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ssier: Biografia Biografias ¢ “Perfil” do Movimento Operario — Algumas reflexées em torno de um dicionario Robert Paris Maitre de conférences - Ecole des Hautes Etudes en Sciences Sociales de Paris RESUMO O presente artigo discute os problemas formais e epistemold gicos que se apresentam ao pesqui- sador que se propée a elaborar um Diciondric Biografico do Movimen- to Operdrio na América Latina PALAVRAS-CHAVE: Diciondrio - Theft formal distemological problems faced by a researcher who proposes to elaborate a Biographical Dictionary of the Latin Amertean Labour Movement, KEY-WGEES Skstonary, worker, eperdrio - biegrafia. biographay: No essencial, as reflexdes sequintes prxcgdirtii até mesmo sao indissociaveis dai o seu caréter muitas vezes provisério) do trabalho sempre in fieri que constitui a preparagao de um Dictionnaire biographique du mouvement ouvrier d'Amérique Latine, empreen- dimento a gue me dediquei inteiramente sozinho e de maneira “artesanal", ‘durante -quinze anos, antes de poder interessar e a ele associar uni pequéne grupo de estudantes e de jovens historiadores, a maioria latifio-adetricanos, alunos da Ecole des Hautes Etudes en Sciences Sociales." Assim como nao é inutil evocar, de inicio, ainda que rapidamente, as origens desse projeto de Dicionario, para melhor esclarecer, recolocando-as na histéria de sua génese ou de sua producio: (fer. Bra de Hie, | Sie Paulo | v.t7,0¢33 | p.00-31 | 1997 | leérica @ pratica, estas poucas reflexdes sKo suscetiveis, parece-me, de alterar © quadro formal da epistemologia e de permitir novos resultados, Este projeto de TAclanirio nasceu em 1964 quando, encorajado por Ruggero Romixte, aitpenhei-ime numa pesquisa sobre a Forma- cdo ideolégica de Joeé Cartas Maridtegui, o que logo me levou, com 0 incentive do cline yt#ities,'a tentar obter uma visdo de conjunto da América Latina e, principalmente, de seu movimento operario. Traba- lhande sobre Mariatequi, tratava-se em principio de responder a exi- géncias praticas: conhecer mais de perto as dramatis personae, esses militantes operdrios (Carlos Barba, Adalberto Fonkén, Delfin Lévano, Julio Portocarrero), que cruzam a itinerdrio de Mariategui, mas tam- bém de verificar o teor ou o contetido efetive de certas formulas — “agitadar obrero" , por exemplo — encontradas no decorrer de minha pesquisa;? e isso nao tanto para evitar quiproqués e mal-entendidos, mas para tentar apreender as representagées (e em primeiro lugar, tarefa fundamental, as do movimento operario) que atravessam e sus- tentam a obra politica do autor dos Sete ensaios. Esperava, aa final da reuniao dessas biografias, poder delinear um “perfil” do movimento operario peruano. Esse projeto - e voltarei ao assunto - expde proble- mas de legitimidade, mas também explica o “perfil” do Dicionario. Com efeito, n&o se trata de constituir uma galeria de “homens ilustres” ou um Gotha de dirigentes tnicos do movimento operaria. Ao contrario, de bom grado o projeto faz suas as exigéncias (e em relacao a toda a América Latina), voluntariamente provocativas que foram formuladas por Jean Maitron na abertura do primeira volume, publica- do em 1964, de seu Dictionnaire biographique du mouvement ouvrier frangais; “Salvo rarissimas excegdes, os homens famosos incluidos neste Dicionario so, com relagao a classe operaria, se nos é& permitida a expressao, apenas “companheires de viagem.” © movimento opera- tio, a classe operaria 6, em primeiro lugar, urna “multidio de homens obscuros e laboriesos;"3 em principio, uma expressio ou um segmen- to dessas “classes subalternas” cuja historia, sequndo Gramsci, ainda esta por ser escrita;"4 primeiramente,o qu fol recalcado pela historia oficial, inclusive a historia dos partidos ¢ dos aparelhos. Dizendo de outra forma: n&o se trata de fazer concessées ao culto dos grandes homens, mesmo revolucionarios, ou mesmo “grandes revoluciona- 10 os", nom muiic menos de mecalr ta historia, sempre jacobina, dey, “grupos ditigentes.”* O obiste do Dictionnaire s6 pode ser, para citur daurés, «” inensanaultidie de fornens gue surge, finalmente, entran, fia luz.” Nese seniidc, e delnaride paseagg “provocacao", é mais util inchir tomes comojos de Floreces.Aliagay morto por ocasiao da pri- meirs preva doy iribathadoree do porte de Callao, em 1904, ou de Fanfic Carranra, presidente de uma sseagjacio operaria de Guadala- JaraiMéxicol, om 2878, do cuie reconstihst com minticias a biogralia do secretaric do PO ergeritine Piteria Codocilla. Pvidentemente, essa opgia pressupde que o Dictionnaire seja destinad; amma ser tereniniacds ¢ permemeca, pelo menos de direito, terapre eberie; diferente, por wfemplo, de um Diciondrio de parla- tmantares Ge de gcariémices, Novas figures dessa “imensa multidao” sherenoontisdes, an acash das pesqilizes, e nele deverko ser ineluidas de pleno direito. EF, scbretudo, permito-me insistir no assunto, muitas biografias permanecem incompletas, reduzidas 4s vezes a um nome ou a uma assinatura. Quem é esse Qita, por exemplo, que se encontra prisioneira sob Benavides*? Quem se esconde por tras da assinatura de Flaesch, “Fundador da Internacional em Buenos Aires,” e que en- via relatérios ao Conselho Geral da AIT?’ Esses sho, portanto, os "per- sonagens” que constituem a matéria do Dictionnaire... Além disso, ¢ sem divida sera necessario retornar ao tema; essa alencao para com “homens obscuros” passa por uma explorac&o sistematica de todas as fontes, cada nome encontrado podende vir a constituir o ponto de partida de uma “biografia”, e apelando a todo tipo de fonte, sem ga- rantia de verificagio: dos arquivos de policia aos necroldgios, listas de assinantes de revistas (quando existern) ou listas de subscritores, ou mesmo 4 fotografia e ao cinema’... No entanto, as biografias nao deixam de observar um certo numero de critérios epistemolégicos e formais de que nfo se poderd abrir mao. E, em primeiro lugar, cada uma delas deve trazer a assina- tura (ou as iniciais) de seu autor, nao pelo culto “burgués” A proprieda de literaria, mas para testemunhar a seriedade do empreendimenta eo empenho que ele requer. Por outro lado, cada biografia @ construida a partir de um modelo tinico, ou esforga-se para se aproximar desse ideal e exige, portanto, e pela ordem: nome e prenome de persona- gem, eventualmente sequidos de pseudénimos; em seguida, uma ou ll duas linhas consagraclas 4s datas lugares de nascimento e morte (quando, por sorte, sto conhecidas), A profissdo {tipografo, metaluirgico, trabalhador agricola, etc.) e a uma breve definic&o da atividade militan- te [camponés sindicalista, membro do Partido Socialista, mutualista, cooperativista, etc.). O corpo do texto, de tarnanho variavel, é consa- grado biografia propriamente dita (perdoem-me por voltarac assun- to, mas aqui nao se trata de cair na hagiografia, nem de tentar dar lustro a uma vida “exemplar”, nem mesme de abandonar-se ao liris- mo). O texto se encerra com a indicagao das fontes ¢ das referéncias. A propria dimensao do conjunto 6 muito variével: para além das exi géncias materiais da edicaéo, ela depende em principio, ¢ isto é dbvio, das informagées disponiveis. Mais ainda: & preciso evitar cair numa armadilha que seria correlacionar © tamanho das biografias com a “impertancia” do personagem. Com efeito, ¢ evidente que as informa- qGas S46 mais raras para a “pré-hist6ria” do movimento operario do que para a época contemporanea, ou ainda que certos movimentos (socialistas, comunistas, apristas) s40 mais propensos do que outros {anarquistas, sindicalistas, camponeses) a conservar a memoria e nar- rar a vida de seus “dirigentes” ou de seus “herdis". Nao se trata de ignorar esse estado de fato, independentemente de defendesras aus. ponto de vista historiografico ou simplesmente politico. Nao é menos dificil - e de modo singular, no caso Latina - definir quem tem garantida, por direite, a sua i satismo ou (ainda no México) a Liga Nacional Campesina fimdada bor 'Ursulo Galvan, Mas a “pré-histéria” desse movimento operéria, aagim come ocorre, alias, no Diciondrio francés, vai nos ‘colccargni presenca de mutualistas e cooperativistas, de organizadores de sociedades de resist@ncia ou de associagées de artesdos, até mesmo. de utopistas, que pouce correspondem ao que Engels definia (numa carta a Turati, de 26 de janeiro de 1894) come © “proletariado tipi- co.” Todavia, seria necessario, se posso me expressar assim, fazer um ajuste e acolher em nosso Dictionnaire o chapeleiro chileno Ambrosio Larrecheda, membro da “Sociedade da Iqualdade” de 1850, ou também, ainda no Chile, Fermin Vivaceta, fundador, em 1862, da 12 “Unido dos Artesdos.” Do mesme modo sera precie ceder aspace a todos esses “fourieistas” (Benoit Mure no Bras, Frenclec Batuiios no México, Eugéne Tandonnet nos paises do Rie da Praia) que mio somente pertencem de pleno direito a historia do sociatigme, mas, abort disso, representam um estado bem determinads da dasu¢ opericla, um momento do “movimento real”, como Marg teria paxdide atiener, E manter espaco para alguns reformadores socisis: Francisca Bilbao, certamente, mas provavelmente também o sder dg Dugino Sanialis- ta, Esteban Echeverria. E, por fim, acolher inizlectuals au aseritores ligados a organizacées “operarias”, como Neride auiamera Aradvarie, ou mesmo, mais simplesmente, os que exprimert cities pieceunagtes do movimento operario: por exemplo, uma pega como Murons Sesect (1905), que pée em cena um tipdgrafo italian esiabdletto na Argene tina ¢ vitima da Ley de residencia, ja seria o auiciente para aby 3 portas do Dictionnaire a Roberto Payré... Ag dirieaa dibiguidedes oe apresontam, 19 verdade, quando abordamos os movimentos qu: con- iibtart pare dulinis certa “eapuietiic laste” Lstino-americana ¢ que sho: 0S Hiewinnlones braisiichos 625 acindieanaente ligados aos movirnentos Sgties), as thwiifesingdad de “banditene social”, como o cangago keaptairs og ¢ bandoalsitgme re un Pancho Villa; os movimentos widigeniias ¢ eniinipeteliins a ax ites de libertacio nacional, os “poiiligesos, “anton, Mag sork oacsetirio voltar a esse tema. Em pri- rdiro higan comutttlenhrss autree petblernas e explicitar nossas ques (Geo preliniwaras “Cont alate: podege pergurtar ez @ que funda ou legitima o special ches lays Diethoeradra code whee Givssupde, a saber: delinear, @ parti sive plografias.cle sexes eilitantias, a “perfil” do movimento ope- vite «3 tongs pike — por dug who? -~ da classe (ou das classes) operddatad de Ambtce Latina. Anotagios desde ja: av contrario do yiabogriureents. se ‘faaginn, a agelsghs ative biografia € historia esta foage de sw Herveraparenta war inmeriei, a Unica relagao entre elas reduzindo-se talvez (como afirmava Walter Benjamim em relagaéo ac “destino” e ao “carater”) aque tanto uma como outra exigem uma hermenéutica: “...Assirm como o carater (ou a biografia), também o destino (a histéria) nao pode ser conhecide diretamente, mas somente por meio de signos.""! Mas nos satisfaremos com o senso comum, para © qual a biografia remete 4 historia, pelo menos em dois sentidos: enquanto produto ¢ enquanto denunciante. A verdadaira dificuldade 13 desponta, na verdade, quando se trata de passar das biografias 4 clas- se, ou de induzir esta daquelas. Com relac&o a essa totalidade que é a classe, a série de biografias, mesmo terminada (e sabe-se, além do mais, que isso é impossivel), representa precisamente o que Sartre cha ma de “serialidade”, urna multidao solitaria e atomizada, pela qual a totalidade permanece irrealizavel, talvez mesmo impensavel, quando. muito o equivalente de um “ideal do eu", Pode-se pretender restituir uma totalidade por acumulagao? A classe pela soma das biografias? Dizende de outro modo: come passar — velho problema filoséfico — da empiria ao conceito? E, para além dos problemas de direito ou de legitimidade das tentativas, a quest3o ainda se complica quando (e vol- tamas & América Latina) a propria empiria se dd como anémica e bastante atipica, ou melhor ainda, super-especificada, ompiria de empiria. Explico-me: ndo apenas temos que tratar aqui, muitas vezes, com um proletariado atfpico, o que (Engels é testemunha) é também Srofientemaraa: cass yo Eroge, mes com um proletariade aripico que tera seeks, oo cate aliemer. de divergir até mesmo do Idealtypus da sev! ext ivalesietimorepent ihedavin, pe ts dariamod gear satisfeitos com uma solucao eaponiareit oe fietonkim, dbia tagyno romantica, come a que nes stoped thiton norscetetdann de “fusio histérica”, como a famosa fiewedacte Mort, Wertificersio a priori classe operaria e revolucko;!? etito pigitjun aerks tdenaler ap fella revolucao e, portante, encer Tare niin aici qnoriey 2 serie jitterditar, no que nos concerne, a ied ayeuctostsy de stevia da nega investigac3o, que & esse cati- dims, 00 and sa tekdss a candizie e a pratica operdrias. Eis por- ‘Glia, Sudirandowne ne fords de Flora Tristan — “Constituir a classe onerita” 4 — tprogtame snunieintowa 1843 e, portant, As vésperas 4a Urns sailuckowa de 1948, quewasinala e sanciona a ruptura entre “Somrursain” ¢ claper ogtininie), aciaebporia, de bom grado, canside- rer 3 tetaikiade que ¢ a dasee rio como uma forma ou um a priori, mas come um produto histérico, e um produto, em principio e unica- mente, dessas praticas concretas que define © contetdo, a prdépria materialidade das biografias. “Constituir a classe operas quanto aos problemas de legitimidade, um critério como esse (cancreto e material) payece-me que autoriza a articulagdo entre “biografias” e “classe”, quanto ao contetido mesma dessas biografias, ele devera nos permitir atenuar, e de mode singular em confronto com uma empiria 14 superespecificada, a aritfineda de: qualquer ficha de tipo sinalético. Nao que todos os obstacii#: lexham sido definitivamente suplantados e todas as dificuldaces ‘apiaiipelas... Mas esse critévic materlalista permite-nos, doravante, abordar como oultras tantas questdes concre- tas, e unicamente concretas, problemas como o das “especificidades,” entre outros, que de outro modo nas condenariam sendo 4 metafisica, pelo menos @ ideologia. O que é, talvez, pior. Vejamos, por exemplo, o complexo de dificuldades que a sim- ples determinagao prévia do carnpo geografico traz consigo : a Amé- rica Latina, Deixemos de lado a carga de ideologia e de valuntarismo de que esta impregnado 0 adjetivo “latino,” ¢ dele aceitemns o agour ro. Mas, desde entdo, que tratamento reservar 4s Antithns-Francesas ¢ 4 Guiana Francesa, ¢ sobretudo 4 Beliza, 4 Jamaica, & Gated Ingle- sa? Especialmente os territrios de fala inglesa so probleméticos. Nao tanto por causa da lingua (nenhum historiador da Europe preterdléria, que eu saiba, dela excluir a Finlandia e a Hunqria com a desculpa de que nesses paises falam-se linguas oriundas da Asia Central), mas an- tes com relagao as estruturas do movimento operario. Se as Antilhas francesas apresentam uma organizagao do movimento operariv (PC. PS, CGT, ete.), orlunda de “modelos” da metrépole, e se se encontram organizagées como essas iqualmente em intimeros paises da América Latina, os movimentos operarios dos paises de fala inglesa poderiam, com efeito, nos remeter (conlento-me em avangar a hipotese) a mode los (Trade Unions ou Labor Party) nao apenas estrangeiros, mas sem equivalentes na realidade latino-americana @ até mesmo - sera preciso ser mais exate? - passavelmente “especificos” no contexto internacio- nal. Diante desses obstaculas, que poderiam depender apenas da aparéncia ou do fenémeno, ergue-se, evidentemente, a experiéncia ou. sentimento do vivido, a idéia de uma comunidade de destino: * Embora tenham outro idioma as paises de fala inglesa do Caribe, em todas as demais coisas somos muito semelhantes; todos fomos explo- tados pelos monopdlios, tados tivemos de produzir muila cana e muito agticar (...); todos recebernos a mesma heranga de subdesenvolvimen to e pobreza; todas temos tido problemas similares de incultura, analfa- betismo, desemprego..."". Mas, excetuando a alusao ao “agticar” ¢ & “cana”, nada ha aqui que pertenca propriamente a América Latina... Subjacente a esses problemas “setoriais", parece-me que urna questo 15 se impée: temos odireito de falar, a ndo ser de modo optativo, de uma realidade unitaria constitutiva do que chamamos de movimento opera- tio da América Latina? A escolha da periodizacko no é, igualmente, simples. A partir de qual data sera necessario abrir o Dictionnaire, ou mais exatamen- le, em que momento pode-se falar de “movimento operério”, quando ndo de"glagae operaria"? E, questao nem um pouco subsidiaria: quan- do séni-tceesiirio parar? Quanto a data inicial, a proclamagao da in- depatiitewie értamente n&o é periodizante o suficiente, pois deixa “geahe inteiros da historia do movimento operdrio latino-ame- rieang{yhe eu Porte Rico, por exemple) e nao dé resposta ao que questao concreta a ser empiricamente resolvida: o zt *movimente operario.” Aqui dispomos certamente de um q@ittvie was decisive: a abolicao da escravatura. Critério formal e até mesmo juridico, e que assinala © nascimente de direito, quando n&o de fato, do trabalho-mercadoria, condicao sine qua non da for- mac&o de uma classe operaria e que, por esse fato, permite-nos a um tempo excluir de nosso dominio movimentos que, a despeito de sua amplitude e de seu alcance social, néo dependem da histéria operaria (insurreigées dos indios dos Andes ou do Yucatan, revoltas dos escra- vos brasileiros, etc.) ¢, sobretudo, decifrar nas praticas (greves, forma- ao de associagdes mutualistas ou de clubes, etc,), todas elas inseparaveis do “trabalho livre,” a presenga sendo de uma “classe operdria" pro- priamente dila, pelo menos de um “movimento operatio" a ser devi- damente caracterizado. De modo semelhante, mesmo a abolicAo da escravatura n&o seria suficiente para constituir uma baliza decisiva. Com efeito, basta evocar algumas situacées concretas. Em Cuba, por exemplo, onde a escraviddo sé seria oficialmente abolida em 1889, assinala-se uma gre- ve em 1823, ¢ um primeira jornal operario, La Aurora, vern 4 luz em 1865, a Associacién de Tabaqueros de Havana em 1886, ete. Porto Rico, igualmente, vé coexistirem, durante varios anos, trés tipos de trabalho: a escravidio, o trabalho livre e o “trabalho de caderneta" (“livret") . Mais espantosa ainda é a situagao do Brasil onde a escravi- dao é completamente abolida apenas em 1888; entretanto, implan- tamrse col6nias “socialistas” no pais na metade do século XIX e, prin- cipalmente no Rio, acontece, em 1858, ou seja, trinta anos antes da 16

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