ter me
preparado para cama e ido para sua própria, eu estava na
frente do espelho no quarto de vestir e fechei os olhos.

Passou muito tempo desde que tentei isso e a última vez


que fiz a minha mãe percebeu e me puniu, por isso eu estava
certa de que não funcionaria.

Mas eu precisava fazer o que tinha de fazer e tomei uma


série de decisões naquele dia.

Era hora de colocá-las para fora.

Por isso procurei-o e não foi difícil encontrar, a tensão


que senti nas minhas entranhas, sempre lá na verdade, mas
vaga, e por ter estado lá por tanto tempo, aprendi a viver com
a sensação.

E ignorá-la.

Agora, concentrei-me sobre ele, e no instante em que o


fiz, para minha surpresa, senti subindo pela minha espinha,
a sensação leve como o toque de um amante, fazendo
pequenas cócegas por toda a minha pele.

Abri os olhos e vi o brilho silencioso de um candeeiro


que acendeu quando o espelho na minha frente mostrou meu
rosto enevoado.

—Pelos deuses, funcionou, — sussurrei, olhando para


as nuvens em frente de mim enquanto começavam a girar,
em um tom de azul matizado.

Eu conseguido isso, era hora de tentar o meu próximo.

—Eu quero falar com você, — eu disse para o espelho.


Eu fiquei lá e esperei.

As nuvens rodaram languidamente.

Esperei por mais tempo.

Nada além de nuvens.

Com o tempo, percebi que era realmente muito


fascinante de uma forma relaxante.

Mas depois de mais tempo, notei também que era muito


chato.

Tudo bem, então, talvez isso não funcionou.

Comecei a me virar, vendo o tom de azul na sala


começando a se dissipar quando, de repente, a sala inteira
ficou verde jade.

Meus olhos voaram para o espelho e vi o reflexo de


Valentine lá, não o meu.

—Estou impressionada, — declarou ela.

Eu fiz isso!

—Isso me encanta, minha irmã, — afirmou. —Parece


que você tem alguma compreensão instintiva de como
aproveitar o seu poder.

Parecia que eu tinha.

Excelente.

—Estou feliz que você está muito satisfeita, — respondi.

—Embora, eu tenha coisas para fazer, — ela me


disse. —E embora eu esteja comunicando-me com você no
plano astral, isso está tomando a minha atenção e desejo a
minha atenção em outra coisa neste momento. Isso é algo
que é muito bom em esperar. Mas estou a fim de não fazer o
mesmo. Então você tinha algo a compartilhar comigo?

—Sim, —, respondi. —Informei ao meu irmão e Noc, e


nenhum deles esperou para compartilhá-lo com os outros
que vou voltar com o meu irmão e cunhada para a sua casa,
aguardar o nascimento de seu filho e, em seguida, viajar para
o seu mundo.

Isso me fez lembrar que eu não falei nada disso para


Josette, incluindo a plenitude da compreensão dos universos
paralelos (algo que eu sabia que ela compreenderia, ou algo
assim, considerando-se os gêmeos que vagueiam em torno do
palácio, algo que eu não entrei no assunto com ela de
qualquer forma direta).

Para não mencionar, confessar a ela que eu tinha


magia.

Eu precisava corrigir essa primeira coisa na parte da


manhã.

—Mas eu também preciso dizer que onde eu vou, se


minha empregada concorda em ir comigo, ela vai também, —
adicionei.

—Claro, — Valentine murmurou. —Estou satisfeita que


isto progrediu.

Balancei a cabeça. —E, em um esforço para não atrasa-


la, vou também compartilhar que estou aceitando aprender a
usar a minha magia e absorver o que você despojou de minha
mãe, mas apenas na contingência de me assegurar que não
está contaminada com sua malícia.

—Magia nunca é negra, Franka, apenas o portador é


que faz com que seja assim.

Achei isto o mais interessante.

—Então não tenha medo disso e vou definir a cerimônia


assim que for capaz, — ela continuou.

Isso deixou-me um pouco ansiosa.

Valentine sentiu isso, mesmo através de um espelho.

—Será glorioso, Franka, e você vai saborear a memória


disso até o seu último suspiro.

Levantei meu queixo. —Então espero ansiosamente por


isso.

—Como eu, — Valentine respondeu. —Tem mais?

Fora de querer saber o que um plano astral era, não


havia.

Eu poderia perguntar isso mais tarde.

—Não, e agradeço-lhe por ter vindo até mim.

—Para receber esta notícia, o prazer foi meu. Boa


noite, chérie, e você sabe que eu me sinto assim, mas vou
dizê-lo novamente, você escolheu certo.

Com isso, ela desapareceu de vista e sua magia recuou


do quarto.

Mas eu estava ali olhando para o espelho que agora era


apenas um espelho.
E fiz isso na esperança de que ela estivesse correta.

***

Na manhã seguinte, a primeira coisa, mesmo antes da


minha bandeja de café chegar, incongruente e de uma forma
que faria minha mãe apoplética e meu pai cuspir fogo, sentei-
me de pernas cruzadas na minha cama em frente a Josette,
que estava na cama e com as pernas cruzadas também.

Fiz isto partilhando com ela que eu possuía magia e


informando-a de que meus planos futuros mudaram e que eu
desejava mudar o dela comigo.

—É improvável que nós vamos ser capazes de trazer


Irene, — eu terminei. —Embora, é meu entendimento que as
coisas são muito diferentes lá por isso é também o meu
entendimento, não vamos precisar dela.

Josette simplesmente ficou parada e olhou para mim.

—Josette, — chamei.

Ela piscou, mas não disse nada.

—Josette, minha querida. — Chamei novamente,


estendendo a mão e passando os dedos ao redor da sua mão.

No instante em que o fiz, sua mão apertou a minha.

—Nós não vamos ter uma aventura, teremos


a aventura, — ela respirou. —E como é emocionante! Você é
uma bruxa!
Havia muitas bruxas em nosso mundo, então eu
realmente não tinha preocupação que ela reagiria mal por eu
ser uma.

Mas eu estava muito preocupada que ela iria recusar-se


a realizar algo infinitamente desconhecido comigo, a luz que
eu não vi estava brotando nos olhos dela, florescendo, e
imaginei que iluminou o quarto com o seu brilho.

—Você vai nesta jornada comigo? — Perguntei para


confirmar.

—Em qualquer lugar, Franka. — Sua mão segurou a


minha ainda mais firmemente. —Em qualquer parte.

Meu coração estava leve e, portanto, como eu estava


aprendendo que acontecia, a minha boca começou a se
mover.

—Eu não sei o que causou o dom dessa lealdade por


mim, Josette, mas o que eu quero que saiba é que isso
significa muito para mim.

—Minha posição significa que havia cicatrizes que eu


poderia ajudá-la com sua roupa para esconder dos outros,
mas você não pode escondê-las de mim, — ela compartilhou
prontamente.

—Eu não...— Balancei a cabeça. —Como foi que ganhei


essa lealdade?

Josette me estudou com curiosidade, me perguntando:


—Como não ganharia?
—Muitas pessoas têm muitas cicatrizes, por muitas
razões.

—E todos eles eu admiro, — ela voltou. —Mas você


acima de tudo, pois viveu sua vida e fez como quis e o que
causou essas cicatrizes não a derrotou. Meu pai valorizava a
força e ensinou minha irmã e eu a fazermos o mesmo. Ele
próprio era tão forte que se recusou a acreditar que não
poderia salvar sua família das águas geladas. Ele não parou
de acreditar, mesmo morrendo por causa disso. Isso me
deixou triste. Mas a tristeza nunca me paralisou, porque
estou muito mais orgulhosa que ele foi aquele homem e
morreu exibindo essa força. E não permiti que isso me
devastasse pois sabia que se meu pai soubesse que tinha,
estaria desapontado comigo. Então, ─ela deu de ombros, —é
isso, eu acho.

Depois disso, era eu encarando ela.

—Oh, não, — ela sussurrou. —Você vai se tornar uma


boba chorona? Porque... você não deve, visto que se o fizer,
eu vou também.

Funguei e puxei minha mão da dela, declarando: —


Certamente que não.

Ela sorriu.

Ergui meus lábios para ela e, em seguida, declarei: —


Estou com fome, Josette.

—Claro—, respondeu ela, pulando da cama.


—Josette? — Chamei e ela parou no vão da porta e
virou-se para mim. —Diga-lhes para preparar uma bandeja
para você também. Eu gostaria de compartilhar o café da
manhã com você hoje, e todas as manhãs que eu o tomar na
cama, no futuro. Quando você trouxer o meu, peça a um dos
outros servos trazer o seu.

Seus olhos se arregalaram mais. —Mas... Franka, eu...


eles... isso vai ser muito chocante para a equipe do palácio.

—E eu me preocupo com isso porque...?

Isso não me concedeu um sorriso, mas sim um sorriso


largo e brilhante.

—Vou estar de volta, — ela declarou.

—Estarei aqui.

A porta se fechou atrás dela.

Olhei para o meu colo.

—Finalmente, — murmurei. —Está tudo resolvido.

Inspirei e levantei minha cabeça.

E então foi minha boca que se espalhou em um sorriso


largo e brilhante.
Acesa

Valentine
Valentine estava sentada, com as pernas cruzadas, o
apartamento na penumbra, o gato de Circe no colo, um com
pelos longos vermelho e olhos inteligentes (como eram todos
os gatos, considerando que eram criaturas espirituais e há
muito foram inteligentes o suficiente para permitir-se estar
próximo às bruxas).

Ela programou com precisão.

Passou-se tempo suficiente durante o qual permaneceu


irritada.

Não passou tempo suficiente onde ela ficasse


exasperada.

Ela não ficaria com raiva por mais tempo. Isto, ela
encontrou, sua linda companhia tinha o poder de refrear seu
comportamento tão bem e sendo tanto capaz de dar, bem
como receber.
Por isso, Circe tinha sorte.

Ela também tinha sorte que Valentine ouviu o bloqueio


clicar e a porta abrir antes de Valentine ter de esperar mais.

—Sério? Você sentada no escuro esperando por mim? —


Perguntou Circe.

Esta saudação não foi uma surpresa. Valentine sabia


melhor do que achar que poderia esgueirar-se ao redor de
uma bruxa.

—Você está me impedindo. — Valentine encontrou-se na


posição desagradável de desperdício de energia para
compartilhar algo que não precisava ser dito.

A porta se fechou, uma chave foi virada e várias das


lâmpadas na sala relativamente-atrativa-mas-escassamente
mobiliada acenderam.

Realmente, Circe deveria usar algum do seu tesouro,


algo que Valentine notou que ela não tocou, simplesmente
para decorar.

Mas a bruxa poderia realmente comprar uma casa, se


ela assim o desejasse, uma que fornecesse acomodação muito
superior do que... esta.

Valentine não declarou esses pensamentos em voz alta.

Ela observou Circe atirar a bolsa em uma cadeira e, em


seguida, cruzar os braços e voltar seus olhos para sua irmã-
bruxa.

—Você está fazendo algo que precisa ser bloqueado, —


ela finalmente respondeu.
—Estou simplesmente cuidando de você, chérie, —
Valentine mentiu.

—Eu estou neste mundo por algum tempo, Valentine, eu


quase não preciso de cuidados.

Valentine preguiçosamente balançou uma mão


enquanto sugeriu: —Por que não olhar para isso como uma
mãe ursa cuidando de seu filhote?

—Por favor, sem ofensa, minha irmã, mas nós duas


sabemos que você não é mãe. E você não tem
responsabilidade sobre mim. Eu me trouxe a este mundo e foi
a minha decisão de ficar. Você não teve nada a ver com isso.

Na fala de Circe sobre Valentine e ―mãe‖ na mesma


frase, estranhamente, perturbadoramente, e, por último,
agradavelmente, visões de meninas com olhos azuis
encantadores e cabelo loiro grosso dançaram na cabeça de
Valentine.

Sua frivolidade, a quem de alguma forma ela deu


permissão para se transformar em seu companheiro, tinha
lindos olhos azuis e cabelo loiro.

Ele foi uma vez apenas um corpo.

Agora ele era ...

Não.

Merde17.

—E ambos sabemos que com a minha magia


restaurada, especialmente tendo isso e estando neste mundo
17
Merda em francês.
onde não é muitas vezes exercida, não preciso de ninguém
cuidando de mim, — continuou Circe.

—Há algo que você não quer que eu veja? — Valentine


perguntou, forçando sua mente de seus pensamentos de volta
para a conversa.

—Eu simplesmente não desejo a intrusão, e tenho esse


direito, como você sabe.

Ela sabia.

Incomodava.

—Embora, eu poderia ser movida para parar de lhe


bloquear, se soubesse por que você estava de repente me
observando, — Circe prosseguiu com a sua própria mentira.

Nenhuma bruxa, ou não-bruxa que seja, gostava de


alguém interferindo em suas vidas.

Certamente não as observando.

Não ajudaria dizer que ela estava olhando para começar


uma intromissão, fazendo isso para manobrar magicamente
uma reunião com o futuro amor que Circe estava destinada a
ter, seu objetivo para vê-los casados, criando filhos, fazendo
coisas divertidas e vivendo felizes para sempre depois disto.

Circe era ferozmente independente, algo que Valentine


aprovava, embora ter sido a vida quem lhe deu razões para
fazê-la empenhada em proteger essa característica a todo o
custo, era algo que Valentine desprezava.

Uma história onde ela não teve nada parecido. Sem


independência. Nem mesmo o livre arbítrio.
Quase toda a sua vida ela viveu presa e escravizada por
um governante despótico que se aproveitou de uma bela
jovem bruxa e seus poderes em todos os sentidos que podia.

Deusa, ela esperava que Dax Lahn deste mundo


pudesse lidar com esse desafio.

A mente de Valentine vagou para o fato de que,


curiosamente, o seu primeiro nome era Dax neste mundo,
Lahn seu último, prova de que o Dax no outro mundo
realizaria o seu título real como profetizado até que ele
passasse para o seu filho na sua morte.

Isto significava que Circe e Dax deste mundo,


provavelmente nomeariam seu filho igual.

Adorável.

—Valentine? — Circe chamou e Valentine focou nela


novamente, sentindo seu corpo tensionar um pouco.

Ela tinha apenas se deixado levar sentimentalmente.

Com esperança.

Cuidando.

Preocupando-se.

E agora sendo sentimental.

Ela estremeceu em repulsa.

Outro tremor de repulsa, seguido no próprio


pensamento de que ela teria que desistir da intromissão
mágica, e fazer algo que um ser humano mundano precisaria
fazer nesta situação em que a magia não era uma opção.
Consertar os dois.

Que revoltante.

—Parece que está tendo uma conversa inteira da qual


eu não estou a par, uma vez que você está tendo-a
silenciosamente com você mesma, — observou Circe.

Com isso, Valentine levantou, deixando cair o gato


graciosamente aos seus pés.

—Franka decidiu vir ao nosso mundo para começar sua


vida de novo, — declarou ela, e passou adiante,
compartilhando sobre o crescimento da ligação de Franka
com Noc e as amizades que estava fazendo no outro mundo.

Circe parecia espantada e moveu-se para seu sofá,


sentando-se no braço, seu gato deslizando elegantemente à
sua mãe, saltando no assento e se esfregando contra a coxa
de Circe.

—Isso me surpreende, — Circe afirmou.

—Eu vejo isso. Eu, é claro, compartilhei com você tudo o


que ocorreu e o conhecimento que ela é nossa irmã. Assim,
esta decisão me agrada. Ela também decidiu aceitar o meu
treinamento. Ao contrário de você, — Valentine sublinhou, —
parece que ela não tem escrúpulos em utilizar sua magia
para fins agradáveis uma vez que ela aprender a empunhá-la.

—Eu tive a minha magia manipulada quase toda a


minha vida, Valentine, — Circe lembrou. —Eu gostaria que
fosse só minha, para usá-la quando e como eu quiser.
—Isso é compreensível, — Valentine murmurou, irritada
de ter de admitir esse ponto.

—Estou satisfeita que ela tomou essa decisão também,


— disse Circe. —Este é um reino estranho, mas é bom para
fazer um novo começo. Muito fácil de se perder nos números
absolutos de pessoas, e por isso você pode se concentrar na
pessoa que você deseja ser.

—Há quase os mesmos números em ambos os mundos,


— Valentine lembrou. —Com variação escassa.

—Eu já avaliei que o meu velho mundo tem quase o


dobro da massa de terra que este, que permite muito mais
espaço para as pessoas se espalharem, — Circe devolveu.

Valentine sabia que isso era verdade.

Ela não admitia esse ponto.

Declarou: —Ela está aguardando sua cunhada dar à luz


em segurança a uma nova criança. Eu não posso avaliar
quando isso será, mas vendo a mulher e o pouco que ela está
mostrando, minha suposição seria de que isso vai acontecer
no tempo de cinco a seis meses.

—Eu vou recebê-la e ajudá-la de qualquer forma, assim


que ela chegar, minha irmã.

—Isso é bom de ouvir, — Valentine respondeu.

—Isso não é o por que você está me observando.

Valentine inclinou a cabeça. —Você acha que por um


segundo sequer eu o faço por motivos mal-intencionados?
Circe sorriu. —Eu acho que você pensa que é muito má
quando tem uma alma de esmeralda, mas um coração de
ouro puro. — Quando Valentine abriu a boca para opor-se a
esse ridículo, Circe levantou uma mão, continuou sorrindo e
manteve-se falando. —Não negue. As ações falam mais que
palavras, minha bruxa verde, e com tudo o que é, você
poderia falar, como se diz neste mundo, até que sua cara
estivesse azul, ou verde, — seu sorriso ficou maior, — e eu
não acreditaria em você.

Valentine levantou as mãos, declarando: —Sinto que


esta visita está no fim.

Antes que ela pudesse evocar a sua magia, Circe


interrompeu.

Suavemente.

—Estou feliz, minha irmã, por favor, saiba disto, com o


que for que o seu coração de ouro esteja falando para você
fazer.

Valentine deteve o feitiço que iria transportá-la de volta


para o outro mundo e considerou de perto a bruxa.

Então disse: —Você vai ser mais feliz.

E naquele momento, antes que Circe pudesse abrir a


boca para falar, Valentine terminou lançando seu feitiço e
desapareceu.

***
Quando a hora atingiu meia-noite em Lunwyn,
Valentine apareceu no lugar designado vendo um trenó por
perto, quatro cavalos atrelados a ele, cobertores cobrindo o
dorso dos corcéis para protegê-los do frio, seus dois
compatriotas já lá e esperando.

Como ela pediu, Lavinia trouxe sua carga.

As bruxas decidiram realizar a cerimônia de Franka


perto a uma árvore de Adela. Era apenas uma muda, mas o
seu poder ainda podia ser sentido e seu lugar neste mundo
para qualquer pessoa com magia era sagrado.

Franka ficou ao lado da muda de adela vestindo um


manto glorioso de lã fina prussiana azul forrado com
arminho, as mãos envoltas em luvas de pelica azuis, sem
touca na cabeça para cobrir seu glorioso cabelo que tinha um
brilho saudável, mesmo à luz do luar.

E não havia nenhuma ansiedade em seus olhos. Seus


ombros estavam eretos, com o queixo para cima.

Valentine não sentiu nenhum medo nela.

Ela também não sentiu nenhuma emoção.

Isto iria mudar.

—Você está pronta, minha irmã-bruxa? — Perguntou


Valentine, movendo-se através da neve em direção a ela, seu
próprio manto verde forrado com pele de raposa vermelha
mantendo-a quente.

—É claro, — respondeu Franka.


Valentine parou perto e lançou seu olhar para Lavinia,
que estava caminhando até elas. Ela esperou sua colega
bruxa chegar e olhar em seus olhos.

Quando o fez, Valentine acenou para ela.

Lavinia voltou este gesto.

Ambas olharam para Franka.

— Pegue minha mão em uma das suas, Lavinia estará


na outra, — ela ordenou.

Sem hesitar, Franka fez como disse.

Valentine sentiu seu poder através de seu toque e


percebeu, mesmo que já tivesse percebido que era
substancial, esteve errada com o quão poderoso era.

Este poder que Franka Drakkar possuía, não tinha


simplesmente alimentado a si mesma e crescido ao longo dos
anos sem uso.

Ela, também, como Valentine (bem como Lavinia) tinha


um legado. E pelo que Valentine poderia sentir, não era uma
ou duas gerações antes de Franka que tinham praticado a
arte, mas séculos delas.

Esta era uma excelente notícia. Tanto assim, que fez


Valentine sorrir e olhar para Lavinia, que sentiu isso
também, não só porque seria impossível não notar, mas
também pelo sorriso em resposta no rosto da bruxa.

—Você se importaria de compartilhar o que você acha


tão agradável? — Franka disse.
Ambas se voltaram para ela. —Seu poder já é
substancial.

—E você pode dizer isso como? — Perguntou Franka.

—Você não sente isso? — Lavinia consultou


suavemente, e Valentine percebeu que ela apertou a mão dela
quando Franka olhou para suas mãos unidas. —Você deve
sentir isso, — Lavinia soltou.

A ponta da língua de Franka saiu e tocou-lhe o lábio


inferior brevemente antes de voltar o olhar para Lavinia e
responder: —Eu senti. De você, — seu olhar foi para
Valentine, —e muito mais de você.

—Nós sentimos isso também, — Lavinia disse a ela. —


Uma da outra... e você.

—Você vem de uma longa linhagem de bruxas, —


Valentine colocou, isto ganhando a atenção de Franka, e sua
expressão mudou, mostrando franca surpresa. —A última,
não muito boa. Infelizmente, ela não compartilhou esta
orgulhosa herança com você para que também pudesse
desfrutar da satisfação de ter tal, ma sorcière18. Mas como
você ficará com duas das suas próprias com a mesma
linhagem nobre, vamos ensinar-lhe exatamente isso.

—Eu nunca estive orgulhosa de alguma coisa que


tivesse a ver com a minha nobre linhagem, — Franka
compartilhou.

18
Minha bruxa.
—Isto é porque a sua linhagem foi superior como auto
decretada, não nobre, salvo a magia oferecida aos Frey e que
os Drakkars produzem, — Valentine explicou.

Franka acenou com a compreensão disto quando


perguntou: —Será que todas as futuras sessões como esta
serão conduzidas na calada da noite, assim, o pior de
qualquer dia frio, e continuar por uma boa parte do
tempo? Se assim for, eu vou estar prevenida para elas e vestir
algo mais quente.

Valentine teve o estranho desejo de rir em voz alta.

Oh, mas ela gostava desta bruxa. Gostava muito dela.

—Ela é impaciente, — Lavinia observou com humor


aparente.

—Estou com frio, — Franka retornou, mas respirou


fundo e continuou, com a voz baixa, seu olhar indo entre
elas, direto e constante. —E quanto mais cedo terminarmos,
mais cedo posso acabar com ele.

Ela poderia, de fato.

E isso deveria ser feito imediatamente.

—Então não vamos demorar mais, — Valentine


decretou.

Ela olhou para Lavinia e assentiu.

Quando o fez, Lavinia voltou seu olhar para Franka.

—Magia é a natureza. A natureza é a magia, — ela


começou a iluminar sua voz —O que flui em você há milênios
atrás foi feito a partir da terra. Do céu. Do ar, a poeira. Dos
mares, os ventos, as chuvas, os raios do sol. Nossos criadores
adoravam essas coisas, andaram, respiraram, semearam,
tudo com reverência. Os elementos compartilharam seu
benefício para esta veneração, oferecendo-lhes poder,
permitindo-lhes manipular a magia. Eles celebraram, para
internalizá-las, utilizá-las. E mais, eles fortaleceram-nos
através de irmandade, recompensando lealdade, construindo-
os ao longo de linhas mágicas, reforçando o poder quando
usado entre outras irmãs, comungando com elas.

—Pactos, — Franka sussurrou.

—De fato. — Lavinia sorriu. —E aqui, — Valentine


apertou a mão de Lavínia, sabendo que sua outra mão fez o
mesmo com a de Franka, — nós irmãs nos levantamos, na
natureza, em magia e agora, Franka, minha irmã-bruxa,
minha filha, minha mãe, minha aliada, minha amiga,
convido-a a sentir o frio. Sinta a neve abaixo de suas botas. A
picada do gelo no ar contra sua pele. A frescura gelada dele
sob o seu nariz, para baixo da sua garganta, em seus
pulmões. A força da Adela crescente nos braços
acalentadores da terra. O sussurro do vento suave em seu
ouvido. Feche os olhos, minha amiga, e abra os seus
sentidos. Sinta a magia ao seu redor. Celebre-a pela beleza
que é, e ao fato de que a beleza vive dentro de você.

Valentine assistiu Franka fechar os olhos.

Quando o fez, Valentine fez o mesmo.

Já era tempo.

—Nós somos um, — Valentine declarou calmamente.


—Nós somos um—, repetiu Lavinia atrás dela.

Valentine apertou a mão de Franka como um alerta.

—Nós somos um, — ela sussurrou, tomando sua


sugestão.

—Somos a terra, — Valentine disse.

—Somos a terra, — repetiu Lavinia.

—Somos a terra, — disse Franka.

—Somos o ar, — Valentine decretou, sua voz


aumentando.

—Somos o ar, — Lavinia repetiu, sua voz fazendo o


mesmo.

—Somos o ar, — Franka seguiu o exemplo.

—Somos o mar, — Valentine disse, agora em um choro


baixo, suas palavras dançando através do vento, também,
comemorando o poder nessa clareira. O frio agora mordendo,
seus mantos pesados começando a balançar, o cabelo
despenteando, e depois que ela falava, suas bruxas seguiam
com as mesmas palavras.

E com cada canto adicional, suas vozes levadas para o


ar cada vez mais alto, o farfalhar do pinho, os flocos de neve
sob seus pés que o vento levantava, girando ao redor delas.

—Somos o vento.

—Somos a chuva.

—Nós somos os raios do sol.


E neste decreto, as três bruxas começaram a cantar
juntas. Franka arrastada para a magia através de suas
irmãs, sabendo as palavras por instinto, suas vozes tocando
direto para os céus, suas palavras carregadas pelo vento e
redemoinhos de neve brilhando à luz da lua.

—Nós somos a luz da lua. Nós somos o poder. Nós


somos a força. Nós somos o escuro. Nós somos a luz. Nós
somos a Magia. Nós... somos... irmãs!

E com isso, uma explosão esmeralda, verde grama e


safira dispararam em um círculo torcido em direção ao céu e
as três mulheres foram jogadas vários passos para trás.

Perdendo sua conexão, elas abriram os olhos para ver a


clareira em torno delas rodando com flutuantes nuvens
verdes e azul, cintilando com rajadas suaves, circulando em
torno delas.

Mas Franka estava de pé, com as mãos levantadas


diante dela, faíscas vermelho-sangue brilhando delas,
iluminando seu rosto, um rosto agora contaminado pelo
medo.

—Não tenha medo, Franka—, Lavinia disse gentilmente,


novamente se aproximando. —Ela queima. Sua alma safira é
boa, é forte, está empurrando para fora a maldade e
rancor. Não vai demorar muito, não vai causar nenhuma dor
e, em seguida, acabará.

Lavinia estava certa e foi provado isso, quando, em


poucos momentos, o último do vermelho brilhou com trilhas
de cobalto até que não havia nada além de azul, e,
finalmente, os reflexos morreram.

Valentine e Lavinia ficaram em silêncio quando Franka


permaneceu imóvel e olhando para as mãos.

Levou tempo, mas ela finalmente levantou a cabeça.

E Valentine sentiu a curva suave levantar os cantos de


sua boca enquanto ela viu a maravilha na expressão de sua
irmã.

—É lindo, não é? — Ela perguntou em voz baixa,


sentindo essa mesma beleza. A beleza que sentia em qualquer
momento que chamasse seu poder ou estivesse em torno de
uma irmã usando o próprio. O formigamento dele em sua
pele. O calor dele através de suas entranhas. A emoção por
sua espinha. O calor em seu sexo. O sabor suntuoso em sua
garganta. A energia gloriosa em seus dedos.

Oh, mas era bom que o seu companheiro esperaria por


ela na casa de campo e ela ter planejado o que planejou, pois
por uma vez ela poderia levar esses sentimentos e exaltar
neles assim como deve fazer, alegre e desinibida.

—É... bem, nada como eu já conheci, — Franka


respondeu.

—Mas bonito, sim? — Lavinia solicitou.

Franka negou com a cabeça e Valentine sentiu as


sobrancelhas erguerem.

—Essa não é a palavra, — Franka explicou, cruzando os


braços na frente dela. Não protetora, ela envolveu suas mãos
em torno de seus bíceps e estava acariciando-os como se
estivesse tentando manter a sensação perto, segurando-a
com ela, para não a perder. —Não há nenhuma palavra para
descrever esta beleza, — ela terminou com reverência.

Valentine relaxou e novamente sorriu.

—Eu... — Franka passou e balançou a cabeça


novamente, desta vez agitos mais curtos, mais nítidos, como
se estivesse limpando-a, mas seu olhar estava firme em
Valentine. —Eu que agradeço. Eu...obrigada, minha irmã, —
ela terminou com um sussurro sincero. —Eu acho que não
desejaria nada dela. Qualquer coisa que fosse dela. Mas... —
Ela engoliu em seco e acabou, —você estava certa. Vou
lembrar desta noite sempre como o seu fim e o meu começo.

Oh sim, Valentine gostava muito desta bruxa.

Ambas Valentine e Lavinia se aproximaram e todas elas


novamente uniram as mãos.

—Foi uma honra, — Valentine compartilhou a verdade.

—E a minha estar aqui, — acrescentou Lavinia.

—Eu não escolheria isto, não se você não tivesse


aconselhado, — disse Franka a Valentine. —E você terá a
minha gratidão por tanto tempo quanto eu continuar
respirando.

—É muito apreciado, — Valentine aceitou antes que ela


lhe desse um pequeno sorriso. —E também está frio. Em
breve nos encontraremos novamente. Seu treinamento
começa agora.
Não era ofuscante, mas havia emoção nos olhos de
Franka que ela não escondeu.

Progresso.

Excelente.

—A irmandade, — disse Lavinia em um aperto de mão.

—A irmandade, — Valentine repetiu, fazendo o mesmo.

—A irmandade, — Franka arrastou, seu aperto de mão e


os lábios se contraindo.

Valentine se separou.

—E agora para o calor, — declarou ela, e um quente,


firme, corpo nu masculino com rosto bonito, belos olhos azuis,
sorrisos encantadores e boca que pudesse proferir palavras
doces, ela não disse.

—Para o calor, — Lavinia concordou. —Até nós a virmos


novamente, adeus, minha amiga.

Valentine acenou para Lavinia e Franka.

Foi bonito, como sabia que seria. Tinha sido uma honra,
como sabia tão bem. Seria algo, como Franka, e ela estava
certa de Lavinia, que Valentine nunca esqueceria.

Mas agora estava feito e era hora de ir para casa.

Hora de aquecer.

Hora de comemorar não apenas o que acabara de


acontecer, mas muito mais.

Era hora de comemorar e continuar a cultivar o que


estava crescendo entre ela e...
Não apenas um corpo.

Não um caso.

Não sua companhia.

Com Laurent.

***

Franka

Eu estava andando no meu quarto, a única iluminação


era do fogo, que também estava fornecendo calor.

Meus pés estavam nus, mas não frios. Não, eu estava


muito frenética para sequer pensar em pés frios.

Eu deveria estar na cama.

Mas a aceleração dentro dela não morreu. Sentia como


se tivesse muita energia. Como se pudesse correr ao redor do
palácio de novo e de novo (como Noc fez quase todos os dias
por razões que ele indicava como: ―manter a forma‖, por
quaisquer motivos que alguém fizesse algo como isso).

E eu estava explodindo para contar a alguém tudo o que


ocorreu e apenas como era bonito.

Incapaz de parar, independentemente do fato de que era


tarde, eu sabia no meu coração que não se importaria, corri
para a porta, a abri e apressei-me pelo corredor até o quarto
de Noc.
Bati. Não muito alto, eu não queria que ninguém
ouvisse.

Segundos depois, fiz isso um pouco mais alto, porque


Noc certamente estava dormindo e eu queria que ele ouvisse.

Eu ainda estava fazendo isso, quando a porta se abriu.

A luz do fogo iluminava o quarto de Noc, bem como,


para não mencionar a luz da lâmpada do corredor.

E assim vi claramente que ele estava sem camisa,


vestindo um par de calças soltas, leves, com uma corda
amarrada sob o seu umbigo para segurá-las.

À vista de tudo isso (embora eu tive que admitir, meus


olhos ficaram presos em seu abdômen trabalhado, os cumes
definidos, e a trilha de cabelo espesso e negro que saía de
suas incomuns calças de dormir até o umbigo), a minha boca
ficou seca.

—Baby, você está bem? — Perguntou Noc.

Direcionei meus olhos para o rosto dele, vi seu cabelo


despenteado e lutei contra o impulso de levantar minhas
mãos e alisá-lo.

Ou amassá-lo ainda mais.

Com esforço, fiquei focada.

—A cerimônia foi esta noite.

Eu estava em pé no corredor e, em seguida, eu não


estava.
Noc agarrou a minha mão, me puxou para o seu quarto
e fechou a porta. Ele não hesitou em me guiar direto para a
lareira para ficar na frente dela, para que ela pudesse
aquecer nós dois.

Uma vez que ele nos levou lá, também não hesitou em
me aproximar dele e dizer: —Eu sei. É por isso que eu
perguntei se você está bem. Você parece... — a cabeça
inclinada para o lado, conforme seu escrutínio no meu rosto
se intensificou, —acesa.

—Acesa?

—Energizada. Hiper agitada. Nervosa. Alerta.

Inclinei-me mais perto dele. —Eu acho que estou tudo


isso, Noc. Mas de uma forma boa.

Ele continuou a estudar meu rosto. —Então foi tudo ok?

Balancei a cabeça com fervor. —Foi... Eu estava ...

Como explicar o inexplicável?

Não havia nenhuma maneira, exceto a compreensão que


Noc iria ouvir atentamente, mesmo que eu não conseguisse
encontrar as palavras certas.

Assim, continuei adiante: —Eu estava muito ansiosa.


Eu não queria ter nada de minha mãe, e pensar na palavra
―absorver‖ ... — Balancei a cabeça. —Isso me preocupou
mais. Para tê-la dentro de mim de qualquer maneira... — Eu
não terminei esse pensamento, mas a expressão de Noc me
disse que ele entendeu o que eu estava dizendo, assim
continuei:— Mas foi... Eu a senti e... e então era eu, o que
está dentro de mim... — Mais uma vez eu não poderia
terminar de dizer, assim me afastei um pouco, levantei minha
mão e sussurrei: —Aqui, eu vou lhe mostrar.

Centrei-me na aceleração dentro de mim e isso era tudo


que eu tinha que fazer antes de sentir subir por minha
coluna, através do meu corpo, formigando em meu cabelo e
na ponta dos dedos as faíscas azuis alastrando-se
preguiçosamente por minha palma.

—Tenho que dizer, querida, quão estranho que seja,


ainda é muito foda, — Noc murmurou, e olhei da minha mão
ao seu rosto, agora iluminado em azul, fazendo com que seus
olhos estivessem ainda mais extraordinários, o seu olhar fixo
na palma da mão.

—E brilhou na cor vermelha quando isso aconteceu, —


compartilhei, e ele olhou para mim. —Quando Valentine deu
a magia para mim. Foi ela. Foi a mãe. Eu a senti. A feiura. A
escuridão. Mas era eu, — levantei a minha mão, o azul ainda
faiscava, — que a obrigou a sair. Assumiu. Vê? — Levantei
minha mão mais um centímetro. —Sou apenas eu. Sem
vermelho. Tudo Azul. É tudo meu. E olha, Noc, — minha mão
subiu ainda mais, mas a minha voz baixou, com reverência,
— você não acha que é bonito?

Ele só olhou de volta na minha mão antes de seu olhar


novamente pegar o meu.

—Sim, baby, — ele sussurrou. —É muito lindo.

Eu sorri para ele.


Ele sorriu de volta e sua atenção se desviou novamente
para as faíscas.

—Posso tocá-la? — Ele perguntou, e imediatamente


fechei minha mão e a magia desapareceu.

Noc voltou seus olhos para mim.

—Eu não sei muito sobre isso, — expliquei


apressadamente como eu não queria ferir seus sentimentos
ou negar-lhe qualquer coisa que ele desejasse ter. —Pode ser
perigoso e eu não desejo machucá-lo.

Ele assentiu. —Entendi.

Eu sorri novamente. —Talvez quando eu souber mais,


quando souber se é seguro, vou conjurá-lo novamente e aí
você poderá.

Noc sorriu novamente também. —Isso seria legal.

—Eu só, bem, eu só tinha de partilhar. — Me inclinei


para ele, levantando a mão que brilhou em azul e envolvi-a
em torno de sua pele quente, seda cobrindo a dureza de seus
bíceps. —É impossível explicar. Estando lá fora, com
Valentine e Lavinia. Sendo dado um presente que eu não
queria, mas no instante em que recebi eu sabia quão precioso
era. Compreendi mais quem eu sou, o que está dentro de
mim, que há mulheres que têm o mesmo e elas não são como
minha mãe. Não tenho palavras para descrever a
magnificência e sei que é tarde. Eu não deveria ter acordado
você, mas eu só tinha de compartilhá-lo com alguém. E você
sabe quem eu sou, o que eu tenho dentro de mim. Fora
Josette, Valentine e Lavinia, você é o único. E eu sei que
posso confiar em você com tudo isso.

—Sim, você pode, — ele respondeu com um sorriso, mas


havia uma firmeza no seu tom que eu gostei muito. Ele
aproximou-se com uma mão em minha cintura dando-me um
aperto. —E muito feliz que você me acordou para
compartilhar, querida, e totalmente animado em ouvir que
você entrou nesta experiência.

Eu acenei para ele com entusiasmo, não sei o que


"animado" significava, mas eu sabia o que "entrou"
significava, portanto, afirmei: "Entrei, NOC. Eu realmente
entrei, Noc.

Ele olhou para mim com uma expressão indulgente.

Nós ficamos de pé, próximos, olhando um para o outro e


nos tocando levemente por algum tempo, antes de perceber
que nenhum de nós estava falando.

De repente me senti desconfortável, eu lancei um olhar


sobre sua cama desgrenhada, tirei minha mão de seu braço e
dei um passo para trás, forçando a mão de Noc a cair da
minha cintura.

Com o olhar voltado para o tapete ao meu lado, eu disse:


—Acordei você, agora deveria deixá-lo dormir.

—Nós poderíamos invadir as cozinhas, — ele


curiosamente sugeriu.

Olhei de volta para ele. —Perdão?


—Baby, você não parece menos energizada do que
estava quando entrou aqui. Isso significa invadir a cozinha,
ou atrelar um trenó e rodar através de Fyngaard, ou
encontrar uma garrafa de uísque e se embebedar.

Eu estava definitivamente com fome.

E eu sempre adorei uma saudável bebedeira.

—Escolho o primeiro e o último, — compartilhei.

Para isso, o sorriso de Noc ficou claro e largo, e logo


depois ele foi até seu closet. Voltou vestindo uma de suas
atrativas camisas de mangas compridas que não tinham
botões (e eu tinha descoberto que todas elas eram de um
material elástico estranho).

Ele me entregou uma bola de lã, que eu percebi que era


um par de meias dele assim como a que ele abriu a sua
própria e se sentou no sofá junto à lareira.

—Coloque essas para manter seus pés quentes, —


ordenou.

Ele estava preocupado com o meu conforto, fez alguma


coisa sobre isso, e esse algo era tão íntimo como eu vestindo
sua roupa.

Havia um encanto nisto que eu não deveria permitir-me


a oportunidade de sentir.

Eu não demorei nem um segundo em sentar-me ao lado


de Noc para puxar suas meias em meus pés.
Quando pus a imensa lã quente, ele se levantou e eu
também, quando pegou minha mão e me puxou nessa
direção.

—Vamos, Lábios-açucarados.

Revirei os olhos para o seu afeto penoso.

Mas não disse nada.

Minha mão na de Noc, fomos invadir a cozinha e nos


―abater‖ no uísque.

Foi isso que fizemos.

E apreciei cada segundo.

Melhor, com prazer, porque ele não escondeu de mim


nem por um segundo, Noc também o fez.
Dr. Zhivago

Franka
Chegou a hora.

Havia esperado semanas para dar continuidade ─ como


Noc diria, para finalizar o livro da minha antiga vida e
começar o primeiro capítulo da minha nova vida ─ já era
finalmente a hora.

Mas agora que o momento chegou, eu não queria que


tivesse chegado.

Quer dizer eu sabia, porque eu estava de pé na janela do


meu quarto olhando para os meus trenós e de Kristian serem
carregados. À frente deles, mais trenós estavam sendo
preparados para levar Finnie e Frey, Cora e Tor, Circe e
Lahn... e Noc para Sudvic para começar a sua aventura.

Iríamos estar separados por meses.

Eu não queria isso.


Qualquer coisa poderia acontecer durante esses
meses. Meses era um tempo muito longo.

Ele poderia encontrar alguma jovem bonita em


Hawkvale, se apaixonar, decidir ficar neste mundo. Ou ele
poderia desejar que ela vivesse no seu e levá-la de volta com
ele.

Ou ele poderia pensar em mim e se perguntar por que


foi tão gentil e amigável, oferecendo seu apoio e carinho,
sendo provocante e doce, e usar esse tempo para se
distanciar de modo que quando nos víssemos de novo, eu não
fosse mais nada para ele.

Alguém bateu na porta e eu estava tão profundamente


em meus pensamentos, que pulei e me virei para ela, abrindo
a boca para responder.

Minha boca fechou e apertou, por força do hábito,


principalmente, porque eu não precisava ter me incomodado
com o esforço de separar meus lábios.

A porta já estava se fechando atrás de Noc.

Observei-o caminhar para mim, sorrindo. —Toda a


agitação está lá embaixo, Lábios-açucarados.

—Eu vi trenós serem preparados antes, muitas vezes,


desde a época em que aprendi a fazer contas, — eu o
lembrei. —Não é muito fascinante.

Noc parou na minha frente e olhou para fora da minha


janela. —Se não é interessante, — disse ele para a janela
antes de voltar sua atenção para mim, ainda sorrindo, —por
que você está assistindo daqui de cima?

Olhei para o seu rosto, seus olhos extraordinários, me


lembrando de repente de todos os momentos, desde aquele
primeiro instante que ele entrou na sala de estar para me
fazer sentir melhor depois que Minerva e seus companheiros
foram derrotados, todos os nossos momentos sendo
derramados, um a um, me fazendo sentir quente...

E desprovida.

—Sinto que vou sentir sua falta, — sussurrei e vi seu


sorriso morrer.

—Frannie, — sussurrou de volta, chegando perto,


colocando a mão na minha cintura e deslizando-a para a
parte baixa das minhas costas.

—Você foi muito gentil comigo. Você... você... —


Balancei a cabeça e dei-lhe a verdade honesta, — Você
mudou minha vida, Noc. — Respirei rápido e continuei ainda
mais rapidamente. — E não importa o que venha a acontecer
conosco, eu não posso tolerar você partir sem lhe dizer o
quanto isso significa e quão grata eu sou.

Ele levantou a outra mão, aninhando os dedos na lateral


do meu pescoço enquanto aproximava seu belo rosto do meu.

—O que vai acontecer conosco é que vou fazer minhas


coisas e você vai ter um tempo com a sua família. Depois
disso, vamos nos encontrar em NOLA. Então, a primeira coisa
que vou fazer depois de levá-la para comer pizza é deixá-la
bêbada com hurricanes19.

Fiquei confusa com sua última palavra, mas não achava


mais isso irritante. Semanas com Noc me irritando, eu já
havia me acostumado a isso. Para não dizer, ele tinha muita
paciência e eu apreciava sua diversão frequente quando pedia
explicações.

—Há furacões em Fleuridia, — compartilhei. —Eles são


tão ruins, que os marinheiros podem senti-los e os cães que
foram treinados para fazer o mesmo são bastante valorizados,
pois a maioria das pessoas embala suas carruagens e vão
para longe da costa para evitar a morte e destruição que
muitas vezes eles causam.

Seus olhos brilharam. —É um fenômeno meteorológico,


querida. Mas no meu mundo é também uma bebida que vai
acabar com você.

—Eu estou assumindo que o seu uso de ―vai acabar com


você‖, neste caso, é uma coisa boa, — imaginei.

—Claro que sim, — ele confirmou, novamente curvando


seus lábios.

Levantei a mão e coloquei-a em seu peito. —Então vou


aguardar ansiosa, Noc.

Eu quase não terminei de falar quando sua mão foi do


meu pescoço para a minha em seu peito, onde ele a dobrou

19
Hurricane - ou ‘furacão’ é uma bebida alcoólica feita com rum, suco de fruta e xarope ou
groselha. É uma das muitas bebidas populares servidas em Nova Orleans.
firmemente em seu abraço e segurou lá contra a lã macia de
seu suéter grosso.

—Eu quero que você me escreva, — ele pediu, e ao


pedir, eu apenas olhei.

—Mas, você estará muito longe. Qualquer mensagem


irá...

—Não me importo se a notícia for de três meses atrás,


quando a receber, — ele me interrompeu. —Quero que você
me escreva e vou escrever para você também.

Oh.

Iríamos nos corresponder.

Que delícia!

Apertei sua mão contra o peito. —Você tem minha


promessa, vou compartilhar todas as coisas ridiculamente
chatas que estarão acontecendo comigo, enquanto eu
aguardo o nascimento do filho do meu irmão, e você pode
compartilhar comigo tudo que você vir, ouvir, provar e
experimentar enquanto viaja por toda extensão de um
continente em um universo paralelo.

Desta vez, seus olhos brilharam com humor.

—Eu tenho a sensação de que você vai encontrar


maneiras de animar a merda toda, — ele disse.

Ele estava certo.

Estarei aprendendo a usar minha magia, por exemplo,


algo que ele sabia pois eu lhe disse.
Mas a verdade era que eu era eu. Eu não era, mas eu
era.

E não estava prestes a me tornar chata.

—Veremos, — respondi.

Ele ficou ainda mais perto ao ponto de nossas barrigas


encostarem através de nossas roupas.

Prendi a respiração.

Ele segurou minha mão com mais força em seu peito.

—Você vai embora primeiro e sairá em breve, baby, —


ele disse baixo, de repente, parecendo um tanto incrivelmente
feroz. —Vou acompanhá-la até lá e vou te dar um abraço na
frente de todos e vou agir como eu me sinto, que é a parte
onde isto vai ser foda porque vou sentir sua falta também.

Ele ia sentir minha falta.

Por que isso me fez sentir muito melhor?

—Eu nunca fui... abraçada, em público, isto é..., —


compartilhei.

Mais uma vez, seus olhos brilharam com humor. —Fico


feliz de quebrar o lacre.

Senti minhas sobrancelhas ergueram. —Quebrar o


lacre?

Foi então que senti meu rosto congelar enquanto Noc


estudava minha testa, apenas brevemente, antes de deixar
cair sua testa na minha, e em vez de responder a minha
pergunta, ele murmurou, —Sim, vou sentir sua falta também.
—Noc, — sussurrei.

—Você seja boa, — ele ordenou.

Ser boa seria chato.

Mas isso era eu agora. Evitava os meus maus caminhos.

Eu não tinha escolha, mas apenas ─ser boa.

Argh.

Mas gostaria de encontrar maneiras de ser boa sem ser


chata (eu esperava).

—Eu vou, — prometi.

—Me escreva, — ele continuou.

—Já prometi isso, — o lembrei.

Ele se comportou como se eu nem sequer tivesse falado.

—E quando a névoa verde limpar, baby, vamos ter a


porra de uma explosão.

Eu queria isso. Estava muito ansiosa para ir ao seu


mundo, especialmente nos últimos dias depois de ter
compartilhado que tomei a decisão que iria e ele explicou
muito mais sobre o seu mundo e o que estaria aguardando
por mim e Josette lá.

Queria isso ainda mais agora, porque significaria que a


minha aventura e de Josette finalmente começaria e a minha
separação e de Noc terminaria.

—Sim? — Pediu quando eu não falei nada.

—Sim, Noc, — respondi obedientemente.


Ele pressionou sua testa na minha, antes de se afastar,
olhou para fora da janela e murmurou: —Está na hora.

Inspirei forte, sentindo a dor aguda que aquelas


palavras causaram, mas tentei escondê-la quando lancei meu
olhar na mesma direção para ver que ele dizia a verdade.

E, infelizmente, Josette estava fora, coberta e pronta


para ir, e olhava para o palácio na direção do meu quarto.

Se eu não me movesse, ela seria forçada a correr para


cima para me buscar. Um desperdício de tempo e energia.

Assim coloquei uma mão na janela, me afastei um


pouco de Noc, acenei para ela com a outra mão e apontei
para baixo indicando, de uma forma que eu esperava que ela
entendesse, que eu estaria logo lá embaixo.

Ela acenou de volta, pulou duas vezes em suas botas e,


em seguida, virou-se, causando uma lufada externa de seu
belo manto novo, lã vermelha que era forrado com pele de
coelho ouro-sol.

Suas roupas novas eram uma perfeição não só porque


lhe convinha, mas porque ela não escondia o fato de que
estava gostando de tê-las.

Embora, de acordo com Noc, ela não seria capaz de usá-


las em nosso novo mundo quando chegássemos lá.

Isso não importava. Eu era escandalosamente rica. Eu


ia comprar-lhe um outro guarda-roupa apenas em poucos
meses e teria prazer em fazer isso.
Foi um choque, mas não podia ser negado, atos de
generosidade faziam sentir-me muito, muito bem.

Neste pensamento, Noc me chamou para longe da


janela, minha mão na sua ainda envolvida contra seu peito,
mas meu braço estava agora dobrado para o lado dele
enquanto ele me levava para fora da sala.

Aparentemente, o que precisava ser dito foi dito. Nós


dois estávamos tranquilos enquanto caminhávamos pelo
corredor em direção à escada.

Encontrei meus pés retardando, Noc fazendo o mesmo, e


o silêncio tornou-se desconfortável, enquanto fazíamos o
nosso caminho descendo as escadas.

E quando caminhamos através da grande entrada, tive


que me esforçar para colocar um pé na frente do outro, em
vez de arrastá-los ou parar completamente, e o silêncio
tornou-se pesado com melancolia.

—Deuses, eu fiquei piegas, — declarei, olhando para a


porta e mal sentindo um lacaio vindo para frente com a
minha capa e chapéu.

—Sim, despedidas são foda, — Noc concordou.

Ele me soltou para que eu pudesse aceitar o meu manto


sobre os meus ombros e me premiou com um grande sorriso
quando puxei o meu chapéu sobre minha testa.

—Dr. Zhivago, — ele sussurrou.

—Perdão? — Perguntei, arrancando minhas luvas.


—Sério, parece impossível, mas você é muito mais linda
ainda do que Julie Christie, — ele continuou sussurrando. —
E você pode não saber, querida, mas isso não é pouca coisa.

Com suas palavras eu fiquei dura. Eu não tinha ideia a


quem ele estava se referindo, mas seu tom de voz e o olhar no
seu rosto fez a profundidade do seu elogio brilhantemente
clara.

Isto significava que fiz algo que nunca fiz na minha vida.

Em um esforço para não ser sobrecarregada com a


emoção que estava sentindo, bati em seu braço como uma
criança mimada ou uma debutante paquerando e acusei: —
Você está tornando isso mais difícil.

—Minhas desculpas, — disse ele através de um sorriso,


me segurando novamente e dirigindo-nos para as portas da
frente que os lacaios estavam abrindo para nós, dizendo: —
Vamos colocar seu rabo nesse trenó.

Noc nos guiou para fora no glorioso frio só para eu me


encontrar na parte inferior dos degraus do palácio com novas
experiências agradavelmente desagradáveis.

Sendo estes dando adieu à rainha Aurora, Dax Lahn,


Circe, Finnie, Frey, Tor e Cora, todas as pessoas que eu não
iria ver novamente, não em breve, e talvez (especialmente no
caso de Circe e Lahn), nunca mais.

Isto significava, por algum motivo insondável, receber (e


dar) muitos abraços públicos, e o que eu tive com Circe foi o
mais longo.
E era bom, assim como ruim, ambos devido ao fato de
que não foi só eu que parecia não querer deixar ir.

—Diga oi para a outra Circe por mim, — disse ela no


meu ouvido.

—Direi, — prometi.

—E não seja dura consigo mesma como você é tão boa


em ser, — ela instruiu. —O tempo da merda acabou. Agora é
a sua hora de deixar ir e se divertir.

—Claro, — respondi, querendo fazer o que ela instruiu,


mas sabendo por experiência que não seria fácil como as
mulheres vinham me dizendo isso há algum tempo. —Quanto
a você, desejo-lhe uma gravidez agradável, um parto fácil e
muita alegria quando esse pequeno chegar.

Ela se afastou, mas não me deixou ir para me informar:


—O nascimento não poderia ser pior do que o último. Então,
novamente, eu não deveria dizer coisas assim ou eu poderia
trazer mau agouro a mim mesma.

Mau agouro?

Eu não perguntei.

Eu apenas lhe dei um pequeno sorriso.

Ela me deu um grande, um brilhante e, finalmente,


deixou-me ir.

Agora eu poderia dizer que sentir carinho pelos outros, e


ter isso recíproco, era realmente uma agradável sensação, a
ponto de admitir que apreciei muito, eles, todos eles (mesmo
Lahn, que era assustador, mas ele pode ser bastante
divertido e gentil, ambos definitivamente cativante).

Agora eu também poderia dizer que tinha


inconvenientes graves pois eu nunca tinha, nem uma vez,
protelado em deixar um lugar, mas certamente não é porque
eu estava triste por deixar as pessoas de lá para trás.

Noc me deu o meu primeiro abraço e ele também veio


para me dar o último antes de segurar minha mão e
(desnecessariamente, mas não me afastei... oh não, eu não
fiz) me firmou quando fiz meu caminho para o meu trenó ao
lado de Josette que já estava sentada, abrigada sob as peles.

—Até logo, — ele me disse suavemente uma vez que eu


também estava sob as peles.

Olhei em seus olhos azuis.

Não seria logo.

Seria um tempo realmente longo.

—Sim, até logo, — concordei.

Ele se inclinou. Prendi a respiração. Ele beijou meu


nariz. Eu deixei minha respiração ir.

Afastou-se e o fez de forma decisiva, fechando a porta


para o trenó atrás de nós.

—Pronto? — Kristian chamou.

Eu rasguei meu olhar de Noc se afastando para acenar


para o meu irmão.
Ele balançou a cabeça para trás, virou-se para frente,
estalou as rédeas e gritou: —Heeyah!

Eu me inclinei para frente e agarrei nossas rédeas do


gancho na frente de nós e segui o exemplo.

Eu não queria fazer qualquer coisa fútil como acenar ou


olhar demoradamente para trás porque eu sabia muito bem o
que ambos iriam comunicar.

Então, eu não acenei e não olhei para trás de mim, com


meu olhar demorando em Noc.

Em vez disso, olhei para trás e acenei uma vez com um


movimento da minha mão levantada para indicar o meu
último adeus a todos eles.

Mas fiz isso com meus olhos fixos em Noc.

Ele ergueu a mão de volta.

Senti minha garganta ficar espessa.

Foi então que me virei e olhei com firmeza na parte de


trás do trenó do meu irmão, pensando que deveria ter pedido
para Timofei vir em nosso trenó conosco, não só porque eu
gostava da companhia de meu sobrinho, mas também porque
ele seria uma distração agradável.

—Você está muito atraída por ele, — Josette disse


quando deixamos o Palácio de Inverno para trás.

—Mm ... — murmurei.

—Bom, todo mundo sabe que você está atraída por ele,
mas a verdade é que você está muito atraída por ele, — ela
continuou.
—Mm ...— Repeti.

—Bem, ninguém sabia se realmente iríamos nos afastar,


você ter que dizer adeus a ele e ele a você, — ela declarou. —
Todo mundo suspeita que um evento como esse levaria horas,
até mesmo dias ou mais.

Olhei para ela. —Falaram disso?

—Acho que foi a princesa Cora que disse algo como


haver uma boa chance de Mestre Noc arrastá-la pelos cabelos
até seu quarto e se isso ocorresse, não veríamos qualquer um
de vocês por semanas.

Infelizmente, isso não aconteceu.

E verdade seja dita, eu duvidava que alguma vez


aconteceria.

Lutei contra isso, mas não podia negar, eu estava


atraída por ele.

Seus sentimentos em troca eram genuínos e quentes.

Mas nem uma vez ele me deu indicação de que eram


algo mais.

Voltei minha atenção para onde estávamos indo. Este,


decidi naquele momento, seria o meu foco. Olhar apenas para
onde estava indo. Um minuto para o outro. Uma hora para a
outra. Um dia para o outro.

E esperava que antes que percebêssemos, a nossa


verdadeira aventura começaria.

E essa aventura incluiria voltar com Noc.


Pois mesmo que eu tivesse ele apenas como meu
primeiro amigo de verdade (fora, estritamente, Josette, é
claro), eu aceitaria meus sentimentos.

Eu aceitaria qualquer coisa para ter Noc.

Josette estendeu a mão e tocou meu pulso


brevemente. —Nós vamos estar com ele novamente em breve.

—Sim, nós vamos, — concordei e estalei as rédeas, pois


Kristian tinha feito o mesmo e estava indo mais rápido.

Embora concordasse, eu sabia que não seria em breve.

***

Dez dias mais tarde

—É a sua bola de cristal.

Olhei com certo desagrado para a esfera de cristal


grande, brilhando apoiada em seu leito de veludo safira que
Valentine tinha acabado de apresentar a mim.

A bola de cristal.

Que clichê.

Era isto mesmo o que realmente a magia era?

Decepcionante.

—Haverá muitos implementos que você vai adquirir para


ajudá-la a brandir a mágica que você tem dentro de si. Você
vai encontrar o seu caminho com todos eles. Você vai
encontrar o seu favorito. Este, ─ Valentine indicou o cristal,
— é o meu.

Eu olhei de volta para o globo.

Bem, esta foi a minha viagem. Isto era quem eu era. E


não se poderia dizer que eu não estava totalmente encantada
de experimentar as mínimas experiências mágicas que eu tive
e do tempo que passei com minhas irmã-bruxas.

Em outras palavras, eu precisava manter a mente


aberta.

Portanto, levantei a minha mão apenas para tocar o


vidro frio.

Quando fiz, um frisson de prazer começou na parte


baixa das costas e correu por toda minha espinha, por cima
do ombro, pelo meu braço e através de meus dedos, e dentro
da bola de cristal vi um punhado de belíssimos tons de azul
se elevando da fumaça no seu interior.

Tudo em mim ficou quente, dentro e fora.

Nunca, além da cor dos olhos de Noctorno Hawthorne-


do-outro-mundo, tinha visto algo tão requintado.

—De fato, — Valentine murmurou. —Você é natural.

Eu olhei para a ondulação de fumaça e de repente tive o


desejo incrível de envolver meus braços em torno desse globo
brilhante e mantê-lo perto, aquecê-lo com o meu corpo,
memorizar a sensação dele contra o meu peito.

Eu não podia negar.


Mesmo tão clichê como era.

Eu tinha caído de amores.

***

Duas semanas depois

—Minha nossa. Isso é muito interessante.

Eu falei estas palavras e continuei a olhar em minha


bola de cristal enquanto fazia, encantada que aprendi esta
habilidade muito útil de Valentine.

Lá estava eu, observando o Dax Lahn do outro


mundo. Ele estava vestindo roupas que eram incomuns, mas
não sem atrativos. Seu cabelo era curto, cortado num
comprimento que enrolava em volta da gola. E ele não tinha
barba. Mas não havia dúvida que era como seu irmão gêmeo
pelo olhar ameaçador no rosto.

—Ele está com raiva? — Perguntei.

Levou alguns momentos para perceber que eu não


recebi uma resposta.

Olhei para Valentine, que estava sentada comigo, mas


seus olhos estavam distantes e visando a perna esculpida
segurando a mesa.
—Valentine, — chamei, e sua atenção veio a mim, em
seguida, para o meu cristal.

Ela olhou de volta para mim. —Parece que você já


domina isso.

Eu tinha. Não foi difícil.

Foi, estranhamente, uma segunda natureza.

Como instruído por Valentine, tudo o que eu tinha a


fazer era o que sempre fazia nas pequenas experimentações
feitas.

Tocar no fluxo que estava continuamente vibrando


através de mim, permitir a aceleração, e ao olhar na bola de
cristal, simplesmente enviar para o éter o que eu queria
ver. Então, com um redemoinho de fumaça safira, aquilo
aparecia.

—Eu domino, — respondi, querendo espantar Lahn do


outro mundo da minha visão e evocar visões de Noc, que sem
dúvida já teria zarpado no galeão de Frey e estaria quase em
Hawkvale, se já não estivesse lá.

Mas isso eu não faria. Seria intromissão. Não gostaria de


alguém me observando sem o meu conhecimento. Assim, não
faria isso com Noc, tanto quanto quisesse ver seu rosto,
participar de sua aventura, mesmo que fizesse isso olhando
em uma bola de cristal.

Valentine não deu resposta e, novamente, parecia


distraída, algo que estava fora da personalidade dela.
A partir do momento em que chegou a Älvkyla, há duas
semanas, ela me atendeu seis vezes.

Nessas vezes, aprendi o que era um plano


astral. Aprendi a me colocar em transe para viajar ao longo
dele, a fim de me comunicar com ela, bem como Lavinia. A
bola de cristal foi dada a mim e fui ensinada a usá-
la. Aprendi a focar meus pensamentos (entoando na minha
cabeça, isto Valentine compartilhou serem feitiços) e meu
poder, a fim de mover pequenos objetos, a princípio
levantando-os de onde estavam, e avançando para movê-los
ao redor da sala para mim.

Não foi lento. Eu senti o instinto nascendo, se não


criado, em mim, e Valentine sentiu isso também.

Ela só estava me ensinando como manipulá-lo. A não


deixá-lo me controlar. Também a não teme-lo.

Esta última parte foi importante, pois a cada lição que


passava, sentia o poder crescendo em mim e seria fácil ficar
fora de controle.

No entanto, eu estava segura com Valentine. E estava


segura com o meu poder. Eu simplesmente precisava me
acostumar com ele, alimentá-lo...

E dominá-lo.

Em nossas outras sessões, ela sempre esteve totalmente


engajada.

Agora ela não estava.

—Há algo em sua mente? — Perguntei.


Seus olhos se voltaram para mim. —Talvez a nossa
sessão será curta hoje, —ela respondeu, não respondendo à
minha pergunta, eu notei.

O que eu achei chato.

E estranhamente insultuoso.

—Você é minha irmã? — Perguntei de forma abrupta.

—Claro, — ela respondeu imediatamente.

Balancei a cabeça. —Sinto que temos algo como uma


alma gêmea. Sou independente e tive de ser devido a
circunstâncias da vida. Você é a mesma coisa, por razões que
não têm compartilhado e não precisa se não quiser. O
que eu desejo é ter a certeza que você saiba, se alguma vez
precisar discutir qualquer coisa, eu não estou aqui apenas
para ser treinada. Estou aqui para oferecer qualquer coisa
que você precisar de mim, e você terá isso se eu puder lhe
dar.

Sua distração clareou, ela me estudou de perto e chegou


a uma decisão.

—Você sabe que eu desejo unir a Circe do meu mundo


para estar com o Dax deste mundo, — afirmou.

—Sei, — confirmei.

—E você sabe que ambas as Circes são bruxas,


realmente poderosas, — ela prosseguiu.

—Eu sei disto também.

—Assim, Circe sentiu minhas intenções e as bloqueou.


—Ah, — murmurei, vendo seu problema e esperando
que eu, também, pudesse sentir alguém se intrometendo na
minha vida,

—Eu fiz alguns esforços grandes, ela ainda está me


bloqueando, — Valentine compartilhou.

Eu não entendi muito bem.

—Você não pode achar isto surpreendente, — observei.

—Não é. Mas é frustrante, porque isso significará, sem


dúvida, duas coisas. Um, qualquer interferência que eu, e é
minha esperança de que haverá um nós, deseje realizar terá
que ocorrer não por meio de magia, como eu esperava, mas
quando voltar para o meu mundo, haverá um atraso que não
gosto.

—E? — Solicitei quando ela não disse mais nada.

—E esse tipo de interferência deverá acontecer


tradicionalmente.

Arqueei a sobrancelha. —Tradicionalmente?

—Por meio de ..., — o lábio enrolou, —arranjos


casamenteiros não-mágicos.

Eu não tentei engolir a risada divertida que veio através


dos meus lábios.

Valentine não achou isso engraçado.

Ela declarou: —É comum.

—Minha querida irmã, — sussurrei, sentindo meus


lábios permanecerem curvados enquanto olhava em seus
olhos. —Não é comum. Não da maneira que eu faço. Juntei
muitos casais, no passado e os separei em seguida apenas a
fim de me divertir. Mas isso..., — continuei sorrindo. —Uma
conspiração. É algo que posso aguardar ansiosamente. E
vou. Realmente vou. E posso prometer-lhe, você vai também.

E isso não me fez apenas feliz.

Pode-se dizer isso me deixou totalmente em êxtase.

Eu poderia continuar com a minha trama e esquemas.

Mas ao fazê-lo, eu poderia fazê-lo por razões


completamente diferentes, que eu sabia assistindo ao outro
mundo de Lahn em meu cristal, seria muito mais gratificante.

Não pensei no encontro de Noc com Circe. Eu não


mencionei isso. Ele também não. Ninguém tinha, e descobri
que eu poderia lidar com isso dessa forma.

O que eu não podia fazer era pensar sobre o que poderia


acontecer quando estivéssemos todos juntos novamente na
mesma cidade em outro mundo.

Então não pensei nisso.

—Veremos quando chegarmos ao nosso mundo, que o


professor vai se tornar o aluno, — comentou Valentine.

—Você vai adorar minhas aulas, — declarei com


orgulho. —Não tanto quanto eu com as suas, mas você irá
apreciá-las. Isso eu prometo.

Finalmente, a preocupação de Valentine se foi, ela


sorriu.
—Agora, vamos estudar esse homem, — sugeri, usando
minha mão para indicar meu cristal. —Vamos precisar saber
tanto sobre ele quanto pudermos para estarmos preparadas
no momento em que chegarmos ao outro mundo.

—Este estudo não vai ser difícil.

—Ele não tem magia para bloquear a nossa observação?


— Perguntei.

—Não, ele é altamente fácil de assistir, — Valentine


respondeu.

Com isso, eu sorri antes de nos virarmos para minha


esfera.

E nós assistimos.

***

Noc

Um mês depois

De pé sobre uma varanda do palácio de Tor em


Bellebryn, o sol aquecendo através de suas roupas, a brisa
das águas cor de esmeralda do mar verde fazendo de um
lugar que era a pura perfeição de um maldito conto de fadas
da vida real ainda mais perfeito, ele inclinou a cabeça para a
folha grossa de papel cara na mão.
Era uma carta que acabara de ser entregue a ele por Tor
(Noc teve o cuidado de andar pelo palácio e pela cidade,
levando em conta sua semelhança com o governante, tirando
a cicatriz, e então eles providenciaram para que Cora
estivesse com ele, caso fosse explorar ─ o que significava
esconder a cicatriz que ele tinha usando um chapéu grande
que era completamente ridículo, mas pelo menos ele não
tinha ridículas penas como a maioria dos chapéus dos que os
outros homens tinham nesse país).

Tor também tinha lhe dito que, para que essa carta
viesse através de entrega real ─ algo que significava que as
expedições chegavam muito mais rápido do que o correio
normal, e Aurora gentilmente havia permitido que Franka se
aproveitasse disso ─ ela tinha que tê-la escrito semanas antes
dele sair.

Isto significava que Noc leu a carta com um sorriso no


rosto, um sorriso que não estava lá apenas por ter acabado
de receber a primeira carta de sua garota.

Meu querido Noc,

Droga bom começo.

Há muito a dizer, mas não muito que eu possa escrever,


tenho certeza que você entende o que quero falar.

Ela não estava errada sobre isso.

Mas percebeu pelo seu tom que seus treinos como bruxa
estavam indo bem.
Como você sabe, Valentine tem me feito companhia uma
grande parte do tempo. Eu gosto de sua presença e de nossas
conversas.

Sim. Seus treinos estavam indo bem.

O sorriso de Noc aumentou.

Brikitta começou a mostrar a barriga e, por isso, ela


ordenou que suas roupas de quando ela estava grávida de
Timofei fosse, retiradas do fundo dos baús.

Você pode imaginar que eu disse a ela que isto era


absurdo e exigi que ela fosse a Älvkyla comigo para
encomendar um novo guarda-roupa.

Ela explicou que isso era um desperdício de dinheiro pois


ela precisaria de mais peças de roupa para quando ela ficasse
ainda maior.

Expliquei que era ridiculamente rica (como, agora, ela era,


graças a mim, mas eu não tenho uma família para cuidar) e
minha irmã não ia vestir roupas de mais de dois anos,
enquanto ela carregasse o meu futuro sobrinho ou sobrinha.
(Espero que seja uma sobrinha e Brikitta secretamente
concordou comigo, Kristian vai ficar feliz com o que vier, mas
como homem, ele é muito ruim em esconder que deseja um
outro filho).

Claro, Brikitta, que já notei ser extremamente teimosa,


negou meu pedido então quando fui à cidade, eu mesma
encomendei suas roupas, e ela reclamou com Kristian.
Kristian veio conversar comigo sobre as preocupações de
sua esposa. Ele não estava realmente interessado nelas,
portanto, não desperdiçou muito tempo tentando me convencer
a mudar minha mente.

Então, as novas roupas de Brikitta começaram a chegar


ontem.

Ela realmente ficou bonita nelas.

Kristian concorda.

Brikitta também, mas ela não admitiu isso em voz alta.

Até mesmo Timofei encontrou sua maneira de demonstrar


que ele também havia gostado delas.

Ele está, naturalmente, tornando-se mais e mais


brilhante com o passar dos dias. Não sou vidente, mas estou
bastante segura de que ele vai ser o Chefe da Casa Drakkar
quando for a sua vez. Vencer um dos herdeiros de Frey para
se tornar um Chefe será uma verdadeira realização, mas me
escute, isso certamente irá acontecer.

Não há muito mais a dizer, a não ser que tanto Josette


quanto eu achamos que é muito divertido que Kristian e os
servos de Brikitta começaram a chamá-la de ―Senhora Josette‖
devido ao fato de que eu a trato com tanta familiaridade e,
muitas vezes compartilho cafés da manhã e até mesmo
almoços juntas.

Eu não os desencorajei de continuarem a fazer isso. Ela é


muito melhor que qualquer um que já conheci em sua
profissão, então essa demonstração de respeito é justa para
ela.

Com isso, Noc começou a rir.

Apenas Franka poderia fazer o tratamento de igualdade


a um servo parecer como se fosse de superioridade.

Como eu disse, não há nada mais para compartilhar.

Embora eu esteja ansiosa por receber notícias suas.

E espero sinceramente que você esteja apreciando suas


aventuras.

Agora, vou dar o adeus até a minha próxima, sem dúvida


excitante carta, onde vou entretê-lo com a notícia dos próximos
itens de vestuário com que vou empurrar para Brikitta e,
talvez, como eu gostei ou não gostei da sopa que eu tiver
tomado na hora do almoço.

Até lá... e até nos encontrarmos novamente,

Sempre sua,

Franka

Como ele enviou uma carta na cidade portuária de


Lunwyn (a região que costumava ser Middleland), onde usou
a expedição de Finnie para fazê-lo, Franka deveria receber
sua carta a qualquer momento, se já não tivesse recebido.

Isso não o impediu de ir para o cômodo atrás dele, seu


quarto neste imenso palácio que os animadores da Disney
iriam pirar se vissem, e ir direto para a mesa.
Ele sentou.

E retirou papel.

E compartilhou histórias que poderiam ser mais


aventureiras do que as dela, mas ela não pensaria assim uma
vez que já viu e fez tudo isso antes.

Isso não o impediu também.

Na verdade, ele escreveu três páginas de histórias.

Então, selou e entregou à Cora para que ela pudesse


enviá-la.

Ela então providenciou antes de lhe dar um chapéu e


levá-lo para o cavalo de Tor, Salem, um animal
escandalosamente bonito (e um que podia falar com ele,
direto em sua cabeça, se pudesse acreditar nessa merda).

Antes de chegar a este mundo, Noc andou a cavalo duas


vezes em sua vida.

Ele esteve em um cavalo uma tonelada de vezes desde


que deixaram o The Finnie ─ o galeão foda de Frey que
parecia diretamente saído de um filme pirata ─ no porto de
Bellebryn.

E lá foi ele com Cora, tendo que fingir ser Tor até que
eles deixassem a cidade e galopassem através de um campo
onde o ar brilhava.

A porra do ar brilhava.

Era fantástico.
Ele sentia falta de Franka. Sentia falta de apenas olhar
para ela, mas ainda mais de quão engraçada ela era, quão
bonita poderia ser e como confiava nele do jeito que fazia, a
maneira como ela demonstrava que confiava, a maneira como
ele sabia que ela não deu isso a ninguém (apenas talvez a
Josette, e talvez ao falecido Antoine, mas Noc não iria para lá)
o fazia sentir.

Mas ele com certeza estava feliz que ela tomou a decisão
que tomou.

Porque ele não saberia o que estava faltando.

Mas estava muito feliz de não ter perdido isso.

E ele tinha isso.

Mas no final, ele iria tê-la também.

***

Franka

Dois meses e meio depois

Hey, Lábios-açucarados,

Eu não deveria sorrir. Eu realmente não deveria. Ele era


incorrigível. Mesmo escrevendo.

Eu, no entanto, sorri.


Eu estou supondo que você sabe que Finnie e Frey
voltaram a Lunwyn, uma vez que deveriam ter chegado há um
tempo atrás e levaram a minha última carta com eles.

Ele estava certo nisso. Eles tinham.

Finnie queria continuar comigo, mas Frey queria levá-la


para casa. Ela está se sentindo bem com sua gravidez e ele a
quer perto de um médico que ele confie. Isso não foi muito bem
com Finnie. Ela pensa como nós em nosso mundo, obviamente,
e a maioria das mulheres lá trabalham até praticamente
entrarem em trabalho de parto...

Que estranho!

E perigoso!

...E eles tiveram uma grande discussão sobre isso. Frey


ganhou. Não porque Finnie concorda com ele que a gravidez
avançada torna uma mulher inválida, quando não é
verdade. Mas ele é um cara e caras tendem a expressar
preocupação com a raiva e prepotência. Ela esteve com ele por
tempo suficiente para saber disso, assim eles partiram e
continuei com Aquiles, primo de Apollo (no caso de você não o
conhecer, apesar de, pela forma incestuosa que essas casas
são, você provavelmente conhece), que, com alguns dos outros
caras do Lo, passamos por Hawkvale e agora estamos em
Fleuridia.

Tenho que dizer, não sou muito fã do Sul de Lunwyn. Há


uma tristeza nela que é realmente bonita, à sua maneira, mas
também é deprimente. Eu posso ver porque aquele idiota,
Baldur, não gostou do que conseguiu no negócio de corte-o-
país-em-dois. Não justifica ele ser um idiota, mas posso
entender.

Bellebryn e Hawkvale, eu não tenho que lhe dizer, são


incrivelmente foda. Há um monte de beleza no meu mundo e
você vai ver isso, vou me certificar disso.

Mas não há nada como isso. É tão puro, é como


mágica. Quase não parecia real e o fato de que é faz com que
seja ainda mais bonita.

Isso também me faz pensar como meu mundo era uma


centena de anos atrás, duzentos, mil. Como era? Será que
fodemos isso com todo o nosso lixo?

Se fizemos, você vai ver o quanto isso é péssimo.

O que é pior é que ainda estamos fazendo isso.

Eu não vou entrar em detalhes.

O que vou dizer é, Fleuridia é a minha favorita, fora


Lunwyn.

Minha nossa.

Ele sentia o mesmo que eu!

Tem a magia e a beleza de Bellebryn e Hawkvale, mas


com sofisticação. A comida aqui é inacreditável. O vinho, ainda
melhor.

Ele estava certo!

As pessoas são amigáveis, mas não diretamente com


você (o que poderia ser eu tendo problemas para me locomover
em Bellebryn e Hawkvale, parecendo Tor ─ aqui, alguns me
olham com curiosidade, mas a maioria das pessoas não
prestam qualquer atenção e tenho que admitir, isso é um alívio,
eu não sei como o Tor faz, deve ser uma merda).

Lahn e Circe foram há séculos porque Lahn, como Frey,


quer Circe em sua casa em Korwahn quando estiver perto da
hora. Eles me pediram para encontrá-los lá e pelo que eles
disseram sobre Korwahk, eu gostaria de ir.

Mas vai ser difícil deixar isso aqui. Nós estamos indo
para Benies para encontrar com Apollo e Maddie. Eu acho que
meu tempo está ficando curto, no máximo, eu tenho três meses
restantes e leva uma eternidade para chegar a algum
lugar. Veremos. Eu gostaria de absorver tudo o que posso, mas
se Benies for metade tão impressionante como o resto da
Fleuridia é, eu tenho que passar algum tempo comendo e
bebendo durante meu caminho até lá. Então talvez nós
pudéssemos convencer Valentine a nos enviar para Korwahk
em alguma outra ocasião. Seria bom encontrar com Lahn e
Circe e conhecer a sua recém-nascida depois que ele ou ela
nascer.

Ele estava certo novamente. Isso seria bom.

E eu gostei de como ele disse ―convencer Valentine a nos


enviar‖, porque ele tinha dito ―nós‖.

Embora mesmo tanto quanto eu gostei, eu me


perguntava sobre isso.

O que ―nós‖ significa para Noc?

O que ainda significa para mim?


Essas questões me davam uma estranha sensação, do
meu coração vibrando no meu peito, e ao mesmo tempo um
tremor em minha barriga.

Deixei ambos de lado e voltei a atenção para a carta de


Noc.

Uma outra coisa que tenho que fazer é me certificar de


que Valentine transporte as cinco caixas de vinho que eu
comprei das vinhas em que estamos parando ao longo do
caminho. Você poderia falar com ela sobre isso? E só para
dizer, querida, do jeito que eu e os caras estamos indo, no
momento em que esta carta chegar até você, poderia significar
quinze caixas de vinho.

Isso significaria que eu teria vinho Fleuridian no novo


mundo.

E Noc para compartilhá-lo (pois nem sequer me ocorreu


que ele não iria compartilhar).

Excelente.

Ok, não há muito mais a dizer. Fico feliz em ler que você
está continuando com as coisas e está gostando do que está
fazendo. Ansioso para ter mais detalhes, baby. Parece que o
tempo voou ao mesmo tempo que parece que está se
arrastando. Há muita coisa que eu gostaria de saber sobre o
que está acontecendo com você e não posso esperar para ouvir.

Agora, eu deveria ir. Chegaremos em Benies em dois


dias, mas apenas se eu conseguir tirar a minha bunda da
cama para que eu possa subir amanhã naquele maldito cavalo
e segurar firme. O Achilles não brinca com se levar através do
campo. Pelo menos a minha bunda se acostumou a estar no
cavalo e já não machuca tanto assim (junto com o resto do meu
corpo), no final do dia. Vou sentir muita falta deste mundo
quando eu o deixar, mas tenho a fodida certeza que terei o
prazer de ver um carro.

Eu sorri para a carta e li a última parte de Noc.

Então, eu vou acabar com isso aqui. Ainda sinto sua


falta. Vai ser bom vê-la novamente, Frannie.

Cuide de si mesma, sua família e Josette. Diga olá a


todos eles por mim.

Você, eu e uma fatia de pizza, querida.

Em breve.

Muito amor,

─Noc─

Ele e eu, e uma fatia de pizza.

Em breve.

Muito em breve. Brikitta cresceu bastante (mesmo que


ela o fizesse tão elegantemente, seu guarda-roupa da gravidez
era impressionante, se me permite dizer).

A espera pela minha nova sobrinha (eu esperava) ou


sobrinho (eu não ficaria decepcionada) eu sentia estar
chegando ao fim.

Sim.
Em breve.

Noc.

Eu.

E pizza.

***

Um mês depois

A parteira estava na outra extremidade, enquanto


Brikitta suava e grunhia e gemia e rangia os dentes de forma
audível de uma forma altamente não feminina, tive a dúbia
(naquele momento) honra, a pedido da Brikitta, de assistir ao
nascimento e segurar sua mão durante o parto.

Uma mão que eu temia que ela quebraria, pois mesmo


parecendo que estava muito cansada, sua força não foi
afetada em nada.

E foi nesse momento que eu temi que ela estivesse


extremamente cansada pois a parteira continuou
incentivando-a a empurrar, suas súplicas parecendo mais e
mais urgentes, e minha cunhada estava encharcada de suor,
seu cabelo, suas roupas, as roupas de cama, e seu rosto foi
de vermelho e doloroso para drenado de cor e a dor sumiu de
seus olhos, uma expressão aérea se instalando.

—Ela não pode perder a consciência, — Hilde, irmã de


Brikitta, que chegou há duas semanas para estar presente
neste momento, sibilou.
Olhei através da cama para ela, uma mulher assumindo
a mesma posição que eu, em seus pés, encurvada, segurando
a mão de sua irmã. Sua expressão que foi alegre e
encorajadora nestas últimas horas, agora parecia ansiosa e
no limite do pânico.

Eu, então, olhei para Brikitta e vi que não apenas seus


olhos tinham ficado aéreos, a cabeça estava pendurada em
seus ombros.

—Ela deve empurrar, — a parteira pressionou e a


urgência se foi.

O medo estava imprensado no seu tom.

E esse medo instalou-se através de minhas veias.

—O bebê está prestes a coroar, posso sentir isso, — a


parteira continuou. —Ela precisa de um impulso saudável. Se
eu puder alcançá-lo...

—Ela, — Rebati, não por mim (apenas).

Minha cunhada queria uma menina.

Meu irmão não se importava, mas Brikitta me


confidenciou que ela ansiava por uma menina que ela poderia
vestir e Kristian poderia cuidar e Timofei poderia amar e
proteger.

Eu não tinha ideia se a criança era uma menina. Eu não


era uma vidente (eu tentei, e tinha falhado), como Valentine
não era.

Mas eu tinha esperança.


—Seja o que for, — a parteira retrucou, —faça com que
ela empurre. Se perdê-la agora, poderemos
perder ambas agora.

—Isso não está acontecendo, — eu compartilhei com


altivez, observei-a abrir a boca para falar, mas virei a cabeça,
apertei minha mão com mais força que Brikitta estava
apertando, sentindo seus ossos e carne prensados no meu
aperto, e eu inclinei-me sobre a minha irmã. —Acorda! —
Ordenei.

Seus olhos se agitaram e novamente a cabeça pendeu.

Eu puxei a mão dela duro para que suas costas


deixassem a cama, Hilde gritou, —Franka! —, mas Brikitta
focou em mim.

—Olhe para mim e empurre, — pedi.

—Eu estou tão cansada, Franka, — ela sussurrou.

—Estou certa de que você estava cansada de eu ser uma


cadela incessante por cinco anos, mas você nunca me deixou
abater você, — repliquei.

Ela piscou para mim.

—Empurre, — eu cobrei.

—Eu não... tenho muito... mais...

Puxei-a de novo, ouvi o grito de surpresa de Hilde, mas


a minha manobra teve os resultados desejados. A
desvanecida Brikitta focou de novo.

Coloquei meu rosto em frente ao dela.


—Empurre, irmã. Eu não vou ter você nos deixando
agora. Agora não. Nunca. Hoje, você trará ao meu irmão mais
alegria. Você trará para si mesma. E você trará para mim, e
eu consigo o que eu bem quiser. Então, você está me dando
uma maldita sobrinha. Agora... empurre.

—Você... é muito... mimada—, Brikitta forçou a sair.

—Eu sou uma Drakkar, — retruquei. —Agora, eu ficaria


feliz em ter uma conversa com você, irmã. Mas antes disso, se
você tivesse a delicadeza...

Eu não terminei pois, antes que eu pudesse, ela


esmagou minha mão, mostrou os dentes enquanto os
trincava, o sangue correu para seu rosto e ela se inclinou
para frente, gemendo.

—Eu vejo a cabeça! — Exclamou a parteira.

Graças aos deuses!

Olhei e vi os cabelos escuros de Kristian.

Novamente virei-me para Brikitta. —Ela tem o cabelo de


Kristian. — Eu vi o flash de seus olhos. —Continue, minha
linda menina.

Ela concordou e continuou empurrando.

E eu olhava para trás e para frente quanto mais o bebê


vinha, o encorajamento de Hilde misturado com meu próprio,
e, finalmente, em um grito torturado que eu tinha certeza de
que, se o meu irmão ouviu (e a última vez que verifiquei, ele
estava andando pelo corredor do lado de fora da porta deste
cômodo então ele iria), iria dá-lo um susto de morte, o resto
do bebê saiu.

—É um menino! — A parteira sussurrou animadamente.

Brikitta caiu contra os travesseiros.

Eu puxei uma respiração longa, expirei e me sentei na


cama, ainda segurando a mão dela enquanto Hilde deixava a
outra ir para correr atrás de panos de banho e cobertores,
cacarejando e arrulhando e murmurando: —Que lindo, tão
lindo.

Com isso, Brikitta olhou para o que estava acontecendo


no final da cama, um sorriso exausto nos lábios, um olhar de
profundo contentamento eclipsando a fadiga que sombreava
seus olhos.

Levou tempo, mas eventualmente sentindo meu olhar,


ela olhou para mim.

Quando o fez, senti meus olhos ficarem úmidos.

Funguei e decretei: —Um rapaz. Parece que você vai ter


que fazer isso de novo.

Os olhos dela se arregalaram, em seguida, sua risada


exausta encheu a sala.

Eu sorri antes de me inclinar, beijar a testa dela, deixá-


la ir, levantei-me e saí do quarto, a fim de dizer ao meu irmão
que ele tinha um novo filho.

***
Noc

Querido.

Noc mexeu-se na cama.

Noc, você está aí?

Seus olhos se abriram e ele se sentou. Ele olhou ao


redor da sala que não tinha móveis (exceto a cama) mas
ainda assim, com os espelhos de metal estampados e
trabalhos de tecelagem decorando as paredes e outras
merdas como essa, era impressionante.

A luz da lua brilhava através das janelas abertas e ele


não via nada.

Noc?

Foda-se, essa era a voz de Franka.

—Frannie? — Ele chamou para a sala vazia.

Você está aí.

Ele não sabia de onde sua voz estava vindo, da cabeça


ou desencarnada no quarto.

Ele também não dava a mínima.

Era apenas maravilhoso ouvir sua voz.

—Vejo que você aprendeu alguns encantamentos, —


observou ele.

Sua voz estava cheia de humor quando ela


respondeu: Se não exigisse tanta magia, eu estaria de pé ao
lado da cama.
Ele não se importaria nem um pouco com isso.

Meses se passaram. Seu amante não estava morto


recentemente. Ela já não estava no auge da dor. Não havia
acabado de descobrir quão fodidos os seus pais eram e
Franka não estava tentando encontrar maneiras de lidar com
as grandes mudanças significativas, a cura de feridas
mentais, assim como as físicas que seu pai lhe causou.

Era hora deles terem uma conversa.

Porém, ele esperaria até que a tivesse ao seu alcance e


não o faria quando ela estava em outro lugar e apenas se
comunicando com ele em sua cabeça (ou qualquer coisa que
fosse aquilo).

Eu tenho um novo sobrinho, ela compartilhou.

—Puta merda, baby, isso é incrível—, disse ele enquanto


se acomodava de volta na cama e cruzava as mãos atrás da
cabeça.

É, ela concordou.

—Todo mundo está bem? — Ele perguntou.

Sim. O bebê é saudável, alto e robusto. Muito pesado, ele


deu a Brikitta um momento difícil, mas ela perseverou. Ele
também é bastante comprido, então também será alto como o
pai. A cabeça cheia de cabelos. Todos os seus dedos. Todos os
seus dedos dos pés. Brikitta está cansada, mas ela tem
muitas pessoas ao seu redor para cuidar da criança para que
ela possa descansar um pouco. Eu quase tive que lançar um
feitiço sobre Josette para fazê-la esquecer por um momento que
tínhamos um recém-nascido ao nosso redor. Ela se apaixonou
muito.

Pensou nela e o tempo frequente que ela passou com


Tim.

—E eu tenho certeza que você não está sequer


interessada, — ele brincou.

Eles o chamaram de Frantz.

Mesmo, da forma como ela se comunicava com ele,


podia ouvir a emoção engrossando em sua voz.

—Baby, — ele sussurrou.

Ele não disse mais nada, dando-lhe um minuto para se


recompor, porque essa era Franka. Ela não estava caindo aos
pedaços.

Ela tomou esse minuto e disse em uma voz nítida


(totalmente Franka, tentando disfarçar): Ele é muito bonito.

—Os bebês não são bonitos, Lábios-açucarados, eles são


fofos.

Eu pensei que você disse que eu era fofa.

—Você é. Os bebês são um tipo diferente de fofo.

E baby é como muitas vezes você me chama.

Ele riu.

Há partes de seu dialeto que são muito inteligentes. Há


partes que não fazem sentido. Ela fez uma pausa antes de
terminar, E agora, depois de levar uma semana ou mais para
conhecer o meu novo sobrinho, estar certa que Brikitta está
bem e se recuperando, e arrumar as coisas para Josette e eu,
eu vou aprender muito mais.

—Sim, você vai, — ele concordou.

Você está…?

Ele esperou que ela terminasse, mas ela não o fez.

Ele virou-se para o seu lado, envolvendo uma mão ao


redor de seu travesseiro e usando ambos os braços para o
enrolar mais perto.

Como se fosse uma mulher.

Como se Franka estivesse lá.

Foda-se ele esperava que o ditado fosse certo de que o


tempo cura todas as feridas.

Se não o fizesse, ele esperaria ela se curar. Ele ajudaria


a fazê-lo.

Mas ele também certamente estaria ali se ela estivesse.

—Eu estou pronto quando você estiver,


querida. Korwahk é uma porra louca. Gostei de visitar e
explorar, mas não tenho certeza de como Circe tomou a
decisão de viver aqui para sempre. Interessante. Mas ainda
fodido. Sabia que ela amava muito Lahn. Agora eu sei que a
mulher ama o marido a sério porque ela não está só vivendo
de boa aqui, ela está totalmente em seu elemento. É como se
ela estivesse vivendo aqui toda a sua vida.

Eu gostaria da oportunidade de um dia testemunhá-la em


seu elemento.
—Nós vamos arranjar isso. Mas em primeiro lugar, da
próxima vez que você vir Valentine, avise-a que está pronta
para ir e peça para que entre em contato comigo para que eu
saiba quando isso vai acontecer. Eu estou pronto para ir
também, mas isso não significa que eu quero fumaça verde
me rodeando e de repente ter ido embora antes de eu dizer
adeus.

Eu vou me certificar de que ela previna você.

—Obrigado, Frannie.

Tenho que ir. É tarde aqui e gostaria de checar mais uma


vez Kristian e Brikitta antes que ir para cama.

—Certo, querida. Ainda bem que você flutuou em minha


consciência e me deu a boa notícia.

Eu não estou em sua consciência, Noc, ela o informou


presunçosamente, estou viajando em um plano astral, embora
sem o meu corpo. Eu simplesmente estou em sintonia com o
seu plano. Você tem a minha consciência pois estou em
transe. Mas não tenho a sua.

—Você sabe que não faz a porra de sentido nenhum, —


afirmou.

Vou explicar mais a fundo durante a pizza.

Foda-se, sim, ela iria.

—Certo, vá para a cama, baby. E vejo você em breve.

Sim, Noc. Em breve. Durma bem.

—Você também, Frannie. Até mais tarde.


Uh... bem, uh... até mais tarde.

Ele sorriu abertamente e realmente pode sentir isso


quando ele a perdeu.

Kristian nomeou seu filho de Frantz.

Noc gostava do cara. Agora ele gostava ainda mais.

Ele puxou o travesseiro mais próximo e fechou os olhos.

Mais uma semana.

Em seguida, ele finalmente estaria em casa.

E assim estaria Frannie.


Bem-vinda a casa

Franka
—Pelos deuses! Olhe suas roupas!

Virei para olhar, torcendo meu tornozelo pelo movimento


e quase caí no chão.

Evitando fazer algo incrivelmente humilhante, disfarço


rapidamente enquanto olho Josette entrar correndo pela
porta.

Ela não estava vestida como eu, preparada para ser


transportada para o nosso novo mundo.

Não, Valentine estava muito diferente.

Ela estava usando calças como as de Noc (segundo ele,


eram chamados de jeans). Na parte superior ela vestia algo
cheio de babados, mas pequeno. Nos pés ela tinha...

Balancei minha cabeça tentando entender.

Eles eram espantosos. Nem sequer sei do que eram


feitos. Tinha uma sola que parecia mole e duas tiras que iam
da junção de seu primeiro e segundo dedo do pé, expondo o
resto.

E isso era tudo.

—Eles são chamados de chinelos. — Valentine


respondeu, entrando depois de Josette. —Eles pareciam
muito... ela.

Josette se afastou um pouco e andou de um lado para


outro, dizendo: —Eles são muito confortáveis. Mas
estranhos. Eu estava andando e um saiu, voando pelo
corredor. Eu tenho que firmar os dedos para mantê-los.

Eu podia imaginar.

No entanto, por mais estranho que os sapatos fossem, e


sua roupa (para uma mulher), estava muito melhor que a
minha.

Antes de sair para ver Josette, Valentine


meticulosamente me instruiu enquanto eu pintava meu rosto
com uma variedade de pincéis e blushes. —Você terá que
experimentar no futuro, e quando estivermos no meu mundo
eu vou levá-la a um maquiador para mostrar novas técnicas.

Utilizei o que Valentine disse ser ―maquiagem ou


cosméticos, chérie‖.

Levou um tempo, mesmo não sendo uma novata


completa (muitos em meu mundo pintavam seus rostos com
rouge ou matiz dos lábios, pó em seus olhos, Kohl para
alinhar suas pálpebras, lápis para preencher as sobrancelhas
─ que existia em todos os lugares, mas especialmente na
Fleuridia), fiquei encantada não só pelos resultados, mas pela
qualidade dos produtos que Valentine escolheu. No meu
mundo, eles eram muito mais rudimentares.

Mas depois disso, Valentine me entregou algumas


roupas do outro mundo (o que eu gostei muito), algumas
peças e uma cinta de material estranho. Em seguida, ela saiu
para ver Josette, dando um tempo para me trocar, e
indicando com um aceno de mão a caixa em uma cadeira. —
Esses são os seus sapatos, ma Sorcière petite.

Analisando a roupa que ela me deu, percebi que se


assemelhava a um casaco. Envolvia a parte da frente e não
fechava com um fecho ou botões, mas com um cinto, o cinto
sendo de metal.

O material era bastante suave e eu poderia dizer que era


de excelente qualidade. Era também pomposo, de uma cor
que eu nunca usei, mas parecia realçar o tom de oliva da
minha pele, para não mencionar que destacava a cor do meu
cabelo e o mesmo para meus olhos.

Tudo se encaixava perfeitamente.

O que me preocupou foi a bainha irregular. Uma borda


do vestido era maior que o outro, o que esteticamente era
bastante agradável, mas ainda parecia estar errado.

Todo mundo sabia que, se algo era esteticamente


agradável, era tudo que importava.

O que era mais preocupante era o local da bainha, que


era na minha coxa.
Sim.

A parte superior da coxa.

O resto estava exposto.

Me sentia nua.

Poderia ser ousada. Poderia até exagerar. Na verdade,


houve um tempo em que eu gostava de levar aos extremos e
me divertia com as reações dos outros. E eu não saía em
sociedade por alguns meses, mas eu tinha a sensação de que
era uma parte de mim que não mudou.

Mas isso era estranho.

De fato, havia uma boa possibilidade de que quando


andei, as abas do curto vestido iriam se afastar e
mostrar tudo.

Uma mulher tinha que ter algum mistério, com toda a


certeza. Esse mistério em particular.

Não poderia ser tão diferente no outro mundo. Se fosse o


contrário, certamente Valentine ou Noc me diriam.

Em geral, eu não era uma mulher que escondia seus


encantos. Por isso que o decote do vestido de mangas
compridas não me incomodou. E eu não era uma mulher que
tinha problema com gostos diferentes. Portanto, o cinto
peculiar que parecia feito de ouro brilhante me agradou
bastante.

Mas eu nunca expus minhas pernas, desse jeito a


ninguém mais, só para meus amantes.

E os sapatos.
Eles eram como de Josette no sentido de ter pequenas
tiras (precisamente, três). Um que cobria parcialmente os
dedos dos pés, que era um pouco largo e duas que surgiam a
partir dos lados do calcanhar e enrolavam no meu tornozelo,
bem delicados.

Eles também eram de ouro brilhante, o que era


encantador.

Mas o calcanhar incluía um ponto fino e dourado na


parte traseira que era elegante, que tinham pelo menos
quatro polegadas de altura, portanto, cansariam os pés.

Dispensável dizer que será impossível andar com eles.

No entanto, explicava a afirmação de Noc sobre os


―saltos agulha‖ meses atrás.

Literalmente.

Não se pode negar (e eu me admirava no espelho de


corpo inteiro) que o vestido fez maravilhas para a minha
figura e os sapatos fizeram coisas milagrosas para as pernas
(e bumbum).

Mas o que Noc pensaria de mim, me vendo em tal


vestimenta?

E o que ele pensaria quando desse um passo em sua


direção e caísse de cara no chão?

—Como você está se saindo com esses sapatos? —


Josette disse meus pensamentos, aumentando minha
preocupação.

—Com cuidado. — Respondi.


—Eu posso imaginar. — Josette murmurou, ainda
olhando para os sapatos. —Embora, eles sejam muito
bonitos. Mas eu não posso imaginar outras mulheres
caminhando com isso. Elas devem sentar e os admirar, você
não acha?

Mas para chegar a qualquer assento a pessoa tinha que


andar sobre eles. Assim, embora quisesse tirá-los de meus
pés, eu e qualquer mulher vestindo o calçado, estava sem
sorte quando surgisse a necessidade de perambular.

—Me diga que praticou, Franka, — disse Valentine. —


Estamos prontos para sair em breve. Noc já está nos
esperando.

Meu corpo sacudiu quando meu coração saltou com


suas palavras, temia que tivesse pulado para fora do meu
peito.

—Eu pratiquei, — respondi e dei um passo, depois outro


para mostrar a ela.

Eu fiquei muito boa em equilíbrio. E estava boa em dar


passos lentos.

Passadas normais iria demorar algum tempo para


conseguir. Muito mais tempo do que o disponível.

Poderia levar dias.

Ou semanas.

Embora eu preferisse usar o que estava acostumada,


chinelos de excelente qualidade, eu não usaria esse tipo de
sapatos toda hora.
Eu e Josette deveríamos ter solicitado vestuário do outro
mundo e calçados há algum tempo para que pudéssemos nos
acostumar a eles.

Era tarde demais para isso.

—Bem, pratique um pouco mais. — Valentine


ordenou. —Eu estou levando Josette e vou voltar para pegar
você.

—O quê? — Josette perguntou em um turbilhão,


olhando para mim e depois para Valentine.

—Desculpe? — Perguntei com os olhos cerrados.

—Estou levando Josette à minha casa. Ela pode se


instalar. Eu vou voltar para você pois irá para outro lugar,
onde Noc quer encontrar só com você. —Valentine respondeu.

Noc queria só eu.

Minha barriga apertou.

—Sem ofensa, chérie, — ela disse para Josette. —Mas


você não está convidada para a reunião.

—Está tudo bem! — Josette respondeu, não mostrando


preocupação que estaríamos separadas depois de entrarmos
neste universo paralelo.

—Circe estará levando Josette para jantar. — Valentine


disse. —Enquanto eu termino meu próprio negócio e faço o
meu retorno a casa. Então, é claro, eu estarei por perto se ela
precisar de alguma coisa.

Eu queria ver Noc. Eu queria ver um Noc que não


convidou Josette para nosso reencontro. Eu sentia sua falta e
estive à espera por meses para vê-lo novamente e agora a
espera acabou.

Mas eu precisava cuidar de Josette.

—Eu acho melhor Josette e eu viajarmos juntas e


ficarmos unidas, pelo menos por um tempo. — Informei a
Valentine. —Quando nós duas nos acostumarmos com o
nosso novo mundo, então podemos sair e fazer as coisas
sozinhas.

—Nãonãonãonãonão. — Josette disse rapidamente,


balançando a cabeça em uma negativa para reforçar suas
palavras. —Eu vou ficar bem.

—Veja. — Valentine preguiçosamente abriu sua mão em


direção a Josette. —Ela vai ficar bem.

Olhei para Josette. —Minha querida, esta é a nossa


aventura, e vou enfatizar o nossa nessa declaração. É minha
responsabilidade cuidar de você. Eu não posso deixá-la por
sua própria conta no instante em que você chegar lá.

—A Senhora Valentine estará cuidando de mim. —


Josette respondeu.

—Estarei mesmo, e está tudo resolvido. — Valentine


acrescentou, bem decidida sobre isso, ainda mais quando ela
levantou as mãos, e sem demora, a sala começou a ficar
verde.

Eu sabia o que isso significava.

Dei um passo em direção a ela. —Irmã, isso precisa ser


discutido. Josette é a minha responsabilidade e...
—Pratique os saltos, Franka. — Valentine me cortou. —
Você tem quinze minutos para ter certeza de que você cairá
quando vir Noctorno pela primeira vez.

O próprio pensamento disto bagunçou o funcionamento


da minha mente por um momento antes que eu percebesse
que o quarto estava mais verde e eu precisava agir
rapidamente.

Eu levantei minhas próprias mãos, certa de que não


existia formas de vencer a magia de Valentine, mas eu tinha
que tentar... por Josette.

—Valentine, ouça-me... — Comecei enquanto nuvens de


azul começaram a misturar com a verde.

—Eu vou ficar bem. — Josette prometeu.

Valentine se aproximou dela.

Eu a ignorei. —Valentine...

Ela sorriu, um sorriso que eu aperfeiçoei (neste mesmo


dia).

E então ela e Josette desapareceram, o verde


desapareceu e não havia nada, exceto as nuvens flutuantes
azuis que não tiveram nenhum resultado quando eu as
chamei para impedir o verde e aquela magia, assim como
Valentine e Josette, se foram.

Baixei minhas mãos e as nuvens desapareceram.

—Droga! —Amaldiçoei, alto demais. —Droga, —


sussurrei, meus olhos voltando para a porta na esperança de
que não se abrisse.
Eu me despedi de meu irmão, irmã e sobrinhos. Odiava
despedidas, mas ao mesmo tempo eu sabia que nunca
esqueceria deles e do amor que transmitiam.

Porém, Kristian e Brikitta não esconderam que estavam


preocupados com a minha aventura. Antes, ambos eram
totalmente a favor disso, mas agora que tinha chegado o
momento, eles estavam dando para trás. Especialmente
quando eles souberam que a comunicação entre os mundos
era difícil.

Se Kristian ouvisse alguma coisa errada, como eu


gritando: ―Droga!‖, ele viria correndo, ainda mais preocupado,
e não quero dizer adeus a ele mais uma vez.

Uma vez já foi suficiente.

Noc tinha razão.

Despedidas eram uma merda.

Seria pior se o meu irmão me visse neste vestido.

Ele poderia não me deixar ir (embora ele teria trabalho


em parar Valentine de fazer qualquer coisa — a mulher era
uma força da natureza, literalmente).

Irritada com Valentine, mas sabendo que ela estava


certa, eu não queria cair na frente de Noc, comecei a
caminhar novamente naqueles belos, mas malditos sapatos
desconfortáveis (e perigosos).

Eu encontrei minha tortura (e um pouco de vergonha),


enquanto os minutos passavam e eu me movimentava nesses
sapatos, não só os meus pés doíam mais e mais, mas eu
pensei cada vez menos em Josette, o que ela estava
experimentando agora e o fato que eu não estava
experimentando com ela como nós duas sonhamos.

Não, eu pensei mais e mais em ver Noc novamente.

Comigo neste vestido.

E nesses sapatos.

E apenas vendo... ele.

Balancei minhas mãos sentindo-as suarem enquanto eu


tentava andar mais rápido, encontrando meu passo.

Palmas úmidas devido à irritação.

Ridículo.

Ah, mas o que aconteceu com a Franka Drakkar que eu


conhecia?

Você sabe a resposta para isso, Antoine respondeu em


minha cabeça.

Eu parei abruptamente.

Eu não o ouvi em meses. Mesmo antes de Noc me


deixar. Definitivamente não depois.

Ela nunca realmente existiu, a voz de Antoine


continuou. Um papel que você brincou, mon
ange, lindamente. Mas você literalmente tirou o traje e a
pintura do rosto, colocou uma nova, e agora está pronta para
um papel diferente. O papel banal de uma vida. O papel de ser
apenas... você.

Virei a cabeça e me vi no espelho.


Era eu, a mulher com seu cabelo caindo, as bochechas
rosadas (o que Valentine disse ser chamado em seu mundo
de blush), os olhos brilhantes de nervosismo, sua respiração
vindo rápida de antecipação?

Eu sempre amei suas pernas. Antoine murmurou.

— Mon coeur, — eu sussurrei.

Adeus, minha Franka. Eu desejaria que você fosse feliz,


mas não precisarei.

—Por quê? — Perguntei.

Você vai ver.

Essas palavras simples me arrepiaram.

Ele não disse mais nada.

—Antoine? — Eu chamei.

Ele não respondeu, e em minha alma eu sabia que


nunca mais faria.

—Antoine. — Eu sussurrei, sentindo-me não totalmente


satisfeita por ser a última vez que ouviria sua voz, mas
porque ele parecia feliz.

Me senti incerta sobre a maior aventura da minha vida e


ao fazê-la, muita coisa deixarei para trás, mas seguirei em
frente.

Essa aventura não era ir para um universo paralelo


onde as mulheres eram referidas como crianças e usavam
sapatos que desafiam a morte.
Essa aventura era viver a vida a partir desse ponto,
como eu.

Franka Drakkar.

Uma mulher generosa (mesmo se tiver que forçar sobre


aqueles que estão em oposição a ela), extrovertida e sociável.

E também uma bruxa iniciante.

Com esse pensamento, o quarto foi tomado pelo verde.

Virei-me para onde eu sentia que ela se juntaria a mim e


Valentine apareceu ali.

Ela inclinou a cabeça para o lado. —Pronta?

Estava.

E não estava.

—Quão estranho seria se eu fosse ao seu mundo em


meus próprios trajes? —Eu perguntei.

—Nada é estranho em Nova Orleans, — ela


respondeu. —Este é um dos grandes motivos que a fez a
maior cidade do meu mundo... ou do seu.

—Então eu...

—Besteira. — Afirmou antes que eu pudesse terminar


meu pensamento, levantou as mãos, e o verde de sua magia
voltou.

—Valentine. — Rebati.

—Aproxime-se, ma sorcière petite20.

Cheguei mais perto, mas repeti alarmada. —Valentine!


20
Minha pequena bruxa.
Ela sorriu de novo enquanto o quarto desaparecia e
depois não havia mais nada, somente sua magia nos
encobrindo.

Eu não achei isto alarmante.

O que eu achei alarmante foi o seu sorriso.

Um outro que eu aperfeiçoei há muitos anos.

—O que você fez? — Eu quis saber.

Ela não respondeu.

Em vez disso, tive a terra debaixo dos meus pés, luzes


brilhantes, barulho e movimento em todos os lugares, e eu
estava sentindo um odor tão ruim, que estava revirando meu
estômago.

O que não aconteceu por estar sem meu foco.

Meu foco estava no fato de que Valentine sumiu.

E à direita na minha frente, estava Noc.

Olhei para seus extraordinários olhos azuis e vi sua


surpresa com minha aparição abrupta.

Minha nossa.

Ele estava bem ali.

Bem ali.

Uma polegada de distância.

Estava quase tocando ele.

—Frannie, — ele sussurrou, dizendo o apelido que me


deu com carinho e alívio.
Diabos!

Eu ia explodir em lágrimas.

—Noc. — Forcei a sair.

—Frannie, — repetiu ele.

Sim. Para tudo!

Ia começar a chorar a qualquer momento no início da


minha grande aventura!

Maldito Noc.

Lentamente, seus lábios formaram um dos sorrisos que


eu tanto adorava e ele ergueu sua mão. Nela estavam longos
colares de brilhantes em ouro, roxo e verde. Levantou-as
sobre a minha cabeça e acomodou em volta do meu pescoço.

Eles pareciam pesadas, mas quando suas mãos se


afastaram, as peças eram leves.

Iluminadas, brilhantes e festivas.

—Bem-vinda. — Noc disse, e meus olhos saíram das


pérolas em meu pescoço para Noc. —Laissez les bon temps
rouler21.

Que estranho, ele estava falando Fleuridian. Ele nunca


fez isso antes.

Nesse momento, antes que eu pudesse perguntar sobre


disso, ele percebeu que tinha mais de mim do que apenas
meu rosto.

21
Que a diversão comece.
Ele se inclinou para trás, enquanto seus olhos viajaram
pelo meu corpo e vi sua expressão mudar.

Deus.

Eu não tinha nada contra as prostitutas. Eu tinha me


apaixonado pela versão masculina de uma prostituta e agi
como uma, sem vergonha.

Agora, no entanto...

— Valentine que escolheu, — digo rapidamente,


referindo-se ao traje que Noc estava naquele momento
olhando fixamente. —Eu posso estar arriscando, mas...

—Porra, — ele murmurou.

Fico em silêncio pelo seu tom de voz.

Seus olhos se movem, dos meus pés, e, lentamente,


para cima.

No meio do caminho para o meu rosto, ele faz um


rosnado.

—Foda.

Fazia algum tempo, mas seu tom não me abalou.

Ao entrar no período de celibato (prolongado), prometi


que apagaria essa parte da minha vida.

Claro, Noc mudou meu pensamento, e para ser honesta,


ele fez isso meses atrás.

Mas se ele não tivesse, ele faria com essa palavra, junto
com sua expressão facial e o tom com o qual ele pronunciou.
E em apenas segundos, todas as inseguranças
(lamentações, ansiedades, medos, trepidações) que eu tive
sobre nós, nesse encontro, ele respondeu em uma palavra.

Mesmo que essa palavra e a maneira como disse,


influenciou sua resposta, o que ele fez em
seguida realmente respondeu.

De repente eu tinha sua mão em minha cintura.

Não pressionando.

Mas puxando-me e estava colada contra seu corpo.

Nesse instante, sua outra mão voou para o meu cabelo,


enrolando e agarrando.

Não havia nenhuma dor em seu toque. Mas o suspiro


que veio da minha boca e percorreu seus lábios foi indicação
de algo completamente diferente.

Fechei os olhos, e seus lábios esmagaram os meus.

Não foi instintivo, mas uma urgente necessidade de


tocá-lo me fez levantar minhas mãos e agarrar seu cabelo
grosso e macio.

E não era a generosidade, mas uma pura ganância que


me fez abrir a boca, convidando-o.

Ele aceitou com um rosnado baixo, a cabeça inclinada,


com a mão na parte baixa das minhas costas e apertando
meu quadril para que pudesse me segurar mais perto, tudo
enquanto ele aprofundava o beijo.

Ele tinha um gosto bom. Fresco, quente e picante.


Ele cheirava bem, todas essas mesmas coisas.

E ele parecia bem.

Era como chegar em casa, um sentimento de


reconhecimento, mesmo que nunca tivesse sentido isso.

Agarrei nele enquanto eu aceitava a invasão de sua


língua, seu talento percorrendo minha pele, do meu cabelo
até meus dedos, acumulando especificamente entre as
minhas pernas, me fazendo pressionar meus quadris no dele,
movendo-os contra ele, procurando algo que eu necessitava.

Intimidade.

Conexão.

Apenas Noc.

Puxei um lado de seu cabelo para enrolar meu braço em


volta do pescoço, subindo ainda mais na ponta dos pés para
chegar ainda mais perto.

Eu não ouvi os chamados ou gritos.

Só vagamente que ouvi: —Sério, cara, arrumem um


maldito quarto.

Noc quebrou apenas as conexões de nossas bocas e


estávamos ofegantes, nossos olhares sensuais e
semicerrados, mas fixos enquanto ele murmurava: —Grande
ideia, porra.

E então eu estava fora de seu abraço. Mole.

Mas só por um momento.


Sua mão agarrou a minha e começou a andar, me
arrastando junto.

O chão sob os meus pés era pavimentado com uma


estranha pedra, contínua (embora desigual e quebrada em
partes), mas não conseguia prestar atenção a ela ou qualquer
coisa ao meu redor, seja estridentes, altos ou malcheirosos.

Tive que me concentrar em andar com meus sapatos.

O que não foi boa ideia.

Eu tropecei, dando um grito, me equilibrei e gritei: —


Noc, eu...

Ele parou, puxou a minha mão para que eu perdesse o


equilíbrio, mas caindo sobre ele. Dobrou minhas pernas, me
erguendo, agora estava com seu ombro na minha barriga, um
de seus braços envolvendo minhas coxas, e percorremos a
rua em grandes passadas de Noc.

—Isso aí, Irmão! — Alguém gritou.

—Certo, porra, cara! — Outro gritou.

—Oh meu Deus, eu acho que acabei de gozar, — disse


alguém mais.

Os dois primeiros foram vozes masculinas e o último era


uma mulher.

Noc estava andando pela rua lotada e a maneira como


ele estava fazendo isso, enquanto eu segurava em sua cintura
e olhava ao seu redor, vi a multidão facilitar nossa passagem.
Ele chegou na rua, virou à esquerda e manteve
caminhando em uma rua muito mais ampla, como uma
avenida.

Tudo o que eu podia ver eram as engenhocas nela.

Automóveis. Carros. Caminhões. Tudo o que Noc


descreveu, mas muito mais fantástico na vida real,
disputavam espaço na rua.

Pelos deuses.

Ele não podia estar dizendo a verdade.

Ele tinha que ser mágico.

Observava tudo até que Noc parou de andar e me


colocou de pé, pegou minha mão e olhou nos meus olhos.

—Você acha que está pronta agora? — Perguntou.

Eu não sabia como responder.

Mas eu estava com Noctorno Hawthorne do universo


paralelo. Assim, só havia uma resposta para qualquer coisa
que ele pedisse.

—Sim, — eu sussurrei.

Ele concordou, virou-se para frente e retomou a


caminhada, puxando-me junto.

Felizmente, nós não andamos muito. Havia uma porta à


nossa esquerda para onde Noc me empurrou, e continuou me
puxando enquanto nós caminhamos do que parecia ser um
grande, elegantemente decorado hall de entrada.
Ele nos levou diretamente para uma mesa longa, que,
atrás dela estavam um homem e uma mulher, estranhamente
vestidos com o que parecia ser uniformes horrorosos, e
estavam de pé.

—Posso ajudá-lo, senhor? — Perguntou o homem,


olhando de Noc para mim e de volta para Noc.

—Um quarto, — Noc afirmou. —Cama king-size.

O homem olhou para baixo na mesa e seus dedos


começaram a tocar um aparelho peculiar que tinha letras e
números nele.

Fiquei olhando, admirada.

—Quanto tempo vão ficar? — Ele perguntou, sem


levantar a cabeça (o que me pareceu rude).

—A noite. — Noc respondeu.

—Duas pessoas?

—Só duas.

—Temos vagas. — O homem afirmou, olhou para cima e


deu a Noc um sorriso cortês. —Forma de pagamento?

Noc soltou a minha mão para pegar a carteira do bolso


de trás de sua calça jeans, e observei o que aconteceu em
seguida com fascinação.

Eu parei de observar quando Noc empurrou a carteira


de volta em seus jeans, pegou um envelope pequeno do
homem e grunhiu. —Obrigado.
Em seguida, tive minha mão presa na de Noc e ele
estava me rebocando em direção a uma parede que tinha
quatro brilhantes portas duplas de ouro (que não poderia ser
ouro verdadeiro, certamente), todas inexplicavelmente juntas.

Ele me parou perto delas, estendeu a mão e apertou um


botão na parede entre as portas.

Essa mão veio direto para o meu rosto, segurou meu


queixo e me forçou a olhar para ele.

Oh, como ele era bonito.

—Estamos prestes a entrar em um elevador, baby, —


declarou ele.

Eu não tinha ideia do que isso significava.

E também não me importava nem um pouco o que isso


significava.

Eu só me preocupava com o calor de seus belos olhos.

—Nós vamos entrar em uma pequena caixa, você vai


senti-la se deslocar. Ela move para cima e para baixo
automaticamente, assim você não tem que usar escadas. Nós
estaremos indo para cima, — explicou, em seguida,
perguntou: —Você entendeu?

Percebi que, com a variedade de coisas que ele me


explicou: ─motocicletas, automóveis, estes... elevadores ─
muitos dessas coisas funcionavam ─automaticamente—, que
poderia ser a razão para Noc correr ao redor do Palácio de
Inverno para manter a forma.
Se alguém não precisa subir escadas neste mundo, a
inatividade poderia fazer alguém bastante insalubre.

Meus pensamentos foram cortados quando um bing foi


emitido e olhei naquela direção.

Um conjunto de portas douradas deslizaram, abrindo, o


que me fez olhar em choque, sem tempo para me recuperar. A
mão de Noc deixou meu rosto, pegou a minha, e ele me
puxou para elas, e nós estávamos como ele disse, em uma
pequena caixa.

E essa caixa era realmente muito pequena. Eu


frequentei banheiros externos maiores.

Para não mencionar que se movia.

Para cima.

Levando-nos com ela!

Senti um calafrio de pânico e meus olhos voltaram para


Noc.

—Noc, estou com medo.

Minha atenção se voltou imediatamente para as portas


quando elas se fecharam.

Meu coração apertou e meu corpo ficou tenso.

Então minhas costas bateram na parede da caixa, o


corpo de Noc me pressionando, e ambas as suas mãos
estavam em meu rosto.
Antes que eu pudesse recuperar o fôlego, sua boca caiu
sobre a minha, sua língua deslizou para dentro e o pânico
desapareceu.

Não havia nenhuma caixa.

Não havia mundo.

Havia apenas Noc, seu toque, o gosto... dele .

Me beijando, mesmo sentindo minha barriga formigar (e


não foi só por causa de seu beijo).

E continuou até que o suave assobio do abrir das portas


nos despertou.

Quando me soltou, me puxou para um corredor


acarpetado que era amplo e elegante, excepcionalmente bem
iluminado.

Respirava com dificuldade, tentando me concentrar em


ficar de pé sem cair, considerando que o meu foco estava em
meus lábios, minha pele e entre as minhas pernas.

Parando em uma das portas, puxou o envelope


minúsculo que o homem entregou do bolso da frente e
abriu. Pegou uma coisa plana retangular dele, tocou-o em um
espaço acima da maçaneta da porta e me surpreendi quando
ouvi um zumbido ao mesmo tempo acendendo uma área em
que Noc tocou com a coisa em verde.

—Minha nossa, — eu sussurrei, olhando para a luz


verde.

Como Noc poderia dizer que este mundo não tinha


magia?
Parecia estar em toda parte!

Noc abriu a porta, me puxou para dentro e nós dois


paramos.

Ele tocou algo na parede e o espaço que estávamos se


iluminou.

Mais magia!

—Minha nossa, — suspirei.

Noc pegou um aviso que estava pendurado na maçaneta


da porta e pendurou na frente, fechou a porta, trancou a
fechadura de metal que parecia um trinco que não podia ser
aberto do exterior (uma excelente função de segurança para
um grande hotel), e, em seguida, pegou minha mão
novamente.

Antes que percebesse onde estava e tudo o que


aconteceu, estava parada perto de uma cama grande, com
Noc em minha frente.

Olhei para ele.

—Noc...

—Cale a boca, baby.

Pisquei surpresa.

Ele pescou algo em sua cintura, e rapidamente jogou


algo para uma escrivaninha atrás dele. Ela pousou no topo,
mas mesmo antes que isso acontecesse, ele voltou para mim.

—Noc...

Ele acariciou meu queixo e me acalmei.


—Senti sua falta, — ele disse suavemente.

Olhei em seus olhos.

Ele sentiu.

Estava escrito ali, bem ali para eu ver.

Com uma grande variedade de outras coisas.

Tudo o que eu amava.

—E eu de você, — respondi.

—Chega de sentir saudades, estou realmente muito feliz,


— afirmou.

Ainda olhando profundamente em seus olhos, eu não fiz


nada, mas concordei.

Eu estava cansada disso também e estava


muito, muito feliz por isso.

—Sim, — ele murmurou como se tivesse falado em voz


alta, seu olhar indo para minha boca.

—Noc, —Eu disse o nome dele com um propósito


diferente desta vez, indo em sua direção.

—Deveria saber que essa boca era doce, — ele


murmurou.

Eu tinha a sensação de que Noc precisava segurar em


algum lugar diferente do meu queixo, pois se ele continuasse
falando coisas como essas, minhas pernas cederiam.

Ele baixou a cabeça e pude sentir sua respiração


acariciando meus lábios.
—Mas, todo tempo que pensei em quão doce seria,
nunca em meus sonhos mais loucos chegaria perto da
realidade.

Sim.

Ele precisava me segurar em outro lugar ou eu cairia


aos seus pés.

—Noc, — eu sussurrei novamente.

Ele não me beijou como eu esperava.

Queria que fizesse.

Não.

Suas mãos foram para minha bunda, seus dedos


cerrados, e eu engasguei quando fui levantada.

Mecanicamente, minhas pernas enrolaram em seus


quadris, e em nenhum momento ele entrou na cama de
joelhos e me colocou sobre ela.

Ele nos jogou juntos.

Foi então que ele me beijou.

E foi então que aconteceu algo que nunca ocorreu


comigo.

Eu tinha habilidades excepcionais em fazer amor. Tinha


bastante prática até o ponto que se tornou uma arte. Minhas
investidas eram cuidadosas, deliberadas, sem pressa. Um
clímax não era alcançado com pressa, mas uma sensação
moldada e manipulada, e quando chegasse, era para se
deliciar... languidamente.
Noc não fazia amor assim.

Além disso, Noc não fazia como os amantes do meu


passado. Eles me permitiam guiar as festividades.

Noc assumiu.

Ele também não foi cuidadoso, deliberado e sem pressa.

Ele beijou profundamente, exigindo tudo em troca, o que


era impossível não dar a ele, desejar dar, tornando isso toda
a razão da sua existência. Ele fez isso com a boca, a língua,
os dentes e as mãos.

Ele tocava em todos os lugares, como se tivesse com


fome do toque humano e estava compensando isto em
questão de segundos.

Eu não poderia acompanhar. Eu não poderia impedir


seu ritmo.

E eu não queria.

O seu gosto, seu toque, tudo o que ele estava fazendo


provocava sensações extraordinárias e incontroláveis.

Beleza além da imaginação.

Eu precisava de mais.

Ansiava por isso.

Sem aviso, ele tirou sua boca da minha e empurrou-se


entre as minhas pernas.

Olhei para ele, ofegante, meu corpo cantando,


observando a beleza do seu rosto agora com paixão, enquanto
suas mãos desabotoavam a camisa.
Vi isso como uma sugestão para soltar meu cinto.

O metal pesado caiu para os lados, e sem o seu fecho, o


vestido se separou, expondo as roupas de baixo que Valentine
me deu.

Elas eram a única parte do conjunto que eu gostava sem


exceções.

Laço em creme delicado, que era um milagre da


sustentação. Cetim brilhante, macio na base e no forro (mas
não na frente, que era de rendas) da minha calcinha, bem
como as taças do meu sutiã.

Eles eram divinos.

Vendo o rosto de Noc percebi que ele concordava.

—Porra. — Noc rosnou ferozmente, e me calei.

E o que fiz antes sem pressa, eu estava prestes a


aprender o significado desse conceito.

E aproveitar cada segundo.

Ele rasgou a camisa jogando-a para o lado, e


rapidamente senti seu braço debaixo de mim, puxando para
cima no meio das minhas costas.

Gritei de surpresa do ato inesperado, mas meu próximo


grito foi muito diferente quando Noc tirou meu sutiã. Em
seguida, sua boca estava presa ao meu mamilo, chupando.

Duro.

Forte.
Essa deliciosa fricção viajou do meu mamilo para o
clitóris, zumbindo lá com tanta intensidade, que não
conseguia pensar. Senti minha roupa subir e encostar
levemente na minha garganta, mas a extrema sensibilidade
da minha pele fez parecer como se tivesse uma mão me
acariciando.

Movi-me instintivamente, agarrando em seu cabelo,


agarrando-o e arrastando minhas unhas pelas suas costas.

Com o contato, Noc largou meu mamilo, seus lábios


subindo rápido pelo meu peito, meu pescoço, ao longo do
meu queixo, na minha boca, minhas costas ainda arqueadas
ao seu comando, e seus lábios agora nos meus.

Um olhar em seus olhos e meu corpo ficou em brasas.

—Cada polegada sua, caralho, é linda, — ele rosnou. —


Vi isso. Sabia? Mas agora é realmente minha.

Essas palavras bateram direto no meu ventre.

Ele não permitiu que eu respondesse.

Ele me beijou. Suas mãos percorriam por todo lugar. Ele


terminou o beijo, mas apenas para sua boca deslocar para o
meu outro mamilo e o sugou, forte, arqueando com fome de
qualquer toque dele, me alimentando de cada contato.

Toquei a seda de sua pele sobre a dureza do seu


músculo. Consegui colocar minha boca sobre ele. Provei seu
pescoço. Seu ombro.

Mas eu não conseguia me concentrar. Controlar meu


corpo. Focar no que eu poderia fazer para dar prazer a Noc.
Eu só toquei, mordi, beijei, lambi, puxei, arranhei ─
onde quer que eu pudesse alcançar, onde quer que eu
pudesse conseguir.

Tudo que eu tomei, tudo que ele deu, levava-me mais e


mais ao abandono, cada vez mais no esquecimento, onde
nada existia.

Nada além de Noc e eu.

Um suspiro escapa de meus lábios quando ele reajustou


seu corpo para arrancar minha calcinha, mas ele
imediatamente retomou sua posição entre minhas
pernas. Pegou um dos meus tornozelos e colocou seus lábios
nele, arrastando em direção a minha panturrilha, coxa, todo
o caminho para o núcleo do meu corpo.

Eu assisti, prendendo a respiração, tremendo,


extremamente molhada, meus mamilos como pedras, e
pensando que nunca testemunhei nada tão bonito como Noc
colocando a boca em mim assim.

Ele beijou-me acima do triângulo de pelos entre minhas


pernas e, em seguida, ergueu os olhos para os meus.

—Preciso estar dentro de você, baby.

Obrigado a Deusa Adele.

—Eu acho que posso precisar disto mais, — soltei, sem


estar envergonhada por admitir essa necessidade em voz alta.

Seu rosto ficou ainda mais sensual quando ele ficou de


joelhos, alcançando algo trás dele.

Fiquei confusa quando ele puxou sua carteira.


Assisti, obcecada, quando ele retirou algo dela e segurou
o pacote quadrado entre os dentes.

Foi então que começou a desafivelar seu cinto,


desabotoando as calças e empurrando-as para baixo de seus
quadris.

Tudo antes foi apressado, desesperado.

Mas parecia que seus movimentos agora estavam


levando anos.

Seu pênis saltou livre e meus lábios se separaram.

O comprimento, mais do que a média, embora não tão


ridiculamente.

A espessura...

Meu.

De repente, minha boca começou a salivar.

—Noc, — eu sussurrei com urgência.

—Dois segundos, Frannie.

Ele rolou o que abriu em seu eixo espesso.

Observando isso, comecei a me contorcer.

—Noc! — Exigi.

Ele me cobriu.

Mas ele não entrou em mim.

Continuei me contorcendo, envolvendo uma perna em


torno de seu quadril, o braço em volta de sua cintura,
mergulhando meus dedos em seus cabelos, o tempo todo
olhando em seus olhos.

—Você precisa... — Eu comecei.

Não terminei quando ele segurou um lado do meu rosto


com a mão.

Parei de me contorcer quando a outra mão encontrou a


minha, seus dedos entrelaçados com os meus, e ele
pressionou a palma da minha mão na cama, me prendendo.

—Outra perna em torno de mim, querida, — ele


sussurrou.

Fiz o que disse, olhando em seus olhos.

—Guie-me, — ele ordenou em voz baixa.

Eu não perguntei o que ele queria dizer.

Eu sabia.

Instantaneamente envolvi meu braço em torno de sua


cintura para empurrar minha mão entre nós e envolver seu
belo eixo.

Senti e ouvi sua respiração sair em uma rajada com


meu toque, vi o clarão em seus olhos, e esfreguei a ponta dele
em minha entrada, fazendo isso por ele e por mim.

—Porra, você é gostosa, — ele murmurou, seus dentes


cerrados.

—Você também, — eu ofegava, recuperando o fôlego


enquanto eu acariciava a ponta dele sobre o meu clitóris e
depois levava-o para baixo.
No momento em que ele estava lá, seus quadris
desceram.

Tirei minha mão, agarrando sua cintura novamente.

Mas ele não invadiu. Nem uma polegada e havia muito


mais do que isso.

—Querido, — sussurrei.

—Olhe para mim.

—Estou, meu querido.

—Não pare de olhar para mim.

—Não vou, — prometi.

Lentamente, seus olhos prendendo os meus todo o


tempo, Noc me preencheu.

Deuses, a beleza de Noc. Era muito.

E agora muito mais.

Esforcei muito para não fechar os olhos e arquear meu


pescoço, concentrar na sensação dele me enchendo,
conectando comigo.

Nos tornando um.

Em vez disso, vi a beleza quando ele sentiu ao estar


enterrado dentro de mim e eu esperava que tivesse dado o
mesmo, e muito mais.

Seu polegar varreu meus lábios e os dedos me


apertaram.

—Vou me mexer agora, baby.


Balancei a cabeça.

—Não pare de olhar para mim, — ele ordenou.

—Eu não vou, — prometi.

Ele movimentou para fora, em seguida, dentro.

Mordi o lábio e olhei em seus olhos.

Sua boca no interior da minha perna foi a visão mais


bonita que eu vi.

Até agora.

Ele moveu-se novamente, fora... dentro.

—Noc, — sussurrei.

—Mais rápido? — Perguntou.

—Por favor.

Ele me deu o que eu desejava.

E de novo. E de novo.

Mais rápido. Mais rápido.

Mais. E mais.

Mais fundo. Mais duro. Seu olhar segurando o meu. Sua


respiração acelerada como a minha. Seu corpo enterrando, o
meu vibrando. Sua mão apertando a minha. A outra presa no
meu cabelo enrolando contra o meu couro cabeludo. Minhas
pernas circulando seus quadris mais apertado, os saltos dos
meus sapatos espetando em suas coxas.

De repente, seu nariz tocou o meu e seu tom de voz era


baixo e feroz quando grunhiu
—Porra, porra, você é bonita pra caralho.

—Você é também. — Engasguei.

Fora e dentro. Fora e dentro. Olhos fechados. Dedos


agarrando. Pernas feridas. Fora e dentro.

—Cada polegada sua, — ele resmungou.

Meus dedos o apertavam.

Algo mais o apertou, várias vezes, e minhas pernas


seguravam mais forte.

Seu profundo gemido soou contra os meus lábios e


irradiava em todos os lugares.

Bom demais.

Eu estava no meu fim.

—Querido, estou...

—Aguente firme, baby, olhe nos meus olhos.

Todo o meu corpo tencionou com as sensações


esmagadoras, assisti um músculo dançar no seu rosto em
reação a sensação disto também, e seus olhos se alargaram
mais.

Eu não podia fazer o que ele pediu.

— Noc! —Exclamei com urgência.

—Comigo, querida. Goze comigo.

Desejando dar o que ele queria, puxei respirações


profundas, arqueando contra ele, meus quadris subindo para
satisfazer seus impulsos, pressionando e arranhando suas
costas com minhas unhas, tudo na tentativa de dar, ter... e
esperar.

—Querido, — implorei.

—Olhe em meus olhos.

—Querido, — implorei.

—Não deixe meus olhos, Frannie.

Eu estava chegando lá.

—Eu preciso, — implorei.

—Solte, — ele resmungou.

E só então eu perdi o olhar de Noc porque eu me quebrei


toda.

A explosão foi uma mudança de vida. Desfazendo tudo o


que eu era em explosão após explosão de puro prazer, não
deixando nada, menos o que eu era com Noc. O eu que era
ligada a Noc. O eu que estava com os dedos entrelaçados nos
dele, seu corpo ainda empurrando o meu, me arrebatando
contra a cama, os ruídos poderosos de seu orgasmo
simultâneo inflamando ao longo de cada pedaço meu.

Descobri que estava choramingando em seu pescoço em


meu clímax, ofegava enquanto continuava segurando nele
exatamente como antes, apenas retirando minhas unhas de
sua carne para amenizar onde elas estavam presas em suas
costas.

Eu estava saindo do meu resplendor, mas Noc ainda


estava empurrando e grunhindo, música para os meus
ouvidos, quando um puxão no meu cabelo me disse que eu
precisava baixar minha cabeça.

Mal consegui alcançar o travesseiro antes da boca de


Noc estar na minha.

Só quando ele começou a beber de mim, que me


penetrou pela última vez, e deixou de se mover.

Continuei segurando-o apertado.

Ele quebrou o beijo, e enterrou o rosto no meu pescoço.

E o abracei mais forte.

Olhei para o teto, sentindo o calor de Noc, seu peso,


cheirando o perfume da sua pele, ainda com seu pênis
enterrado em mim, permitindo sentir sua respiração e ele a
minha.

Eu não sei o que deu em mim, mas no momento em que


ele começou a acariciar meu pescoço com a boca, sua mão
relaxou a minha e seu polegar começou a acariciar a minha
palma, eu soltei:

—Isso significa que não vou ganhar pizza?

Noc parou.

Eu fiz o mesmo debaixo dele.

Porque eu perguntaria isso agora?

Por quê?

Ele levantou-se e olhou para mim.

Abri minha boca para dizer algo, qualquer coisa,


disposta a lançar um feitiço para nos levar de volta no que
estávamos fazendo nem segundos atrás e não o
constrangimento e estupidez do que eu acabei de dizer.

Eu não fiz isso.

Noc era meu Noc.

Meu salvador. Meu amigo.

Agora... meu amante.

Em outras palavras, nós tínhamos compartilhado algo


belo, apenas segundos atrás.

E ele me deu mais.

Ele começou a rir e não conseguia se controlar antes de


me beijar, rindo na minha boca.

Sem exceção, foi o momento mais bonito da minha vida.

Sem…. Nenhuma.

Mesmo o clímax que ele acabou de me dar ao mesmo


tempo que o seu próprio.

Então, é claro, eu o beijei de volta.

Com fervor.

Infelizmente, ele teve que levantar a cabeça para que


pudéssemos respirar, mas fiquei muito feliz por ver que ele
estava com um largo sorriso.

—Eles entregam, — declarou ele.

—Perdão? — Perguntei.

—Lugares de pizza. Pizzaria. Eles entregam. Então a


resposta é sim. Você vai ter sua pizza. Embora eu não vou
deixar você bêbada depois disso, porque você vai comer, eu
vou comer, então nós vamos foder, até não pudermos manter
nossos olhos abertos. Então vamos dormir. Vamos
acordar. Vamos foder novamente. E então eu vou te levar
para casa, mas somente para trocar de roupa para que eu
possa levá-la para o Café du Monde para comermos
beignets22.

—Você já usou esta palavra muitas vezes, meu querido,


mas receio que eu não entenda o motivo de estar usando a
palavra ―foder‖ agora.

Ele pressionou os quadris nos meus, seu eixo


semirrígido fez sua presença conhecida (não que eu esqueci
que estava lá), e tocou a ponta de seu nariz no meu.

— Foder, baby. Nós vamos foder. E vamos fazer muito.

—Você quer dizer, — eu sussurrei, —fazer amor?

—Nós vamos fazer isso também.

Pisquei.

—Eu não... — comecei a dizer a ele que não entendia,


mas ele me interrompeu, levantou, saindo de mim, mas
também me movendo ao mesmo tempo que, no final, ele
estava sentado no lado da cama e eu estava montada nele.

—Pizza primeiro, — ele anunciou. —Enquanto


esperamos por ela, vou explicar a diferença entre foder e fazer

22
Beignets = Comida de massa frita. Uma carolina. É um doce
tradicional francês, uma minibomba recheada com creme de chocolate,
doce de leite ou creme de confeiteiro.
amor. Embora, eu não consiga explicar... — ele me deu um
sorriso que nunca tinha visto antes, um que fez meus
mamilos arrepiarem, —eu poderia demonstrar. Então vamos
fazer as duas coisas até que a deixe esgotada. Temos um
plano?

Até que ele me esgotasse?

Senti arrepios por minha pele.

—Eu, uh... bem...

Como alguém responde a essa pergunta?

Eu decidi por: —Acho que sim.

O braço que tinha na minha cintura caiu, levantou a


saia do vestido que eu ainda usava e segurou uma bochecha
do meu traseiro.

—Você tem outra coisa que queria fazer? — Ele


murmurou, seus olhos em minha boca.

Eu estava em um universo completamente


diferente. Havia bilhões de coisas que poderíamos fazer.

—Não, — respondi imediatamente.

Ele olhou para mim.

—Então temos um plano, — afirmou.

—Sim, Noc, — respondi. —Temos um plano.

Ele sorriu antes que se levantasse e me erguesse.

E logo puxou sua calça jeans, inclinou-se e beijou a


ponta do meu nariz ao mesmo tempo em que puxou meu
vestido, em seguida, começou a colocar esse plano em ação.
Dez vezes

Franka
Depois que Noc me deu um roupão para colocar, na
estalagem (uma utilidade incomum, mas adorável), me
sentou ao lado da cama e tirou meus sapatos (uma ternura
que eu não esqueceria por um bom tempo), ele me despojou
das roupas que me deu e me guiou para a pequena sala
ligada ao nosso quarto.

Eu fiquei ali com ele, piscando os olhos contra o brilho


não natural.

— Certo, noções básicas, — Noc declarou, e ele parecia


estar prestes a me dar algo importante, então eu tentei me
focar nele através do brilho.

Ele estava se movendo para a única cadeira no espaço, e


não parecia confortável.
— Banheiro, — explicou. — Autoexplicativo, — ele
continuou.

Isso não era verdade.

Até que ele levantou a tampa.

Pelos deuses.

Era um vaso sanitário.

— Terminou suas coisas, use isso. — Ele apontou para


algo que parecia tecido enrolado preso à parede. — Quando
você terminar, aperte isso, — ele falou e apertou uma
alavanca.

Barulho de água encheu o ambiente e eu olhei com


espanto quando a água desaparecia e outra água brotava ao
redor dos lados, sem dúvida fazendo com que qualquer coisa
que fosse depositada no dito vaso desaparecesse sem deixar
vestígios.

Brilho puro!

— Extraordinário, — eu respirei, observando a água


girar.

Houve um sorriso na voz de Noc quando ele me agarrou


na parte de trás do meu pescoço, me puxou para o lado e
continuou dizendo:

—Pia, — enquanto nos levava para a bacia. — Quente,


frio, — afirmou, torcendo botões que faziam a água fluir com
força para a bacia sem bombear.

— Pelos deuses, — eu sussurrei, incapaz de afastar


meus olhos deste glorioso espetáculo.
— Água quente, sempre o da esquerda, — ele continuou
desligando o botão esquerdo.

Sempre… quente?

Mas como? Não vi fogo.

Eu não tive a chance de perguntar, Noc continuou


falando.

— Mas não sai assim no começo. Dito isto, Frannie,


tenha cuidado, porque a temperatura, às vezes, pode ficar
muito quente. O direito é sempre frio.

Levantei, o que eu sabia, que eram olhos arregalados


para ele.

Noc olhou para eles, começou a rir e me virou


totalmente para ele, envolvendo os dois braços em volta de
mim.

Ele então baixou o rosto para que ficasse perto do meu,


parou de rir, mas continuou sorrindo, seus olhos dançando, e
ele disse:

— Você assim tão linda, apenas olhando uma pia e vaso


sanitário, as próximas semanas serão uma maravilhosa
explosão.

Se o pouco que eu já experimentei era alguma indicação,


ele estava longe de estar errado.

Mas eu não estava pensando no vaso sanitário e pia (ou


não inteiramente sobre isso).

— É verdade, — eu respondi, olhando diretamente em


seus olhos.
Ele continuou sorrindo enquanto dizia:

— Agora, tenho que sair um pouco. Eu não esperava


que nosso reencontro fosse assim e não vim preparado.
Preciso comprar alguns preservativos. Também vou pegar um
pouco de cerveja gelada. Vou pedir a pizza, deixar algum
dinheiro para o caso de entregá-la antes de eu voltar, sair
agora e comprar o que falta. O mais rápido que puder,
voltarei. Mas eu vou mostrar-lhe como ligar a TV antes de eu
ir para que você tenha algo para fazer.

Eu não queria que ele fosse.

Embora eu pudesse beber uma bebida gelada.

— O que são preservativos? — Eu perguntei.

— Proteção. — No meu olhar em branco, ele explicou


mais. — O que eu coloquei para que eu pudesse ter você e
não nos dar algo que não queremos agora.

Sua resposta não fez exatamente sentido até que me


ocorreu.

— Oh, a capa. — eu disse.

Ele acenou com a cabeça, puxando o rosto do meu


ligeiramente, mas ele ainda estava sorrindo.

— Sim. A capa. Eu preciso ir buscar mais delas.

Certamente que sim.

— Aprovo o seu plano. — eu compartilhei.

O sorriso dele ficou maior e o seu "abraço" em mim ficou


mais apertado.
— Eu a levaria comigo, mas parece que você não
melhorou muito o desafio de andar em saltos. — Suas
palavras me confundiram.

— Eu tenho andado em meus saltos por décadas agora,


NOC, como qualquer um que pode perambular. Andar em
estacas que é um desafio.

— Você está certa, — disse ele através de uma risada


baixa, em seguida, caiu novamente, mas apenas para tocar
sua boca na minha antes de me guiar para fora do banheiro.
Então disse: — Agora, a TV.

Ele então me apresentou à TV.

E foi extraordinário.

Ouvi a porta se abrir e o único movimento que fiz da


minha posição deselegante de sentar de pernas cruzadas na
cama (algo que Josette era propensa a fazer durante o café da
manhã, e que percebi tardiamente ser bastante confortável),
foi inclinar para frente e assistir Noc andar pelo curto
corredor.

— Querido, você não imagina o que está acontecendo


nesta tela, — eu disse, lançando um braço em desgosto para
a televisão, um aparelho que eu estava "surfando no canal"
(termo que Noc me ensinou a fazer) desde que ele saiu.

Ele entrou no quarto, seus olhos me examinando antes


de transferi-los para a televisão, enquanto colocava várias
garrafas em um portador bastante engenhoso na cômoda e
mexendo com alguma coisa nelas.

— Você está assistindo Chopped?23 — Ele perguntou à


televisão.

— Estou, de fato, — eu afirmei antes de declarar: — E


isso... é ... ultrajante. É claro que esses chefs são altamente
treinados e dedicados ao seu ofício. Por que aquele homem de
óculos os colocaria uns contra os outros, não lhes dando
tempo para criar obras-primas culinárias, mas esperam
exatamente isso, eu não sei. Então essas três pessoas
terríveis sentam-se e julgam os pratos que os chefs criam,
sabendo das limitações em que trabalhavam, até mesmo
observando o processo, e ainda sendo imperdoavelmente
rudes depois de serem presenteados com a oportunidade de
provar os resultados. Eu entendo o desafio de dar aos chefs
ingredientes estranhos para trabalhar. Mas o resto está além
de mim. Parece sem sentido e às vezes cruel.

— Programas de TV em que pessoas talentosas são


comparadas umas às outras e então as pessoas rudes as
julgam é uma coisa comum neste mundo, Lábios-açucarados.
Cozinhando. Cantando. Dançando. Até mesmo se apaixonar é
esporte de televisão.

Nessa declaração, minhas sobrancelhas se aproximaram


e eu desviei minha atenção da tela para ele, perguntando: —
Apaixonar-se?

23
Chopped é uma série de reality show de culinária americana criada pela produtora executiva Linda
Lea, junto com Dave Noll e Michael Krupat.
Ele balançou a cabeça, mas disse:

— Embora, eu não assista esse daí.

— Isso é um absurdo, — declarei. — As pessoas


assistem esse disparate?

Ele veio em minha direção, com a boca trêmula. —


Baby, eu cavo totalmente este programa. Tenho até mesmo
em DVR. Nunca perco um episódio.

Eu não podia acreditar (não a parte sobre o DVR, que eu


não tinha ideia do que significava). O conceito de Noc
aproveitando esta forma de entretenimento. Ele não tinha um
pingo de grosseria nele.

— Verdadeiramente? — Eu perguntei.

— Sim, — respondeu ele, logo antes de me segurar e eu


me encontrar arrastada para cima da cama.

Não mais sentada de forma deselegante, ou de jeito


nenhum, e com a manobra de Noc acabei nas minhas costas
e Noc em mim.

E eu não conseguia ver a TV.

— Sem pizza? — Ele perguntou suavemente.

— Não, — eu respondi ofegante. — Eles ainda não


chegaram.

Seus olhos caíram para a minha boca.

— Certo, então ficaremos beijando até que chegue. — Eu


não tinha ideia do que isso significava.
O que eu sabia era que, no programa, a rodada do
aperitivo terminara e eles estavam entrando em pratos
entrecortados.

— Noc, espero que a chef feminina derrote os machos e


eles estejam apenas começando a rodada principal.

Ele olhou de volta para os meus olhos.

— Frannie, se beijando, significa beijar, quente e


pesado, tateando, e muito disso.

— Oh, — eu sussurrei e tomei uma decisão instantânea.


— Tenho certeza que a mulher vai triunfar. Em vez de vê-la
sair vitoriosa, vamos fazer isso.

Noc sorriu para mim novamente enquanto sua cabeça


descia.

Então nós fizemos isso.

— Então? — Noc perguntou.

— O que? — Saiu ilegível porque minha boca estava


cheia.

Foi mal-educado.

Simplesmente não me importei.

Pizza era sublime.

Ele inclinou a cabeça para a magnificência que eu


estava empurrando na minha boca.

— Você gostou disso?


— É muito bom, — eu respondi, ainda mastigando, mas
mesmo assim, eu dei outra grande mordida no delicioso
milagre apimentado, picante e brega na minha mão.

— Muito bom, — ele murmurou, balançando a cabeça e


chegando em direção à caixa na cama entre nós.

Em seus movimentos alarmantes, eu tirei uma mão e


agarrei seu pulso.

Engolindo, eu chorei:

— Noc, esse é o último!

Ele olhou para mim.

— Sim. E você engoliu a sua parte. Essa fatia é a última


da minha metade. — Isso foi lamentável porque era verdade.

A divisão foi justa e, aparentemente a nova Franka, além


de generosa, extrovertida e social, parecia ser justa.

Isso significava que eu o deixei pegar, pedindo:

— Podemos pedir outra?

Com isso, os olhos de Noc ficaram grandes.

— Frannie, esse aqui era grande. Geralmente, três,


quatro pessoas comem esse tamanho.

Eu olhei para a triste caixa agora vazia antes de voltar


minha atenção para Noc.

— Podemos ter mais amanhã?

Ele sorriu para mim, estendeu a mão, enganchando-me


atrás do pescoço (novamente, algo que ele parecia gostar de
fazer, e que eu gostava dele fazendo) e me puxou para ele
para um beijo nos lábios antes de me deixar ir.

E prontamente me negou.

— Teremos étouffée24 para o jantar de amanhã.

— Eu quero isso, — eu anunciei, levantando os restos


da minha fatia.

Divertindo-se, ele declarou:

— Confie em mim. Se você tem étouffée, vai querer isso.

Eu não tinha escolha senão confiar nele. Ele tinha a


moeda deste mundo. Eu não. Eu não podia pagar pela minha
própria pizza, mesmo se soubesse como fazer o pedido, já que
ele fez para essa.

Nesse pensamento, eu compartilhei:

— Eu quero que minha próxima lição seja sobre o


telefone. E junto com isso, a encomenda de comida.

Noc mastigou, respirou fundo, franziu os olhos para


mim com seu humor e disse:

— Depois de beignets, a primeira ordem do negócio é


fazer com que você e Josette tenham seus próprios celulares.
Então amanhã, vamos cuidar disso.

— Obrigada, — eu murmurei, tomando uma das últimas


mordidas da minha pizza. Decidida a desviar minha atenção
do triste fato, de haver apenas mais duas mordidas, olhei
para Noc e perguntei: —Quantas capas você conseguiu?

24
Étouffée é um prato típico da culinária cajun, uma espécie de guisado tradicionalmente preparado
com um roux, vegetais e peixe ou mariscos
— A caixa tem dez.

Eu pisquei.

Rapidamente.

E minha voz se elevou quando perguntei:

— Você consegue fazer tantas vezes em uma noite? — O


corpo de Noc se moveu, a cama se moveu, e eu reconheci o
riso quando sua voz vibrou quando ele respondeu:

— Eles vêm em caixas de dez, querida.

Parecia um pouco estrangulada quando pressionei:

— Isso não responde à pergunta, meu querido.

— Como diabos você pode dizer "meu querido" doce e


quente, eu não sei — Noc murmurou.

— Noc! — Eu retruquei, começando a entrar em pânico,


pois eu era uma amante habilidosa, mas do jeito que Noc
fazia amor eu tinha certeza de que não conseguiria fazer dez
vezes em uma noite. Seus olhos brilharam quando ele
perguntou: — Você não topa dez vezes?

Ele estava brincando?

Ele tinha que estar brincando.

— Eu, bem... isso seria... ou seja, eu nunca ...

Parei de falar (ou, explodi tudo, gaguejando) quando Noc


estendeu a mão, pegou a última pizza da minha mão e a
jogou na caixa.
Isso me irritou, eu olhei para ele, mas os restos de sua
pizza se juntaram à minha e ele estava empurrando a caixa
para fora da cama.

Isso feito, antes que eu pudesse protestar seu


tratamento arrogante em nossa pizza, ele me puxou em seus
braços e rolou-me sobre ele, então eu estava de novo nas
minhas costas e ele em cima de mim.

— Não, baby, — ele admitiu baixinho, — não posso fazer


dez vezes em uma noite.

— Oh, — eu respondi em voz baixa a resposta, não


tendo certeza se deveria ficar aliviada ou desapontada.
Apenas conhecendo uma certa área do meu corpo
provavelmente não resistiria a esse desafio, mesmo que eu
quisesse.

Ele varreu sua boca contra a minha.

— Mas você vai gozar dez vezes em uma noite, —


declarou ele.

Minha respiração ficou presa.

— O primeiro agora, — ele sussurrou, suas mãos


começando a se mover em mim, — nove depois.

— No... — Eu não terminei de dizer o nome dele.

Noc me beijou.

— Eu quero você dentro de mim, — eu implorei.


Noc, nu de joelhos atrás de mim, eu nua de joelhos na
frente dele, seus braços em volta de mim, uma das mãos no
meu peito fazendo coisas deliciosas, a outra entre as minhas
pernas fazendo maravilhas, sua boca no meu pescoço
sugando, mordendo e beijando, então levantou-a ao meu
ouvido e mordiscou o lóbulo da minha orelha.

Oh meu.

Eu deixei minha posição clara.

— Por favor, — eu ofeguei, quadris moendo em sua mão,


sentindo a sua dureza pressionar no meu traseiro, querendo
isso para mim.

— Primeiro, — ele sussurrou em meu ouvido.

Eu quase não o ouvi. Meu clímax estava se reunindo


poderosamente, preparando-se para me dominar.

— Noc, depressa, me leve. Estou prestes...

Seu dedo no meu clitóris circulou mais rápido e mais


forte.

— Goze, Frannie, — ele rosnou no meu ouvido.

Ele não precisava pedir. No funcionamento de seu dedo


eu concordei, minha cabeça voando para trás e colidindo com
seu ombro, meu corpo tremendo violentamente em seu
aperto, minhas mãos indo para as dele a fim de parar suas
maquinações, porque eu estava aprendendo que havia tal
coisa como muito prazer. Eu estava experimentando naquele
momento, e iria me devorar.
No final do meu clímax, ternamente, Noc me deitou de
costas, me cobriu com seu corpo grande e quente, suas mãos
acariciando suavemente minha pele, sua boca novamente no
meu pescoço.

Quando consegui o controle da minha respiração,


coloquei minhas mãos nele, amando como ele parecia, seu
calor, o poder da ponta dos dedos que fazia parte de Noc e
ainda parecia uma contradição com toda a sua compreensão,
gentileza bem-humorada e provocante.

Foi nesse pensamento que sua mão percorreu meu


quadril.

Eu respirei fundo e virei minha cabeça quando Noc


levantou a sua para que nossas bocas estivessem quase se
tocando.

— Dois, — ele murmurou e eu estremeci sob ele, essa


palavra e o que significava, e seus dedos arrastando através
da minha parte mais íntima. — Tão molhada, — ele
sussurrou, — mal posso esperar para provar isso no três.

— Você, — era tudo que eu tinha em mim para


responder.

— Mais tarde.

— Noc...

Ele me beijou. Ele usou sua língua. Foi magnífico.

Mas foi muito curto.


—Mais tarde, — ele repetiu contra meus lábios, e antes
que eu pudesse pronunciar uma palavra, seus lábios se
moveram pelo meu corpo.

Noc eventualmente me provou.

Ele levou seu tempo. Ele demonstrou extraordinária


habilidade.

E no final, eu tive o três.

Nós estávamos nus e deitados, Noc de costas, cabeça e


ombros em cima de travesseiros empilhados, eu aconchegada
ao seu lado.

O quarto estava escuro, iluminado apenas pelo azul


enevoado que brilhava no peito nu de Noc.

Eu tinha a mão dele na minha e estava guiando sua


grande palma sob as faíscas.

Juntos, nós as levantamos e eu girei a mão dele com a


minha, circulando as faíscas até que elas formaram uma
bola.

Desejando que a bola fizesse o que eu desejava, puxei


minha mão e disse baixinho:

— Toda sua, querido.

Noc continuou circulando, respondendo:

— O que eu faço com isso?


Olhei para o seu rosto e experimentei algo profundo,
vendo a sua beleza iluminada pelo belo azul da minha magia.

À vista, senti meu corpo derreter mais profundamente


ao seu lado enquanto respondia:

— É só um brinquedo. Não tem poder para prejudicar.


Brinque com isso. Ou você pode desembolsar, passando a
mão por ele. Você pode configurá-lo na mesa de cabeceira
para voltar mais tarde. Ou jogue-o pelo quarto e, se fizer isso,
ele voltará para você porque é seu. Eu dei a você.

Preguiçosamente, ele puxou a mão para trás, a bola


seguiu, e ele a jogou para o outro lado do quarto, o arco azul
que fez, completamente linda (como se eu mesmo dissesse
isso).

Ele voou quase até a parede antes de parar e lentamente


retornar.

Quando Noc a pegou, ele a circulou em sua mão várias


vezes antes de enrolar os dedos em um punho, apenas o dedo
indicador para fora, e girou a bola no dedo. Eventualmente,
ele reabriu a mão, passou os dedos por ela e desapareceu,
deixando-nos na escuridão.

Sem demora, ele se virou para mim, reunindo-me em


seus braços.

— Você sabe que é uma fodona? — Ele perguntou, sua


voz profunda mais profunda com orgulho óbvio.

Sabia que ele pensava isso.

Eu adorava que ele pensasse isso.


E amei esse tom em sua voz.

— Eu aprendi muito bem, Valentine diz, — eu


compartilhei baixinho. — Embora agora ela diga que não há
mais nada para me ensinar, exceto como ela diz, 'no campo'.
Isso significa que eu preciso de experiência prática para
avançar mais. E eu vou te dizer, Noc, — continuei, afagando-
o ainda mais perto, — estou muito animada. É fascinante, a
mágica, aprender a usá-la, conhecer o meu poder, como usá-
lo, como não abusar dele. Embora eu sentisse sua falta
duramente enquanto nos separamos, e Valentine me
mostrando o que há dentro de mim e tudo o que sou capaz de
fazer ... nunca vou esquecer nossos tempos juntos e ser
eternamente grata por tudo o que ela fez por mim.

— Você sentiu minha falta duramente?

Eu olhei para ele através da escuridão e enrijeci.

Ele me puxou para mais perto.

— Baby, antes que enlouqueça com isso, você já deve


saber que eu também senti muito a sua falta.

Suas palavras significaram muito para mim e, a partir


do momento em que nos reunimos, ele não escondeu que
eram verdadeiras.

Mesmo assim, pela primeira vez desde que cheguei ao


seu mundo, a realidade se intrometeu e fiquei imaginando a
sabedoria dessa mudança impetuosa em nossas relações.

Fora Josette, Noc era meu amigo mais verdadeiro.


Na verdade, o único outro amigo que eu tinha no meu
mundo, a mãe de Frey, Valeria, eu nem sequer lhe contei que
estava indo embora, então nem preciso dizer que não me
despedi dela.

Dito isso, a última vez que ouvi falar dela (alguns meses
antes), o pai de Frey havia oficialmente cortado seus laços
com ela − o que significava terminar o casamento deles − não
era um acontecimento indesejado para Valeria.

Ela atualmente residia com seu amante de longa data,


um comerciante quase grotescamente rico, que ainda era
apenas um comerciante.

Obviamente, a velha Franka pensaria isso, mas eu


estava certa, ela estava deitada nua com um vigia da
cidade que tinha um tesouro, isso era verdade (ele me disse
que aceitou uma recompensa por sua parte para acabar
com a conspiração de Minerva), mas sem nenhuma casa e
sem título, e eu não me importei nem um pouco. Portanto,
eu não me importava mais se o amor de Valeria fosse um
senhor, um comerciante ou um trabalhador.

Valeria, no entanto, lutou com sua falta de posição. Até


que ela não teve escolha senão aceitar uma vez que seu
marido terminou com ela.

Minha amiga do outro mundo era muito presente


quando as coisas da vida dela não iam bem, para ter alguém
com quem se queixar.
Nas raras ocasiões em que ela estava feliz (antes de se
tornar a mulher mantida por um comerciante rico), que antes
tinha tudo, desaparecia.

Então eu sabia que ela estava delirantemente feliz.


Tanto assim, que mal ouvi falar dela, tal era o seu
contentamento.

Isso não negava o fato de que eu me importava com ela,


e ela se importava comigo, e deixei todo o nosso mundo para
trás, com Valeria dentro, sem sequer um adeus.

Que tipo de amiga eu era, fazendo isso?

E que tipo de amiga eu era, pulando na cama com Noc


sem pensar nas repercussões que isso poderia ter?

— Frannie? — Noc chamou minha atenção de volta para


ele.

Meu corpo rígido endureceu ainda mais.

— Talvez devêssemos...

Ele me interrompeu.

— Não. Nós não devemos.

Sua propensão para a interrupção estava começando a


me incomodar.

—Você continua me interrompendo e eu não gosto disso,


— eu compartilhei irritada.

— Você não reclamou antes, — ele respondeu. — E


provavelmente porque isso levou a coisas como eu caindo
sobre você, e você não teve nenhum problema com isso.
Agora tem algo para dizer, que eu posso sentir pela sua
mudança de humor, não precisa ser dito, não agora, mas por
algum motivo você sente vontade de fazê-lo, e eu não vou
deixar. Mas você não está acostumada a não conseguir o que
quer, então de repente você "não gosta disso".

As primeiras coisas primeiro.

— Caindo sobre mim? — Eu perguntei.

— Fazer você gozar com a minha boca, — explicou ele.

Bem, isso certamente estava diminuindo, para a parte de


Noc. Ele era tão bom nisso que só me fez voar alto.

— Isso é explicável, — continuei. — Agora, vou observar


que se tenho algo a dizer, gostaria de poder dizer isso. E
sinceramente, eu não posso acreditar que eu tenha que fazer
o pedido.

— Não se você está fodendo, — ele retornou.

— Eu não estou "fodendo", — eu retruquei.

Ele rolou para dentro de mim, então eu tinha um pouco


do seu peso nos meus quadris, suas longas pernas
emaranhando nas minhas, e Noc levantou-se em um cotovelo
dobrado para que não estivesse pairando sobre mim, mas
tinha a posição dominante.

Isso, meu palpite, embora eu nunca soubesse ao certo,


era uma manobra usada com frequência por Frey, Lahn e Tor
quando suas esposas faziam alguma coisa, que tinham toda a
intenção de conter, e tal acontecimento acontecia na cama.
Então, também achei irritante, ao mesmo tempo achava
excitante.

O que era ainda mais irritante.

Explodi!

— Você quer falar sobre, — ele pressionou seus quadris


nos meus, — nós. Onde estamos. O que fizemos. Como isso
aconteceu? E você quer fazer isso porque está assustada,
pensando que aconteceu rápido demais ou foi a direção
errada para nós irmos, ou que porra é essa.

Eu não tive a oportunidade de confirmar que isso era


exatamente o que eu queria fazer, e ele continuou falando.

— Não aconteceu muito rápido, Frannie, demorou


muito, na minha opinião. E não foi errado. Pelo menos para
mim, estou exatamente onde queria estar desde o momento
em que nos conhecemos. Você estava em um lugar ruim. Tive
que te mostrar. Eu fiz isso. Isso acabou. Você não está mais
naquele lugar, então estamos nos movendo e isso, — ele
novamente pressionou seus quadris nos meus, — é a direção
em que estamos nos movendo.

Na verdade, o seu "demorou muito, na minha opinião" me


fez querer pular da cama, gritar com alegria e talvez dançar
um pouco.

Sem mencionar todas as outras coisas deliciosas que ele


disse (praticamente no minuto em que nos encontramos!).

Eu era uma Franka Drakkar muito mudada.

Mas eu não estava tão mudada.


Portanto, em vez de pular da cama, eu perguntei com
raiva:

— E eu não tenho nada a dizer sobre isso?

Ele ficou em silêncio um momento antes que eu pudesse


sentir o tremor de sua diversão agitando seu corpo quando
ele me lembrou:

—Frannie, baby, fiz você gozar três vezes, você está


deitada nua pressionada contra mim e acho que tenho
marcas permanentemente nas costas das minhas coxas dos
saltos nos seus calcanhares. E antes que você se agarre a
isso. — disse ele rapidamente, — não é uma reclamação, nem
de longe. Seus saltos poderiam me dar cicatrizes, o que não
fizeram, e levar essa lembrança comigo onde quer que eu vá
estaria bem para mim. Mas você não lutou contra nada disso,
e, apenas apontando, ainda não está. Com tudo isso, você
quer fazer um caso, que não está bem com essa direção?

Isso era tudo verdade (embora me preocupasse com as


marcas, Noc claramente não se importava, mas esses saltos
pareciam letais, e esperava não ter causado nenhum dano
duradouro).

E absolutamente não queria argumentar que não era


bom nessa direção.

Mas, não admito isso.

Eu afirmei:

— Eu não estou pressionada contra você. Você é que


está pressionado contra mim.
— Justo, — ele concedeu. — Três minutos atrás, porém,
querida, você estava pressionada contra mim.

Isso também era verdade.

Eu tapei minha boca e rangi os dentes.

Eu vi seu rosto sombreado se aproximar e pude ver o


branco de seus dentes.

Hmm.

Como esqueci o quão aborrecido Noc poderia ser?

— Então, para ser claro, a direção que você quer seguir


é que tenhamos relações? — Perguntei.

Mais tremor de seu corpo (e voz) quando ele respondeu:

— Sim, querida, eu quero ter relações.

— E amanhã e no dia seguinte? — Eu pressionei,


empurrando a esperança para trás e puxando para cima o
arrogante.

— Eu vou corrigir. Nós tivemos relações. Hoje à noite,


vamos ter mais relações. E depois que sairmos desse quarto e
nos darmos bem com nossas vidas, continuaremos a ter
relações repetidas e frequentes.

Isso foi muito promissor.

Querendo confirmar, eu disse:

— Para terminar, você deseja que nossa direção seja


sobre você estar aberto para fazer sexo comigo.

Inesperadamente, sua alegria varreu o quarto com tal


velocidade, eu congelei contra ele em reação à mudança.
— Você realmente está me perguntando essa merda? —
Ele exigiu, sua voz baixa e havia um tremor, mas certamente
não era humor.

Foi raiva.

Noc nunca ficou com raiva de mim.

Nem uma vez.

Eu não gostei. De modo nenhum.

Eu estava preocupada com a sabedoria da minha


resposta, mas a veracidade disso não podia ser negada, já
que lhe perguntei essa merda.

— Bem ... sim, — eu disse hesitante.

— Você acha que tudo o que eu quero é sua boceta?

Eu não tinha certeza de que o ouvi corretamente.

— Desculpe-me?

— Você acha que tudo que eu quero é sua boceta.

O primeiro foi proferido como uma afirmação que


também era uma questão incrédula.

O segundo foi proferido apenas como uma declaração.

Um insulto.

Eu perdi minha preocupação com a raiva dele e


respondi assim mesmo.

— Bem, eu espero que não, — eu rebati, me afastando,


indecisa sobre o que fazer quando eu estivesse livre dele,
embora focada em fazer exatamente isso.
No entanto eu estava com Noc. Ele era um homem. Um
dominante. Um forte.

Para não mencionar, ele já tinha o braço em volta de


mim.

Sendo assim, ele simplesmente o usou para me arrastar


de volta para onde eu estava.

— Eu preciso usar o banheiro, — menti.

— Não, você não precisa, — ele retornou.

— Você está certo. Eu não preciso usar o vaso sanitário.


Eu preciso de um momento longe de você porque estou com
raiva de você e meu temperamento é formidável. Sendo
assim, achei melhor, se não posso usá-lo para uma
vantagem, me afasto quando ele explode.

— Franka, para deixar as coisas claras, caso o


impossível esteja acontecendo e você esteja sentindo falta
disso, o que eu quero de você não é apenas sexo. É qualquer
coisa que tenha para me dar. Incluindo seu temperamento
formidável. Então, querida, se você tem algo para dizer, diga.
E se não se importar, seria legal começar a me dizer por que
está chateada quando você acabou de dizer que pensou que
tudo o que eu queria seria abertura para transar com você.

Pelos deuses!

Como na terra ele poderia pensar que foi isso que eu


disse?

— Eu não disse nada disso, — contestei.

— Você disse.
— Eu não.

— Eu tenho uma boa memória, mas eu não preciso


disso, já que não foi nem dois minutos atrás, quando você
disse, "você deseja que nossa direção seja sobre você estar
aberto para fazer sexo comigo". Você está negando isso agora?
— Ele perguntou.

— Claro que não, — respondi.

Noc se afastou um pouco, a temperatura na sala


diminuiu e esse frio gelou suas palavras enquanto ele
ordenava,

— Então, novamente, me explique como é que você está


chateada, se acabou de dizer que tudo o que eu estou
procurando é sua boceta, o que significa que você acha que é
tudo o que tenho feito quando se trata de você.

Puta merda!

Ele perdeu a cabeça!

— Eu não disse isso, Noc, — eu retruquei.

Ele se afastou ainda mais e sua voz começou a subir


quando ele retornou:

—Você disse, Franka, e acabou de confirmar que você


falou.

Minha voz também estava aumentando.

— Eu não falei, Noctorno!

— Não me chame assim, — ele cerrou entre os dentes.


— Não afirme que eu falei coisas ridículas, ofensivas
quando eu não, — eu repliquei.

— Então me diga o que você quis dizer, — ele ordenou.

— Você gosta de mim, — eu disse.

— Sim, — ele mordeu de volta.

— Você sentiu minha falta quando estávamos


separados.

— Uh… sim, senti. E o que isso...?

Eu o interrompi.

— E você está muito ciente de que eu senti o mesmo por


você em ambos. Então, minha suposição, de fato, minha
esperança seria que o que nós tivéssemos permanecesse.
Sendo um apaixonado pelo outro. Apreciando a companhia
um do outro e, portanto, gastando muito tempo nela. Mas
nossa direção... agora... é a adição que você deseja estar
aberto para fazer sexo comigo.

Ele não respondeu.

Não foi uma surpresa.

Ele tirou conclusões precipitadas, e deveria saber


melhor e, novamente, eu não tinha experiência direta, mas
diria que era um bom palpite que um homem como ele −
independentemente da profundidade de sua capacidade de
ser gentil e bondoso − teria uma superabundância de
orgulho.

Então, quando estivesse errado, ele não estaria ansioso


para admitir isso.
Isso foi algo que me irritou ainda mais.

E por causa disso, não fiquei de boca fechada.

— Não posso imaginar como, em todo o tempo que


passou comigo, Noctorno, que você consideraria que eu
pensaria isso. Eu tenho uma alma da meia-noite, é verdade,
mas a luz brilha sobre ela de vez em quando. Eu sinto seu
calor quando isso acontece e isso significa tudo para mim.
Tudo. Muito de tudo, você me deu sua luz e há precisamente
cinco seres pelos quais eu levaria chicotadas… Kristian,
Josette, Timofei, Frantz e você.

— Frannie, — ele sussurrou, seu tom mudou muito.

Mas eu estava com raiva.

Em outras palavras, não havia como me impedir.

— E no caso de você perder alguma coisa, eu gostei


muito do seu amor. Nunca tive isso. Esse abandono. É de
alguma forma libertador. Você dá, mesmo quando eu estou
dando algo para você sobre você dando algo para mim, e não
sei como consegue isso, mas é uma coisa de beleza. Então,
para ser honesta, mesmo que não tivesse todas as outras
partes do Noctorno Hawthorne que você me deu, partes que
eu aprecio, não me importaria nem um pouco se tudo o que
quisesse fosse a minha boceta.

Ele novamente não respondeu.

Eu não tinha mais nada a dizer e, como ele não me


deixava ir, fui forçada a esperar, pois era indigno lutar.
Enquanto esperava, comecei a fazer planos, fazendo isso
na minha cabeça. Encontrar Valentine com magia, exigindo
que ela venha e me leve até ela e Josette, e que faça isso
imediatamente. Se não o fizesse, eu faria e ela ainda não me
ensinou a usar o meu espírito. E me disse para não praticar
sem ela também.

"Os resultados, chérie, se você fizer algo errado, podem


ser drásticos", — ela avisou.

Se ela não fizesse isso, eu ainda iria. Não me importava


se eu acabasse no esquecimento (por um feitiço, que
obviamente não faria pela eternidade).

De repente, ocorreu-me que Noc não estava mais sendo


afastado e que a temperatura do quarto não estava mais
gelada pelo humor dele, o que me fez focar novamente em seu
rosto sombreado.

Era como se sentisse o meu foco, no instante em que ele


perguntou:

— Você terminou?

— Com o quê? — Perguntei.

— De falar.

— Sim, — eu respondi.

— E enquanto fervia, depois que falou tudo isso, você


planejou meu assassinato, visualizou se afastar de mim ou
fez o seu plano para entrar em contato com Valentine e fazê-
la buscar você?
Essa pergunta me fez lembrar de uma conversa que tive
com Cora meses atrás, onde ela descrevia, com alguma
extensão, a habilidade investigativa da "polícia", em seu
antigo mundo. Eu não sabia nada das habilidades ou deveres
da guarda da cidade e nunca tive qualquer interesse (embora,
quando Cora falava, fui toda ouvidos).

O que Cora disse sobre isso foi impressionante, e não


simplesmente porque eu sabia que Noc estava engajado
nessas atividades e eu pensava que tudo nele era
impressionante.

No entanto, ter um homem nu na cama com você e estar


no meio de uma discussão com o dito homem, que também
tinha o que parecia ser um significativo poder de
discernimento, era vexatório.

— Eu vou entrar em contato com Valentine, — eu


compartilhei.

— Não, você não vai.

Deus.

Noc sendo muito Noc.

Suspirei e olhei para o teto escuro.

— Alma da meia-noite? — Esta pergunta não veio com a


nuance de humor, que era afiado em seu tom, mas com algo
solene.

Eu olhei de volta para ele.

— Você está ciente de que está na cama com Franka


Drakkar, não minha irmã gêmea deste mundo, não é? — Foi
então que eu me perguntei sobre a minha irmã gêmea neste
mundo, algo que nunca pensei. Deuses, eu esperava que ela
não vivesse nessa mesma cidade. Quão estranho seria isso,
encontrá-la?

— Babe, você quer se concentrar em mim, ou está


ligando para Valentine?

Fiz o que ele não exatamente pediu e foquei nele.

— Eu não estou "ligando" para Valentine.

— Então você quer se concentrar em mim? Vendo como


estamos tendo uma conversa importante.

Ele estava certo.

Droga.

— Estou focada em você, Noc, — assegurei.

— Alma da meia-noite? — Ele pressionou.

— Sim?

De repente, tudo que eu pude ver foi uma sombra,


aquela sombra sendo seu rosto, que era uma respiração
minha.

— É isso que você acha que tem?

Senti minhas sobrancelhas unidas, mas como ele


provavelmente não tinha visão noturna e seus
impressionantes poderes de dedução, afirmei minha
confusão.

— Você acha isso surpreendente?


— Frannie, você levou surras por seu irmão desde que
sabia que era uma opção. — Para isso, fui eu quem não tinha
resposta.

— Essa é a coisa mais altruísta que já conheci, —


declarou.

Por que, oh, por que nós tivemos que entrar nisso?

No entanto, com toda a justiça a Noc, precisávamos


fazer exatamente isso. Se ele já não soubesse de coisas que
os outros lhe disseram, Noc precisava saber quem ele tinha
nua e deitada na cama com ele.

— Você sabe que fiz coisas terríveis, Noc, — eu disse


baixinho.

— Sei que você agiu como uma cadela completa para


impedir as pessoas de se aproximarem, Frannie. Mas isso
não significa que você é uma má pessoa.

— Eu sou filha dos meus pais e até a meia-noite tem um


tom. Suas almas são vazias.

— Seu pai é um idiota arrogante, — ele retornou. — Sua


mãe, eu não sei, mas no minuto que ela perdeu o poder, ela
se perdeu, então a única coisa que posso pensar sobre isso é
que o poder dela era ela, aquilo e a posição que o marido lhe
dava. Ele é um idiota. Ela é pior, porque no final ela não é
realmente nada e nunca foi.

Isso tudo foi muito verdadeiro.

O que me fez perguntar por que ele questionaria minha


afirmação.
— Eles me fizeram, — reiterei.

— Eles fizeram e esse é o milagre da vida, querida.


Algumas pessoas ficam bem com o bem. Algumas pessoas
são boas e outras ruins. E algumas pessoas são como seus
pais. Eles são desperdícios de espaço e eles criaram você e
seu irmão, que absolutamente não são.

Eu adorava que ele pensasse assim.

Era só que isso simplesmente não era verdade.

— Você não conhece a pessoa que eu era.

— Eu sei o que você disse a Maddie, bem na cara dela.


Apollo me disse. Ele conhece sua história agora, Frannie.
Como todo mundo, ele mudou de ideia sobre você. Dito isso,
ele ainda está chateado e nunca vai te perdoar por isso,
porque esse é o cara que ele é. Ele ama sua esposa, você a
feriu, ele nunca vai deixar isso passar. E eu entendo isso,
porque o que você disse a ela não foi legal. Foi desagradável.

Para ser honesta, embora eu não compartilhasse isso


verbalmente nesse momento (ou talvez nunca), o exemplo
dele era ruim.

Eu não conhecia Maddie muito bem. Ela foi antes de


tudo tivesse acontecido no Palácio de Inverno comigo.

Mas ainda não entendi muito bem o relacionamento dela


e de Apollo.

Não era da minha conta, isso era verdade. E sem


dúvida, eu não deveria ter falado com Madeleine.
No entanto, as circunstâncias eram terríveis, meu
amante estava sendo torturado por bruxas malévolas, eu
estava no meio de ser pega cometendo traição contra o meu
país, e, pelo menos nesse caso, senti que deveria ter alguma
margem de manobra.

— E também era assim que você tinha que ser, por


causa do que seus pais fizeram com você, — concluiu Noc.

De repente, com medo de tocá-lo, mas precisando fazê-


lo, levantei minha mão e a envolvi em sua mandíbula antes
de dizer baixinho:

—Noc, temo que você esteja dando desculpas porque


tem sentimentos por mim e isso permite que não me veja
como sou. Ou o eu que eu costumava ser antes de tudo o que
aconteceu.

— Franka, — ele respondeu instantaneamente,


mudando para que ele estivesse completamente em cima de
mim, suas mãos acariciando minhas costas para que ele
pudesse usar as duas para segurar minha cabeça, — sem
ofensa, baby, mas isso é uma completa besteira.

Noc.

Irritante.

Mesmo em momentos como estes.

Minha mão ainda em seu queixo se moveu para seu


ombro e empurrou quando eu rebati.

— Não é.
— É o que você diz a si mesma para não perder o
controle de tudo o que sabe, e eu entendo isso, querida. A
maneira como a sua realidade mudou nos últimos meses,
tudo o que você conheceu desapareceu em um piscar de
olhos, isso deve ser muito assustador. Mas todo mundo sabe
que tudo foi um ato. Foi sempre um ato. Eles conhecem a
verdadeira Franka. A única quem não conhece é você.

Este foi um refrão que eu ouvi antes.

Ele estava certo sobre a nova Franka.

Mas ele também estava muito errado porque a nova


Franka era apenas isso.

Nova.

— É impossível que as pessoas, incluindo você, Noc, me


conheçam melhor do que eu.

Um de seus polegares começou a desenhar círculos


suaves sob o meu ouvido (o que me agradou) enquanto a
outra mão mudou e ele começou a acariciar minha
mandíbula com aquele polegar (o que, sem dúvida, parecia
mais agradável).

Ele fazia isso enquanto murmurava:

— Veja, eu tenho mais trabalho a fazer para você sair


daquele lugar ruim. — Seu polegar no meu queixo mudou
ainda mais e ele esfregou em meus lábios antes dele abaixar
a cabeça e fazer o mesmo com os seus próprios lábios. Uma
vez que ele fez isso, contra o meu, ele afirmou: — Mas eu vou
chegar a isso mais tarde. Isso é muito pesado por enquanto.
E de qualquer forma, é hora do número quatro.

— Número quatro? — Ele ficou louco? — Só para dizer,


depois de discutir com você e todo o resto, eu realmente não
estou com disposição para outro orgasmo, — eu compartilhei
desdenhosamente, dizendo palavras que nunca pensei que
diria.

Especialmente sobre orgasmos entregues por Noc.

Ele beliscou meu lábio inferior com os dentes.

Eu não pude parar ...

Eu estremeci.

— Besteira, — ele sussurrou, sua diversão em uma


palavra abundantemente clara.

— Você sabe que é muito irritante, — declarei. — E essa


parte sua eu não aprecio, Noctorno Hawthorne. Dessa parte
sua também não senti falta. Nem um pouco.

Isso tudo era mentira. Eu senti falta de cada parte dele.


Incluindo ele sendo irritante.

— Humm, — ele sussurrou contra meus lábios.

E droga isso tudo!

Eu tremi novamente.

— Você não se importa que às vezes eu ache você


irritante, não é? — Perguntei.

— Baby, você me ama. Não dou a mínima, para algumas


partes que você não aprecia. Essa merda vai acontecer. — Ele
esfregou sua boca até meu ouvido e sussurrou: — Apenas
porra, emocionado, com as partes que você gosta.

— Eu vejo, — eu disse ao teto, — que eu deveria


aprender quando calar a boca.

Ele colou seus lábios de volta aos meus e afirmou: —


Agora não é a hora.

Comecei a dizer algo e não terminei porque Noc estava


beijando minha boca aberta e fazendo isso profundamente.

E então ele começou a provar que era, na verdade,


besteira que eu não estava com disposição para outro
orgasmo.

Aparentemente, estava.

Na verdade, aparentemente, estava com disposição para


dois.

As mãos de Noc insistiam em meus quadris, e ele


murmurou:

—Mais rápido, querida.

Eu não me movi mais rápido.

Sentada em cima dele, olhei para ele deitado de costas


diante de mim na luz fraca da manhã e levei o meu tempo
subindo e descendo em seu pau, deslocando meus quadris ou
tronco lentamente para mudar o ângulo, dando-lhe uma
surpresa, oferecendo mais, enquanto eu assistia seu prazer.

Como ele, me vendo fazer o meu trabalho.


Seus dedos cavaram em minha carne.

— Frannie, baby, mais rápido.

Novamente não fui mais rápida.

Naquela noite, eu tive oito orgasmos. Ele teve um. Eu


tomaria todo o tempo que precisasse para dar a ele a
profundidade do prazer que era certa, na intenção de lhe dar.

Movendo-me na mesma velocidade, inclinei-me sobre


ele, arrastando uma mão preguiçosamente pelo seu peito.
Meu cabelo caiu sobre o meu ombro, escovando seu peitoral,
eu apertei minhas paredes ao redor de seu pênis, enchi-me
com ele e comecei a ondular.

— Porra, Frannie, — ele rangeu, seus olhos em chamas,


seus dedos agora me apertando.

— Permita-me te dar algo, querida.

— Você me deu algo, mas dando mais disso agora seria


bom, baby. — Eu sorri para ele.

Seu olhar caiu para a minha boca e seu corpo sob o


meu ficou totalmente imóvel.

Achei uma reação estranha e perturbadora.

Então, com um grito de surpresa, voltei a me encontrar


de joelhos, mas não mais em cima de Noc com o pau dentro
de mim.

Eu estava de frente para a cabeceira da cama, levemente


forçada a me inclinar pelo peito de Noc nas minhas costas.
Ele tinha uma das mãos entre as minhas pernas, dedo no
meu clitóris, sua outra mão estava em meu peito, dedos
enrolados ao redor do meu pescoço.

E ele estava estocando seu pênis dentro de mim


rapidamente e brutalmente.

Oh.

Meu, meu, meu.

A ponta do polegar pressionou sob o meu queixo,


forçando minha cabeça para trás em seu ombro enquanto ele
continuava me tomando violentamente, penetrando em mim.

Surpreendente.

Seus lábios no meu ouvido, ele grunhiu:

— Quer o número nove.

— Noc, — eu forcei para falar.

Amando a sensação de seu pênis me penetrando e


saindo, o poder dele me cercando, o domínio me montando,
eu levantei a mão para me apoiar contra a cabeceira da cama
para que pudesse tirar mais proveito de suas estocadas.

— Vamos, baby, — seu dedo no meu clitóris começou a


tremer de forma deslumbrante, — me dê nove.

Senti os arrepios percorrerem as frentes das minhas


coxas e comecei a me empurrar para trás para encontrar sua
estocadas, ofegando com esforço e prazer através de cada
uma.

Seu polegar no meu rosto desceu para dentro do meu


lábio e dentro da minha boca.
— Chupe, — ele ordenou.

Eu chupei e no instante em que o fiz, o poder de seus


movimentos se intensificou.

O gosto e a sensação dele, eu gemi contra seu polegar,


meu corpo batendo com o orgasmo que de repente caiu sobre
mim. Arrastado por suas investidas crescentes, puxei com
força o polegar na minha boca e enterrei minha cabeça em
seu ombro, experimentando a glória.

— Isso é nove, — ele grunhiu, tirando o polegar da


minha boca para envolver sua mão totalmente em torno do
meu queixo, — agora me dê dez, Frannie.

— Noc, — eu ofeguei, ainda no meio do número nove.

Ele se manteve em mim, dedo no meu clitóris e seu


pênis me penetrando profundamente.

— Porra, você deveria te ver me levando, — ele gemeu, e


se era possível (o que era desde que ele fez isso), ele começou
a me levar mais forte. — Seus peitos. Seu rosto. Sua boceta.
Muito lindo.

Eu o ouvi. Amei as palavras.

Mas eu estava no meio de me maravilhar com o fato de


que sentia outro clímax chegando, então não pude responder.

— Isso, baby, — afirmou, seus dedos na minha


mandíbula segurando mais apertado, — o que estamos
fazendo agora, é foda.

— Eu... como... porra, — eu empurrei para trás.

— Bom, — ele grunhiu, empurrando para dentro.


Bom foi um eufemismo.

— Da próxima vez, eu vou fazer com você na frente de


um espelho.

Em suas palavras atraentes, meu braço voou para cima


e para trás. Eu peguei o cabelo dele em minhas mãos e dei a
ele o número dez, mesmo depois de tudo o que ele me deu
naquela noite, para não mencionar apenas o orgasmo, um
orgasmo violentamente em seu poder.

— Lá vamos nós, — ele rosnou, em seguida, me


penetrou, remexendo, e eu ouvi e senti seus grunhidos
soarem contra o meu ombro quando ele chegou ao clímax
dentro de mim.

Depois de algum tempo, quando os batimentos


cardíacos e a respiração diminuíram, Noc passou um braço
ao redor da minha barriga, a outra mão se moveu para se
enrolar novamente ao lado do meu pescoço e me pegou
lentamente com seu pênis em mim, ternamente. Tão bonito.

Então Noc.

Depois de oferecer aquela carícia íntima, ele lentamente


puxou para fora, deitou-me de costas, beijou minha barriga,
meu peito, meu queixo e olhou nos meus olhos.

— De volta, — ele murmurou.

Ele foi bom em sua promessa. Deixando-me para


descartar a camisinha, ele voltou e eu estava em seus braços
sob as cobertas, de costas para frente dele.

Eu também estava meio adormecida.


— Temos talvez quatro horas antes de ter que verificar,
— ele murmurou na parte de trás do meu cabelo.

— Verificar? — Eu murmurei.

Seus braços em volta de mim se apertaram e ele


respondeu:

— Eu vou explicar mais tarde. Agora durma.

Meus olhos à deriva se fecharam e ficaram assim.

Minha boca não.

— Noc? — Eu chamei.

— Sim, Frannie.

— Todas as partes que gosto, — eu disse a ele.

— O que?

— Todas as partes que gosto, — repeti.

Ele enterrou o rosto no meu cabelo e me puxou para


mais perto em seus braços, murmurando um sono,

— Desculpe, baby, eu não entendo.

— Tudo o que você faz, eu aprecio, — expliquei.


Vagamente senti seu corpo quente e lânguido ficar sólido ao
meu redor. —É só quando você está com a mente irritante
que eu digo a mim mesma que não. Mas eu também aprecio
isso, porque é você.

Eu terminei encontrando um de seus pulsos na minha


barriga, envolvendo meus dedos em volta dele e dando um
aperto.
Imediatamente depois de fazer isso, adormeci com o
corpo de Noc ainda sólido atrás de mim, seus braços me
segurando com força.
Luzes do painel

Noc
— O que isso faz?

— Conta quantos passos você dá, e você pode introduzir


o que comeu, que exercício fez, quanta água bebeu, mede o
quão longe andou, quantas calorias queimou, há quanto
tempo está ativo, coisas assim.

Completo silêncio.

Então.

— E o que isso faz?

— Uh, bem... é uma balança.

— Uma balança?

— Uma balança.

— Que tipo de balança?

Um tipo diferente de silêncio, então...

— Você pisa nela e ela diz o quanto você pesa.


— Por que você precisa saber disso?

— Um ...

Noc tinha problemas para não gargalhar.

Ele realmente deveria intervir. O cara de vendas na loja


de telefone provavelmente recebia por atendimento. Ele não
precisava de duas mulheres do universo paralelo
perguntando-lhe um milhão de coisas.

Porém, Josette foi quem fez as perguntas. Frannie


estava parada ao seu lado, o braço dela ao redor de sua
cintura, seu braço ao redor dos ombros dela, quieto e
observando sua garota absorver as novidades em seu novo
mundo com um sorriso doce, sexy em seu rosto.

Pelo que experimentou desde que levara Franka até


Valentine, para que ela pudesse trocar de roupa e se preparar
para o dia, e depois de levar Josette e ela para comer
beignets, Noc sabia que um cara estaria a ponto de
enlouquecer. Mas era tão divertido, e Josette estava se
divertindo tanto que não conseguia parar.

Descobriu naquele dia, enquanto ela gritava no Café du


Monde:

—Pela deusa Hermia, há maroovianos por toda parte!


Não é divino? — Josette gostava de homens negros, já que,
pelo que Noc poderia dizer, em seu mundo, as pessoas de
Maroo (assim como alguns de Keenhak) eram negras.

E o cara das vendas era um cara negro bonito.

Outra razão pela qual Noc não intervinha.


Entretanto, depois de perceber que ela era atraída por
caras negros, ele passara algum tempo no carro explicando
como ser politicamente correta para ajudá-la a não estragar
todas as suas chances. Só tinha que esperar que Josette não
ficasse parada na frente das pessoas, como se estivesse em
uma vitrine com o nariz preso à janela e a boca aberta.

— Não importa, — Josette disse para o vendedor. — De


onde você é?

— Uh, de onde eu sou?

— Você sabe, que país neste planeta?

O cara olhou de Josette para Noc e Franka, não obteve


ajuda, então ele olhou para Josette.

— América, — ele respondeu.

Josette virou-se para Noc.

— É onde estamos agora, certo?

— Sim, querida. — A voz de Noc estava tremendo, —


Isso é onde estamos agora.

Josette voltou-se para o vendedor e declarou: — Você é


muito bonito. Nós não temos muitos homens bonitos como
você de onde eu sou.

Os olhos do sujeito ficaram enormes, então eles caíram


nos impressionantes "seios" de Josette.

Noc teve que dar meio passo para trás (levando Frannie
com ele) e curvar um pouco a cintura para aliviar a dor em
seu lado de tentar controlar seu riso.
— Querida, — Frannie murmurou, mas não disse mais
nada, e ele podia ouvir nessa única palavra que ela achava
isso hilário também.

— Não sei bem qual é a etiqueta, — continuou Josette.


— De onde venho, eu só pergunto a você, depois que terminar
com seus deveres, se gostaria de me encontrar em um pub
para uma cerveja inglesa e então me levar para sua cama. —
Ela virou novamente para Noc enquanto ele fazia um barulho
sufocante. — Como vocês costumam fazer por aqui?

— Uh, — ele expulsou, — Não assim... exatamente.

Josette assumiu a posição de Noc, expressão e tom, e


não sendo estúpida, ela interpretou todos eles.

O que significava que devolveu a atenção ao sujeito,


murmurando:

— Que pena.

— Jesus, de onde você é? — Ele sussurrou.

— Não daqui, — Josette deu-lhe o eufemismo da década,


olhou para a exibição de coisas ao seu lado e perguntou: — O
que é isso?

— O mesmo que o outro, mas tem um relógio e monitora


sua frequência cardíaca, — respondeu o homem, soando
estrangulado.

— Agora, por que diabos você precisaria disso? —


Josette perguntou.

— Jovem, — disse Franka antes que pudesse responder,


e Noc engoliu uma gargalhada com as palavras que escolheu.
Josette e o cara de vendas voltaram sua atenção para
ela e quando o fizeram, o cara de vendas novamente
arregalou os olhos, provavelmente porque ele nunca foi
chamado de "jovem" em sua vida.

Franka prosseguiu:

— Estamos aqui procurando telefones. Por mais


iluminador que seja, talvez devêssemos passar para aquela
parte de nossa procura.

— Certamente. — Ele disse rapidamente e se moveu


ainda mais rápido. Ele começou seu discurso antes de
chegarem à seção de telefones. — Temos uma ampla seleção,
uma série de planos, diferentes opções de dados, nossa
cobertura é a melhor do país e...

— Eu quero aquele, — Franka declarou, apontando para


um iPhone rosa-dourado.

— Sim, rosa! — exclamou Josette. — Vou pegar aquele


também. — Ela girou para Franka. — Teremos telefones
gêmeos, Franka! Isso não será divino?

— É verdade, querida, — murmurou Franka, parecendo


de novo divertida.

O vendedor estava em meio a um mar de telefones e


olhou para Noc.

— Vamos apenas prosseguir com isso, certo? — Noc


sugeriu.

— Certo, — o sujeito murmurou.


— Para tornar isso fácil para você, elas provavelmente
não vão precisar de um plano com mais de três gigas, — disse
ele. — Elas também não vão precisar da maior capacidade de
armazenamento no telefone.

— Entendi, — veio a resposta. — Vou buscá-los agora.

E ele partiu.

Rápido.

— Bem, isso foi um pouco rude, — Josette murmurou,


olhando-o enquanto ele ia embora.

— Minha suposição de sua primeira reação é, — Franka


começou e Noc olhou para ela, — independentemente do fato
de que as mulheres usam muito menos roupas, como fazem
os homens em algumas ocasiões, os costumes sexuais aqui
são mais rigorosos do que são em casa, estou certa?

Desde que ele ainda a tinha em seus braços, Noc puxou-


a para sua frente, desfrutando de assistir aquele arco magro
e lindo do pescoço dela, e de manter o olhar ali atrás
enquanto ele respondia,

— Não tenho certeza se posso responder a essa


pergunta com precisão. Não andei à espreita em seu mundo,
Lábios-açucarados.

Ela assentiu inteligentemente, compartilhando,

— Josette não contou mentiras. Em nosso mundo, não é


incomum para uma mulher jovem, ou homem, se aproximar
de alguém que eles achem atraentes e se oferecer para
compartilhar sua cama. Às vezes o flerte é utilizado, mas
também é muitas vezes abandonado. Não se costuma perder
tempo quando você pode descobrir muito rapidamente se
ambas as partes desejam a mesma coisa. Isso não é feito
aqui?

Ele lutou um sorriso enquanto negava a cabeça e


acrescentou,

—Não.

— Oh, querido, eu fui rude? — Josette perguntou,


parecendo horrorizada.

Noc olhou para ela.

— Acho que ele nunca esquecerá hoje, não de uma


maneira ruim, e nesse momento ele está tentando decidir se
você viu sua aliança de casamento para que ele possa tirá-la,
voltar e aceitar sua oferta.

— Aliança de casamento? — perguntou Franka.

Ele olhou para baixo em seu belo rosto, ainda incapaz


de decidir se era mais bonito maquiado ou não.

Quando o fez, pensou, na noite anterior, quando viu


aquele rosto pela primeira vez em meses. Ele também
pensou em todo o brilho que veio depois.

Especialmente o brilho do que ela disse bem antes de


dormir em seus braços.

Ele então se forçou a parar de pensar nisso porque, se


não o fizesse, arrastaria Frannie para seu Suburban25, a
levaria para seu novo lugar e não daria a mínima que
25
Modelo de caminhonete da Chevrolet.
deixassem Josette para trás. E isso não seria legal, Josette
não era como um bebê na floresta.

Ela era como uma criança em uma loja de doces.

E isso era pior.

— O anel em seu dedo anelar esquerdo, — ele


compartilhou. — Se um homem tem um anel lá, significa que
ele é casado.

— Que maravilha! — Exclamou Josette. — E que ideia


excelente. — Ela se virou para Franka. — Se nossos homens
usassem anéis, uma mulher saberia e ela não teria que
entrar num pub e inesperadamente ter alguém ameaçando-a,
arrancando seus cabelos, roupas e cuspindo em seu rosto.

Claramente, isso era algo que acontecera com Josette.

Cristo.

Franka, já relaxada em seu corpo e seu apoio, relaxou


mais ainda, observando:

— Eu nunca entendi o impulso da esposa injustiçada


indo atrás da amante. Se a amante soubesse sobre a esposa,
aí sim seria justo e eu lhe daria ajuda em cada puxão e
cuspe, tanto quanto ela puder produzir. Se não sabe, por que
puxar os cabelos e cuspir no rosto? A amante também foi
injustiçada, talvez não tão mal quanto a esposa, mas foi
injustiçada. A esposa deveria arrancar o cabelo do marido e
cuspir no rosto dele. — Ela inclinou a cabeça para trás e
olhou para Noc. — Você concorda? Ou os votos de fidelidade
não são praticados aqui como Cora e Circe compartilharam?
— Eles são praticados, — ele respondeu. — E eu
concordo. Um cara trai, sua esposa corta seu pau, e em meus
pensamentos, ele não tem porque reclamar.

Uma luz doce e feliz iluminou os olhos de Franka em


suas palavras.

— Seu pau? — Josette sussurrou para Franka, ela se


virou para a garota e Noc perdeu sua iluminação.

Mas ele tinha, gostava e estava bem com isso.

Alma da meia-noite.

Nem sequer perto disso.

— Eu acredito, com esse termo, que o Noc está se


referindo ao membro de um homem, — disse Franka em um
sussurro.

E Noc voltou a rir.

— Eles prometem fidelidade aqui? — Josette perguntou.

— Prometem, — Franka disse a ela.

— Estranho, — murmurou Josette.

Noc ficou surpreso.

— Você não promete isso no seu mundo?

Frannie voltou a olhar para ele.

— Enquanto falam uma língua antiga, ninguém sabe


realmente o que os Vallees estão dizendo durante a cerimônia
do casamento, até mesmo, em alguns casos, os próprios
Vallees. Mas minha compreensão é: não juramos. A fidelidade
não é prometida na Morada dos Deuses, quando um homem
e uma mulher são oficialmente casados. É esperado pelas
classes mais baixas, definitivamente. — Sua boca apertou. —
Das fêmeas de todas as classes, definitivamente também.
Pelos homens das Casas, não.

— Acho que você não gosta muito disso, — observou


Noc.

— O que se espera de um, deve ser esperado por todos,


— ela respondeu.

Noc voltou a rir quando a enrolou mais perto e


mergulhou seu rosto no dela.

— Ouçam só a minha Frannie, há apenas alguns meses


você era toda favorável à classe, conservadora até o núcleo.
Agora você parece uma socialista.

— Eu não tenho ideia do que isso significa, mas a luz


irradiando em seus olhos e o sorriso em seus lábios, eu vi em
uma variedade de ocasiões. Como tal, eu sei o que eles
significam e me fazem pensar que eu deveria te achar
irritante agora, — ela devolveu.

— Hoje não, querida, — ele murmurou, dando-lhe um


aperto. —Hoje começou ótimo, está indo muito bem, e vai
continuar assim, então vamos nos dar bem.

— Com prazer, — concordou ela. — Mas só porque você


me chamou de "minha Frannie" e é a primeira vez que me
chama de qualquer coisa que não seja Franka e querida, o
que eu gosto, então me deixou de bom humor.

Noc gostou que ela gostasse disso.


E ele gostava que ela parecesse quase tão boa em jeans
e uma camisa de grife como naquele vestido inacreditável que
usou na noite passada. Ele gostava que Franka não deixou o
problema com os saltos abatê-la e calçou outro par (ou
poderia ser que Valentine só tivesse fornecido aqueles e ela
não tinha nada mais. Valentine não estava em sua casa
naquela manhã e antes que eles saíssem — não que ele
perguntaria sobre os sapatos de Frannie, mas expressaria
sua gratidão).

Ele também gostava de que ela devorou a beignet,


depois que engoliu sua primeira mordida, o beijou na mesa
deles do Café du Monde, muito cheio, como se eles
estivessem em seu próprio quarto privado. Ela fez isso por
muito tempo. Usou a língua. E tinha gosto de massa de pão e
açúcar em pó quando fez isso, o que tornou um beijo
maravilhoso em ainda melhor.

Além disso, gostava de tê-la perto. Não só porque


gostava dela, mas porque ela estava perto e não a meio
continente em um universo paralelo para poder segurá-la.

E depois disto, gostou que ele tivesse sua Frannie de


volta para que ela pudesse agir lindamente e
desconsiderando as hierarquias sociais, fazendo com que ele
risse. O que ele fez naquele momento.

Mas, mais, gostava de saber que ela estaria na cama


dele naquela noite, e depois que ele fizesse o que faria com
ela lá, Franka dormiria em seus braços novamente.

Oh sim.
Ele gostava de tudo isso.

Gostava para caralho.

— Eu ouvi você rir, é claro, — disse ela, sua voz mais


baixa, audível apenas para ele, e enquanto ela o estudava
seus olhos estavam quentes. — Mas eu nunca vi aquele olhar
particular em seu rosto.

— É um olhar feliz, querida, — disse ele. — Embora, eu


estive feliz antes, vamos apenas dizer que é um olhar
seriamente feliz.

Uma das sobrancelhas levantou-se.

— Feliz por estar em casa?

— Feliz por nós dois estarmos em casa.

Suas palavras a fizeram derreter nele, levantando assim


as suas mãos de onde elas estavam apoiadas em sua cintura
para descansá-las em seu peito e dando-lhe um sorriso sexy
que ele tomou como ela estando feliz também.

— Aqui estão eles, — o cara de vendas cortou seu


momento, e Noc tirou seu olhar de Franka, sentindo-a virar
ligeiramente em seus braços, mas ela não tirou suas mãos de
seu peito nem girou em uma maneira em que perdesse
contato com ele.

Ele também gostava disso.

Ele também gostava do olhar que captou de Josette, que


estava observando-os com um olhar em seu rosto que não
poderia ser interpretado como qualquer coisa exceto
aprovação.
Ele tinha a aprovação de sua melhor amiga.

Ele não se importaria se não tivesse.

Mas não machucava tê-la.

Eles montaram os planos telefônicos e pegaram os


telefones, usando cartões de crédito nos nomes de Franka e
Josette que Valentine deixou para trás em envelopes que
incluíam também carteiras de motorista, cartões de
segurança social, passaportes e cartões de débito.

O policial em Noc não gostava disso. Mas não havia


como contorná-lo. Elas não existiam neste mundo e iriam
viver lá. Isso significava que tinha que ser feito para que não
tivessem que viver fora do radar como criminosos.

Mesmo assim, não gostava.

Independentemente disso, Noc não era mais um policial.


Valentine o devolveu a esse mundo há uma semana para que
ele pudesse arranjar suas coisas, encontrar um lugar para
morar, mover suas coisas que guardava naquele lugar e
começar sua vida para que ele tivesse tudo isso fora do
caminho quando Frannie aparecesse.

Mas quando Valentine o trouxe para casa, lhe deu uma


escolha. Ela poderia puxar cordas para conseguir um
emprego na polícia ou ele poderia trabalhar com uma
empresa privada que ela contratava para fazer trabalhos para
ela. Eles tinham visto seu currículo, conversado com seu
capitão em Seattle e receberam um encaminhamento de um
valioso cliente (Valentine). Eles queriam conhecê-lo.
Depois que ele se sentou com eles, ele tinha uma oferta
oficial dentro de uma hora.

Tudo isso foi feito dentro de dois dias antes de chegar


em casa.

O salário era três vezes maior do que trabalhar para a


polícia, ele tinha muito mais autonomia, suas horas eram
mais flexíveis e gostou dos dois caras que possuíam a
Empresa.

Ele aceitou o trabalho.

Começaria em duas semanas. Duas semanas para


arrumar Frannie. Duas semanas para resolver tudo.

E então de volta à vida, com Franka nela.

Tudo estava bom.

Melhor, os planos que fez para o vinho e jantar com


Franka, a fim de conversar sobre para onde eles deveriam
levar o que tinham, não foi preciso, não tiveram de gastar
tempo com isso porque resolveram isso na noite anterior.

Agora ele poderia gastar seu tempo de vinho e jantar


com ela, e terminar isso com seu rosto bonito, cabelo grande,
corpo fantástico e atitude adorável em sua cama.

O que significava que tudo estava ótimo.

Eles estavam saindo da loja, Frannie de novo enfiou-se


em seu lado, braços ao redor um do outro quando ela
perguntou,

— qual é o próximo para o nosso dia?


— Gostaria de aprender a operar um desses veículos, —
declarou Josette, sua atenção nos carros estacionados fora
da loja.

— Penso que talvez você devesse dar alguns dias antes


de começar sua primeira aula de condução, — respondeu
Noc, dizendo alguns dias, ou seja, alguns meses.

— Gostaria de um almoço de pizza, — anunciou


Frannie, e Noc sorriu.

Sua garota gostava da pizza dela. Isso não estava em


questão.

E isso era algo que Noc gostava.

— Pizza? O que é isso? — Josette perguntou.

— Você precisa experimentá-lo para entender as


maravilhas, — respondeu Frannie.

Noc sentiu o sorriso dele ficar mais amplo.

— Circe me levou para o que ela chamou de "ferver"


ontem à noite, — Josette compartilhou. — Ela disse que isso
é muito feito aqui. Era muito incomum. Depois de ferver o
lote da comida, eles drenam e despejam tudo sobre uma
mesa e você come com os dedos. A comida era deliciosa e fez
comer divertido. Embora, ao consumi-lo, Circe disse que sua
comida favorita deste mundo é tacos. Ela explicou o que eles
eram para mim e eles pareciam estranhos, mas também
delicioso.

Franka vacilou quando Josette começou a falar.


Enquanto Josette continuava a falar, Noc apertou sua
mão e, depois de se endireitar, murmurou:

— Bom?

Parecia que ela não estava encontrando seus olhos


quando ela respondeu:

— Sim, bom.

—O que você acha que devemos comer depois? —


Josette continuou. — Concordo com o almoço. Tão delicioso
quanto aqueles bocados estavam no café esta manhã, eu
estou faminta. Então será pizza? Ou tacos? E eu deveria
deixá-los saber que eu ficaria feliz novamente com uma
fervura. O camarão aqui é excepcionalmente suculento. E
suas pequenas lagostas são quase tão saborosos quanto em
casa.

— Tacos, — Noc decidiu, observando o perfil de Franka,


tudo o que ele podia ver, desde que ela estava evitando seu
rosto.

Ela não só parecia evitar seus olhos, e também estava


de repente rígida, e ele não entendia.

— Estou feliz com isso, — ordenou Josette. — Franka?

— Tudo bem, — Franka disse suavemente.

Noc abriu o seu SUV e Josette saltou para dentro,


excitadamente.

Ela saltava, literalmente, para entrar nos carros.

Franka não sentia o mesmo.


Ele levou Frannie até a porta, mas não a abriu.

Ele a virou de uma maneira que não tivesse escolha a


não ser olhar para ele.

Quando ela o olhou, NOC sabia que ela estava


escondendo algo.

— Tudo bem? — Ele perguntou calmamente.

— Tudo bem, — ela repetiu, movendo-se para sair de


seu agarre e virar para o carro.

Ele a trouxe mais perto e seu olhar que tinha se


afastado voltou.

— Baby, você tem certeza? — Ele empurrou e


acrescentou: — Os carros são seguros, querida, e eu sou um
bom motorista.

Ela assentiu, mas não respondeu verbalmente.

Olhou-a nos olhos.

Ela estava mentindo completamente.

— Frannie, o que há?

— Nada, Noc, embora eu esteja com fome, então


podemos ir para a refeição?

— Nós temos essa palavra, Frannie, mas é


principalmente chamado de almoço aqui.

— Ah, — ela murmurou, seu olhar novamente fugindo.

Ele não gostava de sua estranha mudança de humor


repentina, ou o fato dela estar mentindo sobre isso. Poderia
ser que estivesse nervosa por fazer outro passeio, ela não
gostou de estar em um veículo como Josette. Também podia
ser que estivesse envergonhada por seu passo em falso.
Frannie não cometia muitos erros. Ela usava sua dignidade
como armadura e não lidava com constrangimento muito
bem.

Poderia ser outra coisa.

Mas Josette estava no carro. Estava na hora do almoço.


Então ele teve que levá-los em algum lugar onde elas
pudessem carregar seus celulares e ele poderia ensinar-lhes
como usá-los.

Depois disso, as deixaria para que Frannie pudesse se


preparar, e ele ir para casa e fazer o mesmo, porque levaria
Frannie para jantar fora.

Noc decidiu dar-lhe seu espaço agora e falar com ela


depois.

Nesse momento, ele se moveu e tocou seus lábios em


sua têmpora.

Seu toque lhe fez voltar os olhos e a distância que tinha


visto um momento antes não estava totalmente desaparecida,
mas parte do calor voltou e ele sabia que tudo ficaria bem.

Franka poderia entrar em sua própria cabeça. Ele


encontraria uma maneira de puxá-la para fora.

Ele alcançou a porta quando a deslocou para fora do


caminho, murmurando,

— Suba, querida.

Ela subiu.
Ele fechou a porta atrás dela, rodeou o capô e levou
suas duas garotas do outro mundo para encontrar tacos.

Não surpreendentemente, tacos foram um sucesso.

A porta da casa de Valentine abriu e Noc ficou parado,


olhando para Frannie.

Jesus, mas, Valentine tinha bom gosto.

— Porra, querida, você está linda, — ele disse


calmamente, olhando para o vestido.

Era um curto vestido preto feito de renda. Um ombro


tinha renda sobre ele. O outro estava nu. O material sob o
corpete parecia nu. E a saia ajustada era curta, então suas
pernas longas se alongavam mais até sua bunda,
especialmente naquelas sandálias que mostravam seus dedos
do pé e tinham saltos.

Seu cabelo parecia incrível, volumoso e caindo sobre


seus ombros em grandes cachos suaves.

E ela se tornou um mestre na maquiagem num tempo


muito curto.

— Josette está apaixonada pelos aparelhos chamados


"ferros de cachear" — declarou ela, quando minha atenção se
fixou em seu cabelo. — Nós temos algo assim em casa, mas é
claro que eles não são aquecidos por uma corda que é
empurrada para dentro de uma parede.
Noc sacudiu-se para fora, se moveu para ela, rodeou
sua cintura com um braço e arrastou-a para dentro,
agarrando a porta e jogando-a para trás deles.

— Incentive essa obsessão, Frannie, — aconselhou,


mergulhando o rosto no dela.

— Meu cabelo está extremamente ... — ela pareceu


perder as palavras, mas resolveu, — grande.

Ele sorriu e mergulhou a metade de um centímetro que


deixou até seus lábios para tocar o dela.

— Em você funciona, — murmurou ele.

— Eu suponho que é bom, — ela murmurou de volta.

— Mm-hmm, — ele respondeu, então ele a puxou para


perto com os dois braços e tomou sua boca.

Ele sentiu os dedos dela circundarem sua nuca, mas


apenas vagamente.

Era tudo sobre seus seios apertados em seu peito. A


sensação de seus quadris se encaixando nos dela. O cheiro
dela. O gosto de sua boca.

Noc inclinou a cabeça e aprofundou o beijo, dobrando-a


sobre seu braço, perguntando-se se ele estava com fome ou
se ele estaria bem em apenas festejar com Frannie.

O pensamento o fez terminar o beijo, mas ele não se


afastou muito.

Ele gostava de ver de perto como ela retornava de um de


seus beijos. Ela levou seu tempo abrindo os olhos como se
ainda estivesse perdida em sua boca e não queria admitir que
estava mais. E seu olhar − geralmente tão agudo, alerta,
guardado, sem nada − estava aberto, vulnerável, dando tudo.

— Tanto quanto eu quero mais dessa sua boca doce,


Lábios-açucarados, se não pararmos, iremos diretamente
para minha casa e não para o restaurante.

Um brilho de interesse surgiu em seus olhos antes que


ela assentisse com a cabeça, afastou-se, abaixou a cabeça e
alisou sua saia ao longo de seus quadris em um movimento
agitado que expôs os efeitos de seu beijo.

Um movimento que era tão feminino e tão quente, ele


sentiu seu pau começar a ficar duro.

— Ok, talvez você deva parar de se mover, — disse ele.

Sua atenção voltou para ele.

— Mas por que?

— Frannie, você está me deixando duro e eu não estou


mais tocando você.

Ele a observou se mover sobre seu rosto, a satisfação


que suavizou sua boca, encapuzou seu olhar.

— Porra, agora só olhando para o seu rosto, eu estou


ficando duro, — ele resmungou.

— Você precisa se controlar, Noc, — ela ronronou.

— Pense de novo, querida. Não sei se essas palavras


sairiam de sua boca na noite passada.

Ele viu o rosado bater em suas bochechas, mesmo


quando seus olhos se estreitaram. Ele gostava dos dois. Nem
sequer se preocupou em tentar evitar esticar um longo braço,
enganchá-la na cintura e puxá-la para ele para um rápido
toque dos lábios.

— Josette se acomodou para passar a noite? —


Perguntou quando levantou a cabeça.

— Sim, mas eu gostaria de me despedir.

Ele assentiu.

— Vamos começar com isso.

— Ela está assistindo televisão, — disse Frannie,


separando-se dele. Mas, no instante em que o fez, estendeu
sua mão, pegou a dele e levou-o para o corredor de Valentine.

— Do jeito que Valentine vive, parece que o negócio das


bruxas é bom, — ele observou, não sendo essa a primeira vez
na última semana que estivera na casa de Valentine. Uma
que parecia cara no exterior, mas na verdade escondia a
opulência do interior que conseguia ser de classe pródiga e
absoluta.

— Ela disse que sua secretária organizou algumas


visitas em imóveis para Josette e eu nos próximos dias.
Espero que ela ache o mesmo para nós, pois isso é mais do
que suficiente. Ela parou e olhou para ele. — Sei que você
tem muito para cuidar de si mesmo, querido, depois de ter
acabado de voltar para casa, mas se puder encontrar tempo
para nos acompanhar e dar suas opiniões, eu ficaria grata.

— Irei, Frannie... — prometeu. — Mas você viu


Valentine?
Ela deu-lhe um pequeno sorriso em sua promessa, mas
apenas deu um breve aceno de cabeça em resposta a sua
pergunta, virou-se e continuou andando e compartilhando.

— Ela esteve aqui brevemente, aprendíamos a usar


ferros de cachear. Disse que tem muito a fazer para colocar
as coisas em dia. — Frannie estava mais calma e reflexiva
quando terminou. — Ela parecia muito distraída.

Antes que ele pudesse perguntar sobre isso, ela os


parou dentro de uma sala.

Josette estava no sofá naquela sala, empurrando pipoca


de um saco na boca, seus olhos colados à televisão, onde
"Entrevista com um Vampiro" estava passando.

— Josette, minha querida, Noc chegou e estamos


prestes a sair, — Franka disse.

Josette virou a cabeça para eles.

— Este alimento diz que é aromatizado com cheddar,


mas não é como qualquer cheddar que eu já provei. Dito isto,
é a coisa mais deliciosa que eu acho que já comi, fora tacos,
— declarou.

Depois de tacos, enquanto esperavam que os telefones


carregassem, Noc as levou para compras de supermercado.
Ele comprou um carrinho e meio cheio de comida. Ele
também as assinou na Netflix e lhes mostrou como baixar na
TV de Valentine para que Josette assistisse enquanto ele e
Frannie saíam para passar a noite.
Ele não sabia se a Netflix tinha "Entrevista com um
Vampiro" em sua lista. Embora, sendo esse filme, talvez
fossem estações locais reprisando em um loop contínuo.

— As criaturas deste programa bebem sangue, —


continuou ela. —É horrível e maravilhoso.

— Estou encantada por você se divertir, minha querida,


— disse Franka com um sorriso em sua voz. — Agora, você
tem todos os nossos números em seu telefone e lembre-se de
como usá-los no caso de precisar de alguma coisa, sim?

— Sim, Franka.

Noc colocou uma mão na parte de trás da Frannie e


começou a movê-la para fora da porta enquanto ela dizia a
sua garota

— Continue desfrutando sua noite.

— Você também aproveite a sua, e olá e adeus, Mestre


Noctorno! — Josette respondeu.

— É Noc, querida. E aqui é realmente apenas Noc, — ele


disse a ela, dando-lhe um sorriso mesmo que suas palavras
fossem firmes.

— Noc, — ela disse em um sorriso enorme de retorno


então nos deu um aceno rápido e olhou de novo para a TV.

Noc guiou Franka pelo corredor. Ela parou em uma


mesa para agarrar uma clutch26 preta. Ele agarrou a echarpe
que estava jogada sobre uma cadeira e a colocou em volta dos
ombros dela, beijando seu pescoço no processo, fazia isso

26
Carteira para festa, para noite.
para tocá-la, ter seu gosto em seus lábios, mas ganhou um
outro olhar de satisfação suave que sentiu em seu pau.

Quando ele a preparou, a levou para o carro.

Enquanto andavam, ela disse:

— Você está muito bem, Noc. Muito bonito, ou mais do


que o normal.

Ele a puxou para mais perto com o braço que tinha ao


redor de sua cintura, murmurando,

— Não me surpreende que minha Frannie gosta de mim


em um terno.

— O que você está vestindo é chamado de terno?

— Sim.

— Bem desenhado, já que lhe convém.

Ele riu, desligou os bloqueios e a ajudou a entrar no


SUV.

Ele se acostumou a ligar o carro e depois pegar a mão


dela, nas vezes em que Frannie esteve nele.

Mesmo quando o fazia, sentia que a tensão dela vinha


rapidamente, enchia a cabine e percebia a outra mão dela se
mover para fora e segurar o aperto no apoio de braço em sua
porta.

— Você vai se acostumar com isso, querida, — disse


calmamente enquanto acelerava, não querendo chamar muita
atenção para ele.
Sua Frannie, tinha orgulho. Ela apreciaria a segurança,
mas não tanto com ele apontando que ela precisava dela.

E ele sabia que estava certo quando ela não disse nada,
mas seus dedos flexionaram em sua mão.

Estavam a caminho quando ele abordou a questão.

— Nós podemos arranjar sapatos diferentes.

Ele sentiu seu olhar nele quando perguntou,

— Perdão?

Ele a olhou e de volta para a estrada antes de


responder:

—Sapatos diferentes. Uns sem saltos altos, diferente de


todos que você tem calçado desde que chegou aqui.

— Você não gosta desses tipos de sapatos?

— Oh sim, eu gosto deles, — ele respondeu, deu-lhe um


aperto de sua mão e baixou a voz. — Mas, querida, até que
esteja acostumada a caminhar neles, você pode usar outras
coisas. Vou levá-las para um shopping amanhã. Josette vai
gostar disso e eu acho que você também. E desde que
Valentine tirou um pouco do seu estoque, o converteu em
dinheiro e abriu as duas contas bancárias, você tem uma
montanha de dinheiro para gastar, então pode se divertir.

— Estou perfeitamente bem com os sapatos que


Valentine me comprou, Noc. Estou me acostumando com
eles. E só para dizer, tive tempo esta tarde para passar pelas
coisas que ela trouxe para mim e há cinco pares semelhantes
na minha câmara e todos eles são muito adoráveis. Estou
ansiosa para usá-los.

Ele se perguntou se ela perderia o jeito como falava


depois de mais tempo em seu mundo.

Ele esperava que ela o fizesse, ela se encaixaria melhor e


ele não queria que ela se sentisse embaraçada.

Ele também esperava que não, porque era tão Frannie.

— Você pode ter ambos, — disse ele.

— Eu gosto do que tenho, — ela respondeu.

Ele deu outro aperto na mão dela.

— Querida, o que estou tentando dizer é que hoje,


quando deixamos a loja do telefone, você tropeçou e depois
ficou esquisita comigo. Eu não sei se é por isso que você ficou
esquisita, poderia ser porque você não está acostumada a
andar de carro e não estivesse ansiosa para voltar para o
meu. Mas seja lá o que for, notei, e seja lá o que for, quero
que saiba que estou aqui para cuidar de você. Então deixe-
me fazer isso.

Ela não disse nada e isso durou tanto tempo que ele
olhou dela para o GPS que ele programou, algo que ele
precisava porque uma semana em NOLA27 não estava perto
de ser o suficiente para saber como se locomover.

Seus olhos voltaram para a estrada e ele falou


gentilmente,

27
Nova Orleans.
— Nada para se envergonhar, Frannie. Mais uma vez,
apenas cuidando de você.

— Eu sei, — ela murmurou.

— Você quer manter os saltos, eu não vou reclamar.


Você fica ótima neles.

Ela ficou em silêncio um momento antes de dizer,

— Não é sobre os sapatos.

— Certo, — ele respondeu. — Então vai se acostumar a


estar em carros. Vê-los. Ouvi-los. A velocidade que eles
podem atingir. O número deles que existe. Algumas semanas,
pode ajudar se eu a levar em algum lugar aberto com
ninguém ao redor e mostrar-lhe como dirigir. Você estará no
controle do carro, vai entender melhor e talvez se sentir
melhor sentando no banco do passageiro.

— Não é sobre seu veículo, Noc.

Isso lhe deu outro olhar.

— Então, de que se tratava?

Ela não respondeu.

— Frannie, você se desligou por um tempo. Você se


recuperou no almoço, mas eu estive em seu mundo. Sei como
é estranho quando tudo ao seu redor é novo. Pode ser
avassalador. E não posso cuidar de você se não compartilhar
o que está em sua mente.

A princípio, ela não disse nada e Noc estava prestes a


alertá-la quando falava.
— É seguro, ter uma discussão enquanto você está
operando esta máquina? — Ela perguntou. — Todas as luzes,
botões, rodas, alavancas, parece muito para cuidar.

Ele deu outro aperto em sua mão, mas deixou-a ir


pensando que talvez ela se sentisse mais confortável se ele
usasse as duas mãos para dirigir, até que ela se acostumasse
a andar por aí, então fez isso enquanto respondia:

— Eu tenho um monte de prática. Dirijo carros por vinte


e dois anos, oficialmente. Sem incluir o tempo que meu pai
me ensinou a dirigir aos quatorze anos, com minha madrasta
tendo um ataque porque ele fez isso, e me divertindo no
volante com os caras inúmeras vezes antes de sermos pegos e
papai parar com isso.

— Divertindo no volante?

— Levar um carro sem permissão e dirigi-lo ao redor. A


idade legal para dirigir é dezesseis. Não éramos legalmente
permitidos.

— Você tem trinta e oito anos de idade?

Ela soou chocada e isso lhe deu outro olhar.

— Sim, — ele confirmou.

— Estranho como eu não sabia disso, — ela murmurou.

— Querida, estamos fora do assunto. Para confirmar, —


disse ele com um sorriso em sua voz, — posso ter uma
discussão enquanto estiver operando esta máquina.

Mesmo depois que ele confirmou, ela não disse nada.

— Frannie, — ele insistiu.


— Eu sei, — ela disse suavemente.

Mas ela não disse nada mais.

— Você sabe o quê? — Perguntou ele.

Ele sentiu seus olhos nele quando ela declarou:

— Sobre você e a Circe neste mundo, agora.

Porra.

Não precisava perguntar o que sabia.

Ele sabia o que ela sabia.

Porra.

Ele olhou para ela novamente.

— Como você soube?

— Vi você... naquela noite, eu... — Houve uma longa


hesitação e então, — eu estava vindo pelo corredor. Vocês
dois estavam na porta dela. Era obviamente, er... depois. Eu
poderia... bem, eu poderia dizer o que aconteceu. Eu recuei.
Não muito mais tarde, você entrou na sala de estar e... —
Outra longa pausa antes dela terminar, quase em um
sussurro. — Você sabe o resto.

Depois que eles conseguiram seus telefones, Josette


mencionou sair para jantar com Circe, e Franka tropeçou.
Claramente, não aconteceu porque não estava acostumada
com seus saltos. Mas, porque isso estava em sua mente.

— Eu... bem, eu... — ela continuou incerta. —


Considerei isso muitas vezes quando estávamos separados.
Claro, eu não poderia saber o que aconteceria em nosso
reencontro. Vou admitir, que tenho certeza que você
percebeu, que eu estava desejosa de que esse fosse o
caminho que tomássemos e também que está muito
consciente de que estou feliz que nós tomamos isso. Mas eu
não poderia supor que seria o que aconteceria. O que eu
sabia era que você foi íntimo com Circe. Vocês dois, bem...
vocês combinam. Ela está aqui. Você está aqui. E eu estou...

Noc a cortou com palavras que ele esperava que a


deixassem à vontade.

— Foi uma coisa única. Tivemos isso uma vez. Agora


acabou.

Novamente com o silêncio de antes, muito quietamente,


ela compartilhou que ele não chegou perto de deixá-la à
vontade.

— Noc, o que temos, é muito novo. Eu entendo que não


tenho direito a você. Você não precisa me dar promessas.

Porra.

Nesse momento, era ele quem estava em silêncio e


estava desse jeito procurando um lugar para parar ou
estacionar.

Encontrou-o, indicou, desviou-se cuidadosamente para


um lugar de estacionamento aberto ao lado da rua, colocou o
carro na vaga e se virou para ela.

Ela estava apertando a maçaneta da porta e olhando


com olhos grandes pelo para-brisa.
Aparentemente, ele não desviou cuidadosamente o
suficiente.

— Frannie, olhe para mim.

Lentamente, ela tirou os olhos da janela e virou a cabeça


para ele.

E antes que ele pudesse abrir a boca, ela abriu a dela e


as palavras de repente vomitaram, mas desta vez vieram sem
hesitar e chegaram rápido.

— Eu só quero que saiba que não é por isso que eu


concordei em fazer o que eu concordei em fazer com
Valentine no que diz respeito a Circe. Para tirá-la de você.
Para criar um caminho claro para mim. Essa não era minha
intenção. Esses não são mais meus caminhos. Bem, eles são,
obviamente, com o que Valentine e eu estamos planejando.
Uma pequena intriga. Alguns coniventes. Mas não por
esporte. E não para prejudicar. Nosso significado é amável. É
realmente a ordem natural das coisas, de certa forma. Mas se
você pretende continuar com ela ou, tem, bem... — ela
engoliu e parecia doloroso, — se já recomeçou as coisas
novamente em seu retorno, não é da minha conta. Ou é, no
sentido de que eu deveria saber para que possa dizer a
Valentine e pararemos de fazer o que estamos fazendo para
que você possa ter uma chance ou, erm, seja o que for... com
o que você pretende com a Circe. E eu apenas... você e eu
simplesmente...

— Pare de falar, — ele rangeu.

Ela fez como disse e parecia aliviada por fazê-lo.


Noc respirou fundo e tentou não perder a cabeça e foder
tudo, como ele fez na noite anterior.

Quando ele se acalmou, afirmou:

— Ok, eu vou deixar isso bem claro agora, Frannie,


então nós não cairemos nisto novamente. Isso significa que
eu quero que você escute, querida. Está ouvindo?

— Sim, — ela sussurrou.

— Certo. Bom. Aqui está, — ele começou, respirou fundo


e deu a ela. — Em uma noite meses atrás, depois que eu e
um monte de gente que não conhecia salvamos um mundo,
não importa o que aconteceu pouco antes, me sentei para
vinho e uísque com uma mulher bonita e pelo tempo que eu a
vi sair daquele quarto, ela me colocou em volta do seu dedo.

Ele ouviu a respiração dela, mas continuou falando.

— Ela não sabia e, obviamente, ainda não sabe, mas


desde aquele dia, tudo é sobre ela. E ela é você.

— Noc. — Seu nome veio sexy e doce, era lindo, ele


adorava ouvi-lo, mas ele ainda se manteve nela.

— E agora terei o tempo para compartilhar que não sou


esse tipo de cara. Quando estou com uma mulher, estou com
essa mulher. E espero que ela esteja comigo também. Se eu
tenho uma mulher em minha vida, é sobre ela, conhecendo-a,
vendo onde as coisas vão se concentrar apenas nisso. Não é
sobre semear o campo, manter-se aberto para que não falte
ou comendo tanta boceta quanto eu puder. É sobre ela e eu.
Agora, estou com uma mulher. Profundamente com ela. E
nesse cenário atual, Frannie, vou repetir, ela é você.

— Tudo bem, querido, — ela concordou calmamente.

— Eu não acabei.

Pelas luzes do painel, ele observou enquanto fechava a


boca.

Ele não fez.

— Então o que eu faço com o meu tempo é da sua conta


e o que eu faço com meu pau é definitivamente da sua conta,
estamos entendidos?

Um rápido aceno dela.

— Sim.

— E espero o mesmo de você. Eu sou da sua conta e


esse seu belo corpo, Franka, é só para mim. Ainda está
comigo?

Agora seu — sim — veio ofegante.

Ele adorava ouvir isso também.

Mas ele ainda a olhava.

— E para demonstrar o que falei, ninguém conseguiu o


que vou compartilhar com você, e ninguém vai conseguir,
exceto você. Quando digo isso, quero dizer que não
compartilhei e não vou compartilhar com ninguém além de
você. Espero que mantenha isso apenas entre nós também,
porque é da sua conta devido ao que você significa para mim,
quem é na minha vida, e onde eu espero que o que temos vá.
Se não, seria apenas um negócio entre Circe e eu.

Ele deu a Frannie uma chance de absorver isso, e ela


indicou que o fez balançando a cabeça lentamente, e então
ele continuou.

— Ela se aproximou de mim. Você poderia dizer que ela


veio sobre mim, porque na maior parte, foi em uma maneira
inexperiente. Não sei por que ela fez. Talvez estivesse
sentindo isso depois de ajudar a salvar o mundo. Talvez
estivesse fora de si, o mundo fora salvo e ela queria
comemorar. Talvez fosse o momento dela fazer isso. Eu não
sei o que era e eu não perguntei. Isso é só dela. Eu sabia
sobre ela. Valentine me contou tudo sobre todos antes de me
levar para aquele mundo. Então eu sabia o que sua
abordagem significava, o quão grande era, e que honra foi ela
me escolher. Sério... e não estou dizendo essa merda para
que você se sinta melhor, é verdade... ela não é do meu tipo.
Ela é linda e nós compartilhamos algo que foi intenso e bom,
mas normalmente, eu não iria lá. Fui lá com ela porque sabia
o que significava para ela me escolher e eu tinha acabado de
colocar a minha vida na linha para ajudar a salvar um
continente. Eu estava me sentindo no clima.

— Claro, — ela sussurrou quando ele respirou fundo.

— É isso, — ele continuou. — Antes de partirmos de lá,


ela deixou claro que não queria mais e eu deixei claro que
estava bem com isso, porque senti o mesmo. Nós éramos
amigos. Ainda somos amigos. Ela me telefonou desde que
cheguei em casa, mas eu estava muito ocupado para
encontrá-la. Mas novamente, ela é apenas uma amiga, isso é
tudo que ela é e isso é tudo que vai ser. Temos o que
aconteceu entre nós em nossa história e isso significa algo
para mim. Foi um belo momento em minha vida, ela
confiando em mim como confiou, e espero que eu tenha dado
essa beleza de volta para ela. Mas então acabou. E, a
propósito, para tornar mais claro ainda, você é meu tipo. Esse
cabelo. Seus olhos. Essa porra de sua boca. Seu pescoço, que
é a coisa mais linda que eu vi em qualquer mulher. O bonito
atrevimento com o qual você encara todos, não importando a
classe social. Totalmente meu tipo.

Quando percebeu o que ele estava falando, ela disse


suavemente, suas palavras carregando uma montanha de
sentimento,

— Obrigada por compartilhar tudo isso comigo.

— Não precisa me agradecer, Frannie. O ponto é, você


deve esperar essa merda de mim, porque é isso que eu sou
para você. Sou seu. Eu sou seu homem. E não há nada meu
que não seja seu.

Inclinou-se até onde o cinto de segurança permitiu e pôs


a mão no joelho dele.

—Eu, bem... isso significa tudo para mim, Noc, e eu


desejo que você saiba que deve esperar o mesmo de mim.

— Eu já espero, — ele retornou.

Ele viu seus lábios se inclinando e quis beijá-la, olhando


para seu rosto, o alívio lá que ela não escondia, a emoção que
tinha por ele também não escondeu, sentindo a mão dela
apertando seu joelho.

Mas não fez isso.

— Agora que esclarecemos isso, o que você e Valentine


planejam fazer com Circe?

Sua mão desapareceu de seu joelho e ela se inclinou.

Ele a pegou antes que estivesse fora de alcance e puxou-


a para trás, descansando ambas as mãos em sua coxa.

— Você acabou de me dizer que não havia nada seu que


não fosse meu, Lábios- açucarados, então derrame, — ele
exigiu.

Ele a viu morder o lábio inferior.

— Frannie..., — advertiu ele.

Ele a observou soltar o lábio e respirou fundo.

Ao exalar, ela disse rapidamente:

— O Lahn deste mundo vive nesta cidade.

Os olhos de Noc foram diretamente para o teto do táxi


enquanto seus lábios murmuravam:

— Cristo.

— É a ordem natural das coisas, — ela defendeu.

Ele olhou para ela.

— A ordem natural das coisas me colocaria com a Cora


daquele mundo.

Seu lábio superior se curvou.


Ela conhecia Cora do outro mundo. A mulher fazia a
merda que Franka falou em toda a sua vida, para manter as
pessoas distantes, parecer manso. Cora do outro mundo não
era apenas uma cadela. Ela era uma vagabunda.

Ela também estava morta e Franka sabia disso.

— Bem, isso não é um bom presságio para o nosso


futuro, — ela murmurou, seus olhos se afastando. — E devo
dizer, pensei nisso antes, ontem à noite, e muitas vezes hoje e
isso me incomoda.

— Baby, — ele chamou.

Sua atenção voltou.

Ele estudou seu rosto.

Então ele disse:

— Você não sabe.

— O que eu não sei?

Merda.

Ele soltou seu cinto para poder se aproximar dela,


curvou seus dedos em torno de sua coxa e levantou a mão
para segurá-la ao lado de seu pescoço.

— Você... você deste mundo, querida, morreu anos


atrás. Um acidente de barco quando ela tinha dezessete anos.

Seu ofego foi audível.

— Sim, — ele disse gentilmente. — Valentine me disse


na semana passada.
— Isso... Eu... — Ela balançou a cabeça e levou seu
tempo para juntá-la. — Esta notícia... é peculiar. Antes, eu
estava preocupada em esbarrar nela e o quão desajeitado
seria. Mas agora, sabendo disso, tudo o que sinto é tristeza.

— Isso é porque é triste, sabendo que uma menina teve


sua vida cortada antes que ela sequer tivesse uma chance de
começar a vivê-la. Fode com minha cabeça, sabendo que
aquela garota parecia exatamente como você.

— Sim, — ela concordou quietamente.

— Por mais triste que seja, Frannie, ainda equilibra a


merda.

— Perdão?

— Você e eu. Minha companheira destinada desse


mundo está morta. O você deste mundo também está,
tristemente, morta. Pense que Valentine me disse isso só para
eu saber, por causa disso, há equilíbrio.

— Oh, — ela sussurrou, e isso foi tudo que ela deu a ele
depois daquela notícia gigantesca.

Ele sorriu e brincou,

— Sim. Oh.

— Bem, essa é uma coisa com a qual não precisamos


nos preocupar.

Ele continuou provocando.

— Sim, afaste isso da lista de merda inexistente que


devemos nos preocupar, pois isso só funciona entre nós, o
que temos, então realmente não temos nada com que nos
preocupar, a menos que você faça isso.

Seus olhos se estreitaram.

Ele se aproximou e tocou seus lábios nos dela.

Quando se afastou, ordenou:

— Deixe Circe sozinha.

Ela puxou os dois lábios entre os dentes.

— Sério, Frannie, deixe-a viver sua vida.

Ela soltou os lábios.

— Valentine pensa...

— Eu não dou a mínima para o que Valentine pensa.

— Mas, eu concordo e...

— Então você estaria errada.

Seus olhos se estreitaram de novo.

— Você está me interrompendo, Noc, — ela advertiu.

— Baby, isso é sério, — ele retornou.

— Você está correto, é, — ela retrucou. — Muito sério.


E, falando sério, desejo que me explique, agora mesmo, por
que Circe não concede a si mesma a felicidade. Dos jogadores
neste jogo de salto do universo, Finnie e Frey encontraram
sua felicidade. Circe e Lahn de Korwahk. Tor e Cora. Maddie
e Apollo. E, eu devo dizer, porém que somente quando você
não está sendo insuportável, você e eu. Então, o que dizer do
Lahn deste mundo e da Circe do outro? Eles não vão
encontrar a sua felicidade?
— Se isso tiver que acontecer, deixe acontecer sem
intervir.

— Mesmo que acontecesse sem intervenção, no


momento em que se reunirem, Noc, Circe e Lahn do outro
mundo terão pelo menos três filhos, se Circe não entregar
gêmeos a seu marido novamente, tornando-o quatro. Circe e
Lahn neste mundo já tem que recuperar o atraso. Não há
tempo a perder.

— Você e Valentine dizem isso a si mesmas porque


assim podem se intrometer, vendo como vocês estão ambas
fixadas nela.

Ela se afastou de seu abraço, dizendo arrogantemente:

— E vejamos, Valentine se envolveu em precisamente


três relacionamentos, minhas roupas e sapatos de ontem não
sendo uma seleção de moda não intencional, no mínimo. Ela
plantou-me onde e da maneira que quis, sabendo exatamente
quais seriam os resultados de suas maquinações. Você pode
discordar, por razões desconhecidas, mas dos resultados...
incluindo Finnie e Frey, Maddie e Apollo, e você e eu... Eu
estimaria que ela é muito hábil no que você chama de
intromissão.

Merda, ela o pegou.

— E você acha, por um momento, que Valentine ou eu


gostaria que Circe se prejudicasse ou faríamos alguma coisa
para prejudicá-la? — Ela exigiu saber.

— Frannie, acalme-se, — insistiu. — Claro que não.


— Então eu não consigo ver o seu problema com o nosso
plano.

Ele não gostou. Mas ela estava certa, o que significava


que não tinha escolha a não ser viver com isso.

— Apenas, o que você planeja fazer, tenha cuidado, —


ele murmurou.

Ela se afastou ainda mais e estalou,

— Mas é claro!

— Baby, ela passou a vida inteira sendo usada e violada


por homens. Sou o único homem que ela escolheu de livre
vontade. Eu sou protetor dela e é em parte por causa disso,
em parte porque eu sou humano e, finalmente, porque eu sou
um homem e eu odeio para caralho que meu tipo a colocou
durante toda uma vida de merda. Você diz que vai ligá-la com
um cara enorme que eu não posso imaginar parecer menos
assustador neste mundo do que no outro, eu vou reagir. Dê-
me um pouco de folga.

— E dar-lhe alguma folga significaria permitir a sua


reação errônea, que foi insultante, e perdoá-lo por isso,
mesmo você não admitindo que estava errado e pedindo
desculpas, — ela disse.

Noc lutou com um sorriso.

— Sim, isso seria o que me dar uma folga seria.

— Tudo bem, Noctorno, vou te dar uma folga.

Ele não precisava mais lutar com um sorriso.


— Baby, — ele disse em breve. — Tornarei algo mais
cristalino agora, algo que não quero dizer de novo, eu não
gosto de ser chamado Noctorno.

— Ouvi você dizer isso, repetidamente. Mas é o seu


nome, é um nome régio, viril, e quando você está sendo
irritante é principalmente quando você está sendo um homem
muito viril, e um que exige altos esforços para lidar, então é
assim que eu vou me referir a você. E vou admitir que não
estou usando algo que eu sei que o irrita propositalmente
depois que você me irritou.

Noc suspirou.

Franka olhou para ele.

— É bom você ser tão deliciosamente doce, ou então


com todo o resto, você poderia não valer a pena, — ele
murmurou.

— Eu espero que você esteja brincando, — ela disse.

— Só encontrando coisas que a incomodam, que eu


possa usar depois que você me irritar.

Ela olhou para ele.

Então ela começou a rir.

Noc olhou para ela.

Porra, ele nunca a viu ou a ouviu rir assim. Não assim.


Totalmente entregue. Dando-lhe absolutamente tudo.

Cristo, até seu riso soava como um ronronar.


Ela ainda estava fazendo isso quando desabotoou seu
cinto de segurança e apagou a distância entre eles, colocando
sua boca rindo na dele e colocando sua mão acima de sua
coxa.

— Eu acredito que você precisa me alimentar, querido.


Estou bastante faminta.

Ele não podia ficar assustado. Não depois do que ela


acabou de lhe dar e agora, com a boca na dele, ouvindo o
humor em sua voz e vendo seus olhos dançarem nas luzes do
painel.

— Melhor você conseguir alguma comida, então, — ele


murmurou, escovando sua boca contra a dela.

Ele estava prestes a se afastar quando ela o pegou com


a mão segurando sua bochecha.

— Nós equilibramos os mundos, — ela disse


suavemente.

Ele sentiu aquelas palavras em seu estômago.

— Sim, — ele respondeu suavemente.

— Você é meu tipo também, Noc, mesmo que eu não


soubesse disso até que o conheci, — ela compartilhou.

Porra.

Isso funcionou.

Eles tinham uma reserva. Eles não tinham tempo para


sentar em seu SUV e ter uma conversa.

Mas era importante e tinha que ser feito.


Então eles tiveram.

Agora eles não tinham tempo para fazer o que queria


para mostrar sua apreciação não só de como ela terminou
uma discussão, mas o que Frannie acabou de dizer.

Mas era importante.

Então ele tomou esse tempo.

Eles foram vinte minutos atrasados para sua reserva.

O agitado restaurante teve que encontrar outra mesa


para eles, sem arrependimentos.

E Noc não se surpreendeu que cada homem seguisse


Frannie com seus olhos quando ela passou, o que significava
que não havia jeito de enxugar o sorriso satisfeito de seu
rosto porque tudo o que havia nela era todo dele.

Ele também não ficou surpreso de que sua Frannie


gostou de camarão étouffée mais do que pizza.

Muito mais.
Minha Ordem

Franka
—Noc?

—Mm?

Deuses, eu amava quando ele fazia aquele barulho.

Eu também amava como ele segurava meus dedos


entrelaçados nos dele.

Mas naquele exato momento, o que mais me agradava


era como ele estava preguiçosamente circulando o polegar
no meu pulso, mesmo que ele o fizesse enquanto dirigia
(apesar de que pelo meu ponto de vista, provavelmente era
muito mais seguro operar seu veículo com as duas mãos).

Nós estávamos indo em direção à sua casa depois de


um jantar suntuoso, como eu nunca tive. Quantos sabores.
Complicados. Ricos. Picantes. Decadentes.

Este mundo parecia apressado. Era alto. Não cheirava


muito bem. Achei desconcertante que houvesse apenas
vislumbres da natureza aqui e ali ─ ao longo de avenidas,
árvores crescendo nas calçadas de pedra. Embora
houvesse grande beleza (em alguns) na arquitetura, eu
estava incerta de como eu me sentia sobre o aspecto geral,
sons e cheiros do lugar.

Mas a comida era maravilhosa.

E a companhia do Noc... como sempre, não havia


nada melhor.

—Em nosso caminho para o jantar, você mencionou


seu pai e sua madrasta, — eu lembrei.

—Sim? — Noc incitou quando eu não disse mais


nada.

—Embora eu saiba muito sobre o rei Ludlum e sua


história, essa é a história do outro mundo. Devido às
circunstâncias serem assim, você sabe tudo sobre minha
família, e infelizmente no caso de meus pais, você os
conheceu. Em conversas, você mencionou sua família, mas
você não compartilhou muito, além de anedotas.

Noc, sempre generoso, não enrolou em me dar uma


resposta.

Mas independentemente, eu pensei com um sorriso,


como ele disse que o que era dele era meu, o que ele fez ao
não me enrolar foi me dar exatamente isso.

Pedaços dele.

Todos os quais eram meus.


—Provavelmente não vai surpreendê-la que é tudo o
mesmo, — disse ele. —O nome do meu pai é Ludlum
Hawthorne e ele manteve a tradição de abençoar seus
filhos com nomes loucos pra caramba, que só tem um
propósito, eles vão ser muito bons em lutar, porque cada
idiota na escola que lhes falar merda sobre seus nomes vai
ganhar um soco na cara.

—Oh, querido, — eu murmurei, repensando, se este


era o seu pesar desde os tempos da escola, o uso dessa
mesma coisa para irritá-lo (mesmo se fosse merecido).

—Sim, — Noc confirmou. —Não foi divertido, mas eles


aprenderam e eventualmente a palavra se espalhou e
acabou. Então eu tenho um irmão chamado Dashiell,
conhecido apenas como Dash, se você o chamar de outra
coisa ele fica ainda mais puto do que eu quando você me
chama de Noctorno.

—Certo. — Eu continuei murmurando.

—E nosso irmão mais novo é Orlando, nós o


chamamos de Orly. Ele ficou com o pior, porque Noc não é
bom, mas não é totalmente uma merda. Dash é realmente
um pouco legal. Orly é só ruim.

Eu apertei sua mão quando uma leve risada escapou


de mim.

Eu não ri muito.

Isso porque ele disse calmamente: —O mesmo para


nossas mães.
Apertei-lhe a mão porque conhecia a infeliz história do
rei Ludlum e a perda de não um, mas três amores de sua
vida.

Noc continuou com sua própria história.

—Mamãe morreu no meu parto. A mãe de Dash


morreu de pneumonia. E a mãe de Orly esteve conosco por
mais tempo do que a mãe do Orlando do seu mundo, mas
ela acabou morrendo de câncer de mama. Ela foi a que
ficou irritada com o papai me ensinando a dirigir.

Eu me virei para ele o melhor que pude com o odioso,


mas aparentemente obrigatório, cinto me restringindo ao
assento.

—Eu sinto muito, querido.

—Sim, — ele murmurou.

—Talvez eu não devesse ter trazido esse assunto à


tona.

—Não, — ele disse em um aperto suave da minha


mão, —se você quer saber, pergunte.

Olhei pela janela à minha frente. —Eu vou, meu


querido, mas nós tivemos uma noite agradável.
Conhecendo a história de nossos dois mundos, eu deveria
ter assumido que esse seria o caso e escolhido um
momento melhor.

—Querida, ela era ótima, — declarou. —Foi a única


mãe que eu tive e ela era uma boa mãe. Ela se foi e eu
sinto falta dela. Penso nela todos os dias. E ela merece
isso. Ela merece que eu fale sobre ela. Mantenho-a viva
dessa maneira. Ela assumiu meu pai e dois meninos. Deu
a meu pai outro filho. Deu-nos um irmão, boa criança, que
cresceu um homem bom, tenho orgulho dele ser meu irmão
caçula. Ela fez a nossa família melhor e papai não foi ruim
em cuidar dos seus meninos. Eu era pequeno, mas lembro
que ele fez e deu tudo de si. Mas quando Judy chegou, nós
realmente tivemos tudo.

Olhei para seu perfil. —Mesmo se o tempo dela com


você foi curto, eu estou feliz que você teve isso.

—Eu também estou, — ele respondeu calmamente e


continuou compartilhando. —A única coisa que eu
mudaria era a maneira como a perdemos. A mãe do Dash,
Christina, morreu quando eu era muito jovem, não me
lembro muito. Pareceu que um dia ela estava lá, e no
seguinte ela se foi. Eu sei agora que demorou um pouco,
com esse ―um pouco‖ eu quero dizer um par de semanas,
mas a verdade era que sua gravidez foi difícil, ela nunca se
recuperou de ter Dash, então quando ela pegou
pneumonia, foi a pior coisa que poderia ter acontecido. Mas
eu era um garotinho, tudo o que eu sentia era confusão e
um monte de merda que eu não entendia e então ficou
pior. Judy, Frannie ..., — ele fez uma pausa, e o ar no
veículo ficou pesado, —foda.

De repente ele parou de falar e eu não iniciei. Eu só


segurei sua mão, tirei meus olhos dele para dar-lhe seu
tempo e olhei para a estrada à nossa frente.
Ele finalmente continuou, sua voz mais grossa, então
eu segurei a mão dele mais forte.

—Ela lutou contra isso. Ela deu tudo de si. Manteve-


se forte o tempo todo. Ainda me surpreende como chegava
em casa do tratamento, ela e papai desapareceriam em seu
quarto, mas nós a ouvíamos vomitando, chorando. Deus, a
maneira como ela chorava, Frannie, eu ainda posso ouvir.
Tão exausta. Nunca ouvi nada assim, como se ela não
tivesse energia, mas não conseguisse parar. Odiava ouvir
seu choro assim. Não queria que Judy chorasse nunca,
mas nunca desse jeito.

Depois de presentear-me esta terrível beleza ─


horrível, o que acontecera, Noc compartilhando as
profundezas que lhe fazia sentir ─ ele tomou outro
momento e eu também, engolindo a tristeza que parecia
cobrir minha garganta com uma camada irritante de
poeira.

—No dia seguinte, ela superava, — ele continuou. —


Mesmo nos dias que ela realmente não tinha superado, ela
estava na cozinha nos dando comida e fazendo-nos parte
da magia que ela fazia lá. O câncer chutou sua bunda no
final, no entanto, e isso me irritou. Isso ainda me irrita. Ela
lutou tão duro, que deveria ter vencido. Mas ela foi
derrotada e isso não estava certo. Não era assim que
deveria ser. Não para Judy.

Sua última palavra foi rouca.


Ele limpou a garganta e terminou suavemente, —não
para ela.

Eu não tinha ideia do que era o ―câncer de mama‖,


mas no meu mundo tínhamos doenças terríveis que eram
prolongadas, pesadelos para aqueles que as tinham,
pesadelos muito mais longos para aqueles que tinham que
vê-los lutar e continuar com aquelas recordações.

A primeira esposa de Apollo, me disseram, teve uma


doença dessas. Muitos acreditavam que era a razão pela
qual ele sofreu tão tremendamente depois que ela se foi.
Ele fora marcado não apenas por sua morte, mas por ser
forçado a experimentar, com alguma extensão, a tortura
atroz de como ela havia morrido.

Eu era alguém que acreditava nisso.

—E o seu pai agora? — Eu perguntei gentilmente.

—Perdeu três boas mulheres, ele não vai tentar


novamente. Ele tem uma amiga. Ele diz que ―não é assim‖,
mas a única maneira de ―não ser assim‖ é que ele se
recusa a casar com ela. Como se ter o anel de Lud
Hawthorne em seu dedo fosse uma maldição, e eu entendo
por que ele pensa assim, e isso não é da minha conta,
então eu não me meto. Ela está bem com tudo isso. Ela o
ama. Ela é boa em fazê-lo sentir que pode se entregar a ela.
Eles vivem juntos. O nome dela é Sue. Ela o faz feliz. É
uma boa cozinheira. É inteligente o suficiente para não
tentar ser mãe de três homens crescidos que perderam
suas mães reais de uma maneira horrível. Mas ela não
esconde que se preocupa com o nosso pai, gosta quando
estamos por perto e quer que deixemos de foder ao redor
porque ela ama crianças e quer netos. ―Mesmo que não
sejam de sangue, quanto mais melhor‖, diz ela. Vendo que
ela já tem dois de seus próprios filhos, somos apenas eu,
Dash e Orly que estamos tomando nosso tempo. Por fim,
ela é engraçada pra caramba. Você vai conhecê-la. Vai
gostar dela.

Pelos deuses, eu a conheceria?

Eu iria conhecer uma mulher que estava


pressionando seus não-exatamente-mas-ainda-assim
enteados a lhe darem netos, Noc sendo um desses
enteados?

Querida deusa!

—Minha mãe chamava-se Amara.

Meus pensamentos em pânico desapareceram diante


de seu tom e meu olhar imediatamente se virou para ele.

—A única coisa que eu tenho dela são fotos, mas ela


era linda, Frannie. A mulher mais linda que já vi, até te
conhecer.

Eu me apaixonei novamente, como me apaixonei


várias vezes com algumas das coisas que ele disse quando
parou seu veículo e disse as palavras para mim antes do
jantar.

Meus olhos começam a picar.


—Se eu tiver uma menina, a primeira que eu tiver, a
chamarei de Amara, — ele declarou.

Era o nome mais bonito que eu já ouvi.

Eu engoli em um esforço para não expor a emoção


que eu estava sentindo antes de compartilhar: —Eu acho
que isso é amável, Noc, e o nome de sua mãe é ainda mais.

Seu polegar parou distraidamente de acariciar e sua


mão apertou a minha, puxando-a mais para cima de sua
coxa onde ele as estava descansando.

Ele fez isso enquanto murmurava: —Que bom que


você está a bordo disso.

—A bordo? — Perguntei.

—Você concorda, — ele explicou.

Eu me virei para frente novamente, sentindo a


sensação alarmante do meu coração inchando.

Uma linda bebê com os olhos azuis incomuns de Noc


chamada Amara.

Meu Deus, alguma coisa soava mais doce que isso?

—Você quer filhos? — Ele perguntou calmamente.

—Isso não está no meu futuro, — eu respondi na


mesma linha.

—Como assim?

—Todos que eu já amei estiveram em perigo.


Seu polegar começou a acariciar meu pulso
novamente quando ele me lembrou, —Esse não é mais o
caso, Frannie.

—Eu sei, — eu sussurrei.

—Então eu vou repetir, você quer filhos?

Eu queria uma menina com lindos olhos azuis e


cabelo preto chamado Amara.

E este desejo, o tipo que eu nunca me permiti ter,


borbulhou em minha garganta. Minha garganta, que foi
devastada pela emoção naquela noite, emoção esta que
cresceu, construiu e bloqueou, então eu não tinha outra
escolha a não ser falar.

Era uma impossibilidade.

—Frannie? — ele chamou.

Foi um esforço para liberar o bloqueio.

Eu fiz isso, mas mesmo assim, minha voz não era


como eu ouvia quando eu respondi: —Acaba de ocorrer-me
o quanto minha vida mudou desde aquela noite no
escritório. — Eu senti meus dedos curvarem
profundamente nos dele, não na minha direção, mas
automaticamente enquanto eu continuei falando. —Quão
livre eu realmente sou. Como minha vida e meu futuro são
realmente, pela primeira vez, meus mesmos.

—Eu espero que isso seja uma coisa boa, baby, e isso
não deve te deixar maluca, porque é uma coisa boa e você
deve se alegrar com isso, — ele aconselhou.
Olhei para seu belo perfil e anunciei de repente e com
um pouco de fervor, —Eu quero filhos, Noc. Meninas.
Rapazes. A maior quantidade deles que eu puder ter,
parando apenas quando eu sentir que não posso dar-lhes o
amor e a atenção que mereçam se eu tivesse outro.

Ele parou de acariciar meu pulso para que sua mão


pudesse apertar a minha, mas desta vez ele fez isso
ferozmente, causando uma pontada de dor.

—É bom ouvir isso, — ele murmurou.

Esse era seu desejo também.

Uau.

Parecia que eu tinha que me recompor ou eu estaria


rastejando por cima dele neste veículo, e se eu fizesse isso
significaria morte certa.

Portanto, eu exigi: —Devemos parar de falar sobre


isso ou receio que os resultados serão calamitosos.

—E por que é isso?

—Eu desejo te beijar, — eu compartilhei, mas não


parei nisso. —E fazer outras coisas, e você pode ter
demonstrado que pode se concentrar em mais do que
operar este aparelho, no entanto, eu acho que rastejar em
seu colo para te entregar um beijo não seja uma dessas
coisas.

—Você está certa, — ele respondeu com humor. —Se


você rastejar no meu colo e me beijar enquanto eu dirijo,
Lábios-açucarados, é provável que os resultados sejam
calamitosos.

—Então vamos para sua casa e depressa, Noc, —


ordenei. —Porque eu preciso de um digestivo, de teu amor
e de um travesseiro macio. Receio que, depois dos
acontecimentos dos últimos dois dias, fiquei bastante
fatigada.

—Seu desejo é uma ordem, linda, — ele murmurou.

Olhei para a frente, murmurando. —Que linda coisa a


se dizer.

Mais murmúrio de Noc. —Porra, você é fofa.

Não respondi. Eu já não tinha dúvidas que ele


pensava assim de mim. Na verdade, me agradava.

Nós conversamos sobre bobagens e, felizmente, nossa


jornada não demorou muito para que Noc executasse uma
manobra alarmante de parar na rua, depois retrocedendo
num ângulo inquietante para estacionar muito perto da
borda do pavimento.

Eu esperava que ele estivesse correto e eu me


acostumasse com isso, que ele chamava, ─ SUV.

Embora eu suspeitasse que me acostumaria (eu ainda


era Franka Drakkar), eu também suspeitava que levaria
algum tempo.

—Chegamos, querida. — Ele disse enquanto eu sentia


o motor do veículo parar de correr, e então eu o ouvi abrir a
porta.
Mas eu olhei além do pavimento para o ―local‖.

Eu ouvi a porta de Noc bater enquanto eu sussurrava,


—Nossa.

Era uma casa diferente de qualquer outra que eu vi


antes. Havia uma luz fraca vindo do interior que eu podia
ver vagamente através das janelas da frente da casa e da
janela sobre a porta. A noite escondia a cor que sua casa
estava pintada, mas eu podia ver que a madeira era
branca. E havia uma bonita cerca preta de ferro forjado
que se erguia orgulhosamente na beira do pequeno
gramado.

Havia também uma vasta quantidade de intrincados


trabalhos de madeira ao longo do pórtico e da grade.

E entre as três janelas na frente da casa, a do meio era


feita de vitrais bastante simples, mas muito bonitos.

Ela era arrumada. Era imensamente atraente. Tinha


personalidade. Ela não era muito grandiosa ou
esmagadora, mas em vez disso era bem-cuidada e
acolhedora.

Bem a cara de Noc.

Ele abriu minha porta enquanto eu me soltava do


banco e pegou minha mão, ajudando-me a sair do seu
veículo.

Vi então que os pavimentos que levavam à sua casa


eram de tijolo.

Um belo toque.
—Casa de espingarda28, — declarou Noc enquanto eu
continuava a admirar a sua casa enquanto ele me guiava
até lá. —Disse a Valentine que eu estava me mudando para
NOLA, eu queria viver em algo que fosse de NOLA. A única
outra condição que tinha de atender era eu ser capaz de
comprá-la e viver nela rápido, tão rápido quanto a
velocidade em que o dinheiro muda de mão. Seu agente
encontrou isso para mim e é ótima.

Ele abriu o portão de ferro, me guiou até ele e estava


me levando aos degraus quando eu perguntei: —
Espingarda?

Ele olhou para mim. —Certo. Esqueci. Você não tem


revólveres no seu mundo. — Ele me levou através da
pequena varanda e me soltou para parar na porta,
explicando: —Um revólver é uma arma. Atira uma bala, ou
um pequeno projétil, rápido, mais rápido do que o olho
pode ver. A bala viaja direto do cano para o alvo. Há uma
mudança em sua trajetória devido à distância e vento, mas
é mínimo. Não tenho certeza se você estava em estado de
perceber, mas é o que eu usei quando eu fiz a minha coisa
contra aquelas bruxas cadelas em seu mundo.

Eu não estava realmente em um estado favorável para


perceber isso. Entretanto, eu me lembrava vagamente.
Obviamente, havia outras coisas em minha mente.

28
Uma " casa de espingarda " é uma residência doméstica estreita e retangular, geralmente com não
mais do que 3,5 m de largura, com salas dispostas uma atrás da outra e portas em cada extremidade da
casa. Foi o estilo de casa mais popular no sul dos Estados Unidos desde o final da Guerra Civil Americana
(de 1861 a 1865) até a década de 1920.
Ele abriu a porta e eu vi através de hectares de pisos
de madeira reluzente, uma lareira de tijolos com um
protetor de madeira belamente esculpido que estava
independente numa sala que ia ao longo da casa. Sala de
estar em primeiro lugar, lareira delineando uma sala de
jantar e, em seguida, a cozinha deste mundo era
inteiramente visível na parte de trás.

Assim como a porta dos fundos.

—Espingarda, — disse Noc, atraindo-me para dentro,


—significa que você poderia ficar na porta da frente e atirar
com uma espingarda direto pela casa até a porta dos
fundos.

Olhei para ele quando ele parou para fecharmos a


porta atrás dele.

—Por que alguém faria isso?

Ele pegou minha mão e me puxou mais para dentro


do espaço, sorrindo e respondendo: —Eles não iriam. Isso é
apenas um apelido para esse tipo de casa. Lugares como
este foram construídos porque fica quente. Quando isso
acontece, você abre as portas, uma brisa pode passar
direto, esfriando o espaço.

Poderia, de fato.

Esperto.

—Também, — continuou ele, —elas são estreitas para


que você possa encaixar um bando deles em uma rua. Esta
era um barril duplo. Isso significa que eram duas casas
que uma vez compartilharam uma parede. Alguém a
renovou, deixando-as juntas. O comprimento que é agora o
espaço comunal era uma vez tudo da casa, mas agora eu
também tenho três quartos e dois banheiros.

Ele parou na cozinha, que era longa, mas estreita, e


tinha um impressionante número de armários, que
também incluía uma espécie de armário-mesa que tornava
uma área de sentar no meio.

Ele me soltou e se virou para uma porta do armário,


abrindo-a.

—O uísque funcionará como o seu digestivo? — Ele


perguntou, colocando um estranho ênfase no digestivo,
como se aquela palavra o divertisse.

—Sim, querido, — murmurei, contemplando seus


móveis e sua decoração.

Não surpreendentemente, era tudo muito masculino.


Um pouco como se um membro bem-nascido de uma
família nobre fosse decorar um pavilhão de caça, mas com
as diferenças deste mundo, obviamente.

Senti Noc tocar minha cintura e me tirou da minha


análise de sua morada para ele, para vê-lo me oferecendo
um copo de líquido âmbar.

Eu o peguei e mal o fiz antes dele se mover para mim,


manobrando minha posição, em seguida, prendendo-me
com as minhas costas contra o balcão.

Senti meus lábios se curvarem.


—Gostou? — Ele perguntou calmamente.

—Muito, — eu respondi. —É muito atraente. Muito


masculina. Muito convidativa. É bem como você.

Ele sacudiu a cabeça ligeiramente, seus olhos se


iluminaram, seu queixo abaixou, dizendo: —Minha Frannie
tem um jeito com elogios.

—Eu compartilho esse traço com você, — eu respondi.

Ele se inclinou mais perto, seu movimento levando o


nariz bem próximo ao meu, seus lábios bem ali, antes de se
afastar e tomar um gole de sua bebida.

Eu soltei a respiração, deliciando-me em sua


provocação e tomando um gole de meu próprio copo para
acalmar minha reação.

Maravilhoso, este mundo tinha uísque excelente e Noc


tinha gosto em adquiri-lo.

—Frey, — disse ele de repente.

—Desculpe? — Eu perguntei, confusa com isso e


pensando que nossas próximas atividades seriam muito
diferentes e não teriam nada a ver com meu primo no outro
mundo.

Noc concentrou-se em mim. —Frey e Finnie. Eles


estão juntos. Têm filhos. Mas a Finnie deste mundo,
Valentine diz, é uma lésbica, então ela não vai encontrar
seu Frey.

—Uma lésbica? — Eu perguntei.

—Ela gosta só de mulheres.


—Ah, — eu sussurrei, sentindo meus lábios curvarem
novamente, pois os rumores foram galopantes, com a
maioria recusando-se a acreditar, mas eu sabia que a
princesa de inverno deposta era uma guenipe. —Uma
guenipe, — eu disse.

—Quê?

Concentrei-me nele. —Nós as chamamos de guenipes


no meu mundo. Muito comum, para mulheres e homens
que preferem o mesmo sexo, ou ambos os sexos, para falar
a verdade. Muito indesejável quando a mulher passa a ser
a Princesa de Inverno e responsável por levar a linha real.

Ele assentiu. —Eu posso ver isso.

Eu tomei outro gole de seu excelente uísque e


acrescentei: —Isso não oferece equilíbrio dos mundos, para
ela não seria provável continuar qualquer linha aqui
também.

Noc sacudiu a cabeça. —Não.

—Talvez eu olhe para minha bola de cristal amanhã,


encontre o Frey deste mundo. Não, — acrescentei
rapidamente, —para espioná-lo ou me intrometer.
Simplesmente para apaziguar a minha curiosidade e, eu
acho, a sua.

Ele sorriu. —Bola de cristal.

Compreendi sua diversão e lhe devolvi o sorriso. —Eu


sei. Parece absurdo, isso é exatamente o que eu pensei no
início, mas é muito útil.
Noc não tinha nenhum comentário sobre isso.

Ele tinha outra coisa em sua mente.

—Você terminou com seu digestivo? — Ele perguntou,


inclinando a cabeça para o meu copo.

Eu não tinha.

E ainda assim eu tinha.

Mas, em resposta a sua pergunta, lendo o olhar em


seus olhos, assim como o que estava em sua mente, eu
levantei meu copo lentamente, tomei um gole igualmente
lento, e removi o copo de meus lábios, tudo isso olhando
para os olhos dele e vendo-os aquecer enquanto fiz isso.

Quando o copo estava fora, Noc abaixou sua cabeça


de novo, seu nariz chegando perto o suficiente, quase tocou
o meu. Mergulhando em volta, seus lábios tão perto, seus
olhos aquecidos incessantemente olhando em meu próprio.

—Você gosta de provocar, baby? — Ele sussurrou.

—Talvez, — sussurrei de volta.

Parecia que ele estava se movendo para tomar minha


boca, e eu segurei a respiração, mas assim que ele chegou
perto o suficiente para capturar meus lábios, ele recuou,
novamente apenas um sussurro de distância.

Eu inclinei minha cabeça para trás, desejando


diminuir a distância, mas Noc mudou de rumo,
preguiçosamente correndo um rastro fantasma com seus
lábios ao longo de minha mandíbula, minha bochecha e de
volta aos meus lábios, bem ali, mas não o suficiente.
Meu coração batia rápido, a área entre minhas pernas
formigava, ficando úmida, e eu balancei ligeiramente nele,
querendo remover até mesmo a distância limitada que
tínhamos.

Mas Noc colocou seu drinque no balcão atrás de mim,


sua mão se posicionando em meu quadril e me segurando
firme.

E afastado.

Senti o seu lábio inferior escovar o meu, mas o toque


era tão leve, que era como um sonho.

Senti, assim que meus mamilos esticaram o material


que os confinava, um desconforto prazeroso.

—Você provoca também, — acusei suavemente.

—Mm…

Ele murmurou enquanto seu rosto se aproximava


ainda mais.

Mas não perto o suficiente.

Deuses, ele era ainda melhor nisso do que eu!

E era maravilhoso.

Coloquei uma mão em seu estômago e subi.

—Eu gostaria muito que você me beijasse, querido, —


eu pedi.

—Sim, — foi tudo que ele disse como uma resposta.


—Agora, — eu exigi, balançando mais perto, e ele
permitiu o toque de nossos corpos, mas não me deu a boca
dele.

—Agora? — Ele perguntou.

—Agora, — eu repeti.

Ele correu a ponta do seu nariz ao longo da minha


narina e, em seguida, ajustou para que eu pudesse sentir
os pelos de sua sobrancelha na minha.

Minha respiração começou a ficar pesada.

—Quanto você quer minha boca, Frannie? — Ele


perguntou.

—Um pouco, — eu respondi, arrastando minha mão


em torno de seu lado para suas costas e até sua escápula,
pressionando.

Ele resistiu.

Senti minhas calcinhas pesarem.

—Noc, — eu respirei.

—Diga, por favor, — ordenou ele.

Meus olhos se estreitaram quando meu ventre se


convulsionou.

—Você é muito ruim, — eu adverti.

—Você acha que se pedir educadamente não vai


receber a sua recompensa? — Ele perguntou.

Esse foi um ponto excelente.


—Diga por favor, — ele insistiu, me dando o menor
vestígio de sua boca.

Procurei mais, mas ele me negou.

—Diga, querida.

Não havia nada para ele.

—Por favor, Noc, — eu apertei meus seios em seu


peito, —posso ter sua boca? — Eu sussurrei, e recebi
minha recompensa pelo calor em seus olhos, mesmo antes
de ele me dar a minha verdadeira recompensa.

—Absolutamente, — ele rosnou e então me deu o que


eu pedi.

Eu estava tão em sintonia com ele, quase deixei cair


meu copo em um esforço para agarrá-lo para mim no
instante em que eu provei sua língua, esquecendo que eu
mesmo o segurava.

Felizmente, Noc tinha mais presença de espírito e


antes que o beijo esquentasse, meu copo se juntou ao dele
no balcão.

Minha bunda também se juntou aos copos no balcão


quando Noc de repente arrancou a minha saia, levantou-
me e plantou-me lá, empurrando dentro, forçando minhas
pernas abertas, me abraçando firmemente em seus braços
para que minhas partes íntimas fossem pressionadas a
suas partes endurecidas, a sua boca devorando a minha.

Quando eu estava agarrando seu cabelo,


choramingando pela garganta e triturando meus quadris
no dele, ele levantou a cabeça e olhou para mim com os
olhos em chamas.

—Pronta para a cama? — Ele perguntou.

—Absolutamente, — eu respirei.

Noc sorriu.

Então ele me tirou do balcão, colocou-me em meus


pés, puxou minha saia, tomou posse da minha mão e me
puxou para fora da cozinha.

***

—Não, por favor, — eu supliquei.

Eu estava perto. Tão perto.

Como eu estava, repetidamente, de novo, enquanto


Noc passava o que parecia por anos me levando a uma
variável variedade de posições, algumas das quais eu nem
sabia que existiam.

E como ele me levou, me tocando, me beijando,


mordiscando, mordendo, lambendo, chupando,
empurrando dentro de mim, ele me levou para o precipício
do clímax.

E então ele puxava para fora, me colocava em uma


nova posição e começava tudo de novo.

Desta vez, eu estava de costas, Noc entre as pernas.


Mas ele puxou para fora e estava me enganchando
atrás do meu joelho. Ele ergueu aquela perna pela frente de
seu corpo, forçando-a para o outro lado. Ele encontrou a
parte de trás do meu outro joelho e dobrou na linha de
modo que ambas as pernas foram anguladas do mesmo
jeito, as coxas pressionadas juntas, o exterior de uma
perna empurrada para a cama, mas meus quadris foram
torcidos para o lado, minha bunda e boceta oferecidas a
ele.

Eu peguei seu olhar enquanto tentava recuperar meu


fôlego.

Ele aprisionou meu olhar enquanto sua outra mão se


envolveu em seu pênis, ele me encontrou e me penetrou.

Meus lábios se abriram, meus olhos se fecharam e


meu pescoço arqueou.

—Olhe para mim, — ele grunhiu, empurrando


profundamente.

Eu forcei meus olhos a se abrirem e novamente


encontrarem os dele.

—Mova a cintura, Frannie, mãos sobre sua cabeça,


pressione-as contra a cabeceira da cama. Quero assistir
você se mover comigo.

Eu não hesitei, até mesmo um momento, para aderir


a esta ordem.

Seus olhos caíram para meus seios que estavam


surgindo a cada mergulho.
—Foda, sim, — ele gemeu, colocando uma mão na
cama perto das minhas costas, o braço direito, dando-lhe
alavancagem, enquanto ele removia seu outro braço da
parte de trás dos meus joelhos e empurrou sua mão entre
minhas pernas, encontrando meu ponto sensível.

Eu levantei meu joelho mais alto para dar-lhe melhor


acesso e meu corpo inteiro entrou em espasmos.

—Noc, — eu ofeguei, minhas costas arqueando, o


prazer ondulando sobre mim, me empurrando para baixo
em seus impulsos.

—De quem é o pau que você está tomando? — Ele


perguntou.

—Seu, — eu forcei para fora.

Ele colocou pra dentro e ficou lá.

Eu choraminguei.

—De quem? — Ele exigiu saber.

Olhei para seu rosto marcante, que agora era áspero


de prazer, e sabia a resposta.

—Meu, — eu sussurrei, começando a tremer não só


com o que ele estava fazendo comigo, mas a força de seu
significado.

Ele começou a empurrar novamente.

—De quem é essa boceta? — Ele disse.

—É sua, querido. É sua. — Eu ofeguei, meu tremor se


transformando em tremores.
—Foda-se, é minha.

—Meu amor, eu preciso do clímax, — eu implorei e


apenas vagamente assisti algo feroz, assustador e tão dele
requintar em suas feições.

—Diga isso de novo, — ordenou ele.

—Preciso chegar ao clímax, — repeti.

Ele se apoiou no cotovelo para que ele estivesse mais


perto de mim, não interrompendo seus impulsos, mas
acrescentando pressão com os dedos entre minhas pernas.

—Tudo isso, — ele rosnou. —Repita tudo, Franka.

—Meu amor, preciso...

—É isso, — ele grunhiu, dirigindo profundamente,


circulando com força, o prazer me alcançou, levantando
minhas costas da cama, forçando minha cabeça nos
travesseiros, seu nome um jorro de felicidade através de
meus lábios. —Sim, — eu o ouvi gemer. —Sim, Frannie. —
Ele afundou completamente e sussurrou: —Sim, — como
eu senti seu corpo esticar em mim e o suspiro profundo,
intoxicante de sua libertação.

Depois que as sensações se afastaram, eu relaxei na


cama, abrindo os olhos e observando Noc enquanto ele
levantava a cabeça, que caiu após o seu orgasmo, e ele
olhou para mim enquanto me acariciava dentro, terno e
doce antes de sair.

E então eu assisti quando ele se moveu para baixo.


Ele se inclinou para o meu quadril, tocando seus
lábios nele. Ao longo da minha coxa externa, a meio
caminho do meu joelho, outro toque labial, e em diante, de
um lado do meu joelho para outro.

Ele mudou de posição e eu continuei a assistir


enquanto ele suavemente puxava sua mão de entre as
minhas pernas, onde ele esteve abaulando meu sexo em
um toque íntimo desde o meu clímax. Ele descansou sobre
meus joelhos, mantendo-me torcida de lado na cama, mas
ele escovou seus lábios ao longo da lateral do meu tronco.
Na minha caixa torácica. Ao redor, entre meus seios.

Então seu peso estava pressionando meus quadris


enquanto ele olhava nos meus olhos, sua sonolenta e
saciada beleza, e ele disse calmamente, —Não se mova um
centímetro, Frannie.

—Seu desejo é uma ordem, querido.

Uma chama de algo que eu não conseguia decifrar


completamente queimou em seus olhos antes de me dar
um sorriso terno, caiu a cabeça de novo para me beijar
entre meus seios e ele percorreu seu caminho ao longo de
meu corpo antes de deixar a cama para ir para o privado
anexo em seu quarto de dormir.

Eu soube por que ele não queria que eu me mexesse


quando ele voltou, apagou a luz na mesa de cabeceira atrás
de mim e então entrou na cama, encaixando-se em uma
curva ao meu comprimento na parte de trás. Pressionando
em mim para alcançar a luz na minha frente, ele a apagou,
em seguida, puxou as cobertas acima de nós e se instalou,
um braço ao redor de minha barriga, me aconchegando
mais perto.

Mas ele não disse nada.

Ele apenas me abraçou e fez isso apertado.

Senti o calor dele. Sua força. Seu afeto por mim. Tudo
isso simplesmente deitado em nossos lados, seu braço em
volta de mim.

—Obrigada por um lindo primeiro dia em seu mundo,


Noc, — eu disse.

—É um prazer, querida, — respondeu ele.

—O jantar foi delicioso, — eu compartilhei.

—Sim, eu percebi, vendo como você não disse


nenhuma bobagem para mim até limpar seu prato. Pensei
que, quando você terminasse ia pegá-lo e lamber.

Eu, na verdade, tive essa vontade. Felizmente, eu fui


capaz de sufocá-la.

Eu não respondi ao seu comentário de como era


ligeiramente irritante e eu não estava com humor para ser
irritada.

Em vez disso, eu disse: —Obrigada por ser tão gentil e


paciente com Josette.

—Não é difícil, — ele me disse. —Ela é doce e


engraçada e você quer o mundo para ela.
Tive a sensação de que foi a última parte que
estimulou Noc a mostrar-lhe a sua generosidade de
bondade e paciência.

Nesse pensamento, me perguntei como passei a vida


do jeito que eu tinha e no final isso me levou a Noc.

Desejei uma resposta a essa pergunta, ao mesmo


tempo em que achava melhor não questioná-la.

Não.

Eu deveria apenas experimentá-la. Nutri-la.

Deleitar-me com isso.

Noc pressionou mais perto. —O que está em sua


mente?

—O que faz você pensar que algo está em minha


mente? — Eu perguntei.

—Porque nós tivemos quatro horas de sono na noite


passada, um dia ocupado hoje, tive um orgasmo forte, dei-
lhe uns mais fortes, e você disse que estava cansada antes
de chegarmos a minha casa. E agora você não soa
cansada, não age como uma e não se sente cansada, — ele
disse seu último com um aperto no meu meio.

—Cora me disse que a polícia neste mundo era


bastante intuitiva, — eu murmurei, me perguntando se
isso parecia bom ou ruim para mim, e pensando que, na
maioria dos casos, seria ruim.
—Nós somos, — ele confirmou. —Embora eu não seja
mais um policial, algumas coisas nunca mudarão, uma vez
um policial, sempre um policial.

Olhei para a escuridão um momento antes de girar


em seus braços.

Ele mudou de posição para permitir que eu fizesse


isso, mas fez isso me mantendo na curva de seu braço.

—Você me disse que Valentine iria lhe conseguir uma


posição como guarda desta cidade, — eu disse.

—Ela iria.

Fiquei chocada com o que eu entendi que isso


significava.

—E você decidiu, com o tesouro que lhe foi dado em


meu mundo, ser um homem ocioso?

Fiquei chocada com essa ideia porque os Noctorno


Hawthornes, de ambos os mundos, não eram homens de
ócio. Tanto não, eu não podia acreditar, me perguntei e
fiquei perturbada com isso, o último em relação a isso
possivelmente ter algo a ver comigo.

—Não, — respondeu Noc. —Com isso eu paguei


minha maneira de comer e beber por quatro países em seu
mundo, comprei doze caixas de vinho em Fleuridia, meu
novo Suburban e esta casa, que, com o valor dela e no
bairro que está dentro, não foi barato. Mas eu guardei a
maior parte dele, porque eu aprendi na vida que merdas
podem acontecer e acontecem, sem falhas, então você tem
que estar preparado. Uma boa maneira de estar preparado
é ter mais de um milhão de dólares de ouro convertidos
ilegalmente em dinheiro, que é então ilegalmente investido
em investimentos estrangeiros que, se eu tirar qualquer
coisa, vai voltar em dinheiro para que a Receita Federal
não perceba que eu fiz uma viagem a um universo paralelo
que me tornou um milionário, uma explicação que eles não
vão aceitar. Isso significa que eu tenho que manter essa
sorte inesperada escondida para evitar uma pena de
prisão, porque não importa o quão inteligente você pensa
que é, a Receita Federal vai pegar você. E eu realmente
ganhei esse tesouro em um universo paralelo, mas eles não
vão acreditar nisso e uma vez que eu não tenho outra
explicação que eles irão acreditar, tenho que quebrar a lei.

Eu abri minha boca para perguntar, mas eu não


precisava me incomodar, Noc me respondeu.

—E a Receita Federal é o departamento no governo


que você paga impostos, Lábios-açucarados. Eles franzem
a testa para quem não faz isso e ficam bastante
desagradáveis quando isso acontece.

—Os coletores de impostos no meu mundo são muito


iguais, — eu compartilhei.

—Aposto, — murmurou ele.

—Embora eu aproveite esta oportunidade para


observar que eu estou encantada em saber que você
adquiriu tanto vinho Fleuridian, sua explicação não anula
a minha pergunta.
—Desculpe, Frannie, o que estou dizendo é que o
dinheiro não vai ser usado para que eu possa ser um
homem ocioso. — Eu podia ouvir que ele achou algo sobre
isso divertido, mas ele não explicou o que era, e continuou
falando. —Eu decidi não pegar um emprego como ―guarda
da cidade‖, mas sim trabalhar para uma empresa privada
que paga mais, é mais flexível com horas e, espero, ofereça
um número interessante de casos que não são como os que
eu estava acostumado, então farei algo diferente. Tudo isso
me deu uma necessária mudança de ritmo.

—E isso é desejado por você? — Eu perguntei.

—Eu não sabia que era até que Valentine me deu a


opção, mas a partir do que os caras que possuem a
empresa me disseram sobre o que eles fazem, é.— Ouvi sua
cabeça se mover sobre o travesseiro quando senti ele
mergulhar seu rosto mais perto do meu e sua voz era
reconfortante quando ele continuou, —É bom, querida. É o
que eu quero. Estou ansioso por isso.

—Bem, então tudo bem, — eu respondi.

—Que bom que você está bem com isso, — ele


murmurou com diversão.

Eu estava bem com isso, mas só porque ele também


estava.

—Agora, —, eu continuei, —eu gostaria de saber,


quando você disse, ―merda pode acontecer‖ e, em seguida,
afirmou que acontece, o que, exatamente, você quis dizer.

Sua resposta foi instantânea.


—Seus pais abusaram de você, provavelmente em
termos de abuso mental e emocional, desde o nascimento,
mas a merda física atingiu aos cinco anos. A única mãe
que eu conhecia tinha câncer, lutou duro e morreu de
qualquer maneira. Seu namorado foi sequestrado por
bruxas e torturado até a morte. Seu mundo quase foi
tomado por forças do mal. Durante uma investigação,
liguei-me com uma mulher do outro mundo que
eventualmente me levou a sua gêmea deste mundo, alguém
com quem eu me relacionava, o que significa que eu fui
amarrado para ajudar a salvar o seu mundo. O que,
precisamente, quero dizer é que merda pode acontecer,
merda louca, merda insana pra caralho, e acontece. Sem
falta.

Isso não poderia ser argumentado.

Dito isto, eu tinha uma curiosa sensação de que ele


não estava compartilhando tudo comigo.

Olhei para seu rosto sombreado e, devido à hora, ao


humor e à nossa localização, decidi que talvez não fosse a
hora de pressionar.

Ele disse que tudo o que era dele era meu. Ele era
Noc, por isso acreditei nele.

Mas isso não significava que eu precisava exigir tudo


dele imediatamente.

—Você está cansado? — Eu perguntei.


Outro sorriso em sua resposta de —Baby, não foi nem
há dez minutos, então você não pode ter esquecido que eu
fiz todo o trabalho.

Bem!

—Isso é correto, — retorqui. —Eu também não me


esqueci que você fez todo o trabalho, independentemente de
minhas tentativas de, em primeiro lugar, compartilhar esse
esforço, e depois pedir-lhe para parar de fazer todo o
trabalho e fornecer o que você estava trabalhando para
obter.

—Sim, — ele murmurou calorosamente. —Eu não me


esqueci disso também. — Ele se inclinou e tocou sua boca
na minha quando ele disse, —Você implora muito
educadamente, querida.

Explodi, mas ele tinha um talento para qualidades


misturado com vexame.

No entanto, foi a primeira parte que me fez pressionar


involuntariamente meu corpo contra o dele.

Em resposta, Noc derrubou sua mão para baixo da


minha espinha e cobriu a bochecha do meu bumbum com
ele, dizendo, —Você tem que deixar seu homem descansar,
Lábios-açucarados. Então ele vai te dar o que você quer e
ser capaz de fazê-lo da maneira que você gosta.

—Eu não estava pedindo mais, Noc, — respondi.

—Sua boca não estava, mas seu corpo sim.


Eu não disse nada porque isso era verdade e não
havia como negar.

—Você vai me deixar dormir? — perguntou Noc.

Ele dormindo significaria que ele não estaria me


incomodando.

Ou me excitando.

—Sim, — respondi.

—Você vai dormir? — Ele perguntou.

Eu tinha coisas em minha mente, particularmente a


―merda‖ que aconteceu na vida de Noc, merda que não era
a morte da sua madrasta, algo que claramente o feriu
profundamente, uma ferida que não curou, nem jamais
curaria.

—Sim, — menti.

—Dormir agora e então shopping amanhã, — ele


murmurou. —Pegar mais roupas para que você possa
deixar algumas aqui.

Este era um excelente plano.

Eu me aconcheguei mais perto dele, dizendo


suavemente, —Isso soa bem.

—Mostrarei a você e Josette a cozinha. Como usar o


fogão, micro-ondas, coisas assim. — Ele continuou a
planejar, a sonolência começou a permear seu tom. —Se
ela pelo menos souber como usar um micro-ondas, não
terá que comer pipoca de um saco se ela estiver com fome.
—Isso também parece bom, — respondi.

—Encontraremos o calendário de horário que


Valentine criou para você olhar os lugares e ...

Eu o interrompi. —Querido?

—Sim?

Correndo uma mão suavemente sobre suas costas eu


sussurrei, —Durma. Podemos planejar o amanhã, amanhã.

—Certo, — ele murmurou, sua mão em minha bunda


curvando para se enterrar entre meu quadril e a cama, me
puxando ainda mais perto. —Noite, Frannie.

—Boa noite, meu querido.

—Minha querida—, ele murmurou. —Minha Frannie,


tão fofinha pra caralho.

Segurei-o e acariciei-o e senti seu grande corpo soltar-


se contra mim, sua cabeça caindo para frente, sua testa
descansou sobre a minha, seu relaxamento, mas a
inclinação do seu corpo em sono significava que eu assumi
um pouco de seu peso.

E me regozijei nele.

Eu me senti repleta por um jantar encantador,


deliciosa companhia, significativo compartilhamento,
excelente whisky e fazer amor requintado. Muito aconteceu
em pouco tempo e meu corpo e mente estavam exaustos
por causa disso.

Mesmo assim, levei algum tempo para encontrar a


minha própria paz, porque, já não lutando com as muitas
mudanças na vida que suportei, poderia finalmente me
concentrar em algo que não era eu.

E o que me concentrei foi o fato de que o homem cuja


cama eu estava deitada nua, cujo corpo nu descansava
contra o meu, o homem que roubou meu coração e
capturou uma grande porção de mim que eu conhecia, não
importava o que o futuro poderia trazer, sempre seria
dele... aquele homem ainda era um mistério.

E isso me incomodou.

Profundamente.
Todo segundo

Franka
—Vou deixá-la fazer suas coisas. — Noc declarou. —
Quando estiver quase acabando mande mensagem e eu
voltarei para pegá-las. Mas, apenas para dizer, se cortarem
muito do seu cabelo, eu vou perder a cabeça. Esteja avisada
e certifique-se de que isso não aconteça, Lábios-açucarados,
porque se essa merda acontecer, juro que não vai ser bonito.

Noc e meus planos para o dia foram frustrados durante


o café-da-manhã que ele me ofereceu naquela manhã (ele
chamou de bagels e creme de queijo¸ eu chamei de delicioso),
devido a uma nota deixada por Valentine com Josette. Essa
nota proclamava que ela havia marcado uma consulta para
cuidar de nossas pessoas na maneira deste mundo.

Isso significava que Josette e eu estávamos agora na


entrada de um estabelecimento elegante onde Noc nos
deixou. E que teríamos um dia no ―spa‖, para ter nossos
cabelos cortados com ―estilo‖, nossas sobrancelhas
―definidas‖ e nossas unhas ―feitas‖.

—Eles foram informados de que as duas são novas


nessas coisas, então foram instruídos a terem cuidado com
vocês, mon chéries. Eles também foram pagos e receberam um
extra. Tudo que vocês precisam fazer é desfrutar. — Ela
escreveu.

Embora entendesse o conceito de fazer um penteado, o


resto era totalmente estranho para mim (e Josette). Mesmo
que Valentine tivesse compartilhado com a equipe de
funcionários que éramos ―novas nessas coisas‖, nós, de fato,
éramos novas para essas coisas. Eu não queria ninguém
perto do meu cabelo (ao qual Noc acabou de declarar um
interesse bastante saudável), das minhas unhas (a menos
que essa pessoa fosse Josette, ela era muito talentosa com o
corte e esmaltação, sem mencionar o cuidado com meu
cabelo), mas principalmente das minhas sobrancelhas (o que
alguém faz para as sobrancelhas?), porém, não sabendo
nada sobre isso, não tivemos escolha senão aparecer dessa
maneira.

Em outras palavras, acanhadas e bobas.

O que eu não era.

Nem Josette.

E isso eu não faria!

Maldita Valentine! Era extremamente irritante que ela


nos trouxe para este mundo, lutou exatamente por isso e
desapareceu depois que chegamos.
—Eu... bem, Noc... —Eu reuni minhas forças e pedi. —
Seria muito apreciado se você nos acompanhasse através de
nossas, ahamm, atribuições.

Noc se aproximou, sorrindo alentadoramente, e disse:


—Vai ficar tudo bem, querida. E você vai gostar. As mulheres
neste mundo fazem esse tipo de merda todo o tempo e
adoram. É considerado um prazer.

—Tenho certeza que é, — murmurei. —Ainda assim...

Ele me interrompeu pegando minha mão, e jogando um


olhar para Josette, me puxou a poucos metros de distância.

Então voltou sua atenção para mim e ladeando meu


pescoço com ambas as mãos, aproximou seu rosto do meu e
sussurrou apenas para meus ouvidos:

—Ok, querida. Primeiro, cabelo. Quando te colocarem


na cadeira, vão perguntar o que você quer fazer, talvez
recomendem coisas que você pode querer tentar. Seja firme,
você quer apenas um corte. Eles vão fazer isso. Então vão
lavar, secar com um secador de cabelo elétrico e fazer um
penteado. Quando chegarem às suas sobrancelhas, vão...

Ele, então, pacientemente, e bastante bem, explicou


tudo o que aconteceria a Josette e a mim nesse ―spa‖.

—Para terminar, — concluiu. —Eu sou um cara. Há


caras hoje em dia que fazem esse tipo de coisa. Fazem
pedicure e todo tipo de merda. Mas eu não sou esse tipo de
cara. E também não sou o tipo de cara que paira sobre sua
mulher enquanto ela se arruma. Se você está ansiosa, eu
estou aqui, não darei um passo para fora dessa porta se você
precisar que eu fique. Mas se eu não achasse que tudo
ficaria bem, nem sequer consideraria ir embora. Entende o
que estou dizendo?

Eu balancei a cabeça. —Entendo, Noc.

—Então você quer que eu fique ou posso ir?

Encarei seus olhos enquanto suas palavras


retumbavam em minha cabeça.

Eu não sou esse tipo de cara.

Quer que eu fique ou posso ir?

Posso ir?

Mas ele ficaria.

Por mim, ele poderia ficar.

—Sou excepcionalmente apaixonada por você, Noctorno


Hawthorne. — Eu soltei abruptamente.

Seu rosto momentaneamente registrou surpresa, antes


que sumisse e seu olhar fosse tomado pelo calor que eu só vi
nele durante nosso amor.

—Para referência futura, — ele grunhiu, —você me olha


assim, enquanto diz merdas como essa, faça isso em um
lugar que, pelo menos, tenha um armário de vassouras
relativamente privado, para que eu possa te levar lá e fodê-la
contra a parede.

Eu me inclinei para ele, levantando minha mão para


segurar sua camisa, com o fim de ajudar a me manter em
pé, enquanto suas palavras subiam pelas minhas pernas
para atacar a área entre elas.

Isso elas fizeram.

Com precisão.

—Sim? — Ele rosnou.

—Sim, Noc.

—Agora, você quer que eu fique?

—Não querido. Acho que Josette e eu podemos lidar


sozinhas.

—Certo. — Ele murmurou, soando perturbado,


parecendo excitado, e deixando cair a boca na minha para
um beijo duro, de boca fechada, antes de se afastar uma
polegada. —Me mande uma mensagem quando estiver quase
pronta, eu virei buscá-las e levar as duas para almoçar no
shopping. Certo?

Eu balancei a cabeça. —Certo.

Ele olhou por cima da minha cabeça e depois para


mim.

—Você vai adorar, querida. Apenas relaxe e divirta-se.

Eu assenti com a cabeça novamente.

Seu olhar aquecido mudou para pura satisfação.

—Eu posso ir, mas só se você soltar a minha camisa.

—Oh! — Eu exclamei, deixando-o ir e observando


minha mão suavizar sua camisa atraente contra seu peito.
Isso foi um erro, já que o peito sob essa camisa era tão
quente... e tão duro.

Afastei minha mão.

—Então, um almoço tardio ou jantar adiantado,


levamos Josette e voltamos para minha casa para outra
maratona. — Ele afirmou grosseiramente e novamente
levantei os olhos para os dele.

Ondas de calor me percorreram.

—Maratona? —Perguntei, lutando contra a fusão de


calor.

—Vocês têm isso em seu mundo? — Ele perguntou em


troca.

—Corridas? Sim, existem jogos em Hawkvale onde


atletas de todos as partes das Northlands...

—Nossa maratona não será correndo. — Ele prometeu.

Meu —Oh, — nessa hora foi muito mais suave.

—Porra, ela diz ―oh‖ e eu estou em perigo de gozar nas


calças. — Ele lamenta, parecendo irritado.

Senti meus olhos ampliar antes que minhas pálpebras


semicerrassem e minha boca suavizasse.

Então assisti Noc olhar para mim e parecer ficar ainda


mais aborrecido.

—Fui! — Ele grunhiu abruptamente, levantando uma


mão para segurar minha cabeça. Inclinar-se, beijar o topo,
enroscar os dedos no meu cabelo e puxar de volta para roçar
seus lábios contra os meus. —Avise-me. — Ele exigiu,
finalmente me deixando ir e depois marchando de maneira
completamente agressiva para fora do restaurante, sem
sequer olhar para Josette em despedida.

Isso foi rude, mas eu nem percebi, pois estava naquele


momento memorizando sua marcha agressiva, tão fascinada
com a visão agradável, que eu quis armazenar na memória
para nunca esquecer.

Uma vez que percebi que olhava fixamente para a


porta, me sacudi, virei e descobri que a moça da recepção
que nos recebeu quando entramos, assim como Josette,
também olhavam para a porta.

Com cobiça.

Isso me fez sorrir.

Exultantemente.

Me virei para Josette.

Quanto mais cedo terminássemos nosso tratamento


deste mundo, mais cedo estaríamos de novo com Noc.

Então era hora de começar.

***

—Veja isso. Olhe... para... isso! — Josette exigiu,


entrando no salão repleto de móveis confortáveis da área de
espera do SPA.
Eu olhei para isso, ―isso‖ sendo ela agitando seu cabelo
com as mãos, em seguida, sacudindo-o com a cabeça
inclinada para trás.

Ela não tinha um homem que exigia que seu cabelo


permanecesse longo, por isso havia cortado apenas um
pouco abaixo dos ombros e penteado em cachos suaves que
se tornavam cada vez mais macios. Para não mencionar,
como se por mágica, mechas loiras foram adicionadas
mudando a cor, apenas um tom, mas com uma nuance bem
atraente.

Ela endireitou a cabeça e sorriu imensamente para


mim.

—É um milagre! — exclamou ela.

Era, de fato, um penteado muito atraente.

—Você está encantadora, minha querida.

Ela chegou perto de onde eu me sentava, inclinou-se


sobre mim e tocou cuidadosamente o meu cabelo com a
atenção de um especialista.

—Uau, Franka! Eu vejo o que eles fizeram. Cortaram


em camadas no comprimento para tirar o peso, liberando a
maleabilidade do seu cabelo. Extraordinário! — Ela respirou,
recuou ligeiramente e examinou meu rosto. —E suas
sobrancelhas estão adoráveis, arqueadas assim. Em suma,
devo dizer que você parece ainda mais bonita do que o
normal! — Declarou. —Mas... é certeza que Noc ficará ainda
mais apaixonado por você quando a vir.
Eu não tinha dúvida de que isso seria verdade.

E a razão do por que não era o meu penteado, que ficou


realmente muito lindo, apesar da mudança muito pequena,
entretanto, bem impactante. Ou minhas sobrancelhas, que
sempre foram arqueadas, mas que, com a delicada
envergadura, ficou bem mais eficaz.

Era simplesmente porque Noc estava apaixonado por


mim e parecia que tudo o que eu fazia, o fazia ficar mais.

Eu seguro esse pensamento perto do meu coração e


sorrio de uma maneira que sabia como era tê-lo lá e isso se
mostrou em meu rosto.

E fez, porque Josette perguntou: —Ele é bom pra você?

—Ele é mais do que bom para mim, —respondi.

—Eu sabia que ele seria. — Ela sussurrou. —E isso me


faz feliz.

Isso também me faz.

Eu não compartilhei isso.

Estendi uma mão e peguei a dela, dando-lhe um


aperto.

—Franka? Josette? — chamou uma mulher.

Olhamos para ela de pé na entrada da área em que


estávamos.

—Hora de manicure e pedicure! — Ela exclamou, como


se tivesse dito —Hora de você escolher uma safira do
tamanho de sua palma!
Josette, minha aventureira doce que encarou cada nova
experiência com excitação e alegria, me deu um olhar
ansioso e, então, correu para a mulher.

Me levantei do meu assento e as segui mais devagar,


percebendo que, por alguma razão, eu tomei essa aventura
do outro mundo com receio. Talvez porque nada foi bem
para mim no passado e por isso não conseguia imaginar um
futuro onde eu poderia esperar até mesmo um pouco de
leveza, vivendo um pavor inconsciente de quando a minha
sorte mudaria. Talvez fosse porque eu era Franka Drakkar e
ainda não me acostumei com o novo eu, temia que caísse no
velho, e então seria eu quem expulsaria todo o bem que
parecia estar ganhando.

Seguindo Josette e a mulher lentamente, percebo o


quanto que isso era tolo e sinto meus ombros se
endireitarem com a realização.

Antoine tinha razão.

Kristian tinha razão.

Josette tinha razão.

E Noc tinha razão.

As quatro pessoas que eu permiti chegarem mais


próximo de mim me conheciam melhor do que eu mesma.

O novo eu sempre foi eu.

Assim sendo, não parecia que ganhava.

Eu simplesmente mereci.

Então deveria realmente aproveitar.


Enquanto sentia um sorriso curvar meus lábios, meus
passos aumentaram e parti adiante em minha próxima
aventura permitindo que alguém (que não Josette) fizesse as
minhas unhas.

Não era para me entregar numa luta de garras com um


urso.

Mas era minha aventura, minha vida.

Eu ia deixar de temê-la.

Eu ia abraçá-la.

Cada segundo.

***

—Por Hermia! —Josette sussurrou alto de sua cadeira


ao meu lado, todo seu corpo vibrando do aparelho que
estava dentro do assento que pulsava e agitava, vibrava e
ondulava contra nossas costas. —Outro milagre. —Ela
sussurrou, acenando suas unhas de ponta cor-de-rosa.

Eu notei, com alguma inveja, as unhas envernizadas de


Valentine, algo que não tínhamos em nosso mundo.

Agora ambas as unhas, as minhas e de Josette,


estavam igualmente feitas e esmaltadas, e as senhoras
estavam cuidando dos nossos pés, uma experiência
absolutamente sublime.

Josette escolheu rosa.

Eu selecionei um Borgonha vivo, a cor do meu vinho


Fleuridian favorito.
—Nós temos que vir aqui todas as semanas, Franka —
continuou a sussurrar Josette.

Isto, uma vez que Noc nos ensine a dirigir um veículo,


faríamos.

—Concordo, — declarei.

Ela sorriu imensamente de novo.

Olhei para a mulher sentada em um banquinho baixo


aos meus pés.

—Salve, jovem. — Eu chamei, sua cabeça levantou e ela


pestanejou para mim. —Você pode me informar quando
estiver perto de terminar? — Solicitei. — Não que eu não
esteja desfrutando de seus cuidados, — Continuei
rapidamente. — Estou. Totalmente. Apenas que meu, bem...
erm...

Olhei para Josette e ergui as sobrancelhas, sem saber


como me referir a Noc.

Ela encolheu os ombros.

Pois bem.

Voltei-me para a mulher aos meus pés.

—Meu amante exige que eu envie uma mensagem


quando estivermos acabando, para que ele possa nos
buscar. Nós duas apreciamos o nosso tempo aqui,
tremendamente. Mas eu, por exemplo, estou bastante
faminta e ele vai nos levar para um repasto. — Com sua
expressão atordoada, eu corrijo. —Almoço, e eu prefiro não
ter que ficar esperando por ele por causa de mensagens
tardias.

—Você está dentro de um personagem para alguma


peça ou algo assim? —Perguntou ela quando parei de falar.

—O quê? — Perguntei em troca.

Ela me encarou.

Ela então indagou:

—Você é da Inglaterra?

Eu olhei para ela.

Não era estranho para mim que meu modo de agir e


falar era diferente para aqueles deste mundo. Até que eu me
acostumasse, em momentos como estes, uma explicação
pode se fazer necessária.

Portanto, dei-lhe uma.

—Nós duas somos de Lunwyn. — Eu compartilhei,


apontando para Josette. —É uma terra longe daqui. Embora
falemos a mesma língua, as coisas são muito diferentes por
lá.

—Nunca ouvi falar. — Voltou-se para a sua compatriota


num banquinho aos pés de Josette. —Você já ouviu falar?

A mulher sacudiu a cabeça.

—É muito difícil chegar até lá. É bastante,


subdesenvolvido, por assim dizer, em comparação, é claro,
com o seu. — Eu apontei a mão de novo, indicando o solo
onde nos sentávamos. —América.
—Certo. — Ela disse. —OK.

—Então, para encerrar, estamos terminando? — Eu


perguntei.

—Sim, uh, só falta, você sabe, a massagem e a


hidratação. Talvez vinte minutos. Mas você deve
provavelmente mandar a mensagem agora.

Eu assenti. —Minha gratidão.

—Certo. — Ela murmurou e voltou aos meus pés,


massageando-os e a minhas panturrilhas.

Maravilhoso.

Eu tive que solicitar outra funcionária do


estabelecimento para me ajudar a retirar o telefone da minha
bolsa, para não estragar o esmalte e não foi fácil cutucá-lo
com as unhas úmidas.

No entanto, eu consegui, e um barulho sibilante me


disse que foi enviado. Imediatamente o telefone soou em
minha mão, fazendo Josette e eu sorrirmos uma para a
outra como colegiais, mas meu sorriso se aprofundou
quando eu vi o nome de Noc acima do balão de texto que
estava debaixo do meu balãozinho de texto.

Estejam lá fora, Lábios-açucarados! Ele decretou.

Ah Noc.

Meu Noc.

Um bem que eu ganhei.

O melhor que poderia haver.


***

Meia hora depois, eu não estava tendo pensamentos tão


gentis sobre Noc.

Eu estava rangendo os dentes.

Isso porque ele estava rindo despudoradamente,


enquanto me levava para seu veículo, comigo vestindo peças
de cores vivas, frágeis e sem peso, de algo que parecia um
calçado, peças que Josette já vestia desde que pôs as roupas
deste mundo, exceto que essas eram muito menos
substanciais.

Eu estava arrastando os pés, bastante


desgraciosamente (para meu completo desespero), segurando
meus sapatos e minha bolsa, até que Noc teve pena de mim
e me tomou em seus braços.

No entanto, sua piedade não foi tanta assim,


considerando que ele fez isso, como já mencionei antes,
rindo muito.

Aparentemente, depois que a pedicure concluía, ou


você esperava algum tempo para que o esmalte secasse ou
você usa um calçado que não destruísse os esforços que as
manicures fizeram para que seus pés ficassem melhores do
que nunca. Algo que você não se importou em toda a sua
vida. Algo que parecia, do momento da última pincelada de
esmalte, crucial para a existência.

Isso faz que o calçado apropriado seja algo que eu não


usaria.
Noc me levou até seu carro, abriu a porta enquanto
ainda me carregava, e esquivando-nos cuidadosamente para
evitar bater nas laterais, depositou-me no assento.

Durante tudo isso, eu ignorei sua existência, uma


tarefa difícil, considerando que ele me carregava, mas me
portei com aprumo (em minha opinião), até o momento em
que não consegui mais fazê-lo por que ele pegou meu queixo
e me forçou a olhá-lo.

Ele ainda estava rindo.

Isso significava que eu comecei a me irritar.

—Vamos ter que arrumar chinelos reais para a próxima


vez que você for ao spa. — Ele disse, continuando a não
fazer o menor esforço em esconder sua alegria.

—Eu estou em seu mundo não um, mas dois dias, e


ainda posso dizer com alguma autoridade que não sou uma
pessoa que usa chinelos. — Anunciei arrogantemente.

Sua risada decrescente explodiu mais uma vez e ele


sentiu, por algum motivo, a necessidade de me beijar mesmo
permitindo que a força total de sua hilaridade continuasse
fluindo.

Isso ele fez.

Quando terminou, ele estava apenas sorrindo


suavemente.

Independentemente do fato de sua risada ter um sabor


adorável na minha língua, eu ainda continuei irritada.
Ele pegou o meu olhar fixo e isso não o fez menos
divertido.

—Ajudaria se eu dissesse que você está linda, mesmo


arrastando-se como uma inválida? — Perguntou.

—Não... isso... não... ajudaria! — Eu rebati.

Ele ainda assim não pareceu menos divertido.

—Que tal se eu te disser: se há três horas atrás alguém


me dissesse que você poderia ficar mais bonita, eu diria que
isso era uma impossibilidade, mas que conseguiram me
provar que eu estava errado?

—Que tal se eu te disser, se você se retirar da minha


proximidade, talvez eu não queira mais chutar você em
algum lugar desagradável? — Eu retribuí com falsa doçura.

—É vaidade, querida? — Ele indagou, agora só com um


sorriso irônico, o que não era menos irritante —Ou apenas
orgulho? — ele terminou.

—Ambos. — Admiti a verdade crua sem


constrangimento.

Ele balançou a cabeça, o sorriso irônico permaneceu no


lugar. —Essa é a minha garota. Alguém diz que você é fofa e
linda, você fica chateada. Ou neste caso, continua chateada.
Alguém pergunta se você é vaidosa ou orgulhosa, você
confirma sem um segundo de atraso.

—É a verdade.

—É, tenho certeza. — Ele retorna. —Mas você ainda é


fofa e você definitivamente é linda para caralho.
Eu decidi que era um bom momento para compartilhar
algo importante.

Então o fiz.

—Eu acredito que, com esta conversa, ficou claro que


até mesmo você, por quem tenho carinho, não pode me
persuadir de uma irritação dizendo coisas adoráveis. Que
mesmo para você, minha irritação, como sempre, corre
profundamente e é duradoura e requer um tempo para
esfumaçar antes de morrer naturalmente. Então acho que
você precisa me beijar, com presteza, então sair da minha
frente, e nos levar, a mim e a Josette, em algum lugar para
nos alimentar e fazer isso imediatamente.

—Até eu. — Disse ele em vez de fazer o que pedi.

—Até você. — Confirmei.

—Até eu.

Algo na maneira como ele disse isso me tirou da minha


irritação completamente nesse momento.

Quando observei melhor, vi que Noc não tinha humor.


Ele estava olhando nos meus olhos, brilhando com uma luz
tão bonita, que minha alma iluminou de tal forma que senti
que nunca mais escureceria novamente.

—Até você. — Eu sussurrei.

Ele segurou meu olhar e mundos poderiam ter colidido.


Milênios poderiam ter passado. Estrelas poderiam ter caído
do céu.

Nada poderia interferir no nosso momento.


Depois de algum tempo (temo, rudemente, que uma boa
dose de tempo), um sutil clareamento da garganta de Josette
(usando chinelos, aos quais ela já tinha alguma experiência,
então não teve problemas) chamou nossa atenção para o fato
de que ela nos seguira e atualmente estava sentada na parte
de trás do veículo do Noc.

Isso quebrou o momento, fazendo com que Noc se


inclinasse, tocasse sua boca na minha, mas depois de ter
feito isso, em vez de fazer o resto que eu exigi, ele pousou a
boca no meu ouvido.

—Em todos os trinta e oito anos de minha vida, só você.


— Sussurrou antes de prontamente se afastar e fechar
minha porta.

Com o corpo congelado, mas os olhos piscando


loucamente, eu assisto enquanto ele anda pela frente de seu
carro, o que ele jogou no meu ouvido assentando com a
agitação de asas de borboleta em torno do meu coração.

—Eu o amo. — Josette sussurrou no confinamento do


carro. —Amo, amo, amo... — prosseguiu ela, e antes que Noc
abrisse a porta, ela terminou: —Por você.

Eu também.

Pela deusa.

Eu também.

***
—Uma pergunta, Franka: chegamos na terra dos
deuses? — perguntou Josette reverentemente.

Eu não respondi, embora se tivesse, minha resposta


poderia ter sido sim.

Noc o fez.

—Não, querida. É apenas o departamento de calçados


da Nordstrom.

Lentamente, sua cabeça girou e seus olhos reluzentes


ergueram-se para Noc.

—Posso...? — Ela começou.

—Vá em frente, — ele autorizou, balançando a cabeça


para a vasta área além de nós, cheia de mesas e prateleiras
cobertas por um espetáculo vertiginosamente encantador de
sapatos deste mundo. —Se encontrar algo que goste, me
avise que eu chamo um vendedor e conseguimos pra você.

—Eu te amo, — ela tomou fôlego, os olhos ainda


reluzindo.

Pressionei o lado de Noc, meus lábios se curvando em


um sorriso profundo.

Noc riu.

Josette aproximou-se hesitante da primeira mesa de


sapatos, encarando-a reverentemente, sua abordagem
cuidadosa, como se estivesse diante de um grande baú com
um tesouro tão precioso que não podia acreditar em seus
olhos.
Noc usou seu braço ao meu redor para me pôr na sua
frente. Tirei meu olhar de Josette e o levantei para ele.

—Eu não posso acreditar que vou perguntar isso. — Ele


iniciou. —E penso que estou rompendo um limite do qual
vou me arrepender, mas... você está pronta para aprender a
fazer compras?

Isso me confundiu.

—Por que você se arrependeria disso? — Eu indaguei.


—Você e eu somos criminosamente ricos. Neste mundo, isso
seria literalmente. Assim, posso me mimar, e a Josette, sem
me preocupar.

Seus lábios se contraíram antes dele responder.

—Certo. Melhor eu explicar. Nós vamos fazer isso hoje.


Vamos comprar pra você e Josette. Encher meu Suburban
com coisas que as façam sentir melhor e mais confortáveis
aqui. E até que as duas possam andar por conta própria,
tenho a sensação de que vou fazer isso mais de uma vez.
Mas apenas para adverti-la, quando se acostumarem a se
locomover sozinhas, você pode me pedir para ir às compras
com você uma vez a cada cinco anos. Não mais, mas poderia
ser menos. E se você sentir vontade de me comprar alguma
merda, faça isso. Tenho a sensação de que vou sair
assistindo você provando roupas e sapatos. Eu nunca saio
para comprar nada para mim.

Havia tanta coisa nessa resposta, que eu não tinha


ideia por onde começar.
Eu queria comentar sobre ―uma vez a cada cinco anos‖,
mas suspeitava que minha melhor chance fosse deixar isso
por agora e esperar que tivesse outra oportunidade no
futuro.

Então eu me foquei em outra coisa.

—Você não gosta de comprar roupas para si mesmo?

—Não.

Eu fiquei ainda mais confusa.

—Mas, você está sempre tão bem! Suas escolhas são


tão atraentes e se adequam a você completamente. Tanto,
que elas indicam um grande prazer em fazer essas escolhas.

Seus olhos se aquecem com minhas palavras, e quando


termino ele replica: —Eu não mencionei, Sue, a mulher do
meu pai, gosta de fazer compras. Sem contar com Natal e
aniversários, todos ficamos bem supridos. Isso deixa meu
pai furioso. Ele continua dizendo que estamos usando sua
aposentadoria. Isso não a impede, no entanto. Eu não
cataloguei tudo, mas tenho certeza que não comprei nada do
que usei desde que conheci você.

—Interessante, — murmurei.

Seu abraço ficou mais apertado de uma maneira que eu


não tinha certeza de que gostava.

Quando peguei o olhar em seu rosto, sabia que estava


certa em ter esse sentimento.

—E, apenas para esclarecer, Cora, a morta, comprou-


me uma tonelada de merda quando eu estava com ela,
trabalhando disfarçado naquele jogo ilegal que eu
investigava.

—Ah. — Sussurrei, conhecedora de tal fato, pois fora


compartilhado comigo (com cuidado) pela adorável, e viva,
Cora, para não mencionar que Noc não falara diretamente
sobre o assunto, mas ele também não se esquivara de
mencioná-lo antes.

—Frannie. — Ele chamou, independentemente do fato


de eu estar ali.

—Sim? — Perguntei.

Ele estava me estudando de perto. —Não que seja


assunto para o departamento de calçados da Nordstrom, e,
embora tenha certeza que Josette ficará bem sozinha por um
tempo para que possamos ir tomar um café, caso precisemos
de algum tempo juntos para discutir isso, mas as coisas
mudaram conosco e... — Ele continuava me estudando, —
você parece pra baixo com isso.

—Bem, eu estou. — Concordei.

Ele parecia duvidoso. —Está?

Apertei mais perto.

—Eu não sou sua primeira amante, Noc, e você não é o


meu também. Seria desagradável fazer você se sentir
desconfortável e definitivamente arrependido por ter
amantes antes de mim, ou mais longe, fazê-lo se sentir
inquieto em mencioná-los quando falar de sua vida. Sem
falar que seria um desperdício de palavras e emoção para os
dois em passar por tal assunto quando já é história.
Estamos juntos agora e é apenas o nosso futuro que me
interessa e não um estudo do passado sobre o qual não
podemos fazer nada.

Ele sorriu.

—Só para o caso de ter esquecido, vou lembrar que


você é foda, Lábios-açucarados.

Eu sorri de volta. —De fato, eu sou.

Ele se curvou e me deu uma pincelada de lábios,


levantou a cabeça e perguntou:

—Não acredito que vou perguntar isso, mas, você quer


mais sapatos?

Eu também não podia acreditar que ele estava


perguntando isso.

Portanto eu não respondi.

Eu simplesmente me libertei, peguei sua mão e me


joguei na terra dos deuses.

***

Abri, então fechei o espelho que era realmente um


armário no banheiro do Noc.

Eu fiz de novo.

E de novo.
Sorri para mim mesma no uso engenhoso do espaço
que incluía um compartimento escondido encantador e
depois o abri novamente para colocar os produtos que
comprei no shopping dentro dele.

Esses produtos incluíam demaquilante líquido algo que


eu precisaria usar em meu rosto para livrá-lo da pintura,
sem Josette ou Noc para me ajudar (e isso, estranhamente,
me deixou feliz).

Havia também a loção hidratante, da qual a mulher que


vendeu o demaquilante compartilhou que era um elemento
crucial em nosso ―regime de cuidados da pele‖, informando
que o hidratante tinha duas variedades, um para o dia e
outro para a noite.

E depois havia o tônico, algo que foi explicado, mas


ainda não estava bem claro o propósito, apenas que era vital
para a minha pele parecer ―saudável‖ e exigia que Noc nos
levasse para um lugar chamado ―farmácia‖ para podermos
comprar ―discos de algodão‖, a fim de usá-los.

O perfume que eu comprei, colocaria no balcão que


cercava a pia do Noc. A garrafa era atraente demais para ser
escondida em uma divisória, por mais inteligente que fosse
essa divisória.

—Chama-se armário de remédios.

Eu pulei com a voz de Noc e me virei para vê-lo


encostado na soleira da porta, me observando, com um olhar
de suave satisfação no rosto.
Senti meu espírito se acomodar naquele olhar e
perguntei suavemente: —Por que é chamado assim?

—Atualmente colocamos tudo dentro do armário,


porém ele foi inventado muito tempo atrás, quando ainda
não havia muita dessas coisas que você colocou nele.
Antigamente, na maioria das vezes, era usado apenas para
guardar remédios.

—Ah! —Murmurei, observando-o e não me movendo


porque ele estava imóvel, parado na soleira da porta, com o
ombro no batente, os olhos gentis em mim.

Após retornarmos do shopping, Noc deixou Josette na


casa de Valentine, onde ela assegurou-nos que estaria muito
feliz de experimentar suas habilidades recém-adquiridas com
o micro-ondas, a fim de fazer a sua ceia daquela noite e
novamente assistir à televisão. —Onde eu aprendo muito
deste mundo—, ela disse.

Sinto uma certa culpa, no entanto, porque eu sei que


ela estava dizendo isso apenas com um pouco de verdade.
Pois, ela queria, principalmente, ter certeza de que Noc e eu
tenhamos um tempo juntos.

Esta era a aventura dela também, e como tal ela não


devia gastá-la sentada em uma casa vazia (pois mais uma
vez, assim como na nossa saída, Valentine de novo não se
encontrava no nosso regresso), comendo sozinha e
assistindo a uma caixa, não importando o quão interessante
pareça.
Mas por enquanto, estávamos de volta à casa de Noc,
onde ele disse que me faria um jantar enquanto eu guardava
as compras que fiz para manter em sua casa, e onde eu
dormiria.

Não é preciso dizer, Josette e eu apreciamos muito


nosso tempo no shopping. Onde fizemos o que Noc disse que
faríamos, ou seja, encher seu Suburban até a borda com
nossas bolsas.

Em outras palavras, havia um bocado de coisa para


guardar.

E eu estava fazendo exatamente isso enquanto Noc


estava na cozinha.

Fiquei surpresa que ele tinha essas habilidades, mas


apenas porque, no meu mundo, um homem como ele teria
criados para fazer essas coisas para ele.

Neste mundo, parecia que todo mundo cozinhava para


si, o que eu achava muito estranho e vagamente alarmante,
porque chegaria um momento em que se esperaria que eu
fizesse o mesmo e, francamente, não tinha vontade de fazê-
lo.

Não pensei muito nisso. Simplesmente passei por


minhas maravilhosas compras e guardei-as enquanto
cheirava o aroma agradável dos esforços de Noc enchendo a
casa.

—O jantar está pronto? — Perguntei quando Noc não


disse nada e continuou a não se mover.
—Não exatamente. — Respondeu ele.

Inclinei minha cabeça para o lado e perguntei


calmamente: —Está tudo bem?

Ele olhou para minha garrafa de perfume no balcão e


de volta para mim.

—Completamente.

Ele disse isso com firmeza, mas sua maneira era


peculiar.

—Você parece um pouco estranho, meu amor, — eu


sussurrei.

Com uma rapidez assombrosa, sua energia encheu o


cômodo, envolvendo-me em seu abraço quente com tal
ferocidade, que quase me fez ofegar.

Mas mesmo isso acontecendo, sua resposta foi calma.

—Não, querida, apenas desfrutando nossa primeira


noite de normalidade.

—Nossa primeira noite de normalidade? — Indaguei.

—A vida não pode ser só drama e aventura, Frannie, —


ele respondeu. —Viagem entre mundos. Viagens em galeões.
Jantares com uma rainha. Para nós, será assim. Suas
porcarias no meu armário de remédios, o seu perfume no
balcão do meu banheiro, o jantar no forno, um copo de vinho
esperando por você na cozinha enquanto você termina de
arrumar suas coisas.
—Você verteu um copo de vinho para mim? —
Perguntei, por algum motivo pensando que este era o auge
da consideração.

—Sim, coração. Eu sei como você gosta de relaxar.

Ele sabe. Eu sempre bebo um copo de vinho antes do


jantar assim como durante.

Ele olhou para as sacolas vazias no balcão e depois


para mim.

—Precisa de ajuda?

Eu balancei a cabeça. —Não querido. Estou quase


terminando.

Ele ergueu a mão num gesto casual e a deixou cair.

—Não tenha pressa. Fiz torta de carne. Ela precisa


assar, mas mesmo quando estiver concluída, a torta pode
descansar até que você esteja pronta.

Eu sorri para ele. —Obrigado.

Ele balançou a cabeça, seu olhar me varrendo da


cabeça aos pés e de volta novamente antes que seus belos
lábios formassem um sorriso terno e ele se virou para sair.

—Noc? — Chamei.

Ele parou e olhou em meus olhos.

—Este novo normal é lindo. — Falei. —E sendo o que


nosso normal deve ser, aguardo muito mais disso. E você
sabe que amo passar tempo com você. — Suavizando meu
rosto, continuei. —Especialmente quando temos um tempo
sozinhos. No entanto, eu sinto que devo cuidar de Josette e
não deixa-la por sua própria conta por muito tempo. Sei que
ela está feliz em nos dar esse tempo. — Me apressei a
acrescentar. —Mas até que ela encontre seu propósito neste
mundo, e seja capaz de sair, fazer mais por si mesma,
conhecer outras pessoas com quem ela pode passar tempo,
somos tudo o que ela tem, especialmente com Valentine se
ausentando. Eu...

Ele ergueu a mão novamente, desta vez mais alto.

—Não diga mais nada, querida, eu entendo. Sei que ela


está sendo legal conosco. Mas você está certa. Temos que
cuidar dela. Vou levá-las a Bourbon Street amanhã à noite.
Onde vocês irão se divertir, ficar altas com alguns
hurricanes e divertir-se ainda mais. Parece bom para você?

Eu sabia que seu uso de ―ficar alta‖ não era o que


parecia, então eu acenei com a cabeça.

—Isso é tudo? — Ele perguntou.

Não era tudo.

Eu queria dizer a ele que seu mundo era avançado. Os


telefones. As televisões. Os carros. Aquilo a que fomos
introduzidas naquele dia: escadas rolantes. E muito mais.
Tudo isso era impressionante. Havia tanta coisa, que era
espantoso. Havia muito mais para aprender, uma
quantidade infinita, e a ideia disso era emocionante, assim
como cada nova descoberta foi. Não havia quase nada
semelhante entre os nossos mundos e ele tinha razão, por
isso, esta era a maior aventura que poderíamos ter.
Mesmo assim, pelo que eu poderia dizer,
independentemente da comida deliciosa, as conveniências,
as maravilhas de manicures e pedicures e a existência de
loja de departamento de sapatos Nordstrom, eu preferia o
meu mundo. A simplicidade do mesmo. O silêncio dele. A
limpeza dele ao olhar e ao cheiro. A beleza não molestada da
paisagem que você podia ver ao redor, mesmo nas cidades,
algo que você não podia ver aqui, não importa o quão longe
você olhasse, a menos que você estivesse perto da água e,
mesmo assim, muitas vezes estava lotada de barcos e
pontes.

Dito isto, não havia nenhum lugar neste mundo, ou no


meu, que eu preferisse estar, a não ser de pé em seu
banheiro com Noc a alguns passos de distância.

—Querida? — Ele insistiu.

Eu balancei a cabeça e isso me sacudiu dos meus


pensamentos.

—Sim, querido, é só isso. Me juntarei a você em breve.

Ele assentiu, inclinando os lábios levemente, e se virou


para sair.

Eu o observei desaparecer e tomei um longo suspiro.

Deixei-o ir, voltei para as sacolas vazias e comecei a


dobrá-las.

***
Sentei-me em cima de Noc, meu dorso para cima, meus
olhos nos meus dedos, que estavam a correr
preguiçosamente pelos fios escuros espalhados à perfeição
em seu peito. Então os arrastei, meus polegares
mergulhando nos cumes de seu abdômen, rastreando cada
músculo, tomando meu tempo. E mais uma vez, meus dedos
roçando reverentemente os sulcos de suas costelas.

Meu toque era leve, não era para ser estimulante,


ambos tínhamos encontrado o nosso prazer (por minha
parte, Noc me guiou lá duas vezes).

Não.

Eu tinha um Noc saciado em minhas mãos, a nossa


primeira noite ―normal‖ estava chegando ao fim, e eu me
encontrei na posição de poder aproveitar simplesmente tocá-
lo, aprendê-lo, acariciá-lo, desfrutá-lo.

Eu desenhei uma linha ociosa sobre seu peitoral e


ombros, correndo com a ponta do meu dedo pela lateral de
seu braço, murmurando: —Você é muito talentoso na
cozinha.

E ele era. Sua torta de carne era uma comida simples,


porém rica e saborosa.

—Darei a você e a Josette algumas lições, — disse ele e


meu olhar se dirigiu para o dele. —Podemos cozinhar todos
juntos. E quando formos só nós, você e eu podemos fazer
isso.

—Cozinhar juntos? — Perguntei.


Ele manteve meu olhar e repetiu, mas não como uma
pergunta. —Cozinhar juntos.

—Mm. — Murmurei, sem me comprometer.

Houve silêncio enquanto desviava minha atenção (e


esperava que a dele) para o percorrer do meu dedo na parte
interna de seu cotovelo até os bíceps, sobre seu ombro e
para baixo, onde eu alisei os músculos de seu peitoral.

Um peitoral que estava tremendo superficialmente.

Olhei novamente para os seus olhos.

Eles estavam rindo.

—Você não tem nenhuma intenção de aprender a


cozinhar, não é? — Ele perguntou.

—Hammm. — Eu me limitei

—Querida, aqui as pessoas cozinham.

—Eu percebi isso com a cozinha sendo parte integrante


da casa, aberta, bem no espaço de convivência. Até mesmo a
casa de Valentine tem um espaço enorme na cozinha com
sofás e espreguiçadeiras, o que faz parecer com uma área
comum.

—Isso é porque a cozinha é o coração da casa.

Não era.

O salão era.

Todo mundo sabia disso.

Embora, aparentemente não neste mundo.


—Interessante. — Murmurei, e nem tentei esconder que
não concordava.

Seu peitoral se agitou novamente sob minha mão.

Eu quis rolar os olhos, mas não o fiz.

—Frannie, nós dois somos podres de ricos, você muito


mais do que eu, o que significa que você provavelmente
poderia contratar um cozinheiro. Mas você não deveria
porque cozinhar é divertido.

Eu não podia imaginar que isso estivesse de alguma


forma próximo da verdade, portanto, não respondi.

No entanto, eu coloquei na lista dentro da minha


cabeça de coisas para fazer, discutir a contratação de um
cozinheiro com Valentine, uma vez que eu tenha encontrado
uma casa, é claro.

—Certo, eu serei aquele que cozinha. — Noc declarou e


minha atenção se focou novamente em seu rosto. —Só quero
que você fique lá sentada comigo, bebendo vinho e fazendo
qualquer coisa enquanto eu cozinho, porque pensando na
sua atitude também serei eu a limpar. Isso significa que,
para ganhar a sua refeição, você tem que me fazer
companhia.

A seu pedido, depois do jantar, deixamos os pratos na


pia.

E não tinha sequer me ocorrido que ele eventualmente


teria que limpá-los e definitivamente não me ocorreu que ele
poderia desejar a minha ajuda.
Eu adicionei uma governanta à minha lista de novas
aquisições.

—Você pode tirar a garota da casa, mas você não pode


tirar a casa da garota. — Ele murmurou, sorrindo
amplamente enquanto me observava de perto. —O sangue de
todo mundo é vermelho. Seu sangue é o vermelho dos
Drakkars. Se não fosse, seria azul.

Minhas sobrancelhas se juntaram. —Sangue azul?

—A realeza, — ele começou. —Os nobres antigos, a


muito tempo atrás, não saíam muito. Gente comum, os
plebeus, estavam sempre no sol. Trabalhavam fora ao ar
livre. Caminhavam para onde tinham que ir, porque não
tinham carruagens ou às vezes nem mesmo cavalos. Não
poderiam evitar. Então, quanto mais branca a pele, mais
nobre alguém pareceria ser. Suas veias eram visíveis,
pareciam azuis, fáceis de ver através daquela pele
esbranquiçada e pálida. Assim ficou conhecido como sangue
azul.

—Então, essa é uma gíria para sua aristocracia. — Eu


supus.

—Sim. — Ele afirmou.

—Eu gosto muito de sair ao sol. Minha pele fica num


tom atraente quando estou fora. — Compartilhei.

Seu peitoral começou a estremecer novamente. —


Apesar de estar ansioso para o dia em que serei apresentado
a você em um biquíni, aposto que você nunca trabalhou no
sol.
—Claro que não! — Bufei, porque eu não trabalhei um
dia em minha vida e não tinha a intenção de começar.

Praticar o ofício não contava. Era simplesmente quem


eu era e quando comecei a exercer ao lado de Valentine, eu
aceitei o dinheiro, é claro. Dinheiro era dinheiro e quanto
mais você tinha, tudo era melhor. Mas eles estariam me
pagando, essencialmente, por ser eu e fazer o que fazia
naturalmente, algo com o qual não tinha nenhum problema.

Seu sorriso permaneceu fixo, mesmo quando seus


lábios ordenaram. —Beije-me agora, Lady Franka.

Isso eu poderia fazer com prazer.

E comecei a fazer exatamente isso, passando ambas as


mãos pelo peito musculoso e curvando-me para ele.

Descansando meus seios em seu peito, ele me rodeou


com um braço pela cintura, sua outra mão desenhando
padrões lânguidos na pele da minha coxa, e nos beijamos.

Era tão preguiçoso quanto nosso humor, lento e


profundo.

E foi delicioso.

Quando eu levantei minha cabeça, vi um


contentamento em seus olhos, as linhas serenas em seu
rosto, ambos tornando-o mais bonito do que nunca, o que
era uma façanha.

Sua expressão se assentou em minha alma enquanto


eu traçava sua clavícula e compartilhava suavemente:
—Você muitas vezes me fala da minha beleza, mas eu
me questiono se você sabe a grandeza da tua?

—Ninguém fugiu gritando quando eu entrei em uma


sala, — ele brincou.

Eu me aproximei, acariciando levemente a lateral de


seu pescoço, sorrindo de sua brincadeira. —Isso, sem
dúvida, é verdade. Embora minimize a perfeição pura que é
você.

Seus olhos brilharam, sua mão agarrou a minha coxa e


seu braço nas minhas costas subiu para cima a fim de que
ele pudesse enroscar seus dedos em meu cabelo, tudo isso
enquanto ele rosnava: —Frannie...

—É verdade. — Afirmei. —Isso me faz sentir muito


afortunada.

A intensidade diminuiu quando seus lábios se


curvaram. —E por que você é afortunada, querida?

—Você me escolheu.

—Você me escolheu, — ele devolveu.

—Sim, mas você é perfeito e eu não sou.

Ele balançou a cabeça no travesseiro. —Não sou


perfeito, Frannie.

—Sim, você pode ser irritante, mas principalmente,


você é perfeito, e fisicamente isso está aparente, nos olhos de
quem vê, e não pode argumentar contra isso, meu querido,
então não tente, pois você é definitivamente perfeito.

Por um momento ele continuou me abraçando.


Mas então, de repente, senti-o enrijecer debaixo de
mim.

—Noc? — Indaguei.

—Você também é perfeita, sabe? — Ele sussurrou, o


tom curioso na sua voz fazendo minha barriga estremecer.

—Como você é o espectador, eu também não posso


argumentar contra isso, — respondi de maneira que
compartilhava abertamente que eu não poderia discutir, mas
que também não concordava.

—Você é perfeita, Franka. — Ele declarou, agora com


uma firmeza na voz que era quase uma repreensão.

Inclinei-me, toquei minha boca na dele e me afastei


levemente antes de sussurrar. —Obrigada, meu amor.

—Não pense que você pode se safar com essa merda.

Pisquei com suas palavras, a mudança abrupta e


inesperada em seu humor e levantei minha cabeça ainda
mais.

Noc rolou, invertendo nossas posições, com ele em cima


de mim.

Ele não me permitiu acostumar-me com nossa nova


posição antes de perguntar: —Esta parte do lixo de alma
sombria que você está determinada a não deixar ir?

Ora bolas.

Isso não.
—Querido, tivemos um dia adorável e uma noite muito
encantadora. Não vamos arruinar com essa conversa.

—Essa será sua atitude toda vez que eu trouxer esse


assunto? — Ele perguntou.

Eu sorri para ele, envolvendo meus braços ao seu


redor. —Eu espero que sim, se isso significa que teremos
muitos dias encantadores.

—Franka, não seja doce e fofa, pois, agora, mesmo doce


e fofa você me irritou.

Não era eu que me comportei de uma maneira que


irritaria alguém.

Era Noc, ambos estávamos apreciando a nossa união e


agora ele estava arruinando tudo.

Com esse pensamento, meus olhos se estreitaram. —


Posso pedir que se isso é tão importante para você e deseja
discuti-lo, que o façamos em uma data posterior?

—E quando seria essa data? — Ele perguntou de volta.

—Não sei, exceto pelo fato de que seria mais tarde.

Ele me encarou, parecendo perturbado.

Então, abruptamente, ele se ergueu, reajustou suas


pernas para que ele pudesse me virar, e ele me açoitou o
bumbum.

Eu respirei fundo.

Ele puxou seus joelhos para que estivessem apertando


as laterais das minhas coxas e agora ele estava não apenas
montando, mas aprisionando minha metade inferior pelo
peso dele acomodado sobre mim, o poder dele me
encarcerando, me impedindo de me mover.

Isso não era para ser estimulante.

Isso era outra coisa que eu sabia que não estava pronta
agora ou depois ou talvez nunca.

—Noc. — Eu sibilei.

—Isso é perfeito. — Ele afirmou, dando uns tapas na


minha bunda.

—Estou contente que você pensa assim, agora... — Eu


respondi, tentando me erguer.

A mão de Noc em minhas costas empurrou-me para


baixo e novamente eu engasguei em surpresa.

Senti sua outra mão mergulhar fundo, empurrando


entre minhas pernas, e de repente ele estava segurando meu
sexo.

—Isso é totalmente perfeito, Franka.

—Noc! — Eu empurrei para fora.

Sua mão deixou minhas costas e emaranhou no meu


cabelo.

—Isto é perfeito.

—Pare, você não precisa...

Suas mãos me deixaram e caíram na cama em minhas


laterais, me cercando na cama com os braços.

Não foi isso que me fez parar de falar.


Ele deslocou suas mãos para que pudesse se abaixar
até minhas costas.

—E isso é perfeito.

Eu fiquei quieta.

Senti-o se mover, mesmo que eu não pudesse ―sentir‖ o


que ele estava fazendo. Meu palpite era que ele estava
passando os lábios ao longo de uma cicatriz.

Uma de muitas.

Fechei os olhos com força.

—Você sente isso, Frannie? — Ele perguntou.

—Por favor, levante-se. — Eu pedi.

Ele não se levantou.

O que ele fez foi mover-se para cima para que sua boca
estivesse na minha orelha.

—Você não sente, não é, querida?

Eu abri meus olhos, mas olhei apenas para o


travesseiro.

—Mais uma vez, eu vou pedir para você se levantar.

—Você sabe como você é perfeita? — Ele indagou.

Eu sabia que a evidência flagrante de minha


imperfeição estava bem na frente de seus olhos, mas eu não
apontei isso para ele, porque eu não queria e ele bem que
poderia ver por si mesmo.

Permaneci em silêncio.
—Você não sente muito em suas costas. Eu tenho que
apalpar duro se quiser que você saiba que estou te tocando
lá. E a razão de ser perfeita é que você pensa que essa
imperfeição é que eles tiraram isso de você. Eles a afligiram
aqui. Isso nunca será o mesmo, — disse ele, e eu podia
sentir sua mão passando pelas minhas costas, colocando
pressão no seu toque para que eu pudesse experimentá-lo.
—Eles fizeram isso, Frannie. Eles tomaram isso. E você
sobreviveu.

—Sim, estou ciente. Eu estava lá a cada vez. — Eu


retornei cortante, começando a ficar com raiva de discutir
algo que não queria discutir e ele sabia muito bem.

—Você sobreviveu.

—Eu estou ciente.

—Eles não sobreviveram.

Eu me aquietei.

—Eles estão espancados e quebrados e tão bons quanto


mortos. Suas vidas acabaram. Você, porém, você está aqui e
fazendo pedicure e ficando preocupada em deixar sua amiga
jantar sozinha, carregando essas cicatrizes não como uma
mancha, mas como seu emblema de honra porque você
sobreviveu. Eu sei. Eu sei que os elfos poderiam ter curado
você, tirado essas marcas. — Sua mão se acalmou nas
minhas costas. —Sei que Frey ofereceu isso a você. E eu sei
que você recusou. Isso torna isto perfeito, que você pegou o
que eles fizeram e transformou em algo que era seu. Algo
que é bonito. Algo que significa que você é uma lutadora.
Uma guerreira. Vitoriosa. E você veste essas marcas como
sua medalha de bravura.

Segurei minha respiração, não mais irritada.

Agora eu estava lutando, trêmula, para não chorar.

Noc continuou falando.

—Você não acha que é perfeita, mas você é, Frannie.


Cada polegada.

Minha voz era frágil e vacilante, odiava isso, mas por


minha vida não consegui fortalecê-la, quando implorei. —Por
favor, pare de falar.

Ele mudou de posição e eu senti seus dentes afundar


na pele da minha escápula. A sensação estava lá e foi antes
de eu senti-lo alisando a área, pressionando intensamente
com seu polegar.

—Eu olho para isso e vejo beleza. Eu toco e amo como o


sinto. Eu provo e o gosto é tão esplêndido como o resto de
você.

Deuses.

Ele estava me desfazendo.

—Pare de falar.

Ele deslizou os joelhos para fora, estirou as pernas,


cobrindo-me com seu corpo grande, com o peso em mim, seu
peito impecável com o arranjo perfeito de fios pressionado na
bagunça das minhas costas.
Colocando um pouco de seu peso em um dos
antebraços, ele empurrou seu outro braço debaixo de mim e
me abraçou, sua boca retornou para minha orelha.

—Você diz que minha luz brilha em sua alma, você


acha por um segundo que você estaria na minha cama agora
se sua luz não aquecesse a minha?

Eu, de novo, fechei meus olhos apertados e as palavras


saíram direto dos meus lábios antes mesmo que eu soubesse
que teria esse pensamento.

—Eu quero ser isso para você.

—Porra, — ele disse. Sua palavra marcando em mim


como um chicote, Noc levantou-se, virando-me novamente
para minhas costas. Insinuando seus quadris entre minhas
pernas para que elas abrissem para acomodá-lo, eu senti
sua palma da mão em meu rosto e ouvi sua exigência. —
Abra seus olhos.

Eu fiz como ordenado.

—A primeira coisa que conheci de você, foi que amava


um homem tão profundamente, que colocou sua vida em
risco duas vezes, primeiro cometendo traição, o que eu
soube em Lunwyn que é uma ofensa de morte, e, em
seguida, enfrentando aquelas bruxas. Isso vem de uma alma
que é sombria?

—Noc...

—Você não sabe, não vê, mas mesmo antes de seu


relacionamento mudar, você tratou Josette com mais
cuidado e respeito do que qualquer uma daquelas pessoas
tratou o que eles consideram seus inferiores, salvo Cora,
Circe e Finnie, que não são de lá e não sabem como agir
como sangue azul, mesmo que agora sejam. E não pense que
ela não sabe disso, Frannie. Não pense que Josette está aqui
pelo que você lhe paga ou por uma aventura. Ela está aqui
por você. Ela está aqui para estar com você. Ela está aqui
porque, para ela, você é família. Esse tipo de lealdade é
obtido por uma alma sombria?

Ele realmente tem que parar porque eu senti meus


olhos umedecerem e sabia que não seria capaz de segurar as
lágrimas.

Especialmente quando Noc as viu e deslocou a mão na


minha bochecha para que seu polegar limpasse abaixo do
meu olho. Soltando a lágrima na ponta de seu polegar, ele
deslizou a umidade ao longo de minha têmpora enquanto
aproximava seu rosto.

—Você cresceu sem nenhum amor. — Ele sussurrou, e


deuses, deuses, eu vi isso em seus olhos também. Um brilho
se reunindo lá, sua própria umidade reluzente. —Não tenho
a menor ideia de como você sobreviveu, querida. Eu conheci
amor todos os dias da minha vida e não consigo imaginar o
homem que seria se não tivesse isso. Se minha vida estivesse
vazia de amor. Se tivesse que encontrar o meu caminho sem
isso como a única força de orientação desde o momento que
minha mãe morreu, me dando vida até este momento com
você. Eu só poderia esperar que me tornaria o que você se
tornou contra toda probabilidade. Uma mulher faminta de
amor por toda a sua vida e ainda tão extremamente cheia
dele, que ficaria de pé segurando um gancho com sangue
escorrendo pelas costas apenas para que o irmão que adora
não tivesse que fazê-lo. Você não tem uma alma sombria,
Frannie. Sua alma é tão brilhante que se eu olhar muito
perto, ficarei cego.

—Por favor. —Falei com a voz rouca, engoli e terminei


com um sussurro. —Por favor, pare de falar, meu amor.

—Eu vou quando você responder a isso. Você tem uma


alma sombria? —Ele perguntou.

—Aparentemente não. — Eu continuei sussurrando.

E, aparentemente, eu realmente não tinha.

—Não, você não tem! — Ele afirmou. —Eu vou ouvir


isso de novo?

Eu balancei a cabeça negando.

—Você irá pensar nisso?

Eu sacudi minha cabeça novamente negando (embora


talvez fosse mais hesitante do que a primeira vez).

A Noc, é claro, não passou despercebido.

—Se você pensar sobre isso, querida, compartilhe essa


merda comigo e eu vou lembrá-la do que você é feita. Temos
um acordo?

Eu assenti.

—Prometa-me. — Ele exigiu.


Senti minha respiração trêmula antes de lhe dar o que
ele pediu.

—Eu prometo, querido.

Ele deixou-nos um pouco afastados antes de se


aproximar e falar de novo gentilmente, seu polegar
acariciando a maçã do meu rosto.

—Não há uma única alma nesta terra que não fez


coisas de que se arrependa, Frannie. Várias coisas. Anos
fazendo uma merda idiota, ou merda significativa, ou merda
imprudente, ou qualquer coisa. Isso faz parte de crescer. Faz
parte da vida. É parte da sobrevivência. Todo mundo comete
erros. Todo mundo encontra seu caminho. Você era quem
tinha que ser. É apenas a maneira que deveria ser. E agora
não é mais assim e você também não é daquele jeito. Você
disse anteriormente que é o nosso futuro, não o passado que
te interessa. Mas você ainda está vivendo no passado,
querida. Deixe pra lá. Fique comigo. Realmente esteja aqui
comigo. Porque eu te amo aqui, querida, e o que
conseguimos, é um lindo lugar para se estar.

Ele estava certo.

Muito, muito certo.

Aquilo era passado. Era assim e agora não é mais.

Eu não era mais assim.

Eu estava livre para ser eu mesma.

—Você está certo, Noc.

—Eu sei.
A arrogância de suas palavras me fez soltar um sorriso
vacilante.

Sua outra mão veio também para minha bochecha e ele


enxugou a lágrima que caiu pela têmpora.

—Não gosto de chorar. — Resmunguei.

—Deus nos deu uma variedade de maneiras de nos


machucar e de limpá-los. O sangue limpa uma ferida. As
lágrimas limpam um tipo de ferimento diferente. Você pode
não gostar disso, Frannie, mas não deve se impedir de fazê-
lo. Limpe a ferida para que ela possa curar. Depois siga em
frente.

Pelos deuses, eu realmente não poderia aguentar mais.

—Você sabe que está apenas demonstrando meu ponto


anterior, sendo bonito, tendo um físico magnífico, sendo
profundo, gentil, paciente, intuitivo e sábio, tudo isso
significa que você é bastante perfeito, não é? —Apontei.

Noc continuou seu estudo perspicaz de mim antes que


sua expressão se dissipasse e seus lábios se inclinassem.

—Você quer pensar que eu sou perfeito, Lábios-


açucarados, fique à vontade. Meu ponto nunca foi discutir o
seu.

Isso era verdade.

Mas eu já estava farta.

—Podemos dormir? — Solicitei.

—Está cansada? — Ele perguntou.


Na verdade, estava.

Exausta.

Parecia que chegar a um acordo com a sua grandeza


tira muito de você.

Eu assenti.

Sua voz se acalmou. —Então sim, linda, você quer, nós


podemos dormir.

—Você está cansado? —Eu perguntei.

—Não muito.

—Então...

—Você está bem com isso, eu ligo a TV. Eu assisto,


você dorme. Você não consegue dormir com a TV ligada, eu
desligo e vou ler. Ok?

Eu balancei a cabeça.

Noc mergulhou para um selinho, mas quando


terminou, ele apenas ergueu levemente a cabeça.

—Isso foi difícil, você está bem? — Perguntou


gentilmente.

Eu assenti, embora na verdade não estivesse.

Mas suspeitava que ficaria.

—Vai ser uma promessa difícil de cumprir, a promessa


que você me fez, mas quero que a mantenha, Frannie.

Eu respirei fundo e deixei ir.

—Eu manterei, Noc. — Prometi novamente.


Seu rosto novamente assumiu uma versão do
contentamento saciado que ele aparentou antes. Não era tão
profunda, mas ainda estava lá.

Ele estava satisfeito.

O que me satisfazia.

Ele se curva para um beijo muito mais profundo do que


apenas um selinho antes de se afastar, nos rearranjar, puxar
os cobertores e apagar as luzes. No entanto, ele liga a
televisão que estava guardada em um armário no outro lado
do quarto de frente para a cama.

Ele deitou com a cabeça e os ombros apoiados no


travesseiro, me segurando perto dele, minha bochecha em
suas costelas.

Eu o segurei em volta do estômago e olhei fixamente


para os fios perfeitos em seu peito, sentindo seu dedo
novamente desenhar padrões lânguidos, desta vez na pele
logo abaixo da parte inferior das minhas costas.

Pele saudável, onde eu podia sentir sua carícia e o que


ele desejava me comunicar.

E eu senti suas carícias.

Mas mais, senti o que ele desejava transmitir.

Eu estava lá, realmente lá, com ele, onde ele queria que
eu estivesse, onde ele gostava que eu ficasse, um lugar bom,
seguro e saudável. E ele desejava que eu estivesse ali, e um
homem como Noc não escolheria uma mulher para estar ali
se ela não merecesse estar lá.
O som da televisão estranhamente não me distraiu de
cair adormecida.

Estranhamente, isso e o calor do Noc, sua proximidade,


seu toque, seu simples existir e estar comigo, embalou-me
no sono.

E quando eu dormi, dormi profundamente, me


aconchegando com a pura perfeição.
Perdido por mim

Franka
Sentei-me sozinha em uma mesa numa das salas de
estar de Valentine, olhando minha bola de cristal no topo de
um adorável travesseiro de veludo azul-safira.

Estava tentando me concentrar, embora estivesse por


aqui nesses últimos cinco dias, não conhecia esse mundo o
suficiente para entender as visões que estava tendo.

Para não mencionar, que tinha em minha mente as


três casas que o corretor de Valentine nos mostrou no dia
anterior, mas que não eram do meu gosto, nem no de
Josette, ou até mesmo de Noc, ficou claro isso na discussão
que tivemos durante o jantar na noite anterior.

Teríamos que visitar outro naquele dia e também


estava pensando nisso, pois percebi que com cada dia que
passava a necessidade aumentava de resolver isso, não só
para mim, mas também para Josette.
Valentine não tinha opinião sobre as casas que
visitamos desde que não estava lá para vê-las conosco.

De fato, não a vi desde que ela apresentou a Josette e a


mim às maravilhas do babyliss. Nossa única comunicação
era através de textos, notas que ela deixava e mensagens
entregues por sua secretária ou pelo homem que era seu
zelador.

Isso me irritava muito, e quanto mais demorava, mais


irritada ficava.

Sim, pode-se dizer que o nosso tempo foi cheio, desde a


nossa chegada, por isso a necessidade da presença de
Valentine não era tão grande. Havia muito para fazer, ver e
experimentar, e Noc foi adorável oferecendo tudo.

Isso incluiu sua promessa de nos levar ao Bourbon


Street na noite anterior, um lugar que eu estava animada
em conhecer neste mundo devido à familiaridade com seu
barulho, mas principalmente seu cheiro.

—Bebidas derramadas, vômitos e corpos, baby, todos


cozidos ao sol —, Noc explicou o cheiro. —Em outras
palavras, o aroma de um bom momento.

Eu não concordei.

Não concordei até que ele nos apresentou aos


hurricanes, que eram deliciosos, e jazz, uma música
extraordinária.

No meio do primeiro drink, começamos a ter grande


diversão rapidamente fizemos amizade com as pessoas ao
nosso redor que eram encantadoras (eu não me lembraria
deles, mesmo se caminhassem até mim e me abraçassem,
tal era a potência dos Hurricanes, tanto que Noc nos disse
para diminuir, havíamos cada uma de nós bebido três
deles).

Através desta experiência estava percebendo que


minha preferência pelo meu próprio mundo era em parte por
minha lealdade, bem como por minha familiaridade com ele.

Fleuridia era muito diferente de Hawkvale, que era


muito diferente de Lunwyn.

Mas todos eram maravilhosos, à sua maneira.

Como este mundo também era, a vivacidade, o ritmo


acelerado, a música, a comida.

Eu simplesmente tinha que abrir minha mente para


isso.

E, na Bourbon Street, não havia como manter sua


mente fechada. Você se encantava com o clima, a alegria e
leveza, que eram varridas pelo local. E, com toda certeza,
pode-se dizer que alegria e leveza espalhadas são uma coisa
boa.

Mas mesmo que não tivéssemos gostado das casas que


visitamos, Josette e eu acabaríamos por encontrar um lar e
então precisaríamos nos acostumar com as novas vidas que
escolhemos. Não podia ser tudo compras, comida e festas.
Poderia, na verdade. Nós éramos bastante ricos para
ter tudo isto. Mas se tornaria chato, e quando festas se
tornam chatas, o que você faz depois disso?

Então era melhor nos estabelecermos nas vidas que


escolhemos.

E para fazermos isso precisávamos de Valentine.

Para não mencionar, que tínhamos planos para Circe e


Dax Lahn deste mundo, mas não tínhamos tempo a
perder... agora muito menos.

Foi com esse pensamento que senti alguém no


corredor. Virei-me na cadeira e vi Valentine passando pela
porta.

—Irmã—, eu chamei.

Era improvável que ela não me ouvisse, mas por um


momento pensei que teria de me levantar da cadeira e segui-
la, antes dela finalmente voltar seus passos e aparecer no
batente da porta.

—Franka, — ela cumprimentou-me.

Percebi imediatamente que algo não estava bem.

Não foi por olhar.

Foi por sentir.

Fiquei de pé, examinando-a atentamente. —Você está


bem?

Valentine entrou apenas com um pé na sala e mentiu:


—Sim.
—Nós não a vimos muito, — disse cuidadosamente.

—Estava tendo um bom tempo em seu mundo, —


afirmou. —Isso significa que há um bom negócio para ver
agora que voltei para o meu próprio.

Uma boa explicação.

Mas não uma verdadeira.

Antes que pudesse perguntar, os olhos dela caíram no


meu cristal e voltaram-se para mim.

—Você pratica?

Eu balancei a cabeça. —Estou procurando por Frey.

Ela assentiu. —Claro. Você está curiosa, como se


espera. A criança nasceu. Uma menina. Eles a chamaram de
Aurora Eugenie.

Pisquei com a brusca entrega desta importante notícia.

—O filho de Frey e Finnie nasceu?

—Sim. Assim como o de Circe e Lahn. Um menino. Eles


o chamaram Ashur. Uma escolha estranha, sendo do nosso
mundo, é antigo, era o deus assírio da guerra. Mas
possivelmente é algo sobre a profecia. — Não me deu a
oportunidade de fazer comentários, e continuou: —Tor e
Cora ainda não foram agraciados com tal alegria, mas
podem ser a qualquer momento. E como você já sabe, Apolo
e Madeleine tiveram sua Valentine.

Não podia acreditar no que estava ouvindo.

—Não sabia nada disso, — respondi.


Ela virou a cabeça, dizendo simplesmente: —Bem,
agora você sabe.

—Quando todas essas notícias chegaram? —,


perguntei.

—Circe e Lahn, ontem mesmo. Finnie e Frey, fiquei


sabendo mais tarde do acontecido já que estava te animando
neste mundo. Receio que fiquei relaxada em controlar
Madeleine, mas descobri esta notícia maravilhosa antes de
sua partida de seu mundo. Receio ter me esquecido de
compartilhar.

Ela se esqueceu!

—Você não pensou que gostaríamos de ouvir esta


notícia? — Perguntei, mantendo escondido meu
aborrecimento devido a seu comportamento estranho.

—Você está ouvindo agora.

Estudei-a e repeti, novamente com cuidado, —As


coisas não estão bem.

—Elas estão, — ela virou e novamente direcionou seu


olhar para meu cristal antes de olhar para mim. —E notei
que se você deseja saber alguma notícia dos outros,
simplesmente tem de procurá-los. Esteve ocupada, isso eu
sei. Mas não sou uma mensageira, irmã. Se quer saber algo,
— jogou, preguiçosamente, uma mão em direção ao meu
cristal, —olhe.

Ela estava certa.

Mas ainda poderia ter me contado.


Deixei passar isso e declarei, —realmente não estava
procurando o Frey que conheço. Estava procurando o Frey
deste mundo.

Suas sobrancelhas ergueram-se. —E por que faria


isso?

—Curiosidade, — respondi. —Noc explicou-me que os


dois mundos são desequilibrados em relação a essa parte da
equação. Estamos ambos interessados em compreender,
pois fornecemos uma espécie de equilíbrio para a perda de
Cora e a perda do eu deste mundo, sobre a situação do Frey
deste mundo e a Sjofn como ficará o saldo entre os
universos.

—O Frey deste mundo estava precisando de dinheiro


para iniciar seu próprio negócio de móveis personalizados,
— Valentine explicou instantaneamente. —Assim, há algum
tempo ele vendeu seu esperma para um banco de espermas.
Talvez uma coisa impetuosa a se fazer, mas com seu QI e
outros encantos, uma inteligente já que sem surpresa foi
muito bem remunerado para isso. Este esperma foi
selecionado por Sjofn e a amante que ela casou desde que
veio a este mundo, e foi escolhido duas vezes. Elas têm um
filho, Viktor, e uma filha que acaba de nascer, Aurora
Eugenie, ambas as crianças que Sjofn carregava. Incrível
coincidência, a menos que você entenda o destino fazendo
seu trabalho.

Olhei para ela.

Valentine continuou.
—Para apaziguar completamente sua curiosidade, o
Frey deste mundo vive em Boise, Idaho com sua esposa, que
é estéril. Seu negócio de móveis personalizados é bem-
sucedido agora que colocou uma boa quantidade de seu
tempo, esforço e talento nele. Vende móveis para todo país.
Eles criam três filhos, todos descendentes vietnamitas que
adotaram daquele país. Ele é muito feliz, bastante
apaixonado e orgulhoso de sua família, não tendo ideia que
possui um filho e filha de sua semente, nem nunca saberá.
No entanto, Sjofn sabe já que ela viu fotos do doador que
selecionou, foi uma das razões de sua escolha. Se possível, o
equilíbrio deve ser mantido e isso não é perdido por nossa
princesa deposta.

—Bem, isso responde muita coisa, — murmurei,


mesmo não entendendo muito bem algumas partes.

—Agora, se isso for tudo... — disse saindo pela porta.

Se isso for tudo?

Não havíamos conversado diretamente em dias!

Dei um passo em direção a ela, chamando-a, —


Valentine.

Parou, virou-se para mim e novamente ergueu as


sobrancelhas, fazendo tudo com clara impaciência.

—Há coisas que temos de ver, — disse algo que ela já


sabia.

—Concordo, e vamos, depois que cuidar das coisas que


preciso ver, — respondeu.
—Você pode me dizer quando seria isso? — Pedi.

Ela inclinou a cabeça para o lado. ——Você não tem


coisas suficientes para ocupar seu tempo?

—Claro que sim, no caso de Circe e Lahn...

—Sim, — interrompeu-me rapidamente. —Se você


quiser continuar com isso, seja minha convidada e me
mantenha informada.

Virou-se e saiu.

—Irmã, — disse bruscamente, mantendo firme meu


desagrado.

E preocupação.

Ela virou-se com um suspiro.

Segurei seu olhar fixamente. —As coisas não estão


bem.

Vi sua mandíbula apertar. —Não vou responder isso de


novo.

—As coisas não estão bem, — repeti.

—Franka, tenho pouco tempo para ...

Dei um passo em sua direção e baixei minha voz. —Eu


sei que as coisas não estão bem. Não sei o que não está
bem, mas sei que há algo a incomodando. E você precisa
saber que eu sei, então também saberá que estou aqui para
ouvir e ajudar no que tiver necessidade.

Ela virou a cabeça e pareceu recuperar-se antes que


voltasse e o afastamento tivesse desaparecido.
Não vi a Valentine que conhecia quando me olhou, mas
pelo menos removeu o escudo que estava segurando contra
mim.

E o que vi fez minha respiração parar, não conseguia


lê-la, mas certamente não gostava do que via.

—Você está certa, ma petite sorcière, — disse


suavemente, —as coisas não estão bem. Acho que estou
experimentando algo que pensei que nunca passaria. E
estou tendo alguma dificuldade em me adaptar a isso.
Gostaria de fazer isso sozinha, mas, — levantou uma mão
quando abri minha boca, —caso não consiga me encontrar,
vou levar em conta sua oferta.

Assenti e não pressionei mais. Conheci mulheres da


sua raça, até muito recentemente, eu era esse tipo de
mulher.

—Também está correta, — continuou. —Você está aqui


e nossos planos para Circe e Dax Lahn precisam começar.
Só... Simplesmente ...— Mais uma vez, parecia que estava se
recuperando antes de terminar. —Isso não é algo que possa
fazer agora.

Ela estava cuidando de seus negócios, mas não podia


cuidar desse negócio.

Esse negócio.

Estudei-a cuidadosamente e, no que finalmente li,


senti minha garganta se contrair.

Pelos deuses, ela estava com o coração partido.


Deuses, o desespero que vi agora escondido nos seus
olhos era que ela perdeu um amante.

Dei um passo em sua direção, sussurrando: —


Valentine.

Vi seu corpo estremecer. —Por favor, Franka, não.

Parei de me mover.

—Tudo ficará bem, — mentiu.

Assenti com a cabeça e lhe assegurei com a única coisa


que poderia lhe assegurar nesse momento, ou pelo menos,
tudo o que ela permitiria.

—Começarei com Circe e Lahn. Vou mantê-la


informada.

Ela curvou o queixo. —Obrigada.

Antes que pudesse pronunciar outra palavra, sem


olhar para trás, saiu da sala.

Fiquei olhando para a porta vazia por um tempo, meu


coração pesado por minha amiga, sentindo-me frustrada
que seu orgulho a forçou a bloquear os esforços de ajuda
daqueles que se preocupavam com ela.

Não foi perdido por mim que talvez, no passado,


aqueles que se importavam comigo sentiam o mesmo sobre
meu orgulho.

Se esse fosse o caso, foi bom que Noc me livrou disso


na nossa primeira noite, pois agora eu sabia que a dor de ter
dor sem se permitir buscar consolo era muito semelhante a
dor de cuidar de alguém que se recusava ao consolo
oferecido.

Dei um suspiro e voltei a minha bola de cristal,


esvoaçando uma mão sobre ela para limpar a fumaça azul
que surgiu e busquei o Lahn deste mundo.

Quando consegui, independentemente de quantas


vezes o observei, me surpreendi com o quão fácil ele era de
se observar.

Ao contrário de perder minha concentração, como mais


cedo na tentativa de compreender a vida do Frey deste
mundo, fiquei bastante perdida em assistir Lahn.

Tanto assim que pulei quando ouvi a voz de Noc


dizendo: —Pronta para ir encontrar uma casa, Lábios-
açucarados?

Olhei para a porta vendo-o entrar.

Sorri e levantei-me novamente do assento.

Ele caminhou até mim, sorrindo, me rodeando com um


braço e abaixando sua cabeça na minha para dar-me um
beijo de boca fechada nos lábios.

Depois de libertar-me naquela manhã de sua cama


para poder tomar café da manhã com Josette, e ele pudesse
sair para dar-nos tempo juntas, como planejado, ele voltou
para levar-nos, no que chamou de ―caça a casa‖.

Ficamos separados talvez por três horas.

E senti falta dele.

—Estou pronta, querido, — respondi.


Seu braço ao meu redor deu-me um aperto e podia
sentir ele se preparando para se afastar, mas levei uma mão
ao seu peito antecipando-me.

—Antes de irmos, você deve saber que tenho notícias,


— compartilhei.

—E o que seria?

Abraçados, disse a ele tudo o que soube.

Sua alegria com Finnie e Frey, Lahn e Circe e as


notícias de Apollo e Maddie foi clara, sendo esta uma das
muitas coisas que amava nele.

Não havia ilusões com Noc. Ele não pensava que seria
menos homem por compartilhar suas emoções. Era uma
beleza, um presente que ele concedia a qualquer um que
tinha a sorte de testemunhá-lo, e o valorizei mais ainda.

Mas quando lhe falei do Frey e Sjofn deste mundo,


explodiu em gargalhadas.

Quando seu riso se acalmou, disse: —Bem, esclarece


muito.

—Embora acredite que possa entendê-lo, você pode


explicar-me o que é um banco de esperma?

Sorriu e me explicou.

Quando o fez, fui eu quem explodiu em gargalhadas.

Quando minhas gargalhadas se tornaram sorrisos,


fiquei imaginando se eu olhava para ele com a mesma
calidez com que ele me olhava.
Eu esperava que sim.

—Este mundo tem muitas conveniências, — observei.


—Muitas.

—Sim, — Noc concordou com um sorriso. —Agora,


depois que visitarmos alguns lugares, iremos ao shopping
novamente. Comprar os presentes para os bebês. Veja se
podemos conseguir cinco minutos com Valentine para que
ela os entregue.

—Que ideia genial! — murmurei, não surpresa que


fosse Noc quem tivesse pensado nisso.

Não disse-lhe nada sobre Valentine, exceto que a vi, e


ela me contou as boas notícias que compartilhei com ele.

E não iria, a menos que perguntasse sobre isso.

Isso não era o que as irmãs faziam?

E eu finalmente tinha irmãs. Precisava cuidar delas.

No entanto precisava ajudar, especificamente,


Valentine, e faria isso.

***

—Isso é revoltante—, disse baixinho a Noc.

—Este é o subúrbio, Frannie, —respondeu também


baixinho. —Você disse a corretora que queria espaços
verdes, mas não irá encontrar muito disso em uma cidade.
Desviei meu olhar do quarto sem personalidade que foi
chamado de ―casa modelo‖, embora minha compreensão da
palavra ―modelo‖ não conciliasse em nada com a casa que
estávamos, olhei para Josette.

Ela sentiu meu olhar, virou-se para mim e curvou o


lábio.

Olhei para a corretora que fingia que não estava


tentando ouvir e disse: —Sinto muito por tê-la feito vir tão
longe da cidade nos mostrar esta propriedade, mas receio
que não seja essa.

Ela forçou um sorriso e aproximou-se de mim, dizendo:


—Bem, agora nós vimos quatro propriedades então talvez
você possa me dizer o que você gostou, ou não, sobre cada
uma e assim possamos restringir minha busca.

O que eu gostava era da casa do Noc e não porque


desejasse isso para nós, Josette e eu.

Gostei de lá porque havia grande beleza em ter tudo o


que era Noc me rodeando, fazendo-me sentir segura, quente
e pacífica, nenhum dos quais já tive. Adorava estar em sua
casa de uma forma que sabia que poderia ser a minha casa,
muito menos grandiosa do que qualquer uma que já
conhecia, mas indiscutivelmente muito melhor também.

Mas não podia pedir a Noc que permitisse que Josette e


eu vivêssemos com ele.

Em primeiro lugar, porque era muito pequeno. Para


Noc e eu termos o que desejávamos quando tivéssemos
nosso tempo, Josette obviamente não poderia estar conosco.
Em segundo lugar, porque para esta intimidade ─ por
alguma razão insondável que ainda não entendia
exatamente ─ era Noc que precisava me convidar.

E ele não faria isso com Josette me acompanhando.

No entanto, eu era Franka Drakkar e sabia o que


gostava.

Então compartilhei.

—As passarelas de tijolos da primeira propriedade que


você nos mostrou, bem como a guia e a garagem, que o Sr.
Hawthorne irá precisar para manter seu veículo, sendo mais
seguro do que na rua quando ele estiver conosco, também
para quando Josette e eu adquirimos nossos próprios meios
de transporte, — declarei.

A mulher olhou fixamente para mim, algo que ela fazia


muitas vezes quando achava minha conversa estranha.

Ignorei e continuei.

—O ferro forjado em torno da varanda e sacadas da


segunda casa, com a grande árvore na frente que oferecia
sombra, seus papéis de parede com encantadoras cornijas e
rosas no forro. E a privacidade e plenitude do jardim no
pátio da terceira casa. — Abanei uma mão. —Infelizmente,
não tenho nada para dizer sobre esta, exceto os grandes
gramados, que acredito poder renunciar para ter as outras
coisas que são prioridades.

—Gosto de encontrar para meus clientes exatamente o


que eles querem, e vou dizer que é provável, — murmurou.
—Por último, a proximidade com o Sr. Hawthorne, que
já deveria ter dito, —terminei.

Noc deslizou um braço ao meu redor e me puxou para


perto de seu peito. Portanto, devolvi o gesto.

—Posso trabalhar nisso, — disse a corretora.

Eu deveria esperar que ela pudesse, já que estava


sendo paga para fazer exatamente isso.

—Vou fazer algumas listas. Você tem um e-mail ou


gostaria que eu continuasse enviando para o assistente de
Rousseau? — Perguntou.

—Mande-os para mim, — respondeu Noc. —Tudo será


mais rápido dessa forma. Vou pegar seu número com
Franka e enviar meu e-mail para você.

—Excelente, — ela respondeu.

—Não nos apressando nem nada, — começou Josette.


—Mas podemos ir? Veja, Noc disse que vamos ao shopping
depois daqui e lá está a blusa que vi e não fui capaz de tirar
da minha cabeça, estou esperando que ela ainda esteja lá.

—Sim, terminamos aqui, — declarou Noc, olhou para


corretora, erguendo o queixo, disse: —Obrigado pelo seu
tempo envie-nos algumas opções, que entraremos em
contato.

—O prazer é meu. Espero vê-los novamente em breve.

Josette e eu também nos despedimos e Noc nos levou


para fora.
Estávamos em seu SUV quando ele disse, —Baby, não
precisa viver na cidade. Você quer a natureza ao seu redor,
tenho certeza que eles têm lugares não tão próximos, mas
não estão tão longes também.

—Sim, mas você está na cidade, — foi minha resposta.

—Mas não estou indo até você por trenó, amor, —


retornou com humor. —Não vai demorar metade de um dia
para fazê-lo, só uma hora de carro.

Parei de ver a estrada diante de nós para olhar para ele


e então repeti, mas mais definitivamente desta vez, —Sim,
mas você está na cidade.

Olhou para mim e de volta para a estrada, mas mesmo


pelo seu perfil, assisti sua expressão quente antes que ele
dissesse, —Entendido.

Assenti modestamente, olhei para trás sorrindo para


Josette, que sorria também, então olhei de volta para a
estrada.

***

Estava distraída olhando um vestido muito atraente


pendurado em um rack no shopping quando ouvi Noc fazer
um barulho.

Olhei e vi que sua expressão não era mais vaga (isso


porque sabia que ele estava entediado, porque nós não
pegamos somente alguns presentes de bebê e a blusa de
Josette, mas nos distraímos com outras coisas, e nossa
rápida viagem se tornou em algo mais do que isso).

Agora ele parecia alerta e me virei para ver o que estava


observando.

Era Josette, saltando em nossa direção, acenando o


telefone e parecendo alegre.

Não pude evitar, seu comportamento me fez sorrir.

Minha linda Josette, gostou tanto do shopping.

Ela parou em um balanço e gritou: —Eu tenho um


jantar de encontro amanhã!

Meu sorriso morreu.

—Perdoe-me? — Perguntei.

—Diga outra vez? —perguntou Noc.

—Glover, — ela declarou, balançando até os dedos dos


pés, para frente e para trás, sorrindo como uma lunática. —
Aquele homem que conhecemos na Bourbon Street. Você
sabe. O grande, alto, bonito Marooviano-não-Marooviano
com o lindo sorriso?

Eu não conhecia esse homem.

—Não, não sei, — afirmei.

—Esse cara, querida, a pessoa com quem Jo está


falando há duas horas, —explicou Noc.

Virei-me para ele, vagamente lembrando, e de volta


para Josette quando ela começou a falar.
—Ele me deu seu número. Envie-lhe uma mensagem.
Ele respondeu-me de volta. Nós estamos trocando textos
agora, aos montes. Tem sido muito doce. Estava olhando
para as calças de brim lá, —, ela jogou um braço para trás,
mas não virou nessa direção, e continuou sorrindo para nós,
— ele ligou e perguntou se queria sair para jantar amanhã à
noite. Eu disse que sim! — Quase gritou a última frase. —
Isso não é incrível? Ele virá me buscar às sete na casa de
Valentine.

—Ele não estará fazendo nada disso, — cuspi.

Josette piscou, seu sorriso desaparecendo.

Senti Noc aproximar-se de mim.

—Eu sinto muito, — Josette sussurrou.

—Devo entender que ele estará chegando à casa de


Valentine para te colocar em um carro e te levar para uma
refeição? — Perguntei.

—Sim —Josette continuou sussurrando.

—Isso é inaceitável, — declarei.

Josette piscou novamente e seus ombros caíram.

—Frannie... — começou Noc.

Eu virei minha cabeça em sua direção. —É inaceitável.

—Você estava bêbada e desnecessariamente flertando


comigo, então acho que não viu que ela gostou do cara e ele
gostou dela, — Noc respondeu.
—Não me importo, — retruquei voltando minha
atenção a Josette. —Proíbo que isso aconteça.

—Franka, — disse Noc enquanto a expressão de


Josette caía.

Voltei a olhar para ele.

—Josette não era uma empregada comum, sem


ninguém para cuidar dela, mesmo quando era uma criada.
É uma jovem com meios, tendo uma família que cuida dela.
Assim, ele irá se comportar como tal, o que significa que se
mostrará adequadamente. Em outras palavras, chegará à
casa de Valentine às sete da noite para sentar-se conosco,
tomará um drinque e depois jantará. Com este tempo gasto
com ele, vou entender o que faz para ganhar a vida. Farei
perguntas para verificar seu caráter moral. Observarei seu
comportamento em relação a Josette. E só então vou
permitir a possibilidade de um encontro de jantar futuro.
Isto será depois que ele se mostrar um cavalheiro com suas
intenções para Josette, uma vez que passarmos algum
tempo juntos e ele conseguir nossa aprovação.

Noc olhou para mim.

Olhei para Josette.

—Telefone para ele e compartilhe isso Josette, —


ordenei.

Josette olhou para mim.

—Amor, não é assim que fazemos neste mundo, —


disse Noc.
Virei meu olhar para ele. —Não me interessa como
fazem aqui.

—O cara vai pensar que você é louca, pior, ele vai


pensar que Jo é louca e desaparecerá.

Minhas sobrancelhas juntaram-se. —Por que diabos


ele faria isso?

—Porque, Frannie, não é assim que se faz neste


mundo, —respondeu ele. —Um cara gosta de uma garota,
ele manda mensagens para ela, a convida para sair, a leva
para jantar, a conhece melhor. Eles gostam um do outro, o
que continua acontecendo. Além disso, — seus olhos
deslizaram para Josette e de volta para mim, — não vamos
lá agora.

Considerei a informação.

Então virei-me para Josette e declarei: —Tudo bem.


Depois telefone para ele e diga que nós vamos ao jantar com
vocês.

Josette abriu a boca.

—Frannie ...— Os lábios de Noc vibraram com humor.

Fiz uma careta não achando nada engraçado.

—O quê? — Cortei.

—Você não pode se convidar para um encontro duplo


se o cara não chamou, especialmente na primeira vez.

Minha voz estava subindo. —Por que não?


Ele balançou a cabeça, com diversão. —Porque
simplesmente não pode.

—Então, quem vai cuidar dela? — Exigi saber.

A diversão de Noc não sumiu, e o calor em sua


expressão aumentou.

—Vamos nos certificar de que ela nos mande uma


mensagem, nos dizendo onde está, como o jantar está indo,
e quando ele a trará em segurança para casa. — Olhou para
Josette. — Tudo bem assim para você?

—Claro! — Ela respondeu apressadamente.

—Não está bom para mim, — falei e Noc olhou para


mim.

—Ele não está te convidando para sair, — observou.

Continuei franzindo a testa para ele antes de tomar


uma decisão. —Certo, então iremos a este mesmo
restaurante e sentaremos em outra mesa, ficaremos
próximos caso aconteça alguma coisa desagradável, ou eu
observe algo que me desagrade em seu comportamento, ou
para o caso de Josette precisar de mim.

Noc começou a rir quando se aproximou e me abraçou.

Inclinando a cabeça para baixo, disse calmamente: —


Certo, Mamãe Urso, a coisa é, você terá de deixar seu filhote
explorar por conta própria. Conheci o cara. Conversamos
por um tempo. Pareceu gente boa para mim. Se ele
aparentasse não ser, ou se tivesse uma má vibração,
qualquer coisa, eu seria o primeiro a colocar empecilhos
para o encontro. Mas eu meio que gostei dele. E o que Jo
viu, ela também gostou. Então você terá de recuar.

Eu não queria recuar,

Olhei nos olhos de Noc.

Virei a cabeça para Josette vendo esperança e


excitação brilhando no olhar dela.

Merda!

—Diga-lhe para trazê-la de volta para casa às 22h. —


Declarei.

Noc explodiu em gargalhadas.

O rosto de Josette mostrou-me um enorme sorriso.

Com seu punho debaixo do meu queixo, Noc virou meu


rosto e inclinou-se para que pudesse dar-me um beijo curto
nos lábios.

Quando terminou de fazê-lo, olhou para Josette.

—Vou convencê-la a deixá-la ficar até meia-noite, —


disse.

Bem!

—Agora tenho que ensinar vocês duas outras coisas


que as mulheres fazem neste mundo, — Noc continuou, não
mais parecendo divertido, agora mostrando-se sério. —É um
fato que as mulheres utilizam o primeiro encontro com um
cara, como desculpa para comprarem roupas novas. Vocês
duas têm mais roupas novas do que podem usar em um
mês. Mas estou pensando que nenhuma delas é adequada
para o jantar com Glover.

—Você está certo, Noc, pensei nisso desde que disse


sim, e Frannie, devemos encontrar algo que ele gostaria
muito de me ver vestindo, — declarou Josette.

Deuses, agora Josette estava me chamando de Frannie.

Suspirei.

Mas estava certa.

Nada do que compramos ficaria bom.

Assim era hora de mãos ao trabalho.

***

—Você perdeu a cabeça?

Muito mais tarde, depois que Josette insistiu que


tivéssemos uma noite juntos, a deixamos em Valentine e
voltamos para casa de Noc onde sentei-me no sofá olhando
para ele de pé diante de mim, segurando um copo de vinho
(o meu, que não me entregou depois de ter-lhe dito o que
acabara de lhe dizer) e uma garrafa de cerveja (a sua).

—Não, não perdi, — indiquei o óbvio.

—Você não vai fazer isso, — ele declarou, ainda


estando a vários metros de mim e não me oferecendo o copo.
—E mais, eu não vou fazer isso, e você definitivamente não
irá fazer também, ficando perfeitamente claro que nós não
vamos faremos isso.

—Posso ter meu vinho, querido? — Pedi


tranquilamente.

Olhou para sua mão como se tivesse esquecido o que


estava segurando antes de dar um último passo em minha
direção e oferecer-me o vinho.

Peguei-o e imediatamente tomei um gole.

—Confirme que você me ouviu, Frannie, — exigiu, não


tomando sua cerveja, em vez disso olhando para mim.

—Venha sentar-se comigo, — convidei carinhosamente.

—Não, — ele balançou a cabeça. —Tenho que cozinhar,


mas não farei isto até que saiba que estamos ambos na
mesma página.

—Noc, querido, sou muito boa nisso, —assegurei-lhe.


—Tive anos de prática e não consigo ver porque as
habilidades que tenho não sejam úteis neste mundo.
Observei com cuidado e planejei tudo com precisão.

—Certo, este é o negócio, Baby, — Noc retornou


conciso. —Você quer ir a um escritório de advogados, não
qualquer advogado, mas definitivamente um advogado
conhecido como o Selvagem, de todas as malditas
possibilidades. Criar uma distração na esperança de que
serei capaz de ser invisível em seu escritório, entrar em seu
computador, conseguir sua agenda para que você possa
preparar algo e ele deparar-se com a Circe. Você quer ser o
receptador para o crime que estarei cometendo. Um crime
que o maldito Selvagem perderá a porra de sua cabeça se
um de nós for pego. E você não irrita um advogado, Frannie.
Meu palpite, e estou apostando bastante nisso, que você não
deve irritar um advogado especialmente conhecido como o
Selvagem.

—É um crime olhar, erm ... a agenda no computador


de alguém? — Perguntei.

—É um crime desbloquear e acessar, mesmo se você


não precisar desbloquear, a fim de entrar, e também é um
crime ajudar a si mesmo ter acesso não autorizado a um
computador privado ou de negócios.

Pensei em todas as muitas vezes em que (furtivamente,


admito) observando alguém para ler seu diário de
compromissos (ou em outro quarto para ver um diário
completamente diferente) e tremi com a ideia de ser um ato
criminoso.

—Encontre outro caminho, — pediu Noc enquanto se


virava e se dirigia à cozinha.

Levantei do sofá e o segui, explicando: —Não sei como


fazer isso se não souber onde ele estará. Na minha bola de
cristal, eles sempre estão teclando em seus computadores,
mas obviamente eles não ditam em voz alta o que estão
escrevendo. Posso aprimorar-me nisso, mas quando tiver
sucesso, não entenderei o que estou vendo, e na maioria das
vezes, pelo tempo que tenho a visão, a tela não exibe a
agenda uma vez que a pessoa que estou observando faz
outra coisa.

Ele abriu a geladeira, enfiando a cabeça dentro e


respondendo de seu interior: —Este não é meu negócio,
Baby, é seu. Encontre outro caminho.

Parei em sua área de esconderijo (conhecida como


―ilha‖, que era, num pequeno bar da cozinha) e desloquei
meu bumbum para um dos bancos encantadores de lá,
murmurando pensativamente, —bem, pelo que sei sobre
este negócio de reboque onde Circe trabalha, tal serviço
seria necessário se eu pudesse fazer com que o veículo de
Dax Lahn ficasse incapacitado.

Ouvi o barulho da porta da geladeira se fechando e Noc


murmurou: —E agora ela planeja vandalismo, na melhor
das hipóteses, ou destruição de propriedade, na pior das
hipóteses.

Estreitei meus olhos para ele.

—Todos os aspectos da intriga são ilegais neste


mundo? — Perguntei.

—Uh, sim, — disparou de volta, parando na minha


frente na ilha.

—Isso é muito exasperante, — compartilhei, fazendo


isso mais exasperada. —Simplesmente desejo tramar um
encontro. Como isso pode ser um crime?

—Novamente, Frannie, sugiro que deixe acontecer. Se


eles forem feitos um para o outro, essa merda irá acontecer.
Apenas deixe vir e tente ser legal mesmo se você odiar o
vestido de dama de honra que ela acabará escolhendo para
você.

Suas palavras me tiraram da conversa.

—Vestido da dama de honra?

—Você vai conhecê-la, ela vai conhecer você. O fato é


que ela me mandou uma mensagem ontem para sugerir que
todos nos reuníssemos para o jantar, incluindo Valentine e
Josette. Devemos fazer isso. Fazendo isso, ela conhecerá
você, e vai te amar. Ela é incrível, então você fará o mesmo.
Quando ela se apaixonar por esse cara, e se casar, irá
querer damas de honra e suspeito que uma delas será você.

—O que é uma dama de honra?

Ele deu um ligeiro encolher de ombros que, com seus


ombros largos, ainda era poderoso.

—Você usa um vestido extravagante e anda pelo


corredor na frente antes dela se casar. Tanto quanto eu
posso dizer, esta posição tem três deveres. Um, fazer a noiva
ser carregada durante a festa de despedida de solteira,
carregada por estar bêbada não por estar morta,
obviamente. Quero dizer caindo de bêbada. Dois, para dar-
lhe um banho de lingerie, e estou falando do ponto de vista
do homem aqui, ela deve realmente usar uma lingerie foda-
me e não uma capa de eletrodomésticos para a cozinha. E
três, para segurar o buquê da noiva enquanto seu novo
marido coloca o anel em seu dedo.

Fascinante.
—A esposa ganha um anel também? — Perguntei.

Ele balançou a cabeça, mas disse: —Não. Ela tem dois.


O anel de noivado, geralmente um diamante, mas pode ser
outra coisa, desde que ela adore, e a aliança de casamento.

Uma coisa era bastante clara sobre a diferença em


nossos mundos, a troca de joias durante o casamento era
uma que gostei muito, o significado do símbolo e o fato da
esposa receber um diamante.

—Vejo que você gosta dessa ideia, — observou Noc,


parei de pensar em diamantes e me concentrei nele para ver
que não parecia mais irritado, mas agora divertido.

—Qualquer ideia que inclua diamantes irei gostar, —


respondi.

—Certo—, murmurou, seus olhos se enrugando, então


declarou: —Escolha. Bifes, Costeletas, Hambúrgueres ou
espaguete. Tenho batatas que posso fazer de qualquer
maneira que você goste, e vegetais. Também tenho
congelados pão de alho e salada. Só preciso saber o que você
prefere.

—Vou comer o que você quiser cozinhar, meu amor.

—Boa resposta — disse ele, voltando-se para a


geladeira.

Começou a tirar coisas dela e a empilhá-las na ilha


diante de mim quando o lembrei: —Ainda temos de achar
uma solução para este problema, prefiro não deixar Circe e
Lahn para o destino.
—Nós não estamos achando nada, Lábios-açucarados,
— retrucou. —Mais uma vez, este é seu negócio, não meu.

—Receio precisar de sua ajuda, querido, —


compartilhei. —Ainda não posso dirigir, e ainda tenho que
aprender utilizar um computador. Vou precisar de você para
o primeiro, tenho certeza, e posso precisar de você para o
último.

—Frannie, também não serei o seu piloto de fuga.

—Piloto de fuga?

—O motorista que irá dirigir depois que você cometer o


crime.

Que chato!

—Não está sendo muito útil, amor, — apontei,


tentando ser paciente.

—E você está finalmente entendendo meu ponto,


coração.

Olhamos por cima da ilha por um longo momento


antes de Noc quebrar o silêncio.

—Você acha que pode ajudar-me cortando tomates


para a salada?

Estava horrorizada.

—Eles são viscosos, — declarei com repulsa.

—Você os come, — ele retrucou.

—Eu como. Eu não os toco. Eu como escargot também,


mas também não toco neles.
Com minhas palavras, Noc soltou uma gargalhada,
contornando a ilha e vindo até mim, pegou os lados da
minha cabeça com ambas as mãos, inclinou-a para trás e
deu-me um beijo muito profundo, muito molhado e muito
longo.

Ele afastou-se e olhou-me nos olhos. —Cora, a morta,


foi uma dor na minha bunda. Cada minuto que passei com
ela e depois tudo o que aprendi sobre ela não foi bom. Mas
sempre serei grato pelo dia que atravessou meu caminho,
porque ao fazer isso trouxe você a sentar-se aqui sendo
você. Se me dissessem que me apaixonaria por uma garota
esnobe, atrevida, sangue azul, que não cortará nem mesmo
um tomate, eu diria que a pessoa estava louca. Mas aqui
está você e agradeço por isso.

Meu coração estava tremendo, meus joelhos oscilavam


(até mesmo sentada!) E temia que estivesse prestes a
explodir em lágrimas ou cair do meu banquinho, morta ou
desmaiada.

Certamente não poderia fazer nenhum dos últimos e


cobrindo-me com tudo o que me disse e me fez sentir,
ordenei, —Pare de ser encantador depois que me negou algo
que desejo muito.

Suas mãos deslizaram para os lados do meu pescoço.


—Baby, você não pode fazer Circe e Lahn se encontrarem
neste mundo, então é melhor você pendurar suas luvas
como a campeã dos pesos pesados das intrigas.

Minhas costas se endireitaram. —Nunca farei tal coisa.


—Então é hora de ser criativa, — ousou.

Olhei para ele. —Você acha que não posso fazer isso.

—O que penso é, você não pode dirigir. Não tem ideia


de como se locomover. Se cometer um crime, eu espancarei
seu traseiro, depois de libertá-la da prisão, é claro. Não sabe
como usar um computador, e mesmo se o fizer, de maneira
nenhuma adquirirá habilidades de hacker em questão de
horas. Até sabe como usar um telefone, mas ainda morde
seu lábio inferior em concentração, então não penso que
estará navegando na web muito em breve. E por último, não
sei por qual motivo, Valentine não está em casa, e você terá
de fazer isso sozinha. Embora provavelmente poderia fazer
isso com os olhos vendados e com uma mão amarrada nas
costas em seu próprio mundo, neste, só terá de desistir e
deixar a natureza seguir seu curso.

—Eu não desisto, — declarei.

—Então isso será interessante, — respondeu.

—E não fico no meu telefone mordendo o lábio, —


continuei.

Quer dizer, realmente. Que desastroso!

—Você mandou uma mensagem para Josette quando


chegamos em casa dizendo a ela que chegamos, para ter
certeza que ela estava bem, e mordeu o lábio o tempo todo
que fez isso, — respondeu.

Temia que estivesse falando a verdade.


Assim, arrisquei fazendo um voto silencioso para deixar
de fazê-lo imediatamente.

Noc sorriu.

Voltei a olhar para ele.

Seu sorriso tornou-se um sorriso grande.

Eu devolvi o sorriso e o informei: —Sabe, querido,


quando estou perturbada, não fico com disposição para
intimidades.

Ele não hesitou por um momento em sua tréplica.

—Sabe, Baby, que está tentando negar-me de usar seu


corpo como punição por não ajudá-la com seu plano, isso
significa, que depois de me chupar enquanto eu brinco com
você por muito ─muito─tempo, você terá de implorar para
eu te fazer gozar.

Embaraçoso

E excitante.

Merda!

Eu parei dando um sorriso fingido e novamente olhei


para ele.

—Você é boa, sabe, —, murmurou, seus olhos caindo


para a minha boca. —Mas não pense por um segundo que
não sei que você quer o que eu disse, e você quer agora.

Nós desfrutamos bastante do nosso amor desde que


começamos, mas eu ainda tinha que experimentá-lo lá.

Queria fazer isso antes de sua ameaça.


Ele estava extremamente correto. Queria mais agora.

Não neguei nem confirmei o que ele disse.


Principalmente porque sabia que se negasse seria
eventualmente desmascarada sendo irritante, e quando
confirmasse ficaria presunçoso, o que seria igualmente
irritante.

Então não falei nada.

Quando olhou novamente para mim, eu disse, —É bom


saber que você não joga limpo.

—Como se você tivesse alguma intenção de jogar limpo,


— respondeu.

—Claro que não, — confirmei alegremente.

Seu sorriso voltou. —Essa é a minha Frannie.

—Na verdade, sou, — disse arrogantemente.

Em uma mudança vertiginosa, seu humor mudou de


audacioso para afetuoso quando concordou suavemente, —
Sim, na verdade é.

Depois disso, inclinou-se e pegou minha boca. Desta


vez foi curto, não profundo, mas muito doce.

Quando se afastou, murmurou: —Tenho que alimentar


minha garota.

Respirei e acenei com a cabeça.

Noc deixou sua mão acariciar lentamente o meu rosto e


se afastou. Enquanto se movia, escondi minha resposta às
suas palavras e carícias, tomando um gole forte de vinho.
Se me dissessem que me apaixonaria por uma garota
esnobe, atrevida, sangue azul, que não cortará nem mesmo
um tomate, eu diria que a pessoa estava louca. Mas aqui está
você e agradeço por isso.

Bem então.

Bem.

Ele não me ajudaria com o encontro amoroso de Circe


e Lahn.

E sim, Valentine não estava lá para tomar o comando


porque estava cuidando de um coração partido.

Era verdade que estava em um novo mundo e só estive


nele por cinco dias. Sabia muito pouco, e do pouco que
sabia, muito disso eram coisas que precisaria entender para
conduzir meu plano. (Se quisesse fazer um que não fosse
ilegal).

Mas Noctorno Hawthorne era apaixonado por mim.

Apaixonado por mim.

Então pensei que poderia fazer praticamente qualquer


coisa.

Então eu acreditei que poderia.

***

—Frannie.

Noc cometeu um erro.


Em todas as nossas relações sexuais, ele era
excepcionalmente talentoso e dominante, ainda não me
permitindo demonstrar a plenitude de minhas habilidades.

Assim, quando finalmente consegui colocar minha boca


nele, fui capaz de fazer exatamente isso.

Desnecessário dizer que sou muito boa nisso. Portanto,


também não é preciso dizer que Noc foi consumido pelas
sensações, não sendo capaz de concretizar seu plano
anterior.

Mesmo que sua voz comunicasse algo com muita


clareza, eu estava desfrutando do que estava fazendo. O
gosto. O peso dele. A rigidez. Cada cume e veia tentando
minha língua. Cada grunhido e gemido me incitando a
mover-me mais rápido, me aprofundar. A reação dele ao se
esforçar para manter o controle.

—Baby, — ele grunhiu, e levantei meus olhos vendo-o


deitado, enrolada entre suas largas pernas, ele com os
joelhos para cima. Senti minha frequência cardíaca
aumentar ao ver a escuridão em seu rosto, enquanto
continuava e ele estendia a mão para mim, as pontas dos
dedos acariciando minha bochecha em sua jornada
deslizando em meu cabelo e pelo lado da minha cabeça. —
Cuidado, — falou grosso, de uma maneira clara que não
poderia aguentar mais.

Senti meus olhos se tornavam preguiçosos (ou mais


preguiçosos), não atendi sua advertência, mas, em vez disso,
aumentei meus esforços.
—Ok, — retrucou.

Sem perder a vantagem de seu pênis em minha boca,


ficou de joelhos, puxando minha cabeça para cima com a
mão enlaçada em meu cabelo assim não estava mais
enrolada entre suas pernas, mas numa posição de quatro.

Então eu não estava mais no controle dando-lhe prazer


ao seu pau.

Ele estava empurrando-o na minha boca.

Sim.

Noc.

Dominante.

E divino.

Fechei os olhos e gemi, sentindo minhas coxas


tremerem.

—Merda, merda, porra, — ele grunhiu, sua mão


segurando em punho meu cabelo, sua outra mão segurando
minha cabeça para ajudar-me a aguentar firme. —Leve-me,
Frannie.

Oh, eu levaria. De qualquer forma que ele se


entregasse a mim.

Incluindo desse jeito.

Especialmente desse jeito.

Gemi em torno de seu pênis e levei uma mão entre


minhas pernas, meu dedo apenas roçando através do
molhado onde eu precisava quando Noc se afastou um
pouco, —Unh-unh.

Então puxou-se para fora da minha boca, estendeu


uma mão para mim, pegando meu pulso e puxou-me para
cima, onde lançou seu outro braço em torno da minha
cintura, levantando-me e assim colidindo com meu corpo nu
contra o seu próprio.

Sem escolha, o rodeei com as pernas. Quando fiz, ele


caiu para suas panturrilhas, segurou-me com um braço em
minha cintura, inclinou nossos corpos, levou a outra mão ao
criado-mudo.

Abriu a gaveta com tanta violência que a lâmpada no


topo caiu e quebrou, as moedas tilintaram e espalharam-se
pelo chão, coisas que não sabia para que serviam saíram de
sua gaveta, tudo isso antes que Noc nos endireitasse,
voltando aos seus joelhos e entregando-me um preservativo.

—Rápido, — rosnou.

Olhei em seus olhos, estremeci com sua posse e acenei


rapidamente com a cabeça.

Meus dedos atrapalharam-se, mas fui rápida,


finalmente rolando em seu belo pau com sucesso. Eu mal
cheguei a raiz antes de Noc empurrar minha mão de lado, e
envolver seu pênis.

Ele me encontrou e empurrou para dentro.

Agarrei-me aos seus ombros enquanto minha coluna


formava um arco, minha cabeça caindo para trás. Um
gemido baixo rasgando em minha garganta, ele golpeou-me
com seus impulsos e fiz o meu melhor para aguentar a
viagem.

—Deus, porra, porra, minha Frannie, tão quente, —


grunhiu Noc, levantando-me e me empurrando para baixo
para melhor enfrentar suas estocadas.

Endireitei minha cabeça com um estalo e levei minhas


mãos até seu pescoço, segurando-o ali, minha testa batendo
na dele, meu corpo balançando ao seu comando.

—Foda-me, Noc, — exigi.

—Eu fodo, baby, — grunhiu.

Segurei sua mandíbula em minhas mãos, minha voz


gutural. —Foda-me, meu amor.

Olhou-me nos olhos. Os seus brilhando, queimando,


ardendo, e caiu para frente, colocando-me de costas na
cama, ele cobrindo-me. Comigo imóvel Noc foi capaz de
centrar todo o poder de seus quadris, então me fodeu.

Não demorou muito antes de eu gozar, arrastando


minhas unhas pelos seus ombros, gritando alto, apertando
minhas pernas ao redor de seus quadris, perdida em Noc.
Ele me enchendo, me reivindicando, me fodendo de uma
maneira que ninguém poderia fazê-lo, ninguém poderia ter-
me novamente. Eu não era mais nada além de sua, ele era
de ninguém, além de meu, destinados a estarem juntos,
conectados, equilibrando-se... mundos sangrentos.
Eu ouvi, senti a tensão, o ritmo aumentado, os golpes
mais curtos.

Meu clímax começou a desaparecer e abri meus olhos


bem a tempo de ver a beleza da cabeça de Noc inclinar
bruscamente para trás, as veias em seu pescoço estalando,
a rápida sucessão de grunhidos que levaram a um barulho
baixo. Assisti, fascinada, sentindo ele derramar esta beleza
dentro de mim, desejando que não houvesse nenhuma
barreira impedindo-me de senti-lo, até que sua cabeça caiu
e ele enterrou o rosto no meu pescoço.

Segurei seu peso, acariciei-o enquanto a tensão em seu


corpo se dissipava, e finalmente senti sua boca em meu
pescoço enquanto ele descansava sobre um antebraço na
cama, seu outro braço curvado debaixo de mim, ao meu
redor, os dedos acariciando a pele do meu quadril
tranquilamente.

Virei meus lábios para sua orelha. —Eu quero você.

Por um breve segundo Noc ficou quieto, então levantou


a cabeça e olhou para mim, sorrindo.

—Baby, ainda estou dentro de você, em cima de você,


não tenho certeza quanto mais de mim você pode ter, —
brincou.

Levei uma mão para seu rosto, era meu, eu sabia, era
sério.

—Eu espero que você o sinta tão pouco quanto eu, mas
mesmo assim, não gosto disso. Não gosto dele entre nós.
Quando você me der sua semente, eu a quero. Mesmo que
não floresçam, eu quero isso no meu ventre. Quero que seja
uma parte de mim. Então preciso pedir a Valentine para
voltar ao meu mundo e conseguir algum pennyrium para
mim.

Noc não disse nada.

Mas não parecia mais provocante. Estava encarando-


me de uma maneira que não conseguia entender, mas
aqueceu-me até os dedos dos pés.

—Noc, — chamei quando seu silêncio se alongou.

—Eu quero ir longe com você.

Meu corpo ao redor dele enrijeceu e abri a boca para


falar.

Ele não terminou.

—Eu quero fazer um bebê com você.

Eu apertei minha boca fechada.

Noc não.

—Eu quero fazer tantos quantos pudermos, desde que


eles saibam que amamos cada um deles com tudo o que
somos. Não dou uma porra se você tem meu bebê crescendo
em você ano após ano, até que seu corpo não possa
aguentar mais. — Ele chamou minha atenção para a nossa
conexão contínua, flexionando seus quadris. —Se pudesse,
foderia você por horas, dias, malditos anos, sem parar.
Quero parte de mim em você com cada respiração que dá.
Não posso fazer isso, então quero que a qualquer momento
que sua mente vagueie, pense em mim dentro de você, então
isso pode ser. Meu pau tomando você. Meu esperma
enterrado profundamente. Meu filho crescendo em sua
barriga. O significado disso. Que nós conseguimos. O que
fizemos. O que construímos entre nós. O fato de te amar
tanto, cometeria traição por você. Eu cometeria crimes por
você. Iria para a prisão por você. Eu te daria tudo que
existisse para cortar os malditos tomates em sua salada, e
derramar-lhe um copo de vinho, lutaria com o mundo em
meus braços e o colocaria aos seus pés.

Fiquei sob ele, congelada.

Então me derreti em lágrimas.

Lágrimas fortes e desagradáveis.

Noc retirou-se (infelizmente) e rolou-nos para o lado,


mantendo-me em seus braços, segurando-me apertado, sua
mão acariciando minhas costas, seu outro braço em torno
de minha cintura enquanto eu soluçava contra seu peito,
meu corpo tremendo incontrolavelmente com o poder da
emoção varrendo através de mim.

E com profundo arrependimento, isso aconteceu por


um longo tempo.

E com um arrependimento ainda mais profundo,


quando começou a diminuir, comecei a soluçar com a
riqueza de emoções que ainda precisavam ser expressas.

Eu odiava chorar.

E pior, com soluços.

Ulk.
Mortificação.

—Então, para terminar, — Noc disse, e mantive meu


rosto enterrado em seu peito, sentindo sua voz ressoar,
mesmo que pudesse ouvi-la, —Não sei o que este pennyrium
é, mas uma solução mais fácil é conseguir uma receita para
pílulas, assim poderei estar dentro de você sem um
preservativo. Em outras palavras, usarei isso até decidirmos
que nenhum controle de natalidade é necessário, e quando
isso acontecer, estarei com isso também.

Inclinei minha cabeça para trás e olhei-o com olhos


lacrimejantes.

—Eu te amo, — sussurrei.

— Puta que pariu, ainda bem. — sussurrou de volta.

—Cortarei tomates para você, — compartilhei.

Vi seu sorriso ondular pela boca enquanto ele parava


de acariciar minhas costas e apertava ambos os braços ao
meu redor.

—Não precisa fazer um sacrifício tão grande, querida,


— murmurou.

—Tenho uma alma de ouro, — disse a ele suavemente.

Seus braços flexionaram tão poderosamente que


empurraram todo o ar para fora de mim antes dele ser
obrigado a relaxar.

—Sim, você tem, — finalmente respondeu.

—Eu tenho uma alma de ouro, — repeti.


—Eu sei, baby.

—Eu tenho uma alma de ouro, —, disse de novo, e ele


abriu a boca para falar, mas continuei. —Sei disso porque
os deuses do meu mundo e o Deus de vocês nunca
amarrariam uma alma que fosse nada menos que dourada à
perfeição que você é.

—Foda, — rosnou, rolando-me novamente para as


minhas costas com ele em cima de mim.

—Eu te amo, Noc, — respirei enquanto seu peso me


pressionava para baixo.

—Porra, — rosnou novamente.

E então me beijou.

Tivemos necessidade de vários preservativos naquela


noite, pois as nossas declarações começaram a maratona
sexual tardia que Noc prometeu dias antes.

E ao amanhecer estava tocando o céu quando, exausta,


saciada e delirantemente feliz, deixei todo o meu peso se
acomodar no homem que estava debaixo de mim,
segurando-me, recebendo meu peso, minhas preocupações,
meus demônios, meus sonhos.

O homem que expôs minha alma dourada de uma


maneira que eu sabia verdadeiramente que carregava dentro
de mim.

O homem que me amou.

***
Na noite seguinte, fiquei na parte de trás do vestíbulo
de Valentine, os braços cruzados no peito, dando-lhe o meu
melhor olhar proibitivo para o intensamente bonito (eu tinha
que admitir) Glover quando ele pôs uma mão nas pequenas
costas de Josette levando-a porta a fora.

Ele sorriu para mim dizendo-me: —Ela estará em boas


mãos.

—É melhor, — retruquei, seguindo em frente e


segurando a porta antes que ele pudesse fechá-la para que
eu pudesse continuar a encará-los enquanto andavam pela
calçada de Valentine, a fim de estar absolutamente segura
de que fiz meu ponto.

Ele balançou a cabeça, seus lábios agora apenas


curvados, e virei meu olhar, meu rosto amolecendo, quando
Josette olhou para trás e disse, —Noite, Frannie.

—Boa noite, minha querida, — respondi.

Ela olhou para frente quando Glover levou-os a


avançar.

Sabia que ele não pretendia que eu ouvisse, mas tinha


excepcionalmente aperfeiçoado habilidades escutando
pessoas em minha vida, assim pude ouvi-lo quando falou
depois que havia percorrido metade do caminho.

—Sua irmã é meio protetora, né? — Perguntou.

—Er, bem... nós passamos por muita coisa juntas, —


Josette respondeu calmamente. —E ela me ama.
—Certo, — respondeu Glover, sem soar descontente,
parecendo satisfeito.

Embora gostasse muito do fato de que Josette


entendesse meus sentimentos por ela, e o fato de que Glover
não foi adiado por um membro da família protetora, eu
arrisquei.

—Feche a porta, Lábios-açucarados, — veio de trás de


mim.

Virei-me vendo Noc encostado na parede ao lado da


entrada do corredor, parecendo como se ele não soubesse se
me buscaria ou soltaria suas gracinhas.

—Quero vê-los seguros no carro, — devolvi.

—Feche a porta, Baby, — disse suavemente.

Gostei do seu tom suave, então saí da porta e a fechei.

Só então Noc veio até mim.

Colocando as mãos em meus quadris, puxou-me para


perto e inclinando-se para baixo.

—Então, meu palpite, estaremos presos aqui até que


você saiba que ela está em casa bem, — observou.

—Sim —confirmei.

Ele sorriu e murmurou: —Mamãe urso.

—Você diz isso como uma provocação como se pudesse


me irritar mais, quando não tenho nenhum problema sobre
pensar dessa maneira.
—Só para dizer, não ensinarei você a usar uma arma
considerando que você é assim com Josette. Os meninos
terão um problema com você e não comigo, quando nossas
filhas começarem a namorar.

Eu poderia realmente me sentir empalidecer.

Noc explodiu em gargalhadas, puxando-me em seu


abraço enquanto colocava sua boca na minha.

—Cristo, eu te amo, — disse através de sua alegria.

—Obrigado, porra, — respondi e perdi de ver Noc com


os olhos felizes.

Perdi porque ele estava me beijando.

Obviamente, então o beijei de volta.


Criatividade

Franka
—Temos pouco tempo, Josette, — avisei enquanto
Josette entregava o dinheiro ao simpático cavalheiro com o
sotaque estranho que, segundo ele, era do ―Ay-tee‖29. Ele era
motorista do táxi, Josette me explicou.

Uma benção.

Enquanto eu passava o tempo aprendendo a plenitude


do meu amor por Noc, e seu amor por mim, Josette estava
assistindo à televisão e brincando com seu telefone.

Noc tinha razão três dias atrás. Eu sabia pouco sobre


este mundo.

Mas Josette estava me ajudando.

—Só um minuto, Frannie, — respondeu Josette,


concentrada. —Eu preciso resolver a dica.

—O quê? — Eu perguntei.

29
Haiti.
—Eu vou explicar depois. — Ela murmurou.

Eu olhei para o relógio no meu pulso que comprei no


dia anterior, quando Noc estava levando Josette e eu para
um estacionamento vazio onde ele poderia nos ensinar, com
privacidade, a conduzir, e quando olho pela janela do seu
Suburban, eu vejo uma joalheria.

Claro, eu pedi para parar imediatamente porque eu


não vi uma loja de qualidade nesse mundo (não contava as
do shopping, com suas ofertas miseráveis) e, obviamente,
isso era algo que precisávamos experimentar imediatamente.

Meu relógio era fino, com uma cinta preta e sua face,
como a vendedora explicou, era um art deco, de ouro branco
e diamante. Não sabia o que art deco significava. Imaginei
ser algo elegante.

De Josette era branco e ouro rosa com uma face de


madrepérola. Não era gigante, mas um pouco grande, quase
como os relógios masculinos, mas mesmo assim, era lindo.

Ambos os relógios custaram mais de cinquenta mil


dólares, em que Noc sacudiu a cabeça e disse (não a
ninguém, certamente): —Se ela ficar com eles, não comprará
mais nada por um mês.

—Não, eu não vou, — eu declarei. —Valentine diz que o


valor do meu tesouro neste mundo é quase meio bilhão de
dólares. Se for assim, eu poderia comprar mais dez relógios
para Josette e eu, e ainda sobraria.

Noc me deu um olhar que dizia que eu deveria parar de


falar.
A vendedora fez um barulho que parecia um engasgo.

Eu pensei que seria melhor sorrir para ela, e, claro,


entregar meu cartão de crédito.

Nossa aula de condução não foi boa como a nossa


viagem para a joalheria.

Não era eu quem estava tendo dificuldade em dominar


os controles do carro. Na verdade, tudo parecia bastante
intuitivo. Noc me deu um beijo de recompensa depois da
aula e me declarou apta.

Porém Josette estava com dificuldades, andava rápido


demais e fazia curvas, mesmo assistindo fora do veículo e
bem de longe, ainda assustava.

Noc disse que eu poderia começar a praticar nas ruas.

—Desculpe, Jo, mas vai ser o estacionamento pra você


por um tempo. — Ele disse a ela.

Ela não parecia se importar. Estava feliz por aprender.

E, apesar disso, ela estava nas nuvens devido ao fato


de Glover estar dando atenção e a divertindo, e —oh tão
inteligente, Frannie, você não acreditaria!

Eu não acreditei.

Eu teria que ver pelos meus próprios olhos. Algo que


não tive oportunidade de fazer ainda, embora tivessem seu
segundo encontro ontem a noite, com direito a jantar e um
filme, os primeiros de Josette.

Não me senti excluída, Noc me levou para assistir ao


meu primeiro filme também (embora ele não tinha, como eu
pedi, me levado para o mesmo filme que Josette e Glover
estavam assistindo).

Era insanamente alto, o som parecia bater pelo meu


corpo.

Explicando de maneira bem fraca, era como um conto,


com várias imagens enormes e toda minha atenção estava
focada nisso.

No final, eu me acostumei com o som estridente e me


perdi completamente no filme.

Embora eu ainda estivesse chateada por ele ter me


enganado, poderíamos ter ido facilmente para o mesmo que
Josette e Glover, e ninguém notaria já que estava escuro.

Mas Noc me barrou, ordenando com firmeza: —Apenas


deixe ela se divertir, Frannie.

Odiava admitir, mas eu não tinha escolha senão fazer


exatamente isso.

Agora, estávamos em um veículo estacionado no


meio-fio do prédio onde Dax Lahn tinha seu escritório, e
nosso tempo para resolver isso era curto.

—Muito bem, obrigado, — disse Josette ao motorista e


olhou para mim. —Vamos.

Eu abri minha porta e saí.

Josette me seguiu, porém desperdiçou momentos


preciosos sendo amigável e acenando para nosso motorista
enquanto ele se afastava.

Eu peguei sua mão que acenava e a puxei comigo.


—Venha. Devemos nos apressar. Esta reunião já
começou podendo durar mais de uma hora, mas eu não
tenho ideia de quanto tempo nós precisaremos, embora eu
temo que quanto mais, melhor e o tempo está correndo por
nossos dedos.

—Tudo bem, tudo bem, eu estou indo, — murmurou


Josette, correndo atrás de mim enquanto meus saltos
clicavam nas calçadas, minhas pernas esforçavam-se mais,
mas essa saia apertada batia em meus joelhos, e minha
blusa ondulava conforme eu andava.

Eu tinha um plano perfeito, pois essa reunião era


obrigatória para todos do escritório, então estava tudo
deserto, exceto a grande sala onde eles estavam reunidos, e
poderíamos entrar facilmente no escritório de Dax Lahn sem
que eles nos vissem.

Quando entramos, não tive tempo de relacionar, como


nas outras vezes, o fato de Dax Lahn ter escolhido um
prédio antigo e bonito para abrigar seus escritórios.

Guiando Josette, corremos para os elevadores,


chamamos um para o andar que precisamos, e saímos.

Do lado de fora do elevador, respirei fundo, pedi para


Josette fazer o mesmo: —Respire fundo, Josette. Calma. A
chave pode estar em algum lugar que não suspeitamos, e é
por isso que tem todos os motivos para estar lá.

Ela assentiu com a cabeça.

—Respire fundo. —Eu repeti, notando que ela não feito.


Eu observava enquanto ela fazia isso e dei-lhe um
sorriso pequeno e reconfortante. Fomos em busca da direção
correta do escritório de Lahn.

Era boa em fuçar desde pequena e não tivemos


nenhum problema em entrar nas diversas salas de Lahn,
nem mesmo seu escritório. Era como se soubesse que
estaria tudo vazio. Não vimos uma alma até o nosso destino.

Entramos em seu escritório pessoal e fomos direto para


a grande mesa esculpida em madeira.

Fiquei ao lado dela e olhei para Josette, procurando


sob sua superfície o que precisávamos.

—Lá está, Josette, pegue-o para que possamos sair


daqui.

Ela olhou para mim então para o mecanismo, e


novamente para mim.

—Está trancado, — afirmou.

Examinei-o mesmo estando com ele poucos segundos


atrás.

Isso era chamado de laptop. Noc tinha um. Pedi para


ele me ensinar como usá-lo na noite passada, mas ele sorriu
e balançou a cabeça perguntando: —Você sabe que eu não
sou idiota, certo?

Respondi rapidamente: —Claro! Como poderia


perguntar uma coisa dessas?

Ele simplesmente acenou novamente e disse: —Vamos


mexer com computadores depois que Lahn encontrar com
Circe em algum lugar e eles se apaixonarem à primeira
vista. — Depois disso, ele se afastou.

Irritante.

Entretanto, ele saiu para pegar a garrafa de vinho e


encher meu copo para que a minha irritação não durasse
muito tempo.

O que também foi irritante.

No escritório de Lahn, virei para Josette.

—É, de fato, trancado, — confirmei.

—Na TV, quando eles fecham, significa que desligou. —


Ela explicou. —Sempre que terminam de fazer algo de
grande importância nele, eles fecham a tampa e suspiram
contentes.

—Bem, vamos abrir e fazer o que precisamos fazer, o


que é de grande importância. Vamos fechá-lo quando
tivermos terminado.

—Não, quero dizer, se abrir, é como ligar. E muitas


vezes, quando as pessoas na televisão estão fazendo o que
nós estamos fazendo agora, elas ficam frustradas porque
precisam de uma senha.

Eu olhei em choque para o computador, perguntando:


—Ele fala?

—Não que eu saiba —respondeu Josette.

Olhei para ela. —Então, como pode pedir uma senha?

—Você bate nele.


Claro.

Eu vi Noc fazendo isso.

—Certo, bem, nós ...

Foi então que senti.

Eu parei de falar e congelei, sem incluir meus olhos


que estavam arregalados.

Então me aproximei de Josette e sussurrei: —Fique


quieta.

—O que ...? —Uma voz profunda, perturbada veio o


nosso caminho. —Eu posso te ajudar com alguma coisa?

Josette fez um barulho de engasgo enquanto ela se


virava para a porta.

Eu já estava de frente para a porta e vi Dax Lahn


atravessá-lo e parar.

Esqueci de como ele era grande.

Oh bolas!

Íamos ser presas antes mesmo de abrir o laptop e


agora Noc ia ter que nos liberar da prisão.

Ele disse que me espancava se isso acontecesse e eu


não sou contra uma surra de Noc em certas ocasiões, mas
eu suspeitava que ele me puniria de um jeito que eu não
gostaria.

—Outra vez, —isto veio como um grunhido quando o


homem grande deu um passo ameaçador em nossa direção,
—posso te ajudar com alguma coisa?
Precisava fazer alguma coisa, e fazer muito bem.

—Você pode, na verdade —eu declarei, erguendo meu


queixo. —Pode nos explicar por que está tão atrasado para a
nossa reunião, Sr. Lahn.

Sua cabeça inclinou ligeiramente para o lado de uma


maneira ameaçadora.

Em Korwahk, o modo como Lahn nos olhava faria


alguém se aliviar imediatamente e talvez corresse por suas
vidas.

Josette repete o barulho, o que compreendi que essa


reação poderia acontecer nesse mundo também.

—Desculpe-me? — Perguntou ele.

Eu me aproximei. —Franka Drakkar. Deveríamos nos


encontrar às dez. Não são dez. São, — olhei para meu
relógio irritada, —10:20, passou das 10 horas.

—Sinto muito, srta. Drakkar, — disse Lahn, olhando


para Josette e depois para mim. —Eu não tinha um
compromisso para as dez hoje.

—Você certamente tem e é comigo. — Retruquei.

—Receio que não, — respondeu.

—Receio que sim, — respondi.

Ele nota nossas posições no escritório e retorna para


meus olhos.

—Há uma razão de estarem tão perto da minha mesa,


srta. Drakkar?
—Já que nem fomos recebidas, dificilmente fomos
convidadas a sentar. —Respondi em completa afronta.

Ele pareceu examinar sua mesa antes de voltar sua


atenção para mim.

—Se não foram recebidas, como conseguiram chegar ao


meu escritório?

—Eu sei quem você é, desde que eu fiz esse


compromisso com você, — eu declarei. —Eu também sei que
você é um dos fundadores desta empresa. Quando não
fomos vistas na entrada, onde mais íamos procurar por
você, se não o maior escritório? Eu não posso imaginar
como trataria um funcionário, — eu falei com desdém e
terminei, —e eu vejo que eu estava certa.

—Tudo bem então, você é Franka Drakkar, posso


perguntar quem é? —Ele inclinou a cabeça para Josette.

—Josette Aubuchon, minha assistente —disse-lhe.

—Agora me explique o assunto da nossa reunião. — ele


pressionou.

Suspirei com impaciência, mas respondi: —Minha


doação à First Mother House.

Isso o surpreendeu, mesmo que eu mal notei a ligeira


tensão no queixo.

— First Mother House? —perguntou.

—Sim, como eu expliquei por telefone, vou doar um


milhão de dólares e você me ajudaria nisso como o meu
advogado.
Eu esperava ser uma quantia alta o suficientemente
para chamar sua atenção por nos encontrar em seu
escritório, eu esperava que minhas palavras surtissem um
efeito e positivo.

—Um milhão de dólares? — Perguntou baixinho e


descrente.

—Sim —confirmei.

—Primeiro, Drakkar, — afirmou, avançando um passo,


mas ao fazê-lo, notei com algum alarme, que estava
bloqueando a porta. —Meu assistente não faria uma reunião
neste dia ou hora porque está sempre bloqueado. Segundo…

Ele deu mais um passo e eu senti o medo de Josette.

Eu queria estender uma mão ou acalmá-la, mas eu


precisava ficar no meu jogo, caso o contrário, tinha medo
dos resultados.

Lahn continuou falando.

—Eu me lembraria de qualquer reunião com uma


mulher que doaria um milhão de dólares para a First Mother
House. E por último, sua doação não requer um advogado.

Merda.

Eu precisava de tempo pra pensar.

—Se nosso encontro foi comunicado a você, você


saberia que isso não é verdade.

—Essa reunião não foi repassada para mim, então


talvez pudesse me explicar como eu posso ajudá-la a fazer
uma doação a uma instituição de caridade quando você
pode simplesmente escrever um cheque e mandá-lo pelo
correio?

Como ele poderia me ajudar?

Como ele poderia me assitir?

Como?

Explosão!

—A doação precisa ser anônima, —respondeu Josette.

Excelente!

Lutei contra o desejo de abraçá-la.

—Isso também pode ser feito sem um advogado. —


Afirmou Dax Lahn.

Puta merda.

—Nós temos confidencialidade advogado-cliente? —


Josette perguntou, soando autoritária.

Vi como ela olhava bem nos olhos de Dax Lahn.

Ah, minha Josette. Essa garota esperta.

Bravo!

—Você não é cliente, — observou Dax Lahn.

—Sim, claro que não. — Eu disse, entrando na de


Josette. —Porque ainda não tivemos nosso encontro.

—Devo admitir que estou ficando impaciente, — ele


compartilhou, aparecendo exatamente isso e foi,
infelizmente, bastante assustador, mesmo me deparando
com uma variedade de situações delicadas, ele me
assustava. —E eu tenho coisas para fazer. Então você tem
um minuto para me explicar por que está no meu escritório.
Se essa explicação não me satisfizer, vou telefonar para a
polícia.

Eu olhei para ele.

Ele segurou meu olhar.

Depois disse: —Cinquenta segundos.

Deus.

Não tinha o que dizer, só fazer.

Levantei minhas mãos para os botões de minha blusa e


comecei a desfazê-los.

—Frannie, — sibilou Josette.

Dax Lahn ergueu a mão, o rosto sem emoção.

—Não faça outro movimento, — ele esmiuçou.

Fiquei de costas para ele e desci minha roupa pelo


ombro, sentindo o material expor parcialmente minhas
costas.

Eu levantei minha outra mão e coloquei meu cabelo


para o lado.

Só escutei Lahn chocado: —Jesus Cristo.

Eu coloquei minha blusa no lugar e abotoei os botões


novamente, virando para ele.

—Sou de outro lugar, — anunciei —Este outro lugar


está no passado. Para sair de lá precisei fazer coisas
terríveis. O homem que fez isso comigo... —Eu respirei
suavemente pelo nariz e endireitei meus ombros. —Tenho
muito dinheiro. Não é dinheiro estritamente legal, mas é
meu. Ganhei. Tenho o bastante para cuidar de mim e
Josette, que cuida de mim de várias maneiras, e mais. Muito
mais. Quero que seja para algo bom. No entanto, preciso ter
muita cautela quando uso esse dinheiro para que certas
pessoas não possam me localizar e certos departamentos
governamentais não...

Parei, respirei fundo e balancei a cabeça em desgosto,


olhando para Josette.

—Vamos. Está claro que cometemos um erro em nossa


escolha.

Fomos em sua direção, eu demonstrava abertamente a


afronta que sentia, foi quando vi seu braço esticar e ouvi-lo:
—Sra. Drakkar... Franka, espere.

Eu parei e virei minha cabeça para o lado e para cima


(pra cima que eu digo, era por Dax Lahn ser um verdadeiro
gigante).

—Minhas desculpas, —murmurou. —Houve um mal-


entendido.

—Eu temo que foi, no entanto...

Fez um gesto para as cadeiras de couro diante de sua


mesa. —Se você se sentar.

Eu levantei meu queixo, mas por um motivo diferente.


—Eu acho que não.

—Talvez possamos começar de novo, — sugeriu ele.


Eu me virei para ele, sentindo Josette atrás de mim.

—Eu temo que isso não é inteligente. Não temos a


confidencialidade entre cliente e advogado, já que não sou
sua cliente, mas eu espero que com você trabalhando com a
First Mother House, entenderá que existe mulheres com
certas necessidades especiais e eu sou uma delas, então
espero que respeite e se conforme com minhas palavras.

—Claro, você tem minha palavra, mas...

Eu o interrompi, meus pensamentos sobre o futuro


emprego de Noc e o que ele poderia fazer nisso.

Então eu disse: —Nós não vamos começar de novo,


pois sem dúvida você colocará alguém para investigar a
veracidade de minhas palavras e quando fizer isso, vai
descobrir que eu existo. Josette existe. E ainda, se o seu
investigador sondar mais a fundo, vai descobrir que não.
Acho que entende o significado disso. Assim, é provável que
você sinta que não sou confiável. No entanto, alguém faz o
que tem que fazer e Josette e eu fizemos exatamente isso.
Eu não vou compartilhar quem eu era no passado ou onde
vivi. E não vou aceitar desconfianças, e você duvidando da
minha história.

Ele se aproximou de nós, não tão perto, mas próximo.


E senti Josette quase cair atrás de mim.

Dax Lahn falou, a voz muito baixa.

—Você não é a primeira na sua posição, Franka, a


sentir necessidade de falsificar sua identidade.
—Tenho certeza disso, —retorqui. —E estou certa de
que este é um recurso de último caso. Assim, eu quero fazer
uma doação substancial a alguém que está fazendo algo
para mudar essa situação.

—Se há alguém, fora Josette, que pode confirmar o que


você diz, apenas uma pessoa, então...

Inferno, eu ia fazer o que era preciso?

O amor estava em jogo.

Eu não tive escolha.

—Noctorno Hawthorne, — declarei.

Sua cabeça se mexeu ao ouvir seu nome, era claro que


o nome de Noc era mais incomum aqui.

Era incomum em meu mundo também. Somente um


príncipe tinha, e sempre da realeza.

—Ele é um policial de Seattle que... bem, houve... —Eu


estava desconfortável e suavizei minha voz quando eu
continuei: —Ele foi adorável comigo. E ele e eu, nós... —Eu
olhava recatadamente para os lados e depois voltei para ele,
e notei, como muitas vezes no meu mundo, a forma como
Lahn observava sua Circe (embora com diferenças óbvias
como este Lahn estava me observando).

Feições ternas que eu senti no coração.

Se eu não soubesse que eu estava fazendo a coisa certa


(o que eu sabia), eu saberia naquele momento.

—Ele está aqui, comigo e Jo, — eu continuei


calmamente. —Ele não tem uma... ele é ele mesmo. Entre
em contato com ele, ele confirmaria tudo o que eu disse a
você hoje.

—Você pode me dar seu número para que eu possa te


telefonar quando tiver essa confirmação? — Ele perguntou
gentilmente e terminou respeitosamente: —Espero que você
entenda a necessidade disso.

Abri a boca para responder, mas Josette me cortou. —


Eu cuidarei disso.

Ele acenou com a cabeça para ela, e nos guiou para


sua mesa.

Nossa. Ele estava mais observador.

Mais como uma pessoa.

Tirou uma caneta do bolso interno da jaqueta, colocou-


a em sua mesa e ergueu o olhar para Josette. —Seu
número?

Ela falou rapidamente, me fazendo pensar se eu


deveria memorizar o meu próprio.

Eu não pensei muito nisso.

Primeiro passo feito, era hora do próximo.

Mas o primeiro não saiu como planejávamos, então não


sabia o que viria a seguir.

—Obrigado, — disse ele quando Josette terminou e se


endireitou em sua cadeira. —Sei que foi um inconveniente
no primeiro momento de nosso encontro hoje, e seria um
prazer levá-las, e ao Sr. Hawthorne, se ele estiver disponível,
para almoçar como forma de me desculpar pelo ocorrido e
discutirmos sua situação, tendo em vista a melhor forma de
realizar sua doação para First Mother House.

Mais uma vez, não pensei rápido o suficiente.

Felizmente, ele me deu um plano perfeito.

Eu fiz o meu melhor para não deixar minha boca se


curvar em um sorriso e declarei: —Jantar.

Suas sobrancelhas se uniram. —Desculpa?

—Jantar, — eu repeti. —Bebidas primeiro, para


falarmos sobre nosso envolvimento. E por favor, convide a
diretora da First Mother House para jantar conosco depois
das bebidas, eu gostaria de conhecê-la. Farei outra doação,
não anônima, mas generosa, para explicar sua presença
enquanto jantamos. O anônimo pode ser feito quando todos
os arranjos estiverem prontos.

—Na verdade, essa é uma ótima ideia, — afirmou.

Eu sabia, já que Circe queria que nos encontrássemos


para o jantar e estaríamos fazendo exatamente isso.

Com Dax Lahn.

Ele continuou: —Patricia é uma mulher incrível e ela


explicará melhor o quanto sua doação ajudará a tantas
mulheres, homens e crianças que se encontram na First
Mother House.

Então ele nos deu um sorriso genuíno.

Josette ao meu lado fez um barulho como um gemido


abafado.
Apertei os lábios.

—Vou esperar por isso, — disse ele, levantando um


braço. —E agora, vou te levar até o saguão.

Josette tocou minha mão e sussurrou: —Preciso


chamar um táxi.

—Eu farei isso enquanto caminhamos, —Lahn


ofereceu. —Temos um serviço. O mínimo que posso fazer é
levá-las para casa depois de perder seu tempo vindo aqui.

Seu ―serviço‖ poderia delatar nossa localidade.

Eu não tinha ideia de qual era a reputação de


Valentine em Nova Orleans. Minha irmã-bruxa era
excepcionalmente astuta, então eu não tinha dúvida de que
era excelente.

Eu ainda ia levá-los à casa de Noc.

Ele pode estar com raiva.

Mas ele poderia ter ajudado. Eu pedi. Ele recusou. Ele


me disse para ser criativa.

E pode-se dizer que os últimos dez minutos foram os


mais criativos da minha vida.

Eu sorri lentamente para Dax Lahn e aceitei.

—Isso seria maravilhoso.

***

—Sim, unh-hunh, sim.


Noc andava de um lado para o outro na cozinha, com a
cabeça inclinada, a mão enroscada na nuca.

Josette e eu estávamos sentadas nos bancos da ilha,


observando-o.

Eu me peguei mordendo o lado do meu lábio e deixei de


fazer isso quando Noc deixou sua mão cair, erguendo os
olhos para mim, e ao focar neles eu senti uma ondulação
não muito agradável em minha barriga.

—Certo, — ele disse em seu telefone. —Amanhã é bom.


Nós nos encontraremos lá. Sem problemas. Sim. Mais tarde.

Ele terminou de falar e tirou o telefone de sua orelha,


seus olhos ainda estavam presos em mim.

—Só para descansar sua mente, Lábios-açucarados, eu


só marquei um encontro com um dos investigadores de Dax
Lahn para confirmar sua história.

—Eu, bem, erm ...— eu comecei.

Olhei para Josette.

Ela sentiu meu olhar e ficou com os olhos arregalados.

Olhei para Noc.

—Obrigada, querido. Aprecio isso. — Eu terminei.

—Então você sabe. — Ele continuou como eu não


dissesse nada. —Lahn contratou a empresa que eu trabalho
para fazer a investigação. Então, basicamente, vou ter uma
reunião com meu chefe amanhã para inteirá-lo de que
minha mulher é rica, mas que está fugindo de um
relacionamento abusivo e tem uma identidade falsa.
Tentei ficar indiferente com essa informação, mas
hesitei dizendo: —Isso vai te prejudicar, querido?

—Não, já que eu dei permissão para me investigarem


para o trabalho. Isso significa que, agora que você está na
minha vida, eles provavelmente irão investigar você, então
agora eu tenho uma desculpa aceitável já que a mulher da
minha vida falsificou seus documentos e vão descobrir isso
em dois segundos.

Bem! Que sorte!

—Que adorável. Dois coelhos com uma cajadada. —


Murmurei.

—Dois coelhos, minha bunda. — Noc não murmurou.


—Realmente um golpe de sorte.

Noc voltou sua atenção para Josette.

—Eu tenho que lidar com as ações dessa... —ele


gesticulou em minha direção. —Dessa merda hoje, agora eu
tenho que me preocupar com você entrando na dela?

—Sinto muito, Noc, eu não entendi o que... —começou


Josette.

—Oh pelo amor de Deus —Noc interrompeu-a sem


paciência, olhando para o teto.

Decidi considerar que tudo estava resolvido e poderia


pular para a próxima parte.

—Assim que isso for resolvido, vamos jantar com Lahn,


ou Dax, como ele é conhecido aqui. Você vai, é claro, precisa
convidar Circe para este jantar, — eu comuniquei.
Noc voltou-se para mim. —Você me ouviu quando eu
disse que era sua parte?

—Eu ouvi quando me disse que faria qualquer coisa


por mim, — eu respondi calmamente.

Sim, isso não era justo.

Mas o amor estava em jogo aqui.

Essa foi a única vez que concordei em como era bom


não ser justa.

—Eu só... preciso responder a Glover, — Josette


murmurou e saiu da cozinha.

Eu a observei, e quando ela estava na sala de estar, eu


voltei para Noc.

—Não estou te pedindo para quebrar qualquer lei. Só


estou pedindo que confirme que eu sou quem eu sou e que
tenho esse dinheiro para doar. Além de pedir que Circe
venha para o jantar.

—Eu falo que você é quem você é, mas faço isso porque
não tenho escolha, e também porque você tem meio bilhão
de dólares, e pode doar um milhão a eles. Porém, vou lhe
dar o número dela, você a chama para o jantar. Mas eu não
vou levá-la sozinho ao Selvagem.

—Noc.

Ele deu um passo rápido para ficar na minha frente.

—Faço qualquer coisa por você, —ele sussurrou. —


Qualquer coisa que você pedir. Chamar Circe. Prepará-la
para uma emboscada. Agora, o que eu estou pedindo para
você é que não me peça para fazer isso. Ela me conhece. Ela
confia em mim. Então, por favor, querida, estou te
implorando. Não me peça para fazer isso.

Eu acenei imediatamente. —Vou telefonar para ela e


não precisa ir no jantar.

—Eu estarei lá somente na retaguarda e estarei lá para


Circe se alguma coisa estourar, já que vamos nos encontrar
com o lobo.

Dax era assustador, eu provei isso.

Mas ele não era um lobo.

Eu não dividi minha opinião.

—Eu acho que é sábio.

Noc respirou fundo.

Fiquei quieta e não disse nada.

Quando ele o soltou, ele continuou: —Não posso


acreditar que você entrou em seu escritório e disse que tinha
uma reunião inexistente.

Contamos a história.

Tudo menos a parte que estávamos tentando abrir o


computador de Dax Lahn.

Nós não (até onde eu sabia) quebramos alguma lei.

Noc não precisava saber que pretendíamos.

—Você disse para ser criativa.

—Bem, Frannie, você conseguiu.


Eu segurei seu olhar e perguntei suavemente: —Você
está bravo comigo, meu amor?

—Foda-se, não, — ele respondeu instantaneamente. —


Porque perguntou?

—Você parece, —balancei uma mão, —irritado.

Seus lábios se contraíram. —Aborrecido não é raiva,


linda. Só estou irritado.

—Então você está irritado, e não bravo.

—Sim, a mulher que eu amo enfrenta o advogado mais


perverso da cidade, ela consegue seus objetivos e sai inteira,
não estou aborrecido porque ela é boa. Não estou com raiva
porque ela é boa. Estou irritado porque ela é uma maluca.

Me encolhi. —Não sou maluca.

Ele balançou a cabeça. —Essa conversa não deveria


ser realizada com fome.

Eu estava de fato.

Mas, além disso, fiquei satisfeita que Noc não ficou


irritado com o que fizemos, me sentia como se tivesse
ganhado duas vezes. Portanto, eu desfrutaria do meu
sucesso e seguiria em frente.

—O que vai querer? — perguntou Noc.

—Pizza! — Josette gritou da sala de estar.

Noc sorriu nessa direção e então para mim.

—Bom para você? — Ele perguntou.

Ele não precisava perguntar.


Foi pizza.

Eu ainda respondi. —Definitivamente.

Ele empurrou o queixo para mim, não mais irritado,


apenas doce.

Não. Apenas Noc.

—Pegue seu telefone, Frannie. Você não pode cortar


um tomate, mas você pode aprender a pedir uma pizza.

Eu instantaneamente saí do meu banquinho para


pegar minha bolsa, pois não teria dificuldades para
aprender a pedir uma pizza.

Nenhuma mesmo.
Estou dentro

Franka
—Estou pensando em escola de beleza. — Declarou Jo
no banheiro de Noc, onde me inclinava para frente na pia e
colocava brilho labial, enquanto ela contorcia-se e ajeitava os
fios de cabelo que pendiam ao redor de meu rosto, enfiando
os grampos com mais segurança no grande coque que
descansava em meu pescoço.

Deslizei meus olhos para os dela no espelho.

—Desculpe?

—Escola de beleza. Quero ir pra uma. Depois que Noc


me ensinar a dirigir, é claro.

Endireitei-me, fechando o tubo do brilho labial e virei


completamente para ela.

Jo soltou as mãos do meu coque.

—Desculpe-me? — Repeti novamente.


—Você sabe, para fazer algo. — Declarou confusa. —
Sempre gostei de fazer o seu cabelo, e sou boa nisso! Embora
você já tenha um lindo cabelo. — Sorriu. —Mas é ainda mais
divertido aqui, com modeladores de cachos, chapinhas,
secadores e...

—Jo. — Cortei.

—O quê? — Ela perguntou.

—Explique claramente do que você está falando. — Pedi.

—Preciso de um emprego, — declarou.

Minha cabeça deu um solavanco com a surpresa.

—Por que você precisa disso?

Foi então que vi a Josette cabeça oca.

—Por que eu preciso disso? — Ela repetiu.

—Essa foi a minha pergunta. — Declarei, e vendo seu


olhar de perplexidade, expliquei: —Você pode imaginar minha
confusão já que você trabalha para mim!

—Há chuveiros aqui, — disse ela.

—Sim, — Concordei.

E havia. Agradáveis chuvas no banheiro, que se


tornavam mais agradáveis quando Noc me levou ao dele e
tomamos banho juntos.

—E você gosta de fazer sua própria pintura facial, quero


dizer... erm, maquiagem.

—Sim.
—Eles têm máquinas de lavar roupas. E ferros que
ficam quentes, ligando-os na parede. Você não tem que
colocá-los no fogo para aquecer.

Não sabia nada disso, realmente, neste ou no meu


próprio mundo.

Noc nos mostrou como fazer algumas coisas, é claro,


tentando nos ambientalizar com tantas quanto fosse possível
antes que fosse para o trabalho (o que aconteceria na
segunda-feira, faltavam dois dias, algo que não esperava
ansiosa, porque iria tirá-lo de mim).

Ele foi bastante diligente neste esforço, na esperança de


que pudéssemos ficar por conta própria.

Mas obviamente, considerando o assunto, prestei pouca


atenção.

—Isso não explica nada, Jo. — Informei-a.

—Frannie. — Ela inclinou o quadril contra a pia de Noc.


—Nós estamos ficando aqui, não estamos? Neste mundo?

—Sim, a menos que você não queira permanecer. —


Respondi hesitante.

—Eu quero ficar. — Outro sorriso. —Gosto daqui. Mas


eventualmente você fará negócios com Valentine. E também
estará com o Noc. E eu estarei...

—Comigo. — Terminei por ela.

Ela se aproximou um pouco e sua expressão tornou-se


suave.
—Frannie, o que estou tentando dizer é que aqui, quase
tudo é muito mais fácil. Não leva quase nada de tempo para
fazer as coisas que faço por você. Não posso ficar sentada o
dia todo, brincando no meu telefone, assistindo à televisão e
esperando que o Glover me mande mensagens, quando posso
cuidar de suas roupas apenas uma vez por semana e fazer
isso em algumas horas, e ainda posso arrumar seus cabelos
em alguns minutos!

Ela tinha um ponto.

—E as pessoas têm emprego aqui, empregos... —


Continuou. —Mesmo as pessoas ricas na televisão têm
emprego.

—Você tem um emprego. — Lembrei-a.

—Eu sei, mas as únicas pessoas que conheço são você e


Noc, Circe, um pouco, e Valentine, e realmente não a conheço
muito bem. Se for para a escola de beleza, vou fazer amigos.
Se conseguir um emprego, vou conhecer pessoas.

Ela tinha um ponto sobre isso também.

—Então... — Completou. —... quando aprender a dirigir


e puder me locomover por conta própria, vou para a escola de
beleza e arrumarei cabelos como emprego. Vou continuar
cuidando de você, é claro! — Apressou-se em acrescentar. —
Mas então, uma vez que começar a ganhar o dinheiro deste
mundo, poderei conseguir meu próprio lugar para morar e...

Ela estava fazendo excelentes pontos.


No entanto, este último alarmou-me o suficiente fazendo
minha voz subir quando a interrompi com: —O seu próprio o
quê?

—Meu próprio lugar para morar.

Ergui minhas sobrancelhas. —E por que você precisaria


disso?

Ela abriu a boca para falar, mas foi interrompida por


uma voz:

—Tudo bem aqui?

Virei-me para ver Noc na porta do banheiro. Estava


usando outro terno. E parecia descaradamente bonito.

Direi isso a ele mais tarde.

E também vou reagir mais tarde à maneira como seu


olhar fixou-se no adorável, feminino, fluido e elegante, mas
um pouco revelador (devido ao decote em V até a cintura)
vestido vermelho que eu usava.

Agora, havia outras coisas para atender.

—Josette quer ir à escola de beleza, para conseguir


emprego arrumando o cabelo de outras pessoas, fazendo isso
para ganhar a vida com o objetivo de finalmente encontrar
sua própria casa. — Declarei rapidamente, como se estivesse
dizendo: ―Josette quer fazer um ataque violento, assassinando
dezenas de pessoas em nome de Meer, nosso deus da guerra‖.

Parecia ser um esforço físico Noc tirar seus olhos do


meu vestido. Eles mudaram-se brevemente para Josette
antes de retornar para mim.
—Baby, respire fundo e pense cinco segundos sobre o
que você está falando. — Insistiu calmamente, continuando:
—E enquanto faz isso, pense em quantas pessoas em seu
mundo conseguem escolher os trabalhos que querem fazer,
recebendo bem o suficiente para poderem pagar lugares para
chamarem de seu.

Não precisava de cinco segundos para pensar sobre isso.


Não tinha ideia de quantas pessoas no meu mundo que eram
capazes de fazer isso. E não me importei.

Sabia que Josette queria isso. Eu queria isso para ela.

Ela estava dizendo que queria isso.

Respirei e fiquei olhando-a.

—Bem, você pode fazer isso, mas faça sabendo que,


quando você me deixar, se algo acontecer que não gostar, por
exemplo, você começar a se sentir sozinha, você sempre terá
um lar comigo. — Declarei.

Seu lábio superior começou a tremer.

—Não chore. — Avisei, sentindo meu próprio nariz


ardendo.

As palavras tremiam quando ela disse: —Não vou.

Noc interrompeu nosso momento.

—Certo, antes que as duas arruínem a maquiagem, o


que significa que vão ter que limpar e começar tudo de novo,
podemos dar o fora daqui e ir para este fodido jantar?

Voltei-me para ele enquanto Josette dizia: —Estou


pronta. Só preciso pegar minha bolsa.
Ela saiu do banheiro enquanto eu observava a
expressão de Noc.

Esta noite era nosso jantar com Dax Lahn e a diretora


da organização que ele apoiava.

Um jantar que eu organizei ao qual Circe também


participaria.

Ela era uma convidada, no entanto, não sabia que Dax


estaria lá.

Sabia que Noc não via esta noite com alegria.

Agora, estudando-o, vi que realmente estava inseguro.

Aproximei-me, erguendo uma mão e colocando-a em seu


peito, acariciando-o levemente.

—Não precisa ir. — Disse suavemente.

—Já tivemos esta discussão. — Ele respondeu.

—Tivemos, mas Josette e eu podemos facilmente pegar


um táxi.

Noc balançou a cabeça, sua mandíbula ficando dura. —


Você não vai sentar em uma mesa com este cara Selvagem,
sem mim sentado ao seu lado.

Meu Noctorno.

Tão protetor.

—Eu não o conheço. — Continuou. —Isso significa que


não confio nele. E isso significa que você, Jo ou Circe não
estarão sentadas em uma mesa com ele, a menos que eu
esteja lá. E como todas vocês estarão lá, também estarei lá!
Oh, meu Noctorno!

Tão protetor de todos aqueles que tinham um lugar em


seu coração.

Sorri para ele.

—Baby, com este vestido, este sorriso, seu perfume, sua


mão em mim, com o conhecimento que posso ir direto ao seu
mamilo, simplesmente deslizando uma mão dentro dessa
fenda, porque posso ver que não está usando sutiã, aviso
antecipadamente que, se quiser ir a este jantar hoje à noite,
irá buscar sua bolsa também. Se não fizer isso, e rápido, irei
dobrá-la sobre a pia, Jo irá se estressar e vamos chegar
muito atrasados a essa porcaria de jantar. — Rosnou.

Senti um formigamento agradável enquanto minhas


pálpebras baixavam e mudava meu sorriso, mas, sabiamente,
afastei-me entrando no quarto onde minha bolsa estava sobre
a cama.

Fiz isso decidindo compartilhar com ele que gostaria


muito de participar da atividade com a qual ele me ameaçou.

No entanto, faria isso mais tarde também.

Estava certificando-me de ter tudo o que precisava,


fechando a tampa com firmeza e colocando o brilho labial,
que ainda segurava, num bolso lateral da pequena bolsa,
quando Noc falou novamente.

Olhei para ele e vi que se virou e encostou o ombro no


batente da porta, me observando.

—Você quer me dizer por que Valentine desapareceu?


Queria.

No entanto, não fiz.

—Ela está cuidando de seus negócios, Noc. Esteve no


meu velho mundo treinando-me por um tempo. Agora em seu
mundo, há muito que precisa cuidar.

Não era uma mentira completa, pois Valentine me disse


o mesmo.

Vi o olhar de Noc se tornar penetrante.

—Só para constar, linda... —Começou num tom baixo.


—... sempre que estiver mantendo algo de mim, não importa
o que, é melhor ter uma razão realmente muito boa para isso.

—Ela perdeu seu amante. — Sussurrei.

Vi o corpo de Noc ficar alerta quando disse: —Foda-se.


Rompimento? Ou ... desaparecido?

—Não acredito que esteja desaparecido, perdido. —


Respondi. —Apenas perdido para ela. O que a deixou muito
infeliz.

Isso, ele não parecia acreditar. —Valentine? Infeliz?

Balancei a cabeça.

—Porra. — Repetiu, mais silencioso dessa vez.

—Eu... bem... as mulheres tendem a...

Noc sacudiu a cabeça, afastando-se do batente e vindo


em minha direção. —Não fale mais nada, Frannie. — Disse,
colocando uma mão na minha cintura. —Você cuida de sua
garota. Não preciso saber o que ela anda fazendo. Em outras
palavras, você lidando com a situação por conta própria é
uma razão muito boa.

Ele entendeu.

E eu adorava isso.

Sorri novamente.

Noc olhou para meu sorriso, em seguida, abaixou a


cabeça e colocou os lábios sobre os meus.

Quando se afastou, perguntou: —Está pronta?

—Estou pronta a vários dias, querido. — Inclinei minha


cabeça para o lado. —E você?

Deu um leve encolher de ombros, afastou-se, mas


agarrou minha mão e puxando-me pela porta dizendo: —Tão
pronto quanto posso estar.

Pegamos Josette.

Noc ajudou-nos a entrar em seu SUV (visto que Josette


também estava usando saltos esta noite e ela realmente
precisava de sua ajuda, pois não tinha tanta prática quanto
eu).

Então nos levou para o restaurante onde Dax Lahn


encontraria sua Circe.

Sentei-me principalmente em silêncio enquanto


rodávamos, ouvindo com meia atenção o tagarelar de Josette
e as respostas distraídas de Noc.

Estava assim porque antecipava com impaciência o que


estava por vir e lutava para frear essa mesma impaciência.
Não havia nada melhor do que ver seus planos
cuidadosamente planejados serem postos em pratica!

Em outras palavras, mal podia esperar.

***

Quando fui em direção ao assento no bar, Noc


puxou uma cadeira para mim.

Após as bebidas, explicamos para Dax que minha


generosa doação seria anonimamente encaminhada para a ─
First Mother House ─ na próxima semana

Quando Patricia chegasse, um cheque de cinquenta mil


dólares, Noc me ensinou a preencher, que pesava em minha
bolsa, seria entregue a ela.

Tudo parecia estar indo bem.

Dax estava sendo amigável e respeitoso.

E depois de alguns momentos tensos, Noc e Dax


pareceram estabelecer uma trégua hesitante.

Não estava certa se Dax o conquistou e ganhou


finalmente sua confiança com seu jeito, mas Noc não mais o
olhava com a mesma intensidade. Isso era algo que Dax, a
princípio, parecia tomar como certo (provavelmente porque
esperava que tivesse compartilhado a estranheza de nosso
primeiro encontro com Noc, e Noc reagiria a isso). Quando
sua atenciosa conversa comigo e Josette não diminuiu o foco
de Noc, isso fez com que o estado de alerta de Dax
aumentasse até que a pura masculinidade flutuando em
torno de nós parecesse que me sufocaria.

Josette fez muito bem em esconder (de todos, menos de


mim, então, novamente, nenhum dos dois estava prestando
muita atenção nela, considerando que estavam no jogo de
encarar), mas vi que Jo achava isso divertido.

Eu não.

Embora achasse atraente essa atitude de ambos,


especialmente da parte de Noc, sabendo o porquê dele estar
se comportando desta maneira, e o esforço que fazia para se
conter.

Felizmente, Patricia chegou, nós a conhecemos. Era


adorável. Sua adição ao nosso grupo significou que os
homens se viram forçados a agir civilizadamente em torno um
do outro.

E pouco depois nos disseram que nossa mesa estava


pronta.

O problema era que Circe ainda não tinha chegado e ela


deveria ter feito isso dez minutos atrás.

Sentei-me, inclinando minha cabeça para trás e olhando


Noc, que estava de pé atrás de mim com a mão na cadeira.

—Acho que talvez precise enviar uma mensagem para


alguém, querido. —Murmurei.

—Deixe isso. — Respondeu.

—Noc...

Se inclinou para mim.


—Circe tem uma bola de cristal também? — Perguntou
com uma voz que só eu poderia ouvir.

Oh, merda.

Será que ela examinaria isso nos vendo, ou onde


estaríamos jantando para saber o que deveria vestir (algo que
eu faria), ou por qualquer outro motivo, então, veria Dax e
decidiu não vir?

—Talvez, — respondi.

—Então deixe isso. — Repetiu Noc. —Se ela descobriu o


que você está fazendo, iremos resolver isso mais tarde. Agora
estou com fome. Quero comer. Quero que esta noite termine.
E quero você neste vestido na minha casa, só você e eu.

Apertei os lábios.

Tocou minha mandíbula, se afastou, empurrou minha


cadeira para a mesa e então sentou ao meu lado.

Coloquei minha bolsa na mesa, observando que,


enquanto Noc e eu falávamos, Dax ajudara Josette e Patricia
a sentar-se. Agora ele estava nos observando atentamente.

Quando seu olhar finalmente estabeleceu-se em mim,


ele não parecia alerta e sintonizado com qualquer ação do
outro alfa nas proximidades.

Seu olhar era amável e quente, comunicando claramente


que estava satisfeito que encontrasse alguém tão protetor,
depois de tudo que assumiu que eu sofri.

Olhando para ele, dei-lhe um pequeno sorriso,


escondendo o triunfo que senti por dentro, pois Dax seria
perfeito para Circe, ao mesmo tempo em que escondia um
pensamento muito mais irritado.

Que era... onde diabos estava Circe?

—Parece que temos uma cadeira extra. —Observou


Patricia.

—Sim, temos. — Confirmou Josette rapidamente. —


Esqueci de mencionar, mas convidamos uma amiga. Espero
que você não se importe. Pensamos que ela, talvez, pudesse
se interessar no trabalho que você faz.

Patricia sorriu para Josette. —Não me importo. Se


pudesse, gritaria dos telhados sobre a First Mother House.

Ouvindo seu entusiasmo, sorri para ela


indulgentemente.

Então senti algo. Algo repentino e feroz. Isso me fez


desviar os olhos de Patricia e olhar para Dax.

Quando fiz, senti meu interior apertar.

—Merda, porra. — Noc murmurou em voz baixa.

Ele sentiu isso também.

Ou viu.

Ou ambos.

Dax estava abrindo o menu.

Mas não estava mais nesse processo.

Na verdade, acho que não estava consciente de estar


com cardápio nas mãos.
Na verdade, não acredito sequer que ele soubesse que
estava sentado em uma mesa de um restaurante jantando
com outras pessoas.

Seus olhos estavam trancados em um ponto do outro


lado do salão.

E sua expressão era...

Bem, era...

Selvagem.

Senti outra sensação quando virei e vi onde seu olhar se


fixava.

E quando o fiz, quase gemi em voz alta pela alegria.

Circe usava um vestido champanhe com uma saia em


camadas feita de um extraordinário tecido, um incomum
corpete bordado e alças com tiras muito finas. Era delicado,
chique, mas provocante.

E, obviamente, caro.

Alguém estava usando bem seu tesouro e não era só eu.

Seu cabelo estava solto em uma bagunça sexy de cachos


que caíam sobre seus ombros e até mesmo em seu rosto.

O que ela via, enquanto caminhava para nossa mesa,


tirando o cabelo dos olhos de uma maneira que eu vi várias
vezes no que Noc explicou ser ―comerciais‖ na tv, onde
mulheres falavam sobre produtos de cabelo?

Sua maquiagem brilhava com uma beleza de bronze-


pêssego aveludada.
Ela estava divina.

Ou seja, estava divina até tirar os cabelos do rosto,


baixando a mão, vendo nossa mesa dando um sorriso e,
obviamente então, notando um membro em particular do
nosso grupo.

Assim, tropeçou.

De uma maneira ruim.

A bolsa saiu voando, a outra mão caiu para encontrar


algo em que segurar-se parando no ombro de um homem
idoso sentado em uma mesa próxima.

Ele gritou surpreso enquanto amparava parte de seu


peso.

Noc grunhiu: —Merda, porra! — E senti seus


movimentos.

Olhei e vi que estava empurrando a cadeira para trás,


preparando-se para ir ao auxílio de Circe.

Mas estava muito atrasado.

Dax já estava de pé andando em direção a ela.

Ele nem sabia que ela estava vindo para nossa mesa.

Olhei para Josette.

Ela sentiu meu olhar e correspondeu.

Sorri.

Ela soltou uma risadinha.

—Você está bem?


Com o ruído, minha atenção retornou a poucos metros
de distância, onde Dax tinha uma mão (agora desnecessária)
na cintura de Circe, a estabilizando, e a outra segurava sua
bolsa, que claramente recolheu no caminho.

Circe tinha a cabeça inclinada para trás, olhando para


ele, com os olhos arregalados e lábios entreabertos, pegando
sua bolsa e fazendo isso como se estivesse com a mão
melada.

Encantador.

No entanto, sob seus cuidados, Dax interpretou mal sua


expressão, se aproximou protetoramente, baixou a cabeça e
olhou preocupado para seus pés, perguntando: —Você torceu
o tornozelo? Está machucada?

Circe permaneceu muda olhando para ele.

Ele voltou a olhar para ela.

—Precisa de um pouco de gelo? — Perguntou.

Ela ficou em silêncio, olhando para ele.

Então, de repente, pareceu ficar visivelmente tonta, seu


torso balançando graciosamente (como se estivesse bêbada) e,
a fim de não despencar a seus pés, levantou a mão e pousou-
a em seu bíceps.

Ao seu toque, ambos congelaram.

Na verdade, parecia que o resto da sala congelava.

Eu segurei a respiração.

Eles olharam um para o outro.


Circe começou a balançar novamente.

Desta vez…

Para frente.

Senti meus lábios se curvarem no que eu sabia que era


alegria não disfarçada.

Eu quase não ouvi Dax.

Mas ouvi.

—Querida. — Sussurrou, uma doçura provocante


naquela voz profunda, sem dúvida um homem que conhecia
seu efeito sobre as mulheres, e naquele momento, com toda
certeza, estava satisfeito por ter tal efeito sobre Circe. —Você
precisa responder.

—Você... — Circe parou, mas começou de novo. —Você


é…

Não tirando a mão de sua cintura, Dax levantou a outra


no espaço (mínimo) entre eles, uma oferta para ela o
cumprimentar.

—Dax Lahn. — Se apresentou na hora exata que ela


respirava.

—Meu.

Vi seus ombros muito largos enrijecerem-se com


surpresa perante sua afirmação.

Então vi a cor escorrer do rosto dela.


—Merda, porra, foda! — Noc murmurou, a proximidade
de sua voz me dizendo que estava parado atrás da minha
cadeira.

—Desculpe, — disse Circe, balançando novamente.

Dessa vez recuando.

Droga!

—Eeh... Sinto muito. Mil desculpas. — Falou, suas


bochechas agora flamejantes.

Afastando-se apressada de Dax, olhou para a nossa


mesa, em seguida virou sua elegante sandália de cor
champanhe, de saltos altos, e correu graciosamente (graças a
Deusa Adele, sem tropeços ou, pior, quedas) para fora do
restaurante.

Droga!

Rapidamente empurrei minha cadeira, cuidando para


não bater em Noc, que ainda se encontrava parado atrás de
mim, me levantei e corri atrás dela.

—Frannie! — Noc chamou com urgência.

—Você a conhece? — Perguntou Dax enquanto passava


por ele.

Continuei correndo mesmo quando olhei por cima do


ombro e assegurei: —Me deem apenas um momento. Nós
voltaremos.

Com uma rápida olhada para Noc, e vendo sua


expressão naquele escasso segundo, tive a sensação de que
ele também poderia oferecer palmadas por outras razões.
No momento não podia pensar nisso.

Tinha que chegar a Circe, acalmá-la e depois levá-la à


nossa mesa, acalmar as coisas e fazer o que claramente seria
um trabalho mínimo de cupido.

Atravessei a área de estar, o bar, a recepção e a porta da


frente.

Olhei para a direita.

Nada de Circe.

Quando olhei para a esquerda a vi se afastando com


impaciência enquanto chamava o mesmo rapaz de camisa
branca e calça preta que levou o SUV de Noc quando
chegamos (segundo a explicação de Noc: o rapaz era um
―manobrista‖).

—Por favor, apresse-se! — A ouvi exclamar. —É uma


emergência!

Porcaria!

—Circe. — Chamei.

Ela olhou para mim, depois para trás de mim com


medo, então para mim novamente, tudo num piscar de olhos.

Então seu rosto bonito endureceu.

Me apressei para ela (tanto quanto me permiti, era


indigno de uma dama fazer isso, então não corri, digamos,
visivelmente) estava a três metros de distância quando ela
levantou uma mão, apontou um dedo para o restaurante e
acusou: —Isso é o que a Valentine fazia e posso ver que ela te
enrolou também.
Parei de andar e comecei a falar: —Circe, nós...

Ela se inclinou para mim, apontando a mão novamente


para o prédio, e sibilou: —Eu me fiz de tola lá.

Ah!

Essa era a sua preocupação.

Sorri para ela. —Absolutamente não! Você não poderia


ter feito uma entrada mais eficaz se tivéssemos praticado!

Ela inclinou-se para trás, seu rosto ainda inflexível.

—Sim. No entanto, não praticamos porque eu não tinha


ideia no que EU estava me metendo!

—Bem, acho que foi melhor assim. — Compartilhei


como se fosse um professor instruindo um aluno.

—Você acha? — Perguntou, mas não queria uma


resposta, pois imediatamente respondeu. —Bem, pois eu não
acho!

Eu não entendi.

—Ele está claramente atraído por você. — Observei. —E


está assim, mesmo com você mal falando uma palavra.

—Ocorreu a você que talvez eu não queira que ele esteja


atraído por mim? —Perguntou.

Que absurdo!

Testemunhei o que aconteceu lá dentro.

Ela sentiu.

—Circe, você pode tentar convencer-se de...


Só consegui dizer isso e parei de falar, pois ela me
interrompeu.

—Não! Não ocorreu a você, ou a Valentine! Se tivesse,


você não teria orquestrado o desastre que acabei de atuar.

Foi então que comecei a sentir uma sensação de


desconforto no estômago.

—Querida, isso não foi um desastre. Foi...

—Humilhante! —Ela cuspiu.

Percebi a emoção em seu tom, então, dei um passo à


frente, levantando a mão.

—Por favor, deixe-me explicar...

Ela não me permitiu terminar.

—Nenhuma explicação é necessária. — Cortou, olhando


acima do meu ombro seu rosto mudando de um jeito que me
atingiu profundamente. —Você sabia? —Perguntou, a voz não
mais zangada, mas quebrada.

Ah, não.

—Circe, — disse Noc gentilmente.

—Você sabia. — Ela sussurrou, a expressão em seu


rosto agora de uma mulher traída.

Puta merda.

Mantendo meu foco em Circe e não olhando para Noc,


que senti agora nas minhas costas, eu gesticulei com minha
mão ainda levantada, afirmando rapidamente: —Ele tentou
me convencer a desistir.
Sua atenção voltou para mim, escondendo a dor e sua
expressão machucada. —Claro que sim. Ele não é esse tipo
de homem. Mas você é esse tipo de mulher, não é?

O ataque verbal veio tão inesperado que eu não consegui


me impedir de reagir fisicamente, quase como se fosse
esbofeteada.

—Circe. — Seu nome nos lábios de Noc agora veio como


um grunhido.

Um decepcionado.

E um alerta.

Ela olhou para ele. —Ela é! — Afirmou. —E você deve


saber disso. — Olhou novamente para mim. —Eu sei tudo
sobre você. Baldur costumava falar sobre como ele a achava
magnífica! Sempre que te mencionava, parecia estar meio
apaixonado por você.

Não era um elogio.

Longe disso.

E a ideia do Rei Baldur, o Desprezível-mas-agora-


felizmente-morto me achando magnífica virou meu estômago
com náuseas.

—Vejo que o que você pensa que aconteceu lá dentro


não foi realmente o que aconteceu, — Noc observou. — visto
que Lahn está rondando o vestíbulo como um animal
enjaulado, procurando qualquer desculpa para marchar para
fora e verificá-la.
Sua palidez espalhou-se instantaneamente enquanto
seus olhos se dirigiam para as portas do restaurante.

Esta não era a coisa certa a dizer.

Eu me aproximei dela e imediatamente tentei acalmar


seus medos. —Ele não virá pra fora, Circe, pois Noc irá até
ele. — Olhei para o aludido, sugerindo. —E agora pode ser
um bom momento para fazer isso, querido.

—Não, porra. — Negou-se

—Ficarei bem. — Assegurei-lhe.

—Você sempre fica. — Circe cortou. — Fazendo estragos


com todos e então seguindo alegremente seu caminho.

Olhei para ela.

—Minha intenção para esta noite foi... — Comecei a


explicar.

—Seu costume habitual, — ela interveio. —Malícia.


Maldade. Brincando com as pessoas apenas por esporte.

Sem me dá conta, com a força de seu desgosto, retrocedi


para trás e encostei em Noc.

Sua mão caiu quente e reconfortante na minha cintura.

Não me senti tranquila.

—Seu carro, senhora —disse o criado.

Circe virou-se para ele e não hesitou em marchar para o


carro, onde outro homem, jovem e negro, usando a mesma
camisa branca e calças prestas, estava segurando a porta
aberta.
—Circe, deixe-me levá-la para casa — Noc pediu. —Você
está chateada. Vou levá-la em segurança para casa e
poderemos conversar. — Sua voz baixou e seus dedos sobre
mim apertaram quando ele disse. —E chamaremos um táxi
para você e Josette.

—Absolutamente não. — Circe recusou, balançando em


torno da porta aberta de seu carro.

—Não é inteligente dirigir em seu estado, — disse Noc.

—Então morro em um acidente de trânsito, se isso me


afastar dela. —Retrucou, sacudindo a gloriosa cabeleira para
mim, antes de entrar em seu carro e bater a porta.

Noc puxou-me para fora do caminho, mesmo que


estivéssemos a uma distância segura, para não mencionar
sobre a calçada, quando ela rapidamente ligou seu veículo e
saiu cantando pneus.

Fiquei olhando seu carro desaparecer.

—Você quer me dizer o que diabos está acontecendo? —


A voz irritada de Dax intrometeu-se.

Ainda não recuperada da briga com Circe, não me sentia


com forças para enfrentá-lo.

Embora, não tivesse escolha senão enfrentá-lo e à sua


irritação.

Noc virou-se comigo.

E oh, sim!

Dax estava puto.


Oh, meu!

—Não preciso de um leitor de mente para ver que ela


estava perturbada e você a deixou entrar em seu carro e ir
embora? — Dax perguntou a Noc com incredulidade e mais
do que um pouco hostil.

—Ela não estava com disposição para esfriar a cabeça.


— Noc retrucou, mordazmente. —E agora tenho que pegar
minhas meninas, meu carro e ir atrás dela para ter certeza de
que chegou bem em casa.

—Sim, faça isso, mas fique sabendo que vou querer uma
explicação sobre porquê sinto que acabei de ser julgado e
coisa pior, — ele ergueu um longo braço e apontou o dedo
grosso na direção onde Circe fugiu, — por ela.

—Foda, merda, porra! —Noc praguejou.

—Você está aqui parado, ficando irritado, e não se


certificando de que ela chegue em casa ok. — Dax informou
com impaciência.

—Vá buscar Josette. — Noc ordenou.

Ah não!

Eu olhei para ele. —Acho que prefiro não deixar vocês


dois sozinhos.

—Vá buscar Jo, Frannie.

E deixar o homem que amo ser despedaçado por um


selvagem na frente de um elegante restaurante desse mundo
(ou, Dax poderia tentar, Noc provavelmente se defenderia
muito bem, mas, ainda assim, ambos poderiam se machucar
no processo)?

Categoricamente…

Não.

Olhei para ele e não me movi.

Noc rosnou, sem palavras, apenas o barulho.

Foi quente.

Mas o olhar em seu rosto mostrava que minha


desobediência teria retorno.

Voltou-se para Dax.

—Circe é nossa amiga. Frannie conheceu você. Gostou


do seu jeito. Também te achei aceitável e gostei ainda mais de
seu envolvimento com a First Mother House. Não direi mais
nada sobre isso, mas acho que sendo um cara esperto,
poderá colocar dois e dois juntos e entender por que Frannie
orquestrou esse encontro entre vocês, ao mesmo tempo que
entenderia porque Circe reagiu tão forte a isso, especialmente
quando está claro que ela gostou do que viu.

—Você está... merda... me sacaneando?

Quando um rosnado sinistro veio de Dax, dei um passo


para trás, as mãos em Noc para fazê-lo andar para trás
comigo, mas ele não se mexeu.

—Então agora sabendo do que se trata, — Noc


continuou, —iremos resolver isso. Pode me dizer o quanto
está chateado depois que nomear seu primeiro filho com meu
nome. — Declarou com audácia e novamente olhou para
mim. —Agora, Baby, — disse abaixando o rosto —vá...
pegar... a Jo.

Seu tom não deixava margem para nenhuma outra


resposta, senão a que lhe dei.

—Vou pegar a Jo.

Ele se endireitou.

Fui cumprir minha tarefa tentando não aparentar que


estivesse com pressa, embora estava.

Quando passei por Dax (não muito perto, claro, pois não
sou tola), lembrei de algo e parei.

Lentamente, ele deixou de fazer carranca para Noc e


virou a testa franzida para mim.

—Circe é a coisa mais delicada que terá nas mãos. —


Avisei. —Você vai conquistá-la. Ela irá recompensá-lo pelo
esforço. Mas grave minhas palavras, se você alguma vez a
machucar, irei te aniquilar.

Ele não parecia feroz. Se outra coisa, aparentava


espantado.

Provavelmente não era acostumado a ser ameaçado.

E não me detive com o fato absurdo de que, até


atordoado, Dax Lahn era imensamente atraente.

Assim apressei-me sem parecer me apressar para


buscar Jo.

***
Subi a escada de Valentine com meus saltos vermelhos.

—Frannie, —disse Noc atrás de mim.

Não respondi nem diminui meu passo.

Continuei subindo os degraus.

—Maldição, Franka, — Noc exclamou.

Cheguei ao piso superior e entrei furiosa no


apartamento de Valentine.

Depois que peguei Jo no restaurante, fomos para a casa


de Circe. Então, mesmo vendo as luzes acesas através das
janelas, fomos até seu apartamento, e assim verificar se ela
estava realmente bem, mas quando Noc bateu na porta, uma
onda de magia explodiu, com uma chama dourada que não
causou nenhum dano à porta, mas soprou uma onda de calor
em nossa direção deixando claro que Circe não nos queria ali.

Então fomos embora.

O caminho para casa foi em silêncio.

Noc pegou a chave da casa de Valentine e nos levou até


a porta sem dizer uma palavra.

Entrei no apartamento rápida e silenciosamente.

Liguei o interruptor e uma charmosa lâmpada de vidro


verde-jade acendeu na mesa que apoiava a bola de cristal.

Fui diretamente para ela e toquei com minha mão sua


superfície fria.
Banhada de magia, mas sendo tocada pela minha, com
uma explosão impressionante formou uma fumaça verde-
azulada por dentro.

—Franka, — disse Noc da porta.

—Valentine. —Bati na bola. —Venha. Agora!

Toquei o cristal novamente sentindo a onda de poder


lavar sobre a minha pele, a emoção inchando em meu peito,
mal contendo a culpa dentro de mim.

Uma onda de fumaça na cor ciano soprou da esfera.

Minha magia estava ganhando.

Se alguém tocasse meu cristal e o enchesse com sua


magia, eu perderia a cabeça.

Esperava que Valentine sentisse o mesmo.

—Valentine. —Murmurei. —Venha até mim. Agora.

—Frannie, querida. — Noc disse soando próximo e com


a voz mais calma.

Olhei para ele e não fiquei surpresa ao ver todo o quarto


colorido de azul.

—Minha magia, neste momento, não está sob meu


controle, portanto, seria mais seguro se você saísse. — Avisei.

—Baby, você precisa se acalmar. — Respondeu.

—Sim, realmente precisa. — Valentine declarou e ambos


olhamos para ver de onde vinha o som.

Ela chegou e no minuto em que a vi, levantou a mão,


acenou despreocupadamente, e o azul desapareceu, assim
como a fumaça esmeralda residual que anunciou sua
chegada.

—Você também precisa explicar por que interrompeu o


que eu estava fazendo e praticamente arrancou-me de lá. —
Exigiu com raiva. —Me chamar em um plano astral é uma
coisa, Franka. Arrastar meu corpo é outra.

Agora isso foi um choque. Não fazia ideia que tivesse


poder para tal, muito menos usá-lo em uma bruxa que
possuía poder tão impressionante quanto Valentine.

Me abstive de comentar sobre isso.

—Orquestrei um encontro entre Dax e Circe esta noite.


— Informei.

Ela cruzou os braços. —Sim, estou ciente disso. Senti


uma perturbação na força.

Noc fez um movimento agitado do meu lado, mas


eu estava concentrada em sua falta de respeito (e não entendi
o quão irreverente foi até que ele me explicou, fazendo-me
assistir a um filme fantástico, e bastante excelente,
sabiamente fazendo isso algum tempo depois).

—Pensei que fosse talentosa com intrigas. — Valentine


comentou.

—E eu pensei que tinha uma parceira nesta intriga em


particular. — Retruquei

Seu rosto se fechou.

—Você sabe que não estou disponível para este tipo de


projeto no momento.
—E agora estou bem ciente de que tramar esquemas
neste mundo pode acabar com uma mulher dirigindo um
veículo, enquanto está excessivamente nervosa. Fazendo isso
em vez de correr para um trenó ou carruagem na pior das
hipóteses, ou desmoronando num sofá onde poderá derramar
seu drama, neste caso, sendo compreensível já que ela se
sente traída, sem colocar sua vida em risco no volante de um
carro.

Foi então que vi a verdadeira Valentine quando pareceu


ser atingida pelo momento, antes de se camuflar
rapidamente.

—Talvez devêssemos deixar a poeira baixar antes de


tentar reuni-los novamente. — Sugeriu.

—Absolutamente não! — Retruquei, balançando a


cabeça e dando um passo em sua direção. —Os dados foram
lançados. Você não estava lá. A agitação que sentiu poderia
não ser pelo fato dela estar chateada com nossa suposta
traição, mas sim o momento em que bateu os olhos em Dax
Lahn. Ou pode ter sido o momento em que ele a tocou. Ou
ainda quando ―ela‖ o tocou. Enfim, antes que ela
desmoronasse e corresse dramaticamente do restaurante
lotado. Ah, e isso aconteceu depois dela olhá-lo e quase cair
em seus braços! Tudo isso, aliás, ao longo de
aproximadamente meros trinta segundos!

—Parece que você é talentosa para intrigas, —


murmurou Valentine com admiração.

Bem!
Era seguro dizer que sou, bastante.

Dei outro passo em sua direção, fazendo com que Noc


passasse um braço ao meu redor e me puxasse para ele,
forçando minha parada.

—Tão difícil como a estrada a nossa frente é, incluindo


Circe, devemos continuar antes que ela use a desolação de
seu passado para endurecer o coração contra um futuro
promissor. — Expliquei.

—Entendo seu ponto de vista. — Foi a única resposta


que Valentine deu.

—Valentine, diria que preciso de você, mas, no entanto,


não seria verdade. Quem precisa, é Circe. — Exclamei. —
Estou ciente de que não é o melhor momento, mas tenho
medo, minha irmã, você precisa ver além de sua própria
tristeza, para tirar nossa outra irmã da dela.

Vi sua boca apertar e soube que era por eu ter


mencionado sua tristeza enquanto Noc estava na sala. Sabia
que era uma mulher reservada. E a possibilidade de Noc
conhecer sua situação atual não era bem-vinda.

Mas não podia me preocupar com isso. Ela aguentaria.

Circe, no entanto, teve o suficiente para durar uma vida


inteira.

—Valentine, o que está acontecendo com você não é da


minha conta, respeito isso, mas precisa saber que Frannie
está certa. — Noc felizmente entrou na conversa. —O que
aconteceu esta noite foi brilhante e um completo desastre. Se
não agirmos enquanto ainda está quente, Dax a perderá. E
posso te dizer agora que certamente está levando todo o
controle que este homem tem, para convencer a si mesmo de
não colocar seus investigadores na cola dela. E de fato
quando encontrá-la, arrastá-la para sua casa de praia ou
condomínio na montanha, ou a coisa mais remota que esse
cara possa ter, para que ela não fuja e, em seguida,
convencê-la que é a única pessoa que não tem a menor ideia
do que ele está disposto a fazer por ela. Isto é, se ele ainda
não chamou seus investigadores.

Nisso a verdadeira Valentine fez outra aparição.

—Merde. — Sussurrou.

Finalmente.

Estávamos chegando até ela.

—E, apenas dizendo, — Noc continuou, —ele tenta esta


merda, e você terá que arrumar um monte de explicações
para quando Circe explodir a porta em chamas mágicas para
afastá-lo. O coitado irá achar que seu desejo pela mulher o
enlouqueceu a ponto de ver coisas, como portas estourando
em chamas, mas não pegando fogo, e com certeza irá embora
rapidinho.

—Merde! —Valentine disse mais alto.

Excelente.

Conseguimos convencê-la.

—Acho melhor neste momento deixar Circe sozinha. —


Declarei. —Pelo menos por esta noite. Não podemos deixá-la
recuar, mas temos de permitir-lhe lamber suas feridas. No
entanto, você precisa verificar o Dax. Ele tem que ser
controlado. No caso de não ter entendido tudo o que falamos,
dizer que ele está na dela, com os olhos grudados nela, é um
eufemismo. Não sei o que Lahn sentiu quando viu sua futura
rainha dourada andando naquele horrível desfile. Mas agora
posso dizer que não me surpreende tê-la perseguido em seu
cavalo, e a reivindicado nas rochas de Korwahk antes mesmo
que uma única palavra fosse dita!

—Vou cuidar de Dax. — Valentine prometeu. —


Conversaremos com calma amanhã.

Senti meu corpo relaxar e respondi: —Obrigada.

—E direi algo mais, Franka. —Afirmou em um tom


severo. —Deve ter cuidado em como você exerce seu poder.
Permitir que suas emoções o controlem, em vez de sua mente,
pode ter consequências catastróficas. Já disse isso antes. Não
voltarei a dizer novamente.

Não tive nenhuma resposta a isso porque seu conselho


era verdadeiro.

—Está tudo, erm, bem aí em cima? — Josette chamou e


o som de sua voz me disse que ela provavelmente estava no
pé da escada.

—Tudo bem, Jo. — Noc respondeu. — Desceremos em


um minuto.

—Certo. — Ela gritou.


Olhei quando Valentine começou a desaparecer em uma
fumaça verde.

—Valentine. — Exclamei, sentindo que ainda não


tínhamos terminado.

—Vou procurar Dax. Nos vemos amanhã. — Ela disse e


desapareceu.

—Maldição, essa mulher é irritante. — Resmunguei.

—Baby.

Olhei ainda por um longo momento para o local que


Valentine desapareceu, em seguida, encarei Noc. No instante
em que tive meus olhos nele, perguntou: —Você está bem?

—O que, aconteceu esta noite, meu caro, querido Noc,


que o faria pensar que estou perto de me sentir bem? —
Perguntei.

—Certo, bem, isso responde tudo. — Murmurou, mas


fez isso me observando atentamente.

—Calculei mal. — Declarei. — De forma desastrosa.

Noc não emitiu um ruído.

—Pensei que, com Circe se abrindo pros outros e, bem...


as atividades com você no Palácio de Inverno, ela estava
pronta para ir em frente com sua cura. Valentine sentia o
mesmo. Parece que estávamos erradas.

Noc ficou em silêncio.

—Incrivelmente erradas. — Continuei.


Noc não confirmou, nem preferencialmente fez um
esforço para apaziguar.

Não disse nada.

E nada não estava ajudando.

—Noc. — Indaguei.

—Você está bem, Frannie. Irá pôr tudo em ordem. —


Afirmou. —Não vou falar sobre isso porque posso ver que está
chateada, o que, de qualquer maneira, não há necessidade.
Você estava lá. Viu o drama por si mesma.

Tudo isso era verdade.

—Mas Circe atacou... — Continuou. —Você! Talvez


compreensível, mas ainda inaceitável. Então, esta noite a
merda foi jogada no ventilador para Circe? Tanto faz! A única
coisa que me importa é que ela atacou você. Não apenas vi,
mas realmente senti esses cortes irem fundo! Então, mais
uma vez: você está bem?

Suas palavras, na noite em que chequei ao mundo dele,


atravessaram meu cérebro.

—Eu sei o que você disse para Maddie, bem na cara dela.
Lo me disse. Ele conhece a sua história agora, Frannie. Como
todo mundo, mudou sua impressão sobre você. Dito isto, ainda
está chateado e nunca irá te perdoar por isso, porque esse é o
cara que ele é. Ama muito sua esposa, e você a feriu, ele nunca
deixará isso para lá.

—Ama muito sua esposa, e você a feriu, ele nunca


deixará isso para lá.
E depois…

—Essa noite a merda foi jogada no ventilador para Circe?


Tanto faz! A única coisa que me importa é... você está bem?!

Eu sou a Franka do Noc, como Maddie é do Apollo,


Finnie do Frey, Circe do Lahn, Cora do Tor.

Sou do Noc.

Ele tinha aquela mulher de quem falamos tantos meses


atrás, sentados na frente de uma lareira, bebendo uísque.

E aquela mulher era eu.

—Você realmente me ama. — Sussurrei, olhando para


seus lindos olhos azuis.

Ele elevou a cabeça, as sobrancelhas franzidas, e seu


olhar ficou decididamente sinistro.

—Você duvidava?

—Não, querido. — Continuei suavemente. —Vou


reformular: Você me ama, você realmente ama.

—Uh, bem... sim. — Respondeu.

Derreti nele, envolvi os braços em torno de sua cintura e


respondi a sua pergunta da maneira que ele desejava que
fosse respondida.

—Não posso dizer que as palavras de Circe não me


atingiram. O que posso dizer é que ela estava na defensiva e
sentiu coisas que não posso nem imaginar como é sentir. Seu
ataque contra mim poderia não ser justificado, mas, na
minha opinião, não só foi compreensível, mas também
aceitável. Cometi um grave erro de planejamento. Foi ela
quem sofreu por isso. Então sim. Pode ter doído, ouvir o que
ela disse, mas estou aqui nos braços do homem que eu
realmente amo, e que realmente me ama de volta. Então
estou bem.

Noc examinou meu rosto, sabia que era para verificar se


estava falando a verdade.

Seu rosto e corpo relaxaram quando ficou claro que eu


estava.

Ele todo relaxou, exceto seus braços, que me apertaram,


me atraindo ainda mais para perto.

—Uma coisa posso dizer sobre esta noite: quando ela


colocou a mão no braço dele, pensei que as janelas do
restaurante fossem explodir, — disse.

—Você também sentiu isso?

—Acho que sentiram isso até mesmo no universo


paralelo.

Sorri para ele.

—Significa que eu estou dentro. — Afirmou.

Pisquei para ele.

—Perdão?

—Baby, não foi despercebido por mim, a maneira como


Frey estava com Finnie, o outro Lahn com a outra Circe,
inferno, soube disso quando Tor enfrentou este mundo para
chegar a Cora, que esse amor entre os mundos é extremo.
Com isso, apenas olhei para ele, ainda confusa.

—Esta noite acabou por provar isso. — Concluiu.

—Sim. — Concordei.

—Então eu estou dentro.

Inclinei minha cabeça para o lado. —Você está dentro?

—Vou ajudá-la a juntar Circe com seu selvagem.

Ele ia ajudar!

Encantador!

Meu sorriso ficou de orelha a orelha.

Noc baixou a cabeça para que seu rosto estivesse perto


do meu.

—E só para você saber, quando mencionei esse amor


entre mundos, estava falando sobre abrir a porta do meu
banheiro e vê-la neste vestido. Mas o que aconteceu entre
Circe e Dax superou-o.

Em sua primeira declaração, passei minhas mãos pelas


suas costas.

Depois que ele terminou a segunda, os dedos de ambas


as mãos estavam em seu cabelo.

Então, é claro, usei-os para puxá-lo o pouco que faltava


para alcançar sua boca.

Mas porque ele estava ―dentro‖, ia ajudar a me fazer de


cupido, eu o deixei assumir o beijo.

Bem, por causa disso.


E por muitas outras razões além disso.

***

No espelho, assisti Noc enterrar o rosto no meu pescoço,


sentindo os tremores de seu clímax assolarem sua poderosa
estrutura.

Já tive o meu. Por isso, mesmo no auge de minha


languidez, fui capaz de desfrutar plenamente da visão de
como a nossa paixão dominava a meu belo Noctorno.

Antes de me levar ao banheiro, Noc só tirou a jaqueta.

E apenas tirou minha calcinha.

Isso antes que ele me pegasse, ambos de frente para a


pia, minha saia sobre meus quadris.

Então, eu tinha uma mão apoiada contra o balcão e


uma visão do meu rosto corado, Noc perdido no meu pescoço,
com a visão apenas de seu cabelo grosso e escuro. Sentia seu
hálito quente contra a minha pele, vi sua mão na fenda do
meu vestido, sentia seus dedos segurando meu seio, seu
outro braço ao lado do meu, sua mão cobrindo a minha na
pia.

E seu pênis, obviamente, ainda grosso e duro dentro de


mim.

Estávamos separados e, ainda, éramos um.

Éramos lindos!
Senti seus dedos emaranhando nos meus no balcão,
enquanto seus lábios escovavam meu pescoço.

Então o vi levantar a cabeça e pressionar a mandíbula


contra o meu rosto, seus gloriosos olhos se movendo sobre
nós no espelho, a expressão neles não escondendo como se
sentia com o que via.

Finalmente, aqueles deslumbrantes olhos azuis


chegaram aos meus.

Noc não disse nada.

Eu não disse nada.

Simplesmente nós olhamos um para o outro através do


espelho antes dele tirar a mão do meu vestido e levá-la até
meu queixo.

Ele não precisava de palavras para dizer o que queria.

Por isso fiz o que queria, virando minha cabeça e


oferecendo-lhe a minha boca.

Ele pegou.

Nós nos beijamos lânguidos, mas gananciosamente,


como reis e rainhas seguros de seu poder, seu tesouro e seu
reinado, no entanto, entregando-se suntuosamente ao luxo
que era deles por direito de nascença e pela graça dos deuses.

Quando Noc finalmente quebrou o beijo, sussurrou: —


Pronta para a cama, Baby?

Assenti.
Só então ele separou nossos corpos, mas logo me
procurou novamente, se enrolando em mim no calor de sua
cama.

E nós dormimos.
Apenas um cara

Noc
Noc bateu na porta e deu um passo para trás, apenas
no caso de atearem chamas, ou talvez dispararem feixes de
laser mágico nele.

Estava lá porque ele e Franka tiveram uma reunião


com Valentine naquela manhã, ele foi informado sobre todas
as coisas sobre Dax Lahn, e Noc se ofereceu para deixar as
coisas suaves com a Circe.

Ele não estava ansioso para a tarefa, mas era o homem


para o trabalho, principalmente, porque, se ela pensasse no
caso e ainda estivesse chateada com Frannie, depois de tudo
o que ela disse na noite anterior, de jeito nenhum no
inferno, ele deixaria sua mulher enfrentar o que a Circe
fosse jogar nela.

Valentine assegurou que ela estava vendo Dax. Ela não


compartilhou como estava fazendo isso. Noc também não
perguntou porque ele, realmente, não queria saber.

Enquanto esperava do lado de fora da casa de Circe, a


porta não explodiu. E também não abriu.

Ele chegou perto, bateu de novo e ficou onde estava,


dizendo através dela: —Eu sei que você sabe que sou eu. O
que também tem que saber é, até eu ver que você está bem,
não vou embora.

Ela o fez esperar, mas, finalmente, abriu a porta.

Shorts jeans cortados, uma pequena camiseta, pés


descalços, cabelo selvagem, rosto livre de maquiagem, foda,
Dax ia gostar de todas as versões de Circe.

—Estou bem, — ela estalou e começou a fechar a porta


novamente.

Noc levantou uma mão para mantê-la aberta.

Ela não o empurrou. Em vez disso, a batalha que ela


travou foi com seu olhar, tentando encará-lo até ele fugir.

Ele não apenas aceitou.

Ele empurrou para trás, mas apenas verbalmente.

—Ela não quis causar nenhum dano. Ela deseja coisas


boas para você. Ela viveu a vida que sentia que tinha que
viver para se manter segura. Essa não é mais a vida dela,
mas está acostumada a fazer as coisas de uma certa
maneira. Agora, ela está fazendo essas coisas para o bem.
Ela simplesmente não sabe como fazer isso ainda. Ela não é
a mulher que você disse que era ontem à noite, Circe.
Valentine me disse que a manteve informada sobre o que
está acontecendo com a Frannie, então acho que você sabe
disso. Mas mesmo com tudo isso, ela não deveria ter jogado
assim. Ela fodeu tudo. Ela sabe disso agora. E está
destruída, querida. Chutando sua própria bunda e muito
preocupada com você.

Circe só conseguiu segurar a atitude por alguns


segundos antes de desviar o olhar e se afastar, abrindo a
porta mais adiante, convidando-o a entrar.

Entrou e viu, com o pouco que ela possuía, que tinha


bom gosto. Mas mesmo com o tesouro que recebeu, ela não
tratava de esconder seu espaço.

Noc se moveu para o meio da pequena sala de estar e


parou, virando para ela.

Circe o seguiu e inclinou o lado de sua coxa contra o


braço de seu sofá onde um gato instantaneamente apareceu,
esfregando seu lado contra sua pele.

Ela não pediu a Noc que se sentasse. Nem lhe ofereceu


café.

Ela apenas deixou cair uma mão para arranhar o


pescoço de seu animal de estimação e manteve o olhar de
Noc.

Ele colocou para fora.


—Eu deveria tê-la parado. Eu sabia que não era o jogo
certo. Eu disse isso a ela, mas estava determinada. Eu ainda
deveria tê-la impedido.

—O que está feito, está feito—, ela declarou


brevemente.

—É, mas você tem que saber, eu percebi como isso fez
você se sentir na noite passada e eu sinto muito sobre a
parte que eu joguei.

Circe, sem surpresas, não era uma mulher que


guardava rancor diante de uma desculpa aberta, perdeu
visivelmente a atitude e repetiu: —O que está feito, está
feito—, mas dessa vez foi muito mais gentil.

Certo, eles estavam além disso, agora era hora de


colocar mais merda para fora.

—Precisamos conversar sobre Dax.

Ela se endireitou do sofá, respondendo imediatamente.


—Não há nada a dizer.

Ele deu apenas um passo na direção dela antes de


parar e disse: —Eu não entendo, e ao mesmo tempo, sim,
porque você estaria em negação sobre o que aconteceu na
noite passada. Mas eu não seria um amigo se eu não
tentasse tirar você disso.

—Você e Franka são a prova de que há diferenças entre


nossos dois mundos e eles ainda continuam. Assim sendo,
entendo porque Valentine e Franka pensam que isso precisa
acontecer entre mim e aquele homem. Mas também é óbvio
que na verdade não.

—É verdade, — respondeu Noc. —Mas isso não explica


a sua reação a ele na noite passada, ou a dele para você.

Ela desviou o olhar.

Ele continuou com ela.

—Circe, querida, por favor, não me deixe de fora. Estou


aqui para falar com você, mas também estou aqui para você
falar comigo. Compartilhe comigo. Me dê o que quer que
esteja te afastando de algo, que eu sei, que te balançou de
maneira ruim ontem à noite. A coisa é, ele a balançou
também em maneiras boas. Muito boas. Eu não posso saber,
mas acho que as partes boas são o que está segurando você
de ir. E sabendo tudo o que está em jogo aqui, eu não seria
um amigo se não tentasse ajudá-la a ver isso como apenas
algo bom do jeito que é.

Quando ela voltou a lhe dar atenção, seu rosto era uma
máscara e seus olhos estavam irritados.

Mesmo assim, ela não conseguia esconder que eles


também estavam assombrados.

Porra.

—Não há como você possa entender onde estou com


isso.

—Não, — ele sussurrou. —Não, — ele repetiu, deixando


tudo o que estava sentindo com essa sílaba e vendo a raiva
se dissolver, mas também vendo as feridas surgindo. Ele
odiava o que via, mas não desistiu. —Eu posso não saber.
Mas eu sei o que está lá. Eu sei porque você está lá. E me
mata que não há porra nenhuma que eu possa fazer sobre
isso.

—Ninguém pode fazer nada sobre isso, Noc, — ela disse


calmamente.

—Esse cara pode.

Ela piscou para ele.

—Eu não era aquele cara, — Noc continuou. —Nós dois


sabíamos disso. Eu não poderia ser esse cara para você. Eu
sabia e você sabia. Nós dois entendemos que eu não era
forte o suficiente para lidar com tudo o que aconteceu com
você. Não para longo prazo. Então o que nós tínhamos era o
que era, porque ambos sabíamos que eu não poderia ser o
cara para dar o que você precisava.

Agora ela estava olhando para ele com olhos grandes


que mostravam que estava confusa e ele não entendeu isso.

Mas ele não perguntou sobre isso.

Ele se manteve no assunto.

—Mas este cara, Circe, — ele continuou, —esse cara


não é qualquer cara. Ele é advogado. Ele é bom. Não é um
lutador. Um guerreiro. Ele é rico e ganhou isso, ele não
nasceu assim. E faz o bem para um abrigo de violência
doméstica por nenhuma razão além de essa ser sua missão.
E ele compra uma mesa de dez mil dólares em seu evento de
gala, levando todos os seus amigos advogados a fazer o
mesmo. Foi assim que o conseguimos lá na noite passada.
Ele provavelmente poderia estar fazendo cem coisas em uma
noite de sexta-feira. Ele não estava fazendo essas coisas. Ele
estava lá facilitando uma doação de Franka.

Ela parecia surpresa com essa informação, mas disse:


—Noc, o compromisso dele com isso diz coisas legais sobre
ele, mas não tem nada a ver comigo. Agora o que eu gostaria
de conversar é como você se sente sobre...

Ele a interrompeu.

—O que estou dizendo é que não estamos falando de


simpatia. Nem de empatia. Estamos falando de um homem
que respeita as mulheres, sabe como devem ser tratadas e
faz algo a respeito quando essa merda não acontece, —
informou Noc.

Ela fechou a boca.

Noc continuou.

—Ninguém pode olhar para aquele homem e não


pensar que ele tem a cabeça na bunda por causa de sua
aparência, seu dinheiro, seus talentos. Ele é confiante, mas
não é só isso que o define. O que o define é que é tudo isso e
ainda é o homem que é para as mulheres.

—Novamente, é muito bom saber isso sobre ele, mas,


Noc, não tem nada a ver comigo.

—Não sei como você vê isso assim, quando, o minuto


que ele a viu, o mundo desapareceu para ele.
Era um golpe que ela não esperava. Tanto que deu um
passo para trás.

—E Circe, — ele pressionou, —quando você o viu, seu


mundo também parou.

—Fiquei simplesmente surpresa ao ver Lahn lá, — ela


mentiu na cara de pau.

Ele acalmou seu tom quando compartilhou, —Isso não


era sobre Lahn. Você sabia que aquele homem não era
Lahn. Isso era sobre Dax. Tudo sobre Dax.

—Noc...

—Eu não gostei dessa ideia, — afirmou. —Quando


Franka compartilhou o que ela e Valentine estavam fazendo,
eu não gostei nada. E ela nunca me convenceu a gostar. Eu
estava lá ontem à noite para cuidar dela, porque eu não
conhecia esse cara, e para cuidar de você, porque ela estava
determinada a jogá-lo em seu caminho. Então eu o vi com
você, Circe, e de nenhuma fodida maneira eu deixaria
qualquer um chegar perto de você se eu não confiasse. Mas
o vi com você e aqui estou.

—Noc...

—Eu quero que você seja feliz. Franka quer. Valentine


quer. Diabos, todo mundo quer. A única que está no
caminho, é você.

—Eu gosto da minha vida, — ela afirmou.

—Você está feliz?

—Sim, claro.
Era a verdade.

E não totalmente.

—Você está realmente feliz, querida? — Ele apertou.

—Estou muito mais satisfeita do que já estive, — ela


respondeu. —Eu sou uma mulher independente. Eu
determino para onde vou e o que faço e com quem estou. Eu
tenho amigos. Eu amo essa cidade. Eu tenho o meu poder
de volta e é tudo meu.

—Satisfeita não é feliz—, observou.

—É melhor do que qualquer coisa que eu já tive.

—Certo, eu ouvi isso, — Noc admitiu, mas não desistiu.


—E é uma droga que é verdade. Mas está muito longe do
que você merece.

—Noc, é uma boa coisa estar satisfeita com sua vida.

—Eu tenho Franka. Eu me apaixonei por ela. Ela se


apaixonou por mim. Ela está aqui e não é bom, é ótimo. Eu
tenho uma casa que eu curto e dinheiro sério no banco para
que eu não só não precise me preocupar, apenas, sobre
cobertura de emergências, estou ajeitado para a vida. E por
último, eu tenho um emprego que me paga mais do que eu
nunca pensei que eu faria. Então eu estou em posição de
dizer que o contentamento funciona, mas ser feliz em um
bom lugar, numa cidade fantástica, com bons amigos, um
bom trabalho e uma mulher com quem eu quero
compartilhar a minha vida é uma porra de muito melhor.
—Vejo que você não vai entender o que estou tentando
dizer, — ela comentou, começando a ficar agitada.

—Eu acho que é o contrário, — ele retornou.

—Você não pode simplesmente deixá-lo ir? — Ela


pediu.

—Depois do que eu vi ontem à noite, o que eu posso


dizer é que eu quero fazer isso por você, porque você quer
isso de mim. E eu totalmente não posso deixar de fazer isso,
também para você.

—Noc...

Ele sabia que ela queria que ele deixasse ir.

Mas ele viu o que viu na noite passada. Ele sentiu.

Então ele simplesmente não podia.

—Este cara tem isto nele, Circe. Ele pode ser esse cara
para você. Pode ser o único nos dois universos que pode ser.
Ele é um guerreiro e é um protetor. Você sabe onde estou
com você. Eu não diria isso que se não sentisse em meu
estômago que é verdade.

—Noc..., — ela tentou novamente.

Mas ele continuou.

—E a coisa mais importante sobre isso é que você


balançou o mundo dele ontem à noite apenas quando te
olhou, eu sei que ele vai tirar tudo de você. Ele vai ouvir e
ele vai conseguir e quero dizer tudo isso. Quem é você. O
poder que você tem. O que aconteceu com você. De onde
você é. Ele não se importará se lhe disser que é da lua. O
homem que eu vi ontem à noite, querida, ele só quer você.

—Ele me aterroriza, — ela falou abruptamente.

Isso foi inesperado.

Noc ficou em silêncio.

Circe olhou além dele, respirou fundo e olhou de volta


para ele.

—Ele me apavora, — ela sussurrou.

—Por quê? — Noc sussurrou de volta. —Ele não é


Lahn. Ele não é de um lugar onde eles estupram mulheres
para torná-las suas esposas. Eu posso ver você olhando
para ele e vendo apenas isso. Mas isso não é quem ele é.

—Não é isso. Eu vi Lahn com sua Circe e sei que até


Lahn não é isso.

—Então, o que é?

—Ele é tudo.

Novamente, inesperado.

E novamente, Noc ficou em silêncio.

—Ele foi feito para mim, — ela continuou, e fazendo


isso sem soar esperançosa, soando aterrorizada. —Ele é
meu.

—Eu acho que pelo que eu vi ontem à noite, você está


certa. Ele é, — concordou Noc.

—Eu nunca, nem uma única vez, fui feliz, — disse ela.

Noc sentiu isso cortar no seu interior.


—Circe.

—Eu nunca, nem uma vez, exceto há muito tempo, em


um tempo que parece tão longe, que é como se fosse um
sonho, o tempo que meus pais estavam vivos, eu nunca
senti o amor.

Cristo.

Ela estava matando ele.

—Baby.

—Eu sei que tenho amigos que se importam


profundamente comigo. Não é o mesmo.

Não era.

Não era o amor de um homem.

Não era o amor crescendo em família, seja uma família


de dois ou a família que os dois fariam.

—Eu o quero, — ela admitiu.

Finalmente eles estavam chegando a algum lugar.

Ele se aproximou, dizendo: —Circe, tudo que eu disse


significa que você pode tê-lo.

Ela balançou a cabeça. —Finalmente escapei de


Baldur, só para ser atacada por piratas, passei por eles
como um brinquedo. Eu fugi deles, apenas para ser
colocado na Caça da Esposa em Korwahk. No meu fim, me
levantei, apenas para colocar minha gêmea em meu lugar,
onde ela foi prontamente violada.

—Isso funcionou bem, — ele lembrou.


—Mas poderia ter sido desastroso, — ela lembrou.

—Não foi, — afirmou.

—Poderia ser, e esse é o ponto, Noc, eu não tenho


muita sorte.

—Você não está errada sobre isso, Circe, e agora você


está em uma encruzilhada. Você pode viver segura, o que
significa que você vive metade de uma vida, ou pode
continuar tentando a sua sorte, porque, sério como merda,
querida, você está a caminho de uma queda e eu vejo isso
bem dentro de seu alcance. Você apenas tem que alcançá-lo.

Ela parecia esperançosa antes disso fundir-se a


incerteza.

—E se ele não me quiser? — Ela perguntou quase


timidamente.

Noc lutou com um sorriso.

—Baby, você estava consciente ontem à noite? — Ele


perguntou de volta.

Novamente com a esperança, tinha a incerteza.

Ela levantou e deixou cair a mão livre. —Sou uma


bruxa. Eu sou de outro mundo. Eu tive... coisas foram feitas
para mim...

Ela parou e Noc estendeu a mão e tomou-a.

—Essas coisas foram feitas para você. Mas não fazem


você. Você é o que sempre foi, Circe. Uma mulher bonita,
forte e atenciosa. Você levou tudo o que estava empilhado
em você e nunca desistiu. Você escapou de Baldur apenas
para acabar numa situação que era tão ruim quanto. Você
foi sequestrada e desembarcou em outra situação ruim e
ainda assim não desistiu. Você encontrou uma maneira de
sair. Isso poderia ser muito ruim, mas não foi, e no final, a
mulher que você trocou de lugar é feliz, no amor, fazendo
bebês e o pai dela pensa em você como sua filha. Você tem
tudo isso porque você tinha todas as razões para desistir e
nunca fez. Não desista agora. Você tem tanto para dar,
querida, a sorte desse cenário não é você alcançando o Dax.
Vai ser de Dax, se você encontrar a coragem de chegar lá.

—Você é muito doce, — ela murmurou.

—Talvez. Mas, na maioria das vezes, tenho muita


razão.

Ela deu um momento para processar antes de dizer: —


Isso ainda está para ser visto, mas há algo que você está
errado e isso é que você não poderia ser ―aquele cara‖ para
mim.

Merda.

O quê?

Ele ficou perto, segurando a mão dela, esperando pra


caramba que não tivesse entendido errado o que aconteceu
entre eles meses atrás.

Ele viu um pequeno sorriso tocar sua boca antes de


compartilhar, —eu não quero dizer que eu queria isso entre
nós, e isso não importaria porque, você vai se lembrar, você
não queria isso também. O que foi entendido então é
compreendido agora. Mas você fala como se não fosse o tipo
de homem forte o suficiente para ser ―aquele cara‖ que é
tudo o que necessita ser para uma mulher que precisa dele
para ser exatamente isso. Mas se você não fosse, então
Franka estaria em um lugar muito diferente agora e não
parecendo que o ―ouro do sol‖ brilha através dela, quando
antes, ela parecia pesada pelo cobertor da noite eterna.

Foi isso que fez Noc soltá-la e dar um passo atrás.

Em seus movimentos, suas sobrancelhas se juntaram.

—Você é aquele homem, Noc, você deve saber disso, —


ela disse gentilmente.

Ele balançou sua cabeça. —Eu era apenas o cara que


aconteceu de estar lá quando a merda caiu e olhando para
trás, eu estava meio apaixonado por ela já, então eu tenho
sorte, é aí que acabamos.

Quando terminou de falar, ela olhou para ele,


murmurando, —Sorte?

Ele ignorou isso e continuou. —Mas não estamos


falando de mim.

Antes que pudesse dizer mais, Circe entrou.

—Nós não estávamos. Nós estamos agora.

—Estou aqui, agora, para você, — ele afirmou.

—Que bom. Obrigada. Então vou fazer um trato com


você, Noc. Vou pensar em não jogar seguro. Vou pensar em
tentar a minha sorte. Mas só se você pensar na merda
absoluta que acabou de me falar.

Noc sentiu a cabeça puxar e endureceu a mandíbula.


—Você está certo, eu conheço a história dela, — ela
disse suavemente. —E eu preciso falar com ela. Eu estava...
— ela deu um curto movimento de sua cabeça, —não, não
eu mesma ontem à noite. Eu fui cruel, mesmo sabendo que
ela não merecia isso. Eu vou... vou pedir desculpas. Mas
Noc, é impossível para eu entender como você pode vir aqui
defendendo esse homem por mim sem saber que você é esse
homem para Franka.

Ele estava ficando impaciente.

—Mais uma vez, Circe, não estamos falando de mim.

—Você disse que esse Dax seria o único que teria sorte
se eu tivesse uma chance. Pergunto, se perguntasse a
Franka quem ela acharia que é o sortudo entre ela e você.

—Ela pode pensar que é ela, mas eu sei a verdade.

Ela o estudou atentamente, fazendo isso, falando.

—Eu tinha tudo, uma família amorosa, um dom


mágico, e tudo foi varrido de mim por um homem cruel e
retorcido. Sua Franka, eu nem consigo pensar nisso, Noc,
sabendo que desde o seu primeiro suspiro, ela não teve
nada. Até que ela tivesse você.

Suas palavras foram apertadas quando ele declarou: —


Não vou me repetir, Circe.

—Eu não posso acreditar que não vê o que está dentro


de você, — ela sussurrou, seu olhar procurando.

—Eu sou apenas um cara.


—Você não é apenas um cara, — ela afirmou
firmemente.

—Tudo bem, eu sou o cara que fez o bem para Franka,


— ele mentiu. —Aí está. Agora eu disse isso, o nosso acordo.
Eu vou daqui para a minha mulher, e se você me der o sinal
verde, quando eu chegar lá, vamos chamar Dax e lhe pedir
para jantar amanhã à noite. Na minha casa. Eu, ele, Franka
e você.

—Você só disse isso sobre si mesmo para que eu


fizesse esse negócio, — ela acusou.

Ela estava certa.

Noc não confirmou isso.

Ele não disse nada.

De repente, o que ele acabou de sugerir atingiu-a e sua


preocupação por ele fugiu quando a ansiedade novamente
atacou.

—Sua decisão, sua vida e eu te apoiarei por tudo o que


você decidir, — disse ele. —Eu farei Franka te apoiar, e se
eu conseguir, vou fazer Valentine também. Mas não acho
que eu tenho que deixar registrado que, se você não vier
jantar amanhã à noite, não tentar a sua sorte uma última
vez e fazer uma tentativa de felicidade com este cara, acho
que estará cometendo um grande erro.

—Eu vou para o jantar, — ela respondeu com uma voz


tão suave que quase não a ouvi.
Tão aliviado, ele não conseguiu se deter, estendeu a
mão e a puxou para seus braços para lhe dar um abraço
apertado.

—Essa é a decisão certa, — disse ele no topo de seu


cabelo.

—Espero que seja, — disse ela em seu peito.

Ele levantou a cabeça e ela se inclinou para trás, mas


ele não a deixou ir.

—É, — ele assegurou.

Ela apertou os lábios, ainda, visivelmente ansiosa.

—Venha cedo, — ele insistiu. —Sente-se com Franka.


Fale com ela. Conheça-a. Beba um pouco de vinho. Você
estará em um lugar seguro com suas pessoas em torno de
você, cuidando de você. Se você se sentir desconfortável ou
qualquer coisa, nós cuidaremos de você. Prometo isso, Circe.
Juro.

—Eu acredito em você.

Ele lhe deu um aperto e depois lentamente a soltou,


murmurando, —ótimo. Agora eu tenho que chegar a minha
caminhonete para ligar para Frannie e deixá-la saber que
está tudo bem. Ela está fingindo que está tudo bem, mas
está assustada pra porra, como as coisas deram errado na
noite passada e ela está preocupada com você, então eu
tenho que tirar isso da cabeça dela antes que eu comece o
resto desse show na estrada.
Parecia que ela queria dizer alguma coisa, mas pensou
melhor antes de sorrir para ele e se dirigir para a porta.

Ele a seguiu.

Ela abriu e ele saiu, virando para dizer, —estou muito


feliz por você ter aberto a porta, querida.

—Posso dizer, mais tarde, se fiquei ou não.

Ela estava mostrando um rosto corajoso.

Ele estava feliz por isso, porque não esperava que


estivesse certo sobre Dax Lahn deste mundo. Com o que viu
ontem à noite, sabia que estava certo e queria isso para ela.

—Cedo, — disse ele. —Eu te mandei o meu endereço,


apareça às quatro. Vou cozinhar. Franka vai me observar
fazer isso e falar com você. Nós iremos pedir que ele esteja lá
às seis.

Ela tentou esconder seu sentimento nervoso e


assentiu.

Noc ergueu a mão, envolveu brevemente os dedos ao


lado do pescoço dela e lhe deu um sorriso.

—Vejo você amanhã, — ele disse com o seu adeus.

—Amanhã, Noc.

Ele se virou para sair e deu dois passos, mas parou


quando ela chamou seu nome.

—Você pode pensar o que quiser, mas eu sei. Franka e


eu temos histórias diferentes, mas nós duas fomos deixadas
na mesma escuridão, — ela disse calmamente. —Então eu
sei. Se esse homem é o homem para mim, eu serei a
sortuda. E você sendo o homem que é, o único homem para
Franka, assim é ela a sortuda.

Antes que ele pudesse dizer uma palavra, ela fechou a


porta.

Ele olhou fixamente para ela por um tempo e depois


não deu mais um segundo.

Ou outro pensamento.

Ele andou até seu Suburban30, entrou e fez um


telefonema.

***

Franka estava andando impaciente.

Noc estava com o quadril apoiado contra a ilha, o


telefone no ouvido, escutando-o chamar, focado em Frannie.

—Baby, acalme-se, — ele pediu.

Ela parou instantaneamente, pegou seus olhos e os


dela se estreitaram.

—Calma? Este homem pode ter passado as últimas


dezesseis horas convencendo-se de que estamos loucos e ele
não quer nada a ver conosco, incluindo a Circe. Valentine

30
É um modelo de SUV da Chevrolet
tem certeza de que ele não vai atrás dela e ele não foi, mas
ela não tem o poder de ler seus pensamentos.

Ela contou as horas.

Isso foi fofo.

Ele não teve a chance de tranquilizá-la.

O telefone parou de tocar e um homem respondeu com


—Lahn.

—Lahn, este é Noc Hawthorne.

—Ela chegou bem em casa?

Noc baixou a cabeça e sorriu para seus pés.

Ele não passou as últimas dezesseis horas


convencendo-se de que eles eram insanos.

Noc viu a mão de Franka pousar em seu peito e ele


ergueu os olhos para ela, ainda sorrindo.

Seus ombros caíram aliviados.

—Hawthorne, — Dax falou. —Você tá aí?

—Sim, eu estou aqui e ela chegou em casa bem,


chateada como o inferno que nós tentamos arranjá-la, mas
tudo bem. Fui e falei com ela esta manhã. Ela não está em
um bom lugar por um tempo para tomar atitude em certas
coisas, mas eu apontei que ela tem que encontrar esse
lugar. Em outras palavras, gostaríamos de saber se você
viria jantar amanhã, minha casa, Franka, eu e Circe. Seis
horas.

—Me mande por mensagem seu endereço, eu estarei lá.


Noc quase começou a rir.

Seus esforços para não fazer isso fizeram suas


próximas palavras soarem sufocadas.

—Mandarei.

Frannie pressionou seu peito e deu-lhe um amplo olhar


de que-merda-está-acontecendo.

Ele a rodeou com um braço.

—Amanhã, — grunhiu Dax.

—Sim cara. Vejo você então, —Noc respondeu.

Dax desligou.

Noc tirou o telefone da orelha e começou a rir.

—O quê? — perguntou Franka.

—Ele virá para o jantar.

Ela ergueu a outra mão contra o peito dele e apertou


ambas as mãos, radiante e declarando: —Pelos deuses, isso
me agrada.

Noc também ficou satisfeito, mas ele ficou mais


satisfeito ao ver o quanto ela estava.

Ela ficou satisfeita por cerca de dois segundos antes de


começar a trabalhar.

—Nenhum vinho Fleuridiano amanhã, Noc, — ela


mandou. —Eu não quero que ela pense em casa. Não o bom
de vinho Fleuridiano e definitivamente não o ruim de como
ela foi tratada lá. Quero sua cabeça firmemente neste
mundo.
—Sim, sim capitão, — ele disse em um sorriso.

Seus olhos se estreitaram de novo.

—Isso não é brincadeira. Temos que planejar isso com


cuidado. Ele caiu por ela, mas nós somos sua gente. Ele não
deve pensar menos dela porque pensa menos de nós. Com
isso em mente, o que você está fazendo para o jantar?

—Pensei..., — ele começou.

—Filé steak en croute31 com patê e cogumelos


salteados, — ela exigiu.

Noc venceu as risadas.

—Babe, eu não estou fazendo bife Wellington.

—Assim que é chamado aqui? — Ela perguntou.

—Uh, sim, e é complicado e uma dor na bunda. Eu vou


fazer bife, no entanto, e irei acender a churrasqueira.

—Isso é aceitável, — concordou ela. —Vamos servir


com batatas royales.

—Que porra é essa? — Perguntou ele.

—Não sei, — respondeu ela. —É batata, e eu diria


creme, sal, pimenta, outras coisas. Elas são amassadas com
uma porção generosa de creme, em seguida, entubadas em
pacotes fofinhos e assadas...

—Frannie, eu não estou dividindo merda nenhuma em


nada fofo e não só porque eu não tenho ideia de como
entubar.
31
Um filé mignon embrulhado em massa geralmente folhada e assado no forno, também chamado bife
Wellington.
—Elas são deliciosas e elegantes, — ela retornou
impacientemente.

Estava na hora de cortar isso pela raiz.

—Certo, linda. Você tem uma escolha entre batatas


assadas ou purê ou nós podemos sair amanhã e comprar
uma fritadeira de óleo para que eu possa fritar algumas
batatas fritas congeladas. Vou grelhar alguns aspargos. E
esta é Nova Orleans, vai haver cerca de sete mil lugares
onde podemos ir para encontrar sobremesas boas pra porra
e os melhores rocamboles. Essa será a nossa missão para o
resto do dia. Se você quiser, pode comprar umas garrafas de
vinho de quatrocentos dólares e um whisky foda, que, no
meu palpite, é coisa de caras. E isso é o que nós iremos
fazer sem eu ter que entubar qualquer coisa ou lutar com
massa de biscoito. Você está comigo?

Ela não estava com ele e compartilhou isso,


declarando: —Minhas ideias para o menu são muito mais
impressionantes.

—E se você quiser, em vez disso nós podemos passar o


dia encontrando um chef que vai arrastar sua bunda para
minha casa para fazê-las desde que eu não estou fazendo
nada disso.

Ela olhou para ele.

Ele lutou contra a necessidade de beijá-la.

Ele ganhou a luta, mas fez embrulhando ambos os


braços ao redor dela, puxando-a para mais perto e
mergulhando seu rosto no dela.
—Ele está na dela, querida. Ele não vai nem sentir o
gosto de nada que colocarmos na frente dele. Poderíamos lhe
servir uma caixa de papelão pintada como um bife
Wellington e ele provavelmente comeria. Ele não tem ideia
das forças que o estão atraindo para Circe. Ele também é
um homem que não se importa. Sua intuição diz para ir
para ela, ele está indo para ela. Ele cuidará disso. Ele vai
fazer todo o trabalho. Nós só vamos estar lá, então ela estará
em um lugar seguro em sua cabeça para deixá-lo fazer.

Ela parecia apaziguada, se aconchegando mais perto.

—E ela foi boa com você antes? Parecia segura? —


Perguntou ela.

—Eu disse isso, querida. Ela está um pouco assustada,


mas está passando por isso.

Frannie começou a brincar com o colarinho de sua


camisa, seus olhos caindo aos seus dedos para observar.

—Também lhe disse que ela se sente mal com o que


disse para você, — ele lembrou.

Ela levantou os olhos, mas manteve os dedos em sua


camisa. —Ela não deveria.

—Eu sei que você acha isso, mas é quem ela é. — Ele
inclinou sua cabeça mais perto dela. —Antes de irmos ao
mercado, você quer ligar para ela? Checar?

Seus olhos se iluminaram com uma luz cautelosa.

—Você acha que ela gostaria disso?

Ele assentiu.
—Então me agradaria fazer isso antes de irmos ao
mercado.

Ele a apertou. —Você tem o número dela no telefone,


querida.

Ela deu um breve aceno de cabeça naquele momento,


enrolou os dedos dos pés e tocou a boca dele antes de se
afastar.

—Depois de me certificar que está tudo bem, vou pedir


a opinião dela sobre o menu.

Noc sorriu.

Sua pequena maquinadora.

Ela podia conspirar tudo que quisesse.

Circe também não ia sentir o gosto de nada.

Inferno, depois do que ele viu ontem à noite, ele não


ficaria surpreso se Dax varresse sua mesa de jantar livre de
pratos e comida, e Circe subisse ela mesma, exigindo que
Franka e Noc lhes desse alguma privacidade.

Isso significava que ele a faria sua mulher, na mesa da


sala de jantar naquela noite.

Se alguém fosse foder lá, ia ser ele e a sua pequena


maquinadora que quebrariam o selo.
Feliz?

Franka
—Não aquele, o outro que você tinha antes, — declarou
Josette.

Era tarde na tarde seguinte e Jo e eu estávamos


descansando sobre a cama de Noc, Valentine parada ao seu
lado atrás de nós, enquanto Circe estava na porta do
banheiro de Noc, acabando de nos mostrar a terceira roupa
que ela trouxera para o nosso jantar com Dax.

—Eu prefiro o primeiro, aquele pequeno vestido que


você nos mostrou é muito lisonjeiro, — eu disse.

—Eu preferia não estar aqui, — murmurou Valentine,


atrás de nós.
Eu rolei parcialmente para as minhas costas e apontei
um olhar furioso para ela.

Ela suspirou, visivelmente e cruzou os braços em seu


peito.

—O vestido não é revelador demais? — Perguntou


Circe, e eu olhei para ela.

—Precisamente, — eu respondi, e era, embora apenas


pernas, braços, ombros, uma sugestão de decote e quase
todas as suas costas.

—É um jantar na casa do Noc, você não acha que


deveria ser mais casual? — Jo perguntou. —Este me parece,
para este mundo, bem-sucedido. — Ela apontou um braço
para Circe, que agora usava uma saia delgada, uma blusa
de cetim e um par bem parecido do que se conhecia neste
mundo como ―scarpins‖. —O jeans e a pequena blusa fofa
dizem confiante e em casa. — Ela continuou.

—As calças jeans têm rasgos nelas, — eu indiquei.

—É a moda aqui, Frannie, — respondeu Jo. —Você viu,


certamente.

—Eu vi e está além de mim, — eu respondi e continuei,


—Por que alguém usaria qualquer coisa que está rasgada?
Isso não faz sentido. Além disso, essas calças não vão até os
tornozelos e são mal ajustadas.

—Eles são jeans skinny e são cortados. É assim que


devem ser também, — respondeu Josette.

—E ambos, também, estão além de mim, — afirmei.


—Sim, bem, Circe tem uma bunda pequena e esses
jeans fazem maravilhas por isso, — Jo respondeu. —Agora,
você também tem uma bunda pequena. Então eu sugiro que
você os coloque e desfile para ver como Noc reage quando vir
você neles. Então poderá dizer que não são para você.

Ela tinha um ponto. O bumbum de Circe parecia


espetacular naqueles jeans.

E embora minhas pernas, pescoço, boca e cabelos


fossem minhas melhores características (isso eu não
pensava por causa da presunção, mas sim porque Noc me
contou), eu também fui informada de que tinha uma parte
traseira bastante sedutora (isso Noc demonstrou para mim).

Talvez os jeans não fossem uma má ideia.

—Essa blusa, — disse Valentine. —Com os jeans e


aqueles scarpins. Desfaça pelo menos mais um botão na
blusa, ou se você sentir que pode fazê-lo, dois. O colar de
ouro fino que chega ao ponto em seu esterno e o colar de
correntes que você estava usando quando chegou. As
argolas que você usava com a primeira roupa. E pelo amor
da deusa, use o cabelo para baixo. Você tem um rosto, um
pescoço e uma clavícula extraordinários, mas esse cabelo
não deve ser escondido. Não essa noite.

—Por Hermia, isso seria perfeito, casual, mas ainda


elegante, bem como único, — Jo respirou com profunda
aprovação.
Eu virei meu olhar de Valentine para Circe,
imaginando esse conjunto em minha cabeça e pensando que
Valentine tinha razão.

Circe me chamou a atenção.

—Eu aprovo, — declarei.

Josette sentou-se na cama, saltou em seu bumbum e


bateu palmas, gritando: —É unânime!

Uma expressão repentina e alarmante roubou o rosto


de Circe.

Eu fiquei tensa.

Ela murmurou: —Eu posso estar doente, — e correu


para o banheiro.

Eu olhei apenas brevemente para Josette, em seguida,


para Valentine antes de levantar da cama e correr atrás
dela.

Fechei a porta atrás de mim quando entrei para ver


que ela estava parada diante do banheiro, respirando fundo.

Eu não cheguei perto, mas não parei muito longe.

—Minha querida, — eu disse suavemente.

Ela olhou para mim.

—Eu não sei...— ela balançou a cabeça. —Eu não


sei...— ela repetiu, inspirou em um fôlego, então forjou, —É
bobagem, ridículo mesmo. Eu o vi. Eu vi seu rosto. O olhar
em seus olhos quando ele olhou para mim. Eu vi. E eu não
entendo. — Ela jogou fora as mãos ao lado dela impotente.
—Por que estou tão nervosa?

—Porque você foi ensinada a não querer nada, ao


mesmo tempo foi ensinada que cada segundo de sua vida só
pode trazê-la a novos níveis de dor, então você foi ensinada
a não ter esperanças, — respondi. —Agora, há esperança.
Mais do que esperança, uma promessa. E isso te assusta.

—Sim, é isso, — ela murmurou, olhando para a


privada.

—Afaste-se daí, — ordenei gentilmente.

Eu a vi lutando para se acalmar como foi mandada e se


aproximou de mim.

Estendi a mão e peguei ambas as mãos dela.

—Eu entendo esse sentimento, — eu compartilhei. —


Talvez não exatamente como você está sentindo, mas posso
lhe garantir, quando a ameaça que estava sempre se
aproximando de meus pais foi varrida, eu não poderia
encontrá-lo em mim para compreender como viver uma vida
sem essa ameaça escurecendo a cada momento.

Seus dedos apertaram os meus enquanto ela


sussurrava: —Sinto muito por isso, mas também estou feliz
por saber disso, porque é exatamente como me sinto.

—Baldur está morto, — eu lhe lembrei, tanto


necessariamente, quanto desnecessariamente.

—Eu sei disso, — ela respondeu.


—Você tem aliados poderosos, não só neste mundo,
mas em nosso velho mundo.

—Eu também sei disso.

—Eu sei que você sabe, — eu disse. —E eu sei que essa


abundância é difícil de entender quando sua vida estava tão
sem a anterior. — Eu apertei minha mão na dela e lhe dei
um pequeno sorriso. —Eu também sei que você vai chegar a
um acordo com ele. Infelizmente, você precisa passar por
esses sentimentos que está passando. Mas, eventualmente,
ou afundará ou algo extraordinário acontecerá para fazê-la
compreender nas profundezas de sua alma.

Ela inclinou a cabeça para o lado. —Foi o Noc que te


ajudou a entender isso?

Eu balancei a cabeça. —Noc, de fato, mais


definitivamente. Mas também outros. Meu irmão.
Namorados. Frey. Mas Noc foi o catalisador para tudo isso.
Ele era perspicaz em ter certeza de que eu me viss por quem
eu era, não por quem eu fui forçada a ser. E seus esforços
me abriram para o que os outros me ofereciam. Tudo que
me mostrava o eu que eu deveria ser. E ele era tudo isso
antes mesmo de nos tornarmos o que nos tornamos. Ele era
simplesmente meu amigo.

—Ele já estava apaixonado por você desde o começo,


você sabe.

Nessa declaração inesperada no decorrer de nossa


discussão, eu pisquei quando meu corpo deu um pulo.

—Ele compartilhou isso com você? — Eu perguntei.


Desta vez, ela assentiu, e foi então que eu notei que
nosso tempo naquele banheiro não era mais sobre mim
tranquilizando-a. Ela estava me estudando de perto, sua
mente se concentrando em algo que não era a chegada de
Dax Lahn em duas horas.

—Ele diz que quando tudo aconteceu com você,


simplesmente, ocorreu de ser o único que estava lá para
você, e uma vez que estava apaixonado por você, ou no
caminho para isso, teve sorte que o que cresceu foi o que
vocês dois têm agora.

Embora isso me deleitasse e me perturbasse, deixei


cair as mãos e me afastei um pouco.

—Com o que você tem com Noc, você deveria estar


compartilhando isso comigo? — Eu perguntei.

Ela deu de ombros, seu olhar ainda fixo em mim. —


Talvez não, estritamente falando, porque sou amiga dele.
Mas quando eu não estava ficando doente com os nervos,
considerando tudo o que poderia dar errado hoje à noite, eu
estava pensando sobre suas palavras, perplexa por elas, o
suficiente para me encontrar inquieta. E elas foram
inquietantes o suficiente, então senti a necessidade de
compartilhá-las.

Eu entendi sua inquietação.

No entanto, não me senti confortável em discutir com


ela.

Circe não tinha o mesmo desconforto.


—Eu compartilhei que eu entendia muito o que você
pode estar sentindo em encontrar um homem como ele em
sua vida. Ele não só contestou, mas recusou-se a discutir.

Isso não era preocupante.

Isso era angustiante.

—Você está ciente de que ele tem esses sentimentos?


— Ela perguntou, e o tom de sua voz fez minha atenção
focar nela.

Circe pode ter vivido muito, mas ela foi sequestrada, na


verdade, realmente aprisionada através da maior parte da
vida dela. Ela não viveu em meu mundo onde, para
sobreviver, tinha que se tornar adepto de interpretar cada
olhar, maneirismo e entonação.

Assim ela não sabia que não estava escondendo de


mim que esta conversa não era sobre Noc.

Era sobre compreensão em seu coração que eu veria a


Noc.

Assim procedi com cautela.

—Espero que você entenda isso, com um homem como


Noc, para não mencionar o seu relacionamento e o meu
próprio sendo novo, que eu estou sentindo algum
desconforto em discutir algo com você, e eu nem sequer
discuti com Josette.

Seu olhar voltou-se cauteloso, quando ela respondeu:


—Claro.

—Ele é meu, eu disse.


Eu vi sua feição apertar.

Eu continuei.

—Vou cuidar dele.

E eu faria.

E parece que eu precisava cessar a enrolação e fazer


exatamente isso.

Ela continuou olhando-me de perto antes que sua boca


se suavizasse e seus olhos se aquecessem.

—Estou feliz.

—Agora, — eu disse firmemente, deixando claro que


terminamos com esse assunto, —você vai se trocar ou
esperar mais perto da hora de quando Dax chegar?

—Agora, — ela respondeu. —Se eu usar esta blusa, eu


preciso refazer a minha maquiagem porque eu a fiz em
bronze e ela precisa ser rosa. Isso vai levar tempo.

A blusa tinha uma linda sombra rosada.

Em outras palavras, ela estava correta nisso.

Comecei a me afastar, murmurando: —Vou deixar você


fazer isso.

—Franka, — ela chamou quando eu estava quase na


porta.

Eu me virei para ela.

—Estou feliz por você estar feliz, — disse ela. —E eu


estou feliz que você o está fazendo feliz.
Eu abaixei meu queixo. —Permita-me retornar esses
sentimentos com você e Dax.

Seus lábios se curvaram em um sorriso esperançoso.

Não era radiante, mas como qualquer ocasião que a


esperança fazia uma aparição, ainda tinha um brilho
magnífico.

Voltei e saí do quarto, fechando a porta atrás de mim.

—Estou liberada de meu papel forçado como crítica de


moda? — Valentine perguntou no momento em que a porta
fechou.

—Certamente, — eu respondi.

Ela não hesitou em girar para fora do quarto.

Eu a observei contemplativamente enquanto ela fazia


isso, me perguntando se havia alguma coisa a ser feita sobre
seu coração partido.

Depois que ela desapareceu, Josette começou a falar.

—Em casa, quando uma das outras empregadas tinha


o coração partido, as meninas pediam noites livres. Então, a
levávamos no pub local, colocávamos cerveja nela e a
ajudávamos a encontrar alguém que a levasse para cama, a
fim de apagar parte da dor e a lembrar que os seus
pretendentes não eram limitados a um único idiota que não
soube cuidar da benção que lhe foi dada, — ela observou.

E ao fazer essa observação, notei que Jo era muito


mais perspicaz do que eu imaginava (e eu sabia que ela era
perspicaz), pois eu não disse uma palavra sobre a situação
de Valentine.

—Eu acredito que Valentine não é apenas uma das


meninas, — respondi.

—Muito ruim, — Jo murmurou, olhou para o relógio e


saiu da cama. —O Glover estará aqui para me pegar em
cinco minutos! Eu preciso ir verificar meu cabelo!

E com isso, ela saiu do quarto.

Embora felizmente disponível para dar conselhos de


moda, Josette tinha há muito tempo planos com seu Glover.
Eles iam para um parque e fazer um piquenique, o pedido
de Josette para a tarde de domingo e à noite. E Glover,
quem eu não considerava ser um homem de piquenique,
concordou.

Noc não era um tipo de homem de piquenique, mas eu


sabia que ele não demoraria nem um segundo para me dar
se esse fosse o meu desejo.

Estes eram os meus pensamentos quando eu andei na


cozinha para ver Noc colocando os bifes que iriamos
consumir, em algum tipo de recipiente cheio com algum
molho que parecia revoltante, mas estava fazendo a cozinha
cheirar divinamente.

—Merda—, ele disse quando eu apareci, e me


concentrei nele para vê-lo focado em mim. —Não é bom você
vir de estar com a Circe e ter esse olhar em seu rosto.
—Circe será vestida de forma encantadora e está bem,
— eu o informei.

Sua boca se curvou antes que ele perguntou, —Então,


o que há com esse olhar em seu rosto?

—Ocorreu que eu poderia ser forçada a realmente


gostar deste Glover por Josette.

Noc explodiu em gargalhadas.

Eu sentei em um dos banquinhos, apreciando vê-lo


fazendo isso e ao mesmo tempo, decidindo que era
certamente um dia onde um copo de vinho adiantado estava
em ordem.

Eu então o assisti colocar uma tampa sobre os bifes,


ainda rindo, e continuei assistindo quando ele se virou para
a geladeira.

Seu jeito estava relaxado.

Sua expressão não estava contente, não com aquele


sorriso.

Ele estava feliz.

Mas enquanto eu observava, e o fazia de perto, depois


de ter a conversa que tive com Circe, eu notei algo pela
primeira vez. Algo que o meu amor mais querido estava tão
profundamente escondido, os vislumbres que ele me dera
não penetraram na minha consciência. Algo que fez, meu
estômago torcer tão violentamente que foi uma luta para
não pular do meu assento e correr para o banheiro.
Porque o que eu vi foi que não era eu que estava
convencida de que tinha uma alma de meia-noite.

Era o meu amor que estava se afogando na escuridão


do que ele pensava que era dele.

***

Eu estava impaciente.

E com raiva.

O que diabos o homem estava fazendo?

Eu não me importei.

Eu já tive o suficiente.

—Noc, meu querido, estou preocupada com as batatas,


— declarei.

Eu sentei com Circe na atraente mesa ao ar livre do


Noc, que era feita de ferro e tinha almofadas listradas. Uma
Circe que tinha dedos longos e delgados no caule de seu
copo de vinho, torcendo-o desta maneira e daquela. Uma
Circe que estava sentada comigo, sozinha comigo, enquanto
os homens se encontravam ao lado do aparelho de aço
grelhado do Noc, do outro lado do que Noc chamava de
―deck‖.

Dax estava ali precisamente por vinte minutos.

Eu contei.

E disse precisamente vinte e nove palavras a Circe.


Eu também contei essas.

O resto do tempo, ele bebeu da garrafa de cerveja que


Noc lhe dera e conversava.

Com Noc.

Fiquei em pé enquanto Noc olhava para mim.

—As batatas? — Ele perguntou.

—Certamente, — eu estalei, olhando para ele, depois


para Dax.

Eu reorganizei minha expressão para dar um olhar


tranquilizador a uma visivelmente atingida (de medo de
minha partida, bem como tendo Noc comigo) e ansiosa Circe
(fazendo-me considerar a castração mágica ou pelo menos a
impotência se Dax não se mover logo). Então, tentando não
pisar duro (e falhando neste esforço), me movi para dentro
da casa.

Eu não fui para as batatas, que sabia que estavam


assando esplendidamente no forno onde Noc as colocou.

Fui até a sala de estar, girei, coloquei minhas mãos em


meus quadris e bati meu pé, observando Noc se aproximar
lentamente.

Noc se aproximou e perguntou: —Você está bem?

—Não, eu não estou, — eu disse o óbvio.

—Qual é o problema? — Ele perguntou.

Qual era o problema?

Ele era cego?


—Isso é o problema, — eu gritei, levantei um braço e
apontei um dedo para a parte traseira de sua casa. —Dax
mal falou com Circe. E, eu não acredito que eu tenho que
transmitir esta informação para você, mas vou fazê-lo de
qualquer jeito, ele não está aqui para se apaixonar por você.

Noc se aproximou e baixou a voz. —Querida, ele está se


fazendo de tranquilo.

Senti minhas sobrancelhas subirem. —Não é hora de


fazer isso!

Ele chegou ainda mais perto, colocando uma mão na


minha cintura, ordenando severamente: —Acalme-se e
mantenha sua voz baixa.

—Você é um cozinheiro muito bom, mas eu também


vou compartilhar que ele não está aqui para participar de
seus talentos na cozinha. — Minha voz levantou-se
novamente. —Circe está pirando!

Ele fez uma de suas sobrancelhas levantarem


lentamente e perguntou, —Pirando?

—Sim. Pirando. Ela está sendo calma sobre isso, mas


eu posso sentir seu mal-estar.

—Pirando, — ele disse novamente, seus lábios


contraindo.

Eu estava vendo o que eu estava vendo?

Minhas sobrancelhas se juntaram. —Perdi alguma


coisa divertida?

Seus lábios ainda tremiam quando ele mentiu, —Não.


Eu não poderia lidar com o humor inadequado do Noc.

Eu tinha coisas maiores para tratar.

—Fale com ele, — eu exigi.

Ele passou sua mão da minha cintura para a parte de


baixo das minhas costas e ficou ainda mais perto, pegando
minha outra mão e levantando ambas para colocá-las em
seu peito.

—Ok, você estava lá na outra noite, e naquela noite,


Circe realmente pirou.

—Sim, de fato, eu estava lá, então você não precisa me


lembrar dessa ocorrência, — concordei.

—Você acha que seu melhor jogo é chegar aqui e pegá-


la de jeito?

Eu não ouvi a terminologia ―pegar de jeito‖ antes.

Ainda assim, não perdi o significado.

Nem era seu ponto.

Apertei os lábios.

—Ele está dando a ela algum espaço, — Noc me disse.

—Ele precisa parar de fazer isso, — eu disse a ele.

—Ele vai, quando for o momento certo, — disse ele.

—O momento foi há quinze minutos, — retorqui.

—Apenas deixe-os jogar para fora, — ele aconselhou.


—Noc, meu querido, se ele acha que ela vai se
aproximar, ele estará esperando até que o mundo pare de
girar.

Ele inclinou o pescoço para que seu rosto estivesse


perto do meu.

—Ele não está esperando que ela se aproxime, querida,


ele estava esperando por nós para verificar as batatas.

Eu olhei para ele.

—Você acha que ele não está no espaço dela agora, ou,
como é que ele pode ficar sem lançá-la fora? — Noc
perguntou.

Inclinei-me um pouco para olhar a casa comprida de


Noc em direção à porta dos fundos. Eu não podia ver nada
de lá. Eu não conseguia ouvir nada.

Olhei para Noc. —Vamos até a janela do seu quarto e


espiar para verifica-los.

Mais espasmos em seus lábios antes que ele negasse,


—Nós não vamos espioná-los.

Foi então que algo mais me ocorreu.

—Você colocou a carne no fogo. E se o que eles têm que


fazer levar muito tempo e os bifes queimarem?

—Baby, você se importa se comer um bife queimado


esta noite?

Claro que sim. Bifes eram deliciosos, eu gostava da


minha comida e eu especialmente gostava de um bife ao
ponto.
Queimado seria abismal.

Claro, eu comeria um bife queimado se o Dax pudesse


estar vendo as coisas.

Eu simplesmente não gostaria.

Eu tomei uma decisão.

—Você pode não querer espioná-los, mas eu vou, — eu


declarei, puxando de seu aperto e movi em torno dele.

—Frannie, — ele chamou.

Continuei andando, com cuidado de manter meus


olhos na porta dos fundos, se um deles aparecesse e me
visse.

Isso não aconteceu, então eu fui capaz de adentrar no


quarto do Noc.

Eu rapidamente fui até as janelas, e tão rapidamente ─


e habilmente me situei em um local onde eu poderia ver,
mas seria difícil me ver.

Levantei a mão e separei as ripas nas persianas de


Noc.

Olhei para fora.

Noc estava correto. Dax não estava mais de pé junto ao


aparelho de churrasco da Noc. Ele foi para a mesa onde
Circe estava sentada.

Ele não só foi para lá, mas puxou uma cadeira em


torno da mesa que fosse perto dela, e se sentou.
E ele não só estava sentado nela, estava com a cintura
virada, sua intenção de compartilhar que ela tinha toda a
sua atenção, quando ela continuou a brincar inquieta com
seu copo de vinho timidamente, mas parecia estar fazendo
isso enquanto falava com Dax.

Este era um Dax que era muito ouvidos, aparentando


que cada palavra que ela falava era um diamante de gelo
Sjofn caindo de sua boca.

Nossa.

Senti Noc chegar atrás de mim, vendo do canto do meu


olho como ele abriu suas próprias ripas para espiar.

Ele fez isso grunhindo irritado, —eu não posso


acreditar que estou fazendo essa merda.

Eu ignorei isso e sussurrei, como se estivéssemos no


convés e não estivéssemos separados pela distância e pela
parede externa de uma casa, —ele fez sua aproximação.

—Eu disse, — Noc sussurrou de volta.

—Ele parece enamorado, — eu notei.

—Você está surpresa? — Noc perguntou.

—Não, — respondi. —Apenas satisfeita que ele não está


mais ―se fazendo de tranquilo‖ e agora está mostrando seu
interesse.

Circe parou de falar, os lábios de Dax se moveram


quando ele disse alguma coisa, e nós vimos como o corpo de
Circe deu um surto surpreso antes de sua cabeça curvar
para trás de forma graciosa e ouvimos os tons doces de seu
humor passar através do vidro da janela.

Excelente.

Dax sorriu para ela enquanto fazia isso e seu sorriso


não vacilou, nem escondeu a intensidade de seu prazer
quando ela parou de rir, mas fez isso voltando e se
inclinando mais para ele, na cadeira.

Dax retribuiu esse gesto se inclinando para ela.

Nesse momento, ela pareceu se encostar, mas,


visivelmente, se forçou a relaxar enquanto continuavam
conversando.

—Os bifes vão queimar com certeza, — murmurou Noc.

—Vamos deixá-los queimar e ir comprar mais, — eu


sugeri.

Dax voltou a dizer algo engraçado, pois Circe riu de


novo, desta vez coloocando uma mão para tocar seu
antebraço que estava descansando no braço da cadeira.

Ele não sorriu enquanto a observava rir.

Ele olhou para sua mão sobre ele e imediatamente


virou seu braço para que ele pudesse encaixar seus dedos
nos dela.

Em troca, Circe imediatamente parou de rir.

Eu segurei a respiração.

—Foda-se, movimento corajoso e muito cedo, —


observou Noc.
Eu deixei minha respiração solta em um canto, —Não a
deixe ir. Não a deixe ir. Não a deixe ir.

Circe se endureceu, afastando um pouco o tronco.

Dax não soltou a mão e se inclinou mais fundo, a


perseguindo, mesmo sentada.

Ela mergulhou o queixo, virando a cabeça e


escondendo ainda mais o rosto com uma mecha de cabelo.

Dax estava falando com ela enquanto ela fazia isso e


continuava a fazê-lo enquanto mantinha o rosto afastado.

Ele fez isso por algum tempo.

Noc e eu ficamos em silêncio e vigilantes durante esse


tempo.

E então eu respirei profundamente quando Dax


levantou a mão, tocou os dedos suaves na mandíbula de
Circe, e a forçou a encará-lo.

—Foda, — grunhiu Noc.

Dax continuou falando.

Eu fiquei tensa.

Depois de momentos que pareciam passar uma


eternidade, ela assentiu com a cabeça, um olhar quente e
aliviado lavou o rosto de Dax e ele deixou cair os dedos de
sua mandíbula, mas continuou segurando sua mão e o
lugar dele em seu espaço.

—Agora nós realmente temos que verificar as batatas,


— Noc murmurou.
Tirei minha mão das tiras e me virei para ele.

Ele estava tão perto que senti meu braço escovar seu
peito quando fiz isso. Também quando fiz isso, ele tirou a
mão das tiras e olhou para mim.

Olhei para ele, de repente, atordoada.

Ele era tão bonito. Pura perfeição em todos os


aspectos.

Não era a primeira vez que eu notava isso, mas agora


que sentia sua dor, eu não pude deixar de sentir o pulsar
silenciado batendo sob a superfície.

Isso me fez balançar para ele ao mesmo tempo


envolvendo meus braços ao redor de sua cintura.

Noc devolveu o gesto.

—Mais alguns minutos e eu vou intervir. Dar a ela um


pouco de descanso para que possa recuperar o fôlego, — eu
disse a ele.

—Penso que é um bom plano.

Eu balancei a cabeça e fiquei na ponta dos pés para


tocar minha boca na dele.

Quando nossos lábios se separaram, eu não rolei


completamente para trás.

Segurei seu olhar e compartilhei o amor que eu tinha


por ele.

—Obrigado por sua paciência com isso, — eu


sussurrei.
—Baby, faço qualquer coisa por você, mas ajudar você
a orientar Circe para a felicidade não é uma dificuldade.

Eu puxei um braço dele, levantei minha mão e coloquei


na sua bochecha, correndo meu polegar ao longo da borda
de seu lábio inferior.

—Sim, eu sei disso, é muito você. Mas obrigada mesmo


assim.

Ele não respondeu. Ele apenas balançou a cabeça


como se negasse o elogio que eu dei, mergulhou e escovou
seus lábios contra os meus.

—Eu preciso verificar as batatas, — disse ele quando


se afastou. —E você precisa dar um tempo para a nossa
menina.

Eu balancei a cabeça.

Os braços de Noc me deram um aperto.

Eu o apertei de volta.

Ele tirou os braços de perto de mim, mas pegou minha


mão e a segurou, mesmo que nós estivéssemos
simplesmente caminhando para a cozinha dele.

Eu esperei dentro, observando Noc fazer algo peculiar,


isto sendo cutucar as batatas com um garfo.

Eu não perguntei depois disso, em parte, porque eu


não me importava, mas principalmente, porque eu tinha
outras coisas em minha mente.

Essas outras coisas que senti que dei tempo suficiente.


Então eu saí para ver a ―nossa garota‖.

***

—Frannie, saia da janela, — ordenou Noc.

—Eles não podem me ver, —, retruquei.

—Você não acha que os espionou o suficiente? — Ele


perguntou.

Eu olhei pela janela, tendo visto Dax e Circe enquanto


eles estavam na varanda da frente, para Noc.

—Não.

—Ele poderia beijá-la, — disse Noc, encostando-se no


tijolo ao lado do manto da lareira, com a expressão fechada,
os olhos em mim.

—Bom, — eu respondi, voltei para a janela e espiei


através das persianas. —Eu não quero perder isso.

Eu mal conseguia engolir meu grito surpreso quando,


segundos depois, minha mão foi agarrada e eu fui arrancada
da janela.

Eu fui então girada, presa com as pernas para o braço


do sofá e encontrando-me caindo, terminando com minhas
costas para o sofá e Noc em mim.

—Deixe-os em paz, — ele exigiu.


Eu prendi meu fôlego e decidi não ficar aborrecida com
as maquinações de Noc (ou excitada por eles) e mais
aborrecida por talvez perder o primeiro beijo de Circe e Dax.

Em vez disso, eu decidi que seria apenas a coisa para


dissecar a noite inteira.

—Uma vez que Dax quebrou o gelo em seu convés, eles


mal olharam para nós dois toda a noite.

Noc parou de olhar severo e começou a sorrir. —Eu sei,


linda. Eu estava lá.

—E quando estávamos na cozinha pegando as bebidas


e eles estavam escondidos atrás de sua lareira, estavam
parados muito perto e tiveram que se separar quando
chegamos, Dax estava tão furioso que nós quebramos seu
momento, eu pensei que ele direcionaria um soco em você.

Noc continuou sorrindo. —Sim, Frannie, peguei isso


também, porque, eu estava lá.

—Ela se saiu bem por si mesma, — eu observei. —Ela


foi muito divertida. E então ela foi tímida em todos os
sentidos corretos. Era delicioso como ela, muitas vezes, não
conseguia encontrar o seu olhar e que o rubor ficava em
suas bochechas. Dax não podia tirar os olhos dela.

—Você está determinada a fazer o golpe por golpe, —


ele murmurou em derrota, ainda sorrindo generosamente,
por isso, eu sabia, não me importando nem um pouco.
—Claro, — respondi. —A única coisa melhor do que
uma trama executada com sucesso é, elogiar a si mesmo por
ser um gênio em executar com sucesso tal enredo.

Noc começou a rir, fazendo isso, rodando em direção à


parte de trás do sofá e nos ajustando para que ambos
estivessem sentados, mas ele me dobrou tão perto do seu
lado, que eu estava quase em seu colo.

Dei um olhar de soslaio na direção da porta e


murmurei, —Espero que ele esteja pedindo para vê-la
novamente.

—Ele está totalmente pedindo para vê-la novamente.

Eu me reorientei em Noc e sorri.

E então disse, —Isso significa que precisamos levá-la


às compras para a roupa perfeita. Nada disto de tentar
decidir por algo do vestuário que você já possui.

—Uma mulher não precisa de uma roupa nova para


cada encontro, — decretou Noc.

Ele estava muito errado nisso, mas eu senti que nunca


iria convencê-lo, então eu não tentei.

—Tudo o que sei é, — prosseguiu Noc, —se Circe


quiser algo novo, ela terá que te levar. Eu começo a
trabalhar amanhã, então nossas viagens para o shopping se
tornaram suas viagens para o shopping. — Como uma
reflexão tardia, ele terminou, —o que significa que
precisamos encontrar mais tempo para você voltar para
atrás de um volante.
—Eu acredito que seria benéfico se Josette ou eu,
estivéssemos aptas a percorrer a cidade por nossa conta e
eu acho, inicialmente, que deverá ser eu, — eu concordei.

—Você concorda? — Ele perguntou.

—Eu gosto muito de dirigir. Suas interestaduais são


um tanto alarmantes, mas vamos trabalhar até isso.

Ele me deu um sorriso orgulhoso. —Sim, nós vamos.

A porta se abriu e nós dois nos viramos para ela, eu


tendo que me torcer muito para olhar por cima do meu
ombro, Noc simplesmente teve que virar a cabeça para olhar
sobre o meu outro ombro.

Circe estava lá dentro.

E oh.

Nossa.

Caramba.

—Ele totalmente a beijou, — Noc sussurrou em meu


ouvido.

Ele totalmente fez.

Ela parecia meio acordada. Como uma sonambula.

E sonhando, bons sonhos.

—Circe, querida, você está bem? — Noc chamou


calmamente.

Por um momento, ela estava perdida em seu próprio


mundo e nem Noc, nem eu, dissemos nada, pois era,
claramente, um bom lugar para estar.
De repente, ela começou a olhar para nós.

—Desculpe, o quê? — Ela perguntou.

—Ele te beijou? — Eu perguntei de volta.

—Frannie, — Noc cortou.

—Eu... ele estava...— balbuciou Circe e começou a


sorrir. —Sim.

Minha nossa.

—Acho que ele é muito talentoso nisso, — eu observei.

Ela olhou para Noc e mordeu o lábio.

—Não irei me ofender, Circe, — murmurou Noc com


suas palavras inaudíveis, parecendo divertido.

—Isto é, hum, estranho, — ela olhou para mim e para


trás em Noc. —Você é, é claro, um beijador muito bom.

Eu não me ofendi, também, por ela dizendo isso, sem


dizer que pensou que Dax era um beijador melhor e me
senti segura para dizer, se uma mulher tem comentários
sobre isso sobre o meu homem, seria eu que diria.

—Claro—, eu concordei. —E eu poderia te assegurar


que Dax poderia me beijar e eu diria a mesma coisa. Mas eu
não estaria olhando como você está, depois que ele fizesse
isso.

—Eu estou feliz que você entende, — ela disse,


obviamente, aliviada.

—Ele te convidou para sair? — perguntou Noc.


—Amanhã à noite, — ela disse, movendo-se para a
poltrona do Noc e sentando nela, mas só na beirada, como
se precisasse estar pronta para explodir, dada qualquer boa
razão.

—Não deixou crescer grama alguma, — disse Noc em


voz baixa.

Mas eu achei isso preocupante.

—Isso nos dá muito pouco tempo para ir às compras


para uma roupa, — eu declarei, em seguida, perguntei: —
Onde ele está te levando?

—Bem, ele estará cozinhando para mim, em sua casa,


— ela respondeu.

Eu endureci.

Noc fez um barulho como se estivesse sufocando...

Em risos.

Um beijo na varanda de outro homem.

Jantar em sua casa na noite seguinte.

Circe estaria na cama dele, naquela hora, no dia


seguinte, eu tinha certeza disso.

Portanto, os planos precisavam ser estabelecidos o


mais rapidamente possível.

—É imperativo você tirar folga amanhã, e quando as


portas no shopping abrirem, nós estaremos entrando nelas.

Circe parecia confusa.

—Tenho muitas roupas, Franka.


Ela provavelmente tinha.

No entanto, no shopping nós estaríamos cuidando


disso.

Mas nossa principal missão seria a roupa íntima.

Eu estava pensando na rosa. Rosa pálido. Com uma


boa dose de renda delicada.

—Me agrade, — eu pedi.

Ela me estudou e mudou seu olhar para Noc.

Ele deve ter comunicado algo a ela, silenciosamente,


pois seu rosto relaxou, e quando ela olhou novamente para
mim, estava sorrindo.

—Tudo bem, eu vou tirar o dia de folga.

—Excelente. E agora um digestivo. — Eu virei para o


Noc. —Você esteve cozinhando e recepcionando por horas.
Eu vou buscá-los. — Eu ofereci.

—Uma merda que você vai, — ele respondeu.

Olhei para ele, surpresa, não só por suas palavras,


mas pela ferocidade com que ele as pronunciou.

Ele se levantou, mas se curvou, profundamente,


colocando seu rosto no meu.

—Eu cuido da minha menina, — declarou ele, se


endireitou e olhou para Circe com uma expressão muito
menos feroz. —Todas elas, — ele terminou e se afastou.

Bem, ele, definitivamente, fez isso.


Eu o observei ir e continuei a observá-lo, fazendo isso e
sabendo que eu usava um olhar supremamente presunçoso
em meu rosto e não me importava.

Eu fiz isso até que senti a atenção de Circe.

No instante em que eu peguei seu olhar, eu perguntei:


—Feliz?

Alguma coisa pousou em seu rosto e levou um


momento para responder. Quando ela fez, foi tão baixo, que
eu quase não ouvi.

—Então é assim que se sente.

Eu me inclinei em sua direção, completamente, caindo


nas almofadas do sofá para descansar meu peso em meus
antebraços.

Quando o fiz, ela se moveu mais para a borda do


assento e se inclinou para mim, empoleirou-se
precariamente lá quando nós assumimos a pose de amigas
neste mundo e qualquer outro.

—Você vê, — eu sussurrei, —é tão bonito, quando é


seu, é difícil acreditar que é real.

—Sim, Franka, eu vejo, — ela sussurrou de volta.

—Ele foi amável com você quando deixamos vocês


sozinhos lá fora? — Eu perguntei.

—Ele foi...— ela balançou a cabeça, —Ele é tão grande,


parece impossível acreditar, mas ele é tão gentil, é
surpreendente.

Oh, sim.
Eu estava muito certa.

Assim como no outro, Dax Lahn deste mundo era


absolutamente perfeito para sua Circe.

—Por favor, diga-me que ele usou sua língua com o


beijo, — eu implorei.

Um rubor bateu em suas bochechas, mas seus olhos


se iluminaram. —Ele fez. — Ela se inclinou para frente,
quase derrubando o braço do sofá antes que ela caísse e eu
tive que sentar enquanto ela se situava perto de mim no
sofá.

Imediatamente, inclinamos nossas cabeças juntas.

—Ele tem gosto de... Eu não sei, parece estranho


quando digo que ele tem gosto, bem, como... homem?

Que delícia.

—Com certeza que não, — respondi.

—É a melhor coisa que eu já provei, — ela respirou.

Meus olhos foram para a cozinha quando eu


compartilhei, —Eu sei exatamente o que você quer dizer.

Ela soltou uma risadinha antes de sufocá-la.

Peguei sua mão, meu corpo tremendo.

Eu não poderia segurar dentro. Risos estouraram.

E para minha maior satisfação ...

Circe seguiu meu riso.


Desculpas

Franka
No começo da manhã, um barulho horrível soou,
arrancando-me do sono assustada, com medo deste som ser
o anúncio do fim do nosso mundo.

Levantei na cama.

Tão abruptamente quanto começou, o som parou, virei


meus olhos temerosos a Noc para vê-lo esticado em direção a
cabeceira, tocando o relógio que aprendi ser iluminado por
uma magia conhecida como ―eletricidade‖.

—Pelos deuses, querido, o que foi isso? — Perguntei.

Ele rolou de volta para mim, olhou-me no rosto e deu


um sorriso de olhos pesados antes de se enrolar e envolver os
braços em torno de mim, puxando-me para baixo e rolando-
me para trás com o seu peso sobre mim.

—É um alarme, Frannie, — respondeu.

—Poderia dizer isso. Por que estava tocando?

—Para me acordar. Tenho que me arrumar e ir para o


trabalho, mas antes disso, tenho que deixá-la com Valentine.

Este truque de alarme era claramente outra amenidade


deste mundo, uma necessária considerando que Noc não
tinha empregados para acordá-lo na hora certa.

O que deu origem a perguntas sobre como os criados do


meu passado haviam me acordado no momento apropriado.

—Baby.

Mudei meus pensamentos para ele.

Suas pálpebras ainda estavam pesadas de sono, mas o


que vi em seus olhos não era sonolência no mínimo.

—Vou foder você primeiro, — declarou, abaixando a


cabeça. —Começar o dia bem.

Aí sim. Isso realmente faria meu dia começar bem. Eu


sabia que isso era um fato desde que Noc era um homem, e
os homens em geral tendiam a desejar começar qualquer dia
dessa maneira. A diferença era que Noc não era o tipo de
homem que somente esperava que algo acontecesse, ele fazia
acontecer.

Fazendo isso todas as manhãs e absolutamente


começando cada dia bem.
Começou a fazer isto neste momento, e eu aprendi que
antes de ir para o trabalho mesmo com o tempo limitado que
tinha, ele conseguiria deixar-nos saciados.

O homem tinha habilidade e não era a primeira vez que


demonstrava isso para mim.

No entanto, foi a primeira vez que ele colocou minhas


pernas em seu peito, meus tornozelos em seus ombros, as
mãos na cama para poder ter controle, os olhos devorando-
me, seu corpo posicionado para que eu pudesse fazer o
mesmo.

E eu fiz.

Deliciosamente.

—Dedos em seus seios e clitóris, baby, quero assistir


você me ajudar a fazê-la gozar, — ele ordenou, puxando
metade para fora e circulando enquanto eu posicionava
minhas mãos como ele dissera.

Seu olhar desceu pelo meu corpo e ele puxou até a


ponta antes de entrar e ficar por lá.

Meu.

Tão amável.

Mesmo adorável como era, eu precisava de mais.

De Noc, eu sempre precisava de mais.

—Por favor, rápido, querido. — Eu respirei.

—Pegue seu mamilo, — ele exigiu.


Eu dei-lhe o que queria, ao mesmo tempo um raio
atravessou-me do peito ao útero. Ele convulsionou e ouvi seu
grunhido quando fez. Eu segurei meus tornozelos em seus
ombros incontrolavelmente.

Tive mais dificuldade em me concentrar nele quando


repeti em um suspiro: —Por favor, querido, mais rápido.

Ele fez o que pedi, indo mais rápido agora e colocando


todo seu peso em uma mão para que sua outra mão pudesse
cobrir a minha, seus dedos sobre os meus no meu mamilo,
apertando e puxando.

Ele não precisava fazer mais nada.

Eu moí em seus golpes, arqueando-me de volta, meus


lábios se separam e rapidamente fui dominada, fazendo o que
Noc sempre faz, consumindo-me.

—Continue em seu clitóris, continue gozando, baby, —


Noc grunhiu, ainda me levando profundamente e forçando
meu mamilo com seus dedos.

—Noc, — eu resmunguei, continuando a dançar sobre


as ondas de clímax que ele estava me dando.

Ele fez meus dedos torcerem meu próprio mamilo


enquanto puxava e mantinha-se empurrando.

—Não pare de gozar, — ele gemeu.

—Eu... não vou, — prometi porque de fato não estava


parando.

Eu gozaria para sempre para ele, se ele quisesse, e faria


isso de bom grado.
—Porra, — ele ladrou. —Foda, — murmurou.

Noc puxou minha mão do meu seio, forçou seu tronco


através de minhas pernas para que elas fossem para fora de
seu peito, e caiu em cima de mim, enterrando seu pau
profundamente, e me deixando assistir ao espetáculo glorioso
de perto quando sua cabeça foi para trás e seu próprio prazer
o consumiu.

Eu o apertei com minhas pernas, contraindo-me


suavemente com meus tremores secundários e acariciando-o.

Quando acabou, ele deixou cair sua boca na minha e me


beijou.

Depois de levantar a cabeça, ele perguntou calmamente,


—Você quer dormir enquanto tomo banho e depois que eu a
deixar na Valentine você faz isso, ou quer se arrumar comigo?

—Você estará longe de mim pela primeira vez neste


mundo, e isso irá durar alguma quantidade de tempo,
querido, então gostaria que continuássemos juntos. O que
mais eu iria querer fazer?

Seu rosto ficou quente quando ele segurou minha


bochecha em sua palma e passou o polegar pela minha pele.

—Se é isso o que você quer, temos que ir então, coração.

Eu balancei a cabeça.

Noc me beijou novamente.

Depois, iniciamos os afazeres.


***

Cedo naquela noite, quase caí do assento exaltada,


quando finalmente, depois de pelo menos uma hora de fazer
tudo ao meu alcance, surgiu uma visão na minha bola de
cristal.

Era de um homem elegante, cabelos loiros e olhos azuis,


com uma estrutura alta, bem formada e de uma maneira
muito atraente.

O amante perdido de Valentine.

Não era nenhuma surpresa que ela tinha bom gosto.

Também não me surpreendeu que ela claramente me


bloqueasse.

O que foi uma surpresa foi que consegui quebrar o


bloqueio.

E agora entendi um pouco seu desgosto porque ele era


excepcionalmente bonito.

No entanto, não podia ler mais porque a imagem estava


se desvanecendo rapidamente, minha fumaça azul
misturando-se com a verde levando-a embora, ao mesmo
tempo senti uma presença se juntar a mim.

Presença esta que eu conhecia, me virei e vi Noc


passeando pelo quarto.

Sorriu para mim, olhou minha bola de cristal e então


devolveu-me o sorriso.
Levantei-me da cadeira e ofereci-lhe meu próprio
sorriso.

—Olá querido. Como foi o primeiro dia com seus novos


empregadores? Perguntei.

Ele veio até mim, rodeando-me com um braço e


inclinando a cabeça para tocar meus lábios, antes de
responder: —Papelada. Reuniões com clientes. Passando por
casos que eles estão atribuindo-me. Não é exatamente
divertido, mas não estão me fodendo em tudo. Eles querem-
me na área de atuação amanhã, então chegarei as coisas
boas rapidamente.

Não tinha ideia do que ―as coisas boas‖ eram, mas vendo
como ele as descrevia, levei uma mão a seu bíceps e
murmurei: —Excelente.

Noc olhou para minha bola de cristal, o sorriso se


apagando, os olhos especulativos quando voltou sua atenção
para mim.

—Você está espionando Circe? — Perguntou.

Senti meu corpo endurecer-se ligeiramente em afronta


enquanto minha boca se apertava. —Claro que não.

—Então, o que você está fazendo com sua bola de


cristal?

—Embora o tempo tenha passado, parece que Valentine


não está curada de seu desgosto então eu estava olhando
esta situação, — eu compartilhei.
Noc virou seu olhar para o teto e declarou: —Ela mal
saiu de uma, e já está se metendo em outra.

Coloquei minha outra mão em seu peito e dei-lhe um


leve empurrão, novamente ganhando sua atenção.

—Ela está sofrendo, — eu disse.

—Dê-lhe um tempo, — ele retrucou.

—E se eu puder fazer algo...

Seu braço me apertou e sua outra mão cobriu minha


mandíbula. —Baby, dê-lhe um tempo. Circe é Circe. Doce,
amorosa e incapaz de guardar rancor. Valentine é um animal
inteiramente diferente. Eu disse a você que a brincadeira que
fez com a Circe não era legal e nós dois sabemos como isto
terminou. Não vou recuar sobre isto. Valentine vai perder a
cabeça, se você se intrometer nesta situação. Ela significa
algo para você. É uma boa mulher, mesmo que ela não goste
de desempenhar este papel. Não foda com isso. Entenda,
Frannie. Não. Você se mete, ela ficará magoada, se ela quiser
fazer, ela fará magicamente de além do túmulo. O que quero
dizer é que você irá perdê-la.

Senti minha boca apertar novamente porque ele


provavelmente estava certo (provavelmente).

Noc notou minha aceitação não-verbal de sua


declaração e mudou de assunto.

—Você foi com Circe ao shopping?

Balancei a cabeça, deixando passar o que acabávamos


de discutir dizendo animada. —Sim, compramos para ela o
mais divino conjunto de lingerie. Estou certa de que Dax
ficará emocionado quando Circe colocá-las...

Noc soltou o braço em volta de mim e levantou-o, com a


palma para fora...

—Pare agora. Isso é merda de mulher. E não preciso


saber sobre a roupa íntima de Circe ou o que você imagina
que Dax fará quando a vir. Insisto em dizer que se ela
compartilhar o que ele realmente fez, não quero saber nada
sobre isso também.

Decidi não falar mais.

Noc decidiu o oposto.

—Estou com fome, mas não quero cozinhar ou ir em um


restaurante, então para você tudo bem com chinesa?

Eu não tinha ideia o que significava ―Chinesa‖.

Mas ainda assim, acenei com a cabeça.

—Josette vem conosco? — Perguntou.

Eu balancei a cabeça. —Glover a pegará logo para


jantarem. — Fiz meus pensamentos claros sobre o próximo
assunto com meu tom, —Ela está passando a noite com ele.
Como fez na noite passada.

Noc sorriu.

Eu não.

Noc notou minha falta de entusiasmo por isso o seu


sorriso cresceu.
No entanto, não fez menção a isso e disse simplesmente:
—Então vamos para casa.

Casa.

Sim.

Eu queria ir para lá.

Mas só porque era onde Noc queria estar.

Para mim casa era uma coisa diferente.

Para mim, casa era simplesmente Noc.

***

Eu gostei da fast-food chinesa.

Muito.

Noc tinha grande habilidade em usar os pauzinhos para


comer, eu nem tanto porque eles eram desajeitados. Mas
estava determinada a dominá-los, porque Noc disse: —Você
deve comer qualquer alimento do jeito que deve ser comido.
Os chineses não comem isso com um garfo. Confie em mim, é
melhor com pauzinhos.

Ele era excelente.

Portanto, eu definitivamente dominaria os pauzinhos.

Jantar acabado, limpeza mínima concluída (eu mesma


ajudei, mas como era simplesmente enxaguar os pratos, e
colocar na máquina de lavar louça, não era exatamente
difícil), estávamos relaxando, aconchegados no sofá,
assistindo o que ele chamou de um drama policial.

Eu estava desatenta a esse drama.

Na verdade, estava desatenta durante todo o dia.

Me sentia completamente perdida sobre como abordar o


assunto de uma maneira significativa (de uma forma que
pudesse mudar completamente seu pensamento acerca do
assunto) por causa das questões que conheci em minha alma
estava disfarçando o mundo de Noc.

Ou mais ao ponto, o modo como Noc se viu em nosso


mundo.

Problemas que não tinha ideia de onde surgiram.

Ao abordar esse mesmo assunto comigo, Noc enfrentou-


o de frente e me fez fazer o mesmo.

Não acho que essa mesma abordagem seria bem-vinda


partindo de mim.

Eu só sabia que tinha que encontrar a abordagem


correta.

Mas, pela primeira vez na minha vida, investigar os


assuntos de alguém, suas emoções, seu passado, não estava
sendo fácil.

O que só piorou as coisas, já que esta era a vez mais


importante que enfrentaria.

—Ela ficará bem.


As palavras de Noc puxaram-me desses devaneios e virei
minha cabeça olhando para ele aconchegado em mim, seu
peito em minhas costas.

—Perdão?

Sua expressão era suave igualando seu tom.

—Sobre Circe, querida. Não precisa se preocupar. Ela


ficará bem.

Eu sabia disso. Ela estava com Dax. Ele afundaria uma


lâmina em seu próprio coração antes de fazer qualquer coisa
para prejudicá-la.

No entanto, hesitei em compartilhar isso com Noc desde


que não queria que ele soubesse o que realmente estava em
minha mente.

—Você está a milhões de quilômetros de distância, mas


pode voltar para casa. Ela ficará bem, — ele continuou me
assegurando.

—Claro, — murmurei despreocupadamente, me


sentindo culpada, não estava aliviando suas preocupações
compartilhando a verdade.

—Você pode ligar para ela de manhã, — afirmou.

Balancei a cabeça.

E também estudei seu rosto.

Ele gostava que eu estivesse preocupada com Circe


(pensou ele). Ele gostava de estar aconchegado comigo no
sofá, assistindo TV.
Ele me amava.

E estava no que eu chamava de modo Noc Humorado.


Sendo doce. Atencioso. Gentil.

Um humor que poderia ser propício a um certo tipo de


discussão.

Eu deveria enfrentar o problema de frente. Dizer-lhe o


que eu vi nele. Tudo o que vi. Então pedir-lhe para
compartilhar comigo a dor que estava segurando, a dor que já
não estava escondida.

Mas parece que eu tinha coragem para cometer traição


ao meu país. Também tinha coragem de enfrentar três bruxas
que poderiam ter me eliminado com um piscar de olhos. E
tinha coragem de deixar todo o meu mundo para trás e viajar
para um mundo desconhecido para mim. Mas não tinha
coragem de forçar Noc a enfrentar o que causava sua dor,
fazendo com ele se abrisse comigo.

Murchei

—Vou ligar para ela de manhã, —, disse a ele.

—Bom, — ele murmurou.

—Eu te amo, — soltei e ele deu uma leve puxada de


cabeça, surpreso antes de seus olhos aquecerem-se e ele
inclinar o rosto mais próximo ao meu.

—Eu também te amo, Frannie, — sussurrou.

Queria usar essa abertura para continuar, e encontrar


as palavras certas para apagar o que quer que estivesse lhe
causando dor, sem que eu o enfrentasse. Compartilhar tudo o
que ele significava para mim e fazê-lo entender que poderia
desabafar, assim como ele deu esse mesmo presente para
mim.

Eu tinha muitos talentos em muitas áreas.

Mas este não era um.

E achei muito frustrante.

Noc nos puxou do momento se aproximando ainda mais


e beijando meu nariz.

Então virou-se para a TV, levantando o controle remoto


para voltar o filme no momento que desviou sua atenção.

Ele estava interessado no programa.

Assim, agora não era o momento.

Mas eu tinha que encontrar um momento.

E tinha que dar um jeito.

Só não sabia como fazer qualquer um.

***

Na tarde seguinte, levo o telefone ao meu ouvido, a


quinta vez que estou tentando, finalmente conseguindo
conectá-lo.

—ALô? — Soou devagar em meu ouvido.

—Tudo bem? — Perguntei.

—Frannie?
Não estava mais irritada que outra pessoa estava me
chamando assim, agora era Circe.

Tinha outras coisas para me preocupar.

—Sim, Frannie —, confirmei, mesmo sabendo que meu


nome apareceu no telefone dela, como se todos os nomes dos
chamadores surgissem na minha tela e eu não precisasse ver
também. —Estive tentando te ligar o dia todo, — disse.

—Desculpa. Estava ocupada, — respondeu.

—Você não parece ocupada. Está dormindo no trabalho?


— Perguntei, não inteiramente incerta. Circe parecia bastante
esforçada. No entanto, poderia estar exausta por algum
motivo específico.

—Bem, eu não estou no trabalho.

Olhei para o meu relógio, surpresa por isso, pois aprendi


que as horas de trabalho naquele mundo eram das oito da
manhã até às cinco da tarde (normalmente) sendo essas as
horas de Circe. Naquele momento, eram um quarto depois
das três.

—Tem algo errado com seu emprego?— Perguntei.

—Não. É que não fui para o trabalho hoje.—

Fiquei em silêncio.

—Sua voz baixou quando disse: —Dax também não.

Oh meu.

—Certo, — eu disse com inteligência. —Continue, —


finalizei e terminei com, —Adeus.
E desliguei.

Então comecei a rir.

Ainda assim, voltei a ligar meu telefone e chamei Noc.

—Em outras palavras, como já disse, — começou ele


depois de lhe transmitir tais informações, —ela não está
apenas bem, ela está muito bem.

Eu não poderia argumentar contra isso, nem queria,


então não disse nada.

—Nós estamos fofocando sobre Circe? — Perguntou com


humor na voz.

—Por agora, — respondi.

—Certo, — ele disse. —Até mais tarde, Baby. Te amo.

—E também amo você.

Então desligamos.

Eu estava, de fato, fofocando sobre Circe.

Para Noc.

Então saí de onde estava e fui para cozinha de Valentine


encontrando Josette, praticando suas habilidades culinárias
neste mundo.

Porque na verdade não estava fofocando sobre Circe.

Eram boas notícias, boas demais para não compartilhar.

***
Dois dias depois, à tarde, caminhava por uma sala da
casa que a corretora estava nos mostrando, sentindo isso.

Sentindo tudo isso.

Ela encontrou.

Era perfeita.

Levei meu telefone ao ouvido ainda tocando.

—Baby, — falou Noc.

—Acho que a encontramos, — sussurrei, afastando-me


de Josette, da corretora e de Valentine, que nos levou para a
visitação.

—É boa? — Ele perguntou.

—É perfeita, querido. O pátio. As rosas do teto. Um


quarto incrível para mim. E muitos outros quartos.

Noc ficou em silêncio por um segundo antes de


perguntar: —Como você se sente sobre ocupá-los?

Minha voz caiu uma nota. —Você sabe como.

—Diga a corretora que quero vê-la. Tenho merda com o


trabalho no sábado assim terá que ser domingo.

—Farei isso.

—Josette gostou? — Perguntou.

—Sim, — respondi.

—Valentine está com vocês?

—Sim.

—O que ela disse?


—Ela disse, ―dará para o gasto.‖

Havia diversão em sua voz quando respondeu: —Então


ela gosta.

—Imaginei isso também.

—Certo. Bom. Veremos no domingo e discutiremos a


oferta.

—Excelente querido. Agora vou deixar você voltar ao


trabalho.

—Ok, Baby. Valentine a deixará em casa?

—Não, seu zelador dará a Josette e a mim, aulas de


condução depois que sairmos daqui. Então ele me deixará em
casa. Josette ficará preparando o jantar para Glover na casa
de Valentine. Testando suas habilidades na cozinha.
Valentine estará ausente. Ela não disse para onde iria.

—Não é uma surpresa, — ele murmurou. —Te vejo


quando chegar em casa então, ok?

—Sim, Noc.

—Até mais, Baby. Te amo.

—Eu também, querido.

Ele desligou e eu tirei o telefone do meu ouvido voltando


minha atenção para o quarto que estava.

Sim.

Perfeição.

O quarto era. A casa era.

Eu não era.
Noc havia iniciado seus casos e isso significava que nós
acordaríamos mais cedo. Significava também que voltaria
mais tarde. Ele até mesmo fez telefonemas e trabalhou em
seu laptop depois de chegar em casa.

Deixou claro que não se importava. Ele gostava do


trabalho, deixou isso claro também. Não era exaustivo, era
revigorante.

Eu gostava disso nele. Bebia meu vinho e assistia


televisão ou lia um livro interessante que encontrava em sua
casa, e o deixava fazer o que gostava. E quando era minha
vez, o deixava me curtir.

Portanto, obviamente, com seu novo emprego e a


satisfação que via nele, agora não era o momento de trazer à
tona o que estava fervendo dentro dele, obscurecendo sua
alma.

Foi uma excelente desculpa.

Mas ainda era uma desculpa.

Eu sabia.

Eu simplesmente não sabia como mudar isso.

***

Naquele domingo, Noc estava em um quarto no andar de


cima, na casa que eu estava pensando em comprar.
No quarto que eu tomei minha decisão alguns dias antes
quando liguei para ele.

Era o quarto onde uma garotinha dormia. Paredes cor-


de-rosa. Com tema de elefante. Nada exagerado, mas ainda
feminino. Absolutamente adorável.

Foi o quarto que quis que ele entrasse por último.

O quintal era adorável, elegante, privado e sereno,


plantas bem cuidadas, com um bonito aparelho de grelhar
embutido, eu sabia que Noc iria amar (e ele amou).

Meu quarto mágico seria um solário, brilhante e alegre,


dava para ver lá fora quando se estava aqui dentro.

A suíte máster, como era conhecido aqui, era luxuosa


com um chuveiro separado e banheira, ambos
completamente divinos.

E a cozinha era grande e elegante, mas acolhedora,


fazendo a afirmação de Noc de que era o coração da casa
muito verdadeira.

Eu gostava de todas aquelas coisas.

Mas eu escolhi esta casa apenas baseada por este


quarto.

Ele estava olhando para um elefante desenhado na


cama.

—Querido? — Eu chamei.

Seus olhos vieram diretamente para mim.

—Eu adorei—, afirmou. —Estamos dando uma oferta.


Estávamos ofertando.

Ele gostava de sua casa. Eu também.

Mas este lugar majestoso, elegante e espaçoso seria


nossa casa.

Senti minha garganta fechar.

Amara dormiria lá.

Ali.

Eu sabia que só estava olhando para ele.

Senti meu rosto amolecer e sorri.

O rosto de Noc não amoleceu. O olhar dele era feroz.

Mesmo assim.

Ele sorriu de volta.

***

—Frannie.

—Sim querido.

—Lábios-açucarados, estou em casa.

—Sim querido.

Silêncio.

Então um tremendo, —Baby.

—Sim querido?
Não vi chegando a mão que tomou o aparelho que eu
segurava.

O que vi foi a ação sendo pausada na tela de televisão.

Minhas sobrancelhas subiram, torci meu pescoço para o


lado, inclinei-me para trás olhando para Noc, que estava
sorrindo para mim.

—Eu estava batendo meu recorde! — Gritei.

—Baby, — ele respondeu.

—Você sabe quanto tempo levou para chegar até aqui?


— Questionei.

—Baby, — ele repetiu.

—Você me interrompeu! — Continuei retrucando.

—Baby, — disse novamente, soando estranho,


provavelmente devido à sua hilaridade visível.

—Nunca mais vou conseguir chegar aqui de volta! Gritei


novamente e fiz isso em voz alta.

—Eu te amo. Pense que é tão fofo como é foda, você é


Franka Drakkar, e Franka Drakkar é uma mulher que seria
tão foda em um videogame que ela nem sequer olharia para
seu homem quando ele chegasse em casa do trabalho. Mas
apenas dizendo, eu cheguei em casa do trabalho e quero que
minha mulher não apenas olhe para mim, mas me receba
com um sorriso e me dê um beijo, de preferência, envolvendo
línguas, mesmo que isso interfira no seu tempo recorde,
embora me pareça que ela está correndo em um carro de
corrida falso numa versão de vídeo de Mônaco.
Senti-me imediatamente arrependida, afastei o aparelho
e me levantei do sofá.

Então me encaixei em seus braços, envolvendo os meus


próprios em torno dele, levantando-me nas pontas dos pés e
dei-lhe um beijo.

Envolvendo línguas.

Quando me afastei, ambos nos seguramos.

—Bem-vindo, querido, — disse suavemente. —Como foi


seu dia?

—A Melhor parte dele aconteceu agora—, respondeu-me


no mesmo tom. —Embora, isso não seja estritamente
verdadeiro desde que o que ganhei esta manhã me deixou
esgotado.

Não lhe dei nada.

Na cama e em tudo o mais, era sempre Noc se doando.

Eu me derreti nele.

—Vejo que você se apresentou ao PlayStation, —


declarou.

—Não fui eu. Josette que fez isso antes de pegar um táxi
para encontrar algum amigo de Glover. Eles estão em um
estabelecimento que tem vinho e pintura. Não entendo o que
isso significa, mas disse-me que estará bebendo e pintando,
mesmo que nunca tenha pintado nada na vida antes.

—Estranho, — Noc observou.


—Concordo, — respondi. —Mas me pareceu animada
sobre isso.

Seus braços me apertaram. —Talvez você devesse tê-la


acompanhado.

Ele estava louco?

—E perder meu tempo com você?

Com isso não ganhei outro aperto de seus braços.

Com isso ganhei outro beijo, este também com línguas,


e durou mais.

Quando Noc levantou a cabeça, declarou: —Jantar. Na


verdade, a hora do jantar já passou. Então você tem uma
escolha. Posso jogar alguns hambúrgueres na grelha ou
podemos pedir pizza.

Gostei de hambúrgueres.

Mas gostava mais de pizza.

Exceto, talvez, lagosta, mas Noc não ofereceu isso.

Desatenta olhei para sua estação de entretenimento, e vi


passava das sete da noite.

Noc não parecia cansado, mas saiu para o trabalho


antes das sete da manhã, assim não queria que ele tivesse de
cozinhar.

Eu queria o que ele escolhesse.

—Você escolhe, querido, — respondi.

—Parece-me bom hambúrgueres.

—Como posso ajudar? — Perguntei.


Ele sorriu para mim, afirmando claramente que
qualquer ajuda que eu pudesse dar não seria de muita ajuda,
mas então me soltou, pegou minha mão e nos guiou até a
cozinha.

—Quando chegar a hora, você pode pegar as batatas


fritas e os condimentos. Vou fazer o resto.

Essas eram coisas que eu podia fazer.

Eu também poderia lhe conseguir uma cerveja, o que fiz.


E podia abrir a minha própria garrafa de vinho, eu estava
relativamente certa (tinha visto ele e um grande número de
criados abrindo garrafas), que quis tentar fazê-la eu mesma,
mas fui interrompida.

—Baby, não, — murmurou Noc gentilmente, deixando


de lado o pacote de carne que estava abrindo para tirar a
garrafa de vinho e o abridor das minhas mãos.

—Eu posso servir vinho, Noc, — declarei.

—Você abre uma cerveja para mim, isso é doce, Baby.


Mas eu abro seu vinho. Combinado?

Presumi.

Assim, acenei com a cabeça.

Abriu meu vinho, não deixando nada para eu fazer


senão sentar-me no balcão e vê-lo formar hambúrgueres com
as mãos.

Achei isso fascinante, mas principalmente porque Noc


tinha belas mãos e eu o assistiria fazer qualquer coisa,
incluindo manipulação de carne.
Como estava se tornando regra, ele não me falou muito
sobre seu dia porque não tinha liberdade para compartilhar
muito sobre seus casos.

No entanto, encontramos muitas coisas para conversar,


como costumávamos fazer. Como a compra da minha casa
estava indo. Como Valentine parecia estar voltando a ser ela
mesma, ainda melancólica, mas começou a discutir as coisas
que eu deveria estar fazendo com ela, e se interessado em
mostrar a Josette e a mim, nosso novo mundo. Como me
levaria ao que chamou de ―ginecologista‖ no dia seguinte para
ver sobre ―controle de natalidade‖. E como Circe e Dax não
tinham passado uma noite separados desde o nosso jantar há
uma semana e meia atrás.

Noc saiu para acender a grelha e permaneci sentada,


ignorando o fato de que passou uma semana e meia desde
aquela noite em que Circe e Dax vieram jantar, e que nesta
semana e meia eu encontrei desculpa após desculpa para
deixar de lado o fato de que não encontrei o momento certo,
ou o caminho certo para abordá-lo sobre minhas
preocupações.

Ele facilitou isso devido ao fato de que parecia satisfeito


com absolutamente tudo. Eu sendo uma parte da sua vida,
em sua casa e cama. Passando um tempo com Jo.
Envolvendo-se com seus novos casos.

Você teria que olhar bem para saber que ele sofria.

Mas eu olhei.

Então sabia.
Só não estava fazendo nada sobre isso.

O que estava fazendo era tornar-me bastante adepta em


ignorar o problema ou dar desculpas de que não era o
momento certo para dizer algo a respeito.

Com esses pensamentos, ouvi seu telefone que estava


na ilha tocar exatamente quando ele voltava para dentro.

Olhei para o celular, vi na tela a palavra pai, então olhei


para Noc, endurecendo.

—Seu pai, — disse a ele.

Noc, que sempre foi muito Noc, parecia encantado que


seu pai estava chamando, não escondeu isso e foi direto para
o telefone.

Eu não estava encantada.

Ficava satisfeita dele claramente gostar de falar com seu


pai.

Mas era um pai que um dia teria de conhecer, disso


tinha certeza. E quando isso acontecesse, precisaria
impressioná-lo e até mesmo fazê-lo cuidar de mim, mas não
tinha certeza de que conseguiria.

—Ei, pai, — Noc respondeu, indo para a geladeira.

Escorreguei do meu banquinho e comecei a juntar os


restos de invólucros de carne para jogá-los fora.

—Sim, é bom. Gosto disso. O processo é muito mais leve


do que força, significa mais foco. Respeito os homens com
quem trabalho. A equipe também está firme, — declarou,
saindo da geladeira com um tomate.
Apertei os lábios ao ver o tomate e fui pegar as batatas
fritas.

—Ela está bem, — disse suavemente. —Temos de


marcar para você conhecê-la.

Senti meus ombros apertarem enquanto selecionava


meu sabor favorito de batatas fritas (notei que era a de Noc
também), churrasco.

—O quê? — Ele perguntou, sua voz mudando.

Na verdade, mudando significativamente.

Me virei para ele, fritas na mão.

Ele tinha o telefone na orelha, mas seus olhos estavam


cravados no tomate que colocara na ilha, Noc ficou imóvel.

—Não, eu não esqueci, — declarou, e seu tenor estava se


alterando.

Fiquei imóvel e mantive minha atenção nele.

—Sim, eu vou, — declarou, e percebi que estava


interrompendo seu pai quando continuou rápido e
bruscamente. —Disse que vou. Então, eu farei. — Houve
apenas uma breve pausa antes. —Vamos ver isso no ano que
vem. — Outra breve pausa então, com a voz baixa, um tanto
conciliatória, mas ainda firme. —Sei que isso significa alguma
coisa para você, assim como eu disse, veremos sobre isso no
próximo ano. — Houve um pequeno silêncio antes de
continuar. —Sim, é sobre Frannie estar aqui, e o novo
trabalho, mas como já disse, me desculpe, não poderei fazer
isso este ano, é a maneira que é.
Lentamente, eu fiz o meu caminho para a ilha e parei,
em pé de frente para ele, achando preocupante que Noc,
constantemente sintonizado comigo, sempre, não levantou a
cabeça para ver-me fazer isso ou até mesmo quando sentiu-
me chegar.

—Eu sei que será a primeira vez que perco, pai, mas
tenho um monte de coisas acontecendo, — continuou. —No
próximo ano, veremos sobre isso. Mas você sabe que tenho
outras coisas na minha vida agora, não sendo tudo sobre
mim. Não estou aí do lado, então não é tão fácil para eu estar
lá, visto que agora estou do outro lado do estado. E se
conseguir um tempo livre, tenho que dividi-lo da maneira que
queremos, Franka e eu, não apenas sair tomando decisões.

Eu estava enlouquecendo, pescando informações


através de sua conversa, sendo claro que Noc já disse a seu
pai sobre mim, mas tinha pouco tempo para me recuperar.

O que ele acabara de dizer obviamente não foi muito


bem recebido pelo pai, e sabia disso porque Noc olhou em
linha reta, forçando seus olhos a afastar-se da ilha.

Mas eles olharam através de mim.

—Sei o que isso significa para você. Claro que sei, — ele
rosnou enfurecido, e chocantemente desrespeitoso.

Fiquei imóvel, em silêncio, atordoada que Noc poderia


soar daquele jeito, muito menos dirigindo isso a seu pai.

—Sim, é um momento difícil para todos nós, pai, e


entendo isso. Eu compreendo você, provavelmente agora mais
do que nunca, tendo Frannie. Recebo isso por Dash e por
Orly. O que continuo tentando fazê-lo entender é que a
maneira como você lida com isso pode não ser a maneira que
todos nós desejamos lidar. — Houve um outro momento de
silêncio antes dele declarar:— Dash é como você. Mas o Orly
é como eu. Não quero cavar a faca mais fundo, mas para
mostrar meu argumento, ele também é como Judy. — Uma
breve pausa antes, —Você entendeu, totalmente percebeu
isso. Não me faça dizê-lo.

Então houve uma pausa muito longa enquanto eu


assistia, fascinada e horrorizada, enquanto emoção retorcia
os belos traços de Noc. Emoção feia. Testemunhei dor tão
profunda que me feriu. Meu coração apertou, meu estômago
revirou, e levou tudo de mim para não rodear a ilha e
envolvê-lo em meus braços no esforço de acabar com sua dor,
tomá-la para mim, então seria algo que ele nunca mais teria
de sentir.

Mas ele não iria querer isso. Não nesse momento. Tudo
nele gritava.

Me custou, mas permaneci onde estava.

—Ok, vou dizer. Ela odiaria essa merda e você sabe


disso. Todo ano de merda, pai, nós fazemos isso por você e
porque Dash consegue alguma coisa fora disso. Mas é
principalmente por você. Quero que tenha o que precisa. Mas
você sabe que Judy odiaria. Pensei todo ano, mas mantive
para mim. Falei com Orly sobre isso. Ele guardou para si
também. Você o empurrou. Agora ouça. Judy pensaria que
esta merda seria fodida. E meu palpite é, que no fundo, você
sabe disso.

Percebi que estava segurando minha respiração,


puxando profundamente o ar, segurei.

—Pense que é uma boa ideia. Vamos deixar isso aí e


conversar mais tarde. Mas como disse, prometi que faria isso
aqui. E vou fazê-lo aqui. — Uma pausa bem curta antes de:
—Certo. Amo você, — ele empurrou para fora. —Tchau.

Com isso, ele acertou a tela de seu telefone com o


polegar e atirou-o com um barulho bastante audível na ilha.

Então franziu a testa.

—Querido? — sussurrei.

Ele virou-se para mim.

Eu engoli com a amplitude e profundidade das emoções


nele, raiva, frustração e dor.

—Está tudo bem? — Perguntei cuidadosamente.

—Você estava parada aí, linda, e realmente não sabe a


resposta para isso? — Perguntou, seu tom de voz afiado
bruscamente com sarcasmo.

O que eu fiz agora?

Eu nunca vi esse Noc.

Eu nem sabia que poderia haver esse Noc.

Eu decidi começar com algo tranquilo.

—Você contou a seu pai sobre mim? — Perguntei.


—Amo meu pai. Ele não é um pau colossal como o seu,
então eu me apaixonei por uma mulher, ela está quase
vivendo comigo, vejo meu futuro com ela, então é claro que
contarei para ele.

Isso me encantou em todos os sentidos, exceto o tom


com que ele declarou.

—Você não me disse isso, — disse a ele calmamente.

—Bem, desculpe, Baby. Agora você sabe, — ele


respondeu rapidamente, agarrou o prato com os
hambúrgueres e saiu da cozinha para o deck.

Eu respirei e o segui.

Antes mesmo de me aproximar, ele avisou: —Não estou


com vontade de falar sobre isso, Frannie.

Parei olhando suas costas, observando que seus


movimentos de colocar os hambúrgueres na chama eram
vigorosos, mas notei isso apenas vagamente.

Minha mente correu por algo para dizer.

Parecia levar uma eternidade, mas finalmente falei.

—Estou aqui para você quando quiser, meu amor.

—Certo, — ele disse.

—Como você sempre está para mim.

—Sim, — declarou com desdém.

Noc não queria conversar.

Mas sentia que não devia deixar isso passar assim.


Hesitei um momento antes de admitir, —Você está
claramente perturbado com algo, e eu quero ajudar, mas não
sei como.

Ele se virou, jogando a tampa na grelha e grunhiu: —


Você pode ajudar, abrindo as batatas fritas. Estou com fome.

Passando por mim entrou na casa.

Eu mantive meus olhos no grill, decidindo que no dia


seguinte começaria a praticar cortar tomates lá em Valentine.

Também poderia abrir um pacote de fritas.

Mas estava ficando claro que depois de experimentar o


brilho extraordinário de perceber que você encontrou o amor
da sua vida para a eternidade, e que ele havia feito o mesmo,
a vida se intrometia.

Precisava ser corajosa e encarar essa vida de frente.


Precisava lidar com o que acontecesse comigo. Mas mais, com
Noc.

Eu precisava aprender a fazer o que ele fazia.

Apoio, suporte. Ter cuidado. Compreensão.

Não tinha habilidades nestas áreas.

Não poderia nem mesmo cortar um tomate.

Mas eu poderia aprender a cortar um tomate


ensanguentado.

Tinha que aprender tudo isso.

***
Noc me puxou para baixo em seu pênis, eu ofeguei com
a sedosa violência dele assistindo enquanto gozava.

Nós dois estávamos sentados, eu no colo de Noc, minhas


pernas enroladas ao redor de seus quadris, suas pernas
estendidas atrás de mim.

Ele já me fez gozar. Então, no seu momento, eu


simplesmente o segurei em meus braços, e quando sua
cabeça caiu para frente, sua testa descansando em meu
ombro, enterrei meu rosto em seu pescoço.

—Eu te amo, — sussurrei, e por uma vez, palavras de


tão grave importância pareciam significar muito pouco, pois
eu sabia que deveria estar lhe dando muito mais.

Ele virou os lábios para minha pele e me beijou antes de


sussurrar de volta, —Amo você também, Frannie.

Suas palavras não pareciam como as minhas.

Elas pareciam como se tivessem me dado tudo.

Com mais nada a dizer, me tirou dele, colocando-me


gentilmente na cama e saindo, não indo ao banheiro antes de
me cobrir.

Nutrir

Cuidar.

Estava de volta em um momento, puxando-me em seu


abraço, enterrado em mim, segurando-me apertado, minhas
costas curvadas em seu peito.
Ele não disse nada, e depois de um curto período de
tempo, senti que dormiu.

Eu não.

Ele guardou seu humor durante toda noite, portanto,


estava surpresa com sua contínua distância quando ele me
incitou a fazer amor.

Fiquei surpresa, mas não fiz nenhuma objeção.

Era o que ele precisava, o que eu sempre queria, e por


último, era a única coisa que eu sabia dar.

Noc merecia mais.

Só não sabia como dar a ele.

Mas quando estava deitada em seus braços, sentindo


sua força e calor me envolvendo, protegendo e fortificando-me
até mesmo em seu sono, sabia que o tempo que me permiti
ter desculpas acabou.

Não haveria mais desculpas.

Eu precisava dar ao meu Noctorno mais.


Eu e você

Franka
—Franka.

O tom afiado me tira de minhas reflexões e me


concentro em Valentine, que sentava à minha frente na sala
mágica de sua casa.

Ela estava me encarando irritada.

—Você escutou alguma palavra do que eu disse? — Ela


inquiriu com a mesma irritação.

Infelizmente, eu não tinha.

—Perdoe-me. Eu tenho tanta coisa na cabeça, —


compartilhei.
—Isso não passou despercebido, — ela retrucou. —
Contudo, considero as necessidades da minha clientela muito
seriamente e como estou te oferecendo sua primeira tarefa,
independentemente de ser tão simples quanto lançar um
feitiço de amor, é importante que você entenda com clareza a
necessidade do cliente.

—Claro, — murmurei.

—Para mostrar um ponto que não precisa ser elaborado,


não seria bom se você erroneamente lançasse um feitiço
sobre o empregador, que nossa cliente odeia, mesmo que ele
seja bastante bonito e excepcionalmente rico, quando é o
homem da manutenção que ela é secretamente apaixonada,
— ela continuou.

—Sim, evidentemente, — respondi.

Ela me olhou fixamente. —Não que eu queira me


envolver, mas está tudo bem entre você e Noctorno?

Não estava.

Oh não.

Definitivamente não.

Poderia dizer, tragicamente com precisão, que eu não


estava lidando muito bem com as coisas.

Mas noite passada eu piorei as coisas.

Começando com a manhã de alguns dias atrás, depois


que o pai dele ligou, Noc decidiu que ia ignorar o que
aconteceu. Ele tinha ―esquecido‖ a forma distante que esteve
me tratando na noite anterior e voltou a ser o Noc.
Isso foi antes dele voltar para casa naquela noite e eu
tentar abordar o assunto.

—Já disse na noite passada, não estou no clima para


falar sobre isso, — ele respondeu bruscamente.

—Haverá algum tempo em que você estará no clima? —


Indaguei hesitantemente.

—Haverá, eu a avisarei. — Ele declarou de forma


conclusiva.

E o assunto, de acordo com Noc, se encerrou.

Eu admito, minha abordagem foi fraca e permiti que ele


dispensasse a discussão, principalmente porque ele voltou a
ficar indiferente e eu não gostei disso. De fato, isso me
apavorou o suficiente para que eu levasse algum tempo para
reunir coragem de tentar novamente.

Assim sendo, dei tempo ao tempo (de novo fraca, droga!)

E esse tempo incluiu o fim de semana.

Um fim de semana onde Noc trabalhou no sábado, que


foi a primeira vez em que ele o fez, então dessa forma eu senti
que ele estava fazendo isso para me evitar.

Mas depois das aulas de direção no Domingo (onde ele


permitiu que Josette fosse às ruas de verdade e eu tive uma
horripilante experiência ─ embora eventualmente eu me
acalmei ─ de dirigir numa autoestrada), ele relaxou. Isso
significava que eu senti o meu Noc comigo de novo, enquanto
a tarde e à noite passavam, conosco bebendo e comendo uma
variedade de comidas em um bar com Glover, vendo algum
tipo de esporte na televisão.

Eu disse a mim mesma, enquanto os dias passavam,


que apenas permitia a Noc ter um tempo para lidar com
qualquer coisa que aconteceu com seu pai, então quando
mencionasse o assunto novamente, ele estaria mais propício
a ouvir.

Mas principalmente estava reforçando minha coragem.

Então decidi que reforcei o suficiente na noite passada,


uma noite agora incomum, quando Noc voltou para casa do
trabalho antes das seis.

Começou bem, considerando que eu examinei seu


armário e consegui organizar (bem artisticamente, do meu
ponto de vista) alguns biscoitos e fatias de queijo num prato
para ele beliscar com a cerveja que abri quando chegou em
casa.

Fiz isso praticamente todas as noites em que ele chegava


e declarava que estava com fome. Embora não pudesse
cozinhar uma refeição esplêndida para ele, eu podia fazer
algo que amenizasse sua fome.

Noc colocou uma fatia de queijo no biscoito, fazendo isso


com o braço em volta dos meus ombros, me segurando do
seu lado e declarando entre sorrisos:

—Próxima coisa que eu sei, estarei voltando para casa


para um bife Wellington.
Eu não pude impedir a expressão que fiz, parecida com
repulsa misturada com pavor, o que fez Noc emitir uma onda
profunda de risos antes de me dar um beijo rápido e se
afastar, enfiando o biscoito com o queijo na boca.

Enquanto ele mastigava, eu decidi abordar o assunto


mais tarde, quando ele teria o estômago cheio e, portanto,
provavelmente de melhor humor por uma série de razões.

Ele estava, de fato, de bom humor.

Eu tomei nota disso e decidi, daqui em diante ter certeza


de que haveria uma variedade de petiscos na casa que eu
pudesse organizar artisticamente em um prato para ele ser
bem tratado quando chegasse em casa.

Infelizmente, seu bom humor desapareceu no momento


em que mencionei a ligação de seu pai.

—Você precisa deixar isso para lá, baby. — Declarou


concisamente, afastando-se de mim de onde estávamos
aconchegados no sofá, Noc sentado com os pés em cima da
mesinha de café, eu aninhada ao seu lado com as pernas
dobradas ao meu lado no sofá.

Seu tom conciso não permitia mais nenhum debate.

Mesmo assim, eu sabia que não podia ser fraca. Não


podia desistir. Não de Noc. Sem mais desculpas.

—Há coisas, querido, que eu acho que devemos discutir


e não precisa ser tudo o que ocorreu nessa ligação com o seu
pai. Todavia eu sinto que alguma coisa...
—Franka, — ele começou, tirando seus pés da mesa, e a
forma fria com que ele falou meu nome não só calou minha
boca como fez meu interior congelar. —Você é uma artista em
meter o nariz onde não é chamada e vejo que decidiu enfiá-lo
nessa merda. O que eu falei, e que você não ouviu, é que esse
é um lugar que você não pode ir.

Eu não quero ter que insistir.

Mas tenho.

—Eu pensei que você disse que, o que era seu era meu.

—E o que estou falando agora é que nem EU quero isso,


então tenho certeza que não jogarei essa merda em você!

Isso não faz o menor sentido.

—Noc...

—Deixa isso pra lá, Frannie.

—Mas...

Seu rosto transformou-se em granito, e tendo aquele


olhar duro sobre mim, minha garganta fechou.

—Estou te avisando. Deixe... para... lá.

E com isso, ele me deixou no sofá e caminhou para o


quarto, a porta fechando atrás dele, me dizendo que não
estou convidada a segui-lo.

E não o segui.

Eu continuei sentada no sofá, encarando a porta,


escutando suas palavras.

Estou te avisando.
Avisando-me de quê?

Deixe isso para lá.

A covarde em mim quis fazer isso.

Mas eu sabia que não devia.

Algum tempo depois, quando reuni coragem para


juntar-me a ele no quarto, o encontrei às escuras e, até onde
podia ver, Noc dormia.

Juntei-me a ele na cama e não o acordei.

Mas me enrolei nas suas costas, que estava virada para


o meu lado da cama.

Ele não mudou para acomodar melhor o meu abraço.

Foi a primeira noite em que não terminamos o dia


fazendo amor.

E foi a primeira noite que eu não dormi entre os braços


de Noc.

Assim, não foi nenhuma surpresa que eu estava


acordada horas depois quando ele acordou, fazendo isso sem
a ajuda de seu alarme.

Ele não se virou para mim.

Apenas saiu da cama, fazendo-o cautelosamente


enquanto eu fingia dormir, foi ao banheiro, se preparou para
o trabalho e saiu do quarto ─ e da casa ─ deixando-me
abalada.

E assim tivemos a primeira manhã em que começamos o


dia sem fazer amor.
Contudo, depois que me arrastei de sua cama, eu
encontrei um bilhete apoiado na cafeteira que dizia:

Lábios-açucarados,

O café está praticamente pronto. Tudo que você precisa


fazer é girar o interruptor.

Quando estiver pronta, basta ligar para Valentine te


buscar.

Te vejo a noite.

Amo você, querida.

– Noc –

Apesar do bilhete começar e terminar de maneira


carinhosa, ele deixou seu ponto de vista muito claro.

Seu aviso foi entendido.

Agora era minha decisão aceitar ou seguir como


planejei, ainda que, na verdade, eu não tivesse plano algum.

—Franka! — Valentine estalou me trazendo de volta


para a realidade.

—Minhas desculpas! É que tenho muita coisa na


cabeça, e dormi pouco na noite passada. — Tentei explicar
minha grosseria.

—Você está preparada para assumir essa tarefa? — Ela


perguntou.

—Eu terei sua supervisão? — Devolvi.


—Claro. — Ela respondeu.

—Então sim, estou preparada. — Eu afirmei.

Ela me estudou mais um momento antes de declarar:

—Você não respondeu minha pergunta sobre Noc.

—Tudo está bem. — Menti.

Ela sabia que eu mentia, podia ver isso em seu olhar


perspicaz, mas segurei seu olhar, com a cabeça erguida e
meu propósito claro.

Ela tinha seus assuntos que não compartilhava comigo,


mesmo que eu quisesse estar lá por ela para ajudá-la de
qualquer maneira que pudesse.

Agora tenho o meu.

Ela cedeu. —Nós trabalharemos com os feitiços amanhã.

Eu inclinei minha cabeça.

E ela gesticulou a dela para a porta. —Sugiro que você


observe esse homem da manutenção e determine uma
maneira melhor para fazermos uma abordagem sem sermos
descobertas. Precisamos estar próximas para lançar um
feitiço de amor e ele deve estar sozinho. A coisa é muito mais
complicada do que ele simplesmente ficar com estrelas nos
olhos, procurar nossa cliente e a arrebatar para si. Meu
trabalho é muito mais sutil que isso. Portanto, o seu também
será.

Eu concordei e levantei.
Fui dispensada, e feliz por isso, fui da sua sala especial
para ir ao quarto abaixo, onde minha bola de cristal estava
esperando por mim.

Estava quase chegando na porta quando ela me


chamou: —Franka.

Vire-me para ela.

Seu olhar travou no meu.

—Tudo ficará bem, — ela disse calmamente.

Esperava que ela estivesse certa, mas, desde aquela


primeira vez em que Noc entrou na sala de estar onde me
encontrava no Palácio do Inverno meses atrás, eu senti que
minhas esperanças seriam exageradas.

Sem uma palavra saí do quarto.

Fui até a minha bola de cristal, mas quando cheguei lá,


não chamei pelo ─homem da manutenção ─ (seja lá o que
fosse)

Olhei para ela tendo outros pensamentos.

Pensamentos sombrios.

Pensamentos temerosos.

Pensamentos inseguros.

Fazendo isso e achando-me inteiramente incapaz de


detê-lo ou a crescente emoção que se elevou dentro de mim,
fazendo-me sentir inútil e indigna do homem que me amou o
suficiente para me conduzir a uma vida além de dor quando
eu não podia oferecer o mesmo.
Por isso quando dez dígitos apareceram na minha bola
de cristal, fiquei assustada.

Eu não sabia o que queriam dizer ou mesmo como eles


apareceram.

Eu não os chamei (seja lá o que fosse).

Entretanto, eles não foram embora.

Eu continuei a olhar e, enquanto o fazia, a bolsa que


colocara na mesa perto da bola de cristal assim que cheguei e
antes de me juntar a Valentine, saltou no lugar.

Fazendo-me pular na cadeira e olhar para ela.

A bolsa tremeu de novo e reconheci o zumbido distinto


do meu telefone.

Liberando um suspiro de alívio ao entender o que estava


acontecendo o alcancei, pois estava simplesmente recebendo
uma mensagem de texto.

Tirei o telefone da bolsa e o ativei.

No entanto não havia nenhuma notificação de


mensagem.

Meus olhos foram para a bola de cristal e um arrepio de


consciência desceu pela minha espinha.

Minha bola estava me dizendo algo.

Minha magia estava me dizendo algo.

E o que eu sabia era que a minha magia era minha


mágica.

Boa mágica.
Então onde quer que essa magia me leve, bem dentro de
mim, eu sinto que é seguro segui-la.

Então desbloqueie o telefone e digitei os números que


apareceram na bola de cristal.

Sentando em linha reta na cadeira, levantei o telefone


até a orelha e o escutei tocar.

Em pouco tempo, uma voz de homem ressoou: —Você


fala com Lud.

Lud?

Quem era Lud?

—Quem fala? Alô? — A voz chamou.

Lud.

Ah não.

Como em... Ludlum.

Os dígitos eram do telefone do pai do Noc.

Bolas!

—Mais uma vez, tem alguém aí? — Ele perguntou.

—Alô, Senhor Hawthorne? — Falei isso como uma


pergunta mesmo sabendo a resposta.

—Certo, querida, sem ofensa, seu trabalho não é


divertido, mas não sou um grande fã das ligações de
marketing, então me faça um favor e me tire da lista de
chamadas.

—Sr. Hawthorne. — Comecei, mas não pude, por minha


vida, decidir o que dizer depois.
—Você fará isso por mim? — Ele perguntou.

—Sou a Franka. — Declarei.

Ele não disse nada e pensei que havia desistido.

—Sr. Hawthorne?

—Franka?

Eu acenei com a cabeça rapidamente, mesmo que ele


não pudesse me ver.

—Sim, Franka. Franka Drakkar. Ehh, Frannnie. Eu


sou... sou, ehhh, a... bem, eu sou apenas do Noc. — Eu
introduzi estupidamente.

Deuses!

—Maneira interessante de se colocar. — Ele murmurou,


soando divertido e depois, de repente, ele não soou nada feliz
quando perguntou, —Meu garoto está bem?

—Sim, sim, ele está ótimo. Absolutamente. Quer dizer,


sim. Ele está. Na maior parte. Muito bem. Quero dizer... Na
verdade, o que quero dizer é, ele está muito bem. Mas ele
também está...

Droga!

Por que eu não desliguei no momento em que percebi


quem era?

Não tinha nada me impedindo, e não o fiz, agora tinha


que continuar.

—Ele também não... está... bem.


—Merda. — Ele murmurou, parecendo saber
precisamente do que estou falando. —Ahh, desculpa, querida.
Quero dizer, droga.

—Praguejar não me ofende. — Partilhei.

Ele voltou a murmurar. —Conhecendo meu garoto, isso


provavelmente é bom.

Ele estava certo sobre isso.

Repentinamente, eu senti um frio na barriga (não que


ela estivesse quente).

Maldita bola de cristal.

—Preciso me desculpar. Estou repensando se foi sábio


fazer essa ligação. —Eu disse mesmo que não o tivesse
chamado sabendo que estava fazendo isso.

—Não, acho que provavelmente foi muito sábio você me


ligar.

Eu não sabia o que dizer, então nada disse.

—Deixe-me adivinhar, ele não está com um humor


muito bom esses dias. —Ele disse.

—Bem, acho que eu sou... O que quero dizer é que seu


palpite seria correto, mas acredito que sou eu quem o está
colocando nesse humor.

—Frannie, querida, é cem por cento de certeza que não é


você.

Mais uma vez, não tendo ideia do que dizer, fiquei em


silêncio.
—Ele fica assim nessa data. — Sr. Hawthorne
transmitiu.

Data?

—Data de que? — Indaguei.

—A morte de Judy.

Mesmo sentada, eu tive que me segurar na mesa para


me estabilizar.

Judy. Sua madrasta. A única mãe que ele conheceu.

A mãe que ele foi forçado a ver morrer.

—Tivemos um problema na época. — Ele prosseguiu. —


Os garotos eram jovens quando aconteceu e fui eu quem
tomou a decisão, mas Noc não concordou com isso, e tivemos
uma discussão. Ele deixou claro como se sentia. Entenda, era
desejo dela não ser enterrada, mas eu queria um lugar onde
pudesse estar com ela. Onde os meninos poderiam estar com
ela. Então a enterrei. E todos os anos, no dia de sua morte,
eu junto meus meninos e vamos até lá para estar com ela.
Levo umas cadeiras de jardim, trago suas flores preferidas e
apenas sentamos com ela. Tomando um uísque e
conversando sobre ela e nossa história, para sentir que ela
está conosco por um tempo.

Eu considerei isso adorável e horrível, na mesma


proporção.

O pai do Noc continuou a falar.

—Noc não ficou feliz por eu ter ido contra a vontade de


Judy e não tê-la cremado. E também não é um grande fã de
ir vê-la. Sei disso. Talvez deveria deixar para lá, mas é o único
momento em que tenho a minha família junta, todos nós, e
isso talvez seja eu sendo egoísta, mas não me importo com
quantos anos ele esteja. Eu ainda sou seu pai. E ela foi a
única mãe que ele teve. Então sinto que ele me deve isso.
Para mim e para Judy. Ele deve isso a nós.

Demorou um momento para que eu pudesse me


controlar e, mesmo assim, minha voz não era minha quando
eu respondi:

—Eu não posso dizer que o senhor está errado sobre


isso, Sr. Hawthorne.

—Lud, Frannie. Por favor, chame-me de Lud.

—Lud. — Sussurrei.

—Sei que ele não pode ir esse ano, mas o fiz prometer
fazer algo para lembrá-la onde estiver. Considerando que ela
está conosco todo tempo, na única forma que pode estar, ou
seja, nas nossas lembranças, pedi que ele encontre um lugar
bonito e pacífico, fique quieto e deixe-a estar com ele. E me
garantiu que faria isso. Talvez ele esteja apenas querendo
apaziguar seu velho, mas tenho que dizer, por mais que saiba
que ele não gosta disso, ainda espero que o faça. E porque eu
sou teimoso e amo meu menino e minha esposa, o primeiro
eu ainda tenho, graças a Deus, a ela perdemos de uma
maneira que nos levou muita coisa para ultrapassar e ainda
não estamos bem, então eu o quero aqui no próximo ano. E
quero que ele traga você. Quero que Judy te conheça.

Quero que Judy te conheça.


Eu nunca me senti mais honrada.

—Eu acho... acho, senhor, que ela já me conhece


bastante bem. — Compartilhei com cuidado.

E esperançosamente.

Além disso, esperando tambem que ela gostasse do que


conhecia.

—Acho que não está errada, querida. Enquanto viva, ela


cuidou de Noc de tal maneira que não havia nenhuma
possibilidade de abandoná-lo, mesmo depois que deixou de
respirar. Ele encontrou você, ela com certeza começou a
cuidar de você.

Eu não disse nada, perdida na glória do saber que,


mesmo depois que sua mãe morreu dando Noc a este mundo,
para mim, ele tinha outra que cuidava dele ao mesmo tempo
sentindo a perda que ele suportara quando ela foi embora.

—Você está aí, Frannie?

—Eu só... preciso de um momento. — Murmurei


suplicante.

Ele me deu esse momento, mas do jeito dele, ele replicou


suavemente:

—Maldição!

—Como?

Eu o ouvi limpar a garganta antes de responder.

—Você, querida, é especial. Ouvi isso quando Noc falou


sobre você. Agora eu escuto isso em você. E o que ouço me
agrada, Frannie. Acho que você sabe disso, apenas não sabe
o quanto. O que me deixa ainda mais ansioso para conhecê-
la.

Eu sabia do que ele estava falando e fiquei tonta de


alegria por entender meus sentimentos pelo seu filho.

Mas mesmo que eu tenha mais informações sobre os


fatos, não consegui compreender a totalidade disso.

Antes que pudesse abordar o assunto, Ludlum


Hawthorne declarou:

—Obviamente isso está te preocupando e obrigado por


dar isso ao meu filho. E obrigado de novo por fazer a coisa
certa e ligar para o velho dele para bater um papo sobre isso.
Mas eu compreendi a partir daqui.

Ah não.

Eu sabia o que ―compreendi‖ significava e não tinha um


bom pressentimento sobre o pai de Noc ter algo a ver com o
assunto.

—Ééé... Lud...

—Vamos trabalhar nisso e resolver. Não se preocupe. —


Ele assegurou sem me sossegar o mínimo. —Sem dúvida você
sabe que temos muito amor nessa família, mas isso não quer
dizer que nós, quatro homens, todos teimosos, não entramos
em conflito. Nós brigamos. A primeira vez que você ver, sem
dúvida que te deixará preocupada. Mas você também verá
que superamos isso. Sempre aprendemos muito, fazendo da
maneira mais difícil, guardando o que aprendemos. E como
você sabe, o tempo passa, e ele volta a ser o mesmo de antes.
Meu conselho para a próxima vez, apenas espere. Ele estará
como novo logo, logo.

—Posso dizer, Lud, que...

Ele me cortou como se eu não tivesse falando.

—Agora tenho que ir. Hora ruim, querida. Sue está me


arrastando para almoçar com seus amigos de ponte. Duas
vezes ao ano eu tenho que ir nesses almoços e se eles não
levantassem baldes de dinheiro para a pesquisa contra o
câncer, eu estaria no meu barco com uma vara na mão. Mas
tenho que dizer, independentemente do assunto, com certeza
foi bom conversar com você. Na próxima vez que nos falarmos
a farei dar várias risadas. Sou um comediante. Dos bons. E
não dê ouvidos a Noc ou a Dash ou Orly quando falarem que
meu material é ruim. Eles não sabem do que estão falando.
Eu sou puta engraçado.

—Tenho certeza que é. — Respondi rapidamente, mas


não falei o restante rápido o suficiente antes dele falar de
novo.

—Agora se cuide, querida, e deveria dizer para cuidar do


meu menino, mas parece que você já faz isso.

Ele estava tão errado.

E também muito, muito não correto.

—E talvez, eu e Sue, peguemos um avião assim posso te


dar um abraço pessoalmente e ela pode tirar suas medidas
para qualquer roupa que comprará para você no próximo
Natal. Se for algo que não goste, dê para a caridade, mas não
diga nada a ela. Eu digo que é uma sorte você viver do outro
lado do país, assim não precisa vestir as coisas que ela
compra e ela não verá você não fazendo isso. Há uns três
anos atrás, ela deu aos meninos suéteres de Natal e faz cara
feia quando eles se recusaram a usá-los. E você nunca mais
vai ouvir uma palavra de mim sobre o assunto, mas esses
suéteres são tão feios que só resta rir. Noc tem uma rena
bordada no suéter com um sino como nariz, pelo amor de
Deus! Quero dizer, quem em sã consciência iria pensar que
um homem adulto iria vestir um suéter de Natal com uma
rena com um nariz de sino nela? Amo-a além da conta, ela é
uma boa mulher, mas isso não significa que não tenha ideias
loucas.

Eu não tinha a menor ideia do que ele estava falando.

E também não tinha a menor intenção de perguntar.

Minha ansiedade estava crescendo e eu precisava detê-


lo de ―resolver‖ qualquer coisa com Noc, e eu precisava fazer
isso agora.

Para a minha grave infelicidade, eu não tive a


oportunidade de entrar nesse assunto porque o ouvi gritar,
não para mim: —Estou pronto, amor, só no telefone com a
Frannie do Noc!

Deuses.

—Isso, Frannie! — Ele continuou gritando. —A garota do


Noc!

Deuses!
—Não, — ele disse, de novo não para mim. —Estou
dando tchau. Se falar com ela no telefone, você falará por um
ano.

—Não falarei! — Ouvi uma mulher dizer. Então a ouvi


falar, dessa vez comigo. —Bem, olá! Prazer em conhecê-la.

Ohh...

Bolas.

—Eu, ããããhh... bem, certo... alô para você também,


Sue. — eu empurrei pra fora.

—Mais que maravilhosa surpresa, você ligar. — Ela


declarou.

—É, bem, humm...

—Eu nem posso dizer o quanto fiquei encantada quando


escutei que Noc finalmente encontrou alguém. Mas muito
mais feliz fiquei quando ouvimos o quanto ele está
enamorado por você. Lud me disse a forma como Noc fala
sobre você, que nós devemos ter cuidado de não
enlouquecermos quando vê-la andando na água.

Isso me surpreendeu (assim como me emocionou),


porque eu não poderia imaginar que neste mundo, onde a
magia estava oculta, que Noc compartilharia que eu tinha
isso, visto que eu duvidava que fosse difícil fazer exatamente
isso.

Ainda porque eu nunca quis andar na água, eu não


consegui entender.
—Isso é adorável, mas eu poderia falar com... —Tentei
perguntar.

—Não aguentamos mais esperar para te conhecer.

—E eu a vocês. — Eu me apressei, mas não tive


oportunidade de dizer mais nada.

—Esplêndido. — Ela declarou. —Agora, devo deixá-la ir


porque Lud está me dando ―o‖ olhar maligno porque ele não
quer ir a esse almoço e eu estou fazendo-o ir, então é melhor
eu não tagarelar com você por um ano e prolongar a tortura
dele. Conversaremos mais tarde. Lud gravou seu número de
telefone, então eu te ligo depois.

Pelos deuses.

O que eu fiz?

—Fico na expectativa disso. — Eu (mais ou menos)


menti.

—Adorável. E não posso deixá-la ir sem dizer que você


tem uma bela voz. Não vejo a hora de ver as fotos. Noc disse
ao pai dele que você é fantástica, embora ele usou de fato a
palavra com F, para minha angustia eterna. Se você é tão
bonita quanto a sua voz, você deve ser aquela mulher. Diga a
Noc para enviar algumas fotos, o mais rápido possível.

Eu a ouvi respirar profundamente, mas ela fez tão


rápido e eu não fiz um som antes dela continuar.

—Ok, devo correr. Novamente é um prazer te conhecer.


Cuide-se, Frannie.

—Você também. — Eu forcei, soando meio estrangulada.


—Dê-me isso. Não, me dê o fone. Eu quero me despedir
também. — Eu escutei ao fundo. Então a voz de Lud se fez
clara. —Cuide-se, Frannie. E não se preocupe com nada. Eu
entendo. Tchau, querida.

Quando Noc dizia que ―tinha‖ coisas, eu aprendi que ele


falava a verdade.

Embora não quisesse constranger o pai dele, eu tinha


sério receio que, nesse caso, não era o mesmo.

Desamparada para fazer qualquer coisa, eu murmuro:


—Adeus, Lud.

Ele desliga.

Eu encarei minha bola de cristal e assisti os números


sumirem até não ter nada além de uma preguiçosa linha de
fumaça.

—Talvez eu não te adore. — Rebati para a bola.

A preguiçosa linha de fumaça clareou e mostrou-me


uma imagem de Kristian e Brikitta dormindo, Frantz
descansando pacificamente no berço ao lado da cama deles.

Maldita Bola.

—Certo, então eu realmente adoro você, só estou


aborrecida contigo.

A visão da minha família desapareceu.

Eu respirei e soube exatamente o que tinha que fazer.

Isso eu fiz sem demora, então não perderia meus nervos.

Telefonei para Noc.


É a primeira vez que faço uma ligação e ele não me
atende.

Caiu no correio de voz.

Surpresa e confusa com isso, eu simplesmente disse


depois do bip:

—Poderia me ligar quando lhe for conveniente, querido?


— E desliguei.

Mas eu temia que ele não atendeu apenas como mais


uma parte de seu aviso.

Ou pior, que ele estivesse naquele momento falando com


seu pai.

Contudo, mesmo se isso acontecesse através da minha


magia e não de minhas maquinações, eu coloquei algo em
movimento e precisava alertá-lo sobre isso.

Assim, encontrei o homem da manutenção e deixei


passar algum tempo enquanto o observava antes de ligar
para Noc novamente.

Ele de novo não atendeu.

Não deixei mensagem. Mas lutei para manter o pânico


na baia enquanto tentava decidir se enviava ou não uma
mensagem de texto.

Eu decidi que deveria fazer de tudo para ser aberta


sobre o que aconteceu, então mandei um texto.

Escrevi:
QUERIDO, TIVE UMA CONVERSA QUE PRECISO
DIVIDIR COM VOCÊ. POR FAVOR, LIGUE-ME.

Isso também ficou sem resposta.

E horas depois, quando Noc deveria ter me recolhido na


casa da Valentine depois do seu trabalho, como ele
normalmente fazia quando eu ainda não havia retornado para
sua casa, ele também não fez isso.

O que significava que eu deveria ter prestado atenção


em seu aviso.

Um aviso que o amor que eu sentia por ele decretou que


eu não podia prestar atenção.

E enquanto roubava as chaves do carro da Valentine e


saí para pegar o veículo real, eu sabia que tinha que ir até ele
imediatamente.

E encarar as consequências.

***

O Suburban de Noc na calçada na frente de sua casa,


me levou sete (sim, sete) tentativas de manobrar o carro da
Valentine num local a duas casas adiante da dele, a única
vaga disponível na sua rua.

No fim, meus esforços para estacionar não foram


exatamente perfeitos. A roda traseira ficou encima da calçada
quando decidi que a ação estava bem-feita. Deixei daquele
jeito, simplesmente aliviada por ter feito isso de uma vez, e,
fazendo o melhor para ignorar meu pavor, saí do carro e
caminhei até a casa de Noc.

A porta estava fechada, contudo eu não bati.

Também não me incomodei em procurar minha chave.

Magicamente, abri a fechadura.

E então entrei.

Imediatamente vi Noc encostado na lateral da ilha, uma


garrafa de uísque aberta no balcão, seus dedos envolvendo o
copo.

Estranhamente, ele parecia estar me esperando.

Eu inspirei e não o fiz esperar mais.

Jogando a bolsa no sofá enquanto passava, aproximei-


me dele.

Quando cheguei à extremidade da área da cozinha,


parei porque ele falou.

—Como você chegou aqui?

—Eu usei o carro da Valentine. — Compartilhei


cuidadosamente.

Isso, descobri imediatamente, não foi suficientemente


cuidadoso porque seu rosto ficou tenso.

—Você dirigiu sozinha? — Ele perguntou.

—Sim, meu amor. — Respondi.

—Pensei que você se espiritualizou. — Ele observou de


uma maneira que eu poderia dizer que era enganosamente
casual.
—Como você sabe, não aprendi a fazer isso. — O
lembrei.

—Então, você não sabe dirigir um carro sozinha, mas


você o fez. — Ele pontuou.

—Eu...

—Você está aqui a salvo agora, Franka, mas juro, porra,


se você fizer isso de novo, merda vai acontecer.

Eu soube imediatamente que, o que quer que fosse essa


―merda‖ a que ele se referia, eu não queria que acontecesse.

Eu deixei essa passar e tentei começar de novo.

—Noc, nós precisamos...

Ele se empurrou da ilha, mas não avançou mais quando


interrompeu:

—Para uma mulher que faz uma arte em sintonizar


todas as nuances de alguém com a qual ela queira brincar,
parece que não tem a menor ideia de como brincar comigo.

Sofri o golpe e forcei minha voz num tom conciliador


quando respondi:

—Você sabe que não tenho nenhum desejo de brincar


com você, Noc.

—Não? Então você ligou para o meu pai só para dizer oi?

—Não tive a intenção... — Comecei a explicar.

Mas Noc queria uma explicação diferente.


—O que você fez, baby? Esgueirou-se de nossa cama
quando eu estava dormindo e copiou o número dele do meu
celular?

—Claro que não! — Eu sussurrei.

—Magia. — Ele afirmou.

Eu não confirmei.

Ao invés disso eu tentei novamente explicar.

—Não foi minha intenção...

—Certo. Vamos esclarecer isso. Eu não dou a mínima


sobre qual era sua intenção, porra. Você não estava
conseguindo o que queria, então ligou para a porra do meu
pai. Um homem que você não conhece. Um homem que você
não sabe porra nenhuma. Um homem ao qual você não
saberia nada até o momento em que eu pensasse que era
certo apresentá-lo a você. Isso não foi legal e acho que não
tenho que te dizer isso. Acredito que isso seja igual no seu
mundo ou no meu. Então acho que você sabe disso, porra.

Tentei lidar com a situação da melhor forma possível.

—Há uma variedade de coisas que nós precisamos


discutir, querido.

—Não tem não e acho que já deixei isso claro.

Dei um passo à frente e a dor golpeou profundamente


quando sua expressão compartilhou, inconfundivelmente,
que uma aproximação estava longe de ser bem-vinda.

Por esse motivo eu parei.


Mas não me impedi de falar.

—Valentine me alertou que eu preciso controlar minhas


emoções em relação a minha magia. — Compartilhei. —E o
que aconteceu entre nós está pesando muito em minha
mente. Então assim que eu sentei junto da minha bola de
cristal, preocupada com isso, o número do seu pai apareceu
ali. Eu não pedi para isso aparecer. Simplesmente apareceu.
E eu juro a você que essa é a verdade.

—Então você ligou.

—Eu liguei sem saber para quem estava ligando.

—Mas você ligou. Descobriu quem era e conversou com


ele. E Sue, eu devo acrescentar.

—Sim, mas Noc, uma vez que soube quem era, eu


dificilmente poderia desligar.

—Talvez não, mas você também poderia ter falado oi, se


apresentado e não, caralho, trazer a tona o seu show comigo
e a merda que está tentando se insinuar.

Eu também absorvi esse golpe e aguentei.

—Posso afirmar que você deixou seus sentimentos


claros sobre esse assunto, meu querido, no entanto não estou
certa de ter feito o mesmo. Há coisas que estão me
preocupando..

—Estou percebendo isso, vendo como você está


totalmente bem em compartilhar com meu pai.

Eu balancei a cabeça e tentei nos guiar para outro


caminho.
—Ele me explicou sobre Judy, a data, e entendi onde
seus pensamentos estão sobre esse assunto. O que não
entendo é por que você não se sente confortável em dividi-los
comigo.

—Não, o que você não entende é que eu não quero


dividir essa merda com você.

—Eu entendo isso, Noc. — Disse calmamente. —Só não


entendo o porquê.

—Você não quer saber o porquê.

—Quero.

—Não, Franka, você não quer.

Dei outro passo para frente, parei e salientei: —Eu


quero tudo de você.

Suas palavras foram implacáveis quando ele respondeu:

—Acredite em mim, você não quer.

—Por favor, Noc.

—Esqueça.

Balancei minha cabeça, dei outro passo e parei. —Não


posso.

—Você pode. Você não quer.

—Eu vejo sua dor. — Sussurrei.

—Sim? — Ele perguntou, com uma voz cheia de


escárnio.

Meu Noctorno.
Escárnio.

Independente do choque que causou, vê-lo assim, eu


persisti.

—Você me ajudou a passar pelo meu, meu amor, eu


quero guiá-lo no seu.

Com isso, apenas um curto momento passou antes dele


estourar de rir.

Uma risada sem nenhuma alegria.

Meu corpo travou com a sutileza do som e os


sentimentos odiosos que me fizeram sentir.

Quando ele parou, minhas palavras liberaram a dor que


senti dentro de mim quando observei:

—Você não acha que eu posso fazer isso! Você me


ajudou no meu pior, mas acredita que eu não posso fazer o
mesmo por você.

Eu sabia o quão longe ele se afastou de mim quando


não esboçou reação ao tormento em minhas palavras e
respondeu sem emoção:

—Vejo que você quer isso Franka e parte de mim aprova.


O que não aprovo é que você não escuta merda nenhuma
quando digo que isso é um lugar que você não pode ir.

—Então, você pode me forçar a ver minha alma de ouro,


mas você deseja que eu permita que você viva nas sombras?
— Forcei.

Com isso, com uma violência repentina que foi tão


surpreendente que meu corpo inteiro pulou, e tive que me
esforçar para não me encolher, ele pegou seu copo e jogou-o
através da cozinha onde ele bateu contra o armário da parede
oposta, o vidro quebrando e o uísque salpicando para todo
lado.

E então veio o estrondo, a força dele me fazendo


estremecer.

—Eles me tiraram de seu cadáver. — Noc rugiu.

Eu fiquei absolutamente imóvel.

—Ela estava morta antes de eu tomar a porra da minha


primeira respiração. — ele declarou.

Oh Deus!

Deuses.

Ele estava falando sobre sua mãe.

—Querido. — Eu sussurrei.

—Eu nasci nas sombras e isso foi no meio da porra do


dia que eu entrei no mundo, — ele cuspiu. —Você acha que
pode tirar isso de mim?

—Noc. — Eu sussurrei, aproximando-me dele.

Eu parei quando ele declarou: —Ela nunca me segurou.


Ela estava morta antes de eu estar vivo. Morta para me dar
vida. Eu não sou médico. Não sei nada sobre pesquisa
científica. Não sei o que bebês podem sentir. Tudo o que sei é
que eu era um bebê e sabia que ele a amava. É foda, Franka,
meu pai a amava tanto, me diz o homem que ele tinha que
ser para ter a coragem de dar outra chance, três vezes,
porque com o que eu sentia desde o momento em que nasci,
eu não pensei que o homem pudesse, mas isso é o quanto ele
a amou. E foi isso o que senti. Eu também senti exatamente o
que ele sentiu, quando a perdeu. Com meu primeiro suspiro,
eu senti sua perda e eu senti seu amor por mim e isso tudo
eu senti. E depois essa perda aconteceu de novo. E depois
essa porra aconteceu de novo. E eu tive que assistir essa
porra.

—Meu amor...

—Você acha que pode tirar isso de mim?

—Eu...

—Não há heróis, Franka.

Eu fechei a boca.

—Eu sei disso. — Ele declarou. —Eu aprendi isso.


Matando minha própria mãe nascendo, e eu rezei para Deus
toda maldita noite quando Judy estava doente, pedindo a Ele
que a deixasse ganhar. Implorando por essa merda. Ela lutou
tão arduamente, ela merecia isso. Mas foi mais. A mulher que
ela era, não há nenhuma razão pela qual eu poderia obter o
porquê dela ser forçada a sofrer essa dor. Por que uma
mulher como ela poderia ser levada de nós. Eu não entendia
o que nós fizemos para merecer isso porque com certeza,
porra, ela não fez uma merda para merecer isso. Porém ela
não ganhou. E nós tivemos que assistir. Nós tivemos que
assistir seu desperdício. Nós tivemos que ver sua dor. E não
havia uma merda que qualquer um de nós pudesse fazer
sobre isso.

Ele me deu o que eu queria, me desestruturando.


E então ele me explodiu:

—Você sabe o que faz um herói, querida?

Lentamente, balancei a cabeça.

—O que faz um herói é aquele que permanece de pé


quando os outros estão mortos. Ou aquele que deu a sua vida
para os outros poderem viver. Isso é um verdadeiro herói.

Cautelosamente, eu disse: —Há outras definições, Noc.

—Esses são os que realmente importam.

Não pude argumentar com isso.

—Minha mãe foi uma heroína. — Ele declarou.

Deuses, ele está me matando assim.

—Meu amor. — Sussurrei.

—A maneira como ela lutou para ficar conosco, Judy foi


uma heroína também.

Em pé na frente dele, inteira, mas ainda sentia como se


estivesse sangrando.

—Isso é o que é ser herói, Franka, quem iria querer ser


um puto de um herói? —Ele exigiu.

—Você era um pequenino bebê quando nasceu, querido.


Não poderia ter salvo sua mãe.

Sua cabeça torceu com desgosto: —Você acha que isso


torna tudo mais fácil?

Eu persisti. – Mas você ainda era um bebê, mesmo que


esse bebê fosse crescer para ser um bom homem, e certas
doenças podem trazer abaixo até o maior dos guerreiros,
como evidenciado pelo sua Judy.

—E você acha que isso torna tudo mais fácil?

—O que eu acho é que você se culpa por coisas que


estavam além do seu controle.

—Não diga? — Ele perguntou sarcasticamente. —Me


tornei um policial porque queria salvar o mundo, quando não
consegui salvar minha mãe. Não salvei Judy. Foda-se, eu
realmente ajudei a salvar um mundo maldito. Não ajudou. Eu
poderia levantar uma arma e disparar naquela bruxa filha da
puta e ajudar a salvar inúmeras vidas. Mas eu estava
totalmente indefeso, no caso de Judy fui forçado a sentar e a
realmente assistir, completamente incapaz de fazer qualquer
porra de coisa para salvar qualquer um deles.

Eu olhei diretamente para seus olhos, no coração de sua


angústia, e finalmente entendi.

E o que eu entendi, me arrebatou.

—Então você se manteve nas sombras e se recusou a


deixar ir.

—Isso me pegou, Franka, e não há como escapar disso.

—Ótimo. — Sussurrei.

Ele abaixou a cabeça e fez uma de suas piscadas lentas.

—Sombrio é bonito. — Disse a ele. —E isso é o que tem


de mais bonito em você.

Eu assisti seu corpo se fechar.


—Oh, mas os deuses realmente devem me amar. —
Compartilhei suavemente. —Por me dar um homem que
permita que sua alma seja tomada pela escuridão da noite,
pois ele é um homem que ama tão profundamente, que ao
perder aqueles que tiveram seu amor, foi lançado nas
sombras, e ele se recusa a rastejar para a luz.

Parei de falar e Noc nada disse. Ele apenas me encarou


e eu vi sua garganta convulsionar ao engolir em seco.

Depois deixou sua cabeça cair.

Avancei rapidamente.

Chegando perto, encostei a testa na dele, segurei seu


rosto nas mãos e olhei para ele, suportando a agonia no seu
rosto, agora entendendo o que ele estava escondendo atrás de
seus olhos fechados.

E saboreando a honra que era de receber ambos.

Ele ficou de pé, sem me tocar e sem falar.

Fiquei de pé, segurando sua beleza entre minhas mãos e


fiz isso silenciosamente.

Isso durou uma eternidade.

Depois ele murmurou. —Odeio a porra dessa data


maldita.

Finalmente.

Eu não vi sua dor semanas atrás simplesmente porque


teria que ter motivos para olhar mais perto.
Eu vi sua dor porque agora era o momento em que se
forçou a aparecer.

—Sente falta dela. — Sussurrei de volta.

Ele abriu os olhos.

Vi o brilho da umidade e fiquei honrada por receber isso


também.

—Sim, querida, todo maldito dia.

Deslizei o polegar ao longo de sua bochecha. —Eu te


amo por isso.

Ele fechou os olhos, inspirou pelo nariz e quando os


abriu de novo, arrependimento enchia seu olhar.

Ele levantou uma mão até o meu queixo devolvendo meu


gesto.

—Fui um babaca fodido.

Eu balancei a cabeça, mas disse: —É meu o prazer de


receber cada parte de você.

Ele sacudiu a cabeça de volta, seus lábios contorcendo.

—Minha Frannie. Deveria saber. Ela pega o bom, mas


ela sempre é melhor pegando o ruim.

—De fato.

De repente, meus braços foram forçados a envolver seus


ombros quando sua mão desapareceu no meu queixo. Ele me
ergueu num abraço apertado e enterrou o rosto no meu
pescoço.

—Te amo, baby. — Ele declarou ali mesmo.


—E eu a você.

Ele pressionou mais profundamente seu rosto no meu


pescoço e sua voz estava áspera quando saiu: —Ela amaria
você também.

Fechei meus olhos em mais arrebatamento

Mas não disse nada.

Eu simplesmente segurei meu amor.

E aproveitei a beleza da escuridão.


Nunca longe

Franka
Noc escolheu a hora e o lugar.

Caminhamos juntos sob a luz do luar.

Quando chegamos ao ponto que ele desejava, entre as


sombras das árvores envoltas com musgo, ele me virou em
seus braços e tocou seus lábios nos meus. Depois, ele
colocou minha bochecha em seu peito e apoiou sua cabeça
em cima da minha.

Eu abraçava suas costas com um braço, e o outro


segurava seu bíceps.

Eu fiz isso por duas razões.

Uma era tocá-lo, obviamente.


Outra, era para saber exatamente quando chegasse a
hora.

Nós ficamos nos braços um do outro enquanto, os


minutos se passavam.

E observava a luz do luar até que soube que o


momento chegara.

Só então me afastei um pouco do abraço de Noc.

Mantendo-o abraçado com um, e fiz um arco largo com


meu outro braço, e de meus dedos, um bando de pombas
voaram, suas asas brilhando pelos raios do luar, as pontas
de suas penas arrastando delicados brilhos que caíam rumo
a terra.

Eles voaram direto para a lua e desapareceram com


sua luz.

Era meia-noite.

Minha hora favorita.

E era o aniversário da morte de Judy.

O mínimo que eu podia fazer era lançar as pombas.

Volto meu olhar para Noc que observava o céu onde as


pombas desapareceram.

Dei um momento para pensar em Judy.

Então eu sussurrei: —É hora de ir para casa, meu


amor.

Seus olhos se voltaram para mim.

Eu vi a dor que nunca desapareceria.


Como deveria ser.

Mas também vi paz.

—Sim, querida. É hora de ir para casa.

De mãos dadas, fomos para o carro dele, deixando para


trás o luar e a magia.

No entanto, Judy ficou conosco, pois eu tinha certeza


que não importava o dia que fosse, ou hora, o amor que Noc
tinha por ela, pelo amor que ela proporcionou, nunca seria
esquecida.
O amor pode vir de qualquer
maneira

Franka
—Eu diria que foi um trabalho bem feito, — observou
Valentine.

Nós observávamos, Valentine, Lavinia e eu, na calçada


do outro lado do restaurante, o homem e a mulher que se
amavam. A mulher que o amava tanto, procurou e salvou
seu amor. Em troca, estavam sentados em uma mesa
comendo hambúrgueres

No primeiro encontro.

Eu estava horrorizada.

Certamente, minha magia queria mais do que


hambúrgueres para um primeiro encontro.

—Acho isso muito perturbador, — murmurou Lavinia.

Eu também.

Quer dizer, hambúrgueres?

Valentine e eu viramos para ela.


Ela tirou os olhos do casal e virou para nós. —Toda a
beleza que você pode fazer com sua magia, você usa para
mexer com a vida das pessoas?

—Nós damos o que eles querem, —Valentine


respondeu.

—E aquele homem, —Lavinia gesticulou para o


restaurante —ele a queria?

—Ele quer agora, —eu compartilhei o óbvio.

Lavinia revirou os olhos para o céu.

Mesmo que tivéssemos acabado de começar, Valentine


deixou claro que ela era contra.

—Temos uma reserva no Arnaud em meia hora. Noc,


Dax e Circe nos encontrarão lá. Temos que ir.

Lavinia suspirou e todos nos dirigimos para onde


Valentine estacionou seu carro.

—Esses meios de transporte, eu não consigo me


acostumar com eles, —Lavinia murmurou.

—Eu senti o mesmo ─ compartilhei. —Como você


parece gostar de ficar neste mundo, nós lhe ensinaremos
como dirigir. Confie em mim, vai melhorar.

Lavinia me olhou horrorizada.

Dei um pequeno sorriso.

O carro fez um barulho e suas luzes brilharam, nos


dizendo que as portas estavam destrancadas.
Valentine foi para o lado do motorista falando: —Esse
trabalho está completo. Tenho muitos alinhados, Franka, —
ela disse para mim. —Você está pronta para o próximo?

Com certeza era um desafio.

E que terminou em hambúrgueres.

Eu estava mais que pronta para o próximo.

—Claro, — respondi dentro do carro. —Você tem algo


em mente?

—Sim, — declarou ela.

Estudei seu rosto e pelo seu olhar, agitou algo em mim.

—Seu próximo cliente procura vingança, — ela


sussurrou.

Eu fixei em seus olhos e em suas palavras, meu sorriso


era pequeno, mas muito significativo.

***

Korwahk

—Pare de babar, Lábios-açucarados.

—Hum?

—Baby.

—Sim?
Ele estremece ao dizer: —Frannie. — Estava com um
braço apertando ao redor dos meus ombros, enrolada na
frente de Noc, significava que eu precisava parar de olhar o
guerreiro Korwahk.

Oh, tantas luas atrás, eu o encontrei em Fyngaard,


embora depois dos problemas que tinha, ele rapidamente
saiu de casa.

Era um dos mais confiáveis tenentes de Lahn.

Seu nome era Zahnin.

E sua aparência feroz era favorável a ele. Eu o achei


assustador, e tão bonito quanto, na época eu não admito o
alívio que senti quando ele foi embora.

Mas agora, aqui, em sua casa, Korwahn, sobre seu


Majestic Rim, esperando a cerimônia que estava para
começar, junto com a esposa.

E seus filhos.

Antes que Noc me afastasse, eu observava o garotinho


andando enquanto Zahnin estava fazendo cócegas e
apertando sua menina, rindo incontrolavelmente. E
continuou enquanto ele soprava beijos em seu pescoço.

Apoiando-a em seu braço longo e forte, inclinou-se


para pegar seu filho, este gritando seu júbilo, e o guerreiro
os controlava contra seu peito, para o deleite das crianças.

Enquanto isso, sua esposa Fleuridian muito bonita,


Sabine, estava ao lado de seu marido, ambos os braços
envoltos de si mesma, e olhava-os com adoração.
De seus filhos, é claro.

Mas principalmente seu marido.

Eu a entendia

Seu sorriso era largo, transformando seu rosto.

Não havia ferocidade lá, não agora, somente amor e


felicidade.

Algo irradiava dele quando finalmente virou sua


atenção de seus filhos para sua esposa em aberta devoção.

Nesse momento, olhei para Noc e não vi ferocidade


tampouco.

Seu sorriso era largo, mas não transformou seu rosto.

Meu Noc sempre me mostrou seu amor e a felicidade


que dei a ele.

E a devoção que ele me deu.

Assim, amoleci em seu corpo.

—Estaria com ciúmes por você perverter aquele cara,


se não acordasse feliz por estar de volta em seu mundo e
sentindo a necessidade de ir para baixo em mim, — ele
observou.

Fiz uma careta.

Noc continuou sorrindo. —Se me dissessem, há um


ano, que eu estaria em uma casa de adobe com água
corrente que é alimentada diretamente de um rio, que essa
casa seria de um universo paralelo, e acordado naquele
lugar só para receber o melhor boquete da minha vida,
ficaria intrigado, mas consideraria loucura.

—Este não é um tema para discussão em um dia como


hoje, — eu disse. —Circe e Lahn não nos convidaram para
que sejamos rudes.

Ele afundou seu rosto mais perto do meu, ainda


sorrindo. —Baby, primeiro, ninguém entende uma porra do
que estou dizendo, perceba que ninguém fala inglês. E
segundo, se você acha que não terão um monte de boquetes
hoje, você está muito enganada. Casamentos fazem as
pessoas terem tesão.

Bem!

—Pode ser, mas não fale isso antes de começar a festa.


Independentemente se as pessoas não entendam, esse seu
olhar já diz tudo.

Seu olhar feroz ficou ainda mais (tinha que admitir,


não para Noc, ele era o mais atrativo). —Se tivessem aviões
aqui, eu escreveria no céu o quão rápido minha mulher
consegue explodir minha cabeça.

Embora estivesse contente que eu pudesse agradá-lo,


eu bati em seu peito.

Ele começou a rir.

Naquele momento, um silêncio caiu sobre a multidão.

Noc ergueu a cabeça e voltamos nossa atenção para o


lábio colossal de rocha de areia colorida que se projetava
sobre a cidade de Korwahn criando seu Majestic Rim.
Lá nós vimos Dax Lahn de Korwahk, seu peito e costas
pintados em preto e ouro, caminhando para a clareira diante
de nós, onde seu trono e o da sua rainha estavam sentados.

A Rainha de Ouro Circe estava ao seu lado, em regalia


extraordinária, incluindo uma faixa de brilhantes penas de
ouro em torno de sua testa.

E Ghost ao lado dela como um animal de estimação


confiável (algo que eu tinha encontrado na noite passada,
quando chegamos e fui apresentada a ela) que era uma
tigresa branca grande, enorme.

Seguindo-os, sob um tom caído de seda dourada,


estava um jovem casal, a mulher bonita e gorda sorrindo
alegremente, o homem magro e alto ao seu lado parecendo
sério.

A sombra foi sustentada em quatro polos por quatro


moças, todas praticamente saltando em sua excitação.

Subindo na retaguarda estava um regimento de


guerreiros de Korwahk, todos usando tinta preta e dourada.

Apenas para o lado da clareira, as três crianças de


Lahn e Circe estavam sendo cuidadas pelos amigos de Circe,
Narinda e Nahka (mulheres que eu também conheci ontem à
noite), que tinham seus próprios filhos com eles. O marido
de Narinda, Feetak, e o marido de Nahka, Bohtan, estavam
mantendo um olhar severo na tripulação.

Circe e Lahn chegaram a seus tronos assim como


Diandra, a melhor amiga de Circe, uma espécie e
extremamente atraente Valeriana (que significava que ela
falava a língua de Noc e a minha), se aproximou de nós.

Olhei para ela e lhe devolvi o sorriso antes que meu


olhar voltasse para a borda para ver Circe sentada em seu
trono feito de chifres brancos.

O guarda de honra se alinhou atrás dela.

O trono de Lahn, feito de enormes chifres negros,


estava vazio porque ele não se sentou. Ficou de pé, com as
mãos sobre os quadris cobertos de couro, parecendo que
estava olhando com raiva para o casal que agora se
encontrava diante do rei e da rainha, de frente para o outro,
as quatro mulheres ainda segurando a sombra sobre eles.

—Iykoo! — Lahn gritou.

—Ajoelhe —sussurrou Diandra em tradução.

Tive imediatamente o desejo de me ajoelhar, mas como


a multidão ao nosso redor não o fazia, fiquei onde estava, na
curva do braço de Noc, e vi Jacanda, a escrava de confiança
de Circe, ajoelhada diante dela, e o marido, Derahn.

No instante em que ficaram de joelhos, um júbilo


coletivo veio da multidão quando uma chuva de pétalas de
flores nas cores amarelo, laranja e rosa escuro caiu do lado
de baixo do toldo sobre elas, chovendo sobre o casal abaixo.

Sentindo a excitação dos meus lábios, sabendo que era


a magia da rainha, olhei do casal para Circe, vendo sua boca
curvada em um sorriso suave e indulgente, seus olhos
colados em sua escrava, que também era sua amiga.
E notei novamente.

Desde que chegou no dia anterior, eu percebi em sua


casa, ela era a Circe que eu conhecia. Minha amiga. Uma
mulher do meu novo mundo vivendo em uma terra selvagem
em meu velho, uma mulher que se dava, e era divertida e
amável.

Mas quando ela saiu de sua casa, ela era a Rainha do


Guerreiro Dourado de Korwahk.

Foi a sua maneira que esta distinção era bastante


vaga.

Mas, no entanto, era inconfundível.

Agora ela era rainha.

E ela era uma visão para contemplar.

Mesmo assim, desviei meu olhar dela para outro ponto


de vista que era sempre um para contemplar e vi seu
marido, torso torcido para que ele pudesse olhar para sua
esposa.

Quando ele se voltou para o casal, ele estava


balançando a cabeça, mas fazendo isso claramente
brincando com um sorriso.

Lahn não era um homem de pétalas de flores.

Mas ele gostava que sua esposa fosse.

Ele voltou a ficar sério quando olhou para os sujeitos


ajoelhados diante dele.

Então ele abriu a boca e começou a falar.


Diandra traduziu como ele fez.

—Hoje, o escravo Derahn toma para esposa a criada de


minha rainha, Jacanda. Hoje, ele dá seu juramento de que é
agora sua posse. Ela é dono do seu corpo. De seu espírito.
De sua semente. E hoje, a serva de confiança da rainha,
Jacanda, faz seu juramento de que ela é agora a posse de
Derahn. Ele é dono de seu corpo. De seu espírito. De seu
ventre. Eles não levarão ninguém até a morte. Eles serão
propriedade de nenhum outro até a morte. Derahn vai
semear as crianças em Jacanda e vai oferecer proteção e
orientação para a família que ele criará até sua respiração
final. Jacanda vai entregar-lhe estas crianças e oferecer-lhes
cuidados a eles e Derahn até seu último suspiro.

Enquanto Lahn fazia uma pausa, parecia uma agitação


dos guerreiros que estavam atrás dos tronos de Circe e
Lahn, bem como aqueles pintados para o dia cerimonial que
estavam de pé entre a multidão (incluindo, eu observei de
soslaio, Zahnin, que transferiu seus filhos para sua esposa,
e agora estava olhando muito mais alerta e de volta ao
feroz).

Meu olhar voltou para Lahn quando ele falou


novamente.

—E eles farão isso como homem e mulher livres ...

A agitação em torno de nós aumentou, então Noc


segurou em mim apertado porque esta agitação não foi
apenas dos guerreiros, mas também a totalidade da
multidão.
Lahn falou através deles, eu não tive dúvida de notar a
sensação do encontro, mas ignorando-o inteiramente.

—Propriedade de agora até sua morte por nenhum


comerciante, nenhum homem, nenhum guerreiro. Possuídos
apenas um pelo outro. Este é o meu decreto. Este é o
decreto da minha rainha dourada. E isso será feito. Como
seu juramento agora é feito e eles são homem e mulher um
para o outro a partir deste dia até queimarem em suas
piras.

Desviei meu olhar para o casal para ver que essa


declaração de liberdade era mais um presente dado a eles,
que era uma visão distante mais doce do que as pétalas de
flores caindo. Eles estavam olhando para o Dax com uma
expressão de boca aberta.

Aparentemente, os escravos raramente eram libertados


em Korwahk.

—E como um presente para Jacanda, — Lahn rugiu


enquanto Diandra traduzia, soando surpresa (um segredo
bem guardado, claramente, pois Diandra era muito amada e
confiável por Circe), — um escravo leal a sua rainha, um
escravo que tem estado ao lado de sua rainha em maneiras
femininas que espelham as ações de um guerreiro da Horda
para seu irmão, é a vontade de seu rei e sua rainha dourada
que todo comerciante, homem e guerreiro dê liberdade
àqueles que os servem com toda fidelidade.

Senti meu corpo se enrijecer.

Foi ele…?
Eu olhei.

Pelos deuses, Lahn estava libertando os escravos!

A agitação aumentou, assim como o aperto do cabo de


Noc, e um murmúrio chocado estourou entre a multidão.

—É a nossa vontade, a vontade de seu rei e sua rainha,


— Lahn trovejou sobre o som baixo. —É o selo da Dinastia
Dourada. A fidelidade é recompensada. A liberdade é
concedida. Nós construímos o Korwahk que os profetas
previram e que Korwahk vai florescer e prosperar sob o
reinado da Dinastia de Ouro, — ele de repente levantou uma
mão e bateu em seu peito, — minha Dinastia de Ouro. A
dinastia derramada de minha semente plantada na
fertilidade entre as pernas da minha, ─outra batida no
peito─, — Rainha Guerreira Dourada.

Meus olhos dispararam para Circe para vê-la rolar os


dela com as assertivas afirmações de Lahn.

Mas ela estava fazendo isso sorrindo.

Lahn continuou falando.

—Todos aqueles dentro de nossas fronteiras que a


Horda protege, a partir deste dia caminham livres,
prometendo lealdade à areia e à rocha deste país.

Houve mais murmúrios, mas quando olhei ao redor,


me segurei em Noc. Para meu choque, a maioria (mais os
guerreiros) parecia surpresa, ninguém parecia zangado.
Claramente os guerreiros foram avisados e
demonstravam isso com sua pintura e suas espadas em
suas costas.

Eu pensando que era tudo cerimonial.

Não era.

Quando falam que escravos estão livres, você fica


muito bem com isso, porque suas alternativas eram a
demissão e ter um guerreiro Korwahk Horde deixando você
em pedaços.

Senti que essa era uma reação apropriada por várias


razões e voltei minha atenção para Lahn quando ele
recomeçou a falar.

—É tradição do povo de minha esposa que você deve


beijar sua noiva para selar seu juramento, — disse Lahn,
agora falando apenas para o casal. Então ele ordenou: —
Faça isso agora.

Ouvi Noc rir quando ele relaxava, e não demorou para


que Jacanda e Derahn se beijassem, mas uma vez começado
eles não hesitaram mais e caíram nos braços um do outro.

O beijo não foi nada casto.

Na verdade, não terminava, mas continuou com


Derahn abraçando Jacanda de costas em um leito de
pétalas e pedra, cobrindo-a com seu corpo, para o alívio da
multidão.
De repente, painéis de ouro até então invisíveis (em
outras palavras, Circe os conjurou), caiu ao redor do casal,
escondendo-os de vista.

—É por isso, Lábios-açucarados, que os casamentos


fazem as pessoas ficarem com tesão, —Noc murmurou
divertido em meu ouvido.

Eu torci o pescoço e lhe dei um olhar irritado.

Seu olhar se moveu para cima e seus lábios


murmuraram: —Porra.

Com suas palavras e um novo grito da multidão, meu


olhar subiu também.

E lá, sobre a reunião e toda a Majestic Rim, brilhava


como se pingasse poeira de pixie, era o mais brilhante e o
maior arco-íris que eu já tinha visto.

Olhei novamente para Circe, que agora estava sentada


ao lado do marido. Lahn estava em seu próprio trono e com
um sinal de cabeça para uma serva, sinalizou para entregar
o que ela trouxe para sua esposa.

Ela correu para Circe.

Eu a vi aceitar o cálice de vinho como se ela estivesse


tomando um copo enquanto ela estava sentada na ilha da
cozinha de Noc.

E eu sabia.

Lahn não libertou os escravos de seu país.

Sua esposa fez.


Falando para seu marido fazê-lo.

Ah, sim, a rainha guerreira dourada de Korwahk era


bastante esperta.

—Parece que não fomos convidados apenas para uma


visita com a desculpa do casamento de uma garota
desconhecida, — observou Noc, voltando-me para ele. —
Parece que nós estávamos aqui para testemunhar algo
realmente legal.

Parece que ele estava certo.

—Gostaria que os outros estivessem aqui, — eu


respondi, que eram Frey e Finnie, Tor e Cora, até mesmo
Maddie e Apollo (amigos de Noc, mesmo eles não
simpatizando comigo, mas meu Noc gostava deles).

—Se estivessem, eu não teria uma desculpa para levá-


la a Fleuridia, Bellebryn e Lunwyn, — Noc respondeu.

—Verdade, — murmurei.

—Baby, — ele chamou mesmo que eu estivesse em


seus braços, olhando em seus olhos.

—Sim, querido?

—Sente que deveríamos selar nosso próprio


juramento? — Ele perguntou, seus deslumbrantes olhos
azuis brilhando.

—Sempre quis selar nosso próprio juramento, — eu


respondi com a honestidade dos deuses.

Noc sorriu para mim.


Então me beijou.

Infelizmente, por educação, ele parou quando o marido


de Diandra, Seerim, e sua filha, Sheena, se juntaram a nós,
carregando copos cheios até a borda com vinho Korwahkian.

Quando eu peguei o meu de Sheena com um suave,


Shahsha (obrigado em Korwahkian) a menina sorriu para
mim.

—Imaginei que Lahn faria isso, — disse Noc a Diandra,


que parecia confusa por um momento, mas seus lábios
ainda se moviam, falando em Korwahkian, traduzindo para
seu marido e filha. —Não muitos líderes, não importa se eles
podem rasgar a cabeça de um homem com suas próprias
mãos, eles arrancariam por apenas um comando.

Diandra continuou falando, e quando ela terminou,


Seerim começou.

—Haverá levantamentos. Este é apenas o começo. A


Horda foi avisada e eles estão cientes. Não vai ser assim tão
fácil. O que será, eventualmente, o legado da Dinastia
Dourada.

—Não duvide disso, — respondeu Noc.

Diandra traduziu o que Noc tinha dito e então


compartilhou suas próprias palavras: — Ajuda as coisas,
estou certo, que todos os governantes do Northlands
declararam a sua aliança com este novo credo e vão
bloquear o comércio com os comerciantes de Korwahk que
não segui-lo. Governantes que também juraram que estão
preparados para cavalgar com a Horda para aqueles que
pegam armas em um esforço para desafiá-la.

Em outras palavras, a rainha Aurora (com o apoio de


Frey e Apollo, sem dúvida), o Príncipe Noctorno, o Rei
Ludlum e quem estava governando Fleuridia agora (eu
estava fora do circuito, parece que houve um golpe na
última conversa que eu tive com Cora em minha bola de
cristal, mas já não era o meu mundo) estavam dentro do
decreto de Lahn.

—Não é ruim, — murmurou Noc.

Diandra assentiu.

Sheena disse alguma coisa e Diandra olhou para os


tronos antes de nos dizer: —Nosso Dax e Dahksahna
desejam nossa presença.

Olhei para os tronos também e vi agora que o rei e sua


rainha estavam com sua família.

Assim, Circe estava tentando controlar um Ashur


muito alegre em seus braços (falho, já que também estava
segurando seu cálice e a criança queria se jogar na tigresa
branca, que estava lambendo a perna do bebê).

Enquanto isso, Lahn tinha sua criança de cabelos


escuros Tunahn montando seus ombros largos, o menino
olhando para a horda em sua frente, como se ele já
governasse todos ali.

Mas sua filha de cabelos dourados, Isis, estava no


enorme peito de seu pai, borrando sua pintura e
manchando suas roupas douradas, e ria enquanto ela
puxava sua barba.

Lahn não sentiu necessidade de se comportar como rei


com a filha pressionada contra ele e puxando sua barba.

—Hora de assistir ao rei e à rainha, — disse Noc no


meu ouvido, colocando uma mão nas minhas costas.

Ele estava certo, é claro.

De certa forma.

Mas realmente, era hora de estar com nossos amigos e


celebrar uma ocasião importante.

O primeiro novo credo proclamado pela Dinastia


Dourada.

Eu tomei um gole da minha xícara enquanto me movia,


e pensei: Que seja um de muitos.

***

Fleuridia

Eu peguei um pedaço de lavanda enquanto andava ao


lado de Maddie.

Eu pedi por isso.

Agora eu não sabia como lidar e o e porque fez isso.


Durante a nossa visita ao meu mundo, Noc queria ver
todos, incluindo Apollo e Maddie.

Eu não disse nada contra, mesmo que eu sentisse uma


pequena preocupação sobre Noc ser bem-vindo, mas
provavelmente não.

Isso não ocorreu. Apollo e sua Maddie foram muito


cordiais comigo.

Cordiais.

Não amigáveis.

Estava claro que eles gostavam mais de Noc.

Mas eram ruins em esconder, não eram os mesmos


comigo.

Apollo era formal e sucinto, claro de que não me queria


aqui.

Maddie estava hesitante e atenta.

Dias antes, em Bellebryn, tudo estava maravilhoso,


providenciado (e pago) com Valentine, e eu estava pensando
em simplesmente passar por aqui e, em seguida, seguir com
nossas férias.

O que eu não previ foi Noc e seu jeito altamente


perceptivo.

A princípio, ele parecia interessado na tentativa, com


seu bom humor, de varrer a estranheza.
Quando isso não ocorreu, e independentemente de eu
ter tentado esconder meu desconforto, ele começou a ficar
frustrado.

E depois com raiva.

Eu temia que ele explodisse com Apollo, e antes que


fizesse algo assim, transformando uma amizade, algo tinha
que ser feito.

E eu tinha que fazer isso.

Assim eu pedi a Maddie por este passeio.

Eu não sabia como resolver o assunto em questão.

Mas precisava.

Por Noc.

E, na verdade, para Maddie.

Eu parei, girando o caule de lavanda em meus dedos, e


falei em voz baixa: —Lady Madeleine.

Ela parou também e voltou-se para mim.

—O que eu disse a você em Brunskar, eu sei que


minhas palavras te machucaram, — eu declarei.

—Franka, — falou meu nome inquieta.

—Ficou muito claro isso.

Ela parecia estar perdida antes de responder: —As


coisas estavam muito... emocionais na época.

—Estavam realmente, — eu concordei. —Isso não


apaga o que eu fiz.
Ela deu um passo em minha direção, dizendo de novo:
—Franka.

—Aqueles que me importam, que se preocupam


comigo, me chamam de Frannie.

Ela parou e olhou.

—Mesmo não admitindo, até agora, eu sempre admirei


Apollo por muitas razões. Seu serviço a meu país é um.
Outro é o amor que ele tem por sua família.

Ela parecia estar lutando, desviando seu olhar.

—Este homem que eu respeitei há muito tempo, é bom


ver que está feliz, —declarei.

Seu olhar fica assustado quando ela deu o último


passo em minha direção, estendendo a mão para envolver
seus dedos ao redor dos meus.

—Isso foi gentil de dizer, — ela respondeu calmamente.

—Talvez, mas na maioria das vezes é verdade, —


respondi.

Seus lábios se curvam.

—Pode ser o dano que minhas palavras causaram,


fazer que outros não tenham o que eu tenho, encontrar o
amor através dos mundos, — eu continuei. —Mas meu Noc
se preocupa com vocês dois. Então, embora não possa pedir
qualquer coisa de você, por ele eu faço isso. E o que eu peço
é que nos esforcemos para superar a estranheza entre nós,
para que Noc possa aproveitar seu tempo, que é bastante
breve, com vocês dois.
—Eu sei o que aconteceu com você, — ela sussurrou.

Ergo meu queixo e respondo: —Eu sei.

—Meu ex, o outro Apollo, policial, me bateu de todas as


formas, repetidamente. Uma vez eu perdi o filho que
carregava.

Pisquei em choque e angústia.

—Quando fui procurar ajuda de meus pais, —


continuou ela, —meu pai fechou a porta na minha cara.

—Pelos deuses, — murmurei.

Ela assentiu com a cabeça e continuou a relatar seu


conto repleto de tristeza.

—Eu não deixei ninguém chegar perto de mim. Não até


Apollo.

Eu não disse nada.

—Em outras palavras, Frannie, — ela olhou além de


mim, para o grande campo de Fleuridia que ela compartilha
com seu marido, os filhos de Ilsa, e sua pequena Valentine,
e novamente para mim. —A estranheza foi porque, bem,
mesmo mudando, você estava intimidada e eu não sabia
como lidar com isso. —Ela me deu um sorriso. —Estou feliz
que você soube o que fazer.

—Bem, eu estou...— limpei minha garganta, —


contente também.

Ela sorri, vindo para o meu lado e enganchando seu


braço no meu.
Assim, ela nos conduz —Então agora, me diga. Estou
morrendo de vontade de saber. Como você reagiu ao meu
velho mundo? Eu tenho que admitir, eu adoraria tomar algo
de lá. Aviões e jacuzzi... Você tem que me contar tudo. Qual
foi a coisa mais estranha? E a mais maravilhosa?

Eu contei tudo a ela, que jogou a cabeça para trás e riu


quando eu disse que ambos foram os banheiros.

E então, Lady Madeleine Ulfr e eu vagueamos por um


campo coberto de lavanda.

E nos tornamos amigas.

***

Noc

—Ela mudou muito.

Noc não tirou os olhos da janela enquanto observava


Frannie e Maddie vagando pelo campo, de braços dados,
com as cabeças curvadas, mesmo quando sentiu Apolo ao
seu lado ou quando Apolo disse aquelas palavras.

—Não, — Noc respondeu

—Eu a conhecia bem antes de você, meu irmão, —


disse Lo.

Só então Noc voltou-se para ele.


—Não, você não conheceu.

Apollo Ulfr manteve seu olhar.

Então levantou o queixo.

Ambos os homens voltaram sua atenção à janela.

E eles ficaram ali observando as mulheres que amavam


vagando, suas saias e os campos de lavanda acenando sobre
eles em uma suave brisa, seus corpos banhados pelo sol.

***

Lunwyn

Franka

Eu estava montando o pau de Noc, nós dois sentados,


com os olhos trancados, quando seu braço apertou meus
quadris e me forçou para baixo, e se apoiou em seus joelhos.

Ele então me deixou cair de costas, me cobrindo e


novamente se movendo para dentro.

Nossos olhares nunca vacilaram, nem quando sua mão


encontrou a minha, ligando nossos dedos e apertando
enquanto sua outra mão se movia, subindo por minha
espinha até encontrar o meu pescoço, enrolando meu couro
cabeludo.

—Não pare de olhar para mim, — ele rosnou.


—Não vou, — eu choraminguei, arqueando. Me
perdendo.

Como a nossa primeira vez.

Exatamente igual.

—Tão bela, — ele grunhiu quando seus impulsos


aceleraram. —Sempre tão linda.

—Querido, — eu respirei, moendo nele, movendo-me


com urgência, a necessidade me dominando.

—Espere, Frannie. Ainda não. Olhe nos meus olhos.

—Você me tem, —eu sussurrei, e ele me tinha, em


todos os sentidos.

Minhas mãos vagando por sua pele, com fome.

Seus golpes ganharam força.

Eu gemi, chegando perto.

Noc sentiu.

—Não perca meus olhos, querida.

—Eu... não vou, meu amor. — Eu ofeguei.

Seu rosto escureceu, seus dedos nos meus apertaram,


eu senti o metal do anel me mordendo e ele gemeu. —
Agora, Frannie. Solte.

Enquanto o som de seu clímax ecoava pela sala, eu


sentia o meu próprio correndo pelo meu corpo e arqueio
nele, apertando-o, e Noc gozou dentro de mim, sem
obstáculos.
Eu tremia pelos últimos momentos gloriosos quando
ele desabou em cima de mim, afundando seu rosto em meu
pescoço.

Eu o agradei, memorizando a sensação que eu nunca


esqueceria, o cheiro, o som de sua respiração áspera
sussurrando contra minha orelha.

Nesses momentos, nunca precisávamos falar.

No entanto, Noc sentia que precisava falar algo.

E disse ao levantar a cabeça, tirando um pouco de seu


peso, e então soltando nossas mãos.

Ele trouxe para seus lábios, seus olhos em mim, e


beijou o grande diamante de gelo Sjofn que se encaixava
perfeitamente com a faixa de ouro simples.

Ele usava uma também, na mão que ainda segurava


minha cabeça.

Seu gesto era tudo o que precisava dizer do meu novo


marido para mim, sua nova esposa.

E durante longos momentos, enquanto nos


contemplávamos, seus belos lábios no anel que me deu, e
isso foi tudo.

Noc pressionou nossas mãos em seu peito e no


momento mais profundo da minha vida (e percebi que todos
os outros naquela lista carregaram lembranças dele
também), ele declarou: —Nós vamos irritar todo mundo que
não convidamos deste mundo ou do outro.

Franzi a testa ao retomar uma discussão passada.


Uma que terminamos com um acordo (Noc foi
compreensivo sobre realizar a cerimônia em minha terra
natal, algo que ele sabia que significava muito para mim).

—Este não é o momento, Noc.

—Não tenho certeza se a Sue vai ver dessa maneira —


ele respondeu. —Ou papai. Ou Dash. Ou Aurora. Orly.
Finnie. Frey vai me dar trabalho. E eu nem quero pensar
como a Jo vai reagir.

—Ela está lidando com sua própria emoção com o


odioso Glover, —respondi, e as sobrancelhas de Noc se
ergueram.

—Odioso? Como Glover é odioso, Lábios-açucarados?


Foi a Jo quem o largou.

Foi mesmo.

Ela explicou antes de sairmos para as nossas férias,


afirmando: —Eu tentei, Frannie. Eu realmente tentei. Mas,
observava você e Noc, e não tínhamos isso. Então, no final,
não dávamos certo.

Ela tinha razão em deixar Glover.

—Não é fácil se separar de alguém, Noc, — continuei —


Ela se sente horrível.

—Ela deveria. Ele estava totalmente na dela. E era um


bom sujeito.

—Não foi bom o suficiente, eu sempre soube disso.

Noc balançou a cabeça, mas abriu um sorriso.


Ele ainda estava sorrindo quando declarou: —
Precisamos ter outra cerimônia quando chegarmos a
RiméeKeep.

—Por que faríamos isso?

Ele não respondeu.

—E nós precisamos ter outra quando chegarmos em


casa.

—Já fizemos, — eu contestei.

—Certo, mas, você diz a Sue que ela não pode usar um
chapéu maluco para algum passeio, — ele retornou. —E por
falar nisso, estar casado aqui não é legal em meu mundo.

—Teremos uma. — Eu disse imediatamente.

Noc abriu outro sorriso enquanto murmurava: —Essa é


a minha Frannie. Se ela puder manter seu dinheiro para
gastar consigo mesma ou em qualquer outra pessoa que ela
queira esbanjar, ela o fará.

—Eu não me importo se seu governo saiba que estamos


eternamente unidos. Como você disse, se eu achasse
prudente eu guardaria dinheiro para, quando voltássemos
para casa, contratar um operador de avião para escrever no
céu.

Isso não me fez sorrir. Mas fez Noc lançar sua boca na
minha e me dar um beijo profundo e aquecido.

Quando ele levantou e nossos olhos se abriram, ele


sussurrou: —Franka Hawthorne.

Esse nome.
Tão belo.

—Essa sou eu, — sussurrei de volta.

Seu rosto feliz, de repente, nós dois congelamos.

Isto era porque o quarto começou a ficar verde.

Noc levantou-se, alerta, com um braço estendido,


sufocou o gemido prazeroso já que ainda estávamos unidos e
seus movimentos estavam longe de ser desagradáveis. —Só
pode ser brincadeira, — disse em um rosnado.

Eu apoiei em meus cotovelos e olhei para onde meus


sentidos estavam me guiando.

E lá, na mesa, perto da janela da estalagem em que


estávamos hospedados, estava um elegante serviço de chá,
sua porcelana pintada num deslumbrante verde esmeralda.

Do bico, os vapores de flutuavam da bebida de dentro.

Junto com um glitter, que era inconfundível.

Senti um sorriso lento em meus lábios quando o tom


verde desaparecia.

—Porra, ela está aqui? — Noc rosnou.

—Não, —eu respondi, e ele se voltou para mim. —Mas


ela sabe que estamos casados e nos deixou um presente.

—Um presente?

Eu coloquei uma mão em seu peito quente e largo. —


Você está cansado, meu amor?

—Você está louca, linda? — Perguntou sem esperar uma


resposta. Ele continuou falando. —É a minha noite de
núpcias e estou sentindo a necessidade de quebrar o meu
recorde.

Minhas sobrancelhas se juntaram. —Recorde?

—Dez vezes, querida, — ele disse, refrescando uma


deliciosa memória. —Hoje à noite, eu vou para quinze.

Minha atenção foi para o chá.

Ele seria melhor.

Oh sim, ele seria.

Esplendidamente.

E eu melhoraria o meu recorde de três.

Oh sim, eu definitivamente o faria.

E eu faria isso esplendidamente.

Era hora de um pouco de chá.

***

—Então este é um vestido de dama de honra, —


murmurei, olhando para mim.

Eu estava dividida.

O design era lindo.

A cor ─ um pálido rosa ─ não era para mim.

Cora, vestindo seu próprio vestido, o mesmo, por


razões que eu não conseguia entender, veio até mim.

—É, — ela confirmou.


—É o mesmo que o seu, — eu disse algo que ela já
sabia.

—É.

—Eu devo dizer que não compreendo porque estamos


com vestidos idênticos.

—É a tradição, — ela especificou.

—Em seu velho mundo, — eu disse a ela. —Não


estamos no seu velho mundo. Desde que Finnie e Circe
estão neste mundo, para que possam ser suas damas de
honra, no meu mundo, Circe está casando com Dax em
Lunwyn.

—Sim, mas ela está dando a ele o seu tipo de


casamento, fazendo a coisa da Justiça da Paz quando voltar
para casa.

Eu sabia dessa Justiça da Paz.

Mas, para legalizarmos nosso casamento, às exigências


inflexíveis de sua madrasta, minha querida Jo (que estava
muito irritada por nos casarmos sem ela), até mesmo
Valentine (que juntou com seu amante com grande drama e
o que foi romântico, de forma descontraída, é claro) não
tínhamos ido a Justiça da Paz e depois fugimos para ter
algum bolo, como pensavam.

Tínhamos tido uma brincadeira.

Uma das grandes.

Eu tinha um vestido muito fabuloso fora de cogitação e


tomávamos banho com presentes, todos muito adoráveis,
mesmo tendo recursos para comprá-los nós mesmos. Para
não mencionar nossa lua de mel. Fomos a um lugar
tranquilo, cheio de beleza surpreendente, chamado Caribe,
onde fizemos amor em um cobertor na areia da praia com o
mar lambendo nossos dedos do pé (entre outros lugares,
vários).

A porta se abriu e minha conversa com Cora foi


interrompida quando meu marido entrou no quarto.

Todos os olhos, incluindo os meus, os de Cora, de


Maddie, de Finnie, de Circe, de Aurora, de Josette, e a noiva
─ a outra Circe (vestida com um vestido que era maior que o
meu).

Seus olhos procuravam por mim.

Eu vi seu rosto suavizar, seu olhar analisou meu


vestido e seus lábios se inclinaram antes de voltar para a
noiva.

Uma noiva que ele estava ―dando‖.

Embora falassem que era contra a tradição, Jo não era


apenas minha dama de honra em nossa cerimônia no outro
mundo, ela também me acompanhou pelo corredor e
colocou minha mão na de Noc.

E fazia isso chorando.

Como uma boba.

Os deuses a amam.

—Ele está pronto? — Circe perguntou quando Noc se


aproximou.
—Baby, se você não arrastar sua bunda para aquele
santuário logo, Dax vai aparecer aqui e arrastá-la pelo
corredor ele mesmo. — Noc respondeu.

Todos sorrimos em concordância.

Circe recolheu suas saias e seu feixe de galhos da


árvore de adela e passou a Noc, declarando: —Então temos
que ir. Dax impaciente não é uma coisa boa.

—Dax impaciente para fazê-la sua esposa é


provavelmente muito pior. — Eu comentei.

Circe arregalou os olhos.

Mesmo assim, eu notei que eles estavam brilhando e


feliz.

Oh, sim.

Sim.

A ordem de Finnie, foi de recolhermos nossos arranjos


de flores e nos alinharmos para iniciar a cerimônia.

Eu era a última da fila, antes de Circe e Noc.

Jo foi minha dama de honra, mas Circe também foi


comigo.

E eu devia ser a dama de honra de Circe, e Josette


também estava de pé com ela.

E foi uma honra.

De fato.

Como nos tinha dito (na verdade praticado na noite


anterior ─ estávamos todos andando por um corredor e, em
seguida, em pé na frente dos bancos, ouvindo como o Vallee
falava sobre como não valia a pena andar como se estivesse
marchando, e fizemos como tínhamos praticado.

Nós todos chegamos à frente e tomamos nossos lugares


em frente a Dax, que estava sozinho usando um terno bem
cortado, parecendo impaciente (e com um olhar assustado).

Ele estava olhando para o corredor (como se Circe


fizesse outra coisa a não ser correr para ele), esperando por
Noc e Circe chegar, quando algo não esperado aconteceu.

Era a voz de Frey gritando, ordenando: De pé!

Olhei para Jo ao meu lado e então observei como a


escassa audiência (o exterior foi fortemente guardado, havia
dois Noctornos, dois Dax Lahns e duas Circes no interior do
santuário e não deixariam mais ninguém participar).

De repente, entrando pela lateral, vieram os homens de


Frey. Enquanto se moviam perto da parede de trás para o
corredor, Frey foi para frente deles.

Vimos então os soldados mais próximos de Apolo,


seguindo Frey, liderados por Apolo.

Quando atravessaram o corredor, Lahn e Tor saíram


dos bancos e se juntaram aos homens.

Eles marcharam até o corredor atrás de Noc enquanto


ele guiava Circe pelo santuário.

Quando chegaram à frente, alinharam-se ao redor das


damas de honra e do outro lado de Dax, virando-se e
parando em fila, observando como meu marido finalmente
guiou Circe. Estendi a mão e encontrei a de Jo, a dela já
procurando a minha.

Observávamos os lábios de Circe tremerem enquanto


ela caminhava, vendo a assembleia diante dela, uma mulher
que uma vez fora violentamente desprovida de tudo, de sua
família, de sua virtude, de sua liberdade. Ela não tinha
ninguém para quem se apoiar. Em quem poderia confiar.

E agora ela tinha os exércitos de quatro países à sua


volta e seis irmãs ao seu lado.

Senti minhas próprias lágrimas brotar quando de


repente, o lugar se encheu de verde.

—Fabuloso. — Ouvi Frey murmurar com ironia.

Eu entendi seu lamento.

Valentine gostava de causar.

Mas ao mesmo tempo, ouvi um sussurro: —Oh meu


Deus. Pop.

E então eu vi um homem mais velho se formando


através da névoa verde mover-se para Noc e Circe, que
estavam no meio do corredor.

—Se você não se importa filho, — disse a Noc, seus


olhos nunca deixando Circe, — eu continuarei daqui.

—Quem é esse homem? — Jo sussurrou para mim.

—Meu pai. — Circe sussurrou para Jo.

Josette e eu voltamos nossos olhares para a rainha


Circe, que estava chorando abertamente.
E muito sorridente.

Olhamos de volta para Circe quando Noc olhou para a


noiva, baixou a cabeça e se afastou.

O homem conhecido por Harold Quinn andava com sua


filha do outro mundo para o noivo, sorrindo como um
lunático, seus olhos cheios de orgulho enquanto guiava a
noiva para o homem que ela amava.

Noc se moveu para ficar entre Lahn e Tor.

Mas antes de me virar para o casal para vê-los casar,


eu avistei alguém nas sombras na parte de trás.

Ela estava usando um fabuloso vestido de verde jade.

Amor é tudo. Ouvi a voz de Valentine sussurrar em


meu ouvido. O amor pode ser de qualquer forma.

E então, um sorriso de gato apareceu em seus lábios,


ela desapareceu em uma bela nuvem de fumaça verde.

***

Nova Orleans

Noc
—Te deixei acordado o suficiente. É hora de encontrar
minha cama... E minha esposa, e você a sua. — Kristian
declarou.

Noc estava sentado com seu cunhado, tomando um


uísque enquanto Kristian desfrutava de um charuto.

Ele gostava do homem, mas gostava mais da esposa.

Eles se levantaram das cadeiras acolchoadas e


acenaram com a cabeça um para o outro enquanto Kristian
atravessava o pátio para o outro lado, onde Franka criara
uma casa de hóspedes.

Noc deixou a garrafa e os óculos onde estavam, na


mesa entre as duas cadeiras e entrou.

Sabendo que as portas estavam trancadas, as janelas


fechadas e trancadas.

Ele verificou todos meticulosamente. Havia seres


preciosos dormindo aqui, e era um homem que se
asseguraria de que todos estivessem seguros.

No alto da escada, olhando pelo corredor, não viu


nenhuma luz vindo debaixo da porta da suíte máster, ou de
qualquer um dos outros.

Exceto uma luz fraca vindo debaixo de uma porta no


meio do corredor, uma porta que conduzia a um quarto
rosa.

Ele sentiu o sorriso em sua boca, mas retesou quando


uma porta diferente, a sua direita, abriu.
O pai de Noc piscou sonolento para ele e então
grunhiu: —Maldita bexiga.

E então seu pai levantou a mão, bateu no ombro de


Noc e caminhou no sentido oposto, em direção ao banheiro.

Noc caminhou em direção à luz.

Girou a fechadura, abrindo uma fenda,


silenciosamente.

Ele parou quando ouviu sua filha falar.

—Realmente, mamãe? — Amara perguntava com sua


voz de garotinha.

—Realmente, meu amor mais doce, — Frannie


respondeu.

—Papai fez isso?

—Sim, minha querida, seu pai fez isso. Ele fez isso e
muito mais. Muito mais.

Houve um silêncio, antes de Amara falar sonolenta: —


Hmm, eu acredito. Papai é tão doce.

Noc sorriu de novo.

—Sim, bela Amara Judith, — concordou Frannie. —Ele


também é outra coisa.

—O que?

—Ele é valente.

O corpo do Noc congelou.

—O que significa isso? — Perguntou a filha.


—Isso significa, menina preciosa, seu paizinho é meu
herói.

Noc fechou os olhos e apoiou a testa no batente da


porta.

—Ele também é meu, — declarou Amara.

A garganta de Noc se fechou.

—Eu sei, querida, — Frannie murmurou. —Está tarde.


Já contei a sua história. É hora de você dormir.

Sua filha soou sonhadora enquanto dizia: —Mal posso


esperar para encontrar o meu valente

O tom de Frannie estava mais nítido quando ela


continuou: —Falaremos disso daqui a trinta anos.

A voz de Amara soou irritada quando perguntou: —


Trinta?

—Vá dormir, querida.

—Eu não vou ter trinta e seis anos quando me casar.

—Amara, meu amor, vá dormir.

Noc ouviu sua garota murmurar.

Correu para o quarto dele e de Frannie, indo direto


para a janela.

Ele não fechou as cortinas.

Ficou olhando para o pátio tranquilo com suas flores,


todas iluminadas pelo luar.

Ele a ouviu entrar.


—Kristian terminou seu charuto? — Perguntou.

—Sim, — ele respondeu.

Noc olhou para o pátio.

Frannie se aproximou dele, rodeando-o com os braços e


encostando nas suas costas.

—Adoro ter a casa cheia, — sussurrou ela.

Ela estava falando de papai e Sue, Kristian e Brikitta e


seus três meninos, que estavam nos fazendo uma visita.

Ela também estava falando sobre seus próprios cinco


filhos.

Quatro meninos.

Uma garota.

Amara era a do meio.

—Noc, — ela disse suavemente, — está tudo bem?

Ele olhou do pátio para suas mãos em seu estômago, o


diamante brilhando fracamente à luz da lua. Ele sentiu seus
seios e barriga pressionados em suas costas.

Ele podia sentir seu cheiro.

Ele podia sentir seu poder, mesmo contido, emanava


dela.

Não precisava de esforço para puxar seu rosto para


cima, aquele pescoço delicado, sua bela boca, seu lindo
cabelo.

Seus braços ao seu redor se apertaram.


—Querido? Você está bem?

Noc pegou seu pulso e puxou-a para o lado, forçando a


esposa a girar e parar na sua frente.

Ela inclinou a cabeça para trás para capturar seus


olhos.

Soltando seu pulso, levantou a mão para segurar sua


mandíbula.

Puxando para mais perto, ele mergulhou seu rosto no


dela e observou a mulher que amava, tão bonita, ainda mais
iluminada por raios de lua.

—Minha valente, — ele sussurrou.

Ele viu seus belos olhos azuis quentes.

E então viu-os brilhantes com lágrimas.

Ela ergueu os dedos do pé para que a boca


maravilhosamente incrível tocasse a dele.

Mas ela não o beijou.

Ela sussurrou de volta.

Duas palavras que ele nunca acreditou.

Duas palavras que sabia que ela acreditava com toda


sua alma.

—Meu herói.

FIM

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